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A ESCATOLOGIA PROGRESSIVA:
2
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Todos os direitos são reservados à Imprensa Bíblico-Maranata.
É proibida a reprodução deste livro, no todo ou em parte, sem a devida
permissão dos editores.
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Publicado pela:
Imprensa Bíblico-Maranata – IBM em Feira de Santana
“Uma Literatura Cristã EDIFICANDO A IGREJA de CRISTO”
Rua Antenor Moreira de Pinho, 880.
Jardim das Acácias, 44010-000.
Feira de Santana-BA
CDU: 783
4
APRESENTAÇÃO
“Conheço as tuas obras, que nem és frio, nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim,
porque és morno e não és frio, nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. ” (Ap 3.15-16).
judeus e gentios (a Igreja) na Dispensação da Graça, mas que não explica como, na
Tribulação, haverá um único povo de Deus em união e unidade entre outros judeus e
gentios, sem a presença do corpo (Igreja) pelo derramar do Espírito; ou em uma via do
meio que fala de uma Nova Aliança inaugurada com a Igreja, cumprindo e recebendo as
suas promessas, mas que tais promessas ainda devem se cumprir mais tarde; ou em um
meio termo a dizer que as coisas do fim já estão ocorrendo, mas que estas coisas ainda não
estão acontecendo como deveriam plenamente acontecer. Quanta confusão! É no meio dela
que nos colocam para alertar à Igreja sobre os perigos dessa via do meio. Por isso está em
suas mãos esta obra.
Pr. Evaldo de Oliveira Moraes
DEDICATÓRIA
Dedico este livro, em primeiro lugar, Àquele que me outorgou a vida, tanto física
como eterna, e é o responsável por tudo que sou hoje: Meu Amantíssimo Deus – Jesum,
hominum servatorem, adoro. A Ele, Soli Deo gloria sicut erat in princípio, et nunc et semper
et in saecula saeculorum.
Também ofereço esta obra a duas pessoas que, depois do meu Deus, eu mais amo
nesta vida, as quais são ao meu lado, responsáveis pela construção e harmonia do meu lar:
Minha Amada Esposa – Eliete Moraes e Minha Querida Filha – Beatriz Moraes –
Qualescumque summi mulieris sunt.
E por fim, oferto este trabalho ao Movimento que me acolheu e que eu aprendi a amar
e defender, devido à sua postura séria, leal e fiel aos princípios da Palavra de Deus: Meu
Prezado Grupo Fundamentalista – Batista Regular. Pois bem sabemos que o fundamentum
justitiae est fides.
7
PREFÁCIO
8
AT Antigo Testamento
CMI Concílio Mundial de Igrejas
DC Dispensacionalismo Clássico
DI Dispensacionalismo Integrativo
DN Dispensacionalismo Normativo
DP Dispensacionalismo Progressivo
DR Dispensacionalismo Revisado
OMBREB Ordem dos Ministros Batistas Regulares da Bahia
SIBRB Seminário e Instituto Batista Regular Bereiano
SBBPV Seminário Batista Bíblico Palavra da Vida
NT Novo Testamento
9
LISTA DE MAPAS
Clássico ................79
Albuquerque ..........................80
10
LISTA DE TABELAS
Progressivo ..........................................43
DP.....45
Tabela 03 – Para entendermos melhor este processor Geisler elaborou uma tabela
didática....147
Graça............................................177
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................12
TESTAMENTOS..............................................14
Descontinuidade ...........................23
12
ABORDAGENS........30
NT...30
DEUS............................38
I – A TENSÃO JÁ/AINDA
NÃO ........................................................................................48
II – ASPECTOS APLICADOS DO REINO À
IGREJA.......................................................56
Normativo.................................................71
DAVI.............................81
EPIFANÉIA..95
SALVAÇÃO...............................................................................111
DANIEL...........115
I – O ESTADO
INTERMEDIÁRIO...................................................................................118
II – AS SETENTA SEMANAS DE
DANIEL.....................................................................120
III - O LEVADO E O DEIXADO......................................................................................122
TESTAMENTOS.............125
I – OS FILHOS DE DEUS.................................................................................................127
II – O ESPÍRITO ESTARÁ ENTRE ELES OU NELES NO ANTIGO
TESTAMENTO....130
III – O A GRANDE DIFERENÇA ENTRE O AT E O NT: O Batismo no
Espírito............131
IV – A MISSÃO DO ESPÍRITO EM RELAÇÃO AO MUNDO NA ERA DA
GRAÇA...138
V – A AÇÃO DO ESPÍRITO DA TRIBULAÇÃO...........................................................141
8 CAPÍTULO 8: A NOVA ALIANÇA E O REINO DE DEUS – Uma visão consistente do
Dispensacionalismo Tradicional.............................................................................................145
9 CAPÍTULO 10: AS PARÁBOLAS DE MATEUS 13 E O REINO DE DEUS – Uma
interpretação coerente e consistente do Dispensacionalismo
Revisado...................................160
10 CAPÍTULO 11: A TRIBULAÇÃO E O PRINCÍPIO DE DORES – Uma análise
consistente do Dispensacionalismo
Tradicional.........................................................................................170
I – A DURAÇÃO DO
PERÍODO.......................................................................................170
14
II – A NATUREZA DO
PERÍODO....................................................................................171
III – ATOR PRINCIPAL DO
PERÍODO............................................................................172
IV – ARMARGEDOM: O Lugar e o
Lagar ........................................................................183
V – BATISMO COM FOGO E O
ARMARGEDOM .......................................................184
VI – O ARMAGEDOM: (A
Batalha) ................................................................................185
I – COM RELAÇÃO ÀS
NAÇÕES....................................................................................194
II – COM RELAÇÃO A
CRISTO......................................................................................195
III – COM RELAÇÃO À
IGREJA .....................................................................................195
IV – COM RELAÇÃO A
ISRAEL.....................................................................................195
V – COM RELAÇÃO A SATANÁS................................................................................195
VI – COM RELAÇÃO À
NATUREZA..............................................................................151
VI – OS JULGAMENTOS E O ESTADO
ETERNO.........................................................201
CONCLUSÃO.......................................................................................................................205
REFERÊNCIAS....................................................................................................................207
livro...210
15
ÍNDICE ONOMÁSTICO.....................................................................................................213
INTRODUÇÃO
Estudar a Escatologia Bíblica hoje é um grande privilégio que a Igreja tem e uma sublime
obrigação que cada membro do corpo de Cristo recebe, dado à sua relevância conferida pela
Bíblia. Infelizmente, poucos são os cristãos que abraçam com alegria e afinco a doutrina das
últimas coisas. Aos que estudam as doutrinas, a das últimas coisas recebe atenção especial
pelos escritores sacros. E por isso muitas doutrinas cardeais do Evangelho dependem da
Escatologia para sua interpretação. Daí Henry Clarence Thiessen1destacar a relevância da
Escatologia no AT:
É fato que ela tem lugar de destaque nas Escrituras. Apesar do primeiro e
segundo adventos estarem frequentemente tão intimamente fundidos nas
profecias do Velho Testamento que fica difícil destacar uma promessa
específica que trate somente da Segunda vinda.
Thiessen 2 realça mais ainda o valor da Escatologia nas páginas do Novo Testamento:
Verdade é que Cristo disse: “Porém daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do
céu, nem o Filho, mas unicamente o Pai” (Mt 24.36). Infelizmente, poucos crentes têm
abraçado com alegria e mergulhado com afinco nesta bendita doutrina que retrata a
escatologia. Daí o servo de Deus ter de ouvir a exortação de Pedro: “E temos mui firme, a
palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como uma luz que ilumina em lugar
escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em nossos corações” (II Pe 1.19).
Para realçar o valor do ensino, Emery Bancroft3 diz: “Esse assunto, tão querido à Igreja
primitiva e tão destacado no ensino e na pregação apostólica, nestes nossos dias de
pensamento e teologia modernos tem sido relegado bem para o segundo plano.” Daí o teólogo
citar a metáfora que orna a escatologia:
1
THIESSEN, Henry C. Palestras Introdutórias e Teologia Sistemática. São Paulo: IBR, 1989, p.316.
2
Ibidem, p. 317.
3
Emery H. Bancroft, Teologia Elementar (Trad. João Marques Bentes e W. J. Goldsmith), São Paulo: IBR,
1989. p.321.
16
CAPÍTULO UM
__________
Hagnos, organizado pelo Dr. John S. Feinberg. Nesta Obra, dedicada ao teólogo e pregador S.
Lewis Johnson Jr, dezesseis escritores se unem em escrita-debate, em defesa dos sistemas de
continuidade e descontinuidade entre os Testamentos, deixando com os leitores a palavra final
sobre estes sistemas. Por isso, resolvemos sintetizar algumas daquelas posições sobre estes
dois sistemas, a fim de desenvolvermos a temática desta obra. Comecemos com o sistema de
continuidade, à luz da teologia reformada, que o expressa. A sua visão não se desvencilha
da
estrutura pactual. Por isso, Willem VanGemeren 8 advoga a tese da estrutura pactualista:
Em contraposição a esta síntese, tão bem elaborada, John Feinberg 9 assevera que: “A
característica do pensamento dispensacionalista é sua ênfase no progresso da revelação. Deus
dá diferentes ordens de direcionamento para o mundo em tempos diferentes, e novas ordens
instituem uma nova dispensação. Do AT ao NT nem tudo muda, mas muita coisa se torna
mais clara. ” Um dado de grande relevância neste processo é esta relação entre os
10
Testamentos. Por isso, Feinberg acrescenta: “Os pensadores dispensacionalistas e não
dispensacionalistas concordam que o NT cumpre o AT e é uma revelação mais completa de
Deus; mas há discordância quanto ao que isso significa para a prioridade de um Testamento
sobre o outro.”
Concordamos com John Feinberg, que era um dos filhos de um dos proponentes do
Dispensacionalismo Revisado, Charles Feinberg. Podemos afirmar que a continuidade no AT
não consegue eximir o processo de descontinuidade encontrado em cada um deles. Isto é fato
e expressa a revelação de Deus ao longo da história, como progressiva. Mas, ao pensarmos
em Israel e na Igreja, entre o judaísmo e o cristianismo, a lei e a graça, o AT e o NT, não há
como negar algumas rupturas e muitas evoluções a demonstrar um processo de
8
FEINBERG, John. Continuidade e Descontinuidade: perspectiva sobre o relacionamento entre o Antigo e o
Novo Testamentos: ensaios em homenagem a S. Lewis Johnson Jr. In VANGEMEREN, Willem. Sistema de
Continuidade. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 65 e 66.
9
Ibidem, p. 85.
10
Ibidem.
19
Nesse ponto, Feinberg discorda de Charles Hodge sobre quem ele entende
dizer que “em todas as dispensações, Jesus Cristo é o redentor. ” Se Hodge
estava se referindo à obra de Cristo como “a base da redenção para todas as
épocas, ” Feinberg poderia concordar, desde que “Cristo é o redentor em
todas as épocas”. Mas ele “tem problemas enormes” se Hodge quer dizer
“que Jesus foi literalmente o conteúdo revelado apresentado aos homens
desde o princípio”. Assim, Feinberg se concentra em dois assuntos: “o
conteúdo revelado apresentado” e “o quanto de compreensão” as pessoas de
dada dispensação tiveram.
Feinberg diz que os crentes do AT não tinham condições de crer que Jesus era o
Cristo. Se pensarmos como Hodge, podemos negligenciar o progresso da revelação. Em
11
Ibidem.
12
FEINBERG, John. Continuidade e Descontinuidade: perspectiva sobre o relacionamento entre o Antigo e o
Novo Testamentos: ensaios em homenagem a S. Lewis Johnson Jr. In KIOOSTER, Fred, H. O método bíblico
de salvação: um caso para a continuidade. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 161.
13
Ibidem, In KLOOSTER, Fred, H. p. 161.
20
14
contrapartida à Feinberg, Klooster diz que o único método de salvação está associado à
teologia reformada:
como a graça se manifesta ao longo da história, até culminar com o Seu advento na plenitude
dos tempos. Aqui há o progresso da revelação chegando a seu clímax no Filho (Hb 1.1-3):
O AT declara que não há quem faça o bem, não há nenhum sequer (Sl 14.1-
3), e o NT afirma que isso ainda é verdade (Rm 3. 10-12). De fato, o AT
explica que se Deus tratasse os humanos pelos méritos deles – isto é,
anotasse seus pecados – ninguém permaneceria; mas há perdão (Sl 130.2,4).
O ensino do AT é claro – A única forma de salvação é pela graça de Deus.
Sua graça pode ser revelada de diferentes maneiras, de tempos em tempos,
mas permanece a base da salvação.
O Dispensacionalismo não crer em múltiplos caminhos de salvação, antes da Era da
Graça (Ef 3.2). A graça de Deus vigora em todos os tempos. Isto é mostrado categoricamente
por Pedro, naquela calorosa assembleia, feita pela igreja em Jerusalém no ano 50 a. D.:
18
Ibidem.
19
Ibidem, p. p. 201.
22
Mas, Ross 20 alertar sobre algo relevante para entendermos o progresso da revelação no
tocante à soteriologia, que é o conteúdo da fé na salvação dos crentes do AT:
O próprio Payne diz: “Para deixar Deus satisfeito, era preciso que Deus
morresse, que os homens precisavam herdar Deus, para estar com Deus,
eram coisas incompreensíveis no Antigo Testamento com seu conhecimento
embrionário acerca da tribulação, da encarnação e da crucificação seguida da
ressurreição. ”
É pertinente aprofundar mais este conteúdo, tomando como exemplo o patriarca
Abraão, o qual, segundo Ross, exemplifica bem a questão do progresso da salvação, pois no
tempo do AT a salvação ocorria mediante a fé, entretanto, o conteúdo desta fé variava de
época a época. Ross 22 traz também um texto de Isaias a expressar o progresso da revelação do
AT para o NT:
Isto pode ser percebido em o NT quando homens como Felipe consegue revelar ao
Eunuco que o profeta Isaias fazia referência não a ele mesmo, mas a Jesus, que era o Cristo.
(At 8.30-37). Isaias não tinha esta compreensão de Felipe, no que concerne ao conteúdo da fé.
Ele falava do Messias, mas não sabia que Jesus de Nazaré, 750 anos depois, seria o Cristo.
João, o Batista, maior profeta do AT: “Em verdade vos digo que, entre os que de
mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João, o Batista; mas aquele que é
menor no reino dos céus é maior do que ele” (Mt 11.11), contemporâneo de Cristo, que viu o
20
Ibidem, p. 203.
21
Ibidem, p. 205.
22
Ibidem, p. 209.
23
que nenhum dos crentes do AT tiveram o privilégio de ver: “Porque em verdade vos digo que
muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós
ouvis, e não ouviram.” (Mt 13. 17). Só o Batista viu a Cristo, objeto principal de sua profecia:
“Eu vi e tenho testificado que este é o Filho de Deus” (Jo 1.34). Ele foi o último profeta do
AT: “Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João” (Mt 11.13). Mas, até o Batista
demonstrou possível dúvida sobre se Jesus era ou não o Ungido, o Messias, o Cristo: “João,
ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, enviou dois dos seus discípulos, a dizer-lhe: És
tu aquele que havia de vir ou esperamos outro? ” (Mt 11.2-3). Jesus respondeu a partir dos
milagres e do evangelho (Mt 11.4-6). Não sabemos se a dúvida era de João ou dos seus
discípulos. O certo é que pairava uma incerteza.
Sobre a expressão da fé, Ross23 diz que a fé dos crentes do AT se expressava de modo
distinto da fé que se expressa nos cristãos, e os sacrifícios o comprovam; e isto não é de se
estranhar, pois, se há progresso da revelação, há a evolução dessa fé no contexto
dispensacional:
Mas o AT não fala de forma tão específica sobre ser salvo, sobre conversão
ou sobre regeneração. Devemos nos contentar em dizer que, por sua graça,
Deus possibilitou a entrada do povo numa relação pessoal com ele (ele os
elegeu, deu suas promessas, proveu o ritual para expiação); e, assim, os
indivíduos entraram nesse relacionamento pela fé, crendo nas promessas de
perdão dos pecados e na bênção. A fé do povo se expressou através da
obediência à lei e da adoração sacrificial, para a manutenção e desfrute do
seu relacionamento espiritual.
23
Ibidem, p. p. 212-213.
24
Ibidem.
24
Sobre a obra do Espírito Santo na salvação25 no AT, Ross26 faz a distinção acerca do
agir do Paracleto entre os Testamentos, destacando o batismo no Espírito com esta
diferença:27
Essa terminologia não é usada pelos crentes no AT. Além disso, João disse
que depois dele Jesus viria e batizaria com o Espírito Santo (Mt. 3.11), e
Jesus ensinou que ele enviaria o Espírito depois que fosse embora (Jo 16.12;
At 1.5,8). O cumprimento dessa promessa começou no Pentecoste (At 2).
Assim, fica claro que o batismo do [sic] Espírito Santo foi uma nova etapa
no desenvolvimento da administração de Deus, em sua forma de operar a
salvação.
O outro ponto que deveria ser observado diz respeito à expectativa do salvo.
Esta matéria não é de fato parte do assunto do método de salvação – ao
contrário, pertence à escatologia. Mas podemos mencionar rapidamente que,
em relação ao assunto em pauta, o conceito de salvação no AT foi diferente.
No AT, a expectativa do salvo (se é que podemos usar esta expressão) estava
relacionada às promessas da aliança, mas especificamente na sua ligação das
promessas com esta vida e com este mundo. A esperança de livramento de
inimigos, descanso na terra e comunhão com Deus.
25
Nota: Este assunto será trabalhado neste livro, com mais afinco, no capítulo 7, das páginas 101 a 117.
26
Ibidem.
27
Nota: Sobre esta distinção, analisaremos de forma mais profunda este batismo no capítulo 7, que trata da ação
do Espírito Santo no AT, em o NT e no período tribulacional (c.f das páginas 103 a 113)
28
Nota: Colocamos o sic na citação por entendermos que o Espírito Santo não é o agente batizador, por isso o
batismo não é dEle. Quem batiza é Jesus Cristo (Mt 3.10-12). A expressão correta deveria ser, como está no
texto paulino: em um = no, ou ainda se pode se usar a preposição com, mas nunca a preposição do ou pelo
Espírito Santo.
29
Ibidem, p. 213.
30
Ibidem, p. 214.
25
Ross 31
faz questão de destacar a expressão escatológica mundo vindouro como um
fator hermenêutico que serve de auxílio a externar esta expectativa no período
veterotestamentário:
31
Ibidem.
32
Ibidem, p. 193.
33
Ibidem.
34
Ibidem, Feinberg, p. 85.
35
Nota: Será trabalhada, de maneira mais acurada, as abordagens hermenêuticas das profecias e, principalmente,
a hermenêutica complementar do Dispensacionalismo Progressivo no capítulo 9, das páginas 26 a 33.
26
Para O. Palmer Robertson,37 em O Cristo dos Pactos, a temática das antiga e nova
alianças expõe o progresso da revelação entre os testamentos pelo que ele chama matéria-
prima:
Robertson38 fala sobre uma distinção das experiências experimentadas entre crentes
do AT e cristãos do NT. Ele fala em mesmas realidades, abordando a diferença nos dois
pactos:
E é válido estarmos cientes de que o progresso da revelação não pode cancelar promessas
incondicionais. Assim, Ladd, citado por Feinberg, 39 chama a atenção ao âmago da questão:
futuras, mas o corpo é de Cristo” (Cl 2.16-17). No que concerne às promessas, a coisa é
diferente, pois as alianças e as promessas se inserem e estão bem relacionadas com o povo
judeu: “Que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o
culto, e as promessas. ” (Rm 9.4).
Acerca da lei e dos Testamentos é relevante nos conscientizarmos sobre as diferenças
de trato com a lei entre os períodos. Do lado do sistema de continuidade, ocorre uma ênfase
entre a lei de Moisés e a lei de Cristo como idênticas. Knox Chamblin 42 diz que “lei de Cristo
não é diferente da lei de Moisés: não há uma nova lex. Toda lei vem de Deus; e cada uma é
dada para o mesmo propósito – ordenar o amor a Deus e o amor ao próximo (Mt 22. 37-40)”.
43
Neste contexto, Chamblin mostra até onde vai a descontinuidade entre AT e NT
sobre a lei: “Portanto, de fato existe descontinuidade, mas a descontinuidade está relacionada
à forma ou ao modelo da lei, em vez de ao seu ser ou essência, e ocorre numa estrutura de
continuidade.” Ele se refere a lei, findando com a segunda Vinda, advogando que o reino já
foi inaugurado:
De fato, a lei vigora até a segunda vinda de Cristo, aliás, até ao final do milênio ou
consumação dos séculos. Mas esta vigência, no âmbito soteriológico, se mantém presente é na
condenação do ímpio. Em Romanos 7.1, Paulo estabelece o princípio de que o domínio da lei
é vigente sobre o homem durante o tempo em que ele vive. Isto significa que a lei permanece
atuante na vida do ímpio, como um marido que impõe suas normas sobre a mulher. No
entanto, em se tratando do cristão, é diferente. Neste contexto, vale ressaltar a ilustração que
Paulo apresenta aos romanos e na sua aplicação feita no texto. Vejamos, primeiro a ilustração:
Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem
domínio sobre o homem por todo o tempo em que vive? Porque a mulher
que está sujeita ao marido, enquanto ele viver está-lhe ligada pela lei; mas,
morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido,
será chamada adúltera se for de outro homem; mas morto o marido, livre
está da lei, e assim, não será adúltera, se for de outro marido (Rm 7.1-3).
42
Ibidem, CHAMBLIN, Knox. A lei de Moisés e a lei de Cristo, 2013, p. 219.
43
Ibidem, p. 221.
44
Ibidem, p. p. 226-227.
29
Quando Paulo faz a aplicação da ilustração, mostra que nós, Igreja de Cristo, como
mulher da lei, morremos para este antigo marido, com o objetivo de sermos de outro esposo, a
saber, Jesus Cristo: “Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de
Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos
frutos para Deus”. (Rm 7.4). Isto quer dizer que a lei é marido, hoje, do homem vendido sob o
preço do pecado, no mundo; mas, em relação à Igreja, as coisas mudam. O corpo de Cristo,
crucificado no calvário, cancelou “[...] o escrito de dívida que era contra nós e que constava
de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-os inteiramente, encravando-o na cruz”
(Cl 2.14). Seu domínio atual é para a condenação dos homens e não para a salvação dos
cristãos, os quais tem em Cristo o cumprimento da lei o casamento da graça.
45
Em contraste à tese de Chamblin, Douglas Moo fala em temporalidade da lei ligada
à primeira vinda de Cristo e Seu ministério de 3 e ½ anos em Israel, como Messias,
cumprindo a lei de Moisés. Aqui há mais descontinuidade, quando se trata do “fim” da lei
(Rm 10.4):
Moo46 ao analisar Romanos 10.4, mostra que o texto não implica necessariamente a
continuidade da lei, embora fim também não se restrinja ao término da lei na teologia de
Paulo:
Feinberg47 explica ao leitor que o Dispensacionalismo não tem como sine qua non a
seu sistema à vigência, ou não, da lei hoje. Ele diz de que não é norma do sistema ser contra a
lei:
45
Ibidem, MOO, Douglas J. A lei de Moisés e a lei de Cristo, 2013, p. 261.
46
Ibidem, p. 252, 253.
47
Ibidem, FEINGERG, p. 79.
30
48
Acerca da obediência à lei, Chamblin demanda a necessidade de obedecê-la por
causa de Cristo e não como um fator de satisfação ao outro. Para tanto, Ele cita Colossenses
2.19-23:
É importante pensar a vigência desta lei e a obediência dos cristãos a ela. Daí Paulo
Sérgio Batista, no livro Os 7 mitos do adventismo, dizer: “A Bíblia é muito explicita ao
afirmar que a lei foi anulada pela cruz de Cristo (Cl 2. 14,15)”. 49 Infelizmente, muitos
pactualistas caem na tentação de, em nome desta vigência na Graça, ensinar às igrejas, por
exemplo, que o sábado é trocado pelo domingo como dia de guarda ao cristão. Tentam
estabelecer as mesmas normas que eram direcionadas ao sábado aos judeus, aplicando-as à
Igreja. Por isto, Batista50 afirma:
A antítese de 5.21-48 (ouvistes que foi dito aos antigos [...]. Eu, porém, vos
digo) aponta não para uma diferença de assunto (Jesus não substitui, mas
interpreta a lei), mas para uma mudança de tempo (o eschaton havia
chegado) e de mestre (Jesus havia chegado para expor sua própria lei).
48
Ibidem, p. 229.
49
BATISTA, Paulo Sérgio. Os 7 Mitos do Adventismo. São Paulo: CEKAP, 2011, p. 186.
50
Ibidem, p. 191.
51
Ibidem, CHAMBLIN, Knox. A lei de Moisés e a lei de Cristo, 2013, p. p. 230-231.
31
52
Outro fator relevante na análise pactualista de Chamblin, é o modo como ele
sustenta a inauguração do reino, como resultado do fim da lei enquanto era e não como
sistema e normas:
Está claro, com base na evidência acima, que a exigência por ‘justiça’ (Mt
5.20) é um apelo para redescobrir o AT e obedecer a certas exigências
existentes na lei mosaica, ante a desobediência à lei por seus adeptos mais
escrupulosos (v. 20) e o repúdio à lei pelos falsos profetas antinomistas
(7.15-20). Descobre-se que a ‘justiça que supera’ não é o abandono da lei, e
sim ir mais profundamente nela. 53
Tal vigência pode ser questionada nalguns aspectos, como diz Feinberg: 54
“Certamente, o código mosaico terminou. Caso contrário viveríamos numa teocracia,
ofereceríamos sacrifícios de animais pelo pecado e praticaríamos a morte por apedrejamento
dos adúlteros e dos filhos que desobedecesse a seus pais. ” Por isto, Moo 55 expressa a relação
da lei entre os Testamentos, privilegiando a descontinuidade, contemplando o
dispensacionalismo:
[...]. A lei do AT não deve ser abandonada. De fato, deve continuar a ser
ensinada (Mt 5.19), mas interpretada e aplicada à luz de seu cumprimento
por Cristo. Em outras palavras, não se mantém mais como supremo padrão
de conduta para o povo de Deus, mas deve sempre ser vista através das
lentes do ministério e do ensino de Jesus.
56
Moo destaca ainda que a lei mosaica se cumpriu no ministério do Senhor Jesus
Cristo, sendo assim, não há como estarmos trabalhando a lei como vigente para a Igreja de
Deus e aplicá-la como padrão-mor ao viver cotidiano dos cristãos como fazem os pactualistas:
É comprovado que essa conclusão está de acordo com a abordagem geral de
Jesus à lei do AT com base no número relativamente pequeno de vezes em
que ele cita o AT como prova de suas exigências (e a maioria ocorre em
contextos polêmicos), e das claras implicações de declarações como o Filho
52
Ibidem.
53
Ibidem, p. 231.
54
Ibidem, FEINGERG, p. 79.
55
Ibidem, MOO, Douglas J. A lei de Moisés e a lei de Cristo, 2013, p. 251.
56
Ibidem.
32
Como base nos temporais e culturais, levantamos duas questões que são
cruciais para a compreensão da aplicação da lei no NT: Primeiramente, o
receptor da lei é um não cristão ou um cristão? O primeiro permanece sob
uma maldição por seu fracasso em obedecer a lei e adorar o legislador.
Além disso, tentar viver “debaixo da lei, ” separado de Cristo, o Senhor, e do
Espírito de poder é inevitavelmente viver “debaixo do pecado”.
Os ímpios estão debaixo da lei e esta vigora a eles, pois a ira de Deus sobre eles
permanece (Jo 3.36). Mas, não há como aceitar a ideia de que a lei vigora sobre a Igreja,
60
como advoga Chamblin e os demais pactualistas. Ao tentarmos entender esta posição
equivocada dele, vejamos o modo como aborda a relação do receptor cristão ante a lei entre o
AT e o NT:
57
Ibidem, CHAMBLIN, Knox. A lei de Moisés e a lei de Cristo, 2013, p. p. 230-231.
58
Nota: Para melhor compreensão deste assunto, o leitor deve analisar os oitos julgamentos escatológicos que se
encontram no capítulo 11 (c.f páginas 162 a 165).
59
Ibidem, p. 245.
60
Ibidem, p. 245.
33
61
Paulo faz diferença entre a lei de Moisés e a lei de Cristo. Neste contexto, Moo
distingue os não dispensacionalistas dos dispensacionalistas em contraposição a Chamblin:
“[...] Primeira é a visão de que a lei de Cristo não difere, no que diz respeito ao conteúdo da
lei mosaica sobre a qual Paulo fala em Gálatas. O que se torna a lei de Cristo é o fato de
Cristo interpretá-la, ou cumpri-la, ou providenciar as bases para a sua obediência. ” Moo62
acrescenta:
Assim, notamos que o cristão já foi liberto do jugo da lei, e em Cristo passa a ser de
outro marido (Rm 7.1-3), seguindo os seus mandamentos que não são pesados (I Jo 5.1-3) e
ele vê a lei mosaica cumprida em Jesus, e olha para Cristo, e busca viver segundo a sua
vontade.
Portanto, sobre os AT e NT, analisamos os sistemas de continuidade e
descontinuidade. Assim, é relevante expressar o progresso da revelação na história, e a
trajetória de Israel em o AT e a jornada da Igreja em o NT, explicitando, com carinho, que a
lei de Moisés é distinta da lei de Cristo a partir do seu cumprimento nEle; não nos esquecendo
do valor desse estudo por promover mudanças, em especial, na escatologia e na eclesiologia,
61
Ibidem, p. 253.
62
Ibidem, p. 253.
63
Ibidem, p. 265.
34
mas também tocando outras doutrinas da igreja; e enfim, o modo como Deus executa Seu
plano de salvação na História.
CAPÍTULO DOIS
__________
64
HINDSON Ed e LAHAYE. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica; In Robert Thomas. Hermenêutica. Rio
de Janeiro: CPAD, 2010, 255.
35
E ouvi o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, o qual
levantou ao céu a sua mão direita e a sua mão esquerda e jurou por aquele
que vive eternamente que isso seria para um tempo, dois tempos e metade de
um tempo, e quando tiverem acabado de espalhar o poder do povo santo,
todas estas coisas serão cumpridas. Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso
eu disse: Senhor meu, qual será o fim destas coisas. E ele disse: Vai, Daniel,
65
ABDALLA, Thiago. AT/NT: Continuidade e Descontinuidade 7/10. Escola Spurgeon Disponível em > https://
www.you tube.com/watch?v=fgihZi_3HEQ&t=987s. Acesso em 15 de nov. 2020.
66
Autor da Teologia Bíblica do Antigo Testamento. Edições Vida Nova, 2007.
67
Autor do Livro Entendes o que lês?
36
porque estas palavras são fechadas e seladas até ao tempo do fim (Dn 12.7-
9).
Este texto mostra que a profecia se cumpriria a partir de três anos e meio, como
também revela a incompreensão de Daniel sobre o teor da profecia. O NT relata algo
semelhante:
E Caifás, um deles, que era o sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós
nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem morra pelo
povo, e que não pereça toda a nação. Ora, ele não disse isto de si mesmo,
mas sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer
pela nação. (João 11.49-51).
Caifás nem sabia que tal fala era uma profecia. Isto derruba este tipo abordagem. Eles
poderiam entender o sentido da profecia, mas nem sempre suas implicações. Aqui, nem isto.
2) Abordagem Canônica ou Idealista – Mentores: Bruce Waltke, G. Beale, Douglas
Moo, Jared Compto, Douglas A. Carson – Teologia Reformada.
Proposição: A existência de uma percepção progressiva do sentido do texto. O significado de
qualquer texto depende do todo da revelação. Deixar a Bíblia interpretar a Bíblia. Para
Abdala, esta análise do NT “desempacota” o sentido do AT. A teoria fala de uma única
intenção autoral entre autor divino e autores humanos, rejeitando o duplo sentido ao dizer que
um autor bíblico anuncia seus oráculos numa linguagem ideal, cujo sentido é um reino
espiritual, ou seja:
E, tendo eles se retirado, eis que o anjo do Senhor apareceu a José num
sonho, dizendo: Levanta-te e toma o menino e sua mãe e foge para o Egito e
demora-te lá até que eu te diga; porque Herodes há de procurar o menino
para o matar. E, levantando-se ele, tomou o menino e sua mãe, de noite, e foi
para o Egito. E esteve lá até à morte de Herodes para que se cumprisse o que
foi dito da parte do Senhor pelo profeta, que diz: Do Egito chamei o meu
Filho.
70
Ibidem. Disponível em > https:// www.youtube.com/watch?v=fgihZi_3HEQ&t=987s. Acesso 15 nov. 2020.
71
Ibidem.
38
inspirado parece uma resposta simplista para um problema realmente complexo.” Daí o perigo
desta corrente. Thomas72 a vê como igual no DP:
Mark Swedberg 73 identifica os progressivos com esta abordagem: “Para chegar a esta
posição, muitos dispensacionalistas progressivos defendem uma versão da hermenêutica
denominada sensus plenior. Praticantes dessa hermenêutica creem que certas passagens no
Antigo Testamento têm duas interpretações: a interpretação normal, ou literal, e a
interpretação mais ampla ou plena. ” Swedberg74 mostra problemas que decorrem desta
hermenêutica do DP:
72
Ibidem, In Robert Thomas. Hermenêutica. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, 257.
73
SWEDBERG, Mark. DISPENSACIONALISMO: Uma Breve Introdução e defesa, 2000, p 11.
74
Ibidem, p. 12.
75
Ibidem, VERAS, Valberth. REVISTA PILARES DA FÉ, p. 75, 2011.
39
Por esta razão, há sérias preocupações por parte dos dispensacionalistas clássicos e
revisados, com este tipo de dispensacionalismo, o qual tem se infiltrado como apenas mais
uma revisão dispensacionalista em seminários, institutos bíblicos e igrejas que seguem o
Dispensacionalismo Tradicional. Por isso, Robert Thomas 78 fala sobre “Uma segunda
preocupação [que] é o abandono de uma interpretação literal das Escrituras. Deixar a exegese
literal, contextual, gramatical e histórica leva, no final, a interpretações inovadoras e
inventivas da Bíblia. Isto, por sua vez, deixa a porta hermenêutica aberta para métodos de
79
exegese de múltiplos níveis, em vez de uma sólida exegese do texto. ” Thomas
acrescenta ainda, que:
78
Ibidem.
79
Ibidem.
