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A ESCATOLOGIA PROGRESSIVA:
2

Um dispensacionalismo com d minúsculo como via do meio


3

Pr. Evaldo Moraes


A ESCATOLOGIA PROGRESSIVA:
Um dispensacionalismo com d minúsculo como via do meio

Copyright, 2021 pela Imprensa Bíblico-Maranata


Fundação Esperança
Primeira edição - 2021
Impressão e acabamento:
Diagramação
Israel de Jesus Silva
Capa
Pr. Evaldo de Oliveira Moraes

__________________________________________________________________________
 Todos os direitos são reservados à Imprensa Bíblico-Maranata.
É proibida a reprodução deste livro, no todo ou em parte, sem a devida
permissão dos editores.
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Publicado pela:
Imprensa Bíblico-Maranata – IBM em Feira de Santana
“Uma Literatura Cristã EDIFICANDO A IGREJA de CRISTO”
Rua Antenor Moreira de Pinho, 880.
Jardim das Acácias, 44010-000.
Feira de Santana-BA

Catalogação na Fonte Nacional do Livro


L732q
Moraes, Evaldo de Oliveira, 1968
Escatologia Progressiva: Um dispensacionalismo com d minúsculo /
por Evaldo de Oliveira Moraes. – Feira de Santana: Imprensa Bíblico-
Maranata, 2020.
203p.; 158x229cm
ISBN 85-7414-001-5
Inclui bibliografia.
1. Igreja Batista – Brasil – Escatologia.
I.Título

Revisão pedagógica: Pr. Carlos Magno Vitor da Silva.

CDU: 783
4

APRESENTAÇÃO

“O PERIGO DE SE USAR UMA VIA DO MEIO! ”

“Conheço as tuas obras, que nem és frio, nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim,
porque és morno e não és frio, nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. ” (Ap 3.15-16).

Um dos principais divulgadores do pensamento Progressivo no Brasil, Pr. Antonio


Neto, afirma que assim como a Teologia da Nova Aliança (continuidade e
descontinuidade, com mais continuidade) é um meio termo aos “extremos”: Teologia da
Aliança (continuidade) e Teologia Dispensacionalista (descontinuidade); assim também, o
Dispensacionalismo Progressivo é a via do meio entre estes “extremos”. Esta é a vertente
do Dispensacionalismo (descontinuidade e continuidade, com mais descontinuidade).
Este “equilíbrio” se afigura muito interessante quando os “extremos” são realmente
extremos; todavia, se as posições se constituem em alternativas plausíveis ao caminho do
meio, podem também se tornar a via do “politicamente correto”, para usar uma expressão
bem conhecida atualmente. O meio termo às vezes se converte em diplomacia, em ações
que devem pender para o “agradar a todos” sem contrariar a um ou desapontar a outro.
Isto pode implicar mornidão diante do frio e do quente (Ap 3.15), quando às vezes somos
cobrados a sermos mais definidos entre dois caminhos, sem a outra possibilidade: a tal via
do meio.
Vale ressaltar que a Bíblia cobra definição dos seus seguidores, por exemplo: entre
os “extremos” porta larga e porta estreita não há uma porta neutra; ou entre o caminho
espaçoso e o caminho apertado não existe uma via do meio, mais ou menos apertada, ou
um tanto mais espaçosa ou um tanto quanto menos estreita (Mt 13.14); entre o céu e o
inferno, não podemos criar um meio termo e chamá-lo de purgatório; diante da linguagem
do “Sim” e do “Não” é muito improvável optar por uma via do meio de procedência
maligna (Mt 5.37): o escolher o “Sim/Não” (II Co 1. 17), neste caso, é mais preferível o
“Sim/Sim” (II Co 1.18-20) ao caminho do meio. Esta decisão é determinante para não
haver tropeço: “[...]; mas que a vossa palavra seja sim, sim, e não, não; para que não caiais
em tentação”. (Tg 5.12b).
5

No mundo hodierno-pós-liberal, há a via do meio, um tipo de “ponderação” em que


o neutro toma conta das sociedades mundiais para que as dualidades sejam menos
presentes e não existam entre “todos” e “todas” ou “todxs”, posições preconceituosas
contra uma terceira via. Isto é muito preocupante quando optamos também por este tipo de
filosofia. A tentação de ter descoberto a roda ou encontrado a pólvora, nesta via do meio,
pode ser muito perigosa, pois há a possibilidade de acharmos, neste caminho, também
vaidades e orgulhos academissistas que nos conduzam a mudar marcos e estabelecer
dogmas que alterem estruturas significativas sobre o Reino de Deus. Assim, podemos
espalhar ao invés de ajuntar. Nesta estrutura, a definição é muito melhor do que o meio
termo (Mt 12.30).
Acredito que aqueles que estabelecem o caminho do meio para o eschaton, são
bem-intencionados, a exemplo de Robert Saucy, quando tentou trabalhar o seu
dispensacionalismo como uma interface entre a teologia não dispensacionalista e a teologia
dispensacionalista. Mas, o cuidado precisa ser levado em consideração, pois no quebra-
cabeças de Deus, chamado Escatologia ou doutrina das últimas coisas, pôr uma peça fora
das engrenagens pode fazer desmoronar um edifício construído com fundamentos bíblicos.
Pensemos no mar de confusões que começa a fluir e a desaguar em uma
Escatologia e Eclesiologia medianas. Ao pensarmos na relação entre os Testamentos, de
repente a terceira via desponta para a guarda da lei mosaica e a troca do sábado pelo
domingo como dia a ser observado criteriosamente pelos crentes nos seus mínimos
detalhes; ou em uma via do meio que tenta nos fazer compreender a necessidade de uma
abordagem sensus plenior que permite ao autor do Novo Testamento interpretar ao Antigo
Testamento, acrescentando novos sentidos ao texto bíblico original por intermédio de uma
hermenêutica complementar.
Pensemos em um meio termo que acredita em um Reino de Deus já inaugurado, só
porque o Rei esteve por um pouco de tempo entre nós; ou em um “equilíbrio” que anuncia
a todos: Jesus já está assentado no Trono de Davi, sem reinar espiritualmente sobre o
mesmo, tampouco governar a humanidade sobre a terra; ou em uma via do meio que te
deixa à vontade para escolher se o arrebatamento da Igreja será antes da tribulação, no
meio da septuagésima semana de Daniel, quase no fim da Grande Tribulação, antes da Ira
de Deus se derramar nos habitantes do mundo, e até no final dos 7 anos que podem até não
ser 7 anos.
Pensemos em uma “moderação” que destaca a distinção entre a ação do Espírito no
meio deles, no AT, para neles, em o NT, com o Batismo no Espírito que forma o Corpo de
6

judeus e gentios (a Igreja) na Dispensação da Graça, mas que não explica como, na
Tribulação, haverá um único povo de Deus em união e unidade entre outros judeus e
gentios, sem a presença do corpo (Igreja) pelo derramar do Espírito; ou em uma via do
meio que fala de uma Nova Aliança inaugurada com a Igreja, cumprindo e recebendo as
suas promessas, mas que tais promessas ainda devem se cumprir mais tarde; ou em um
meio termo a dizer que as coisas do fim já estão ocorrendo, mas que estas coisas ainda não
estão acontecendo como deveriam plenamente acontecer. Quanta confusão! É no meio dela
que nos colocam para alertar à Igreja sobre os perigos dessa via do meio. Por isso está em
suas mãos esta obra.
Pr. Evaldo de Oliveira Moraes
DEDICATÓRIA

Pr. Evaldo Moraes

Dedico este livro, em primeiro lugar, Àquele que me outorgou a vida, tanto física
como eterna, e é o responsável por tudo que sou hoje: Meu Amantíssimo Deus – Jesum,
hominum servatorem, adoro. A Ele, Soli Deo gloria sicut erat in princípio, et nunc et semper
et in saecula saeculorum.
Também ofereço esta obra a duas pessoas que, depois do meu Deus, eu mais amo
nesta vida, as quais são ao meu lado, responsáveis pela construção e harmonia do meu lar:
Minha Amada Esposa – Eliete Moraes e Minha Querida Filha – Beatriz Moraes –
Qualescumque summi mulieris sunt.
E por fim, oferto este trabalho ao Movimento que me acolheu e que eu aprendi a amar
e defender, devido à sua postura séria, leal e fiel aos princípios da Palavra de Deus: Meu
Prezado Grupo Fundamentalista – Batista Regular. Pois bem sabemos que o fundamentum
justitiae est fides.
7

PREFÁCIO
8

Pr. Jucilê Alves da Silva


Primeira Igreja Batista Regular da Bahia – Salvador/BA
Presidente da Ordem dos ministros Batistas Regulares da Bahia
LISTA DE SIGLAS

AT Antigo Testamento
CMI Concílio Mundial de Igrejas
DC Dispensacionalismo Clássico
DI Dispensacionalismo Integrativo 
DN Dispensacionalismo Normativo
DP Dispensacionalismo Progressivo
DR Dispensacionalismo Revisado 
OMBREB Ordem dos Ministros Batistas Regulares da Bahia
SIBRB Seminário e Instituto Batista Regular Bereiano
SBBPV Seminário Batista Bíblico Palavra da Vida
NT Novo Testamento
9

LISTA DE MAPAS

Figura n. 01 – Mapa das Dispensações sob a ótica do Dispensacionalismo

Clássico ................79

Figura n. 02 – Mapa das Dispensações sob a ótica do Pr. Roque

Albuquerque ..........................80
10

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – As Dispensações no Dispensacionalismo

Progressivo ..........................................43

Tabela 02 – Dispensacionalismo Integrativo: uma posição intermediária entre o DT e o

DP.....45

Tabela 03 – Para entendermos melhor este processor Geisler elaborou uma tabela

didática....147

Tabela 04 – Distinção entre o Evangelho do Reino e o da

Graça............................................177
11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................12

1 CAPÍTULO 1: A RELAÇÃO ENTRE OS

TESTAMENTOS..............................................14

I – O MÉTODO BÍBLICO DE SALVAÇÃO – Continuidade e


Descontinuidade ..............16
II – A HERMENÊUTICA entre os TESTAMENTOS – Continuidade e
Descontinuidade ..21
III – A LEI E OS TESTEAMENTOS – Continuidade e

Descontinuidade ...........................23
12

2 CAPÍTULO 2: A HERMENÊUTICA DAS PROFECIAS E SUAS

ABORDAGENS........30

 HERMENÊUTICA INTRABÍBLICA: A Relação de Interpretação entre o AT e o

NT...30

3 CAPÍTULO 3: OS DISPENSACIONALISMOS E O REINO DE

DEUS............................38

I – A TENSÃO JÁ/AINDA
NÃO ........................................................................................48
II – ASPECTOS APLICADOS DO REINO À

IGREJA.......................................................56

4 CAPÍTULO 4: O INTELECTUALISMO ALIANCISTA E O ACADEMICISMO DO DP

– Preconceitos gerados contra o Dispensacionalismo

Normativo.................................................71

I – A INTELECTUALIDADE ACADÊMICA INFLUENCIANDO ESTE TIPO DE


HERMENÊUTICA..............................................................................................................71
II – CRÍTICAS ACADÊMICAS AO DISPENSACIONALISMO E À SUA VISÃO
HISTÓRICO-GRAMATICAL............................................................................................72

4 CAPÍTULO 5: UMA VISÃO BÍBLICA SOBRE O TRONO DE

DAVI.............................81

5 CAPÍTULO 6: A HORA DO ARREBATAMENTO E OS CÂNTIÇOS DA

EPIFANÉIA..95

I – AS RAZÕES PELAS QUAIS SOMOS PRÉ-


TRIBULACIONISTAS..........................101
II – O DIA DE
CRISTO......................................................................................................105
III – O DIA DO
SENHOR..................................................................................................106
13

IV – A NOSSA VISÃO SOBRE II TESSALONICENSSES


2...........................................107
V – OS CÂNTICOS DE

SALVAÇÃO...............................................................................111

6 CAPÍTULO 7: O PRÉ-TRIBULACIONISMO E AS 70 SEMANAS DE

DANIEL...........115

I – O ESTADO
INTERMEDIÁRIO...................................................................................118
II – AS SETENTA SEMANAS DE
DANIEL.....................................................................120
III - O LEVADO E O DEIXADO......................................................................................122

7 CAPÍTULO 8: A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO ENTRE OS

TESTAMENTOS.............125

I – OS FILHOS DE DEUS.................................................................................................127
II – O ESPÍRITO ESTARÁ ENTRE ELES OU NELES NO ANTIGO
TESTAMENTO....130
III – O A GRANDE DIFERENÇA ENTRE O AT E O NT: O Batismo no
Espírito............131
IV – A MISSÃO DO ESPÍRITO EM RELAÇÃO AO MUNDO NA ERA DA
GRAÇA...138
V – A AÇÃO DO ESPÍRITO DA TRIBULAÇÃO...........................................................141
8 CAPÍTULO 8: A NOVA ALIANÇA E O REINO DE DEUS – Uma visão consistente do
Dispensacionalismo Tradicional.............................................................................................145
9 CAPÍTULO 10: AS PARÁBOLAS DE MATEUS 13 E O REINO DE DEUS – Uma
interpretação coerente e consistente do Dispensacionalismo
Revisado...................................160
10 CAPÍTULO 11: A TRIBULAÇÃO E O PRINCÍPIO DE DORES – Uma análise
consistente do Dispensacionalismo
Tradicional.........................................................................................170
I – A DURAÇÃO DO
PERÍODO.......................................................................................170
14

II – A NATUREZA DO
PERÍODO....................................................................................171
III – ATOR PRINCIPAL DO
PERÍODO............................................................................172
IV – ARMARGEDOM: O Lugar e o
Lagar ........................................................................183
V – BATISMO COM FOGO E O
ARMARGEDOM .......................................................184
VI – O ARMAGEDOM: (A
Batalha) ................................................................................185

11 CAPÍTULO 12: O MILÊNIO DE CRISTO NA TERRA E O ESTADO ETERNO – Uma


exegese consistente do Dispensacionalismo
Tradicional.........................................................187

I – COM RELAÇÃO ÀS
NAÇÕES....................................................................................194
II – COM RELAÇÃO A
CRISTO......................................................................................195
III – COM RELAÇÃO À
IGREJA .....................................................................................195
IV – COM RELAÇÃO A
ISRAEL.....................................................................................195
V – COM RELAÇÃO A SATANÁS................................................................................195
VI – COM RELAÇÃO À
NATUREZA..............................................................................151
VI – OS JULGAMENTOS E O ESTADO

ETERNO.........................................................201

CONCLUSÃO.......................................................................................................................205

REFERÊNCIAS....................................................................................................................207

ÍNDICE DE TEXTOS DAS ESCRITURAS: Passagens bíblicas encontradas neste

livro...210
15

ÍNDICE ONOMÁSTICO.....................................................................................................213

INTRODUÇÃO

Estudar a Escatologia Bíblica hoje é um grande privilégio que a Igreja tem e uma sublime
obrigação que cada membro do corpo de Cristo recebe, dado à sua relevância conferida pela
Bíblia. Infelizmente, poucos são os cristãos que abraçam com alegria e afinco a doutrina das
últimas coisas. Aos que estudam as doutrinas, a das últimas coisas recebe atenção especial
pelos escritores sacros. E por isso muitas doutrinas cardeais do Evangelho dependem da
Escatologia para sua interpretação. Daí Henry Clarence Thiessen1destacar a relevância da
Escatologia no AT:

É fato que ela tem lugar de destaque nas Escrituras. Apesar do primeiro e
segundo adventos estarem frequentemente tão intimamente fundidos nas
profecias do Velho Testamento que fica difícil destacar uma promessa
específica que trate somente da Segunda vinda.

Thiessen 2 realça mais ainda o valor da Escatologia nas páginas do Novo Testamento:

Quando chegamos ao Novo Testamento, encontramos esta verdade


mencionada mais de trezentas vezes, ou seja, uma vez em cada vinte e cinco
versículos. Capítulos inteiros são dedicados ao assunto, como por exemplo,
Mateus 24 e 25; Marcos 13; Lucas 21 e 1ª Coríntios 15. Alguns livros
praticamente só tratam desse assunto, tais como 1ª e 2ª Tessalonicenses e o
livro de Apocalipse.

Verdade é que Cristo disse: “Porém daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do
céu, nem o Filho, mas unicamente o Pai” (Mt 24.36). Infelizmente, poucos crentes têm
abraçado com alegria e mergulhado com afinco nesta bendita doutrina que retrata a
escatologia. Daí o servo de Deus ter de ouvir a exortação de Pedro: “E temos mui firme, a
palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como uma luz que ilumina em lugar
escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em nossos corações” (II Pe 1.19).
Para realçar o valor do ensino, Emery Bancroft3 diz: “Esse assunto, tão querido à Igreja
primitiva e tão destacado no ensino e na pregação apostólica, nestes nossos dias de
pensamento e teologia modernos tem sido relegado bem para o segundo plano.” Daí o teólogo
citar a metáfora que orna a escatologia:

1
THIESSEN, Henry C. Palestras Introdutórias e Teologia Sistemática. São Paulo: IBR, 1989, p.316.
2
Ibidem, p. 317.
3
Emery H. Bancroft, Teologia Elementar (Trad. João Marques Bentes e W. J. Goldsmith), São Paulo: IBR,
1989. p.321.
16

O ensino a respeito da Segunda Vinda de Cristo tem sido, na história


eclesiástica, muito semelhante ao pêndulo de um relógio, oscilando de um
extremo para o outro. Nos dias em que o apóstolo Paulo escreveu suas duas
epístolas à igreja de Tessalônica, o pêndulo dessa doutrina se projetara até
um desses extremos. 4

A situação da Igreja de Tessalônica era tão preocupante que Bancroft 5 acrescenta:

Parece que alguns haviam chegado à conclusão de que a vinda de Cristo


estava tão próxima que a única coisa que lhes competia fazer era abandonar
todo trabalho por sua própria subsistência e aguardar o sonido da trombeta
que anunciaria a volta do Senhor. Paulo, entretanto, escreveu a segunda
epístola para regular esse pêndulo e orientar seu fervor religioso para os
canais próprios.

O termo Escatologia trata da viabilidade tripartida de definição linguística (eschata =


coisas últimas; eschaton = futuro absoluto; Eschatos = o Último, Jesus). Assim, há o
vocábulo sobre o prisma bíblico. Compete estudar a escatologia, pelo arrebatamento da Igreja,
por 7 anos de tribulação, pelos Milênio e estado eterno, abrangendo o Plano divino na
História, a revelação de Deus, as ressurreições e os julgamentos. Assim, veremos o
Dispensacionalismo e a Escatologia Bíblica, pois a mesma é relevante, o que pode ser visto na
6
afirmação de C. Ryrie: “Como existem divergências nessa área doutrinária, e porque
algumas coisas não estão muito claras, alguns supõem que a escatologia deveria ter uma
importância menor do que outras áreas da verdade bíblica. Existe alguma área da doutrina
ainda não debatida? ” Daí Ryrie 7 afirmar:

Pense sobre a Trindade, a natureza da pessoa de Cristo, o governo da Igreja,


a predestinação, a segurança eterna ou ainda os efeitos do pecado de Adão.
Pense sobre alguns conceitos difíceis de interpretar nessas áreas, como a
triunidade de Deus, deidade e humanidade unidas em uma única Pessoa, o
significado de “Filho unigênito”, o conceito de pecado imputado etc.
Embora não possamos nem devamos esquivar-nos de fazer um estudo
detalhado desses ensinamentos, tampouco devemos ignorar o que a Biblía
diz sobre o futuro.
Esta obra será trabalhada em 11 capítulos sobre crenças do DP, como via do meio,
entre os sistemas de continuidade e descontinuidade. No 1º, estes sistemas serão abordados a
partir da relação entre os Testamentos; no 2º, veremos a hermenêutica e as abordagens destes
sistemas pelo eschaton; no 3º, há os tipos de dispensacionalismos e sua ligação com o Reino;
no 4º mostraremos que o Trono de Davi não está vigorando hoje; o Messias ainda não se
assentou neste Trono, mas no do Pai ou da Graça; no 5º, há a abertura do DP quanto à hora do
4
Ibidem, p. 321.
5
Ibidem, p. 321.
6
RYRIE, Charles Caldwel. Teologia Básica: Ao alcance de Todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 510.
7
Ibidem, p. p. 510.
17

rapto da Igreja, viabilizando, além do pré-tribulacionismo, o mid-tribulacionismo, o pré-ira e


o pós-tribulacionismo; no 6º, há uma harmonia entre o pré-tribulacionismo e a 70ª de Daniel;
no 7º fala sobre a ação do Espírito no AT, no NT e na Tribulação; no 8º a Nova Aliança e o
Reino de Deus serão analisadas; no 9º, as parábolas de Jesus atreladas ao Reino; no 10º, o
princípio de dores será examinado à luz da Bíblia; enfim, no 11º analisaremos o quiliásmo e o
Estado Eterno.

CAPÍTULO UM
__________

A RELAÇÃO ENTRE OS TESTAMENTOS:


Dispensacionalistas/não dispensacionalistas

Esta relação, na verdade, se constitui no âmago dos debates sobre a escatologia e a


eclesiologia acerca do futuro; por isso, iniciamos este trabalho com este tema para nos
situarmos melhor nas análises que serão desenvolvidas ao longo dos demais capítulos. Nesta
conjuntura, estabelecem-se os sistemas de continuidade e descontinuidade no progresso da
história da humanidade, e também a trajetória de Israel em o AT e a jornada da Igreja em o
NT, e ainda a lei de Moisés em relação à lei de Cristo; e mais, a teologia expressa ao longo da
eclesiologia; e enfim, o modo como Deus executa Seu plano de salvação nos séculos e nos
tempos vindouros.
Para esta empreitada inicial, é necessário recorrermos a um material recomendável e
significativo neste processo, o livro Continuidade e Descontinuidades: perspectivas sobre o
relacionamento entre o Antigo e o Novo Testamentos, publicado, no Brasil, pela editora
18

Hagnos, organizado pelo Dr. John S. Feinberg. Nesta Obra, dedicada ao teólogo e pregador S.
Lewis Johnson Jr, dezesseis escritores se unem em escrita-debate, em defesa dos sistemas de
continuidade e descontinuidade entre os Testamentos, deixando com os leitores a palavra final
sobre estes sistemas. Por isso, resolvemos sintetizar algumas daquelas posições sobre estes
dois sistemas, a fim de desenvolvermos a temática desta obra. Comecemos com o sistema de
continuidade, à luz da teologia reformada, que o expressa. A sua visão não se desvencilha
da

estrutura pactual. Por isso, Willem VanGemeren 8 advoga a tese da estrutura pactualista:

Como perspectiva teológica, a estrutura pactual também nos ajuda a


descobrir nossa relação com Israel no passado, para compreendermos o lugar
do homem na criação de Deus, desfrutar a presença e orientação do Pai na
história da redenção, a unificação da salvação no mediador Jesus Cristo,
tanto para com Israel sob a antiga aliança, e o ministério do Espírito de Deus
em transformar a nossa vida, a estrutura pactual encoraja a sinceridade em
relação a Deus e seu mundo e encoraja a comunidade cristã a olhar para o
fim desta era e para a renovação do céu e da terra. Os dois testamentos
juntos dão testemunho de Deus em Cristo, e esta mensagem é o foco da
Escritura.

Em contraposição a esta síntese, tão bem elaborada, John Feinberg 9 assevera que: “A
característica do pensamento dispensacionalista é sua ênfase no progresso da revelação. Deus
dá diferentes ordens de direcionamento para o mundo em tempos diferentes, e novas ordens
instituem uma nova dispensação. Do AT ao NT nem tudo muda, mas muita coisa se torna
mais clara. ” Um dado de grande relevância neste processo é esta relação entre os
10
Testamentos. Por isso, Feinberg acrescenta: “Os pensadores dispensacionalistas e não
dispensacionalistas concordam que o NT cumpre o AT e é uma revelação mais completa de
Deus; mas há discordância quanto ao que isso significa para a prioridade de um Testamento
sobre o outro.”
Concordamos com John Feinberg, que era um dos filhos de um dos proponentes do
Dispensacionalismo Revisado, Charles Feinberg. Podemos afirmar que a continuidade no AT
não consegue eximir o processo de descontinuidade encontrado em cada um deles. Isto é fato
e expressa a revelação de Deus ao longo da história, como progressiva. Mas, ao pensarmos
em Israel e na Igreja, entre o judaísmo e o cristianismo, a lei e a graça, o AT e o NT, não há
como negar algumas rupturas e muitas evoluções a demonstrar um processo de
8
FEINBERG, John. Continuidade e Descontinuidade: perspectiva sobre o relacionamento entre o Antigo e o
Novo Testamentos: ensaios em homenagem a S. Lewis Johnson Jr. In VANGEMEREN, Willem. Sistema de
Continuidade. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 65 e 66.
9
Ibidem, p. 85.
10
Ibidem.
19

descontinuidade, ponto nevrálgico de distinção entre não dispensacionalistas e


dispensacionalistas, como modo hermenêutico que ambos têm em relação ao Antigo
11
Testamento e o Novo Testamento. Esclarece este ponto Feinberg: “Os não
dispensacionalistas começam com o ensino do NT tendo prioridade e depois voltam para o
AT. Os dispensacionalistas começam frequentemente com o AT, mas onde quer que
comecem eles exigem que o AT seja tomado em seus próprios termos, não reinterpretados à
luz do NT.”

I – O MÉTODO BÍBLICO DE SALVAÇÃO – Continuidade e Descontinuidade:

Sobre a soteriologia nas alianças e dispensações sob a ótica dos não


dispensacionalistas, em especial, os defensores da Teologia da Aliança ou Reformada, é
relevante analisar o que diz Fred Klooster quanto a queixa de Ryrie e Feinberg sobre os
teólogos, a exemplo do velho Hodge (Charles) e Barton Payne, que acusavam o
dispensacionalismo de ensinar múltiplos caminhos de salvação. O Dispensacionalismo tem
um único método de salvação em todos os tempos; mas há uma diferença entre reformados e
12
dispensacionalistas nesta questão: O conteúdo da salvação. Klooster o exemplifica na visão
de dois teólogos neste tema: “[...]. Recorrendo especialmente a Hebreus 11, ele [Feinberg]
responde: A fé, então, é reconhecida por todos como requisito para salvação. ” Isso leva à
indagação: “Mas fé em que ou em quem? ” Então o tema vira “o revelado conteúdo da fé”.
Klooster 13 aponta as diferenças entre reformados e dispensacionalistas:

Nesse ponto, Feinberg discorda de Charles Hodge sobre quem ele entende
dizer que “em todas as dispensações, Jesus Cristo é o redentor. ” Se Hodge
estava se referindo à obra de Cristo como “a base da redenção para todas as
épocas, ” Feinberg poderia concordar, desde que “Cristo é o redentor em
todas as épocas”. Mas ele “tem problemas enormes” se Hodge quer dizer
“que Jesus foi literalmente o conteúdo revelado apresentado aos homens
desde o princípio”. Assim, Feinberg se concentra em dois assuntos: “o
conteúdo revelado apresentado” e “o quanto de compreensão” as pessoas de
dada dispensação tiveram.

Feinberg diz que os crentes do AT não tinham condições de crer que Jesus era o
Cristo. Se pensarmos como Hodge, podemos negligenciar o progresso da revelação. Em

11
Ibidem.
12
FEINBERG, John. Continuidade e Descontinuidade: perspectiva sobre o relacionamento entre o Antigo e o
Novo Testamentos: ensaios em homenagem a S. Lewis Johnson Jr. In KIOOSTER, Fred, H. O método bíblico
de salvação: um caso para a continuidade. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 161.
13
Ibidem, In KLOOSTER, Fred, H. p. 161.
20

14
contrapartida à Feinberg, Klooster diz que o único método de salvação está associado à
teologia reformada:

[...], todas as promessas de Deus, desde a criação e da queda em diante,


serão completamente cumpridas. Haverá apenas um reino, o reino de Deus,
restaurado, consumado. Deus será seu rei por meio da vitória do seu Filho.
Um novo céu e uma nova terra será seu domínio. E todos os redimidos pelo
sangue de Cristo serão seus cidadãos.

Klooster15 enfatiza questão soteriológica e o aliancismo. Isto é relevante para


entendermos o pactualismo, nesta área, e vermos que a salvação não é um ponto a ser
discutido nesses sistemas, por eles se concentrarem na eclesiologia e na escatologia, e não na
soteriologia:

Todos eles percorrerão o caminho da salvação, do paraíso perdido ao paraíso


recuperado e comerão da árvore da vida (Ap 22.14). A aliança e a igreja
terão executado sua função instrumental e terão atingido seu objetivo. Até as
diferenças evangélicas relativas ao milênio serão resolvidas, e somente a
verdade prevalecerá. Deus será tudo em todos. Soli Deo Gloria!

No que concerne à visão da soteriologia, pelos dispensacionalistas clássicos e


revisados, entre os Testamentos, vale a pena pensar na tese exposta por Allen P. Ross, que
separa 2 pontos para a continuidade da salvação, que são: “A salvação é pela graça” e “A
salvação é mediante a fé”; mas, ele destaca que, em termos de descontinuidade, há quatro
outras situações: “O conteúdo da fé” e “A expressão da fé”, “A obra do Espírito Santo” e “A
expectativa do salvo”.
16
Sobre a salvação pela graça em todos os tempos, Ross deixa claro que este ponto é
pacífico aos dispensacionalistas, e que, apesar das críticas infundadas dos não
dispensacionalistas de que o sistema dispensacional aborda métodos distintos de salvação nas
dispensações, mas isto não é verdade, os dispensacionalistas veem na graça a fonte da
salvação:

A afirmação do apóstolo de que a salvação é pela graça de Deus – é dom de


Deus; não vem das obras, para que ninguém se orgulhe (Ef 2.8-9) – aplica-
se igualmente à salvação no AT. Que este é o caso pode-se sustentar
teologicamente, à luz do fato de que nenhum ser humano, além de Jesus
Cristo, jamais foi capaz de ter uma vida justa e, assim, merecer a salvação.
Neste contexto, como afirmamos acima, Ross17 faz questão de realçar que a fonte da
salvação, em todos os tempos é a graça, não esquecendo de deixar claro os modos distintos de
14
Ibidem.
15
Ibidem.
16
Ibidem.
17
Ibidem, ROSS, Allen, P. O método bíblico de salvação: um caso para a descontinuidade, 2013, p. 197.
21

como a graça se manifesta ao longo da história, até culminar com o Seu advento na plenitude
dos tempos. Aqui há o progresso da revelação chegando a seu clímax no Filho (Hb 1.1-3):

O AT declara que não há quem faça o bem, não há nenhum sequer (Sl 14.1-
3), e o NT afirma que isso ainda é verdade (Rm 3. 10-12). De fato, o AT
explica que se Deus tratasse os humanos pelos méritos deles – isto é,
anotasse seus pecados – ninguém permaneceria; mas há perdão (Sl 130.2,4).
O ensino do AT é claro – A única forma de salvação é pela graça de Deus.
Sua graça pode ser revelada de diferentes maneiras, de tempos em tempos,
mas permanece a base da salvação.
O Dispensacionalismo não crer em múltiplos caminhos de salvação, antes da Era da
Graça (Ef 3.2). A graça de Deus vigora em todos os tempos. Isto é mostrado categoricamente
por Pedro, naquela calorosa assembleia, feita pela igreja em Jerusalém no ano 50 a. D.:

E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando o Espírito


Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e
nós, purificando os seus corações pela fé. Agora, porque tentais a Deus
pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós
pudemos suportar? Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor
Jesus Cristo,
como eles também (At 15.8-11).
18
No que concerne a salvação mediante a fé, Allen Ross demonstra claramente que
este elemento é corroborado tanto pelo Antigo Testamento quanto pelo Novo Testamento. Isto
significa que a fé salvadora é o instrumento essencial para trazer a salvação aos homens em
todas as épocas, independente das suas dispensações (Rm 10.17):

A Escritura afirma também que o único requisito para a salvação é a fé; e a


fé em si não é uma obra meritória, mas um dom de Deus (Ef 2.8). Que a
salvação foi pela fé no AT está claramente afirmado em Hebreus 11. E
qualquer interpretação dos salmos e dos profetas revelará como a fé foi
fundamental no mundo do AT (Sl 7.1;11.1;107.2, 6,13,19,28; Is 7.9; Jl 2.32;
Hc 2.4).
Ross 19
traz como ponto crucial da sua argumentação, por um texto central,
exemplificado por ele, a pessoa do “pai da fé” Abraão a corroborar a ideia do autor de que o
patriarca-mor de Israel pode retratar a situação dos crentes do AT sobre a soteriologia no AT:

Mas a passagem principal sobre o assunto certamente é Gênesis 15.6, porque


a passagem é citada por Paulo para mostrar que a salvação foi e é pela fé,
não pelas obras. [...] Assim, Gênesis 15.6 é de fato uma declaração sobre a fé
salvadora pela qual Deus credita justiça. O significado do versículo se
harmoniza completamente com o ensino do NT, como confirma o uso feito
por Paulo dos versículos.

18
Ibidem.
19
Ibidem, p. p. 201.
22

Mas, Ross 20 alertar sobre algo relevante para entendermos o progresso da revelação no
tocante à soteriologia, que é o conteúdo da fé na salvação dos crentes do AT:

Interpretar a revelação do NT retroagindo ao AT como conteúdo de fé


salvadora é ignorar duas considerações importantes. Primeira, ignora-se o
fato da revelação progressiva. Se for preferível falar dos dois Testamentos
como uma sequência contínua, como muitos sugerem, então a revelação
progressiva seria uma consideração necessária, visto que ela tomaria o NT
para completar a revelação.
Na sua argumentação, Ross21 cita Payne, um pré-milenista histórico, para mostrar que
muitas coisas do plano salvífico de Deus, ainda não atingiam a compreensão dos crentes do
At:

O próprio Payne diz: “Para deixar Deus satisfeito, era preciso que Deus
morresse, que os homens precisavam herdar Deus, para estar com Deus,
eram coisas incompreensíveis no Antigo Testamento com seu conhecimento
embrionário acerca da tribulação, da encarnação e da crucificação seguida da
ressurreição. ”
É pertinente aprofundar mais este conteúdo, tomando como exemplo o patriarca
Abraão, o qual, segundo Ross, exemplifica bem a questão do progresso da salvação, pois no
tempo do AT a salvação ocorria mediante a fé, entretanto, o conteúdo desta fé variava de
época a época. Ross 22 traz também um texto de Isaias a expressar o progresso da revelação do
AT para o NT:

Foi assim até o tempo de Isaias, quando a visão de um servo começa a


emergir, mostrando sofrimentos não apenas vicários ou substitutivos, mas
também como oferta pelo pecado (Isaias 53.10). Se a compreensão do
cântico de Isaias foi clara e ampla, é difícil dizer. As palavras do apóstolo
Pedro sugerem fortemente que até mesmo os profetas tiveram dificuldade
em combinar as profecias. Mas até mesmo se o próprio Isaias
compreendesse isso como uma profecia messiânica sobre a base da salvação,
ainda assim seria preciso o NT para revelar que Jesus Cristo, o Filho de
Deus, foi aquele cujo sangue derramado seria a base da salvação.

Isto pode ser percebido em o NT quando homens como Felipe consegue revelar ao
Eunuco que o profeta Isaias fazia referência não a ele mesmo, mas a Jesus, que era o Cristo.
(At 8.30-37). Isaias não tinha esta compreensão de Felipe, no que concerne ao conteúdo da fé.
Ele falava do Messias, mas não sabia que Jesus de Nazaré, 750 anos depois, seria o Cristo.
João, o Batista, maior profeta do AT: “Em verdade vos digo que, entre os que de
mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João, o Batista; mas aquele que é
menor no reino dos céus é maior do que ele” (Mt 11.11), contemporâneo de Cristo, que viu o
20
Ibidem, p. 203.
21
Ibidem, p. 205.
22
Ibidem, p. 209.
23

que nenhum dos crentes do AT tiveram o privilégio de ver: “Porque em verdade vos digo que
muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós
ouvis, e não ouviram.” (Mt 13. 17). Só o Batista viu a Cristo, objeto principal de sua profecia:
“Eu vi e tenho testificado que este é o Filho de Deus” (Jo 1.34). Ele foi o último profeta do
AT: “Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João” (Mt 11.13). Mas, até o Batista
demonstrou possível dúvida sobre se Jesus era ou não o Ungido, o Messias, o Cristo: “João,
ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, enviou dois dos seus discípulos, a dizer-lhe: És
tu aquele que havia de vir ou esperamos outro? ” (Mt 11.2-3). Jesus respondeu a partir dos
milagres e do evangelho (Mt 11.4-6). Não sabemos se a dúvida era de João ou dos seus
discípulos. O certo é que pairava uma incerteza.
Sobre a expressão da fé, Ross23 diz que a fé dos crentes do AT se expressava de modo
distinto da fé que se expressa nos cristãos, e os sacrifícios o comprovam; e isto não é de se
estranhar, pois, se há progresso da revelação, há a evolução dessa fé no contexto
dispensacional:

Embora os sacrifícios estejam mais ligados à doutrina da santificação, é


apropriado incluí-los numa discussão sobre a obtenção da salvação, porque
os sacrifícios têm um significado geral de expiação e perdão e também
prenunciam especificamente a obra redentora de Jesus Cristo. Podemos ler
no NT sobre a eficácia da expiação de Cristo realizada em caráter definitivo
e podemos falar de salvação como a ocasião em que um indivíduo se
converte a Jesus Cristo e encontra perdão.

Ross24 acrescenta ainda o modo como o AT trata a questão da regeneração do salvo.


Os crentes do AT eram regenerados, senão nunca poderiam ser salvos. Mas a visão de este
lavar regenerador (Tt 3.6,7) como vemos hoje em o NT não era tão clara para eles como o é
para nós:

Mas o AT não fala de forma tão específica sobre ser salvo, sobre conversão
ou sobre regeneração. Devemos nos contentar em dizer que, por sua graça,
Deus possibilitou a entrada do povo numa relação pessoal com ele (ele os
elegeu, deu suas promessas, proveu o ritual para expiação); e, assim, os
indivíduos entraram nesse relacionamento pela fé, crendo nas promessas de
perdão dos pecados e na bênção. A fé do povo se expressou através da
obediência à lei e da adoração sacrificial, para a manutenção e desfrute do
seu relacionamento espiritual.

23
Ibidem, p. p. 212-213.
24
Ibidem.
24

Sobre a obra do Espírito Santo na salvação25 no AT, Ross26 faz a distinção acerca do
agir do Paracleto entre os Testamentos, destacando o batismo no Espírito com esta
diferença:27

Há duas diferenças entre os Testamentos que precisam ser mencionadas. A


primeira é a obra do Espírito Santo na salvação. Diz-se que os que são salvos
no NT estão “em Cristo” (2 Co 5.17), são parte do corpo de Cristo (1 Co
12.12-27). A aquisição dessa posição é pelo batismo do [sic]28 Espírito
Santo, como Paulo afirma: Pois, em um só Espírito, todos nós fomos
batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer
livres. E a todos nós foi dado beber de um Espírito (1 Co 12:13).

Ainda sobre o Batismo no Espírito e o AT vale a pena observar a análise de Ross: 29

Essa terminologia não é usada pelos crentes no AT. Além disso, João disse
que depois dele Jesus viria e batizaria com o Espírito Santo (Mt. 3.11), e
Jesus ensinou que ele enviaria o Espírito depois que fosse embora (Jo 16.12;
At 1.5,8). O cumprimento dessa promessa começou no Pentecoste (At 2).
Assim, fica claro que o batismo do [sic] Espírito Santo foi uma nova etapa
no desenvolvimento da administração de Deus, em sua forma de operar a
salvação.

Não pode passar despercebida a questão da expectativa do salvo veterotestamentário


tanto no contexto soteriológico quanto no âmbito escatológico, pois esta realidade é patente
no AT, visto que os crentes daquele período criam no Redentor olhando para o futuro, para a
Sua Obra de redenção a ser realizada em favor deles. Enquanto os cristãos olham para o
30
passado, para a Obra que se realizou no calvário. Daí Ross pontuar a esperança do salvo no
AT:

O outro ponto que deveria ser observado diz respeito à expectativa do salvo.
Esta matéria não é de fato parte do assunto do método de salvação – ao
contrário, pertence à escatologia. Mas podemos mencionar rapidamente que,
em relação ao assunto em pauta, o conceito de salvação no AT foi diferente.
No AT, a expectativa do salvo (se é que podemos usar esta expressão) estava
relacionada às promessas da aliança, mas especificamente na sua ligação das
promessas com esta vida e com este mundo. A esperança de livramento de
inimigos, descanso na terra e comunhão com Deus.

25
Nota: Este assunto será trabalhado neste livro, com mais afinco, no capítulo 7, das páginas 101 a 117.
26
Ibidem.
27
Nota: Sobre esta distinção, analisaremos de forma mais profunda este batismo no capítulo 7, que trata da ação
do Espírito Santo no AT, em o NT e no período tribulacional (c.f das páginas 103 a 113)
28
Nota: Colocamos o sic na citação por entendermos que o Espírito Santo não é o agente batizador, por isso o
batismo não é dEle. Quem batiza é Jesus Cristo (Mt 3.10-12). A expressão correta deveria ser, como está no
texto paulino: em um = no, ou ainda se pode se usar a preposição com, mas nunca a preposição do ou pelo
Espírito Santo.
29
Ibidem, p. 213.
30
Ibidem, p. 214.
25

Ross 31
faz questão de destacar a expressão escatológica mundo vindouro como um
fator hermenêutico que serve de auxílio a externar esta expectativa no período
veterotestamentário:

O perdão do pecado capacitou o crente a viver na comunidade da aliança e


compartilhar das esperanças dessa comunidade. Portanto, a extensão
escatológica da esperança deles encontra-se na expressão rabínica. “O
mundo vindouro”. No NT existe uma ênfase maior da salvação. Enquanto o
crente do AT teve a expectativa do cumprimento das promessas, começando
na experiência desta vida, a expectativa do crente do NT, mais
frequentemente, parece ter passado disso para a glorificação.

O dispensacionalismo não se ocupa com questões soteriológicas. As discussões


ligadas com este sistema enfatizam a eclesiologia e a escatologia. Assim, não há
descontinuidade entre os Testamentos quando o tema é a graça como fonte da salvação, que
foi e sempre será a graça do Senhor Jesus (Ef 2.8-10). Isto para todas as dispensações. Por
32
isso, Ross diz que “Qualquer descontinuidade que existe, ocorre em vários aspectos da
salvação – particularmente no conteúdo da fé, na expressão da fé, na obra do Espírito Santo e
na esperança do salvo”.

II – A HERMENÊUTICA ENTRE OS TESTAMENTOS – Continuidade e Descontinuidade:

O progresso da revelação, na visão dispensacionalista, que não só é enfatizada pelos


não dispensacionalistas, mas também pelos que fazem com que este sistema de
descontinuidade não ignore os flashes de continuidades entre os Testamentos. Esta posição é
33
mais plausível do que a estrutura pactual. Feinberg diz: “A característica do pensamento
dispensacionalista é sua ênfase no progresso da revelação. Deus dá diferentes ordens de
direcionamento para o mundo em tempos diferentes, e novas ordens instituem uma nova
dispensação. Do AT ao NT nem tudo muda, mas muita coisa se torna mais clara. ” Feinberg
34
adiciona a distinção das abordagens dispensacionalistas e não dispensacionalistas sobre a
hermenêutica35 entre os Testamentos:
Os pensadores dispensacionalistas e não dispensacionalistas concordam que
o NT cumpre o AT e é uma revelação mais completa de Deus; mas há
discordância quanto ao que isso significa para a prioridade de um
Testamento sobre o outro. Os não dispensacionalistas começam
frequentemente com o AT, mas onde quer que comecem, eles exigem que o
AT seja tomado em seus próprios termos, não reinterpretados à luz do NT.

31
Ibidem.
32
Ibidem, p. 193.
33
Ibidem.
34
Ibidem, Feinberg, p. 85.
35
Nota: Será trabalhada, de maneira mais acurada, as abordagens hermenêuticas das profecias e, principalmente,
a hermenêutica complementar do Dispensacionalismo Progressivo no capítulo 9, das páginas 26 a 33.
26

Neste contexto, refletirmos nas palavras do amilenista Gaspar de Souza,36 na VIII


Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um debate sobre o
milênio, da Escola Charles Spurgeon, em debate com Augustus Nicodemus Lopes, Antonio
Neto e Felipe Sabino, a temática da continuidade e da descontinuidade entre os Testamentos:

Sempre que os estudiosos abordam o pós-milenismo, amilenismo e pré-


milenismo a questão da continuidade e descontinuidade entre os
Testamentos vêm à tona. Há acusação dos dois lados no tocante ao uso dos
Testamentos. A primeira é: Se a pessoa der prioridade ao AT é vista como
um judaizante; se a prioridade for para o NT, a pessoa é vista como um
marcionita [...]. Não creio que a ordem deveria ser o At acima do NT ou
vice-versa. Acredito que há uma continuidade em três pontos: histórica,
lógica e bíblica. Os amilenistas não são unanimes em admitir o NT como
prioridade. Existem amilenistas que não fazem assim, Mark Dever, por
exemplo relaciona o AT e o NT como promessa e cumprimento. Seus livros
versam sobre o AT como promessa feita e o NT promessa cumprida.

Para O. Palmer Robertson,37 em O Cristo dos Pactos, a temática das antiga e nova
alianças expõe o progresso da revelação entre os testamentos pelo que ele chama matéria-
prima:

A experiência da vida do crente em qualquer época terá sempre um


relacionamento direto com a revelação que se fez acessível até esse ponto. A
autorrevelação de Deus através dos tempos pode ser considerada como a
“matéria-prima” usada pelo Espírito Santo para aplicar os benefícios da
redenção de vida do crente. Por essa razão, o progresso na experiência de
vida.

Robertson38 fala sobre uma distinção das experiências experimentadas entre crentes
do AT e cristãos do NT. Ele fala em mesmas realidades, abordando a diferença nos dois
pactos:

O crente, sob a antiga aliança, pode ter experimentado, em essência, as


mesmas realidades de redenção experimentadas pelo crente sob a nova
aliança. Mas revelação ampliada implica também experiência mais profunda
e mais rica da libertação do pecado e suas consequências.

Os perigos desta visão de Palmer se ampliam, não na aplicação dos benefícios da


Graça a todos os que creem em todas as épocas, mas em trazer a Nova Aliança e seu
cumprimento profético à Igreja, pondo de lado ao Israel étnico. E isto se liga à hermenêutica
de cada sistema.
36
SOUZA, Gaspar. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um debate sobre
o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 1/3, 2014. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?v=raC0S
oa28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
37
ROBERTSON, O. Palmer. O Cristo dos Pactos. Uma análise exegética e teológica dos sucessivos pactos
bíblicos e do seu papel no desenvolvimento da revelação de Deus. São Paulo: Editora Cultural Cristã, 2002, p.
150.
38
Ibidem, p. 150.
27

E é válido estarmos cientes de que o progresso da revelação não pode cancelar promessas
incondicionais. Assim, Ladd, citado por Feinberg, 39 chama a atenção ao âmago da questão:

Aqui está o divisor de águas básico entre uma teologia dispensacionalista e


uma não dispensacionalista. O dispensacionalismo forma sua escatologia por
uma interpretação literal do Antigo Testamento e então ajusta o Novo
Testamento dentro dela. A escatologia não dispensacionalista forma sua
teologia do ensino explícito do Novo Testamento.

Ainda que reformados, a exemplo de Palmer, e progressivos, como Darrel Bock,


insistam que a nova aliança e o reino messiânico já vigoram como inaugurados no presente, é
preciso entendermos que a progressão da revelação se insere no sistema de descontinuidade
dos dispensacionalistas, apesar de não descartarmos algumas continuidades durante o
40
processo. Por esta razão, Feinberg sintetiza a sua argumentação acerca da hermenêutica
desse sistema:

Resumindo, a hermenêutica dispensacionalista não ignora o progresso da


revelação, nem a natureza temporária de muito do AT, nem a tipologia.
Entretanto, esses itens são usados pelos sistemas não dispensacionalistas
para enfatizar a prioridade do NT sobre o AT. Geralmente, quanto mais se
enfatiza a continuidade, mais se coloca prioridade sobre o NT como
normativo para a compreensão do AT. E, geralmente, quanto mais se
enfatiza a descontinuidade, toma-se cada Testamento em separado e menor é
a tendência de ver a compreensão de um Testamento como normativo pelo
outro.

III – A LEI E OS TESTAMENTOS – Continuidade e Descontinuidade:


41
É importante continuar com a argumentação de Feinberg em relação a uma tese
presente entre os não dispensacionalistas: a não repetição do ensino do AT pelo NT:

[...] a falta de repetição no NT não faz com que um ensino do AT se torne


sem efeito durante a era do NT, desde que nada o cancele implícita ou
explicitamente. A incondicionalidade das promessas a Israel garante que o
NT não as remove de Israel nem mesmo implicitamente. As leis civis e
cerimoniais e as instituições do AT são sombras e são explicitamente
removidas no NT. Mas as promessas incondicionais não são sombras, e nem
são os povos a quem elas são dadas.
Isto é muito importante para a relação entre os Testamentos. As sombras falam da lei:
“Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, pelos
mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles
se chegam”. (Hb 10.1) e ainda: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou
por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas
39
Ibidem, LADD apud Feinberg 2013, p. 85.
40
Ibidem, p. 90.
41
Ibidem, p. 87.
28

futuras, mas o corpo é de Cristo” (Cl 2.16-17). No que concerne às promessas, a coisa é
diferente, pois as alianças e as promessas se inserem e estão bem relacionadas com o povo
judeu: “Que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o
culto, e as promessas. ” (Rm 9.4).
Acerca da lei e dos Testamentos é relevante nos conscientizarmos sobre as diferenças
de trato com a lei entre os períodos. Do lado do sistema de continuidade, ocorre uma ênfase
entre a lei de Moisés e a lei de Cristo como idênticas. Knox Chamblin 42 diz que “lei de Cristo
não é diferente da lei de Moisés: não há uma nova lex. Toda lei vem de Deus; e cada uma é
dada para o mesmo propósito – ordenar o amor a Deus e o amor ao próximo (Mt 22. 37-40)”.
43
Neste contexto, Chamblin mostra até onde vai a descontinuidade entre AT e NT
sobre a lei: “Portanto, de fato existe descontinuidade, mas a descontinuidade está relacionada
à forma ou ao modelo da lei, em vez de ao seu ser ou essência, e ocorre numa estrutura de
continuidade.” Ele se refere a lei, findando com a segunda Vinda, advogando que o reino já
foi inaugurado:

Cristo é objetivo ao qual o AT se direciona e a realidade à qual ele


testemunha. Com João Batista e Jesus, a época dos “profetas e da lei”
termina e começa os últimos dias (Mt 11.11-13). Jesus vem não para abolir
a lei e os profetas [...] mas cumprir (5.17), tanto completando-os (pela
inauguração do reino, ele traz o AT ao seu objetivo designado) como
realizando-os (por seus ensinos e suas ações, ele expressa perfeitamente
todos os aspectos do relacionamento pactual com o qual Deus reuniu seu
povo por meio de Moisés e dos profetas).44

De fato, a lei vigora até a segunda vinda de Cristo, aliás, até ao final do milênio ou
consumação dos séculos. Mas esta vigência, no âmbito soteriológico, se mantém presente é na
condenação do ímpio. Em Romanos 7.1, Paulo estabelece o princípio de que o domínio da lei
é vigente sobre o homem durante o tempo em que ele vive. Isto significa que a lei permanece
atuante na vida do ímpio, como um marido que impõe suas normas sobre a mulher. No
entanto, em se tratando do cristão, é diferente. Neste contexto, vale ressaltar a ilustração que
Paulo apresenta aos romanos e na sua aplicação feita no texto. Vejamos, primeiro a ilustração:

Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem
domínio sobre o homem por todo o tempo em que vive? Porque a mulher
que está sujeita ao marido, enquanto ele viver está-lhe ligada pela lei; mas,
morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido,
será chamada adúltera se for de outro homem; mas morto o marido, livre
está da lei, e assim, não será adúltera, se for de outro marido (Rm 7.1-3).

42
Ibidem, CHAMBLIN, Knox. A lei de Moisés e a lei de Cristo, 2013, p. 219.
43
Ibidem, p. 221.
44
Ibidem, p. p. 226-227.
29

Quando Paulo faz a aplicação da ilustração, mostra que nós, Igreja de Cristo, como
mulher da lei, morremos para este antigo marido, com o objetivo de sermos de outro esposo, a
saber, Jesus Cristo: “Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de
Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos
frutos para Deus”. (Rm 7.4). Isto quer dizer que a lei é marido, hoje, do homem vendido sob o
preço do pecado, no mundo; mas, em relação à Igreja, as coisas mudam. O corpo de Cristo,
crucificado no calvário, cancelou “[...] o escrito de dívida que era contra nós e que constava
de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-os inteiramente, encravando-o na cruz”
(Cl 2.14). Seu domínio atual é para a condenação dos homens e não para a salvação dos
cristãos, os quais tem em Cristo o cumprimento da lei o casamento da graça.
45
Em contraste à tese de Chamblin, Douglas Moo fala em temporalidade da lei ligada
à primeira vinda de Cristo e Seu ministério de 3 e ½ anos em Israel, como Messias,
cumprindo a lei de Moisés. Aqui há mais descontinuidade, quando se trata do “fim” da lei
(Rm 10.4):

O propósito de Paulo é, então mostrar que a lei teve o objetivo de regular a


vida do povo de Deus por um período de tempo. Ela impôs regras,
comportamento cauteloso e serviu para revelar, confinar e estimular o
pecado. Tudo isso foi planejado por Deus como preparação para a era do
cumprimento que chegou em Cristo, na qual os escravos se tornaram filhos
por meio da redenção produzida por Cristo e pelo dom do Espírito.

Moo46 ao analisar Romanos 10.4, mostra que o texto não implica necessariamente a
continuidade da lei, embora fim também não se restrinja ao término da lei na teologia de
Paulo:

No contexto da teologia de Paulo, dizer que Cristo é o da lei é o


mesmo que dizer que ele é o ponto culminante para a lei mosaica. Ele é o seu
“objetivo”, no sentido de que a lei sempre previu e esperou ansiosamente por
Cristo. Mas ele é também o seu “fim”, visto que nele o cumprimento da lei
encerra aquele período de tempo quando a lei foi um elemento fundamental
no plano de Deus. As duas ideias são claramente apresentadas no contexto:
Paulo censura os judeus por falharem em ver que a lei teve outros propósitos
além de um apelo às obras (9.31,32) e também por não reconhecerem a
justiça de Deus (10.2,3), uma justiça que se manifestou sem lei (Rm 3.21).

Feinberg47 explica ao leitor que o Dispensacionalismo não tem como sine qua non a
seu sistema à vigência, ou não, da lei hoje. Ele diz de que não é norma do sistema ser contra a
lei:

45
Ibidem, MOO, Douglas J. A lei de Moisés e a lei de Cristo, 2013, p. 261.
46
Ibidem, p. 252, 253.
47
Ibidem, FEINGERG, p. 79.
30

Finalmente, o entendimento dispensacionalista da lei não é essencial ao


sistema. Alguns argumentam que o dispensacionalismo impõe o
antinominismo, visto que os dispensacionalistas alegam que a lei foi abolida,
porque Cristo é o fim da lei (Rm 10.4). Embora alguns possam sustentar esse
ponto de vista, dificilmente ele é a norma ou os dispensacionalistas precisem
dele.

48
Acerca da obediência à lei, Chamblin demanda a necessidade de obedecê-la por
causa de Cristo e não como um fator de satisfação ao outro. Para tanto, Ele cita Colossenses
2.19-23:

[...] não defende a abolição de ‘regras’ e ‘normas; ’ ao contrário, adverte os


leitores de que, sob a influência dos rudimentos  não permitam que
as tradições humanas suplantem a lei de Deus (v.22,8), adorando a lei em
vez de adorar a Deus (v. 17-19), obedeçam a lei por causa dos homens, e não
por causa de Deus (v. 16a), e assim se tornem arrogantes (v. 18,23). A única
esperança dos que guardam a lei é se apegar a Cristo, a cabeça (v. 19). Ele é
a realidade que todas as regras mosaicas predisseram (v. 16,17).

É importante pensar a vigência desta lei e a obediência dos cristãos a ela. Daí Paulo
Sérgio Batista, no livro Os 7 mitos do adventismo, dizer: “A Bíblia é muito explicita ao
afirmar que a lei foi anulada pela cruz de Cristo (Cl 2. 14,15)”. 49 Infelizmente, muitos
pactualistas caem na tentação de, em nome desta vigência na Graça, ensinar às igrejas, por
exemplo, que o sábado é trocado pelo domingo como dia de guarda ao cristão. Tentam
estabelecer as mesmas normas que eram direcionadas ao sábado aos judeus, aplicando-as à
Igreja. Por isto, Batista50 afirma:

Em primeiro lugar, é importante sabermos que a Igreja do primeiro século


não ‘guardava o domingo’, pois não existe um único texto das Escrituras que
afirme isto. No passado, assim como hoje, a Igreja ‘observava o domingo’
como dia especial de culto, pelo evento que ocorrera, a ressurreição no
primeiro dia da semana (João 20. 1-9).
Ele afirma que Jesus, como Mestre da lei, não a aboliu, mas a cumpriu, e que a lei de
Cristo é a mesma lei de Moisés, a qual, segundo Chamblin 51será cumprida até a consumação:

A antítese de 5.21-48 (ouvistes que foi dito aos antigos [...]. Eu, porém, vos
digo) aponta não para uma diferença de assunto (Jesus não substitui, mas
interpreta a lei), mas para uma mudança de tempo (o eschaton havia
chegado) e de mestre (Jesus havia chegado para expor sua própria lei).

48
Ibidem, p. 229.
49
BATISTA, Paulo Sérgio. Os 7 Mitos do Adventismo. São Paulo: CEKAP, 2011, p. 186.
50
Ibidem, p. 191.
51
Ibidem, CHAMBLIN, Knox. A lei de Moisés e a lei de Cristo, 2013, p. p. 230-231.
31

52
Outro fator relevante na análise pactualista de Chamblin, é o modo como ele
sustenta a inauguração do reino, como resultado do fim da lei enquanto era e não como
sistema e normas:

A inauguração do reino e a chegada do rei messiânico produzem o fim da


era da lei, mas não da própria lei. Ao contrário, o próprio rei declara que a
lei mosaica será preservada em sua integridade até que tudo se cumpra (v.
18b) – isto é, Até que o céu e a terra passem (v. 18a) – ou seja, até que o
reino de Deus seja consumado e sua vontade seja feita na terra da mesma
forma que é feita no céu (6.10; c.f 24.34,35).
É patente ao autor a vigência da lei se estendendo até ao fim das eras, dependendo a
sua caduquice a consumação dos séculos, ou seja, enquanto o homem existir, a lei estará em
vigor:

Está claro, com base na evidência acima, que a exigência por ‘justiça’ (Mt
5.20) é um apelo para redescobrir o AT e obedecer a certas exigências
existentes na lei mosaica, ante a desobediência à lei por seus adeptos mais
escrupulosos (v. 20) e o repúdio à lei pelos falsos profetas antinomistas
(7.15-20). Descobre-se que a ‘justiça que supera’ não é o abandono da lei, e
sim ir mais profundamente nela. 53
Tal vigência pode ser questionada nalguns aspectos, como diz Feinberg: 54
“Certamente, o código mosaico terminou. Caso contrário viveríamos numa teocracia,
ofereceríamos sacrifícios de animais pelo pecado e praticaríamos a morte por apedrejamento
dos adúlteros e dos filhos que desobedecesse a seus pais. ” Por isto, Moo 55 expressa a relação
da lei entre os Testamentos, privilegiando a descontinuidade, contemplando o
dispensacionalismo:

[...]. A lei do AT não deve ser abandonada. De fato, deve continuar a ser
ensinada (Mt 5.19), mas interpretada e aplicada à luz de seu cumprimento
por Cristo. Em outras palavras, não se mantém mais como supremo padrão
de conduta para o povo de Deus, mas deve sempre ser vista através das
lentes do ministério e do ensino de Jesus.
56
Moo destaca ainda que a lei mosaica se cumpriu no ministério do Senhor Jesus
Cristo, sendo assim, não há como estarmos trabalhando a lei como vigente para a Igreja de
Deus e aplicá-la como padrão-mor ao viver cotidiano dos cristãos como fazem os pactualistas:
É comprovado que essa conclusão está de acordo com a abordagem geral de
Jesus à lei do AT com base no número relativamente pequeno de vezes em
que ele cita o AT como prova de suas exigências (e a maioria ocorre em
contextos polêmicos), e das claras implicações de declarações como o Filho
52
Ibidem.
53
Ibidem, p. 231.
54
Ibidem, FEINGERG, p. 79.
55
Ibidem, MOO, Douglas J. A lei de Moisés e a lei de Cristo, 2013, p. 251.
56
Ibidem.
32

do homem é Senhor também do sábado (Mc 2.28), e do fato que é o ensino


de Jesus que os seus discípulos devem levar em suas iniciativas missionárias
(Mt 28.16-20).

Chamblin,57 como um reformado, trabalha a exposição da lei condicionada à decisão


dos justos no juízo final, a qual se associa à obediência desses crentes aos mandamentos da
lei:

Enquanto a obediência é a resposta à graça, a graça é a consequência da lei.


Ao misericordioso será mostrada misericórdia (Mt 5.7). [...]. No juízo, os
que obedecem a lei serão de fato declarados justos (Rm 2.13), não com base
para o perdão, mas como alegre aceitação do Pai e aprovação dos que eles
fizeram em resposta à graça (cf. I Co 4.5; Mt 25.21; Tg 2. 14-26).

Este é o problema de Chamblin: confundir o Juízo Final (Ap 20.11-15) com o


julgamento das nações (Mt 25.31-46). Não haverá justos, como réus, no juízo final, e
tampouco sendo julgados consoante à lei. “Quem crê nele não é julgado” (Jo 3. 18-21), ou
seja, não passa pelo juízo final.58 O que determinará o juízo no trono branco serão as obras
dos ímpios para condenação (Ap 20.12-13) a fim de lavrar a sua punição, os nomes deles não
59
estarão inscritos no livro da vida. Chamblin expressa ainda a condição do não cristão sob a
batuta da lei, no contexto da interpretação pactualista, acerca da qual está a sua relação entre
os Testamentos:

Como base nos temporais e culturais, levantamos duas questões que são
cruciais para a compreensão da aplicação da lei no NT: Primeiramente, o
receptor da lei é um não cristão ou um cristão? O primeiro permanece sob
uma maldição por seu fracasso em obedecer a lei e adorar o legislador.
Além disso, tentar viver “debaixo da lei, ” separado de Cristo, o Senhor, e do
Espírito de poder é inevitavelmente viver “debaixo do pecado”.

Os ímpios estão debaixo da lei e esta vigora a eles, pois a ira de Deus sobre eles
permanece (Jo 3.36). Mas, não há como aceitar a ideia de que a lei vigora sobre a Igreja,
60
como advoga Chamblin e os demais pactualistas. Ao tentarmos entender esta posição
equivocada dele, vejamos o modo como aborda a relação do receptor cristão ante a lei entre o
AT e o NT:

Mas, para o crente, a observância da lei provê a maneira de mostrar gratidão


pela salvação pela graça e o meio essencial de mostrar amor a Deus e ao
próximo. Em segundo lugar, então, que grau de maturidade espiritual
conseguiu o crente? A quantidade de normas e regulamentos que os crentes

57
Ibidem, CHAMBLIN, Knox. A lei de Moisés e a lei de Cristo, 2013, p. p. 230-231.
58
Nota: Para melhor compreensão deste assunto, o leitor deve analisar os oitos julgamentos escatológicos que se
encontram no capítulo 11 (c.f páginas 162 a 165).
59
Ibidem, p. 245.
60
Ibidem, p. 245.
33

(considerados tanto em grupo como individualmente) precisam estar


diretamente relacionada ao seu nível de maturidade espiritual. O crescimento
em santidade e em fidelidade ao duplo mandamento do amor marcado por
uma progressiva internalização da lei – como é evidente já nos textos dos
profetas do AT e mais profundamente expressada nas cartas de Paulo.

61
Paulo faz diferença entre a lei de Moisés e a lei de Cristo. Neste contexto, Moo
distingue os não dispensacionalistas dos dispensacionalistas em contraposição a Chamblin:
“[...] Primeira é a visão de que a lei de Cristo não difere, no que diz respeito ao conteúdo da
lei mosaica sobre a qual Paulo fala em Gálatas. O que se torna a lei de Cristo é o fato de
Cristo interpretá-la, ou cumpri-la, ou providenciar as bases para a sua obediência. ” Moo62
acrescenta:

Em segundo lugar, há aqueles que veem a palavra lei “formalmente” e


acham que essa lei de Cristo é basicamente sem conteúdo. Então, o que se
quer dizer é que agora o próprio Cristo é a raiz e o padrão de toda conduta
cristã. Finalmente, a expressão pode ser vista como uma forma de declarar o
novo código de conduta aplicável aos cristãos da nova aliança. Como o AT
teve a lei de Moisés, também o NT tem a lei de Cristo.
63
Moo deixa bem claro de que a lei de Moisés foi outorgada no AT para a antiga
aliança, já a lei de Cristo é outorgada para a nova aliança. Algo muito pertinente é colocado
pelo autor como fator importante pela descontinuidade entre a lei de Moisés e a lei de Cristo:

A lei toda, cada i ou til, é cumprida em Cristo e somente pode ser


compreendida e aplicada à luz desse cumprimento. Na prática ética real,
muito pouco se perdeu. Porque o NT adota claramente todo o Decálogo, com
exceção do sábado, como parte da lei de Cristo e, dessa forma, como
fidedigno para os crentes. Mas considerável diferença no conceito teológico
está envolvida, e diferença de abordagem é, consequentemente,
insignificante.

Assim, notamos que o cristão já foi liberto do jugo da lei, e em Cristo passa a ser de
outro marido (Rm 7.1-3), seguindo os seus mandamentos que não são pesados (I Jo 5.1-3) e
ele vê a lei mosaica cumprida em Jesus, e olha para Cristo, e busca viver segundo a sua
vontade.
Portanto, sobre os AT e NT, analisamos os sistemas de continuidade e
descontinuidade. Assim, é relevante expressar o progresso da revelação na história, e a
trajetória de Israel em o AT e a jornada da Igreja em o NT, explicitando, com carinho, que a
lei de Moisés é distinta da lei de Cristo a partir do seu cumprimento nEle; não nos esquecendo
do valor desse estudo por promover mudanças, em especial, na escatologia e na eclesiologia,
61
Ibidem, p. 253.
62
Ibidem, p. 253.
63
Ibidem, p. 265.
34

mas também tocando outras doutrinas da igreja; e enfim, o modo como Deus executa Seu
plano de salvação na História.

CAPÍTULO DOIS
__________

A HERMENÊUTICA DAS PROFECIAS E SUAS ABORDAGENS

No que concerne à hermenêutica, Robert Thomas 64 nos oferece o seu conceito:

A hermenêutica são os princípios utilizados por aqueles que estudam a


Biblía para interpretar seus textos. Exegese, ou interpretação, é a aplicação
desses princípios de hermenêutica. A hermenêutica é, portanto, o conjunto
dessas regras de interpretação, enquanto a exegese é a aplicação de tais
regras na explicação do significado do texto bíblico. Neste contexto, vamos
verificar as correntes de interpretação bíblicas entre os testamentos.

64
HINDSON Ed e LAHAYE. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica; In Robert Thomas. Hermenêutica. Rio
de Janeiro: CPAD, 2010, 255.
35

 HERMENÊUTICA INTRABÍBLICA: A Relação de Interpretação entre o AT e o


NT
Aqui temos o âmago da Escatologia Bíblica, pois aborda as relações de continuidade e
descontinuidade entre os Testamentos e o modo como escritores do NT interpretaram o AT.
Thiago Abdala,65 em sua dissertação Os usos de Ageu e Deuteronômio em Hebreus 12.14-29,
trabalhou quatro abordagens de hermenêuticas que seriam importantes para este capítulo:
1) Abordagem da única intenção autoral: Mentores são Walter Kaiser Jr.66 e D.
Stuart.67
Proposição: Total identidade entre o sentido tencionado pelo autor divino e o sentido
intentado pelo autor humano.
a) O autor humano está cabalmente ciente do que Deus queria dizer com as palavras que
usou;
b) O autor humano está plenamente consciente das implicações que suas palavras teriam aos
autores do NT; Exemplo: “Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o
teu santo veja a corrupção” (Sl 16.10). Davi sabia que o texto deste Salmo se referia ao
Messias.
c) O autor humano só não sabia quando (o tempo) e como (o método) em que o fato-profético
se daria, como está registrado em I Pedro 1.10-11:

Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que


profetizaram da graça que vos foi dada, indagando a que tempo ou que
ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava
anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo havia de vir e a glória
que se lhes havia de seguir.

Mas, nem sempre o problema era só de circunstâncias ou temporalidade, pois, nem


todas as profecias tinham em seu autor a compreensão do que lhe era revelado. Há dois textos
que comprovam esta realidade, um do AT e o outro do NT, os quais desconstroem a
abordagem de Kaiser e Stuart, por haver fatores temporais e conteúdos não compreendidos da
profecia por parte do profeta:

E ouvi o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, o qual
levantou ao céu a sua mão direita e a sua mão esquerda e jurou por aquele
que vive eternamente que isso seria para um tempo, dois tempos e metade de
um tempo, e quando tiverem acabado de espalhar o poder do povo santo,
todas estas coisas serão cumpridas. Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso
eu disse: Senhor meu, qual será o fim destas coisas. E ele disse: Vai, Daniel,

65
ABDALLA, Thiago. AT/NT: Continuidade e Descontinuidade 7/10. Escola Spurgeon Disponível em > https://
www.you tube.com/watch?v=fgihZi_3HEQ&t=987s. Acesso em 15 de nov. 2020.
66
Autor da Teologia Bíblica do Antigo Testamento. Edições Vida Nova, 2007.
67
Autor do Livro Entendes o que lês?
36

porque estas palavras são fechadas e seladas até ao tempo do fim (Dn 12.7-
9).

Este texto mostra que a profecia se cumpriria a partir de três anos e meio, como
também revela a incompreensão de Daniel sobre o teor da profecia. O NT relata algo
semelhante:

E Caifás, um deles, que era o sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós
nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem morra pelo
povo, e que não pereça toda a nação. Ora, ele não disse isto de si mesmo,
mas sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer
pela nação. (João 11.49-51).

Caifás nem sabia que tal fala era uma profecia. Isto derruba este tipo abordagem. Eles
poderiam entender o sentido da profecia, mas nem sempre suas implicações. Aqui, nem isto.
2) Abordagem Canônica ou Idealista – Mentores: Bruce Waltke, G. Beale, Douglas
Moo, Jared Compto, Douglas A. Carson – Teologia Reformada.
Proposição: A existência de uma percepção progressiva do sentido do texto. O significado de
qualquer texto depende do todo da revelação. Deixar a Bíblia interpretar a Bíblia. Para
Abdala, esta análise do NT “desempacota” o sentido do AT. A teoria fala de uma única
intenção autoral entre autor divino e autores humanos, rejeitando o duplo sentido ao dizer que
um autor bíblico anuncia seus oráculos numa linguagem ideal, cujo sentido é um reino
espiritual, ou seja:

Se eu quero entender Salmo 2.7 – ‘Proclamarei o decreto: Tu és meu Filho,


eu hoje te gerei, ’ eu preciso atribuir o sentido deste texto a partir de Atos
13.32-33 – ‘E nós vos anunciamos que a promessa que foi feita aos pais,
Deus cumpriu a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus; como também está
escrito no salmo segundo: Meu Filho és tu, hoje te gerei’. E também pela
ótica de Hebreus 5.5-6: ‘Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo,
para se fazer sumo sacerdote, mas aquele que lhe disse: Tu és meu Filho,
hoje te gerei. Como também diz, noutro lugar: Tu és sacerdote eternamente,
segundo a ordem de Melquisedeque. ’ 68

Advogando tal abordagem, Bruce Waltke 69 diz sobre o aliancismo do Reino:

Se o Senhor Jesus Cristo e a sua Igreja cumprem as promessas do Antigo


Testamento, como o Novo Testamento afirma (ver Atos 3.24-25), então
aquelas promessas expressas em termos apropriados para as formas terrenas
do Reino de Deus na Antiga Dispensação encontram seu cumprimento literal
na forma espiritual do Reino na Nova Dispensação. Portanto, se o Salmo 2.7
se refere a Jesus Cristo em sua primeira vinda, da mesma forma a referência
ao Salmo 2.6 e ao Monte Sião não indica a um local na Palestina; mas ao
Monte Sião celestial e a tomada de posse de Cristo sobre as nações.
68
ABDALLA. Disponível em > https://www.you tube.com/watch?v=fgihZi_3HEQ&t=987s. Acesso em
15/11/20.
69
Waltke apud Abdalla, 2010. AT/NT: Continuidade e Descontinuidade 7/10. Escola Spurgeon Disponível em >
https://www. youtube.com/watch?v=fgihZi_3HEQ&t=987s. Acesso em 15 de nov. 2020.
37

Waltke aponta a um reino messiânico de Deus, presente, e um assumir o Trono de


Davi na ascensão de Cristo a destra do Pai. Há uma espiritualização do trono davídico. O DP
age de modo semelhante quanto a Cristo, assentado no Trono de Davi, da ascensão ao
Milênio.
3) Abordagem Judaica – Mentores: E. E. Elis, Richard Longenecker e Grant Osborne.
Proposição: Os autores do NT dependeram de técnicas judaicas (rabínicas) de interpretação
em seu uso do AT. Esta abordagem enfatiza o progresso da revelação e a exegese cristológica.
Eles usam técnicas como midrash (ressignificação do texto) e pesher (contemporização do
texto):

E, tendo eles se retirado, eis que o anjo do Senhor apareceu a José num
sonho, dizendo: Levanta-te e toma o menino e sua mãe e foge para o Egito e
demora-te lá até que eu te diga; porque Herodes há de procurar o menino
para o matar. E, levantando-se ele, tomou o menino e sua mãe, de noite, e foi
para o Egito. E esteve lá até à morte de Herodes para que se cumprisse o que
foi dito da parte do Senhor pelo profeta, que diz: Do Egito chamei o meu
Filho.

