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Qual a verdadeira definição da mediunidade?

“A mediunidade é aquela luz que seria derramada sobre toda


carne e prometida pelo Divino Mestre aos tempos do Consolador,
atualmente em curso na Terra. A missão mediúnica, se tem os
seus percalços e as suas lutas dolorosas, é uma das mais belas
oportunidades de progresso e de redenção concedidas por Deus
aos seus filhos misérrimos (...).”
(Questão 382 do Livro O Consolador – Emmanuel)

ESTUDO BÁSICO DE
MEDIUNIDADE

PROGRAMA 2
INSTITUIÇÃO ESPÍRITA ABRIGO DA LUZ
BEZERRA DE MENEZES
“Abrigo, casa de amor e de luz, trabalhando com Jesus.”

(Rua Lúcio dos Santos, 185 CEP.: 30640-150 Tel.: (31) 3384-6032 – Barreiro – Belo Horizonte. MG.)

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ESTUDO BÁSICO DE MEDIUNIDADE

RELAÇÃO DOS MÓDULOS

PROGRAMA 2
01 – A DESENCARNAÇÃO
02 – OS ESPÍRITOS ERRANTES E AS COMUNIDADES ESPIRITUAIS
03 - O PASSE, OS CENTROS DE FORÇA, AURA E A ORAÇÃO
04 – O MÉDIUM EM AÇÃO
05 – CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS.
06 – OS ESPÍRITOS COMUNICANTES
07 – ATIVIDADE MEDIÚNICA EM DESDOBRAMENTO A DISTÂNCIA.
08 – LIXO MENTAL E MAU OLHADO
09 – RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS.

Primeira edição: 2005


Modificada em 2022
Coordenação do Departamento de Orientação Mediúnica

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MÓDULO N.º 01

TEMA:

A DESENCARNAÇÃO

Referência Bibliográfica:

- BOZANNO, Ernesto. A Crise da Morte. FEB.


- CALLIGARIS, Rodolfo. O homem diante da morte. FEB.
- DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB.
- FRANCO, Divaldo Pereira. Estudos Espíritas Joanna de Ângelis. FEB.
- IMBASSAHY, Carlos. O que é a morte? EDICEL.
- KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno – FEB.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos – FEB.
- KARDEC, Allan. O Que é o Espiritismo – FEB.
- NOBRE, Marlene S. Doação Órgãos. Lições de Sabedoria. Chico Xavier nos
23anos da Folha Espírita. 1997.
- PERALVA, Martins. Estudando a Mediunidade. FEB.
- XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. FEB.
- XAVIER, Francisco Cândido. Voltei. Pelo espírito Jacob. FEB.

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MÓDULO 01: A DESENCARNAÇÃO

MÓDULO 01: A DESENCARNAÇÃO

A MORTE OU DESENCARNAÇÃO:

A morte do corpo físico ou desencarnação, segundo a terminologia


espírita, é um acontecimento natural, ainda que nem sempre estejamos
preparados para aceitá-lo. O despreparo está muitas vezes relacionado à
desinformação a respeito da continuidade da vida no plano espiritual, e ao
apego às pessoas e bens materiais, situação que configura o sentimento
de perda, acrescido da terrível expectativa de não mais encontrar os entes
queridos. Havendo, porém, o entendimento de como ocorre a morte e o
prosseguimento da vida em outra dimensão, a espiritual, ameniza-se muito
o medo de morrer, situação que, por outro lado, possibilita auxiliar,
efetivamente, os Espíritos sofredores que se manifestam na reunião
mediúnica.
À medida que o ser humano compreende que é imortal e que pode
retornar à vida do corpo pela reencarnação, quantas vezes se fizerem
necessárias, o medo de morrer desaparece, como ensina Léon Denis, no
livro O problema do ser, do destino e da dor, cap. 10: “A morte é uma
simples mudança de estado, a destruição de uma forma frágil que já não
proporciona à vida as condições necessárias ao seu funcionamento e à
sua evolução. Para além da campa, abre-se uma nova fase de existência
[...]”.

O Fenômeno da Morte ou Desencarnação

A morte é uma simples mudança de estado, a destruição de uma


forma frágil que já não proporciona à vida as condições necessárias ao
seu funcionamento e à sua evolução. A extinção da vida orgânica acarreta
a separação da alma em consequência do rompimento do laço fluídico que
a une ao corpo, mas essa separação nunca é brusca.
O fluido perispiritual só pouco a pouco se desprende de todos os
órgãos, de sorte que a separação só é completa e absoluta, quando não
mais reste um átomo do perispírito ligado a uma molécula do corpo. A
problemática da morte é decorrência do desequilíbrio biológico e físico-
químico essenciais à manutenção da vida. Fenômeno de transformação,
mediante o qual se modificam as estruturas constitutivas dos corpos que
sofrem ação de natureza química, física e microbiana determinantes dos
processos cadavéricos e abióticos (em que não pode haver vida). A morte

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MÓDULO 01: A DESENCARNAÇÃO

é o veículo condutor encarregado de transferir a mecânica da vida, de uma


vibração para outra.

Causas do temor da desencarnação: À medida que o ser humano


compreende que é imortal e que pode retornar à vida do corpo pela
reencarnação, quantas vezes se fizerem necessárias, o medo de morrer
desaparece, como ensina Léon Denis, no livro O problema do ser, do
destino e da dor, cap. 10: “A morte é uma simples mudança de estado, a
destruição de uma forma frágil que já não proporciona à vida as condições
necessárias ao seu funcionamento e à sua evolução. Para além da campa,
abre-se uma nova fase de existência [...]”.
A morte é um fenômeno natural e inexorável, no entanto, é temida. O
considerável número de pessoas que temem a morte, decorre da
ignorância que elas têm da vida no além túmulo. À proporção que o
homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui. Uma
vez esclarecida a sua missão terrena, aguarda- lhe o fim calmo, resignado
e serenamente. A certeza da vida futura dá-lhe outro curso às ideias, outro
fito ao trabalho. Antes dela, nada que se não prenda ao presente; depois
dela, tudo pelo futuro, sem desprezo do presente, porque sabe que
depende da boa ou má direção deste.
A certeza de reencontrar seus amigos depois da morte, de reatar as
relações que tivera na terra, de não perder um só fruto do seu trabalho, de
engrandecer-se incessantemente em inteligência e perfeição, dá-lhe
paciência para esperar, e coragem para suportar as fadigas transitórias da
vida terrestre. A solidariedade entre vivos e mortos faz-lhe compreender a
que deve existir na terra, onde a fraternidade e a caridade têm desde
então um fim e uma razão de ser, no presente e no futuro. Para libertar-se
do temor da morte é essencial poder encará-la sob o seu verdadeiro ponto
de vista, isto é, ter penetrado pelo pensamento, no mundo espiritual,
fazendo dele uma ideia tão exata quanto possível, o que denota da parte
do espírito encarnado, um desenvolvimento e uma aptidão, para
desprender-se da matéria.
No espírito atrasado, a vida material prevalece sobre a espiritual.
Apegando-se às aparências, o homem não distingue a vida além do corpo,
esteja embora na alma, a sua vida real; aniquilado aquele, tudo se lhe
afigura perdido, desesperador. Se, ao contrário, concentrarmos o
pensamento, não no corpo, mas na alma (fonte da vida, ser real a tudo
sobrevivente), lastimaremos menos a perda do corpo, antes fonte de
misérias e dores. Para isso, porém, necessita o espírito de uma força só
adquirível na madureza.
O temor da morte decorre, portanto, da noção insuficiente da vida
futura, embora denote também a necessidade de viver, e o receio da

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MÓDULO 01: A DESENCARNAÇÃO

destruição total; igualmente o estimula secreto anseio pela sobrevivência


da alma, velado ainda pela incerteza. Esse temor diminui, à proporção que
a certeza aumenta, e desaparece quando esta é completa. A certeza da
vida futura não exclui as apreensões quanto à passagem desta para a
outra vida. Há muita gente que teme não a morte, em si, mas o momento
da transição. Sofremos ou não nessa passagem? Por isso se inquietam, e
com razão, visto que ninguém foge à lei fatal dessa transição. Podemos
dispensar-nos de uma viagem neste mundo, menos essa. Ricos e pobres
devem todos fazê-la, e, por dolorosa que seja a franquia, nem posição
nem fortuna poderão suavizá-la.

A separação da alma e do corpo na desencarnação: Quando


encarnado, o espírito se acha preso ao corpo pelo seu envoltório
semimaterial ou perispírito. A morte é a destruição do corpo somente, não
a desse outro invólucro, que do corpo se separa quando cessa neste, a
vida orgânica. A observação demonstra que, no instante da morte, o
desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que, ao
contrário, se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável,
conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo dizer-se que o
momento da morte é mais ou menos o da libertação. Em outros, naqueles
que, sobretudo, a vida foi toda material e sensual, o desprendimento é
muito menos rápido, durando algumas vezes, dias, semanas e até meses,
o que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade
de volver à vida. É, com efeito, racional conceber-se que, quanto mais o
espírito se haja identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja
separar-se dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação
dos pensamentos, operam um começo de desprendimento, mesmo
durante a vida do corpo, de modo que, em chegando à morte, ele é quase
instantâneo.
A rigor, não é dolorosa a separação da alma e do corpo. Na morte
natural, a que sobrevém pelo esgotamento dos órgãos, em consequência
da idade, o homem deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se
apaga por falta de óleo. Assim, a alma se desprende gradualmente, não se
escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade.
Aqueles dois estados se tocam e confundem, de sorte que o espírito se
solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam
não se quebram. Segundo a Doutrina Espírita, há sensações que
precedem e se sucedem à morte, bem como a duração do processo de
rompimento dos laços fluídicos que unem a alma ao corpo físico, variam
de caso para caso, dependendo das circunstâncias do trespasse, e da
maior ou menor elevação moral do trespassado. Via de regra, nas mortes
repentinas e violentas, o desprendimento da alma é tanto mais prolongado

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MÓDULO 01: A DESENCARNAÇÃO

e penoso, quanto mais fortes sejam aqueles liames, ou, em outras


palavras, quanto mais vitalidade exista no organismo. Na situação
específica dos suicidas, o sofrimento pode ser significativamente maior,
não só pelo arrependimento do ato cometido, que usualmente os atinge,
mas porque, havendo ainda fluido vital circulante no organismo — visto
que a desencarnação não estava prevista para aquele momento — os
laços perispirituais estão mais fortemente presos ao corpo físico. Nestas
condições, a separação perispiritual é muito penosa, porque o Espírito
“pode” experimentar o horror da decomposição.
No livro O Céu e o Inferno, 2ª parte – cap. 5, Kardec faz uma nota a
respeito dos suicidas: “(...) constitui verdadeiro suplício pela sensação dos
vermes que corroem o corpo, sem falarmos da sua duração, que deverá
equivaler ao tempo de vida abreviada. Este estado é comum aos suicidas,
posto que nem sempre se apresente em idênticas condições, variando de
duração e intensidade, conforme as circunstâncias atenuantes ou
agravantes da falta. A sensação dos vermes e da decomposição do corpo
não é privativa dos suicidas: sobrevém igualmente aos que viveram mais
da matéria que do espírito. Em tese, não há falta isenta de penalidades,
mas também não há regra absoluta e uniforme nos meios de punição”.
Depois de longa enfermidade, ou quando a velhice tenha debilitado
as forças orgânicas, o desprendimento, em geral, se efetua fácil e
suavemente, semelhando-se a um sono muito agradável. Para os que só
cuidaram de si mesmos, os que se deixaram empolgar pelos gozos deste
mundo, os que se empenharam apenas em amontoar bens materiais, os
malfeitores e os criminosos, a hora de separação é angustiosa e cruel;
agarram-se, desesperados, à vida que se lhes esvai, porque a própria
consciência lhes grita que nada de bom podem esperar no futuro.
Esse assunto da separação do corpo e da alma leva-nos a dois
outros, não menos importantes: o da cremação de cadáveres e o da
doação de órgãos. Conforme vimos anteriormente, a alma se desprende
gradualmente e o tempo utilizado nesse processo é variável, segundo seu
grau de evolução. Assim, a questão da cremação e a questão da doação
de órgãos merecem uma análise cuidadosa.
Na cremação, faz-se mister exercer a piedade com os cadáveres,
procrastinando-se (adiando, demorando) por mais horas, o ato da
destruição das vísceras materiais, pois, de certo modo, existem sempre
muitos ecos de sensibilidade entre o espírito desencarnado e o corpo onde
se extingui o ‘tônus vital’, nas primeiras horas subsequentes ao
desenlace, em vista dos fluidos orgânicos que ainda solicitam a alma para
as sensações da existência material. No meio espírita recomenda-se
cremar o cadáver após setenta e duas horas, tempo considerado suficiente
para o desligamento perispiritual. Mas a Lei estipula 48 horas do decesso.

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MÓDULO 01: A DESENCARNAÇÃO

Na doação de órgãos é importante avaliar se não haveria a


possibilidade de o doador ficar preso às vísceras. No livro Lições de
Sabedoria, Chico Xavier nos responde por meio das seguintes
considerações: “Sempre que pessoa cultiva desinteresse absoluto por tudo
aquilo que ela cede para alguém, sem perguntar ao beneficiado o que fez
da dádiva recebida, sem desejar qualquer remuneração, nem mesmo
aquela que a pessoa humana habitualmente espera com o nome de
compreensão, sem aguardar gratidão alguma, isto é, se a pessoa chegou
a um ponto de evolução em que a noção da posse não mais a preocupa,
esta criatura está em condições de doar, porque não vai afetar o perispírito
em coisa alguma. Quando o doador é pessoa habituada ao
desprendimento da posse, a doação prévia de órgãos que lhe pertençam,
por ocasião da morte física não afeta o corpo espiritual do doador”.

A transição do plano físico para o espiritual --- Se inicia quando os


últimos laços que mantêm o espírito preso ao corpo, se desfazem. A
pessoa entra num estado de total inconsciência. O último alento quase
nunca é doloroso, uma vez que ordinariamente ocorre em momento de
inconsciência, mas a alma sofre antes dele a desagregação da matéria,
nos estertores da agonia, e, depois, as angústias da perturbação. Demo-
nos pressa em afirmar que esse estado não é geral, porquanto a
intensidade e duração do sofrimento estão na razão direta da afinidade,
tanto mais penosos e prolongados serão os esforços da alma para
desprender-se. Há pessoas nas quais a coesão é tão fraca, que o
desprendimento se opera por si mesmo, como que naturalmente; é como
se um fruto maduro se desprendesse do seu caule, e é o caso das mortes
calmas, de pacífico despertar.
Na transição da vida corporal para a espiritual, produz-se ainda um
outro fenômeno de importância capital – a perturbação. Nesse instante, a
alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas
faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensações. É como se
disséssemos, um estado de catalepsia, de modo que a alma quase nunca
testemunha conscientemente o derradeiro suspiro. Dizemos quase nunca,
porque há casos em que a alma pode contemplar conscientemente o
desprendimento. A perturbação pode, pois, ser considerada o estado
normal no instante da morte e perdurar por tempo indeterminado, variando
de algumas horas a alguns anos. À proporção que se liberta, a alma
encontra-se numa situação comparável à de um homem que desperta de
profundo sono; as ideias são confusas, vagas e incertas; a vista apenas
distingue como que através de um nevoeiro, mas pouco a pouco se aclara,
desperta se lhe a memória e o conhecimento de si mesma. Bem diverso é,
contudo, esse despertar; calmo, para uns, acordas lhes sensações

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MÓDULO 01: A DESENCARNAÇÃO

deliciosas; tétrico, aterrador e ansioso, para outros, é qual horrendo


pesadelo.
Imediatamente após a morte do corpo físico, é comum a criatura não
ter consciência do seu estado, visto que, nesse momento, tudo se
apresenta confuso; é preciso algum tempo para a criatura se reconhecer;
ela conserva-se tonta, no estado do homem que sai de profundo sono, e
que procura compreender a sua situação. A lucidez das ideias e a
memória do passado lhe voltam, à medida que se destrói a influência da
matéria de que a criatura acaba de separar-se, e que se dissipa o nevoeiro
que lhe obscurece os pensamentos.
Concluindo: o tempo de duração e a intensidade desse estado
variam de acordo com o grau de evolução do recém desencarnado. Para
aquele cuja consciência não é pura, e que amou mais a vida corporal que
a espiritual, esse momento é cheio de ansiedade e de angústias, que vão
aumentando à medida que ele se reconhece, porque então sente medo e
certo terror diante do que vê, e sobretudo do que entrevê. Em sua nova
situação, a alma vê e ouve outras coisas que escapam à grosseria dos
órgãos corporais. Tem, então, sensações e percepções que nos são
desconhecidas.

Mecanismos da desencarnação: Os espíritos nos relatam algumas


características inerentes ao processo desencarnatório, o que nos leva a
supor que exista um certo padrão no processo de desligamento do
perispírito do corpo físico. Analisemos algumas delas:

a) A presença de espíritos – Na desencarnação a criatura nunca está a


sós. Entes queridos, que antecederam a ela além túmulo, podem ali se
encontrar, aguardando ou auxiliando o processo de desligamento final. Os
benfeitores espirituais, familiares ou não, e os especialistas nas operações
de desencarnação auxiliam o espírito nessa grande transição. É possível,
porém, que o desencarnado se defronte com entidades malévolas, direta
ou indiretamente ligadas a ele, causando-lhe transtornos, dos mais
variáveis e intensos. O esforço e abnegação dos Mentores Espirituais, na
desencarnação de determinadas criaturas, é realmente digno de menção.
Cooperadores especializados aglutinam esforços no afã de
desligarem, sem incidentes, o espírito eterno, do aparelho físico terrestre.
Verdadeiras operações magnéticas são efetuadas nas regiões orgânicas
fundamentais, ou seja, nos centros vegetativo, emocional e mental. Tal
como ocorre no plano físico, onde o renascimento na carne é mediado por
profissionais da medicina e da enfermagem, no plano espiritual a
desencarnação é executada por espíritos especializados nessa tarefa.

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MÓDULO 01: A DESENCARNAÇÃO

b) A desencarnação é feita por especialistas desencarnados --- Há


indicações de que o processo desencarnatório, operado por espíritos
especialistas, segue um determinado método, devendo haver, é natural,
algumas variações, conforme as necessidades do espírito desencarnante,
as circunstâncias e, talvez, o tipo de morte (suicídio, morte natural etc.).
Em síntese, esse método, ou padrão geral, poderia ser assim expresso:
1º - Rompimento dos ligamentos perispiríticos, na altura do ventre
(abdômen), por meio de operações magnéticas realizadas pelos espíritos
especialistas. A ação magnética nesta região visa atingir o centro
vegetativo do corpo humano, que é a sede das manifestações fisiológicas
do encarnado. Com essa providência, o moribundo começa a esticar os
membros inferiores, sobrevindo, logo após, o esfriamento do corpo.
2º - Atuação no centro emocional, situado no tórax, região de manifestação
dos desejos e dos sentimentos. A operação magnética nesse centro
conduz à desregularidade dos batimentos e das funções cardíacas.
Surgem, então, sentimentos de aflição, de angústia, de melancolia,
conforme o grau evolutivo do desencarnante e o entendimento do
processo. A pulsação também se revela mais fraca nessa fase.
3º - O passo seguinte é a operação no cérebro, onde se encontra o centro
mental, sede da recepção e transmissão dos impulsos e comandos do
Espírito. O trabalho dos obreiros, nesse local específico, começa na fossa
romboidal, assoalho do quarto ventrículo do cérebro, que é uma cavidade
situada na face posterior das estruturas nervosas do encéfalo,
denominadas bulbo e protuberância. A atuação na fossa romboidal
provoca efeitos imediatos na respiração e no sistema vasomotor,
conduzindo a pessoa ao estado de coma, ou de inconsciência.
4º - A última ação é o desatamento do principal laço fluídico perispiritual,
que mantém mais intimamente ligados o perispírito e o corpo físico. Esse
laço fica também no sistema nervoso central, na parte posterior do
cérebro. Com o desatamento do laço fluídico, o processo da
desencarnação está concluído.
No livro Voltei, psicografado por Francisco Cândido Xavier, ditado
pelo espírito Irmão Jacob, o autor espiritual da obra relata a sua
desencarnação, revelando-nos sequencialmente todas as etapas desse
processo que perdurou por mais de trinta horas seguidas, até o
desligamento final. A sua desencarnação teve início com a perda da força
física, alterações no sistema respiratório, emoções descontroladas,
assinaladas por sinais de aflição. No aprofundamento do processo de
desligamento perispiritual, conduzido por devotados benfeitores espirituais,
e sob a direção do venerável Bezerra de Menezes, Jacob percebe,
nitidamente, o colapso do corpo físico, em oposição à harmonia reinante
nos órgãos do perispírito.

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MÓDULO 01: A DESENCARNAÇÃO

O espírito nos relata que, em determinado momento do seu processo


desencarnatório, teve a impressão de possuir dois corações (refere-se ao
coração do corpo físico e o do perispírito), que lhe batiam no peito. O
primeiro apresentava ritmo descompassado, na iminência de silenciar para
sempre; o outro revelava-se pulsante, vivo, equilibrado. Ocorrências
similares produziam-se em outros órgãos do seu organismo, revelando-lhe
sempre a dualidade: desarmonia do corpo físico versus harmonia do
perispírito. No momento final, quando se desfaz o último laço perispiritual,
após duas horas de operações magnéticas na cabeça, Irmão Jacob
registra a sua última percepção: experimentei abalo indescritível na parte
posterior do crânio. Não era pancada. Semelhava-se a um choque elétrico,
de vastas proporções, no íntimo da substância cerebral.
Naturalmente, nem todas as pessoas, em processo desencarnatório,
podem registrar as impressões relatadas por Jacob. Tudo está relacionado
ao grau evolutivo do espírito: seu maior ou menor apego à matéria; seu
estado de equilíbrio, conforme já foi assinalado. Alguns espíritos nem
percebem que estão desencarnando; outros, tendo desse processo vaga
intuição, deixam-se conduzir pelo pânico, porque não querem se afastar
das pessoas ou das coisas pertencentes ao mundo material. Nessa
situação, o sofrimento é marca registrada.
Há, no entanto, espíritos que, mesmo tendo uma visão imprecisa da
vida espiritual, são beneficiados por uma atuação precisa dos benfeitores
espirituais, no momento da desencarnação. Isso acontece porque essas
almas conquistaram valores morais, facilitadores da atuação dos espíritos
benfeitores. Há, na literatura espírita, relatos sobre pessoas que, no
momento da desencarnação, auxiliam os benfeitores no trabalho de
desligamento perispiritual. A esse respeito, o espírito André Luiz relata-nos
a desencarnação de Adelaide no livro: Obreiros da Vida Eterna, psicografia
de Francisco Cândido Xavier, capítulo XIX. Adelaide colaborou na sua
desencarnação, auxiliando a ação dos trabalhadores nos serviços
preliminares em seus centros vitais. Apenas o rompimento do último laço
fluídico foi feito por um técnico, o benfeitor Jerônimo. Por outro lado,
sabemos que espíritos muito presos à matéria física oferecem grandes
dificuldades aos trabalhadores do bem.

c) A visão panorâmica e retrospectiva da existência corporal --- Outro


padrão geral dos mecanismos da desencarnação diz respeito à visão
retrospectiva de tudo o que o espírito pensou e fez na última existência. É
uma visão panorâmica de todos os acontecimentos ocorridos nessa
existência. O espírito, logo que toma consciência de sua desencarnação,
como que aciona algum mecanismo mental que lhe permite reviver, com
detalhes, todas as fases da sua última experiência carnal. O espírito vê-se

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MÓDULO 01: A DESENCARNAÇÃO

diante de tudo que sonhou, arquitetou e realizou na vida que ora se


esgota. Ideias insignificantes que tivera, os atos mínimos, desfilam,
absolutamente precisos, revelados de roldão, como se existisse uma
câmara ultra rápida instalada no seu interior, projetando na mente um filme
cinematográfico que, inopinadamente, vai se desenrolando. Por meio
dessa visão panorâmica, a criatura tem oportunidade de avaliar, julgar os
próprios atos. Isso lhe permite fazer um balanço geral de suas ações,
arrepender-se das oportunidades perdidas de melhoria espiritual, e confiar
na bondade superior, que lhe propiciará novas ocasiões de reparar os
erros cometidos.

-x-x-

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MÓDULO N.º 02

TEMA:

OS ESPÍRITOS ERRANTES
E AS COMUNIDADES
ESPIRITUAIS
Referência Bibliográfica:

• KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno – FEB.


• KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos – FEB.
• KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns – FEB.
• PEREIRA, Yvonne A. Devassando o Invisível – FEB.
• PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um suicida - FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Evolução em dois mundos – FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Libertação – FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Nosso Lar – FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Obreiros de vida eterna – FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Justiça divina – FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Roteiro - FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. O consolador - FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e vida - FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Voltei - FEB.

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Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

MÓDULO 02: OS ESPÍRITOS ERRANTES, E AS


COMUNIDADES ESPIRITUAIS

Após a morte do corpo físico, o Espírito retorna ao mundo espiritual


onde passa a viver e a se preparar para a nova reencarnação. Apesar das
surpresas, boas ou más, que lhe caracterizam o regresso, para ele tudo se
assemelha à volta do exilado à pátria de origem, ao mundo espiritual, que
preexiste e sobrevive a tudo. Inicia-se, então, uma nova fase da vida em
outro plano vibratório, sendo que o seu perispírito, agora liberto do corpo
físico, revela com mais intensidade suas propriedades plásticas e sutis
que, sob o comando do pensamento e da vontade, implementam as
necessárias transformações, úteis à adaptação no plano espiritual.
No intervalo das existências corpóreas o Espírito torna a entrar no
mundo espiritual por um tempo mais ou menos longo, onde é feliz ou
infeliz conforme o bem ou o mal que haja feito. É no estado espiritual,
sobretudo, que o Espírito colhe os frutos do progresso realizado pelo seu
trabalho na encarnação. É também nesse estado que se prepara para
novas lutas, e toma as resoluções que se esforçará por colocar em prática
na sua volta à humanidade, à encarnação.
Ensina Emmanuel, no livro Pensamento e Vida, cap. 18, que o
desencarnado integra-se, na nova moradia, a uma das inúmeras
sociedades humanas existentes no Além, cuja organização social
fundamenta-se nos princípios de afinidade estabelecida entre os seus
habitantes, que pode ser comparada a uma imensa floresta de criações
mentais, onde cada Espírito em processo de evolução e acrisolamento,
encontra os reflexos de si mesmo.
Em geral, o Espírito desencarnado não apresenta maiores
dificuldades de adaptação. Primeiro, porque está junto de quem guarda
sintonia e afinidades. Segundo, porque não percebe mudanças radicais na
forma de vida, pois as inúmeras coletividades do plano extra físico, em
quase dois terços, permanecem naturalmente jungidas, de alguma sorte,
aos interesses terrenos.
Tais organizações sociais aglutinam-se em verdadeiras cidades e
vilarejos, com estilos variados, como acontece aos burgos terrestres,
característicos da metrópole ou do campo, edificando largos
empreendimentos de educação e progresso, em favor de si mesmos e em
benefício dos outros.

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Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

OS ESPÍRITOS ERRANTES

Conceito: Allan Kardec cunhou a expressão Espíritos Errantes (do francês


errant = errante, que vagueia) que, na Língua Portuguesa, tem diferentes
significados, por exemplo, o de pessoa nômade ou a que não tem
residência fixa. Para o Espiritismo, serve para designar o Espírito que
ainda necessita passar por muitas reencarnações até que atinja o estágio
de ser espiritual evoluído, característico do Espírito puro, isto é, o que
possui superioridade intelectual e moral absoluta, com relação aos
Espíritos das outras ordens.
Os Espíritos puros percorreram todos os graus da escala e se
despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo alcançado a soma
de perfeição de que é suscetível a criatura, não têm que sofrer mais
provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em
corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus.
Para Allan Kardec, os Espíritos podem se situar em três estados,
tendo a reencarnação como referência: No tocante às qualidades íntimas,
os Espíritos são de diferentes ordens ou graus, pelos quais vão passando
sucessivamente, à medida que se purificam. Com relação ao estado em
que se acham, podem ser: encarnados, isto é, ligados a um corpo;
errantes, isto é, desligados do corpo material e aguardando nova
encarnação para se melhorarem; Espíritos puros, isto é, perfeitos, não
precisando mais de encarnação.
Os Espíritos errantes, nesse contexto, representam um número
significativo dos habitantes do Além, constituindo a maioria da humanidade
terrestre desencarnada que deve reencarnar e, por meio de provas e
expiações, avançar na senda do progresso. Assim, no espaço de tempo
compreendido entre uma e outra reencarnação, os Espíritos são
transferidos para locais apropriados ao seu aprendizado, consoante os
princípios da sintonia: O homem desencarnado procura ansiosamente, no
Espaço, as aglomerações afins com o seu pensamento, de modo a
continuar o mesmo gênero de vida abandonado na Terra. Há Espíritos
errantes com diferentes graus de erraticidade, espalhados nas inúmeras
regiões do mundo espiritual, assim caracterizado, por André Luiz, no livro
Evolução em dois mundos, cap. 7 - segunda parte: “(...) o plano imediato à
residência dos homens jaz subdividido em várias esferas. Assim é com
efeito, não do ponto de vista do espaço, mas sim sob o prisma de
condições de vida. (...) No plano físico, a equipe doméstica atende à
consanguinidade em que o vínculo é obrigatório, mas, no plano extra
físico, o grupo familiar obedece à afinidade em que o liame é espontâneo.
(...) Por isso mesmo, na esfera seguinte à condição humana, temos o
espaço das nações, com as suas comunidades, idiomas, experiências e

15
Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

inclinações, inclusive organizações religiosas típicas, junto das quais


funcionam missionários de libertação mental, operando com caridade e
discrição para que as ideias renovadoras se expandam sem dilaceração e
sem choque. (...) Com esses dois terços de criaturas ainda ligadas desse
ou daquele modo, aos núcleos terrenos, encontramos um terço de
Espíritos relativamente enobrecidos que se transformam em condutores da
marcha ascensional dos companheiros, pelos méritos com que se fazem
segura instrumentação das esferas superiores”.

A natureza no plano espiritual: “A natureza do plano espiritual reflete as


emissões mentais dos seus habitantes, sendo organizada por elementos
semelhantes aos do plano físico, porém mais aperfeiçoados e leves,
porque a matéria se encontra em outra dimensão vibratória”, assinala
Marta Antunes, articulista da Revista Reformador da FEB.
No plano espiritual, o homem desencarnado vai lidar mais
diretamente com um fluido vivo e multiforme, estuante e inestancável, a
nascer-lhe da própria alma, uma vez que podemos defini-lo, até certo
ponto, por subproduto do fluido cósmico, absorvido pela mente humana
em processo vitalista semelhante à respiração.
As construções humanas e também as que estão presentes na
natureza — reservatórios hídricos (oceanos, mares, rios, lagos e fontes),
planícies e planaltos, flora (florestas, bosques, pomares, flores) e fauna
diversificada integram a paisagem do plano extra físico. Plantas e animais
domesticados pela inteligência humana, durante milênios, podem ser aí
aclimatados e aprimorados por determinados períodos de existência, ao
fim dos quais regressam aos seus núcleos de origem no solo terrestre para
que avancem na romagem evolutiva, compensados com valiosas
aquisições de acrisolamento, pelas quais auxiliam a flora e a fauna
habituais à Terra, com os benefícios das chamadas mutações
espontâneas.

Locomoção no plano espiritual: Excetuando-se as entidades que vivem


nas regiões inferiores, fortemente vinculadas à crosta planetária, os
Espíritos se locomovem através da volitação do corpo perispiritual. Volitar
tem o mesmo significado de esvoaçar. É locomover-se acima do solo, sem
auxílio de instrumentos ou de veículos. Isso é possível porque, estando os
desencarnados destituídos do veículo físico, possuidor de maior peso
específico, podem elevar-se na atmosfera. Evidentemente, os Espíritos
mais materializados utilizam normalmente as pernas e os pés.
Em algumas cidades da espiritualidade os habitantes utilizam
veículos que os transportam de um local para outro, mesmo que possam
volitar. O aeróbus é um desses veículos, citado no livro Nosso Lar, de

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Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

autoria de André Luiz e psicografado por Chico Xavier. Trata-se de um


carro aéreo, tipo folicular, que desce até o solo, com a capacidade para
transportar um número maior de Espíritos, de uma só vez. Já a volitação
rápida é característica dos Espíritos evoluídos. Eles podem locomover-se
com incrível velocidade, com a rapidez do pensamento.

Comunicação entre os Espíritos desencarnados: Os Espíritos se


entendem por meio da comunicação telepática, projetando as próprias
imagens mentais, mas utilizam também a linguagem articulada, usual entre
os encarnados, sobretudo nas regiões mais próximas ao plano físico. Nas
regiões superiores, o processo é inteiramente mental. Círculos espirituais
existem, em planos de grande sublimação, nos quais os desencarnados,
sustentando consigo mais elevados recursos de riqueza interior, pela
cultura e pela grandeza moral, conseguem plasmar, com as próprias
ideias, quadros vivos que lhes confirmem a mensagem ou o ensinamento,
seja em silêncio, seja com a despesa mínima de suprimento verbal, em
livres circuitos mentais de arte e beleza, tanto quanto muitas Inteligências
infelizes, treinadas na ciência da reflexão, conseguem formar telas aflitivas
em circuitos mentais fechados e obsessivos sobre as mentes que
magneticamente jugulam.
Os Espíritos de mediana evolução não se desvinculam dos ditames
linguísticos, de imediato, os que lhes caracterizavam o idioma pátrio da
última reencarnação. Todavia, não obstante reconhecermos que a imagem
está na base de todo intercâmbio entre as criaturas encarnadas ou não, é
forçoso observar que a linguagem articulada, no chamado espaço das
nações, ainda possui fundamental importância nas regiões a que o homem
comum será transferido imediatamente após desligar-se do corpo físico.

Alimentação dos desencarnados: Não há dúvidas de que os


desencarnados se alimentam, mas de forma diferente da usual no plano
físico, visto que o aparelho digestivo do perispírito sofre modificações
restritivas, apropriado à ingestão de alimentos mais fluídicos. André Luiz
explica no livro Evolução em dois mundos, cap. 1 segunda parte, que os
alimentos são absorvidos por difusão cutânea no perispírito que, “[...] por
meio de sua extrema porosidade, nutre-se de produtos sutilizados ou
sínteses quimo eletromagnéticas, hauridas no reservatório da natureza e
no intercâmbio de raios vitalizantes e reconstituintes do amor com que os
seres se sustentam entre si”.

A vestimenta dos desencarnados: Em geral, os Espíritos se apresentam


vestidos de túnicas, envoltos em amplas roupagens, ou mesmo com os
trajes que usavam em vida. O envolvimento em tecidos de gaze parece

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Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

costume geral no mundo dos Espíritos. O vestuário dos Espíritos menos


evoluídos varia enormemente, atendendo a gostos pessoais que variam de
trajes mais simples aos principescos. Há, inclusive, Espíritos que se
utilizam de vestuários e acessórios específicos de certas profissões.
No livro Devassando o invisível, cap. 2, Yvonne A. Pereira conclui,:
“[...] Os Espíritos se trajam e modificam a aparência das vestes que usam
conforme lhes apraz, exclusão feita de alguns muito inferiores e
criminosos, geralmente obsessores da mais ínfima espécie, cuja mente
não possui vibrações à altura de efetuar a admirável ‘operação plástica’
requerida. Por isso mesmo, a aparência destes últimos costuma ser
chocante para o vidente, pela fealdade, ou simplesmente pela miséria, pois
se apresentam cobertos de andrajos e farrapos, como que empapados de
lama, ou embuçados em longos sudários negros, com mantos ou capas
que lhes envolvem os ombros, e, não raro, mascarados por um saco negro
enfiado na cabeça, com duas aberturas à altura dos olhos. [...] Longos
chapéus costumam trazer também, assim como botas de cano alto. [...]”
Os Espíritos superiores, ao contrário, apresentam-se aureolados de
luminosidade safirina. Suas vestes são brilhantes, vaporosas,
resplandecentes. É o caso de Matilde, citado no livro Libertação, de André
Luiz, e de Bittencourt Sampaio, registrado no livro Voltei, do Irmão Jacob,
ambos psicografados por Francisco Cândido Xavier, publicados pela FEB.

AS COMUNIDADES ESPIRITUAIS

Características gerais das comunidades espirituais:

As doutrinas materialistas negam a possibilidade da vida após a


morte do corpo. Até mesmo para algumas escolas espiritualistas o assunto
é considerado de forma bastante confusa, sem muita lógica.
Em todos os tempos o homem se preocupou com o seu futuro de
além-túmulo, e isso é muito natural. Seja qual for a importância que ele
ligue à vida presente, não pode deixar de considerar o quanto essa vida é
curta e, sobretudo, precária, pois pode ser interrompida a qualquer
instante, nunca se achando o homem, seguro quanto ao dia seguinte. Que
será dele após o instante fatal?
A ideia do nada tem qualquer coisa que repugna a razão. Por mais
despreocupado que seja o homem nesta vida, chegando o momento
supremo ele pergunta a si mesmo o que vai ser dele e, involuntariamente,
espera. Outro ponto, não menos importante, diz respeito à preservação da
individualidade após a morte. Indaga Kardec, a respeito: “[...] Com efeito,
de que nos adiantaria sobreviver ao corpo, se a nossa essência moral

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Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

devesse perder-se no oceano do infinito? As consequências para nós


seriam as mesmas dos que defendem o nada”. Admitindo-se, portanto, a
ideia da existência, sobrevivência e individualidade da alma, a Doutrina
Espírita ensina também: primeiro, que a sua natureza é diferente da do
corpo, visto que, separada deste, deixa de ter as propriedades peculiares
ao corpo; segundo, que goza da consciência de si mesma, pois é passível
de alegria ou sofrimento, sem o quê seria um ser inerte, e de nada nos
valeria possuí-la. Isto posto, tem-se que admitir que essa alma vai para
algum lugar. Que vem a ser feito dela, e para onde vai?
A resposta à pergunta do Codificador é facilmente obtida nas
comunicações mediúnicas usuais na Casa Espírita, que demonstram,
entre outros, a sobrevivência e a individualidade dos Espíritos; as
condições, boas ou más, em que esses se encontram, decorrentes do uso
do livre-arbítrio quando encarnados; e detalhes a respeito da vida no plano
espiritual, assim resumidas: O mundo espiritual comporta várias regiões
(esferas vibratórias, no dizer do Espírito André Luiz), compostas de níveis
ou planos evolutivos, nos quais os Espíritos se agrupam em cidades de
pequeno, médio ou grande porte, genericamente denominadas colônias
espirituais.
As comunidades espirituais do plano extra físico são constituídas de
Espíritos que apresentam semelhanças de aptidões/gostos. As relações
entre eles estabelecem a existência de diferentes ordens, conforme o grau
de perfeição a que chegaram. Assim, as regras da vida em sociedade são
estabelecidas de acordo com o grau de moralidade e de conhecimento dos
seus habitantes.
As comunidades espirituais podem, a rigor, ser classificadas em três
grandes categorias, segundo as condições espirituais dos seus habitantes
e as características do ambiente em que se encontram inseridas:
Comunidades de sofrimento e dor; o Umbral; e as Comunidades
devotadas ao bem.

