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PARASITOLOGIA
UMA ABORDAGEM CLÍNICA
AVISO LEGAL
Capa
Folio Design
Editoração Eletronica
Rosane Guedes
NOTA
O conhecimento médico está em permanente mudança. Os cuidados normais de segurança devem ser seguidos, mas,
como as novas pesquisas e a experiência clinica ampliam nosso conhecimento, alterações no tratamento e terapia à base
de drogas podem ser necessárias ou apropriadas. Os leitores são aconselhados a checar informações mais atuais dos
produtos, fornecidas pelos fabricantes de cada droga a ser administrada, para verificar a dose recomendada, o metodo e a
duração da administração e as contra-indicações. É responsabilidadedo médico, com base na experiencia e contando com
o conhecimento do paciente, determinar as dosagens e o melhor tratamento para cada um individualmente. Nem o editor
nem o autor assumem qualquer responsabilidadepor eventual dano ou perda a pessoas ou a propriedade originada por
esta publicação.
O Editor
(ÍlP-BRASIL.CXINDGÀÇÃO-NA-Füfüílrl
SINDICATO NACJONAL DOS EDITORES DE IJVROS, R]
P244
Parasitologia [recurso eletronico] : uma abordagem clinica! Vicente Amato Neto... [et al.]. - Rio de Janeiro : Elsevier,
201 l.
recurso digita] : il.
Formato: Flash
Requisitos do sistema: AdobeMash Player
Modo de acesso: Word Wide \Veb
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-352-4966-8 (recurso eletronico)
Desenhado¡ ciclos
Juliana Busetti Mor¡
Designer
Angel Escobedo
Chefe do Departamento de Microbiologiae Parasitologia, Hospital Pediátrico Universitário Pedro Barras, Havana, Cuba
Anis Rassi
Professor Emérito da Universidade Federal de Goiás
Diretor-Presidente do Anis Rassi Hospital
AventinoAlfredo Agostini
Professor Titular de Anatomia Patológica da Universidade de Passo Fundo
Colaboradores
Hércules Moura
Médico, Doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias, Laboratório de Proteômica e Espectrornetria de Massas,
Division of Laboratory Sciencies, National Center of Environmental Health, Centers for Disease Control 8: Prevention
(CDC),Atlanta, Georgia, USA
Jorg Heukelbach
Professor Adjuntoda Universidade Federal do Ceará
AdjunctProfessor da Universidade James Cook, Austrália
Diretor-Presidente da Fundação de Educação e Saúde Mandacaru, Fortaleza, CE
Marcia Hueb
Médica Especialista em Clínica Médica, Mestre em Saúde e Ambiente, Doutora em Medicina Tropical
Professora Adjuntado Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Mato Grosso
Reynaldo Dietze
Doutor em Doenças Infecciosas pela Faculdadede Medicina da Universidade de São Paulo
Coordenador do Núcleo de Doenças Infecciosas e Professor Associado da Universidade Federal do Espírito Santo
Associate Professor of Medicine, Duke University, EUA
Sérgio Cimerman
Chefe da Primeira Unidade de Internação do Instituto de Infectologia E.n1ílio Ribas, São Paulo
Doutor em Infectologiapela UNIFESP
Tiana Tasca
Professora Adjuntada Faculdadede Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
3- Amebíase, 17
Sentíramis Guimarães Ferraz Viana
4 - 0mm¡ amdm
Sumário
26 -
Doença por trematódeos teciduais exóticos e de importação, 199
Felipe Francisco Tuon
27 -
Teníases, 207
Ronaldo Cesar Borges Gtyschek
28 -
Neurocisticercose, 213
Hélio Rodrigues Gomes
29 -
Hidatidose, 219
Carlos Graef-Teixeím
30 -
Himenolepíase, 225
Ronaldo Cesar Borges Gryschek
31 -
Difllobotríase, 229
Ronaldo Cesar Borges Gqschek
32 -
Doença por cestódeos exóticos e de importação, 233
Felipe Francisco Tuon
33 -
Ascaridiase, 239
Ronaldo Cesar Borges Gryschek air' Susana Angélica Zevallos Lescano
34 -
Ancilostomiase, 245
Susana Angélica Zevallos lescano d» Pedro Paulo Chief¡
35 -
Estrongiloidíase, 251
Ronaldo Cesar Borges Gryschek
36 -
Tricuriase, 259
Susana Angélica Zevallos Iescano, Maria Cristina Carvalho do Espírito Santo é' Ronaldo Cesar Borges Giysahek
37 -
Enterobíase, 263
Susana Angélica Zevallos Iescano, Maria Cristina Carvalho do Espírito Santo ó* Ronaldo Cesar Borges Gtyschelc
38 -
Doença por nematódeos intestinais exóticos e de importação, 267
Felipe Francisco Tuon
54 -
Diagnóstico parasitoiógico das principais doenças parasitárias. 373
Kézia Katiam' 60m Scopel á- Marcelo Urbano Ferreira
S5 -
Diagnóstico em parasitoses -
exames sorológicos, 395
Heitor Franco de Andrade Iunior à Luciana Regina Meireles
56 -
Avanços no diagnóstico de doenças parasitárias teiediagnósüco e métodos moleculares, 403
-
Alas-andrej. da Silva
57 -
Orientações para viajantes sobre as parasitoses, 417
Felipe Francisco Tum:
indice, 425
(página deixada intencionalmente em branco)
Epicúemíobgía
e taxonomia das
parasitoses Humanas
Jeffrey Jon Shaw
Parasitologia -
uma abordagem clínica
Epidemiologia e taxonomia das parasitoses humanas
sendo cada vez mais utilizadaspara estudar e diferenciar ar- tes de infecção para humanos. Marcadores moleculares fo-
ganismasindistinguiveis do ponto de vista morfológica. Esses ram usados para estudar populações de Ascaris de humanos
estudos moleculares são importantes no desenvolvimentode e suínos, usando DNA mitocondrial. Assim, haplalipas de
testes/insmrrnentosfferramentasdiagnósticas e na definição mtDNA demonstraram que ocorria algum grau de infecção
de estratégias de controle. No próxima tópica serão apresen- cruzada entre porcas e homens. Uma segunda análise com
tadas alguns exemplos de estudos taxonômicos que levaram base na variação de alelos de seis 10a' não confirmou as resul-
a importantes conhecimentos sobre a epidemiologia de alguns tados preliminares e indicou que não havia infecção cruzada
parasitas humanas. entre homem e porcas. Esse resultado enfatizou a importân-
cia de selecionar diversos caracteres e não utilizarapenas um
caractere para classificação.
Um outro grupo de parasitas cuja taxonomia é contra-
versa é a dos causadores das leishmanioses. Por exemplo, o
parasita causador da leishmaniose visceral na Brasil foi de-
Cqrptosporidium. parvum é um parasita caccídea que par nominado Leishmania chagasi em 1937. Essa denominação
muitos anos foi considerado um agente causal de diarréia e sempre foi questionada em virtude da similaridade com o
gastrenterite agudas. Na primavera de 1993, um surto impar- causador da leishmaniose visceral na Europa, Leishmania
tante de diarréia por Cryptosporidium foi registrado em ínfantunr. Uma solução aceitável para essa questão foi utili-
Mihvaulcee. Cerca de 403 mil pessoas foram infectadas. A etio- zar o name L. (Leíshnrania) infanmmchagasr', sobretudo par
existirem algumas pequenas diferenças entre essas espécies e
logia dessa criptosparidiose foi atribuida, na início, ao Cryp-
as encontradas na AméricaLatina. Lerkhmania é um grupo de
tosporidium parvum. Posteriormente, a infectividade de
isolados de Crjptosporidium de htunanas e animais proveni- parasitas nos quais se utiliza o subgênera para ajudar na se-
entes de diferentes áreas foram estudadas utilizando-secarac- paração e classiñcação. A criação do subgênero L. fViannia)
terísticas biológicas e genéticas como análise de genes teve como base a presença de infecção em diferentes porções
multiloculares de loa' não-ligadas. Esses estudos demonstra- da intestino do vetor, um mosquito, e confirmada tanto por
meia de isoenzimas como por análises moleculares. Foi cons-
ram que (Íqlptosporidíunr de humanos não eram infectantes
tatado que as L. ( Viannia) não ocorre no Velha Mundo e que
para animais e eram distintos da ponta de vista genético, a
a gênero é composto de duas linhagens ñlogenéticas muito
que levou os autores a concluir que eles stavam lidando com distintas que se separaram há cerca de 90 milhões de anos.
uma nova espécie, daí por diante denominada Cryptospo-
Técnicas moleculares também auxiliarama compreensão da
ridiunr hominis. Outros estudos demonstraram que essa
taxonomia e epidemiologia da L. f M) braziliensrls.Essa espécie
espécie produz sintomas mais graves na homem que a é encontrada em toda a região tropical das Américas e ñcou
Cryptosporidium parvum. Issa explicaria por que não foram evidente que é composta de populações com diversos graus
encontradasfontes animais durante alguns surtos de diarréia
de variação genética conforme a região geográfica. isolados da
por Cryptasporidium.
Outra parasita comum dentre os causadores de diarréia é região amazônica mostraram maior grau de variabilidade
a (Martim. Por muitos anos acreditou-se que esse parasita era
genética, o que sugere que as espécies originais desenvolve-
ram-se ali e em seguida expandirarn-se para outras áreas da
a mesmo encontrada em humanos, cães e gatos, denomina-
continente.
do Giardia intestinalis. A eletroforese de isaenzimasde cepas
provenientes de diferentes hospedeiros revelou que o grupo
era heterogêneo, consistindo em pela menos sete linhagens ' 9 r
$ -
@Epzdêmiofogzú (fas parasitoses Humanas
e contra a malária. O mais impressionante dessas missões é promovido a introdução de doenças em outros paises e a mi-
que nos parece ser mais fácil eliminar a pobreza e a fome do gração de vetores associados.
que doenças infecciosas. Isso é uma impressão advinda do
verbo utilizadopara cada missão, sendo “Eliminar” para po-
breza e num outro lado "combater” para o HIV-AIDS e a
malária.
No artigo publicado recentemente pela revista de maior Discute-se algumas medidas que poderiam ser usadas para
impacto em Medicina Interna, o New England Journal of Me- eliminação das doençasnegligenciadas ou, ao menos, redu-
dicine, Peter i. Hortez e colaboradores (entre eles, leifrey ção signiñcaüva de doentes. Uma das práticas é o tratamento
em massa da população, reduzindo o número de portadores
Sachs) ñzeram uma revisão sobre o impacto das 13 doenças
negligenciadasnas populações que as albergam, assim como e, em conseqüência, reduzindo o ciclo do parasito pelo sfetor,
as perspeclivas de erradicação ou redução do impacto delas e restringindo, nesses casos, a doença para o meio florestal ou
pelos países do Cone Sul em 1991. Era estipulada uma pre- sistema incluíram-se oncocercose, ñlariose linfática, helmiil-
valência maior que a atual, embora os custos com cuidados tíases e tracoma, todas elas em diversos países affricanos.
ultrapassem 8 bilhõesde dólares e mais de 40 mil pessoas O que tem sido levado em consideração na quimio-
morram pela doença de Chagas. Sabe-se que, apesar dos raros proñlaxia é a presença de mais de uma doençanegligencia-
surtos de tripanossomiase americana por via oral, a expecta- da em uma mesma área, como ocorre em vários países da
tiva em relação à doença é muito boa, levando-se em conta a Áfricae América Latina. Assim, esquemas múltiplos de tra-
redução da taxa de transmissão do 'liypamsonra cruzi pelo tamentos poderiam trazer maior repercussão, além de asso-
controle do vetor. ciar maior beneñcio com redução de custos. Em um dos
esquemas propostos estariam associados ivermectina, al-
bendazol,praziquantel e azitromicina. Com esse esquema,
ancilostomíase,ascaridíase, tricuríase, esquistossomose,
ñlariose, tracorna e oncocercose poderiam ser exritáxreis. Além
O perfil das doençasparasitárias tem se alterado nos últimos do benefício do tratamento múltiplo, a associação das
anos. Algumas doenças têm apresentado expansão geográfi- drogas culminaria na diminuição de custos pelas vendas,
ca à custa de múltiplos fatores (humanos, geográñcos, climá- tornando-as mais acessíveis para o sistema de saúde dos di-
ticos), como a leishmaniose e a malária. Outras doenças têm versos governos.
se expandido graças ao aumento do movimento popula- Projeções de custo sobre essa quimioproñlaxiacogitam
cional, como viagens de ecoturismo para regiões tropicais, le- valores muito inferiores aos que são investidos no controle
vando doenças para novas áreas completamente distantes do da tuberculose e l-llV-AJDS.Desse ponto de vista, poderiam ser
foco endêmica, como difilobotríase, malária e leishmaniose. levados em conta recursos temporários para o controle das
Não deixamos de lado o aumento de algumas doenças sete principais doençasnegligenciadas,tornando pouco signi-
pelo simples fato de melhora nas técnicas diagnósticas, per- ficativa a interferência sobre outros programas, assim como
mitindo a identiñcação da doença até o nível de cepas, devi- contribuiriam para a redução de comorbidades às doenças
do ao aumento do uso de técnicas moleculares. consideradas de maior morbimortalidade na atualidade.
6 Parasitologia - uma abordagem clínica
Uma lacuna dessa quimioproñlaxia seriam as tripanos-
somíases e a leishmaniose. O controle de vetores é a forma
mais eficaz para essas parasitoses no momento. Além do
controle de vetores, que pode ser bastante difícil no caso da
leishmaniose e tripanossomíase africana, outra estratégia
muito importante seria o diagnóstico e o tratamento precoces.
Nesse sentido, alguns testes rápidos, a exemplo do antígeno
[(39, têm sido aplicados com sucesso. Infelizmente, a obten-
ção do diagnóstico precoce depende da aplicação desses testes
em massa, o que significa custos mais elevados. Essa dispo-
sição da busca de casos e tratamento precoce contrasta com
a atual, ainda dependente do fato de o paciente procurar a
CCLS-RANITZS, lL-S). Quando ocorre a indução de lL-IS e o epitélio (na superficie ou interiorizando-se neste) ou pene-
de IL- 12, ativará células N K a produzirem [FN-Ye este atua- trando entre as microvilosidades,podendo mesmo atingir a
rá sobre os macrófagos ativando-os a produzir moléculas submucosa, lâminabasal ou corrente sangüínea.
microbicidas, como óxido nítrico e derivados de oxigênio, le- A aderência ao epitélio ocorre, sobretudo, por interação de
vando ao controle da infecção. Por ou1ro lado, se houver a lectinas a glicoconjugadospresentes na superficie da celula.
presença de lL-4, oriunda, por exemplo, de mastócitos ati- Além da lectina, a Giardia. também utiliza o disco suctorial e
vados, ou de lL-IO, o resultado será o prejuizo na ativação o batimento de seus flagelos para se fixar ao intestino. lá os
sorológicos, sobretudo para infecção por determinados hel- immune regulation. (Íurr. Opin. Immunol., v. 17, pp. 656-661, 2005.
mintos. Por isso, na interpretação de um resultado sorológico PAUL, W. Fundamental Immunologv. Paul, W', ed., 5th ed. Lippincott-
é importante não apenas considerar se o teste é positivo ou Raven Publishers, Philadelphia, EUA, 2003.
não, mas se houve positivação ou aumento do título em dois SRINTVASAN,A.; MCSORLEX', SJ. Visualizing the immune response
to pathogens. Gun. Opin. Immunol., v. 16, pp. 494-498, 2004.
testes colhidos com intervalo médio de 15 dias.
Detecção de Antígenos
httpzffvlmmnbiologjcarizona.edufimmunologyfimmunologythtml
Os antígenos parasitárias podem ser detectados em tecidos, Site da Universidade do Arizona EUA [The Biology Project) que
-
fezes, escarro, líquor, etc. A metodologia mais empregada contém exercícios com tutorial, casos clínicos e ilustrações ani-
para a visualização do antígeno em tecido é a imuno-his- madas sobre estruturas e mecanismos irnunológicos.
toquímica, mas também a imunofluorescénciapode ser
empregada. Nos demais materiais biológicos o ensaio imuno-
enzimático, a imunofluorecénciaou a imunoprecipitação têm
sido utilizados.
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/lmeõíase
Semíramis Guimarães Ferraz Viana
18 Parasitologia -
uma abordagem clínica
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20 Parasitologia -
uma abordagem clínica
senta cromatina periférica composta de pequenos grânulos
escuros, uniformes quanto ao tamanho e à distribuição na
membrananuclear. Em geral, o cariossoma é central e delica-
do, e em algumas preparações é possível observar pequenos
grânulos de cromatina dispostos entre essa estrutura e a
membrananuclear. Observações feitas em microscopia ele-
trônica demonstram que os trofozoítos não apresentam
organelas como mitocóndria, retículo endoplasmáticoe apa-
relho de Golgi.
A forma cística costuma ser esférica, mas algumas vezes
pode apresentar aspecto oval. A dimensão do cisto pode va-
riar de 8 a 20 um de diâmetro, e a maioria apresenta medi-
das na faixade 10 a 15 um de diâmetro. Além disso, os cistos
ão envolvidos por uma parede cística e no citoplasmapodem
ser observados de um a quatro núcleos, vacúolos pequenos
e inclusões. É comum a visualizaão de vacúolosde glicogênio
no citoplasma dos cistos jovens ou imaturos. Nas preparações
a fresco, os núcleos são pouco nítidos; entretanto, quando
cotados com hematoxilinaférrica apresentam as mesmas ca-
racterísticas observadas na forma vegetatíva Além do núcleo
característico, estruturas escuras em forma de bastonete ou de
charuto podem ser visualizadas no citoplasma. Essas estru-
turas são denominadas corpos cromatóides e raramente são
observadas nos cistos maduros (cistos tetranucleados).
O ciclo biológico de E. histolytica é direto e relativamente por fatores associados ao parasito (virulência e patogenici-
simples. Após a ingestão de cistos maduros, tem início o pro- dade das cepas), ao hospedeiro (resposta imune, estado nu-
cesso de desencistamento que ocorre na porção distal do íleo tricional, sexo, idade, associação à microbiota intestinal) e ao
e no ceco. Mediante a ação do suco gástrico e das secreções
ambiente gastrintestinal (interação com microbiota).
intestinais, forma-se uma fenda na parede de cada cisto, por
onde é liberada uma forma tetranucleada, que por divisão
binária dá origem a oito trofozoítos uninucleados. Esses tro-
fozoítos multiplicam-se por divisões bináriassucessivas e co-
lonizam o intestino grosso, sobretudo na região do ceco. No
lúmen intestinal os trofozoítos alimentam-se de bactérias e
detritos, e multiplicam-se indefinidamente. Muitos desses
trofozoítos passam por run processo de encistamento, quan-
do inicialmente o parasito diminui de tamanho e se arredonda,
transformando-se em uma forma denominada pré-cisto. Em
seguida, essa fomia dá origem a um cisto uninucleado, quan-
do ao seu redor é secretada uma membrana resistente e de
natureza glicoproteica, denominada parede cística. Após divi-
sões nucleares, esses cistos tomam-se tetranudeados e podem
ser excretados juntamente com as fezes do hospedeiro. Os
cistos tetranucleados são as formas infectantes do parasito e
costumam estar presentes nas fezes normais de indivíduos
assintomáticos.
Vale salientar que sob certas circunstâncias alguns tro-
fozoítos, por meio de seus movimentos e da liberação de
enzimas proteolíticas, invadem e colonizam a mucosa intes-
tina] e produzem lesões ao longo do epitélio do intestino gros-
so. Os trofozoítos invasivos apresentam hemácias, restos
celulares e hemoglobinanos vacúolos digestivos e, com fre-
qüência, são observados em fezes diarréicas de indivíduos
sintomáticos. Esses trofozoítos prosseguem invadindo os te- FIGURA 3-1 Ciclo biológico de Entamoeba histolytfco. 1, Cistos
cidos e podem, pela circulação portal, atingir o ñgado, que é maduros de Entomoebo são ingeridos por meio de água ou
o principal órgão acometido nas invasões extra-intestinais. alimentos contaminados. 2, Após a ingestão ocorre a excistação e
Posteriormente, o parasito pode chegar até aos pulmões, rins, formação de trofozoítos cuja multiplicação pode gerar novos
cérebro e pele. trofozoítos assim como novos cistos. Os trofozoitos podem causar
Muitos autores consideram que B. histolyttba apresenta doença intestinal e extra-intestinal (p. ex. fígado). 3, Cistos e
um ciclo não-patogênico, que ocorre na luz do intestino
trofozoítos são eliminados pelas fezes, e apenas os cistos
grosso, e um ciclo patogénico,quando os trofozoítos invadem apresentam capacidade de fechar o ciclo de nova infecção (4).
22 Parasitologia -
uma abordagem clínica
Levando em conta as informações reunidas em diferentes invasiva, sobretudo no ligado, além da morte celular por ne-
investigações, tem sido possível eiqaandir o conhecimento so- crose lítica, o parasito pode induzir apoptose nas células-alvo.
bre a patogênese da amebíase, em especial sobre os fatores Segundo alguns autores, a apoptose pode ser um evento secun-
inerentes ao parasito. E. histolytica. é um parasito que apre- dário à liberação de fatores citotóxicos do parasito, como as
senta excepcional capacidade citolitica, e nas fomias invasivas proteínas formadoras de poros e as cisteína-proteases.
da infecção as lesões são produzidas em conseqüência de lise No que diz respeito aos fatores associados ao ambiente in-
celular, necrose dos tecidos e degradação da matriz extrace- testinal, ainda pouco se sabe sobre a interação de E histolytim
lular. Após inúmeros estudos para identificar e caracterizaras com a microbiota. Alguns experimentos demonstram que os
bases moleculares da reação citolítica, principal mecanismo trofozoítos interagem com diferentes espécies de bactérias e
patogênico na amebíase, demonstrou-se que entre as molé- que essa interação é mediada por leciünas do parasito que se
culas envolvidas no efeito CÍÍOÍÓJCÍCO estão proteínas específi- ligam a receptores específicos presentes na superfície das bac-
cas. Entre essas moléculas incluem-se proteínas de adesão, térias. Além disso, há evidências de que essa interação possa
proteínas formadorasde poros e cisteína-proteases, que atuam determinar um aumento na expressão da vimléncia do pa-
na patogenia da amebíase como importantes fatores de viru- rasito.
lência. l-lá evidências marcantes de que em certas cepas de E. Após a invasão, os trofozoítos multiplicam-se nos tecidos
e prosseguem determinando lesões nos órgãos atingidos. No
hístolytica. a presença dessas moléculas possa determinar di-
ferenças quanto à capacidade de causar doença. intestino grosso, a invasão da mucosa tem localização prefe-
Quanto às moléculas de adesão, são proteínas presentes rencial no ceco e retossigmóide, onde os trofozoítos progri-
na superficie do trofozoíto que, durante o processo de ade-
dem em direção à camada muscular (musculuris mucosas) e,
rência ao epitélio intestinal, reconhecem glicoproteínas na a seguir, à submucosa. A lesão inicial consiste em pequenas
membranada célula-alvo. Esse contato direto é mediado por elevações nodulares, semelhantes à cabeça de um alñnete e
lecitinas que se ligam especificamente a glicoproteínasconten- com bordas hiperêmicas e congestas. As vezes, em algims
do resíduos dos carboidratos galactose (Gal) e N -Acetil-D- pontos da mucosa, notam-se pequenas ulcerações superfi-
galactosarnina(CralNAC). Vários estudos têm demonstrado
que a inibição da lecitina GalfGalNAC torna o parasito inca-
paz de aderir e lisar as células do epitélio inteslinal. Assim, está
claro que a adesão dos trofozoítos às células-alvo é pré-requi-
sito para que ocorra a lise dos tecidos.
Após o contato com a célula do hospedeiro, o parasito li-
bera produtos capazes de alterar a integridade da membrana
da célula-alvo e promover a degradação dos tecidos. Alguns
desses produtos correspondem a proteínas que se inserem na
membrana plasmática da célula hospedeira e causam a for-
mação de canais ou poros que provocam a lise celular. Essas
proteínas, denominadas amebaporos, são pequenos pepüdeos
localizados em grânulos citoplasrnáticos, que o parasito libera
após o contato com a célula.
Além das arnebaporos, os grânulos citoplasmáticos con-
tém lisozima, fosfolipases e cisteína-proteases. Atualmente,
já se sabe que as cistema-proteases têm papel importante na
invasão dos tecidos, pois são capazes de degradar desde com-
ponentes do muco até proteínas relevantes da matriz extra-
celular, como laminina, ñbronectina e colágeno do tipo l.
Além disso, vários relatos têm associado a capacidade de in-
vasão de cepas do parasito, que exibem graus de virulência
distintos, à quantidade de proteases produzidaspelo parasi-
to. Assim, cepas patogênicas são capazes de liberar maiores
quantidades de proteases do que as cepas não-invasivas.
Somando-se a esses aspectos, vale destacar que algumas
dessas proteínas são imunogênicas, e com isso tem-se explo-
rado a possibilidadede emprega-las como marcadores para
o diagnóstico da infecção. Além disso, o papel como fatores
de virulência tornou-as alvo potencial para o desenvolvimen-
to de agentes terapêuticos e vacinas.
Diante do exposto, ê importante ressaltar que a atividade
citopática de E. histolytim é contato-dependente e pode ser
dividida em quatro etapas: a aderência, a citólise após o con-
tato, a fagocitose e a degradação intracelular. Na amebíase
Amebíase 23
alguns casos, a excreção de cistos ocorre durante um curto no apêndice. Os sinais e sintomas são semelhantes aos obser-
período e a infecção resolve-se de forma espontânea. Em ge- vados em casos de apendicite com outras eüologias.
ral, os casos assintomáticos permanecem nessa condição ao
longo de toda a infecção. Contudo, uma pequena parcela dos
indivíduos infectados desenvolve sinais e sintomas decorren- _Amebiase Extra-intestinal
tes da invasão intestinal e, algumas vezes, extra-intestinal.
Entre as localizações extra-intesünais, o fígado é o principal
órgão acometido, e na amebíase hepática destacam-se duas
Amebiase Intestinal formas clinicas: a hepatite amebianaaguda e a necrose coli-
quativa aguda, mais conhecida como abscesso hepático ame-
Na amebíase intestinal, duas formas clínicas destacam-se, biano. Pela circulação portal, sobretudo pela veia mesentérica
respectivamente, pela freqüência com que ocorre nas áreas superior, os trofozoítos chegam a esse órgão e causam necro-
endémicas e pela importância clínica: colite não-disentérica e se do parénquimahepático.
disenteria amebiana(colite disentérica). Previamente ao surgimento do abscesso hepático ame-
Juntamente com as formas assintomáücas, a colite não- biano, instala-se um quadro de hepatite amebiana aguda,
disentérica é uma das formas clínicas mais comuns em indi- que sob o aspecto clínico manifesta-se por hepatomegalia
víduos rmidentes em áreas endémicas, inclusive no Brasil. Essa moderada.
forma caracteriza-se por evacuações diarréicas ou não, com No tocante abscesso hepático amebiana, essa é a for-
ao
duas a quatro dejeções diárias, podendo o indivíduo eliminar ma extra-intestinal mais comum, sobretudo em indivíduos
fezes moles ou pastosas, e às vezes, com muco ou sangue. residentes no México, Egito, Índia, África do Sul e Ásia_ No
Durante a infecção, o indivíduo pode alternar períodos de Brasil, essa forma é rara; entretanto, na região Amazônica, a
funcionamentointestinal normal e quadros de diarréia. Além amebíasehepática ocorre com mais freqüência, mas não apre-
disso, sintomas intestinais, como flatuléncia, desconforto senta a gravidade e a intensidade verificadas, por exemplo,
abdominal e cólicas, estão presentes na maioria dos casos. no México. Em geral, nas regiões onde ocorre, essa forma clí-
Mais raramente, a febre pode acompanhar esses sintomas. nica predomina no sexo masculino, em particular, na faixa
A colite disentérica ou disenteria amebiana é uma forma etária de 20 a 50 anos.
clínica mais rara, mas tem sido observada em cerca de 10% Na maioria dos casos, a lesão é única e localizada no hi-
dos indivíduos com amebíaseintestinal. Essa forma apresenta pocôndrio direito. Sob o ponto de vista clinico, as manifes-
evolução aguda e, sob o aspecto clínico, assemelha-se à di- tações são inespecíñcas, mas essa forma caracteriza-se pela
senteria bacilar. Entre os sintomas atribuídos a essa forma tríade de sintomas que inclui febre, dor e hepatomegalia. A
destacam-se dores abdominais, cólicas intestinais intensas, diar- dor abdominal é um sinal observado em cerca de 90% dos
réia líquida com evacuações muc.ossanguinolentas e febre pacientes e, com freqüência, localiza-se no quadrante superior
moderada. As evacuações são freqüentes, variando de oito a direito. A febre é outro sintoma muito comum, podendo
mais de dez dejeções diárias e, nesses casos, os indivíduos ocorrer em até 999/43 dos casos. Somando-se a esses sinais, a
também apresentam Hatuléncia, inapeténcia, náuseas, vômi- hepatomegalia com dor à palpação é um dos sintomas mais
tos e desconforto abdominal. Às vezes o quadro de colite importantes nos casos de abscesso hepático e pode ser veri-
disentérica pode evoluir para formas agudas fulminantes, ficado em 90% dos pacientes. Além disso, os pacientespodem
caracterizadaspor diarréia mucopiossanguinolentaprofusa, se queixar de fraqueza, prostração, calafrios, suores, náuseas,
desidratação intensa, prostração geral, febre e dor abdominal vômitos, perda de peso e inapetência.
disseminada. As formas graves podem levar à morte, sobre- É. importante destacar que cerca de 50% dos pacientes com
tudo quando ocorrem em crianças e adultos imunodepri- abscesso hepático amebiano relatam história prévia de doença
midos. intestinal, mas em apenas 10-2096 dos casos é possivel detec-
O agravamento do quadro de colite disentérica se deve ao tar o parasito nas fezes.
extenso comprometimento do cólon, inclusive, devido à for- Entre as complicações advindas da amebíase hepática, a
mação de úlceras profundas, muitas vezes, determinando ruptura espontânea do abscesso nas cavidades peritonial,
perfurações intestinais múltiplas. Em geral, à perfuração in- pleural e pericárdica pode agravar o quadro, pois provoca a
testinal segue-se um quadro de peritonite aguda. disseminação do parasito para outras localizações como pul-
Além da colite fulminante, o ameboma e a apendicite mões e cérebro.
amebiana são outras complicações da forma disentérica. O A lesão necrótica do pulmão ou abscesso amebiana pul-
arneboma, muitas vezes confundido com uma formação monar pode ser resultante de disseminação hernatogênica ou,
tumoral, apresenta-se como massas granulomatosas, em ge- com mais freqüência, de extensão das lesões hepáticas. O
ral observadas nas regiões do ceco e retossigmóide. Essa le- quadro clínico é variável, mas em geral o paciente apresenta
são resulta da invasão da mucosa intestinal pelos trofozoítos, febre, dor torácica e tosse com expectoração de secreção cor
que além de determinar a necrose do tecido, induzem uma de chocolate. Em muitos casos, os pacientes co1r1 lesões pul-
resposta inflamatóriae edema do tecido. O ameboma provo- monares também tem sintomatologiahepática.
ca dor, sangramento e, com menos freqüência, obstrução in- As lesões no cérebro são raras, luas, quando ocorrem, a
testinal. evolução é rápida e fatal. Em geral, o abscesso amebiana ce-
A apendicite amebianaé o resultado de ulcerações na re- rebral acomete pacientes que estão na fase final da amebíase
gião ceco-apendicular associada a um processo inñamatório hepática ou pulmonar. A presença de trofozoítos no sistema
124 Parasitologia -
uma abordagem clínica
nervoso central é decorrente de disseminação hematogênica a
partir de focos intestinais, hepáticas ou pulmonares.
Em alguns casos, abscessos amebianos cutâneos podem
ser observados, sobretudo na região perianal e parede abdo-
minal. Essas lesões podem surgir devido à extensão de uma
colite amebianaaguda e à ruptura e drenagem de lesões in-
testinais e hepáticas.
Nas infecções sintomáticas, o metronidazol é o medica- mental, sobretudo nas áreas endêrnicas. Em locais onde o sis-
mento mais eñcaz no tratamento das formas invasivas intes- tema de tratamento de água é deñcitário, recomenda-se a ñl-
tinais e extra-intestinais. Nos pacientes com colite disentélica tração ou a fervura da água a ser utilizada como bebida ou
aguda, a dosagem recomendada para adultos é de 750 a 800 no preparo dos alimentos e na lavagem dos vegetais crus. Vale
mg, três vezes ao dia, durante cinco a dez dias, e as crianças destacar que a cloração feita nas concentrações empregadas
podem ser tratadas com 500 mg, duas vezes ao dia, por cin- nos processos de desinfecção da água não é suficiente para
co a dez dias. Para o tratamento das formas hepáticas, esse inativar os cistos de E. histofytica. Além dos cuidados com a
mesmo quimioterápico é empregado em doses de ?'50 a 800 água, é importante dar destino correto às fezes humanas. As-
mg, três vezes ao dia, durante 10 a 14 dias, podendo em cer- sim, a existência de instalações sanitárias e de rede de esgoto
tos casos ser associado a amebicidas luminais. Em geral, o e o tratamento adequado dos esgotos sanitários são medidas
tratamento é feito por via oral, mas nos pacientes com maior relevantes para o controle das infecções por E. hzstob/tica e
gravidade a administração pode ser intravenosa. O percentual outros parasitas intestinais.
de cura com o metronidazol pode atingir taxas superiores a Outra medida importante consiste na identificação e no
90%. Entretanto, é preciso levar em consideração que o tra- tratamento precoce dos individuos infectados, sintomáúcos e
tamento pode causar efeitos colaterais, como náuseas, vômi- assintomáücos. Entre esses, destacam-se os indivíduos excre-
tos, vertigens, dores de cabeça e pancreatites ocasionais e, em tores de cistos, importantes como fontes de infecção, sobre-
alguns pacientes, complicações como toxicidade do sistema tudo quando exercem atividadm que facilitama disseminação
nervoso centraL Além disso, estudos in. *vivo têm demonstra- do parasito, como, por exemplo, a manipulação e o preparo
do que esquemas terapêuticos prolongados com essa droga de alimentos.
podem determinar efeitos carcinogênicos e mutagénicos.
Entamoeba Cali
São as amebas mais encontradas em seres humanos. São co-
mensais, não-patogênicos e devem ser diferenciados de Enta-
moeba histolytica, o que é feito levando-se em consideração
as dimensões de cistos (15 a22 um) e trofozoítos (20 a 30 um).
A presença de hemácias em vacúolos digestivos dessas amebas
é rara e a verificação dessa condição deve fazer suspeitar de
infecção por E. histalytica. Não é incomum o emprego de tra-
tamentos para amebíaseem pacientes que foram erroneamen-
te diagnosticados como portadores de Entamoeba Itistolytica
e com sintomas gastrintestinais.
Várias características de E. coli podem ser individualizadas
pelas colorações específicas.
Entamoeba hartmanm'
Possui cistos pequenos, menores de 1D um de
Outras amebas intestinais e protozoários comensais vu
É importante relatarmos aqui que dois casos de infecção Vive no intestino grosso, sendo raramente descrito fagoci-
do sistema nervoso central foram atribuídos a Iodamoeba. tando hemácias. Alguns podem ser mononucleados, ou ter até
Posteriormente, veriñcou-se que tratava-se de infecções por quatro núcleos, embora esteja presente em mais de 80% da
outras amebas de vida livre, Naegleria e Acanrhanweba, uma vezes como um protozoãrio binudeado.
em cada caso, amebas discutidas no Capítulo 14. Apresenta dimensões de 3 a 18 um de comprimento. Di-
ferentemente de outros comensais, algumas vezes atribuem-
se sintomas e sinais a esse protozoário. Acredita-se que entre
15% e 20% dos casos de portadores de D. jiagilis, apresentam
sintomas relacionados com a sua presença. Dentre esses sin-
Chüomastixmesnih' tomas, destacam-se diarréia, dor abdominal, fezes amolecidas
mucóides ou até mesmo hemorrágicas, Hatuléncia, fraqueza
'Prata-se de um flagelado encontrado com freqüência variá- e fadiga, náuseas coIr1 VÕIDÍÍOS e emagrecimento.
vel em exames de fezes. Tem corpo piriforme, irregular, me- A transmissão desse parasita ainda é discutível, mas pode
dindo de 1D a 20 um de comprimento; apresenta núcleo estar relacionada com a transmissão de outros parasitas in-
pequeno, próximo ao pólo anterior da célula, além de qua- testinais, como ovos de nematodas (Enterobius vermicularis,
tro flagelos. Reproduz-se por divisão binária e tem por ha- por exemplo) ou transmissão direta entre homens, como
bitat preferencial o cólon, sobretudo próximo do ceco. Sua descrito em homens que têm relação sexual com outros ho-
importância está na diferenciação com Giardia, discutida no mens, conforme descrito em studo de coorte.
Capítulo S. Assim como Giardia, Chilomastüc mesnili é um O tratamento dos casos sintomáticos pode ser feito com
protozoário flagelado e seus cistos medem de 6 a 10 pm. tetraciclina, 250 mg, quatro vezes ao dia, por sete dias, ou
metronidazol, 750 mg, três vezes ao dia, por dez dias.
Trichomonashominis
Enteromonas hominis
Esse protozoário flagelado mede de 7 a 15 pm de comprimen-
to, move-se com rapidez, habita o intestino e não produz cis- É um pequeno flagelado pouco encontrado em humanos.
tos. Sua ligeireza de movimentos dificulta a visualização. Mede de 4 a 10 pm de comprimento, é ovalado e tem três fla-
Apresenta quatro flagelos anteriores e um flagelo recorrente gelos anteriores e um flagelo posterior. Apresenta cistos com
que se origina anterionnente e percorre todo o corpo até a 6 a 8 um de diâmetro. Não é patogênico para o homem e em
porção posterior, formando uma membrana. geral é encontrado no intestino grosso como comensal.
Há poucas evidências de que esse agente seja patogênico
para o homem.
Retortamonas intestinalís
Trichomonas tenax Retartamonas intestinalis é outro Hagelado raramente presente
em humanos. Mede de 4 a 10 um de comprimento, com dois
'E tenax apresenta características estruturais mais semelhan-
tes a E vaginalis (Capítulo 6) do que T. hominis. Este
flagelos anteriores. 'lem cistos de 4 a 7 pm de diâmetro. Não
é patogênico para o homem e costuma ser encontrado no in-
protozoário flagelado também tem sido chamado de II testino grosso como comensal. Também está presente em
buccalis. Mede de 6 a 10 um de comprimento, e como E.
outros primatas não-domeslicados.
gingivalis, é encontrado na cavidade oral, quase sempre rela-
cionado com doençaperiodontal.
Há poucas evidências de que esse agente seja patogênico
para o homem.
BLlRGESS, DE. Trichornonadsand Intestinal Flagellates. In: Toplev 8-:
\Vilsonk Microbiology' and Microbial Infectious, vol. 5, Parasi-
Dientamoeba fragilís
nologjr, 9'** ed., 1998.
NULRTTNTSZ-PALOMO,A; ESPINOSA CANTELLANO, M. Intestinal
Embora esse parasito seja considerado como ameba por àmoebae. In: Topley' Sr Wilsofs ?Microbiology and Microbíal In-
muitos, apresenta mracteristicasque assemelham-no ao grupo fectious, vol. S; Parasitologia 9'** ed., 1998.
dos Hagelados. Não tem o estágio de cisto, sendo binucleado.
(página deixada intencionalmente em branco)
Çiarcfzízse
Semíramis Guimarães Ferraz Viana
É” Parasitologia -
uma abordagem clínica
idênticas, enquanto aquelas de um mesmo hospedeiro po-
dem ser marcantemente diferentes. Diante disso, a classifica-
Giardíase é a infecção intestinal causada pelo protozoário ção proposta por Filice, em 1952, tem sido a mais aceita, e, de
acordo com esse sistema, o gênero (Hardão é dividido em três
Hagelado Giardia, encontrado no intestino delgado de mami-
feros, aves, répteis e anfíbios.Atualmente, a giardíase é con- espécies: l Giardín duodenalis, que infecta vários mamíferos,
-
siderada um problema grave de saúde pública nos países em inclusive o homem, aves e répteis; 2 Giardizz muris, que
-
lidade desse parasito em infectar o homem e uma variedade longitudinal. Em relação às característicasmorfológicas, o tro-
de animais domésticos e silvestres, tem sido freqüente a dis- fozoíto é piriforme, com simetria bilaterale mede 20 um de
cussão sobre o papel da transmissão zoonótica na dissemi- comprimento por 1D um de largura, conforme descrito no
nação das infecções. ciclo do parasito. Essa forma tem quatro pares de flagelos, a
saber: um par de flagelos anteriores, um par de flagelos ven-
nais, um par de flagelosposteriores e um par de flagelos cau-
dais. A face dorsal é lisa e CODVCXH, enquanto a faceventral é
côncava, apresentando uma estrutura semelhante a uma ven-
Por mais de 300 anos, desde que ÁDÍOII van Leeuwenhoek tosa, que é encontrada somente no gênero Giardia e é conhe-
observou "animalúnculosInóxreis” em suas próprias fezes, os cida por várias denominações: disco ventral, disco adesivo ou
protozoários que compreendem o género Giardia. têm intri- disco suctorial. Esse disco é uma esuutura complexa, forma-
gado muitos pesquisadores. A primeira descrição do tro- da por microtúbulos e nlicroñlamentos que permitem a ade-
fozoíto tem sido atribuída a van Leeuwenhoek, porém foi são do parasito à mucosa intestinal. Abaixo do disco adesivo,
Lambl, em 1859, quem o descreveu com mais detalhes. Nessa ainda na face ventral, observa-se a presença de uma ou duas
ocasião, Lambl, por ter acreditado que o protozoário per- formações paralelas, em forma de vírgula, conhecidas como
tencia ao género Cercomonas, denon1inou-o Cercomonas in.- corpos medianos. Não se sabe ainda qual a função dos cor-
testinalis. O gênero Giardia foi criado por Kunstler, em 1882, pos medianos, mas a morfologia dessas estruturas tem sido
ao observar um flagelado presente no intestino de girinos de utilizadapara a denominação das espécies.
anfíbiosanuros. Após a criação do gênero, vários nomes fo- Quanto à organização interna, os trofozoítos têm dois nú-
ram atribuídos às espécies, entre eles, Giardia intestinalis, cleos idénticos, cada qual apresentando um cariossomo cen-
Giardia duodenalis, Gihrdia Iamblia e Giardía enterica. tral, mas sem cromatinaperiférica. Análises por microscopia
A taxonomia desse protozoário é oontroversa e a determi- eletrônica têm demonstrado no citoplasmaorganelas como
nação das espécies tem se baseado em critérios, como hospe- retículo endoplasmático, ribossomos e aparelho de Golgi.
deiro de origem e características morfológicas. Entretanto, Não se observam, entretanto, mitocôndrias.
diferentes autores acreditam que considerar o hospedeiro não O cisto é oval ou elipsóide, medindo cerca de 12 _um de
é um critério válido, uma vez que, pela análise de DNA, es- comprimento por 8 um de largura e apresenta uma parede
pécies de Giardia. de diferentes hospedeiros apresentam-se externa de natureza glicoprotéicae com espessura de 0,3 um.
Esse revestimento, denominado parede cística, torna os cistos
resistentes a certas sariaçõs de temperatura e umidade e tam-
bém à ação de produtos químicos empregados como desin-
fetantes. No meio ambiente, os cistos podem se manter xriãveis
por até dois meses. No interior do cisto, estão dois ou quatro
núcleos, um número variável de ñbrilas longitudinais (axo-
nemas de Hagelos) e os corpos escuros em forma de meia-lua
e situados no pólo oposto aos núcleos. As estruturas em for-
ma de meia-lua são denominadas corpos escuros ou corpos
em crescente e, em geral, são confundidos com os corpos me-
dianos presentes nos trofozoítos.
para consiuuo.
A
'as Parasitologia -
uma abordagem clínica
um processo de desencistamento, que tem início no meio
ácido da estômago e completa-se no duodeno e jejuno, onde
cada cisto maduro (quatro núcleos) libera dois trofozoítos
A despeito da
binucleados. Os trofozoítos multiplicam-se por divisão bi-
nária longitudinal e assim colonizam o intesiina, onde per-
manecem aderidos à mucosa intestinal por meio do disco
ventral. Muitos desses trofozoítos passam por um processo
de encistamento, ao final do qual são produzidas os cistos.
Esse processo pode ter início no baixo íleo, mas a caco é con-
siderado o principal sítio de encistamento. Não se sabe se os
estímulos que conduzem ao encistamento ocorrem dentro ou
fora do parasita; entretanto, destacam-se fatores como a in-
fluênciado pH intestinal, a concentração de sais biliarese o
destacamento do trofozoíto da mucosa. Durante o encista-
mento, ao redor do trofozaíto é secretada pelo parasita uma
membrana cística resistente, composta parcialmente de
quitina. No interior do cisto ocorre nucleatomia, podendo ele
apresentar-se então com quatro núcleos. Os cistos produzi-
dos são excretados juntamente com as fezes do hospedeiro,
podendo permanecer viáveis por vários meses no meio am-
biente, desde que em condições favoráveis de temperatu-
ra e umidade. Embora os cistos sejam formas infectantes para
todos os hospedeiros, há dúvidas se são infectantes loga
após a evacuação ou se necessitam de um período de matu-
ração no meio ambiente, que poderia ser superior a sete dias
(Figura 5-1).
ser responsável pelo acúmulo de fluido na luz intestinal, a absorção de gordura e de nutrientes, como vitaminas lipos-
que pode resultar em quadros diarréicos graves durante a solúveis (A, D, E, K), vitamina Bu, ferro, xilose e lactose. Em
giardíase crônica. geral, essas complicações determinam um maior impacto cli-
Atualmente, estudos de bioquímicae de biologia molecular nico em crianças, que em conseqüência da infecção podem
têm possibilitadoa identificam:: de moléculas do parasita en- apresentar distúrbios do daenvolvinrentoñsico e mental.
volvidas na relação parasito-hospedeiro e que participam da Vale destacar que nas infecções crônicas a sintomatologia
patogénese da giardiase. Segundo revisões recentes, chama pode ser semelhante à observada em outras infecções para-
atenção dos pesquisadores o fato de que a atividade de pra- sitárias ou mesmo em doenças não-infecciosas, como doen-
dutos do parasita sobre a mucosa intestinal pode alterar a ça de Crohn, doença celíaca e síndrome do intestino irritável.
permeabilidadedas células e, assim, quebrar a função do Atualmente, é importante considerar os casas de giardíase
epitélio como barreira. Diante disso, tem sido crescente a in- em pacientes com AIDS, uma vez que, nesses indivíduos, a
teresse das pesquisadores em investigar as substâncias se- infecção pode ser causa de diarréia grave, especialmente, du-
cretadas ef ou excretadas pelos trofazoitos de Giardia com o rante as estágios mais avançados da doença.
propósito de identificar aquelas que podem estar diretamen-
te envolvidas na relação parasita-hospedeiro. Até o presente,
sabe-se que trofozoítos de Giardia apresentam uma varieda-
de de substânciaspotencialmente tóxicas, entre as quais des-
tacam-se proteínas e lecitinas que podem ser responsáveis por Apesar do número crescente de investigações que ressaltam
causar injúrias no epitélio intestinal. a importância de Giardia como agente de diarréia grave e
Ê importante considerar que o conhecimento dos meca- persistente entre crianças ma] nutridas e indivíduos imunes-
nismos patañsiológicos desenvolvidos durante a infecção po- suprimidas, ainda hoje, a &eqüência dessa protozoose na po-
dem fornecer informações relevantes para o entendimentoda pulação pode ser subestimada. Isso se deve ao fato de, muitas
relação parasita-hospedeiro. Na verdade, toda o processo vezes, a detecção do parasita pelas métodos convencionais ser
parece ser multifatorial, envolvendo fatores associados às al- comprometida em função das limitações apresentadas pelas
técnicas empregadas e da falta de conhecimento e treinamen-
terações da mucosa, bem como fatores do próprio ambiente to dos profissionais dos laboratórios. O diagnósticopreciso
intestinal. Além disso, são fortes as evidências de que cepas de
Giardia diferentes do ponta de vista genético passam variar é importante, não apenas para identificar os indivíduos com
diarréia aguda, mas também para detectar as infecções
quanto à habilidadeem produzir mudanças morfológicas na assintomáticas que correspondem a cerca de 90% dos casos.
intestino e interferir no transporte de fluidos e eletrólitos.
Em crianças de 8 meses a 12 anos, a sintomatologia mais
indicativa de giardíase é diarréia com esteatorréia, irritabili-
dade, insônia, náuseas e vómitos, perda de apetite (acompa-
nhada ou não de emagrecimento) e dor abdominal. Embora
A infecção por Giardia apresenta um espectro clínico diver- esses sintomas
so, que varia desde individuos assintomáticos até pacientes
sintamáticos que podem apresentar um quadro de diarréia
aguda e autolimitada, ou um quadro de diarréia persistente,
com evidência de má absorção e perda de peso, que muitas
vezes não responde ao tratamento específico, mesmo em in-
dividuos imunocompetentes. Segundo alguns autores, em
50% dos individuos a infecção é resolvida de forma espontâ-
nea; em 5% a 15% a infecção é assintamática e o indivíduo
pode eliminar cistos nas fezes por um período de até seis me-
ses, enquanto um grupo menor pode apresentar sintomas de-
correntes de uma infecção aguda elou crónica.
Em geral, as infecções sintomáticas agudas caracterizam-
se por diarréia do tipo aquosa, explosiva, de odor fétido,
TABELA 5-1 Tratamento com os derivados nitroimidazóis e outros esquemas terapêuticos mais
empregados na giardíase
Metranidazol 15 a 20 mg/kg durante sete a dez dias consecutivos, para crianças, via oral. A dose para adultas
é de 250 mg, duas vezes ao dia
Tmidazal Dose única de 2 g para addlas e l g para crianças, sob anfonna vida; esse produto também é apresentada
sob a forma de supasitórios, com bons resultados; devese repetir a uma semana depois
Ornidazol Dose única de l a mg/kg para crianças
2 g para adulbs e 40-50
Secnidaziol A dosepala adultos é de 2 g, em dose única de quatro comprimidos. Crianças com menos de 5 anos: 125 mg,
duas vezes em 24 horas, par cinco dias
Albendazol Geralmente esse medicamento deve ser administrada na dose de 400 mg dia, durante cinco dias
ao
Nitazowanida Recomendada na close de 500 mg, duas vezes ao dia para adultos e criançasa partir de 12 anas de idade;
em aictnçasde# a
(página deixada intencionalmente em branco)
Tricomonose
Geraldo Attilio De Carl¡
Tiana Tasca
É** Parasitologia -
uma abordagem clínica
Zlríchomonas vaginnlis é o agente etiológico da tricomonose, metabolismo, epidemiologia, mecanismos patogênicos, sinais
e sintomas, tratamento e profilaxia da tricomonose.
a doença sexualmente transmissível (DST) não-viral mais
comum no mundo. Estima-se que ocorram a cada ano 250
a 350 milhões de casos de tricomonose no mundo. Sob o
ETIOLOGA E MORFOLOGIA
aspecto taxonómica, 'II vaginnlis está incluído no gênero
!Hchomonas família 'lrichomonadidamsubfamilia Tricho-
monadinae, ordem 'Frichomonadida, classe Zoomastigo-
O 'IÍ vaginalis habita o trato geniturinário do homem e da
mulher, onde produz a infecção e não sobrevive fora do siste-
phorea e filo Sarcomastigophora. As outras espécies de ma urogenital. O protozoário e' polimorfo, tanto no hospedei-
tricomonadideosencontradas no homem são Zliichomonas
ro natural como em meios de cultura. Os espécimes vivos são
tenax, 'Ir-khomonas hominis e 'Iríclzomirusfemlis A espécie
'13 vnginalis, patogênica, foi descrita pela primeira vez em
elipsóides ou ovais e algumas vezes esféricos. O protozoário
é muito plástico, tendo a capacidade de formar pseudópodos,
1836, por Donné, que a isolou de uma mulher com vaginite. os quais são usados para capturar os alimentos e se ñxar em
Bm 1894, Marchand e, independentemente, fvliura (1894) e
Dock (1896) observaram esse flagelado na uretrite de um
partículas sólidas (Figura 6-1 A). Em preparações ñxadas e
coradas, ele é tipicamente elipsóide, piriforme ou oval, me-
homem. '13 remix, não-patogénico, vive na cavidade bucal dindo, em média, 9,7 um de comprimento (variando entre
humana e também na de chipanzés e macacos.O 'll liorrzinis, 4,5 e 19 um) por 7,0 um de largura (variando entre 2,5 e 12,5
não-patogênico, habita o trato intestinal humano. 'II fecalis um). Os organismos vivos são um terço maiores.
foi encontrado em um único paciente, e não há certeza se o Como todos os tricomonadídeos, 'IÍ vaginalis não tem a
homem seria seu hospedeiro primário. forma cística, somente a trofozoítica. A forma é ivariável, tanto
Embora a doença tenha sido diagnosticada e 'II vaginalis nas preparações a fresco como nas coradas. As condições fí-
dscrito em 1836, o diagnóstico clinico e laboratorial da trico- sico-químicas(pl-l, temperatura, tensão de oxigénio e força
monose continua apresentando inúmeras dificuldades. Da iônica) afetam o aspecto dos tricomonas; entretanto, a for-
mesma forma, o entendimento da interação 'L' iraginalis e ma tende a se tornar mais uniforme entre os Hagelados que
hospedeiro é um processo complexo e ao mesmo tempo ins- crescem nos meios de cultura do que entre aqueles observa-
tigante, no qual estão envolvidos componentes associados à dos na secreção !vaginal e na urina. Na presença de altas con-
superfície celular do parasito e às células epiteliais do hospe- centrações de ágar em meio de cultura, de certas partículas de
deiro e também componentes solúveis encontrados nas secre- alimentos e de diferentes substratos (células e tecidos), in vivo
ções vaginal e uretral. Além disso, o parasito é muito estudado e in vitro, os tricomonas assumem aspecto amebóide [Figu-
como modelo na biologia celular e em estudos bioquimicos, ra 6-1 B).
e apresenta relações evolutivas com outros grupos de euca- espécie tem quatro flagelos anteriores, desiguais em
Essa
riotes superiores. Corroborando esses fatos e destacando a tamanho e têm origem no complexo granular basal anterior,
importância desse patógeno na Saúde Pública, recentemente também chamado de complexo citossomal. A membrana
foi publicada a primeira versão do genoma do 'L' vaginalis. ondulante e a costa nascem no complexo granular basal. A
FIGURA B-I Imagens obtidas pela microscopia eletrônica de varredura (Mai). A, Pseudópodes exibidos por Trichomonos vagfnolfs.
B, Trofozoitos amebóides de I voginahs aderidos pelos seus pseudópodes, formando um grupo de organismos. Cultivo em célula de MacCoy.
MO membrana ondulante; T trofozoítos de I vagínnhs; P pseudópodes; Mc célula de MacCoy. (Cortesia de Parasitol. Latinoam. Tasca
= = = =
pequeno nucléolo. O retículo endoplasmáüco está presente ao vagínalis contém colesterol, fosfaüdiletanolanúna,fosfati-
redor da membrananuclear. Esse protozoário é desprovido dilcolinae esñngomielina como principais fosfolipídeos, e é
de mitocôndrias, mas apresenta grânulos densos paraxos- incapaz de realizar a síntese de ácidos graxos e esteróides. As-
tilares ou hidrogenossomos, dispostos em ñleiras (Figura 6- sim, 'IÍ vaginalis não é capaz de realizar a síntese de novo de
2). O cistoesqueleto de 'II vaginalis é composto de tubulina e purinas e pirimidinas, dependendo das vias de salvação para
actina. Diferentes isoformas de tubnlína apresentam-se em gerar nucleotídeos. Portanto, macromoléculascomo purinas,
distribuição heterogênea nas estruturas microtubulares, como pirirnidinas e lipídeos são adquiridos da secreção vaginal ou
o axóstilo, os flagelos e os corpos parabasais. aüavés da fagocitose de células do hospedeiro ou de bacté-
A reprodução, como em todos os tricomonadídeos,ocorre rias. Nas condições in vitro, o meio de cultura para 'IÍ va-
por divisão binária longitudinal, e a divisão nuclear é do tipo ginalis deve incluir todas as moléculas essenciais, como
criptopleuromitótica, sendo o cariótipo constituído por seis vitaminas, e minerais, e o soro fornece lipídeos, ácidos graxos,
cromossomos. Contrariando o que ocorre na maioria dos
protozoários, não há formação de cistos (Figura 6-3). No en-
tanto, muitos autores têm descrito estruturas arredondadas,
imóveis, aparentemente com os tlagelos internalizados,como
pseudocistos.
Relação Sexual
Z*
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 Estágio de lnlecçãa
 Estágio de Díognóstiao
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-48 Parasitologia -
uma abordagem clínica
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50 Parasitologia -
uma abordagem clínica
lo, 2001.
REI LUÍS- PEPãSÍÍOÍDEÍf-l. 3' edição. Guanabara Koogan, Rio de Ianei-
ro, 2001.
meio externo, essa forma não-infectante como oocisto pêutica anti-retroviral e naqueles sem uso de profilaxiacom
esporulado infectante, reiniciando-se o ciclo de infecção. O sulfametoxazolftrimetoprimCimerman e colaboradores de-
monstraram a associação entre isosporíase e contagem de
tempo para a esporulação pode variar de dois a três dias ou
mais, dependendo de condições ambientais,consideradas fa- células C134 abaixo de 2O0lmm5. A condição de doença relaci-
voráveis quando em temperatura entre 20°C e 40°C. O oocisto onada com a pobreza pode explicar a falta de interesse no de-
esporulado é resistente e pode permanecer viável por vários senvolvimentode estudos para determinação de prevalência,
meses. Más condições de infra-estrutura sanitária estão rela- tratamento e controle. No Brasil, apesar da condição de sub-
cionadas com contaminação de água e alimentos por fezes desenvolvimento presente em extensas áreas, há distribuição
humanas, o que pode se associar à disseminação de infecção universal de medicamentos para tratamento da infecçãofdoença
por 1. belli (Figura 8-1). pelo HIV,o que provavelmente contribui para a redução da in-
cidência de casos de doença manifestada por Isospora nos pa-
cientes com AIDS. Diferentes trabalhos têm demonstrado taxas
de freqüência variando entre 2% a 10%, apesar de relatos de
incidência tão elevada quanto 18,9% em São Paulo, por Cimer-
Isospora belli é predominantemente encontrada em áreas de man e colaboradores (2002),e 32,3% em Belém, por Lainson e
clima tropical e subtropical na América Latina, Áfricae Su- colaboradores (1999), sempre em pacientes com HIV e com
É” Parasitologia -
uma abordagem clínica
meio externo, essa forma não-infectante como oocisto pêutica anti-retroviral e naqueles sem uso de profilaxiacom
esporulado infectante, reiniciando-se o ciclo de infecção. O sulfametoxazolftrimetoprimCimerman e colaboradores de-
monstraram a associação entre isosporíase e contagem de
tempo para a esporulação pode variar de dois a três dias ou
mais, dependendo de condições ambientais,consideradas fa- células C134 abaixo de 2O0lmm5. A condição de doença relaci-
voráveis quando em temperatura entre 20°C e 40°C. O oocisto onada com a pobreza pode explicar a falta de interesse no de-
esporulado é resistente e pode permanecer viável por vários senvolvimentode estudos para determinação de prevalência,
meses. Más condições de infra-estrutura sanitária estão rela- tratamento e controle. No Brasil, apesar da condição de sub-
cionadas com contaminação de água e alimentos por fezes desenvolvimento presente em extensas áreas, há distribuição
humanas, o que pode se associar à disseminação de infecção universal de medicamentos para tratamento da infecçãofdoença
por 1. belli (Figura 8-1). pelo HIV,o que provavelmente contribui para a redução da in-
cidência de casos de doença manifestada por Isospora nos pa-
cientes com AIDS. Diferentes trabalhos têm demonstrado taxas
de freqüência variando entre 2% a 10%, apesar de relatos de
incidência tão elevada quanto 18,9% em São Paulo, por Cimer-
Isospora belli é predominantemente encontrada em áreas de man e colaboradores (2002),e 32,3% em Belém, por Lainson e
clima tropical e subtropical na América Latina, Áfricae Su- colaboradores (1999), sempre em pacientes com HIV e com
Isosporiase 55
quadros diarréicos. A transmissão é fecal-oral, podendo ocor- e odor fétido, sugestivos de má absorção mesmo na condi-
rer homem a homem. Ela acontece, principalmente,quando ção aguda. Nessa fase há eliminação de oocistos, condição que
há ingestão de água ou alimentos frescos contaminados por pode persistir por ainda mais duas a três semanas, mas ra-
fezes humanas que contenham oocistos de lsospom. ramente com croniñcação da infecção. Pacientes irnunode-
primidos, sobretudo com AJDS, apresentam formas mais
graves da doença, tanto pelo maior número de sintomas
quanto pela persistência da doença. Em populações de paci-
entes com HIV na África, foi descrita uma doença conhecida
O ciclo de vida do lsosporu ocorre integralmente nas células como slim disease, ou doença do emagrecimento, em decor-
de absorção do epitélio mucosa do intestino delgado, exceto réncia do estado avançada de caquexia que esses pacientes
na fase de esporulação de oocistos. Nos enterócitos são vi-
apresentavam. Dentre os agentes patogênicos suspeitos de
sualizados parasitas dentro de vacúalos parasitóforos, tanto contribuirem para a progressão dessa doença esta o Isospom
em estágios de desenvolvimentosexuado como assexuado. A belli,cuja prevalênciapode ser elevada naquelas populações.
lesão de células do epitélio dos vilas intestinais pode explicar O sintoma principal da doença no paciente HIV é a diarréia
a tendência ao desenvolvimento de síndromes de má absor-
crónica, não responsiva às medidas habituais, com freqüên-
ção quando em presença de diarréiacrônica. Mesmo em qua- cia tão elevada quanto oito a dez evacuações diárias e perda
dros clínicos autolimitados em pacientesirnunocompetentes, de grandes quantidades de líquido, em muitos casos evoluindo
o tipo de diarréia sugere alterações disabsortivas. É provável
para desidratação e desnutrição e, se não controlada, podendo
que as alterações patogênicas da doença ocorram em decor- levar o paciente ao choque e à morte. Os quadros podem per-
rência de lesão direta de celulas intestinais por invasão do pa-
sistir por meses ou anos quando não diagnosticados e trata-
rasita, por resposta inflamatóriacelular imune em resposta dos, mas também podem reativar com ou sem o uso de
à presença do parasita e por possível liberação local de pro-
teínas e toxinas. As alterações teciduais visualizadas em espé- profilaxiasecundária. Ha relato de doença com evolução por
20 anos ou mais. A isosporíase deve ser suspeitada como cau-
cimrs de bicipsiadeintestino delgado ibram descritas inicialmente,
m de diarréia no paciente l-llV, sobretudo naqueles casos em
por Trier e colaboradores em 1974, a partir de um paciente
com manifestações clínicas por mais de 20 anos. Os achados
que há irregularidade no uso da medicação anti-retroviral e,
de anatomia patológica nesses casos demonstram arquitetu- mais ainda, quando em falta da profilaxia com sulfa-
ra alterada da mucosa intestinal que pode se apresentar
metoxazolftrimetoprim.Podem ocorrer manifestações extra-
descontínua, com vilosidades achatadas e criptas hiper- intestinais mais raramente. São descritos casos isolados de
tróñcas, células epiteliais vacuolizadas,células dos vilas disseminação com presença de várias formas evolutivas de
parasitadas por Isospora em diferentes estágios do ciclo de Isospora em baço, fígado e linfonodos mesentéricas e
mediastinais. Também há relato de artrite reacional e de
maturação. A celularidade da lâmina própria também se al-
tera, com presença intensa de células plasmáticas,inñltrados colecistite acalculosa ou Isospom em parede de vesícula biliar.
de linfócitos pequenos próprios de inflamação crônica e tam- Vale lembrar que alguns desses casas extremos foram trata-
bém polimorfonucleares. A presença maciça de eosinóñlos, dos e responderam com melhora da diarréia e desapareci-
em especial, tem sido observada. Após tratamento especíñco
mento de cistos nas fezes, levando à discussão sobre a possível
pode haver redução drástica das manifestações patogenicas importância da presença de formas teciduais do parasita no
descritas, com freqüente normalizaçãohistológica e regressão desenvolvimento de formas mais graves de doença nesses pa-
de sinais clínicos. Nos raros casos descritos de doença extra- cientes em condições imunológicas precárias.
intestinal, parasitas foram identificados no fígado e baço, lin-
fonodas e vasos linfáticos, demonstrando ser esta uma via
possível de disseminação.
