Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tratado de
ELETROFISIOLOGIA
para a Audiologia
Ribeirão Preto, SP
1ª edição, 2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
CDD-617.8
18-19629 NLM-WV 270
Índices para catálogo sistemático:
Organizadores: P
edro de Lemos Menezes, Kelly Cristina Lira de Andrade, Ana Claudia
Figueiredo Frizzo, Aline Tenório Lins Carnaúba e Otávio Gomes Lins
E-mail: livraria@booktoy.com.br
w w w. b o o k t o y. c o m . b r
Todos os direitos reservados à Booktoy Livraria e Editora Ltda EPP. Esta publicação não poderá ser
reproduzida, armazenada em sistema de recuperação, transmitida de forma alguma, por meio mecânico,
eletrônico, fotocópia, gravador, CD ROM, ou outro, nem em sua totalidade nem em parte, sem autorização
escrita do editor. Lei 5.988 de 14.12.73. artigos 122-130. O infrator pode incorrer em responsabilidade penal
e civil. Permitida a citação de trechos, desde que indicada a origem.
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
ORGANIZADORES
4
AUTORES
5
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Ana Claudia Figueiredo Frizzo Elizângela Dias Camboim
Fonoaudióloga. Professora-assistente Doutora Fonoaudióloga. Professora-assistente da Uni-
do Departamento de Fonoaudiologia da Unesp de versidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
Marília. Mestre e Doutora em Neurociências pela (UNCISAL). Professora Substituta da Universidade
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). Federal de Pernambuco (UFPE). Mestre em Ciências
pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Ana Cláudia Mirândola Barbosa Reis Doutora em Neuropsiquiatria e Ciências do compor-
Fonoaudióloga. Professora Doutora do Departa- tamento pela Universidade Federal de Pernambuco
mento de Otorrinolaringologia, Oftalmologia e Ciru- (UFPE).
gia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto (USP). Mestre em Educação Especial Érika da Rocha Mahon
pela Universidade Federal de São Carlos-SP. Doutora Fonoaudióloga. Preceptora de Estágio em Fo-
em Distúrbios da Comunicação pela Universidade noaudiologia do Hospital das Clínicas da Univer-
Federal de São Paulo (UNIFESP). sidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mestre em
Psicologia Cognitiva pela UFPE. Doutora em Neu-
Anna Caroline Silva de Oliveira ropsiquiatria e Ciências do Comportamento − Área
Fonoaudióloga. Mestre em Fonoaudiologia pelo de concentração: Neurociências pela UFPE.
Programa de Pós-graduação da Faculdade de Filosofia
e Ciências-FFC − UNESP/Marília (SP). Euclides Maurício Trindade Filho
Médico neurofisiologista. Professor Adjunto da
Augusto César Alves de Oliveira Faculdade Estácio de Alagoas. Professor Titular do
Fisioterapeuta. Professor-assistente e coordena- Centro Universitário CESMAC. Professor Adjunto
dor do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de
de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL). Mestre Alagoas. Mestre em Ciências Biológicas (Fisiologia)
em Ensino na Saúde pela Universidade Federal de pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Alagoas. Doutorando em Biotecnologia em Saúde Doutor em Neurociências pela Universidade Federal
pela Universidade Federal de Alagoas (RENORBIO). de São Paulo (UNIFESP).
6
• AUTORES |
Ilka do Amaral Soares Klinger Vagner Teixeira da Costa
Fonoaudióloga. Professora-adjunta da Univer- Otorrinolaringologista. Professor Titular do
sidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas Centro Universitário CESMAC. Mestre em Pesqui-
(UNCISAL). Mestre em Distúrbio da Comunicação sa em Saúde pelo Centro Universitário CESMAC.
Humana pela UNIFESP. Doutora em Neuropsiquiatria Doutorando em Biotecnologia em Saúde pela Rede
e Ciências do Comportamento pela Universidade Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO).
Federal de Pernambuco (UFPE).
Lidianne Moreira Sales Veloso
Josilene Luciene Duarte Fonoaudióloga. Atua em clínica do setor privado.
Fonoaudióloga. Professora Adjunta da Univer-
sidade Federal de Sergipe (UFS). Mestre em Fonoau- Liliane Desgualdo Pereira
diologia pela Faculdade de Odontologia de Bauru da Fonoaudióloga. Professora-associada da Escola
Universidade de São Paulo. Doutora em Ciências pela Paulista de Medicina (Universidade Federal de São
Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade Paulo). Mestre em Distúrbios da Comunicação Hu-
de São Paulo. mana (Fonoaudiologia) pela Universidade Federal de
São Paulo. Doutora em Distúrbios da Comunicação
Karina Paes Advíncula Humana (Fonoaudiologia) pela Universidade Fede-
ral de São Paulo. Livre-docência pela Disciplina dos
Fonoaudióloga. Mestre em Ciências da Lingua-
Distúrbios da Audição do Departamento de Fonoau-
gem pela Universidade Católica de Pernambuco e
diologia da UNIFESP.
Doutorado em Neuropsiquiatria e Ciência do Com-
portamento pela Universidade Federal de Pernam-
Luciana Castelo Branco Camurça Fernandes
buco (UFPE). Professora Adjunta da Universidade
Federal de Pernambuco. Fonoaudióloga. Professora-assistente da Uni-
versidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
Katia de Freitas Alvarenga (UNCISAL). Mestre em Distúrbio da Comunicação
Humana pela UNIFESP (Escola Paulista de Medicina).
Fonoaudióloga. Professora Titular do Departa- Doutoranda em Biotecnologia em Saúde pela Rede
mento de Fonoaudiologia, membro da equipe de im- Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO).
plante coclear do Hospital de Reabilitação de Anoma-
lias Craniofaciais, Centro de Pesquisas Audiológicas, Marcel Frederico de Lima Taga
Universidade de São Paulo, Campus Bauru. Mestre Estatístico. Mestre em Ciências na área de con-
em Distúrbios da Comunicação Humana (Fonoau- centração em Estatística pela Universidade Federal
diologia) pela Universidade Federal de São Paulo. de São Paulo.
Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana
(Fonoaudiologia) pela Universidade Federal de São Maria Eduarda Di Cavalcanti Alves de Souza
Paulo. Pós-doutora em avaliação audiológica infantil Nutricionista. Professora Titular II do Centro
pela University of Manchester, Manchester, Inglaterra Universitário CESMAC. Mestre em Nutrição Hu-
e em Eletrofisiologia pela University of Michigan, Ann mana pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Arbor, Estados Unidos. Doutoranda em Biotecnologia em Saúde pela Rede
Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO).
Kelly Cristina Lira de Andrade
Maria Francisca Colella-Santos
Fonoaudióloga. Professora-assistente da Uni-
Fonoaudióloga. Professora Livre-docente do
versidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
Departamento de Reabilitação e Desenvolvimento
(UNCISAL). Professora Titular do Centro Universi-
Humano, Universidade Estadual de Campinas – UNI-
tário CESMAC. Mestre em Saúde da Comunicação
CAMP. Bolsista de Produtividade do CNPq. Mestre
Humana pela Universidade Federal de Pernambuco
e Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana
(UFPE). Doutora em Biotecnologia em Saúde pela
(Fonoaudiologia) pela Universidade Federal de São
Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO).
Paulo. Pós-doutorado pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP).
7
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Mariana de Carvalho Leal Gouveia Otávio Gomes Lins
Médica otorrinolaringologista. Professora de Médico neurologista. Professor-associado da
Otorrinolaringologia da Universidade Federal de Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mestre
Pernambuco (UFPE). Gerente do Serviço de Otor- em Fisiologia pela University of Ottawa. Doutor em
rinolaringologia do Hospital Agamenon Magalhães. Medicina (Neurologia) pela Universidade Federal de
Doutora em Otorrinolaringologia pela Universidade São Paulo (USP).
de São Paulo. Pós-doutora pela UFPE.
Sheila Andreoli Balen
Marisa Frasson de Azevedo Fonoaudióloga. Professora do Departamento
Fonoaudióloga. Professora-associada Doutora de Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio
do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Grande do Norte (UFRN) e do Programa Associado
Federal de São Paulo. Mestre e Doutora em Distúrbios de Pós-graduação em Fonoaudiologia entre UFPB
da Comunicação Humana (Fonoaudiologia) pela e UFRN. Mestre em Fonoaudiologia pela Pontifícia
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Universidade Católica de São Paulo. Doutora em
Psicologia (Neurociências e Comportamento) pela
Miguel Angelo Hyppolito Universidade de São Paulo.
Médico otorrinolaringologista. Professor-asso-
ciado da Universidade de São Paulo − Faculdade de Silvana Maria Sobral Griz
Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Livre-do- Fonoaudióloga. Professora-associada 2 da Uni-
cente pela Universidade de São Paulo. Doutorado em versidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mestre em
Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo. Audiologia pela University of North Carolina at Cha-
pel Hill. Doutora em Psicologia (Psicologia Cognitiva)
Milaine Dominici Sanfins pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Fonoaudióloga. Professora do Centro de Ele-
trofisiologia e Neuroaudiologia Avançada − CENA. Thamara Suzi dos Santos
Mestre em Ciências pelo programa de Fisiopatologia Fonoaudióloga. Professora Titular do Centro
Experimental pela Faculdade de Medicina da Uni- Universitário Una de Bom Despacho. Professora Subs-
versidade de São Paulo. Doutora em Ciências na área tituta do Departamento de Fonoaudiologia da Uni-
de Saúde da Criança e do Adolescente, Faculdade de versidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre
Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campi- em Sinais e Sistemas pelo Programa de Pós-graduação
nas (UNICAMP). em Engenharia Elétrica da UFMG. Doutora em Neu-
rociências Molecular, Sistêmica, Comportamental e
Natália dos Santos Pinheiro Computacional pelo Programa de Pós-graduação em
Fonoaudióloga. Atua em clínica do setor privado. Neurociências da UFMG.
8
REVISORES
9
APRESENTAÇÃO
11
PREFÁCIO
“O ar sacudido chacoalhou a membrana tympani de lorde Edward, os ossos martelo, bigorna e
estribo entrelaçados foram colocados em movimento de modo a agitar a membrana da janela
oval e desencadear uma tempestade infinitesimal no fluido de seu labirinto. As terminações
peludas do nervo auditivo estremeciam como algas em um mar revolto; um vasto número de
milagres obscuros foram produzidos no cérebro e Lord Edward sussurrou em êxtase: ‘Bach!’”
As palavras acima são do livro Point Counter Eles mesmos – e seus currículos o confirmam – são
Point, de Aldous Huxley (1928). Desculpando uma protagonistas do estabelecimento dessas pequenas
ou outra escorregada anatomofisiológica, elas re- verdades. Quando se fala de Eletrofisiologia auditiva,
velam, com impressionante maestria, como o autor não se pode deixar de pensar nos seus nomes e no
compreendia várias nuances da nossa função audi- quanto eles têm contribuído para o saber científico
tiva. Ele deixa claro, por exemplo, que o som, assim nesta área. Seus retrospectos credenciam, portanto,
como toda a nossa experiência sensorial e, em última todo o conhecimento contido neste tratado, os quais
análise, toda a realidade que conhecemos, só existe o leitor terá o privilégio de saborear.
no cérebro. Antes disso, aquele não passa de peque- Como se isso não bastasse, foram extremamente
nos movimentos, seja do ar, de uma membrana, de felizes na escolha dos autores e revisores que contri-
minúsculos ossinhos, de um líquido ou de partículas buíram com a obra, todos com profundo conhecimen-
atômicas. Chama ainda ele a atenção para o fato de to de cada área sob sua responsabilidade. “Domínio
que a sensação sonora se revela uma experiência que, do tempo”, “domínio da frequência”, “modulação”,
interagindo com a memória afetiva, produz reações termos e conceitos que se descortinarão com grande
emocionais, que podem ir da repugnância ao êxtase, simplicidade e clareza, proporcionando a compreen-
permitindo uma interação efetiva com o universo que são de todos os detalhes conhecidos a respeito do
nos rodeia. E mais notável ainda é a consciência das caminho percorrido pelo sinal elétrico, desde o seu
nossas limitações para compreender completamente surgimento a partir da transdução mecanoelétrica até
os “milagres” que transformam um fenômeno físico a sua projeção no córtex auditivo e a sua integração
tão frio quanto um elemento químico atingindo a com outras áreas cerebrais, bem como os tipos de
membrana celular de um neurônio cortical em... Bach! estímulos e equipamentos, seu funcionamento e suas
Com todo o seu arrebatamento. aplicações clínicas. Sem qualquer sombra de dúvida,
Conheço os organizadores deste tratado o bas- o leitor emergirá desta viagem nos recônditos da via
tante para saber, com clareza, que eles compreendem auditiva com uma visão mais completa de como o
perfeitamente que a audição humana não se resume estímulo sonoro é transformado e processado até que
às passagens de elétrons por canais finíssimos ou às o som exista e tenha significado. E, assim, os milagres
explosões de neurotransmissores sinápticos neste ou obscuros vão se tornando verdades científicas. E as
naquele local da via auditiva. E também que o verda- verdades de hoje ficam aguardando o momento de
deiro cientista é aquele que se enreda num paradoxo serem desmanteladas para darem lugar às de amanhã.
em que, ao mesmo tempo que procura obcecadamente E novos milagres obscuros vão se apresentando para
a verdade absoluta, tem a noção exata de que encontrá- serem desvendados. É na leitura de livros como este
-la significa deixar de sê-lo. Mas nada os fascina mais que novos cientistas e novos profissionais se informam
do que desvendar pequenos fragmentos de verdade, e se inspiram para transformarem o nosso mundo.
que acabam por se transformar em inovações que Ou pelo menos a parte dele que diz respeito a essa
fantástica experiência que é ouvir.
melhoram a vida das pessoas. Que fique muito claro
que esses organizadores não se limitam, nesta obra,
a transmitir conhecimentos que outros produziram. Prof. Dr. Silvio da Silva Caldas Neto
13
Sumário
7 | Potencial evocado auditivo de tronco encefálico por via óssea nos diversos tipos de
perda auditiva........................................................................................................................................................................... 85
Luciana Castelo Branco Camurça Fernandes, Marisa Frasson de Azevedo
15
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
15 | Potencial evocado auditivo de longa latência com estímulos de fala na população infantil................ 151
Hannalice Gottschalck Cavalcanti, Sheila Andreoli Balen
21 | Respostas evocadas auditivas de estado estável em crianças com perda auditiva.................................. 211
Danielle Gomes Pinto, Otávio Gomes Lins
22 | Triagem auditiva por meio das respostas evocadas auditivas de estado estável....................................... 219
Érika da Rocha Mahon, Thamara Suzi dos Santos, Otávio Gomes Lins
16
• SUMÁRIO |
28 | Potencial evocado miogênico vestibular pelo ramo inferior e seus pontos de captação....................... 287
Maria Eduarda Di Cavalcanti Alves de Souza, Aline Tenório Lins Carnaúba, Pedro de Lemos Menezes
29 | Potencial evocado miogênico vestibular pelo ramo superior e seus pontos de captação..................... 303
Christiane Cavalcante Feitoza, Pedro de Lemos Menezes
17
Parte I
Bases técnicas
1 | Dispositivos para a avaliação dos potenciais
evocados auditivos e vestibulares.
2 | Testes de desempenho: a importância do
padrão de normalidade para equipamentos de
avaliação eletrofisiológica de recepção de sons.
3 | Calibração para equipamentos que avaliam
potenciais evocados auditivos e vestibulares.
1
DISPOSITIVOS PARA A AVALIAÇÃO DOS POTENCIAIS
EVOCADOS AUDITIVOS E VESTIBULARES
Pedro de Lemos Menezes
21
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
repetições de ondas senoides, quadradas ou triangu- Como constatado no exemplo, ela pode ser descon-
lares e suas variações e combinações, o que requer o tínua. O sinal de tempo discreto, porém, tem valores
desenvolvimento de equipamentos sofisticados com definidos em alguns intervalos do tempo. A simples
capacidade de sintetizar essas ondas com precisão e transformação de sinal analógico em sinal de tempo
exatidão5,6. discreto pode gerar erros e distorcer o espectro re-
Circuitos analógicos podem ser utilizados para sultante em relação ao original, uma vez que diversos
evocar os potenciais cerebrais procurados com a fide- pontos serão ignorados (ver figura 2b)5.
lidade desejada, porém essa aplicação, na maioria das Um conversor de sinais digitais para analógicos
vezes, necessita da confecção de placas muito elabo- é um equipamento que transforma códigos digitais,
radas e de difícil adaptação a novos procedimentos, normalmente binários, em sinais analógicos, como
já que a cada possibilidade agregada, novo circuito corrente, voltagem ou carga elétrica. Fundamen-
deverá, ser desenvolvido, o que aumentará ainda mais talmente, um número finito é convertido em uma
a complexidade dessa placa6. quantidade física, usualmente uma voltagem elétrica.
Os estímulos compostos, os fora de padrão ou, Essa voltagem de saída representa uma função linear
até mesmo, as formas de onda típicas, são facilmente do número de entrada, o qual é gerado com taxas de
construídos por meio de arranjos numéricos (sinais amostras específicas, definidas, na maioria das vezes,
digitais) e decodificados, por conversores DA, em em números de pontos por segundo6,9.
ondas elétricas (sinais analógicos) capazes de acio- O processo de geração de sinais obedece aos
nar transdutores. Esse princípio constitui a base dos passos contrários da aquisição. Inicialmente, um
sistemas digitais para a geração de estímulos. Apesar programa baseado em PC codifica o sinal da onda que
da simplicidade do conceito, um programa para vai para o conversor DA, que decodifica a amostra e
microcomputador que copia valores digitais para quantiza esse sinal, que posteriormente é filtrado e
conversores DA pode provocar sérias limitações aos enviado para o transdutor.
componentes de frequência do espectro a ser conver- A fidelidade da conversão depende, princi-
tido. Atualmente, os sistemas geradores comerciais palmente, da taxa de amostragem – parâmetro que
podem converter ondas com frequência de até 500 converte pontos contínuos no tempo em discretos – e
MHz, o que, entretanto, não é um problema para a da quantização – parâmetro que converte amplitudes
geração de estímulos acústicos audíveis, já que estes contínuas no tempo em valores finitos6.
têm frequências entre 20 e 20.000 Hz3,7,8.
Taxa de amostragem
1.1.1. Conversão digital em analógico
A qualidade da conversão DA ou AD de sinais
Um sinal de tempo contínuo, ou seja, um sinal complexos, ou com transientes, sobretudo com com-
analógico tem valores definidos a cada instante do ponente de altas frequências, está estritamente rela-
tempo (ver figura 2a). Observa-se que esse sinal não cionada à quantidade de pontos por segundo na qual
é, necessariamente, uma função contínua de tempo. um sistema realiza as conversões, ou seja, com a taxa
de amostragem. Assim, tanto para adquirir quanto
para gerar um sinal, é necessário que seja definida a
frequência adequada, que normalmente converte os
pontos em períodos iguais. Contudo, amostragens não
uniformes, em que se utilizam propriedades matemá-
ticas convenientes, também podem ser aplicadas6,9.
A taxa de amostragem adequada para a transfor-
mação fiel de um sinal analógico em um digital, ou
vice-versa, é definida pelo Teorema da Amostragem.
Segundo o referido teorema, se as amostras forem
coletadas suficientemente juntas, não haverá perda de
informação na transformação do sinal. Parte, então,
desse teorema a noção intuitiva de que, quanto maior o
Figura 2 – Representação de um sinal analógico (A) e de seus índice de oscilações, maior será a taxa de amostragem,
pontos digitalizados (B). o que, em última análise, aproxima os pontos. Taxas
22
Parte I – Cap. 1 • DISPOSITIVOS PARA A AVALIAÇÃO DOS POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS E VESTIBULARES |
de amostragens baixas podem gerar sobreposições Tabela 1 – Equivalência entre o número de bits e número
BASES TÉCNICAS
entre réplicas de espectro, fenômeno conhecido como possível de níveis.
aliasing, e distorcer o sinal (ver figura 3)9,10. Número de bits Número de níveis
1 bit 2 =2
1
8 bits 28 = 256
12 bits 212 = 4.096
16 bits 216 = 65.536
Amplitude
23
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Figura 5 – Processo de conversão DA em que um sinal digital (A) é decodificado (B), filtrado (C) e transformado em um sinal contínuo (D).
através de um driver, normalmente proprietário, dos PEAS, os transdutores recebem um sinal elétrico
distribuído pelo fabricante. O sistema operacional e produzem um som que é apresentado como um
Windows, por exemplo, utiliza drivers proprietários estímulo, por via aérea ou por via óssea14.
para o gerenciamento das placas de som. Esse driver Na audiometria, por exemplo, os estímulos são
é um programa desenvolvido em linguagem de baixo apresentados por via aérea, por meio dos fones de ou-
nível que manipula as trocas de dados entre o aparelho vido TDH-39, da Telephonics. Trata-se de um fone de
físico e o SO11. ouvido eletrodinâmico de baixa impedância elétrica,
Os modelos mais sofisticados de placas de som porém produz, em estímulos de forte intensidade, um
têm, além dos conversores, um chip processador digi- campo eletromagnético que resulta em artefatos que
tal de sinal (DSP), dedicado exclusivamente a proces- podem atrapalhar os exames de avaliação dos poten-
sar informações sonoras, o que libera o computador ciais evocados, por isso recomenda-se sua blindagem.
de tal tarefa. O DSP é especialmente importante na Um outro tipo de fone supra-aural é o TDH-49,
edição dos sons, já que torna mais rápida a aplicação também da Telephonics, que é externamente idênti-
de efeitos e de outros recursos de manipulação. co ao TDH-39, contudo dá respostas mais unifor-
O sistema mais utilizado para evocar os poten- mes entre 1.000 e 4.000 Hz, razão porque é mais
ciais auditivos – seja avaliado no domínio do tempo, recomendado.
seja no das frequências – é a placa de som. Assim, seu Os fones de inserção ER-3A também condu-
uso é altamente recomendado, desde que se obser-
zem o estímulo acústico por via aérea, porém este é
vem apenas dois aspectos: a configuração da taxa de
produzido em uma pequena caixa conectada a uma
amostragem e a da resolução. Por terem os estímulos
sonda através de um tubo de silicone a qual é inserida
sonoros audíveis frequências entre 20 e 20.000 Hz8,
no conduto auditivo externo. O fone de inserção é
é necessário que a taxa de amostragem seja superior
o mais indicado para a condução das avaliações do
a 40.000 pontos por segundo, 44,1 kHz por padrão,
PEAS por diversos fatores, entre os quais: a distância
o que obedece ao teorema do limite de Nyquist. Já a
entre o transdutor e os eletrodos e a distância entre
resolução, configurada a partir de 12 bits, proporciona
o transdutor e a orelha, o que diminui a ação de ar-
reprodução de qualidade no tocante à amplitude da
tefatos eletromagnéticos, uma vez que o som chega
onda4,12,13.
ao conduto auditivo aproximadamente 0,9 ms após
a transdução do estímulo; menos distorção acústica
1.1.3. Transdutores na transdução do sinal elétrico (Figura 6); menos
Os transdutores são sistemas capazes de con- pressão no conduto, o que pode alterar os exames,
verter energia de uma forma para outra. Na avaliação sobretudo, em crianças; e a atenuação sonora de 70
24
Parte I – Cap. 1 • DISPOSITIVOS PARA A AVALIAÇÃO DOS POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS E VESTIBULARES |
dB entre as orelhas, o que diminui a necessidade do Os sistemas desenvolvidos para o registro dos
BASES TÉCNICAS
uso de mascaramento14. potenciais evocados devem ser compostos, fundamen-
talmente, por sensores, em especial por eletrodos, que
produzam baixa resistência na superfície de contato;
por amplificadores biológicos de ganho alto e de
ruído baixo; por filtros analógicos configurados para
impedir ao máximo a interferência de sinais alheios
aos investigados; por um sistema de proteção e um
de digitalização, processamento e armazenamento das
informações coletadas6.
1.2.1. Eletrodos
Os eletrodos clássicos de alto desempenho são
constituídos por material de alta condutividade, como
a prata combinada com um sal, o cloreto de prata, e
pasta eletrolítica, composta por sódio ou cloreto de
potássio. Esse conjunto produz o menor e mais estável
potencial de junção. Esses eletrodos podem ser do
tipo descartável, assim sendo, têm prata em menor
quantidade e uma região adesiva ao seu redor para
a fixação mais segura na pele. Os eletrodos podem
Figura 6 – Click e seus respectivos equivalentes acústicos para ser também do tipo disco de ouro, que garantem, da
cada tipo de transdutor.
mesma forma, baixa resistência (Figura 7)9.
Por fim, podem ser utilizados, ainda, vibradores
ósseos, como o B-71 ou B-72, que geram os estímulos
por via óssea, diretamente para a cóclea. Deve-se
observar, contudo, que o espectro produzido por vi-
bradores ósseos tem energia predominante em torno
de 2.000 Hz, diferentemente dos transdutores por via
aérea, os quais mostram distribuição relativamente
homogênea da energia, o que, em última análise, pro-
voca distorções para fortes intensidades, sobretudo,
em altas frequências. Figura 7 – Tipos de eletrodos mais utilizados na aquisição dos
PEAS.
1.2. Aquisição de Sinais Biológicos
Os sinais registrados pelo eletroencefalograma 1.2.2. Amplificadores biológicos
(EEG) são caracterizados por amplitudes extrema-
mente pequenas em microvolts9. Além disso, são Os potenciais evocados auditivos, como descri-
difíceis de ser interpretados, pois são o resultado da tos anteriormente, têm amplitude muito pequena, por
atividade abrangente de bilhões de neurônios trans- esse motivo precisam ser amplificados. Para o uso dos
mitida via tecidos cerebrais, fluidos e couro cabeludo. amplificadores, devem-se observar, principalmente,
Desse modo, os principais problemas relacionados três características: o ganho, a impedância de entrada
à aquisição dos PEAS referem-se à interferência de e a rejeição de modo comum (RMC)6.
fontes de ruídos fisiológicas e do meio ambiente. As O ganho dos amplificadores é tecnicamente de-
fontes fisiológicas derivam da ação muscular e de finido pela razão entre a voltagem do sinal de saída e
outros potenciais de maior intensidade, como os car- a de entrada. Uma vez que os sinais adquiridos com
díacos e os oculares. As fontes do meio ambiente mais os PEAS, para a amplitude da onda V, estão entre 1
comuns são os ruídos de 60 Hz da rede elétrica, as e 0,5 μV, é necessária enorme amplificação para que
radiofrequências (RF) e as interferências elétricas, ou sejam digitalizados e processados. O ganho desses
magnéticas, induzidas por outros equipamentos3,9,15. amplificadores é configurado, frequentemente, entre
25
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
50.000 e 100.000 X, ou entre 94 dB e 100 dB, calculado as ondas do potencial em questão, uma vez que estas
pela equação 114. são muito mais intensas nas regiões próximas aos
eletrodos (ver figura 8d)14.
A amplificação diferencial pode ser mais facil-
mente desenvolvida por amplificadores operacionais,
(1)
que geralmente têm alta impedância e alto ganho9,14.
As especificações mais importantes para esses am-
A impedância de entrada, uma das caracterís- plificadores, quando utilizados para a aquisição de
ticas mais importantes do amplificador, é definida potenciais evocados auditivos ou vestibulares, são
como a oposição ao fluxo de corrente alternada (CA). impedância de entrada alta, de ruído muito baixo,
As impedâncias através das entradas do amplificador isto é, o sistema deve ser capaz de amplificar sinais,
necessitam ser suficientemente altas para que este introduzindo níveis de ruído muito baixos, da ordem
não atenue consideravelmente a voltagem dos sinais de . Além disso, a RMC deve ser maior que
eletrofisiológicos. Além disso, deve-se lembrar de que 100 dB, para ruídos de 60 Hz, e o ganho no primeiro
o desbalanceamento entre as impedâncias dos dois estágio de amplificação deve aproximar-se de 1.000
eletrodos pode causar sérios problemas de registro6,14. X, podendo alcançar algo na ordem de 100.000 X, nos
Por fim, outro importante parâmetro de fun- estágios que se seguem6,12,16.
cionamento dos amplificadores biológicos, a RMC,
resultante da amplificação diferencial, representa 1.2.3. Filtros analógicos
uma ferramenta indispensável para a diminuição
Os sistemas utilizados para registrar os poten-
das interferências fisiológicas ou do meio ambiente
ciais biológicos necessitam de filtros para reduzir ou
no PEA. Os amplificadores diferenciais (Figura 8a)
eliminar as interferências fisiológicas ou do meio
baseiam-se no pressuposto de que dois eletrodos
externo e, também, para evitar o fenômeno de aliasing
colocados em lugares diferentes da cabeça serão afe-
no processo de digitalização do sinal. Assim, podem
tados, de maneira semelhante, pelos diversos tipos de
ser utilizados filtros passa-alto, passa-baixo e filtros
ruídos existentes. Assim, os referidos amplificadores
de rejeição de banda, notch9.
invertem uma das entradas e somam seu resultado
com a outra entrada não invertida (Figura 8b); dessa A aquisição de potenciais no domínio do tempo
forma, as interferências comuns aos dois eletrodos são utiliza filtros passa-alto para eliminar os potenciais
eliminadas (rejeitadas) (ver figura 8c)6,9. de correntes contínuas (CC) que surgem do contato
entre o eletrodo e a pele, e podem gerar saturação na
amplificação do sinal. Potenciais de EEG de baixas
frequências (ondas delta, teta, alfa e beta), entre
0,05 e 30 Hz, também devem ser eliminados. Por
fim, é preciso ainda atenuar potenciais gerados por
movimentos corporais que estão entre 0,05 e 50 Hz.
Recomenda-se a implementação de filtros passa-alto
nos primeiros estágios de amplificação, configurados
para cortar frequências inferiores a 30 Hz ou, no
máximo, abaixo de 150 Hz. Nos PEAS no domínio
das frequências, contudo, o uso desse tipo de filtro é
desencorajado; caso seja adotado, deve ser configura-
Figura 8 – Resultado da amplificação diferencial em situações do em frequências muito baixas, próximas a 1 Hz, por
diversas (a-d). causa de possíveis atenuações das baixas frequências
AM empregadas na técnica9,12,17.
Na avaliação dos potenciais evocados, um ele- Os filtros passa-baixo nos PEATE são recomen-
trodo pode ser fixado próximo da orelha, conectado dados em diversos estágios de amplificação, com o
à entrada “negativa”, inversora do amplificador, e o objetivo de diminuir interferências de RF e da ação
outro, no centro da cabeça, por exemplo, conectado de alguns músculos que produzem, entre outros, po-
à entrada “positiva”, não inversora. Dessa maneira, a tenciais acima de 5.000 Hz. Assim, pode-se configurar
RMC atenuará os ruídos que são comuns e destacar um filtro passa-baixo do tipo Butterworth, Bessel ou
26
Parte I – Cap. 1 • DISPOSITIVOS PARA A AVALIAÇÃO DOS POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS E VESTIBULARES |
Chebyshev na frequência de 3.000 ou 1.500 Hz. A Atenção especial deve ser dada ao aterramento
BASES TÉCNICAS
opção por essa última, no entanto, provoca aumento elétrico do sistema utilizado para a avaliação do po-
nas latências absolutas das ondas I, III e V9,12,14. tencial. Para que um sistema de energia elétrica opere
Nos potenciais evocados auditivos de estado corretamente, com continuidade de serviço adequada,
estável (PEAEE), a frequência de corte dos filtros desempenho seguro do sistema de proteção e, mais
passa-baixo deve ser configurada em 300 Hz, uma ainda, para garantir os limites (níveis) de segurança
vez que se esperam respostas fisiológicas até, aproxi- pessoal, são fundamentais algumas observações. A
madamente, 110 Hz. O corte nessa frequência evita a falta de tal sistema poderá causar a inviabilidade do
interferência de alguns potenciais eletromiogênicos, registro com o aumento dos ruídos e, ainda, a queima
que estão entre 100 e 500 Hz14. do equipamento.
O tipo de filtro descrito acima funciona, tam- O aterramento deve ser realizado com uma ou
bém, como um filtro antialiasing, uma vez que este mais hastes metálicas, normalmente de cobre, inseri-
limita a frequência superior do sinal e evita distorções das diretamente no solo, com comprimento entre 1,5
na digitalização do referido sinal. Para potenciais que e 3 metros. Uma boa regra para se agruparem hastes
é a da formação de polígonos: 1 ou 2 metros de lado,
não ultrapassam os 5.000 Hz, pode ser utilizada, por
quanto maior o número de barras, mais próximo a
exemplo, uma taxa de aquisição de 10.000 Hz.
um círculo e mais eficiente será o sistema. Algumas
O ruído da rede elétrica, 60 Hz, pode ser evitado vezes, é necessário o tratamento químico do solo,
no registro do PEATE por meio da implementação com carvão ativado e sal, conforme a resistência final.
do filtro de rejeição de banda. Seu uso, contudo, é
Por fim, para o referido aterramento, o valor
desaconselhado, basicamente, por dois motivos. Pri-
da resistência entre o neutro e o terra deve atender
meiro, porque esse filtro atenuará o ruído em 60 Hz,
às condições de proteção e de funcionamento da
mas não os seus harmônicos de alta frequência, que
instalação elétrica. Conforme a orientação da Asso-
continuarão interferindo no potencial. Segundo, por-
ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)19,20, a
que a sua utilização introduz distorções indesejadas
resistência deve atingir no máximo 10 Ω*.
de fase (latência) no sinal. Nos PEAEE, esse tipo de
filtro não deve ser utilizado, pois sua ação nunca será
de atenuação pontual de 60 Hz, por isso as frequên-
1.2.5. Conversão analógico para digital
cias componentes do potencial investigado, entre 70 A conversão de sinais analógicos para digitais
e 110 Hz, também serão afetadas12,14. segue três etapas: amostragem, quantização e codi-
Por fim, depois da digitalização, podem ser ficação. Depois das diversas fases de processamento
empregadas técnicas de filtragem digitais, uma vez do sinal analógico, que culmina na aplicação do filtro
que estas diminuem o ruído e não alteram as latências passa-baixo, antialiasing, este é amostrado em uma
das ondas do PEA, caso a frequência de banda de taxa conveniente (Figuras 9a,b). Uma vez que a taxa de
passagem seja configurada também entre 30 e 3.000 amostragem deve ser, pelo menos, duas vezes superior
Hz ou entre 0 e 300 Hz, para os PEATE e os PEAEE à maior frequência do sinal, segundo o teorema de
respectivamente12,17,18. Nyquist, e o filtro passa-baixo normalmente é confi-
gurado em 3.000 Hz, uma frequência de amostragem
de 6.000 Hz já seria o suficiente (ou um pouco maior,
1.2.4. Isolamento elétrico como comentado anteriormente). Porém, via de regra,
a aquisição de PEA de 10 ms raramente tem menos de
O isolamento elétrico deve ser implementado 256 pontos, 25.600 pontos em 1 segundo. Essa taxa de
sempre, com o objetivo de impedir o vazamento de amostragem representa um limite de resolução, que é
corrente do instrumento para o paciente. O vazamento a distância entre dois pontos, de 0,04 ms12.
de corrente do dispositivo de medida para o paciente,
por meio de eletrodos conectados à pele, pode ser
muito perigoso e, algumas vezes, fatal. Isolamentos
elétricos devem ser empregados, introduzindo-se,
entre outras técnicas, optoacopladores, que impedem
a passagem de corrente em sentido contrário ao emis- *. NBR 5410/1997 − Instalações elétricas de baixa tensão
sor-receptor. Dessa forma, a corrente não poderá ser e NBR 5419/2001 − Sistemas de proteção de descargas
transmitida à pessoa que está sendo testada9. atmosféricas.
27
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Figura 9 – Processo de conversão AD, em que um sinal analógico (a) é amostrado (b), quantizado e codificado (c) e transformado
em um sinal digital (d).
Na etapa seguinte, o sinal é ajustado para a diferentes dos dígitos decimais. O bit menos significati-
resolução da amplitude, na codificação em binário vo (LSB, do inglês Less Significant Bit) fica à direita e o
ou em outra escolhida, processo conhecido como mais significativo (MSB, do inglês Most Significant Bit)
quantização (figura 9c). Como visto anteriormente, fica à esquerda, com os seus pesos descritos na figura
quanto maior essa resolução em bits, maior o nú- 10. O número decimal 13, por exemplo, em 16 bits, é
mero de níveis de tensão e mais próximos estarão os igual a 0000000000001101, calculado pela equação 2.
valores dos pontos digitalizados dos valores originais
analógicos. Assim, uma aquisição com dois bits apre-
[(1.20) + (0.21) + (1.22) + (1.23)] = (1 + 0 + 4 + 8) = 13 (2)
senta quatro níveis de tensão diferentes22 ou quatro
“degraus” de tensão, o que caracteriza erro grave. Por
exemplo, imagine que no PEA a amplitude da maior
onda, raramente 1 μV pico a pico (pp), uma janela
com limites máximos de amplitude pico a pico de 50
μV representa uma margem de segurança de 50 vezes.
Para essa janela, dois bits configurariam quatro níveis
diferentes de 12,5 μV (50/4), o que, é claro, não permi-
tiria a visualização do sinal. Porém, aumentando-se a
resolução para oito bits, o número de níveis passaria
para 25628, que, aplicado ao mesmo exemplo, resultaria
em níveis de 0,1 μV (50/256), o que já permitiria a
observação do sinal, mas ainda com variações muito
bruscas. Uma resolução de 12 bits, no entanto, com
4.096 níveis de 0,01 μV já seria bastante razoável para
esse tipo de aplicação12,14.
O sinal digitalizado, enfim, se codificado em
binário, será uma variação no tempo de zeros e uns
(figura 9d). Na codificação binária, os bits têm pesos Figura 10 – Esquema de representação binária.
28
Parte I – Cap. 1 • DISPOSITIVOS PARA A AVALIAÇÃO DOS POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS E VESTIBULARES |
1.3. Sistema Lógico o estímulo, para que os componentes do potencial em
BASES TÉCNICAS
questão sejam observados. Esse procedimento justifi-
O sistema lógico é o módulo que realiza a in- ca-se, uma vez que o ruído de fundo do EEG pode ser
terface entre o usuário e a geração dos estímulos, o considerado como ruído branco gaussiano de média
registro dos potenciais, as análises e o armazenamento zero e as respostas evocadas auditivas sincronizadas
dos dados. Desse modo, os programas baseados em com o estímulo são idênticas a cada aquisição. Como
PC que normalmente desempenham tal função atuam resultado, ocorrerá aumento na relação sinal-ruído23.
em três momentos do exame. O primeiro refere-se aos
procedimentos para pré-exame, ou seja, ao conjunto yi [n] = s[n] + ri [n] (3)
de ações que devem ser efetuadas para que a avaliação
seja conduzida. O segundo diz respeito aos princípios
básicos do exame e a todos os processos necessários Na equação 3, pode ser observado o modelo
para a manutenção da sua execução. O terceiro, fi- linear para as aquisições biológicas (yi[n]). Nela, s[n]
nalmente, destina-se às atribuições desempenhadas representa a resposta evocada e ri[n], o ruído de fundo
depois de realizada a aquisição dos sinais13,21. do EEG. A média coerente, conhecida também como
A avaliação dos potenciais, no domínio do tempo promediação, pode ser estimada pela equação 4, em
e das frequências, na fase pré-exame, varia um pouco, que S[n] é a estimação e m o número de aquisições.
mas, de maneira geral, restringe-se à tabulação dos Assim, quando o número de aquisições m tende para
dados do paciente e à configuração dos parâmetros do o infinito, o S[n] tende para o s[n].
exame. No PEATE, devem ser configurados o tipo de ^ 1 M
1 M
estímulo, sua polaridade, intensidade, forma e taxa de S [n] =
M
∑ y [n] = s[n] + M ∑ r [n]
i i (4)
apresentação; a janela de observação, os parâmetros i =1 i =1
29
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
6. Prutchi D, Norris M. Design and development of me- IEEE, 28., 2006, New York, Proceedings of Annual
dical electronic instrumentation: a practical perspec- International Conference of the IEEE, 28. New York:
tive of the design, construction, and test of material IEEE. 2006; 1:2057-2059.
devices. New York: Wiley-Interscience. 2004. 16. Hung KM, Chen CS, Lin TW. Single-electron diffe-
7. Cumming WT, Wells JG. A personal computer-based rential-amplifier/inverter/non-inverter. Solid State
system for auditory evoked potential and psychoa- Communications. 2006 jul; 139:120-125.
coustic experiments. In: Symposium on Computer-
17. Xua G, Wangb J, Zhangb Q, Zhangb S, Zhuc J. A spike
-Based Medical Systems. 11, 1998, Lubbock, Procee-
detection method in EEG based on improved mor-
dings of Symposium on Computer-Based Medical
phological filter. Computers in Biology and Medicine.