COMUNIDADES ESPIRITUAIS DE SOFRIMENTO E DOR:

São constituídas, em princípio, por dois grupos distintos de Espíritos:


a) Os que, a rigor, são qualificados de sofredores, ainda que não se deem
conta da situação. Revelam expressiva inferioridade moral, percebida nas
expressões fisionômicas, nos gestos, palavras e atos. Integram as
chamadas comunidades abismais ou de sombras.
b) Os que são portadores de diferentes viciações, porém não tão
superlativas quanto os anteriores. Formam um vasto e heterogêneo grupo

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Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

que compõe as comunidades do Umbral. As características gerais de


ambos podem ser assim delineadas:
• Predomínio de paixões inferiores. Há ações maldosas, brigas, intrigas,
desarmonias variadas e perturbações generalizadas.
• Ociosidade e preguiça são comuns. Muitos habitantes se comprazem em
subjugar o próximo, instituindo trabalho escravo ou imposição autoritária
da vontade, fato que conduz a processos obsessivos.
• Os obsessores e dominadores mantêm controle mental sobre aqueles a
quem subjugam, pelos recursos da hipnose e das chantagens emocionais.
• Uso de palavras articuladas na comunicação interpessoal, de forma
semelhante à utilizada no plano físico.
• Volitação restrita, quase inexistente e, quando ocorre, não há
deslocamentos significativos, permanecendo nas proximidades do solo. O
comum é o uso das pernas e dos pés.
• O acesso às regiões mais elevadas está temporariamente interditado, em
razão das limitadas condições vibratórias desses habitantes.
• A natureza não revela beleza: há predomínio de cores fortes e sombrias.
Uma espécie de névoa envolve a região. As árvores e os animais são
estranhos, diferentes, feios, sem viço. O relevo apresenta aridez e
aspereza, sendo que o solo é desprovido de verdor (a cor verde das
árvores e folhas). Não se encontram paisagens harmônicas. Há muitos
vales, permeados de cavernas, grutas, abismos e pântanos.
• As cidades possuem edificações bizarras, com predominância de tons
berrantes. As músicas exóticas e irritantes são usuais.
• Tais comunidades exercem influência direta e contínua sobre os
encarnados.

O UMBRAL: Trata-se de zona obscura que se inicia na crosta terrestre,


espécie de região purgatorial, caracterizada por grandes perturbações
decorrentes da presença de compactas legiões de almas irresolutas,
ignorantes e desesperadas, em graus variáveis.
O Umbral é região de profundo interesse para quem esteja na Terra.
Concentram-se, aí, tudo que não tem finalidade para a vida superior. Há
legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes, que não são
suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação
mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de
elevação. Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros
imediatos dos homens encarnados, separados deles apenas por leis
vibratórias. Não é de estranhar, portanto, que semelhantes lugares se
caracterizem por grandes perturbações. Lá vivem, agrupam-se, os
revoltados de toda espécie. Formam, igualmente, núcleos invisíveis de
notável poder, pela concentração das tendências e desejos gerais, pois o

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Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

Umbral está repleto de desesperados. É zona de verdugos e vítimas, de


exploradores e de explorados.
Apesar da desolação e da desarmonia reinantes, as comunidades
constituídas de Espíritos sofredores e desarmonizados não se encontram
abandonadas. Devotados benfeitores, alguns de alta hierarquia espiritual,
ali se encontram em periódicas visitas de auxílio e amparo. Muitos desses
benfeitores encontram-se, inclusive, instalados em plenas regiões
abismais e umbralinas, em edificações denominadas núcleos ou postos de
auxílio, realizando trabalho sacrificial de amor ao próximo.

COMUNIDADES DEVOTADAS AO BEM.

As sociedades beneméritas do Além são constituídas de grupos de


Espíritos ligados entre si por simpatias mútuas, ou por interesses comuns.
Os seus habitantes apresentam gradação de conhecimento e de
moralidade, mas todos demonstram necessidade de auxiliar o próximo,
sentimento manifestado, de forma inequívoca, nos estudos, trabalhos e
inúmeras atividades que realizam.
Tais comunidades estão, usualmente, localizadas em planos
elevados, ou em regiões de transição/fronteira, situadas acima do umbral e
dos abismos. Contudo, acham-se espalhadas por todos os locais de
sofrimento e dor, nos agrupamentos denominados Postos de Auxílio, ali
executando atividades de esclarecimento e orientação aos trabalhadores
locais, e prestando auxílio direto aos Espíritos sofredores. Nessas
comunidades benfeitoras as regras da administração têm como base a
natural ascendência intelecto-moral dos seus dirigentes. Outras
características podem ser assim especificadas:
• Labor intenso em todos os setores.
• Os habitantes têm livre trânsito nas comunidades similares, e nas esferas
inferiores. Em decorrência do grau de evolução, moral e intelectual, alguns
trabalhadores são levados periodicamente a visitar regiões elevadas, para
estágios de aprendizado.
• A volitação é locomoção comum, mas também utilizam outros meios de
transporte, terrestre e aéreo, operados por máquinas. Mas, se assim
preferirem, nada os impede de caminharem com auxílio das pernas e dos
pés.
• A comunicação é realizada por via mental ou pela palavra articulada.
• As edificações públicas e particulares primam pelo bom gosto,
simplicidade e utilidade. Há escolas, ministérios e outros órgãos públicos,
centros de estudos e pesquisas, bibliotecas, templos religiosos, setores de

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Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

lazer e recreação, torres, hospitais, setores de recuperação ou de


reequilíbrio etc.
• A natureza é rica e bela, contendo colorido e luminosidade próprios, que
causa admiração.
• Há rios, lagos, oceanos, cascatas d’água, montanhas, campos, planícies,
planaltos, floretas, bosques etc. A vegetação, árvores, flores, arbustos etc.,
retratam o harmonioso equilíbrio mental dos seus habitantes.
• Há animais que compartilham a companhia dos humanos, sendo por
estes estimados, havendo alguns que participam de tarefas beneméritas,
quais sejam: resgate, vigilância etc.
• A influência espiritual aos encarnados e desencarnados é indireta,
respeitando-se, necessariamente, o livre-arbítrio de cada um.

COMUNIDADES ABISMAIS: São as comunidades que integram regiões


denominadas trevas ou abismos, marcadas por grandes padecimentos em
decorrência das viciações e/ou atraso moral dos habitantes que,
temporariamente, ali se encontram.

O VALE DOS SUICIDAS: (Texto do livro Memórias de um suicida, capítulo


“O vale dos suicidas”, psicografado por Yvonne A. Pereira).
• Habitantes: suicidas de diferentes categorias.
• Características ambientais: há luminosidade solar escassa, porque a
luz é filtrada por névoa densa permanente; vegetação sinistra, seca,
contorcida; as árvores possuem pouca folhagem. Presença de muitas
plantas exóticas, como descreve um suicida que ali viveu: “[...] fora eu
surpreendido com meu aprisionamento em região do Mundo invisível, cujo
desolador panorama era composto por vales profundos, a que as sombras
presidiam: gargantas sinuosas e cavernas sinistras, no interior das quais
uivavam, quais maltas de demônios enfurecidos, Espíritos que foram
homens, dementados pela intensidade e estranheza, verdadeiramente
inconcebíveis, dos sofrimentos que os martirizavam. Nessa paragem
aflitiva a vista torturada do grilheta não distinguiria sequer o doce vulto de
um arvoredo que testemunhasse suas horas de desesperação. [...] O solo,
coberto de matérias enegrecidas e fétidas, lembrando a fuligem, era
imundo, pastoso, escorregadio, repugnante! O ar pesadíssimo, asfixiante,
gelado [...]”.
• Condições espirituais dos habitantes: ecoam no ambiente, muitos
gemidos, súplicas e choros humanos. O desespero, a dor profunda, a
mágoa e o remorso são sentimentos dominantes, expressos neste sofrido
relato de um ex-suicida: “[...] Quem ali temporariamente estaciona, como
eu estacionei, são grandes vultos do crime! É a escória do mundo

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Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

espiritual — falanges de suicidas, que periodicamente para seus canais


afluem, levadas pelo turbilhão das desgraças em que se enredaram, a se
despojarem das forças vitais que se encontram, geralmente intactas [...]”.

UMA CIDADE ESTRANHA: (Texto do livro Libertação, capítulo 4 - “Numa


cidade estranha”, ditado por André Luiz, psicografia de Francisco Cândido
Xavier).
• Habitantes: Espíritos vinculados à prática do mal, de variada expressão.
• Características ambientais: reflete vasto domínio das sombras, com
baixíssima luminosidade solar, revelando escuridão completa em certos
locais; há uma espécie de “fumo cinzento” que envolve permanentemente
a região; praticamente não há volitação, mas esta não se revela de todo
impossível, pois alguns habitantes, mais intelectualizados, dominam a
técnica. Contudo, apenas realizam voos rasantes, muito próximos ao solo;
a vegetação tem aspecto sinistro; há árvores, mas com pouca ou nenhuma
folhagem, e os poucos galhos são ressecados; detecta-se a presença de
“aves agoureiras” (corvos), enormes, lembrando figuras monstruosas etc.
• Condições espirituais dos habitantes: Gregório, o nome do
governador da cidade, à época da visita de André Luiz e companheiros,
era um sátrapa (título dos antigos governantes persas; grande senhor;
déspota) de inqualificável impiedade, que aliciou para si próprio o pomposo
título de Grande Juiz, assistido por assessores políticos e religiosos, tão
frios e perversos quanto ele mesmo. André Luiz recorda ainda que o que
mais contristava, porém, não era o quadro desolador, e, sim, os apelos
cortantes que provinham dos charcos. Gemidos tipicamente humanos
eram pronunciados em todos os tons.
O orientador Gúbio, líder do grupo em visita socorrista nessa região
abismal, também informa: “[...] Quase todas as almas humanas, situadas
nestas furnas, sugam as energias dos encarnados e lhes vampirizam a
vida, qual se fossem lampreias insaciáveis no oceano de oxigênio
terrestre. Suspiram pelo retorno ao corpo físico, de vez que não
aperfeiçoaram a mente para a ascensão, e perseguem as emoções do
campo carnal com o desvario dos sedentos no deserto. Quais fetos
adiantados absorvendo as energias do seio materno, consomem altas
reservas de força dos seres encarnados que as acalentam, desprevenidos
de conhecimento superior. Daí esse desespero com que defendem no
mundo os poderes da inércia, e essa aversão com que interpretam
qualquer progresso espiritual ou qualquer avanço do homem na montanha
de santificação. No fundo, as bases econômicas de toda essa gente
residem, ainda, na esfera dos homens comuns e, por isto, preservam,

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Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

apaixonadamente, o sistema de furto psíquico, dentro do qual se


sustentam, junto às comunidades da Terra”.

COMUNIDADES DO UMBRAL:

• Habitantes: podem ser classificados em dois grandes grupos:


a) Espíritos ainda presos às paixões e às sensações da vida material.
b) Espíritos benfeitores, que se encontram nos Postos de Auxílio, em
missão de socorro e esclarecimento.
• Características ambientais: o Espírito Lísias, personagem do livro
Nosso Lar, informa que o Umbral “[...] começa na crosta terrestre. É a zona
obscura de quantos no mundo não resolveram a atravessar as portas dos
deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão
ou no pântano dos erros numerosos”.
Temos notícias de que nas regiões inferiores do Umbral, aquelas que
se encontram mais próximas da crosta terrestre, os Espíritos sofredores
que habitam a região revelam uma característica comum: estão sempre
com fome e sede e se apresentam vestidos de andrajos. Persistem outras
necessidades fisiológicas, semelhantes às comuns aos encarnados. A
paisagem é normalmente úmida e escura. Há pouca água e vegetação no
ambiente. Ocasionalmente transitam na região bandos de seres humanos
de aparência animalesca.
• Condições espirituais dos habitantes: André Luiz esclarece que,
devidas as condições reinantes, o Umbral funciona “[...] como região
destinada ao esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona
purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das
ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime
ensejo de uma existência terrena.”

COMUNIDADES DEVOTADAS AO BEM NAS REGIÕES DE


SOFRIMENTO

Casa Transitória de Fabiano: Trata-se de um Posto de Auxílio móvel


situado em plenas regiões umbralinas, que pode se deslocar na atmosfera
quando se faz necessário. É importante instituição piedosa de socorro a
Espíritos que carregam o peso de amargos e dolorosos sofrimentos,
recém-desencarnados, ou não. André Luiz, no livro: Obreiros de vida
eterna, capítulo 4, informa que a instituição “[...] fora fundada por Fabiano
de Cristo, devotado servo da caridade entre antigos religiosos do Rio de
Janeiro, desencarnado há muitos anos. [...]”

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Módulo 02: Os Espíritos errantes e as comunidades espirituais.

Devido à sua localização, em região mais inferior do Umbral, contém


um sistema de segurança especial, constituído de defesas contra invasões
e ataques. Entre estas destacam as defesas magnéticas e os pontos de
vigilância humana — que contam com a assistência de numerosos
servidores e de bondosos amigos, que ali trabalham dia e noite. Todavia, o
trabalho desta Casa é dos mais dignos e edificantes. Neste edifício de
benemerência cristã, centralizam-se numerosas expedições de irmãos
leais ao bem, que se dirigem à Crosta Planetária ou às esferas escuras,
onde se debatem na dor seres angustiados e ignorantes, em trânsito
prolongado nos abismos tenebrosos.

Colônia correcional: Trata-se de uma obra assistencial constituída pela


Legião dos Servos de Maria, voltada para atendimento aos suicidas,
firmemente orientada pelos ensinos e vivências do Evangelho de Jesus.
Os seus dirigentes e servidores agem em nome de Maria de Nazaré, sua
mentora e orientadora maior. A instituição é cercada por uma sólida
fortaleza, composta de um conjunto de muralhas fortificadas, encravadas
em regiões abismais, conforme descrito por Camilo Cândido Botelho, no
livro Memórias de um suicida: “Era uma região triste e desolada, envolvida
em neblinas como se toda a paisagem fora recoberta pelo sudário de
continuadas nevadas, conquanto oferecendo possibilidades de visão. Não
se distinguia, inicialmente, vegetação nem sinais de habitantes pelos
arredores da fortaleza imensa. Apenas longas planícies brancas, colinas
salpicando a vastidão, assemelhando-se a montículos acumulados pela
neve”.
Não devemos perder a esperança no que diz respeito ao poder do
Bem que, aos poucos irá modificar as expressões de dor e sofrimento que
ainda pulsam no Planeta, em ambos os planos vibratórios da vida. Allan
Kardec, no O livro dos Espíritos, “Conclusão IV”, a propósito, esclarece
como o bem estabelecerá o seu reinado na Terra: “O progresso da
humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, amor e
caridade [...]. Dessa lei derivam todas as outras, porque ela encerra todas
as condições da felicidade do homem. Só ela pode curar as chagas da
sociedade. [...]”

-x-x-

25
MÓDULO N.º 03

TEMA:

O PASSE, OS CENTROS
DE FORÇA, A AURA E A
ORAÇÃO.
Referência Bibliográfica:

• ALMEIDA, Waldehir Bezerra. A complexidade da prática mediúnica. FEB.


• DENIS, Léon. No invisível. CELD.
• DENIS, Léon. Espíritos e Médiuns. CELD.
• FRANCO, Divaldo Pereira. Nos bastidores da obsessão. FEB.
• FRANCO, Divaldo. Grilhões partidos. Revista Espírita. Ano XII, julho de 1869.
• KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
• KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
• KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. FEB.
• KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Desobsessão. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Entre a Terra e o Céu. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da luz. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Nos domínios da mediunidade. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Obreiros da vida eterna. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Libertação. Pelo Espírito André Luiz. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel.
FEB.

26
MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A


ORAÇÃO.

Dentre os fluidos e energias que têm origem no Fluido Cósmico


Universal, temos o fluido vital, considerado princípio da vida material e
orgânica, seja qual for a sua fonte, e que é comum a todos os seres vivos,
desde as plantas até o homem. Este fluido, também denominado no
passado de fluido nervoso, é de natureza magnética e pode ser transmitido
de um indivíduo para outro na forma de passe, segundo a nomenclatura
espírita. Para Allan Kardec, a energia magnética, ou nervosa é o fluido
circulante, que cada criatura assimila à sua maneira, e em graus
diferentes.

CONCEITO ESPÍRITA DE PASSE

O passe, tal como é aplicado na Casa Espírita, não se restringe à


simples transmissão de energias magnéticas advindas do fluido vital do
doador encarnado. Implica na transfusão de energias mistas, magnético-
espirituais, oriundas respectivamente do trabalhador encarnado e do
desencarnado, que colabora nesse tipo de atividade espírita.
O Espírito André Luiz, no livro Evolução em dois mundos, esclarece
que essa energia constitui por si, emanação controlada de força mental
sob a alavanca da vontade. E complementa, no livro Nos domínios da
mediunidade: “O passe é uma transfusão de energias, alterando o campo
celular. Na assistência magnética, os recursos espirituais se entrosam
entre a emissão e a recepção, ajudando a criatura necessitada para que
ela ajude a si mesma. A mente reanimada reergue as vidas microscópicas
que a servem, no templo do corpo. O passe, como reconhecemos, é
importante contribuição para quem saiba recebê-lo, com o respeito e a
confiança que o valorizam”.
Emmanuel, no livro O Consolador, questão 99, por sua vez,
acrescenta: “[...] o passe é a transmissão de uma força psíquica e
espiritual, dispensando qualquer contato físico na sua aplicação”.

27
MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

TIPOS DE ENERGIAS TRANSMITIDAS NO PASSE

Consta em A gênese, cap. 14 – item 33, que há três tipos de fluidos


ou energias magnéticas que podem ser transmitidos pelo passe:
1. Pelo próprio fluido do magnetizador. É o magnetismo propriamente dito,
ou magnetismo humano, cuja ação se acha subordinada à força e,
sobretudo, à qualidade do fluido;
2. Pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre
um encarnado, seja para o curar ou acalmá-lo de um sofrimento; seja para
provocar o sono sonambúlico espontâneo; seja para exercer sobre o
indivíduo uma influência física ou moral qualquer. É o magnetismo
espiritual cuja qualidade está na razão direta das qualidades do Espírito.
3. Pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, ao qual
este lhes serve de condutor. É o magnetismo misto, semi-espiritual, ou, se
o preferirem, humano-espiritual. Combinado com o fluido humano, o fluido
espiritual lhe imprime qualidades que lhe faltam. Em tais circunstâncias, o
concurso dos Espíritos é, algumas vezes, espontâneo, porém é provocado,
com mais frequência, por um apelo do magnetizador.
A atividade de transmissão de passe, usual na Casa Espírita,
apresenta as características do terceiro tipo, ou seja, de magnetismo
misto, uma vez que o doador encarnado de fluidos, conta com a
colaboração de um trabalhador espiritual.

MECANISMOS DO PASSE:

A transmissão e recepção das energias magnético-espirituais através


do passe se fazem de perispírito para perispírito, de quem doa e de quem
recebe. Os benefícios do passe tornam-se visíveis quando aquele que doa
e aquele que recebe as energias fluídicas se colocam em uma posição
mental adequada, secundada pela fé e confiança no Amparo maior.
Em linhas gerais, o processo de transmissão-recepção fluídica pelo
passe pode ser assim resumido:
1. O fluido vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que o tiver em
maior quantidade pode dá-lo a quem o tenha de menos, e em certos
casos, prolongar a vida prestes a extinguir-se.
2. Os fluidos espirituais atuam sobre o perispírito e este, por sua vez,
reage sobre o organismo material com que se acha em contato molecular.
Se os eflúvios são de boa natureza, o corpo ressente uma impressão
salutar. Se forem maus, a impressão será penosa.
3. As energias magnético-espirituais do passe são processadas no
perispírito do receptor, e, através dos centros de força ou centros vitais
perispirituais, alcançam os plexos nervosos do corpo físico, distribuindo-se,

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MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

então, nas províncias orgânicas. André Luiz, no livro Entre a Terra e o


Céu, cap. 20, considera que no perispírito há sete centros vitais que se
conectam com os quatro plexos nervosos situados no corpo físico: “[...] o
nosso corpo de matéria rarefeita está intimamente regido por sete centros
de força, que se conjugam nas ramificações dos plexos e que, vibrando
em sintonia uns com os outros, ao influxo do poder diretriz da mente,
estabelecem, para nosso uso, um veículo de células elétricas, que
podemos definir como sendo um campo eletromagnético, no qual o
pensamento vibra em circuito fechado”.

PLEXOS NERVOSOS

Os plexos nervosos, em número de quatro, estão localizados no


corpo físico. São estruturas organizadas na forma de rede. Vemos, então,
que os centros de força ou centros vitais fazem conexão com o veículo
somático, por meio dos plexos nervosos. Os quatro plexos nervosos do
corpo físico são os que se seguem:
• Plexo cervical: abrange os nervos da cabeça, pescoço e ombro.
• Plexo braquial: nervos da região peitoral (tórax) e dos membros
superiores (do antebraço aos dedos das mãos).
• Plexo lombar: nervos que irrigam as costas, virilha, abdômen e
membros inferiores (da coxa aos dedos dos pés).
• Plexo sacro: nervos da pelve, nádegas, órgãos sexuais, coxa, perna e
pés. Devido à interligação do plexo lombar e do plexo sacro, por vezes é
designado plexo lombo-sacro. Como os centros vitais do perispírito se
conectam com o físico por meio dos plexos nervosos, percebe-se que um
plexo nervoso está, obviamente, relacionado a mais de um centro de força
perispiritual. Neste sentido, as energias do passe, chegando ao perispírito
do receptor, alcançam naturalmente o seu veículo físico, saturando de
fluidos salutares a estrutura orgânica enferma, uma vez que a cura se
opera mediante a substituição de uma molécula malsã por uma molécula
sã. O poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância
inoculada.
Tanto a pessoa que transmite o passe, quanto a que o recebe,
devem se colocar em uma posição mental favorável à adequada
transmissão e recepção energética. A vontade de auxiliar o próximo e a
vontade de ser beneficiado são elementos fundamentais.
Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para
o homem. Pelo pensamento eles imprimem àqueles fluidos, tal ou qual
direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizando com eles,
conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração

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MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

determinada; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a


propriedade dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo
certas leis.
Além da vontade, a prece é outro recurso inestimável. A oração
eleva as vibrações espirituais de quem ora, e atrai a assistência dos bons
Espíritos, criando-se um clima de serenidade, necessário ao bom
aproveitamento da irradiação e energia magnético-fluídicas: “A prece é
recomendada por todos os Espíritos. Renunciar à prece é desconhecer a
bondade de Deus; é recusar, para si, a sua assistência e, para os outros, é
abrir mão do bem que lhes pode fazer”.

O PASSE NA REUNIÃO MEDIÚNICA

Em determinadas circunstâncias, o passe deve ser aplicado nas


reuniões mediúnicas. Deve-se, a propósito, evitar qualquer tipo de
exagero, como estabelecer que todos os participantes da reunião recebam
passe antes ou após a manifestação dos Espíritos. Em condições
específicas, quando o Espírito manifestante se revela preso a maiores
sofrimentos ou quando o médium apresenta dificuldade para transmitir o
pensamento do Espírito, aí, sim, é importante fornecer energias
magnético-espirituais que, por certo, beneficiarão ambos, o médium e o
desencarnado. Esse tipo de ação favorece a dispersão de fluidos
deletérios que poderiam impedir ou dificultar o intercâmbio mediúnico.
Naturalmente, não se trata de conduta obrigatória, uma vez que o médium
harmonizado com o plano espiritual superior encontra os recursos
necessários para não se deixar influenciar pelas ações, emoções ou
sentimentos do sofredor, que lhe utiliza as faculdades psíquicas para
manifestar-se.
Mas como em toda regra há exceção, nas manifestações mediúnicas
penosas, como as de alguns suicidas e obsessores, em geral, a aplicação
do passe é necessária. Nos primeiros, os fluidos salutares lhes
proporcionarão alívio significativo, amenizando o seu sofrimento; nos
segundos, o passe protegerá os médiuns das vibrações desarmônicas do
perseguidor espiritual, que, conforme o grau e tipo da obsessão, poderá
exaurir as forças psíquicas e físicas do medianeiro.
Daí o Espírito André Luiz recomendar o passe nas reuniões
mediúnicas de tal porte: “Semelhante prática deve ser observada
regularmente, de vez que o serviço de desobsessão pede energias de
todos os presentes, e os instrutores espirituais estão prontos a repor os
dispêndios de força havidos, através dos instrumentos do auxílio
magnético que se dispõem a servi-los, sem ruídos desnecessários, de
modo a não quebrarem a paz e a respeitabilidade do recinto.

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MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

CENTROS VITAIS OU CENTROS DE FORÇA

Centros vitais são fulcros energéticos existentes no perispírito, cuja


função é a de assimilar e distribuir a carga de fluido vital, necessária à
manutenção regular das funções orgânicas. Revela-nos André Luiz, no
livro Entre a Terra e o Céu, cap. 20, que: “[...] o nosso corpo de matéria
rarefeita está intimamente regido por sete centros de força, que se
conjugam nas ramificações dos plexos e que, vibrando em sintonia uns
com os outros, ao influxo do poder diretriz da mente, estabelecem, para
nosso uso, um veículo de células elétricas, que podemos definir como
sendo um campo eletromagnético, no qual o pensamento vibra em circuito
fechado”.
Para facilitar o nosso estudo, apresentamos, resumidamente, as
características e funções de cada um dos Centros vitais, valendo-nos das
informações dadas pelos Espíritos superiores, e do professor Carlos
Torres Pastorino, contidas na sua obra Técnica da mediunidade. “(...) Seus
ensinamentos, favorecem a compreensão dos fenômenos mediúnicos e na
formação dos médiuns interessados em mais eficientemente servirem nas
lides de amparo aos desencarnados, com eficiência e sem estafa no
desempenho de suas tarefas”.

Centro coronário: : Localiza-se no alto da cabeça, na direção da glândula


pineal ou epífise, a que corresponde. Liga-se diretamente com a mente.
Dele emanam energias de sustentação do sistema nervoso. É o provedor
de todos os recursos eletromagnéticos indispensáveis à estrutura
orgânica. É o sintonizador das intuições provenientes do mundo espiritual.
Por ele registramos as ondas mentais do plano superior. A tonsura (círculo
feito no alto da cabeça com a raspagem do cabelo) adotada pelos antigos
sacerdotes era resultante da crença de que ela facilitaria o recebimento da
luz e da inspiração superiores. Este Centro vital recebe mensagens por
telepatia e registra o conteúdo intuitivo do médium, quando em contato
com seu Eu profundo. Esse fenômeno ocorre com os médiuns intuitivos.
Os dirigentes de reuniões mediúnicas devem ficar atentos às intuições que
possam receber por esse centro vital, para melhor conduzir as atividades,
atuando em parceria com a equipe espiritual que supervisiona os
trabalhos.
Centro frontal ou cerebral: Está localizado entre as sobrancelhas.
Ordena as percepções, tais como visão, audição, tato e processos da
inteligência e clareza do raciocínio. Nele está o comando do núcleo
endocrínico (referente às glândulas de secreção interna); administra os

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MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

poderes psíquicos. É o responsável pela vidência do plano astral, e dos


quadros fluídicos criados pela mente do próprio médium, de outro
encarnado ou de algum desencarnado. Daí o imperativo de se interpretar
com racionalidade o que o vidente realmente vê, e da necessidade de se
manter um ambiente neutro, do ponto de vista mental dos componentes do
grupo mediúnico, evitando-se a possível criação de formas-pensamento,
produtos de certos desejos ou da invigilância da mente dos circunstantes.
Assumindo a responsabilidade do fenômeno da audiência, o Centro frontal
faz com que o crânio do médium se transmude em uma verdadeira caixa
acústica, parecendo ao sensitivo ouvir a voz física do Espírito dentro dele.
Desenvolvendo-se o Centro frontal conquista-se a clareza de raciocínio e
boa percepção intelectual.
Centro laríngeo: Está localizado na garganta, mais ou menos na altura da
tireoide. É responsável pela emissão da voz e pelo controle das glândulas
timo, tireoide e paratireoide. O desenvolvimento desse centro apura, não
só a emissão da voz, que se torna agradável e musical, como favorece
ainda a correta e fácil pronúncia das palavras. Os Espíritos o usam para se
manifestarem pela psicofonia. Nesse caso, o médium reproduz, muitas
vezes, uma voz característica com sotaque imprimido pelo Espírito
comunicante, podendo até falar em língua desconhecida pelo médium
(xenoglossia). A partir do momento em que é feita a ligação, o médium
sente uma mudança física e psíquica, e fala, mesmo sem querer.
Centro cardíaco: Localiza-se na altura do coração físico, sobre o plexo
cardíaco. Sua função principal é governar o sistema circulatório, presidindo
à purificação do sangue nos pulmões, e ao envio de oxigênio a todas as
células. Nele está o principal ponto de contato com o Eu profundo. Os
seres menos evoluídos deixam-se influenciar pelas vibrações do Centro
gástrico, que transfere ao cardíaco as emoções inferiores, fazendo palpitar
mais rápida e violentamente o músculo do coração (taquicardia). Pode
ocorrer, no entanto, que seja fortemente afetado por sentimentos
superiores, e suas vibrações venham tocar o Centro gástrico, reduzindo-
lhes a frequência (bradicardia). Pelo Centro cardíaco se conectam os
Espíritos chamados guias ou mentores dos médiuns, sobretudo em
trabalhos de passes e curas. Quando essa conexão se dá, o médium
sente agradáveis sensações de bem-estar e de paz, podendo, nitidamente,
diferenciar o que sente quando a ele se liga um Espírito involuído, não
necessariamente mau.
Centro esplênico: Situado na altura do baço, é responsável pela
circulação e adequação dos recursos vitais em todos os escaninhos do
veículo físico. Tem a função de extrair a energia solar, para vitalizar o

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MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

organismo. Por ele agem os Espíritos vampirizadores que, em verdadeira


simbiose, absorvem a vitalidade do encarnado. Quando isso acontece, a
vítima fica debilitada, atingido seu psiquismo e a organização física,
chegando à desencarnação. Nesse caso, a ação desobsessiva é
imprescindível e sempre tem caráter de urgência. A fluidoterapia é
imprescindível, coadjuvando o tratamento médico, na tentativa da
reabilitação orgânica.
Centro gástrico: Fica à altura do umbigo e é responsável pelo
metabolismo dos alimentos, pela absorção de elementos extraídos da
atmosfera, que vitalizam o sistema digestivo. Controla o funcionamento do
sistema vago simpático. Por ele se operam as ligações de Espíritos
sofredores e obsessores, nas reuniões mediúnicas destinadas à caridade.
No momento da ligação o médium registra todo o conjunto de sensações,
emoções e sentimentos do desencarnado, dando-se, em seguida, a
comunicação do Espírito comunicante. Importante salientar que as virtudes
morais, o grau de evangelização e a segurança do médium contribuem
imensamente para que o desencarnado encontre a paz e o alívio de suas
aflições, com apenas esse contato. Diante disso, é providencial que o
médium espírita busque manter o centro gástrico devidamente equilibrado,
disciplinando a ingestão de alimentos, evitando excessos e o uso de
bebidas alcoólicas, para melhor servir nas atividades de intercâmbio
mediúnico.
Centro genésico: Localiza-se no períneo, abaixo dos órgãos genitais. É o
santuário do sexo; templo modelador de formas e estímulo. Sua energia,
quando sublimada, transforma-se em vigor mental, alimentando outros
centros, estimulando a criatividade. Grande número de abusos e desvios
sexuais é causado pelo desequilíbrio desse centro, influenciado, com
frequência, pela ação de obsessores, que nele encontram campo fácil de
domínio de suas vítimas, para sentirem as sensações dos prazeres
sexuais pela vampirização das suas energias.
Depois dessas informações, não há como desconhecer a
importância que têm os centros vitais ou centros de força do perispírito, no
processo de intercâmbio mediúnico. Necessário que os médiuns e os
trabalhadores da área mediúnica conheçam, mesmo que de forma
rudimentar, a localização dos centros vitais e a função de cada um deles,
com vistas ao direcionamento dos passes; registro das sensações neles
produzidas e identificação da natureza do Espírito que a ele se liga,
podendo, assim, cooperar mais eficientemente nas reuniões mediúnicas.

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MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

AURA NOSSA DE CADA INSTANTE

Denomina-se “aura”, a carapaça existente em torno do corpo físico


em formato ovoide, resultante de forças físico-químicas e mentais
produzidas pelos nossos pensamentos e sentimentos; é fulcro energético,
peculiar a cada indivíduo, revelando o campo magnético em que ele se
situa. Todos os seres vivos, por isso, dos mais rudimentares aos mais
complexos, se revestem de um “halo energético” que lhes corresponde à
natureza. No homem, contudo, semelhante projeção surge profundamente
enriquecida e modificada pelos fatores do pensamento contínuo que, em
se ajustando às emanações do campo celular, lhe modelam, em derredor
da personalidade. A nossa aura se modifica a cada instante, numa
alternativa de relâmpagos incessantes, provocados pelo teor dos
pensamentos, dos sentimentos preservados e das emoções que
identificam as nossas tendências, servindo de instrumento de identidade
aos seres espirituais que nos circundam.
Estudiosos que se aprofundam na origem, constituição e função da
aura humana, informam que as cores nela vistas pelos clarividentes, têm
significados próprios, diagnosticando as condições morais, espirituais e
físicas do indivíduo. Por exemplo: azul — sublimação de Espírito; branco-
azulado — pureza, amor e caridade; alaranjado — ambição e orgulho;
vermelho — paixões violentas, raiva, sensualidade; preto — ódio, vingança
e ação maléfica; cinzento — depressão, tristeza e egoísmo. Atentemos
para o relato de André Luiz, no livro Libertação, capítulo 9, quando em
uma Igreja, acompanhando um casal de encarnados durante a missa:
“Ante ligeira pausa, alonguei o olhar pela multidão bem vestida. Quase
todas as pessoas, ainda aquelas que ostentavam nas mãos delicados
objetos de culto, revelavam-se mentalmente muito distantes da verdadeira
adoração à Divindade. O halo vital [aura] de que se cercavam definia pelas
cores o baixo padrão vibratório a que se acolhiam. Em grande parte,
dominavam o pardo-escuro e o cinzento-carregado. Em algumas, os raios
rubro-negros denunciavam cólera vingativa que, a nossos olhos, não
conseguiriam disfarçar. Entidades desencarnadas, em deplorável situação,
espalhavam-se em todos os recantos, nas mesmas características”.
Sobre a realidade da aura na identificação de quem somos e como
estamos a cada instante, destacamos do livro Sexo e destino, capítulo 2, o
momento em que o médico de Nosso Lar se aproxima de Marina, jovem
que vivia momentos de contradição amorosa com seu patrão, esposo
daquela de quem ela era enfermeira: “Aproximei-me reverentemente da
jovem, no propósito de sondá-la em silêncio e colher-lhe as vibrações mais
íntimas; contudo, recuei assustado. Estranhas formas-pensamento,

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MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

retratando lhe os hábitos e anseios, em contradição com os nossos


propósitos de socorrer a doente (patroa de Marina), fizeram-me para logo
sentir que Marina se achava ali, a contragosto. A sua mente vagueava
longe... Quadros vivos de esfuziante agitação ressumavam-lhe na
cabeça... De olhar parado, escutava, adentro de si própria, a música
brejeira da noite festiva, que atravessara na véspera, e experimentava
ainda na garganta a impressão do gim que sorvera, abundante. Apesar de
surgir-nos, superficialmente, à guisa de menina crescida, sob o turbilhão
de névoa fumarenta, exibia telas mentais complexas, a lhe
relampaguearem na aura imprecisa”.
Observamos que a condição de contragosto, o pensamento voltado
para a agitação da noite anterior, a bebida alcoólica que tomara na
véspera, faziam com que a aura de Marina se apresentasse de forma
irregular, faiscando incessantemente, revelando quem era ela naquele
momento.
Em Obreiros da vida eterna, capítulo 10, o mesmo autor espiritual
narra o angustiante momento em que o fogo purificador se aproxima dos
habitantes das regiões umbralinas, quando muitos daqueles que ali
permanecem, pedem ajuda para dele se safar, abrigando-se na Casa
Transitória, a qual se preparava para dali partir, levando os que estivessem
com propósitos sinceros de se reformarem intimamente. Um deles, que ali
mourejava, se aproxima de André Luiz, posta-se de joelhos, e, implorando
por piedade, afiança que está disposto a reabilitar-se! Nesse instante a
irmã Luciana se aproxima, fixa bem o implorante, e declara: “Oh! Como é
horrível a atividade mental deste pobre irmão! Veem-se lhe no halo vital
(aura), deploráveis lembranças e propósitos destruidores. Está
amedrontado, mas não convertido. Pretende alcançar a nossa margem de
trabalho para se apropriar dos benefícios divinos, sem maior consideração.
A aura dele é demasiadamente expressiva...”
Aprendemos com esse texto que:
a) Nem sempre as nossas palavras estão consonantes com o nosso
íntimo, quando podemos enganar irmãos inexperientes, ingênuos e
crédulos, mas não os Espíritos esclarecidos.
b) Pela mudança constante da nossa aura, em razão dos nossos
pensamentos e sentimentos, é que os Espíritos amigos e inimigos atestam
se estamos mesmo realizando a reforma íntima que buscamos demonstrar
com atos exteriores, enganando a nós mesmos.
Na reunião mediúnica, quando a aura do médium se mantém
equilibrada e fortalecida pelas suas virtudes e elevados pensamentos e
sentimentos, exerce forte atração na entidade conturbada que será
assistida por seu intermédio, sendo aquela, envolvida de forma a não

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MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

resistir o magnetismo de amor, que lhe apazigua o íntimo e ameniza suas


dores.
Pelo estado aural em que nos encontramos, os Espíritos nos
identificam, e por ela atraímos para nosso convívio entidades espirituais,
que se nos assemelham pelo teor vibratório, logo, é oportuno lembrarmo-
nos da importância e função que ela tem no processo de intercâmbio com
os Espíritos. André Luiz, no livro Evolução em dois mundos, capítulo 17,
confirma ser a aura um dos fulcros energéticos da comunicação
mediúnica, ao dizer que: “A aura é, portanto, a nossa plataforma
onipresente em toda comunicação com as rotas alheias, antecâmara do
Espírito, em todas as nossas atividades de intercâmbio com a vida que nos
rodeia, através da qual somos vistos e examinados pelas Inteligências
superiores, sentidos e reconhecidos pelos nossos afins, e temidos e
hostilizados ou amados e auxiliados pelos irmãos que caminham em
posição inferior à nossa. Isso porque exteriorizamos, de maneira
invariável, o reflexo de nós mesmos, nos contatos de pensamento a
pensamento, sem necessidade das palavras para as simpatias ou
repulsões fundamentais”.
Diante de todas essas informações sobre a função de nossa aura,
fulcro energético representativo dos nossos pensamentos, sentimentos e
emoções a cada instante, ao longo da vida, só nos resta tomar cuidado
para que ela assuma sempre a condição de painel luminoso, que permita
se aproximem de nós os bons Espíritos e nos distancie dos maus, os quais
nos causam sérios prejuízos, impedindo-nos sejamos colaboradores
eficientes na Seara de Jesus. Convém usar esse conhecimento para
melhor compreendermos a complexidade que nos oferece a
fenomenologia mediúnica e a sua prática.