Abdalla 70 dá o exemplo de Mateus 2.13-15: Isto é aquilo (pesher). Já o midrash cita


Paulo para dizer: aquilo é isso. Romanos 3 e citações paulinas do AT; conclui nos versos 19 e
20. Mas, o método exagera o paralelo entre técnicas interpretativas dos apóstolos e rabis
judeus.
4) Abordagem Sensus Plenior – Proponente: John Walton e eruditos católicos.
Proposição: Um novo sentido às profecias do AT que autores do NT acrescentam é válido,
pois eles são inspirados. Um método católico que pode recorrer aos pais da Igreja e a
Concílios para
interpretar a Bíblia. Esta hermenêutica pode não ser histórico-gramatical. Há 2 modos
distintos, aceitáveis de ler o AT. O 1º é a interpretação histórico-gramatical, cujas regras são
objetivas e fixas da leitura bíblica; e o 2º, a interpretação subjetiva, feita por autores
inspirados do NT. “Se você tem inspiração, você não precisa da hermenêutica histórico-
gramatical. Se você não tem inspiração, você deve proceder pelas diretrizes conhecidas da
hermenêutica, ” diz Walton. Pode não haver continuidade entre o sentido do texto do AT e da
interpretação do NT. Abdalla71 diz: “Relegar os usos que o NT faz da revelação anterior,
que não apresentam uma interpretação histórico-gramatical clara, ao subjetivismo

70
Ibidem. Disponível em > https:// www.youtube.com/watch?v=fgihZi_3HEQ&t=987s. Acesso 15 nov. 2020.
71
Ibidem.
38

inspirado parece uma resposta simplista para um problema realmente complexo.” Daí o perigo
desta corrente. Thomas72 a vê como igual no DP:

A violação do princípio do significado único logo leva à violação do


princípio do Sensus Plenior (“sentido mais completo”), perpetrada pela
teologia do DP. Encontrar um sentido mais completo que o apresentado pelo
contexto histórico-gramatical de uma passagem, claramente pende para a
interpretação alegórica. A tradicional interpretação histórico-gramatical não
importa novos conceitos para o texto das Escrituras, nem atribui novos
dogmas a palavras ou passagens. Ainda assim, alguns interpretes evangélicos
mais recentes tem defendido este “sentido mais completo”.

Mark Swedberg 73 identifica os progressivos com esta abordagem: “Para chegar a esta
posição, muitos dispensacionalistas progressivos defendem uma versão da hermenêutica
denominada sensus plenior. Praticantes dessa hermenêutica creem que certas passagens no
Antigo Testamento têm duas interpretações: a interpretação normal, ou literal, e a
interpretação mais ampla ou plena. ” Swedberg74 mostra problemas que decorrem desta
hermenêutica do DP:

Os dispensacionalistas progressivos não vão a este ponto, mas creem que o


Novo Testamento pode incluir mais informações sobre profecias feitas no
AT que não estavam disponíveis aos leitores originais. Por exemplo, a
profecia da Nova Aliança em Jeremias 31 foi especificamente feita à casa de
Israel e à casa de Judá, ou seja, ao Israel étnico. Com base em trechos do
NT, os dispensacionalistas progressivos afirmam que esta profecia será
cumprida em Israel, mas também foi feita para a igreja e é cumprida hoje na
igreja.

5) Hermenêutica complementar - Exponentes. Darrel Bock, Robert Saucy e Craing


Blaising.
Proposição: Valberth Veras 75 faz a exposição desta proposta do DP da seguinte maneira:

72
Ibidem, In Robert Thomas. Hermenêutica. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, 257.
73
SWEDBERG, Mark. DISPENSACIONALISMO: Uma Breve Introdução e defesa, 2000, p 11.
74
Ibidem, p. 12.
75
Ibidem, VERAS, Valberth. REVISTA PILARES DA FÉ, p. 75, 2011.
39

O Novo Testamento não apenas repete a revelação do Antigo Testamento,


ele faz adições complementares, entretanto, ele não descarta as promessas
antigas. O que se percebe é uma tentativa de respeitar o significado original
proposto pelo autor e ainda permitir que o Novo Testamento fale de uma
maneira progressiva sobre como juntar as peças da esperança do Antigo
Testamento.

O Dispensacionalismo Progressivo apresenta três níveis de leitura:


1) O Histórico exegético – quando o intérprete observa o texto como uma unidade
autocontida;
2) O Bíblico-Teológico – quando o intérprete olha a perícope dentro do texto todo;
3) O Canônico-sistemático – quando o intérprete entende o texto e o livro no contexto do
Cânon.
Pode-se exemplificar com Darrell Bock, Gálatas 3, através do qual, ele aplica os três
níveis de leitura usando o termo: “Semente de Abraão”:
1) Nível 1 – em Gênesis 15 a Semente é Isaque - nível histórico-exegético;
2) Nível 2 – observando o livro de Gênesis, a Semente é Israel - nível bíblico-
teológico;
3) Nível 3 – Com a teologia paulina, a Semente é Cristo – nível canônico-sistemático.
Como vimos, a Semente de Abraão adquire a progressividade na história da salvação –
Progressivos. O perigo da hermenêutica complementar é o múltiplo sentido aos textos do AT:

Ignorando o modo como o contexto histórico original “trava” o sentido de


um texto, o DP cria uma espécie de significado dinâmico — uma
interpretação em constante mutação, com novos sentidos sendo
acrescentados a cada momento. Para o DP, o aspecto “histórico” não diz
respeito apenas ao meio em que o texto foi originalmente produzido, mas
também as condições ulteriores que, ao longo da história, afetaram a
interpretação deste texto. 76

O DP adiciona o aspecto teológico-bíblico-literário à interpretação, pela hermenêutica


complementar, que faz o NT atribuir novos sentidos ao AT, ainda que preserve seus sentidos
originais. Tal hermenêutica do AT por autores do NT deve ser a base à compreensão geral:

[...] O desconstrucionismo e o pós-modernismo permitem múltiplas


interpretações para uma única passagem. O DP segue exatamente neste
caminho, rumo a ideologias não evangélicas. Quando os defensores do DP
permitem que outros significados tragam novas facetas para o texto,
revelando novos elementos da mensagem ou uma nova forma de relacionar
os elementos existentes, deixam de lado o princípio preservador do
“significado único”. Alterar a essência de algo já escrito coloca em dúvida a
credibilidade de seu sentido original. 77
76
Ibidem, In Robert Thomas. Hermenêutica. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, 257.
77
Ibidem.
40

Por esta razão, há sérias preocupações por parte dos dispensacionalistas clássicos e
revisados, com este tipo de dispensacionalismo, o qual tem se infiltrado como apenas mais
uma revisão dispensacionalista em seminários, institutos bíblicos e igrejas que seguem o
Dispensacionalismo Tradicional. Por isso, Robert Thomas 78 fala sobre “Uma segunda
preocupação [que] é o abandono de uma interpretação literal das Escrituras. Deixar a exegese
literal, contextual, gramatical e histórica leva, no final, a interpretações inovadoras e
inventivas da Bíblia. Isto, por sua vez, deixa a porta hermenêutica aberta para métodos de
79
exegese de múltiplos níveis, em vez de uma sólida exegese do texto. ” Thomas
acrescenta ainda, que:

Tal abordagem identifica o significado no texto em vez de permitir que o


texto fale por si só. A maioria dos dispensacionalistas progressivos não
considera estar substancialmente desviando-se do dispensacionalismo
clássico. No entanto, a sua abordagem inovadora parece realmente ter um
efeito sobre aqueles que seguem a sua ideologia. O método de interpretação
chamado de “complementar” muito rápida e facilmente leva ao método de
múltiplos níveis apoiados por aqueles que, de forma gradual, se afastaram
totalmente do dispensacionalismo.
Sobre a esta hermenêutica complementar, Valney Veras, 80 um DP, em
Conferências Teológicas do Seminário e Instituto Batista Regular Bereiano, em saudáveis
palestras-debates com Hélder Cardin (Reitor do Seminário Palavra da Vida), um DR, tece
críticas ao DR, atribuindo a este tipo de dispensacionalismo uma incoerência em sua
consistência:

[...]. O Dispensacionalismo Revisado de modo geral interpreta esses


versículos apontando Davi como rei que vai reinar no Milênio e não o
Senhor Jesus Cristo, pois supõe que esta é a interpretação literal. Aí o Ryrie,
obviamente, vai dizer “tem que ser consistente”[...]. Com tal hermenêutica
esta vertente do dispensacionalismo desconsidera à interpretação o aspecto
literário e o aspecto do gênero narrativo que estamos observando aqui.

Mas esta acusação do DP sobre o DR se configura equivocada, pois nenhum dos


defensores do DR ou do DC põem Davi no Trono, excluindo o seu Filho de reinar, apesar de
alguns do DR até admitirem que Davi será príncipe regente ao lado de Cristo no Milênio (o
que pode ser plausível, pois Davi estará ressuscitado e participando do quiliásmo com seu
Filho Jesus); o próprio Ryrie, principal proponente do DR (que obviamente diria: “tem que ser

78
Ibidem.
79
Ibidem.
80
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Disponível em > https:// www.
youtube.com/watch?v=URbcO6fYb-w&list=PLDtQAWb-ysHeu3QHCoCUrKBD5cb3ccB6-&index=7.Acesso
em 01 de dez. 2020.
41

consistente”), faz a análise de alguns textos, que citam Davi como Rei na Nova Aliança (Ez
34.24,25) e admite ser tais referências inerentes a Cristo. Senão vejamos:
a) O texto de Ezequiel 34:23:
“Suscitarei para elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é que as
81
apascentará, ele lhes servirá de pastor. ” Note o comentário de Ryrie, na Bíblia Anotada:
“meu servo Davi. Não se trata do rei Davi ressurreto. Mas do Descendente maior de Davi, o
Messias.”
b) O texto de Jeremias 23.5:
“Eis que vem dias, diz o Senhor em que levantarei a Davi um Renovo justo”. Para não
82
dizer que é uma fala esporádica de Ryrie, veja seu comentário: “Renovo. I, e, ramo, um
título messiânico que indica a nova vida que o Messias trará. Ele garantirá justiça para o seu
povo. ”
c) O texto de Ezequiel 37.24:
“O meu servo Davi reinará sobre eles; todos terão um só pastor, andarão nos meus
juízos, guardarão os meus estatutos e os observarão. ” Ryrie 83 traz ainda mais um comentário
sobre este 3º texto: “O reinado do Messias sobre a nação. ” A consistência de Ryrie está de pé
para o DR, o mesmo não podemos dizer acerca do DP. Por isso, Thomas Tronco 84 em
Dispensacionalismo Progressivo, por que não? advoga ser inválida a “hermenêutica
complementar”, atribuindo novos sentidos ao texto, os quais não vêm da sua exegese natural:

Este desvio hermenêutico levou a muitas novas visões no meio evangélico,


como o dispensacionalismo progressivo (DP), que viola o princípio
hermenêutico tradicional do significado único. Como se fora um
denominador comum entre o dispensacionalismo e a teologia da aliança, o
DP encontra inúmeros cumprimentos para uma única passagem do AT. Ele
propõe que Deus cumprirá suas promessas para com a nação de Israel no
futuro, mas também ensina que a Igreja está presentemente cumprindo as
mesmas profecias. O que o DP chama de “hermenêutica complementar”
claramente viola princípios tradicionais de interpretação literal.
6) Referentiae Plenior – Mentores: Elliot Johnson, Roy Zuck, Norman Geisler e
outros Proposição: Propõe um único sentido à profecia e sua interpretação por autores do NT.
Mas, esta interpretação tem significâncias múltiplas. A teoria veio da tentativa de abrandar a
ênfase quase alegórica do Sensus Plenior. Este é o sentido mais profundo, tencionado por

81
RYRIE, Charles Caldwel. BÍBLIA, Anotada. Trad. Por João Ferreira de Almeida. São Paulo: Mundo Cristão,
1994, p.1049.
82
Ibidem, p. 949.
83
Ibidem, p. 1053.
84
TRONCO, Thomas. Dispensacionalismo progressivo. Por que não? 2ª Conferência Redenção Tema:
"Dispensacionalismo" Realizada na Igreja Batista Redenção entre os dias 31 de maio e 3 de junho de 2018.
Disponível em> https://www.youtube.com/watch?v=tWu8zNSyQKU&t=2938s. Acesso em 12 de nov. 2020.
42

Deus, mas não plenamente pelo autor humano. A significância tencionada é entendida pelo
escritor do AT, que contém plenamente o sentido tencionado pelo autor divino. Este pode ser
maior do que o referente, mas não o contradiz. Um exemplo é o Salmo 41.9: “Até o meu
próprio amigo íntimo, em quem eu tanto confiava, que comia do meu pão, levantou contra
mim o seu calcanhar. ”
a) O significado do texto: Um amigo leal traiu o rei;
b) A significância mais próxima do texto: O rei Davi é traído por seu amigo íntimo
Aitofel;
c) A significância mais distante do texto: O Rei Jesus é traído por seu amigo íntimo Judas:
“Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a
Escritura: o que come o pão comigo levantou contra mim o seu calcanhar” (Jo 13.18). O
autor humano
sabia do sentido só da 1ª significância. O autor divino sabia o sentido das duas. No Salmo
16.10:
“Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja a
corrupção.”
a) O significado do texto – Deus livra o seu fiel da morte;
b) A primeira referência do texto – Davi é liberto da morte prematura;
c) A segunda referência do texto – Jesus é ressurreto de entre os mortos:

E que Deus o ressuscitaria dentre os mortos para nunca mais tornar à


corrupção, disse-o assim: As santas e fiéis bênçãos de Davi vos darei. Por
isso também em outro Salmo diz: Não permitirás que o teu Santo veja a
corrupção. Porque, na verdade, tendo Davi no seu tempo servido conforme a
vontade de Deus, dormiu, foi posto junto de seus pais e viu a corrupção. Mas
aquele a quem Deus ressuscitou nenhuma corrupção viu. (At 13.34- 37).
Os Autores do NT mantêm o mesmo significado do texto do AT. Os referentes
mudam, o sentido não. No Referentiae Plenior só há um sentido e múltiplos referentes. Há
uma realidade passada no AT. Esta tem sentido único, específico ao autor-divino do texto.
Aquela, não ganha sentidos novos. O texto é o mesmo, mas pode ter significâncias aplicadas a
contextos distintos.
Uma alegação dos progressivos é o seu método expandiu a hermenêutica histórico-
gramatical para a linha interpretativa da Bíblia para além da gramática e da história, pois
insere elementos como a teologia bíblica, a linguística e a literatura, ressaltando os gêneros
literários. Mas, não temos visto tanto sucesso neste processo. No tocante ao gênero,
exemplifica, Ryrie:85
85
RYRIE, Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: Editora Batista Regular, 2020, p. p. 124-125.
43

O estudo do gênero, porém, gera ‘promessas’ e ‘armadilhas. ’ Ele promete


uma melhor compreensão do contexto histórico e cultural da Bíblia, o que
faz parte da interpretação histórico-gramatical. Contudo, uma de suas
armadilhas é a alegação de que ‘cada gênero apresenta a verdade à sua
própria maneira e faz exigências específicas acerca de como o texto deve ser
lido, além da afirmação de que ‘o significado é dependente do gênero’.
Finalizamos este capítulo com a ideia de consistência, que é de grande relevância
para entendermos bem o significado deste vocábulo ao sistema dispensacionalista. Daí
recorrermos mais uma vez a Ryrie86 para melhor compreensão sobre esta expressão:

Consistência. Em teoria, a importância do princípio literal não é debatido. A


maioria dos estudiosos concorda que ele envolve alguns procedimentos
óbvios. A rigor, o significado de cada palavra deve ser estudado. Isso
envolve a etimologia, o uso, a história e o significado decorrente dessa
análise. Também a gramática ou a relação das palavras entre si devem ser
considerados. Isso significa comparar Escritura com Escritura, bem como
estudar o contexto imediato. Esses princípios são bem conhecidos e podem
ser aplicados na hermenêutica de qualquer texto padrão.

Tudo isto nos faz refletir sobre a necessidade de avaliar a consistência da


hermenêutica complementar dos do DP e analisarmos o que foi dito aqui sobre as abordagens
propostas.

CAPÍTULO TRÊS
__________

OS DISPENSACIONALISMOS E O REINO DE DEUS

86
Ibidem, p.
44

Antes de destacarmos as vertentes do sistema dispensacionalista, julgamos importante pontuar


a doutrina do sistema não dispensacionalista. Assim, as principais vertentes são três:

(1) O Epangelismo:

Uma posição teológica desenvolvida por Walter Kaiser Jr, distinta dos sistemas
dispensacionais e pactualistas, que apresenta a promessa como o centro unificador para toda a
teologia bíblica (de Gênesis a Apocalipse). Nesta conjuntura, Kaiser trabalha a relação entre
os Testamentos, a partir de uma escatologia bidimensional, que tem na promessa e no seu
cumprimento o fator sine qua non para que o plano divino se desenvolva até atingir o seu
clímax, que se cumpre no advento do Messias. De acordo com Kaiser: 87 “Este centro
textualmente derivado, que o Novo Testamento haveria depois de chamar a ‘promessa’
(epangeiia) era conhecido no Antigo Testamento sob uma constelação de termos. A mais
antiga de tais expressões era "bênção". Foi a primeira dádiva de Deus para os peixes, aves
(Gn 1:22) e depois à humanidade (vers. 28). ”
Ao analisar esta posição, Roque Albuquerque88 exalta uma das suas virtudes – a
continuidade no progresso da salvação, mas também identifica um dos seus principais defeitos
– a inconsistência na distinção entre Israel e Igreja:

A teologia kaiseriana ressalta a continuidade da redenção progressiva de


Deus para com Seu povo através da história, começando com Abraão e sua
semente e alcançando todas as nações. Ver isso é resultado de uma boa
exegese, mas infelizmente, este sistema usa uma hermenêutica inconsistente,
que se equivoca no reconhecimento da visão bíblica que Deus ainda não
concluiu seu plano com Israel (cf. Rm. 11).
Esta posição teológico-bíblica expressa o binômio promessa/cumprimento, por uma
exposição, vista por Kaiser como epangelismo, pois o termo norteia o plano
veterotestamentário e neotestamentário. Por isso, quando Kaiser89 trata da conexão entre os
Testamentos, diz:

Os escritores do Novo Testamento deram a este plano ou desenvolvimento


único o nome de "promessa" {epangeüa}. Cerca de quarenta passagens
podem ser citadas de quase todas as partes do NT que contêm esta palavra
"promessa" como a quinta-essência do ensino do AT. Além disto, há apenas
uma promessa; é um plano único.
(2) Aliancismo Clássico:

87
KAISER, Walter C. Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 2007. p. 35.
88
ALBUQUERQUE, R. Heilsgeschichte: Uma análise do conceito de sua história como chave hermenêutica
comparada com o dispensacionalismo tradicional. 2004, p. 9.
89
Ibidem, 272.
45

Segundo Norman Geisler, 90 esta vertente foi formada por

[...] Johannes Cocceius (1603-1669), abraçada por Charles Hodge (1797-


1878) e pela maioria dos teólogos reformados, e articulada por Oswald Allis
(1880-1973). De acordo com esta posição, estas alianças do Antigo
Testamento feitas com Israel são cumpridas na Igreja do Novo Testamento,
o “Israel espiritual” de Deus, em vez de terem cumprimento literal no Israel
nacional.
Esta vertente é também conhecida como Teologia das Alianças e Teologia do Pacto.
Os seus defensores são chamados de aliancistas e pactualistas. Bruce Anstey 91 a define deste
modo:

A Teologia Reformada do Pacto trata-se de um sistema de ensino que não


faz diferenciação na família de Deus. Ela enxerga os santos de todas as eras
(Antigo Testamento, Novo Testamento e reino milenar) como sendo uma
companhia de crentes igualmente abençoados em seu relacionamento com o
Senhor. São considerados como parte da Igreja de Deus, o corpo e noiva de
Cristo, como “um só povo de Deus”.
Anstey 92 fala da visão dos aliancistas sobre a Igreja no AT, uma ideia que vai
de

encontro aos ensinos do NT, que mostram ser a Igreja um mistério oculto dos profetas do AT:

Portanto, a Igreja (segundo o modo de pensar desses) é algo que teria


começado a muito tempo no Antigo Testamento. E a vinda do Espírito Santo
no dia de Pentecoste (Atos 2) não seria mais que um reavivamento ocorrido
dentro da Igreja. Assim, as bênçãos distintas que as Escrituras apresentam
como sendo exclusivas dos cristãos seriam consideradas como precedentes a
todos os santos em todas as épocas.

Os mais conhecidos pactualistas brasileiros são: Paulo Junior, Héber Campos Junior,
Augustus Nicodemos Lopes e Hernandes Dias Lopes. Eles advogam a crença de que a Igreja
é o Israel de Deus desde o AT e continua em o NT. As alianças e suas promessas com o Israel
no AT se cumprem na Igreja. A da Graça vem desde Gênesis 3.15 e segue até ao fim da
história. O Reino iniciou com o Trono de Davi, que está à destra de Deus (Só passado e
presente, sem futuro). O Messias reina neste Trono até à Segunda Vinda, com a chegada do
Estado Eterno. Para eles, o Milênio é espiritual e dura do Trono do Pai ao Trono Branco e,
depois o Trono Eterno. Sobre o Trono de Davi, dizem que este tem uma única função:
Governar espiritualmente ao Novo Israel de Deus e às nações, da Primeira Vinda à Segunda
Vinda de Jesus, amarrando o valente (Satanás – Lc 11.20-22), pela conversão do homem e a

90
GEISLER, Norman. Teologia Sistemática: Pecado, Salvação, a Igreja e as Últimas Coisas. Volume 2. 1ª ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 900.
91
ANSTEY, Bruce. Teologia do pacto ou Dispensações: Qual maneira correta de se interpretar as Escrituras? 2ª
ed. Canadá: Clube de autores, 2016, p. 208.
92
Ibidem, 2016, p. 208.
46

expulsão do príncipe deste mundo (o diabo - Jo 12.31), anulando suas ações e suas intenções
sobre as nações da terra.

(3) Aliancismo modificado:

93
Norman Geisler, apresenta os proponentes desta vertente e sintetiza a mesma do
seguinte modo: “[...] Anthony Hoekema (1913-1988) e Vern Poythress (nascido 1944), a
igreja é o Israel do Novo Testamento, no qual há o cumprimento espiritual destas alianças do
Antigo Testamento, embora também haverá um cumprimento futuro literal delas no Israel
94
étnico. ” Geisler também destaca o fato desta vertente ser, como os outros pactualistas,
amilenistas:

A maioria dos aliancistas modificados não acredita que elas serão cumpridas
em um reinado literal de Cristo de mil anos (o Milênio), mas no novo céu e
na nova terra. Além disso, como os aliancistas clássicos, eles acreditam que
há apenas um único povo de Deus e que, por esta razão, não haverá dois
destinos separados, um na terra, para Israel, e um no céu, para a igreja.

Esta vertente é conhecida também como a Teologia da Nova Aliança, um meio termo
entre o Dispensacionalismo e o Aliancismo. Ela não aceita o nascimento da Igreja no AT, mas
no Pentecoste (At 2). A Igreja substitui ao Israel Étnico, e é o Novo Israel de Deus (Gl 6.16).

(4) Dispensacionalismo:

O Dispensacionalismo é um sistema-escatológico-chave-hermenêutica, cuja


mobilidade faz com que exista várias vertentes desta chave hermenêutica:
1º – Dispensacionalismo Clássico:
Este Dispensacionalismo surgiu no fim do séc. XIX no Seminário Dalas, e teve como
líderes: Jonh Nelson Darby (1800-1822), Cyrus I. Scofield (1843-1921) e Lewis Sperry
Chafer (1871-1952). Esta visão advoga a descontinuidade na relação do AT e o NT, crendo
em duas novas alianças: uma para Israel e outra para a Igreja e dois planos de Deus na
História: um para Israel, na terra (Milênio) e outro para a Igreja, no céu (Estado Eterno). Para
esta teoria as Dispensações são sete: Inocência, Consciência, Governo Humano, Promessa,
Lei, Graça e Reino. Testes divinos com o homem, fracassos humanos e juízos divinos. Jenuan
Lira95 expõe três marcas essenciais e três características secundárias do Dispensacionalismo.
As primeiras marcas são:

93
Geisler, ibidem, p. 900.
94
Ibidem.
95
LIRA. Jenuan. Revista Pilares da Fé. Teologia/Missiologia. Dispensacionalismo: Passado, Presente e
Futuro, 2004, 31.
47

1ª) um modo particular de Deus gerir o Seu governo;


2ª) uma particular responsabilidade ao homem, segundo o fator governante de Deus;
3ª) um avanço na revelação, em que o homem fique ciente do modo do governo de
Deus e de sua responsabilidade para com Ele.
As últimas características são:
1ª) um teste para o homem, cuja natureza é se ele obedecerá ou não perfeitamente ao
governo divino, cumprindo a característica da dispensação;
2ª) cada dispensação mostra a falha humana;
3ª) cada dispensação envolve o juízo divino pela falha humana.
2º – Dispensacionalismo Revisado:
Os revisados surgem na década de 40 e recebe esse nome por revisar algumas ideias
do Clássico. Os seus principais defensores são: John Walvoord (1910-2002), Alva McClain,
Charles Feinberg, John D. Pentecost e Charles Ryrie. Este Dispensacionalismo revisa o
Clássico, mas não muda as suas: hermenêutica e essência. Crê numa Nova Aliança para Israel
e à Casa de Judá (Jr 31.31-34; Hb 8.9-13; 9.14-17; 10.14-17), mas, há aplicação desta Aliança
à Igreja. Não há um plano celeste à Igreja e um terrestre a Israel. O Plano de Deus é um só.
Israel era o Seu povo no AT. Em o NT, judeus e gentios formam um novo povo (A Igreja – Ef
2.11-22). Deus trabalha com o Israel Étnico e os gentios (Benditos do meu Pai, herdeiros
do

Reino – Mt 25.31- 46) na Tribulação. O Reino (Milenar/Eterno) está ligado à Obra de Cristo:

[...], assim como o seu precursor, este dispensacionalismo afirma que há


ainda um cumprimento nacional literal da aliança abraâmica a Israel. No
entanto, ele defende que há apenas uma nova aliança, que, embora tendo um
cumprimento literal posterior no Israel nacional, possui uma aplicação atual
para a Igreja. A maioria dos dispensacionalistas revisados defende que,
embora haja diferenças nítidas entre Israel e a Igreja e os seus respectivos
destinos, tudo faz parte de um único povo geral de Deus que compartilha a
redenção espiritual realizada por Cristo. 96

3ª – Dispensacionalismo Progressivo ou o revisionismo:

O DP surgiu em 1985, no Seminário Teológico Dallas, e seus mentores são: Craig


Blaising, Robert Saucy, Darrel Bock, Kenneth Barker, David Turner e John Martin. Este
nome se dá em 1991, num encontro da Sociedade Teológica Evangélica. Sobre a sua
hermenêutica, esta corrente advoga a hermenêutica complementar, pelo método histórico-
teológico-bíblico-literário, em que autores do NT dão novos sentidos ao AT, preservando
96
Geisler, ibidem, p. 899.
48

sentidos originais. Tal interpretação baseia-se na compreensão geral. Apesar de não crer na
rejeição total de Israel, crê no inaugurar da Nova Aliança por judeus remanescentes da eleição
da graça (Rm 11). A aliança davídica é vigente. O DP vê a Igreja como uma progressão no
97
Plano divino à redenção, com a salvação ofertada a quem creem. Geisler vê o DP como a
revisão mais ao sabor de aliancistas:

O dispensacionalismo progressivo, abraçado por Robert Saucy (nascido


1937)
Craig Blaising (nascido 1949) e Darrel Bock (nascido 1952) é uma outra
revisão do dispensacionalismo na direção da teologia da aliança. Embora
afirmando que haverá um cumprimento literal das alianças abraâmica,
davídica e da nova aliança no Israel étnico, eles insistem que há um
cumprimento inaugural atual na igreja.

Corrobora com esta visão de Geisler, Antonio Neto, 98 principal divulgador do


Dispensacionalismo Progressivo no Brasil, em entrevista a Mac e Vitor Fontana, em um
podcast do site bibotalk, pelo qual ele destaca a visão dos progressivos sobre o número de
dispensações:

A maioria dos progressivos que eu conheço, entre eles professores meus,


defendem basicamente três dispensações: uma primeira, antes de Cristo; a
atual, entre as duas vindas de Cristo; e a dispensação futura, depois de
Cristo. E na verdade essa crença se assemelha à de muitos aliancistas, os
quais entendem que a Bíblia fala apenas de uma antiga e de uma nova
dispensação. Para o dispensacionalista progressivo o mais importante é
entender que Deus tem um plano unificado que avança na História. E esta
visão promove uma série de mudanças na tradição dispensacionalista.

Estas propostas de alterações na estrutura do Dispensacionalismo Tradicional fazem


com que o DP se aproxime cada vez mais da escatologia reformada. É o que atesta o próprio
Antonio Neto,99 quando demonstra o “equívoco” de clássicos e revisados ao advogarem: “ Por
exemplo, a ideia de que Deus tem um plano para Israel e outro para a Igreja.”

Os progressivos não defendem esta ideia, pois creem que o plano unificado
de Deus abrange tanto judeus quanto gentios. Isto quer dizer que a Igreja e
os judeus estão inclusos num único plano divino. A partir desta concepção,
nota-se o quanto o dispensacionalismo progressivo afasta-se do tradicional,
ao mesmo tempo em que se aproxima de outras tradições, como a aliancista
e a teologia da nova aliança. Creio que esta foi a principal mudança do
dispensacionalismo progressivo.100

97
Geisler, ibidem, p. 900.
98
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
99
Ibidem.
100
Ibidem.
49

Concordamos com Antonio Neto, em relação à esta modificação, que, certamente,


trará sérios modificações para o Dispensacionalismo bíblico e à sua estrutura, no que diz
respeito às doutrinas da eclesiologia e da escatologia bíblicas. Com essa afirmação do
101
principal divulgador do DP no Brasil, fica bem mais evidente concordarmos com Geisler,
quando enfatiza que as crenças do DP estão bem alinhadas com o novo aliancismo e com o
pactualismo reformados:

Assim, eles mantêm a opinião de que o cumprimento da aliança davídica


começou na ascensão de Cristo à mão direita de Deus, e que se cumprirá
posteriormente na Sua Vinda. Como os teólogos da aliança, ambos
enfatizam a opinião de que há um único povo de Deus e abraçam uma
hermenêutica em que leem estas promessas do Antigo Testamento a Israel à
luz do seu suposto cumprimento em Cristo e em Sua igreja.
Em relação ao número de dispensações no DP, eles as veem da seguinte maneira:
Tabela nº 01 – As Dispensações no Dispensacionalismo Progressivo
AS DISPENSAÇÕES NO DISPENSACIONALISMO PROGRESSIVO
PATRIARCAL MOSAICA ECLESIAL SIÔNICA
De Adão até o Do Sinai até a Da ascensão até a Parte 1 – Parte 2 –
Sinai ascensão do Messias segunda vinda do Jesus Milênio Estado Eterno
Fonte: Charles Ryrie – Dispensacionalismo, São Paulo: EBR, 2020, p. 270.

Como eles veem as dispensações como arranjos de Deus no progresso da revelação na


história da humanidade, eles creem em quatro dispensações, sendo que a última se subdivide
em duas partes, inserindo o Estado Eterno como dispensação também. Só que se a eternidade
não opera dentro do tempo. Colocar parte de uma dispensação no contexto da eternidade se
constitui um contrassenso ao que entendemos como dispensação. Daí Ryrie102 afirmar:
Os dispensacionalistas progressivos adotam uma visão dupla a respeito do(s)
propósito(s) da história, combinando o reino milenar e o estado eterno de
modo a formar uma única dispensação futura. Trata-se de uma posição
intermediária entre o dispensacionalismo clássico e a teologia do pacto, uma
vez que a maioria dos modelos dispensacionais veem as dispensações
operando apenas dentro do tempo (e, portanto, não consideram a eternidade
uma dispensação, como fazem os progressivos). Assim, em relação aos
objetivos de uma filosofia adequada de história, somente o
dispensacionalismo normativo, com a sua proposta de uma consumação da
história a ser realizada na dispensação do milênio, oferece um modelo
satisfatório.

Isto realça o distanciamento do DP do dispensacionalismo e a sua aproximação dos


aliancistas e novos aliancistas. A filosofia da história dos do DP se configura em uma visão
destoante sobre dispensação, pois a temporalidade é inerente à história. Na eternidade não
conta tempo, após a última época da história humana, no milênio, que é o período quando

101
Ibidem, Geisler.
102
RYRIE, Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: Editora Batista Regular, 2020, p. 29.
50

todas as coisas serão sujeitas a Cristo, e Ele então entregará o reino ao Pai, e Deus será tudo
em todos. (I Co 15.24-28). A consumação dos Séculos se finda com o milênio. O mal
desaparece do mundo a partir do novo céu e da nova terra. O que resta ao diabo e aos seus
anjos e a todos os ímpios é o inferno. Doravante, só os justos estarão na nova terra. Sem
dispensação alguma.

4ª – Ultradispensacionalismo:

O Ultradispensacionalismo se originou a partir das 77 obras do anglicano Ethelbert W.


Bullinger (1837-1913), cuja visão retrata o início da igreja com o apóstolo Paulo e não no dia
de Pentecostes. Este tipo de dispensacionalismo tem como ponto central a inserção de mais
uma dispensação desde o nascimento da Igreja ao seu arrebatamento. O
103
Ultradispensacionalismo se divide em dois tipos: o extremo e o moderado. Para Ryrie,
estes dois modelos expõem:

Pontos de concordância: 1. A grande comissão registrada em Mateus e


Marcos, e não se aplica à igreja. 2. O ministério dos Doze foi uma
continuação do ministério de Cristo. 3. A igreja não começou no dia de
Pentecostes. 4. O batismo na água não é para a presente era da igreja. 4. Há
diferença entre o ministério anterior e posterior de Paulo. 6. Israel, não a
igreja, é a noiva de Cristo.
Pontos de diferença: 1. Quando começou a igreja? Extremo: em Atos 28;
Moderado: antes de Atos 28. 2. Qual a extensão do período de transição de
transição no livro de Atos? Extremo: abrange até Atos 28; Moderado:
abrange até Atos 9 ou 13. 3. Qual o lugar apropriado da Ceia do Senhor?
Extremo: lugar nenhum; Moderado: a igreja pode observá-la. 4. Qual a
parte da Escritura foi escrita especialmente para a igreja? Extremo: somente
as epístolas da prisão; Moderado: outras epístolas paulinas também.

Finalizando esta parte, podemos dizer que o Ultradispensacionalismo antes de Paulo


era uma igreja judaica, pois só com Paulo é que temos a igreja corpo de Cristo. Esta visão é
extrema e totalmente equivocada, além dos erros pontuados acima com Ryrie.
5ª – Dispensacionalismo Integrativo:

O Integrativo se constitui em uma vertente mais nova do Dispensacionalismo. Ela tem


como proponente, talvez único e principal, Michael J. Vlach. Ela seria também um caminho
do meio, distinto da via do meio do dispensacionalismo progressivo. Enquanto este tenta um
equilíbrio entre pactualistas, novo aliancistas e dispensacionalistas; aquele, por sua vez, busca
realizar uma interação entre os DC, DR, que eles nominam de Dispensacionalismo
Tradicional e o DP. Analisemos melhor a tabela para compreendermos as crenças e distinções
existentes entre os dispensacionalismos tradicionais, progressivos e integrativos:

103
Ibidem, p. p. 317, 318.
51

Tabela n. 02 – Dispensacionalismo Integrativo: uma posição intermediária entre o DT e o DP


DISPENSACIONALISMO DISPENSACIONALISMO DISPENSACIONALISMO
TRADICIONAL INTEGRATIVO PROGRESSIVO
Hermenêutica Tradicional X Segue o Tradicional Hermenêutica Complementar
Jesus NÃO ESTÁ no Trono de X Jesus ESTÁ no Trono davídico
Segue o Tradicional
Davi
Batismo no Espírito NÃO é um Batismo no Espírito é um
cumprimento da nova aliança Segue o Progressivo X cumprimento da nova aliança
O reino profetizado no AT O reino profetizado no AT
X Parcialmente adiado X
FOI adiado NÃO FOI adiado
O Corpo de Cristo é apenas O Corpo de Cristo é
composto por salvos desta Segue o Progressivo X composto por todos os salvos
Dispensação da nova aliança
Não há ênfase na Redenção
Segue o Progressivo X Ênfase na Redenção Holística
Holística
Não há ênfase na Continuidade Ênfase na Continuidade
Qualitativa entre o Milênio e o Segue o Progressivo X Qualitativa entre o Milênio e
Estado Eterno o Estado Eterno
Ao verificar esta tabela podemos dizer que o dispensacionalismo de Vlach, dos 7
pontos avaliados, concorda com dois defendidos pelos tradicionais, rejeitando tanto a
hermenêutica complementar104 quanto o âmago diferenciador do DP, que é a ideia de que
Jesus está assentado no Trono de Davi. 105 Mas, esta vertente do dispensacionalismo aceita
parcialmente uma e outra visão, quando crer que o Reino foi adiado em parte na rejeição dos
judeus, pelo Messias. Nos 3 últimos pontos, o dispensacionalismo vlachiano segue os
progressivos. Vejamos rapidamente:
(1) O Corpo de Cristo é formado pelos crentes só da Igreja ou seria composto de
salvos da nova aliança, ou seja, da Tribulação à Consumação dos Séculos (no fim do
Milênio)?
A Bíblia diz que o Corpo de Cristo é a Igreja: “E Ele é a cabeça do corpo, da igreja; é
o
princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. ” (Cl
1.18); Ele é o Salvador deste: “Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é
a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. ” (Ef 5.23). Ela é, no presente, na
Dispensação da Graça, o mistério de Cristo (Ef 3.2 a 6), que é “Cristo em vós, esperança da
glória”. (Cl 1.27). Isto se dá pelo batismo no Espírito, 106 que forma o Corpo-Igreja (I Co
104
Sobre as abordagens hermenêuticas e a análise da hermenêutica complementar a partir do Sensus Plenior dos
progressivos consulte o capítulo dois, das páginas 28 a 36 deste livro.
105
Nota: Dizemos que esta construção interpretativa é fundamental para os progressivos, porque ela se constitue
como a base para se dizer que tanto a nova aliança foi inaugurada quanto o reino foi parcialmente
estabelecido. Com isto em mente, fica difícil, para Vlach, aceitar que Jesus não está no Trono de Davi e ao
mesmo tempo achar que o reino foi parcialmente adiado. Para maior aprofundamento sobre o Trono de Davi,
veja o capítulo quatro, das páginas 67 a 80.
106
Este assunto será mais aprofundado no capítulo 7, das páginas 112 a 131.
52

12.12-13). Apesar do derramar do Espírito, na Tribulação e no Milênio, como reflexo da nova


aliança, não há um só verso bíblico no AT ou no NT que diga ser o batismo no Espírito
aplicado a judeus ou gentios da Tribulação e do milênio a formar um corpo, como ocorre
hoje, com a igreja. A Igreja não estará presente na Tribulação; e, no milênio, ela reinará com
Cristo sobre as nações: “Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o
mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas” (I Co
6.2). Este juízo dura todo o milênio: “E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras
eu lhe darei poder sobre as nações e com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vaso
de oleiro; como também recebi de meu Pai. ” (Ap 2.26, 27). É esta a promessa que projeta a
inauguração do Trono de Davi ao futuro: “Ao que vencer lhe concederei que se assente
comigo no meu trono; assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono. ” (Ap
3.21), enquanto Israel será liderada pelos apóstolos: “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo
que vós, que me seguistes, quando na regeneração o Filho do homem se assentar no trono da
sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. ”
(Mt 19.28). É isto o que as Sagradas Escrituras ensinam.
(2) É preciso enfatizar a redenção holística?
O DP enfatiza a progressão de um plano divino, que é holístico, ou seja, engloba a
todos os povos e todas as áreas da vida: pessoal, cultural, social e política da vida humana. O
DI de Vlach vai na mesma direção. Eles se distinguem da visão normativa do
dispensacionalismo, concentrando a sua atenção na ação social, compreendendo que a
redenção total ou holística só se cumprirá no reino milenar de Cristo, mas há a possibilidade
de ser iniciada no tempo da Igreja que, que se torna um instrumento, através do qual, o reino
de justiça avança em nome de Cristo. Entretanto, o DP que cobra tanto o uso da teologia
bíblica em sua hermenêutica, não apresentas os textos bíblicos necessários para esta ênfase na
redenção holística. O máximo que usam, segundo Ryrie são duas referências neste assunto: II
Coríntios 4.7 e I Coríntios 13.12.
Contudo, os dispensacionalistas tradicionais ou normativos entendem que a promoção
do reino de justiça no presente não é prerrogativa da Igreja. Jesus não nos ordenou
implementar a justiça no mundo presente, apenas nos mostrou que são “Bem-aventurados os
que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. ” (Mt 5.6). Acreditamos que esta
fartura de justiça é futura e se concretizará a partir da inauguração do reino messiânico. O
dispensacionalismo tradicional (para os progressivos), normativo (para os do DC e DR), fica
com a declaração de Ryrie107 sobre este tema:
107
Ryrie Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: Editora Batista Regular, 2020, p. 288.
53

[...]. As Escrituras nos conclamam a obedecer a ética da igreja, não a do


reino, e fazer o bem a todas as pessoas sempre que houver a oportunidade,
mas especialmente aos da família da fé (Gl 6.10). A redenção holística pode
conduzir a uma listagem desiquilibrada ou mesmo errada de priorizações,
realçando ações políticas, agendas sociais e busca de melhorias nas
estruturas da sociedade.

Notemos que este tipo de redenção se aproxima e se identifica com aspirações tanto do
pós-milenismo, (guardadas as devidas proporções) quanto do amilenismo. Temos que ter
muito cuidado para que esta redenção holística não ofusque os dois pontos do sine qua non do
Dispensacionalismo, que é a glória de Deus em todo o desenrolar da história. Embora
relevante, mas, a Bíblia não está centrada na história da salvação (na redenção), ela se
concentra no próprio Deus. Assim, não é a redenção a quinta-essência da história humana,
mas Cristo e Sua glória são o centro da história. Deus faz tudo consoante ao seu beneplácito e
próprio conselho, para o louvor de sua glória; e em segundo lugar, a distinção entre Israel e a
Igreja começa a ser embaçada no DP. Neste caso, as Escrituras enfatizam muito mais a
redenção futura de Israel, em especial com o Dia do Senhor e a Nova Aliança, sem desprezar
a ação de Deus nas nações, pela conversão dos gentios, agora, na Dispensação da Graça, e
também no período tribulacional.
(3) A ênfase na continuidade qualitativa entre o Milênio e o Estado Eterno é
necessária?
Quando adentramos nesta questão podemos pensar na divisão que os progressivos
fazem das dispensações, geralmente em número de quatro: Patriarcal, Mosaica, Igreja ou
Graça e Siônica. Assim, para o DP a quarta dispensação subdivide-se em Milênio e
Eternidade, isto é, o DP entende o Milênio como um reino intermediário entre o davídico, já
inaugurado, e a plenitude do reino de Deus a ser inaugurada na Nova Terra, sendo o Estado
Eterno uma dispensação. Talvez seja por isso que Vlach apoia este ponto, pois ele crer em 8
dispensações, inclusive o Estado Eterno como a oitava. Pode ser também que, por isso, Ryrie
vê o DP como aliancista ao invés de dispensacionalista. Nós não enfatizamos esta
continuidade, por entendermos que o Estado Eterno é outra dimensão, não se constituindo em
uma dispensação.

I – A TENSÃO JÁ/AINDA NÃO


54

Queremos abrir esta parte do estudo com um panorama geral desta tensão
escatológica, abordado por Charles Ryrie:108

A dualidade expressa na fórmula já/ainda não é antiga na linguagem


teológica. Tampouco é usada somente para se referir aos supostos dois
estágios do governo de Davi (agora no céu, depois na terra). Criada por C.
H. Dodd em 1926, significa geralmente que o reino de Deus já está presente,
embora seja, de algum modo, também futuro. Para George Ladd, o “já”
relaciona-se com o reino de Cristo na salvação e o “ainda não” refere-se ao
seu futuro reinado no milênio. Em Hoekema (um amilenista), indica reino
celestial de Cristo sobre a terra e seu futuro reino nos novos céus e a nova
terra. Em Sproul (também amilenista), o “já” é a presente era e o “ainda não”
é o estado eterno. No Dispensacionalismo progressivo, o “já” é o reinado
presente de Cristo em cumprimento parcial da aliança davídica e o “ainda
não” é o seu reino milenar.
109
Por sua vez, Oscar Culmann, teólogo ecumênico, que teve participação ativa no
Concílio Vaticano II, e escreveu um livro Católicos e Protestantes: uma proposta para uma
efetiva solidariedade Cristã em 1968. Ele destaca a tensão já/ainda não sobre Jesus profeta:

A escatologia de Jesus não é nem “realizada” (Dodd) nem “somente futura”


(A. Schweitzer). A tensão existe já no ensinamento do próprio Jesus. O
adiamento da parusia na igreja nascente tem, quando muito, por
consequência uma inexistência maior sobre o já realizado. As palavras já
mencionadas dos evangelhos sinópticos provam que o próprio Jesus admitiu
um tempo de realização já cumprido durante sua vida, sem deixar de esperar
com intensidade a consumação final, muito próxima; porém, que chegaria
somente depois de sua morte.
Mark Swedberg 110 fala do problema com o já/ainda não, que é hermenêutico, às vezes
não literal, e isto mescla Israel e a Igreja na economia atual e na crença numa escatologia
realizada e futurística. É difícil distinguir os progressivos dos pré-milenistas-históricos, como
Ladd. A tensão se liga a Heilsgeschichte, termo alemão que quer dizer “história da salvação”:

Essa designação saiu dentre o ambiente de liberalismo e neo-ortodoxismo


alemão e foi popularizada por Oscar Culmann. George Ladd, um evangélico,
gostou do conceito e adaptou-o à teologia evangélica. A doutrina central de
heilsgeschichte é que ‘a revelação [divina] ocorreu nos atos redentores de
Deus na ‘sagrada história’ registrada na Bíblia, os quais culminaram na
totalidade da pessoa, palavras e obras de Jesus Cristo, incluindo Sua morte e
ressurreição’. 111
112
Acerca da Heilsgeschichte é relevante o que diz Ladd sobre a visão
culmanniana

108
Ryrie Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: Editora Batista Regular, 2020, p. 272.
109
CULMANN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento. São Paulo: Editora Custom LTDA, 2004, p. 71.
110
SWEDBERG, Mark. DISPENSACIONALISMO: Uma Breve Introdução e defesa, 2000, p 11-12.
111
Ibidem, 2000.
112
LADD, G. Teologia do Novo Testamento. Ed. Revisada. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 20.
55

desta teologia: “Na obra de Cullmann, a teologia da Heilsgeschichte emergiu de uma forma
diferente e nova. Como consequência, o princípio da Heilsgeschichte como o centro
unificador da teologia do Novo Testamento tem sido amplamente reconhecido”. É fato que os
conservadores concordam com a visão de Culmann; mas, o mesmo teólogo advoga a ideia
113
duma Cristologia funcional, que, segundo Roque Albuquerque, pode ser conceituada
assim: “Com Cristologia Funcional vem a ideia que o NT não está interessado tanto na
essência do ser de Cristo, mas nas funções com que ele se apresenta.” Esta tese não é bíblica.
Daí Albuquerque114 contestar: “Não podemos separar a Cristologia Ontológica da Funcional.
Cf. Jo 1.1. ”
115
Ainda sobre a Heilsgeschichte, Albuquerque cita von Hoffman, que teve por fonte
Johann Albrecht Bengel, o qual contribuiu à sua estruturação com a hermenêutica e sua noção
da história sagrada ou história da salvação. Para Laerte Tardeli Hellwig Voss,116 o termo acha
espaço em Cullmann, o qual não cria em Adão como uma pessoa histórica. Em sua trilogia:
Cristologia do Novo Testamento, Salvação na História e, em especial, Cristo e o Tempo, ele
diz que “O Reino de Deus que, em um primeiro momento parecia estar relacionado apenas
com eventos vindouros, podia ser experimentado, em sinais, já no presente. Tudo porque em
Cristo, o futuro já havia começado, o Reino já havia sido inaugurado, e nós éramos parte dele.
” Vale dizer que, o já/ainda não, na escatologia temporal culmanniana, não só influencia
progressivos, mas também aos teólogos protestantes liberais e neo-ortodoxos e ainda aos
teólogos católicos.
Em relação a Cristo e o Tempo, obra-prima de Culmann, é relevante para este estudo,
notarmos a síntese deste livro feita por William Felipe Zacarias: 117

Em 1946 ele escreveu “Cristo e o tempo” que é considerada a sua obra máxima. Em
Cristo e o Tempo, Cullmann traz uma concepção neotestamentária de tempo
e história. Ele voltou para a temporalidade, enfim, à historicidade: sociedade,
política, corpo e planeta. Para ele, a história humana na sua totalidade é
somente compreendida a partir do evento de Cristo. É nele que os demais
eventos históricos recebem sentido.
118
Zacarias trata da ruptura de Culmann com a filosofia platônica pela temporalidade,
presente na obra: “Por isso a eternidade não se opõe à temporalidade. A definir isto, Cullmann

113
ALBUQUERQUE, R. Heilsgeschichte: Uma análise do conceito de sua história como chave hermenêutica
comparada com o dispensacionalismo tradicional.2004, 9.
114
Ibidem, 2004.
115
Ibidem, 2004, p.15.
116
VOSS, Laerte Tardeli Hellwig. A tensão já e ainda não em Oscar Cullmann: Possibilidades e Implicações
para a Missão da Igreja, Rio de Janeiro: PUC, 2018,13.
117
ZACARIAS, William, Felipe. Tempo e História no Cristianismo Primitivo Oscar Culmann, S/D, p. 2.
118
Ibidem.
56

promove o rompimento com o dualismo platônico. A salvação correta não é a salvação


do tempo, mas salvação no tempo. Cullmann prefere manter a tensão dialética entre o
secular
e o sagrado. ” Nesta opus-magnum, Culmann119 fala do Plano de Deus como único na história:

Constatamos por tanto lo siguiente: el Nuevo Testamento enterro presupone


una sola y misma concepción de la historia de la salvación, la cual es
expresada unas veces de una manera más o menos completa, y otras veces
solamente es indicada por simples alusone. Mas para todos los escritores del
cristianismo primitivo constituye en definitiva el tema común que, en sus
diversos aspectos, es desarrollado - en los diferentes escritos del Nuevo
Testamento - con todas sus consecuencias éticas y dogmáticas.
O que não pode passar despercebida é a influência que Culmann sofre tanto de
Schleiermacher (pai do liberalismo teológico) e Albert Schweitzer (teólogo-médico-filósofo,
que tentou separar o Jesus histórico do Cristo da fé); além da sua ligação com Karl Barth (pai
da neo-ortodoxia), pois ensinavam na mesma universidade em Basileia. Por sua vez, há
120
aqueles que recebem a sua influência. Eles são destacados por Laerte Voss, o qual cita ao
menos dez deles: George Eldon Ladd (1911-1982- premilenista histórico), Wolfhart
Pannenberg (1928-2014 – teólogo da Esperança/teólogo da História). Jurge Moltmann (1926-
teólogo da Esperança/teólogo do Futuro), Nicholas Thomas Wright (1948- bispo anglicano) e
José Míguez Bonino, (1924-2012) do lado protestante. E por Daniélou e Thils, pela Lumen
Gentium, e Joseph Ratzinger (o papa vivo, que não está em exercício, pois foi aposentado pela
Sé romana), Gutiérrez e Boff, do lado católico. Este consenso e adesão à tensão já/ainda não,
no mínimo põe-nos em alerta para ver se esta tese é ideal à Escatologia bíblica. Além deles,
muitos heréticos surgem nas redes sociais sustentando esta tensão para tudo que a Bíblia
ensina.
Não se pode negar a existência do já/ainda não em algumas questões da fé, a exemplo
das santificações: instantânea, progressiva e completada – Já fomos santificados pela oblação
do corpo de Cristo (Hb 8.14), mas ainda não fomos glorificados com a adoção do nosso corpo
(Rm 8.23). Já fomos salvos da condenação do pecado, estamos sendo salvos do seu poder,
mas ainda não fomos salvos da sua presença (Romanos 6). A profecia de Isaias 61.1-2 foi
cumprida parcialmente em Lucas 4.18-21, quando Jesus estava na sinagoga em Nazaré. O já
se cumpre no Ministério dEle, e o ainda não no seu retorno, quando haverá “o dia da
vingança do nosso Deus. ” Agora (o já) somos filhos de Deus e ainda não é manifesto o que
havemos de ser, mas isto ocorrerá quando Ele se manifestar (o ainda não – I João 3.1-3). Isto

119
CULMANN, Oscar. Cristo y el Tiempo. Barcelona: Editora Estella SA, 2008, p. 95.
120
Ibidem, 2018, p. 11-12.
57

não quer dizer que devemos nos apropriar dessa tensão e aplicá-la a cada profecia e a cada
fato escatológicos.
Culmann 121 ao abordar a nova divisão de tempo no centro da História da Salvação faz
com que vários progressivos se apropriem desse discurso e aplique ao
Dispensacionalismo
como tripartite: Antes de Cristo, depois da primeira Vinda dEle e após a sua segunda Vinda:

Tal como se encuentra en la Biblia, hemos visto que la línea del tiempo se
divide en tres partes: el tiempo anterior a la creación, el tiempo comprendido
entre la creación y la parusía, el tiempo posterior a la parusía. A esta división
tripartita, jamás abolida, se superpone, ya en el judaísmo, la división
bipartita, originaria del parsismo que distingue entre este aión y el aión que
viene. En esta división bipartita judaica, todo se halla situado bajo el signo
del porvenir. La mitad misma de la línea está formada por la venida futura
del Mesías, la aparición de la era mesiánica de la salvación con todos sus
milagros. Aquí es donde el judaísmo coloca el gran corte de la historia en su
conjunto, corte que la divide en dos mitades. Dicho de otro modo, para el
judaísmo, la mitad de la
línea, la salvación, está situada en el porvenir.

Nesta conjuntura, surge a questão: Como pode o Reino de Deus ter um já e um ainda
não? Assim, os Tradicionais e Revisados são inquiridos: Se os judeus tivessem aceitado o
reino que Cristo veio trazer, como ficariam os judeus e as nações sem o derramamento do
sangue de
Cristo (Hb 9.22)? Para esta pergunta é preciso entender que Jesus veio para os judeus: “Eu
não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15.24). O seu primeiro IDE
foi aos israelitas: “Mas ide ante as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10.6). Então,
ocorreu a rejeição dos hebreus: “Veio para o que era seu e os seus não o receberam” (Jo 1.11).
Isto é fato, pois o reino lhes foi tirado e adiado profeticamente para o futuro, dado a outra
geração de Israel:

Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores


rejeitaram, essa foi posta por cabeça de esquina; pelo Senhor foi feito isto e é
maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, eu vos digo que o reino de Deus
vos será tirado e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E quem cair
sobre esta pedra, despedar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido
a pó. E os principais e os sacerdotes e os fariseus ouvindo estas palavras
entenderam que falava deles. (Mt. 22:42-45).

Isto realça o controle soberano de Deus, mesmo com o adiamento do Reino pela
rejeição de Israel. Isto também responde a progressivos sobre a Igreja como lacuna profética e
o adiar do Reino, revelando a Jesus como a Pedra e a expectativa dos judeus nos conceitos:

121
Ibidem, CULMANN, Oscar, 2008, p. 67.
58

Reino de Deus para a Igreja – Jesus é a Pedra Viva na primeira e segunda vindas. O AT fala
desta Pedra e do Reino Messiânico para Israel, destruindo o império da Besta. Veja Daniel
9.34 e 44-45:

Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem auxílio de mãos, a
qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou [...]. Mas nos
dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais
destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá
todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre. De maneira que
viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela
esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro; o grande Deus fez
saber ao rei o que há de ser depois disto. Certo é o sonho e fiel a sua
interpretação.

Acerca da rejeição dos judeus a esta Pedra e seu tropeço na primeira Vinda de
Cristo,
há o registro do Salmo 118.22-23. E é importante destacar: “[...] Da parte do Senhor se fez
isto [...]. ” Esta rejeição é pontuada por Jesus três vezes em o Novo Testamento, tratando
deste fato e feito, na Parábola da Vinha (Mt 21.42; Mc 12.10 e Lc 20.17). Israel tropeçou na
Pedra, por não entender que, na 1ª Vinda, o Salvador não veio implantar o reino messiânico,
mas edificar o Mistério, a Sua Igreja: “E também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. ” (Mt
16.18). A igreja não é o Reino e Pedro não é a Pedra, mas sim, Jesus; O apóstolo diz isto
em discurso diante de Anás,
Caifás, João e Alexandre: “Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi
posta por cabeça de esquina. ” (At 4.11). Na sua carta, ele expõe o fato com Israel e a Igreja:

E chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens,


mas para com Deus eleita e preciosa. Vós também, como pedras vivas, sois
edificados casa espiritual e sacerdócio santo para oferecer sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. Por isso também na Escritura
se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal de esquina, eleita e
preciosa; e quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que
credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores
reprovaram, essa foi a principal da esquina, e uma pedra de tropeço e rocha
de escândalo, para aqueles que tropeçaram na palavra, sendo desobedientes;
para o que também foram destinados (I Pedro 2.4-8).

Tudo isto só demonstra que o plano divino está em execução sem ser frustrado. A
incondicionalidade que a aliança abraâmica indica, está no processo e é dito na perícope
acima que aqueles judeus foram “destinados para este propósito” e repetindo: “[...] foi o
Senhor quem fez isto”. O Plano soberano de Deus inclui a rejeição de Israel e a sua admissão
posterior, junto com o adiamento do reino, como Paulo expressa em Romanos 9, 10 e 11. É o
59

que se vê após a censura de Jesus aos judeus: “Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e
apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos como a galinha
ajunta os seus pintos debaixo de suas asas e tu não quiseste” (Mt 23.37). O adiamento do
Reino é visto nos próximos versos: “Eis que a vossa casa vos é deixada deserta; porque eu vos
digo que desde agora não me vereis mais até que digais: Bendito o que vem em nome do
Senhor” (Mt 23.38-39).
Neste contexto, Randall Price 122 afirma: “Quando a liderança de Israel rejeitou a Jesus
como o Messias (Mt 23.37-38; At 3.13-15,17; 4.25-27), a restauração da nação foi adiada, o
que tornou necessário um segundo advento messiânico a fim de completar a restauração
espiritual e física de Israel (Mt 23.39; At 6-7; 3.19-21; Rm 11.25-27).”
O Reino é adiado para o futuro, após a obra do Calvário e a Ressurreição de Cristo
se
concretizarem, quando Ele vier em glória para reinar com a Igreja e Israel. A soberania de
Deus não é afetada em Seu beneplácito. Assim é inserido o clamor de Israel: “Salva-nos,
agora, te pedimos, prospera-nos. Bendito aquele que vem em nome do Senhor; nós vos
123
bendizemos desde a casa do Senhor” (Sl 118.25-26). Por isso, Price afirma
peremptoriamente:

A expressão técnica para este entendimento do intervalo no programa


messiânico para Israel é a interpretação apotelesmática. É derivada do verbo
grego apotelo, que significa “levar até o fim, terminar”. Telos (“fim” ou
“objetivo”), pode ter aqui a ideia mais técnica da “consumação das profecias
quando elas são cumpridas” (Lc 22.37). Com o prefixo apo, que basicamente
possui a conotação de “separação de algo”, a ideia é a de uma demora ou
interrupção na conclusão do programa profético.
124
Price trata da interpretação de algumas profecias do AT ligadas à primeira e
segunda vindas de Cristo. O autor não precisa recorrer ao já/ainda não laddiano, pois a
hermenêutica apotelesmática, linkada ao adiamento profético, é suficiente a atender vidências
deste Advento:

Portanto, uma interpretação apotelesmática reconhece que alguns textos do


AT apresentam o programa messiânico como um único evento, mas que na
verdade se referem a um cumprimento histórico tanto próximo como
distante, separado por um período de tempo indeterminado. Escritores
dispensacionais têm-se referido a isto como uma “intercalação” ou um
“intervalo”. No entanto, o adiamento profético expressa melhor este
conceito.
122
HINDSON Ed e LAHAYE. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica; In PRICE Randall: Adiamento
Profético. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 20.
123
Ibidem.
124
Ibidem, 2010, p. 21.
60

125
Reforçamos com Price o “adiamento, porque retém a ideia original de uma
interrupção no cumprimento, enquanto o suplementa com a noção de que tal demora é apenas
temporária, e profética, porque entendemos que se trata de um ato intencional e pré-ordenado
no plano divino. ” Tal adiamento profético é uma doutrina expressa por ele na Era messiânica:

Adiamento profético é uma expressão usada para comunicar a demora do


programa messiânico de redenção para a nação de Israel. O NT refere-se à
primeira e a segunda vindas do Messias como uma consequência do
endurecimento judicial de Israel (Mt 13.13-15; Mc 4.11-12; Lc 8.10; Jo
12.40; At. 28.26-27; Rm 11.8-10).126

Price 127 pontua que este protelar envolve tanto a restauração espiritual do povo quanto
a restauração física da terra:

O adiamento interrompeu a restauração sob a nova aliança (Jr 31.31-37). No


Antigo Testamento, a restauração nacional de Israel incluiu dois elementos
inseparáveis: a sua regeneração espiritual (veja Is 49.1-7; 53-55; Ez 36.25-
27; 37.14,23) e a restauração física da terra (veja Is 49.8; 56:1-8; Ez
36.24,28;47. 24-28).
Os progressivos rejeitam a este adiamento asseverando que João, o Batista, chama
Israel a se arrepender por estar próximo o Reino (Mt 3.15) e que Jesus disse: os “filhos do
reino” são os que aceitam a Palavra (Mt 13.38); e ainda: é preciso receber o Reino como
criança (Mc 10.15). Só que estes versos não implicam a inauguração do reino messiânico, mas
os efeitos espirituais deste reino entre fiéis, pela Obra de Cristo. E este adiamento é um dado
escatológico: “Além disso, a abordagem apotelesmática é diferente da abordagem dialética
“já-ainda não”, porque esta segunda contemplaria um cumprimento parcial da promessa
completa, enquanto a primeira contemplaria um cumprimento completo de parte da
promessa.”128 Price 129
é categórico em afirmar que não há nenhum cumprimento parcial do
trono de Davi nas Escrituras:

Jesus não está cumprindo parcialmente a promessa de reinar sobre o trono de


Davi como o Senhor da Igreja (At 2.34-36; Hb 1.3; 12.2). Isto está adiado
para uma futura entronização terrena, que cumprirá completamente as
exigências literais das promessas do AT para a nação de Israel (2 Sm 7.16;
SI 89.4; Mt 19.28; 25.31).

Os dispensacionalistas progressivos entendem também que a inauguração do Reino no


já (presente) identifica a Igreja como o próprio Reino, à semelhança do que fazem pactualistas

125
Ibidem, 2010, p. 20.
126
Ibidem, 2010, p. 21.
127
Ibidem.
128
Ibidem, 2010, p. 21.
129
Ibidem.
61

e aliancistas. Para ambas as vertentes a Igreja e o Israel são expressões do Reino de Deus na
terra. Corrobora com esta afirmação, o dispensacionalista progressivo Valney Veras: 130

Observemos então o reino de Deus em o NT. Existe realmente o reino de


Deus em o NT? A Igreja é uma expressão do reino de Deus como Israel foi
uma expressão do reino de Deus em o AT, na Velha Aliança? Esta é a
grande questão hermenêutica. O Dispensacionalismo destaca o cumprimento
das profecias referentes ao reino de Deus de modo parcial e final,
obviamente a partir do recurso do já/ainda não.

É muito pertinente a distinção entre dispensacionalistas e dispensacionalista nesta


questão. Hélder Cardin 131 destaca esta diferença da seguinte maneira:

Há distinção no seguinte aspecto: Para os progressivos a Igreja é uma


expressão do Reino de Deus, já o revisado não vai olhar dessa forma. [...].
Então, há uma diferença muito significativa: O revisado vai entender que já
vivemos realidades do Reino, mas não há uma inauguração do Reino [...].
132
Cardin ao defender o DR, demonstra que existe, sim, uma aproximação entre DP e
aliancismo, pelo menos no que diz respeito à visão, pelo DP de que a Igreja é a expressão
do
Reino de Deus na terra:

Alguns dizem que o dispensacionalismo progressivo é uma aproximação da


Teologia do Pacto, o que não é verdade em alguns aspectos, mas talvez uma
que poderia sugerir esta ideia é porque a teologia do pacto, por causa da
teologia da substituição, vê a Igreja como o Israel de Deus, então assim
como Israel vivia o Reino de Deus, assim também a Igreja está vivendo hoje
o Reino de Deus, ou ela expressa o Reino de Deus. Ela participa e promove
o Reino de Deus.

Assim, os progressivos veem a igreja como o Reino de Deus, o que não condiz com o
133
que as Escrituras ensinam. Em relação ao fato de a Igreja não ser o Reino, Thiessen
enfatiza que “Na tradução inglesa de Mateus temos o termo ‘reino dos céus’ trinta e três
vezes, mas ele não aparece em qualquer outro lugar da Bíblia. Temos frequentemente o termo
‘reino de Deus’. Mas nenhum deles pode ser colocado no lugar da Igreja”. O autor acrescenta
ainda que:

130
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
131
CARDIN, Hélder. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Disponível em > https://
www.youtube.com/watch?v=4ZE9EmUyNiw&list=PLDtQAWb-ysHeu3QHCoCUrKBD5cb3ccB6-index=8.
Acesso em 02 de dez. 2020.
132
Ibidem, CARDIN, Hélder. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 02 de dez.
2020.

133
Henry Thiessen, Palestras Introdutórias e Teologia Sistemática, p. 290.
62

O novo nascimento’ é absolutamente necessário para admissão no reino de


Deus (Jo 3.3,5), e isto equivale à conversão em relação ao reino dos céus (Mt
18.3). Já que [...] a admissão à Igreja também está condicionada à
regeneração, o reino de Deus e a Igreja têm muito em comum. A principal
diferença é a de que o reino de Deus é maior do que a Igreja, incluindo os
salvos de todos os tempos e tendo também um aspecto escatológico, ao
passo que a Igreja está confinada aos crentes desta época presente. 134

Em relação à literalidade do reino messiânico, Pentecost 135 destaca que o ministério de


Cristo aqui na terra nunca foi a inauguração de um reino para o presente:

Podemos demonstrar que, em todas as pregações a respeito do reino feitas


por João (Mt 3.2), por Cristo (Mt 4.17), pelos doze (Mt 10.5-7), pelos setenta
(Lc 10.1-12), em nenhuma ocasião o reino oferecido a Israel é alguma coisa
além de um reino literal terreno. Mesmo após a rejeição dessa oferta por
Israel e o anúncio do mistério do reino (Mt 13), Cristo prevê tal reino literal
terreno (Mt 25.1-13,31-46). (Cf. RYRIE, op. cit., p. 91-102). O Novo
Testamento nunca relaciona o reino prometido a Davi à passagem terrena de
Cristo.
Vai de encontro a esta posição a visão do DP, que vê, como já foi dito, Israel no
Antigo Testamento como uma expressão do Reino de Deus, e expõe também a sua visão
sobre a Igreja como expressão desse mesmo Reino, a partir da tensão já/ainda não. Por isso,
Veras 136 afirma:

[...]. Mas, existe como eu falei, uma segunda observação que o Reino de
Deus se dará somente num futuro escatológico no Milênio. Então a Igreja
não é o Reino de Deus. Problema: Nós temos uma série de textos bíblicos
que parecem dizer que a Igreja, de alguma forma, participa do Reino. Com
isto nós não estamos querendo dizer que somos amilenistas ou que o Milênio
é figurativo. Não, cremos num milênio literal no futuro, numa perspectiva
premilenista, pré-tribulacionista; no entanto, pelas próprias afirmações
bíblicas, você tem que fazer uma ginástica exegética muito grande para
defender que a Igreja não tem nada a ver com o Reino de Deus [...], e mais
uma vez, dentro de uma perspectiva do dispensacionalismo, pensando na
chave-hermenêutica do já/ainda não, podemos entender um caminho
interpretativo presente nas Escrituras que faz a relação entre o aspecto
presente do Reino e o aspecto futuro do Reino.
II – ASPECTOS DO REINO APLICADOS À IGREJA:

Entendemos que a Igreja participa de alguma forma de aspectos do Reino de Deus,


mas essa compreensão não traz a tônica de que há uma necessidade de ela ter que ser uma
expressão do Reino e que a mesma tem que inaugurar, a todo custo, este Reino no presente,
tampouco é preciso fazer malabarismos exegéticos para entender que passagens relacionadas
com a Igreja e o Reino só serão bem interpretadas se a Igreja for hoje o Reino de Deus na
terra. A partir de agora, podemos analisar estes textos e ver que tais afirmações podem
134
Ibidem, p. 291.
135
Ibidem, PENTECOST, 1998, p. 136.
136
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
63

expressar uma hermenêutica plausível com definições distintas de reino na teologia. Sobre a
série dos vários textos que os progressivos dizem estar ligados à Igreja como expressão do
Reino de Deus:
a) Lucas 1.32 – “[...] Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo, Deus, o
Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a casa de Israel e o
seu reino não terá fim. ” Análise progressiva:

[...]. Lucas capítulo 1.32 obviamente é um texto que nós não poderíamos
deixar de ler para tentar perceber a Igreja como expressão do Reino de Deus
na terra, [...] Ao interpretar este texto alguns vão dizer, olha, Jesus vai reinar
no trono de Davi. Na verdade, o trono de Davi se refere ao trono do governo
do Senhor e Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó. Só sobre a casa de
Jacó? Não, vai reinar para sempre sobre todas as nações. Mas aqui Ele está
especificando. E o reino dEle não terá fim. Então, é muito claro em Lucas
1:32 e 33 aqui, nestas palavras de recebimento do Senhor Jesus, a ideia de
que Ele haveria de reinar no trono de Davi.137

Com todo respeito ao DP, mas esta exegese desta passagem não traz nenhuma
evidência concreta de que este texto fala da Igreja como expressão do Reino (no próximo
capítulo temos uma hermenêutica bíblica sobre o trono de Davi). Basta agora a fala de Ryrie
sobre este texto: “[...]. Jesus é o Messias davídico, e embora seja Rei eternamente, o
cumprimento definitivo dessa promessa em relação à casa de Jacó começa no reino milenar.
Veja 2 Sm 7.16.”138
b) Mateus 3.2: “Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus”. A visão
progressiva sobre esta passagem bíblica é categórica:

[...]. Olha a mensagem de João Batista, por que que ele pregava que estava
próximo o reino de Deus? E posteriormente, nós observamos Jesus
ensinando e pregando o Evangelho do reino. [...] o reino de Deus é central na
pregação de Jesus, não tem como ler os Evangelhos e não observar que
existe a pregação do Evangelho do reino. 139

Doravante, a argumentação do DP parte para os versículos que falam do Evangelho do


Reino pregado no Ministério de Jesus, como atual para o ministério da Igreja:
c) Marcos 1.15: “[...] dizendo: o tempo está cumprido e o reino de Deus está
próximo, arrependei-vos e credes no Evangelho”.
d) Mateus 4.17: “Daí por diante passou Jesus passou Jesus a pregar e dizer:
Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus. ” Em seguida, o DP acrescenta:
“Agora Jesus fala de um arrependimento e do reino de Deus que está próximo. ”140
137
VERAS, Ibidem.
138
Ibidem, Bíblia Anotada, p. 1269.
139
VERAS, Ibidem.
140
Ibidem.
64

e) Mateus 4:23: “Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas,


pregando o Evangelho do Reino e curando toda sorte de moléstia e enfermidades entre o
povo. ”
Mais uma vez, não conseguimos associar estes textos à Igreja como expressão do
Reino. Aqui vemos o precursor do Rei, preparando o caminho da Majestade, e o Rei presente,
possibilitando o reino futuro, ao mesmo tempo em que é nítido o ministério do Messias, o
Senhor Jesus, a pregar para o Israel étnico o Evangelho do reino, e não para a Igreja, pois a
mesma nem sequer existia. Jesus traz o reino dos céus ao seu povo, mas este povo, que era
seu, o rejeitou (João 1.10-11); todavia, o seu reino não se estabeleceu no período de seu
ministério:

Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse
deste mundo, pelejariam os meus servos para que eu não fosse entregue aos
judeus; mas agora o meu reino não é daqui. Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu
és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para
isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é
da verdade ouve a minha voz. (João 18.11-12).
Quando olhamos para estes versículos, percebemos nitidamente que o Rei não
inaugurou o seu reino na terra para Israel e para as nações. Muito antes da existência do DP,
141
Lewis Sperry Chafer já alertava para isto: “[...] O Reino do Céu posposto até o retorno de
Cristo. Um dos maiores erros dos teólogos é uma tentativa, como ensaiada agora, de construir
um reino. Visto que o reino do céu não é outro além do governo de Deus sobre a terra. ” No
142
que concerne a estas passagens, Geisler faz uma afirmação sumamente importante,
realçando o valor do período de interregno neste contexto da Dispensação da Graça:

É difícil conciliar isto com declarações anteriores de João Batista e Jesus, de


que o esperado reino messiânico o era ‘chegado’ (isto é, estava ‘próximo’ –
Mt 3.2; 4.17) a menos que, quando a oferta de Jesus foi rejeitada, tenha sido
decretado um período de interregno (para cumprir o propósito eterno de
Deus de salvar os gentios) entre o primeiro Advento e a Segunda Vinda,
quando todas as profecias do reino messiânico serão cumpridas (25.31-45).

Agora, veremos outros versículos, expostos pelo DP como irrefutáveis no âmbito da


associação do reino e da Nova Aliança enquanto inaugurados na era da Igreja.