O diagnóstico laboratorial da isosporíase é feito por meio da
visualização dos oocistos nas fezes, em aspirados ou biapsias
de intestino delgado. Em geral, mais de uma amostra de fe-
A infecção por Isospom belli pode se associar a uma síndro- zes deve ser solicitada para análise, pois a eliminação desse
me clínica em que a principal manifestação é a diarréia. Exis- protozoário nas fezes e' feita de forma intermitente e a cada
te variação quanto à gravidade da apresentação, sobretudo em evacuação, habitualmente, a quantidade de oocistos elimina-
função da condição basal imunológica do paciente, consti- da é pequena. Além disso, recomenda-se comunicar ao labo-
tuindo-se, assim, duas condições clínicas diversas. A isas- ratório a suspeita clinica para que o mesmo execute os
poríase do irnunocompetente, mais rara e autolimitada, e a procedimentos necessários para a identiíicação desse agente. As
isosporíase do imunodeprimido, principalmente em pacien- amostras de fezes &escas podem ser observadas diretamente,
tes com HIV-AIDS. O quadro agudo ocorre em torno de pois os oocistos de !sospara são grandes e facilmenteidentifi-
uma semana após a ingestão dos oocistos, manifestando-se cados em aumento de 400)( em microscopia óptica comum.
principalmente por diarréia, dor abdominal em cólica, ano- Entretanto, para aumentar a sensibilidade diagnóstica, po-
rexia e perda de peso. A diarréia pode persistir por vários dias, dem-se utilizartécnicas de concentração do material fecal.
até duas a três semanas, sendo aquosa ou levemente pasto- Quanto às formas de concentração, podem ser utilizadastéc-
sa, de aspecto espumoso, acompanhada de excesso de gases nicas de concentração pelo formol-éter modiiicado (centrífu-
56 Parasitologia - uma abordagem clínica
go-flutuação) ou técnicas de sedimentação. O exame direto
de fezes usando técnicas de concentração é um método fácil
e barato para o diagnóstico laboratorial da isosporíase. Os
oocistos são ovalados e medem de 22 a 33 pm de compri-
mento por 12 a 15 pm de largura. Ao serem expulsos nas
fezes, os oocistos, em geral, ainda não completaram seu de-
senvolvimento, apresentando-se como uma massa citoplas-
Inica nucleada de forma elíptica, repleta de granulações. Essa
célula única é chamada de esporocisto que em seguida dívi-
de-se em duas, originando dois esporocistos dentro da mes-
ma membrana
lsosporíase 57
de suporte também deve ser lembrada, inicialmente com a um centro de referência em São Paulo, Brasil. Parasiml. Iatbtaam.,
hidratação e correção de eventuais distúrbios ácido-básicos e 57, pp. 111-119, 2002.
v.
hidroeletrolíticosdos pacientes. Num outro momento já de DA ERVA, CÀÍ; FERREIRA, M5.; BORGES, AS.; COSTA-CIIUZ, IM.
Intestinal parasitic infections in HIVÍAHDSpatients. Experience at
recuperação, a terapia de reposição com a suplementação ali- a teaching hospital in Central Brazil. Scand. I. Infecr, Dis., v. 37,
mentar, se necessária e se possível diante do quadro de atroña 211-215, 21305.
pp.
crónica da mucosa intestinal. Há ainda relatos esporádicos de GARCIA, LS. Intestinal Protozaa (Coccidia and Microsporidía) and
utilização de medicamentos como ciproñoxacina,tetraciclina, Algae. In: Lynne Shore Garcia (ed). Diagnostic Medical Parasi-
roxitromicina, primaquina, furazolidona,albendazol, entre tology. 4"' ed., ASM Press, Washington, DC, pp. 60-9?, 2001.
outros, mas sem comprovação de atividade clínica. A proñ- GARLIPR C.R.; BOTTINI, PM; TEIXEIRA, AIIÂLS. The relevante of
laxia da doença pressupõe a melhora das condições sanitárias laboratory diagnosis of human cryptosporidiosís and other coc-
cidian. Rev'. Inst. Med. Trap. S. Paulo, v. 37, pp. 467-469, 1995.
nas regiões onde há precariedade, evitando-se assim a conta-
POILOK, ILCG.; FARTHING,NLLG. Managing gastrointestinal pa-
minação de água e alimentos com fezes humanas, principal rasite infections in AIDS. Trap. Dormir, v. 29, pp. 238-241, 1999.
fonte de contaminação. Medidas higiênicas, como lavagem SAUDA, FC.; ZAIULARIOLI, LA.; EBNER-FEHO, W.; MELLO, LB.
rotineira das mãos e limpeza em geral, também contribuem Prevalence of Cryptasporídiunr sp and Isospom bell¡ among AIDS
para diminuir as chances de transmissão de um hospedeiro patients attending Santos Reference Center for AIDS, São Paulo,
humano para outro. Os pacientes atendidos em serviços de Brazil. I. Parasitol., V. 79, pp. 454-456, 1993.
referência para HIV-AIDS devem ser sempre orientados quan- SEARS, CJ.. Isospora belli, Sarcoqvstis species, Balanridium Cali, Blas-
to aos riscos de contaminação por este e outros parasitas,
rocystis hominis and Cyclospara. In: Mandell GL, Bennett IE, Dolin
R (eai). Mandei!, Douglas and BennettÍs Principles and Practice
evitando o desenvolvimento de condições debilitantes adicio- of Infectious Diseases. 5'** ed., Churchill-Livingstone, Philadelphia,
nais que advém dessas infecções. v. 2, pp. 2915-16, 2000.
TRIER, 1.5.; MOXEY, ac.; SCHMMEL, M.; ROBLES, E. Chronic in-
testinal coccidiosis in man. Intestinal morphology and response to
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syndrome in Brazil. Im. I. Infra. Dis., v. 3, pp. 203-206, 1999. isosporíase nesse endereço.
CHVIERLLÀN, S.; CASTAÍTEDA,CG.; IULIANO, YVA;PAIACIOS, R. httpJ/nfsvsv.seimc.orgfcontrolfrevLParafisosporabellihtm
Perlil das enteroparasitoses diagnosticadas em pacientes com in- Site do Serviço de Microbiologia do Hospital Clínico Universitá-
fecção pelo virus HIV na era da terapia anti-retrroviral potente em rio de Valência, Espanha.
(página deixada intencionalmente em branco)
Criptosponkfiose
Regina Maura Bueno Franco
Luciana Urbano dos Santos
É** Parasitologia -
uma abordagem clínica
em bordadura em escova, dos tratos gastrintestinal ou respi-
ratório; instalado no interior de um vacúolo parasitóforo, se-
Protozoáiios pertencentes ao gênero Crjptosporidium. foram gue-se a formação de uma organela alimentar, entre o parasito
e o citoplasma da célula hospedeira. A função dessa organela
descritos pela primeira vez por 'l'yzzer, em 190?, que denomi-
não foi elucidada por completo; junto com o vacúolo para-
nou a espécie Cryptosporidium. muris. Em 1910, 'fyzzier pro-
pôs o gênero Crjptospotidium e, como a espécie-tipo, C. mui-ts. sitóforo, ela fornece um ambiente que protege o parasita do
dano direto causado pela resposta imune do hospedeiro e atua
Esse mesmo autor descreveu o segtmdo membro do gênero
como uma barreira seletiva, permitindo a entrada de nutri-
Cryptosporidium, C. parvum. O que diferenciava as duas es- entes necessários ao desenvolvimento do protozoário e limi-
pécies descritas até então eram os oocistos menores da espécie tando a penetração de agentes antiparasitários. Bxcetuando-se
C. parmm. Dado o diminuto tamanho do protozoário, o
os merozoítos e os microgametas, que abandonam a célula
Cgptospmüiwn despertou interesse limitado. Somente a partir
de 1955, com o primeiro relato de Cryptosporidium melao- hospedeira para invadir outras células, todos os estádios
gaidis, espécie associada à doença diarréica grave em perus e, endógenos estão localizados na superficie do epitélio, na re-
em 1976, com o registro dos dois primeiros casos de criptospo-
gião da microvilosidadecelular.
ridiose atingindo o ser humano (em uma criança saudável de Os oocistos são os únicos estádios exógenos do parasita;
3 anos de idade que apresentava sintomas de gastrenterite,
medem de 3,0 pm a 8,5 pm e, dependendo da espécie, exibem
um formato esférico a ovalado; no seu interior, circundados
descrito por N ime e colaboradores, e em um indivíduo gra-
vemente imunossuprimido, portador de diarréia crônica), por uma parede de dupla camada, são encontrados quatro
despontou a relevância desses organismos. esporozoítos; não há esporocistos, o que diferencia os oocistos
de Crjrptomoridium dos demais cocddeos. No ciclo biológico
No início da década de 1980, uma série de 21 casos de
de Cryptosporidium. são formados dois tipos de oocistos: os
criptosporidiose humana ocorridos em seis cidades nos Esta- de parede espessa, eliminados já infectantes (esporulados) nas
dos Unidos despertou a atenção dos especialistas em virtude
fezes dos hospedeiros, e os de parede ñna, que iniciam um
da presença de fatores epidemiológicos em comum: os indi-
ciclo de auto-infecçãointerna do hospedeiro e não alcançam
viduos pertenciam ao sexo masculino, eram jovens, aparen-
as fezes. Uma característica única dos oocistos do Cryptospo-
temente saudáveis, relatavam comportamento homossexual,
ridium é a presença de uma sutura que durante a excistação
apresentavam u.rn quadro de diarréia grave e debilitante e é dissolvida, permitindo a saida dos esporozoítos.
associação à MDS, estabelecendo-se, então, o caráter opor- A taxonomia das espécies de Cryptosporidium é um assunto
tunista dessa infecção, conforme descrito por Goldfarb e co- controverso. Com o desenvolvimento e a aplicação de técnicas
laboradores em 1982.
moleculares, foi possível verificar que 7 das 16 espécies hoje
Na década seguinte foi acrescentado um novo cenário a existentes são capazes de infectar o ser humano. Entretanto,
esse panorama; em 1993 acontece o maior surto epidêmico de estudos moleculares confirmaram que C. hominis (ante-
criptosporidiose noticiado até os dias de hoje, quando 403.000 riormente denominado C. panmm genótipo l, “humano” ou
pessoas apresentaram gastrenterite devido à veiculação "l-l”)e C. pomrm [inicialmente nomeado C. pai-vam genótipo
hídrica do protozoário, na cidade de Milwaukee,nos Estados 2, “bovino” ou "CÚ são as espécies de maior ocorrência e re-
Unidos, com um custo de 96 milhões de dólares. levância em saúde pública,pois foram responñveis em vários
Decorrido um século da descrição original de 'fyzzen pro-
países por numerosos surtos de criptosporidiose, de transmis-
tozoários do género Crjrptosporidium permanecem como são hídrica.
uma constante preocupação para a indústria da água e dos É importante ressaltar que C. hominis difere de C. pano/am.
alimentos, em decorrência do grande potencial de veiculação quanto ao hospedeiro, distribuição das lesões, sintomas, in-
hídrica desse parasito. tensidade de infecção e eliminação de oocistos. C. hominis é a
espécie mais detectada em crianças e adultos infectados com
o vírus da imunodeficiênciahumana (HIV) até o momento.
C. meleagridzk,originalmente descrita em aves, é hoje con-
siderada como espécie emergente, pois registra-se um aumen-
Crjptosporidittm pertence ao ñlo Apicomplexa,pois há pre- to de sua detecção em pessoas imunocompeteiltes, sobretudo
sença de um complexo apical associado à adesão e interio- em crianças, e é responsável por 11% das infecções em indi-
rização do protozoário na célula hospedeira, tipicamente víduos imunocomprometidos.
contendo róptrias, micronemas, grânulos elétron-densos, Um estudo recente, conduzido entre pacientes com infec-
microtúbulos subpeliculares e anéis apicais. Segrmdo Bayer, ção pelo HIV, em Lima (Peru), no qual 193 amostras foram
1997, não há conóide, anéis polares e microporos. Por apre- submetidas à genotipagem, as seguintes espécies foram con-
sentar um ciclo biológicocompreendendo fases assexuada e firmadas: C. hominis (n = 144 indivíduos positivos), C. par-
sexuada, esta últimaculminando na produção de oocistos, vum. (n = 22), C. meleagrídis (n = 1?), C. Canis (n = 6), C. felis
o protozoário foi classificado na classe Conoidasida, sub- (n = 6) e C. suis (n l), corroborando que estas são as espé-
=
classe Coccidiasina, ordem Eucoccidiorida, subordem Bime- cies que atingem as pessoas portadoras de algum tipo de
riorina, familia Cryptosporididiidae.Cijrptosporidiun: é um imunocomprometimento. Outro achado relevante foi o fato
parasita intracelular obrigatório, mas não mantém conta- de que as infecções por C. Canis, C. _fehs e o subgenótipo ld de
to com o citoplasma da célula-hospedeira: a porção anterior C. hominis foram associadas à diarréia aguda, enquanto
de cada esporozoíto ou merozoíto adere à superlicie do epitélio aquelas causadas por C. parvum, com diarréia crônica e vô-
mitos, indicam que as manifestações clínicas podem variar
conforme a espécie do protozoário (Figura 9-1).
Reiter, sobretudo em crianças que experimentaramepisódios cai sob o laboratório, e o limite de detecção de (Ítyptospori-
sucessivos de diarréia, inclusive envolvendo outros agentes dium para fezes formadas e métodos microscópicos é de
etiológicos. 50.000 oocistos/g/fezes.
A duração dos sintomas em pacientes imunocompetentes Inicialmente, o (Íryptosporidíum era diagnosticado por mé-
em geral é de uma a duas semanas, mas pode depender da todos invasivos, em biopsias intestinais e com a utilização da
espécie do protozoário em questão. Por exemplo, em Mil- microscopia eletrônica. Atuahnente, a identificação dos oocis-
waukee, a duração da diarréia estendeu-se por 19 dias, e em tos é feita em esfregaços fecais submetidos à coloração álco-
um estudo realizado no Brasil, crianças com diarréia ol ácido-resistente, que é considerada o “padrão ouro" para
provocada por infecção por Cryptosporidizm: tiveram maior o diagnóstico de casos esporádicos de criptosporidiose. Em si-
duração da diarréia em função da espécie do parasito: quan- tuações em que um grande número de amostras deve ser exa-
do infectadas por C. hominis, a diarréia persistiu por 20,9 dias, minado, é recomendável realizar a üiagem dos casos positivos
e 13,3 dias quando a infecção era por C. pan/um. pelo método da fenol-auramina,com posterior continuação
Nos pacientes imunocompetentes, a resolução da criptos- empregando os procedimentos de Ziehl-Neelsen modificado
poridiose ocorre de forma espontânea. Entretanto, às vezes, ou Kynioun. É bastante comum, em um mesmo campo mí-
a hospitalização é necessária em decorrência da grave desi-
croscópico, a presença de oocistos bem coradas, em tonali-
dratação imposta pelo protozoário, sobretudo em crianças e dades rosca-avermelhadas e outros que não se impregnaram
idosos. totalmente pelo corante. Embora não sendo uma coloração
Entre os indivíduos portadores de comprometimento do diferencial, a técnica de safranina também pode ser utilizada
sistema imunológico, que apresentam contagem reduzida de
para a detecção dos oocistos de Cgrptosporidium; nesse caso,
linfócitos auxiliadoresda resposta imune (linfócitos T CDM),
os oocistos apresentam-se de cor alaranjada.
aproximadamente menos de 200 células/mm3 de sangue, os Em 1997, lgnaüus e colaboradores descreveram um novo
sintomas gastrintestmais tornam-se muito graves, tendendo
à cronicidade e debilitandoo paciente. São registrados casos
procedimento, a coloração combinadado ácido tricromático
e álcool ácido-resistente, pouco empregada nos laboratórios
em que os indivíduos infectados pelo HIV eliminaram de 17
clínicos no Brasil. Esse procedimento apresenta a vantagem de
a 20 litros de fezes/dia, caracterizando mn quadro de
evidenciar tantos os oocistos de Cryptosporidittm quanto os
criptosporidiose fulminante. Ressalte-se que após a introdu- del. bellie Cytíospora atyetanenns, além dos esporos dos micros-
ção da terapia anti-retroviral potente (HAARIÚ, em meados
de 1997, esses casos tornaram-se mais raros. porídios intestinais.
A localizaáp de Ctypmsporidium em sítios exua-intesnnais,
Procedimentos de concentração com solventes permitem
a sedimentação dos oocistos e a remoção destes das sujida-
tais como fígado, pâncreas, vesícula biliar,ocorre naqueles
des fecais; considerando-se a velocidade da centrifugação de
pacientes cujo nível de linfócitos T C134* é inferior a 50 célu- 500 X g como ponto crítico para não haver perda de oocistos
las/mm3 e resultam em cirrose, pancreatite, colangiopatia
crônica, colangite esderosante, sem cálculos, e colangiocarci- no sobrenadante.
noma.
Testes imunoenzimáticos e kits comerciais empregando
O envolvimento respiratório pode ocorrer, sobretudo em anticorpos monoclonais estão disponíveis e resultam em au-
indivíduos imunocomprometidos e, nestes casos, os sintomas mento da sensibilidade,sobretudo com o uso de microscopia
e sinais clínicos mais freqüentes são tosse, rouquidão e falta
de imunofluorescência,mas apresentam como desvantagem
de a.r. A aspiração de oocistos pode causar lesões no sistema o seu alto custo. Quando detectados por estes métodos, os
respiratório, evoluindopara um quadro agudo de pneumonia. achados devem ser reportados como (Íryptosporídium spp.,
Oocistos podem ser detectados no escarro, aspirado traqueal, uma vez que os métodos moleculares são requeridos para a
fluidos e exsudato broncoalveolares.Estudos histológicos de- determinação da espécie.
monstraram a presença do protozoário no epitélio ciliado e No Brasil, os métodos moleculares têm sido aplicados so-
inñltrado de células mononucleadas; casos de criptosporidiose bretudo em pesquisa científica e !vêm contribuindomuito para
respiratória também ocorrem entre os indivíduos que reali- o entendimento da heterogeneidade e da complezddade desse
zam transplante de medula. agente parasitário, porém, deve-se ressaltar a falta de padro-
Outras conseqüências à saúde humana decorrentes da in- nização dos protocolos existentes, principalmente para a
fecção crônica por Cryptosporidium incluem, na inñncia, além detecção deste protozoário em amostras ambientais.
da síndrome de Reiter, uma expressiva falha no desenvolvi-
mento ñsico e cognitivo que se instala mesmo naquelas cri-
anças que não são sintomáticas, mas que passaram por
vários episódios de diarréia. O período de eliminação de
oocistos nas fezes, após cessar a diarréia, também é variável. Não há, até o momento, uma terapia realmente efetiva para
a criptosporidiose. Muitos compostos foram testados, com
resultados variáveis e sucasos limitados. Muitos dos compos-
tos testados contra o protozoário exibem atividade in vitro,
mas há uma ausênciade atividade efetiva quando testados in
Em decorrência da similaridade do quadro clinico causado vivo em modelos animais. Contribui para esse fato a estru-
pelas infecções por (Émptosporiditrm, (Iydospora cayerarzensis tura da organela alimentar que exerce uma barreira seletiva à
e isospora belli, o diagnóstico dessas coccidioses humanas re- entrada de nutrientes; além disso, há a expressão de proteí-
164 Parasitologia -
uma abordagem clínica
nas do parasita que modulam o transporte de fármacos, pro-
movendo a extrusão dos mesmos. Outro fator a ser conside-
rado é a variabilidadedas diversas espécies e genótipos que
podem influenciarna resposta à medicação; contudo, esse é
urn aspecto que merece elucidação futura, em condições expe-
rimentais controladas. Na atualidade, os análogos da ciclospo-
rina (que são sígniñcaüvamente ativos contra Plasmodium e
Zlbxoplzzsma) estão sendo testados e são promissores, pois
parecem exibir ação contra os estádios intracelularesde Crjvp-
tospoñdium.
Em 2002, a nitazoxanida foi aprovada pelo Food and Drug
Administration (FDA; Estados Unidos) para tratar crianças,
com idade entre 1 e ll anos, e
Criptosporidiose .'
SUNNOTEL, O.; LOWERY', CJ.; MOORE, LE.; DOOLEY; I.S.G.;
XIAO, L.; MILLÀR, EC.; ROONEY', PJ.; SNELLING, WJ.
Crypmsporídíum. Left. AppL Mícmbíal.,v. 43, pp. 7-16, 2006.
TZIPORI,S.; WARD H. Cryptospuridjnsis: biology; pathogenesis and httpdivmcfsanfdagovl~muwlchap24htnl
disease. Mícmbiol.Infect, v. 4, pp. 1047-1058, 2002. Sim do FDA com informações sobre esse pmhozoário.
JUAO, L; FAYER,R.; RYAN, U.; UPTON, SJ. Cryvpwsporídium taxo- httpdlwxvw.cdngov/ncidodidpdfparasitcsfcryptosporídiosis¡
Site do CDC com informações atualizadassobre o panorama da
nomy: recent advance:: and implications for public health. CTin.
Mcrobiol. Rev., v. 17, pp. 72-97, 2004. doença.
(página deixada intencionalmente em branco)
Cícámporíd-íose
I0
Ronaldo Cesar Borges Gryschek
Parasitologia -
uma abordagem clínica
modo geral. A inspeção desses produtos provenientes de re-
giões onde a ciclosporíase é endêmica pode ser uma fonna de
evitar surtos de doença diarréica em áreas mais desenvolvidas.
Cyclospora cayetanensis é inn coccídeo, parasito intracelular
obrigatório, que tem a capacidade de causar doença diar-
réica em irnunocompetentes e imunodeprimidos, seja de for-
ma endêmica, seja em surtos de diarréia causada por
alimentos ou água para consumo humano, seja no contex-
O ciclo biológico (Figura 10- l) de C. cayetanensis é bastante
to da “diarréia dos antes”. Inicialmentereconhecido no ñ-
semelhante àquele observado em outras coccidioses, como,
nal da década de 1970, esse protozoãrio vem tendo relevância
cada vez maior na nosologia humana, inclusive em países por exemplo, a criptosporidiase. Os oocistos ingeridos com
alimentos ou água contaminada sofrem um processo de
desenvolvidos.
excistação no intestino delgado proximal, sobretudo no
jejuno, e esporozoítos em fomra de crescente e medindo 1,2
por 9,0 pm são liberados e irlvadem as células do epitélio in-
testinal. Aí, no pólo luminal das células, são gerados dois tipos
de merontes: os do tipo l, que dão origem a 8 a 12 merozoítos
C. azyemnensis é um protozoário classificado no lilo Apicom-
plesa. No início, era considerado uma alga azul-verde ou uma que invadem de imediato as células vizinhas; e os do tipo ll,
forma maior de Cryptosporidiunr, sendo referido como um mais tardios, que também invadem células vizinhas',trata-se
de um tipo bastante prolíñco de reprodução asseiruada. Alguns
Lyanobacterium-likeou ::estadia-like body (CLB). Até agora é desses merontes dão origem a macrogametase microgame-
considerada a única espécie de Cyclospora patogênica para o
tócitos que contém microgametas flagelados. Logo após a
homem. Em 1994, Ortega e colaboradores, utilizandocritérios
morfológicos tradicionais, o classificaram no gênero Cyclos- fertilização, forma-se uma parede espessa, resistente às con-
pom e sugeriram a espécie C. cayemnensis. No entanto, mais dições ambientais; esses oocistos, ainda não-esporulados e
não-infectantes, são eliminados nas fezes; por meio da espo-
recentemente, emprego de métodos moleculares revelou
o
grande homologia desse organismo com Eimeria e, a partir rulação, dois esporocistos são originados de cada oocisto e cada
um deles contém dois esporozoítos em forma de banana. Os
daí, alguns autores sugeriram uma reclassificação neste últi-
mo gênero.
Estágio lnfectante
Esse estágio é representado pelos esporos envolvidos por
membrana dupla: a camada externa é de natureza protéica e
a interna é constituída de ot-quitina (composto que confere
alta resistência a essas formas), dotados de filamento polar
característico; o seu diâmetro varia de l a 12 pm; no entan-
to, as espécies parasitas do homem têm esporos com 1-3 um
(Figura 11-1). São eliminados com as fezes e outras dejeções
dos indivíduos infectados. Essa forma pode sobreviver por
muito tempo no meio, em alguns casos até mesmo anos.
microsporídios, sugerindo que esses parasitospodem ter po- As manifestações clínicas da nlicrosporidiose humana são
tencial patogénico significativo em nosso meio. vistas principalmente em pacientes imunocomprometidos
(p. ex., HIV-AIDS, imunossupressão induzida terapeutica-
mente antes e após transplante de órgãos). Nos individuos
imunocomprometidos, as infecções por microsporídios po-
dem persistir ainda que os sintomas desapareçam. Os sinto-
No intestino delgado, esporo estende seu túbulo polar e
o mas são variados e dependem da espécie de microsporídio
infecta a célula hospedeira, injetando o esporoplasma in- envolvido. No Quadro ll-l estão descritos os sintomas cli-
fectante. No interior da célula, o esporoplasma se multiplica nicos de acordo com a espécie de microsporídio.
por merogonia (fissão binária) ou esquizogonia (fissão múl-
tipla). Esse processo pode ocorrer em contato direto com o
citoplasma da célula hospedeira (E. bieneusñ ou dentro do
vacúolo parasitóforo (E. intesünalis). De uma forma ou de
outra, os microsporídios desenvolvem-se, mediante esporo- Durante a última década os procedimentos para detectar
gonia, em esporos maduros. Durante a esporogonia é forma- microsporídios em seres humanos melhoraram de forma
da uma parede grossa ao redor do esporo, o que lhe confere notável e hoje estão disponíveis vários métodos para a detec-
alta resistência no meio externo. Quando os esporos atin- ção e diferenciação de espécies.
gem quantidade suficiente para preencher todo o citoplasma Inicialmente a microscopia eleüônica era necessária para
da célula parasitada, a membranacelular desta se rompe e li- diagnosticaras infecções por microsporídios. Hoje em dia essa
bera os esporos no meio exterior, continuando assim novas técnica permanece como o "padrão ouro” para a conñrma-
infecções. ção e identificação de espécies de microsporídios, sobretudo
A transmissão ocorre por ingestão ou inalação de esporos. em laboratórios onde ainda não foram estabelecidas as téc-
Como os microsporídios infectam animais que fazem parte nicas de biologia molecular.
da cadeia alimentar do homem, a contaminação não parece Entre as metodologias utilizadasatualmente estão colora-
ocorrer somente pela água, havendo a possibilidadede trans- ções, como a tricrômica, as modificações do Chromotrope de
missão zoonótica pela ingestão de carne crua ou malcozida. Weber e as substâncias quimioluminescentes (Calcofluor
A transmissão iransplacentária, descrita em outros animais, \IVhite 2MB, Uvitex 2B). Outras técnicas altemaiivas são a de-
não foi comprovada na espécie humana. Infecções oculares tecção dos parasitas por anticorpos poli e monoclonais mar-
podem ser transmitidas por contato com mãos contamina- cados com fluorocromos, pela imunofluorescénciadireta
das. Em alguns casos, um trauma pode dar origem à infec- (IED), bem como a reação da cadeia da polimerase (PCR).
ção da córnea e de músculos. Quando os esporos são abundantes na amostra, o exame di-
reto com colorações especíñcas pode ser o mais adequado
para o diagnóstico. No entanto, quando as formas parasitá-
rias são escassas, é importante utilizarmétodos para concen-
tração clas amostras de fezes ou de urina.
Os microsporídios habitam preferencialmente o intestino Um dos grandes problemas na coloração do material
delgado, embora possam ser encontrados parasitando diver- é a diferenciação entre esporos de microsporídios e de
sos órgãos. outros microorganismos. O método de coloração Gram-
em desenvolvimento.
tos fatores físico-químicos e biológicos, como por exemplo,
Apmar de ter sido descrito há cerca de um século e do cres- mudanças osmóticas, presença de certas drogas e estado me-
cente interesse dos pesquisadores em ampliar o conhecimen- tabólico do hospedeiro, que podem influenciarna morfologia
to sobre esse parasito, várias questões fundamentais ainda dos organismos, tanto in vivo quanto in WÍTO. Essa variação
necessitam ser esclarecidas, especialmente no tocante a taxo- na morfologia pode ter implicações signiñcaiixras no diagnós-
nomia, biologia e patogenicidade. Com relação à relevância tico, pois as formas evolutivas do parasita não são encontra-
clinica da infecção, ainda persistem muitas discussões quanto das na mesma proporção em amostras de fezes e em meios
à possível participação de B. hominis na etiologia de desor- de cultura.
dens intestinais, sobretudo em indivíduos imunocompro- Os principais aspectos morfológicos das formas já identi-
metidos. ficadas e observadas com mais freqüência (vacuolar, granu-
A infecção por B. hominis tem ampla distribuição mun- lar, aniebóide e cística) serão descritos a seguir.
dial, sendo as maiores prevalências observadas em áreas onde
as condições sanitárias e socioeconômicas da população são
precárias. Estudos epidemiológicos têm demonstrado que Forma Vacuolar
organismos do género Biastocystis podem ter como hospe-
deiros diferentes espécies de mamíferos, aves e répteis, além do A forma vacuolar é considerada a forma mais tipica de B. ho-
homem. minis e, portanto, é referência para o diagnóstico em amos-
Recentemente, o emprego de técnicas moleculares em di- tras de fezes e em meios de cIJltivo.
ferentes estudos tem possibilitadoavanços significativos no Essa forma é tipicamente esférica, mas algumasvezes pode
conhecimento dos aspectos relacionados com a diversidade ter aspecto
genética, taxonomia, afinidades ñlogenéticas e potencial
zoonótico.
Além disso, há observações em que os indivíduos imuno- No entanto, têm-se observado mudanças na conduta dos
comprometidos, em especial os pacientes com AIDS, podem laboratórios, inclusive pelo fato de que os textos recentes da
apresentar, com mais freqüência, distúrbios gastrintestinais literatura especializada estão incluindo uma descrição mais
associados à infecção por B. hominis. Entretanto, há outros detalhada da morfologia e do diagnóstico de B. hominis, for-
estudos que não evidenciam diferenças entre as prevalências necendo, assim, infomiações relevantes que poderão melho-
observadas em hospedeiros irnunocompetentes, indivíduos rar a qualidade do diagnóstico.
HIV positivos e pacientes com AIDS. Habitualmente, a infecção por B. hominis é diagnosticada
A dificuldade em se confirmar o real envolvimento desse pelo exame microscópico de amostras de fezes, que se baseia,
parasito como causa de desordens intestinais está no fato de principalmente, na identiñcação da forma vacuolar. Essa for-
ma é a observada com mais freqüência em amostras fecais;
que as principais invesügações sobre patogenicidade não eli-
minam todos os outros agentes infecciosas e não-infecciosos entretanto, outras formas podem ser identificadas nesse ma-
responsáveis pelos mesmos sintomas. Apesar dessas diver- terial. A variação morfológica apresentada por Blastocystis
gências, considera-se que B. hominis possa ser causa de dis- pode ter implicações importantes no diagnóstico, uma vez que
túrbios intestinais quando se confirma a inexistência de em geral o laboratorista não está atento à possibilidadede que
infecção por qualquer outro agente patogênico e o número estágios menores, incluindo a forma mulüvacuolare o cisto,
de Blastocystis nas fezes é alto. possam ser encontrados em amostras frescas de fezes. Assim,
Os mecanismos patogênicos específicos na blastocistose muitas infecções deixam de ser diagnosticadas e, com isso, a
ainda não são conhecidos. A dificuldade em se estabelecer um prevalência é subestimada.
modelo animal adequado para estudos in vivo tem sido um É importante destacar que a inexperiência técnica pode
fator limitante para esse conhecimento. fazer com que células como leucócitos e outros protozoários
De modo geral, a patogenicidade tem sido atribuída a fa- intestinais sejam confundidos com B. hominis, assim como
tores relacionados com as interações entre o parasita e o hos-
cistos de Entamoebo histoiytica, Entamoeba hartmanii e En-
dolimax nana.
pedeiro, sobretudo no que diz respeito à resposta imune do Com relação às técnicas de exame de fezes, os métodos de
hospedeiro e às condições do ambiente intestinal (microbio-
ta. pl-l). concentração empregados para o diagnóstico de out1'os pa-
Em alguns casos de infecção humana., a análise de biópsias rasitos intestinais em geral são inadequados para a pesquisa
de B. hominis, pois causam a ruptura das formas vacuolar,
e de endoscopias tem revelado que B. hominis não invade a
multivacuolar e granular presentes nas amostras fecais. Isso
mucosa intestinal, embora nesta possam ser observados
se deve ao fato de a água usada para diluição e lavagem das
edema e inflamação.
amostras de fems ocasionar a lise dos organismos, o que pode
conduzir a 11m resultado falso-negativo. Esses métodos só se
prestam ao diagnóstico de B. hominis se as amostras frescas
de fezes forem previamentepreservadas, como por exemplo,
A maioria dos indivíduos infectados é assintomática. Nas in- em formol a 10%. O exame direto de fezes a fresco, corado
ou não pelo lugol, pode ser empregado. Contudo, por ser
fecções sintomáticas, a manifestação clínica mais freqüente é
a diarréia, que pode ser aguda ou crónica. Na maioria dos um método de baixa sensibilidade,dificulta o diagnóstico so-
tras infecções parasitárias, ou mesmo doenças não-infeccio- consiste em um método mais complexo e que requer mais
sas, podem produzir manifestações semelhantes. tempo para a execução.
Da mesma forma que para ouüos protozoários intesti-
nais, recomenda-se o exame de pelo menos três amostras de
fezes durante um período de dez dias. Isso se deve ao fato de a
eliminação deB. hominis nãosercontínua edeo exame deuma
Considerando que a importância clínica da infecção por B. única amostra de fezes poder gerar resultados falso-negativos.
hominis ainda é discutível, a maioria dos laboratórios não in- Embora o exame Inicroscópico de fezes ainda seja a
clui o diagnóstico deste parasita nos exames de rotina. As- principal alternativa para o diagnóstico da infecção por B.
sim, os laudos de resultados raramente registram o encontro irotninis, diferentes métodos têm sido desenvolvidos e padro-
do parasita nas amostras de fezes. nizados, inclusive, para a detecção de anticorpos séricos.
Parasitologia -
uma abordagem clínica
Dentre os métodos empregados para esse Em, as técnicas de indivíduos e que incluam grupos-controle. Vale destacar que
imunoiluorescénciae de ELISA já foram avaliadas, embora a escolha da droga e a dosagem recomendada para o trata-
os resultados não tenham sido muito promissores. Estudos mento das infecções por B. hominis têm sido feitas de forma
sorológioos têm demonstrado que os indivíduos infectados empírica. Considerando os resultados obtidos ern alguns en-
podem produzir anticorpos IgG contra o parasita; porém, saios clínicos, atualmente o melronidazol é a droga recomen-
essa produção é maior nos indivíduos sintomáticos do que dada. Entretanto, o tratamento corn esse quimioterápico tem
nos assintomáticos. bísse fato limita o diagnóstico, pois a apresentado algtms inconvenientes, pois além dos efeitos
maioria das infecções é assintornática. adversos, tem-se observado, em alguns casos, baixa eficácia
Com os avanços da biologia molecular, técnicas, como por do metronidazol na eliminação do parasita. Segundo alguns
exemplo, a PCR, têm sido padronizadas para a detecção de autores, tal fato estaria associado à resistência de cepas de
Blustocystis nas fezes. Apesar de serem técnicas altamente Giardía ao tratamento com o meüonidazol.
sensíveis e específicas, o emprego na rotina do diagnóstico Assumindo-se que a transmissão de B. honrinis ocorre por
laboratorial ainda é limitado. Entretanto, esses métodos têm via fecal-oral, a prevenção deve incluir medidas de higiene
sido de grande valia em estudos epidemiológicos,ñlogenéticos pessoal, de saneamento ambientale de educação sanitária que
e taxonômicos. possam prevenir ou evitar a contaminação do meio ambien-
te, e a ingestão de água e alimentos contaminados. Sendo as-
sim, aconselham-se as mesmas medidas básicas descritas nos
capítulos sobre giardiase e amebíase.
Diante da controvérsia com relação à patogenicidade de B.
hominis, não há ainda um consenso sobre a necessidade de
se tratar os indivíduos infectados. De acordo corn alguns au-
tores, há certos aspectos que devem ser considerados pre- STENZEI., DJ.; BOREI-Iitlví, REI.. Biasmcysris hominis revisited. Clin.
Microbioi. Rev., v. 9, prp. 563-584, 1996.
viamente ao tratamento dos indivíduos, tais como: l a natureza
TAN, KSFUV'. Blnstoqrstis in humana'. and animals.: new insights using
-
mente diagnosticada.
Neste capítulo serão focalizadas as doenças causadas pe-
las amebas de vida livre nas suas diversas apresentações, sua
abordagem diagnóstica e a condução e o tratamento dos
casos.
.UC_EO.NUusapgm
.uc_wEom_ucoam
88 Parasitologia -
uma abordagem clínica
como legianellapneumophila,Francisella tularensis, Mycobac-
terium avium, Víbrio chakra, Escherichia. Colt' sorotipo O15?,
entre outras.
f
l
Maüria
Marcelo Urbano Ferreira
Mónica da Silva Nunes
92 Parasitologia -
uma abordagem clínica
-n
Malária 95
(fenômeno conhecido como citoaderéncia), bem como de podem estimular a produção de citocinas pró-inflamatórias.
adesão a hemácias não-parasitadas (formando estruturas A expressão, pelo endotélio vascular, de algumas dessas mo-
conhecidas como rosetas). léculas de adesão, como [CAM-l e selectina-E, é estimulada
A citoaderência e a formação de rosetas estão ligadas à por citocinas pró-inñatnatórias,como o fator de necrose tumo-
produção, pelos trofozoítos maduros e esquizontes sangüí- ral (TNF-oc), produzido por macrófagos e monócitos. Como
neos de R. falcíparum, de moléculas exportadas para a mem- mostra a Figura 15-3, a maioria das complicações clínicas que
brana das hemácias parasitadas, formando as protuberâncias caracterizama malária grave por P! falciparum é conseqüên-
em sua superficie conhecidas como knobs. A principal molé- cia direta ou indireta dos fenômenos de citoaderéncia e, pos-
cula do parasita envolvida na aderência a receptores endo- sivehnente, da formação de rosetas, bem como da produção
teliais é uma proteína variável de alta massa molecular, a de citocinas pró-inflamatórias.
PfEMP-l (proteina da membranado eritrócito l). A PfEMP-l O evento central é a aderência das hemácias infectadas ao
pode ligar-se a diversos receptores presenta no endotélio dos endotélio de pequenos vasos (sobretudo Vênulas pós-capilares)
vasos, tais como moléculas sulfatadas (sulfato de condroi- e à hemácias não-infectadas (formando rosetas). A produção
tina A [CSAL sulfato de heparana), CD36 e moléculas de de citocinas pró-inflamatóriaspor células do hospedeiro, co-
adesão como [CAM-l, VCAM-l e PECAM-IICDM, entre mo o fator de necrose tumoral (TNF), é estimulada por pro-
ouüas. CD36 está presente no endotélio de Vasos de dife- dutos solúveis (particularmente glicosilfosfatidilinositolou
rentes órgãos, enquanto o CSA é abundante somente nos GPI) liberadospelo parasita ao final da esquizogonia sangüí-
vasos placentários. Não se conhecem moléculas com pro- nea. Os níveis elevados de TNF induzem a expressão de alguns
priedades de citoaderência nas demais espécies de plasmó- receptores endoteliais, como ICAM-l e selectina-E., promoven-
dios humanos. do a citoaderência, e estão associados a febre, hipoglicemia e
As conseqüências ñsiopatológicas da citoaderência e da anemia. Por outro lado, o próprio metabolismo do parasita
formação de rosetas são objeto de intensa investigação. As seqüestrado nos pequenos Vasos contribui para a hipoglice-
hemácias parasitadas aderidas ao endotélio e a outras he- mia e a acidose. A obstrução nlicrovascular, combinadacom
macias podem obstruir pequenos vasos, com conseqüente alterações inflamatóriase metabólicas, pode explicar o aco-
hjpoxía tecidual Ao mano tempo, moléculas do parasita são melimento de diversos órgãos e sistemas observado na ma-
liberadaslocalmente ao ñnal da esquizogonia eritrocitária e lária grave.
Parasitologia -
uma abordagem clínica
Ruptura dos
esquízontes /N IÍIIÍÍIIIIÍI|
inibição daE
eritropoiese I
GP¡ e outros meduhr E
PTOdUÍOS Ilalnualllaal.
solúveis
Knobs UIIUUUIUUIUI
+
Alterações Obstruçõo E
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pa
'“°'.“Õ°¡°
rasltada
citaadirência a vascular _n_
fonnação de rosatas É
l
Consumo
-' e
de glicose
.
Hipoglicemia
ê 'IIIIIIIIIIIIIIIIÍ
'
E Febre g
É
' .
Metabolismo : Hipoglicemia 2
do parasita :ÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍ:
*- l Hipoxia tecidual:
l
Complicações
neural' icas, renais a
PU ITIODGTGS
a ocorrência de um ou poucos sintomas, e parte das infec- terações da perfusão renal, decorrentes da desidratação (so-
ções em indivíduos semi-imunes se apresenta de forma bretudo em pacientes com febre alta, vômitos e alterações do
assintomática. Anemia, esplenomegalia e hepatomegalia ge- nível de consciência) e de eventual hipotensão, e agravadas
ralmente estão presentes. pela hemólise irltravascular e conseqüente lesão tubular. A diá-
A definição de malária cerebral restringe-se aos pacientes lise precoce é essencial para reduzir a letalidade do quadro.
com malária por R. falcipmum em coma profundo, incapazes A insuficiência respiratória decorre de edema pulmonar,
de localizar estímulos dolorosas, nos quais outras encefalo- com apresentação clinica quase sempre idêntica à da síndro-
Peróxido de lactona Esquizontícidas sangüíneos Podem ser usados no segundo e terceiro trimestres
sesquilerpênica (artesanato de gestação
e artemeter]
esses esquemas atão sujeitos a revisões freqüentes, recomen- durante oito semanas, para reduzir o risco de hemólise indu-
da-se a consulta às atualizações divulgadas periodicamente zida pelo medicamento. Gestantes, lactentes e crianças com
pelo !Ministério da Saúde. idade inferior a l ano não devem receber
Fase 4
Atavoquono-Proguanil
A atovaquona é uma nalloquinona que atua no cilocromo C, enquanto o proguanil bloqueia a síntese do acido fólico. Sua
associação tem efeito sinergistioo; o proguanil ializa a ação da atovaqtvona. A dose para adultos é 1.000 mg de alovaquom
e 400 mg de proguanil por dia por três dias. ado comprimido de atovaquona-proguanilcontém 250 mg de alovcqucna e 100 mg
de proguanil. Em ensaio clinico aleatorizado no Brasil, essa combinaçãoalcançou uma taxa de cura de 98,7% em infecções não-
complicadas por R bkiparum. Uma grave restrição ao seu uso é o alto custo.
Artemefer-lumefantrina
O artemeter é um daivodo da artemisinina, enquanto a lumefanlrina pertence à mesma dose da halofantrina. A close usual é
80 mg de arlemeter e 480 mg de Iumeiantrina, duas vezes ao dia, por dois a três dias. Cada comprimido tem 20 cleartemetere
120 mg de lumelantrina. Uma nova versão dessa combinação em forma dispersive | está sendo testada em crianças a icanas através
de estudo mullicêntrico, podendo ser a primeira formulação específica aprovada para a faixa pediátrica.
Amsunoto-Mefloquina
Esta associação tem sido usada na Tailândia, na dose de 4 mg/kg/dia de artesunato e 25 mg/kg/dia de melloquina, em tomada
única diaria, por três dias. Seu uso pode resultar na diminuição da transmissão de R. falcíparum e na restauração da sensibilidadeã
melloquina.
Fase 3
Clorproguanil-Dapsona
Ambas as drogas são antifolatos, trtilizadas na dose de 2 mg/kg/dia de clorproguanil e 2,5 mg/kg/dia de clapsona por três dias.
Estudos clínicos no Quênia mostraram que essa associação é tão efetiva quanto a combinaçãosulFadoñna-pirimetamina,enquanto
na Tanzãnia e no Nlalãui essa associação foi eficaz contra cepas resistentes à combinaçãosulFadoüna-pirimetamina.No entanto, a
eficacia da associação na Tailândia foi muito baixa. Uma novo associação entre clorproguanil, dapsona e artesunalo está atualmente
emtestedeÍaseS.
Fases 1-2
Tafenoquínono
Pertence ao grupo dos S-aminoquinolinas, sendo menos tóxica que a primoquina. 'liam ação esquizonlicida (tanto tecidual quanto
sangüíneo), além de ação hipnozoilicida. Ainda não ha dados sobre a elioãcia da talenaquinona na malária aguda; a droga vem
sendo testada como prolilótico na África [na dose de 250 mg/dia por três dias, seguida de dose semanal de 200 mg), com
eficácia entre 85% e 100%.
1'*
l
Í
.
Leisñmaniose cutânea
Felipe Francisco Tuon
104 Parasitologia - uma abordagem clinica
A amastigota é outra forma clássica de Leishmania, a qual transmissão, embora a urbanização desta doença tenha se
é intracelular, tem formato arredondado e é encontrada nos expandido. Assim, conñguramos a leishmaniose do "Novo
tecidos do hospedeiro. Mede entre 2 e 3 um, aparece na cor Mundo” como uma zoonose. O grupo de risco para a infecção
azul-clara e o núcleo tende ao vermelho nas colorações de são os trabalhadores rurais, assim como aqueles que habitam
\Nright ou de Giemsa. Uma estrutura paranuclear em formato áreas próxinras de matas, como garimpeiros, construtores de
de bastão, menor que o núcleo do parasito, aparece nessa for- rodovias, grupos militares em atividades na mata, desma-
ma de Leishmania. Essa estrutura nritocondrial é composta tadores que trabalham para empresas madeireiras e um gru-
por DNA extranuclear e está organizada de forma circular, po em expansão, que são os viajantes em busca do turismo
cujo nome é cinetoplasto. ecológico.
As formas amastigotas e promastigotas apresentam dife- L. amazonensís apresenta os roedores como reservatórios
renças importantes nas proteínas de superfície, conferindo naturais. 'lem uma distribuição no território brasileiroque vai
diferença na resposta imune e na adaptação ao hospedeiro desde o interior do Estado da Bahia, passando pelo norte de
ou vetor. Minas Gerais e Goiás e, então, por toda a região norte do país.
A doença tem características que podem ser diferentes das
apresentadas por outras espécies brasileiras,lembrando que
EPIDEMIOLOGM o mosquito transmissor difere entre as espécies.
De distribuição mais ampla encontra-se L. brazüiensis, que
A chance de o homem se infectar depende da sua integração promove a doença desde a Bahia até o norte do Estado do
com o ecossistema. Nas regiões onde a lili-ã ocorre de forma Paraná, passando por Minas Gerais, interior de São Paulo, Rio
endêmica, as condições socioeconômicas da população faci- de Janeiro e Espírito Santo. Áreas da região amazônicatam-
litam uma maior exposição do indivíduo ao vetor, favorecen- bém são acometidas,incluindo o Estado do Pará. A espécie se
do o desenvolvimento da doença Isso explica, por exemplo, estende para a América Central, assim como para os paises
a maior incidênciada doença em homens brasileiros, traba- da América do Sul, como a Colômbia,onde a doença é en-
lhadores rurais ou exploradores de mata_ démica.
A EFA é amplamente distribuída pelo mundo, e ocorre na L. panamensis faz jus ao nome e também acomete outros
Ásia, Europa, África e Américas, apresentando diferençasem países da América Central, como Belize. Da mesma forma ci-
aspectos epidemiológicos, clínicos e irnunológicos, decorren- tamos L. peruviann. L. mexicana causa doença em pacientes
tes dos diversos ecossistemas (Figura 16-3). Pode ser consi- provenientes desde a Argentina até o sul dos Estados Unidos.
derada uma antroponose, zoonose ou antropozoonose. Outra especie importante no Brasil, além de L. mnazonensrs
No Oriente Médio, Ásia Central e no norte da Áñica, L. e L. brasiliensis, é L. guyanerwsis. A infecção também apresen-
major é a principal espécie, seguida por L. tropica. Essas es- ta um ciclo selvagem, sendo comuns hospedeiros como o
pécies têm ganhado papel importante após as constantes tamanduá, bicho-preguiçae rato do mato. A doença ocorre
invasões do Oriente Médio por tropas norte-americanas e em todos os estados da região norte do Brasil. Nos países en-
européias, culminando com doença sendo transmitida aos contrados ao norte do Brasil, L. guyanensis é a espécie mais
soldados. Nessas regiões, o mosquito transmissor da doen- comum, embora possa ocorrer sobreposição de casos de L..
amazonensis no Suriname e Guiana, locais onde esta espécie
ça é o Pirlebotomus, diferente do transmissor nas Américas. L.
é mais comum.
tmpica apresenta a peculiaridade de ser uma doença mais
urbana nessas regiões do mundo, acometendoa periferia de A !IA vem apresentando aumento crescente de casos no
capitais como Teerã e Bagdá. Além disso, apresenta Luna dis- Brasil, o que tem sido uma preocupação constante (Figura
tribuição mais exótica, acometendo até mesmo cidades lito- 16-2).
râneas do Mediterrâneo. Embora a distribuição dessas duas
espécies apresente áreas de superposição, as características da
doença são diferentes, sendo uma de aspecto mais crostoso
e úmido, e outra de aspecto ulceroso, mais seco.
Na África Oriental, compreendendo principalmente países
como a Etiópia e o Quênia, a espécie prevalente é L. aetirio- 40.000 [TA
pia!, sendo fácil associar a espécie com a região. E curioso 35.000
notar que a lesão causada por esta espécie apresenta peculia-
30.000
ridades que a difere da lesão cutâneacausada por outras es-
25.000
pécies. Os reservatórios destas espécies de Leishmania, assim
como as espécies de Pirlebotonzus, também são diferentes de
20.000
outras regiões do mundo. 15.000
Lembramos que L. donovcmi, causadora da leishmaniose 1 O. O00
visceral, também pode causar doença cutânea exclusiva, em-
bora não seja habitual.
Na América Latina, as espécies são diferentes daquelas des-
,I
82 84 86 B8 90 92 94 96 9B 2000-2002
critas no Velho Mundo (África,Ásia e Europa). Além disso,
a leishmaniose tende a ter um ciclo mais rural ou selvagem de
FIGURA 16-2 Número de casos de LTA no Brasil entre 1982 e 2002.
106 Parasitologia - uma abordagem clínica
45a
- Leishmaniose cutânea
à Leishmaniose mucosa/cutânea
FIGURA 16-3 Distribuição da leishmaniose mucosa e cutânea em todo o mundo.
PATOGENIA
Durante a picada do mosquito, ocorre entrada de promas-
tigotas na pele e a resposta imune é iniciada. O primeiro con-
tato do parasita é com o sistema neuroendócrino, mediando
liberação de substânciasapós estímulo nervoso pelo corte na
pele efetuado pelo aparelho sugador do mosquito. Estas subs-
tâncias estimulam a aproximação de células inflamatórias
para o local da picada, principalmentemacrófagos e neutró-
ñlos. Antes de entrarem nos macrófagos, as promastigotas
Leishmaniose cutânea 107
partes do mundo.
Na fomia cutânea difusa eidste uma predominância de
resposta Th2 durante toda a doença, o que leva ao processo
crônico não-ulceroso. A forma disseminada da doença ocorre
em pacientes com deñciéncia imune celular, nos quais existe
uma resposta imune celular insuficiente, facilitandoa disse-
HGURA 16-4 Ciclo parasito-hospedeiro da leishmaniose cutânea. minação do parasita pela pele e podendo levar à visceralização
1, Durante a picada pelo vetor_ são inoculados milhares de formas (Figura 16-5). A diferença da forma difusa está na quantida-
promastigotas de Leishmonfo. 2, As promastigotas são fagocitadas e de de Leishmanía no tecido, sendo pouca na disseminada e
transforma m-se em amastígotas. 3, A5 formas amastigotas abundante na difusa.
multiplicam-se dentro dos macrófagos e acabam gerando um
processo inflamatório próximo da picada, gerando a lesão tipica (4).
5_ As formas amastigotas são fagocitadas pelo vetor, fechando o ciclo.
modulares que se estendem e disseminam-se por todo o corpo. A biopsia da borda da lesão é um exame importante no
Os locais mais acometidos por essa forma de leishmaniose diagnósüco da leishmaniose cutânea. Além da avaliação ca-
cutânea são a face e o pavilhão auditivo, além de membros, racterística do inñltrado nesta doença, é possível utilizarco-
tendendo a poupar as regiões de palma e sola. lorações especíñcas em busca de Leishmania, assim como a
realização de técnicas de imuno-histoquímicaque oferecem o
reconhecimento de antígenos do parasita no tecido, com alta
especificidade, maior que a coloração convencional de he-
rnatoxilinae ensina.
O diagnóstico de leishmaniose cutâneaé deñnido pelas lesões A intradermorreação de Montenegro é um teste imunoló-
características e presença de Leíshmanía no tecido em um gico indireto que reporta uma resposta do paciente frente à
paciente de área endêmica para a doença ou com história de aplicação de antígeno do parasito (leishmanina) na derme e
viagem para um local onde a doença exista. As características avalia a formação de um halo endurecido após 48 a 72 horas,
da lesão cutânea foram descritas previamente. A identificação através da resposta imune celular. Para determinar o teste
da presença do parasito no tecido se faz por métodos diretos como positivo é necessária a presença de ulceração no local
ou indiretos. Imprint, escariñcação e punção aspirativa da le- da aplicação do antígeno ou formação de um nódulo endu-
são são métodos eficazes no diagnóstico das formas lomlizada recido de mais de 5 mm de diâmetro no momento da leitu-
e disseminada da doença. Sobre estes materiais aplicam-se ra. Nas formas diiílsas e disseminadas, o exame tende a ser
corantes specíñcos e tenta-se identificar o parasito sob o mi- negativo. O exame é positivo em mais de 90% dos pacientes
croscópio, aüngindo sensibilidadede até 85%. Com material com lesão cutânealocalizada, porém a positividade na popu-
proveniente destes procedimentos é possível realizar cultura lação que habita áreas endêrnicas sem evidência ou história
em meios NNN e LIT, além do xenodiagnóstico, exames estes de lesão pode chegar a 30%.
pouco disponiveis no dia-a-dia e com sensibilidadeentre 60% Outros exames indiretos que ajudam no diagnóstico são
e 80%, quando associados à pesquisa direta. Os procedimen- as sorologias baseadas em técnica de ELISA ou imunofluo-
tos descritos apresentam maior eñcácia nas lesões ativas e de rescéncia indireta. Estes exame¡ apresentam sensibilidadepró-
conteúdo úmido. xima a 95% e 80%, respectivamente, para lesões causadas por
Leishmaniose cutânea 109
FlGURA 16-6 Aspectos típicos da leishmaniose cutânea nas diversas formas; da esquerda para a direita -
disseminada, localizada e difusa.
L.braziliensis, diminuindo para outras espécies. Exames QUADRO 16-3 Drogas utilizadas no tratamento da
como Western-falarrevelaram resultados variados, entre 70% leishmaniose cutânea
e 90%, também confonne a técnica usada e espécie avaliada.
'Fécnicas moleculares diretas, de amplificação de ácidos Forma Cutânca Localizada
nucléicos, como a reação da cadeia da polimerase (PCR), po-
dem ser utilizadas nestes casos, embora não haja testes co- LMeglumínc¡ [anlímonioio de N-metil-gluoamino] -
Gluconiime'
Apresentação:
A doença localizada apresenta uma história natural que é a Frasco-ampola 5 mL oom 425 [85 mg/mLl
Dose:
cicatrizaçãoespontânea em alguns casos. Porém, o conheci- ?Ong/kg lx/dio por20diaslVoulM
mento desta evolução é incerto e a doençapode progredir,
além do risco das complicações locais e a distância. 2. Peniomidino (isolíonolo de peniamidino) Penlon” -
po de infusão. Essa droga retomou seu valor quando foram missão. Outras medidas são os cuidados com higiene e lim-
disponibilizadasas formulações lipídicas, que parecem bas- peza local, com o objetivo de diminuir a multiplicação do
tantes auativas, mas ainda não estão disponibilizadaspelos mosquito próximo das habitações.
serviços de saúde. Busca ativa de casos e tratamento são medidas importantes
Uma droga bastante promissora, para a qual ainda faltam para a diminuição do número de casos futuros, quebra na
estudos no Brasil que determinem sua eñcácia, é a miltefosine, transmissão e redução de seqüelas no Brasil, devido à chance
devido à sua apresentação oral, que deverá contribuir em de evolução para a forma mucosa.
muito para o tratamento desta doença.
Outros tratamentos ainda não estabelecidos e em constante
avaliação são as imunoterapias; considerando-se o amplo
conhecimento que se tem obtido da raposta imune desta do-
ença, é possível que em breve ela seja tratada por modulação HERMAN, LD. Human leishmaníasis: clinical, diagnostic, and che-
da imunidade. motherapeutic developments in the last 10 years. Clin. Infecr. Dis.,
v. 24, p. 684-703, 199?.
Uma metanálisesobre o tratamento da leishmaniose cutâ- DE ALMEIDA, MIL; VILHENA, V.; BARRAI., A.; BARRAL-NETTO,
nea localizada demonstrou que os anümoniais aiI1da podem M leishmaníal infection: analysis of its first steps. A review'. ;Mem
ser considerados drogas de escolha, seguidas das medicações Inst Oswaldo Cruz, v. 98, p. 861 -870, 2003.
já citadas. As terapias tópícas de forma isolada não devem ser Ministério da Saúde. 2000. Manual do Ivíinistério da Saúde Brasileiro
consideradas, assim como mais estudos são necessários para com várias informações sobre epidemiologia, diagnóstico e trata-
das irnunoterapias. SCI-HMÉÀRTZ, E.; HATZ, C.; BLUM, I. New world cutaneous leishma-
niasis in travellers. Lancer Infect. Dis., v. 6; p. 342-349, 2006.
O seguimento dos pacientes com leishmaniose cutânea se TUON, EF.; SABBAGA AIHÁáTO, V.; GRAF, ML; SIQUEIRA, AJVI.;
dá a cada mês e a cura é deñnida corn a cicatrização (reepi- INTICODEMO, AC.; AlvIATO NETO, V. Treatment of New Vforld
telização) completa até 3 meses após o tratamento. A recidi- cutaneous leishmaniasis - A systematic review with mem-analysis.
va da doença é caracterizadapelo reaparecirnento da lesão até Int. I. Dent-imail., 200?.
l ano após completado o esquema proposto. Já a falha tera-
pêutica é a não-cura após dois tratamentos completos.
httpzffwurutcdfound.to.itf_project_ht1n
Atlas de parasitologia com fotos das lesões e do parasita.
O desenvolvimento de vacinaspara a leishmanioseainda con-
httpzlfsvwwnsvhoinütdrf
Site da Organização híundial de Saúde sobre doenças negligenci-
tinua em estudos. A leishmanização consiste na aplicação de adas com centenas de fotos e informações atualizadas sobre o pa-
uma espécie de Leishmania não-causadorade forma mucosa norama da doença.
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Leisñmaniose mucosa
Valdir Sabbaga Amato
112 Parasitologia -
uma abordagem clínica
Reações Sorológicas
Habitualmente são empregadas as técnicas de imunofluo-
rescéncia indireta (RIPI) e irnunoenzimática (ELISA). Na
leishmaniose mucosa, relatos de sensibilidadeda RLFI variam
de 89% a 100%, com altos títulos dessa reação. Da mama for-
ma que a reação intradérmica, as reações sorológicas são mé-
todos auxiliarespara o diagnóstico, mas isoladamente não
oonñrmam a doença.
114 Parasitologia -
uma abordagem clínica
resultados. A Posologia nesses casos é de 20 mg/kgfdia de pode ser realizada por via intravenosa ou intramuscular. Esta
antimônio pentavalente com 400 mg de pentoxifilinatrês ve- últimapode causar abscesso muscular estéril. Nós adminis-
zes ao dia, por 30 dias. tramos a pentamidina diluída em 200 mL de soro glicosado
Os efeitos adversos dos antimoniais são: artralgia, mialgia, a 10%, em infusão lenta, com duração de 2 horas.
náuseas, vômitos, cefaléia, anorexia, aumento de transami- A dose na forma mucosa ou cutâneo-mucosaconsiste em
nases, fosfatase alcalina, lipase e amilase, leucopenia, alarga- três até 10 aplicações de 4 mg/kg/dia em dias alternados.
mento do intervalo QT e supra- ou infradesniivelamentodo Como a toxicidade está relacionada à dose acumulada, de
segmento ST. Outros efeitos colaterais menos freqüentes preferência não se devem aplicar doses totais acimade 2 g. Na
são: aumento de uréia e creatinina, arritmia cardíaca, morte região norte do Brasil, tem-se obtido sucesso no tratamento
súbita e herpes zoster. da forma cutânea, causada por Leishmania (Viannia) guy::-
nensís, com três aplicações de 4 mg/kg/dia, em dias alterna-
dos, no total de 720 mg.
Anfotericina B Deoxicolato As contra-indicações são: gravidez, diabetes, nefropatias
com insuficiênciarenal e cardiopatias. O isotíonato de penta-
Os primeiros relatos da eficiência da anfotericina B no trata- midina pode causar náuseas, vómitos, cefaléia, hipoglicemia,
mento da leishmaniose foram de Lacaz e Sampaio, no final hipotensão durante a infusão, aumento de uréia e creatinina,
da década de 1950 e início dos anos de 1960. Posteriormente, síncope, diabetes, leucopenia, pancreatite e alterações ines-
outros estudos analisaram a utilização da anfotericina B no pecíñcas do segmento ST e da onda T.
tratamento da leishmaniose tegumentar americana, demons- Durante a terapia com o isotíonato de pentamidina, de-
trando pequeno número de recidivas e melhor ação sobre as vem-sc realizar duas vezes por semana: glicemia de jejum,
lesões mucosas em comparação com os antimoniais. creatinina, uréia e eletrocardiograma. Pacientes que recebe-
A anfotericina B interage especiñcamente com o ergosterol, ram doses superiores a 1 g devem ter a glicemia monitorada
esteróide da membranade Leishmania, causando aumento de
por 6 meses após o término do tratamento.
permeabilidadee morte do parasita. A pentamidina é droga extremamente eficaz no tratamen-
A anfotericina B é aplicada unicamente por via intravenosa, to da leishmaniose tegumentar americana, especialmente em
diluída em soro glicosado a 5% e infundida em quatro horas. lesões cutâneas, nas quais close acumulada aparentemente
A concentração da droga na solução não deve exceder 0,1 mg! não necessita ser tão expressiva. Essa droga pode ser eficaz na
mL, para evitar flebite. No intuito de prevenir os efeitos co- forma cutânea, seja causada por Leishmania f Viannía)
laterais durante a infusão, pode-se utilizarhidrocortisona na brazilíensisou por Leishmania (Víannia) gyuanensis.
dose de 25-50 mg, imediatamente antes da aplicação. Devem-
Na forma mucosa ou cutâneo-mucosa, o limite de dose
se atingir as seguintes doses acumuladas de anfotericina B
deoxicolato para o tratamento: l a 1,5 g na forma mucosa. para evitar a toxicidade, especialmente pancreática, pode
A anfotericina B deoicicolatoé contra-indicada em gestan- comprometer a eñcácia do tratamento. Em nosso meio faltam
estudos para comprovar que 2 g de dose total de pentami-
tes e em indivíduos com cardiopatias e nefropatias. Os efeitos
dina seriam suficientes para o tratamento da leishmaniose
colaterais são: febre, calafrios cefaléia, hipocalemia, hipo-
mucosa.
magnesemia, anemia, leucopenia, flebitee nefmtoxicidade.Efei- A utilização de doses maiores de pentamidina, embora com
tos adversos raros são: arritmias e alterações do segmento ST
aumento do risco de toxicidade pancreática, levou, em um es-
e onda T. Devern-se dosar duas vezes por semana os níveis
séricos de sódio, potássio, magnésio, uréia e creatinina, além tudo, a expressivo sucesso terapêutico na forma mucosa.
de realizar hemograma e eletrocardiograma.
