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Ernani Fornari

(Dharmendra)

Sanatana
Dharma
(Textos sobre Yoga, Yogaterapia,
Vedanta, Tantra e Ayurveda)

Rio de Janeiro-RJ
2016
Copyright © 2013 by Ernani Fornari

Diagramação e capa
Rubervânio Rubinho Lima
Editoração:

editoraoxente@gmail.com

Catalogação na Publicação (CIP)


Ficha Catalográfica feita pelo autor

Fornari, Ernani,
F727u Sanatana Dharma: Textos sobre Yoga, Yogaterapia,
Vedanta, Tantra e Ayurveda/Ernani Fornari
Rio de Janeiro: Editora Oxente, 2016.
202 p.;

ISBN: 978-85-68841-98-3

1. Yoga 2. Cultura indiana


3. Ernani Fornari. I. Título

CDD: 613.704 6 CDU: 613.7

(E-book)
OM sahanah vavatu
Sahagnau bhunaktu
Saha viryam karavah vahai
Tejaswinah vaditamastu ma
Vidhvi ca vahai
(Que Deus nos aceite juntos
Que trabalhemos juntos
Que progridamos juntos
Que realizemos a Verdade
E que nunca briguemos)
À Vyasa, Patanjali, Shankara,
Buddha,Swami Tilak,
Bhagavan Ramakrishna Paramahansa,
Bhagavan Sri Ramana Maharshi,
Paramahansa Yogananda,
Joseph Le Page, Glória Arieira
E Paulo Murilo Rosas
ÍNDICE

Introdução ............................................................................. 11
O processo da Criação segundo a visão do Hinduísmo ....... 15
A visão Hindú sobre a estruturação do psiquismo ................ 20
As Gunas (as qualidades da Natureza material) ................... 27
Os Bhutas e os Doshas ......................................................... 29
Os Chakras ............................................................................ 33
Granthis, os três nós psíquicos do Tantra ............................. 40
Yoga e Yogaterapia na prevenção e no tratamento dos
desequilíbrios dos Doshas..................................................... 44
Karma e Kriya (as purificações no Yoga, no Tantra e no
Ayurveda) .............................................................................. 54
Langhana e Brimhana, o Yin/Yang do Ayurveda. Sua aplicação
no Yoga e na Yogaterapia ..................................................... 58
Tratak, o Yoga dos olhos ....................................................... 62
O Kanda. Calibrando o ponto de equilíbrio ........................... 67
Os Deuses hindús e os Mantras ........................................... 70
Yogaterapia Integrativa, uma abordagem do Yoga para o
terceiro milênio ...................................................................... 75
Reflexões sobre o ensino do Yoga e da Yogaterapia ............ 79
Pelos caminhos da Yogaterapia ............................................ 83
Quem é o dono do Yoga ? .................................................... 86
Yoga, esportes e musculação .............................................. 88
Procurando entender a India (a respeito da novela da
Globo) ........................................................................ 91
Renascimento - Prana e Pranayama como terapia ............. 98
Ortodoxos e Heterodoxos, compatibilizando os aparentes
opostos ................................................................................... 101
TEXTOS COMPLEMENTARES

O perigoso circuito do comer ............................................... 106


Quem manda no teu desejo ? ............................................... 112
5 dicas para viver uma vida mais consciente, plena e
equilibrada ................................................................ 118

BIBLIOGRAFIA ................................................................... 124


LINKS .................................................................................... 127
SOBRE O AUTOR ................................................................. 131
AGRADECIMENTOS ............................................................ 133
OUTROS LIVROS DO AUTOR ............................................ 137
INTRODUÇÃO
Minha inserção no universo oriental (especialmente no hindu)
começou em 1974 aos 18 anos quando comecei a praticar Hatha
Yoga com um amigo surfista, que foi também quem me apresentou
a alimentação Macrobiótica e ao vegetarianismo. Posteriormente fui
praticar Yoga (método Shri Yogendra) com o saudoso Vitor Binot (quem
se lembra da musica da Joyce, “Monsieur Binot”?).
Dois anos depois, aos 20 anos, fui morar no campo, e a partir
dalí pude viver toda a vanguarda do movimento alternativo e aquariano
brasileiro.
Fiz parte da primeira geração dos “hippies de Mauá” (tive o
primeiro restaurante natural de Visconde de Mauá, o “Céu da Boca”),
morei em comunidades alternativas, morei em ashrams, fui aos
primeiros ENCAs (Encontro Nacional de Comunidades Alternativas),
ví nascer os movimentos naturalista, espiritualista e ecológico no Brasil,
e fiz parte da primeira leva de produtores orgânicos do Rio de Janeiro,
pois trabalhei por mais de 10 anos com apicultura e com agroecologia.
Paralelamente à isso, continuei desenvolvendo meus estudos
e minhas práticas de Yoga e Vedanta, e sobretudo, sempre escrevendo
muito.
Assim, publiquei um dos primeiros livros de Agricultura
Ecológica e um dos primeiros dicionários de Ecologia - lançado na Eco
92 - editados no Brasil.
Aos 27 anos conhecí Swami Tilak, um monge hindu que havia dado,
descalço e com dois panos enrolados no corpo, duas voltas ao redor
do mundo sem ter ou pedir nenhum tostão a ninguém. Não pertencia
nem havia criado nenhuma seita ou escola nem, como ele mesmo dizia,
fundado nenhum “ismo”. Apenas estava nos lugares onde o levavam e
alí ele distribuía seu Conhecimento e sua Sabedoria com total desapego,
sem fazer questão de ter discípulos, fama ou alguma instituição dando
suporte.
Este ser especial, que faleceu um ano depois, iniciou-me em 1983
com o nome espiritual de Dharmendra, e desde então tem sido uma das
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minhas grandes referências não só dentro do universo hinduísta, como
em relação ao meu próprio desenvolvimento pessoal/espiritual.
Em 1996, aos 40 anos, voltei para a cidade grande depois de 20
anos na roça, e (re)iniciei minha vida profissional com Yoga, Yogaterapia
e com Ayurveda, e posteriormente com Xamanismo.
Fiz formações profissionais em Hatha Yoga, Dakshina Tantra
Yoga, Yogaterapia Integrativa, Massoterapia, Ayurveda, Renascimento,
Reiki, fui professor em curso de formação de instrutores de Yoga (ABPY)
e ministrei cursos de Massoterapia Ayurvédica.
Nesse meio tempo entrei de sócio, juntamente com Ralph
Viana, de um dos mais tradicionais espaços de Yoga e terapias do Rio
de Janeiro – o Espaço Saúde (ex- Instituto Ganesha) - onde estou até
hoje trabalhando como instrutor de Yoga e como terapeuta.
Em 1998 iniciei minha inserção no universo xamânico e
posteriormente aprendi uma poderosa técnica terapêutica xamânica
chamada “Alinhamento Energético”, e com esta terapia venho
trabalhando desde 2003 no Brasil e na Europa (onde o trabalho se chama
Fogo Sagrado) fazendo palestras, atendimentos individuais, workshops,
eventos e formando terapeutas.
O presente livro é uma coletânea – revisada e aumentada – dos
artigos e matérias que venho escrevendo desde 1996 para publicações
da área alternativa, terapêutica e espiritualista (tais como os jornais
cariocas Quiromance, Ganesha, Prana, Oxigênio, Essência Vital,
YinYang, Folha Esotérica, Bem Estar, Qualittá, Madhava, Estar Bem,
etc.) bem como para dezenas de sites do cyberspace espiritualista,
naturalista e ecológico brasileiro.
Como bom aquariano (e com meio de céu em Gêmeos),
minha postura no universo hindu nunca foi a de aderir ou de seguir
exclusivamente uma escola, Mestre ou linha específica, mas a de
procurar ter uma visão bem ampla e panorâmica - e profunda - desse
antigo e complexo universo cultural e espiritual oriental, e assim
desenvolver minha visão de mundo e construir meu caminho pessoal
sempre dentro de uma ótica eclética, universalista e ecumênica.
Os textos aqui apresentados, embora tenham como foco
central o universo filosófico e “tecnológico” Hindu, são apresentados
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e desdobrados dentro de uma perspectiva aberta e isenta, sem estar
vinculada a nenhuma leitura ou interpretação específica ou particular,
e oferecendo, inclusive, analogias com outras fontes de Conhecimento
como a Psicologia ocidental, a Fisica Quântica e o Xamanismo.
Ofereço este livro para todos os colegas, clientes e alunos que
passaram pela minha vida profissional, como a minha humilde e honesta
contribuição pelos 40 anos de estudo, pesquisa e prática e pelos 20 anos
de intensa atividade profissional como instrutor de Yoga, yogaterapeuta
e massoterapeuta.
E também ofereço este livro como uma comemoração pelo
fechamento de um ciclo, já que o lançamento deste livro coincide com
a minha aposentadoria e com meu retorno ao sitio (onde morei por 20
anos entre os 20 e os 40 anos) após mais de 15 anos de muitas vivências
e experiências na cidade grande.

NAMASTE !
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O PROCESSO DA CRIAÇÃO SEGUNDO A VISÃO


DO HINDUÍSMO

O conceito filosófico que versa sobre o contraponto dialético Absoluto/


Relativo (ou Unidade/dualidade, Permanente/impermanente, Manifesto/
imanifesto, etc.) é muito presente em quase todas as antigas culturas da
Terra: os chineses chamam o Absoluto de Tao e o grande movimento dual e
mutante do Universo de Yin e Yang; muitos índios norte-americanos chamam
o aspecto Absoluto de Deus de Wakan-Tanka (o Grande Mistério), Maheo ou
Tunkashila e o Espírito Criador de Manitou (o Grande Espírito); os índios
brasileiros Guaranys chamam o Absoluto de Nhamandú e o aspecto criador
de Deus de Tupã Nhanderú. Já os africanos chamam o Absoluto incriado
de Olorún e o Deus pessoal Criador de Oxalá; e os hindus chamam o Ser
Absoluto de Brahman e o Deus pessoal de Ishwara (ou Bhagavan).
No universo filosófico hindu a investigação sobre Deus, a Criação
e o homem (e sua alma) é dividida em 6 grandes escolas - Darshanas ou
“pontos de vista”- que vão procurar abordar as mesmas temáticas por caminhos
diferentes. Meu Mestre dizia que os Darshanas são como um cubo, que é uma
única peça com 6 lados.
Estes Darshanas são: Nyaya (trata da busca das grandes respostas
da existência através do desdobramento da Lógica. Esta escola influenciou
não só a estruturação teórica e metodológica das outras 5 escolas, como
influenciou também a estruturação da Lógica ocidental); Vaisheshika (trata
da compreensão da Criação através do estudo da natureza física do Universo.
É a Fisica Quântica dos Vedas. É a mãe hindu da Física moderna); Samkhya
(escola que versa sobre o complexo processo psico/físico/energético de como
a Consciência, o Absoluto – Purusha - se manifesta e se desdobra como
concreto, relativo, material - Prakriti); Yoga (escola que versa sobre as técnicas
e metodologias para se alcançar a experiência da Unidade – o Samadhi, e
que se desdobra em várias linhas, cujas principais são: Jnãna Yoga, Yoga do
Conhecimento e da Sabedoria; Bhakti, Yoga do Amor e da Devoção; Karma,
Yoga da ação sem apego; Raja, Yoga da Meditação e Hatha, Yoga dos corpos
físico e energético); Mimamsa (escola que versa sobre a elaborada tecnologia
dos rituais e cerimônias védicas) e Vedanta (que versa sobre a Filosofia pura)
Como é intrínsecamente característico e tradicional da filosofia hindu
sofrer muitos comentários e leituras de seus textos feitos por muitos Mestres
ao longo dos séculos, a escola Samkhya recebeu importantes releituras de seus
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ensinamentos. Vamos apresentar aqui três destas perspectivas, que se por um
lado diferem um pouco na forma de se apresentar teórica e técnicamente, por
outro mantém o mesmo espírito que norteia a cultura védica.

1. Segundo H.Zimmer:

A partir da manifestação de Prakriti com suas Gunas, surge o nível


causal - Buddhi / Mahat - a potencialidade suprapessoal das experiências.
De Buddhi manifesta-se Ahamkara, o ego, cuja função é apropriar-se
dos dados da consciência e errôneamente os atribuir ao Purusha.
De Ahamkara manifestam-se:

 Manas (a mente, a faculdade de pensamento).


 os 5 Jñana Indriyas (órgãos dos sentidos: ouvido/Shrotra, pele/Twak, olhos/
Chakshuh, língua/Rasana e nariz/Ghrana).
 os 5 Karma Indriyas (órgãos da ação: bôca/Vak, mãos/Pani, pés/Pada, ânus/
Payu, genitais/Upasthani).
 os 5 Tanmatras (os elementos sutís, primários, compreendidos como as
contrapartes internas e sutís das 5 experiências sensoriais, a saber: som, tato,
cor e forma, sabor e odor - Shabda, Sparsha, Rupa, Rasa, Gandha).
 os Parama-Anu (átomos sutis dos quais temos consciencia nas experiências
do corpo sutil)
 os Sthula Bhuta ( os cinco elementos densos: éter, ar, fogo, água e terra,
que constituem o corpo denso e o mundo visível e tangível, dos quais temos
conhecimento pelas experiências sensoriais).

2. Segundo Dr. Vasant Lad:

Da interação Purusha/Prakriti, manifesta-se Mahat (Buddhi), que


manifesta Ahamkara (ego), e deste manifestam-se as três Gunas.

De Sattwa, manifestam-se:

 As cinco faculdades dos sentidos (Jñana Indriya): ouvidos, pele, olhos,


língua, nariz.

 Os cinco órgãos motores (Karma Indriya): boca, mãos, pés, órgãos


reprodutores, órgãos excretores.
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 A Mente (Manas).
De Tamas manifestam-se:

 Som (Guna do éter - Akasha)


 Tato (Guna do ar - Vayu)
 Visão (Guna do fogo - Agni ou Tejas)
 Paladar (Guna da água - Apah ou Jala)
 Olfato (Guna da terra - Prithivi)

Rajas não manifesta nenhum Tattwa em especial.

3. Segundo Shri Shankaracharya:

Segundo Shankara, o Absoluto - que ele chama de Brahman - quando


se manifesta na relatividade, na dualidade, chama-se Ishwara, o Deus Criador,
o Deus pessoal / impessoal também chamado de Bhagavan (O Senhor). É o
mesmo Jeovah dos judaico-cristãos e o Allah dos mulçumanos.
Ishwara atua na Criação dual como Purusha (a Consciência, o Espírito
Eterno, o principio masculino, o Pai) e como Prakriti (a Natureza material
impermanente, o movimento e a substância do Universo, o principio gerador
feminino, a Mãe).
Esta Prakriti, ao manifestar-se para criar – no processo de
Panchikaram, a densificação - atua na Criação através do movimento das
Gunas (Sattwa, Rajas e Tamas).
As Gunas quando se interagem para manifestar a Criação, desdobram-
se nos Tanmatras, os 5 elementos sutis universai: Akasha/Èter, Vayu/Ar, Tejas/
Fogo, Apah/Água e Prithivi/Terra (ainda não são os 5 elementos materiais, e
sim, a matriz energética destes).
Do aspecto Sattwico do Tanmatra Akasha (éter), manifesta-se o Jñana
Indriya (órgão de conhecimento, aferência sensitiva), Ouvido.
Do aspecto Sattwico do Tanmatra Vayu (ar), manifesta-se o Jñana
Indriya, Pele.
Do Sattwa de Apah (água), manifesta-se o Jñana Indriya, Língua.
Do Sattwa de Tejas (fogo), manifesta-se o Jñana Indriya, Olhos.
Do Sattwa de Prithivi (terra), manifesta-se o Jñana Indriya, Nariz.
A soma dos aspectos Sattwa de cada um dos 5 Tanmatras, vai
manifestar o Antahkarana (ou “órgão interno” que é como os hindus chamam
o que nós chamamos de “mente”): Buddhi (a instância mais elaborada do
complexo psíquico humano, responsável pelo discernimento, pelas escolhas,
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e também pela capacidade de observar sem julgar), Manas (a mente que
pensa, racional. O conteúdo de Manas chama-se Chitta ou memória, que gera
os Vrittis, ou movimentos da mente – os pensamentos) e Ahamkara, o ego
individual.
Do aspecto Rajasico do Tanmatra Akasha, manifesta-se o Karma
Indriya (órgão de ação, eferência motor), Bôca.
Do aspecto Rajasico do Tanmatra Vayu, manifesta-se o Karma Indriya,
Mãos.
Do Rajas de Tejas, manifesta-se o Karma Indriya, Pés.
Do Rajas de Apah, manifesta-se o Karma Indriya, Ânus.
Do Rajas de Prithivi, manifestam-se os genitais.
A soma dos aspectos Rajas dos Tanmatras vai manifestar os 5 Pranas.
Prana é a energia vital que sustenta o incessante movimento universal, e
subdivide-se em 5 sub-Pranas: Apana (movimento descendente, centrífugo
e catabólico, gerenciando no ser humano tudo o que tem que ser eliminado,
expelido, excretado. Está relacionado ao Chakra Muladhara e ao elemento
Terra); Vyana (movimento que gerencia a circulação, o fluir, o distribuir.
Está relacionado ao Chakra Swadhisthana e ao elemento Água); Samana
(a assimilação, a transmutação, o metabolismo. Está relacionado ao Chakra
Manipura e ao elemento Fogo); Prana (movimento ascendente e centrípeto.
Está relacionado ao Chakra Anahata e ao elemento Ar); e Uddana (movimento
ascendente e centrífugo. Está relacionado aos Chakras Vishuddha – elemento
Éter - e Ajña).
E a soma dos aspectos Tamas dos 5 Tanmatras vai manifestar os
Mahabhutas ou 5 elementos materiais: Éter ou Espaço (Akasha), Ar (Vayu),
Fogo (Agni ou Tejas), Água (Jala ou Apas) e Terra (Prittivi).
Tanmatras também significam os 5 sentidos físicos (audição, paladar,
olfato, visão, tato), que são relacionados com os Jñana Indriyas.
Continuando, e trazendo para o Ayurveda este assunto que foi
desdobrado até agora por Shankara:
As combinações destes 5 Mahabhutas vão originar os Doshas (Vata
– Éter/Ar; Pitta – Fogo/Água e Kapha – Água/Terra, veja o texto adiante).
Continuando a expansão e a pluralização da Prakriti, cada Mahabhuta
é constituído dos 5 Mahabhutas (por exemplo, o Vayu/Ar é formado pelo Ar
do Ar, pelo Fogo do Ar, pela Água do Ar, pela Terra do Ar e pelo Éter do Ar,
e assim por diante).
A soma do Agni (Fogo) de cada um dos 5 Mahabhutas (chamados de
Bhutagnis) vai formar Jataragni, o Fogo corporal e digestivo.
O Jataragni na forma dos Dhatuagnis (Agni dos Dhatus, os tecidos
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corporais) vai processar todo o ciclo da absorção e metabolismo dos alimentos.
O produto deste metabolismo em seu nível energético mais sutil vai resultar na
produção de Ojas, a energia que alimenta a mente e a reprodução da espécie.
Os Dhatus são os tecidos com os quais o corpo é constituido. Os
Dhatus processam os alimentos que ingerimos, cada Dhatu se desdobrando
no Dhatu seguinte: primeiro temos Rasa (o plasma, elemento Água), que cria
Rakta (o sangue, elemento Fogo), que cria Mamsa (os músculos, elemento
Terra), que cria Medha (a gordura, elemento Terra), que cria Ashti (os ossos,
elemento Ar), que cria Majja (a medula, elemento Espaço), que cria Shukkra
e Artava (os tecidos reprodutivos, que agregam e combinam todos os 5
elementos).
O produto desta alquimia de transmutação é a energia Ojas, que
circula por todo o sistema junto com a energia Prana. Prana é transportado
pelas Pranavaha Nadis, e Ojas pelas Manovaha Nadis, que funcionam como
se fossem um fio ou conduto duplo, paralelo.
Ojas está relacionada com a energia que Freud chamou de libido. A
libido se expressa no segundo Chakra como a capacidade de gerar vida, no
sexto Chakra como a capacidade de gerar idéias e no quinto Chakra como
a capacidade de expressar a vida e estas idéias na forma de pensamentos,
palavras e obras. Porisso determinadas vertentes do Hinduismo recomendavam
o celibato como uma forma de não gastar Ojas com sexo e assim direciona-la
para a mente.
Já na Mitologia diz-se que o Absoluto Brahman se manifesta na
dualidade, na relatividade, como a Trimurti, isto é, os três deuses que criam
(Brahma), mantém (Vishnu) e destroem (Shiva) o eterno e impermanente
Universo material, num imenso e interminável “Lavoisier” cósmico.
Cada Deus expressa a Consciência, o principio masculino Yang, e cada
esposa (Shakti) de cada Deus (Saraswati, Lakshmi e Durga, respectivamente)
expressa o poder criador e gerador, feminino, Yin.
A criação do Universo acontece quando Brahma expira, precipitando
a Criação (o Big-Bang!) através do poder de Shakti/Prakriti e de suas Gunas.
Quando Brahma inspira o Universo é reabsorvido, através da dança
cósmica de Shiva (Nataraja).
Após um intervalo (Pralaya), o Ciclo volta a se manifestar...
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A VISÃO HINDÚ SOBRE A ESTRUTURAÇÃO DO
PSIQUISMO

“Quem sou eu?” é, sem dúvida, a pergunta mais importante do


universo humano.
E é claro, “De onde vim e para onde vou?”, “Quem é Deus?”, e tantas
outras perguntas do mesmo teor que vem na seqüência.
E em toda a história da Humanidade, o homem mergulhou
intensamente na busca desta resposta. Para tanto, criou inúmeras religiões,
filosofias, teologias, mitologias, ciências e psicologias, sempre na ânsia
ancestral, atávica e visceral de desvendar aquilo que os índios norte-americanos
chamam de “O Grande Mistério”.
A idéia central das culturas orientais e xamânicas – a Unidade – traz
o conceito de que tudo é Um, de que o Universo é um único organismo,
consciente e totalmente interligado e interagente, e que toda a percepção e
sensação de separatividade é uma ilusão (maya).
Os hindus chegam a dizer que a única doença de que nós realmente
sofremos – todas as outras (físicas e psíquicas) são um desdobramento desta
– é Avidya, a ignorância da nossa natureza real, a Unidade.
E é assim que nós nos sentimos : totalmente cindidos, fragmentados.
Tanto externamente – nos sentimos separados de cada semelhante, da Natureza
e do que acreditamos que seja Deus, quanto internamente – corpo, cabeça e
coração raramente estão em equilíbrio.
Na tarefa humana de caminhar para a Luz, em primeiro lugar é
importante perceber que quando trabalhamos conosco no auto-conhecimento
ou com outra pessoa (se formos terapeutas), estamos fundamentalmente
lidando com duas instâncias altamente relevantes da personalidade - a auto-
imagem e a persona – que são construções psico-emocionais limitadoras mas
paradoxalmente desenvolvidas por nós - inconscientemente, na maior parte
do tempo - para nos proteger.
A auto-imagem é “quem eu acredito que eu sou”. É o sistema de
crenças e padrões que nós construímos em função das nossas experiências
dolorosas e sofridas (e claro, das positivas e interessantes também), e que nos
dão uma imagem e uma perspectiva geralmente distorcida de nós mesmos,
e que na maior parte das vezes nós sentimos como sendo algo limitador e
desfavorável, ou ao contrário (mas pela mesma razão), o ego infla e a pessoa
se sente exageradamente o máximo, para não entrar em contato com suas
dores.
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A persona é “quem eu quero que acreditem que eu sou”. São as nossas
máscaras e papéis sociais (o filho, o pai, o profissional, o cidadão, o marido,
etc.etc.) que funcionam em parceria com a auto-imagem, e que procuram
compensar esta, quando ela é desconfortável e parece ser desfavorável.
E a auto-imagem e a persona são competente e eficientemente
fomentadas, mantidas e monitoradas pelo complexo ego/mente racional.
A auto-imagem e a persona são componentes importantíssimos na
construção da nossa visão de mundo, a chamada “realidade” (que em ultima
instância, é o que nós acreditamos que a vida é).
Outro movimento do psiquismo - e que foi percebido por S. Freud -
são as pulsões da busca do prazer e da evitação da dor. E todo o complexo
corpo/mente trabalha neste sentido: o de nos manter afastados do contato com
a dor.
Na infância quando passamos por experiências traumáticas, estas
impressões (o que nós sentimos com o que supomos que aconteceu) são
“escondidas” no inconsciente. Freud chamou a isto de recalque. A intenção
é que não tenhamos que estar sempre entrando em contato com nossas dores
(ou com o que o inconsciente acredita serem dores), pois seria insuportável
viver assim, lembrando o tempo todo de tudo o que de ruim e sofrido nos
aconteceu.
O problema é que estas dores continuam vivas no inconsciente,
forjando e nutrindo a teia de crenças e padrões que irá contribuir decisivamente
na formação do caráter e da personalidade, e também na somatização de
doenças físicas, psico-emocionais e/ou sociais.
Ou seja, paradoxalmente, o mesmo procedimento interno que trabalha
para nos proteger, nos limita e (aparentemente) nos sabota como um eterno
exercício de obstáculo X superação e crescimento.
Vamos deixar a Psicologia Hindu dar um subsídio filosófico:
Em primeiro lugar, se tanto as tradições orientais quanto as xamânicas
dizem que somos seres multidimensionais e holográficos, isto quer dizer que
existimos simultaneamente em infinitos níveis, certo?
Na Filosofia Hindu, temos duas formas de codificar as multi-
dimensões do ser humano: uma trina - os Shariras, ou corpos - mais usada
pelo Yoga, e outra quíntupla - os Koshas, ou envoltórios - mais usada pela
Vedanta. São apenas divisões de caráter didático, já que estas dimensões não
são tridimensionais - são holográficas - e estão todas simultâneamente se
interpenetrando (assim como acontece com os Chakras).
Os Shariras ou corpos, são 3: o Sthula Sharira ou corpo denso (o
corpo físico), o Sukshma Sharira ou corpo sutil (o corpo de energia, o corpo
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emocional e o corpo mental) e Karana Sharira ou corpo causal.
É no Sukshma Sharira onde operam a Homeopatia, a Acupuntura,
Reiki, Cura Prânica, Aromaterapia, Cristais, Cromoterapia, etc.
Karana Sharira se chama corpo causal, porque é nesse nível onde
se localiza a causa da ignorância primordial (Avidya). Mas é também neste
nível que acontecem as escolhas (é o centro do discernimento) e é onde se
localiza a mente Testemunha, a perspectiva interna neutra e observadora
buscada na Meditação. É a “Visão da Águia” dos xamãs e é onde acontecem
as canalizações e as conexões mediúnicas e sensitivas. E este também é o
nível que faz a “interface” do estado de consciência separada com o estado
da Unidade Absoluta (Nirvana, Samadhi, Moksha, Kaivalya, Satori).
Os Koshas são chamados de envoltórios (ou bainhas) porque são as
camadas que ilusóriamente prendem e condicionam o Espírito (Atma). São 5:

- Annamaya Kosha, ou corpo físico


- Pranamaya Kosha, o corpo de energia (que os ocultistas chamam de
Duplo-etérico e os espíritas de Perispírito). Neste nível circulam as
Pranavaha Nadis (condutos energéticos que transportam os Pranas)
- Manomaya Kosha, o corpo psico-emocional. Neste nível circulam as
Manovaha Nadis (condutos de energia que transportam Ojas, a energia
mental. Ojas é a quintessência energética extraída dos alimentos pelos
Dhatus – os 7 tecidos corporais)
- Vijñanamaya Kosha, o corpo psíquico
- Anandamaya Kosha, o corpo psico-espiritual.

Vijñanamaya Kosha é onde opera o discernimento, a capacidade de


se escolher e discriminar entre o que é real ou irreal.
Assim como o Karana Sharira, Anandamaya Kosha é o portal, a
interface para o estado da Unidade.
O Sthula Sharira (bem como sua correspondente Annamaya Kosha)
está relacionado a Guna Tamas; o Sukshma Sharira (Prananamaya, Mano
Maya e Vijñanamaya Kosha) está relacionado a Guna Rajas; e Karana Sharira
(Anandamaya Kosha) a Guna Sattwa.
O complexo psíquico (que os hindus chamam de Antahkarana, ou
órgão interno) é formado por:

• Buddhi. É a parte mais elevada do complexo psíquico. Num primeiro


nível, Buddhi trabalha com o discernimento, as escolhas e as opções. Desde
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as escolhas inconscientes - como, por exemplo, as que faz o sistema nervoso
autônomo - passando pelas opções e escolhas conscientes do dia-a-dia,
até a mais elevada das formas de discernimento que é o questionamento
sobre o que é real e o que é irreal na existência ( que é o que os hindus
chamam de Viveka). Em um nível mais elevado de atuação, Buddhi é a
Mente Testemunha (a “Visão da Águia” dos xamãs), o nível da Meditação
e da neutralidade onde não há julgamento.

Abarca também o Inconsciente.


Buddhi é quem sedia e administra os Samskaras - os registros e impressões
psico-emocionais, que vão gerar os Vasanas (tendências e padrões).
O Buddhi atua no nível de Karana Sharira (e Vijñanamaya kosha).

• Manas é a mente pensadora. Administra os estímulos que vem através da


aferência dos sentidos (Jñana Indriyas) e da atividade da memória (Chitta
, conteúdos do consciente e do inconsciente), administra as escolhas e
opções de Buddhi, e produz os Vrittis (pensamentos, movimentos mentais,
mente racional) e as respostas psico-motoras (Vasanas) através dos Karma
Indriyas (órgãos de ação).

• Ahamkara, o ego. Trabalha em parceria com Manas na função de se


manter a identificação da Consciência Una com o estado ilusório de
separatividade (Maya). Os sentidos, o ego e a mente racional mantém
a Consciência ilusoriamente identificada com a personalidade e com as
Gunas (os movimentos impermanentes da Natureza).

E como este Anthakarana trabalha ?

Quando os nossos sentidos apreendem algum objeto, informação


ou estímulo, dois mecanismos disparam automaticamente : o corpo mental
associa ao elemento percebido um nome (Nama) e uma forma (Rupa) e o corpo
emocional avalia se aquele determinado elemento me atrai (Raga) ou se eu o
rejeito (Dwesha) – bem no estilo das pulsões “busca do prazer / evitação da
dor” freudianas.
Em outras palavras os sentidos captam, a mente e o emocional
enquadram e o ego identifica com eu/meu.
Assim enquadramos toda a Realidade Una em pequenas unidades
ilusoriamente separadas, mantemos a ignorância da nossa natureza real, e
ficamos vivendo aprisionados em uma realidade construída por nós mesmos.
24 | Ernani Fornari
Se o estímulo ou informação que recebemos através dos sentidos
(Jñana Indriyas) é alguma coisa muito forte e traumatizante, ou se por outro
lado, são estímulos ou informações que se repetem com periodicidade, isto vai
imprimir Samskaras (impressões, registros psico-emocionais) no inconsciente,
que vão por sua vez, produzir Vasanas (crenças, hábitos, tendências e padrões)
e, juntamente com Citta (a memória), produzir os Vrittis (movimentos da
mente, pensamentos, atividade racional).

Algumas imagens para exemplificar:

1. Imagine que o seu complexo psíquico é um lago : o reservatório em si


é a mente (Manas); o conteúdo – a água – é Chitta, a memória consciente
e inconsciente; o fundo do lago é o Ser, a Unidade coberta pela “poeira”
de Chitta que forma “bancos de areia” (Samskaras) em função dos
movimentos internos e da superfície (Vrittis); por sua vez, os movimentos
ondulatórios da superfície são os Vrittis (pensamentos, atividade racional) e
Vasanas (tendências) cujos padrões são produzidos pelo perfil topográfico
do fundo (Samskaras).
Quanto mais nivelado e liso estiver o fundo, mais tranqüilas serão as águas
da superfície e vive-versa.

2. Uma carruagem: Buddhi é o condutor, Manas são as rédeas, Ahamkara


é a carruagem e os cavalos são os sentidos (Indriyas).

3. Estou em um campo e de repente vejo um touro enfurecido correndo em


minha direção: os Jñana Indriyas captam a imagem , Manas processa a
informação (“vendo um touro correndo”), Ahamkara identifica com o eu
(“eu estou vendo um touro correndo”), Buddhi faz as escolhas (“eu estou
vendo um touro correndo e furioso, e vai me pegar. Tenho que correr”), e
os Karma Indriyas executam a ação de fugir.

