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Ao iluminar-se, o Buda Shakyamuni viu que o universo dos fenômenos funciona de acordo
com a verdade da Gênese Condicionada. Quando decidiu ensinar o que tinha visto, o Buda per-
cebeu que a Gênese Condicionada seria de difícil compreensão e poderia até gerar medo se
fosse explicada de pronto.
Por isso, em vez de começar pela Gênese Condicionada, o Buda ensinou primeiro as Quatro
Nobres Verdades. O primeiro período dos ensinamentos do Buda é chamado “Primeiro Giro da
Roda do Darma”.
As Quatro Nobres Verdades não diferem da verdade da Gênese Condicionada e, por certo,
não a contradizem.
Elas simplesmente dirigem o foco da Gênese Condicionada para a vida humana, fazendo com
que esta pareça mais relevante para as pessoas e fique mais fácil de entender.
Ainda que em ordem diferente, as Quatro Nobres Verdades continuariam sendo com-
preensíveis. Contudo, a sequência escolhida pelo Buda permite que as verdades sejam ensi-
nadas da forma mais eficaz possível.
Para a maioria das pessoas, é mais fácil entender primeiro o efeito, –depois sua causa. Por
isso, o Buda apresentou primeiro a verdade do sofrimento e depois explicou a causa do sofri-
mento. Assim que se compreendem as duas primeiras Nobres Verdades, é natural querer se
libertar delas.
Para ajudar-nos a entender como alcançar essa libertação, o Buda ensinou a Terceira
Nobre Verdade, que é a cessação do sofrimento, e por fim a Quarta Nobre Verdade, que é o
caminho para a cessação do sofrimento.
O Buda começou por descrever o problema, depois explicou sua causa. Em seguida, contou a
solução do problema e ensinou como chegar à solução. Um elemento fundamental dos ensina-
mentos do Buda é a imensa compaixão que transparece na elaboração de explicações, feitas
de modo a serem compreendidas por qualquer pessoa que realmente se empenhe. A Gênese
Condicionada e as Quatro Nobres Verdades são verdades muito profundas. Aquele que as
estudar longamente vai perceber quão inteligente e quão compassivo foi o Buda, ao conseguir
explicá-las de forma tão clara.
A Primeira Nobre Verdade
A Primeira Nobre Verdade é a verdade do sofrimento. O Buda viu com perfeita clareza algo
que as pessoas vislumbram ocasionalmente: não é possível ao ser humano conquistar total
satisfação neste mundo. O sofrimento é descrito de muitas formas diferentes nos sutras budis-
tas. As três fundamentais serão abordadas nos parágrafos a seguir, devendo-se observar que
as classificações de sofrimento apresentadas não são qualitativamente diferentes, mas apenas
formas diferentes de abordar um mesmo problema.
Os dois sofrimentos
Os “dois sofrimentos” são o interno e o externo, sendo esta a classificação mais elementar
encontrada nos sutras budistas. Essa é a maneira mais básica de compreender o sofrimento.
Sofrimentos internos são aqueles que geralmente consideramos parte de nós, como dor física,
ansiedade, medo, ciúme, suspeita, raiva e assim por diante. Sofrimentos externos são aqueles
que parecem vir de fora, incluindo vento, chuva, frio, calor, seca, animais selvagens, catástro-
fes naturais, guerras, crimes e assim por diante. Não é possível evitar – nenhum dos dois tipos.
Os três sofrimentos
Esta é uma classificação baseada mais na qualidade do sofrimento do que em sua origem ou
tipo. O primeiro dos três sofrimentos é o inerente, aquele a que estamos sujeitos pelo simples
fato de estarmos vivos. O segundo é o sofrimento latente, aquele que está presente mesmo
nos momentos mais felizes: coisas se quebram, pessoas morrem, tudo envelhece e se deterio-
ra, até os melhores momentos chegam ao fim. O terceiro sofrimento é o ativo, causado por
estarmos presos em um mundo de ilusão constantemente mutável. No mundo da ilusão,
temos pouco ou nenhum controle sobre nossa vida. Sentimos ansiedade, medo e impotência à
medida que vemos tudo se transformando de um dia para o outro.
Os oito sofrimentos
Os oito sofrimentos descrevem de modo mais detalhado o sofrimento a que estão sujeitos
todos os seres sencientes e são classificados com base naquilo que os define. São eles:
Nascimento. Após vários meses de perigo dentro do ventre da mãe, finalmente, sentimos a
dor e o medo do nascimento. Depois disso, tudo pode acontecer. Somos como prisioneiros do
corpo e do mundo onde nascemos.