A ORAÇÃO

“Orai ao começo e ao fim de cada sessão; ao começo, para elevardes


vossas almas e atrairdes os Espíritos esclarecidos e benevolentes; ao
terminar, para agradecerdes os benefícios e ensinos que houverdes
recebido. Seja a vossa prece curta e fervorosa, e muito menos uma
fórmula que um transporte de coração.” (Léon Denis. No Invisível, cap.10).
A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar nele; é
aproximar-se dele; é pôr-se em comunicação com ele. A três coisas que
podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir, agradecer.
A importância da oração em nossas vidas vem sendo lembrada em
todos os livros sagrados, que chegaram até nós. Desde os Vedas até o

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MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

Antigo Testamento e desde o Novo Testamento até a Codificação da


Doutrina Espírita, a prece é apresentada como uma necessidade vital do
homem, porquanto por ela nos colocamos em comunhão com Deus e com
entidades superiores que regem nossas vidas. Ela é o primeiro recurso da
alma, a ser adotado na busca do intercâmbio mediúnico. A oração constrói
a ponte que liga as duas margens do rio vibracional, que nos separa do
elevado mundo espiritual superior. Quanto a ela, devemos lembrar o que
nos assegura o meigo Nazareno:
a) Que ela é o meio pelo qual nos ligamos a Deus (Mateus 6:5 a 8).
b) Que a façamos de coração limpo, perdoando os nossos ofensores
(Marcos 11:25 e 26).
c) Que a façamos de coração justo e sem hipocrisia (Lucas 18:9 a 14).
d) Que não sejam vãs repetições (Mateus 6:7).
e) Que tenhamos a certeza que por ela Deus atende nossas rogativas
(Marcos 11:24).
Para que a oração não seja pronunciada como fórmula mágica, sem
o verdadeiro significado acima descrito, é oportuno lembrar o que diz
Emmanuel, mentor do médium Chico Xavier, no livro Caminho, verdade e
vida, cap. 66: “Em muitos recantos, encontramos criaturas desencantadas
da oração. Não prometeu Jesus a resposta do Céu aos que pedissem no
seu nome? Muitos corações permanecem desalentados porque a morte
lhes roubou um ente amigo, porque desastres imprevistos lhes surgiram na
estrada comum. Entretanto, repitamos, o Mestre divino ensinou que o
homem deveria solicitar em seu nome. Por isso mesmo, a alma crente,
convicta da própria fragilidade, deveria interrogar a consciência sobre o
conteúdo de suas rogativas ao supremo Senhor, no mecanismo das
manifestações espirituais. Estará suplicando em nome do Cristo ou das
vaidades do mundo? Reclamar, em virtude dos caprichos que obscurecem
os caminhos do coração, é atirar ao divino Sol a poeira das inquietações
terrenas; mas pedir, em nome de Jesus, é aceitar-lhe a vontade sábia e
amorosa, é entregar-se lhe de coração para que nos seja concedido o
necessário. Somente nesse ato de compreensão perfeita do seu amor
sublime encontraremos o gozo completo, a infinita alegria. Observa a
substância de tuas preces. Como pedes? Em nome do mundo ou em
nome do Cristo? Os que se revelam desanimados com a oração
confessam a infantilidade de suas rogativas”.
Quando se louva a Deus, Ele é o centro da oração; quando se
agradece, o centro da oração é o agraciado e, quando se pede, o centro
da oração pode ser quem ora ou o próximo, pelo qual se ora. Neste caso,
dizemos que a oração é intercessória, isto é, rogamos pelos sofredores
encarnados e desencarnados. Em uma reunião mediúnica, a prece será
um agradecimento pela oportunidade de todos estarmos ali a serviço da

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MÓDULO 03: O PASSE, CENTROS DE FORÇA, A AURA E A ORAÇÃO..

caridade. Por ela invocamos as entidades amigas, e lhes pedimos auxílio


para mantermos condições físicas, mentais e espirituais na execução da
tarefa a que fomos chamados. Ensinam os Espíritos que orar é dever
primordial de toda criatura humana, e que a oração de cada dia se
transforma em orvalho divino que abranda o excessivo calor das paixões.
O ministro Clarêncio, no livro Entre a Terra e o Céu, capítulo 1,
ensina a André Luiz, que a prece, qualquer que ela seja, é ação
provocando a reação que lhe corresponde. Mais à frente acrescenta:
“Todas as nossas aspirações movimentam energias para o bem ou para o
mal. Por isso mesmo, a direção delas permanece afeta à nossa
responsabilidade. Conforme a sua natureza, paira na região em que foi
emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou
remota, segundo as finalidades a que se destina. Desejos banais
encontram realização próxima na própria esfera em que surgem. Impulsos
de expressão algo mais nobre são amparados pelas almas que se
enobreceram. Ideais e petições de significação profunda na imortalidade
remontam às alturas...”

OBJETIVIDADE DA ORAÇÃO: “Nas vossas orações não useis de vãs


repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado
excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque o vosso Pai
sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes.” (Mateus, 6: 7 e
8).
No capítulo 28 de O evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec
nos legou uma coleção de lindas e tocantes orações, deixando claro que
elas devem ser proferidas com objetividade, isto é, para cada caso ou
situação, devemos nos dirigir ao mundo espiritual de forma precisa, sobre
o que esperamos com a nossa rogativa. Por esse motivo, sugeriu o
codificador, modelos de preces para cada momento, sem desejar que elas
se tornassem vãs repetições, mas que servissem, apenas, de modelos
para quem não tem o hábito de se dirigir às potências invisíveis, ficando,
por isso, inibidos.
Com relação à objetividade e clareza da prece, diz ele: “A qualidade
principal da prece é ser clara, simples e concisa, sem fraseologia inútil,
nem luxo de epítetos, que são meros adornos de lantejoulas. Cada palavra
deve ter alcance próprio, despertar uma ideia, pôr em vibração uma fibra
da alma. Numa palavra, deve fazer refletir. Somente sob essa condição
pode a prece alcançar o seu objetivo; de outro modo, não passa de ruído”.

-x-x-

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MÓDULO N.º 04

TEMA:

O MÉDIUM EM AÇÃO
Referência Bibliográfica:

• ALMEIDA, Waldehir Bezerra. A complexidade da prática mediúnica. FEB.


KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. FEB.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
• MIRANDA, Hermínio C. Diversidade dos Carismas. Ed. Lachatre.
• Orientação para a prática mediúnica no Centro Espírita. FEB/CFN.
PIRES, Herculano. Mediunidade. Ed. Paideia.
XAVIER, Francisco Cândido. Estude e viva. FEB.

39
MÓDULO 04: O MÉDIUM EM AÇÃO

MÓDULO 04 : O MÉDIUM EM AÇÃO

O ATO MEDIÚNICO: (do Livro A complexidade da prática mediúnica, de


Waldeir Bezerra)

Alimento a dúvida de que nos trabalhos práticos da mediunidade


tenhamos a capacidade de perceber plenamente, somente com os
sentidos que nos colocam em relação com o mundo físico (audição, visão,
tato, paladar e olfato), e mesmo com a razão apurada, mas desprovida da
leveza dos sentidos extrassensoriais, o momento extraordinário da
mediunização. No entanto, o filósofo, professor e poeta Herculano Pires,
no seu livro Mediunidade, capítulo 5, nos descreve aquele momento com
extraordinária sensibilidade:
“O ato mediúnico é o momento em que o espírito comunicante e o
médium se fundem na unidade psicoafetiva da comunicação. O Espírito
aproxima-se do médium e o envolve nas suas vibrações espirituais. Essas
vibrações irradiam-se do seu corpo espiritual, atingindo o corpo espiritual
do médium. A esse toque vibratório, semelhante ao de um brando choque
elétrico, reage o perispírito do médium. Realiza-se a fusão fluídica. Há uma
simultânea alteração no psiquismo de ambos. Cada um assimila um pouco
do outro. [...] As irradiações perispirituais projetam sobre o rosto do
médium, a máscara transparente do espírito. Compreende-se então o
sentido profundo da palavra intermúndio.”
A fusão fluídica lembrada pelo iminente escritor, leva-nos à seguinte
conclusão: quando conversamos com o Espírito incorporado, estamos nos
dirigindo a duas personalidades, duas mentes atuantes fundindo ideias,
gestos, vocabulário... Quem dialoga com o desencarnado tem que ficar
atento a essa fusão, para melhor compreender o que se passa. Por isso,
talvez, tenha o codificador nos orientado a conversar com o Espírito, como
quem conversa com o ser encarnado.
Continua Herculano Pires na obra citada: “Ali estão, fundidos e ao
mesmo tempo distintos, o semblante radioso do espírito e o semblante
humano do médium, iluminado pelo suave clarão da realidade espiritual.
Essa superposição de planos dá aos videntes a impressão de que o
espírito comunicante se incorpora no médium. Daí a errônea denominação
de incorporação para as manifestações orais. O que se dá não é uma
incorporação, mas uma interpenetração psíquica, como a da luz
atravessando uma vidraça. Ligados os centros vitais de ambos, o espírito
se manifesta emocionado, reintegrando-se nas sensações da vida terrena,
sem sentir o peso da carne. O médium, por sua vez, experimenta a leveza
do espírito, sem perder a consciência de sua natureza carnal, e fala ao

40
MÓDULO 04: O MÉDIUM EM AÇÃO

sopro do espírito, como um intérprete que não se dá ao trabalho da


tradução.”
Aprende-se aqui o porquê do consagrado termo incorporação,
indevidamente usado para as comunicações feitas pela psicofonia e pela
psicografia. Nunca é demais lembrar, que na fusão fluídica e, por que não
acrescentar também, psíquica, o médium não está totalmente passivo, não
está privado do uso de sua consciência, do seu livre-arbítrio, sendo,
portanto, um intérprete do que pensa e sente o comunicante. No ato
mediúnico, para que o médium alcance a proeza de traduzir fielmente o
pensamento do Espírito comunicante, é necessário tenha ele aprendido a
ceder e a silenciar o próprio pensamento; a ouvir sem interpor suas
próprias ideias. E isso não é tarefa fácil. Entregar-se a outra personalidade
e dizer o que não concorda ou o que não lhe é familiar, muitas vezes,
torna-se uma embaraçosa tarefa. No atendimento às entidades sofredoras,
tivemos oportunidade de registrar a angústia de muitos médiuns, no
instante de ceder suas faculdades para que o desencarnado se
manifestasse, contrariando suas concepções de vida e seus padrões
morais. Eram cobradores do passado que a Espiritualidade maior lhes
ensejava a oportunidade de reconciliação. Mas, sentiam os médiuns que,
antes do entendimento e do possível perdão, os comunicantes
extravasariam suas mágoas e relatariam as razões do ódio que
alimentavam até então; e como foram vitimados por eles, aos médiuns,
tornava-se indispensável a nossa palavra encorajadora, fortalecendo-lhes
o ânimo e incentivando-os ao aproveitamento daqueles santificados
minutos.
Há outros momentos no ato mediúnico que merecem considerações.
São os que o médium deve oferecer o seu organismo psicofísico, para
entidades deformadas e horripilantes, apresentando-se com aspecto
animalesco ou em condição nauseante, exigindo coragem e
desprendimento para abraçá-los e lhes dar o acolhimento de que
necessitam. Necessário se faz o estudo e tempo para o médium aprender,
junto com a equipe que lhe apoia, a confiar e devotar-se à felicidade do
próximo.
O médium é muito perseguido pelo fantasma da avaliação. Por mais
que se predisponha a ceder, sente que está se expondo diante de uma
assistência, e que será sempre, julgado, criticado, desacreditado e, às
vezes, ridicularizado pelos incrédulos, e mesmo por aqueles que lhe
querem bem, mas o consideram ingênuo, fascinado ou despreparado para
a tarefa.

41
MÓDULO 04: O MÉDIUM EM AÇÃO

O MÉDIUM AUSENTE

Resumidamente, a conversa foi assim:


— Então, você está trabalhando no Centro Espírita?
— Sim! — Respondeu entusiasmado o meu amigo.
— E o que faz lá?
— Sou médium. Trabalho na reunião de desobsessão. — Disse-me,
demonstrando alegria.
— Ótimo! Tenho lá um amigo que dá sua cooperação na tarefa de
visita aos enfermos e na campanha Auta de Sousa. — Dei-lhe o nome e
perguntei se o conhecia...
— Não. Não participo dessas atividades —, respondeu-me com
muita naturalidade.
— Mas, creio que você conhece... (dei-lhe o nome), pois é, também,
médium psicofônico e colabora na desobsessão. Conhece-o?
— Também não o conheço — respondeu-me, justificando-se:
— Decerto não faz parte do "meu grupo" — disse-me ele. E
complementou:
— Eu somente vou ao Centro na noite da minha reunião...

Não perguntei por mais ninguém e encerramos o papo. Analisemos a


situação.
O companheiro em questão somente ia ao Centro na noite de sua
reunião! Não conhecia os demais médiuns, por que faziam parte de outro
grupo, nem conhecia quem atuava em outras tarefas! Confesso que fiquei
triste...
Quando o médium filiado a uma determinada Casa Espírita afirma
que somente participa de sua reunião, ficando ausente das demais, sinto
que algo está errado. Ele e a instituição necessitam refletir, avaliar essa
situação.
Vejamos primeiramente o comportamento do médium, sem a
intenção de julgar o mérito de quem assim procede, mas de estudar o fato
em confronto com os ensinamentos doutrinários.
Em O livro dos médiuns não encontramos a classe de médiuns
ausentes, mas a de médiuns indiferentes, onde acreditamos, esteja uma
das causas da ausência do sensitivo no Centro. Médiuns indiferentes —
diz o codificador — são: "[...] os que nenhum proveito moral tiram das
instruções que obtêm, e em nada modificam o proceder e os hábitos".
Procurei tais instruções que servissem para o caso. Encontrei uma na
medida certa para todos nós: “O homem deve progredir, mas sozinho não
o pode fazer porque não possui todas as faculdades; precisa do contato
dos outros homens. No isolamento ele se embrutece e se estiola”.

42
MÓDULO 04: O MÉDIUM EM AÇÃO

Não levar em consideração essa realidade da lei de sociedade,


ensinada pelos Espíritos superiores, para crescer espiritualmente, é uma
das razões do isolamento e da ausência de muitos médiuns, na instituição
que os acolhe. Mas outras existem que impedem o médium de ir ao Centro
para cooperar em atividades não mediúnicas: talvez sofra de xenofobia
(receio às pessoas ou a coisas estranhas) ou, ainda, seja um misantropo
(aquele que tem aversão aos homens, que evita a sociedade). É oportuno
lembrar o estudo da fobia social feito pelo Espírito Joanna de Angelis, no
livro O homem integral, capítulo 2, quando ensina que o indivíduo, quando
acometido de fobia social: "[...] o indivíduo começa a detestar o convívio
com as demais pessoas, retraindo-se, isolando-se". Nesses casos, a ajuda
de um psicólogo ou de um psiquiatra talvez seja uma boa indicação para
ele. A possibilidade de uma obsessão no estágio da fascinação não é
descartável. Vitimado, o médium se isola para não receber sugestões nem
avaliações sobre seu trabalho e sua conduta. Mantém-se passivamente
sob o controle das entidades que não desejam seu progresso moral e
espiritual, levando-o a comprometer sua reencarnação, isolando-se dos
demais companheiros. Aqui, o socorro da instituição na qual atua, na
pessoa do coordenador das atividades mediúnicas e de companheiros
mais íntimos, se faz urgente!
Certa feita, um médium me segredou que trabalhava com o Espírito
Bezerra de Menezes, sozinho em seu apartamento. Sugeri se filiasse a um
Centro Espírita, mas ele foi enfático: “Bezerra de Menezes disse que
minha missão é trabalhar isolado para não ser perturbado, pois o que
tenho a fazer é muito importante...!”
Falei com meus botões: "Justamente o venerável Bezerra de
Menezes! Patrono do Movimento de Unificação, dando um conselho
desses..."
Concluí que se tratava de uma fascinação. Como crescer sem o
contato, sem a vivência com o próximo? O outro é a função do Eu. Para se
desenvolver o devotamento, praticar a caridade, ser testado naquilo que se
aprende e se prega, o Eu necessita do Outro. Uma irmã de fé, médium, ao
se referir à instituição onde praticava a psicofonia em reunião de
desobsessão, disse: “Eu só vou ao Centro no dia da minha reunião...” —
concluindo a seguir: “Tem certas pessoas lá com quem eu não me afino.
Prefiro evitá-las...” Como estaria exercitando a tolerância, paciência e a
compreensão? Vale lembrar a advertência do Mais Alto, contida no
Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 17: “O homem que vivesse
isolado não teria nenhuma caridade a praticar. Somente no contato com os
seus semelhantes, nas lutas mais penosas é que ele encontra ocasião de
praticá-la. Aquele, pois, que se isola, priva-se voluntariamente do meio

43
MÓDULO 04: O MÉDIUM EM AÇÃO

mais poderoso de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua


vida é a de um egoísta”.
A integração do trabalhador do grupo mediúnico no Centro Espírita é
necessária para que ele se sinta e aja como membro de uma mesma
família, cooperando com o desenvolvimento institucional. É importante
que ele escolha atividades para as quais revele maior inclinação ou
habilidade, que possam auxiliá-lo na melhor compreensão do trabalho que
se desenvolve no grupo mediúnico. No entanto, antes de decidir por uma
ou outra atividade, deverá:
a) Procurar quais são as principais atividades disponibilizadas no Centro
Espírita.
b) Dar preferência, na medida do possível, a serviços que lhe
proporcionem a devida compreensão da atividade mediúnica, tais como:
transmissão do passe, serviço de visitas a enfermos, visita aos asilos,
assistência e promoção social etc.
c) Implantar a reunião de Evangelho no lar, que pode ser realizado a sós –
quando a família não aceita essa prática espírita – ou em companhia de
familiares e afins.
d) Considerar a importância de utilizar o serviço de atendimento fraterno e
a recepção de passe, sempre que se sentir desarmonizado.
e) Considerar o valor de participar de seminários ou cursos relacionados à
atividade mediúnica.
f) Não descurar do estudo espírita, mantendo-se atualizado
doutrinariamente.
Cabe agora analisar a cota de responsabilidade do Centro Espírita
com relação ao médium ausente. A liberdade dada pelos dirigentes,
permitindo que compareça à instituição quando assim desejar, sem
disciplinamento de suas atividades mediúnicas e sem conduzi-lo a outras
tarefas de natureza assistencial, necessárias para melhorar sua sintonia
com o plano invisível, é um procedimento que merece reflexão. Nós somos
livres para decidir quanto ao próprio destino, mas nossa liberdade de ser e
de agir tem limites, quando se trata da instituição que nos acolhe, e do fato
de fazermos parte de uma equipe. Há regras a serem respeitadas. Será de
bom alvitre constar do Regimento Interno da instituição a exigência de o
médium a ela filiado, além de participar das atividades mediúnicas, seja
também colaborador em outras atividades de natureza social, onde terá
oportunidade de contato com a carência e a dor dos seus semelhantes.
Diz o simpático orador carioca Raul Teixeira, no livro Diretrizes de
Segurança: "Vemos tantos médiuns preocupados em ouvir o gemido do
Espírito desencarnado, e não ouvem os gemidos dos encarnados”.
É oportuno enfatizar que o Centro Espírita, como escola de almas,
deve ficar atento com os médiuns personalistas, para não

44
MÓDULO 04: O MÉDIUM EM AÇÃO

descaracterizarem sua função educativa, servindo de mau exemplo para


os demais, fundamentalmente para os iniciantes. Esses devem aprender
desde as primeiras aulas, complementadas com prática dos mais
experientes, que a caridade é o esteio a favorecer a mediunidade.
Outro cuidado é o de não alimentar a formação de grupos isolados
nas atividades mediúnicas da instituição. Médium é antena viva a captar
inspirações do invisível com mais facilidade. Ao coordenador encarnado
das atividades mediúnicas convém ficar vigilante, sabendo o que se passa
em cada grupo, e o que seus componentes estão "ouvindo" do que vem do
lado de lá, fazendo reuniões periódicas com os líderes de cada conjunto.
No templo espírita mourejam não somente os Espíritos esclarecidos,
mas, em maior número, os sofredores e obsessores, pois é hospital e
escola. A existência "desse" ou "daquele" grupo estanque, funcionando
sem unidade de princípios, gera o separatismo, e coopera para o
isolacionismo de alguns médiuns menos preparados para o enfrentamento
dos conflitos de ideias e de procedimentos, muito comuns em qualquer
agrupamento humano. Não estamos falando de controle severo, de
barreiras que a instituição crie, cerceando a liberdade do médium,
fazendo-o retroceder ao seu isolamento, mas de apoio fraterno, de
medidas preventivas, de orientação fundamentada nos postulados da
Doutrina Consoladora, com o intuito de ajudar, e não de controlar.
Os médiuns são pessoas normais, sim, mas de sensibilidade
apurada, tornando-se, por isso, presas mais fáceis das sugestões e
influenciações menos elevadas, por serem, e neste caso, como todos nós,
imperfeitos. Trazem registros fortes de desvios pregressos de conduta em
seu inconsciente profundo. Tais anotações, no exercício da mediunidade,
se confundem muitas vezes com a realidade consciente, gerando nele
procedimentos estranhos e inadequados à tarefa sublime, superáveis com
a ajuda dos companheiros de jornada, amparando-os e esclarecendo-os.
Vamos concluir resgatando a advertência do querido mentor
Emmanuel, no livro Estude e viva, capítulo 17, na intenção de tornar bem
claro para os médiuns e os responsáveis pelas Casas Espíritas, o que
compete a cada um buscar e fazer, no sentido de se unirem na realização
da tarefa comum, não ficando ausentes um do outro: “Admitido a
construções de ordem superior, o médium é convidado ao discernimento e
à disciplina, para que se lhe aclarem e aprimorem as faculdades, cabendo-
lhe afastar-se do "tudo querer", e do "tudo fazer" a que somos impelidos,
nós todos, quando imaturos da vida pelos que se afazem à rebeldia e à
perturbação”.
O livro dos médiuns é o compêndio insuperável para o entendimento
do assunto de que estamos tratando, fonte primária de consulta obrigatória

45
MÓDULO 04: O MÉDIUM EM AÇÃO

para quem necessita se embasar com segurança, para a prática do


intercâmbio mediúnico.
Chamamos a atenção para o ato mediúnico, momento em que duas
mentes se fundem para a produção de algo que resulte em benefício de
alguém ou de muitos. Nesse instante o médium deve ceder, abrindo mão
de seus pensamentos e sentimentos, e refletindo outros, sem perder a sua
consciência e sua identidade. Tarefa complexa que merece o
entendimento e a compreensão de quem o assiste e daqueles que
usufruem, aqui na Terra, dos resultados do intercâmbio mediúnico.
Concluímos fazendo um alerta sobre o procedimento lastimável do
médium que não compreendeu ainda que, pela misericórdia do Senhor,
encontra-se aqui na Terra como tarefeiro encarregado de promover o
progresso moral, espiritual e cultural dos que lhe rodeiam, não devendo
isolar-se evitando a convivência saudável e caritativa, desperdiçando o
tempo que lhe foi concedido para resgatar débitos de vidas pregressas,
desprezando o valioso instrumento que é a sua mediunidade.

DISPONIBILIDADE E DISCIPLINA: Tão cedo quanto possível, no


exercício de suas faculdades, o médium deve se convencer de que o seu
trabalho não se resume às poucas horas semanais, se tanto, que passa ao
lado de outros companheiros, junto à mesa mediúnica. Aliás, a observação
é válida para todos os que se dedicam ao trabalho na seara espírita. Como
costuma nos dizer um dos nossos amigos espirituais, “a qualquer
momento, onde quer que estejamos, o Cristo pode precisar de nossa
modesta colaboração para socorrer alguém em crise”. De nada adianta
preparar-se para o trabalho no dia da reunião ou fazer uma prece antes de
sair de casa, se é só isso que você faz.
De fato, o exercício da mediunidade exige preparação constante,
estado de vigilância, a dose certa de renúncia. Enfim, um elenco de
atitudes nada fáceis de cultivar em nosso estágio de imperfeição, mas não
impossível de conseguir, pelo menos em parte. Um veículo em movimento
para se acessar a força propulsora, que precisa ser constante, com a
intensidade apropriada. A sustentação de um impulso regenerador em nós
obedece a princípio semelhante. Todos aqueles que estiverem
empenhados no processo da reconstrução íntima, na reforma moral, que
Kardec colocou como característica básica do verdadeiro espírita, precisa
manter-se atento, não tanto com relação aos outros, mas consigo mesmo,
pois a luta que se trava é em nossa atividade; a guerra é pessoal,
intransferível, permanente.
Algumas batalhas nós ganhamos, outras, nossas paixões ainda
arraigadas nas profundezas do psiquismo, entrincheiradas em velhas e

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MÓDULO 04: O MÉDIUM EM AÇÃO

sólidas matrizes. O médium está particularmente exposto a certas


dificuldades nesse aspecto, porque uma “derrapagem” mais séria pode
abrir caminho para influenciações indesejáveis, de vez que ele tem em si,
as “tomadas” apropriadas às ligações com entidades desencarnadas, tanto
as boas como as outras, segundo as condições que lhes ofereça. Se,
momentaneamente, a condição é negativa, é certo que pode sintonizar-se
com as estações transmissoras da faixa indesejável.
Além de atender aos espíritos, é preciso também dispor de algum
espaço para os encarnados: amigos, conhecidos e desconhecidos que, na
rua, em casa, no trabalho ou na condução, buscam-nos para uma palavra
de conforto, de orientação, ou simplesmente para um desabafo. É incrível
pensar, mas verdadeiro, que muitas pessoas não dispõem de quem as
ouça! A maioria quer falar, contar histórias pessoais e alheias, discorrer
sobre este ou aquele assunto, mas poucos são os que conhecem a sutil
arte de ouvir.

O MÉDIUM E O DIRIGENTE

Que os médiuns são pessoas de sensibilidade mais aguçada,


sabemos todos, ou não seriam médiuns. E, por isso mesmo, são mais
sensíveis também a críticas, especialmente quando injustas, grosseiras ou
mal formuladas. É imperioso, contudo, distinguir entre sensibilidade e
melindre. O médium responsável e interessado em dar o melhor de si
mesmo à tarefa que abraçou não apenas aceita a crítica construtiva e leal,
como a procura, desejoso de aperfeiçoar seu desempenho mediúnico.
Melindres ficam com os que não admitem a menor observação, a não ser
o elogio, o endeusamento, como se fossem infalíveis instrumentos dos
mais elevados manifestantes. Vai uma diferença muito grande entre a
análise crítica construtiva do trabalho realizado, e a implicância, a
intolerância, a estreiteza de vistas e até o ciúme. O dirigente equilibrado,
sensato, experiente, seguro dos aspectos teóricos e práticos da
mediunidade, saberá sempre distinguir com clareza, entre o médium que
necessita de reparos e pequenas ou grandes correções, daquele que ouve
em atitude de aparente humildade, mas não aceita qualquer reparo, por
achar-se envolvido em uma atmosfera de autossuficiência e infabilidade,
que lhe será fatal, mais cedo ou mais tarde.
É extremamente delicada a posição do dirigente responsável, nesse
terreno. Tem ele de exercer toda a sua atenção e bom senso, tanto para
evitar que se perca ou se iniba um médium que, a despeito de pequenos
(ou maiores) equívocos, tem condições de tornar-se eficiente trabalhador;
quanto para auxiliar aquele que pode, igualmente, perder-se pela vaidade,
se ele, o dirigente, não tiver habilidade suficiente ou conhecimento, para

47
MÓDULO 04: O MÉDIUM EM AÇÃO

convencê-lo dos seus equívocos. Convém reconhecer, ainda, que há


casos realmente 'irrecuperáveis' de médiuns iniciantes, ou mais
experientes, que se deixam envolver pela perniciosa convicção da
infabilidade. Cabe, aí, ao dirigente, admitir humildemente que não tem
condições de modificar o quadro. Não lhe resta alternativa senão a que
costumam adotar os próprios espíritos orientadores, ou seja, a de
abandonar o médium assim contaminado pela vaidade aos seus próprios
recursos. Não há como violentar seu livre arbítrio, nem como impedir que
ele assuma as responsabilidades pelo que fizer de si mesmo, e das
faculdades que tenha recebido como instrumento de trabalho, a serviço do
próximo.
Seja como for, os primeiros contatos de um médium iniciante, ou no
qual a mediunidade acaba de ser “diagnosticada”, são altamente críticos, É
nessa hora que muito se define o futuro. Se for acolhido com a necessária
compreensão e adequadamente orientado e instruído, poderá chegar a ser
excelente colaborador na tarefa para a qual, evidentemente, veio
preparado. Se mal recebido, tratado com condescendente superioridade,
aspereza, incompreensão e intolerância, ante as peculiaridades de suas
faculdades, é grande a responsabilidade daqueles que não souberam ou
não quiseram estender a mão, no momento oportuno, ao que vem
precisamente para ser ajudado a servir.
Isto nos leva a pensar com uma ponta de angústia, na quantidade de
pessoas programadas para o exercício da mediunidade, com
responsabilidades e compromissos muito sérios nessa área tão crítica, que
não conseguem vencer as primeiras dificuldades, derrotadas pelo
desencanto com as pessoas que deveriam estar preparadas para ajudá-
las e encaminhá-las ao trabalho tão necessário quanto redentor. Isso sem
contar os que nem sequer procuram os centros e os grupos, por inúmeras
e complexas motivações pessoais injustificáveis: temor, preguiça, orgulho,
ignorância, indiferença ou vaidade. Pelo menos os que buscam o caminho
certo, desejosos de aprender e servir, que sejam recebidos com dignidade,
com paciência, com amor. É preciso ouvi-los com atenção, aconselhá-los
com serenidade e competência, ajudá-los fraternalmente.
É nessa fase inicial que se estabelece a diferença entre um médium
equilibrado e devotado à sua tarefa, e aquele que recua, desencanta-se,
perde-se no emaranhado de suas decepções, e nas complexidades de
fenômenos que não entende, entregando-se ao exercício desordenado de
suas faculdades ou sufocando-as no nascedouro, com
imprevisíveis prejuízos para si mesmo e para os outros.

48
MÓDULO N.º 05

TEMA:

CANAIS DE
COMUNICAÇÃO:
CONTRIBUIÇÃO DOS
AMIGOS ESPIRITUAIS

Referência Bibliográfica:

• MIRANDA, Hermínio. Diversidade dos Carismas. Capítulo 16. Ed. Lachatre.

49
MÓDULO 05: CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS.

MÓDULO 05: CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO


DOS AMIGOS ESPIRITUAIS

Do livro Diversidade dos Carismas, de Hermínio Miranda.

“Os espíritos só têm a linguagem do pensamento, não dispõem da


linguagem articulada, pelo que só há para eles uma língua”, Livro dos
Médiuns, capítulo 19 – item 223 - 15ª. Para explicar essa ideia básica, os
instrutores da codificação acrescentaram a Kardec, mais adiante, que ao
se dirigirem ao médium, ser encarnado, não o fazem em francês, inglês,
árabe ou grego, mas pela “língua Universal, que é a do pensamento”.
Convém enfatizar o relevante aspecto dessa informação que nos
assegura, em termos inequívocos, que os espíritos só têm uma linguagem
- a do pensamento. Antes de prosseguir, vamos recorrer novamente ao
nosso esquema básico do processo da comunicação. O espírito transmite
seu pensamento ao médium, ligeiramente desdobrado. Este o processa,
converte e o retransmite ao encarnado. Se o espírito manifestante pudesse
transmitir o seu pensamento diretamente ao ser encarnado, com o qual
desejasse comunicar-se não precisaria recorrer a nenhum intermediário
(médium) e, por conseguinte, nem precisaria do recurso da linguagem
humana, utilizando-se diretamente da única linguagem de que dispõe, ou
seja, a do pensamento. O problema é que ele não encontra, na grande
maioria das pessoas encarnadas, as condições necessárias e suficientes
para assim proceder. Precisa valer-se de alguém que lhe sirva de
intermediário, e que possa captar o seu pensamento, convertendo-o em
palavras escritas ou faladas, inteligíveis à pessoa ou às pessoas as quais
a mensagem se destina.
Logo, a comunicação mediúnica é a resultante de um entendimento
telepático (de mente a mente), entre o espírito manifestante e o médium, e
deste para o destinatário, já convertida no sistema de linguagem
articulada, isto é, palavra escrita ou falada. Não é difícil, portanto, concluir
que o ponto crítico da comunicação mediúnica está na conversão do
pensamento alheio em linguagem articulada. O processo como um todo,
por isso mesmo, está sujeito a algumas complicações significativas, que
precisam ser levadas em conta a fim de que possam ser contornadas e
superadas, se é que temos por meta uma comunicação confiável. O
médium não apenas precisa interpretar corretamente o pensamento do
espírito comunicante, como precisa convertê-lo em palavras adequadas e
fiéis aos conceitos que recebe (passados, e não falados), nessa ou
naquela língua. Se já existem dificuldades em traduzir uma língua ouvida

50
MÓDULO 05: CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS.

em outra falada, melhor será a de falar ou escrever sobre conceitos que


não ouvimos nem lemos, mas recebemos por meio da linguagem
inarticulada do pensamento.

CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS


ESPIRITUAIS

Comunicar é tornar comum, ou seja, difundir, divulgar, disseminar,


transmitir ideias. Reduzido à sua expressão mais simples, o processo
poderia ser figurado como um ponto de origem e outro de destinação de
ideias, interligados por um sistema qualquer de transmissão. O jargão da
linguagem moderna eletrônica encontrou a palavra certa para este
sistema, chamando-o de ‘canal’. De fato, a comunicação flui através de um
canal entre a fonte geradora e o seu destinatário. Dois tipos de canais
servem ao processo da comunicação mediúnica: os condutores,
localizados no perispírito do médium; e os expressores, que se situam no
seu cérebro físico, distribuídos estes últimos pelos diversos segmentos
que comandam os sentidos, expressão corporal e facial, a gesticulação, a
fala, as habilidades manuais, como a escrita, o desenho e outras.
São, portanto, os canais condutores que funcionam como elementos
de ligação entre o espírito do médium e seu corpo físico, veículos do
pensamento gerado pela individualidade espiritual do próprio sensitivo, e
que também servem a pensamentos alheios.
No fenômeno anímico, que poderíamos comparar a um circuito
interno, fechado sobre si mesmo, pensamentos emitidos pela unidade
central da individualidade circulam pelos canais perispirituais, e vão ao
cérebro ou estimulam os canais expressores que, por sua vez, irão expedir
(ou não), comandos à ação desejada no corpo físico. Já no fenômeno
mediúnico, o sistema é aberto. De um lado, temos os receptores dos
canais condutores colocados à disposição da entidade comunicante, do
outro, os terminais do circuito expressor, que converte o conteúdo da
mensagem em texto, fala ou formas outras de expressão visual ou auditiva
do pensamento.
Na realidade, quem cede os canais condutores é a individualidade
espiritual do médium, que interrompe não o seu pensamento, mas a
expressão que, em vez de circular rumo ao cérebro físico, é como que
desviada, como a corrente de água de um rio, a fim de deixar desocupado
o leito para que as águas de outra origem possam escoar por ali. Isto nos
proporciona uma visão mais clara da tão 'discutida comunicação' que, no
fundo, consiste não propriamente em ‘esvaziar' a mente, deixando de

51
MÓDULO 05: CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS.

pensar, mas em redirecionar o pensamento, de forma a desobstruir o canal


condutor a fim de cedê-lo, livre e desembaraçado, ao comunicante.
Quanto melhor for a capacidade do médium em promover essa
desobstrução, maior será a facilidade do comunicante em expressar suas
características pessoais. O que nos leva a considerar que a chamada
'passividade do médium' é, de fato, uma aptidão em ceder seus canais
condutores e expressores, submetendo-se aos comandos que emanam da
entidade manifestante, e não mais aos seus próprios. Podemos dizer isso
de outra maneira: o único comando que a individualidade do médium
expede ao seu próprio sistema de comunicação é o de que se coloque à
disposição de outrem, obedecidos, obviamente, alguns limites bem-
definidos. É como se alguém emprestasse, temporariamente, a sua casa a
outra pessoa.
Algumas situações básicas ocorrem:
1. O inquilino (espírito comunicante) poderá ser acolhido e conviver,
harmoniosamente, e por algum tempo, com o proprietário dela (médium),
sem nada modificar no seu interior, e com total respeito aos hábitos de seu
hospedeiro.
2. O proprietário (médium) pode se afastar, a maior ou menor distância,
enquanto o novo morador (espírito) se instala, abrindo para este, espaço e
condições para que ele possa imprimir à casa que lhe foi cedida, algumas
de suas características pessoais, como nova disposição de móveis,
quadros e objetos, novos arranjos decorativos e coisas semelhantes.
3. O proprietário (médium) se retira, levando consigo móveis e objetos de
uso pessoal, enquanto o inquilino (espírito) traz seu próprio mobiliário e
objetos, arranjando-os ao seu inteiro gosto pessoal, e adaptando a
moradia aos seus hábitos e preferências.
Em qualquer das situações esboçadas, o visitante (o dialogador, por
exemplo) que conheça bem o proprietário da casa, será capaz de distinguir
uma pessoa da outra, ou seja, o inquilino do proprietário, observando
atentamente as características de um e de outro e comparando-as, num
confronto de marcas pessoais, expressões típicas, opiniões habituais,
formação ética e aspectos outros diferenciados.
É conveniente acrescentar que, por mais que o inquilino se
caracterize e se identifique com as suas idiossincrasias (características) e
preferências, não há como alterar a casa em si mesma, isto é, suas
estruturas de sustentação: paredes, teto, piso.
Esta imagem nos ajudará a compreender melhor a maneira pela qual
se expressa a comunicação, que fica sempre na dependência do tipo de
cessão que o proprietário fez de sua casa, ao inquilino temporário. Em
outras palavras, o estilo e o conteúdo da comunicação dependerão sempre
das características pessoais do médium e do tipo de sua mediunidade, o

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MÓDULO 05: CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS.

que pode acarretar consideráveis variações entre extremos bastante


afastados um do outro, como também depende do grau evolutivo da
entidade comunicante, que pode se apresentar como um inquilino correto
e educado, ou desleixado e rude. Observemos mais de perto as situações:
1. Se o médium oferece condições para um desdobramento mais
completo, como no sono fisiológico profundo (caso do morador que se
retira com seus móveis e objetos de uso pessoal), o comunicante pode
assumir, de tal maneira, o controle dos canais condutores, que consegue
impor aos canais expressores características pessoais bem marcadas,
como mudança de voz, gesticulação, modismos, cacoetes, expressões
típicas, opiniões e simbolismos de sua preferência.
2. Se o médium desdobra-se apenas parcialmente, sem desligar-se mais
amplamente, e permanece junto ao corpo físico (caso do morador que se
afasta, mas deixa seus móveis e utensílios), o comunicante encontra maior
limitação e não consegue impor suas características pessoais, exceto
umas poucas, dependendo do maior ou menor espaço que a
individualidade espiritual do médium lhe tenha concedido.
3. Se o médium não se desdobra, mas apenas cede parcialmente seus
canais condutores, o pensamento do comunicante se transmitirá junto com
o do médium, em paralelo, interferindo um no outro.
4. Se o médium não se desdobra e permanece consciente (fisicamente),
utilizando-se de seus canais condutores, não conseguindo cedê-los, nem
parcialmente, ao comunicante, este permanece, junto ao médium ou à
distância, expressando seu pensamento. A individualidade espiritual do
médium o capta e manipula nos seus canais condutores, mas a
comunicação perde suas características, passando a ser uma expressão
do que o médium deseja transmitir, e não necessariamente do que o
comunicante lhe confia para ser transmitido.
Para melhor entendimento do que foi-nos exposto, faz-se necessária
uma nítida distinção entre personalidade e individualidade: a
individualidade é a soma das experiências vividas em todas as nossas
existências na carne; enquanto a personalidade é manifestação do ser em
cada uma dessas vidas.
No entanto, qualquer que seja o tipo de mediunidade, sempre se
notará algo do médium no 'produto final', que é a comunicação. É o que se
figurou, há pouco, com a imagem da ‘casa’ que preserva suas estruturas, e
permanece no seu local com um mínimo de suas características intactas.
A mensagem será sempre uma fala ou um texto que passou por aquela
'casa' específica, e não outra. Por isso, há sempre uma inequívoca
responsabilidade do médium na comunicação. Se for um proprietário
zeloso, moralizado e esclarecido, a estrutura e ambiente de sua casa
criarão certas inibições ao impulso temporário, impedindo que este

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MÓDULO 05: CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS.

modifique, a seu talante, as condições que lhe são oferecidas para se


manifestar. Da mesma forma, o indivíduo que é moralmente desajustado,
sente-se intimidado ou tolhido em presença de alguém em quem
reconhece superioridade moral. O comunicante inferior no bom médium -
uma barreira que ele não consegue vencer para se expressar
desrespeitosamente - é a autoridade moral.
Fator vital, portanto, a uma boa comunicação, reside nas condições
morais do médium. Por isso, é importante que ele esteja sempre vigilante,
policiando seus atos e pensamentos, como alguém atento à limpeza e
higiene de sua casa. É preciso ser zeloso mesmo quando está só, pois o
médium nunca sabe a que horas chegará um visitante, ou em que
momento amigos espirituais precisarão dele para um trabalho, ainda que
de mera exemplificação ou participação, que ele pode até desconhecer
conscientemente. A consciência de sua responsabilidade pessoal é
essencial ao médium. É certo que isto acarreta certas dificuldades em
termos de vivência terrena, mas é condição mesma ao exercício de uma
mediunidade confiável.
Vimos, há pouco, como é importante que o pensamento do
comunicante chegue ao destinatário da comunicação, na maior pureza
possível. Médiuns orgulhosos, vaidosos e preconceituosos sempre relutam
em ceder seus canais, e neles conceder suficiente espaço e liberdade ao
comunicante. Em comunicações nas quais o médium tenha algum
interesse pessoal, consciente ou inconsciente, como o de agradar (ou
desagradar) ao destinatário, o conteúdo da comunicação pode sofrer
distorções, semelhantes às interferências e à estática, em ondas de rádio
e TV. Medo, orgulho, vaidade e lisonja formam bloqueios e criam
obstruções e interferências, não nos canais expressores, mas nos
condutores, situados no perispírito, como vimos, sob o comando da
individualidade espiritual do médium. Isso quer dizer que interferências
modificadoras ou deformantes no conteúdo das comunicações ocorrem
numa fase em que elas ainda não se expressaram, encontrando-se a
caminho, nos canais condutores.
Como sempre, estas observações suscitam novos aspectos que,
obviamente, surgem sob forma de perguntas, em nossa mente. Esta, por
exemplo: O comunicante usa sua própria linguagem, ou a do médium? O
comunicante não usa a sua nem a linguagem do médium, mas o seu
pensamento. Este é que é vestido com o vocabulário com o qual está
programado o canal de expressão do médium. É o cérebro que, recebido o
pensamento gerado pelo comunicante, incumbe-se de comandar os
instrumentos necessários à fala ou à escrita. Como, então, funciona o
fenômeno da xenoglossia, segundo o qual o comunicante parece falar a
sua própria língua e não a do médium? O processo continua sendo o

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MÓDULO 05: CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS.

mesmo: a entidade comunicante emite seu pensamento e o envia através


dos canais condutores do médium, nos quais pode encontrar matrizes de
línguas que o médium tenha falado em outras existências.
Isso, contudo, não é indispensável, dado que os elementos básicos
que integram o mecanismo da conversão do pensamento puro em
palavras estão programados em todos nós. Como o alfabeto que, na
condição de um conjunto de símbolos gráficos destinados a instrumentar a
exteriorização do pensamento, é o mesmo, qualquer que seja a língua que
utilize tal sistema. A linguagem é apenas um processo de arrumação de
uns tantos símbolos básicos e comuns a várias línguas. Palavras
diferentes descrevem, por exemplo, os mesmos objetos pelo mundo afora.
Ou, para usar outra imagem, com as mesmas sete notas fundamentais e
seus recursos auxiliares, é possível 'escrever' qualquer melodia, sem
recorrer a palavras. Qualquer que seja a língua que fale o compositor ou o
virtuoso que a toca, as notas têm sempre o mesmo valor e tonalidade,
podendo ser arrumadas e rearrumadas para expressar diferentes
pensamentos musicais em diferentes peças, montadas todas com as
mesmas sete notas básicas.
Convém enfatizar que não é no cérebro físico, que ficam gravadas as
lembranças de línguas faladas em outras encarnações do médium. O
cérebro somente registra o que se aprende durante a existência do corpo
físico a que pertence. A linguagem que ali está com as suas estruturas
arquivadas é como a de um computador, composta de símbolos sonoros e
gráficos, cada um com o seu valor próprio. Mas, não é aí que ocorre o
processo mesmo de elaboração do pensamento, que vem do espírito, ou
seja, da individualidade através do perispírito, pelos canais condutores, por
meio dos quais alcança os expressores.
Importante papel cabe, portanto, ao sistema constituído pelos canais
expressores, que operam em dois sentidos, de vez que, não apenas
recebem, convertem e transmitem comandos vindos do espírito, via
perispírito, como recolhem estímulos e impulsos vindos do exterior, pela
instrumentação dos sentidos físicos, e que são retransmitidos ao espírito,
sempre via perispírito. O cérebro físico, portanto, funciona basicamente
como instrumento da personalidade encarnada, programado com as
estruturas de sua linguagem materna, seus hábitos, seus automatismos,
suas preferências por este ou aquele tipo de alimento, vestimenta, moradia
etc.
Isto nos leva a outras sutilezas e enigmas, ou curiosidades de que é
tão fértil a mediunidade. O caso é que cada médium é único, ou seja, um
indivíduo singular, com suas peculiaridades, capacidades e limitações. Por
isso, embora o sistema e o processo da comunicação, reduzidos à sua
estrutura mais singela, sejam sempre os mesmos, há matizes inesperados,

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MÓDULO 05: CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS.

criados pela coloração que cada um - médium e espírito comunicante -


emprestam àquilo que fazem. Isto é particularmente observável quando o
mesmo espírito se manifesta ocasionalmente através de médiuns
diferentes, ou quando o mesmo médium recebe espíritos diferentes. Em
verdade, tanto na psicografia como na psicofonia, o caminho é sempre o
mesmo, ou seja, a circulação do pensamento pelos canais condutores, e a
'materialização' desse pensamento na palavra escrita ou falada, através
dos dispositivos expressores.
É costume afirmar-se que, na psicografia, a entidade comunicante
atua sobre o braço ou a mão do médium para movimentá-los e que, na
psicofonia, a atuação se exerce sobre os órgãos da fala. Isso é verdadeiro,
segundo nos esclarecem amigos espirituais competentes, mas num
sentido mais profundo. Não é a entidade comunicante que toma
literalmente a mão do médium, como alguém que ajuda uma criança a
escrever, guiando sua mãozinha sobre o papel. A entidade atua com o seu
pensamento através dos canais condutores, que levam o impulso da sua
vontade ao cérebro do médium, a fim de ativar o centro próprio que
comanda os movimentos do braço e da mão.
O mesmo mecanismo atua, de maneira idêntica, na psicofonia. Os
impulsos chegam ao cérebro através dos canais condutores, e ali
estimulam os centros próprios da fala. O certo, porém, é que o espírito
comunicante não vai diretamente aos órgãos que 'materializam' a
comunicação, mas aos centros que comandam esses órgãos. Mesmo
assim, não vai a esses centros diretamente, mas sempre por intermédio
dos canais condutores. Frederick W. Myers informou, já na condição de
espírito, através da mediunidade da Sra. Geraldine Cummins (Ver The
Road to Immortality, Ed. Aquarian Press, Londres,1955), o seguinte:
“É muito difícil, deste lado em que nos encontramos, lidar com a
mente do médium. Nós a impressionamos com a nossa mensagem, nunca
impressionamos diretamente o cérebro do médium. Isto está fora de
dúvida. É a mente que recebe nossa mensagem e a envia ao cérebro.
Este é um simples mecanismo. A mente é como cera macia, recebe
nossos pensamentos como um todo, mas deve produzir as palavras com
que os vestir.”
As observações de Myers-espírito nos levam de volta, ainda que sob
outro ângulo, à questão da 'vestidura' do pensamento. Por não haver
encontrado expressão mais adequada (também nós, encarnados,
enfrentamos dificuldades para 'vestir' nossos próprios pensamentos),
costumava-se dizer que o espírito comunicante transmite seu pensamento
em bloco, ao médium ou, mais especificamente, à individualidade espiritual
do médium. Recebido esse bloco de informações, o médium trataria de
explicitá-lo em palavras faladas ou escritas. Seria mesmo correta a

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MÓDULO 05: CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS.

expressão ‘bloco’? E mais, poderá a entidade alternativamente ditar o seu


pensamento palavra por palavra?
O amigo espiritual que se colocou à disposição para estes
esclarecimentos, explicou que pode ocorrer uma e outra coisa, segundo o
tipo de mediunidade, bem como, conforme o 'espaço mental' que a
individualidade do médium conceda ao manifestante, e a própria condição
evolutiva da entidade comunicante. São, portanto, vários e de naturezas
bem diversas os componentes do processo. No caso da comunicação em
'bloco', portanto, caberia ao médium explicitar o pensamento recebido?
Novamente, pode ocorrer uma e outra coisa, ainda segundo a
capacidade do médium, seu nível ou grau de desprendimento e
características de sua mediunidade. A expressão 'em bloco' não
caracteriza a contento o que ocorre. Não se trata de um bloco, como um
tijolo, uma pedra ou um pacote, devidamente arranjado, como poderia
parecer. A expressão mais aproximada e correta seria uma ‘unidade’.
O elemento complicador, no caso da 'unidade' de pensamento, é o
de que os 'componentes' desse conjunto têm sua velocidade própria,
infinitamente maior do que a frequência na qual se movimenta o ser
encarnado. Não é, portanto, o pensamento - principalmente das entidades
mais evoluídas - que se fraciona em inúmeros componentes. Ele parece
fracionado ao ser trabalhado pelo médium, que se encontra situado numa
faixa de frequência, na qual a velocidade é muitíssimo menor do que
aquela em que o pensamento é formulado, pela entidade comunicante.
Talvez (e isto ocorre por minha conta, agora), uma imagem nos ajude a
entender o aspecto particular da 'velocidade', neste contexto. Contemplado
em estado de repouso, o disco de Newton apresenta, distintamente, as
suas sete cores primárias (vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e
violeta). Levado, porém, a uma velocidade específica, as cores como que
se fundem numa só, e ele se apresenta totalmente branco. Não que as
cores componentes deixassem de existir no disco, mas a vista do
observador é que, incapaz de acompanhar a velocidade do disco, percebe
apenas a tonalidade resultante. Da mesma forma, uma hélice em alta
rotação se nos afigura um círculo.
Quando duas entidades evoluídas se comunicam no mesmo nível de
frequência mental, o pensamento é um todo e, ao mesmo tempo,
constituído de partes que o integram, assim como na fotografia de uma
paisagem. E se pode perceber o conjunto de um só relance (velocidade),
como focalizar a atenção nas partes que a constituem: uma árvore, um
canteiro de flores, grupo de pedras, o céu e as nuvens à distância etc.
Porque, neste caso, a imagem na foto é estática, isto é, não se apresenta
com o efeito ‘velocidade’.

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MÓDULO 05: CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS.

O que nos leva a dividir o pensamento, provocando inevitável


retardamento no seu ritmo de expressão, é a dificuldade de colocá-la em
palavras, um processo que se reduz a uma espécie de 'materialização' do
pensamento. Podemos entender isso melhor se nos fixarmos na diferença
que existe em ver a fotografia de uma paisagem e descrevê-la,
verbalmente ou por escrito. Para isso, temos de 'decompô-la' nas suas
partes, a fim de explicitá-la de tal forma, que a pessoa que não a tenha
diante de seus olhos possa 'reconstituí-la' imaginariamente.
E, mais uma vez, podemos observar que o processo da
comunicação continua sendo, basicamente, o mesmo nas suas estruturas,
qualquer sejam a modalidade, e as peculiaridades individuais do médium
ou do comunicante. A imagem de uma foto ilustra bem esse ponto. A foto
de uma paisagem é uma 'mensagem' artística dotada de poder evocativo
ou sugestivo, contida toda num só bloco ou unidade, composta de
elementos ou detalhes que a integram. Também ela vai ao cérebro do
médium pelos seus canais condutores - no caso, o sentido da visão,
funcionando de fora para dentro. O processo estaria encerrado aí, a não
ser que a pessoa que contempla a foto, queira transmitir a alguém a
'mensagem' nela contida - digamos que seja uma mensagem de paz
bucólica ou de simples beleza estética. Cabe-lhe, portanto, funcionar como
'médium' entre a foto e os canais condutores da pessoa à qual ele deseja
transmitir a mensagem, contida na paisagem. Essa mensagem é de início,
apenas um pensamento ou, para usar a nossa terminologia, uma unidade
de pensamento que lhe compete 'vestir' com palavras que a descrevam
para outrem, de tal forma que esta segunda pessoa possa reconstituir, na
sua mente, a imagem original que irá gerar uma sensação de paz ou
simplesmente, de prazer estético.
Aí está, pois, o mesmo processo estrutural: a mensagem inicial, sob
forma de imagem fotográfica, como fonte geradora, e o 'médium', com
seus canais condutores e expressores. Se a mensagem ficar com o
médium, encerra-se o processo, depois de percorridos os canais
condutores, e documentada a experiência sensorial. O médium a
transmitiu a si mesmo. Se ela precisar ser retransmitida, os canais
expressores terão de ser acionados de forma a movimentar mecanismos
que possam atuar, sob o comando do cérebro, como os da palavra falada,
escrita, ou, ainda, braços e mãos que reproduzam a foto, numa tela ou
num papel, por meio de pincéis, lápis ou tinta própria.
Resta um aspecto relevante a abordar e que ressalta, espontâneo e
conclusivo, dessas observações. É o de que o corpo físico não passa de
um instrumento, um mecanismo, ao passo que os comandos centrais e a
capacidade de decisão se localizam no espírito, ou seja, na
individualidade. A tendência natural de quem observa a mediunidade em

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MÓDULO 05: CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS.

exercício, é a de considerar o médium como um corpo físico, quando, na


realidade, ‘médium’, de fato e de direito, é o perispírito, que funciona
sempre como agente de ligação entre corpo e a unidade de comando,
situada na individualidade.
Mesmo nos casos em que ocorre um desdobramento mais amplo, e
o espírito cede canais condutores de seu perispírito à entidade
comunicante, sem procurar influenciar, em nada, a comunicação, a
individualidade estará sempre alerta e pronta a interceptar ou impedir
qualquer pensamento inconveniente; ou até mesmo a interromper
dramaticamente a comunicação, se assim julgar conveniente ou
necessário. Age como o proprietário que, após ceder as dependências de
sua casa, mantém-se atento para que o inquilino não deprede seu
patrimônio. Tem para isso condições de expulsá-lo, e poderá impedir, se
assim o desejar, a sua retomada intempestiva. Isso, naturalmente, quanto
ao médium equilibrado, de bons padrões morais, dotado de autoridade
moral.
Para concluir, devemos reiterar com a mesma insistência de sempre
e, agora, com palavras de nossos queridos amigos espirituais, que "as
chamadas escolas de médiuns ou sessões de desenvolvimento mediúnico
existentes na Terra, deveriam visar ao desenvolvimento das qualidades
morais e individuais do médium, como pessoa humana, e não da
faculdade em si". Esta, quando programada para expressar-se
ostensivamente, faz-se por si mesma, na sua própria dinâmica. O estudo
dos mecanismos da mediunidade esclarece o médium, e o ajuda a
entender o que lhe cabe fazer, a fim de deixar fluir melhor o pensamento
alheio por seu intermédio, porém só o seu aperfeiçoamento pessoal
melhora a qualidade da comunicação.
O cérebro físico funciona como conversor e tradutor do pensamento
do próprio espírito que habita aquele corpo físico, tanto quanto do
pensamento alheio. O perispírito é, pois, médium do próprio espírito
encarnado, tanto quanto de espíritos desencarnados, pois é ele o
elemento de ligação entre a individualidade, que pensa, e a personalidade,
que se expressa no meio em que vive encarnada.
-x-x-

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MÓDULO N.º 06

TEMA:

OS ESPÍRITOS
COMUNICANTES
Referência Bibliográfica

• FRANCO, Divaldo P. Palavras de Luz. FEEB.


• FRANCO, Divaldo P. Celeiro de Bênção. Ed. Boa Nova.
• FRANCO, Divaldo. Diretrizes de Segurança. ED. InterVidas.
• KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns – FEB.
• KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. FEB.
• KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
• KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. FEB.
• MIRANDA, Hermínio C. Diálogo com as Sombras. FEB.
• NOBRE, Marlene. A Obsessão e suas Máscaras. Ed. FE.
• OLIVEIRA, Terezinha. Reuniões Mediúnicas. Ed. Lachatre.
• PERALVA, Martins. Estudando a Mediunidade. FEB.
• PIRES, J. Herculano. Obsessão, o passe, a doutrinação. Ed, Paideia.
• XAVIER, Francisco Cândido. Desobsessão. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Entre a Terra e o Céu. Clube de Autores – FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. No Mundo Maior. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Ação e Reação. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Libertação. FEB.
• XAVIER, Francisco Cândido. Seara dos Médiuns. FEB.

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

O Diálogo com os Espíritos desencarnados: considerações gerais

O esclarecimento dos desencarnados sofredores, perseguidores,


renitentes ou não de viciações, ódios, desvios emocionais, entre outros,
por meio das manifestações mediúnicas ostensivas, constitui atividade de
elevada importância no âmbito da caridade fraternal desenvolvida na Casa
Espírita. Indica, igualmente, o ponto máximo da reunião mediúnica.
A propósito, afirma André Luiz, no livro Desobsessão: “[...] a
alienação mental dos Espíritos desencarnados exige o concurso fraterno
de corações amigos, com bastante entendimento e bastante amor para
auxiliar nos templos espíritas, atualmente dedicados à recuperação do
Cristianismo, em sua feição clara e simples”.
Nesse contexto, surge a figura do doutrinador ou dialogador, como
sendo o médium capaz de acolher e esclarecer o desencarnado que sofre,
à luz do entendimento espírita e do Evangelho de Jesus, aliando à sua
experiência doutrinária estudos e práticas de vida capazes de ensejar
eficácia ao contato com os enfermos espirituais.
É de fundamental importância que o dialogador, em especial, e o
grupo, em geral, escutem o que o Espírito tem a dizer. Se este revela
dificuldades para se expressar, é preciso saber auxiliá-lo, porque somente
lhe concedendo a chance de expor suas amarguras será possível prestar-
lhe efetiva assistência. Contudo, usualmente o diálogo é iniciado pelo
próprio Espírito que, naturalmente, toma a palavra e apresenta as suas
necessidades.
Qualquer que seja a abertura da comunicação, o dialogador deve
esperar, com paciência, depois de receber o companheiro com uma
saudação sinceramente cortês e respeitosa. Seja quem for que compareça
diante de nós, é um Espírito desajustado, que precisa de socorro. Alguns
bem mais desarmonizados do que outros, mas todos necessitados — e
desejosos — de uma palavra de compreensão e carinho, por mais que
reajam à nossa aproximação. Os primeiros momentos de um contato
mediúnico são muito críticos. Ainda não sabemos ao que vem o Espírito,
as angústias que traz no coração, que intenções, que esperanças e
recursos, que possibilidades e conhecimentos. Estará ligado a alguém que
estamos tentando ajudar? Tem problemas pessoais com algum membro
do grupo? Luta por uma causa? Ignora seu estado, ou tem consciência do
que se passa com ele? É culto, inteligente, ou se apresenta ainda
inexperiente e incapaz de um diálogo mais sofisticado? Uma coisa é certa:
não devemos subestimá-lo. Poderá de início, revelar clamorosa ignorância,

61
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

e entrar, depois, na posse de todo o acervo cultural de que dispõe.


Dificilmente o Espírito é bastante primário para ser classificado,
sumariamente, como ignorante.
Allan Kardec assinala no livro O que é o espiritismo, que há três
condições essenciais para que um Espírito se comunique:
1. Que lhe convenha fazê-lo.
2. Que sua posição ou suas ocupações lho permitam.
3. Que encontre no médium um instrumento apropriado à sua natureza.
É importante que tais condições sejam observadas, para que o
diálogo entre Espírito comunicante e dialogador transcorra em nível de
bom entendimento. Infelizmente, ainda é reduzido o número de
dialogadores – ou doutrinadores – que procuram empenhar-se em
aperfeiçoar essa tarefa tão importante no trato com os desencarnados. As
principais dificuldades relacionadas ao atendimento dos Espíritos
necessitados podem ser resumidas nas seguintes:

a) O diálogo se transforma em monólogo: O monólogo é sempre


prejudicial, seja quando é proferido pelo dialogador, seja quando o é pelo
Espírito comunicante. Existem manifestações mediúnicas em que é
possível delinear dois momentos distintos: o momento do Espírito
comunicante e o momento do doutrinador. A conversa não flui
naturalmente. O Espírito fala durante algum tempo; depois, este se cala e,
então, o dialogador faz sua explanação.
Há situações outras em que o Espírito comunicante monopoliza o
médium, o grupo, e quase não dá chance de o dialogador dizer alguma
coisa. É preciso cuidado com esses Espíritos. Geralmente são Entidades
que dominam a arte da manipulação. O médium, o dialogador e o próprio
grupo devem envidar esforços para controlar a situação. Nessas condições
a reunião torna-se extremamente cansativa. Ocorre dispersão mental e de
fluidos. Há participantes que dormem, outros que permanecem distraídos.
Não se pode dizer que há um verdadeiro atendimento.

b) O diálogo adquire feições de “doutrinação”: Essa condição é tão


delicada quanto prejudicial e, no intuito de chamar a atenção para o
assunto, alguns autores espíritas têm sugerido a substituição da palavra
doutrinação por diálogo. André Luiz prefere chamar de esclarecedor ou
médium esclarecedor, a pessoa que conversa com os Espíritos
comunicantes. O Espírito Emmanuel vai um pouco mais além, quando
traça diferenças entre doutrinar e evangelizar. As suas ideias são as
seguintes:
“Para doutrinar, basta o conhecimento intelectual dos postulados do
Espiritismo; para evangelizar é necessária a luz do amor no íntimo. Na

62
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

primeira, bastarão a leitura e o conhecimento; na segunda, é preciso vibrar


e sentir com o Cristo. Por estes motivos, o doutrinador muitas vezes não é
senão o canal dos ensinamentos, mas o sincero evangelizador será
sempre o reservatório da verdade, habilitado a servir às necessidades de
outrem, sem privar-se da fortuna espiritual de si mesmo.”
A palavra doutrinação, a bem da verdade, não é ruim, porque traz o
sentido de conversar com alguém à luz dos ensinamentos espíritas
(doutrinários). Acontece que a palavra passou a ter uma conotação
negativa, devido ao seu mau uso. Passou a significar “discurso” ou
“instrução-padrão” para os Espíritos necessitados de auxílio. É uma
questão constrangedora essa, uma vez que os sofrimentos demonstrados
pelos Espíritos em suas comunicações podem ser semelhantes, mas
jamais iguais. Não é aconselhável ter uma ‘fala-padrão’ para suicidas,
homicidas, obsessores etc. É erro fazer generalizações nesse campo. O
diálogo deve fluir por meio de uma conversa fraterna, gentil, descontraída
e simples. O dialogador deve ter sensibilidade para compreender que cada
sofrimento é único, que cada caso é um caso.

c) O dialogador não sabe ouvir o necessitado: É de fundamental


importância que ouçamos o que o Espírito tem a dizer. Se o Espírito tem
dificuldade de expressão é preciso auxiliá-lo, porque só revelando as suas
dificuldades é que poderemos tentar auxiliá-lo. Em alguns casos o Espírito
somente consegue expressar-se a muito custo, em virtude de seu estado
de perturbação, de indignação, ou por estar com deformações
perispirituais que o inibem. De outras vezes, usando de ardis, ou
preparando ciladas, mantêm-se em silêncio, para que o doutrinador
[dialogador] se esgote, na tentativa de descobrir suas motivações, a fim de
tentar ajudá-lo, com o que ele se diverte bastante.
Em certas ocasiões, vem ele revestido de um manto de mansidão e
tranquila segurança. Diz-nos palavras doces, assegura-nos suas boas
intenções, dá-nos conselhos. Por fim, explode em irritação e “abre o jogo”,
gritando que acabou a farsa. E derrama um arsenal de ameaças e
intimidações. Há os que fingem dores que não sentem, ou mutilações que
não possuem, como cegueira ou falta de língua. Visam, com esses
artifícios, a distrair nossa atenção do ponto focal de sua problemática, ou
simplesmente entregam-se ao prazer irresponsável de enganar, mistificar,
defraudar.
Pode, também, o médium dar sinais de estar envolvido e o
dialogador, notando isso, dirige ao Espírito comunicante uma saudação
sinceramente cortês, respeitosa e fraterna. Se, apesar da saudação inicial,
o Espírito não se decide a falar, o dialogador poderá formular pergunta
estimuladora, insistir fraternalmente. Ex.: “Estamos ao seu dispor, prontos

63
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

a ouvi-lo”; “Como se sente?”; “Deseja alguma coisa de nós?”. As primeiras


palavras que dirigimos ao Espírito, e o modo como o fazemos são de
grande importância, pois podem influir no acolhimento que, em
consequência, ele nos irá dar. Por essa razão é preciso deixá-lo falar,
ouvindo-o com atenção. Precisamos conhecê-lo, saber quem é, a que
veio, se ignora ou não o seu estado [de desencarnação], se pode dialogar
com clareza ou não, qual a sua história, motivação ou razões.
Quando insistimos que é importante deixar o Espírito falar, não
significa que ele deva controlar a reunião. É necessário que ele fale, mas
não tudo quanto queira, senão ficará andando em círculo, à volta de sua
ideia central. Nesse caso, continuará a repetir incessantemente a mesma
cantilena trágica: a vingança, o ódio, a impossibilidade do perdão, o desejo
de fazer a vítima arrastar-se no chão, como um louco varrido, e coisas
semelhantes. O doutrinador precisa ter bastante habilidade para mudar o
rumo do seu pensamento. Terá que fazê-lo, não obstante, com muita
sutileza, arriscando, aqui e ali, uma pergunta mais pessoal, falando-lhe de
uma passagem evangélica, que se aplique particularmente ao seu caso.
Deixe-o falar, porém. Se grita e esbraveja, procure apaziguá-lo.
Atenção, pois, para essas ideias fixas. Por mais voltas que dê o
Espírito, mesmo com a intenção consciente de ocultar sua motivação, ele
não conseguirá isso por muito tempo. Outro cuidado que se deve ter na
fase inicial está relacionado às perguntas dirigidas ao Espírito
comunicante, na tentativa de fazê-lo falar. Não se trata de fazer um
interrogatório tolo (por exemplo: Qual o seu nome? De que morreu? Onde
foi enterrado?). Nossas perguntas serão poucas, breves, apenas para
motivar que fale.
O dialogador ouvirá as respostas e irá analisando as ideias,
linguagem, atitudes do Espírito. Poderá, inclusive, deduzir o sexo a que ele
tenha pertencido, para que a conversação elucidativa se efetue na linha
psicológica ideal. Se o Espírito se sentir “mudo”, sugerir que responda por
acenos. Se sonolento, procurar atrair sua atenção, fazê-lo se interessar
pelo agora, o que se passa ao seu redor.

Condições propícias a um bom diálogo com os Espíritos:

A arte da doutrinação se desenvolve e se aperfeiçoa com a prática,


sobretudo se o doutrinador se empenhar na aquisição de valores
intelectuais e morais. Enquanto o conhecimento auxilia por fora, só o amor
socorre por dentro. Com a nossa cultura retificamos os efeitos, quanto
possível, e só os que amam conseguem atingir as causas profundas. Ora,
os nossos desventurados amigos [Espíritos comunicantes necessitados],

64
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

reclamam intervenção no íntimo, para modificar atitudes mentais em


definitivo.
O Espírito André Luiz, no livro No mundo maior, capítulo 5, “O poder
do amor, nos traz o exemplo da irmã Cipriana, convocada a libertar terrível
obsessor, devido às conquistas que ela lograra adquirir no âmbito do amor
fraternal. Referindo-se a essa irmã e querendo exaltar lhe o grau de
compreensão, assim se expressa: ‘O coração que ama está cheio de
poder renovador. Certa feita, disse Jesus que existem demônios somente
suscetíveis de regeneração pelo jejum e pela prece. Às vezes, André,
como neste caso, o conhecimento não basta: há que ser o homem
animado da força divina, que flui do jejum pela renúncia, e da luz da
oração, que nasce do amor universal’.”
Devemos, pois, compreender que nem sempre doutrinar será
transformar. Um Espírito pode ter adquirido o tesouro do conhecimento, e
possuir recursos fluídicos ou magnéticos capazes de operar sobre a mente
dos Espíritos sofredores, auxiliando-os nos processos dolorosos que
enfrentam. No entanto, para garantir-lhes a renovação espiritual, é preciso
que, quem auxilia, disponha de sentimentos sublimados.
Quem já possui uma razoável bagagem de conhecimento, fala à
inteligência do sofredor, mas não está, porém, habilitado a redimir
corações. Para esse fim, para decifrar os complicados labirintos do
sofrimento moral, é imprescindível haver atingido mais elevados degraus
da humana compreensão. Essa é a principal razão por que o diálogo com
os Espíritos muitas vezes se revela frio, fora da realidade, apesar do
declarado conhecimento que o dialogador revela. Como sabemos, a
palavra, qualquer que ela seja, surge invariavelmente dotada de energias
elétricas específicas, libertando raios de natureza dinâmica. A mente,
como não ignoramos, é o incessante gerador de força, através dos fios
positivos e negativos do sentimento e do pensamento, produzindo o verbo,
que é sempre uma descarga eletromagnética, regulada pela voz. Por isso
mesmo, em todos os nossos campos de atividade, a voz nos tonaliza a
exteriorização, reclamando apuro de vida interior, de vez que a palavra,
depois do impulso mental, vive na base da criação. É por ela que os
homens se aproximam e se ajustam, para o serviço que lhes compete e,
pela voz, o trabalho pode ser favorecido ou retardado, no espaço e no
tempo.
É provável que no estágio evolutivo em que nos encontramos, ainda
tenhamos dificuldades de revelar amor fraternal sublimado ao nosso
próximo, esteja ele desencarnado ou envergando uma vestimenta física.
Somos capazes, porém, de demonstrar compaixão e gentileza para com
os Espíritos em sofrimento. Voltando às anotações de André Luiz, desta
vez, constantes na obra Nos Domínios da Mediunidade, constatamos que

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

o doutrinador, devido aos esforços no equilíbrio dos sentimentos, e por ser


portador de razoável conhecimento doutrinário, consegue conduzir com
êxito o diálogo. Vejamos por quê: “Ainda mesmo descontando o valioso
concurso do mentor que o acompanhava, Raul emitia de si mesmo sincera
compaixão de mistura com inequívoco interesse paternal. Acolhia o
hóspede [Espírito necessitado] sem estranheza ou irritação, como se
fizesse a um familiar que regressasse demente ao santuário doméstico”.
Talvez por essa razão o obsessor, ao seu turno, se revelava menos
agastadiço. No atendimento a Espíritos mais endurecidos, a prece e o
passe são recursos valiosos, quando se esgota qualquer tentativa de
entendimento pelo diálogo. Às vezes, porém, precisamos lançar mão de
uma linguagem mais enérgica, quando se percebe que o Espírito pretende
desestruturar a reunião. O problema da palavra enérgica é, pois,
extremamente delicado. Se pronunciada antes da hora, no momento
inoportuno, poderá acarretar inconvenientes, e perigos incontornáveis, pois
que não podemos esquecer-nos de que os Espíritos desarvorados se
empenham, com extraordinário vigor e habilidade, em arrastar-nos para a
altercação e o conflito, clima em que se sentem muito mais à vontade do
que o doutrinador. A interferência enérgica é, pois, uma questão de
oportunidade; precisa ser decidida à vista da psicologia do próprio Espírito
manifestante, e da maneira sugerida pela intuição do momento. Nunca
deve ir à agressividade, à irritação, à cólera, e jamais ao desafio.
É preciso, pois, estarmos atentos e preparados para interferir com
mais energia, certos de que firmeza não significa estupidez, nem
grosseria, e que o mais profundo amor fraterno pode e deve, coexistir no
mesmo impulso de exortação franca e corajosa. Precisamos saber dizer
quando eles estão errados, e o porquê disso. Nada de gritos e murros na
mesa. Em suma, a palavra enérgica é necessária, indispensável, mesmo
em frequentes ocasiões, porque em muitos casos é fator decisivo no
despertar do irmão aturdido. Porém, a palavra enérgica deve ser dosada,
com extrema sensibilidade, e, o momento certo, escolhido com seguro
tato.
Espíritos portadores de ideia fixa (fato comum em quase todos os
necessitados, que se manifestam nos grupos mediúnicos), alguns
totalmente alheios à realidade dos acontecimentos à sua volta, precisam
ser mais diretamente atingidos, para serem despertados desse estado
alienante. Em virtude das fixações é que vemos Entidades padecendo
deplorável amnésia. Quando se comunicam com irmãos encarnados, não
conservam exata lembrança senão dos assuntos em que se lhes
encravam as preocupações. Por outro lado, quando conseguem permutar
impressões com os desencarnados que se lhes aproximam, agem como
verdadeiros psicóticos (portadores de transtornos mentais, caracterizados

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

por desintegração da personalidade e seu conflito com a realidade). Sendo


assim, os trabalhadores da equipe espiritual recolhem as forças mentais
emitidas pelos encarnados da reunião mediúnica, sobretudo as originárias
do médium, para produzirem efeitos decisivos na mente e nos sentimentos
desses Espíritos.
Esse material mental segundo nos esclarecem os benfeitores
espirituais, representa vigorosos recursos plásticos, para que os
benfeitores de nossa esfera se façam visíveis aos irmãos perturbados e
aflitos, ou para que materializem provisoriamente certas imagens ou
quadros, indispensáveis ao reavivamento da emotividade e da confiança
nas almas infelizes. Com os raios e as energias de variada expressão,
emitidos pelo ser humano encarnado, podem os benfeitores espirituais
realizar serviços significativos para todos aqueles sofredores, que ainda se
encontram presos ao padrão vibratório do homem comum, apesar de já
não possuírem um corpo físico. É dessa forma que os Espíritos
necessitados visualizam Entidades que lhes foram caras ao coração,
percebem detalhes importantes à sua recuperação, enxergam cenas,
acionam lembranças felizes, entre outros.
O dialogador deve, sempre que possível, lançar mão desse recurso
em benefício dos Espíritos em sofrimento. O médium, instrumento de
manifestação do Espírito necessitado, exerce um papel muito importante,
sendo corresponsável pelo êxito do atendimento espiritual. Além do auxílio
prestado na construção de quadros fluídicos, e do alívio que as energias
mediúnicas proporcionam ao necessitado, no contato com as forças
nervosas do médium, este revive sensações e impressões dos próprios
sentidos que possuía, quando estagiava no corpo físico. Essas mesmas
forças têm o poder de conter o Espírito em suas manifestações mais
agitadas. É por isso que alguns Espíritos relatam que estão sendo
aprisionados por algemas ou cadeias.
Passado o momento da argumentação doutrinária e fraterna, o
dialogador e o médium devem se encaminhar para o encerramento do
diálogo, propiciando o afastamento do Espírito manifestante. A Entidade
que foi adequadamente esclarecida afasta-se naturalmente do médium,
apoiando-se nos cuidadosos amigos dos trabalhadores da equipe
espiritual.
Entretanto, ocorrem manifestações espirituais em que a Entidade
não consegue ou não quer se desligar do médium. Nesse caso,
considerando a responsabilidade que o trabalho requer, o dialogador deve
solicitar o afastamento do Espírito sempre que este:
a) Não se dispõe a falar, ou não dá sinais de aproveitamento do
esclarecimento ou das vibrações recebidas.