Bem, é claro que todos os processos de auto-conhecimento e


crescimento, deve ser acompanhados da fundamental fórmula:

conscientizar  aceitar  entender


a função  transformar e integrar
Sanatana Dharma | 25
Sem a consciência e a aceitação amorosa dos nossos padrões e
movimentos internos dolorosos e limitadores (ou da sombra, como bem
denominou C.G.Jung) não podemos nos transformar e melhorar.
Mas a conscientização da sombra sem a sua aceitação com
compreensão, neutralidade e compaixão, também não leva ao crescimento.
Pode talvez levar à depressão.
Isto acontece também porque estamos terrivelmente infectados por
um veneno criado pelo homem que é a culpa.
A culpa foi fomentada por algumas religiões com a exclusiva finalidade
de manter a auto-estima pessoal baixa para assim poder-se dominar e manipular
mais facilmente as pessoas.
Para respaldar a culpa inculcou-se a idéia de que somos pecadores
congênitos, e que só teremos nossa salvação se nos submetermos a um Deus
que nos julgará e que vive em um paraíso distante distribuindo castigos e
recompensas. Isso tudo poluiu terrivelmente o saudável processo da evolução
psico-emocional / espiritual humana, especialmente da cultura ocidental.
Junto com a aceitação de nossa sombra (que é apenas a ilusória – e
temporária - ausência da Luz), precisamos também aceitar e resgatar nossa
natureza divina e perfeita, e aceitar o fato de que nossa sombra é apenas a
ignorância de nossa natureza real – a Unidade.
A sombra é o material de que dispomos para trabalhar nosso
crescimento, são os exercícios, obstáculos, provas e testes que aceitamos
trabalhar para evoluir. E também é todo o nosso potencial não reconhecido e,
portanto, sub utilizado.
É absolutamente necessário que substituamos a culpa pela
responsabilidade. Não somos passivas marionetes do Universo. Somos seus
co-criadores ativos.
Não existe necessáriamente nenhum Deus em guerra constante contra
o Mal.
O chamado “mal” são os obstáculos, testes, dificuldades, exercícios,
conflitos e confrontos que temos que lidar em nossa caminhada de crescimento.
Ou seja, a função do mal não é vencer o Bem, é se transformar em
Bem. Assim como a função da sombra não é apagar a Luz, é se transformar
em Luz.
Na Mitologia Hindú esta visão fica bem clara, ao colocar os demônios
(asuras) como devotos de Deus (Shiva) que eram geralmente Saddhus
ou monjes que por alguma razão foram amaldiçoados e tranformados em
demônios para cumprirem alguma função e normalmente recebem de Shiva
grandes poderes.
26 | Ernani Fornari
E aí eles tem que ser mortos e liberados por Deus (Vishnu) para
voltarem a sua condição original de Santos e Sábios.
A vida que vivemos, o que somos e o que nos acontece é fruto 100%
das nossas escolhas e opções – conscientes ou inconscientes, feitas nesta ou
em outra(s) vida(s). E isto é a grande maravilha da vida, pois nos confere o
poder de nos responsabilizarmos totalmente por nós mesmos e transformar
totalmente nossa existência em qualquer tempo.
O fato de que o Universo é um único Ser totalmente integrado como
uma grande teia holográfica, onde cada componente funciona como um ímã
atraindo e repelindo energia, coisas, pessoas e situações – tudo devidamente
gerenciado pela lei do Karma (especialmente em suas manifestações como
Sincronicidade e Ressonância) – faz com que estejamos constantemente
atraindo as coisas, pessoas e situações necessárias para nosso aprendizado e
evolução. Esta é a forma que a Vida utiliza para nos ensinar.
Isto, além de demonstrar o funcionamento da fantástica Inteligência
Universal, anula completamente qualquer possibilidade de culpas, castigos
divinos, azar e vitimismos.
Então, a grande pergunta que devemos estar sempre nos fazendo cada
vez que algo ou alguém desagradável cruza nosso caminho é: “O que eu tenho
que aprender com isso? Porque eu atraí esta pessoa ou situação?”
Sanatana Dharma | 27

AS GUNAS
As qualidades da Natureza material

A Consciência É, desde sempre. Quando Ela manifesta movimento – que


é quando ocorre o chamado Big Bang – inicia-se a Criação, cuja natureza intrínseca
é ser simultâneamente toda consciente e toda movimento - sempre impermanente
e mutante.
A característica da Consciência é ser una e permanente (natureza absoluta),
ao contrário da Criação, que é dual e em constante modificação (natureza relativa).
Percebendo isto, os orientais trataram de compreender e codificar este
movimento universal.
Assim, os chineses, por exemplo, falam do Tao e de Yin e Yang.
À Consciência os hindus deram os nomes de Purusha ou Brahman
(o princípio Uno, masculino, espiritual), e a este eterno movimento dual e
impermanente do Universo material, os nomes de Prakriti, Shakti ou Maya (o
poder gerador - o princípio feminino, material).
Prakriti manifesta-se nos três padrões do movimento universal. Estes
padrões chamam-se Gunas (ou qualidades da natureza material) e expressam a
dialética maior da Criação:

1. Sattwa, é o padrão de movimento que faz com que, à partir do movimento


inicial onde começa a expansão do Universo, já exista uma força operando
no sentido da volta ao estado primordial – a Pura Consciência Absoluta e
incriada. Sattwa expressa o movimento para cima e para dentro. Sattwa é
a sutileza, o elemento Éter (Espaço), a harmonia, o equilíbrio, a luz, a paz,
o amor. Sattwa é a tolerância, a compaixão, a não julgamento, a intuição,
o desapego, a honestidade e a ética. Sattwa é a porta, o último degrau que
leva à experiência do nosso estado original – a Unidade. Daí os hindus
terem desenvolvido toda uma cultura e toda uma filosofia que pretendem
trazer a vida do dia-a-dia para uma freqüência vibratória mais Sattwica.
Assim é no Yoga (nos trabalhos psico-energético-corporais), no Ayurveda
(na alimentação e na medicina), no Vastu Shastra (o Feng-Shui hindu),
ou seja, tornar a vida cada vez mais sattwica, mais dentro do Dharma (a
virtude, a retidão).
Sattwa Guna pode ser representada pela cor amarela, dentro das 3 côres
básicas.
Está relacionada a Karana Sharira (corpo causal) e a Anandamaya Kosha
(corpo de bemaventurança) e aos três Chakras superiores
28 | Ernani Fornari
2. Rajas, que é a própria expressão do movimento, do Karma, dos elementos
Ar, Fogo e Água. Rajas é o movimento da expansão do universo, o
movimento centrífugo. Rajas é a paixão, o impulso, a explosão, o calor, a
força da construção, da objetividade, da determinação.
É a cor vermelha.
Rajas, quando desequilibrado, também é a raiva, a ansiedade, a pressa, a
violência, a inveja, o ciúme, o ego inflado.
Está relacionada a Sukshma Sharira (o corpo sutil, psico-emocional/
energético), a Pranamaya Kosha (corpo de energia), Manomaya Kosha
(corpo psico-emocional) e Vijñanamaya Kosha (corpo psico-espiritual);
aos Doshas Pitta (fogo/água) e Vata (ar/éter) e aos Chakras Swadhisthana
(água), Manipura (fogo) e Anahata (ar).

3. Tamas, representa a inércia, o movimento que estagna, a tendência de


paralizar. É o movimento descendente. Representa também a densidade
material, a estrutura física, o pêso. É o movimento de retração do universo.
Equilibrado, leva a um bom sono, calma, compaixão, paciência, tolerância.
Desequilibrado,Tamas é a preguiça, a avareza, o apego, a complacência, o
ciúme. É o medo, a angustia, a depressão, a tristeza, a baixa auto-estima. A
sombra. Fomenta a manutenção das coisas como elas estão – na ignorância
de nossa Natureza verdadeira (ignorância chamada pelos hindus de Avidya).

Tamas relaciona-se aos elementos Água e Terra e à cor azul.


Está relacionada a Sthula Sharira (o corpo denso), Annamaya.
Kosha (corpo físico), ao Dosha Kapha (água/terra) e aos Chakras.
Swadhisthana (Água) e Muladhara (Terra).

Na Mitologia Hindu, Sattwa se expressa através de Vishnu, o poder que


mantém e administra e relação desequilíbrio / equilibrio no Universo. Rajas se
expressa no poder criador de Brahma (não confundir com Brahman, o Absoluto).
E Tamas se expressa através do poder destruidor de Shiva, que destrói para que
haja renovação.
A grande alquimia interna, o grande segredo da transmutação, é utilizar
o movimento e o impulso de Rajas equilibrado, para sedar Tamas e estimular
Sattwa. Normalmente o que se faz é justamente o contrário: Rajas desequilibrado
desequilibra Tamas (que por sua vez também desequilibra Rajas) e seda Sattwa.
Sanatana Dharma | 29

OS BHUTAS E OS DOSHAS

A reflexão sobre o processo da Criação do Universo, tem mobilizado


a Humanidade desde sempre. Todas as Mitologias de todas as culturas, falam
abundante e detalhadamente sobre este assunto, tão rico em conhecimento
simbólico e arquetípico.
Em qualquer que seja a Tradição que se pesquise, pode se perceber
as mais diversas leituras e versões deste processo – a Criação - onde o mais
sutil, o Tao, o Absoluto, vai se precipitando – do infinito ao finito, do abstrato
ao concreto, do absoluto ao relativo - até se manifestar como matéria densa
aparentemente aprisionada em uma dimensão tridimensional de relatividade
– espaço/tempo - cuja principal característica é estar em contínuo movimento,
sempre impermanente, sempre mutante.
E esta matéria densa, estágio final do processo da Criação, é formada em
ultima análise, pelos 5 elementos (Mahabhutas) que são as matrizes da matéria.
Nossa cultura ocidental reconhece 4 elementos : Ar (Vayu), Fogo (Agni
ou Tejas), Água (Apas ou Jala) e Terra (Prittivi). Os hindus falam de 5
elementos, incluindo Akasha – Éter ou Espaço. E os chineses também falam
de 5, incluindo Madeira e Metal.

O fato, é que além da importância que os elementos tem como fatores


constitutivos da matéria física, estes também tem um rico e complexo
simbolismo arquetípico, representando qualidades universais que atuam em
todos os níveis da nossa existência.
O Yoga, o Ayurveda e a Medicina Chinesa, e também as culturas xamânicas,
estruturaram seus sistemas tendo como alicerces o conhecimento dos elementos
.
 O Ar, por exemplo, no seu sentido mais equilibrado (Sattwa), fala da
leveza, do frescor, da rapidez, da respiração, das idéias e reflexos rápidos, da
capacidade de mudar rapidamente e de sacudir a poeira da energia estagnada.
No seu sentido desequilibrado (Rajas/Tamas), o Ar fala da dispersão, da
secura, da ansiedade, dos medos, da inconstância, da “cabeça à mil”, da frieza
afetiva e da dificuldade de expressar as emoções e os sentimentos. Falta de
aterramento e de raiz.
 O Fogo, na sua polaridade equilibrada, fala da capacidade de processar
e digerir (desde alimentos até emoções), de transmutar a sombra em Luz,
de poder pessoal saudável e ego bem equilibrado, de criatividade. Fala da
30 | Ernani Fornari
capacidade de construir (desde coisas até a sua própria história), de reciclar.
Na sua polaridade desequilibrada, o Fogo é a raiva destruidora, o ego
inflado e tirânico, a volubilidade, a indigestão.
No Xamanismo o Fogo é o Avô com quem se aprende as lições das
outras dimensões. Os índios dizem que quando estamos em torno do Fogo os
nossos corações estão no mesmo nível e todos neste momento são Um.
Os hindús, que também fazem muitos rituais com Fogo, dizem que o
Fogo físico (que fica no centro) representa o Ser Eterno, Absoluto, e as coisas
que são oferecidas ao Fogo (ghee, cereais, ervas) simbolizam nosso ego que
é oferecido por nós para ser dissolvido no Fogo Universal.

 A Água, em seu lado equilibrado, fala do livre fluir das emoções, da


alegria, do “jogo de cintura” e da flexibilidade. Fala do feminino, da juventude
e da limpeza (em todos os sentidos).
Em seu lado desequilibrado, a Água pode expressar uma emocionalidade
desequilibrada, (tendendo não para a raiva como no Fogo, mas para
o “dramalhão”), o movimento de “ir na corrente” deixando-se levar
passivamente pela correnteza.
Mas se por outro lado as águas são represadas, ou vazam por algum outro
lugar, ou a represa pode, em alguma hora, estourar.

 Finalmente, a Terra, que em sua qualidade mais equilibrada expressa


estrutura, aterramento, enraizamento, objetividade, disciplina, coragem,
determinação, memória, saúde física, prudência, capacidade de lidar bem
com as questões materiais.
No desequilíbrio, o elemento Terra expressa imobilidade, dificuldade de
mudar. Tristeza , apego, avareza, egoísmo, medo, peso, depressão, baixa
auto-estima e preguiça.

Muitas foram as formas que os povos antigos desenvolveram para


compreender, sistematizar e instrumentalizar este conhecimento de modo a
que ele fosse útil no processo de auto-conhecimento e crescimento.
No universo Hindu, os elementos (chamados de Mahabhutas) se
relacionam com as Gunas, com os Chakras, e também com os Doshas, que
é o que vamos tratar aqui.
A Medicina Tradicional Hindu, a Medicina Ayurvédica, trabalha a
partir do levantamento de uma tipologia básica que irá nortear todo o processo
terapêutico. Esta tipologia baseia-se nos 5 elementos e expressa como estes
Sanatana Dharma | 31
elementos estão atuando e se movimentando na fisiologia psico/física/
energética humana.
E o Ayurveda estabeleceu 3 tipos característicos: Vata, expressão dos
elementos Espaço e Ar ; Pitta, Fogo e Água e Kapha, Terra e Água.
Todos nós nascemos com os 3 Doshas formando uma configuração
que é pessoal e intransferível (Prakriti). E em cada um de nós os elementos
atuam e influem de maneiras absolutamente singulares.
Pense bem, o que tem mais no Universo é espaço, não é mesmo ?
Além do espaço sideral em si, existe um enorme espaço no nível atômico da
matéria do qual a gente não se apercebe.
O astrofísico Carl Sagan dizia que se pudéssemos espremer todo o
planeta Terra de modo a que não houvesse mais nenhum espaço inter-atômico,
toda a matéria da Terra caberia em um dedal...
E, por outro lado, o elemento mais quantitativamente presente na
esfera do nosso planeta é o Ar.
Isto configura Vata como o Dosha principal, no sentido de ser aquele
que desequilibra os outros Doshas justamente pela sua rapidez e volatilidade.
Veja lá em cima no elemento Ar as suas qualidades. Vata representa exatamente
isso : como este Espaço e este Ar se movimentam em você e que padrões de
desequilíbrio eles produzem e mantém.
No nosso corpo Vata gerencia a mente, o sistema nervoso, a respiração, os
ossos e articulações, os braços e as mãos, a dor, os movimentos peristáltico,
cardíaco e pulmonar.
Desequilíbrios de Vata trazem stress, ansiedade, medo, fobias, má
memória, prisão de ventre, problemas reumáticos, insônia, anorexia alimentar.
O Dosha Vata está relacionado a Guna Sattwa quando equiibrado e
a Guna Rajas (Fogo/Água) quando desequiibrado. E aos chakras Anahata
(Ar) e Vishuddha (Espaço).
Depois temos o Fogo. O Fogo que cozinha, que consome, que aquece,
que ilumina, que queima e que transmuta.
Em nós este Fogo é Pitta. Pitta é o fogo digestivo que trabalha os
alimentos, é o fogo que mantém nossa temperatura a 36,5o, é o fogo que digere
as emoções, é a sensualidade e a energia sexual, é a alegria e a coragem, é o
poder de construir, de ser inteligente, objetivo e vitorioso.
Em nosso corpo Pitta gerencia a digestão, o sistema cardio- vascular, as
pernas e os pés, os olhos e a visão, as trocas gasosas nos pulmões, a assimilação
dos alimentos, a atividade enzimática nas células.
Desequilíbrios de Pitta acarretam irritabilidade, impaciência, raiva
e violência, intolerância, teimosia, bulimia, distúrbios sexuais, neuroses
32 | Ernani Fornari
compulsivas, problemas gástricos, visuais, dermatológicos e cardio-vasculares.
O Dosha Pitta está relacionado a Guna Rajas (Fogo/Ar) e ao Chakras
Swadhisthana (Água) e Manipura (Fogo)
Finalmente temos a Água e a Terra.
Lembre que 2/3 do planeta e 2/3 do nosso corpo são feitos de Água!
A Água e a Terra em movimento em nosso sistema psico-físico chama-
se Kapha.
Kapha fala do que há de mais material em nós, em todos os sentidos.
Gerencia a estrutura física e os líquidos corporais.
Em desequilíbrio leva a preguiça, ao desânimo, tristeza, depressão,
avareza, excesso de apego, excesso de sono, bulimia, obesidade (retenção de
gordura e liquido) e diabetes.
Equilibrado, facilita o bom sono, a calma, afeto, carinho, compaixão,
simpatia, relaxamento.
O Dosha Kapha está relacionado a Guna Tamas (Terra/Água) e aos
Chakras Muladhara (Terra) e Swadhisthana (Água).
Sanatana Dharma | 33

OS CHAKRAS

Os Chakras são literalmente usinas captadoras e redistribuidoras de


energia cósmica (Prana).
Existem muitos Chakras – cada articulação, por exemplo, tem um
Chakra – mas sete são os principais e os mais conhecidos.
Os Chakras operam em todos os nossos corpos, do físico ao mais
sutil, por isso o Tantra diz que os Chakras possuem 3 níveis:

• o nível das pétalas, que gerencia nossa vida física, material, corporal;
• o nível do botão, que administra nossa vida interna, psico-emocional
eggjkrtggvnnd energética;
• o nível da raiz que tem a ver com nossa vida espiritual, com o nível da
Consciência Una.

Daí a representação gráfica dos Chakras ser uma flor de lótus que se
enraíza na coluna (nossa face posterior, o inconsciente, subjetivo, a Sushumna
Nadi) e se abre em nossa face anterior (o nível consciente, objetivo, Ida e
Pingala).
Apesar de vermos os Chakras desenhados nos livros em duas
dimensões parecendo um sistema linear e analógico, os Chakras são
fundamentalmente estruturas holográficas.
Os Chakras também expressam estruturas simbólicas, arquetípicas e
sistêmicas que se aplicam tanto no nivel humano quanto no nível coletivo.
Estaremos então, pontuando além das tradicionais caracteristicas
de cada Chakra (e com as quais a maioria dos interessados no assunto, com
certeza, já estão bastante íntimos), também as suas características mais gerais,
mais coletivas : as fases da vida da Humanidade, a relação do homem com
Deus e a relação do homem com a manutenção e a reprodução da sua espécie.
Os sete Chakras mais importantes são:

1. Muladhara, Chakra básico, raíz. Relaciona-se com as três tarefas mais


atávicas dos seres vivos: se alimentar, se reproduzir e se defender. Gerencia
o nosso aterramento, nosso enraizamento no planeta. No corpo físico está
localizado no períneo, e gerencia as pernas, pés e ânus.
Está relacionado com o elemento Terra, com as glândulas suprarrenais
(a adrenalina é o hormônio do Chakra básico, preparando o corpo para luta-
34 | Ernani Fornari
e-fuga), com o plexo nervoso coccígeo (os plexos nervosos e as glândulas
endócrinas são a interface entre o nível físico do corpo e o nível energético
dos Chakras) e com a região coccígea da coluna vertebral.
Bem equilibrado (com a predominância da Guna Sattwa), o
Chakra Muladhara propicia a objetividade, a coragem, a determinação,
organização, disposição para o trabalho e para superar obstáculos, saúde física,
relacionamento harmônico com as coisas mais materiais da vida (dinheiro,
propriedades, p.ex.).
Hiperenergizado (ou com predominância da Guna Rajas) pode gerar
avareza, violência, apego, pouca sutileza, atração por formas mais densas de
religião ou mesmo pelo agnosticismo ou ateísmo.
Hipoenergizado (com predominância da Guna Tamas) pode gerar
baixa auto-estima, excesso de medo, de tristeza, depressão, dificuldade de
trabalhar e obter prosperidade material, fuga da realidade com sexo, drogas,
religião, etc.
Nesta fase inicial da sua vida, o homem apenas se alimenta, excreta
e dorme, em total entrega e dependência, e ainda “pensa” que ele e a mãe são
uma unica pessoa.
Na relação do homem com Deus, é a fase da Humanidade – os homens
das cavernas – onde a emoção primordial e dominante é o medo. Medo do
conhecido e do Desconhecido. Medo dos imprevisíveis fenômenos naturais.
Quem lembra do inicio do filme “2001 uma odisséia no espaço”, quando chega
a noite e todos de amontoam numa caverna com medo da noite? Nesta fase,
o homem ainda se experimenta como ser totalmente coletivo.
É a fase da Humanidade onde o movimento para procriar expressava
exatamente a clássica imagem do troglodita arrastando a mulher pelos cabelos.
Deu o “cio”, arrasta-se a primeira fêmea que aparece. É a pulsão de reprodução
em seu estado mais puro, animal.
No plano mais geral, o Chakra Muladhara tem relação com a Guna
Tamas (enraizamento, estrutura), com Annamaya Kosha e com Sthula Sharira
(o corpo físico), com o Dosha Kapha (Terra/Água), com o Prana Apana
(aspecto descendente da energia vital – Prana – que gerencia tudo o que é
expelido do corpo), com o Brahma Granthi e com a Shakti Kriya (o poder de
agir que rompe este Granthi, veja a seguir o texto sobre os Granthis).
Está relacionado também ao anel muscular pélvico (segundo Wilhelm
Reich).
Seu Mantra é LAM, sua cor é vermelho, sua nota é DÓ e o animal
relacionado com este Chakra é o Elefante.
Sanatana Dharma | 35
Ganesha é um dos deuses do panteão Hindu que podem perfeitamente
ser relacionados ao Muladhara Chakra.

2. Swadhishthana, ou Chakra sexual, está relacionado ao elemento água.


Sendo assim, gerencia tudo o que circula, desde os diversos líquidos corporais
até as emoções. É o Chakra da sexualidade, do prazer e dos relacionamentos
em geral. A Libido é a poderosa energia de criação e reprodução (chamada
no Ayurveda de Ojas). Reprodução da espécie e também criação daquilo
que devemos deixar, através dos nossos talentos e potenciais, para as outras
gerações - a nossa obra),
No corpo físico está centralizado no púbis e relaciona-se com os órgãos
reprodutores (e com as glândulas sexuais), com o plexo nervoso sacral, com
toda a cintura pélvica e com a região sacro-lombar da coluna vertebral.
Bem energizado (Sattwa) facilita uma emocionalidade e uma sexualidade
equilibradas. Facilidade para se relacionar bem e viver a vida com prazer.
Hiper energizado (Rajas) pode acarretar em personalidade agressiva,
taras sexuais, sadismo, problemas na região pélvico-lombar.
Hipo energizado (Tamas) pode gerar impotência e frigidez sexual,
masoquismo, preguiça, dificuldades com sentimentos e emoções.
Nesta fase da vida, o bebê que antes só comia e excretava e pensava
que ele e a instância alimentadora e protetora eram a mesma pessoa, percebe
que isso é bom, é prazeiroso. É a manifestação do princípio do prazer, a libido.
Na relação com Deus, é a fase em que a humanidade percebe que por trás
dos fenômenos naturais que provocavam medo, deviam haver diretores,
provavelmente são seres colossais que dominam os elementos. E aí começou-
se a criar vias de contato com estas dimensões energéticas e espirituais,
desenvolvendo as complexas tecnologias dos rituais, cerimônias e sacrifícios,
tão presentes até hoje nas culturas orientais e xamânicas.
É também a fase da humanidade em que para procriar, o nosso
trogolodita já não arrasta a primeira mulher “no cio” que ele encontra. Agora
ele escolhe, seleciona de acordo com seu gosto.
O Chakra Swadhishthana tem relação geral com as Gunas Tamas
(Terra/Água) e Rajas (fogo), com Pranamaya Kosha (o corpo de energia), com
Prana Vyana (que gerencia a circulação dos líquidos orgânicos e da energia
pelo corpo) e com os Doshas Kapha (Terra / Água) e Pitta (Fogo / Água).
Está relacionado também ao anel abdominal da psicologia Reichiana.
Seu Mantra é VAM, sua cor é laranja, sua nota é RÉ e o animal relacionado
à este Chakra é o crocodilo (e o jacaré).
36 | Ernani Fornari
3. Manipura, ou Chakra do plexo solar, elemento fogo. Relaciona-se com
o ego, o poder pessoal, o sentido de individualidade (como eu, indivíduo,
me experimento e consequentemente como me posiciono no coletivo e nas
relações). Gerencia tudo aquilo que deve ser digerido : alimentos, pensamentos
e emoções.
No corpo físico, relaciona-se com o pâncreas, com o plexo nervoso
Epigástrico, com o sistema digestivo em geral e com a interface entre as
regiões lombar e torácica da coluna vertebral.
Bem energizado (Sattwa) liberta do medo, facilita a compaixão e a
importância com os sentimentos alheios, liberta da necessidade de controlar a
si mesmo e aos outros. Apresenta boa autoestima, auto valor e poder pessoal.
Hiperenergizado (Rajas) produz o tirano, o raivoso, temperamental explosivo,
o egoísta, o egocêntrico, o hipócrita. Também produz azia, gastrite, problemas
no fígado.
Hipoenergizado (Tamas) facilita a complacência, a baixa auto-estima, a
subserviência, a hipocrisia, anorexia, a tendência a mascarar suas inseguranças
e dificuldades, a atitude de superioridade que vem compensar o sentimento
de inferioridade.
Nesta fase da vida do homem, o bebê descobre que ele e a mãe são
dois seres separados. É o princípio da individualização.
Na relação da Humanidade com Deus, é a fase em que o homem
percebe que por trás dos “diretores” tem um “Presidente”. É o surgimento do
Monoteísmo. É um Deus único - mas ainda pessoal - “o que devemos temer”,
o Deus que tem a “ira divina”. É o Jeovah das religiões cristãs-judaica e o
Allah dos mulçumanos, por exemplo.
Em relação a evoução da Humanidade, é a fase em que o homem além
de selecionar a(s) fêmea(s) com quem quer acasalar, desenvolve o sentimento
de exclusividade (“é só minha!”). É o princípio da família, dos clãs, da contínua
fragmentação e reorganização do bôlo gregário do início.
Este Chakra faz a interface entre os níveis animal e humano no homem.
Está, no geral, relacionado a Guna Rajas (Fogo/Ar), a Manomaya
Kosha (o corpo psico-emocional), ao Prana Samana (que gerencia os processos
de assimilação), e ao Dosha Pitta (Fogo / Água).
Relaciona-se também com o anel diafragmático de W.Reich.
Seu Mantra é RAM, sua cor é amarela, sua nota é MI e o animal relacionado
a este Chakra é o carneiro.
Rama é a divindade Hindu – o “padroeiro” do Dharma - que podemos
relacionar ao Manipura Chakra.
Sanatana Dharma | 37
4. Anahata, o Chakra cardíaco, relaciona-se com o elemento ar.
No corpo físico, relaciona-se com a respiração, com os pulmões e o
coração, bem como com a glândula timo, com os plexos nervosos cardíaco e
pulmonar e com a região torácica da coluna vertebral e a cintura escapular.
E também com sentimentos, afetos, amor, carinho, alegria, beleza,
devoção.
Localiza-se no centro do peito e é o Chakra dos braços e das mãos.
Bem energizado (Sattwa), facilita o desapego, o amor incondicional,
a devoção, o altruísmo, a compaixão.
Hiperenergizado (Rajas) pode produzir sentimentalismo exagerado,
personalidade egoísta, arrogante, prepotente. E também ansiedade, pressão
alta, taquicardia, bronquite.
Hipoenergizado (Tamas) acarreta em sentimento de vítima, de culpa,
passividade, sensação de medo e inferioridade, angústia no peito, asma,
dificuldade de contactar seus sentimentos, dificuldade de se aceitar, depressão.
Nesta fase da vida, a criança percebe que além do cuidado e proteção fisica
vindos daquele ser separado dela, há um sentimento, há afeto.
Na relação do homem com Deus, é a fase em que o Deus “a quem
eu devo temer” se tranforma no Deus “a quem eu devo amar”. O upgrade
do terceiro para o quarto Chakra, neste sentido, tem sido sempre fomentado
pelos Avatares ao longo da história do mundo, e Cristo é o grande simbolo
deste salto (e seu gesto de braços abertos é o grande simbolo deste Amor
incondicional).
Em relação aos relacionamentos: neste nivel, o que motiva o encontro
entre homem e mulher para procriar passa a ser o afeto, o sentimento, não
mais o desejo animal e a força. A escolha é feita pelo coração.
O Chakra Anahata está relacionado às Gunas Rajas (Fogo/Ar) e
Sattwa (Éter), a Manomaya Kosha (corpo-psico-emocional) e Vijñanamaya
Kosha (corpo psico-espiritual), ao Vishnu Granthi , a Shakti Iccha (o poder
de desejar que rompe o Vishnu Granthi), ao Prana Prana (aspecto ascendente
da energia, e que gerencia tudo o que é absorvido, bem como as atividades
cardíaca e respiratória), e aos Doshas Vata (Ar/Éter) e Pitta (Fogo/Água).
Relaciona-se também com o anel torácico de W.Reich.
Seu Mantra é YAM, sua cor é verde (alguns usam a cor rosa), sua
nota é FÁ e o animal relacionado a este Chakra é o Antílope.
Krishna é o Deus que podemos relacionar ao Anahata Chakra.
Também podemos relacionar aqui Hanuman, o Deus macaco do Ramayana,
filho do vento (Vayu), “padroeiro” do Pranayama e símbolo do devoto perfeito.
38 | Ernani Fornari
5. Vishuddha, o Chakra laríngeo, elemento espaço (éter). Gerencia a
criatividade, a voz, as glândulas tireóide e paratireóide e o plexo nervoso
laríngeo.
É o Chakra dos professores, dos artistas, dos oradores, dos terapeutas.
É o Chakra que faz a ligação entre o sentir (Anahata Chakra) e o pensar
(Ajña Chakra). Simboliza também a ponte entre as dimensões da Unidade e
da dualidade no homem.
É a interface que divide os níveis humano e divino do homem.
Bem energizado (Sattwa) permite uma boa comunicação entre
consciente e inconsciente, franqueza e sinceridade, expressão dos sentimentos
e emoções, e plena utilização dos potenciais e dos talentos criativos e
construtivos.
Hiperenergizado (Rajas) acarreta em falar demais (especialmente de
si mesmo), em expressar sua sinceridade ou seus sentimentos de forma rude,
hipertiroidismo, gula (ou bulimia).
Hipoenergizado (Tamas) produz dificuldade em exprimir suas
emoções, sentimentos e opiniões, engolir sapo, engolir choro, dificuldades com
a criatividade e com a expressão dos seus talentos e potenciais, hipotiroidismo.
Nesta fase da Humanidade, o homem percebe que por trás de um Diretor
Pessoal, Criador, há um Espírito Eterno, incriado, imanifesto, impessoal. É
mais ou menos como os Espíritas, por exemplo, conceituam Deus.
O Chakra Vishuddha está relacionado as Gunas Sattwa (Éter) e Rajas
(Fogo/Ar), a Manomaya e Vijñanamaya Kosha (corpo psico espiritual), ao
Prana Udana (aspecto da energia vital que gerencia tudo o que ocorre no
âmbito da cabeça – sentidos, cérebro e mente), e ao Dosha Vata (Ar/Éter).
Relaciona-se também ao anel oral de Reich.
Seu Mantra é HAM, sua cor é cor azul celeste, sua nota é SOL e o
Animal que está relacionado a este Chakra é o Elefante branco.
Podemos relacionar as deusas Saraswati (esposa de Brahma, deusa da
cultura e das artes) e Lakshmi (esposa de Vishnu, deusa da fortuna) ao quinto
Chakra.