80
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Disponível em > https:// www.
youtube.com/watch?v=URbcO6fYb-w&list=PLDtQAWb-ysHeu3QHCoCUrKBD5cb3ccB6-&index=7.Acesso
em 01 de dez. 2020.
41
consistente”), faz a análise de alguns textos, que citam Davi como Rei na Nova Aliança (Ez
34.24,25) e admite ser tais referências inerentes a Cristo. Senão vejamos:
a) O texto de Ezequiel 34:23:
“Suscitarei para elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é que as
81
apascentará, ele lhes servirá de pastor. ” Note o comentário de Ryrie, na Bíblia Anotada:
“meu servo Davi. Não se trata do rei Davi ressurreto. Mas do Descendente maior de Davi, o
Messias.”
b) O texto de Jeremias 23.5:
“Eis que vem dias, diz o Senhor em que levantarei a Davi um Renovo justo”. Para não
82
dizer que é uma fala esporádica de Ryrie, veja seu comentário: “Renovo. I, e, ramo, um
título messiânico que indica a nova vida que o Messias trará. Ele garantirá justiça para o seu
povo. ”
c) O texto de Ezequiel 37.24:
“O meu servo Davi reinará sobre eles; todos terão um só pastor, andarão nos meus
juízos, guardarão os meus estatutos e os observarão. ” Ryrie 83 traz ainda mais um comentário
sobre este 3º texto: “O reinado do Messias sobre a nação. ” A consistência de Ryrie está de pé
para o DR, o mesmo não podemos dizer acerca do DP. Por isso, Thomas Tronco 84 em
Dispensacionalismo Progressivo, por que não? advoga ser inválida a “hermenêutica
complementar”, atribuindo novos sentidos ao texto, os quais não vêm da sua exegese natural:
81
RYRIE, Charles Caldwel. BÍBLIA, Anotada. Trad. Por João Ferreira de Almeida. São Paulo: Mundo Cristão,
1994, p.1049.
82
Ibidem, p. 949.
83
Ibidem, p. 1053.
84
TRONCO, Thomas. Dispensacionalismo progressivo. Por que não? 2ª Conferência Redenção Tema:
"Dispensacionalismo" Realizada na Igreja Batista Redenção entre os dias 31 de maio e 3 de junho de 2018.
Disponível em> https://www.youtube.com/watch?v=tWu8zNSyQKU&t=2938s. Acesso em 12 de nov. 2020.
42
Deus, mas não plenamente pelo autor humano. A significância tencionada é entendida pelo
escritor do AT, que contém plenamente o sentido tencionado pelo autor divino. Este pode ser
maior do que o referente, mas não o contradiz. Um exemplo é o Salmo 41.9: “Até o meu
próprio amigo íntimo, em quem eu tanto confiava, que comia do meu pão, levantou contra
mim o seu calcanhar. ”
a) O significado do texto: Um amigo leal traiu o rei;
b) A significância mais próxima do texto: O rei Davi é traído por seu amigo íntimo
Aitofel;
c) A significância mais distante do texto: O Rei Jesus é traído por seu amigo íntimo Judas:
“Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a
Escritura: o que come o pão comigo levantou contra mim o seu calcanhar” (Jo 13.18). O
autor humano
sabia do sentido só da 1ª significância. O autor divino sabia o sentido das duas. No Salmo
16.10:
“Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja a
corrupção.”
a) O significado do texto – Deus livra o seu fiel da morte;
b) A primeira referência do texto – Davi é liberto da morte prematura;
c) A segunda referência do texto – Jesus é ressurreto de entre os mortos:
CAPÍTULO TRÊS
__________
86
Ibidem, p.
44
(1) O Epangelismo:
Uma posição teológica desenvolvida por Walter Kaiser Jr, distinta dos sistemas
dispensacionais e pactualistas, que apresenta a promessa como o centro unificador para toda a
teologia bíblica (de Gênesis a Apocalipse). Nesta conjuntura, Kaiser trabalha a relação entre
os Testamentos, a partir de uma escatologia bidimensional, que tem na promessa e no seu
cumprimento o fator sine qua non para que o plano divino se desenvolva até atingir o seu
clímax, que se cumpre no advento do Messias. De acordo com Kaiser: 87 “Este centro
textualmente derivado, que o Novo Testamento haveria depois de chamar a ‘promessa’
(epangeiia) era conhecido no Antigo Testamento sob uma constelação de termos. A mais
antiga de tais expressões era "bênção". Foi a primeira dádiva de Deus para os peixes, aves
(Gn 1:22) e depois à humanidade (vers. 28). ”
Ao analisar esta posição, Roque Albuquerque88 exalta uma das suas virtudes – a
continuidade no progresso da salvação, mas também identifica um dos seus principais defeitos
– a inconsistência na distinção entre Israel e Igreja:
87
KAISER, Walter C. Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 2007. p. 35.
88
ALBUQUERQUE, R. Heilsgeschichte: Uma análise do conceito de sua história como chave hermenêutica
comparada com o dispensacionalismo tradicional. 2004, p. 9.
89
Ibidem, 272.
45
encontro aos ensinos do NT, que mostram ser a Igreja um mistério oculto dos profetas do AT:
Os mais conhecidos pactualistas brasileiros são: Paulo Junior, Héber Campos Junior,
Augustus Nicodemos Lopes e Hernandes Dias Lopes. Eles advogam a crença de que a Igreja
é o Israel de Deus desde o AT e continua em o NT. As alianças e suas promessas com o Israel
no AT se cumprem na Igreja. A da Graça vem desde Gênesis 3.15 e segue até ao fim da
história. O Reino iniciou com o Trono de Davi, que está à destra de Deus (Só passado e
presente, sem futuro). O Messias reina neste Trono até à Segunda Vinda, com a chegada do
Estado Eterno. Para eles, o Milênio é espiritual e dura do Trono do Pai ao Trono Branco e,
depois o Trono Eterno. Sobre o Trono de Davi, dizem que este tem uma única função:
Governar espiritualmente ao Novo Israel de Deus e às nações, da Primeira Vinda à Segunda
Vinda de Jesus, amarrando o valente (Satanás – Lc 11.20-22), pela conversão do homem e a
90
GEISLER, Norman. Teologia Sistemática: Pecado, Salvação, a Igreja e as Últimas Coisas. Volume 2. 1ª ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 900.
91
ANSTEY, Bruce. Teologia do pacto ou Dispensações: Qual maneira correta de se interpretar as Escrituras? 2ª
ed. Canadá: Clube de autores, 2016, p. 208.
92
Ibidem, 2016, p. 208.
46
expulsão do príncipe deste mundo (o diabo - Jo 12.31), anulando suas ações e suas intenções
sobre as nações da terra.
93
Norman Geisler, apresenta os proponentes desta vertente e sintetiza a mesma do
seguinte modo: “[...] Anthony Hoekema (1913-1988) e Vern Poythress (nascido 1944), a
igreja é o Israel do Novo Testamento, no qual há o cumprimento espiritual destas alianças do
Antigo Testamento, embora também haverá um cumprimento futuro literal delas no Israel
94
étnico. ” Geisler também destaca o fato desta vertente ser, como os outros pactualistas,
amilenistas:
A maioria dos aliancistas modificados não acredita que elas serão cumpridas
em um reinado literal de Cristo de mil anos (o Milênio), mas no novo céu e
na nova terra. Além disso, como os aliancistas clássicos, eles acreditam que
há apenas um único povo de Deus e que, por esta razão, não haverá dois
destinos separados, um na terra, para Israel, e um no céu, para a igreja.
Esta vertente é conhecida também como a Teologia da Nova Aliança, um meio termo
entre o Dispensacionalismo e o Aliancismo. Ela não aceita o nascimento da Igreja no AT, mas
no Pentecoste (At 2). A Igreja substitui ao Israel Étnico, e é o Novo Israel de Deus (Gl 6.16).
(4) Dispensacionalismo:
93
Geisler, ibidem, p. 900.
94
Ibidem.
95
LIRA. Jenuan. Revista Pilares da Fé. Teologia/Missiologia. Dispensacionalismo: Passado, Presente e
Futuro, 2004, 31.
47
Reino – Mt 25.31- 46) na Tribulação. O Reino (Milenar/Eterno) está ligado à Obra de Cristo:
sentidos originais. Tal interpretação baseia-se na compreensão geral. Apesar de não crer na
rejeição total de Israel, crê no inaugurar da Nova Aliança por judeus remanescentes da eleição
da graça (Rm 11). A aliança davídica é vigente. O DP vê a Igreja como uma progressão no
97
Plano divino à redenção, com a salvação ofertada a quem creem. Geisler vê o DP como a
revisão mais ao sabor de aliancistas:
Os progressivos não defendem esta ideia, pois creem que o plano unificado
de Deus abrange tanto judeus quanto gentios. Isto quer dizer que a Igreja e
os judeus estão inclusos num único plano divino. A partir desta concepção,
nota-se o quanto o dispensacionalismo progressivo afasta-se do tradicional,
ao mesmo tempo em que se aproxima de outras tradições, como a aliancista
e a teologia da nova aliança. Creio que esta foi a principal mudança do
dispensacionalismo progressivo.100
97
Geisler, ibidem, p. 900.
98
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
99
Ibidem.
100
Ibidem.
49
101
Ibidem, Geisler.
102
RYRIE, Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: Editora Batista Regular, 2020, p. 29.
50
todas as coisas serão sujeitas a Cristo, e Ele então entregará o reino ao Pai, e Deus será tudo
em todos. (I Co 15.24-28). A consumação dos Séculos se finda com o milênio. O mal
desaparece do mundo a partir do novo céu e da nova terra. O que resta ao diabo e aos seus
anjos e a todos os ímpios é o inferno. Doravante, só os justos estarão na nova terra. Sem
dispensação alguma.
4ª – Ultradispensacionalismo:
103
Ibidem, p. p. 317, 318.
51
Notemos que este tipo de redenção se aproxima e se identifica com aspirações tanto do
pós-milenismo, (guardadas as devidas proporções) quanto do amilenismo. Temos que ter
muito cuidado para que esta redenção holística não ofusque os dois pontos do sine qua non do
Dispensacionalismo, que é a glória de Deus em todo o desenrolar da história. Embora
relevante, mas, a Bíblia não está centrada na história da salvação (na redenção), ela se
concentra no próprio Deus. Assim, não é a redenção a quinta-essência da história humana,
mas Cristo e Sua glória são o centro da história. Deus faz tudo consoante ao seu beneplácito e
próprio conselho, para o louvor de sua glória; e em segundo lugar, a distinção entre Israel e a
Igreja começa a ser embaçada no DP. Neste caso, as Escrituras enfatizam muito mais a
redenção futura de Israel, em especial com o Dia do Senhor e a Nova Aliança, sem desprezar
a ação de Deus nas nações, pela conversão dos gentios, agora, na Dispensação da Graça, e
também no período tribulacional.
(3) A ênfase na continuidade qualitativa entre o Milênio e o Estado Eterno é
necessária?
Quando adentramos nesta questão podemos pensar na divisão que os progressivos
fazem das dispensações, geralmente em número de quatro: Patriarcal, Mosaica, Igreja ou
Graça e Siônica. Assim, para o DP a quarta dispensação subdivide-se em Milênio e
Eternidade, isto é, o DP entende o Milênio como um reino intermediário entre o davídico, já
inaugurado, e a plenitude do reino de Deus a ser inaugurada na Nova Terra, sendo o Estado
Eterno uma dispensação. Talvez seja por isso que Vlach apoia este ponto, pois ele crer em 8
dispensações, inclusive o Estado Eterno como a oitava. Pode ser também que, por isso, Ryrie
vê o DP como aliancista ao invés de dispensacionalista. Nós não enfatizamos esta
continuidade, por entendermos que o Estado Eterno é outra dimensão, não se constituindo em
uma dispensação.
Queremos abrir esta parte do estudo com um panorama geral desta tensão
escatológica, abordado por Charles Ryrie:108
108
Ryrie Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: Editora Batista Regular, 2020, p. 272.
109
CULMANN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento. São Paulo: Editora Custom LTDA, 2004, p. 71.
110
SWEDBERG, Mark. DISPENSACIONALISMO: Uma Breve Introdução e defesa, 2000, p 11-12.
111
Ibidem, 2000.
112
LADD, G. Teologia do Novo Testamento. Ed. Revisada. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 20.
55
desta teologia: “Na obra de Cullmann, a teologia da Heilsgeschichte emergiu de uma forma
diferente e nova. Como consequência, o princípio da Heilsgeschichte como o centro
unificador da teologia do Novo Testamento tem sido amplamente reconhecido”. É fato que os
conservadores concordam com a visão de Culmann; mas, o mesmo teólogo advoga a ideia
113
duma Cristologia funcional, que, segundo Roque Albuquerque, pode ser conceituada
assim: “Com Cristologia Funcional vem a ideia que o NT não está interessado tanto na
essência do ser de Cristo, mas nas funções com que ele se apresenta.” Esta tese não é bíblica.
Daí Albuquerque114 contestar: “Não podemos separar a Cristologia Ontológica da Funcional.
Cf. Jo 1.1. ”
115
Ainda sobre a Heilsgeschichte, Albuquerque cita von Hoffman, que teve por fonte
Johann Albrecht Bengel, o qual contribuiu à sua estruturação com a hermenêutica e sua noção
da história sagrada ou história da salvação. Para Laerte Tardeli Hellwig Voss,116 o termo acha
espaço em Cullmann, o qual não cria em Adão como uma pessoa histórica. Em sua trilogia:
Cristologia do Novo Testamento, Salvação na História e, em especial, Cristo e o Tempo, ele
diz que “O Reino de Deus que, em um primeiro momento parecia estar relacionado apenas
com eventos vindouros, podia ser experimentado, em sinais, já no presente. Tudo porque em
Cristo, o futuro já havia começado, o Reino já havia sido inaugurado, e nós éramos parte dele.
” Vale dizer que, o já/ainda não, na escatologia temporal culmanniana, não só influencia
progressivos, mas também aos teólogos protestantes liberais e neo-ortodoxos e ainda aos
teólogos católicos.
Em relação a Cristo e o Tempo, obra-prima de Culmann, é relevante para este estudo,
notarmos a síntese deste livro feita por William Felipe Zacarias: 117
Em 1946 ele escreveu “Cristo e o tempo” que é considerada a sua obra máxima. Em
Cristo e o Tempo, Cullmann traz uma concepção neotestamentária de tempo
e história. Ele voltou para a temporalidade, enfim, à historicidade: sociedade,
política, corpo e planeta. Para ele, a história humana na sua totalidade é
somente compreendida a partir do evento de Cristo. É nele que os demais
eventos históricos recebem sentido.
118
Zacarias trata da ruptura de Culmann com a filosofia platônica pela temporalidade,
presente na obra: “Por isso a eternidade não se opõe à temporalidade. A definir isto, Cullmann
113
ALBUQUERQUE, R. Heilsgeschichte: Uma análise do conceito de sua história como chave hermenêutica
comparada com o dispensacionalismo tradicional.2004, 9.
114
Ibidem, 2004.
115
Ibidem, 2004, p.15.
116
VOSS, Laerte Tardeli Hellwig. A tensão já e ainda não em Oscar Cullmann: Possibilidades e Implicações
para a Missão da Igreja, Rio de Janeiro: PUC, 2018,13.
117
ZACARIAS, William, Felipe. Tempo e História no Cristianismo Primitivo Oscar Culmann, S/D, p. 2.
118
Ibidem.
56
119
CULMANN, Oscar. Cristo y el Tiempo. Barcelona: Editora Estella SA, 2008, p. 95.
120
Ibidem, 2018, p. 11-12.
57
não quer dizer que devemos nos apropriar dessa tensão e aplicá-la a cada profecia e a cada
fato escatológicos.
Culmann 121 ao abordar a nova divisão de tempo no centro da História da Salvação faz
com que vários progressivos se apropriem desse discurso e aplique ao
Dispensacionalismo
como tripartite: Antes de Cristo, depois da primeira Vinda dEle e após a sua segunda Vinda:
Tal como se encuentra en la Biblia, hemos visto que la línea del tiempo se
divide en tres partes: el tiempo anterior a la creación, el tiempo comprendido
entre la creación y la parusía, el tiempo posterior a la parusía. A esta división
tripartita, jamás abolida, se superpone, ya en el judaísmo, la división
bipartita, originaria del parsismo que distingue entre este aión y el aión que
viene. En esta división bipartita judaica, todo se halla situado bajo el signo
del porvenir. La mitad misma de la línea está formada por la venida futura
del Mesías, la aparición de la era mesiánica de la salvación con todos sus
milagros. Aquí es donde el judaísmo coloca el gran corte de la historia en su
conjunto, corte que la divide en dos mitades. Dicho de otro modo, para el
judaísmo, la mitad de la
línea, la salvación, está situada en el porvenir.
Nesta conjuntura, surge a questão: Como pode o Reino de Deus ter um já e um ainda
não? Assim, os Tradicionais e Revisados são inquiridos: Se os judeus tivessem aceitado o
reino que Cristo veio trazer, como ficariam os judeus e as nações sem o derramamento do
sangue de
Cristo (Hb 9.22)? Para esta pergunta é preciso entender que Jesus veio para os judeus: “Eu
não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15.24). O seu primeiro IDE
foi aos israelitas: “Mas ide ante as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10.6). Então,
ocorreu a rejeição dos hebreus: “Veio para o que era seu e os seus não o receberam” (Jo 1.11).
Isto é fato, pois o reino lhes foi tirado e adiado profeticamente para o futuro, dado a outra
geração de Israel:
Isto realça o controle soberano de Deus, mesmo com o adiamento do Reino pela
rejeição de Israel. Isto também responde a progressivos sobre a Igreja como lacuna profética e
o adiar do Reino, revelando a Jesus como a Pedra e a expectativa dos judeus nos conceitos:
121
Ibidem, CULMANN, Oscar, 2008, p. 67.
58
Reino de Deus para a Igreja – Jesus é a Pedra Viva na primeira e segunda vindas. O AT fala
desta Pedra e do Reino Messiânico para Israel, destruindo o império da Besta. Veja Daniel
9.34 e 44-45:
Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem auxílio de mãos, a
qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou [...]. Mas nos
dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais
destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá
todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre. De maneira que
viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela
esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro; o grande Deus fez
saber ao rei o que há de ser depois disto. Certo é o sonho e fiel a sua
interpretação.
Acerca da rejeição dos judeus a esta Pedra e seu tropeço na primeira Vinda de
Cristo,
há o registro do Salmo 118.22-23. E é importante destacar: “[...] Da parte do Senhor se fez
isto [...]. ” Esta rejeição é pontuada por Jesus três vezes em o Novo Testamento, tratando
deste fato e feito, na Parábola da Vinha (Mt 21.42; Mc 12.10 e Lc 20.17). Israel tropeçou na
Pedra, por não entender que, na 1ª Vinda, o Salvador não veio implantar o reino messiânico,
mas edificar o Mistério, a Sua Igreja: “E também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. ” (Mt
16.18). A igreja não é o Reino e Pedro não é a Pedra, mas sim, Jesus; O apóstolo diz isto
em discurso diante de Anás,
Caifás, João e Alexandre: “Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi
posta por cabeça de esquina. ” (At 4.11). Na sua carta, ele expõe o fato com Israel e a Igreja:
Tudo isto só demonstra que o plano divino está em execução sem ser frustrado. A
incondicionalidade que a aliança abraâmica indica, está no processo e é dito na perícope
acima que aqueles judeus foram “destinados para este propósito” e repetindo: “[...] foi o
Senhor quem fez isto”. O Plano soberano de Deus inclui a rejeição de Israel e a sua admissão
posterior, junto com o adiamento do reino, como Paulo expressa em Romanos 9, 10 e 11. É o
59
que se vê após a censura de Jesus aos judeus: “Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e
apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos como a galinha
ajunta os seus pintos debaixo de suas asas e tu não quiseste” (Mt 23.37). O adiamento do
Reino é visto nos próximos versos: “Eis que a vossa casa vos é deixada deserta; porque eu vos
digo que desde agora não me vereis mais até que digais: Bendito o que vem em nome do
Senhor” (Mt 23.38-39).
Neste contexto, Randall Price 122 afirma: “Quando a liderança de Israel rejeitou a Jesus
como o Messias (Mt 23.37-38; At 3.13-15,17; 4.25-27), a restauração da nação foi adiada, o
que tornou necessário um segundo advento messiânico a fim de completar a restauração
espiritual e física de Israel (Mt 23.39; At 6-7; 3.19-21; Rm 11.25-27).”
O Reino é adiado para o futuro, após a obra do Calvário e a Ressurreição de Cristo
se
concretizarem, quando Ele vier em glória para reinar com a Igreja e Israel. A soberania de
Deus não é afetada em Seu beneplácito. Assim é inserido o clamor de Israel: “Salva-nos,
agora, te pedimos, prospera-nos. Bendito aquele que vem em nome do Senhor; nós vos
123
bendizemos desde a casa do Senhor” (Sl 118.25-26). Por isso, Price afirma
peremptoriamente:
125
Reforçamos com Price o “adiamento, porque retém a ideia original de uma
interrupção no cumprimento, enquanto o suplementa com a noção de que tal demora é apenas
temporária, e profética, porque entendemos que se trata de um ato intencional e pré-ordenado
no plano divino. ” Tal adiamento profético é uma doutrina expressa por ele na Era messiânica:
Price 127 pontua que este protelar envolve tanto a restauração espiritual do povo quanto
a restauração física da terra:
125
Ibidem, 2010, p. 20.
126
Ibidem, 2010, p. 21.
127
Ibidem.
128
Ibidem, 2010, p. 21.
129
Ibidem.
61
e aliancistas. Para ambas as vertentes a Igreja e o Israel são expressões do Reino de Deus na
terra. Corrobora com esta afirmação, o dispensacionalista progressivo Valney Veras: 130
Assim, os progressivos veem a igreja como o Reino de Deus, o que não condiz com o
133
que as Escrituras ensinam. Em relação ao fato de a Igreja não ser o Reino, Thiessen
enfatiza que “Na tradução inglesa de Mateus temos o termo ‘reino dos céus’ trinta e três
vezes, mas ele não aparece em qualquer outro lugar da Bíblia. Temos frequentemente o termo
‘reino de Deus’. Mas nenhum deles pode ser colocado no lugar da Igreja”. O autor acrescenta
ainda que:
130
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
131
CARDIN, Hélder. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Disponível em > https://
www.youtube.com/watch?v=4ZE9EmUyNiw&list=PLDtQAWb-ysHeu3QHCoCUrKBD5cb3ccB6-index=8.
Acesso em 02 de dez. 2020.
132
Ibidem, CARDIN, Hélder. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 02 de dez.
2020.
133
Henry Thiessen, Palestras Introdutórias e Teologia Sistemática, p. 290.
62
[...]. Mas, existe como eu falei, uma segunda observação que o Reino de
Deus se dará somente num futuro escatológico no Milênio. Então a Igreja
não é o Reino de Deus. Problema: Nós temos uma série de textos bíblicos
que parecem dizer que a Igreja, de alguma forma, participa do Reino. Com
isto nós não estamos querendo dizer que somos amilenistas ou que o Milênio
é figurativo. Não, cremos num milênio literal no futuro, numa perspectiva
premilenista, pré-tribulacionista; no entanto, pelas próprias afirmações
bíblicas, você tem que fazer uma ginástica exegética muito grande para
defender que a Igreja não tem nada a ver com o Reino de Deus [...], e mais
uma vez, dentro de uma perspectiva do dispensacionalismo, pensando na
chave-hermenêutica do já/ainda não, podemos entender um caminho
interpretativo presente nas Escrituras que faz a relação entre o aspecto
presente do Reino e o aspecto futuro do Reino.
II – ASPECTOS DO REINO APLICADOS À IGREJA:
expressar uma hermenêutica plausível com definições distintas de reino na teologia. Sobre a
série dos vários textos que os progressivos dizem estar ligados à Igreja como expressão do
Reino de Deus:
a) Lucas 1.32 – “[...] Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo, Deus, o
Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a casa de Israel e o
seu reino não terá fim. ” Análise progressiva:
[...]. Lucas capítulo 1.32 obviamente é um texto que nós não poderíamos
deixar de ler para tentar perceber a Igreja como expressão do Reino de Deus
na terra, [...] Ao interpretar este texto alguns vão dizer, olha, Jesus vai reinar
no trono de Davi. Na verdade, o trono de Davi se refere ao trono do governo
do Senhor e Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó. Só sobre a casa de
Jacó? Não, vai reinar para sempre sobre todas as nações. Mas aqui Ele está
especificando. E o reino dEle não terá fim. Então, é muito claro em Lucas
1:32 e 33 aqui, nestas palavras de recebimento do Senhor Jesus, a ideia de
que Ele haveria de reinar no trono de Davi.137
Com todo respeito ao DP, mas esta exegese desta passagem não traz nenhuma
evidência concreta de que este texto fala da Igreja como expressão do Reino (no próximo
capítulo temos uma hermenêutica bíblica sobre o trono de Davi). Basta agora a fala de Ryrie
sobre este texto: “[...]. Jesus é o Messias davídico, e embora seja Rei eternamente, o
cumprimento definitivo dessa promessa em relação à casa de Jacó começa no reino milenar.
Veja 2 Sm 7.16.”138
b) Mateus 3.2: “Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus”. A visão
progressiva sobre esta passagem bíblica é categórica:
[...]. Olha a mensagem de João Batista, por que que ele pregava que estava
próximo o reino de Deus? E posteriormente, nós observamos Jesus
ensinando e pregando o Evangelho do reino. [...] o reino de Deus é central na
pregação de Jesus, não tem como ler os Evangelhos e não observar que
existe a pregação do Evangelho do reino. 139
Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse
deste mundo, pelejariam os meus servos para que eu não fosse entregue aos
judeus; mas agora o meu reino não é daqui. Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu
és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para
isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é
da verdade ouve a minha voz. (João 18.11-12).
Quando olhamos para estes versículos, percebemos nitidamente que o Rei não
inaugurou o seu reino na terra para Israel e para as nações. Muito antes da existência do DP,
141
Lewis Sperry Chafer já alertava para isto: “[...] O Reino do Céu posposto até o retorno de
Cristo. Um dos maiores erros dos teólogos é uma tentativa, como ensaiada agora, de construir
um reino. Visto que o reino do céu não é outro além do governo de Deus sobre a terra. ” No
142
que concerne a estas passagens, Geisler faz uma afirmação sumamente importante,
realçando o valor do período de interregno neste contexto da Dispensação da Graça:
Quando é dito que o Rei não foi coroado, mas crucificado, já se percebe
categoricamente que houve uma rejeição tanto do Rei, quanto do Reino. Como pode haver
uma inauguração de um reino com tamanha rejeição? Daí deduzirmos que o Evangelho do
reino e o reinado do Rei foram adiados profeticamente e protelados pelo próprio Soberano
Deus para que, no Seu propósito, tudo se cumpra no futuro, consoante à Sua perfeita vontade.
Veja os próximos textos:
f) Mateus 11.11: “Em verdade vos digo que entre os nascidos de mulher não
apareceu ninguém maior do que João Batista, mas o menor no reino dos céus é maior do que
ele. ”
O DP traz várias indagações retóricas que parecem irrefutáveis, em um primeiro
momento, a fim de demonstrar a pertinência de tanto uma inauguração do Reino no já quanto
no início da Nova Aliança para a era presente:
Como pode ser? Quem é o menor no reino dos céus aqui? Se o reino dos
céus, que é o reino de Deus, só vai se cumprir, segundo alguns
dispensacionalistas, numa perspectiva futura, então aqui a gente já entende
que está instalado o reino de Deus através desta pista que nós percebemos no
versículo 11. O menor no reino dos céus é maior do que João Batista. 144
Pedimos licença para discordar do DP, pois esta passagem bíblica não diz que o reino
de Deus já foi inaugurado na presente era. Analisando este texto nós podemos, sim,
contemplar a Igreja como participante do reino e da sua glória futura, enquanto a imaculada e
irrepreensível esposa do Cordeiro a reinar no futuro Milênio com Israel. João, o Batista é o
maior de todos os crentes e profetas veterotestamentários, porque ele viu pessoalmente o Rei
deste reino:
Ninguém jamais viu a Deus, o Deus unigênito que está no seio do Pai, é
quem o revelou. [...] Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a
batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o
Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo. Pois eu de fato vi, e tenho
testificado que ele é o Filho de Deus. (Jo 1.18, 33,34).
Este privilégio só ele teve, mas os próprios apóstolos tiveram privilégio ainda
maior,
pois, não só o viram, mas também ouviram os seus ensinamentos: “Bem-aventurados, porém
os vossos olhos, porque veem; e os vossos ouvidos, porque ouvem. Pois em verdade vos digo
143
Veras, Ibidem.
144
Ibidem.
66
que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram; e ouvi o que ouvis, e não
ouviram. ” (Mt 13.16-17). Entretanto, a Igreja, que não é o Reino, e tampouco inaugurou este
Reino agora, fará parte deste Reino no futuro com o privilégio maior que o dos crentes
veterotestamentários e maior do que o próprio João, o Batista. Ela será a esposa do Rei: “O
que tem a esposa é o esposo, o amigo do esposo que está presente e o ouve, muito se regozija
por causa da voz do esposo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. ” (Jo 3.29-30). Somente
quando a esposa se aprontar (Ap 19. 7-9) e vier com Cristo em Armagedom para inaugurar o
Reino dos céus (Ap 19. 11-21; 20.11-6) é que este verso 11 fará sentido pleno para todos nós,
da Igreja.
g) Mateus 11.12 – “ Deste os dias de João Batista até agora o reino dos céus é
tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele. ” Este é outro texto citado pelo
DP como aporte para comprovar a inauguração do reino dos céus entre nós, conforme declara
Veras: “Então, já existe aqui uma manifestação do reino de Deus nesse momento. Alguns vão
dizer, não, é porque Jesus estava aqui, quando Ele subiu ao céu o reino de Deus subiu com
Ele.”145
Mais uma vez a passagem acima não denota a inauguração do Reino. Os dias do
Batista antecedem a ascensão de Cristo e o advento da Igreja. Ela não está na terra, como
então entender que o reino já estava aqui em um tom escatológico? Jesus enfatiza o aspecto
espiritual do reino e a violência dos judeus que rejeitaram a mensagem do reino é patente
neste processo: o precursor perdeu a cabeça e o Rei foi crucificado, como diz Ryrie: “Desde o
tempo em que João começara a pregar, a reação fora violenta, quer por parte dos judeus, quer
por parte dos partidários entusiasmados.”146 Em si, o texto nada tem a ver com a Igreja. Daí
Scofield 147 dizer:
Em Lucas, lemos: “A lei e os profetas vigoraram até João; desde esse tempo vem
sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo o homem se esforça por entrar nele. ”
148
(v.16). Charles Pfeiffer e Everett Harrison entendem esta passagem como o marco que
145
VERAS, Ibidem.
146
Ryrie, Bíblia Anotada, ibidem, p. 1199.
147
Scofield, Bíblia de Referência, ibidem, p. 865.
148
PFEIFER, C. & HARRISON. Comentário Bíblico Moody. Os Evangelhos e Atos. São Paulo: IBR, 1994, 157.
67
É chegado, chegou o reino de Deus [...]. A ideia é que esses sinais que Jesus
fazia, esses sinais miraculosos não eram assistência social para o povo
daquela época. Era uma expressão de graça e de bondade, certamente, mas
eles tinham um propósito maior de apontar Jesus como o Messias e de
autenticar a mensagem apostólica pregada pelos discípulos do Senhor Jesus
Cristo, que também expulsavam demônios: é chegado o reino de Deus. 149
É muito interessante este tipo de análise feita pelo DP. Com certeza, os sinais e
milagres praticados por Jesus era para autenticar a sua messianidade a fim de provar aos
judeus que Jesus era o Cristo (Jo 20.31). Não vejo tanto assim com os apóstolos, cujo
propósito principal dos sinais era autenticar sua mensagem até a completação do Cânon. Mas,
não dá para pegar este texto e dizer que a Igreja inaugura o reino. Em texto paralelo a este,
Zuck menciona milagres e sinais de Jesus em seu Ministério, e assim, os filhos do Reino
devem se submeter ao governo de Deus: servos que fazem a vontade dEle (Lc 11.20). Por
isso, Norman Geisler, 150 sustenta:
Jesus disse isto a respeito do reino espiritual de Deus (o Seu reinado); isto é,
‘o rei está entre vós’. Consequentemente, o reino estava presente quando o
Rei expulsou demônios (por exemplo, Mt 12.28), e também estava presente
(prefiguradamente) quando Ele disse: ‘Em verdade vos digo que alguns há,
dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do
Homem no seu Reino (16.28; cf. Mc 9.1; Lc 9.27.
Zuck cita o Batista como precursor cuja missão era preparar o público a responder à
mensagem e à pessoa de Jesus. Daí o arrependimento exigido por Ele ser necessário a
receptores da mensagem divina. Evandro Roque Rojahn151 cita Zuck: “Reino de Deus é
presente pela pessoa e anúncio de Jesus. Todos quantos almejam ser recebidos nesse Reino
devem prontamente arrepender-se dos pecados, pois esta é a condição primária e favorável ao
anúncio do Senhor. ” Os milagres provam autoridade do Rei e sua messianidade, mas não
149
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
150
Ibidem, Geisler, p. 894.
151
Revista Ensaios Teológicos – Vol. 03 – Nº 01 – Jun/2017 – Faculdade Batista Pioneira, p. 156.
68
Isto é muito interessante: ‘não vem o reino de Deus com visível aparência. ’
[...]. Como não é possível ter uma visível aparência deste reino? O Senhor
Jesus está explicando algo muito interessante aqui [...] O que o Senhor Jesus
começa a ensinar é uma transição com aspectos inerentes a uma Nova
Dispensação.
A transição para a Nova Aliança. O reino de Deus está dentro de vós. [...].
Estas palavras do Senhor Jesus Cristo estão lançando as bases do
fundamento da Igreja. [...] Então, o Senhor Jesus está ensinando aqui, sim,
que o Reino de Deus se expressa na Igreja [...]. É um reino espiritualizado,
iniciado sem estar consumado [...]. Isto nos lembra também o já/ainda não.
152
Ibidem.
153
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
154
RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas. São José dos Campos: Editora Fiel, 1985, p. 282.
69
O reino de Deus estava no meio daqueles judeus-fariseus, mas apesar disso, não o
perceberam. Ryle155 interpreta esta passagem acrescentando que a visão de Jesus sobre o reino
presente afeta o campo espiritual e não físico, portanto, não há um reino messiânico
inaugurado, como pensam os progressivos, mas um reino de Deus espiritual, sem aparência
física entre eles:
155
Ibidem.
156
Ibidem. RYLE, p. 282.