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

b) Demora para se retirar, por indecisão ou por querer permanecer além


do permitido.
Nessas condições, deve-se fazer um esclarecimento respeitoso ao
Espírito, alegando os motivos que obrigam o seu afastamento, tais como: o
desgaste energético do médium; o fato de assegurar a outros Espíritos
oportunidade de comunicação; a alegação de que o tempo dele se
esgotou, mas que outras oportunidades surgirão; o fato de que o
atendimento ficará a cargo dos benfeitores espirituais, os quais prestarão
assistência completa etc.

Recomendações finais

a) Não estender em demasia o tempo do diálogo. Recordemos que o


trabalho maior estará se realizando no Mundo Espiritual, junto aos
Espíritos esclarecidos. Lembrar que há um horário a ser observado, e que
existem outros Espíritos necessitados de auxílio, aguardando a
oportunidade de se comunicarem.
b) Não confiar cegamente na intuição nem a desprezar totalmente. O
importante é ficar atento às sugestões dos benfeitores, que podem chegar
até nós pelos canais da intuição. No entanto, exercitar a lógica e o bom
senso no trato com os Espíritos comunicantes.
c) Evitar tocar o corpo do médium em transe, fazendo-o somente quando
for necessário.
d) Estudar os casos de obsessão, surgidos na equipe de médiuns
psicofônicos, que devam ser tratados na órbita da psiquiatria, a fim de que
a assistência médica seja tomada na medida aconselhável.
e) Evitar, a todo custo, atendimento simultâneo a mais de uma Entidade
Espiritual. Os médiuns psicofônicos, muito embora por vezes se vejam
pressionados por entidades em aflição, educar-se-ão, devidamente, para
só oferecer passividade ou campo de manifestação aos desencarnados
inquietos, quando o clima da reunião lhes permita o concurso na equipe
em atividade. Isso porque, na reunião, é desaconselhável se verifique o
esclarecimento simultâneo a mais de duas entidades carentes de auxílio,
para que a ordem seja naturalmente assegurada.
Os Espíritos comunicantes, que usualmente se manifestam nas
reuniões mediúnicas, podem ser agrupados em duas categorias gerais:
a) Espíritos esclarecidos: denominados orientadores, mentores,
benfeitores ou amigos espirituais. São trabalhadores espirituais
ligados, direta ou indiretamente, ao grupo mediúnico.
b) Espíritos sofredores ou enfermos espirituais: Espíritos em
condições de desequilíbrio e sofrimento.

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

Essas duas categorias de Espíritos se apresentam às reuniões


mediúnicas espontaneamente ou quando evocados. Vamos nos deter mais
nas manifestações dos Espíritos necessitados. Tais Espíritos representam
uma vasta categoria e são portadores de desequilíbrios, variáveis em
número e grau. Manifestam-se, também, nos grupos mediúnicos, das mais
variadas formas. Revelam rancores, violência e agressividade. São
terrivelmente infelizes a despeito da gritaria, da ironia, das ameaças, das
mágoas. Na verdade, eles necessitam de muita compreensão, de
envolvimento amoroso e de tratamento especial. Daí ser importante
melhorar o nível de atendimento das reuniões mediúnicas. Os Espíritos
necessitados revelam, nas comunicações mediúnicas, um estado de
consciência referente à sua nova situação espiritual, muita variável.
O estado de consciência e inconsciência, após a morte do corpo
físico, está relacionado a várias causas, de uma maneira ou de outra,
ligadas ao progresso moral-intelectual que o Espírito tenha alcançado.
Presenciamos, nas reuniões mediúnicas, manifestações de Espíritos que
ignoram totalmente sua nova situação espiritual após a morte do corpo
físico. Nem sempre se revelam criaturas más, apresentando certo nível de
bondade, e ou sensibilidade. No entanto, estão presos a conceitos
equivocados e distorcidos a respeito da vida no além-túmulo, o que lhes
impede de ver as coisas com mais nitidez.
Noutras ocasiões, manifestam-se Espíritos que demonstram
conhecimento intelectual elevado, mas, prisioneiros de teorias e ideias
materialistas, não percebem a ausência do veículo físico, e nem se veem
como Espírito liberto das amarras materiais. Dialogar com tais Espíritos
requer preparo. A boa vontade não é suficiente. O conhecimento da
Doutrina Espírita aliado à experiência são fatores de grande influência,
nesse difícil tipo de intercâmbio mediúnico. A condução do diálogo exige
do dialogador o conhecimento de certas condições, para que ele possa
melhor auxiliar o enfermo que lhe pede socorro.

Apego material demonstrado por Espíritos comunicantes

O apego a pessoas, bens, cargos, posições, que alguns Espíritos


necessitados demonstram, traduz-se em grande sofrimento. A passagem
da vida terrena à espiritual oferece, é certo, um período de confusão e de
perturbação, para a maioria dos que desencarnam. Mas há alguns que, já
em vida desprendidos dos bens terrenos, realizam essa transição tão
facilmente, como uma pomba que se eleva aos ares. Para “viajar” da Terra
ao Mundo do além-túmulo alguns Espíritos se desprendem rapidamente,
sem sofrimento e sem perturbação, ao passo que outros são submetidos

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

ao “mal” da travessia etérea. Os Espíritos que em vida só admitiam um


princípio na natureza – a matéria – muitas vezes não percebem ainda,
após a morte, senão esse princípio como único, absoluto.
Uma das condições de sua cegueira moral é a de lhes encerrar, mais
violentamente, nos laços da materialidade e, consequentemente, de lhes
impedir se afastem das regiões terrestres ou similares à Terra. E, assim,
como a grande maioria dos desencarnados, aprisionados na carne, não
podem perceber as formas vaporosas dos Espíritos que os cercam,
também a opacidade do envoltório dos materialistas lhes veda a
contemplação das entidades espirituais que se movem, tão belas e tão
radiosas, nas altas esferas do império celeste. Desde que vemos Espíritos
que, mesmo muito depois da morte, ainda se julgam vivos, vagam ou
creem vagar nas ocupações terrenas, é que têm completa ilusão quanto à
sua posição, e não se dão conta do estado espiritual. Desde que não se
julgam mortos, não seria de admirar que tivessem conservado a ideia do
nada após a morte, que para eles ainda não veio.
O homem materialista estabelece fortes laços com a matéria, mesmo
que não se dê conta disso. Quanto mais materialmente viveu o homem,
quanto mais seus pensamentos foram absorvidos nos prazeres e nas
preocupações da personalidade, tanto mais tenazes são aqueles laços.
Parece que a matéria sutil (etérea) se identifica com a matéria compacta, e
que entre elas se estabelece uma coesão molecular. Eis porque só se
separam lentamente e com dificuldade. Entre os Espíritos comunicantes
que revelam possuir apego às sensações da matéria, destacamos alguns
tipos mais comuns e a forma como eles se apresentam:
a) Os que viveram na carne, convictos de que nada existia além do
mundo físico. A despeito da descrença em qualquer tipo de realidade
póstuma, não foram intrinsecamente maus, apenas desencantados,
indiferentes, desarvorados intimamente, embora, na aparência, “sejam
seguros e tranquilos”. São mais acessíveis, e mais prontamente aceitam a
nova realidade.
b) Outros existem que, quando na carne, entregaram-se de corpo e
alma ao culto desenfreado da matéria. Disputam fortunas a ferro e fogo,
intrigando, matando, se preciso ou possível fosse, promovendo
negociatas, roubando, falsificando, ao mesmo tempo em que se deixaram
arrastar pelo sensualismo pesado, que avilta todos os sentidos e anestesia
cada vez mais as faculdades e a sensibilidade. Para estes, nada é
sagrado, nada importa, senão a satisfação de suas ambições, de seus
desejos, de suas vontades. A objetiva realidade da vida póstuma coloca-os
em estado de total confusão. Alguns deles, endurecidos nas suas
convicções, continuam a viver no mesmo clima de maquinações e
articulações. Ainda estão presos aos seus interesses terrenos,

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

perseguindo aqueles encarnados e desencarnados, que atravessaram


seu caminho.
c) Há ainda aqueles Espíritos que, perplexos diante da nova realidade,
manifestam através da psicofonia toda a sua confusão mental. Não
aceitam que estão mortos. Lembram das doenças que tiveram, mas se
recusam a admitir que “morreram”, porque isto implicaria reconhecer que o
materialismo que professavam é inteiramente falso.
É preciso muito cuidado ao revelar a tais Espíritos sua nova
condição. Essa informação, em lugar de ajudá-los, pode conduzi-los a
lamentável choque emocional. O dialogador deve ser muito cauteloso no
momento de fazer a revelação quanto à condição em que se encontra o
Espírito que está sendo atendido. Precipitar o conhecimento de sua morte
biológica pode causar-lhe um trauma desestruturador da emoção, de
consequências desagradáveis, tanto para ele quanto para o médium, que
recebe as descargas psíquicas do sofredor.
O Espírito André Luiz também recomenda cautela quando afirma:
“Não fale da morte ao Espírito que a desconhece, clareando-lhe a estrada
com paciência, para que ele descubra a realidade por si mesmo.

As condições espirituais dos Espíritos recém-desencarnados

Nos primeiros instantes que se seguem à morte, quando ainda existe


união entre o corpo e o perispírito, este, conserva muito melhor o aspecto
da vida corpórea, da qual, por assim dizer, reflete todas as nuanças, e
mesmo todos os acidentes. Um Espírito que desencarnou por meio da
guilhotina forneceu as seguintes explicações a Kardec: “Se pudéssemos
ver, ver-me-íeis com a cabeça separada do tronco”. Outro Espírito, que
fora assassinado, falou ao Codificador: “Vede a ferida que fizeram ao
coração”.
Ora, se o Espírito ainda conserva o impacto dos acontecimentos de
sua desencarnação, não consegue perceber que esta ocorreu. E como ele
está vibratoriamente mais próximo aos encarnados, se vê e age como tal.
Conforme o gênero de morte, o perispírito se desprende muito lentamente.
Assim, o Espírito realmente “não se dá conta da situação; não se julga
morto; sente-se vivo; vê o corpo ao lado, sabe que é seu, mas não
compreende que do mesmo esteja separado”. Este estado dura enquanto
existir um lugar (uma ligação), entre o corpo e o perispírito. Os suicidas,
por exemplo, independentemente do tempo que intermedia a época do seu
suicídio e o atendimento no grupo mediúnico, costumam afirmar que os
vermes os devoram.
Ora, seguramente os vermes não roem o perispírito e, ainda menos,
o Espírito. Apenas roem ou corroem o corpo. Mas como a separação entre

71
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

o corpo e o perispírito não está ainda completa, o resultado traduz-se por


uma espécie de repercussão moral, que transmite ao Espírito as
sensações do que está acontecendo no seu corpo físico. Se o bom senso
indica que devemos ter cautela em revelar o estado de morte biológica aos
materialistas, devemos ter muito tato ao abordar esta problemática com os
recém-desencarnados, independentemente do grau de esclarecimento que
possuam.

As manifestações mediúnicas e as lembranças pretéritas

Nas reuniões mediúnicas de atendimento a Espíritos necessitados,


sobretudo nas de desobsessão, às vezes é preciso lançar mão do recurso
das lembranças pretéritas, para que o diálogo alcance o êxito desejado.
Antes, porém, de estudarmos a regressão de memória a que os
benfeitores submetem alguns Espíritos mais necessitados, vamos
discorrer um pouco a respeito de ideoplastia, já que são assuntos
estreitamente ligados.
As ideias fixas emitidas por certos Espíritos são capazes de gerar
poderosas ideoplastias, tornando tais Espíritos prisioneiros de si mesmos.
Uma - como o quê - carapaça fluídica, saturada de formas-pensamento, os
envolve, mantendo-os em desarmonia indefinidamente, se alguma
providência mais séria não for tomada. Os benfeitores espirituais possuem
inúmeros recursos para auxiliarem esses Espíritos, e um deles,
comumente citado na literatura espírita, diz respeito às lembranças do
passado.

Ideoplastia: : O termo ideoplastia (do grego ideo + plastos + ia, ação de


plasmar), teve o sentido inicial de sugestibilidade (Durand, 1860) -
sugestão que o pensamento pode provocar num sujeito, passando,
posteriormente, a significar a realização fisiológica de uma ideia.
Para a Doutrina Espírita, na área da fenomenologia anímica e
mediúnica, assim como no campo do magnetismo, ideoplastia é o
fenômeno pelo qual o pensamento é plasmado, na atmosfera psíquica,
mediante a criação de formas e imagens, de maior ou menor duração,
conforme a persistência da onda em que se expressam. É importante
considerar que a ideoplastia, em si mesma, é neutra. Podemos projetar
ideoplastias belíssimas, harmônicas, equilibradas, quando irradiamos a
nossa mente nas ações benéficas. Podemos, entretanto, fazer emissões
mentais perturbadoras e desequilibradas. O médium pode perceber
ideoplastias projetadas por Espíritos desencarnados, por encarnados e,
inclusive, as suas próprias formas-pensamento. Pode, igualmente,

72
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

perceber desfigurações e mutilações que certos Espíritos comunicantes


projetam.
O Espírito necessitado, que está com a mente fixada em algo,
projeta as ideias e imagens mentais que lhe caracterizam o grau de
perturbação. A fixação mental representa a aderência do pensamento a
um objeto (ser ou coisa), impedindo-lhe o fluxo normal, e cristalizando-o de
maneira que se lhe obsta qualquer modificação. A pessoa abstrai-se de
tudo ou de quase tudo à sua volta. Não é fácil o diálogo com Espíritos que
apresentam fixação mental acentuada, e que, em consequência projetam
na atmosfera psíquica, e, sobretudo em si mesmos, ideoplastias
compatíveis com o seu grau de perturbação. O diálogo para ser produtivo,
nesse caso, requer providências que possibilitam ao referido Espírito, sair
do estado de auto-hipnose que a ideia fixa alimenta.
Se dissermos a um Espírito que se comunica com a mente fixa no
pretérito, que estamos no ano tal (data presente), dificilmente ele
compreenderá as nossas explicações, uma vez que a sua mente,
cristalizada no Tempo, reflete, tão só, fatos e acontecimentos, impressões
e sentimentos do passado, os quais lhe causaram profunda e indelével
desarmonia interior. A contagem do tempo para esse Espírito é diferente.
É que o tempo, para nós, é sempre aquilo que dele fizermos. Para melhor
compreensão do assunto, lembremo-nos de que as horas são invariáveis
no relógio, mas não são sempre as mesmas em nossa mente. Quando
felizes, não tomamos conhecimento dos minutos. Satisfazendo aos nossos
ideais ou interesses mais íntimos, os dias voam céleres, ao passo que, em
companhia do sofrimento e da apreensão, temos a ideia de que o tempo
está inexoravelmente parado. E quando não nos esforçamos por superar a
câmara lenta da angústia, a ideia aflitiva ou obcecante nos corrói a vida
mental, levando-nos à fixação.
Chegados a essa fase, o tempo como que se cristaliza dentro de
nós, porque passamos a gravitar em Espírito, em torno do ponto nevrálgico
de nosso desajuste. Para ser produtivo, o diálogo requer, nesse caso,
providências que possibilitem a esses Espíritos a volta à normalidade. É
preciso “despi-los” de certas ideoplastias, para libertá-los do estado de
auto-hipnose que a ideia fixa alimenta. Fica evidente, que precisam ser
tratados com muita paciência e muito carinho.

As lembranças pretéritas e o diálogo com os Espíritos :

Às vezes, o esclarecimento pelo diálogo requer que o Espírito volte


para dentro de si e recorde o seu passado. As finalidades do mergulho nos
arquivos das lembranças passadas são: remover traumas; superar o medo

73
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

de encontrar-se; compreender os motivos dos acontecimentos atuais;


projetar quadros fluídicos configurando as cenas desencadeadoras da
odiosidade atual, detalhando a interferência da vítima (obsidiado) e algoz
(obsessor), numa panorâmica fidedigna dos fatos acontecidos. Para abrir
diante dele (do obsessor) uma janela sobre si mesmo, a chave mais
importante de que dispõe o doutrinador consiste em levá-lo a contemplar
seu próprio passado, fortemente protegido pelos mecanismos do
esquecimento deliberado.
Um esclarecimento se faz necessário: o esquecimento
proporcionado ao Espírito, na fase da reencarnação, é uma bênção, uma
concessão, para que ele tente a reconstrução de si mesmo, como se
estivesse momentaneamente desligado das suas culpas, embora ainda
responsável por elas. Retornando, não obstante, à sua condição de
Espírito desencarnado, pode ser lhe facultado o acesso à memória
integral, para que faça um inventário geral de seu acervo espiritual – as
aflições que remanescem e as conquistas que já conseguiu realizar.
Sendo verdade, pois, que temos de descobrir uma fórmula para levá-lo a
recordar, é igualmente verdadeiro que se torna extremamente difícil fazê-
lo, porque é justamente disso que ele foge. Como reagem, como relutam,
como temem os fantasmas interiores, que lhes pareciam desintegrados
para sempre na poeira do tempo!
Os benfeitores espirituais empregam vários recursos para obter dos
Espíritos acentuadamente desequilibrados, o mergulho nas lembranças
tenebrosas. Um dos mais comuns é a projeção de quadros fluídicos, em
que o Espírito vê diante de si mesmo as cenas do passado, a realidade
dos acontecimentos vividos. Tais cenas são extraídas da memória do
Espírito ou dos Espíritos diretamente envolvidos no drama e, por efeito dos
fluidos ectoplasmáticos, é possível plasmar os quadros. Para finalizar,
recordemos os ensinamentos do instrutor Clarêncio, reproduzidos pelo
Espírito André Luiz em seu livro Entre a Terra e o Céu, no capítulo 17 –
Recuando no tempo, quando aplica a técnica de regressão de memória a
um necessitado: “É preciso recorrer aos arquivos mentais, de modo a
produzir certos tipos de vibração, não só para atrair a presença de
companheiros ligados ao irmão sofredor que nos propomos socorrer, como
também para descerrar os escaninhos da mente, nas fibras recônditas em
que ela detém as suas aflições e feridas invisíveis”.
A mente, tanto quanto o corpo físico, precisa sofrer intervenções
para reequilibrar-se. Mais tarde, a ciência humana evolverá em cirurgia
psíquica, tanto quanto hoje vai avançando em técnica operatória, com
vistas às necessidades do veículo de matéria carnal. No grande futuro, o
médico terrestre desentranhará um labirinto mental, com a mesma
facilidade com que atualmente extrai um apêndice condenado.

74
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

Os Espíritos necessitados ou sofredores: quem são, como agem.

Espíritos necessitados ou sofredores são aqueles que fazem parte


da vasta categoria de Espíritos denominados imperfeitos. Trazem como
características gerais: predominância da matéria sobre o Espírito;
propensão para o mal; ignorância; orgulho; egoísmo e todas as paixões
que lhes são consequentes; têm a intuição de Deus, mas não o
compreendem. Nem todos são essencialmente maus. Em alguns há mais
leviandade, irreflexão e malícia do que verdadeira maldade. Uns não
fazem o bem nem o mal, mas pelo simples fato de não fazerem o bem, já
denotam a sua inferioridade. Outros, ao contrário, se comprazem no mal e
rejubilam quando uma ocasião se lhes depara de praticá-lo.
A inteligência pode achar-se neles aliada à maldade ou à malícia.
Seja, porém, qual for o grau que tenham alcançado de desenvolvimento
intelectual, suas ideias são pouco elevadas, e seus sentimentos são mais
ou menos abjetos. Restritos conhecimentos têm das coisas do mundo
espiritual, e o pouco do que sabem é mesclado com os conhecimentos e
ideias preconceituosas que tinham quando encarnados. São prontamente
conhecidos pela linguagem que utilizam, geralmente saturada de angústias
e sentimentos de inveja, ciúme, entre outros. Conservam a lembrança e a
percepção dos sofrimentos da vida corpórea, e essa impressão é muitas
vezes mais penosa do que a realidade. Sofrem, pois, verdadeiramente,
pelos males de que padeceram em vida, e pelo que ocasionam aos outros.
E como sofrem por longo tempo, julgam que sofrerão para sempre.

Alguns exemplos de Espíritos sofredores que apresentam


necessidades específicas. Quem são eles e como atendê-los:

a) Os recém-desencarnados: Manifestam-se com frequência nas


sessões destinadas ao socorro espiritual. Revelam logo o seu estado de
angústia ou confusão, sendo facilmente identificáveis como tais. Quando
esses Espíritos se queixam de frio, pondo às vezes o médium a tremer,
com mãos geladas, é porque estão ligados mentalmente ao cadáver. Se o
doutrinador lhes disser cruelmente que morreram, ficarão mais assustados
e confusos. É necessário cortar a ligação negativa, desviando-lhes a
atenção para o campo espiritual, fazendo-os pensar em Jesus, e pedir o
socorro do seu Espírito protetor. Trata-se a entidade como se ela estivesse
doente e não desencarnada.
b) Os mistificadores: Representam um grupo heterogêneo,
composto por Espíritos que apresentam todos os graus de inferioridade.
Alguns são extremamente levianos e zombeteiros. Outros são maus.

75
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

Geralmente se manifestam com o objetivo de criticar o Espiritismo e a


mediunidade.
Utilizam os mais diferentes recursos de mistificação. Há Espíritos
que se autointitulam santos ou, em contraposição, demônios. Os
doutrinadores precisam de certas habilidades para tratar com eles. Os
supostos santos usam uma linguagem melíflua, carregada de falsa
bondade, com que pretendem iludir os participantes ingênuos das
sessões. O doutrinador precisa lembrar-lhes que, se eles fossem
realmente santos, não viriam combater as sessões mediúnicas e os
ensinos mediúnicos de Jesus. Não devem perder muito tempo com eles.
Os que se dizem demônios ou diabos “aparecem sempre de maneira
grotesca, procurando fazer estardalhaço, ameaçando e roncando como
bichos”. Com paciência e calma, mas sem lhes dar trelas, o doutrinador os
afastará logo. Os mistificadores e as suas mistificações “têm o objetivo de
pôr à prova a perseverança, a firmeza na fé, e exercitar o julgamento”. Se
os bons Espíritos as permitem em certas ocasiões, não é por impotência
de sua parte, mas para nos deixar o mérito da luta.
Os mistificadores logo se revelam, como ensina Kardec, deixando
aparecer a ponta da orelha por baixo do chapéu ou da cabeleira. Não é
justo nem cristão expulsá-los ou ofendê-los de qualquer maneira.
Paciência e amor são sempre os ingredientes de uma doutrinação
eficiente. Quando se mostram demasiado renitentes, perturbando os
trabalhos, o melhor é chamar o médium a si mesmo, fazendo-o desligar do
Espírito perturbador.
c) Os religiosos: Na verdade, são Espíritos falidos no trabalho
religioso que abraçaram quando estagiaram na carne. Apresentam-se,
quase sempre, como zelosos trabalhadores do Cristo, empenhados na
defesa de “sua” igreja. São argutos, inteligentes, agressivos, violentos,
orgulhosos, impiedosos e arrogantes. Parecem ter frequentado a mesma
escola no Além, pois costumam trazer os mesmos argumentos, a mesma
teologia deformada, com a qual justificam seus impulsos e sua tática. Têm
os seus temas prediletos, como a cena da expulsão dos vendilhões do
templo, que invocam como exemplo de que a violência é, às vezes,
necessária e justificável, esquecendo-se, deliberadamente, das
motivações daquele gesto: a vergonhosa comercialização das coisas
sagradas, e a indústria do sacrifício de pobres animais inocentes.
“Os religiosos” desorientados invocam, também, outras passagens,
bem escolhidas aos seus propósitos, como aquela em que o Cristo declara
que não veio trazer a paz, mas a espada (a divisão). O grande problema
desses queridos companheiros desarvorados é o poder. Estão
acostumados a dominar os outros, não a si mesmos, pois tudo se
permitem, desde que os objetivos que escolheram sejam alcançados.

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

Constituem equipes imensas, que se revezam na carne e no mundo


espiritual, mantendo estreito intercâmbio, porque também se revezam no
poder, aqui e lá, e, por isso, suas organizações sinistras e implacáveis
parecem eternizar-se no comando de vastas massas humanas,
encarnadas e desencarnadas. Como geralmente são Espíritos detentores
de cultura não só religiosa, mas geral, acostumados ao debate e ao
exercício mental e intelectual, é necessário que o dialogador saiba
conduzir o diálogo com segurança doutrinária, autoridade moral e,
sobretudo humildade e pouca verbosidade. “Inútil entrar em discussão com
eles. Tratados com amor e sinceridade acabam retirando-se e entregues a
antigos companheiros de profissão, já esclarecidos, que geralmente os
trouxeram à sessão mediúnica para aproveitar as facilidades do ambiente”.
d) Os juristas: Autoritários e seguros de si, exoneram-se facilmente
de qualquer culpa porque, segundo informam ao doutrinador, cingem-se
aos autos do processo todo o formalismo processualístico que ali está: as
denúncias, os depoimentos, as audiências, os pareceres, os laudos, as
perícias, os despachos e, por fim, a sentença invariavelmente
condenatória. São também impessoais e frios aplicadores das leis. É
preciso atenção e tato para não ser por eles ludibriados. Devem ser
informados que a autoridade deles é nula no grupo, que está sob o
comando do Cristo. Por serem inteligentes – apesar de um tanto confusos
– e autoritários, o diálogo deve conduzir-se mais no campo da lógica e do
raciocínio.
e) O materialista: Este não constitui problema difícil no trabalho de
esclarecimento. Viveu, na carne, convicto de que além da matéria nada
existe; de que além da morte, só há silêncio e a escuridão do não-ser. A
despeito da descrença em qualquer tipo de realidade póstuma, não foram
intrinsecamente maus, apenas desencantados, indiferentes, desarvorados
intimamente, embora, na aparência, seguros e tranquilos. São mais
acessíveis, e mais prontamente aceitam a nova realidade.
Psicologicamente é válido evitar-se informar que a desencarnação já
ocorreu, porquanto, apegado aos despojos materiais, o Espírito luta para
reerguê-los, iludido na suposição de que o ocorrido não passou de simples
desmaio, portanto, continuando na roupagem carnal.
f) O intelectual: Nem sempre é materialista. Encontramo-los de
todos os feitios, variedades e tendências. Há os descrentes, indiferentes,
materialistas, espiritualistas, religiosos ou não. Foram escritores,
sacerdotes, artistas, poetas, médicos, advogados, nobres, ricos, pobres.
Quase sempre se deixam dominar por invencível vaidade, fracassando na
provação da inteligência. Na condução do diálogo convém evidenciar, por
exemplo, a excelência da humildade.

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

g) Os magos e feiticeiros: Os trabalhadores da desobsessão não


devem ignorar a realidade da magia negra, a fim de não serem tomados
de surpresa nas suas tarefas redentoras. Com frequência, terão
oportunidade de observar tentativas de envolvimento do grupo e de seus
componentes, ou de pessoas que dele se socorrem, promovidas por
antigos magos e feiticeiros que, no mundo espiritual, persistem nas suas
práticas e rituais. O dialogador atencioso deve estar vigilante e
permanecer tranquilo, confiante no Cristo. Deve agir não sobre os sinais
exteriores dos seus cultos, ou do palavreado mágico que proferem, mas
sobre os seus Espíritos atormentados buscando convencê-los dos seus
enganos. É preciso tratá-los com carinho, com humildade e singela
compreensão, porque a dor do despertamento é, quase sempre,
esmagadora.
h) Os magnetizadores / hipnotizadores: São amplamente
utilizados, nos processos obsessivos, os métodos da hipnose e do
magnetismo, que contam, no Além, com profundos conhecedores e hábeis
experimentadores dessas técnicas de indução, tanto entre os Espíritos
esclarecidos e despertos para as verdades maiores, como entre aqueles
que ainda se debatem, nas sombras de suas paixões. Os magnetizadores
e hipnotizadores, para alcançarem o domínio de suas vítimas, manipulam
com extrema habilidade os dispositivos da culpa, e da cobrança, ou seja, a
própria lei de causa e efeito. Por serem um tanto quanto frios e
indiferentes, há necessidade de um dialogador capaz de penetrar-lhes o
âmago do ser e fazê-los ver a extensão dos seus atos.
i) Os Espíritos com sexualidade em desequilíbrio: São homens e
mulheres que abusaram, quando na carne, das energias sexuais. As
mulheres, em especial, que praticaram a prostituição revelam um grande
sofrimento, porquanto trazem consigo os amargores da degradação física
e moral. No Mundo espiritual, continuam sofrendo muito, sobretudo por se
considerarem condenadas irreversivelmente por Deus. Muitas não se
valem sequer dos benefícios da oração por se julgarem indignas de se
dirigirem a Deus, mesmo que seja através da prece. Muitos desses
Espíritos são usados por outros, que lhes exploram o sentimento de culpa.
Em muitas reuniões, os Espíritos femininos que se entregaram à
prostituição revelam ferrenha mágoa, rancor doentio pelos homens em
geral, culpando-os pela forma desumana com que foram exploradas. São
necessários sentimentos elevados de compreensão e amor para atender
tais Espíritos. Dialogadores muito “cerebrais” não conseguem atingi-los. O
esclarecedor deve falar-lhes diretamente ao coração, explicando que Deus
os ama como a todos os seus filhos, e que a ninguém condena.
j) Os obsessores: O Espírito obsessor costuma permanecer
dominado pelo ódio e com a ideia fixa de vingança. As suas manifestações

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

são saturadas de rancor e ódio; revelam-se inflexíveis e sem sentimentos


de piedade. As suas emanações mentais são carregadas, retirando muita
energia dos circunstantes. O trato com os Espíritos obsessores requer
trabalho mais apurado dos médiuns e demais componentes da reunião.
Nas manifestações mediúnicas de desobsessão, o esclarecedor
precisa respeitar a sua dor (do manifestante), vendo nele não o algoz de
hoje, mas a vítima do passado. Dessa forma, será mais fácil compreendê-
lo e envolvê-lo com amor. Caso o Espírito permaneça irredutível, dando a
impressão que não compreendeu ou não aceitou a explicação, o
esclarecedor pode se valer e um recurso, que consiste em mostrar numa
tela o mal que praticou no passado e que ocasionou o resgate, já que
todas as ações do Espírito estão impressas na sua memória profunda. O
dialogador deve estar em sintonia com os benfeitores, para saber melhor
se conduzir, nessas ocasiões delicadas. André Luiz, no livro Desobsessão
(capítulo 33 – Manifestação de enfermo espiritual), nos informa que “nem
sempre a desobsessão real consiste em desfazer o processo obsessivo,
de imediato, de vez que, em casos diversos, a separação de obsidiado e
obsessor deve ser praticada lentamente”.
Sugere então a utilização da hipnose construtiva, facultando aos
Espíritos sofredores a sonoterapia; a projeção de quadros mentais; a
ministração de medicamentos ou recursos de contenção, em seus
benefícios. É uma tarefa que não deve ser confiada a iniciantes nos
trabalhos mediúnicos. Requer espírito de equipe, disciplina e educação
mediúnica, harmonia íntima e dedicação ao estudo.
l) Os suicidas: São os Espíritos que se manifestam nas piores
situações, sobretudo os que provocaram a própria desencarnação de
forma consciente e sem atenuantes. O terrível sofrimento que enfrentam,
após a morte do corpo físico, os deixa em condição de franco
desequilíbrio. Perdem a noção do tempo. Na maioria das vezes, o que a
equipe de desobsessão pode fazer pelos suicidas é prestar-lhes os
primeiros socorros, preparando-os para serem encaminhados a uma
instituição de socorro espiritual, onde serão esclarecidos futuramente. Os
recursos que podem ser mobilizados em seu favor são a prece, o passe,
os medicamentos do Plano Espiritual e o sono.
Suicidas há que continuam experimentando os padecimentos físicos
da última hora terrestre, em seu corpo somático, indefinidamente. Anos a
fio, sentem as impressões terríveis e, comumente, a pior emoção do
suicida é a de acompanhar, minuto a minuto, o processo de decomposição
do corpo abandonado no seio da terra, verminado e apodrecido. Nessas
condições, o diálogo deve ser saturado de ternura e vibrações amorosas.
Os benfeitores retiram da equipe mediúnica os fluidos necessários para
aliviar as dores dos suicidas, e até reparam lesões perispirituais outras.

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

As manifestações de índios, caboclos e pretos-velhos nas reuniões


mediúnicas.

Dada a peculiaridade do assunto, as comunicações mediúnicas de


índios, caboclos e pretos-velhos têm sido motivo de interesse para as
pessoas que trabalham na área da mediunidade, ou para os estudiosos
desse tema. Devemos considerar que as Entidades espirituais, que – não
sendo detentoras de grandes progressos evolutivos, nem se enquadrando
na classificação de Espíritos primitivos, nas primeiras experiências
reencarnatórias do nosso orbe – encontram-se em um estado mediano de
evolução. Ora, ao se apresentarem nas reuniões mediúnicas, investem-se
esses Espíritos – das características raciais que tiveram em sua última
encarnação, presos que ainda se encontram a essas impressões.

Quem são os caboclos, os índios e os pretos-velhos comunicantes


das sessões mediúnicas: A nossa deficiência ou a existência de ideias
preconceituosas nos levam, às vezes, a imaginar que tais Espíritos sejam
todos atrasados. Ora, o “Preto Velho de hoje pode ter sido o intelectual de
ontem”. O homem culto, que exerceu mal o conhecimento, pode vir na
área do analfabetismo, para desenvolver outros sentimentos; ou da
escravidão, para santificar o amor. Porém não se faz necessário que fixe
no seu processo evolutivo aquela faixa, na qual esteve incurso, quando de
uma das vezes do seu programa de crescimento espiritual.
Muitas pessoas supõem que pretos-velhos, índios e caboclos lhes
sejam inferiores e estejam, ainda, numa condição de serviçais, para lhes
atenderem aos pedidos. Outros acreditam que eles tenham poderes
misteriosos, capazes de resolver de modo mágico os problemas dos
consulentes. Parecem também, julgá-los venais, já que aceitariam agir em
troca de algum “pagamento”, compensação. Essas entidades, ainda
presas a experiências vividas na tribo, ou no ambiente afro-negro, ou nas
selvas rurais, não são seres inferiores, mas irmãos nossos, em condições
de ajudar no trabalho do bem, se devidamente orientados.

Atendimento a índios, caboclos e a pretos-velhos nos grupos


mediúnicos: No livro Nos Domínios da Mediunidade (capítulo 29 –
Anotações em serviço), André Luiz, em diálogo com o Espírito Áulus,
assim se expressa: “Há companheiros no Espiritualismo que não suportam
qualquer manifestação primitivista no terreno mediúnico. Se o médium não
lhes corresponde à exigência, revelando-se em acanhado círculo de
compreensão ou competência, afastam-se dele, agastadiços,
categorizando por fraude ou mistificação, valiosas expressões da
fenomenologia”. Comenta, então, Áulus: “Serão esses, provavelmente, os

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

campeões do menor esforço. Ignoram que o sábio não dispensou a


alfabetização no começo da existência e, decerto, amaldiçoam a
criancinha que não saiba ler. Semelhantes amigos, André, olvidaram o
socorro que receberam da escola primária e, solicitando facilidades, à
maneira do morfinômano que reclama entorpecentes, viciam-se em
atitudes deploráveis à frente da vida, de vez que tudo exigem para si,
desrespeitando a obrigação de ajudar aos que ainda se encontram na
retaguarda”.
Como reforço a essa ideia, vejamos o que diz o livro Diretrizes de
Segurança, de Divaldo P. Franco e J. Raul Teixeira, questão 59: “O
Espiritismo não tem compromisso de destacar essa ou aquela Entidade,
em particular. Se as sessões mediúnicas espíritas são abertas para o
atendimento de todos os tipos de Espíritos, por que não viriam os que
ainda se apresentam como pretos-velhos ou novos, brancos, amarelos,
vermelhos, índios ou caboclos, e esquimós? Devemos receber com
carinho tais Entidades, sem intolerância ou preconceitos, analisando,
cuidadosamente, suas mensagens, como fazemos usualmente com as de
outros Espíritos”. Na mesma questão citada acima, vemos o seguinte: “O
que ocorre é que tais Espíritos devem ajustar-se às disciplinas sugeridas
pelo Espiritismo e só não as atendem quando seus médiuns, igualmente,
não as aceitam. Isso quer dizer que o fato de receber com carinho tais
Entidades não exclui o cuidado que devemos ter em esclarecê-las,
desembaraçando-as do condicionamento que ainda as liga à última
encarnação”.
O Espírito deve ser esclarecido de que já teve outras encarnações,
viveu experiências diversas, não havendo, portanto, necessidade de fixar-
se nessa em especial. Deve igualmente ser informado de que toda fixação
negativa resulta em perda de tempo, em retardamento do progresso
espiritual. O papel do médium, como dos demais participantes da reunião
é, aí, muito importante, visto que a Entidade precisa ser envolvida fluídica
e afetivamente. Por fim, é preciso esclarecer que, salvo os casos em que
há necessidade de se fazer a identificação do Espírito comunicante, os
médiuns, “ajustando-se às disciplinas sugeridas pelo Espiritismo”, não
devem aceitar a comunicação nos moldes propostos por esses Espíritos.