6. Ajña, o Chakra do terceiro olho, está relacionado a glândula hipófise e ao


plexo nervoso Cavernoso.
No corpo físico, regula o funcionamento do cérebro - bem como da
mente - assim como os olhos, boca, nariz e os ouvidos (e também a visão,
paladar, olfato e audição).
Gerencia desde o pensamento racional cartesiano até os estados
transpessoais e meditativos.
Sanatana Dharma | 39
Bem energizado (Sattwa) facilita a visão neutra, sem julgamentos (a
“Visão da Águia” dos xamãs), o discernimento correto, o uso concentrado e
eficiente do pensamento, a utilização equilibrada do sexto sentido e também
a facilidade em silenciar a mente na Meditação.
Hiperenergizado (Rajas) produz uma mente rápida demais, com
excesso de informação, e uma vida toda centrada nessa mente. Pode produzir
também, o mau uso das faculdades extra-sensoriais.
Hipoenergizado (Tamas) pode gerar dificuldades cognitivas e de
memória, e dificuldades de abstrair e de intuir.
Neste nivel da compreensão espiritual da Humanidade, o homem
percebe a perspectiva da Unidade. A compreensão e a realização de que tudo
é Um e a separatividade é uma ilusão (Maya). “Além” do Deus impessoal (que
se contrapõe dualísticamente ao Deus pessoal, Criador), existe o Absoluto, o
Tao, Brahman, a Consciência Eterna não-dual (Satchidananda, como dizem
as Upanishads).
O Chakra Ajña está relacionado com as Guna Sattwa (Éter) e Rajas
(Fogo), com Vigñana e Anandamaya Kosha (o corpo de bemaventurança), ao
Dosha Vata (Ar/Éter), ao Shiva Granthi e a Jñana Shakti (o poder de conhecer,
que rompe este Granthi).
Sua cor é o azul marinho, sua nota é LÁ e seu Mantra é OM. O Animal
relacionado a este Chakra é a Águia.
Shiva o “padroeiro” do Yoga, do Tantra e da Vedanta, é o Deus do
sexto e do sétimo Chakras.

7. Sahasrara, ou Chakra da coroa, é o Chakra da Transcendência e da


Iluminação.
Relaciona-se à Guna Sattwa e a Anandamaya Kosha.
Alguns autores o relacionam com a glândula pineal e com as cores
violeta e branco.
É o Chakra da Unidade onde o homem concretiza a realização da sua
Natureza Real.
Sua nota é SI.
40 | Ernani Fornari
OS GRANTHIS – Os 3 nós psíquicos do Tantra

O Tantra é o mais antigo sistema de Conhecimento do universo indiano


e o que mais profundamente explorou e instrumentalizou a utilização da energia
vital no reequilibrio psico/emocional/energético - e conseqüentemente no
espiritual – do ser humano.
Dentro da complexa fisiologia energética e da psicologia do Tantra,
alguns conceitos talvez sejam mais familiares àqueles que estudam e/ou
praticam alguma forma de Yoga: as Gunas (as qualidades da natureza material:
Sattwa – o equilíbrio, Rajas – o movimento, e Tamas – a inércia), os Chakras
(os centros de energia), os Mahabhutas (os elementos da natureza), a Kundalini
(a energia primordial), os Shariras e os Koshas (os corpos e os planos da
existência), as Nadis (os caminhos da energia), os Prana Vayus (as subdivisões
funcionais da energia, Prana) e os Doshas (padrões que expressam como os
elementos da natureza se movimentam em nossa fisiologia psico-física: Vata
- espaço e ar, Pitta - fogo e água e Kapha – água e terra).
O Tantra Yoga, atuando como uma verdadeira Psicologia Energética do
Yoga, utiliza o mesmo instrumental do Hatha Yoga (Asana, Pranayama, Kriya,
Bandha, Mudra, Relaxamentos e Meditação) para fomentar o equilíbrio psico-
emocional e energético - e consequentemente o equilíbrio da personalidade
- de modo a proporcionar a experiência da Unidade.
E para tal, trabalha com a administração da complexa fisiologia
energética e das técnicas que citamos acima.
Um dos elementos interessantes desta fisiologia (e desta filosofia)
é o conceito dos Granthis, os nós psico/emocionais/energéticos que estão
posicionados ao longo da Sushumna Nadi (o conduto central de energia que
localiza-se como contraparte sutil da coluna vertebral).
A Sushumna Nadi simboliza a consciência da Unidade (energia Kundalini) e
os Granthis simbolizam os sistemas de crenças, padrões e registros (samskaras
e vasanas), com seus núcleos de boicotes, limitações , sabotagens, apegos e
falsas crenças e identificações, que devem ser transmutados e re-significados
ao longo de nossa jornada para a consciência da Unidade.
Os Granthis são como que os obstáculos psico/emocionais/
energéticos por que cada um deve passar ao longo da sua trajetória rumo ao
autoconhecimento. Ao mesmo tempo expressam as defesas e bloqueios que
construímos.
Sanatana Dharma | 41
● O primeiro Granthi é o Brahma Granthi, que está localizado na região do
Muladhara Chakra (elemento Terra). Brahma é o Senhor da Criação e o Muladhara
Chakra é o Chakra da criação material (sobrevivência e reprodução), do pé no
chão, da auto-preservação, da atuação no mundo físico, da saúde física. Diz-se
que o Brahma Granthi é o nó do samsara, do mundo dos nomes e das formas.
O Muladhara Chakra está relacionado às glândulas supra-renais
(adrenalina!) e ao Prana Apana (elemento Terra), que rege a função da
eliminação e circula em fluxo descendente.
Este primeiro nó energético faz com que a interatividade do homem
com os aspectos mais práticos da vida (trabalho, dinheiro, saúde) não fluam
com eficiência. O homem identifica-se com a criação, com seu ego, com
seu corpo e com todo o grande jogo da Maya. Neste sentido, o Brahma
Granthi fomenta o apego ao mundo e aos seus aspectos mais densos.
Brahma Granthi está relacionado com Kriya Shakti, o poder de agir, de atuar.
Este poder de agir enquanto identificado com a energia ilusória da criação, amarra
o homem ao plano denso da materialidade, ao nível mais tamásico (Guna Tamas).
Este Granthi Também está relacionado ao anéis musculares pélvico
e abdominal, da psicologia Reichiana.
Romper o Brahma Granthi leva a agir-se como o ator, e não mais
como o personagem, no interminável drama evolutivo da vida.
E Hatha Yoga (o Yoga da saúde psicofísica) e Karma Yoga ( o Yoga do
desapego) são os caminhos indicados para este nível, e seu desbloqueio libera
o corpo dos registros e padrões impressos na musculatura e nas articulações,
e desidentifica o homem do seu egocentrismo.
Superar o Brahma Granthi significa usar positiva e equilibradamente
a determinação, a objetividade, a coragem, o cuidado com a saúde e a beleza
do corpo, a prosperidade material, a paternidade.
E o deus hindu Ganesha está relacionado a este Granthi, na medida em que
o deus com cabeça de elefante simboliza o nosso próprio poder de abrir os nossos
próprios caminhos , vencer nosso medos, superar nossos obstáculos e crescer.

● O segundo Granthi é Vishnu Granthi, o nó que se localiza na região do


Anahata Chakra (elemento Ar) que é o Chakra da afetividade, dos sentimentos,
do amor, da compaixão.
Vishnu é o aspecto divino relacionado com o Amor (Rama, Krishna, etc.),
que transmuta a emoção em devoção (amor universal incondicional).
O Anahata Chakra está relacionado a glândula timo e ao Prana Prana
(elemento Ar), que rege as funções pulmonar e cardíaca, e circula em fluxo
42 | Ernani Fornari
ascendente (ao contrário de Apana) gerenciando tudo aquilo que é absorvido
(em todos os sentidos).

• Este segundo nó faz com que o homem selecione os objetos a


serem amados (meus filhos, meus amigos, meus pais, minha
casa, meu carro, etc.) e cria apego por estes objetos.

A religiosidade excessivamente emocionalizada também é uma


característica dos obstáculos criados por este nó.
Vishnu Granthi pode ser desbloqueado por Iccha Shakti, o poder
de desejar. Quando enredado por Maya (ilusão da separatividade), e sob o
impulso da Guna Rajas, o homem cria desejos e necessidades segundo seus
instintos e seus apegos. Quando o desejo se sutiliza o homem desenvolve
mumukshutwam, o desejo pela Liberação, pela Consciência da Unidade.
Este Granthi também está relacionado aos anéis musculares
diafragmático e toráxico da psicologia Reichiana.
Romper o Vishnu Granthi leva a uma interação afetiva desimpedida
abrindo caminho ao Amor Total que leva o homem à amar indistintamente
toda a Criação, expressando plena e equilibradamente as suas emoções e
dissolvendo suas couraças afetivas e relacionais.
Possibilita ainda que não se reprima nenhuma emoção vivenciada,
ao contrário, que se perceba a emoção, que se sinta, se expresse e deixe que
passe.
Bhakti Yoga (o Yoga da devoção e do Amor Universal) é o processo,
no universo hindu, mais indicado para trabalhar este Granthi, e Prema (a
realização do Amor Universal) é o coroamento deste processo.

● Finalmente, o terceiro nó, Shiva Granthi (ou Rudra Granthi), localiza-se


na região do Ajña Cakra.
Ajña é o Chakra que tanto gerencia o exercício da especulação
intelectual e racional (desde o que se refere a vazia "masturbação mental" até
à reflexão sobre o Conhecimento), quanto à própria visão da Unicidade e da
realidade de que somos a plenitude e a felicidade que buscamos.
O Ajña Chakra também está relacionado com a conexão com as outras
dimensões, com a sensitividade, a intuição, a mediunidade, e está relacionado
à glândula hipófise.
Sanatana Dharma | 43

Shiva é o deus hindu dos ascetas, do Yoga e da meditação. Simboliza


nosso próprio poder de transformar nossa vida e transmutar toda a sombra em
Luz; e também simboliza a conexão com nosso interior, com nosso centro.
Shiva Granthi faz com que o homem se perca na intelectualidade vazia
e estéril, não instrumentalizando eficientemente seu complexo psíquico para
a auto-realização.
Perder-se no caminho em função da aquisição de Siddhis (poderes
psíquicos) quando isto desequilibra o ego e a mente, também é um obstáculo
relacionado ao Shiva Granthi.
Este Granthi é desbloqueado por Jñana Shakti, o poder de conhecer.
Tanto de conhecer no sentido de acumular informações, como conhecer no
sentido do próprio Conhecimento e Sabedoria.
O desejo pela liberação, pela consciência da Unidade, despertado
no rompimento do segundo Granthi, faz com que o homem use
sua mente e intelecto para questionar e refletir sobre esta Unidade.
Shiva Granthi também está relacionado aos anéis musculares oral e
ocular, da psicologia Reichiana.

• Rompido Shiva Granthi obtem-se a visão da Realidade Absoluta.


Sattwa Guna é o impulso que permeia este nível.

• Dentro do amplo instrumental do Tantra, a principal técnica utilizada


para auxiliar no rompimento dos Granthis, é Bhastrika (o Fole), que
além de ser um Pranayama (trabalho respiratório e energético), é uma
poderosa Kriya (técnica de purificação).

Jñana Yoga (o Yoga do Conhecimento e da Sabedoria) e Raja Yoga


(o Yoga da meditação) são, dentro da perspectiva hindu, os caminhos mais
indicados para trabalhar e superar este Granthi.
44 | Ernani Fornari
YOGA E YOGATERAPIA NA PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DOS DESEQUILÍBRIOS DOS DOSHAS

"Yoga e Ayurveda caminham juntos. Yoga e Ayurveda são antigas


disciplinas de vida que tem sido praticadas há muitos séculos na
India. Eles são mencionados nos Vedas e nas Upanishads. Yoga é
a ciência da união com o Divino, com a Verdade, e o Ayurveda é a
ciência da vida. Yoga participa com o Conhecimento e o Ayurveda
com a perfeita saúde. Portanto, um yogi que não conhece Ayurveda
é um meio-yogi e um terapeuta ayurvédico que não conhece Yoga é
um meio-terapeuta ayurvédico. O objetivo do Yoga é a união com
o Ser Supremo, mas esta união só pode ser obtida quando você
tem um corpo saudável, uma mente saudável e uma consciência
saudável. Assim , Yoga e Ayurveda são os alicerces da vida. São as
duas faces de uma mesma moeda. Eles são Um. Asana, pranayama,
relaxamento, mantra e meditação são algumas das principais
prescrições do Ayurveda."
Dr. Vasant Lad

"O Yoga é o aspecto prático das escrituras védicas, enquanto que


o Ayurveda é o da cura. Na prática, ambos se superpõem."
David Frowley

Segundo o Samkhya - a filosofia pré-védica que embasa o Yoga e o


Ayurveda e que classifica e estuda todo o processo da criação do Universo - esta
criação começa a partir da interação de um princípio espiritual, transcedental
chamado Purusha, com um princípio vital, material – chamado Prakriti.
Fazendo uma analogia, Purusha seria como a eletricidade e Prakriti,
a lâmpada. A luz - neste caso a Criação - ocorre quando a Consciência e a
energia animam a matéria.
Da mesma forma como a luz gerada por uma lâmpada é fruto da
interação das três cores básicas - amarelo, azul e vermelho - a Prakriti age na
Criação manifestando suas três Gunas - as qualidades da natureza material:
Sattwa , o princípio do equilíbrio, da paz, da pureza; Rajas, o princípio do
movimento, da atividade, da paixão; e Tamas, o princípio da inércia, da
escuridão e da ignorância.
As Gunas vão interagir complexa e infinitamente dos níveis mais
sutís aos mais densos da criação, do mais espiritual ao mais abissal. Segundo
o Tantra - e este conhecimento é importante no trabalho com Yoga e com
Sanatana Dharma | 45
Ayurveda - a função de Rajas (equilibrado) é atuar de forma ativa sobre Tamas
para suprimir Sattwa, ou utilizar Sattwa para se equilibrar e suprimir Tamas.
A função de Sattwa é criar condições para a transcendência, e a de Tamas é
manter o estado de ignorância.
A partir da manifestação das Gunas surge o nível Causal – Mahat ou
Buddhi. No homem, Buddhi é o intelecto superior responsável pela faculdade
do discernimento, e é aonde centra-se Avidya, a ignorância do nosso estado
Uno, e que resulta em Maya, a identificação equivocada com esta realidade
dual, e consequentemente com o ego e com a mente. Localiza-se - usando as
duas terminologias hindus que definem os diferentes corpos e dimensões do
ser - no Karana Sharira (o corpo causal, o inconsciente) ou ainda em Ananda
e Vijñana Maya Kosha (os "invólucros" da bem-aventurança e do intelecto).
De Buddhi manifesta-se Ahamkara, o ego. Do ego manifesta-se
Manas - a mente, o receptáculo de Chitta, a matéria mental e a memória de
onde advém os Vrittis, os movimentos da mente (os pensamentos).
Nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações vão criar os
Samskaras (impressões na mente) que vão determinar os sistemas de crenças
e padrões - Vasanas (tendências), isto é, nosso caráter e personalidade. Isso
tudo se processa no nivel do Sukshma Sharira - corpo sutil (ou em Mano e
Prana Maya Kosha, os invólucros da mente e do Prana).
Em Pranamaya Kosha é que se processa o nível mais periférico dos
Chakras (as pétalas) e as Pranavaha Nadis (condutos de energia que conduzem
o Prana).
Em Manomayakosha , Ojas Shakti - a energia mental - é conduzida
pelas Manovaha Nadis (Nadis que conduzem Ojas).
Manomaya e Vijñanamaya Kosha estão relacionados ao nível mais
interno dos Chakras (botão), e Anandamaya Kosha ao nível mais profundo - a
raíz dos Chakras.
De Manas, manifestam-se os 5 Tanmatras (5 sentidos: visão, audição,
paladar, olfato, tato), os 5 Jñana Indriyas (órgãos de conhecimento: olhos,
ouvidos, pele, nariz, língua), os 5 Karma Indriyas (órgãos de ação: pés, mãos,
bôca, ânus, genitais) e os 5 Mahabhutas (elementos: terra-Prihtivi, fogo-Agni
ou Tejas, água-Jala ou Apas, ar-Vayu, éter-Akasha). Isso tudo localiza-se
no nível do Shtula Sharira, o corpo denso (ou Annamaya Kosha, o invólucro
do alimento, área de atuação do Jataragni).
Buddhi, Ahamkara e Manas, compõem o Antahkarana, ou órgão
interno.
Finalmente, da interação dos 5 Mahabhutas surge o Tridosha (os três
Doshas):
46 | Ernani Fornari
 Vata, da interação do éter com o ar: Dosha frio e seco, e que
fundamentalmente controla o movimento.
 Pitta, do fogo com a água: Dosha quente, que controla o metabolismo.
 Kapha, terra e água: Dosha frio e úmido, que controla a estrutura.

E a infinita e complexa interação destes três princípios reflete o aspecto


mais material da criação dos níveis macro ao microcósmico em todos os seres
vivos. Os Doshas também são a ponte entre nossa mente e nossa fisiologia.
Cada um dos Doshas está relacionado a uma essência sutil: Vata está
relacionado com o Prana - a energia vital, que se subdivide em 5 Pranas (ou
Vayus = ventos); Pitta com Tejas ou Agni, o fogo essencial (cujo aspecto mais
importante para o Ayurveda é Jataragni, o fogo digestivo) e Kapha com Ojas
(a energia mental e sexual) e com os liquidos corporais.
Poderíamos dizer, utilizando as palavras de Robert Svoboda, que
Prana, Tejas e Ojas "são as expressões quintessenciais dos 5 Mahabhutas em
sua aplicação à vida encarnada" e que os Doshas "são as formas mais grosseiras
de Prana, Tejas e Ojas", e "são as formas condensadas dos 5 Mahabhutas".
As três Gunas atuam interagindo-se ampla e profundamente nos e com
os três Doshas, mas de uma forma geral, Vata e Pitta relacionam-se mais a
Rajas e Kapha a Tamas (Sattwa é a Guna do equilíbrio).
Davi Frowley chama as Gunas de “Doshas mentais”.
Há mais de 5000 anos na India, desenvolveu-se a Medicina Ayurvédica,
profundamente embasada na filosofia Samkhya e no Tantra (também de origem
dravidiana pré-védica). Nesta ciência, a espinha dorsal é o conhecimento
dos Doshas e sua atuação no ser humano, tanto física, quanto psicológica ,
emocional e energéticamente.
À partir dos conhecimento dos Doshas e da origem e consequências
de seus desequilíbrios, estabeleceu-se tipologias específicas, e à partir daí
toda uma metodologia de diagnósticos, dietética, massagens, fitoterapia,
farmacologia, cirurgia, etc.
Todas as pessoas apresentam uma interação complexa destes três
princípios. O mais comum é predominar um dos Doshas, havendo o hábito
de ser dizer, por exemplo, que tal pessoa é "Vata-Pitta" ou " Pitta-Kapha",
considerando-se o Dosha predominante e o que vem em segundo lugar de
importância.
São duas, as classificações consideradas para efeito do levantamento
da tipologia pessoal: a Prakriti, isto é, a sua configuração dos três Doshas por
ocasião de seu nascimento, e a Vikriti, a configuração que se apresenta agora,
Sanatana Dharma | 47
neste momento. A sua referência de equilíbrio é a sua própria Prakritti. As
terapias ayurvédicas estarão sempre ajudando a manter e/ou trazer sua Vikriti
ao nível da sua Prakriti.
O Dosha Vata é sempre o que mais se desequilibra, geralmente também
desequilibrando os outros doshas.
Este perfil pessoal vai apontar entre outras coisas - e o que é, aliás, o
assunto central deste texto - os pontos fracos, as vulnerabilidades e fragilidades
inerentes aos Doshas predominantes, e quando em desequilíbrio.
Predominância Vata ou aumento de Vata, por exemplo, criam
vulnerabilidades na área das articulações (artroses, artrites, etc.), dos intestinos
(prisão de ventre), tendência para o consumismo, apetite instável, stress,
doenças nervosas, fobias, dores em geral, medos, insônia, e memória ruim.
Como é um Dosha frio e sêco, poderá haver tendência a se resfriar, e a ter
pele e cabelos sêcos. Tem normalmente estrutura corporal magra e ossuda.
Vata está relacionado aos 5 Pranas, pois cada Prana é um sob-Dosha
de Vata (cada Dosha tem 5 sub-Doshas), ainda assim, tem uma relação mais
intensa com os Pranas Prana (aspecto funcional do prana que gerencia os
processsos de absorção. Está relacionado ao Chakra Anahata - elemento
ar - e a glândula timo, gerenciando a respiração, atividade cardíaca, cintura
escapular , membros superiores, afetos e sentimentos) e ao Prana Udana ( É o
Prana do Chakra Vishuddha - elemento éter - e da glândula tireóide. Gerencia
voz, garganta, cervical, visão, olfato, audição, todo o cérebro, criatividade,
comunicação).
A predominância de Pitta ou seu aumento excessivo, poderá acarretar
em fragilidade na área estomacal - gastrites, por exemplo - se abusar, pois
Pitta come muito bem e em geral digere bem. Tem tendência à irritabilidade,
raiva, ódio e ciúme. É o "pavio curto", o que aliás também é péssimo para o
estômago, aumentando a secreção de ácido clorídrico, tornando-o uma vitima
potencial de úlcera.
Eventualmente pode ter desarranjos intestinais e problemas de pele.
Como é um Dosha quente, Pitta tem pouca tolerância ao calor.
Pitta está relacionado ao Prana Samana (Prana da assimilação.
Relaciona-se ao Chakra Manipura - elemento fogo e a glândula pâncreas,
gerenciando o calor corporal, a digestão, estômago, intestino delgado, fígado,
vesícula, emoção, auto-estima, poder pessoal)
Por fim, a predominância de Kapha apresenta normalmente forte
estrutura corporal com tendência a obesidade. De apetite voraz, tem tendência
a ter glicose e colesterol altos. Dorme muito. Pode vivenciar obesidade,
48 | Ernani Fornari
preguiça, pessimismo, inveja, estados depressivos, e também avareza e
mesquinhez.
Kapha tem tendência à criar muito muco, devendo ter cuidado para
evitar pneumonias, rinites, sinusites, bronquites.
E uma das principais características de Kapha é a umidade e a
oleosidade.
Kapha está relacionado aos Pranas Vyana (Prana da circulação.
Está relacionado ao Chakra Swadhisthana - elemento água - e às glândulas
reprodutoras, gerenciando a circulação dos líquidos pelo corpo, a cintura
pélvica, região lombar, sensualidade, sexualidade e reprodução) e Apana
(Prana da eliminação. Relacionado ao Chakra Muladhara - elemento terra
- e as glândulas supra-renais, e gerencia a base, as pernas e os pés, intestino
grosso, ânus, excreções de uma forma geral, instinto de defesa, apego, medo).
Então, para ajudar na promoção da saúde e no tratamento das doenças,
o Ayurveda utiliza o Yoga como uma das suas mais importantes ferramentas
terapêuticas. Aliás, todo o conhecimento - teórico e prático - espiritual,
filosófico e terapêutico hindu repousa sólidamente sobre os pilares do
Ayurveda, do Yoga, do Tantra e da Vedanta.
Seguindo a premissa ayurvédica de que todo o trabalho deve ser
absolutamente personalizado, a Yogaterapia ayurvédica (chamada pelo Dr.
Vasant Lad de AyurYoga) vai buscar atuar de encontro às particularidades
tipológicas de cada um , utilizando o instrumental do Hatha e do Tantra
Yoga - Asana (posturas), Pranayama (respirações), Kriya (limpezas), Bandha
(contrações), Mudra (gestos energéticos), Mantra (vocalizações energéticas),
Nidra (relaxamento) e meditação - que podem ser associados a práticas
ayurvédicas complementares, tais como massagem, dietética e fitoterapia.
A prática yóguica mais diretamente relacionada com os Doshas
é a Pavana Muktasana (literalmente "liberação dos ventos" - articulares,
estomacais e intestinais).
Trata-se de uma técnica formada de 4 séries de exercícios físicos e
respiratórios:

aA primeira série chamada "anti-reumática" (ou Sukshma Vyayama :


exercícios sutís), trabalha mobilizações que movimentam todas as articulações
do corpo, desimpedindo o fluxo energético por atuar sobre os Chakras
auxiliares localizados em cada articulação do corpo. As articulações acumulam
toxinas oriundas principalmente da má alimentação e da vida sedentária. Esta
série está relacionada a Vata Dosha.
Sanatana Dharma | 49
a A segunda série chamada "anti-gastrítica" (ou Apanasana: as Asanas do
Apana, a energia que gerencia a excreção), trabalha envolvendo principalmente
a musculatura abdominal. Energiza e equilibra o Jataragni. Esta série está
relacionada a Pitta Dosha, embora Vata também seja beneficiado em razão
de sua tendência à prisão de ventre.

a A terceira série, energizante (ou Shakti Bandha: contrações energéticas),


está relacionada a Kapha Dosha.

a E a quarta série chamada Trataka, são exercícios específicos para os olhos,


e que vão beneficiar especialmente Pitta, que é o Dosha dos olhos, da visão.

As técnicas de Pavana Muktasana foram resgatadas e recodificadas


por Swami Satyananda Saraswati, e podem ser encontradas em seu livro :
" Yogasana, Pranayama, Mudra, Kriya, Nidra" e no livro "Psicologia do
Tantra" do prof. Paulo Murilo Rosas.
Pavana Muktasana é excelente para manter e/ou restaurar o equilibrio
dos três Doshas.
A série de Surya Namaskaram (saudação ao Sol) também pode e deve
ser feita regularmente para equilibrar os Doshas. Deve-se apenas observar que
esta série, segundo o Tantra, atua energizando especialmente a Nadi Pingala
(polaridade solar, masculina, ativa, quente, positiva, tonificante). Como Vata
e Kapha estão mais relacionados a Nadi Ida (polaridade lunar, fria, passiva,
feminina, negativa, sedante) e Pitta a Nadi Pingala, as pessoas de Vata e Kapha
devem fazer a série de forma bem dinâmica com as respectivas respirações
(Vata deve estar muito atento ao ritmo) e as pessoas Pitta devem fazer a série
mais lentamente, com a respiração livre, suave e profunda, com ênfase na
expiração.
Vata está relacionado com o Chakras Anahata (elemento ar) e
Vishudha (éter) e necessita de "trabalho de base" para drenar o excesso de
energia dos Chakras superiores para os básicos.
Vata será beneficiado com a prática de Yoga Sukshma Vyayama (ver
"Psicologia do Tantra", prof. Paulo Murilo Rosas), que aquece e promove
"grounding", trabalhando a energia dos Chakras superiores para os básicos
(Shristhi Krama, ou o Caminho da criação).
Posturas de grounding também são os Trikonasanas e Parshwa
Konasana - que também aumentam a capacidade respiratória promovendo a
abertura do gradil costal - e os Guerreiros (Virabhadrasana) 1 e 2.
O trabalho de Pavana Muktasana é excepcionalmente benéfico para
50 | Ernani Fornari
Vata, especialmente as duas primeiras séries, mas as pessoas que possuem
este Dosha muito elevado não devem exagerar, pois esta técnica trabalha
movimentando a energia dos Chakras básicos para os superiores (chamado
no Tantra de Laya Krama, ou o Caminho da dissolução). Uma solução seria
alternar Pavana Muktasana com Yoga Sukshma Vyayama.
Posturas de meditação - Dhyanasanas (Padmasana, Vajrasana,
Sukhasana, Siddhasana) vão dar segurança e estabilidade para Vata.
É o Dosha mais beneficiado pelas práticas de concentração e
meditação.
Surya Namaskaram também é excelente para equilibrar Vata,
promover grounding, aquecer e manter as articulações e os intestinos em boas
condições.
Trabalhos articulares para a coluna, como o Gato - que pode ser
desdobrado de várias formas - vão manter a saúde das articulações vertebrais,
raízes nervosas, ligamentos e músculos das costas.
Também são interessantes as posturas de extensão (Bhujangasana,
Dhanurasana, Chakrasana, Ustrasana) - para abrir os peitorais e o
gradil costal; de flexão da coluna (Paschimottanasana, Padahastasana,
Janushirshasana) para tonificar os intestinos e sedar o sistema nervoso; e de
equilibrio (Vrikshasana, Natarajasana).
E é bastante útil a prática de Mula Bandha (contração do períneo)
durante as Asanas, para tonificar o aparelho excretor e para energizar os dois
primeiros Chakras básicos.
Pranayamas com ritmo e sem retenções prolongadas - como Anuloma
Viloma, respiração completa com Krama, respiração quadrada (Samavritti) -
são boas para equilibrar Vata.
Pitta Dosha será reequilibrado com Pranayamas sedantes : Chandra,
Chandra Bheda, Nadi Shodhana, Shitali, Sitkari. e lentas respirações
abdominais com ênfase na expiração.
Asanas de compressão do ventre são importantes para sedar Pitta
e acalmar o Jataragni, como Paschimottanasana e Matsyendrasana.
Inversamente, posturas de extensão (Chakrasana, Ustrasana, Dhanurasana)
vão tender a aumentar Pitta e o Jataragni.
O trabalho de Pavana Muktasana - especialmente a segunda série -
vai ajudar a equilibrar Pitta.
Pitta também é sedado com posturas de inversão (Viparita karani e
Sarvangasana).
Posturas de equilíbrio também são importantes para Pitta.
É o Dosha mais beneficiado pela prática de relaxamento e de Yoga
Sanatana Dharma | 51
Nidra (meditação composta de relaxamento com visualizações).
O Dosha Pitta é o que está mais diretamente relacionado com
Jataragni, o fogo digestivo, por isso são muito úteis os trabalhos com as
Kriya (purificações) Agni Sara (limpeza pelo fogo) e Kapalabhati (o sopro
do crâneo) e com Uddhyana Bandha (se não houver gastrite), feitas sem
exagero. Vão equilibrar e manter a boa qualidade do Jataragni.
Bhastrika Pranayama (o fole) vai aumentar bastante Pitta e o
Jataragni.
Yoga Sukshma Vyayama também vai tender a aumentar Pitta.
De uma forma geral, os Pranayamas - especialmente os com retenções
mais longas - vão beneficiar especialmente o Dosha Kapha, mantendo o
aparelho respiratório em boas condições.
Respiração completa com ritmo (1:4:2:4) e com ênfase nas fases
média (intercostal) e alta (torácica).
Kriyas de limpeza como Kapalabhati e Agni Sara, e Pranayamas
tonificantes como Bhastrika (se não for hipertenso), Surya e Surya Bheda,
Ujjayi, feitos moderadamente, são interessantes para Kapha.
Este Dosha também será muito beneficiado com a prática de Asanas
de uma forma mais movimentada, como Surya Namaskaram ou Asanas com
Vinyasa (Asanas dinâmicas, como Ashtanga Vinyasa).
Kapha, o Dosha da base, da estrutura, está relacionado aos Chakras
básicos : Muladhara (elemento terra) e Swadhisthana (água).
A Pavana Muktasana vai atuar positivamente em Kapha, drenando
o excesso de energia da base para os Chakras superiores.
Já Yoga Sukshma Vyayama, que embora seja uma técnica quente e
movimentada - bom, portanto, para Kapha - funciona drenando a energia
para os Chakras básicos, e não deve ser feita com exagero, preferencialmente
alternando-se com Pavana Muktasana.
Segundo o critério de Langhana e Brimhana - os parâmetros
ayurvédicos de classificação e avaliação dos processos da sedação e da
tonificação (e que será assunto de um outro texto), dentre as Asanas e
os Pranayamas que tem efeitos sedantes e tonificantes, aqueles que tem
específicamente efeito equilibrador e harmonizador para todas as tipologias
são: Nadi shodhana (a respiração polarizada) e Shirshasana (postura sobre a
cabeça), esta ultima levando-se em conta suas contra indicações (hipertensão,
glaucoma, etc.).
52 | Ernani Fornari
ASANAS PARA OS DESEQUILÍBRIOS DOS DOSHAS:

(Segundo o Dr. Vasant Lad)

1. ASANAS PARA DESEQUILIBRIOS DE VATA:

- ASMA: Supta Vajrasana, Halasana, Pavana Muktasana (a asana),


Shavasana.
- DOR NAS COSTAS: Pavana Muktasana, Halasana, Ardha Chakrasana,
Supta Vajrasana.
- PRISÃO DE VENTRE: Supta Vajrasana, Yoga Mudra, Pavana Muktasana,
Sarvangasana, Shavasana. Fazer todas as asanas com a barriga contraída.
- DEPRESSÃO: Yoga Mudra, Halasana, Padmasana, Nitambasana,
Shavasana.
- DOR CIÁTICA: Pavana Muktasana, Supta Vajrasana, Halasana, Yoga
Mudra, Ardha Chakrasana.
- DEBILIDADE SEXUAL: Supta Vajrasana, Halasana, Sarvangasana,
Kukutasana.
- VARIZES: Sirshasana, Supta Vajrasana, Shavasana.
- RUGAS: Yoga Mudra, Supta Vajrasana, Sirshasana, Halasana.
- ARTRITE REUMATÓIDE: Ardha Chakrasana, Dhanurasana, Halasana,
Sirshasana, Supta Vajrasana.
- DOR DE CABEÇA: Halasana, Yoga Mudra, Sirshasana.
- INSÔNIA: Shavasana, Bhujangasana, Supta Vajrasana.
- DISTÚRBIOS MENSTRUAIS: Halasana, Bhujangasana, Ardha
Chakrasana, Yoga Mudra.