157
Ibidem. In FREERKSEN, James: Escatologia de Atos. 2010, p. 171-172.
158
Ibidem.
70
4. Este reino é o mesmo que existiu com Israel, pois “restaurar” significa
trazer de volta algo que existiu anteriormente. Jesus suavemente repreendeu
aos discípulos por esta pergunta, mas não os censurou por sua esperança na
restauração do reino terreno que Deus estabelecera com a nação de Israel no
passado. Censurou-os apenas por terem Israel como sua principal e mais
urgente preocupação. Naquele momento, Cristo estava concentrado na
fundação de sua Igreja (A t 1.8). Ele advertiu os discípulos, explicando que
não lhes cabia saber os tempos ou as estações (v. 7).
Pelo fato de a expressão “Reino de Deus” também ser utilizada pela Igreja
do Novo Testamento, alguns concluem que as duas são idênticas, porém não
159
Geisler, ibidem, p. 895.
160
Ibidem.
161
TRONCO, Thomas. Dispensacionalismo progressivo. Por que não? 2ª Conferência Redenção Tema:
"Dispensacionalismo" Realizada na Igreja Batista Redenção entre os dias 31 de maio e 3 de junho de 2018.
Disponível em> https://www.youtube.com/watch?v=tWu8zNSyQKU&t=2938s. Acesso em 12 de nov. 2020.
162
Geisler, ibidem, p. 868.
71
tendo o mesmo escopo. Abraão, Isaque e Jacó (por exemplo) estão no reino
de Deus (cf. Lc 13.23), e a igreja não existia no Antigo Testamento (Ef 3.3-
6); este é um mistério que só foi revelado posteriormente (Cl 1.26-27) e que
começou no Pentecostes (At 2), quando os crentes foram batizados no corpo
de Cristo (1.5; cf. 1 Co 12.13). Pedro usou a expressão “as chaves do reino”
(c.f Mt 16.19) para abrir a porta do evangelho aos judeus (At 2; cf. 11.15) e
aos gentios (10.1ss): até mesmo os salvos nos tempos do Novo Testamento,
antes do Pentecostes, faziam parte do reino de Deus, mas não da Igreja.
163
Geisler fala com propriedade sobre a amplitude do reino de Deus em relação à
Igreja,
O reino de Deus é mais amplo do que a igreja. Todos aqueles que estão na
igreja fazem parte do reino de Deus, porém, nem todos aqueles que fazem
parte do reino de Deus fazem parte da igreja. Isto se aplica, por exemplo, a
João Batista, a outros crentes, e aos santos do Antigo Testamento, que
morreram antes que a mensagem do Pentecostes os alcançasse (c.f 19.1-7).
Diante desta bela explanação de Geisler, só nos resta questionar aos aliancistas, aos
novos aliancistas e aos progressivos: Como pode o reino de Deus ter sido inaugurado pela
Igreja após a ascensão de Cristo, se os crentes veterotestamentários já faziam parte dele?
Não tem lógica nenhuma esta inauguração. Mas tem lógica abundante se este reino
messiânico for inaugurado no Milênio, por todos os crentes veterotestamentários de outras
Dispensações (Hb 11.39-40), pelos cristãos da Igreja, na Dispensação da Graça de Deus, (Ef
3.2), pelos salvos de Israel e pelos fiéis gentios, na Tribulação (Ap 17.14). É maravilhosa e
justa esta inauguração, com a presença de todos os salvos de todas as Dispensações,
congregados em Cristo com o objetivo de estabelecer na Dispensação da Plenitude dos
Tempos (Ef 1.10), a instalação e posse:
“[...] por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. ” (Mt 25.34).
l) Atos 20:24-25 – “Porém, em nada considero a minha vida preciosa para mim
mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus
para testemunhar o evangelho da graça de Deus. Agora eu sei que todos vós, em cujo meio
passei pregando o reino, não verei mais o meu rosto. ” Os DP advogam que Paulo pregou o
Evangelho da Graça, mas também pregou o Evangelho do Reino. Mas, Mal Couch 164 contesta
esta visão.
163
Ibidem.
164
Geisler, ibidem, p. 869.
72
Paulo separa completamente o reino da era da graça, o que fica claro quando
ele dá uma atribuição a Timóteo: “Conjuro-te, pois, diante de Deus e do
Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no
seu Reino” (2 Tm 4-1).
Mal Couch165 mostra a distinção da nossa era para com a época em que o Israel étnico
vai ser trabalhado. O autor mostra que a teologia de Paulo abarca o reino futuro sobre Israel.
Há outras visões sobre a multiplicidade de conceitos acerca do reino; por esta razão,
Alva McClain, citado por Norman Geisler, 167 relata este processo:
167
McClain apud Geisler, p. 866.
168
LADD, G. O Evangelho do Reino: Estudos bíblicos sobre o Reino de Deus. SP: SHED Publicações, 2008, 52.
169
Ibidem.
74
4. A nova aliança esta inaugurada para Israel. Embora as suas bênçãos não
venham a ser totalmente percebidas até o Milênio, os seus efeitos já estão
garantidos para Israel.
5. A distinção entre Israel e a Igreja deve ser abandonada. Os progressivos
rejeitam o conceito de dois propósitos e dois povos de Deus. (No entanto, a
Igreja é claramente distinta de Israel no NT. A Igreja foi batizada com o
Espirito Santo [At 11.15-16], começou no Pentecostes e continuará até o
arrebatamento [1 Ts 4-17]. Ela é habitada por Cristo [Cl 1.27] e foi
comissionada para evangelizar o mundo. Israel, ao contrário, ainda, é
retratado como uma nação separada depois do Pentecostes [veja At 3.12;4.8;
5.21,31,35; 21.28].)
170
ZUCK, Roy B. Teologia do Novo Testamento. Tradução de Lena Aranha. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 39.
171
Ibidem, In W. House e R. Thomas. Crenças Básicas do Dispensacionalismo Progressivo. 2010, 143.
172
Ibidem.
75
173
Ryrie, apresenta mais dois pontos, destacando o problema da hermenêutica
complementar do DP e o plano de Deus como algo holístico, crido e defendido, por este tipo
de dispensacionalismo:
6. Significados complementares podem ser atribuídos as promessas do AT.
Em outras palavras, os dispensacionalistas progressivos espiritualizam
conceitos encontrados no NT de forma que os torna complementares as
promessas. Por exemplo, hermenêuticas literais ditam que o Templo em
Apocalipse 11.1 é um edifício literal, mas a hermenêutica complementar do
dispensacionalismo progressivo lhes permite dizer que ele é uma referência
ao corpo de crentes, pelo fato de o termo ser usado deste modo em outra
passagem no NT. Este é um dos maiores problemas com a abordagem
dispensacional progressiva; ela deixa a porta hermenêutica aberta para uma
larga gama de interpretações.
7. O plano de redenção holística de Deus abrange todas as pessoas e todas as
áreas da vida humana. (Embora isto seja verdadeiro no sentido definitivo do
governo universal de Deus sobre tudo na vida, não significa que as
prioridades universais [sociais, políticas e ecológicas] devam ter precedência
sobre a Igreja e a sua missão de evangelizar o mundo).
Corrobora com Lopes, Marten Woudstra175 enfatizando a não distinção entre os grupos
(Israel e a Igreja), a partir do uso também do versículo supracitado, pontuando que os cristãos
judeus são aqueles que formam com os gentios a Igreja, que é o Israel de Deus:
Muito tem sido escrito sobre Gálatas 6:16 e como compreendê-lo. Tendo
chegado ao fim de sua epístola, na qual ele se irrita com o judaísmo que
estava se infiltrando na igreja gálata, Paulo está agora apontando os cristãos
judeus como o Israel de Deus junto com outros que andarem de
173
Ibidem.
174
LOPES, Hernandes D. Gálatas: a carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2011, p. 282.
175
FEINBERG, John. Continuidade e Descontinuidade: perspectiva sobre o relacionamento entre o Antigo e o
Novo Testamentos: ensaios em homenagem a S. Lewis Johnson Jr. In WOUDSTRA, Marten H. Israel e a
Igreja: Um caso para a continuidade. SP: Hagnos, 2013, p. 286.
76
conformidade com esta regra? Existem duas classes de pessoas aqui – uma
categoria geral de cristãos que seguem a “regra” e uma categoria de cristãos
judeus?
Este verso não diz que a Igreja é o Israel de Deus, é preciso fazer uma exegese bíblica
para verificar o texto de Gálatas no tocante a este assunto. Atesta esta verdade Bruce
Anstey:178
Paulo fala da Igreja a partir de dois grupos: gentios (os que andam conforme esta
regra) e judeus remanescentes da eleição da graça (Rm 11.5). São convertidos a Jesus. Daí
Abdalla179 fazer a interpretação deste texto por um quiasmo (como estrutura do mesmo) – (Gl
6.15-16:
176
Ibidem. In WOUDSTRA, Marten H. Israel e a Igreja: Um caso para a continuidade. SP: Hagnos, 2013, p.
286.
177
Ibidem. In SAUCY, Robert. Israel e a Igreja: Um caso para a descontinuidade, 2013, p. 302.
178
Ibidem, ANSTEY, p. 238.
77
179
ABDALLA, Thiago. AT/NT: Continuidade e Descontinuidade 6/10. Escola Spurgeon Disponível em >
https:// www.youtube.com/watch?v=uDHHqB4WG8w&t=352s Acesso em 27 de nov. 2020.
180
Ibidem, In W. House e R. Thomas. Crenças Básicas do Dispensacionalismo Progressivo. 2010, 143.
181
Ibidem.
78
CAPÍTULO QUATRO
__________
182
Ibidem.
183
Ibidem.
184
Ibidem.
79
HERMENÊUTICA:
185
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
186
LOPES, Nicodemus Augusto. O dilema do Método Histórico-crítico na interpretação bíblica. Revista Fides
Reformata X, nº 1 (2005), p. 118.
80
187
Nota: De acordo com Matheus Maia Schmaelter, o Argumentum ad Hominem (literalmente, argumento contra
o homem) é um tipo de falácia de relevância, um subgrupo do que é conhecido no campo da lógica
como falácias não-formais. Nesse modelo de falácia é necessária a participação de uma ou mais pessoas em um
debate e ela acontece quando um debatedor ataca diretamente a pessoa de seu oponente e não seu argumento, a
fim de invalidá-lo. Pode aparecer de três formas: ad hominem ofensivo, ad hominem circunstancial e tu
quoque (“você também”, em latim).
81
a obra em língua inglesa. Em 1830, Irving foi expulso do presbitério em Londres, acusado de
heresia, e fundou a Igreja Católica Apostólica Carismática, tendo como membro de sua
congregação, Margareth Macdonald, uma jovem neófita-visionária que sonhara com a vinda
de Jesus, expressando as crenças escatológicas dum rapto secreto e duma vinda invisível de
Cristo, antes da Tribulação. No vídeo, Darby é um maçom que organizou as ideias de
Lacunza, Irving e Macdonald, no dispensacionalismo, que é retificado pelo pseudo advogado,
também maçom, Cyrus Scofield; e pelo autor de ficção, Tim LaHaye. Respondendo ao vídeo,
Granconato diz:188
189
Neste contexto, Ryrie expressa sua revolta com as injurias que muitos pactualistas
disparam contra os homens de Deus que fincaram as bases do dispensacionalismo:
188
GRANCONATO, Marcos. Distorções sobre o Dispensacionalismo. Uma resposta – Pr. Marcos Granconato
Disponível em> https://www.youtube.com/watch?v=uEvZUBISp3o. Acesso em 04 jan 2021.
189
RYRIE, Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: editora Batista Regular, 2020, p. p. 332, 333.
82
Brasil) usam este vídeo para divulgar mentiras contra o dispensacionalismo. Ele 190 prossegue
ainda afirmando:
Sobre o jesuíta Lacunza e Edward Irving, Granconato revela, através da obra do Paul
Richardson Wilkinson, Compreendendo o Sionismo Cristão que ele fala da formação de
Darby:
190
Ibidem.
83
comentário da Bíblia Scofield lemos: “Como uma dispensação, a graça começa com a morte e
a ressurreição de Cristo (Rm 3. 24-26; 4. 24,25). Obedecer às leis não é mais a condição para
a salvação, mas sim, a aceitação ou rejeição de Cristo, e a visão das boas obras como um fruto
da salvação.”191 Daí Ross192 afirmar:
Vale ressaltar que, por conta deste equívoco, o comentário de Scofield foi aprimorado
mais tarde, em 1967, na Nova Bíblia de Referência Scofield:
Essa afirmativa, entretanto, não quer dizer que antes de Moisés não existia
nenhuma lei, que antes de Jesus Cristo não havia graça e verdade [...]. É da
mais vital importância observar, entretanto, que as Escrituras, em qualquer
dispensação, jamais misturam ou confundem esses dois princípios. A lei
sempre tem o seu lugar e a sua função bem distintos e inteiramente diversos
dos da graça. A lei é Deus proibindo e exigindo. A graça é Deus suplicando
e dando. A lei é o ministério da condenação. A graça é o do perdão. A lei
amaldiçoa. A graça redime da maldição. A lei mata. A graça dá vida. A lei
fecha toda a boca diante de Deus. A graça abre a boca para louvá-lo. A lei
afasta o culpado para bem longe de Deus. A graça conduz para bem perto de
Deus. A lei diz: “olho por olho, dente por dente”. A graça diz: “Não resistais
191
Bíblia de Referência Scofield apud Klooster, p. 157.
192
Ibidem, Ross, p. 194.
193
Nova Bíblia de Referência Scofield apud Klooster, p. p. 157, 158.
194
SCOFIELD, Cyrus I. Manejando Bem a Palavra da Verdade. São Paulo: Editora Batista Regular, 2002, p. p.
38,39.
84
Aqueles que criticam a Bíblia de Referência Scofield o fazem para tentar prevalecer o
pensamento da sua teologia. É o que vemos com o amilenista Américo Justiniano Ribeiro:195
Scofield não diz que a Igreja é um mero parêntesis na história, o mero é por conta do
Ribeiro, nem afirma que ela nada tem a ver com o Reino, tampouco que a ela está em vias de
extinção. Infelizmente, muitos do DP adotam esta mesma visão dos reformados.
c) A Série deixados para trás de Jerry B. Jenkins e Tim LaHaye:
Os 16 livros da série (1 – Deixados para trás, 2 – Comando/Tribulação, 3 – O Rapto,
4
195
RIBEIRO, Américo Justiniano. A Bíblia Scofield: ligeira avaliação. Campinas-SP: Luz para o Caminho,
1985, p. 28.
196
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
85
Sabemos que a obra de Jenkins e LaHaye é ficção. Ela ilustrou a realidade dos tempos
finais ao povo. Às vezes pensamos, diante da fala de Neto, como os progressivos e aliancistas
imaginam que será o arrebatamento. Se não haverá o caos, retratado por Deixados para trás,
então como será? Se o Rapto não for secreto ou invisível, então como há de ser? Se a vinda de
Cristo não é iminente, há que se negar vários textos bíblicos sobre o tema. E aos que ficarem,
o que lhes espera? Nenhum acidente, sem aflição, tudo em paz? É esperar para ver se a tese
acadêmico-aliancista de progressivos é mais real do que a ficção dos autores. Prossegue
Neto:197
Creio, de modo diferente do Antonio Neto, que LaHaye também merece nosso
respeito e consideração. Ao comparar obras de Walvoord e Blaising com a ficção de LaHaye,
isto parece ser irresponsável; se entendermos que a obra ficcional Deixados para trás está
noutro patamar, saberemos fazer a analogia certa, que seria com os ensinos de sua Bíblia de
Estudo, que trabalha bem a escatologia; sem deixar passar despercebida a Enciclopédia
Popular de Profecia Bíblica, editada por ele e Ed Hindson, na qual há artigos de Walvoord,
entre outros grandes homens de Deus, inclusive LaHaye. 198 Dos artigos dele, listamos dois:
197
Ibidem.
198
HINDSON Ed e LAHAYE. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica; In LAHAYE Tim. Grande
Tribulação. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. p. 247, 248.
86
Grande Tribulação e Grande Trono Branco; no primeiro, ele enfatiza a Tribulação, realçando
as dores de parto199 de Israel na época:
199
Sobre estas dores, seria importante para o leitor analisar o capítulo 11 nas páginas de 179 a 182.
200
Ibidem.
201
Ibidem, 2010, p. p. 252, 253.
87
o povo de Deus, por meio de romances e filmes que são atraentes ao público e inerentes à sua
imaginação sobre porvir; os quais, não podem ser comparados às belas obras teológicas e
cristãs, produzidas por ele mesmo. Assim como não se pode pegar as Crônicas de Nárnia,
uma série de 7 livros sobre fantasia, publicada no Reino Unido na década de 50, pelo crítico
literário e teólogo irlandês Clives Staples Lewis (C. S. Lewis) e julgar o seu cristianismo por
Nárnia, sem considerar sua opus magna: Cristianismo Puro e Simples e outros livros de sua
autoria, como escritor cristão. Não podemos usar o argumento ad hominem a desqualificar os
autores de Deixados para trás como fazem aliancistas, sua marca registrada, adesivos que
alguns do DP têm aprendido a usar.
d) Os mapas dispensacionais utilizados pelos dispensacionalistas:
Outra crítica dos do DP e não dispensacionalistas ao DC é o uso que este faz de mapas
202
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
88
Notem bem, mais do que se preocupar com os mapas do DC, os progressivos deveriam
estar preocupados se as suas crenças contemplam o sine qua non do Dispensacionalismo a fim
de ver se eles se distanciaram do sistema ou se aproximaram do aliancismo, ou vice-versa.
Que os mapas são relevantes para ilustrações e têm efeito didático, vemos no uso deles
também por teólogos progressivos ou os que optam por um novo sistema, a exemplo de
Roque Albuquerque:
Figura 02: Mapa das Dispensações sob a ótica do Pr. Roque Albuquerque
Reino Prometido
203
RYRIE, Charles. Dispensacionalismo. Edição Revista e Ampliada. São Paulo: Editora Batista Regular,
2020, p. 71.
89
Reino de Deus
Primícias do Reino
Dispensação da Promessa Dispensação do Cumprimento O Século Futuro
Consumação
AT Primícias NT
do Reino
Ao analisar este mapa não vemos absurdo algum. A crença nele expressa se aproxima
muito da visão bidimensional-kaiseriana de Promessa e Cumprimento, realçando a tensão
escatológica ladd-culmanniana do já e ainda não, através do pensamento de que o reino de
Deus está sendo inaugurado por Cristo, na Sua primeira vinda, a qual divide a História da
salvação pela cruz que é o divisor entre Antigo Testamento e Novo Testamento, culminando
com a dispensação da Consumação dos Séculos, em Sua segunda vinda; portanto, três
dispensações. E findando o mapa ele vê a dispensação atual como Primícias do Reino, visão
muito próxima do Dispensacionalismo Progressivo. Mesmo não concordando com o mapa de
Albuquerque, não posso rotulá-lo de um mapa absurdo, pois o mesmo expressa a sua
pertinência pela identificação do seu autor com a sua crença escatológica nele impressa.
Acredito que o mesmo pode ser dito acerca dos mapas dos Clássicos ou Revisados. A crítica a
qualquer destas ilustrações só denota um academicismo irresponsável, arrogante e intolerante
da parte dos que tecem tais considerações, pondo-se no pináculo do conhecimento.
CAPÍTULO CINCO
__________
90
Um trono de louvores é o Trono de Deus. Estar diante dele implica ver a mão d’Aquele que
revelou o Seu poder a convocar um profeta, do calibre de Ezequiel, com a missão de Atalaia
que conforta e confronta ao povo exilado em Babilônia, às margens do rio Quebar (Ez 1.3-
28), na presença protetora dos Querubins da Glória e do esplendor das Rodas que falam da
Shequiná de Deus e enchem as mãos do profeta das brasas que fumegam deste Trono,
espalhando sobre a cidade amada a força de El-Shaday (Ez 10.1-3); Diante deste Alto e
Sublime Trono, o Senhor dos Exércitos, cercado pelos Serafins, três vezes Santo, purifica os
lábios de Isaias e faz o apelo, em nome da Trindade, ao profeta do Protoevangelho. (Is 6).
Diante deste Trono estará a Igreja Gloriosa, Imaculada e Irrepreensível (Ef 5.27),
representada por 24 pessoas que ilustram a experiência da noiva na figura dos Anciãos; o
Sacerdócio da Igreja pelos tronos que estão ao redor do Rei dos reis; a Pureza do Corpo de
Cristo pelas vestiduras brancas que cobrem os corpos desses Presbíteros; e a Realeza da
Esposa do Cordeiro, mediante as Coroas de Ouro que reluzem em suas cabeças (Ap 4.4).
Diante deste Trono desponta a ação consoladora do Paráclito – Aquele que convence
ao mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.7-11), que faz o crente glorificar a Cristo (Jo
16.14) e reluzir em sua vida, com as 7 características da Plenitude do Espírito (Is 11.1-2) no
brilho majestoso deste Trono: “E do trono saiam relâmpagos, trovões e vozes; e diante do
trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete Espíritos de Deus” (Ap 4.5; c.f Zc
4.1-6.
Diante do Trono, um mar de vidro cristalino aparece com a misericórdia divina
estendida aos salvos de todas as Dispensações, ao mesmo tempo em que ressalta, com a
identidade dos querubins, a revelação de Cristo em Sua Realeza (Leão), na posição de
Escravo (Bezerro), na forma Humana (Rosto de Homem), na forma de Deus (Águia) – Ez
1.10; 10.14:
Este é o Trono de Deus, distinto do Trono de Davi, Jesus está assentado à destra dEle,
sendo louvado e exaltado por Suas: Santidade, Soberania, Revelação e Eternidade; mais e
mais presentes no cotidiano celestial (Ap 4.8-9). Neste contexto, os DP adotam a tensão
escatológica presente/futuro (o já/ainda não – de Cullmann e Ladd), sobre o trono da destra
de Deus, que para eles, é o de Davi – Jesus o inaugurou com a redenção (o já), o qual se
cumprirá plenamente quando Ele o transportar à Jerusalém para o reino milenar (o ainda não).
Exemplifiquemos a distinção entre a hermenêutica dos DC e DR (a interpretação literal e
consistente no método histórico-gramatical) sobre o DP (a interpretação literal e não tão
consistente no método histórico-gramatical-teológico-literário – uma hermenêutica
complementar que abre espaços,
nalgumas situações, à espiritualização). Valbert Veras 204 advoga o DP pelas seguintes razões:
204
VERAS, Valberth. REVISTA PILARES DA FÉ. Teologia/ Missiologia. Dispensacionalismo: Passado,
Presente. Fortaleza-CE: SIBIMA, p. 75, 2011.
92
Em Lucas 17.21, Jesus declara que o Reino está entre os fariseus (entos
humon), ou seja, o Reino está na presença deles. O Reino esta “ao alcance de
205
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
206
Ibidem.
207
Ibidem.
208
Ibidem.
209
ZUCK, Roy, B. Teologia do Novo Testamento. In BOCK Darrel, L. Teologia de Lucas-Atos. 1ª ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2008, p. 105.
93
210
Bock usa o Salmo 110 para tentar reforçar o seu argumento sobre a posição de
Jesus Cristo, assentado sobre o trono de Davi, reinando a partir de sua ascensão à direita de
Deus:
no dia de Pentecostes, a entronização de Cristo sobre o trono de Davi, à mão direita do Pai:
210
Ibidem. In BOCK Darrel, L. Teologia de Lucas-Atos, p. 105.
211
Ibidem.
212
Ibidem, VERAS, Valberth. p. 76
94
nos parece não condizer com a hermenêutica bíblica. Vejamos a versão amilenista, por
Lopes:213
Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo Monte de Sião. Proclamarei o
decreto: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me e eu te darei as nações
por herança, e os fins da terra por tua possessão. Tu as esmigalharás com
uma vara de ferro; tu as despedaçarás como a um vaso de oleiro.
Este texto expressa o Cristo (ungido Rei) com uma missão de salvar, em sua primeira
Vinda de Redentor, e no seu segundo Advento como Rei-Messias. Para tanto, o NT apresenta
o Decreto aplicado à Ressurreição de Cristo. Paulo diz: “Declarado Filho de Deus em poder,
segundo o Espírito de santificação, pela ressureição dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor”
(Rm 1.4). A estes últimos três vocábulos sobre o nome do Filho de Deus podemos deduzir
que:
1) Jesus – É o nome relacionado à sua Encarnação e Salvação (Mt 1.21);
2) Cristo – É o título associado à sua realeza, messianidade – Reino Milenar e Eterno (Sl 2.7);
3) Senhor – É o tema ligado à sua divindade, à destra de Deus: Graça e Eternidade (Sl 110.1).
A declaração do Salmo segundo em o Novo Testamento é relevante, pois enaltece:
a) A Ressurreição do Messias – Paulo, no seu discurso em Antioquia da Psídia, retrata
muito bem esta verdade: “E nós vos anunciamos que a promessa que foi feita aos pais, Deus
213
LOPES, Nicodemus A. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um
debate sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 1/3, 2014. Disponível em >
https://www.youtube.com/watch?v =ra C0Soa28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
95
cumpriu a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus; como também está escrito no salmo
segundo:
Meu Filho és tu, hoje te gerei” (At 13.32-33);
b) A Divindade do Messias: O autor de Hebreus expressa esta divindade quando
aborda a superioridade do Filho de Deus em relação aos anjos, através do nome – Filho:
Feito tanto mais excelente do que os anjos, quando herdou mais excelente
nome do que eles. Porque a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho,
hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho? E
outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de
Deus o adorem (Hb 1.4-6).
o inaugurar depende do “até que” registrado no Salmo 110.1. Este verso foi mal interpretado
pelos escribas e fariseus da época de Jesus. Notável é ver que eles questionaram a autoridade
do Mestre em Mateus 22, foram confrontados por Ele na parábola dos vinhateiros, a qual
mostrou a rejeição daqueles judeus ao Reino, os quais o tentaram com inquirições, desde a
questão do tributo, passando pela indagação dos saduceus sobre a ressurreição, na “história”
da mulher que tinha 7 maridos e, indo até à inquirição do doutor da lei sobre o maior de todos
mandamentos. Após responder tais questões a contento, Jesus os indaga sobre a filiação do
Messias à destra do Pai:
Se esta pergunta fosse feita a nós, como responderíamos? Creio eu que a resposta
correta à indagação do Messias pode quebrar a hermenêutica de aliancistas, novos aliancistas
e progressivos, diante da crença de todos estes de que Jesus já está assentado no Trono de
Davi. Responderíamos ao Mestre assim: O Messias é Filho de Davi, como homem: “Acerca
de Seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne” (Rm 1.3). Nesta
condição, “Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o
trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó e o seu reino não terá fim” (Lc
1.32-33). Assim, Davi é o pai do Cristo; já à destra de Deus, Davi é submisso ao Senhor
Jesus. Daí Cardin214 destacar:
Assim, pode-se pensar nos ofícios assumidos por Cristo, desde a Sua encarnação. Os
seus ministérios são retratados metaforicamente na sua infância, através dos presentes dos
214
CARDIN, Hélder. O Reino e a Igreja. Palestra 7/8. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?v=
w18fvPg7j_A&t=2816s. Acesso em 17 de dez. 2020.
97
magos do Oriente (Mt 2.1-12), reconhecendo a autoridade dEle, nas ofertas lhe dadas: Ouro
(metáfora de Sua Realeza) Incenso (expressa Seu Sacerdócio) e Mirra (símbolo do Ministério
Profético). Há ainda a visão teológica sobre o tema. Daí Langston, 215 pai da primeira Teologia
brasileira, dizer:
Jesus exerceu estes três ofícios da maneira mais perfeita que se pode
imaginar. Nunca houve um rei que governasse tão sabiamente como ele,
nunca houve um sacerdote que oferecesse um sacrifício tão completo e
perfeito, e nunca houve um profeta que interpretasse tão fielmente os atos
e a vontade de Deus
e desfizesse as trevas da ignorância que envolvia a raça.
Neste contexto, pode-se inserir a análise sobre o trono de Davi pelas seguintes
questões:
a) Com a mirra a exalar a fragrância do Seu bom perfume, Ele próprio, como
(logos – Palavra de Deus) desempenhou a Sua função de profeta e era a própria profecia;
Jesus, no Seu ministério terreno levou a Palavra a Israel, que o digam as belas profecias do
Seu sermão escatológico (Mt 24,25; Mc 13 e Lc 21). Ele foi o maior de todos os profetas, pois
como o cargo de vidência expressa, Ele fala aos homens em lugar de Deus. Os profetas do AT
diziam: “Assim diz o Senhor” e “Veio a mim a palavra do Senhor dizendo” (c.f. Is 66.1; Jr
19.1; Ez 24.1; Os 1.1; Jl 1.1; Am 2.1; Ob 1.1; Jn 1.1; Mq 1.1; Sf. 1.1; Ag 1.1; Zc 1.1); mas Ele
dizia: “Eu, porém vos digo” (Mt 5.22,28,32,34,39, 44). O Deus-profeta dá Sua mensagem ao
mundo. Sua profecia se associa a Seu ministério e ao Seu “testemunho [que] é o espírito de
profecia”. (Ap 19.10c).
b) Com o incenso, ele desempenha a Sua função de Sumo-Sacerdote, segundo a ordem
de Melquisedeque (Salmo 110.4). Este ministério começa no calvário, quando Ele se torna a
oferta-oblação por nossos pecados e segue para o trono da Graça, não o de Davi, mas o da
destra de Deus, com o fim de tornar-se o nosso intercessor-mediador entre Deus e os homens
(I Tm 2.5 e 6): “Na qual vontade temos sidos santificados pela oblação do corpo de Jesus
Cristo, feita uma fez. E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo
muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar pecados; mas este, havendo
oferecido para sempre
um único sacrifício está assentado à destra de Deus. ” (Hb 10.10-12 – cf. Hb 4.14-16).
c) Ele cumpre a Sua função de Sumo-sacerdote no Trono de Deus, à Sua direita, onde
está esperando chegar a hora de ouro, quando o Pai puser os seus inimigos debaixo dos seus
pés. Assim, Ele inaugurará o reino, assentando-se no Trono de Davi em Jerusalém, nesta terra.
215
LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática. 3ª ed. RJ: JUERP, 1999, 186-187.
98
Daí entendermos bem o verso 13 de Hebreus 10: “Daqui em diante esperando até que seus
inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. ” Chegando este momento, Ele vem: “Assim
também Cristo, oferecendo-se uma vez para levar os pecados de muitos, aparecerá a segunda
vez, sem pecado aos que o esperam para a salvação. ” (Hb 9.28). E assim, o Messias inaugura
a Nova Aliança: “Esta é a Aliança que farei com eles depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei
as minhas leis em seus corações e as escreverei em seus entendimentos; e acrescenta: E jamais
216
me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades” (Hb 10.16). Por isso, Cardin
acrescenta que o Reino de Deus não é inaugurado na primeira vinda de Cristo. Daí a lacuna
profética, ou o adiamento profético não se constituir em um plano B no Projeto sapiente e
soberano de Deus:
Por esta razão, antes de assumir o Trono de Davi, seu pai, na terra, Ele se assentará no
Trono de Deus, Seu Pai, no céu. Nesta condição, Davi tem a obrigação de chamá-lo de
Senhor, pois primeiro, Jesus se assenta no Trono divino. Estes 2 tronos - O Trono de Jesus
como Senhor e o Trono de Davi como Messias, são nitidamente explicados por Pedro no dia
de Pentecoste.
Em Atos 2 ocorre a descida do Espírito como Batismo, Selo, Penhor, Unção e
Plenitude. No discurso de Pedro, podemos dizer que o apóstolo, utilizando Joel 2, Salmo 16,
Salmo 132 e o Salmo 110, não trabalhou a tensão do já/ainda não de Oscar Cullmann e
George Eldon Ladd, pois não tivemos a inauguração da Nova Aliança, nem o estabelecimento
do Reino messiânico e tampouco ele diz que a Aliança Davídica foi inaugurada e Jesus passou
a reinar no trono de Davi assim que ressuscitou. O que vemos é Pedro aplicando Joel 2 ao
derramamento do Espírito sobre a Igreja, mas não ao cumprimento da Nova Aliança e à posse,
por herança, do reino que está preparado desde a fundação do mundo para os benditos do meu
Pai (Mt 25. 34). Um Reino messiânico na terra. Por isto, Pedro não sustentou o cumprimento
daquela profecia antes disse:
Mas, isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá,
diz
216
Ibidem.
99
Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; vossos filhos e
vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos
velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu
Espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e
sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá
em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do
Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo. (Atos 2.16-20).
Atos 2 não diz que Jesus começou a reinar no trono de Davi, mas que está
habilitado a fazê-lo pela ressurreição. A ligação entre a ressurreição e a
identificação com o ser o herdeiro de Davi (o "Cristo" ou "Messias") é clara,
mas não há ligação direta, nesse texto, entre a ressurreição e o assentar-se
imediatamente no trono de Davi. O Novo Testamento também diferencia o
trono do Pai, no qual Jesus se encontra agora, do trono de Jesus, que será
compartilhado pelos salvos.
A Igreja desfruta de aspectos da Nova Aliança e não do seu cumprimento, pois o
mesmo
se dará com Israel e Judá no estabelecimento do Milênio, quando Cristo assentar-se no Trono
de Sua Glória, no Trono de Davi, no Reino preparado desde a fundação do mundo,
inaugurado futuramente pela Igreja, pelos crentes do AT, pelos benditos do meu Pai (os
gentios convertidos no fim da tribulação) e pelo Israel Étnico (os pequeninos irmãos de Jesus
– Mt 25. 31-34).
Pedro cita o Salmo 16 para falar da ressurreição de Cristo (At 2.24-32). Já o Salmo
132 aborda o direito de Jesus ao Trono de Davi: “O Senhor jurou com verdade a Davi, e não
se apartará dela: do fruto do teu ventre porei sobre o teu trono” (Sl 132.11). Daí Pedro
afirmar:
Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento
que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o
assentar sobre o seu trono, e antevendo isto, disse da ressurreição de Cristo,
que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção.
(At 2.30-31).
teus pés.” Há aqui os dois tronos: o 1º à destra de Deus, para o Senhor, nosso Sumo Sacerdote
eternamente segundo a ordem de Melquisedeque (Sl 110.4). Este é o Trono da Graça:
“Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia
e achar graça, a fim de sermos atendidos em tempo oportuno” (Hb 4.16); no 2º, o de Davi, até
que as nações lhe sejam dadas por herança. Daí Pedro fechar o sermão com chave de ouro,
realçando os 2 tronos: “Saiba, pois, com certeza toda casa de Israel que a esse Jesus, a quem
vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. ” (At 2.36): Senhor (Deus), no do Pai; e Cristo
(Messias-Rei), no de Davi.