Os benfeitores espirituais

Os bons Espíritos apresentam as seguintes características gerais:


predominância do Espírito sobre a matéria; desejo do bem. Suas
qualidades e poderes para o bem estão em relação com o grau de
adiantamento que tenham alcançado. Uns têm a ciência, outros a

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

sabedoria e a bondade. Os mais adiantados reúnem o saber às qualidades


morais. Não estando ainda completamente desmaterializados, conservam
mais ou menos, conforme a categoria que ocupam, os traços da existência
corporal assim na forma da linguagem, como nos hábitos, entre os quais
se descobrem mesmo algumas de suas manias. De outro modo, seriam
Espíritos perfeitos.
Compreendem Deus e o infinito, e já gozam da felicidade dos bons.
São felizes pelo bem que fazem, e pelo mal que impedem. O amor que os
une lhes é fonte de inefável ventura, que não tem a perturbá-la nem a
inveja, nem os remorsos, nem nenhuma das más paixões que constituem
o tormento dos Espíritos imperfeitos. Todos, entretanto, ainda têm que
passar por provas, até que atinjam a perfeição. Como Espíritos, suscitam
bons pensamentos, desviam os homens da senda do mal, protegem na
vida os que se lhes mostram dignos de proteção, e neutralizam a influência
dos Espíritos imperfeitos sobre aqueles a quem não é grato sofrê-la.
Quando encarnados, são bondosos e benevolentes com os seus
semelhantes. Não os movem o orgulho, nem o egoísmo ou a ambição.
Não experimentam ódio, rancor, inveja ou ciúme, e fazem o bem pelo bem.
Os bons Espíritos, segundo a classificação de O Livro dos Espíritos,
parte 2ª – capítulo 1, podem ser agrupados em quatro divisões gerais:
Espíritos benévolos; Espíritos sábios; Espíritos de sabedoria; Espíritos
superiores.
Os Espíritos benévolos têm como qualidade predominante a
bondade. Apraz-lhes prestar serviço aos homens e protegê-los. Limitados,
porém, são os seus conhecimentos. Hão progredido mais no sentido moral
do que no sentido intelectual.
Os Espíritos sábios têm como característica a amplitude de seus
conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais, do que
com as de natureza científica, para as quais têm maior aptidão. Entretanto,
só encaram a ciência do ponto de vista da sua utilidade, e jamais são
dominados por quaisquer paixões próprias dos Espíritos imperfeitos.
Os Espíritos de sabedoria possuem qualidades morais da ordem
mais elevada. “Sem possuírem ilimitados conhecimentos, são dotados de
uma capacidade intelectual que lhes faculta juízo reto sobre os homens e
as coisas”.
Os Espíritos superiores são entendidos como aqueles que em si
reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade. Da linguagem que empregam
se exala sempre a benevolência. É uma linguagem invariavelmente digna,
elevada e, muitas vezes, sublime. Sua superioridade os torna mais aptos
do que os outros, a nos dar noções exatas sobre as coisas do mundo
incorpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber.
Comunicam-se complacentemente com os que procuram de boa-fé a

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

verdade, e cuja alma já está bastante desprendida das ligações terrenas


para compreendê-la. Afastam-se, porém, daqueles a quem só a
curiosidade impele, ou que, por influência da matéria, fogem à prática do
bem. Quando, por exceção, encarnam na Terra, é para cumprir missão de
progresso, e então nos oferecem o tipo de perfeição a que a Humanidade
pode aspirar neste mundo.
Essas são as características gerais dos benfeitores espirituais que
nos assistem nos trabalhos mediúnicos, quando tais atividades estão
solidamente fundamentadas no bem e nos conhecimentos doutrinários
espíritas. Esses benfeitores podem ocupar o posto de dirigente ou mentor
do grupo mediúnico, responsável maior pelos atendimentos que ali se
realizam. Uma reunião mediúnica séria é composta de uma equipe de
Espíritos desencarnados que, sob a orientação do mentor ou dirigente,
exercerá as diversas atividades previstas para a reunião.

Espíritos protetores, familiares e amigos dos participantes


encarnados.

Toda pessoa, independentemente de estar filiada a um grupo


mediúnico ou mesmo de ser espírita, possui um irmão espiritual, de ordem
elevada, que age como seu protetor. A missão do Espírito protetor
equivale à de um pai com relação aos filhos: a de guiar o seu protegido
pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas
aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida. O Espírito protetor se
dedica ao protegido do nascimento até a desencarnação deste, e muitas
vezes o acompanha no Além ou, mesmo, em muitas existências.
Assim, a escolha que um espírita faz do grupo mediúnico do Centro
Espírita onde desempenha sua atividade doutrinária, resulta na maioria
das vezes do atendimento aos conselhos do seu Espírito guardião. Além
do Espírito protetor, todos nós, participantes de grupos mediúnicos, somos
assistidos por Espíritos amigos – que simpatizam conosco – e pelos
Espíritos familiares.
Os Espíritos simpáticos são os que se sentem atraídos para o nosso
lado por afeições particulares, e ainda por uma certa semelhança de
gostos e de sentimentos, tanto para o bem quanto para o mal. De
ordinário, a duração de suas relações se acha subordinada às
circunstâncias. São, portanto, amigos ocasionais que se ligaram a nós em
decorrência de alguma motivação. Alguns aprofundam os laços de
simpatia e se tornam amigos sinceros ao longo de nossa experiência
reencarnatória, e mesmo após a nossa desencarnação. Essas uniões
simpáticas podem estar relacionadas a atributos da nossa personalidade,
às nossas preferências ou ao gênero de trabalho – espírita ou não – a que

83
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

nos dedicamos. Os Espíritos preferem estar no meio dos que se lhes


assemelham. Acham-se aí mais à vontade e mais certos de serem
ouvidos. É pelas suas tendências que o homem atrai os Espíritos, e isso
quer esteja só, quer faça parte de um todo coletivo, como uma sociedade,
uma cidade, ou um povo.
O Espírito familiar “é antes o amigo da casa”. Esses Espíritos se
ligam a certas pessoas por laços mais ou menos duráveis, com o fim de
lhes serem úteis, dentro dos limites do poder, quase sempre muito restrito,
de que dispõem. São bons, porém muitas vezes pouco adiantados e
mesmo levianos. Ocupam-se de boamente com as particularidades da vida
íntima, e só atuam por ordem ou com permissão dos Espíritos protetores.
Entendemos, assim, que uma reunião mediúnica no plano extra físico é
constituída por grupo heterogêneo de Espíritos, exigindo da equipe
espiritual dirigente grande competência para que o trabalho atinja seus
propósitos em clima de realizações elevadas.

Manifestação mediúnica e Espíritos protetores, amigos e familiares.

Uma ressalva deve ser feita em relação aos Espíritos protetores,


comunicantes nos grupos mediúnicos. Estaremos, a partir de agora,
generalizando o termo Espírito protetor: podem ser Espíritos de ordem
elevada, protetores dos componentes do grupo, como pode ser o dirigente
da sessão mediúnica. Usualmente, no entanto, quando falamos em
Espírito protetor manifestante no grupo mediúnico, estamos nos referindo
ao seu dirigente espiritual – ou mentor – e àqueles seus substitutos diretos
que agem em seu nome. Sempre que um grupo de pessoas se reúne para
trabalho de natureza mediúnica, um grupo correspondente de Espíritos se
aproxima. Todos nós temos, no mundo espiritual, companheiros, amigos e
guias, tanto quanto desafetos e obsessores em potencial ou em atividade.
Teremos que aprender a trabalhar com ambos os grupos. É importante,
entretanto, que aprendamos a conhecer e a reconhecer a presença e a
atuação dos amigos espirituais que nos cercam, da mesma forma que
buscamos esclarecimentos a respeito dos Espíritos imperfeitos.
Para que venhamos a saber que benfeitores espirituais estão à
frente do trabalho de intercâmbio mediúnico, é necessário que tenhamos
algum conhecimento da natureza do trabalho que esses espíritos
pretendem realizar conosco. Os benfeitores, é certo, quando se filiam a um
grupo em trabalho de amor ao próximo, dispõem de um plano, muito bem
estudado, compatível com as forças e possibilidades dos trabalhadores
encarnados. Os Espíritos sempre nos dizem que precisam de nós para
determinadas tarefas, que somente podem ser desenvolvidas com o
concurso da mediunidade, ou seja, em contato com o ser humano

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

encarnado. Em trabalhos mediúnicos especiais, como os de atendimento a


Espíritos suicidas, as providências são seríssimas, demonstrando elevado
grau de organização por parte da equipe espiritual.
Yonne A. Pereira, em seu livro Memórias de um Suicida, nos fala a
respeito desse assunto. “Vale a pena inserir aqui alguns lembretes
relacionados aos cuidados que os benfeitores espirituais têm no tocante ao
atendimento de suicidas nas sessões mediúnicas: 1º - O convite para
trabalhar com suicidas é dirigido a médiuns que se revelem aptos para a
tarefa – tanto no aspecto físico, quanto no psíquico – e que não se
horrorizem com o sofrimento e martírio desses Espíritos. 2º - São
implementadas providências voltadas para o êxito da sessão mediúnica:
vigilância do local de realização da reunião feita por Espíritos com prática
nesse gênero de trabalho; operações fluídicas necessárias e variadas
visando tornar a atmosfera propícia ao auxílio que será ministrado aos
doentes, e preservação da integridade física dos encarnados:
equipamentos e aparelhos variados destinados à utilização diversa etc.”.
É importante recordar que os participantes de reuniões sérias são
todos conhecidos dos Espíritos: “nossos grupos e os nossos médiuns se
acham meticulosamente catalogados nas organizações do Espaço.
Convém acrescentar que registros semelhantes – obviamente para outras
finalidades – existem também nos redutos trevosos. Contamos com a
ajuda e o apoio de companheiros bem esclarecidos e competentes, mas
precisamos oferecer lhes um mínimo de condições. São enormes as
responsabilidades desses amigos invisíveis, e as qualificações exigidas,
para as tarefas que desempenham junto a nós, são rígidas. Poderíamos
dizer que cada grupo tem os guias e os protetores que merece. Se o grupo
empenha-se em servir desinteressadamente, dentro do Evangelho do
Cristo, escorado na Doutrina Espírita, disposto a amar incondicionalmente,
terá apoio e sustentação de uma equipe correspondente de companheiros
desencarnados do mais elevado padrão espiritual, verdadeiros técnicos da
difícil ciência da alma”.
O trabalho desses amigos é silencioso e sereno. A competência
costuma passar despercebida, porque parece muito fácil fazer aquilo que
aprendemos a fazer bem. Quando vemos um operário altamente
qualificado na sua especialidade, ou um desportista bem treinado,
experimentamos o prazer de contemplar os gestos bem medidos, a suave
facilidade com que se desempenham. Lembremo-nos, porém, do seu
longo período de adestramento, de estudo, de renúncia, e das cansativas
horas de trabalho monótono, de repetição e correção.
Assim são os companheiros que nos amparam, apresentam-se,
muitas vezes, com nomes desconhecidos, falam com simplicidade, são
tranquilos, evitam dar ordens, negam-se a impor condições. Preferem

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

ensinar pelo exemplo, discorrendo sobre a anatomia do trabalho, diante do


corpo vivo do próprio trabalho. São modestos e humildes, mas revestem-
se de autoridade. Amorosos, mas firmes, leais e francos. Aconselham,
sugerem, recomendam e põem-se de lado, a observar. Corrigem, retificam
e estimulam. Sua presença é constante, ao longo dos anos e anos de
dedicação. Inspiram-nos através da intuição, acompanham-nos até mesmo
no desenrolar de nossas tarefas humanas. Guardam, porém, o cuidado
extremo de não interferir com o mecanismo do nosso livre-arbítrio, pois
não se encontram ao nosso lado para resolver por nós os nossos
problemas, mas para dar-nos a solidariedade do seu afeto. Mesmo no
trabalho específico do grupo, interferem o mínimo possível, pois sabem
muito bem que o Espírito desajustado precisa de ser abordado e tratado
de um ponto de vista ainda bem humano. Se fosse possível resolver suas
angústias no mundo espiritual, não precisariam trazê-los até nós.
Os benfeitores espirituais não vão ditar um breviário de instruções
minuciosas. É preciso que fique margem suficiente para a iniciativa de
cada um, para o exercício do livre-arbítrio, para que tenhamos o mérito dos
acertos, tanto quanto a responsabilidade pelos erros cometidos. Em suma,
os Espíritos não nos tomam pela mão, mas não deixam de apontar-nos o
caminho e seguir-nos amorosamente. Não desejam, de forma alguma, que
nos tornemos dependentes deles, para qualquer passo que tenhamos de
dar. A função dos orientadores espirituais mais responsáveis não é ditar
normas. Mesmo com relação à essência do trabalho, limitam-se a
aconselhar e sugerir, mas não impõem a sua vontade. E se insistimos em
seguir pelas trilhas que nos afastam do roteiro da verdade e da segurança,
não nos faltarão com suas advertências amigas, mas nos deixarão
palmilhar os caminhos da nossa preferência.
Os Espíritos amigos e familiares também se manifestam nas
reuniões mediúnicas a que estamos filiados. A natureza de suas
comunicações varia com o grau de progresso espiritual que tenham
alcançado. É muito comum esses Espíritos serem auxiliados nas sessões
mediúnicas quando são portadores de sofrimentos que os desarmonizam.
Devemos acrescentar, ainda, que, na eventualidade de um benfeitor
espiritual ser reconhecido como alguém que fazia parte do círculo de
amizade de algum participante, o dialogador deve encaminhar o diálogo
com os mesmos cuidados e respeito devidos aos benfeitores espirituais
não conhecidos, a fim de que seja evitada qualquer manifestação de
privilégios.

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MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

A importância da comunicação dos mentores espirituais.

Nas reuniões mediúnicas de desobsessão, em decorrência da


natureza do trabalho, é comum que o dirigente espiritual e auxiliares
diretos se comuniquem durante o trabalho mediúnico, com a finalidade de
torná-lo mais eficiente. Eles costumam trazer instruções específicas para o
desenrolar do trabalho. Nesses grupos, o mentor espiritual ou o seu
substituto costumam manifestar-se ao início da reunião, para dar
instruções gerais.
O Espírito André Luiz, no livro Desobsessão (capítulo 30 –
Manifestação inicial do mentor), nos esclarece que “essa medida é
necessária, porquanto existem situações e problemas, estritamente
relacionados com a ordem doutrinária do serviço, apenas visíveis a ele, e o
amigo espiritual, na condição do condutor do agrupamento, perante a Vida
Maior, precisará dirigir-se ao conjunto, lembrando minudências e
respondendo a alguma consulta ocasional que o dirigente lhe queira fazer,
transmitindo algum aviso ou propondo determinadas medidas”. Esse
entendimento, no limiar do programa de trabalho a executar-se, é
indispensável à harmonização dos agentes e fatores de serviço, ainda
mesmo que o mentor se utilize do medianeiro tão-só para uma simples
oração que, evidentemente, significará tranquilidade em todos os setores
da instrumentação.
Ainda nas reuniões de desobsessão, é comum, ao final da sessão,
que o mentor ou outro benfeitor façam o fechamento da mesma por meio
de uma mensagem, se assim for julgado necessário. Aliás, é rara a
reunião mediúnica, independentemente de ser de desobsessão ou não,
que um benfeitor espiritual não encerre com palavras amigas e
confortadoras. A respeito deste assunto, Hermínio C. Miranda, no livro
Diálogo com as sombras, nos diz o seguinte: “Ao final da sessão, cessado
o trabalho de atendimento aos sofredores, comparecem (os mentores
espirituais), para uma palavra de estímulo e de consolo”. É esta a
mensagem que, se possível, deve ser gravada, porque contém,
usualmente, preciosos esclarecimentos acerca dos trabalhos, em
particular, e sobre a Doutrina, em geral.
Ainda a respeito da manifestação final do mentor, André Luiz, no
livro citado acima, capítulo 54 – Manifestação final do mentor, nos informa
o seguinte: “Aproximando-se o horário de encerramento, o dirigente da
reunião, depois de verificar que todos os assuntos estão em ordem,
tomará a palavra, explicando que as atividades se acham na fase terminal,
solicitando aos presentes pensamentos de paz e reconforto, notadamente
a benefício dos sofredores. Em seguida, recomendará aos médiuns
passistas atenderem ao encargo que lhes compete, e solicitará da

87
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

assembleia a continuidade da atenção e do silêncio, para que o médium


indicado observe se o orientador espiritual da reunião ou algum outro
instrutor desencarnado deseja transmitir aviso ou anotação edificante para
estudo e meditação do agrupamento. Se a casa dispõe de aparelho
gravador, é importante que a máquina esteja convenientemente preparada
e em condições de fixar a palavra provável do comunicante amigo. Na
hipótese de verificar que o orientador desencarnado não deseja trazer
nenhum aviso ou instrução, o médium indicado dará ciência ao dirigente, a
fim de que ele profira a prece final e, em seguida, declare encerrada a
reunião”.
Conscientes da importância dessas comunicações, e do nosso
comportamento perante os benfeitores espirituais, apresentamos, a título
de reflexão, a página de André Luiz, no livro Conduta espírita (capítulo -
Perante os Mentores Espirituais): “Ponderar com especial atenção às
comunicações transmitidas como sendo da autoria de algum vulto célebre,
e somente acatá-las pelos conceitos com que se enquadrem à essência
doutrinária do Espiritismo. A luz não se compadece com a sombra. Abolir a
prática da invocação nominal dessa ou daquela entidade, em razão dos
inconvenientes e da desnecessidade de tal procedimento em nossos dias,
buscando identificar os benfeitores e amigos espirituais pelos objetivos que
demonstrem e pelos bens que espalhem. O fruto dá notícia da árvore que
o produz”.
“Apagar a preocupação de estar em permanente intercâmbio com os
Espíritos protetores, roubando lhes tempo para consultá-los a respeito de
todas as pequeninas lutas da vida, inclusive problemas que deva e possa
resolver por si mesmo. O tempo é precioso para todos. Acautelar-se contra
a cega rendição à vontade exclusiva desse ou daquele Espírito, e não
viciar se em ouvir constantemente os desencarnados, na senda diária,
sem maior consideração para com os ensinamentos da própria Doutrina.
Responsabilidade pessoal, patrimônio intransferível. Honrar o nome e a
memória dos mentores que lhe tenham sido companheiros ou parentes
consanguíneos na Terra, abstendo-se de endereçar-lhes petitórios
desregrados ou descabidas exigências. A comunhão com os bons cria
para nós o dever de imitá-los. Furtar-se de crer em privilégios e favores
particulares para si, tão somente porque esse ou aquele mentor lhe haja
dirigido a palavra pessoal de encorajamento e carinho. Auxílio dilatado,
compromisso mais amplo.”

88
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

Devemos publicar tudo quanto os Espíritos dizem?

“Amados, não creiais a todo Espírito, mas provai se os Espíritos são


de Deus.” (1ª epístola de João, capítulo 4, versículo 1.).

Essa pergunta, dirigida a Allan Kardec por um correspondente da


Revista Espírita, de novembro de 1859, ainda continua atual. Na época
Kardec respondeu aos consulentes com outra pergunta: “Seria bom
publicar tudo quanto dizem e pensam os homens?”
Em seguida, o Codificador do Espiritismo teceu os seguintes
comentários, esclarecedores do assunto: “Quem quer que possua uma
noção do Espiritismo, por superficial que seja, sabe que o mundo invisível
é composto de todos aqueles que deixaram na Terra o envoltório visível.
Despojando-se, porém, do homem carnal, nem todos se revestiram, por
isso mesmo, da túnica dos anjos. Há espíritos de todos os graus de
conhecimento e de ignorância, de moralidade e de imoralidade – eis o que
não devemos perder de vista. Não esqueçamos que entre os Espíritos,
assim como na Terra, há seres levianos, desatentos e brincalhões; falsos
sábios, vãos e orgulhosos, de um saber incompleto; hipócritas, malévolos
e, o que nos parecia inexplicável, se de algum modo não conhecêssemos
a fisiologia desse mundo, há sensuais, vilões e crapulosos que se
arrastam na lama. Ao lado disto, sempre como na Terra, temos seres
bons, humanos, benevolentes, esclarecidos, de sublimes virtudes. Como,
entretanto, o nosso mundo não está na primeira nem na última posição,
disso resulta que o mundo dos Espíritos abrange seres mais avançados
intelectual e moralmente que os nossos homens mais esclarecidos, e
outros que ainda estão abaixo dos homens mais inferiores”.
Em vista do que foi exposto por Kardec, com referência à diversidade
de graus de conhecimento e de moralidade dos Espíritos, fica patente a
necessidade de se observarem alguns cuidados na análise e na
divulgação das mensagens espíritas.

Cuidados relacionados com a análise e a divulgação das mensagens


mediúnicas.

➢ A linguagem dos Espíritos: “Os Espíritos devem ser julgados,


como os homens, pela linguagem de que usam. Suponhamos que um
homem receba vinte cartas de pessoas que lhe são desconhecidas. Pelo
estilo, pelas ideias, por uma imensidade de indícios, enfim, verificará se
aquelas pessoas são instruídas ou ignorantes, polidas ou mal educadas,
superficiais, profundas, frívolas, orgulhosas, sérias, levianas, sentimentais

89
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

etc. Assim, também, com os Espíritos. Devemos considerá-los


correspondentes que nunca vimos, e procurar conhecer o que
pensaríamos do saber e do caráter de um homem que dissesse ou
escrevesse tais coisas. Pode estabelecer-se como regra invariável e sem
exceção que – a linguagem dos Espíritos está sempre em relação com o
grau de elevação a que já tenham chegado. Os Espíritos realmente
superiores não só dizem unicamente coisas boas, como também as dizem
em termos isentos, de modo absoluto, de toda trivialidade. A linguagem
revela sempre a sua procedência, quer pelos pensamentos que exprime,
quer pela forma, e, ainda mesmo que algum Espírito queira iludir-nos
sobre a sua pretensa superioridade, bastará conversemos algum tempo
com ele para a apreciarmos”.

➢ Discernimento entre cultura e moralidade: “A inteligência longe


está de constituir um indício de superioridade, porquanto a inteligência e a
moral nem sempre andam emparelhadas. Pode um Espírito ser bom,
afável, e ter conhecimentos limitados, ao passo que outro, inteligente e
instruído, pode ser muito inferior em moralidade. É crença bastante
generalizada que, interrogando-se o Espírito de um homem que, na Terra,
foi sábio em certa especialidade, com mais segurança se obterá a
verdade. Isto é lógico, entretanto, nem sempre é o que se dá. A
experiência demonstra que os sábios, tanto quanto os demais homens,
sobretudo os desencarnados de pouco tempo, ainda se acham sob o
império dos preconceitos da vida corpórea. Eles não se despojam
imediatamente do espírito de sistema. Pode pois acontecer que, sob a
influência das ideias que esposaram em vida, e das quais fizeram para si
um título de glória, vejam com menos clareza do que supomos”. O saber
que um Espírito revela nem sempre é sinal de elevação moral. Pode
acontecer que esse Espírito traga vícios dentro de si, dos quais não
conseguiu se libertar ainda. Após a partida daqui, os Espíritos, sobretudo
os que alimentaram paixões bem marcadas, permanecem envoltos numa
espécie de atmosfera que lhes conserva todas as coisas más de que se
impregnaram. “Esses Espíritos semi-imperfeitos são mais de temer do que
os maus Espíritos, porque, na sua maioria, reúnem à inteligência, a astúcia
e o orgulho. Pelo pretenso saber de que se jactam, eles se impõem aos
simples e aos ignorantes, que lhes aceitam sem exames as teorias
absurdas e mentirosas. Embora tais teorias não possam prevalecer contra
a verdade, nem por isso deixam de produzir um mal passageiro, pois que
entravam a marcha do Espiritismo, e os médiuns voluntariamente se fazem
cegos sobre o mérito do que lhes é comunicado. Esse ponto que demanda
grande estudo da parte dos espíritas esclarecidos e dos médiuns. Para
distinguir o verdadeiro do falso é que cumpre se faça convergir toda a

90
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

atenção”. É importante destacar que os “Espíritos inferiores (imperfeitos),


ainda se encontram sob o influxo das ideias materiais. Seus discursos se
ressentem da ignorância e da imperfeição que lhes são características.
Somente aos Espíritos superiores é dado conhecer todas as coisas e
julgá-las desapaixonadamente”.

➢ O perigo das comunicações mediúnicas triviais: São


comunicações inconvenientes que, por não serem más ou por não
agredirem diretamente os bons costumes e a moral, são aceitas e
publicadas sem que tenham sido analisadas em profundidade. Eis aí o
grande equívoco. “Para começar, tais publicações têm o inconveniente de
induzir em erro as pessoas que não estão em condições de examiná-las, e
discernir entre o verdadeiro e o falso. Em segundo lugar, são armas
fornecidas aos adversários que não perdem a oportunidade para tirar
desse fato argumentos contra a alta moralidade do ensino espírita, porque,
diga-se mais uma vez, o mal está em apresentar seriamente coisas que
são notórios absurdos”. As comunicações mediúnicas triviais enganam a
quem não tem um sólido conhecimento doutrinário, uma vez que a mentira
está mesclada com informações verdadeiras. Algumas dessas
comunicações são assinadas por Espíritos venerandos; outras ensinam
teorias filosóficas ou científicas que escapam ao simples bom senso;
outras, ainda, são traídas pelas ideias místicas ou exóticas que
apresentam. A variedade dos ditados mediúnicos triviais é enorme. No
entanto, eles exercem significativo poder sobre os encarnados, a despeito
das banalidades e incoerências que trazem. Sabemos que os Espíritos
zombeteiros não têm o menor escrúpulo de enfeitar-se com nomes
respeitáveis. Sabemos também que “tais Espíritos só abusam daqueles
que gostam de se deixar abusar, que não sabem ou não querem
esclarecer as suas astúcias pelos meios de controle já conhecidos”.

As mensagens mediúnicas oriundas de pseudossábios representam


de certa forma, um processo obsessivo em curso. É importante lembrar
que há “Espíritos obsessores sem maldade, que alguma coisa mesmo
denota de bom, mas são dominados pelo orgulho do falso saber. Têm
suas ideias, seus sistemas sobre as ciências, a economia social, a moral,
a religião, a filosofia, e querem fazer que suas opiniões prevaleçam. Para
esse efeito, procuram médiuns bastante crédulos, para os aceitar de olhos
fechados e que eles fascinam, a fim de os impedir de discernirem o
verdadeiro do falso. São os mais perigosos, porque os sofismas nada lhes
custam e podem tornar cridas as mais ridículas utopias. Como conhecem o
prestígio dos grandes nomes, não escrupulizam em se adornarem com um
daqueles diante dos quais todos se inclinam. Procuram deslumbrar por

91
MÓDULO 06: OS ESPÍRITOS COMUNICANTES

meio de uma linguagem empolada, mais pretensiosa do que profunda,


eriçada de termos técnicos e recheada das retumbantes palavras –
caridade e moral. Cuidadosamente evitarão dar um mau conselho porque
sabem que seriam repelidos. Daí vem que os que são por eles enganados
os defendem, dizendo: Bem vedes que nada dizem de mau”.
Essas mensagens, quando assinadas por um nome respeitável e
conhecido, são ditas apócrifas. Algumas mensagens apócrifas trazem
informações tão absurdas que são facilmente rejeitadas. “Outras, porém,
há, em que o erro, dissimulado entre coisas aproveitáveis, chega a iludir,
impedindo às vezes se possa apreendê-lo à primeira vista. Essas
comunicações, no entanto, não resistem a um exame sério”. Esse exame
sério, de que nos fala o Codificador, desanimando o Espírito mentiroso no
seu propósito de enganar, evitará enganos desnecessários. “Em se
submetendo todas as comunicações a um exame escrupuloso, em se lhes
perscrutando e analisando o pensamento e as expressões, como é de uso
fazer quando se trata de julgar uma obra literária, rejeitando-se, sem
hesitação, tudo o que peque contra a lógica e o bom senso, tudo o que
desminta o caráter do Espírito, que se supõe ser o que se está
manifestando, leva-se o desânimo aos Espíritos mentirosos, que acabam
por se retirar, uma vez que fiquem bem convencidos de que não lograrão
iludir. Repetimos: este meio é único, mas é infalível, porque não há
comunicação má que resista a uma crítica rigorosa. Os bons Espíritos
nunca se ofendem com esta, pois que eles próprios a aconselham e
porque nada têm a temer do exame. Apenas os maus se formalizam e
procuram evitá-lo, porque tudo têm a perder. Só com isso provam o que
são”.

Eis aqui o conselho que a tal respeito nos deu São Luís:

“Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos que
presidem aos vossos trabalhos, uma recomendação há que nunca será
demais repetir e que deveríeis ter presente sempre na vossa lembrança,
quando vos entregais aos vossos estudos: é a de pesar e meditar, é a de
submeter ao cadinho da razão mais severa todas as comunicações que
receberdes; é a de não deixardes de pedir as explicações necessárias, a
formardes opinião segura, desde que um ponto vos pareça suspeito,
duvidoso, ou obscuro.”

-x-

92
MÓDULO N.º 07

TEMA:

ATIVIDADE MEDIÚNICA EM
DESDOBRAMENTO A
DISTÂNCIA

Referência Bibliográfica:

• MIRANDA, Hermínio C. Diversidade dos Carismas. Ed. Lachatre.

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MÓDULO 07: ATIVIDADE MEDIÚNICA EM DESDOBRAMENTO, À DISTÂNCIA

MÓDULO 07: ATIVIDADE MEDIÚNICA EM DESDOBRAMENTO


À DISTÂNCIA.

ATIVIDADE MEDIÚNICA EM DESDOBRAMENTO À DISTÂNCIA:


(Trechos do livro Diversidade dos Carismas, Hermínio Miranda).

Há casos em que a entidade a ser tratada não se encontra no recinto


da reunião, e sim no seu reduto. Regina (nome fictício da médium que
trabalhou com o autor do livro) percebe logo, ou é informada pelos amigos
espirituais responsáveis pelo trabalho, que terá de ser desdobrada e
levada até onde se encontra a entidade com a qual se deseja o diálogo. É
lá, onde o espírito tem suas instalações e o seu grupo, que é promovida a
ligação perispírito a perispírito, e é de lá que a comunicação é transmitida
ao corpo físico, junto à mesa de trabalho mediúnico. Como esses casos
são usualmente muito marcantes, ela guarda alguns episódios na
lembrança.
Terminados os preparativos para a reunião, o orientador espiritual
comunicou lhe que iriam “sair”, que Regina o acompanhasse. Ela informou
ao doutrinador, perguntando-lhe se devia ir. A resposta foi pronta, sumária
e positiva: “Sim”. Regina desligou-se do corpo e saiu. Retirou-se da sala
de trabalho por uma porta lateral - que ela informa não ser a do plano
físico e, sim outra invisível - e, após caminhar algum tempo, chegaram a
uma região onde o terreno era bastante acidentado. O amigo espiritual
trazia uma pequena lanterna semelhante a um lampião a querosene ou a
gás, com uma alça por cima e o foco luminoso dentro de uma campânula
de vidro. Desceram por um barranco, percorrendo uma trilha estreita e
barrenta. Era possível divisar pequenas cavernas, mais abaixo, simples
buracos abertos no barranco. O amigo espiritual caminhava à frente e
Regina a um ou dois passos atrás. Entraram numa das cavernas. Era
exíguo o espaço lá dentro e havia símbolos e apetrechos de magia por
toda a parte. Foi pelo menos a impressão que ela teve daquele estranho
instrumental. Ao fundo, um pequeno altar ou coisa parecida. No centro,
sentava-se, imóvel, uma figura humana de aspecto assustador. Era um
homem de nariz adunco, expressão facial indescritível, vestindo um manto
indefinível. Dormitava, no alto de sua cabeça, um corvo negro e soturno.
Tranquilizada pela presença do amigo espiritual, Regina não se sentiu
apavorada e manteve-se calma. Foi daquele sinistro cenário de pesadelo
que a comunicação se transmitiu.
De outra vez, ela foi levada ao encontro de uma entidade que fora,
“em vida”, um homem terrível, cujo nome a história registrou precisamente

94
MÓDULO 07: ATIVIDADE MEDIÚNICA EM DESDOBRAMENTO, À DISTÂNCIA

pelo vulto das suas façanhas bélicas e suas conquistas territoriais. Ele
estava como que plantado em pleno deserto, sozinho, à sua espera. Sua
primeira impressão foi aterradora, mas logo percebeu - provavelmente os
dirigentes espirituais do grupo lhe transmitiram algo a respeito - que todo
aquele aparato não passava de uma “fachada” para impor respeito.
Aparentemente, atrabiliário guerreiro estava já esvaziado de seus
impulsos. O simples fato de poder ser abordado por um grupo mediúnico,
em trabalho, já servia para dar o tom do seu estado de espírito. Embora
ainda resistam e reajam, os espíritos em tais condições já estão
começando a ceder ao cansaço, ao enfado, ao desencanto, e dispostos a
dar uma parada para pensar, e até reiniciar a marcha renovadora em
busca de outros horizontes. Mas, lá estava ele, ainda impressionante, de
pé, espada à cinta, desafiador. Um dos olhos estava coberto por uma tira
de pano escuro, como os artistas costumam figurar os piratas. Foi dali,
daquele remoto ponto na sua “geografia” pessoal, que a ligação foi feita
para que o doutrinador, lá na mesa de trabalho, pudesse falar com o antigo
líder.
Outra experiência assustadora para Regina foi seu encontro em
desdobramento, para servir de médium junto a uma comunidade de
bruxos. Saíra a caminhar, sempre sob a proteção do orientador espiritual
do grupo, até que se encontrou numa clareira, em plena floresta densa e
escura. Chegaram a um ajuntamento de espíritos de aparência soturna,
vestidos de maneira estranha, mascarados ou encapuzados. Um deles
empunhava um estandarte de cor amarelada, no qual se desenhava uma
caveira. A curiosa “procissão”, caminhava sob uma luz baça que mal
permitia distinguir certos detalhes. De repente eles começaram a dançar
um ritual com óbvia intenção de intimidá-la. Desse ponto em diante - até aí
ela descreveu todas as peripécias ao doutrinador - ela não se lembra de
mais nada. É que o chefe daquela fantástica confraria das sombras
acabara de “incorporar-se”, isto é, estabelecer com ela as ligações
perispirituais para dialogar com o doutrinador.
Em outra oportunidade, Regina foi levada a um “campo” onde o
espírito com o qual estava programado o contato havia “enterrado”
dezenas de pessoas, que ele assassinara quando encarnado. Só esta
incrível façanha é suficiente para evidenciar o vigor de sua mente, e a
relativa facilidade com a qual manipulava os recursos da hipnose. Não só
conseguiu arrebanhar suas próprias vítimas - certamente comprometidas,
também gravemente, perante a lei - como reduzi-las à inação,
convencendo-as a se deixarem “enterrar”. Já na reunião seguinte, foi
possível levá-lo à sala mediúnica, obviamente indignado porque o haviam
afastado - segundo ele, pela violência - de seus domínios. Por motivos
inteiramente diversos, também os contatos com alguns mentores ocorrem

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MÓDULO 07: ATIVIDADE MEDIÚNICA EM DESDOBRAMENTO, À DISTÂNCIA

por incorporação ou ligação à distância, como já vimos. Uma dessas


entidades por quem a médium tem uma ternura muito especial e antiga -
Regina foi sua filha em agitado período da civilização egípcia - certa vez
comunicou-se dessa maneira. Encerrara-se o atendimento da noite aos
espíritos necessitados, quando Regina divisou, ao longe, através de um
cone luminoso, a figura da entidade. Foi de lá mesmo que ela começou a
transmitir-lhe seu pensamento, mas não por incorporação ou contato
espiritual e sim, por palavras, via telepática. Ela parecia “falar” e Regina
repetia o que “ouvia”, como uma intérprete.
A entidade, porém, preferiu modificar o processo para que a
comunicação fosse mais nítida. Logo Regina sentiu-se desdobrada e
levada até o espírito. Via-se, ela própria, como uma adolescente, com
cerca de quinze anos de idade, vestida com uma túnica leve e esvoaçante,
à moda egípcia, que lhe descia até os joelhos. A entidade estava num local
à beira mar, em frente a um lindo bosque. Sentou-se em um barco e
Regina sentou-se ao seu lado, tão feliz que não conseguia articular uma só
palavra. O espírito puxou-a para si, deitou-lhe a cabeça em seu colo e
começou a acariciá-la mansamente. A partir desse momento, ela percebeu
que, através de seu corpo, lá na sala mediúnica a comunicação chegava
aos demais companheiros. Foi um momento inesquecível para ela. De
volta ao corpo, foi vencida pelas emoções e começou a chorar sufocada.
De outra dessas comunicações também ela se lembra. Fora levada
até determinado local, por um caminho iluminado. Subitamente,
aproximou-se venerável entidade que parou a poucos passos dela. O
espírito ergueu o braço direito e começou a transmitir o seu pensamento,
enquanto o “alto falante” do corpo físico, junto aos companheiros
encarnados, reproduzia o teor da mensagem.