Então nós observamos agora algumas passagens, até já mencionadas, que


vão deixar muito claro que o reino de Deus não ficou só estabelecido e
pensado numa perspectiva profética no Milênio, mas que ele foi iniciado
aqui, na presença do Senhor Jesus Cristo, não somente por causa do
Evangelho do reino, que estava sendo pregado, não somente por causa da
presença do Rei, que ele veio para inaugurar, poderemos falar também do
141
CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. Volumes sete e oito. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 228
142
Geisler, ibidem, p. 894.
65

aspecto de Jesus montado em um jumentinho entrando em Jerusalém, na


figura de um Rei indo ali para ser coroado, na verdade não foi coroado, foi
crucificado. 143

Quando é dito que o Rei não foi coroado, mas crucificado, já se percebe
categoricamente que houve uma rejeição tanto do Rei, quanto do Reino. Como pode haver
uma inauguração de um reino com tamanha rejeição? Daí deduzirmos que o Evangelho do
reino e o reinado do Rei foram adiados profeticamente e protelados pelo próprio Soberano
Deus para que, no Seu propósito, tudo se cumpra no futuro, consoante à Sua perfeita vontade.
Veja os próximos textos:
f) Mateus 11.11: “Em verdade vos digo que entre os nascidos de mulher não
apareceu ninguém maior do que João Batista, mas o menor no reino dos céus é maior do que
ele. ”
O DP traz várias indagações retóricas que parecem irrefutáveis, em um primeiro
momento, a fim de demonstrar a pertinência de tanto uma inauguração do Reino no já quanto
no início da Nova Aliança para a era presente:

Como pode ser? Quem é o menor no reino dos céus aqui? Se o reino dos
céus, que é o reino de Deus, só vai se cumprir, segundo alguns
dispensacionalistas, numa perspectiva futura, então aqui a gente já entende
que está instalado o reino de Deus através desta pista que nós percebemos no
versículo 11. O menor no reino dos céus é maior do que João Batista. 144

Pedimos licença para discordar do DP, pois esta passagem bíblica não diz que o reino
de Deus já foi inaugurado na presente era. Analisando este texto nós podemos, sim,
contemplar a Igreja como participante do reino e da sua glória futura, enquanto a imaculada e
irrepreensível esposa do Cordeiro a reinar no futuro Milênio com Israel. João, o Batista é o
maior de todos os crentes e profetas veterotestamentários, porque ele viu pessoalmente o Rei
deste reino:

Ninguém jamais viu a Deus, o Deus unigênito que está no seio do Pai, é
quem o revelou. [...] Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a
batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o
Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo. Pois eu de fato vi, e tenho
testificado que ele é o Filho de Deus. (Jo 1.18, 33,34).

Este privilégio só ele teve, mas os próprios apóstolos tiveram privilégio ainda
maior,
pois, não só o viram, mas também ouviram os seus ensinamentos: “Bem-aventurados, porém
os vossos olhos, porque veem; e os vossos ouvidos, porque ouvem. Pois em verdade vos digo
143
Veras, Ibidem.
144
Ibidem.
66

que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram; e ouvi o que ouvis, e não
ouviram. ” (Mt 13.16-17). Entretanto, a Igreja, que não é o Reino, e tampouco inaugurou este
Reino agora, fará parte deste Reino no futuro com o privilégio maior que o dos crentes
veterotestamentários e maior do que o próprio João, o Batista. Ela será a esposa do Rei: “O
que tem a esposa é o esposo, o amigo do esposo que está presente e o ouve, muito se regozija
por causa da voz do esposo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. ” (Jo 3.29-30). Somente
quando a esposa se aprontar (Ap 19. 7-9) e vier com Cristo em Armagedom para inaugurar o
Reino dos céus (Ap 19. 11-21; 20.11-6) é que este verso 11 fará sentido pleno para todos nós,
da Igreja.
g) Mateus 11.12 – “ Deste os dias de João Batista até agora o reino dos céus é
tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele. ” Este é outro texto citado pelo
DP como aporte para comprovar a inauguração do reino dos céus entre nós, conforme declara
Veras: “Então, já existe aqui uma manifestação do reino de Deus nesse momento. Alguns vão
dizer, não, é porque Jesus estava aqui, quando Ele subiu ao céu o reino de Deus subiu com
Ele.”145
Mais uma vez a passagem acima não denota a inauguração do Reino. Os dias do
Batista antecedem a ascensão de Cristo e o advento da Igreja. Ela não está na terra, como
então entender que o reino já estava aqui em um tom escatológico? Jesus enfatiza o aspecto
espiritual do reino e a violência dos judeus que rejeitaram a mensagem do reino é patente
neste processo: o precursor perdeu a cabeça e o Rei foi crucificado, como diz Ryrie: “Desde o
tempo em que João começara a pregar, a reação fora violenta, quer por parte dos judeus, quer
por parte dos partidários entusiasmados.”146 Em si, o texto nada tem a ver com a Igreja. Daí
Scofield 147 dizer:

Tem-se discutido muito se a violência aqui é externa, contra o reino nas


pessoas de João, o Batista, e de Jesus, ou se considerando a oposição dos
escribas e fariseus, apenas os de grande determinação se esforçariam por
entrar nele. As duas coisas são verdadeiras. O Rei e seu arauto sofreram
violência, e este é o significado básico, mas também havia alguns que, de
forma resoluta, estavam se tornando discípulos. Comp. Lucas 16.16.

Em Lucas, lemos: “A lei e os profetas vigoraram até João; desde esse tempo vem
sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo o homem se esforça por entrar nele. ”
148
(v.16). Charles Pfeiffer e Everett Harrison entendem esta passagem como o marco que

145
VERAS, Ibidem.
146
Ryrie, Bíblia Anotada, ibidem, p. 1199.
147
Scofield, Bíblia de Referência, ibidem, p. 865.
148
PFEIFER, C. & HARRISON. Comentário Bíblico Moody. Os Evangelhos e Atos. São Paulo: IBR, 1994, 157.
67

determina o fim da Dispensação da lei, a propagação da vinda do Messias e o anuncio do


evangelho do reino de Deus, associado a atitude de se comprimir para entrar nele. A Igreja
não está aqui. Ela não é o reino, mas parte dele, e tem, no campo espiritual, o reinado de Jesus
sobre a vida do salvo. Seria o reinado da graça superabundante acima do reinado do pecado
abundante (Romanos 6).
h) Mateus 12.28: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus,
certamente é chegado o reino de Deus sobre vós”. O DP faz questão de pontuar que o reino já
chegou:

É chegado, chegou o reino de Deus [...]. A ideia é que esses sinais que Jesus
fazia, esses sinais miraculosos não eram assistência social para o povo
daquela época. Era uma expressão de graça e de bondade, certamente, mas
eles tinham um propósito maior de apontar Jesus como o Messias e de
autenticar a mensagem apostólica pregada pelos discípulos do Senhor Jesus
Cristo, que também expulsavam demônios: é chegado o reino de Deus. 149

É muito interessante este tipo de análise feita pelo DP. Com certeza, os sinais e
milagres praticados por Jesus era para autenticar a sua messianidade a fim de provar aos
judeus que Jesus era o Cristo (Jo 20.31). Não vejo tanto assim com os apóstolos, cujo
propósito principal dos sinais era autenticar sua mensagem até a completação do Cânon. Mas,
não dá para pegar este texto e dizer que a Igreja inaugura o reino. Em texto paralelo a este,
Zuck menciona milagres e sinais de Jesus em seu Ministério, e assim, os filhos do Reino
devem se submeter ao governo de Deus: servos que fazem a vontade dEle (Lc 11.20). Por
isso, Norman Geisler, 150 sustenta:

Jesus disse isto a respeito do reino espiritual de Deus (o Seu reinado); isto é,
‘o rei está entre vós’. Consequentemente, o reino estava presente quando o
Rei expulsou demônios (por exemplo, Mt 12.28), e também estava presente
(prefiguradamente) quando Ele disse: ‘Em verdade vos digo que alguns há,
dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do
Homem no seu Reino (16.28; cf. Mc 9.1; Lc 9.27.

Zuck cita o Batista como precursor cuja missão era preparar o público a responder à
mensagem e à pessoa de Jesus. Daí o arrependimento exigido por Ele ser necessário a
receptores da mensagem divina. Evandro Roque Rojahn151 cita Zuck: “Reino de Deus é
presente pela pessoa e anúncio de Jesus. Todos quantos almejam ser recebidos nesse Reino
devem prontamente arrepender-se dos pecados, pois esta é a condição primária e favorável ao
anúncio do Senhor. ” Os milagres provam autoridade do Rei e sua messianidade, mas não

149
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
150
Ibidem, Geisler, p. 894.
151
Revista Ensaios Teológicos – Vol. 03 – Nº 01 – Jun/2017 – Faculdade Batista Pioneira, p. 156.
68

implica inaugurar o Reino. A autoridade do Rei do Reino se estabelece, mas o reino


messiânico espera.
i) Lucas 17:20-21: “Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus,
Jesus lhe respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui!
152
Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós. ” Ao falar este texto, Veras
afirma:

Isto é muito interessante: ‘não vem o reino de Deus com visível aparência. ’
[...]. Como não é possível ter uma visível aparência deste reino? O Senhor
Jesus está explicando algo muito interessante aqui [...] O que o Senhor Jesus
começa a ensinar é uma transição com aspectos inerentes a uma Nova
Dispensação.

Veras153 prossegue demonstrando que o texto diz respeito à inauguração da Nova


Aliança e a visão da Igreja como uma expressão do reino de Deus:

A transição para a Nova Aliança. O reino de Deus está dentro de vós. [...].
Estas palavras do Senhor Jesus Cristo estão lançando as bases do
fundamento da Igreja. [...] Então, o Senhor Jesus está ensinando aqui, sim,
que o Reino de Deus se expressa na Igreja [...]. É um reino espiritualizado,
iniciado sem estar consumado [...]. Isto nos lembra também o já/ainda não.

Esta hermenêutica complementar é instigante, pois usando a tensão escatológica do


já/ainda não, aborda, talvez com malabarismos exegéticos, Jesus respondendo aos judeus-
fariseus sobre uma inquirição deles acerca de quando viria o reino de Deus, e ao mesmo
tempo, para o DP, o Mestre responderia, não aos fariseus, mas à Igreja, que sequer existia na
época em que a indagação foi feita. A resposta dos DP é que a Igreja estava sobre a transição
do judaísmo para o cristianismo, estabelecendo uma nova dispensação e, por consequência,
uma Nova Aliança. Mas onde está a consistência desta interpretação gramatical-literária?
Entendo que a Igreja participa do Reino, mas não consigo ver, na Bíblia, a Igreja como a
expressão do Reino.
É fato que quando o NT fala sobre o reino de Deus entre nós se refere a um reino
espiritual de Deus que não se identifica com o reino messiânico de Cristo, pois este é milenar
154
e ainda não foi inaugurado. Daí J. C. Ryle descrever este reino pensando neste texto de
Lucas:

A expressão de nosso Senhor descreve com exatidão o início de seu reino


espiritual. Começou em uma manjedoura, em Belém, sem o conhecimento
dos grandes, dos ricos e dos sábios. Apareceu de repente no templo em

152
Ibidem.
153
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
154
RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas. São José dos Campos: Editora Fiel, 1985, p. 282.
69

Jerusalém, e somente Ana e Simeão reconheceram o seu Rei. Trinta anos


depois, foi recebido somente por um pequeno grupo de pecadores e
publicanos, na Galileia. Os principais sacerdotes e fariseus não puderam vê-
lo. O Rei veio para o que era seu, mas os seus não O receberam. Durante
muito tempo, os judeus confessavam estar aguardando o reino; porém,
olhavam na direção
errada. Não tinham qualquer garantia para os sinais que estavam
aguardando.

O reino de Deus estava no meio daqueles judeus-fariseus, mas apesar disso, não o
perceberam. Ryle155 interpreta esta passagem acrescentando que a visão de Jesus sobre o reino
presente afeta o campo espiritual e não físico, portanto, não há um reino messiânico
inaugurado, como pensam os progressivos, mas um reino de Deus espiritual, sem aparência
física entre eles:

O reino que um dia Cristo há de estabelecer deverá iniciar-se, em vários


aspectos, de maneira semelhante ao seu reino espiritual. Não será
acompanhado por sinais e manifestações visíveis, que muitos aguardam
contemplar. Não será precedido por um período de paz universal e santidade.
Não será anunciado à Igreja por meio de avisos inconfundíveis de que todos
estarão prontos e preparados para a manifestação do reino. Virá inesperada e
subitamente, sem qualquer aviso a imensa maioria dos homens.
156
Ryle fala da inauguração do Reino como futura, a expressar surpresa e
despertamento na sua implementação: “Simeões e Anas serão escassos nos últimos dias,
assim como o foram no início do Evangelho. Muitos serão despertados, um dia, como pessoas
que estavam dormindo, e descobrirão para a sua surpresa e desânimo que o reino de Deus
realmente chegou.”
Freerksen157 busca definir um Reino esperado a se cumprir em dias apostólicos: “Atos
1.6-7 revela que os apóstolos esperavam que Jesus cumprisse as muitas profecias do AT e
estabelecesse seu reino sobre a terra. Naquele momento, eles não esperavam o céu ou a Igreja.
Suas palavras são claras: ‘ [...] Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? ’ (v. 6). ”
Dentro deste contexto, Freerksen158 apresenta o reino a partir de quatro aspectos:

A palavra “restaurar” (gr. apokathistano) sugere quatro aspectos:


1. O reino a que os apóstolos se referiam era aquele que Israel possuíra no
passado. Israel havia sido o reino de Deus quando o povo saiu do Egito
como uma nação (Ex 19.6). Deus era o seu Rei (1 Sm 8.6-7; 12.12; Jz. 8.23;
Is 43.15; Os 13.9-11).
2. Este reino não mais existia quando os discípulos fizeram a pergunta.
3. Este reino voltará a existir, juntamente com a nação de Israel.

155
Ibidem.
156
Ibidem. RYLE, p. 282.
157
Ibidem. In FREERKSEN, James: Escatologia de Atos. 2010, p. 171-172.
158
Ibidem.
70

4. Este reino é o mesmo que existiu com Israel, pois “restaurar” significa
trazer de volta algo que existiu anteriormente. Jesus suavemente repreendeu
aos discípulos por esta pergunta, mas não os censurou por sua esperança na
restauração do reino terreno que Deus estabelecera com a nação de Israel no
passado. Censurou-os apenas por terem Israel como sua principal e mais
urgente preocupação. Naquele momento, Cristo estava concentrado na
fundação de sua Igreja (A t 1.8). Ele advertiu os discípulos, explicando que
não lhes cabia saber os tempos ou as estações (v. 7).

Os próximos textos que falam do reino de Deus em o NT a partir de Atos:


j) Atos 8:12 – “Quando, porém, deram crédito a Felipe, que os evangelizava a
respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, assim homens
como mulheres” – O DP diz, por versos como este, que o reino de Deus é o mesmo reino de
Cristo no trono de Davi, inaugurado na Sua ascensão. Preferimos pensar com Geisler 159 que a
ideia de Reino se referindo a um reino espiritual é mais convincente: “Embora o reino
espiritual de Deus tenha continuado na era da Igreja, este reino não é idêntico à igreja. O reino
espiritual de Deus teve início enquanto Jesus estava na terra, e a Igreja não começou até ao
Dia de Pentecostes. ” Geisler160 vincula a existência da Igreja com o Batismo no Espírito:

A coexistência não prova identidade; a Igreja é um mistério não revelado até


aos tempos do Novo Testamento, uma entidade exclusiva na qual judeus e
gentios são co-herdeiros com Cristo (Ef 3.3-5; Cl. 26-27). Assim, embora a
Igreja seja parte de uma mais ampla comunidade espiritual de Deus, ela é um
grupo mais limitado, constituído de todos os crentes desde o Pentecostes que
foram batizados no Espírito no corpo de Cristo.
Por isso, pensando na pregação de Felipe sobre o reino de Deus, afirmamos com
Tronco e concordamos com ele, que “Todo o Reino de Deus está sob o Trono de Deus, mas
nem todo o Reino de Deus está sob o Trono de Davi.” 161 Assim se faz necessário entender que
o Reino de Deus tem uma amplitude maravilhosa que, muitas vezes, em o NT o uso do termo
se aplica a um reino espiritual em vigor no cotidiano dos cristãos, mas que este reino não é o
messiânico.
k) Atos 19.8: “Durante três meses Paulo frequentou a sinagoga, onde falava
ousadamente, dissertando e persuadindo, com respeito ao reino de Deus. ” Os DP usam este
texto a dizer que os apóstolos pregavam a inauguração do reino à Igreja. Geisler162 afirma:

Pelo fato de a expressão “Reino de Deus” também ser utilizada pela Igreja
do Novo Testamento, alguns concluem que as duas são idênticas, porém não
159
Geisler, ibidem, p. 895.
160
Ibidem.
161
TRONCO, Thomas. Dispensacionalismo progressivo. Por que não? 2ª Conferência Redenção Tema:
"Dispensacionalismo" Realizada na Igreja Batista Redenção entre os dias 31 de maio e 3 de junho de 2018.
Disponível em> https://www.youtube.com/watch?v=tWu8zNSyQKU&t=2938s. Acesso em 12 de nov. 2020.
162
Geisler, ibidem, p. 868.
71

tendo o mesmo escopo. Abraão, Isaque e Jacó (por exemplo) estão no reino
de Deus (cf. Lc 13.23), e a igreja não existia no Antigo Testamento (Ef 3.3-
6); este é um mistério que só foi revelado posteriormente (Cl 1.26-27) e que
começou no Pentecostes (At 2), quando os crentes foram batizados no corpo
de Cristo (1.5; cf. 1 Co 12.13). Pedro usou a expressão “as chaves do reino”
(c.f Mt 16.19) para abrir a porta do evangelho aos judeus (At 2; cf. 11.15) e
aos gentios (10.1ss): até mesmo os salvos nos tempos do Novo Testamento,
antes do Pentecostes, faziam parte do reino de Deus, mas não da Igreja.

163
Geisler fala com propriedade sobre a amplitude do reino de Deus em relação à
Igreja,

sendo este muito maior do que ela:

O reino de Deus é mais amplo do que a igreja. Todos aqueles que estão na
igreja fazem parte do reino de Deus, porém, nem todos aqueles que fazem
parte do reino de Deus fazem parte da igreja. Isto se aplica, por exemplo, a
João Batista, a outros crentes, e aos santos do Antigo Testamento, que
morreram antes que a mensagem do Pentecostes os alcançasse (c.f 19.1-7).

Diante desta bela explanação de Geisler, só nos resta questionar aos aliancistas, aos
novos aliancistas e aos progressivos: Como pode o reino de Deus ter sido inaugurado pela
Igreja após a ascensão de Cristo, se os crentes veterotestamentários já faziam parte dele?
Não tem lógica nenhuma esta inauguração. Mas tem lógica abundante se este reino
messiânico for inaugurado no Milênio, por todos os crentes veterotestamentários de outras
Dispensações (Hb 11.39-40), pelos cristãos da Igreja, na Dispensação da Graça de Deus, (Ef
3.2), pelos salvos de Israel e pelos fiéis gentios, na Tribulação (Ap 17.14). É maravilhosa e
justa esta inauguração, com a presença de todos os salvos de todas as Dispensações,
congregados em Cristo com o objetivo de estabelecer na Dispensação da Plenitude dos
Tempos (Ef 1.10), a instalação e posse:
“[...] por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. ” (Mt 25.34).
l) Atos 20:24-25 – “Porém, em nada considero a minha vida preciosa para mim
mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus
para testemunhar o evangelho da graça de Deus. Agora eu sei que todos vós, em cujo meio
passei pregando o reino, não verei mais o meu rosto. ” Os DP advogam que Paulo pregou o
Evangelho da Graça, mas também pregou o Evangelho do Reino. Mas, Mal Couch 164 contesta
esta visão.

Não devemos confundir a dispensação do reino com a dispensação da Igreja.

163
Ibidem.
164
Geisler, ibidem, p. 869.
72

Paulo separa completamente o reino da era da graça, o que fica claro quando
ele dá uma atribuição a Timóteo: “Conjuro-te, pois, diante de Deus e do
Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no
seu Reino” (2 Tm 4-1).

Mal Couch165 mostra a distinção da nossa era para com a época em que o Israel étnico
vai ser trabalhado. O autor mostra que a teologia de Paulo abarca o reino futuro sobre Israel.

Paulo preserva a visão veterotestamentária a respeito do reino: um período


de tempo especifico, em que Cristo reinará sobre a nação de Israel e sobre as
nações de todo o mundo. É uma época completamente diferente da era da
Igreja. Paulo não substitui o reino pela Igreja e, em nenhum momento,
chama a Igreja de reino. O reino ainda é algo futuro. É algo que só será
real na terra
após o retorno pessoal do Rei.
m) Atos 28.31: “Pregando o reino de Deus e com toda a intrepidez, sem impedimento
algum, ensinava as cousas referentes ao Senhor Jesus Cristo. ” Os DP advogam que pregar o
reino de Deus era pregar o Evangelho da Graça, ao mesmo tempo em que dizem que pregar o
reino implica inaugurá-lo pela Igreja. Defensores do já e o ainda não, aplicado ao Reino,
pedem aos clássicos e revisados para explicar os textos bíblicos que falam do Reino?
Tronco166 explica:

1. Existe mais de uma concepção de reino na Bíblia? Os judeus sempre


viram o conceito de reino com duas vertentes: presente e futura. “Mas ao fim
daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir
o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive
para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em
geração” (Dn 4.34). “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um
reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro
povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá
para sempre” (Dn 2.44). Jesus demonstra que esse conceito se perpetuou:
“Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é
chegado o reino de Deus sobre vós” (Mt 12.28).  “Portanto, vós orareis
assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o
teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.9-10).
Mesmo o Apocalipse, com sua mensagem escatológica, traz esse conceito
duplo de reino: “E nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a
ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! [...] Eu, João,
irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em
Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos...” (Ap 1.6,9a).  “O sétimo anjo
tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do
mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos
séculos dos séculos. E os vinte e quatro anciãos que se encontram sentados
no seu trono, diante de Deus, prostraram-se sobre o seu rosto e adoraram a
Deus, dizendo: Graças te damos, Senhor Deus, Todo-Poderoso, que és e que
eras, porque assumiste o teu grande poder e passaste a reinar” (Ap 11.15-
17).
165
COUCH, Mal, (ed) An Introduction to Classical Evangelical Hermeneutics: um guide to history and pratice
of biblical interpretation. Grand Rapids. Ml: Kregel Publication, 2000, p.205.
166
Ibidem, TRONCO.
73

Há outras visões sobre a multiplicidade de conceitos acerca do reino; por esta razão,
Alva McClain, citado por Norman Geisler, 167 relata este processo:

Entre as inúmeras interpretações do reino, McClain relaciona oito (GK, 8-4):


(1) O reino nacional (de Israel), interpretação defendida por Filo (25 a. C.);
(2) O reino milenar, interpretação defendida pelos primeiros Pais;
(3) O reino celestial (o céu), interpretação defendida pela Igreja posterior;
(4) O reino eclesiástico (a igreja), interpretação defendida por Agostinho
(354-430);
(5) O reino espiritual (Deus governa nos corações), interpretação defendida
por A. B. Bruce (1831-1899);
(6) O reino moral (o reino da lei moral), interpretação defendida por
Emanuel Kant (1724-1804);
(7) O reino social liberal (melhoria social progressiva), interpretação
defendida por Walter Rauschenbush (1861-1915); e
(8) O reino escatológico (as expectativas não cumpridas sobre Jesus),
interpretação defendida por Albert Schweitzer (1875-1965).
Por outro lado, Ladd segue o já/ainda não culmanniano como uma chave
hermenêutica a desvendar o Reino de Deus ou Reino dos céus, a partir de quatro modalidades
nos evangelhos:
a) Um sentido mais abstrato de reinado divino, seu senhorio real sobre toda a criação;
b) Um sentido ligado à futura ordem desta criação, a seu domínio sobre tudo e todos;
c) O Reino como algo presente entre a humanidade, Deus governando hoje;
d) Um Reino que é uma condição presente à qual as pessoas são chamadas a
participar.
Ladd168 advoga um entendimento multidimensional do Reino que mescla a presença e
intervenção divina ao já/ainda não, presente não só na fala de Jesus, mas era parte da
esperança messiânica judaico-rabínica. No livro O Evangelho do Reino, Ele expressa o
alcance do Reino em cumprimento parcial nos dias de Jesus e em cumprimento pleno no seu
retorno:

O Reino de Deus representa a conquista divina sobre os seus inimigos,


conquista a ser realizada em três estágios; e a primeira vitória já ocorreu. O
poder do Reino de Deus já invadiu o domínio de Satanás – a presente era
perversa. A atividade desse poder de libertar homens deste governo satânico
fica evidente no exorcismo de demônios. Por meio disso, Satanás ficou
atado; foi desposado de sua posição de poder; seu poder foi “destruído”.

Aqui Ladd169 trabalha a inauguração do Reino à era da Igreja como um já e o ainda


não:

167
McClain apud Geisler, p. 866.
168
LADD, G. O Evangelho do Reino: Estudos bíblicos sobre o Reino de Deus. SP: SHED Publicações, 2008, 52.
169
Ibidem.
74

As bênçãos da era messiânica, agora, estão disponíveis àqueles que abraçam


o Reino de Deus. Já podemos desfrutar as bênçãos resultantes desta derrota
inicial de Satanás. Sim, o Reino de Deus se aproximou. Já está presente. Isso
não quer dizer que, agora, desfrutamos da plenitude das bênçãos de Deus ou
que tudo que se compreende como Reino de Deus veio a nós. Conforme
dissemos no capítulo anterior, a segunda vinda de Cristo é absolutamente
essencial para o cumprimento e consumação da obra redentora de Deus.
Em contrapartida a Ladd, Zuck diz que o Reino se faz presente na 1ª Vinda pela
pessoa e autoridade de Cristo. Ele abaliza sua visão com o Salmo 145.12 – “para que façam
saber aos filhos dos homens os teus feitos poderosos e a glória do esplendor do teu reino”. E
conclui: “no ministério de Jesus, o poder do Espírito dá expressão à autoridade de Deus e a
170
demonstra”. Neste contexto, Ryrie, citado por House e Thomas,171 fala e refuta crenças do
DP sobre o Reino:

1. O Reino de Deus é o tema unificador da história bíblica (embora a


natureza deste reino não seja claramente definida).
2. As eras dispensacionais são limitadas a quatro: patriarcal, de Moises, da
Igreja, e de Sião. As eras antes da queda, depois da queda, e de Abraão estão
misturadas em uma única era. A era de Moises termina com a ascensão de
Cristo em vez da sua morte, fazendo da dispensação da Igreja (eclesial)
a
inauguração do reino davídico.
3. Cristo já inaugurou o reino davídico no céu. O trono de Deus é o trono de
Davi. (Isto ignora o fato de que Cristo está assentado no trono celestial de
Deus, e não no trono terreno de Davi).
Ryrie, 172 além disso, assinala também que a atividade atual de Cristo é a de nosso
Sumo Sacerdote celestial. Ele só atuará como um Rei-davídico, na terra, quando passar a
governar no Seu reino milenial. Os autores citam Ryrie e a sua ênfase em mais ensinos
questionáveis do DP:

4. A nova aliança esta inaugurada para Israel. Embora as suas bênçãos não
venham a ser totalmente percebidas até o Milênio, os seus efeitos já estão
garantidos para Israel.
5. A distinção entre Israel e a Igreja deve ser abandonada. Os progressivos
rejeitam o conceito de dois propósitos e dois povos de Deus. (No entanto, a
Igreja é claramente distinta de Israel no NT. A Igreja foi batizada com o
Espirito Santo [At 11.15-16], começou no Pentecostes e continuará até o
arrebatamento [1 Ts 4-17]. Ela é habitada por Cristo [Cl 1.27] e foi
comissionada para evangelizar o mundo. Israel, ao contrário, ainda, é
retratado como uma nação separada depois do Pentecostes [veja At 3.12;4.8;
5.21,31,35; 21.28].)

170
ZUCK, Roy B. Teologia do Novo Testamento. Tradução de Lena Aranha. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 39.
171
Ibidem, In W. House e R. Thomas. Crenças Básicas do Dispensacionalismo Progressivo. 2010, 143.
172
Ibidem.
75

173
Ryrie, apresenta mais dois pontos, destacando o problema da hermenêutica
complementar do DP e o plano de Deus como algo holístico, crido e defendido, por este tipo
de dispensacionalismo:
6. Significados complementares podem ser atribuídos as promessas do AT.
Em outras palavras, os dispensacionalistas progressivos espiritualizam
conceitos encontrados no NT de forma que os torna complementares as
promessas. Por exemplo, hermenêuticas literais ditam que o Templo em
Apocalipse 11.1 é um edifício literal, mas a hermenêutica complementar do
dispensacionalismo progressivo lhes permite dizer que ele é uma referência
ao corpo de crentes, pelo fato de o termo ser usado deste modo em outra
passagem no NT. Este é um dos maiores problemas com a abordagem
dispensacional progressiva; ela deixa a porta hermenêutica aberta para uma
larga gama de interpretações.
7. O plano de redenção holística de Deus abrange todas as pessoas e todas as
áreas da vida humana. (Embora isto seja verdadeiro no sentido definitivo do
governo universal de Deus sobre tudo na vida, não significa que as
prioridades universais [sociais, políticas e ecológicas] devam ter precedência
sobre a Igreja e a sua missão de evangelizar o mundo).

Entre essas novas crenças dispensacionalistas, encampadas pelos progressivos,


destacamos aqui a distinção entre Israel e a Igreja. O Aliancismo Clássico expõe a sua visão
deste assunto baseado em Gálatas 6.16. No que concerne a esta posição, vejamos como a
expressa Hernandes Dias Lopes: 174

A Igreja é o Israel de Deus. “Todos quantos andarem de conformidade


com
esta regra” e “o Israel de Deus” não são dois grupos, mas apenas um. A
partícula kai deveria ser traduzida por “a saber”, e não “e” ou então ser
omitida. A igreja desfruta uma continuidade direta com o povo de Deus no
Antigo Testamento. Aqueles que estão em Cristo hoje são “... a verdadeira
circuncisão” (Fp 3.3), “... descendentes de Abraão (3.29) e “... o Israel de
Deus” (6.16). David Stern discorda dessa posição, considerando-a
antissemítica, porém, a maioria dos intérpretes a confirma. Embora a frase
“Israel de Deus” não ocorra em outra parte do Novo Testamento, o contexto
favorece a interpretação de que Paulo está falando sobre toda a igreja,
formada de judeus e gentios.

Corrobora com Lopes, Marten Woudstra175 enfatizando a não distinção entre os grupos
(Israel e a Igreja), a partir do uso também do versículo supracitado, pontuando que os cristãos
judeus são aqueles que formam com os gentios a Igreja, que é o Israel de Deus:

Muito tem sido escrito sobre Gálatas 6:16 e como compreendê-lo. Tendo
chegado ao fim de sua epístola, na qual ele se irrita com o judaísmo que
estava se infiltrando na igreja gálata, Paulo está agora apontando os cristãos
judeus como o Israel de Deus junto com outros que andarem de
173
Ibidem.
174
LOPES, Hernandes D. Gálatas: a carta da liberdade cristã. São Paulo: Hagnos, 2011, p. 282.
175
FEINBERG, John. Continuidade e Descontinuidade: perspectiva sobre o relacionamento entre o Antigo e o
Novo Testamentos: ensaios em homenagem a S. Lewis Johnson Jr. In WOUDSTRA, Marten H. Israel e a
Igreja: Um caso para a continuidade. SP: Hagnos, 2013, p. 286.
76

conformidade com esta regra? Existem duas classes de pessoas aqui – uma
categoria geral de cristãos que seguem a “regra” e uma categoria de cristãos
judeus?

Woudstra176 utiliza da sua argumentação, tomando como exemplo J. Barton Payne, um


premilenista-histórico, a fim de dar substância na tentativa de expressar a sua ideia de que o
Israel de Deus é a Igreja no tempo presente:

É significativo que até mesmo um escritor pré-milenarista, J. Barton Payne,


admite que ver o Israel de Deus como um grupo distinto de cristãos hebreus
“seria o oposto do propósito da epístola como um todo”. Toda a tendência da
epístola é que nem a circuncisão nem a incircuncisão significam qualquer
coisa. O que se deve levar em conta, diz Paulo, é uma nova criação. São
estas palavras que imediatamente precedem as palavras sobre o Israel de
Deus. Tendo feito uma declaração abrangente no versículo 15, não é
inconcebível que Paulo repentinamente faça distinção entre dois tipos de
cristãos, um gentio e outro judeu.

Na contramão de Woudstra e de Hernandes Dias Lopes está o dispensacionalista


progressivo Robert Saucy, 177 que, ao fazer uma análise sobre o texto de Gálatas 6:16, enfatiza
que o Israel de Deus são os judeus, mas não os gentios com os judeus da época da Igreja:

Assim, se a referência é aos judeus que estavam no momento andando de


acordo com as normas de Paulo e assim na igreja, ou a “todo Israel”
destinado à salvação escatológica (Rm. 11:26), está mais de acordo com a
linguagem do apóstolo, sua teologia geral e a mensagem de Gálatas ver “o
Israel de Deus” como uma referência ao povo judeu. Essa compreensão da
expressão como uma referência ao Israel étnico parece estar ganhando
adeptos entre os intérpretes modernos, sem dúvida em relação ao aumento
geral do interesse teológico relacionado ao lugar de Israel no plano de Deus.

Este verso não diz que a Igreja é o Israel de Deus, é preciso fazer uma exegese bíblica
para verificar o texto de Gálatas no tocante a este assunto. Atesta esta verdade Bruce
Anstey:178

O termo “Israel de Deus” (Gálatas 6.16) é usado pelos seguidores da


Teologia do pacto como prova de que os cristãos seriam israelitas espirituais.
Isso é mais uma vez uma mera menção de Paulo que precisa ser colocada no
contexto a fim de ser corretamente entendida. Tirar três ou quatro palavras
de um versículo e construir em torno delas uma doutrina não passa de uma
fraca teologia.

Paulo fala da Igreja a partir de dois grupos: gentios (os que andam conforme esta
regra) e judeus remanescentes da eleição da graça (Rm 11.5). São convertidos a Jesus. Daí
Abdalla179 fazer a interpretação deste texto por um quiasmo (como estrutura do mesmo) – (Gl
6.15-16:
176
Ibidem. In WOUDSTRA, Marten H. Israel e a Igreja: Um caso para a continuidade. SP: Hagnos, 2013, p.
286.
177
Ibidem. In SAUCY, Robert. Israel e a Igreja: Um caso para a descontinuidade, 2013, p. 302.
178
Ibidem, ANSTEY, p. 238.
77

A  A  nem a circuncisão é coisa alguma,


B B nem a incircuncisão
C  C mas o ser nova criação
C’oC’todos que por esta norma
andarem
B’  B’ paz sobre eles e misericórdia
A’ A’  e sobre o Israel de Deus.
180
Abdala frisa que a conjunção kai se traduz de vários modos no grego. Pode ser um
conectivo adversativo (mas, porém, todavia), pode ser um síndeto aditivo (e, nem, mas
também) e uma expressão apositiva (a saber, isto é), a qual é defendida pelos que advogam a
continuidade, a exemplo de Hernandes Dias Lopes. Porém, quando, na maioria das vezes, há
duas preposições ( sobre) marcando o objeto do texto: eles e o Israel de Deus, a
conjunção kai não exerce a função apositiva de explicação, mas desempenha a função
coordenativa de adição, mantendo a distinção entre os termos. O quiasmo mostra que A
circuncisão (em azul) corresponde A’ o Israel de Deus (em azul); e B incircuncisão (em
preto) é o mesmo que B’ eles (em preto); e C nova criação (em verde) e C’ por esta regra
(em verde) dizem respeito ao mesmo tema. Há a repetição da preposição, realçando a
dualidade, que denota a distinção. Infelizmente, embora haja esta diferença, já se vê uma
aproximação entre o DP e o aliancismo, nublando a distinção. Daí a preocupação de House e
Thomas181 com o abrandamento:

Muitos dispensacionalistas tradicionais estão preocupados com o fato de os


dispensacionalistas progressivos estarem obscurecendo a distinção entre
Israel e a Igreja. Neste ponto, a abordagem progressiva começa a parecer
mais com uma teologia de aliança do que um dispensacionalismo. Quando
os povos distintos de Deus (Israel e a Igreja) não estão distintos, torna-se
difícil explicar a função destes povos dentro do plano divino.
Em seguida, os autores alertam para uma cautela muito criteriosa sobre o uso desta
hermenêutica complementar, devido aos diversos níveis de referentes pontuados na
hermenêutica dos progressivos:

Uma segunda preocupação é o abandono de uma interpretação literal das


Escrituras. Deixar a exegese literal, contextual, gramatical e histórica leva,
no final, a interpretações inovadoras e inventivas da Bíblia. Isto, por sua vez,
deixa a porta hermenêutica aberta para métodos de exegese de múltiplos

179
ABDALLA, Thiago. AT/NT: Continuidade e Descontinuidade 6/10. Escola Spurgeon Disponível em >
https:// www.youtube.com/watch?v=uDHHqB4WG8w&t=352s Acesso em 27 de nov. 2020.
180
Ibidem, In W. House e R. Thomas. Crenças Básicas do Dispensacionalismo Progressivo. 2010, 143.
181
Ibidem.
78

níveis, em vez de uma sólida exegese do texto. Tal abordagem identifica o


significado no texto em vez de permitir que o texto fale por si só. 182

Vale ressaltar a abordagem dos autores acerca da hermenêutica complementar do


Dispensacionalismo Progressivo, muito distanciada da linha de interpretação do
Dispensacionalismo Tradicional, como os DP os chamam:

A maioria dos dispensacionalistas progressivos não se considera estar


substancialmente desviando-se do dispensacionalismo clássico. No entanto,
a sua abordagem inovadora parece realmente ter um efeito sobre aqueles que
seguem a sua ideologia. O método de interpretação chamado de
“complementar” muito rápida e facilmente leva ao método de múltiplos
níveis apoiados por aqueles que, de forma gradual, se afastaram totalmente
do dispensacionalismo. 183
O abrir diálogo entre progressivos e pactualistas e novos aliancistas, pode possibilitar
aberturas de espaços à comunhão mais estreita com a teologia reformada, gerando alterações
consideráveis no amago do dispensacionalismo: “Tendo isto em mente, não precisamos
definir os parâmetros do dispensacionalismo mais claramente do que nunca? Desgastar as
características do dispensacionalismo a fim de dialogar com os que defendem a aliança
poderia, no final, debilitar completamente todo o sistema do dispensacionalismo clássico. ” 184
Esse meio termo, ao invés de ser a via do meio, pode tornar-se o caminho sem volta; e isto
possibilita, talvez, numa adesão ao aliancismo ou, sendo mais otimista, numa identificação
mais amigável ao novo aliancismo.

CAPÍTULO QUATRO
__________

182
Ibidem.
183
Ibidem.
184
Ibidem.
79

O INTELECTUALISMO ALIANCISTA E O ACADEMICISMO DO

DP – Preconceitos gerados contra o Dispensacionalismo Normativo

I – A INTELECTUALIDADE ACADÊMICA influenciando este TIPO de

HERMENÊUTICA:

Neste contexto, entram também as questões academicistas em todo o processo. Este


problema tem influenciado consideravelmente os progressivos. Por isso, Vitor Fontana, 185 em
entrevista ao professor Antonio Neto, principal divulgador do DP no Brasil, chega a
conclusão de que o DP e o seu método interpretativo, fez uma aproximação com os
pactualistas por influências da Academia, que resultaram em novos mestres e doutores
progressivos:

E nesse sentido acredito que houve não apenas uma aproximação da


metodologia dos aliancistas, mas também daquela que geralmente é aplicada
na academia. Então, quando se pensa em metodologia, não apenas teológica,
mas também exegética, está se referindo a todo o conjunto de meios também
utilizados por qualquer acadêmico moderno. História, gramática, contexto
literário, gênero literário, posições canônicas e as implicações e
interpelações entre os vários textos – de tudo isso até mesmo os liberais do
método histórico-crítico não abrem mão.
Há um grande perigo em não se abrir mão desse academicismo moderno. Foi assim
que o método histórico-crítico surgiu, e qual o resultado desse envolvimento com o
intelectualismo
para analisar a Bíblia, pelos da “alta crítica? ” Uma viagem sem volta, ancorada em críticas
das fontes, da forma e da redação, aplicadas à Bíblia. É perigoso este desejo exacerbado em
galgar as cátedras. Até Augustus Nicodemus Lopes,186 chanceler da Mackenzie, atesta tal
verdade:

À medida que o liberalismo teológico ocupou as cátedras, o compromisso do


método gramático-histórico para com a inspiração das Escrituras foi sendo
abandonado paulatinamente nos meios acadêmicos de estudos bíblicos. Esse

185
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
186
LOPES, Nicodemus Augusto. O dilema do Método Histórico-crítico na interpretação bíblica. Revista Fides
Reformata X, nº 1 (2005), p. 118.
80

movimento, também chamado de “alta crítica”, passou a dominar as perspec-


tivas dos exegetas quanto ao Antigo e Novo Testamento.

O afastamento de uma interpretação histórico-gramatical em prol da visão


hermenêutica mais acadêmica, uma hermenêutica parcialmente literal, como afirma Wayne
House, demanda gêneros literários da Escritura até viáveis, mas há o risco de se ter um olhar à
Bíblia como uma coleção de literaturas que possibilita abarcar “mitos e lendas”, podendo
também haver a troca de pontos denotativos, em livros poéticos, por uma linguagem
conotativa, aberta a alegorias, metáforas e símbolos. A partir daí, é um passo à
espiritualização de gêneros apocalípticos dos livros bíblicos proféticos. O cuidado é essencial
quando seminários e igrejas são influenciados pelo academicismo e intelectualismo pós-
modernos. Por isso, é normal que, neste meio, surjam:

II – CRÍTICAS AO DISPENSACIONALISMO E À VISÃO HISTÓRICO-GRAMATICAL:

Hoje, no meio acadêmico, de um modo geral, há sérias críticas ao conservadorismo, ao


tradicional. Antigamente, a maioria dos acadêmicos acreditava que a barba fazia o filósofo,
hoje, a maior parte deles passou a crer que o novo é sempre o correto e o antigo é
ultrapassado. Fora a isto, ainda há o aparelhamento progressista das universidades, que leva
os universitários a ter como verdade absoluta crenças utópicas, ideológicas e hegemônicas de
um grupo. Quem discordar dele é posto de lado e censurado por suas posições. Em
instituições de ensino eclesiásticas, isto não é diferente; através de conhecimentos teológicos,
científicos e filosóficos, reformados e suas crenças se constituem em uma “nata” intelectual,
fechada dentro de uma bolha academicista, pela qual, quem ousar pensar diferente, tende a ser
taxado como retrógrado, pois estes advogam ideias opostas às “verdades teológicas absolutas
daqueles. ” Assim, pensando o dispensacionalismo tradicional, reflitamos nas críticas que são
deflagradas contra:
a) A Integridade bíblica de John Nelson Darby, pelo argumento ad hominem:187
Em um vídeo (21/03/2018) sobre o Dispensacionalismo e a sua origem, intitulado, Os
Desvios do Caminho da Verdade, foram feitas acusações infundadas sobre a pessoa de John
Nelson Darby, que é o pai do sistema Dispensacionalista. A ideia principal era desacreditar o
dispensacionalismo a partir do livro A Vinda do Messias em Glória e Majestade do padre, de
origem judaica, Manuel Lacunza, o qual influenciou a Edward Irving, que traduziu e publicou

187
Nota: De acordo com Matheus Maia Schmaelter, o Argumentum ad Hominem (literalmente, argumento contra
o homem) é um tipo de falácia de relevância, um subgrupo do que é conhecido no campo da lógica
como falácias não-formais. Nesse modelo de falácia é necessária a participação de uma ou mais pessoas em um
debate e ela acontece quando um debatedor ataca diretamente a pessoa de seu oponente e não seu argumento, a
fim de invalidá-lo. Pode aparecer de três formas: ad hominem ofensivo, ad hominem circunstancial e tu
quoque (“você também”, em latim).
81

a obra em língua inglesa. Em 1830, Irving foi expulso do presbitério em Londres, acusado de
heresia, e fundou a Igreja Católica Apostólica Carismática, tendo como membro de sua
congregação, Margareth Macdonald, uma jovem neófita-visionária que sonhara com a vinda
de Jesus, expressando as crenças escatológicas dum rapto secreto e duma vinda invisível de
Cristo, antes da Tribulação. No vídeo, Darby é um maçom que organizou as ideias de
Lacunza, Irving e Macdonald, no dispensacionalismo, que é retificado pelo pseudo advogado,
também maçom, Cyrus Scofield; e pelo autor de ficção, Tim LaHaye. Respondendo ao vídeo,
Granconato diz:188

Existe no meio teológico-reformado-aliancista uma prática, de séculos, que


parece ter se perpetuado neste contexto, a qual consiste em trazer sobre os
oponentes doutrinários, em algum aspecto, a pecha de heresia ou a manchar
o caráter deles ou a atribuir aos mesmos uma crença que eles não adotam, a
fim de destruir totalmente a visão contrária aos reformados. Isto aconteceu
com o próprio Jacob Arminius, que foi fortemente injustiçado pelos
calvinistas da universidade. Ele era um homem santo, reto e sincero na
exposição de suas questões; e o que fizeram com ele foi vergonhoso,
chegaram a publicar panfletos com o seu nome como autor destes folhetos e
ele teve que fazer uma defesa contra isto, contra este tipo baixo de mentiras e
oposições. Outra vítima disto foi o fundador do Seminário de Dallas, Dr.
Louis Sperry Chafer. Ele foi acusado pelos aliancistas de ensinar duas
formas de salvação: uma pelas obras, no AT, e outra pela graça, em o NT,
porque, segundo eles, o sistema dispensacionalista dele ensinava isto. Chafer
chegou a escrever uma defesa dizendo que jamais disse isto, deixando claro,
“eu não concedo a ninguém o primeiro lugar a defesa da salvação pela fé
somente. Isto jamais me passou pela cabeça. ” Mas eles continuaram
acusando a Chafer.

189
Neste contexto, Ryrie expressa sua revolta com as injurias que muitos pactualistas
disparam contra os homens de Deus que fincaram as bases do dispensacionalismo:

[...]. Nem os dispensacionalistas mais antigos, nem os mais recentes ensinam


dois caminhos de salvação, e não é justo tentar atribuir essa doutrina a eles.
Afinal de contas, um homem tem que ser entendido por aquilo que realmente
diz, do contrário, todas as formas de comunicação perdem o seu valor. É
certamente correto provar o absurdo de alguma posição, mas não é justo
deturpar essa mesma posição fazendo citações seletivas, dispostas de forma
errada. Espantalhos são fáceis de criar, mas os assopros necessários para
demoli-los são apenas isso: assopros.
Digno de nota é que Granconato é um forte defensor do calvinismo, sendo calvinista
da escola de Dort. Mas também ele é dispensacionalista revisado e desmascara estas
acusações dos pactualistas. Segundo Granconato, membros da IPB (Igreja Presbiteriana do

188
GRANCONATO, Marcos. Distorções sobre o Dispensacionalismo. Uma resposta – Pr. Marcos Granconato
Disponível em> https://www.youtube.com/watch?v=uEvZUBISp3o. Acesso em 04 jan 2021.
189
RYRIE, Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: editora Batista Regular, 2020, p. p. 332, 333.
82

Brasil) usam este vídeo para divulgar mentiras contra o dispensacionalismo. Ele 190 prossegue
ainda afirmando:

Todos os personagens que são dispensacionalistas neste vídeo foram ligados


à maçonaria. Mas é estranho que a IPB defende que os seus membros podem
ser maçons, e agora usam este vídeo para difamar o dispensacionalismo. [...].
Essa conexão de Scofield com bebidas e orgias é muito triste, porque ele foi
um homem perverso, mentiroso, foi preso antes de sua conversão. Ele se
converteu 6 anos depois e teve uma vida diferente, chegando a se tornar
ministro de uma igreja. Então é curioso levantar o passado de alguém antes
da sua conversão para condená-lo. O propósito do vídeo foi macular e
conectar homens de Deus ao mal. No tocante a John Nelson Darby, um santo
homem de Deus. Um teólogo sério e dedicado, que eles tentaram conectar a
uma louca, chamada Margareth Macdonald, que era uma visionária
pentecostal. No entanto, não é dito para ninguém que Darby foi verificar este
movimento e o considerou satânico. Darby escreveu sobre o pré-
tribulacionismo três anos antes de ouvir falar em Margareth Macdonald e
mais ainda: Margareth Macdonald não era pré-tribulacionista. Ela era pós-
tribulacionista. Isto fica claro nos escritos dela. Então associar estes irmãos a
pessoas perversas é marca registrada dos aliancistas. Mas isto não é algo
próprio de um acadêmico. Isto não é apropriado a quem leva a sério a
verdade. Isto não é algo digno de pessoas que merecem a nossa confiança e
respeito.

Sobre o jesuíta Lacunza e Edward Irving, Granconato revela, através da obra do Paul
Richardson Wilkinson, Compreendendo o Sionismo Cristão que ele fala da formação de
Darby:

Há a falta de conexão entre Darby e estes jesuítas, e o que chama muito


atenção neste livro é a riqueza de fontes. Wilkinson cita tantas fontes
primárias, cartas, correspondências e sermões da época. Há a ausência de
conexão, por exemplo, entre os irvingitas e Darby, o qual considerava a
doutrina de Irving como diabólica. Ele dizia isto expressamente, no entanto,
os aliancistas falam que Darby foi influenciado e apreciava os escritos de
Irving. É muito triste ver a falta de informação, a distorção aberta e total da
história, sem fundamento nenhum, colocado em um filminho irresponsável,
mentiroso, que se espalha por aí, enganando as pessoas.

b) A Bíblia de Referência Scofield:


As notas de interpretação da Bíblia de Referência Scofield desde 1907 até 1917
popularizou as ideias do dispensacionalismo clássico e do pré-milenismo dispensacionalista,
no mundo. Este Dispensacionalismo passou a ser a crença de várias denominações,
principalmente, em sua escatologia. Por esta razão, as críticas vieram. Primeiramente no
método soteriológico: Acusaram os dispensacionalistas de crerem em múltiplas formas de
salvação ou pelo menos um duplo modo de ser salvo, devido ao que diz Scofield sobre João
1.17: “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”. No

190
Ibidem.
83

comentário da Bíblia Scofield lemos: “Como uma dispensação, a graça começa com a morte e
a ressurreição de Cristo (Rm 3. 24-26; 4. 24,25). Obedecer às leis não é mais a condição para
a salvação, mas sim, a aceitação ou rejeição de Cristo, e a visão das boas obras como um fruto
da salvação.”191 Daí Ross192 afirmar:

Esta declaração expôs todos os dispensacionalistas à acusação de ensinarem


dois métodos de salvação: a salvação pelas obras sob a antiga aliança e a
salvação pela graça sob a nova. Embora, o próprio Scofield e outros
escritores dispensacionalistas tenham afirmado, em outra parte, que a
salvação no AT foi pela graça, e que ninguém foi justificado pelas obras, a
acusação de ensinar
a salvação pelas obras permaneceu.

Vale ressaltar que, por conta deste equívoco, o comentário de Scofield foi aprimorado
mais tarde, em 1967, na Nova Bíblia de Referência Scofield:

Em sua plenitude, a graça começou com o ministério de Cristo envolvendo


sua morte e ressurreição, porque ele veio morrer pelos pecadores. Sob a
antiga dispensação, a lei demonstrou ser impotente para assegurar
justificação e vida para a raça pecadora. Antes da cruz, a salvação do homem
era pela fé, sendo fundamentada na expiação do sacrifício de Cristo, visto
antecipadamente por Deus; agora está claramente revelado que a salvação e
a justificação são recebidas pela fé no Salvador crucificado e ressurreto com
santidade de vida e boas obras como fruto de salvação. 193

A arrogância intelectual, que, preconceituosamente ataca também o DC, é tão grande,


que não o perdoa; e à semelhança dos fariseus-doutores que tentavam pegar a Jesus nalguma
falha (Lc 20.20), eles buscam ainda atingir aos seus alvos nos detalhes, mesmo cientes de que
os seus oponentes não advogam as teses pelas quais eles os atacam. Desmentindo as
acusações de não dispensacionalistas ao dispensacionalismo, vemos a pintura de texto que
Scofield194 publica sobre a lei e graça no livro Manejando bem a Palavra da Verdade, sobre
João 1.17:

Essa afirmativa, entretanto, não quer dizer que antes de Moisés não existia
nenhuma lei, que antes de Jesus Cristo não havia graça e verdade [...]. É da
mais vital importância observar, entretanto, que as Escrituras, em qualquer
dispensação, jamais misturam ou confundem esses dois princípios. A lei
sempre tem o seu lugar e a sua função bem distintos e inteiramente diversos
dos da graça. A lei é Deus proibindo e exigindo. A graça é Deus suplicando
e dando. A lei é o ministério da condenação. A graça é o do perdão. A lei
amaldiçoa. A graça redime da maldição. A lei mata. A graça dá vida. A lei
fecha toda a boca diante de Deus. A graça abre a boca para louvá-lo. A lei
afasta o culpado para bem longe de Deus. A graça conduz para bem perto de
Deus. A lei diz: “olho por olho, dente por dente”. A graça diz: “Não resistais
191
Bíblia de Referência Scofield apud Klooster, p. 157.
192
Ibidem, Ross, p. 194.
193
Nova Bíblia de Referência Scofield apud Klooster, p. p. 157, 158.
194
SCOFIELD, Cyrus I. Manejando Bem a Palavra da Verdade. São Paulo: Editora Batista Regular, 2002, p. p.
38,39.
84

ao mal, mas se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a


outra.” A lei diz: “Aborrece ao teu inimigo. ” A graça diz: “Amai a vosso
inimigo, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai
pelos que vos maltratam e vos perseguem. ” A lei diz: “Fazei e vivei. ” A
graça diz: “Crede e vivei”. A lei nunca teve um missionário. A graça deve
ser pregada a toda e qualquer criatura. A lei condena totalmente o melhor
homem. A graça justifica graciosamente, o pior (Lc 23.43; Rm 5.5; I Tm
1.15; I Co 6.9-11). A lei é um sistema de prova. A graça de favor. A lei
apedreja uma pobre pecadora. A graça lhe diz: “Nem eu também te condeno.
” Sob a lei, a ovelha morre pela mão do pastor. Sob a graça, o pastor morre
pela ovelha.

Aqueles que criticam a Bíblia de Referência Scofield o fazem para tentar prevalecer o
pensamento da sua teologia. É o que vemos com o amilenista Américo Justiniano Ribeiro:195

É, porém, com relação à igreja que as notas explicativas de Scofield


apresentam as mais estranhas distorções do ensino bíblico. O
Dispensacionalismo sustenta que a igreja nada tem a ver com o Reino de
Israel. ‘Ele’, (pré-milenismo) “não reconhece a igreja como verdadeira
sucessora do Israel do Velho Testamento, mas antes como mero interlúdio,
em vias de extinção, entre as duas fases do Reino. Seu desejo intenso é no
sentido do rápido encerramento da era da igreja, que dará lugar ao
estabelecimento do Reino. ”

Scofield não diz que a Igreja é um mero parêntesis na história, o mero é por conta do
Ribeiro, nem afirma que ela nada tem a ver com o Reino, tampouco que a ela está em vias de
extinção. Infelizmente, muitos do DP adotam esta mesma visão dos reformados.
c) A Série deixados para trás de Jerry B. Jenkins e Tim LaHaye:
Os 16 livros da série (1 – Deixados para trás, 2 – Comando/Tribulação, 3 – O Rapto,
4

– O Regime, 5 – O nascimento, 6 – O Possuído, 7 – Assassinos, 8 – Apoliom, 9 – A Colheita,


10 – Nicolae, 11 – O Glorioso Acontecimento, 12 – Armagedom, 13 – O Remanescente, 14 –
Profanação, 15 – A Marca e 16 – A Vitória Final) são romances literários, pelos quais, os
autores fizeram um excelente trabalho, usando a linguagem conotativa em um afã
evangelístico para expor os fatos apocalíticos aos leigos. Mas, aliancistas e progressivos, em
nome do academicismo, tecem críticas, principalmente a LaHaye. Vejamos o que diz Antonio
Neto,196 o principal divulgador do DP no Brasil, sobre o tema, ao responder a Mac (um
reformado):

195
RIBEIRO, Américo Justiniano. A Bíblia Scofield: ligeira avaliação. Campinas-SP: Luz para o Caminho,
1985, p. 28.
196
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
85

[...]. Voltando para o Tim LaHaye. Ele me inventa de escrever o Deixados


para trás, e depois vieram os filmes. Agora passamos a ter o
dispensacionalismo da academia e (como ouvi dos BTcast do Yago) o
dispensacionalismo do chão da igreja, onde rola de tudo. Por exemplo, as
questões sobre o pré-tribulacionismo e o arrebatamento. O que está na boca
do povo? A ideia do arrebatamento secreto e a qualquer momento a gente irá
sumir e subir, ficando as roupas intactas no lugar onde o arrebatamento
estava. Aí então, acidentes de avião, de carros, e aquele caos todo. Mas isso
tudo é ficção. Foi o que, infelizmente, se popularizou.

Sabemos que a obra de Jenkins e LaHaye é ficção. Ela ilustrou a realidade dos tempos
finais ao povo. Às vezes pensamos, diante da fala de Neto, como os progressivos e aliancistas
imaginam que será o arrebatamento. Se não haverá o caos, retratado por Deixados para trás,
então como será? Se o Rapto não for secreto ou invisível, então como há de ser? Se a vinda de
Cristo não é iminente, há que se negar vários textos bíblicos sobre o tema. E aos que ficarem,
o que lhes espera? Nenhum acidente, sem aflição, tudo em paz? É esperar para ver se a tese
acadêmico-aliancista de progressivos é mais real do que a ficção dos autores. Prossegue
Neto:197

Por outro lado, quando você pega as obras de dispensacionalistas revisados,


como as de John F Walvoord, e as de progressivos, como as de Craig
Blaising, você nota o quanto eles defendem de maneira sólida a ideia do pré-
tribulacionismo. Eles sim, merecem respeito e consideração, pois defendem
aquilo em que creem não como deslumbrados ou apaixonados, mas baseados
numa boa exegética. E fazem isto tão bem que, mesmo os que não acreditam
no pré-tribulacionismo, levam a sério os seus argumentos. E outro ponto,
MAC: Você tem razão quando diz que os dispensacionalistas souberam
como conquistar a atenção do povo. Eu me lembro de que, quando era
criança, fui discipulado sobre a escatologia do dispensacionalismo. Toda a
igreja assistia a vídeos, onde nos era mostrado o mundo se preparando para a
chegada do Anticristo. Lembro também de num retiro assistir a um filme em
que havia um Anticristo de nome Nicolau.

Creio, de modo diferente do Antonio Neto, que LaHaye também merece nosso
respeito e consideração. Ao comparar obras de Walvoord e Blaising com a ficção de LaHaye,
isto parece ser irresponsável; se entendermos que a obra ficcional Deixados para trás está
noutro patamar, saberemos fazer a analogia certa, que seria com os ensinos de sua Bíblia de
Estudo, que trabalha bem a escatologia; sem deixar passar despercebida a Enciclopédia
Popular de Profecia Bíblica, editada por ele e Ed Hindson, na qual há artigos de Walvoord,
entre outros grandes homens de Deus, inclusive LaHaye. 198 Dos artigos dele, listamos dois:

197
Ibidem.
198
HINDSON Ed e LAHAYE. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica; In LAHAYE Tim. Grande
Tribulação. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. p. 247, 248.
86

Grande Tribulação e Grande Trono Branco; no primeiro, ele enfatiza a Tribulação, realçando
as dores de parto199 de Israel na época:

Os discípulos estavam familiarizados com o tempo de angustia descrito nesta


profecia, pois muitos profetas já haviam alertado Israel sobre a vinda de um
tal período de intenso sofrimento. Jeremias o chamará de “tempo de angustia
para Jacó” (Jr 30.7). O AT e o N T referem-se a ele por diversos nomes,
como “Dia do Senhor”, “Septuagésima Semana”, “Dia da Desolação”, “Ira
Vindoura, ” “Hora do Julgamento, ” “Tribulação” e “Grande Tribulação. ”
200
Ao mesmo tempo em que Tim LaHaye realça a exatidão do período pela visão da
70ª semana de Daniel e o Apocalipse, precisão esta que muitos acadêmicos do DP não
conseguem
analisar e ver biblicamente:

Tanto o profeta Daniel como o apóstolo Joao foram claros ao especificarem


que esta fase durara sete anos. O perverso “príncipe que há de vir” (o
Anticristo, em Dn 9.26) firmará uma aliança com Israel, dando início a um
tempo de sete anos. Ele então romperá esta aliança após tres anos e meio,
profanando o Templo reconstruído em Jerusalém. A Grande Tribulação será
o mais terrível período de sofrimento e terror já experimentado pela
humanidade. Apesar de perdurar por apenas sete anos, a devastação causada
neste tempo parecera interminável para aqueles que perderem o
arrebatamento e forem deixados na terra.

Sobre o Estado Intermediário e o Juízo Final, LaHaye 201 os expõe com


responsabilidade:

Após a morte, a alma continua a existir. Na ressurreição, ela recebe um


corpo adequado a existência eterna. Antes da ressurreição, a alma do crente
encontra-se na presença de Deus, aguardando seu galardão eterno. A alma do
ímpio fica no hades, para onde vão os mortos iníquos, a fim de aguardar o
juízo final. No julgamento perante o Grande Trono Branco, os ímpios de
todas as eras serão ressuscitados. Daniel 12.2, Joao 5.28-29 e Atos 24-15
descrevem uma ressurreição para justos e injustos. Daniel e Joao ainda
explicam que, nesta ressurreição, os justos se erguerão para a vida eterna e
os injustos para vergonha e condenação. No julgamento perante o Grande
Trono Branco, ímpios de todas as camadas sociais, com variegadas
capacidades intelectuais e oriundos de diversas posições de poder político ou
financeiro terão uma coisa em comum. Todos morreram sem Cristo. Todos
levantarão de seus túmulos e o hades será esvaziado.

Parece contraditório ver os progressivos inserirem, em nome do academicismo, na sua


hermenêutica, o contexto literário para interpretar a Bíblia, através deste gênero; mas ao
mesmo tempo, não terem um olhar solidário com aqueles que utilizam a literatura a
popularizar o dispensacionalismo, com responsabilidade. LaHaye fala dos fatos futuros entre

199
Sobre estas dores, seria importante para o leitor analisar o capítulo 11 nas páginas de 179 a 182.
200
Ibidem.
201
Ibidem, 2010, p. p. 252, 253.
87

o povo de Deus, por meio de romances e filmes que são atraentes ao público e inerentes à sua
imaginação sobre porvir; os quais, não podem ser comparados às belas obras teológicas e
cristãs, produzidas por ele mesmo. Assim como não se pode pegar as Crônicas de Nárnia,
uma série de 7 livros sobre fantasia, publicada no Reino Unido na década de 50, pelo crítico
literário e teólogo irlandês Clives Staples Lewis (C. S. Lewis) e julgar o seu cristianismo por
Nárnia, sem considerar sua opus magna: Cristianismo Puro e Simples e outros livros de sua
autoria, como escritor cristão. Não podemos usar o argumento ad hominem a desqualificar os
autores de Deixados para trás como fazem aliancistas, sua marca registrada, adesivos que
alguns do DP têm aprendido a usar.
d) Os mapas dispensacionais utilizados pelos dispensacionalistas:
Outra crítica dos do DP e não dispensacionalistas ao DC é o uso que este faz de mapas

a ilustrar didaticamente os tempos dispensacionais. Exemplifiquemos com Fontana e Neto.202

Vitor Fontana: Há os dispensacionalistas mais clássicos, aqueles do Scofield


e do Darby, que são mais apegados às divisões em dispensações e aqueles
mapas absurdos. Mas, a partir da década de 50 do século passado, surgiram
os revisionistas, aquele pessoal do Dallas Theological Seminary. Mas de
qualquer maneira, a diferença entre Charles Ryrie e um Scofield não é tão
grande quanto a diferença deles para darrel Bock, que é um progressivo.
Antonio Neto: Perfeito. Por isso que a minha sugestão é distinguir os
dispensacionalistas em tradicionais e progressivos, embora a diferença entre
eles esteja em alguns detalhes. Os tradicionalistas dizem que Deus tem um
plano para o povo da terra e outro para o povo do céu. Aí vieram os
revisionistas e trocaram “o povo da terra” por “Israel” e o “povo do céu”
pela “Igreja”. Um plano divino distinto, o tempo da Igreja como um
parêntesis, a enfase no pré-tribulacionismo e no pré-milenismo – tudo isto
faz parte da tradição dispensacionalista. Os progressivos rompem com todos
estes pontos.

É de se admirar o taxar os mapas dispensacionais como algo absurdo sem justificar o


motivo desta aberração. Analisemos o mapa abaixo:
Figura 01: Mapa das Dispensações sob a ótica do Dispensacionalismo Clássico

202
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
88

Fonte: Disponível em > https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search?p=Mapas+das+dispensa% C3


%A7%C3%B5es+b%C3%ADblicas&fr=yhs-avast-securebrowser&hspar. Acesso em 05 de jan 2021.
Exemplificando com este quadro não dá para entender a razão de se rotular como
mapas absurdos os que são criados a ilustrar a crença de alguma vertente do
dispensacionalismo. Este mapa pertence ao DC. Ele realça a história humana do princípio ao
fim, culminando com o novo céu e a nova terra. Este Dispensacionalismo crer em 7 períodos
como testes de Deus para com o homem e o fracasso deste diante de Deus, fazendo surgir
uma nova dispensação até ao milênio. Aqui não se ensina nenhuma heresia. Não há nenhum
absurdo. Tudo é pertinente, como em outros mapas. É fato de que o número de dispensações
não implica necessariamente a crença no dispensacionalismo. O próprio Ryrie203 diz que isto
não é relevante:

No capítulo anterior vimos que os teólogos do pacto (como Hodge e


Berkhof) listam quatro a cinco dispensações em seu conceito do desenrolar
do pacto da graça. Isso aponta para o fato de que o reconhecimento da
existência das dispensações não significa automaticamente que uma pessoa é
dispensacionalista. A essência do dispensacionalismo é (1) o reconhecimento
consistente da distinção entre Israel e a Igreja, (2) o uso consistente e regular
de um princípio literal de interpretação, e (3) uma concepção básica e
primária do propósito de Deus como sendo a sua própria glória e não a
salvação da humanidade.

Notem bem, mais do que se preocupar com os mapas do DC, os progressivos deveriam
estar preocupados se as suas crenças contemplam o sine qua non do Dispensacionalismo a fim
de ver se eles se distanciaram do sistema ou se aproximaram do aliancismo, ou vice-versa.
Que os mapas são relevantes para ilustrações e têm efeito didático, vemos no uso deles
também por teólogos progressivos ou os que optam por um novo sistema, a exemplo de
Roque Albuquerque:
Figura 02: Mapa das Dispensações sob a ótica do Pr. Roque Albuquerque

Reino Prometido
203
RYRIE, Charles. Dispensacionalismo. Edição Revista e Ampliada. São Paulo: Editora Batista Regular,
2020, p. 71.
89

Reino de Deus
Primícias do Reino
Dispensação da Promessa Dispensação do Cumprimento O Século Futuro
Consumação
AT Primícias NT
do Reino

Fonte: Roque Albuquerque Era Presente

Ao analisar este mapa não vemos absurdo algum. A crença nele expressa se aproxima
muito da visão bidimensional-kaiseriana de Promessa e Cumprimento, realçando a tensão
escatológica ladd-culmanniana do já e ainda não, através do pensamento de que o reino de
Deus está sendo inaugurado por Cristo, na Sua primeira vinda, a qual divide a História da
salvação pela cruz que é o divisor entre Antigo Testamento e Novo Testamento, culminando
com a dispensação da Consumação dos Séculos, em Sua segunda vinda; portanto, três
dispensações. E findando o mapa ele vê a dispensação atual como Primícias do Reino, visão
muito próxima do Dispensacionalismo Progressivo. Mesmo não concordando com o mapa de
Albuquerque, não posso rotulá-lo de um mapa absurdo, pois o mesmo expressa a sua
pertinência pela identificação do seu autor com a sua crença escatológica nele impressa.
Acredito que o mesmo pode ser dito acerca dos mapas dos Clássicos ou Revisados. A crítica a
qualquer destas ilustrações só denota um academicismo irresponsável, arrogante e intolerante
da parte dos que tecem tais considerações, pondo-se no pináculo do conhecimento.

CAPÍTULO CINCO
__________
90

UMA VISÃO BÍBLICA SOBRE O TRONO DE DAVI

Um trono de louvores é o Trono de Deus. Estar diante dele implica ver a mão d’Aquele que
revelou o Seu poder a convocar um profeta, do calibre de Ezequiel, com a missão de Atalaia
que conforta e confronta ao povo exilado em Babilônia, às margens do rio Quebar (Ez 1.3-
28), na presença protetora dos Querubins da Glória e do esplendor das Rodas que falam da
Shequiná de Deus e enchem as mãos do profeta das brasas que fumegam deste Trono,
espalhando sobre a cidade amada a força de El-Shaday (Ez 10.1-3); Diante deste Alto e
Sublime Trono, o Senhor dos Exércitos, cercado pelos Serafins, três vezes Santo, purifica os
lábios de Isaias e faz o apelo, em nome da Trindade, ao profeta do Protoevangelho. (Is 6).
Diante deste Trono estará a Igreja Gloriosa, Imaculada e Irrepreensível (Ef 5.27),
representada por 24 pessoas que ilustram a experiência da noiva na figura dos Anciãos; o
Sacerdócio da Igreja pelos tronos que estão ao redor do Rei dos reis; a Pureza do Corpo de
Cristo pelas vestiduras brancas que cobrem os corpos desses Presbíteros; e a Realeza da
Esposa do Cordeiro, mediante as Coroas de Ouro que reluzem em suas cabeças (Ap 4.4).
Diante deste Trono desponta a ação consoladora do Paráclito – Aquele que convence
ao mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.7-11), que faz o crente glorificar a Cristo (Jo
16.14) e reluzir em sua vida, com as 7 características da Plenitude do Espírito (Is 11.1-2) no
brilho majestoso deste Trono: “E do trono saiam relâmpagos, trovões e vozes; e diante do
trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete Espíritos de Deus” (Ap 4.5; c.f Zc
4.1-6.
Diante do Trono, um mar de vidro cristalino aparece com a misericórdia divina
estendida aos salvos de todas as Dispensações, ao mesmo tempo em que ressalta, com a
identidade dos querubins, a revelação de Cristo em Sua Realeza (Leão), na posição de
Escravo (Bezerro), na forma Humana (Rosto de Homem), na forma de Deus (Águia) – Ez
1.10; 10.14:

E havia diante do trono um como mar de vidro, semelhante ao cristal. E no


meio do trono, e ao redor do trono, quatro seres viventes cheios de olhos, por
diante e por detrás. O primeiro ser vivente era semelhante a um leão, e o
segundo ser vivente semelhante a um bezerro, e tinha o terceiro ser vivente o
rosto como de homem, e o quarto ser vivente era semelhante a uma águia
voando. (Ap 4.6-7).
91

Estas características de Cristo são evangélicas, pois manifestam, de modo pleno, a


visão que cada Evangelista tem de Jesus nos escritos deles: Mateus = Messias ou Rei de
Israel, Marcos =Servo de Jeová, Lucas = Homem ou Deus-Humanado, João = Logos ou Deus
/Palavra. Diante deste Trono, a multiforme sabedoria de Deus é realçada pelo desdobramento
e ampliação do mesmo em mais cinco tronos, que abrangem a Missão de Jesus através da
história. Diante do Trono, nossas obras (Ouro, Prata e Pedras Preciosas – I Co 3.13-14) são
premiadas, não por troféus ou medalhas, mas por coroas que simbolizam o vencer dos salvos.
E o sublime em tudo isto é que o orgulho na vida do salvo será dissipado e a humildade
brilhará em seu ser, quando ele transferir, diante do Trono, a honra, a glória e o louvor das
coroas ao Filho de Deus:

Os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado


sobre o trono, e adoravam ao que vive para todo o sempre; e lançavam as
suas coroas diante do trono, dizendo: digno és, Senhor de receber glória, e
honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e
foram criadas (Ap 4.10-11).

Este é o Trono de Deus, distinto do Trono de Davi, Jesus está assentado à destra dEle,
sendo louvado e exaltado por Suas: Santidade, Soberania, Revelação e Eternidade; mais e
mais presentes no cotidiano celestial (Ap 4.8-9). Neste contexto, os DP adotam a tensão
escatológica presente/futuro (o já/ainda não – de Cullmann e Ladd), sobre o trono da destra
de Deus, que para eles, é o de Davi – Jesus o inaugurou com a redenção (o já), o qual se
cumprirá plenamente quando Ele o transportar à Jerusalém para o reino milenar (o ainda não).
Exemplifiquemos a distinção entre a hermenêutica dos DC e DR (a interpretação literal e
consistente no método histórico-gramatical) sobre o DP (a interpretação literal e não tão
consistente no método histórico-gramatical-teológico-literário – uma hermenêutica
complementar que abre espaços,

nalgumas situações, à espiritualização). Valbert Veras 204 advoga o DP pelas seguintes razões:

A questão sobre a hermenêutica dispensacionalista é um ponto cercado de


noções equivocadas e que precisa de esclarecimento. A afirmação de
Blaising (2000, p. 52) fornece o quadro geral da proposta do
Dispensacionalismo Progressivo: “Deve ser notado que o
dispensacionalismo progressivo não é um abandono da interpretação ‘literal’
pela ‘espiritual’. Dispensacionalismo progressivo é um desenvolvimento da
interpretação ‘literal’ numa interpretação ‘histórico-literal’ mais
consistente”.