Systems. Lubbock: IEEE, 1998, v. 1, p. 1277.
2007 nov-dec; 37(11):1647-1652.
8. Menezes PL, Caldas-neto S, Motta M. Biofísica da
Audição. São Paulo: Lovise, 2005. 18. He P, Wilson G, Russell C, Gerschutz M. Removal
of ocular artifacts from the EEG: a comparison bet-
9. Webster JG. The Measurement instrumentation and
ween time-domain regression method and adaptive
sensors handbook. Sound Parkway. New York: CRC
filtering method using simulated data. Med Biol Eng
Press. 1999.
Comput. 2007 mai; 45(5):495-503.
10. Quiroga RQ. Quantitative analysis of EEG signals:
19. Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Time-frequency methods and Chaos theory [Tese].
Lübeck: Universidade Médica de Lübeck; 1998. NBR 5410: Instalações elétricas de baixa tensão.
(1997).
11. Nebbett G. Windows NT/2000 Native API Reference.
Indiana: Sams. 2000. 20. Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
NBR 5419: Sistemas de Proteção de Descargas At-
12. Lins OG. Audiometria fisiológica tonal utilizando
mosféricas. (2001).
respostas de estado estável auditivas do tronco en-
cefálico. [Tese], 71f. São Paulo: Universidade Federal 21. Schwanke D. Exame de potenciais evocados auditivos
de São Paulo – Escola Paulista de Medicina; 2002. utilizando processador digital de sinais [Dissertação].
13. Dun BV, Wouters J, Moonen M. Improving Auditory 105f. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio
Steady-State Response Detection using independent Grande do Sul, 2000.
component Analysis on multichannel EEG Data. 22. Ramos EG, Zaeyen EJB, Simpson DM, Infantosi
Transactions on Biomedical Engineering. 2007 jul; AFC. Detecção no domínio da freqüência da resposta
54(7):1220-1230. auditiva no EEG de crianças. Revista Brasileira de
14. Hall JW. New Handbook for Auditory Evoked Res- Engenharia Biomédica; 2000 sep/dec; 16(3):127-137.
ponses. Boston: Pearson Education. 2006. 23. Infantosi AFC, Melges DB, Tierra-criollo CJ. Use of
15. Rocha M, Azevedo D, Russomano T, Figueira M, magnitude-squared the maximum driving response
Helegda S. Mobile remote monitoring of biological band of the somatosensory evoked potential. Braz J
signals. In: Annual International Conference of the Med Biol Res. 2006 aug; 39(12):1593-1603.
30
2
31
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
também sofre influências do meio social ao qual esse variações do Potencial Evocado Auditivo de Tronco
indivíduo pertence. Encefálico (PEATE), de acordo com o equipamento,
o estímulo e a sensibilidade auditiva periférica, exame
escolhido neste estudo, por ser um teste eletrofisio-
Medidas Objetivas de Sincronização lógico muito usado na rotina da clínica audiológica.
Temporal Para tal, foi realizada a análise das latências absolutas,
A sincronização temporal diz respeito à habili- interpicos e as amplitudes das ondas do PEATE por
dade de vários neurônios de dispararem simultanea- meio de um novo equipamento desenvolvido (NED)
mente em resposta a um estímulo sonoro de banda para estudar indivíduos com audição normal e com
larga. Em resposta a sons apresentados na(s) orelha(s), perda neurossensorial bilateral até 60 dBNA, com-
o sistema nervoso central (SNC) produz sinais elé- parando os achados com o resultado do mesmo teste
tricos ou potenciais evocados auditivos e campos realizado com o equipamento EP15/Interacoustis.
magnéticos que podem ser registrados por meio de
eletrodos colocados na superfície da cabeça. Uma Procedimentos
técnica para medir essa sincronização é o Potencial
Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE). Os procedimentos realizados foram: otoscopia,
Nessa técnica, as ondas resultantes são mensuradas audiometria tonal liminar e o potencial evocado au-
em nível de tronco encefálico após 7 a 8 milissegundos ditivo de tronco encefálico; esse último foi realizado
de recebimento de um som no nível da orelha, e são duas vezes, no novo equipamento e no EP25. Todos
medidas no domínio do tempo4. os procedimentos foram realizados respeitando-se as
normas descritas na literatura.
Os resultados podem variar devido ao ambiente
de teste e à calibração do equipamento. A reproduti- Para o PEATE, os voluntários foram acomoda-
bilidade do teste também pode variar, dependendo de dos em uma maca, em decúbito dorsal, de maneira
quem realiza o teste. Podem ser influenciadas ainda confortável, com o objetivo de permitir um relaxa-
por variáveis como gênero, idade, tipo, natureza, fre- mento muscular adequado. Durante o exame, eles
quência e intensidade do estímulo, assim como pelo permaneceram com os olhos fechados. Após a limpeza
equipamento utilizado5-8. Assim, todas essas questões da pele com a aplicação de pasta abrasiva, foram fixa-
devem ser cuidadosamente verificadas antes do uso dos eletrodos descartáveis da marca Meditrace 200,
clínico de equipamentos para um diagnóstico preciso próprios para o PEATE.
e confiável. Em relação à derivação, o eletrodo-terra foi co-
Quanto aos valores de normalidade do PEATE, a locado na região maxilar, os eletrodos negativos (A2
variação apresentada em diversos estudos demonstra e A1) relacionados à orelha direita (OD) e à orelha
a importância de efetuar a calibração biológica do esquerda (OE) respectivamente, fixados nas mastoi-
equipamento de teste9. Portanto, é arriscado para um des, o eletrodo positivo (Fpz) fixado no lobo frontal,
laboratório interpretar exames de PEATE sem antes no nível do plano sagital, perto da implantação dos
fazer uma padronização para estabelecer valores cabelos, conforme a norma International System of
normativos de latências absolutas, determinando e Electrode Placement. O fone de inserção usado foi o
controlando os parâmetros do teste10. DT48 da marca Beyerdynamic.
32
Parte I – Cap. 2 • TESTES DE DESEMPENHO: A IMPORTÂNCIA DO PADRÃO DE NORMALIDADE PARA EQUIPAMENTOS |
As respostas eletrofisiológicas (amplitude) de equipamento em teste, as impedâncias entre os ele-
BASES TÉCNICAS
74 orelhas, de 37 ouvintes normais no novo equipa- trodos conectados à pele foram inferiores a 2 kΩ e as
mento (NED) foram comparadas considerando-se a diferenças intereletrodos abaixo de 1 kΩ.
morfologia da onda V em relação à onda I.
As respostas eletrofisiológicas (latências absolu- Estudo das Latências
tas e interpicos) em 30 orelhas de outro grupo de 15
ouvintes normais no equipamento NED foram com- As medidas das latências absolutas das ondas I,
paradas com as respostas eletrofisiológicas obtidas III e V e dos interpicos do peate em ouvintes normais
nos mesmos indivíduos por meio do equipamento mostraram pouca variabilidade demonstrada nas
tradicional, com intuito de obter a especificidade do medidas de desvio-padrão de 0,15 onda I a 0,21 na
exame no NED. onda V, e interpicos III-V e I-V (Tabela 1). Os valores
de mediana e média das latências foram próximos
As respostas eletrofisiológicas (latências abso-
entre si.
lutas e interpicos) em 30 orelhas de outro grupo de
15 indivíduos com perda auditiva neurossensorial no Os valores de referência de normalidade para o
NED foram comparadas com as respostas eletrofisio- PEATE em adultos ouvintes normais estão demons-
lógicas obtidas nos mesmos indivíduos por meio do trados resumidamente na tabela 1.
equipamento tradicional, a fim de obter a sensibilida- Ao separar por gênero, as latências absolutas e os
de do exame para perdas auditivas neurossensoriais no intervalos interpicos do PEATE são semelhantes. As
NED. Desta forma, foi possível verificar a efetividade latências do PEATE em ouvintes normais por gênero
do exame eletrofisiológico no novo equipamento. foram menores, estatisticamente significantes, para as
mulheres do que para os homens, nas ondas III e V e
nos interpicos I-III e I-V.
Parâmetros Utilizados
Ao analisar os dados por orelhas, foram encon-
O estímulo utilizado foi o clique não filtrado, trados valores semelhantes para as latências absolutas
com duração de 100 µs, totalizando 2.000 estímulos, e interpicos entre os grupos.
na polaridade rarefeita, frequência de estimulação de
Ao avaliar a diferença das latências entre gêneros,
13,1 cliques/s, intensidade de 80 dB NAn, com janela
verificou-se latências maiores para homens, fato co-
de 10 milissegundos e filtro passa-banda entre 100 e
mum na literatura, o que pode ocorrer por diferenças
3000 Hz. Nível de significância de 0,05.
anatômicas entre os gêneros, como o diâmetro do
O clique é o estímulo mais utilizado na prática nervo auditivo16,17.
clínica atualmente devido à sua capacidade de de-
As respostas foram similares para orelhas direitas
sencadear uma resposta sincrônica robusta advinda
e esquerdas, o que possibilita utilizar os valores de
de um grande número de neurônios, principalmente
referência, tanto para a orelha direita quanto para a
quando o estímulo é de forte intensidade11.
esquerda.
A velocidade do clique utilizada para o registro
do PEATE deve ser suficientemente lenta para impe-
dir a adaptação significante da resposta, mas não tão Estudo das Amplitudes
lenta a ponto de comprometer o uso clínico do exame, A análise das amplitudes das ondas I e V mos-
por aumentar o tempo de teste12. Na configuração trou valor médio de 0,384 µV para a onda I e 0,825
dos parâmetros específicos do teste, foi selecionada µV para a onda V. O registro da amplitude da onda V
a frequência de estimulação de 13,1 cliques/s, pois foi 50% maior que o da onda I. Além disso, a relação
frequências mais rápidas de apresentação do estímulo V/I variou de 0,6 a 8,0 µV, porém apenas 8,1% das
diminuem a clareza das ondas13. orelhas avaliadas apresentaram relação menor que
A polaridade rarefeita é a mais recomendada 1, enquanto 91,9% das orelhas apresentaram relação
para a realização do PEATE, pois propicia despolari- maior que 1, indicando que a relação foi normal.
zação rápida, que proporciona latências mais curtas Quando a divisão do valor da amplitude da onda
e amplitudes maiores, havendo melhor definição das V pelo valor da amplitude da onda I resultar em um
ondas I e II11,14,15. valor maior que 1, pode-se interpretar o exame como
Ao considerar que na avaliação do PEATE é normal18. Isso indica não ser necessário estabelecer um
comum a interferência de artefatos, e por ser um valor de referência para a relação da amplitude V/I19.
33
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Tabela 1 − Dados de latência normativa do PEATE em adultos no equipamento NED.
Figura 1 − Valor médio das latências absolutas das ondas I, III e V e dos interpicos I-III, III-V e I-V do PEATE obtido no mesmo indivíduo
para os dois equipamentos de avaliação, EP15 e NED.
34
Parte I – Cap. 2 • TESTES DE DESEMPENHO: A IMPORTÂNCIA DO PADRÃO DE NORMALIDADE PARA EQUIPAMENTOS |
BASES TÉCNICAS
Figura 2 − Valor médio das latências absolutas das ondas I, III e V e interpicos do PEATE para os dois equipamentos de avaliação,
EP15 e NED.
35
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
V
I III
Figura 3 − Exames realizados no mesmo indivíduo ouvinte normal com os equipamentos NED e EP15.
III
V
I
Figura 4 − Exames realizados no mesmo indivíduo com perda auditiva neurossensorial com os equipamentos NED e EP15.
36
Parte I – Cap. 2 • TESTES DE DESEMPENHO: A IMPORTÂNCIA DO PADRÃO DE NORMALIDADE PARA EQUIPAMENTOS |
6. Hecox K, Squires N, Galambos R. Brainstem auditory 17. Rowe MJ. Normal Variability of the brain stem auditory
BASES TÉCNICAS
evoked responses in man. I. Effect of stimulus rise-fall evoked response in young and old adult subjects. Elec-
time and duration. J Acoust Soc Am. 1976; 60:1187-92. troencephalog Clin Neurophysiol. 1978; 44:459-470.
7. Hall JW. New Handbook for Auditory Evoked Res- 18. Jeger J, Hall J. Effects of age and sex on Auditory Brains-
ponses. Boston: Pearson Education. 1992; p. 724-34. tem Response. Arch Otolaryngol. 1980; 106(7):387-91.
8. Bento RF, Silveira JAM, Ferreira MRM, Fuess VLR, 19. Musiek FE, Kibbe K, Rackliffe L, Weider DJ. The
Miniti A. Estudo do padrão de normalidade da audio- auditory brain stem response I-V amplitude ratio in
metria de tronco cerebral (BERA) nas diversas faixas
normal, cochlear, and retrocochlear ears. Ear Hear.
etárias. Rev Bras Otorrinolaringol. 1998; 54(2):37-41.
1984; Jan-Feb; 5(1):52-5.
9. Sousa LCA, Piza MRT, Alvarenga KF, Cóser PL. Eletro-
20. Flabiano FC, Leite RA, Matas CG. Audiometria de
fisiologia da Audição e Emissão Otoacústica princípios
e aplicações clínicas. São Paulo: Novo Conceito. 2008; tronco encefálico em adultos audiologicamente nor-
p. 49-87. mais: comparação das latências absolutas das ondas
I, III, V, interpicos I-III, III-V, I-V, amplitudes das
10. Pedriali IVG, Kozlowski L. Influência da intensidade
ondas I, III, V e relação da amplitude V/I, obtidas
e velocidade no PEATE de ouvintes normais. Arq Int
Otorrinolaringol. 2006; 10(2):105-113. em dois equipamentos diferentes. Acta ORL [on line]
2003; 21(2).
11. Stockard JJ, Stockard JE, Westmoreland B, Corfits J.
Brainstem Auditory evoked response: normal varia- 21. Bauch CD, Olsen WO. Auditory Brainstem Response
tions as a function of stimulus and subject characteris- as a Function of Average Hearing Sensitivity for 2000-
tics. Archives of Neurology. 1979; 36:823-831. 4000Hz. Audiology. 1988; 27(3):156-163.
12. Matas CG, Magliaro FCL. Potencial Evocado Auditivo. 22. Musiek FE, Borenstein SP, Hall III JW, Schwaber MK.
In: Boéchat EM, org. Tratado de Audiologia. 2a ed. In: Katz J. Tratado de Audiologia Clínica. 4ª ed. São
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 2015, p. 118-125. Paulo: Manole. 1999, p. 349-371.
13. Ferraro JA, Durrant JD. Potenciais auditivos evocados: 23. Steinhoff HJ, Bohnke F, Janssen T. Click ABR inten-
visão geral e princípios básicos. In: Katz J. Tratado de sity-latency characteristics in diagnosing conductive
Audiologia Clínica. 4a ed. São Paulo: Manole. 1999, and cochlear hearing losses. Arch Otorhinolaryngol.
p. 315-336. 1988; 245:259-65.
14. Fávero ML, Silva FLC, Tabith Júnior A, Nicastro FS, 24. Gorga MP, Reiland JK, Beauchaine KA. Auditory
Gudmond MC, Spinelli M. Mudanças no parâmetro brainstem response in a case of high-frequency con-
do clique durante a captação do BERA. Rev Bras
ductive hearing loss. J Speech Hear Disord. 1985;
Otorrinolaringol. 2007; 73(1):7-11.
50:346-350.
15. Schochat E. Avaliação Eletrofisiológica da Audição. In:
25. Matas CG, Leite A, Gonçalves IC, Neves IF. Potenciais
Ferreira LP, Befi-Lopes DM, Limongi SCO. Tratado
de Fonoaudiologia. 1ª ed. São Paulo: Roca. 1999, p. Evocados de Tronco Encefálico com Perdas Auditivas
657-668. Condutivas e Neurossensoriais. Arq Int Otorrinolarin-
gol. 2005; 9(4):1-7.
16. Munhoz MSL, Silva MLG, Caovilla HH, Frazza MM,
Ganança MG, Câmera JLZ. Respostas auditivas de 26. Watson DR. A study of the effects of cochlear loss on
tronco encefálico. In: Munhoz MSL, Caovilla HH, Silva the auditory brainstem response (ABR) specificity
MLG, Ganança MM. Audiologia clínica. São Paulo: and false positive rate in retrocochlear assessment.
Atheneu. 2000, p. 191-220. Audiology. 1999; 38(3):155-64.
37
3
39
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
foi muito apropriada. Assim, apesar de a audição S8
humana, de longe, não ser a melhor do reino animal,
S7
ela permite a detecção de sons muito fracos, como o
farfalhar de folhas numa árvore até sons muito fortes, S6
como os das britadeiras ou dos trens em movimento S5
(Tabela 1). Na prática, a diferença da intensidade entre
S4
os sons mais fracos capazes de estimular a audição e
os mais fortes capazes de serem ouvidos sem dor ou S3
desconforto é de 1 para 1010. Ou seja, avaliar a audi- S2
ção ou os sons que os seres humanos são capazes de I I I
S1
escutar não é uma tarefa fácil. Ainda mais desenvolver
S0
um aparelho, o audiômetro, para executar essa tarefa. 0 20 40 60 80 100
Então, para avaliar todas as possibilidades de perda
Figura 1 – Relação entre o parâmetro físico da intensidade (I) e
auditiva, o aparelho deveria ter ao menos 10 dígitos a percepção subjetiva da mesma (S). o I refere-se ao intervalo
para o parâmetro intensidade.4,9,10,11 de intensidade.
Tabela 1 – Intensidade sonora de diversos tipos de fontes. Finalmente, o nível da intensidade sonora pode
ser calculado e expresso em Bels, a partir da equação
Tipos de fontes sonoras Intensidade (dB)* 1, como vista a seguir. A unidade foi chamada de Bel
Referência: limiar auditivo 0 (B) em homenagem à Alexsander Graham Bell*.
Farfalhas de folhas ao vento 10
Equação 1
Ambiente acústico de uma
20
biblioteca
40
Parte I – Cap. 3 • CALIBRAÇÃO PARA EQUIPAMENTOS QUE AVALIAM POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS E VESTIBULARES |
termos I por P2 da equação 2 (equação 3). A equação
BASES TÉCNICAS
3 pode ser simplificada, colocando-se os quadrados
em evidência, equação 4, e utilizando-se a propriedade
logarítmica da potência† (equação 5).
Equação 3
Equação 2
Equação 5
10-4 80
10-3 90 †
A propriedade logarítmica da potência permite que se
10 -2
100 transforme um logaritmo de potência em um produto
do expoente pelo logaritmo.
‡
Na avaliação do ruído ambiental, pode-se encontrar
Uma vez que a intensidade sonora é proporcio- medidas em dB A, dB B, dB C, entre outros.
nal à pressão ao quadrado (IaP2), pode-se estimar
§
Na avaliação audiométrica, por exemplo, o dB NA.
o nível de pressão sonora (NPS) substituindo os
¶
1 daPa é igual a 10 Pa.
41
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Tabela 3 – Pressão absoluta e seus respectivos níveis de observação precisa das regras para a obtenção dos
pressão sonora. limiares auditivos, como também para a avaliação
Pressão absoluta Nível de pressão sonora dos potencias evocados e outros testes nos quais a
(Pa) (dB) intensidade dos estímulos é alterada para a avaliação
6,3 x 10-6 -10 clínica da audição.1,11,12,17
2 x 10-5 0 Por fim, uma dúvida poderia ter ficado sem
6,3 x 10 -5
10 resposta. Se o dB NPS é equivalente ao dB NIS, seria
2 x1 0 -4
20
possível utilizar a equação 5 (dB NPS) ao invés da
equação 2 (dB NIS)? A resposta é sim. Contudo, é
2 x 10 -3
40
necessário saber que quando a intensidade sonora é
2 x 10-2 60 duplicada, o que ocorre, por exemplo, quando duas
2 x 10 -1
80 caixas de som idênticas são ligadas simultaneamente,
6,3 x 10 -1
90 ao invés de apenas uma, a pressão não se comporta da
2 100 mesma forma. Como foi descrito, a intensidade sonora
é proporcional à pressão ao quadrado. Assim, quan-
do essa intensidade é duplicada, a pressão aumenta
A partir das equações 2 e 5, há de se observar que numa razão de raiz quadrada de 2. Então, o dobro da
apesar das diferentes metodologias para obtenção do intensidade representa um aumento de 3 dB NIS ou
dB NIS e do dB NPS, ambos são equivalentes. Ou seja, NPS, como pode ser visto a seguir.10
50 dB NIS equivale a 50 dB NPS. Além disso, é possí-
vel inferir que 0 dB NPS ou 0 dB NIS não significam IaP2
ausência de som, mas que a pressão ou a intensidade Se a intensidade for duplicada,
medida é igual às suas referências. Valores negativos
indicam que a intensidade ou pressão medida é me-
nor que as referências. Por fim, também baseado nas
equações citadas, quando a intensidade é duplicada,
haverá aumento de 3 dB, como pode ser visto a seguir
(I = 2 e I0 = 1, p. ex.). Ou seja, se duas caixas de som idênticas forem
ligadas ao mesmo tempo, ou se houver o dobro da
pressão,
42
Parte I – Cap. 3 • CALIBRAÇÃO PARA EQUIPAMENTOS QUE AVALIAM POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS E VESTIBULARES |
2.2. Níveis de Audição Americano de Padronização [American National
BASES TÉCNICAS
Standards Institute (ANSI)], norma S3.6-1969 (últi-
Na audiometria tonal por via aérea, os limiares ma atualização em 2010), a Associação Americana
auditivos são obtidos por frequência, e de maneira de Padronização [American Standards Association
geral, em decibéis nível de audição (dB NA). A es- (ASA)], norma Z24.5-1951 e a Organização Interna-
colha do dB NA foi muito apropriada, uma vez que cional para Padronização [International Organization
sem essa unidade de medida a audiometria seria um for Standardization (ISO)], R389-1964 (mudou para
pouco mais complexa. 389-1 e a última atualização foi em 2017).18
Diversos trabalhos científicos foram descritos na Na tabela 4, podem ser encontrados alguns
literatura2,10,17 e mostram que a audição humana, assim exemplos dos valores referenciais em decibéis nível
como de outros animais, não é igualmente sensível a de pressão sonora, por frequência, que equivalem aos
estímulos de frequências sonoras diferentes. Ou seja, zeros decibéis nível de audição dos audiômetros, que
um som com mesma intensidade em dB NPS pare- utilizam os fones modelo TDH-39, da marca Telepho-
cerá ser mais forte ou mais fraco, a depender de sua nics. Outros padrões, para outros modelos de fones
frequência. Isso significa dizer que se a audiometria de ouvido, também podem ser encontrados na docu-
fosse realizada em dB NPS, os valores normais para o mentação disponível nos órgãos de padronização.19
limiar auditivo variariam de acordo com a frequência
sonora a ser testada. Dessa forma, o audiologista teria Quando o audiologista ajusta o audiômetro
que saber, pelo menos, quais os valores normais para para testar o tom puro de 1.000 Hz, por exemplo, na
as frequências de 125 a 8.000 Hz da audiometria tonal intensidade de 0 dB NA, o som que sai por meio do
por via aérea. fone TDH-39 terá, na verdade, 7 dB NPS, como pode
ser visto na Tabela 4, uma vez que no Brasil é adotado
Além da variação da sensibilidade auditiva por o padrão internacional da ISO. Contudo, caso o au-
frequência, outra questão também preocupou a comu- diologista mantivesse a intensidade, mas mudasse a
nidade científica quanto à avaliação auditiva. Assim, frequência do tom puro para 8.000 Hz, a intensidade
outra variável importante é o transdutor (como é o que sairia pelo fone de ouvido citado seria 13 dB NPS.
caso, por exemplo, do fone de ouvido da audiometria). Por fim, para calcular os limiares auditivos em dB
Posto que cada fone de ouvido possui uma resposta NPS, que foram obtidos em dB NA, o audiologista
variável por frequência, uma avaliação auditiva precisa deveria futilizar a equação 6.
depende da padronização e do estabelecimento da
intensidade mínima que o ouvido é capaz de escutar Equação 6
utilizando o modelo específico acoplado ao audiôme- Limiar auditivo (dB NPS) = Limiar auditivo dB NA + zero
tro ou a qualquer outro aparelho que avalia a audição. audiométrico
A referida padronização para o estudo do zero
audiológico, ou seja do 0 dB NA, por frequência e Vale ressaltar que o zero audiométrico varia de
por fone de ouvido específico, foi conduzida por três acordo com a frequência e foi estabelecido pela norma
instituições principais, a saber: o Instituto Nacional ISO-389-1. Assim, por exemplo, uma pessoa que tem
Tabela 4 – Valores de referência para os zeros dB NA, em decibéis NPS, por frequência e por instituto de padronização.
**
Após a publicação da primeira referência, ANSI publicou novos valores de referência para os zeros dB NA (ANSI S3.6-2010)
iguais aos da norma da ISO, como pode ser visto na tabela.
43
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
limiar auditivo na frequência de 2.000 Hz igual a 40 2.4. Ponderação da Intensidade
dB NA, na verdade possui um limiar auditivo de 49
Por fim, o profissional que trabalha com ava-
dB NPS, como pode ser visto a seguir.
liação auditiva, deve saber, ainda, que a avaliação
do ruído ambiental é feita atribuindo-se pesos às
Limiar auditivo (dB NPS) = frequências, uma vez que os ruídos dificilmente são
40 dB NA + 9 dB NPS (ISO na frequência de 2.000 Hz) tons puros. Então, nos analisadores de nível de pressão
sonora, vulgarmente conhecidos por decibelímetros,
(resultado da
podem ser encontradas as ponderações em decibéis
audiometria) + (zero audiométrico)
dB (A), dB (B), dB (C) e dB (D), que expressam a
49 dB NPS resultante ponderada do ruído no ambiente avaliado
(Figura 3).4,21
Outra unidade de medida ainda pode ser feita na
avaliação da audição é o nível de sensação, ou seja, dB
NS. O NS é utilizado para indicar, em alguns testes,
quantos decibéis um som está acima do limiar audi-
tivo na frequência específica. Assim, um audiologista
pode avaliar uma escuta de um tom puro com ruído,
por exemplo, cuja intensidade do mesmo possuísse
10 dB NS (ou seja, 10 dB a mais que o limiar auditivo
na frequência específica). Uma vez que o limiar fosse
40 dB, o ruído deveria ser apresentado a 50 dB.
44
Parte I – Cap. 3 • CALIBRAÇÃO PARA EQUIPAMENTOS QUE AVALIAM POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS E VESTIBULARES |
fone do tipo TDH-39 (Figura 5) ou um fone DT-48,
BASES TÉCNICAS
segundo norma ISO-389-1, deve-se utilizar o acopla-
dor acústico para a calibração (Figura 6).
3. CALIBRAÇÃO DE
EQUIPAMENTOS QUE
AVALIAM A AUDIÇÃO
A calibração periódica dos instrumentos que
avaliam a audição é condição sine qua non para a
manutenção da qualidade dos exames e deve trans-
cender as lacunas legais existentes. Assim, o fato de
o audiômetro já ter sido calibrado uma vez por ano,
como rege a legislação, não exime o profissional de Figura 6 – Acoplador acústico, da Bruel & Kajaer modelo 4152,
utilizado para a calibração dos fones TDH-39 e DT-48.
solicitar novo ajuste no dispositivo, caso suspeite de
alguma mudança. Da mesma forma, apesar de não
existir uma exigência legal para a calibração de alguns No entanto, alguns modelos de audiômetros,
instrumentos que avaliam a audição, como no caso sobretudo alguns modelos mais novos, acompanham
dos analisadores de potenciais evocados auditivos, ao os fones DD-45 (Figura 7). A calibração desse fone,
menos a calibração dos transdutores acústicos deve porém, segundo a mesma norma da ISO, deve ser
ser realizada anualmente. realizada por meio de um ouvido artificial (Figura 8).
O profissional que realiza a avaliação auditiva
deve, ainda, ter conhecimentos básicos sobre a ca-
libração, as normas e suas nuances. Na calibração
dos audiômetros, por exemplo, três observações são
importantes. A primeira, a troca de cabos não requer
nova calibração. O que parece óbvio, uma vez que
as diferenças de transmissão da informação elétrica
são desprezíveis entre diferentes cabos, desde que
estes estejam íntegros quando comprados. A segunda
observação dá conta do dispositivo utilizado para a
calibração dos fones mais comuns encontrados nos Figura 7 – Fone de ouvido RadioEar modelo DD-45. A – Fone
audiômetros. Uma vez que o audiômetro tenha um completo. B – Cápsula do fone DD-45.
45
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
3.1. Equipamentos que Avaliam
Potenciais Evocados Auditivos e
Vestibulares
Os aparelhos que avaliam os potenciais evocados
auditivos não possuem normas nacionais que deter-
minem a periodicidade de calibração e ajuste, como as
que existem para os audiômetros. A priori, uma clínica
não deveria ser multada por não apresentar certifica-
do de calibração para esse tipo de aparelho. Todavia,
não faz sentido não os calibrar, porque o desgaste dos
fones é o mesmo, ou seja, vão se desregular com o uso
estejam eles conectados a um audiômetro ou a um
Figura 8 – Ouvido artificial, da Bruel & Kajaer modelo 4153,
analisador de potenciais evocados auditivos. Então,
utilizado para a calibração dos fones tipo DD-45. a calibração deve ser realizada também anualmente.
Uma calibração apropriada para esse tipo de
aparelho deve ser conduzida em dois domínios. As-
Durante as calibrações não pode haver senão o
sim, deve ser calibrado tanto o transdutor do sinal
cumprimento rigoroso das regras, por conseguinte, os
elétrico em sinal acústico, os fones, como o sistema
fones do tipo DD-45 não podem ser calibrados com
de transdução do sinal biológico em sinal elétrico, o
acopladores acústicos e os valores corrigidos por uma
sistema de amplificadores biológicos. Entretanto, a
tabela, apesar de haver informações disponíveis ex-
inexistência de normas específicas para a calibração
traoficiais. Portanto, as empresas de calibração devem
dos dispositivos que avaliam os potenciais evocados
utilizar o dispositivo correto, o ouvido artificial. Na auditivos dificulta sua calibração completa, restando
tabela 5, podem ser encontradas as referências para apenas a possibilidade de calibração dos transdutores
os dois tipos de fone (TDH-39 e DD-45) para que o acústicos, uma vez que a mesma já é realizada em ou-
profissional tenha conhecimento de suas diferenças. tros dispositivos mais simples, como os audiômetros.
A última observação refere-se à troca de fones. A calibração eletroacústica de estímulos breves,
Todas as trocas de fones dos audiômetros ou de suas como os utilizados nos sistemas de avaliação dos po-
cápsulas necessitam de nova calibração. Isso porque tenciais evocados auditivos (clicks, tone burst etc.) não
a calibração é feita para o sistema audiômetro/fone é uma tarefa fácil porque os analisadores de nível de
específico. Cada cápsula tem suas propriedades e vai pressão sonora (ANPS), utilizados nas calibrações de
necessitar de ajustes diferentes. Isso implica dizer audiômetros, por exemplo, são normalmente incapa-
também que não é possível a inversão dos plugs dos zes de medir com precisão o nível de pressão sonora
fones que estão conectados aos audiômetros, uma de maneira tão rápida. Contudo, a calibração pode ser
prática comum para alguns audiologistas quando um conduzida com a medição em nível de pressão sonora
dos fones apresenta problemas técnicos. pico a pico equivalente (dB NPSppe).25
Fone TDH-39 (dB)* 45,0 25,5 11,5 7,0 6,5 9,0 10,0 9,5 15,5 13,0
46
Parte I – Cap. 3 • CALIBRAÇÃO PARA EQUIPAMENTOS QUE AVALIAM POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS E VESTIBULARES |
Estudos anteriores mostram que NPSppe (dB) Um calibrador acústico, configurado para gerar
BASES TÉCNICAS
de um estímulo breve gerado por um analisador de um tom de 1 kHz a 94 dB, deve ser acoplado a um
potenciais evocados auditivos possui a mesma tensão ANPS e a saída do ANPS, monitorada por um osci-
pico a pico que a tensão da raiz quadrada média de loscópio para estabelecer o valor de tensão pico a pico
um estímulo contínuo. Ou seja, é possível comparar referencial. Posteriormente, as medidas de tensão pico
um estímulo breve com um estímulo contínuo a partir a pico devem ser registradas, também por meio de um
de uma expressão matemática.20 ANPS conectado a um osciloscópio, para cada um
dos estímulos do PEATE que serão calibrados (click
e tone burst), para os fones direito e esquerdo. A sen-
3.2. Procedimentos para Calibração sibilidade do ANPS deve ser mantida constante para
Segundo a norma 645-3 (1994) da comissão a medição da referência e dos estímulos do PEATE. O
internacional eletrotécnica (IEC), a calibração psicoa- nível NPSppe deve ser obtido por meio da expressão
cústica de sons de curta duração, como os utilizados matemática (equação 7) disponível na IEC 645-3,
na avaliação dos potenciais evocados de tronco ence- 1994-09 e exibida a seguir.20,25
fálico (PEATE), deve ser conduzida com pelo menos
25 sujeitos otologicamente normais, de ambos os
Equação 7
gêneros, com idade entre 18 e 25 anos, e com a aná-
lise de apenas uma das orelhas de cada um. A média
dos limiares desses sujeitos representará o 0 dB NAn.
Porém, diversas variáveis podem interferir nesses
limiares, como os fones, a duração dos estímulos, a Assim, o NPSppe do estímulo a ser calibrado
taxa de apresentação, a quantidade de ciclos de subida, depende da tensão pico a pico medida no osciloscópio
plateau e descida etc. Para clicks de 100 µ, por exemplo, quando o estímulo foi gerado e da tensão pico a pico
os limiares comportamentais são em torno de 30 dB medida no osciloscópio quando o tom de referência
NPSppe. Vale ressaltar que essa calibração deve ser do calibrador (1 kHz a 94 dB) foi produzido. Vale
feita pelo fabricante do aparelho ou por pesquisadores destacar que nos aparelhos que possuem as duas
que desejem criar novos estímulos acústicos. A seguir, formas de apresentação da intensidade, os fabricantes
na tabela 6, podem ser encontrados os resultados de estabelecem, via de regra, que 0 dB NAn corresponde
alguns estudos que avaliaram essa relação.25 a 30 dB NPSppe para os clicks. Assim, um estímulo
Contudo, a calibração que deve ser realizada click de 70 dB NAn deve produzir, de maneira geral,
anualmente nos transdutores dos aparelhos que ava- uma onda medida no osciloscópio equivalente a 100
liam os potenciais evocados auditivos e vestibulares dB NPSppe (a depender das referências de 0 dB NAn
deve ser conduzida com estímulos click com 100 µ de cada fabricante e do estímulo avaliado). Caso con-
de duração, na polaridade rarefeita. e estímulos tone trário, deverá ser realizado um ajuste no aparelho que
burst com 2-1-2 ciclos, apresentados a uma taxa de está sendo calibrado.
41 estímulos por segundo durante um período de 1 Por fim, é necessário estabelecer os padrões,
a 3 segundos.25 sobretudo de latências, das ondas dos exames que
Tabela 6 – Limiares comportamentais em dB NPSppe para estímulos diferentes, realizados por estudos distintos.
47
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
avaliam os potenciais evocados auditivos e vestibu- das cabinas/salas de testes audiológicos e dá
lares como o equipamento utilizado no serviço, no outras providências”.
ambiente onde o mesmo foi instalado e com protocolo 3. RESOLUÇÃO CFFa n. 365 de 30 de março de
escolhido, a fim de diferenciar as respostas normais 2009: “Dispõe sobre a calibração de audiômetros
das alteradas. e dá outras providências.”
Dessa forma, é necessário conduzir experimen- 4. ORDEM DE SERVIÇO INSS/DAF/DSS N. 608,
tos no serviço. Para a padronização das ondas I, III e V DE 5 DE AGOSTO DE 1998: “Aprova a Norma
Técnica sobre Perda Auditiva Neurossensorial
e dos seus intervalos, por exemplo, deve ser conduzido
por Exposição Continuada a Níveis Elevados
um estudo com 20 adultos jovens ouvintes normais de Pressão Sonora de Origem Ocupacional”.
(10 homens e 10 mulheres). Para isso devem ser rea- O documento manifesta que a calibração dos
lizados os seguintes passo: 1. Definição do protocolo audiômetros deverá ser anual.
a ser padronizado; 2. Busca na literatura de outras 5. MANUAL DE PADRONIZAÇÃO INTERNA-
padronizações com os mesmos parâmetros; 3. Reali- CIONAL EM AUDIOMETRIA. Conselho Fe-
zação cuidadosa de todos os exames que garantem a deral de Fonoaudiologia; 2015. Disponível em:
audição normal dos sujeitos da pesquisa; 4. Condução http://www.fonoaudiologia.org.br/cffa/wp-con-
do PEATE com o protocolo escolhido nos sujeitos tent/uploads/2013/07/manual-iso.pdf
selecionados; 5. Comparação dos seus resultados com
os de outros estudos. A normalidade de cada onda ou Normas internacionais de calibração
dos intervalos será calculada dentro de um intervalo 1. ISO 8253-1:2010 – Métodos para testes audio-
que tem seu limite inferior dado pelo valor da média métricos — Parte 1: Limiares auditivos por via
menos duas vezes e meia o desvio-padrão e seu limite aérea e por condução óssea.
superior dado pelo valor da média mais duas vezes 2. ISO 8253-2:2009 – Métodos para testes audio-
e meia o desvio-padrão. Qualquer valor fora desse métricos — Parte 2: Audiometria de campo com
intervalo deve ser considerado como alteração, e tons puros e ruídos de banda estreita.
investigado mais profundamente.29,30 3. ISO 8253-3:2012 – Métodos para testes audio-
métricos — Parte 3: Audiometria de fala.
3.3. Normas Vigentes 4. ISO 389-1:2000 – Referência de zero para cali-
bração de equipamentos audiométricos - Parte
A seguir, serão listadas todas as normas e os 1: Referência de limiares equivalentes de ní-
documentos vigentes que norteiam a calibração de vel de pressão sonora para tons puros e fones
equipamentos que avaliam a audição. O material supra-aurais.
foi divido em dois grupos. No primeiro deles, são 5. ISO 389-2:1997 – Referência de zero para cali-
citados os documentos nacionais e no segundo, as bração de equipamentos audiométricos - Parte
normas internacionais. Para algumas normas existem 2: Referência de limiares equivalentes de nível
atualizações, mas essas não modificam as referências de pressão sonora para tons puros e fones de
substancialmente. inserção.
6. ISO 389-3:1994 – Referência de zero para cali-
Documentos norteadores nacionais vigentes bração de equipamentos audiométricos - Parte
3: Referência de limiares equivalentes de nível
1. NORMA REGULAMENTADORA N. 7 - NR de força para tons puros e vibradores ósseos.
7 − Programa de controle médico de saúde 7. ISO 389-4:1994 – Referência de zero para cali-
ocupacional: “Estabelece a obrigatoriedade de bração de equipamentos audiométricos - Parte
elaboração e implementação, por parte de todos 4: Níveis de referência para ruídos mascarantes
os empregadores e instituições que admitam tra- de banda estreita.
balhadores como empregados, do Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional − PCM- 8. ISO 389-5:2006 – Referência de zero para
SO, com o objetivo de promoção e preservação calibração de equipamentos audiométricos –
da saúde do conjunto dos seus trabalhadores”. Parte 5: Referência de limiares equivalentes de
O documento manifesta que a calibração dos nível de pressão sonora para tons puros nas
audiômetros deverá ser anual. frequências de 8 kHz a 16 kHz.