Ainda sobre estes tronos, vale a pena destacar a promessa de Jesus aos vencedores da
Igreja de Tiatira: “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim
como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono” (Ap 3.21). ” Aqui há 2 tronos: um,
só para Jesus, o Trono do meu Pai. Ele venceu a morte e ressuscitou, Ele é Deus. Nenhum de
nós podemos nos assentar neste Trono: O da destra de Deus; mas há o Trono de Davi, que é o
Trono do Filho (o meu trono). Neste trono vamos nos assentar. Por isto lemos em Daniel 7:13
e 14:
Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do
céu um como o Filho do Homem; dirigiu-se ao ancião de Dias, e o fizeram
chegar a até ele. E foi lhe dado o domínio, e a honra e o reino, para que todos
os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno,
que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído.
218
conquistado. Até mesmo Culmann faz uma análise apropriada desta perícope: “Porém, o
resultado mais importante a que nos conduz o exame dos textos de Mateus e Lucas é que, em
todo caso, mesmo fazendo abstração do original aramaico, Jesus corrige conscientemente a
pergunta do sumo sacerdote, substituindo o título de Messias pelo de Filho do Homem. ”
Culmann 219 acrescenta:
218
Ibidem, Culmann, Cristologia do Novo Testamento, p. 160.
219
Ibidem.
220
Ibidem.
221
RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas. São José dos Campos: Editora Fiel, 2011, p. 366.
102
A segunda passagem em que Jesus cita o Salmo 110 é mais clara. Trata-se de
sua resposta ao sumo sacerdote em Mc 14.62, Jesus se uniu aqui, em um só
pensamento, Daniel 7 e o Salmo 110: “Vereis o Filho do Homem sentado à
direita do poder de Deus vindo sobre as nuvens do céu. ” O estar “sentado à
direita” liga-se indissoluvelmente à imagem do Rei-Sacerdote “segundo a
ordem de Melquisedeque”. Não é significativo que Jesus aplique a si mesmo
a palavra relativa ao Sumo Sacerdote Eterno no preciso instante em que
comparece diante do sumo sacerdote judaico, que o interroga sobre a
pretensão ao messiado?
Culmann 223 acrescenta, ainda, uma questão relevante, inerente ao messiado nacional:
Por sua resposta subtende-se que o seu messiado não é do Messias nacional
que os judeus esperavam; mais ainda: não reivindica nem a função de sumo
sacerdote terreno que tem diante de si; senão que quer ser o Filho do
Homem celestial e o Sumo Sacerdote celestial. Esta resposta é, pois, paralela
à que dá Pilatos no Evangelho de João (18.36); diante do representante
terreno da autoridade, afirma que Sua soberania não é deste mundo; frente ao
sumo sacerdote terreno, afirma que também o Seu sacerdócio não é deste
mundo.
Associando estas argumentações ao “desde agora” (apo tou nun) podemos pensar
nesta expressão da conquista do Reino com sentido semelhante ao da posição de Jesus, a
expressão “daqui em diante” () revelada a Natanael: “E disse-lhe: Na verdade,
na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e
descendo sobre o Filho do homem”. O “daqui em diante” como “desde agora” falam da
conquista e comunhão dadas pelo Messias a partir da sua Obra, a exemplo também do sermos
abençoados “[...] nas regiões celestiais () em Cristo (Ef 1.3) ” e do já estarmos
na eternidade, pois Ele “[...] nos fez assentar em lugares celestiais
() em Cristo Jesus. ” (Ef 2.6). Ao analisar o último exemplo
vamos ao comentário de Ryrie224 em sua Bíblia Anotada:
222
Ibidem, Culmann, Cristologia do Novo Testamento, p. 160.
223
Ibidem, p. 120.
224
Ibidem, Ryrie. Bíblia Anotada, p. p. 1536 e 1537.
103
[...] O mesmo Jesus que compareceu diante do tribunal dos principais dos
sacerdotes e de Pilatos se assentará em um trono de glória e convocará todos
os seus inimigos a comparecerem diante dEle. Feliz é o crente que preserva
com firmeza diante de seus olhos as palavras “desde agora”.
Ryle 226 retrata muito bem como deve ser a postura do crente e a sua posição presente,
semelhante à do Rei, norteada pelo sofrimento como tônica do cristianismo bíblico. (Mt
16.24):
Para compreender esta questão dos tronos notemos o que a Bíblia diz sobre o assunto.
Da glorificação ao dia em que Jesus será tudo em todos (I Co 15:28), tronos norteiam Seu
viver:
1º Trono do Pai:
Neste Trono, Ele se assentou após vencer o diabo, o pecado e a morte, resultando na
redenção. 40 dias após a Sua ressurreição, Ele subiu ao céu e assentou-se à destra de Deus:
“olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto,
suportou a cruz, desprezando a afronta, assentou-se à destra do trono de Deus ” e “O qual,
sendo o resplendor da sua glória e a expressa imagem da sua pessoa e sustentando todas as
coisas pela palavra do seu poder, havendo feito a purificação dos nossos pecados, assentou-se
à destra da majestade nas alturas. ” (Hb 12.2; 1.3 respectivamente). Este é o trono do Pai.
Ele exerce a
225
RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Marcos. São José dos Campos: Editora Fiel, 2011, p. 366.
226
Ibidem.
104
função de Sumo-Sacerdote neste trono (Hb 7.25). Não confundir com o de Davi.
2º Trono do Bema:
Saindo do trono do Pai, Jesus virá aos ares/2º céu, arrebatará a Sua Igreja ao 3º Céu,
onde se assentará na Sua Tribuna (Vema) a julgar Sua noiva e casar-se com ela: “Mas tu,
porque julgas teu irmão? Ou tu, também, por que despreza teu irmão? Pois, todos nós
havemos de comparecer ante o tribunal [Bema] de Cristo” e “Porque todos devemos
comparecer ante o tribunal [Bema] de Cristo, para que cada um receba o que tiver feito por
meio do corpo, ou bem, ou mal” (Rm 14.10; II Co 5.10). A Igreja será arrebatada antes da
Tribulação, não por seu destino ser o céu e o de Israel ser a terra. Ela será galardoada e se
casará com o Cordeiro.
3º Trono de Sua Glória:
Após galardoar a Igreja e casar-se com ela, descem e assentam-se no
Trono de Davi para reinar (Mt 25.31; Ap 3.21). A função de Jesus aqui é de Messias/Rei de
Israel. (Lc 1.32). Por isso, Isaias diz: “Do aumento deste principado e da paz não haverá fim,
sobre o trono de Davi e no seu reino, para o fortificar com juízo e com justiça. ” (Is 9.7).
4º Trono Branco:
Após o milênio, Jesus queimará a terra, e na eternidade fará o Juízo Final, assentando-
se no 4º trono. Ele será o juiz a condenar os ímpios ao lago de fogo (Ap 20. 11,15).
5º Trono Eterno:
Cristo se assentará neste trono, na nova Jerusalém e na Nova Terra, e reinará para
sempre (Ap 21.1-5). A função dEle é de realeza sobre a criação. Após seu reino messiânico,
submetendo tudo debaixo de seus pés, Ele entregará o reino ao Pai e Deus e será tudo em
todos.
105
CAPÍTULO SEIS
__________
A Escatologia desnuda o futuro e traz o Plano de Deus para com o homem através dos
séculos. Neste contexto, os propósitos divinos são distintos em todas as áreas. Podemos
afirmar que, no campo sobrenatural-angelical, no âmbito judaico, na área eclesiástica e
também no que diz respeito ao cosmos como natureza e aos anjos maus e aos ímpios. Por isto,
Ryrie227 declara que:
227
RYRIE, Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: Editora Batista Regular, 2020, p. 66.
106
228
Nota: A expressão sine qua non vem do latim e se traduz literalmente em língua portuguesa: sine (sem), qua
(a qual) non (não), significando indispensável. Em se tratando desta expressão no Dispensacionalismo, é Ryrie
quem o traz no capítulo dois de sua obra Dispensacionalismo, deixando claro de que “Teoricamente, o sine
qua non deveria ser o reconhecimento de que Deus faz vigorar diferentes economias dos assuntos do mundo”
(2020, p.63).
229
COUCH, Mal, (ed) An Introduction to Classical Evangelical Hermeneutics: um guide to history and pratice of
biblical interpretation. Grand Rapids. Ml: Kregel Publication, 2000, p.172.
230
Ibidem.
107
o tema principal, mas é centrada em Deus porque Sua glória é o centro”. Por isso W. House 231
enfatiza:
231
HOUSE, Wayne. Dispensacionalismo, Escatologia, História do Arrebatamento, Igreja Primitiva, John
Nelson Darby.25 de maio de 2020. Disponível em > https://paleoortodoxo.wordpress.com/category/
dispensacionalismo/. Acesso 07 jan. 2021.
232
SCOFIELD Cyrus, Bíblia de referência (Trad. João F. de Almeida – Ed. Revista e Atualizada no Brasil), p.3.
233
LADEIRA Samuel, Profecias e Dispensações, p.31.
108
234
FEINBERG, John S. Continuidade e Descontinuidade: perspectiva sobre o relacionamento entre o Antigo e
o Novo Testamentos: ensaios em homenagem a S. Lewis Johnson Jr. In FEINBERG, John. Sistemas de
descontinuidade. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 77.
235
RYRIE, Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: Editora Batista Regular. 2020, p. p. 46, 47.
236
Ibidem.
237
VLACH, Michael J. Dispensacionalismo: crenças e mitos. Ibidem, pp. 34-55.
109
238
nascer (At 3.12; 4.8, 10; 5.21,31,35; 21.28). Daí Ryrie dizer: “Na oração de Paulo pelo
Israel natural (Rm 10.1) há uma clara referência a Israel como um povo nacional distinto e
fora da Igreja”.
4. No Dispensacionalismo: há uma unidade espiritual na salvação entre judeus e gentios e um
papel futuro ao Israel Étnico. Ao se tratar da questão da unidade salvífica entre os dois grupos
há um papel futuro de Israel no Milênio.
5. No Dispensacionalismo: Israel será salvo com identidade única e função no futuro Milênio.
O que distingue dispensacionalistas é crer não só na salvação de Israel, mas em sua
restauração.
6. No Dispensacionalismo: há múltiplos sentidos para a semente de Abraão, que não cancela
as promessas de Deus para Israel.
A 2ª Vinda é uma só. Ela se dará na batalha do Armagedom, mas a nossa reunião com
Ele (o Rapto) será nos ares, precedendo a Tribulação. A Vinda de Jesus será em 2 fases:
1ª) invisível - a arrebatar a Igreja e levá-la à Sua tribuna para galardoá-la. (Jo 14.2-3; Rm
14.10).
2ª) visível - para destruir o Império do Anticristo em Armagedom, julgar as nações vivas no
Vale de Jeosafá e implantar o Milênio. (Ap 16.14-16 e 19.11-21, Jl 3.2; Mt 25.31-32).
Sobre a fase invisível da 2ª vinda, há 4 teorias distintas sobre o tempo em que ela se
dá.
a) Pós-Tribulacionismo - Corrente escatológica que advoga a permanência da igreja na
terra na Tribulação, ou seja, o arrebatamento só se dará após os sete anos de governo do
Anticristo. Esta Teoria descarta uma vinda iminente do Senhor, embora admita até um
milênio literal.
Jesus, para eles, arrebata a Igreja e desce com ela imediatamente para reinar. Muitos chamam
ironicamente de teoria do ioiô. O pré-milenismo histórico de George Eldon Ladd a sustenta.
b) Mesotribulacionismo - Esta teoria não diz que a igreja enfrentará a grande tribulação (os 3
anos e1/2 finais do reinado anticristão), mas defende que ela passará pelos primeiros 42
meses de tribulação. A Igreja vê a abertura dos 7 selos apocalípticos (Ap 6 a 8), ouve os
toques das 7 trombetas (Ap 8 a11), mas na sétima trombeta (v. 8.16), que eles confundem
com a trombeta de Deus (I Ts 4.16) e também com a última trombeta (I Co 15.52), Cristo
arrebatará a sua Igreja.
c) Pré-Tribulacionismo - “Descansando sobre o método literal de interpretação das Escrituras,
esta posição escatológica sustenta que a Igreja, o Corpo de Cristo, em seu todo, será por
238
RYRIE, Charles. Dispensacionalism Today, 1965.
110
últimas trombetas nada têm a ver com a 7ª do Apocalipse. Esta visão vai de encontro à
posição pré-tribulacionista que crer no início do Dia do Senhor ocorrendo no começo da
Tribulação e toma por exemplo o arrebatamento de João prefigurando o rapto da Igreja: “Eu
fui arrebatado no Espírito no Dia do
Senhor...” (Ap 1.10) precedendo os 7 anos que ocorrerão dos capítulos 6 a 19 do mesmo livro.
Dentro deste contexto, é importante destacar as crenças escatológicas do DP em
relação ao arrebatamento da Igreja à luz da visão dum dispensacionalista progressivo, Antonio
Neto:243
Vale ressaltar que Paulo, mesmo na Era cristã, fez questão de destacar três grupos:
“Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos [gentios], nem à
Igreja de Deus [judeus e gentios]. ” (I Co 10.32). E Israel, mesmo no tempo da Igreja, é
chamado de povo de Deus, para além da própria Grei do Senhor: “Digo, pois: Porventura
rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da
descendência de Abraão, da tribo de Benjamin. Deus não rejeitou o seu povo, que antes
conheceu” (Rm 11.1,2a).
Embora reconheçamos que hoje Deus formou um Corpo (a Igreja) pelo Batismo no
Espírito, derrubando a parede de separação, e de ambos os povos fez um (Ef 2.14,15), não tem
como ver ao Israel Étnico (a mulher de Apocalipse 12) na tribulação e olhar os gentios, tanto
mártires (Ap 6.9;7.9-17) quanto, os benditos do meu Pai, quando o Filho se assentar no Trono
de Davi ou o de Sua glória (Mt 25.34) e ainda dizer que não há 2 povos de Deus da
243
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
244
Ibidem.
112
Dispensação da Graça à Tribulação, que antecede a Dispensação da Plenitude dos Tempos (Ef
1.10)
I – AS RAZÕES PELAS QUAIS SOMOS PRÉ-TRIBULACIONISTAS:
(10) O Senhor da Igreja a protege da hora da tribulação que virá sobre a terra (Ap.
3.10)
(11) O Senhor sabe livrar da tentação os piedosos (II Pe 2.9);
(12) O Corpo de Cristo já sofreu por nós, não tem como sofrer de novo na
Tribulação;
(13) Assim como foi nos dias de Noé, assim será na Vinda do Filho do homem (Mt
24.36-41), na fase visível. É bom pensar em Enoque, bisavô de Noé (Gn 5.21-32), um tipo
da
Igreja, que foi trasladado (Gn 5.24; Hb 5.5) antes do dilúvio, e a Igreja será antes da
Tribulação;
Diante destas razões, é triste notar a existência de um dispensacionalismo que, com
sua hermenêutica complementar, pelo academicismo “teológico-bíblico” e sua “visão”
literária, amenize a questão pré-tribulacionista a cooptar vertentes intelectuais do ensino sobre
245
a hora do Rapto. Por isso, Neto cita a ala do DP, que optou pelo pré-tribulacionismo. São
os que seguem a Blaising. Eles são pré-tribulacionista convictos e não teológicos como os DC
e DR:
Mas existem progressivos que entendem que o Dia do Senhor é uma parte da
grande tribulação, mais especificamente a segunda metade desta. E, por
conta
disto, muitos deles não são pré-tribulacionistas e divulgam uma posição
chamada de pré-ira. Essa posição é uma espécie de pós-tribulacionismo em
que a Igreja é arrebatada no momento do retorno de Jesus e do
simultâneo
derramamento de sua ira. Creio que a pré-ira ainda vai se consolidar no
Brasil.
Como já vimos a visão pré-ira se distingue da posição pré-tribulacionista.
Corroborando
245
Ibidem. https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17/ 11/20.
246
Ibidem.
114
com esta assertiva, recorremos a Kessinger 247 a fim de observar quatro aspectos da pré-ira:
1) A Ira do homem e a Ira de Deus:
A passagem não diz que o derramamento da ira de Deus ainda está por vir,
como alegam os que defendem a pré-ira, mas que a ira já está sendo
derramada. Como um cumprimento da promessa de Apocalipse 3.10, a
Igreja foi removida da “hora da tentação”, não estando sujeita a esta como
um tempo de menor tribulação.
Embora, na Tribulação, note-se a ira humana em ebulição, associada à ira satânica:
“[...]
porque o diabo desceu a vós e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. ” (Ap 12.12)
A ira de Deus abarcar todo o período pelos 21 juízos dos selos, trombetas e taças (Ap 15.1).
2) A Segunda Vinda e o Arrebatamento:
“Os que defendem o arrebatamento pré-ira encontram o arrebatamento em Mateus
24.40-41 e Lucas 17.20-37. Estas passagens são similares a reconhecidas passagens que falam
do arrebatamento (Jo 14-1-3; 1 Co 15.51-53; 1 Ts 4.13-18); porém, não descrevem o mesmo
250
evento. ”249 Kessinger faz aqui o paralelo entre o arrebatamento e a segunda vinda de
Cristo:
247
KESSINGER apud Rosenthal, pp. 256-257: Arrebatamento Pré-Ira. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 97.
248
Ibidem.
249
Ibidem, p.99.
250
Ibidem.
115
3) A Iminência:
Os que defendem o arrebatamento pré-ira veem pelo menos cinco sinais que
devem ocorrer primeiro, e depreciam a ideia de um arrebatamento “a
qualquer momento”, referindo-se a expectativa em vez da iminência. A
posição do arrebatamento pré-ira e a posição do arrebatamento pré-
tribulacional são claramente distintas, e as Escrituras favorecem o pré-
tribulacionismo.
A pré-ira vê a iminência como expectativa, o pré-tribulacionista a tem como
Esperança.
4) Aquele que Resiste:
Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, e pela
nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso
entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer
por epístola, como de nós, como se o dia do Senhor estivesse já perto.
Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que
antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da
perdição.
251
Ibidem.
252
Ibidem.
253
Ibidem.
116
neste texto, não há o adjunto adnominal da fé, associado ao termo apostasia, como ocorre, em
forma de verbo, em I Timóteo 4.1, no âmbito negativo, como a explica Marcos Granconato:254
O Dia de Cristo se iniciará concomitante com o Dia do Senhor, só que este abrangerá a
terra e aquele contemplará o céu. O Dia de Cristo tem um tempo menor que o Dia do Senhor:
O Dia de Cristo durará sete anos. É o período em que a Igreja será julgada por Jesus, e ela, a
noiva, se tornará a esposa do Cordeiro – Vai do arrebatamento a hora em que o Rei volta
casado com a Rainha para reinar. O Dia do Senhor ocupa um período que não podemos
precisar:
254
GRANCONATO, Marcos. Dispensacionalismo e Pré-tribulacionismo. Disponível em >
https://www.youtube. com/watch?v=piizMIiFVgY&t=1962s. Acesso em 16 dez. 2020.
255
Cyrus Scofield, ibidem, p. 1165.
117
(1) O Dia de Cristo e as Bênçãos das Bodas: Este dia abrange uma identificação que
256
retrata o abençoar do Redentor sobre a sua grei; por isso, Scofield diz: “A expressão ‘o dia
de nosso Senhor Jesus Cristo’, identificada com a ‘vinda de nosso Senhor Jesus Cristo’ (I Co
1.7, 8), é o período de bênçãos para a Igreja, a começar com o arrebatamento. ” Este Dia
retrata um tempo em que Cristo apresentará a Si a Igreja como Sua noiva imaculada e
irrepreensível (Ef 5.25-27). Até os que fugiram aos princípios e padrões da vida cristã são
disciplinados, para que sejam salvos neste Dia. O exemplo é o fornicário de I Coríntios 5.5:
“... seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do
Senhor Jesus Cristo”.
(2) O Dia de Cristo Como Período de Maturação Cristã: A santificação da Igreja se
realiza pelo Espírito, que “opera em nós tanto o querer quanto o efetuar segundo a sua boa
vontade” (Fp 2.13). Este processo ocorre no despontar do Dia de Cristo: “Tendo por certo isto
mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo”
(Fp 1.6). O cristão almeja este Dia, pois seu alvo é ser puro: “Para que aproveis as coisas
excelentes, a fim de que sejais sinceros e sem escândalo algum até ao Dia de Cristo” (Fp
1:10).
(3) O Dia de Cristo e o Futuro: aborda o rapto da Igreja, pois enfatiza os galardões
que
Jesus nos prometeu por frutos colhidos: “Como também já em parte reconhecestes em nós,
que somos a vossa glória, como também vós sereis a nossa no Dia do Senhor Jesus” (II Co.
1:14).
(4) O Dia de Cristo como escatológico – Daí Cyrus Scofield257dizer: “Este dia futuro é
mencionado como ‘o dia do Senhor Jesus’ (I Co 5.5; II Co 1.14),‘o dia de Jesus Cristo’” (Fp
1.
10; 2:16). O apóstolo Paulo afirma:
256
Ibidem.
257
Ibidem.
258
MARTIN Thomsom, Oliver. 18 razões que demonstram: a Igreja não atravessará a tribulação, p. p. 16-17.
118
Sobre o Dia do Senhor, há uma abrangência cronológica interessante. Daí Scofield 259
dizer: “O dia do Senhor nos tempos proféticos abrangerá o período de futura tribulação (Ap 6-
19) e o reino de Cristo sobre o trono de Davi (Ap 20). O Dia do Senhor terminará com o juízo
diante do grande trono branco (Ap 20.11-15) e a introdução dos novos céus e da nova terra,
chamada ‘o dia de Deus’” (II Pd 3.12). Este Dia ocupa um espaço de tempo que não podemos
precisar. Mas, pelo menos cincos fatos que norteiam a época podem ser pontuados neste
estudo:
(1) O reinado do Anticristo (Capítulos 6 a 19 do Apocalipse): Assim que a Igreja for
arrebatada o sistema da Besta dominará a Terra por um tempo de 7 anos de tribulação (os
primeiros 3 anos e ½) e Grande Tribulação (3 anos e ½ finais). Será um tempo de aparente
paz:
Mas, irmãos acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos
escreva; porque vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá
como o ladrão de noite. Pois que quando disserem: Há paz e segurança,
então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que
está grávida; e de modo nenhum escaparão. (I Ts 5.1-3).
Jesus não virá como ladrão no Dia de Cristo (arrebatamento). Mas, Ele virá como
ladrão para o Dia do Senhor. Não somos das trevas, somos filhos da luz e do dia: “Mas vós,
irmãos,
já não estais nas trevas, para que aquele Dia vos surpreenda como um ladrão”. (I Ts 5.4).
(2) O Armagedom (Ap 14.14-20;16.13-16 e 19.11-21): No tocante ao Apocalipse de
Cristo e o Dia do Senhor há uma identificação com o Armagedom:
259
Cyrus Scofield, ibidem, p. 1165.
119
O Dia do Senhor é como um ladrão: “Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado
aquele que vigia, e guarda os seus vestidos para que não ande nu, e não se vejam as
suas
vergonhas. E os congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom” (Ap 16.15-16).
(3) O Milênio de Jesus (Ap 20.1-6): O Dia do Senhor contemplará o Reino Milenar,
tanto no evangelizar dos judeus na época: “E virão muitos povos e dirão: Vinde, subamos ao
monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine o que concerne aos seus
caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião virá a lei, e de Jerusalém a Palavra do
Senhor. ” (Is 2.3 – c.f. também o verso 5), quanto no punir as nações: “Porque o dia do
SENHOR dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo e contra todo o que se exalta, para
que seja abatido. (Isaias 2.12).
(4) O Juízo Final (Ap 20.1-15): O Dia do Senhor envolve um Juízo que abrange
ímpios de todas as eras e sinais no céu e na terra: “E farei aparecer prodígios em cima no céu
e sinais em baixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, a
lua, em sangue, antes de chegar o grande e glorioso Dia do Senhor. ” (Atos 2.19,20; c.f. Joel
2.28-32).
(5) A Queima da Terra: O Dia do Senhor vem como ladrão para queima da terra, (II
Pe 3.10): “Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com
grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se
queimarão. ”
Então, quando há o sem que antes venha a apostasia, ou sem que primeiro venha a
apostasia, não necessariamente a revelação do iníquo deve ser imediatamente ligada à esta
rebelião, presente hoje no Cristianismo. A vírgula após o termo apostasia e a conjunção
aditiva (e) devem realçar esta revelação do homem do pecado, que pode ser consequente da
apostasia e concomitante com o Dia do Senhor. A situação atual dos últimos dias denota isto,
pois já há a apostasia entre nós, mas não há o Anticristo em nossa era. Esta conjunção é
também usada no verso 8, sem que apareça a palavra apostasia: “E então será revelado o
iníquo, a quem o Senhor
o desfará pelo Espírito da sua boca, e o aniquilará pelo esplendor da sua vinda”. (II Ts 2.8).
O então que precede a revelação do Anticristo é o Algo que o detém: “E agora vós
sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado” (II Ts 2.6); e o Alguém
que o retém: “Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém até
que do meio seja tirado” (II Ts 2.7). Para nós, o que o detém é a Igreja e quem resiste é o
Espírito. A maioria dos pré-tribulacionistas vê o termo apostasia no texto, não com ideia de
saída da Igreja, como creem alguns; mas, a retirada dela com o Espírito, como Batismo, Selo,
Penhor, Unção e Plenitude. Assim, o arrebatamento, ante o Dia do Senhor, sem que a Igreja
conheça o Anticristo, seria uma abordagem natural do texto, sem os problemas que alguns
pós-tribulacionistas veem. Se usarmos a tradução que troca o sem que antes venha a
apostasia por sem que primeiro venha a apostasia, dá no mesmo. A apostasia vem primeiro,
ou seja, antes do Dia do Senhor. Já a revelação do iníquo pode vir ao mesmo tempo em que se
dá o Dia do Senhor, na saída da Igreja.
A interpretação do Apocalipse é cíclica e linear. Esta está na hermenêutica futurista
do livro, baseada no verso: “Escreve as coisas que tens visto, as que são, e as que depois
destas devem acontecer. ” (Ap 1.19). O passado do livro está no capítulo primeiro, onde há a
visão que João teve de Jesus em Patmos para, por ela, Ele se revelar a cada uma das 7 igrejas.
O presente está em 2 e 3, pelo: “quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às Igrejas”, em
cada uma das 7 cartas. E o futuro do livro está no Rapto da Igreja; João é tipo da Igreja em
4.1-2:
Depois destas coisas, olhei e eis que estava uma porta aberta no céu, e a
primeira voz que como de trombeta, ouvira falar comigo, disse: sobe aqui e
mostrar-te-ei as coisas que depois devem acontecer. E logo fui arrebatado no
Espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o
trono.
121
E, havendo aberto o sexto selo, olhei, e eis que houve um grande tremor de
terra; e o sol tornou-se negro como um saco de cilício e a lua tornou-se como
sangue; e as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira
lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte. O céu retirou-se
como um livro que se enrola, e todos os montes e ilhas foram removidos dos
seus lugares. E os reis da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os
poderosos, e todo o servo e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas
rochas das montanhas; e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e
escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do
Cordeiro; porque é vindo o grande dia da sua ira, e quem poderá subsistir
(Ap 6.12-17).
Este texto traz a abertura do sexto selo e possibilita vermos alguns juízos futuros:
a) A destruição da cidade e do templo de Jerusalém em 70 – isto se vê na fala de Cristo pela
Via Dolorosa em resposta às judias que o lamentavam. Tal juízo é visto nesse castigo de
Israel:
Jesus, porém, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis
por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos. Porque eis que
hão de vir dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que
não geraram, e os peitos que não amamentaram! Então começarão a dizer
aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos. Porque, se ao madeiro
verde fazem isto, que se fará ao seco (Lc 23.28-31).
Isto expõe uma expressão semelhante à dos homens no Dia do Senhor. O juízo cai
sobre
os judeus no ano70 e sobre a humanidade no Armagedom e no Juízo Final.
b) A vinda de Cristo em Armagedom – Jesus fala disto ao ligar a fase visível, com os sinais:
260
KESSINGER apud Rosenthal, pp. 256-257: Arrebatamento Pré-Ira. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 97.
122
c) O Juízo Final: O Trono e a retirada do céu como livro que se enrola, traz o Juízo Final: “E
vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e
o céu e não se achou lugar para ele” (Ap 20.11). O Dia do Senhor com a queima da terra:
“Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com grande
estrondo, e os elementos ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há, se queimarão”
(II Pd 3.10).
1) O 1º parêntesis aberto:144 mil e mártires na glória: “E ouvi o número dos
assinalados, e eram cento e quarenta e quatro mil selados, de todas as tribos dos de Israel” (Ap
7.4):
Cremos que esta multidão gentílica foi martirizada e agora está no céu, sem estar
glorificada, aguardando a ressurreição. Sendo, talvez, aqueles de Apocalipse 20.4:
E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhe dado o poder de julgar; e vi
as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela
palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não
receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos, e viveram, e reinaram
com Cristo durante mil anos.
2) O livro comido pelo anjo – “Tomei o livrinho da mão do anjo e o comi; e, na minha
boca era doce como o mel; e, havendo o comido, o meu ventre ficou amargo. E ele disse-me:
Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações e línguas e reis” (Ap 10.10,11).
Creio
Que este livrinho é o Apocalipse e o continuar da sua profecia.
3) As duas testemunhas e a 7ª trombeta: A Segunda Vinda: “E darei poder às minhas
duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias” (Ap 11.3); no toque da 7ª
trombeta há a Segunda Vinda de Cristo para implantar o quiliásmo ou o milênio na terra:
E o sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes que
diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de Nosso Senhor e do seu Cristo e
ele reinará para todo o sempre. E os vinte e quatro anciãos, que estão
assentados em seus tronos, diante de Deus, prostraram-se e adoraram a Deus,
123
dizendo: Graças te damos, Senhor Deus Todo Poderoso, que és, que eras, e
que há de vir, que tomaste o teu grande poder e reinaste (Ap 11.15-17).
Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo Monte de Sião. Proclamarei o
decreto: o Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e
eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão.
Tu os
esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de
oleiro” (Sl 2.6-9).
Jesus é o Rei sobre o monte Sião na terra: “O Senhor Reina; tremam os povos. Ele
se
assenta entre os querubins; comova-se a terra. O Senhor é grande em Sião, e mais alto do que
todos os povos. ” Assim, “três anjos anunciam juízos, inclusive o Evangelho Eterno. ” (Ap
14.6-13); e por fim, Armagedom ou Jesus na ceifa: “E olhei, e eis uma nuvem branca, e
124
assentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do homem, que tinha sobre a sua cabeça
uma coroa de ouro, e na sua mão uma foice aguda” (Ap 14.14-20).
V – OS CÂNTICOS DE SALVAÇÃO:
Eles se assemelham aos querubins de Ezequiel 1.5 e 10: “E do meio dela saía a
semelhança de quatro seres viventes. [...] E a semelhança dos seus rostos era como rosto de
homem; e do lado direito todos os quatro tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os
quatro tinham rosto de boi; e também tinham rosto de águia todos os quatro”. Em Ezequiel 10
são querubins: “E os querubins estavam do lado direito da casa, quando entrou aquele
homem; e a nuvem encheu o átrio interior. [...] E cada um tinha quatro rostos; o rosto do
primeiro era rosto de querubim, e o rosto do segundo, rosto de homem, e do terceiro era rosto
de leão, e do quarto, rosto de águia” (v. 4 e 14). Estes cânticos identificam os salvos que os
entoam, pois eles são fatos aludidos ao Milênio; o Apocalipse segue uma linha histórica linear
e também cíclica:
a) O cântico do capítulo 4:
Neste primeiro caso o que pode ser visto é a Igreja no céu, galardoada e glorificada, ao
lado dos querubins, louvando a Cristo no Milênio, pois Ele é digno de receber o poder e a
honra pela Criação. Isto dialoga com a Igreja-esposa do capítulo 19, vindo com Cristo no
Milênio: “Regozijemo-nos e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do
Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. ” (Ap 19.7-9). Este aprontar-se implica os galardões
recebidos:
“E foi lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as
justiças dos santos” (Ap 19.7-9). A Vinda do Cristo com a Igreja para reinar no Milênio.
b) O cântico do capítulo 5: Isto tem continuidade no capítulo 5:9 a 14, com o cântico novo:
Este cântico, como o de Apocalipse 4, tem a ver com o Milênio, mostrando santos
como reis e sacerdotes, dizendo: reinaremos sobre a terra. Mais uma vez o Cordeiro é digno
de louvor.
c) O cântico do capítulo 7:
E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está
assentado no trono, e ao Cordeiro. E todos os anjos estavam ao redor do
trono, e dos anciãos, e dos quatro animais; e prostravam-se diante do trono
sobre seus rostos, e adoraram a Deus, dizendo: Amém. Louvor e glória, e
sabedoria e ações de graças, e honra, e poder e força ao nosso Deus, para
todo o sempre, Amém. (Ap 7.10-12).
Aqui são as almas-mártires, que não estão glorificadas ainda. Chegaram no céu,
unindo-se às almas do capítulo 6 (talvez sejam os salvos do AT e do início da Tribulação),
completando o número que faltava à Ira de Deus em Armagedom e no juízo das nações para o
Milênio:
126
E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram
mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E
clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo.
Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a
terra? E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que
repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o
número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como
eles foram (Ap 6.9-11).
E ouvi uma voz do céu, como a voz de muitas águas, e como a voz de um
grande trovão; e ouvi uma voz de harpistas, que tocavam com as suas harpas.
E cantavam um como cântico novo diante do trono, e diante dos quatro
querubins e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os
cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra (Ap 14.2-3).