204
VERAS, Valberth. REVISTA PILARES DA FÉ. Teologia/ Missiologia. Dispensacionalismo: Passado,
Presente. Fortaleza-CE: SIBIMA, p. 75, 2011.
92

Seria mesmo mais consistente? Exemplifiquemos: De acordo com Antonio


Neto,205 principal divulgador do DP no Brasil, o DP se portaria do seguinte modo, diante do
Salmo 110:

O dispensacionalismo progressivo propõe-nos o seguinte exercício: ler o


Salmo 110 e entendê-lo no contexto dele; e, segundo passo, compreender a
interpretação que o apóstolo Pedro deu a este mesmo texto na época dos
Atos dos Apóstolos. Então, a partir da leitura de Pedro, feita no momento
histórico da morte e ressurreição de Cristo, o Salmo 110 ganha novas
dimensões e a mais patente é a celestial.

Esta visão celestial do DP espiritualiza o trono de Davi e se aproxima da


espiritualização
dos aliancistas e neo-aliancistas, com a hermenêutica idealista deles. Mas, os progressivos
criam outra hermenêutica. Daí, Neto206 explicar: “Mas isto não quer dizer que toda a promessa
terrena feita no AT deva sempre ser interpretada espiritualmente e adquirir significado
celestial. Levando-se em consideração esses aspectos, e a interface como posição, o DP usa a
chamada hermenêutica complementar. ” Neto207analisa o texto de Pedro à luz da exegese de
Bock: “E por isso mesmo, ver no exemplo de Pedro um complemento de um novo referente
para a compreensão do Salmo 110. Mas esse novo referente não anula ou reinterpreta o que é
dito no Salmo 110 em seu contexto próprio. Portanto, Jesus reina no trono de Davi e também
208
reinará futuramente no seu trono na terra. ” Veras enfatiza a argumentação com as palavras
de Bock:

Bock argumenta que a abordagem tradicional lida com termos-chave como


uma entidade singular, frequentemente sem indicar qualquer das conexões
contextual e conceitual que estão associadas ao termo chave “trono de
Davi”. A abordagem tradicional apenas observa duas passagens no Novo
Testamento (Lc 1.30-33; At 2.30). E imediatamente uma conclusão é tirada
desse rápido exame das passagens. Há uma ausência de uma pesquisa no
Antigo Testamento e em outras passagens que abordam o assunto da aliança
davídica.
Examinando mais de perto esta visão de Bock, 209 em seu trabalho sobre Lucas-Atos,
percebemos a sua abordagem a partir da análise da palavra reino nos dois tratados de Lucas:

Em Lucas 17.21, Jesus declara que o Reino está entre os fariseus (entos
humon), ou seja, o Reino está na presença deles. O Reino esta “ao alcance de
205
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
206
Ibidem.
207
Ibidem.
208
Ibidem.
209
ZUCK, Roy, B. Teologia do Novo Testamento. In BOCK Darrel, L. Teologia de Lucas-Atos. 1ª ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2008, p. 105.
93

vocês no presente”. A parábola das dez minas (19.12-27) também é


educativa. Jesus, como o nobre, partiu para receber um reino e já recebeu
esse Reino. Ele retornará. Em outras palavras, a partida dEle, não o seu
retorno, dá início a seu reinado. Lucas 22.69 é outro versículo-chave. Nessa
passagem, Jesus diz que “desde agora” (apo tou nun), os membros do
Sinédrio verão o Filho do Homem assentado a direita do poder de Deus (Mc
14.62).

210
Bock usa o Salmo 110 para tentar reforçar o seu argumento sobre a posição de
Jesus Cristo, assentado sobre o trono de Davi, reinando a partir de sua ascensão à direita de
Deus:

“A direita” é uma alusão a Salmos 110.1 que retrata a investidura de poder.


É o retrato do governo de Jesus ao lado de Deus, como “co-regente”, em que
Ele distribui a salvação de forma ativa em favor dos que creem (At 2.30-36).
Salmos 110.1 é um texto que o Novo Testamento, conforme demonstram
Lucas 20.41-44; 22.69 e Atos 2.30-36, relaciona com a filiação davídica e
com a promessa feita a Davi (Hb 1.5-13).
211
Bock toma como base Atos 2 e o discurso de Pedro a mostrar que o apóstolo
retrata,

no dia de Pentecostes, a entronização de Cristo sobre o trono de Davi, à mão direita do Pai:

O derramamento do Espirito Santo, conforme registrado em Atos 2 e a


explicação do evento por Pedro, comprova que, agora, Jesus está ao lado de
Deus Pai. Jesus, como Senhor, exerce a autoridade salvadora e a prerrogativa
de governar ao lado de Deus. Por isso, o Reino, na visão de Lucas, está
presente não em sua forma final, mas em uma forma inaugural em que as
promessas dos últimos dias começam a ser cumpridas. Mais cumprimento é
previsto para o futuro.
212
Corroborando com a abordagem hermenêutica de Bock e do DP, Valberth Veras
nega as alegações dos DC e DR quanto aos novos sentidos atribuídos à sua hermenêutica
complementar, como também às espiritualização e inconsistência do seu ensino escatológico:

A Hermenêutica do DP também não é alegorizante, espiritualizante, Sensus


Plenior ou de Múltiplo Significado. O que se quer dizer é que as categorias
com que o DP trabalha são geradas internamente dentro da própria Escritura.
Bock volta ao exemplo do trono de Davi ao afirmar que quando o DP
apresenta a dimensão celestial desse trono é porque isso está sendo dito nas
Escrituras a partir de uma pesquisa que leva em conta toda a integralidade
dos fatos bíblicos sobre o assunto. Não se está buscando um sentido pleno,
ou espiritual para o termo “trono de Davi”.
À semelhança de Bock e dos progressivos, os amilenistas também acreditam que o
discurso de Pedro no Pentecoste relaciona o trono de Davi com a destra de Deus, que a nós

210
Ibidem. In BOCK Darrel, L. Teologia de Lucas-Atos, p. 105.
211
Ibidem.
212
Ibidem, VERAS, Valberth. p. 76
94

nos parece não condizer com a hermenêutica bíblica. Vejamos a versão amilenista, por
Lopes:213

Pedro cita o verso 29 de Atos 2: “irmãos seja permitido dizer a respeito do


patriarca Davi que ele morreu e foi sepultado e o seu túmulo permanece
entre nós até hoje, sendo profeta e sabendo que Deus havia jurado que um
dos seus descendentes se assentaria no seu trono”. No AT havia a promessa
feita a Davi que um dos seus descendentes se assentaria no trono de Israel, e
isso era interpretado pelos judeus como se referindo à era messiânica,
referindo-se ao período dourado em que o reino seria restaurado e o
descendente de Davi se assentaria no trono glorioso de Israel, que seria a
cabeça de todas as nações. Olhem como Pedro interpreta: “[...]. Prevendo
isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que nem foi deixado na morte, nem o
seu corpo experimentou a corrupção. ” Pedro vê essa promessa da
restauração do trono de Davi, do assentar-se do seu descendente como se
cumprindo na ressurreição de Cristo.
Pedimos licença para discordar tanto de Bock, quanto de Veras, como de Lopes e de
Neto, pois, como revisionista, primamos também por toda integralidade dos fatos bíblicos.
Analisemos o trono de Davi, firmados em textos do AT para além dos de Lucas e Atos;
embora, numa análise bíblica, possamos inseri-los nesta exegese. O trono de Davi retrata o
milênio de
Cristo, salmos messiânicos e os que falam de Cristo em suas linhas. Vejamos o Salmo 2:6-9:

Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo Monte de Sião. Proclamarei o
decreto: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me e eu te darei as nações
por herança, e os fins da terra por tua possessão. Tu as esmigalharás com
uma vara de ferro; tu as despedaçarás como a um vaso de oleiro.

Este texto expressa o Cristo (ungido Rei) com uma missão de salvar, em sua primeira
Vinda de Redentor, e no seu segundo Advento como Rei-Messias. Para tanto, o NT apresenta
o Decreto aplicado à Ressurreição de Cristo. Paulo diz: “Declarado Filho de Deus em poder,
segundo o Espírito de santificação, pela ressureição dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor”
(Rm 1.4). A estes últimos três vocábulos sobre o nome do Filho de Deus podemos deduzir
que:
1) Jesus – É o nome relacionado à sua Encarnação e Salvação (Mt 1.21);
2) Cristo – É o título associado à sua realeza, messianidade – Reino Milenar e Eterno (Sl 2.7);
3) Senhor – É o tema ligado à sua divindade, à destra de Deus: Graça e Eternidade (Sl 110.1).
A declaração do Salmo segundo em o Novo Testamento é relevante, pois enaltece:
a) A Ressurreição do Messias – Paulo, no seu discurso em Antioquia da Psídia, retrata
muito bem esta verdade: “E nós vos anunciamos que a promessa que foi feita aos pais, Deus
213
LOPES, Nicodemus A. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um
debate sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 1/3, 2014. Disponível em >
https://www.youtube.com/watch?v =ra C0Soa28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
95

cumpriu a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus; como também está escrito no salmo
segundo:
Meu Filho és tu, hoje te gerei” (At 13.32-33);
b) A Divindade do Messias: O autor de Hebreus expressa esta divindade quando
aborda a superioridade do Filho de Deus em relação aos anjos, através do nome – Filho:

Feito tanto mais excelente do que os anjos, quando herdou mais excelente
nome do que eles. Porque a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho,
hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho? E
outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de
Deus o adorem (Hb 1.4-6).

c) O Sacerdócio do Messias – Mais uma vez o escritor-anônimo de Hebreus retrata


esta realidade quando destaca a superioridade do sacerdócio melquisedequiano sobre o
levítico à luz do Salmo 110. “Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se
fazer sumo sacerdote, mas aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei. Como também
diz, noutro lugar: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5. 5-
6).
É este Salmo 110 que nos auxilia a fim de demonstrar que Jesus não se encontra no
Trono de Davi, hoje. Isto é fundamental para uma contraposição tanto à Teologia do Pacto,
quanto à Teologia da Nova Aliança, como à Teologia do Dispensacionalismo Progressivo. No
verso 1, Davi afirma: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até
que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés” (Sl 110.1). O texto infere que o
assentar-se à destra da Majestade nas alturas (Hb 1.3) o faz Senhor (Deus). Embora de posse
da realeza, esta só poderá ser alcançada quando Deus o Pai, puser os inimigos do Messias por
escabelo dos seus pés. Da destra do Pai até chegar a este tempo, Cristo terá que esperar o seu
retorno: “Mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está
assentado à destra de Deus, daqui em diante esperando até que os seus inimigos sejam postos
por escabelo de seus pés” (Hb 10.12-13). O Messias está à destra de Deus, no Seu trono,
Esperando o Trono de Davi.
O que houve quando Jesus fez a obra (Morte, sepultamento, ressurreição, ascensão e
exaltação) de redenção? à destra de Deus, foi a conquista do Reino à direita do Pai. Jesus
toma posse do Reino ao subir aos céus, e isto não implica o já estar reinando. Ele é Rei de
direito, mas não o é de fato, pois, Ele não se assentou ainda no Trono de Davi. Jesus está
habilitado para reinar, mas ainda não inaugurou o reino de Deus: “Disse, pois, certo homem
partiu para uma terra longínqua a fim de tomar para si um reino e voltar depois” (Lc 19.12).
Este retorno e não a sua ida, ao contrário do que diz Bock, é que se constitui a inauguração. E
96

o inaugurar depende do “até que” registrado no Salmo 110.1. Este verso foi mal interpretado
pelos escribas e fariseus da época de Jesus. Notável é ver que eles questionaram a autoridade
do Mestre em Mateus 22, foram confrontados por Ele na parábola dos vinhateiros, a qual
mostrou a rejeição daqueles judeus ao Reino, os quais o tentaram com inquirições, desde a
questão do tributo, passando pela indagação dos saduceus sobre a ressurreição, na “história”
da mulher que tinha 7 maridos e, indo até à inquirição do doutor da lei sobre o maior de todos
mandamentos. Após responder tais questões a contento, Jesus os indaga sobre a filiação do
Messias à destra do Pai:

E estando reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus, dizendo: Que pensais


vós do Cristo? De quem é Filho? Eles disseram-lhe: de Davi. Disse-lhes Ele:
Como é então que Davi, em espírito, lhe chama Senhor, dizendo: Disse o
Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus
inimigos por escabelo dos teus pés? E ninguém podia responder-lhe uma
palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo (Mt 22.41-
43).

Se esta pergunta fosse feita a nós, como responderíamos? Creio eu que a resposta
correta à indagação do Messias pode quebrar a hermenêutica de aliancistas, novos aliancistas
e progressivos, diante da crença de todos estes de que Jesus já está assentado no Trono de
Davi. Responderíamos ao Mestre assim: O Messias é Filho de Davi, como homem: “Acerca
de Seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne” (Rm 1.3). Nesta
condição, “Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o
trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó e o seu reino não terá fim” (Lc
1.32-33). Assim, Davi é o pai do Cristo; já à destra de Deus, Davi é submisso ao Senhor
Jesus. Daí Cardin214 destacar:

Esta pessoa sobre quem o Salmo 110 chama de Senhor é retratada


nesta
passagem bíblica com dois dos três ofícios messiânicos: Rei e Sacerdote. E
como o NT nos ajuda na compreensão profética deste diálogo entre o Pai e o
Filho, que em alguma medida, Deus traz isto ao conhecimento de Davi. Este
texto é citado em Mateus 22, Marcos 12, Lucas 20, Atos 2 e Hebreus 1. Só
para nós vermos a importância do Salmo 110 para nossa compreensão do
Rei e do Reino e em que consiste este Trono. Isto é citado por Jesus para
demonstrar que Cristo é Senhor de Davi e não apenas o seu Descendente.
[...] Na verdade, Davi é submisso a Jesus, que cita este texto diante dos
fariseus para mostrar que Ele é Senhor de Davi. [...] A figura do assentar-se
a direita demonstra realeza, dignidade e autoridade.

Assim, pode-se pensar nos ofícios assumidos por Cristo, desde a Sua encarnação. Os
seus ministérios são retratados metaforicamente na sua infância, através dos presentes dos
214
CARDIN, Hélder. O Reino e a Igreja. Palestra 7/8. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?v=
w18fvPg7j_A&t=2816s. Acesso em 17 de dez. 2020.
97

magos do Oriente (Mt 2.1-12), reconhecendo a autoridade dEle, nas ofertas lhe dadas: Ouro
(metáfora de Sua Realeza) Incenso (expressa Seu Sacerdócio) e Mirra (símbolo do Ministério
Profético). Há ainda a visão teológica sobre o tema. Daí Langston, 215 pai da primeira Teologia
brasileira, dizer:

Jesus exerceu estes três ofícios da maneira mais perfeita que se pode
imaginar. Nunca houve um rei que governasse tão sabiamente como ele,
nunca houve um sacerdote que oferecesse um sacrifício tão completo e
perfeito, e nunca houve um profeta que interpretasse tão fielmente os atos
e a vontade de Deus
e desfizesse as trevas da ignorância que envolvia a raça.

Neste contexto, pode-se inserir a análise sobre o trono de Davi pelas seguintes
questões:
a) Com a mirra a exalar a fragrância do Seu bom perfume, Ele próprio, como 
(logos – Palavra de Deus) desempenhou a Sua função de profeta e era a própria profecia;
Jesus, no Seu ministério terreno levou a Palavra a Israel, que o digam as belas profecias do
Seu sermão escatológico (Mt 24,25; Mc 13 e Lc 21). Ele foi o maior de todos os profetas, pois
como o cargo de vidência expressa, Ele fala aos homens em lugar de Deus. Os profetas do AT
diziam: “Assim diz o Senhor” e “Veio a mim a palavra do Senhor dizendo” (c.f. Is 66.1; Jr
19.1; Ez 24.1; Os 1.1; Jl 1.1; Am 2.1; Ob 1.1; Jn 1.1; Mq 1.1; Sf. 1.1; Ag 1.1; Zc 1.1); mas Ele
dizia: “Eu, porém vos digo” (Mt 5.22,28,32,34,39, 44). O Deus-profeta dá Sua mensagem ao
mundo. Sua profecia se associa a Seu ministério e ao Seu “testemunho [que] é o espírito de
profecia”. (Ap 19.10c).
b) Com o incenso, ele desempenha a Sua função de Sumo-Sacerdote, segundo a ordem
de Melquisedeque (Salmo 110.4). Este ministério começa no calvário, quando Ele se torna a
oferta-oblação por nossos pecados e segue para o trono da Graça, não o de Davi, mas o da
destra de Deus, com o fim de tornar-se o nosso intercessor-mediador entre Deus e os homens
(I Tm 2.5 e 6): “Na qual vontade temos sidos santificados pela oblação do corpo de Jesus
Cristo, feita uma fez. E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo
muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar pecados; mas este, havendo
oferecido para sempre
um único sacrifício está assentado à destra de Deus. ” (Hb 10.10-12 – cf. Hb 4.14-16).
c) Ele cumpre a Sua função de Sumo-sacerdote no Trono de Deus, à Sua direita, onde
está esperando chegar a hora de ouro, quando o Pai puser os seus inimigos debaixo dos seus
pés. Assim, Ele inaugurará o reino, assentando-se no Trono de Davi em Jerusalém, nesta terra.

215
LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática. 3ª ed. RJ: JUERP, 1999, 186-187.
98

Daí entendermos bem o verso 13 de Hebreus 10: “Daqui em diante esperando até que seus
inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. ” Chegando este momento, Ele vem: “Assim
também Cristo, oferecendo-se uma vez para levar os pecados de muitos, aparecerá a segunda
vez, sem pecado aos que o esperam para a salvação. ” (Hb 9.28). E assim, o Messias inaugura
a Nova Aliança: “Esta é a Aliança que farei com eles depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei
as minhas leis em seus corações e as escreverei em seus entendimentos; e acrescenta: E jamais
216
me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades” (Hb 10.16). Por isso, Cardin
acrescenta que o Reino de Deus não é inaugurado na primeira vinda de Cristo. Daí a lacuna
profética, ou o adiamento profético não se constituir em um plano B no Projeto sapiente e
soberano de Deus:

É o reino mediado de Deus, através do qual Ele executará o seu juízo


futuro.
[...] Este Salmo está nos dizendo que este reino não é simplesmente uma
ideia ou um conceito e ele nem é algo que aconteceria naquele primeiro
momento da vinda de Jesus. Cristo não é certamente pego de surpresa
quando Ele vem para pregar aos judeus e eles o rejeitaram. Deus não tem um
plano B para a vinda de Jesus. Tudo está perfeitamente orquestrado, em que
o endurecimento de Israel era justamente para trazer ou possibilitar a
extensão da salvação.

Por esta razão, antes de assumir o Trono de Davi, seu pai, na terra, Ele se assentará no
Trono de Deus, Seu Pai, no céu. Nesta condição, Davi tem a obrigação de chamá-lo de
Senhor, pois primeiro, Jesus se assenta no Trono divino. Estes 2 tronos - O Trono de Jesus
como Senhor e o Trono de Davi como Messias, são nitidamente explicados por Pedro no dia
de Pentecoste.
Em Atos 2 ocorre a descida do Espírito como Batismo, Selo, Penhor, Unção e
Plenitude. No discurso de Pedro, podemos dizer que o apóstolo, utilizando Joel 2, Salmo 16,
Salmo 132 e o Salmo 110, não trabalhou a tensão do já/ainda não de Oscar Cullmann e
George Eldon Ladd, pois não tivemos a inauguração da Nova Aliança, nem o estabelecimento
do Reino messiânico e tampouco ele diz que a Aliança Davídica foi inaugurada e Jesus passou
a reinar no trono de Davi assim que ressuscitou. O que vemos é Pedro aplicando Joel 2 ao
derramamento do Espírito sobre a Igreja, mas não ao cumprimento da Nova Aliança e à posse,
por herança, do reino que está preparado desde a fundação do mundo para os benditos do meu
Pai (Mt 25. 34). Um Reino messiânico na terra. Por isto, Pedro não sustentou o cumprimento
daquela profecia antes disse:

Mas, isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá,
diz
216
Ibidem.
99

Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; vossos filhos e
vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos
velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu
Espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e
sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá
em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do
Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo. (Atos 2.16-20).

Houve, sim, aplicações de aspectos da Nova Aliança à Igreja, a exemplo do derramar


do Espírito no Pentecoste, mas não o cumprimento da Nova Aliança. Tronco 217 menciona os
detalhes deste texto como provas da improbabilidade do cumprimento de Joel 2 em Atos 2:

Atos 2 não diz que Jesus começou a reinar no trono de Davi, mas que está
habilitado a fazê-lo pela ressurreição. A ligação entre a ressurreição e a
identificação com o ser o herdeiro de Davi (o "Cristo" ou "Messias") é clara,
mas não há ligação direta, nesse texto, entre a ressurreição e o assentar-se
imediatamente no trono de Davi. O Novo Testamento também diferencia o
trono do Pai, no qual Jesus se encontra agora, do trono de Jesus, que será
compartilhado pelos salvos.
A Igreja desfruta de aspectos da Nova Aliança e não do seu cumprimento, pois o
mesmo
se dará com Israel e Judá no estabelecimento do Milênio, quando Cristo assentar-se no Trono
de Sua Glória, no Trono de Davi, no Reino preparado desde a fundação do mundo,
inaugurado futuramente pela Igreja, pelos crentes do AT, pelos benditos do meu Pai (os
gentios convertidos no fim da tribulação) e pelo Israel Étnico (os pequeninos irmãos de Jesus
– Mt 25. 31-34).
Pedro cita o Salmo 16 para falar da ressurreição de Cristo (At 2.24-32). Já o Salmo
132 aborda o direito de Jesus ao Trono de Davi: “O Senhor jurou com verdade a Davi, e não
se apartará dela: do fruto do teu ventre porei sobre o teu trono” (Sl 132.11). Daí Pedro
afirmar:

Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento
que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o
assentar sobre o seu trono, e antevendo isto, disse da ressurreição de Cristo,
que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção.
(At 2.30-31).

Os salmos citados por Pedro realçam a ressureição e o direito de o Messias assentar-se


sobre o Trono de Davi, Seu Trono, distinto do Trono de Seu Pai (Ap 3.21). Pedro fala sobre o
Batismo no Espírito na subida de Cristo ao Trono do Pai. Pedro advoga o assentar-se de
Cristo neste Trono: “Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao
meu Senhor: Assenta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de
217
Ibidem, TRONCO, 2018.
100

teus pés.” Há aqui os dois tronos: o 1º à destra de Deus, para o Senhor, nosso Sumo Sacerdote
eternamente segundo a ordem de Melquisedeque (Sl 110.4). Este é o Trono da Graça:
“Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia
e achar graça, a fim de sermos atendidos em tempo oportuno” (Hb 4.16); no 2º, o de Davi, até
que as nações lhe sejam dadas por herança. Daí Pedro fechar o sermão com chave de ouro,
realçando os 2 tronos: “Saiba, pois, com certeza toda casa de Israel que a esse Jesus, a quem
vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. ” (At 2.36): Senhor (Deus), no do Pai; e Cristo
(Messias-Rei), no de Davi.
Ainda sobre estes tronos, vale a pena destacar a promessa de Jesus aos vencedores da
Igreja de Tiatira: “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim
como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono” (Ap 3.21). ” Aqui há 2 tronos: um,
só para Jesus, o Trono do meu Pai. Ele venceu a morte e ressuscitou, Ele é Deus. Nenhum de
nós podemos nos assentar neste Trono: O da destra de Deus; mas há o Trono de Davi, que é o
Trono do Filho (o meu trono). Neste trono vamos nos assentar. Por isto lemos em Daniel 7:13
e 14:

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do
céu um como o Filho do Homem; dirigiu-se ao ancião de Dias, e o fizeram
chegar a até ele. E foi lhe dado o domínio, e a honra e o reino, para que todos
os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno,
que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído.

Este é o Trono de Davi. Nós nos assentaremos nele: “E o reino, e o domínio, e


a
majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o
seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão. ” O próprio
Davi o diz: “O Senhor jurou com verdade a Davi, e não se apartará dela: do fruto do teu
ventre porei sobre o teu trono. Se os teus filhos guardarem a minha aliança, e os meus
testemunhos, que eu lhes hei de ensinar, também os seus filhos se assentarão perpetuamente
no teu trono” (Sl 132.11). Neste Trono (de Davi) nós nos assentaremos. No do Pai (o do
Senhor), só Cristo Jesus.
Daí o equívoco de Darrel Bock e dos demais DP em advogar Jesus no Trono de Davi, hoje.
Quando Jesus respondeu aos anciãos do povo, os principais dos sacerdotes e aos
escribas à indagação: “[...]: És tu o Cristo, dize-nos? ” (Lc 22.67) com o “desde agora” (apo
tou nun): “Desde agora o Filho do homem se assentará à direita do poder de Deus, ” não há a
ideia de um reinado político, imediatamente estabelecido, mas a de um reinado imediatamente
101

218
conquistado. Até mesmo Culmann faz uma análise apropriada desta perícope: “Porém, o
resultado mais importante a que nos conduz o exame dos textos de Mateus e Lucas é que, em
todo caso, mesmo fazendo abstração do original aramaico, Jesus corrige conscientemente a
pergunta do sumo sacerdote, substituindo o título de Messias pelo de Filho do Homem. ”
Culmann 219 acrescenta:

Jesus sabe que as ideias messiânicas judaicas são essencialmente políticas,


e
nada está mais longe dele que semelhante maneira de compreender sua
missão. Para prevenir de antemão todo mal entendido, evita
escrupulosamente o emprego do título de Messias. Porém, para sublinhar
bem que nem por isso é menos certo que está encarregado de executar o
plano divino de salvação para o seu povo e para a humanidade, e que tem
disso consciência, acrescenta logo a declaração sobre o Filho do Homem
que, como um ser celestial, está a bem dizer, mais próximo a Deus do que o
Messias.

Culmann220 fala o porquê de Jesus trocar o título de Messias para o de Filho do


homem:

A recusa ao título de Messias não significa, pois, de nenhuma maneira que


Jesus renuncie à sua pretensão soteriológica. Muito pelo contrário, pois o
Filho do Homem, no sentido em que o livro de Daniel lhe dá, este ser
celestial que vem nas nuvens do céu, excede e transcende a figura de um
Messias puramente político. O que Jesus recusa é, por conseguinte, somente
o papel político do Messias rei.
221
Ryle vê neste texto o futuro, pensando na 2ª vinda de Cristo a inaugurar o seu
Reino:

[...] observamos nestes versículos a notável profecia anunciada por nosso


Senhor em referência à sua segunda vinda. Ele disse aos inimigos que O
insultavam: ‘Desde agora, estará sentado o Filho do homem à direita do
Todo-poderoso Deus’. Eles achavam errado que Ele tivesse vindo em sua
aparência humilde e queriam um Messias glorioso? Um dia veriam-No em
glória. Seus inimigos julgavam-No fraco, impotente e desprezível, porque
naquela ocasião Ele não possuía qualquer majestade visível? Um dia
haveriam de contemplá-Lo na mais elevada posição no céu, cumprindo
assim a bem conhecida profecia de Daniel, revestido de autoridade em suas
mãos para realizar todo julgamento (Dn 7.9-10).
Em Marcos, Jesus responde à questão do sumo sacerdote: “[...]: És tu o Cristo, Filho
do
Deus Bendito? ” (Mc 14.61) “[...]: Eu o sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do
poder de Deus, vindo sobre as nuvens do céu” (Mc 14.62), Jesus desnuda sua missão após

218
Ibidem, Culmann, Cristologia do Novo Testamento, p. 160.
219
Ibidem.
220
Ibidem.
221
RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas. São José dos Campos: Editora Fiel, 2011, p. 366.
102

realizar a Obra. Seu Ministério agora é sacerdotal. Ele é o Rei-Messias-Sacerdote, segundo o


Salmo 110.4,5: “Jurou o Senhor e não se arrependerá: tu és sacerdote eterno, segundo a ordem
de Melquisedeque. O Senhor à tua direita, ferirá os reis no dia da sua ira. ” Os 2 versos
separam:
1ª) Rei-Sacerdote-Melquisequiano como mediador à direita de Deus (cf. Hb 7. 24-27);
2ª) Rei dos reis que, após derramar Sua ira na Tribulação, vem da destra do Pai, com
as
nuvens, a reinar na terra. Culmann222 segue esta linha de pensamento ao citar o Salmo 110:

A segunda passagem em que Jesus cita o Salmo 110 é mais clara. Trata-se de
sua resposta ao sumo sacerdote em Mc 14.62, Jesus se uniu aqui, em um só
pensamento, Daniel 7 e o Salmo 110: “Vereis o Filho do Homem sentado à
direita do poder de Deus vindo sobre as nuvens do céu. ” O estar “sentado à
direita” liga-se indissoluvelmente à imagem do Rei-Sacerdote “segundo a
ordem de Melquisedeque”. Não é significativo que Jesus aplique a si mesmo
a palavra relativa ao Sumo Sacerdote Eterno no preciso instante em que
comparece diante do sumo sacerdote judaico, que o interroga sobre a
pretensão ao messiado?

Culmann 223 acrescenta, ainda, uma questão relevante, inerente ao messiado nacional:

Por sua resposta subtende-se que o seu messiado não é do Messias nacional
que os judeus esperavam; mais ainda: não reivindica nem a função de sumo
sacerdote terreno que tem diante de si; senão que quer ser o Filho do
Homem celestial e o Sumo Sacerdote celestial. Esta resposta é, pois, paralela
à que dá Pilatos no Evangelho de João (18.36); diante do representante
terreno da autoridade, afirma que Sua soberania não é deste mundo; frente ao
sumo sacerdote terreno, afirma que também o Seu sacerdócio não é deste
mundo.

Associando estas argumentações ao “desde agora” (apo tou nun) podemos pensar
nesta expressão da conquista do Reino com sentido semelhante ao da posição de Jesus, a
expressão “daqui em diante” () revelada a Natanael: “E disse-lhe: Na verdade,
na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e
descendo sobre o Filho do homem”. O “daqui em diante” como “desde agora” falam da
conquista e comunhão dadas pelo Messias a partir da sua Obra, a exemplo também do sermos
abençoados “[...] nas regiões celestiais () em Cristo (Ef 1.3) ” e do já estarmos
na eternidade, pois Ele “[...] nos fez assentar em lugares celestiais
() em Cristo Jesus. ” (Ef 2.6). Ao analisar o último exemplo
vamos ao comentário de Ryrie224 em sua Bíblia Anotada:
222
Ibidem, Culmann, Cristologia do Novo Testamento, p. 160.
223
Ibidem, p. 120.
224
Ibidem, Ryrie. Bíblia Anotada, p. p. 1536 e 1537.
103

Paulo repete as expressões “lugares celestiais” e “em Cristo” para enfatizar a


supremacia da bênção espiritual e o privilégio de estar no Salvador (Ef
1.3,20; 2.6.12). O Reino de Deus é o lugar celestial, onde o Senhor Jesus
está assentado à direita de Deus. Para lá irão os salvos na eternidade; mas
para isso, é preciso que, primeiro, eles se tornem cidadãos deste Reino. No
entanto, como isso é possível, se o homem vive neste mundo corrupto e
perverso? A resposta está no sacrifício da própria vida em prol da vontade de
Deus, pois quem manifesta a fé pura, e o obediente à Palavra do Altíssimo
tem o privilégio aqui neste mundo de ser participante das maravilhas do Seu
Reino.

Esta participação agora se centra e se concentra em aspectos do Reino, aplicados aos


crentes, e não à inauguração do reino messiânico, presente na Igreja atual. O desde agora,
apesar de trazer a ideia de momento, aponta ainda para o futuro, como bem atesta Ryle: 225

[...] O mesmo Jesus que compareceu diante do tribunal dos principais dos
sacerdotes e de Pilatos se assentará em um trono de glória e convocará todos
os seus inimigos a comparecerem diante dEle. Feliz é o crente que preserva
com firmeza diante de seus olhos as palavras “desde agora”.
Ryle 226 retrata muito bem como deve ser a postura do crente e a sua posição presente,
semelhante à do Rei, norteada pelo sofrimento como tônica do cristianismo bíblico. (Mt
16.24):

No presente, os crentes devem se contentar em participar dos sofrimentos de


seu Senhor e, como Ele, parecerem fracos. Desde agora, porém, compartilha
de sua glória e, com Ele, são fortes. No presente, assim como seu Senhor,
não podem ficar surpresos se forem escarnecidos, desprezados e
desacreditados. No entanto, “desde agora” estão assentados com Ele, nos
lugares celestiais.

Para compreender esta questão dos tronos notemos o que a Bíblia diz sobre o assunto.
Da glorificação ao dia em que Jesus será tudo em todos (I Co 15:28), tronos norteiam Seu
viver:
1º Trono do Pai:
Neste Trono, Ele se assentou após vencer o diabo, o pecado e a morte, resultando na
redenção. 40 dias após a Sua ressurreição, Ele subiu ao céu e assentou-se à destra de Deus:
“olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto,
suportou a cruz, desprezando a afronta, assentou-se à destra do trono de Deus ” e “O qual,
sendo o resplendor da sua glória e a expressa imagem da sua pessoa e sustentando todas as
coisas pela palavra do seu poder, havendo feito a purificação dos nossos pecados, assentou-se
à destra da majestade nas alturas. ” (Hb 12.2; 1.3 respectivamente). Este é o trono do Pai.
Ele exerce a
225
RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Marcos. São José dos Campos: Editora Fiel, 2011, p. 366.
226
Ibidem.
104

função de Sumo-Sacerdote neste trono (Hb 7.25). Não confundir com o de Davi.
2º Trono do Bema:
Saindo do trono do Pai, Jesus virá aos ares/2º céu, arrebatará a Sua Igreja ao 3º Céu,
onde se assentará na Sua Tribuna (Vema) a julgar Sua noiva e casar-se com ela: “Mas tu,
porque julgas teu irmão? Ou tu, também, por que despreza teu irmão? Pois, todos nós
havemos de comparecer ante o tribunal [Bema] de Cristo” e “Porque todos devemos
comparecer ante o tribunal [Bema] de Cristo, para que cada um receba o que tiver feito por
meio do corpo, ou bem, ou mal” (Rm 14.10; II Co 5.10). A Igreja será arrebatada antes da
Tribulação, não por seu destino ser o céu e o de Israel ser a terra. Ela será galardoada e se
casará com o Cordeiro.
3º Trono de Sua Glória:
Após galardoar a Igreja e casar-se com ela, descem e assentam-se no
Trono de Davi para reinar (Mt 25.31; Ap 3.21). A função de Jesus aqui é de Messias/Rei de
Israel. (Lc 1.32). Por isso, Isaias diz: “Do aumento deste principado e da paz não haverá fim,
sobre o trono de Davi e no seu reino, para o fortificar com juízo e com justiça. ” (Is 9.7).
4º Trono Branco:
Após o milênio, Jesus queimará a terra, e na eternidade fará o Juízo Final, assentando-
se no 4º trono. Ele será o juiz a condenar os ímpios ao lago de fogo (Ap 20. 11,15).
5º Trono Eterno:
Cristo se assentará neste trono, na nova Jerusalém e na Nova Terra, e reinará para
sempre (Ap 21.1-5). A função dEle é de realeza sobre a criação. Após seu reino messiânico,
submetendo tudo debaixo de seus pés, Ele entregará o reino ao Pai e Deus e será tudo em
todos.
105

CAPÍTULO SEIS
__________

A HORA DO ARREBATAMENTO E OS CÂNTICOS DA


EPIFANÉIA

A Escatologia desnuda o futuro e traz o Plano de Deus para com o homem através dos
séculos. Neste contexto, os propósitos divinos são distintos em todas as áreas. Podemos
afirmar que, no campo sobrenatural-angelical, no âmbito judaico, na área eclesiástica e
também no que diz respeito ao cosmos como natureza e aos anjos maus e aos ímpios. Por isto,
Ryrie227 declara que:

Embora os propósitos de Deus para Israel e para a Israel e para a Igreja


recebam maior atenção das Escrituras, o Senhor tem propósitos para outros
grupos também. Ele tem um propósito e um plano específico para os anjos
que, de maneira nenhuma se mistura com seus propósitos para Israel e para a
Igreja (2 Pd 2.4 e Ap 4.11). Ele tem um propósito para aqueles que o
rejeitam, o que também é diferente de outros planos que traçou (Pv 16.4).
Ele tem um plano para as nações, que têm continuidade na Nova Jerusalém.
(Ap 22.2), sendo certo que as nações são distintas da noiva de Cristo. Deus
tem mais de dois propósitos, embora ele revele seus planos para Israel e para
a Igreja de forma dominante, em comparação com os outros grupos.

227
RYRIE, Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: Editora Batista Regular, 2020, p. 66.
106

Aqui, o número de dispensações não importa. O sine qua non228 do


Dispensacionalismo é marco identitário deste sistema. Por isto, é muito necessário tê-lo em
mente a fim de que possamos distinguir entre o verdadeiro dispensacionalista, daquele que
apenas o diz ser. Daí
Ryrie citado por Couch229 elencar as três bases deste sine qua non:
1) uma abordagem de interpretação literal consistente das Escrituras;
2) uma Distinção clara entre Israel e a Igreja; e
3) a Glória de Deus como propósito final na História e aspecto unificador da Bíblia.
No primeiro tópico do sine qua non, os DN e DR tem, em sua hermenêutica, o
método histórico-gramatical, que prima pela filosofia da história, cujo foco é o progresso da
revelação de modo literal e consistente; ao mesmo tempo em que traz a gramática e o
referencial plenior à relação entre sentido e significância do texto pelo interpretar de AT por
autores bíblicos do NT. Por outro lado, O DP se apoia numa hermenêutica complementar que,
apesar de advogar a consistência, espiritualiza os textos, que são usados por pactualistas em
sua hermenêutica.
Ao ver o 2º ponto do sine qua non, há os do DN e do DR que deixam nítida a clareza
de que Israel e Igreja são povos distintos em todo o sistema dispensacional, embora entenda
que na Era da Igreja, judeus e gentios fazem parte dum só povo, formando o corpo de Cristo.
Mas o Israel étnico se faz presente nesta época, com o seu coração endurecido, até à sua
admissão. Por outro lado, a diferença dos do DP com a criação de um centro unificador da
história acaba ofuscando esta distinção e alguns que admitem a Igreja como um Novo Israel
de Deus no futuro.
Enfim, o ultimo sine qua non abrange a glória de Deus, e não a redenção humana,
como centro unificador da história. Enquanto o DP a cristologia na redenção holística como
ponto central a unificar a história da redenção, os DN e DR veem na doxologia a essência da
história. E como diz Ryrie230 “A Escritura não é centrada no homem como se a salvação fosse

228
Nota: A expressão sine qua non vem do latim e se traduz literalmente em língua portuguesa: sine (sem), qua
(a qual) non (não), significando indispensável. Em se tratando desta expressão no Dispensacionalismo, é Ryrie
quem o traz no capítulo dois de sua obra Dispensacionalismo, deixando claro de que “Teoricamente, o sine
qua non deveria ser o reconhecimento de que Deus faz vigorar diferentes economias dos assuntos do mundo”
(2020, p.63).
229
COUCH, Mal, (ed) An Introduction to Classical Evangelical Hermeneutics: um guide to history and pratice of
biblical interpretation. Grand Rapids. Ml: Kregel Publication, 2000, p.172.
230
Ibidem.
107

o tema principal, mas é centrada em Deus porque Sua glória é o centro”. Por isso W. House 231
enfatiza:

Este terceiro elemento, o propósito subjacente de Deus em Sua Escritura


mundial, não é discutido em relação a um elemento necessário do
dispensacionalismo como os outros, mas se torna especialmente importante
na determinação do grau em que o dispensacionalismo progressivo se parece
mais e mais com a teologia Reformada do que com o dispensacionalismo.
Ryrie reconhece que os teólogos da aliança têm uma forte teologia da glória
de Deus, mas para o dispensacionalista a glória de Deus é o foco, não um
foco, e a salvação da humanidade é um meio para esse fim, não o fim em si.
Os teólogos da aliança, em contraste, têm a redenção como o propósito de
Deus no mundo.
Sobre a definição de Dispensação, Scofield 232 diz: “Uma dispensação é um período de
tempo no qual o homem é testado na sua obediência a alguma revelação específica da vontade
de Deus. ” Para os Revisados, Dispensação é o modo de Deus se associar ao seu povo. Já os
progressivos veem a Dispensação como arranjos divinos na revelação progressiva na História
da Salvação. Nesse método, Deus trata com os homens em Sua sabedoria, ao mesmo tempo
233
em que revela Seus desígnios. Daí Samuel Ladeira, um DC, afirmar: “Conhecer as
Dispensações é, não somente ter uma sólida base bíblica, mas também compreender muitos e
muitos planos de Deus para os séculos do mundo presente e ainda do vindouro.”
Dispensacionalismo vem do vocábulo dispensação, que em sua terminologia grega
oikonomia ( composto por casa e lei, uma casa governada.
Economia é a transliteração de: ciência da administração das finanças. O vocábulo aparece
oito vezes em o NT: três das designações são:
a) Mordomo e mordomia em Lucas 16.1-4 significando administração;
b) Uma vez em I Coríntios 9.17, com o sentido de despenseiro;
c) Outras três vezes em Efésios:
I – Designa convergir (Ef 1.10);
I. Expressa a ideia dispensação inerente à graça de Deus, confiada a Paulo (Ef
3.2);
II. Paulo liga dispensação a Mistério oculto em Deus nos séculos passados (Ef
3.9).

231
HOUSE, Wayne. Dispensacionalismo, Escatologia, História do Arrebatamento, Igreja Primitiva, John
Nelson Darby.25 de maio de 2020. Disponível em > https://paleoortodoxo.wordpress.com/category/
dispensacionalismo/. Acesso 07 jan. 2021.
232
SCOFIELD Cyrus, Bíblia de referência (Trad. João F. de Almeida – Ed. Revista e Atualizada no Brasil), p.3.
233
LADEIRA Samuel, Profecias e Dispensações, p.31.
108

d) Em Colossenses 1.25, Paulo a vê como dispensação de Deus. Mas, é bom realçar


234
que as definições não correspondem ao sistema em si do dispensacionalismo. Daí Feinberg
dizer:

O equívoco, entretanto, está num nível ainda mais profundo. O termo e o


conceito “dispensação” não estão sequer na essência do sistema. O engano
fundamental de Johnson, Toussaint e outros é pensar que eles podem definir
um esquema conceitual (dispensacionalismo) definindo um termo
(“dispensação”). Definir uma palavra e definir um conceito não são a mesma
coisa. Definir uma palavra envolve fazer uma análise das formas pelas quais
essa palavra é usada em vários conceitos. Definir um conceito envolve
delinear as qualidades fundamentais que fazem algo ser o que é.

Ryrie235 expressa a definição da seguinte maneira:

O dispensacionalismo vê o mundo como uma casa administrada por Deus.


Em sua “casa –mundo”, Deus administra seus assuntos de acordo com sua
própria vontade e ao longo de vários estágios de revelação manifestos com o
passar do tempo. Esses vários estágios marcam a natureza distinguível das
diferentes economias que caminham rumo à realização do propósito divino
final, sendo que essas diferentes economias são chamadas de dispensações.

Feinberg 236 deixa clara ainda a impossibilidade de definir um sistema:

Os dispensacionalistas aparentemente não compreenderam a distinção e


assim, assumiram que podiam definir um sistema de pensamento (um
assunto conceitual) definindo uma palavra. Definir o termo “dispensação”
não define mais a essência do dispensacionalismo do que definir o termo
“aliança” explica a essência da teologia da aliança.
237
Inspirado neste livro, editado por Feinberg, Michael Vlach, em
Dispensacionalismo: crenças essenciais e mitos comuns realça a diferença entre
dispensacionalismo e outro sistema:
1. No Dispensacionalismo: o NT não substitui a intenção original de autores do AT. Quer
dizer que promessas feitas a Israel não podem, por revelação progressiva, serem cumpridas à
Igreja.
2. No Dispensacionalismo: a Israel nacional não é um tipo que é substituído pela Igreja.

uma ligação tipológica entre Israel e a Igreja, mas esta conexão não implica substituição.
3. No Dispensacionalismo: Israel e a Igreja são distintos – a Igreja não pode se identificar
com o Israel de Deus. No NT Israel é visto como nação, em oposição aos gentios após a Igreja

234
FEINBERG, John S. Continuidade e Descontinuidade: perspectiva sobre o relacionamento entre o Antigo e
o Novo Testamentos: ensaios em homenagem a S. Lewis Johnson Jr. In FEINBERG, John. Sistemas de
descontinuidade. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 77.
235
RYRIE, Charles. Dispensacionalismo. São Paulo: Editora Batista Regular. 2020, p. p. 46, 47.
236
Ibidem.
237
VLACH, Michael J. Dispensacionalismo: crenças e mitos. Ibidem, pp. 34-55.
109

238
nascer (At 3.12; 4.8, 10; 5.21,31,35; 21.28). Daí Ryrie dizer: “Na oração de Paulo pelo
Israel natural (Rm 10.1) há uma clara referência a Israel como um povo nacional distinto e
fora da Igreja”.
4. No Dispensacionalismo: há uma unidade espiritual na salvação entre judeus e gentios e um
papel futuro ao Israel Étnico. Ao se tratar da questão da unidade salvífica entre os dois grupos
há um papel futuro de Israel no Milênio.
5. No Dispensacionalismo: Israel será salvo com identidade única e função no futuro Milênio.
O que distingue dispensacionalistas é crer não só na salvação de Israel, mas em sua
restauração.
6. No Dispensacionalismo: há múltiplos sentidos para a semente de Abraão, que não cancela
as promessas de Deus para Israel.
A 2ª Vinda é uma só. Ela se dará na batalha do Armagedom, mas a nossa reunião com
Ele (o Rapto) será nos ares, precedendo a Tribulação. A Vinda de Jesus será em 2 fases:
1ª) invisível - a arrebatar a Igreja e levá-la à Sua tribuna para galardoá-la. (Jo 14.2-3; Rm
14.10).
2ª) visível - para destruir o Império do Anticristo em Armagedom, julgar as nações vivas no
Vale de Jeosafá e implantar o Milênio. (Ap 16.14-16 e 19.11-21, Jl 3.2; Mt 25.31-32).
Sobre a fase invisível da 2ª vinda, há 4 teorias distintas sobre o tempo em que ela se
dá.
a) Pós-Tribulacionismo - Corrente escatológica que advoga a permanência da igreja na
terra na Tribulação, ou seja, o arrebatamento só se dará após os sete anos de governo do
Anticristo. Esta Teoria descarta uma vinda iminente do Senhor, embora admita até um
milênio literal.
Jesus, para eles, arrebata a Igreja e desce com ela imediatamente para reinar. Muitos chamam
ironicamente de teoria do ioiô. O pré-milenismo histórico de George Eldon Ladd a sustenta.
b) Mesotribulacionismo - Esta teoria não diz que a igreja enfrentará a grande tribulação (os 3
anos e1/2 finais do reinado anticristão), mas defende que ela passará pelos primeiros 42
meses de tribulação. A Igreja vê a abertura dos 7 selos apocalípticos (Ap 6 a 8), ouve os
toques das 7 trombetas (Ap 8 a11), mas na sétima trombeta (v. 8.16), que eles confundem
com a trombeta de Deus (I Ts 4.16) e também com a última trombeta (I Co 15.52), Cristo
arrebatará a sua Igreja.
c) Pré-Tribulacionismo - “Descansando sobre o método literal de interpretação das Escrituras,
esta posição escatológica sustenta que a Igreja, o Corpo de Cristo, em seu todo, será por
238
RYRIE, Charles. Dispensacionalism Today, 1965.
110

ressurreição e por transferência, retirada da terra antes de começar qualquer parte da


239
septuagésima semana de Daniel”, diz Pentecost. Tal hermenêutica favorece ao Rapto antes
da Tribulação “que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam na
terra.” (Ap 3.10). Para Marcos Granconato240 esta vertente se adequa melhor à distinção Israel
e Igreja:

Um grupo expressivo de dispensacionalistas, crendo que Israel e Igreja são


grupos distintos e que Deus tem planos diferentes para cada um, entende que
a Grande Tribulação é um tempo especial em que Deus vai focar seu trato
especificamente em Israel. Sendo assim, a Igreja estará ausente nesta época,
tendo sido levada ao céu, pouco antes do terrível período de dores começar.

d) Pré-Ira – A pré-ira se assemelha ao mid-tribulacionismo. Ela é adotada pela maioria dos do


DP. Para eles o Rapto da Igreja vem antes do derramar da Ira do Cordeiro (Ap 6.12-17).
Creem em um arrebatamento quase “iminente”, porém, dentro da Grande Tribulação. Para
eles, a Ira de Deus não se manifesta nos 7 anos de Tribulação, mas quase no fim da última
metade da 70ª semana de Daniel. Talvez no fim do 63º mês do período. Eles vão além do mid-
tribulacionismo.
Esta corrente surgiu em 1986 por uma série de debates com Marvin Rosenthal e
Robert
Van Kampen. Prosseguindo com este tema, podemos pensar no que relata Tony Kessinger:241

Em 1990, Rosenthal apresentou o seu livro, The Pre-Wrath Rapture of


the
Church, como um novo entendimento do arrependimento, da Tribulação e da
segunda vinda de Cristo. Em 1992, Van Kampen publicou a obra The Sign,
em que ele tentou harmonizar as passagens do tempo do fim em ambos os
Testamentos (Van Kampen, p. 13), e em 1997 ele lançou a obra The Rapture
Question Answered como outro argumento para a posição pré-ira.
242
Segundo Marvin Rosenthal, o seu ensino tem por base o Dia do Senhor: “A teoria
do
arrebatamento pré-ira ensina que o Dia do Senhor, o tempo da ira divina sobre a terra, terá
início em algum momento durante a segunda metade da septuagésima semana de Daniel, e
que o arrebatamento da Igreja o precederá imediatamente”. O Dia do Senhor, para eles,
começa com o 7º selo, junto ao toque da 7ª trombeta (Ap 11.15), a qual seria a mesma última
trombeta (I Co 15.52), que seria idêntica à trombeta de Deus (I Ts 4.16). Só que não. Estas 2
239
J. Dwight Pentecost, Op. Cit, p.217
240
GRANCONATO, Marcos. Dispensacionalismo e Pré-tribulacionismo. Disponível em >
https://www.youtube. com/watch?v=piizMIiFVgY&t=1962s. Acesso em 16 dez. 2020.
241
HINDSON Ed e LAHAYE. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica; In KESSINGER Tony:
Arrebatamento Pré-Ira. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 97.
242
ROSENTHAL, Marvin. The Pre-Wrath Rapture of the Church. Nashville: Thomas Nelson, 1990.
111

últimas trombetas nada têm a ver com a 7ª do Apocalipse. Esta visão vai de encontro à
posição pré-tribulacionista que crer no início do Dia do Senhor ocorrendo no começo da
Tribulação e toma por exemplo o arrebatamento de João prefigurando o rapto da Igreja: “Eu
fui arrebatado no Espírito no Dia do
Senhor...” (Ap 1.10) precedendo os 7 anos que ocorrerão dos capítulos 6 a 19 do mesmo livro.
Dentro deste contexto, é importante destacar as crenças escatológicas do DP em
relação ao arrebatamento da Igreja à luz da visão dum dispensacionalista progressivo, Antonio
Neto:243

Seria importante mencionar as implicações do dispensacionalismo


progressivo nos eventos escatológicos. Creio que os tradicionais, que
porventura lerem esta entrevista, têm essa expectativa. Talvez queiram saber
se nós acreditamos ainda em uma tribulação de sete anos, num
arrebatamento secreto etc.

Continuamos com Antonio Neto,244 vendo como os progressivos abordam esta


questão:

Por conta das modificações, metodológicas e hermenêuticas, os progressivos


concluíram que não é preciso ser pré-tribulacionista. Não concebemos a
ideia de que o arrebatamento acontecerá antes da grande tribulação. A lógica
por trás da visão dos tradicionalistas é que Deus arrebatará primeiro a Igreja
e depois tratará com o povo de Israel. Os progressivos não admitem essa
secção no tratamento divino, pois entendem que a Igreja engloba gentios e
judeus, ambos herdeiros das mesmas promessas.

Vale ressaltar que Paulo, mesmo na Era cristã, fez questão de destacar três grupos:
“Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos [gentios], nem à
Igreja de Deus [judeus e gentios]. ” (I Co 10.32). E Israel, mesmo no tempo da Igreja, é
chamado de povo de Deus, para além da própria Grei do Senhor: “Digo, pois: Porventura
rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da
descendência de Abraão, da tribo de Benjamin. Deus não rejeitou o seu povo, que antes
conheceu” (Rm 11.1,2a).
Embora reconheçamos que hoje Deus formou um Corpo (a Igreja) pelo Batismo no
Espírito, derrubando a parede de separação, e de ambos os povos fez um (Ef 2.14,15), não tem
como ver ao Israel Étnico (a mulher de Apocalipse 12) na tribulação e olhar os gentios, tanto
mártires (Ap 6.9;7.9-17) quanto, os benditos do meu Pai, quando o Filho se assentar no Trono
de Davi ou o de Sua glória (Mt 25.34) e ainda dizer que não há 2 povos de Deus da

243
BIBOTALK. O que é Dispensacionalismo Progressivo? Entrevista com o Professor Antonio Neto.
Disponível em > https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17 dez.
2020.
244
Ibidem.
112

Dispensação da Graça à Tribulação, que antecede a Dispensação da Plenitude dos Tempos (Ef
1.10)
I – AS RAZÕES PELAS QUAIS SOMOS PRÉ-TRIBULACIONISTAS:

É muito triste perceber o surgimento de uma vertente do dispensacionalismo que


coloca em segundo e terceiro planos a questão pré-tribulacionista, marco dos DC e DR; e até
mais, abrir espaço a outras correntes que admitem o arrebatamento no ou até ao fim da
Tribulação:
(1) Em nenhum lugar do NT é dito que a Igreja tem que passar pela Tribulação;
(2) Os textos das Escrituras que falam sobre a Igreja não mencionam em lugar algum,
nem por profecia, tampouco por alusão ou eco, que a Igreja passará por uma Grande
Tribulação;
(3) A Igreja participa do Dia de Cristo na Glória a ser galardoada no Bema e casar-se
com o Cordeiro. Ela não se insere no Dia do Senhor, na terra. Ela vem para o Milênio reinar.
(4) A Igreja será apresentada a Cristo como noiva para ser galardoada (Ef 5.25-27) e
não ao Anticristo para ser perseguida;
(5) A Igreja aguarda a Estrela da Manhã (Ap 2.28) e Israel aguardará o Sol da Justiça
(Ml 4.2), a primeira (o Arrebatamento) precede a segunda (o Armagedom – Ml 4.3);
(6) A Igreja, para Paulo, é arrebatada em I Tessalonicenses 4.13-18, e a tribulação é
retratada em I Tessalonicenses 5.1-11. Jesus vem como ladrão para o Dia do Senhor, não para
a Igreja, que é retirada da terra para o Dia de Cristo (I Ts 5.2 e 4);
Cremos que a Ira de Deus é derramada plenamente na terra, a partir dos 21 juízos (7
selos, 7 trombetas e 7 taças da Ira – Ap 15.1). Isto se dá durante os 7 anos. Mas, nós
esperamos “[...] dos céus o seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que
nos livra da ira futura. ” (I Ts 1.9). Deus não nos destinou para a ira (I Ts 5.9 a). Somos os pré-
iras bíblicos, crendo num arrebatamento antes dos 7 anos, pois Deus não nos destinou para a
ira (I Ts. 5. 9).
(7) A 70ª semana de Daniel está entre as 70, que são a Israel, não à Igreja (Dn 9.24-
27);
(8) A vinda de Cristo é iminente, a qualquer hora, a qualquer momento. Portanto, a
iminência só pode corroborar com um arrebatamento da Igreja de modo pré-tribulacional;
(9) Na interpretação futurista do Apocalipse, a Igreja é arrebatada em 4.2. Na terra, ela
só surge nos capítulos 1, 2 e 3. Depois, só no 19. Nada é dito sobre ela, na terra, em 6 a 18;
113

(10) O Senhor da Igreja a protege da hora da tribulação que virá sobre a terra (Ap.
3.10)
(11) O Senhor sabe livrar da tentação os piedosos (II Pe 2.9);
(12) O Corpo de Cristo já sofreu por nós, não tem como sofrer de novo na
Tribulação;
(13) Assim como foi nos dias de Noé, assim será na Vinda do Filho do homem (Mt
24.36-41), na fase visível. É bom pensar em Enoque, bisavô de Noé (Gn 5.21-32), um tipo
da
Igreja, que foi trasladado (Gn 5.24; Hb 5.5) antes do dilúvio, e a Igreja será antes da
Tribulação;
Diante destas razões, é triste notar a existência de um dispensacionalismo que, com
sua hermenêutica complementar, pelo academicismo “teológico-bíblico” e sua “visão”
literária, amenize a questão pré-tribulacionista a cooptar vertentes intelectuais do ensino sobre
245
a hora do Rapto. Por isso, Neto cita a ala do DP, que optou pelo pré-tribulacionismo. São
os que seguem a Blaising. Eles são pré-tribulacionista convictos e não teológicos como os DC
e DR:

Já no caso dos dispensacionalistas progressivos que são pré-tribulacionistas,


como é o caso do Craig Blaising, eles o são por convicção bíblica, e não por
causa de sua teologia. Não é a teologia que os força a acreditar no
arrebatamento da Igreja e do posterior tratamento divino exclusivo para com
Israel. É através da Bíblia que os progressivos pré-tribulacionistas têm a
convicção que a tribulação futura é o Dia do Senhor e que, como diz Paulo, o
próprio Deus resgatará a Igreja antes deste evento.
Em seguida, o professor Antonio Neto246 destaca as outras possibilidades abraçadas
pelo DP, inclusive a pré-ira, vertente que o próprio divulgador do DP no Brasil é adepto:

Mas existem progressivos que entendem que o Dia do Senhor é uma parte da
grande tribulação, mais especificamente a segunda metade desta. E, por
conta
disto, muitos deles não são pré-tribulacionistas e divulgam uma posição
chamada de pré-ira. Essa posição é uma espécie de pós-tribulacionismo em
que a Igreja é arrebatada no momento do retorno de Jesus e do
simultâneo
derramamento de sua ira. Creio que a pré-ira ainda vai se consolidar no
Brasil.
Como já vimos a visão pré-ira se distingue da posição pré-tribulacionista.
Corroborando

245
Ibidem. https://bibotalk.com/textos/o-que-e-dispensacionalismo-progressivo/. Acesso em 17/ 11/20.
246
Ibidem.
114

com esta assertiva, recorremos a Kessinger 247 a fim de observar quatro aspectos da pré-ira:
1) A Ira do homem e a Ira de Deus:

A divisão da pré-ira da septuagésima semana de Daniel em três seções é um


esforço arbitrário, torcendo a verdade de que a septuagésima semana de
Daniel como um todo é um tempo da ira de Deus. Os pré-tribulacionistas
consideram todo o período de sete anos como um tempo da ira de Deus.
Apocalipse 6.16-17 é uma declaração resumida de que os primeiros seis
selos contêm a ira do Cordeiro, sob a qual o povo pergunta: “Quem poderá
subsistir? ”
248
Dentro deste contexto, em contestação aos argumentos da pré-ira, Kessinger
destaca:

A passagem não diz que o derramamento da ira de Deus ainda está por vir,
como alegam os que defendem a pré-ira, mas que a ira já está sendo
derramada. Como um cumprimento da promessa de Apocalipse 3.10, a
Igreja foi removida da “hora da tentação”, não estando sujeita a esta como
um tempo de menor tribulação.
Embora, na Tribulação, note-se a ira humana em ebulição, associada à ira satânica:
“[...]
porque o diabo desceu a vós e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. ” (Ap 12.12)
A ira de Deus abarcar todo o período pelos 21 juízos dos selos, trombetas e taças (Ap 15.1).
2) A Segunda Vinda e o Arrebatamento:
“Os que defendem o arrebatamento pré-ira encontram o arrebatamento em Mateus
24.40-41 e Lucas 17.20-37. Estas passagens são similares a reconhecidas passagens que falam
do arrebatamento (Jo 14-1-3; 1 Co 15.51-53; 1 Ts 4.13-18); porém, não descrevem o mesmo
250
evento. ”249 Kessinger faz aqui o paralelo entre o arrebatamento e a segunda vinda de
Cristo:

No arrebatamento, os crentes se encontram com Cristo nos ares; na segunda


vinda, os pés de Cristo tocam o monte das Oliveiras (Zc 14.4). No
arrebatamento, os santos no céu não vêm para a terra; na segunda vinda,
Cristo lidera os exércitos do céu que virão a terra (Ap 19.11-16). No
arrebatamento, os crentes são tirados da terra, porém os descrentes são
deixados para que entrem na Tribulação; na segunda vinda, os descrentes são
tirados da terra, e os crentes são deixados para que entrem no reino milenial.
O equívoco dos que advogam a pré-ira vem da tentativa de pôr a Igreja no Sermão
Escatológico, o qual fala de Israel e do Armagedom. Aqui a Igreja já estará glorificada, no
céu.

247
KESSINGER apud Rosenthal, pp. 256-257: Arrebatamento Pré-Ira. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 97.
248
Ibidem.
249
Ibidem, p.99.
250
Ibidem.
115

3) A Iminência:

Os pré-tribulacionistas defendem que o arrebatamento da Igreja é a bem-


aventurada esperança (Tt 2.13), para a qual os crentes olham. É um evento
que pode ocorrer “a qualquer momento” e não precisa ser precedido por
nenhum outro evento profético. Como resultado, ele e um catalisador para
uma vida santa e para uma expectativa posterior. 251

Kessinger252fala da diferença entre “iminência” do pré-ira e iminência pré-


tribulacional:

Os que defendem o arrebatamento pré-ira veem pelo menos cinco sinais que
devem ocorrer primeiro, e depreciam a ideia de um arrebatamento “a
qualquer momento”, referindo-se a expectativa em vez da iminência. A
posição do arrebatamento pré-ira e a posição do arrebatamento pré-
tribulacional são claramente distintas, e as Escrituras favorecem o pré-
tribulacionismo.
A pré-ira vê a iminência como expectativa, o pré-tribulacionista a tem como
Esperança.
4) Aquele que Resiste:

O ponto de vista pré-ira defende a ideia bastante inventiva de que Miguel,


o
arcanjo, é aquele que resiste. Este conceito falha, levando-se em
consideração o ministério protetor especial de Miguel em relação a Israel. Os
pré-tribulacionistas geralmente veem o Espirito Santo como aquele que
resiste e entendem que Ele permanece na terra, mas permite que Satanás
cause o mal que prevalece durante o período da Tribulação. 253
De Miguel, no Arrebatamento ouviremos apenas a sua voz (I Ts 4.16), enquanto que
com o Espírito nos retiraremos da Terra ao encontro do Senhor nos ares. É Ele quem resiste
ao
sistema. Assim, pensemos, primeiro no possível gargalo, sustentado pelos defensores da pré-
ira e de outras correntes, no tocante à visão pré-tribulacionista de II Tessalonicenses 2.1-3:

Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, e pela
nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso
entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer
por epístola, como de nós, como se o dia do Senhor estivesse já perto.
Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que
antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da
perdição.

Primeiro, vemos a argumentação de alguns pré-tribulacionistas, que veem o vocábulo


apostasia () na perícope como expressão positiva, que aponta ao afastamento ou
arrebatamento e não ao aspecto negativo, que apontaria ao abandono deliberado da fé, pois,

251
Ibidem.
252
Ibidem.
253
Ibidem.
116

neste texto, não há o adjunto adnominal da fé, associado ao termo apostasia, como ocorre, em
forma de verbo, em I Timóteo 4.1, no âmbito negativo, como a explica Marcos Granconato:254

A palavra apostasia, com o passar do tempo, adquiriu sentido negativo. O


que é apostasia para nós? Abandono da fé. Agora, o que era apostasia em o
NT? Saída. Poderia ser uma saída boa ou uma saída ruim. [...]. Então, alguns
dispensacionalistas, a exemplo do professor Carlos Osvaldo Pinto, dizia que
“a palavra apostasia só aparece uma vez na Bíblia, e é em II Tessalonicenses
2:3. Se o seu significado é saída, pode ser o arrebatamento da Igreja. ”
Então, ficaria assim, a leitura: “Ninguém de maneira alguma vos engane, isto
não acontecerá sem que primeiro ocorra a saída. ” [...]. Eu estou respeitando
a palavra no sentido em que ela foi escrita. Hoje ela tem o sentido só
negativo, mas na época de Paulo, não.

Em segundo lugar, há pré-tribulacionistas que afirmam ser o tema de Paulo em


II
Tessalonicenses 2, o Dia do Senhor: “[...] a que não vos demovais da vossa mente, com
facilidade, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como se
procedesse de nós, supondo tenha chegado o dia do Senhor. ” (II Ts 2.2) e não o Dia de
Cristo, como figura nalgumas traduções bíblicas; por isso, não há nenhuma menção ao
arrebatamento
da Igreja neste texto de Paulo, ao não ser na expressão “[...] a nossa reunião com Ele. ”
Sobre a distinção entre estes dois dias, é importante destacar que a Igreja completa se
reunirá com Jesus (II Ts 2.1) no Bema para ser julgada por Ele, enquanto os habitantes da
terra
provarão os grandes juízos do Dia do Senhor. Daí Scofield 255 distinguir as duas expressões:

[...] O dia de Cristo’ em todas as seis referências no Novo Testamento é


descrito, relacionando-se com a recompensa e a bênção da Igreja no
arrebatamento e no contraste com a expressão ‘o dia do Senhor’ que é
relacionada com o julgamento dos judeus e gentios incrédulos e as bênçãos
dos santos no milênio (Sf. 3:8-20).
II – O DIA DE CRISTO

O Dia de Cristo se iniciará concomitante com o Dia do Senhor, só que este abrangerá a
terra e aquele contemplará o céu. O Dia de Cristo tem um tempo menor que o Dia do Senhor:
O Dia de Cristo durará sete anos. É o período em que a Igreja será julgada por Jesus, e ela, a
noiva, se tornará a esposa do Cordeiro – Vai do arrebatamento a hora em que o Rei volta
casado com a Rainha para reinar. O Dia do Senhor ocupa um período que não podemos
precisar:
254
GRANCONATO, Marcos. Dispensacionalismo e Pré-tribulacionismo. Disponível em >
https://www.youtube. com/watch?v=piizMIiFVgY&t=1962s. Acesso em 16 dez. 2020.
255
Cyrus Scofield, ibidem, p. 1165.
117

(1) O Dia de Cristo e as Bênçãos das Bodas: Este dia abrange uma identificação que
256
retrata o abençoar do Redentor sobre a sua grei; por isso, Scofield diz: “A expressão ‘o dia
de nosso Senhor Jesus Cristo’, identificada com a ‘vinda de nosso Senhor Jesus Cristo’ (I Co
1.7, 8), é o período de bênçãos para a Igreja, a começar com o arrebatamento. ” Este Dia
retrata um tempo em que Cristo apresentará a Si a Igreja como Sua noiva imaculada e
irrepreensível (Ef 5.25-27). Até os que fugiram aos princípios e padrões da vida cristã são
disciplinados, para que sejam salvos neste Dia. O exemplo é o fornicário de I Coríntios 5.5:
“... seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do
Senhor Jesus Cristo”.
(2) O Dia de Cristo Como Período de Maturação Cristã: A santificação da Igreja se
realiza pelo Espírito, que “opera em nós tanto o querer quanto o efetuar segundo a sua boa
vontade” (Fp 2.13). Este processo ocorre no despontar do Dia de Cristo: “Tendo por certo isto
mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo”
(Fp 1.6). O cristão almeja este Dia, pois seu alvo é ser puro: “Para que aproveis as coisas
excelentes, a fim de que sejais sinceros e sem escândalo algum até ao Dia de Cristo” (Fp
1:10).
(3) O Dia de Cristo e o Futuro: aborda o rapto da Igreja, pois enfatiza os galardões
que
Jesus nos prometeu por frutos colhidos: “Como também já em parte reconhecestes em nós,
que somos a vossa glória, como também vós sereis a nossa no Dia do Senhor Jesus” (II Co.
1:14).
(4) O Dia de Cristo como escatológico – Daí Cyrus Scofield257dizer: “Este dia futuro é
mencionado como ‘o dia do Senhor Jesus’ (I Co 5.5; II Co 1.14),‘o dia de Jesus Cristo’” (Fp
1.
10; 2:16). O apóstolo Paulo afirma:

Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio


duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros
no mundo; retendo a palavra da vida, para que no Dia de Cristo, possa
gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão (Fp. 2:15-16).
Feita a distinção entre os termos, 4 pontos sobre o Rapto são dados por Thompson: 258

Assim, pois, ‘o dia de Cristo’ é o período de tempo quando se realizam estes


quatro acontecimentos estupendos:

256
Ibidem.
257
Ibidem.
258
MARTIN Thomsom, Oliver. 18 razões que demonstram: a Igreja não atravessará a tribulação, p. p. 16-17.
118

1) a ressurreição dos santos que dormem e a transformação dos santos vivos


seguida pelo arrebatamento de ambos aos ares para o encontro com Cristo;
2) o julgamento para a distribuição de galardões diante do tribunal de Cristo;
3) a apresentação da Igreja imaculada; e, finalmente,
4) as bodas do Cordeiro! Este quadro exclui a noção de que a 1ª ressurreição
e o arrebatamento da Igreja são apenas meros incidentes no quadro geral da
Vinda do Senhor em glória à terra.
III – O DIA DO SENHOR:

Sobre o Dia do Senhor, há uma abrangência cronológica interessante. Daí Scofield 259
dizer: “O dia do Senhor nos tempos proféticos abrangerá o período de futura tribulação (Ap 6-
19) e o reino de Cristo sobre o trono de Davi (Ap 20). O Dia do Senhor terminará com o juízo
diante do grande trono branco (Ap 20.11-15) e a introdução dos novos céus e da nova terra,
chamada ‘o dia de Deus’” (II Pd 3.12). Este Dia ocupa um espaço de tempo que não podemos
precisar. Mas, pelo menos cincos fatos que norteiam a época podem ser pontuados neste
estudo:
(1) O reinado do Anticristo (Capítulos 6 a 19 do Apocalipse): Assim que a Igreja for
arrebatada o sistema da Besta dominará a Terra por um tempo de 7 anos de tribulação (os
primeiros 3 anos e ½) e Grande Tribulação (3 anos e ½ finais). Será um tempo de aparente
paz:

Mas, irmãos acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos
escreva; porque vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá
como o ladrão de noite. Pois que quando disserem: Há paz e segurança,
então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que
está grávida; e de modo nenhum escaparão. (I Ts 5.1-3).
Jesus não virá como ladrão no Dia de Cristo (arrebatamento). Mas, Ele virá como
ladrão para o Dia do Senhor. Não somos das trevas, somos filhos da luz e do dia: “Mas vós,
irmãos,
já não estais nas trevas, para que aquele Dia vos surpreenda como um ladrão”. (I Ts 5.4).
(2) O Armagedom (Ap 14.14-20;16.13-16 e 19.11-21): No tocante ao Apocalipse de
Cristo e o Dia do Senhor há uma identificação com o Armagedom:

E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi sair


três
espíritos imundos, semelhantes à rã. Porque são espíritos de demônios, que
fazem prodígios; os quais vão ao encontro dos reis de todo o mundo, para os
congregarem para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo Poderoso.
(Ap 16.13-14).