2. RESOLUÇÃO CFFa n. 364 de 30 de março de 9. ISO 389-6:2007 – Referência de zero para
2009: “Dispõe sobre o nível de pressão sonora calibração de equipamentos audiométricos
48
Parte I – Cap. 3 • CALIBRAÇÃO PARA EQUIPAMENTOS QUE AVALIAM POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS E VESTIBULARES |
- Parte 6: Limiares auditivos referenciais para of 19th Century Italian-American inventor Antonio
BASES TÉCNICAS
sinais de teste de curta duração. Meucci, and his work in the invention of the telephone
(2001-2002). Disponível em: https://www.congress.
10. ISO 389-7:2005 – Referência de zero para
gov/bill/107th-congress/house-resolution/269.
calibração de equipamentos audiométricos
- Parte 7: Limiares auditivos referenciais nas 14. Handel S. Listening: Na introduction to the perception
condições de escuta em campo livre e em of auditory events. Londres: MIT Press; 1993.
campo difuso. 15. Nepomuceno LA. Elementos de acústica física e psi-
coacústica. São Paulo: Edgard Blücher, 1994.
11. ISO 389-8:2004 – Referência de zero para
calibração de equipamentos audiométricos 16. Hartmann WM. Signals, sound, and sensation. Nova
Iorque: AIP Press, 1998.
- Parte 8: Referência de limiares equivalentes
de nível de pressão sonora para tons puros e 17. Gelfand SA. Hearing: An Introduction to Psycholo-
fones circum-aurais. gical and Physiological Acoustics. 5th ed. Informa
Healthcare; 2010.
12. ISO 389-9:2009 – Referência de zero para
18. Gerges SNY. Ruído: Fundamentos e controle. 2. ed.
calibração de equipamentos audiométricos -
Florianópolis: NR Editora; 2000.
Parte 9: Condições de teste preferenciais para
a determinação dos níveis de limiar auditivo. 19. ___ U.S. naval flight surgeon’s manual. Chief of Na-
val Operations and Bureau of Medicine and Surgery.
Washington D.C. BioTechnology Inc; 1991.
REFERÊNCIAS 20. Stapells DR, Picton TW, Durieux-smith A. Normal
hearing thresholds for clicks. J Acoust Soc Am. 1982;
1. Yost WA. Fundamentals of Hearing: An Introduction. 72:74-79.
5th ed. Academic Press; 2006. 21. Egan MD. Architectural Acoustics. New York: Mc-
2. Durrant JD, Lovrinic JH. Bases of Hearing Science. 3rd Graw-Hill, 1988.
ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1995. 22. Fletcher H, Munson WA. Loudness, its definition,
3. Guimarães LAM, Boa MCF. Eletricidade e ondas. São measurement and calculation. J Acoust Soc Am. 1933;
Paulo: Harbara, 1998. 5:82-108.
4. Bistafa SR. Acústica aplicada ao controle do ruído. São 23. Peterson APG, Gross EE. Handbook of Noise Measu-
Paulo: Edgard Blücher, 2006. rement. 7. ed. Massachusetts: General Radio Co, 1963.
5. Rose DE, Kurdziel S, Olsen WO, Noffsinger D. Bekesy 24. Heneine IF. Biofísica básica. São Paulo: Atheneu, 2000.
test results in patients with eigth-nerv lesions: forward 25. Sharma M, Purdy SC, Bonnici L. Behavioural and
reverse and fixed-frequency tracings. Arch Otolaryn- Electroacoustic Calibration of Air-conducted Click
gol. 1975; 101:373-375.
and Toneburst Auditory Brainstem Response Stimu-
6. Blegvad B, Terkildsen K. Bèkesy audiometry, SISI test li. Australian and New Zealand J Audiology. 2003;
and contralateral masking. Preliminary report. Acta 25(1): 54-60.
Otolaryngol. 1968; 62(4):453-8.
26. Stapells DR, Picton TW. Technical aspects of brainstem
7. Dirks, D. Bone conduction measurements. Effects of evoked potential audiometry using tones. Ear and
vibrator, placement and masking. Arch Otolaryngol. Hearing. 1981; 2:20-29.
1964 Jun, v. 79, p. 594-9.
27. Davies M. Auditory evoked potentials and behavioural
8. Bolla I, Baldo D, Bottazzi D, Collini M. Békésy au- measures of central Auditory processing in learning
diometry at suprathreshold level in sensorineural disabled children [dissertação]. Auckland: The Uni-
bearing losses. Ateneo Parmense Acta Biomed. 1980; versity of Auckland. 1984.
51(5):453-9.
28. Stapells DR, Picton TW, Smith AD, Edwards CG, Mo-
9. Garcia EAC. Biofísica. São Paulo: Sarvier, 1998. ran LM. Thresholds for short-latency auditory-evoked
10. Menezes PL, Caldas-neto S, Motta M. Biofísica da potentials to tone in notched noise in normal-Hering
Audição. São Paulo: Lovise, 2005. and Hering-impaired subjects. Audiology. 1990; 29:
11. Zemlin WR. Princípios de anatomia e fisiologia em 262-274, 29.
fonoaudiologia, Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 29. Hall JW. New Handbook of auditory evoked Respon-
12. Speaks CE. Introduction to Sound. 3. ed. London: ses. Boston: Pearson Edication, Inc. 2006.
Singular Publishing Group, 1999. 30. Akotey SC. Establishing clinical normative data for
13. H.Res.269 - Expressing the sense of the House of neurodiagnostic auditory brainstem response [Disser-
Representatives to honor the life and achievements tação]. Gahana: Universidade de Ghana. 2013.
49
Parte II
53
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
A cóclea tem a forma e disposição muito seme- De acordo com figura 2, a cóclea pode ser divi-
lhantes a um caracol e abriga o órgão responsável pela dida em três porções:
audição. A cóclea tem a forma semelhante a um tubo
de 35 mm, que vai diminuindo de diâmetro e dá 2 ¾ escala vestibular;
voltas sobre si mesma (Figura 1), formado um eixo
escala média;
central chamado modíolo. A representação da orelha
interna pode ser mais bem visualizada na figura 2. Em escala timpânica.
toda sua extensão, podemos observar uma fina lâmina
conhecida como lâmina óssea espiral, que acompanha A escala timpânica termina numa abertura cha-
todo o percurso do labirinto ósseo, com exceção da mada janela redonda ou coclear, que é coberta por
extremidade superior da cóclea (ápice), conhecida uma fina membrana chamada membrana da janela
como helicotrema. Presa à lâmina espiral óssea está redonda (membrana timpânica secundária). A escala
a membrana basilar, na parte interna, e segue até vestibular começa numa abertura chamada janela oval
a parede externa da cóclea no nível do ligamento ou vestibular, onde está inserida a base do estribo. A
espiral. Também seguindo a lâmina óssea espiral escala média é o ducto central e possui o órgão espiral
existe outra membrana que se estende no sentido (de Corti). A escala vestibular e a escala timpânica são
diagonal e é conhecida como membrana vestibular (de preenchidas por um líquido chamado perilinfa, e a
Reissner). A junção entre a membrana basilar e a escala média é preenchida por um líquido chamado
membrana de vestibular dá origem ao ducto coclear, endolinfa.
que é completamente fechado e preenchido por en- A perilinfa, ou líquido periótico, ocupa os espa-
dolinfa. O ducto coclear é margeado, então, pela ços perilinfáticos (vestíbulo, rampas timpânicas e ves-
membrana vestibular, acima, pela membrana basilar, tibulares, canais semicirculares, o ducto perilinfático
abaixo, e pela estria vascular, ao lado. A estria vascular contido dentro do aqueduto ou canalículo coclear, o
possui uma densa camada de capilares sanguíneos e fundo de saco da rampa timpânica e o espaço ao redor
células especializadas, sendo responsável pelo controle da porção proximal do seio e ducto endolinfático) e é
do metabolismo básico da cóclea. um fluido extracelular típico, cuja composição iônica
54
Parte II – Cap. 4 • ANATOMIA E FISIOLOGIA DA ORELHA INTERNA, NERVO AUDITIVO E DO TRONCO ENCEFÁLICO AUDITIVO |
r
Osso issne
a Re
ran Estria Vascular
Células Delters
Fibras Nervosas
Membrana Basilar
Ligamento Espiral
Nervo Coclear
Escala Timpânica (Perilinfa)
Figura 2 − Secção transversal do órgão espiral (de Corti). Fonte: Davis (1962).
55
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Na+ (cerca de 20 µM) e mantem uma voltagem posi- no máximo duas fileiras. A face superior das CCE con-
tiva, em relação à perilinfa, de aproximadamente 85 tém aproximadamente 150 estereocílios que formam
mV, chamada potencial endococlear. O baixo nível de três ou mais fileiras que se dispõem em forma de “W”.
cálcio e o potencial endococlear são extremamente A fileira mais alta dos estereocílios das CCE está em
importantes para o funcionamento normal da cóclea. contato direto com uma estrutura fibrosa chamada
Pequenas mudanças do seu estado normal resultam membrana tectória. Esta membrana é macia e está
em diminuição da sensibilidade auditiva. presa pelo limbo espiral.
Admite-se que a endolinfa é um produto de As respostas mecânicas da orelha interna ocor-
secreção de várias estruturas, como as células escuras rem quando o estribo se move na janela oval e movi-
do utrículo e os ductos semicirculares, as células do menta os líquidos da cóclea. Dentro do ducto coclear,
plano semilunado das ampolas, as próprias células vibrações ocorrem e dão origem a informações que
epiteliais especializadas e os vasos sanguíneos da es- devem ser codificadas em informações neurais. Um
tria vascular do ducto coclear. Também é aceito que fator importante para esse processo mecânico é o mo-
a endolinfa circula no labirinto membranoso e que vimento da membrana basilar e, consequentemente,
é reabsorvida por células epiteliais especializadas do do órgão espiral.
saco endolinfático, canalizando para o plexo vascular Quando os líquidos da cóclea se movimentam,
adjacente. ocorre o movimento da membrana basilar, que por
O labirinto ósseo se estreita à medida que se sua vez causa a deflexão dos estereocílios das células
aproxima do ápice, enquanto a membrana basilar se ciliadas. É o movimento dos estereocílios das células
torna mais larga (de 0,04 a 0,40 mm). A membrana ciliadas que inicia o processo de transdução do som,
basilar possui cerca de 34 mm de comprimento. Na através da mudança de potenciais, transmitidos para o
base, a membrana basilar é mais estreita e mais enri- nervo auditivo. A função geral da cóclea é transformar
jecida. Dentro da escala média, no nível da membrana energia mecânica em energia neural através de sua
basilar, encontramos o órgão espiral (de Corti) (ver interação com o nervo auditivo.
Figura 2). A vibração da membrana basilar é muito estável
O órgão espiral é dividido em duas porções: em situações diferentes. Isto pode ser atribuído às suas
uma interna e outra externa. Essa divisão é feita pe- características, ou seja, devido às mudanças na sua
elasticidade. Cada ponto da membrana basilar tem
los pilares externo e interno, que formam um túnel
movimento de amplitude máxima de acordo com a
conhecido como túnel interno (de Corti). Os espaços
frequência do estímulo. Isto é, a amplitude da vibra-
dentro do próprio órgão de Corti estão preenchidos
ção é diferente em regiões distintas, dependendo da
por fluido perilinfático, que se difunde através da
frequência e intensidade do estímulo. Como a mem-
membrana basilar da escala timpânica e que alguns
brana basilar se torna mais larga e flácida à medida
autores o chamam de Cortilinfa. A parte interna do
que se afasta da base da cóclea e chega no helicotrema,
órgão espiral fica do lado do modíolo, enquanto a
a vibração natural da membrana basilar ocorre em
parte externa fica do lado da estria vascular. Na parte
direção ao ápice. A resposta da membrana basilar em
interna existe uma única camada de células ciliadas
relação ao estímulo produz um movimento de onda
conhecidas como células ciliadas internas (CCI). No
conhecido como traveling wave (onda viajante), da
lado externo existem três camadas de células ciliadas base até o ápice (Figura 3).
conhecidas como células ciliadas externas (CCE). A Figura 3 representa uma imagem estática da
As células ciliadas internas e externas se voltam uma membrana basilar em um determinado instante e
para outra e são margeadas por baixo pelas células mostra que uma parte da membrana basilar se move
de sustentação e por cima, pela membrana reticular. em direção à escala vestibular, e a outra parte se move
Na face superior das células ciliadas encontram-se em direção à escala timpânica. Se for desenhada uma
os estereocílios. linha que vai do ponto de movimento mais alto, irá se
Existem várias diferenças importantes entre as formar uma curva conhecida como envelope da “onda
CCI e CCE. As CCE são cilíndricas e em maior número viajante”. A figura 4 mostra que o ponto de maior mo-
(cerca de 13.000). As CCI são em forma de bulbo e em vimento do envelope ocorre em posições diferentes,
menor número quando comparadas às CCE (em torno dependendo da frequência do estímulo. Para frequên-
de 4.500). Cada CCI possui cerca de 40 estereocílios, cias mais graves, a amplitude do movimento da onda é
que se dispõem em forma de “U” e são ordenadas em maior perto do ápice. Para as frequências mais agudas,
56
Parte II – Cap. 4 • ANATOMIA E FISIOLOGIA DA ORELHA INTERNA, NERVO AUDITIVO E DO TRONCO ENCEFÁLICO AUDITIVO |
Amplitude
20 25 30 35
Distância do Estribo (mm)
Figura 3 − Onda viajante. Padrão de vibração da membrana Figura 4 − Envelopes de ondas viajantes para várias frequências
basilar que seria esperado se ela vibrasse (a) como uma fita sem graves. Fonte: De Bekesy (1947).
restrições, e (b) quando é restringido por seus anexos laterais.
Fonte: Gelfand (2010).
a amplitude do movimento da onda é maior perto As CCE apresentam também uma resposta ativa
da base da cóclea. É importante salientar, entretanto, em resposta ao estímulo. Quando estimuladas, as
que as frequências baixas não só estimularão a região CCE se contraem e modificam sua forma e tamanho.
apical, mas também a região basal da cóclea, porém, As mudanças de tamanho, particularmente com-
a amplitude de movimento maior ocorrerá na região primento, ocorrem em dois tipos: contração rápida
apical. Ao contrário, para as frequências agudas, o (transformações que ocorrem entre 0,15 e 0,2 ms
ponto de amplitude máxima ocorrerá na região basal, depois do estímulo) e contração lenta (que ocorre
havendo um rápido decréscimo de amplitude à medi- vários segundos após o estímulo). A contração rápi-
da que se move para a região apical. Como um dado da segue a frequência da estimulação, funcionando
ponto da membrana basilar se movimenta melhor como um amplificador, com uma seletividade de
para uma determinada frequência, esta membrana frequência bastante precisa. A mobilidade apresentada
atua como se fosse um filtro. por estas células pode modificar as CCI. As CCE são
A participação das células ciliadas na transdução móveis e quase não apresentam inervação aferente,
da energia mecânica em informações neurais se dá e seus estereocílios estão em contato direto com a
através da deflexão dos estereocílios. A membrana membrana tectória. Todas essas evidências sugerem
tectória está situada na parte superior do órgão es- que a mobilidade das CCE altera o biomecanismo
piral e segue paralelamente à membrana basilar. Esta das CCI, tendo às últimas a função de um transdu-
membrana está em contato direto com os estereocílios tor biológico, capaz de atuar como receptor coclear,
das células ciliadas externas. Quando a membrana codificando a mensagem sonora, uma vez que recebe
basilar se movimenta, a membrana tectória também a maioria da inervação aferente do sistema auditivo.
se movimenta. Porém, existe uma diferença entre os Todas estas alterações ocorridas no órgão espiral,
movimentos de ambas as membranas devido ao sis- mais especificamente nas células ciliadas, produzem
tema de suporte destas. Quando as membranas são potenciais cocleares.
deslocadas, ocorre um movimento de cisalhamento. Resumidamente, a fisiologia pode ser dita da
Como efeito desse cisalhamento, os estereocílios são seguinte forma: a partir do movimento do estribo na
flexionados e ocorre a estimulação das fibras nervosas janela oval, há movimento consequente dos líquidos
na base das células ciliadas externas. Os estereocílios da orelha interna e suas estruturas. Os movimentos
são conectados uns aos outros de modo que a deflexão das estruturas da orelha interna, especialmente das
de uma fileira de estereocílios causa a deflexão das estruturas que compõe o órgão espiral, desencadeiam
outras fileiras. respostas elétricas nas células ciliadas internas e
57
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
externas que, por sua vez, evocam uma descarga ciliadas externas. O nível do MC é proporcional ao
neural. Esse é o processo de transdução de energia movimento da membrana basilar. Portanto, o MC
mecânica em informação neural. pode ser usado para medir o tamanho do movimento
da membrana basilar.
O potencial de somação também corresponde
OS POTENCIAIS COCLEARES a uma corrente contínua. Não existe uma fonte cor-
Os potenciais elétricos da cóclea são produtos reta deste potencial. O que ocorre é uma mudança
das respostas mecânicas desta estrutura. Esses po- de potencial (positiva ou negativa) quando a cóclea
tenciais são de interesse devido às informações que é estimulada. Em outras palavras, ao contrário do
carregam sobre o processo de transmissão coclear. MC que é um potencial corrente alternada, o (PS)
Existem quatro potenciais medidos na cóclea: é uma mudança na linha de base corrente contínua
em resposta (CC) à estimulação sonora. Em outras
palavras, o SP é um potencial CC. Inicialmente,
potencial de repouso (PR), que existe sem que essa mudança foi chamada de “falha CC”. Pesquisas
haja estimulação acústica; subsequentes revelaram que pode ser uma mudança
potencial de somação (PS), que aparece apenas de linha de base positiva ou negativa. Sabe-se que a
com a estimulação acústica; polaridade do PS está associada ao envelope da onda
microfonismo coclear (MC), que aparece so- viajante e como o potencial é registrado. Como o
mente com a estimulação acústica; coclear microfônico, o PS é um potencial graduado
potencial de ação (PA), que aparece só com a que aumenta em magnitude à medida que o nível de
estimulação acústica e que, apesar de poder estímulo é elevado. Embora a origem do PS tenha sido
ser medido na cóclea, é originado no nervo uma questão de debate, agora está bem estabelecido
auditivo. que seja um potencial receptor das células ciliadas.
Um estudo mensurou o PS e o MC simultanea-
O potencial de repouso corresponde a uma cor- mente em cada giro da cóclea de cobaias utilizando
rente direta (não alternada) conhecida como corrente eletrodos localizados no meio da escala. Sabe-se que
DC (direct-current). Na cóclea, podem ser encontra- o envelope da distribuição da amplitude do MC ao
dos três tipos diferentes de potencial de repouso. O longo do comprimento do ducto coclear é uma re-
maior desses potenciais é o potencial endolinfático presentação razoável do envelope da onda viajante.
(PE), localizado na endolinfa da escala média. O PE Posteriomente foi descoberto que o PS era positivo no
apresenta +80 milivolts (mV), ou seja, a carga elétrica lado basal do envelope do MC e negativo, no apical.
da escala média é 80 mV acima de 0 mV. A fonte ori- Isto sugere que o PS é positivo no lado basal da onda
ginadora do PE é a estria vascular, podendo este ser viajante e se torna negativo no lado apical.
o motivo deste potencial só ser encontrado na parede O potencial de ação (PA) não é um potencial
externa do ducto coclear. As células ciliadas possuem coclear propriamente dito, apesar de poder ser medi-
um potencial de repouso de aproximadamente -70 do na cóclea. O PA representa a soma dos potenciais
mV. Isso faz com que a diferença de potenciais entre individuais de vários neurônios do nervo auditivo
a superfície externa e interior das células ciliadas seja que estão sendo estimulados simultaneamente. A
de em torno de 150 mV, sendo considerada bastante estimulação do neurônio depende do movimento da
alta e servindo para aumentar o tamanho da descar- membrana basilar, então os neurônios que inervam a
ga elétrica produzida pelas células ciliadas quando base da cóclea são estimulados primeiro, em relação
estimuladas. aos neurônios que inervam o ápice. O tempo que a
O microfonismo coclear (MC) corresponde a onda leva para percorrer toda a membrana basilar, da
uma corrente alternada AC (alternating-current). O base até o ápice, é de aproximadamente 2,4 a 4 ms.
potencial elétrico da cóclea oscila da mesma maneira Isso faz com que ocorra assincronia entre as descargas
do estímulo. Por exemplo, se a orelha for estimulada elétricas dos neurônios do nervo auditivo da base
com um tom puro de 500 Hz, o MC aparecerá como para o ápice, pois estes inervam pontos diferentes da
uma onda elétrica senoidal correspondente a 500 membrana basilar. Quando a estimulação é feita com
Hz. O MC reflete integralmente a intensidade e a o click, que possui aparecimento rápido, inicialmente
frequência do estímulo. A fonte originadora do MC apenas os neurônios da parte basal da cóclea são esti-
deve-se ao movimento dos estereocílios das células mulados. A soma das descargas neurais simultâneas
58
Parte II – Cap. 4 • ANATOMIA E FISIOLOGIA DA ORELHA INTERNA, NERVO AUDITIVO E DO TRONCO ENCEFÁLICO AUDITIVO |
de vários neurônios, devido a uma estimulação rápida, olivar superior medial − OSM). As fibras que se
constitui o potencial de ação medido. Este é o motivo originam no OSL se projetam, predominantemente,
de o click ser o estímulo mais usado para a medição para as células ciliadas internas, enquanto as fibras
do PA (possui aparecimento rápido e evoca respostas que se originam no OSM se projetam para as CCE
em uma faixa de frequência larga). (Figura 5).
Na figura 6, observa-se que as fibras que se ori-
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO ginam no OSL fazem sinapses com as fibras aferentes
59
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
CCE’s CCI’s
OSL OSL
OSM OSM
DMPO DMPO
VNTB
VNTB
MNTB MNTB
Esquerdo Direito
Figura 5 − Representação esquemática dos feixes olivococleares cruzados e não cruzados. Como sugerido pelas linhas mais espes-
sas, o FOC cruzado vai principalmente do OSM para as CCE’s contralaterais, e o FOC não cruzado vai principalmente do OSL para os
CCI’s ipsilaterais. Abreviaturas: FOC, feixe olivococlear; OSL, núcleo olivar superior lateral; OSM, núcleo olivar superior medial; DMPO,
núcleo periolivar dorsal; MNTB, núcleo medial do corpo trapezoide; VNTB, núcleo ventral do corpo trapezoide; triângulos, grandes
neurônios FOC; cruzes, pequenos neurônios FOC. Fonte: Adaptado de Warr (1978).
Figura 6 − Relação entre fibras neurais aferentes e eferentes, e as células ciliadas internas e externas. Fonte: Adaptado de Spoendlin
(1975).
60
Parte II – Cap. 4 • ANATOMIA E FISIOLOGIA DA ORELHA INTERNA, NERVO AUDITIVO E DO TRONCO ENCEFÁLICO AUDITIVO |
elétrico nas fibras do nervo auditivo que inervam a despolarização. Quando a diferença de potencial atinge
base destas células. Este potencial é propagado pelas o ponto de diferença de potencial crítico, a parte da
fibras até a habênula perforata, onde as fibras come- membrana que iniciou o processo começa a modificar
çam a apresentar mielina. Neste ponto, as descargas a permeabilidade de volta ao potencial de repouso, ou
neurais são produzidas e seguem por todo o nervo seja, o meio interno volta a se tornar mais eletronegativo
auditivo até chegar ao núcleo coclear, no tronco en- e o meio extracelular, mais eletropositivo. Este processo
cefálico auditivo. Acredita-se que as respostas neurais é chamado repolarização.
das fibras na parte não mielinizada do nervo auditivo
61
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Córtex
auditivo
6
Corpo geniculado medial
5
Colículo
inferior
dorsal
intermediário
ventral
2
3
Núcleo coclear
OSL
NCT
OSM
1
Figura 7 − Principais vias aferentes do sistema auditivo. Embora a maior parte da informação de uma orelha ascenda por núcleos
contralaterais, cruzamentos múltiplos de fibras entre os núcleos dos dois lados geram um padrão de audição biaural. Nesta figura,
apenas as vias do lado direito são destacadas. OSL: núcleo olivar superior lateral; OSM: núcleo olivar superior medial; NCT: núcleo
do corpo trapezoide; 1: Corpo trapezoide; 2: estria acústica dorsal; 3: lemnisco lateral; 4: comissura do lemnisco lateral; 5: comissura
do colículo inferior; 6: radiação acústica. Fonte: Modificado de Pollak et al., 2003.
o núcleo do lemnisco lateral. As fibras que saem do clínica de uma doença do cérebro e PEATE em in-
complexo olivar superior seguem para o colículo divíduos; análises de uma simples fibra neural e a
inferior, passando pelo lemnisco lateral, vão para o média das respostas evocadas que foram captadas
corpo geniculado medial sem se cruzar e o córtex diretamente do sistema auditivo de animais, análises
auditivo. Apesar de outras regiões existirem, esses das ondas nas diferentes localizações de eletrodos em
são os principais pontos do sistema nervoso auditivo. indivíduos, análises das ondas com eletrodos locali-
zados em regiões específicas durante neurocirurgias
em indivíduos.
BASES ANATÔMICAS DAS As respostas auditivas do tronco encefálico au-
RESPOSTAS AUDITIVAS DO ditivo originam-se em vários locais dentro do tronco
TRONCO ENCEFÁLICO AUDITIVO encefálico. Porém, Hall (1992) considera que o local
gerador das ondas I e II é o nervo auditivo, sendo a
As informações sobre a anatomofisiologia do onda I distal e a onda II, proximal (referente ao córtex
PEATE vêm de fontes diferentes, tais como cirurgias cerebral). A onda III origina-se no núcleo coclear, a
realizadas em lesões do SNC em animais; confirmação onda IV origina-se no complexo olivar superior, a
62
Parte II – Cap. 4 • ANATOMIA E FISIOLOGIA DA ORELHA INTERNA, NERVO AUDITIVO E DO TRONCO ENCEFÁLICO AUDITIVO |
onda V origina-se lemnisco lateral e colículo infe- por fibras do VIII nervo craniano. Os dentritos são
rior, e a onda VI e VII, no corpo geniculado medial. organizados paralelamente no núcleo dorsal. No nú-
Informações anatômicas das origens das respostas cleo ventral, a organização não segue nenhum padrão.
auditivas do tronco encefálico são menos precisas e
mais conflitantes para os componentes tardios (on-
Onda IV
das III, IV, V e VI) do que para os componentes que
aparecem cedo (ondas I e II). A onda IV frequentemente aparece como sendo
uma pequena elevação da onda V. Por esta razão, é
63
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
inferior). As características das deflexões negativas da 7. Harrison JM, Howe ME. Anatomy of the descending
PEATE (amplitude, morfologia e latência) são com- auditory system (mammalian). In: WD Keidel WD
patíveis com o tamanho e a localização caudorrostral Neff (eds.). Handbook of Sensory Physiology, V5/1.
dos grandes grupos de células do tronco encefálico Berlin, Germany: Springer, 1974, p. 363-388.
auditivo dos seres humanos. 8. Gray H. Anatomy of the Human Body. Philadelphia:
Lea & Febiger, 1918.
A complexidade do tronco encefálico auditivo e
o tempo de transmissão do estímulo entre estruturas 9. Huffman RF, Henson OW Jr. 1990. The descending
diferentes são fatores importantes a serem conside- auditory pathway and acoustic motor systems: Con-
nections with the inferior colliculus. Brain Res ver.
rados quando se estudam as estruturas que originam
1967, 15:295-323.
as ondas do PEATE. O núcleo coclear e o colículo in-
ferior, respectivamente no tronco encefálico auditivo 10. Oliver DL, Huerta MF. Inferior and superior collicu-
li. In: Webster WB, Popper AN, Fay RF (eds.). The
caudal ou rostral, são os dois únicos centros onde as
Mammalian Auditory Pathway: Neuroanatomy. New
sinapses sempre ocorrem. Existem rotas variadas para
York, NY: Springer-Verlag, 1992, p. 168-221.
a transmissão da informação auditiva entre esses dois
centros. Espera-se que as estruturas localizadas perto 11. Pollak GD, Burger RM, Klug A. Dissecting the circuitry
of auditory system. TRENDS in Neurosciences. 2003;
dessas duas estruturas sejam ativadas logo depois do
(26)1: 33-39.
estímulo, contribuindo para a formação de várias
ondas. Por outro lado, uma simples onda origina-se, 12. Rasmussen GL. Efferent connections of the cochlear
nucleus. In: Graham AB (ed.). Sensorineural Hearing
na maior parte, de uma única estrutura, mesmo que
Processes and Disorders. Boston, MA: Little, Brown,
outras também sejam ativadas pelo estímulo. Por esta 1967.
razão, a localização precisa dos geradores das ondas
13. Rockel AJ, Jones EG. The neuronal organization of
subsequentes às ondas I e II podem ser definidas.
the inferior colliculus of the adult cat. I. The central
nucleus. J Comp Neurol. 1973; 147:22-60.
REFERÊNCIAS 14. Rockel AJ, Jones EG. The neuronal organization of the
inferior colliculus of the adult cat: II. The pericentral
1. Anderson RA, Snyder RL, Merzenich MM. The to- nucleus. J Comp Neurol. 1973; 147:301-334.
notopic organization of corticocollicular projections 15. Sahley TL, Nodar RH, Musiek FE. Efferent Auditory
fromphysiologically identified loci in AI, AII, and System, structure and function. 1st ed. Singular Pu-
anterior cortical fields of the cat. J Comp Neurol. 1980; blishing Group, 1997.
191:479-494. 16. Spoendlin H. Neuroanatomical basis of cochlear co-
2. Bekesy G. The variations of phase along the basilar ding mechanisms. Audiology. 1975; 14:383-407.
membrane with sinusoidal vibrations. J Acoust Soc 17. Warr WB. The olivocochlear bundle: Its origins and
Am. 1947, 19:452-460. terminations in the cat. In: Naunton RF, Fernandez
3. Diamond IT, Jones EG, Powell TPS. The projection of C (eds.). Evoked Electrical Activity in the Auditory
the auditory cortex upon the diencephalon and brain Nervous System. New York, NY: Academic Press.
stem in the cat. Brain Res. 1969, 15:305-340, 1978, p. 43-65.
4. Durrant JD, Lovrinic JH. Bases of Hearing Science. 3rd 18. Winer JA. The functional architecture of the medial
ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1995. geniculate body and the primary auditory cortex. In:
5. Gelfand SA. Hearing: An Introduction to Psycholo- Webster WB, Popper AN, Fay RF (eds.). The Mamma-
gical and Physiological Acoustics. 5th ed. Informa lian Auditory Pathway: Neuroanatomy. New York, NY:
Healthcare, 2010. Springer-Verlag. 1992, p. 222-409.
6. Hall JW. New Handbook of auditory evoked Respon- 19. Yost WA. Fundamentals of Hearing: An Introduction.
ses. Boston: Pearson Edication, Inc., 2006. 5th ed. Academic Press, 2006.
64
5
POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO
ENCEFÁLICO: PARÂMETROS TÉCNICOS
Silvana Maria Sobral Griz
Pedro de Lemos Menezes
65
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
66
Parte II – Cap. 5 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO: PARÂMETROS TÉCNICOS |
Estímulo Chirp ondas I, III e V do PEATE. Esse novo tipo de estímulo
foi criado para evitar a saturação da amplitude em
São estímulos complexos, com frequências que
sons de forte intensidade que ocorre com os estímulos
podem aumentar ao longo do tempo (chirp-up) ou
CE-Chirp em 80 dB NAn, por exemplo (Figura 6).
diminuir (chirp-down)4. Na avaliação auditiva, foram
Assim, LS CE-Chirp é modificado de acordo com sua
adaptados para que toda a membrana basilar fosse
intensidade para evitar o referido efeito negativo nos
estimulada ao mesmo tempo. Assim, o estímulo com-
potenciais evocados. Com isso, o número de prome-
plexo possui frequências graves e agudas, contudo,
diações poderia cair de 1.000/2.000 com estímulos
80 dB NAn
20 dB NAn
CE-Chirp
-10 -5 0 1.5 5
Tempo (ms)
Figura 5 – Exemplo de estímulo chirp-up, que inicia com fre- Duração dos estímulos
quências graves e termina com agudas.
A duração de um estímulo consiste no tempo
O CE-Chirp, utilizado para evocar potenciais em que ele demora para aparecer, se estabilizar e
auditivos, foi desenvolvido por pesquisadores lide- desaparecer (tempo de ataque, platô e tempo de re-
rados com Claus Elberling e seu objetivo era evocar cuperação respectivamente). A duração do estímulo
está relacionada à região da frequência em que a
uma reposta sincrônica com amplitudes maiores do
resposta seja evocada. Assim, para estímulos de longa
que aquelas evocadas por clique. Para seu desenvol-
duração, a região da cóclea estimulada corresponde
vimento, foram consideradas a mecânica coclear e
à frequência de um tom puro. Porém, estimulações
a teoria da onda viajante, além outros modelos de
breves promovem o sincronismo de vários neurônios
funcionamento dos potenciais evocados auditivos5.
e melhora a captação das respostas elétricas. Por esse
O estímulo chirp pode ser filtrado e apresentado motivo, estímulos com duração mais curta são os
na avaliação do PEATE para que se tenha uma res- mais utilizados, como é caso o clique ou o tone busrt,
posta específica em frequência e pode ser utilizado por exemplo.
em substituição aos estímulos tone brusts.
A duração dos estímulos, como foi visto, é deci-
Na prática clínica, apesar de haver algumas siva para uma aquisição adequada do sinal. O clique
controvérsias, inúmeros artigos concordam que o es- tem duração fixa de 100 μs, já o tone burst tem duração
tímulo CE-Chirp gera ondas de PEATE de amplitudes variada e segue, normalmente, regras definidas. Exis-
maiores, sobretudo com intensidade de 60 dB NAn tem basicamente duas classificações para o intervalo
ou menores. Contudo, de maneira geral, as latências dos estímulos. Na primeira, os estímulos não cliques
não apresentam diferenças estatísticas entre os dois apresentam tamanho fixo de 5 ms de crescimen-
tipos de estímulos6,7. to/decrescimento, o que mantém as características
Uma nova atualização do CE-Chirp, conhecida temporais do estímulo constante, porém com ruídos
como LS CE-Chirp [LS (level specific)], tem apresen- consideráveis no espectro, entre baixas e altas frequên-
tado resultados promissores para a identificação das cias.9 Na segunda classificação, as partes do estímulo
67
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
são divididas em ciclos. Assim, o crescimento e o limiares tonais, é necessário que haja equivalência en-
decrescimento têm dois ciclos e o platô, apenas um. tre eles, realizada através da calibração biológica para
As amplitudes variam de 10 a 90% da potência o dB NA e calibração eletrônica em osciloscópio para
máxima do sinal e a duração, em milissegundos, o dB NPSppe. Geralmente, o limiar comportamental
varia de acordo com a frequência e é calculada pela para o estímulo clique é 30-35 dB NPSppe. Ou seja, se
equação 1. para 1000 Hz, por exemplo, 0 dB NA equivale a cerca
de 7 dB NPS e para o clique, 0 dB NAn equivale a 30-
35 dB NPSppe. Entretanto, após a instalação de um
novo equipamento, é necessário que se realize uma
(1) calibração biológica para comparar os valores ele-
trofisiológicos e eletroacústicos, possibilitando mais
Dessa maneira, para cada frequência, a duração precisão na inferência dos limiares comportamentais.
(crescimento + platô + decrescimento) será diferente A convenção mais comum é definir intensidade em
(figura 2). Aplicando-se a equação 1 para a frequência relação a limiares auditivos de pessoas com audição
1.000 Hz, por exemplo, um ciclo tem o período de 1 ms normal quando o estímulo utilizado é o clique, ou seja,
e a duração do estímulo será de 5 ms, obedecendo-se dB NAn. Para o estímulo clique, em geral a onda V não
à regra de 2-1-2 ciclos, crescimento-platô-decresci- aparece quando a intensidade do estímulo é inferior a
mento. Por outro lado, para uma frequência de 500 10-20 dB NAn. A intensidade do estímulo é um fator
Hz, um ciclo tem o período de 2 ms e a duração total que influencia diretamente nos registros do PEATE.
do estímulo será 10 ms (caso seja utilizado o modelo Um estímulo clique de forte intensidade faz
2-1-2 ciclos). Vale ressaltar ainda que, para este tipo com que uma região maior da cóclea seja estimulada
de estímulo, quanto mais grave a frequência central, e, como consequência, maior número de neurônios,
maior a latência absoluta das ondas e menor sua am- serão ativados, gerando uma resposta com maior am-
plitude, uma vez que o tempo do estímulo tone burst plitude em menos tempo. Cliques de forte intensidade,
é maior, a sincronia neural diminui.2 além de ativarem a cóclea de forma sincrônica, refle-
tem primordialmente a atividade da sua base (região
Intensidade dos estímulos das frequências agudas), que predomina na resposta
final (1000-4000 Hz), pois a região das frequências
A intensidade do estímulo afeta os PEATE de agudas é ativada antes da região das frequências
maneira heterogênea. O aumento linear da intensi- graves. Para estímulos mais fracos em intensidade, a
dade nem sempre produz o mesmo efeito na latência região da cóclea que é ativada corresponde à região
e amplitude da onda. Em princípio, como regra geral, entre 2000-4000 Hz para o estímulo clique.
as latências diminuem e as amplitudes aumentam
com sons de forte intensidade. A onda V, em ouvin- A latência da onda V aumenta em aproximada-
tes normais, por exemplo, é difícil de ser detectada mente 2,0 ms quando a intensidade varia entre 80 dB
visualmente, com valores abaixo de 20 decibéis nível NAn e 20 dB NAn. A amplitude da onda V diminui
de audição normatizado (dB NAn).2,10,11 à medida que a intensidade dos estímulos também
diminui.
Existem pelo menos cinco referências que po-
dem ser usadas para se definir a intensidade de um
Polaridade do estímulo
estímulo: (1) dB SPL (ou NPS − Nível de Pressão So-
nora); (2) dB peSPL [ou nível de pressão sonora pico a A polaridade do estímulo é mais uma variável
pico equivalente (NPSppe)]; (3) dB HL (ou NA − Nível que possivelmente interfere no registro dos potenciais
da Audição); (4) dB SL (ou NS – Nível de Sensação); e evocados auditivos e pode ser do tipo condensada,
dB nHL (ou NAn − Nível de Audição normalizado). rarefeita ou alternada, o que gera no fone pressão
Na avaliação auditiva, tons puros ou estímulos com acústica positiva, negativa ou alternada respecti-
duração mais lenta são geralmente expressos em dB vamente. Uma vez que o estímulo clique produza
NA ou dB NPS. Estímulos utilizados no exame do um movimento do diafragma do fone auditivo na
PEATE não são calibrados eletronicamente em dB direção da membrana timpânica, uma onda positiva
NPS ou dB NA, pois esta medição exige que o mesmo irá se formar no canal auditivo externo, ou seja, um
possua tempo de aparecimento maior. Para que se movimento com polaridade positiva ou condensada.
possam comparar os limiares eletrofisiológicos com os Ao contrário, se o clique produzir um movimento
68
Parte II – Cap. 5 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO: PARÂMETROS TÉCNICOS |
do diafragma no sentido contrário ao da membrana Em crianças, existe uma relação direta entre
timpânica, uma onda negativa será formada e haverá a maturidade do sistema nervoso central e o efeito
um movimento com polaridade negativa ou rarefeito. da repetição do estímulo nas respostas evocadas.