Desde os primeiros estudos utilizando a anfotericina B,
evidenciou-se sua grande utilidade no tratamento da leishma-
Outras Alternativas 'terapêuticas
niose tegumentar americana, especialmente nas formas mu-
cosas em que houve falha terapêutica aos antimoniais.
Formulações lipídicas da anfotericina B (FLAB) têm sido uti-
lizadas esporadicamente no tratamento das formas cutâneas
e mucosas, seja em pacientes imunocompetentes ou com al-
membranado parasito. Existem poucos efeitos adversos, tais RELATO, VCS. Leishmaniose 'Iegumentar Americana. In: Lopes &Amato
Neto V. 'fluindo de Clínica Médica. l' ed_ São Paulo: Editora Roca
como vômito e diarréia. Com relação à leishmaniose tegu-
mentar americana, estudos utilizandoa miltefosina no tra- Ltda., 2005, pp. 4.1 14.4420.
tamento da forma cutânea da doença
resultaram em boa
eficácia contra L. (V)panarrzensis,
masparo L. (V)
brazíliensís
não houve eficiência adequada. São necessários mais estudos
com essa medicação para veriñcar sua eficiência com relação
httpzfhwwvuncdfoundtoitfjrojecthtm
às espécies de Letlshmania existentes no Brasil. Atlas de parasitnologia com fotos das lesões e do parasita.
httpalímwnnwhodntftdrf
.Site da Organização Mundial de Saúde sobre doençasnegligencia-
das, com centenas de fotos e informações atualizadassobre o pa-
norama da doça.
(página deixada intencionalmente em branco)
Leishmaniose 'visceral'
Reynaldo Dietze
Silvio Fernando Guimarães de Carvalho
118 Parasitologia - uma abordagem clínica
A leishmaniose visceral (LV) ou calazar é uma doença sistê- do corpo basal, mas que não ultrapassa a membrana cito-
mica causada por protozoários do gênero Ieishmanía, sub- plasmática. As formas promastigotas são formas móveis,
gênero Leishmania complexo donovaní, que parasitam células ilagelares, extracelulares,medindo lO a 15 pm por 1 a 3 um,
do sistema fagocrítzico mononuclear (SFM) do hospedeiro. O encontradas no tubo alimentar dos vetores (flebotomíneos)
e em culturas. O cinetoplasto situa-se na parte anterior da
complexo donovaní engloba três espécies: L. (L.) donovani, Leishmania e o flagelo livre tem aproximadamente o mesmo
L. (L.) infznmm e L. (L.) chagasz'. A transmissão ocorre atra-
tamanho do corpo do parasita. As formas amastigotas e
vésdapicadadeflebotonríneosqdastrésespédesdeLeishmania,
somente L. (L.) chagas' está presente nas Américas. promastigotas apresentam proteínas de superficie distintas
No homem, a doença caracteriza-se clínica e laborato- (gp63 e LPG), importantes para a resposta imune e a adap-
rialmente por febre irregular, emagrecimento,manifestações tação ao hospedeiro ou vetor.
intestinais (diarréia) e respiratórias (tosse), hepatoespleno-
megalia, micropoliadenomegaliase pancitopenía. Na quase EPIDEMIOLOGIA
totalidade dos casos a doença é fatal quando não tratada e a
morte advém geralmente de infecções bacterianassecundárias
As áreas de transmissão da leishmaniose visceral começaram
e distúrbios da coagulação.
a ser mais bem delimitadas no mundo a partir da descoberta
e caracterização do gênero Leíshmania por Laveram e Mesnil
PATOGENIA
Durante o ato da picada, o flebótomo regurgita formas pro-
mastigotas do parasito presentes no seu tubo digestivo. Jun-
tamente com as Leíshmanias regurgitadas, esses insetos
inoculam saliva contendo peptídeos inflamatóriospotentes,
responsáveis por uma reação inflamatóriaimediata que atrai
células fagocíticas para o local. As formas promastigotas pe-
netram então nessas células, transformam-se em amastigotas,
escapando, num primeiro momento, de mecanismos ines-
pecíñcos de defesa, como a lise através do complemento. A
partir desse ponto, a maioria dos indivíduos consegue conter a
infecção [infecção inaparente) e estabelecer uma imunidade
duradoura. Outros desenvolvem uma forma oligossinto-
f.? Im' f' mática da infecção que também pode se resolver espontanea-
C _, .g mente ou evoluir para a doença clássica. Um percentual
A
desconhecido de indivíduos, provavelmente a maioria, desen-
FIGURA 18-2 A, Cão com LV. Note o emagrecimento do anima!, volve imunidade às reinfecções sem, contudo, erradicar o pa-
áreas de perda de pêlos e aumento do tamanho das unhas. B. rasito do organismo, o qual pode voltar a se multiplicar em
Esplenomegalia em cão com LV. C, Fêmea de Lu. longipaídís. situações de imunodeficiência. O que determina, em última
análise, o curso que a infecção irá tomar é basicamente o tipo
de resposta imunitária que o individuo irá montar: Thl ou
incidência e ruralização dos casos de HIV e a urbanização da Th2. Essa resposta inflamatória,por outro lado, irá depender
LV certamente irão aumentar o número de casos dessa co- de aspectos ainda não totalmente conhecidos, como fatores
infecção no país. A implementação da terapia HAAPJI' dimi- genéticos do hospedeiro, existência de genes promotores do
nuiu drasticamente a incidênciada LV em pacientes infectados fator de necrose tumoral, resposta efetiva de células namral
pelo HIV de 11,6¡ 10.000 indivíduosfano para 6,3/10.000 in- killer (NK) frente à lL-l2 e produção adequada de interfe-
divíduosfano, principahnente na Europa, a partir de 1996. ron-y, dentre outros.
Nos indivíduos em que há progressão da doença (resposta
Th2), os macrófagos infectados se rompem, liberando as
TRANSMISSÃO formas amastigotas do parasita, que invadem novos macró-
fagos. Os macrófagos infectados produzem de forma exacer-
O ciclo biológico de L. chagasí é heteroxénico [alterna-se en- bada CzM-CSF e outras quimiotaxinas que irão atrair novos
tre um hospedeiro invertebrado e um vertebrado), envolven- macrófagos, os quais serão parasitados, criando, dessa forma,
Leishmaniose visceral
um ciclo que irá auxiliarna multiplicação exponencial do pa- não a hepatomegalia. A doença apresenta período de incuba-
rasito. Células fagocíticas da pele, provavelmente células de ção variável que, na maioria das vezes, situa-se ao redor de
Langherans, disseminam o parasito através dos vasos para os Uês meses, mas pode ser superior a 12 meses. Entretanto, de-
linfonodos, baço, fígado e medula óssea. A produção aumen- vido à instalação insidiosa da doença, essa informação geral-
tada de citocinas durante a progressão da infecção estimula mente é imprecisa e de pouca valia.
a ativação policlonal de linfócitos B, resultando na produção Do ponto de vista clinico-evolutivo, as formas aparentes
de grande quantidade de imunoglobulinas,principalmente da leishmaniose visceral podem ser divididas em:
IgG e IgM, contra proteínas inespecíficas e haptenos. Níveis I Período inicial -
essa fase da doença caracteriza o iní-
elevados de imunocomplexos e de anticorpos antiimuno- cio da sintomatologia, que pode ser xrariável, mas que,
globulinas também estão presentes no soro dos pacientes, na maioria dos casos, inclui febre irregular com dura-
paralelamente a uma diminuição dos níveis séricos do com- ção inferior a quatro semanas, palidez cutâneo-mucosa
plemento. A Leishmania induz, em macrófagos, à diminuição e hepatoesplenomegalia. O estado geral do paciente, via
da produção de lL-12, responsável por uma resposta Thl efe- de regra, está preservado, e a esplenomegalia é geral-
tiva que, por sua vez, regula a atividade do interferon-'y', res- mente discreta, não ultrapassando 5 cm do rebordo
ponsável pela destruição do parasita. costal esquerdo. Esses pacientes não raramente procu-
ram o serviço médico fazendo uso de antimicrobianos
sem resposta clínica e muitas vezes apresentam histó-
ria de tosse seca e diarréia. Um percentual pequeno de
indivíduos, geralmente crianças,pode apresentar na
A infecção causada por L. chagasi apresenta um espectro clí- fase
nico amplo, que varia desde formas completamente assintó-
máticas, passando por formas clínicas com sintomatologia
discreta ou moderada., até aquelas de apresentação mais grave.
Devido a essa diversidade de apresentações clinicas, várias clas-
sificações têm sido propostas. A classificação aqui utilizadaé
a mesma adotada na nova versão (2003) do Manual de Vi-
gilância e Controle da Leishmaniose Visceral do Programa de
Controle de Leishmanioses do !Ministério da Saúde.
Didaiicamente, a infecção causada por L. chagas'pode ser
dividida em aparente ou inaparente.
As infecções inaparentes são sempre assintomáticas e,
portanto, sem evidência clínica de doença_ O diagnóstico é
baseado em resultados sorológicos ou por meio da intrader-
morreação de Montenegro (leishmanina). Os títulos de an-
ticorpos em geral são baixos e podem permanecer positivos
por longo tempo. Vale a pena ressaltar que: (a) os pacientes
com história prévia de LV ou leishmaniose tegumentar po-
dem "mimetizar imunologicamente" (sorologia e intrader-
morreação positiva) os pacientes com infecção inaparente;
[b] nas demais formas da doença, a ínnadermorreação de
Montenegro é classicamente negativa_ Portanto, as formas
assintomáticas são aquelas vistas em pacientes provenientes
de áreas endêmicas, onde há evidências epidemiológica e
imunológica (sorológica ou intradermorreação) da infecção.
Não existe qualquer indicação terapêutica nesses casos. O
conhecimento da existência das infecções inaparentes tem
importância durante o diagnósüco diferencial de doenças fe-
bris agudas ou subagudas causadas por outros agentes infec-
ciosos, quando se depara com uma sorologia positiva para
LV. Nesses casos, uma intraderrnorreação de Montenegro po-
sitiva exclui o diagnóstico de LV.
As infecções aparentes variam desde formas djnicasdiscre-
tas com pouca sintomatologia, passando por formas clínicas
moderadas, até aquelas de apresentação mais grave que, se
não tratadas, evoluem para o óbito. Deve-se suspeitar clinica-
mente de LV quando o paciente apresentar os seguintes si-
nais e sintomas: febre há mais de duas semanas, anemia (palidez
cutâneo-mucosa),adinamia e esplenomegalia associada ou
- 122 Parasitologia -
uma abordagem clínica
FIGURA 18-3 A, Periodo inicial da doença. 0 atado geral do paciente ainda está preservado e a perda de pao não é acentuada. B-D,
Periodo de estado da doença. Note o emagrecimento, aumento acentuado do volume abdominal e a volumosa hepatoesplenomegalía- Note
em (Cl o sangramento espontâneo na comissura labial esquerda e, em (D), o edema de membros inferiores.
TABEIA 18-1 Freqüência dos principais sinais e (34% a 82%) e linfoadenomegalia (22%). As manifestações
sintomas presentes na leishmaniose visceral cutâneas, gastrintestinais e respiratórias são mais freqüentes
clássica nos pacientes com a co-infecção por LV-HIV do que na LV
isoladamente. Na maioria das vezes, o encontro do parasito
em lesões cutâneas é inesperado pelo fato de o diagnóstico de
b-Í::*rf.:*&“~';-'.ra2-'§:3_I.:.
.iwirt-"â"
LV não ter sido considerado.
-
.a
No período final, as alterações laboratoriais descritas tor- O aspirado esplênico é o método de maior sensibilidade,
nam-se ainda mais acentuadas. Os leucócitos geralmente es- seguido do aspirado de medula óssea, biopsiahepática e as-
tão abaixo de 3.000 mm3 e as plaquetas, abaixo de 70.000 piração de linfonodos. Na prática, devido a quase ausênciade
mm3. A fração gamaglobulinaestá elevada, e os niveis séricos efeitos colaterais, recomenda-se o aspirado de medula óssea
de albuminabastante diminuídos. da crista ilíacaposterior. A punção esplênica deve ser realizada
O diagnósiico diferencial deve ser feito com a malária, em situações em que a confirmaçãoparasitológica é impres-
mistoplasmose, enterobacteriose septicêmicaprolongada, cindível, por pessoa treinada e em hospitais com retaguarda
esquistossomose aguda, paracoccidioidomicose,brucelose,
toxoplasmose,doença de Chagas aguda, febre tifóide, endo-
cardite infecciosa, anemia falciforme, linfoma e leucemias.
Diagnóstico lmunológico
Na LV, os testes sorológicos em geral apresentam boa sensi-
bilidade em virtude da grande quantidade de anticorpos
(principalmenteIgG) presentes na doença, secundários à ati-
vação policlonal de células B. Os testes sorológicos, entretanto,
são métodos indiretos de detecção do parasito e, devido à sua
praticidade, devem preceder, sempre que possível, os méto-
dos parasitológicos, podendo até, em algumas situações,
suhsütIJi-los. Na presença de dados clínicos e laboratoriais,
uma sorologia reagente praticamente confirma o diagnósti-
co de calazar. Entretanto, um teste reagente na ausênciade
manifestações clinicas sugestivas não autorizao início do tra-
tamento.
No Brasil, as técnicas mais usadas são a imunofluores-
cênciaindireta (RLFI) e os ensaios imunoenzimáticos (ELISA,
imunocromatograña). Os resultados da imunofluorescência
normalmente são expressos em diluições, sendo reagentes os
títulos iguais ou superiores a 1:40. A RIPI, apesar de ser me-
nos sensível que o ELISA, é o método mais utilizado no Brasil
Diagnóstico Parasitológico
O diagnósticoparasitológico da LV pode ser feito por meio da
visualização do parasito em cultura (formas promastigotas)
ou em esfregaço de punção aspirativa de baço, medula óssea,
linfonodos ou em biopsias de tecido (formas amastigotas).
124 Parasitologia -
uma abordagem clínica
ñcar a critério médico. Todavia, recomendam-se níveis de
hemoglobinaacima de 8
Leishmaniose visceral 125
células mononucleares e células do endotélio vascular com ciência renal reversível em 25% dos pacientes, hipotensão,
liberação de ácido araquidônico,cujos metabólitos (prosta- hiper- e hipoglicemia reversíveis e hipocalcemia em 10% dos
ciclinas e tromboxano A2) causariamvasoconstrição e hiper- pacientes tratados. A pancreatitepode levar ao aparecimento de
tensão pulmonar. Esses efeitos podem ser antagonizados por diabetes melito permanente em 5% a 15% dos casos tratados.
antiiníiamatóriosinibidoresda Cox-2 (ciclooxigenase-Z). A A dose recomendada no tratamento do calazar é de 4 mg/kg,
dose recomendada no tratamento da LV é de l mg/kg/dia 1M ou 1V, três vezes por semana durante 5 a 25 semanas, de-
(dose máxima diária de 50 mg), administrada em dias con- pendendo das respostas clínica e parasitológica do paciente.
secutivos durante 14 dias. A aminosidina é um antibióticoaminoglicosídeo, identico
Mais recentemente, formulações lipídicas da anfotericina à paramomicina. Do ponto de vista químico, a paramomidna
B tornaram-se disponíveis para o tratamento da LV. Essas no- difere da neomicina B pela substituição do grupo Cl-lzOH
vas formulações são menos tóxicas que o desoxicolato de pelo (ÍHINHIem um dos três açúcares presentes na molécula
anfotericina B, podendo ser administradas em doses elevadas da neomicina B. Essa pequena diferença é responsável pelo
e por períodos de tempo ainda mais curtos que a anfotericina amplo espectro de ação da droga, que inclui bactérias,
B convencional (cinco a dez dias). A lógica de sua utilização protozoários e cestódeos. Sua ação leishmanicida é poten-
no tratamento da LV estaria na rápida retirada da circulação cializada in vitro pelos antimoniais pentavalentes. A dose re-
das partículas lipídicas que contém a anfotericina B. Este comendada no tratamento da LV é de 20 mgfkgfdia, por via
clearance da droga seria feito pelas células do SFM do ñgado, intramuscular por 20 dias consecutivos. Seu mecanismo de
baço e medula óssea, diminuindo, dessa forma, os efeitos co- ação é desconhecido. A aminosidina, como os demais amino-
laterais da medicação e potencializando a destruição do para- glicosídeos, é potencialmente nefrotóxica e ototóxica, poden-
sito. No momento, sua utilização está indicada em situações do causar surdez irreversível, além de ser contra-indicada
nas quais a toxicidade e a duração da terapia são as maiores
durante a gravidez.
Mais recentemente, uma droga oral antineoplásica, Mil-
preocupações. tefosineü' (metil-hexadecilfosfocolina),tem sido usada com
Existem atualmente disponíveis para uso clínico três for-
sucesso no tratamento da leishmaniose visceral na Índia. Os
mulações lipídicas da anfotericina B: o AmBisomeQ o Am- índices de cura são elevados (95%). Os efeitos colaterais re-
phocil® e o Abelcetü'.inúmeros estudos, relatando índices de lacionados com o seu uso incluem distúrbios gastrintestinais
cura semelhantes aos da anfotericina B convencional, já fo-
em mais de 50% dos pacientes (náuseas, vômitos e diarréia),
ram publicados utilizandoas diferentes formulações lipídicas
insuficiência renal, elevação dos níveis séricos da creatinina e
no tratamento da LV, tanto em pacientesirnunocompetentes
das aminotransferases. No Brasil, os resultados com o uso da
quanto em pacientes oo-infectados com o vírus HIV. Os efeitos miltefosina no tratamento da LV são bem inferiores aos ob-
colaterais descritos com essas formulações são semelhantes
tidos na Índia, com indica de cura ao redor de 60%.
àqueles descritos para a anfotericinaB. Apesar da inexistência
de estudos comparando a eficácia e toxicidade das três apre-
sentações, a formulação recomendada para o tratamento da
LV no Brasil é o ArnBisomeíã'.A Posologia recomendada é de
Co-infec_ç_ãpg_por LV-HIV
3-4 mg/kg/dose durante sete dias consecutivos. Apesar de me- Ainda não há consenso sobre qual seria o esquema ideal para
nos tóxicas e mais eficazes que o desoidcolato de anfotericina o tratamento da co-infecção por LV-HIV.Os antimoniais e o
B, essas novas formulações lipídicas são bem mais caras que desoxicolatode anfotericina B, apesar de efetivos, são tóxicos
a anfotericina convencional, o que diñculta seu uso rotineiro. e requerem tratamento prolongado. As novas formulações
A pentamidina (Pentacarinate® e Pentan°9 _), uma djamjdj- lipídicas são mais bem toleradas e podem ser administradas
na aromática, foi usada pela primeira vez no tratamento da por menor tempo. Entretanto, os índices de cura das formu-
leishmaniosevisceral no final da década de 1930. Seu meca- lações lipídicas (3 mg/kgfdia por cinco ou dez dias) são seme-
nismo de ação ainda não é totalmente conhecido, mas pare- lhantes ( 35% a 42%) aos dos antimoniais administrados por
ce estar relacionado com a inibição da RNA polimerase, 28 dias. Apesar de o percentual de recidivas clínicas ter dimi-
função ribossómica e síntese de proteínas e fosfolipídeos. Seu nuído após a instituição do esquema HAARI', elas ainda são
efeito leishmanicida deve-se à sua ligação seletiva ao DNA do um problema, e não existe consenso acerca da profilaxia se-
cinetoplasto da Leishmania, causando edema e perda da sua cundária. O esquema com ABLC (anfotericinaB de comple-
função. Apesar de a pentamidina ser efetiva no tratamento da xo lipídico), 3 mgfkg a cada três semanas, comparado com
LV, esquemas prolongados são necessários para prevenir re- nenhum tratamento, resultou em 50% versus 22% de recidi-
cidivas, tornando alta a sua toidcidade. Nos vários estudos vas, respectivamente, após 12 meses de seguimento.
publicados, os índices de cura variam de 25% a percentuais A miltefosina provavelmente é uma boa alternativa mas
próximos a 100%. Um único estudo publicado,comparando ainda necessita ser avaliada em ensaios clínicos controlados.
a pentamidina com a anfotericina B, mostrou que esta últi-
ma apresenta índices de cura superiores aos da pentamidina
(98% versus 77%).
Os efeitos colaterais mais comumente encontrados são:
anorexia, astenia, náuseas, dor abdominal, dor no local da As medidas de controle da leishmaniose visceral estão volta-
aplicação da injeção, abscesso subcutâneoestéril, mialgias, das para os três elos da cadeia de transmissão: o combate ao
cefaléia, pirose, hepatite, gosto metálico, taquicardia, insuli- vetor, a eliminação dos cães positivos (reservatório domésti-
125 Parasitologia -
uma abordagem clínica
co) e o tratamento dos pacientes. Nas áreas endêmica:: é fun- em indivíduos imunocompetentes), é possível que vacinasefi-
damental a implementação de programas de vigilância cazes utilizandoantígenos recombinantespossam ser usadas
epidemiológica com o objetivo de se reduzir a letalidade da no futuro.
@oença dê Clíagas
Anis Rassi
Anis Rassi Jr.
128 Parasitologia -
uma abordagem clínica
EPIDEMIOLOGIA TRANSMISSÃO
A doença de Chagas distribui-se na América, desde o sul A transmissão de 'Il cruzi dá-se por contaminação das mu-
dos EUA até o sul da Argentina e Chile. No Brasil, a cosas ou da pele com dejeções de triatomíneos infectados (es-
prevalência, mediante inquérito sorológico, é de 4,2%. Os tádio de ninfa ou adulto). A mucosa pode estar íntegra, mas
estados mais acometidos são o Rio Grande do Sul (3,896), a pele deve apresentar solução de continuidade constituída
-
Minas Gerais (_8,8°xí:) e Goiás (14%). Assim, estima-se que muitas Vezes pelo orifício da picada do inseto ou pela esca-
5 milhões de brasileiros estejam infectados por 'IÍ cruzi.
Não existem relatos de aquisição da doença humana fora
da América.
A taxa de infecção em animais silvestres no su] dos EUA é
idêntica à taxa no Brasil. Isto demonstra que a doença hiuna-
na está relacionada corn as precárias condições de habitação
e habitatdo vetor (Figura 19-2). A diferença assinalada evi-
dencia o importante fato de que a doença de Chagas é, antes,
um problema sócio-cultural do que médico, e que o fulcro da
- Trypanosoma cruz¡
l 71 bruce¡ rhodesiense
. 'II bruce¡ gambrbnse
- Ib. gambiense/Ilzrhodesiense
FIGURA _19-3 Epidemiologia dos diversos Trypanosoma no mundo.
130 Parasitologia -
uma abordagem clínica
riñcação causada pelo próprio indivíduo, ao coçar-se para-
renais parasitodas. Esses fatos indicariam que células cardia- interno do ânus, que resultam em diñculdades de defecção,
cas normais possuem antígenos de reação cruzada com estagnação de fezes e dilatação do sigmóide e do reto.
Tiypanruama. cruzi capazes de induzir ativação de linfócitos 'l' Nos casos de megaesôfago e megacólon, outros segmen-
citotóxicos. Teste de inibição da migração de células mono- tos do tubo digestivo são igualmente atingidos pela desner-
nucleares, em presença de frações subcelulares de células vação neuronal, embora sejam raros os casos de ectasia fora
cardíacas, evidenciou que uma fração microssomal da célula do esôfago e do intestino. Urna possível explicação seria a de
cardíaca possui um antígeno que produz reação cruzada, que, sendo o conteúdo do esôfago e do cólon distal predomi-
capaz de ativar linfócitos 'l' previamente sensibilizadospor 'E nantemente sólido, deve existir, para sua progressão, coor-
cruzi. O reconhecimento de antígenos de reação cruzada da denação motora de efeito propulsivo perfeito; nos demais
célula cardíaca pelos linfócitos sensibilizadospor 'II cruzi se- segmentos, a progressão ocorre, mesmo quando se verifica
ria, então, o fundamentoda lesão tecidual. alteração da motilidade, em virtude da menor consistência de
Por meio das técnicas da imunoperoxidase, tem sido pos- seu conteúdo. Além disso, tanto o esôfago quanto o reto pos-
sível demonstrar a presença de amastigotas do 'II cruzi e seus suem esñncteres, que se abrem reflexamente, cujo funciona-
antígenos na miocardite crônica humana. mento se encontra alterado na doença de Chagas.
A teoria da patogenia da doença de Chagas mediante uma A patogenia e a fisiopatologia do compromeúmento do
origem nervosa foi introduzida após a observação de que tubo digestivo na doença de Chagas não é suñciente para ex-
neurônios do plexo intramural da musculatura lisa e da mus- plicar a cardiopatia chagásica crônica.
culatura cardíaca de chagasicos se apresentavam alterados e Deve-se, portanto, admitir que estão envolvidos no apa-
reduzidos em rlúmero. Formulou-se a teoria da desnervação recimento da miocardite chagásica crônica: (1) a lesão direta
parassimpática, e se admitiu que a destruição neuronal se do tecido pelo parasito; (2) a destruição de células ganglio-
processaria principalmente na fase aguda da infecção. A nares parassimpálicasdo coração; (3) reações de hipersensi-
desnervação, embora tenha caráter universal, acometeriaprin- bilidade, agressão auto-imune ou reações imunológicas
cipalmente o sistema nervoso periféricoparassimpático, em antimiocárdio; (4) lesões isquémicas secundárias a alterações
virtude da localização do segundo neurónio na estrutura da microvasculares.
parede dos órgãos, o que o tornaria alvo do processo infla- Conclui-se, pois, que mais de um mecanismo deve estar
matório. Quanto aos neurônios dos gânglios simpáticos, por envolvido na patogenia da doença de Chagas, resultando do
estarem afastados do tecido muscular parasitodo, não sofre- conjunto de sua atuação o processo inflamatório,a desnerva-
riam alterações significativas. ção parassimpática e a fibrose.
Mecanismo de natureza imunológica também foi invoca-
do para ::aplicar a destruição neuronal. A citotoxicidade de lin-
fócitos sensibilizadospor I' cruzi é capaz de lesar as células IVAWWGI¡
nervosas do plexo mioentérico. Essa citotoxicidade manifes-
tar-se-ia particularmente em relação às células neuronais do
parassimpático,sugerindo a existência de um determinante
ÉSE?
antigénico de reação cruzada entre essas células e 'II cruzi. Ninhos de formas amastigotas de 'II cruzi já foram observa-
Nesse caso, haveria identidade antigênica de membrana entre dos em virtualmente todos os órgãos e tecidos, no periodo
'II mrzi e o neurônio, resultante provavelmente da ñxação inicial da infecção. Nlicroscopicamente, o achado mais carac-
pelas células nervosas de antígenos liberados pelo parasito, terístico é constituído pela presença de ninhos de amasügotas,
o que induziria o linfócito sensibilizadoa considerar essas cé-
especialmente no tecido muscular e em elementos do sistema
lulas estranhas ao organismo. retículo-endotelial, acompanhados de processo inñamatório
O órgão desnervado apresentaria disfunção, com ativida- histioplasmolinfomonocitário,com predomínio de monoci-
de maior ou menor, na dependência do grau de desnervação. tóides (Figura 19-5). A reação inflamatóriaé particularmen-
O regime parassimpaticoprivo seria o responsável- em as- te intensa no miocárdio, cujas fibras, dissociadas por intenso
sociação a outros fatores (tempo de infecção, sobrecarga ou edema, exibem alterações degenerativas, principalmente do
solicitação do órgão, natureza do seu conteúdo etc.) pelas
-
congestivas sistêmicas sobre as pulmonares. Dispnéia pa- prego cada vez mais comum de terapêuticas imunossupres-
roxística noturna, asma cardíaca e edema agudo de pulmão soras, a realização freqüente de transplantes de órgãos e a
raramente ocorrem. O ritlno de galope é pouco freqüente. sobrevida maior de doentes com neoplasias passaram a
-
Quando há cardiomegalia franca pode ser ouvido sopro ser observados com mais freqüência casos de reativação da
sistólico de insuficiênciafuncional da válvula tricúspide ou da infecção em individuos co1n a forma indeterminada da tripa-
mítral. Fenômenos tromboembólicos, dependentes de trom- nossomíase americana, ocorrendo graves repercussões orgâ-
bose parietal cardíaca, são relativamente comuns, atingindo nicas, em particular encefálicase cardíacas.
o cérebro, os membros inferiores e os pulmões, ao passo que,
com base nos dados de necropsia, o tromboembolismo,por
ordem de freqüência, é mais comum em pulmões, rins, baço,
cérebro e membros.
Exames Complementares lnespecíficos
Forma digestiva Na forma aguda da doença, é comum encontrarmos leu-
A forma digestiva da fase crônica da doença de Chagas é re- cocitose discreta ou moderada, às vezes ocorrendo leucoci-
presentada pelo megaesôfago e pelo megacólon. O megaesô- tometria normal ou leucopenia; comumente há linfocitose
fago pode apresentar-se em diferentes estágios evolutívos. (com linfócitos atípicos),plasmocitose e neutropenia relativa;
Levando-se em consideração a atividade contrátil da muscu- na evolução, ocorre o aparecimento de eosinofilia. A veloci-
latura, o grau de retenção das ingestas, o diâmetro do órgão dade de hemossedimentação encontra-se moderadamente
e o seu alongamento, o megaesófago foi classiñcado, por aumentada e a pesquisa da proteína C-reativa costuma ser
Rezende e cols., em 1960, em quatro grupos (l, ll, Ill e 1V). positiva (teste qualitativo) ou elevada (teste quantitativo). A
Deve-se ressaltar que a progressão de um estágio para o se- eletroforese das proteínas plasmáticasevidencia, quase sem-
guinte ocorre mais rapidamente em alguns casos do que em pre, hipoproteinemia total, presença de hipoalbuminemia e
outros. Quanto à sintomatologia, a manifestação inicial do aumento das globulinas alfa-2 e gama.
megaesôfago quase sempre é constituída pela disfagia. Com Na maior parte dos doentes, todas as manifestações da
a evolução, seguem-se, em ordem de freqüência, dor epigás- fase aguda desaparecem no Em de algumas semanas ou pou-
trica ou retroestemal, regurgitação, soluço, ptialismo (hi- cos meses.
persecreção salivar) e hipertrofia das glândulas salivares, Na fase crônica, as alterações eletrocardiogrãficas são
notadamente das parótidas. 'Fosse e sufocações noturnas po- variadas, sobressaindo, por sua maior freqüência e¡ ou im-
dem estar presentes e são devidas à broncoaspiração de ali- portância, a extra-sistolia ventricular monomórñca ou poli-
mentos regurgitados. A odinofagia., às vezes referida, traduz mórñca, isolada ou pareada, o bloqueio completo do ramo
acentuado espasmo da musculatura ou esofagite. Como con- direito, o hemibloqueio anterior esquerdo, a alteração pri-
seqüência da desnutrição, os pacientes apresentam emagreci- mária da repolarização ventricular, zonas eletricamente
mento, às vezes acentuado, chegando até à caquexia. Em inativas, os diversos graus de bloqueio atrioventricular, as
crianças,pode-se verificar atraso do desenvolvimento e manifestaçõespróprias da doença do nódulo sinusal (bra-
infantilismosecundário. dicardia sinusal, bloqueio sinoatrial e parada sinusal), a
No megacólon, o sintoma principal é constituído por fibrilação atrial e a taquicardia ventricular (não-sustentada
obstipação intestinal progressiva, rebelde aos tratamentos ou sustentada). As alterações podem apresentar-se isoladas
habituais. Casos de megacólon com ritmo intestinal normal ou associadas. Freqüentemente existe associação entre
podem, porém, ser encontrados. Outras manifestações, co- bloqueio c.ompleto do ramo direito e hemibloqueio ante-
mumente observadas, são o meteorismo e o embotamento rior esquerdo, fato que pode ser considerado como alta-
do reflexoda defecação, o que diñculta sobremaneira a exo- mente sugestivo de cardiopatia chagássica crônica em área
neração intestinal, com formação de fecaloma. Além do dis- endêmica.
túrbio motor, têm sido encontradas alterações secretoras e de No exame radiológico, a área cardíaca encontra-se normal
absorção em chagásicos crônicos. Em muitos casos, as glân- na fase inicial da cardiopatia e, às vezes, mesmo em doentes
dulas salivares exibem hiper-reatividade ao estímulo normal com graves alterações eletrocardiográñcas. Pode apresentar-
se leve, moderada ou grandemente aumentada;o aumento é
observado em todas as cavidades. Em cerca de metade dos
casos de insuficiênciacardíaca os sinais de congestão pulmo-
nar são pouco acentuados ou ausentes.
O ecodopplercardiograma pode se apresentar alterado
mesmo em doentes com eletrocardiograma e exame radioló-
Tratamento sintomático
Chagas nos programas de saúde pública, sendo necessários inadequado aos tzriatomíneos,virá permitir o controle deñni-
novos estudos para avaliar a capacidade de os medicamentos tivo da doença de Chagas.
usados atualmente impediram a progressão da moléstia, res- A prevenção da transmissão por transfusão de sangue deve
saltando-se que "como a maioria dos pacientes está nessa fase ser feita por intermédio de rigorosa seleção dos doadores,
(fase indeterminada), o tratamento deveria ser feito em lar- sendo recomendável a prática rotineira de, pelo menos, duas
ga escala e poderia causar problemasoperacionais, desde que reações sorológicas,preferenternente a de irnunofluorescéncia
demanda acompanhamento,pois os fármacos no momento e o teste imunoenzimático (ELISA).
utilizáveis por vezes causam importantes efeitos adversos". Os profissionais que trabalham em laboratórios clínicos
Nas infecções acidentais, prmumiveis ou confirmadas, ob- devem adotar com rigor as normas preconizadas para a pre-
servadas particularmente em profissionais que trabalham em venção das infecções veiculadas por sangue.
laboratório clinico, essas pessoas devem receber 7 a 10 mg/lcg/ Foi demonstrado experimentalmente que a exposição à
dia de benzonidazol, por via oral, durante dez dias; orienta- luz artificial, durante seis horas, de sangue adicionado com a
ção idêntica é recomendada a eventuais receptores de trans- associação de violeta de genciana (IHLOOO) com ascorbato de
fusões de sangue ou plasma provenientes de doadores com sódio (1:500) promove a esterilização do sangue contamina-
infecção por 'frypanosoma cruzi. do com 'Jiypanosonza cruzi.
Nos pacientes tratados na fase aguda e na fase crônica Segundo o !Ministério da Saúde (1996), nos transplantes de
com poucos anos de evolução, tanto o xenodiagnóstico órgãos efetuados em nosso
quanto as reações sorológicas podem tornar-se persistente-
mente negativos depois do tratamento, atestando a cura da
infecção (60% dos tratados com benzonidazol). Já na fase
crônica com maior duração, embora o Jrenodiagilóstico
também possa tornar-se repetidamente negativo, na mesma
proporção de casos, as provas sorológicas permanecem po-
sitivas ou apresentam resultados oscilantes, ie., ora positi-
vos, ora negativos, ora duvidosos, o que sugere atividade
supressiva apenas.
O fato é que, embora tenha havido indiscutível avanço no
tratamento específico da doença de Chagas, é indispensável a
continuação de pesquisas para a descoberta de novos
fármacos, menos tóxicos e dotados de maior atividade con-
tra Trypamsarrza cruzi.
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FIGURA 20-2 Ciclo de transmissão da tripanossomiase africana_ 1_
O homem ou outro reservatório adquire Trypanosoma mediante
picada de mosca, através da inoculação na pele. 2, A doença
acomete a pele, o sistema reticulo-endoteiial e também o sistema
nervoso central. 3, A presença do parasito no sangue permite que o
vetor se infecte e 4, transmita a doença para outros humanos ou
reservatórios.
após o 159 dia de infecção, a parasitemia torna-se submicros- do à possibilidadede infecções naturais mistas por 'II cruzi e
cópica. Após a curta fase aguda, os parasitos somente podem 'E rangeli tanto em triatomíneos como em hospedeiros mamí-
ser detectados por meio de métodos indiretos, como a he- feros, além da possibilidadede contaminação em laboratório,
mocultura e o xenodiagnóstico. esses resultados carecem de confirmação com populações
Estudos experimentais em diferentes espécies de marnífe- clonadas do parasito efou previamente caracterizadasmedi-
ros revelaram que, apesar da parasitemia subpatente, a in- ante diferentes técnicas.
fecção pode persistir por períodos de até três anos. No Assim como para o 'II cruzi, deve-se considerar ainda a
entanto, estudos histopatológicos mostraram a ausência de variabilidadeintra-especíñca de 'Il rangeli. A análise de parâ-
formas intracelulares nos distintos tecidos pesquisados. Além metros biológicos,bioquímicos,imunológicos e moleculares
disso, estudos de interação ir: iritro de cepas 'II rangeli bem ca- por diferentes metodologias revelou uma acentuadavaria-
racterizadas com diferentes linhagens celulares mostraram bilidade genotípica e fenotípica entre diferentes cepas de 'II
que o parasito foi capaz de infectar algumaslinhagens em bai- rangeli. A caracterização molecular de cepas isoladas de dis-
xa proporção, mas não foi observada multiplicação intra- tintas regiões geográficas das Américas e provenientes de
celular até um período de 120 horas após a infecção. diferentes hospedeiros utilizandovários marcadores mole-
Contrariamente, estudos realizados com somente duas ce- culares (RAPD, kDNA, Miniexon, DNAr 245a., ITS, entre ou-
pas (Dog-SZ e C23) de 'IÍ rangelt' mostraram parasitemias tros) mostrou que o táxon 'II rangeli é constituido de grupos
crescentes em camundongos inoculados e a presença de ni- geneticamente distintos de parasitos. Vallejo e colaboradores,
nhos de amastigotas em vários tecidos de animais infectados, utilizandoiniciadores dirigidos para regiões conservadas do
sendo estes os únicos registros de tal comportamento. Devi- minicírculo do DNA do cinetoplasto (kDNA), veriñcaram
que 'II rangeli apresenta três tipos distintos de minicírculos
(KPS, KP2 e KPl) que podem ser facilmente distinguidos
pelo tamanho do produto de PCR. Minicírculos KP3 apresen-
tam quatro regiões conservadas e originam produtos de
ampliñcação de 300-450 pb; minicírculos KP2 possuem duas
regiões conservadas e originam um produto de ?'60 pb en-
quanto minicírculos tipo KPl possuem uma região conser-
vada e originam um produto de 165 pb. Com base nesses
resultados, os autores agruparam as cepas em dois grupos
distintos denominados KP1+, que inclui as cepas que pos-
suem os três tipos de minicírculos, e KP1-, que inclui as ce-
fecção humana.
A infecção humana por 'li rangeli é assintomática e compro-
vada pelo encontro do parasito. Considerando que cerca de
50% a 60% das infecções por 'IÍ cruzi se apresentam de for-
ma assintomática, em que o único marcador é a sorologia
BAITR-SAJWTOS, E.; SINCERO, TCM.; STOCO, RH.; STETNDEL,M.;
positiva e que em várias regiões endêmicas da doença de GRISARD, E.C. Trends on Trypanosoma (Hetpetosoma) rangeli
Chagas esses dois parasitos apresentam uma distribuição research. Acta Biológica Venezuelica, v. 26, pp. 35-47, 200?.
geográfica sobreposta, é possível esperar que novos casos de na SILVA,EM.; NOYES, H.; CAMPANER, M.; JUNQUEIRA, ao.;
infecção humana por 'L' rangeli venham a ser diagnosticados COURA, LR.; ANEZ, N.; SHAVv',IJ.; STEVENS, LR.; TEIXEIRA,
futuramente. NLM. Plrylogeny; taxonomy and grouping of Trypanosoma rangelí
isolates from man, triatomines and sjrlvatic mammals from
*Nidespread geograptúcal origin based on SSU and ITS ribosomal
sequences. Parasitologia v: 129, pp. 549-561, 2004.
GRISÀRD, EC.; STEINDEL, M.; GUARNERI, &JL; EGER-MAN-
GRIC-H, I.; CAMPBELL, DA.; ROMANHA, AJ. Characterization
O diagnóstico da infecção por 'L' rangeli em humanos e ou- of Trypanosoma rangeli strains isolated in Central and South
tros mamíferos pode ser realizado por meio da demonstração America: an overview. Mem. Inst. Osvaldo Cruz, v. 94, pp. 203-209,
do parasito em esfregaços de sangue cotados pelo Giemsa, 1999.
hemocuttura em meios axénioos como o LIT e meios bifásicos GUHL, F.; VALLEIO, GA. Trypanosoma(Herpebosoma) rangeli Tejera,
1920: an updated review. Mem. Inst; Osvaldo Guz, v. 98, pp. 435-
como NNN (NOVY, Nicolle e McNeal), ou ágar-sangue + LIT,
4-42, 2003.
xenodiagnósticoespecialmente utilizandotriatomíneos do híEIRELLES, KM.; HENRIQUES-Polis, A.; SOARES, MJ.; STEIN-
género Rhodnius. Entretanto, esses métodos são pouco efi- DEL, M. Penetration of the
cientes devido às baixas parasitemias determinadas por esse
parasito em seus hospedeiros vertebrados. O método clássi-
co de identificação de 'II rangeli em triatomíneosbaseia-se no
encontro de formas típicas do flagelado na hemolinfa e nas
glândulas salivares e na sua transmissão ao mamífero pela pi-
cada. Cabe aqui salientar a comprovada relação de suscetibi-
lidade das cepas com as espécies vetoras locais, o que pode
influenciarna qualidade do xenodiagnóstico e, conseqüente-
mente, nos seus resultados.
Não existem métodos sorológicos específicos para o diag-
nóstico da infecção por 'II rangefi. Contudo, técnicas mole-
culares, como a reação da cadeia da polimerase (PCR, do
ingléspolymerase chain reaction) e a hibridização com sondas
espécie-específicaspara detecção de ácidos nucléicos, especial-
mente o DNA de cinetoplasto (kDNA), apresentam altas
sensibilidadee especificidade e podem ser empregadas no
diagnóstico diferencial 'll rangelif'IÍ cruzi em ambos os hospe-
deiros. Estudos em andamento do perfil antigénico compara-
tivo de formas tripomastigotas desses dois parasitos,
revelados por soros de pacientes chagásicos com diferentes
formas clínicas da doença,poderão identificar antígenos es-
pécie-específicos, melhorando assim a sensibilidade e a
especificidade dos testes sorológicos.
(página deixada intencionalmente em branco)
Toaçopllmnose
Vicente Amato Neto
Antônio Alci Barone
150 Parasitologia -
uma abordagem clínica
INTRODUÇÃO país para pais, sendo irariável, por isso, o grau de participação
de cada espécie animal na transmissão indireta da toxoplas-
A toxoplasmose foi reconhec.ida nas últimas décadas como mose para o homem, nas diferentes regiões do mundo onde
foram realizados estudos relativos a essa questão.
significativo problema médico-sanitário,principalmente por (j) primeiro caso de toxoplasmose humana (forma presu-
causa da gravidade das seqiíelas associadas com a forma
Inivelmente congênita) foi descrito em Praga, por lanku, em
congênita e a forma ocular isolada da doença. A importân- 1923, em hidrocéfalo com l l meses de idade. Nas décadas
cia da toxoplasmose tornou-se ainda maior a partir da déca-
de 1920 e 1930, WÍIÍOS casos de toxoplasrxtose congênita foram
da de 1980, com sua ocorrência mais comum, que apresenta
observados e registrados na literatura. Os primeiros casos de
mau prognóstico em pessoas imunodeprílnidas, especiahnen-
te em enfermos com AlDS, já que é uma das infecções opor- toxoplasmose em adultos, com isolamento do parasito, fo-
ram desc.ritos em 1940 nos EUA. Até os anos 1940, acumulou-
tunistas observadas com maior freqüência nesses doentes.
se o registro de ocorrências isoladas da doença, tanto em
A incidência da toxoplaslnose em indivíduos imunoconi-
petentes é alta em muitos paises, inclusive no Brasil. 'lanto a
crianças quanto em adultos, só se tornando possível o co-
nhecimento da verdadeira prevalência da toxoplaslnose, em
infecção adquirida quanto a congênita passam freqüentemente xfárias regiões do mundo, com o advento, em 1948, do teste
despercebidas, ocorrendo muitas; vezes sob forma inaparente sorológico de Sabin-Feldman, também denominado teste
ou oligossintomática; no entanto, nas regiões do nosso e de
do corante (dye-test). !Minutos anos depois, estabeleceu-se que
outros paises onde grande parcela da população é acometi-
'lí gondii é um coccídeo e que seu hospedeiro definitivo é o
da, a morbidade da toxoplasmose alcança índices elevados.
Embora muitos aspectos da toxoplasmose ainda não te- gato. Estima-se hoje que a infecção por 'L' gondií atinja mais
de um bilhãode pessoas, em todos os continentes.
nham sido completamente esclarecidos, é justo ressaltar a
No seu cic.lo biológico, caracterizam-seformas ou estágios
contribuição de diversos pesquisadores brasileiros na eluci- evolutivos. O taquizoíta (antigamente denominado forma li-
dação de questões básicas que levaram ao reconhecimento da vre ou trofozoíto) tem forma de arco, com aspecto de banana
importância dessa protozoose no campo das doenças infec- ou meia-lua, ovóide ou pirifortne, apresentando uma extre-
ciosas luunanas. Esses estudos foram realizados, entre outros,
midade arredondada e a outra ligeiramente añlada; em mé-
por Splendore, Reis, Nóbrega, Delascio, Fialho e Meira, envol- dia, seu comprimento é de 6 um e seu diametro é de 3 um
vendo a morfologia e a biologia do parasito, a doença con-
(Figura 21-1). Quando corado pelo método de Giemsa, vê-
gênita, o acometimentoocular e outras alterações de ordem se o núcleo redondo, em posição central, de cor vermelha, e
clinica.
o citoplasma azulado. Na fase inicial ou aguda da infecção, os
taquizoítas estão presentes no sangue em grande número,
i
de vacúolo citoplasmático da célula infectada; ao contrário dos para o homem e a inter-humana não-congênita, apesar de se
taquizoítas, pode alcançar grande volume sem provocar a encontrar registro na literatura de sua ocorrência, em casos
ruptura da célula. A fomia do cisto é variável, de acordo com isolados; o fato é que, na prática, essa possibilidadenão tem
o tipo de tecido em que se encontra, mas geralmente é arre- importânciaepidemiológica. No homem, embora se tenha
dondada. Os cistos são encontrados habitualmente, além de isolado 'L' gondii da saliva, na fase aguda da infecção, não há
outras células, no interior de miócitos (em músculos esque- evidência suficiente da possibilidadede transmissão do para-
léticos e no miocárdio) e de neurônios (no encéfalo), onde sito pelo beijo ou por gotículas oriundas da boca; é provável
podem permanecer viáveis durante muitas décadas, talvez que o inóculo necessário para que a transmissão inter-hu-
durante toda a vida do hospedeiro. O tamanho de cada um mana se efetive seja maior do que a quantidade de parasitas
deles varia de 10 a 200 um, contendo poucos ou até cerca de habitualmenteencontrados na saliva. Em surtos epidêmicos
3.000 microorganismos. O congelamento, o descongelamen- de toxoplasmose não se observaram casos secundários da
to, a dessecação, o aquecimento a 66°C e o resfriamento a doença, cuja origem estivesse vinculada à transmissão inter-
-l2°C destroem ou tornam os cistos inviáveis. humana.
Os cistos podem liberar bradizoítas, fato que ocorre na Não há evidências epidemiológicas que indiquem a parti-
reativação da infecção por 'IÍ gondii, observada na toxoplas- cipação de artrópodes como vetores biológicos na transmis-
mose ocular e na encefalite, que pode ocorrer invariavelmen- são da toxoplasmose. Moscas e baratas podem atuar como
te em pessoas imunodeprimidas, freqüentemente em doentes veículos de oocistos; estes podem ser ingeridos por tais inse-
com AIDS. tos, atravessar o tubo digestivo sem sofrer alterações e ser
eliminados no ambiente, contaminando ocasionalmente ali-
mentos que vão ser consumidos pelo homem.
'Pambém já foi documentada a transmissão de 'II gondii
por intermédio de transplante de órgãos. Embora viável,
Com base no resultado do teste sorológico (reação de Sabin- ainda não se conhece o significado da participação das trans-
Feldman) e no isolamento do parasito em diafragma de ani- fusões de sangue na transmissão da toxoplasmose. O sangue
mais, Jacobs e cols. (1960) demonstraram a presença de de pessoas corn toxoplasmoseaguda pode veicular o parasi-
infecção em 24,0% dos porcos, 9,3% dos cameims e 1,7% dos to e induzir a infecção em acidentes de laboratório, por in-
bovinos estudados. No Brasil, Jamra e cols. (1969) encontraram termédio da ingestão ou de contaminação da pele, em áreas
cistos de 'Ihxoplasmcrgondii em 7% das amostras de carne de com soluções de continuidade. Também não é bem conheci-
(68,8%) das 1.246 gestantes examinadas incluídas no estudo, mais volumosa à infecção.
-
a maioria delas (1.028 = 82,5%) com 16 a 30 anos de idade; Quer quando ocorre a doença, quer quando se verifica
i.e., 31,2% das gestantes, nesse inquérito soroepidemioló- apenas infecção inaparente, o 'II gondii mantém-se no orga-
gico, eram suscetíveis à toxoplasmose. Baruzzi (1970) demons- nismo da maioria das pessoas acometidas (principalmente
trou 52% de soropositividade para toxoplasmose entre os em músculos esqueléiicos e no cérebro) sob forma de infec-
índios do Alto Xingu, no Brasil Central. ção latente, que muitos anos depois de instalada pode sofrer
Inquéritos soroepidemiológicos realizados em grávidas, em reativação, quase sempre em pessoas irnunodeprirnidas. A
diversos paises de vários continentes, indicaram ser muito partir da década de 1980, a neurotoxoplasmosepassou a ser
variável a prevalência da positividade dos testes sorológicos freqüentementediagnosticada em doentes corn AIDS.
para toxoplasmosenessas mulheres (Tabela 21-2).
Das gestantes estudadas por Deláscio na década de 1950,
em São Paulo, 28% apresentavam teste sorológico positivo
Bangcoc Tailândia l 3%
Barcelona Espanha 50%
Basiléia Suíça 53%
Berlim Alemanha 54%
Bruxelas Bélgica 53%
Cascblonoa Marrocos 51 %
Chiang Nloi Tailândia 3%
Nava nas¡ Índia 2%
Esirasburgo França 36%
Genebra Suíça 42%
l
Hiogo Japão 6%
launde Camarões 77%
lbadan Nigéria 78%
hilainoe Suécia 40%
Melbourne Austrália 4%
Paris França 72%
Pairas Grécia 52%
Santiago Chile 59%
Stuigari Alemanha 36%
Túnis Tunísia 46,5%
Viena Áuslría 3 6,7%
FIGURA 21-2 Ciclo de vida de Toxoplosmogondíi. 1, Gatos a ser detectada em títulos baixos durante l ano ou mais. Os
eliminam oocístos que amadurecem ll). 3, Homem adquire a doença anticorpos da classe IgA parecem ser mais sensíveis que os da
por meio da ingestão acidental destes CHJCÍSÍDS maduros ou da classe IgM para o diagnóstico da toxoplasmoseno feto (liqui-
ingestão de alimentos de animais contendo cistos com bradizoítas do amniótico) e no recém-nascido (sangue), embora ambos
(3). 4, No homem, ou nos outros hospedeiros, a doença ocorre com possam persistir no sangue durante 6 a 12 meses. Na toxo-
a formação de taquizoitas que posteriormente formam cistos de plasmoseaguda, em adultos, os anticorpos IgA também apa-
bradizoítas no tecido. 5, Btes bradizoítas também podem transmitir recem mais tarde e desaparecem mais precocemente que os
a toxoplasmose, se ingeridos. anticorpos IgM, embora também possam ser detectados du-
rante período prolongado (às vezes mais que l ano depois de
ter se instalado a infecção), à semelhança do que se pode ve-
rificar com os anticorpos da classe IgM.
Os anticorpos especíñcos anti- 'Ibxoplasmagondii da classe
já se mencionou que grande número de espécies de mamífe- IgG já estão presentes no soro a partir da 35 ou 4-' semana de
ros (mais de 200) e de aves pode ser acometidopor 'lí gondñ; evolução da toxoplasmose(depois do aparecimento de IgM
quase todas as espécies de animais homeotérmicos são sus- e IgA),alcançando a seguir altas concentrações, que passam a
nita [invariavelmente subclinica) por '13 gondiz', a reativação risco de infecção fetal é mínimo quando a mãe é acometida
tardia de focos retinianos é responsável pela toxoplasmose 8 semanas ou mais antes da data da concepção. Desmonts e
ocular, diagnosticada em adultos e crianças maiores. Sabe-se cols. (1990) observaram cinco casos de recém-nascidos que
hoje que a toxoplasmose ocular pode ser conseqüente à adquiriram a toxoplasmosede mães que tinham sofrido a in-
reativação tardia de focos resultantes não só de infecção con- fecção antes da gravidez; quatro dessas mulheres, no entan-
gênita, mas também de infecção adquirida mais tarde, na in- to, ünham infecção latente que se reativou em vigência de
fância ou na idade adulta. outra enfermidade acompanhada de ímunodepressão (lúpus
eritematoso sistêmico em duas, doença de Hodgkin em uma.,
pancimpenia em outra); a quinta mulher, imunocompetente,
e
apresentou toxoplasmoseaguda, conñrmada sorologicamente
2 meses antes da fecundação. Apesar de essa última ocorrên-
A grande maioria das infecções causadas por '12 gondii em se- cia ser possível, só se observa raramente. Sabe-se hoje que re-
res humanos, congênitas e não-congênitas (adquiridas), cém-nascidosde mães com AIDS e toxoplasmoselatente estão
transcorre de forma assintomática (infecção inaparente). As sob risco signiñcaüvo de apresentar toxoplasmosecongênita.
quatro principais apresentações da toxoplasmose-doença A infecção materna primária por 'li gondii é inaparente em
são: (1) infecção primária (primoinfecção) em imunocom- 80% a 90% dos casos. Quando a ocorre a doença, manifesta-
petentes; (2) infecção progressiva em imunocomprometidos; se na maioria dos casos sob a forma linfoglandular.
(3) infecção congênita; (4) coriorretinite isolada. Em 30% a 40% das gestações de mulheres irnunocom-
Em pessoas imunocompetentes, as formas clínicas mais petentes, que sofrem infecção primária por 'Ibvwplasmagondii
comuns são constituídas pela toxoplasmoseadquirida aguda durante a gravidez, verifica-se a transmissão do parasito ao
benigna (forma linfoglandular) e pela toxoplasmose ocular feto. O risco de transmissão aumenta com o decurso da gra-
tardia, em crianças e adultos. A toxoplasmosecongênita, em videz, sendo de aproximadamente 15% no primeiro, 30%
recém-nascidos, tem características peculiares em virtude da no segimdo e 60% no terceiro trimestre. Se houver infecção
imaturidade do sistema imunológico do feto e do recém-nas- do feto, o risco de morte ou de lesões graves fetais é inversa-
cido. Em imunodeprimidos, parücularmente em indivíduos mente proporcional à idade da gestação, no momento em que
com AIDS, a reativação da infecção latente pode causar do- se veriñca a infecção materna. Quando a mãe é infectada no
ença grave, cuja forma clínica mais comum é a encefalite primeiro trimestre, a maioria das gestações é interrompida
(quadro clinico descrito no Capítulo 22). por abortamento espontâneo ou morte fetal, ou o recém-
nascido apresenta doença grave. Quando a mãe sofre a infec-
ção primária no 33 ou no 25' trimestre, apenas 5% e 15% dos
Toxoplasmose congênita recair-nascidos, respectivamente, apresentam sinais de doença
aonascimento.
A toxoplasmose congênita somente ocorre quando a mãe Foi de 7,4% a incidência da toxoplasmosecongênita, se-
sofre infecção primária por 'IÍ gondii durante a gravidez; o gundo a idade gestacional e a época da infecção materna du-
156 Parasitologia -
uma abordagem clínica
rante agravidez, em 2.632. fetos estudados por Hohlfeld e cols.
(1994); pode-se observar na Tabela 21-3 que as taxas de in-
fecção congênita foram muito maiores quando a infecção
materna ocorreu no 2° e 110 3' trimestre da gestação.
À semelhança do que se observa em outras infecções con-
gênitas, a maior gravidade da infecção fetal por 'E gondíi que
ocorre no início da gestação está relacionada com a sensibili-
dade dos tecidos fetais imaturos à agressão do parasito, com
a existência da barreira placentária, que separa o feto dos
mecanismos de resposta imune (humoral e celular) da mãe
e com a imaturidade imunológicaprópria do feto. Dos infec-
tados por
Toxoplasmose 157
ToxoplasmoseAdquirida em
Imunocompetentes
FIGURA 21-5 Fundo-de-olho demonstrando coríorretínite por I
gondir'. Antes de analisar os aspectos clínicos da toxoplasmose adqui-
rida (também denominada não-congênita ou pós-natal),
deve-se ressaltar que cerca de 90% das pessoas imunocom-
a primoinfecçãocongênita, a reativação ocorre quase sempre pete11tes acometidasprimariamentepor 1' gondii apresentam
na adolescência ou na vida adulta (adultos jovens). A infec- infecção inaparente, com o aparecimento no soro de anti-
ção ocular por 'IÍ gondii, como citamos, atinge primariamen- corpos especíñcos de modo semelhante ao que se observa nos
te a retina, determinando o aparecimento de uveíte posterior indivíduos que apresentam manifestações clinicas após a in-
(ooriorretinite), acompanhada muitas Vezes de uveíte ante- fecção. Como se verifica em muitas moléstias transmissíveis
rior (iridociclite), secundária à coriorretinite. causadas por outros patógenos, a toxoplasmose-infecção
As calcificações cerebrais localizam-se habitualmente predomina amplamente em relação à toXoplasmose-doença.
em córtex, núcleos da base e tálamo. Foram encontradas em O período de incubação da toxoplasmoseadquirida não é co-
60,1% dos casos estudados por Deláscio (1956), em doentes nhecido com precisão absoluta; foi de 10 a 23 dias em surto
com quadro clínico de toxoplasmosecongênita, em época que teve como fonte comum a ingestão de carne mal cozida,
anterior à existência da tomografia axial computadorizada. e de 5 a 20 dias em outro surto, em que a infecção resultou
Segundo Deláscio (1956), 42,9% e 16,6% desses doentes apre- de contato com gatos.
sentavam, respectivamente, hidrocefalia e microcefalia; a A forma linfoglandularda toxoplaslnose é a forma clínica
coriorretinite estava presente em 75,2% dos casos com hidro- com que a doença se apresenta com maior freqüência em
cefalia ou Inicrocefalia. pessoas imunocompetentes, sendo acometidos na maioria dos
Quanto ao retardo mental, observa-se em 1% a 10% das casos os gânglios linfáticosda cadeia cervical, sobretudo os da
pessoas que sofreram infecção congênita; nos pacientes que cadeia cervical posterior; também podem estar hipertrofiados,
apresentam alterações clínicas evidentes ao nascimento, o isolada ou concomitantemente com os da cadeia cervical, lin-
diagnóstico de retardo mental acaba sendo feito em 80% a fonodos de outras localizações: axilares,retroauriculares,sub-
90% dos casos. mandibulares, suboccipitais, supraclaviculares e, mesmo,
Também podem ser encontradas em crianças com to- mesentéricos, retroperitoneais e, raramente, mediastinais. A
xoplasmosecongênita as seguintes alterações: a) neuro- linfadenomegalia,portanto, pode ser generalizada ou locali-
lógicas: paralisias espásticas, hipotonia, déficit visual e zada, eventualmente unilateral ou se limitando a um só
surdez; b) miocardite; c) pneumonia intersticial; d) erup- gânglio, constituindo, às vezes, manifestação clinica isolada da
ção cutânea de vários tipos (macular, papular, maculopa- doença. Os gânglios hipertroñados (quase sempre nume-
pular etc.); e] púrpura trombocitopênica, associada ou rosos, bilateraise simétricos_) são geralmente lisos, ñrmes
não a petéquias, equimoses ou hemorragias cutâneas ex- ou elásticos, indolore¡ ou sensívás à palpação, nàb-coalescentes
tensas; f) comprometimento de adrenais, pâncreas, rins e e não-aderidos a planos profundos, medindo cada um pou-
tireóide. cosmilímetros a até 3 cm de diâmetro; não ulceram nem
As alterações neurológicas são detectadas na atualidade, supuram; em alguns casos encontraiu-se amolecidos efou
com maior freqüência e precisão, recorrendo-se à ultra-sono- confluentes, formando massas que induzem à suspeita de
graña, à tomografia axial computadorizada e à ressonância doençamaligna.
magnética. A propósito, é importante ressaltar que o exame Junto à hipertrofia ganglionarocorre febre, em 40% a 70%
clínico minucioso, associado ao emprego dos modernos dos casos, com intensidade variável, geralmente baixa; pode,
exames complementares, tem possibilitadoa detecção de al- no entanto, ser elevada, contínua ou com ocorrência apenas
terações orgânicas em recém-nascidos assintomaticosinfec- Vespertina. A febre não se evidencia em todos os casos da for-
tados por 'll gondíí. ma linfoglandularda toxoplasmoseadquirida; Amato Neto
158 Parasitologia -
uma abordagem clínica
e cols. (1973) observaram sua ausênciaem pelo menos 27% a instalação de coriorretinite que, quando se manifesta, é ge-
dos doentes que eles estudaram; quando presente, a febre per- ralmente unilateral.
siste não mais que l mês, às vezes durando poucos dias, ma- Uma variedade clínico-evolutivada forma linfoglandular
nifestando-sc quase sempre no período vespertino. Astenia, da toxoplasmoseadquirida é a denominada“forma tifoídica”,
anorexia, mal-estar geral e cefaléia são queixas comuns. cujo quadro clinico e hematológico, na fase inicial da doen-
Hepatoesplenomegalia é encontrada em aproximadamente ça, é semelhante ao da febre tifóide; somente depois de algums
U3 dos casos. Além disso, podem ser também observados dias ou semanas o hemograma apresenta-se com linfocitose
outros sintomas e sinais, tais como mialgias, artralgiazz, odi- e linfócitos atípicos, e ocorre o aparecimento de hipertrofia
nofagia, sudorese noturna e erupção cutânea. O quadro clí- ganglionar, caracterizando-sea forma linfoglandularda ÍOXO-
nico assemelha-se, às vezes, ao da mononucleose infecciosa plasmose.Alguns especialistas brasileiroschamaram a aten-
[nos EUA correspondem a menos de 1% dos casos da síndro- ção para formas clínicas da toxoplasmose em que predomina,
me da mononucleose), circunstância em que o leucograma se no início do quadro, o comprometimento de múltiplas arti-
apresenta com linfocitose e alta porcentagem de linfócitos culações, induzindo a hipótese diagnóstica inicial de doença
atipicos. A presença de linfocitose com pequena porcentagem reumática ou doença reumatóide. Deve-se também assinalar
de linfócitos atípicos não é incomtun na toxoplasrnoseadqui-
que, em casos esporádicos de toxoplasmoseadquirida, isola-
rida. Há casos e1n que a linfadenomegalia,acompanhada ou damente ou como parte do quadro da forma linfoglandular,
não de febre, é o único sinal com que a doença se apresenta. pode haver alterações predominantes de músculos esque-
A forma linfoglandular da toxoplasmoseadquirida cosm- léticos, sugerindo o diagnóstico de outras doenças, em que a
ma ser benigna e autolimitada., com desaparecimento espon- miosite é a principal manifestação.
tâneo das manifestações clínicas no ñm de algumas semanas; Embora já ocorresse com maior freqüência em irnuno-
em alguns casos não-tratados, os sintomas e sinais podem
deprimidos, desde o início dos anos de 1940 foram relatados
persistir durante diversas semanas ou meses. A astenia pode vários casos de encefalite causada por 'II gondii em pessoas
perdurar por tempo um pouco maior, sendo a linfadeno- imunocompetentes; rexrendo 45 casos de toxoplasmose do sis-
megalia a última alteração a desaparecer, permanecendo tema nervoso central, registrados na literatura, 'lbwsend e
[obviamente em grau menos intenso do que se apresentava cols. (1975) concluíram que 22 deles não apresentavam ne-
na época da instalação dos sintomas) durante vários meses,
nhum tipo de imunodeficiênciareconhecível na ocasião do
raramente por mais de l ano.
diagnóstico.