2. ASANAS PARA DESEQUILÍBRIOS DE PITTA


- ÚLCERA PÉPTICA: Shitali Pranayama.
- HIPERTIREOIDISMO: Sarvangasana, Karna Pidasana.
- MÁ DISGESTÃO: Pavana Muktasana, Matsyasana, Shalabhasana.
- HIPERTENSÃO: Sarvangasana, Bhujangasana, Naukasana.
- RAIVA OU ÓDIO: Naukasana, Sarvangasana, Shavasana.
- ENXAQUECA: Shitali Pranayama, Sarvangasana, Matsyasana.
- COLITE: Matsyasana, Karna Pidasana, Navasana, Dhanurasana.
- DISTÚRBIO HEPÁTICO: Matsyasana, Sarvangasana, Karna Pidasana.
- HEMORRÓIDAS: Matsyasana, Sarvangasana, Dhanurasana.
- ESTOMATITE (Inflamação da língua): Shitali Pranayama.
Sanatana Dharma | 53
3. ASANAS PARA DESEQUILÍBRIOS DE KAPHA:

- BRONQUITE: Sirshasana, Halasana, Garbhasana, Supta Vajrasana, Ardha


Chakrasana, Matsyasana.
- EFIZEMA: Ardha Chakrasana, Sarvangasana.
- RINITE: Matsyasana, Navasana, Halasana, Dhanurasana, Bhastrika.
- SINUSITE: Simhasana, Paschimottanasana, Matsyasana.
- DIABETES: Navasana, Matsyasana, Ardha Chakrasana, Supta Vajrasana,
Garbhasana.
- DESORDENS GASTROINTESTINAIS CRÔNICAS: Matsyasana,
Shalabhasana, Bhujangasana.
- GARGANTA INFLAMADA: Simhasana, Sarvangasana, Shalabhasana,
Matsyasana.
- BRONQUITE ASMÁTICA: Ardha Chakrasana, Dhanurasana,
Sarvangasana, Navasana, Nitambasana, Matsyasana, Bhujangasana.
54 | Ernani Fornari
KARMA e KRIYA
As purificações no Yoga, no Tantra e no
Ayurveda

A intenção deste pequeno texto comparativo, é apenas o de " lançar


lenha na fogueira " no sentido de estimular um desenvolvimento mais amplo
e profundo no estudo e na pesquisa sobre as purificações e limpezas, tanto na
área do Ayurveda, como nas áreas do Yoga e do Tantra.
No Ayurveda e no Hatha Yoga, as purificações trabalham do físico
para o energético. No Tantra ocorre o inverso. Isso caracteriza perfeitamente
o aspecto fundamentalmente holístico das ciências e das práticas hindus, onde
o homem é considerado como sendo um ser uno em suas dimensões física,
emocional, psíquica e energética, e que é absolutamente interagente com seu
meio e com seus semelhantes.
Estas interações se processam sempre no sentido da " mão dupla",
isto é - como diz a música de Walter Franco - "de dentro prá fora, de fora prá
dentro". Ou seja, mexeu no externo afeta o interno, e vice-versa.
E se nós queremos trabalhar com a energia, devemos primeiro
promover a desobstrução de seus caminhos. E este é o objetivo das Kriya.

I. No Ayurveda (Panchakarma)

A) Fonte: Gérard Edde

SEGUNDO CHARAKA:
1. Lavagem anal (clister)
2. Purgação
3. Vômito provocado
4. Lavagem anal com óleos
5. Tratamento nasal

SHARANGADHARA considerava a sangria como um dos Panchakarmas.

SEGUNDO SUSHRUTA:
1. Métodos preparatórios: dieta, lavagem a óleo, sudorificação
2. Métodos principais: vômitos, purgação, clister, tratamento nasal, sangria
3. Métodos de revitalização: repouso, alimentação equilibrada
Sanatana Dharma | 55
SEGUNDO O AUTOR DO LIVRO:

1. Lavagem a óleo (administração interna e externa de óleo)


2. Sudação - Swedan (sol, vapor, banho quente, sauna)
3. Clister (lavagem intestinal)
4. Tratamento nasal - Nasya
5. Vômito - Vaman

B) Fonte : Dr.Vasant Lad

1. Vômito terapêutico (Vaman)


2. Purgativos ou laxantes (Virechan)
3. Enema / clister medicamentoso (Basti)
4. Administração nasal de medicamentos (Nasya) - massagem com ghee
5. Redução sanguínea/purificação do sangue (sangria)

C) Fonte: Dr. Deepak Chopra

1. Ingestão de óleo (Sneehana)


2. Laxante (Virechana)
3. Massagem de óleo (Abhyanga)
4. Tratamentos sudoríferos (Swedana)
5. Clister medicinal (Basti)
6. Aplicações nasais (Nasya)

II. No Hatha Yoga (Shat Karmas)

HATHA YOGA PRADIPIKA (tradução de Caio Miranda):

1. Dhauti: limpeza estomacal com gaze


2. Basti: limpeza do reto com água
3. Neti: limpeza do nariz com fio
4. Trataka: fixar os olhos sem pestanejar
5. Nauli: movimentação dos músculos reto-abdominais
6. Kapalabhati: respiração do fole
56 | Ernani Fornari
GERANDHA SAMHITA (trad. Caio Miranda):

1. Dhauti Antardhauti (lavagem interna)  Vatasara (purificação pelo


vento); Varisara (purificação pela água); Agnisara (purificação pelo
fogo);

Dantadhauti (limpeza dos dentes)  Dantamuladhauti (purificação dos


dentes); Jihwa Sadhana (purificação da lingua)
Hriddhauti (limpeza do coração)  Dandadhauti (purificação com vara
de tanchagem); Vamana (vômito); Vasas (limpeza com gaze)
Mulasadhana (limpeza do reto)
Karmadhauti (limpeza dos ouvidos)
Kapalarandradhauti (pressão do polegar na testa)

2. Basti Jalabasti (limpeza do reto com água)


Sthalabasti (paschimottanasana com ashwini mudra)

3. Neti Sutraneti (limpeza do nariz com fio)


Jalaneti (limpeza do nariz com água)
Dughdaneti (limpeza do nariz com leite)
Ghrtaneti (limpeza do nariz com ghee)

4. Nauli/Lauliki: movimentos do abdomen

5. Trataka: para os olhos

6. Kapalabhati  Vamakrama
Vyutkrama e Sitkrama (limpeza das narinas com água)

III. No Tantra (Kriya)

(Fonte: Paulo Murilo Rosas)

1. Padadhirasana: compressão das axilas com as mãos, para a desobstrução


das narinas.
2. Kapalabhati: sopro do craneo brilhante (respiração de fole com ênfase
na expiração)  desobstrução das nadis Ida e Pingala e energização
do Manipura Chakra.
Sanatana Dharma | 57
3. Agni Sara: purificação com o fogo (fole abdominal com pulmões
vazios)  limpeza do Kanda e energização do Manipura Chakra
4. Bhastrika: respiração do fole  desobstrução da Sushumna Nadi e
dos Granthis no nível da raiz dos chakras. Energização dos Chakras,
especialmente o Manipura.
5. Nadi Shodhana: respiração polarizada  desobstrução e equilibrio das
Nadis Ida e Pingala , no nivel das pétalas dos Chakras.

OBS: No Tantra, as Kriya devem ser feitas sempre antes das Asanas. Agni
Sara, Kapalabhati e Bhastrika, bem como Udhiyana Bandha - que não é
exatamente uma Kriya mas pode ser encaixada aqui - devem ser executadas
seguidas de Kumbhaka com Mula Bandha, Jalandhara Bandha e Jñana
Mudra.
58 | Ernani Fornari
LANGHANA E BRIMHANA: O Yin/Yang do Ayurveda.
Sua aplicação no Yoga e na Yogaterapia.

A intenção deste texto é apresentar os conceitos ayurvédicos ainda


pouco conhecidos de Langhana e Brimhana. Estes conceitos vem trazer
para o Yoga e para a Yogaterapia subsídios técnicos importantes na área da
tonificação e da sedação. Considera-se que o yogi Krishnamacharya quem
adaptou para as Asanas e Pranayamas os conceitos ayurvédicos de Langhana
e Brimhana.

Na tabela 1, temos a apresentação de Langhana e Brimhana.


Na tabela 2, vemos como os critérios de sedação e tonificação atuam
na área da respiração.
Na tabela 3, temos estes conceitos aplicados aos pranayamas,
E na Tabela 4, sua aplicação nas asanas.

Seguindo o mesmo critério que norteia as ciências orientais, onde a


intuição e a experimentação foram e são as principais ferramentas utilizadas
para a descoberta e para o desenvolvimento da grande quantidade de técnicas
disponíveis, e também considerando a escassa literatura sobre Ayurveda
existente em língua portuguesa, sugiro a todos os alunos e colegas interessados
em Yoga e Ayurveda que pratiquem e experimentem a técnica de Langhana e
Brimhana aplicada ao Yoga e continuem aprofundando e desenvolvendo este
útil conhecimento.

Fonte: Dr. Richard Miller, PhD e Joseph LePage - Integrative Yogatherapy


(USA)
Sanatana Dharma | 59

LANGHANA BRIMHANA
Guna Tamas Guna Rajas
Contração Expansão
Lunar / Chandra / Tha Solar / Surya / Ha
Feminino Masculino
Frio Quente
Yin Yang
Kapha e Vata Dosha Pitta Dosha
Narina esquerda (Ida) Narina direita (Pingala)
Passivo Ativo
Polaridade negativa Polaridade positiva
Apana vayu (eliminação) Prana vayu (absorção)
Expiração Inspiração
Flexão Extensão
Sist. Nervoso Parassimpático Sist. Nervoso Simpático
Atividade sensora aferente Atividade motora eferente
Catabolismo Anabolismo
Hemisfério direito do cérebro Hemisfério esquerdo
Sedação Tonificação

RESPIRAÇÃO
BRIMHANA LANGHANA
Inspiração > Expiração Expiração > Inspiração

Respiração sub-clavicular Respiração abdominal


Respiração rápida Respiração lenta
Narina direita Narina esquerda
Retenção pulmões cheios Ret. pulmões vazios
Respiração pela boca Respiração pelo nariz

Respiração completa‌i Respiração completa h


60 | Ernani Fornari
PRANAYAMA

Brimhana

h
Bhastrika
Surya Pranayama
Surya Bheda
Viloma Krama
Viloma Pranayama
Ujjayi

h
Nadi Shodhana
i

Kapalabhati
Anuloma Pranayama
Anuloma Krama
Chandra Bheda
Chandra Pranayam

Shitali e Sitkari
i
Langhana
Sanatana Dharma | 61
ASANAS

Brimhana
h
Shalabhasana (Gafanhoto)
Chakrasana (Roda)
Dhanurasana (Arco)
Purvottanasana (Plano inclinado)
Navasana (Barco)
Virabhadrasana (Guerreiro)
Utkatasana (Cadeira)
Setubhandasana (Ponte)
Bhujangasana (Cobra)
Ardha Shalabhasana (Meio Gafanhoto)
Vrikshasana (Árvore)
h
Shirshasana
i
Sarvangasana (Vela)
Viparita Karani (Foice)
Halasana (Arado)
Ardha Chandrasana (Meia Lua)
Trikonasana (Triângulo)
Paschimottanasana (Pinça)
Uttanasana (Pinça em pé)
Matsyendrasana (Torção)
Jathara Parivritti (Torção deitada)
Apanasana (Joelho no peito)
Garbhasana (Feto)
Shavasana (Cadáver)
i
Langhana
62 | Ernani Fornari
TRATAK
O Yoga dos olhos

Tratak, que significa "olhar fixamente", aparece nos dois tratados de


Hatha Yoga - Gerandha Samhita e Hatha Yoga Pradipika - como um dos Shat
Karmas (ou Shat Kriyas), isto é, uma das 6 práticas de limpezas psico-físicas.
Segundo estes dois livros, a prática do Tratak constitui simplesmente
em fixar o olhar - sem piscar - em algum objeto que pode ser uma vela, a
imagem de uma divindade, e até a lua ou o sol nascente, em práticas mais
avançadas.

Existem três tipos de Tratak:


1. Antara (ou Tratak interno): de olhos fechados, concentra-se a atenção
entre as sobrancelhas, no coração ou no umbigo (ou em qualquer outro
centro energético), ou ainda pode-se fixar na tela mental a imagem de
uma vela, o rosto de uma divindade ou o Sol.
2. Madhyama (Tratak do meio): de olhos abertos, o foco da concentração
pode ser a chama de uma vela, a ponta do nariz, a imagem de uma
divindade, etc.
3. Bahya (Tratak externo): de olhos abertos, fixar um objeto distante, como
a Lua, uma estrela, uma árvore, etc.

O Tratak , além de todos os seus enormes benefícios na área da saúde


ocular, é um poderoso exercício de concentração.
Diz Swami Satyananda : ” Tradicionalmente sua prática é considerada
como formando parte do Hatha Yoga, mas sua técnica se assemelha mais à
uma Mudra, de maneira que também pode ser considerada como parte do Raja
Yoga. Se praticada regularmente, desenvolve um poder de concentração até
um grau quase ilimitado."
Ou seja, além de uma excelente técnica de Pratyahara (abstração
dos sentidos) e Dharana (concentração), Tratak também pode, como diz
Satyananda, se tornar uma Mudra, como é o caso dos Dhristi (que significa
mirada concentrada) : Bruhmadya Drishti (também chamada de Sambhavi
Mudra) - a mirada no ponto entre as sobrancelhas, e Nasagra Dhristi (ou
Agoghari Mudra) - a mirada na ponta do nariz.
Em termos energéticos, o Tratak, de uma forma geral, vai trabalhar
energizando e despertando o Ajña Chakra (que é quem "gerencia" os olhos).
Sanatana Dharma | 63
A prática de Nasagra dhristi vai energizar também Ida e Pingala e
o Chakra Muladhara - pois estas nadis tem suas origens neste Chakra e nas
duas narinas.
Diz o Gerandha Samhita: " Olha fixamente, sem piscar, para um objeto
pequeno, até que as lágrimas comecem a correr. Isto é denominado Tratak
pelos sábios. Praticando este Yoga, Sambhavi Mudra é obtido. Certamente
todos os males da visão são destruídos e a clarividência é produzida."
E o Hatha Yoga Pradipika diz : " Sem pestanejar, fixe seu olhar, com
a mente concentrada, até que as lágrimas jorrem dos olhos. Isto é denominado
Tratak pelos Gurus. Com Tratak todas as doenças dos olhos são curadas."
O Tratak que vamos abordar neste texto é, na verdade, um
desenvolvimento da série 4 da técnica de Pavana Muktasana. São exercícios
que simultaneamente combinam movimento e alongamento da musculatura
ocular, além do treinamento da concentração.

Segundo o Ayurveda, a Medicina Tradicional Hindu, os olhos estão


relacionados com o elemento fogo, e consequentemente com o Dosha Pitta.
A prática do Tratak irá ajudar também no equilíbrio deste Dosha.

Antes de apresentar as técnicas, algumas recomendações importantes


:

1. Os braços deverão trabalhar em ângulo reto com o tronco, com a unha


do dedão bem na altura dos seus olhos - nestas práticas o objeto da sua
concentração será a unha do seu dedão. A mão estará sempre fechada
com o dedão abduzido. E você ainda dará, "de quebra", um bom trabalho
aos deltóides...

2. Procure não movimentar a cabeça. Quem trabalha são os olhos. No


início até sem percebermos movemos a cabeça, mas com a prática isto
se corrige. Mantenha sempre o queixo paralelo ao chão e os ombros e
o rosto sem tensão.

3. Combine o movimento com respiração. Estabeleça um ritmo, uma


sincronia.

4. Comece a praticar a série fazendo apenas uma vez cada exercício e aí


bem gradualmente vá aumentando as repetições.
64 | Ernani Fornari
5. Nos exercícios em que os olhos e braço estão em movimento, dê sempre
uma parada no ápice do movimento. para alongar. O ápice é aquele ponto
em que você já quase não vê mais o dedo (como p.ex. na abdução de 90o
do braço). Mantenha a imobilidade nesta posição por alguns segundos
para alongar a musculatura ocular.

6. Nos exercícios em que os olhos e o braço estão em movimento, FAÇA


SEMPRE OS MOVIMENTOS MUITO LENTAMENTE. Só assim
você obtém os benefícios do trabalho de concentração. Os exercícios
que trabalham com movimento dos olhos e o braço imóvel, devem ser
feitos rápidamente.

7. Mesmo quando a visão periférica for mais forte - como no caso da


chegada no ápice do movimento - mantenha sua intenção na mirada no
dedão. Estaremos assim, treinando também a convergência da atenção
e da intenção (consciência e vontade), o que é muito importante no
caminho do Yoga.

8. Entre um exercício e outro, dê uma sequencia de piscadas rápidas, para


umidificar bem os olhos, e mantenha-os fechados por alguns segundos.

9. No final, o ideal seria meditar um pouco. Mas nunca abra os olhos


antes de esfregar bem as palmas das mãos produzindo bastante calor e
impondo-as em concha sobre os olhos. Quando o calor acabar, massageie
suavemente as pálpebras inferior e superior. Só aí então, abra lentamente
os olhos.

10. Eventualmente pode ocorrer tontura durante a prática. Não force mas
também não abandone (exceto é claro, se você tem problemas mais sérios
como p.ex., labirintite. Consulte seu médico antes de praticar Tratak).

Pode ocorrer também, durante ou após a prática, dor nos olhos ou


mesmo enxaqueca.
É bom frisar que estamos movimentando e alongando musculatura
ocular, e isto poderá provocar algum incômodo, da mesma forma como
acontece quando começamos a fazer algum exercício após estarmos meio
enferrujados.
Além disso, estamos mobilizando profundamente uma região
importante que "hospeda" conteúdos psico-emocionais mal digeridos, na
Sanatana Dharma | 65
forma do que o Dr. W. Reich chamou de couraça ocular. A mobilização desses
conteúdos do inconsciente mobiliza nossas defesas que vão procurar sabotar
o processo de resgatar o livre fluxo da energia. Com a prática os desconfortos
normalmente desaparecem.

11. Problemas oculares como miopia, estrabismo, astigmatismo e


hipermetropia são considerados configurações diferentes de couraças
oculares. O trabalho com Tratak pode, dependendo da perseverança,
atenuar ou até mesmo curar estes distúrbios oculares. Com toda a certeza,
a moderna Ortóptica vem, direta ou indiretamente do Tratak. Atenção:
pessoas com problemas mais sérios, como por exemplo, glaucoma,
devem consultar o olfalmologista antes de praticar Tratak.

TÉCNICA:

Postura: Padmasana, ardha padmasana, sukhasana, siddhasana,


dandasana ou vajrasana.

1. Um braço flexionado 90 graus e o outro abduzido 90 graus: Saltar o


olhar de um dedão ao outro várias vezes. Trocar a posição dos braços.
2. Os dois braços abduzidos 90 graus: saltar o olhar de um dedão para o
outro.
3. Braço flexionado 90 graus: lentamente abduzi-lo horizontalmente 90
graus acompanhando com o olhar, parar alguns segundos para alongar
e voltar. Trocar o braço.
4. Um braço flexionado até o ponto mais alto que a vista alcançar, e o outro
o mais baixo que a vista possa alcançar. Saltar o olhar de um dedão para
o outro várias vezes. Trocar a posição dos braços.
5. Saltar o olhar de Nasagra para Brumadhya dhristi indo e voltando
várias vezes.
6. Braço flexionado 90 graus: elevar lentamente fazendo a flexão e
acompanhando com o olhar até o ponto mais alto. Parar alguns segundos
para alongar e ir até o ponto mais baixo. Parar para alongar e voltar para
o centro. Repetir com o outro braço.
7. Em Vajrasana : Flexionar um braço até o ponto mais alto e vir aduzindo-o
fazendo um grande meio-círculo até a posição mais baixa. Trocar de
braço e fazer do outro lado subindo outro meio-círculo. Fazer a ida e a
volta do círculo completo. Este exercício é especialmente interessante
para quem tem miopia.
66 | Ernani Fornari
8. Flexão dos dois braços a 90 graus, mãos juntas: fixar o olhar em um
ponto no infinito e ir lentamente abduzindo horizontalmente os braços
até 90 graus e voltar. Procure simultaneamente fixar o ponto a frente no
infinito e acompanhar na visão periférica os dois dedões que se movem
cada um para um lado, indo e voltando para a posição inicial.
9. Braço flexionado 90 graus: foque o centro da unha do dedão e venha
aproximando-o lentamente dos olhos, forçando o foco, até a mão encostar
no nariz. Volte e troque o braço. É importante procurar manter o foco,
mesmo quando isto é impossível.
10. Fixe o olhar na ponta do nariz (Nasagra dhristi). Em seguida fixe o olhar
em um ponto no infinito. Vá e volte o olhar, inicialmente bem lentamente
e depois saltando o olhar da ponta do nariz para o infinito e vice-versa.
Uma variação, é encostar um dos dedões perto dos olhos e o outro à
frente na posição mais afastada, saltando o foco de um para o outro e
voltando várias vezes. Estes dois últimos exercícios são especialmente
úteis para astigmatismo.
11. O Tratak clássico: coloque uma vela acesa (o ideal seria uma lâmpada
de ghee) um pouco abaixo da altura dos olhos, e a cerca de meio metro
de distância. Fixe firmemente o olhar sem piscar até que os olhos
lacrimejem. Feche-os e relaxe. Uma variação mais avançada, seria
fazer ciclos de Kumbhaka (retenção da respiração com os pulmões
cheios), inspirando, retendo o ar e fixando a chama sem piscar, e depois
descansando os olhos fechados, fixando a imagem da chama na tela
mental até que ela se desvaneça.

Fontes: - Yogasanas, Pranayama, Mudra e Bandha : Swami Satyananda


Saraswati.
- Gerandha Samhita e Hatha Yoga Pradipika: tradução de Caio Miranda.
Sanatana Dharma | 67

O KANDA
Calibrando o ponto de equilíbrio

1. DEFINIÇÃO:
O Kanda (ou Nabhi Chakra) é o ponto de origem das 72.000 Nadis, também
chamado "ovo de passarinho".

2. LOCALIZAÇÃO
No meio de uma linha reta imaginária que liga o umbigo à última vértebra
lombar.

3. CAUSAS DO DESLOCAMENTO :
- Levantar peso
- Queda
- Puxão ou choque repentino
- Influências externas
- Choques ou desequilíbrios emocionais e/ou psicológicos

4. CONSEQUÊNCIAS DO DESLOCAMENTO:
A conseqüência principal do deslocamento do Kanda, é o não aproveitamento
psico/físico/energético integral das práticas de Yoga.

- Para cima:
Prisão de ventre crônica
- Para baixo:
Problemas com menstruação, ejaculação precoce, cólicas, perda
de movimentos, pesadelos.
- Para o lado:
Dores agudas não localizadas. Irregularidades menstruais, coloração
estranha no fluxo menstrual e esterilidade nas mulheres, e espermatorréia nos
homens.

5. NABHI PARIKSHA (O exame do Kanda):

- Com barbante:
Medir do centro do umbigo ao centro do mamilo ou do centro do
umbigo à ponta do hálux.
68 | Ernani Fornari
- Com os dedos:
a) Deitar em decúbito dorsal
b) Fazer Naukasana com Kumbhaka
c) Usar os dedos indicador, médio e anelar fazendo pressão umbigo
(o dedo médio no centro do umbigo). O exame é feito na artéria abdominal.

6. COLOCAÇÃO DO KANDA NO LUGAR:

a) Kanda para o lado:

1- Deitado em decúbito dorsal: dar 3 puxões secos na perna oposta


ao deslocamento + 3 socos na sola do pé + 3 puxões secos.
2- Se não voltou para o lugar : (em decúbito ventral) Pé do terapeuta
na lordose lombar, segurando uma das mãos e o pé oposto, dar um puxão seco.
Repetir para o outro lado.

Normalmente o Kanda se desloca para a esquerda nos homens e para a direita


nas mulheres.

b) Kanda para cima:


- Deitar em decúbito ventral
- Fazer Dhanurasana
- "Montar" no paciente, segurar seus punhos e dar 3 trancos
secos.

c) Kanda para baixo:


Paciente em decúbito dorsal, o terapeuta "monta" e segura com
os dois braços a cintura do paciente dando 3 trancos secos.

7. ASANAS CORRETIVAS:

- Naukasnna
- Dhanurasana
- Chakrasana
- Matsyasana
As posturas devem ser feitas nesta ordem.
Sanatana Dharma | 69
8. MASSAGENS CORRETIVAS:

a) Rotação da mão na direção dos ponteiros do relógio, começando com o


cutelo da mão no centro do umbigo.

b) "Amassando pão"

c) Dos rins para o umbigo :

d) Mãos postas. Do abdômen para a púbis:

Fonte : Prof. Paulo Murilo Rosas


70 | Ernani Fornari
OS DEUSES HINDUS E OS MANTRAS

No processo coletivo de busca pelo resgate de sua natureza original – a


Unidade – a humanidade, entre outros procedimentos teológicos, ideológicos,
psicológicos e filosóficos, criou os deuses a sua imagem e semelhança. Todas
as culturas desenvolveram uma mitologia com sua profunda e complexa
simbologia e funcionalidade.
Quando eu crio um deus, estou projetando fora de mim aquela
qualidade, talento ou virtude que eu já possuo, não faço contato, penso que
não tenho (embora inconscientemente saiba que tenha) e sinto que preciso de
uma referência externa para me outorgar estas qualidades (quando na verdade
seria para liberar em mim estas qualidades).
E aí eu idealizo um ser (com forma humana ou meio-humana) super
poderoso, e com uma super qualidade ou um super talento específico em
alguma área, e me conecto com ele num jogo de espelho onde eu me reconheço
naquela qualidade.
Os deuses funcionam nessa transferência como uma das muitas formas
(os animais de poder, por exemplo, é uma outra forma) de puxar de dentro de
nós as qualidades e talentos que pensamos que nos faltam.
E é claro, como tudo é Um, as mesmas virtudes e qualidades que
estão dentro de cada um, estão em todo o Universo e são gerenciadas por
energias inteligentes que habitam dimensões mais sutís, que na perspectiva do
Hinduísmo são os deuses (como são, por exemplo, os anjos para os cristãos
e os orixás para o povo africano).

Mantras são palavras de poder que tem a capacidade de mobilizar


energia. Mantra quer dizer, em sâncrito, instrumento (tra) de pensar (man).
Originalmente os Mantras eram em sânscrito que é um idioma antigo cuja
fonética foi desenvolvida para criar vibrações e mobilizar energia, hoje temos
Mantras em todos os idiomas pois o poder maior que move esta sagrada ciência
do som é a intenção.
Os Mantras hindus tem a ver com os deuses e geralmente são
compostos pelos nomes destes deuses. Na Índia o nome de Deus tem uma
importância vital na espiritualidade hindu.
Vamos falar das divindades mais importantes do panteão hindu e
sugerir alguns Mantras. Estes Mantras podem ser usados na meditação
silenciosa, podem ser cantados com a melodia que você quiser criar, e podem
Sanatana Dharma | 71
ser pensados em lugar de ficar com a mente viajando pelo passado e/ou pelo
futuro que é como ela costuma ficar.

1. GANESHA:

É o deus com cabeça de elefante, filho de Shiva. Simboliza aquele


que abre os caminhos, que remove os obstáculos, ou seja, simboliza nosso
próprio poder de abrir nossos caminhos e remover os obstáculos.
Na Índia em todas as casas e todos os templos, tem uma imagem de Ganesha
na entrada. Sempre que se vai iniciar qualquer coisa, reza-se ou canta-se para
Ganesha.
Ganesha traz a coragem, a determinação, a objetividade.
Este deus também tem a ver com o Conhecimento, pois mitológicamente
Ganesha é aquele que compilou os Vedas que iam sendo ditados por um sábio,
e que os escreveu usando um pedaço de sua própria presa como “lápis”.
Está relacionado ao Chakra Muladhara.
Está relacionado à Kriya Shakti, o poder de agir, que rompe o Brahma
Granthi (o nó psico-emocional relacionado ao Muladhara chakra)

Mantras:

- Jaya Ganesha, Jaya Ganesha, Jaya Ganesha Pahimam


Shri Ganesha, Shri Ganesha, Shri Ganesha Rakshamam
(Salve Ganesha, Salve Ganesha, Salve Ganesha Proteja-nos
Senhor Ganesha, Senhor Ganesha, Senhor Ganesha Salve-nos)

- GANESHA SHARANAM, SHARANAM GANESHA (4 x)


VAGISHA SHARANAM, SHARANAM VAGISHA (4x)
SARISHA SHARANAM, SHARANAM SARISHA (4x)

- OM SHRI GANESHAYA NAMAHA


(Eu saúdo o Senhor Ganesha)

- OM SHRI MAHA GANAPATAYE NAMAHA ou


OM GAM GANAPATAYE NAMAHA
(Eu saúdo o Grande Senhor Ganesha)
72 | Ernani Fornari
2. RAMA

Rama é o personagem principal de um grande épico hindu chamado


Ramayana que conta a história do filho de um rei que é envolvido em uma
intriga familiar e é exilado por 12 anos na floresta com seu irmão e sua esposa,
Sita, que é raptada por um demônio. O épico centra-se na recaptura de Sita
das mãos do demônio.
Rama simboliza na Índia, o arquétipo da ética, da virtude, da verdade
e da justiça, da honestidade, da responsabilidade e do dever.
Todos aqueles que tem algum cargo de poder, os pais, os políticos,
os professores, os chefes, os patrões, os militares, devem se espelhar no ideal
de Rama.
Está relacionado ao Chakra Manipura e a Kriya Shakti, o poder de
agir .

Mantra:

SHRI RAMA, JAY RAMA


JAY, JAY, RAMA OM
SHRI RAMA , JAY RAMA
JAY, JAY, RAMA OM
(Senhor Rama, Salve Rama...)

3. KRISHNA

Krishna é a grande divindade hindu do Amor, um dos grandes


inspiradores da Bhakti Yoga (Yoga da devoção, o amor Universal).
É o mais importante Avatar (encarnação) de Vishnu, o deus que
representa a segunda pessoa - o princípio Conservador - da Trindade hindu
(os outros são Brahma, o princípio Criador e Shiva, o Destruidor, é o grande
“Lavoisier” cósmico…)
Krishna traz a alegria, aleveza, o canto e a dança, a amizade, os
sentimentos e as emoções, as relações.
Está relacionado aos Chakra cardíaco (Anahata) e laríngeo
(Vishuddha) e a Iccha Shakti, o poder de desejar que rompe o Vishnu Granthi
(o nó psíquico do Anahata Chakra).
Sanatana Dharma | 73
Mantra:

HARE KRISHNA, HARE KRISHNA


KRISHNA, KRISHNA
HARE, HARE.
HARE RAMA, HARE RAMA
RAMA, RAMA
HARE, HARE.
(Salve Krishna, Salve Rama…)

4. SHIVA

Shiva é o grande Senhor do Yog, e o grande inspirador do Tantra,


do Hatha Yoga (Yoga do físico e do energético), do Jnãna Yoga (Yoga do
Conhecimento e da Sabedoria, a Vedanta), do Raja Yoga (Yoga da Meditação).
Shiva é o grande arquétipo da transformação, da destruição do velho,
do estagnado.
Shiva gerencia tudo o que tem à ver com a mente, com a sensitividade,
com o inconsciente, com doença e cura, com morte e reencarnação.
Como personificação do asceta, do yogue, Shiva tem a ver com a
meditação, com a renúncia e com a introspecção.
Está relacionado ao Chakra Ajña e a Jñana Shakti, o poder de conhecer,
que rompe o Shiva Granthi (o nó psíquico de Ajña chakra).