259
Cyrus Scofield, ibidem, p. 1165.
119

O Dia do Senhor é como um ladrão: “Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado
aquele que vigia, e guarda os seus vestidos para que não ande nu, e não se vejam as
suas
vergonhas. E os congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom” (Ap 16.15-16).
(3) O Milênio de Jesus (Ap 20.1-6): O Dia do Senhor contemplará o Reino Milenar,
tanto no evangelizar dos judeus na época: “E virão muitos povos e dirão: Vinde, subamos ao
monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine o que concerne aos seus
caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião virá a lei, e de Jerusalém a Palavra do
Senhor. ” (Is 2.3 – c.f. também o verso 5), quanto no punir as nações: “Porque o dia do
SENHOR dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo e contra todo o que se exalta, para
que seja abatido. (Isaias 2.12).
(4) O Juízo Final (Ap 20.1-15): O Dia do Senhor envolve um Juízo que abrange
ímpios de todas as eras e sinais no céu e na terra: “E farei aparecer prodígios em cima no céu
e sinais em baixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, a
lua, em sangue, antes de chegar o grande e glorioso Dia do Senhor. ” (Atos 2.19,20; c.f. Joel
2.28-32).
(5) A Queima da Terra: O Dia do Senhor vem como ladrão para queima da terra, (II
Pe 3.10): “Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com
grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se
queimarão. ”

IV – A NOSSA VISÃO SOBRE II TESSALONICENSSES 2:

Em II Tessalonicenses, desde o primeiro verso, às duas fases da segunda Vinda de


Jesus. Como Paulo fala do Dia do Senhor, ele toca a fase visível: a “vinda de Nosso Senhor
Jesus Cristo”, e a invisível: “A nossa reunião com ele”. No verso 3, há o Dia do Senhor que
podemos analisar sob o aspecto gramatical: O advérbio de tempo antes ou o numeral primeiro
se aplicam a um fato histórico junto a outro evento histórico, ou existe uma separação entre
estes – Apostasia e Revelação do homem do pecado, o filho da perdição? Na hermenêutica do
texto, é possível ver a vinda da apostasia primeiro, precedendo ao Dia do Senhor. É fato
inegável que a apostasia já está na terra, talvez, desde o início do século XX com o CMI
(Concílio Mundial de Igrejas), o Movimento Ecumênico, entre outras apostasias, estão aí.
Paulo previu, em outra carta, tal apostasia: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos
tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrina de
demônios” (I Tm 4.1).
120

Então, quando há o sem que antes venha a apostasia, ou sem que primeiro venha a
apostasia, não necessariamente a revelação do iníquo deve ser imediatamente ligada à esta
rebelião, presente hoje no Cristianismo. A vírgula após o termo apostasia e a conjunção
aditiva (e) devem realçar esta revelação do homem do pecado, que pode ser consequente da
apostasia e concomitante com o Dia do Senhor. A situação atual dos últimos dias denota isto,
pois já há a apostasia entre nós, mas não há o Anticristo em nossa era. Esta conjunção é
também usada no verso 8, sem que apareça a palavra apostasia: “E então será revelado o
iníquo, a quem o Senhor
o desfará pelo Espírito da sua boca, e o aniquilará pelo esplendor da sua vinda”. (II Ts 2.8).
O então que precede a revelação do Anticristo é o Algo que o detém: “E agora vós
sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado” (II Ts 2.6); e o Alguém
que o retém: “Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém até
que do meio seja tirado” (II Ts 2.7). Para nós, o que o detém é a Igreja e quem resiste é o
Espírito. A maioria dos pré-tribulacionistas vê o termo apostasia no texto, não com ideia de
saída da Igreja, como creem alguns; mas, a retirada dela com o Espírito, como Batismo, Selo,
Penhor, Unção e Plenitude. Assim, o arrebatamento, ante o Dia do Senhor, sem que a Igreja
conheça o Anticristo, seria uma abordagem natural do texto, sem os problemas que alguns
pós-tribulacionistas veem. Se usarmos a tradução que troca o sem que antes venha a
apostasia por sem que primeiro venha a apostasia, dá no mesmo. A apostasia vem primeiro,
ou seja, antes do Dia do Senhor. Já a revelação do iníquo pode vir ao mesmo tempo em que se
dá o Dia do Senhor, na saída da Igreja.
A interpretação do Apocalipse é cíclica e linear. Esta está na hermenêutica futurista
do livro, baseada no verso: “Escreve as coisas que tens visto, as que são, e as que depois
destas devem acontecer. ” (Ap 1.19). O passado do livro está no capítulo primeiro, onde há a
visão que João teve de Jesus em Patmos para, por ela, Ele se revelar a cada uma das 7 igrejas.
O presente está em 2 e 3, pelo: “quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às Igrejas”, em
cada uma das 7 cartas. E o futuro do livro está no Rapto da Igreja; João é tipo da Igreja em
4.1-2:
Depois destas coisas, olhei e eis que estava uma porta aberta no céu, e a
primeira voz que como de trombeta, ouvira falar comigo, disse: sobe aqui e
mostrar-te-ei as coisas que depois devem acontecer. E logo fui arrebatado no
Espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o
trono.
121

Contrariando a Pré-Ira, Kessinger260 diz: “Este e um tempo da ira do homem contra o


homem, quando o diabo dará poder à Besta para tentar extinguir os escolhidos de Deus
(Ap
12.12-17). A abertura do 5º selo inicia a Grande Tribulação, e o 6º selo a findará (Ap 6.9-
17).”
1) O Grande dia da ira chegou – o sexto selo:

E, havendo aberto o sexto selo, olhei, e eis que houve um grande tremor de
terra; e o sol tornou-se negro como um saco de cilício e a lua tornou-se como
sangue; e as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira
lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte. O céu retirou-se
como um livro que se enrola, e todos os montes e ilhas foram removidos dos
seus lugares. E os reis da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os
poderosos, e todo o servo e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas
rochas das montanhas; e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e
escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do
Cordeiro; porque é vindo o grande dia da sua ira, e quem poderá subsistir
(Ap 6.12-17).

Este texto traz a abertura do sexto selo e possibilita vermos alguns juízos futuros:
a) A destruição da cidade e do templo de Jerusalém em 70 – isto se vê na fala de Cristo pela
Via Dolorosa em resposta às judias que o lamentavam. Tal juízo é visto nesse castigo de
Israel:

Jesus, porém, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis
por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos. Porque eis que
hão de vir dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que
não geraram, e os peitos que não amamentaram! Então começarão a dizer
aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos. Porque, se ao madeiro
verde fazem isto, que se fará ao seco (Lc 23.28-31).

Isto expõe uma expressão semelhante à dos homens no Dia do Senhor. O juízo cai
sobre
os judeus no ano70 e sobre a humanidade no Armagedom e no Juízo Final.
b) A vinda de Cristo em Armagedom – Jesus fala disto ao ligar a fase visível, com os sinais:

E, logo depois da tribulação daqueles dias, o sol se escurecerá, e a lua não


dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu e as potências dos céus serão
abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem e todas as tribos
da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do
céu, com poder e grande glória (Mt 24.29-31).

Estes sinais estão em Apocalipse 6.12.17.

260
KESSINGER apud Rosenthal, pp. 256-257: Arrebatamento Pré-Ira. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 97.
122

c) O Juízo Final: O Trono e a retirada do céu como livro que se enrola, traz o Juízo Final: “E
vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e
o céu e não se achou lugar para ele” (Ap 20.11). O Dia do Senhor com a queima da terra:
“Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com grande
estrondo, e os elementos ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há, se queimarão”
(II Pd 3.10).
1) O 1º parêntesis aberto:144 mil e mártires na glória: “E ouvi o número dos
assinalados, e eram cento e quarenta e quatro mil selados, de todas as tribos dos de Israel” (Ap
7.4):

E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de


vestes
brancas, quem são e de onde vieram? E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele
disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas
vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do
trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está
sentado sobre o trono os cobrirá com a sua sombra. Porque o Cordeiro que
está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes
vivas das águas; e Deus limpará de seus olhos toda lágrima (Ap 7.13-17).

Cremos que esta multidão gentílica foi martirizada e agora está no céu, sem estar
glorificada, aguardando a ressurreição. Sendo, talvez, aqueles de Apocalipse 20.4:
E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhe dado o poder de julgar; e vi
as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela
palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não
receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos, e viveram, e reinaram
com Cristo durante mil anos.

2) O livro comido pelo anjo – “Tomei o livrinho da mão do anjo e o comi; e, na minha
boca era doce como o mel; e, havendo o comido, o meu ventre ficou amargo. E ele disse-me:
Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações e línguas e reis” (Ap 10.10,11).
Creio
Que este livrinho é o Apocalipse e o continuar da sua profecia.
3) As duas testemunhas e a 7ª trombeta: A Segunda Vinda: “E darei poder às minhas
duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias” (Ap 11.3); no toque da 7ª
trombeta há a Segunda Vinda de Cristo para implantar o quiliásmo ou o milênio na terra:

E o sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes que
diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de Nosso Senhor e do seu Cristo e
ele reinará para todo o sempre. E os vinte e quatro anciãos, que estão
assentados em seus tronos, diante de Deus, prostraram-se e adoraram a Deus,
123

dizendo: Graças te damos, Senhor Deus Todo Poderoso, que és, que eras, e
que há de vir, que tomaste o teu grande poder e reinaste (Ap 11.15-17).

Se a 7ª trombeta (Ap 11.15) é a última (I Co 15.52), a trombeta de Deus (I Ts 4.16),


temos que admitir o arrebatamento pós-tribulacionista. A última trombeta e a trombeta de
Deus são iguais. Esta última trombeta de Paulo, pode não apontar para a 7ª de João. Sobre a
vinda da Ira, vale a pena ver os textos da 2ª vinda de Jesus a exemplo de Apocalipse 11.18: “E
iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o
tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu
nome, a pequenos e grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra.” Esta Ira
começa com os 7 selos, passa pelas sete trombetas e termina com sete taças: “E vi outro
grande e admirável sinal no céu: sete
anjos que tinham as sete últimas pragas; porque nelas é consumada a Ira de Deus” (Ap 15.1).
4) A mulher e o dragão – Israel: “E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida
do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça” (Ap
12.1; Gn 37.9) e o Diabo: “E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão
vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas”
(Ap 12.3).
Parêntesis aberto a retratar Israel na sua jornada no período da tribulação.
5) Os 144 mil, o Evangelho Eterno e o Armagedom – Vinda de Cristo: “E olhei, e eis
que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento quarenta e quatro mil, que em suas
testas tinham escrito o nome de seu Pai” (Ap 14.1). A cena não é no céu, por ser um
parêntesis sobre o Milênio. O Cordeiro está no monte Sião, não está no céu, mas na terra, com
os 144 mil:

Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo Monte de Sião. Proclamarei o
decreto: o Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e
eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão.
Tu os
esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de
oleiro” (Sl 2.6-9).

Jesus é o Rei sobre o monte Sião na terra: “O Senhor Reina; tremam os povos. Ele
se
assenta entre os querubins; comova-se a terra. O Senhor é grande em Sião, e mais alto do que
todos os povos. ” Assim, “três anjos anunciam juízos, inclusive o Evangelho Eterno. ” (Ap
14.6-13); e por fim, Armagedom ou Jesus na ceifa: “E olhei, e eis uma nuvem branca, e
124

assentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do homem, que tinha sobre a sua cabeça
uma coroa de ouro, e na sua mão uma foice aguda” (Ap 14.14-20).

V – OS CÂNTICOS DE SALVAÇÃO:

Sobre o cântico de salvação e os grupos: 4 e 5, 7, 14,15 e 19, é bom identificá-los:


 Os 24 anciãos representam a Igreja, em seu sacerdócio real (I Pd 2.9), tipificada no
AT pelos 24 turnos sacerdotais levitas (I Crônicas 24). Ela é galardoada com coroas: “E ao
redor do trono havia vinte quatro tronos; e vi assentados sobre os tronos vinte quatro anciãos
vestidos de vestes brancas; e tinham sobre as suas cabeças coroas de ouro” (Ap 4.4). Tronos
(Milênio) e coroas (Bema: Tribunal de Cristo: Ap 3.11) prometidos à Igreja (Ap 3.21).
 Os 4 seres viventes, são querubins da glória e se identificam com os Evangelhos e as
características de Jesus (Rei em Mateus; Servo em Marcos; Homem em Lucas; Deus em
João):

E havia diante do trono um mar de vidro, semelhante ao cristal. E no meio


do trono, e ao redor do trono, quatro seres viventes cheios de olhos, por
diante e por detrás. E o primeiro ser vivente era semelhante a um leão, e o
segundo ser vivente era semelhante a um bezerro, e tinha o terceiro ser
vivente o rosto como de homem, e o quarto ser vivente era semelhante a uma
águia voando” (Ap 4.6 e 7).

Eles se assemelham aos querubins de Ezequiel 1.5 e 10: “E do meio dela saía a
semelhança de quatro seres viventes. [...] E a semelhança dos seus rostos era como rosto de
homem; e do lado direito todos os quatro tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os
quatro tinham rosto de boi; e também tinham rosto de águia todos os quatro”. Em Ezequiel 10
são querubins: “E os querubins estavam do lado direito da casa, quando entrou aquele
homem; e a nuvem encheu o átrio interior. [...] E cada um tinha quatro rostos; o rosto do
primeiro era rosto de querubim, e o rosto do segundo, rosto de homem, e do terceiro era rosto
de leão, e do quarto, rosto de águia” (v. 4 e 14). Estes cânticos identificam os salvos que os
entoam, pois eles são fatos aludidos ao Milênio; o Apocalipse segue uma linha histórica linear
e também cíclica:
a) O cântico do capítulo 4:

Os vinte quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado sobre


o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre; e lançavam as suas
coroas diante do trono, dizendo: Digno és, Senhor, de receber glória, e honra
e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram
criadas (Ap 4.10-11).
125

Neste primeiro caso o que pode ser visto é a Igreja no céu, galardoada e glorificada, ao
lado dos querubins, louvando a Cristo no Milênio, pois Ele é digno de receber o poder e a
honra pela Criação. Isto dialoga com a Igreja-esposa do capítulo 19, vindo com Cristo no
Milênio: “Regozijemo-nos e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do
Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. ” (Ap 19.7-9). Este aprontar-se implica os galardões
recebidos:
“E foi lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as
justiças dos santos” (Ap 19.7-9). A Vinda do Cristo com a Igreja para reinar no Milênio.
b) O cântico do capítulo 5: Isto tem continuidade no capítulo 5:9 a 14, com o cântico novo:

E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir


os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue nos compraste para
Deus de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; e para o nosso Deus nos
fizeste reis e sacerdotes; e reinaremos sobre a terra. E olhei, e ouvi a voz de
muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número
deles milhões de milhões, e de milhares de milhares, que com grande voz
diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e
sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças. E ouvi toda criatura
que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que estão no mar, e a todas
as coisas que neles há, dizendo: Ao que está assentado sobre o trono, e ao
Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o
sempre.

Este cântico, como o de Apocalipse 4, tem a ver com o Milênio, mostrando santos
como reis e sacerdotes, dizendo: reinaremos sobre a terra. Mais uma vez o Cordeiro é digno
de louvor.
c) O cântico do capítulo 7:

E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está
assentado no trono, e ao Cordeiro. E todos os anjos estavam ao redor do
trono, e dos anciãos, e dos quatro animais; e prostravam-se diante do trono
sobre seus rostos, e adoraram a Deus, dizendo: Amém. Louvor e glória, e
sabedoria e ações de graças, e honra, e poder e força ao nosso Deus, para
todo o sempre, Amém. (Ap 7.10-12).

Aqui são as almas-mártires, que não estão glorificadas ainda. Chegaram no céu,
unindo-se às almas do capítulo 6 (talvez sejam os salvos do AT e do início da Tribulação),
completando o número que faltava à Ira de Deus em Armagedom e no juízo das nações para o
Milênio:
126

E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram
mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E
clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo.
Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a
terra? E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que
repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o
número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como
eles foram (Ap 6.9-11).

Os que completam este número se identificam com a grande multidão-gentílica do


capítulo 7, que ressuscitarão em Apocalipse 20.4 para reinar no Milênio, completando o
número de salvos da 1ª ressureição: “[...] E vi as almas daqueles que foram degolados pelo
testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem,
e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram e reinaram com Cristo
mil anos”
(Ap 20.4). Assim, os cânticos têm uma relação final com o Reino e a adoração ao Rei.
d) O cântico do capítulo 14:

E ouvi uma voz do céu, como a voz de muitas águas, e como a voz de um
grande trovão; e ouvi uma voz de harpistas, que tocavam com as suas harpas.
E cantavam um como cântico novo diante do trono, e diante dos quatro
querubins e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os
cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra (Ap 14.2-3).

Um cântico ao aprendizado dos 144 mil, que estão no monte Sião, com Cristo; isto é
Milênio, pois não há em lugar algum da Bíblia o monte Sião no céu. Estes 144 mil podem ser
frutos das 2 testemunhas, que pregam o Evangelho do Reino nos 3 anos e ½ iniciais (Ap
11.3), e eles seguem pregando nos 3 anos e ½ finais. Jesus pode ter se referido a eles em
Mateus 10.22-23: “E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que
perseverar até ao fim, será salvo. Quando, pois, vos perseguirem nessa cidade, fugi para a
outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem
que venha o Filho do homem”.
e) O cântico do capítulo 15:

E vi como que um mar de vidro misturado com fogo; e também os que


saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do
seu nome, que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as harpas de Deus. E
cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro,
dizendo: Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus Todo-
Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos santos.
Quem não te temerá, ó Senhor, e não magnificará o teu nome? Porque só tu
és santo; por isso todas as nações virão, e adorarão diante de ti, porque os
teus juízos são manifestos (Ap 15.2-4).
127

O cântico se refere ao Milênio, pois são mostrados os vitoriosos da besta, da sua


imagem e do seu número. Isto é Armagedom, quando os inimigos de Deus: o dragão, o falso
profeta, a
besta e seu exército: “[...] combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é
o
Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com ele, chamados, eleitos e
fieis.”
(Ap 17.14). Eles cantam o cântico de Moisés (Ap 15.3) na 2ª Vinda, no início do Milênio.
f) O cântico do capítulo 19:

E depois destas coisas ouvi no céu uma grande voz de uma grande multidão,
que dizia: Aleluia! A salvação e a glória e a honra e o poder pertencem ao
nosso Deus; Porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a
grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua fornicação, e das
mãos dela vingou o sangue dos seus servos. E outra vez disseram: Aleluia! E
a fumaça dela sobe para todo o sempre. E os vinte e quatro anciãos e os
quatro querubins prostraram-se e adoraram a Deus, que estava assentado no
trono, dizendo: Amém. Aleluia! E saiu uma voz do trono, que dizia; Louvai
o nosso Deus, vós, todos os seus servos, e vós os que o temeis, assim
pequenos como grandes. E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e
como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que
dizia: Aleluia! Pois
já o Senhor Todo-Poderoso reina. (Ap 19.1-6).

Aqui nós vemos a Babilônia política caindo em Armagedom. A resposta de Deus


à
indagação das almas debaixo do altar: “Até quando, ó verdadeiro e santo. Dominador, não
julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? ” O cântico atesta a resposta
divina: “Porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que
havia corrompido a terra com a sua fornicação, e das mãos dela vingou o sangue dos seus
servos.” E por fim, há o cântico no início do milênio: “E ouvi como que a voz de uma grande
multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia:
Aleluia! Pois já o Senhor Todo-Poderoso reina”. Esta multidão, são crentes de todas as
dispensações. Complementa o Evento a chegada do Rei dos reis a reger a terra com vara de
ferro do seu Reino Milenar (Ap 19.11-21). Diante destes cânticos, podemos ficar em paz.
6) O Armagedom e a 2ª Vinda de Cristo: “Eis que venho como ladrão. Bem-
aventurado
128

aquele que vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas
vergonhas. E os congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom. ” (Ap 16.13-
16).
Como nos capítulos 6, 11, 14, 16 e 19.
7) As duas babilônias – Os 2 capítulos mostram a queda da Babilônia religiosa no
meio da Semana, destruída pelos reis que apoiam a Besta: “E os dez chifres que viste na besta
são os que odiarão a prostituta, e a colocarão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a
queimarão no fogo” (Ap 17.12). E a queda da Babilônia Política no Armagedom: “E a grande
cidade fendeu-se em três partes, e as cidades das nações caíram; e da grande Babilônia se
lembrou Deus, para lhe dar o cálice do vinho da indignação da sua ira” (Ap 16.19). A ira do
Cordeiro na 2ª Vinda.
8) Armagedom: Vinda do Rei: “E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que
estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça” (Ap
19.11-21.
Portanto, vemos que a nossa posição dispensacionalista e pré-tribulacional a não dever
nada a ninguém, e creio que se houver necessidade de alguma revisão será tão só a aprimorar
esta teoria, que é coerente e consistente, não deixando brechas a escatólogos de outros grupos,
que criticam os dispensacionalistas sem fundamento bíblico. Os pactualistas também precisam
rever sua Escatologia, mas nunca o farão, por se orgulhar da imobilidade do seu sistema como
um fator positivo. A maioria deles tece críticas ao DC e não aceitam, de modo
preconceituoso, esta escatologia no meio acadêmico, devido a algumas dificuldades, que há
em outras posições, a exemplo do DP, que se avizinha do aliancismo, salvo pela distinção
Israel e Igreja.

CAPÍTULO SETE
__________
129

O PRÉ-TRIBULACIONISMO E AS 70 SEMANAS DE DANIEL

Vimos no capítulo anterior que o Apocalipse tem uma parte cíclica da história no desenrolar
dos fatos proféticos ali abordados, a partir dos cânticos sobre a salvação e a epifanéia, que são
celebrados pelos anjos e pelos salvos, mas não se pode negar a parte histórico-linear que
perpassa todo o livro. Em contrapartida, os não dispensacionalistas se valem da leitura
apocalíptica sob a perspectiva da recapitulação, em detrimento da leitura dispensacionalista
acerca do apocalipse, na perspectiva da sequência de fatos. Todavia, o uso constante de uma
locução grega em apocalipse:  (E vi – Ap. 19.11,17,19, 20.1,4,11), é um indicador
cronológico que vai de encontro à interpretação que gira em torno da possível recapitulação
apocalíptica. Aquele termo grego expressa a visão sucessiva de fatos, demonstrando que
existe, sim, a cronologia do livro. Neste contexto, plausível a sucessão de fatos a corroborar
com a visão dispensacionalista, pois o passado, o presente e o futuro no apocalipse são
percebidos nitidamente no livro, em capítulos diferentes, a partir da divisão do próprio livro
(dada em 1.19): “Escreve as coisas que tens visto, e as coisas que são depois destas devem
acontecer. ” Aqui temos esta noção sublime da sucessão de fatos que abrangem a linearidade
apocalíptica:
 No capítulo primeiro João vê Jesus na Ilha de Patmos (Ap 1.9-18). Aqui é o passado
do livro, com os símbolos e fenômenos factuais, usados para descrever a Cristo, servindo ao
capítulo 2 e 3 como base para sua identificação às igrejas:
a) “[...] aquele que tem na sua destra as sete estrelas, e que anda no meio dos sete
castiçais de ouro. ” A Éfeso (Ap 2.1);
b) “[...] o primeiro e o último, que foi morto e reviveu. ” A Esmirna (Ap 2.8);
c) “[...] aquele que tem a espada aguda de dois fios. ” A Pérgamo (Ap 2.12);
d) “[...] o Filho de Deus, que tem os seus olhos como chama de fogo e os seus pés
semelhantes ao latão reluzente. ” A Tiatira (Ap 2.18);
e) “[...] o que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas. ” A Sardes (Ap 3.1);
f) “[...] o que é Santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre e
ninguém fecha e fecha e ninguém abre. ” A Filadélfia (Ap 3.7);
130

g) “[...] o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus. ” A


Laodicéia (Ap 3.14);
 Nos capítulos 2 e 3, o presente do Apocalipse, as coisas que são, Jesus manda
João
escrever às 7 igrejas da Ásia Menor (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e
Laodicéia). Estes capítulos falam da época em que o Espírito prepara a Igreja para seu Rapto.
Daí o alerta a não negligenciar a Sua voz (Ap 2.7, 11, 17, 29; 3.6, 13-22).
 No 4, há o futuro do Apocalipse. Primeiro, na frase: “[...] as coisas que depois
destas devem acontecer” (Ap 4.1); assim, o arrebatamento de João pode tipificar o da Igreja
(Ap 4.2).
 No quinto Capítulo, os querubins, 4 seres viventes e a Igreja, representada por 24
anciãos; e Cristo, o Cordeiro que foi morto, mas que vive e abrirá o livro da herança do salvo
e desatará os selos.
 No capítulo 6 a cena muda para a terra e o Anticristo, no cavalo branco, seguido por
três cavalos (vermelho: guerra, preto: fome, e amarelo: morte) inicia a tribulação, que se
finda no 19, com a Vinda doutro cavaleiro do cavalo branco (Cristo). A Grei não está nestes
capítulos, só no 19.
 No capítulo 20, o Milênio, o Juízo dos Anjos, inclusive do Diabo, e o Juízo Final
são vistos.
 Os capítulos 21 e 22 encerram o livro com o Estado Eterno e os Novos Céus e a
Nova Terra.
Nós, como dispensacionalistas clássicos e revisionistas, podemos nos desviar da
interpretação coerente da Escrituras Sagradas, se aplicarmos o já e o ainda não em cada
profecia bíblica. Daí chamarmos a atenção para o que diz Roque Albuquerque sobre esta
questão e o

dispensacionalismo progressivo, em especial, o defendido por Robert Saucy: 261

O problema desse dispensacionalismo progressivo de Saucy não é tanto a


ideia de sensus plenior e sim, a tentativa de querer encaixar o já e ainda não
em todo o escopo da Bíblia. Quando, por exemplo, vemos a sua aplicação
em Apocalipse, notamos a inadequação desse uso quando é forçado a se
encaixar com o todo de seus pressupostos. Uma forma de não cair nessa
clausura é deixar o texto falar por si só, sem forçá-lo a entrar num sistema
teológico humano.

261
Ibidem, 2004, 15.
131

Saucy usa a tensão para interpretar Apocalipse, afastando-se da hermenêutica futurista


do livro e a aplica à destruição do templo de Jerusalém no ano 70 d. C., pois, ao que parece,
este livro foi escrito após a invasão do general Tito. A profecia apocalíptica não retroage,
senão não seria profecia deste gênero. Aqui ocorre um afastamento dos marcos
dispensacionalistas, pois a visão futurista do Apocalipse é uma posição coerente com o pré-
tribulacionismo. Quando Cristo desce no Armagedom, a Igreja vem com Ele, atestando ao
Futurismo e ao Pré-tribulacionismo. A Iminência implica que o Arrebatamento virá a
qualquer hora. É preciso distinguir as 2 fases e diferenciar Israel da Igreja como povos
distintos. Daí Pentecost 262 dizer:

Muitos sinais foram dados à nação de Israel, os quais precederiam a Segunda


Vinda, a fim de que a nação vivesse em expectativa quando Sua volta se
aproximasse. Apesar de não saber o dia nem a hora em que o Senhor
voltará, saberia que sua redenção se aproximava pelo cumprimento desses
sinais. Tais sinais nunca foram dados à Igreja.

Pentecost 263 faz questão de pontuar que a Igreja aguarda Cristo e não os sinais:

A Igreja do Senhor tem a ordem de viver à luz da vinda iminente para


transladá-la à Sua presença (Jo. 14.2,3; At. 1.11; 1 Co. 15:51, 52; Fp. 3.20;
Cl. 3.4, 1ª Ts. 1.10; 1ª Tm. 6.14; Tg. 5.8; 1ª Pe. 3.3,4. Passagens como 1ª
Tessalonicenses 5.6, Tito 2.13 e Apocalipse 3.3 alertam o crente a aguardar
o próprio Senhor, não aguardar sinais que antecederiam Seu retorno. É
verdade que os acontecimentos da septuagésima semana lançarão um
prenúncio antes do arrebatamento, mas a atenção do crente deve ser sempre
dirigida para Cristo, nunca aos presságios.

Ao distinguir Israel da Igreja, há dois termos bíblicos:


(1) Tempo dos gentios – “E cairão ao fio da espada e para todas as nações serão
levados cativos”; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se
completem” (Lc 21.24) e “E deixa o átrio que está fora do templo e não o meças; por que foi
dado aos gentios, e pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses” (Ap 11.2).

(2) Plenitude dos gentios:

Porque não quero irmãos que ignoreis este segredo (para que não presumeis
de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel até que a
plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como
está escrito: De Sião virá o libertador e desviará de Jacó as suas impiedades.
(Rm 11.25-26).

262
PENTECOST J. Dwight, p. 226
263
Ibidem.
132

Estes gentios são salvos da Igreja: do Pentecostes (32 a. D.) à Parousia. Tais gentios
264
são ímpios contra Israel, do Exílio Babilônico (587 a.C.) ao Armagedom. Daí Ladeira
dizer:

Tempo dos GENTIOS e plenitude dos GENTIOS não devem ser


confundidos. O primeiro se refere a um longo período de tempo, ao passo
que o segundo se refere a um período de tempo mais curto. O primeiro se
estende de Nabucodonosor à Segunda Vinda de Cristo; e o segundo se
estende do Pentecoste ao Arrebatamento. O primeiro começou nos dias de
Nabucodonosor e terminará nos dias do Anticristo; o segundo começou com
a vinda do Espírito Santo e terminará com a volta de Jesus Cristo para
arrebatar a IGREJA.

I – O ETADO INTERMEDIÁRIO

Embora muitos pensem distintamente de nós, no tocante ao estado Intermediário, o


que é importante – se encontra na Bíblia: “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo
desejo de partir e estar com Cristo, porque ainda é muito melhor (Fl 1.23). A Escritura nos
diz: “Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor”
(II Co 5.8). O Estado Intermediário aborda o período da existência humana que vai da morte
do homem (crente ou não) até a sua ressurreição. Langston 265 fala sobre o início e o fim do
período:

Os ensinos da Bíblia sobre a ressurreição dos mortos mostram que o estado


intermediário não é um estado final. Embora os justos estejam com Jesus,
em pleno gozo de todas as suas faculdades, e num estado felicíssimo, ainda
estão sem corpo. O homem sem corpo não é homem completo; e a
ressurreição vem, portanto, fazê-lo completo e pôr termo ao estado
intermediário.

Este Estado desponta na Escatologia a partir de dois valiosos questionamentos:


(1) O QUE FAZEM OS MORTOS?

Há aqueles que acreditam estarem eles dormindo. Só que, à luz Bíblia, o que dorme no
pó da terra, são os corpos das pessoas (Dn 12.2 e Is 26.19). Quanto à parte imaterial do corpo as
Escrituras o dizem: “E o pó volte a terra como era e o espírito volte a Deus que o deu” (Ec
12.7). Há também os que sustentam um Purgatório aos que cometem pecados veniais e partem
daqui para o além. A Bíblia diz: “após a morte segue-se o juízo” (Hb 9.27) e o único agente
purificador para nossas almas é: “o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, [o qual] nos purifica de
todo o pecado”
(I Jo 1.7b). Ao pensar no que fazem os mortos no porvir, podemos dizer com Turner 266 que:
264
LADEIRA Samuel, Op. Cit. P. 94.
265
LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: JUERP, 1999, p. 290.
266
Donald D. Turner, Doutrina das Últimas Coisas. São Paulo: EBR, p. 187, 1988.
133

Em João 11.11-15, o Senhor diz que Lázaro dorme, isto é, que está morto.
Não obstante, fala dele como se estivesse vivo: “Vamos ter com ele”. Em
Lucas 12.20 Cristo descreve o homem que só pensava nesta vida, como um
néscio a quem levariam a alma, ou que naquela noite mesmo iria morrer.
Quando o ladrão penitente, na cruz, ao lado do Redentor, arrependeu-se e
reconheceu em Jesus Cristo o Santo de Deus, olhando para ele a fim de ser
salvo, sabendo que no porvir Cristo seria Rei dos espíritos, pediu que se
lembrasse dele quando viesse no Seu reino. O Salvador respondeu em
seguida: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.42-
43).

Essas são algumas entre tantas provas de que as pessoas, ao morrerem, estão em plena
consciência, no além-túmulo: Seja o Paraíso, no 3º Céu; ou o sheol-hades, no lugar de
tormento.
(2) ONDE ESTÃO OS MORTOS?
Temos auxílio do Bancroft 267 para localizar todos os mortos no Estado Intermediário:

No Antigo Testamento, todos aqueles que morriam, tanto justos como


ímpios, são referidos como tendo ido para o Sheol (Gn 37.35; Sl 9.17;
16.10). Na narrativa do rico e Lázaro em Lucas 16, Jesus levanta a cortina e
revela o fato de que no Sheol ou Hades existem dois compartimentos. O
primeiro, chamado de “seio de Abraão”, era a habitação dos justos, e então
era identificado com o Paraíso (Lc 23.43, comparado com Mt 12.40).
268
Bancroft fala da mudança no Estado Intermediário, a partir da ressurreição de
Cristo:

Por ocasião da ressurreição de Cristo essa parte do Hades foi esvaziada de


seus ocupantes, que foram transferidos à destra de Deus (Ef 4.8-10);
comparado com 2ª Co 12.2-4; Sl 68.18; Lc 9.11-12). A nova habitação dos
justos é atualmente chamada de paraíso. É a esse lugar da presença de Cristo
que o crente vai por ocasião de sua partida deste mundo, e é ali que o crente
habita em comunhão consciente com Cristo, onde permanecerá também até a
ressurreição dos justos (Fp 1:23-24; 2ª Co 5.6-8; 1ª Ts 4.14-17). A outra
parte do Hades ou Sheol, que era separada do paraíso pelo grande abismo, é
a habitação das almas dos ímpios. É a prisão temporária onde os criminosos
do universo são mantidos aprisionados enquanto esperam o julgamento do
Grande Trono Branco.
Os mortos (crentes e não crentes) não têm como morada eterna os locais nos quais
agora estão. Os nãos crentes, no Juízo Final, ressurgirão dos mortos. Nesta ressurreição, seus
corpos deixam sepulcros e mares (Ap 20.13), e os espíritos, o hades: “E a morte e o inferno
foram lançados no lago de fogo; esta é a segunda morte. [...]. Ora o último inimigo que há de
ser aniquilado é a morte. (Ap 20.14; I Co 15.26). Os crentes foram transportados do Sheol-
hades ao 3º Céu (II Co 12.2-5; Ef 4.8-10 e Sl 24) de onde esperam a ressurreição para o Bema

267
BANCROFT Emery, Teologia Elementar (Trad. João Marques Bentes e W. J. Goldsmith), p.366.
268
Ibidem.
134

(Rm 14.10 e II Co 5.10) e após o milênio, estarão na Nova Terra, onde habita a justiça (II Pd
3.13).
I – AS SETENTA SEMANAS DE DANIEL

Aqui há o papel da Igreja entre a 69ª e a 70ª semana de Daniel. Daí Geisler 269 dizer:

A Igreja é estranha ao plano de Deus? Ela é parentética do ponto de vista da


história do Israel nacional, uma vez que o cronograma de Deus para Israel
parou na rejeição do Messias; consequentemente, existe uma ruptura entre a
sexagésima nona e septuagésima semana de Daniel, onde se encaixa a Igreja.

A lacuna profética auxilia hermeneuticamente no tocante à visão da 70ª semana. Isto


não diminui a Igreja, pois tudo se insere no objetivo divino. A partir do Rapto pré-
270
tribulacional, Deus trará a Tribulação para lidar com Israel. Por isto, Granconato afirma
que este tempo:

A Grande Tribulação é um período em que Deus vai se concentrar de novo


no seu trato com Israel. É por isso que alguns dizem que a Igreja é um
parêntesis histórico. Deus vinha lidando com Israel, aí Ele abre um
parêntesis, trata com a Igreja, e então Ele passa a tratar com Israel. É o que
mostra as 70 semanas de Daniel. Deus trata com Israel durante 69 semanas e
fica faltando uma semana. Os dispensacionalistas dizem que esta última
semana é a Tribulação.

Como vimos na fala de Granconato, a lacuna profética está entre a 69ª e a 70ª
271
semanas. A Sabedoria divina perpassa todo este processo no Plano de Deus. Geisler
acrescenta ainda:

No entanto, do ponto de vista do plano de Deus, não há tal ruptura; como


vimos, o objetivo de Deus era provocar os judeus e propiciar salvação para
os gentios (Rm 1.13-15). Não é de admirar que Paulo conclua esta seção da
maneira a conclua: “Ó profundidade das riquezas tanto da sabedoria como da
ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis,
os
seus caminhos (v. 33).

Sobre o arrebatamento, McClain272 expõe 9 pontos ligados à 70ª semana(Dn 9:24-27):

1. Toda profecia se relaciona ‘ao povo’ e a ‘cidade’ de Daniel, isto é, a nação


de Israel e a cidade de Jerusalém (24).
2. São mencionados dois príncipes diferentes, que não devem ser
confundidos: o primeiro é chamado Ungido (Messias), o Príncipe (25), e o 2º
é designado o Príncipe que há de vir (26).
3. Todo o período em questão é especificado exatamente como setenta
semanas (24); e essas setenta semanas são divididas em três períodos
269
Geisler, ibidem, p. 889.
270
GRANCONATO, Marcos. Dispensacionalismo e Pré-tribulacionismo. Disponível em >
https://www.youtube. com/watch?v=piizMIiFVgY&t=1962s. Acesso em 16 dez. 2020.
271
Geisler, Ibidem.
272
MCCLAIN, Alva J., As Setenta Semanas de Daniel - Um estudo profético, pp.11 e 12.
135

menores: primeiro, um período de sete semanas, depois disso um período de


62 semanas e, finalmente um período de uma semana (25, 27).
273
A partir do quarto ponto McClain destaca o início da septuagésima semana de
Daniel:

4. O começo de todo o período das setenta semanas é claramente fixado


“desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém” (25).
5. O final das sete semanas e sessenta e duas semanas (69 semanas) será
marcado pelo surgimento do Messias como ‘Príncipe’ de Israel (25).
6. Mais tarde, ‘depois das setenta e duas semanas’ que seguem as primeiras
sete semanas (isto é, depois das 69 semanas), o Messias, o Príncipe será
‘morto’ e Jerusalém será destruída novamente pelo povo do outro ‘príncipe
que ainda há de vir (26).

McClain fala da última semana, o que marcara o início dos 7 anos de Tribulação não é
o Rapto da Igreja, mas o início do tratado de paz entre Israel e a Besta. Daí Geisler 274 afirmar:

7. Após estes dois eventos importantes chegamos à última ou septuagésima


semana cujo início será claramente indicado pelo estabelecimento duma
firme aliança ou tratado entre o príncipe Vindouro e a nação de Israel pelo
período de ‘uma semana’ (27).
8. No ‘meio’ desta septuagésima semana, evidentemente violado seu tratado,
o príncipe vindouro fará cessar o sacrifício judaico subitamente e precipitará
sobre esse povo um tempo de ira que durará até o fim da semana (27).
9. Ao findar o período total de setenta semanas será inaugurado um tempo de
grande bênção, como nunca houve, para a nação de Israel (24).

Assim como o cumprimento da 69ª semana de Daniel se deu naquele primeiro dia da
semana, em que Jesus entrou em um jumentinho triunfalmente em Jerusalém, e o parêntese
foi aberto com a Igreja nascendo no dia de Pentecoste, mais ou menos 2 meses após, assim o
parêntesis será fechado com o Rapto da Igreja e a revelação da Besta, mas precisará de um
tempo para a Besta fazer o pacto de paz com Israel e este começa com a 70ª semana de
Daniel.
Os progressivos não dão tanta ênfase esta semana, pois a interpretação dela abre
275
espaço para se compreender melhor a doutrina do adiamento profético. Dai Randall Price
afirmar:

O conceito de adiamento profético e crucial para uma interpretação


adequada de vários textos proféticos do AT. Por exemplo, em Daniel 9.27,
ocorre uma interrupção no cumprimento entre o fim das primeiras 69
semanas (cumpridas historicamente) e o início da septuagésima semana
(cumprida escatologicamente). Este conceito também nos ajuda a entender a
benção de Deus sobre a Igreja (como oposta a Israel) sob a nova aliança (Gn

273
Ibidem, p.11.
274
Ibidem, p. 12.
275
HINDSON Ed e LAHAYE. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica; In PRICE Randall: Adiamento
Profético. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 20.
136

12.3; Zc 8.22-23; Rm 11.17-32), bem como o propósito da segunda vinda de


Cristo.

A Igreja completa se reunirá com Cristo e os outros homens provarão a Ira no dia do
Senhor. Distinta da 2ª ressurreição, no Juízo Final (Ap 20:11-15), a primeira será em três
etapas:
1º) “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a
trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (I
Co
15.52). No Rapto, os santos que morreram, do Pentecoste até hoje, ressuscitarão (I Ts
4.13;18).
2º) Só 2 pessoas participam desta fase da 1ª ressurreição. São as 2 testemunhas (Ap
11). Elas testemunharão no início dos 7 anos, e por 42 meses, 1260 dias, pregarão na terra,
mas, no meio da semana serão mortas pela besta, que exporá seus corpos por 3 dias e 1/2. Mas
Deus as ressuscitará, e como fez com a Igreja 3 anos e ½ antes, as arrebatará (Ap 11.3-12).
3º) A última fase da primeira ressurreição se dará no final da 70ª semana de Daniel,
i.e., ao Jesus descer com a Igreja glorificada. Esta fase visa aos crentes do AT – de Adão a
Dimas, o ladrão da cruz -, e os que, na Grande Tribulação, “foram degolados pelo testemunho
de Jesus, e pela Palavra de Deus, e que não adoraram a Besta, nem a sua imagem, e não
receberam o sinal em suas testas e nem em das suas mãos” (Is 26.19; Dn 12.1-2; Ap 20.4-6).
Sobre o Rapto da Igreja, o Parcialista advoga que nem todos os fiéis serão arrebatados,
mas só os que “vigiarem”, “se prepararem”. Os fiéis devem ser espirituais, dignos de subirem.
Com versos isolados do seu contexto, não deixam a Bíblia interpretar-se a si mesma:

[...]. Serão todos os salvos arrebatados? Podemos responder que parece que a
natureza da Igreja haveria de exigir que todo aquele que pertence a ela
deveria
ser levado. Já vimos que a Igreja é um Templo (1ª Co 3.16, 17; 2ª Co 6.16;
Ef
2.20, 21; 1ª Pd 2.5). Será que alguma parte do edifício no qual o Espírito
habita será deixada para trás? Já vimos que ela é a noiva de Cristo (2ª Co
11:2; Ef 5.24,32; Ap 19.6-9). Será que alguma parte da noiva será deixada
para trás? Já vimos que ela é o corpo de Cristo (1ª Co 12.12-27; Ef 1.22,23;
4.12; 5.29, 30; Cl 1.18, 24; 2.19). Seguramente, Ele não deixará parte de seu
corpo para trás. Que todos os crentes vivos serão arrebatados não é mais
improvável do que o fato de todos que adormeceram em Cristo serem
ressuscitados naquela hora. 276

II - O LEVADO E O DEIXADO

276
THIESSEN Henry C., Op. Cit. p.326.
137

Um dos versos base para defesa da teoria parcialista é o que apresenta “o levado” e “o
deixado. ” Para esta Teoria este texto se aplica ao arrebatamento. Isto se deve ao fato da
mesma usar passagens bíblicas que se aplicam ao plano divino a Israel, a fim de aplicá-los à
Igreja.
Este texto, só aparece 2 vezes na Bíblia. E em 2 lugares, a sua relação é com a
revelação e não com o rapto (Mt 24.40-41; Lc 17.34-36). Em Mateus, Jesus compara os Dias
de Noé aos Dias da Sua 2ª Vinda. Se os levados de 24:39, no Dilúvio, são os ímpios: “E não o
perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também na vinda do Filho
do homem”, por que os levados de 40 a 41: “Então, estando dois no campo, será levado um, e
deixado outro; estando duas moendo no moinho, será levada uma e deixada outra”, seriam
salvos?
O Jesus virá como ladrão não se aplica à Igreja: “Vigiai, pois, porque não sabeis a que
hora há de vir o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília
da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa” (Mt. 24:42-43) e
Mateus 24.28: “Porque onde quer que estiver o cadáver, ali se ajuntarão as águias”. O que isto
significa?

E, logo depois da tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará
a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências do céu serão abaladas.
Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra
se lamentarão e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com
poder e grande glória (Mt 24:29-31).

Em Lucas 17:37:
Digo-vos que naquela noite estarão dois numa cama; um será tomado e outro
será deixado. Duas estarão juntas, moendo; uma será tomada e outra será
deixada. Dois estarão no campo um será tomado e outro será deixado. E,
respondendo, disseram-lhe: Onde, Senhor? E ele lhes disse: onde estiver o
corpo, aí se ajuntarão as águias.
Os abutres comem os corpos dos adoradores da Besta, mortos pela Palavra: “E os
demais
foram mortos com a espada que saia da boca do que estava assentado sobre o cavalo, e todas
as
aves se fartaram das suas carnes” (Ap 19.21). O ímpio é levado e o crente é deixado:

Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo
o que causa escândalo, e os que cometem iniquidade. E lançá-los-ão na
fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então os justos
resplandecerão
como o sol, no reino de seu pai. Quem tem ouvidos para ouvir ouça (Mt
13.40-
43).
138

O único texto que trata do Rapto nos evangelhos pelo verbo levar, não está nos
sinóticos, nem no sermão escatológico de Jesus (Mt. 24 e 25, Mc. 13 e Lc. 21), mas em João
14:1-3:

Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim. Na


casa de meu Pai há muitas moradas, se não fosse assim eu vo-lo teria dito:
vou preparar-vos lugar e, quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez
e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver, estejais vós
também.

Aqui os levados são da Igreja. Sobre os galardões e a teoria parcialista, Pentecost 277
diz:

O parcialista confunde o ensinamento bíblico sobre os galardões. Os


galardões
são dados gratuitamente por Deus como recompensa pelo serviço fiel. O
Novo Testamento deixa bem claro o ensinamento sobre os galardões (Ap.
2:10; Tg. 1:12; 1ª Ts. 2:19; Fp. 4.1; 1ª Co. 9:25; 1ª Pe. 5:4; 2ª Tm. 4.8).
278
Vale ressaltar a importância da observação de Pentecost sobre o arrebatamento,
visto por alguns como prêmio à fidelidade: “Em nenhum lugar no ensinamento sobre os
galardões o arrebatamento é incluído como recompensa pela vigilância. Tal ensinamento faria
dos galardões obrigação legal por parte de Deus, em vez de presente de misericórdia. ”
O “Bema” ou “Tribunal de Cristo” será no céu, pelo Rapto da Igreja, e incluirá crentes
fortes e fracos (Rm 14.1-12, em especial o 10). Nesta tribuna, alguns salvos terão galardões
por obras: “ouro, prata e pedras preciosas”. Mas, outros não terão galardão, por suas obras:
“madeira, feno e palha” (I Co 3.13-14: feitas para glória de Deus). Se só fossem arrebatados
os fortes, porque um juízo assim? Mas serão galardoados os santos que até “um copo de água
fria”, derem a outrem para a glória de Deus (Mt. 10:42; I Co. 10:31). Os galardões são
tipificados no NT como coroas que realçam a vitória dos crentes. No mundo, troféus e
medalhas simbolizam o triunfo dos esportistas; Deus usa coroas a retratar o vencer dos atletas
de Cristo:
a) Coroa da Vida – aos fiéis (Tiago 1:12 e Apocalipse 2.10);
b) Coroa da Glória – para os pastores que sustenta a fidelidade (1ª Pedro 5.4);
c) Coroa da Justiça – para os que amam a vinda de Jesus (2ª Timóteo 4.7, 8).
d) Coroa da Alegria – ao ganhador de almas (1ª Tessalonicenses 2.19, 20);
e) Coroa Incorruptível – por autodomínio (1ª Coríntios 9.25-27).

277
PENTECOST D., p.186.
278
Ibidem.
139

O cuidado do crente neste tema é para que o galardão seja completo (II Jo. 8) e
guardado com vigilância (Ap 3.11). E o sublime em tudo isto é que o ego na vida do salvo
será dissipado e a humildade brilhará em seu ser, ao transferir a glória das coroas a Jesus (Ap
4.10-11).

CAPÍTULO OITO
__________
140

A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO ENTRE OS TESTAMENTOS

O modo como o Espírito agia no AT e como Ele age em o NT são distintos. A ação dEle era
especial em reis, profetas e sacerdotes. Uma operação temporária a funções específicas. Os
progressivos dizem que o Espírito vivia entre os crentes no AT, mas não estava neles como no
NT. Deus habitava entre eles: “Tu subiste, levaste cativo o cativeiro; recebeste dons para os
homens, e até para os rebeldes, para que o Senhor Deus habitasse entre eles” (Sl 68.18).
Nesta profecia, que trata da nova aliança, este ato é de Jesus, e o entre eles ocorre ao nascer
da Igreja:

Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos
homens. Ora, isto – ele subiu – que é, senão que também antes desceu às
partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima
de todos os céus, para cumprir todas as coisas. E ele mesmo deu uns para
apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para
pastores e doutores, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do ministério, para a edificação do corpo de Cristo. (Ef 4.8-12).

Discordamos do DP quando diz que o Espírito não estava neles no AT. A grande
279
distinção não é esta, mas a temporalidade. Com base no já da tensão escatológica, Veras
diz:

[...]. A nova aliança aponta para o futuro, mas quando chega no NT há um


cumprimento parcial, isto é óbvio pelos textos de Atos 2 e pelo que
acabamos de ler em João 7.37 a 39, e pelo que vamos ler agora em João
14.17: “O Espírito de verdade que o mundo não pode receber, porque não o
vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em
vós. ”

Veras280 faz uma distinção relevante sobre o agir do Espírito na Antiga e Nova
Alianças:
Na velha aliança, o Espírito Santo já habitava, mas habitava com, habitava
sobre, não habitava dentro. Essa é a grande diferença, por isso entender uma
habitação permanente do Espírito no NT, garantindo capacitação, a própria
salvação, a ação naquelas pessoas, mas também uma habitação dentro, estará

279
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
280
Ibidem.
141

em; e isso aconteceria só depois da morte, ressurreição e ascensão do Senhor


Jesus e o envio do outro Consolador em Atos 2.
Para o DP, Deus habitava no meio deles, mas não neles. Habitava o tabernáculo, e
mais tarde, o templo de pedra. Hoje, Deus habita em templos não feitos por mãos humanas
(At 7.48). Em o NT, o Espírito habita os crentes. Concordo, em parte com o DP, pois nalguns
textos é dito que o Espírito estava neles e até habitava neles: “Disse o Senhor a Moisés:
Toma Josué, filho de Num, homem em quem reside [habita] o Espírito e impõe-lhe a mão. ”
O que distingue é o
tempo na ação do Espírito e não o estar neles ou habitar neles. Daí René Pache281 dizer:

O carácter temporário e mesmo inesperado da vinda do Espírito Santo é mais


uma vez sublinhado pela expressão: “O Espírito de Jeová apoderou-se [...]”
(de um certo homem). Estas palavras são ditas, por exemplo, a respeito de
Sansão em três ocasiões diferentes: diante do leão, em Askelon e em Lehi
(Juízes 14. 6, 19; 15.14), como se no intervalo o Espírito não o possuísse da
mesma maneira.

Em seguida Pache 282 acrescenta mais alguns exemplos dessa ação do Espírito no AT:

Apresentamos outros exemplos da descida súbita do Espírito: em I Sm


19.20, o Espírito de Deus apoderou-se dos enviados de Saul e começaram a
profetizar; e em I Cr 12.18, “Amasai foi revestido do Espírito [...] e disse
[...]”; e em II Cr 20.14, “Então no meio da congregação veio o Espírito de
Jeová sobre Jaazial [...], e disse [...]” etc.

Scofield,283 no livro Como um vento impetuoso aborda o agir do Espírito Santo no AT:

No Antigo Testamento, o Espírito Santo é revelado, como já temos estado


considerando, como uma Pessoa Divina. Como tal é associado com a obra da
Criação (Gn 1.2; Jó 26.13; 33.4; Sl 104.30); age a favor dos pecadores (Gn
6.3); ilumina o espírito do homem (Jó 32.8; Pv 20.27); dá habilidade à mão
(Ex 31.2-5); concede força física (Jz 14.6) e qualifica os servos de Deus para
vários ministérios (Ex 31.3; 35.21-31; Nm 11.5-29; Jz 11.29; I Sm 16.18; II
Sm 23.2). A isso deve acrescentar-se a operação do Espírito para que os
homens das épocas de fé do Antigo Testamento fossem regenerados. Ainda
que a doutrina não é ensinada de modo explícito no A. Testamento (exceto
de modo profético), nosso Senhor disse palavras que não deixam dúvidas
quanto a isto em João 3.5 e Lucas 13.28. Como o novo nascimento é
essencial para ver o reino de Deus (Jo 3.3,5) e como os santos do Antigo
Testamento estão neste reino, conclui-se que necessariamente nasceram do
Espírito. Entretanto, como nesta época eram menores de idade, conforme
explica Paulo (Gl 3.23-26), não tinham o revestimento do Espírito para
filiação. Eram menores, “sob a tutela da lei”, mas agora não mais
“subordinados ao aio”.

I – OS FILHOS DE DEUS:

281
PACHE, René. A Pessoa e Obra do Espírito Santo. Portugal: Edições Vida Nova, 1957, p. 35.
282
Ibidem.
283
SCOFIELD, Cyrus I. Como um vento impetuoso: A obra do Espírito Santo na vida do cristão. Ourinhos-SP:
Edições cristãs, 1989, p. p. 21,22.
142

Ao tratarmos da ação do Espírito nos salvos do AT, algo não pode passar
despercebido, a compreensão da filiação deles no contexto dos dois Testamentos:
a) Antigo Testamento:
(1) Filiação una – O homem é filho de Deus por criação – Tanto os crentes quanto os
não crentes são filhos de Deus, por serem criados por Ele. Ao defendermos tal ponto, nós não
estamos advogando o universalismo, mas enfatizando tão somente que o homem,
independente de sua fé, é filho de Deus, por ter sido criado por Ele. Esta filiação não outorga
vida eterna, mas concede a vida biológica ao ser humano. Aqui o homem entra no mundo pelo
ato da gestação.
O homem não é só criatura de Deus, mas, à semelhança dos anjos, que são mostrados
na Bíblia como filhos de Deus (Benai Eloim): “Num dia em que os filhos de Deus
vieram
apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles” (Jó 1.6; c.f Jó 38.7),
assim, os homens são filhos de Deus na condição de filhos de Adão, e isto pode ser visto na
genealogia decrescente de Lucas, que apresentou Jesus aos gregos como o Filho do Homem,
ou seja, Filho da Humanidade, o 2º Adão: “Ora, tinha Jesus cerca de trinta anos ao começar o
seu ministério. Era, como se cuidava, filho de Heli [...] Cainã filho de Enos, Enos filho de
Sete, e este filho de Adão, e este filho de Deus” (Lc 3.23, 38; c.f Rm 5.12-21). Não se poderá
dizer que Adão é filho de Deus, neste texto, por ser salvo, pois está claro aqui que se trata de
uma filiação por criação.
Todos os filhos de Adão estão na mesma posição de nosso primeiro pai, como afirma
Paulo em sermão no Areópago (Atenas) ao citar o poema Fenômenos do poeta grego Aratus
ou Arato: “[...], pois nele vivemos e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos
poetas têm dito: Porque dele também somos geração ” (At 17.28). Paulo não discorda de
Arato. Ele confirma o que o poeta diz. Todos nós somos filhos de Deus ou sua geração:
“Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à
prata, ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem. ” (At 17.29 – c.f Ml 2.10; Hb
12.9). Então, passemos à filiação do crente sobre à soteriologia e a ação do Espirito neles em
o AT.
(2) Filiação dupla – O crente é filho de Deus por criação como já vimos, mas
também, ele é filho de Deus por regeneração – esta é a filiação que salva; Esta 2ª filiação, só o
crente desfruta, pois, a mesma é fruto da redenção e do Redentor. É a filiação que nos dá vida
eterna. Todos os crentes, tanto do AT quanto do NT são salvos por regeneração. E este nascer
de novo só pode vir da cruz para os crentes dos dois Testamentos. Os primeiros creram e
143

foram feitos filhos de Deus, olhando para o futuro, pela fé, por crença de que o seu Redentor
viria libertá-los, a exemplo de Jó: “Pois eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se
levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei
a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; de saudade me
desfalece o coração dentro em mim” (Jó 19.25-27). Não se concebe a ideia de que Jó passou
toda a prova sem o Espírito.
O Nascer do Espírito e o seu lavar regenerador é algo que pode ocorrer no tempo do
AT, pois, o Filho de Deus nasceu e desempenhou o seu Ministério sob a égide da Dispensação
da Lei: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher,
nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei a fim de recebermos a adoção de
filhos” (Gl 4.4-5). Neste contexto, sem o nascimento da Igreja, ou sem a manifestação da
Dispensação da Graça (Ef 3.2), Jesus mostra a Nicodemos a necessidade da Regeneração para
entrar no Reino:

Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que


não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus. Jesus respondeu: Na
verdade, na verdade te digo que quem não nascer da água e do Espírito não
pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é
nascido do Espírito é espírito (Jo 3.3, 5 e 6).

Como pode Jesus exigir de Nicodemos um Novo Nascimento, antes do Pentecoste em


Atos 2, se esta regeneração não estivesse à disposição daquele mestre de Israel? Isto
comprova que, antes do advento da Igreja, o Espírito já agia regenerando, a exemplo do que
ocorreu com aquele rabino e poderia agir com qualquer pessoa do AT. Esta ação é no crente e
não no meio do povo-crente. Como podemos ter a galeria da fé sem que aqueles heróis que
viveram pela fé, foram torturados e cerrados pela fé e até morreram pela fé, fossem
regenerados pelo Espírito?
Partindo deste pressuposto, dizemos com René Pache 284 que “[...] na Velha Aliança, o
Espírito efectuava uma obra incompleta no coração daquele sobre quem repousava.” Esta obra
implica um aperfeiçoamento que eles não alcançaram sem nós: “Ora, todos estes que
obtiveram testemunho por sua fé, não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, por
haver Deus provido cousa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem
aperfeiçoados. ” (Hb 11. 39-40). E nós, também não alcançamos este aperfeiçoamento, que
aponta à inauguração tanto da Nova Aliança quanto do Reino de Cristo, como da Eternidade,
onde Ele será tudo em todos e completará a obra em nós do NT e naqueles do AT: “ [...],

284
Pache, ibidem, p. 37.
144

tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao
dia de Cristo Jesus. ” (Fp 1.6).
b) Novo Testamento:
 Filiação tripla – O crente é filho de Deus por criação, por regeneração e por
adoção;
1) Filhos de Deus por criação – Esta filiação continua em o Novo Testamento,
pois
todos quantos nascem no mundo são filhos de Deus por um ato criador dEle;
2) Filhos de Deus por regeneração – Ela atinge a todos os que creem nos dois
períodos: veterotestamentário e neotestamentário. Estes já visualizam o Redentor com a obra
executada:

Estava no mundo, o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos quantos
o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, os que
creem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. (Jo 1.10-12).
Com esta filiação, recebemos uma natureza nova, que é produto da aplicação da
Palavra como sêmen divino em nossas vidas: “[...], pois fostes regenerados, não de semente
corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. ”
(II Pe 1.23).
3) Filhos de Deus por Adoção – Esta 3ª parte é singular aos salvos do NT. Só os
crentes da Igreja desfrutam desta filiação. A adoção é uma doutrina paulina que trata dos
crentes da Era da Graça. Mesmo regenerados, os salvos do AT eram filhos de Deus menores
de idade ( – paidium). Eles devem ser guiados por tutores ou professores de crianças
(aios ou  - paidagogos). A Lei era este professor dos crentes do AT, menores de
idade, que ainda não tinha direito à herança, mas a adoção propicia aos filhos maiores de
idade a justificação pela fé: “De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a
Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. ” (Gl 3.24). Por outro lado, sobre os cristãos
do NT, não são filhos (menores de idade, que estão sobre a tutoria da lei, mas 
(filhos), ou seja, filhos maiores de idade. Aqui entra a adoção (). Esta filiação dá
ao fiel do NT a bênção de:
a) Ser Filho de Deus por Adoção: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de
Deus são filhos de Deus ” (Rm 8.14);
b) Receber o Santo Espírito de Deus: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos
corações o Espírito de seu Filho, que clama Aba, Pai. ” (Gl 4.6)
145

c) Ser herdeiro de Deus “De sorte que já não és escravo, porém, filho, e, sendo filho,
também herdeiro por Deus” (Gl 4.7)
d) Ser co-herdeiro com Cristo, tendo o direito de inaugurar o reino de Deus a partir da
glorificação: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora,
se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se
com ele sofremos, para que também com ele sejamos glorificados. ” (Rm 8. 16-17).
e) Ser livre da Lei: “[...], para resgatar os que estavam sob a lei a fim de que
recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.5).
f) Ter a liberdade em Cristo: “Porque não recebestes o espírito de escravidão para
viverdes atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba,
Pai. ” (Gl 8.15). Deus é o Papai – na área espiritual, Pai 2 vezes: por Regeneração e por
Adoção.
g) Ter um corpo glorificado e redimido da corrupção: “[...] E não somente ela, mas
também nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo,
aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. ” (Rm 8.23).

II – O ESPÍRITO ESTARÁ ENTRE ELES OU NELES NO ANTIGO TESTAMENTO:

Voltando à ação do Espírito no AT, podemos dizer que o Espírito enchia algumas
pessoas, a exemplo de Bezalel: “[...] e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de
inteligência, e de conhecimento, em todo artifício [...] ” nas artes do tabernáculo; Em
Miqueias 3.8: “Eu, porém, estou cheio do poder do Espírito do Senhor, cheio de juízo e de
força, para declarar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado. ” O Espírito vinha
nalgumas pessoas, como Otniel e Jefté (Jz 3.10, 11.29). Mas, o Espírito não estava só entre
eles, habitava neles, como ocorreu com os profetas: “Indagando que tempo ou que ocasião de
tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os
sofrimentos que a Cristo havia de vir e a glória que se lhes havia de seguir” (I Pe 1.11-12).
Isto ocorreu também no ato de escrever as Escrituras, pois, os mais ou menos 32 autores do
AT tinham o Espírito que se movia neles: “Sabendo primeiramente isto, que nenhuma
profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia
foi dada por vontade humana, entretanto, homens santos falaram da parte de Deus movidos
pelo Espírito Santo. ” (II Pe 1.20,21).
Sobre os reis, pode-se ver que o Espírito não estava só no meio do reinado de Davi,
mas
146

habitava dentro do rei: “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu
Espírito Santo” (Sl 51.11). É fato que o Espírito agiu em Saul e se retirou dele, devido à
função temporária e a certas circunstâncias (I Sm 10.10;16.14). Assim, o agir do Espírito não
se restringe só a essas ações. O Espírito era dado temporariamente e poderia ser retirado;
Seria impossível a salvação pela graça, operada no AT, não ter o mesmo efeito regenerador
que ocorre em o NT sem que houvesse uma ação do Espírito dentro deles. Estes textos
provam a presença do Espírito neles e não entre eles. É fato de que no AT a ação do Espírito
era diferente do que é agora no NT, como houve com Ezequiel que diz: “Entrou em mim o
Espírito, quando falava comigo, e me pôs em pé, e ouvi o que me falava” (Ez 2.2). A mesma
cena ocorre no próximo capítulo, e o Espírito entrou nele de novo: “Então entrou em mim o
Espírito e me pôs em pé, falou comigo e me disse: vai, encerra-te dentro da tua casa” (Ez
3.24). Cremos que todos foram regenerados, não temporariamente, pelo Espírito. Não há
regeneração sem a presença dEle.
Nos Evangelhos há a ação do Espírito em homens e mulheres antes da Igreja, como
em João Batista: “Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte,
e será cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe. ” (Lc 1.15), e o exemplo de Isabel:
“E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e
Isabel foi cheia do Espírito Santo. ” (Lc 1.41), o mesmo pode ser dito de Zacarias: “E
Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo” (Lc 1.67). Outro exemplo: “Havia em
Jerusalém um homem cujo nome era Simeão, e este homem era justo e temente a Deus,
esperando a consolação de Israel e o Espírito Santo estava sobre ele” (Lc 2.25). E Jesus, que
era cheio do Espírito (Lc 4.1).
Aqui há uma distinção em o Espírito estar neles (temporariamente) e “[...] estará em
vós. ” (permanentemente – João 14.17). Daí Davi, após adulterar com Bate-Seba e assassinar
Urias, pediu a Deus que não retirasse o Espírito que estava nele e não entre ele. (Sl 51.13).
Este tipo de oração não poderia ser feito pelos crentes da Igreja, diante da afirmação de
Cristo: “E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre
convosco. ” (Jo 14.16). A Unção permanece em nós (I Jo 2.27). Mas havia também o agir do
Espírito neles.

III – O A GRANDE DIFERENÇA ENTRE O AT E O NT: O Batismo no Espírito.

Como explicar a profecia de Jesus sobre a vinda do Espírito, aplicada na Nova Aliança
aos dias da Igreja: “ O Espírito de verdade que o mundo não pode receber, porque não o vê
nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós” (Jo 14.17).
147

Este texto mostra o diferencial entre os crentes do AT e os cristãos do NT está na Obra do


Espírito sobre a Igreja. O âmago da distinção é o Batismo do Espírito na Igreja, formando o
corpo de Cristo:
“Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo, quer judeus, quer
gregos,
285
quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” (I Co 12.13). Daí Pache
dizer:
Cristo ainda não tinha morrido e ressuscitado pelos pecadores; o Espírito não
podia, portanto, ressuscitá-los com Ele. Não podia fazer deles membros do
corpo de Cristo, que ainda não existia; por consequência, não podia baptizá-
los [sic], nem habitar eternamente neles (I Co 12.13) para fazer deles o Seu
Templo, o Espírito devia encontrar os corações purificados do pecado.
Cristo, sendo sem pecado, foi o primeiro no qual o Espírito fez sua morada, e
se habita agora em nós, é devido à graça que pelo sangue do Cordeiro nos
lava de todas as nossas iniquidades. Mas a obra expiatória ainda não tinha
sido efectuada nos crentes da Velha Aliança.

Os crentes do AT nunca foram batizados no Espírito, o mesmo pode-se dizer de Israel


e dos gentios na Tribulação. Só os crentes da Igreja recebem este Batismo, que significa:
receber o Espírito. Era isto que Jesus queria dizer por: “Estará em vós”. Por isso, é relevante
entender que a obra do Espírito era incompleta no AT, mas agora, no NT, a Obra do Espírito é
286
completa: O Selo, o Penhor, a Unção, a Plenitude e o Batismo. Por isto, Brennan e Corrêa
afirmam:

Para formar a Igreja, a Divindade exerce hoje um ministério distinto de


todas
as épocas, o batismo. O Senhor Jesus toma os indivíduos regenerados e
batiza-os com o Espírito Santo, formando o Corpo de Cristo (Mt 3.11; At
1.5; 2.15,17; 1 Co 12.12-13; 1 Co 3.16; Ef 2.22). Batismo é a ação divina
que torna todos os crentes desta época em um organismo, que é o Corpo de
Cristo, isto porque todos participam do mesmo Espírito.

a) O Batismo no Espírito Santo – Promessa do Pai:


Para entender bem este Batismo, é preciso o definir à luz da Bíblia. Há este conceito
claro nas Escrituras: O Batismo no Espírito é expressado pelos verbos: dar (At 5.32); cair (At
8.15-16); descer (At 10.44); morar (Ef 2.22); repousar (I Pe 4.14); habitar, que recebe maior
ênfase (Rm 8.11): e muito mais ainda o termo: receber (Jo 7.39). Daí notarmos que o Batismo
no Espírito é o mesmo que receber o Espírito de Cristo. Grave bem o vocábulo: Receber:
1) O Batismo no ou com o Espírito só pode ter a sintaxe gramatical de regência pela
combinação: preposição e artigo – em + o= no e a preposição com: “E eu não o conhecia,
285
PACHE, ibidem, p. 36.
286
BRENNAN & CORRÊA. Profecias Messiânicas. São Paulo: Editora Batista Regular, 2004, p. p. 237
148

mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: sobre aquele que vires descer o
Espírito e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo”, registra o apóstolo
João (Jo 1.33) – Não há em nenhum lugar do NT, o uso das preposições pelo ou do, pois não é
o Espírito quem Batiza, mas sim, Cristo. O Batismo é dele. É Ele quem batiza no ou com o
Espírito.
2) O Batismo no Espírito é definido por João evangelista, com o termo Receber: “E
no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem
sede venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão
do seu ventre ” (Jo 7.37-38). João se refere ao Pentecoste e explica a fala de Jesus sobre o
Batismo no Espírito como Recebê-lo: “Isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os
que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido
glorificado” (Jo 7.39). Os discípulos não tinham recebido o Espírito, pois a Obra de Cristo
(morte, sepultamento, ressurreição, ascensão e exaltação à destra de Deus) ainda não estava
completa.
3) O Próprio Cristo vê o Batismo no Espírito como recebimento do Espírito: Antes do
Pentecoste, Jesus autoriza os apóstolos a receberem o Batismo no Espírito: “Disse-lhes, pois,
Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.
E havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20.21-22).
A ordem está na mesma proporção do “eu vos envio”.Tais imperativos se cumprem em Atos
2.
4) Promessa do Pai, Batismo no Espírito e Receber o Espírito estão no mesmo
patamar: Jesus é visto como sendo gerado do Pai: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho
Unigênito que está no seio do Pai, esse o revelou” (Jo 1.18); Já o Espírito procede do Pai e do
Filho: “Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o
Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem” (Lc 11.13); mas eles não pediram, foi
Jesus que orou ao Pai, e Ele deu o Espírito: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro
consolador para que fique convosco para sempre. O Espírito de verdade, que o mundo não
pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e
estará em vós” (Jo 14.16-17).
O Espírito é a Promessa do Pai: “E estando com eles, determinou-lhes que não se
ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que, disse ele, de mim
ouvistes” (At 1.4): “Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com
o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1.5). Quem recebe o Batismo O Recebe:
149

“Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas,
tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra.” (At 1.8).
O Dia do Senhor traz a promessa, no clamar Jesus para salvação: “E há de ser que
todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém
haverá livramento, assim como disse o Senhor, e entre os sobreviventes, aos que o Senhor
chamar” (Jl 2.32 – c.f a profecia de Jesus em Jo 7.37-39). Em Sua Exaltação é consumada a
Obra e derramada a Promessa: “Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos
testemunhas. De sorte que exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a Promessa
do Espírito, derramou isto que agora vedes e ouvis” (At 2.32-33). Pedro abre o espaço a
judeus da Diáspora e a gentios dos confins da terra, pelo Batismo como Promessa do Pai e
recebimento do Espírito:

E ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro


e aos demais apóstolos: Que faremos, homens, irmãos? E disse-lhes Pedro:
Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, em
remissão de pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a
Promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão
longe, a tantos quantos o Senhor Deus chamar (At 2.37-39).

A Obra do Espírito, pelo menos em quatro partes, retrata uma experiência de


conversão:
1ª O Batismo (I Co 12.12-13): “Pois, todos nós fomos batizados em um Espírito,
formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido
de um Espírito. ” O crente é batizado no Espírito quando ele forma o Corpo de Cristo, ao
aceitar a Jesus como Seu Salvador. O batismo nas águas nos faz membros da organização:
Igreja Local ou visível. O Batismo no Espírito nos faz membros do organismo: Igreja
Universal ou invisível.
2ª A Unção: “E vós tendes a Unção do Santo, e sabeis todas as coisas”. “E a unção
que
vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas,
como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos
ensinou, assim nele permanecereis. ” (I Jo 2. 20 e 27).
3ª O Penhor: “Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu
também o penhor do Espírito” (II Co. 5:5).
4ª O Selo:
Com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro
esperamos em Cristo; em quem também vós estais, depois que ouvistes a
palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também
150

crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da


nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua
glória. (Ef 1.12-14).

O Penhor e o Selo se relacionam à Promessa do Espírito, que é o Batismo no Espírito.


5ª A Plenitude (Ef 5.18): “E não vos embriagueis com o vinho, em que há dissolução,
mas enchei-vos do Espírito”. Só esta parte se liga à plenitude e pode ser posterior à
regeneração.
O Evento em Samaria: expressa o Batismo no Espírito como recebimento do Espírito:
Este fato mostra Pedro e João (judeus) entre samaritanos. Eles não se falavam (Jo
4.9c).
Foram ver a obra de Felipe e dar o Batismo no Espírito a salvos-samaritanos que O
receberam:

Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria


recebera a Palavra de Deus, enviaram para lá, Pedro e João. Os quais, tendo
descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (porque sobre
nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do
Senhor Jesus). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo.
E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o
Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse
poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo.
(At 8.14-19).

Ponto crucial é: se o Batismo no Espírito é igual ao Recebimento do Espírito, implica,


necessariamente, a este milagre figurar como parte essencial à salvação e inicial à vida
cristã:
a) Atesta isto as experiências de Cornélio e do apóstolo Pedro em Atos 10:
Pedro, crente na visão divina: lençol de animais a lhe ensinar: “não faças tu comum ou
imundo ao que Deus purificou” e Cornélio, ciente da instrução do anjo: “Pedro te dirá o que
deves fazer” (Atos 10). Estas visões implicam o Batismo no Espírito na pregação petrina: “E
dizendo Pedro ainda estas palavras caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a
Palavra” (At 10.44). Este Batismo é igual a receber o Espírito: “Respondeu, então, Pedro:
Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também
receberam como nós o Espírito Santo? E mandou que fossem batizados em nome do Senhor.
Então rogaram-lhe que ficassem com eles por alguns dias” (At 10.47-48). Em Atos 11 isto
fica patente, pois, justificando o batismo nas águas dos gentios à igreja de Jerusalém, Pedro
associa o Batismo no Espírito à experiência de Cornélio e família, no ato da conversão como
referência ao Pentecoste:
151

E quando comecei a falar caiu sobre eles o Espírito Santo, como também
sobre nós ao princípio. E lembrei-me do dito do Senhor quando disse: João
certamente batizou com água; mas vós sereis batizados com o Espírito
Santo. Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando havemos
crido no Senhor Jesus Cristo, quem era eu, para que pudesse resistir a Deus.
(At 11.16-17).

b) A experiência dos discípulos de João, o Batista, em Atos19:

E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo tendo passado por
todas as regiões superiores, chegou a Éfeso, e achando ali alguns discípulos,
disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles
disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. Perguntou-
lhes: Em que sois batizados, então? E eles disseram: No batismo de João.
Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo de
arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir,
isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do
Senhor Jesus. E impondo-lhes as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e
falavam em línguas e profetizavam (Atos 19.1-6).

Pelo texto era comum ao salvo receber ou ser batizado no Espírito quando cria, daí a
indagação de Paulo. O problema é que os discípulos de João não eram crentes, nem sabiam
que havia Espírito, e João tocou no tema. O fato de falarem em línguas e profetizarem não
evidencia o batismo no Espírito, pois dons são um sinal para Israel de que o ensino paulino
era completo
em relação à mensagem joanina recebida por eles. O livro de Atos não é normativo, é
histórico-descritivo. Há práticas na igreja primitiva que não se repetem hoje. A Igreja não
pode basear sua conduta em um livro bíblico-histórico. Nossa base doutrinal está nas
epístolas: “perseveraremos nas doutrinas dos apóstolos” (At 2.42). Usamos este livro a realçar
o Batismo
no Espírito aos cristãos na conversão como igual a receber o Espirito. Vejamos agora as
cartas:
c) O Batismo no Espírito nas Epístolas como sinônimo de Receber o Espírito –
Então
vamos olhar os textos destas cartas, pensando no Batismo no Espírito como receber o
Espírito:
 Nas Cartas Paulinas – Epístolas às igrejas locais:
1) Na Igreja de Roma – Nesta epístola aos Romanos tanto a palavra habita quanto o
vocábulo recebestes denotam o Batismo no Espírito para todos os crentes da Igreja de Roma:

Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus
habita em vós. Mas se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é
152

dele. E se Cristo está em vós, o corpo na verdade está morto por causa do
pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. Porque não recebestes o
espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes
o Espírito de
adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai (Rm 8.9,10 e 15).

2) Na Igreja de Corinto – há termos correlatos com receber (habita e deu), aplicados


ao
Batismo no Espírito, que vão além de I Coríntios 12.13: “Não sabeis vós que sois o templo de
Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? ” (I Co 3.16); “Ou não sabeis que o vosso corpo
é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós
mesmos? ” (I Co 6.19); “Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu
também o Penhor do Espírito. ” (II Co 5.5).
3) Nas Igrejas da Galáxia – Sobre este grupo de igrejas, fica patente que todos os
crentes

foram batizados no Espírito na conversão. Isto pode ser notado a partir do uso do termo
receber, ante a contestação de Paulo ao falso evangelho legalista que transtornava o
Evangelho de Cristo:

Ó insensatos! Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós,


perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado entre
vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei
ou pela pregação da fé. Sois vós tão insensatos que tendo começado pelo
Espírito, acabeis agora pela carne (Gl 3.1-3).