Topi e cols. (1979) relataram, a propósito das alterações
cutâneas da toxoplasmoseadquirida, a possibilidadeda ocor-
rência de vários tipos de acantema (maculopapular,petequial, Toxoplasmose Ocular
vesícula-hemorrágica e papulobolhoso, entre outros); no en-
tanto, o aparecimento de exantema na toxoplasmoseadqui- Na coriorretinite, as lesões podem ser isoladas ou múltiplas,
rida é incomum. uni ou bilaterais. Já mencionamos que, na toxoplasmose ad-
A hepatite causada por 'IÍ gondií foi demonstrada ocasio-
quirida, em pessoas imunologicamente normais, a ocorrên-
nalrnente, tanto como manifütação isolada da doença quanto cia de coriorretinite é pouco freqüente, limitando-se quase
como parte do quadro da forma linfoglandular. Em nosso
sempre a apenas um dos globos oculares; alguns autores con-
país, no estudo realizado por Pedro e ools. (1979) sobre o com- sideram que a ocorrência de coriorretinite como parte do
prometimento hepático na forma linfoglandular da toxo- quadro clínico da toxoplasmose pós-natal é mais comum do
plasmoseadquirida, chama a atenção o acl1ado relativamente que se admitiu no passado. Na toxoplasmosecongênita, a co-
comum de hepatomegalia (_66,7% dos casos) e de hipertran- riorretinite ocorre em cerca de 75% dos doentes, podendo, em
saminasemiadiscreta ou moderada (em cerca de 1/3 dos ca- casos muito graves, ser acompanhada de glaucomae desco-
sos); esses autores irão observaram nenhum doente com lamento de retina.
icterícia e, no exame histopatológico de fragmentos de fígado Como manifestação isolada e tardia da toxoplasmose em
obtidos por biopsia, foram evidenciadas, predominantemen- pessoas irnunologicamente normais, a coriorretinite mani-
te, alterações inñamatórias, com inñltrado mononuclear em festa-se habitualmente na adolescênciaou na vida adulta (em
espaços portais, além de hipertrofia e hiperplasia focais ou
-
3. Teste imunossorvente por aglutinação (ISAGA) para reta na primeira semana de infecção, alcançandoem seguida
IgM > 8; altos titulos (_I:64; 1:l28 ou mais) e desaparecendo depois de
4. I-lemaglutinaçãoindireta (IgG): 2 121.000; algumas semanas ou meses (eventualmente, baixas concen-
5. Fixação do complemento (IgG): 2 1:4; trações são encontradas no sangue até l ano depois). Anti-
6. Aglutiilaçãodireta (IgG): 2 1:20 (geralmente títulos corpos antinucleares e o fator reumatóide podem induzir
altos: 2 512); resultados falso-positivos de IgM, nesse tipo de teste; por esse
7. Teste imunoenzimático (ELISA) para IgA: 2 1,4. motivo, sempre que possível recorrer ao teste imunoen-
t Para toxoplasmosecongênita (no recém-nascido): zimático por captura ou ao ISAGA para pesquisa de IgM.
l. Imunotluorescénciaindireta: IgM 2 1:16 (resultados As imunoglobulinasespecíficas da classe IgG são demons-
falso-positivos nos primeiros 10 dias de vida; baixa tradas por imunofluorescênciaindireta, na toxoplasmose
sensibilidade [positividade em apenas 20% a 30% adquirida, l a 2 semanas depois de a infecção ter ocorrido, al-
dos recém-nascidos infectados] e resultados falso- cançando altos títulos (l:4.000, 1:8.000, l :I6.000, 1:32.0DO ou
positivos mesmo depois do IO” dia de vida); mais) 6 a 8 depois; em seguida, caem até alcançar
semanas
2. Teste imunoenzimático (ELISA) por captura para baixos títulos (11256, 1:64 ou 1:16), que costumam persistir
IgM 2 0,2; prolongadamente, talvez durante toda a vida. A quadrupli-
3. 'leste imunossorvente por aglutinação (ISAGA) para cação do título de IgG, em periodo de 3 semanas, é indicativa
IgM 2 3; de infecção atual por 'II gondii. As imunoglobulinas da classe
4. Hemaglutinaçãoindireta (IgG): 2 1:16 (geralmente IgG presentes no sangue do recém-nascido podem corres-
o mesmo titulo da mãe); ponder apenas a anticorpos transferidos da mãe para o feto; só
5. Fixação do complemento (IgG): 2 1:4 (geralmente o são valorizados para o diagnóstico de toxoplasmose congê-
da mãe);
mesmo título nita quando seus títulos são ascendentes (quadruplicação em
6. Aglutinação direta (IgG): 2 1:20 (geralmente o mes- soros colhidos com intervalo de 3 semanas).
mo título da mãe); Como os anticorpos da classe IgM podem continuar a ser
7. Teste imunoenzinlático (ELISA) para IgA: 2 1,0. detectados durante muitos meses (às vezes, mais de l ano),
Na fase latente (“crônica”) da infecção por 'll gondií são os em alguns casos pode-se recorrer ao uso combinadoda pes-
seguintes os resultados dos testes sorológicos habitualmente quisa de IgA (e, eventualmente, também de IgE) para confir-
encontrados: mação mais precisa do diagnóstico de infecção aguda. Os
l. Imunofluorescénciaindireta; IgM = negativo ou, no anticorpos anti-II gondii da classe IgA são detec.tados (em
máximo, 1:16; (pode persistir positivo durante vários cerca de 80% dos casos) sempre mais tardiamente que os da
meses, eventualmente por l ano ou mais); IgG = 1:16 classe IgM, persistindo durante tempo mais curto (em geral
a 1:l.024; durante 3 a 6 meses, prazo que pode variar de 1 a 18 meses);
2. Teste imunoenzimático (ELISA) por captura para IgM os da classe lgI-l também aparecem mais tarde que os da classe
(pode persistir aumentadadurante vários meses, even- IgM e persistem durante 4 meses em média, embora even-
tualmente por mais de 1 ano): negativo ou, no máxi- tualmente possam ser detectados até o 8° mês. Na maioria
mo, 1,27; dos adultos, a concentração de IgA atinge concentração sérica
P” Hemaglutinaçãoindireta (IgG): 1:16 a 1:1.000; máxima 2 meses depois do início da infecção, diminuindo em
4. Fixação do complemento (IgG): negativo ou, no má- seguida; se a IgA anti-'II gondii não for detectada, a infecção
ximo, 1:8; ocorreu provavelmente mais que 3 meses antes; nos fetos e
5. Aglutinação direta (IgG): 2 1.000 (com diminuição recém-nascidos infectados, a IgA é mais sensível que a IgM
lenta). para o diagnóstico de toxoplasmosecongênita.
Nos testes de captura de anticorpos IgM-anti-Tcxxoplxzsma O teste de hemaglutinaçãoindireta não detecta anticorpos
gondii, além do teste ELISA, estes podem ser evidenciados IgM nem anticorpos IgG com baixa avidez, no estágio inicial
pela aglutinação de 'L' gondii, Ile., pelo teste imunossorvente da infecção, quando já são demonstrados pelo teste de imu-
por aglutinação ou [SAGA (inzmunosorbenr agglurination notluorescênciaindireta titulos elevados de lgG-anti- 1' gondií;
assay). Para a pesquisa de anticorpos anti-1' gondii das classes nessa fase, os anticorpos da classe IgG ainda se encontram
IgA e [gli, úteis para o diagnóstico de infecção aguda, empre- em títulos baixos na pesquisa efetuada pelo teste de hema-
ga-se o teste imunoenzimático (ELISA) convencional, o teste glutinação indireta, fato que dá fundamento em associação
-
imunossorvente de aglutinação (ISAGA) ou a mesma técnica com a positividade da IgM, pesquisada por outros métodos
-
aodiagnóstico de infecção aguda. Em outras palavras, o
teste de hemaglutinaçãoindireta é usualmente negativo na fase
inicial da toxoplasmoseaguda, quando a imunofluorescéncia
indireta
-. 162 Parasitologia - uma abordagem clinica
QUADRO 21-1 Tratamento específico da toxoplasmose [apud Amato Neto e cols. (1995), Beaman e cais.
[1995], Bayer e coIs. (1998) e Roberts e cols. [1998]
Tipo de Doença Esquema e Dose de Medicamentos
de Hospedeiro Medicamentos Adminrstrados por Via Ora¡ Duração do Tratamento
Crianças:
-
time
de ataque: 75 mg/kg; depois, Durante 4 a ó semanas, ou
100 mg/kg/dia, em frações iguais administradas até 2 semanas depois do
de ó/Ó h desaparecimento completo
dos sintomas e sinais
+
- Pirimetamina -Adultasz 75 mg, na 1° dia; depois, 25 mg, em dose Igual à da sultadiazina
única diaria, de manhã
-
Crianças: dose de ataque: 2 mg/kg/día (maximo de
50 mg/dia] durante 2 dias; depois, 1 mg/kg/dia
[máximo de 25 mg/diol, em dose única, de manhã
+
_ Ácido iolinioo -Adultosz 10a 15 mg/dia Igual à da suliadiazina
-
Crianças: dose única de 5 a 20 mg, três vezes por
semana [às segundas, quartas e sems-teiras)
Coriorretinite -Adultosc 1g de 6/6 h
-
Crianças: dose de ataque: 75 mg/kg; depois, 4 a 6 semanas
100 mg/kg/día, em frações iguais administradas Durante 4 a ó semanas, ou até
de 6/6 h 2 depois do
semanas
desaparecimento completo dos
sintomas e sinais
+
- Pirimetamina -Adultas: 75 mg, na 1° dia; depois, 25 mg, em dose Igud à da sulfadiazina
únioa diaria, de manhã
-
Crianças: dose de ue: 2 mg/kg/dia (núximo de
50 mg/dia] durante 2 dias; depois, 1 mg/kg/día
[maximo de 25 mg/dia), em dose únioa, de manhã
+
-
Ácido tolinioo -Adultom dose única diária de IO a 15 mg Igual à da pirimetamina
-
Crianças: dose única de 5 a 10 mg, três vezes por
semana [as segundos, quartas e sextasieiras)
+
- Prednísona -Adultast iniciar com dose únioa diária [às 8 h] de Variável de aoordo com a
40 mg ou 60 mg. Reduzir 5 mg [ou mais), de 5/5 dias conduta adotada [duração
e, depois, com a melhora das lesões retinianas maxima igual ã da sulladiazinal
demonstrada por tundoscopia, de 3/3 dias, até a
suspensão do seu uso
-Criançasz 1 mg/kg/dia, em frações iguais Durante as 3 primeiras semanas
administradas de 12/ 12 h ou até o desaparecimento do
atividade das lesões retinianas**
Toxapiasmose '63-
fim do graviiíesiaçõo
semanas da
z ou
caso não se
até o
pancreatite) também foram descritas, porém raramente em da em pacientes com AIDS. Porém, este dado não é padrão
enfermos com AIDS. entre as populações do mundo, chegando a ocorrer diminui-
Crianças com toxoplasmosecongênita, ñllias de mães com ção na presença de HIV. Em pacientes transplantados e sob
AIDS, podem também ter sido infectadas pelo vírus da imu- uso de corlicóides, a prevalência também é superior quando
nodeficiênciahumana; a toxoplasmosecongênita, em crianças comparada à de pessoas hígidas. Além do aumento da pre-
com AIDS, costuma apresentar evolução mais grave, cursan- valência., pacientesimunossuprimidos apresentam maior gra-
do freqüentemente com febre, hepatoesplenomegalia, co- vidade dos quadros de colite, podendo evoluir para colites
riorretinite, convulsões, miocardite e pneumonia. A AIDS é a agudas necrosantes e óbito.
única situação em que a reativação de infecção latente por Outras amebas, incluindo aquelas de vida livre que cau-
'IÍ gondii pode provocar infecção congênita. Obviamente, as sam quadros neurológicos (Naegletia
l
ç l
Doenças causadas por protozaários em pacientes ¡munocomprometidos
mas sua incidência parece não estar aumentadanesse grupo de HIV em gestantes com malária é um item ainda sujeito a
de pacientes; também, não parece haver aumento da sinto- controvérsias.
matologia e gravidade do quadro clínico.
A co-ixifecção por malária e HIV apresenta aspectos ain-
da polémicos, sobretudo naquilo que diz respeito à evolução
da malária em pacientes com HIV-AIDS; tal tema é rele-
vante, uma vez que, no continente africano, sobretudo na Markell and Tiago's Medical Parasitologia 8'** ed_ Philadelphia, USA.
África subsaariana, as duas infecções são endêmicas de forma Saunders.
importante. Estudos dos anos de 1980 não demonstraram Nlorbídityand MortalityWeekly Report, v. 49, 2000. Guidelinesfor Pre-
venring Opporfunístíc Infectious Among Hematopoietic Stem Cell
que a infecção malária tivesse um curso clínico agravado nos ThznspkzntRecipients.
pacientes com infecção por HIV; no entanto, observações
mais recentes revelaram que a malária nesses pacientes pode
ser revestida de maior gravidade. Quando essas duas infec-
- Schistasmna mta-caiam!!!
&hâstosoma making¡ - S. manmni/SZ haematobíum i7
Schistaroma mazzsani - Schisfosomcuaporttcum
. .
o acasalamento e a postura dos ovos tem lugar, na maioria recordar que, em situação normal, cerca de 70% da irrigação
das vezes, nos ramos proximais da veia mesentérica inferior do fígado provém da veia porta e os outros 30% da artéria
[plexo hemorroidário). Alguns ovos atravessam o endotélio hepática. Com a evolução do processo, a participação relati-
dos vasos, a submucosa e a mucosa do reto, atingindo a luz va da veia porta e artéria hepática gradualmente se inverte.
intestinal, onde são eliminados nas fezes, ganhando, assim, o Estudos recentes revelam que a fibrose de Symmers, obser-
meio ambiente (Figura 23-2). vada na esquistossomose, pode ser reversível com a elimina-
178 Parasitologia -
uma abordagem clínica
ção da parasitose por meio do tratamento medicamentoso. Durante a fase aguda, as células mononucleares do san-
Este processo ocorrerá com maior intensidade quanto mais gue periférico são capazes de produzir grandes quantidades
recente for o processo ñbrótico. Na fibrose recente, predomi- de 'fNF-a, lL-l e lL-6, revelando um perñl Thl de resposta
na o colágeno tipo lll, de molécula instável e mais sujeita à imune celular, ou seja, uma resposta pró-inflamatória.Pro-
ação das colagenases;já nos processos mais antigos, predo- vavelmente, à medida que a infecção evolui, antígenos do
mina o colágeno tipo l, de molécula estável e resistente à ação ovo passam a induzir resposta Th2 e esse processo coincide
das colagenases. Essa observação é justificativa para que o com uma diminuição na intensidade da resposta Thl Nessa .
tratamento específico seja sempre realizado, desde que a fase, é possível que lL- 10 desempenhe um papel de destaque.
parasitose esteja ativa, pois poderá haver regressão, ainda que Experimentalmente se observa que animais que não sejam
parcial, do processo ñbrótico, com melhora nas condições da capazes de desenvolver a resposta Th?, (p. ex., camundongos
circulação portal. [Í57BLJ6 lL4"') desenvolvem um quadro de caquexia, com
elevada mortalidade, dependente de óxido nítrico. Deve-se
lembrar que as manifestações da forma aguda são restritas a
indivíduos que nunca tiveram contato anterior com a infec-
ção; nesse contexto, é curioso o fato de que filhos de mães
A ocorrência demanifestações clínicas na esquistossomose previamente infectadas respondem, do ponto de vista imu-
pode ser observada desde a penetração das cercárias pela nopatológico nessa fase, como indivíduos já experimentados
pele, por pneumonite eosinofílica decorrente da passagem em relação à infecção.
de esquistossômulos pelos pulmões, e por toda a cadeia de As formas crônicas da esquistossomose decorrem da pre-
eventos que seinicia com a postura dos ovos. Para muitos sença de ovos nos tecidos, com as alterações inflamatóriase
autores, esses últimos elementos constituem-se na grande funcionais dela resultantes. A presença de fibrose, sobretudo
fonte de antígenos que irão mediar as respostas inflamató- no fígado e nos pulmões, permeia grande parte da patologia
rias tanto na forma aguda como na forma crônica dessa pa- observada nas formas graves de esquistossomose. A resposta
rasitose. de padrão Thl, descrita anteriormente, passa a ser substitui-
da, de maneira gradual, por resposta ThZ, dependente de
1L-4, lL-S, eosinófilos e lL-l3, esta última uma citocina ñ-
brogénica por excelência, ao menos em modelos experimen-
tais (Figura 23-3). O papel ñbrinogénico de lL-l3 parece esta:
relacionadoà capacidade dessa interleucina, junto com lL-4,
de induzir a expressão de arginase nos macrófagos. A argina-
se utiliza L--argínina como substrato para produzir L-orni-
tina, a qual é convertida a prolina, que é um aminoácido
essencial para a produção de colágeno. Quando a estimulação
de macrófagos se da atraves de lL-12 e LFN 41/, em vez de lL-4,
o efetor final são iNOS e citrulina, não havendo ñbrose, mas
sim necrose tecidual (Figura 23-4). Estudos recentes revela-
ram que a Fibrose hepática e a conseqüente hipertensão por-
tal são predominantes em famílias nas quais foi detectado um
gene co-dominante maior, conhecido como SMZ; o conheci-
mento da região 6q22-q23 que contém o gene que codifica re-
ceptor de lFN-'y nessas famílias sugere que mutações nesse
FIGURA 23-4 Ativação dos macrófagos na esquistossomose. dem imunoalérgica, desencadeadas pela presença dos ovos,
Quando os macrófagos são ativados por citocinas Th1, a via ñnal resultem no quadro clínico dessa forma da doença. Do pon-
compreende a produção de óxido nítrico, havendo necrose corn to de vistaclínico,trata-se de doença febril, com curvatérmica
lesão tecidual; quando essa ativação é feita por citocinas Th2, o
produto ñnal é o colágeno, havendo a instalação de procsso irregular, toxêmica, em geral oom instalação abrupta. São co-
fíbrótico. muns exantema maculopapular, que pode ser urticariforme,
diarréia, às vezes disenteriforme, dor, distensão abdominal e
chiados (devido a broncoespasmo). Ao exame físico nota-se
hepatoesplenomegaliadolorosa de pequenas dimensões, além
gene podem levar a uma disfunção no receptor de [FN-y, de Inicropoliadenopatiageneralizada.
com conseqüente falta de efetividade dessa citocina em preve- O dado laboratorial mais característico é a intensa leuco-
nir ñbrose. citose com grande eosinoñlia apresentada por esses pacien-
Na realidade, é desejável um equilíbrioentre as respostas tes. O diagnóstico deve levar em conta dados epidemiológicos,
Thl e Th2, visto que a predominância de uma delas é lesiva clínicos e laboratoriais, assinalando-se que o exame parasi-
ao hospedeiro: ñbrose exagerada quando Th2 está predomi- tológico de fezes somente se torna positivo para ovos de S.
nando e lesão tecidual com necrose quando há predomínio de mansoní cerca de 35 a 40 dias após a
resposta Thl.
Forma Aguda
Forma Hepatoesplênica
Pode ser dividida nos casos com ou sem hipertensão porta.
Nos casos sem hipertensão portal, trata-se de uma forma cli-
nica da esquistossomose que é detectada algumas vezes, ca-
racterizando-sepor hepatomegalia com as peculiaridades
referidas no ítem anterior, acompanhada de esplenomegalia
de pequenas dimensões; nessa situação, o baço tem consis-
tência arnolecida. Trata-se de esplenomegalia de origem
proliferativa em resposta a estímulos antigênicos prolonga-
dos. Essa esplenomegalia é totalmente reversível com o tra-
tamento ban-sucedido da esquistossomose.
Nos casos classificados como forma hepatoesplênica com
hipertensão portal ocorre elevada carga parasitária e, conse-
qüentemente, de ovos. Associadas a estes fatores, caracte-
rísticas genéticas que determinam a intensidade da resposta
inilamatóriagranulomatosa e a dinâmica da deposição e tipo
de colágeno no interior dos granulomas levarão à obstrução
do Huxo do sangue portal através dos ramos intra-hepáticas ~
Hipodesenvolvímentopóndero-estatural em
'i
da veia porta, que se traduzirão, inicialmente, num aumento paciente squistossomótico com 19 anos de idade: notar fáscies
do calibre da veia porta e subsidiárias, como tentativa de ma- infantil e ausência de dsenvolvimento de caracteres sexuais
nutenção dos niveis normais de pressão hidrostática, fenôme- secundários. [Cortesia do Prof. Dr. Mário Shiroma_]
no lirnitado pela complacênciado sistema venoso portal.
Cessada a capacidade de dilatação do continente vascular, ins-
tala-se, progressivamente, regime de hipertensão porta. fenômeno responsável por termo popular que designa essas
A pressão no sistema porta eleva-se progressivamente, po- formas graves da esquistossomose "barriga d'agua”. Tal re-
-
dendo atingir até 200 nnnI-IZO (convém lembrar que a pres- dução na pressão colóide-osmótica ocorre em situações de
são na veia porta, avaliada através da medida da pressão hipoalbuminemia, resultantes de fatores como desnutrição,
esplênica por via transparietal, é de até 2D mmHIO), com o hepatopatia alcoólica, associação com infecção crónica pelos
conseqüente aparecimento de esplenomegalía de caráter vírus das hepatites B e C, ou cirrose pós-necrõtica,que se se-
congestivo e de circulação colateral, que, em última análise, gue a episódios de hemorragia digestiva alta decorrentes da
representa desvio do fluxo sangüíneo do sistema porta para ruptura de varizes esofágicas ou de fundo gástrico. Convém
o sistema cava inferior ou, via veia ázigos e semi-ázigos, para lembrar que, com sangramento maciço, há súbita queda na
a veia cava superior. Tal circulação colateral pode ser visível ao pressão do sistema porta, bem como uma hipotensão
exame da parede abdominal, observando-se fluxo ascenden- sistêmica, o que explica a ocorrência de necrose extensa do
te, recanalização da veia umbilical(sopro audível ao nível da órgão nessa situação.
cicatriz umbilical),ou estar presente no interior da cavidade Cabe assinalar que, diferentementedo que ocorre nas cir-
abdominal (Figura 23-5). A formação de varizes de esôfago roses em geral, não há insuficiênciahepática profimda na es-
efou de fundo gástrico representa essa segunda situação. quistossomose não-complicada ou que não esteja associada
O aumento da pressão hidrostática no sistema porta, as- a patologias que ocasionem cirrose. No entanto, têm sido ob-
sociado a uma queda da pressão colóide-osmóticano sangue servadas alterações precoces no processo de coagulação,
portal, ocasiona o surgimento de ascite em graus variáveis, mesmo com os níveis de albumina mantidos dentro da nor-
Esquistossomose
malidade. Essas alterações foram atribuídas a múltiplos fato- Forma Renal
res, entre eles déficit de síntese de determinadas substâncias
que participam da processo de coagulaçãopelo fígado. "fem-se, O acessode imunocomplexos aos glomérulos renais, onde
assim, a forma hepatoesplênica com hipertensão portal da es- são retidos junto à membrana basal, pode ocasionar o de-
quistossomose, que é deñnida como descompensada quan- senvolvimento de glomerulopaüas, sendo as mais comuns a
do houver sangramento digestivo alto e/ou ascite. Além disso, glomerulonefritemesangioproliferativa, a membranoproli-
estabelece-se regime de hiperapleznismo, veriñcado pela ocor- feraüva tipos I (mais freqüente) e lll, e a glomeruloesclerose
rência de citopenias sangüineas. Achado relativamente fre- segmentar e focal, havendo a possibilidadede evolução entre
qüente nas formas hepatoesplénicas de esquistossomose, esses padrões de glomerulopatia, particularmente entre a
quando estas se estabelecem do ñnal da puberdade ao início mesangioproliferativae a membranoproliferativa.A primei-
da adolescência,é o hipodesenvolvimento pôndero-estatural: ra glomerulopatia é mais freqüentemente encantada em pa-
trata-se síndrome clinica caracterizadapor ausênciado desen- cientes assintomáiicos, ao passo que a segunda é observada
volvimento dos caracteres sexuais secimdários, déficit de cres- com maior freqüência nos sintomáticos. Em todas as situa-
cimento e presença de fácies infantil A ñsiopatologia desses ções, antígenos esquistossomóücos podem ser demonstrados
fenômenos não é conhecida, mas eles são revertidos através nos glomérulos, por meio de técnicas diversas. As manifesta-
de esplenectomia (Figura 23-6). Também é comum a ocor- ções clínicas decorrentes desses eventos podem variar desde
rência de pileflebite,e a trombose de veia porta é uma oom- proteinúria assintomáúca até síndrome nefrótica. Embora
plicação relativamente freqüente. descritas com maior freqüência e gravidade em pacientes
com a forma hepatoesplênica, em função de maior carga an-
Forma Pulmonar tigénica e maior exposição dos antígenos aos glomérulos, es-
sas alterações já foram descritas também em pacientes com
formas mais leves de esquistossomose (intestinais ou hepa-
Existe ainda a possibilidadede os ovos atingirem arteríolas, tointestinais).
via artéria pulmonar, onde sua irnpactação ocasiona a forma-
ção de granuloma e fibrose em graus variados. O acesso dos
ovos à circulação pulmonar é maior nas situações em que
houver hipertensão portal com estabelecimentode circulação
colateral; daí serem mais comuns as formas pulmonares da
É
esquistossomose nos pacientes com a forma hepatoesplênica.
Nas fases mais avançadas estão presentes as manifestações
correspondentes à hipertensão pulmonar, podendo haver so-
brecarga nas câmaras direitas do coração cor pulmonale
-
'
L
sificações mais recentes não contemplam a forma intestinal em exames histopatológicos, sobretudo da mucosa retal. Os
pura, preferindo já considera-la hepatointestzinal; esta pode métodos de exame de fezes mais apropriados são os de sedi-
variar de incipiente, quando o exame ultra-sonográfico reve- mentação, como o de Hoffman, Pons 8( Janet; a técnica de
la alterações muito discretas, até formas hepatointestinais Kato-Katz tem a vantagem de permitir a contagem de ovos,
bem configuradas, quando o órgão tem seu Volume au- fato que tem importância por propiciar a avaliação da carga
mentado principalmente à custa do lobo esquerdo, e as al- parasitária. A realização de cinco análises de fezes parece ser
terações ulua-sonogáñcas são claras, demonstrando a tipica superior, em termos de eficácia diagnóstica., à biopsia retal,
fibrose periportal central e periférica. Esse método de devendo esta última ser reservada para situações
propedêuüca armada veio a permitir também uma melhor
avaliação da circulação portal nesses casos, seja pela detecção
de alterações do calibre das veias porta, esplênica e mesen-
téricas, seja pelo estudo do fluxo sangüíneo portal através do
Doppler.
Associação de Esquistossomose com
Outras Doenças
Bacteremia prolongada por enterobactérias é uma situação
em que o paciente esquistossomótico passa a apresentar
quadro de febre irregular, de curso prolongado, com o desen-
volvimento de hepatoesplenomegalia,queda progressiva do
estado geral, diarréia e fenômenos hemorrágicos. A coexistên-
cia de infecção esquistossomótica com infecção por entero-
bactérias ocorre, sobretudo, com o gênero Salmonella sp. O
verme tem papel preponderante na patogenia dessa doença,
servindo como reservatório para as enterobactérias que se
multiplicam sobre sua cutícula ou ainda no seu tubo digesti-
vo. A partir disso, há bacteremia prolongada, com infecção
das células do sistema retículo-endotelial. O diagnóstico des-
sa entidade deve ser feito mediante o encontro de ovos de S.
mansom' nas fezes e o isolamento da enterobactéria em he-
moculturas ou mielocultura. O diagnóstico diferencial é fei-
Os exames inespecíñcos não revelam alterações caracterís-
ticas nas formas crónicas da doença: o hemograma nas for-
mas crónicas da esquistossomose não costuma mostrar
grandes alterações, exceto nas formas hepatoesplênicas com
hiperesplenismo, quando poderão ser observadas anemia,
leucopenia e plaquetopenia. As enzimas hepáticas (transami-
nases, gama-glutamiltransferase e fosfatase alcalina) não cos-
tumam estar alteradas de maneira importante, exceto em
situações já citadas, de dano hepático por outras infecções
associadas ou após sangramentos intensos, decorrentes da
ruptura de varizes esofágicas. Da mesma forma, observa-se
proteinúria de intensidade variável nos casos com compro-
metimento renal.
A ultra-sonografia e a endoscopia digestiva alta são exa-
mes subsidiárias importantes na avaliação da hipertensão
portal e suas conseqüências. Nas formas pulmonares, a rea-
lização de radiograña torácica revela retificação ou abaula-
mento do arco médio; o ecocardiograma revela hipertroña das
câmaras cardíacasdireitas e do tronco da
184 Parasitologia -
uma abordagem clínica
pécies animais que apresentem comportamento competitivo ou
atuem como predadores de planorbídeos em seus criadouros.
Convém lembrar que a opção por privilegiarcompetidores ou
ANDRADE.,Z.; ANDRADE, S.G. Patologia da esquistossomose hepato-
predadores de moluscos do gênero Biomphalaria, no controle esplênica in CEDRE Aspectos peculiares da infecção por Schis-
-
A obtenção de drogas utilizáveis por via oral e em dose pectos peculiares da infecção por Schistosomn mansoni. CED da
única, com ação esquistossomicida acentuada e poucos efei- UFBa, 1984.
PEDROSO, E.R.P. Alterações pulmonarm associadas à esquistossomose
tos colaterais graves, como oxamniquine e praziquantel, mansoni. Mem. Inst. Osvaldo Cruz, s'. Sdfsuppl. l), p. 46-72, 1989.
viabilizouempregar-se o tratamento especíñco como ação PRATA, A. Esquistossomose mamsoni. In: Veronesi,R.; Focaccia, R.
válida no cont1'ole da esquistossomose mansônica. Diversos Tratado de Infectologia. ?F ed. São Paulo: Atheneu, 2005.
trabalhos realizados em áreas endêmicas indicam diminuição RABELLO, A.; PONTES, LA.; DIAS-NETO, E. Recent advances in the
da morbidade da esquistossomose quando se uüliza o trata- diagnosis of Sch-iswsonta infection: the detection of pamsite DNA.
mento dos indivíduos infectados, mesmo que não se efe-
Mem Inst Oswaldo Cruz, v. 9?(Suppl.I): 171-172, 2002.
REY, L. Non-human vertebrate hosts of Schsisrosoma mansom' and
tuem, concomitantemente, outras ações de controle. Por outro schistosomiasis transmission in Brazil. Res Rev Parasitol. v. 52, p.
lado, a repetição periódica do tratamento dos infectados em 52.3-530,l993.
áreas com elevadas taxas de infecção tem resultado em dimi- WTLSON, MLS.; MENTlNK-KÀRTE,MMX.; PESCE, LT.; RAIMÍALIN-
nuição dos índices de prevalência. CAM, T.R.; TI-IOMPSON, R.; WINN, TA. Immunopathologyof
Schistosomiasis. Immunol. Cell Bial., v. 85, p. 148-154, 200?.
Zl-LÀNG,Y.; KOUKOUNARI,A.; KABATEREJNEN, et al. Parasitolo-
gícal impact of 2-year preventiva chemotherapyon schistostamiasis
and soil-transmittedhelminthiasis in Uganda. BMC Medicine,
2007. (htlpühswvtuzbiomedcentralxonll1741-7015l5f27).
Tasciolbse
.-
Fasciolose 187
ríodo compreendido entre 1997 e 2000, registraram-se 500 Quando os ovos se encontram em temperaturas mais bai-
casos humanos em função de critérios clínicos, tomográftcos, xas, esse evento pode demorar até 3 meses.
sorológicos e achados ultra-sonográñcos. Clinicamente, todos Subseqüentemente, o embrião evolui para a fase de mi-
esses doentes manifestaram sintomas de natureza hepática. racídio e há eclosão do ovo, ocorrendo hberação dessas for-
A faixa etária predominante delirnitou-se entre 21 e 50 anos, mas no ambiente aquático. Nessa nova fase do ciclo biológico,
sendo 2B dos infestados do sexo feminino. Além disso, no o miracídio utiliza seu revestimento ciliar para nadar ativa-
Vietnã, as taxas de infestação de animais herbívoros por mente até o molusco do género Lynnnaea, o qual servirá
Fasciola spp oscilam entre 30% e 40%. Na 'lítrquia, houve como seu hospedeiro intermediário. Dentro do molusco, o
descrição de 214 casos humanos no período compreendido miracídio torna-se esporocisto, o qual irá originar, por sua vez,
entre 1932 e 2003. Em 1999, houve padronização de métodos as rédias. Posteriormente, as rédias se transformam em cer-
sorológicos como urna ferramenta tecnológica em potencial cárias, as quais possuem um flagelo que lhes permitem nadar
para otimização do diagnóstico dessa importante enfermidade ativamente. Através de suas ventosas, as cercárias se fixam na
na Turquia. Nas Américas, há descrição de surtos em Cuba, vegetação aquática e perdem seu flagelo. Após esse processo
Chile, Argentina, Uruguai, Bolivia, Venezuela, Costa Rica, de fixação às estruturas aquáticas, as cercárias secretam duas
Porto Rico, México e Peru. De fato, estima-se que hoje esta camadas ao seu redor, criando uma blindagem protetora. A
zoonose acometa virtualmente entre 2,4 e 17 milhões de pes- partir desse momento, essa nova forma de vida de Fasciola
soas no mundo. No Brasil, as áreas mais críticas localizam- spp. denomina-se metacercária, a qual é a forma cística do
se no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo parasito. A metacercária pode permanecer em estado de
(Vale do Paraíba) e Rio de Janeiro. latência por até 3 meses, dependendo das condições de tem-
peratura do ambiente aquático. Além disso, a forma cística
pode resistir a condições de dessecação por até 2 semanas.
Quando as metacercárias são ingeridas pelo hospedeiro
vulnerável por meio de água ou plantas aquáticas contendo
Os hospedeiros habituais de l-"asciola spp. compreendem os tais cistos, o ciclo biológico do parasita é reiniciado (Figura
que se seguem: bovinos, suínos, caprinos, eqüinos, cães e coe- 24-2). Na luz do intestino do hospedeiro, há eclosão dos cistos
lhos. A infestação humana pelos trematódeos zoonóticos, com subseqüente liberação das larvas. Dentro dessa cadeia
F. hepatite e F. gigantrra, ocorre naturalmente por meio da in- seqüencial de elos biológicos, as larvas atravessam a parede
gestão de metacercárias (forma cística do trematódeo) pre- intestinal para dentro do compartimento peritoneal. Migram
sentes em plantas ou animais aquáticos, assim como pela então através da cápsula de Glisson (membrana de tecido
ingestão de água contaminada com a forma infectante do pa- conjuntivo que envolve o fígado) e penetram no parênquirna
rasito. Outros fatores de risco em potencial são os seguintes: hepático. Aproximadamenteapós 2 meses de migração pelo
tecido hepático, tais vermes alcançam seu deñnitivo habitat
ingestão de suco de alfafa; consumo de caranguejo ou peixe dentro do ambientehumano: a árvore biliar.Além disso, du-
crus', consumo de ñgado de carneiro ou gado crus; consumo
rante o processo de migração ao longo do tecido hepático, os
de agrião silvestre; e atividades recreativas em lagos ou áreas
vermes se desenvolvem e, finalmente, dentro desse ambiente
alagadiçaspróximas a setores de atividade pecuária. biliar,completam sua maturidade sexual.
O habitat natural do parasita adulto é compreendidopela
vesícula biliare os canais bíliares de maior diâmetro do hos-
pedeiro deñnitivo. Tipicamente, Fascíola spp. causa inúmeros
fenômenos patológicos no sistema biliar,incluindo dilatação
e espessamento da parede da árvore biliar.Além disso, den-
Estudos experimentais com coelhos demonstram que após 2.
tro do compartimento biliar,o parasito utiliza a própria bile
semanas de ingestão das metacercárias (fase aguda da
como fonte energética. Surpreendentemente, esses helmintos
infestação) há surgimento de múltiplas lesões na superficie
podem alcançar uma longevidade de até 10 anos dentro do hepática, caracterizadaspor um diâmetro variável entre l e 2.
hospedeiro delinitivo. mm e por uma tonalidade rosa ou amarela. Histologica-
Os parasitos adultos (hermafroditas por natureza) libe-
mente, tais lesões são áreas de necrose originadaspelo pro-
ram seus ovos dentro desse ambientebiliare, posteriormen-
cesso migratório do parasita ao longo do tecido hepático. A
te, os ovos migram passivamente até as alças intestinais, celularidade de tais lesões é constituida por neutróñlos, linfó-
misturando-se com as fezes. Os adultos põem até 20.000 ovos citos e hemácias. Os hepatócitos revelam diferentes graus de
operculados ao dia. Finalmente, quando o hospedeiro verte- degeneração. As áreas agredidas pelo verme podem evoluir
brado elimina seus dejetos, permite que os ovos desse hel- com fibrose e cicatrização. A magnitude das lesões hepáticas
minto alcancem o ambienteaquático. depende do número de parasitos, assim como das caracterís-
No ambienteaquático, os ovos com seus embriõessofrem ticas idiossincrasiasdo hospedeiro. As lesões inflamatórias
um crítico processo de amadurecimento. 'fodavia, é funda- podem evoluir progressivamente em função do crescimento
mental que os ovos estejam livres das fezes, assim como em ñsico do verme e de sua atividade rrtigratória no parénquima
condições propícias de temperatura. O tempo habitual para ltepático.
o embrião completar seu processo de amadurecimento pode Observa-se então incremento das células eosinoñlicas e
variar entre 9 e 25 dias. Isso ocorre quando os ovos estão ex- hipertrofia das células hepáticas. Há expansão do fenômeno
postos a temperaturas entre 25° e 30°C. inilamatóriocom subseqüente acometimentodas células epi-
_'88 Parasitologia -
uma abordagem clínica
Etiologia e Morfologia
A fascialapsíase é uma parasitose humana causada por Fas-
ciolopsis buski. Este parasita acomete adultas e crianças,pra-
movendo doença intestinal pela sua forma adulta presente
geralmente na jejuno e duodeno. O parasita adulto sobrevi-
ve no intestino por até 6 meses, além de ser considerado o
maior parasita dessa classe. Mede de 2 até 8 cm de compri-
mento por 0,8 a 3 cm de largura. Iá os ovos medem entre 130
a 140 pm por 80 a 85 pm (Figura 25-1).
Epidemiologia
A fasciolopsíase ocorre de fomra endêmica apenas em regiões
da Sudeste Asiática, como na Tailândia,Vietnã, além de áreas
Doença por trematódeos intestinais exóticos e de importação 193 1-
temperatura, pH e luminosidade para a eclosão dos esporo- OUADRO 25-1 Plantas aquáticas que podem estar
cistos, liberando as cermrias. Além disso, outra população de associadas a contaminação por oocistos de
risco é aquela que usufrui de alimentos provenientes desta
área, principalmente as plantas aquáticas consumidas sem
Fasciolopsis busk¡
cozimento.
Transmissão
Classicamente, o reservatório descrito na fasciolopsíase é o
porco. Porém, é importante citarmos que ratos, coelhos e
macacos também podem albergar o parasito adulto e servir
de reservatório, além do próprio homem, que é um hospe-
deiro acidental. Cada parasito adulto produz uma média de
16 mil ovos ao dia, que são eliminados pelas fezes. Para que
ocorra manutenção do ciclo, os ovos devem ser eliminados
num local com água, temperatura e pHadequados, onde ocor-
rerão (após 20 dias) a eclosão e liberação dos miracídios.O
miracídio nada livremente pela água e penetra no Caramujo.
O género desse Caramujo é bastante variável e depende da
área endêmica, sendo mais comuns os caramujos dos gêne-
ros Segmentina, Hippeutis e Gymulus.
No Caramujo, ocorre o desenvolvimento de esporocistos
que, posteriormente, liberam as metacercárias, em uma mé-
dia de 40 por esporoczisto. Estas metacercárias, diferentemen-
te de Schistonra sp., apresentam uma vida média longa (mais
de l mês) e nadam na água até se encistarem e aderirem aos
seus substratos, geralmente plantas aquáticas ou outros ele-
mentos como debris. O hospedeiro definitivo, como o por-
co ou o homem, a '
Patogenia
FIGURA 25-2 Ciclo da fasciolopsiase- 1, Metacercárias são
Os parasitas que se desenvolvem no intestino, acometem ingeridas por meio de água ou alimentos contaminados. 2, No
principalmente o jejuno e o duodeno, podendo, nos casos de duodeno, as metacercárias são excístadas e tornam-se adultas- 3,
grande quantidade de parasitas, ocorrer infecção no estôma- Ovos imaturos ão eliminados pelas fezes e são depositados na água
go. Eles promovem erosão da parede intestinal, que podem [4], tornam-se embrionados e liberam miracidios. Os miracidios
causar sangramentos discretos mas contínuos, assim como precisam encontrar caramujos de espécim específicas para
alteração da mucosa nesta parte do intestino delgado, com- multiplicarem-se. 5, Do Caramujo são eliminadas as cercárias. S, As
prometendo a absorção. Além de erosão, podem ocorrer cercárias encistam-se e podem contaminar novamente o homem ou
formação de abscessos e absorção de toxinasdo parasito, che- outros hospedeiros.
gando a produzir quadros de exantema e angioedema asso-
ciados com eosinoñlia. Nos casos de infecção importante,
mais, podendo ocorrer episódios esporádicos de diarréia
podem ocorrer obstrução intestinal e perfuração. aquosa a pastosa de cor amarelada. Esta diarréia pode ser in-
tercalada com períodos de constipação. Outros sintomas
Sinais e Sintomas podem se relacionarao quadro disabsortivo e à anemia, inclu-
indo edema, fraqueza e astenia, taquicardia e dispnéia,
O quadro clínico é, na maioria das vezes, oligossintomático. principalmente nos quadro de parasitismomaciço em criari-
Pode ocorrer dor abdominal, principalmente na região do ças. Náusea e vómitos também podem ocorrer, geralmente
mesogástrio e do epigástrio. As fezes estão geralmente nor- nas primeiras refeições do dia.
194 Parasitologia -
uma abordagem clínica
crõmica e normocítica, com leucocitose e eosinoñlia, embora rasito adulto mede de 5 a 14 mm de comprimento por 4 a 6
o hemograma seja normal na maioria dos casos. Em alguns mm de largura. Já os ovos são discóides, marrons a
casos pode haver anemia com macrocitose pela possibili- esverdeados, e medem entre 150 pm por 60 um.
dade de síndrome disabsortiva e deficiência de vitamina Bu.
O exame parasitológico é ideal para ídemifcar o parasito
adulto após a sua eliminação por vómitos ou fezes em paci- Epidemiologia
entes de áreas de risco. As técnicas de concentração para iden-
üñcação de ovos são adequadas, porém há necessidade de
A gastrodiscoidiase tem uma distribuição grosseiramente
semelhante à da fasciolopsíase, uma vez que as condições de
um laboratório com experiência no reconhecimento de ovos
de Hematódeos, uma vez que eles podem ser confundidos desenvolvimento, transmissão e hospedeiros são semelhantes.
A infecção prevalece do sul ao norte da Índia, até o Paquistão,
com outros gêneros. Exames ímunológicos não estão dispo-
várias regiões da Malásia, lava, Burma, Tailândia,Vietnã,
níveis, assim como técnicas moleculares. O diagnóstico é fei- China, Filipinas, Cazaquistão e região sudoeste da Rússia
to com base no achado de ovos característicos no exame
(Volga Delta) em contato com o Mar do Cáspio. É possível
parasitológico das fezes em um paciente que teve contato com que a infecção prevalesça em outras regiões, mas seja pouco
a área de risco.
identiñcada. A parasitose também acomete o continente
africano, sendo descritos casos na Nigéria e Zâmbia. Estes
dois paises são muito distantes, o que pode significar sub-
Tratamento
notiñcação da doençanaquele continente. No Novo Mundo,
só existe um relato de caso em um imigrante indiano na
O tratamento da fasciolopsíasepode ser realizado com algu-
G .
Transmissão
Etiologia e Morfologia O porco é o hospedeiro mais comum dessa parasitose, sen-
do o homem acometido ocasionalmente. Esse reservatório
A gastrodiscoidíase é uma parasitose humana causada por suino nem sempre é representado pelo porco doméstico, po-
(Êastradíscoides hominis. Este parasita acomete adultos e crian- dendo acometer porcos selvagens também, como foi recen-
ças, promovendo doença intestinal crônica pela sua forma temente descrito na região de Kerala, extremo su] da costa
Doença por trematódeos intestinais exóticos e de importação
indiana. Outros hospedeiros definitivos podem ser macacos
e roedores comuns, como o rato.
tratamento
O parasito adulto elimina ovos, que são expostos ao meio O tratamento da gastrodiscoidíase é realizado com praziquan-
ambiente. Se o meio apresenta condiçõesadequadas de umi- tel em dose única via oral, de 15 mg/kg, o qual é suñciente
dade, temperatura e pH, ocorre eclosão com liberação dos para a cura. É recomendado um controle de cura após 1 mês
miracídios a partir de 9 dias. Os ovos podem demorar mais do tratamento, assim como o acompanhamento dos sinto-
de 3 meses para eclodir, até encontrarem condições adequa- mas clínicos que estiverem presentes antes do tratamento.
das. O miracídio então penetra ativamente no hospedeiro in-
termediário, onde se desenvolvem em esporocistos que
produzem as cercárias durante um período que pode chegar Profilaxia
até 40 dias. A evolução até o atágio de cercária pode levar até
4 meses. As cercárias hberadas na água têm uma vida máxi- As medidas de profilaxia são idênticas às da fasciolopsíase,
ma de 24 horas, quando então se transformam em cistos além das medidas gerais de limpeza do local de habitação
metacercários, contarninando a água. A água ingerida pelo para
hospedeiro definitivo contendo cisto evolui para infecção
intestinal em 100% dos casos em estudos experimentais com
porcos.
“uma
Os parasitas se desenvolvem no intestino, acometendoo ceco
e o colo. A infecção ocorre por uma média de 200 parasitos
adultos, chegando até mais de 1.500 nas infecções mais gra-
ves. Na região cecal ocorre um processo inflamatóriosignifi-
cativo com descamação de mucosa, promovendo diarréia
inflamatóriacom xrárias evacuações diárias, podendo até le-
var a óbito crianças desnutridas. Além da descamação da
mucosa, ocorrem inñltrado eosinofílico, espessamento da
muscular da mucosa e pontos variados de necrose e obstru-
ção das glândulas de Lieberkíihn.Há edema da submucosa
associado à infiltração de células plasmocitárias,de linfócitos
e de eosinólilos.
Sinais e Sintomas
A infecção por G. Izominis pode ser assintomática em adul-
tos saudáveis, ao passo que o quadro clínico pode ser extre-
mamente grave em crianças desnutridas. Além de sintomas
inespecíñcos, como dor abdominal, alguns casos podem ser
confundidos com apendiciteaguda. A anorexia não é tão agu-
da como na apendicite. O paciente apresenta diarréia com vá-
rios episódios diários, nem sempre muito volumosa.
ígím'
Os achados laboratoriais inespecífrcos são leucocitose e eosi-
noñlia. Pode haver hipoalbuminemia secundária ao processo
de desnutrição até evoluir com anasarca, configurando o
kwashiorkor. O exame parasitológico de fezes é o ideal para
diagnóstico. Os ovos de G. hominis são facilmentereconhe-
cidos, ao contrário do que ocorre com os de Fasciolopsis
bush'. Um laboratorista bemtreinado pode reconhecer pron-
tamente os ovos desse parasito, o que facilitabastante o tra-
tamento. Nos casos em que o parasito é eliminado, o exame
direto é bastante útil pela facilidadede reconhecimento do
parasito. Exames moleculares e sorológicos só estão disponí-
veis para pesquisas cientíñcas, não sendo aplicados na rotina.
196 Parasitologia -
uma abordagem clínica
Transmissão dos ovos nos exames parasitológicos, sendo complicado di-
ferenciá-los dos ovos de outros trematódeos. Outros autores
Considerando a ampla dispersão pela Ásia e a variabilidade, consideram que é possível a idenüñcação de Echinostoma no
exame a fresco, sem coloração especial ou outra reação. O
alguns autores separam a doença em ciclo humano e ciclo sel-
vagem. No ciclo selvagem, os roedores são os hospedeiros parasita adulto é facilmenteidentiñcável, porém a sua elimi-
mais comuns desta parasitose, sendo o homem acometido nação é diñcil. Não existem outros exames como sorologia,
ocasionalmente. OuIIos mamíferos também podem servir de PCR ou colorações específicas para diagnóstico da equinos-
reservatórios para Bbhínostoma, como o cão e o gato. aves tomíase.
[galinhas e patos) e cobras terrestres que se alimentam de ani-
mais ou ingerem água contaminados também podem servir
de reservatórios. O ciclo humano ocorre quando o homem Tratamento
é o hospedeiro definitivo e ele mesmo contamina e adquire
a doença a partir da água e de alimentos aquáticos, respecti-
O tratamento da equinostomíase e' feito com praziquantel.
vamente. Alguns autores consideram o uso de 25 mgfkg em três doses
Os hospedeiros deñnitivos eliminam ovos do trematódeo e1n l dia. Outro trabalho considera 10 a 20 mg/kg, em dose
através das fezes, os quais, em contato com água, eclodem e única. Albendazoltambém pode ser utilizadocomo segunda
liberam o miracídio, que alcança os hospedeiros intermediá- escolha, porém faltam estudos com maior evidência. O con-
rios. Os caramujos das mais diversas espécies podem servir trole da infecção pode ser realizado por meio de novo exame
como hospedeiros intermediários. As metacercárias aban- parasitológico de fezes à procura de ovos. Este exame pode
donam os hospedeiros intermediários e na água podem al- ser repetido mensalmente e é geralmente negativo em até 6
cançar os hospedeiros definitivos. Foi demonstrado que meses, embora a maioria seja negativajá no primeiro mês.
diversos peixes de água doce podem servir como hospedei-
ros intermediários além do Caramujo, ao mesmo tempo em
Sinais e Sintomas
Como em outras doenças causadas por trematódeos, a maio-
ria das infecções é assintomática. Outras se apresentam de
forma subaguda e uma parcela pequena dos parasitados
apresenta-se sintomática, com dor abdominal, principalmen-
te epigásüica, fraqueza, astenia e diarréia. As lãões ulceradas
de mucosa podem, em longo prazo, produzir síndromes
disabsortivas e desnutrição. Outros sintomas inespecíñcos
gastrintestinaispodem ocorrer quando o número de parasi-
tos é pequeno, ao passo que pode haver sintomas significa-
tivos quando existe uma superpopulação do parasito no
intestino. Dor epigástrica pode ocorrer devido à fonnação de
úlcera duodenal, assim como sangramento digestivo alto,
quando ocorre invasão importante e em grande número por
parasitas na mucosa.
ESE”
O diagnóstico é baseado no quadro clinico e exame parasita-
lógico. Alguns autores consideram difícil o reconhecimento
Doença por trematódeos intestinais exóticos e de importação 197 -
que são eliminadas na água e podem se encistar. Os hospe-
deiros definitivos podem se infectar por alimentarem-se de
peixes ou moluscos infectados ou pela ingestão de água con-
tendo metacercárias.
Patogenia
Os parasitos adultos tendem a ficar no intestino delgado en-
tre os vilos dos enterócitos. A parasitose promove atrofia dos
vilos, hipertroña das criptas e uma reação inflamatóriacom
congestão dos vasos, resultando na sintomatologia e geran-
do a diarréia. Estudos em modelos animais demonstraram
que durante a imunossupressão pode ocorrer a migração
destes parasitos para sítios mais proñindos do tecido intes-
tinal, com maior quantidade de parasitos na submucosa.
Sinais e Sintomas
FIGURA 25-3 Forma de Heterophyes adulto. Cortesia de Peters e O quadro clínico da infecção por ¡Iematódeos intestinais não
Pasvol: Atlas of Tropical Medicine and Parasitoiogy, 6° ed., 2006, é muito variável. As infecções tendem a ser assintomaticas ou
Elsevier Ltd. oligossintomáticas,promovendo aumento do número de ca-
sos de portadores, que acabam por tornar a doença endê-
baleias, podendo causar doença em humanos. Os hospedei- mica, com altos valores de prevalência. O quadro pode ser
ros intermediários são caramujos de beira-mar,assim como
grave em pacientes imunossuprimidos, gerando quadro de
diarréia crônica que leva à desnutrição, facilitandotransla-
outros moluscos. Sendo Metagonimus e H eterophyes os prin-
cipais agentes desta família, exploraremos mais os aspectos
cação bacteriana e morte por sepse. Nos casos sintomáücos,
os sintomas mais freqüentes são desconforto abdominal,
destes agentes. Heterophyes apresenta ampla distribuição na
diarréia leve a moderada, letargia, hiporexia e emagrecirnen-
Ásia, principalmente no Sudeste Asiático, em alguns paises da
to. A intensidade dos sintomas varia com a carga parasitária
Oceania, e chega apresentar alguns focos em Israel e outros
e o grau de invasão e processo inflamatórioproduzidos por
países do Oriente Médio. O Egito e a China são países que estes parasitos no tecido intestinal. Outro dado importante é
apresentam altas prevaléncias da infecção por este parasito.
Memgonimus tem também ampla distribuição,sobrepondo- que turistas que se infectam em áreas endêmicas têm maior
se às áreas onde há Heterophyes, incluindo países da Europa,
chance de apresentar quadro mais grave que aqueles que já
habitam regiões endémicas.
como a Espanha.
No Brasil, alguns representantes da família Heterophyidae
foram descritos em casos humanos, causando doença intes-
tinal após a ingestão de tainha. O agente identificado foi Diagnóstico
Phagicola spp. A tainha é considerada um hospedeiro inter- O diagnóstico da heterofíase pode ser facilmenterealizado por
mediário contendo metacercárias que, quando ingeridas, le-
vam a doença para o hospedeiro deñnitivo, que pode ser o
meio da pesquisa de ovos no exame parasitológico. Porém, a
homem. Porém, os principais hospedeiros definitivo na Amé- determinação da espécie e género é dificil, sendo necessaria a
rica do Sul são cães e gatos, distribuídos em vários países, in- presença do verme adulto nestes casos. Os vermes adultos
cluindo o Brasil. podem ser obtidos logo após o tratamento empírico. Obvia-
mente, existem outros testes de amplificação de ácidos
nucléicos e irnunológicos para identificação, porém são res-
Transmissão tritos aos centros universitários e de pesquisa.
CHIEFFI, RP.; GORLÀ, MC.; TORRES, D.M.; DIAS, R.M.; MAN- http#Imnwncdc.govfncidodfdpd/parasitesfheterophyesldefault.him
GINI, JLC.; MONTEIRO,FLV.; WOICIECHOVSICI, E. Human Sin: do Carter: _for Disease Control que contém algumas irlfomm-
infection by Phagicola sp. (Trenlatodn,Hetemphyídne) in the Inu- ções básicassobre a infecção por estes parasitas.
nicipality of Registro, São Paulo State, Brazil I. Pop. Med'. Hyg., httpzi/wwwstanfurd.edufclasslhumbio103fParaSites2006!
95, p. 345-343, 1992.
v. Gastrodiscoidiasis/gnstrohtm
GRACZYK, T.K.; FRIED, B. Human waterborne trematode and Site da Universidade de Stanford com informações interessantes so-
pmtmnan infections.Adv. Parasíml.,v. 64, p. 111-160, 2007. bre a gastrodiscoídíase.
MAS-CDMA, S.; BARGUES, MD.; VAIERO, MA. Fascioliasis and httpuffwtvwhistopathology-indianctlfnscíohtnn
other plant-borne trematode Zoonoses. Int. I. Parasitol., v. 35, p. Sins contendo vários abstract: sobre a üsciolopsíase.
1255-1278, 2005.
PARK,LH.; KINI,LL.; SHIN,EH.; GUK, &M; PARK,YÃK.; CHAI, IX.
A endemic focus of Heterophyes nocens and other hetero-
new
phyid infections in a Coastal area of Gangjm-gtm, Ieollanam-do.
Korean I. Parasirol, V. 45, p. 33-38, 2007.
@oença por trematódêos
tecicfuazls exóticos
e dê importação
Felipe Francisco Tuon
200 Parasitologia -
uma abordagem clínica
o consumo de hospedeiros com a metacercária de Paragoni-
mus, como lagostas e caranguejos de água doce, de forma
crua ou pouco cozida. Os casos humanos ocorrem principal-
O grupo de parasitos trematódeos pode se alojar no intesti-
mente no Sudeste Asiático e Japão. Taiwan,Tailândia,Índia,
no e também em outros órgãos, como fígado, vias biliarese
China e Coréia são os paises que mais descrevem casos dessa
pulmão. Parasitos extra-intestinais foram descritos anterior-
mente, como Schistosoma e Fasciola. Neste capitulo descreve- parasitose, embora diversos casos possam ser descritos até o
norte do continente africano. Em diversas regiões destes paí-
remos outros parasitas raros no Brasil e até mesmo só
ses são descritos casos e e difícildelinear as províncias mais
descritos em outros continentes.
Embora alguns destes parasitas não tenham sido descri- atingidas, embora a região litorânea comporte-se como área
tos no Brasil, tomamos o cuidado de descreve-los de forma
endêmica. à culinária desses países favorece a disseminação
ou manutenção da doença, uma vez que as metacercárias,
pormenorizada, uma vez que o meio ambiente em nosso
país, assim como os hospedeiros, seriam adequados à trans- responsáveis pela transmissão ao homem, podem permane-
cer mcistadas em lagostas sob conserva, mesmo em álcool.
missão. Este fato torna possivel a descrição de casos futuros
No continente americano, existem vários casos em paises
no Brasil, seja pela primeira vez devido a introdução de um
sul-arnericanos com costa para o Pacífico, como o Peru e o
imigrante nas regiões com potencial, seja pela identificação de Equador. Nos Estados Unidos, embora a maioria dos casos
casos que, na realidade, já existiam há muito tempo, porem
jamais haviam sido descritos devido à distânciada assistên- seja proveniente de pacientes que viajaram ou já moraram
nas áreas endémicas do Oriente, alguns poucos casos são au-
cia médica associada ao dificil reconhecimento de alguns pa-
rasitos desta classe.
tóctones, descritos em regiões onde Paragonimus de espécie
diferente daquela encontrada no Oriente ocorre no meio am-
biente em hospedeiros mamíferos, também diferentes. A
não-disseminação da doença no país se dá pelo fato de não
haver o hábito de ingestão dos alimentos contaminados de
forma não-cozida_
Etiologia e Morfologia O Equador é considerado um pais com niveis endêmioos
dessa parasitose. Em 1850, no Brasil, foi descrita a presença
A paragoninúase é a parasitosepulmonar causada por várias de uma espécie de Paragonímusem uma lontra no estado do
espécies do gênero lhragonimus. Existem mais de 40 espécies Mato Grosso. Porém, varios estudos posteriores na região
descritas no mundo causando doença em felinos (gatos, t1'- não conseguiram demonstrar outros hospedeiros que pudes-
gres, leões, panteras) e caninos (raposas, lobos, cães), além sem veicular o parasita e o caso ainda e' questionado.
de comprometer outros mamíferos como porcos, guaximns, Em relação aos hospedeiros intermediários, existem diver-
focas, lontras e, ocasionalmente, o homem. Estes seres adqui- sas espécies de moluscos que podem albergar o parasita. No
rem a doença por meio da ingestão de caranguejos, siris ou Brasil, existe potencial para a existência da parasitose em hu-
lagostas infestados. A espécie mais bem descrita é Paragonimus manos após a descrição de um grande número de Thiara
uresternzani. O parasito adulto pode medir entre 0,8 até 1,6 cm tuberculata nas regiões de Santos e em outras na bacia do alto
de comprimento por 0,4 por 0,8 cm de largura e apresenta cor Paraná. Se introduzida nestas regiões, pode haver o risco de
vermelho-arnarronzada(Figura 26-2). Sobrevivem nos pul- doença nessa população devido ao consumo de crustáceos de
mões, dos hospedeiros mamíferos em formas enczistadas, e eli- água doce possivelmente contaminados com metacercárias
minam os ovos na vias aéreas, os quais medem entre 80 a 120 que se originem dos moluscos. O primeiro caso humano no
pm de comprimento por 48 a 60 pm delargura (Figura 26-1). Brasil foi descrito em 2007, no estado da Bahia.
Epidemiologia Transmissão
Aparagonimíase tem uma distribuição ampla no mundo, A parasitose no homem é adquirida por meio da ingestão de
mas ocorre de forma mais importante em áreas onde eidste metacercárias presentes em caranguejos ou lagostas de água
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FIGURA 26-1 Forma de ovos do parasita no exame direto. Cortesia FIGURA 26-2 Poragonimus adulto. Cortaia de Peters e
de Peters e Pasvol: Atlas of Tropical Medicine and Parasitology, B* Pasvol: Atlas of Tropical Medicine and Parasitology, 8' ed., 20GB,
ed., 2006, Elsevier Ltd. Elsevier Ltd.