Um cântico ao aprendizado dos 144 mil, que estão no monte Sião, com Cristo; isto é
Milênio, pois não há em lugar algum da Bíblia o monte Sião no céu. Estes 144 mil podem ser
frutos das 2 testemunhas, que pregam o Evangelho do Reino nos 3 anos e ½ iniciais (Ap
11.3), e eles seguem pregando nos 3 anos e ½ finais. Jesus pode ter se referido a eles em
Mateus 10.22-23: “E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que
perseverar até ao fim, será salvo. Quando, pois, vos perseguirem nessa cidade, fugi para a
outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem
que venha o Filho do homem”.
e) O cântico do capítulo 15:
E depois destas coisas ouvi no céu uma grande voz de uma grande multidão,
que dizia: Aleluia! A salvação e a glória e a honra e o poder pertencem ao
nosso Deus; Porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a
grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua fornicação, e das
mãos dela vingou o sangue dos seus servos. E outra vez disseram: Aleluia! E
a fumaça dela sobe para todo o sempre. E os vinte e quatro anciãos e os
quatro querubins prostraram-se e adoraram a Deus, que estava assentado no
trono, dizendo: Amém. Aleluia! E saiu uma voz do trono, que dizia; Louvai
o nosso Deus, vós, todos os seus servos, e vós os que o temeis, assim
pequenos como grandes. E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e
como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que
dizia: Aleluia! Pois
já o Senhor Todo-Poderoso reina. (Ap 19.1-6).
aquele que vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas
vergonhas. E os congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom. ” (Ap 16.13-
16).
Como nos capítulos 6, 11, 14, 16 e 19.
7) As duas babilônias – Os 2 capítulos mostram a queda da Babilônia religiosa no
meio da Semana, destruída pelos reis que apoiam a Besta: “E os dez chifres que viste na besta
são os que odiarão a prostituta, e a colocarão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a
queimarão no fogo” (Ap 17.12). E a queda da Babilônia Política no Armagedom: “E a grande
cidade fendeu-se em três partes, e as cidades das nações caíram; e da grande Babilônia se
lembrou Deus, para lhe dar o cálice do vinho da indignação da sua ira” (Ap 16.19). A ira do
Cordeiro na 2ª Vinda.
8) Armagedom: Vinda do Rei: “E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que
estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça” (Ap
19.11-21.
Portanto, vemos que a nossa posição dispensacionalista e pré-tribulacional a não dever
nada a ninguém, e creio que se houver necessidade de alguma revisão será tão só a aprimorar
esta teoria, que é coerente e consistente, não deixando brechas a escatólogos de outros grupos,
que criticam os dispensacionalistas sem fundamento bíblico. Os pactualistas também precisam
rever sua Escatologia, mas nunca o farão, por se orgulhar da imobilidade do seu sistema como
um fator positivo. A maioria deles tece críticas ao DC e não aceitam, de modo
preconceituoso, esta escatologia no meio acadêmico, devido a algumas dificuldades, que há
em outras posições, a exemplo do DP, que se avizinha do aliancismo, salvo pela distinção
Israel e Igreja.
CAPÍTULO SETE
__________
129
Vimos no capítulo anterior que o Apocalipse tem uma parte cíclica da história no desenrolar
dos fatos proféticos ali abordados, a partir dos cânticos sobre a salvação e a epifanéia, que são
celebrados pelos anjos e pelos salvos, mas não se pode negar a parte histórico-linear que
perpassa todo o livro. Em contrapartida, os não dispensacionalistas se valem da leitura
apocalíptica sob a perspectiva da recapitulação, em detrimento da leitura dispensacionalista
acerca do apocalipse, na perspectiva da sequência de fatos. Todavia, o uso constante de uma
locução grega em apocalipse: (E vi – Ap. 19.11,17,19, 20.1,4,11), é um indicador
cronológico que vai de encontro à interpretação que gira em torno da possível recapitulação
apocalíptica. Aquele termo grego expressa a visão sucessiva de fatos, demonstrando que
existe, sim, a cronologia do livro. Neste contexto, plausível a sucessão de fatos a corroborar
com a visão dispensacionalista, pois o passado, o presente e o futuro no apocalipse são
percebidos nitidamente no livro, em capítulos diferentes, a partir da divisão do próprio livro
(dada em 1.19): “Escreve as coisas que tens visto, e as coisas que são depois destas devem
acontecer. ” Aqui temos esta noção sublime da sucessão de fatos que abrangem a linearidade
apocalíptica:
No capítulo primeiro João vê Jesus na Ilha de Patmos (Ap 1.9-18). Aqui é o passado
do livro, com os símbolos e fenômenos factuais, usados para descrever a Cristo, servindo ao
capítulo 2 e 3 como base para sua identificação às igrejas:
a) “[...] aquele que tem na sua destra as sete estrelas, e que anda no meio dos sete
castiçais de ouro. ” A Éfeso (Ap 2.1);
b) “[...] o primeiro e o último, que foi morto e reviveu. ” A Esmirna (Ap 2.8);
c) “[...] aquele que tem a espada aguda de dois fios. ” A Pérgamo (Ap 2.12);
d) “[...] o Filho de Deus, que tem os seus olhos como chama de fogo e os seus pés
semelhantes ao latão reluzente. ” A Tiatira (Ap 2.18);
e) “[...] o que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas. ” A Sardes (Ap 3.1);
f) “[...] o que é Santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre e
ninguém fecha e fecha e ninguém abre. ” A Filadélfia (Ap 3.7);
130
261
Ibidem, 2004, 15.
131
Pentecost 263 faz questão de pontuar que a Igreja aguarda Cristo e não os sinais:
Porque não quero irmãos que ignoreis este segredo (para que não presumeis
de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel até que a
plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como
está escrito: De Sião virá o libertador e desviará de Jacó as suas impiedades.
(Rm 11.25-26).
262
PENTECOST J. Dwight, p. 226
263
Ibidem.
132
Estes gentios são salvos da Igreja: do Pentecostes (32 a. D.) à Parousia. Tais gentios
264
são ímpios contra Israel, do Exílio Babilônico (587 a.C.) ao Armagedom. Daí Ladeira
dizer:
I – O ETADO INTERMEDIÁRIO
Há aqueles que acreditam estarem eles dormindo. Só que, à luz Bíblia, o que dorme no
pó da terra, são os corpos das pessoas (Dn 12.2 e Is 26.19). Quanto à parte imaterial do corpo as
Escrituras o dizem: “E o pó volte a terra como era e o espírito volte a Deus que o deu” (Ec
12.7). Há também os que sustentam um Purgatório aos que cometem pecados veniais e partem
daqui para o além. A Bíblia diz: “após a morte segue-se o juízo” (Hb 9.27) e o único agente
purificador para nossas almas é: “o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, [o qual] nos purifica de
todo o pecado”
(I Jo 1.7b). Ao pensar no que fazem os mortos no porvir, podemos dizer com Turner 266 que:
264
LADEIRA Samuel, Op. Cit. P. 94.
265
LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: JUERP, 1999, p. 290.
266
Donald D. Turner, Doutrina das Últimas Coisas. São Paulo: EBR, p. 187, 1988.
133
Em João 11.11-15, o Senhor diz que Lázaro dorme, isto é, que está morto.
Não obstante, fala dele como se estivesse vivo: “Vamos ter com ele”. Em
Lucas 12.20 Cristo descreve o homem que só pensava nesta vida, como um
néscio a quem levariam a alma, ou que naquela noite mesmo iria morrer.
Quando o ladrão penitente, na cruz, ao lado do Redentor, arrependeu-se e
reconheceu em Jesus Cristo o Santo de Deus, olhando para ele a fim de ser
salvo, sabendo que no porvir Cristo seria Rei dos espíritos, pediu que se
lembrasse dele quando viesse no Seu reino. O Salvador respondeu em
seguida: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.42-
43).
Essas são algumas entre tantas provas de que as pessoas, ao morrerem, estão em plena
consciência, no além-túmulo: Seja o Paraíso, no 3º Céu; ou o sheol-hades, no lugar de
tormento.
(2) ONDE ESTÃO OS MORTOS?
Temos auxílio do Bancroft 267 para localizar todos os mortos no Estado Intermediário:
267
BANCROFT Emery, Teologia Elementar (Trad. João Marques Bentes e W. J. Goldsmith), p.366.
268
Ibidem.
134
(Rm 14.10 e II Co 5.10) e após o milênio, estarão na Nova Terra, onde habita a justiça (II Pd
3.13).
I – AS SETENTA SEMANAS DE DANIEL
Aqui há o papel da Igreja entre a 69ª e a 70ª semana de Daniel. Daí Geisler 269 dizer:
Como vimos na fala de Granconato, a lacuna profética está entre a 69ª e a 70ª
271
semanas. A Sabedoria divina perpassa todo este processo no Plano de Deus. Geisler
acrescenta ainda:
McClain fala da última semana, o que marcara o início dos 7 anos de Tribulação não é
o Rapto da Igreja, mas o início do tratado de paz entre Israel e a Besta. Daí Geisler 274 afirmar:
Assim como o cumprimento da 69ª semana de Daniel se deu naquele primeiro dia da
semana, em que Jesus entrou em um jumentinho triunfalmente em Jerusalém, e o parêntese
foi aberto com a Igreja nascendo no dia de Pentecoste, mais ou menos 2 meses após, assim o
parêntesis será fechado com o Rapto da Igreja e a revelação da Besta, mas precisará de um
tempo para a Besta fazer o pacto de paz com Israel e este começa com a 70ª semana de
Daniel.
Os progressivos não dão tanta ênfase esta semana, pois a interpretação dela abre
275
espaço para se compreender melhor a doutrina do adiamento profético. Dai Randall Price
afirmar:
273
Ibidem, p.11.
274
Ibidem, p. 12.
275
HINDSON Ed e LAHAYE. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica; In PRICE Randall: Adiamento
Profético. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 20.
136
A Igreja completa se reunirá com Cristo e os outros homens provarão a Ira no dia do
Senhor. Distinta da 2ª ressurreição, no Juízo Final (Ap 20:11-15), a primeira será em três
etapas:
1º) “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a
trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (I
Co
15.52). No Rapto, os santos que morreram, do Pentecoste até hoje, ressuscitarão (I Ts
4.13;18).
2º) Só 2 pessoas participam desta fase da 1ª ressurreição. São as 2 testemunhas (Ap
11). Elas testemunharão no início dos 7 anos, e por 42 meses, 1260 dias, pregarão na terra,
mas, no meio da semana serão mortas pela besta, que exporá seus corpos por 3 dias e 1/2. Mas
Deus as ressuscitará, e como fez com a Igreja 3 anos e ½ antes, as arrebatará (Ap 11.3-12).
3º) A última fase da primeira ressurreição se dará no final da 70ª semana de Daniel,
i.e., ao Jesus descer com a Igreja glorificada. Esta fase visa aos crentes do AT – de Adão a
Dimas, o ladrão da cruz -, e os que, na Grande Tribulação, “foram degolados pelo testemunho
de Jesus, e pela Palavra de Deus, e que não adoraram a Besta, nem a sua imagem, e não
receberam o sinal em suas testas e nem em das suas mãos” (Is 26.19; Dn 12.1-2; Ap 20.4-6).
Sobre o Rapto da Igreja, o Parcialista advoga que nem todos os fiéis serão arrebatados,
mas só os que “vigiarem”, “se prepararem”. Os fiéis devem ser espirituais, dignos de subirem.
Com versos isolados do seu contexto, não deixam a Bíblia interpretar-se a si mesma:
[...]. Serão todos os salvos arrebatados? Podemos responder que parece que a
natureza da Igreja haveria de exigir que todo aquele que pertence a ela
deveria
ser levado. Já vimos que a Igreja é um Templo (1ª Co 3.16, 17; 2ª Co 6.16;
Ef
2.20, 21; 1ª Pd 2.5). Será que alguma parte do edifício no qual o Espírito
habita será deixada para trás? Já vimos que ela é a noiva de Cristo (2ª Co
11:2; Ef 5.24,32; Ap 19.6-9). Será que alguma parte da noiva será deixada
para trás? Já vimos que ela é o corpo de Cristo (1ª Co 12.12-27; Ef 1.22,23;
4.12; 5.29, 30; Cl 1.18, 24; 2.19). Seguramente, Ele não deixará parte de seu
corpo para trás. Que todos os crentes vivos serão arrebatados não é mais
improvável do que o fato de todos que adormeceram em Cristo serem
ressuscitados naquela hora. 276
II - O LEVADO E O DEIXADO
276
THIESSEN Henry C., Op. Cit. p.326.
137
Um dos versos base para defesa da teoria parcialista é o que apresenta “o levado” e “o
deixado. ” Para esta Teoria este texto se aplica ao arrebatamento. Isto se deve ao fato da
mesma usar passagens bíblicas que se aplicam ao plano divino a Israel, a fim de aplicá-los à
Igreja.
Este texto, só aparece 2 vezes na Bíblia. E em 2 lugares, a sua relação é com a
revelação e não com o rapto (Mt 24.40-41; Lc 17.34-36). Em Mateus, Jesus compara os Dias
de Noé aos Dias da Sua 2ª Vinda. Se os levados de 24:39, no Dilúvio, são os ímpios: “E não o
perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também na vinda do Filho
do homem”, por que os levados de 40 a 41: “Então, estando dois no campo, será levado um, e
deixado outro; estando duas moendo no moinho, será levada uma e deixada outra”, seriam
salvos?
O Jesus virá como ladrão não se aplica à Igreja: “Vigiai, pois, porque não sabeis a que
hora há de vir o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília
da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa” (Mt. 24:42-43) e
Mateus 24.28: “Porque onde quer que estiver o cadáver, ali se ajuntarão as águias”. O que isto
significa?
E, logo depois da tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará
a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências do céu serão abaladas.
Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra
se lamentarão e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com
poder e grande glória (Mt 24:29-31).
Em Lucas 17:37:
Digo-vos que naquela noite estarão dois numa cama; um será tomado e outro
será deixado. Duas estarão juntas, moendo; uma será tomada e outra será
deixada. Dois estarão no campo um será tomado e outro será deixado. E,
respondendo, disseram-lhe: Onde, Senhor? E ele lhes disse: onde estiver o
corpo, aí se ajuntarão as águias.
Os abutres comem os corpos dos adoradores da Besta, mortos pela Palavra: “E os
demais
foram mortos com a espada que saia da boca do que estava assentado sobre o cavalo, e todas
as
aves se fartaram das suas carnes” (Ap 19.21). O ímpio é levado e o crente é deixado:
Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo
o que causa escândalo, e os que cometem iniquidade. E lançá-los-ão na
fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então os justos
resplandecerão
como o sol, no reino de seu pai. Quem tem ouvidos para ouvir ouça (Mt
13.40-
43).
138
O único texto que trata do Rapto nos evangelhos pelo verbo levar, não está nos
sinóticos, nem no sermão escatológico de Jesus (Mt. 24 e 25, Mc. 13 e Lc. 21), mas em João
14:1-3:
Aqui os levados são da Igreja. Sobre os galardões e a teoria parcialista, Pentecost 277
diz:
277
PENTECOST D., p.186.
278
Ibidem.
139
O cuidado do crente neste tema é para que o galardão seja completo (II Jo. 8) e
guardado com vigilância (Ap 3.11). E o sublime em tudo isto é que o ego na vida do salvo
será dissipado e a humildade brilhará em seu ser, ao transferir a glória das coroas a Jesus (Ap
4.10-11).
CAPÍTULO OITO
__________
140
O modo como o Espírito agia no AT e como Ele age em o NT são distintos. A ação dEle era
especial em reis, profetas e sacerdotes. Uma operação temporária a funções específicas. Os
progressivos dizem que o Espírito vivia entre os crentes no AT, mas não estava neles como no
NT. Deus habitava entre eles: “Tu subiste, levaste cativo o cativeiro; recebeste dons para os
homens, e até para os rebeldes, para que o Senhor Deus habitasse entre eles” (Sl 68.18).
Nesta profecia, que trata da nova aliança, este ato é de Jesus, e o entre eles ocorre ao nascer
da Igreja:
Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos
homens. Ora, isto – ele subiu – que é, senão que também antes desceu às
partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima
de todos os céus, para cumprir todas as coisas. E ele mesmo deu uns para
apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para
pastores e doutores, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do ministério, para a edificação do corpo de Cristo. (Ef 4.8-12).
Discordamos do DP quando diz que o Espírito não estava neles no AT. A grande
279
distinção não é esta, mas a temporalidade. Com base no já da tensão escatológica, Veras
diz:
Veras280 faz uma distinção relevante sobre o agir do Espírito na Antiga e Nova
Alianças:
Na velha aliança, o Espírito Santo já habitava, mas habitava com, habitava
sobre, não habitava dentro. Essa é a grande diferença, por isso entender uma
habitação permanente do Espírito no NT, garantindo capacitação, a própria
salvação, a ação naquelas pessoas, mas também uma habitação dentro, estará
279
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
280
Ibidem.
141
Em seguida Pache 282 acrescenta mais alguns exemplos dessa ação do Espírito no AT:
Scofield,283 no livro Como um vento impetuoso aborda o agir do Espírito Santo no AT:
I – OS FILHOS DE DEUS:
281
PACHE, René. A Pessoa e Obra do Espírito Santo. Portugal: Edições Vida Nova, 1957, p. 35.
282
Ibidem.
283
SCOFIELD, Cyrus I. Como um vento impetuoso: A obra do Espírito Santo na vida do cristão. Ourinhos-SP:
Edições cristãs, 1989, p. p. 21,22.
142
Ao tratarmos da ação do Espírito nos salvos do AT, algo não pode passar
despercebido, a compreensão da filiação deles no contexto dos dois Testamentos:
a) Antigo Testamento:
(1) Filiação una – O homem é filho de Deus por criação – Tanto os crentes quanto os
não crentes são filhos de Deus, por serem criados por Ele. Ao defendermos tal ponto, nós não
estamos advogando o universalismo, mas enfatizando tão somente que o homem,
independente de sua fé, é filho de Deus, por ter sido criado por Ele. Esta filiação não outorga
vida eterna, mas concede a vida biológica ao ser humano. Aqui o homem entra no mundo pelo
ato da gestação.
O homem não é só criatura de Deus, mas, à semelhança dos anjos, que são mostrados
na Bíblia como filhos de Deus (Benai Eloim): “Num dia em que os filhos de Deus
vieram
apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles” (Jó 1.6; c.f Jó 38.7),
assim, os homens são filhos de Deus na condição de filhos de Adão, e isto pode ser visto na
genealogia decrescente de Lucas, que apresentou Jesus aos gregos como o Filho do Homem,
ou seja, Filho da Humanidade, o 2º Adão: “Ora, tinha Jesus cerca de trinta anos ao começar o
seu ministério. Era, como se cuidava, filho de Heli [...] Cainã filho de Enos, Enos filho de
Sete, e este filho de Adão, e este filho de Deus” (Lc 3.23, 38; c.f Rm 5.12-21). Não se poderá
dizer que Adão é filho de Deus, neste texto, por ser salvo, pois está claro aqui que se trata de
uma filiação por criação.
Todos os filhos de Adão estão na mesma posição de nosso primeiro pai, como afirma
Paulo em sermão no Areópago (Atenas) ao citar o poema Fenômenos do poeta grego Aratus
ou Arato: “[...], pois nele vivemos e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos
poetas têm dito: Porque dele também somos geração ” (At 17.28). Paulo não discorda de
Arato. Ele confirma o que o poeta diz. Todos nós somos filhos de Deus ou sua geração:
“Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à
prata, ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem. ” (At 17.29 – c.f Ml 2.10; Hb
12.9). Então, passemos à filiação do crente sobre à soteriologia e a ação do Espirito neles em
o AT.
(2) Filiação dupla – O crente é filho de Deus por criação como já vimos, mas
também, ele é filho de Deus por regeneração – esta é a filiação que salva; Esta 2ª filiação, só o
crente desfruta, pois, a mesma é fruto da redenção e do Redentor. É a filiação que nos dá vida
eterna. Todos os crentes, tanto do AT quanto do NT são salvos por regeneração. E este nascer
de novo só pode vir da cruz para os crentes dos dois Testamentos. Os primeiros creram e
143
foram feitos filhos de Deus, olhando para o futuro, pela fé, por crença de que o seu Redentor
viria libertá-los, a exemplo de Jó: “Pois eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se
levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei
a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; de saudade me
desfalece o coração dentro em mim” (Jó 19.25-27). Não se concebe a ideia de que Jó passou
toda a prova sem o Espírito.
O Nascer do Espírito e o seu lavar regenerador é algo que pode ocorrer no tempo do
AT, pois, o Filho de Deus nasceu e desempenhou o seu Ministério sob a égide da Dispensação
da Lei: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher,
nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei a fim de recebermos a adoção de
filhos” (Gl 4.4-5). Neste contexto, sem o nascimento da Igreja, ou sem a manifestação da
Dispensação da Graça (Ef 3.2), Jesus mostra a Nicodemos a necessidade da Regeneração para
entrar no Reino:
284
Pache, ibidem, p. 37.
144
tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao
dia de Cristo Jesus. ” (Fp 1.6).
b) Novo Testamento:
Filiação tripla – O crente é filho de Deus por criação, por regeneração e por
adoção;
1) Filhos de Deus por criação – Esta filiação continua em o Novo Testamento,
pois
todos quantos nascem no mundo são filhos de Deus por um ato criador dEle;
2) Filhos de Deus por regeneração – Ela atinge a todos os que creem nos dois
períodos: veterotestamentário e neotestamentário. Estes já visualizam o Redentor com a obra
executada:
Estava no mundo, o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos quantos
o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, os que
creem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. (Jo 1.10-12).
Com esta filiação, recebemos uma natureza nova, que é produto da aplicação da
Palavra como sêmen divino em nossas vidas: “[...], pois fostes regenerados, não de semente
corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. ”
(II Pe 1.23).
3) Filhos de Deus por Adoção – Esta 3ª parte é singular aos salvos do NT. Só os
crentes da Igreja desfrutam desta filiação. A adoção é uma doutrina paulina que trata dos
crentes da Era da Graça. Mesmo regenerados, os salvos do AT eram filhos de Deus menores
de idade ( – paidium). Eles devem ser guiados por tutores ou professores de crianças
(aios ou - paidagogos). A Lei era este professor dos crentes do AT, menores de
idade, que ainda não tinha direito à herança, mas a adoção propicia aos filhos maiores de
idade a justificação pela fé: “De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a
Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. ” (Gl 3.24). Por outro lado, sobre os cristãos
do NT, não são filhos (menores de idade, que estão sobre a tutoria da lei, mas
(filhos), ou seja, filhos maiores de idade. Aqui entra a adoção (). Esta filiação dá
ao fiel do NT a bênção de:
a) Ser Filho de Deus por Adoção: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de
Deus são filhos de Deus ” (Rm 8.14);
b) Receber o Santo Espírito de Deus: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos
corações o Espírito de seu Filho, que clama Aba, Pai. ” (Gl 4.6)
145
c) Ser herdeiro de Deus “De sorte que já não és escravo, porém, filho, e, sendo filho,
também herdeiro por Deus” (Gl 4.7)
d) Ser co-herdeiro com Cristo, tendo o direito de inaugurar o reino de Deus a partir da
glorificação: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora,
se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se
com ele sofremos, para que também com ele sejamos glorificados. ” (Rm 8. 16-17).
e) Ser livre da Lei: “[...], para resgatar os que estavam sob a lei a fim de que
recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.5).
f) Ter a liberdade em Cristo: “Porque não recebestes o espírito de escravidão para
viverdes atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba,
Pai. ” (Gl 8.15). Deus é o Papai – na área espiritual, Pai 2 vezes: por Regeneração e por
Adoção.
g) Ter um corpo glorificado e redimido da corrupção: “[...] E não somente ela, mas
também nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo,
aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. ” (Rm 8.23).
Voltando à ação do Espírito no AT, podemos dizer que o Espírito enchia algumas
pessoas, a exemplo de Bezalel: “[...] e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de
inteligência, e de conhecimento, em todo artifício [...] ” nas artes do tabernáculo; Em
Miqueias 3.8: “Eu, porém, estou cheio do poder do Espírito do Senhor, cheio de juízo e de
força, para declarar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado. ” O Espírito vinha
nalgumas pessoas, como Otniel e Jefté (Jz 3.10, 11.29). Mas, o Espírito não estava só entre
eles, habitava neles, como ocorreu com os profetas: “Indagando que tempo ou que ocasião de
tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os
sofrimentos que a Cristo havia de vir e a glória que se lhes havia de seguir” (I Pe 1.11-12).
Isto ocorreu também no ato de escrever as Escrituras, pois, os mais ou menos 32 autores do
AT tinham o Espírito que se movia neles: “Sabendo primeiramente isto, que nenhuma
profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia
foi dada por vontade humana, entretanto, homens santos falaram da parte de Deus movidos
pelo Espírito Santo. ” (II Pe 1.20,21).
Sobre os reis, pode-se ver que o Espírito não estava só no meio do reinado de Davi,
mas
146
habitava dentro do rei: “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu
Espírito Santo” (Sl 51.11). É fato que o Espírito agiu em Saul e se retirou dele, devido à
função temporária e a certas circunstâncias (I Sm 10.10;16.14). Assim, o agir do Espírito não
se restringe só a essas ações. O Espírito era dado temporariamente e poderia ser retirado;
Seria impossível a salvação pela graça, operada no AT, não ter o mesmo efeito regenerador
que ocorre em o NT sem que houvesse uma ação do Espírito dentro deles. Estes textos
provam a presença do Espírito neles e não entre eles. É fato de que no AT a ação do Espírito
era diferente do que é agora no NT, como houve com Ezequiel que diz: “Entrou em mim o
Espírito, quando falava comigo, e me pôs em pé, e ouvi o que me falava” (Ez 2.2). A mesma
cena ocorre no próximo capítulo, e o Espírito entrou nele de novo: “Então entrou em mim o
Espírito e me pôs em pé, falou comigo e me disse: vai, encerra-te dentro da tua casa” (Ez
3.24). Cremos que todos foram regenerados, não temporariamente, pelo Espírito. Não há
regeneração sem a presença dEle.
Nos Evangelhos há a ação do Espírito em homens e mulheres antes da Igreja, como
em João Batista: “Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte,
e será cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe. ” (Lc 1.15), e o exemplo de Isabel:
“E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e
Isabel foi cheia do Espírito Santo. ” (Lc 1.41), o mesmo pode ser dito de Zacarias: “E
Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo” (Lc 1.67). Outro exemplo: “Havia em
Jerusalém um homem cujo nome era Simeão, e este homem era justo e temente a Deus,
esperando a consolação de Israel e o Espírito Santo estava sobre ele” (Lc 2.25). E Jesus, que
era cheio do Espírito (Lc 4.1).
Aqui há uma distinção em o Espírito estar neles (temporariamente) e “[...] estará em
vós. ” (permanentemente – João 14.17). Daí Davi, após adulterar com Bate-Seba e assassinar
Urias, pediu a Deus que não retirasse o Espírito que estava nele e não entre ele. (Sl 51.13).
Este tipo de oração não poderia ser feito pelos crentes da Igreja, diante da afirmação de
Cristo: “E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre
convosco. ” (Jo 14.16). A Unção permanece em nós (I Jo 2.27). Mas havia também o agir do
Espírito neles.
Como explicar a profecia de Jesus sobre a vinda do Espírito, aplicada na Nova Aliança
aos dias da Igreja: “ O Espírito de verdade que o mundo não pode receber, porque não o vê
nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós” (Jo 14.17).
147
mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: sobre aquele que vires descer o
Espírito e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo”, registra o apóstolo
João (Jo 1.33) – Não há em nenhum lugar do NT, o uso das preposições pelo ou do, pois não é
o Espírito quem Batiza, mas sim, Cristo. O Batismo é dele. É Ele quem batiza no ou com o
Espírito.
2) O Batismo no Espírito é definido por João evangelista, com o termo Receber: “E
no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem
sede venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão
do seu ventre ” (Jo 7.37-38). João se refere ao Pentecoste e explica a fala de Jesus sobre o
Batismo no Espírito como Recebê-lo: “Isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os
que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido
glorificado” (Jo 7.39). Os discípulos não tinham recebido o Espírito, pois a Obra de Cristo
(morte, sepultamento, ressurreição, ascensão e exaltação à destra de Deus) ainda não estava
completa.
3) O Próprio Cristo vê o Batismo no Espírito como recebimento do Espírito: Antes do
Pentecoste, Jesus autoriza os apóstolos a receberem o Batismo no Espírito: “Disse-lhes, pois,
Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.
E havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20.21-22).
A ordem está na mesma proporção do “eu vos envio”.Tais imperativos se cumprem em Atos
2.
4) Promessa do Pai, Batismo no Espírito e Receber o Espírito estão no mesmo
patamar: Jesus é visto como sendo gerado do Pai: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho
Unigênito que está no seio do Pai, esse o revelou” (Jo 1.18); Já o Espírito procede do Pai e do
Filho: “Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o
Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem” (Lc 11.13); mas eles não pediram, foi
Jesus que orou ao Pai, e Ele deu o Espírito: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro
consolador para que fique convosco para sempre. O Espírito de verdade, que o mundo não
pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e
estará em vós” (Jo 14.16-17).
O Espírito é a Promessa do Pai: “E estando com eles, determinou-lhes que não se
ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que, disse ele, de mim
ouvistes” (At 1.4): “Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com
o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1.5). Quem recebe o Batismo O Recebe:
149
“Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas,
tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra.” (At 1.8).
O Dia do Senhor traz a promessa, no clamar Jesus para salvação: “E há de ser que
todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém
haverá livramento, assim como disse o Senhor, e entre os sobreviventes, aos que o Senhor
chamar” (Jl 2.32 – c.f a profecia de Jesus em Jo 7.37-39). Em Sua Exaltação é consumada a
Obra e derramada a Promessa: “Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos
testemunhas. De sorte que exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a Promessa
do Espírito, derramou isto que agora vedes e ouvis” (At 2.32-33). Pedro abre o espaço a
judeus da Diáspora e a gentios dos confins da terra, pelo Batismo como Promessa do Pai e
recebimento do Espírito:
E quando comecei a falar caiu sobre eles o Espírito Santo, como também
sobre nós ao princípio. E lembrei-me do dito do Senhor quando disse: João
certamente batizou com água; mas vós sereis batizados com o Espírito
Santo. Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando havemos
crido no Senhor Jesus Cristo, quem era eu, para que pudesse resistir a Deus.
(At 11.16-17).
E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo tendo passado por
todas as regiões superiores, chegou a Éfeso, e achando ali alguns discípulos,
disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles
disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. Perguntou-
lhes: Em que sois batizados, então? E eles disseram: No batismo de João.
Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo de
arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir,
isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do
Senhor Jesus. E impondo-lhes as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e
falavam em línguas e profetizavam (Atos 19.1-6).
Pelo texto era comum ao salvo receber ou ser batizado no Espírito quando cria, daí a
indagação de Paulo. O problema é que os discípulos de João não eram crentes, nem sabiam
que havia Espírito, e João tocou no tema. O fato de falarem em línguas e profetizarem não
evidencia o batismo no Espírito, pois dons são um sinal para Israel de que o ensino paulino
era completo
em relação à mensagem joanina recebida por eles. O livro de Atos não é normativo, é
histórico-descritivo. Há práticas na igreja primitiva que não se repetem hoje. A Igreja não
pode basear sua conduta em um livro bíblico-histórico. Nossa base doutrinal está nas
epístolas: “perseveraremos nas doutrinas dos apóstolos” (At 2.42). Usamos este livro a realçar
o Batismo
no Espírito aos cristãos na conversão como igual a receber o Espirito. Vejamos agora as
cartas:
c) O Batismo no Espírito nas Epístolas como sinônimo de Receber o Espírito –
Então
vamos olhar os textos destas cartas, pensando no Batismo no Espírito como receber o
Espírito:
Nas Cartas Paulinas – Epístolas às igrejas locais:
1) Na Igreja de Roma – Nesta epístola aos Romanos tanto a palavra habita quanto o
vocábulo recebestes denotam o Batismo no Espírito para todos os crentes da Igreja de Roma:
Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus
habita em vós. Mas se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é
152
dele. E se Cristo está em vós, o corpo na verdade está morto por causa do
pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. Porque não recebestes o
espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes
o Espírito de
adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai (Rm 8.9,10 e 15).
foram batizados no Espírito na conversão. Isto pode ser notado a partir do uso do termo
receber, ante a contestação de Paulo ao falso evangelho legalista que transtornava o
Evangelho de Cristo:
Cristo, e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a
na fé do Filho de Deus, o qual, me amou e a si mesmo se entregou por mim. ”
6) Na Igreja de Colossos – o Batismo no Espírito é o Mistério da Graça: “O mistério
que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto
aos seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste
mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1.26-27); e a
Escritura: “A Palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria,
ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais,
cantando ao Senhor com graça em vosso coração. ” (Cl 2.16 e Ef 5.18-19).
7) Na Igreja de Tessalônica – O termo Espírito faz-nos notar, pelo gerúndio
recebendo, o Batismo: “E vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a
Palavra em muita
Tribulação, com gozo do Espírito Santo” (I Ts 1.6); o mesmo pode ser dito da II carta, pois o
Batismo no Espírito é visto na Igreja a deter o mistério da iniquidade: “Porque já o mistério da
injustiça opera, somente há um que agora o retém, até que do meio seja tirado” (II Ts 2.6).
Nas Cartas Universais – Epístolas endereçadas a todos os cristãos:
1) Na Carta de Tiago – Este Batismo está presente pelo termo habita: “Ou cuidais vós
que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes? ” (Tiago 4.5).
2) Na I Carta de Pedro – Aqui, Pedro usa o termo repousa para retratar este precioso
Batismo que expressa a presença de Cristo em nós no meio dos sofrimentos: “Se pelo nome
de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da
Glória de Deus; quanto a eles, é ele sim, blasfemado, mas, quanto a vós, é glorificado” (I
Pedro 4.14).
3) Na Carta de João – Em uma das epístolas do apóstolo do amor este Batismo é
tratado como um presente, pelo verbo dar: “E aquele que guarda os seus mandamentos nele
está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos foi dado” (I
João 3.24).
4) Na Carta de Judas – Aqui o Batismo é patente no paralelo em que o meio irmão de
Jesus faz entre falsos mestres e servos de Deus. Ter o Espírito faz a diferença: “Estes são os
que a si mesmos se separam, sensuais, que não têm o Espírito. Mas vós amados, edificando-
vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo” (Judas 19-20). Por
isso é
falácia de falsos mestres uma 2ª bênção à Igreja. Somos abençoados com todas elas. (Ef 1.3).
154
Convém analisar a visão eclética que o DP tem sobre o Rapto da Igreja. Creio que
estas
múltiplas visões, diferente do número de dispensações, tem uma intencionalidade por trás:
cooptar grupos dispensacionalistas a este sistema. Mas, tal visão pode complicar ao DP: Se
sou progressivo e admito o Arrebatamento meso-tribulacionista ou o pós-tribulacionista tenho
que negar a iminência do arrebatamento. Se sou pré-tribulacionista tenho que explicar como
Israel, na tribulação, receberá o Espírito, pois o Corpo de Cristo, a unir judeus e gentios (Ef
2.11-22), não está na terra. Como seria o derramar do Espírito para Israel? Formariam um
novo corpo de judeus e gentios? Neste caso, é muito mais coerente ao DP optar pelo Pré-Ira,
pondo a Igreja-Corpo na Tribulação para que o remanescente judeu e a Igreja sigam como um
só povo até ao rapto da Igreja, deixando a Ira a ímpios. Talvez, por isso, a maioria dos DP
optaram tal vertente.