Mantra:

OM NAMAH SHIVAYA
(Eu saúdo Shiva)

5. AS DEUSAS

- SARASWATI: Esposa de Brahma, o Criador, é a deusa das artes, dos estudos,


do conhecimento, da inteligência.

Mantra:
OM AIM SARASWATIAI NAMAHA
(Eu saúdo Saraswati)
74 | Ernani Fornari
- LAKSHMI: Esposa de Vishnu, o Conservador, é a deusa da fortuna, da
abundância (material e espiritual), da fartura.

Mantra:
OM SHRI MAHA LAKSHMIAI NAMAHA
(Eu saúdo à Grande Senhora Lakshmi)

- DURGA: Um dos aspectos da esposa de Shiva (os outros aspectos são


Parvati e Kali) que está relacionada com a transmutação da sombra em Luz,
do mal em bem. Durga é a guerreira, a deusa que destrói os demônios internos
e restabelece o equilíbrio.

Mantra:
OM SHRI DURGAYAI NAMAHA
(Eu saúdo à Senhora Durga)
Sanatana Dharma | 75

YOGATERAPIA INTEGRATIVA
Uma abordagem do Yoga para o Terceiro
Milênio

No movimento que vem sendo efetuado desde o século passado no


campo da abertura e da difusão da espiritualidade no sentido de se aproximar
Oriente e Ocidente, tem-se procurado geralmente somar o que há de melhor
em cada um, para assim poder otimizar as técnicas e consequentemente os
seus resultados.
No Yoga esta "simbiose" também não podia deixar de ocorrer. Os
conhecimentos ocidentais tem servido para comprovar, respaldar e corroborar
as milenares teorias e técnicas de que o Yoga dispõe, e para incrementar a
eficácia destas mesmas antigas técnicas mediante o auxilio de outras tantas
técnicas desenvolvidas aqui no Ocidente.
Hoje no meio do Yoga, além de Patanjali, Asana e Pranayama,
também já se ouve falar em Reich, Lowen, Feldenkreis, RPG, Anti-ginástica,
Eutonia, Alexander, Rolfing... numa busca de se encontrar uma linguagem
comum que venha enriquecer todos os caminhos, e passar eficientemente a
grande mensagem que é a do homem holístico que caminha rumo à plenitude,
à Unidade.
E a grande mensagem do Yoga é justamente a de não "vender um
peixe" específico, dogmático ou sectário, e sim, traçar diretrizes amplas,
porém muito bem fundamentadas, que levem em consideração que cada um
é um conjunto sistêmico de corpo/mente/emoção/espírito, uno em essência
com seu semelhante e com a Natureza, mas profundamente singular em sua
manifestação.
Esta singularidade - aliada ao contexto ambiental e histórico em que o
homem moderno se encontra com todas as suas peculiaridades e desequilíbrios
sociais, políticos, ecológicos, psicológicos, etc. - tem feito com que o Yoga
tenha que se adaptar e se capacitar mais, para atender mais eficientemente à
demanda corpo/mente/emoção/espírito deste homem moderno estressado ,
desarmonizado e desequilibrado.
Este esforço para otimização do trabalho do Yoga, unindo Oriente e
Ocidente, tem sido realizada por várias pessoas e grupos em vários países do
mundo, gerando os mais diversos estilos de trabalho, dependendo da área e
da bagagem de quem fez a sua "releitura" do Yoga.
Na Yogaterapia Integrativa este trabalho holístico é feito sem que se
76 | Ernani Fornari
perca de vista a espinha-dorsal do Yoga, que é a sua filosofia, a sua ética e o
seu embasamento teórico.
Patanjali ainda é a mola-mestra da maioria das escolas de Yoga,
embora, na maioria das vezes, não mais sob os auspícios da escola Samkhya
(a filosofia dualista que embasa Patanjali em seu "Yoga Sutra"), e sim sob
uma visão não-dual da Unidade (mais afeita portanto, à visão da Vedanta).
Yogaterapia Integrativa é Hatha-Yoga, na medida em que utiliza
intensamente o seu instrumental : Asana (posturas) , Pranayama (respiração)
, Mudra (gestos psicossomáticos) , Bandha (contrações) , Kriya (limpezas) ,
Yoga Nidra (relaxamento) e Meditação, para manter e/ou restaurar a saúde
fisica.
É Tantra Yoga, na medida em que busca a saúde mental , emocional e
energética atravéz do reequilíbrio da personalidade por meio da utilização do
instrumental do Hatha-Yoga (de maneira bastante mais ampla) e de diversas
técnicas que trabalham as dimensões mais sutis de cada um, estudando
profundamente o funcionamento e a importância de elementos tais como:
os Tanmatras (os órgãos dos sentidos), os Mahabhutas (os 5 elementos) ,
Indriyas (órgãos de conhecimento e ação), as Gunas (visão dialética tríplice da
Criação), os Koshas e Shariras (os corpos), os Chakras (centros energéticos),
as Nadis (condutos de energia) , os Pranas (energia vital) e a Kundalini
(energia primordial).
E é também Medicina Ayurvédica (Medicina tradicional indiana) na
medida em que leva em conta a avaliação e o reequilibrio dos 3 princípios
básicos ayurvédicos: Vata (ar – éter/ar), Pitta (bilis – fogo/água) e Kapha
(fleuma – água/terra). E o Hatha Yoga consta entre o arsenal utilizado por
esta importante vertente da Medicina oriental.
A Yogaterapia Integrativa é profundamente interagente com a Medicina
ocidental, com a Fisioterapia , com a Educação Física e com a Nutrição, na
medida em que trata (também) do corpo físico, e exige do profissional sólidos
conhecimentos de Anatomia, Fisiologia, Cinesiologia e Biomecânica.
Interage com a Psicologia ocidental, na medida em que o Yoga
trabalha também no campo da psique e das emoções, exigindo do profissional
fundamentos das principais escolas psicoterapêuticas ocidentais.
Interage ainda com a Educação, na medida em que Yoga é
fundamentalmente um trabalho de (re)educação, que exige do profissional
conhecimentos nas áreas de Pedagogia e Didática.
E, por fim, (e sobretudo) a Yogaterapia Integrativa é uma terapia
eminentemente holística e "aquariana" na medida em que está aberta para
lançar mão, despreconceituosamente, de técnicas e treinamentos psico-físicos
Sanatana Dharma | 77
ocidentais que ao final das contas, direta ou indiretamente, também tem seu
berço no Yoga e só vem confirmar sua eficácia, fazendo ver aos ocidentais
que Yoga não é só "coisa de gente mística".
É interessante fazer aqui um pequeno retrospecto histórico e colocar
para os leitores que o Hatha Yoga tal como hoje o conhecemos, com sua
metodologia e sua estrutura de aulas (geralmente coletivas ou individuais com
sistema de fichas) , com uma hora ou uma hora e meia de duração, é coisa
relativamente recente (algo em torno do do século 19 para cá).
O Hatha Yoga foi codificado inicialmente por Gorakhnath, para que
servisse como preparo do corpo e da energia para a prática do Raja Yoga. Os
dois textos mais famosos - o Hatha Yoga Pradipika (de S.Swatmarama) e o
Gerandha Samhita – atestam literalmente este fato.
A tradição hindu considera o Hatha Yoga como tendo sua gênese
no Tantra, reportando-nos mitológicamente aos diálogos entre Shiva e sua
consorte Parvati, como está indicado em outra escritura importante do Hatha
Yoga, o Shiva Samhita.
O Hatha Yoga é, na verdade, uma forma resumida do Tantra – mais
específicamente do Dakshina Tantra (o Tantra da mão direita), - cuja finalidade
principal é preparar o corpo para a meditação (Raja Yoga).
Como dizia acima, a estruturação pedagógica e metodológica
do Yoga que conhecemos atualmente, se desenvolveu mais recentemente
,apresentando abordagens e estilos mais ou menos característicos (deixando
em aberto a questão se de fato existe realmente um Hatha Yoga "clássico").
Tradicionalmente, este ensino era feito individualmente de mestre para
discípulo.
A grande afluencia de ocidentais interessados em espiritualidade na
India a partir do inicio do século 19 e o crescente agravamento do panorama
da saúde nos tempos modernos, recolocou o Hatha Yoga em evidência e vários
mestres resolveram adaptar o ensino tradicional colocando-o mais disponível
à realidade agitada do mundo contemporâneo, e à grande afluência de pessoas
interessadas.
Devemos este resgate do Hatha Yoga a vários nomes importantes,
tais como: Swami Sivananda de Rishikesh (e seus principais discípulos,
tais como S.Satyananda – de Bihar, que desenvolveu a vertente do Tantra
Yoga; S. Vishnudevananda e Swami Satchidananda que levaram o Hatha
Yoga para o ocidente), que deu um enorme impulso ao Hatha Yoga, trazendo
para o ocidente o modelo de aulas coletivas com séries pré-estabelecidas;
Shri Yogendra (e seus filhos) de Bombaim, que instituiu o método de fichas
individualizadas, e também desenvolvendo e divulgando intensamente a
78 | Ernani Fornari
Yogaterapia; Swami Kuvalayananda de Lonavla que fez conexões entre o
Yoga e a Ciência e também trabalhou com Yogaterapia; e especialmente,
T.Krishnamacharya, o grande revitalizador do ensino moderno do Yoga, e
que preparou filhos e discípulos fazendo com que cada um desenvolvesse
uma abordagem diferente do Yoga (assim como fez Sivananda). Desikachar
por exemplo, ensina a técnica de Vinyoga, onde em cada aula enfoca-se uma
só asana, desenvolvendo-se uma sequência de vinyasa e de posturas que
preparam o corpo para a asana objetivada; B.K.S. Iyengar de Poona, que,
na minha opinião é o grande responsável pelo que poderíamos chamar de
"modernização" do Yoga no que tange ao aspecto físico, de saúde - Iyengar
ousou utilizar "ferramentas" (almofadas, blocos, cavaletes, cordas, etc.) para
facilitar a prática dos emperrados ocidentais que a ele afluem abundantemente;
e Pathabi Jois com o Ashtanga Vinyasa.
Ainda poderíamos citar Amrit Desai (Kripalu Yoga), S. Yesudian e tantos
outros.
E o trabalho da Yogaterapia Integrativa, desenvolvida pelo norte-americano
radicado no Brasil, Joseph lePage, honra muito o trabalho de todos estes Mestres
e bebe de todos, indistintamente.
Sem abandonar o espírito do Yoga, a YI sem preconceitos ou exagerados
purismos, utiliza de variado instrumental de apoio físico (almofadas, bolas gymball,
apoios de isopor e bambú, bolas de tênis, Yogapro, etc.); de variadas técnicas
modernas derivadas do Hatha Yoga tradicional (Yoga em duplas, Yoga em grupo,
Yoga restaurativa – com almofadas, Yogassage, etc.) e variadas técnicas ocidentais
e orientais para a conscientização, sensibilização e reequilibrio fisico/psicológico/
emocional (vivências com os 5 elementos, com os 7 Chakras, com os 3 Doshas,
com as 3 Gunas, com os 5 Koshas, além de meditações e relaxamentos), sempre
buscando unir o que há de melhor e mais eficaz neste encontro entre Ocidente e
Oriente.
Toda esta "tecnologia" permite que seja feito um trabalho coletivo ou individual
- sempre dentro de uma abordagem absolutamente personalizada - alcançando
uma alta eficácia nos casos que mais acometem e afligem o homem moderno: o
malfadado stress, as terríveis dores na coluna e os preocupantes problemas cardio-
vasculares, respiratórios e digestivos , entre muitos outros.
É importante frisar insistentemente que todo este trabalho gravita em torno
da idéia da Unidade, da busca da plenitude total (sem que isto seja um exercício
necessáriamente religioso) e não apenas na conquista do alívio de alguma dor.
A grande beleza deste método está no fato de o Yoga abrir um grande e fraterno
leque, absolutamente eclético e ecumênico que vem atender de forma integrada e
profunda à todas as nossas características, diferenças e necessidades.
Sanatana Dharma | 79

REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DO YOGA E DA


YOGATERAPIA

Duas formas de aprendizado ocorrem durante o estudo, a prática e o


ensino do Yoga (tanto o ensino prático em Academia quanto o ensino teórico
em cursos de formação): uma forma objetiva, traduzida pelo conhecimento
aprendido atravéz dos professores e dos livros; e uma forma subjetiva que
vai sendo introjetada, fruto da soma do conhecimento objetivo (estudos) +
prática pessoal (Yoga, Meditação) + prática profissional (aulas, atendimentos
individuais).
O resultado dessa soma é o desenvolvimento de um raciocínio
intuitivo e de um raciocínio criativo que vão possibilitar ao profissional de
Yoga e de Yogaterapia fazerem uma leitura e uma avaliação ampla e profunda
dos seus alunos e/ou clientes, e desenvolverem assim, um trabalho adequado
e de boa qualidade sem que este trabalho seja calcado necessáriamente em
conceitos estanques e fórmulas pré-determinadas, procedimentos estes,
muito influenciados pela ainda pouca bibliografia de Yoga (de boa qualidade)
disponível em nosso idioma.
Esse raciocínio intuitivo e criativo deve ocorrer em diversos níveis,
que vamos analisar mais adiante .
A característica profundamente holística e sistêmica do Yoga, permite
que - sem perder a idéia central de que a meta é a integração e a experiência
da Unidade - se possa explorar diversas abordagens de trabalho, inclusive
lançando mão de técnicas ocidentais modernas que podem perfeitamente vir
somar ao trabalho do Yoga, aumentando sua abrangência e eficácia.
Esta abrangente característica do Yoga permite a abertura de um
enorme leque de leituras e possibilidades, que vão interagir amplamente com
várias áreas do conhecimento humano.
Por exemplo, pode-se dar uma abordagem mais centrada no aspecto
anátomo-fisiológico do Yoga, trabalhando com correção postural, consciência
corporal, trabalho com cardíacos, asmáticos, diabéticos, aidéticos, estressados,
gestantes, etc.
Um professor de Yoga ou Yogaterapeuta que seja, por exemplo,
fisioterapeuta ou professor de Educação Física poderia fazer um ótimo trabalho
nesta área trabalhando com Hatha Yoga.
Já um professor de Yoga que seja psicólogo, poderia trabalhar dentro
de uma abordagem mais voltada aos aspectos psicológico e energético como
80 | Ernani Fornari
o Tantra e/ou a Vedanta.
O psicólogo, especialmente se for de linha reichiana ou bioenergética,
teria a habilidade de fazer a leitura muscular/emocional/psicológica/energética,
assim como no Tantra faz-se o diagnóstico do funcionamento dos Chakras
atravéz da leitura feita, entre outras coisas, da observação da performance do
aluno na prática das Asanas. Ambos os trabalhos – psicoterapias corporal e
Tantra Yoga - atuam nas couraças musculares, nas emoções e no processamento
de material do inconsciente.
O mais interessante e a maior beleza do Yoga, é que qualquer
abordagem, qualquer tônica ou direcionamento por mais específico que
se imprima no trabalho com o Yoga, não exclui todos os outros aspectos e
atuações. Obrigatóriamente o Yoga sempre trabalha e atua de forma ampla ,
profunda e integral, de dentro para fora e de fora para dentro.
As idéias e as noções da enorme riqueza do ferramental disponível
pelo Yoga, bem como da possibilidade de cada um poder trabalhar e dar a este
trabalho uma direção de acordo com sua característica pessoal e criatividade
- guardando sempre o espírito central do Yoga - deve ser passada aos alunos,
bem como a importância da ética e do respeito ao verdadeiro espírito do
significado de Sanathana Dharma.

w Raciocínio filosófico: Quem ministra aulas em cursos profissionalizantes


na área do Yoga, deve antes de mais nada, procurar despertar o aluno para a
amplitude e a profundidade do universo hinduísta. As filosofias hinduístas
(Yoga, Samkhya, Vedanta, Tantra, etc.) são quem deve guiar e nortear o estudo
da formação em Yoga.
Deve-se deixar sempre bem claro o caráter extremamente holístico
e universalista do Hinduísmo, mas deve-se também procurar evitar nestes
cursos, a introdução de outras bibliografias paralelas (como por exemplo,
Teosofia, Espiritismo, Budismo, etc.) que apesar de representarem linhas de
pensamento absolutamente idôneas e respeitáveis, trazem outros conceitos e
leituras que podem atrapalhar o aluno na correta compreensão e introjeção
do espírito do pensamento hinduísta.
O Hinduísmo, por ser a própria expressão do Sanathana Dharma (e até
por sua antiguidade) pretende encerrar em si mesmo o ferramental necessário
para a libertação do homem, atendendo perfeitamente a sua pluralidade. Não
é necessário recorrer a outras fontes e a outras Tradições.
As pontes e as correlações entre as religiões e as filosofias é prática
filosófica saudável e desejável, mas é um exercício de caráter interno e pessoal.
Em cursos de formação de professores de Yoga ou yogaterapeutas, deve-se
Sanatana Dharma | 81
estimular que o aluno estude e reflita sobre a profundidade e a complexidade do
universo hinduísta que é, afinal de contas, onde se situa o Yoga. E professores
de Yoga devem “raciocinar” Yoga.
Deve-se estimular o estudo do Yoga Sutra de Patanjali, da Bhagavad
Gita, das Upanishads, do Hatha Yoga Pradipika e do Gerandha Samhita
(sempre preferencialmente com o comentário de autores hinduístas), sugerindo
aos alunos a reflexão dentro de uma ótica unicista e integradora, visão que hoje
abarca praticamente todo o pensamento oriental (em grande parte graças à
Vedanta) e também muito do ocidental. Raciocinar em termos de “Paramatma
e Jivatma são o mesmo” e “Eu já sou a plenitude que busco” é o primeiro
passo para uma correta compreensão e aplicação dos raciocínios seguintes.

w Raciocínio dialético: A filosofia hinduísta é pródiga em estruturas


dialéticas profundamente ricas em simbolismos. Os professores de cursos de
formação devem tentar despertar nos alunos a reflexão e o questionamento
sobre estes padrões dialéticos, pois da mesma forma como os acupunturistas
devem compreender e aprender à raciocinar em função de TAO/Yin&Yang que
é o que norteia a fisiologia energética chinesa, os professores e terapeutas de
Yoga devem aprender à raciocinar em função destas várias estruturas dialéticas :
Inicialmente, Absoluto/ Relativo (Brahman/Maya na Vedanta ;
Purusha/Prakriti no Samkhya e no Yoga ; Shiva/Shakti no Tantra). Postulado
dialético/filosófico (e teológico) este, inexistente nas religiões cristã-judaicas
(exceto a Kabbalah) e islâmicas (exceto o Sufismo), que são religiões
essencialmente dualistas e teístas.
Em seguida, temos as Gunas : Sattwa, Rajas e Tamas. Toda a Criação,
todos os seres, todos as personalidades, são recombinações infinitas dessas
três Qualidades Primordiais.
Quem adentra pela Medicina Ayurvédica depara-se com as Doshas :
Vata, Pitta e Kapha. Os três princípios nos quais se baseia esta medicina.
No Tantra temos Ardhanareshwara (divindade meio Shiva/meio
Shakti) - pingala/ida, masculino/feminino, solar/lunar, etc. São as polaridades
energéticas horizontais (os Chakras são as verticais).
Este raciocínio dialético intuitivo, fruto do estudo, da prática e da
reflexão, vai fundamentar o raciocínio energético que veremos mais adiante.

w Raciocínio anátomo-cinesiológico: Um bom profissional de Yoga deve


ter bastante conhecimento da estrutura do corpo humano e de seu movimento.
O estudo da Anatomia, da Cinesiologia e da Biomecânica, vão dar cada vez
mais capacitação ao professor ou terapeuta, proporcionando a efetuação de
82 | Ernani Fornari
uma leitura corporal e uma avaliação mais corretas.
Não se trata óbviamente de concorrer ou querer tomar o lugar do
médico ou do fisioterapeuta, muito ao contrário, trata-se de interagir com eles
de forma mais consciente, técnica, responsável e profissional.
Acho mesmo que todo o professor ou yogaterapeuta deveria ter,
em algum momento, a supervisão de um fisioterapeuta. Penso que estes
profissionais são mais indicados do que os ortopedistas - normalmente os
mais procurados inicialmente - que são mais úteis em casos de traumas
,fraturas, cirurgias e administração de medicamentos. Quem entende mesmo
de movimento é o fisioterapeuta. No meu trabalho profissional, o fisioterapeuta
é quem indica o ortopedista.
Nos cursos de formação de Yoga, o fundamental ensino da Anatomia, da
Cinesiologia e da Fisiologia, tão estigmatizado pela fama de “mal necessário”,
deve procurar despertar o aluno para a importância destes conhecimentos,
que vão produzir dois efeitos : uma boa formação profissional e um enorme
ganho de consciência corporal adquirida com o estudo do corpo humano.

w Raciocínio energético : é a profunda compreensão e a correta aplicação


da fisiologia energética do Yoga: Kundalini, Chakras, Koshas e Shariras,
Nadis, Pranas .
Assim como um acupunturista tem que estudar, compreender e dar
aplicabilidade ao complexo diagnóstico do pulso, à circulação do Ki (energia),
aos meridianos , aos pontos e seus efeitos, aos horários, aos 5 elementos ,etc.,
um professor ou yogaterapeuta que deseje trabalhar em níveis mais profundos,
deve conhecer todo o sistema de circulação da energia, e saber como Asana,
Pranayama, Bandha, Mudra , Kriya, Yantra, Mantra, Nidra, relaxamento e
meditação influem e trabalham na promoção do equilíbrio dessa circulação
energética, que vai proporcionar ao homem a experiência da Unidade.
Sanatana Dharma | 83

PELOS CAMINHOS DA YOGATERAPIA

"O Yoga constitui uma disciplina prática


e viva, de modo que o nosso propósito ao
apresentar os ensinamentos antigos, está
muito longe de querer dar ao Yoga uma imagem
estereotipada. Conhecer o passado e
compreender corretamente as noções
e os princípios fundamentais do Yoga significa
oferecer ao espírito criativo a possibilidade
de modificar as técnicas com a finalidade
de atender às necessidades de nosso
tempo sem trair a essência do ensinamento."

T.K.V. Desikachar

A partir dos anos 90, a Yogaterapia começou a ficar um pouco mais em


evidência no Brasil, em função de cursos e livros que surgiram e colaboraram
para divulgar mais amplamente este assunto.
E como é um assunto ainda pouco conhecido do grande público, e
alguns setores mais tradicionais do Yoga ainda tratam a matéria com certa
reserva e resistência, este texto pretende lançar alguns tópicos para provocar
uma maior reflexão e discussão sobre o tema.
Em primeiro lugar, seria interessante lembrar que o termo Yogaterapia
permite duas leituras aparentemente distintas, mas absolutamente (e
necessáriamente) complementares:

 uma leitura de sentido mais amplo e mais profundo, que considera


que todo o Yoga - independente de linhas e estilos - é Yogaterapia, pois
pretende curar a mais primordial de todas as doenças : Avidya , a ignorância.
Ignorância do Self, do Ser. É a partir da ignorância de nossa Natureza Real
que todos os problemas da existência se desenrolam. Daí Yoga significar
"unir" (curiosamente muito parecido com o sentido da palavra " religião" =
religare = religar).
 e outra leitura de sentido mais específico, que entende que a Yogaterapia
é uma especialidade do Yoga. E mais específicamente ainda, do Hatha Yoga.
84 | Ernani Fornari
Em cima desta segunda leitura podemos considerar duas abordagens
distintas da Yogaterapia:
 por um lado, temos uma abordagem mais tradicional presente em
grande parte da literatura, que trata a Yogaterapia como um receituário. "Para
tal enfermidade tais e tais Asanas e Pranayamas...". É muito comum vermos
no final dos livros de Yoga listagens de indicações e contraindicações. Este
tipo de estilo de trabalho também costuma utilizar séries fixas de Asanas e
Pranayamas para tratar as doenças: séries para coluna, séries para asmáticos,
diabéticos, cardíacos, etc.
 de outro lado, temos uma abordagem mais moderna e que trabalha dentro
de uma visão mais personalizada, onde ao contrário de aplicar " receitas de
bôlo", o profissional desenvolve um amplo e profundo raciocínio terapêutico,
que deve ser construído básicamente a partir de um tripé fundamental:

1. um bom conhecimento de Anatomia, Fisiologia e Cinesiologia.


2. um razoável conhecimento de Psicologia.
3. um bom conhecimento da Fisiologia energética do Yoga (Chakras, Doshas,
Pranas, Nadis).

Este tripé é absolutamente essencial para que se possa efetuar uma


correta leitura e interpretação da demanda do aluno/cliente de modo a poder-
se elaborar o tratamento personalizado, em função desta avaliação.
A Yogaterapia que se atem somente ao item 1, corre o risco de ficar
reduzida a uma espécie de subsidiária da Fisioterapia ou da Educação Física,
perdendo sua função mais nobre que é a de considerar primordialmente o
aspecto holístico e integrado do ser.
Em relação ao item 3, é importante resgatar para o Hatha Yoga o
conhecimento tântrico sobre o funcionamento da energia e o uso do seu vasto
ferramental energético.
É necessário que se lembre que o Hatha Yoga é uma forma resumida
do Tantra que foi codificada para servir ao Raja Yoga, isto é, preparar o corpo
para a meditação, lembrando que Patanjali em seu Ashtanga prevê Asana e
Pranayama. O Hatha Yoga Pradipika e o Gerandha Samhita são bem claros
neste ponto.
Estas escrituras inclusive desdobram bem o aspecto da energia, questão
esta, que de certa forma foi meio deixada de lado na prática do Hatha Yoga
mais contemporâneo, em favor do aperfeiçoamento das Asanas e de uma
prática mais ou menos superficial de Pranayamas. Ferramentas energéticas
importantes como Kriya, Mudra e Bandha tiveram suas funções bastante
Sanatana Dharma | 85
sub-utilizadas, com ênfase dada apenas em seus benefícios físicos. Excessão
para Ashtanga Vinyasa.
É necessário então buscar no Tantra (mais especificamente no
Dakshina Tantra) o conhecimento amplo desta fisiologia energética, para que
o yogaterapeuta possa trabalhar eficientemente dentro do postulado primordial
que prega que o Yoga trabalha integradamente o complexo corpo/mente/
emoção/energia sempre, invariávelmente, de dentro para fora e de fora para
dentro.
A frase de Desikachar que abre este texto, vem ao encontro da idéia
do desenvolvimento da criatividade. Em nenhum texto tradicional do Hatha
Yoga, os sábios Swatmarama ou Gerandha propõem métodos ou formas de
se dar aulas ou tratar pessoas. Apenas as ferramentas, seu funcionamento e
efeitos são expostos. Nenhuma indução de se o trabalho deve ser com séries
fixas, com fichas, etc. Não fosse assim, Sivananda, Yogendra, Desikachar e
Iyengar, por exemplo, não teriam desenvolvido estilos tão diferentes.
Creio que o profundo estudo do importante "tripé" citado no início,
acrescido da intensa prática pessoal e da observação exercitada em aulas
e atendimentos, propiciam ao terapeuta de Yoga desenvolver a necessária
intuição para que sua criatividade possa fluir de forma livre e responsável, e
com um alto nível de capacitação profissional.
Não deve ser intenção do yogaterapeuta pretender substituir o médico,
o psicólogo, o fisioterapeuta ou o ortopedista, muito porque o amplo e holístico
leque do Yoga permite uma rica e sinérgica interação com todas estas áreas
da saúde.
O profissional de Yogaterapia também deve estar profundamente
consciente de que, além de terapeuta, ele é, sobretudo, um educador. O processo
de manutenção e recuperação da saúde passa fundamentalmente por um
trabalho consciente e profundo de reeducação, função esta que, infelizmente,
não está sendo devidamente exercida por nossa medicina moderna.
86 | Ernani Fornari
QUEM É O DONO DO YOGA?

Nesta discussão em torno do assunto Educação Física X Yoga, parece


que vamos acabar vendo o mesmo filme que o pessoal da Acupuntura está
vendo em relação aos médicos que querem o monopólio desta atividade.
Não se pode abrir uma fatia no mercado sem que apareçam logo os
pretendentes a "dono" do negócio.
Gostaria de sugerir a reflexão em cima de uma abordagem que creio
ainda não foi levantada: nem Yoga deve ser propriedade da Educação Física,
nem esta não tem absolutamente nada a ver com Yoga.
Tem a ver sim. Tem muito a ver até. Yoga também mexe com corpo
e com reeducação e reequilíbrio corporal. Com Asanas estáticas , mas com
movimento também (Vinyasa). E com alongamento e com força. Vejam, por
exemplo, Yoga Sukshma Vyayama, Pavana Muktasana e Surya Namaskaram.
Isso sem falar em Power Yoga , Yoga Fitness e Ashtanga Vinyasa, que
possuem uma tônica de trabalho corporal intenso, e também o Vinyoga que
com as técnicas criativas de Vinyasa trabalha em cima do desenvolvimento
das Asanas.
Técnicas com forte trabalho de condicionamento físico - embora os
instrutores profissionais de Yoga saibam muito bem que estas técnicas tem
na verdade uma atuação muito mais ampla e profunda.
Yoga realmente tem muito a ver com a educação e com o físico.
Mas por outro lado, o Yoga também é profundamente terapêutico, e
como trabalha bastante os ossos, articulações e músculos, e ministra técnicas
de terapia corporal, de repente pode ser que apareçam sindicatos ou conselho
reclamando para a Fisioterapia o monopólio do Yoga...
E aliás com toda a “razão”, afinal a própria Yogaterapia acaba tendo
uma função geralmente bastante fisioterápica - pelo menos no inicio do
tratamento - pois a demanda mais premente dos alunos / clientes acaba sendo
quase sempre a questão do condicionamento físico e o problema da dor.
E o que dizer então das demandas psicológicas e emocionais? O
Yoga em sua natureza essencialmente holística e sistêmica, não atua também
profundamente na psique e nas emoções? Será que também vão aparecer
algum conselho que vai tentar ficar com o Yoga para a Psicologia?
Quem será afinal o dono do Yoga?
Os instrutores de Yoga - aqueles que conhecem Yoga porque estudaram
Yoga, sem ter sido preciso necessáriamente estudar Medicina ou Educação
Sanatana Dharma | 87
Fisica, Psicologia ou Fisioterapia (embora tenhamos estudado muito Anatomia,
Fisiologia e Psicologia) - sabem muito bem que a principal característica
do Yoga, fruto das profundas percepções dos sábios do passado, é interagir
sempre em todos os níveis do ser : físico, psíquico, emocional, energético e
espiritual, e sempre simultâneamente do interno para o externo e do externo
para o interno. E os instrutores de Yoga sabem também, pelos motivos citados
anteriormente, que o Yoga se interrelaciona multidisciplinarmente com todas
as áreas do conhecimento humano.
Nós, instrutores profissionais de Yoga, também sabemos perfeitamente
que o Yoga não é tão sómente um conjunto de técnicas.
A Educação Física e a Fisioterapia são.
Yoga é um processo de autoconhecimento, de cura da doença
fundamental - mãe de todas as doenças - que é Avidya, a ignorância primordial
de quem somos.
A grande diferença, a fundamental diferença do Yoga para a Educação
Física e a Fisioterapia, é que para ser instrutor de Yoga tem-se que ser yogue
24 horas por dia. Yoga é filosofia de vida, é prática pessoal constante do
autodesenvolvimento integral.

Yoga é patrimônio da humanidade, não é propriedade de


nenhuma área em especial, senão de todas.