A polaridade alternada é uma variação entre uma Quanto mais nova for a criança, maior o efeito da
apresentação de estímulos condensados e estímulos taxa de repetição do estímulo. Isso se dá devido à
rarefeitos. Geralmente, a polaridade rarefeita tem sido mielinização incompleta dos axônios dos neurônios,
utilizada com mais frequência quando o objetivo do prolongando a transmissão neural e aumentando a
69
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
paciente que poderá deslocar o fone auditivo, mesmo também como tamanho da janela. Este parâmetro deve
que o paciente seja instruído a não mover a cabeça ser configurado de modo a não ultrapassar nem ser
pelo profissional que vai realizar o exame. inferior à latência esperada para o potencial em questão.
Tem sido observado que a posição inicial do fone Para os PEATE de curta latência, tal janela não deve
auditivo supra-aural é difícil de ser mantida, pois a ser inferior a 10 ms. Recomenda-se, entretanto, uma
posição reclinada em que o paciente se encontra não janela de 15 ms, uma vez que, em algumas doenças, as
previne a movimentação da cabeça do mesmo. Com latências das ondas podem ser mais tardias do que o
crianças pequenas, esse problema torna-se ainda esperado.15
maior. Com recém-nascidos, a colocação desses fones
auditivos é ainda mais difícil, pois os bebês preferem Eletrodos
dormir na posição supina. Todas estas desvantagens
fazem com que o transdutor mais utilizado nas me- Os eletrodos podem alterar as latências, ampli-
dições do PEATE seja os fones auditivos de inserção, tudes, polaridade da resposta e morfologia da onda.
compostos por duas pequenas caixas (transdutores), Assim, devem ser definidos os tipos de eletrodos e
sendo o sinal acústico levado à orelha através de um local para a fixação destes. Todos os tipos de eletrodos
pequeno tubo acoplado a uma esponja inserida no existentes foram elaborados para conduzir a atividade
meato acústico externo. elétrica emanada por respostas evocadas. Nos PEATE,
Os fones de inserção oferecem várias vantagens: o mais utilizado é do tipo disco, e os registros são me-
(1) o problema com o artefato elétrico na onda I, lhores quando todos os eletrodos são compostos pelo
causado pelo fone supra-aural, é praticamente elimi- mesmo metal. Um fator importante a ser observado
nado devido ao atraso produzido pelo tubo por onde é a impedância entre o eletrodo e a referência: são
o sinal acústico passa, quando comparado ao fone recomendados valores inferiores a 5 kΩ. Além disso,
supra-aural, pois a análise das ondas somente come- o balanço entre os pares de eletrodos também deve
ça com um atraso† de 0,9 ms após a transformação ser observado, isto é, a impedância entre o eletrodo
do sinal elétrico em estímulo acústico; (2) previne conectado à entrada inversora do amplificador e o
o colapso do canal auditivo externo, comum em re- eletrodo de referência não pode ser muito diferente da
cém-nascidos e idosos; (3) a almofada que é inserida impedância entre o eletrodo conectado à entrada não
aumenta a atenuação interaural para 60 dB, reduzindo inversora do amplificador e o eletrodo de referência.2,15
a possibilidade da participação da orelha não testada A montagem de eletrodos frequentemente uti-
e reduzindo a necessidade de mascaramento; (4) há lizada para o registro dos PEA é a seguinte: eletrodo
maior atenuação do ruído do ambiente; (5) diminui
inversor na região A1 ou A2; eletrodo não inversor na
o problema do deslocamento do fone, visto nos fones
região Cz (ou Fz) e o referência, na posição Nz (ver
auditivos supra-aurais, com mais possibilidade de
figura 7). Contudo, montagens equidistantes devem
ficar na posição inicial que foi colocado; e (6) é mais
ser priorizadas, pois melhoram as respostas dos sinais,
confortável para o paciente. Outro tipo de transdutor é
sendo assim, Cz, teoricamente, produz uma resposta
o vibrador ósseo, geralmente posicionado no processo
melhor do que Fz.
da mastoide ou na testa.
70
Parte II – Cap. 5 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO: PARÂMETROS TÉCNICOS |
qualquer interferência, como é o caso da atenção do
indivíduo durante a realização do exame.16
71
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
REFERÊNCIAS latency measurements. Hearing Research. 2000 mar/
apr; 141:57-79.
1. Schwanke D. Exame de potenciais evocados auditivos 10. Pedriali IVG, Kozlowski L. Influência da intensida-
utilizando processador digital de sinais [Dissertação]. de e velocidade do clique no PEATE de Ouvintes
105f. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Normais. Arq Int Otorrinolaringol. 2006 apr-jun;
Grande do Sul, 2000. 10(2):105-113.
2. Hall JW. New Handbook for Auditory Evoked Res- 11. Ner BLT, Klein J. Auditory evoked field at threshold.
ponses. Boston: Pearson Education, 2006. Hearing Research. 2007 jun; 228:188-200.
3. Hooper DA. The significance of data weighting 12. Canale A, Lacilla M, Cavalot AL, Albera R. Auditory
windows for accurate parameterization of MST ra- steady-state responses and clinical applications. Eur
dar returns signals. In: International Workshop on Arch Otorhinolaryngol. 2006; 263(6): 499-503.
Technical and Scientific Aspects of MST Radar. 9.; 13. Millan J, Özdamar Ö, Bohórquez J. Acquisition and
2000 mar; Comm on Sol Terr Phys Secr., Toulouse, analysis of high rate deconvolved auditory evoked
2000; 1: 496-499. potentials during sleep. In: Annual International
4. Easton RL. Fourier Methods in Imaging. Nova Jersey: Conference of the IEEE, 28, 2006, Nova York, Pro-
John Wiley & Sons; 2010. ceedings of Annual International Conference of the
5. Elberling C, Don M, Cebulla M, Stürzebecher E. Au- IEEE, 28. New York, 2006; 1: 4987-4990.
ditory steady-state responses to chirp stimuli based 14. Pauli-magnus D, Hoch G, Strenzke N, Anderson
on cochlear traveling wave delay. J Acoust Soc Am. S, Jentschc TJ, Moser T. Detection and differen-
2007; 122(5):2772-85. tiation of sensorineural hearing loss in mice using
6. Bargen GA. Chirp-Evoked Auditory Brainstem Res- auditory steady-state responses and transient audi-
ponse in Children: A Review. Am J Audiol. 2015; tory brainstem responses. Neuroscience. 2007 ago;
24(4):573-8.3. 149:673-684.
7. Pushpalatha ZV, Konadath S. Auditory Brainstem 15. Silva A, Batista J, Carvalho V. Potenciais evocados
Responses for Click and CE-chirp Stimuli in Indivi- [Monografia]. 53f. Lisboa: Faculdade de Ciências de
duals with and without Occupational Noise Exposure. Lisboa, 1998.
Noise Health. 2016 Sep-Oct; 18(84): 260–265. 16. Plourde G. Auditory evoked potentials. Best Prac-
8. Scipio E, Mastronardi L. Level Specific CE-Chirp® tice & Research Clinical Anesthesiology. 2006 mar;
BAEP’s: A new faster technique in neuromonitoring 20(1):129-139.
cochlear nerve during cerebellopontine angle tumor 17. Hare TA, Wood JH, Manyam BV, Gerner RH, Ballen-
surgery. Interdisciplinary Neurosurgery. 2018; 11:4-7. ger JC, Probst RM. Central nervous system: Amino-
9. John MS, Picton TW. Human auditory steady-state butyric acid activity in man. Arch Neurology. 1982
responses to amplitude-modulated tones: phase and mar; 39:247-249.
72
6
POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO
ENCEFÁLICO: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS
Kelly Cristina Lira de Andrade
Natália dos Santos Pinheiro
Aline Tenório Lins Carnaúba
Pedro de Lemos Menezes
1. INTRODUÇÃO P3
Pa P2
Os PEA (Potenciais Evocados Auditivos) são res- V Pb|P1
Po
postas neuroelétricas geradas a partir de um estímulo III
I
sonoro. Tais potenciais são registrados do escalpo e Nb N1
N2
permitem a observação da atividade elétrica gerada Na
73
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Tabela 1 – Tipos de PEA1-4.
N1/N100 80-150
PEALL (Exógenos) P2/P200 145-180
Longa N2/N200 180-250
MMN 180-240
PEALL (Endógeno)
P3/P300 220-380
Legenda: PEATE = potencial evocado auditivo de tronco encefálico; PEAML = potencial evocado auditivo de média latência; PEALL =
potencial evocado auditivo de longa latência.
2. CONCEITOS E TERMOS por sua vez deve ser igual ou menor que 0,3 ms para
se encaixar no padrão de normalidade4.
O PEATE consiste no registro da atividade elétri-
ca que ocorre no sistema auditivo, da orelha interna até 3. APLICAÇÕES CLÍNICAS
o tronco encefálico (TE), decorrente da apresentação
de um estímulo acústico. Caracteriza-se como um As aplicações clínicas do PEATE em crianças
exame objetivo, simples e não invasivo, que avalia a foram descritas pela primeira vez por Hecox e Ga-
função auditiva e tem sido amplamente utilizado para lambos15. Desde então, inúmeras pesquisas têm sido
a detecção de perdas auditivas em crianças, uma vez realizadas com este potencial, visto que é o mais
que não requer a colaboração do paciente4-10. Esta utilizado clinicamente devido às suas propriedades
técnica apresenta respostas bioelétricas que resultam de localização e reprodutibilidade.
da ativação sucessiva da cóclea e das fibras nervosas A principal aplicação clínica do PEATE é o
desta via11-13. diagnóstico diferencial entre alterações cocleares e
retrococleares. Além disso, permite avaliar a ma-
2.1. Componentes do PEATE turação do sistema auditivo central em neonatos e
fazer o diagnóstico de alterações no limiar auditivo,
Durante a pesquisa do PEATE, é possível obter caracterizando o tipo de perda auditiva16-17.
sete ondas, expressas em algarismos romanos. Cada
onda possui uma origem: a onda I é originada na por- Entre as demais aplicações clínicas dessa técnica,
ção distal do nervo auditivo; a II é gerada na porção destaca-se a avaliação de pacientes difíceis de serem
proximal do nervo auditivo; a III inicia-se nos núcleos testados, uma vez que avalia a audição de recém-nas-
cocleares; as ondas IV e V originam-se no lemnisco cidos, crianças pequenas, indivíduos hiperativos, com
lateral superior ipsi e contralateral; e as ondas VI e distúrbios emocionais, com alterações neurológicas e
VII têm origem nos potenciais mesencefálicos2,3,14. indivíduos difíceis de serem avaliados por meio dos
métodos comportamentais18-22.
Todavia, observa-se regularmente na prática
clínica o aparecimento apenas das primeiras cinco
ondas, embora se considere como mais imprescin- 3.1. Diagnóstico Diferencial
dível a análise dos valores das latências absolutas entre Alterações Cocleares e
das ondas I, III e V. Também são considerados os Retrococleares e Pesquisa da
valores das latências interpicos I-III, III-V e I-V, que Integridade da Via Auditiva
é o intervalo entre as ondas. Além disso, a diferença
interaural (comparação entre as latências) da onda V Para distinguir as alterações cocleares das retro-
é outro parâmetro importante a ser observado, que cocleares, é necessário que haja uma interpretação
74
Parte II – Cap. 6 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
precisa dos traçados das ondas, dos intervalos interpi- dos eletrodos não deve ultrapassar 5 kOhms (quilo-
cos e, principalmente, da diferença interaural da onda -homs) e a diferença entre eles não deve ser maior
V. Ademais, os dados coletados durante a anamnese que 2 kOhms. Para a obtenção desses parâmetros, é
são fundamentais na interpretação do resultado. fundamental a limpeza minuciosa da pele, preferen-
Quando observamos latências absolutas dentro cialmente, com pasta abrasiva.
dos padrões de normalidade e diferença interaural Na prática clínica, é comum o início da pesquisa
menor ou igual a 0,3 ms, associado à alteração do com fones de inserção, estímulo clique, polaridade ra-
Figura 2 – Seleção dos parâmetros do protocolo para a realização do PEATE. Fonte: Parâmetros obtidos por meio do menu de con-
figuração de um sistema disponível no comércio.
75
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
3.2. Pesquisa do Limiar Quadro 1 − Valores de normalidade das latências absolutas
e dos intervalos interpicos das ondas I, III e V do PEATE
Eletrofisiológico para adultos29.
Umas das principais aplicações clínicas do PEA- Componentes do Média Desvio-padrão
TE é a pesquisa do limiar eletrofisiológico. Por meio PEATE (ms)
dele é possível inferir o grau da perda auditiva3.
I 1,38 0,09
Recomenda-se iniciar a pesquisa do limiar eletro-
fisiológico em 80 dB nHL e diminuir a intensidade em III 3,46 0,15
20 dB nHL a cada visualização da onda V. O avaliador V 5,32 0,17
é instruído a repetir o procedimento até que a onda V
não seja capaz de ser detectada e replicada. Posterior- I-III 2,08 0,22
mente, a intensidade necessitará ser aumentada em 10
III-V 1,86 0,07
dB nHL até que seja possível observar a onda V nova-
mente, encontrando, assim, o limiar eletrofisiológico. I-V 3,92 0,18
O método ascendente também pode ser utilizado, no
qual o estímulo acústico é eliciado inicialmente em 20 Quando há perda auditiva condutiva, observam-
dB nHL, aumentando-se a intensidade em 10 dB nHL -se latências absolutas das ondas I, III e V aumenta-
até a visualização e replicação da onda V2,3,25. das, com intervalos interpicos normais. O aumento
Ressalta-se que há uma diferença entre os limia- nas latências absolutas das ondas ocorre devido ao
res psicoacústicos e os eletrofisiológicos (de 10 a 20 impedimento situado na orelha média, o que resulta
dB) e essa diferença é denominada fator de correção. no atraso da condução do estímulo acústico às vias
Portanto, se o PEATE revelar onda V presente em 30 auditivas2-4.
dB nHL, sugere-se ausência de alterações auditivas Em contrapartida, quando os limiares eletrofi-
na faixa de frequência estudada, tendo em vista que o siológicos estão elevados, as latências absolutas das
estímulo clique analisa essencialmente as frequências ondas I, III e V encontram-se dentro dos padrões de
de 2 a 4 kHz em fraca intensidade. Por outro lado, normalidade, bem como os intervalos interpicos, e
quando há indícios de perda auditiva, mas não é a diferença interaural revela-se menor que 0,3 ms, é
possível realizar a audiometria, a avaliação do limiar provável que exista uma alteração de origem coclear.
eletrofisiológico por meio do PEATE com estímulo A normalidade nas latências absolutas das ondas e
tone burst é crucial, pois esse estímulo é capaz de nos intervalos interpicos deve-se ao fato de o PEATE
analisar os limiares auditivos por frequência especí- iniciar sua atividade a partir do nervo auditivo4,24.
fica, devido à energia concentrada na frequência de Em relação às alterações retrococleares, diversos
estimulação, predizendo com mais segurança o grau, traçados podem identificar este tipo de acometimen-
a configuração audiométrica e, quando realizado por to. São eles: ausência das ondas I e III, com presença
via aérea (VA) e via óssea (VO), permite diferenciar da onda V e diferença interaural maior que 0,3 ms;
perdas auditivas condutivas de perdas auditivas senso- ausência das ondas III e V, com presença de onda I;
rioneurais. Para a seleção e adaptação do Aparelho de ausência das ondas I, III e V, com limiar psicoacús-
Amplificação Sonora Individual (AASI), por exemplo, tico apresentando respostas nas frequências de 2 a 4
o uso deste estímulo permite predizer os limiares kHz; aumento na latência interpico I-V, apresentando
psicoacústicos3,26,27. característica aumentada nos interpicos I-III e III-V,
indicando alteração de tronco encefálico baixo e alto
3.3. Determinação do Tipo de Perda respectivamente, além da impossibilidade de repli-
cabilidade das ondas. Desta forma, cada uma dessas
Auditiva características conduzirá ao diagnóstico da doença
A identificação do tipo do acometimento no da via auditiva4,24.
sistema auditivo também é possível por meio da reali-
zação do PEATE, isto é, identifica-se se a alteração tem
origem condutiva, coclear ou retrococlear. O quadro
3.4. Mascaramento
1 indica o padrão de normalidade das latências abso- Durante a avaliação do PEATE, quando há limia-
lutas das ondas I, III e V e dos intervalos interpicos res discrepantes entre as orelhas, sendo a atenuação
I-III, III-V e I-V28-29. interaural por volta de 65 dB (fator que dependerá
76
Parte II – Cap. 6 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
do tipo de fone e da frequência utilizada), a técnica último é empregado como primeira opção quando há
do mascaramento pode ser utilizada para evitar que Indicador de Risco para Deficiência Auditiva (IRDA)
a orelha com limiares melhores possa interferir no devido à maior probabilidade de haver comprome-
resultado da orelha oposta. Clinicamente, a realiza- timento retrococlear. Entretanto, na ocorrência de
ção do mascaramento contralateral é mais frequente. “falha” na etapa de teste da TAN, a criança deverá ser
Essa técnica é composta por um ruído (white noise), encaminhada ao reteste para a realização do PEATE
apresentado 30 dB a menos que a intensidade utilizada no modo de diagnóstico34-36.
77
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
caracteriza-se por uma dessincronia na condução (TPAC), dentre outras. Essa particularidade é possível
nervosa deste nervo, não afetando necessariamente devido à sensibilidade desse potencial para analisar
a cóclea, bem como a amplificação sonora, mas ge- as estruturas da via auditiva, partindo do VIII nervo
rando dificuldade na compreensão da fala. Por esse até o TE, e qualquer alteração em uma das estruturas
motivo, muitos estudiosos utilizam a nomenclatura avaliadas é refletida por meio dos traçados das ondas50.
Dessincronia Auditiva (DA)45-47.
Atualmente, para a identificação desse achado 3.8.1. Neurinoma do acústico
em crianças, são realizados procedimentos de EOA,
O neurinoma do acústico é um tumor origina-
pesquisa dos reflexos estapédicos, testes comporta-
do na bainha de Schuan do VIII nervo e é uma das
mentais e PEATE com pesquisa do MC. Tais exames
doenças mais encontradas na área da Audiologia,
apresentam as seguintes características para NA: EOA
sendo o PEATE essencial em seu diagnóstico, pois em
normais, indicando integridade de CCE; ausência
muitos casos sua evolução é assintomática. É, em geral,
de reflexos estapédicos contra e ipsilateralmente; os
testes comportamentais podem indicar perda auditiva unilateral e quando apresenta sintomas, os indivíduos
sensorioneural bilateral, simétrica ou assimétrica, com referem como queixas zumbido, plenitude auricular
graus variando de leve a profundo; limiar de recepção e vertigem. Dessa forma, as informações cedidas du-
de fala (LRF) alterado em situações de ruído competi- rante a anamnese e a associação dos resultados dos
tivo e em situações de silêncio; PEATE com ausência exames de audiometria, pesquisa do reflexo acústico,
ou grande degradação de todas as ondas e presença de vectoeletronistagmografia e ressonância magnética
MC, podendo ser confundido com alguma atividade possuem grande valor na conclusão do diagnóstico51.
elétrica do TE43-45,48,49. As características mais encontradas para esta
doença após a realização do PEATE são: diferença in-
teraural da onda V maior que 0,3 ms, o que indicará o
3.7. Avaliação de Pacientes Difíceis comprometimento retrococlear assimétrico; ausência
de Serem Testados de todas as ondas no lado afetado pelo neurinoma do
Durante a realização de avaliações comporta acústico; ausência da onda I, com presença das ondas
mentais, como na audiometria, é comum que o ava- III e V; e aumento nas latências absolutas das ondas I,
liador se depare com situações em que o indivíduo III e V, assim como em seus intervalos interpicos51-52.
apresente dificuldade de cooperar com o exame, seja
por limitações motoras, cognitivas ou por simulação3. 3.8.2. Esclerose múltipla
Em casos em que o avaliador não pode garan- O PEATE também é eficaz na identificação de
tir a veracidade dos limiares auditivos, é necessário acometimentos retrococleares advindos de doenças
atentar para o comportamento do indivíduo avaliado desmielinizantes, como por exemplo, a EM (esclerose
e para os limiares que são revelados durante a audio- múltipla). É uma doença progressiva e a detecção da
metria. Caso haja contraste entre esses dois fatores, deficiência auditiva por meio do PEATE exige aten-
o encaminhamento para a realização do PEATE é ção, por possuir diversas características nos traçados
essencial, uma vez que é um exame objetivo que não das ondas, fato este que está vinculado ao grau do
necessitará da colaboração do paciente e que apresen- acometimento das vias auditivas pela EM53-54.
tará resultados mais consistentes em relação ao teste
comportamental2-4. Jerger et al.55 classificaram o grau do acome-
timento do sistema auditivo pela EM por meio de
cinco tipos.
3.8. Avaliação Eletrofisiológica em Tipo I: presença das ondas I, III e V e intervalos
Adultos interpicos normais.
Grande parte das alterações auditivas na popula- Tipo II: intervalo interpicos I-V aumentado.
ção adulta possui características específicas no PEATE Tipo III: identificação complexa das ondas I, III
e sua realização pode contribuir para o prognóstico de e V, com amplitudes reduzidas e picos dificil-
algumas doenças, tais como: neurinoma do acústico, mente identificados.
esclerose múltipla (EM), morte encefálica (ME), afec- Tipo IV: presença apenas das primeiras ondas,
ções vestibulares, perda auditiva induzida por ruído geralmente, ondas I e III.
(PAIR), transtorno do processamento auditivo central Tipo V: presença apenas da onda I.
78
Parte II – Cap. 6 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
3.8.3. Morte encefálica nesse potencial, tendo em vista que afecções do TE
apresentam mais irregularidades nos traçados das
Dentre as diversas aplicações clínicas do PEATE,
ondas61-64.
destaca-se o auxílio no diagnóstico da ME e evolução
do coma. A manutenção de respostas fidedignas, O perfil de acometimentos vestibulares no PEA-
inclusive mediante a presença de sedativos, o baixo TE é, em geral, representado por atraso nas latências
custo e a especificidade do PEATE fazem com que o absolutas das ondas I, III e V, podendo alterar ou não
exame seja cada vez mais utilizado nesses casos56-57. os intervalos interpicos I-III, III-V e I-V, o que pode,
79
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
utilizada para suscitar respostas neurais, as quais ne- REFERÊNCIAS
cessitam de sincronia para que haja uma codificação
eficiente da fala72-78. 1. McPherson DL, Ballachanda BB, Kaf W. Middle and
O PEATE-fala é regularmente classificado em Long Latency Evoked Potentials. In: Roeser RJ, Valente
M, Dunn HH (eds). Audiology: diagnosis. New York,
dois elementos, de acordo com a resposta do TE em
2008, p. 443-477.
relação ao estímulo de fala: Onset e Frequency-follo-
2. Alvarenga KF et al. Eletrofisiologia da audição e Emis-
wing Response (FFR). O elemento onset caracteriza-se
sões Otoacústicas princípios e aplicações clínicas.
pelo início do estímulo, de breve duração e avalia Ribeirão Preto: Book Toy, 2016, p. 49-87.
as respostas do indivíduo aos estímulos sutis, como
3. Boechát EM, Menezes PL, Couto CM, Frizzo ACF,
a vibração das pregas vocais e suas modulações. O
Scharlach RC, Anastasio ART. Tratado de Audiologia. 2
elemento FFR, por sua vez, caracteriza-se pela res- ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2015, p. 118-24.
posta posterior sustentada, mantém-se durante toda
4. Figueiredo MS. Emissões Otoacústicas e BERA. Coleção
a estimulação e revela referências sobre a integridade CEFAC. São José dos Campos: Pulso, 2003, p. 85-97.
geral da resposta72-78.
5. Yin R, Wilkinson AR, Chen C, Brosi DM, Jiang ZD. No
Esse teste apresenta o início da resposta geral- close correlation between brainstem auditory function
mente antes de 10 ms, e tal resposta é analisada por and peripheral auditory threshold in preterm infants
meio do surgimento da onda V, semelhante à gerada at term age. Clin Neurophysiol. 2008; 119(4):791-5.
pelo estímulo clique, com um pico positivo seguido 6. Sleifer P, Costa SS, Cóser PL, Goldani MZ, Dornelles
de um pico negativo denominado onda A. Posterior- C, Weiss K. Auditory brainstem response in premature
mente, surgem outros picos positivos e negativos, e and full-term children. Int J Pediatr Otorhinolaryngol.
os mais frequentes são denominados C, D, E, F e O. 2007; 71(9):1449-56.
Todas as ondas são examinadas de acordo com as 7. Fichino SN, Lewis DR, Fávero ML. Electrophysiologic
latências, amplitude e slope, que é a duração e am- threshold study in air and bone conduction in children
plitude do complexo V-A. Qualquer alteração nos with 2 months or less age. Braz J Otorhinolaryngol.
parâmetros durante a análise do PEATE-fala pode 2007; 73(2):251-6.
indicar dificuldade no processamento auditivo da 8. Guilhoto LMFF, Quintal VS, Costa MTZ. Brainstem
fala. Em contrapartida, se o indivíduo possuir outras auditory evoked response in normal term neonates.
Arq Neuropsiquiatr. 2003; 61(4):906-8.
patologias associadas, os resultados podem não ser
fidedignos quanto ao objetivo do teste. Portanto, é 9. Flabiano FC, Leite RA, Matas CG. Audiometria de
tronco encefálico em adultos audiologicamente nor-
fundamental que o PEATE-fala seja utilizado apenas
mais: comparação das latências absolutas das ondas
para diagnóstico auxiliar72-78.
I, III, V, interpicos I-III, III-V, I-V, amplitudes das
ondas I, III, V e relação da amplitude V/I, obtido em
dois equipamentos diferentes. Acta ORL. 2003; 21(2).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
10. Sousa LCA, Rodrigues LS, Piza MRT, Ferreira DR,
O PEATE é um exame altamente confiável, Ruiz DB. Achado ocasional de doenças neurológicas
objetivo e promissor para a ciência, e suas aplicações durante a pesquisa da surdez infantil através do BERA.
Rev Bras Otorrinolaringol. 2007; 73(3):424-8.
clínicas ainda estão em constantes descobertas. Sua
realização é crucial para pesquisar o limiar eletrofi- 11. Möller AR, Janneta P, Bennett M, Möller MB. Intra-
cranially Recorder Responses from Human Auditory
siológico e analisar a integridade da via auditiva (do
Nerve: new insights into the Origin of Brainstem Evo-
VIII par do nervo craniano até o TE), possibilitando
ked Potentials. Electroencephalogr Clin Neurophysiol.
o diagnóstico do neurinoma do acústico, bem como 1981; 52:18-27.
a análise da maturação do sistema auditivo central
12. Stockard JE, Stockard JJ, Westmoreland BF, Corfits JL.
em neonatos, embora não seja recomendado seu uso Brainstem auditory-evoked response. Normal varia
isolado na detecção de doenças do sistema auditivo, tion as a function of stimulus and subjects’ characte-
especialmente quando há a possibilidade da realização ristics. Arch Neurol. 1979; 36:823-31.
de exames complementares. Além disso, a calibração 13. Filippini R, Schochat E. Potenciais evocados auditivos
do equipamento, a experiência e o conhecimento da de tronco encefálico com estímulo de fala no transtor-
anatomia das vias auditivas por parte do avaliador são no do processamento auditivo. Braz J Otorhinolaryn-
fundamentais para a acurácia do exame. gol. 2009; 75(3):449-55.
80
Parte II – Cap. 6 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
14. Zucki F. Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefá- 27. Ramos N, Lewis DR. Potencial evocado auditivo de
lico e análise proteômica em ratos expostos a chumbo tronco encefálico por frequência específica por via
e suplementados com ferro. São Paulo (Tese) 154f. aérea e via óssea em neonatos ouvintes normais. Rev
– Faculdade de Odontologia de Bauru. Universidade CEFAC. 2014 Mai-Jun; 16(3):757-767.
de São Paulo, 2013. 28. Soares IA, Menezes PL, Carnaúba ATL, Pereira LD.
15. Hecox K, Galambos R. Brain stem auditory evoked Padronização do potencial evocado auditivo de tronco
responses in human’s infants and adults. Arch Oto- encefálico utilizando um novo equipamento. Pró-Fono
laryngol. 1974; 99:30-3. Rev Atual Científica. 2010 out-dez; 22(4):421-6.
81
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
39. Starr A, Amlie RN, Martin WH, Sanders S. Develop- 54. Lima TMA, Crato AN, Mancini PC, Simões LC, Gon-
ment of auditory function in newborn infants revealed çalves DU. Alterações dos potenciais evocados auditi-
by auditory brainstem potentials. Pediatrics. 1977; vos do tronco encefálico em pacientes com esclerose
60(6):831-9. múltipla. Braz J Otorhinolaryngol. 2009; 75(2):177-81.
40. Gorga MP, Kaminsk JR, Beauchine KL, Jesteadt W, 55. Jerger JF, Oliver TA, Chmiel RA, Rivera VM. Patterns
Neely ST. Auditory brainstem responses from children of auditory abnormality in multiple sclerosis. Audio-
three months to three years of age: normal patterns logy. 1986; 25:193-209.
of response. II J Speech Hear Res 1989; 32(2):281-8. 56. Jardim M, Person OC, Rapoport PB. Potencial evocado
41. Hood LJ. Auditory neuropathy/auditory dys-syn- auditivo de tronco encefálico como auxílio diagnóstico
chrony: new insights. Hear J. 2002; 55(2):10-20. de morte encefálica. Pró-Fono. 2008; 20(2):123-8.
42. Shapiro SM, Nakamura H. Bilirubin and the auditory 57. Leite LCR, Francisco MV, Duarte SG, Garcia CFD,
system. J Perinatol. 2001; 21:52-5. Bizinoto SN. Potencial evocado auditivo de tronco
encefálico no prognóstico do coma superficial. Rev.
43. Martinho AC, Lewis DR. Achados audiológicos em
CEFAC. 2013 Jul-Ago; 15(4):1032-39.
crianças com hiperbilirrubinemia neonatal: um en-
foque na neuropatia auditiva/dessincronia auditiva. 58. Souza LCA. Contribuição dos potenciais evocados
Distúrbios da Comunicação, São Paulo, agosto, 2005; auditivos de tronco encefálico (BERA) na previsão
17(2):183-190, do óbito de pacientes em coma. São Paulo, 122f (Tese)
– Faculdade de Medicina da Universidade de São
44. Grupta AK, Mann SBS. Is Auditory Brainstem Respon-
Paulo, 2003.
se a Bilirubin Neurotoxicity Marker? Am J Otolatyngol.
1998; 19(4):232-36. 59. Sousa LCA, Piza MRT, Costa SS, Ferez M, Lavrador
MAS, Kluwe LH. Estadiamento clínico (Glasgow) e
45. Sanfins MD. Neuropatia auditiva/dessincronia audi-
eletrofisiológico (BERA) do coma e suas implicações
tiva: um estudo em alunos de três escolas especiais
no diagnóstico da morte cerebral. Ver Bras Atual
para deficientes auditivos da cidade de São Paulo. São
Otorrinolaringol. 1998; 5(6):176-92.
Paulo, 150f (Dissertação) − Universidade de São Paulo.
Faculdade de Medicina, 2003. 60. Sousa LCA, Piza MRT, Costa SS, Ferez M, Lavrador
MAS, Kluwe LH. Glasgow e BERA (GB): nova proposta
46. Starr A, Picton TW, Sininger Y, Hood LJ, Berlin C. para o estadiamento do coma e o diagnóstico da morte
Auditory Neuropathy. Brain. 1996; 119:741-53. cerebral. Ver Bras Ter Intensiva. 1998; 10(4):156-63.
47. Spinelli M, Fávero-Breuel ML, Silva CMS. Neuropatia 61. Munaro G, Silveira AF, Rossi AG, Korbes D, Finkler
auditiva: aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos. AD. Results of brainstem evoked response in patients
Rev Bras Otorrinolaringol. 2001; 67(6):863-7. with vestibular complaints. Braz J Otorhinolaryngol.
48. Kraus N et al. Consequences of Neural Asynchrony: A 2010; 76(3):384-91.
Case of Auditory Neuropathy. 2000; JARO 01:33-45. 62. Welsh LW, Welsh JJ, Rosen LG. Evaluation of vertigo
49. Deltenre P et al. Auditory Neuropaty with Preserved by auditory brain stem response. Ann Otol Rhinal
Cochlear Microphonics and Secondary Loss of Otoa- Laryngol. 2002; 3:730-35.
coustic Emissions. Audiology. 1999; 38:187-95. 63. Brodsky JR, Mejico LJ, Giraud A, Woods CI. Im-
50. Casali LR. Potenciais evocados auditivos em crianças pairment of Habituation of the Auditory Brain Stem
com epilepsia benigna da infância com espículas cen- Response in Migrainous Vertigo. Annals of Otology,
trotemporais e epilepsia de lobo temporal. São Paulo, 2013. Rhinology & Laryngology. 122(5):308-15.
104f (Tese) – Universidade Estadual de Campinas. 64. Munaro G. Contribuição do PEATE na avaliação de
Faculdade de Ciências Médicas, 2015. pacientes com queixas vestibulococleares. Rio Grande
51. Dell´Aringa AHB, Sena LFP, Teixeira R, Dell´Aringa do Sul, 74f (Dissertação) – Universidade Federal de
AR, Nardi JC. A importância dos potenciais evocados Santa Maria. Centro de Ciências da Saúde, 2009.
auditivos no neurinoma do acústico. Rev Bras Otorri- 65. Ahmed I, Brainstem Auditory Evoked Potentials in
nolaringol 2008; 74(4):639. Dizziness. Clin Electroencephal. 1984; 15(2):110-15.
52. Faria EF, Filisbino MM, Maia AC, Alves RB, Guedes 66. Theopold HM. Degenerative alterations in the ventral
VR. Schwannoma de acústico: revisão bibliográfica. cochlear nucleus of the guinea pig after impulse noise
Rev Pat Tocantins. 2015; 2(2):16-22. exposure. A preliminary light and electron microscopic
53. Santos MAR, Peixoto MAL, Munhoz MSL, Almeida study. Arch Otorhinolaryngol. 1975; 209(4):247-62.
AV. Avaliação dos potenciais evocados auditivos do 67. Morest DK, Bohne BA. Noise induced degeneration
tronco encefálico na esclerose múltipla. Arq Neurop- in the brain and representation of inner and outer hair
siquiatr. 2003; 61(2-B):392-97. cells. Hear Res. 1983; 9(2):145-51.
82
Parte II – Cap. 6 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
68. Silva AA, Costa EA. Avaliação da surdez ocupacional. estímulo de fala. Pró-Fono Rev Atual Científica. 2010
Rev Assoc Med Bras. 1998; 44(1):65-8. out-dez; 22(4):479-84.
69. Santos AS, Júnior NC. Audiometria de tronco ence- 74. Filippini R, Schochat E. Potenciais evocados auditivos
fálico em motoristas de ônibus com perda auditiva de tronco encefálico com estímulo de fala no transtor-
induzida pelo ruído. Braz J Otorhinolaryngol. 2009; no do processamento auditivo. Braz J Otorhinolaryn-
75(5):753-9. gol. 2009; 75(3):449-55.
70. Noorhassim I, Kaga K, Nishimura K. Pure Tone Audio- 75. Gonçalves IC. Potencial evocado auditivo de tronco
metry and Auditory Brainstem Responses in Noise-in- encefálico com estímulo de fala em crianças com
83
7
POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO
ENCEFÁLICO POR VIA ÓSSEA NOS DIVERSOS
TIPOS DE PERDA AUDITIVA
Luciana Castelo Branco Camurça Fernandes
Marisa Frasson de Azevedo
85
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
2. APLICAÇÃO CLÍNICA DO De acordo com os parâmetros descritos no
quadro 1, a pressão do vibrador deve ser aferida com
PEATE POR VIA ÓSSEA um dinamômetro, o qual é representado na figura 3.
De acordo com Hall8, o PEATE por VO pode ser A medição precisa ser obtida da mesma forma
indicado nas seguintes situações: diagnóstico do tipo que está demonstrado na figura 4, com resultado da
da perda auditiva; malformação de orelha externa e/ medida recomendado no valor de 350 g. O vibrador
ou média; e agenesia do meato acústico externo. deve ser sempre utilizado na mesma posição e ter a
mesma pressão em todos os sujeitos testados, pois
Conforme recomendação, o PEATE por VO
mudanças nesses fatores podem causar diferença na
também deve ser empregado para detectar compro-
latência da onda V.
metimento auditivo de natureza condutiva1.
Estudos referem o uso dessa pressão entre 350 e
É importante ressaltar a indicação de Hood9, que 450 g10,11, havendo necessidade de pressão maior nas
propõe ainda a realização do PEATE por VO, sempre crianças devido ao tamanho do perímetro cefálico.
que os limiares eletrofisiológicos do PEATE, obtidos Por esse motivo, foi determinado o valor de 350 g
por VA, estiverem alterados. Assim, a avaliação de para a força de posicionamento do vibrador nos adul-
PEATE por VO vai contribuir para a conclusão do tos desse estudo. Na orelha contralateral, coloca-se
tipo de perda auditiva. o fone de inserção (ER3A) para a apresentação do
mascaramento. A avaliação por via óssea pode ser
iniciada com a intensidade 50 dB NAn, pois a saída
3. PROCEDIMENTO PARA A máxima por VO do equipamento (60 dB NAn) não é
REALIZAÇÃO DO PEATE POR recomendada por causar interferência, dificultando a
VIA ÓSSEA observação da onda V. Em seguida, deve-se diminuir
20dB na intensidade e a cada intensidade diminuída,
Para a realização do PEATE por VO, o paciente é necessário observar a presença da onda V. A última
deve ficar deitado, em posição confortável, em am- intensidade em que a onda V pode ser visualizada
biente silencioso. Recomenda-se a limpeza da pele na sua menor amplitude determina-se como o li-
com algodão umedecido com sabonete líquido ou miar eletrofisiológico por via óssea. Na via óssea, as
com gaze umedecida com álcool e, em seguida, uso ondas I e III são menos frequentes em virtude de a
de pasta abrasiva (NUPREP®). Os eletrodos devem ser intensidade inicial ser 50 dB NAn. Por esse motivo,
posicionados no vértex, na bochecha e nas mastoide deve-se analisar apenas a presença da onda V, e sua
esquerda (M1) e mastoide direita (M2), conforme morfologia, amplitude e replicabilidade para cada
o Sistema Internacional 10-20 (Jasper,1958). Em resposta adquirida.
seguida, verifica-se a impedância dos eletrodos, a O uso do mascaramento deve ser feito seguin-
qual deve estar em torno de 5 KOhms e a impedância do-se os mesmos conceitos da avaliação auditiva.
intereletrodos, ser inferior a 3 KOhms. Vale ressaltar Diante do uso do PEATE por VO, é recomentado usar
que o uso de 4 eletrodos para o registro dos PEATE, o mascaramento na orelha contralateral. Estudos que
é válido para um sistema de aquisição e registro de fizeram o PEATE com o estímulo clique, sugeriram os
dois canais. Caso o sistema só apresente um canal, a seguintes valores de mascaramento: 10 dB acima do
derivação será feita com três eletrodos. É importante que a intensidade do estímulo por condução óssea12;
lembrar-se de que o eletrodo posicionado na mastoide -30 dB de intensidade de realização do teste por VA13.
Vale ressaltar que a atenuação interaural do clique
não deve ter contato com o vibrador ósseo.
por condução óssea em crianças com menos de 1
O vibrador B-71 deve ser posicionado na região ano de idade é de, aproximadamente, 25 a 35 dBNA,
posteroauricular, em uma das mastoides, acima do necessitando, principalmente para intensidades mais
eletrodo M1 (quando testada a orelha esquerda) e M2 fortes, de mascaramento na orelha não testada14, caso
(quando testada a orelha direita), conforme a figura 1. o sistema de registro tenha dois canais. Desta forma,
O vibrador ósseo precisa estar preso à região nas intensidades até 35 dBNA não é necessário uti-
cefálica com uma bandagem elástica, como indicado lizar mascaramento contralateral quando testamos
na proposta da figura 2. A haste do vibrador não pode neonatos e crianças pequenas.14
ser usada durante o procedimento, pois a mesma pode Na aquisição do PEATE por VO, propõe-se uti-
causar interferência nas respostas do PEATE. lizar os seguintes parâmetros propostos por Hood9.