Neste contexto, Robert Saucy, 287 em artigo sobre Israel e a Igreja: Um caso para a
descontinuidade, pontua a distinção como um período de junção de ambos os povos (judeus e
gentios) em um povo (Ef 2.14). Mas, ao abordar que esta continuidade gera o Corpo, ele
precisa estar até ao fim da Tribulação para que o agir do Espírito nesta era seja igual ao tempo
da Igreja:
No que concerne ao corpo de Cristo, encontra-se mais na próxima seção
sobre continuidade da Igreja e Israel, onde se argumenta que as verdades
ensinadas por essa metáfora tratam das realidades espirituais da prometida
salvação messiânica e não são, consequentemente, exclusivas da igreja.
288
Saucy vê a ação do Espírito hoje no mesmo nível do Seu agir em Israel na
Tribulação:
287
Ibidem. In SAUCY, Robert. Israel e a Igreja: Um caso para a descontinuidade, 2013, p. 305.
288
Ibidem, p. 305 e 306.
155
Bema e as bodas? Uma vez que a Igreja, batizada no Espírito, não fica. Daí Brennan e
Correia289 dizerem:
Há dois mil anos, Jesus nasceu em Belém, se criou em Nazaré, com o ministério em
Israel e foi crucificado em Jerusalém. Agora nós vemos o mundo perdido, mas o Redentor
pronto a salvar, com a missão sublime do Seu Substituto, que Ele chama de Consolador, o
Espírito, cuja missão é o Seu agir no mundo. Uma ação tríplice, mas ainda é una – missão de
convencimento. Ele viria convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Do monte das
Oliveiras, o Messias-Ressurreto, visto por mais de 500 irmãos, ascende aos céus, e os
discípulos se maravilham, olhando para o céu, enquanto Jesus some entre as nuvens, então
dois anjos, vestidos de branco, dizem a eles: “Homens galileus, por que estais olhando para o
céu? Este Jesus que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu
o vistes ir”. (At 1.11). Ele subiu desse Monte (At 1.12) e descerá com seus pés sobre este
monte (Zc 14.4,5).
Ao subir, Ele se assenta à direita de Deus e dez dias após os 40 (At 1.3) no dia de
Pentecostes, em Atos 2, Ele envia o Seu Espírito. Vindo naquele dia, o Espírito começa a
cumprir a Sua tríplice missão registrada em João 16.7-11. O Espírito, a partir de então,
começa a formar o Corpo de Cristo, a Igreja, com o Batismo no Espírito a formá-la, tirando-a
para fora do mundo. Mas também ele inicia a obra de convencimento para o mundo.
Convencer do pecado. Cristo não fala do pecado no plural. Então que pecado é este? É o
pecado original. O Espírito veio a nos convencer do pecado original. Este pecado se
289
BRENNAN & CORRÊA. Profecias Messiânicas. São Paulo: Editora Batista Regular, 2004, p. 237.
290
Ibidem, 2004, p. p. 237-238.
156
pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para
interceder por eles. ” (Hb 7.25). O convencimento do Espírito vai além de Atos 2.23, atinge a
justiça com o verso 24: “Ao qual Deus ressuscitou, desfazendo as dores da morte, pois não
era possível ser retido por ela”. E com a justiça da ressurreição aparece o vou para o meu Pai
nos versos 32,35:
Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte
que exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido a promessa do Espírito
Santo, derramou isto que agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos
céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à
minha direita até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.
291
Ibidem, 2004, p. 238.
158
O agir do Espírito, na Tribulação, não será como no AT, pois a Nova Aliança se
cumpre
em Israel e Judá e começa o preparo da sua fase inaugural no início da 70ª semana de Daniel:
Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa
de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com os seus
pais, no dia em que os tomei pela mão para os tirar da terra do Egito; porque
eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o
Senhor. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles
dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu
coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará mais
cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao
Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz
o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei
dos seus pecados (Jr 31.31-34).
Na Tribulação, há a redenção de Israel, pois: “Deus não rejeitou o seu povo, que antes
conheceu [...]. E se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos
gentios
quanto mais a sua plenitude” (Rm 11.2,12). Na Graça, judeus e gentios formam um corpo:
Mas agora em Cristo Jesus, vós, que estáveis longe, já pelo sangue de Cristo
chegaste perto. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um;
e, derrubando a parede de separação que estava no meio. Na sua carne desfez
a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças,
para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz. E pela cruz
reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades
(Ef
2:13-15).
de Judá. Iniciará na Tribulação e culminará no Reino, com a entrada de um terço de Israel (Zc
13.8,9), além dos gentios, salvos da época. Mas eles não formam um corpo, pelo batismo no
Espírito, como em Pentecoste (Atos 2). Israel será o povo de Deus, salvo pelo Redentor. O
derramar do Espírito ocorrerá na inauguração da Nova Aliança, para os judeus, que serão “Os
pequeninos irmãos do Messias” (Mt 25.41); e a todos quantos o Senhor chamar, os gentios,
que serão as ovelhas do juízo das nações, “Benditos de meu Pai” (Mt 25.34), que terão como
herança
o Reino, preparado desde a fundação do mundo. O Espírito agirá do seguinte modo na Época:
(1) O Espírito Santo será o Selo de Deus na Tribulação: Em princípio, nos 144
mil
judeus: “E vi outro anjo subir do lado do sol nascente, e que tinha o selo do Deus vivo; e
clamou com grande voz aos quatro anjos, a quem fora dado o poder de danificar a terra e o
mar, dizendo: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que hajamos selado nas
suas testas os servos do nosso Deus. ” E depois, também em judeus e gentios, salvos na
tribulação: “E foi-lhes dito que não fizessem dano à erva da terra, nem a verdura alguma, nem
a árvore alguma, mas somente aos homens que não têm nas suas testas o selo de Deus” (Ap
9.4).
(2) A vida de Testemunho na Tribulação só pode ser propiciada pelo Espírito: Em um
cenário em que a multiplicação da iniquidade resultará no esfriar do amor (Mt 24.12). É
impossível alguém ser irrepreensível sem o Espírito em sua vida. É o que ocorre com os
crentes tribulacionais, como os 144 mil em Apocalipse 14.4,5, e as suas sete virtudes,
expostas em uma
lista: incontaminados, puros, fiéis, sem dolo, redimidos, primícias de Deus e irrepreensíveis.
(3) O Espírito Santo neles, na Tribulação, os usará para pregar o Evangelho do
Reino:
[...]. Mas quando vos entregarem, não vos dê cuidado como ou o que haveis
de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de
dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que
fala em vós. E o irmão entregará à morte ao irmão, e o pai ao filho; e os
filhos se levantarão contra os pais e os matarão. E odiados de todos sereis
por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim, esse será
salvo. Quando, pois, vos perseguirem nesta cidade, fugi para a outra; porque
em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem
que venha o Filho do homem. (Mt 10.19-23).
obras sobrenaturais que ocorrem, mesmo após sua morte. É o que atestam Brennan e
Corrêa:292
carne o coração de pedra e lhe darei um coração de carne” (Ez 11.19).Brennan e Corrêa 293
dizem
[...] Ele agirá “como torrente impetuosa, impelida pelo Espírito do Senhor.
Virá o redentor a Sião e aos de Jacó que se converteram, diz o Senhor” (Is
59.19-20). Esta referência se trata da vinda do Messias que é precedida pela
ação do Espírito Santo. Em Joel 2.32 diz: “Todo aquele que invocar o nome
do Senhor será salvo”, após falar do Grande e terrível Dia do Senhor” do v.
31. Nas passagens abaixo encontramos que o Espírito Santo está
regenerando após o arrebatamento e antes do Reino, isto é, na Tribulação, Is
32.15; 44.3; Ez 39.29; 36.25-27; Zc 12.10.
(6) O Espirito Santo dará poder aos crentes da Tribulação para suportar as provas:
Segundo Brennan e Corrêa: 294 “Alguns crentes da tribulação terão poder especial, dado pelo
Espírito, para suportar as perseguições e angústias, para continuarem vivos (At 7.9-17). ”
(7) O Espírito os capacitará para uma vida de oração na tribulação: “E orai para que
a vossa fuga não aconteça no inverno e nem no sábado. ” (Mt 24.20). Os céus receberão as
suas orações, guiadas pelo Espírito: “E veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um
incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso para o pôr com as orações de todos santos
sobre o altar de ouro que está diante do trono. E a fumaça do incenso subiu com as orações
dos santos desde a mão do anjo até diante de Deus ” (Ap 8.3-4).
292
BRENNAN & CORRÊA. Profecias Messiânicas. São Paulo: Editora Batista Regular, 2004, p. 239.
293
Ibidem, 2004, p. 240.
294
Ibidem.
161
(8) O Espírito como Consolador para os mártires da Tribulação: “E ouvi uma voz do
céu que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor.
Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem. ” (Ap
13.14). O Espírito está presente e acompanha atentamente todo o processo.
(9) O Espírito será Plenitude na Vida dos crentes da Tribulação: Serão os piores dias
da humanidade e os fiéis terão que ser cheios do Espírito a enfrentar a tríade (Dragão, Besta e
Falso Profeta). “A Plenitude do Espírito deverá ser a única razão para explicar a vitória dos
crentes da tribulação diante de Satanás é o que inferimos de Ap 12.10-12, bem como o que é
descrito a respeito dos crentes judeus e a perseguição que Satanás lhes moverá em Ap
12.17.”295
(10) O Espírito como Penhor na Tribulação: Eles terão o Espírito como Penhor da
herança, Daí Jesus dizer para eles: “Vinde benditos de meu Pai, possui por herança o reino
que vos está preparado desde a fundação do mundo”. (Mt 25.34). Só podem herdar, como a
Igreja, se tiverem o Penhor do Espírito: “O qua é o Penhor da nossa herança, para redenção da
possessão adquirida, para o louvor de sua glória”. (Ef 1.14). Só não poderão ter o Espírito
como Batismo, pois não pertencem à Igreja, ao Corpo de Cristo. Aqui não há um corpo em
unidade a receber judeus e gentios como ocorre agora na Igreja. Assim teremos o povo de
Deus (o Israel étnico) e o povo de Deus (os gentios-ovelhas-benditos-de-meu-Pai) a cumprir a
inauguração da Nova Aliança, junto com os crentes do AT, concomitante com a Igreja, a
esposa do Cordeiro.
Agora judeus e gentios formam um só povo, o corpo, a Igreja, e isto ocorre pela fusão
do Espírito. Na tribulação é diferente, há o Israel Étnico, povo de Deus (Rm 11.1) e os
gentios, povo de Deus, convertidos. Não há mais o Corpo de Cristo na terra. Este é um
problema para o DP resolver, pois, para ele, há um só plano e um só povo desde o AT,
progredindo na história:
Ainda assim, nascerão filhos de judeus e gentios no Milênio e Israel terá a primazia
sobre eles, na inauguração do Reino e na Inauguração e cumprimento da Nova Aliança.
295
Ibidem, p. 240.
296
Ibidem, p. 242.
162
CAPÍTULO NOVE
__________
É fato que a Nova Aliança incluirá a presença do Espírito em Israel (Ez 36.26-27 e 37).
Porém, não como Batismo do modo em que ocorreu com a Igreja (I Co 12.12-13). Há judeus
selados no Espírito no período (Ap 7.3), e outras ações de regeneração à época. Deus coloca
dentro deles o seu Espírito. A Nova Aliança se concretiza com o Israel étnico sendo
163
abençoado com as promessas de Daniel 9.24. Estes judeus são “pequeninos irmãos” do
Senhor (Mt. 25:40) e os gentios salvos (não fazem parte da Igreja) são os benditos do meu Pai
(Mt 25.34). Nunca são tratados na Tribulação como Corpo redimido de Cristo para o futuro.
A Igreja glorificada desce com Cristo. A Igreja é a esposa, o Corpo de Cristo. Então, como os
progressivos explicam com êxito esta situação? Colocar a Igreja nos 7 anos de Tribulação ou
negar até a literalidade destes 7 anos, optar pelo Pré-Ira é o caminho mais coerente para eles.
Mas, nem a Hermenêutica Complementar que os mesmos advogam consegue satisfazer tal
malabarismo teológico.
297
Ao nos debruçarmos nesta temática se faz necessário pontuar a defesa que Ryrie faz
no tocante à essência do dispensacionalismo, enquanto a distinção entre a Igreja e Israel; tal
diferença desponta para ele de tal maneira que o leva a considerar a impossibilidade de a
Igreja
se associar a quaisquer relacionamentos com as promessas oriundas do reinado messiânico.
298
Ante esta posição de Ryrie, Myron Houghton traz questões a serem respondidas
aqui:
1) Como entender o discurso de Pedro em Atos 2 e sua ideia de cumprimento em Joel?
Não há como se usar Joel em cumprimento da profecia. Tanto que Pedro não o cita
com o termo cumpriu-se, “mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel. ” Daí J. Freerksen 299
dizer:
Fica muito claro para mim que os autores do NT quando olham para as
promessas que foram feitas a Israel no AT do reino, do trono e da terra eles
consideram como sendo cumpridas na Igreja. Eu vou dar um exemplo:
Quando Pedro prega no dia de Pentecoste, para explicar o derramamento do
297
Charles Ryrie. Dispensationalism Today. p. 98ss.
298
Myron Houghton. O Estado do Dispensacionalismo Hoje. p. 3.
299
Ibidem. In FREERKSEN, James: Escatologia de Atos. 2010, p. 174.
300
LOPES, Nicodemus A. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um
debate sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 1/3, 2014. Disponível em >
https://www.youtube.com/watch?v =ra C0Soa28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
164
Espírito, ele cita Joel 2.28, onde está escrito que ‘Assim acontecerá depois
que derramarei do meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos, vossas
filhas profetizarão, vossos jovens terão visões e sonharão vossos velhos.
Lopes301 declara que Pedro analisa o texto de Joel, pontuando a inauguração do reino
messiânico. Notem que a interpretação do amilenista se aproxima da hermenêutica dos DP:
304
Mal Couch acrescenta ainda que, no área espiritual, fomos transportados a este
reino:
301
LOPES, Nicodemus A. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um
debate sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 2014. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?
v=ra C0Soa28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
302
Ibidem.
303
COUCH, Mal, (ed) An Introduction to Classical Evangelical Hermeneutics: um guide to history and pratice
of biblical interpretation. Grand Rapids. Ml: Kregel Publication, 2000, p.205.
304
Ibidem.
165
[...], depois que o reino messiânico político e literal for rejeitado (veja Mt
12ss.) uma forma temporária de reino espiritual foi estabelecida. O plano de
Deus na terra transferiu o foco do estabelecimento do reino judaico à
salvação dos gentios. Com isto, o Senhor desejava provocar os judeus à
aceitação do seu Rei e do Seu reino para eles (cf. Rm 11).
Tabela 03 – Para entendermos melhor este processor Geisler elaborou uma tabela didática: 306
Forma de Mistério do Reino Forma Messiânica do Reino
Começo Mateus 13 Apocalipse 19
Visibilidade Invisível Visível
Forma Interior Exterior
Natureza Espiritual Política
Súditos Os salvos e os não salvos estão nele Somente os salvos entram
Tempo Era atual Era futura
Final Na Segunda Vinda No fim do Milênio
3) Como considero o que o uso do Novo Testamento faz do Antigo Testamento?
A abordagem do Referentiae Plenior responde a esta indagação. Mas,
complementando
307
a resposta a esta inquirição pode-se pensar em Zuck, um dos mentores desta
abordagem e dispensacionalista revisado, que realça a incoerência da Hermenêutica
Complementar com a Bíblia. No capítulo 11 do seu livro Interpretação Bíblica ele fala do
emprego do Antigo testamento no Novo, citando dez formas de citação do AT em NT, as
quais usamos neste estudo:
a) Para ressaltar o cumprimento ou a concretização de uma predição do Antigo Testamento.
Este tipo de citação ocorre muito na Bíblia, em especial nos evangelhos,
principalmente o de Mateus, enfatizando o cumprimento das profecias relacionadas com a
vida e ministério do
Senhor Jesus Cristo. Dentre os exemplos citados por Zuck, há a referência a Mateus 8:17 que
expressa o ministério de Cristo autenticado pelas curas em cumprimento de Isaias 53:4:
“Certamente ele tomou as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si...” Daí
Zuck308 afirmar: “Está claro aqui que a promessa de ele levar as nossas dores cumpriu-se no
305
Geisler, ibidem, p. 893.
306
Ibidem.
307
ZUCK, Roy. A Interpretação Bíblica: meios de descobrir as verdades da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1994.
308
Ibidem, ZUCK, 1994, p. 301.
166
ministério terreno de cura; ela não está relacionada, como acreditam alguns, com a ‘cura na
expiação’. ”
b) Para confirmar que um acontecimento do NT está de acordo com o princípio do AT.
Este tópico é relevante na relação entre os testamentos. O principal exemplo dado por
309
Zuck foi o discurso de Tiago no Concílio de Jerusalém. Para ele, a salvação dos gentios
não contradiz o AT: “Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito. ” (At
15:15), e nos 3 versos seguintes citou Amos 9:11-12. Analisando a Hermenêutica
310
Dispensacionalista, O. Palmer Robertson se refere a tal ponto ao dizer que “os intérpretes
dispensacionalistas consideram adequado o entendimento de Amós 9 em Atos 15 como
extremamente importante para equilibrar os elementos de continuidade e descontinuidade
entre os dois Testamentos”
c) Para explicar uma proposição do Antigo Testamento.
Em algumas situações não vemos o cumprimento da profecia, mas a utilização do
texto profético aplicando-o, em parte, a um evento do momento, que não se cumpriu. Mas se
cumprirá no futuro. Neste ponto Zuck 311 diz: “No dia de Pentecoste, Pedro começou a citação
de Joel 2:28-32, em Atos 2:16-21, dizendo (v. 17): ‘E acontecerá nos últimos dias...’. Mas a
passagem de Joel começa assim: ‘E acontecerá depois...’. O que aconteceu foi que Pedro,
guiado pelo Espírito Santo, estava explicando que ‘depois’ significava os últimos dias. ”
d) Para confirmar uma proposição do Novo Testamento.
O uso deste tópico ilumina a compreensão de muitos ensinos neotestamentários.
Nesta
parte, o teólogo realça que “Grande número de citações do Antigo Testamento é feito com o
intuito de confirmar proposições do Novo. Jesus citou Êxodo 3:6 em Mateus 22.32: ‘Eu sou o
Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’, para confirmar que Deus é o Deus
dos
vivos e que a ressurreição, portanto acontecerá de fato. ” 312
e) Para ilustrar uma verdade do Novo Testamento.
309
Ibidem.
310
FEINBERG, John. Continuidade e Descontinuidade: perspectiva sobre o relacionamento entre o Antigo e o
Novo Testamentos: ensaios em homenagem a S. Lewis Johnson Jr. In ROBERTSON, Palmer O.
Hermenêutica da continuidade. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 113.
311
Ibidem, ZUCK, 1994, p. 302.
312
Ibidem.
167
313
Este ponto é exemplificado por Zuck da seguinte maneira: “Paulo disse que muitos
israelitas não aceitaram as boas novas do evangelho (Rm. 10:16). Isso é ilustrado pela mesma
situação nos dias de Isaias. O profeta escreveu: ‘Quem creu na nossa pregação?... (Is. 53:1). ’”
f) Para aplicar o Antigo Testamento a um acontecimento ou uma verdade do novo.
Entre os exemplos, há o de I Coríntios 9:9 ligado a Deuteronômio 25.4: “.... Não atarás
a boca ao boi que debulha...”. “Ele estava associando esse versículo do Antigo Testamento,
cujo contexto é a bondade e a justiça para com os pobres e necessitados, a seu argumento
de
quem serve ao Senhor tem o direito de ser sustentado por aqueles a quem serve.”314
g) Para sintetizar um conceito do Antigo Testamento.
Esta parte é relevante, pois trabalha conceitos que, para ser entendidos devem fazer a
315
análise apurada de textos envolvidos na citação de autores do NT. Sobre tal ponto Zuck
diz:
313
Ibidem, ZUCK, 1994, p. 302.
314
Ibidem, ZUCK, 1994, p. 306.
315
Ibidem, p. 307.
316
Ibidem.
168
317
o sentido e o último o referente. Este pode ser múltiplo, e aquele é único. Daí Zuck
destacar:
317
Ibidem, ZUCK, 1994, p. 302.
318
Ibidem.
319
Ibidem.
169
320
Ryrie prossegue destacando aspectos da Nova Aliança que podem tranquilamente
serem aplicados na Igreja, não implicando necessariamente em sua inauguração:
Ryrie 321 elenca os últimos pontos com aspectos que não podem ser aplicados à Igreja:
8) Como ocorre sempre quando Israel está na terra, ele será abençoado
materialmente de acordo com as disposições da nova aliança [...] Jeremias
32. 41; [...] Isaías 61.8 [...] Ezequiel 34.25-27.
9) O santuário será reconstruído em Jerusalém, pois está escrito "porei o meu
santuário no meio deles, para sempre. O meu tabernáculo estará com eles"
(Ez 37.26,27a).
10) As guerras cessarão e a paz reinará de acordo com Oséias 2.18. Essa
característica definitiva do milênio (Is 2.4) apóia ainda mais o fato de que a
nova aliança é milenar em seu cumprimento.
11) O sangue do Senhor Jesus Cristo é o fundamento de todas as bênçãos da
nova aliança, pois "por causa do sangue da tua aliança, tirei os teus cativos
da cova em que não havia água" (Zc 9.11).
A passagem fala da nova aliança. Ela declara que essa nova aliança já foi
introduzida e, pelo fato de ser chamada "nova", passa a ser a que substitui a
"velha", e que a velha está prestes a desaparecer. Seria difícil encontrar
referência mais clara à era do evangelho no Antigo Testamento do que
nesses versículos de Jeremias...
320
Ibidem.
321
Ibidem.
322
OSWALD T. ALLIS, Prophecy and the church, p. 154.
323
Ibidem, RYRIE, p. 108-9.
170
Ryrie 324 deixa claro que a Nova Aliança é para Israel no início do Milênio:
Não há dúvida quanto a quem se refere a lei. Ela é somente para Israel, e já
que essa aliança antiga foi feita com Israel, a nova aliança é feita com o
mesmo povo, não com outro grupo ou outra nação.Em terceiro lugar, o
Antigo Testamento ensina que a nova aliança é para Israel, e por isso no seu
estabelecimento a perpetuidade da nação de Israel e sua restauração à terra
estão ligados vitalmente a ela (Jr 31.35-40) [...] Logo concluímos, por essas
três razões incontestáveis, as próprias palavras do texto, o próprio nome e a
conexão com a perpetuidade da nação, que a nova aliança segundo o
ensinamento do AT é para o povo de Israel.
Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais
de vós mesmos); que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a
plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como
está escrito: De Sião virá o libertador e desviará de Jacó as impiedades. E
esta será a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados (Rm.
11:25-27).
A aliança citada por Paulo é a Nova, e por isso, a importância de percebermos o
cumprimento da mesma a partir da salvação dos judeus, portanto, no Milênio.
3) A Relação da Igreja com a Nova Aliança: A Graça e o Milênio.
O Novo Testamento faz referências nítidas à Nova Aliança por cinco vezes:
a) Lucas 22.20: “Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este
cálice é a Nova Aliança no meu sangue, que é derramado por vós. ”
324
Ibidem, p. 110.
325
Ibidem, p. 111
171
Este verso, como também Mateus 26:28, não demonstra categoricamente que o
Senhor
Jesus havia inaugurado a Nova Aliança. O Mestre afirma que o sangue a ser derramado no
calvário é o da Nova Aliança, concerto este que Israel e Judá desfrutarão com Cristo, a Igreja
e os gentios da Tribulação no período Milenar. Vale ressaltar ainda, que quando Jesus
celebrou a Ceia com os seus discípulos, a Igreja ainda não tinha sido fundada. O sangue do
Cordeiro nos purifica de todo o pecado e é o sangue da Nova Aliança a ser inaugurada no
Reino Milenar.
Tratando desta referência O. Palmer Robertson, 326 em O Cristo dos Pactos, interpreta
esta passagem como um passo inicial para a inauguração da Nova Aliança pelo Senhor Jesus:
Só que a profecia de Isaias 55:3-5 está abordando a nova aliança no sentido futuro.
Isto não significa que os gentios participavam desta aliança perpetua no AT, visto que a nova
aliança não foi implantada e tampouco inaugurada naquela época, nem haveria a sua
inauguração no tempo da Igreja, quando Jesus ascendeu aos céus, como afirma Veras; mas, a
nova aliança se cumprirá com Israel e com a casa de Judá, a partir da inauguração do reino
milenar de Cristo, e os gentios desfrutarão dos seus benefícios. É isto que Isaias 55 ensina:
“Inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim; ouvi e a vossa alma viverá; porque convosco farei
326
ROBERTSON, O. Palmer. O Cristo dos Pactos. Uma análise exegética e teológica dos sucessivos pactos
bíblicos e do seu papel no desenvolvimento da revelação de Deus. SP: Editora Cultural Cristã, 2002, p. 112.
327
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
172
uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi. Eis que eu o dei por
testemunha aos povos, como príncipe e governador dos povos. ” Aqui temos os gentios-
herdeiros-do-Reino, “os benditos do meu Pai” (Mt 25.34). Serão eles as nações do Salmo 2.8:
“Pede-me e eu te darei os gentios por herança e os fins da terra por tua possessão. ” Segundo
Hélder Cardin, substituto do saudoso Carlos Osvaldo Pinto, na reitoria do SPV, que participou
das Conferências Teológicas do SIBRB, em contrapartida às palestras-debate do Valney
Veras: “A Nova Aliança consiste em sua celebração futura com o povo de Israel. Ela é
iniciada por Deus e garantida por Ele, em tudo diferente da aliança anterior, que é a Aliança
Mosaica e ela garantirá o cumprimento da promessa da posse perpétua da terra e daria a Israel
uma nova relação com Deus.”328
b) I Coríntios 11.25: “Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice,
dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes,
em memória de mim. ” Aqui, Cardin 329 diz que a ceia é a celebração da Nova Aliança porque
festeja o nosso pertencimento a Cristo e não a inauguração do Novo Pacto, mas que, de certa
forma já enfatiza este grau de pertença a Cristo a implicar o pertencer a seu corpo, a Igreja:
É por isso que a Ceia do Senhor é uma prática eclesiástica e não individual, é
uma prática comunitária e não exclusivista ou privada, porque ela tanto diz
respeito à minha vida em Cristo, como a minha vida enquanto comunidade.
[...]. O que nós aprendemos com a Ceia do Senhor? Alguma aplicação da
Nova
Aliança para com a Igreja, celebrando o que Cristo fez por nós. Sua morte.
O “[...] até que Ele venha” (I Co 11.26c) fala respeito à 2ª Vinda de Cristo a cumprir,
330
com Israel e a casa de Judá, esta Nova Aliança. Mais uma vez recorremos a Veras para a
tese do DP de que o já inaugura a nova aliança e Jesus faz a transição desta inauguração:
[...]. Veja bem! Ele chega para os discípulos e diz: olha, arranja um lugar ali
para celebrar a Páscoa. Lá no meio da Páscoa Jesus celebra a ceia do Senhor.
Não estou dizendo que foi naquele ponto que começou a nova aliança, mas
ali ele já está começando a transição [...]. Então na verdade nós temos um
texto revelado no AT sobre a nova aliança, e em o NT nós temos uma nova
revelação, obviamente, complementar, certamente, e que vai mostrando o
surgimento de outro povo, distinto de Israel, a Igreja, que não tem rei, não
tem exército, que tem outros fundamentos que se apoiam nos fundamentos
da lei, da revelação de Deus no AT, certamente, mas que também são novos.
Aí tem as novidades da nova aliança, que é um fato narrado ali: o Espírito
desceu! Paulo claramente diz que vocês são santuário do Espírito de Deus.
328
CARDIN, Hélder. O Reino e a Igreja. Palestra 7/8. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?v=
w18fvPg7j_A&t=2816s. Acesso em 17 de dez. 2020.
329
CARDIN, Hélder. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 02 de dez. 2020.
330
Ibidem.
173
Então não tem como fugir disto. Se isto é um aspecto da nova aliança qual a
conclusão que nós tiramos? Ela começou, mas não se consumou.
Mas, nós não temos na Bíblia uma indicação concreta de que a nova aliança começou,
mas não se consumou, como diz Veras. Basta ver que quando Paulo usa as palavras de Cristo
a celebrar a Ceia, Ele não diz que a nova aliança já vigora. Ele fala dum memorial que nos
remete ao gólgota e a oblação do sangue de Jesus para nossa redenção, ao mesmo tempo em
que aponta ao futuro, quando haverá o cumprimento da nova aliança com a casa de Israel e a
de Judá.
Participaremos no futuro deste processo, mas, já participamos da comunhão dos santos
com a Igreja de Cristo, comendo do pão e bebendo do vinho (At 2.42). Em lugar algum de I
Coríntios 11 é dito que inauguramos a nova aliança. Desfrutamos de alguns benefícios deste
novo pacto, mas não houve a inauguração parcial do mesmo. O que vemos são aspectos da
nova aliança, presentes na Igreja. Neste contexto, Cardin faz uma declaração relevante:
Corrobora com esta visão Cardin 332 assevera a sua argumentação com base na posição
da Igreja como recipiente da nova aliança e não participe da inauguração deste novo pacto:
331
CARDIN, Hélder. O Reino e a Igreja. Palestra 7/8. Palestra 7/8. Acesso em 02 de dez. 2020.
332
CARDIN, Hélder. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 02 de dez. 2020.
174
333
Cardin pontua aspectos da nova aliança na atualidade: “[...] por causa da nossa
união com Cristo e do enxerto dos gentios na Oliveira nós somos hoje participante da nova
aliança.”
c) II Coríntios 3.6: “O qual nos fez também capazes de ser ministros de uma Nova
Aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica. ”
As pessoas que creem ser este texto uma abordagem da nova aliança, inaugurada com
334
a Igreja pela ascensão do Messias, sugerimos a análise que faz Bruce Anstey sobre este
tema:
Anstey 335 cita Paulo em relação à Nova Aliança, destacando aspectos deste novo pacto
aplicados à Igreja. Aqui não se pode confundir bênçãos espirituais com promessas materiais:
Paulo ministrava o espírito da Nova Aliança entre cristãos ao ensiná-los que
as bênçãos espirituais da aliança pertenciam a eles por graça, sem que eles
tivessem formalmente incluídos nelas. As três grandes bênçãos espirituais da
Nova Aliança são: A posse da vida divina através do novo nascimento (Hb.
8:10); um relacionamento consciente com Deus (Hb 8.11); O conhecimento
de que os pecados estão perdoados (Hb 8.12).
333
Ibidem.
334
ANSTEY, p.245.
335
Ibidem, p. 246.
175
O perigo de pensar a Nova Aliança, inaugurada pela Igreja, descamba em práticas que
reformados adotam na eclesiologia, a exemplo do batismo, neste novo pacto, como
substituto
da circuncisão no antigo. É o que se vê em O. Palmer Robertson, 336 em O Cristo dos Pactos:
Como vimos, o DP advoga a ideia de uma inauguração da Nova Aliança por Cristo em
sua primeira vinda. Embora sem admitir o pedobatismo dos reformados com selo desta
Aliança, parece-nos que os não dispensacionalistas, admitindo estes selos entre as alianças,
são mais coerentes que eles. Aqui reside o perigo dessa aproximação entre progressivos e
pactualistas.
e) Hebreus 9.15: “E por isso é mediador de uma Nova Aliança, para que, intervindo
a morte para remissão das transgressões que havia debaixo da primeira aliança, os chamados
recebam a promessa da herança eterna. ”
Após apontar essas referências há ainda outras seis (Mt. 26.28, Mc. 14.24, Rm. 11.27,
337
Hb. 8.10-13 e 12.24). Pontuamos as colocações de Anstey diantes destas passagens
bíblicas:
Os teólogos do Pacto acreditam que seja significativo que quatro epístolas do
Novo Testamento mencionem a Nova Aliança – e Hebreus menciona os seus
termos em detalhes. Para eles isso provaria que a Nova Aliança teria sido
feita nestes tempos cristãos com a Igreja, pois as epístolas foram escritas a
cristãos. Todavia, nenhuma das quatro passagens das epístolas diz qualquer
coisa sobre a aliança estar sendo feita com a Igreja (os cristãos).
Anstey 338 analisa Hebreus 8 pelo aspecto escatológico da Nova Aliança, realçado pelo
autor, enfatizando o povo a quem é direcionada a aliança e pelo uso do vebto no tempo futuro:
Ao contrário, Romanos 11:27 e Hebreus 8:8 nitidamente declara que ela será
feita “com a casa de Israel e com a casa de Judá”. Além disso, Hebreus 8
declara que a aliança ainda não foi feita com ninguém – nem com Israel e
nem com a Igreja! O verbo está no futuro, ao indicar, “estabelecerei”. Não
diz “estabeleci...” pois como regra geral as bênçãos para Israel são
declaradas como algo ainda futuro.
336
Ibidem, ROBERTSON, O. Palmer. 2002, p. 127.
337
Ibidem, ANSTEY, p.247.
338
Ibidem, p. 248.
176
Pentecost analisa a visão dos pre-milenistas sobre a relação da Nova Aliança com o
NT:
a) A primeira é a de John Nelson Derby 339 – “Ele apresentou a teoria de que há uma e
somente uma nova aliança nas Escrituras, feita com as casas de Israel e de Judá, a ser
realizada num tempo futuro, com a qual a igreja não tem nenhuma relação.”
b) A segunda é a de Cyrus Scofield 340
– “Logo, de acordo com essa teoria, há uma
nova
aliança com dupla aplicação: uma para Israel no futuro e uma para a igreja agora.” [...]
Essa
teoria insere a igreja na nova aliança e vê essa relação como cumprimento parcial da aliança.”
341
c) A terceira teoria é a de Lewis Sperry Chafer – Teoria das duas novas alianças,
uma para Israel e a outra para a Igreja. “Essencialmente essa teoria dividiria as referências à
nova aliança no Novo Testamento em dois grupos. As dos evangelhos e de Hebreus 8.6,
9.15,10.29 e 13.20 dizem respeito à nova aliança com a igreja; Hebreus 8.7-13 e 10.16
referem-se à nova aliança com Israel e Hebreus 12.24 refere-se, talvez, a ambas.”