4) Na Igreja de Éfeso – Além do Selo de 1.13 e do Penhor de 1.14, após crer no


Evangelho, cada um de nós foi batizado no Espírito, pelo termo morada, linkado a este
Batismo: “No qual todo o edifício bem ajustado cresce para templo santo do Senhor. No qual
também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito” (Ef 2.22). Veja
João 14.23.
5) Na Igreja de Filipos: Nesta epístola, o Espírito é o vigário ou substituto de Cristo;
pois, à luz da Bíblia, quem habita em nós é o Espírito dEle, como vimos em Romanos.
A sua habitação se dá pelo Batismo, Selo, Penhor e Unção. Daí, lermos Filipenses
1.20-22: “Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido;
antes, com toda confiança, Cristo será tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo,
seja pela vida, seja pela morte”. Associado a Filipenses, há Gálatas 2.20: “Já estou crucificado
com
153

Cristo, e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a
na fé do Filho de Deus, o qual, me amou e a si mesmo se entregou por mim. ”
6) Na Igreja de Colossos – o Batismo no Espírito é o Mistério da Graça: “O mistério
que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto
aos seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste
mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1.26-27); e a
Escritura: “A Palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria,
ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais,
cantando ao Senhor com graça em vosso coração. ” (Cl 2.16 e Ef 5.18-19).
7) Na Igreja de Tessalônica – O termo Espírito faz-nos notar, pelo gerúndio
recebendo, o Batismo: “E vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a
Palavra em muita
Tribulação, com gozo do Espírito Santo” (I Ts 1.6); o mesmo pode ser dito da II carta, pois o
Batismo no Espírito é visto na Igreja a deter o mistério da iniquidade: “Porque já o mistério da
injustiça opera, somente há um que agora o retém, até que do meio seja tirado” (II Ts 2.6).
 Nas Cartas Universais – Epístolas endereçadas a todos os cristãos:
1) Na Carta de Tiago – Este Batismo está presente pelo termo habita: “Ou cuidais vós
que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes? ” (Tiago 4.5).
2) Na I Carta de Pedro – Aqui, Pedro usa o termo repousa para retratar este precioso
Batismo que expressa a presença de Cristo em nós no meio dos sofrimentos: “Se pelo nome
de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da
Glória de Deus; quanto a eles, é ele sim, blasfemado, mas, quanto a vós, é glorificado” (I
Pedro 4.14).
3) Na Carta de João – Em uma das epístolas do apóstolo do amor este Batismo é
tratado como um presente, pelo verbo dar: “E aquele que guarda os seus mandamentos nele
está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos foi dado” (I
João 3.24).
4) Na Carta de Judas – Aqui o Batismo é patente no paralelo em que o meio irmão de
Jesus faz entre falsos mestres e servos de Deus. Ter o Espírito faz a diferença: “Estes são os
que a si mesmos se separam, sensuais, que não têm o Espírito. Mas vós amados, edificando-
vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo” (Judas 19-20). Por
isso é
falácia de falsos mestres uma 2ª bênção à Igreja. Somos abençoados com todas elas. (Ef 1.3).
154

Convém analisar a visão eclética que o DP tem sobre o Rapto da Igreja. Creio que
estas
múltiplas visões, diferente do número de dispensações, tem uma intencionalidade por trás:
cooptar grupos dispensacionalistas a este sistema. Mas, tal visão pode complicar ao DP: Se
sou progressivo e admito o Arrebatamento meso-tribulacionista ou o pós-tribulacionista tenho
que negar a iminência do arrebatamento. Se sou pré-tribulacionista tenho que explicar como
Israel, na tribulação, receberá o Espírito, pois o Corpo de Cristo, a unir judeus e gentios (Ef
2.11-22), não está na terra. Como seria o derramar do Espírito para Israel? Formariam um
novo corpo de judeus e gentios? Neste caso, é muito mais coerente ao DP optar pelo Pré-Ira,
pondo a Igreja-Corpo na Tribulação para que o remanescente judeu e a Igreja sigam como um
só povo até ao rapto da Igreja, deixando a Ira a ímpios. Talvez, por isso, a maioria dos DP
optaram tal vertente.
Neste contexto, Robert Saucy, 287 em artigo sobre Israel e a Igreja: Um caso para a
descontinuidade, pontua a distinção como um período de junção de ambos os povos (judeus e
gentios) em um povo (Ef 2.14). Mas, ao abordar que esta continuidade gera o Corpo, ele
precisa estar até ao fim da Tribulação para que o agir do Espírito nesta era seja igual ao tempo
da Igreja:
No que concerne ao corpo de Cristo, encontra-se mais na próxima seção
sobre continuidade da Igreja e Israel, onde se argumenta que as verdades
ensinadas por essa metáfora tratam das realidades espirituais da prometida
salvação messiânica e não são, consequentemente, exclusivas da igreja.
288
Saucy vê a ação do Espírito hoje no mesmo nível do Seu agir em Israel na
Tribulação:

Quando acrescentamos o ensino do NT de que a habitação de Cristo está


inerentemente relacionada à habitação do Espírito prometido sob a nova
aliança (cf. Jo 14.16, 18, 20; Rm 8.9, 10; Ef 3.16-19), é difícil ver a relação
da Igreja com o Espírito e Cristo, tão distinta da que todos os crentes
acabarão desfrutando, incluindo o Israel redimindo.

A Dispensação da Graça (Ef 3.2) inclui o Espírito como Batismo no Corpo (I Co


12.13). Se a Igreja vai antes da Tribulação, como creem grupos, batistas regulares e bíblicos,
ela não fica na Tribulação; se for assim, é difícil advogar, com Saucy e o DP, o derramar do
Espírito, em Atos 2, na Tribulação e no Milênio. A saída do DP é optar pelo Pré-Ira. Mas se
adotarem tal posição, como advogar as bodas da Igreja com Cristo? Quando e onde haverá o

287
Ibidem. In SAUCY, Robert. Israel e a Igreja: Um caso para a descontinuidade, 2013, p. 305.
288
Ibidem, p. 305 e 306.
155

Bema e as bodas? Uma vez que a Igreja, batizada no Espírito, não fica. Daí Brennan e
Correia289 dizerem:

Jesus antecipou este ministério ao dizer: “Vós em mim” – é o batismo (João


14.20) e “Eu em vós” é a regeneração e a habitação. A Igreja será retirada
antes da tribulação como promessa em Ap 3.10. Não haverá o Batismo com
o Espírito Santo, porém, o Espírito nunca deixará de iluminar e regenerar (Jo
1.9).
Os autores enfatizam outro ponto relevante que seria a ação do Espírito em todas as
eras:
[...]. O Espírito jamais deixará de atuar na raça. Em João 16.7 a 11 Jesus
revelou o ministério que o Espírito faria acrescido da obra que Jesus
realizaria sobre a cruz: “Convencerá o mundo do pecado, da justiça e do
juízo”. O juízo aqui referido está ligado com a atividade do Príncipe deste
mundo e a cruz. I Jo 5.19 confirma que “o mundo está no maligno” como
sistema organizado. A tribulação é o período em que o Príncipe deste
sistema governará as nações
(Ap 13; 20.1-3).290

IV – A MISSÃO DO ESPÍRITO EM RELAÇÃO AO MUNDO NA ERA DA GRAÇA:

Há dois mil anos, Jesus nasceu em Belém, se criou em Nazaré, com o ministério em
Israel e foi crucificado em Jerusalém. Agora nós vemos o mundo perdido, mas o Redentor
pronto a salvar, com a missão sublime do Seu Substituto, que Ele chama de Consolador, o
Espírito, cuja missão é o Seu agir no mundo. Uma ação tríplice, mas ainda é una – missão de
convencimento. Ele viria convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Do monte das
Oliveiras, o Messias-Ressurreto, visto por mais de 500 irmãos, ascende aos céus, e os
discípulos se maravilham, olhando para o céu, enquanto Jesus some entre as nuvens, então
dois anjos, vestidos de branco, dizem a eles: “Homens galileus, por que estais olhando para o
céu? Este Jesus que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu
o vistes ir”. (At 1.11). Ele subiu desse Monte (At 1.12) e descerá com seus pés sobre este
monte (Zc 14.4,5).
Ao subir, Ele se assenta à direita de Deus e dez dias após os 40 (At 1.3) no dia de
Pentecostes, em Atos 2, Ele envia o Seu Espírito. Vindo naquele dia, o Espírito começa a
cumprir a Sua tríplice missão registrada em João 16.7-11. O Espírito, a partir de então,
começa a formar o Corpo de Cristo, a Igreja, com o Batismo no Espírito a formá-la, tirando-a
para fora do mundo. Mas também ele inicia a obra de convencimento para o mundo.
Convencer do pecado. Cristo não fala do pecado no plural. Então que pecado é este? É o
pecado original. O Espírito veio a nos convencer do pecado original. Este pecado se
289
BRENNAN & CORRÊA. Profecias Messiânicas. São Paulo: Editora Batista Regular, 2004, p. 237.
290
Ibidem, 2004, p. p. 237-238.
156

multiplica e se desdobra no mundo em 3 aspectos históricos. O pecado praticado pelo


primeiro Adão, no Éden, o fez cair e
derrubar a raça com ele; então o convencimento foi tríplice no sentido futuro: o pecado
consiste:
(1) Em prender Jesus Cristo;
(2) Em crucificar o Salvador;
(3) Em matar o Príncipe da Vida.
Pedro em Atos retrata bem esta verdade, ao pregar o seu discurso, ao lado de 120
pessoas
(At 1.15), que eram o embrião da Igreja, e foram batizadas, seladas, ungidas, penhoradas e
plenificadas no Espírito; enquanto algumas pessoas ali descreviam o fenômeno das línguas
faladas, pelos 120, como embriaguez, o Espírito usa a Pedro, que por sua vez, utiliza Joel 2 e
os Salmos 16, 110 e 132, para convencer os judeus de Jerusalém e os da diáspora judaica
(cerca de quinze nações) acerca do pecado: “A este que vos foi entregue pelo determinado
conselho e presciência de Deus, prendeste, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”
(At 2.23).
Mais de três mil pessoas ouviram e entenderam que não foi Cezar, Pilatos, ou Anás e
Caifás, nem romanos e judeus que mataram Jesus. A maioria dessas pessoas poderia se
justificar com a desculpa de que não estavam em Jerusalém quando Jesus foi morto. Mas eles
se convenceram do tríplice pecado. Quem prendeu, crucificou e matou a Jesus foi o nosso
pecado original. A mensagem é aos crentes do AT, aos cristãos do NT e aos judeus e os
gentios da tribulação: “E porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua semente e a sua
semente. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gn 3.15). O mundo jaz no
maligno (I Jo 5.19) e a semente do diabo é o mundo, que feriu com o pecado original a Cristo
no calcanhar. Da Semente da mulher: “Mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu
Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei a fim de
recebermos a adoção de filhos,” (Gl 4.4,5) veio a redenção do pecado. Ferido no calcanhar
Ele fere a cabeça da Serpente.
Em se tratando do convencimento “da justiça porque vou para o meu Pai.” Pode-se
dizer
que aquelas quase três mil pessoas ficaram tristes por serem convencidas de que prenderam,
crucificaram e mataram o Príncipe da Vida. Agora era a hora do Espírito convencê-las com
uma mensagem de esperança: Jesus Ressuscitou e ascendeu aos céus e assentou-se à destra de
Deus, como Messias-Sumo-Sacerdote, a ser Mediador entre Deus e os homens: “Portanto,
157

pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para
interceder por eles. ” (Hb 7.25). O convencimento do Espírito vai além de Atos 2.23, atinge a
justiça com o verso 24: “Ao qual Deus ressuscitou, desfazendo as dores da morte, pois não
era possível ser retido por ela”. E com a justiça da ressurreição aparece o vou para o meu Pai
nos versos 32,35:

Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte
que exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido a promessa do Espírito
Santo, derramou isto que agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos
céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à
minha direita até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.

Nós prendemos, crucificamos e matamos o Príncipe da Vida. Mas Ele ressuscitou!


Então, o último convencimento: do juízo, porque o príncipe deste mundo está julgado. Isto
aponta à cruz. Nela, Jesus esmagou a cabeça da serpente de direito, mas o esmagar de fato é
no juízo do Diabo e a Igreja participará dele: “Não sabeis que os santos hão de julgar os
anjos? ” (I Co 6.3). Este esmagar se dará no fim do Milênio: “Em breve o Deus de paz
esmagará Satanás debaixo dos vossos pés” (Rm 16.20). Cristo falou deste convencimento:
“Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu quando for
levantado da terra, todos atrairei a mim.” (Jo 12.31-32). Os aliancistas espiritualizam o reino,
dizendo que ele já vigora na amarração do diabo, que se dá na parábola do mais valente do
que o valente (Lc 11.20-22).
É fato que na cruz houve a aproximação do príncipe deste mundo: “Já não falarei
muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim. ” (Jo
14.30). O Espírito nos convence do juízo, porque o príncipe deste mundo está julgado, mas
ele só será condenado após as inaugurações e cumprimentos do Reino e da Nova Aliança, ou
seja, após a consumação dos séculos. No fim do Milênio, ele será lançado no lago de fogo: “E
o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso
profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” (Ap 20.10). Tal
convencimento se aplica aos judeus e gentios na Tribulação, pois eles ainda terão que ser
convencidos de que prenderam, crucificaram e mataram o Filho de Deus, e de que Ele foi
para o Pai, e o príncipe deste mundo já está julgado; e assim eles serão como nós regenerados,
habitados pelo Espírito e selados no Espírito, só não ungidos e batizados no Espírito. Aí é só
nós. Daí Brennan e Corrêa 291 dizerem:

[...] no livro de Apocalipse as reações de um outro grupo de incrédulos que


rejeitaram, conscientemente e com bom entendimento, o evangelho do Reino

291
Ibidem, 2004, p. 238.
158

e o Criador, durante a Tribulação (Ap 6.15-17). Tais incrédulos


reconheceram a incapacidade de enfrentar os juízos da tribulação. Nele não
houve arrependimento. Convencidos do pecado e do juízo estarão! Atrás
desta descrição só podemos supor que esteja a pessoa do Espírito atuando.

O agir do Espírito, na Tribulação, não será como no AT, pois a Nova Aliança se
cumpre

em Israel e Judá e começa o preparo da sua fase inaugural no início da 70ª semana de Daniel:

Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa
de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com os seus
pais, no dia em que os tomei pela mão para os tirar da terra do Egito; porque
eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o
Senhor. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles
dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu
coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará mais
cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao
Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz
o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei
dos seus pecados (Jr 31.31-34).

Na Tribulação, há a redenção de Israel, pois: “Deus não rejeitou o seu povo, que antes
conheceu [...]. E se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos
gentios
quanto mais a sua plenitude” (Rm 11.2,12). Na Graça, judeus e gentios formam um corpo:

Mas agora em Cristo Jesus, vós, que estáveis longe, já pelo sangue de Cristo
chegaste perto. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um;
e, derrubando a parede de separação que estava no meio. Na sua carne desfez
a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças,
para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz. E pela cruz
reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades
(Ef
2:13-15).

V – A AÇÃO DO ESPÍRITO DA TRIBULAÇÃO:

Na Tribulação não há um corpo de Cristo. A Igreja será arrebatada antes da 70ª


semana de Daniel, por isto, ela não poderá assimilar os judeus convertidos do período em um
corpo. Mas, a Nova Aliança assimilará os “Benditos do meu Pai” (gentios tribulacionais – Mt
24.34) com os “pequeninos irmãos de Jesus” (judeus contemplados pela Nova Aliança – Mt
24.40) a formar um núcleo que será responsável pela construção da sociedade quiliástica no
Reino de Deus (Milênio). As ideias progressivas voltadas ao pré-tribulacionismo encontra
dificuldades.
O modo de agir do Espírito na Tribulação é distinto do agir no AT e no NT. Haverá o
derramar do Espírito, predito por Joel 2, quando o Espírito será posto nos corações de Israel e
159

de Judá. Iniciará na Tribulação e culminará no Reino, com a entrada de um terço de Israel (Zc
13.8,9), além dos gentios, salvos da época. Mas eles não formam um corpo, pelo batismo no
Espírito, como em Pentecoste (Atos 2). Israel será o povo de Deus, salvo pelo Redentor. O
derramar do Espírito ocorrerá na inauguração da Nova Aliança, para os judeus, que serão “Os
pequeninos irmãos do Messias” (Mt 25.41); e a todos quantos o Senhor chamar, os gentios,
que serão as ovelhas do juízo das nações, “Benditos de meu Pai” (Mt 25.34), que terão como
herança
o Reino, preparado desde a fundação do mundo. O Espírito agirá do seguinte modo na Época:
(1) O Espírito Santo será o Selo de Deus na Tribulação: Em princípio, nos 144
mil
judeus: “E vi outro anjo subir do lado do sol nascente, e que tinha o selo do Deus vivo; e
clamou com grande voz aos quatro anjos, a quem fora dado o poder de danificar a terra e o
mar, dizendo: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que hajamos selado nas
suas testas os servos do nosso Deus. ” E depois, também em judeus e gentios, salvos na
tribulação: “E foi-lhes dito que não fizessem dano à erva da terra, nem a verdura alguma, nem
a árvore alguma, mas somente aos homens que não têm nas suas testas o selo de Deus” (Ap
9.4).
(2) A vida de Testemunho na Tribulação só pode ser propiciada pelo Espírito: Em um
cenário em que a multiplicação da iniquidade resultará no esfriar do amor (Mt 24.12). É
impossível alguém ser irrepreensível sem o Espírito em sua vida. É o que ocorre com os
crentes tribulacionais, como os 144 mil em Apocalipse 14.4,5, e as suas sete virtudes,
expostas em uma
lista: incontaminados, puros, fiéis, sem dolo, redimidos, primícias de Deus e irrepreensíveis.
(3) O Espírito Santo neles, na Tribulação, os usará para pregar o Evangelho do
Reino:
[...]. Mas quando vos entregarem, não vos dê cuidado como ou o que haveis
de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de
dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que
fala em vós. E o irmão entregará à morte ao irmão, e o pai ao filho; e os
filhos se levantarão contra os pais e os matarão. E odiados de todos sereis
por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim, esse será
salvo. Quando, pois, vos perseguirem nesta cidade, fugi para a outra; porque
em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem
que venha o Filho do homem. (Mt 10.19-23).

(4) Os profetas da Tribulação profetizarão, através do Evangelho do Reino, como


instrumentos do Espírito Santo: São as 2 testemunhas, e o Espírito operará nelas os sinais e as
160

obras sobrenaturais que ocorrem, mesmo após sua morte. É o que atestam Brennan e
Corrêa:292

Os profetas da Tribulação serão em número de dois, cujo ministério estará


ligado com Israel e a cidade de Jerusalém. Desafiarão o anticristo e serão
mortos e ressuscitarão. Tanto o ministério dos profetas como o poder de
ressuscitar serão obras atribuídas ao Espírito [...] e aqui vemo-lo ocultamente
atuando (Ap 11.6,8, 11-13).

(5) A Regeneração como Obra do Espírito na Tribulação: Se haverá crentes


convertidos na época, há regeneração e esta obra é do Espírito, como na Lei (Jo 3.3-6; Ap 7.1-
3;9.4). Judeus e os gentios, salvos na Tribulação, eram eleitos: “[...]. E, se aqueles dias não
fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados
aqueles dias. ” (Mt 24.22). Assim, serão regenerados como os do NT, pois experimentarão
flashes inaugurais da Nova Aliança: “E lhes darei um só coração, e um espírito novo porei
dentro deles; tirarei da sua

carne o coração de pedra e lhe darei um coração de carne” (Ez 11.19).Brennan e Corrêa 293
dizem

[...] Ele agirá “como torrente impetuosa, impelida pelo Espírito do Senhor.
Virá o redentor a Sião e aos de Jacó que se converteram, diz o Senhor” (Is
59.19-20). Esta referência se trata da vinda do Messias que é precedida pela
ação do Espírito Santo. Em Joel 2.32 diz: “Todo aquele que invocar o nome
do Senhor será salvo”, após falar do Grande e terrível Dia do Senhor” do v.
31. Nas passagens abaixo encontramos que o Espírito Santo está
regenerando após o arrebatamento e antes do Reino, isto é, na Tribulação, Is
32.15; 44.3; Ez 39.29; 36.25-27; Zc 12.10.

(6) O Espirito Santo dará poder aos crentes da Tribulação para suportar as provas:
Segundo Brennan e Corrêa: 294 “Alguns crentes da tribulação terão poder especial, dado pelo
Espírito, para suportar as perseguições e angústias, para continuarem vivos (At 7.9-17). ”
(7) O Espírito os capacitará para uma vida de oração na tribulação: “E orai para que
a vossa fuga não aconteça no inverno e nem no sábado. ” (Mt 24.20). Os céus receberão as
suas orações, guiadas pelo Espírito: “E veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um
incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso para o pôr com as orações de todos santos
sobre o altar de ouro que está diante do trono. E a fumaça do incenso subiu com as orações
dos santos desde a mão do anjo até diante de Deus ” (Ap 8.3-4).

292
BRENNAN & CORRÊA. Profecias Messiânicas. São Paulo: Editora Batista Regular, 2004, p. 239.
293
Ibidem, 2004, p. 240.
294
Ibidem.
161

(8) O Espírito como Consolador para os mártires da Tribulação: “E ouvi uma voz do
céu que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor.
Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem. ” (Ap
13.14). O Espírito está presente e acompanha atentamente todo o processo.
(9) O Espírito será Plenitude na Vida dos crentes da Tribulação: Serão os piores dias
da humanidade e os fiéis terão que ser cheios do Espírito a enfrentar a tríade (Dragão, Besta e
Falso Profeta). “A Plenitude do Espírito deverá ser a única razão para explicar a vitória dos
crentes da tribulação diante de Satanás é o que inferimos de Ap 12.10-12, bem como o que é
descrito a respeito dos crentes judeus e a perseguição que Satanás lhes moverá em Ap
12.17.”295
(10) O Espírito como Penhor na Tribulação: Eles terão o Espírito como Penhor da
herança, Daí Jesus dizer para eles: “Vinde benditos de meu Pai, possui por herança o reino
que vos está preparado desde a fundação do mundo”. (Mt 25.34). Só podem herdar, como a
Igreja, se tiverem o Penhor do Espírito: “O qua é o Penhor da nossa herança, para redenção da
possessão adquirida, para o louvor de sua glória”. (Ef 1.14). Só não poderão ter o Espírito
como Batismo, pois não pertencem à Igreja, ao Corpo de Cristo. Aqui não há um corpo em
unidade a receber judeus e gentios como ocorre agora na Igreja. Assim teremos o povo de
Deus (o Israel étnico) e o povo de Deus (os gentios-ovelhas-benditos-de-meu-Pai) a cumprir a
inauguração da Nova Aliança, junto com os crentes do AT, concomitante com a Igreja, a
esposa do Cordeiro.
Agora judeus e gentios formam um só povo, o corpo, a Igreja, e isto ocorre pela fusão
do Espírito. Na tribulação é diferente, há o Israel Étnico, povo de Deus (Rm 11.1) e os
gentios, povo de Deus, convertidos. Não há mais o Corpo de Cristo na terra. Este é um
problema para o DP resolver, pois, para ele, há um só plano e um só povo desde o AT,
progredindo na história:

[...] O Espírito estará atuando na regeneração durante a tribulação. O Espírito


não estará formando a Igreja, o corpo de Cristo. O Espírito nunca deixou de
atuar no mundo. Deixará de habitar e formar o corpo de Cristo sobre a terra,
mas nunca deixará de iluminar e regenerar. A tribulação será uma época
missionária debaixo do juízo; será Deus chamando os homens; Deus
preservando muitos regenerados com vida debaixo de juízos; será Deus
salvando para povoar o reino milenar só com os salvos (judeus e gentios) da
tribulação entrando no reino com corpos naturais. 296

Ainda assim, nascerão filhos de judeus e gentios no Milênio e Israel terá a primazia
sobre eles, na inauguração do Reino e na Inauguração e cumprimento da Nova Aliança.
295
Ibidem, p. 240.
296
Ibidem, p. 242.
162

CAPÍTULO NOVE
__________

A NOVA ALIANÇA E O REINO DE DEUS


– Uma visão consistente do Dispensacionalismo Tradicional

É fato que a Nova Aliança incluirá a presença do Espírito em Israel (Ez 36.26-27 e 37).
Porém, não como Batismo do modo em que ocorreu com a Igreja (I Co 12.12-13). Há judeus
selados no Espírito no período (Ap 7.3), e outras ações de regeneração à época. Deus coloca
dentro deles o seu Espírito. A Nova Aliança se concretiza com o Israel étnico sendo
163

abençoado com as promessas de Daniel 9.24. Estes judeus são “pequeninos irmãos” do
Senhor (Mt. 25:40) e os gentios salvos (não fazem parte da Igreja) são os benditos do meu Pai
(Mt 25.34). Nunca são tratados na Tribulação como Corpo redimido de Cristo para o futuro.
A Igreja glorificada desce com Cristo. A Igreja é a esposa, o Corpo de Cristo. Então, como os
progressivos explicam com êxito esta situação? Colocar a Igreja nos 7 anos de Tribulação ou
negar até a literalidade destes 7 anos, optar pelo Pré-Ira é o caminho mais coerente para eles.
Mas, nem a Hermenêutica Complementar que os mesmos advogam consegue satisfazer tal
malabarismo teológico.
297
Ao nos debruçarmos nesta temática se faz necessário pontuar a defesa que Ryrie faz
no tocante à essência do dispensacionalismo, enquanto a distinção entre a Igreja e Israel; tal
diferença desponta para ele de tal maneira que o leva a considerar a impossibilidade de a
Igreja
se associar a quaisquer relacionamentos com as promessas oriundas do reinado messiânico.
298
Ante esta posição de Ryrie, Myron Houghton traz questões a serem respondidas
aqui:
1) Como entender o discurso de Pedro em Atos 2 e sua ideia de cumprimento em Joel?
Não há como se usar Joel em cumprimento da profecia. Tanto que Pedro não o cita
com o termo cumpriu-se, “mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel. ” Daí J. Freerksen 299
dizer:

Pedro, em Atos 2.17, parece dizer que o Pentecostes é o cumprimento da


profecia de Joel para os últimos dias (J1 2.28-32). Joel, contudo, claramente
relaciona estes eventos ao tempo da Grande Tribulação. Logo após 2.32, Joel
declara: “Porquanto eis que, naqueles dias e naquele tempo [...]” e prossegue
descrevendo o tempo da Grande Tribulação (3.9-16) e o Reino de Deus
sobre a terra (3.18-21).
A visão pactualistas que Augustus Nicodemos Lopes 300 expõe, vai de encontro as
ideias de Freerksen, pondo a Igreja, em o NT, como receptora das promessas feitas a Israel no
AT:

Fica muito claro para mim que os autores do NT quando olham para as
promessas que foram feitas a Israel no AT do reino, do trono e da terra eles
consideram como sendo cumpridas na Igreja. Eu vou dar um exemplo:
Quando Pedro prega no dia de Pentecoste, para explicar o derramamento do

297
Charles Ryrie. Dispensationalism Today. p. 98ss.
298
Myron Houghton. O Estado do Dispensacionalismo Hoje. p. 3.
299
Ibidem. In FREERKSEN, James: Escatologia de Atos. 2010, p. 174.
300
LOPES, Nicodemus A. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um
debate sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 1/3, 2014. Disponível em >
https://www.youtube.com/watch?v =ra C0Soa28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
164

Espírito, ele cita Joel 2.28, onde está escrito que ‘Assim acontecerá depois
que derramarei do meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos, vossas
filhas profetizarão, vossos jovens terão visões e sonharão vossos velhos.
Lopes301 declara que Pedro analisa o texto de Joel, pontuando a inauguração do reino
messiânico. Notem que a interpretação do amilenista se aproxima da hermenêutica dos DP:

A chegada do Espírito Santo era associada ao reino messiânico. Era o


Messias aquele que haveria de trazer o Espírito Santo em profusão sobre
toda a terra e isto está relacionado com o reino futuro de Israel. Só que
quando Pedro cita esta passagem, ele diz assim: O que ocorre é o que foi dito
por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor,
que derramarei do meu Espírito sobre toda carne. Ele interpreta o depois de
Joel como sendo os últimos dias dizendo: aquilo que Joel está se cumprindo
agora. O reino messiânico está sendo iniciado pela vinda do Espírito Santo
dando início aos últimos dias. Este é um exemplo de como os autores do NT
tomam as promessas aplicadas a Israel e a sua restauração como se
cumprindo no reino messiânico inaugurado por Jesus na sua morte e
ressurreição e no envio do Espírito Santo.
302
Aqui Freerksen indaga e responde a partir da coerência do ocorrido em relação à
profecia, pois “toda a carne” é muito diferente de “120 pessoas” (At 1.15):
Então, estaria Pedro vendo o cumprimento de Joel 2 no Dia de Pentecostes?
Não, pois ele nem tinha como imaginar seu cumprimento. Ele não tinha visto
o Espirito ser derramado sobre toda a carne. Quando proferiu esta pregação,
Pedro acabara de ver o Espirito ser derramado sobre apenas 120 pessoas (At
1.15).
2) Em que sentido Atos 14:22 emprega o vocábulo “reino”?
Para responder a esta inquirição sobre Atos 14:22: “Fortalecendo a alma dos
discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas
tribulações, nos importa entrar no reino de Deus”. Neste contexto, cedemos a palavra a Mal
Couch: 303
O evangelho, lembraram os fiéis de que eles algum dia entrariam no reino
“por muitas tribulações” (At 14-22). Paulo pregou o evangelho na sinagoga
de Éfeso por três meses, “disputando e persuadindo-os acerca do Reino de
Deus” (At 19.8). Enquanto esteve em prisão domiciliar em Roma, Paulo
falou aos anciãos judeus da cidade a respeito de Jesus e “declarava com bom
testemunho o Reino de Deus e procurava persuadi-los a fé de Jesus” (At
28.23).

304
Mal Couch acrescenta ainda que, no área espiritual, fomos transportados a este
reino:

301
LOPES, Nicodemus A. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um
debate sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 2014. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?
v=ra C0Soa28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
302
Ibidem.
303
COUCH, Mal, (ed) An Introduction to Classical Evangelical Hermeneutics: um guide to history and pratice
of biblical interpretation. Grand Rapids. Ml: Kregel Publication, 2000, p.205.
304
Ibidem.
165

Somente aqueles que forem considerados justos e remidos pelo sangue de


Cristo serão capazes de herdar o Reino de Deus (1 Co. 6.9). Cristo entregará
o reino a Deus Pai “quando houver aniquilado todo império e toda potestade
e forca” (1 Co 15.4). Deus, em sua misericórdia, libertou os santos da Igreja
do domínio das trevas e “nos transportou para o Reino do Filho do seu
amor” (Cl 1.13).
305
Este Reino do Filho do seu amor é um reino invisível e espiritual. Daí Geisler
afirmar:

[...], depois que o reino messiânico político e literal for rejeitado (veja Mt
12ss.) uma forma temporária de reino espiritual foi estabelecida. O plano de
Deus na terra transferiu o foco do estabelecimento do reino judaico à
salvação dos gentios. Com isto, o Senhor desejava provocar os judeus à
aceitação do seu Rei e do Seu reino para eles (cf. Rm 11).
Tabela 03 – Para entendermos melhor este processor Geisler elaborou uma tabela didática: 306
Forma de Mistério do Reino Forma Messiânica do Reino
Começo Mateus 13 Apocalipse 19
Visibilidade Invisível Visível
Forma Interior Exterior
Natureza Espiritual Política
Súditos Os salvos e os não salvos estão nele Somente os salvos entram
Tempo Era atual Era futura
Final Na Segunda Vinda No fim do Milênio
3) Como considero o que o uso do Novo Testamento faz do Antigo Testamento?
A abordagem do Referentiae Plenior responde a esta indagação. Mas,
complementando
307
a resposta a esta inquirição pode-se pensar em Zuck, um dos mentores desta
abordagem e dispensacionalista revisado, que realça a incoerência da Hermenêutica
Complementar com a Bíblia. No capítulo 11 do seu livro Interpretação Bíblica ele fala do
emprego do Antigo testamento no Novo, citando dez formas de citação do AT em NT, as
quais usamos neste estudo:
a) Para ressaltar o cumprimento ou a concretização de uma predição do Antigo Testamento.
Este tipo de citação ocorre muito na Bíblia, em especial nos evangelhos,
principalmente o de Mateus, enfatizando o cumprimento das profecias relacionadas com a
vida e ministério do
Senhor Jesus Cristo. Dentre os exemplos citados por Zuck, há a referência a Mateus 8:17 que
expressa o ministério de Cristo autenticado pelas curas em cumprimento de Isaias 53:4:
“Certamente ele tomou as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si...” Daí
Zuck308 afirmar: “Está claro aqui que a promessa de ele levar as nossas dores cumpriu-se no
305
Geisler, ibidem, p. 893.
306
Ibidem.
307
ZUCK, Roy. A Interpretação Bíblica: meios de descobrir as verdades da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1994.
308
Ibidem, ZUCK, 1994, p. 301.
166

ministério terreno de cura; ela não está relacionada, como acreditam alguns, com a ‘cura na
expiação’. ”
b) Para confirmar que um acontecimento do NT está de acordo com o princípio do AT.
Este tópico é relevante na relação entre os testamentos. O principal exemplo dado por
309
Zuck foi o discurso de Tiago no Concílio de Jerusalém. Para ele, a salvação dos gentios
não contradiz o AT: “Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito. ” (At
15:15), e nos 3 versos seguintes citou Amos 9:11-12. Analisando a Hermenêutica
310
Dispensacionalista, O. Palmer Robertson se refere a tal ponto ao dizer que “os intérpretes
dispensacionalistas consideram adequado o entendimento de Amós 9 em Atos 15 como
extremamente importante para equilibrar os elementos de continuidade e descontinuidade
entre os dois Testamentos”
c) Para explicar uma proposição do Antigo Testamento.
Em algumas situações não vemos o cumprimento da profecia, mas a utilização do
texto profético aplicando-o, em parte, a um evento do momento, que não se cumpriu. Mas se
cumprirá no futuro. Neste ponto Zuck 311 diz: “No dia de Pentecoste, Pedro começou a citação
de Joel 2:28-32, em Atos 2:16-21, dizendo (v. 17): ‘E acontecerá nos últimos dias...’. Mas a
passagem de Joel começa assim: ‘E acontecerá depois...’. O que aconteceu foi que Pedro,
guiado pelo Espírito Santo, estava explicando que ‘depois’ significava os últimos dias. ”
d) Para confirmar uma proposição do Novo Testamento.
O uso deste tópico ilumina a compreensão de muitos ensinos neotestamentários.
Nesta
parte, o teólogo realça que “Grande número de citações do Antigo Testamento é feito com o
intuito de confirmar proposições do Novo. Jesus citou Êxodo 3:6 em Mateus 22.32: ‘Eu sou o
Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’, para confirmar que Deus é o Deus
dos
vivos e que a ressurreição, portanto acontecerá de fato. ” 312
e) Para ilustrar uma verdade do Novo Testamento.

309
Ibidem.
310
FEINBERG, John. Continuidade e Descontinuidade: perspectiva sobre o relacionamento entre o Antigo e o
Novo Testamentos: ensaios em homenagem a S. Lewis Johnson Jr. In ROBERTSON, Palmer O.
Hermenêutica da continuidade. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 113.
311
Ibidem, ZUCK, 1994, p. 302.
312
Ibidem.
167

313
Este ponto é exemplificado por Zuck da seguinte maneira: “Paulo disse que muitos
israelitas não aceitaram as boas novas do evangelho (Rm. 10:16). Isso é ilustrado pela mesma
situação nos dias de Isaias. O profeta escreveu: ‘Quem creu na nossa pregação?... (Is. 53:1). ’”
f) Para aplicar o Antigo Testamento a um acontecimento ou uma verdade do novo.
Entre os exemplos, há o de I Coríntios 9:9 ligado a Deuteronômio 25.4: “.... Não atarás
a boca ao boi que debulha...”. “Ele estava associando esse versículo do Antigo Testamento,
cujo contexto é a bondade e a justiça para com os pobres e necessitados, a seu argumento
de
quem serve ao Senhor tem o direito de ser sustentado por aqueles a quem serve.”314
g) Para sintetizar um conceito do Antigo Testamento.
Esta parte é relevante, pois trabalha conceitos que, para ser entendidos devem fazer a
315
análise apurada de textos envolvidos na citação de autores do NT. Sobre tal ponto Zuck
diz:

Mateus fez duas citações que não figuram no Antigo Testamento.


Aparentemente, ele sintetizou conceitos do Antigo Testamento, em vez de
simplesmente citá-los. Um desses casos está em Mateus 2.23, em que
escreveu sobre o fato de Jesus morar em Nazaré, que seria o cumprimento do
que fora dito pelos profetas: “Ele será chamado Nazareno. ” Considerando
que nenhum versículo do Antigo Testamento faz esta informação (Nazareno
em grego em Nazoraios), pode ser que Mateus estivesse fazendo o jogo de
palavras com base em Juízes 13:5, que fala de um nazireu e/ou, o que é mais
provável, com base em Isaias 11:1, que diz que do “tronco” de Jessé sairá
um rebento (nezer, em hebraico).

h) Para utilizar a terminologia do Antigo Testamento.


Um dos exemplos de Zuck 316 a abalizar este tópico é: “[...] Quando Jesus citou o AT,
ao gritar na cruz: ‘...Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mateus 27:46. É isso
que diz o Salmos 22:1, em que há alusão direta a Davi, como está claro nos versículos 1 e
2.
Além de utilizar as palavras de Salmo 22.1, Jesus estava associando a situação de Davi à
sua.’”
i) Para traçar um paralelo com um acontecimento do Antigo Testamento.
Para esta analogia é preciso analisar o significado e a significância. O primeiro
aborda

313
Ibidem, ZUCK, 1994, p. 302.
314
Ibidem, ZUCK, 1994, p. 306.
315
Ibidem, p. 307.
316
Ibidem.
168

317
o sentido e o último o referente. Este pode ser múltiplo, e aquele é único. Daí Zuck
destacar:

Quando se referiu a ‘um remanescente segundo a eleição da graça’.


(Romanos 11:5), ou seja, um remanescente de judeus cristãos, Paulo disse
que se tratava de uma situação semelhante à que ocorreu nos dias de Elias,
quando um remanescente de sete mil pessoas que não adoraram a Baal (v. 4,
citando 1 Reis 19:18). A referida situação da época de Paulo encontrava
paralelo no Antigo Testamento.
j) Para associar com Cristo uma situação do Antigo Testamento.
Este ponto é bem saliente por relacionar a pessoa de Cristo a diversas profecias. Por
fim, Zuck 318 usa como exemplo para este tópico mais duas passagens bíblicas:

Mateus 2.17-18 descreve o extermínio dos meninos de Belém ordenado por


Herodes (v. 16), associando-o ao cumprimento de Jeremias 31:15. Ocorre
que este versículo de Jeremias fala das mães de Ramá, não de Belém, que
choravam ao ver os filhos sendo levados para o exílio na Assíria, em 722 a.
C. É claro, então, que Jeremias 31:15 não era uma predição direta do ato de
Herodes. Mas existe uma semelhança evidente entre as duas situações. O
extermínio dos meninos de Belém correspondia ou era análogo ao que
ocorrera no Antigo Testamento, embora não fosse o mesmo fato. Ambas as
situações falam do sofrimento do povo de Deus nas mãos de governantes
cruéis. Quando Mateus disse que a opressão de Herodes “cumpriu” o que
Jeremias havia escrito, estava afirmando a analogia com o primeiro
acontecimento. E como Cristo estava envolvido na situação, ela também
significava uma expansão da primeira.

4) Como interpreto Hebreus 8 e 10 e a Nova Aliança e seu relacionamento com a


Igreja?
Sobre as alianças, o tríplice T se destaca: a aliança abraâmica se concentra na Terra
(Gn 12.1-3), a aliança davídica no Trono (Sl 89.3-4) e a nova aliança no Trato (um coração
319
convertido – Jr 31.31-34). Pentecost sintetiza o pensamento de Ryrie sobre a Nova
Aliança:

As seguintes disposições para Israel, o povo da nova aliança, a ser cumpridas


no milênio, o período da nova aliança, são encontradas no Antigo
Testamento. 1) A nova aliança é uma aliança de graça incondicional
baseada nos juramentos de Deus. A frequência do uso desses juramentos
em Jeremias 31.31-34 é impressionante. Cf. Ezequiel 16.60-62.
2) A nova aliança é eterna. Isso está em íntima relação com o fato de ser
incondicional e se basear na graça [...] (Is 61.2, cf. Ez 37.26; Jr 31.35-37).
3) A nova aliança também promete uma mente e um coração renovados, a
que podemos chamar regeneração [...] (Jr 31.33; cf. Is 59.21).

317
Ibidem, ZUCK, 1994, p. 302.
318
Ibidem.
319
Ibidem.
169

320
Ryrie prossegue destacando aspectos da Nova Aliança que podem tranquilamente
serem aplicados na Igreja, não implicando necessariamente em sua inauguração:

4) A nova aliança proporciona restauração do favor e da bênção de Deus [...]


(Os 2.19,20; cf. Is 61.9).
5) O perdão dos pecados também está incluído na aliança: "Pois perdoarei as
suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei" (Jr 31.34b).
6) A habitação do Espírito Santo também está incluída. Vemos isso ao
comparar Jeremias 31.33 com Ez. 36.27.
7) O ministério de ensino do Espírito Santo será manifesto, e a von tade
de Deus será conhecida por corações obedientes [...] (Jr 31.34).

Ryrie 321 elenca os últimos pontos com aspectos que não podem ser aplicados à Igreja:

8) Como ocorre sempre quando Israel está na terra, ele será abençoado
materialmente de acordo com as disposições da nova aliança [...] Jeremias
32. 41; [...] Isaías 61.8 [...] Ezequiel 34.25-27.
9) O santuário será reconstruído em Jerusalém, pois está escrito "porei o meu
santuário no meio deles, para sempre. O meu tabernáculo estará com eles"
(Ez 37.26,27a).
10) As guerras cessarão e a paz reinará de acordo com Oséias 2.18. Essa
característica definitiva do milênio (Is 2.4) apóia ainda mais o fato de que a
nova aliança é milenar em seu cumprimento.
11) O sangue do Senhor Jesus Cristo é o fundamento de todas as bênçãos da
nova aliança, pois "por causa do sangue da tua aliança, tirei os teus cativos
da cova em que não havia água" (Zc 9.11).

Em se tratando da interpretação de Hebreus 8 pode-se dizer o mesmo que o sábio


Salomão já afirmava há 3.000 anos: “não há nada de novo debaixo do sol.” (Ec. 1:9-11), por
322
isso a argumentação dos progressivos são as mesmas dos aliancistas. Daí Oswald Allis
dizer:

A passagem fala da nova aliança. Ela declara que essa nova aliança já foi
introduzida e, pelo fato de ser chamada "nova", passa a ser a que substitui a
"velha", e que a velha está prestes a desaparecer. Seria difícil encontrar
referência mais clara à era do evangelho no Antigo Testamento do que
nesses versículos de Jeremias...

Neste contexto, não podem passar despercebidos três aspectos essenciais à


compreensão do destino da nova aliança e da aplicação da mesma:
1) A nação com quem Deus estabeleceu a Nova Aliança: Israel.
Isto está bem claro nas Escrituras Sagradas. Não há como confundir. Daí a
323
fundamentação bíblica de Ryrie a fim de destacar a relevância de se entender este
endereçamento da Nova Aliança para a nação judaica:

320
Ibidem.
321
Ibidem.
322
OSWALD T. ALLIS, Prophecy and the church, p. 154.
323
Ibidem, RYRIE, p. 108-9.
170

Primeiro, vemos isso nas palavras de instituição da aliança [...] Jeremias


31.31 [...] Outras passagens que apóiam o fato são: Isaías 59.20,21; 61.8,9;
Jeremias 32.37-40; 50.4,5; Ezequiel 16.60-63; 34.25,26; 37.21-28. Em
segundo lugar, o fato de o Antigo Testamento ensinar que a nova aliança é
para Israel também é visto pelo seu próprio nome [...] comparado com a
aliança de Moisés [...] a nova aliança é feita com o mesmo povo com que foi
firmada a aliança mosaica [...] as Escrituras ensinam claramente que a
aliança mosaica foi feita com a nação de Israel apenas. Romanos 2.14 [...]
Romanos 6.14 e Gálatas 3.24,25 [...] 2 Coríntios 3.7-11 [...] Levítico 26.46
[...] Deuteronômio 4.8.

Ryrie 324 deixa claro que a Nova Aliança é para Israel no início do Milênio:

Não há dúvida quanto a quem se refere a lei. Ela é somente para Israel, e já
que essa aliança antiga foi feita com Israel, a nova aliança é feita com o
mesmo povo, não com outro grupo ou outra nação.Em terceiro lugar, o
Antigo Testamento ensina que a nova aliança é para Israel, e por isso no seu
estabelecimento a perpetuidade da nação de Israel e sua restauração à terra
estão ligados vitalmente a ela (Jr 31.35-40) [...] Logo concluímos, por essas
três razões incontestáveis, as próprias palavras do texto, o próprio nome e a
conexão com a perpetuidade da nação, que a nova aliança segundo o
ensinamento do AT é para o povo de Israel.

2) A Nova Aliança tem o seu tempo de cumprimento: Tribulação e Milênio.


Mais uma vez é Ryrie 325 quem nos proporciona esta argumentação:

A sequência de acontecimentos estabelecida pelo profeta (Jr 32.37,40,41) é


que Israel primeiro será congregado e reintegrado à terra e depois receberá
as bênçãos da nova aliança na terra. A história não registra essa sequência.
Deus não pode cumprir a aliança até que Israel esteja congregado como
nação. Sua restauração completa é exigida pela nova aliança, e isso ainda
não aconteceu na história do mundo [...] O cumprimento das profecias
exige a congregação de todo o Israel, seu renascimento espiritual e o retorno
de Cristo.

Isto é comprovado em o Novo Testamento pela revelação do apóstolo Paulo:

Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais
de vós mesmos); que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a
plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como
está escrito: De Sião virá o libertador e desviará de Jacó as impiedades. E
esta será a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados (Rm.
11:25-27).
A aliança citada por Paulo é a Nova, e por isso, a importância de percebermos o
cumprimento da mesma a partir da salvação dos judeus, portanto, no Milênio.
3) A Relação da Igreja com a Nova Aliança: A Graça e o Milênio.
O Novo Testamento faz referências nítidas à Nova Aliança por cinco vezes:
a) Lucas 22.20: “Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este
cálice é a Nova Aliança no meu sangue, que é derramado por vós. ”
324
Ibidem, p. 110.
325
Ibidem, p. 111
171

Este verso, como também Mateus 26:28, não demonstra categoricamente que o
Senhor
Jesus havia inaugurado a Nova Aliança. O Mestre afirma que o sangue a ser derramado no
calvário é o da Nova Aliança, concerto este que Israel e Judá desfrutarão com Cristo, a Igreja
e os gentios da Tribulação no período Milenar. Vale ressaltar ainda, que quando Jesus
celebrou a Ceia com os seus discípulos, a Igreja ainda não tinha sido fundada. O sangue do
Cordeiro nos purifica de todo o pecado e é o sangue da Nova Aliança a ser inaugurada no
Reino Milenar.
Tratando desta referência O. Palmer Robertson, 326 em O Cristo dos Pactos, interpreta
esta passagem como um passo inicial para a inauguração da Nova Aliança pelo Senhor Jesus:

O evangelho de Lucas acrescenta uma outra dimensão a esse processo ao


mencionar a “nova” aliança sendo estabelecida por Cristo: “este é o cálice da
nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós” (Lc 22.20). O
sangue de Cristo não apenas remove a maldição da antiga aliança; introduz
também
simultaneamente a condição abençoada da nova aliança.

Os progressivos usam o mesmo argumento dos aliancistas. A única diferença é que


estes são amilenaristas, e aqueles, dispensacionalistas, que se pautam na tensão escatológica
já/ainda não a advogar o cumprimento parcial da nova aliança na igreja. Veras fez sua
exegese com a tese de que a Igreja inaugura a Nova Aliança. Um dos pontos destoantes desta
palestra foi:

[...]. Se o Espírito Santo é um aspecto da natureza da nova aliança e este, a


terceira pessoa da trindade, foi derramado sobre a igreja em Pentecoste como
um cumprimento parcial da profecia de Joel 2:28-29, entende-se que a nova
aliança também, em certa medida, como cumprimento parcial, foi
inaugurada e instalada na igreja. Isto não é estranho, porque os gentios
também participavam da aliança no AT, mesmo sendo dada a casa de Israel
e a casa de
Judá. Lembre-se de que em Isaias 55 nós lemos aqui. 327

Só que a profecia de Isaias 55:3-5 está abordando a nova aliança no sentido futuro.
Isto não significa que os gentios participavam desta aliança perpetua no AT, visto que a nova
aliança não foi implantada e tampouco inaugurada naquela época, nem haveria a sua
inauguração no tempo da Igreja, quando Jesus ascendeu aos céus, como afirma Veras; mas, a
nova aliança se cumprirá com Israel e com a casa de Judá, a partir da inauguração do reino
milenar de Cristo, e os gentios desfrutarão dos seus benefícios. É isto que Isaias 55 ensina:
“Inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim; ouvi e a vossa alma viverá; porque convosco farei
326
ROBERTSON, O. Palmer. O Cristo dos Pactos. Uma análise exegética e teológica dos sucessivos pactos
bíblicos e do seu papel no desenvolvimento da revelação de Deus. SP: Editora Cultural Cristã, 2002, p. 112.
327
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
172

uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi. Eis que eu o dei por
testemunha aos povos, como príncipe e governador dos povos. ” Aqui temos os gentios-
herdeiros-do-Reino, “os benditos do meu Pai” (Mt 25.34). Serão eles as nações do Salmo 2.8:
“Pede-me e eu te darei os gentios por herança e os fins da terra por tua possessão. ” Segundo
Hélder Cardin, substituto do saudoso Carlos Osvaldo Pinto, na reitoria do SPV, que participou
das Conferências Teológicas do SIBRB, em contrapartida às palestras-debate do Valney
Veras: “A Nova Aliança consiste em sua celebração futura com o povo de Israel. Ela é
iniciada por Deus e garantida por Ele, em tudo diferente da aliança anterior, que é a Aliança
Mosaica e ela garantirá o cumprimento da promessa da posse perpétua da terra e daria a Israel
uma nova relação com Deus.”328
b) I Coríntios 11.25: “Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice,
dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes,
em memória de mim. ” Aqui, Cardin 329 diz que a ceia é a celebração da Nova Aliança porque
festeja o nosso pertencimento a Cristo e não a inauguração do Novo Pacto, mas que, de certa
forma já enfatiza este grau de pertença a Cristo a implicar o pertencer a seu corpo, a Igreja:

É por isso que a Ceia do Senhor é uma prática eclesiástica e não individual, é
uma prática comunitária e não exclusivista ou privada, porque ela tanto diz
respeito à minha vida em Cristo, como a minha vida enquanto comunidade.
[...]. O que nós aprendemos com a Ceia do Senhor? Alguma aplicação da
Nova
Aliança para com a Igreja, celebrando o que Cristo fez por nós. Sua morte.

O “[...] até que Ele venha” (I Co 11.26c) fala respeito à 2ª Vinda de Cristo a cumprir,
330
com Israel e a casa de Judá, esta Nova Aliança. Mais uma vez recorremos a Veras para a
tese do DP de que o já inaugura a nova aliança e Jesus faz a transição desta inauguração:

[...]. Veja bem! Ele chega para os discípulos e diz: olha, arranja um lugar ali
para celebrar a Páscoa. Lá no meio da Páscoa Jesus celebra a ceia do Senhor.
Não estou dizendo que foi naquele ponto que começou a nova aliança, mas
ali ele já está começando a transição [...]. Então na verdade nós temos um
texto revelado no AT sobre a nova aliança, e em o NT nós temos uma nova
revelação, obviamente, complementar, certamente, e que vai mostrando o
surgimento de outro povo, distinto de Israel, a Igreja, que não tem rei, não
tem exército, que tem outros fundamentos que se apoiam nos fundamentos
da lei, da revelação de Deus no AT, certamente, mas que também são novos.
Aí tem as novidades da nova aliança, que é um fato narrado ali: o Espírito
desceu! Paulo claramente diz que vocês são santuário do Espírito de Deus.

328
CARDIN, Hélder. O Reino e a Igreja. Palestra 7/8. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?v=
w18fvPg7j_A&t=2816s. Acesso em 17 de dez. 2020.
329
CARDIN, Hélder. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 02 de dez. 2020.
330
Ibidem.
173

Então não tem como fugir disto. Se isto é um aspecto da nova aliança qual a
conclusão que nós tiramos? Ela começou, mas não se consumou.

Mas, nós não temos na Bíblia uma indicação concreta de que a nova aliança começou,
mas não se consumou, como diz Veras. Basta ver que quando Paulo usa as palavras de Cristo
a celebrar a Ceia, Ele não diz que a nova aliança já vigora. Ele fala dum memorial que nos
remete ao gólgota e a oblação do sangue de Jesus para nossa redenção, ao mesmo tempo em
que aponta ao futuro, quando haverá o cumprimento da nova aliança com a casa de Israel e a
de Judá.
Participaremos no futuro deste processo, mas, já participamos da comunhão dos santos
com a Igreja de Cristo, comendo do pão e bebendo do vinho (At 2.42). Em lugar algum de I
Coríntios 11 é dito que inauguramos a nova aliança. Desfrutamos de alguns benefícios deste
novo pacto, mas não houve a inauguração parcial do mesmo. O que vemos são aspectos da
nova aliança, presentes na Igreja. Neste contexto, Cardin faz uma declaração relevante:

Eu tranquilamente digo o seguinte: existem aspectos já cumpridos da Nova


Aliança, por exemplo: o Testador ou fiador da Nova Aliança já veio e
derramou o seu sangue. Então, isto já foi cumprido. Em que sentido não foi
cumprido? Israel não foi salvo, a lei não foi impressa no seu coração. Em
que sentido foi aplicado? A Igreja, embora não seja os recipientes originais
pela extensão do plano de Deus aos gentios, hoje nós experimentamos por
meio da Ceia, do sangue da Nova Aliança, algumas coisas desta Aliança.
Então nós somos beneficiários indiretos e aspectos da Nova Aliança se
aplicam a nós. [...]. Então, há um misto com três elementos: ainda não
cumprida, parcialmente cumprir e aplicada. 331

Corrobora com esta visão Cardin 332 assevera a sua argumentação com base na posição
da Igreja como recipiente da nova aliança e não participe da inauguração deste novo pacto:

[...]. Tendo em vista que esse Cristo, sendo Sumo-Sacerdote, segundo a


ordem de Melquisedeque, ofereceu o próprio sangue para ser fiador de uma
Nova Aliança, como nós, enquanto Igreja, estando agora radicados em
Cristo, nEle fundamentados, fomos transportados do império das trevas para
o reino do seu Filho Amado, estando em Cristo expressão presente na
teologia de Paulo, em que medida este sangue da nova aliança, derramado
em nosso favor nos torna participantes deste ministério gracioso de Jesus?
Com isto, começamos a ver que sim, existem muitos aspectos da nova
aliança que já nos dizem respeito no tempo presente.

331
CARDIN, Hélder. O Reino e a Igreja. Palestra 7/8. Palestra 7/8. Acesso em 02 de dez. 2020.
332
CARDIN, Hélder. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 02 de dez. 2020.
174

333
Cardin pontua aspectos da nova aliança na atualidade: “[...] por causa da nossa
união com Cristo e do enxerto dos gentios na Oliveira nós somos hoje participante da nova
aliança.”
c) II Coríntios 3.6: “O qual nos fez também capazes de ser ministros de uma Nova
Aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica. ”
As pessoas que creem ser este texto uma abordagem da nova aliança, inaugurada com
334
a Igreja pela ascensão do Messias, sugerimos a análise que faz Bruce Anstey sobre este
tema:

Os teólogos do Pacto, porém, não perceberam que a mesma passagem na


qual Paulo diz “ministros de um novo testamento” ela qualifica essa
declaração acrescentando “não da letra, mas do espírito” [...]. O “espírito”
da Nova Aliança, [...], se refere ao princípio da graça sobre a qual as bênçãos
da aliança são dadas aos crentes. O “espírito” da aliança pode ser aplicado a
todos os que são ou serão abençoados por Deus em graça – inclusive a
Igreja.

Anstey 335 cita Paulo em relação à Nova Aliança, destacando aspectos deste novo pacto
aplicados à Igreja. Aqui não se pode confundir bênçãos espirituais com promessas materiais:
Paulo ministrava o espírito da Nova Aliança entre cristãos ao ensiná-los que
as bênçãos espirituais da aliança pertenciam a eles por graça, sem que eles
tivessem formalmente incluídos nelas. As três grandes bênçãos espirituais da
Nova Aliança são: A posse da vida divina através do novo nascimento (Hb.
8:10); um relacionamento consciente com Deus (Hb 8.11); O conhecimento
de que os pecados estão perdoados (Hb 8.12).

Embora a expressão de Paulo também se relacione com a letra da lei vinculada a


aliança mosaica, a questão da literalidade da Nova Aliança com Israel não pode ser
descartada, possibilitando tranquilamente a interpretação supracitada. Desfrutamos hoje de
alguns benefícios espirituais da Nova Aliança e não das bênçãos materiais a serem cumpridas
no Milênio, em especial com Israel. Foi o que Daniel viu na consumação das 70 semanas de
Daniel: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para
cessar a transgressão e para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça
eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo. ” Isto não é para a Igreja, é para
Israel.
d) Hebreus 8.:8: “Porque repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor;
em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei uma Nova Aliança. ”

333
Ibidem.
334
ANSTEY, p.245.
335
Ibidem, p. 246.
175

O perigo de pensar a Nova Aliança, inaugurada pela Igreja, descamba em práticas que
reformados adotam na eclesiologia, a exemplo do batismo, neste novo pacto, como
substituto
da circuncisão no antigo. É o que se vê em O. Palmer Robertson, 336 em O Cristo dos Pactos:

Em terceiro lugar, a interconexão entre o selo da circuncisão e o selo


do
Espírito Santo fornece a base formal pela qual os ritos de
purificação
correspondentes da antiga e da nova aliança se relacionam entre si. A
circuncisão sob a antiga aliança é substituída pelo batismo na nova aliança.
O rito de purificação de uma aliança é substituído pelo rito de purificação na
outra. Essa relação entre circuncisão e batismo encontra desenvolvimento
em Colossenses 2. 11-12.

Como vimos, o DP advoga a ideia de uma inauguração da Nova Aliança por Cristo em
sua primeira vinda. Embora sem admitir o pedobatismo dos reformados com selo desta
Aliança, parece-nos que os não dispensacionalistas, admitindo estes selos entre as alianças,
são mais coerentes que eles. Aqui reside o perigo dessa aproximação entre progressivos e
pactualistas.
e) Hebreus 9.15: “E por isso é mediador de uma Nova Aliança, para que, intervindo
a morte para remissão das transgressões que havia debaixo da primeira aliança, os chamados
recebam a promessa da herança eterna. ”
Após apontar essas referências há ainda outras seis (Mt. 26.28, Mc. 14.24, Rm. 11.27,
337
Hb. 8.10-13 e 12.24). Pontuamos as colocações de Anstey diantes destas passagens
bíblicas:
Os teólogos do Pacto acreditam que seja significativo que quatro epístolas do
Novo Testamento mencionem a Nova Aliança – e Hebreus menciona os seus
termos em detalhes. Para eles isso provaria que a Nova Aliança teria sido
feita nestes tempos cristãos com a Igreja, pois as epístolas foram escritas a
cristãos. Todavia, nenhuma das quatro passagens das epístolas diz qualquer
coisa sobre a aliança estar sendo feita com a Igreja (os cristãos).

Anstey 338 analisa Hebreus 8 pelo aspecto escatológico da Nova Aliança, realçado pelo
autor, enfatizando o povo a quem é direcionada a aliança e pelo uso do vebto no tempo futuro:
Ao contrário, Romanos 11:27 e Hebreus 8:8 nitidamente declara que ela será
feita “com a casa de Israel e com a casa de Judá”. Além disso, Hebreus 8
declara que a aliança ainda não foi feita com ninguém – nem com Israel e
nem com a Igreja! O verbo está no futuro, ao indicar, “estabelecerei”. Não
diz “estabeleci...” pois como regra geral as bênçãos para Israel são
declaradas como algo ainda futuro.

336
Ibidem, ROBERTSON, O. Palmer. 2002, p. 127.
337
Ibidem, ANSTEY, p.247.
338
Ibidem, p. 248.
176

Pentecost analisa a visão dos pre-milenistas sobre a relação da Nova Aliança com o
NT:
a) A primeira é a de John Nelson Derby 339 – “Ele apresentou a teoria de que há uma e
somente uma nova aliança nas Escrituras, feita com as casas de Israel e de Judá, a ser
realizada num tempo futuro, com a qual a igreja não tem nenhuma relação.”
b) A segunda é a de Cyrus Scofield 340
– “Logo, de acordo com essa teoria, há uma
nova
aliança com dupla aplicação: uma para Israel no futuro e uma para a igreja agora.” [...]
Essa
teoria insere a igreja na nova aliança e vê essa relação como cumprimento parcial da aliança.”
341
c) A terceira teoria é a de Lewis Sperry Chafer – Teoria das duas novas alianças,
uma para Israel e a outra para a Igreja. “Essencialmente essa teoria dividiria as referências à
nova aliança no Novo Testamento em dois grupos. As dos evangelhos e de Hebreus 8.6,
9.15,10.29 e 13.20 dizem respeito à nova aliança com a igreja; Hebreus 8.7-13 e 10.16
referem-se à nova aliança com Israel e Hebreus 12.24 refere-se, talvez, a ambas.”
Valney Veras 342 faz referência a carta aos Hebreus para afirmar também a inauguração
da Nova Aliança: “A epístola aos Hebreus também nos mostra que o perdão dos pecados
foi
completamento conquistado por Cristo na cruz dando início a esta Nova Aliança.” É fato que
o perdão dos nossos pecados foi conquistado no gólgota. É real que Cristo é mediador de uma
Nova Aliança e que a Igreja participa de aspectos deste Novo Testamento. Entretanto, isto não
significa que a epístola aos Hebreus relata a inauguração da Nova Aliança a partir do calvário.
Concordamos que a Igreja tem uma relação com a nova aliança, mas há que se ter
muito cuidado com afirmações de que ela está cumprindo a nova aliança, mesmo
parcialmente. Sobre
a pergunta que progressistas fazem acerca de Hebreus 8, respondemos com John Walvoord:343

O argumento de Hebreus 8 revela a verdade de que Cristo é o Mediador de


uma aliança melhor que a de Moisés, estabelecida sobre promessas melhores
(Hb 8.6). O argumento baseia-se no fato de que a aliança de Moisés não era
perfeita — jamais teve intenção de ser eterna (Hb 8.7). Para confirmar esse
argumento, a nova aliança de Jeremias é amplamente citada, provando que o
339
Ibidem, PENTECOST, p. 147.
340
Ibidem, p. 302.
341
Ibidem, p. 148, 149.
342
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 8/8. Acesso em 01 de dez. 2020.
343
Ibidem, WALVOORD, p. 110:201.
177

próprio Antigo Testamento previu o fim da lei mosaica, já que uma nova
aliança foi prevista para substituí-la.
344
Walvoord, um dos mentores do DR, traz ao debate de Hebreus 8 o uso do termo
nova a realçar que não há base bíblica para sustentar a efetivação da Nova Aliança na era da
Igreja:

O autor de Hebreus separa de toda a citação uma única palavra, nova, e


sustenta que isso tornaria automaticamente velha a aliança de Moisés (Hb. 8:
12). Afirma-se também que a antiga aliança está "envelhecida" e "prestes a
desaparecer". Devemos notar que em nenhum lugar dessa passagem diz-se
que a nova aliança com Israel está efetivada. O único argumento é o que
sempre foi verdadeiro — a previsão de uma nova aliança automaticamente
declara que a aliança de Moisés é temporária e não-eterna.

Pentecost 345
ao analisar Hebreus 10 advoga que o escritor anônimo da carta não fala
aos hebreus sobre a vigência da Nova Aliança, mas sim, da sua temporalidade em relação à
Antiga:

[...] em Hebreus 10.16, a passagem de Jeremias é citada não para afirmar que
o que é prometido agora está em pleno vigor, mas sim para dizer que a
antiga aliança era temporária e inválida e previa uma nova aliança que
estaria permanentemente em vigor. Afirmar que a nova aliança de Israel
agora opera na igreja é uma má interpretação do pensamento do autor de
Hebreus.

Os discípulos, (que eram judeus), no Cenáculo, quando participaram da Ceia tinham


ciência de que a fala de Jesus sobre o sangue da Nova Aliança se ligava ao pacto com Israel
em Jeremias 31. Quando Jesus fala do seu sangue, traz à memória deles e da futura Igreja,
aspectos soteriológicos da Nova Aliança, que se estende a nós, os gentios. Mas isto a não é
cumprimento dela. Temos aqui, pela Ceia, a necessidade da Morte do Testador à chegada da
Nova Aliança: “Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador;
pois um testamento só é confirmado no caso de mortos; visto que de maneira nenhuma tem
força de lei enquanto vive o testador” (Hb 9.16,17). A Igreja não a cumpre na Era da Graça:

1) O termo Israel não é usado nenhuma vez nas Escrituras para nenhum
outro grupo que não os descendentes físicos de Abraão. Já que a igreja hoje
é composta por judeus e por gentios sem distinções nacionais, seria
impossível que essa igreja cumprisse as promessas feitas à nação israelita. 346

Pentencost 347 enfatiza a questão da terra e sua promessa para Israel no cumprimento e
inauguração da Nova Aliança durante o Reino Milenar de Cristo sobre esta terra:
344
Ibidem.
345
Ibidem, p. 149.
346
Ibidem, WALVOORD, p. 149.
347
Ibidem, PENTECOST, p. 147.
178

2) Na nova aliança, conforme as disposições a que já aludimos, havia


promessas de bênçãos espirituais e de bênçãos terrenas. Embora a igreja,
assim como Israel, desfrute da promessa de salvação, de perdão de pecados,
do ministério do Espírito Santo, ela jamais recebe a promessa de herdar uma
terra, bênçãos materiais na terra e descanso da opressão, partes fundamentais
da promessa a Israel. A nova aliança não só prometeu salvação a Israel, mas
uma nova vida na terra do milênio, quando todas as suas alianças são
concretizadas. A igreja certamente não está cumprindo as porções materiais
dessa aliança.
348
Pentecost fala da impossibilidade de se cumprir a Nova Aliança na Igreja hoje: “3)
Já que a igreja recebe bênçãos da aliança abraâmica (Gl 3.14; 4.22-31) exclusivamente pela
fé, pode então receber bênçãos da nova aliança sem estar sob a nova aliança ou sem cumpri-
la.” Por fim, Pentecost 349 destaca o fator tempo e a Nova Aliança:

4) O elemento de tempo contido na aliança, tanto em sua declaração original


quanto em sua reafirmação no livro de Hebreus, impede que a igreja seja o
agente por intermédio do qual ela é cumprida. A aliança não pode ser
cumprida e realizada antes do período da tribulação de Israel e de seu
livramento pelo advento do Messias. Embora a igreja tenha enfrentado
períodos de perseguição e de tribulação, jamais passou pela grande
tribulação da profecia. Certamente a igreja não está agora no milênio.
Romanos 11.26,27 mostra claramente que essa aliança só pode ser realizada
após o segundo advento do Messias. Já que a tribulação, o segundo advento
e o milênio ainda são futuros, o cumprimento da promessa ainda deve ser
futuro, portanto a igreja não pode estar cumprindo a aliança.
Nós, da Igreja, somos ministros do sangue de Cristo, da Nova Aliança, como Paulo.
Há aplicação de benefícios dela para a Igreja, mas não há o seu cumprimento na Igreja,
atualmente.
Os progressivos partem praticamente dos mesmos argumentos dos pactualistas e nova
aliancistas para sustentar a sua tese. É preciso muito cuidado para não confundir aspectos da
Nova Aliança aplicados a Igreja e presentes na Dispensação da Graça, com cumprimentos de
promessas da Nova Aliança na vida da Igreja quando tais cumprimentos são futuros para
Israel, incluindo os gentios no início do Reino Messiânico de Cristo.

CAPÍTULO DEZ
__________
348
Ibidem.
349
Ibidem.
179

AS PARÁBOLAS DE MATEUS 13 E O REINO DE DEUS


– Uma interpretação coerente e consistente do Dispensacionalismo Revisado

Como entendo as parábolas do reino em Mateus 13? Estas sete parábolas ensinados pelo
Senhor Jesus visando a compreensão sobre o Seu reino messiânico têm sido alvo de análises
por parte de grandes homens de Deus no passado e na contemporaneidade, um exemplo destes
é o teólogo Geisler 350 que afirma:

Jesus explicou a situação aos seus discípulos: ‘A vós é dado conhecer os


mistérios do Reino dos céus, mas a eles [os de fora] não lhes é dado’ (Mt
13.11). Aqui, Jesus citou Isaias 6.9,10, um texto usado cinco vezes no Novo
Testamento, sempre em conexão com a rejeição de Israel ao seu Rei. A
cegueira judicial que resultou da incredulidade de Israel foi um juízo de
Deus.

Neste contexto, as parábolas de Mateus 13 é relevante atentarmos às suas linhas de


interpretação.
a) A abordagem ultradispensacionalista – Reconhece a distinção entre Israel e a igreja.
Sobre as parábolas de e Mateus 13, crê que esse texto é tão somente associado ao plano divino
a Israel e se associa só a judeus na Tribulação em que Deus prepara a nação para o reino
Milenar.
b) A abordagem interpretativa não dispensacional do pós-milenarismo e
do
amilenarismo – Ela dissocia qualquer sentido profético das parábolas de Mateus 13,
estudando o texto apenas por suas lições espirituais e morais, voltadas ao cotidiano
eclesiástico;
c) A abordagem Dispensacionalista Progressiva – Um pouco parecida com a
abordagem

350
Geisler, ibidem, p. 885.
180

anterior, vê as parábolas de Mateus 13 aplicadas ao Reino Messiânico Presente, para a Igreja e


o Reino, o já, e ao Reino Messiânico futuro, para a Igreja e Israel, um único corpo, o ainda
não.
d) A abordagem Dispensacionalista Revisada - também conhecida como a
interpretação
interadventos compreende as parábolas de Mateus 13 como um relato conotativo sobre
as
condições terrenas sobre o plano do Reino no período de ausência do Rei. Com esta última
351
abordagem, Pentecost analisa Mateus 13, no contexto dos textos que precedem este
capítulo:

Esse capítulo 13 tem lugar inigualável no desenvolvimento do tema do


evangelho. Por todo o livro, Cristo é visto em Sua apresentação como
Messias. Nos capítulos 1 e 2 é afirmado Seu direito legal ao trono; no
capítulo 3, é retratada a dedicação do Rei; no capítulo 4, é demonstrado o
direito moral do Rei; do 5 ao 7 o direito judicial do Rei é defendido; do 8 ao
10 é apresentada a autoridade do Rei, quando seu direito profético é
demonstrado pelo Seu ministério a Israel; e nos capítulos 11 e 12 vemos a
oposição ao Rei.
352
Continuando com o capítulo 12, Pentecost trabalha a partir de agora, elementos
cruciais para compreendermos as parábolas do capítulo 13:

A grande questão diante de Israel é: "É este, porventura, o Filho de Davi?"


(Mt 12.23). É claro que Israel responde negativamente. Cristo demonstra que
tanto Ele quanto Seu antecessor foram rejeitados (11.1-9), e essa rejeição
resultará em juízo (11.20-24). Por causa da rejeição total na cruz, Cristo
pode fazer novo convite (11.28-30), a todos. No capítulo 12 a rejeição chega
ao clímax. A população debatia a pessoa de Cristo (12.23). A resposta dada
pelos fariseus foi: "Este não expele demônios senão pelo poder de Belzebu,
maioral dos demônios" (12.24).

Pode-se ver o Messias falando da vinda do reino entre eles por Seus milagres, a
exemplo do expelir demônios: “Mas se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é
chegado a vós o reino de Deus” (Mt. 12:28); e àquela geração se nega o Reino por sua
incredulidade:

E quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos,
buscando repouso e não encontra. Então diz: Voltarei para minha casa, de
onde sai. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai e
leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam alí; e
são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim,
acontecerá também a esta geração pervessa. (Mateus 12.43-45).
351
Ibidem, PENTECOST, p. 168.
352
Ibidem, PENTECOST, p. 147.
181

Esta geração judaica pervessa, que cruficou ao seu Messias, se tornará um coito de
demônios e pagará, por sua rejeição, com a destruição do templo e da cidade no ano 70. O
Reino é tirado desta geração de judeus e é dado a uma geração hebraica posterior – A geração
israelita do Milênio: “Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será dado a
uma nação que dê os seus frutos.” (Mt 22.43). É neste contexto que desponta as parábolas de
Mateus 13. E para aclarar mais a nossa compreensão das parábolas deste capítulo, Pentecost
353
pontua:
Agora que Israel rejeitou o reino oferecido, surge naturalmente a pergunta:
"O que aconteceu com o plano do reino de Deus agora que o reino foi
rejeitado e o Rei estará ausente?". Já que esse reino foi objeto de uma aliança
irrevogável, é inadmissível que seja abandonado. O capítulo arrola os
acontecimentos do plano do reino desde a sua rejeição até ele ser aceito,
quando a nação receberá o Rei no Seu segundo advento.