Desligamento e Retorno à Normalidade:

A desincorporação dos companheiros em tratamento sempre causa


certo choque, como no início, ao serem feitas as ligações perispirituais. De
volta ao corpo físico, Regina, como outros médiuns podem necessitar de
alguns momentos para reassumir a consciência de sua própria identidade,
do local onde se encontram e coisas assim. É como se subitamente
acordada por uma explosão, ela precisasse tomar conhecimento do que se
passa. A intensidade dessas dissonâncias depende, obviamente, do
estado de desarmonia do espírito que acaba de servir-se de seu corpo
físico. Alguns deles, mesmo que causando choque inicial ao se incorporar,
desligam-se sem grandes problemas, porque conseguem tranquilizar-se
durante o longo diálogo mantido, em função dos passes que receberam e

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MÓDULO 07: ATIVIDADE MEDIÚNICA EM DESDOBRAMENTO, À DISTÂNCIA

das preces que foram pronunciadas em seu favor. O mais comum, no


entanto, é o desligamento algo traumático. Traumatismo, aliás, que dura
pouco, pois costumam serem atendidos prontamente, com passes
transversais de dispersão e, em seguida, passes longitudinais
tranquilizadores; ou imposição de mãos sobre a testa e a nuca, por
exemplo; sobre a garganta, quando particularmente afetada; ou ainda
sobre o plexo solar.
Algumas situações específicas podem ocorrer entre as muitas
variáveis possíveis. Às vezes, por exemplo, o espírito ameaça continuar
incorporado. Embora nunca o tenham conseguido, é certo que a luta que
se trava deixa Regina exausta, quando, afinal, a entidade se desliga. De
outras vezes, ela própria reluta em reassumir os controles de seu corpo,
dado que a sensação de euforia e liberdade ou a convivência, por alguns
momentos, com entidades muito amadas e carinhosas acabam por gerar
na sua mente a passageira ideia de que seria preferível “ficar lá”, naquele
outro mundo melhor, onde as pessoas são tão maravilhosas. Mas isso
também é passageiro. Logo, logo, o canário que voou pelo espaço livre e
cantou a melodia do amor universal volta, abre a porta da sua própria
gaiolinha, fecha-a atrás de si e vai cantar o cântico melancólico da
saudade do futuro, quando, um dia estará livre para sempre. Acontece,
ainda, ela reassumir o corpo, mas ficar, por alguns momentos, debruçada
sobre a mesa, um tanto inerte. Ouve o doutrinador que lhe fala e pede que
volte, mas, a princípio, não consegue mover-se. Só após uma série de
passes de dispersão, ela reage, afinal, ao estado de lassidão e reassume
os controles mentais.
Após certas incorporações mais traumatizantes - quando os espíritos
despertam, em desespero, para uma realidade dolorosa - ela “volta” com
uma terrível sensação de “vazio” na mente, como se não tivesse mais
cérebro, fosse incapaz de pensar e nem mesmo soubesse da sua
identidade. É uma sensação angustiante e aflitiva. Ela percorre com o
olhar o ambiente, observa as pessoas em torno da mesa, rostos familiares,
afinal de contas, mas nada daquilo faz sentido para ela. Onde está? Quem
é aquela gente ali? Que estão fazendo? E quem é ela própria? É hora do
doutrinador interferir mais uma vez com os passes, para dispersar fluidos
que ainda a envolvem, com palavras que lhe assegurem que ela é Regina,
que tudo está bem e em paz. De repente, ela descobre que é ela mesma.
É claro que ao retornar, o médium pode encontrar no corpo os resíduos
magnéticos deixados pela entidade que acaba de ser desligada. Durante
algum tempo - às vezes, mais de uma hora – “viveram naquele corpo”,
pessoas atormentadas por mil problemas aflitivos: dores físicas e morais,
estados de angústia, rancor, ansiedade, insegurança e temor. Enquanto
em desdobramento tais sensações lhe chegam por via indireta, por reflexo

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MÓDULO 07: ATIVIDADE MEDIÚNICA EM DESDOBRAMENTO, À DISTÂNCIA

e, portanto, atenuadas, de volta ao corpo, reintegrado a todos os seus


dispositivos sensoriais, ele sente uma realidade física, a presença da dor
concreta, pessoal, como se fosse própria.
Pode encontrar, ainda, como eco visual, imagens que se projetam da
mente da entidade tratada, ou seja, continua vendo cenas que parecem ter
ficado, por um momento, retidas no seu psiquismo, ou na atmosfera
psíquica que o envolve. Talvez o cérebro físico capte a criação mental das
entidades, que persiste, em vista da dramática intensidade com a qual as
imagens foram disparadas e sustentadas.
Algumas dessas vidências a posteriori são revestidas de trágico
realismo. Regina se lembra de uma delas, particularmente chocante: um
homem amarrado a um cepo, com a cabeça esfacelada por sucessivas
arremetidas de um daqueles infernais instrumentos de agressão medieval,
constituído por uma bola cheia de pontas de ferro por toda a superfície e
que gira presa por uma corrente, também de ferro, a um cabo como o de
um chicote. Foi uma cena inesquecível. O realismo de tais vidências é
impressionante. Quando o grupo cuidou de uma comunidade de judeus
que morreram vitimados por atrocidades promovidas por oficiais nazistas,
ela foi ao encontro de um deles que ainda se via detido num dos
tenebrosos campos de concentração da época. Lá ela ficou depois que a
entidade foi desligada - um jovem ainda perplexo, sem entender sequer o
que acontecera com ele. Estudava na França quando, em visita à
Alemanha, fora agarrado e levado para o campo de concentração onde
acabou trucidado como os outros. Só que ele não sabia que estava
“morto”. Recusava-se a aceitar aquela realidade dura que ceifara, de um
só golpe, todas as suas esperanças. Terminada a manifestação, Regina
não conseguia voltar para o corpo e despertar, embora pudesse ouvir a
voz do doutrinador a chamá-la. Sentia-se encerrada num espaço cercado
de arame farpado, finamente tecido e eletrificado. Tinha receio de
atravessar a cerca. Só depois de ouvir palavras de confiança e
tranquilização do doutrinador, conseguiu vencer sua inibição e atravessá-
la. Daí se pode ter uma ideia de como estava a pobre entidade, fixada
naquele terrível ambiente onde a sua vida física se extinguira e onde ainda
se mantinha mentalmente aprisionada, ignorando sua condição de ser
desencarnado.
Se a entidade se apresenta com algum defeito “físico”, como paralisia,
dor localizada em algum órgão, um membro decepado ou coisa
semelhante, ela encontra o local ainda sensível ou com uma sensação de
desconforto. Quando é necessário, alguns passes são dados e ela retoma
logo a normalidade. Certa vez, ao retornar ao corpo, Regina não
conseguia mover as pernas e nem as sentia. A entidade que acabava de
se retirar era paralítica da cintura para baixo.

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MÓDULO 07: ATIVIDADE MEDIÚNICA EM DESDOBRAMENTO, À DISTÂNCIA

Outro espírito, com resíduos de seus problemas circulatórios, dado


que desencarnara de um enfarto, durante a conversa com o doutrinador,
levado por forte emoção, começou a passar mal. Ao reassumir o corpo,
Regina estava sentindo dores precordiais. Alguns médiuns se queixam de
mal-estar depois das reuniões. Se o médium nos primeiros momentos, ao
retornar ao corpo físico sofre repercussões dos resíduos ali deixados pela
entidade manifestante, bastam lhe alguns passes para que se refaça com
relativa presteza. Terminado o atendimento da noite, às vezes, tem-se a
palavra de algum amigo espiritual, quando há tempo disponível para isso,
pois há um respeito severo ao horário.
A prece final encerra os trabalhos. É possível que Regina ainda tenha
algum breve recado a transmitir ao doutrinador, mas não por incorporação.
Ou, então, ela pode identificar (ou não) certos espíritos que comparecem
por motivos diversos: vêm participar do trabalho; têm qualquer vínculo com
um companheiro encarnado; ou se mostram interessados no trabalho que
está sendo desenvolvido junto aos companheiros em tratamento.
Raramente se comunicam, esses “visitantes”, que se portam com
irrepreensível discrição. Regina os vê, por vezes, aproximarem-se de um
ou outro companheiro encarnado e envolvê-lo num abraço fraterno e
carinhoso.

Um episódio particular de desdobramento: O CORDÃO FLUÍDICO

Aliás, as tardes de domingo pareciam as prediletas, para aventuras


fora do corpo, o que não é difícil de explicar. Regina tinha muitos
compromissos durante a semana, profissionais e sociais, além dos que lhe
foram acrescidos quando passou a frequentar grupos espíritas para
aprendizado e trabalho, e dos que tinha como dona-de-casa. Pouco
espaço havia, portanto, em sua vida, para um repouso maior,
descontraído, sem a pressão do relógio. Foi também num domingo à tarde
sua descoberta do cordão fluídico, o laço energético que liga o corpo físico
ao perispírito, como o fio elétrico liga um aparelho à tomada na parede.
Estava ela deitada, em repouso, mas acordada, bem alerta, nem
mesmo sonolenta. De repente, viu na parede junto a uma de suas
tapeçarias algo intensamente brilhante, um brilho prateado. Pareceu-lhe,
de início, ser uma espécie de “cobrinha” luminosa, irrequieta e
tremeluzente, como se tivesse vida. Fixando o olhar, percebeu que a
estrutura era semelhante à de uma mola, um tanto estirada, tênue, de
aparência frágil na qual os anéis espiralados não eram contínuos como
feitos de um só fio, mas constituídos de pequenos segmentos encaixados
uns nos outros. Não tinha aparência material, compacta, e sim leve, como

99
MÓDULO 07: ATIVIDADE MEDIÚNICA EM DESDOBRAMENTO, À DISTÂNCIA

feita de energia modulada, ou seja, a estranha luz de brilho prateado e que


parecia ter vida própria, era um feixe de luz enrolado sobre si mesmo. Sua
primeira impressão foi a de que “aquilo” vinha de baixo para cima, do chão,
mas logo percebeu que ela é que estava lá no alto e o cordão ligava-se ao
seu próprio corpo físico, mais abaixo. Lembrou-se de referências lidas e
concluiu que aquilo deveria ser o tão falado cordão fluídico.
Como sempre acontecia, ela procurou tirar o máximo proveito do
fenômeno para observá-lo, estudando-o com atenção. Como se percebe,
tinha a consciência dividida equitativamente entre o corpo físico e o corpo
espiritual, pois tanto via um como o outro. Desejou tocar o cordão com a
mão física, mas não conseguiu movê-la. Procurou pegar, com a “outra”,
porém a mão passava pelo cordão sem rompê-lo e sem encontrar nele
consistência alguma. A cabeça de Regina II (perispiritual) estava à altura
do quadro, na parede, a cerca de um metro de distância da Regina I (corpo
físico), deitada no sofá. Após as observações, afastou-se mais do corpo
físico, permaneceu por alguns momentos ainda na sala, e depois
mergulhou no mundo mágico, onde o fenômeno mais curioso é o da vida
física contemplada da ótica espiritual. Daí em diante, não se lembra de
nada mais. A consciência emigrara imperceptivelmente para a Regina II, e
a comunicação cérebro a cérebro deixou de ocupar sua atenção.
Meditando sobre isto, a minha primeira impressão foi a de que
deveria ter sido possível a ela tocar, e até manusear o cordão fluídico com
suas mãos perispirituais. Não seriam da mesma substância, ou melhor,
constituídas de energias no mesmo grau de condensação? Se o espírito
encarnado (em desdobramento) e o desencarnado podem tocar o próprio
corpo espiritual e senti-lo tão vivo e sólido como o físico, por que não
poderia tocar o cordão fluídico?
Ocorreu-me, então, que a “substância” do cordão precisa realmente
ser mais tênue, não só porque tem uma capacidade quase ilimitada de
expansão, ou melhor, de elasticidade, como também porque constituiria
insuperável obstáculo ao deslocamento do perispírito no plano espiritual,
se pudesse ser livremente manipulado como o fio de uma tomada elétrica.
Ao que parece, o cordão é apenas uma ligação energética, uma vibração
que opera dentro de uma faixa de onda específica, que liga o corpo
perispiritual ao físico, e não uma extensão de um ou de outro. É um campo
magnético e não uma estrutura substancial.
Ao descrever-me esta experiência, Regina acrescenta que gostaria
de ser mais curiosa a respeito de tais fenômenos. Talvez pudesse, então,
observá-los melhor, testar situações e promover certas experimentações.
Observa, porém, que uma vez “do lado de lá” não tem a mesma
curiosidade que costuma ter aqui. É como se, na condição de espírito,
achasse aquilo tudo tão natural e rotineiro, que não considera necessário

100
MÓDULO 07: ATIVIDADE MEDIÚNICA EM DESDOBRAMENTO, À DISTÂNCIA

perder tempo para satisfazer curiosidades, dúvidas e perguntas que tinha


como Regina I, do lado da matéria, presa a um bloco maciço de átomos,
moléculas, células e órgãos. Por mais que se prometa que vai ser diferente
na vez seguinte, assim que se desdobra percebe que não tem o mesmo
grau de interesse. Tudo lhe parece tão natural e conhecido, que não vale o
esforço de uma exploração. Na tentativa de explicar essa diferença de
postura, ela emprega uma sugestiva imagem: “É como se eu estivesse em
frente a uma casa fechada, doida para saber como ela é por dentro, o que
tem lá, como vivem as pessoas ali, de que maneira está decorada, de que
cor são as paredes, quantos cômodos e, de repente, abro a porta, entro e
vejo que é simplesmente minha casa e eu já sei tudo sobre ela”.

-X-X-

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MÓDULO N.º 08

TEMA:

LIXO MENTAL
E
MAU OLHADO

Referência Bibliográfica:

• MIRANDA, Hermínio C. Diversidade dos Carismas. Ed. Lachatre.

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MÓDULO 08: LIXO MENTAL E MAU OLHADO

MÓDULO 08: LIXO MENTAL E MAU OLHADO

LIXO MENTAL
(Trechos do livro Diversidade dos Carismas, Hermínio Miranda).

Médiuns e demais participantes de grupos e centros queixam-se, às


vezes, de que é difícil concentrar, porque mal conseguem aquietar a mente
por alguns momentos, começam a surgir pensamentos e imagens
indesejáveis, de baixo teor. É outro aspecto sobre o qual convém dizer
uma palavra específica. Recorro, para isso, a um texto de minha autoria,
publicado em Presença Espírita, de Salvador, BA, em maio/junho de 1984
e que se intitula Lixo mental.
Um amigo e confrade que trabalha no mundo mágico dos
computadores, chamou minha atenção há tempos, para uma expressão do
jargão cibernético que circula entre os seus técnicos, algo assim como: “de
onde entra lixo, só pode sair lixo”.
Isto significa, naturalmente, que o computador dá exatamente aquilo
que recebe, ou seja, ele responde dentro dos dados confiados à sua
memória, segundo a programação nele instalada. Não inventa, nem cria,
apenas analisa, compara e escolhe como lhe foi ensinado. Só que faz isso
com fantástica paciência e numa velocidade que não podem os seres
humanos imitar.
(...) É por isso que dizem que, se entrar lixo nele, só pode sair lixo,
da mesma forma que, se for programado para dizer qual o melhor
procedimento para ganharmos o Reino dos Céus, ele o fará, com a mesma
competência e a mesma indiferença, aliás. Também nós somos
computadores. Superinteligentes e dotados de livre-arbítrio, programados
para alcançar a paz e a felicidade totais, que o Cristo caracterizou como o
Reino de Deus, explicando muito bem que esse Reino já está em nós,
cabendo-nos, apenas, realizá-lo. Chegaremos lá, portanto, um dia. O único
problema grave aí é que permitimos a entrada de uma quantidade
espantosa de 'lixo mental' em nossas memórias e, por isso, a cada passo,
o programa se desvia e acarreta atrasos imprevisíveis e lamentáveis,
seculares, milenares até.
Que tipo de lixo mental? Tudo quanto você possa imaginar: ódio,
vingança, crueldade, hipocrisia, insanidade, intolerância, indiferença... A
lista é assustadora e arrasadora. E voluntárias às nossas opções.
Nem sempre, contudo, a gente percebe que está colocando lixo na
memória. Por exemplo: uma leitura perniciosa; um filme pornográfico; uma
anedota inconveniente; uma notícia escandalosa no jornal ou na TV; uma
cena chocante na rua que, em vez de passarmos ao largo, vamos ver de

103
MÓDULO 08: LIXO MENTAL E MAU OLHADO

perto, para “conferir”. Enfim, inúmeros atos de verdadeira morbidez


espiritual, por melhor que sejam as intenções.
Digamos que você seja espírita e que frequente um grupo mediúnico
sério e devotado à tarefa do socorro espiritual. É bem provável que, no
momento crítico em que toda a sua atenção e concentração estão sendo
exigidas, e para levar a bom termo a tarefa coletiva, comecem a emergir
dos recessos da memória, certas cenas deprimentes, vistas ou lidas. A
essa altura, já se cortou o fio da sua ligação com o trabalho. Em vez de
servir aos que precisam de sua ajuda, você passa a dar trabalho aos
mentores espirituais do grupo.
Eles precisam construir imediatamente um círculo de isolamento em
torno de você para que, além de não ajudar, você, pelo menos, não
atrapalhe. É que sua memória começou, de repente, a regurgitar o lixo que
você colocou lá. E, como era de se esperar, nos momentos mais
inoportunos.
Coincidência? Nada disso. Espíritos desarmonizados deram, aí, sua
contribuição para que, no momento crítico, você fosse neutralizado. Basta
induzir um mergulho em imagens prejudiciais à tônica da tarefa socorrista,
que exige de nós, pelo menos enquanto estamos ali, certa dose de
renúncia e um mínimo de pureza. Como poderá haver pureza, se o lixo
mental está acumulado nas memórias de nosso computador pessoal?
Se você é médium atuante, pior ainda o quadro, pois, como
sabemos, os espíritos manifestantes operam prioritariamente com o
material que encontram em nós. Se você acumula lixo dentro de si, eles
irão encontrá-lo e dele se utilizarão. Ou, então, se é um espírito
harmonizado que desejaria transmitir, por seu intermédio, uma mensagem
de consolo ou de aconselhamento, como irá fazê-lo se só dispõe de lixo
para elaborá-la? Não é preciso concluir estas observações com longos
conselhos e sermões. Você sabe o que tem a fazer. É simples, claro e
direto: Não ponha lixo mental na memória.
Aí termina o texto, mas, fica no ar uma pergunta que interessa ao
nosso livro: Uma vez que o lixo já está lá, como eliminá-lo? A primeira
observação a respeito é contundente e pode gerar até algo parecido com o
desalento, mas aí vai ela: A memória é indelével. Tudo o que ela registrou
é para sempre, da memória nada se apaga.
Isso não impede, porém, que você procure policiar o seu
pensamento e esteja bem atento e vigilante para que, ao menor sinal de
que sua memória vá começar a regurgitar, você mude prontamente o
rumo, bloqueando, com um pensamento diferente, positivo, tranquilizante e
harmonioso, as imagens ou lembranças indesejáveis. Um bom recurso é a
prece imediata e atenta, com o pensamento posto nas palavras que você
está mentalmente recitando. Não uma prece pré-fabricada que se repete

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MÓDULO 08: LIXO MENTAL E MAU OLHADO

maquinalmente sem saber o que se está dizendo. Se você fizer isso, ou


seja, apenas repetir palavras, observará com desgosto que a tentativa de
prece prossegue num nível subliminar, ou subconsciente, enquanto o
consciente continua ocupado com o pensamento indesejável. Eis aí uma
das muitas coisas que não se pode fazer desatentamente.
Mas, além de combater as lembranças indesejáveis, procurando
bloquear o fluxo inoportuno, você precisa, também, mudar o mobiliário da
sua casa mental, ocupando com ideias novas, positivas, construtivas,
espaços da memória que, deixados na ociosidade, tendem a ser ocupados
com as latas de lixo mental que, infelizmente, são recolhidas ao longo do
tempo. O problema é que, mesmo varrendo o lixo para debaixo do tapete,
ele continua ali, sabemos que ele está ali, e que um dia pode espalhar-se
novamente.
Quando falo em mobiliário, quero dizer: introduzir na memória
somente - e tanto quanto possível - material selecionado com o mais
atento cuidado. O livro é suspeito? Não o leia. O filme cuida de uma
temática duvidosa ou francamente repulsiva? Não o veja. A conversa
encaminha-se para uma rodada de anedotas inconvenientes? Disfarce e
saia, se não conseguir mudar o seu rumo. A notícia de jornal é
escandalosa? Leia outra coisa. Isso não quer dizer, certamente, que você
terá de virar asceta, mesmo porque, como informa o velho ditado, o hábito
não faz o monge. O que o faz é uma atitude correta perante a vida, e isto
não se veste, conquista-se na luta, na vigilância, na atenção com que se
critica previamente o material que vamos admitir à mente.
Do que se depreende que, em matéria de lixo mental, o caminho
certo é o da profilaxia, da prevenção, muito mais do que o da terapêutica.
Em outras palavras: é infinitamente melhor tomar a vacina para não se
contaminar contra o vírus, do que encher-se de remédios para se livrar
dele, depois que o mesmo está instalado. Se conseguirmos que não entre
mais lixo em nossa mente, já teremos alcançado importante vitória nas
inúmeras batalhas da vida.
Insisto em dizer, contudo, que o médium, ou qualquer outro
participante de trabalhos mediúnicos, não tem obrigação de levar uma
existência monástica, preservado em atmosfera asséptica, dentro de uma
redoma de vidro. A vida está aí para ser vivida com as suas experiências;
confrontos; vitórias; derrotas - pois estas nos ensinam, também,
importantes lições. Como iríamos opinar sobre os problemas da vida – que
são todos os problemas humanos - se não participamos dela? Como
ajudar os que nos buscam com as suas aflições, se nunca soubermos o
que é uma dificuldade, um problema, uma dor?
Nem a prática espírita em geral, nem a mediunidade em particular,
exige como condição preliminar um estado de santidade de todos e de

105
MÓDULO 08: LIXO MENTAL E MAU OLHADO

cada um. Se assim fosse, não haveria ninguém entre nós, ou seriam raros
aqueles em condições de exercer tais atividades. O importante em tudo
isso é que não nos deixemos arrastar pelos chamamentos da inferioridade
que remanesce em nós, em decorrência de antigas e recentes atitudes
equívocas ou francamente desarmonizadas.
Sobre esse aspecto. Regina tem a dizer: "(...) o que mais temos
dentro de nós são sensações negativas e deformadas, trazidas do
passado. Por isso é muito mais fácil sintonizar com o negativo, do que com
o positivo”. Agora, como livrar-se? Isto já é mais difícil. Com exercícios
constantes de auto reforma interior, meditando e orando muito. Pedindo
ajuda aos amigos espirituais que nos mostrem as coisas erradas que há
dentro de nós, para que possamos eliminá-las. Aceitando a nossa própria
realidade de seres inferiores e cheios de mazelas morais e tentando nos
melhorar, dia a dia. É uma luta enorme, difícil. Mas é o que nos cabe fazer.
Não adianta querer ser bom e puro de uma hora para outra. Há que
trabalhar, e muito mesmo. Carregamos séculos de erros e alguns anos (na
existência atual) de boas intenções. É claro que não podemos mudar sem
esforço.

MAU OLHADO - A ‘DESENCARNAÇÃO' DO CHUCHUZEIRO


(Trechos do livro Diversidade dos Carismas, Hermínio Miranda).

Em tempos outros ainda jovem eu vivia numa cidade do interior e, no


modesto quintal, colhíamos alguns legumes para os gastos da casa. Certa
vez visitou-nos uma vizinha que se revelou encantada com o viçoso pé de
chuchu, ao qual endereçou seus melhores elogios. Que beleza! Como é
que eu conseguira ter chuchus tão bonitos no exíguo espaço de terreno
que mal dava para dois ou três canteiros pequenos. O chuchuzeiro entrou
a 'desencarnar' na hora. Creio que não gostou dos elogios da moça. Mal
ela virou as costas, ele começou a murchar como se lhe houvessem
extraído, de uma só vez, toda a sua vitalidade. Não houve o que o
salvasse. Em poucas horas, pendiam, sem vida, as suas lianas e os frutos
caíam irremediavelmente. Estava mortíssimo, sem apelo. Não restava
senão limpar o terreno de toda a sua antes vistosa folharada e dos talos
sem vida.
Nascido e criado pelo interior, sempre ouvira falar de mau-olhado.
Sabia de histórias a respeito contadas por gente que merecia crédito, mas
ficava sempre com uma ponta de desconfiança. Seria mesmo possível
aquilo? Sem ter ainda firmado um conceito próprio, assumia a velha
atitude de que nos fala Cervantes, a de que “essa história de bruxarias é
bobagem, mas que elas existem, não há dúvida”. O malogrado
chuchuzeiro foi a primeira demonstração disso. Não havia bruxaria, mas, lá

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MÓDULO 08: LIXO MENTAL E MAU OLHADO

estava ele reduzido a um montão de folhas e caules mortos. A dúvida ficou


no ar por muito tempo, ou melhor, em suspensão na minha mente.
Quando li O livro dos espíritos pela primeira vez, alguns anos após a
dramática 'desencarnação' do pé de chuchu, encontrei esta resposta à
pergunta número 552: “Algumas pessoas dispõem de grande força
magnética, de que podem fazer um mau uso, se maus forem seus próprios
espíritos, caso em que possível se torna serem secundados por outros
espíritos maus”. Prossegue a pequena dissertação, dizendo que “não há
poder mágico algum, que somente existe na imaginação de pessoas
supersticiosas, ignorantes das verdadeiras leis da natureza. Os fatos que
citam como prova da existência desse poder, são fatos naturais mal
observados, e, sobretudo, mal compreendidos”.
Não creio que a nossa visitante daquele dia fosse exatamente um
espírito maldoso, mas não vejo como desvinculá-la do súbito
aniquilamento do vistoso pé de chuchu. Alguma descarga magnética
involuntária da parte dela? O que teria ela absorvido para seu uso pessoal,
as energias que movimentavam o pé de chuchu? É certo que operavam ali
leis escassamente conhecidas, e que fatos, por mais estranhos, "mal
observados, e, sobretudo, mal compreendidos”, como dizem os espíritos,
eram 'fatos naturais'.

O SUGADOR DE ENERGIAS

A hipótese de que a vizinha possa ter absorvido as energias do pé


de chuchu me foi sugerida por outra experiência pessoal que nada tem a
ver, aliás, com o 'mau-olhado'. Ou tem: Veio trabalhar conosco, na
empresa à qual eu servia na minha condição de profissional, um homem
dotado de grande vitalidade. Logo em nossos primeiros contatos pessoais
comecei a notar certo mal-estar inexplicável.
Algum tempo decorreu até que eu estabelecesse uma ligação de
causa e efeito entre a minha indisposição física e o nosso companheiro de
trabalho. Por fim, esse vínculo tornou-se óbvio, e isto era particularmente
de quando conversávamos sozinhos, frente a frente, separados apenas
por uma mesa ou escrivaninha. Não sei se consigo descrever a sensação
que experimentava. O mal-estar concentrava-se sobre o plexo solar à
altura do que se costuma chamar de 'boca do estômago'. Eu tinha a
impressão de que ali havia uma espécie de tubo de aspirador, que me
sugava energia sem que eu pudesse impedi-lo. Eu me contorcia
disfarçadamente na cadeira e procurava desviar o corpo de forma a não
ficar de frente para ele, mas não adiantava. O 'tubo' parecia flexível e

107
MÓDULO 08: LIXO MENTAL E MAU OLHADO

acompanhava os movimentos do corpo, mesmo de pé. Saía dali cansado,


não poucas vezes com dor de cabeça.
Se a reunião fosse muito longa, os sinais da exaustão eram óbvios e
eu custava a me refazer dela. Quando conheci a esposa deste
companheiro, não me senti surpreso ante a sua extrema fragilidade. Era
uma pessoa simpática, doce, mas parecia desvitalizada. Faço uma
ressalva urgente: estou convicto de que ele não fazia isso por mal ou
mesmo que tivesse a mínima noção de sua estranha faculdade de
'abastecer- se' de fluidos vitais alheios. Estava longe de ser um sujeito
mau. Ao contrário, era uma pessoa amável, simples e bem-intencionada.
Não lhe conheço nenhum gesto de violência, improbidade ou até mesmo
de impaciência. Percebia-se que nada daquilo era deliberado, e por isso,
nunca mencionei minhas dificuldades com ele a ninguém. Nem sei mesmo
se outras pessoas experimentavam na sua presença a desagradável
sensação de mal-estar que me atormentava junto dele.
Como encontrei casos semelhantes na literatura psíquica, imagino
que o fenômeno seja relativamente comum, ainda que pouco ou mal
observado, pois assim como há pessoas que doam energia até mesmo
sem contato pessoal direto, há as que, consciente ou inconscientemente,
absorvem energias alheias. É o que nos confirma André Luiz, em Evolução
em Dois Mundos, (capítulo XI, primeira parte - Existência da alma), lembra-
nos que: “nem todos se desligam prontamente, pela desencarnação, do
‘casulo de seus pensamentos dominantes’, passando a alimentarem-se
por meio de certas ‘trompas fluídico-magnéticas de sucção’”. Prossegue
dizendo que: "’semelhantes trompas ou antenas de matéria sutil’ existem
nos seres encarnados, apresentando-se na aura como ‘radículas
alongadas de essência dinâmica’".
São com esses dispositivos que "assimilamos ou repelimos as
emanações das coisas e dos seres que nos cercam, tanto quanto as
irradiações de nós mesmos, uns para com os outros". Está aí explicada a
minha curiosa experiência pessoal.

EXPERIÊNCIAS PESSOAIS

Mas isto foi apenas uma pausa para relatar episódio paralelo. E o
problema do mau olhado? Existe mesmo?
Como vimos os espíritos não negam ao afirmar, que há pessoas
dotadas de grande força magnética, da qual podem fazer ‘mau’ uso. Não
foi muito fácil encontrar material para uma pesquisa acerca desse
problema, mesmo porque é tido por mera superstição, pela maioria dos
autores que teriam alguma condição para uma contribuição mais

108
MÓDULO 08: LIXO MENTAL E MAU OLHADO

esclarecedora. Vemos, contudo, na Bíblia de Jerusalém, em Deuteronômio


28:54, o seguinte texto: "O mais delicado e mais terno dos teus olhará com
maus olhos ao seu irmão, bem como à esposa de seu coração e aos filhos
que lhe restem". Do que se pode concluir que o mau olho nem sempre
vem do maldoso, mas também do delicado e terno, talvez por ciúme ou
inveja incontrolável.
Antes de examinarmos mais de perto o mecanismo do mau olhado,
ou melhor, do fenômeno psíquico que leva esse rótulo (inadequado, como
tantos outros), rogo espaço ao leitor para citar dois episódios ocorridos
com Regina. Certa ocasião estava ela na feira, fazendo suas compras
semanais quando, por motivo qualquer de que não mais se lembra,
reclamou do feirante sobre alguma coisa. Fora uma reclamação, digamos
de rotina, sem nenhuma hostilidade ou rancor. O homem olhou para ela
carregado de ódio - devia estar muito aflito ou revoltado, pois ela não o
ofendera. Ao invés de pedir desculpas (é o que deveria ter feito se fosse
inteligente o bastante) - conta Regina - repliquei ao que ele me havia dito.
Ele me olhou novamente com os olhos faiscantes de raiva. Imediatamente
sentiu um soco no peito, na altura do plexo cardíaco. Senti fisicamente,
como se ele houvera me dado um tremendo murro, tanto que ficou
dolorido o local. E, na verdade, foi o que ele fez – só que com suas
emissões mentais e não com os punhos, como provavelmente teria
desejado fazer. Não foi à toa que Jesus recomendou que déssemos a
outra face quando alguém nos batesse na primeira - conclui Regina.
Observa ela, com justeza, que ninguém está à mercê dos caprichos,
ódios e rancores de outras pessoas, a não ser que sintonize na mesma
faixa vibratória, como se costuma dizer. Nesse caso, é atingido com todo
vigor, pelas desarmonias de estados mórbidos alheios. No seu caso com o
feirante, ela teria evitado o impacto do 'murro psíquico' se, em lugar de
retrucar ao que ele dissera no seu mau humor, deixasse de 'passar recibo'
à vibração negativa, procurando desculpá-lo ou entendê-lo com atitude de
simpatia e compreensão pelas dificuldades que, certamente ele estava
enfrentando e que o levava à revolta contra tudo e todos. Nesse caso, a
sua cólera tê-la-ia encontrado numa posição de isolamento, proteção de
seu próprio equilíbrio, retornando como bumerangue aquele que a atirou.
Certos impactos, contudo, são tão violentos que nos atingem quando
não os provocamos. Tenho disso uma experiência pessoal: Em
decorrência de deveres profissionais, vi-me, inúmeras vezes, incumbido de
representar minha empresa em assembleias gerais de subsidiárias, nas
quais havia movimentação de pessoal do alto escalão administrativo.
Nessas oportunidades, era eu o 'anjo bom' para alguns, que a empresa me
mandava eleger e o 'anjo mau' para outros, que eu tinha ordens de
destituir ou substituir. Embora fosse tudo sempre feito entre os sorrisos

109
MÓDULO 08: LIXO MENTAL E MAU OLHADO

habituais, certa vez pude experimentar, fisicamente, a potência de um


petardo psíquico de vários megatons.
Realizadas as modificações a que eu fora incumbido de fazer, um
dos executivos substituídos (contra a sua vontade, obviamente), despediu-
se de mim com um vigoroso aperto de mão, um sorriso-padrão nos lábios
e um estranho brilho nos olhos. Senti uma verdadeira descarga elétrica
que me subiu, como um raio, pelo braço e foi explodir na cabeça. A
impressão nítida foi a de que a 'bomba' abriu uma cratera na altura das
têmporas, à esquerda, região na qual ficou latejando uma dor aguda.
Isso foi à tardinha. Não houve o que fizesse passar a dor e nem
aquela estranha sensação de que eu tinha um rombo na cabeça, à
esquerda. Tinha a impressão de que se olhasse no espelho, eu veria o
buraco como o de uma bala que entrara por um lado e fugira pelo outro. À
noite, fui ver um amigo e confrade que dirigia um grupo espírita, e lhe pedi
que designasse alguém para me dar um passe, pois estava com a
impressão de ter sido atingido por um impacto psíquico muito forte. Dotado
de bem treinada mediunidade, ele me olhou por um momento e disse: “Foi
um verdadeiro petardo que atingiu você...”. Uma das senhoras presentes
levou-me para um cômodo anexo, fizemos uma prece e ela me deu os
passes necessários. Prontamente fiquei curado da dor de cabeça, e como
que se fechou a 'cicatriz' na cabeça. Mas eu havia dito que Regina
vivenciou dois episódios desses e acabei introduzindo um dos meus
depoimentos pessoais. Vamos ao segundo caso.
Certa vez, ela comprou um lindo buquê de monsenhores brancos.
Preferiu essa flor por ser a que melhor oferecia resistência ao calor
abrasador, àquela época do ano. Chegando à sua casa, arrumou as flores
caprichosamente numa jarra, e o arranjo lá ficou como que dominando
toda a sala com o encanto peculiar da decoração viva.
Nesse mesmo dia, recebeu a visita de um casal conhecido. A mulher
ficou literalmente fascinada pela jarra de monsenhores. À todo momento
olhava-a, e dizia: “Mas que beleza de flores!”. Ao cabo de algum tempo,
despediram-se e saíram. Ocupada com outros afazeres, Regina passou
cerca de meia hora ou pouco mais fora da sala. Quando voltou a
contemplar as flores, teve um choque: elas pendiam, murchas e pálidas,
dos seus frágeis e ressecados caules. No outro dia, estavam acabadas.
Ela reconhece que a moça não olhou as flores com raiva, mas no
fundo, é certo que havia na sua admiração um tom de cobiça ou de inveja,
que são vibrações nitidamente negativas, ainda que muito sutis. Tão
fortes, porém, que atingiram os pobres monsenhores que não resistiram ao
bombardeio.

110
MÓDULO 08: LIXO MENTAL E MAU OLHADO

Aliás, não há dúvidas, à vista de inúmeras e bem documentadas


experiências, de que as plantas e os animais, tanto quanto os seres
humanos, respondem às emissões mentais negativas ou às positivas.
Se aprofundarmos um pouco mais essa realidade, vamos encontrar
a mesma verdade universal de sempre:
1. O amor é a grande força construtiva.
2. O ódio, o elemento desagregador.
3. A vida, uma única energia que circula por toda parte, solidariamente.
4. O pensamento é o veículo de tudo isso.
“Em verdade, o amor não precisa de palavras para expressar-se e,
infelizmente, nem o ódio.” Eles simplesmente se comunicam a partir do
foco emissor e, por onde passam sintonizam-se com os ritmos que lhes
são afins.
Recorremos mais uma vez à Regina, para demonstrar a
reversibilidade dessas correntes, magnéticas ou psíquicas, seja lá o que
for. Basta direcionar o impulso num sentido ou noutro. É tudo uma questão
de estrutura espiritual, de equilíbrio ou desequilíbrio. O facínora que ataca
para roubar e despede vibrações de desarmonia em relação à pessoa
agredida, pode ter gestos de extrema ternura com uma filhinha doente,
mais tarde.

PESQUISANDO O ASSUNTO

Mas eu dizia, a pouco, da dificuldade de encontrar material confiável


de pesquisa neste assunto. Consegui, contudo, apurar o suficiente para
saber que a despeito da sofisticação meio irônica dos autores, que tratam
o problema do mau olhado como tola superstição popular, existe uma
realidade subjacente nisso. E nem poderia deixar de haver, quando
sabemos que tudo isso que nos cerca, visível ou invisível, é pensamento -
de Deus ou dos seres humanos encarnados ou desencarnados.
A sabedoria popular é muito mais profunda do que pode parecer.
Fenômenos anímicos e mediúnicos da maior importância e de dramáticas
implicações foram e continuam sendo considerados meras superstições
por muita gente que se diz inteligente, culta, civilizada e superior. A ideia
do mau-olhado é antiga e está espalhada pelo mundo todo, o que se
comprova facilmente pelos nomes que servem para designá-la nas
diversas línguas. Segundo apurei, há livros sérios escritos sobre o
assunto.
Dá, no entanto, para perceber que, embora tratado como folclore, o
problema interessa aos eruditos. Sabemos perfeitamente que parece
haver mais intensa fixação supersticiosa nas camadas ditas elevadas da

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MÓDULO 08: LIXO MENTAL E MAU OLHADO

sociedade, do que nas mais humildes. Do contrário, não encontraríamos


pessoas dispostas a pagarem tão bom dinheiro por signos, talismãs,
berloques e figuras cabalísticas em geral, destinadas a 'proteger' os seus
portadores do 'mau-olhado’. O dia em que essa gente toda descobrir que a
proteção está no comportamento pessoal de cada um, e não numa peça
de madeira ou numa joia de alto preço, cravejada de brilhantes, muita
indústria vai falir à falta de mercado para suas bugigangas.
Ouço dizer que gregos e romanos eram mais econômicos nisso.
Para eles bastava dar uma cuspida para um lado, que estavam livres do
'mau-olhado'. Desde muito tempo, contudo, parece ter sido descoberto que
a motivação principal do mau- olhado é a inveja e, por isso, era
considerado desastroso ouvir elogios. Foi assim que se tornou comum
dizer-se o ‘Benzo Deus’ (Benza-Deus), que se ouve pelo interior do Brasil.
Seja como for, há escassa evidência de que seja apenas uma
superstição de gente ignorante. É, antes, uma realidade ainda não muito
bem estudada, mas que encontra na ciência e no conhecimento dos
mecanismos psíquicos do ser humano, sólidas bases para explicá-la. A
superstição está em achar que basta dar uma cuspida de lado, agitar uma
penca de chaves, bater na madeira ou usar um talismã, para livrar-se da
influenciação negativa. A defesa a essas agressões, que de fato existem,
consiste em se procurar viver numa faixa vibratória na qual se torne cada
vez mais difícil sintonizar com as emissões de desarmonia irradiadas por
toda a parte.
Ao comentar alguns aspectos do 'mau-olhado', observamos que, em
verdade, não é o olhar em si que acarreta os fenômenos abordados, mas a
energia magnética emitida e dirigida com forte impulso (consciente ou
inconsciente) da vontade, para um objetivo específico.