Valney Veras 342 faz referência a carta aos Hebreus para afirmar também a inauguração
da Nova Aliança: “A epístola aos Hebreus também nos mostra que o perdão dos pecados
foi
completamento conquistado por Cristo na cruz dando início a esta Nova Aliança.” É fato que
o perdão dos nossos pecados foi conquistado no gólgota. É real que Cristo é mediador de uma
Nova Aliança e que a Igreja participa de aspectos deste Novo Testamento. Entretanto, isto não
significa que a epístola aos Hebreus relata a inauguração da Nova Aliança a partir do calvário.
Concordamos que a Igreja tem uma relação com a nova aliança, mas há que se ter
muito cuidado com afirmações de que ela está cumprindo a nova aliança, mesmo
parcialmente. Sobre
a pergunta que progressistas fazem acerca de Hebreus 8, respondemos com John Walvoord:343
próprio Antigo Testamento previu o fim da lei mosaica, já que uma nova
aliança foi prevista para substituí-la.
344
Walvoord, um dos mentores do DR, traz ao debate de Hebreus 8 o uso do termo
nova a realçar que não há base bíblica para sustentar a efetivação da Nova Aliança na era da
Igreja:
Pentecost 345
ao analisar Hebreus 10 advoga que o escritor anônimo da carta não fala
aos hebreus sobre a vigência da Nova Aliança, mas sim, da sua temporalidade em relação à
Antiga:
[...] em Hebreus 10.16, a passagem de Jeremias é citada não para afirmar que
o que é prometido agora está em pleno vigor, mas sim para dizer que a
antiga aliança era temporária e inválida e previa uma nova aliança que
estaria permanentemente em vigor. Afirmar que a nova aliança de Israel
agora opera na igreja é uma má interpretação do pensamento do autor de
Hebreus.
1) O termo Israel não é usado nenhuma vez nas Escrituras para nenhum
outro grupo que não os descendentes físicos de Abraão. Já que a igreja hoje
é composta por judeus e por gentios sem distinções nacionais, seria
impossível que essa igreja cumprisse as promessas feitas à nação israelita. 346
Pentencost 347 enfatiza a questão da terra e sua promessa para Israel no cumprimento e
inauguração da Nova Aliança durante o Reino Milenar de Cristo sobre esta terra:
344
Ibidem.
345
Ibidem, p. 149.
346
Ibidem, WALVOORD, p. 149.
347
Ibidem, PENTECOST, p. 147.
178
CAPÍTULO DEZ
__________
348
Ibidem.
349
Ibidem.
179
Como entendo as parábolas do reino em Mateus 13? Estas sete parábolas ensinados pelo
Senhor Jesus visando a compreensão sobre o Seu reino messiânico têm sido alvo de análises
por parte de grandes homens de Deus no passado e na contemporaneidade, um exemplo destes
é o teólogo Geisler 350 que afirma:
350
Geisler, ibidem, p. 885.
180
Pode-se ver o Messias falando da vinda do reino entre eles por Seus milagres, a
exemplo do expelir demônios: “Mas se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é
chegado a vós o reino de Deus” (Mt. 12:28); e àquela geração se nega o Reino por sua
incredulidade:
E quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos,
buscando repouso e não encontra. Então diz: Voltarei para minha casa, de
onde sai. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai e
leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam alí; e
são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim,
acontecerá também a esta geração pervessa. (Mateus 12.43-45).
351
Ibidem, PENTECOST, p. 168.
352
Ibidem, PENTECOST, p. 147.
181
Esta geração judaica pervessa, que cruficou ao seu Messias, se tornará um coito de
demônios e pagará, por sua rejeição, com a destruição do templo e da cidade no ano 70. O
Reino é tirado desta geração de judeus e é dado a uma geração hebraica posterior – A geração
israelita do Milênio: “Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será dado a
uma nação que dê os seus frutos.” (Mt 22.43). É neste contexto que desponta as parábolas de
Mateus 13. E para aclarar mais a nossa compreensão das parábolas deste capítulo, Pentecost
353
pontua:
Agora que Israel rejeitou o reino oferecido, surge naturalmente a pergunta:
"O que aconteceu com o plano do reino de Deus agora que o reino foi
rejeitado e o Rei estará ausente?". Já que esse reino foi objeto de uma aliança
irrevogável, é inadmissível que seja abandonado. O capítulo arrola os
acontecimentos do plano do reino desde a sua rejeição até ele ser aceito,
quando a nação receberá o Rei no Seu segundo advento.
Com este pano de fundo apresentado, fica bem mais fácil compreender as parábolas de
354
Mateus 13. Pentecost cita Ryrie a corroborar com sua abordagem dispensacionalista
revisada:
O reino dos céus é semelhante a." Isso marca o limite de tempo para o
começo do assunto em pauta. Em outras palavras, o reino dos céus estava
assumindo a forma descrita nas parábolas da época em que Cristo ministrava
pessoalmente na terra. O fim do período abrangido por essas parábolas é
indicado pela expressão "fim do mundo" ou mais literalmente "a
consumação do século" (v. 39-49). Esse é o período do segundo advento de
Cristo, quando Ele virá em poder e grande glória. Logo, é evidente que essas
parábolas se relacionam apenas ao período entre a ocasião em que Cristo as
contou na terra e o fim deste século. Isso serve de pista para o significado da
expressão "os mistérios do reino dos céus.
355
A chave para entender estas parábolas é dada por Scroggie que usa o verso 52 de
Mateus 13 como feedback hermenêutico: “E ele disse-lhes: Por isso, todo o escriba instruído
acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas
e velhas. ” Das 7 parábolas citadas aqui, ele enfoca que as 4 primeiras são ensinadas em
público, (“... junto ao mar” – Mt 13.1-3) e se encaixam nos novos tesouros da verdade; e as 3
últimas, ensinadas em particular, (“... foi Jesus para casa. ” – Mt 13.36), se associam às velhas
verdades ditas anteriormente. Estas falam da escatologia do reino, e aquelas do anúncio
presente do reino:
a) As coisas novas:
1) A semente e os solos (Mateus 13:3-9): A proclamação do reino;
353
Ibidem, PENTECOST, p. 168-169.
354
Ibidem, PENTECOST, Charles C. RYRIE, The basis of the premillennial faith, p. 94-5, p. 171.
355
Graham SCROGGIE, Prophecy and history, p. 123-5.
182
Ao lermos estas sete parábolas, damo-nos conta de que todas elas se referem
a um único tópico, a saber: ‘o reino dos céus’, e comparando isto com as
palavras de Cristo a Seus discípulos, naquela ocasião: ‘... a vós outros é dado
conhecer os mistérios do reino dos céus...’ (Mateus 13:11), deduzimos que
todas as sete têm um só propósito, devendo ser estudadas e interpretadas
juntamente.
357
Para melhor compreensão destas sete parábolas, recorremos também a Geisler que
as sintetiza da seguinte maneira:
(1) [O semeador] O Evangelho será rejeitado por grande parte das pessoas;
(2) [O trigo e o joio]. Tanto os insinceros doutores da fé genuína irão
coexistir até o fim;
(3) [O grão de mostarda] A cristandade irá crescer rapidamente, tendo um
início moderado;
(4) [O fermento]. As pessoas de falsa fé irão crescer em número;
(5) [O tesouro escondido] Cristo veio para resgatar a Sua estimada
possessão (Israel);
(6) [A pérola] Cristo deu a sua vida para possibilitar a redenção da Igreja;
(7) [A rede] Os anjos irão separar os salvos dos perdidos, quando Cristo
retornar.
358
Acerca da parábola do semeador e dos solos, Pentecost, sustenta a ideia de que
estamos na era da semeadura da semente que é a Palavra em Marcos 4:14 e os filhos do reino
em Mateus 13:19-20. Durante este tempo há uma resposta decrescente à semeadura da
semente,
de "cem", passando por "sessenta" até "trinta por um". Ao estudar esta parábola percebemos
359
que a mesma é essencial à hermenêutica das outras (Marcos 4.13). Cook corrobora com
isto ao afirmar “Da primeira, a do semeador, aprendemos que se trata da pregação do
356
COOK, Francisco. A Vida de Jesus Cristo. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1990, p. 153.
357
Geisler, ibidem, p. 886.
358
Ibidem, Pentecost, p. 154.
359
Ibidem, COOK, p. 153.
183
Evangelho do reino e de sua aceitação, de modo que aqui temos a pauta para a interpretação
de todas elas.”
As parábolas restantes lidam com a evolução do plano de semeadura. Cook 360 destaca
ainda que: “Ao considerar as outras seis parábolas deste capítulo , notamos que formam três
pares, cada um par apresentando um aspecto especial do reino:
1) os obstáculos ao crescimento do reino;
2) a expansão do reino;
3) a preciosidade do reino”.
Em seguida, há a parábola do trigo e do joio pela qual a semeadura da primeira
parábola é imitada por uma falsa semeadura. Ocorrerá uma evolução concomitante entre o
que é bom e o que é mau. Este será excluído do reino Milenar; já aquele, será incluído no
Milênio. O caráter essencial de cada semeadura pode ser determinado pela colheita frutífera
361
ou infrutífera, não pela observação externa. Vale focar o excelente paralelo que Pentecost
faz entre as duas parábolas:
É nítida a concepção de que a segunda parábola se associa ao povo de Israel e não com
362
a Igreja, que se relaciona mais à primeira. Vejamos o que Pentecost diz da do joio e do
trigo:
361
Ibidem, PENTECOST, p. 173.
362
Ibidem.
184
Sobre a parábola do grão de mostarda pode-se dizer que o reino crescerá até alcaçar
gigantescas proporções, nas quais multidões que se beneficiarão por ele. A do fermento vai
nesta direção. As duas tocam no avanço da nova forma de reino. Na do fermento, a intenção é
enfatizar o modo em que esta nova forma se desenvolverá. Assim, a do tesouro escondido,
ensinada por Jesus, enfatiza o relacionamento de Israel com esta era. Daí Pentecost 363 elencar:
363
Ibidem, PENTECOST, p. 174,175.
364
Ibidem, p. 175.
365
BÍBLIA, Anotada. Ryrie Charles. Trad. Por João Ferreira de Almeida. Edição Mundo Cristão, 1994, p. 1204.
366
Ibidem, PENTECOST, p. 175.
185
Vale ressaltar ainda que existem outras parábolas que trabalham a temática do Reino
367
sobre o prisma messiânico. É importante destacar também aqui o que diz Geisler sobre este
assunto:
Além das sete parábolas relacionadas e interpretadas em conjunto acima,
existem pelo menos cinco outras nos Evangelhos a respeito deste assunto:
(1) A parábola do rei que quis acertar contas (com o servo que não era
misericordioso – Mt 18. 23-35, que ensina as razões para o perdão;
(2) A parábola do rei que prepara uma celebração de bodas (22.12-14), que
ensina que muitos não entrarão no reino;
(3) A parábola do proprietário que contratou trabalhadores (20.1ss), que
mostra que as recompensas no reino estão sob o controle de Deus;
(4) A parábola das dez virgens (25.1-13) que ensina que os fiéis estarão
esperando pelo Seu retorno e
(5) A parábola da semente (Mc 4.26), que demonstra o misterioso
crescimento do reino, por meio da operação de Cristo (cf. 1 Co 3.6).
367
Geisler, ibidem, p. 887.
186
Esta é a visão de que Israel é uma “terra santa”. Segundo Robertson 368 o olhar, sob esta
ótica é cruzadista, não tinha razão de ser nos séculos XI a XIII, no tempo das expedições
medievais em confronto com o muçulmanismo de Saladino, e tampouco o tem nos dias
atuais:
Poucas pessoas, hoje, diriam que a sua opinião sobre a terra bíblica coincide
com a ótica dos homens das Cruzadas. Ainda assim, será que chamar esse
lugar de “Terra Santa” não reflete o mesmo ponto de vista distorcido dos
expedicionários daquela época? O que, exatamente, faz com que essa terra
seja “santa”, na opinião de tantas pessoas? Ora, enquanto a “Glória”, o
Shekiná, habitava o templo de Jerusalém, a terra foi santificada pela
presença especial de Deus. Mas quando a “Glória” partiu de lá, isso
significou que a santidade da terra, sua santificação pela habitação da
presença de Deus, não existia mais ali. Assim como a sarça ardente no
deserto santificou a terra envolta só enquanto a glória de Deus ali
permaneceu, assim essa terra era santa só enquanto Deus esteve lá de
maneira singular.
Discordando deste primeiro ponto de vista de Robertson, que talvez seja antissemita,
afirmamos que os fatores determinantes à gênesis das cruzadas giraram em torno de contextos
demográficos, comerciais e econômicos. As cruzadas, inspiradas pelo discurso do papa
Urbano II, versaram sobre a necessidade de libertar a “Terra Santa” dos hereges mulçumanos.
A intencionalidade era outra, e a comparação de Robertson, se direcionada aos pré-milenistas,
é infeliz, pois se distancia da ótica dispensacionalista que vê a Terra Santa como eixo do
Milênio.
A Jerusalém (Antiga), no reinado do Messias, que, aliás, faz questão de pontuar esta
verdade em seu sermão do Monte: “[...]. Nem jurareis pela terra, porque é o escabelo de seus
pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei” (Mt 5.35), se constitui na
localidade onde será inaugurado o Trono de Davi (Lc 2.31,32). Sendo cidade dEle, o Messias,
Mateus a adjetiva como Terra Santa, em seu evangelho: “Então, o diabo o transportou à
cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo” (Mt 4.5). Naquele tempo, não havia
menção da descida da Shekiná sobre o templo, pela ministração de sumo-sacerdotes saduceus;
ao que tudo indica, a glória tinha partido dali (Icabode – I Sm 4.21); mas mesmo assim,
Mateus a adjetivou como cidade santa, equiparada à Nova Jerusalém (cidade eterna) que
também é adjetivada como “santa” por João: “E levou-me em espírito a um grande e alto
monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu” (Ap
21.10). A antiga Jerusalém é a cidade santa do milênio nesta terra, e a Nova Jerusalém é a
cidade santa da Eternidade, na Nova Terra.
368
ROBERTSON, Palmer O. Terra de Deus: O significado das terras bíblicas para os planos de Deus e
propósitos de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998, p. 148.
187
Concordamos aqui com Robertson. Mas geralmente quem faz peregrinações a Israel,
com este propósito, são os carismáticos, que creem também em outras superstições, ligadas a
outros símbolos do cristianismo. Quando dispensacionalistas vão a Israel é para turismo e
curiosidade de conhecer os lugares por onde Jesus e outros personagens bíblicos passaram.
(3) O ponto de vista do sionista –
Robertson370 apresenta ainda a visão sionista, focando a expulsão de Israel de sua terra:
Não pode passar despercebido que o retorno de Israel à sua terra, em 14 de maio de
1948, é um fator favorável ao pré-milenismo. Antes, muitos reformados criticavam aos
dispensacionalistas, alegando a impossibilidade de isto acontecer. Na Teologia Sistemática de
Louis Berkhof 371 havia este pensamento, a ponto de o tradutor ter que abrir uma nota sobre o
assunto: “É bom lembrar que esta obra foi produzida antes de 1948, ano em que foi
restabelecida a nação de Israel na Palestina. ” Esta situação, se não corrobora a tese
369
Ibidem, p. 150.
370
Ibidem, p. p. 152, 153.
371
Ibidem, Berkhof. Nota do tradutor em rodapé, p. 718.
188
dispensacionalista sobre Israel e a sua terra, pelo menos alimenta a esperança da restauração
da terra e do reino a Israel.
(4) O ponto de vista do milenarista –
como corpo de Cristo, baseado em Efésios 2.11 a 22, quando de ambos os povos Ele fez um:
Corrobora com Robertson, Hernandes Dias Lopes, 374 quando fala sobre a Igreja e este
texto paulino: “o único pacto de paz verdadeiro e eficaz foi o que Deus fez em Jesus. Essa é a
maior missão de paz da história. Deus reconciliou judeus e gentios num único corpo e
reconciliou o mundo consigo mesmo, por meio de Jesus Cristo. (II Co 5.16) ”. Concordamos
372
Ibidem, p. 153.
373
Ibidem, p. p. 154, 155.
374
LOPES, Hernandes Dias. Efésios: Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 62.
189
plenamente com Lopes. Entretanto, isto ocorre na Dispensação da Graça, na Era da Igreja. Só
que ao pensarmos na Terra de Israel sendo disponibilizada a judeus e gentios no milênio, não
estamos focados no período atual da Igreja. As profecias da Nova Aliança nos detalhes de seu
cumprimento não abarcam o tempo atual da Igreja e, portanto, requerem uma era de ouro,
com a inauguração do reino messiado sendo necessária a este cumprimento profético.
(5) O ponto de vista da renovação –
Por fim, Robertson375 expõe o seu olhar amilenista sobre a Terra Bíblica:
Aqui vimos os olhares sobre a Terra santa, pontuados por Robertson a partir da visão
pactualista. O cuidado com a aproximação dos dispensacionalistas progressivos com os
amilenistas, mesmo sem intenção, podem alimentar estas visões e outros problemas.
CAPÍTULO ONZE
__________
Entre as duas fases da 2ª Vinda, há a Tribulação. Alguns pontos estão ligados à mesma:
I – A DURAÇÃO DO PERÍODO
Daniel nos dá, pelas palavras do anjo Gabriel, a totalidade do mesmo como de 7 anos
(Dn 9.27). Jesus, no sermão escatológico, mostra-nos de que os 7 anos se dividem em 2
partes:
a) Princípio das dores - (Mt 24.1-14). São os 3 anos e 1/2 iniciais; conhecidos como
Tribulação.
b) Grande Tribulação - (Mt 24.15-29). São os três anos e meio finais.
Harmonizando-se com o dito, há indicações em Apocalipse e Daniel sobre esta época:
Para os primeiros 3 anos e ½ há a expressão 1260 dias (Ap 11.3), usada para o
início da Tribulação, quando duas testemunhas profetizarão, fechando o céu nos dias da sua
profecia (Ap 11.6). Elias, no passado, agiu como elas pelo mesmo tempo: “[...] 3 anos e ½ ”
(Tg. 5:17). Para os 3 anos e ½ finais:
a) “Um tempo, tempos e metade de um tempo”: termo aramaico usado por Daniel (7.5) a
focar a época em que os “santos do Altíssimo”, convertidos da Grande Tribulação, serão
entregues na mão da Besta (Ap 13.5-7). Daniel o usa, focando o cumprir das profecias na
época (Dn 12.7). João o usa para mostrar que Israel nesse tempo será guardada da vista do
Diabo (Ap 12.13-14).
b) “Quarenta e dois meses”: Aparece por duas vezes: para limitar o poder e ação da Besta no
final da 70ª semana (Ap. 13:5), e destacar o clímax do Tempo dos gentios (Ap. 11:2).
c) “Um mil duzentos e sessenta dias”: Este termo surge no primeiro período e no 2º com a
fuga de Israel, que será protegida da perseguição da Besta e do Dragão (Ap. 12:6). Ainda há:
"Um mil duzentos e noventa dias” (Dn 12:11) e “Um mil trezentos e trinta e cinco dias” de
(Dn 12:12). Daí Leon Wood 376 dizer:
[...] 1290 dias (em vez de 1260 que formam 3 anos e ½) a partir do dia em
que a abominação for estabelecida pela ‘besta’ até o fim. Os trinta dias
extras podem representar o tempo necessário para o juízo descrito em
Mateus 25:31-46. Então, no versículo 12, são acrescentados mais quarenta e
cinco dias, dando um total de 1335 dias. Isto parece representar o tempo
necessário para o estabelecimento do Reino Milenar. Isto está de acordo com
376
WOOD Leon J., A profecia de Daniel, p.94.
191
a indicação desse versículo de que aqueles que aguardarem esse tempo serão
abençoados.
II – A NATUREZA DO PERÍODO
377
LYRA Sinésio, O Oriente Médio, A Batalha do Armagedom e Depois?..., p. 48.
192
Para apresentá-lo a Alva McClain, 378 proponente do DR, faz a sua identificação:
379
McClain começa a fazer uma relação deste homem da iniquidade com textos do
Antigo Testamento, os quais demonstram a hediondez dessa figura maligna:
378
Ibidem, p.39.
379
Ibidem, p.39.
380
HARRISON Everetti F., Comentário Bíblico Moody-Romanos a Apocalipse, p. 380.
381
Gertrud Wasserzug, O Apocalipse – Auxílio para o estudo bíblico, p. 26.
193
Cristo abre os selos como Cordeiro – ele não pode aparecer ao mesmo tempo
como cavaleiro. Um dos seres viventes = querubim, diz: Vem. Um
querubim não poderia dar ordens a Cristo. ‘Foi-lhe dada uma coroa’. Cristo
já tem há muito sua coroa. Esse cavaleiro é, portanto, uma imitação de
Cristo, que vemos como cavaleiro sobre um cavalo branco somente em Ap.
19:11.
382
Traeder traz ainda algumas características desse cavaleiro, que o distancia de
Cristo, que é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, enquanto o cavaleiro do capítulo 6 de
Apocalipse é uma personagem que cumprirá os intentos de Deus por apenas um pouco de
tempo (7 anos):
Esse cavaleiro fala de paz e espalha a guerra. Quando ele sai para vencer,
isso significa derrota e submissão para os outros. Ele é um cavaleiro
camuflado, que atira de emboscada com o arco. O juízo começa com engano
e cegueira – E segue num rio de sangue. O cavaleiro sobre o cavalo branco é
como a pedra que desencadeia a avalanche do juízo.
Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz
pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão
sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras e, por todos os
lados te apertarão o cerco e te arrasarão e aos teus filhos dentro de ti; não
deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste o tempo da tua
visitação (Lc. 19:42-44).
Esta 69ª Semana se cumpre na entrada triunfal (Lc. 19:28-44); mas, a 70ª não é
imediata, pois Israel não conhecera, no seu dia, o Bendito Rei: “E quando já chegava perto da
descida do
Monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, regozijando-se, começou a dar louvores
a
Deus em alta voz, por todas as maravilhas que tinham visto, dizendo: Bendito o Rei que vem
em nome do Senhor; paz no céu e glórias nas alturas” (Lc. 19:37-38). Mas, Israel rejeita o Rei
e saí do cenário soteriológico por um tempo, então, a Igreja entra como lacuna profética, até à
382
Ibidem.
194
Plenitude dos Gentios, seu Rapto: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para
que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a
Plenitude dos gentios haja entrado” (Rm. 11:25). Depois, Deus lida com os judeus: “E assim,
todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as
suas impiedades” (Rm 11:26) e salva 1/3 da nação, o resto (Rm. 9:27), que entoará hosanas,
interrompidas na entrada triunfal; mas proclamadas no Milênio, pelo remanescente: “Bendito
aquele que vem em nome do Senhor, nós vos bendizemos desde a casa do Senhor” (Sl
118:22-26; Mt 23:37-39). Por isso, Randall Price 383 afirma:
É importante lembrar que as profecias messiânicas foram originalmente
dirigidas a Israel e que finalmente serão cumpridas exclusivamente com
Israel. A Igreja ocupa um período parentético no cumprimento do destino de
Israel, mas ela (a Igreja) não foi relegada a uma posição parentética (veja Ef
1.12; 2.6-7; 3.9-10; 5.25-27; Cl 1.26-27).
384
Price demonstra a situação da Igreja em relação a Israel na Dispensação da Graça.
Agora há a fusão judeus e gentios no Corpo de Cristo, na tribulação não há este Corpo (Ef
3.2):
A 2ª pergunta: Que sinal haverá da tua Vinda e do Fim do Mundo? Jesus ocupa a
maior parte do Sermão na resposta a esta inquirição. Ele se baseia em Daniel 9:24-27 e 12:1-
4. Os sinais e a profecia são para Israel e não à Igreja, pois ela e o seu rapto estão fora do
Sermão Escatológico. Esperamos um Arrebatamento iminente, a Parusia (vinda ou Presença)
de Jesus, que não implica sinais. Eis as duas fases: “Ora, irmãos, rogamo-vos pela vinda de
Nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com Ele” (II Ts. 2:1). Aguardamos “a bem-
aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e Nosso Senhor Jesus
Cristo” (Tt. 2:13). O sermão fala da Sua Vinda a Israel, o Apocalipse (o Armagedom, no
Milênio). Por que não estamos no Princípio de Dores? Porque a Igreja não é Israel: Este é o
âmago do Dispensacionalismo. Na Escatologia Bíblica do Novo Testamento, há três
terminologias para o Evangelho:
383
Ibidem, In PRICE Randall: Adiamento Profético. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 21 e 22.
384
Ibidem.
195
a) O Evangelho da Graça:
Este é o Evangelho da Igreja: “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto
que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar
testemunho do Evangelho da Graça de Deus” (At 20.24). Aqui vale pensar a definição dupla
de Reino, pois no mesmo texto Paulo abrange a pregação do Reino de Deus, que não era igual
a pregar o Reino messiânico: “E agora, eis que eu sei, que todos vós, por quem passei
pregando o Reino de Deus, não vereis mais o meu rosto” (At 20.25). Sobre tais conceitos
distintos de reino há o Evangelho pregado pela Igreja por séculos (At 2.14-35; 3.13-26;13.13-
38;17.15-34):
Além destes 3 elementos, este Evangelho traz outros 2 fatores: A ascensão (At 1.9) e a
exaltação à destra de Deus (At 2.33). Este Evangelho é pregado de Atos 2 até ao rapto da
385
Igreja em Apocalipse 4.2. Por outro lado, Valney Veras destaca este Evangelho ligado à
Nova Aliança, já inaugurada hoje. Para ele, o Evangelho do Reino segue a continuidade com
a Igreja:
[...]. A gente entende que a Nova Aliança começa quando Jesus é assunto ao
céu e lá no dia de Pentecoste, logo em seguida, o Espírito Santo vem como
outro Consolador e inaugura a Igreja. No entanto, a base da Igreja, a base
doutrinária, não somente no AT, claro, mas de Cristo e dos apóstolos. Isso
porque nós vamos mencionar vários textos nos Evangelhos, inclusive
daqueles que falam de pregar o Evangelho do Reino, algo muito
significativo. Os apóstolos aprenderam a pregar o Evangelho do Reino e eles
começaram a pregar, no período da Igreja, a gente ver isto em Atos e em
outros momentos da Escritura. Então, como explicar este Evangelho do
Reino?
385
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 7/8. Disponível em > https:// www.
youtube.com/watch?v=URbcO6fYb-w&list=PLDtQAWb-ysHeu3QHCoCUrKBD5cb3ccB6-&index=7.
Acesso em 01 de dez. 2020.
196
A fim de ilustrar bem a distinção entre o Evangelho da Graça e o do Reino, Geisler 390
apresenta uma tabela bem didática para compreensão dos seus leitores:
386
Ibidem, Ryrie. Bíblia Anotada, p. 1222.
387
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos - Uma história da Igreja Cristã. Trad. por Israel Belo de
Azevedo. São Paulo: Edições Vida Nova. 24ª ed., p. 41, 1990.
388
BRENNAN & CORRÊS. Profecias Messiânicas. São Paulo: Editora Batista Regular, 2004, p. p. 232-233.
389
Ibidem. GEISLER, Norman. 2010, p. 886.
390
Ibidem.
197
clamor: Aí vem o esposo, sai-lhe ao encontro. ” (Mt 25.6). Na parábola, Jesus volta casado à
ceia das bodas: “Estejam cingidos os vossos lombos e acesas as vossas lâmpadas. E sede vós
semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para
que, quando vier, e bater, logo possam lhe abrir” (Lc 12.35-36). Isto é visto nesta parábola: “E
tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele
para as bodas, e fechou-se a porta. E depois chegaram também às outras virgens, dizendo:
Senhor, Senhor, abre-nos” (Mt 25.10-11). Até ao rapto da Igreja, o mundo não passará pelos
21 juízos da 70ª semana: Princípio de Dores e Grande Tribulação que virão após as assolações
e as guerras determinadas:
E ele [o anticristo] firmará uma aliança com muitos [os judeus] por uma
semana [7 anos - divididos em duas partes – 1ª) Princípio de Dores: 3 anos e
meio iniciais e 2ª) Grande Tribulação – 3 anos e meio finais]. E na metade
da semana [o príncipe que há de vir – o anticristo] fará cessar o sacrifício e a
oblação [isso só pode acontecer com o templo de Jerusalém construído. A
Igreja não estará aqui]. E sobre as asas das abominações virá o assolador”
[provavelmente Satanás ressuscitando o Anticristo – que é a Besta cuja
ferida mortal fora curada. Assim, o anticristo sai de Roma e entra em
Jerusalém (que é a cidade santa) e mata as duas testemunhas, colocando no
templo a sua imagem falante, e ele mesmo se assentará no templo de Deus
(que é o lugar santo) querendo parecer Deus, se opondo também a tudo que
pertence a Deus ou é objeto de seu culto (II Ts. 2:3-4). Conclui Daniel o
versículo 27: e isso até a consumação; e o que está determinado será
derramado sobre o assolador.
tempos para a Era da Igreja e não à da Besta. O Rapto se aproxima, só não podemos pôr o
Apocalipse e Princípio de Dores, linkados a este evento. Sobre a doutrina das dores de parto,
Couch391 diz:
O que significa Princípio de Dores? Que Dores serão estas? Endossando esta questão,
pode-se acrescentar mais perguntas: São Dores do Mundo (as Nações)? São Dores da Igreja (a
noiva)? São Dores de Israel (a mulher)? Na Bíblia, estas Dores são classificadas de dois
modos:
1ª) As dores de Parto da Terra: Isto é retratado em primeira Tessalonicenses 5.1-4:
Mas irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos
escreva; porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá
como um ladrão de noite. Pois que quando disserem: Há paz e segurança,
então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que
está grávida, e de modo nenhum escaparão. Mas vós, irmãos, já não
estais em
trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão.
Pois a criação está sujeita a vaidade, não voluntariamente, mas por causa
daquele que a sujeito. Na esperança de que a própria criação será redimida
do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.
Porque sabemos que toda a criação geme, a um só tempo e está juntamente
com dores de parto até agora (Rm 8.20-22).
A terra será regenerada por 7 selos, 7 trombetas e 7 taças da ira: “E o sétimo anjo
derramou a sua taça no ar, e saiu uma grande voz do templo do céu, do trono, dizendo: Está
391
COUCH, Mal. 2000, p.153.
200
feito. [...] E toda ilha fugiu; e os montes não se acharam” (Ap 16.17). Assim: “Todos os vales
serão levantados, todos os montes e colinas serão aplanado; os terrenos acidentados se
tornarão planos, as escarpas serão niveladas” (Is 40.4). Jesus chamou a transformação de
regeneração da terra: “[...] Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando na
Regeneração o Filho do homem se assentar no trono de sua Glória também vós vos
assentareis sobre doze tronos para julgar as doze tribos de Israel” (Mt 19.28). O Princípio de
Dores, na Tribulação, e o fim das Dores, na Grande Tribulação.
2ª) As dores de Parto de Israel – É o Tempo de Angústia para Jacó.
As dores de parto não são à Igreja, pois ela não está casada, nem grávida, por ser
noiva-virgem: “Porque estou zeloso de vós com o zelo de Deus; porque vos tenho preparado
para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo” (I Co 11.2). Outra
incoerência é haver o Princípio de Dores à Igreja e não há o meio e o fim dessas dores para
ela, que não poderia ser arrebatada no Princípio de Dores? Israel é a esposa divorciada de
Deus: "E vi que, por causa de tudo isto, por ter cometido adultério a rebelde Israel, a despedi,
e lhe dei a sua carta de divórcio, que a aleivosa Judá, sua irmã, não temeu; mas se foi também
ela mesma se prostituiu. ” (Jr 3.8), por isso, pode sentir dores de parto, o tempo de angústia de
Jacó. Deus quer a reconciliação: “Ora, tu te prostituíste com muitos amantes; mas ainda
assim, torna para mim, diz o Senhor” (Jr 3.1c). Daí Ele dizer:
São estas as palavras que disse o Senhor acerca de Israel e de Judá: Assim
diz o Senhor: Ouvimos uma voz de tremor e temor e não de paz. Perguntai,
pois, e vede se acaso, um homem tem dores de parto? Por que vejo, pois, a
cada homem com as mãos na cintura, como a que está dando à luz? E por
que se tornaram pálidos todos os rostos? Ah, que grande é aquele dia, e não
há outro semelhante. É tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre
dela. Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, eu quebrarei o seu jugo de
sobre o teu pescoço e quebrarei os teus canzis; e nunca mais estrangeiros
farão escravo este povo, que servirá ao Senhor, seu Deus, como também a
Davi, seu rei, que lhe levantarei. (Jr 30.4-7).
Ezequiel liga as dores à angústia de Jacó. Deus porá Davi, príncipe-regente de Israel a
restaurar o Reino – o Milênio: “E suscitarei sobre elas um só pastor, e ele as apascentará; o
meu servo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor. E eu, o Senhor, lhes serei por
Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio deles, eu, o Senhor, o disse. ” (Ez 34.23-24).
Talvez Davi seja Jesus por 2 razões: o Trono: “Este será grande, e será chamado filho do
Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. E reinará eternamente na casa
de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1.32-33); e o Rebanho: “Ainda tenho outras ovelhas
que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e
haverá um rebanho e
201
um Pastor” (Jo 10.16). As dores de angústia de Jacó, findam a 70ª Semana de Daniel:
Jesus diz: “Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio
do
mundo não tem havido e nem haverá jamais” (Mt 24.21); e Apocalipse 12: “E viu-se um
grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa
de doze estrelas sobre a sua cabeça” (v.1). Ela é Israel, pelo sonho de José, e a interpretação
de Jacó:
E teve José outro sonho, e o contou a seus irmãos, e disse: Eis que tive ainda
outro sonho; e eis que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam a mim. E
contando a seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o seu pai, e disse-lhe: que
sonho é este que tiveste? Porventura viremos, eu e tua mãe e teus irmãos a
inclinar-nos perante ti em terra? (Gn 37.9-10).
A mulher: “[...] estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à
luz” (Ap 12.3). Sua gravidez é ligada à encarnação e à ascensão de Jesus. O passado da
profecia: Maria, a judia, “porque a salvação vem dos judeus” (Jo 4.22b). Israel: “deu à luz um
filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e seu filho foi arrebatado para
Deus e o seu trono. ” (Ap 12.5). Duas razões são apresentadas aqui:
202
É o pisar dos povos em Jerusalém, nos 42 meses finais: “E foi me dada uma cana
semelhante a uma vara; e chegou o anjo, e disse: Levanta-te, e mede o templo de Deus, e o
altar, e os que nele adoram. E deixa o átrio que está fora do templo, e não o meças; porque foi
dado às nações, e pisarão a cidade santa por 42 meses” (Ap 11.1:1-2): “E quando o dragão viu
que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho homem. E foram dadas à
mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é
sustentada por um tempo, tempos e metade de um tempo, fora da vista da serpente” (Ap
12.13-14).