Essa estória da Educação Física de "mexeu com o corpo e não está


doente, é com a gente" não expressa toda a verdade, pois o Yoga, em seu
caráter simultâneamente preventivo e curador, acolhe os que não estão e os
que estão doentes.
Bem, espero que não acabe agora vindo algum conselho médico
querendo também embolsar o Yoga para a Medicina...
88 | Ernani Fornari
YOGA, ESPORTE E MUSCULAÇÃO

O boom que hoje presenciamos da enorme proliferação das Academias


de Musculação, vem sinalizar mais um aspecto preocupante dentro do difícil
e complicado cenário deste final de milênio.
Quando a busca da felicidade, ou mais específicamente, o resgate
da auto-estima é direcionada e buscada tendo como referência apenas o
desenvolvimento da estética corporal, a única coisa que realmente se obtem
é o incremento de uma vaidade fútil e a vazia inflação do ego.
Quando este fato está associado a uma prática anti-fisiológica, o
panorama é ainda mais perigoso.
No caso das Academias de Musculação, a busca desta estética corporal
(estética esta, diga-se de passagem, de gosto absolutamente discutível), passa
fundamentalmente por um processo geralmente agressivo de hipertrofia
muscular.
A hipertrofia muscular é o aumento do volume muscular em função
de exercícios com movimento e carga, feito com pesos ou aparelhos.
Esta hipertrofia muscular só deveria ser promovida sob indicação
terapêutica em casos muito específicos, como por exemplo: longos períodos
com gêsso após fraturas, onde se perde massa muscular, ou para estabilizar
articulações (como, p.ex., o joelho) em casos de lesões ligamentares ou
cartilaginosas, ou ainda em determinados problemas congênitos.
Os trabalhos de hipertrofia por encurtarem a musculatura, podem
agredir as articulações comprimindo-as e tornando seus cultores potenciais
vitimas de problemas articulares, como por exemplo, artroses e artrites.
O Yoga preconiza que a saúde muscular está associada ao alongamento
de suas fibras e a promoção da força da musculatura (o que não significa
necessáriamente aumento do volume muscular). E ensina também que a
felicidade e a saúde fisica / mental / emocional / energética estão associadas
a uma profunda e rica integração da pessoa consigo mesma, com o meio e
com seus semelhantes.
Não é que as Academias não atuem com alongamento muscular. Mas
esta atividade quando realizada sem um trabalho concomitante de consciência
corporal, respiração e relaxamento, tem sua eficácia reduzida no que se refere
ao ganho de alongamento muscular em si, e apresenta pouca abrangência em
termos de um trabalho mais global e integral. Fora o fato de que existe a crença
que reza que alongar anula os efeitos da musculação. Raramente as pessoas
Sanatana Dharma | 89
que buscam academias com intenções estéticas se alongam.
No Yoga, a auto-estima é fomentada, não por meio exclusivamente do
desenvolvimento da beleza fisica (embora esta não seja desprezada, ainda que
perecível), mas por meio da gradual expansão do espaço interior em função
de uma saudável atividade fisica, intelectual e afetiva. O desenvolvimento
da inteligência e da cultura, da vida criativa, da intuição e da capacidade de
amar e se doar, fazem o ego estar equilibrado e instrumentalmente eficiente,
mantendo-se firme e centrado sem ser inflado, e pacífico e manso, sem ser
débil.
Segundo o Yoga, a atividade física deve visar o desenvolvimento
integral do ser humano, começando por um bom nível de consciência corporal,
passando pelo domínio da respiração, alongamento muscular, aprendizado do
relaxamento e prática da meditação, sempre embasada na idéia de que o Yoga
é um processo (e não sòmente uma técnica) que trabalha inevitávelmente e
simultâneamente de dentro para fora e de fora para dentro.
A prática do Yoga repousa fundamentalmente sobre o trinômio
consciência / intenção / vontade. Este importante tripé é que possibilita o
“link” entre as diversas dimensões e aspectos pessoais que são mobilizados
pela atuação holística do Yoga.
O Yoga já sabia - e o Dr. Wilhelm Reich respaldou e corroborou - que
nossa vida psíquica e emocional se escreve em nosso corpo. Na postura e na
musculatura.
Repressões, traumas e desequilibrios, criam, ao longo do tempo,
couraças musculares. E o trabalho de hipertrofia muscular também é um
promotor artificial de couraças.
Quando alongamos a musculatura, além de liberarmos a pressão das
articulações e promovermos uma correta postura, também dissolvemos os
nós internos que encouraçam os músculos, processando e liberando material
psico-emocional do inconsciente.
Da mesma forma que quando meditamos ou relaxamos profundamente,
processamos - sempre de forma homeopática e “digerível” - este material
inconsciente, acarretando uma profunda atuação no corpo físico, na mente e
nas emoções.
No caso dos esportes, o Yoga considera, óbviamente, saudável sua
prática, contanto que esta seja polivalente, isto é, que se pratique sem exageros
diversas modalidades. O uso unilateral do esporte, como no caso do esporte
profissional, acarreta em uma utilização excessivamente especializada do corpo
ocasionando os inúmeros problemas ósseos e musculares tão conhecidos e
temidos pelos atletas.
90 | Ernani Fornari
Neste sentido a musculação pode auxiliar na prevenção e na
minimização destes problemas.
O esporte, especialmente o profissional, vem também inevitávelmente,
desenvolver um profundo sentido de competição e de disputa, o que, dentro da
perspectiva do Yoga, é incompatível com o desenvolvimento de um verdadeiro
espírito holístico, universalista e fraterno. O unico “adversário” real é nosso
próprio ego.
O Yoga pode ser de extrema utilidade para o esporte, alongando a
musculatura (prevenindo entorses e contraturas), proporcionando excelente
condicionamento cárdio-respiratório, promovendo consciência corporal,
ensinando a relaxar apropriadamente, e principalmente, aumentando a
concentração , os reflexos, e o equilíbrio psico-emocional do atleta.
Sanatana Dharma | 91

PROCURANDO ENTENDER A ÍNDIA


(a respeito da novela da Globo)

A ORIGEM DAS CASTAS

A primeira coisa a fazer ao se tentar entender aspectos de outra cultura


é procurar acessar o que se quer avaliar através da perspectiva da própria
cultura em questão, considerando e respeitando todo o complexo leque de
características e peculiaridades históricas, culturais, religiosas etc, inerentes
a esta cultura.
Assim, para entender o sistema de castas da Índia temos que considerar
primordialmente que toda a cultura Hindu se constrói sobre o conceito, o
paradigma da reencarnação.
A idéia central é que a sociedade é como um organismo, um corpo.
E um corpo tem diversas partes e funções, assim como a sociedade. E
a reencarnação é a dinâmica que vai movimentando e desenvolvendo o
corpo social através do trânsito dos espíritos em evolução através de suas
encarnações nas diversas castas. Então os Brahmanes (os sacerdotes) seriam
a cabeça pensante da sociedade, os Kshatriyas (militares e políticos) seus
braços protetores, os Vaishyas (agricultores, industriais e comerciantes) o
tronco nutridor, e os Shudras (operários, camponeses, empregados), as pernas
serviçais.
Originalmente a função de um Brahmane seria fornecer subsídios
éticos, morais, culturais, educacionais, filosóficos e religiosos, para que as
castas inferiores pudessem ir crescendo e evoluindo. Os Brahmanes não
deveriam extrapolar suas funções e seu poder, porque sabiam que no passado
já tinham sido Shudras, Vaishyas e Kshatriyas. E os membros das castas
inferiores não deveriam ter inveja ou raiva das castas superiores, pois sabiam
que não só eles um dia também serão Brahmanes, como também sabiam que
os Brahmanes já tinham passado pelas outras castas em outras vidas.
E o mais interessante é que originalmente o critério que determinaria
a casta de alguém não era necessariamente o do nascimento. Em principio, um
filho de Brahmane era um Brahmane, mas teria que provar sua qualificação,
podendo ter que se re-estabelecer em uma casta abaixo.
Mas paradoxalmente a isto, foi o sistema de castas quem influiu
bastante para que a Índia se mantivesse coesa e íntegra enquanto cultura e
espiritualidade, ao longo de diversas invasões e colonizações. Vamos ver o
92 | Ernani Fornari
que vai acontecer agora com a “colonização” global.
Pessoalmente, realmente não sei se este sistema em sua forma original
e autêntica, algum dia funcionou antes de se estratificar e se deturpar, gerando
o que até hoje ainda persiste. Na época de Buddha, há mais de 2500 atrás,
os Brahmanes já formavam uma casta totalmente poderosa e absolutamente
fechada em sua posição superior.

OS DALITS

Existem duas teorias sobre o surgimento da cultura védica na Índia. A


mais conhecida diz que os Arianos (povo de pele mais clara, predominante no
norte do país) invadiram a Índia há milênios atrás, vindos do oriente médio,
e conquistaram o povo que lá vivia (chamados de Dravidianos - pessoas de
pele escura, mais predominantes hoje no sul da Índia) implantando a cultura
védica, que acabou se misturando com a espiritualidade existente (chamada
de Tantrismo), gerando o que os ingleses chamaram de “Hinduísmo” – e que
os hinduístas chamam de Sanathana Dharma, a Religião Eterna.
Os Dalits - ou sem casta, ou ainda, intocáveis - seriam os remanescentes
destes dravidianos conquistados e excluídos.
A outra teoria, mais moderna, tenta provar que tanto Arianos como
Dravidianos se desenvolveram na própria Índia, não tendo havido nenhuma
invasão no passado.
No passado, um Dalit não podia tocar a sombra de um Brahmane.
O Brahmane se considerava contaminado e tinha que tomar banho, trocar de
roupa, fazer orações...
Hoje, existem Dalits ricos e influentes, como a governadora de Uttar
Pradesh e o presidente da Suprema Corte, mas grande parte dos 160 milhões
de Dalits ainda vive em situação de extrema pobreza.
Uma curiosidade: Mahatma Gandhi, sempre viajava pela Índia e
tinha que pernoitar em alguma cidade, procurava saber onde era o bairro dos
intocáveis, e lá dormia.

A SITUAÇÃO DAS MULHERES

Esta questão também tem que ser olhada através da lente da própria
cultura indiana. Há milênios eles lidam amplamente com temas como
sexualidade, paixão, desejo, sensualidade, tudo muito misturado com outros
temas como Espiritualidade, Religião, Filosofia e Mitologia.
A cultura indiana ao mesmo tempo em que possui um sem numero
Sanatana Dharma | 93
de Escrituras Sagradas exortando a virtude e a importância do celibato,
tem também toda uma cultura tântrica que utiliza a energia sexual para o
desenvolvimento espiritual. E tem ainda um livro, o Kama Sutra, que é um
verdadeiro tratado – e altamente sofisticado - do prazer sensual e sexual.
Podemos, então, observar muitos costumes que aos nossos olhos são
estranhos, incoerentes e paradoxais: na Índia a mulher é considerada inferior
ao homem (algumas seitas chegam a considerar a mulher 7 vezes inferior ao
homem, e outras consideram a mulher como sendo uma casta inferior): come
depois dos homens, não fala se não fosse perguntada, anda atrás do homem
na rua, além de ter que – no passado - se imolar na pira do marido.
Por outro lado, é ela quem tem a chave da casa e da despensa, e que
quando o marido recebe o salário fica com todo o dinheiro. Ou seja, a esposa
é quem realmente manda em tudo na casa. Assim, ao mesmo tempo em que a
mulher é considerada inferior – algumas linhas afirmam até que a mulher não
pode se iluminar - ela é a própria expressão humana da Mãe Divina.
Os casamentos tradicionalmente pré-arranjados, são a forma de se
perpetuar o sistema de castas e toda a antiga estrutura social e religiosa. Mas
achei interessante quando eles falam que “no ocidente o casamento começa
quente e depois esfria, e na Índia começa frio e vai esquentando”. É uma outra
perspectiva da vida afetiva e sexual.
Um outro costume, é o fato de que tradicionalmente toda a família
mora junta. A mulher quando casa vai morar na casa dos sogros onde
normalmente não é muito bem tratada inicialmente, e onde a maior prova de
respeito e consideração, é receber da sogra a chave da despensa.
O fato é que o ocidente e seus costumes estão entrando rápida e
expansivamente na Índia, remexendo com a velha estrutura, pois assim como
também acontece com as nações indígenas sul e norte americanas, os jovens
não estão querendo mais seguir as tradições, então os costumes e hábitos
mais antigos vão sendo preservados cada vez mais apenas nas zonas rurais.

OS IDOSOS

Os velhos no Oriente são tratados de forma muito mais respeitosa


e justa do que entre nós ocidentais. Nas culturas antigas (isso vale, por
exemplo, para orientais, os africanos e os índios), onde o principal veículo do
aprendizado era a tradição oral, os velhos tinham uma importância enorme,
tanto na manutenção da cultura e da espiritualidade quanto na própria
sobrevivência física. Era o ancião quem passava todo o “know how” da ciência
prática da perpetuação da espécie e da cultura. Na Índia, e acredito que em
94 | Ernani Fornari
muitas outras culturas antigas, o melhor aposento da casa é sempre para a
pessoa mais velha. E a palavra final é sempre da pessoa mais idosa.
Pessoalmente, penso que uma pessoa idosa deveria ter três coisas
para compartilhar com a gerações mais jovens: a experiência da vida, os
conhecimentos e a Sabedoria.
Experiência da vida, ou vivência, é aquele tipo de conhecimento fruto
do tempo cronológico vivido. Ou seja, basta ser velho para ter experiência
da vida. E este tipo de conhecimento nivela, por exemplo, o catedrático da
universidade e o peão da roça.
Conhecimentos, acúmulo de informações, cultura, técnicas e
habilidades, todos os idosos também têm, cada um na sua área de atuação e
de interesses.
A terceira qualidade, que chamei de Sabedoria, é um tipo de
conhecimento oriundo de uma vida inteira dedicada – conjuntamente com
a vida rotineira - ao exercício da tarefa mais importante do ser humano: sua
jornada rumo à realização da sua natureza real.
Este exercício, que é tão comum aos universos oriental e xamânico,
por exemplo, não teve muito eco em nossa cultura. Parece que tudo o que
nossos velhos podem nos dar hoje são os testemunhos da sua vivência e muitas
informações e conhecimentos, o que obviamente é maravilhoso.
Mas a Sabedoria foi relegada a um plano secundário pela cultura
ocidental que só privilegiou a mente racional, e não fez da Iluminação a meta
principal da existência.
Hoje, em nosso mundo hi-tech globalizado, descartável, competitivo
e de alta velocidade de obsolescência, a vivência e os conhecimentos práticos
dos velhos já não são mais considerados preponderantes para a preservação
física, cultural e espiritual da nossa espécie.
E como falta aos idosos ocidentais esta Sabedoria atávica e ancestral,
característica de culturas que se dedicaram durante milênios às questões mais
primordiais da existência - “quem somos, de onde viemos, e para onde vamos”
- vemos nossa cultura tratar muito mal os idosos.
É interessante reparar como os índios, os japoneses, os indianos, os
chineses e os islâmicos cultuam e reverenciam os antepassados. Com gratidão
e respeito

CRIANÇAS e EDUCAÇÃO

Gostaria de compartilhar uma interessantíssima conversa que tive


com uma mãe indiana, numa situação onde tinham crianças brincando perto,
Sanatana Dharma | 95
em algum momento elas brigaram e a conversa acabou caindo em educação.
Percebi que esta mulher (que era PhD em economia) muito tímida e educada,
não estava expressando sinceramente a sua opinião. Acabei insistindo e ela,
bastante envergonhada, disse: “Vocês criam suas crianças enfatizando os seus
defeitos”.
Uma luz acendeu, perguntei como isto acontece em seu país e ela deu
um exemplo prático mostrando as crianças que brincavam: “Por exemplo, se
uma criança exibe um comportamento de ter dificuldade em compartilhar,
arranca os brinquedos dos outros, bate, não empresta o dele, o que vocês fazem
normalmente? Gritam (com raiva) dizendo que a criança é egoísta, pão dura,
enfatizando e registrando mais ainda a característica em questão. Isso quando
não a colocam de castigo ou batem...”.
Acrescentou que procuraria habilmente criar uma brincadeira, uma
situação qualquer onde a criança tivesse que compartilhar e assim percebesse
que era bom o dividir, o partilhar. Assim, o que eram tendências de defeitos
ainda em formação (que os hindus chamam de Vasanas, que são formadas por
Samskaras, registros psico-emocionais oriundos das experiências vividas),
poderiam ser re-polarizadas (ou re-significadas) nas qualidades e virtudes
opostas. Interessante, não?
Mais interessante ainda, foi que eu contei esta história para uma amiga
que tempos depois foi passar um período em uma tribo indígena no centro
do Brasil, e na volta me contou, bastante impressionada, que ela havia visto
acontecer entre os índios brasileiros aquilo que a indiana falara.
Em algum momento haviam crianças brincando, mulheres tomando
conta, e alguma criança manifestou algum “defeito” e logo as índias criaram
uma brincadeira para curar a criança do que poderia ser um futuro padrão
desequilibrado de comportamento.
Hoje sou muito grato ao Universo por ter tecido o meu encontro
com estas duas grandes Tradições: o Hinduísmo e o Xamanismo. Isto mudou
radicalmente o meu padrão de relação com meus filhos e com meus pais, e
norteou para mim a possibilidade de uma via de envelhecimento muito mais
plena e saudável.

PORQUE UMA NOVELA SOBRE A ÍNDIA?

Os anos 60 e 70 assistiram a uma espécie de (re)nascimento do Oriente


no mundo ocidental. A geração beat e o movimento hippie começaram a
importar da Índia e da China um universo que viria a “contaminar” profunda
e positivamente nosso mundo cristão/capitalista. Parece que a Gaya - a
96 | Ernani Fornari
Consciência Planetária - sentindo a imensa situação de desequilíbrio ambiental
e humano pela qual a Terra atravessa, achou interessante que conhecimentos
ancestrais, milenares, pudessem vir novamente à tona para que pudessem
contribuir para a reversão do preocupante quadro mundial.
Hoje todo mundo, de alguma forma, já ouviu falar ou já experienciou
alguma vez Yoga, Shiatsu, Meditação, Acupuntura, Tai Chi Chuan, Feng-Shui
etc, ou já ouviu falar de Chakras, Zen, Macrobiótica, Ayurveda, Budismo etc.
Enfim, passados mais de 40 anos, o universo oriental se integrou perfeitamente
– e ainda está se expandindo – ao ocidental.
Uma novela em horário nobre da Rede Globo sobre a Índia é, com
certeza, uma constatação da integração crescente entre estas duas culturas. O
que antes era cultuado por alguns pequenos grupos de adeptos do Yoga e da
meditação, agora está na grande mídia.
A grande mensagem e a principal contribuição – dentre muitas
- que o Oriente veio nos trazer, foi a idéia da Unidade. A perspectiva de
que o Universo, a Criação, é um só Organismo, um só Ser, totalmente inter-
relacionado, interligado, integrado, interagente, interdependente, totalmente
consciente, infinito e eterno. Uma grande teia onde cada infinitesimal partícula
sub-atômica e cada gigantesca galáxia é consciente e inteligente. Onde cada
elemento desta imensa rede, além de estar interconectado com toda a rede,
também funciona como um imã, que fica constantemente, magneticamente,
atraindo e repelindo coisas e situações num movimento sincrônico e ressonante
de permanente evolução, de contínua (re) criação da Realidade.
Como disse C. G. Jung em 1949, no prefácio do livro “I Ching”,
de R. Wilhelm: “O pensamento tradicional chinês apreende o cosmos de um
modo semelhante ao do físico moderno, que não pode negar que seu modelo
do mundo é uma estrutura decididamente psico-física”.
Esta mudança de perspectiva trouxe um novo alento à péssima
autoestima a que a religião vigente nos condicionou. Agora temos a informação
de que não somos mais vis pecadores e culpados congênitos que dependem da
misericórdia divina de um Deus que habita um paraíso distante, para podermos
vir a ser algo que ainda não somos. E que também além de não sermos culpados
de nada (nem vítimas de nada nem de ninguém), não somos o produto final
“top de linha” da Criação e nem a Terra foi criada prioritariamente para nosso
uso exclusivo, como se fosse um grande shopping center a nossa inteira e
ilimitada disposição.
O novo paradigma vem nos (re)informar que, na verdade, já somos a
Perfeição, a Plenitude e a Felicidade que buscamos. Nossa essência primordial
é o Uno, a pura Luz e o puro Amor. Nós só estamos míopes, ignorantes dessa
Sanatana Dharma | 97
realidade. Só temos que resgatar a consciência de que somos todos co-criadores
e corresponsáveis pela Vida, de que somos “partes” desse Todo consciente e
vivo que é a Criação, o Universo. (É bem melhor ser ignorante do que culpado
e pecador, não?)
Outra grande contribuição trazida do Oriente foi o resgate da Energia.
Da Energia Vital (Prana, Chi, Ki) em suas mais diversas manifestações,
que sustenta o Universo. E também que podemos, de muitas formas e
maneiras, instrumentalizá-la e utilizá-la em nosso favor para nossa evolução
e crescimento.
A partir do universo aberto pelo Oriente, muitos caminhos se
desdobraram, cresceram e multiplicaram (inicialmente através dos beatniks
e dos hippies), como a consciência e o movimento ecológico, as terapias
alternativas, a agricultura orgânica, a alimentação natural, o espiritualismo e o
esoterismo em geral. Tudo agora já bastante inserido em nosso universo urbano
e globalizado, trazendo no seu cerne uma nova visão de mundo holística,
sistêmica e integrativa.
Paralelamente a estes acontecimentos, a Ciência também já vinha
sacudindo seus velhos paradigmas, com a expansão da Física Quântica (que
veio e vem corroborando e respaldando o que os orientais e os xamãs vêm
dizendo há milênios) e da Psicologia, através principalmente da Psicologia
Transpessoal, que vem agregando outras possibilidades de compreensão da
mente e da vida, resgatando a utilização das inúmeras ferramentas de cura e
de expansão da consciência das antigas Tradições.
98 | Ernani Fornari
RENASCIMENTO, O PRANA COMO TERAPIA

Renascimento é um trabalho respiratório profundo - que no Yoga


se chama pranayama - cujo objetivo é restabelecer e incrementar a livre e
equilibrada circulação da energia vital (prana), proporcionando expansão da
consciência e, consequentemente, uma vida mais plena, saudável e feliz.
O Renascimento, a partir de uma respiração circular, conectada
e vibrante, vitaliza poderosamente os sistemas nervoso, cardio-vascular,
respiratório e imunológico, desbloqueia o fluxo da energia bem como das
emoções reprimidas que provocam tensões e se somatizam na forma de
desequilíbrios e doenças.
Os trabalhos respiratórios terapêuticos ficaram conhecidos através
de Leonard Orr - que formatou a terapia do Renascimento (Rebirth) a
partir principalmente de seu aprendizado na Índia, e de Stanislav Grof, um
dos pioneiros da Psicologia Transpessoal, e que desenvolveu a técnica da
Respiração Holotrópica.
Para se ter uma idéia da enorme importância da respiração, no que
diz respeito à nossa saúde psico-emocional, é interessante lembrar que o Yoga
reconhece a profunda correlação entre a frequência da respiração e a frequência
dos pensamentos, como, por exemplo, é dito na Bhagavad Gita “parece que
dominar o coração ou a mente em suas inclinações e seus pensamentos, é tão
difícil como reter um forte vento”.
Na meditação podemos sentir perfeitamente este princípio. Na medida
em que a respiração vai se acalmando e diminuindo a sua frequência, a mente
também vai diminuindo e silenciando o seu burburinho, e vice-versa.
Por outro lado, Wilhelm Reich, o pai da psicoterapia corporal,
relacionava estreitamente a amplitude da respiração com a amplitude da
experienciação dos sentimentos e das emoções.
Ele percebeu que contrair a musculatura e diminuir a respiração são
dois dispositivos do complexo corpo/mente que são acionados para evitar-se
sentir e entrar em contato com questões dolorosas e traumáticas.
E nestas situações, a energia – que Reich chamou de orgon, os
hindus de prana, os chineses de chi e os japoneses de ki – tem sua circulação
bloqueada, ocasionando desequilíbrios e doenças de toda a espécie.
Levando-se em conta o fato de que tudo na criação universal é de
natureza intrinsecamente dual, com a respiração ocorre o mesmo, e os atos
de inspirar e de expirar expressam no nosso corpo e na nossa energia, esta
Sanatana Dharma | 99
dualidade sistêmica – inspirar é yang, ativo, masculino, simpático, adrenalina,
desejo; e expirar é yin, passivo, feminino, parassimpático, endorfina,
relaxamento, entrega, desapego.
Um Mestre hindu falou que “respirar é deixar a vida entrar”. Então
podemos dizer, simbólica e energeticamente, que quando eu inspiro digo para o
Universo: “Eu mereço, quero e posso tudo a que eu tenho direito na qualidade
de co-participante da Criação”. E quando eu expiro digo: “Eu me liberto e me
desapego de tudo o que me limita na percepção e na experienciação de quem
eu realmente sou – a Unidade”.
No Renascimento, produz-se uma situação de hiper-ventilação, que vai
funcionar como um amplificador de energia e que vai agir como um verdadeiro
“roto-rooter”, dissolvendo as couraças e os bloqueios e abrindo caminho para
a livre circulação do prana - a energia universal inteligente – que, diga-se de
passagem, faz perfeitamente bem o seu trabalho sem que necessitemos tentar
manipular ou controlar o processo. Muito ao contrário, apenas respiramos,
relaxamos, observamos, e deixamos a energia inteligente trabalhar!
Nesta ambiência energética tão especial, experimenta-se um amplo
processo de liberação das tensões corporais, e uma profunda limpeza, liberação
e integração do material inconsciente subjacente a estas tensões e couraças.
E este processo acontece em diversas fases de aprofundamento.
Num primeiro momento, a respiração geralmente vai trabalhar na
dissolução das couraças musculares, frutos das nossas tentativas de - para não
sofrer – resistir, tentar controlar e se defender do fluxo natural da vida, o que
vai fazer serem represadas no corpo as emoções não conscientizadas e não
aceitas, na forma de tensões crônicas. A respiração, nesta fase, é um verdadeiro
aprendizado de relaxamento, entrega, não-controle e não-resistência.
Indo mais profundamente, acessam-se as emoções e sentimentos que
estavam nos “bastidores” das couraças.
E em um nível ainda mais profundo, são acessados os núcleos dos
padrões limitadores, dos traumas e das questões que foram rejeitadas e
reprimidas, liberando-os e integrando-os.
No Renascimento experimenta-se um estado alterado de consciência,
onde muitas limpezas e transmutações podem ocorrer, como no caso de
questões ainda não conscientizadas, liberadas ou integradas, oriundas da fase
intra-uterina, do nascimento e/ou da primeira infância, e até de vidas passadas,
e que ainda hoje estão produzindo sofrimentos e limitações.
Da mesma forma como acontece com a Meditação – embora por
outras vias – todos os conteúdos psico-emocionais dolorosos e limitadores
que são liberados da dimensão inconsciente e vem para a superfície do
100 | Ernani Fornari
consciente durante uma sessão de Renascimento, vem para ser encaminhados,
ressignificados e integrados.
Respirar energeticamente também é muito útil como ajuda no combate
ao estresse e a depressão, melhora o sono, fortalece os sistemas imunológico,
nervoso e cardíaco, aumenta a capacidade respiratória (sendo útil na asma e na
bronquite) , além de ajudar a promover uma vida feliz, equilibrada e saudável.
O processo de respirar terapeuticamente consiste, em principio, de 10
encontros de 90 minutos cada um, uma vez por semana ou quinzenalmente.
Posteriormente podem ser necessários mais 10 encontros, mas o objetivo é
que, passada a fase da limpeza e da purificação, a pessoa venha a respirar
sozinha de forma independente.
No meu trabalho com Renascimento, integro, quando necessário, as
técnicas do Alinhamento Energético (Fogo Sagrado) e do Reiki.
O Renascimento não é indicado para pessoas com problemas
cardiovasculares graves, com doenças psiquiátricas sérias, pessoas muito
idosas, jovens antes da puberdade e gestantes com problemas.
Sanatana Dharma | 101

ORTODOXOS e HETERODOXOS
Compatibilizando os aparentes opostos

Ao longo da história da Humanidade, mais especificamente no que se


refere ao desenvolvimento e desdobramento do Conhecimento no planeta (e
isso acontece, por exemplo, no âmbito da Ciência, das Religiões, da Filosofia
e da Psicologia), parece que duas correntes de pontos de vista diametralmente
opostos caminham lado a lado, paralelamente, desde sempre. Vou chamar uma
destas correntes de “ortodoxia” e a outra de “heterodoxia”.
O ortodoxo, neste caso, é aquele que segue uma determinada linha,
uma única Escola, Religião ou Tradição específica. Ele é o guardião de uma
versão particular, um ponto de vista específico – religioso ou filosófico - sobre
Deus, sobre o homem e/ou sobre a Vida e seu funcionamento e sobre filosofia,
teologia, psicologia, metodologia e ritualística.
A função do ortodoxo é manter a essência do Conhecimento da sua
Tradição, viva e protegida. Zelar pela manutenção da pureza e da originalidade
do Conhecimento que é o seu patrimônio cultural, científico ou espiritual. É
a sua verdade.
O heterodoxo é aquele que não necessariamente pertence
especificamente a alguma Tradição ou Escola (mas que também pode pertencer
ou ser simpatizante de várias), e é quem integra caminhos e faz pontes entre
Tradições (são inumeráveis as conexões possíveis entre as Religiões, entre as
escolas de filosofia, as linhas de Psicologia).
Uma das características da heterodoxia é fazer releituras, adaptações,
reformas. Pode-se até ser um heterodoxo dentro da ortodoxia como, por
exemplo, de uma certa forma o foram São Francisco de Assis e Santa Teresa
D’Ávila no Catolicismo.
A função do heterodoxo é atualizar, reciclar, reformar, re-significar,
reler, reinterpretar, adaptar e re-integrar. A atitude do heterodoxo é geralmente
eclética (e muitas vezes sincrética), não-dogmática, não-sectária e ecumênica.
É como um corpo que se movimenta dinamicamente em torno de um
mesmo eixo firme.
Isto acontece, por exemplo, na India, no caso dos Vedas, que é a
espinha dorsal do que se convencionou chamar de Hinduísmo (palavra que
na versão “hindu” se chama Sanathana Dharma, a Religião Eterna).
102 | Ernani Fornari
E em torno dos Vedas orbitam centenas, milhares de linhas, filosofias,
seitas, escolas, etc. muitas delas diametralmente antagônicas em sua teologia,
mitologia, filosofia, cultos, etc. e que se degladiam há milênios em complexas
especulações filosóficas e doutrinárias, todas apoiadas por milenares escrituras,
mas simultâneamente todas elas unidas em torno de um mesmo eixo central
que são os Vedas.
Se houvesse apenas a ortodoxia, o Conhecimento se enrijeceria,
congelaria, não se reciclaria e assim não conseguiria atravessar os milênios
de mudanças incessantes na humanidade.
E se houvesse apenas a heterodoxia, o Conhecimento também não
atravessaria as eras, pois sem um “espírito da coisa” bem estruturado como
centro e eixo de um processo de crescimento e desenvolvimento, não haveria
nem o que ser reciclado. Não haveria substância.
Já que falei dos Vedas, é bom lembrar que o corpo central destas
escrituras se divide em duas partes: uma, o Shruti, que são as escrituras
reveladas, canalizadas, essência central, nuclear e imutável de todo o
Hinduísmo. É a parte mais ortodoxa dos Vedas.
A outra, o Smriti, que são as escrituras comentadas, que se por um lado,
em função da sua antiguidade, também são consideradas ortodoxas, tiveram
a tarefa de reler, interpretar, adaptar e atualizar o Conhecimento.
Todo o Yoga que se pratica hoje no ocidente é fruto de uma atitude
heterodoxa de alguns Mestres de Hatha Yoga nos séculos 19 e 20, que
atualizaram e adaptaram antigos conhecimentos de Hatha Yoga, Raja Yoga e
Tantra Yoga, e que era destinado aos monges e ascetas.
De repente milhares de ocidentais começaram a afluir aos Ashrams
na Índia e o Hatha Yoga, que originalmente era ensinado por um Guru a
poucos discípulos na floresta ou nas montanhas, teve que ser adaptado para
este sistema que conhecemos hoje em academias.
E essa é a grande beleza do funcionamento disso tudo: um não pode
prescindir do outro, são totalmente complementares, embora muitas vezes
pensem que são antagônicos.
Até porque, o heterodoxo de hoje é o ortodoxo de amanhã (que será
devidamente re-atualizado pelos heterodoxos de então...), e é assim que o
Conhecimento caminha através dos tempos.
Mas o fato é que a convivência destas duas vias de ser e de pensar
nem sempre (ou quase nunca) foi harmônica.
Sanatana Dharma | 103
Normalmente os ortodoxos têm uma tendência a se referir aos
heterodoxos como irresponsáveis e levianos que fazem uma salada (ou uma
“mistureba”) de caminhos e tendências, inventando coisas, fazendo “samba
do crioulo doido”, “viagem na maionese”, etc...
E os heterodoxos, por sua vez, tendem a se referir aos ortodoxos como
conservadores, intolerantes e radicais (e eventualmente fanáticos).
Obviamente que nem todo heterodoxo é picareta, e nem todo ortodoxo
é xiita. Em nome da ortodoxia e da heterodoxia já se fizeram muitas maravilhas
e também muitos absurdos.
O rabino Nilton Bonder (RJ) se refere a heterodoxia em seu excelente
livro “A alma imoral”, que fala sobre a natureza necessariamente transgressora
da alma para que possa seguir seu processo natural de expansão. Se as regras
e conceitos religiosos, sociais e culturais não fossem transgredidos, e assim,
repensados e atualizados, não sobreviveriam a incessante mudança dos tempos.
Vivemos tempos onde outras culturas entraram e têm entrado
profundamente em nossa cultura. Assim foi com as culturas orientais a partir
dos anos 60, e agora com as tradições xamânicas e as culturas nativas.
Uma atitude ortodoxa é muito necessária para resgatar e proteger
culturas e conhecimentos muitas vezes quase extintos.
Mas mais do que nunca o planeta pede uma atitude aberta e liberal.
Afinal, mesmo trilhando-se um só caminho, pode-se considerar que o do outro
também é bom e verdadeiro.
Pode-se ser ortodoxo sem ser necessariamente o “dono da verdade”.,
sem precisar fazer guerra “santa”. O problema é quando a minha versão de
Deus e da Vida começa ser a única verdadeira e a melhor para todo mundo ou
quando considero a minha certa e as outras erradas, e pior, quando entendo
que é minha função combater e mudar os “errados”.
Nós vivemos em uma situação de hiper-ortodoxia mundial. Vejam,
por exemplo, todas as guerras e problemas de ordem religiosa que persistem
desde sempre.
Vejam a medicina oficial, que não procura integrar outras terapias,
aceitar paradigmas e parâmetros técnicos e filosóficos de outras culturas e
épocas – que privilegiam, por exemplo, uma visão mais integrada do homem,
a prevenção das doenças e a reeducação da população. Uma atitude mais
heterodoxa neste caso beneficiaria a própria medicina em seu aspecto mais
amplo, mas parece que a postura ortodoxa no caso, prefere investir na cura
104 | Ernani Fornari
das doenças, atividade muito mais lucrativa, claro.
Por isso vivemos a cultura da doença e não da saúde, pois saúde
não dá dinheiro, e as transnacionais dominam e fomentam uma ideologia
alopática, sintomática e reducionista de se lidar com saúde e com doença.
Daí as intransigências, as interdições, as “caça às bruxas” que constantemente
vemos acontecer com relação às práticas “não oficiais”.
O planeta precisa de uma atitude holística, sistêmica, animista e
integrativa. E isso pode acontecer quando, primeiro as ortodoxias entre si,
e depois a(s) ortodoxia(s) e a(s) heterodoxia(s) deixarem de se considerar
antagônicas para operarem como complementares. Em outras palavras, quando
deixarem de lutar por suas diferenças e passarem a compartilhar seus pontos
em comum.
Sanatana Dharma | 105