Envelhecimento. Se formos, suficientemente, afortunados para não sermos mortos na juven-
tude, teremos de enfrentar o processo de envelhecimento, sofrer a deterioração do corpo e da
mente enquanto assistimos o desaparecimento de nossos amigos, um por um.
Doença. A saúde é um prazer por ser tão contrastante com a doença. Todos, em algum
momento, sofrem a dor e a humilhação da doença.
Morte. Mesmo que a vida seja considerada perfeita, a morte é inevitável.A morte, quando não
é repentina e aterradora, é geralmente lenta e dolorosa. Somos como folhas ao vento.
Ninguém sabe o dia de amanhã.
Perda de um amor. Às vezes, perdemos alguém que amamos; outras vezes, nosso amor não é
retribuído. Não existe quem não sofra por não poder estar sempre com aqueles que ama.
Ser odiado. Ninguém quer inimigos; entretanto, é difícil evitá-los neste mundo.
Desejo não realizado. Nossos anseios e desejos determinam em grande medida quem somos.
Limitam nossa capacidade de entender o Darma, além de nos causar infindáveis problemas. E,
o que é pior, a maioria deles – jamais chega a ser satisfeita, causando-nos duas vezes mais pro-
blemas.
Os Cinco Skandhas. Estes são: forma, sensação, percepção, atividade e consciência. Eles cons-
tituem os “tijolos” da existência consciente e o meio para a manifestação do sofrimento. Os
Cinco Skandhas são como uma fonte ilimitada de combustível a gerar dor e sofrimento, vida
após vida.
Causas fundamentais do sofrimento
Nos parágrafos anteriores, mostramos como os budistas veem a vida humana atolada no
sofrimento. Nos seguintes, o tópico sofrimento será analisado com mais profundidade, pelo
delineamento de algumas de suas causas fundamentais:
O Eu não está em perfeita harmonia com o mundo material. É necessário esforço constante
para encontrarmos conforto neste mundo. O clima é sempre quente demais ou frio demais,
nossas posses exigem cuidado constante, nossa casa é muito velha ou muito pequena, as ruas
são muito barulhentas, os sapatos se gastam e assim por diante. O mundo material raramente
se apresenta da forma como gostaríamos que fosse.
O Eu não está em perfeita harmonia com as outras pessoas. Na maioria das vezes, não pode-
mos estar na companhia daqueles com quem gostaríamos de estar, mas somos obrigados a
suportar a presença de pessoas com as quais temos dificuldade de relacionamento. Não raro
somos até mesmo forçados a conviver com pessoas que abertamente não gostam de nós.
O Eu não está em perfeita harmonia com o corpo. O corpo nasce, envelhece, adoece e morre.
O “eu” tem pouco ou nenhum controle sobre esse processo.
O Eu não está em perfeita harmonia com a mente. Nossa mente está frequentemente além
do nosso controle, disparando de uma ideia para outra como um cavalo selvagem ao vento. A
atividade mental iludida é a fonte de todo o nosso sofrimento.
O Eu não está em perfeita harmonia com os seus desejos. O “eu” pode compreender que os
desejos geram carma e sofrimento, mas isso não significa que seja capaz de controlá-los com
facilidade. O autocontrole é difícil justamente porque o que queremos com mais intensidade
nem sempre é o que sabemos ser o melhor para nós. Se nem mesmo tentarmos controlar
nossos desejos e deixarmos que eles tomem conta de nós, o “eu” sofrerá ainda mais.
O Eu não está em perfeita harmonia com as suas opiniões. Basicamente, isso significa que
nossas opiniões são erradas. Quando nossas crenças não estão alinhadas com a verdade, cau-
samos a nós próprios infindáveis problemas, pois teremos a tendência de repetir os mesmos
erros muitas vezes.
O Eu não está em perfeita harmonia com a natureza. Chuva, enchentes, secas, tempestades,
maremotos e todas as outras forças da natureza não estão sob nosso controle e podem,
frequentemente, nos fazer sofrer.
O Buda ensinou a verdade do sofrimento não para nos fazer desesperar, mas para nos ajudar
a reconhecer com clareza as realidades da vida. Compreendendo o alcance do sofrimento e a
impossibilidade de evitá-lo, devemos nos sentir inspirados a superá-lo. Reconhecer a Primeira
Nobre Verdade é o primeiro passo de um processo que deve nos levar a querer compreender a
Segunda Nobre Verdade.
A Segunda Nobre Verdade
A Segunda Nobre Verdade é a verdade da origem do sofrimento, que está na cobiça, na raiva
e na ignorância. Os seres sencientes acorrentam-se ao penoso e ilusivo mundo dos fenômenos,
por causa de seu forte apego a essas fontes de ilusão, também conhecidas como os Três
Venenos.