Com este pano de fundo apresentado, fica bem mais fácil compreender as parábolas de
354
Mateus 13. Pentecost cita Ryrie a corroborar com sua abordagem dispensacionalista
revisada:

O reino dos céus é semelhante a." Isso marca o limite de tempo para o
começo do assunto em pauta. Em outras palavras, o reino dos céus estava
assumindo a forma descrita nas parábolas da época em que Cristo ministrava
pessoalmente na terra. O fim do período abrangido por essas parábolas é
indicado pela expressão "fim do mundo" ou mais literalmente "a
consumação do século" (v. 39-49). Esse é o período do segundo advento de
Cristo, quando Ele virá em poder e grande glória. Logo, é evidente que essas
parábolas se relacionam apenas ao período entre a ocasião em que Cristo as
contou na terra e o fim deste século. Isso serve de pista para o significado da
expressão "os mistérios do reino dos céus.

355
A chave para entender estas parábolas é dada por Scroggie que usa o verso 52 de
Mateus 13 como feedback hermenêutico: “E ele disse-lhes: Por isso, todo o escriba instruído
acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas
e velhas. ” Das 7 parábolas citadas aqui, ele enfoca que as 4 primeiras são ensinadas em
público, (“... junto ao mar” – Mt 13.1-3) e se encaixam nos novos tesouros da verdade; e as 3
últimas, ensinadas em particular, (“... foi Jesus para casa. ” – Mt 13.36), se associam às velhas
verdades ditas anteriormente. Estas falam da escatologia do reino, e aquelas do anúncio
presente do reino:
a) As coisas novas:
1) A semente e os solos (Mateus 13:3-9): A proclamação do reino;
353
Ibidem, PENTECOST, p. 168-169.
354
Ibidem, PENTECOST, Charles C. RYRIE, The basis of the premillennial faith, p. 94-5, p. 171.
355
Graham SCROGGIE, Prophecy and history, p. 123-5.
182

2) O trigo e o joio (Mateus 13:24-30): A falsa imitação do reino;


3) O grão de mostarda (Mateus 13:31-32): A expansão visível do reino;
4) O fermento (Mateus 13:33): A corrupção traiçoeira do reino.
b) As coisas velhas:
5) O tesouro escondido (Mateus 13:44): A nação israelita;
6) A pérola (Mateus 13:45-46): O remanescente judeu durante a Tribulação
(muitos entendem ser esta uma referência à Igreja e não a Israel);
7) A rede (Mateus 13:47-50): O julgamento das nações no final da Tribulação;
Acerca destas parábolas é importante o que diz Francisco Cook: 356

Ao lermos estas sete parábolas, damo-nos conta de que todas elas se referem
a um único tópico, a saber: ‘o reino dos céus’, e comparando isto com as
palavras de Cristo a Seus discípulos, naquela ocasião: ‘... a vós outros é dado
conhecer os mistérios do reino dos céus...’ (Mateus 13:11), deduzimos que
todas as sete têm um só propósito, devendo ser estudadas e interpretadas
juntamente.
357
Para melhor compreensão destas sete parábolas, recorremos também a Geisler que
as sintetiza da seguinte maneira:
(1) [O semeador] O Evangelho será rejeitado por grande parte das pessoas;
(2) [O trigo e o joio]. Tanto os insinceros doutores da fé genuína irão
coexistir até o fim;
(3) [O grão de mostarda] A cristandade irá crescer rapidamente, tendo um
início moderado;
(4) [O fermento]. As pessoas de falsa fé irão crescer em número;
(5) [O tesouro escondido] Cristo veio para resgatar a Sua estimada
possessão (Israel);
(6) [A pérola] Cristo deu a sua vida para possibilitar a redenção da Igreja;
(7) [A rede] Os anjos irão separar os salvos dos perdidos, quando Cristo
retornar.
358
Acerca da parábola do semeador e dos solos, Pentecost, sustenta a ideia de que
estamos na era da semeadura da semente que é a Palavra em Marcos 4:14 e os filhos do reino
em Mateus 13:19-20. Durante este tempo há uma resposta decrescente à semeadura da
semente,
de "cem", passando por "sessenta" até "trinta por um". Ao estudar esta parábola percebemos
359
que a mesma é essencial à hermenêutica das outras (Marcos 4.13). Cook corrobora com
isto ao afirmar “Da primeira, a do semeador, aprendemos que se trata da pregação do

356
COOK, Francisco. A Vida de Jesus Cristo. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1990, p. 153.
357
Geisler, ibidem, p. 886.
358
Ibidem, Pentecost, p. 154.
359
Ibidem, COOK, p. 153.
183

Evangelho do reino e de sua aceitação, de modo que aqui temos a pauta para a interpretação
de todas elas.”
As parábolas restantes lidam com a evolução do plano de semeadura. Cook 360 destaca
ainda que: “Ao considerar as outras seis parábolas deste capítulo , notamos que formam três
pares, cada um par apresentando um aspecto especial do reino:
1) os obstáculos ao crescimento do reino;
2) a expansão do reino;
3) a preciosidade do reino”.
Em seguida, há a parábola do trigo e do joio pela qual a semeadura da primeira
parábola é imitada por uma falsa semeadura. Ocorrerá uma evolução concomitante entre o
que é bom e o que é mau. Este será excluído do reino Milenar; já aquele, será incluído no
Milênio. O caráter essencial de cada semeadura pode ser determinado pela colheita frutífera
361
ou infrutífera, não pela observação externa. Vale focar o excelente paralelo que Pentecost
faz entre as duas parábolas:

Na primeira parábola a tônica reside sobre a "Palavra" e, na segunda, sobre


os "filhos do reino" (Mt 13.38). Na primeira parábola a semente é colocada
no coração dos homens e, na segunda, no mundo. Na primeira parábola não
há menção de julgamento, e na segunda a era termina no julgamento. Isso
parece mostrar duas semeaduras; a primeira durante a presente era,
principalmente pela igreja, e a segunda no período tribulacional, logo antes
do fim desta era, quando Deus está lidando novamente com Israel.

É nítida a concepção de que a segunda parábola se associa ao povo de Israel e não com
362
a Igreja, que se relaciona mais à primeira. Vejamos o que Pentecost diz da do joio e do
trigo:

1) o termo filhos do reino é usado em Mateus em referência a Israel (Mt


8.11,12);
2) o julgamento descrito refere-se ao período em que Deus estará novamente
lidando com Israel como nação, isto é, na consumação dos séculos;
3) o trigo e o joio crescem juntos até o julgamento, mas a igreja será
arrebatada antes que a tribulação comece;
4) o julgamento que cai sobre os ímpios acontece por meio dos anjos antes
de os justos serem recompensados, por isso a cronologia aqui refere-se à
retirada dos ímpios para que somente os justos permaneçam;
5) o reino milenar é estabelecido imediatamente após esse julgamento;
6) a igreja jamais é julgada para determinar quem entrará na glória e quem
será excluído. Isso parece mostrar que a parábola faz referência precípua a
Israel durante o período tribulacional. É verdade, porém, que toda esta era
360
Ibidem, p. 154.

361
Ibidem, PENTECOST, p. 173.
362
Ibidem.
184

será caracterizada por uma semeadura falsa em competição com a


verdadeira.

Sobre a parábola do grão de mostarda pode-se dizer que o reino crescerá até alcaçar
gigantescas proporções, nas quais multidões que se beneficiarão por ele. A do fermento vai
nesta direção. As duas tocam no avanço da nova forma de reino. Na do fermento, a intenção é
enfatizar o modo em que esta nova forma se desenvolverá. Assim, a do tesouro escondido,
ensinada por Jesus, enfatiza o relacionamento de Israel com esta era. Daí Pentecost 363 elencar:

1) um indivíduo, que é o Senhor Jesus Cristo, está comprando um tesouro.


Essa compra foi efetuada na cruz.
2) Esse tesouro está oculto num campo, escondido dos homens, mas
conhecido pelo comprador.
3) Durante a presente era, o comprador não toma posse de Seu tesouro
comprado, mas apenas do lugar no qual fica o tesouro. A parábola mostra
que Cristo estabeleceu o fundamento para a aceitação de Israel nesta era,
mesmo que ela termine sem que Ele tenha tomado posse do Seu tesouro. O
tesouro será desenterrado quando Ele vier para estabelecer Seu reino. Israel
está cego agora, mas já foi comprado por Cristo.
364
Sobre a parábola da pérola, Pentecost diz: “Enquanto alguns relacionam a pérola ao
remanescente crente salvo no fim do século, a maioria dos intérpretes relaciona a pérola à
igreja.” Não há como afirmar se esta parábola se refere à Igreja ou a Israel. Melhor é ficar
365
com Ryrie em seu comentário na Bíblia Anotada: “As parábolas do tesouro e da pérola
indicam o incomparável valor do reino, capaz de levar um homem a fazer qualquer coisa para
possui-lo. Outra interpretação identifica o homem com Cristo (como no verso 37), que
sacrificou tudo que possuia para remir o seu povo.” Este povo pode ser o tesouro (Israel) ou a
pérola (Igreja).
A última parábola deste conjunto é a da rede. Esta párabola expressa o julgamento das
nações no final da Grande Tribulação. A rede é lançada ao mar dos povos. Os peixes de
qualidade são os judeus (pequeninos irmãos do Senhor) e os gentios (Benditos de meu Pai);
os peixes ruins são os bodes, que serão lançados no inferno, preparado para o diabo e os seus
anjos.
Então, compreendemos aos parábolas de Mateus 13 linkando-as aos mistérios do
reino dos céus. Compartilhamos com Pentecost 366 estes Mistérios:

363
Ibidem, PENTECOST, p. 174,175.
364
Ibidem, p. 175.
365
BÍBLIA, Anotada. Ryrie Charles. Trad. Por João Ferreira de Almeida. Edição Mundo Cristão, 1994, p. 1204.
366
Ibidem, PENTECOST, p. 175.
185

Devemos observar que há uma comparação entre os "mistérios do reino dos


céus" de Mateus 13 e os mistérios citados por Paulo. O mistério do semeador
compara-se ao mistério da divindade de 1 Timóteo 3.16. A parábola do trigo
e do joio e a parábola da semente de mostarda comparam-se ao mistério da
injustiça de 2 Tessalonicenses 2.7, que retrata o indivíduo que é o cabeça do
sistema. A parábola do fermento compara-se ao mistério da Babilônia de
Apocalipse 17.1-7. A parábola do tesouro escondido compara-se ao mistério
da cegueira de Israel de Romanos 11.25. A parábola da pérola compara-se ao
mistério aplicável à igreja mencionado em Efésios 3.3-9; Colossenses
1.26,27; Rm 16.25.

Vale ressaltar ainda que existem outras parábolas que trabalham a temática do Reino
367
sobre o prisma messiânico. É importante destacar também aqui o que diz Geisler sobre este
assunto:
Além das sete parábolas relacionadas e interpretadas em conjunto acima,
existem pelo menos cinco outras nos Evangelhos a respeito deste assunto:
(1) A parábola do rei que quis acertar contas (com o servo que não era
misericordioso – Mt 18. 23-35, que ensina as razões para o perdão;
(2) A parábola do rei que prepara uma celebração de bodas (22.12-14), que
ensina que muitos não entrarão no reino;
(3) A parábola do proprietário que contratou trabalhadores (20.1ss), que
mostra que as recompensas no reino estão sob o controle de Deus;
(4) A parábola das dez virgens (25.1-13) que ensina que os fiéis estarão
esperando pelo Seu retorno e
(5) A parábola da semente (Mc 4.26), que demonstra o misterioso
crescimento do reino, por meio da operação de Cristo (cf. 1 Co 3.6).

O que podemos perceber em todo este processo é que o Dispensacionalismo Revisado


não se opõe às parábolas do reino. O reino messiânico ou Milenar não precisa estar aqui para
a aplicação destas parábolas ao período intradventos. O Rei está ausente fisicamente e as
figuras de linguagens se adequam da Sua primeira vinda até à Sua segunda vinda.
Associada às parábolas do reino está a ideia da Terra. Por isso, vale ressaltar as visões
desta Terra prometida a Israel e os olhares sobre a mesma, hoje. Como já vimos noutro
capítulo do livro, as alianças que estão por se cumprir, para Israel, são inerentes à Terra (a
Abraâmica), ao Trono (a Davídica) e ao Trato (a Nova Aliança). Sobre a Terra, é bom
recorremos à análise feita pelo o autor de O Cristo dos Pactos, O. Palmer Robertson, em seu
livro Terra de Deus: O significado das terras bíblicas para os planos e propósitos de Deus,
no capítulo 10 ele apresenta cinco pontos de vista contrastantes acerca da terra da promessa,
ou a terra da Bíblia. Vejamos:
(1) O ponto de vista do participante da cruzada –

367
Geisler, ibidem, p. 887.
186

Esta é a visão de que Israel é uma “terra santa”. Segundo Robertson 368 o olhar, sob esta
ótica é cruzadista, não tinha razão de ser nos séculos XI a XIII, no tempo das expedições
medievais em confronto com o muçulmanismo de Saladino, e tampouco o tem nos dias
atuais:

Poucas pessoas, hoje, diriam que a sua opinião sobre a terra bíblica coincide
com a ótica dos homens das Cruzadas. Ainda assim, será que chamar esse
lugar de “Terra Santa” não reflete o mesmo ponto de vista distorcido dos
expedicionários daquela época? O que, exatamente, faz com que essa terra
seja “santa”, na opinião de tantas pessoas? Ora, enquanto a “Glória”, o
Shekiná, habitava o templo de Jerusalém, a terra foi santificada pela
presença especial de Deus. Mas quando a “Glória” partiu de lá, isso
significou que a santidade da terra, sua santificação pela habitação da
presença de Deus, não existia mais ali. Assim como a sarça ardente no
deserto santificou a terra envolta só enquanto a glória de Deus ali
permaneceu, assim essa terra era santa só enquanto Deus esteve lá de
maneira singular.

Discordando deste primeiro ponto de vista de Robertson, que talvez seja antissemita,
afirmamos que os fatores determinantes à gênesis das cruzadas giraram em torno de contextos
demográficos, comerciais e econômicos. As cruzadas, inspiradas pelo discurso do papa
Urbano II, versaram sobre a necessidade de libertar a “Terra Santa” dos hereges mulçumanos.
A intencionalidade era outra, e a comparação de Robertson, se direcionada aos pré-milenistas,
é infeliz, pois se distancia da ótica dispensacionalista que vê a Terra Santa como eixo do
Milênio.
A Jerusalém (Antiga), no reinado do Messias, que, aliás, faz questão de pontuar esta
verdade em seu sermão do Monte: “[...]. Nem jurareis pela terra, porque é o escabelo de seus
pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei” (Mt 5.35), se constitui na
localidade onde será inaugurado o Trono de Davi (Lc 2.31,32). Sendo cidade dEle, o Messias,
Mateus a adjetiva como Terra Santa, em seu evangelho: “Então, o diabo o transportou à
cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo” (Mt 4.5). Naquele tempo, não havia
menção da descida da Shekiná sobre o templo, pela ministração de sumo-sacerdotes saduceus;
ao que tudo indica, a glória tinha partido dali (Icabode – I Sm 4.21); mas mesmo assim,
Mateus a adjetivou como cidade santa, equiparada à Nova Jerusalém (cidade eterna) que
também é adjetivada como “santa” por João: “E levou-me em espírito a um grande e alto
monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu” (Ap
21.10). A antiga Jerusalém é a cidade santa do milênio nesta terra, e a Nova Jerusalém é a
cidade santa da Eternidade, na Nova Terra.
368
ROBERTSON, Palmer O. Terra de Deus: O significado das terras bíblicas para os planos de Deus e
propósitos de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998, p. 148.
187

(2) O ponto de vista do peregrino –


Esta é a visão de que Israel é um talismã para o cristão. Uma viagem à “terra santa”
pode proporcionar fonte de bênçãos para ele e sua família. De acordo com Robertson 369 a
observação oriunda deste grupo de pessoas tem a ver com a associação com o Israel de hoje
ao país registrado nas páginas da Bíblia. Esta peregrinação torna-se um canal que liga estes
peregrinos a Deus. Creem que obterão bênçãos materiais e espirituais por meio destas
viagens:

Através de todos os tempos, as pessoas têm sentido muita vontade de viajar à


terra da Bíblia. [...]. Mas a Escritura não oferece nenhuma bênção específica
para o pecador pelo fato de ele ter viajado a algum lugar em particular. Só a
fé no sacrifício do Filho de Deus pode trazer paz entre Deus e os homens,
essa fé pode ser exercida igualmente de qualquer lugar no mundo. O fato é
que a sugestão de algum deslocamento físico do pecador contribuir para
restaurá-lo à comunhão com Deus pode realmente colocar em dúvida a
suficiência do sacrifício de Jesus Cristo.

Concordamos aqui com Robertson. Mas geralmente quem faz peregrinações a Israel,
com este propósito, são os carismáticos, que creem também em outras superstições, ligadas a
outros símbolos do cristianismo. Quando dispensacionalistas vão a Israel é para turismo e
curiosidade de conhecer os lugares por onde Jesus e outros personagens bíblicos passaram.
(3) O ponto de vista do sionista –
Robertson370 apresenta ainda a visão sionista, focando a expulsão de Israel de sua terra:

O Sionismo, quer da variedade judaica ou cristão, tem tido a tendência de


obscurecer essas considerações sobre herdeiros da promessa feita a Abraão
com relação à terra. Presumiu-se que Deus dirigiu-se a promessa a uma raça
de pessoas, os judeus, e não se reconheceu que os antepassados por si só
nunca identificaram os herdeiros das promessas dadas a Abraão. Através dos
tempos, os “gentios” puderam ser excluídos de herdar as promessas de Deus
e expulsos da sua própria terra quando comprovada a falsidade da sua
profissão de fé no Deus de seus antepassados. E duas vezes, provando isso,
eles foram, realmente, expulsos em massa da terra.

Não pode passar despercebido que o retorno de Israel à sua terra, em 14 de maio de
1948, é um fator favorável ao pré-milenismo. Antes, muitos reformados criticavam aos
dispensacionalistas, alegando a impossibilidade de isto acontecer. Na Teologia Sistemática de
Louis Berkhof 371 havia este pensamento, a ponto de o tradutor ter que abrir uma nota sobre o
assunto: “É bom lembrar que esta obra foi produzida antes de 1948, ano em que foi
restabelecida a nação de Israel na Palestina. ” Esta situação, se não corrobora a tese

369
Ibidem, p. 150.
370
Ibidem, p. p. 152, 153.
371
Ibidem, Berkhof. Nota do tradutor em rodapé, p. 718.
188

dispensacionalista sobre Israel e a sua terra, pelo menos alimenta a esperança da restauração
da terra e do reino a Israel.
(4) O ponto de vista do milenarista –

Nesta parte, Robertson372 enfatiza as suas críticas aos dispensacionalistas, relacionando


a sua visão como bem próxima do olhar sionista. Primeiro, o autor sintetiza este ponto de
vista:

A ótica sobre o futuro da terra bíblica mais próxima do Sionismo é a do


milenarismo cristão. Uma das formas clássicas deste ponto de vista diz da
aproximação de um dia em que, fiel às promessas feitas a Israel, Deus há de
restaurar os judeus à Palestina e estabelecer um reino terreno judeu sob o
domínio do Messias. A proposta é que esse reino universal centrado em
Jerusalém será caracterizado por uma paz imposta. Cumprindo a profecia do
Salmo 2, o Príncipe da Paz regerá as nações com “vara de ferro”, reprimindo
rapidamente todos os esforços para subverter seu reino correto e justo. Com
base em Apocalipse 20, compreendeu-se que este grande reino vai durar mil
anos, e por isso é chamado o reino do “milênio”. Apesar de muita variedade
em torno da sequência de eventos desse reino messiânico terreno, a premissa
básica continua a mesma. O Messias chegará, e por mil anos há de impor um
reinado de paz num reino judeu restaurando com seu centro em Jerusalém na
terra de Israel.
373
Em seguida, Robertson faz sua argumentação, a partir da situação atual da
Igreja

como corpo de Cristo, baseado em Efésios 2.11 a 22, quando de ambos os povos Ele fez um:

Essas considerações, tanto das Escrituras da velha como da nova aliança,


tornam difícil compreender o conceito de uma importância futura para
crentes “judeus” em relação a seus equivalentes “gentios”. Embora a maioria
dos milenaristas negue qualquer sugestão de cidadania de segunda classe
para crentes judeus que de alguma forma não seja compartilhada em
condição de igualdade com seus irmãos gentios é contrária a séculos de
revelações bíblicas que apontam na direção oposta. Será que realmente se
supõe que a “parede da separação que estava no meio” ainda exista na mente
de Deus, e deva ser de novo levantada? Mas, sem que haja alguma
expectativa de um cumprimento geográfico de promessas feitas unicamente
aos judeus, toda a ideia de um reino futuro milenar perde sua significação.

Corrobora com Robertson, Hernandes Dias Lopes, 374 quando fala sobre a Igreja e este
texto paulino: “o único pacto de paz verdadeiro e eficaz foi o que Deus fez em Jesus. Essa é a
maior missão de paz da história. Deus reconciliou judeus e gentios num único corpo e
reconciliou o mundo consigo mesmo, por meio de Jesus Cristo. (II Co 5.16) ”. Concordamos

372
Ibidem, p. 153.
373
Ibidem, p. p. 154, 155.
374
LOPES, Hernandes Dias. Efésios: Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 62.
189

plenamente com Lopes. Entretanto, isto ocorre na Dispensação da Graça, na Era da Igreja. Só
que ao pensarmos na Terra de Israel sendo disponibilizada a judeus e gentios no milênio, não
estamos focados no período atual da Igreja. As profecias da Nova Aliança nos detalhes de seu
cumprimento não abarcam o tempo atual da Igreja e, portanto, requerem uma era de ouro,
com a inauguração do reino messiado sendo necessária a este cumprimento profético.
(5) O ponto de vista da renovação –
Por fim, Robertson375 expõe o seu olhar amilenista sobre a Terra Bíblica:

Uma ótica de renovação olha de novo para o paraíso e vê nele o significado


máximo da “terra”. Para Israel foi prometida uma terra “que mana leite e
mel”, mas a Canaã não chegou a preencher essas expectativas de paraíso.
Através dos séculos, essa terra serviu bem, mas como figura, como tipo
daquilo que Deus faria por fim. No final, ele devolveria para uma raça
redimida o paraíso original que ela tinha perdido em consequência do
pecado.

Aqui vimos os olhares sobre a Terra santa, pontuados por Robertson a partir da visão
pactualista. O cuidado com a aproximação dos dispensacionalistas progressivos com os
amilenistas, mesmo sem intenção, podem alimentar estas visões e outros problemas.

CAPÍTULO ONZE
__________

A TRIBULAÇÃO E O PRINCÍPIO DE DORES


375
Ibidem, p.
190

– Uma análise consistente do Dispensacionalismo Tradicional

Entre as duas fases da 2ª Vinda, há a Tribulação. Alguns pontos estão ligados à mesma:

I – A DURAÇÃO DO PERÍODO

Daniel nos dá, pelas palavras do anjo Gabriel, a totalidade do mesmo como de 7 anos
(Dn 9.27). Jesus, no sermão escatológico, mostra-nos de que os 7 anos se dividem em 2
partes:
a) Princípio das dores - (Mt 24.1-14). São os 3 anos e 1/2 iniciais; conhecidos como
Tribulação.
b) Grande Tribulação - (Mt 24.15-29). São os três anos e meio finais.
Harmonizando-se com o dito, há indicações em Apocalipse e Daniel sobre esta época:
 Para os primeiros 3 anos e ½ há a expressão 1260 dias (Ap 11.3), usada para o
início da Tribulação, quando duas testemunhas profetizarão, fechando o céu nos dias da sua
profecia (Ap 11.6). Elias, no passado, agiu como elas pelo mesmo tempo: “[...] 3 anos e ½ ”
(Tg. 5:17). Para os 3 anos e ½ finais:
a) “Um tempo, tempos e metade de um tempo”: termo aramaico usado por Daniel (7.5) a
focar a época em que os “santos do Altíssimo”, convertidos da Grande Tribulação, serão
entregues na mão da Besta (Ap 13.5-7). Daniel o usa, focando o cumprir das profecias na
época (Dn 12.7). João o usa para mostrar que Israel nesse tempo será guardada da vista do
Diabo (Ap 12.13-14).
b) “Quarenta e dois meses”: Aparece por duas vezes: para limitar o poder e ação da Besta no
final da 70ª semana (Ap. 13:5), e destacar o clímax do Tempo dos gentios (Ap. 11:2).
c) “Um mil duzentos e sessenta dias”: Este termo surge no primeiro período e no 2º com a
fuga de Israel, que será protegida da perseguição da Besta e do Dragão (Ap. 12:6). Ainda há:
"Um mil duzentos e noventa dias” (Dn 12:11) e “Um mil trezentos e trinta e cinco dias” de
(Dn 12:12). Daí Leon Wood 376 dizer:

[...] 1290 dias (em vez de 1260 que formam 3 anos e ½) a partir do dia em
que a abominação for estabelecida pela ‘besta’ até o fim. Os trinta dias
extras podem representar o tempo necessário para o juízo descrito em
Mateus 25:31-46. Então, no versículo 12, são acrescentados mais quarenta e
cinco dias, dando um total de 1335 dias. Isto parece representar o tempo
necessário para o estabelecimento do Reino Milenar. Isto está de acordo com
376
WOOD Leon J., A profecia de Daniel, p.94.
191

a indicação desse versículo de que aqueles que aguardarem esse tempo serão
abençoados.
II – A NATUREZA DO PERÍODO

Quatro aspectos destacados por Thiessen em sua teologia refletem a época


tribulacional:
a) Características Políticas: O apogeu do tempo dos gentios com o ressurgimento do Império
Romano por Babilônia - O leão, Daniel 7:4 -, Medo-Pérsia - o urso, Daniel 7:5 – Grécia - o
leopardo, Daniel 7:6; este sistema tem como resultado a morte por guilhotina (Ap. 20:4).
Roma – o monstro indescritível, Daniel 7:7 (C.f. Ap.13:1-2); temos assim, a forma final do
Governo- anticristão, a Estátua Imponente de Daniel 2, reconstruída, com os 10 dedos dos
pés, formando um Reino de 10 reis-cooperadores com a Besta. Eles destroem a Babilônia
Eclesiástica e dão o seu poder à “Besta que sobe do mar” (Ap.17:10, 16-17).
b) Características Religiosas: no início, a Meretriz, Babilônia Religiosa, governará com a
Besta. No meio, os 10 reis a odiarão, lançá-la-ão fora e a destruirão (Ap 7:16-17). Então,
todos serão obrigados pelo Falso-Profeta a adorar a Besta (Ap 13:4-8; Ap 13:11-18). Nessa
época, o Diabo é derrubado na terra e se encarnará na Besta, perdendo o acesso ao 2º céu (Ap
12:12-14).
d) Características israelitas: Para uma visão panorâmica sobre Israel, Sinésio Lyra 377 diz:

Apesar de o povo de Israel ser hoje nação organizada em constante


progresso material, ainda não reatou as suas relações com o Deus de seus
pais. Como nação, o povo de Israel vive como as demais nações pagãs,
embora prospere política, militar e economicamente. Os sofrimentos e as
angústias, as perseguições e as guerras por que têm passado, através dos
séculos, pouco significam em relação ao que está predito para o tempo de
angústia para Jacó.
A Besta pactuará com Israel por 7 anos, e no meio deles, a Besta quebra o pacto e
proíbe os sacrifícios (Dn. 9:27). Doravante, o destino de Israel é fugir até o fim, culminando
no Armagedom e na libertação deste povo. (Is 63; Ap 16.16). No início, 2 judeus pregarão
vestidos de saco; resultando da pregação deles, 144 mil das 12 tribos de Israel (a exceção de
Dã) que pregarão o Evangelho do Reino, e muitos se converterão (Ap 11:3-7; Zc. 8:20-23).
Quando o Império Romano voltar ao poder, comprar e vender serão regulamentados pelo
culto à Besta. Nos 3 anos e ½ finais serão impostos o número, a marca e o sinal (666 – Ap.
13:16-18).

III – ATOR PRINCIPAL DO PERÍODO

377
LYRA Sinésio, O Oriente Médio, A Batalha do Armagedom e Depois?..., p. 48.
192

Para apresentá-lo a Alva McClain, 378 proponente do DR, faz a sua identificação:

Ele é o bem-conhecido ‘chifre pequeno’, do capítulo sete de Daniel, com


‘olhos como olhos de homem, e uma boca que fala grandes coisas’, o rei
‘mais robusto do que os seus companheiros’, que se levanta subitamente
entre os dez reis do Império Romano Revivificado do tempo do fim, o qual
por um pouco exercerá poder sobre todas as nações do mundo. Sua bem
conhecida identidade, sem dúvida, é a razão porque o capítulo nove se refere
a ele simplesmente como o ‘príncipe que há de vir’.

379
McClain começa a fazer uma relação deste homem da iniquidade com textos do
Antigo Testamento, os quais demonstram a hediondez dessa figura maligna:

Aqueles que lessem a grande visão do capítulo sete, não precisariam de


nenhuma explicação. Este mesmo príncipe é também, julgo eu, o ‘rei feroz
de cara’ do capítulo oito, o rei obstinado do capítulo onze, o ‘homem da
iniquidade’ de 2ª Ts. 2:3, a ‘besta que saiu do mar’ Apocalipse 13:1, o
último grande perseguidor de Israel, o falso cristo de Satanás, a quem todo o
mundo prestará homenagem, cujos nomes não estão escritos no Livro da
Vida do Cordeiro. Ele é a personagem sinistra cuja sombra ameaçadora
aparece constantemente nas páginas das profecias divinas, até que encontra
seu destino terrível no lago de fogo (Ap. 19:20).
380
Há outro termo, usado só por João, em suas 2 cartas: o Anticristo. Daí Harrison
dizer:

[...] João afirma a existência de muitos anticristos no seu tempo e antecipa a


vinda do Anticristo no futuro [...]. Anti significa ‘oposto’ a Cristo sob
disfarce de Cristo [...]. A presença do anticristo no mundo é a prova de que a
última hora já chegou. Embora estivessem presentes no tempo de João e
durante toda a história da igreja, a ‘última hora’ deve ser todo o período
compreendido entre o primeiro e o segundo adventos de Cristo.
O Anticristo é o Cavaleiro do Cavalo Branco de Apocalipse 6, por ele inaugurar a
Tribulação e ser seguido por cavaleiros (vermelho, preto e amarelo) que não se identificam
com Cristo, que um exército cujos cavalos são de outra cor = Branca (Ap. 19:14); e, porque os
dois sinais dados por Paulo como precedentes do Rapto da Igreja englobam a manifestação do
iníquo nesta terra, pretribulacionalmente, e não, a presença prematura de Cristo neste mundo,
antes do caos oriundo do homem do pecado: “Ninguém de maneira alguma vos engane;
porque não será assim sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o
filho da perdição” (II Ts. 2:3). Sobre a identidade desse cavaleiro, vale o que diz Gertrud
Wasserzug-Traeder381 em seu livro, O Apocalipse – Auxílio para o estudo bíblico, sobre este
ele não ser o Cristo:

378
Ibidem, p.39.
379
Ibidem, p.39.
380
HARRISON Everetti F., Comentário Bíblico Moody-Romanos a Apocalipse, p. 380.
381
Gertrud Wasserzug, O Apocalipse – Auxílio para o estudo bíblico, p. 26.
193

Cristo abre os selos como Cordeiro – ele não pode aparecer ao mesmo tempo
como cavaleiro. Um dos seres viventes = querubim, diz: Vem. Um
querubim não poderia dar ordens a Cristo. ‘Foi-lhe dada uma coroa’. Cristo
já tem há muito sua coroa. Esse cavaleiro é, portanto, uma imitação de
Cristo, que vemos como cavaleiro sobre um cavalo branco somente em Ap.
19:11.
382
Traeder traz ainda algumas características desse cavaleiro, que o distancia de
Cristo, que é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, enquanto o cavaleiro do capítulo 6 de
Apocalipse é uma personagem que cumprirá os intentos de Deus por apenas um pouco de
tempo (7 anos):

Esse cavaleiro fala de paz e espalha a guerra. Quando ele sai para vencer,
isso significa derrota e submissão para os outros. Ele é um cavaleiro
camuflado, que atira de emboscada com o arco. O juízo começa com engano
e cegueira – E segue num rio de sangue. O cavaleiro sobre o cavalo branco é
como a pedra que desencadeia a avalanche do juízo.

A besta, “o filho da perdição, ” será a principal personagem da Época; hoje, detido


pelo Espírito na Igreja (2ª Ts. 2:7); mas revelado pelo Rapto (II Ts. 2:8-12). No sermão
Escatológico, (Mt. 24 e 25; Mc. 13 e Lc. 21), Jesus fala da destruição do templo no ano 70:
“[...] não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não
seja derrubada”; (Mt 24:2) os discípulos, não como igreja, mas como servos-judeus, inquirem-
no com duas questões: A 1ª: Quando serão estas coisas? A destruição da cidade e do templo,
pois dantes, Jesus já havia se referido à cidade, ao cumprir a 69ª semana, na Entrada Triunfal
em Jerusalém:

Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz
pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão
sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras e, por todos os
lados te apertarão o cerco e te arrasarão e aos teus filhos dentro de ti; não
deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste o tempo da tua
visitação (Lc. 19:42-44).

Esta 69ª Semana se cumpre na entrada triunfal (Lc. 19:28-44); mas, a 70ª não é
imediata, pois Israel não conhecera, no seu dia, o Bendito Rei: “E quando já chegava perto da
descida do
Monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, regozijando-se, começou a dar louvores
a
Deus em alta voz, por todas as maravilhas que tinham visto, dizendo: Bendito o Rei que vem
em nome do Senhor; paz no céu e glórias nas alturas” (Lc. 19:37-38). Mas, Israel rejeita o Rei
e saí do cenário soteriológico por um tempo, então, a Igreja entra como lacuna profética, até à
382
Ibidem.
194

Plenitude dos Gentios, seu Rapto: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para
que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a
Plenitude dos gentios haja entrado” (Rm. 11:25). Depois, Deus lida com os judeus: “E assim,
todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as
suas impiedades” (Rm 11:26) e salva 1/3 da nação, o resto (Rm. 9:27), que entoará hosanas,
interrompidas na entrada triunfal; mas proclamadas no Milênio, pelo remanescente: “Bendito
aquele que vem em nome do Senhor, nós vos bendizemos desde a casa do Senhor” (Sl
118:22-26; Mt 23:37-39). Por isso, Randall Price 383 afirma:
É importante lembrar que as profecias messiânicas foram originalmente
dirigidas a Israel e que finalmente serão cumpridas exclusivamente com
Israel. A Igreja ocupa um período parentético no cumprimento do destino de
Israel, mas ela (a Igreja) não foi relegada a uma posição parentética (veja Ef
1.12; 2.6-7; 3.9-10; 5.25-27; Cl 1.26-27).
384
Price demonstra a situação da Igreja em relação a Israel na Dispensação da Graça.
Agora há a fusão judeus e gentios no Corpo de Cristo, na tribulação não há este Corpo (Ef
3.2):

O NT confere a Igreja um proposito distinto no plano messiânico,


juntamente com o de Israel. Na Igreja, os eleitos (judeus e gentios) tem igual
acesso a Deus (Ef 2.11-22), e uma nova revelação da graça salvadora de
Deus através do Messias de Israel. Esta graça incorporou gentios como co-
herdeiros das bênçãos messiânicas (Ef 2.3-6), incluindo a herança do reino
(1 Co 6.10; G 1 5.21; Ef 5.5; 1 Ts 2.12; 2 Ts 1.5).

A 2ª pergunta: Que sinal haverá da tua Vinda e do Fim do Mundo? Jesus ocupa a
maior parte do Sermão na resposta a esta inquirição. Ele se baseia em Daniel 9:24-27 e 12:1-
4. Os sinais e a profecia são para Israel e não à Igreja, pois ela e o seu rapto estão fora do
Sermão Escatológico. Esperamos um Arrebatamento iminente, a Parusia (vinda ou Presença)
de Jesus, que não implica sinais. Eis as duas fases: “Ora, irmãos, rogamo-vos pela vinda de
Nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com Ele” (II Ts. 2:1). Aguardamos “a bem-
aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e Nosso Senhor Jesus
Cristo” (Tt. 2:13). O sermão fala da Sua Vinda a Israel, o Apocalipse (o Armagedom, no
Milênio). Por que não estamos no Princípio de Dores? Porque a Igreja não é Israel: Este é o
âmago do Dispensacionalismo. Na Escatologia Bíblica do Novo Testamento, há três
terminologias para o Evangelho:

383
Ibidem, In PRICE Randall: Adiamento Profético. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 21 e 22.
384
Ibidem.
195

a) O Evangelho da Graça:

Este é o Evangelho da Igreja: “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto
que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar
testemunho do Evangelho da Graça de Deus” (At 20.24). Aqui vale pensar a definição dupla
de Reino, pois no mesmo texto Paulo abrange a pregação do Reino de Deus, que não era igual
a pregar o Reino messiânico: “E agora, eis que eu sei, que todos vós, por quem passei
pregando o Reino de Deus, não vereis mais o meu rosto” (At 20.25). Sobre tais conceitos
distintos de reino há o Evangelho pregado pela Igreja por séculos (At 2.14-35; 3.13-26;13.13-
38;17.15-34):

E também vos notifico, irmãos, o Evangelho que já vos tenho anunciado; o


qual também recebestes, e no qual também permaneceis. Pelo qual também
sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que
creste em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi:
que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e foi
sepultado, e que
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras (I Co 15.1-4).

Além destes 3 elementos, este Evangelho traz outros 2 fatores: A ascensão (At 1.9) e a
exaltação à destra de Deus (At 2.33). Este Evangelho é pregado de Atos 2 até ao rapto da
385
Igreja em Apocalipse 4.2. Por outro lado, Valney Veras destaca este Evangelho ligado à
Nova Aliança, já inaugurada hoje. Para ele, o Evangelho do Reino segue a continuidade com
a Igreja:

[...]. A gente entende que a Nova Aliança começa quando Jesus é assunto ao
céu e lá no dia de Pentecoste, logo em seguida, o Espírito Santo vem como
outro Consolador e inaugura a Igreja. No entanto, a base da Igreja, a base
doutrinária, não somente no AT, claro, mas de Cristo e dos apóstolos. Isso
porque nós vamos mencionar vários textos nos Evangelhos, inclusive
daqueles que falam de pregar o Evangelho do Reino, algo muito
significativo. Os apóstolos aprenderam a pregar o Evangelho do Reino e eles
começaram a pregar, no período da Igreja, a gente ver isto em Atos e em
outros momentos da Escritura. Então, como explicar este Evangelho do
Reino?

Diante desta indagação de Veras, é relevante analisar o conteúdo deste Evangelho do


Reino, para notarmos a sua relevância. Sustentar que este Evangelho persiste com a pregação
dos apóstolos, implica um reino inaugurado. Por isso, especificar o teor deste Evangelho
ligado ao milênio, abre espaço a um adiamento profético, devido à rejeição do Messias, que
Israel expressou ao rejeitar o evangelho do reino pregado por Ele e o Batista. O retorno de

385
VERAS, Valney. A Relação da Igreja com a Nova Aliança. Palestra 7/8. Disponível em > https:// www.
youtube.com/watch?v=URbcO6fYb-w&list=PLDtQAWb-ysHeu3QHCoCUrKBD5cb3ccB6-&index=7.
Acesso em 01 de dez. 2020.
196

Israel aos braços do Messias, cumprindo e inaugurando a Nova Aliança, implicará a


necessidade deste Evangelho voltar a ser pregado na Tribulação e no Milênio: “E este
Evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e
então virá o fim” (Mt 24.14).
b) O Evangelho do Reino:

O problema de alguns teólogos é usar textos bíblicos aplicados a Israel, aplicando-os à


386
Igreja. Sobre Mateus 24.14, Ryrie deixa claro: “Estas são as boas notícias que serão
proclamadas durante os dias da Tribulação, com respeito à vinda e ao estabelecimento [ou
inauguração] do seu reino.” Jesus realizou a Obra e pregou o Reino: “Embora a Cruz fosse a
missão primeira de Cristo sobre a terra, ela não foi Sua mensagem principal e nem foi
considerada como um fim em si mesmo. Um estudo detido dos Evangelhos revelará que o
reino de Deus era a mensagem principal do ensino de Cristo”. 387
388
Ao focar a obra missionária na época, Robert J. Brennan e David R. D. Corrêa
dizem que o Evangelho do Reino será pregado nos 7 anos tribulacionais “A obra missionária
de Deus na tribulação foi considerada por Jesus ao ligá-la com a septuagésima semana de
Daniel. (Mt 24.15 e Dn 9.27). Jesus falou do movimento missionário desse período,
alcançando o mundo através da pregação do evangelho do reino (Mt 24.14; 2 Ts 1.7-8 e 1 Pe
1.5). ” Indo mais à frente, podemos dizer que o Evangelho do Reino é o Evangelho da Nova
Aliança pois ele “será pregado a todo o mundo em testemunho a todas as gentes e então virá o
fim. ” Isto implica pregação na Tribulação e no Milênio, porque o fim só virá quando o
quiliásmo for concluído.
Vale ressaltar o modo como Geisler389 vê o Evangelho do Reino no âmbito futuro e
escatológico, o qual expressa um conteúdo específico para uma determinada ocasião:

Do ponto de vista da salvação individual, existe um evangelho (Gl 1.8; c.f


3.8) baseado na graça de Deus (Ef 2.8,9), que só foi possibilitado pela morte
e ressurreição de Cristo (1 Co 15.1-6). Não obstante, o conteúdo revelado do
evangelho variou de geração em geração, no progresso da revelação; de
igual maneira, existe um desenvolvimento notável do evangelho do reino,
primeiramente pregado aos judeus (antes que eles rejeitassem a Jesus) para o
evangelho de Cristo.

A fim de ilustrar bem a distinção entre o Evangelho da Graça e o do Reino, Geisler 390
apresenta uma tabela bem didática para compreensão dos seus leitores:
386
Ibidem, Ryrie. Bíblia Anotada, p. 1222.
387
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos - Uma história da Igreja Cristã. Trad. por Israel Belo de
Azevedo. São Paulo: Edições Vida Nova. 24ª ed., p. 41, 1990.
388
BRENNAN & CORRÊS. Profecias Messiânicas. São Paulo: Editora Batista Regular, 2004, p. p. 232-233.
389
Ibidem. GEISLER, Norman. 2010, p. 886.
390
Ibidem.
197

Tabela n. 04 – Distinção entre o Evangelho do Reino e o da Graça


Evangelho do Reino Evangelho de Cristo
Reino O reino é chegado O reino não é chegado
Morte/Ressurreição Não é parte dele Essencial a ele (cf. Rm 10.9.
Ouvintes Somente judeus (cf. Mt 10.6) Judeus e gentios (Rm 1.16)
Fonte: Norman Geisler
O Evangelho do Reino expressa, em seu conteúdo, a redenção completa da terra, a
regeneração do cosmos, a preparação do mundo para o reinado dos filhos de Deus, a
conversão de Israel e dos povos na inauguração do reino milenar. Este Evangelho será
pregado a Israel e aos gentios na tribulação e no Milênio; e então, a terra se encherá do
conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar. Este é o teor do Evangelho do Reino
associado à vinda do Rei com o seu reino a Israel: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino
dos céus” (At 1.6; Mt 3.2). Após o Batista, pregar este Evangelho, a missão agora é do Rei:
“E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do
reino de Deus, e dizendo: o tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo.
Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.
14-15). A rejeição por parte dos judeus interrompeu a concretização imediata desta boa nova:
c) O Evangelho Eterno:
Este é o Evangelho sobrenatural, pregado por um anjo, nos 7 anos, mais precisamente,
na Grande Tribulação: “E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o Evangelho Eterno,
para proclamá-lo aos que habitam sobre a terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo” (Ap
14.6). Enquanto o teor do Evangelho da Graça é soteriológico, a mensagem do Evangelho
Eterno é condenatória: “Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque vinda é a hora do seu juízo. E
adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e a toda nação, e tribo, e língua e povo” (Ap
14.7). Na tribulação o mundo ouve o Evangelho do Reino, cujo teor é messiânico sobre o
Reino milenar.
Não estamos no princípio de dores, porque o Evangelho do Reino é futuro, será
pregado por 2 testemunhas e 144 mil judeus na 70ª Semana; e enfim, por Israel, no milênio, a
todas as nações, e então virá o Fim, na Consumação dos Séculos (Mt 24.14). Se não estamos
no Princípio de Dores, como entender as parábolas escatológicas? E o “levado” e o “deixado”,
sem ligá-los ao Rapto da Igreja? Estas parábolas se aplicam à 2ª fase e à entrada de Israel no
Milênio. Podemos citar o a Parábola das dez virgens (Mt 25.1-13). Estas virgens não se casam
com o noivo: “A filha do rei é toda ilustre lá dentro; o seu vestido é entretecido de ouro. Levá-
la-ão ao rei com vestidos bordados, as virgens que a acompanharão a trarão a ti” (Sl 45.13-
14). Jesus, aqui, não é mais o noivo; Ele já é o esposo: “Mas à meia-noite ouviu-se um
198

clamor: Aí vem o esposo, sai-lhe ao encontro. ” (Mt 25.6). Na parábola, Jesus volta casado à
ceia das bodas: “Estejam cingidos os vossos lombos e acesas as vossas lâmpadas. E sede vós
semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para
que, quando vier, e bater, logo possam lhe abrir” (Lc 12.35-36). Isto é visto nesta parábola: “E
tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele
para as bodas, e fechou-se a porta. E depois chegaram também às outras virgens, dizendo:
Senhor, Senhor, abre-nos” (Mt 25.10-11). Até ao rapto da Igreja, o mundo não passará pelos
21 juízos da 70ª semana: Princípio de Dores e Grande Tribulação que virão após as assolações
e as guerras determinadas:

E ele [o anticristo] firmará uma aliança com muitos [os judeus] por uma
semana [7 anos - divididos em duas partes – 1ª) Princípio de Dores: 3 anos e
meio iniciais e 2ª) Grande Tribulação – 3 anos e meio finais]. E na metade
da semana [o príncipe que há de vir – o anticristo] fará cessar o sacrifício e a
oblação [isso só pode acontecer com o templo de Jerusalém construído. A
Igreja não estará aqui]. E sobre as asas das abominações virá o assolador”
[provavelmente Satanás ressuscitando o Anticristo – que é a Besta cuja
ferida mortal fora curada. Assim, o anticristo sai de Roma e entra em
Jerusalém (que é a cidade santa) e mata as duas testemunhas, colocando no
templo a sua imagem falante, e ele mesmo se assentará no templo de Deus
(que é o lugar santo) querendo parecer Deus, se opondo também a tudo que
pertence a Deus ou é objeto de seu culto (II Ts. 2:3-4). Conclui Daniel o
versículo 27: e isso até a consumação; e o que está determinado será
derramado sobre o assolador.

Jesus interpreta Mateus 24:15, assim: “Quando, pois, virdes a abominação da


desolação de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo, quem lê entenda”. Aqui, Ele
divide a 70ª semana em 2 etapas: 1ª parte: Princípio de Dores (Mt 24.8) e a 2ª parte: Grande
Tribulação (Mt
24.15), com quatro cavaleiros:
1) O Branco – O Anticristo: Apocalipse 6.2;
2) O Vermelho – A Guerra: Apocalipse 6.3-4;
3) O Preto – A Fome: Apocalipse 6.5-6;
4) O Amarelo – As Pestes e mortes: Apocalipse 6.7-8.
Todos estes sinais estão no contexto de 21 juízos de Deus neste livro profético:
a) Os sete selos: Apocalipse 6 a 8.1;
b) As sete trombetas: Apocalipse 8.2 a 11.15;
c) As sete taças da ira: Apocalipse 15 a 16.
Estes 21 juízos são sinais para a 70ª Semana. Não são aos últimos dias da Igreja. Estes
não estão no Princípio de Dores e na Grande Tribulação. É fato que estamos no fim dos
199

tempos para a Era da Igreja e não à da Besta. O Rapto se aproxima, só não podemos pôr o
Apocalipse e Princípio de Dores, linkados a este evento. Sobre a doutrina das dores de parto,
Couch391 diz:

A doutrina sobre as “dores de parto” e de extrema importância para a


compreensão das profecias bíblicas. Inicialmente, encontra-se em Jeremias
30-31. Aqui, Jeremias profetiza a respeito da tribulação, do ódio que as
nações sentem por Israel, da Nova Aliança e do continuo cuidado de Deus
para com o povo judeu. No discurso sobre o monte das Oliveiras (Mt. 24-
25), Cristo apresenta alguns detalhes sobre as dores de parto e os eventos da
Grande Tribulação. O apóstolo Paulo também menciona as dores de parto e
o Dia do Senhor em 1 Tessalonicenses, onde ensina que a Igreja não passará
por este terrível período.

O que significa Princípio de Dores? Que Dores serão estas? Endossando esta questão,
pode-se acrescentar mais perguntas: São Dores do Mundo (as Nações)? São Dores da Igreja (a
noiva)? São Dores de Israel (a mulher)? Na Bíblia, estas Dores são classificadas de dois
modos:
1ª) As dores de Parto da Terra: Isto é retratado em primeira Tessalonicenses 5.1-4:

Mas irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos
escreva; porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá
como um ladrão de noite. Pois que quando disserem: Há paz e segurança,
então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que
está grávida, e de modo nenhum escaparão. Mas vós, irmãos, já não
estais em
trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão.

Nos versos antecedentes a este texto, há o Rapto da Igreja a consolar e encher os


crentes
de esperança (I Ts 4.13-18), e em capítulo 5 de 1 a 11, há os 7 anos de tribulação. Nos
primeiros 3 anos e 1/2 há a falsa paz e segurança anticristãs no mundo, e a terra sentirá as
dores de parto diante da destruição da Besta pelo sopro da boca de Jesus, e assim, o envio das
pragas de Deus sobre o trono e reinado dela. A liberdade dos filhos de Deus implica libertação
da natureza:

Pois a criação está sujeita a vaidade, não voluntariamente, mas por causa
daquele que a sujeito. Na esperança de que a própria criação será redimida
do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.
Porque sabemos que toda a criação geme, a um só tempo e está juntamente
com dores de parto até agora (Rm 8.20-22).

A terra será regenerada por 7 selos, 7 trombetas e 7 taças da ira: “E o sétimo anjo
derramou a sua taça no ar, e saiu uma grande voz do templo do céu, do trono, dizendo: Está

391
COUCH, Mal. 2000, p.153.
200

feito. [...] E toda ilha fugiu; e os montes não se acharam” (Ap 16.17). Assim: “Todos os vales
serão levantados, todos os montes e colinas serão aplanado; os terrenos acidentados se
tornarão planos, as escarpas serão niveladas” (Is 40.4). Jesus chamou a transformação de
regeneração da terra: “[...] Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando na
Regeneração o Filho do homem se assentar no trono de sua Glória também vós vos
assentareis sobre doze tronos para julgar as doze tribos de Israel” (Mt 19.28). O Princípio de
Dores, na Tribulação, e o fim das Dores, na Grande Tribulação.
2ª) As dores de Parto de Israel – É o Tempo de Angústia para Jacó.
As dores de parto não são à Igreja, pois ela não está casada, nem grávida, por ser
noiva-virgem: “Porque estou zeloso de vós com o zelo de Deus; porque vos tenho preparado
para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo” (I Co 11.2). Outra
incoerência é haver o Princípio de Dores à Igreja e não há o meio e o fim dessas dores para
ela, que não poderia ser arrebatada no Princípio de Dores? Israel é a esposa divorciada de
Deus: "E vi que, por causa de tudo isto, por ter cometido adultério a rebelde Israel, a despedi,
e lhe dei a sua carta de divórcio, que a aleivosa Judá, sua irmã, não temeu; mas se foi também
ela mesma se prostituiu. ” (Jr 3.8), por isso, pode sentir dores de parto, o tempo de angústia de
Jacó. Deus quer a reconciliação: “Ora, tu te prostituíste com muitos amantes; mas ainda
assim, torna para mim, diz o Senhor” (Jr 3.1c). Daí Ele dizer:

São estas as palavras que disse o Senhor acerca de Israel e de Judá: Assim
diz o Senhor: Ouvimos uma voz de tremor e temor e não de paz. Perguntai,
pois, e vede se acaso, um homem tem dores de parto? Por que vejo, pois, a
cada homem com as mãos na cintura, como a que está dando à luz? E por
que se tornaram pálidos todos os rostos? Ah, que grande é aquele dia, e não
há outro semelhante. É tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre
dela. Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, eu quebrarei o seu jugo de
sobre o teu pescoço e quebrarei os teus canzis; e nunca mais estrangeiros
farão escravo este povo, que servirá ao Senhor, seu Deus, como também a
Davi, seu rei, que lhe levantarei. (Jr 30.4-7).
Ezequiel liga as dores à angústia de Jacó. Deus porá Davi, príncipe-regente de Israel a
restaurar o Reino – o Milênio: “E suscitarei sobre elas um só pastor, e ele as apascentará; o
meu servo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor. E eu, o Senhor, lhes serei por
Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio deles, eu, o Senhor, o disse. ” (Ez 34.23-24).
Talvez Davi seja Jesus por 2 razões: o Trono: “Este será grande, e será chamado filho do
Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. E reinará eternamente na casa
de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1.32-33); e o Rebanho: “Ainda tenho outras ovelhas
que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e
haverá um rebanho e
201

um Pastor” (Jo 10.16). As dores de angústia de Jacó, findam a 70ª Semana de Daniel:

Ó Senhor, na angústia te buscaram; vindo sobre eles a tua correção,


derramaram a sua oração secreta. Como a mulher grávida, quando está
próxima a sua hora, tem dores de parto, e dá grito nas suas dores, assim
fomos nós diante de ti, Senhor! Bem concebemos nós e tivemos dores de
parto, porém, demos à luz ao vento; livramento não trouxemos à terra, nem
caíram os moradores do mundo. Os teus mortos e também o meu cadáver
viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o
teu orvalho será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos.
Vai, pois povo meu, e entra nos teus quartos, fecha as tuas portas sobre ti;
esconde-te só por um momento, até que passe a ira. Porque eis que o Senhor
sairá do seu lugar, para castigar os moradores da terra, por causa da sua
iniquidade, e a terra descobrirá o seu sangue, e não encobrirá mais os seus
mortos (Is 26.16-21).
Atesta esta verdade o profeta Daniel, citado por Jesus no Sermão Escatológico, de que
a Grande Tribulação será um tempo de angústia para Jacó, devido às dores de parto da nação:

E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta pelos


filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde
que há nação até aquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo,
todo aquele que for achado escrito no livro. E muitos dos que dormem no pó
da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e
desprezo eterno (Dn 12.1-2).

Jesus diz: “Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio
do

mundo não tem havido e nem haverá jamais” (Mt 24.21); e Apocalipse 12: “E viu-se um
grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa
de doze estrelas sobre a sua cabeça” (v.1). Ela é Israel, pelo sonho de José, e a interpretação
de Jacó:

E teve José outro sonho, e o contou a seus irmãos, e disse: Eis que tive ainda
outro sonho; e eis que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam a mim. E
contando a seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o seu pai, e disse-lhe: que
sonho é este que tiveste? Porventura viremos, eu e tua mãe e teus irmãos a
inclinar-nos perante ti em terra? (Gn 37.9-10).

A mulher: “[...] estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à
luz” (Ap 12.3). Sua gravidez é ligada à encarnação e à ascensão de Jesus. O passado da
profecia: Maria, a judia, “porque a salvação vem dos judeus” (Jo 4.22b). Israel: “deu à luz um
filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e seu filho foi arrebatado para
Deus e o seu trono. ” (Ap 12.5). Duas razões são apresentadas aqui:
202

1) A fuga da Mulher-Israel é distinta da fuga de Maria ao Egito – Israel fugirá do


Dragão nos 3 anos e 1/2 finais (Grande Tribulação): “E a mulher fugiu para o deserto, onde já
tinha lugar preparado por Deus, para que fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta
dias” (Ap
12.6). Jesus fala da fuga de Israel e a abominação desoladora:

Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é


chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judeia fujam para os
montes; e os
que estiverem no meio dela, saiam; e os que estiverem nos campos, não
entrem nela. Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas
as coisas que estão escritas. Mas ai das grávidas e das que amamentarem
naqueles dias! Porque haverá grande aperto na terra e ira sobre este povo. E
cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e
Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se
completem (Lc 21.20-24).

É o pisar dos povos em Jerusalém, nos 42 meses finais: “E foi me dada uma cana
semelhante a uma vara; e chegou o anjo, e disse: Levanta-te, e mede o templo de Deus, e o
altar, e os que nele adoram. E deixa o átrio que está fora do templo, e não o meças; porque foi
dado às nações, e pisarão a cidade santa por 42 meses” (Ap 11.1:1-2): “E quando o dragão viu
que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho homem. E foram dadas à
mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é
sustentada por um tempo, tempos e metade de um tempo, fora da vista da serpente” (Ap
12.13-14).

IV – ARMARGEDOM: O Lugar e o Lagar

(1) O LUGAR: Vale da Decisão: “Multidões, multidões no vale da decisão! Porque o


dia do Senhor está perto, no vale da decisão” (Joel 3:14). Deus escolheu este local para
erradicar
o mal entre os homens. No livro de Xavier 392 extraímos 4 assertivas sobre a cidade-planície:
a) Uma planície chamada Jezreel: Megido, a cidade real cananeia, ficava numa colina
na região herdada por Issacar, uma das tribos de Israel (Js 12.21). Mais tarde foi entregue à de
Manassés, conforme Josué 17:11. Esta cidade, no sopé do monte Carmelo, localiza-se na
“boca” do vale de Jezreel, outro nome empregado para esta vasta planície. Estende-se
pelo
meio da Terra Santa, desde o Mediterrâneo até o Rio Jordão.

392
PESSOA. Ibidem, p. p. 84,85.
203

b) Um vale conhecido como de Josafá: “[...] Megido, a cidade no portal do vale, se


localiza às margens de um afluente do chamado ribeiro de Quisom” (I Re 18.40). Este
afluente tem sido conhecido como “Águas de Megido”. Toda a planície de Jezreel, também
chamada de “Vale de Josafá”, recebe a denominação de Vale de Megido.
c) Um palco ou campo de batalhas: [...]. Este enorme campo que hoje se presta à
agricultura, sempre foi ideal como palco de batalha, por isso, justamente neste lugar, as
nações da terra congregarão seus exércitos sob a liderança do anticristo e aí serão
exterminadas.
d) Uma antiga cidade sangrenta: Neste lugar aconteceram muitas e terríveis batalhas
na Antiguidade. Aqui, muitos povos lutaram pelo domínio da Ásia Menor e do Oriente
Médio, sulcando seus campos com carros de ferro e cavalos, e empapando a terra de sangue.
As estradas militares entre Damasco ao norte (Síria) e o Egito ao Sul, passavam exatamente
no grande vale.
Vale de Josafá, de Jezreel, de Esdraelon, da Decisão, Megido ou Armagedom, no
passado foi o lugar das grandes batalhas bíblicas: Débora e Baraque, ali derrotaram os
cananeus (Jz 4 e 5); Gideão triunfou sobre os midianitas (Jz 7). Saul foi morto pelos filisteus
(I Sm 31.8); Acazias perdeu sua vida para Jeú (II Re 9.27) e Josias foi vitimado pelos egípcios
(II Re 23.29-30; II Cr 35.22). Este é o palco para a grande batalha entre o Governo Humano e
o Reino dos Céus.

(2) O LAGAR: A foice aguda: “Lançai a foice, porque já está madura a seara; vinde,
descei, porque o lagar está cheio, os vasos dos lagares transbordam; pois a sua malícia é
grande” (Jl 3.13). O lagar enfoca o tom da batalha sangrenta de Armagedom. Jesus responde a
algumas inquirições, revelando através de Isaias, que sozinho o enfrentou:

Quem é este que vem de Edom, com vestidos tintos de Bozra? Este que é
glorioso em sua vestidura, que marcha com a sua grande força? Eu, que falo
em justiça, poderoso para salvar. Por que está vermelha a tua vestidura? E os
teus vestidos como os daquele que pisa no LAGAR? Eu sozinho pisei no
LAGAR, e dos povos ninguém houve comigo; e os pisei na minha ira, e os
esmaguei no meu furor, e o seu sangue salpicou os meus vestidos, e manchei
toda a minha vestidura (Isaias 63:1-3 - grifos meus).
Este Lagar relaciona-se ao Armagedom, o Juízo das Nações e o Milênio, pois há uma
associação com o mesmo e a ira do Cordeiro: “E da sua boca saia uma aguda espada, para
ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do
vinho do furor da ira do Deus Todo-poderoso (Ap 19.15). ” O lagar está presente não só na
condenação do mundo, mas na sentença aos semitas, por causa de sua rejeição ao seu
204

Messias, tão bem retratada por Jesus, na parábola dos lavradores maus (Mt 21.33-46): “ [...]
construiu nela um lagar e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se para
longe (v. 33). ”
A rejeição dos judeus aos planos divinos levou-os a matarem o Filho de Deus (Mt
21.37-39). O retorno de Cristo será como uma pedra angular a esmigalhar, em Armagedom, os
povos anticristãos e os hebreus rebeldes (v. 41-46, - cf. Dn 2.44-45 e Sl 2). Ele vem com as
nuvens, coroado de glória, com a foice aguda nas mãos a segar a seara madura da terra (Ap
14.14-16). Assim, como Ele padeceu fora da porta (Hb 13.12-13), vindimará o Lagar fora da
cidade (Ap 14.17-20), pelo poder da Sua ira, no espaço de 1600 estádios. Neste contexto,
Ronaldo C. Watterson393 diz, em o seu livro Apocalipse que aquela expressão:

Mil e seiscentos estádios são trezentos e vinte quilômetros, ou seja, a


distância de Megido, no norte da terra de Israel, até Edom, no sul.
Comparando as referências do Velho Testamento à guerra de Armagedom,
descobrimos que a área da campanha será exatamente esta.

V – BATISMO COM FOGO E O ARMARGEDOM:

(1) O Batismo No Fogo: O Machado e a Pá – “E eu em verdade vos batizo com água,


para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas
alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. ” (Mt
3.11). Em conexão com o batismo no ou com o Espírito, lemos também sobre o batismo no
fogo.
Há aqueles que ensinam: Os crentes têm que ser, não somente batizados no Espírito
Santo, mas ainda precisam do batismo no fogo, para alcançar o “poder”. Jesus, no texto de
Mateus 3:1-12, fala a dois públicos: o da raça de víboras (v.7) que é a palha ou os
incrédulos: Árvores que não produzem bons frutos, as quais serão cortadas e lançadas no fogo.
O outro auditório é o dos arrependidos (vv. 5 e 6): O trigo, que entra no seu Celeiro =
o Céu. Quando João dizia: “Eu, em verdade vos batizo com água”, ele usava o pronome
oblíquo vos, referindo-se aos que vinham ao Batismo do Batista, no Jordão. Acerca de Jesus,
falava, “Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”: Aos arrependidos e aos saduceus e
fariseus, ali presentes. Mas, em Marcos, o Batista só fala a uma parte do auditório: O trigo
(Mc 1.4-5). Não tendo a palha, falta o fogo, nas palavras do precursor. Há ainda os versos de
juízo (Mt 3.10 e 12): O Machado e a Pá não estão na narrativa de Marcos: “Eu, em verdade,
tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo” (Mc 1.8). Por
que o fogo sumiu?
393
WATTERSON Ronaldo E. Apocalipse. São Paulo: Edições Cristãs, p.108-109, 1987.
205

Em Lucas, tratando do mesmo assunto, desta feita com os 2 públicos (Lucas 3:7-15), o
fogo do inferno é novamente mencionado, reaparece:

Respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas
eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de
desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com
fogo. Ele tem a pá na sua mão; e limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu
celeiro, mas queimará a palha com o fogo que nunca se apaga (Lc 3.16-17).

Este fogo, que é a Geena ou lago de fogo, é realçado em Lucas: “E também já está posto
o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no
FOGO. (Lc 3.9 - grifos meus). Os crentes não são essas árvores. João se referia, ali, aos
fariseus e saduceus, que vieram, não para se batizarem, mas para criticar o precursor e a sua
mensagem.
Ao lermos o Evangelho de João (Jo 1.15-34), vemos que não há os dois auditórios para
o Batista, pois o seu alvo é só ao salvo-trigo: “E, eu não o conhecia, mas o que me mandou a
batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e nele repousar,
esse é o que Batiza com o Espírito Santo” (Jo 1.33) Onde está o fogo?
Em seguida temos a parte que consideramos crucial para bater o martelo sobre este
assunto: O veredicto do Autor dos dois batismos: Jesus Cristo. Este testemunho está em Atos
1. Antes da Sua ascensão Cristo esteve com os discípulos, anunciando-lhes que esperassem
pelo batismo no Espírito, e é relevante que Ele não se referiu ao batismo no fogo com os
apóstolos:

E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de


Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de
mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós
sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.
(At 1.4-5). Qual a razão de o fogo não se achar aqui?
O batismo no Espírito se deu em Atos 2, sem indícios do batismo no fogo, apesar de
uns, desonestamente, acharem que “línguas repartidas como que de fogo” (At 2.3) retrate-o,
mas, a símile anula a eisegese textual. O Batista falou que Jesus batizaria as pessoas com 2
batismos: No Espírito e no Fogo. Este, aos que não O aceitassem; aquele, aos que n’Ele
cressem.

VI – O ARMAGEDOM: (A Batalha):
206

“E os congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom” (Ap 16.16). O


mundo se unirá à Besta a guerrear contra Cristo, pela reunião satânica. Daí Pentecost394 dizer:
Os “reis da terra e de todo o mundo” serão reunidos pela atuação da trindade
do inferno para a chamada “peleja do grande dia do Deus Todo poderoso”
(Ap 16.14). Esse ajuntamento das nações da terra acontecerá num lugar
chamado Armagedom (Ap 16.16). Lá Deus julgará as nações por haverem
perseguido Israel (Jl 3.2), por causa de sua iniquidade (Ap 19.15) e por causa
da sua impiedade (Ap 16.9).

No que diz respeito ao vocábulo Armagedom, recorremos à análise do Xavier Pessoa: 395

A palavra “Armagedom” (Então os ajuntaram no lugar que em hebraico se


chama Armagedom – Ap. 16:16) é uma palavra hebraica formada de duas
outras palavras: “har” e “megido”. [...] A palavra “har” quer dizer ‘monte’ e
o vocábulo “megido” tem na sua raiz o significado de “derrubar”, “matar” ou
“cortar”. Assim, a palavra “Armagedom” veio a significar “elevação de
Megido”. Diz respeito não apenas a um local, mas também ao que aconteceu
e voltará a acontecer ali naquele específico local: um “corte”, uma
“matança”, uma “derrubada desde o alto”, ou o “abatimento do elevado”.
Esse significado coincide exatamente com o caráter dos acontecimentos que
irão ocorrer ali no final dos tempos. Naquele lugar histórico-profético será
“derrubado o elevado” e esse “abatimento” virá do Alto.

A batalha envolve a matança dos ímpios da terra (Is 11.4; c.f II Ts 2.8; Is 34.1-6). O
inferno se concentrará e concertará com os reis da terra para batalhar contra o Rei dos reis:
E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi sair
três espíritos imundos, semelhantes a rãs. Porque são espíritos de demônios,
que fazem prodígios; os quais vão ao encontro dos reis de todo o mundo,
para os congregar para a batalha, naquele dia do Deus Todo-poderoso (Ap
16.13-14).

2) O Milênio é: “Reger as nações com vara de ferro”. As dores se findam na


Tribulação: “Nasceu-lhe, pois, um Filho Varão que há de reger todas as nações com cetro de
ferro” (Ap 12.5). Isto é Salmo 2.6-8: “Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo Monte de
Sião. Proclamarei o decreto: O Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me e
eu te darei as nações por herança, e os fins da terra por tua possessão. Tu os esmigalharás com
uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro”. Esta promessa é dada a
igreja: “E ao que vencer e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as
nações, e com vara de ferro as regerá, e serão quebradas como a vasos de oleiro, como
também eu recebi de meu Pai” (Ap 2.26-27). Cetro de ferro é Milênio, em Armagedom: “E da
sua boca saia uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de
ferro; e ele mesmo é o

394
J. Dwight Pentecost, ibidem, p. 355.
395
PESSOA, J. Xavier, ibidem, p.81-82.
207

que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo Poderoso” (Ap 19.15):

[...]. Quem viu coisas semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma terra num

dia? Nasceria uma nação de uma só vez? Mas Sião esteve de parto e já deu à
luz os seus filhos. Abriria eu a madre, e não geraria? Diz o Senhor; geraria
eu, e fecharia a madre? Diz o teu Deus. Regozijai-vos com Jerusalém, e
alegrai-vos por ela, vós todos os que a amais; enchei-vos por ela de alegria,
todos os que por ela pranteastes; para que mameis e vos farteis dos peitos
das suas consolações; para que sugueis e vos deleites com a abundância de
sua glória. Porque assim diz o Senhor: Eis que estenderei sobre ela a paz
como um rio e a glória dos gentios como um ribeiro que transborda; então
mamareis, ao colo vos trarão, e sobre os joelhos vos afagarão. Como alguém
a que consola sua mãe, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis
consolados (Is 66.9-13).
Israel Reina com Jesus no Milênio (Is 65 e 66). As dores de parto para Israel, podem
ser ilustradas na fala de Jesus aos discípulos sobre a mulher grávida, a consolá-los em sua
ausência:

A mulher, quando está para dará luz, sente tristeza, porque é chegada a sua
hora; mas depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo
prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na
verdade tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se
alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará. (Jo 16.21-22).
O parto de Israel implica o nascimento de uma Nova Era, pelo milênio, na terra
Regenerada. É a Dispensação do Reino ou a Dispensação da Plenitude dos Tempos, quando
os crentes de todas as dispensações estarão juntos e todas as coisas convergirão ao Senhor
Jesus:

Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas,


segundo as riquezas de sua graça, que ele fez abundar para conosco em toda
sabedoria e prudência; descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o
seu beneplácito, que propusera em si mesmo, de tornar a congregar em
Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que
estão nos céus como as que estão na terra. (Ef 1.7-10).

Quando Ele terminar de congregar todas estas coisas, no final do Milênio, virá a
consumação e Ele entregará o reino ao Pai, e Deus será tudo em todos:

Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando
houver aniquilado todo império e toda potestade e força. Porque convém que
reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés. Ora, o
último inimigo que há de ser aniquilado é a morte. Porque todas as coisas
sujeitou debaixo de seus pés. Mas quando diz que todas as coisas lhe estão
sujeitas claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. E,
quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho
se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo
em todos. (I Co 15.24-28).
208

Neste tempo ocorrerá a inauguração do Reino messiânico e se estabelecerá a Nova


Aliança com a casa de Israel e a casa de Judá, (Jr 31.31) se estendendo aos gentios que
entrarão vivos no Milênio, (Mt 25.34), sendo que a Igreja reinará com o Rei e os crentes do
AT serão convidados à mesa do reino dos céus para desfrutar deste banquete milenar. (Mt
8.11,12).

CAPÍTULO DOZE
__________

MILÊNIO DE CRISTO NA TERRA E O ESTADO ETERNO

– Uma exegese consistente do Dispensacionalismo Tradicional

Sobre este tema, há as correntes que distinguem a literalidade ou não da época. Vejamos:
a) Posição não Literal ou Espiritualizada:

Esta posição, segundo Pentecost,396 não aceita a vinda literal de Jesus. Ela se liga a
fatos de Israel ou da Igreja:

Essa opinião vê o segundo advento cumprido na destruição de Jerusalém, ou


no dia de Pentecostes, ou na morte do crente, ou na conversão do indivíduo,
ou em qualquer transição na história ou experiência individual. Sua
controvérsia é se haveria um segundo advento literal. Não é necessário dizer
que essa visão se baseia na descrença da Palavra de Deus ou no método
espiritualizante de interpretação.
b) A Posição Amilenarista:

396
Ibidem, 384
209

De acordo com a Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã: 397

Esse ponto de vista não espera nenhum reino terreno de Cristo entre a
Segunda
vinda e o juízo final. Sustenta que os mil anos simbolizam ou a perfeição do
reino de Cristo quando Ele voltar ou a condição dos crentes durante o estado
intermediário entre a morte e a ressurreição. Os amilenistas observam que os
mil anos são mencionados em uma única passagem, e que ela se encontra
num livro altamente simbólico.
Se pensarmos o amilenismo sob o ponto vista diacrônico veremos que seus defensores
não podem advogar a ideia de que esta vertente seria a primeira entre outras, pois o
amilenismo não é a posição da Igreja do primeiro século. Segundo Norman Champlin e J. M.
Bentes:398

...a princípio o amilenismo foi considerado uma heresia; mas gradualmente


foi sendo aceito, especialmente através das influências de Agostinho já no
Séc. IV d.C. Agostinho rejeitou o pré-milenismo taxando-o de literal e
carnal demais e espiritualizou o seu conceito. O amilenismo tornou-se a
posição geralmente adotada pela Igreja Católica Romana e chegou mesmo a
ser defendida pela maior parte dos Reformadores.