Doença por trematódeos teciduais exóticos e de importação
doce crus ou mal cozidos. Estas metacercárias encontram-se casos no pulmão. Porém, podem ser encontrados nos mais
encistadas nesses hospedeiros e, após a ingatão pelo homem, diversos órgãos abdominais, torácicos e até mesmo no siste-
ocorre a liberação da metacercária, a qual atravessa o intes- ma nervoso central. Nestes locais, o primeiro achadoé o in-
tino delgado. Após atravessar a parede intestinal, percorre a filtrado inflamatórioagudo composto por neutrófilos, e na
cavidade peritoneal até atingir os pulmões, passando pelo seqüência, ocorre a migração de eosinóñlos, que refletirá a
músculo diafragma No pulmão, o parasita- se desenvolve eosirloñlia (Figura 26-4).
para o estágio adulto e ocorre a liberação de ovos. Os ovos são As melhores descrições da histologia da paragonimíasesão
eliminados pelos brônquios ou pelo intestino após a ingestão no pulmão. Nesse órgão, o parasito promove o seu encista-
deles. Os ovos eliminados por qualquer uma das formas atin- mento com comunicação para um bronquíolo terminal, mes-
gem a água e, em condições adequadas, há o desenvolvimento mo na vigência de um processo inflamatóriosignificativo. Os
para miracídio,penetrando no hospedeiro intermediário, que ovos que são produzidos pelo parasito neste local levam a
é composto por diversos moluscos, como cararnujos de água novo processo inflamatório granulomatoso, que também
doce (p. ex., Semisulculospira). Nesses hospedeiros interme- pode ocorrer em locais a distância, quando os ovos caem na
diários, ocorre a formação dos esporocistos para cercárias circulação, da mesma forma como é descrito na esquistosso-
que, neste estágio, abandonam o molusco e então invadem os mose. Ovos podem ser achados nos mais diversos órgãos,
crustáceos, como lagostas de água doce ou caranguejos. Nes- como baço, ñgado, rim, músculo, testículos, ovários, tecido
ses hospedeiros há o desenvolvimento de cercária para subcutânooe sistema nervoso central_ Em algims locais com
metacercária, a qual se encista. Os diversos hospedeiros defi- espaço virtual, como pleura e pericárdio, pode ocorrer o de-
nitivos, incluindo o homem, adquirem Parugonimus após a senvolvimento de derrame caxritário, como derrame pleura]
ingestão destes crustáceos (Figura 26-3). e pericárdico. Porém, nestes locais o parasito tende a não so-
breviver e geralmente os achados são negativos nos casos re-
latados.
Patogenia
Em modelos animais, P. westennani atravessa a parede intes- Sinais e Sintomas
tina] após 5 a 1D dias da ingestão oral. Alguns autores chega-
ram a encontrar o vagueanclopela cavidade peritoneal
verme Durante a migração do parasito pela parede intestinal até o
por até 20 dias. Quando o parasito alcança o estágio adulto, pulmão, não ocorre o desenvolvimentode sintomas ou
ele para de progredir a disseminação, levando à formação
de ovos no local em que se encontra, sendo na maioria dos
podem ser observados baqueteamento digital e unhas em vi- é repetido mais de cinco vezes, consegue-se atingir um valor
dro de relógio. preditivo positivo de 50%. O lavado broncoalveolarpode au-
O exame físico pode revelar diversos achados, como es- mentar este número para mais de 60%.
tertores crepitantes localizados ou difusos. Em alguns casos Ovos podem ser achados nos mais diversos órgãos, como
pode haver diminuição da ausculta em um lado do tórax, se- baço, fígado, rim, músculo, testículos, ovários, tecido sub-
cimdária ao derrame pleural. Nos casos crônicos, a ausculta cutãneo e sistema nervoso central. Neste último caso, os ovos
pulmonar pode revelar roncos que são encontrados nos ca- podem ser encontrados no líquor.
sos de bronquiectasias secundárias à inflamação crónica dos
brônquios. Som tubário também é descrito nos casos crôni-
cos em que há formação de cavitação, tornando-se um diag-
nóstico diferencial com a tuberculose pulmonar.
Tratamento e Profilaxia_
Na paragonimíase cerebral, que ocorre em menos de 1% O tratamento da paragonimiase é baseado no praziquantel,
dos casos, o quadro clinico consiste em náuseas e vômitos 25 mgfkg três vezes ao dia, por 2 dias. O controle de cura é
com cefaléia. Alteração visual também é comum e quadro baseado na melhora clinica, na negativação das pesquisas di-
neurológico com sinais de localização pode ser bastante va- retas de ovos e na diminuição dos títulos imunológicos.
riável, com comprometimento motor e sensitive associado. O tratamento da paragonimíase cerebral é parecido com
Em outros casos pode ocorrer convulsão focal ou generaliza- o da neurocisticercose, em que se deve avaliar a possível via-
da. Sinais meningorradiculares também são comuns nstes bilidadedo parasito na lesão e instruir o tratamento confor-
pacientes, gerando rigidez nucal secundária à meningite me os sintomas.
eosinofílica. A profilaxiabaseia-se na orientação sobre evitar crustá-
Sinais e sintomas de paragonimíaseem outros órgãos po- ceos crus ou mal cozidos. A orientação pré-viagem para tu-
dem gerar quadro clínico conforme o órgão acometido, ristas também é importante.
como hematúria na doença renal, aumento de volume testi-
cular na paragonimíasetesticular, e nódulos subcutãneos na
doença muscular ou do tecido conjuntivo.
Etiologia e Morfologia
PÍÊSJEÊÉÊÍE?
A clonorquiase é a parasitose causada por Clonorchis sinensís.
A eosinoñlia associada à discreta leucocitose é um achado Como os trematódeos intestinais, esse parasito acomete adul-
muito freqüente na paragonimiase. Na paragonimíase cere- tos e crianças em diversas áreas do Sudeste Asiático. A carac-
bral há meningite eosinoñlica. Os exames de imagem torácica terística desse parasita é o comprometimento distal das vias
nos quadros pulmonares podem revelar anormalidades em biliares.A presença do parasita adulto nesse local não ocasio-
mais de 80% dos casos. Os achados podem demonstrar desde na sintorrtatologia importante, podendo sobreviver por mui-
inñltrados inespecíñcos ou calcificações até micronódulos ou tos anos noHgado sem comprometimento sistêmico ou mesmo
nódulos que podem gerar cavitações na evolução crônica. Na local do hospedeiro. O parasita adulto mede de lO a 25 mm
doençapleural pode ser descrito desde espessamento pleural de comprimento por 3 a 5 mm de largura. Os ovos são eli-
até derrame preenchendo todo o hemitórax. A tomografia minados pela via biliare cerca de 2.500 ovos medindo entre
computadorizada axial do tórax pode ajudar na descrição 29 um por 16 pm, atingem as fezes diariamente.
destes achados, porém não dá o diagnóstico.
Os achados de imagem nas formas extrapulmonares po-
dem variar desde nodulações calciñcadas ou não até forma- Epidemiologia
ções císticas.
Os exames sorológicos são bastante úteis no diagnóstico. Clonorchis sinensis causa doença na China, 'l'aiwan, Japão,
A reação de ñxação do complemento foi bastante utilizada, Coréia e Vietnã. O homem adquire o parasito mediante a in-
inclusive no acompanhamento do tratamento mediante con- gestão de peixes contaminados com a metacercária de C.
trole da titulação. Porém, com o advento das técnicas de ELISA sinensís endstada. Para isto, o peixe deve ser ingerido cru, mal
[ensaio imunossorvente ligado à enzima), foi paulatinamen- cozido ou em conserva pouco hipertônica. Por este motivo, a
te substituída por essa técnica, que apresenta sensibilidadee doença está associada não apenas a uma questão geográfica,
especiñcidade próximas a 90930. Podem ocorrer falso-posititm mas também ao costume alimentar. A doença também está
em infecções por outros tremátodeos e os títulos podem le- presente na Rússia e estima-se que sete milhões de pessoas es-
var anos para cair, dificultando a diferenciação entre infecção tejam infectadas com C. 'nensis Trabalho recente na Coréia
passada e aguda nos pacientes de áreas endêmicas. revelou uma prevalência de 1,4% na população. O parasito
Doença por trematódeos teciduais exóticos e de importação 203
bém apresenta áreas de risco e casos, assim como a Europa dem ser discretos ou de forma mais intensa, chegando a as-
Oriental. Filipinas, Malásia e Coréia são países com preva- sociar febre, icterícia e dor em hipocôndrio direito. Sinais de
lência alta em determinadas províncias. Outras áreas do hipertensão porta são raros.
mundo também apresentam casos que são relacionados ao
turismo para determinada região onde a opistorquíase é
endêmica. No Brasil, não CJCÍSÍCID casos autóctones de opis-
torquíase, embora o risco exista. A baixa probabilidadetam-
bém está associada ao fator de risco de ingestão de alimentos O diagnóstico é baseado nos fezes demonstrando
exames de
crus, que não é comum, embora esteja aumentando. os ovos característicos, em pacientes provenientes de área
Uma das preocupações no Brasil foi o abandono de exa- endêmica. Exames moleculares de auxílio diagnóstico nestas
mes parasitológicos que eram realizados nos imigrantes pro- parasitoses não são amplamente utilizados, e os exames so-
venientes do Sudeste Asiático, China e Japão. No Canadá, rológicos não diferenciam estes de outros trematódeos. Po-
mais de 15% dos imigrantes chineses tem opistorquíase, e no rém, o tratamento não difere muito, e considerando esta
Brasil não temos trabalho publicado. característica, o tratamento empírico é amplamente utilizado.
A correlação entre a opistorquíase e o colangiocarcinoma Os exames de imagem são importantes, revelando alterações
também existe. Um trabalho demonstrou que a incidência de semelhantes às descritas na clonorquíase, tanto em ultra-
colangiocarcinoma aumenta em 1D vezes quando a prevalên- sonografia, quanto na tomografia e na colangiorressonância.
cia também aumentaem 10 vezes.
Como o próprio nome diz, O. felinus tem a preferência
Tratamento e Profilaxia
por parasitar gatos, mas também atinge cães, visons e ou-
tros roedores. O ciclo de vida deste parasito está descrito na
O tratamento com praziquantel apresenta altas taxas de cu-
Figura 26-5.
ras, aproximando-se de 100%. A dose consiste em 25 mg/kg
em três doses
Patogenia
O parasito adulto Opisthorchis promove um processo infla-
matório na via biliare no tecido hepático periductal. A inten-
sidade do processo inñamatóriovaria signiiicativamente com
a quantidade de parasitas. Macroscopicamentedesenvolvem-
se nódulos ou cistos que geram irregularidades na superñcie
do fígado, as quais podem ser visualizadas durante laparos-
copia. O inñltrado inilamatórioé inicialmente eosinofilico,
gerando eosinoñlia periférica, e em longo prazo culmina com
infiltradomononuclear linfocítico (Figura 26-8).
Sinais e Sintomas
O quadro clínico é bastante frustro, como descrito na clo-
norquíase. Os sintomas iniciais consistem em dor abdominal,
diarréia, náusea com vômitos e mal-estar. Estes sintomas po-
Taenia solium
Comquofrovenbscaserostooom
duplo coroa de ganchos
Com menos de 12 ramificações uterinos
em onda lodo
Marior, até 5 metros
Número de proglotes Até 1.000
Desprendimenlo dos
proglotes ou apólice doestlúbiio
Ovos nas proglotes grávidas De 30 a 40 mil
de forte intensidade, náuseas, vômitos, papiledemae, nos casos O exame do líquor é uma ferramenta fundamental no
mais graves, alteração do nível de consciência. As formas com diagnóstico da N CC e traduz a reação inflamatóriado cisto.
HlC podem ocorrer: (1) por bloqueio do 111110 liquórico, per- Segundo Lange, a síndrome liquórica clássica da N (T carac-
manente ou intermitente, devido à presença de cisticerco nas teriza-se por pleoc.itose de até 50 leucócitoshnnf, presença
cavidades ventriculares; quando o cisticerco está livre nos de eosinofilorraquiae de anticorpos específicos. Outros pa-
ventrículos, a l-llC é de caráter intennitente, podendo ocor- râmetros devem ser acrescidos, como a presença de neutró-
rer inclusive com a movimentação da cabeça. A presença do ñlos na fase de degeneração dos cistos, aumento do teor de
cisticerco na cavidade "ventricular também pode causar reação gamaglobulinas, presença de bandas oligoclonais e síntese
inflamatóriaependimária com bloqueio ao fluxo liquórico e intratecal de anticorpos específicos.
conseqüente HlC; (2) pela presença dos cistos no parênqui- A pesquisa de anticorpos específicos no líquor se da por
ma cerebral, que funciona como um processo expansivo in- meio de cinco reações: ñxação de complemento [reação de
terrompendo EXÍYÍIISECEIJDEDÍE o fluxo liquórico através dos Weinberg), imunofluorescênciaindireta, hemaglutinação
forames e cisternas; (3) pela presença de edema perivesicular, passiva, ELISA e immunoblotri-rzg. A sensibilidadedessas rea-
tanto de forma espontânea quanto após o tratamento para- ções está relacionada com periodo evoluüvo da doença e com
siticida. sua localização em relação ao sistema do líquor. Cistos
Além dessas formas, a NCC pode se apresentar por meio parenquimatos-osque estabelecem pouco ou nenhum contato com
de síndrome demencial e depressão. As formas raquidianas o sistema de defesa do hospedeiro não induzem a produção de
são pouco freqüentes e cursam com déficits motores e/ou
sensitivos, distúrbios esñncterianos e dores do tipo radicular.
O raro comprometimento de nervos cranianos pode se dar
devido à aracnoidite ou à compressão direta dos cistos.
DlAGNÓSTICO
O diagnóstico da N CC baseia-se na análise do quadro clínico,
dados de neurorradiologia e exame do líquor. Como vimos,
o quadro clínico é inespectíñco, mas devido à endemicidadeda
doença em nosso meio, sempre se suspeita de NCC quando
se depara com as manifestações clínicas citadas.
A tomografia computadorizada de crânio (TCC) permite
observar a presença de dilatação ventricular, localizando e
avaliando o estágio dos cistos. A TCC e' de gande importân-
cia na demonstração das formas calciñcadas da doença, su-
plantando em sensibilidadea ressonância magnética ( RM) de
encéfalo. A injeção de contraste permite evidenciar a presen-
ça de processo inflamatório,caso haja realce perivesicular.
Exceto nas formas calciñcadas, a RM é superior no diag-
nóstico neurorradiológico da NCC em sua forma intrapa-
renquimatosa (Figura 28-1). A RM permite evidenciar o
escólex (Figura 28-2) no interior da vesícula e mostra clara e
precocemente a inflamação perivesicular, quando presente.
As vesículas nos espaços liquóricos e intra-raquidianos po-
dem ser mais dificeis de serem ivisualizadas, urna vez que o
seu conteúdo pode ter o mesmo sinal do líquor. O (Quadro
28-2 mostra as situações de falso-positivos e falso-negativos FIGURA 28-1 Ressonância magnética de encéfalo na
da RM. neurocisticercose (corte axial).
216 Parasitologia -
uma abordagem clínica
QUADRO 28-3 Sensibilidade das reações
imunológicas e de método molecular, no líquor,
para diagnóstico da neurocisticercose [NCC)
Sensibilidade [96]
Fixação do complemento [Weinbergl 0-58
lmunofluorescênciaindireta l 1-79
Hemaglutínoçõo passiva 61-84
EUSA 39-95
lmmunoblomng 56-95
rca 96,7
falso-negativos e falso-negativos na NCC ente, a opção de não utilizarparasiticída deve ser considera-
da. Cistos racemosos e intraventriculares não respondem às
Falso-negativos larvas em fase de instalação
o
drogas parasiücidas.
Meningite eosinofllica causada por
o
Com relação às medidas antiinflamatórias,os medica-
cistos intaraquidanos
mentos mais utilizados são os corticóides, especialmente a
Gatos com morfologia alípioa
o
dexametasona (4 a 18 mg/dia). Devido aos efeitos colaterais
o Granulomas
do uso prolongado dos corticóides, pode-se utilizar como
O Neoplasias melaslúlicos medida antiinflamatóríaa dexclorfeniramina (6 a 10 mg¡ dia),
Cistos de aracnóide
que tem boa tolerabilidade,apresenta baixo custo e poucos
o
anticorpos ou então algumas reações são mais sensíveis em ticularmenteútil nas formas demenciais da doença
determinadas fases da doença que outras. Para as crises epiléticas,preconiza-se o uso de drogas an-
Testes realizados pela técnica da reação da cadeia da polime- tiepilépticasde primeira linha de acordo com o tipo de crise
rase mostraram altas sensibilidadee especiñcidade, mesmo que o paciente apresenta.
para cistos únicos. A retirada cirúrgica do cisto pode ser considerada e está
O Quadro 28-3 mostra a sensibilidadedessas reações. Pre- condicionada a critérios neurocirúrgicos de acessibilidadeao
coniza-se a realização rotineira de pelo menos quatro des- cisto. A obstrução do fluxo liquórico por cistos intraventri-
sas reações a fim de assegurar o diagnóstico de forma mais culares deve ser corrigida com a colocação de válvula de de-
precisa. rivação ventricular.
Segundo a maioria dos autores, 20% dos pacientes não se
beneñciam do tratamento em longo prazo.
ÍRATAMENT0 E PIIOFILÀXIA ñ instituição de medidas profiláticasé de importância ca-
pital na história da neurocisticercose. Medidas de higiene
Os objetivos principais do tratamento da NCC são, por um simples, como lavar as mãos antes de alimentar-se ou de ma-
lado, a inativação do parasita e por outro, o controle do pro- nipular alimentos, e lavar bem alimentos que serão ingeridos
cesso inflamatóriodesencadeado pela presença do cisticerco. crus, são fundamentais.
DE GIORGIO, CM.; IVÍEDIÍNA, MT.; DÚRON, R.; ZEE, C.; ESCUETA,
S.P. Neumcysticermsis.
(página deixada intencionalmente em branco)
ífufaticfose
Carlos Graeff-Teixeira
220 Parasitologia -
uma abordagem clínica
lhas. O pampa se estende pelo Uruguai e Argentina, consti-
tuindo as principais áreas de ocorrência nas Américas. Nesta
área de fronteira, estudos da década de 1980 mostram que a
Hidatidose é a infecção pela larva de cestódeos do gênero prevalência em ovinos pode chegar a 15%, em bovinos a 9%,
hthinococcus, que abriga, atualmente, seis espécies. Equinoco-
cose seria urna sinonírnia, enquanto outros autores preferem
e em cãü a 20%, com aparente redução quando comparados
a dados obtidos na década de 1990, respectivamente 8%, 6%
reservar este termo para a infecçãopelo verme adulto, que não
e 3%. Cães do meio urbano podem apresentar prevalências
ocorre no homem. A principal espécie que infecta o homem
de 10%, sugerindo que a transmissão não se restringe somen-
é E. granuiosus, parasito cujo verme adulto habitualmente se
te ao meio rural.
desenvolve no cão, e as suas larvas, em herbívoros. O homem
é um dentre muitos vertebrados que podem ser hospedeiros As medidas de prevenção da raiva entre canídeos silvestres
em algumas áreas da Europa estão levando ao aumento da
acidentais do "cisto hidático", sempre com menor adaptação
quando comparado aos ovinos. A doença humana é conhe- população de hospedeiros de E. multilocularis e a prevalência
cida desde a antigüidade, quandojá se fazia referência ao "cisto desta parasitose nos animais tem aumentado,representando
risco de aumento do número de casos humanos no futuro
hidático": como hidátide ou “pedra d'água”. No final do século
XVII, Redi referiu, pela primeira vez, que a hidátide era tuna (Figura 29-1).
forma parasitária.
Edrinococcus multilocularís é o agente causal da chamada
hidatidose alveolar. Trata-se de espécie própria de canideos
silvestres, ocorrendo principalmente nas regiões setentrionais
do hemisfério norte. O cisto é constituído de inúmeros lóculos O homem se infecta ao ingerir os ovos eliminados nas fezes dos
e pode crescer de forma muito agressiva, produzindo metás-
cães, no caso da hidatidose por E. granulosus. Estes ovos po-
tases. E. oligarthus e E. vogeli produzem a chamada hidatidose
dem estar presentes no pêlo do animal e contaminar o solo, a
policística, na qual múltiplos cistos acometem vários órgãos. água e os alimentos. A larva liberta-se do envoltório do ovo e
Recentes análises moleculares tem fornecido dados para penetra a parede do intestino, cai na circulação e vai se alojar
validar duas novas espécies dentro do género: E. esquinas e E. em vários órgãos, especialmente no fígado, onde se desenvol-
ve a hidátide (Figura 29-2). Os protoescólex são as formas
ortleppi, que até recentemente eram consideradas variantes de infectanta para o cão e são
E. granulosus, tendo, respectivamente, eqüinos e bovinos
como hospedeiros intermediários. Destas duas novas espéci-
es, apenas o E. quinas é considerado infectante para o homem.
SINAIS E SINTOMAS
A dor torácica depende da localizaçãoperiférica do cisto. 'Fosse
seca irritaüva ou hemopüse sinalizam compressão e lesão do
pedículo vasculonervoso que acompanha a via aérea. Eventu-
almente o cisto rompe para dentro da árvore brônquica, ori-
ginando uma eliminação de pedaços da parede e de grande
quantidade de líquido (vómica) em meio a acesso de tosse e
grande mal-estar.
Fraturas espontâneas podem ser manifestação de raro
parasitismo dos ossos, em que o cisto cresce ocupando os ca-
nais de Harvers e provocando destruição das trabéculas, com
lesão osteolíüca visível ao estudo radiológico. Outros órgãos
podem ser afetados, com manifestações condicionadasà lo-
calização e ao tempo de evolução.
Na infecção por E. mulrilocuiaris é raro o comprometi-
mento ema-hepático. No fígado, os cistos têm o comporta-
mento de uma neoplasia maligna, no sentido de que o
FIGURA 29-2 i, A hidatidose é transmitida por meio da ingestão crescimento é progressivo, por proliferação tanto para fora
de ovos que, no homem ou em outros hospedeiros, leva à formação
de cistos teciduais [2], 3, Para a manutenção da transmissão, estes quanto para dentro da membrana germinativa,produzindo
uma estrutura multilocular, fazendo jus ao nome cienüñco da
cistos teciduais devem ser ingeridos pelo cão [4], que desenvolve a
forma adulta do parasito, ocorrendo a eliminação de ovos, que espécie. Além disso, podem ocorrer disseminação à distância
ou metástases. A sintomatologia, como na infecção por E.
festa P F¡?'° E51;
gramdosus, pode tardar décadas para chamar atenção, desta-
cando-se a hepatomegalia. Não é uma doença febril, exceto
quando ocorrem complicações bacterianas: à infecção secun-
A estase biliardecorrente pode se complicar por infecção bac- dária da massa gelatinosa central do cisto ou à colangite se-
teriana, originando quadros de colangite e bacterenlia. 'Prés cundária a estase biliar.Pode ocorrer hipertensão porta, com
quartos dos cistos hepáticas se localizam no lobo esquerdo, todas as manifestações decorrentes. Sabe-se, hoje, que mui-
solitários ou em número de dois ou três. tos cistos podem ter curso regressivo espontâneo e também
222 Parasitologia -
uma abordagem clínica
podem ser achados ocasionais, confundiveis com doença
neoplásica. Acompanhamento de indivíduos que soroconver-
teram e não apresentaram evidências de desenvolvimento de
cistos sugere que a maioria das pessoas exposta a formas
infectantes de E. multiloculzzns sequer permite o estabelecimen-
to dos cistos. Portanto, atualmente, frente à hidatidose
alveolar, considera-se haver indivíduos refratários à infecção
[entre 70% e 90%) e indivíduos suscetíveis ou que desenvol-
vem doençaprogressiva ou as formas regressivas espontâneas.
Hidatidose policística com hepatomegalia a formação de
massa tumoral irregular pode ser causada por E. vogeli ou
l , ,
Infecções humanas experimentais demonstraram que este
cestóide cresce ao redor de 5 cm diariamente. O verme adul-
to inicia a eliminação de ovos entre os 2D e 30 dias (período
pré-patente) e pode viver até 20 ou 25 anos.
Epidemiologia
A esparganose apresenta uma ampla distribuição no mundo.
Casos já foram descritos na Ásia, Europa e em toda a Amé-
rica. Devido à forma de aquisição, ela pode apresentar uma
maior incidência em determinadas regiões. Entre esses países
são citados o Vietnã, Papua-Nova Guiné, China, Japão e
Coréia. Nas Américas também são relatados mais de 50 ca-
sos, sendo que espécie prevalente (S. nzansonoídes) é diferente
a
daquela presente no Sudeste Asiático (S. erinaceieuropaa). Na
cm
_à
çqsg¡
_ _
Diagnóstico
A suspeita diagnóstica ocorre mediante um histórico de expo-
sição a ou viagem para áreas de maior incidência, em con-
tato com águas contaminadas seja pela ingestão ou por entrar
na água com feridas cutâneas. Associado ao dado epide-
Tratamento e Profilaxia
O tratamento não se faz necessário, ocorrendo a retirada ci-
rúrgica da lesão mediante um desejo do paciente por fatores
estéticos ou e1n local que traga incómodo, como em nádegas
e dorso. Outras lesões podem ser ressecadas quando houver
comprometimento orgânico significativo, como pulmonar,
vesical e palpebral. Não está indicado tratamento medica-
mentoso para a esparganose este é realizado em hospedeiros
-
ÊÍEÊoÍÊsÊ_-?ÍÉÊ9T?? Epidemiologia
Os sinais e sintomas da coenurose são variados e dependem
do local de implantação no cérebro, medula espinhal, mús-
- A dipilidíasetem distribuição mundial, embora exista um
culo ou olho. Na fase de parasitemia podem ocorrer febre, viés de publicação. No Brasil, existem várias descrições da
sintomas abdominais inespecíñcos e um quadro sistêmico parasitose em cães de todas as regiões do país. Para a aquisi-
inespecíñco. Essa fase pode ser despercebida ou até mesmo ção da doença em humanos, há necessidade de ingestão de
gerar um quadro de febre com adenopatias generalizadas. pulgas infectadas com D. caninum. Por esse motivo, geral-
Quando ocorre a implantação dos cistos no sistema ner- mente a parasitose ocorre em crianças que habitam em um
voso, podem ocorrer sintomas localizados, como paralisias, mesmo domicílio e têm contato constante com o hospedeiro.
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado no achado dos proglotes caracterís-
ticos nas fezes. Algumas característicasdos proglotes promo-
vem rápida distinção de outros cestódeos mais comuns.
Eosinofilia é um achado laboratorial que pode ser identi-
ficado, porém nem sempre exames laboratoriais são realiza-
dos nesses pacientes.
Tratamento e Profilaxia
O tratamento é realizado corn praziquantel na dose única de
25 mg/kg. A taxa de cura é alta. A profilaxiaconsiste na eli-
minação das pulgas de animais domésticos.
agressão direta, estando na dependência carga larvária e de lidade do músculo liso, levando a um aumento do peristal-
contato prévio do hospedeiro com o parasita. tismo. A resposta humoral, com predominância de lgE, é
As larvas presentes no interior do ovo, ao chegarem ao responsável por reações de hipersensibilidade.A presença de
intestino delgado, penetram na mucosa e migram para a cir- sintomatologiarespiratória nessa fase caracterizaa síndrome
culação porta, chegando ao fígado. A morte de larvas na de Lõeffler.
mucosa ou submucosa intestinal pode conduzir a alterações O verme adulto não invade a mucosa e as alterações pa-
teciduais caracterizadascomo micro-hemorragias e infiltra- tológicas decorrentes da sua presença são devidas à interfe-
do inflamatórioconstituído de macrófagos e eosinóñlos. No rência mecânica decorrente das suas dimensões, à excreção de
fígado, em ge1'al, não ocorrem alterações teciduais relevantes, substâncias antigénicas e também à sua capacidade de mi-
embora cargas larvárias maciçaspossam resultar num qua- gração, principalmente na presença de ambientehostil [como,
dro inflamatórioque causa áreas de hemorragia e necrose p. ex., ação de drogas anti-helmínücas). Dentre esses antíge-
242 Parasitologia -
uma abordagem clínica
nos, convém destacar o ABA-l, de peso molecular de 14 kD,
que induz à produção de lgE., com as conseqüentes reações de
hipersensibilidademanifestas por reações cutâneas
Ascaddíase mí
BRADLEY,LE. Br JACKSON, LA. Immunity, immunoregulation and helmínthiasesand the public health of China. Emezg. Infea. Dis.,
the ecology of trichuris and ascaris. Parasita Immunal., v. 26, p. v. 3, p. 303-310, 1997.
429-441, 2004. REZ Luís. Parasitologia. 3'* ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
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tzstinaís -
diagnóstica e tratamento. São Paulo: Lemos Editorial,
2001.
COX, F.E.G.; ICREIER, LP.; WALKELDQ,D. Parasitblagy in Toplcy ó'
¡fí-'ílsorfs Microbiology and Micmbía¡Inkctions. Lnndon: Arnold
ed., 1998. httpzlfwwvnnpathsamnc.ukf~sdústnlNen1atodesfAscaJisJ1ünl
Site com informações básicas sobre ascaridíase.
CROMFTON, DMÊT. Ascaris and asmriasis. Adv. Parasiúof., v. 48, p.
285-375, 2001. httpzfibioxutgermeduf~gbl02flab_2l305bmhtn1l
Sim de fotos interessantes com cortes histológícos de Ascaris lum-
HOTEZ, PJ.; ZHENG, F.; LONG-QI, X_ Emerging and reemerging briarídas.
(página deixada intencionalmente em branco)
Âncifostomzízse
Susana Angélica Zevallos Lescano
Pedro Paulo Chieffi
246 Parasitologia -
uma abordagem clínica
TABELA 34-1 Prevalência de ancilostomídeos por os ovos produzidos pelas fêmeas que se encontram no intes-
região tino e são eliminados com as fezes formam, sob condições
adequadas de temperatura, umidade e sombra, as larvas de
primeiro, segundo e terceiro estágios (L1, L2 e L3) em apro-
ximadamenteoito dias. O terceiro estágio ou L3 é a forma in-
fectante que penetra na pele de diversos mamíferos, porém
somente completa seu desenvolvimento em seres humanos.
África subsaoríono 198
A segunda fase, parasitária, se inicia com as larvas L3, conti-
“Ásia, região do Pacífico 149 nua com dois estágios larvários (L4 e L5), que finalmente
Índio e Ásia do sul 130 evoluem até vermes adultos no intestino delgado, que é seu
habitat habitual (Figura 34-1).
América _latina e Caribe' 50
Os ovos, eliminados com as fezes dos seres humanos in-
Chino 39 fectados, precisam de solo com condiçõesadequadas para seu
Oriente Médio i0 desenvolvimento. Umidade elevada, boa oxigenação, solo are-
noso, sem muita compactação e sombreado, e temperaturas
Total 57ó
que variam entre 27° e 32°C, no caso de N. americanas, e 21°
Fonte: Falar Hotaz E008] e 27°C, para A. duodenale, são fatores que favorecem o etn-
brionamento e a formação da larva de primeiro estágio (L1)
no interior do ovo.
Depois da malária, a ancilostomíaseé a infecção parasitá- A fêmea de A. duodenale produz cerca de 20.000 ovos por
ria que mais causa perda potencial de vida saudável (em dia, e N. americanus a metade dessa quantidade. Entretanto,
anos_) resultante de doenças (em inglês, DALYs). No Brasil, a produção de ovos de ambas espécies pode ser alterada por
essa parasitose predomina 11as áreas rurais e está associada a fatores variados, como duração da infecção, estado nutricio-
regiões sem saneamento ambiental e cujas populações têm o nal do hospedeiro e número de vermes presentes.
hábito de andar descalças. Entretanto, nas últimas décadas, a Após 18 a 24 horas no solo, em condições favoráveis, for-
freqüência de infecção tem diminuído sensivelmente, em es- ma-se a larva L1 no interior do ovo. Essa larva, de 250 pm de
pecial nas áreas metropolitanas. comprimento, conhecida como larva rabditóide, devido à
As taxas mais altas de infecção ocorrem nas regiões costei-
ras, onde as larvas infectantes de terceiro estágio migram li-
vremente no solo arenoso e nas quais a temperatura e a
umidade são ótimas para a sobrevivênciadas mesmas. Nes-
sas áreas, a exposição repetida às larvas L3 de N. americanas
e A_ duodenale resulta em lesões eritematosas com intenso
prurido local, que provocam a “coceira da terra?
A infecção por ancilostomídeos acomete quase todas as
faixas etárias em uma área endêmica; a prevalência, no entan-
to, tende a aumentar com a elevação da faixa etária na infân-
cia e adolescência, alcançando os valores máximos entre os
adultos jovens, por ser esse grupo mais exposto, devido ã sua
participação nas atividades agrícolas. Estudos realizados em
diferentes áreas endémicas sugerem que seres humanos têm
predisposição para adquirir essa parasitose, de modo que in-
divíduos altamente infectados e tratados com drogas anti-
helmínticas adquirem com freqüência novas infecções maciças
quando freqüentam o mesmo ambientecontaminado. Ends-
tem evidências da predisposição genética de alguns grupos
para adquirir infecções ancilostomóücasmais graves com ele-
vadas cargas parasitárias (Schad e Anderson). Alguns auto-
res, inclusive, consideram que individuos caucasianos seriam
mais suscetíveis à infecção por ancilostomideosdo que indi-
víduos da raça negra, quando comparados nas mesmas con-
dições de idade e ocupação e nivel socioeconômico.
FIGURA 34-1 Ciclo biológico de ancilostomideos: larvas ñlarióídes
penetram ativamente pela pele ou mucosas Ii); após ciclo pulmonar,
atingem o intestino, onde habitam os vermes adultos originando
ovos [2] que saem com as fezes, atingindo o meio ambiente [3); estes
No ciclo biológico dos ancilostomídeospodem ser observa- eclodem dando origem a larvas rabditóidü (4) que, após sofrerem
das duas fases. Na primeira, que acontece no meio externo, mudas_ transformam-se em larvas tilarióides [5], que são infectantes.
248 Parasitologia -
uma abordagem clínica
forma de seu esôfago com bulbo posterior, eclode, ñcando Os ancilostomídeosapresentam características biológicas
livre no solo. Alimenta-se de bactérias e matéria orgânica em que lhes permitem sobreviver no seu hospedeiro: N. america-
decomposição, e em aproximadamente quatro dias sofre mrs tem capacidade de induzir a produção de anticorpos da
muda em sua cutícula, transformando-se em L2, que mede classe IgA, bloqueando a ação de fagócitos. A duodenale é ca-
500 um. Essa larva mantém a capacidade de alimentar-se e paz de secretar substância proteolítica com poder anticoa-
sofre modiñcações notadamente no esôfago, que vai se tor- gulante, que facilitasua alimentação.
nando alongado. Passados qua1:ro a cinco dias, ocorre uma
nova muda com a formação de outra cutícula embaixo da
cutícula da L2, que não é eliminada, atrofiando a cavidade
bucal da nova larva.
Essa nova larva, denominada L3 ou ñlarióide, por apre- O quadro clínico pode variar desde a ausênciade sinais e sin-
sentar o esôfago íiliforme, é o estágio infectante do parasita. tomas a situações de gravidade extrema. Alguns fatores con-
Mede cerca de 700 pm de comprimento e sobrevive das reser- tribuem para a exacerbação e manifestação da morbidade,
vas alimentares que possui dos estágios larvares anteriores, tais como: espécie do agente etiológico e a carga parasitária,
em razão de não conseguir alimentar-se. idade e estado nutricional do hospedeiro, intensidade da ane-
As larvas de ancilostomídeosapresentam características mia produzida em conseqüência da sucção de sangue pelos
de comportamento que facilitamsua capacidade para se des- parasitas.
locarem no solo e penetrar na pele de um novo hospedeiro, As manifestações cutâneas ocorrem nos locais onde houve
entre elas:
penetração das larvas. Na infecçãoprimária, a pele, no local da
O Geotropismo negativo ao se deslocarem
para a super- penetração, mostra-se eritematosa e com ñrias pápulas pru-
íicie do solo.
I Termotropismo: são atraídas
riginosas; no caso de reinfecções, as reações são mais violentas,
por temperaturas eleva- principalmentequando há penetração de bactérias piogêni-
das, penetrando na pele de hospedeiros homeotérmi- cas no tecido.
cos, cuja temperatura é mais elevada do que a do solo. Durante a migração das larvas pelo trato respiratório, ma-
O Hidrotropismo:as larvas tendem a se localizar em
por- nifestações clinicas não são freqüentes; todavia, quando ocor-
ções maís úmidas do solo, evitando, assim, a morte por
rem, se caracterizampor febre baixa, tosse seca, rouquidão e
dessecação.
O homem adquire a infecção quando as larvas ñlarióides dispnéia.
O parasitismo intestinal pelos vennes adultos é responsá-
(infectantes) penetram na pele, no caso de N. americanus e A. vel pelas manifestações mais evidentes da ancilostomiase.A
duodeimle, ou são ingeridas, como somente para A. duodenaíe.
A penetração da pele se dá principalmente na região dos fixação dos vermes à mucosa intestinal, ainda na fase aguda
tomozelos e pés, especialmente em suas bordas e no dorso, da infecção,pode determinar a ocorrência de lesões inflama-
como também nos espaços interdigitais; as larvas entram ra- tórias que se manifestam por dor epigástrica, alterações do
pidamente nos capilares linfáticos e venosos regionais; outras apetite, náuseas, vómitos e flatulência. Mais importantes,
entram na corrente sangüínea e seguem uma migração de dez entretanto, são alterações de caráter crônico, dependentes da
dias para os pulmões, brônquios e bronquiolos, onde há uma perda contínua de sangue, conseqüente à ñxação dos anci-
nova muda para L4, que elimina antígenos metabólicos que lostomídeos à mucosa intestinal, por meio de sua cápsula
induzirão resposta imune significativa. Seguem pela traquéia, bucal. Dependendo da carga parasitária geralmente nas
-
laringe, esôfago, estômago e intestino. Ao chegarem ao intes- cargas elevadas, quando há produção e eliminação de mais de
tino delgado, transformam-se em larvas de quinto estágio 10.000 ovos de ancilostomídeospor grama de fezes pelos in-
ou L5, e posteriormente desenvolvem-se até atingir a forma dividuos parasitados desenvolve-se anemia hipocrômica e
-
adulta, lixando-se no intestino e sugando sangue da mucosa microcíüca, que costuma manifestar-se por lassidão, disp-
intestinal. 11éia, taquicardia, cefaléia e, às vezes, pela presença de sopros
No caso da infecção por larvas L3 de A. dirodenale pela via cardíacos e edemas nos membros inferiores.
oral, a evolução para larvas L4 e L5 se faz por meio de mu- A gênese da anemia na ancilostomíase,além da perda con-
das que têm lugar' no próprio trato digestivo, sem necessaria- tínua de sangue um exemplar de A. duodenaíeretira entre
mente ocorrer a passagem pulmonar descrita.
-
A. duodenale e 42 a 60 dias para N. americanas. pobre em ferro. Assim, somente quando as reservas de ferro
Para que ocorra a infecção humana, são necessários cer- do organismo são insuficientes e a carga parasitária é eleva-
tos fatores que facilitariama propagação do parasitismo: da manifesta-se a anemia na ancilostomíase.
I Fonte de infecção adequada (indivíduosinfectados). Hipoproteinemiacom
O Hábitode defecar no solo, favorecendo o desenvolvi-
do homem.
rem para adultos no organismo humano, conseguem atingir
outros tecidos além da pele e determinar a ocorrência de
enterites eosinoñlicas (Prociv 8( Croese).
com o solo ou com objetos contaminados com fezes que con- tes eclodem em seguida, dando origem às larvas rabditóides,
tenham larvas infectantes. Nos Estados Unidos, veteranos da que atingem a luz intestinal, sendo, então, eliminadas com as
Segunda Guerra Mundial e das guerras da Coréia e Vietnã fezes. O período de tempo entre a infecção
também exibem prevalência considerável da parasitose, a des-
peito de há muito tempo não terem tido condições de expo-
sição a larvas infectantes no meio ambiente; esse 'fato põe
em evidência a capacidade de a infecção manter-se cronica-
mente, por longos períodos de tempo, em determinado hos-
pedeiro.
Em regiões onde o vírus linfotrópico para células 'l' hu-
manas do tipo l (l-YfLV-l)apresenta elevada endemicidade,
como no Japão e Caribe, observa-se que populações de pa-
cientes infectados por esse vírus aprmentam também elevada
prevalência de co-infecção por S. stercoralis. Já com relação à
infecção pelo vírus da imunodeficiênciahumana (HIV),há
estudos revelando uma maior prevalência dessa co-infecção
na população de não-infectados por HIV, enquanto outros
relatos não confirmaram essas observações. Nesse contexto,
previu-se, no início da epidemia de AIDS, que a estrongiloi-
diase teria relevância inclusive em sua forma grave, dada a
intensidade da imunodepressão celular apresentada nos pa-
cientes infectados por HlV. Embora existam relatos de casos
de estrongiloidíasedisseminada em pacientes com AIDS, essa
forma da parasitose não se encontra entre os eventos opor-
tunistas mais importantes.
A penetração das larvas filarióides através da pele pode tudo na planta dos pés.
levar à ocorrência de petéquias, com congestão vascular e A passagem das larvas pelos pulmões produz, em geral,
edema. sintomas respiratórios leves, como tosse seca e sibilosespar-
A patologia intestinal na estrongiloidíase é, classicamente, sos. Em alguns casos há crises de broncoespasmo, com tos-
descrita segundo três padrões distintos: se mais intensa e desconforto respiratório. Esse quadro pode
a) enterite catarral, associada às infecções leves: há con- traduzir uma pneumonite eosinoñlica (síndrome de Lõiíler),
gestão da mucosa do intestino delgado, com pontos na qual são observados também infiltrados pulmonares à
esparsos de hemorragia petequial; além disso, a muco- radiografia de tórax e eosinofrlia periférica.
sa é recoberta com uma secreção mucóide abundante. Quando da instalação das fêmeas na mucosa intestinal,
Do ponto de vista histológico, chama a atenção um pode ocorrer dor abdominal inespeciñca ou epigasnalgiaque,
inñltrado mononuclear na submncosa, sendo que for- às vezes, simula o quadro doloroso de úlcera duodenal de
mas parasitárias raramente são observadas nessa lo- natureza péptica. Além disso, diarréia, náuseas e vômitos po-
calização; dem ocorrer de forma intermitente. Na maioria das vezes, no
b) enterite edematosa em situações de parasitismo mais entanto, esse estágio da infecção é assintomático.
intenso: a parede intestinal é espessada, ocorre edema
na submucosa, os vilos intestinais tornam-se achata-
dos e são observadas formas parasitárias ao longo da Forma Crônica Hahitual
lâmina própria;
Essa forma clínica reflete a situação em que os pacientes per-
c) enterite ulcerativa, observada na hiperinfecção: as pa-
redes intestinais tomam-se rígidas pelo edema e ñbrose manecem parasitados por longos periodos de tempo. A po-
camente, pode-se observar distensão de alças de intestino esses pacientes. Alguns estudos sugerem que eosinopenia
delgado com nível hidroaéreo e edema de mucosa; exames periférica esteja relacionadacom um pior prognóstico nessa
ultra-sonográñco ou tomográñco do abdome podem revelar forma de infecção. Na forma disseminada, a invasão do pa-
a presença de linfadenomegalia. Nessa fase, a confusão diag- rênquima hepático e das vias biliares,inclusive xresícula biliar,
nóstica com doença inflamatóriaintestinal pode agravar so- pode resultar em elevação das enzimas hepatocelulares, mas
bremaneira o quadro clinico, pela prescrição inadvertida de sobretudo, das canaliculares. Os níveis de IgE são elevados em
corticosteróides. 50% a 70% dos pacienta com estrongiloidíase.
Na hiperinfecção, as manifestações pulmonares são co-
muns e podem variar desde tosse, sibilância,graus variados
de dispnéia, dor torácica (inclusive de natureza pleurítica) até Específico
hemopiise, algumas vezes volumosa. Alcalose respiratória e
manifestações cardíacas como palpitações e fibrilação atrial O diagnóstico de estrongiloidíase,na sua forma habitual, crô-
são observadas com algumafreqüência. Nessa situação é co- nica, baseia-se no exame parasitológico de fezes. Aí, são
mum a observação de larvas no exame do escarro a fresco. pesquisadas as larvas rabditóides; nessa forma da infecção, o
A participação de enterobactérias pode condicionaro apare- encontro de ovos, larvas ñlarióides e vermes adultos é raro.
cimento de condensação alveolar, caracterizandobroncop- Deve-se ter em mente que a eliminação das larvas não é cons-
neumonia. Abscessos pulmonares podem, eventualmente, tante e, portanto, uma única pesquisa resulta em positividade
complicar esse quadro. Foram descritos casos de hemorragia que varia entre 30% e 60%. As técnicas de diagnóstico co-
maciçacom desfecho fatal após tratamento específico, suge- proscópico mais eficazes são aquelas que se baseiam no hi-
rindo a possível ocorrência de dano vascular mediado pelo drotermotropismo das larvas. Na rotina laboratorial, são mais
processo imunológico em resposta à liberação de antígenos freqüentemente empregados os métodos de Baermann-
dos parasitos mortos. Moraes e de Rugai e colaboradores, bastante sensíveis, desde
Quando são observadas larvas em locais que não fazem que sejam examinadas pelo menos três amostras de fezes,
parte do ciclo habitual do parasito, ie., pele, duodeno, jejuno coletadas em dias consecutivos. Alternativamente, larvas de S.
e pulmões, fala-se em estrongiloidíase disseminada. Nessa stercoralis podem ser observadas por meio de método de
situação, podem ser encontradas larvas ñlarióides em vir- cultivo, com as técnicas de Harada-Mori (cultivo em água
tualmente quaisquer órgãos, com manifestações clínicas de- destilada) ou de Sato e colaboradores [cultivo em placas de
correntes desse fato, além do risco do estabelecimento de ágar). A coleta de aspirado duodenal, através de procedi-
infecção por enterobactérias. Ê comum o comprometimento mento endoscópico ou da utilização de cápsula gelatinosa
do sistema nervoso central se manifestando como meningite (EnterotestÍ) que é deglutida pelo paciente e recuperada de-
com graus variados de encefalite. A repercussão liquórica é pois de algumas horas, tem eñcácia diagnóstica, mas, por es-
aquela de meningite asséptica, com pleocitose, hiperprotei- ses serem métodos invasivos, têm pouca aplicação prática
norraquia e glicorraquia normal. Mais comumente, há a atualmente. Nos casos de hiperinfecção, podem, com maior
participação de enterobactérias,estabelecendo-se uma menin- freqüência, ser detectados ovos e vermes adultos nas fezes,
gite polimicrobianacom a manifestação liquórica correspon- assim como larvas ñlarióides no escarro e em número au-
dente. Há ainda relatos de abscessos cerebrais ou cerebelares, mentado nas fezes.
em cujo conteúdo são encontradas formas larvárias do pa- O diagnóstico sorológico, por meio da detecção de anti-
rasito. Outros órgãos para os quais pode haver disseminação corpos dirigidos contra antígenos larvários, parece promissor,
de larvas incluem linfonodos mesentéricos, coração, pân- mas ainda não é utilizadorotineiramente em função da difi-
creas, rins, ovários e musculatura esquelética. cI.11dade na obtenção de antígenos apropriados. Na maioria
É importante assinalar que as formas disseminadas de dos locais onde é executado, são utilizados antígenos de S.
estrongiloidiase são freqüentemente fatais, dada sua rápida ram' ou S. venezuelensis. Para o imunodiagnóstico da estror1-
evolução e diñculdade diagnóstica. Apenas um elevado grau giloidíase existem duas técnicas mais utilizadas: irnuno-
fluorescênciaindireta, que detecta IgG
Tricuríase
Susana Angélica Zevallos Lescano
Maria Cristina Carvalho do Espirito Santo
Ronaldo Cesar Borges Gryschek
260 Parasitologia -
uma abordagem clínica
cia das práticas sanitárias e de higiene pessoal foi similar em
todos os grupos de crianças, indicando o aspecto multifatorial
A tricuríase é uma infecção causada por um parasita nema- da transmissão e a necessidade de ações integradas para o
controle dessa parasitose, que levem em conta práticas de
tódes, da família Tricuridae. O homem é habitualmente
parasitado por 'Iiichuris trichiura, a principal espécie de in- higiene adequadas, como o consumo de água filtrada, a lava-
teresse mêdico (Linnaetrs 1771, Stiles 1901]. gem correta dos alimentos, sobretudo aqueles a serem con-
sumidos crus, e a lavagem das mãos. A disponibilizaçãode
rede de esgoto e de água tratada é medida de grande impac-
EHGIOGME . to no controle das geo-helmintíases (Figura 36-1).
O homem é única fonte de infecção e essa helrnintíase se Como não são observados fenômenos tIaumáticos impor-
transmite atraves do solo contaminado (geo-helmintíase), das tantes, considera-se que o mecanismo irritativo sobre as
mãos sujas, dos alimentos contaminados e da poeira. terminações nervosas da parede intestinal, produzindo refle-
A infecção por 'll trichiura tem uma prevalênciaparalela xos que alteram a motilidade (peristaltismo) e as funções do
à de A. lumbricoides, devido ao fato de o modo de transmis- intestino grosso (reabsorção de líquidos), seja relevante para
são ser idêntico, à grande fertilidadedo parasita, bem como a patologia dessa helmintíase. l-Iipersensibilidade aos
à resistência dos ovos às condições ambientais. No Brasil, essa metabólitos do helminto também pode resultar em reação
parasitose é mais prevalente em áreas litorâneas e na Amazô- inflamatóriana mucosa intestinal. Edema acentuadoda mu-
nia, onde as condições climáticas favorecem a sobrevida dos cosa, sobretudo em crianças de baixa idade, pode resultar em
ovos embrionados no solo. A faixa etária entre os 5 e os 14 prolapso retal, por mecanismo que se assemelha ao da
anos detém a maior parte dos infectados e aqueles com as car- intussucepção intestinal.
gas parasitárias mais elevadas. A imunidade contra a tricuríase baseia-se em resposta
Estudo desenvolvido em escolares buscou uma relação celular do tipo Th2, envolvendo as lL-4, lL-S, IL-9, lL-l3,
entre as condições sociais e a prevalência da infecção por esse eosinóñlos e lgE.. Além disso, IgA e IgG 1-4 representam res-
geo-helminto. Observou-se que os hábitos efou condições posta humoral às infecções por nematódeos, em especial
sociais da moradia estão associados à infecção por 'II trichium, tricuríase e ascarídíase. A exemplo do que ocorre com a
porém nenhuma associação ao sexo ou à idade. A influên- ascaridiase, a relação da idade do hospedeiro com prevalência
Tricuríase 261
SINAIS E SINTOMAS
A fixação dos parasitos na mucosa do ceco pode produzir
lesões, como congestão discreta e hemorragias petequiais,
sendo que, nas infecções maciças,há degeneração e necrose
de coagulação do tecido mucosa circundante. Nas infecções
com baixa carga parasitãria, normalmente os sintomas são
ausentes ou indeñnidos, tais como nervosismo, perda do
apetite, diarréia, dor abdominal, tenesmo e perda de peso.
Nas infecções graves pode haver diarréia intensa, com
muco e sangue, dor abdominal difusa, principalmente no
u l' '
.
u¡ -
mm de diâmetro, apresenta a cauda fortemente recurvada delgado, as larvas rabditóides eclodem com ajuda de enzimas
no sentido ventral, com espículo recoberto de espinhos; pos- que favorecem a ruptura da casca e sofrem duas mudas, se-
sui um único testículo. guindo o trajeto até o ceco, onde se tomam vennes adultos.
Os ovos têm em média 50 um de comprimento por 20 um Um a 2 meses depois, as fêmeas são encontradas na região
de largura. Aprsentam forma característica: em forma de le- perianal repletas de ovos (5.000 a 16.000 ovos). Se não hou-
tra "D”, com um lado achatado e o outro convexo. Estão ver reinfecção, o parasitismo é autolimitado, uma vez que a
recobertos por urna membrana tripla, lisa e transparente, sen- maior parte das fêmeas morre no ato da postura.
do a camada mais externa de natureza albuminosa; no mo- A proteína presente na casca dos ovos provoca reação de
mento da postura, já apresentam uma larva no seu interior. intenso prurido na pele, e o ato de coçar promove a dissemi-
nação dos ovos tanto para o próprio hospedeiro, por meio
das mãos ou de objetos contaminados, como para outros
indivíduos que venham a ter contato com estes fômites. O
hospedeiro também pode propiciar essa infecção na sua lo-
A enterobíase é uma parasitose de distribuição universal, sen- comoção, pois os ovos aderidos ã sua pele e às roupas são
do comum nos paises de clima frio e temperado, inclusive disseminados no ambiente.Outra via de contaminação com
naqueles mais desenvolvidos, devido à menor freqüência de os ovos é a inalação, pois estes ficam suspensos no ar quan-
banhos, de troca de roupas e ao confinamento em ambien- do as roupas de cama ou do hospedeiro são sacudidas; esses
tes fechados. ovos são sensíveis à dessecação, resistindo, em média, até 16
Vários estudos arqueológicos, principalmente, no sudeste horas em locais muito secos.
da América, sugerem que E. vermicularis data de 10.000 anos, A enterobíaseconstitui uma parasitose exclusiva da espé-
constituindo o parasito mais antigo do Novo Mundo. cie humana, possuindo um caráter focal, em que a família é
As crianças em idade escolar são as mais parasitadas, in- o foco epidemiológico elementar.
dicando ser o ambienteescolar um espaço de grande dissemi- Existem dois mecanismos de transmissão: a heteroinfecção
nação das formas infectantes. O segundo grupo de risco é o e a auto-infecção, sendo que cada uma apresenta duas mo-
de pré-escolares, seguido das mães que cuidam das crianças dalidades: por via aérea e por mãos sujas.
parasitadas. A heteroinfecção é a transmissão do parasito de um indi-
É. importante observar que nenhuma ação isolada é sufi- víduo para o outro, pela inalação e ingestão de ovos disse-
ciente para interromper a Uansmissão heteróloga ou a auto- minados por via aérea. Os ovos possuem uma superfície
infecção de E. vermicularis. Dessa forma, faz-se necessária pegajosa que adere facilmentea qualquer suporte. Dessa for-
uma atuação conjunta sobre o agente causal, o homem e as ma, contaminam os lençóis, toalhas, vestuáríos e as roupas
condições ambientais.A desparatisação, por meio do uso de íntimas, sendo lançados no ar após o ato de despir-se, ves-
tir-se, descobrir-se, enfim, com a
(página deixada intencionalmente em branco)
@Doençapor nematódêos
intestinais exóticos
e dê importação
Felipe Francisco Tuon
268 Parasitologia -
uma abordagem clínica
Etiologia e Morfologia
A capilaríase é uma parasitose intestinal causada por parasi-
tos do gênero Capillar-ia. Existem mais de 200 espécies dentro
desse gênero, mas apenas quatro destas são reconhecidas
como causadoras de doença em humanos, sendo apenas uma
delas corn alta patogenicidade, (Êapillariaphilippinensis. Este
parasito pode ser encontrado em peixes, anñbios, répteis,
pássaros e nos mais diversos mamíferos. A capilaríase intes-
tinal provoca quadro de diarréiacrônica importante que pode
levar a óbito se não tratada e à desidratação e a distúrbios
hidroeletroliticos. Outras espécies que acometem o homem
podem ser C. hepática, C. aerophilae C. plica.
Pertenoente à família 'l'richenelloidea,
Doença por nematódeos intestinais exóticos e de importação
Sinais e Sintomas
A doença pode ser assintomática, oligossintomática ou grave,
podendo resultar em óbito. A sintomatologiadepende dire-
tamente da quantidade de parasitas, além de outros fatores
dependentes do hospedeiro, como desnutrição e co-morbida-
des. Dor abdominal inespecíñca com borborigmos são sinto-
mas comuns associados à diarréiacrônica líquida com vários
episódios ao dia.
Com a evolução do quadro ocorre emagrecimento, ano-
rexia e desidratação. Nos casos que evoluem com aumento
progressivo do número de parasitos sem tratamento, ocorre
piora do quadro clínico de desidratação e desnutrição, le-
vando o paciente a óbito por septicemia secundária à trans-
locação bacteriana.
Diagnóstico
Os achados laboratoriais na capilaríase consistem em altera-
ções características de enteropatia perdedora de proteína,
como síndrome disabsortiva. Hipocalemia,hiponatremia,
hipocalcemia e hipoproteinemia são alterações comuns e há
elevação de IgE sérica.
Embora o exame parasitológico de fezes possa identificar
ovos de
- 27o Parasitologia -
uma abordagem clínica
O comprimento das larvas de Anisakis varia entre 10 e 29
mm e a largura, entre 0,44 e 0,54 mm.
Epidemiologia
A transmissão para humanos está associada à ingestão de
frutos do mar com estágios larvais terciários, comumente
encontrados em peixes. O hábito de ingerir peixes crus,
como ocorre no Japão, configura-se em risco para essa hel-
mintiase. Com o aumento de restaurantes japoneses e do
consumo de peixe cru em todo o mundo, tem se tomado um
risco cosmopolita. Casos foram descritos em diversos países,
como Japão, Holanda, Alemanha, França, Suíça, Inglaterra,
Bélgica, Nova Zelândia, entre outros. Embora a maioria das
publicações seja de relatos de casos, em alguns ocorrem sur-
tos após consumo de peixes contaminados. No Brasil não
existem casos conñrmados, embora casos suspeitos tenham
ocorrido.
Transmissão
A anisaquíase
Doença por nematódeos intestinais exóticos e de importação 271
ano. De forma interessante, as áreas banhadas diretamente hialuronidase apresenta maior potencial de ação hidrolítica
pelo mar têm baixo potencial de transmissibilidade,pois a ele- quando secretada por A. braziliensis do que por outros an-
vada concentração salina do terreno inibe a sobrevivênciados cilostomideos.
ovos e larvas de ancilostomideos. Há lugares onde os gatos Após a penetração da larva através da pele, observa-se uma
são os elos decisivos de transmissão desta zoonose em fun- resposta inflamatóriaque é caracterizadapor um infiltrado
ção da dificuldade de contenção de tais mamíferos. O hábito de eosinóñlos e células mononucleares. À medida que a larva
de enterrar os excrementos, natural desses animais, propícia Elarióide migra ao longo da pele, mn trajeto constituido de
o desenvolvimento e eclosão desses ovos. As criançastipica- pápulas com aspecto eritematoso emerge macroscopicamente,
mente se contaminam ao utilizar depósitos arenosos para esboçando um itinerário tortuoso e serpiginoso. Eventual-
suas atividades recreativas. Em função da ubiqüidade de cães mente, há formação de vesículas e bolhas. Posteriormente,
e gatos, juntamente com a utilização habitual de áreas areno- ao longo dos dias, a porção antiga desse trajeto revela uma
sas como local de recreação, essa dermatozoonose revela-se linha hiperpigmentada, a qual gradativamente vai se dissi-
como um crítico desafio para a saúde pública. pando. Uma complicação característica é o desenvolvimento
de infecções bacterianassecundárias no local afetado, pois o
indivíduo parasitado, ao se coçar, pode inocular bactérias
através das soluções de continuidade da pele. O número de
larvas e, conseqüentemente, o número de trajetos serpigi-
A. braziliensisparasita comumente o intestino de cães e gatos. nosos têm uma ampla gama de variação, podendo ser ape-
'lhdavia,A. braziliensisé menos peculiar que A. canirmm nos nas um ou até mesmo centenas. Tais trajetórias podem ser
cães. Além disso, A. braziliensistem menor potencial de espo- encontradas em qualquer local da superfície corpórea. As re-
liar sangue desses animais em relação aos demais ancilos-
tomídeos. O ciclo de vida de A. brazilierzsis é similar ao dos
giões topográñcas mais suscetíveis são as que se seguem: pés,
mãos, pernas e antebraços. A duração desta dermatite é va-
outros ancilostomídeos,podendo invadir os hospedeiros ha-
riável, podendo haver cura espontânea em poucos dias ou
bituais tanto pela via oral quanto pelo tecido cutâneo. Os ovos persistir por meses. De fato, sabe-se que a larva pode manter
deste parasito são eliminados juntamente com os dejetos de sua atividade migratória além de l ano.
cães e gatos, poluindo o meio ambiente. O tempo de latência
desses ovos irá depender das características climáticas, como
temperatura e umidade no solo. Assim, após um período de
tempo variável, os ovos eclodem e originam as larvas rabdi-
tóides, as quais após duas mudas se transformam em larvas O momento de penetração das larvas ñlarióides na pele pode
filarióides, que têm verdadeira potencialidade de infestar o ser ser assintomático. Classicamente, há início dos sintomas
humano. As larvas filarióides, ao estabelecerem contato com após algumas horas ou dias. Contudo, o período de incuba-
a superfície da pele humana, têm a possibilidadede peneüa- ção pode variar. O surgimento dos sintomas pode ocorrer até
rem o estrato epitelial e criarem um túnel microscópico para após 15 dias em 25% dos pacientes. Além disso, já foram des-
migrarem ao longo da pele do hospedeiro. l-labitualmente, as critos inicio de sintomas após 7 meses.
larvas ocupam a extremidade anterior do túnel. A expressão clinica no hospedeiro caracteriza-sepor trilhas
eritematosas ou serpiginosas na pele, ocorrendo eventual-
mente formação de bolhas. As lesões podem ser únicas ou
múltiplas e o padrão topográñco localiza-se tipicamente nos
membros inferiores e glúteos. A face ou a mucosa oral são
A interação entre as características imunológicas do hospe- excepcionalmente afetadas, assim como a anatomia genital.
deiro, fatores de vimléncia do agente e, Finalmente, caracte- Freqüentemente, há um dramático prurido ao longo do tú-
risticas de umidade e temperatura do solo, determinará se nel formado na pele, produzindo significativo prejuizo na
haverá ou não o desenvolvimento dessa dermatozoonose no qualidade de sono dos hospedeiros. As complicações poten-
ser humano. A partir do ponto de penetração, origina-se um ciais são impetigo, foliculite e lesões vesicobolhosas (Figura
túnel cujos teto e assoalho são constituídos pela epiderme [cé- 39-1). Eventuais complicações sistêmicas incluem eritema
lulas espinhosas] e derme, respectivamente. Histologicamente, mulüforme e pneumonite eosinoñlica.
o túnel desenvolve-se pela destruição da camada germinaüva
de Malpighi. Durante a invasão do tecido cutâneo, ao migra-
rem entre os queratinócitos da epiderme, as larvas ñlarióides
deparam-se com estruturas moleculares de ácido hialurônico.
O ácido hialurónico é uma molécula essencial para a adesão O diagnóstico é fundamentalmentenorteado pelas caracterís-
celular, funcionando como uma espécie de cimento ente as ticas clinicas da lesão cutânea, e pode ser reforçado por um
células. Assim, uma etapa crítica na ñsiopatogénese da LMC elo epidemiológico signiñcaüvo, tal como atividades recreati-
é o processo de desintegração de tais pontes intercelulares, a vas em parques, praias ou praças. Os estudos laboratoriais
ñm de permitir o movimento migratório desse parasito. podem evidenciareosmoñlia. A biopsia de pele revela freqüen-
Uma enzima decisiva para tal evento hidrolíticodenomina-se temente um inñltrado eosinoñlico com ausênciado agente
hialuronidase. De fato, observou-se que a atividade da parasitário, tornando-a inviável.
Larva Ingram À
'visceraf
Pedro Paulo Chieff¡
278 Parasitologia -
uma abordagem clínica
menta aprobabilidadede ocorrer infecção de seres huma-
nos. No caso de contato profissional de seres humanos com
Em 1952, Beaver e colaboradores estavam estudando crian- cães, há referência na Inglaterra de maior risco de infecção
entre funcionários de Canis. Todavia, em nossomeio, o mes-
ças com hepatomegalia, sintomas respiratórios e intensa eosi-
mo não foi observado em veterinários, tratadores e captura-
noñlia e identificaram a presença de larvas de 'Ibxocam Canis
dores de cães.
em biopsias hepáticas. Eles denominaram este quadro de
síndrome da larva migram visceral (LMV). Outras espécies de Inquéritos soroepidemiológicos mostraram o caráter cos-
helmintos foram, mais tarde, identiñcadas como possíveis mopolita da infecção humana por 'lbxocara, embora reve-
lando freqüências variáveis, notando-se taxas mais elevadas
agentes dessa síndrome; no entanto, larvas de 'E Canis foram em áreas com maior densidade demográfica e menor nível
encontradas na grande maioria dos casos em que foi possível
realizar a identificação do hehninto envolvido, sendo consi- socioeconômico. Em cinco municípios do estado de São Pau-
deradas o principal agente etiológico da LMV e passando-se lo, inquérito envolvendo 2.025 indivíduos revelou a presença
de anticorpos anti-Íbxocara em 3,7% dos soros examinados.
a utilizar o termo toxocaríase humana como sinónimo de
Em resumo, a toxocaríase é uma doençacosmopolita.