86
Parte II – Cap. 7 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO POR VIA ÓSSEA |
Figura 3 − Dinamômetro (CROW N-AT) – equipamento utilizado Figura 4 − Demonstração de medição da pressão do vibrador
par medir a pressão do vibrador B-71. na mastoide.
87
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Parâmetros Condução Óssea
Posicionamento dos eletrodos seguindo o Sistema Interna- Eletrodo ativo em Fz, eletrodos referência em M1 (mas-
cional 10-20 (Jasper, 1958) toide esquerda) e M2 (mastoide direita), eletrodo terra
na bochecha. O uso de 4 eletrodos para o registro dos
PEATE é válido para um sistema de aquisição e registro
de dois canais. Caso o sistema só apresente um canal, a
derivação será feita com três eletrodos.
Pressão do vibrador medida com dinamômetro 350 g
88
Parte II – Cap. 7 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO POR VIA ÓSSEA |
outro estudo16. A diferença entre os limiares de VA e VO. Todos os limiares eletrofisiológicos foram com-
VO apresentou nível de significância estatisticamente patíveis com limiares psicoacústicos, representando
alto, da mesma forma que em pesquisas17,19,26 feitas o valor de média da população pesquisada. Esses
anteriormente, que encontraram gap entre limiares achados concordaram com os descritos na pesquisa30,
eletrofisiológicos por condução aérea e óssea, com que avaliou 40 indivíduos, 20 com audição normal e
valores semelhantes àqueles obtido na pesquisa de 20 com perda auditiva, demonstrando que a diferença
Fernandes15. Sendo assim, a perda auditiva condutiva entre limiares por tom puro e eletrofisiológico foi 10
não alterou o limiar eletrofisiológico obtido por con-
89
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
e naqueles com configuração descendente em rampa, 3. Stapells D. Frequency-specific thresholds assessment
foi considerada apenas a latência obtida nos grupos in young infants using transient ABR and brainstem
com perda auditiva sensorioneural de grau leve. Dessa ASSR. In: Seewald R, Tharpe AM. Comprehensive
forma, a latência absoluta da onda V, obtida no grupo handbook of pediatric audiology. San Diego: Singular
com perda auditiva sensorioneural leve, apresentou Publish. 2011, cap. 20, p. 407-448.
valores equivalentes (OD = 6,81 ms e OE = 6,69 ms) 4. Blair RL, Berry H, Briant TDR. Brainsteim audiome-
àqueles obtidos em indivíduos com audição normal try: status and clinical application of cliques evoked
(OD = 6,82 ms e OE = 6,90 ms). Os resultados con- brainsteim response. J Otolaryngol. 1979; (8):33-9.
cordaram com o estudo19, que comparou as latências 5. Campbell PE, Harris CM, Hendricks S, Sirimanna
do PEATE por VO entre indivíduos com audição T. Bone conduction auditory brainstem response in
normal. A latência equivalente aos resultados de infant. J Laringol Otol. 2004; 118(2):117-2.
uma pessoa com audição normal pode ser entendida 6. Araújo FMC. Interpretação do potencial evocado
pela presença do fenômeno de recrutamento, muito auditivo de tronco encefálico na freqüência específica
comum de ocorrer na perda auditiva sensorioneural28. de 1000 Hz em recém-nascidos. São Paulo. 2004, p.
O recrutamento ocorre associado à perda auditiva 23-32. (Dissertação de Mestrado Pontifícia Univer-
de origem sensorial, por redução nos elementos sidade Católica de São Paulo.)
sensoriais da orelha interna (células ciliadas), de 7. Silman S, Silverman CA. Basic audiologic testing. In:
forma que a percepção de volume para intensidades Silman S, Silverman CA. Auditory diagnosis: princi-
progressivamente crescentes é muito rápida, pois mais ples and applications. San Diego: Singular Publishing
fibras nervosas são “recrutadas” para um determinado Group. 1997, p. 44-52.
estímulo. Este crescimento rápido é restrito à parte da 8. Hall JW. New Handbook for Auditory Evoked Res-
orelha interna que está lesada. Esse achado de latência, ponses. Boston: Pearson Education. 1992, p.724-34.
em perda sensorioneural leve, ter o mesmo valor do 9. Hood L. Clinical application of the auditory brains-
que foi obtido em indivíduos com audição normal, teim response. San Diego: Singoular Publish Grou.
fortalece a justificativa de que o recrutamento influen- 1998, p.12-28.
cia nas respostas, diminuindo a latência do PEATE28. 10. Fichino SN, Lewis DR, Fávero ML. Estudo dos limiares
Assim, justifica-se a causa de a latência demonstrar eletrofisiológicos das vias aérea e óssea em crianças
resultados equivalentes aos valores obtidos em pessoas com até 2 meses de idade. Rev Bras Otorrinolaringol.
com audição normal. 2007; 73(2)251-6.
11. Nousak JMK, Stapells DR. Frequency Specificity of
the Auditory Brain Stem Response to Bone-Conduc-
5. CONCLUSÃO ted Tones in Infants and Adults. Ear and Hearing.
1992; 13(2):87-95.
Considerando-se toda a amostra do estudo, hou-
12. Schratzenstaller B, Janssen T, Alexiou C, Arnold W.
ve ótima correlação entre os limiares eletrofisiológicos
Confirmation of G. von Békésy’s Theory of Parado-
e psicoacústicos obtidos por via óssea nas frequências
xical Wave Propagation along the Cochlear Partition
altas, mais precisamente em 4 kHz.
by Means of Bone Conducted Auditory Brainstem
A comparação entre os limiares do PEATE VA Responses. ORL. 2000; 62:1-8.
com PEATE por VO favorece o diagnóstico do tipo 13. Beattie RC. Normative Wave V Latency-Intensity
de perda auditiva. Functions Using the EARTONE 3A Insert Earphone
Assim, o uso do PEATE por VO fornece dados and the Radioear B-71 Bone Vibrator. Scand Audiol.
para a maior contribuição no diagnóstico do tipo de 1998; 27:120-6.
perda auditiva. 14. Yang EY, Stuart A. A method of auditory brainstem
response to bone-conducted clicks in testing infants.
REFERÊNCIAS J Speech Lang Pathol Audiol. 1990; 14(4):69-76.
15. Fernandes LCBC. A comparação entre os limiares de
1. Hall III JW. New Handbook of Auditory Evoked Res- via óssea psicoacústico e eletrofisiológico [Disserta-
ponses. Boston: Pearson Education. 2006. p.188-192. ção de mestrado]. 72f. São Paulo (SP): Universidade
2. Gorga MP, Reiland JK, Beauchaine KA. Auditory Federal de São Paulo, 2010.
brainstem response in a case of high-frequency con- 16. Cornachia L, Martini A, Morra B. Air and bone
ductive hearing loss. J Speech Hear Disord. 1985; brainstem response in adults and infants. Audiology.
50:346-350. 1983; 22:430-437.
90
Parte II – Cap. 7 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO POR VIA ÓSSEA |
17. Stuart A, Yang EA, Stenstrom R, Reindorp AG. Au- differences in the unmasked auditory brainstem
ditory Brainstem Response Thresholds to Air and response. J Acoust Soc Am. 1993; 94(2):2135-2148.
Bone Conducted Cliques in Neonate in Adults. Am 26. Boezeman EHJF, Kapsteyn TS, Visser SL, Snel AM.
J Otol. 1993; 14(2):176-182. Comparison of the latencies between bone and air
18. Schratzenstaller B, Janssen T, Alexiou C, Arnold W. conduction in the auditory brainsteim evoked po-
Confirmation of G. von Békésy’s theory of parado- tential. Eletroencephal Clin Neurophysiol. Elsevier
xal wave propagation along the cochlear partition Scientific Publishers Ireland, Ltda. 1983; 56:244-247.
by means of bone-conducted auditory brainstem 27. Mauldin L, Jerger J. Auditory Brain Stem Evoked Res-
91
8
AVALIAÇÃO DOS POTENCIAIS EVOCADOS
AUDITIVOS CORTICAIS
Miguel Angelo Hyppolito
93
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
A via ipsilateral é considerada a via não primá- fibras ascendentes; no entanto, a relação de proporção
ria, composta pelos 1/3 restantes das fibras auditivas. de fibras entre os dois sistemas é 100 aferentes para
Nesta via, a informação percorre todo o trajeto a uma 2 eferentes.
menor velocidade. A partir do processamento nos O potencial de média latência ou respostas de
núcleos cocleares esta via será responsável por integrar média latência é representado por uma série de on-
o sistema auditivo com outras mensagens sensoriais das que aparecem entre 10 e 80 milissegundos (ms)
importantes e que complementam a informação acús- após a apresentação do estímulo. Estes potenciais
tica, dando sentido ao ambiente em que o indivíduo foram reportados pela primeira vez em humanos por
está, como as informações vestibulares, somestésicas Geisler, Frishkopf e Rosenblith (1958). Seu pico mais
e visuais. As informações auditivas desta via chegam proeminente (onda Pa) ocorre aproximadamente em
a formação reticular talâmica e a partir daí, pelas 30 ms e sua maior amplitude ocorre com estímulos
suas conexões aos centros de alerta, motivacional, de 250 a 500 Hz, do tipo tone burst, sendo reduzida
hormonal e neurovegetativo será selecionado o tipo com estímulos de alta frequência.
de mensagem sensorial a ser processada no córtex
auditivo secundário. Este processo integrativo de
informações é denominado atenção seletiva.
2. SÍTIOS GERADORES DOS
Apesar de todo o conhecimento acumulado so-
POTENCIAIS EVOCADOS
bre a anatomofisiologia destas vias, existem detalhes AUDITIVOS DE MÉDIA
ainda não totalmente conhecidos que se refletem nas LATÊNCIA
limitações dos exames eletrofisiológicos auditivos
centrais e na compreensão da plasticidade central da O local exato na via auditiva de onde se origina
cada uma das ondas dos Potenciais Evocados Auditi-
via auditiva.
vos de Média Latência (PEAML) não está completa-
A mensagem auditiva chegará, então, ao córtex mente definida e não se sabe com exatidão quais são
auditivo, localizado na face externa do lobo temporal, as estruturas geradoras destes potenciais.
que é dividida em área posterior e área central. A área
Cada uma das ondas − P0, Na, Pa, Nb, Pb, Nc e
central divide-se em área auditiva primária e área au-
Pc − não possui um único centro de geração, e o com-
ditiva secundária, e recebe informações provenientes
plexo como um todo tem origem cortical e subcortical
das duas orelhas com representação tonotópica com
a partir do estímulo sonoro que as evoca.
a cóclea.
A partir da orelha, através da via lemniscal, a in-
A área primária de recepção auditiva é a região
formação sonora passa pelo núcleo central do colículo
médio-posterior do giro temporal superior em cada
inferior e pela divisão ventral do corpo geniculado
hemisfério cerebral, representada pelo giro de Heschl, medial, no tálamo, em direção ao córtex cerebral.
e as outras áreas cerebrais recebem informação não As vias centrais têm papéis definidos e distintos, o
auditiva no lobo temporal superior com conexões colículo inferior tem a função de localização sonora
para a ínsula. e detecção de diferenças de tempo interaural. Já o
Os estímulos acústicos também chegam ao lobo tálamo auditivo e o córtex auditivo ainda são pouco
frontal posteroinferior e ao lobo parietal inferior. Ao conhecidos, por apresentarem funções complexas e
longo de todo o trajeto da via auditiva central exis- mecanismos de funcionamento peculiares. Consi-
tem pontos nos quais as fibras nervosas ascendentes derando-se a teoria de especialização funcional do
(sistema aferente) cruzam e atingem o restante da cérebro de mamíferos, o córtex auditivo é subdividido
via contralateralmente, estas conexões ocorrem no em sub-regiões distintas para o processamento do
complexo olivar posterior, na metade posterior do som, definidos no mapa cortical auditivo.
corpo caloso e entre as áreas auditivas dos hemisfé- A origem anatômica exata dos PEAML ainda
rios cerebrais. Esta anatomia favorece a redundância não está completamente esclarecida. Os estudos com
intrínseca do sistema auditivo central. medidas do fluxo sanguíneo cerebral e medidas do
As vias auditivas descendentes constituem o potencial evocado revelaram que o giro transverso do
sistema eferente que seguem paralelamente ao sistema lobo temporal não é o local primário responsável pela
aferente, a partir do córtex até a cóclea e as estruturas geração de potencial de media latência como se acre-
da orelha média. As vias descendentes possuem vias ditava. Os estudos da década de 1980 com pacientes
ipsilaterais e contralaterais, sempre em paralelismo às adultos que apresentavam lesões do lobo temporal e
94
Parte II – Cap. 8 • AVALIAÇÃO DOS POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS CORTICAIS |
fibras talamocorticais sugerem sua origem no córtex temporal (Musiek e Rintelmann, 2001). Esta cons-
auditivo primário e em radiações talâmicas. Por sua tatação é sugerida por estudos em pacientes com
resposta característica a estímulos de baixa frequência, lesões do lobo temporal, que apresentam assimetria
o potencial de média latência é produto da atividade da amplitude de Pa ou ausência de resposta do lado
pós-sináptica e se considera que a onda Pa captada é comprometido, enquanto as lesões bilaterais do lobo
gerada por ambos os hemisférios cerebrais. temporal originam alterações bilaterais da onda Pa
A via talâmica, no corpo geniculado medial, com redução na sua amplitude. Outra observação
apresenta projeções ventrais com fibras que se origi- é de que a componente Pa tenha duas origens, uma
nam da cápsula interna, sublenticular, projetando-se precoce, na via auditiva secundária, relacionada à
para áreas auditivas primárias superiores do lobo formação reticular e dependente do estado de cons-
temporal, e suas projeções mais rostrais respondem ciência do indivíduo e a outra, de origem no córtex
a estímulos de tom puro. primário e que se desenvolve progressivamente com
a idade cronológica do indivíduo e que se completa
As projeções dorsais do corpo geniculado medial
aos 12 anos de idade.
são mais difusas para dorsomedial e caudal, e respon-
dem a estímulos de banda larga. O componente Pb do PEAML tem caracterís-
ticas que podem inferir sua origem na via auditiva
Existe um circuito recíproco de troca de infor-
secundária, relacionada à formação reticular ou outras
mações entre o tálamo e córtex temporal superior
áreas de associação.
através da área (giro) de Heschl, sua superfície tem
a tonotopia coclear e responde a estímulos de tom O local exato dos geradores das outras ondas
puro e que é envolvida por conexões que recebem que fazem parte dos PAEML − P0, Nb, Nc e Pc – são
informações dorsais e mediais do corpo geniculado. pouco compreendidos e sua importância clínica, pou-
Existem, ainda, conexões com a ínsula, com resposta co explorada. O sítio gerador da onda P0 pode estar
multimodal e conexões com regiões mesiais do lobo relacionado às características do sinal acústico (tipo,
temporal. Estas vias estão relacionadas a habilidades velocidade, duração, intensidade etc.) e interferem
auditivas primárias como discriminação de figura diretamente na morfologia, latência e amplitude nas
95
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
4. Musiek F, Baran J, Morse D. Central deafness associated 9. Katz J. Tratado de Audiologia Clínica. 4ª ed. São Paulo:
with a midbrain lesion. J Am Acad Audiology. 2004; Manole, 1999, cap. 35.
15:133-151. 10. Purdy S, Kelly A, Davies M. Auditory brainstem
5. Musiek F, Bellis T, Chermak G. Nonmodularity of the response, middle latency response, and late cortical
CANS: implications for (central) auditory processing evoked potentials in children with learning disabilities.
disorder. Am J Audiology. 2005; 14(2):128-138. J American Acad Audiology. 2002; 13:367-82.
6. Neves I et al. Estudo das latências e amplitudes dos
11. Salvi R, Lockwood AH, Coad ML, Wack DS, Frisina
potenciais evocados auditivos de média latência em
DR. PET imaging of the Normal Human Auditory Sys-
indivíduos audiologicamente normais. Bras J Otorhi-
tem: responses to speech in quiet and in background
nolaryngology. 2007; 73:75-80.
noise. Hearing Research. 2002; 170:96-106.
7. Frizzo A, Funyama CAR, Isaac ML, Colafemina JF.
Potenciais Evocados Auditivos de Média Latência: 12. Schochat E, Rabelo, CM, Loreti RCA. Sensitividade e
estudo em crianças saudáveis. Bras J Otorhinolaryn- especificidade do potencial de média latência. Bras J
gology. 2007; 73:398-403. Otorhinolaryngology. 2004; 70:353-358.
8. Fuentes D. Neuropsicologia: teoria e prática. Porto 13. Stach B. Clinical Audiology: an introduction. San
Alegre: Artmed; 2008. Diego: Singular. 1998.
96
9
FREQUENCY FOLLOWING RESPONSE
Milaine Dominici Sanfins
Maria Francisca Colella-Santos
97
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
evocados auditivos de curta latência. A própria comu- O BioMARK fornece uma sílaba /da/ sintetizada,
nidade científica salienta que o nome FFR não seria sendo possível através deste sistema mensurar as res
perfeito para descrever este tipo de procedimento, no postas eletrofisiológicas de nossos pacientes1.
entanto, dentre as opções existentes, este seria o mais A modernização tecnológica possibilitou a cria-
adequado e capaz de incluir todas as terminologias ção computadorizada de estímulos sonoros diferentes,
pré-existentes e desenvolvidas no decorrer dos anos. incluindo o desenvolvimento de sons de fala. Apesar
disso, as características de cada segmento de fala
devem ser preservadas e os ouvintes, identificar este
3. PERCEPÇÃO DOS SONS DE som como sendo produzido por um ser humano. Para
FALA E FALA SINTETIZADA tanto, os pesquisadores começaram a desenvolver
sistemas de fala sintetizada, objetivando controle e
A investigação da percepção dos sons de fala regularidade nos parâmetros acústicos e, por con-
tornou-se um assunto bastante discutido no decorrer seguinte, boa qualidade dos estímulos produzidos19.
dos tempos, visto que a comunicação humana é for-
Atualmente, a fala sintetizada tem ampla apli-
temente constituída de sons verbais. A percepção dos
cabilidade como o uso na telefonia, jogos eletrônicos
sons de fala é classificada como a capacidade que um
bem como na avaliação de transtornos vocais. E na
indivíduo possui de perceber a estrutura linguística
eletrofisiologia não poderia ser diferente, existindo
de um sinal sonoro verbal.
aumento no interesse deste tipo de ferramenta e preo-
Um estudo interessante sobre a percepção dos cupação na elaboração apropriada destes dispositivos
sons de fala e sua correlação com o sistema nervoso e/ou sistemas de fala que pudessem ser empregados
auditivo central foi realizado em modelos animais, na avaliação dos potenciais evocados auditivos, tanto
mais especificamente, em gatos. Pesquisadores con- acadêmica quanto clinicamente.
cluíram que a codificação dos sons de fala ocorre no
nervo auditivo e em regiões mais elevadas do sistema
nervoso auditivo central. Recomenda-se um pouco 3.1. Estímulo de Fala
de cautela com estes achados, visto que não foram
desenvolvidos em humanos, porém, acredita-se que a 3.1.1. Sílaba /da/
percepção dos sons de fala é semelhante em todos os
Antes do desenvolvimento do estímulo sonoro
tipos de mamíferos12. Outros estudiosos, no entanto,
/da/, muitos outros estudos foram realizados com o
descreveram que a percepção dos sons verbais teria
objetivo de formular um estímulo de qualidade que
sua origem na região do tronco encefálico, estrutura
propiciasse boas respostas na avaliação do FFR.
que sabidamente possui um papel importante no
processo de aquisição fonológica e de leitura13-15. In- Cabe salientar que as avaliações eletrofisiológicas
dependentemente da teoria de cada autor, a realidade podem ser realizadas com diferentes tipos de estímu-
é que a capacidade de decodificar os elementos verbais los complexos como os sons de instrumentos musicais,
de forma significativa é uma tarefa complexa que músicas, choro de bebê, entre outras possibilidades.
envolve múltiplos estágios de processamento neural O estímulo geralmente empregado na avaliação do
até alcançar o córtex auditivo16. potencial evocado auditivo de curta latência é cons-
tituído de uma consoante e uma vogal, ou seja, uma
Os problemas decorrentes do processo de per-
sílaba. Diante da possibilidade da escolha de diversas
cepção de fala podem ser explicados pelo fato de que
sílabas, pesquisadores optaram pelo uso da sílaba /
a fala é um sinal complexo que varia continuamente
da/ com a duração de 40 milissegundos. Esta escolha
em muitas dimensões acústicas ao longo do tem-
decorreu baseando-se nos fatores descritos a seguir.
po. Desse modo, o processamento dos sons de fala
depende de três elementos: a localização sonora; a Considerada uma sílaba universal estando pre-
percepção de tempo; o pitch – sensação de frequên- sente na maioria dos inventários fonéticos1.
cia (compreendido pela frequência fundamental e o Apresenta uma característica muito importante,
segundo formante)17,18. ou seja, possui duas porções diferenciadas (por-
Pesquisadores da Universidade de North wes- ção transiente e porção sustentada)1.
tern, EUA, produziram um sistema computadorizado A porção transiente é semelhante às respostas
por meio de um software denominado de BioMARK e/ obtidas no PEATE com estímulo o clique e está
ou BioMAP (Biological Marker of Auditory Processing). relacionada à codificação da consoante /d/1,20.
98
Parte II – Cap. 9 • FREQUENCY FOLLOWING RESPONSE |
A porção sustentada é semelhante a Frequency V) exibe um pico com polaridade positiva; os outros
Following Response (FFR) e está relacionada à seis picos apresentam polaridade negativa (ondas A,
codificação da vogal /a/1,20. C, D, E, F e O).
Mantêm características originais do estí O componente onset (composto pela onda V,
mulo sonoro quando obtidas as respostas
onda A e complexo VA) é eliciado por volta de 10 ms,
eletrofisiológicas1.
sendo considerada a porção transiente do estímulo
Propicia respostas claras, robustas e replicáveis21,22.
que reflete a decodificação das mudanças temporais
Fornece dados sobre como a sílaba é codificada
rápidas inerentes às consoantes. A onda C simboliza
no sistema auditivo.
a transição entre a consoante e a vogal e é eliciada ao
Boa correlação de respostas intra e intersujeitos.
redor de 18 ms. A porção sustentada (FFR), por sua
Respostas estáveis no teste e reteste21-23. vez, ocorre em torno de 18 a 40 ms (composta pelas
ondas D, E e F) e indica a codificação da estrutura
Todavia, é extremamente importante ressaltar sonora periódica e harmoniosa da vogal28. As ondas
que a sílaba /da/ de 40 ms não é o único tipo de D, E e F representam o estímulo da frequência funda-
estímulo sonoro utilizado na avaliação do FFR. Há mental (F0), ao passo que os picos entre as ondas D e
pesquisas que fizeram uso da sílaba /da/ de 170 ms, E representam o bloqueio de fase nas frequências do
assim com, há pesquisadores que utilizaram outros primeiro formante (F1), e os picos entre as ondas E
estímulos sonoros na avaliação da codificação dos e F representam as frequências do segundo formante
sons verbais24-26. (F2)29. A onda O corresponde à porção offset e repre-
senta o final do estímulo acústico28. Além, das ondas
3.1.2. Respostas eletrofisiológicas descritas, recomenda-se a análise do complexo VA
decorrentes da estimulação (área e slope) [slope = inclinação] (Figura 2).
com a sílaba /da/ As ondas V, A, C e O representam os componen-
tes transitórios que demandam um processamento rá-
99
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Amplitude (µV)
Latência (ms)
Posição transiente onset (início) Porção sustentada (FFR) Porção sustentada (offset (final)
Figura 2 − Representação da resposta eletrofisiológica para a sílaba /da/ sintetizada de 40 ms. Dados
da autora.
100
Parte II – Cap. 9 • FREQUENCY FOLLOWING RESPONSE |
para a análise das respostas coletadas do FFR devem nas análises e para ajudar na identificação correta
ser utilizados os seguintes recursos: da resposta eletrofisiológica do indivíduo, sugere-se
a realização de duas coletas com o número de 3000
Sistema Auditory Evoked Potentials (AEP) do estímulos promediados e livre de artefatos, poste-
seu equipamento de eletrofisiologia; riormente, as respostas são somadas originando uma
Programa AEP para ASCII; terceira onda composta de 6000 estímulos (Figura 3).
Ambiente de programação MATLAB (Math-
Todavia, cabe ressaltar a importância de verificar e
works, Inc.) através de um programa toolbox comparar a existência de todas as ondas (nas ondas
(Brainstem Toolbox) desenvolvido para análise 1, 2 e 3). Caso o pico de alguma onda não estiver pre-
dos dados do FFR. sente nas ondas 1 ou 2, apenas na onda 3, sugere-se a
exclusão da análise deste pico de onda.
5.1. Domínio de Tempo (time Cabe salientar que existem diversas técnicas
disponíveis para melhorar a identificação dos picos
domain) de ondas de difícil identificação e/ou com amplitude
Sete picos são identificados visualmente e mar- reduzida, um modo mais acessível é por meio da
cados manualmente pelo avaliador, sendo positivo modificação do filtro passa-alto20.
apenas um dos picos. Posteriormente, realiza-se a análise dos valores
de latência e amplitude para cada onda identificada.
Onda V (positivo) Adicionalmente, são realizadas as medidas do com-
Onda A (negativa) plexo VA, sendo:
Onda C (negativa) slope (inclinação) do complexo VA (µV/ms) que
Onda D (negativa) está relacionado à sincronização temporal dos
Onda E (negativa) geradores da resposta28;
Onda F (negativa) área do complexo VA (µV x ms) que está rela-
1ª onda
2ª onda
3ª onda
(1ª onda + 2ª onda)
Figura 3 − Representação das coletas do FFR. Primeira e segunda ondas (3000 estímulos) e a terceira onda (somatória da primeira
e da segunda onda = 6000 estímulos). Dados da autora.
101
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
múltiplos avaliadores, que devem ser “cegos” quanto O primeiro modelo foi descrito por Russo e cola-
ao caso do paciente (normal ou patológico). Caso boradores28, que descreveram as medidas de respostas
exista discordância entre os avaliadores, a análise do FFR por meio do tempo e da magnitude (amplitu-
definitiva deve ser determinada pelo avaliador com de) de respostas nas porções transiente e sustentada.
mais experiência na avaliação do FFR1. A seguir, uma explicação sobre alguns compo-
nentes presentes nas análises.
5.2. Domínio de Frequência Root mean square (RMS): reflete a magnitude
(Frequency Domain) média de ativação dos neurônios, na porção
sustentada do FFR que ocorre entre 11,5 a 46,5
Analisa as amplitudes espectrais das respostas milissegundos.
média das ondas D, E F. Para obter estas medidas,
Correlação estímulo/resposta: reflete com
utiliza-se a transformação rápida de Fourier (Fast precisão como a forma da onda da resposta
Fourier Transforms) de 22 a 42 ms da resposta. A ener- eletrofisiológica imita e/ou equivale à forma da
gia espectral é calculada em três faixas de frequência. onda do estímulo; além disso, fornece a medida
de phase locking que exclui atividade não perió-
Frequência fundamental (F0): 103-125 Hz. dica inerente à medida de amplitude do RMS.
Harmônicos médios correspondentes ao pri- Correlação inter-resposta: reflete a fidelidade
meiro formante (F1): 220-720 Hz. da morfologia de resposta recordada no ruído
Harmônicos altos (HH): 720-1120 Hz (a fre- com a recordada no silêncio, servindo como
quência máxima em que as respostas foram um modo de quantificar os efeitos do ruído de
observadas acima do nível de ruído). fundo no tempo de resposta sustentada.
O segundo modelo de análise descrito por Skoe
e Kraus1, em um tutorial sobre o FFR. Neste segundo
Este tipo de medida serve para medir com pre-
formato, existem outras formas de avaliação das res-
cisão a magnitude (amplitude) de bloqueio de fase
postas do FFR, tais como as citadas a seguir.
neural (neural phase locking) nas frequências especí-
ficas e nos intervalos de frequência1. Deste modo, esse
tipo de análise fornece um método de análise objetivo Características transientes (amplitude e la-
para se investigar a precisão temporal33. tência dos picos): averiguar os traçados das
respostas das ondas da porção transiente.
Características sustentadas [(i) amplitude de
5.3. Modelos de Formas de Análise RMS e (ii) análise de Fourier], sendo:
Existem alguns modelos de formas de análise »» usada para calcular a relação sinal/ruído;
para averiguar o processamento dos sons de fala. Neste »» usada para calcular a precisão e a magnitude
capítulo serão apresentados dois modelos de análise do neural phase locking para as frequências
que servem como base para a análise das pesquisas específicas e faixas de frequências, amplitu-
realizadas no nosso centro de pesquisa (Quadro 1). de e fases são recordadas.
102
Parte II – Cap. 9 • FREQUENCY FOLLOWING RESPONSE |
Correlação cruzada: compara o tempo e a 6. SÍTIOS GERADORES
morfologia entre dois sinais, como, por exemplo
»» comparar o estímulo com a resposta; O estímulo de fala nos potenciais evocados au-
»» comparar a resposta com a resposta. ditivos pode ser utilizado no diagnóstico diferencial
Para isto, o sinal 1 é deslocado no tempo
de variadas doenças, na identificação de prejuízos
em relação ao sinal 2 para encontrar alguma na percepção de fala em ambientes silenciosos ou
alteração que indica forte correlação – por ruidosos, possibilitando identificar indivíduos que se
exemplo: correlação cruzada entre o estímu- beneficiariam de um programa de treinamento audi-
lo – resposta e/ou correlação cruzada entre tivo, entre outros. Porém, diferentemente do PEATE
a estimulação no silêncio e no ruído. Será com estímulo o clique, não é capaz de identificar com
considerada uma boa correlação (sinais seme- precisão o local real, ou seja, a estrutura ou o sítio
lhantes) quando o coeficiente de correlação gerador da alteração1.
for igual a 1, enquanto que, se o coeficiente A porção inicial do FFR é caracterizada pela
de correlação for igual a 0 significa que os ativação de regiões mais altas do tronco encefálico,
sinais são diferentes, existindo, portanto, como lemnisco lateral e/ou colículo inferior, e também
pouca correlação dos sinais. estaria relacionada à atividade precoce de geradores
corticais27,29. Embora seja difícil definir com exatidão
Autocorrelação: compara um sinal através de os sítios geradores do FFR em humanos, há várias
uma correlação cruzada com ele mesmo, sendo evidências que reportam a participação do tronco
usado para encontrar:
encefálico, núcleos cocleares, lemnisco lateral e colí-
»» padrões repetitivos no sinal, como por culos inferiores34. Kraus e colaboradores salientam
exemplo, atividade phase-locked para F0 e a participação ativa do mesencéfalo auditivo, um
envelope amplitude; local de convergência das entradas ascendentes e
»» a robustez do phase locking. descendentes em múltiplos sistemas neurais35. Espe-
cificamente quanto à porção sustentada do FFR, não
103
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Os parâmetros de coleta devem ser adaptados Parâmetros Configurações
pensando-se no objetivo de cada pesquisa ou aten-
dimento clínico. Ao redor do mundo, há diversos Transdutor Insert (ER-3A, Natus
Medical)
centros de pesquisas interessados em compreender
como ocorre o processamento de codificação dos Janela 85,33 ms
sons verbais e, principalmente, engajados em inserir Filtros 100-2000
o FFR como um procedimento de rotina na bateria
de exames audiológicos clínicos4. Condição de avaliação Assistindo um filme com
legenda ou som extrema-
A boa assertividade clínica propiciada pelo uso mente reduzido.
da sílaba /da/ possibilitou que esta ferramenta fosse
CZ − Vértex; M1 − mastoide esquerda; M2 − mastoide direita;
aplicada em culturas e países diferentes1 com estu- ms – milissegundos; dB – decibel; NPS – nível de pressão sonora;
dos em árabe, português brasileiro, francês, grego, s − segundos.
hebraico, indiano, japonês e persa36. A seguir, serão
apresentados os parâmetros de coleta aplicados em Há boa correlação entre as respostas das orelhas
nosso centro de pesquisa com base no software Bio- direita e esquerda, porém, o SNAC parece pré-dispos-
MARK (Quadro 2). to a responder com mais rapidez quando a estimu-
Dentre os parâmetros utilizados no FFR, exis- lação ocorre na orelha direita. Todavia, um estudo
tem alguns componentes que geram mais discussões, extremamente interessante concluiu que os elementos
especificamente: temporais e harmônicos do sinal de fala são, prefe-
rencialmente, codificados pela orelha direita; assim
1. Orelha estimulada
sendo, consequentemente pelo hemisfério esquerdo.
Na estimulação de sons verbais existe uma assi- No entanto, o mesmo não acontece com a percepção
metria de respostas entre as orelhas direita e esquer- da frequência fundamental38.
da37,38. Por este motivo, a maioria dos estudos realizou No entanto, há evidências de que, mesmo exis-
a avaliação do FFR com a estimulação exclusiva da tindo, a preferência da orelha direita no processamen-
orelha direita, o que pode ser explicado pela vantagem to dos sons verbais é evidente que a orelha esquerda
da orelha direita na codificação da fala por projeção participa deste processo, embora com respostas ele-
contralateral para o hemisfério esquerdo22,39-45. trofisiológicas menos evidentes. Deste modo, como
há estudos que identificaram algumas alterações nas
Quadro 2 − Parâmetros de aquisição do FFR. respostas entre as orelhas e, ademais, no funcionamen-
Parâmetros Configurações
to de cada orelha para o processo de codificação de
fala, seria de grande valia que novos estudos fossem
Equipamento Biologic Navigator Pro realizados para melhor compreender as respostas.
Software BioMAP Em casos de indivíduos com perdas auditivas
Montagem dos eletrodos Cz, M1 e M2
assimétricas, com melhor desempenho da orelha
esquerda, comprovadamente, confirmada pelos re-
Orelha estimulada Direita e Esquerda sultados da audiometria, pode-se optar, por exemplo,
Tipo de estimulação Monoaural pela realização da avaliação do FFR na orelha com
melhor limiar.
Tipo de estímulo Especial/Som de fala
O FFR é um procedimento novo, e a maior parte
Estímulo Sílaba /da/ dos estudos foi realizada em indivíduos audiologica-
− BioMAP_da.wav
mente normais36. Ainda há algumas incertezas sobre
Duração do estímulo 40 ms a avaliação exclusiva da orelha direita em indivíduos
Polaridade do estímulo Alternada
portadores de patologias. Portanto, não se descar-
ta que uma análise detalhada de ambas as orelhas
Intensidade do estímulo 80 dB NPS pode trazer informações relevantes em um processo
Taxa do estímulo 10,9/s diagnóstico46.
Número de estímulos 6.000
2. Tipo de estimulação
A literatura aborda com grande veemência que
Replicabilidade 2 coletas de 3.000
um som quando é ouvido com as duas orelhas parece
104
Parte II – Cap. 9 • FREQUENCY FOLLOWING RESPONSE |
ser mais facilmente audível do que se ouvido isola- publicações científicas sobre o FFR36, porém, a maio-
damente por uma das orelhas. Este fato deve-se ao ria das pesquisas foi realizada com a coleta de 3000
processamento binaural que proporciona uma sen- estímulos duplicados isentos de artefatos10,42,43,45,48,50-54.
sação de aumento de intensidade ao redor de 6 dB47.
Quanto aos estímulos verbais, ainda são desco-
nhecidas pesquisas que analisam estes dados de forma 7. MATURAÇÃO
sistemática e com medidas paramétricas. No entanto,
De acordo com Clinard et al., a idade afeta tan-
existem evidências de que o tipo de apresentação do
estímulo influencia na qualidade das respostas do to a codificação dos sons simples quanto a dos sons
FFR48. Atualmente, existem algumas premissas para o complexos, ocasionando melhora no decorrer dos
uso dos estímulos de fala, sendo elas citadas em seguida. anos, no tempo da resposta neural, bem como nas
habilidades auditivas55. A resposta do FFR de uma
criança de 5 anos de idade não é tão diferente das
ESTIMULAÇÃO BINAURAL (possibilita a
respostas de crianças com idade entre 8 a 12 anos,
melhor visualização das respostas sem ocasionar
mudanças no tempo de respostas) – ver figura mas é diferente, em termos dos valores de tempo de
549 recomendada para ser realizada em: latência, aspectos morfológicos da resposta de uma
»» Indivíduos adultos. criança entre 3 a 4 anos de idade56.
ESTIMULAÇÃO MONOAURAL (menor tem- Mesmo com a existência de teorias e estudos de
po de avaliação com boa qualidade de respostas) que seria possível realizar o FFR nas populações de
− vide figura 5, recomendada para ser realizada neonatos, bebês e crianças, há poucos dados norma-
em: tivos para cada faixa etária. Sendo, assim, são neces-
»» indivíduos com limiares auditivos sários estudos mais aprofundados para este tipo de
assimétricos; população específica.
»» população infantil; O software do BioMARK mostra uma mudança
»» populações difíceis de testar.
0.30 [nV/div]
V
|
C
ESTIMULAÇÃO BINAURAL |
E F
| O
A D | |
V | |
|
C
ESTIMULAÇÃO MONOAURAL À ESQUERDA |
O
A E
D |
| | F
|
V |
|
C
ESTIMULAÇÃO MONOAURAL À DIREITA |
E O
D | F
A | |
|
|
[ms]
-16.0 -11.0 -6.0 -1.0 4.0 9.0 14.0 19.0 24.0 29.0 34.0 39.0 44.0 49.0 54.0 59.0 64.0 69.0
105
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Figura 6 – Resposta do FFR em diferentes faixas etárias – software BioMARK. Dados da autora.
Entre 5 e 12 anos de idade, observa-se a asso- periférica ou mesmo no sistema nervoso auditivo
ciação dos seguintes componentes: central, evidenciando que com o decorrer dos anos
»» menor amplitude nas respostas das ondas ocorre redução na sincronia neural nas vias auditivas.
V e A [inclinação (slope) VA] quando com-
parado com as respostas das crianças com
3 e 4 anos de idade; 8. PADRÕES DE NORMALIDADE
»» maior amplitude na resposta da onda F.
Entre 18 a 28 anos de idade, observa-se a asso- Atualmente, o FFR é uma metodologia com
ciação dos seguintes elementos: maior ênfase nas pesquisas acadêmicas. Pesquisadores
»» menor amplitude nas respostas das ondas de diferentes nacionalidades estão empenhados na
C e D; elaboração de padrões dos valores de normalidade
»» maior amplitude na resposta da onda E; para diferentes faixas etárias.
»» menor amplitude na resposta da onda F Diante da sílaba /da/ ser universal, os estudos
quando comparado com as respostas das internacionais paramétricos podem ser utilizados para
crianças com 3 e 4 anos e 5 a 12 anos de idade; a análise dos resultados nos indivíduos de qualquer
»» ondas mais nítidas e definidas. nacionalidade, inclusive, nos indivíduos falantes do
português brasileiro. Entretanto, é de extrema im-
Complementarmente, nos estudos de Clinard et
al. foi realizada uma análise das respostas do FFR em
55 portância, que o avaliador averigue se o seu estímulo
adultos de diferentes faixas etária, sendo: e equipamento contenham os mesmos parâmetros
acústicos descritos nas pesquisas.
adultos jovens (22 anos de idade);
adultos de média idade (43 anos de idade); Estudos anteriores mostraram que há diferença
adultos mais velhos (64 anos de idade). na resposta individual de diferentes culturas, visto
que, cada linguagem tem suas próprias características
Os estudos demonstraram que o processo de
e peculiaridades que podem contribuir ou não para
envelhecimento afeta ambos os componentes do
FFR (porções transitória e sustentada). Entretanto, um processamento adequado de sons de fala52. Em
a porção sustentada parece ser mais afetada com o virtude disso, serão apresentados os resultados de
avanço da idade, o que pode ser constatado pelos nossa equipe de pesquisa que analisou as respostas do
prolongamentos nos valores de latência associado à FFR em crianças e adolescentes falantes do português
redução nos valores de amplitude. Estas alterações brasileiro, com audição normal e desenvolvimento tí-
na sincronia neural podem ser observadas já nos pico, com idade entre 8 e 16 anos de idade52. As coletas
indivíduos de meia-idade e podem ser decorrentes foram realizadas seguindo o parâmetro de aquisição
das alterações estruturais e funcionais na audição do FFR (Quadro 2) descrito, anteriormente, no item 7.