TEXTOS COMPLEMENTARES
106 | Ernani Fornari
O PERIGOSO CIRCUITO DO COMER

Da terra à mesa, os alimentos que comemos passam por uma


verdadeira "Via Crucis" onde quem sofre são, principalmente, a Natureza,
os agricultores e os consumidores.
A Natureza, pela péssima forma como o solo é manejado e pelo
sem-número de venenos químicos que são utilizados nas diversas fases do
processo de produção; os agricultores, pela constante falta de política agrícola
num tratamento que nunca favorece o pequeno produtor, e pelo monte de
agrotóxicos que são induzidos a usar, muitas vezes sem qualquer assistência ou
esclarecimento; e os consumidores, que sofrem com os altos preços advindos
do alto custo de produção em função do delírio químico à que a agricultura é
submetida, e com os resíduos tóxicos que este delírio proporciona .
Vamos trilhar aqui, passo a passo, o trajeto pelo qual os alimentos
passam desde o preparo do solo para o plantio, até o prato que colocamos em
nossa frente na mesa, na hora da refeição.
O problema já começa na própria concepção de agricultura, que
geralmente oscila entre o modelo predatório que era utilizado pelos indígenas
antes de Cabral (e ainda o é, pela maioria dos pequenos produtores) onde o
agricultor chega, desmata, queima, planta por alguns poucos anos, e depois
que já não dá mais grande coisa deixa a mata se recompor ou faz pasto; e o
modelo da agro-industria onde imperam as grandes monoculturas, geralmente
para exportação.
Ambos modelos são ecológicamente nefastos. O primeiro, não
causava dano maior ao ambiente, pois eram poucos os índios em relação ao
tamanho do território. Mas de lá para cá, milhões tem sido os agricultores
que tem utilizado a fórmula "desmata-queima-planta-abandona", promovendo
intensamente a devastação e a erosão, pois os desmatamentos e as queimadas
degradam o solo deixando-o exposto a ação do sol, dos ventos e da chuva.
O segundo modelo trouxe intenso desmatamento, mecanizações
pesadas que pulverizam e compactam o solo (também acarretando sua erosão
e consequente esterilização), o uso maciço e abusivo dos adubos químicos
e dos agrotóxicos que envenenam a terra, seus frutos e os seres vivos, e as
grandes monoculturas que tornam os sistemas ecológicos estéreis, favorecendo
principalmente o aparecimento de pragas e doenças e criando condições sociais
injustas e miseráveis.
Diversos locais no Brasil onde outrora existiram terras férteis, hoje são
Sanatana Dharma | 107
verdadeiros desertos, frutos de um modelo de manejo do solo absolutamente
inadequado ao nosso clima tropical. Pois assim foi no Sul, e será também no
Cerrado se este modelo continuar dominando.
Arações profundas, solo descoberto e exposto, capinas frequentes, são
técnicas apropriadas para países de clima temperado e não para países como
o nosso com alta insolação e fortes chuvas.
Dado este triste passo temos agora a questão das sementes. Atualmente
o que existe é uma verdadeira guerra pelo controle genético das sementes. Mais
ou menos como está acontecendo com a informação, quem tiver o controle
sobre o capital genético terá um poder quase ilimitado sobre a humanidade.
O mais novo "avanço" são as sementes transgênicas, desenvolvidas
por multinacionais fabricantes de produtos químicos para agricultura, e de
consequencias ecológicas imprevisíveis.
Os países de Terceiro Mundo tem sido os que mais sofrem, pois
apesar de possuírem a maior diversidade de variedades, por falta de verbas e
de interesse político, não dão o devido valor às pesquisas, e por isso tornam-se
um "prato" para as poderosas multinacionais que influem até nos governos dos
países sub-desenvolvidos para poderem obter controle sobre o banco genético
destas nações mais pobres.
A "Revolução Verde" que deu o Premio Nobel ao Dr. Norman Borlaugh
em 1970, foi concebida sob o bondoso discurso de que se objetivava propiciar
aos países pobres melhores condições de alimentar sua população. Na verdade,
o que se conseguiu foi torna-los quase que completamente dependentes das
multinacionais que vendem a sua panacéia em pacotes (sementes híbridas/
adubos sintéticos/agrotóxicos), e destruir boa parte do seu capital genético.
Países tradicionalmente agrícolas como a India, que possuía milhares
de variedades de arroz, hoje está reduzida a algumas centenas, em função da
introdução das sementes híbridas.
A China, que há 5000 anos faz sua tradicional rotação soja/arroz
e possui uma invejável tecnologia de aproveitamento de matéria orgânica
(fezes humanas, esgotos de cidades, lixo, nada era perdido) está hoje em plena
"lua-de-mel" com a parafernália química que lhes foi imposta sob a capa de
"agricultura moderna".
O trágico é que as tais sementes híbridas de alta produtividade,
sozinhas não fazem verão. Então é necessário que se as super alimente
com adubos químicos, que por sua vez tornam as culturas suscetíveis ao
ataque de pragas e doenças sendo então necessário o uso do que as industrias
hipócritamente chamam de "defensivos".
No Paquistão o arroz milagroso da Revolução Verde acarretou numa
108 | Ernani Fornari
praga nunca vista de gafanhotos, enquanto que na Indonésia o uso desvairado
de agrotóxicos contaminou rios e lagos matando os peixes e criando uma onda
de fome sem precedentes.
Dado mais este passo, não é preciso dizer que a nossa lavoura já está
devidamente "calibrada" com todos os adubos químicos de praxe.
Estes adubos entre outros males, produzem frutos enormes porém
insossos (veja a diferença de sabor entre o cenourão do mercado e a cenoura
da horta caseira), mais pobres em nutrientes e mais perecíveis (orgânicos se
conservam por muito mais tempo).
As multinacionais dos venenos souberam fazer um bom marketing
subliminar, manipulando os critérios de qualidade do consumidor : bom é o
que é enorme, e tudo igualzinho, como se fosse feito em fábrica.
Isto sem falar em certos conceitos errôneos, mas infelizmente ainda
bastante em voga, que procuram vender a idéia de que agricultura sem química
não é viável em larga escala e que a agricultura ecológica produz frutos feios
e caros.
Além disso - exatamente por produzirem frutos enormes que na
verdade são produtos com mais água - o uso dos adubos químicos torna as
plantas mais sensíveis ao ataque de pragas e doenças, e aí é que entram os
agrotóxicos envenenando tudo: a terra, as culturas, as pragas, os insetos que
se alimentam das pragas (que só são pragas porque seus predadores também
são exterminados pelos venenos), os rios e lagos, os animais e o homem.
No meio deste arsenal, também se inserem os herbicidas que são
usados antes e durante o ciclo das culturas para fazer a "capina química",
ajudando ainda mais a esterilizar e envenenar o solo. Sim, porque em todo
o processo de plantio, desde os venenos a base de mercúrio que envolvem as
sementes, passando pelos adubos sintéticos, pesticidas, fungicidas e herbicidas,
todos são altamente biocidas e contaminadores. Muitos permanecem décadas
no solo e tem alto poder cancerígeno.
A soja transgênica (e posteriormente outras variedades de plantas
comestíveis), foi desenvolvida por uma fábrica de herbicida, e tem a
característica de não ser afetada por este herbicida.
O baixíssimo nível de informação da maioria dos agricultores faz com
que estes usem produtos sem o menor critério, seja na aplicação ou seja na
observância dos prazos de carência.
Continuando nossa jornada, se nosso agricultor ainda estiver vivo
(porque milhares de pessoas morrem ou se intoxicam por ano no Brasil e no
mundo), poderá colher e vender sua safra. Isto se, apesar dos venenos, as
pragas e doenças não tiverem impossibilitado a produção (o prof. Chaboussou
Sanatana Dharma | 109
em sua teoria da Trofobiose, mostra que, ao contrário do que se poderia pensar,
veneno atrai praga), se o banco não obrigar o agricultor a vender suas terras
para pagar os juros escorchantes do empréstimo para compra de insumos, e
se as gangs de atravessadores não comerem quase todo o seu lucro.
Se a produção tiver que passar por armazenamento, ela ainda levará
mais um banho de veneno para "protege-la" dos carunchos e gorgulhos
(alimentos não orgânicos são muito mais sensíveis a estes insetos), e o
agricultor ainda sofrerá a ação de outra máfia: a dos armazenadores, que
muitas vezes é o próprio governo.
E estamos cansados de ver toneladas e toneladas de alimentos
apodrecerem nos armazéns por causa da política dos preços, da política de
abastecimento, da política agrícola, da política de políticas...
No caso das frutas, estes quase insípidos produtos da agricultura
convencional são em sua maior parte pré-amadurecidos artificialmente
em câmaras de maturação que utilizam gases (geralmente acetileno). E
muitas vezes ficam meses em frigoríficos aguardando a entresafra. Estes
procedimentos contribuem para prejudicar mais ainda o seu sabor e sua
qualidade nutritiva e energética.
E o consumidor acaba tendo que ingerir um alimento contaminado
e desenergizado.
Para ilustrar como isso não é novo: em 1978 o Instituto Biológico de SP
juntamente com a CEAGESP e o CATI fez um monitoramento de resíduos de
agrotóxicos nos produtos hortícolas. Na época, o trabalho indicou que 7% das
frutas e 13% das hortaliças apresentavam teor de resíduos acima do permitido.
Em 1985 outro estudo mostrou que nas frutas, o teor havia aumentado para
13%. Em 1984 o ITAL de Campinas (SP) comprovou que 41% das amostras
utilizadas em uma pesquisa, apresentaram teor de resíduos acima do permitido.
Atualmente o panorama não melhorou muito, inclusive porque novos
personagens foram incluídos no drama, como p.ex. os produtos utilizados
diretamente nas hortaliças para que tenham maior durabilidade durante o
transporte e a comercialização.
Mas infelizmente a coisa não fica só por aí: muitos alimentos, como
p.ex. os cereais, vão para a industria serem "beneficiados". Um eufemismo
tragicômico que na verdade deveria chamar-se "maleficiar", do momento
em que se tiram dos grãos o que eles tem de mais nobre e mais nutritivo: a
película que os recobre, rica em fibras, proteínas e vitaminas. Aí quem acaba
comendo a melhor parte dos cereais são os animais em suas rações, enquanto
que o consumidor come alguma coisa pouco melhor que isopor. E este isopor
é muitas vezes irônicamente acrescido de vitaminas sintéticas colocadas para
110 | Ernani Fornari
repor as naturais que se perderam no refino!?
No caso do açúcar o esquema ainda é pior, pois transformam a cana
(que pode virar rapadura, açucar mascavo e melado ricos em ferro e cálcio)
em um sal de sacarose altamente nocivo e desmineralizador. Óbviamente
que esta transformação se dá às custas da utilização de venenosos solventes
químicos. Sob a afirmativa de que "açúcar é energia", o que se obtém na
verdade é um violento choque hiper-glicêmico que vai roubar do organismo
vários nutrientes (especialmente o cálcio), acarretando ainda suscetibilidade
a várias doenças (principalmente o diabetes).
O sal de cozinha sofre um absurdo parecido : o bom e velho sal
marinho, rico em dezenas de sais minerais e oligoelementos (principalmente
o Iodo - natural - que é perdido no refino, tendo que ser reposto sob forma
sintética), é refinado, gerando um sal de cloreto sódio, extremamente retentor
de liquido no organismo, e cujo sub-produto industrial é a água sanitária.
Ainda na área da industrialização é preciso não esquecer dos aditivos,
conservantes, espessantes, flavorizantes, corantes, aromatizantes, muitos deles
causadores de doenças e proibidos em países de primeiro mundo.
Exatamente como acontece com os agrotóxicos e com muitos remédios
de farmácia , são vetados em países desenvolvidos e são descaradamente
vendidos por aqui.
Como grande parte da classe médica - assim como a dos agrônomos
- segue a cartilha das multinacionais, tudo isso passa desapercebido pelo
consumidor comum.
Como passa desapercebido um seríssimo problema que provavelmente
ameaça a sobrevivência da própria espécie humana : os níveis altíssimos de
estrogênio (sintético) no ambiente, fruto de diversas combinações químicas
(entre elas os agrotóxicos, resíduos industriais, certos produtos presentes
nos plásticos, nos detergentes, e em outras tantas coisas), estão fazendo cair
vertiginosamente a taxa de espermatozóides não só nos seres humanos, como
em todas as espécies animais.
Para se ter uma idéia, segundo cientistas que estudaram este fenômeno,
o homem nascido nos anos 80, tem menos da metade dos espermatozóides do
que o nascido nos anos 50. Abaixo de 20% será a esterilidade...
O estrogênio também fez aumentar enormemente a incidência de
câncer de mama nas mulheres e de próstata e de testículos nos homens (além
do grande aumento dos casos de hermafroditismo e deformaçõs genitais).
Até agora falamos apenas dos alimentos de origem vegetal. Se o
assunto for alimentos de origem animal, o panorama não é lá muito melhor.
Afora o fato de que comer carne é um hábito que facilita o
Sanatana Dharma | 111
aparecimento de diversas doenças como o câncer do aparelho digestivo e os
problemas cárdio-vasculares, geralmente as criações são tratadas com rações
industriais "enriquecidas" com antibióticos e hormônios que vão chegar ao
consumidor através da carne, do leite e dos ovos (mais estrogênio...)
Tais aditivos podem causar câncer e danos no sistema imunológico e
reprodutor de quem consome os alimentos contaminados.
Isso sem falar que, muitas vezes, os animais são abatidos em
matadouros clandestinos sem as menores condições de higiene e de
humanidade (fazendo com que o consumidor engula juntamente com a carne,
a adrenalina e a energia de pavor que o boi liberou ao ser morto cruelmente).
O vegetarianismo, além de mais saudável e mais ético, é também
econômicamente mais rentável e ecológicamente mais correto . Segundo o
IBGE, um boi precisa de 3 a 4 hectares de terra para produzir cerca de 200 k.
de carne no período de 4 a 5 anos. Neste mesmo espaço, pode-se colher 19
toneladas de arroz, ou 32 de soja, ou 34 de milho, 23 de trigo ou ainda 8 de
feijão, sendo que pode-se plantar de 2 a 3 safras por ano, de alimentos muito
mais puros, saudáveis e equilibrados.
Já não é desconhecido que o maior responsável pelo desmatamento
da Amazônia é a atividade pecuária. O ato de comer carne acarreta direta
e indiretamente em seríssimas implicações ambientais que tem a ver com
efeito-estufa, camada de ozônio, poluição de rios e lençóis freáticos, erosão,
desertificação, extinção de espécies, problemas de ordem social, etc.
112 | Ernani Fornari
QUEM MANDA NO TEU DESEJO ?

Quando lemos textos ou ouvimos palestras sobre alimentação natural,


o assunto acaba geralmente circulando em torno das questões relacionadas com
a qualidade dos alimentos, as virtudes dos cereais integrais, a contaminação
dos alimentos, os malefícios da carne e do açúcar branco, etc. etc. E tudo isto
que está abundantemente desdobrado na numerosa literatura disponível.
Este texto pretende abordar uma outra questão que é pouco colocada
e que é o que verdadeiramente norteia, na grande maioria das pessoas, o ato
de comer e a opção pelos alimentos : o desejo.
Normalmente o que construía este tipo de desejo (o chamado "gosto")
era a tradição, isto é, o que a nossa mãe nos dava. E ela, por sua vez, recebia
de sua mãe o conhecimento culinário (muitas vezes determinado por fatores
culturais dos países de origem de nossa família) e assim a coisa se perpetuava
sem nenhum tipo de questionamento maior. O critério do que é saudável se
misturava ao do que é gostoso.
Com o advento da comunicação de massa e da expansão da
mídia com seus marketings e merchandisings, novos vetores passaram
a influir decisivamente no processo da construção deste tipo de desejo.
Antes, comíamos o que era gostoso, e este gostoso era referenciado no
condicionamento desenvolvido pela tradição familiar. Agora, comemos o
que é gostoso, e os parâmetros do que é gostoso são criados e amplamente
manipulados pela propaganda a serviço da indústria dos "alimentos", que
óbviamente não tem o menor interesse na verdadeira saúde. A "junkie food"
dos fast food e a indústria do diet e do light por exemplo, são algumas das
expressões deste quadro.
Nos anos 70, com a explosão das (contra)culturas alternativas, a questão
da alimentação foi ampla e profundamente questionada e re-experimentada.
Várias tendências e linhas de alimentação eclodiram, como a Macrobiótica,
o vegetarianismo, o Higienismo, (e mais recentemente o alimento vivo e o
veganismo) estabelecendo parâmetros e critérios verdadeiramente corretos
do que é efetivamente saudável ou não.
Hoje qualquer um sabe (e os médicos e nutricionistas realmente
comprometidos com a saúde corroboram) dos malefícios do açúcar, da
carne, dos alimentos industrializados, dos agrotóxicos, enfim, estabeleceu-se
sólidamente uma filosofia e uma tecnologia do comer que realmente promove
a saúde através o reequilíbrio da energia e consequentemente do sistema
Sanatana Dharma | 113
imunológico, como aliás preconiza toda a cultura oriental (que também teve
seu boom no ocidente nos anos 70).
A manipulação do nosso desejo pela mídia a serviço do sistema
vem perpetuar de forma mais moderna, aquela velha técnica de dominação
tão utilizada pelas religiões e pelas ditaduras, de procurar controlar os dois
maiores poderes acessados pelo homem comum : o dinheiro e o sexo. Não
é, pois, a pornografia de hoje também uma forma de manipulação da mente
das pessoas como foi no passado o puritanismo ?
E é exatamente isto o que faz esta ideologia que hoje chamamos de
"liberalismo" e que dá suporte a outro eufemismo chamado "globalização".
O que se pretende globalizar na verdade, é tão somente a dominação e a
dependência (lembra do "concentrar o lucro e socializar o prejuízo" ?).
Todos sabemos que o mundo caminha para uma mega concentração
de poder nas duas áreas mais vitais do mundo moderno: a informação e a
alimentação/medicina. E lucro e poder é efetivamente só o que interessa ao
sistema.
Todos sabemos também que a estratégia básica do capitalismo é
manter inalterada a desigual pirâmide social. É de importância capital para
a manutenção deste injusto sistema que na imensa base desta pirâmide sejam
mantidos os indivíduos em um estado de pouca educação e pouca saúde,
gerando mentes não questionantes e mão de obra barata. Claro, pois pessoas
saudáveis, inteligentes e bem informadas não podem ser tão facilmente
dominadas nem exploradas.
A estratégia das transnacionais (reparou que o que antes eram empresas
internacionais, viraram multinacionais e agora são transnacionais?) que
são hoje o esteio desta ideologia foi extremamente eficiente: controlou-se
completamente o processo da produção de alimentos e da "cura" das doenças.
A maioria das empresas que fabricam agroquímicos agrícolas são as
mesmas que fabricam os remédios alopáticos. Por exemplo, a mesma empresa
que maquina sinistramente com os transgênicos envenena os incautos com o
edulcorante "diet" aspartame.
Implantou-se então, de forma absolutamente eficiente, a cultura
da doença, que efetivamente é o que dá lucro. E isso é tão grave que até
no interior está-se perdendo o conhecimento da fitoterapia empírica e do
curandeirismo nativo em função da televisão que invade os lares rurais e infecta
as mentes simples com seu conteúdo na maioria das vezes inútil e destrutivo,
homogeneizando as culturas e as tradições, e criando necessidades fúteis e a
artificiais.
E aí vemos que bilhões e bilhões de dólares tem sido gastos com
114 | Ernani Fornari
pesquisas mirabolantes, produção de equipamentos médicos sofisticadíssimos
e de remédios espetaculares. Tudo para tentar sanar as doenças causadas por
uma vida desequilibrada e desarmônica, quando com um simples e barato
trabalho preventivo - alimentação correta, vida afetiva e profissional saudável,
produtiva e criativa, atividade física regular - essas doenças praticamente não
existiriam.
Sabemos bem que prevenção é barato, e que, como já dissemos,
pessoas que se alimentam bem, tem uma vida criativa e produtiva, que usam
saudavelmente seu corpo e sua mente, quase não adoecem.
Educação alimentar, Yoga, Tai Chi Chuan , Chi Kun, Massagem, Fitoterapia,
Acupuntura, Homeopatia, Meditação, tudo isso é barato e extremamente eficaz
e poderia ser amplamente disponibilizado para a população, não fosse a visão
nenhuma (e muitas vezes das vezes o interesse nenhum) dos que decidem
nossa vida.
A medicina alopática acabou prestando-se perfeitamente para a
cristalização desta situação. É uma medicina sintomática, reducionista,
imediatista, completamente descompromissada da visão holística e integrativa
da vida e absolutamente ignorante do energético e do sutil. Com a vantagem
- para as transnacionais - que esta forma de medicina, que é absolutamente
dependente dos remédios químicos, é a que dominou praticamente todo
o planeta, entronizando dogmáticamente o conceito de que só é válido e
verdadeiro o que é provado em laboratório.
Bem diferente da visão energética e vitalista das Filosofias e das
Terapias orientais e xamânicas, onde o sutil , o simbólico e o intuitivo são
provados pela milenar experiência pessoal .
E a medicina alopática foi a única medicina desenvolvida na
humanidade que não é vitalista nem holística.
Mas quando esta medicina percebe que alguma terapia oriental pode
ser lucrativa, lança sua teia corporativa descaracterizando a terapia de seu
aspecto dialético, filosófico e simbólico, como está ocorrendo, por exemplo,
com a acupuntura. A medicina criou a "acupuntura médica", modalidade
que reduziu esta milenar ciência a uma técnica sofisticada de analgesia
(e de tratamento de mais algumas doenças cuja cura foi "comprovada
científicamente") e agora conspira para que só os médicos possam utiliza-la
(embora os pioneiros tenham aprendido com os leigos).
Da mesma forma, aliás, está acontecendo com a Educação Física
em relação ao Yoga, e se deixarmos, Yoga vai virar ginástica. Interesses de
mercado e nada mais...
Ainda por cima, temos que aturar eufemismos surreais como "Planos
Sanatana Dharma | 115
de Saúde" e "profissionais de saúde", quando todos estes estão a serviço
da doença fomentando e mantendo este status quo, que é extremamente
lucrativo. Profissionais de Saúde deveriam ser os instrutores de Yoga e
TaiChiChuan, psicólogos, profs. de Educação Fisica, Artes Marciais e Dança,
massoterapeutas, acupunturistas e homeopatas.
A teia das transnacionais dominou com sua ideologia, desde o ensino
da medicina e da agronomia nas universidades, passando pela produção de
alimentos , medicamentos e agroquímicos, até o desenvolvimento de uma
propaganda que ajuda a manter competentemente em vigor um sistema que
se nutre básicamente da deturpação do... desejo.
A falta da informação verdadeira fez com que as pessoas depositassem
cegamente sua saúde nas mãos do médico, que se antigamente era um parceiro
na manutenção da saúde, agora raramente influi na verdadeira reeducação dos
hábitos e da alimentação do paciente, o que criou um círculo vicioso onde nem
médico nem paciente são exatamente culpados : aquele, já tem sua cabeça
feita pela doutrina das transnacionais que dominam a medicina alopática ;
este, não quer mesmo mudar seus hábitos (e seus desejos) esperando que o
deus médico que estudou tanto vá curar milagrosamente seu corpo estragado
pelas porcarias que o sistema o leva à comer, pensar e fazer. E ao sistema
(e ao médico) não interessa mudar estes hábitos porque eles podem levar à
saúde - que não é a mesma coisa que ausência de doença, que é um estado
em que a maioria da população se encontra quando não está doente.
E a saúde vai manter o paciente longe do médico e da farmácia.
Óbviamente como tudo na vida, a medicina alopática também tem
seus méritos, seus grandes avanços, especialmente nas áreas do diagnóstico,
da analgesia e da cirurgia. O que é necessário é que esta modalidade de
medicina deixe de imperar como a "superior", deixe de ser dominada pelas
transnacionais e passe a interagir de igual para igual com todas as outras
medicinas, tão verdadeiras e válidas quanto.
Só como curiosidade : na China, o médico de aldeia era punido quando
uma pessoa adoecia...
É fundamental o resgate da saudável relação de parceria entre terapeuta
e paciente, onde trabalhar os hábitos de alimentação do paciente não é uma
" invasão de privacidade", mas faz parte integrante do processo de cura. E é
fundamental o resgate da responsabilidade que cada um deve ter por sua própria
saúde e por sua própria vida. Todos devem aprimorar seus conhecimentos
sobre saúde, sobre seu corpo, desenvolver consciencia corporal, sensibilidade,
intuição, e principalmente, uma real autonomia sobre sua vida. Neste processo
o terapeuta é um ótimo coadjuvante.
116 | Ernani Fornari
Na Filosofia Hindu existe um termo que se chama "Buddhi" e que
é traduzido como intelecto. Buddhi é a parte da mente que se ocupa do
discernimento e da discriminação, isto é, das escolhas e opções entre o que é
bem e mal, bom e ruim, certo e errado , vontade e necessidade, etc.
Segundo a visão oriental, Buddhi é quem deveria nortear o desejo, e
não a mente e/ou o ego. E trazendo esta questão para assunto aqui abordado,
nosso comer, nosso "gosto", deveria ser construído pelo nosso discernimento
e não pelo nosso condicionamento.
É bom que fique claro que este texto não pretende de forma nenhuma,
fazer apologia contra o desejo. O desejo existe e é absolutamente necessário
na vida saudável. O prazer existe e realmente não é feio nem pecado, como
querem muitas religiões interessadas em manter o domínio sobre seus fiéis,
mas como com qualquer coisa, deve ser visto equilibradamente e não ser
super-estimado nem hiper-utilizado.
O problema está justamente na construção deste desejo, e é isto que
este texto quer salientar e questionar. O desejo que norteia meu comer (e o
prazer que resulta disto) deveria ser referenciado pelo meu discernimento
consciente e refletindo do que é realmente saudável, e não por uma tradição
cultural que nunca questionou o padrão de alimentação vigente ou, pior, por
um sistema que quer você escravo e doente.
Este texto vem fazer na verdade, a apologia da emergente necessidade
do resgate da nossa liberdade de questionar conscientemente e optar
maduramente pela alimentação (e pelas terapias) que nosso discernimento
escolheu, fruto do exercício da verdadeira cidadania que é tomar em nossas
próprias mãos as rédeas de nossa vida e da nossa autonomia de optar
livremente.
O grande impecílio para a retomada de nossa verdadeira liberdade
de escolher é a idéia que se cristalizou profundamente na sociedade, de que
os hábitos são muito difíceis de se mudar como se estes fossem estigmas
“imexíveis”.
A visão ocidental, tão fragmentada e tão desconectada da Natureza
e do Uno, produziu um homem moderno fragmentado e desconectado dessa
Natureza e desse Uno. E um ser que não procura conscientemente vivenciar e
integrar corpo/mente/emoção/energia e sua íntima relação com toda a Criação,
é um ser mais facilmente manipulável.
Urge que deixemos de ser escravos do sistema e dos nossos desejos
deturpados, e, que a custa de muita investigação, estudo, meditação,
experimentação (e algum esforço), mudemos consciente e voluntáriamente
Sanatana Dharma | 117
nossos hábitos nocivos por hábitos saudáveis. E isso, é claro, se aplica a tudo
na vida.
É preciso que se entenda que o gosto, é algo absolutamente
educável (assim como, por exemplo, o gosto musical) e transformável, e
que a alimentação verdadeiramente saudável pode ser gostosa , prazeirosa e
energética. Os alimentos tem cada um, seu próprio e peculiar sabor, e efeitos
que se dão em níveis sutís, e o sistema fica freneticamente envenenando os
alimentos, e nós ficamos frenéticamente maquiando estes alimentos com mil
e um artifícios fomentando uma verdadeira deseducação em nossos sentidos.
E é importante que se saliente também que a alimentação natural,
orgânica, além de ser saudável e vitalizante, é políticamente e ecológicamente
correta, pois em sua visão holística preocupa-se com a saúde do indivíduo, da
sociedade e do meio ambiente .
Os produtores orgânicos não são pobres aplicadores de agroquímicos,
vítimas do sistema escravizador. São seres que percebem a profunda interação
entre a natureza e o homem, e são pessoas profundamente antenadas com o
amor pela terra e por seus semelhantes.
118 | Ernani Fornari
15 Dicas para viver uma vida mais
consciente, plena e equilibrada:

1. Todos nós ao nascer, ganhamos um espelho. Este espelho é, então,


colado no nosso peito. E assim vivemos toda a nossa vida, refletindo o outro
e vendo no (espelho do) outro o nosso reflexo. Hermann Hesse disse : “ Se
você odeia uma pessoa, odeia algo nela que faz parte de você. O que não faz
parte de nós não nos incomoda.”

Viver considerando isto, vai desenvolvendo nossa compaixão,


nossa tolerância, nossa empatia e nossa solidariedade para com
as nossas fraquezas e dificuldades e as dos outros.

2. Cem por cento do que somos e vivemos (inclusive o que supomos ser
acidentes) é fruto de nossas escolhas e opções. Conscientes ou inconscientes.
Desta ou de outras vidas.

Viver consciente disto desenvolve nosso discernimento e nossa


responsabilidade para com a vida, com as pessoas e com
nossas atitudes.

3. Livre-se da culpa. A única função da culpa é manter sua auto-estima


baixa (por isso algumas religiões fomentam a idéia da culpa para assim
manter poder). Transmute a culpa por responsabilidade. Ninguém é culpado
de absolutamente nada, mas todos são completamente responsáveis por tudo.     

Viver assim te torna mais atento e cuidadoso para com toda a


existência.

4. Desenvolva a aceitação. Sempre que entramos em contato com alguma


dificuldade ou fraqueza nossa, através de alguém ou de alguma circunstância,
normalmente o primeiro impulso da mente/ego é: ou nos defendemos, negando
e resistindo a entrar em contato (muitas vezes entrando na irritação e na revolta,
geralmente imputando a culpa a alguém ou a alguma coisa), ou entramos na
condição de vítimas, mergulhando na baixa auto-estima.