LMV na literatura médica. Outras espécies de 'lbxocarcx', co-
mo 'II tati e IÍ pteropodís, também já foram identificadas
como agentes de LMV em seres humanos.
$ÉOSM
Diversas espécies de vertebrados podem atuar como hospe-
deiros paratênicos, permitindo a sobrevivência de larvas de
terceiro estágio de 'IÍ Canis em seus tecidos e órgãos. Quando
predadas por cães, podem tansmitir-lhes as larvas, que per-
manecem encistadas, porém vivas, em seus tecidos. Outros
mecanismos de transmissão para cães envolvem a ingestão
de ovos com larvas de terceiro estágio presentes no solo, a mi-
gração transplacentária de larvas que se encontravam en-
cistadas na cadela durante a prenhez ou a passagem de larvas
L3 através da amamentação.
Seres humanos são infectados por 'L' Canis ao ingerir larvas
de terceiro estágio, presentes em ovos larvados desse ascarídeo
ou em carnes e vísceras de hospedeiros paratênicos que ve-
nham a ser consrmiidas cruas ou mal cozidas. Do ponto de
vista epidemiológico, a ingestão de ovos larvados tem maior
importância,em razão da elevada freqüência com que são en-
contrados no solo e de certos hábitos de parcela da população
humana, especialmente crianças,como geofagia e onicofagia.
Há dúvida em relação a importância da posse de cães nos
domicílios como fator de risco para infecção humana por 'Ii
Canis; entretanto, é inegável que a presença de filhotes, con-
siderados os principais eliminadores de ovos de 'II Canis, au-
FIGURA 40-1 Ciclo de vida do parasito. l, Ovos são eliminados no
meio ambiente e em condições adequadas (2) desenvolvem-se em
ovos embrionados_ 3, Os ovos embrionados são ingeridos por cães
ou outros hospedeiros, como o homem. 4, Após ingeridos, eclodem
e liberam larvas que migram para os tecidos, promovendo a larva
migrans visceral ou ocular. 5_ No cão, ocorre o ciclo pulmonar que
leva ao desenvolvimento de formas adultas no intestino, reiniciando
o ciclo.
PATOGENIA
Campos e col. (1992) observaram que as larvas de terceiro
estágio, quando ingeridas, liberarn-se dos cistos na luz do
estômago do hospedeiro deñnitivo, penetram na parede do
tubo digestivo e migram, esôfago acima, por um tropismo
qualquer ainda não esclarecido, rumo às áreas comumente
afetadas da faringe, rino-orofañnge e estruturas circunvizi-
nhas, inclusive linfonodos. Uma vez aí instaladas, evoluem até
a fase adulta. Machos e fêmeas acasalam e reproduzem-se
continuamente, condicionando o desenvolvimento de lesões
modulares, que abscedam e fistulizam. A histopatologia dessas
lesões mostra a presença de focos de reação ganulomatosa
do tipo corpo estranho e áreas escavadas, de paredes forma- FIGURA 41-7 Lagoquilascaríase: lesão cervical ulcerada.
das por tecido inflamatório,também contendo elementos
gigantocitários com restos parasitárias e, freqüentemente,
áreas de infiltração eosinofilica.Todos os estágios evolutívos
do helminto (ovos, larvas e adultos) podem estar simulta-
neamente presentes, às vezes em grande número, no interior
das lesões.
Não existe barreira óssea para a progressão do parasita.
É. apreciável o grau de osteólise observado em torno de algu-
mas lesões, favorecendo-lhe essa progressão. Dai a possibili-
dade de acomeümentodo sistema nervoso central, em áreas
contiguas a lesões do rochedo. Segundo Barbosa e col. (2006),
as larvas de terceiro estágio de L. m-i-nor secretam metalopro-
teases de ação específica sobre o fibrinogênio e o colágeno na-
tivo, o que parece poder explicar, ao menos em parte, esse
fenômeno.
p
ÉINAIS E sintomas
As manifestações clínicas srariam em função da localização e
extensão das lesões. O sítio mais vezes acometido é a região FIGURA 41-8 Lagoquilascaríase de orelha interna e mastóíde.
cervical, em 68,696 dos casos registrados. Seguem-se as loca-
lizações na mastóide (32291)), orelha média (28,39%), orofa-
ringe (9,996),rinofaringe, cavum ou fossas nasais (9,996), ções neurológicas, tais como síndrome convulsiva, síndrome
cérebro (9,196),pulmões (8,396), seios paranasais (5,096), base cerebelar, paralisia facial periférica ou de outros pares cra-
do crânio (5,096), amídalas ou fossa periamidaliana (3,396), nianos (glossofaríngeo, pneumogástrico, espinhal e hipoglos-
cerebelo (3,396), globo ocular (l,?9*'o_) e, mais raramente, no so), e manifestações respiratórias, que podem evoluir até a
mento, parótida, glândula submandibular, alvéolo dentário e insuficiência respiratória. O acometimentodo globo ocular
trompa de Eustáquio. Há registro de lesão sacra, com exten- pode resultar em perda total da trisão e até mesmo em enu-
são para a fossa ilíaca,à distânciado foco primário cervical. cleação.
E habitual a ocorrência simultânea de lesões em vários sítios É comum a história de eliminação ativa e intermitente de
nos mesmos indivíduos. Um caso evoluiu para óbito com le- parasitos 'irivos pelos pertuitos das lesões ou pelo conduto
sões dissentinadas, envolvendo ouvido, mastóide, cérebro, auditivo externo, boca ou fossas nasais. Convém não perder
pulmões, coração, ñgado, baço, rins, útero e ovários. de vista que esse dado pode ser ocultado pelo paciente, por
Os quadros mais freqüentes consistem no desenvolvimen- vergonha; e que em alguns casos pode, efetivamente, não
to de nódulos cervicais, uni ou bilaterais, de consistência ocorrer a eliminação por longo período, o que dificulta a con-
dura, aderentes aos planos profundos, que posteriormente ñnnação do diagnóstico etiológico algumas VEZES já suspeita-
ñstulizam, abscedam e às vezes ulceram, drenando secreção do. Logo, a ausênciade história de eliminação de parasitos
serossangüinolenta ou purulenta (Figura 413); ou de proces- não deve descartar em definitivo esta hipótese diagnóstica.
sos de otite supuratíva e mastoídite (Figura 41-8). Podem ser Sinais inflamatórioslocais nem sempre podem ser clinica-
ainda encontrados quadros de sinusite, amidalite, manifesta- mente observados. Pode haver reação ganglionar satélite.
O estado geral em alguns casos está seriamente compro-
metido, com apreciável perda ponderal. Há relato de imuno-
depressão, relacionada tanto à imunidade celular quanto à
humoral. A gravidez parece constituir um fator agravante em
lagoquilascaríase.Santana e coL (2006) observaram em Ro-
raima três casos fatais, cujo agravamento do quadro foi as-
sociado à gestação.
INTRODUÇÃO
Nematódeos da superfamília Metastrongyloidea são parasi-
tos de vertebrados, especialmente roedores, e se localizam no
interior de artérias. Uma das espécies que causa doença hu-
mana é Angiostrongrlus canronensis, ocorrente na Ásia, ilhas
do Pacíñco e Índia, cujas larvas migram pelo sistema nervo-
so central e podem determinar meningite eosinoñlica. Este
parasito apresenta o risco de ser introduzido em qualquer
área portuária, por meio de ratazanas infectadas que viajam
nos navios, como já detectado no Caribe e no litoral do lis-
pirito Santo, no Brasil. A outra espécie, A. costnricensis, apa-
rece nas Américas desde o sul dos Estados Unidos até o norte
da Argentina, e causa a angiostrongilíaseabdominal, pela lo-
calização dos vermes adultos no sistema arterial mesentérico
e potencial desenvolvimento de doença abdominal aguda, com
lesões comprometendo especialmente a transição ileocólica.
Dentre xrárias outras espécies da família Angiostrongylidae,
tais como A. vasomm em canideos e o A. siamensis em pri-
matas, não há evidências de acometimentodo homem, exce-
to por relatos isolados da possibilidadede A nmlrzysierxsis e
A. mackerrasaecausarem meningite eosinoñlica. Existe uma
proposta mal aceita de reordenamento desta família, com
colocação de A. &JTIÍOTTEHSÍS e A. costaricmrsis no gênero Paras-
trongyrlirs e a denominação de parastrongilíasespara a infec-
ção por estes nematódeos.
EHOLOGIA E MOIIFOLOGIA
Os angiostrongilídeossão vermes ciljndricosque podem che-
gar a medir 3 cm de comprimento. Eles se localizam dentro
de vasos arteriais: A. cantonerisis em ramos das artérias pul-
monares e A. castaricensis em ramos das artérias mesenté-
ricas. Apresentam dimorlísmo sexual, possuindo os machos
uma bolsa copulatória e dois espículos na extremidade caudal,
cuja estrutura é de caráter importante para identificação. Nas
fêmeas destacam-se por transparência da cutícula, tubo di-
gestivo de cor escura e dois tubos reprodutores espiralados de
cor branca (Figtua 42-1).
(Jvos de envoltório ñno são eliminados e migram pelos te-
cidos enquanto embrionam e formam as larvas de primeiro
estágio (_L1_), que saem nas fezes. As larvas de A. canrorzerzsis
são inicialmenteeliminadas nos espaços alveolares, chegando
à luz do tubo digestivo após migração pela árvore brónquica
e deglutição. A transfomiação de L1 a L3 ocorre em hospe-
deiros intermediários moluscos. A, Verme adulto no interior da artéria da submucosa
intestinal. B, Vários vermes adultos de A. costoricensis no interior de
artérias mesentéricas de roedores. C. Fêmea de A. cnntonensislogo
EPIDEMIOLOGM após retirada de artéria pulmonar de ratazana experimentalmente
infectada, medindo aproximadamente 3 cm de comprimento.
Notem-se, por transparência, os tubos reprodutores brancos e os
AngiostrongilíaseAbdominal tubos digestivos espiralados.
AngiostrongiliaseCerebral ._-s.›.- . -- .
A. cantonensis expande sua área de ocorrência pela introdu- A presença dos vermes mira-arteriais determina intensa rea-
ção de ratazanas infectadas que Vêm em navios. Portanto, no ção inflamatóriacom predominância de eosinóñlos. A partir
litoral e especialmente em áreas portuárias, existe a possibili- de vermes localizados nos ramos arteriais maiores, observa-
dade de estabelecimento de novos focos de transmissão. No se a extensão da inflamação na área irrigada por aquele vaso,
Brasil, em 2006, a identificação de dois individuos que inge- sugerindo papel importante de antígenos de excreção/secreção
rirarn molusco cru e desenvolveram meningite eosinoñlica, na patogênese. A trombose arterial está aparentemente as-
com sorologia fortemente positiva, levou à conñrmação do sociada à morte dos vermes, levando a isquemia e necrose
primeiro foco de transmissão autóctone no Espírito Santo segmentar do tecido adjacente.Macroscopicamente, duas
pelo isolamento de larvas de lesmasveronícelídeasdo género principais alterações se destacam e refletem as lesões inflama-
Sarasínula e recuperação dos vermes adultos após infecção tórias e trombóticas: tumorações decorrentes da infiltração
experimental de roedores em laboratório. celular ou edema, e deslruição tecidual decorrente da necrose
isquémica pós-oclusão vascular.
Especialmente na angiostrongilíase abdominal, os ovos
induzem a reação granulomatom sempre marcada pela eosi-
AngiostrongilíaseAbdominal
As fonnas infectantes para o hospedeiro deñnitivo vertebra-
do estão presentes no tecido ñbromuscular dos moluscos e
eventualmente saem junto ao muco. Ao serem ingeridas, es-
tas larvas L3 penetram na parede do intestino e migram até
atingir o local habitual de maturação dos adultos.
A migração habitual de A. cosmricensís parece ser pelos lin-
fáticos, passando pelos linfonodos mesentéricos e retornando
para os ramos arteriais no próprio mesentério ou fazendo
um trajeto que inclui os pulmões, cavidades cardíacas e aorta,
AngiostrongiliaseCerebral
O período de incubação é estimado em duas semanas, com
valores variando desde 2 até 45 dias. A meningite causada por
A. cantunensis geralmente se manifesta por cefaléia, febre, vô-
mitos, rigidez de nuca e parestesias. Podem ocorrer ainda pa-
ralisia da musculatura extra-ocular, edema de papila, ataxia,
convulsões, paralisia facial periférica, sinais de Kernig e Brud-
zinski, redução do nível de consciência, distensão abdominal,
hepatomegalia e incontinênciaurinária. Concomitante à pre-
sença de larvas no humor aquoso pode haver perda parcial
de visão e hiperemia conjuntival.
AngiostrongilíaseAbdominal
A eosinoñlia no sangue periférico pode chegar a valores al-
tíssimos, o que é altamente sugestivo. Porém, a ausênciade
eosinoñlia não deve servir para afastar a angiostrongilíase
abdominal, já que o eosmófilo é uma célula que transita pelo
sangue, destinada ao tecido, e poderá estar com seu número
dentro dos valores considerados normais, mesmo em paci-
entes em plena fase aguda da infecção e com intensa inñltra-
ção de eosinóñlos nos tecidos afetados.
Exames de imagem podem demonstrar a presença de es-
pessamento da parede intestinal, as tumorações de gânglios
linfáticos e intestinais. Tumorações acompanhadas de eosi-
noñlia sangüínea e sem evolução para oclusão ou peritonite
deveriam ser acompanhadas clinicamente, por haver a pos-
sibilidadede remissão espontânea.
A observação das lesões no transoperatório ou no exame
macroscópicode material retirado na
- 292
:_. Parasitologia - uma abordagem clínica
da reatividade, diferenciando a recidiva da angiostrongilíase,
da ocorrência de outras patologias.
Etiologia e Morfologia
A doença comporta-se como uma forma neurológica de larva
migram visceral. Compartilhandoalgumas similaridadescom
outros nematódeos teciduais, que serão discutidas em segui-
da, o agente etiológico da bailisascaridiaseé o Baylisascaris
procyonís. Outras espécies também podem causar a doen-
ça, mas o B. procyonis é o principal representante desse gêne-
ro. O parasito adulto chega a medir 20 cm de comprimento
(fêmea), enquanto que o macho apresenta metade deste ta-
manho. Nos hospedeiros definitivos, produzem uma quan-
tidade enorme de ovos, chegando a quase 200.000 ovos ao dia
por parasito. Os ovos são de forma elíptica e de cor marrom
ou acastanhada, medindo entre 60 a 80 um por 50 a 70 pm.
Epidemiologia
A distribuição da doença no mundo está diretamente relacio-
nada com a distribuição dos guaxinins no meio ambiente.
Considerando esse conceito prático, a maioria dos casos con-
centra-se na América do Norte. Nessa região, os
Doença por nematódeos teciduais exóticos e de importação
No tecido nervoso, as larvas penetram pelos vasos e desen- pode colaborar para o diagnóstico de uma causa parasitária.
volvem uma resposta inflamatóriaaguda com inñltrado de Tosse com dispnéia secundária ao tropismo pulmonar tam-
macrófagos e eosinóñlos intenso, gerando granulomas bém pode ser sintoma encontrado nesses casos. Foi descrito
eosinoñlicos e deposição de substânciaeosinoñlicaextracelular casode óbito por lesão miocárdica secundária à invasão te-
(fenómeno de Splendore-Hoeppli). O processo inflamatório cidual por Bayhsascaris.
e infeccioso é dependente do hospedeiro e da quantidade de A doença ocular exclusiva não é comum, pois geralmente
larvas que atingem o sistema nervoso. Assim, o grau de des- faz parte do contexto da doença neural. Quando ocorre o
truição do cérebro dependerá destes fatores e iniiuenciarádi- acometirnento ocular, geralmente leva à cegueira. Algumas
retamente o prognóstico e o grau de seqüela naqueles que vezes é possível identiñcar a larva móvel no exame oftalmos-
Tratamento e Profilaxia
--"..¡'a**'-'1' -w
Transmissão
Etiologia e Morfologia
Gnathostorrm apresenta um ciclo de vida com diversos hos-
A gnatostomíaseé uma parasitose associada à ingestão de ali- pedeiros deñnitivos, além de outros animais que podem ser-
mentos contaminados com a larva de Gnathostomaspinige- vir como hospedeiros paratênicos. Os diversos hospedeiros
rum, embora outras espécies também possam causar doença definitivos, como por exemplo, o porco, podem eliminar ovos
em humanos, como G. hispidum, G. doloresi, G. nipponicum do parasita pelas fezes que, em condições adequadas, prin-
e G. binucleamm. A descoberta e a descrição desse parasito cipalmente na água, sofrem maturação, com liberação da
em casos humanos foram creditadas a Levinsen, em 1889, na larva no seu primeiro estágio de desenvolvimento. Esta pre-
Tailândia,embora Richard Owen já houvesse descrito G. spi- cisa de hospedeiros intermediários primários, como crustá-
nigerum no estômago de um tigre que teve perfuração da ceos (Cyclops), que são ingeridos por peixes, anñbios e outros
aorta. O parasito adulto mede em média 20 a 30 mm de crustáceos (hospedeiros intermediários secundários). No
comprimento. As larvas, porém, atingem no máximo 16 mm hospedeiro intermediário primário ocorre o desenvolvimen-
e não menos de 2 mm (Figura 44-2). Esta parasitose causa to da larva para o segundo estágio, e nos hospedeiros in-
um quadro de larva migram cutânea e visceral, que pode aco- termediários secundários, para o terceiro estágio. O ciclo se
meter, inclusive, o sistema nervoso central. fecha quando hospedeiros definitivos adquirem as larvas por
várias formas: ingestão ou contato direto com águas conta-
minadas com Cydops infectados, ingestão de hospedeiros in-
Epidemiologia termediários secundários, como peixes contaminados; outra
possibilidadeé a ingestão de hospedeiros paratênicos, como
Após a descrição do primeiro caso no Sudeste Asiático em aves que se alimentaram de hospedeiros intermediários pri-
1889, outros casos foram relatados após 1934. A maior inci- mários ou secundários.
304 Parasitologia -
uma abordagem clínica
Patogenia melhor que placebo (0%). lá outra estudo com duas doses
de ivermectina mostrou cura de 100%, e com albendazol,400
O homem adquire Gnathostomade diversas maneiras, mas mg 2 vezes por dia, 3 semanas, a cura foi de 78%.
não é capaz de fechar o ciclo, pois a fêmea da parasita não se O tratamento da forma visceral é mais controverso, mas
desenvolve em humanas. Uma das formas seria a ingestão de autores recomendam albendazol,400 mg em 2 tomadas diá-
água contaminada com o hospedeiro intermediária primária rias par pelo menos 21 dias. Nas quadras neurológicos o tra-
ou por meio de alimentos (hospedeiro intermediária secun- tamento e as condutas são semelhantes aos da infecção por
dária) contenda a terceira estágio larvário. A outra possibi- Baylisascaris.
lidade seria pela pele, através de ferimentos. A profilaxiadessa parasitose baseia-se em medidas para
A doença se comporta como outra larva nriyarrs visceral, evitar que fezes contendo ovos provenientes de hospedeiros
apresentando disseminação larvária para diversas vísceras, deñnitivas
principalmente para a ñgado. Este trajeto leva a um proces-
sa inflamatóriaimportante, principalmente par eosinóñlas.
A síndrome de larva nrigrans 'visceral pode se estender até o
sistema nervosa central, ocasionando quadra semelhante ao
da infecção por Baylisascaris.
Sinais e Sintomas
O quadro clínica da gnatastamíase dependerá da forma de
acametimento. Na quadro sindrômica de larva migrans
cutânea, as achados clinicas de lesão cutânea elevada serpen-
tiginosa estão bem descritas na capítulo sabre larva migram
cutânea. Já a quadro de larva migram visceral inicia-se com
sintomas e sinais inespecíñcos, como febre, mialgia, astenia
e fraqueza, acompanhadas de artralgia. Sintomas gastrin-
testinais inespecíñcas também podem ocorrer, cama dar
abdominal, náusea, vómitos e diarréia ocasional. Quadras
neurológicas diversas, como meningaencefalites,lesões de
pares cranianas e alterações oftalmalógicas também podem
ocorrer, conforme descrita na bailisascaridíase.
EQÉ'
Easinoñlia é um achadolaboratorial freqüente, e estando as-
sociada a dados epidemiológicos com síndrome de larva
migrans cutânea prévia, favorece bastante a diagnóstico de
gnatostonríase, embora essa tríade não seja tão comum. O
diagnóstico definitivo consiste na demonstração da larva do
parasita em uma biapsia tecidual. O quadra clínica de me-
ningoencefalite eosinofílica não é muito freqüente, mas com
easinafiliaperiférica em uma área de risco para gnatosta-
míase torna a diagnóstico também sugestiva. Os recursos
laboratoriais são muito importantes na diagnóstica, seja par
achados sugestivos ou para descartar outras doenças. Os tes-
tes de ELISA e Western blot têm sugerido diagnósticos com
sensibilidadee especificidadepróximas de 100943.
O exame da liquar pode revelar meningite eosinofílica,
embora esta passa estar ausente nas quadras neurais puros
sem acametimentomeníngea. Exames de imagempodem re-
velar hemorragia subaracnóidea e hidrocefalia. Os sinais na
ressonância magnética de sistema nervoso central podem ser
semelhantes aos da bailisascaridiase.
Tratamento e Profilaxia
O tratamento da forma cutânea pode ser realizada cam dose
única e oral de ivermectina (200 ;rg/kg de peso, ou seja, 12 mg
para um adulto), apresentando taxas de cura de 41%, porém
Doença por nematódeos teciduais exóticos e de importação
mais, incluindo gatos, raposas, cães, coelhos, veados, coiotes A profilaña da telaziose é baseada no controle de moscas,
e ursos. O hospedeiro intermediário, considerado por algum embora pareça ineficaz, assim como o tratamento da doen-
como vetor, geralmente é composto pela mosca doméstica ça nos hospedeiros definitivos peridomiciliares,como o cão.
(Museu domestica) e várias espécies de drosóñlas. Este inseto Telas protetoras em casas ou mosquiteiros podem ajudar a
se alimenta de lágrimas contendo o parasita. No inseto ocorre
o desenvolvimento larva] até o terceiro estágio, tornando o
população está exposta ao risco, vivem 45% dos casos clínicos persão da parasitose. O indivíduo infectado pode transmitir
da doença. Calcula-se que a perda econômica devido à Ela- microíilárias por longos períodos, devido a longevidade e
riose neste país chega a um bilhãode dólares anuais. Na África fertilidade dos vennes adultos, que podem eliminar microfi-
concentram-se 30% dos infectados, distribuídos em 39 países. lárias durante anos, mesmo sem reinfecção.
Nas Américas, os focos de transmissão ativa estão no Haiti, A freqüência de parasitados é, em geral, maior em jovens
República Dominicana, Guiana e Brasil. Considera-se a trans- do sexo masculino, sendo o pico de núcrofilaremicosna faixa
missão interrompida na Costa Rica, Suriname e Trinidad e dos 18 aos 25 anos. A detecção de criançasparasitadas é um
Tobago, áreas endémicas em passado recente [Figura 45-2). forte indício de que ainda ocorre transmissão na área. A ocor-
No Brasil, o único inquérito nacionalrealizado no país rência em adultos acimade 30 anos, entretanto, pode estar
na década de 1950 permitiu a constatação da transmissão au- relacionada à transmissão em períodos anteriores.
tóctone da filariose linfática em ll cidades: Manaus (AM), Os principais fatores determinantes na epidemiologia e
Belém (PA), São Luis (MA), Recife (PE), Maceió (AL), Salva- transmissibilidadeda ñlariose linfática são: (I ) presença do
dor e Castro Alves (BA), Florianópolis, São José da Ponta mosquito transmissor (somente as fêmeas transmitem, por
Grossa e Barra de Laguna ( SC) e Porto Alegre (RS). A par- serem hematófagas); (2) ser humano infectado (não há regis-
tir dai, ações de controle foram conduzidas pela Campanha tro de animais reservatórios com W bancrofti); (3) longo
Nacional contra a Filariose Linfática, com base principal- tempo de residência na área endêmica [>1O anos como fator
mente no tratamento dos parasitados e no controle de veto- de risco); (4) temperatura e umidade relativa do ar elevadas,
res. Como resultado, houve uma queda significativa nas taxas que influenciam o desenvolvimento das larvas nos mosqui-
de microñlarémicos, com a extinção de quase todos os focos. tos e sua penetração na pele do hospedeiro humano.
Atualmente, a parasitose apresenta distribuição urbana e ni-
tidamente focal, sendo detectada transmissão ativa somente
em Recife e cidades de sua região metropolitana, como mANsmssAo
Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista, no estado de Per-
nambuco, nordeste do país, com índices de microñlarénaicos !Nuchereria bancrofiti apresenta ciclo biológico do tipo hete-
variando de 2% até 15% em comunidades de baixo nível so- roxénico, com a fase sexuada em humanos e a assexuada em
cioeconômico. Belém (PA) e Maceió (AL), cidades até recente- mosquitos. A parasitose pode ser transmitida por fêmeas de
mente consideradas como focos ativos no Brasil, alcançaram culicídeos das espécies Culex quirxquefasciams, Anopheles
a interrupção da transmissão da parasitose. gambiae,An. jízmzstus e Aedes polynesiensis, mas o primeiro
Nas diferentes áreas endêmica:: do mundo, a maioria dos é o principal vetor do parasito e o único incriminado como
portadores são microfilarémicossem sintomatologia aparen- transmissor nas Américas. As demais espécies têm sua im-
te, porém funcionam como fonte de infecção e, do ponto de portância restrita a detemlinadas áreas endêmicas da África
vista epidemiológico, necessitam de atenção para evitar a dis- e da Ásia.
Hídrocele testicular.
sa escrotal constantemente exsudam linfa, deixando a região quéritos epidemiológicos por ser prática, rápida e econômi-
genital do paciente úmida, o que provoca grande desconforto ca para obtenção de amostras de sangue colhidas à noite.
e constrangimento. O ambiente se torna propício a infecções 'lhmbém se utilizamtécnicas de concentração, como a ñltra-
bacterianas secundárias, o que pode levar ao desenvolvi- ção de sangue em membrana de policarbonato com 3 ou 5
mento de elefantíase escrotal um de porosidade. É. urna técnica bastante sensível, na qual
A eosinoñlia pulmonartropical é uma síndrome devido à amostras com 10 mL de sangue ou mais podem ser analisadas.
hiper-resposta imunológica do paciente a antígenos ñlariais, A filtração em membrana é normalmente utilizadapara diag-
sendo manifestação relativamente rara. Observa-se aumento nóstico de casos individuais ou no controle de cura pós-tra-
de lgE e hipereosinoñlia, aparecimento de abscessos eosino- tzuuento, pois é capaz de detectar baixas parasitemias. Outra
filicos com microfiláriase posterior desenvolvimento de ñ- técnica de concentração, alternativa na falta de membrana, é
brose intersticial crónica nos pulmões. A sintomatologia da a descrita por Knott. Consiste em diluir 5 mL de sangue na
eosinofilia pulmonar tropical se assemelha à da asma brón- proporção de l: 10 com formol a 2% e centrifugar. As micro-
quica, sendo caracterizadaprincipalmente por episódios de tiláriasestarão no sedimento, que é analisado sob microscópio.
tosse e ñalta de ar. Em baixas parasitemias, esta técnica tem menor sensibilida-
de que a Filtração em membrana., pois as Inicroñláriasñcam
misturadas a um sedimento viscoso que dificulta a análise
DIAGNÓSTICO. microscópica. Eventualmente, as Inicroñlárias podem estar
ausentes no sangue, mas presentes na urina (quilúria) ou li-
Não eicistem sinais ou sintomas especíñcos da infecção por quidos da hidrocele. Nestes casos, o material deve ser anali-
W bmtcrojíi, o que torna o diagnóstico clinico particularmen- sado usando-se técnicas de concentração.
Nematódeos Sangüíneos - Wuchereria bancroft¡
Robles, volvulose, erisipela da costa e mal morado, a onco- regional o objetivo é a eliminação da morbidadeocular e
cercose manifesta-se geralmente após 1 ano da infecção, com da transmissão da oncocercose em toda a América. A UEPA
sintomas relativos à reação das formas adultas, com nódu- estima que 500.000 pessoas residem em áreas de risco em seis
los subcutâneos. Entretanto, as manifestações mais graves paises das Américas: Brasil,Colômbia,Equador, Guatemala,
ocorrem com a disseminação de microiilárias, por vias he- México e Venezuela. A estratégia da OEPA é de fortalecer e
mática efou linfática, ocasionando linfangites, adenopatias, encorajar os ministros da saúde dos seis paises endêmícos a
lesões cutâneas e o acometimentoocular. fim de manter o tratamento em massa com ivermectina a
Neste capítulo serão abordados as característicasclinicas da cada 6 meses. Os programas nacionais de tratamento têm
oncocercose, diagnóstico, tratamento e prevenção desta im- reportado uma cobertura de 85% da população em risco das
portante causa de cegueira nos paises em desenvolvimento. áreas endémicas nos últimos 3 anos.
No Brasil, os primeiros inquéritos epidemiológicos foram
realizados na metade da década de l9?0, na região do rio Too-
totobi, no estado do Amazonas, onde se confirmou a ende-
micidade da doença, com prevalência de 62,6% em 91 índios
O parasito Onchoceraz valvulas tem seu ciclo de vida dividi- Yanomamis examinados. Posteriormente, novos inquéritos
do em cinco estágios, sendo que o diptero SimuIi-um tem o foram realizados na região de Surucucu, sendo encontrada
papel de hospedeiro intermediário obrigatório. O homem é o uma prevalência de 47%; na região de Anaris, com prevalência
único hospedeiro definitivo. A infecção se dá quando o vetor de 24,5% na região de Catrimani,com prevalência de 51,4%,
em repasto sangüíneo introduz a larva em estágio 3 (L3) na e na região de Mucaj ai, com prevalência de 10,3%.
derme humana. O nematódeo fêmea desenvolve-se em adul- Atualmente, o único foco ativo conhecido no Brasil está
to e permanece encarcerado em cápsula íibrótica por décadas, localizado na região amazônica, e se estende até o foco sul da
enquanto o machoadulto se move livremente nos espaços de Venezuela. Esta área corresponde a praticamente todo o ter-
pele e tecido subcutâneo.O verme fêmea deposita milhares ritório Yanomami no nordeste do estado de Roraima e a par-
de microñlárias, com dimensões de 220 a 360 pm, que mi- te centro-norte do estado do Amazonas, expondo 13.767
gram pela corrente sangüínea ou tecido subcutâneo e têm índios a oncocercose.
particular tropismopelo globo ocular.
As microfiláriaspermanecem no hospedeiro humano por
3 a 5 anos. A fêmea adulta apresenta um período de vida de
2 a 15 anos.
As microíiláriasem lise larva] produzidas pelas fêmeas são O mosquito hematófago responsável pela transmissão do
ingeridas pelo inseto Simulium exigiram (vetor) após a pica- parasito da oncocercose é da espécie Simulíum exigmmz. Os
da em huntanos, nos quais maturarn até o terceiro estágio simulideos distribuem-se em todas as regiões zoogeográñcas
larva] (L3). Devido à capacidade de o vetor se desenvolver em e englobam 1387 espécies válidas até o inicio de 2002. As es-
pécies hematófagas constituem uma praga incomoda e mo-
lestante, tanto para humanos como para animais domésticos.
As espécies que picam humanos fazem parte de quatro gé-
neros: Simulium, Prosimulium, Austrosimulium. e Cnephia.
Muitas espécies de Sim aliam são de interesse médico-veteri-
nário por veicularem diferentes organismos patogênicos aos
homens e
318 Parasitologia -
uma abordagem clínica
ma de drenagem (trabeculado),que é responsável por 90% da te de área endêmica, com manifestações clínicas da doença. Já
drenagem do humor aquoso, leva ao aumento da pressão caso conñrmado é o indivíduo com presença de microñlária
intra-ocular e conseqüentemente a glaucoma,pelo mecanis- ou verme adulto, detectada por meio de exames laboratoriais.
mo de obstrução pré-trabecular. Outro modo de lesão seria Para as medidas de controle, em virtude de a área en-
o prejuizo na drenagem pós-trabecular, com o envolvimento dêmica no Brasil encontrar-se em terras indígenas, as medi-
de microlilariase células inñamatóriasno canal de Schlemm, das de controle devem ser realizadas dentro de parâmetros
veias eferentes, vasos episclerais e cápsula de Tenon. adequados aos hábitos, costumes e percepções desses povos
e, também, de acordo com os critérios técnico-científicosvi-
gentes. As medidas de controle que têm sido preconizadas são
o tratamento dos portadores de microfiláriase o combate aos
simulídeos. Qualquer medida de intervenção deve ser
O diagnóstico é realizado por meio das manifestações clinicas conduzida observando-se os conhecimentos antropológicos
aliadas à história epidemiológica. O diagnóstico específico é das nações indígenas.
feito por: (a) identificação do verme adulto ou microñlárias A lim de se combater a oncocercose, foi
por meio de: biopsia de nódulo ou pele; punção por agulha
e aspiração do nódulo; exame oftalmoscópico do humor
Patogenia
Biopsias das lesões cutâneascausadas por Loa 10a demons-
traram um inñltrado eosinofílico importante com vasos di-
latados e edema tecidual. O parasito pode ser encontrado
nesses locais, associando-se um quadro inñamatório a eosi-
nóñlos, macrófagos e plasmócitos ao redor. O processo ten-
de a se croniiicar, mudando progressivamente o padrão de
células. As microñlárias estão associadas ao desenvolvimen-
to de uma resposta imune tipo Th2, com predomínio da sín-
tese de lL-4, lL-5 e lL-IO e pouca expressão de lFN-'ye TN F-(I.
Sinais e Sintomas
A manifestação clínica mais específica da loíase é a passagem
do parasito pela conjuntiva ocular, causando edema, o edema
de Calabar. Este primeiro sintoma pode levar vários meses
para aparecer. É. por este motivo que a loíase é denominada
de verme do olho. Apesar de especíiico, o edema pela passa-
gem do parasito pode ocorrer em qualquer lugar do corpo,
acometendosubcutãneoe gerando edema local com eritema
adjacente. O parasito pode levar até 1 dia para atravessar o
subcutàneo da região periocular, causando,também, fotofo-
bia e prurido local. Fora da região ocular, o edema pode ser
migratório, embora tenha predileção pelos membros, prin-
cipalmente a região posterior do antebraço. Dependendo da
localização destes nódulos eritematosos, pode haver com-
prometimento da articulação local, promovendoquadro se-
melhante ao de uma artrite.
Podem ocorrer exantemas difusos, assim como prurido
generalizado. Pode haver desenvolvimento de trajeto sub-
cutâneo do parasito, principalmente após introdução de tra-
tamento para filariose.
Sinais e sintomas mais raros são hematúria, cefaléia, dé-
ñcits neurológicos localizados, incluindo quadros cerebelares.
Raramente, também pode ocorrer migração da larva para a
cavidade ocular, gerando alteração visual.
O quadro clinico tende a ser mais grave em viajantes para
as áreas endêmicasdo que naqueles que habitam a região da
doença.
326 Parasitologia -
uma abordagem clínica
Patogenia
Os parasitas mortos podem provocar lesões calciñcadas no
local de implante, geralmente subcutâneo (Figura 48-4). A
pele adjacente de uma lesão em atividade apresenta-se com
processo inflamatório,que culmina com perda de pêlos,
edema, formação de úlceras e hemorragia discreta. Nestes ca-
sos, ocorre rápida colonização com bactérias, a qual mantém
o processo inflamatóriona pele.
À microscopia há edema, lesão de células Inusculares su-
FIGURA 48-3 Extração do parasito da Ioíase em lesão ocular.
perficiais, e infiltradoinflamatórioc.om neutrófilos e eosi-
nóñlos.
Cortesia de Peters e Pasvol: Atlas of Tropical Medicine and
Parasitology_ 6= ed., 2006_ Elsevier Ltd.
Sinais e Sintomas
comprimento, embora apenas 2 mm de espessura. Grande
parte do interior do parasito é constituída de útero, o qua] 'Os pacientes são assintomáticos até o início da migração do
pode conter milhões de larvas e1n seus primeiros estãgos parasito adulto para a pele, que ocorre, em média, após l ano
de evolução. Já os machos apresentam tamanho entre 15 e da aquisição do mesmo. Quando o parasito se aproxima da
40 mm por 4 mm de espessura. pele, ocorre a formação de pãpulas ou bolhas que progridem
para um nódulo indurado e lesão da pele, formando uma
úlcera com eliminação de conteúdo seroso. Neste momento,
Epidemiologia podem ocorrer febre, exantema generalizado com prurido,
A dracunculíaseocorre de forma mais importante no perío-
do de chuvas, sendo que, em regiões áridas, a transmissão
ocorre apenas no período de chuva. Esta tem lugar quando
o homem íngere água contaminada com o hospedeiro inter-
mediário, anteriormente classificado como do género (Íyclops,
e que agora faz parte dos géneros Mesoqvclops, ArIetnq/dops e
'lltennoryclops. A doença é limitada a vilarejos onde a água
não é tratada, podendo atingir até 70% da população local.
A doença ocorre na África (Êentral, atingindo 13 países, como
o Sudão; já foi erradicada de outros países, como a Índia, e
existem casos importados em diversos locais do mundo, in-
clusive na América.
No Brasil, a doença foi extinta após o tratamento da água,
assim como nos clixrersos países asiáticos e alguns paises afri-
canos.
Transmissão
A transmissão se dá pela ingestão de água contaminada por
hospedeiros intermediários infectados (Mesocydops, Mercury-
clops e 'Fhmnocyclopsl No estômago, ocorre a destruição do
hospedeiro intermediário, sendo liberada a larva de Drumm-
culus, que resiste ao ambienteadverso. A larva percorre parte
do intestino delgado, quando, então, penetra na parede intes-
tina] e cai na corrente sangüínea. Daí, as larvas são dissemi- FIGURA 48-4 Parasito calcificado da dracunculiasedemonstrado
nadas e implantam-se no tecido subcutãneo de membros, pelo raio X_ Cortesia de Peters e Pasvol: Atlas of Tropical Medicine
abdome e tórax. Após 90 dias, ocorre o desenvolvimento and Parasitology, 6= ed., 2006_ Elsevier Ltd_
Doenças por nematódeos sangüíneos exóticos e de importação
náusea e vômitos, assim como outros sintomas inespecíñcos, A proñlaxia é muito simples, com base no tratamento da
como dor abdominal e diarréia. Logo após a eliminação do água ingerida, evitando a aquisição de Cyclops por esta via. Os
conteúdo seroso, o parasito é exposto na pele. Em mais de 90% pacientes tratados evitam a permanência do parasita no meio
dos casos, a lesão cutânea ocorre nos membros inferiores. ambiente.
Em média, ocorrem aproximadamente duas lesões por
pessoa. Porém, quando não tratadas, as lesões vão aumen-
tando em número, e tais úlceras crônicas permitem infecções
secundárias que podem levar a celulites extensas, artrites,
quadros sépticos e até osteomielite. Além disso, são relatados Brugía é outro agente de filariose que acomete pacientes na
vários casos de localizações anómalas, incluindo doença em Ásia. O quadro clínico lembra muito aquele da infecção cau-
órgãos abdominais. sada por Wuchereria. bancroñi, com linfedema de membros
inferiores, geralmente abaixo do joelho, podendo ocorrer em
membros superiores e escroto. A forma de transmissão, tam-
Diagnóstico bém por mosquito, não contempla reservatórios não-honra-
nos no caso de B. tímorí, e alguns reservatórios animais em
O diagnóstico é basicamente realizado por meio da informa- B. malayi. O tratamento e a proñlaxia são os mesmos que
ção epidemiológica local, associada ao achado das lesões tí- para Wuchereriu bancrofti.
picas de membros inferiores com a presença do parasita.
Pode-se realizar diagnóstico mediante a indução da elimina-
ção de larvas da lesão com água fria e visualização direta ao
microscópio. Exames sorológicos podem ajudar no diagnós-
tico, até mesmo antes do desenvolvimentoda lesão cutânea, BOUSSINESQ, M. Loiasis. Arm. Trap. Med. Parasimí.; v. 100, p. 715-
como alguns tests baseados em ELISA. 731, 2006.
GREENAXVAÍÊ C. Dracunculiasis
Tratamento e Profilaxia
longado em doses elevadas, ou mesmo pela pulsoterapia, já menolepíase de forma disseminada. Tal situação deve alertar
os clínicos que cuidam de pacientesimunodeprimidos para
fossem conhecidos.
A pandemia de AIDS em regiões do mundo onde parte que diagnosüquem e tratem essa helminüase, preocupando-
destes parasitas é endêmica pôde promover um grande nú- se, inclusive, com os comunicantes familiares,dada a manei-
mero de estudos que tentaram correlacionara interação entre ra de transmissão intradomiciliardessa infecção parasitária.
o hospedeiro e o parasita no contexto da imunodepressão.
Este padrão de aumento da gravidade da doença, visto na
Porém, a grande maioria dos estudos foi frustrante, mos- himenolepíasee não descrito na teniase, também ocorre na
trando que o setor imune celular alterado nem sempre é um equinococose. A equinococose é uma parasitose com distri-
fator único envolvido na eficiência da resposta imune do buição característica mundial, associada à criação de ovelhas,
hospedeiro. Isso também revela que as mais diversas inte- causandolesões teciduais pela formação de cistos. Há relatos
rações podem sustentar uma resposta imune dita adequada, de casos de equinococose com quadros clínicos mais graves,
sem demonstrar que a alteração imune seja suficiente para ex- principalmente em pacientes com AIDS e transplantados de
pressar clinicamente uma piora em relação aos pacientes fígado.
imunocompetentes. Em relação à diñlobotríase (ténia do peixe), não foram en-
lmunodepressão, irnunossupressão, imunocomprometi- contrados casos na literatura de associação com irnunode-
mento, imunodeficiênciae outros termos: os leitores já devem pressão.
ter lido tais termos em outros capítulos do livro ou mesmo Assim, podemos entender que a alteração da resposta imu-
no capítulo de infecções por protozoários. Embora as auto- ne celular ou adaptativa, que ocorre nos pacientes com AIDS
ridades no assunto coloquem a melhor palavra para cada si- e naqueles uansplantados mantidos em regime de irnunossu-
tuação, em nosso contexto, Uaremos as palavras no sentido pressão importante, está sujeita a uma prevalência maior de
de traduzir que as defesas do corpo do hospedeiro não estão teníase, e nos casos que apresentam himenolepíaseou equi-
normais, mas sim deficientes, seja por causas congênitas, nococose, as repercussões clinicas podem ser mais graves. Em
medicamentosas, infecciosas, especíñcas ou não. Sempre pacientes com neurocisticercose, a doença pode ser mais gra-
abordaremos o contexto da causa da imunodepressão para ve, e outra espécie além de 'II solium pode ser considerada
trazer ao leitor a situação clínica mais real, pois a maioria da nestes casos.
alterações do estado imune não são superponíveis.
por um período de 5 a 10 dias. As larvas só deixam os ovos as larvas mudam constantemente de lugar no interior da le-
ao serem estimuladas por fatores como temperatura e CO¡ são, destruindo progressivamente os tecidos parasitados e
e quando o inseto forético pousa sobre um hospedeiro. Ao aumentando consideravelmente o bordo e a profundidade
deixar o ovo, a larva procura penetrar no local da picada, no da laão. O desenvolvimento larva] pode variar de 4 a 10 dias,
folículo piloso, em dobradura natural da pele ou em mucosas quando deixam o ferimento e caem no solo, onde se enterram
[Figura 50-3). para empuparem.
A foresia parece ser um mecanismo que se adapta bem às A metamorfose se dá em torno de 5 a 7 dias, caso a tem-
peculiaridades morfoñsiológicas do estágio adulto de D. peratura no ambientese encontre entre 25° e 35°C.
hominis, como viabilidadede 3 a 5 dias decorrentes de estru- Após emergir do pupário, o inseto adulto acasala em 2
turas bucais completamente atroñadas e embrionamento ou 3 dias, vivendo em torno de 3 a 4 semanas. Durante esse
superior a 5 dias. Acredita-se que os insetos foréticos sejam período, as fêmeas grávidas são atraídaspelas secreções pre-
preferencialmenteespécies que se alimentern de secreções do sentes em ferimentos de animais de sangue quente, onde re-
corpo dos animais ou do homem ou espécies de hábitos he- alizam uma ovipostura com 100 a 300 ovos.
matófagos. Em função disso, muitas pessoas acreditam que
o berne é inoculado através da picada de inseto.
O desenvolvimento larva] é mais lento que o de C. homi-
nivorax, variando de 5 a 10 semanas. Após esta fase, o inseto
abandona o ferimento e se desloca para o solo, onde se en- As miíases também podem ser classiñcadas do ponto de vis-
terra e ernpupa por um período de 15 a 30 dias. acordo com sua localização. Assim, temos Iniíases
ta clinico de
Os insetos adultos estão aptos para o acasalamentodentro cutâneas, caxritárias e orgânicas, caracterizadascomo se segue:
de algumas horas após a emergência, uma vez que a atrofia a) miíase cutânea: as larvas localizam-se exclusivamente
das peças bucais limita uma viabilidadesuperior a 5 dias. napele, podendo apresentar aspecto furuncular, ram-
pante (galerias subcutâneas)ou ulcerosa;
Cochliomyfa hominivorax b) miíase catdtánlz: as larvas se desenvolvem no interior
das cavidades naturais da cabeça, como ouvidos, olhos,
A infecção dos tecidos do homem ocorre de forma direta, nasofaringe e seios frontais;
mas somente quando existe solução de continuidade na pele c) miíase orgânica: as larvas localizam-se no aparelho uro-
e mucosas. Entre as lesões que atraem a ovipostura de C. ho- genital ou no aparelho digestivo, do estômago ao ânus.
minivorax estão assaduras, fissuras, frieiras, ulcerações de As miíases provocadas por D. hominis e C. hominivorax
origem infecciosa, como a leishmaniose, ferimentos cirúrgicos são geralmente miíases cutâneas, entretanto não é incomum
externos, extração dentária ou outro tipo de trauma com for- que sejam descritas miíases cavitárias causadas por essas es-
mação de solução de continuidade, decorrente da atividade pócies.
do paciente. Nessas situações, a fêmea realiza a ovipostura na
borda do ferimento, que será invadido pelas larvas de pri- Dermatobia hominis
meiro estágio após 8 a 20 horas de embrionamento. Duran-
te o estágio larval, o inseto passa por duas ecdises, até formar A lesão típica caracteriza-sepelo aspecto ñJruncular com uma
larvas de terceiro estágio. As larvas permanecem mais tempo abertura, utilizadapelo inseto para respirar. A infestação se
manifesta pela alternância entre a sensação de prurido e de
picada, no local onde a larva se desenvolve. À medida que a
larva cresce, a reação inflamatóriapromove o aumento do
intumescimento no sítio de desenvolvimento. Os pacienta
também relatam a sensação de que algo se movimenta no in-
terior da área intumescida e um líquido seroso ou serossan-
guinolento flui escasso, mas continuamente, pela abertura da
lesão. Um exame atento do orifício furuncular demonstra a
movimentação da larva na abertura do oriñcio.
Durante o desenvolvimento larval, o local apresenta uma
microbiotatípica, entretanto só há formação de pus no caso
de morte da larva no interior da derme. Em casos extremos,
pode ocorrer o desenvolvimento concomitante de larvas de C.
hominivorax. Nessa situação, a larva de D. hominis acaba
muitas vezes morrendo.
Cochlíomyia hominivorax
FIGURA 50-3 Muscóideo com ovos de Dermotobiahominis Na miíase causada pelas larvas desse inseto, a lesão se apre-
aderidos à face superior do abdome. senta ulcerosa e profunda, sendo possível notar grande nú-
mero de larvas. Muitas larvas estão em movimentação ou
projetando as porções ñnais do abdome acima do conteúdo
sanguinolento da lesão para poder respirar. À medida que a
lesão aumenta, a sensação de dor também aumenta, assim
como a perda de sangue. Se o paciente não receber os devidos
cuidados de remoção das larvas, anti-sepsia e proteção, no-
vas oviposturas promovem a sucessão de larvas em diferen-
tes estágios evolutivos, com o aumento acelerado da lesão.
O deslocamento das larvas de C. hominivorax para o in-
terior do tórax e do abdome pode ocorrer em virtude de mui-
tos dias de infestação na pele dessas regiões ou das regiões
perianal e genital, com conseqüênciasgravíssimas e até fatais.
Assim como na miíase por D. hominis, na bicheiradesen-
volve-se uma microbiota própria que desaparece com o Em
da infestação sem, entretanto, haver a formação de conteú-
do purulento.
(ochiiomyia hominivorax
A presença de um grande número de larvas em uma lesão
aberta, com queixa de desconforto e dor e a hberação de se-
creção serossanguinolenta mal-cheirosa, é bastante sugestiva
da infestação por larvas de C. hominivorax. O relato do pa-
ciente refere-se à infestação ter surgido sobre lesão preexis-
tente, pois são raros os relatos de estabelecimento sobre área
não lesada do corpo.
m** d* C- WMWW*
httpWMnwLicbmspbrf-vmarcelcpf
Galeria de imagens de parasítologia - insetos e ámros de impor-
tância em saúde.
(página deixada intencionalmente em branco)
Tungíase
Jorg Heukelbach
342 Parasitologia -
uma abordagem clínica
Claramente, a patologia gra re descrita nesses relatos his- países, por razões desconhecidas, a parasitose nunca se tor-
tóricos não representa a situação epidemiológica atual. Entre- nou endêmica.
tanto, essesrelatos demonstram de forma ilustrativa a A distribuição em áreas endêmica:: é muito peculiar. Um
patologia que pode ser causada por infestação maciça,e como turista pode facilmentese infestar com uma única pulga em
uma doença parasitária pode se disseminar em um grande uma das praias do litoral brasileiro. Entretanto, a doença grave
continente e, em poucos anos, se manifestar como um pro- oco1Te em focos, tanto na área rum] como no litoral, em c.o-
blema importante de saúde pública. munidades de pescadores e nas favelas das grandes cidades.
.assim, uma comtmidade onde pessoas são acometidaspor in-
festações gravíssimas pode estar localizada a poucos metros
ETIOLOGIA E MORFOLOGIA de uma área com melhores indicadores socioeconômicos nos
quais a doença é desconhecida. Nas comunidades altamente
O agente causador da ttmgíase, a pulga Y-imga. penetrans (or- afetadas, geralmente não existe coleta regular de lixo, os mo-
dem Siphonaptera, família Tungidae] e a menor espécie de radores convivem em proximidade a ratos e animais domés-
pulga conhecida, com comprimento de somente l mm. Em ticos infestados, os quais contribuem para altas de taxas de
comparação, a fêmea da pulga comum do cão mede 2,4 mm. ataque. Além do mais, Inuitos domicílios possuem piso de
Ambos os sexos de 'll per¡.errc2:ns são hematófagos obrigató- areia ou barro batido, o que constitui ambientefaxrorável para
rios, entretanto, somente a fêmea penetra de forma perma- o desenvolvimento dos ovos, larvas e pupas de 'II penetram.
nente na epiderme do seu hospedeiro (Figuras 51-1 e 51-2). No Brasil, em Trinidad e Tobago, nos (Íamarões e na
A fêmea Iião é estritamente seletiva a respeito da escolha do Nigéria, estudos recentes documentaram prevalêncías entre
hospedeiro os mais freqüentes são o homem e mamíferos
-
169o e 549d). A carga parasitária encontrada foi alta, e os in-
domésticos. divíduos participantes apresentaram até dezena:: de pulgas
Existem relatos recentes de que uma outra espécie encon- penetradas. No Brasil, a tungíase ocorre em todas as regiões
trada no Equador e no Peru, a 'I-'zmga rrimzzmíllzznz,parasi- do país; a parasitose tem sido documentada tanto nos índios
ta o ser humano. Entretanto, essa espécie Iiunca foi descrita lanomamis, no extremo norte, quanto em areas situadas a
no Brasil, e sua importância no nosso meio ainda é desc.o- milhares de quilómetros de distância, em comunidades ru-
nhecida. rais no Rio Grande do Sul, no extremo sul do país.
As trocas de ataque variam consideravelmente com a esta-
ção do ano. A incidência e a prevalência caem consideravel-
EPIDEMIOLOGIA mente durante a época da chuva. Por exemplo, a prevalência
em uma favela em Fortaleza ((Íearaí) variou entre 179-1: (esta-
A tungíase ocorre no continente americano, do México ao ção de chuva) e 54% (estação seca] durante o ano, com uma
norte da Argentina, em várias ilhas do Caribe, e esta disper- clara relação com a precipitação. Essa variação sazonal é pro-
sa na area sul do Saara na África. (Íasos autóctones sin-
ao vavelmente causada pela dinâmica da população de pulgas
gulares foram desc.ritos na Índia e no sul da Itália, mas nesses na comunidade, relacionada às variáveis climáticas. A alta
umidade do solo pode dificultar o desenvolvimento dos es-
tágios imaturos da pulga que *xrixre livremente no ambiente, e
chuxras fortes podem varrer do solo ovos, larvas, pupas e es-
tágios adultos da pulga.
Fêmea de Tungopenetrorvs. (Rato: Prof. H. Mehlhorn_ Macho de fungo _oenetrons (mto: Prof.
Düsseldorf, Alemanha.) H. Mehlhom, Düsseldorf, Alemarxrzza]
344 Parasitologia -
uma abordagem clínica
A prevalência mostra uma distribuição característica por lio foi o fator de risco mais importante para a infestação hu-
idade. Usualmente, a prevalência é mais alta na faixa etária de mana. Existem relatos históricos e recentes da descrição da
5 a 14 anos, declinando nos adultos, e subindo novamente tungíase em bovinos, podendo levar à perda económica im-
em indivíduosacimade 60 anos. Enquanto que, em todos os portante, entretanto sua importância para a saúde pública
estudos, as crianças foram o grupo mais vulnerável, o au- não é conhecida.
mento da prevalência nos idosos pode diferir de uma comu- Estudos identiñcando os fatores de risco para a tungíase
nidade para outra. Essas diferentes prevalências por faixa são escassos. Os dados presentes de áreas rurais do Brasil e da
etária devem refletir uma exposição diferente, de acordo com Nigéria apontam fatores similares para a infestação. No es-
o comportamento. Por exemplo, os adultos são muitas vezes tudo brasileiro,habitar em domicílio construído em duna de
grupos compostos por pessoas que trabalham e que passam areia, habitação de palha, e ter o piso não cimentado no in-
maior parte do dia fora da área endêmica Além disso, os terior dos domicílios foram fatores de risco importantes. Na
adultos podem ter um comportamento diferenciado em re- Nigéria, o tipo de casa não se mostrou como fator de risco in-
lação à infestação, quando comparados aos grupos das cri- dependente; entretanto, simílarmente ao Brasil, a ausênciade
anças e dos idosos (p. ex., pelo hábito de retirarem todas as piso adequado dentro da casa e a presença dos reservatórios
pulgas penetradas regularmente). Em contraste, criançasem animais (na Nigéria, principalmente o porco) foram aponta-
idade escolar e idosos têm mais contato e interação com o dos como fatores associados à tungíase.
ambiente endêmica, sem a adoção de medidas de proteção
adequadas, como, p. ex., usar sapatos fechados. Além disso,
esses grupos necessitam muitas vezes do auxiliode outros
membros da família ou da comunidade.
Claramente, idosos e crianças devem ser vistos como gru- As pulgas adultas vivem livremente no ambiente, sendo a pul-
pos de alto risco para tungíase grave. Esse fato é particular- ga fémea capaz de penetrar de forma permanente na epiderme
mente preocupante em relação aos idosos, tendo em vista o do seu hospedeiro, passando por diferentes estágios de desen-
maior risco da aquisição de tétano, como conseqüência de volvimento. O abdome da pulga penetrada aumenta de tama-
coberturavacinal incompleta. nho consideravelmente, podendo atingir o diâmetro de 1 cm.
Os dados sobre a distribuição entre os gêneros diferem Após hipertrofia e formação do neosoma, os ovos são elimi-
muito entre as áreas estudadas e reñetem diferentes compor- nados pela fêmea penetrada para o ambiente. Três a 14 dias
tarnentos e culturas. Por exemplo, Carvalho e colaboradores após a penetração, a pulga inicia a oviposição. O abdome
(2003) observaram, no sul do Brasil, que indivíduosdo sexo contém cerca de 200 ovos e, durante a sua vida, a fêmea pode
feminino eram mais afetados do que os do sexo masculino. eliminar milhares de ovos no ambiente. Matias (1988), após
Entretanto, outros estudos brasileiros,estudos de Trinidade auto-infestação,contou 2.?65 ovos eliminados por uma única
Tobago e da Nigéria encontraram o oposto, ou não encon- pulga, durante um período de 46 dias. Após todos os ovos se-
traram diferençasignificativa. rem expelidos, a pulga morre, resseca-se in situ e eventualmente
Em comunidades endêmicas, o reservatório animal de- seus restos são expelidos. Por Em, permanece uma pequena
sempenha papel importante na dinâmica de transmissão da cicatrizlimitada à epiderme, que desaparece com o tempo.
tungíase, podendo esta ser considerada uma zoonose. A clí- No solo, os ovos se desenvolvem em larvas, que se alimen-
nica da doença nos animais é semelhante à patologia encon- tam de detrito orgânico. O desenvolvimento do ovo à forma
trada no ser humano. Estudos do Brasil e da Nigéria sobre adulta tem duração de 2 semanas a 1 mês. Em um studo his-
fatores de risco mostraram que a presença de animais é um tórico, Hicks (1930) descreveu somente dois estágios larvais,
fator de risco importante para infestação humana. O reserva- ao contrário da grande maioria das espécies de pulgas conhe-
tório animal, no contexto brasileiro,é principalmente o cão e cidas, que apresentam três estágios. A larva Ll se desenvolve do
o gato, porém, apesar de muitas vezes esquecido, o rato tam- segundo ao quarto dia após a postura, e a larva L2 do quin-
bém desempenha papel importante, como reservatório da to ao 14° dia. Em condições laboratoriais, a pupa é observada
pulga em áreas urbanas. Em uma favela urbana em Fortaleza do oitavo ao 3D” dia, porém em condições naturais esse pe-
(Ceará), 67% dos cães, 50% dos gatos e 59% dos ratos apre- ríodo pode durar até meses. A partir do 16° até o 31” dia após
endidos se encontravam infestados por 'II penetram. a postura, pode ser observada a emergência dos adultos, em
De fato, em áreas onde suínos ainda vivem livremente condições experimentais. A pupa pode sobreviver por um
nas comunidades, estes detêm papel importante na manu- tempo prolongado no ambiente, e, após um estímulo, como,
tenção das altas taxas de ataque. Parece que no Brasil o porco p. ex., a vibração causada por uma pessoa caminhando,
desempenhou, no passado, papel importante na transmissão eclodir em segundos, para então infestar o hospedeiro. Assim,
da doença,principalmente em áreas rinais. Entretanto, com a casas abandonadas por um tempo prolongado podem con-
redução da livre circulação de porcos nos últimos anos (como tinuar infestadas, mesmo na ausênciade reservatório animal
medida para reduzir a incidência da neurocisticercose), a silvestre que possa manter o ciclo.
importância desses animais como reservatório tem sido re-
duzida em comunidades brasileiras. Contudo, o porco per-
manece um importante reservatório em comunidades
endêmicas africanas. Em um estudo sobre fatores de risco
para a tungíase na Nigéria, Ugbomoiko e colaboradores Como o diagnóstico da tungíase é meramente clínico, rara-
(2007) demonstraram que a presença de porcos no domicí- mente são indicadas biópsias. As biópsias de lesões mostram
Tungíase 345
dida em que a tungíase é uma doença autolimitada, que se encontra-se ao máximo hipertroñada [estágio III). Ê evidente a
forma convexa branca com o ponto negro central_ representando os
agrava com as precárias condições de vida e circunstâncias
últimos segmentos abdominais da pulga.
sociais, gerando seqüelas e desfechos potencialmente evitáveis.
1345 Parasitologia -
uma abordagem clínica
são caracterizadaspor pápulas, escoriações, ocasionalmente duas formas: tópica ou sistêmica. O tratamento tópico pode
vesículas e pústulas. Os "túneis” descritos durante a pro- ser realizado com permetrina a 5% na forma de creme, sen-
gressão do ácaro pela epiderme para realizar a oviposição são do o tratamento de escolha devido à sua baixa toxicidade e à
representados por pequenas manchas irregulares com apro- alta eficácia como escabicida. Esta droga tópica apresenta boa
ximadamente 3 mm. Nessa doença há certa predileção por segurança tanto para grávidas quanto para crianças e é rea-
áreas interdigitais, regiões genitais masculina e feminina, co- lizada uma única aplicação à noite após higiene pessoal coli-
tovelos, joelhos, região anterior das axilas e tronco. diana.
Infecções bacterianassecundárias, principalmente por Sta- O benzoatode benzilaa 1096-2596 é uma substâncialarga-
phylococcus aureus, podem estar prsentes em associação com mente utilizadano Brasil. O produto é aplicado diluído sobre
a escabiose. a pele do paciente em três noites consecutivas e repetido l se-
A sarna norueguesa (crostosa) é uma variante da esca- mana após. O enxofre em petrolatum é outro produto opcio-
biose que ocorre &eqüentemente em pacientes institucio- nal nestes casos, sendo aplicado por três noites consecutivas
nalizados, principalmente naqueles com doenças mentais, e apresentando-se como outra opção para crianças e mulhe-
de AIDS, principalmentenaqueles com grande comprometi- dos, a ivermectina deve ser administrada como dose única de
mento da imunidade celular, pode ocorrer a apresentação 200 ug/kg. Contudo, apresenta restrições quanto ao uso em
mais amberante da escabiose e com resposta menos eficaz ao mulheres grávidas, nutrizes, indivíduos com afecções do sis-
tema nervoso central e em crianças com menos de 5 anos de
tratamento específico. idade ou com peso inferior a 15
A nodular apresenta-se como nódulos violáoeos
sarna
pruriginosos, que freqüentemente estão presentes em regiões
cobertas do corpo, em especial na genitália masculina, na re-
gião inguinal e nas axilas. Os nódulos podem persistir por
várias semanas após o tratamento e devem ser diferenciados
de linfoma de Hodgkin e da histiocitose.
Diagnóstico
Na prática médica, o diagnóstico da escabiose é essencialmente
clinico e epidemiológico. Porém, ferramentas laboratoriais
podem ser necessárias para aqueles casos em que há dúvida
clínica ou inadequada resposta terapêutica. Para elucidar o
caso, a demonstração microscópica óptica direta dos ácaros,
de seus ovos e fezes pode confirmar o diagnóstico. Para me-
lhorar a sensibilidadedo método, recomenda-se escolher re-
giões não escoriadas para coletar o material. Nestes casos, o
diagnóstico é confirmado em no máximo 50% dos casos,
mostrando-se um exame coníirmatório,mas de baixa sensi-
bilidade.
Vários métodos de amplificação de ácidos nucléicos (rea-
ção da cadeia da polimerase, PCR) têm sido testados para
ajuda no diagnóstico rápido da escabiose, em conjunto com
outros exames imunológicos através de antígenos recombi-
nantes devido ao seqüenciamento deste ectoparasito.
Tratamento e Profilaxia
É imperativo o imediato e simultâneo tratamento do paci-
portador de escabiose e de todos os seus contactantes,
ente
mesmo que assintomáücos, com drogas específicas, bem
como adotar medidas de controle do ácaro, que incluem a
completa desinfestação das roupas e lençóis de cama., os quais
devem ser lavados e escaldados a 55°C. O tratamento medi-
camentoso do paciente com escabiose pode ser realizado de
354 Parasitologia -
uma abordagem clínica
Estes ectoparasitos apresentam comprimento entre l e 3 A ftiriase em crianças deve aventar a possibilidadede abuso
mm e são achatados dorsoventralmente, e tendo cor branco- sexual. Já a transmissão da pediculose do corpo se dá por
acizentada.Têm uma vida média de 30 dias e as fêmeas põem meio do contato com roupas contaminadas ou outros teci-
aproximadamente oito ovos ao dia. Tanto machos como fê- dos em contato com o corpo, como toalhas, roupas de cama
meas se alimentam de sangue, não Sobrevivendo mais de 60 e forração de sofás, por exemplo.
horas fora do hospedeiro. Estes parasitas não pulam e não A pediculose do couro cabeludo se dá por contato direto
usam animais como vetores. entre cabeças ou contato com cabelos infestados, permitindo
que ocorra a transmissão do parasito.