106
Parte II – Cap. 9 • FREQUENCY FOLLOWING RESPONSE |
ESTUDO REALIZADO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM AUDIÇÃO NORMAL
Quadro 3 – Estudo nacional realizado em crianças e adolescentes (8-16 anos de idade; 10,95 ± 2,0) com audição normal
utilizando a sílaba /da/ com a duração de 40 ms com a estimulação monoaural nas orelhas direita e esquerda52.
OD OE OD OE OD OE
Sanfins et al. (2016) estudaram 40 crianças e adolescentes (feminino: 25/masculino: 15). Legenda: OD − Orelha Direita, OE – Orelha
Esquerda.
107
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
diárias, podendo resultar em transtornos na vida normalmente apresentam respostas dentro dos limites
acadêmica e social59. de normalidade, enquanto o FFR conseguiu eviden-
Através da avaliação do FFR foi possível verificar ciar alteração nos valores de latência mesmo em casos
que a concussão interfere no processamento neural de dislexias de grau leve. É interessante observar que
de fala. Os pacientes com este tipo de manifestação os jovens estudados apresentaram alteração em toda a
clínica apresenta uma alteração específica da avaliação extensão do FFR (porção onset e FFR). Os autores sa-
do FFR, ou seja, uma modificação nas respostas da lientam que a avaliação do FFR pode servir como um
frequência fundamental (F0) com respostas menos veículo relevante na identificação precoce de crianças
robustas, mais lentificadas e menos precisas. Os re- com algum tipo de dificuldade de aprendizagem ou
sultados mostraram que o FFR serve como marcador dislexia, antes mesmo do ingresso escolar66.
biológico de uma concussão, identificando de forma
confiável um quadro de concussão. O interessante é 9.3.2. Dificuldades escolares
que o FFR pode ser utilizado no processo de moni-
O diagnóstico de dificuldades escolares é realiza-
toramento pós-concussão, pois o FFR pode acompa-
do, normalmente, por exclusão; portanto, é um processo
nhar o processo de recuperação dos componentes da
bastante demorado. As crianças são identificadas como
frequência fundamental (F0)35.
tendo total condições de terem bom desenvolvimento
Outra pesquisa recente mostrou a capacidade do escolar, sem alterações neurofisiológicas e/ou orgânicas.
FFR de identificar estes pequenos traumatismos em Assim, apresentam discrepância entre a habilidade e a
jovens atletas. Os atletas já tinham se recuperado da performance acadêmica. Em um estudo de casos com
concussão e as respostas do FFR foram comparadas crianças diagnosticadas com dificuldades escolares foi
com seus pares sem qualquer histórico de concussão. possível observar que o PEATE com estímulo o clique
Surpreendentemente, houve redução significativa nas não foi capaz de identificar alterações no sistema ner-
respostas da frequência fundamental (F0). Desse modo, voso auditivo central. As alterações foram identificadas
pode-se concluir que uma única concussão pode gerar através da avaliação comportamental do processamento
pequenas lesões duradouras que podem ser identifica- auditivo e pela avaliação do FFR, ressaltando, assim, a
das e acompanhadas por meio da avaliação do FFR60. importância na avaliação composta pelos procedimen-
tos comportamentais e eletrofisiológicos em conjunto.
9.3. Dificuldades de Aprendizagem Foram observados valores prolongados na latência das
As dificuldades de aprendizagem estão relacio- ondas V e A associados a uma alteração no complexo
nadas à compreensão e ao uso adequado do idioma, VA, mais especificamente, no slope VA (ver Figura 5).
seja por meio da escrita ou da produção verbal. A Assim, parece existir um funcionamento diferencial
aprendizagem da linguagem falada e escrita depende nas estruturas responsáveis pela geração destas ondas10.
da assimilação de elementos acústicos e da represen- Sugere-se a ampliação no número de sujeitos com
tação de características fonéticas de uma língua61. O dificuldades escolares para que estes achados possam
processamento auditivo, a consciência fonológica e a ser confirmados.
discriminação auditiva são fatores que interferem no
aprendizado da leitura e da escrita por estarem dire- 9.3.3. Distúrbio específico de linguagem
tamente relacionados à audição receptiva62. Pesquisa- (DEL)
dores relacionam a existência de déficits auditivos em
O DEL é caracterizado por um atraso significa-
crianças com dificuldade de aprendizagem63.
tivo da linguagem, sem a presença de retardo mental,
deficiência auditiva ou visual, causas neurológicas ou
9.3.1. Dislexia psiquiátricas. Há uma alteração comprovada do pro-
A dislexia, a título exemplificativo, ocasiona uma cessamento auditivo em crianças portadoras de DEL,
dificuldade inesperada de aprender a ler, conjunta- existindo dificuldade de discriminar os sons de fala,
mente, com uma discriminação de estímulos acústicos principalmente, mudanças sonoras rápidas e curtas,
prejudicada, dificuldade na detecção de rima, déficits o que poderia resultar um déficit do processamento
na percepção de fala associada a uma inteligência fonológico64,67. Avaliações do FFR em crianças com
nos limites de normalidade64,65. A avaliação do PEA- DEL identificaram aumento dos valores de amplitude
TE tradicional em indivíduos disléxicos e de outras e diminuição nos valores de amplitudes principal-
categorias dentro dos distúrbios de aprendizagem mente na onda V, onda A e complexo VA9,68. Outro
108
Parte II – Cap. 9 • FREQUENCY FOLLOWING RESPONSE |
Figura 7 − FFR com respostas alteradas. Dados de um estudo de caso de um paciente do gênero masculino (11 anos
de idade). Dados da autora10.
estudo associando a avaliação do FFR e DEL demons- onset e normalidade de respostas na porção sustentada,
trou a existência de uma onda tipo duplo pico para a assim como nos valores do complexo VA (área e slope).
onda A nas respostas neurofisiológicas deste grupo
de crianças69. 9.5. Gagueira
109
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
perda auditiva leve a moderada temporária. Conco- 9.8. Psicose
mitantemente, o acúmulo de fluido na orelha média
Os problemas cognitivos estão relacionados
interfere na percepção da fala, causando distorção
fortemente à psicose. A esquizofrenia é um tipo
na percepção de sinais acústicos e reduz a velocida- de psicose que está associada a prejuízos no fun-
de e precisão da decodificação verbal77. Quando a cionamento psicossocial83. Nestes quadros clínicos,
flutuação auditiva ocorre no início da vida, que é o sabe-se que há alterações nas redes neuronais que
período crítico para o desenvolvimento linguístico, podem afetar a percepção auditiva84. As avaliações
ocorre aquisição limitada de fala e linguagem. Como por meio do FFR mostraram que há uma alteração
resultado, podem surgir problemas de comunicação, importante nas respostas da percepção dos sons de
tais como desenvolvimento de linguagem, déficits de fala nos indivíduos com esquizofrenia, diferentemente
processamento auditivo, comprometimento cognitivo de todos os achados já encontrados com este tipo de
e desenvolvimento psicossocial, e comprometimento metodologias; os pacientes com este tipo de doença
na aquisição de habilidades de alfabetização78. apresentam ausência das ondas V e A, surgindo as
respostas apenas a partir da onda C.
A estimulação auditiva inadequada na infância
Estes achados são extremamente importantes
pode levar a alterações em longo prazo das estruturas
porque existe evidência de que os esquizofrênicos
auditivas no sistema nervoso auditivo central51,79,80.
apresentam alteração no sistema nervoso auditivo
As autoras do presente capítulo observaram em suas central. Entretanto, as pesquisas com o PEATE com
pesquisas que crianças e adolescentes com histórico estímulo do tipo clique foram contraditórias85,86. Por
documentado de pelo menos 3 episódios de otite mé- conseguinte, os sons de fala parecem ser mais sensíveis
dia secretora nos primeiros seis anos de idade e que na identificação das respostas do tronco encefálico e
foram submetidos à cirurgia para a colocação de tubos mesencéfalo, estruturas que, frequentemente, estão
de ventilação demonstraram modificações neurofi- prejudicadas nos pacientes com esquizofrenia. Além
siológicas da percepção da fala quando comparadas disso, as respostas são tão específicas que poderiam
com crianças e adolescentes com desenvolvimento servir como marcador biológico para a doença87.
típico81. O estudo demonstrou que os estímulos de
fala são mais eficientes na identificação das modifi- 9.9. Transtorno do Espectro do
cações neurofisiológicas nos quadros de histórico de Autismo (TEA)
otite média51.
O transtorno do espectro do autismo (TEA)
apresenta alterações nos elementos prosódicos como
9.7. Perda Auditiva duração, frequência e amplitude nos níveis de produ-
ção de palavras e frases. A prosódia no autismo tem
Pesquisadores reportaram que indivíduos com sido amplamente investigada nos níveis cognitivo e
perda auditiva apresentam alterações na avaliação comportamental88.
do FFR. A porção onset (ondas V e A) parece ser a Recentemente, os aspectos neurofisiológicos
porção que sofre mais prejuízo quando comparado da percepção de fala foram investigados no TEA.
com indivíduos com audição normal. Esta porção Os resultados mostraram que as crianças com TEA
inicial sugere falha na habilidade de processamento tendem a apresentar alterações no pitch (sensação de
temporal. Existem algumas controvérsias sobre as frequência), o que poderia ser explicado pelo rebai-
alterações encontradas nos valores de amplitude e xamento no processo receptivo. Dentro dos sinais de
latência. Nada et al.82 identificaram modificações nos fala, a frequência fundamental (F0) e seus harmôni-
valores de latência e ausência de alterações nos valo- cos contêm informações essenciais para transmitir o
afeto89, e as alterações nas respostas do FFR são con-
res de amplitude em indivíduos com perda auditiva
sistentes com o prejuízo de prosódia receptiva, e por
neurossensorial de grau leve a moderado.
inferência, possivelmente também déficits expressivos
Diante da ampla complexidade e possibilidades de prosódia, derivam da incapacidade de codificar e
de diferentes configurações de perda auditiva, novos transmitir a informação auditiva na região do tronco
estudos devem ser realizados para compreender como encefálico em alguns pacientes com TEA90.
a percepção de fala na região do tronco encefálico, Acredita-se que o FFR teria um papel de maior
subcortical e cortical pode ser afetar os diferentes sensibilidade na avaliação do TEA, visto que nos testes
tipos de apresentações de perda auditiva. comportamentais, os indivíduos podem utilizar-se de
110
Parte II – Cap. 9 • FREQUENCY FOLLOWING RESPONSE |
outras pistas e ferramentas para compensar o déficit 9.12. Treinamento Auditivo e
perceptivo. Todavia, diante da heterogeneidade da
Neuroplasticidade
doença seria de grande importância o desenvolvi-
mento de pesquisas nos diferentes graus de TEA com O treinamento auditivo é capaz de induzir alte-
o intuito de aprimorar o diagnóstico, o tratamento e
rações neurofisiológicas que podem ser observadas
a intervenção.
através da avaliação do FFR. De acordo com Killion et
al.52, um programa de treinamento auditivo promove
9.10. Transtorno do Déficit de ganhos na percepção da fala tanto em ambientes si-
Atenção e Hiperatividade lenciosos quanto em ambientes ruidosos, e melhora
habilidades de memória de curto prazo e processos
O transtorno de déficit de atenção e hiperativi-
atencionais.
dade (TDAH) é caracterizado por falta de atenção,
por hiperatividade e impulsividade, por prejuízo no Estudos realizados com crianças com prejuízos
desempenho escolar, nos relacionamentos familiares de aprendizagem mostraram que a avaliação do FFR
e sociais, além de uma necessidade de ajuste psicos- pode ser um excelente meio de monitoramento de
social91. Estudos neuropsicológicos sugeriram uma um programa de reabilitação auditiva. A porção
associação entre o TDAH e alterações neurais no onset (ondas V e A) parecem ser os componentes
córtex pré-frontal e suas projeções em várias estru- mais eficazes no monitoramento dos benefícios do
turas subcorticais92. treinamento auditivo28,96.
Estudiosos comprovaram que crianças com Uma pesquisa inovadora realizada em crianças
TDAH apresentam alterações nas respostas eletrofi- com cegueira congênita e avaliação do FFR com-
siológicos, seja por meio do clique ou fala. A avaliação provou que o FFR é um instrumento adequado para
do FFR, embora não necessite do foco e da atenção acompanhar as modificações do sistema nervoso au-
do paciente, é capaz de ativar estruturas subcorticais ditivo central. Estas crianças apresentaram melhores
e corticais que podem estar alteradas nos pacientes respostas no FFR quando comparadas às respostas dos
111
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Indivíduos com audição dentro dos limites normali- distinguir entre os dissílabos /baba/ e /bibi/, mesmo
dade precisam fazer adaptações no sistema nervoso dentro do útero101.
auditivo central para compreender e processar as Pesquisas também demonstraram que as vibra-
informações de modo satisfatório quando na pre- ções dos elementos de baixa frequência representada,
sença de ruído. Todavia, existem populações que, na por exemplo, pela energia acústica da F0 são possíveis
presença de um ruído competitivo, apresentam mais de estarem presentes antes mesmo do nascimento,
dificuldade no processamento dos sinais acústico98. enquanto as vibrações dos elementos de alta frequên-
A avaliação do FFR com presença de ruído mos- cia representada, por exemplo, pela energia acústica
trou-se mais efetiva em crianças com alterações de dos primeiros e altos formantes, estarão disponíveis
aprendizado99. Assim, a identificação deste indivíduo após o nascimento102. Deste modo, ressalta-se a im-
poderia promover melhoria no processo de alfabeti- portância de que neonato seja estimulado, mesmo
zação, habilidades de leitura e escrita, e no processo antes do nascimento, ainda na vida intrauterina. E
diário da comunicação. que a língua materna será um referencial importante
para o desenvolvimento de qualquer ser humano101.
10.2. Avaliação do FFR em Campo Concomitantemente, a exposição às altas fre-
quências, após o nascimento será vital para um de-
Livre
senvolvimento adequado das habilidades auditivas
Um estudo recente teve como objetivo registrar e do processamento dos sons de fala. Além disso,
as respostas do FFR em campo livre e comparar a res- há um pressuposto de que os pais que estimulam a
posta neural ao método de estimulação amplamente audição dos seus filhos no período intrauterino estão
aplicado e conhecido. Pesquisadores concluíram que colaborando para um desenvolvimento das habili-
o FFR em campo livre, primeiramente, é uma solução dades auditivas através da estimulação dos circuitos
viável e que as coletas são extremamente confiáveis neuronais em diferentes áreas do percurso auditivo,
tanto quanto realizado do modo tradicional. Entre- desde as regiões mais periféricas até as mais centrais.
tanto, ainda existem algumas questões importantes a Mesmo com a existência de teorias e estudos de
serem aprimoradas para que as gravações de campo que seria possível a realização do FFR nas popula-
livre contenham o formato temporal adequado100. ções de neonatos, bebês e crianças, há poucos dados
Através da melhoria e implantação deste tipo normativos para cada faixa etária. Sendo, assim, são
de curso, populações especiais que não podem fa- necessários estudos mais aprofundados para este tipo
zer a avaliação do modo tradicional poderiam ser de população específica.
beneficiadas com este tipo de metodologia. Conco-
mitantemente, com a melhorias nas tecnologias dos
aparelhos de amplificação sonora individual e dos 11. CONCLUSÃO
implantes cocleares, a boa percepção dos sons de fala
O Frequency Following Response é um método de
é algo bastante desafiador. Deste modo, o FFR com
avaliação objetivo e não invasivo que não necessita da
a possibilidade de investigação em campo fechado
participação ativa do paciente e é capaz de fornecer
e aberto poderia gerenciar e auxiliar no trabalho do
informações relevantes sobre a codificação dos sons
aprimoramento da percepção dos sons de fala.
de fala no sistema nervoso auditivo central. Esta meto-
dologia pode ser utilizada em diferentes faixas etárias
10.3. Avaliação do FFR em Neonatos e em distintos tipos de populações clínicas. Diante
e Bebê da promessa de auxiliar no diagnóstico diferencial
de diversas doenças, é considerado um marcador
Um bebê dentro da barriga de sua mãe ouve os
biológico do processamento temporal nas regiões do
sons produzidos tanto pela própria genitora quanto
tronco encefálico, subcortical e cortical.
aqueles produzidos por outros falantes próximos a ela,
embora, com perda de energia acústica e, portanto,
com atenuação do som. Um experimento interessante
REFERÊNCIAS
desenvolvido com fetos com cerca de 35 semanas de 1. Skoe E, Kraus N. Auditory brainstem response to com-
idade gestacional averiguou que estes eram capazes de plex sounds: a tutorial. Ear Hear. 2010; 31(3):320-24.
112
Parte II – Cap. 9 • FREQUENCY FOLLOWING RESPONSE |
2. Aiken S, Picton T. Envelope and spectral frequen- reading and speech-in-noise perception. Proc Natl
cy-following responses to vowel sounds. Hearing Acad Sci U S A. 2009; 106(31):13022-7.
Research. 2008;245(1):35-47. 16. Scott S, Wise R. The functional neuroanatomy of pre-
3. Kuwada S, Anderson J, Batra R, Fitzpatrick D, et al. lexical processing in speech perception. Cognition.
Sources of the scalp-recorded amplitude-modulation 2004; 92:13-45.
following response. Journal of the American Academy
17. Shinn-Cunningham B, Best V. Selective Attention in
of Audiology. 2002;13(4):188-204.
Normal and Impaired Hearing. Trends in Amplifica-
4. Sanfins M, Skarzynski P, Colella-Santos MF. Speech- tion. 2008; 12(4):283-99.
-Evoked Brainstem Response: InTech; 2017.
18. Sayles M, Winter I. Reverberation Challenges the
5. Bharadwaj H, Shinn-Cunningham B. Rapid acqui- Temporal Representation of the Pitch of Complex
sition of auditory subcortical steady state responses Sounds. Neuron. 2008; 58:789-801.
using multichannel recordings. Clinical Neurophy-
siology. 2014; 125 (9):1878-88. 19. Kent R, Read C. Análise acústica da fala. 2015. 504
p.
6. Easwar V, Purcell D, SJ A, Parsa V, Scollie S. Effect
of stimulus level and bandwitch on speech-evoked 20. Johnson K, Nicol T, Zecker S, Kraus N. Developmental
envelope following responses in adults with normal Plasticity in the Human Auditory Brainstem. J Neu-
hearing. Ear and Hearing. 2015; 36(6):619-34. rosci. 2008; 28(15):4000-7.
7. The Frequency-Following Response: A Window into 21. Song J, Nicol T, Kraus N. Reply to Test-retest re-
Human Communication. The Frequency-Following liability of the speech-evoked ABR is supported by
Response: A Window into Human Communication. tests of covariance. Clinical Neurophysiology. 2011;
Springer Handbook of Auditory Research. Switzer- 122(9):1893-5.
land: Springer International Publishing; 2017. p. 1-15. 22. Song JH, Nicol T, Kraus N. Test-retest reliability of the
8. Coffey E, Herlolz S, Chepesiuk A, Baillet S, Zatorre speech-evoked auditory brainstem response. Clinical
R. Cortical contributions to the auditory frequen- Neurophysiology. 2011; 122(2):346-55.
cy-following response revealed by MEG. Nature 23. Hornickel J, Knowles E, Kraus N. Test-retest consis-
Communications. 2016; 7:11070.
113
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
30. Johnson KL, Nicol TG, Kraus N. Brain stem response 44. Fujihira H, Shiraishi K. Correlations between word
to speech: a biological marker of auditory processing. intelligibility under reverberation and speech audi-
Ear Hear. 2005; 26(5):424-34. tory brainstem responses in elderly listeners. Clinical
31. Moore B, Tyler L, Marslen-Wilson W. Introduction. Neurophysiology. 2015; 126(1):96-102.
The perception of speech: from sound to meaning. 45. Tahaei AA, Ashayeri H, Pourbakht A, Kamali M.
Phil Trans R Soc B. 2007; 363:917-21. Speech evoked auditory brainstem response in stut-
tering. Scientifica (Cairo). 2014; 2014:328-646.
32. Galbraith G, Doan B. Brainstem frequency-following
and behavioral responses during selective attention 46. Sanfins M, Hatzopoulos S, Colella-Santos M. Clinical
to pure tone and missing fundamental stimuli Int J applications of FFR (Frequency Following Response)
Psychophysiol. 1995; 19:203-14. in children and adults. In: Hatzopoulos S, Ciorba A,
Krumm M, editors. Advances in Audiology, Speech
33. Amin SB, Vogler-Elias D, Orlando M, Wang H. Audi- Pathology and Hearing Science: Apple Academic
tory neural myelination is associated with early chil- Press; (no prelo).
dhood language development in premature infants.
47. Hawkins D, Prosek R, Walden B, Montgomery A.
Early Human Development. 2014; 90(10):673-8.
Binaural oudness summation in the hearing impaired.
34. Chandrasekaran B, Kraus N. The scalp-recorded J Speech Hear Res. 1987; 30 (1):37-43.
brainstem response to speech: neural origins and 48. Ahadi M, Pourbakht A, Jafari A, Jalaie S. Effects of
plasticity. Psychophysiology. 2010;47(2):236-46. stimulus presentation mode and subcortical laterality
35. Kraus N, Thompson E, Krizman J, Cook K, White- in speech-evoked auditory brainstem responses. In-
-Schwoch T, LaBella C. Auditory biological marker ternational Journal of Audiology. 2014; 53(4):243-9.
of concussion in children. Nature: Scientific Reports. 49. Ahadi M, Pourbakht A, Jafari AH, Jalaie S. Effects of
2017; 6: 39009. stimulus presentation mode and subcortical laterality
36. Sanfins M, Colella-Santos M. A review of the Clinical in speech-evoked auditory brainstem responses. In-
Applicability of Speech-Evoked Auditory Brains- ternational Journal of Audiology. 2014; 53(4):243-9.
tem Responses. Journal of Hearing Science. 2016; 50. Rana B, Barman A. Correlation between speech-e-
6(1):9-16. voked auditory brainstem responses and transient
37. Abrams D, Nicol T, Zecker S, Kraus N. Auditory evoked otoacoustic emissions. Journal of Laryngology
brainstem timing predicts cerebral asymmetry for and Otology. 2011; 125(9):911-6.
speech. J Neurosci. 2006; 26(43):11131-37. 51. Sanfins M. Avaliação eletrofisiológica com sons
38. Hornickel J, Skoe E, Kraus N. Subcortical laterality of verbais e não verbais em crianças com histórico de
speech encoding. Audiol Neurootol. 2009; 14:198-207. otite média. Unicamp: Universidade Estadual de
Campinas – UNICAMP; 2017.
39. Song JH, Banai K, Russo NM, Kraus N. On the re-
52. Sanfins MD, Borges LR, Ubiali T, Donadon C, Hein
lationship between speech- and nonspeech-evoked
TAD, Hatzopoulos S, et al. Speech-evoked brainstem
auditory brainstem responses. Audiology and Neu-
response in normal adolescent and children speakers
rotology. 2006; 11(4):233-41.
of Brazilian Portuguese. International Journal of
40. Akhoun I, Gallégo S, Moulin A, Ménard M, Veuillet Pediatric Otorhinolaryngolgoy. 2016:12-9.
E, Berger-Vachon C, et al. The temporal relationship 53. Clinard C, Tremblay K. Aging degrades the neural
between speech auditory brainstem responses and the encoding of simple and complex sounds in the human
acoustic pattern of the phoneme /ba/ in normal-hea- brainstem. Am Acad Audiol. 2013; 24(7):590-99.
ring adults. Clin Neurophysiol. 2008; 119(4):922-33.
54. Anderson S, Parbery-Clark A, White-Schwo-
41. Karawani H, Banai K. Speech-evoked brainstem res- ch T, Kraus N. Aging Affects Neural Precision of
ponses in Arabic and Hebrew speakers. International Speech Encoding. Journal of Neuroscience. 2012;
Journal of Audiology. 2010; 49(11):844-9. 32(41):14156-64.
42. Anderson S, Parbery-Clark A, White-Schwoch T, 55. Clinard CG, Tremblay KL. Aging Degrades the Neu-
Kraus N. Auditory Brainstem Response to Complex ral Encoding of Simple and Complex Sounds in the
Sounds Predicts Self-Reported Speech-in-Noise Per- Human Brainstem. Journal of the American Academy
formance. Journal of Speech Language and Hearing of Audiology. 2013; 24(7):590-9.
Research. 2013; 56(1):31-43. 56. Johnson KL, Nicol T, Zecker SG, Kraus N. Develop-
43. Elkabariti RH, Khalil LH, Husein R, Talaat HS. Speech mental plasticity in the human auditory brainstem.
evoked auditory brainstem response findings in chil- Journal of Neuroscience. 2008;28(15):4000-7.
dren with epilepsy. International Journal of Pediatric 57. Krizman J, Marian V, Shook A, Skoe E, Kraus N. Sub-
Otorhinolaryngology. 2014; 78(8):1277-80. cortical encoding of sound is enhanced in bilinguals
114
Parte II – Cap. 9 • FREQUENCY FOLLOWING RESPONSE |
and relates to executive function advantages. Pro- 70. Mamo SK, Grose JH, Buss E. Speech-evoked ABR:
ceedings of the National Academy of Sciences. 2012; Effects of age and simulated neural temporal jitter.
109(20):7877-81. Hear Res. 2015.
58. Krizman J, Skoe E, Kraus N. Bilingual enhancements 71. Yairi E, Ambrose N. Epidemiology of stuttering: 21st
have no socioeconomic boundaries. Dev Sci. 2015. century advances. Journal of Fluency Disorders. 2013;
59. Courville C. Coup-contrecoup mechanism of cra- 38(2):66-87.
nial-cerebral injuries. Arch Surgery. 1942;45:19-36. 72. Andrade C. A gagueira do desenvolvimento. In: An-
60. Kraus N, Lindley T, Colegrove D, Krizman J, Ot- drade C, editor. Gagueira infantil - risco, diagnóstico e
to-Meyer S, Thompson E, et al. The neural legacy programas terapêuticos. Carapicuíba (SP): Pró-Fono.
of a single concussion. Neuroscience Letters. 2017; 2006, p. 5-10.
646:21-3. 73. Braun A, Varga M, Stager S, al. e. Altered patterns
61. Regaçone S, Gução A, Giacheti C, Romero A, Frizzo of cerebral activity during speech and language pro-
A. Potenciais evocados auditivos de longa latência duction in developmental stuttering. An H2(15)O
em escolares com transtornos específicos de apren- positron emission tomography study. Brain. 1997;
dizagem. Audiol Commun Res. 2014:12-8. 120(5):761-84.
62. Halliday LF. A tale of two studies on auditory training 74. Gonçalves I, Andrade C, Matas C. Auditory Proces-
in children: A response to the claim that ‘discrimina- sing of Speech and Non-Speech Stimuli in Children
tion training of phonemic contrasts enhances pho- who Stutter: Electrophysiological Evidences. Brains
nological processing in mainstream school children’ Disord Ther. 2015.
by Moore, Rosenberg and Coleman (2005). Dyslexia. 75. Chhetri S. Acute otitis media: a simple diagnosis, a
2014; 20(2):101-18. simple treatment. Nepal Med Coll J. 2014; 16:33-6.
63. Cacace AT, McFarland DJ. Central auditory pro- 76. Kong K, Coates H. Natural history, definitions, risk
cessing disorder in school-aged children: a critical factors and burden of otitis media. Medical Journal
review. J Speech Lang Hear Res. 1998; 41(2):355-73. of Australia. 2009; 191:S39-S43.
64. Tallal P. Auditory temporal perception, phonics 77. Katz J, Tillery K, Mecca F, (tradução). Uma introdução
115
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
83. Green M. What are the functional consequences hyperactivity disorder. Clinical Neurophysiology.
of neurocognitive deficits in schizophrenia? Am J 2015; 126(2):325-32.
Psychiatry. 1996; 153:321-30. 94. ASHA. (Central) Auditory Processing Disorders.
84. Middlebrooks J. Auditory system: central pathways. . Working group on Auditory Processing Disorders.
Squire L, editor. Oxford Academic Press; 2009. Technical Report p1-20 [Internet]. 2005.
85. Brecher MHB. Brainstem auditory evoked potentials 95. Rocha-Muniz C, Filippini R, Neves-Lobo I, Rabelo C,
in unmedicated schizophreniapatients. Biol Psychia-
Morais A, Murphy C, et al. O Potencial Evocado Au-
try. 1985; 20:199-202.
ditivo com estímulo de fala pode ser uma ferramenta
86. Källstrand J, Nehlstedt S, Sköld M, Nielzén S. Lateral útil na prática clínica? CoDAS. 2016; 28(1):77-80.
asymmetry and reduced forward masking effect in
96. Song J, Skoe E, Banai K, Kraus N. Training to impro-
early brainstem auditory evoked responses in schi-
ve hearing speech in noise: Biological mechanisms.
zophrenia. Psychiatry Res. 2012; 196:188-93.
Cereb Cortex. 2011; 122:1890-8.
87. Tarasenko MA, Swerdlow NR, Makeig S, Braff DL,
Light GA. The auditory brain-stem response to com- 97. Jafari Z, Malayeri S. Subcortical encoding of speech
plex sounds: a potential biomarker for guiding treat- cues in children with congenital blindness. Restorati-
ment of psychosis. Front Psychiatry. 2014; 5:142. ve Neurology and Neuroscience. 2016; 34(5):757-68.
88. Paul R, Augustyn A, Klin A, Volkmar F. Perception and 98. Wible B, Nicol T, Kraus N. Abnormal neural enco-
production of prosody by speakers with autism spec- ding of repeated speech stimuli in noise in children
trum disorders. J Autism Dev Disord. 2005; 35:205-20. with learning problems. Clin Neurophysiol. 2002;
113:484-94.
89. Patel A, Peretz I, Tramo M, Labrecque R. Processing
prosodic and music pattern: a neurophsychological 99. Cunningham J, Nicol T, Zecker S, et al. Neurobiologic
investigation. Brain Lang. 1998; 61:123-44. responses to speech in noise in children with learning
90. Russo N, Skoe E, Trommer B, Nicol T, Zecker S, problems: deficits and strategies for improvement.
Bradlow A, et al. Deficient brainstem encoding of Clin Neurophysiol. 2001; 112:758-67.
pitch in children with Autism Spectrum Disorders. 100. Gama N, Peretz I, Lehmann A. Recording the human
Clinical Neurophysiology. 2008; 119(8):1720-31. brainstem frequency-following-response in the-
91. Thomas JM, Huber E, Stecker GC, Boynton GM, free-field. Journal of Neuroscience Methods. 2017;
Saenz M, Fine I. Population receptive field estima- 280:47-53.
tes of human auditory cortex. Neuroimage. 2015; 101. Shahidullah S, Hepper P. Frequency discrimination
105:428-39. by the fetus. Early Human Development. 1994;
92. Volkow N, Chang L, Wang G, al e. Higher cortical and 36:13-26.
lower subcortical metabolism in detoxified metham- 102. Anderson S, Parbery-Clark A, White-Schwoch T,
phetamine abusers. Am J Psychiatry. 2001:383-9. Kraus N. Development of subcortical speech repre-
93. Jafari Z, Malayeri S, Rostami R. Subcortical encoding sentation in human infants. The Journal of Acoustical
of speech cues in children with attention deficit Society of America. 2015; 137:3346-55.
116
10
POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE MÉDIA LATÊNCIA:
PARÂMETROS TÉCNICOS
Ana Claudia Figueiredo Frizzo
117
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
artefatos, quando a configuração típica da sequência ao redor de 70 dB4. Deve-se ter cautela com os sons
de ondas com deflexões positivas e negativas é per- de alta intensidade em função da possibilidade de
dida, condutas de controle são recomendadas. A mu- geração da atividade da musculatura pós-auricular.
dança de posição do paciente e do pré-amplificador, Esta atividade gera uma onda entre 12 e 20 ms e
bem como a orientação ao paciente sobre o controle produz interferência negativa e aumento da latência
de seu estado de tensão ou movimentação dos olhos dos componentes iniciais e distorção dessas ondas.
são essenciais para que o sinal elétrico seja estabilizado Recomenda-se reposicionar a cabeça e o pescoço do
e se tenha melhor qualidade do registro. paciente e o uso dos eletrodos referência no lóbulo
O estágio de filtro é também um parâmetro da orelha5.
muito importante para a geração do PEAML. O filtro A taxa de estimulação precisa ser também con-
determina um faixa de frequência de corte e elimina a trolada adequadamente, uma vez que a repetição
interferência do ruído. No PEAML, são usados filtros acelerada da estimulação pode suprimir a resposta
diversos − 10-200 Hz e 30-100 Hz, 1-100 Hz, 3-100 Hz em função da habituação fisiológica, especialmente
− que podem alterar a sensibilidade de visualização em bebês e crianças. Em adultos, de 7 a 10 estímulos/
das ondas iniciais e finais4,5. segundo parece ser ideal5,9. Em bebês e crianças, este
O processo de amplificação da magnitude do valor precisa ser menor, mais lento para a visualização
sinal auditivo é chamado ganho ou amplificação, e é da resposta, uma vez que as estruturas neurais gera-
fundamental porque a maioria das respostas elétricas doras da resposta estão em desenvolvimento.
auditivas são muito pequenas. A sensibilidade ou Apesar de não ser exigida uma tarefa diante do
plena escala é determinada em conjunto com a am- estímulo, imagens estáticas ou em vídeo (sem som)
plificação para que a extensão do sinal elétrico seja são utilizadas durante a avaliação para manter o pa-
estabelecida. No PEAML os valores de ganho são es- ciente acordado e em estado de alerta. A maturação e a
tabelecidos entre 50.000 e 75.000 vezes, e sensibilidade mielinização das áreas neurais geradoras dos PEAML
de aproximadamente de 31,67 a 47,5 µV para uma boa se estendem até a idade adulta. O desenvolvimento
visualização dos componentes. Variações nestes parâ- mais tardio das áreas corticais primárias e das vias
metros podem ocorrer em função de características comissurais contribui para mais consistência nas
específicas dos diversos modelos de equipamento1. respostas e menos influência do estado de alerta em
crianças maiores e adultos10.
O PEAML é um potencial sensorial e exógeno
que varia em função das características físicas do A Tabela 1 sintetiza os parâmetros de registro
estímulo em termos de frequência, duração e inten- do PEAML.
sidade, e outros padrões acústicos. O clique de curta
duração (0,1 ms) é ideal para a investigação neuroló-
gica e a observação das respostas no nível do córtex.
1.2. Parâmetros de Análise
No entanto, o tom burst curtos de dois ciclos (2-1-2), A morfologia típica do PEAML em pacientes
comumente empregado na pesquisa de frequência jovens e adultos é caracterizada por uma sequência de
específica, é também referido como bons estímulos ondas, negativa-positiva-negativa-positiva (Na-Pa-N-
para a pesquisa neurodiagnóstica4,6. b-Pb) em relação à linha de base. A Na é o primeiro
O PEAML foi gerado com tons complexos e maior pico negativo entre 16 e 30 ms; Pa é o próximo
sons de fala num paradigma oddball, em que um es- maior pico positivo entre 30 e 45 ms; Nb é o segundo
tímulo raro ou desviante foi apresentado dentre uma pico negativo entre 46 e 56 ms e Pb, o segundo pico
sequência de estímulos frequente. Nesta medida, os positivo depois entre 55 e 65 ms4. Destaca-se que va-
componentes Na e Pa mostraram aumento de am- riações significativas nestes valores são esperadas em
plitude e redução da latência quando a detecção do função do tipo de filtro utilizado na aquisição e dos
estímulo raro ou desviante foi solicitada7. parâmetros acústicos do estímulo – tipo, intensidade e
Tipicamente, o aumento progressivo da inten- taxa de estímulo/segundo. Neste sentido, comparações
sidade sonora implica na diminuição da latência das entre estudos precisam ser realizadas com cautela5.
ondas. Um aumento progressivo de 40 a 80 dBNA A análise funcional do sistema auditivo nervoso
produz um efeito maior da diminuição da latência central se dá por meio da comparação dos valores da
das ondas iniciais Na e Pa8. O maior aumento de am- interamplitude de Na-Pa entre as medidas das orelhas
plitude ocorre a 40 dB acima do limiar e se estabiliza e hemisférios cerebrais. Tecnicamente, tal análise é
118
Parte II – Cap. 10 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE MÉDIA LATÊNCIA: PARÂMETROS TÉCNICOS |
Tabela 1 – Resumos dos parâmetros sugeridos para a aquisição do PEAML.
PARÂMETROS
Monoaural
Modo
Binaural – estudo da integração binaural
C3 (+), A1 (-)
C4 (+), A2 (-)
Eletrodos
O uso de um maior número de eletrodos ativos sobre os hemisférios
viabiliza uma avaliação neurofuncional mais detalhada
Aquisição
Filtro 0,1-100 Hz; 3-100 Hz; 10-200 Hz; 30-100 Hz
119
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
de Processamento Auditivo (DPA). Por outro lado, a 3. Guideline nine: guidelines on evoked potentials.
análise comparativa entre as respostas dos hemisférios American Electroencephalographic Society. J Clin
permite fazer diagnóstico de lesões e disfunções das Neurophysiol. 1994; 11:40-73.
vias auditivas centrais9. 4. Hall JW. New Handbook of Auditory Evoked Res-
Um cálculo da diferença relativa dos valores ponses. Allyn & Bacon: Boston, 2006.
da amplitude Na-Pa é recomendado para controlar 5. Pratt H. Middle-Latency Response. In: Burkard RF,
a variabilidade e proporcionar um diagnóstico mais Don M, Eggermont JJ (eds). Auditory Evoked Po-
preciso das doenças do sistema nervoso auditivo tentials: Basic Principles and Clinical Application.
Lippincott Williams & Wilkins: Baltimore, 2007, pp.
central. Efeito de eletrodo corresponderia à diferen-
463-481.
ça de amplitude Na-Pa entre dois eletrodos (p. ex.,
6. Pratt H, Luck SJ, Kappenman ES. Sensory ERP com-
| Na-Pa em C3 menos Na-Pa em C4 |) e Efeito de
ponents. In: The Oxford Handbook of Event-Related
orelha a diferença entre duas orelhas (p. ex. | Na-Pa
Potential Components. Oxford University Press: New
na estimulação da orelha esquerda menos Na-Pa na York, NY, 2012, pp. 89-114.
estimulação da orelha direita |)12.
7. Li L, Gong Q. The early component of middle latency
Outra análise bastante interessante em relação auditory-evoked potentials in the process of deviance
à medida do PEAML é realizar a análise da função detection. Neuroreport. 2016; 27:769-773.
binaural por meio do cálculo do cálculo do BIC (Bi- 8. Borgmann C, Ross B, Draganova R, Pantev C. Human
naural Interation Component)13middle- (10-50 ms auditory middle latency responses: influence of sti-
obtido a partir da soma dos registros com estimula- mulus type and intensity. Hear Res. 2001; 158:57-64.
ção das orelhas direita (D) e esquerda (E) seguido da 9. McPherson DL, Ballachanda BB, Kaf W. Middle
subtração da onda obtida pela estimulação binaural and Long Latency Evoked Potentials. In: Roeser RJ,
(BIN) como mostrado na fórmula a seguir. Valente M, Dunn HH (eds). Audiology: diagnosis.
New York, 2008, pp. 443-477.
BIC = [(D + E) – BIN]. 10. Kraus N, McGee T, Comperatore C. MLRs in children
are consistently present during wakefulness, stage 1,
O BIC permite analisar unicamente a atividade
and REM sleep. Ear Hear 1989; 10:339-45.
neural binaural, e não a atividade monoaural que fica
ocluída ou inibida a partir deste cálculo. 11. Musiek FE, Chermak GD. Handbook of Central Au-
ditory Processing Disorder: Auditory Neuroscience
and Diagnosis. 2nd ed. Plural Publishing, Inc., 2013.