Aceite sua natureza humana como ela é e aceite também


Sanatana Dharma | 119
a sua sombra. Entenda que você está aqui na Terra para
aprender e expandir sua existência. Um Mestre hindu falou:
“Errar, ter defeitos, falhas, fraquezas, é seu direito. Trabalhar para
transmutar isso tudo é seu dever”.

5. Tudo no Universo tem duas polaridades : Yin/Yang, masculino/


feminino, positivo/negativo, etc. As emoções e os sentimentos também tem
duas polaridades : o outro lado da tristeza é a alegria, do medo é a coragem, da
raiva é a energia de realização, do ódio é o amor e o perdão, da ansiedade e da
angústia é a calma e o centramento, da baixa auto-estima é a confiança em si
mesmo, enfim, nosso grande trabalho de transmutação é estar constantemente
reequilibrando estas polaridades. Os hindus diriam que devemos estar
sempre transmutando Tamas e Rajas em Sattwa, isto é, trazendo sempre os
pensamentos, sentimentos e atos densos , limitadores e negativos, para as
freqüências mais sutis.

Viver assim economiza um bocado de energia. Considerando


que tudo na vida é passageiro, é mais inteligente procurar
mudar a polaridade das coisas e dar a volta por cima do que
ficar naufragando constantemente nos mesmos padrões psico-
emocionais.

6.   Desenvolva a neutralidade e a observação. Os índios chamam isto de


“Visão da Águia”: sair voando de dentro do burburinho dos eventos e, de
cima, com uma perspectiva ampla e neutra, observar os acontecimentos sem
identificação ou julgamentos. Ou, em outro exemplo: sair de dentro do rio
caudaloso de nossa vida - onde estamos imersos até o pescoço - sentar na
margem e observar. Quando dentro do rio, imersos até o pescoço, qualquer
ondinha nos parece um vagalhão, mas quando nos sentamos à beira do rio,
a ondinha novamente vira ondinha, e aí podemos ter uma perspectiva mais
correta e um envolvimento menos sofrido com as coisas, e uma consciência
profunda da impermanência.

Isto desenvolve uma profunda consciência da relatividade dos


pontos de vista e, por conseguinte, o redimensionamento da
nossa identificação e envolvimento com a transitoriedade da
vida.
    
120 | Ernani Fornari
7.    Evite as comparações. Lembra do “jardim do vizinho é sempre mais
bonito” ? Ledo engano! Grande armadilha! Mal sabemos que o vizinho ao
olhar nosso lado também pensa a mesma coisa sobre algum aspecto de nós...

Considerar este fato, te livra do peso dos julgamentos alheios e


te torna mais centrado em teu próprio eixo.

8. Os hindus dizem que todas as doenças que existem - sejam físicas,


emocionais, psíquicas ou energéticas - derivam, de uma forma ou de outra,
de uma única doença: a ignorância de nossa natureza real, a Unidade (eles
chamam esta ignorância de Avidya e a Unidade de Brahman).
Toda a Criação é uma grande web onde tudo é interligado, interagente,
interdependente e holográfico. Realmente não estamos irremediavelmente
presos a tempo e espaço e às três dimensões (não só as antigas tradições, mas
a Física Quântica atual afirmam amplamente esta questão). Considerando
nossa natureza Una, saiba que não há nada fora de você que você precise obter
que já não tenha. Está tudo dentro de você, todo o Universo. Você apenas
precisa relembrar sua natureza original, que está pulsando em cada partícula
do Universo, em cada pessoa, em cada ser de cada reino. Todo Amor, Paz e
Felicidade já estão dentro de você, sempre.
Você decididamente não é um pecador. Você não é uma pedra bruta
que precisa ser lapidada. Você já é uma jóia pronta, maravilhosa, só que
recoberta pela poeira desta ignorância primordial.

Passar a considerar estas verdades milenares em nossa vida


cotidiana desenvolve nossa co-participação consciente no
Universo nos seus mais diversos níveis de existência.

9. Todo o Universo é consciente! Cada pessoa, cada animal, cada planta,


cada pedra, cada célula, cada átomo, cada galáxia... A Consciência não é
um privilégio do cérebro humano, que é apenas um dos veículos onde esta
Consciência se expressa. Esta é a chamada onipresença e onisciência de
Deus. Os índios têm formas sofisticadas de entrar em contato e interagir com
a Consciência subjacente à Natureza.

Viver considerando este fato torna tua vida muito mais respeitosa,
consciente e responsável.
Sanatana Dharma | 121
10. Quando a vida nos apresenta algum evento desconfortável, algum
obstáculo ou algum confronto, normalmente o que é acionado em nosso
corpo/mente é o “automático” lutar ou fugir. A adrenalina está sempre
pronta para desencadear ação. Mas a verdade é que na maior parte das
vezes não seria necessário lutar nem fugir, bastaria relaxar e observar, e
a partir daí agir com consciência, ou então deixar os acontecimentos se
desenrolarem naturalmente. Vamos investir mais nas endorfinas ! Faça Yoga
ou TaiChiChuan!

Desta forma, em todos os níveis e setores da nossa vida,


podemos integrar firmeza e simultaneamente relaxamento – só
firmeza gera rigidez e só relaxamento gera moleza!

11. Adote a perguntas: “Porque eu atraí isto?” e “O que é que eu tenho que
aprender com isso?”. Todas (todas mesmo) as coisas que nos acontecem, vem
para nos ensinar e são atraídas por nós (pelo nosso Self). A Vida está sempre
fazendo suas arrumações para que possamos aprender e evoluir (pela dor ou
pelo Amor, como dizia Kardec). Por isso alguém já disse: “cuidado com o
que você deseja pois pode acontecer!”. Nós costumamos achar que quando
pedimos à Deus alguma virtude, Ele vai milagrosamente introduzir esta virtude
em nossa mente e de repente ficamos pacientes, ou disciplinados, ou tolerantes.
Provavelmente o que a Vida fará é te proporcionar situações que vão te fazer
desenvolver aquela virtude. Se você pediu paciência, provavelmente vai atrair
pessoas que vão te fazer perdê-la, e aí é que estará o seu aprendizado.
Então, sempre que as pessoas ou as circunstâncias te trouxerem desconfortos
ou incômodos, ao invés de se revoltar, se ofender ou se entristecer, ou
ainda, achar que a culpa é do outro, pergunte à Vida o que esta situação
está te obrigando a trabalhar, que virtudes e qualidades você está tendo que
desenvolver para lidar com isso de forma harmônica e equilibrada.

Este procedimento com certeza vai aumentar enormemente a


qualidade de nossa consciência e a conseqüente percepção
dos movimentos da vida e do seu sentido.

                                                  
12. Gastamos grande tempo mental ficando angustiados por um passado que
não podemos mais mudar e/ou ficando ansiosos por um futuro que ainda não
chegou. Outra grande parte, ainda, gastamos sonhando acordados, delirando
os nossos sonhos e desejos. E aí duas coisas ocorrem: uma, sobra pouco tempo
122 | Ernani Fornari
para a consciência do aqui-e-agora, o presente, que é onde efetivamente a vida
acontece ; duas, quando precisamos da mente para as coisas que ela foi feita
para funcionar – a nossa vida humana diária – esta mente tem dificuldade em
se concentrar, em estar presente, inteira, poderosa, centrada.

Concentrando-nos no presente desfrutamos mais da vida. A


meditação é um ótimo treinamento para aprender a viver no
presente, nos livrando das pré-ocupações e desenvolvendo
uma mente verdadeiramente eficiente.

13. Infelizmente, ainda vivemos sob a ideologia do “ganha-perde”, ou seja,


temos muito incutida em nossa cultura a idéia de que para se ganhar alguém
precisa perder. É assim que se construiu, por exemplo, o sistema capitalista.
Também é seguindo esta filosofia que está-se destruindo nosso planeta. E é
desse ganha-perde que estão impregnadas as nossas relações (lembra da “lei
de Gérson”?). Não só no sentido profissional e financeiro, mas também no
emocional e no afetivo.
É urgente reimplantar-se o “ganha-ganha” nas relações interpessoais e
nas relações do homem com a Natureza. Não existe nenhuma possibilidade de
ganho real para nada nem ninguém, em nenhum setor da vida, se este ganho
for obtido em detrimento da perda de alguém ou de alguma coisa. Na visão
oriental, o Karma Yoga é a técnica que visa reeducar o homem e a sociedade
para a verdadeira forma de ganhar.

Este procedimento simples pode transformar toda a perspectiva


que temos em relação à vida, entendendo e vivendo na prática
a grande lei universal de causa e efeito.   

14. Atente para a sincronicidade. Uma escritura Hindu diz : “Nenhuma folha
de grama se mexe sem uma razão”. Nada é casual, mas tudo é intrinsecamente
causal. Um outro Mestre disse: “nós falamos com Deus através da oração,
e Ele nos fala através da sincronicidade”. O Dr. C.G.Jung percebeu que era
esta qualidade da Criação que fazia com que as artes divinatórias (I Ching,
Tarot, Runas, Búzios) funcionassem. Todo o Universo é Um , portanto tudo é
interrelacionado. E a Lei do Karma é quem disciplina este interrelacionamento.
Atente para os sinais! O tempo todo o Universo está interagindo com você!
Sanatana Dharma | 123
Estar atento à sincronicidade desenvolve a intuição e a expansão da
percepção do movimento consciente e multidimensional do Universo.

15. E finalmente – e sobretudo - “não faças aos outros o que não queres que
te façam” ainda é a regra de ouro.

Viver integralmente assim te torna efetivamente consciente,


pleno e equilibrado.
124 | Ernani Fornari
BIBLIOGRAFIA
Filosofia e Biografias

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Pensamento.
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Hatha Yoga e o comportamento na vida (Hatha Yoga Pradipika), Gregório
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As máscaras de Deus, Joseph Campbell, Ed. Palas Athena
Perfeição pelo Yoga, Swami Sivananda, Ed.Freitas Bastos
Sanatana Dharma | 125
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O evangelho de Ramakrishna. Ed. Pensamento.
Ensinamento espiritual de Shri Ramakrishna – Ed. Ananda
El juego de la consciencia, Swami Muktananda, SYDA
Ciência Moderna sob a luz do Yoga Milenar, Harbans Lal Arora, ACEPY/
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Shiva Sutra, I.K. Taimni, Grupo Annie Besant
Mahabharata e Ramayana, William Buck, Ed. Cultrix

Técnicas
Autoperfeição com Hatha Yoga, Hermógenes. Ed. Record.
Yoga para nervosos, Hermógenes. Ed. Record.
Saúde na terceira idade, Hermógenes. Ed. Record.
Yogaterapia, Hermógenes. Ed. Record.
Yogaterapia, Nilda Fernandes. Ed. Ground.
Yogaterapia hormonal para menopausa, Dinah Rodrigues. Ed. Madras.
Segredos do Tantra e do Yoga, Paulo Murilo Rosas.
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O livro de ouro do Yoga, André de Rose, Ediouro.
Chakras, Harish Johari. Ed. Bertrand Brasil.
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Hatha Yoga, Antonio Bley.
Hatha Yoga, Indra Devi, Ed. Civilização Brasileira.
A Luz da Yoga, B.K.S. Iyengar. Ed. Cultrix.
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Asanas, símbolos e mitos, Vera Lúcia de Oliveira.
Yogasana, visão anátomo-cinesiológica do asana, Marilda Velloso
126 | Ernani Fornari
Yoga para o corpo, a respiração e a mente, A.G.Mohan. Ed. Pensamento.
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Ed. Ícone.
Yoga Nidra, relaxamento físico-mental-emocional, Swami Satyananda
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Yoga Prático, Horivaldo Gomes. Ed. Pallas.
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Práticas do Yoga, Horivaldo Gomes, Ed. Pallas
Hatha, O ABC do Yoga, Caio Miranda, Ediouro.
Psicologia do Yoga, Shri shri Anandamurti, Ananda Marga
Yoga e Psiquiatria, Barthe Nhi, Ed. Civilização Brasileira
Yoga e saúde, Selvarajan Yesudian e Elisabeth Haich, Ed. Cultrix
Yoga para crianças, Georg Kritikós, Ed. Record.
Yoga e parto, Eliane Lobato, Ediouro.
Anatomia da Yoga, Leslie Kaminoff.
Yoga para a sua coluna, Pandit Shiv Sharma, E. Cultrix
Yoga, saúde e higiene do aparelho digestivo, Doris e F. Cosmelli, FEEU
Faça Yoga antes que você precise, De Rose, Ed. Martin Claret
Yogaterapia, Dr. Miguel Fraile, Mandala Ediciones (Espanha)
Sanatana Dharma | 127
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Ayurveda, a Ciência da autocura, Dr. Vasant Lad. Ed. Ground.
A Medicina Ayurvédica, Gérard Edde. Ed. Ibrasa.
Saúde Perfeita, Dr. Deepak Chopra.Ed. Best Seller
Manual de Massagem Ayurvédica, Harish Johari. Ed. Ground
Massagem Ayurvédica, manual prático e teórico, Valter Cardim. Ed. Madras.
Massagem Ayurvédica, o toque dos deuses, Ma Prem Ila. Ed. Brasport
Tao e Dharma, medicina chinesa e Ayurveda, Robert Svoboda e Arnie Lade.
Ed. Pensamento.
Uma visão ayurvédica da mente, a cura da consciência, David Frowley. Ed.
Pensamento.
Dhanwantari, um guia completo para uma vida saudável segundo a tradição
Ayurvédica, Harish Johari. Ed. Pensamento.
Ayurveda, um tratamento de saúde que não agride seu corpo, Hans H. Rhyner.
Ed. Pensamento.
Os Segredos da Massagem Ayurvédica, Atreya. Ed. Pensamento.
Ayurveda, a medicina indiana que promove a saúde integral, Dra. Vinod
Verma, Ed. Nova Era.
Ayurveda e a Terapia Marma, Pontos de Energia no tratamento por meio da
Yoga. Dr. Avinash Lele, David Frawley e Subhash Ranade. Ed. Madras
Massagem Ayurvédica. Pier Campadello. Ed. Madras.

LINKS

Aliança do Yoga
www.aliancadoyoga.com.br
Anabella Magalhães (mitologia e sânscrito)
www.linguagemsanscrita.pro.br
Ananda Marga (Sri Sri Anandamurti)
www.anandamarga.org
Anderson Alegro (Power Yoga)
www.yogasite.com.br
Ashtanga Vinyasa Yoga (Pattabhi Jois)
www.ayri.org
Associação Brasileira de Ayurveda (ABRA)
www.ayurveda.com.br
Associação Brasileira de Dakshina Tantra Yoga
www.tantrayoga.org.br
128 | Ernani Fornari
Associação Brasileira de Profissionais de Yoga (ABPY)
www.abpy.org.br
abpy.rlk@terra.com.br
Bhagavan Ramana Maharshi (Maha Yoga)
www.ramana-maharshi.org
Brahma Kumaris (Raja Yoga)
www.bkumaris.org.br
Claudio Duarte (Yoga Clássico)
www.yogaclassico.com.br
Dakshina Tantra Yoga (Prof. Paulo Murilo Rosas)
Centro de Yoga Kailasa
www.tantrayoga.com.br
Dakshina Tantra (Alexandre Perlingeiro)
www.tantrayoga.pro.br
Dinah Rodrigues (Yoga Terapia Hormonal)
aldin@mandic.com.br
Hare Krishna (Srila Prabhupada, Bhakti Yoga)
www.iskcon.com
www.iskcon.com.br
Integrative Yogatherapy - IYT/USA
(Prof. Joseph LePage)
www.iytyogatherapy.com
iyt@mindsprings.com
Iyengar
www.bksiyengar.com
www.iyengar.com.br
IYT do Brasil (Montanha Encantada)
www.yogaencantada.com.br
iytbra@terra.com.br
Jnana Mandiram (Swami Tilak - Vedanta)
www.jnanamandiram.org.br
Kaivalyadhama Yoga Institute, Lonavla (Swami Kuvalayananda)
www.kdam.com
Kripalu Yoga (Yogi Amrit Desai)
www.kripalu.org
Krishnamacharya
www.kym.org
Lygia Lima (Power Yoga)
www.lygialimayoga.com.br
Sanatana Dharma | 129
Ma Prem Ila
www.ibrata.com.br
Marco Shultz (Power Yoga)
www.simplesmenteyoga.com.br
Miryam Both
miryamyoga@highway.com.br
Portal de Yoga (Pedro Kupfer)
www.yoga.pro.br
Prof. Hermógenes
www.profhermogenes.com.br
Revista O Atma
www.oatmayoga.com.br
oatmayoga@terra.com.br
Self-Realization Fellowship (Paramahansa Yogananda, Kriya Yoga)
www.yogananda-srf.org
Shivani
www.shivanihomepage.tripod.com
Siddha Yoga (Swami Muktananda, S. Chidvilasananda)
www.siddhayoga.org
www.siddhayoga.org.br
Sindicato dos Profissionais de Yoga do Estado do Rio de Janeiro
www.sinpyerj.com
Site de respiração com muitos links de yoga (internacionais)
www.respire.net
Sivananda Yoga
www.sivananda.org
www.sivanandabrasil.com.br
Sri Aurobindo (Purna Yoga)
www.sriaurobindosociety.org.in
Sri Ramakrishna (Vedanta)
www.ramakrishna.org
www.vedanta.org.br
Sri Sathya Sai Baba
www.sathyasai.org
www.saibaba.org
www.sathyasai.org.br
Swami Dayananda Saraswati (Vedanta)
www.arshavidya.org
Swami Satyananda Saraswati (Bihar School)
130 | Ernani Fornari
www.yogavision.net
www.satyananda.net
Swasthya Yoga (De Rose)
www.uni-yoga.org.br
The Yoga Institute (Sri Yogendra)
www.geocities.com/Athens/6709
Vera Cabral
www.espacokarana.com.br
Vidya Mandir (Gloria Arieira - Vedanta)
www.vidyamandir.org.br
Yoga Integral (Samyama - Horivaldo Gomes)
www.samyama.com.br
www.anyi.com.br
Yoga Journal
www.yogajournal.com
www.yogamala.org
Yoga Vidya
www.vidyayoga.org.br
Sanatana Dharma | 131

SOBRE O AUTOR

Ernani Fornari, aquariano, nasceu no Rio de Janeiro, em 1956 e iniciou


sua prática de Yoga com Victor Binot, em 1974.
A partir daí, mergulhou no universo Hindu, estudando e praticando
Yoga, Vedanta, Tantra e Ayurveda.
Em 1983, foi iniciado por Swami Tilak, recebendo o nome espiritual
de Dharmendra.
Morou por 20 anos no interior do RJ, tendo sido um dos pioneiros na
produção orgânica no estado e, um dos fundadores e diretores da pioneira (e
extinta) ONG agroecológica carioca, Coonatura.
Formou-se como profissional de Hatha Yoga pela Associação
Brasileira de Profissionais de Yoga (ABPY), em Dakshina Tantra Yoga com
Paulo Murilo Rosas e em Yogaterapia, com Joseph Le Page (Integrative
Yogatherapy).
Trabalha desde 1996, como profissional de Yoga, Yogaterapia e
Massoterapia.
Foi vice-presidente da ABPY por dois mandatos e membro do corpo
docente do seu Curso de Formação por cinco anos. Colaborou na reestruturação
do curso de formação desta entidade, que foi o primeiro no Brasil a ser
reconhecido legalmente.
Foi filiado-fundador do Sindicato dos Profissionais de Yoga do RJ
(SINPYERJ).
Aprendeu Massagem Ayurvédica com Luis Otávio Reis, Massagem
Reichiana e Bioenergética com Ralph Viana, Quiropraxia oriental com Donati
Caleri , Quiropraxia Indiana com Alejandro Dupont, Massagem Tailandesa e
Ayurvédica com Claudia Godart, Massagem Espiritual com Maria Lucia Sauer
, Reiki (III) com Carlos Humberto Soares Jr. e Renascimento com Vasant e
Ashara, Cinesiologia com Angela Girão e Adriana Mangabeira, Constelações
Sistêmicas no Metaforum (com Bernd Isert, Cornelia, Sabine Klenke e Cecilio
Regojo) e EFT com Gary Craig.
Foi sócio fundador da Associação Brasileira de Ayurveda (ABRA) e
da Associação Brasileira de Dakshina Tantra Yoga (ABDTY).
Foi coproprietário e profissional de Yoga e terapias do ESPAÇO
SAÚDE (Rio de Janeiro), de 1998 a 2013.
Em 1998, teve seus primeiros contatos com o Xamanismo, recebendo
132 | Ernani Fornari
dos índios Krenak, o nome de Guererê (o lagarto) e dos Fulni-ô, o nome de
Tchleká (o pai da natureza).
Em 2003, aprendeu a terapia xamânica brasileira, Alinhamento
Energético com Mônica Oliveira - com quem trabalhou por 5 anos no Brasil
e na Europa, realizando milhares de atendimentos e formando centenas de
terapeutas – ajudando-a, a estruturar a filosofia, a metodologia de trabalho e
de ensino da terapia do Fogo Sagrado.
Desde 2009, trabalha com sua companheira e parceira Gabriela
Carvalho com quem desenvolveu uma terapia denominada Cura Interior –
Alinhamento Energético, a partir da integração, entre a terapia do Alinhamento
Energético e as Constelações Sistêmicas.
Desenvolveu, também, a Terapia da Respiração, a partir da integração
entre o Renascimento (Rebirthing), a Respiração Holotrópica e a ciência yogue
do Pranayama.
Ernani Fornari, também, é escritor - tendo publicado 11 livros, dentre
eles, um dos primeiros dicionários de Ecologia e um dos primeiros manuais
de Agroecologia lançados no Brasil. Além de um livro sobre Alimentação
natural e dois sobre a terapia do Alinhamento Energético - além de ser músico
e compositor, tendo gravado 5 CDs com músicas com temática rural, ecológica
e espiritual.
Sanatana Dharma | 133

AGRADECIMENTOS

Ao meu Mestre, Swami Tilak, um ser que realizou a Unidade.


Aos meus pais, Claudio e Antoinette, pela incondicional
solidariedade, cumplicidade e apoio afetivo, intelectual e material.
Aos meus professores/mestres, Paulo Murilo Rosas e Joseph Le
Page, com quem aprendi o Yoga.
Ao Luis Otávio Reis, Ralph Viana, Donati Caleri, Claudia Godart
e Alejandro Dupont, com quem aprendi a arte da Massoterapia.
Ao meu mestre de Reiki, Carlos Humberto Soares Jr.
Aos meus terapeutas e formadores Ashara (Respiração
Holotrópica) e Vasant (Renascimento).
As minhas mestras de Cinesiologia, Angela Girão e Adriana
Mangabeira.
Ao terapeuta, Alex Fausti (in memorian) que me trouxe todo um
embasamento teórico/psicológico e um raciocínio terapêutico
(como a autoreferência, entre outras coisas) que são, hoje a
espinha dorsal do meu trabalho.
A Bull & Bill (Aldeia do Sol), César Cruz, Carlos Sauer, Tony
Paixão, Artemus Luz & Fernanda Vilela, Rosário Amaral, Athamis
Bárbara, Tsiipré, Rogério Favilla, João Devulski, Rafael Nixiwaka
& Fernanda Mukhani e a todos os companheiros do universo
xamânico carioca, pelo calor transformador das Sweat Lodge e
das fogueiras sagradas.
Aos Krenak, Karirí-Xokó, Pataxó, Tupy-Guarany, Fulni-ô e
Huni Kuin, que foram as etnias nativas brasileiras, com quem
tive a honra de interagir. Aos Cheyenne (Hahoo Nelson Turtle!),
Mohawk (Aho Crow Bear!) e Lakota (Aho Vernon Foster!). Aho
Mitakoy’assin! Migwetch! Nem! Ererré! Haus!
As sanghas de Swami Tilak, Brahmachari Nitya Chaitanya e
Swami Prakashmayananda (especialmente, o Jñana Mandiram
134 | Ernani Fornari
de Brasília, Janaka, Mahadeva; Mães Karuna e Shanta, Surendra
& Janaki, Vandinha, Antonio, Henrique & Fioretta, Shankara &
Girija, Serra & Isha Priya, Ishwari, Ekanath, Mira, Narendra &
Chandramani, Murali & Padma e Dudu & Silvia).
Aos amigos e colegas do Integrative Yogatherapy (Joseph &
Lilian Le Page, da Montanha Encantada em Garopaba, SC), da
ABPY (RJ), da ABRA (Dr. Aderson Moreira da Rocha, RJ) e do
SINPYERJ. Namaste!
Ao Vidya Mandir (Glória Arieira), Iskcon (Movimento Hare
Krsna), Ananda Marga, Siddha Yoga, Brahma Kumaris,
Movimento Sai Baba, Self Realization Fellowship, Ordem
Ramakrishna e Mosteiro Budista de S. Teresa (RJ), lugares
por onde andei, interagi e aprendi muito. Hari OM! Haribol!
Namaskar! OM Shanti!
A Fraternidade Aurora Espiritual (Helder Carvalho & Fadynha,
RJ), ao Sítio Amor Divino (Sergio de Carvalho, Vargem Grande,
RJ), ao Atmacharya Ashram (Narendra & Chandra Mani,
Visconde de Mauá, MG) e a Fazenda Mãe D’água (Georg Kritikós
Sarvananda, BH/MG), onde vivi experiências de comunidades
espirituais rurais nos anos 80.
Aos meus colegas, alunos, clientes e funcionários do Espaço Saúde
(Ralph Viana), da ASBAMTHO (Donati Caleri), do CITARA
(Roberto Nogueira), do Instituto Collunas (Claudio Senra), do
Espaço Aprender a Conviver (Marilu Montenegro & Marilene
Pitta) e da Casa Tebecato (Teresa), no RJ. E ao Espaço Luzeiro
(Renato e Valéria), ao Espaço Transformação (Cyro Leão), a Casa
Jaya, Espaço Rennovar (Paulo Cesar Oliveira) e Clínica Espelho
Mágico (Denise Gama) de SP e ao Espaço RapaNuy (RS). Todos
lugares onde trabalhei e troquei muito. Gratidão!
Aos amigos, colegas, clientes e alunos do Alinhamento Energético
do Brasil, especialmente Aloysio Delgado Nascimento (xamã
Dior Allem), seu canalizador e sistematizador, Mônica Oliveira
(Fogo Sagrado), sua continuadora e aperfeiçoadora, Letícia Tuí,
Tatiana Auler, Alex Fausti, Carlos Humberto Soares Jr., Ana Lucia
Augusto, Priscilla Pinto, Angela Fuzaro (que canalizou e pintou
as Cartas dos Guardiões do Ministério de Cristo) e Desirée Costa
& Carlos Henrique Alves Correa (Ouro Verde, SP). Alegria!
Sanatana Dharma | 135
A todos os amigos, colegas, clientes, alunos, produtores
e tradutores do Fogo Sagrado da Alemanha e da Áustria,
especialmente Eckart Böhmer, Peter & Dagmar Nemetz, Matthias
Bohn & Claudia Gold, Peter Hermann, Ana Maria Schaz, Bianca
Monte, Marcelo Pivotto, Florian Davidis, familia Lund (Corrine,
Natalie e Niklas), Samuel Bartussek, Dagmar Neugebauer, Tahira
& Günther Baumgärtner, Thomas & Connie Hohenstatt e Claudia
Kern (que escreveu o primeiro livro sobre Fogo Sagrado, lançado
no mundo).
A “tribo” do Metaforum, especialmente Bernd Isert, Sabine
Klenke, Cornelia Benesch e Cecilio Regojo (meus mestres de
Constelações Sistêmicas).
A Bert Hellinger, Matthias Varga, Gunthard Weber e Stephan
Hauser, pelo que eu tenho podido aprender sobre Constelações
Familiares e Sistêmicas, através de seus preciosos escritos.
A Alex Fausti, Ricardo (Rick) Mendes e Marli Cordeiro por tudo
que pude aprender, vendo-os constelar.
A todos os Sábios, Santos e Mestres de todas as Religiões,
Escolas e Filosofias, especialmente Buddha, Jesus Cristo,
Vyasa, Patanjali, Shankaracharya, Bhagavan Shri Ramana
Maharshi, Bhagavan Ramakrishna Paramahansa, Paramahansa
Yogananda, Krishnamurti, Nisargadatta, Papaji, Osho, Mahatma
Gandhi, S. Francisco de Assis, e S.Tereza D’Ávila.
A Allan Kardec, Helena Blavatsky, Sigmund Freud, C.G.Jung
e Wilhelm Reich, por terem sido, na minha opinião, verdadeiros
gigantes que abriram importantes portais no mundo ocidental
moderno (além de, terem contribuído muito na minha formação
pessoal e profissional, cada um do seu jeito).
A Leonard Orr e Stanislav Grof por terem desenvolvido
importantes trabalhos sobre a terapia da respiração – Rebirthing e
Respiração Holotrópica, respectivamente – que juntamente com a
ciência yogi do Pranayama, embasam meu trabalho com Terapia
da Respiração.
Aos pais da Física Quântica - Niels Bohr, W. Heisenberg,
Planck, Schroedinger e tantos outros. A Einstein e aos modernos
Fritjof Capra, Ken Wilber, Deepak Chopra, Rupert Sheldrake,
136 | Ernani Fornari
Bruce Linpto e Amit Goswami, dentre muitos outros, que tem
possibilitado o novo paradigma holístico/sistêmico que está se
(re) implantando no planeta, pudesse ter algum respaldo científico.
A Bia Martins, Kátia Fonseca, Manfredo Jr., Paulo Amorim e
Fernanda Vilela Luz, que tem produzido com eficiência e bom
gosto todo o nosso material de trabalho (websites, folders, flyers,
cartazes, material para imprensa e para internet, etc.).
As nossas produtoras em SP, Veronica Alves, Renata Parisotto,
Luciana Magalhães, Elizabeth Nakata. A Nilson Flores que nos
produziu em Lisboa.
As editoras, Alhambra (Joaquim Campelo Marques, RJ), Sol
Nascente (Claudio Carone, SP), Aquariana/Ground (José Venâncio,
SP), Vida e Consciência (família Gasparetto e Marcelo Cesar, SP),
que fraternal e, competentemente, editaram e publicaram, todos
os meus livros nestes últimos 30 anos.
A Betty (Tulasi Gita), Paula (Prema), Márcia (Purnima) e Mônica
(Ma Amrit Sangit) e suas famílias, que compartilharam amorosa
e solidariamente comigo de muitas etapas importantes do meu
caminho.
Aos meus filhos Pedro (e sua Camila), Ravi e Hari (e sua Eliza), a
minha neta Dandara, a minha mãe “postiça” Luciana, a minha irmã
“postiça” Antonella, ao meu irmão Rogério e sua família (Solange,
Lilás, Jade, Cedro, Felipe e Samuel). A Miatã, Tatiana e Bianca.
A minha amada esposa, companheira e parceira, Gabriela
Carvalho (Tamani) e sua querida família (Paulinho, Cila, Beto,
Beta, Bia e Julia, tias e primos).
Sanatana Dharma | 137

OUTROS LIVROS DO AUTOR

- Pequeno Manual de Agricultura Alternativa. Ed. Sol Nascente (1982).


- Novo Manual de Agricultura Alternativa. Ed. Sol Nascente (1985).
- Céu da Boca, 104 Receitas com Vegetais. Ed. Alhambra (1986).
- Música Devocional do Ocidente e do Oriente. Ed. Alhambra (1987).
- Dicionário Prático de Ecologia. 1ª edição, Ed. Alhambra (1992). 2ª
edição, Ed. Ground/Aquariana (2001).
- Manual Prático de Agroecologia, Editora Ground/Aquariana (2002).
- Fogo Sagrado, Editora Vida e Consciencia (2010)
- Alinhamento Energético, uma terapia quântica para o Terceiro
Milênio, Editora ida e Consciencia (2015)
- Um outro olhar sobre a vida, uma reflexão sobre os novos paradigmas.
Edição independente (papel e ebook, 2016)

EM PREPARO
. Dicionário Prático de Ecologia, 3ª. edição revisada e aumentada
. Dicionário Prático de Agroecologia
. Dicionário das Artes Divinatórias
. Dicionário Prático de Apicultura

MÚSICA (CDs)
- Coração Caipira
- Canções Devocionais
- Mantras
Contatos com o autor
E-mail:
ernanifornari@gmail.com
Youtube:
www.youtube.com/c/ernanifornari
Site:
www.alinhamento-energetico.com

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