Segundo o amilenista, Gaspar de Souza, 399 na VIII Conferência Teológica


Batalhando
Pela Fé: uma noite de escatologia – um debate sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon,
destaca, em debate com Augustus Nicodemus Lopes, Antonio Neto e Felipe Sabino, que o
reino de Deus, no contexto amilenista, tem dois aspectos – um escatológico e um atual: “Eu
creio que a visão amilenista se situa entre um aspecto preterista – o reino já está presente,
inaugurado com Cristo, e um aspecto futurista, mas ele ainda não está plenamente presente. ”
Gaspar de Souza vê a Escatologia Amilenista como uma escatologia em realização,
contrapondo-se àqueles que defende uma escatologia realizada. Notamos que não há quase
diferença alguma entre esta visão do reino amilenista e a do DP, o que muda é apenas a
distinção entre Israel e Igreja, a qual também não é tão profunda como ocorre entre os do DC
e do DR.
No próprio debate supracitado, Augustus Nicodemus Lopes400 sintetiza o Amilenismo:

397
M. J. Ericson, Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, p. 370.
398
CHAMPLIN, R.N., e BENTES, J.M., Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, VOL. V (P-R), São
Paulo, Candeia, 3ª ed. 1995.
399
SOUZA, Gaspar. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um debate
sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 2014. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?v=ra
C0Soa28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
400
LOPES, Nicodemus, A. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um
debate sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 2/3, 2014. Disponível em >
https://www.youtube.com/watch?v =raC0Sao 28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
210

Nós não cremos num reinado literal de Cristo na terra. Cremos em um


milênio de que Cristo Reina e este reino é espiritual e neste ponto nós
estamos com os pós-milenista de que este reino começou com os fatos
redentivos acontecidos em Cristo Jesus, a partir de sua pregação morte e
ressureição e o dia de Pentecoste particularmente e a igreja e o seu tempo é o
tempo do reino de Cristo Jesus. [...]. Este reino será encerrado com a vinda
do Senhor Jesus, quando acontecerá simultaneamente a sua vinda, a
ressurreição dos mortos, o julgamento final e a entrada do novo céu e a nova
terra ou a nova era, o estado eterno.
Lopes 401 fala sobre a amarração de Satanás sob o prisma do amilenismo, advogando a
crença de que o milênio deve ser espiritualizado a partir da Obra de Cristo na redenção:

O ponto é que na visão amilenista não há lugar para um reino literal de


mil
anos sobre a terra. Um reino de natureza judaica, alguns acham que sim e
outros que não, com Cristo reinando em Israel, a partir de Jerusalém sobre as
nações. [...] O amilenista crer que Satanás foi amarrado pela obra de Cristo
Jesus. Não significa a inércia do diabo, mas a sua inabilidade de enganar as
nações. ”
Ele cita também, no contexto da espiritualização do Milênio alguns textos bíblicos
neotestamentários no afã de mostrar que o reino milenar de Cristo já está em cumprimento na
402
terra. Vejamos a interpretação que Lopes faz para sustentar o amilenismo ancorado à
Bíblia:

[...]. Esta passagem de Apocalipse 20.1-3 constata da amarração de Satanás


para não mais enganar as nações, ela faz parte de uma série de textos do NT
que dizem a mesma coisa com outra linguagem, a começar por Marcos 3. 27,
no famoso momento em que Jesus enfrenta os fariseus e diz: “Ninguém pode
entrar na casa do valente...” o valente aqui é Satanás “... para roubar-lhe os
bens, sem primeiro amarrá-lo e só então lhe saqueará a casa. Jesus está
explicando porque está expulsando os demônios? Isto se deve ao fato de que
Ele amarrou o principal dos demônios e agora está saqueando-lhe a casa.
Então Jesus começa a amarrar Satanás aqui! É por isso que Ele está fazendo
um estrago no reino das trevas.
403
Lopes prossegue em sua argumentação de que a amarração de Satanás em
Apocalipse 20 dialoga com outros textos bíblicos, ele cita João 12.31:

Na mesma linha, o Evangelho de João, quando dois discípulos chegam para


Jesus e dizem: olha os gentios querem te ver. Aí Ele diz no verso 31:
“Chegou o momento de ser julgado este mundo e agora será expulso o
príncipe deste mundo. ” Agora, não é uma coisa futura. E este agora é
explicado na sequência: “E eu quando for levantado da terra, todos atrairei a
mim e isto dizia significando de que gênero de morte estava para morrer. ” É
interessante que o Evangelho de João não descreve nenhum dos exorcismos
que Jesus fez e que aparece nos três de evangelhos sinóticos. Não há nenhum
relato de expulsão de demônios em João. A única vez que o verbo ekbalo
[expulsar] é usado para expelir demônios em João com referência a Satanás
401
Ibidem.
402
Ibidem.
403
Ibidem.
211

é aqui, porque João está preocupado com este exorcismo cósmico (aquele
que é a base de todos os outros). E quando o príncipe deste mundo foi
expulso? Quando Cristo foi levantado na cruz e atraiu todos a si. Ali Satanás
teve o seu poder quebrado. Neste sentido, ele foi expulso. É uma expulsão
literal? Satanás não está mais no mundo? Não, mas ele não tem mais a
autoridade que tinha. Há uma restrição imposta a Satanás com a vitória de
Cristo.
404
O terceiro texto que Lopes traz para associá-lo a Apocalipse 20 é Colossenses
2.14,15: Paulo se refere aqui a vitória de Cristo na cruz. Ele diz assim:

Tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de
ordenanças a qual nos era prejudicial, removeu inteiramente, encravando-o
na cruz e despojando os principados e potestades, publicamente os expôs ao
desprezo, triunfando deles na cruz. [...] O que Paulo está dizendo aqui é que
na cruz Cristo desarmou os principados e potestades, corresponde ao amarrar
e corresponde ao expulsar.
405
Enfim, Lopes cita Hebreus 2.14 a endossar seu argumento amilenista da
espiritualização do Milênio, associando esta passagem bíblica e o texto de Apocalipse 20.1 a
6:

Visto, pois que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes
também ele igualmente participou para que por sua morte destruísse aquele
que tem o poder da morte, a saber, o diabo. O autor de Hebreus está dizendo
que Cristo quando morreu destruiu Satanás. Só que a palavra destruir no
grego não significa extinguir, mas significa deixar inoperativo, fora de
serviço, como ocorre com o elevador. Quando ajuntamos: será expulso, está
amarrado, despojado e desarmado e destruído, entendemos porque João diz
em Apocalipse 20 que Jesus desceu e amarrou Satanás. Isto não será no
futuro, já foi na sua morte e ressurreição. A linguagem bíblica é muito clara.
Então, nós não esperamos um momento futuro em Cristo vai amarrar
Satanás. Ele já fez isto na cruz e na ressurreição.
Os textos usados por Lopes e a sua análise estão corretos e concordamos em parte com
ele, ao menos no tocante à vitória de Cristo sobre Satanás e os demônios, no campo espiritual,
podendo ser dimensionados da ressureição até a consumação dos séculos. Mas, não há
condição alguma de ter a aquiescência, com Lopes, sobre o uso da coletânea de textos
bíblicos, objetivando espiritualizar o reino-milenar-messiânico de Cristo. Uma coisa é o
triunfo de Jesus sobre o diabo e seus anjos na cruz, e outra coisa é o triunfo do reino e do seu
Rei, inaugurando a Nova Aliança e o Reino com a vitória sobre Satanás, amarando-o por mil
anos. Lopes faz um esforço hermenêutico-hercúleo a provar que a amarração do diabo ocorre
no gólgota e pela tumba vazia vinculando tal ação a um milênio espiritual. Só que ele se
esqueceu de fazer este mesmo esforço para espiritualizar o lançamento da Besta e do Falso

404
Ibidem.
405
Ibidem.
212

Profeta no lago de fogo na batalha de Armagedom, os quais são concomitantes com a hora em
que Satanás é amarrado:

E a besta foi presa e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais
com que enganou os que receberam o sinal da besta e adoraram a sua
imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com
enxofre. E os demais foram mortos com a espada que saía da boca do que
estava assentado sobre o cavalo, e todas as aves se fartaram das suas carnes.
E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande
cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e
Satanás, e amarrou-o por mil anos. (Ap 19.20 a 20.1,2).
Outras indagações que endereçaríamos a Lopes: Quais textos ele usaria, agora, para
explicar a soltura de Satanás? Como seria o enganar pessoas após o milênio espiritual que
abrange da cruz à segunda vinda para o juízo final? Neste juízo, ainda há possibilidade de
enganos satânicos ou o Juiz não permitirá tal acinte? E o lago de fogo seria também
simbólico?
E acabando-se os mil anos, Satanás será solto de sua prisão e sairá a enganar
as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue e Magoge, cujo
número é como a areia do mar, para ajuntar em batalha. E subiram sobre a
largura da terra e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada, e de Deus
desceu do céu e os devorou. E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago
de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia de noite
serão atormentados para todo o sempre. (Ap 20.7-10)
Haveria um fracasso de Jesus no processo? Como explicar Satanás e os demônios
sendo lançados no lago de fogo, onde estão a besta e o falso profeta, mil anos depois? A
conclusão a que chegamos é que nenhum dos textos, citados por Lopes (Mc 3.27; Jo 11.31; Cl
2.14,15 e Hb 2.14) mencionam ou tem a ver com Apocalipse 20.1-6. Que haverá um milênio
literal sobre a terra, não há dúvida alguma, pois não só Apocalipse, mas as profecias do AT e
muitas predições de Cristo enfatizam esta realidade. Assim, Turner 406 enfatiza em relação a
Apocalipse 20. 1-6:

Ali se lê que Satanás é preso por mil anos; que não enganará as nações até
que se cumpram mil anos; que alguns viverão e reinarão com Cristo mil
anos; que outros não voltarão a viver até que se completem mil anos; que é
bem-aventurado e santo aquele que reina com Cristo mil anos, e que quando
os mil anos se cumpram, Satanás será solto da sua prisão por um curto
espaço de tempo. A repetição da frase “mil anos” estas seis vezes é
suficiente para convencer a milhares de cristãos de que estamo-nos referindo
a um período de justamente mil anos.
Infelizmente, o DP, por associar-se com os pactualistas e novo aliancista, neste debate
expressa mais uma dificuldade inaceitável pelos DC e DR. Antonio Neto407 responde a Lopes:
406
Idem, Doutrina das últimas coisas, p.264.
407
NETO, Antonio. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um debate
sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 2/3, 2014. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?v
=raC0Sao 28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
213

O motivo pelo qual tanto pós-milenistas quanto amilenistas comparam


Apocalipse 20 com João 12, por exemplo, porque de fato e é inegável e
qualquer dispensacionalista que negue estará cometendo erros hermenêuticos
e exegéticos, pois na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo houve sim, uma
vitória sobre Satanás, houve, sim, uma restrição sobre o diabo. [...]. Se
entendermos este texto do capítulo 12, a pergunta é: Satanás será expulso de
onde? Pelo paralelo com todos os textos mencionados pelo reverendo
Augustus e Apocalipse capítulo 20, o que precisamos dizer é que Satanás é
expulso do seu trono. Então, o Senhor Jesus Cristo, na cruz, venceu o
império de Satanás, ele o expulsou de seu trono e do seu domínio. E isto
necessariamente requer agora uma redução da ação de Satanás na
sua
influência no mundo, especialmente quanto ao avanço do Evangelho.

As explicações foram pertinentes, o problema, que não é só desse expoente, é também


de uma boa parte dos progressivos vêm desta afirmação de Antonio Neto: 408 “Em Apocalipse
há a dimensão simbólica e a dimensão referencial. Eu não tenho problema em entender que
em Apocalipse 20, em assumir que cadeias são simbólicas e os mil anos são simbólicos. [...]
O que é dito ali que Satanás agora é restringido completamente de suas ações. Entendemos
isto no esquema do já/ainda não. ” Em outro momento Antonio Neto409 nega a literalidade do
número mil anos: “Eu concordo com os colegas aqui que os mil anos, não necessariamente
tem que ser literais. Muitos pré-milenistas como Ladd e Grant Osborne que não assumem a
não literalidade dos mil anos. Porém, é preciso entender que estes mil anos representam um
período de tempo.” É importante destacar que Ladd e Osborne não eram dispensacionalistas,
eles eram pré-milenistas-históricos. Mas, eis o problema do DP! Alguns dos seus defensores
começa a ver os mil anos como simbólicos, quando é nítido computo de tempo literal tanto
para a nomenclatura 1260 dias e 42 meses para a 70ª semana de Daniel quanto para os mil
anos, que serão literais e um número redondo de 1000 anos. Em outro momento, numa live,
Antonio Neto se declara defensor da pré-ira e afirma que os 7 anos de tribulação não são
também literais. Daí a nossa insistência sobre a não consistência desta chave-hermenêutica
progressiva.

c) A Posição Pós-Milenarista:
410
Para a Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã tal teoria se expressa
assim: “Esse é o ponto de vista de que, mediante a pregação bem-sucedida do evangelho, o
reino de Deus paulatinamente se tornará completo na terra, o mal cessará e paz virá. No fim

408
Ibidem.
409
Ibidem.
410
ERICSON M.J., Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, p. 370.
214

desse período, que não é necessariamente de mil anos, Cristo voltará”. Nota-se a fragilidade
dessa teoria ao se recorrer à História. Zuck 411 atesta esta verdade:

A concepção que se deve ter sobre a questão do milênio não se resolve com
recurso à história. Mas vale notar que um razoável número de líderes nos
primeiros séculos da igreja primitiva era nitidamente pré-milenarista. O pós-
milenarismo praticamente morreu há vários anos. O impacto de duas guerras
mundiais levou muitos a renunciarem a essa doutrina, pois pregava uma
visão otimista de que o mundo estava cada vez melhor.

Ao definir esta corrente escatológica, Jonas Xavier Pessoa412 deixa claro o modo
espiritualizante como o pós-milenismo vê o reino de Deus na era presente:

Para o pós-milenismo, o ‘reino milenar’ é algo mais ou menos atual ou a ser


implantado pela própria Igreja, no decurso natural da História. Nesta
concepção do ‘reino’, não haverá um Messias reinando literal e visivelmente
na terra, mas espiritualmente através da Sua Igreja que, em marcha sempre
vitoriosa, experimentará as glórias de seu crescimento e de sua influência
neste mundo, até o retorno glorioso de Cristo.
Ao abordar esta posição teológica, o pós-milenista Felipe Sabino, 413 na VIII
Conferência
Teológica Batalhando Pela Fé uma noite de escatologia – um debate sobre o milênio, da
Escola Charles Spurgeon, expressa sua opinião: “Ser um pós-milenista como o nome deixa
claro, crer que Jesus voltará após o milênio, isto colocaria o amilenismo junto conosco, mas
há diferença entre nós. ” Em seguida, Sabino414 destaca a crença pós-milenista sobre o reino
de Deus: “O reino de Deus não é uma realidade futura. É uma realidade presente, que Jesus
inaugurou no I século, mediante a pregação do Evangelho e a sua obra redentora. Jesus deixou
bem claro de que os seus milagres comprovavam de que o reino de Deus tinha chegado. ”
Pelo que já vimos, notamos que tanto os Amilenistas, quanto os pós-milenistas, como os
progressivos acreditam que Jesus já inaugurou o reino de Deus em sua primeira vinda. Claro
que há algumas diferenças entre eles sobre outras nuances do reino. O pós-milenista, por
exemplo, acredita que o reino de Deus perdura, melhorando ou conquistando o mundo até a
segunda vinda do Senhor Jesus.
A realidade bíblica é que os homens do mundo vão de “mal a pior” (II Tm. 3:13) e os
últimos dias serão de muita corrupção (II Tm 3:1-9), como nos dias de Ló e Noé (Lc 17:26-
30).

411
ZUCK Roy B., A interpretação Bíblica – meios de descobrir a verdade bíblica, pp. 266-267.
412
PESSOA, Jonas X. O Fim Vem: uma visão gloriosa do futuro. Feira de Santana: Imprensa Bíblico-
Maranata, 2008, p. 69.
413
SABINO, Felipe. VIII Conferência Teológica Batalhando Pela Fé: uma noite de escatologia – um debate
sobre o milênio, da Escola Charles Spurgeon, 2014. Disponível em > https://www.youtube.com/watch?
v=raC0Sao 28Zc. Acesso em 22 dez. 2020.
414
Ibidem.
215

d) A Posição Pré-Milenista-histórica:
Esta vertente é conhecida como pré-milenismo clássico. Ela ensina que a era atual da
Igreja foi prevista no AT. Ela recebe este nome devido a adesão por um bom número de
“pais” (Ireneu, Papias, Justino Mártir, Tertuliano, Hipólito da Igreja) nos 3 primeiros séculos
da era cristã. O pré-milenismo histórico sustenta a aparição do anticristo junto com a
Tribulação. Após esta época haverá o arrebatamento pós-tribulacionista, e então, Jesus e a
igreja virão ao milênio.
Um dos mais brilhantes pré-milenistas históricos foi George Eldon Ladd, professor
de teologia do NT no Seminário Teológico Fuller. Por causa de Ladd, o pré-milenismo
histórico adquiriu popularidade acadêmica entre os evangélicos e os reformados do século
XX. Outros mentores desta vertente escatológica são Walter Martin; John Warwick
Montgomery; J. Barton Payne; Henry Alford e Theodor Zahn. Para os dispensacionalistas, o
DP é uma vertente refinada do pré-milenismo histórico, principalmente, pela influência da
teologia do reino de Ladd à nova vertente dispensacionalista, com o já/ainda não. Sobre a
visão laddiana, Albuquerque 415 diz:

É dentro do propósito da história que Ladd também se perde. Ele


encontra
algumas razões teológicas para o milênio, mas afirma que no apocalipse não
se acha nada sobre o milênio. É impressionante que ele usa quase todos os
argumentos dos amilenistas para defender o pós-tribulacionismo, mesmo
assim quer sustentar um milênio histórico.
Não só Ladd se perde nesta viagem hermenêutico-escatológica, há DP que começaram
a perder o foco e se tornaram pós-tribulacionistas, meso-tribulacionistas e a maioria dos do
DP adotam o pré-ira. Embora esta posição não esteja entres os fatores sine qua non deste
sistema, pode, por exemplo, causar danos e trazer sérios problemas para igrejas e seminários
batistas regulares, cujo 22º Distintivo – Escatologia: O retorno premilenar e pré-tribulacional
de Cristo:

Jesus Cristo virá corporalmente à terra uma segunda vez (At 1.6-11). Esta
volta ocorrerá em duas etapas. Primeiro, Cristo voltará nas nuvens para
arrebatar e levar ao céu todos aqueles vivos ou mortos, que estão em Cristo –
isto é, que foram salvos durante o período da Igreja (1 Ts 4.13 – 5.11). Esta
etapa está para acontecer a qualquer instante, sem aviso. Depois do
arrebatamento virá a tribulação, um período de julgamento intenso sobre a
terra. (Ap 3.10).416

e) A Posição Pré-Milenarista:

415
Albuquerque, ibidem, 2004, p. 17.
416
SWEDBERG, Mark (relator). Distintivos batistas regulares. São Paulo: EBR, 2003, p. 50.
216

Esta corrente escatológica é dispensacionalista e é vista por Pentecost como: 417

A posição pré-milenarista defende que Cristo retornará ao mundo, literal e


corporalmente, antes de começar a era milenar; e, por Sua presença, será
instituído um reino sobre o qual Ele reinará. Nesse reino todas as alianças
serão literalmente cumpridas. O reino continuará por mil anos e, depois o
Filho dará o reino ao Pai e se fundirá com o Seu reino eterno.
I – COM RELAÇÃO ÀS NAÇÕES:

Elas no início do milênio serão julgadas por Jesus, que se assentará no trono de Davi a
exercer juízo (Mt. 25:31-32). Depois, as que forem aprovadas entrarão no reino e serão
regidas por Ele com vara de ferro (Sl. 2:7-9).
No tocante ao julgamento das Nações, três coisas devem ser consideradas:
a) O local - No vale de Jeosafá. (Joel. 3:2). Isto significa que será na terra.
A base - Atitude das nações à mensagem e aos mensageiros do Reino (Mt. 25:34-46).
Serão as nações vivas que o Senhor encontrar na terra durante Sua Vinda.
c) Os resultados:
Alguns pontos precisam ser notados sobre o Milênio:
 Os retos possuirão por herança o preparado Reino (Mt 25.34). São eles as
ovelhas.
 Os ímpios serão excluídos e sofrerão depois o juízo final (Mt 25:41). São os
bodes.
 O remanescente judeu: comporão, com as ovelhas, o núcleo Milenar. Os israelitas
serão chamados de pequeninos irmãos de Jesus. (Mt 25:40-45)

II – COM RELAÇÃO A CRISTO:

O Rei estará na terra regendo com a Igreja, as nações com vara de ferro (Ap
418
12.5;19.15; 2.26-27). Sobre este tema Walvoord diz: “A gloriosa presença de Cristo no
cenário do Milênio e, logicamente, o foco de toda a espiritualidade e adoração” assentar-se-á
sobre o trono de Davi, seu pai (Lc 1.31-33).
III – COM RELAÇÃO À IGREJA:

A Rainha reinará com Cristo sobre as nações (Ap 5.9-10).

IV – COM RELAÇÃO A ISRAEL:


 Ficará de posse da terra para sempre (Ezequiel 34.28);
 Terá Davi como Rei ou Co-regente ao lado do Senhor Jesus (Ez 34.23-24; 37.24-25);

417
Ibid., p.370
418
WALVOORD, John F. The Millennial Kingdom. Grand Rapids: Zondervan, 1959, p. 307.
217

 Terá os apóstolos como juízes (Isaias 1.26), sobre as suas doze tribos (Mt 19.27-28).

V – COM RELAÇÃO A SATANÁS:

 No início do período será amarrado (Ap 20.1-2). E os demônios serão presos com
ele;
 No final do período será solto por um pouco de tempo (Ap 20.3).

VI – COM RELAÇÃO À NATUREZA:

 A natureza será redimida ou regenerada pelo Messias, Jesus Cristo (Rm 8.20-22).
7 selos, 7 trombetas e 7 taças são os juízos divinos a punir os fiéis da Besta e preparar
a terra para o milênio. Isto culmina com a extinção de ilhas e montes (Ap 16.17-21). Os dias
serão iguais aos de Noé. Talvez com um só clima na terra e pessoas vivendo naturalmente mil
anos.
 Os animais terão a sua própria natureza transformada (Isaias 11.5-9)
 A chuva e a fertilidade do solo serão restauradas (Is 35.2,6-7). Só fracassam
colheitas a rebeldes.
 Os homens terão longevidade de vida, mas haverá morte aos ímpios durante a época
(Is 65.20). Doenças diminuirão com a redução do pecado, mas não serão inteiramente
afastadas.
 Finalmente completar-se-á o Milênio, e Jesus fará novas todas as coisas, criando
assim, Novos Céus e Nova Terra onde habitará a Sua grande e gloriosa Justiça (II Pd 3.13).
Os amilenistas, em oposição aos pré-milenistas, tentam emplacar uma série de críticas
que eles acham ser irrespondíveis, pelos que creem em um milênio literal. Podemos pensar no
pai da teologia reformada, Louis Berkhof,419 e as suas indagações aos pré-milenistas,
crendo

que estes não podem comtemplar com respostas satisfatórias tais inquirições:

A teoria pré-milenista se enreda em todas as espécies de dificuldades


insuperáveis, com a sua doutrina do milênio. É impossível entender como
uma parte da velha terra e de uma humanidade já glorificada poderá coexistir
com uma parte da nova terra e de uma humanidade já glorificada. Como
poderão os santos em corpos glorificados ter comunhão com pecadores na
carne? Como poderão os santos glorificados viver nesta atmosfera
sobrecarregada de pecado e em cenários de morte e decadência? Como
poderá o Senhor da glória, o Cristo glorificado, estabelecer o Seu trono na
terra enquanto esta não for renovada? O capítulo vinte e um de Apocalipse
nos informa que Deus e a Igreja dos remidos tomarão como lugar de
habitação a terra depois que forem feitos novos céus e nova terra, então,
419
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas-SP: Luz para o Caminho Publicações, 1990, p. 721.
218

como afirmar que Cristo e os santos habitarão ali mil anos antes dessa
renovação? Como poderão os santos e os pecadores na carne manter-se na
presença do Cristo glorificado, sabendo-se que mesmo Paulo e João foram
completamente esmagados pela visão dele, At 26.12-14; Ap 1.17?

Respondendo a cada uma das 5 indagações de Berkhof, elencaremos os pontos que


falam da capacidade de superação das dificuldades “insuperáveis” na argumentação
reformada:
1) Pessoas glorificadas coexistindo com homens e mulheres não glorificados no
corpo:
Recorremos à Palavra de Deus, que tranquilamente responde a Louis Berkhof e a
todos os amilenistas, que se ancoram neste tipo de argumentação. Abrindo as cortinas à
possibilidade desta convivência existir, Jesus Cristo fez questão de não ir diretamente ao
Trono da Graça. Ele passou por aqui, 1 mês e 10 dias, conseguindo sobreviver com seus
discípulos não glorificados:

Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a
fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter
dado mandamentos pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera Aos
quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e
infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando
das coisas concernentes ao reino de Deus. (At 1.1-3).

Este glorioso exemplo se faz presente, a partir das seguintes afirmações escriturísticas:
a) Discorre sobre as Escrituras com alguns deles: “E, começando por Moisés, e por
todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras. ” (Lc 24.27);
b) O Cristo glorificado é apalpado em seu corpo-físico pelos não glorificados:

E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E ele


lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos
vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo;
apalpai-me e vede, pois, um espírito não tem carne nem ossos, como vedes
que eu tenho. E dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. (Lc 24.37-39).
c) O Cristo glorificado come pão com dois discípulos (não glorificados) de Emaus: “E
aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão, o abençoou e partiu-o, e lho deu.
Abriram-se-lhes então os olhos, e ele desapareceu-lhes [...]. E eles lhes contaram o que lhes
acontecera no caminho, e como deles fora conhecido no partir do pão” (Lc 24.30,31 e 35);
d) O Cristo glorificado come peixe e favo de mel com os discípulos de Emaus e os
apóstolos (ambos não glorificados): “E não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando
maravilhados, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe
parte de um peixe assado e um favo de mel; o que ele tomou e comeu diante deles” (Lc 24.41,
43). Ele consegue vivenciar esta mistura sem problema algum.
219

2) Salvos da glória e os salvos da terra em cenários de morte e decadência:


Como vimos, Cristo conviveu com os discípulos por 40 dias, em um cenário de morte
e decadência. No cenário milenar a condição de vida é muito melhor. Senão vejamos uns
pontos:
a) O cenário de morte no milênio será mais brando do que o atual – Após o dilúvio a
situação de morte e brevidade da vida se acentuou. Daí, o cientista cristão Henry
Morris420dizer:

De conformidade com a Bíblia, muitos homens viveram mais de 900 anos de


idade. Entretanto, com a descida da camada de vapor de água, precipitada
em forma de chuva, por ocasião do dilúvio, a proporção da mutação tomou
mais velocidade, e o tamanho e a força da criatura média se deteriorou,
muitas espécies se tornaram extintas, e a duração da vida média do homem
começou a decrescer gradativamente.
Este cenário de morte e decadência atual, proveniente do dilúvio, vai mudar no
milênio. Como ocorreu antes do dilúvio, as pessoas voltarão a ter longevidade como nos
tempos antediluvianos de Noé, alcançando para além dos 969 anos de Metusalém (Gn 5.27).
Por isso, Henry Morris421 destaca também o cenário antediluviano como distinto do
contemporâneo:

Fica subentendido, no segundo capítulo de Gênesis, que não havia


precipitação de chuvas tal qual conhecemos atualmente, no período
antediluviano. [...]. A declaração no primeiro capítulo de Gênesis, de que as
“... as águas sobre o firmamento...” foram separadas, durante a criação, das
“... águas debaixo do firmamento...”, parece deixar implicado que naquele
tempo, havia um grande acúmulo de vapor de água a rodear a terra acima de
sua atmosfera. A palavra aqui traduzida como “firmamento” significa
literalmente “expansão”, e parece descrever a atmosfera, ou pelo menos a
troposfera (a qual é a parte da atmosfera na qual há atualmente as correntes
aéreas, as tempestades, as nuvens etc. – abaixo da estratosfera). Certas
condições atmosféricas e climatéricas, muito incomuns, são igualmente
indicadas pela extrema longevidade dos antediluvianos.
Este cenário prevalecerá no período do quiliásmo e propiciará um número
reduzidíssimo de mortes, a ponto de Isaias afirmar: “Não haverá mais nela criança de poucos
dias, nem velho
que não cumpra os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; porém o pecador de cem
anos será amaldiçoado. ” (Is 65.20). Para Morris, o Dilúvio abalou a estrutura do planeta a tal
ponto de desincliná-lo do seu eixo, promovendo a quebra dos continentes, o surgimento de
diversos montes, e estabelecendo a diversidade climática. Olhando para o período
tribulacional, teremos 21 juízos oriundos dos 7 selos, das 7 trombetas e das 7 taças,

420
MORRIS, Henry. A Bíblia e a ciência moderna. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1985, p.72.
421
Ibidem, p.75.
220

proporcionando as mudanças necessárias no cenário atmosférico da terra. Por esta razão, a


terra voltará ao seu eixo na época antediluviana, e, por consequência, os montes
desaparecerão na consumação da Ira de Deus (Ap 15.1) no término da 70ª semana de Daniel,
no fim da Tribulação, em Armagedom (Ap 16.16). Após este versículo, lemos: “E o sétimo
anjo derramou a sua taça no ar, e saiu uma grande voz do templo do céu, do trono, dizendo:
Está feito. [...]. E toda ilha fugiu; e os montes não se acharam. ” Ap 16.17). Só morrerão, no
milênio, incrédulos que exteriorizarem o seu pecado. Israel e os crentes gentios (de vida
natural não glorificada) sofrerão uma transformação para entrarem no Reino, pois será
impossível, a eles, adentrarem, já com anos de vida natural, e conseguirem viver até ao fim do
milênio. Assim como os animais sofrerão transformações em sua natureza, os homens terão
mudanças em seus corpos a fim de atingirem a longevidade.
O convívio das pessoas glorificadas será com pessoas parcialmente transformadas,
pois, no fim do milênio, estes salvos receberão a transformação plena, ou glorificação,
semelhante à dos salvos da Igreja (I Co 15.50 a 53) no arrebatamento. Assim, “tragada será a
morte na vitória” (I Co 15.54c). E por isto, ela é “o último inimigo a ser aniquilado. ” (I Co
15.26). Estes crentes, judeus e gentios (de vida natural) no milênio, atravessarão o reino
terrestre para o estado eterno, no mesmo nível de glorificação que a Igreja e os crentes
ressurretos de outras dispensações.
b) O cenário de decadência no milênio – Esta afirmação de Berkhof, a censurar os
pré-milenistas, não tem nenhuma fundamentação bíblica, visto que, o reino messiânico terá
como seu cetro a justiça divina (Sl 45.6 – c.f também Hb 1.8) a imperar com a Sua fidelidade
na terra:

Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo


frutificará e repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria
e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de
conhecimento e de temor do Senhor. E deleitar-se-á no temor do Senhor; e
não julgará segundo a vista de seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir
de seus ouvidos. Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com
equidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com
os sopros de seus lábios matará ao ímpio, e ajustiça será o cinto de seus
lombos, e a fidelidade o cinto de suas entranhas. E morará o lobo com o
cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro e o filho de leão e
o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará.
Não há dificuldades para glorificados conviverem com não glorificados, pois o autor
do pecado, o diabo, (I Jo 3.8,10) estará amarrado, com os seus anjos, ou seja, eles estarão
anulados
221

por mil anos, em relação a suas ações na terra, e a decência prevalecerá em relação à
decadência.
3) O trono de Davi em uma terra não renovada:
Outro equívoco de Berkhof é achar que a terra do Milênio não será renovada.
Haverá

sim, tempos de restauração na inauguração da Nova Aliança, do Reino Messiânico e do Trono


de Davi. O Messias chama este período de Regeneração, ao responder à pergunta de Pedro:

Então Pedro, respondendo, disse-lhe: Eis que nós deixamos tudo e te


seguimos; que receberemos? E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que
vós, que me seguistes, quando na regeneração, o Filho do Homem se
assentar no trono de sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos,
para julgar as doze tribos de Israel. (Mt 19.27,28).
Neste tempo de regeneração, os apóstolos se assentarão em tronos para julgar Israel e a
Igreja julgará as outras nações (I Co 6.2). Daí os tronos precederem o Milênio, no Apocalipse:
“E vi tronos; e assentaram-se sobre eles e foi-lhes dado o poder de julgar [...]. Bem-
aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a
segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos. ” (Ap
20.4,6).
4) Cristo e os santos habitando mil anos em uma terra sem renovação:
Mais uma vez repetimos aos reformados que no retorno de Cristo, a reinar no Milênio,
haverá a libertação dos filhos de Deus, contemplando a natureza com a regeneração desta
terra:

A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus.


Pois a criação ficou sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa
daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida
do cativeiro da corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus.
Porque sabemos que toda a criação a um só tempo, geme e suporta a
angustia até agora. (Rm 8.19-22).

John MacArthur422 concorda que este fato se dará na volta de Cristo, em seu milênio:
Criação. Inclui tudo do mundo físico, exceto os seres humanos, os quais ele
contrasta com esse termo (vs.22-23). Toda a criação é personificada para
estar, por assim dizer, ansiando pela transformação da maldição e seus
efeitos. Revelação. Lit, ‘uma exposição’ ou ‘um desvelamento’. Quando
Cristo voltar, os filhos de Deus compartilharão a sua glória.
Por isso, não haverá problemas de adaptação para o Santo e os santos glorificados
habitarem juntos na era de ouro do reino milenar do nosso Messias, Cristo Jesus, o Senhor.
5) Santos e pecadores diante do Cristo glorificado sem desmaiarem perante o Rei:
422
MACARTHUR, John. BÍBLIA de Estudo. Bíblia Revista e Atualizada. Trad. Por João Ferreira de Almeida.
Barueri-SP: Edição Sociedade Bíblica do Brasil, 2010, p.1507.
222

É fato de que João (Ap 1.17) e Paulo (At 9.4 e 6) caíram atônitos diante do Cristo
glorificado, mas não podemos negar a presença deste Cristo com o corpo glorificado a pedir
que Tomé (não glorificado) colocasse as suas mãos no lugar dos cravos e da perfuração do
lado, marcas que estão neste corpo glorioso (Jo 20.27,28); não devemos nos esquecer de que
este Cristo, com o corpo glorificado, assoprou sobre os apóstolos, não glorificados, e eles não
desmaiaram: “E, havendo dito isto assoprou sobre eles e disse-lhes Recebei o Espírito Santo.”

(Jo 20.22). Jesus, sem o corpo glorificado teve contato com Pedro, ao convidá-lo a segui-lo:

E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse
um pouco da terra; e assentando-se ensinava do barco a multidão. E quando
acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto e lançai as vossas redes
para pescar. E, respondendo Pedro, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado
toda a noite, nada apanhamos; mas sobre tua palavra, lançarei a rede. E,
fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes
a rede. E fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para
que os fossem ajudar. E foram e encheram ambos os barcos, de maneira tal
que quase iam a pique. E vendo isto Simão Pedro, prostrou-se aos pés de
Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador (Lc
5.3-8).
Este evento e o fato abaixo se parecem muito, e a diferença entre eles é que no
primeiro Jesus (não glorificado) está com os discípulos (não glorificados); no segundo, Jesus
(glorificado) está com os discípulos (não glorificados). A reação de Pedro, em cada um deles,
é bem semelhante, e posso dizer, ainda, que no primeiro há mais temor do que no segundo:

E, sendo já manhã, Jesus se apresentou na praia, mas os discípulos não


conheceram que era Jesus. Disse-lhes, pois, Jesus: Filhos, tendes alguma
coisa de comer? Responderam-lhe: Não. E ele lhes disse: Lançai a rede para
o lado direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam
tirar, pela multidão de peixes. Então, aquele discípulo a quem Jesus amava,
disse a Pedro: É o Senhor. E quando Simão Pedro ouviu que era o Senhor,
cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar. (Jo. 21.4-7).
Notemos que o mergulho de Pedro no “mar” não é por desmaiar ante a glória do
Mestre, mas por causa de sua situação inconveniente, diante dEle. Portanto, não há problema
algum entre a relação de convívio entre o Cristo glorificado e os seus discípulos não
glorificados.
Ao fechar esta parte, faremos ainda umas perguntas aos pactualistas reformados sobre
o seu milênio ser espiritual/não literal: Se os amilenistas não conseguirem responder a
contento, a insustentabilidade de Berkhof, ao invés de ficar em nós, passa para eles. Primeiro,
se não há um milênio literal, como o amilenista explica o juízo com justiça, para os pobres no
reino eterno (Is 11.1-4)? Existe esta classe na eternidade? Como seria, na visão dos
aliancistas, o convívio pacífico, no reino eterno, entre lobo e cordeiro, leopardo e cabrito,
223

bezerro e leão, vaca e ursa, leão e boi; e o menino os guiando e a criança de peito pondo a
mão na toca do basilisco (Is 11. 6-8)? Haverá necessidade, para os neo-aliancistas, de o Rei
reger as nações com vara de ferro, no reino eterno, onde justos serão perfeitos (Sl 2.9; Ap
2.26,27; 12.5; 19.15)? Aos amilenistas, de que modo, haverá morte e maldição, a partir dos
cem anos, na eternidade (Is 65.20)? Como os apóstolos e Igreja julgarão Israel e o mundo (Mt
19.28; I Co 6.2 – respectivamente) no Reino
Eterno, se Cristo entregará este Reino ao Pai e Deus será tudo em todos (I Co 15.24, 25, 28)?
Prosseguindo, antes de destacarmos os fatos que abrangem o Estado Eterno convém
dar uma palavra bíblica sobre os julgamentos, através dos quais, a humanidade se deparará:

Apesar das duas ressurreições já indicarem o futuro estado do homem, elas


não impedem os julgamentos. Toda a filosofia dos julgamentos futuros se
apoia sobre o direito de Deus punir a desobediência, e o direito pessoal do
indivíduo de pleitear sua causa no tribunal. Apesar de Deus ser soberano,
como juiz de toda a terra, Ele fará justiça (Gn. 18:25). Fará isso, não para Se
submeter a alguma lei externa, mas sim como expressão de Sua natureza
mais íntima. O indivíduo terá oportunidade de mostrar porque agiu da
maneira como fez, e de conhecer as razões da sua sentença. 423
VII – OS JULGAMENTOS E O ESTADO ETERNO:

Em relação aos julgamentos de toda a história da humanidade, haverá oito, os quais


são:
1º O Julgamento da Cruz:
Cristo é julgado em nosso lugar e nos livra da condenação (Jo 5.24;3.16.21).
2º O Autojulgamento:
Depois de aceitar a Jesus como o seu único e todo suficiente salvador, o crente é
disciplinado pelo Senhor para não ser condenado com o mundo (I Co 11.31-32). É dever de
todo o salvo examinar-se a si mesmo (I Co 11.28). O tempo para este juízo é agora (I Pe
4.17).
3º O Julgamento das Obras do Crente – O BEMA:
Ocorrerá na hora do Arrebatamento e durará 7 anos, a julgar as obras da Igreja para
galardão (Ap 22.12).
4º O Julgamento de Israel:
A nação será julgada por Deus na Tribulação a reinar no Milênio.
5º O Julgamento de Babilônia:

423
THIESSEN Henry, p. 359.
224

A Babilônia política e a Babilônia religiosa serão julgadas na Tribulação (Apocalipse


17 e 18). A eclesiástica cairá na metade da semana (Ap 17.16-17), e a Política, cairá no final
dos 7 anos em Armagedom (Ap 16.16-19) para o Milênio (Ez 20.30-44).
6º O Julgamento das Nações:
Este juízo dar-se-á na terra quando Jesus descer para o Milênio (Mt. 25:31-46).
7º O Julgamento de Satanás e dos Anjos Caídos:
Após o Milênio, Deus julga o Diabo e seus anjos (Mt 25.41) e a Igreja julga também a
estes anjos. Sua parte é como jurada (I Co 6.3), cumprindo Gênesis 3.15, para Paulo: “E o
Deus
de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés” (Rm. 16:20).
8º O Julgamento Final:
Após o juízo dos anjos maus, há o Juízo Final ou o do Trono Branco, com 5 aspectos:
 O lugar – Este juízo será realizado em algum lugar da parte na eternidade (Ap
20.11).
 As pessoas que serão julgadas – neste juízo só serão réus os não salvos (de Caim ao
último ímpio do milênio), havendo assim a 2ª ressurreição para os mesmos (Ap 20.12-13).
 A base do julgamento – O juízo é baseado nas obras que os ímpios fizeram (Ap 20.
13). A salvação é pela graça (Ef 2.8,9) mas a perdição é pelas obras (Ap 20.12) O sofrimento
424
é eterno; mas, segundo as obras dos ímpios, e haverá variação na intensidade do sofrimento
(Lc 12.47- 48; Mt 11.22-24).
 Os instrumentos usados para julgar - Três livros Jesus usará para julgar os homens:
O Livro da Vida 425 – Ap. 20:15;
O Livro das Obras – Ap 20.12.
424
Nota do Escritor – As diferenças de pecados vistas nos exemplos da própria vida aqui na terra justificam este
ponto de vista, pois a justiça dos homens pune de acordo com a transgressão: quanto maior o crime mais duro o
castigo. Biblicamente falando pode-se verificar que existem diferenças entre adultério e adultério (Mateus 5:28).
A salvação é pela graça, mas a condenação é pelas obras (Efésios 2:8 e Apocalipse 21:12-13). O destino eterno
do homem dependerá de sua aceitação ou rejeição a Cristo, ou seja, ir para o céu ou para o inferno diz respeito à
crença ou descrença do indivíduo no Plano de Deus para a Salvação do homem (isso não envolve obras nem de
um lado nem do outro – João 3:18). As obras do crente são fundamentais para que o mesmo desfrute das
recompensas eternas (Ap. 11:18 e 1ª Co. 3:12-15). As obras dos ímpios são essenciais nos sofrimentos que lhe
ocorrerão no inferno (Gl. 6:7). “Cada um será julgado segundo as suas obras” (Ap. 20:12-13). Jesus afirma a
existência de diferentes graus de castigo no inferno: 1º Isto é percebido no rigor do juízo para determinadas
pessoas em relação a outras: a) Corazim e Betsaida em relação à Tiro e Sidom (Mt 11:20-22); b) Cafarnaum em
relação à Sodoma e Gomorra (Mateus 11: 23-24); 2º Nota-se também esta diferença nas oportunidades
concedidas aos homens em relação ao conhecimento da vontade de Deus: a) Muitos açoites – Grau maior de
sofrimento no inferno – para quem soube a vontade de Deus e não a cumpriu (Lc. 12:47); b) Poucos açoites –
Grau menor de sofrimento no inferno – para quem não soube a vontade de Deus e deixou de cumpri-la (Lc.
12:48). Corrobora com esta ideia o apóstolo Paulo em Romanos 2:11-12. Vale destacar que A ÊNFASE AQUI
NÃO É NA DURAÇÃO DO CASTIGO, MAS NA SUA INTENSIDADE. Pois como dizia um emérito teólogo:
“O menor dos infernos ainda é inferno! ”.
225

A Bíblia – João 12.48;


 O Destino dos réus – Serão lançados para sempre no Lago de Fogo (Ap 20.14-15).
Depois do Juízo Final, o Senhor Jesus irá criar para os seus:
I – Os Novos Céus e a Nova Terra:
À luz da Bíblia o destino eterno dos salvos não será o 3º Céu, mas a Nova Terra. Dois
teólogos atestam esta verdade: O primeiro é Guilherme Orr: 426
Os santos de todas as eras terão sido ressuscitados e revestidos de seus
corpos glorificados, e estão prontos para iniciar sua vida dentro da
eternidade. Os mortos ímpios terão sido julgados e lançados no lago de fogo
e enxofre, onde serão atormentados para todo o sempre (Apocalipse
20.10,15). Deus, então estará pronto para renovar a terra e para varrer dela os
últimos vestígios do pecado e da injustiça.
No Livro da Vida do Cordeiro não existe o riscar, os nomes das pessoas ali registrados
nunca serão retirados, pois é o Livro da Vida Eterna. Os ímpios não tiveram seus nomes
escritos ali (Ap 13.8;17.8). Graças a Deus pelos salvos. Eles são mais do que vencedores e por
isso têm seus nomes escritos antes da fundação do mundo no Livro da Vida do Cordeiro e têm
os nomes mantidos no Livro dos Vivos. Em seguida, a palavra é dada a Pentecost: 427

Já se demonstrou a partir de passagens como Apocalipse 21:3 que o Senhor


Jesus Cristo habitará com os homens na nova terra no reino eterno. Já que as
Escrituras revelam que a Igreja estará com Cristo, conclui-se que a morada
eterna da Igreja também será na nova terra, na cidade celestial, Nova
Jerusalém, preparada especialmente por Deus para os santos. Tal
relacionamento seria a resposta da oração do Senhor aos que Deus lhe
concedeu: ‘Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também
comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste
(Jo 17.27). Já que a glória eterna de Cristo será manifestada no reino eterno,
no Seu governo eterno, é natural que a igreja esteja presente para contemplar
a glorificação de Cristo para sempre.

425
Nota do Escritor – Há à luz da Bíblia dois Livros da Vida: 1º) O Livro dos Vivos – no qual encontram-se os
nomes de todos os homens e 2º) O Livro da Vida do Cordeiro – no qual estão os nomes de todos os salvos desde
antes da fundação do mundo. Ao mandar João escrever ao anjo da Igreja de Sardes Jesus prometeu aos
vencedores daquela Igreja (Como acreditamos que o salvo não é perdedor, aliás, “graças a Deus que nos dá a
vitória por Nosso Senhor Jesus Cristo” – 1ª Coríntios 15:57, e “[...] somos mais do que vencedores, por aquele
que nos amou” – Romanos 8:37) que “de modo algum riscaria o seu nome do Livro da Vida” (Ap. 3:5). Sendo
assim, esse Livro só pode ser o dos Vivos, pois o perdedor é riscado. A Moisés, quando rogou a Deus o perdão
para o povo de Israel, devido à sua adoração ao Bezerro de Ouro, ou o riscar o nome dele desse mesmo Livro,
Deus disse: “Riscarei do meu Livro todo aquele que pecar contra mim” (Êxodo 32:32-33); Em um dos Salmos
Messiânicos, Davi trata de Judas e dos que obram a impiedade; sobre o destino dos tais o Rei escreve: “Fique
deserta a sua morada, e não haja quem habite as suas tendas[...] soma-lhes iniquidade a iniquidade deles, e não
gozem da tua absolvição. Sejam Riscados do Livro dos Vivos, (grifo e nossos) e não tenham registro com os
justos (Sl. 69:25,27-28). Neste Livro a humanidade é registrada por Deus devido à vida biológica outorgada por
Ele ao ser humano (Sl. 139:16). É este Livro da Vida que será aberto no Juízo Final. Ali os ímpios poderão notar
que outrora tinham seus nomes registrados neste livro, mas não foram mantidos pelo fato deles terem rejeitado a
Cristo, por isso os seus nomes foram riscados do Livro dos Vivos, restando a eles a Segunda Morte (Ap. 20:12 e
15).

426
Guilherme W. Orr. Um quadro Simples do Futuro, p. 36.
427
Ibidem., p.385.
226

Sobre o Novo Céu e a Nova Terra a ideia é de mudança e não de aniquilação. Como
no milênio será regenerada (Mt 19.28), agora é restaurada e renovada pelo fogo (II Pd 3.10-
13).
II – A Nova Jerusalém:
O tópico da profecia é a esposa do Cordeiro. Ela descerá do Céu e se firmará na Nova
Terra (Ap 21.1-2;3,10). Veja o modo de Thiessen 428 descrever a Cidade:
1 A Sua Natureza:
 O teólogo mostra que esta cidade é literal (tem fundamento, portas, muralhas e
ruas);
 As portas são doze, e levam os nomes das doze tribos de Israel (Apocalipse 21.12);
 A muralha é de jaspe e a cidade é toda de ouro (Apocalipse 21.18);
 Toda porta é uma pérola (Apocalipse 21.21);
 As portas nunca se fecham (Apocalipse 21.25);
 A praça da mesma é de ouro puro (Apocalipse 21.21).
 A Nova Jerusalém não tem sol e lua; a glória a alumia e o Cordeiro é a luz (Ap
21.23).
 Corre nela o rio da vida e ali também se encontra a árvore da vida (Ap 22.1-2). 429
2 Os Seus Habitantes:
Para Thiessen, 430 os moradores desta cidade são os salvos da
Igreja (Ap. 21.9), um privilégio a todos eles! Daí Jesus dizer: “[...] entre os nascidos de
mulher não apareceu alguém maior do que João, o Batista; mas aquele que é o menor no reino
dos céus é maior do que ele” (Mt 11.11), pois, João, na sua humildade, é o “amigo do esposo”
(Jo 3.29), mas a Igreja é a Esposa do Cordeiro, identificada com a Nova Jerusalém (Ap 21.9-
10).
 As nações salvas andarão a sua luz (Ap 21.24). Talvez a cidade seja suspensa na
terra.
3 Sua Bem-Aventurança:
 Ali nunca mais haverá maldição; e o trono de Deus e do Cordeiro estará lá (Ap 22.3).
 Somos informados que os reis da terra lhe trarão a sua glória e honra (Ap 21.24).

428
Ibidem.
429
Ibidem., p. 359
430
Ibidem.
227

 Seus servos O servirão, tendo Seu Nome escrito em suas frontes. Eles verão a Sua
face e reinarão com Ele para sempre (22.3-5). Os anjos de Deus estarão junto delas (Ap
21.12).
As preocupações dos Dispensacionalismos Clássico e Revisado têm uma séria
431
preocupação com a linha de pensamento do Progressivo. Daí W. House e R. Thomas
focar:

Muitos dispensacionalistas tradicionais estão preocupados com o fato de os


dispensacionalistas progressivos estarem obscurecendo a distinção entre
Israel e a Igreja. Neste ponto, a abordagem progressiva começa a parecer
mais com uma teologia de aliança do que um dispensacionalismo. Quando
os povos distintos de Deus (Israel e a Igreja) não estão distintos, toma-se
difícil explicar a função destes povos dentro do plano divino. Este
obscurecimento ocorreu rapidamente no século IV. Certamente, os primeiros
líderes e apologistas cristãos eram cristãos judeus que ainda criam em um
futuro nacional para Israel. Mas o sucesso da Igreja romana no século IV
levou ao triunfalismo e a uma mudança dramática na opinião da Igreja
quanto ao futuro de Israel.

A doutrina estudada é preciosa à Igreja. Seu valor foi expresso pelo eminente teólogo
432
amilenista Charles Hodge: “Este é um tema muitíssimo vasto e difícil. Está estreitamente
relacionado a todas as outras grandes doutrinas que vêm sob o tópico da escatologia. Tem
suscitado tanto interesse em a era da Igreja que os livros escritos sobre ele formariam por si
sós uma biblioteca. ” Com Hodge diríamos que tal biblioteca ajuda ao estudioso que dela se
aproprie em busca de subsídios a desvendar os mistérios do reino (Mt 13.11). Atingimos
seus pontos principais sobre o Rapto da Igreja, a Tribulação, o Milênio e o Estado Eterno.
CONCLUSÃO

Finalizamos esta obra, cientes de que o Dispensacionalismo é uma chave-


hermenêutica confiável, coerente, concisa, clara, robusta e consistente, sob a interpretação
histórico-gramatical, a atender a Eclesiologia e a Escatologia. Entendemos a mobilidade desta
corrente teológica, pela qual, há sim, possibilidades de revisar a Escatologia e rever posturas e
conceitos à luz da Bíblia, principalmente no tocante ao Eschaton. Foi o que ocorreu com o
DR em relação ao DC. Mas, este dispensacionalismo não minou o arcabouço doutrinário deste
grande Sistema.
Sabemos que a Escatologia que escolhermos para seguir afeta as doutrinas em que
cremos. Os aliancistas e os novos aliancistas, com sua escatologia, atingem a sua confissão de

431
Ibidem, In W. House e R. Thomas. Crenças Básicas do Dispensacionalismo Progressivo., 2010, 143.
432
Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 1602.
228

fé, principalmente na eclesiologia. Com os dispensacionalistas isto não é diferente. Há sim, a


mobilidade do dispensacionalismo, desde o seu surgimento no fim do século XIX, mas a toda
a alteração há limites. Revisar alguns dos pontos doutrinários sem modificar a hermenêutica, é
plausível e possível, mas quando mudamos pontos do sistema que afetam a hermenêutica,
tocamos na sua estrutura. Daí a preocupação com denominações, seminários, igrejas e crentes.
Revisar sem destruir as estruturas é válido, como o fizeram Walvoord, Ryrie,
Pentecost, McClain e Feinberg, no Seminário Dalas em relação a Chafer, seu fundador,
Scofield ou Darby. Mas os novos doutores do Dalas, Blaising, Saucy e Bock, têm alçado voos
mais altos, que cabem alguns cuidados a serem postos, a fim de que estas viagens não
resultem em quedas. Infelizmente, podemos ter pastores e professores batistas regulares,
pastoreando nas igrejas ou lecionando nos seminários, sem serem pré-tribulacionistas. Isto
pode ocorrer noutras igrejas ou denominações dispensacionalistas também. Tais problemas se
agravaram com a vinda do novo dispensacionalismo que se irmana com o aliancismo e o novo
aliancismo; apesar de alguns tentarem negar tal aproximação, é fato que se criou uma via do
meio a conciliar os grupos, com crenças que não são novas: “O que foi, isso é o que há de ser;
e o que se fez, isso se fará; de modo que não há nada de novo debaixo do sol. ” (Ec 1.9). Elas
podem ser notadas a partir:
(1) Da tentativa de harmonizar continuidade e descontinuidade entre os Testamentos;
(2) Da busca por uma abordagem hermenêutica que tenta acrescentar novos sentidos
ao texto veterotestamentário, pelo uso que o autor neotestamentário faz, no contexto do
eschaton;
(3) Da afirmação de um Reino inaugurado por Cristo, em sua ascensão ao trono de
Davi;
(4) Da rejeição de uma lacuna profética vinculada ao nascimento e arrebatamento da
Igreja entre a sexagésima nona e a septuagésima semana de Daniel;
(5) Da negação de um adiamento profético, tão patente quando contemplamos a
rejeição
de Israel e a sua futura admissão no período tribulacional;
(6) Da abertura de possibilidades quanto à hora do arrebatamento da Igreja,
possibilitando, além do pré-tribulacionismo, correntes como mid-tribulacionismo, pré-ira e
pós-tribulacionismo, deixando a iminência da volta de Cristo na corda-bamba da escatologia;
(7) Da inserção de uma nova aliança, cumprindo-se na igreja, deixando sérias
dificuldades quanto ao modo de agir do Espírito entre os Testamentos e a Tribulação;
Os perigos se acentuam ainda mais, e podem levar a rupturas sem precedentes:
229

[...]. Um plano divino distinto, o tempo da Igreja como um parêntesis, a


ênfase no pré-tribulacionismo e no pré milenismo – tudo isso faz parte da
tradição dispensacionalista. Os progressivos rompem com todos esses
pontos. E, por conta disso, segundo alguns tradicionais, os progressivos não
podem ser considerados dispensacionalistas. A alguns amigos, que são
progressivos ou se alinham com este pensamento, sugeri a ideia de uma nova
denominação para a corrente aqui no Brasil. 433

Notamos o perigo de rupturas maiores, vindas destas crenças atípicas aos DC e DR. A
razão da sugestão de Neto434 se deve às críticas oriundas do desgaste no debate relativo ao
tema:

[...]. Isso porque o termo Dispensacionalismo no Brasil já está tão


desgastado que, basta mencioná-lo, e mesmo com o adjetivo progressivo, o
pessoal já faz cara de aversão. Então alguns desses amigos tem sugerido o
nome “pré-milenista futurista”. Professores do seminário onde estudei
preferem ser chamados de “os da Escola do Ladd”, o que não muda lá muita
coisa. Por isso mesmo insisto nos termos tradicional e progressivo. E mais
uma sugestão: coloquem dentro dos tradicionais toda essa turma – os
clássicos, os revisados, os “desrevisados” etc. Tudo de ruim do
dispensacionalismo podem colocar dentro desse pacote. Fiquem à vontade.

Esta resposta expressa um orgulho acadêmico e denota desprezo a alicerces do


sistema, e é relativo o tudo de ruim do dispensacionalismo. Pode ser que, talvez, o tudo de
ruim para os do DP, figure entre os marcos fundadores desta chave-hermenêutica. Por isso,
Ryrie435 apela:

Lamentavelmente, alguns dispensacionalistas progressivos parecem ter


obtido destaque, rebaixando os dispensacionalistas que os precederam,
pessoas a quem devem muito e em cujo campo querem permanecer. O
dispensacionalismo normativo, porém, permanece sendo uma concepção
legítima e conservadora. Outros cristãos não são obrigados a concordar com
ele, mas devem, pelo menos, apresentá-lo de forma justa e reconhecer suas
contribuições com respeito.

É por isto que as mudanças do dispensacionalismo com d minúsculo, sem desrespeito


algum ao DP, pois tal nomenclatura é proposta pelo próprio Bock, um dos seus mentores, e
nós o entendemos perfeitamente, devem ser analisadas com cuidado pelos
Dispensacionalistas.
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434
Ibidem.
435
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ÍNDICE DAS ESCRITURAS
(Textos bíblicos usados neste livro)

Gênesis Mateus Romanos


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Gn 3.15 > p. 38 Mt 1.21 > p.70 Rm 2.13 > p.25
Gn 5. 24> p. 84 Mt 2.13-15 > p. 29 Rm 3. 10-12 > p.15
Gênesis 15 > p. 31 Mt 3.2 > p. 49 Rm 3 19 e 20 > p.29
Gn. 15.6 > p. 16 Mt 3.11 > p. 18 Rm 3.21> p.44
Mt 3.15 > p. 47 Romanos 6 >
p.23
Mt 4.17 > p. 49 Rm 7.1-3 > p.26
I Samuel Mt 4.23 > p. 50 Rm 8.23 >
p.44
Mt 5.7 > p.25 Rm 9.4 >
p.22
I Sm 7.16 > p. 50 Mt 5.17 > p. 22 Rm 9.31,32 >
p.23
Mt 5.21-48 > p.24 Rm 10.2,3 >
p.23
2 Samuel Mt 5.22,28,32,34,39, 44 > p.72 Rm 10.4 >
p.22
Mt 6.9-10 > p. 58 Rm 10.17 >
p.16
2 Sm 7.16 > p. 47 Mt 10.5-7 > p. 49 Romanos 11>
p.16
Mt 10.6 > p. 44 Rm 11.1,2a > p. 83
Salmos Mt 11.2-3 > p. 17 Rm 11.8-10 >
p.47
Mt 11.4-6 > p. 17 Rm 11.25-27 >
p.46
Sl 2. 6,7 > p. 29 Mt 11.11 > p.17 Rm 14.10 > p.78
Sl 2.6-9 > p.70 Mt 11:12 > p. 53 I
Coríntios
Sl 7.1> p. 16 Mt 11.13 > p.17
Sl 11.1> p. 16 Mt 12.28 > p. 53 I Co 4.5 >
p.25
Sl 14.1-3 > p. 15 Mt 12.30 > p. 03 I Co 9.17 > p.
80
Salmo 16 > p. 74 Mt 13.13-15 > p. 47 I Co 3.13-14 >
p.66
Sl 16.10 > p. 28 Mt 13.14 > p. 03 I Co 10.32 > p.
83
234

Sl 41.9 > p. 34 Mt 13. 17 > p. 17 I Co 12.12-27 >


p.18
SI 89.4 > p. 46 Mt 13 > p. 49 I Coríntios 15 >
p.04
Sl 107.2, 6,13,19,28; > p. 16 Mt 13.16-17 p. 52 II
Coríntios
Sl 110.1 > p. 68 Mt 13.38 > p. 47 II Co 1. 17 >
p.03
Sl 110.4 > p. 72 Mt 15.24 > p. 44 II Co 1.18-20 >
p.03
Sl 110. 4,5 > p. 76 Mt 16.18 > p. 45 II Co 5.10 >
p.78
Sl 118.22-23 > p. 45 Mt 16.19 > p. 57 II Co 5.17 >
p.18
Sl 118.25-26 > p. 46 Mt 18.3 > p. 48
Gálatas
Sl 130.2,4 > p. 15 Mt 19.28 > p. 47
Salmo 132 > p. 74 Mt 21.42 > p. 45 Gl 3.29 >
p.61
Sl 145.12 > p. 60 Mateus 22 > p. 70 Gl 6.16 > p.39
Isaias Mt 22. 37-40 > p. 22 Gl 6.15-16 >
p.63
Mt 22.42-45 > p. 45
Efésios
Is 6 > p. 65 Mt 23.37 > p. 46 Ef 1.3 >
p.77
Is 7.9 > p. 16 Mt 23.38-39 > p. 46 Ef 1.10 > p.
57
Is 9.7 > p.78 Mateus 24 e 25 > p. 10 Ef 1.3,20 >
p.77
Is 11.1-2 > p. 66 Mt 24.36 > p. 26 Ef 2.6 > p.77
Is 49.8 > p. 47 Mt 24.36-41> p. 84 Ef 2.8-9 >
p.15
Is 49.1-7 > p. 47 Mt 25.1-13,31-46> p. 49 Ef 2.11-22 >
p.15
Is 53.10 > p. 16 Mt 25.21 > p. 25 Ef 3.2 >
p.15
Is 53-55 > p. 47 Mt 25.31-46 > p. 25 Ef 3.3-5 >
p.55
Is 56:1-8 > p. 47 Mt 28.16-20 > p.25 Ef 3.3-6 >
p.57
Is 61.1-2 > p. 44 Ef 3.9 > p.
80
Ef 5.25-27 > p.
84
Jeremias Marcos
Filipenses
235

Jr 19.1> p. 72 Mc 1.15> p.50 Fp 3.3>


p.61
Jr 23.5 > p. 33 Mc 2.28 > p.25
Colossenses
Jeremias 31 > p. 30 Mc 4.11-12 > p. 46
Jr 31.31-34 > p. 39 Mc 9.1 > p. 54 Cl 1.25 > p.
80
Jr 31.31-37 > p. 47 Marcos 12 > p. 72 Cl 1.26-27 >
p.57
Mc 12.10 > p. 45 Cl 2. 14,15 >
p.23
Marcos 13 > p.10 Cl 2.16-17 >
p.22
Mc 14.61 > p. 75 Cl 2.19-23 >
p.23
Mc 14.62 > p.69 Cl 2.6-27 >
p.55
Ezequiel Lucas I
Tessalonicenses
Ez 1.3-28 > p. 65 Lc 1.32 > p.50 I Ts 1.9 > p.
84
Ez 10.1-3 > p. 65 Lc 1.30-33> p. 68 I Ts 4.13-18 > p.
84
Ez 10.14 > p. 66 Lc 4.18-21 > p.44 I Ts 5.1-11 > p.
84
Ez 24.1 > p. 72 Lc 8.10 > p.46 I
Timóteo
Ez 34.23 > p. 33 Lc 9.27 > p. 54 2 Tm 4-1>
p.58
Ez 34.24,25 > p. 33 Lc 10.1-12 > p.49 II
Timóteo
Ez 36.25-27 > p. 47 Lc 11.20-22 > p. 38
Ez 36.24,28 > p. 47 Lc 12.28 > p. 54 I Tm 2.5 e 6 >
p.72
Ez 37.14,23 > p. 47 Lc 13.23 > p. 57
Ez 37.24 > p. 34 Lucas 16.1-4 > p. 80 Tito
Ez 37.24-28 > p. 47 Lc 16.16 > p. 53 Tt 3.6,7 > p.18
Lc 17.20- 21> p. 54
Daniel Lc 16.28 > p. 54
Hebreus
Lc 19.12-27 > p. 69 Hebreus 1 > p. 72
Dn 2.44 > p. 58 Lucas 20 > p. 72 Hb 1.1-39 >
p.15
Dn 4.34 > p. 58 Lc 20.17 > p. 45 Hb 1.3 >
p.47
Dn 7.9-10 > p. 76 Lucas 21 > p. 72 Hb 4.14-16 > p.
73
Dn 7.13 e 14 > p. 75 Lc 21. 13 > p.10 Hb 5.5-6 >
p.29
236

Daniel 9.24-27 > p. 84 Lc 22.37 > p. 46 Hb 7. 24-27 > p.


76
Dn 9.34 e 44-45 > p. 45 Lc 22.69 > p. 69 Hb 8.14 >
p.44
Dn 12.7-9 > p. 28 Lc 22.67> p. 75 Hb 8.9-13 > p.
39
Hb 9.14-17 >
p.39
Hb 9.22 > p.44
Hb 9.28 > p.
73
Oseias João Hb 10.1 >
p.21
Hb 10.10-12 >
p.73
Os 1.1 > p.72 Jo 1.1 > p. 42 Hb 10.12-13>
p.71
Jo 1.11 > p.44 Hb 10.14-17 >
p.39
Jo 1.10-11 > p.51 Hb 11 > p.16
Jo 1.18, 33,34 > p.52 Hb 11.39-40> p.57
Jo 1.34 > p. 17 Hb 12.2 > p.47
Jo 3.3,5 > p. 48 Hb 12.14-29 > p.27
Joel Jo 3.36 > p.25 Tiago
Jl 1.1 > p. 72 Jo 3.18-21 > p.25 Tg 2. 14-26 > p.25
Joel 2 > p. 73 Jo 11.49-51> p. 28 Tg 5.12b >
p.03
Jl 2.32 > p. 16 Jo 12.31 > p.38 I
Pedro
Jl 3.2 Jo 12.40 > p.47
Jo 13:18 > p.34 I Pedro 1.10-11 > p. 28
Jo 14.2-3 > p.81 I Pedro 2.4-8 > p. 45
Jo 16.7-11 > p.66
Amós Jo 16.12 > p.18 II Pedro
Jo 16.14 > p.66
Am 2.1 > p. 72 Jo 18.11-12 > p. 50 II Pe 1.19 > p.10
Jo 18.36 > p. 77 II Pe 2.9 > p.64
Obadias Jo 20. 1-9 > p.23
Jo 20.31 > p.54
Ob 1.1 > p. 72

Jonas Atos I João

Jn 1.1 > p.72 At 1.5,8 > p.18 I Jo 3.1-3 > p. 44


Miqueias At 1 6-7 > p. 46 I Jo 5.1-3 > p. 26
Mq 1.1 > p.72 Atos 2 > p. 19
Atos 2.16-20
Sofonias At 2.30 > p. 69 Apocalipse
At 2.24-32 > p. 74
Sf. 1.1 > p. 72 At 2.34-36 > p. 47 Ap 1.6,9a > p. 59
237

At 3.12 > p. 61 Ap 1.10 > p. 82


At 3.19-21> p. 46 Ap 2.28 > p. 82
Ageu At 3.13-15,17 > p. 46 Ap 3.10 > p. 82
At 3.24-25 > p. 29 Ap 3.15-16 > p.
02
Ag 1.1 > p. 72 At 4.8 > p. 61 Ap 3.21> p. 75
At 4.10 > p. 81 Ap 4.4> p. 65
Zacarias At 4.11> p. 45 Ap 4.5 > p.66
At 4.25-27 > p. 46 Ap 4.6-7 > p.66
Zc 1.1 > p. 72 At 5.21,31,35; 21.28 > p. 61 Ap 4.8-9 > p.67
At 8.12 p. 56 Ap 4.10-11 > p.67
Habacuque At 8.30-37 > p.17 Apocalipse 6 a 8 > p.81
At 10.1ss > p. 57 Ap 7.9 a 17 > p.83
Hc 2 > p. 16 At 11.15 > p. 57 Apocalipse 8 a11> p.81
At 11.15-16 > p. 60 Ap 11.1> p. 61
Zacarias At 13.32-33 > p. 29 Ap 11.15-17 > p. 59
At 15.8-11> p. 10 Ap 15.1 > p.84
Zc 4.1-6. > p. 66 At 19.1-7 > p. 57 Ap 16.14-16 > p.81
At 19.8 > p. 55 Ap 19. 7-9 > p. 53
Malaquias At 20.24-25 > p. 58 Ap 19.10c > p. 72
At 28.26-27 > p. 47 Ap 19. 11-21> p. 53
Ml 4.2 At 28.31 > p. 58 Ap. 20.1-6 > p. 53
Ap 20.11-15 > p. 25
Ap 21.1-5> p.78
Ap 22.14 > p. 27

ÍNDICE ONOMÁSTICO

A K
A. B. Langston > p. p. 71, 102. Karl Barth > p. 34.
Allen P. Ross > p. p. 15, 16, 17, 18, 19. Knox Chamblin > p. p. 22, 23, 24, 25, 26.
Alva McClain > p. p. 39, 59, 104, 105, L
156, 189.
Albert Schweitzer > p. p. 41, 43 Laerte Tardeli Hellwig Voss > p. p. 42, 43.
Antonio Neto > p. p. 20, 40, 41, 67, 69, Leonardo Boff > p. 43.
83, 85, 175, 176, 190. Leon Wood > p. 155.
Anthony Hoekema > p. 38. Lewis Sperry Chafer > p. p. 39, 51, 141,
189.
Augustus Nicodemus Lopes > p. p. 16, Louis Berkhof > p. p. 152, 179, 182, 184.
20, 32, 38, 130, 172, 173, 174.
B M
Bruce Anstey > p. p. 37, 28, 39, 63, Marcos Granconato > p. p. 82, 87, 104.
139, 140, 141. Mal Couch > p. p. 58, 79, 131, 162.
Bruce Waltke > p. p. 28, 29. Mark Dever > p. 21.
238

C Mark Swedberg > p. p. 30, 42, 178.


Charles Caldwel Ryrie > p. p. 11, 14, 33, Marten Woudstra > p. 62.
34, 39,50, 53, 60, 61, 77, 79, 81, 129, 130, Martin Oliver Thompsom > p. 89.
135, 136, 146, 147, 149, 189. Marvin Rosenthal > p.p. 82, 91.
Charles Feinberg > p. p. 13, 39, 189. Michael Vlach > p. 80.
Charles Hodge > p. p. 14, 37, 189. Myron Houghton > p. 130.
Charles Pfeiffer e Everett Harrison > p. 53. Milard J. Ericson > p. p. 171, 176.
Craing Blaising > p. p. 30, 40, 67, 189 N
Cyrus I. Scofield > p. p. 39, 53, 79, 87, 88 Nicholas Thomas Wright > p. 43.
89, 110, 141, 189. Norman Geisler > p. p. 34, 37, 38, 40,
D 41, 51, 54,56, 57, 59, 104, 105, 131,
Darrel Bock > p. p. 21, 30, 31, 40, 67, 68, 144, 147, 150, 160
69, 70, 75, 189. Norman Champlin e J. M. Bentes > p. 172
Dodd > p. 41. O
Donald D. Turner > p. p. 103, 175. O. Palmer Robertson > p. p. 16, 20, 21,
Douglas A. Carson > p. p. 28. 132, 137, 140, 150, 151, 152, 153.
Douglas Moo > p. p. 24, 26, 28 Oswald Allis > p. p. 37, 135.
Douglas Stuart > p. p. 27. Oscar Culmann > p. p. 41, 42, 43, 44, 75,
76.
E P
Earle Cairns > p. 16. Paulo Sérgio Batista > p. 23.
Elliot Johnson p. 34. Paulo Junior > p. 39.
E. E. Elis > p. 29. R
Emery H. Bancroft > p. p. 10, 11, 103. Randall Price > p. p. 46, 47, 105, 158
Evandro Roque Rojahn > p. 54. René Pache > p. p. 110, 112, 115.
Everetti F. Harrison > p. 156 Richard Longenecker > p. 29.
F Robert Thomas > p. p. 27, 30, 32, 33, 60,
Fred Kiooster > p. 14. 63, 64, 188.
Felipe Sabino > p. p. 20, 177. Robert Saucy > p. p. 30, 40, 62, 101, 121,
Francisco Cook > p. 147. 122, 189.
Friedrich Schleiermacher > p. 43. Robert Van Kampen > p. 82.
G Roque Albuquerque > p. p. 16, 37, 42, 101,
Gaspar de Souza > p. p. 20, 172. 177.
George Eldon Ladd > p. p. 21, 42, 43, Robert J. Brennan e David R. D. Corrêa> p.
59, 60, 176, 177, 178. p. 116, 122, 124, 126, 127, 128, 160.
G. Beale > p. 28. Ronaldo C. Watterson > p. 167.
Gertrud Wasserzug-Traede p. 157. Roy Zuck > p. p. 34, 54, 60, 132, 134, 176.
Grant Osborne > p. p. 29. 176.
Graham SCROGGIE> p. 146. S
Gustavo Gutiérrez > p. 43 Samuel Ladeira > p. p. 79, 102.
Guilherme Orr > p. 187. Sinésio Lyra > p.155.
H T
Héber Campos Junior > p. 38. Thiago Abdala > p. p. 27, 28, 29, 63.
Hélder Cardin > p. p. 33, 48, 71, 72, 138. Theodor Zahn > p. 177.
139. Thomas Tronco > p. p. 30, 57, 58, 73.
239

Hernandes Dias Lopes > p. p. 16, 38, 61 Tony Kessinger > p. p. 82, 85, 86, 91.
62, 69, 153. W
Henry Clarence Thiessen > p. p. 10, 106, Walter Kaiser Jr > p. p. 27, 36, 37.
155, 185, 188. Willem VanGemeren > p. 13.
Henry Alford > p. 177. Walter Martin > p. 177.
Henry Morris > p. 181. William Felipe Zacarias > p. 43.
Wolfhart Pannenberg > p. 43.
J W. House > p. p. 60, 63, 64, 188.
Jared Compto > p. p. 28. V
James Freerksen > p. p. 56, 130, 131.
Jenuan Lira > p. 39. Valney Veras > p. p. 16, 33, 48, 49, 50
Johann Albrecht Bengel > p. 42. 51, 52, 53, 54, 109, 110, 137, 138, 141,
159.
John D. Pentecost > p. p. 39, 49, 81, 101, Valbert Veras > p. p. 30, 67, 68, 69.
107, 141, 142, 145, 146, 149, 168, 171, Vern Poythress > p. 38.
178, 187,189. Vitor Fontana > p. p. 31, 40, 190
Jonh Nelson Darby > p. p. 39, 141, 189. Von Hoffman > p. 42.
John S. Feinberg > p. p. 12, 13, 14, 19, 21,
23, 24, 80, 188
John Walton > p. p. 30, 31.
John Walvoord > p. p. 39, 142, 179, 188.
John Warwick Montgomery > p. 177.
Johannes Cocceius > p. p. 37.
John MacArthur > p. 183.
José Míguez Bonino > p. p. 43.
Joseph Ratzinger > p. p. 43.
J. P. Barton Payne > p. 12, 13, 14, 16, 62, 177.
J. C. Ryle > p. p. 55, 56, 75, 77.
Jonas Xavier Pessoa > p. p. 166, 169, 176.
Jurge Moltmann > p. 37.

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