REFERÊNCIAS 12. Weihing J, Schochat E, Musiek F. Ear and electrode
effects reduce within-group variability in middle
1. Picton TW. Human Auditory Evoked Potentials. latency response amplitude measures. Int J Audiol.
Plural Publishing, Inc. San Diego, 2010. 2012; 51:405-412.
2. Jasper HH. The ten twenty electrode system of the 13. McPherson DL, Starr A. Binaural interaction in
international federation. Electroencephal Clin Neu- auditory evoked potentials: Brainstem, middle- and
rophysiol. 1958; 10:371-375. long-latency components. Hear Res. 1993; 66:91-98.
120
11
POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE MÉDIA LATÊNCIA:
CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS
Ana Claudia Figueiredo Frizzo
Anna Caroline Silva de Oliveira
121
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
bebês e crianças, a detecção das ondas Na e Pa é de muscular, tornando a aplicação clínica deste potencial
100%, já a da onda Pb fica em torno de 30 a 50%4,14. restrita no passado21,22.
Nesta população, as ondas do PEAML podem não Nos últimos anos, o emprego desse potencial
aparecer, mesmo na ausência de disfunção do sis- vem aumentando e o principal foco dos pesquisadores
tema central auditivo. Nesta fase da vida, as estru- tem sido estudar o procedimento e determinar os va-
turas neurais geradoras da resposta estão em pleno lores de referência do PEAML de latência e amplitude
desenvolvimento e a sobrecarga de estímulos pode em populações diferentes, tipos de protocolo distin-
suprimir a resposta neural auditiva. Por ser uma res- tos, até mesmo estudos que usaram o mapeamento
posta originada de estruturas corticais e subcorticais cerebral a fim de se conhecer com mais precisão os
com cursos de tempo de desenvolvimento diferentes, geradores neurais dos componentes do potencial7,23-26.
haverá contribuições de geradores neurais diferentes, A despeito da variabilidade da medida, na atua-
dependendo da idade da criança. Até os cinco anos lidade, a principal utilidade do PEAML para a Au-
de idade poderão ocorrer mudanças no padrão de diologia é no auxílio diagnóstico do Distúrbio do
resposta do PEAML. A amplitude é robusta quando Processamento Auditivo Central (DPAC) devido os
criança, aumenta quando adulto e diminui com o geradores neurais destes potenciais relacionados à
envelhecimento1,4,15-17. função auditiva27-29.
Outra limitação do PEAML é a influência da Uma análise comparativa dos resultados de exa-
atenção e do estado de sono na avaliação. O estado mes comportamentais do processamento auditivo e
de atenção e vigília do sujeito em avaliação é determi- das alterações do exame de PEAML em pacientes com
nante devido à participação da formação reticular na DPAC mostrou associação entre os achados e sugere
geração do PEAML18. Em bebês e crianças menores, que o exame de PEAML é um instrumento útil no
há maior dependência do estado do sono, pois nesta diagnóstico de pacientes com DPAC29.
idade a geração da resposta do PEAML é predominan- Na literatura da área, tal teste tem sido empre-
temente subcortical19. Por isso, muitas vezes, o Poten- gado também no monitoramento das mudanças do
cial Evocado Auditivo de Longa Latência (PEALL) é a padrão dos componentes destes potenciais em res-
medida mais comum para a avaliação cortical auditiva posta a um treinamento auditivo. Um estudo nacional
em populações infantis. No entanto, o PEAML é um acompanhou um grupo de crianças com DPAC, com
teste auditivo mais sensível à investigação da atividade e sem treinamento auditivo, e descreveram aumento
das vias talamocorticais e do caminho da informação da amplitude das ondas Na-Pa entre as medidas pré- e
auditiva até o córtex, importante na avaliação de po- pós-treino no grupo treinado e em relação ao grupo
pulações infantis. não treinado, e mostraram a eficiência dessa medida
no auxílio e monitoramento da intervenção terapêu-
tica nesta população27.
2. APLICAÇÕES CLÍNICAS A pesquisa do PEAML é também bom instru-
mento para avaliar crianças com distúrbio de apren-
As medidas do PEAML e o registro das ativida- dizado. Estudos descrevem o aumento da latência
des elétricas na via auditiva central após a estimulação de Pa em crianças com distúrbio de aprendizagem30,
auditiva vêm sendo um instrumento útil para investi- latência mais longa para onda Na e amplitude menor
gar disfunções e lesões corticais devido à participação da onda Nb31.
de estruturas como colículo inferior, corpo geniculado Um estudo nacional comparou o desempe-
medial e córtex auditivo primário, envolvidas no nho das habilidades fonológicas com as medidas
processamento da informação auditiva7,20. do PEAML e constataram que com os escores nos
Houve um tempo em que este potencial cortical testes de consciência fonológica tinham relação com
auditivo sensorial recebeu diversas críticas devido à os valores de latência das ondas Na, Pa e Nb, e ob-
dificuldade na análise do exame em decorrência da servaram que os escores de consciência fonológica
grande diferença dos valores de latência e amplitude aumentaram à medida que a amplitude de Na-Pa
entre os sujeitos e a dificuldade de se terem padrões também aumentou, mostrando relação dos sistemas
de normalidade em diferentes formas de estimulação auditivos e linguísticos32.
e registro. Além disso, havia dúvida se o exame real- Na literatura contemplam-se também estudos a
mente era uma resposta da via auditiva ou artefato respeito do procedimento de realização do PEAML
122
Parte II – Cap. 11 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE MÉDIA LATÊNCIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
com estímulo clique e competição sonora contrala- Um estudo utilizou o PEAML gerado por estí-
teral musical em sujeitos normo-ouvintes e revelou mulo auditivo para indicar a função cerebral e prever
diminuição da amplitude de Pa nesta condição. Este a restauração da circulação espontânea, a sobrevi-
efeito foi atribuído ao processo inibitório do sistema vência pós-ressuscitação e o desfecho neurológico
eferente auditivo, pois ouve diminuição da atenção em pacientes com parada cardíaca. Nos centros de
em consequência do estímulo competitivo33. emergência, os resultados do exame são essenciais
na determinação da conduta e escolha por cessar ou
Medidas do PEAML realizadas em pacientes
não a ressuscitação nestes pacientes nos casos de mau
afásicos mostraram a eficiência deste teste para loca-
prognóstico37. As respostas do potencial também po-
lizar a lesão, uma vez que diferenças entre as medidas
dem auxiliar na previsão de resultados em pacientes
dos hemisférios cerebrais lesados e não lesados foram com lesões cerebrais isquêmicas graves37,38.
identificadas34. No entanto, um grupo de crianças
A realização do PEAML mostra-se viável tam-
com distúrbio específico de linguagem foi avaliado
bém desde os primeiros anos de vida, junto com a
pelo PEAML e não apresentou alterações anormais
realização do PEATE. Tal medida contribui para a
na resposta auditiva22.
avaliação neurofisiológica do sistema auditivo cen-
Quando realizado o PEAML em crianças autistas tral do tronco encefálico até estruturas corticais e
e comparadas as respostas das crianças sem alterações, subcorticais. Nesta população, o PEAML tem sido
observou-se diminuição na amplitude da onda. Outro aplicado também para avaliar o grau de consciência
estudo nacional35 também descreveu alteração da res- em crianças e monitorar a profundidade da anestesia
posta do PEAML, assim como no Potencial Evocado com propofol durante a realização de procedimentos
Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE) e no potencial cirúrgicos, e em pacientes comatosos ao realizar cui-
cognitivo (p300) nesta mesma população. dados médicos em serviços de emergência39.
Matas et al.36 avaliaram adultos portadores de Além disso, o PEAML tem sido empregado na
HIV/AIDS usando o PEAML, e descreveram alteração avaliação de pacientes pré-implantados como um pro-
da resposta na maioria dos indivíduos portadores da cedimento pré-cirúrgico de auxílio na determinação
123
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
5. Liégeois-Chauvel C, Musolino A, Badier JM, Marquis 19. Kraus N, McGee T. The middle latency response gene-
P, Chauvel P. Evoked potentials recorded from the rating system. Electroencephalogr Clin Neurophysiol
auditory cortex in man: evaluation and topography of Suppl. 1995; 44:93-101.
the middle latency components. Electroencephalogr 20. Dobie RA, Norton SJ. Binaural interaction in human
Clin Neurophysiol. 1994; 92:204-214. auditory evoked potentials. Electroencephalogr Clin
6. Jang K-H, Choi SH, Choi C-H. Effect of Stimulus Rate Neurophysiol. 1980; 49:303-313.
and Gender on Auditory Middle Latency Response in 21. Bickford RG, Jacobson JL, Cody DTR. Nature of Ave-
Young Adults. Audiol Speech Res. 2017; 13:108-114. rage Evoked Potentials to Sound and Other Stimuli
7. Mohebbi M, Mahmoudian S, Alborzi MS, Najafi-Koo- in Man. Ann N Y Acad Sci. 2006; 112:204-218.
paie M, Farahani ED, Farhadi M. Auditory middle 22. Al-Saif SS, Abdeltawwab MM, Khamis M. Auditory
latency responses differ in right- and left-handed middle latency responses in children with specific
subjects: An evaluation through topographic brain language impairment. Eur Arch Otorhinolaryngol.
mapping. Am J Audiol. 2014; 23:273-281. 2012; 269:1697-702.
8. Hood VL, Keller U, Haymond MW, Küry D. Syste- 23. Cacace AT, Satya-Murti S, Wolpaw JR. Human mi-
mic pH modifies ketone body production rates and ddle-latency auditory evoked potentials: vertex and
lipolysis in humans. Am J Physiol .1990; 259: E327-34. temporal components. Electroencephalogr Clin Neu-
9. Chambers RD, Griffiths SK. Effects of age on the rophysiol Potentials Sect. 1990; 77:6-18.
adult auditory middle latency response. Hear Res. 24. Fowler CG, Horn JH. Frequency Dependence of Bi-
1991; 51:1-10. naural Interaction in the Auditory Brainstem and Mi-
10. Chambers RD. Differential age effects for components ddle Latency Responses. Am J Audiol. 2012; 21:190.
of the adult auditory middle latency response. Hear 25. Shiga T, Althen H, Cornella M, Zarnowiec K, Yabe
Res. 1992; 58:123-131. H, Escera C et al. Deviance-Related Responses along
the Auditory Hierarchy: Combined FFR, MLR and
11. Azumi T, Nakashima K, Takahashi K. Aging effects
MMN Evidence. PLoS One 2015; 10:e0136794.
on auditory middle latency responses. Electromyogr
Clin Neurophysiol. 1995; 35:397-401. 26. Korczak P, Sherlock L, Hawley M, Formby C. Rela-
tions among Auditory Brainstem and Middle Latency
12. Amenedo E, Díaz F. Effects of aging on middle-latency
Response Measures, Categorical Loudness Judg-
auditory evoked potentials: A cross-sectional study.
ments, and Their Associated Physical Intensities.
Biol Psychiatry. 1998; 43:210-219.
Semin Hear. 2017; 38:094-114.
13. Alain C, Roye A, Arnott SR. Middle- and long-latency 27. Schochat E, Musiek FE, Alonso R, Ogata J. Effect of
auditory evoked potentials: what are they telling us auditory training on the middle latency response in
on central auditory disorders? In: Celesia GG (ed). children with (central) auditory processing disorder.
Handbook of Clinical Neurophysiology: Disorders of Brazilian J Med Biol Res. 2010; 43:777-785.
Peripheral and Central Auditory Processing. Elsevier
28. Alain C, Roye A, Arnott SR. Middle and late auditory
B.V. 2013, pp. 177-199.
evoked responses: What are they telling us on cen-
14. Ozdamar O, Kraus N. Auditory middle-latency res- tral auditory disorders? Disord Peripher Cent Audit
ponses in humans. Audiology. 1983; 22:34-49. Process Handb Clin Neurophysiol. 2013; p. 177-199.
15. Kraus N, Ian Smith D, Reed NL, Stein LK, Cartee 29. Romero ACL, Sorci BB, Frizzo ACF. Relação entre
C. Auditory middle latency responses in children: potenciais evocados auditivos de média latência e
Effects of age and diagnostic category. Electroence- distúrbio de processamento auditivo: estudo de casos.
phalogr Clin Neurophysiol Evoked Potentials. 1985; Rev CEFAC. 2013; 15:478-484.
62: 343-351. 30. Arehole S, Augustine LE, Simhadri R. Middle latency
16. Roup CM, Leigh ED. Individual Differences in Beha- response in children with learning disabilities: preli-
vioral and Electrophysiological Measures of Binaural minary findings. J Commun Disord. 1995; 28:21-38.
Processing Across the Adult Life Span. Am J Audiol. 31. Purdy SC, Kelly AS, Davies MG. Auditory Brainstem
2015; 24:204. Response, Middle Latency Response, and Late Cor-
17. Musiek FE, Chermak GD. Handbook of Central Au- tical Evoked Potentials in Children with Learning
ditory Processing Disorder: Auditory Neuroscience Disabilities. J Am Acad Audiol. 2002; 13:356-366.
and Diagnosis. 2nd ed. Plural Publishing, Inc., 2013. 32. Romero A, Funayama C, Capellini S, Frizzo A, Ro-
18. Kraus N, McGee T, Littman T, Nicol T. Reticular mero ACL, Funayama CAR et al. Auditory Middle
formation influences on primary and non-primary Latency Response and Phonological Awareness in
auditory pathways as reflected by the middle latency Students with Learning Disabilities. Int Arch Otorhi-
response. Brain Res. 1992; 587:186-194. nolaryngol. 2015; 19:325-330.
124
Parte II – Cap. 11 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE MÉDIA LATÊNCIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
33. Eisencraft T, Schochat E. Comparação dos Potenciais anti-retroviral. Pró-Fono Rev Atual Científica. 2010;
de Latência Média com ou sem estímulo musical. Rev 22:107-112.
Bras Otorrinolaringol. 2006; 72:465-469. 37. Tsurukiri J, Mishima S, Ohta S. Initial middle latency
34. Alvarenga KDF, Lamônica DC, Costa Filho OA, auditory evoked potentials index helps to predict
Banhara MR, Oliveira DT, Campo MA. Estudo ele- resuscitated outcomes in patients with cardiac arrest.
trofisiológico do sistema auditivo periférico e central Am J Emerg Med. 2013; 31:895-899.
em indivíduos afásicos. Arq Neuropsiquiatr. 2005;
63:104-109. 38. Zhang Y, Wang M, Su YY. The role of middle latency
evoked potentials in early prediction of favorable
35. Magliaro FCL, Scheuer CI, Assumpção Júnior FB,
Matas CG. Estudo dos potenciais evocados auditivos outcomes among patients with severe ischemic brain
em autismo. Pró-Fono Rev Atual Científica. 2010; injuries. J Neurol Sci. 2014; 345:112-117.
22:31-36. 39. Kuhnle GE, Hornuss C, Lenk M, Salam AP, Wiepcke
36. Matas CG, Silva SM, Marcon BDA, Gonçalves IC. D, Edelmann-Gahr V et al. Impact of propofol on
Manifestações eletrofisiológicas em adultos com mid-latency auditory-evoked potentials in children.
HIV/AIDS submetidos e não-submetidos à terapia Br J Anaesth. 2013; 110:1001-1009.
125
12
AVALIAÇÃO DOS POTENCIAIS EVOCADOS
AUDITIVOS DE LONGA LATÊNCIA
Miguel Angelo Hyppolito
127
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
2. SÍTIOS GERADORES DOS cerebrais. Para a maioria dos humanos, o hemisfério
esquerdo é especializado na análise, percepção e pro-
POTENCIAIS EVOCADOS
dução da fala. O hemisfério direito está relacionado
DE LONGA LATÊNCIA à percepção de duração, intensidade, timbre, entona-
ção e melodia do som, o que repercute diretamente
O sítio de geração intracraniana das ondas dos
na discriminação e no reconhecimento da fala. A
potenciais tardios relacionados a processos de atenção
integração de informação entre os dois hemisférios
− N2b, P3a e P3b – tem sua localização complicada,
é importante para o processo final de compreensão
múltipla e ainda pouco conhecida. A diferença de
da fala. A forma como esta integração ocorre, pro-
posicionamento dos eletrodos na cabeça para a faci-
cessando paralelamente o sinal acústico entre os
litação de identificação de cada uma destas ondas é
córtices auditivos direito e esquerdo, ainda não está
um indicador de que existem sítios diferentes para sua completamente resolvida.
geração, apesar de existirem possíveis sobreposições.
Estas ondas podem ser obtidas a partir de um único
estímulo sensorial ou da combinação de estímulos 3. REFERÊNCIAS
sensoriais, o que reforça a hipótese de que estas ondas
não são restritas a regiões do cérebro modalidade- 1. Cappe C, Rouiller EM, Barone P. Multisensory ana-
-específicas. A topografia de obtenção da onda N2b tomical pathways. Hear Res. 2009; 258(1-2):28-36.
sugere que sua geração está relacionada ao córtex 2. Ehret G, Romand R. The Central Auditory System. 1ª
visual secundário. Já para a onda P3 possivelmente ed. Oxford University Press, Inc. United States, 1997.
é gerada em regiões específicas como o hipocampo, 3. Musiek F, Rintelmann W. Perspectivas Actuais em
o córtex sensorial auditivo, o córtex centroparietal e Avaliação Auditiva.1ª edição. São Paulo: Manole, 2001.
o córtex frontal. A onda P3a está mais relacionada 4. Musiek F, Baran J, Morse D. Central deafness associated
ao hipocampo e lobo frontal e a onda P3b, à via with a midbrain lesion. J Am Acad Audiology. 2004;
temporoparietal. 15:133-151.
Quanto ao significado fisiológico da captação de 5. Musiek F, Bellis T, Chermak G. Nonmodularity of the
cada uma destas ondas, a onda P3a é obtida por meio CANS: implications for (central) auditory processing
de um mecanismo de desencadeamento relacionado disorder. Am J Audiology. 2005; 14(2):128-138.
à atenção e reflete o processo de redirecionamento da 6. Katz J, Chasin M, Hood LJ, English CM, Tillery KL. 7ª
atenção funcionando como um botão de controle das ed. Lippincott Williams & Wilkins. United States, 2014.
respostas do cérebro a distratores do ambiente. A onda 7. Purdy S, Kelly A, Davies M. Auditory brainstem
N2b mostra um registro pré-consciente para o registro response, middle latency response, and late cortical
de mudanças do estímulo ambiental, sendo conside- evoked potentials in children with learning disabilities.
rado um estágio precoce dos processos cerebrais de J Am Acad Audiology. 2002; 13:367-82.
avaliação e classificação do estímulo ambiental. 8. Romand R. Le systeme auditif central. Anatomie et
physiologie. 1a ed. INSERM/SFA. França, 1989.
O registro da onda P3b na região parietal é in-
9. Rouiller EM, Simm GM, Villa AE, de Ribaupierre Y, de
dicativo do reconhecimento consciente do estímulo.
Ribaupierre F. Auditory corticocortical interconnec-
A latência da onda P3b está relacionada à eficiência
tions in the cat: evidence for parallel and hierarchical
cognitiva e é gerada independentemente do tempo arrangement of the auditory cortical areas. Exp Brain
de reação consciente do estímulo, ocorre tardiamen- Res. 1991; 86(3):483-505.
te ao tempo de reação ao estímulo, o que sugere ser
10. Salvi R, Lockwood AH, Coad ML, Wack DS, Frisina
um processo cerebral relacionado à avaliação pós- DR. PET imaging of the normal human auditory sys-
-decisional do estímulo raro em relação à série de tem: responses to speech in quiet and in background
estímulos-padrão, sendo considerado um processo noise. Hearing Research. 2002; 170:96-106.
cerebral de conclusão da decisão (decisão final). Os 11. Schochat E, Rabelo, CM, Loreti RCA. Sensitividade e
processos auditivos envolvidos são discriminação, especificidade do potencial de média latência. Bras J
reconhecimento e classificação do estímulo sonoro. Otorhinolaryngology. 2004; 70:353-358.
O processamento da informação acústica para 12. Stach B. Clinical Audiology: an introduction. San
a percepção da fala é bem definido nos hemisférios Diego: Singular. 1998.
128
13
POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE LONGA LATÊNCIA:
PARÂMETROS TÉCNICOS
Ana Cláudia Figueiredo Frizzo
Ana Cláudia Mirândola Barbosa Reis
129
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
a visualização da resposta; (2) pré-amplificador – que serrilhadas quando recorrentes. Estas interferências
amplia o sinal elétrico captado para sua visualização e alteram totalmente o padrão do sinal elétrico obtido
estabelece a conexão do paciente com o equipamen- e impedem o registro fiel do PEALL. Frente a estes
to; (3) filtro – que determina a faixa de frequência artefatos, a troca do eletrodo, a mudança de posicio-
investigada para a eliminação de sinais elétricos in- namento em relação ao pré-amplificador e do paciente
desejáveis; (4) amplificador de saída – que amplifica em busca de seu relaxamento, a fixação do olhar do
o sinal auditivo em maior escala e rejeita os sinais paciente e o alinhamento dos eletrodos evitando-se
elétricos indesejáveis e envia o sinal ao computador; sua sobreposição são condutas apropriadas em busca
(5) computador – que converte o sinal analógico do da estabilização do sinal elétrico.
sistema em sinal digital em formato numérico (bits), Outro parâmetro importante a ser controlado é
amplifica o sinal elétrico, realiza a somação e geração o filtro. A filtragem permite melhorar a interferência
do sinal em forma de onda para análise3. do ruído por meio de um corte de energia de um sinal
A amplificação da magnitude do sinal biológico elétrico numa faixa de frequência específica. É um
elétrico é chamada ganho e é uma técnica essencial recurso essencial para a captação do sinal elétrico ade-
considerando-se que a maioria das respostas elétricas quado, mas não suprime totalmente a interferência do
auditivas é extremamente baixa. Assim, para cada tipo ruído na resposta. Os filtros denominados passa-altos
de potencial evocado auditivo é preciso determinar permitem o registro de sinais com energia concentra-
a sensibilidade ou plena escala da atividade elétrica da em frequências mais altas e suprirão a energia de
desejável, que corresponde à extensão máxima de sinais abaixo da frequência de interceptação. Para o
entrada do sinal elétrico permitida na somação do PEALL, geralmente são usados estes filtros de 0,1 a
sinal e conjuntamente com isso programar a pro- 50 Hz2 ou 30-50 Hz5 e 1-100 Hz6.
porção necessária de amplificação do sinal elétrico Em relação ao estímulo empregado no PEALL,
auditivo. O uso de um ganho de 30.000 a 50.000 vezes assim como nos Potenciais Evocados Auditivos de
e sensibilidade de aproximadamente 47,5 µV garante Tronco Encefálico (PEATE), a variação da intensidade
boa visualização do componente P300. No entanto, sonora produz mudanças na resposta dos potenciais e
sugere-se conhecer as características do modelo de altera os seus componentes. O aumento da intensidade
equipamento e as recomendações de seu fabricante. implica em diminuição da latência dos picos de onda
Vale ressaltar, ainda, que, na prática clínica, obter e aumento da amplitude dos componentes. Contudo,
o registro dos PEALL com ganho de 100.000 vezes não há um padrão linear de aumento de amplitude
pode favorecer a qualidade do registro, mas implica da resposta. Maior variação dos valores de latência é
em exigência maior em termos do aterramento e sala observada com a intensidade mais próxima do limiar
sem interferências elétricas adicionais, uma vez que e menor efeito em relação ao aumento da intensida-
aumenta a chance de entrada de artefatos. de de 40 dB acima do limiar7. O maior aumento de
Controle rigoroso dos artefatos elétricos indese- amplitude ocorre entre 30 e 40 dB acima do limiar e
jáveis é necessário. A presença de interferências deve estabiliza ao redor de 75 dB2. O aumento da intensi-
ser evitada tanto quanto possível, e o avaliador deve dade além destes valores é sugerido na realização do
garantir que seu valor não ultrapasse 10% do número P300 em pacientes com perda auditiva para garantir
total de estímulos4 a fim de evitar a baixa qualidade a realização da tarefa8,9 Porém, as medidas com in-
do registro e a inviabilidade da análise das ondas. A tensidades superiores da 80 dB devem ser cuidadosas
maioria dos equipamentos informa a quantidade de em função do maior risco de artefato na musculatura
sinais elétricos rejeitados na somação das medidas postoauricular potencializado pela estimulação de
em percentual. O sinal elétrico em captação pode ser alta intensidade.
monitorado em tempo real antes de sua somação e Em relação à taxa de estimulação, parece haver
observado na tela do computador. Em geral, o padrão pouca interferência da mudança da taxa de apresenta-
da atividade elétrica configura a sequência esperada ção do estímulo por segundo na pesquisa dos PEALL,
de deflexões positivas e negativas compatíveis com os especialmente o P3006. Mas, algum efeito é observado
componentes de onda do registro do PEALL. Sinais apenas na amplitude dos componentes N1-P1-P2, que
indesejáveis decorrentes do mal contato dos eletrodos aumenta com a diminuição da taxa de estimulação
ou da ruptura dos cabos dos eletrodos, atividades de em um intervalo interestímulos de aproximadamente
tensão muscular ou piscadas dos olhos e interferências 10 ms10. A taxa de estimulação recomendada fica em
elétricas externas produzem sinal de ondas cíclicas e torno de 0,5 a 2,9 estímulos/s5 e 1 a 0,5 estímulos/s2. A
130
Parte II – Cap. 13 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE LONGA LATÊNCIA: PARÂMETROS TÉCNICOS |
amplitude do P300 diminui com o aumento da taxa de da via auditiva. Neste ponto do sistema, quantidade
estimulação além destes valores. Além disso, interva- mais restrita de células ativas farão parte da resposta
los interestímulos superiores a 2,0 estímulos/s podem mediada, assim o uso de estímulo tonal mais longo
eliminar o efeito da probabilidade na amplitude das (como o tone burst) parece ser mais sensível à obser-
respostas e resultar em sua diminuição8. vação da resposta11.
Na pesquisa dos PEALL, estímulos tonais de Os parâmetros do estímulo e de aquisição ne-
longa duração são mais apropriados4. Nesse teste, cessários para o registro do PEALL são apresentados
estímulos transientes são inadequados, pois o sincro- detalhadamente na tabela 1.
nismo neural não é determinante em níveis mais altos
Tabela 1 – Resumos dos parâmetros sugeridos para a aquisição do PEALL para crianças com audição normal ou usuárias
de dispositivo eletrônico.
PARÂMETROS
1,1 a 1,9 estímulos/s – valores um pouco mais longos podem ser necessários
Taxa de estimulação
para crianças menores e quando estímulos de fala são empregados.
Cz (+), A1 (−)
Cz (+), A2 (−)
Eletrodos
O uso de um maior número de eletrodos ativos sobre os hemisférios viabiliza a
comparação inter-hemisférios.
200 a 300 – devem ser replicadas a fim de assegurar que as respostas são
Amostragem
consistentes.
Impedância dos ≤ 3 kΩ
eletrodos
131
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Distraído e desperto – reprodução de filmes em DVD sem som.
Estado do paciente
Atento e submetido a uma tarefa auditiva cognitiva.
Cuidado Eliminar artefato – piscada ou de movimento ocular por meio da fixação ocular.
2
P2
0 do paradigma oddball. Tal estimulação produz dupla
P1
-2 deflexão positiva, dois componentes P3a e P3b para
-4
N1 análise. O P3a é gerado a partir da ativação das áreas
N2
-6
central/frontal, mais precoce, e o P3b origina-se da
-8
atividade das áreas central/parietal. Anormalidades
-10
1,0 41,0 81,0 121,0 161,0 201,0 241,0 281,0 321,0 361,0 401,0 441,0 481,0 da onda P3a estão ligadas às lesões do lobo frontal
Tempo (ms) ou hipocampo e, por isso, sua aplicação clínica em
Figura 1 – Grande Média (Grand Average) do PEALL – registro pacientes com distúrbios neurológicos e psíquicos
de seis pacientes. torna-se bastante útil15.
A atenção do paciente e a precisão na resposta
O registro do PEALL que garante a observação são condições para a geração adequada dos com-
simultânea dos PEALL exógenos e endógenos requer a ponentes do PEALL endógeno ou cognitivo15. No
132
Parte II – Cap. 13 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE LONGA LATÊNCIA: PARÂMETROS TÉCNICOS |
entanto, destaca-se que tarefas mais complexas resul- aumento da amplitude e melhora da morfologia do
tam em respostas com latência mais longa e amplitude P30021,25-27. Há correlação significativa entre idade e
menor16. Estudos constataram que os complexos P1, maturação, com variação maior em termos de dimi-
N1, P2, N2 não se modificaram frente a atividades de nuição da latência até os 15 anos de idade, cerca de
maior demanda cognitiva, mas que o P3 apresentou 20 ms/ano28,22 e aumento da latência com o envelhe-
mais precoce no procedimento de menos complexi- cimento, comportamento este também observado em
dade cognitiva3. estudos nacionais29 para a faixa etária de 8 a 36 anos.
A atenção aparece como um dos fatores de- Os efeitos do envelhecimento na resposta do
terminantes para o registro do P300, além de várias P300 talvez seja o que mais tenha sido estudado nas
outras questões relacionadas ao estado de consciência, últimas década14,30. Embora seja consenso na literatura
alerta e condições psicológicas2,17. O P300 foi eliciado que o envelhecimento afeta claramente as medidas
durante o pré-sono e sono, o que gerou diminuição da de latência e amplitude do P300, há de se considerar
amplitude e latência aumentada em relação aos valores que também existe a grande variabilidade (intrínseca:
obtidos durante o estágio de alerta18. O mesmo efeito é gênero, nível intelectual, tipo de tarefa etc.; extrínseca:
observado durante os estados de sonolência19, durante parâmetros do estímulo e forma de captação do po-
a privação do sono; durante o trabalho noturno20 e tencial etc.) entre os estudos no âmbito das conclusões
mediante alteração da temperatura corporal e fadiga15. específicas para diferentes faixas etárias.
Em relação à idade, muitos estudos apontam para Pesquisas sugerem que há aumento de latência
uma variação nas medidas de latência e amplitude nas por volta de 1 a 2 ms/ano; diminuição de amplitude com
diferentes faixas etárias21,22. Estes estudos sugerem taxa em média de 0,2 µV/ano e, ainda, parece existir uma
que a maturação é refletida pela variação de latência relação entre a idade e a topografia do couro cabeludo
e amplitude dos componentes P1, N1, P2, indicando na medição P30031,32. A melhor captação das mudan-
aumento da amplitude e diminuição da latência em ças das variáveis latência e amplitude do P300, quando
crianças menores, variando com o amadurecimento. relacionado à idade, ocorrem nas relações de eletrodos
Apesar do aumento dos estudos, considerando-se as nos giros central e parietal (Cz e Pz) do que para Fz
variáveis latência, amplitude e idade, dados norma- e eletrodo lateral32.
tivos sobre a resposta do P300 em crianças ainda são Vale ressaltar que com o avanço da idade, mais
escassos, principalmente referentes às crianças mais cuidado o clínico deve tomar para o registro do P300,
jovens e lactentes. Para esta população, trabalhos vêm uma vez que variáveis como comprometimento das
sendo desenvolvidos com o registro do P3a − “resposta vias auditivas periférica e/ou central, limiar auditivo
passiva do P300”23. e índices de reconhecimento de fala são fatores que
Estudos neste âmbito descrevem a resposta do comumente estão alterados com o envelhecimento e
P300 (P3a) para os sons da fala (consoante-vogal, esta alteração da sensibilidade auditiva pode ser um
133
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
descendentes, devem ser consideradas na interpre- eletrodos, condutores de potência de origem biológica.
tação do P336. Um positivo (ativo) e outro negativo (referência), que
O P300 não é influenciado pela perda auditiva, farão a conexão com o pré-amplificador e permitirão
desde que o sujeito possa perceber o estímulo. Por- o registro de um sinal de onda de deflexão acima e
tanto, a perda auditiva periférica não impede o uso abaixo da linha de base.
desta medida7. Entretanto, o P300 demonstra grande A montagem dos eletrodos segue os padrões do
variabilidade na latência e na amplitude intersujeitos34. Sistema Internacional 10/204. Tal sistema estabelece
A latência prolongada de P3 para um estímulo que os eletrodos identificados com número par re-
raro de 2000 Hz ficou evidente em indivíduos idosos presentam aqueles posicionados do lado direito da
com déficits auditivos decorrentes da idade36. cabeça e os ímpares, do lado esquerdo. Os eletrodos
Podemos considerar que as medidas de latência nominados “z” na linha média da cabeça. Os prin-
são indicadores sensíveis em sujeitos com perdas audi- cipais pontos anatômicos de fixação dos eletrodos
tivas, e o grau da perda auditiva pode afetar de maneira usados são o nasion (área deprimida situada entre
diferente as amplitudes e latências dos componentes os olhos e acima do nariz), inion (saliência occipital
dos PEA. O limiar é o ponto no qual a perda auditiva onde se inserem os ligamentos occipitais e o músculo
produz uma mudança substancialmente maior na trapézio, localizado por palpação) e o vertex (ponto
resposta para amplitude em comparação às latências34. mais alto do crânio situado na linha que une o nasion
Para o registro dos PEALL, são ideais eletrodos ao inion) (Figura 2 – vista lateral esquerda).
não descartáveis de ouro, prata ou cobre embebidos A segunda medida é a transversal, determinada
em pasta eletrolítica condutora e fixados com espa- por uma linha entre os pontos pré-auriculares de um
radrapo do tipo Transpore®, que se adere melhor ao lado e outro, passando por Cz. Esta observação deve
escalpo. Eletrodos de discos adesivados de menor gerar uma linha de interseção imaginária comple-
tamanho são fáceis de manipular e garantem boa tando a localização do vértex (Cz) e a marcação de
fixação em bebês e crianças. A impedância – baixa C3 e C4 a 20% do Cz, e T3 e T4 a 20% de C3 e C4
resistência entre a pele e o fluxo de corrente − deve ser respectivamente e a 10% dos reparos pré-auriculares
mantida entre 1 e 3 kΩ2, e limpeza cuidadosa prévia respectivamente à esquerda e à direita (Figura 2 −
da pele e do escalpo com gel abrasivo e esfoliante se vista frontal).
faz necessária. A montagem dos eletrodos no escalpo depende
O registro da resposta elétrica neural bipolar, do que se deseja investigar. Em geral, um equipamento
com cargas positiva e negativa, exige o uso de dois com dois canais permite ter dois tipos de combinações:
Figura 2 – Vistas lateral esquerda e frontal da disposição dos eletrodos em linha média e transversais, de acordo com o Sistema
Internacional 10-2024.
134
Parte II – Cap. 13 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE LONGA LATÊNCIA: PARÂMETROS TÉCNICOS |
(1) registro de Cz e Fz nas entradas positivas com da atividade sináptica envolvidas durante o proces-
jumper em A1 e depois em A2 – entradas negativas; (2) samento perceptual42.
registro de Cz nas duas entradas positivas conectados Destacamos que as técnicas facilitadoras da
com jumper e A1/A2 − entradas negativas. visualização da resposta como a “filtragem” e a “suavi-
O eletrodo de superfície deve ser posicionado zação devem ser utilizadas com cuidado. Tais recursos
o mais próximo possível do gerador neural presumi- podem alterar a aparência e resultar na imprecisão da
do, pois a atividade elétrica do PEALL que se deseja escolha dos picos. Além disso, artefatos gerados pelo
captar é de campo proximal. Medidas do PEALL tem implante coclear pode imitar uma forma de onda P1,
sido mais bem visualizadas no vértex37, e esta parece especialmente quando gravados utilizando uma con-
ser a posição de eletrodo ideal para a observação figuração de filtro passa-baixo de 30 Hz ou inferior43.
da boa amplitude das ondas. Em adultos, o uso do
eletrodo ativo na linha central mediana da cabeça34,
no vértex mostra bem o PEALL, especialmente o
REFERÊNCIAS
complexo P1-N1-P2, especialmente o componente 1. Picton TW, Bentin S, Berg P, Donchin E, Hillyard
N138,39. Porém, variações de posicionamento para o SA, Johnson R et al. Guidelines for using human
ponto F-frontal ou O-occipital diminuem a amplitude event-related potentials to study cognition: Recording
das ondas5. O PEALL também pode ser registrado standards and publication criteria. Psychophysiology.
nos lobos temporal (T3, T4) e central (C3, C4) nas 2000; 37:127-152.
regiões do córtex auditivo para viabilizar o estudo 2. Hall JW. New Handbook for Auditory Evoked Res-
neurofuncional. Neste sentido, o uso de modelos de ponses. Allyn & Bacon. Boston, 2007https://www.
equipamento multicanal é mais apropriado para o pearson.com/us/higher-education/program/Hall-
desenvolvimento de estudos dos PEALL. Na literatura -New-Handbook-for-Auditory-Evoked-Responses/
PGM22920.html (accessed 30 Jul2017).
da área, estudos empregam 8 ou mais canais, garantem
uma avaliação topográfica e neurofuncional mais 3. Yasukouchi H, Wada S, Urasaki E, Yokota A. Effects
of night work on the cognitive function in young and
precisa e permite a confirmação das respostas e a
elderly subjects with specific reference to the auditory
comparação da atividade neural das áreas temporais P300. J UOEH 1995; 17:229-46.
direita e esquerda, geralmente com padrão anormal
4. Jasper HH. The ten twenty electrode system of the
nas lesões e disfunções de fala e linguagem6. international federation. Electroencephalogr Clin
A atividade elétrica ocular deve ser monitorada Neurophysiol. 1958; 10:371-375.
quando possível usando-se um canal do equipamento 5. Picton TW, Hillyard SA, Galambos R. Habituation
para o controle dos movimentos oculares e piscadas. and Attention in the Auditory System. In: Audi-
Atividades elétricas superiores a 100 e 200 µV40,41 tory System. Springer, Berlin, Heidelberg, 1976, pp.
devem ser rejeitadas na análise. Sugere-se, ainda, que 343-389.
os olhos do paciente sejam mantidos bem abertos e
135
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
11. Alexander JE, Polich J. Handedness and P300 from 28. Picton TW, Durieux-Smith A, Champagne SC, Whit-
Auditory Stimuli. Brain Cogn. 1997; 35:259-270. tingham J, Moran LM, Giguère C et al. Objective
12. Luck SJ, Steven J. An introduction to the event-related evaluation of aided thresholds using auditory steady-
potential technique. MIT Press, 2005. -state responses. J Am Acad Audiol. 1998; 9:315-31.
13. Katayama J, Polich J. P300, probability, and the 29. Pfefferbaum A, Ford JM, Roth WT, Kopell BS. Age-
three-tone paradigm. Electroencephalogr Clin Neu- -related changes in auditory event-related potentials.
rophysiol Potentials Sect. 1996; 100:555-562. Electroencephalogr Clin Neurophysiol. 1980; 49:
266-76.
14. Schochat E. Avaliação Eletrofisiológica da Audição.
In: Ferreira LP, Befylopes DM, Limongi SC (eds). 30. Polich J. Meta-analysis of P300 normative aging
Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: ROCA, 2004, studies. Psychophysiology. 1996; 33:334-53.
p. 656-668. 31. Vesco KK, Bone RC, Ryan JC, Polich J. P300 in young
15. Squires NK, Squires KC, Hillyard SA. Two varieties of and elderly subjects: auditory frequency and intensity
long-latency positive waves evoked by unpredictable effects. Electroencephalogr Clin Neurophysiol. 1993;
auditory stimuli in man. Electroencephalogr Clin 88:302-8.
Neurophysiol. 1975; 38: 387-401. 32. Fjell AM, Walhovd KB. P300 and neuropsychologi-
16. Leppänen PH, Lyytinen H. Auditory event-related cal tests as measures of aging: scalp topography and
potentials in the study of developmental language- cognitive changes. Brain Topogr. 2001; 14:25-40.
-related disorders. Audiol Neurootol. 1997; 2:308-40. 33. Geisler MW, Polich J. P300 and time of day: circadian
17. McPherson DL. Late potentials of the auditory system. rhythms, food intake, and body temperature. Biol
Singular Pub. Group, 1996. Psychol. 1990; 31:117-36.