Epidemiologia
A pediculose do couro cabeludo é causada por Pedículus hu.- Sinais eo Sintomas
manus var. capitis e atinge pessoas de todas as classes sociais.
A principal queixa dos pacientes portadores da pediculose do
Pode ocorrer de forma endêmica entre crianças em idade es-
couro cabeludo é o prurido nesta região. Máculas e pápulas
colar e entre pessoas presentes em instituições fechadas, como
eritematosas, assim como escoriações podem estar presentes,
prisões, hospitais e creches. Freqüentemente é mais prevalente associadas ou não a infecções bacterianassecundárias.
entre mulheres e crianças de baixa condição socioeconômica.
Na pediculose do corpo, os parasitos normalmente não
A prevalência da pediculose é desconhecida, mas sabe-se que
são vistos sobre o corpo do hospedeiro, mas sim em suas
acomete milhões de pessoas em todo o mundo.
vestes. A exceção pode ocorrer nos casos em que há grande
A pediculose do corpo (Pediculus humanas var. corponls)
acomete geralmente pessoas com precárias condições de hi- infestação. O paciente pode apresentar prurido, máculas e
giene, como mendigos, os quais comumente não possuem pápulas eritematosas, com escoriações nos locais de hemato-
regularidade na limpeza corporal e de suas roupas. O para- fagia por R. humanus.
sito pode ficar albergado nas roupas, saindo para alimentar- Os sinais e sintomas mais freqüentes em pessoas infesta-
se no corpo do hospedeiro, principalmente em regiões com
das com R pubis são prurido, escoriações, lnáculas e pápulas
grande quantidade de pêlos. eritematosas nas regiões de pêlos pubianos, podendo se as-
Phthiruspubis está geralmente associado à transmissão se- sociar oom infecções bacterianassecimdáiias.
xual entre parceiros, embora possa ser diagnosticado em pes-
soas de todas as idades e sexo. R pubís reside primariamente
nos pêlos pubianos, contudo, também pode ser encontrado
Diagnóstico
em pêlos dos olhos, sobrancelhas ou axilas, bem como nos O diagnóstico da pediculose é realizado por meio da observa-
pêlos do tórax do homem (Figura 52-3). ção direta dos piolhos ou de seus ovos, associada às queixas
clinicas do paciente. A lâmpada de Wood pode ajudar no re-
Transmissão conhecimento do parasita, mas é pouco disponível na prática
do clinico não-dermatologista. Na pediculose do couro cabe-
A ftiríase é geralmente transmitidasexualmente e está relacio- ludo, a identificação das “lêndeasf” (ovos que ñcam aderidos
nada com outras doenças sexualmente transmissíveis, porém ao fio de cabelo após a eclosão) não necessariamente signifi-
não é prevenida pelo uso de preservativos. A transmissão ca infestação em atividade. isto fica mais evidente quanto mais
não-sexual também pode ocorrer em pessoas desabrigadas. distante estas estiverem da raiz do cabelo, uma vez que o fio
cresce em média l cm ao mes. O diagnóstico é efetivo após a
Tratamento e Profilaxia
O tratamento medicamentoso pode ser favorecido pela remo-
ção mecânica com um pente fino dos parasitas adultos ou
FIGURA 52-3 Foto do Phthirus pubis Cortesia de Peters e jovens e de seus ovos durante a investigação diagnóstica.
Pasvol: Atlas of Tropical Medicine and Parasitologv, B* ed., 2006, Contudo, alguns fatores podem influenciara eficácia do tra-
ElsevierLtd_ tamento quimioterápico, como a quantidade e freqüência da
aplicação, bem como a ocorrência de reinfestações. Todos os
contactantes infestados devem ser tratados.
O tratamento tópico podeser realizado com pemetrina,
lindano, malathionou benzoato de benzzila.O creme de per-
metrina a 1% é um potente pediculocida que possui ativida-
de residual de 2 semanas, contribuindo para matar formas
jovens reemergentes. É aplicado diretamente sobre a área afe-
tada, deixando-se agir por 10 minutos e removendo-se pos-
teriormente com água. Normalmente não há necessidade de
11ova aplicação, contudo, melhores resultados podem ser ob-
tidos com uma segimda aplicação l semana após. O xampu
de lindano a 1% tem uso restrito devido à sua alta toxicidade,
além de ter pobre ação pediculocida e taxas de resistência cada
vez mais crescentes. A loção de malathiona 0,5% confere pro-
teção residual, entretanto, o odor e o longo tempo de uso re-
presentam uma dificuldade na aceitação pelo paciente. O
benzoato de benzilaa 25% é outra terapêutica para o trata-
mento tópico de todas as formas de pediculose. O benzoato,
corriqueiramente utilizado na prática clínica em pacientes
hospitalizados, deve ser aplicado por três noites e repetido
após 7 a 10 dias.
O tratamento sistêmico pode ser realizado com ivermec-
tina, a qual tem sido o fármacorecomendado atualmente. A
dosagem de 200 pg/kg é mais estudada, devendo ser repetida
10 dias após a primeira dose. Possui o inconvenientede não
ser indicada para pacientes com doençasneurológicas, mu-
lheres grávidas e para crianças com menos de 5 anos de idade
ou com menos de 15
(página deixada intencionalmente em branco)
?armsítoses ocullzres
Histórico Epidemiologia
As estimativas de incidência da ceratite por Acanthamoeba
Até a década de 1940, a única ameba sabidamente patogénica são poucas, sobretudo pela diñculdade no diagnóstico e pela
para o homem era Entamoeba. hístolybm, causadorade disen- ausênciade um controle de registro de casos no Brasil. O
teria. Posteriormente, algumasespécies de Arantízamoeba fo-
(Êenter jin' Disease Control and Prevention, órgão responsável
ram relacionadas corn quadros raros de meningoencefalite.
nos listados Unidos pelos dados epidemiológicos, estima que
O acometimentoocular não-corneano é igualmente raro. Há
um caso relatado de um menino de 7 anos de idade com qua-
naquele pais a incidênciadessa infecção seja de um a dois ca-
sos por milhão de usuários de lente de contato. A infecção
dro inicial de uveíte sem ceratite por Acanthanroeba, que evo-
foi se tornando cada vez mais rara em não-usuários de len-
luiu com meningoencefalitee foi a óbito. Há também relatos
tes de contato (atualmente 10% a 15% dos casos de ceratite
de endoftalmite por Amnthamoeba em pacientes imunocom-
prometidos. por Acanthamoebn),e o maior número de usuarios de lentes
de contato fez com que ficassem evidentes quais eram os mé-
A ceratite por Amnthamoeba é uma doença descrita há re-
todos de assepsia de lentes meñcazes contra os cistos. Outros
lativamente pouco tempo, corn seus primeiros casos sendo
fatores de risco importantes descobertos foram o uso de so-
reportados em 1973. Embora se reconheça que casos ante-
riores tenham sido ignorados pela falta de suspeição clínica e lução salina, desinfecção pouco freqüente das lentes e relato
dificuldades no diagnóstico, não há evidênciasde infecção an- de banho de piscina ou lago por usuários de lentes. Uma for-
teriores a essa data. Embora alguns casos iniciais tenham sido ma bastante rara de transmissão é por transplante de cónlea,
associados a trauma, a maioria dos casos atuais tem associa- com o botão doador infectado.
que encontre em seu caminho, incluindo particulas não-or- relação com o estado imunológico do paciente. Os primeiros
gãnicas. Reproduz-se por mitose, durante a qual o nucléolo casos relatados surgiram a partir de 1973, a maioria relacio-
e a membrana nuclear desaparecem. Esse agente tem a habi- nada com trauma, mas somente no final dos anos 1980 houve
Parasítoses oculares 359
um aumento significativo no número de casos e foi compro- ras, mas às vezes são necessárias até duas semanas. Se não
vada a associação ao uso de lentes de contato. houver laboratório disponível para essa análise, será possível
colocar as amostras colhidas em solução salina balanceada
(BSS) e enviar pelo correio até um laboratório de confiança
Sinais e Sintomas Não se perde a probabilidadede cultura do organismo se a
amostra não for submetida a altas temperaturas. A literatu-
A maioria dos pacientes se queixa de fotofobia, dor e lacrime- ra mostra taxas de 0% até 67% de sucesso no isolamento de
jamento, quase sempre em apenas um olho. A dor pode ser Actmtharrmeba. Deve-se levar em conta que outras espécies de
muito acentuada, aparentemente desproporcional aos acha- amebas (não-patogênicas]podem crescer nessas condições, e
dos, embora a ausênciade dor Irão exclua o diagnóstico. Pode que a cultura positiva de um estojo de lentes de um paciente
haver o relato de um fator desencadeante, como um trauma com ceratite não indica, necessariamente, a etiologia da infec-
ou episódio de nado com lentes. Pode haver um atraso de até ção, pois pode-se tratar apenas de má higiene do estojo.
duas semanas até o aparecimento dos sintomas. Os corantes mais utilizados são o Branco Calcoflúor (tam-
Os primeiros sinais podem ser inespecíñcos, tais como bém cora fungos), o azul-de-lactofenol,e a lecitina conjugada
microerosões, irregularidades, pequenas opacidades e edema com Huoresceína (ConcanavalinA). Também podem ser co-
microcístico no epitélio comeano. Pode não haver áreas co- radas em amostras corneanas pelo Gram ou Giemsa, além
rando pela fluoresceína no início. Com mais freqüência, há de poderem ser usados a hematoxilinae eosina, PAS e outros
uma ceratite dendritziforme, confundida com infecção herpé-
para cortes histológicos. Porém, pode ser diñci] diferenciar
tica e tratada como tal sem sucesso. A limbite (hiperemia e amebas de células inflamatórias.lmunofluorescénciaindire-
edema do limbo corneano) é um achado freqüente e impor- ta e técnicas de imunoperoxidasepodem ser usadas para de-
tante.
monstrar Acanthamoeba nas amostras epiteliais. PCR pode
Um padrão de inñltrados perineurais ocorrendo em distri-
ser útil no futuro.
buição radial (ceratoneuriteradial) é bastante sugestivo. A cli-
minuição da sensibilidadecorneana também foi relatada_
Posteriormente, um inñltrado em anel e com defeito epitelial Tratamento
sobrejacente costuma ser visto. Casos mais avançados cos-
tumam apresentar um defeito central do epitélio corneano e O tratamento deve ser sempre que possível clínico. Como te-
acentuada opacidade estroma] corneana. Não é comum a
neovascularizaçâosigniñcativa da córnea, a não ser nos casos rapia inicial recomenda-se a combinaçãode isotionato de pro-
de infecção bacterianaassociada. O acometimentoda esclera pamidina a 0,1% com PHMB a 0,02% a cada 30 minutos nas
pelo processo inflamatóriopode ocorrer nos quadros mais primeiras 12 horas e depois a cada hora por pelo menos tres
dias, reduzindo-se a
graves. É comum o aparecimento de glaucoma, sobretudo em
casos mais avançados, e o controle da pressão intra-ocular
pode serbastante difícil. Repercussões clínicas no segmento
posterior são raras, mas já foram descritos edema do nervo
óptico, neuropatiaóptica com atrofia do nervo óptico, des-
colamento de retina, inflamação da coróide e formação de
estrela macular.
Em contraste com a ceratite bacteriana, chama atenção a
progressão lenta da ceratite por Acanthamoeba. O envolvi-
mento franco do estroma pode não ser óbvio antes de seis
semanas ou mais do curso da doença. Isso pode ser decor-
rente da lentidão da divisão de Acantimmoeba em compara-
ção com outros patógenos.
Diagnóstico
A microscopiaespecular pode demonstrar a presença de Amn-
thamocba in vivo, com o organismo aparecendo como uma
opacidade granular. Mais recentemente, a microscopia con-
focal tem servido a esse propósito com mais facilidade.Esse
método pode, ainda, monitorar a progressão do tratamento.
Amostras de tecido comeano (epitélio e estroma infiltra-
do) podem ser removidas sob anestesia tópica. O método
mais utilizado é a cultura em placa de ágar não-nutriente se-
meada com Escherichia rali. Se Acantiramoeba estiver presen-
te, ela migrará através da placa usando as bactérias como
fonte de alimento. Em geral, o resultado é obtido em 24 ho-
360 Parasitologia -
uma abordagem clínica
eficiente e em alguns estudos foi comprovado que ela tem
maior poder císlicida do que o isotionato de propamidina. A
clorexidina a 0,02% tem sido utilizada como substituta da
PHMB, ou mesmo isolada, com bons resultados, porém não
há nenhum estudo controlado comparando as duas drogas
e como a PHlvlB é mais investigada, deve-se utilizara clorexi-
dina apenas em casos em que não haja resposta ao tratamen-
to
Parasítoses oculares
Etiologia e Morfologia
A cisticercose humana é causada pelo cisticerco do porco, C.
cellulosae forma larvária de 'lizeniasalíum (descrita no ca-
-
Epidemiologia
Há cisticercose no mundo inteiro, mas ela ocorre com maior
prevalência em certas localidades rurais do globo, sobretudo
onde a carne de porco, malcozida, é mais consumida, como
México, África,Índia, China, Indonésia, Europa Oriental e
Américas do Sul e Central. É. extremamente rara na Austrá-
lia. Nos Estados Unidos ainfecção quase desapareceu, mas
tem apresentado aumento na prevalência, sendo mais comum
em imigrantes latino-americanos. A prevalência ainda sofre
influênciados hábitos e condições de higiene de cada locali-
dade. Em 1992, a Organização Mundial de Saúde esümava
haver cerca de 50 milhões de pessoas com manifestações neu-
rológicas da cisticercose em todo o mundo, com cerca de 50
mil óbitos por ano em conseqüência da infecção.
Transmissão
Em seu ciclo, o porco é hospedeiro intermediário. lngere ovos
com oncosferas que penetram na mucosa intestinal, alcançam
a circulação sangüínea e são levadas para as musculaturas
esquelética e cardíaca. Em 60 dias os cistos são infectantes para
os humanos. O homem é hospedeiro deñnitivo quando in-
Diagnóstico
O diagnóstico clinico da cisticercose intra-ocular resulta da
identificação do cisticerco ao eitame biomicroscópico.Deve-
se suspeitar da etiologia quando o paciente se apresentar com
vitreíte e tiver história compatível, após descartar outras hi-
póteses mais prováveis. Exames de imagem, como a ecografia
ocular, podem auxiliarno diagnóstico, sobretudo nos casos
de opacidades de meios. A tomografia computadorizada de
órbitas pode auxiliarna identificação de cisticercos no seg-
mento posterior da órbita. O ELISA é um teste que oferece
alta sensibilidadee especiñcidade quando há doença ativa,
observando-se resultados com 86% de acerto. Outros emma
utilizadossão a imunofluorescênciaindireta, a hemaglutina-
ção e a
Um estudo posterior relatou que um nematódeo sub-re-
tiniano móvel foi observado em dois pacientes com a fase ini-
cial da doença. De início,
364 Parasitologia -
uma abordagem clínica
Diagnóstico
O
Parasítoses oculares 365
em virtude do extenso dano já estabelecido à retina (Figura serosas dos vertebrados. As fêmeas de Ondrocerca volvulus,
53-2). Nos casos precoces, a destruição da larva pode impe- causador da oncocercose humana, medem entre 40 e 45 cm.
dir o avanço da doença,preservando boa função visual. Os casais de vermes vivem em nódulos ñbrosos ou cistos
subcutâneosencontrados em várias partes do corpo (tronco,
braços, cabeça e pernas). As rnicroñlárias não têm cápsula,
ou bainha e costumam estar localizadas no tecido subcutâ-
neo próximo aos helrnintos paternos ou nos tecidos do glo-
Histórico bo ocular.
Onchorerm volmlus é uma espécie de nematódeo parasita cuja gião Amazônica.A doença acomeliaíndios ianomãmis, além
forma adulta apresenta secção circular e reprodução sexuada, de missionários estr'angeiros que passavam pela região. O foco
brasileiroapresenta como caracteristica a alta endemicidade
podendo viver até 14 anos dentro do hospedeiro humano. É
o causadorda oncocercose, também chamada “cegueira dos (até 91,31% dos individuos com mais de 15 anos com micro-
rios” ou “mal do garimpeiro", raramente fatal, mas a segunda filáriasna pele), porém baixa densidade de infecção (menos
maior causa infecciosa de cegueira. A superfamília Filarioidea de 15 microñlárías por miligrama de pele). Em 1986 foi des-
coberto o primeiro caso da doença fora do território ianomâ-
compreende hehnintos cuja boca é desprovida de lábios, nua, mi: uma jovem da cidade de Minaçu (GO) que nunca havia
ou com lábios pequenos, atroñados, e a fêmea com vulva se
abrindo perto da região esofagiana. O macho é menor que a estado na área endêmica.
fêmea_ São parasitas que vivem nos sistemas sangüíneo e lin-
fática, nos tecidos conjuntivo e muscular, e nas cavidades Transmissão
É transmitida por mosquitos do gênero Simulimn, conhecidos
no Brasil por pium, na Região Norte, ou por borrachudo nas
outras regiões. A fêmea de Simulium, ao exercer o hemato-
fagismo em pessoas parasitadas, ingere algumas microñlárias
(L1) que se dirigem ao estômago do mosquito e seis horas
depois perdem a bainha. Atravessam a parede estomacaldo
inseto e migram para o tórax. Cerca de seis a dez dias após
o repasto infectante ocorre a primeira muda (para L2), que
Diagnóstico Tratamento
O diagnóstico de certeza da toxocaríase ocular é firmado pela Como a inflamaçãopela infecção pelo 'Itvcoazra costuma ter
demonstração da larva au dos seus fragmentos no sítio da início após a morte da larva, os corticosteróides são a droga de
lesão. Como tal análise é raramente feita, pela diñculdade de escolha para o tratamento. Pode-se utilizara via sistêmica, a
obtenção da tecido ocular (nos casos em que não é indicada periocular ou a tópica. Embora tenha sido provado que o
a enucleaçâa), o diagnóstico baseia-se em dadas clínico-epi- tiabendazolseja eñcaz contra organismos vivos de Tzvcocara
demiológicos, testes imunológicos e exames laboratoriais e de mms, a destruição das larvas não é suñciente, já que a respos-
imagem. ta inflamatóriaque ele causa é a responsável, na maioria dos
A idade (com mais freqüência de 4 a 6 anos), a história de casos, pelas seqüelas oculares mais graves. Entretanto, é dese-
contato com canídeas, o acometimentoocular unilateral e os jável a morte da larva se a mesma estiver se locomovendo no
aspectos morfológica e topográñca da lesão podem sugerir o sentido da mácula ou da disco óptica. No caso de complica-
DoençadeCoals Doença caracterizada por exsudação maciça intra ou sub-retiniana, corn abundante conteúdo
Iipidico, de apresentação usualmente unilateral em crianças e adultas jovens
Retinoblastoma Tumor maligno intra-ocular primario, mais comum na infancia. Pode ser uni ou bilateral, e
embora não costume cursar com reação inflamatóriaimponente, pode, em dguns casos, ser
acompanhado de iridociclite e vilreíte
'fooeoplcnsmose Retínaoonaidite granulomatosa focal necratizante causada pelo Toxoplasmo gondí¡
Retinopatia da prematuridade Quadro relacionadocom prematuridade e exposição exccessiva ao oxigênio, cursa com
vosoulañzaçãa recrganizada da retina das recém-natas, podendo evoluir com cicatrização e
descolamento de retina
Persistência do vílreo Quadro congênito, quase sempre unilateral, em um olho usualmente micraltólmioo. Consiste
primario hiperplósico na persistência da artéria hialóidea associada a um tecido libravoscular que se estende desde
a porção posterior do aistalino até o disco óptico. O uso da eaogralia ocular pode auxiliar
no seu diagnóstico
Pars planitis lnllamação da para na, segmento uveal localizada posteriormente ao corpo ciliar, que cursa
com exsudatos peri iaos denominados snawballs e snmvbanks. Costuma cursar com vitreite
anterior e reação inflamatóriadiscreta ou ausente do segmento ocular anterior. Cerca de
80% das censos são bilaterais
ções, pode-se indicar cirurgia: lensectomia ou facoemulsiñ-
cação no caso de catarata, ou vitrectomia via pars plana no
caso de condensações vítreas.
A profilaxiabaseia-se na educação da população quanto a
higiene pessoal, saneamento básico adequado e combate às
parasitoses nos cães. O prognóstico depende da forma e lo-
calização da infecção (Figura 53-3). A endoftalmite crônica
costuma comprometer a visão do olho acometido, podendo
levar à atrofia bulbar. Granulomas periféricospodem causar
distorção da mácula com perda de visão central, mas em ge-
ral o globo é preservado.
roxorusmosa ocuun
"ll-stróih??
Foi descrita pela primeira vez em 1908 simultaneamente (em
1908) por Charles Nicolle e Louis Manceaux, na Tunísia, e
por Alfonso Splendore, em São Paulo, como causador de
parasitismo em
370 Parasitologia -
uma abordagem clínica
oocistos pela contaminação de alimentos ou água destinada à de olho (retinocoroidite focal necrotizante) à oftalmoscopia
ingestão por oocistos eliminados nas fezes dos felídeos; 2) in- binocular indireta; 2) detecção da presença de anticorpos con-
gestão de cistos teciduais presentes na carne crua ou malco- tra 'Ibxoplasma no soro do paciente; 3) exclusão razoável de
zida, os cistos podem resistir por semanas mesmo quando outras condições infecciosas que causam lesões necrotizantes
submetidos à reñigeração entre l°C e 41°C, ou mesmo por até no fundo de olho, sobretudo sífilis, citomegalovírus e fungos.
uma semana quando congelados a temperatura entre -l°C e Os testes sorológicos são a principal ferramenta para o
-8°C. A maioria dos cistos não resiste à temperaturas abai- diagnóstico laboratorial da toxoplasmose sistêmica. Contudo,
xo de -12°C ou acimade 60°C por mais de 4 minutos; 3) in- a manifestação ocular da doença nem sempre cursa com a
fecção transplacentária, que pode ocorrer em cerca de 40% elevação dos titulos das reações sorológicas. É comum a ocor-
dos casos de infecção materna durante a gravidez. Outras rência de titulos inferiores a 1/ 1.024 e pesquisa de IgM nega-
formas de transmissão respondem por um número peque- tiva em quadros oculares isolados. É possível demonstrar a
no de casos. presença de anticorpos especíñcos anti-'Ibxoplzasnza no soro ou
no humor aquoso, por exemplo. Os seguintes métodos soro-
sentar baixa de acuidade visual unilateral, fotofobia, moscas anticorpos antinucleares e fator reumatóide. A detemti-
Volantes, dor e hiperemia. A retinocoroidite pelo toxoplasma nação da avidez dos anticorpos (sua afinidade pelo
tipicamente afeta o pólo posterior, e as lesões podem ser so- antígeno) é um novo parâmetro que pode auxiliarno
litárias, múltiplas ou, em geral, adjacentes a uma lesão diagnóstico. Sabe-se que os anticorpos formados na
retiniana cicatricial pigmentada_ Lesões ativas se apresentam fase aguda são caracteristicamentede baixa avidez.
como focos branco-acinzentadosde necrose retiniana com 6) Western blottíng: pouco utilizadoapesar das excelentes
coroidite adjacente,vasculite, hemorragias e vitreíte. A cicatri- sensibilidadee especiíicidade. Pode ser particularmente
zação ocorre da periferia para o centro, com variável grau de útil no
pigmentação hiperplásica. É comum a uveíte anterior acom-
panhar o quadro, com precipitados cerãticos granuloma-
tosos (depósitos grosseiros no endotélio corneano), reação
inflamatóriana câmara anterior com ñbrina, células e _flora
nódulos irianos e sinéquias posteriores (entre a íris e a cáp-
sula anterior do cristalino).
Apresentações oculares atípicas incluem: retinite punteada
externa, neurorretinite, papilite, retinocoroidite pseudomúl-
tipla, inñamação intra-ocLilarsem retinocoroidite, retinopatia
pigmentar unilateral, esclerite e retinite necrotizante multi-
focal ou difusa.
Diagnóstico
As seguintescondiçõespermitem o diagnóstico de toxoplas-
mose ocular: l) observação da lesão caracteristica no fundo
logia positiva faz apenas o diagnósticopresuntivo da mesma,
devido à alta prevalência de anticorpos na população.
Mais recentemente, foi descrita a pesquisa de IgA no hu-
mor aquoso, para compara-la com a concentração sérica de
IgA específica, determinante para o coeficiente de Desmonts.
Usando a fórmula a seguir pode-se inferir a produção intra-
ocular de anticorpos:
Coeficiente de Desrnonts (IgHIIgSMPtSIPtI-I)
=
Onde:
[gl-l titulo de anticorpos no humor aquoso
=
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pouco
pronunciado Enreroteste ou teste do barbante
Podem-se pesquisar trofozoítos de Gianni-ia em amostras de
suco duodenal, obtidas por meio de um dispositivo disponí-
vel no comércio (EnterotestH, que consiste em uma cápsula
contendo um cordão em seu interior. A cápsula ingerida pelo
FIGURA 54-1 Caracteristicas morfológicas para a diferenciação pacientedegrada-se no intestino delgado, liberando o cordão
entre larvas rabditóides de ancilostomideos [Al e Strongyloides em que se aderem os trofozoítos. A extremidade proxi-
stercorolfslBl. [Adaptado de: Ferreira, MU.; Foronda, AS.; mal desse cordão é ñxada à face do paciente com fita adesiva.
Schuma ker, T.T.S. Fundamentos biológicos do porasitologio humana. O cordão é recuperado, colocado em solução salina e exami-
São Paulo: Manole, 2003.) nado.
A B C
'P'
Aplique uma fita colante Toque o superficie colonte Coloque a fita em uma lâmina
o uma lâmina ou espátula [externa] vários vezes na de microscopia, com uma oia
região perionol de Iolueno ou xilol iocla o
FIGURA 54-2 A-C Técnica para obtenção de ovos retidos na região perianal, com o uso de fita adesiva[swob anal), e preparo de lâmina para
exame microscópio). (Adaptado
de: Neva, FA; Brown, HW. Basic clinicolparasitologir_ e: ed. Norwalk: Appleton Et Lange, 1994.)
Diagnóstico parasitulógico das principais doenças parasitárias 377
_Colorações Permanentes_ sem coloração, mas a identificação correta da maioria dos pa-
rasitos encontrados no sangue exige o uso de métodos de co-
Amostras de fezes são ñxadas e submetidas a coloração per- loração e, eventualmente, de concentração. Para a confecção
manente primariamente para o diagnóstico preciso de infec- de esfregaços sangüíneos e de gotas espessas para exame Ini-
ção com protozoários intestinais. Embora a solução de Lugo] croscópico, o uso de anticoagulantes não é recomendado, por
seja largamente empregada como corante na rotina clinica, ela sua possível interferência na morfologia dos parasitos e no
não revela pormenores morfológicos dos cistos e especial- processo de coloração. Usa-se em geral uma pequena amos-
mente dos trofozoítos de protozoários que podem ser fun- tra de sangue obtida por punção digital com lanceta estéril,
damentais para a sua identificação. Os esfregaços a serem embora outros sítios (a sola do pé de crianças pequenas e o
submetidos a coloração permanente são geralmente fixados lóbulo da orelha) também possam ser puncionados. Entre-
com ñxador de Schaudinn (produto altamente tóiúco) e co-
tanto, a maioria das técnicas de concentração requer a coleta
rados com tricrómio, hernatoxilinaférrica ou variações da de amostras de sangue venoso com anticoagulantes,preferen-
técnica de Ziehl-Neelsen ou Kinyoun. cialmente EDTA.
O tiicrõmio cora adequadamente os cistos da maioria dos Para o diagnóstico de filariose linfática, colhe-se a amos-
protozoários presentes em amostras frescas fixadas em li- tra de sangue capilar ou venoso entre as 22 horas e as 4 horas
quido de Schaudiim, com exceção de oocistos de Crjrptuspo- da manhã, devido à maior circulação de rnicroñlãrias no san-
ridium e Cyclospora. O citoplasma dos trofozoítos cora-se em
azul, verde ou púrpura, enquanto a cromatinanuclear (de gue periférico nesse período. Quando não é possível a coleta
nesse período, pode-se estimular a liberação de microñlárias
trofozoítos e cistos), os corpos cromatóides, os eriüócitos e
no sangue periférico com a administração de uma dose oral
as bactérias coram-se em vermelho. Os esporos de micros-
única de dietilcarbamazzina(2 a 8 mg/kg de peso). Neste caso,
porídios podem ser corados em rosa ou vermelho com algu- a punção deve ser realizada 30 a 60 minutos depois de adrni-
mas variantes dessa técnica.
nistrar o medicamento. Não se aplica esta estratégia em áreas
A coloração pela hematoxilinaférrica, realizada segundo
em que a filarioselinfáticacoexiste com a oncocercose, para
numerosos protocolos ligeiramente distintos, é adequada
evitar o estímulo à migração de microñlárias dessa última es-
para amostras frescas fixadas em ñxador de Schaudinn ou
amostras preservadas em MIF e outros preservativos. A téc- pécie e suas possíveis conseqüências para o hospedeiro.
nica original exige pessoal treinado para a sua execução, mais
laboriosa do que a coloração pelo tricrômio; entretanto, pode
ser substancialmente simplificada sem perda de qualidade de
Exame de Gota Espessa e Esfregaço
coloração (Ferreira, 2003). A hematoxilinaférrica cora as es- sangüíneo
truturas nucleares, os corpos cromatóides, as bactérias e os
eritrócitos em azul-escuro, cinza ou preto, dependendo do A gota espessa é a melhor alternativa para detecção dos pa-
protocolo de coloração utilizado. rasitos da malária, sendo considerada o padrão-ouro para o
A pesquisa de oocistos de (Ínptosporidium e Cyclospora nas diagnóstico da doença. É também empregada para o encon-
fezes é geralmente feita em amostras previamente submetidas tro de microfiláriasde Witchereria bancmfti ou Brugia nmlayi
a uma técnica de concentração, como aquela descrita por e de tripomastigotas sangüíneos de 'liypanosomaCHJZÍ duran-
Ritchie, coradas com variações da técnica de Ziehl-Neelsen ou te a fase aguda da infecção diagzásica_ Iissa técnica baseia-se no
Kinyomi. Oocistos de Isospora podem também ser corados exame de um volume signiiicativo de sangue em uma área re-
com esses métodos, que se baseiam no fato de que os oocis- lativamente pequena da lâmina, aumentandosensivelmente a
tos desses protozoários são álcool-ácido-resistentes, retendo
probabilidadede detecção do parasita em um número redu-
o corante (carbol-fucsina) que lhes confere coloração aver- zido de campos microscópicas. Para sua preparação, a amos-
melhada ou rósea. Como alternativa., podem-se empregar tra de sangue (geralmente 3 a 5 pL) é colocada sobre uma
como corantes, para o diagnóstico dessas infecções, a safra-
lâmina e, então, espalhada de modo a formar uma mancha
nina-aIul de metilenoe a auramina.
circular ou quadrangular de aproximadamente l cm de diâ-
me1Io ou largura. São preconizadas a lise dos eritrócitos e a
Microscopia de Fluorescência remoção da hemoglobinaliberada (segundo a técnica descrita
por Walker, amplamente empregada no Brasil) antes de a
Os oocistos de Cyclospora cayetrmensis e lsospora bell¡ são amostra entrar em contato com o corante [Giemsa, Leishman
autofluorescentes e podem ser visualizados em preparações a ou Field; em geral não se recomenda o uso do corante de
fresco, sem coloração, examinadas com microscópio de epi- Wright), garantindo que a luz do microscópio atravesse a
iluminação com fonte de luz ultravioleta (330-380 nm). O amostra sem sofrer absorção ou difração pela hemoglobina.
emprego de corantes fluorescentes, como o Calcoñuor White Contudo, a lise das hemácias causa a distorção das formas
MZR (comercialmente disponível),permite a visualização de eritrocitárias dos parasitos, o que pode comprometer sua
esporos de microsporídios sob microscopia de fluorescência. correta identificação,principalmente quando as lâminasfo-
rem examinadas por microscopistas sem treinamento ade-
htswyica
AmebíaseIntestinal (Infecção por
Entamoeba histolytícalfntamoebadispor) Emaoeb
O diagnóstico laboratorial da amebíaseintestinal baseia-se no
encontro de cistos ou trofozoítos em amostras de fezes exa-
minadas ao microscópio. Os trofozoítos encontram-se ao
exame direto, a fresco, de amostras de fezes diarréicas recém-
eliminadas, ou ainda do exsudato Inucossanguinolento que
recobre as ulcerações mucosas, em amostras obtidas duran- gimwaiú
te a retossigmoidosoopia. Nestes casos de doença invasiva, o
encontro de trofozoítos nas fezes determina o diagnóstico de
infecção por Entamoeba hzistolytica. Esses trofozoítos freqüen-
temente apresentam hemácias semidigeridas em seu interior.
Eniamoeb
Quando se encontram somente cistos nas fezes de indivíduos
assintomáticos ou com diarréia, as amostras devem ser refe-
ridas como positivas para E. hístolytica/E.dispor, pois o exa-
hangr;
_E_
me microscópico da amostra não permite a distinção entre
essas duas espécies.
Os trafozoítos de E. histolytíca/E.dispor são pleomórñcos, ii
de tamanho entre 10 e 60 um (média de 25 um), com movi- Ê
mentação por pseudópodes, tipo lobópodes, contendo um ?i
É
núcleo com cariossoma central e cromatina periférica delica- 3?
da. Estas características morfológicas permitem a diferencia- É_
E¡
_
Giardíase
O diagnóstico laboratorialda giardiase é geralmente feito pelo
exame microscópico de amostras de fezes. Os trofozoítos são
observados no exame direto de amostras de fezes diarréicas
recém-eliminadas. Os cistos são pesquisados com técnicas de
concentração, sob coloração com solução de Lugol, triczrômio
ou hematoxilinaférrica. Devem-se examinar pelo menos três
amostras fecais, colhidas em dias alternados, antes de consi-
derar-se o resultado negativo, pois os cistos de Giardia duo-
denalis (G. Iamblia. e G. intestinalis são igualmente aceitas para
designar a espécie) são eliminados nas fezes de modo inter-
mitente. Podem-se também pesquisar trofozoítos de G. duo-
denalis em amostras de suco duodenal, obtidas por meio do
entemteste.
Os trofozoítos de G. duodmabs medem de 10 a 20 um e são
piriformes, com simetria bilateral.Têm quatro pares de fla-
gelos, dois núcleos, dois axonemas (feixes de ñbras longitudi-
nais) e dois corpos parabmais em forma de vírgulas, de ñmção
desconhecida. Na superñcie ventral há um disco adesivo ou
disco suctorial, principal responsável pela fixação do proto-
zoário às células epiteliais do intestino. Os cistos são ovalados
ou elipsóides e medem cerca de 12 pm; têm as mesmas estru-
turas internas dos trofozoítos, porém duplicadas. As caracte-
rísticas morfológicas de alguns flagelados comensais do trato
digestivo humano estão comparadas às de G. duodenalis na
Figura 54-4 A-H.
FIGURA 54-5 Morfologia dos oocistos esporulados de Cryptosporídium (C parvum ou C hominis), Qrdospora cayetanensise lsospora belli.
Somente os oocístos de Cryptosporidium são esporulados no momento de sua eliminação com as fezes. [Adaptado de: Ferreira, M.U.; Foronda,
A.S.; Schumaker, T.T.S. Emdomentos biológicos do porositologío humano. São Paulo: Manole, 2003.]
contendo dois esporozoítos cada um. Os oocistos de I. belli da pela diferenciação dos esporos, a esporogonia. Os esporos
são ovalados e medem 20 a 33 um por 10-19 pm, em média são liberados nas fezes, urina ou secreções respiratórias.
25 um após a esporulação, quando contêm dois esporocistos, A morfologia básicados esporos é mostrada na Figura 54-6.
cada um com quatro esporozoítos. Nas fezes encontram-se São ovaís ou pirifonnes, medem de 2,0 a 7,0 pm por 1,5 a 5,0
geralmente oocistos não-espomlados, que requerem 24-48 um. Os estágios proliferativospodem ser arredondados e li-
horas no meio exterior para se tornarem infectantes. geiramente maiores. O filamento polar constitui-se de um
Oocistos de Cryptosporidium, C. cayetnnensis e I. bell¡ são tubo espiralado ancorado num disco e encontra-se no espero
encontrados em amostras fecais submetidas a técnicas de maduro, a estrutura que caracteriza um microsporídio. As
concentração, como flutuação ou sedimentação. A visualiza- pequenas dimensões dos esporos diñcultam o diagnóstico,
ção pode ser feita a fresco, com microscopia ótica convencio- mas a coloração das amostras de fezes, urina e secreções res-
nal com pouca iluminação, com microscopia de contraste de piratórias; com tricrômio, modificações do Chromoüope de
fase ou com microscopia de fluorescência (explorando a Weber e iluorocromos (Calcofluor White MZR, Uvitex 2B)
autoñuoresoênciados oocistos de C. myetanensis e I. belli), ou permitem sua identificação.
ainda com o material fixado e cotado de modo permanente
pelas técnicas de Ziehl-Neelsen modiñcada, Kinyoun, safra-
nina-azul de metileno,auramina e similares. A coloração por Iricomoniase
hematoxilinaférrica permite a adequada visualização de
oocistos de Cryptosporidium. (Ferreira e colaboradores, 2001) A tricomoníase,canada pelo protozoário ilagelado Tnkthomo-
nas vaginalis, é uma das doenças sexuahnentetransmissíveis
e possivelmente de outros coccídios intestinais, mas é atual-
de maior prevalência no mundo. A infecção é freqüente em
mente pouco empregada com esta finalidade. É. importante
medir o diâmetro dos oocistos para a diferenciação entre
Cqptosporidium e Cyclosporag.
Os microsporídios são microorganismos intracelulares
obrigatóriosoriginalmente classificados no Elo Microspora,
mas atualmente considerados mais próximos aos fungos.
Podem ser encontrados no intestino delgado, no trato respira-
tório, bem como na córnea., músculos e placenta. As espécies
encontradas em seres humanos são Enterocytozoon, bieneusi,
Encephalitozaon intestinalis (chamada anteriormente de
Septam intestinalis), Encephalítozoon hellem, Encephalitozoon
mniculí, Nosema Cannon', Nosema oculorurrt, Nosema-símile
Vittaforma comeu, Pleistophora sp., 'Irachipleistophora
sp.,
hominis, 'Irachipleistophoraanrhropophthera, 'fhelohania-
símilesp. eBrachiolavesiculamm. Seu ciclo vital é relativa-
mente simples. Após a transmissão, existe um período de
germinação dos esporos, via extrusão do filamentopolar, que
se exterioriza e inocula o conteúdo do esporo, esporoplasma, FIGURA 54-6 Representação rsquemátíca da morfologia dos
dentro da célula hospedeira. lntraoelularmente, tem início esporos de microsporidios, com o filamento polar &piralado
característico.
uma fase proliferativa, de esquizogonia ou merogonia, segui-
382 Parasitologia -
uma abordagem clínica
mulheres, chegando a 180 milhõesde casos sintomãücos em ecolaboradores, 1992). Cada envelope contém meio líquido
todo o mundo. A maioria dos casos em homens é assinto- adequado para o acondicionamentodo material coletado, per-
mática e seu diagnóstico laboratorial é mais diñcil, limitando mitindo simultaneamente o exame direto da amostra ao mi-
o valor das estimativas de prevalênciadisponiveis. As técnicas croscópio e sua cultura_ Disponível comercialmente com o
mais utilizadas para o diagnóstico laboratorial são o exame nome de lnPoucHflf',esse sistema é recomendado principal-
de esfregaços de secreção vaginal e a cultura in vitro. mente quando o material necessita ser transportado. Sua sen-
Os esfregaços são preparados com amostras de secreção sibilidade (cerca de 917%) é comparável àquela observada nas
vaginal coletadas com o auxílio de pipetas. O material, mis- culturas com meio MDM.
'curado em solução salina, é examinado a fresco ao microscó-
pio, entre lâmina e lamínula. As tricomonas são detectadas
pela movimentação dos seus tlagelos e membranaondulan-
te até 24 horas após a coleta. Com sensibilidadede até 82%,
o exame direto é a técnica de escolha para diagiósüco de ro-
tina. Algumas vezes, os parasitas são percebidos no exame
de Papanicolaudestinado à análise citológica, mas essa colo-
Infecções por Flagelados Teciduais
ração não deve ser empregada para diagnóstico de roüna da Os flagelados enconüados no sangue e outros tecidos huma-
tricomoníase por apresentar sensibilidadee especiñcidade
nos pertencem aos gêneros 'Iiypunosoma e Leishmania. No
inferiores às obtidas com o exame direto (Wendel 8: Wor-
kowski, 2007). No homem, a demonstração do parasito não Brasil, são agentes etiológoos de doenças de grande impacto
é tarefa simples. A procura do parasito deve ser realizada em em saúde pública, como a doença de Chagas, a leishmaniose
tipos variados de amostras, tais como secreção uretral e tegumentar americana e a leishmaniosevisceral. Seus princi-
prostática e sedimento urinário. O sêmen fresco é, contudo, pais estágios evolutivos são mostrados na Figura 54- 7.
a amostra de obtenção mais prática e rápida para análise.
O cultivo in. vitro é indicado para situações em que o re- Doença de Chagas
duzido parasitismo dificulta a detecção das tricomonas no
exame a fresco da amostra suspeita. A cultura é 20% a 30%
A doença de Chagas, causada pelo protozoario flagelado 'll
mais sensível que o exame microscópico convencional, sendo cruzi, é encontrada em diversos países da América Latina,
considerado o padrão-ouro para diagnóstico da infecção. Um incluindo o Brasil, onde vivem cerca de 16 milhões de porta-
dos meios freqüentemente utilizados para a cultura das t1'i- dores de infecção chagãsica. O diagnósticoparasitológico da
comonas é o de Diamond modificado (MDM), mas o meio doença de Chagas é fortemente influenciadopelo estágio
de Knpferberg também é útil. Quando semeados adequada- da infecção. Os melhores resultados são obtidos durante a fase
mente, os parasitos crescem rapidamente in vitro, devendo a aguda, quando o número de parasitos circulantes é elevado.
cultura ser examinada diariamente ao microscópio inverti- Os métodos mais utilizados compreendem o exame micros-
do. O resultado somente deverá ser considerado negativo de- cópico de amostras de sangue capilar ou venoso, a fresco ou
pois da análise diária do material cultivado por pelo menos coradas, o exame de amostras de sangue centrifugado (micro-
4 dias. Com amostras provenientes de homens, recomenda- hematócrito), além das técnicas que envolvem Inultiplicação
se o acompanhamento da cultura por pelo menos 10 dias. prévia dos parasitos, como o xenodiagnóstico e a cultura in
Apesar de sua excelente sensibilidade(8696-9796), a cultura é vitro [Teixeira e colaboradores, 2006).
uma técnica relativamente cara. Os tripomasiigotas,particularmente abundantes durante a
Um método alternativo e conveniente para detecção dos fase aguda da infecção, podem ser encontrados em amostras
parasitas nas amostras suspeitas é o do envelope plástico (Beal de sangue examinadas a fresco ou após ñxação e coloração. É
Hagelar do parasita. Recomenda-se o uso de azul de metileno positivos para lesões com Inais de l ano de evolução. Portan-
to, recomenda-se o exame de pelo menos três amostras antes
para corar as estágios evolutivos do parasita, sem afetar seu de o resultado ser dado como negativo. De maneira geral, os
batimento flagelar (Ferreira e colaboradores, 2006). A sensi-
bilidadedessa técnica pode chegar a quase 100% na fase aguda parasitas também são raros em lesões mucosas, sendo mais
fácil sua detecção na fase
de infecção e situa-se entre 13% e 69% na fase crônica. Sua
maior desvantagem é o tempo necessário para a obtenção das
resultados.
Quando a doença de Chagas não é revelada por meio dos
exames sangüíneos tradicionais e o xenodiagnõstica não é
uma técnica acessível, a cultura in vitro representa uma alter-
nativa para a demonstração direta de IÍ cruzi. A técnica é po-
tencialmente aplicável tanto na fase aguda como na fase
crônica da infecção. Para sua realização, é recomendada a uti-
lização de sedimento leuoocitário correspondente a pelo me-
nos 30 mL de sangue venoso. Depois de semeado sobre meio
racterísticas dos trofozoítos de P. falciparum, ainda que sem tágios sangüíneos do parasita são encontrados no sangue pe-
especiñcidade absoluta no diagnóstico de espécie, são: a pre- riférico. Os trofozoítos jovens, com forma de anel de sinete,
sença de dois ou mais trofozoítos na mesma hemácia, o en- são difíceisde dislinguirdaquelesdelãfízlcmmunnmasostro-
contro de parasitos na periferia do citoplasma das hemácias fozoítos nladuros têm geralmente um aspecto irregular, com
(formas accolé ou applíqué) e de parasitos com dupla croma- extensões amebóides em seu citoplasma.As hemácias para-
tina. As hemácias parasitadas, quando comparadas às nor- sitadas por trofozoítos maduros, esquizontes e gametócitos
mais, não apresentam aumento de diâmetro. Os gametócitos apresentam manchas delicadas rosadas ou avermelhadas,
de P. faíciparum são típicos: são alongados e curvos, em for- facilmenteidentificadas em esfregaços sangüíneos cotados de
ma de crescente ou de banana. Apresentam freqüentemente modo apropriado, conhecidas como granulações de Schüifner.
pigmento malárico em seu interior, ocasionalmente visto Os gametócitos são ovais e ocupam quase toda a hemácia. Os
também em hemácias parasitadas por Uofozoítos. Os game- gametócitos femininos coram-se mais intensamente que os
tócitos masculinos apresentam citoplasma fracamentecora- masculinos, e apresentam núcleo mais compacto, geralmen-
do, enquanto o citoplasma dos gametócitos femininos se cora te em localização periférica. O pigmento malárico geral-
fortemente em azul. Observa-se geralmente extensa deposição mente é abundante. Os gametócitos de R. vivax tendem a
de pigmento malárico. Os gametócitos surgem no sangue aparecer precocemente no curso das infecções
periférico cerca de 10 dias depois do início dos acessos fehris.
As hemácias parasitadas por P. vivam: têm geralmente diâ-
metro maior que as hemácias não parasitadas. Todos os es-
386 Parasitologia -
uma abordagem clínica
Os trofozoítos mais maduros podem assumir formas mais parasita nesse material. O liquido amniótico deve ser centri-
características, em faixa ou em cesto (Kawamoto e colabora- fugado a aproximadamente 400 g, sendo o sedimento exami-
dores, 1999). Os grânulos de hemozoína são pouco abundan- nado ao microscópio a fresco ou cotado com Gíemsa. Menos
tes, mas tendem a ser mais grosseiros do que nas demais freqüentemente, a técnica é utilizadapara o isolamento de
espécies. Não se observa granulação de Schüñiner, e as he- parasitas a partir do líquor.
mácias parasitadas têm o msmo diâmetro das hemácias não A cultura in 'VÍITO tem sido utilizadaprincipalmente para
parasitadas. Os gametócitos assemelham-se aos de R. vivam, o diagnóstico da toxoplasmose em indivíduos imunodepri-
mas têm diâmetro menor. midos, apresentando sensibilidadereduzida. A técnica consiste
Os aspectos mais característicos da infecção por R. ovale, na semeadura de amostras de creme linfocitário, líquor,líqui-
uma espécie não encontrada no Brasil, são as deformidades do amniótico, entre outros, em meio contendo ñbroblastos
que ocorrem nas hemácias parasitadas, que se tornam alon- humanos ou outras células facilmentemantidas in vitro.
gadas e apresentam a margem denteada, bem como a presença 'Fambém é possível a utilização de embriões de galinha. Após
de granulação de Schüñher. Os gametócitos são semelhantes 4 a 5 dias de cultura, as células devem ser coradas com
aos de R vivax e .P. malariae. Giemsa e examinadas ao microscópio, para a busca de taqui-
Dentre as espécies de plasmódios que infectam o homem, zoítos intracelulares ou livres no meio de cultura. Geralmen-
R. falcipamm é a única para a qual se dispõe de técnica de cul- te são observados pontos de necrose nas células parasitadas.
tivo contínuo in vitro. Por ser uma técnica extremamente la- A inoculação em animais de laboratório é o método mais
boriosa e, sobretudo, pela existência de métodos alternativos, utilizadopara o diagnósticoparasitológico da toxoplasmose,
a cultura não tem aplicação diagnóstica, mas é utilizadaroti- especialmente na fase crônica da infecção. ÍÍ gondii pode ser
neiramente para a realização de testes de sensibilidadedo pa- isolado a partir de fluidos (sangue, líquido amniótico ou lí-
rasito a diversos medicamentos. Os plasmódios que causam quor, entre outros) e outros tecidos (p. ex., placenta) do hos-
doença humana são parasitas extenoxenos (muito específicos pedeiro, com a sua inoculação no peritônio de camundongos.
quanto à espécie de hospedeiro que são capazes de infectar); O líquido peritoneal dos animais deve ser coletado e exami-
podem infectar algumasespécies de macacosdo Novo Mun- nado para a busca de taquizoítos decorridas 1 a 3 semanas do
do, mas esses modelos experimentais de custo elevado não inóculo inicial É recomendada ainda a análise de tecidos ce-
têm papel na investigação diagnóstica. rebrais ou de outros órgãos (geralmente após 30 dias de
infecção) para a busca de cistos contendo bradizoítos. A aná-
lise do tecido cerebral do animal é feita gerahnente por meio
Moplasmose de cortes histológicos fixados com metanol e cotados pelo
Gíemsa.
A toxoplasmoseé uma das infecçõesparasitárias mais difun-
didas no mundo. Cerca de um terço da população mundial
apresenta anticorpos contra 'Ibxaplasnzagondii, com alta pre-
valência de infecção em certas regiões da Europa, América do
Sul e África. A escolha do teste mais apropriado para o diag-
nóstico parasitológico da toxoplasmosedepende do contex-
to dínico do caso investigado. Rotineiramente, o diagnóstico
incluitécnicas sorológicas para a detecção de anticorpos IgG
ou IgM. Além disso, a reação da cadeia da polimerase (PCR)
é considerada uma das técnicas mais sensíveis para o diagnós-
tico da toxoplasmose [Petersen, 2007). A busca direta pelo
parasito em amostras de sangue e outros fluidos corporais
geralmente não é realizada, salvo em recém-nascidos, quando
há suspeita de toxoplasmosecongênita, ou em casos clínicos
muito atípicos e graves. Geralmente, as técnicas utilizadassão
esfregaços sangüíneos e de líquidos corporais, cultura in vi-
tro e inoculação em animais de laboratório.
Nos recém-nascidos, durante a fase aguda da infecção, a
pesquisa de 'lí gondii é geralmente realizada no sangue. Para
tal, amostras de sangue coletadas por punção venosa (pelo
menos 10 mL) devem ser cenlrifugadas a 400 g. O creme leu-
cocitáiio, coletado na interface entre as hemácias e o plasma,
é utilizado para a preparação de esfregaços que podem ser
examinados ao microscópio a fresco ou após coloração com
Gíemsa. A sensibilidadeda técnica é de aproximadamente
90%, varizmdo de acordo com a parasitemia.
Embora as técnicas moleculares, especialmente a PCR, ve-
nham sendo aplicadas para a pesquisa do DNA de 'E gondii
no líquido amniótico, é possível a demonstração direta do
Diagnóstico parasitológico das principais doenças parasitárias 337 _-
QUADRO 54-1 Métodos mais empregados para o diagnóstico laboratorial de infecção pelos principais
nematódeos intestinais humanos
Controle de Cura
Asaaris lumbrieoides Ovo Emma direto, técnicas de Repetir o exame 7, i4 e
oonoenlraçõo, Kato-Katz 21 dias após o tratamento
Trichuris trichiura Ovo Exame direto, técnicas de Repeliroeaeame 7, 14e
concentração, Kato-Katz 21 dias após otraiumerrto
Ancilostomídeos Ovo (às vezes larvas Exame direto, técnicas de Repetiroename?, 14 e
são encontradas) concentração, Kato-Katz 21 dias após olraiamento
Strongyloides stercorolis larva rabdítóide Pesquisa de larvas Repetir o exame 8, 9 e
[Baermann, Rugai] 10 elias após o tratamento
Enterobius vermiculoris Ovo Swobcnal Repetir o exccme por 5-7 dias
consecutivos, começando 8 dias
após o tratamento
QUADRO 54-2 Características selecionadas das principais espécies de ancilostomídeos que infectam o
homem
Necator Ancylostnma
Característica americanas duodcnale
'liamanhodo addto
Fêmea 9-11 mm 10-13 mm
Macho 5-9 mm 9-11 mm
Estruturas presentes na cápsula bucal Duas placas cortantes Dois pares de dentes grandes
Morfologia da bolsa oopuladora do macho Mais longa que larga Mais larga que longa
Número de ::Nos eliminados por dia 5.000-10.000 1000020000
Tamanhodo um 64-76 pm por 36-40 um 5660 um por 36-40 um
A. braziliensee A. caninum e de diversos outros nematódeos qronis, Angiostrongylus cantonensis, A. costaricencis e Gna-
não-humanos, pode produzir as lesões conhecidas com o thosmmaspinigerum.
nome de larva migrans cutânea. Os nomes populares in- A síndrome da larva migram visceral acomete principal-
cluem bicho geográñco e bicho da areia. As infecções hu- mente crianças com idade entre l e 4 anos. Os sintomas de-
manas são freqüentemente contraídas em praias e outros pendem da carga parasitária, da freqüência de reinfecções, da
ambientescontaminados com fezes de cães infectados. As lar- localização das lmões e da intensidade das reações inñamató-
vas avançam 2 a 5 cm por dia, através do tecido subcutâneo, rias produzidas pelo hospedeiro. A doença tem geralmente
deixando atrás de si um cordão eritematoso saliente e alta- curso benigna, caracterizadopor febre, hepatomegalia (oca-
mente pruriginoso. Pode haver a formação de vesículas. O sionalmente esplenomegalia) e eosinoñlia persistentes. Podem
aspecto das lesões é típico, facilitandoo diagnóstico. As lar- ser observados infiltrados pulmonares em radiografias de
vas morrem e degeneram em poucos dias ou semanas, sem- tórax, acompanhados de tosse, sibilos ou broncopneumonia,
pre restritas ao subcutâneo,incapazes de alcançarem vasos e reações alérgicas. A doença ocular é geralmente observada
sangüíneos e linfáticos e realizarem a migração pulmonar. O em crianças mais velhas, que muitas vezes não apresentam
diagnóstico é clínico. manifestações sistêmicas da infecção. No entanto, a maioria
A larva migram visceral é uma síndrome clinica causada das infecções por Taxocara é leve (em termos de carga para-
pela migração de larvas de nematódeos através de diversas sitária) e assintornática.
vísceras humanas. Os parasitas que mais commnente a pro- Como a maioria das infecções é autolimitada, somente os
duzem são ascarídeos de cães (TaxocaraCanis) e ocasional- casos mais graves requerem tratamento. O diagnóstico é fei-
mente de gatos (Ilbxocara (tati), cujos adultos habitam o trato to por meio de sorologia. Havendo suspeita de doença ocular,
digestivo de seus hospedeiros habituais, quase exclusivamente recomenda-se a pesquisa de anticorpos no humor vítreo ou
filhotes. Outros nematódeos associados com síndromes de aquoso. A pesquisa do parasita não tem papel no diagnósti-
migração larvária em seres humanos são Bayliascarispro- co da infecção humana.
388 Parasitologia -
uma abordagem clínica
preconizado para determinar o potencial infectante de uma em testes rápidos de detecção de parasitas, os chamados tes-
espécie de anofelino, o processo de dissecação da glândula tes imunocromatográñcos. O Vedliest” representa uma das
salivar é bastante complexo,exigindo eitperiéncia do executor. versões desses testes ainda não disponível no mercado. Seme-
As glândulas,rompidas em solução salina fisiológica e colo- lhante ao ELISA, também detecta a proteina CS, mas utiliza
cadas entre lâmina e lamínula, são analisadas ao microscópio uma ñta de nitrocelulose anticorpo monoclonal anti-CS
óptico a fresco. Se necessário, o material pode ser lixado com adsorvido conjugado a ouro coloidal. Existem produtos para
metanol e corado com Giemsa ou laranja de acridina (Gilles a detecção de R. _falciparum e R. vivax. O resultado positivo é
8¡ Warrell, 1993). A demonstração dos oocistos no intestino determinado pela formação de uma linha horizontal verme-
médio é mais simples, mas não define a capacidade vetorial lha na fita em que anticorpo espécie-específico está adsorvido.
da espécie de mosquito analisada. O uso de solução de mer- Esse teste tem sensibilidadee especiñcidade superiores a 89%
curocromo a 2% pode facilitara visualização microscópica e 99%, respectivamente (Ryan e colaboradores, 2001; Appawu
dos oocistos (Gouagna e colaboradores, 1999). Uma limita- e colaboradores, 2003; Sattabongkot e colaboradores, 2004)
ção do exame direto é que os oocistos só se tornam visíveis e oferece como vantagem a praticidade no manuseio e na
392 Parasitologia -
uma abordagem clínica
interpretação dos resultados em situações de campo. Contu- FERREIRA, C.S.; AIVIATO NETO, V.; ALARCON, R.S., GAKIYA, E.
do, entre suas desvantagens está seu alto custo. Identilicationof Crypmsporidianr spp. oocysts in fecal sinears stai-
Nos anos recentes, a PCR vem sendo amplamente utiliza- ned withHeidenhaink iron heinatoxyrlin. REV. Inst. Med. Tiop. São
da para a detecção de DNA dos plasmódios no vetor, permi- Paulo, v. 43, pp. 341-342, 2001.
FERREIRA, CS.; BEZERRA, RC.; PDWI-IEIRO, AA. lvíethyleneblue
tindo identiñcar a espécie de plasmódio infectante. Quando vital smining for Trypanosoma cruzi tqrpomastigotes and epimas-
comparada aos demais métodos, a PCR demonstra boa sen- tigotes. Rev. Inst. Med. Trap. São Paulo, v. 48, pp. 347-349, 2006.
sibilidade,podendo detectar até menos de 10 esporozoítos FERREIRA, GS.; CARVALHO, M.E. Diafanizaçâo de esfregaços fecais.
por glândula salivar [ou 0,2 pg de DNA por amostra) (Tas- Rev. Saúde Pública, v. 6, pp. 19-23, 1972.
sanakajon e colaboradores, 1993; Moreno e colaboradores, FERREIRA, CLS.; FERREIRA, M.U.; NOGUEIRA, M.R. The prevalence
of infection by intestinal parasites in an urban slum in São Paulo,
2004). Dentre suas limitações está a impossibilidadede exe- Brazil. I. Trap. Med. Hyg., v. 97, pp. 121-127, 1994.
cução em campo, a necessidade de equipamento adequado e FERREIRA, C.S. Staining of intestinal protozoa with Hdenhaids iron
o alto custo. hemanoxjrlin. Rev. Inst. Med. Trap. São Paulo, v. 45, p. 43-44, 2003.
GILLES, H.M. Diagnostic methods in malaria. In: GILLES, H.M;
I-KMRRELL, IÍILA. Bruce Chivarfs Essential rwalarioiogjr. 3' ed. Lon-
dres: Edward Arnold, 1993, pp. 78-95.
GOUAGNA, LC., BONNET, S.; GOUNOUE, R.; TCI-TUINKALÍ,T.;
SAFEUKUT, I.; VERHAVE.,I-R; ELING, WV.; BOUDIN, C. The use
of Anti-Pfs25 monoclonal antibody for early determination of
Plasmodiumfalciparum oocvst infections in Anopheles gambiae:
Diversos métodos computacionais para a análise de imagens comparation with the current technique of direct microscopic
e o reconhecimento de padrões vêm sendo recentemente apli- diagnosis. Exp. Parasiml., v. 92, pp. 209-214, 1999.
cados ao diagnósticoparasitológico. A maioria das estratégias HERVEALDT, Bl. Leíshmaniasis. Lancer, v. 354, pp. 1191-1199, 1999.
JOACHIM,A.; DULMER, N.; DAUGSCHIES, A. DíHerentiationof two
utilizadasfoi desenvolvida para a identificação de ovos de
hehnintos (Sommer, 1998) e de cistos de protozoários de in-
Oesophagosromunr spp. from pigs, O. dmratunr and O. quadrispi-
nularum, by computer-assisted image analysis of Fourth-stage
teresse médico ou veterinário (Castañon e colaboradores, larvae. Parasitol. Int., v. 48, pp. 63-71, 1999.
2007), embora alguns métodos sejam aplicáveis a larvas (loa- KAIÀWMOTO, F.; LIU, Q.; FERREIRA, hill.; TÁNTLIÀR, 1.5. HOW
chim e colaboradores, 1999) e a trofozoítos (Ross e colabo- prevalent are Plasmodium oval:: and Plasmodium nralariae in East
radores, 2006). A vantagem dos cistos e ovos está em sua Asia? Parasitol. Today, v. 15, pp. 422-426, 1999.
morfologia relativamente bem definida e homogênea, com LOPEZ, M.; ORREGO, c.; CANGALAYA, M.; INGA, R.; AREVALO,
contornos nítidos, quando comparada à dos trofozoítos e
I. Diagnosis of Leishmania via the polímerase reaction a simplilied
larvas. As caracteristicas mais informativas para o diagnós- procedure for Held work. Am. j'. Trap. Med. Hyg., v. 8B, pp. 161-
164, 1993.
tico computacional são o tamanho das estruturas, a forma do MOITINHO, M.; BERTOLI, M.; GUEDES, T.A.; FERREIRA, CLS. In-
contorno (elíptico, circular ou oval) e a espessura da parede, fluence of reñigeraüon and fonnalin on the ñoatabilityof Giardàz
bem como a estrutura interna. Essas característicaspodem ser duodcnalis cvsts. Mem. Inst. Ústvaldo Cruz, v. 94, pp. 571-574, 1999.
procasadas com relativa rapidez, proporcionando o diagnós- MORENO, NI.; CÍANO, I.; NZAIVIBO, S.; BÚBUAJCASI,l.; BUATICHE,
tico em tempo real a partir de imagens digitais dos elementos LN.; ONDO, M.; WCT-IA, F.; BEWITO, A. Malaria panel assay ver-
PCR: detection of naturally infected Anopheles :nelas in a coas-
parasitários (Castañon e colaboradores, 2007). Embora os sus
tal village of Equatorial Guinea. Malan I., v. 3, pp. 20-26, 2004.
métodos de diagnósticocomputacionaltenham sido desenvol-
PETERSEN, E. Toxoplasmosis. Feras hieon. Med., v. 12, pp. 214-223,
vidos, até o momento, para um número restrito de espécies 2007.
de parasitas, é previsível a sua popularização nos próximos PIZZARO, LC.; LUCERO, D.E.; STEVTÍNS, I.. PCR reveals sugniñcandy
anos, tornando-se uma alternativa disponível para o labora- higher rates of Trypanosoma cruzi infection than microscopy in
tório clinico. Chagas vector, Triatomaínfàstans: higher rates found in Chuqui-
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TEIXEIRAJLILL.;NITZ,N.; GUIMARO, NC.; GOMES, c.; SANTOS-
BUCI-I, CA. Chagas disease. Posngmd. Med. I., v. 82, pp. 788-798,
(página deixada intencionalmente em branco)
@tágnóstíco em
parasitoses exames
-
sorofógicos
Heitor Franco de Andrade Junior
Luciana Regina Meireles
396 Parasitologia -
uma abordagem clínica
epidemiológicos e na exclusão de uma suspeita diagnóstica.