392
PESSOA. Ibidem, p. p. 84,85.
203
(2) O LAGAR: A foice aguda: “Lançai a foice, porque já está madura a seara; vinde,
descei, porque o lagar está cheio, os vasos dos lagares transbordam; pois a sua malícia é
grande” (Jl 3.13). O lagar enfoca o tom da batalha sangrenta de Armagedom. Jesus responde a
algumas inquirições, revelando através de Isaias, que sozinho o enfrentou:
Quem é este que vem de Edom, com vestidos tintos de Bozra? Este que é
glorioso em sua vestidura, que marcha com a sua grande força? Eu, que falo
em justiça, poderoso para salvar. Por que está vermelha a tua vestidura? E os
teus vestidos como os daquele que pisa no LAGAR? Eu sozinho pisei no
LAGAR, e dos povos ninguém houve comigo; e os pisei na minha ira, e os
esmaguei no meu furor, e o seu sangue salpicou os meus vestidos, e manchei
toda a minha vestidura (Isaias 63:1-3 - grifos meus).
Este Lagar relaciona-se ao Armagedom, o Juízo das Nações e o Milênio, pois há uma
associação com o mesmo e a ira do Cordeiro: “E da sua boca saia uma aguda espada, para
ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do
vinho do furor da ira do Deus Todo-poderoso (Ap 19.15). ” O lagar está presente não só na
condenação do mundo, mas na sentença aos semitas, por causa de sua rejeição ao seu
204
Messias, tão bem retratada por Jesus, na parábola dos lavradores maus (Mt 21.33-46): “ [...]
construiu nela um lagar e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se para
longe (v. 33). ”
A rejeição dos judeus aos planos divinos levou-os a matarem o Filho de Deus (Mt
21.37-39). O retorno de Cristo será como uma pedra angular a esmigalhar, em Armagedom, os
povos anticristãos e os hebreus rebeldes (v. 41-46, - cf. Dn 2.44-45 e Sl 2). Ele vem com as
nuvens, coroado de glória, com a foice aguda nas mãos a segar a seara madura da terra (Ap
14.14-16). Assim, como Ele padeceu fora da porta (Hb 13.12-13), vindimará o Lagar fora da
cidade (Ap 14.17-20), pelo poder da Sua ira, no espaço de 1600 estádios. Neste contexto,
Ronaldo C. Watterson393 diz, em o seu livro Apocalipse que aquela expressão:
Em Lucas, tratando do mesmo assunto, desta feita com os 2 públicos (Lucas 3:7-15), o
fogo do inferno é novamente mencionado, reaparece:
Respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas
eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de
desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com
fogo. Ele tem a pá na sua mão; e limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu
celeiro, mas queimará a palha com o fogo que nunca se apaga (Lc 3.16-17).
Este fogo, que é a Geena ou lago de fogo, é realçado em Lucas: “E também já está posto
o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no
FOGO. (Lc 3.9 - grifos meus). Os crentes não são essas árvores. João se referia, ali, aos
fariseus e saduceus, que vieram, não para se batizarem, mas para criticar o precursor e a sua
mensagem.
Ao lermos o Evangelho de João (Jo 1.15-34), vemos que não há os dois auditórios para
o Batista, pois o seu alvo é só ao salvo-trigo: “E, eu não o conhecia, mas o que me mandou a
batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e nele repousar,
esse é o que Batiza com o Espírito Santo” (Jo 1.33) Onde está o fogo?
Em seguida temos a parte que consideramos crucial para bater o martelo sobre este
assunto: O veredicto do Autor dos dois batismos: Jesus Cristo. Este testemunho está em Atos
1. Antes da Sua ascensão Cristo esteve com os discípulos, anunciando-lhes que esperassem
pelo batismo no Espírito, e é relevante que Ele não se referiu ao batismo no fogo com os
apóstolos:
VI – O ARMAGEDOM: (A Batalha):
206
No que diz respeito ao vocábulo Armagedom, recorremos à análise do Xavier Pessoa: 395
A batalha envolve a matança dos ímpios da terra (Is 11.4; c.f II Ts 2.8; Is 34.1-6). O
inferno se concentrará e concertará com os reis da terra para batalhar contra o Rei dos reis:
E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi sair
três espíritos imundos, semelhantes a rãs. Porque são espíritos de demônios,
que fazem prodígios; os quais vão ao encontro dos reis de todo o mundo,
para os congregar para a batalha, naquele dia do Deus Todo-poderoso (Ap
16.13-14).
394
J. Dwight Pentecost, ibidem, p. 355.
395
PESSOA, J. Xavier, ibidem, p.81-82.
207
que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo Poderoso” (Ap 19.15):
[...]. Quem viu coisas semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma terra num
só
dia? Nasceria uma nação de uma só vez? Mas Sião esteve de parto e já deu à
luz os seus filhos. Abriria eu a madre, e não geraria? Diz o Senhor; geraria
eu, e fecharia a madre? Diz o teu Deus. Regozijai-vos com Jerusalém, e
alegrai-vos por ela, vós todos os que a amais; enchei-vos por ela de alegria,
todos os que por ela pranteastes; para que mameis e vos farteis dos peitos
das suas consolações; para que sugueis e vos deleites com a abundância de
sua glória. Porque assim diz o Senhor: Eis que estenderei sobre ela a paz
como um rio e a glória dos gentios como um ribeiro que transborda; então
mamareis, ao colo vos trarão, e sobre os joelhos vos afagarão. Como alguém
a que consola sua mãe, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis
consolados (Is 66.9-13).
Israel Reina com Jesus no Milênio (Is 65 e 66). As dores de parto para Israel, podem
ser ilustradas na fala de Jesus aos discípulos sobre a mulher grávida, a consolá-los em sua
ausência:
A mulher, quando está para dará luz, sente tristeza, porque é chegada a sua
hora; mas depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo
prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na
verdade tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se
alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará. (Jo 16.21-22).
O parto de Israel implica o nascimento de uma Nova Era, pelo milênio, na terra
Regenerada. É a Dispensação do Reino ou a Dispensação da Plenitude dos Tempos, quando
os crentes de todas as dispensações estarão juntos e todas as coisas convergirão ao Senhor
Jesus:
Quando Ele terminar de congregar todas estas coisas, no final do Milênio, virá a
consumação e Ele entregará o reino ao Pai, e Deus será tudo em todos:
Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando
houver aniquilado todo império e toda potestade e força. Porque convém que
reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés. Ora, o
último inimigo que há de ser aniquilado é a morte. Porque todas as coisas
sujeitou debaixo de seus pés. Mas quando diz que todas as coisas lhe estão
sujeitas claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. E,
quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho
se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo
em todos. (I Co 15.24-28).
208
CAPÍTULO DOZE
__________
Sobre este tema, há as correntes que distinguem a literalidade ou não da época. Vejamos:
a) Posição não Literal ou Espiritualizada:
Esta posição, segundo Pentecost,396 não aceita a vinda literal de Jesus. Ela se liga a
fatos de Israel ou da Igreja:
396
Ibidem, 384
209
Esse ponto de vista não espera nenhum reino terreno de Cristo entre a
Segunda
vinda e o juízo final. Sustenta que os mil anos simbolizam ou a perfeição do
reino de Cristo quando Ele voltar ou a condição dos crentes durante o estado
intermediário entre a morte e a ressurreição. Os amilenistas observam que os
mil anos são mencionados em uma única passagem, e que ela se encontra
num livro altamente simbólico.
Se pensarmos o amilenismo sob o ponto vista diacrônico veremos que seus defensores
não podem advogar a ideia de que esta vertente seria a primeira entre outras, pois o
amilenismo não é a posição da Igreja do primeiro século. Segundo Norman Champlin e J. M.
Bentes:398
397
M. J. Ericson, Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, p. 370.
398
CHAMPLIN, R.N., e BENTES, J.M., Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, VOL. V (P-R), São
Paulo, Candeia, 3ª ed. 1995.
399
SOUZA, Gaspar. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um debate
sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 2014. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?v=ra
C0Soa28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
400
LOPES, Nicodemus, A. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um
debate sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 2/3, 2014. Disponível em >
https://www.youtube.com/watch?v =raC0Sao 28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
210
é aqui, porque João está preocupado com este exorcismo cósmico (aquele
que é a base de todos os outros). E quando o príncipe deste mundo foi
expulso? Quando Cristo foi levantado na cruz e atraiu todos a si. Ali Satanás
teve o seu poder quebrado. Neste sentido, ele foi expulso. É uma expulsão
literal? Satanás não está mais no mundo? Não, mas ele não tem mais a
autoridade que tinha. Há uma restrição imposta a Satanás com a vitória de
Cristo.
404
O terceiro texto que Lopes traz para associá-lo a Apocalipse 20 é Colossenses
2.14,15: Paulo se refere aqui a vitória de Cristo na cruz. Ele diz assim:
Tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de
ordenanças a qual nos era prejudicial, removeu inteiramente, encravando-o
na cruz e despojando os principados e potestades, publicamente os expôs ao
desprezo, triunfando deles na cruz. [...] O que Paulo está dizendo aqui é que
na cruz Cristo desarmou os principados e potestades, corresponde ao amarrar
e corresponde ao expulsar.
405
Enfim, Lopes cita Hebreus 2.14 a endossar seu argumento amilenista da
espiritualização do Milênio, associando esta passagem bíblica e o texto de Apocalipse 20.1 a
6:
Visto, pois que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes
também ele igualmente participou para que por sua morte destruísse aquele
que tem o poder da morte, a saber, o diabo. O autor de Hebreus está dizendo
que Cristo quando morreu destruiu Satanás. Só que a palavra destruir no
grego não significa extinguir, mas significa deixar inoperativo, fora de
serviço, como ocorre com o elevador. Quando ajuntamos: será expulso, está
amarrado, despojado e desarmado e destruído, entendemos porque João diz
em Apocalipse 20 que Jesus desceu e amarrou Satanás. Isto não será no
futuro, já foi na sua morte e ressurreição. A linguagem bíblica é muito clara.
Então, nós não esperamos um momento futuro em Cristo vai amarrar
Satanás. Ele já fez isto na cruz e na ressurreição.
Os textos usados por Lopes e a sua análise estão corretos e concordamos em parte com
ele, ao menos no tocante à vitória de Cristo sobre Satanás e os demônios, no campo espiritual,
podendo ser dimensionados da ressureição até a consumação dos séculos. Mas, não há
condição alguma de ter a aquiescência, com Lopes, sobre o uso da coletânea de textos
bíblicos, objetivando espiritualizar o reino-milenar-messiânico de Cristo. Uma coisa é o
triunfo de Jesus sobre o diabo e seus anjos na cruz, e outra coisa é o triunfo do reino e do seu
Rei, inaugurando a Nova Aliança e o Reino com a vitória sobre Satanás, amarando-o por mil
anos. Lopes faz um esforço hermenêutico-hercúleo a provar que a amarração do diabo ocorre
no gólgota e pela tumba vazia vinculando tal ação a um milênio espiritual. Só que ele se
esqueceu de fazer este mesmo esforço para espiritualizar o lançamento da Besta e do Falso
404
Ibidem.
405
Ibidem.
212
Profeta no lago de fogo na batalha de Armagedom, os quais são concomitantes com a hora em
que Satanás é amarrado:
E a besta foi presa e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais
com que enganou os que receberam o sinal da besta e adoraram a sua
imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com
enxofre. E os demais foram mortos com a espada que saía da boca do que
estava assentado sobre o cavalo, e todas as aves se fartaram das suas carnes.
E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande
cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e
Satanás, e amarrou-o por mil anos. (Ap 19.20 a 20.1,2).
Outras indagações que endereçaríamos a Lopes: Quais textos ele usaria, agora, para
explicar a soltura de Satanás? Como seria o enganar pessoas após o milênio espiritual que
abrange da cruz à segunda vinda para o juízo final? Neste juízo, ainda há possibilidade de
enganos satânicos ou o Juiz não permitirá tal acinte? E o lago de fogo seria também
simbólico?
E acabando-se os mil anos, Satanás será solto de sua prisão e sairá a enganar
as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue e Magoge, cujo
número é como a areia do mar, para ajuntar em batalha. E subiram sobre a
largura da terra e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada, e de Deus
desceu do céu e os devorou. E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago
de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia de noite
serão atormentados para todo o sempre. (Ap 20.7-10)
Haveria um fracasso de Jesus no processo? Como explicar Satanás e os demônios
sendo lançados no lago de fogo, onde estão a besta e o falso profeta, mil anos depois? A
conclusão a que chegamos é que nenhum dos textos, citados por Lopes (Mc 3.27; Jo 11.31; Cl
2.14,15 e Hb 2.14) mencionam ou tem a ver com Apocalipse 20.1-6. Que haverá um milênio
literal sobre a terra, não há dúvida alguma, pois não só Apocalipse, mas as profecias do AT e
muitas predições de Cristo enfatizam esta realidade. Assim, Turner 406 enfatiza em relação a
Apocalipse 20. 1-6:
Ali se lê que Satanás é preso por mil anos; que não enganará as nações até
que se cumpram mil anos; que alguns viverão e reinarão com Cristo mil
anos; que outros não voltarão a viver até que se completem mil anos; que é
bem-aventurado e santo aquele que reina com Cristo mil anos, e que quando
os mil anos se cumpram, Satanás será solto da sua prisão por um curto
espaço de tempo. A repetição da frase “mil anos” estas seis vezes é
suficiente para convencer a milhares de cristãos de que estamo-nos referindo
a um período de justamente mil anos.
Infelizmente, o DP, por associar-se com os pactualistas e novo aliancista, neste debate
expressa mais uma dificuldade inaceitável pelos DC e DR. Antonio Neto407 responde a Lopes:
406
Idem, Doutrina das últimas coisas, p.264.
407
NETO, Antonio. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um debate
sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 2/3, 2014. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?v
=raC0Sao 28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
213
c) A Posição Pós-Milenarista:
410
Para a Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã tal teoria se expressa
assim: “Esse é o ponto de vista de que, mediante a pregação bem-sucedida do evangelho, o
reino de Deus paulatinamente se tornará completo na terra, o mal cessará e paz virá. No fim
408
Ibidem.
409
Ibidem.
410
ERICSON M.J., Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, p. 370.
214
desse período, que não é necessariamente de mil anos, Cristo voltará”. Nota-se a fragilidade
dessa teoria ao se recorrer à História. Zuck 411 atesta esta verdade:
A concepção que se deve ter sobre a questão do milênio não se resolve com
recurso à história. Mas vale notar que um razoável número de líderes nos
primeiros séculos da igreja primitiva era nitidamente pré-milenarista. O pós-
milenarismo praticamente morreu há vários anos. O impacto de duas guerras
mundiais levou muitos a renunciarem a essa doutrina, pois pregava uma
visão otimista de que o mundo estava cada vez melhor.
Ao definir esta corrente escatológica, Jonas Xavier Pessoa412 deixa claro o modo
espiritualizante como o pós-milenismo vê o reino de Deus na era presente:
411
ZUCK Roy B., A interpretação Bíblica – meios de descobrir a verdade bíblica, pp. 266-267.
412
PESSOA, Jonas X. O Fim Vem: uma visão gloriosa do futuro. Feira de Santana: Imprensa Bíblico-
Maranata, 2008, p. 69.
413
SABINO, Felipe. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um debate
sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 2014. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?
v=raC0Sao 28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
414
Ibidem.
215
d) A Posição Pré-Milenista-histórica:
Esta vertente é conhecida como pré-milenismo clássico. Ela ensina que a era atual da
Igreja foi prevista no AT. Ela recebe este nome devido a adesão por um bom número de
“pais” (Ireneu, Papias, Justino Mártir, Tertuliano, Hipólito da Igreja) nos 3 primeiros séculos
da era cristã. O pré-milenismo histórico sustenta a aparição do anticristo junto com a
Tribulação. Após esta época haverá o arrebatamento pós-tribulacionista, e então, Jesus e a
igreja virão ao milênio.
Um dos mais brilhantes pré-milenistas históricos foi George Eldon Ladd, professor
de teologia do NT no Seminário Teológico Fuller. Por causa de Ladd, o pré-milenismo
histórico adquiriu popularidade acadêmica entre os evangélicos e os reformados do século
XX. Outros mentores desta vertente escatológica são Walter Martin; John Warwick
Montgomery; J. Barton Payne; Henry Alford e Theodor Zahn. Para os dispensacionalistas, o
DP é uma vertente refinada do pré-milenismo histórico, principalmente, pela influência da
teologia do reino de Ladd à nova vertente dispensacionalista, com o já/ainda não. Sobre a
visão laddiana, Albuquerque 415 diz:
Jesus Cristo virá corporalmente à terra uma segunda vez (At 1.6-11). Esta
volta ocorrerá em duas etapas. Primeiro, Cristo voltará nas nuvens para
arrebatar e levar ao céu todos aqueles vivos ou mortos, que estão em Cristo –
isto é, que foram salvos durante o período da Igreja (1 Ts 4.13 – 5.11). Esta
etapa está para acontecer a qualquer instante, sem aviso. Depois do
arrebatamento virá a tribulação, um período de julgamento intenso sobre a
terra. (Ap 3.10).416
e) A Posição Pré-Milenarista:
415
Albuquerque, ibidem, 2004, p. 17.
416
SWEDBERG, Mark (relator). Distintivos batistas regulares. São Paulo: EBR, 2003, p. 50.
216
Elas no início do milênio serão julgadas por Jesus, que se assentará no trono de Davi a
exercer juízo (Mt. 25:31-32). Depois, as que forem aprovadas entrarão no reino e serão
regidas por Ele com vara de ferro (Sl. 2:7-9).
No tocante ao julgamento das Nações, três coisas devem ser consideradas:
a) O local - No vale de Jeosafá. (Joel. 3:2). Isto significa que será na terra.
A base - Atitude das nações à mensagem e aos mensageiros do Reino (Mt. 25:34-46).
Serão as nações vivas que o Senhor encontrar na terra durante Sua Vinda.
c) Os resultados:
Alguns pontos precisam ser notados sobre o Milênio:
Os retos possuirão por herança o preparado Reino (Mt 25.34). São eles as
ovelhas.
Os ímpios serão excluídos e sofrerão depois o juízo final (Mt 25:41). São os
bodes.
O remanescente judeu: comporão, com as ovelhas, o núcleo Milenar. Os israelitas
serão chamados de pequeninos irmãos de Jesus. (Mt 25:40-45)
O Rei estará na terra regendo com a Igreja, as nações com vara de ferro (Ap
418
12.5;19.15; 2.26-27). Sobre este tema Walvoord diz: “A gloriosa presença de Cristo no
cenário do Milênio e, logicamente, o foco de toda a espiritualidade e adoração” assentar-se-á
sobre o trono de Davi, seu pai (Lc 1.31-33).
III – COM RELAÇÃO À IGREJA:
417
Ibid., p.370
418
WALVOORD, John F. The Millennial Kingdom. Grand Rapids: Zondervan, 1959, p. 307.
217
Terá os apóstolos como juízes (Isaias 1.26), sobre as suas doze tribos (Mt 19.27-28).
No início do período será amarrado (Ap 20.1-2). E os demônios serão presos com
ele;
No final do período será solto por um pouco de tempo (Ap 20.3).
A natureza será redimida ou regenerada pelo Messias, Jesus Cristo (Rm 8.20-22).
7 selos, 7 trombetas e 7 taças são os juízos divinos a punir os fiéis da Besta e preparar
a terra para o milênio. Isto culmina com a extinção de ilhas e montes (Ap 16.17-21). Os dias
serão iguais aos de Noé. Talvez com um só clima na terra e pessoas vivendo naturalmente mil
anos.
Os animais terão a sua própria natureza transformada (Isaias 11.5-9)
A chuva e a fertilidade do solo serão restauradas (Is 35.2,6-7). Só fracassam
colheitas a rebeldes.
Os homens terão longevidade de vida, mas haverá morte aos ímpios durante a época
(Is 65.20). Doenças diminuirão com a redução do pecado, mas não serão inteiramente
afastadas.
Finalmente completar-se-á o Milênio, e Jesus fará novas todas as coisas, criando
assim, Novos Céus e Nova Terra onde habitará a Sua grande e gloriosa Justiça (II Pd 3.13).
Os amilenistas, em oposição aos pré-milenistas, tentam emplacar uma série de críticas
que eles acham ser irrespondíveis, pelos que creem em um milênio literal. Podemos pensar no
pai da teologia reformada, Louis Berkhof,419 e as suas indagações aos pré-milenistas,
crendo
que estes não podem comtemplar com respostas satisfatórias tais inquirições:
como afirmar que Cristo e os santos habitarão ali mil anos antes dessa
renovação? Como poderão os santos e os pecadores na carne manter-se na
presença do Cristo glorificado, sabendo-se que mesmo Paulo e João foram
completamente esmagados pela visão dele, At 26.12-14; Ap 1.17?
Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a
fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter
dado mandamentos pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera Aos
quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e
infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando
das coisas concernentes ao reino de Deus. (At 1.1-3).
Este glorioso exemplo se faz presente, a partir das seguintes afirmações escriturísticas:
a) Discorre sobre as Escrituras com alguns deles: “E, começando por Moisés, e por
todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras. ” (Lc 24.27);
b) O Cristo glorificado é apalpado em seu corpo-físico pelos não glorificados:
420
MORRIS, Henry. A Bíblia e a ciência moderna. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1985, p.72.
421
Ibidem, p.75.
220
por mil anos, em relação a suas ações na terra, e a decência prevalecerá em relação à
decadência.
3) O trono de Davi em uma terra não renovada:
Outro equívoco de Berkhof é achar que a terra do Milênio não será renovada.
Haverá
John MacArthur422 concorda que este fato se dará na volta de Cristo, em seu milênio:
Criação. Inclui tudo do mundo físico, exceto os seres humanos, os quais ele
contrasta com esse termo (vs.22-23). Toda a criação é personificada para
estar, por assim dizer, ansiando pela transformação da maldição e seus
efeitos. Revelação. Lit, ‘uma exposição’ ou ‘um desvelamento’. Quando
Cristo voltar, os filhos de Deus compartilharão a sua glória.
Por isso, não haverá problemas de adaptação para o Santo e os santos glorificados
habitarem juntos na era de ouro do reino milenar do nosso Messias, Cristo Jesus, o Senhor.
5) Santos e pecadores diante do Cristo glorificado sem desmaiarem perante o Rei:
422
MACARTHUR, John. BÍBLIA de Estudo. Bíblia Revista e Atualizada. Trad. Por João Ferreira de Almeida.
Barueri-SP: Edição Sociedade Bíblica do Brasil, 2010, p.1507.
222
É fato de que João (Ap 1.17) e Paulo (At 9.4 e 6) caíram atônitos diante do Cristo
glorificado, mas não podemos negar a presença deste Cristo com o corpo glorificado a pedir
que Tomé (não glorificado) colocasse as suas mãos no lugar dos cravos e da perfuração do
lado, marcas que estão neste corpo glorioso (Jo 20.27,28); não devemos nos esquecer de que
este Cristo, com o corpo glorificado, assoprou sobre os apóstolos, não glorificados, e eles não
desmaiaram: “E, havendo dito isto assoprou sobre eles e disse-lhes Recebei o Espírito Santo.”
(Jo 20.22). Jesus, sem o corpo glorificado teve contato com Pedro, ao convidá-lo a segui-lo:
E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse
um pouco da terra; e assentando-se ensinava do barco a multidão. E quando
acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto e lançai as vossas redes
para pescar. E, respondendo Pedro, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado
toda a noite, nada apanhamos; mas sobre tua palavra, lançarei a rede. E,
fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes
a rede. E fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para
que os fossem ajudar. E foram e encheram ambos os barcos, de maneira tal
que quase iam a pique. E vendo isto Simão Pedro, prostrou-se aos pés de
Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador (Lc
5.3-8).
Este evento e o fato abaixo se parecem muito, e a diferença entre eles é que no
primeiro Jesus (não glorificado) está com os discípulos (não glorificados); no segundo, Jesus
(glorificado) está com os discípulos (não glorificados). A reação de Pedro, em cada um deles,
é bem semelhante, e posso dizer, ainda, que no primeiro há mais temor do que no segundo:
bezerro e leão, vaca e ursa, leão e boi; e o menino os guiando e a criança de peito pondo a
mão na toca do basilisco (Is 11. 6-8)? Haverá necessidade, para os neo-aliancistas, de o Rei
reger as nações com vara de ferro, no reino eterno, onde justos serão perfeitos (Sl 2.9; Ap
2.26,27; 12.5; 19.15)? Aos amilenistas, de que modo, haverá morte e maldição, a partir dos
cem anos, na eternidade (Is 65.20)? Como os apóstolos e Igreja julgarão Israel e o mundo (Mt
19.28; I Co 6.2 – respectivamente) no Reino
Eterno, se Cristo entregará este Reino ao Pai e Deus será tudo em todos (I Co 15.24, 25, 28)?
Prosseguindo, antes de destacarmos os fatos que abrangem o Estado Eterno convém
dar uma palavra bíblica sobre os julgamentos, através dos quais, a humanidade se deparará:
423
THIESSEN Henry, p. 359.
224
425
Nota do Escritor – Há à luz da Bíblia dois Livros da Vida: 1º) O Livro dos Vivos – no qual encontram-se os
nomes de todos os homens e 2º) O Livro da Vida do Cordeiro – no qual estão os nomes de todos os salvos desde
antes da fundação do mundo. Ao mandar João escrever ao anjo da Igreja de Sardes Jesus prometeu aos
vencedores daquela Igreja (Como acreditamos que o salvo não é perdedor, aliás, “graças a Deus que nos dá a
vitória por Nosso Senhor Jesus Cristo” – 1ª Coríntios 15:57, e “[...] somos mais do que vencedores, por aquele
que nos amou” – Romanos 8:37) que “de modo algum riscaria o seu nome do Livro da Vida” (Ap. 3:5). Sendo
assim, esse Livro só pode ser o dos Vivos, pois o perdedor é riscado. A Moisés, quando rogou a Deus o perdão
para o povo de Israel, devido à sua adoração ao Bezerro de Ouro, ou o riscar o nome dele desse mesmo Livro,
Deus disse: “Riscarei do meu Livro todo aquele que pecar contra mim” (Êxodo 32:32-33); Em um dos Salmos
Messiânicos, Davi trata de Judas e dos que obram a impiedade; sobre o destino dos tais o Rei escreve: “Fique
deserta a sua morada, e não haja quem habite as suas tendas[...] soma-lhes iniquidade a iniquidade deles, e não
gozem da tua absolvição. Sejam Riscados do Livro dos Vivos, (grifo e nossos) e não tenham registro com os
justos (Sl. 69:25,27-28). Neste Livro a humanidade é registrada por Deus devido à vida biológica outorgada por
Ele ao ser humano (Sl. 139:16). É este Livro da Vida que será aberto no Juízo Final. Ali os ímpios poderão notar
que outrora tinham seus nomes registrados neste livro, mas não foram mantidos pelo fato deles terem rejeitado a
Cristo, por isso os seus nomes foram riscados do Livro dos Vivos, restando a eles a Segunda Morte (Ap. 20:12 e
15).
426
Guilherme W. Orr. Um quadro Simples do Futuro, p. 36.
427
Ibidem., p.385.
226
Sobre o Novo Céu e a Nova Terra a ideia é de mudança e não de aniquilação. Como
no milênio será regenerada (Mt 19.28), agora é restaurada e renovada pelo fogo (II Pd 3.10-
13).
II – A Nova Jerusalém:
O tópico da profecia é a esposa do Cordeiro. Ela descerá do Céu e se firmará na Nova
Terra (Ap 21.1-2;3,10). Veja o modo de Thiessen 428 descrever a Cidade:
1 A Sua Natureza:
O teólogo mostra que esta cidade é literal (tem fundamento, portas, muralhas e
ruas);
As portas são doze, e levam os nomes das doze tribos de Israel (Apocalipse 21.12);
A muralha é de jaspe e a cidade é toda de ouro (Apocalipse 21.18);
Toda porta é uma pérola (Apocalipse 21.21);
As portas nunca se fecham (Apocalipse 21.25);
A praça da mesma é de ouro puro (Apocalipse 21.21).
A Nova Jerusalém não tem sol e lua; a glória a alumia e o Cordeiro é a luz (Ap
21.23).
Corre nela o rio da vida e ali também se encontra a árvore da vida (Ap 22.1-2). 429
2 Os Seus Habitantes:
Para Thiessen, 430 os moradores desta cidade são os salvos da
Igreja (Ap. 21.9), um privilégio a todos eles! Daí Jesus dizer: “[...] entre os nascidos de
mulher não apareceu alguém maior do que João, o Batista; mas aquele que é o menor no reino
dos céus é maior do que ele” (Mt 11.11), pois, João, na sua humildade, é o “amigo do esposo”
(Jo 3.29), mas a Igreja é a Esposa do Cordeiro, identificada com a Nova Jerusalém (Ap 21.9-
10).
As nações salvas andarão a sua luz (Ap 21.24). Talvez a cidade seja suspensa na
terra.
3 Sua Bem-Aventurança:
Ali nunca mais haverá maldição; e o trono de Deus e do Cordeiro estará lá (Ap 22.3).
Somos informados que os reis da terra lhe trarão a sua glória e honra (Ap 21.24).
428
Ibidem.
429
Ibidem., p. 359
430
Ibidem.
227
Seus servos O servirão, tendo Seu Nome escrito em suas frontes. Eles verão a Sua
face e reinarão com Ele para sempre (22.3-5). Os anjos de Deus estarão junto delas (Ap
21.12).
As preocupações dos Dispensacionalismos Clássico e Revisado têm uma séria
431
preocupação com a linha de pensamento do Progressivo. Daí W. House e R. Thomas
focar:
A doutrina estudada é preciosa à Igreja. Seu valor foi expresso pelo eminente teólogo
432
amilenista Charles Hodge: “Este é um tema muitíssimo vasto e difícil. Está estreitamente
relacionado a todas as outras grandes doutrinas que vêm sob o tópico da escatologia. Tem
suscitado tanto interesse em a era da Igreja que os livros escritos sobre ele formariam por si
sós uma biblioteca. ” Com Hodge diríamos que tal biblioteca ajuda ao estudioso que dela se
aproprie em busca de subsídios a desvendar os mistérios do reino (Mt 13.11). Atingimos
seus pontos principais sobre o Rapto da Igreja, a Tribulação, o Milênio e o Estado Eterno.
CONCLUSÃO
431
Ibidem, In W. House e R. Thomas. Crenças Básicas do Dispensacionalismo Progressivo., 2010, 143.
432
Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 1602.
228
Notamos o perigo de rupturas maiores, vindas destas crenças atípicas aos DC e DR. A
razão da sugestão de Neto434 se deve às críticas oriundas do desgaste no debate relativo ao
tema:
433
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
434
Ibidem.
435
Ryrie Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: Editora Batista Regular, 2020, p. 333.
230
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VOSS, Laerte Tardeli Hellwig. A tensão já e ainda não em Oscar Cullmann: Possibilidades e
Implicações para a Missão da Igreja, Rio de Janeiro: PUC, 2018.
233
ÍNDICE ONOMÁSTICO
A K
A. B. Langston > p. p. 71, 102. Karl Barth > p. 34.
Allen P. Ross > p. p. 15, 16, 17, 18, 19. Knox Chamblin > p. p. 22, 23, 24, 25, 26.
Alva McClain > p. p. 39, 59, 104, 105, L
156, 189.
Albert Schweitzer > p. p. 41, 43 Laerte Tardeli Hellwig Voss > p. p. 42, 43.
Antonio Neto > p. p. 20, 40, 41, 67, 69, Leonardo Boff > p. 43.
83, 85, 175, 176, 190. Leon Wood > p. 155.
Anthony Hoekema > p. 38. Lewis Sperry Chafer > p. p. 39, 51, 141,
189.
Augustus Nicodemus Lopes > p. p. 16, Louis Berkhof > p. p. 152, 179, 182, 184.
20, 32, 38, 130, 172, 173, 174.
B M
Bruce Anstey > p. p. 37, 28, 39, 63, Marcos Granconato > p. p. 82, 87, 104.
139, 140, 141. Mal Couch > p. p. 58, 79, 131, 162.
Bruce Waltke > p. p. 28, 29. Mark Dever > p. 21.
238
Hernandes Dias Lopes > p. p. 16, 38, 61 Tony Kessinger > p. p. 82, 85, 86, 91.
62, 69, 153. W
Henry Clarence Thiessen > p. p. 10, 106, Walter Kaiser Jr > p. p. 27, 36, 37.
155, 185, 188. Willem VanGemeren > p. 13.
Henry Alford > p. 177. Walter Martin > p. 177.
Henry Morris > p. 181. William Felipe Zacarias > p. 43.
Wolfhart Pannenberg > p. 43.
J W. House > p. p. 60, 63, 64, 188.
Jared Compto > p. p. 28. V
James Freerksen > p. p. 56, 130, 131.
Jenuan Lira > p. 39. Valney Veras > p. p. 16, 33, 48, 49, 50
Johann Albrecht Bengel > p. 42. 51, 52, 53, 54, 109, 110, 137, 138, 141,
159.
John D. Pentecost > p. p. 39, 49, 81, 101, Valbert Veras > p. p. 30, 67, 68, 69.
107, 141, 142, 145, 146, 149, 168, 171, Vern Poythress > p. 38.
178, 187,189. Vitor Fontana > p. p. 31, 40, 190
Jonh Nelson Darby > p. p. 39, 141, 189. Von Hoffman > p. 42.
John S. Feinberg > p. p. 12, 13, 14, 19, 21,
23, 24, 80, 188
John Walton > p. p. 30, 31.
John Walvoord > p. p. 39, 142, 179, 188.
John Warwick Montgomery > p. 177.
Johannes Cocceius > p. p. 37.
John MacArthur > p. 183.
José Míguez Bonino > p. p. 43.
Joseph Ratzinger > p. p. 43.
J. P. Barton Payne > p. 12, 13, 14, 16, 62, 177.
J. C. Ryle > p. p. 55, 56, 75, 77.
Jonas Xavier Pessoa > p. p. 166, 169, 176.
Jurge Moltmann > p. 37.