-x-x-

112
MÓDULO N.º 09

TEMA:

RECORDANDO ALGUNS
CONCEITOS.

Referência Bibliográfica:

• Projeto Manoel Philomeno de Miranda. Qualidade na prática


Mediúnica. Ed. Leal.

113
MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS.

O que acontece para uma pessoa que se recusa a desenvolver sua


mediunidade, já que esta mediunidade pode ajudar muitas pessoas?
Haverá algum castigo ou cobrança? R: “Energias que não doamos podem
ser fator de desequilíbrio em nossas vidas. Nossa consciência, em geral,
nos cobra uma atitude perante as tarefas que nos cabem. Praticando o
Bem em qualquer parte, estaremos colocando nossa mediunidade a
serviço de todos. André Luiz afirma: “Todo bem que não se faz é um mal
que se pratica”. (Livro Plantão de respostas - Pinga fogo II- Emmanuel).
Iremos relembrar alguns tópicos que estudamos no decorrer do
estudo básico da mediunidade. São perguntas e respostas contidas no
livro Qualidade da prática mediúnica, do Projeto Manoel Philomeno de
Miranda.

A seguir apresentamos algumas questões respondidas pelos Espíritos, e


outras respondidas pelo médium Divaldo Pereira Franco.

Os Espíritos respondem:

OS ESPÍRITOS RESPONDEM:

1. O afloramento da mediunidade tem época para acontecer?


R: “Espontânea, surge em qualquer idade, posição social, denominação
religiosa ou cepticismo no qua l se encontre o indivíduo. Normalmente
chama a atenção pelos fenômenos insólitos de que se faz portadora,
produzindo efeitos físicos e intelectuais, bem como manifestações na área
visual, auditiva, apresentando-se com gama variada conforme as diversas
expressões intelectuais, materiais e subjetivas que se exteriorizam no dia-
a-dia de todos os seres humanos.” (Médiuns e mediunidades, Cap. 7,
Vianna de Carvalho/Divaldo P. Franco)

2. De que modo a faculdade se manifesta?


R: “Explodindo com relativa violência em determinados indivíduos, em cuja
manifestação surgem perturbações de várias ordens; noutros aparece
sutilmente, favorecendo a penetração em mais amplas faixas vibratórias,
aquelas de onde se procede antes do corpo e para cujo círculo se retorna
depois do desgaste carnal.” (Momentos de consciência, cap. 19, Joanna
de Angelis/Divaldo P. Franco).

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MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

3. Que outras características podem ser identificadas no afloramento


mediúnico?
R: “A princípio, surge como sensações estranhas de presenças psíquicas
ou físicas algo perturbadoras, gerando medo ou ansiedade, inquietação ou
incerteza. Em alguns momentos, turba-se a lucidez, para, noutros,
abrirem-se brechas luminosas na mente, apercebendo-se de um outro tipo
mais sutil de realidade.” (Momentos de consciência, cap. 19, Joanna de
Angelis/Divaldo P. Franco).

4. Os sintomas desagradáveis que acompanham o desabrochar da


mediunidade são gerados pela faculdade?
R: “Às vezes, quando do aparecimento da mediunidade, surgem distúrbios
vários, sejam na área orgânica, através de desequilíbrios e doenças, ou
mediante inquietações emocionais e psiquiátricas, por debilidade da sua
constituição fisiopsicológica. Não é a mediunidade que gera o distúrbio no
organismo, mas a ação fluídica dos Espíritos que favorece a distonia ou
não, de acordo com a qualidade de que esta se reveste. Por outro lado,
quando a ação espiritual é salutar, uma aura de paz e de bem-estar
envolve o medianeiro, auxiliando-o na preservação das forças que o
nutrem e sustentam durante a existência física. A mediunidade em si
mesma, não é boa nem é má, antes apresenta-se com caráter de
neutralidade, ensejando ao homem utilizá-la conforme lhe aprouver, desse
uso derivando os resultados que acompanharão o medianeiro até o
momento final da sua etapa evolutiva no corpo.” (Médiuns e mediunidades,
Cap. 7, Vianna de Carvalho/Divaldo P. Franco).

5. Por que motivos o afloramento da mediunidade surge, em grande


número dos casos, sob ações obsessivas?
R: “Como se pode avaliar, o período inicial de educação mediúnica sempre
se dá sob ações tormentosas. O médium é Espírito endividado, em si
mesmo, com vasta cópia de compromissos a resgatar, quanto a
desdobrar, trazendo matrizes que facultam o acoplamento de mentes
perniciosas do Além-Túmulo, que o impelem ao trabalho de auto
burilamento, quanto ao exercício da caridade, da paciência e do amor
para com os mesmos. Além disso, considerando os seus débitos, vincula-
se aos cobradores que não o querem perder de vista, sitiando lhe a casa
mental, afligindo-o com o recurso de um campo precioso e vasto, qual é a
percepção mediúnica, tentando impedir-lhe o crescimento espiritual,
mediante o qual lograria libertar-se do jugo infeliz. Criam armadilhas,
situações difíceis, predispõem mal aquele que os sofrem, cercam-no de
incompreensões, porque vivem em diferente faixa vibratória, peculiar,

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MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

diversa aos que não possuem disposições medianímicas. É um calvário


abençoado, a fase inicial do exercício e desdobramento da mediunidade.
Outrossim este é o meio de ampliar, desenvolver o treinamento do
sensitivo, que aprende a discernir o tom psíquico dos que o acompanham,
em espírito, tomando conhecimento das ‘leis dos fluidos’ e armando-se de
resistência para combater as ‘más inclinações’, que são os ímãs a atrair os
que se encontram em estado de Erraticidade inferior.” (Nas fronteiras da
loucura, cap. 23, Manoel Philomeno de Miranda/Divaldo P. Franco).

6. Qual a orientação espírita para o indivíduo que tem compromisso


mediúnico?
R: “A mediunidade é uma faculdade inerente ao homem e deve ser
exercida com objetivos elevados. O seu uso determina-lhe a destinação ao
bem, com renúncia e desinteresse pessoal do médium, ou se transforma
em motivo de preocupação, sofrimento e perturbação para ele mesmo e
aqueles que o cercam, quando praticada de forma leviana. (...) Os
médiuns devem exercê-la com devotamento e modéstia, objetivando a
divulgação da verdade. Não se trata de compromisso vulgar para
exibicionismo barato ou promoção pessoal, porém, para, através do
intercâmbio com os Espíritos nobres, serem as criaturas arrancadas do
lamaçal dos vícios, ao invés de se tornarem campo para as paixões vis.
Mais se enfloresce nos círculos anônimos e obscuros, agigantando-se daí
na direção da humanidade aflita. O conforto que proporciona é superior à
capacidade de julgamento; a esperança que faculta é maior do que
quaisquer palavras, porquanto, mediante os fatos incontestáveis, afirma a
sobrevivência do que será destruição pela morte, exornando a vida
inteligente com sentido e finalidade. A mediunidade posta a serviço das
ideias enobrecidas, é alavanca para o progresso e apoio para todas as
aspirações do bem, do belo, do eterno.” (Médiuns e mediunidades, Cap. 9,
Vianna de Carvalho/Divaldo P. Franco).

7. Os médiuns principiantes, que providências adotarão para disciplinar as


suas forças medianímicas?
R: “O aprendiz da mediunidade deve ser dócil à voz e ao comando dos
Espíritos superiores, através de cuja docilidade consegue vencer-se,
corrigindo os desvios da vontade viciada, adaptando os seus desejos e
aspirações aos interesses relevantes que promovem a criatura humana,
domiciliada ou não no plano físico, meta precípua do compromisso
socorrista a que candidata a mediunidade. O estudo renova os clichês
mentais, ensejando visão feliz dos quadros da existência que se assinala
de esperança e otimismo. (...) Cultivai a brandura, por cujo cometimento
conseguireis gerar simpatias em torno dos vossos passos. Evitais tanto o

116
MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

desalento quanto a presunção, que são inimigos lúridos, a corroerem o


metal da alma, desarticulando as engrenagens psíquicas imprescindíveis
ao labor a que desejais ser fiel. O exercício do bem promove o Espírito,
dilatando lhe a compreensão em torno da divina justiça a revelar-se nas
soberanas leis que alcançam todos aqueles que as ludibriaram,
convocando cada um ao justo refazimento em ocasião própria. Se sois
candidato ao labor enobrecido da mediunidade e desejais servir com
abnegação, fazei da prece uma ação constante e do trabalho edificante a
vossa oração libertadora. (...)”
(Intercâmbio mediúnico, Cap. 4, João Cléofas/Divaldo P. Franco).

8. O médium educa a mediunidade ou educa-se para exercê-la?


R: “Educar-se incessantemente é dever a que o médium se deve
comprometer intimamente a fim de não estacionar, e, aprimorando-se,
lograr as relevantes finalidades que a Doutrina Espírita propõe para a
mediunidade com Jesus.” (No limiar do infinito, Cap. 10, Joanna de
Angelis/Divaldo P. Franco)

9. Constitui-se indício de evolução espiritual a presença da mediunidade


ostensiva?
R: “Não é sintomática de evolução, às vezes constituindo-se carreiro de
aflições purgadoras, que se apresentam com a finalidade específica de
convidar a criatura ao reajuste moral perante os Códigos das Soberanas
Leis de Deus. Quando a consciência lhe identifica a finalidade superior e
resolve-se por incorporá-la ao seu cotidiano, esplendem-se possibilidades
imensas de realização e crescimento insuspeitados.” (Momentos de
consciência, cap. 20, Joanna de Angelis/Divaldo P. Franco).

10. Observadores, estudiosos de gabinetes e diversos aprendizes da


mensagem espírita asseveram que as tarefas mediúnicas de socorro aos
desencarnados cristalizam psicoses nos médiuns, libertam os doentes
desencarnados e encarceram em enfermidades perigosas os
intermediários, transmitindo-lhes desaires e sensíveis desequilíbrios que
os fazem exóticos. Têm fundamento estas afirmativas?
R: “Sabemos, no entanto, que não têm razão os que assim pensam, quem
assim procede. O médium espiritista tem conhecimento, através da
doutrina que professa, dos antídotos e dos medicamentos para
manutenção do próprio equilíbrio. Não há dúvida de que médiuns existem,
em todos os departamentos humanos, com desalinho mental de alta
mostra e, em razão disso, também nas células espiritistas de socorro eles
aparecem, na condição, todavia, de enfermos em tratamentos especiais e
demorados. Já vieram em tormentos e se demoram sem qualquer esforço

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MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

de renovação interior. O Espiritismo é antes de tudo lar-escola, hospital-


escola, santuário-escola para aprendizagem, saúde e elevação espiritual.
Necessário portanto, que o sensitivo se habilite para as tarefas que lhe
cabem, através de exercícios morais de resultados positivos, estudo
metódico e constante, serviços de amor, a fim de libertar-se dos velhos
liames com os espíritos infelizes, que permanecem ligados às suas
paisagens mentais em vampirismo insidioso e, naturalmente, embora entre
enfermos e necessitados, conduza o tesouro da oportunidade libertadora,
na mediunidade socorrista.” (Dimensões da verdade, cap. Sofrimento na
mediunidade, Joanna de Angelis/Divaldo P. Franco).

11. E como preservar-se, o médium, da sintonia com mentes perniciosas


do Mundo Espiritual para não se fascinar por fantasias espirituais, nem
desviar-se de seus compromissos?
R: “O exercício da mediunidade através da diretriz espírita é ministério de
enobrecimento, atividade que envolve responsabilidade e siso. Não
comporta atitudes levianas, nem admite a insensatez nas suas
expressões. Caracteriza-se pela discrição e elevação de conteúdo, a
serviço da renovação do próprio médium, quanto das criaturas de ambas
as faixas do processo espiritual: fora e dentro da carne. Compromisso de
alta significação e também processo de burilamento do médium, que se
deve dedicar com submissão e humildade. Exige estudo contínuo para
melhor aprimoramento da filtragem das mensagens, meditação e
introspecção, com objetivos de conquistar mais amplos recursos de ordem
psíquica e trabalho metódico, através de cujos cometimentos o ritmo de
ação propicia mais ampla área de percepção e registro. (...) Sê comedido
no falar, no agir, no auxiliar. Reconhece a própria insipiência e
dependência que te constituem realidade evolutiva, sem procurar parecer
missionário, que não és, nem tampouco privilegiado, que sabes estar
longe dessa injusta condição em relação aos teus irmãos. ‘(...) Deixa-te
conduzir pelas correntes superiores do serviço com Jesus, e, fiel a ti
mesmo, realizarás a tarefa difícil e expurgatória com a qual estás
comprometido, em razão do teu passado espiritual deficiente’.” (Otimismo,
Cap. 52, Joanna de Angelis/Divaldo P. Franco).

12. E os infortúnios sociais, desaires, têm alguma relação com a


mediunidade?
R: “Conceituam uns, erradamente, que a mediunidade constitui ‘um
calvário’ para a criatura humana, sendo não raro, uma estrada de difícil
vencida, onde se encontram sombras e dores superlativas... Outros,
menos avisados e desconhecedores da sua finalidade, asseveram que os
reveses da sorte e as dificuldades socioeconômicas, bem como os

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MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

problemas de saúde resultam de encontrar-se a mediunidade mal


desenvolvida, ou porque o médium, incipiente, não tem desejado trabalhar,
a fim de libertar-se das injunções conflitantes, afugentes... Outros ainda
ensinam que o não cultivo da mediunidade traz danos lamentáveis,
desgraças ao lar e, às vezes, até a morte... E a mediunidade passa a ser
considerada uma punição de que se utilizam as soberanas leis, para
justiçar os infratores ou para convocá-los ao caminho da retidão. Em
verdade, tais conceitos são destituídos de base legítima e resultam da
desinformação, e de apressadas opiniões de pessoas passadistas, que
arremetem com palpites, desejando fazer proselitismo pelo medo, através
de ardis desnecessários, negativos. Claro que uma faculdade psíquica
preciosa, qual a mediunidade, que o Espírito recebe como concessão da
Divindade para o seu progresso — exceção feita à mediunidade
atormentada, em razão de gravames pretéritos do próprio ser — requer
disciplina, exercício correto, estudo, conhecimento das próprias
possibilidades, moralidade. Relegada ao abandono, improdutiva ou usada
irresponsavelmente, transforma-se em flagício para o seu possuidor, face
aos deveres assumidos perante a vida e às ligações com os
desencarnados, que se vinculam por naturais processos de afinidade.
Enxada à margem do trabalho, ferrugem inevitável; lentes e objetos à
umidade, bolor em desenvolvimento; pouca movimentação e uso,
problemas no equipamento. São efeitos naturais nas circunstâncias em
que as imposições do trabalho não são consideradas.” (Enfoques espíritas,
cap. 21 - Vianna de Carvalho/Divaldo P. Franco).

DIVALDO PEREIRA FRANCO, RESPONDE:

1 - Os Espíritos sofredores carregam as suas dores durante muito tempo,


às vezes por décadas e mesmo séculos. Qual o benefício proporcionado
aos mesmos, no breve atendimento feito durante a prática mediúnica?
R: “O mesmo bem-estar que logra uma pessoa que se encontra num
estado depressivo e conversa com alguém otimista. Aquele primeiro
contato não lhe resolve o problema, mas abre uma brecha na escuridão
que reina intimamente no campo mental do desencarnado. Quando
alguém está com um problema e vai ao psicanalista, a solução não vem de
imediato, porém abre-se um espaço. Na segunda sessão, já deixa uma
interrogação e na terceira aponta-se o rumo a ser seguido, dependendo da
profundidade da problemática. Na prática mediúnica há um detalhe a
considerar que é muito importante: quando o Espírito aproxima-se do
médium, este, como uma esponja, absorve a energia positiva ou negativa,

119
MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

a depender do grau de evolução do comunicante. No caso de um Espírito


bom, o médium sente uma sensação de euforia, bem-estar e de
desdobramento espiritual. Quando se trata de um Espírito sofredor, o
sensitivo, ao absorver-lhe a energia, diminui-lhe a densidade vibratória e
ele já melhora. (...) No fenômeno da psicofonia ou incorporação, o Espírito
comunicante sai de um verdadeiro estado de estupor só pelo fato de
aproximar-se do campo magnético do médium. Na doutrinação já se lhe
desperta a mente para que, utilizando-se da aparelhagem mediúnica,
possa ouvir e mudar a maneira de encarar o seu problema perturbador.
Por mais rápida que seja a comunicação, o Espírito sofredor recebe o
benefício eficaz daquele instante, às vezes fugidio. O mesmo não
acontece quando é um Espírito calceta. Se vou falar a uma pessoa que
está sofrendo honestamente, as minhas probabilidades de êxito em
consolá-la são maiores do que falando a uma pessoa rebelde e vingativa.
No entanto, embora não se consiga bons resultados no primeiro tentame,
pelo menos a entidade verifica que nem todos estão de acordo com o que
pensa, abrindo-se assim uma clareira interrogativa na sua mente.”

2 - Considerando-se reduzido o número de espíritas, na Terra, em relação


à grande quantidade de Espíritos sofredores na Erraticidade, a assistência
a esses Espíritos não poderia ser no Mundo Espiritual, sem a necessidade
das práticas mediúnicas no campo físico?
R: “Certamente, e é dada. Os Benfeitores espirituais não necessitam de
nós para essa finalidade; nós, sim, necessitamos deles. Qualquer pessoa
que leia a coleção André Luiz, toma conhecimento das reuniões realizadas
no Mundo Espiritual, onde Espíritos-médiuns funcionam no atendimento às
entidades atrasadas ou captam o pensamento dos seres superiores. Em
toda a coletânea de Manoel Philomeno de Miranda, constituída de várias
obras sobre mediunidade e obsessão, consta que, terminadas as reuniões
mediúnicas no plano terreno, funcionando como um prolongamento
destas, continuam fora do campo físico, os trabalhos de socorro espiritual,
onde os Espíritos se utilizam dos médiuns desencarnados para ajudarem
os médiuns encarnados. As práticas mediúnicas no plano físico
representam um benefício para os médiuns encarnados, porque
promovem a arte de fazer a caridade sem saber-se a quem. Realmente,
são poucas as práticas mediúnicas para uma demanda tão grande, mas é
uma forma de travarmos contato com o mundo do Além-Túmulo, pois, se
não existisse o fenômeno da comunicação mediúnica estaríamos
desinformados do que ocorre além da existência física. Cada prática
mediúnica é um laboratório de experiências. Há comunicações que nos
comovem profundamente, lições que nos despertam, de uma forma
intensa, apelos e sugestões de raras oportunidades.”

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MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

3 - Existe alguma técnica especial de preparação para os médiuns


psicofônicos e os doutrinadores?
R: “Os Mentores Espirituais generalizam para todos os componentes da
equipe mediúnica o mesmo comportamento preparatório, pois os deveres
são os mesmos, embora as funções sejam diferentes. Na questão do
médium, em particular, convém promover à véspera do intercâmbio
espiritual um estado psíquico favorável, fazendo uma higienização mental
compatível para que os Mentores comecem a prepará-lo para a reunião do
dia seguinte. Não se pode imaginar seja o fenômeno de incorporação um
acontecimento fortuito, a não ser aquele originário do desequilíbrio. O
médium disciplinado pode ser considerado um telefone bem guardado.
Alguém, querendo telefonar, dirige-se ao aparelho e pede licença, com
ética, para utilizá-lo. A mediunidade pode ser considerada uma
aparelhagem telefônica sumamente útil. Deve ser, portanto, preservada.
As Entidades espirituais somente utilizam a nossa faculdade se a
facultamos, isto é, se formos disciplinados mentalmente. Podem perturbar-
nos, usando outras pessoas, através de mecanismos que fogem à nossa
participação. Por exemplo: estamos em casa sentindo um grande bem-
estar, surge uma ideia má e reagimos, aparece uma sugestão negativa e
refutamos o pensamento; no entanto, nem sempre conseguimos evitar que
venha uma pessoa inesperadamente e nos provoque, desajustando-nos
psicologicamente. Reagimos com mais facilidade ao que não vemos do
que aquilo que está diante dos nossos olhos. Desta forma, o médium deve
preparar-se desde a véspera, colocando-se à disposição dos bons
Espíritos. Existem comunicações que, para serem realizadas, requerem
um acoplamento perispírito a perispírito feito vinte e quatro horas antes da
prática mediúnica. Nos livros de André Luiz e nos de Manoel Philomeno de
Miranda, todo este mecanismo está explicado com minúcias, acerca do
que os médiuns sentem. Os médiuns seguros já despertam com o
psiquismo predisposto para o que vai acontecer na reunião mediúnica,
mais ou menos telementalizados, torna-se mais fácil a comunicação.”

4 - Quais os fatores que concorrem para que os participantes da prática


mediúnica durmam no transcorrer dos trabalhos de intercâmbio espiritual e
como evitar que isso aconteça?
R: “O Espírito Joanna de Angelis recomenda que o frequentador repouse
algumas horas antes de vir à reunião, a fim de adquirir uma predisposição
favorável, desde que a indisposição física ou psíquica perturba o trabalho
dos demais. O problema todo se encontra vinculado ao campo mental do
indivíduo. Os Espíritos sintonizam, através de onda específica, ligando
psiquicamente os colaboradores uns aos outros. Se este aqui dorme e

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MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

mais adiante outro encontra-se sonolento, os pensamentos se


desencontram e cai a corrente vibratória. Faltam estímulos psíquicos aos
médiuns para a comunicação e muitas deixam de acontecer. Quem
participa de reunião mediúnica tem que criar o hábito de se preparar
convenientemente. (...) Existem casos em que os integrantes sonolentos
são envolvidos pelos bons Espíritos em fluidos benéficos para que não
seja perturbada a ordem dos trabalhos de atendimento às Entidades
sofredoras. São circunstâncias graves, as que levam ao sono, provocadas
ou intensificadas pela indução hipnótica de Espíritos obsessores, para que
as pessoas fiquem anuladas. Pode-se observar com facilidade que tão
logo termina a prática mediúnica não mais se nota qualquer vestígio de
indisposição na pessoa sonolenta. Os fatores, principais causadores
destas indisposições, são: o cansaço natural e a hipnose obsessiva. A
sugestão para contornar esta situação anômala resume-se em: repousar
depois das atividades cotidianas; proceder a uma leitura edificante; e
adotar um estado íntimo de oração. que é diferente do balbuciar de
palavras, impedindo-se assim, a influência dos hipnotizadores inferiores
através de uma defesa consistente contra as ondas vibratórias negativas
por eles arremessadas.”

5 - Na vida moderna nem sempre é possível arranjar-se tempo para uma


preparação mental cuidadosa. Neste caso, o que se pode fazer? Deve-se
continuar frequentando a reunião mesmo sabendo que pode prejudicar, de
alguma forma, a harmonia da equipe mediúnica?
R: “Existe uma disciplina que pode compensar esta dificuldade: o
participante da prática mediúnica comparecer amiúde às reuniões
doutrinárias para estabelecer um vínculo, que, de certa forma, representa
uma preparação. Pode-se também adquirir o hábito de deitar-se mais cedo
na véspera da prática mediúnica. Neste caso os Mentores aproveitam a
ocasião para uma preparação no Mundo Espiritual, a fim de que, no dia
seguinte, o médium apresente-se maleável para atender as Entidades
programadas. Os Instrutores desdobram o medianeiro e acoplam nele o
Espírito necessitado das terapias que serão utilizadas durante a
doutrinação. No dia seguinte, o médium acorda sentindo mal-estar, que
somente desaparece depois da prática mediúnica. Aqueles que não
tenham tempo, no dia da reunião mediúnica, para a preparação
necessária, deitem-se mais cedo, leiam uma página edificante refletindo
sobre o seu conteúdo, tenham uma noite tranquila, façam uma assepsia
mental cuidadosa, predispondo-se para a atividade do dia imediato. Enfim,
façam um pré-operatório, porque em decorrência da correria da vida atual
a condição física ideal é muito difícil de ser conseguida.”

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MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

6 - Quais os critérios recomendados pelos Mentores Espirituais para


permitir a frequência de pessoas à prática mediúnica?
R: “(...) Para que uma pessoa possa conscientemente participar da prática
mediúnica é necessário, em primeiro lugar, conhecer os postulados
espíritas, inclusive a mediunidade. É muito comum pessoas envernizadas
de falsa cultura, dizerem: ‘Eu não creio’. Deixam a impressão de que o fato
delas afirmarem que não creem, dá-lhes autoridade para negar a
realidade. Embora alguém assevere a sua descrença, não invalida a
existência real do que nega, em nenhum ângulo. Por isso é necessário que
a pessoa tenha percorrido antes o caminho da cultura espírita, em torno do
assunto, para chegar a uma conclusão positiva ou negativa. O Espiritismo
é, sobretudo, uma doutrina de bom senso. A mediunidade funciona como
porta de informação. Logo, é necessário saber-se o que ela é e como
ocorre o transe mediúnico, para se inteirar do que se passa durante a sua
prática. (...) Para se evitar o enxovalhamento do fenômeno mediúnico é
imprescindível selecionar-se os componentes do grupamento de trabalho
para o intercâmbio com os desencarnados. Portanto, a mediunidade tem
de ser examinada para que a pessoa saiba o funcionamento dos seus
mecanismos e, assim, adquira o senso de avaliação. Na convivência
grupal passa a conhecer de perto os demais participantes da prática
mediúnica. Este é o seguro critério doutrinário.”

7 - As comunicações são programadas de antemão pelos Instrutores


espirituais?
R: “Sempre, mesmo quando alguns Espíritos dizem que não. Interessante
ressaltar que as barreiras magnéticas existentes impedem a entrada no
recinto da reunião de Entidades não programadas, isto no caso de uma
prática mediúnica séria, com assistência disciplinada. Quando essas
Entidades acham que romperam a proteção magnética é porque, na
verdade, foi facilitado o seu ingresso no local do intercâmbio espiritual.
Vamos admitir que uma pessoa seja invigilante e atraia o seu desafeto: a
entrada deste é vetada, embora o indivíduo possa estabelecer uma
vinculação com esse Espírito odiento, de ordem puramente psíquica e à
distância. O médium atormentado poderá ensejá-la por meio de
telementalização, o que dá margem a alguém, inadvertidamente, achar
que as defesas magnéticas da reunião foram insuficientes para impedir tal
ocorrência.”

8 - Quantos Espíritos devem manifestar-se por um mesmo médium em


cada reunião e qual deve ser o tempo de duração da incorporação?
R: “Tratando-se de um grupo com muitos médiuns atuantes, duas
comunicações são suficientes para cada sensitivo, excepcionalmente, três.

123
MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

Deve-se evitar um número maior de passividades por causa do desgaste


físico e psíquico do médium. O tempo ideal de uma incorporação fica entre
cinco e dez minutos, no caso de Espíritos sofredores. Quanto aos
Mentores Espirituais, não há uma estipulação de tempo porque eles
revigoram o medianeiro enquanto se comunicam.”

9 - É justo que o frequentador de reunião mediúnica permaneça, o tempo


inteiro, desejando comunicações de Espíritos que tenham ligações com
ele?
R: “Causa-nos surpresa, muitas vezes, a qualidade das Comunicações nas
práticas mediúnicas. Normalmente, alguém que tem uma mãe, um pai ou
irmão desencarnado, quando passa a frequentar uma reunião mediúnica
espera logo que venha o familiar conversar com ele para dar-lhe uma
prova da imortalidade da alma e, por conseguinte, da continuidade da vida
além da sepultura. Raramente isso acontece. As comunicações que
ocorrem são geralmente de Espíritos sofredores. Por que será? Por uma
razão muito lógica: a prática mediúnica não se destina a dar fé a quem não
a tem; a sua finalidade é de ordem terapêutica para o atendimento aos
desencarnados que sofrem. Daí, ser dividida em duas partes: a de
educação mediúnica, também conhecida como de desenvolvimento, e a de
desobsessão, funcionando como terapia para os problemas psíquicos.”

10 - Que conselho você dá aos médiuns principiantes que ainda não


sabem definir bem os limites entre suas ideias e as que vêm dos Espíritos?
R: “Quando sentirem algo, deem expansão. Não tenham a preocupação de
monologar: ‘Ah! Será que sou eu mesmo?’. A prática mediúnica é um
laboratório. Estamos participando dela como intermediários do bem e não
como cientistas ou pesquisadores à cata da perfeição absoluta. (...) Deve-
se dar campo à comunicação, cabendo ao doutrinador avaliar se é
fenômeno anímico, mediúnico ou nervoso. Deixa-se a porta aberta e, em
caso de dúvida, pergunta-se ao doutrinador no término da prática
mediúnica: ‘O que você achou daquela comunicação?’. Deve existir um
mínimo de confiança entre os componentes de uma reunião mediúnica,
porque, havendo este clima, a resposta virá com naturalidade. (....)”

11 - Observam-se médiuns com permanentes dúvidas quanto à


autenticidade das comunicações, mesmo quando estas ocorrem por seu
intermédio. Como superá-las?
R: “Insistindo no exercício da educação mediúnica. Sempre usamos uma
imagem um tanto grotesca. Quando se vai ao dentista, a primeira frase
que ele pronuncia é: ‘Abra a boca’. Se nós dissermos: ‘Não vou abrir’,
nada poderá ser feito. Na prática mediúnica a primeira atitude do sensitivo

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é abrir a boca (da alma) e ficar aguardando a ideia para exteriorizá-la. A


tarefa do doutrinador — que conhece a pessoa — é a de examinar o que o
médium está falando. Daí, a necessidade do relacionamento antecipado
para aquilatar a qualidade do comunicado.”

12 - Alguns médiuns sentem com muita intensidade as dores "físicas" e


morais dos Espíritos que se manifestam por seu intermédio. A que atribuir
este fato?
R: “A melhor maneira de educar a mediunidade de alguém é através da
presença de Entidades que lhe transmitem sensações desagradáveis, para
que o médium iniciante supere os conflitos de ordem pessoal. Os Mentores
espirituais trazem os Espíritos doentes para a proximidade do médium
que, ao se concentrar, registra no seu psiquismo as sensações
deprimentes que provocam dores físicas. Este fato é perfeitamente
compreensível, porque a morte destrói o corpo, mas não a estrutura
energética do ser pensante. Quando essa estrutura sintoniza com o
perispírito do sensitivo, transmite-lhe as sensações que o Espírito registra,
e o médium passa a ter a mesma sintomatologia da morte daquele que
está dando a comunicação: crise de tosse, por causa de uma tuberculose
pulmonar; angústia, proveniente de uma úlcera gástrica ou duodenal; as
dores do infarto do miocárdio ou de um câncer; podendo-se identificar o
gênero de morte, pela sensação que o médium experimenta e exterioriza.
Com frequência as pessoas interrogam qual a finalidade da vinda desses
sofredores, simplesmente, porque eles, com a sua energia deprimente,
produzem impacto no médium, que não estava sentindo nada, e passa a
registrar sensações desagradáveis, que somente desaparecem depois do
término da prática mediúnica. Então, o monólogo acontece
espontaneamente: ‘Curioso, eu entro bem e fico doente, saio e fico ótimo.
Isto não é uma coisa que estava em mim. É algo que chega até mim
durante algum período’. Diante de tal raciocínio, os conflitos íntimos acerca
da autenticidade do fenômeno começam a ‘bater em retirada’, e o médium
torna-se um instrumento seguro.”

13 - Por que existem médiuns que sentem tanto mal-estar nos dias que se
antecedem à prática mediúnica e outros nada sentem?
R: “Prova para o médium. Allan Kardec fala dos médiuns naturais e dos
médiuns de provas. Os de provas são aqueles que captam as
comunicações antes e sofrem com elas. É uma forma de autodepuração.
Isto vai creditado para diminuir lhe o débito de certas doenças e problemas
morais que viriam. Enquanto o Espírito fica acoplado ao médium, ele está
com sua carga de sofrimento diminuída e o sensitivo com a sua
aumentada. A dor fica dividida; o médium sofre e resgata; o Espírito sofre

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menos, recebendo os benefícios da caridade anônima, complementada


através do momento de esclarecimento e do choque anímico.”

14 - Qual o requisito para ser um bom doutrinador e como se conduzir no


exercício dessa função?
R: “Para alguém ser um bom doutrinador não ‘basta’ ter boa vontade.
Recordo-me que, quando estava muito em voga o termo boa vontade, um
Espírito escreveu pela psicografia o seguinte: A boa vontade não basta -
Já afirmava Goethe que 'não pode haver nada pior de que um indivíduo
com grande dose de boa vontade, mas sem discernimento de ação'.
Acontece que a pessoa de boa vontade, não sabendo desempenhar a
função a contento, termina fazendo uma confusão terrível. O médium
doutrinador, que é também um indivíduo susceptível à influência dos
Espíritos, pode desajustar-se no momento da doutrinação, passando a
sintonizar com a Entidade comunicante e não com o seu Mentor e, ao
perturbar-se, perde a boa direção mental ficando a dizer palavras a esmo.
Observa-se, às vezes, mesmo em reuniões sérias, que muitos
companheiros excelentes, ao invés de serem objetivos, fazem verdadeiros
discursos no atendimento aos Espíritos sofredores, referindo-se a detalhes
que não têm nada com o problema do comunicante. Não é necessário ser
um técnico, um especialista, para desempenhar a função de doutrinador.
Porém, é preciso não abdicar do bom senso. Deste modo, quando o
Espírito incorporar, cabe ao doutrinador acercar-se do médium e escutá-lo
para avaliar o de que ele necessita. Não é recomendável falar-se antes do
comunicante procurando adivinhar aquilo que o aflige. A técnica ideal,
portanto, é ouvir o que o Espírito tem a dizer, para depois orientá-lo, de
acordo com o que ele diga, sempre num posicionamento de conselheiro e
nunca de um discutidor. Procurar ser conciso, porque alguém em
perturbação não entende muito do assunto que seu interlocutor está
falando. Torna-se imprescindível que o doutrinador ausculte a
problemática da Entidade. O comunicante deve ser encaminhado ao
autodescobrimento. Não adianta falar-lhe sobre pontos doutrinários,
porque ele não se interessa. Vamos ilustrar: Chega uma pessoa com dor
de cabeça e aconselha-se: ‘Tome um analgésico, descanse, depois vamos
conversar’. Isto significa dar o remédio específico para o problema do
paciente. No atendimento mediúnico o doutrinador deve ser breve, porque
nas discussões infindáveis e nas doutrinações que não acabam nunca o
medianeiro se desgasta excessivamente, e o que se deve fazer é
preservá-lo ao máximo.”

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MÓDULO 09: RECORDANDO ALGUNS CONCEITOS

15 - Quando um médium interrompe o exercício mediúnico por muito


tempo, como deve proceder para retornar às suas atividades de
intercâmbio espiritual?
R: “Pelo começo. Quando nos encontramos em qualquer atividade que
interrompemos e desejamos retornar, deveremos submeter-nos a uma
nova disciplina, a um novo exercício, porque durante esse período ficamos
com as nossas possibilidades e reflexos muito prejudicados. Na
mediunidade, porque faltou o exercício, deveremos voltar a fazer parte de
um grupo, para sintonizar com todos os membros, após o que voltaremos
às atividades mediúnicas na condição de principiantes, até retemperarmos
o ânimo e termos condições de sintonia.”

16 - Até quando uma mulher em gestação pode permanecer atuando em


reuniões mediúnicas? É prejudicial ao feto o labor psicofônico exercido
pela mãe?
R: “Os processos da reencarnação, assim como os da psicofonia são
muito distintos. O primeiro permite ao Espírito vincular-se profundamente
ao corpo em formação, nutrindo-se, de algum modo, das energias
maternais, que contribuem eficazmente para a organização celular do
futuro ser. O segundo ocorre através da imantação, perispírito a perispírito,
entre o desencarnado e o médium, sem que isso afete o processo
reencarnatório em andamento. Não obstante, quando se tratar de uma
gravidez com problemas, é justo que se interrompam quaisquer atividades
que lhe agravem o desenvolvimento. No transcurso de gestações normais,
o inconveniente será sempre de natureza fisiológica, a partir do sétimo
mês, mais ou menos, quando a postura se torna desagradável e a
exigência de um largo período para a mulher permanecer sentada pode
tornar-se cansativo.”

-x-x-

Chegamos ao término do segundo ciclo do estudo da mediunidade,


graças a Deus! Esperamos ter contribuído para o entendimento “básico”
do processo mediúnico, compartilhando com todos um pouco da pequena
experiência que possuímos, sem a pretensão de esgotarmos os assuntos
pertinentes à complexidade da prática da mediunidade. Pois, como
aprendizes também que somos, caminhamos nas mesmas trilhas das
dificuldades que surgem, devido à nossa incapacidade de compreensão de
todas as nuanças dos fenômenos mediúnicos.
Por isso que Emmanuel, no livro Roteiro, nos recomenda:
“Mediunidade, pois, para o serviço da revelação divina reclama estudo
constante e devotamento ao bem para o indispensável enriquecimento

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de ciência e virtude”. Ele ainda nos diz: “A necessidade do Evangelho,


portanto, como estatuto de edificação moral dos fenômenos espíritas,
é impositivo inadiável. Com a Boa Nova, no mundo abençoado e fértil da
nossa Doutrina de luz e amor, possuímos a estrada real para a nossa
romagem de elevação”.
Diante de tudo isso, continuamos:

APRENDENDO
(letra: Geraldo Rezende / Música Antônio João)

Confiante em Deus
Eu irei recuperar
O tempo que deixei passar.
Aprendi o valor
Que existe na vida
A dor me fez enxergar
A necessidade de amar.
Vi nas dificuldades
O momento deste amor praticar.
Com o coração renovado
Nos ensinos do Senhor
Voltarei confiante
Ao caminho que conduz
A uma alegria constante
Que é a Paz de Jesus.
Plantarei a semente
Que por muito tempo
Não deixei brotar
E a cada irmão
Que eu encontrar
Mostrarei como é bom
Servir e amar.

-X-X-

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