Entre as técnicas para sua detecção, os testes de aglutinação,
As parasitoses tiveram 11H13. incidênciaelevada no ser hurna- usando desde agentes unicelulares íntegros, hemácias ou par-
tículas de látex revestidas por antígenos do agente são relati-
no, e ainda prevalecem em regiões desfavorecidas do mundo,
vamente rápidos e de leitura visual desarmada, o que resulta
sobretudo nos paises em desenvolvimento ou nas populações
em baixo custo. O uso de parasitos íntegros congelados ou
marginais de paises desenvolvidos. O diagnóstico era mais fixados em lâminas permitiu a detecção desses anticorpos li-
epidemiológico e clínico na maioria das parasitoses, inclusive
com busca ativa com exames rotineiros em pacientes assin-
gados diretamente ao agente, com caracterizaçãomorfológica,
tomáticos. Os métodos diagnósticos utilizarammétodos pela imunofluorescênciaindireta. Essa técnica é duplamente
eñcziente, permitindo não só a identiñcação do anticorpo, mas
morfológicos em exame direto ou concentrados grosseiros, já sua localização característica no agente. Infelizmente, esse teste
que uma das características dos parasitos é seu tamanho é caro, pois depende de equipamentos e observação por pes-
maior, facilmenteidentiñcável em microscopia, aliada a uma soal treinado.
grande dificuldade de crescimento sic-vivo ou in vitro dos O refinamento da pesquisa dos anticorpos pode ser feito
agentes, altamente adaptados ao parasitismo e à infestação. em ensaios imunoenzimáticos ou BIA, nos quais podem ser
Os avanços da saúde humana global e da qualidade de vida
identificadas a presença dos anticorpos, bem como a sua clas-
das populações, associados à rápida urbanização de grandes
se, lgG, IgA ou IgM, o que permite alguma inferência sobre a
populações, geraram uma diminuição signiñcativa da incidên-
cia da maioria dessas doenças, sobretudo as causadas por época da infecção e o estado imune do paciente. Atualmente
esses testes são comerciais e padronizados,permitindo auto-
helmintos ou de transmissão vetorial. Essa menor incidência
e um impacto social menos acentuado, associados a melhor mação, o que barateou muito seu custo. Outro avanço recente
foi o estudo da aridez dos anticorpos IgG, que guardam uma
nutrição das populações, levaram a um maior despreparo estreita relação com a época da infecção, com mais eñciéncia
dos médicos e laboratórios, resultando em menor eficiência
diagnóstica para essas doenças. Nesse contexto, é comum o diagnóstica. A maioria desses testes
indivíduo ser parasitado de forma assintomática, com diñcil
suspeita diagnóstica. Isso leva a um risco de transmissão am-
bientalalto e a reintrodução de agentes anteriormente elimi-
nados por medidas simples que foram esquecidas, apesar da
adoção de condições sanitárias aparentemente mais seguras.
Isso é run fenômeno social importante, acompanhando o grau
de informação das populações, tendo como paralelo a resis-
téncia nas vacinações em massa em países desenvolvidos,
apesar de inúmeros surtos de doenças virais evitáveis por va-
cinação. Apesar de menos CñCÍEIIÍES para diagnóstico, as so-
rologias surgem como uma alternativa para levantar a
suspeita diagnóstica, sem a necessidade de proiissionais trei-
nados em morfologia. Assim, em países desenvolvidos os
métodos morfológicos ou de conñrmação ficam restritos a
grandes cen1:1'os, mais capazes, e a sorologia fica destinada à
triagem para estudos mais profundos. Nesse contexto, deta-
lhamos a seguir os métodos e os aspectos especíñcos em cada
parasitose.
U+ OU§QÔÊ+ m-
Tipo de Teste. Resultado e Valor Prognóstico
Pesquisa de ELISA ELISA Testes de
Antígcno !g6 IgM Aglutinação
Nblória
Leishmaniose visceral
Leishmaniose cutânea
Doença de Chagas
Cripiosporidiase
Toxoplosmose
Amebíase
Gíandia
Helmintas Iumínois
Teníase
Esirongiloidíose
Taxooaríase
Esquislassomose
Cístieercose
Equinoooeose
Onoooeroose
Triquinelose
Áooros e outros ¡nfesioções
D - diagnóstico
A- diognóslico de doença agudo
| - ¡nconclusivo
C - contato ou infecção crônica
E - excludente.
*sugere diagnóstico em áreas com baixas prevolêncios
de transmissão, é importante o diagnóstico sorológico para leishmaniose visceral, a grande quantidade de antígenos e a
auxiliarna elucidação diagnóstica de pacientes com doenças ativação policlonal com muitos anticorpos de baixa añnida-
importadas, com exclusão dessa etiologia. de podem levar a resultado sorológico 'falso-negaúvo. Além
disso, o contato prévio corn agente positiva a sorologia, o que
ocorre na maioria (95%) dos infectados, que não desenvol-
Leishmaniose vem a doença. O resultado sorológico positivo não deve ser
indicativo de tratamento na leishmaniose visceral.
As leishmanioses são um grupo de doenças que afetam ape-
nas urna parcela dos pacientes infectados, podendo ocasionar
doença cutâneaisolada ou mucocutânea, ou doença visceral.
Nas doenças cutâneas, nas quais a carga parasitária é menor,
Doença de Chagas
a presença de anticorpos contra o agente é diagnóstica nos A sorologia na doença de Chagas ou nipanossomiase ameri-
casos de lesão clinicamente sugestiva. Testes para antígenos cana tem uma importância fundamental, porque os pacientes
circulantes têm sido desenvolvidos e tem especial importân- crônicos transmitem a infecção, e a sorologia indica o risco de
cia para o diagnóstico da leishmaniose visceral, em que a carga transmissão e a infecção. Os testes parasitológicos, como en-
parasitária é muito grande. Esses testes não têm valor na contro e cultivo do agente em sangue periférico e o xeno-
leishmaniose cutânea, na qual a quantidade de antígeno é diagnóstico em vetores, são demorados e reservados a centros
muito pequena. Nesse caso, na ausênciade testes morfo- de pesquisa. Uma parcela significativa dos pacientespode per-
lógicos a existência de sorologia positiva com lesão cutânea manecer assintomáüca, mas doença cardíaca e doença intes-
sugestiva é praticamente diagnóstica. Em pacientes com tina] podem aparecer em qualquer período, e a sorologia é
398 Parasitologia -
uma abordagem clínica
praticamente diagnóstica, na presença de quadro clinico su- mas, em sua ausência,acompanhamentoultra-sonográfico do
gestivo. Alán disso, os parasitas são relativamente raros na fase feto, para instituição de terapia mais agressiva. A toxoplasmo-
crónica da infecção, o que torna dificilaté o diagnóstico histo- se ocular acomete uma pequena porcentagem dos pacientes
lógico em biopsias. Durante a fase aguda da infecção, o acha- infectados imunocompetentes, mas tem presença significati-
do do agente em sangue periférico seria possivel com relativa va (-6096) nos casos de uveítes. A presença de IgG especíñca
facilidadepelo hematologista, mas os testes automatizadosde auldlia no diagnóstico, embora o quadro ocular fundoscópico
hemograma não detectam o agente, sendo necessária sempre seja bastante característico. Na encefalite por 'II gondii em
a solicitação específica da pesquisa de hematozoários, para imunossuprimidos, como na AIDS, a sorologia deve ser feita
que o teste seja feito de maneira manual. Os testes comerciais para confirmação da infecção, mas não serve para acompa-
atuais são altamente eficientes e confiáveis, mas é fundamen- nhamento terapêutico. A pesquisa de parasitemia em sangue
tal a suspeita clínica, por epidemiologia suspeita em caso de periférico, por PCR, é mais eficiente, sobretudo na suspeita de
cardite ou miosite injlamatória,incluindo a pesquisa de am- toxoplasmoseaguda em paciente com deficiência imune. Po-
bientes de transmissão vetorial, hemoderivados ou ingestão derá não haver resposta sorológica de IgG ou de IgM em vir-
de sucos ou pastas manuais sem pasteurização. tude da imunodeficiência, sendo a toxoplasmoseuma causa
de febre de origem desconhecida nesses pacienta. A pesquisa
epidemiológica da toxoplasmosetem importânciacrescente na
Criptosporidiase preparação dos serviços de saúde para as conseqüências da
infecção. Regiões com freqüência intermediária de adultos
A criptosporidíase é uma infecção intestinal de diñcil diagnós- jovens infectados (30% a 60%) têm maior risco de toxoplas-
tico, já que as formas do agente são facilmenteconfundidas mose congênita, enquanto em regiões com alta positividade
com fungos nas colorações fecais convencionais. Apesar de (>70% ) o risco de toxoplasmose ocular pode até orientar
sua relativa alta freqüência, cerca de 10% das diarrêias infan-
para exames fundoscópicos de rotina, embora haja menor
tis em alguns estudos, como é autolirnitadaem pacientes sem risco de toxoplasmosecongênita.
deficiência imunológica, não é feito um grande esforço diag-
nóstico na doençaaguda. Há testes para detecção de antígenos
do agente em fezes com uma maior eficiência que a pesquisa Amebiase
direta ou por técnicas de coloração específicas. Em pacientes
com deñciêndas imunes, como na AIDS, nos quais a excreção A amebíase, causada por Enramoeba spp., apresenta duas
de oocistos é constante, esses testes devem ser preferidos em síndromes clínicas, a disenteria amebiana, infecção do intes-
relação aos testes sorológicos. tino grosso e formação de abscessos amebianos no fígado
a
Em áreas com baixo nível de controle sanitário da água, a ou em outros órgãos. Nessas infecções, o diagnóstico para-
infecção é freqüente, atingindo taxas de 24% em um ano. A sitológico pode ser feito por análise morfológica, detecção de
sorologia para C. parvum na população, por qualquer méto- antígenos por técnicas imunocromatográñcas, cultura ou
do, seja IFI ou ELISA com antígenos recombinantes,pode. ser mesmo PCR, em fezes ou aspirados de abscessos. Em regiões
um excelente indicador do controle sanitário da água, prin- de baixa prevalência da infecção, a presença de anticorpos
cipal veículo de transmissão. IgG ou IgM, por [FI ou ELISA, pode ser importante tanto no
diagnóstico como na sua exclusão. A infecção por arnebas de
vida livre, como Acanthanzoeba, Naegleria e outras, não tem
Toxoplasmose sorologia definida e seu diagnóstico deve ser feito pela pesqui-
sa do agente em IDR ou lesões oculares, já que são doenças
A toxoplasmoseé uma infecção muito comum, quase sempre agudas, com pouca probabilidadetemporal de formação de
assintomãtica, na qual a pesquisa do agente e' bastante com- anticorpos.
plexa e restrita a algumas síndromes, em especial a toxoplas-
mose congênita, em que em geral é feita por PCR. Esse
cocczídeo induz uma rápida e eficiente resposta imune prote- Giardíase
tora, e os testes sorológicos são o método de escolha para seu
diagnóstico. Os quadros mais freqüentes são de linfadeno- A
patia febril prolongada em crianças ou adultos jovens. Há
testes comerciais de sorologia para IgG e para IgM, além de
testes conñrmatórios de avidez de IgG. Sua utilização é im-
portante para o diagnóstico de infecção recente em gestantes,
já que a toxoplasmosecongênita apresenta alto risco de lesões
fetais, com terapias adequadas, que devem ser instituídas
com presteza para minimizar danos fetais. Esse diagnóstico
costuma ter como base a presença de IgG e IgM específicas
para o agente, que caracteriza uma infecção recente, confir-
mada pela presença da maioria dos anticorpos IgG de baixa
avidez. Esse resultado em gestantes indica tratamento e pes-
quisa de infecção fetal, em líquido amniótíco, se disponível,
Diagnóstico em parasitoses -
exames surológicos 399
corpos especíñcos, que estão presentes mesmo após a elimi- mes nem excreção de ovos, que podem ser pesquisados em al-
nação do agente. Estudos epidemiológicos mostram uma in- gum animalde estimação do ambientedo paciente. Há ELISA
cidência de 16% ao ano em populações com menor qualidade para IgG com antígenos de larvas ou proteínas recombinantes
sanitária. Na presença de baixa prevalência da infecção, os tes- do agente, com sensibilidadee especiñcidade adequadas. Nes-
tes sorológicos podem ser mais úteis no diagnóstico, em es- ses casos, a associação dos dados clínicos com sorologia im-
pecial de infecções do intestino delgado inicial, duodeno e plica terapia adequada, não se fazendo necessária biopsia
jejuno, acompanhados de síndrome de má-absorção. confirmatória.Os testes para pesquisa de IgM não são espe-
cíñcos, apresentando reações cruzadas com outros vermes.
Esquistossomose
Luminais
Nas esquistossomoses, a doença costuma ser diagnosticada
Os hehnintos luminais, como Anqrlastoma sp., Necator sp., pelo quadro clinico e pela identificação de ovos em fezes ou
Enterobius sp., Ascaris e 'IHchuris sp., têm uma resposta hu- urina, ou mesmo por biopsia retal. Diante de quadros esta-
moral complexa e pouco estudada. Em geral, os poucos tra- belecidos com terapia desconhecida ou com baixa excreção
balhos mostram que a resposta sorológica humoral clássica de ovos, a presença de anticorpos séricos confirma o diagnós-
(IgG e IgM) mostra apenas contato com o agente, mesmo tico e permite terapia adequada. Na esquistossomose man-
assim na dependência do tipo de antígeno (ovo ou verme) sônica, com envolvimento hepatoesplênico grave, a sorologia
analisados. Na imunologia dessas infecções, estão envolvidas auxiliana diferenciação de outras causas de hipertensão portal.
Os testes sorológicos tem especial importância em pacientes
principalmente reações mediadas por lgE., com ativação de
eosinóñlos e outros produtos específicos para o combate a migrantes de áreas endémicas em paises desenvolvidos, onde
uma eventual invasão por larvas, e para o controle da infes- a doençapode ser diagnosticada anos após a migração, com
tação intestinal. A sorologia tem pouca importancia isolada pouca experiência em métodos morfológicos. A princípio, a
nessas infecções. A teníase e a diñlobotríase são infecções pe- reação de precipitinas circum-ovais foi utilizada,mas hoje foi
los platelmintos adultos, que podem ser diagnosticadaspela substituída por testes que utilizam antígenos purificados,
tanto hemaglutinaçãocomo ELISA, que apresentam especifi-
excreção de proglotes ou ovos nas fezes, além de testes para
detecção de antígenos excretados nas fezes, mas podem se cidade crescente na dependência da pureza e qualidade do an-
apresentar como anemias por perda de folatos ou vitaminas tígeno utilizado. Esses testes apresentam reações cruzadas
E12, sem suspeita clínica da infecção. Nesse caso, a pesquisa entre as esquistossomoses, e devem ser avaliados de acordo
com a epidemiologia e a clínica do paciente. Além disso, há
sorológica de IgG auxiliano diagnóstico, indicando a pesqui-
sa cuidadosa do agente na luz intestinal. A triagem pela pes- reações cruzadas com outros helmintos, como Paragonimus
quisa sorológica de pacientes infestados está sendo proposta sp. Mais recentemente, testes imunocromatográñcos tem sido
para terapia, tanto humana como veterinária, para redução desenvolvidos, para uso em triagem e estudos epidemioló-
da incidênciada cisticercose, doença causada por uma larva gicos, coni multado rápido e eficiente. Testes para detecção de
intermediária, muito mais grave e discutida a seguir. antígenos circulantes são eficientes para diagnóstico de ativi-
dade helmíntica no hospedeiro, negativando-se após o trata-
mento, mas também apresentam reações cruzadas.
Estrongiloidíase
A estrongiloidiase é uma freqüente infecção helmintica sis- Cisticercose
témica e o seu diagnóstico quase sempre tem por base a
infestação intestinal concomitante, detectada por métodos A infecção por estágios intermediários de Tàenia, ou cisti-
cercose, causa doença nos locais de implantação desses esta-
morfológicos. Os testes sorológicos, ELISA e lFl, ou imuno-
cromatográflcosestão disponíveis comercialmente e têm se gios imaturos, que migram para os órgãos após a ingestão de
ovos viáveis. A doença se manifesta no sistema nervoso cen-
mostrado eficientes na demonstração do contato com o agen-
te, que pode ser diagnóstico em grupos nos quais a preva-
tral, músculo e olhos e o diagnóstico é firmado com base na
lência da infecção é baixa. Além disso, esses testes têm especial imagem e sorologia específica no líquor ou no sangue. Vários
testes comerciais, como E-LJSA, fixação de complemento, he-
importânciapelo risco de ocorrência de doença disseminada maglutinaçãoe outros, estão disponíveis, utilizamuma varie-
em pacientes diabéticos, transplantados ou com algum tipo dade de antígenos de vários estágios do desenvolvimento de
de deficiência imunológica natural ou adquirida.
'Mania sp., tanto homólogos como heterólogos. Mais recen-
temente, também estão disponíveis testes com antígenos
Toxocariase recombinantes, de mais especificidade.
paises livres da doença. Não existem testes comerciais para sando reaçõs alérgicas ou são marcadores de exposição. Em
antígenos circulantes, mas o achado histológico é muito ca- algumas doenças de transmissão vetorial, a presença de anti-
racterístico, e o diagnósticosorológico é crucial para orientar corpos contra proteínas da saliva do inseto vetor tem sido
os procedimentosterapêuticos. associada à exposição ao agente, sendo, inclusive, propostos
como vacinas indiretas, já que a saliva dos vetores costuma
ter importância na patogenicidade dessas infecções. Em ou-
Filarioses tras doenças, as substâncias injetadas em uma picada podem
desencadear reações alérgicas sistêmicas em pacientes sensibi-
As ñlarioses representam importantes parasitoses, nas quais lizados. Nesses grupos, a presença de anticorpos séricos indica
o diagnóstico é praticamente fundamentado em achados clí- a sensibilizaçãodo paciente e pode auxiliarna monitoração
nicos e na identiñcação de mícroñláriasem sangue periférico, de irnunoterapia. Além disso, testes de ELISA para antígenos
em geral em infecção por Wi bancmjfti. A sorologia é utiliza- de ácaros e outros alérgenos ambientais podem auxiliarna
da para determinar taxas de prevalência, estando disponíveis condução do diagnóstico de alérgenos importantes em cada
testes para detecção de antígenos circulantes. A oncocercose é paciente.
uma filariose com baixa prevalência de microfilãriascirculan- Em infecções com carrapatos como vetores, como a borre-
tes ou em lesões, e que causa cegueira em uma porcentagem liose ou a doença de Lynne, a confirmação da exposição dos
significativa dos pacientes, com clinica pouco exuberante. Nes- hospedeiros pode ser feita pela pesquisa de anticorpos anti-
ses pacientes, são empregadas várias técnicas para detecção de saliva, que tem alguma especilicidade entre as espécies de car-
antígenos ou DNA do agente em sangue periférico, por PCR, rapatos.
em pacientes com quadro cutâneo ou ocular compatível. No-
vos testes imunocromatográñcos para antígenos com alta
sensibilidademostram doença assintomática em doenças
endêmicas, apresentando uma taxa de infecção maior do que
as por testes morfológicos de identificação de microñlárias. A As técnicas sorológicas têm ampla utilidade no diagnóstico e
pesquisa de anticorpos circulantes é auxiliarno diagnóstico, controle de infecções parasitárias, mas devem ser utilizadasde
já que o verme adulto demora um período para o seu cresci- fomia criteriosa e inteligente. O bom senso de seu uso, mos-
mento e a eliminação de microñlárias, mas a reação perma- trando o contato com o agente e a importância desse conta-
nece positiva após tratamento, com baixa eficiência em áreas to no diagnóstico de quadros clínicos suspeitos, é de extrema
endêmicas, pela positividade em pacientes infectados sem sin- importância em regiões de baixa exposição aos parasitas,
tomas e pacientes tratados. embora não tenha essa mesma eficiência em regiões endê-
micas, onde as técnicas morfológicas ou de detecção de antí-
genos são recomendadas. Todo o esforço deve ser feito para
Triquinelose que essas técnicas e o seu conhecimento sejam mantidos
para que uma baixa prevalência não resulte na incapacidade
As infecções por 'lhkhinella sp. são Zoonoses prevalentes no de manejarpacientes com infecções parasitárias de alto risco.
Velho Mundo e que são associados a quadros cutâneos alér-
gicos, além de envolvimento sistêmico causado por larvas do
verme, ingeridas em carnes de caça, devido a migração das
larvas, que se acompanha de eosinoñlia. Como não há evo-
lução, o diagnóstico é ñnnado nos achados de biopsias mus- ANTHONY, ILM.; RUTITZKY,L.I.; lmBMsT, Jr. m., STADECKER,
culares ou em sorologia específica, feita em geral em ELISA MJ.; GAUSE, “UCL Protective immune mechanisms in helminth
com antígenos excretados do agente, reagente após duas a
infection. Alm: Rev. Immtmol., v. 12., pp. 975-987, 2007.
três semanas do início da sorologia. Há ELJSA comercial, e CORRAN, P.; COLENIAN, P.; RÍLÊÍ, E.; DRAKELÊY, C. Serology: a
robust indicntorof malaria transmission intensity? Trends Parasitol.,
testes para a detecção de antígenos por métodos imunocro-
v. 23, pp. 577-582, 2007.
matográficos estão em desenvolvimento. As reações não são CRUNÍP, LA.; MENDOZA, CLE.; PRIEST, IÍVUÍ; GLASS, RJ.;
especiíicas e o cruzamento dos testes com pacientes infectados MONROE, 5.5.; DAUPHIN, LA.; BIBB, XÍF.; LOPEZ, M.B.;
por Anisakis sp. pode ser encontrado em áreas epidemioló- ALVAREZ, Daí.; MINTZ, ED.; LUBY, SP. Comparing serologic.
Diagnóstico em parasitoses - exames sorológicos 401 -
response
(página deixada intencionalmente em branco)
/Tvançosno Jiagnóstico
dê doençasparasitánlzs
-
telêd-íagnóstico e
métodos mofeculàres
Alexandre J. da Silva
É** Parasitologia -
uma abordagem clínica
ras aplicações dos métodos de DNA na área de diagnóstico.
Essas sondas eram desenvolvidas com base em seqüências es-
Os métodos morfológicos continuam sendo fundamentais pecíficas, obtidas de genes rnicrobíanos,clonados e seqüen-
ciaclos previamente. Em geral, essas sondas eram conjugadas
para o diagnóstico laboratorial de um grande número de com ligantes (enzimas, radioisótopos, moléculas fluorescen-
doenças parasitárias. A visualização das características mor- tes para a verificação da hibridização). Mais adiante neste
fológicas dos estágios eritrocíticos das espécies do gênero capítulo, iremos verificar que os princípios básicos emprega-
Plasmodium,por exemplo, garante uma identificaçãoprecisa dos na hibridização de sondas estão agora sendo utilizados
da espécie, o que é de grande utilidade não somente para fins
em algumas das técnicas de amplificação em tempo real e em
epidemiológicos, mas para o tratamento da malária huma- técnicas que usam o método de esferas fluorescentes. Com
na. Plasmodium viva:: e R. ovale podem produzir estágios he-
essas técnicas, está sendo possível criar soluções estratégicas
páticas persistentes passíveis de causar infecção recrudescente. para a detecção simultâneade múltiplo patógenos, o que ten-
Nesse caso, a identificação da espécie é de fundamental im- de a viabilizaro custo para o uso das técnicas moleculares no
portância, uma vez que tais estágios só são eliminados por diagnósticoparasitológico de rotina.
meio de tratamento um específico com drogas que não são As técnicas moleculares podem ser classificadas em três ca-
utilizadaspara o tratamento de infecções maláricas causadas
tegorias de acordo com a maneira como cada uma detecta os
por P. falciparutn ou R. maiorias. Outros exemplos em para- ácidos nucléicos. A primeira categoria inclui as técnicas que
sitologia demonstram a necessidade de se identificar tais pa- amplificam o alvo a ser detectado como a técnica de PCR, a
tógenos quanto à espécie. Recentes avanços tecnológicos vêm técnica de strand dimlacerrzent (SDA),a amplificação mediada
criando um impacto signiñcativo no diagnóstico das doenças
por transcriptase (TMA) e a técnica de NASBA (mudei: acid
parasitárias. O uso da comunicação pela Internet e os méto- sequence-basedamplifaztion). Na segunda categoria estariam as
dos moleculares estão influenciandona maneira de diagnos- técnicas que ampliñcam as sondas que contêm as seqüências,
ticar doenças parasitárias com a utilização de métodos a exemplo da técnica da Qâ replicase, e a técnica denomina-
laboratoriais. O diagnóstico a distânciapor meio de imagens da ligase drain, reaction (LCR). Na terceira categoria estariam
já é uma realidade em algumasinstituições em diferentes par- as técnicas que se baseiam na ampliñcação do sinal de detec-
tes do planeta e tem ampliado o perñl de alguns laboratórios ção, como a branch-profit: transcription DNA (bDNA).
que, em virtude do uso desse tipo de tecnologia, são capazes Esses métodos moleculares de amplificação de alvo ou de
de obter apoio diagnóstico de maneira rápida de laborató- sinal também podem ser classificados em duas categorias de
rios de referência em qualquer parte do mundo. De certa ma- acordo com a maneira como o alvo é amplificada: l) méto-
neira, pode-se dizer que o uso da Internet ajudou a viabilizar dos que requerem alternância de ciclos de temperatura para
a criação do laboratóriode diagnóstico virtual e da consulto-
gerar amplificação; 2) métodos que ampliñcam o alvo sem a
ria diagnóstica globalizada. necessidade de ciclos de temperatura. No grupo l, estariam as
Uma outra tendência na área do diagnóstico de doenças técnicas de PCR e LCR, que são métodos que utilizamins-
parasitárias é a utilizaçãocada vez maior dos métodos mole- trumentos, como os termocicladores. No grupo 2, estariam
culares, sobretudo dos sistemas que têm como base a ampli- todas as técnicas conhecidas como técnicas de amplificação
ficação de DNA pela reação da cadeia da polimerase (PCR, do isotérmica, nesse caso as técnicas de TMA, NASBA, SDA, QB
inglês polímeros.? chain reaction). A utilização de tais técnicas replicase e bDNA. Uma série de artigos sobre as técnicas men-
facilitoua descoberta de novas espécies de protozoários. Além cionadas aqui está disponível na literatura e essas aplicações
disso, elas têm sido utilizadascom muito sucesso na identiñ- têm sido utilizadas tanto para pesquisas básicas como para
cação de microorganismos em vários tipos de amostras cli- áreas de aplicações em diagnóstico.
nicas, como sangue, líquor, urina, tecidos e material fecal. Os A despeito da existência de vários métodos moleculares
métodos moleculares têm sido de grande utilidade para a que podem ter aplicação diagnóstica., a PCR é definitivamen-
confirmação de resultados obtidos pelo exame morfológica te a técnica mais utilizadapara esse lim. A razão para esse fato
e para determinação prec.isa da espécie daquele agente, em está relacionada com a praticidade de adaptação da PCR
situações especíñcas, nas quais as limitações dos métodos para a detecção de um ou vários patógenos simultaneamen-
parasitológicos tradicionais não permitem tal caracterização. te. Tal fato é observado de forma muito objetiva quando se
Exemplos desse tipo de aplicação têm aumentado de modo trata de diagnóstico das principais doençasparasitárias que
acentuado nos últimos anos com a crescente popularização afetam indivíduos em diferentes partes do planeta. A vasta
dos métodos de detecção de DNA. Uma outra característica maioria dos métodos desenvolvidos para dar suporte diag-
de impacto dos métodos moleculares está relacionada com nóstico em parasitologia utiliza a PCR ou variações dessa téc-
sua sensibilidademais apurada quando comparados com o nica. Assim, a parte que enfoca os métodos moleculares deste
exame parasitológico direto ou com os métodos que utilizam capítulo enfatizaráa PCR e suas 'variações como as técnicas
técnicas de isolamento in. vitro para caracterização de para- de PCR em tempo real
sitos. A sensibilidadedessas técnicas garante a detecção de Em resumo, este capítulo é dedicado à discussão da prática
parasitas em amostras complexas, como alimentos e amos- do telediagnóstico e do uso das técnicas corn base na PCR no
tras ambientais, nas quais os patógenos estão presentes em aprimoramento diagnóstico das doenças parasitológicas. A
baixa concentração. parte de telediagnóstico terá um foco maior nos casos forne-
O uso de sondas específicas de DNA ou RNA de hibridi- cidos pelo projeto DPDx, criado e mantido pelo Centro de Con-
zação para a caracterizaçãode patógenos foi uma das primei- tr'ole e Prevenção de Doenças, o CDC, do governo dos Estados
Avanços no diagnóstico de doenças parasitárias telediagnóstico e métodos moleculares
- 405
ASPECTOS BÁSICOS DO
TELEDIAGNÓSTICO
Os avanços tecnológicos na área de comunicação eletrônica
vêm criando run campo proñcuo para o uso de estratégias na
área de telemedicina. A telemedicina permite o uso de recur-
sos humanos a distância mesmo em situações adversas para FIGURA 56-1 Equipamento de telediagnóstico que utiliza câmera
ñns htunanitários e para ñns de melhorias do tratamento de digital DPY1 [Olympus America Inc., Center Valley, PA, EUA)
doenças graves e para fins de diagnóstico de doenças. A especializada em capturar imagens digitais de campos
telemedicinapode ser dividida em duas categorias: l) interativa microscópicas.
de tempo real; e 2) análise de dados transmitidos. Na primeira
categoria estão incluídos os métodos em que os sítios em co-
municação (a parte fornecendo a consulta e a parte requisi-
tando a consulta) estão ligados em comunicação simultânea.
A segunda categoria inclui os métodos em que dados são en-
viados eletronicamente, analisados, e o resultado da análise é
enviado de volta após um período de tempo sem que os sítios
em comtmicaçâo mantenham contato simultâneo. Os lnéto-
dos mais utilizadosem parasitologia se enquadram na segLm-
da categoria, a @templo do projeto DPDX, criado e mantido
pela Divisão de Doenças Parasitárias do CDC, que nos Esta-
dos Unidos está tendo uma função de destaque no diagnós-
tico de referência de doenças como a lnalária.
O projeto DPDx nasceu de uma necessidade em saúde
pública identificada pelo CDC no ano de 1998. A idéia central
era fornecer assistência em diagnósticoparasitológico a dis-
tânciautilizandomeios de comunicação pela Internet. Para
enfatizar o objetivo do projeto, um ivebsire foi criado com o
intuito de promover os métodos utilizadospara diagnóstico FIGURA 56-2 Equipamento de telediagnóstico que
utiliza câmera
parasitológico (httpzfftvwwsndpdcdc.govfDPDxH.Esse website digital Spot RT com Slider [Diagnostics Instruments, Inc. Sterling
serve como um portal para a utilização dos serviços de tele- Heights, MI_ EUA] especializada em capturar imagens digitais de
diagnóstico, bem como um elemento educacional para pro- campos microscópicos.
fissionais que se dedicam a essa área da microbiologia. O
programa de telediagnóstico do projeto DPDX conta com a
participação de parasitologistas com experiência extensa nessa execução do telediagnóstico, como demonstrado nas Figu-
área de aplicação. ras 56-3 e 56-4, que minimizam o da montagem do
custo
Para a execução do método de telediagnóstico promovi- equipamento. Uma câmera especializada para microscopia
do pelo projeto DPDx, o laboratório precisa contar com um (Figuras 56-1 e 56-2) custa no mercado norte-americano entre
equipamento básico, que inclui run microscópio ótico de boa US$I0.000 e US$l5.000, enquanto uma câmera não-espe-
qualidade que deve ter uma câmera digital acoplada, a qual cializada adequada a função pode custar menos de
essa
pode ou não estar diretamente conectada a run computador USSLOOQOO (Figura 56-3). É importante frisar que as câme-
com acesso a Internet. Com esse equipamento básico é pos- ras não-especializadasprecisam ter uma resolução mínima
sível capturar imagens envia-las como um anexo de e-rrzaii de 5 megapixels para serem adequadas ao uso em telediag-
para o laboratório que serve como referência diagnóstica. Um nóstico. No momento, existem até adaptadores especiais para
equipamento de telediagnóstico tradicional contará com uma acoplartais câmeras ao microscópio ótico, como demonstra-
câmera especialmente fabricada para capturar imagens mi- do na Figura 56-4.
croscópicas, como a demonstrada nas Figuras 56-1 e 56-2. É Uma das grandes vantagens da utilização do telediagnós-
também possível utilizarcâmeras não-especializadas para tico com base na análise de imagens digitais de campos mi-
É** Parasitologia -
uma abordagem clínica
croscópicos em Parasitologia é a rapidez com que o exame projeto DPDX para fins educacionais [caso 220). Os casos ori-
parasitológeo é executado. Em geral, o resultado da análise ginais poderão ser baixados por meio dos links ao ñnal de
das imagens digitais está disponível algumas horas após o cada caso.
envio dos dados eletrônicos. Essas rapidez e praticidadeaju-
dam a minimizar o custo, uma vez que o envio da amostra
clínica por correio não é necessário. Assim, um laboratório Ca59l°2
qualquer pode fazer consultas com um laboratório de refe-
rência diagnóstica localizado em um outro continente de for- Um paciente foi examinado num hospital em Ruanda com
ma rápida e econômica. cefaléia, febre e calafrios. Um esíregaço simples utilizandoa
Uma série de casos em que se utilizou o telediagnóstico coloração de Giemsa foi realizado. A Figura 56-5 mostra o
está disponívelpelo DPDx. Alguns dos casos estão arquivados que foi xrisualizado no esfregaço num aumento de 1.000 ve-
na seção case snrdy archives (httpJ/tmwv.dpd.cdc.govfDPDxf zes. Qual o diagnóstico? Com base em qual critério?
HTMUCasmhUn) no website do DPDx. A seguir, se encontram
dois casos de estudo originalmente transcritos diretamente
do ;website do DPDx. Um deles representa uma consultoria Resposta do Caso 202
telediagnóstica do estado do Alasca, que foi reciclada pelo
Este foi um caso de malária causado por Plasmodiumovalc.
Muitas das imagens demonstram uma apresentação clássica
da morfologia de P. ovale. As características são: as hemácias
estão aumentadasde tamanho e há presença de bastões de
Schüñiier. *Marias hemácias infectadas dispostas na forma oval
também apresentam terminações añladas, chamadas de fim-
brias. A presença de múltiplos estágios de Plasmodium,
trofomíto compacto (Figura 56-5 D). Gametócitos arredon-
dados a ovais que quase preenchem as hemácias (Figura 56-5
A, C e F) e esquizontes imaturos (Figura 56-5 B e E).
FIGURA 56-4 Câmera digital não-especializada para microscopia FIGURA 56-5 Caso 202 [A-F). Esfregaço de sangue periférico num
digital adaptada para captura de imagens microscópicas_ Note a aumento 1.000 vezes (veja a descrição do caso 202 no texto).
imagem de uma forma tripomastigota de Trypanosoma cruzi no Agradecimentos: Mrne. Severina Munyeshyaka do Hospital
visor da câmera. Universitário em Butare, Rwanda_
Avanços no diagnóstico de doenças parasitárias telediagnóstico e métodos moleculares
- 407
FIGURA 56-6 Caso 220 A, Foto do verme encontrado em cesta de roupa [veja descrição do caso 220 no texto); B, Ovo do verme com
-
aumento de 100 vezes; C, Ovo do verme com aumento de 400 vezes. Agradecimentos ao Laboratório de Saúde Pública do Estado do Alasca.
'Imagem contendo formas ¡ntra-eritrocíticas de Bobesío microtr' que a cada uma das ñtas do template. É nessa írltima etapa em
fo¡ recebida como consulta telediagnústica. que ocorre a incorporação dos nucleotídeos dideoxi (presen-
tes na mistura) nas duas fitas do DNA template.. Durante a
fase de extensão ou elongamento da cadeia nucleotídica
custo dos equipamentos necessários para a execução deverá ocorre a polimerização de uma nova molécula de DNA que
cair com os avanços tecnológicos. Assim, países em desen- terá um tamanho em pares de bases determinado pela dis-
volvimento poderão ter acesso a esse tipo de tecnologia para tãncia entre os dois printer.: anelados nas duas fitas do DNA
obter auxílio diagnóstico de laboratórios de referência em ins- template.
ütuições localizadas em diferentes partes do planeta. Para a execução da PCR é necessária a presença de instru-
mentos conhecidos como termocicladores, que podem gerar
ciclos de temperaturas de forma eficiente e rápida. Em um ci-
APLICAÇÃO DA rca NA CONFIRMAÇÃO o¡ clo completo para amplificação por PCR o termociclador é
CASOS n¡ wings PARASITÀRIAS programado para atingir a temperatura de desnaturação
(acima de 90°(Í), em seguida mudar para a temperatura de
anelamento (entre 45°C. e 65°C., com base nos valores de Tm
Aspectos Básicos da PCR dos pñ-nrers) e, finalmente, atingir a temperatura de elonga-
A técnica de PCR tem sido amplamente utilizada na detecção ção (72°C, no caso da 'Faq recombinante).A produção detec-
e caracterização de agentes infecciosas, tendo em vista o !ras-
tável dos fragmentos de DN A acontecerá quando esses ciclos
to número de publicações descrevendo tais aplicações. A téc- de temperatura forem repetidos várias vezes, como, por
nica da PCR foi inventada por Katy B. lvlullis em 1985, que exemplo, cerca de 30 a 40 vezes. No formato original da PCR
a amplificação era detectada após a eletroforese em gel de
ganhou em 1993 o Prémio Nobel de Quimica pela descober-
ta revolucionária. A PCR se baseia na amplificação in vitro de acrilamidade Luna fração da reação. Ao final da eletroforese
o gel era corado com agentes intercalantes, como, por exem-
fragmentos de ácidos nucléicos. Assim, é possível aumentar
de forma signiñcajiwa a concentração do alvo genético de modo plo, brometo de etidio, e os fragmentos eram \risualizados
a facilitara sua detecção pelo uso de técnicas simples como a com a exposição do gel à luz ultravioleta (UV), como com a
duas moléculas estarão muito próximas, e o efeito do quen- que assondas dos outros sistemas. Em alguns casos, as se-
cher será muito grande para que o repórter produza alguma qüências ideais para diagnóstico diferencial não têm as carac-
fluorescência,mesmo se excitado com a fonte de luz do apa- terísticas cruciais para produção de sondas que garantam
relho. A sonda de 'faqMan foi concebida para hibridizar uma detecção específica e sensível de um determinado
numa seqüência determinada do DNA template, localizada patógeno. As técnicas de PCR em tempo real têm tido um
não muito distante das regiões definidas para o anelamento impacto positivo em parasitologia e é bastante natural que
dos primers de PCR. Esse sistema permite que a especificida- essa tendência continue aumentandotendo em vista a dimi-
de do teste seja totalmente dependente da sonda, ou que seja nuição do custo do PCR em tempo real.
dependente da sonda em conjunto com os primers de PCR. A tecnologia utilizadapela Lumine:: está atraindo a aten-
A sonda de TaqMan é desenhada para ter uma Tm mais alta ção de cientistas do mundo. Essa plataformapode ser utili-
que a dos primers, para que ela hibridize antes que os zada para detecção de proteínas ou de fragmentos de DNA e
primers anelem ao DNA. lsso gera condições para que as son- vêm emergindo mundialmente como uma plataforma ideal
das atinjam lO0% de hibridização durante a fase de extensão. para o diagnóstico molecular devido a sua habilidadepara
Após a etapa de anelamento dos primers, a 'Iãq polimerase es- detecção de múltiplo patógenos. Na detecção de DNA a tec-
tende as extremidades 3' dos primers e por causa da sua ati- nologia utilizadapela Lumine:: facilitaa identificação espe-
vidade intrínseca de nuclease de 5' para 3', hidrolisa as sonda cíñca de alvos ampliñcados por meio da hibridização dos
hibridizadasliberando a extremidade contendo o fluorocro- mesmos com sondas acopladas a microesferas que emitem
mo-repórter para a solução. Assim, a distânciaentre o re- sinais distintos de fluorescência. Isso é possível porque essas
pórter e o queneher aumenta e a Huorescência começa a ser microesferas são internamente coradas com dois fluorocromos
emitida pelo repórter que não sofre mais o efeito de PRI-LT com espectros distintos. As microesferas serão então classi-
pelo quencher. Na técnica de lãqMan, o sinal de fluorescência ficadas de acordo com quantidade relativa dos dois fluoro-
é emitido cada vez que um dos primers é estendido. Assim, o cromos injetados nas microesferas, o que dará a cada uma a
sinal acumuladode fluorescênciaserá diretamente proporci- habilidadede produzir um sinal específico de fluorescência.
onal ao número de &agmentos de DNA produzidos durante No momento, essa, denominada :LMAR permite a construção
toda a reação de PCR. O desenho de sistemas de 'FaqMan é de um painel de até 100 tonalidades diferentes alterando-se a
normalmente produzido com a utilização de programas espe- concentração de cada um dos fluorocromos na microesfera.
cializados como Primer Express, comercializado pela Applied Assim, a tecnologia ::MAP permite a análise de dez alvos dis-
Biosystems/Perldn Ehner. tintos por reação. A discriminação das microesferas é feita
Os faróis moleculares se tornaram muito atraentes para a pelo instrumento de Luminex ou BioPlex, os quais se funda-
detecção rápida de alvos genéticos na área de diagnóstico mo- mentam no princípio da citometria de 11mm. Assim, o instru-
lecular. Esse sistema foi criado por Tvagi e Kramer em 1996, mento de detecção tem a habilidadede reconhecer cada uma
e utilizauma sonda de hibridização de DNA que possui uma das 100 classificações de microesferas com alta especificidade
estrutura secundária para a formação de haitpin. Essa son- com base no sinal de fluorescênciaemitido por cada uma de-
da é marcada nas duas extremidades com iluorocromos que las quando as mesmas são iluminadaspelos fachos de laser
têm, como em 'lãqMan,função de repórter e qttendrer. Essas do instrumento (Figura 56-9). A tecnologia ::MAP permite a
sondas são desenhadas com uma parte da extremidade con- detecção de alvos protéicos ou fragmentos ampliñcados de
tendo seqüências complementares com nucleotídeos G-C ácidos nucléicos com sensibilidadee especificidade. A Lumine::
pareados. Essa porção da sonda funciona como uma trave também tem uma tecnologia específica que só é aplicada à
que, quando não hibridizada, mantém a estrutura fechada e detecção de ácidos nucléicos (FlexMap).Essa tecnologia é one-
os dois corantes próximos o suficiente para que haja efeito de rosa e complexa porque utiliza um sistema que é proprieda-
FRET no repórter causado pelo quencher. Na parte central da de exclusiva da Luminex e por isso as sondas desse sistema só
sonda está a seqüênciacomplementar à seqüência-alvo que se podem ser desenhadas e sintetizadas pela Lumine:: ou subsi-
deseja detectar. Na presença do alvo genético a sonda tende a diárias. Assim, só é possível utilizara tecnologia de blexMap
hibridizar à sua seqüência complementar, provocando uma se as sondas forem especiñcamente desenhadas e desenvolvi-
alteração da estabilidadeda trave G-C, que se abre para que das pelo provedor da tecnologia. A tecnologia FlexMap tem
ocorra a hibridização. lsso faz com que o repórter se distan- sido utilizadaem diagnósticos moleculares de diversas doen-
cie do quencher, reduzindo o efeito de FRET. Assim, na for- ças infecciosas e parasitárias, como por exemplo no diagnós-
ma hibridizada, o repórter da sonda de faróis moleculares tico da malária.
emite fluorescência ao ser excitado pela fonte de luz do A tecnologia ::MAP é muito simples e não é controlada por
terrnociclador. A sonda não forma um híbrido com o DNA licençasespeciais e podem ser exploradas para ñns lucrativos
template ou com os fragmentos ampliñcados porque a mes- ou não. Para detecção de ácido nucléico a tecnologia 111W
ma será deslocada pela enzima polimerase durante a extensão utilizamicroesferas carboxiladas que são comercializadas por
dos primers que levará a polimerização do DNA (etapa de uma série de companhias. As sondas de hibridização utiliza-
elongamento). Ao ser deslocada, a sonda Voltará à estrutura das nessa tecnologia são sintetizadas com um terminal amino
de haivpin, cessando a emissão de fluorescência.Assim, nes- na extremidade 5”. Assim, as sondas são acopladas às micro-
se sistema a fluorescênciadeve ser medida durante a etapa de esferas por meio do seu grupamento amino ao grupamento
anelamento antes da sonda ser deslocada do alvo. As sondas carboxi presente na superñcie das microesferas. Para obter
de faróis moleculares são mais complexas de se desenhar do detecção de múltiplos patógenos, faz-se necessário que cada
- 414 Parasitologia -
uma abordagem clínica
sondas seja acopladaa uma determinada classificação de mi- múltiplascópias no genoma de vários parasitos e normal-
croesferas. Com essa tecnologia é teoricamente possível mon- mente não exibem um nível alto de polimorñsmo. Um grande
tar um sistema com 100 sondas para se detectar 100 alvos número de métodos de PCR desenvolvidos com base nesse
e em outros genes foi descrito na literatura e está disponível
genéticos distintos se as 100 classiñcações distintas forem uti-
lizadas. O DNA-alvo da hibridização será representado por em laboratórios de referência diagnóstica no mundo inteiro.
fragmentos de DNA arnpliñcados por PCR convencional. Métodos moleculares já foram descritos virtualmente para
Nesse caso, a PCR será conduzidatendo um dos primers con- todas as doençasparasitárias com impacto significativo em
jugados com biotinana extremidade 5'. lsso irá garantir a de- saúde pública.
tecção dos produtos de PCR hibridizados com as sondas O uso de PCR tem facilitadoa detecção de parasitas em
uma variedade de amostras. Um método de PCR foi recen-
acopladas às microesferas. A PCR com primer biotiniladoirá
produzir fragmentos ampliñcados que terão uma molécula temente utilizado para a detecção de Angrbstronglus canto-
de bioüna na extremidade 5'. Ao ñnal da PCR, faz-se a hi- nensis em lesmas congeladas coletadas no estado do Havai,
bridização dos produtos amplificados com as esferas conten- EUA. Esse método utilizou a amplificação de um fragmento
do as sondas. Após a hibridízação adiciona-se o conjugado do gene para o rRNA de 188 seguido de um seqüenciamento
estreptoavidina-R-ñcoeritrina(SA-PE), que funcionará como do fragmento de DNA amplificada. Nesse caso, a caracteriza-
um fluorocromo-repórter da hibridiração. Assim, as microes- ção quanto à espécie foi feita por meio do seqüenciamento
feras que tiverem os híbridos produtos de PCR/sonda emiti- do DNA amplificada e não pela presença ou ausênciado frag-
rão dois sinais de fluorescência, como um específico da mento ampliñcado. Assim, esse mesmo método também
microesfera e outro emitido pelo conjugado. As microesferas pode ser utilizadopara detecção de A. costmicensis, que é uma
que não possuírem híbridos ernitirão apenas o sinal específico outra espécie do mesmo género com importância em saúde
dos seus fluorocromos internos. A emissão da fluorescên- pública. Em parasitologia, há uma série de exemplos em que
cia dos fluorocromosdas microesferas ocorre entre os com- o uso da PCR para a identiñcação do parasito quanto à es-
primentos de onda de 658Wl2 mn, enquanto a emissão da pécie tem um papel fundamental. Por exemplo, uma série de
fluorescênciada SA-PE acontece em comprimento de onda métodos de PCR foi desenvolvida para a identiñcação de es-
totalmente distinto, ou seja, 578 nm. pécie de Plasmodium.spp. Esses métodos incluem PCR con-
vencional e PCR em tempo real. A PCR mais utilizada na
identificação de Plasmodium é a que foi originalmente descri-
to por Snounou et al., em 1993. Outros autores modifica-
ram essa técnica para uma amplificação mais eficiente, mas
sem mudar o formato básico ou o conteúdo dos primers.
Como dito antes, a PCR é uma técnica flexível e pode ser de- Essa é uma técnica de PCR convencional com base na estra-
senvolvida para ampliñcar um ou vários alvos genéticos. tégia de ampliñcação em nested ou PCR aninhado para a am-
Pode-se usar a PCR para se detectar organismos de um mes- plificação especíñca do gene de rRNA de 185 do H falciparum,
Avanços no diagnóstico de doenças parasitárias telediagnóstico e métodos moleculares
- 415
O conhecimento do estado gestacional é importante. Nem sempre o médico orientador terá conhecimento
Pode-se oferecer o teste de gravidez para mulheres em idade completo sobre a região que o turista visitará, por isso, deve-
fértil, devido ao risco que determinadas drogas podem ofe- se perguntar se o viajante já visitou aquela região anterior-
recer aos fetos. mente e sobre os costumes locais, a fim de que se possa
Além do uso de medicamentos, deve ser questionado so- reorientá-lo sobre os riscos de reexposiçâo.
bre história de alergias prévias, seja por medicações, plantas
ou substâncias. Em alguns casos pode ser necessária a orien-
Água e Alimentos
A ingestão deágua e alimentos contaminados é a principal
forma de aquisição de doenças infecciosas em turistas. Estu-
dos apontam que alimentos contaminados são a maior fon-
te, embora água contaminada fosse mais sugestiva. Além
disso, esses estudos também apontam que a orientação so-
bre os cuidados com água e comida não alteram muito o risco
de doenças infecciosas, uma vez que a culinária local faz par-
te da viagem. Entretanto, quando analisamos por doença,
parece que as orientações são suficientes para
Orientações para viajantes sobre as parasitoses 4211
fecal-oral podem ser transmitidas por relação sexual não- O turista deve ser orientado quanto aos riscos de aquisi-
vaginal., sobretudo em homens que têm relação com homens. ção da malária e, conforme o local onde estiver, o risco de
A utilização de preservativos é fundamental como profilaxia obter um diagnóstico tardio e a possibilidadede não ter tem-
nesses casos. po de conseguir o tratamento. Nesses casos, um planejamen-
A aplicação de tatuagens pode causar parasitoses transmi- to da necessidade da quimioproñlaxia deve ser realizado.
tidas pela via sangüínea, como, por exemplo, a leishmaniose. Pacientes que ficarão pouco tempo em áreas de risco terão
Outras doenças infecciosastambém são transmitidas por essa uma abordagem diferente daqueles que ficarão meses em
via,cornol-lIVeashepatitesBeC.Ousodedrogasinjetáveis áreas de risco.
também deve ser evitado, e, se for o caso, utilizarmaterial O grau de exposição deve ser bem avaliado, evitando-se a
próprio, evitando o compartilhamentode agulhas seringas utilizaçãode medicações de risco em pacientes que ficarão em
ou mesmo de outros aparatos de manejo das mesmas. Nesses áreas de baixa transmissibilidade.Além do tempo e do local
casos, inclui-se material utilizadono uso de cocaína inalatória, do turista, deve-se avaliar as espécies mais comuns na região
como, por exemplo, Canudos, que podem ser contaminados e o grau de resistência às diversas drogas. Ainda em relação
pelo contato com narinas com lesões ou até mesmo micro- ao tempo de exposição, naqueles pacientes que ficarão por
lesões assintomáticas. tempo prolongado ern áreas de risco, a quimioprofilaicía
Após a lavagem de roupas é recomendada a utilizaçãode pode não ser adequada levando-se em conta o tempo prolon-
ferro de passar com altas temperaturas com o objetivo de di- gado de medicação; nesses casos, a orientação sobre os prin-
minuir a transmissão de escabiose, pulgas ou mesmo miíase cipais sintomas da doença, orientando o paciente a procurar
(roupas em Varais de secar). o diagnóstico precoce e, se não disponível, levar consigo um
tratamento completo para malária de acordo com as espé-
cies e a resistência do local é conduta recomendável. Outro
Quimioproñlaxia dado importante a ser considerado é que a malária, em diver-
sos países, é uma doença rural, e nem sempre é endêmica na
A quimioproñlaxia é uma forma de profilaxiacontra algtms região urbana.
parasitas. Entre eles, Plasmodium é o mais estudado nesse A utilização de quimioprofilaxiapode ser considerada
contexto. Correntes de pesquisadores têm proposto quimio- após avaliar-se o local, o tempo, a resistência e as espécies,
proíilaxiapara diversas doenças, mas o custo-beneficioe o o grau de exposição, as comorbidades, o risco de gestação
risco dessas medidas ainda são incerto. e o uso de outras drogas. Dentre as drogas mais utilizadas,
Sabe-se que mais de 3/5¡ dos viajantes com malária não es- estão a mefloquina, cloroquina, atovaquonafproguanile a
tavam usando medicações que pudessem evitar a doença. Em doxiciclina. A droga é escolhida conforme os dados descri-
primeiro lugar, deve-se orientar bem o viajante sobre o risco tos no início deste parágrafo, assim como a tolerabilidade
da malária e a letalidade frente o aparecimento da doença em do paciente às drogas.
locais onde o diagnóstico possa ser tardio e o tratamento ina- A acolha das drogas, da dose e dos efeitos adversos estão
dequado com drogas ineficazes e com efeitos adversos gra- descritos no Quadro 57-4 e na Figura 57-1.
ves. Este é o chamado A da quimioproñlaicia da malária (A
-
mvarencss). Em segimdo lugar, vêm as orientações sobre a
picada do vetor transmissor da malária, descritas na seção
“Picada de Insetos" (B bíte). A quimioproíilaiciavem em ter-
-
5..
F|GURA 57-1 Mapa mundial mostrando as diversas áreas endêmicas de malária e a sensibilidade do parasito às principais drogas
antimaiáricas [cloroquina e mefloquinal.
comuns para algumas regiões e também compõem alguns A global perspective. Im: I. Anrirmbrub. Agents, v. 21, pp. 39-95, 2003.
parasitas exóticos. Nesse grupo, a forma de transmissão é
um pouco exótica, como ingestão de moluscos, ou por mos-
quitos e moscas. Nesse grupo, estão incluídos todos os para-
sitos causadores de ñlarioses, que são transmitidas por
mosquitos. wwwxdngovftravel
Considerando o grupo de nematódeos teciduais, os cuida- CDC TravelersHealth
wwx-Lwhointfith
dos utilizados na transmissão de protozoários por mosqui- World Health Organization 'Iravelers Health
tos podem ser utilizados nesse grupo de parasitos. Nem http:Hmvwhc-sagc.ca/pphb-clgspspftmp-pmvlcatmat-ccmtrnvf
sempre as áreas de nematódeos teciduais coincide corn a de inclachtrnl
malária ou leishmaniose. Por isso, é importante o conheci- Health Canada. Committee to Advise on Tropical Medicine And
mento das áreas de endemia para os nematódeos teciduais a Travel (CATNÍAT)
Em de se utilizarmedidas específicas. httpüfrvwnnwhojntícsridonfenf
'WHO Disease Outbreak News
wwwtwhrmintfwer
WHO Weekly Epidemiological Record
wxvwxdcgovfmmm
CDC Morbidityand Mortality Weekly Report
FREEDMAN, no.; WELD, LH.; KOZARSKI na, HSK, r.; ROBINS, mvwwhojntfhealthjopics/en/
R.; voN SONNENBURG, s.; KEYSTONE, 1.5., PANDEY, P.; WHO Disease by' Disease Health Topics
(página deixada intencionalmente em branco)
A Ancyíosfonm duodenale, 246, 274
^b“°“”°hwám** 23 Anemia, 246
Anfoteñcina B deoxicolato, 114
Abscesso pulmonar, 23
Acmtkamoeba, 86 Angmrsh w511i”.E2391
_ _
di?? i
mol“Em”.28s
_
425 Índice
Balanmduh, se Cestócleos
Balantidiase diagnóstico de infecções por, 388
diagnóstico, 51 imunodepresszio, 330
epidemiologia, S0 Cestódeos intestinais
etiologia, 50 diagnóstico, 21 1
morfologia, 50 epidemiologia, 210
patogenia, 50 etiologia, 208
quadro clínico, 50 morfologia, 208
transmissão, 50 patogenia, 21 1
Ualamento, 51 sinais e sintomas, 211
Balanridiimr cola', 50 transmissão, 208-210
Bameiro, 128 tratamento, 212
Barreims contra as parasitoses, 6 Ceviche, 303
Baylisascarisprocyonis, 300 Chagoma, 133
Benzoato de benzila, 353 Chato, 353
Beme, 338 Chilomastíx nmsnili, 31
3611561112, 237 Chrysaps, 324
Bicho geográfico, 274 Ciclo evolutivo, 295
Bicbo-de-pé, 342 Ciclo pulmonar, 243
Biopsia Cidospora, 68
exame anaiomopamlógicn de material obtido por, 113 Ciclosporíase,
Biopsia retal, 376 etiologia, 68
Blastocistose morfologia, 68
ciclo biológico, ?8f epidemiologia, 68
diagnóstico, 79 Uansmissão, 68
epidemiologia, ?7 ciclo biológico, 681'
etiologia, 76 patogenia, 69
imunodeficiência e, 169 sinais e sintomas, 69
morfologia, 76 diagnóstico, 69
patogenía, 78-79 tratamento, 69
proñlaaáa, 80 Ciclosporidiose
sinais e sintomas, 79 imunodeficiênciae,169
transmissão, 78 Cisticerco, 209, 214
tratamento, 80 Cisücercose, 211
Blasmcystis Fiomin-is, 76 exames sorológicos, 399
Brachiola, 72. Cisticercose ocular
Bradizoíto, 151 diagnóstico, 362
Brasil, 94, 97-98 epidemiologia, 361
Brugia mafayí, 327 etiologia, 361
Brugia timori, 327 histórico, 360
Burzostomum phlebawsum, 2.74 morfologia, 361
sinais e sintomas, 361
c transmissão, 361
Canmão, 27g tratamento, 362
Cães, 235-235 Cisto hidático, 220
Cães infectados por r. Canis exames WTÚIÔEÍCGS: 399
patogenia, 275
profilaxia, 276
Identificação, 2 sinais e sintomas, 275
Immunoblot, 14 transmissão, 275
Imunidade adaptativa, 10
humidade adquirida, 168 tratamento, 276
Larva migram neural, 300
Imunidade humoral, 168
Larva migram visceral
Imunidade inata, 10
Imunizações, 419 diagnóstico, 279
Imunocomprometimento, 169 epidemiologia, 278
Imunodeíiciências, 15a
Imunodepreasão, 55
etbrl êíi a
m:: 0513578
kyãya
cestódeos e, 330 pa gemia'
nematódeos e, 331
Índice 4311
profilaxia,325 proñlaicia, 338
sinais e sintomas, 325 secundária, 335
transmissão, 324 Uanslníisão, 335-336
batimento, 325 tratamento, 337
Luminais Miocárdio, 128, 131
arames sorológicos, 399 Miocardite, 130-131, 133
Lutzomyia, 106 Miracídio, 187
teste de eclosão de, 376
M Molusco, 2.89
Macaco, 325 Mosca, 140, 334
Macrófago, 10, 104 Mosquito, 105
Malária, 334, 39o Mucosa intestinal
diagnóstico, 97 interação de parasitas com a, 13
epidemiologia, 93 Mudanças no perfil das doenças, 5
etiologia, 92 Multiccps multiceps, 235-236
exames sorológicos, 396 Músculo, 208-209, 236
morfologia, 92
patogenia, 94
principais esquemas terapêuticos em uso no Brasil, 97-98 Nnegferia, 86
profilaxia, 100-101 bíanopfwmzs,206
sinais e sintomas, 96 Necamr anzericanus, 246, 274
transmissão, 94 Nematehninto, 252
tratamento, 97 Nenmmda, 252
complicações, 100
tratamento das Nematódeoe¡ exóticos, 268, 300
Mammomanogatnus (syngamus) lavagem, 304 Nematódeos
Mansoneüa, 320 e imunodepressão, 331
MñIlSDHClCIGC Nematódeos intestinais
diagnóstico, 320 diagnóstico de infecções por, 386
epidemiologia, 320 Nematódeos sangüíneos
etiologia, 320 diagnóstico, 312
morfologia., 320 epidemiologia, 308
patogenia, 320 etiologia, 308
proñlaxia, 321 morfologia, 308
sinais e sintomas, 320 patogenia, 310
transmissão, 320 proñlaicia, 314
tratamento, 321 sinais e sintomas, 311
Mar, 2.3 l, 275, 303 transmissão, 309-310
Mebendazol, 249 tratamento, 313
h-íefloquina, 97 Neurocisticercose, 209
Megacólon, 131, 132 diagnóstico, 215
Megaesófago, 131, 132, 134 epidemiologia., 214
Meningoencefalite, 89 patogenia, 214
Merozoíto, 92 profilaxia,216
iwetagorzimus, 196 sinais e sintomas, 214
Metaloproteases, 284 tratamento, 216
Métodos moleculares, 404 Neurorretinite subaguda unilateraldifusa (DUSN), 302
Metorchis, 206 diagnóstico, 364
Metronidazol, 47 epidemiologia, 363
Microñláiia, 308-309 etiologia, 363
Micro-hematócrito,378 histórico, 352
Micronema delemh', 304 morfologia, 363
Microscopia de fluorescência,377 quadro clínico, 363
Microsporídios, 72 transmissão, 363
diagnóstico, 73 tratamento, 364
epidemiologia, 72 Neutóñlos, 10
etiologia, 72 Nomenclatura, 2-3
morfologia, 72 hbscma, 72
profilaxia, 74
sinais e sintomas, 73 O
transmisño, 73 Obstrução intestinal, 243
tratamento, 74 Oesophagosmnxum, 271
Microsporidiose Olho, 15s
imunodeficiência e, 169 Onchocerm valvulas, 316
I'm-fitase Oncocercose
aspectos clínicos, 336 diagnóstico, 318, 366
diagnóstico, 337 epidemiologia, 316. 365
epidemiologia, 335 etiologia, 316, 365
morfologia, 334 histórico, 365
patogenia, 336 morfologia., 316, 365
prilnáxia, 335 patogenia, 317
- 432 Índice
Quilnjoprüñlm 421
Osteólise, 284 Qujnjno, 97
Ovos, 246
R
1':aciãntes
_
imunocomprometi_dos,
_
330
Raílliciína,237
Reaçfo da ?dem daippilmerase) 1-13
059153-5 5311535135 P9¡ Pmmmánm 311% 153 Reaçao de hipersensibilidadetardia (DTH), 14
1131110319
Índice 4331
Sistema biliar,187 Toxocaríase ocular (LMO), 279
Sistema imune, 10-11 Toxocaríase visceral (LMVL 279
Sistema linfáúco, 308 Taxoplasmagondii, 150
Sistema porta, 176 Toxoplasmose, 386
sorologia, 387, 388 diagnóstico, 159-161
Spatgamrm, 234 epidemiologia, 151
Spíromma, 234 etiologia, 150
Stmngyloids, 252 exames sorológicos, 398
Srrongyloídassttrcoralis (larva currens), 274 imunodeficiênciae, 169
Strangloídes srercoralis, 252 morfologia, 150
Suifametoxazol, 56 patogenia, 154
Surto, 68 profilaxia, 164
sinais e sintomas, 155
'I' transmissão, 152-153
I Curi, 278 nammento, 161-164
'II Retinire, 278 Tmmplaslnose adquirida em imunocompetentes, 157
Taenia sagímmz, 208 Toxorplasmose congênita, 155
Taenia solium, 208, 214 Toxoplasmose ocular, 158
Taquizoíto, 154 diagnóstico, 370
Taxonomia, 2 epidemiologia, 369
Táxons, 2 etiologia, 359
Tecido subcutâneo,234 histórico, 369
Técnica de imuno-histoquímica para detecção de matéria antigênica morfologia, 369
do parasito nas lesões., 113 sinais e sintomas, 370
Técnica de Knott, 378 tratamento, 371
Técnica de Strout, 378 Tmchiplersrophora, 72
Técnicas de concentração Transmisszio fecal-oral, 78
de sangue, 378 Trematódeo, 182
exame de fezes, 374 diagnóstico de infecções por, 388
Técnicas de quantificação de cargas parasitárias, 375 e imunodepressão, 330