18. Martin J, Barajas JJ, Fernandez R. Auditory P300 34. Pollock VE, Schneider LS. Effects of Tone Stimulus
development in childhood. Scand Audiol. 1989; Frequency on Late Positive Component Activity (P3)
30:105-109. Among Normal Elderly Subjects. Int J Neurosci. 1989;
45:127-132.
19. Stenklev NC, Laukli E. Cortical cognitive potentials in
elderly persons. J Am Acad Audiol. 2004; 15:401-13. 35. Corina DP, Blau S, LaMarr T, Lawyer LA, Coffey-
-Corina S. Auditory and Visual Electrophysiology of
20. Polich J, McIsaac HK. Comparison of auditory P300 Deaf Children with Cochlear Implants: Implications
habituation from active and passive conditions. Int J for Cross-modal Plasticity. Front Psychol. 2017; 8:59.
Psychophysiol. 1994; 17:25-34.
36. Oates PA, Kurtzberg D, Stapells DR. Effects of sensori-
21. Polich J, Howard L, Starr A. Effects of age on the neural hearing loss on cortical event-related potential
P300 component of the event-related potential from and behavioral measures of speech-sound processing.
auditory stimuli: peak definition, variation, and Ear Hear. 2002; 23:399-415.
measurement. J Gerontol. 1985; 40:721-6.
37. Kurtzberg D, Hilpert PL, Kreuzer JA, Vaughan HG.
22. Pearce JW, Crowell DH, Tokioka A, Pacheco GP. Differential maturation of cortical auditory evoked
Childhood Developmental Changes in the Auditory potentials to speech sounds in normal fullterm and
P300. J Child Neurol. 1989; 4:100-106. very low-birthweight infants. Dev Med Child Neurol.
23. Picton TW, Durieux-Smith A. The practice of evoked 1984; 26:466-75.
potential audiometry. Otolaryngol Clin North Am. 38. Näätänen R, Picton T. The N1 Wave of the Human
1978; 11:163-283. Electric and Magnetic Response to Sound: A Review
24. Polich J. P300 in Clinical Applications: Meaning, and an Analysis of the Component Structure. Psycho-
Method, and Measurement. Am J EEG Technol. 1991; physiology. 1987; 24:375-425.
31:201-231. 39. Giard MH, Perrin F, Echallier JF, Thévenet M, Fro-
25. Sutton S, Braren M, Zubin J, John ER. Evoked-poten- ment JC, Pernier J. Dissociation of temporal and
tial correlates of stimulus uncertainty. Science. 1965; frontal components in the human auditory N1 wave: a
150:1187-8. scalp current density and dipole model analysis. Elec-
26. Frizzo ACF, Junqueira CA de O, Fellipe ACN de, troencephalogr Clin Neurophysiol. 1994; 92:238-52.
Colafêmina JF. Potenciais evocados auditivos de longa 40. McPherson, David L.; Ballachanda, B.B.; Kaf W. Mi-
latência no processo maturacional. Acta AWHO. ddle and Long Latency Evoked Potentials. In: Roeser
2001; 20:74-80. RJ, Valente M, Dunn HH (eds). Audiology: diagnosis.
27. Morris AM, So Y, Lee KA, Lash AA, Becker CE. The New York, 2008, pp. 443-477.
P300 event-related potential. The effects of sleep 41. Ventura LMP, Costa Filho OA, Alvarenga K de F.
deprivation. J Occup Med. 1992; 34:1143-52. Maturação do sistema auditivo central em crianças
136
Parte II – Cap. 13 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE LONGA LATÊNCIA: PARÂMETROS TÉCNICOS |
ouvintes normais. Pró-Fono Rev Atual Científica. 43. Nash A, Sharma Anu, Kathryn Martin, Allison Biever.
2009; 21:101-106. Clinical Applications of the P1 Cortical Auditory
42. Agostinho-Pesse RS, Alvarenga K de F. Potencial Evoked Potential (CAEP) Biomarker. In: A Sound
evocado auditivo de longa latência para estímulo Foundation Through Early Amplification. Chicago,
de fala apresentado com diferentes transdutores em 2007, pp. 39-45.
crianças ouvintes. Rev CEFAC. 2014; 16:13-22.
137
14
POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS DE LONGA
LATÊNCIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS
Ana Cláudia Figueiredo Frizzo
Karina Paes Advíncula
139
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
O componente P1 ocorre em média 50 ms de- de fala, as medidas de latências variaram entre 68 e
pois do início do som e é responsável por codificar as 90 ms para crianças com idade superior a 6 anos7,11.
características acústicas do som, tais como frequência A onda N1 ocorre por volta de 80 a 150 ms, mais
e tempo3. É uma onda robusta, positiva, facilmente precisamente 100 ms depois do início do estímulo,
identificada e ocorre entre 100-300 ms pós-estímulo, com amplitude negativa entre 5 e 10 µV (tipicamen-
dependendo da complexidade do estímulo e da idade te maior em adultos), e tem como gerador neural o
do paciente em avaliação. córtex auditivo primário e o secundário – das porções
Ocorre em função da ativação de áreas corti- superiores e laterais do lobo temporal1,21. Gerado do
cais auditivas secundárias (porção lateral do giro início da resposta neural ao som e da mudança do sinal
de Heschel), do hipocampo, do plano temporal e da do silêncio para o som, é eliciado essencialmente pelas
região temporal lateral, evidenciados pelas medidas mudanças acústicas do início do som, modulações
de eletrodos da linha mediana central e centrolateral de frequência e intensidade de um som complexo ou
central7. É consenso na literatura que o componente tom sustentado. Em geral, o componente N1 (N1b)
P1 deve estar presente no registro dos PEALL exó- é composto por negatividade única entre dois picos
genos e os possíveis geradores destes componentes positivos (P1 e P2). No entanto, em crianças com até
iniciais P1 e N1, incluem o córtex auditivo primário 10 anos de idade pode ser visualizado ainda dividido
e atividade intra e intercortical recorrentes5-7. em subcomponentes: N1a, N1b e N1c. O N1a é mais
Ao logo do desenvolvimento da criança até a precoce, próximo de 75 ms, e os outros, mais tardios,
idade adulta é observada diminuição da latência e da o N1b e N1c, entre 100 e 130 ms. O N1a e o N1c são
amplitude da onda P18. Os picos de onda do complexo originários das áreas associativas do córtex, do giro
P1-N1-P2 de crianças com 12 meses de idade podem temporal superior e por isso identificados como com-
corresponder aos picos observados em crianças a plexo T e mais bem registrados nas laterais do córtex,
partir de 3 anos de idade9. Logo, a latência de pico P1 nas áreas temporais. Já o N1b é mais bem registrado
varia em função da idade, portanto, é considerado um na linha central mediana da cabeça – posição Cz e
índice de maturação auditiva cortical8,10-14. tem sua resposta na porção supratemporal do córtex
auditivo22,23.
Em recém-nascidos com audição normal, a
latência média da onda P1 pode exceder a 100 ms. O componente N1 é um marcador da atividade
A rápida diminuição na latência ocorre durante os cortical auditiva da decodificação das características
primeiros anos de vida, e um registro normal do P1 acústicas e tende a se tornar mais proeminente e
pode ser obtido por volta dos 3 anos de idade. Aos robusto nos adultos ao longo do desenvolvimento,
15 anos de idade, a latência média do componente P1 embora possa estar ausente em crianças muito peque-
diminui e mostra-se abaixo de 100 ms, e na vida adulta nas24,25, que tende a diminuir com o envelhecimen-
é de aproximadamente 60 ms. Tem amplitude geral- to5,26-28. Por outro lado, Kushnerenko et al.,29 em um
mente menor em adultos e maior em recém-nascidos estudo longitudinal com crianças de 0 a 12 meses de
e crianças. Portanto, esta variação dos valores do P1, idade, verificaram que o componente N1 não sofreu
de acordo com a idade, pode ser usada para inferir o alterações em latência desde o nascimento até os 12
estado de desenvolvimento das vias auditivas centrais, meses de idade. Logo, sua análise em populações in-
e pode ser facilmente rastreado em indivíduos ao fantis exige uma interpretação mais cuidadosa.
longo do tempo15. O componente N1 pode, ainda, indicar mais
Há grande variabilidade de protocolos utilizados precisamente a capacidade de discriminação auditi-
pelos pesquisadores para o registro do P1 em crianças, va e ser analisado num complexo chamado Acoustic
desde intensidade, tipo e duração do estímulo utili- Change Complex (ACC). Neste caso, as respostas são
zado, fala ou tom, o transdutor, entre outros, o que oriundas das mudanças acústicas de um som comple-
dificulta estudos comparativos e estabelecer medidas xo (Figura 2). A apresentação de múltiplas variações
normativas. Valores de latência do componente P1 de mudanças acústicas do estímulo numa janela de
na literatura, em relação à idade, quando utilizados tempo maior, de até 1000 ms, permite a análise dessas
tom – clique, variam de 59 a 99 ms para crianças com mudanças nas respostas evocadas de um som mais
até 1 ano de idade16-18; com idade entre 1 e 2 anos as longo e complexo. Como resultado, o componente
latências variaram de 57 a 76 ms18; entre 2 e 3 anos de N1 será visualizado duas ou mais vezes; a primeira
idades, entre 67 e 77 ms16,18 e acima de 5 anos de ida- vez quando se dá o início do som, e depois outras
de, entre 50 e 85 ms5,19,20. Quando utilizado estímulo vezes, a cada mudança acústica de um som para outro.
140
Parte II – Cap. 14 • POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS DE LONGA LATÊNCIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
São visualizados ainda intervalos de silêncio breves e idade em populações infantis, mas tendem a serem
variáveis entre os sons próprios dos intervalos entre estáveis durante toda a vida. No que diz respeito ao
os estímulos2,30. componente P2, pesquisadores da área sugerem que
este componente sofre alterações em termos de latên-
cia e amplitude até pouco depois de 3 anos de idade e
P2 P2 2 µV pode ter algumas das propriedades do P2 do adulto35.
P1 100 Hz Variações também podem ser observadas em função
P1
do estado de atenção e alerta do paciente avaliado36,37.
N1 A discriminação auditiva está fortemente rela-
N1
50 Hz cionada à amplitude P2. Estudos mostram a melhora
da amplitude de P2 frente a treinamento auditi-
141
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
sendo que a plasticidade do cérebro está diretamente o estudo da função cortical auditiva em condições
relacionada a um melhor desempenho na discrimina- adversas diferentes.
ção auditiva da fala42. A literatura relata a existência A medida do complexo P1-N1-P2 é muito im-
de uma relação intrínseca entre as habilidades de portante na determinação do tratamento de crianças
discriminação das propriedades do som e a presença com deficiência auditiva. Os resultados destas me-
do MMN27,43. didas orientam a conduta e os ajustes do aparelho
Já o P300 exige a execução de tarefa comporta- de amplificação e até influenciam na abordagem de
mental cognitiva e uma resposta ativa do indivíduo reabilitação no acompanhamento de crianças com de-
avaliado. Neste teste será solicitada a nomeação do ficiência auditiva46,47. O processo de desenvolvimento
estímulo raro como “fino”, a identificação deste es- auditivo e a climatização do sistema pós-estimulação
tímulo atrás do ato de erguer a mão ou pressionar acústica (Aparelho Auditivo de Amplificação Sonora
um botão, a memorização ou contagem mental dos Individual – AASI) ou elétrica (Implante Coclear –
estímulos raros, entre outras tarefas. Em adultos e IC) podem ser acompanhados a partir da análise
crianças mais velhas com idade a partir de 8 anos a sistemática dessas medidas48-51.
latência observada é de aproximadamente 300 ms e Mais especificamente, o estudo da morfologia do
amplitude de 5 a 15 µV2,32, que pode variar em fun- componente P1 permite analisar o estado de matura-
ção da tarefa solicitada1. O avanço da idade produz ção das vias auditivas centrais antes da intervenção ou,
diminuição da latência e aumento da amplitude do
ainda, monitorar o progresso no desenvolvimento do
P300 até os 15 anos de idade, cerca de 20 ms/ano, e
sistema auditivo central de crianças após a estimula-
aumento da latência com o envelhecimento44,45.
ção52,53. Crianças precocemente implantadas tendem
Os geradores desse potencial endógeno incluem a ter latência do componente P1 normal, no primeiro
respostas do córtex auditivo, pré-frontal e centropa- ano após o implante, concomitantemente com o su-
rietal, e hipocampo32. Também estão relacionadas cesso na aquisição de fala e linguagem7,53.
às gerações desse potencial, áreas mais complexas e
O componente P1 descrito como biomarcador
associativas auditivas e linguísticas, do tálamo e do
para o desenvolvimento das vias auditivas centrais, e
córtex temporoparietal com conexões entre o tronco
associado a testes comportamentais, tem subsidiado
encefálico e a formação reticular1.
decisões em relação ao prognóstico do implante co-
Dupla deflexão positiva bimodal caracterizada clear e a decisão da implantação ou escolha da orelha
por dois componentes P3a e P3b pode ser também a ser estimulada48,54.
visualizada em algumas medidas. O P3a mais precoce
Alterações da morfologia ou dos valores de latên-
ao redor de 280 ms e P3b mais tardio, com valores
acima de 300 ms. O componente P3a parece ter origem cia da onda P1 têm sido registradas em decorrência
mais frontal e sua ativação está relacionada à detecção da privação auditiva. Considera-se que crianças com
dos estímulos acústicos relevantes e às novidades deficiência auditiva que receberam estimulação au-
do estímulo, mais visível com baixa ocorrência do ditiva adequada através do IC nos primeiros 3 anos
estímulo-alvo. O P3b tem origem mais parietal e está e meio de vida terão latência de P1 na faixa normal
mais relacionado à categorização do estímulo acústico nos primeiros 6 a 8 meses após a ativação do im-
desviante e à percepção propriamente dita32. plante8,49,51,55. Entretanto, crianças que não receberam
estimulação adequada até os 7 anos de idade, mesmo
Os PEALL têm despertado interesse entre os
após o IC, provavelmente terão latências do Poten-
clínicos e pesquisadores da área, pois refletem a ati-
cial Evocado Auditivo Cortical (PEAC) anormais
vidade de áreas auditivas corticais responsáveis pelas
(atrasadas) e, consequentemente, as chances de bom
habilidades mais fundamentais do ouvir, a atenção, a
desenvolvimento de fala e linguagem diminuem sig-
detecção e a discriminação, essenciais para o desen-
nificativamente2,8,56,57. Nesses casos, também podem
volvimento da linguagem humana.
ser observadas formas de ondas negativas, polifásicas
e amplitude reduzida53.
2. APLICAÇÕES CLÍNICAS Estudos realizados com crianças implantadas
descreveram que a estimulação auditiva do IC facilitou
Na literatura, encontra-se um número expres- a maturação da via auditiva. A latência do compo-
sivo de estudos que empregam os PEALL, a medida nente P1 diminuiu com o aumento do tempo de uso
do complexo P1-N1-P2, do MMN e do P300 para do IC,58 e as habilidades auditivas e fonoaudiológicas
142
Parte II – Cap. 14 • POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS DE LONGA LATÊNCIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
evoluíram evidenciadas pela melhora dos escores capaz de avaliar a extensão dos danos neurais auditi-
nos testes de percepção de fala e/ou escalas de de- vos e orientar a tomada de decisões clínicas sobre o
senvolvimento48,59. A análise dos PEALL revelou que tratamento e na verificação da resposta mediante ao
o componente P1 foi um biomarcador importante tratamento com estimulação acústica ou elétrica68,69.
do desenvolvimento auditivo durante o processo de Nas crianças com DENA usuárias de IC, o compo-
reabilitação59,60, mesmo em casos de perda auditiva nente P1 também pode servir como marcador do
unilateral48. desenvolvimento cortical auditivo central e preditor
A medida do complexo P1-N1-P2 tem sido do desempenho da percepção da fala58.
empregada ainda em pacientes adultos implantados O complexo P1-N1-P2 medido ao nascimento
para avaliar a função auditiva e orientar a programa- pode ser também um preditor da qualidade da lin-
ção dos IC61. Em alguns estudos, pacientes adultos guagem e ser instrumento diagnóstico capaz de prever
implantados foram submetidos a treinamento au- inabilidades do desenvolvimento do sistema auditivo
ditivo com e sem ruído de fundo, e as medidas dos e linguístico na infância. Estudos longitudinais ana-
PEALL exógenos foram correlacionadas à melhora lisaram o padrão discriminativo entre os estímulos
do desempenho das habilidades auditivo-linguísticas, raro e frequente de grupos de crianças com diferentes
especialmente em relação à amplitude de N1-P262. As perfis de desenvolvimento de linguagem e leitura
latências dos PEALL mais curtas estavam relacionadas durante a infância. Tais estudos descreveram um pa-
ao aprimoramento da inteligibilidade da fala (N1 e drão atípico em crianças com dificuldade de leitura,
N2), melhora da fluência lexical (N1) e diminuição pior em crianças com história familiar de dislexia70.
do esforço auditivo (N2)63. A latência dos componentes negativos e positivos
Os PEALL também têm sido empregados em era alongada e de baixa amplitude com diferenças
neonatos na investigação da maturação da função hemisféricas caracterizada por morfologia de ondas
cortical auditiva. Estudiosos da área afirmam que mal definidas no hemisfério esquerdo. Em geral, este
mudanças na latência e amplitude destes componen- padrão atípico está relacionado à inabilidade de leitura
tes podem ser observadas em função da idade e do e pode auxiliar no diagnóstico precoce da dislexia e
desenvolvimento auditivo11,14,64. A neuromaturação melhor planejamento da intervenção71,72.
é refletida pela variação desses valores, indicando O P300 e o MMN têm sido empregados em dife-
aumento da amplitude e diminuição da latência em rentes populações fonoaudiológicas com transtornos
crianças menores em função do amadurecimento do do desenvolvimento que afetam a capacidade intelec-
sistema neural16,17,65. Em relação à resposta compor- tual, a comunicação, o comportamento, a audição e
tamental, melhores resultados de testes cognitivos e a linguagem oral ou escrita. Quadros neurológicos,
maior idade gestacional estão correlacionados com sindrômicos e neuropsiquiátricos também têm sido
amplitude maior de P1 e latências mais curtas66. De- investigados usando os PEALL endógenos com foco
pendendo da idade da criança, haverá contribuição no estudo das funções cognitivas73.
143
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
à diminuição da amplitude P3 foi interpretado como estas medidas podem refletir mudanças no padrão da
rompimento de controle inibitório e indicou anor- resposta eletrofisiológica do componente P300, carac-
malidade neurocognitiva em crianças com TDAH77. terizadas por aumento da amplitude e diminuição da
A amplitude menor de P3 em crianças com TDAH latência, compatíveis com a melhora das habilidades
foi interpretada como deficiência no processamento auditivas treinadas89.
automático e a amplitude maior do P2 e diminuição Em crianças com deficiência auditiva, submeti-
da amplitude de N2, um reflexo da insuficiência na das ao IC, o aumento da detectabilidade do MMN e a
discriminação do estímulo78. A medida do PEALL diminuição da latência de resposta deste componente
endógeno também foi útil para avaliar os efeitos far- são indicador objetivo e não invasivo do desenvolvi-
macológicos da atomoxetina e metilfenidato em pa- mento central auditivo em estágio inicial pós-reabili-
cientes pediátricos e adolescentes dessa população79. tação. A avaliação eletrofisiológica pode ser usada para
A melhora da resposta do MMN e do P300 refletiu documentar os benefícios do treinamento auditivo
ganho no processamento cognitivo como resultado da nos usuários de dispositivos de amplificação90. O
intervenção medicamentosa e previu a boa resposta tempo de ativação do IC e a complexidade do estímulo
ao tratamento, chegando até a auxiliar na indicação tonal empregado na avaliação podem interferir na
da melhor dosagem para cada paciente80. amplitude do MMN91. A ocorrência reflete a percep-
Em casos de pacientes com distúrbio específico de ção acústica da modulação de envelope temporal e
linguagem, os resultados da medida do MMN revelam diferenças espectrais. Por isso esta medida pode ser
que a necessidade de um número maior de estímulos uma ferramenta clínica muito útil para monitorar a
para que a resposta sensorial automática do sistema terapia auditiva verbal após a cirurgia92. Nash et al.,93
possa ser observada e o MMN seja de fato gerado81. em um de seus estudos, avaliaram a sensibilidade e a
Além disso, as dificuldades de integração audiovisual especificidade da resposta P1 na determinação de se
associada à amplitude reduzida de N1 nesta popula- realizar o IC e concluíram, a partir de uma amostra de
ção foram associadas a prejuízo ao processamento 116 crianças com menos de 2 anos de idade, em que
da informação de padrões acústicos82. Os PEALL o biomarcador P1 teve taxa de sensibilidade de 89% e
endógenos com estímulos de fala consoante-vogal de especificidade, de aproximadamente 85%, quando
permitem uma análise mais específica dos fatores comparado ao padrão-ouro da bateria audiológica
acústicos ou fonéticos e explica a inabilidade de dis- completa tradicional na tomada de decisão para a
criminação auditiva entre sons de fala, por exemplo realização do IC.
entre o /r/ e o /l/. Em crianças com desvio fonológico, Em pacientes com quadros neurológicos maiores
mostram um padrão atípico nestas crianças durante do tipo Esclerose Múltipla, Alzheimer, Doença de
toda a infância, que pode ser identificado desde os Parkinson, Acidente Vascular Encefálico e Epilepsia
primeiros anos de vida32,72. resultados dos PEALL endógenos, tem utilidade
Em crianças com distúrbios de aprendizagem, especial do diagnóstico de déficits atencionais e de
o componente P300 mostra-se alongado e de baixa memória sensorial em relação à doença neurológica
amplitude83,84. Nos disléxicos, além das alterações já preexistente. O MMN tem sido uma ferramenta clíni-
relatadas no P300, ainda há a descrição de alterações ca para a avaliação da duração da memória sensorial
no componente N2 e no MMN, que indicam prejuízos nos pacientes com Alzheimer94. Finley et al.95 inves-
às funções de atenção e discriminação85,86. tigaram diferenças na latência do P300 em crianças
A relação do N2 com a atenção auditiva justifica com desordens cognitivas funcionais ou orgânicas e
a indicação do exame de PEALL para analisar estas demonstraram que muitas crianças com diagnóstico
respostas em pacientes com Distúrbios do Processa- de distúrbios psiquiátricos funcionais apresentam
mento Auditivo Central (DPAC)87. Nestes pacientes, desordem orgânica neurocognitivas. Em pacientes
geralmente as falhas encontradas são distúrbios na com alterações de memória em decorrência do Al-
memória e atenção auditiva, frente a uma competição zheimer, foi observado o aumento na latência do N2
do som. Por isso, nestes casos, muitas vezes, a ampli- e P396-98. Além disso, foram relatadas amplitudes de
tude do P300 é reduzida88. Então, a análise da medida N1, P2 e P3 diminuídas para esta população quando
dos PEALL endógenos torna-se também um instru- comparadas às amplitudes de um grupo sem a doen-
mento especial para o monitoramento da evolução ça nas mesmas condições de exame99. Jiang et al.100
dos pacientes com DPAC em tratamento. Resultados destacam ainda que a latência do P300 pode ser um
de pesquisas em pacientes com DPAC descrevem que indicador sensível para declínio cognitivo precoce ou
144
Parte II – Cap. 14 • POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS DE LONGA LATÊNCIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
progressão da doença em pacientes com comprome- auditivo de maturação tardia ou diversa e pode afetar
timento cognitivo leve e doença de Alzheimer, e pode o desenvolvimento das funções cognitivas desta po-
ser um marcador biológico da evolução da doença pulação116. A resposta de latência de P3a relacionada
e da deficiência nas funções neuropsicológicas101. ao processamento de estímulo irrelevante da tarefa foi
A resposta da latência N20 ao tratamento medica- lenta, e a amplitude de N2 foi baixa nesses pacientes,
mentoso também foi referida na literatura como um o que sugere o comprometimento da entrada per-
marcador da melhora das funções cognitivas nestes ceptual em função dos déficits processos atencionais
pacientes102. Em pacientes com doença de Parkinson, e inibitórios117.
achados comportamentais e eletrofisiológicos suge- Em pacientes com síndrome de Down, as me-
rem o comprometimento da detecção dos estímulos didas passivas de ERP dos processos de memória são
diferentes aleatórios em função da baixa motivação sensíveis aos estágios iniciais do declínio cognitivo
e cognição, e dos recursos atencionais empobrecidos dessa população e são biomarcadores promissores
nesses pacientes103,104. de risco cognitivo para futuros estudos de envelheci-
Crianças com epilepsia do lobo temporal mos- mento precoce desses casos118.
tram latência P300 prolongada e descargas elétricas A medida atípica e alongada dos PEALL endóge-
anormais nas regiões centrotemporais e temporais nos registrados em pacientes com síndrome de West
responsáveis por um processo de desaceleração do indicam falha grave na maturação do lóbulo temporal
processamento auditivo105. Nestas crianças, o MMN durante a infância119.
tem menor amplitude e evidencia déficits de discri-
minação auditiva. As medidas dos PEALL endógenos Lesões corticais no giro temporal superior, nas
nesta população podem auxiliar na reabilitação preco- regiões frontal e pré-frontal decorrentes de Acidente
ce e reduzir o risco do desenvolvimento de transtornos Vascular Encefálico (AVE) levaram a amplitudes P300
neuropsicológicos associados106-108. visivelmente diminuídas e refletem o comprometi-
mento da atenção e influência negativa na reabilita-
A amplitude do P300 é menor em pacientes
ção neurológica. Este achado pode ser usado como
deprimidos, especialmente naqueles resistentes ao tra-
preditor de resultados destes pacientes com graves
tamento109,110. Anormalidades consistentes de MMN
prejuízos em decorrência das hemorragias dos AVE120.
também podem ser observadas em pacientes depri-
midos usando-se estímulo de alta intensidade e em Enfim, os PEALL são não específicos para o
mulheres deprimidas. A amplitude do MMN pode ser diagnóstico de nenhuma destas doenças ou alterações
um biomarcador para o surgimento da depressão111. do desenvolvimento, mas oferecem informações sobre
Pacientes esquizofrênicos demonstram amplitude me- o funcionamento do sistema nervoso central e suas
nor do N1, P2 e P3 quando comparados a um grupo funções cognitivas. Então, estas medidas são exames
de pessoas saudáveis112,113. Alguns estudos descrevem complementares bastante úteis quando acompanha-
também latência mais curta em função do proces- das por outros testes comportamentais e de imagem
145
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
REFERÊNCIAS 14. Sharma A, Kraus N, McGee TJ, Nicol TG. Deve-
lopmental changes in P1 and N1 central auditory
1. Hall JW. New Handbook for Auditory Evoked Res- responses elicited by consonant-vowel syllables. Elec-
ponses. Allyn & Bacon. Boston, 2007https://www. troencephalogr Clin Neurophysiol. 1997; 104:540-5.
pearson.com/us/higher-education/program/Hall- 15. Sharma A, Martin K, Roland P, Bauer P, Sweeney MH,
-New-Handbook-for-Auditory-Evoked-Responses/ Gilley P et al. P1 latency as a biomarker for central
PGM22920.html (accessed 30 Jul 2017). auditory development in children with hearing im-
2. Martin BA, Tremblay KL, Stapells DR. No Title. pairment. J Am Acad Audiol. 2005; 16:564-73.
Baltimore, 2007. 16. Ohlrich ES, Barnet AB. Auditory evoked responses
3. Alain C, Tremblay K. The role of event-related brain during the first year of life. Electroencephalogr Clin
potentials in assessing central auditory processing. J Neurophysiol. 1972; 32:161-169.
Am Acad Audiol. 2007; 18:573-89. 17. Barnet AB. Auditory evoked potentials during sleep
4. Martin BA, Tremblay KL, Korczak P. Speech Evoked in normal children from ten days to three years of
age. Electroencephalogr Clin Neurophysiol. 1975;
Potentials: From the Laboratory to the Clinic. Ear
39:29-41.
Hear. 2008; 29:285-313.
18. Ohlrich ES, Barnet AB, Weiss IP, Shanks BL. Auditory
5. Ponton CW, Eggermont JJ, Kwong B, Don M, Masuda
evoked potential development in early childhood: a
A, Masuda A. Maturation of human central auditory
longitudinal study. Electroencephalogr Clin Neuro-
system activity: evidence from multi-channel evoked
physiol. 1978; 44:411-23.
potentials. Clin Neurophysiol. 2000; 111:220-36.
19. Ponton CW, Don M, Eggermont JJ, Waring MD,
6. Kral A, Eggermont JJ. What’s to lose and what’s to
Masuda A. Maturation of human cortical auditory
learn: Development under auditory deprivation,
function: differences between normal-hearing chil-
cochlear implants and limits of cortical plasticity.
dren and children with cochlear implants. Ear Hear.
Brain Res Rev. 2007; 56:259-269.
1996; 17:430-7.
7. Sharma A, Gilley PM, Dorman MF, Baldwin R.
20. Ventura LMP, Costa Filho OA, Alvarenga K de F.
Deprivation-induced cortical reorganization in chil-
Maturação do sistema auditivo central em crianças
dren with cochlear implants. Int J Audiol. 2007; ouvintes normais. Pró-Fono Rev Atual Científica.
46:494-499. 2009; 21:101-106.
8. Sharma A, Dorman MF, Spahr AJ. A sensitive period 21. Kadner A, Viirre E, Wester DC, Walsh SF, Hestenes
for the development of the central auditory system J, Vankov A et al. Lateral inhibition in the auditory
in children with cochlear implants: implications for cortex: an EEG index of tinnitus? Neuroreport. 2002;
age of implantation. Ear Hear. 2002; 23:532-9. 13:443-6.
9. Ceponiene R, Rinne T, Näätänen R, Näätänen R, 22. Näätänen R, Picton T. The N1 Wave of the Human
Denckla M, Valdes-Sosa P et al. Maturation of cor- Electric and Magnetic Response to Sound: A Review
tical sound processing as indexed by event-related and an Analysis of the Component Structure. Psycho-
potentials. Clin Neurophysiol. 2002; 113:870-82. physiology .1987; 24:375-425.
10. Cacace AT, Satya-Murti S, Wolpaw JR. Human mi- 23. Giard MH, Perrin F, Echallier JF, Thévenet M, Fro-
ddle-latency auditory evoked potentials: vertex and ment JC, Pernier J. Dissociation of temporal and
temporal components. Electroencephalogr Clin Neu- frontal components in the human auditory N1 wave: a
rophysiol Potentials Sect. 1990; 77:6-18. scalp current density and dipole model analysis. Elec-
11. Cunningham J, Nicol T, Zecker S, Kraus N. Spee- troencephalogr Clin Neurophysiol .1994; 92:238-52.
ch-evoked neurophysiologic responses in children 24. Wunderlich JL, Cone-Wesson BK, Shepherd R.
with learning problems: development and behavioral Maturation of the cortical auditory evoked poten-
correlates of perception. Ear Hear. 2000; 21:554-68. tial in infants and young children. Hear Res. 2006;
12. Gilley PM, Sharma A, Dorman M, Martin K, Don M, 212:185-202.
Kopell BS. Developmental changes in refractoriness 25. Sussman E, Steinschneider M, Gumenyuk V, Grushko
of the cortical auditory evoked potential. Clin Neu- J, Lawson K. The maturation of human evoked brain
rophysiol. 2005; 116:648-57. potentials to sounds presented at different stimulus
13. Ponton C, Eggermont JJ, Khosla D, Kwong B, Don rates. Hear Res. 2008; 236:61-79.
M, Cunningham J et al. Maturation of human central 26. Bruneau N, Roux S, Guérin P, Barthélémy C, Lelord G.
auditory system activity: separating auditory evoked Temporal prominence of auditory evoked potentials
potentials by dipole source modeling. Clin Neuro- (N1 wave) in 4-8-year-old children. Psychophysiolo-
physiol. 2002; 113:407-20. gy. 1997; 34:32-38.
146
Parte II – Cap. 14 • POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS DE LONGA LATÊNCIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
27. Kraus N, McGee T, Carrell T, Sharma A, Micco A, 41. Picton TW, Bentin S, Berg P, Donchin E, Hillyard
Nicol T. Speech-evoked cortical potentials in children. SA, Johnson R et al. Guidelines for using human
J Am Acad Audiol. 1993; 4 238-48. event-related potentials to study cognition: Recording
28. McArthur G, Bishop D. Event-related potentials standards and publication criteria. Psychophysiology.
reflect individual differences age-invariant auditory 2000; 37:127-152.
skills. NeuroReport. Cogn Neurosci Neuropsychol. 42. Brossi AB, Borba KC, Garcia CFD, Reis ACMB, Isaac
2002; 13:1079-1082. M de L. Verificação das respostas do mismatch nega-
29. Kushnerenko E, Ceponiene R, Balan P, Fellman V, tivity (MMN) em sujeitos adultos normais. Rev Bras
Huotilaine M, Näätäne R. Maturation of the auditory Otorrinolaringol. 2007; 73:793-802.
event-related potentials during the first year of life. 43. Kraus N, McGee T, Carrell T, Sharma A, Nicol T.
Neuroreport. 2002; 13:47-51. Mismatch negativity to speech stimuli in school-age
30. He S, Grose JH, Buchman CA. Auditory discrimina- children. Electroencephalogr Clin Neurophysiol
tion: The relationship between psychophysical and Suppl 1995; 44:211-7.
electrophysiological measures. Int J Audiol. 2012; 44. Picton TW, Durieux-Smith A, Champagne SC, Whit-
51:771-782. tingham J, Moran LM, Giguère C et al. Objective
31. Näätänen R, Tervaniemi M, Sussman E, Paavilainen evaluation of aided thresholds using auditory steady-
P, Winkler I. ‘Primitive intelligence’ in the auditory -state responses. J Am Acad Audiol. 1998; 9:315-31.
cortex. Trends Neurosci. 2001; 24:283-288. 45. Pearce JW, Crowell DH, Tokioka A, Pacheco GP.
32. McPherson DL. Late potentials of the auditory system. Childhood Developmental Changes in the Auditory
Singular Pub. Group, 1996. P300. J Child Neurol. 1989; 4:100-106.
33. Scherg M, Von Cramon D. Two bilateral sources of 46. Punch S, Van Dun B, King A, Carter L, Pearce W. Cli-
the late AEP as identified by a spatio-temporal dipole nical Experience of Using Cortical Auditory Evoked
model. Electroencephalogr Clin Neurophysiol. 1985; Potentials in the Treatment of Infant Hearing Loss in
62:32-44. Australia. Semin Hear. 2016; 37:36-52.
34. Scherg M, von Cramon D. Psychoacoustic and elec- 47. Torppa R, Salo E, Makkonen T, Loimo H, Pykäläinen
trophysiologic correlates of central hearing disor- J, Lipsanen J et al. Cortical processing of musical
ders in man. Eur Arch Psychiatry Neurol Sci. 1986; sounds in children with Cochlear Implants. Clin
236:56-60. Neurophysiol. 2012; 123:1966-1979.
35. Crowley KE, Colrain IM. A review of the evidence 48. Sharma A, Glick H, Campbell J, Torres J, Dorman M,
for P2 being an independent component process: Zeitler DM. Cortical Plasticity and Reorganization in
age, sleep and modality. Clin Neurophysiol. 2004; Pediatric Single-sided Deafness Pre- and Postcochlear
115 732-744. Implantation. Otol Neurotol. 2016; 37:e26-e34.
36. Johnstone RW, See RH, Sells SF, Wang J, Muthu- 49. Sharma A, Campbell J, Cardon G. Developmental and
kkumar S, Englert C et al. A novel repressor, par-4, cross-modal plasticity in deafness: Evidence from the
modulates transcription and growth suppression P1 and N1 event related potentials in cochlear implan-
ted children. Int J Psychophysiol. 2015; 95:135-144.
147
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Long-standing Hearing Loss. Ann Otol Rhinol Laryn- preschool age after very preterm birth. Pediatr Res.
gol. 2016; 125:858-861. 2015; 77:570-578.
55. Sharma A, Dorman MF, Spahr AJ. Rapid development 67. Moore JK, Linthicum FH. The human auditory sys-
of cortical auditory evoked potentials after early co- tem: A timeline of development. Int J Audiol. 2007;
chlear implantation. Neuroreport. 2002; 13:1365-8. 46:460-478.
56. Lee DS, Lee JS, Oh SH, Kim S-K, Kim J-W, Chung J-K 68. Suppiej A, Cainelli E, Cappellari A, Ermani M, Sartori
et al. Deafness: Cross-modal plasticity and cochlear S, Bisiacchi PS. Neonatal Cortical Auditory Evoked
implants. Nature. 2001; 409:149-150. Potentials Are Affected by Clinical Conditions Oc-
57. Hossain MD, Raghunandhan S, Kameswaran M, curring in Early Prematurity. J Clin Neurophysiol.
Ranjith R. A clinical study of cortical auditory evoked 2015; 32:419-423.
potentials in cochlear implants. Indian J Otolaryngol 69. Yuvaraj P, Mannarukrishnaiah J. Cortical Evoked
Head Neck Surg. 2013; 65:587-93. Potentials and Hearing Aids in Individuals with Audi-
58. Alvarenga K de F, Vicente LC, Lopes RCF, Ventura tory Dys-Synchrony. J Int Adv Otol. 2016; 11:236-242.
LMP, Bevilacqua MC, Moret ALM et al. Development 70. Guttorm TK, Leppänen PHT, Poikkeus A-M, Eklund
of P1 cortical auditory evoked potential in children KM, Lyytinen P, Lyytinen H. Brain event-related
presented with sensorineural hearing loss following potentials (ERPs) measured at birth predict later
cochlear implantation: a longitudinal study. CoDAS. language development in children with and without
2013; 25:521-526. familial risk for dyslexia. Cortex. 2005; 41:291-303.
59. Silva LAF, Couto MIV, Magliaro FCL, Tsuji RK, Bento 71. Leppänen PHT, Hämäläinen JA, Salminen HK,
RF, de Carvalho ACM et al. Cortical maturation in Eklund KM, Guttorm TK, Lohvansuu K et al. Ne-
children with cochlear implants: Correlation between wborn brain event-related potentials revealing atypi-
electrophysiological and behavioral measurement. cal processing of sound frequency and the subsequent
PLoS One. 2017; 12:e0171177. association with later literacy skills in children with
60. Guo Q, Li Y, Fu X, Liu H, Chen J, Meng C et al. The familial dyslexia. Cortex. 2010; 46:1362-1376.
relationship between cortical auditory evoked po- 72. Molfese DL. Predicting Dyslexia at 8 Years of Age
tentials (CAEPs) and speech perception in children Using Neonatal Brain Responses. Brain Lang. 2000;
with Nurotron® cochlear implants during four years 72: 238-245.
of follow-up. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2016; 73. Fan Y-T, Cheng Y, Hill J, Rutherford M, Khan S. Atypi-
85:170-7. cal Mismatch Negativity in Response to Emotional
61. Brown CJ, Jeon EK, Chiou L-K, Kirby B, Karsten SA, Voices in People with Autism Spectrum Conditions.
Turner CW et al. Cortical Auditory Evoked Potentials PLoS One. 2014; 9:e102471.
Recorded from Nucleus Hybrid Cochlear Implant 74. Iwanami A, Okajima Y, Ota H, Tani M, Yamada T,
Users. Ear Hear. 2015; 36:723-732. Yamagata B et al. P300 Component of Event-Related
62. Barlow N, Purdy S, Sharma M, Giles E, Narne V. The Potentials in Persons With Asperger Disorder. J Clin
Effect of Short-Term Auditory Training on Speech Neurophysiol. 2014; 31:493-499.
in Noise Perception and Cortical Auditory Evoked 75. Barry TD, Klinger LG, Lee JM, Palardy N, Gilmore T,
Potentials in Adults with Cochlear Implants. Semin Bodin SD. Examining the effectiveness of an outpa-
Hear. 2016; 37:084-098. tient clinic-based social skills group for high-func-
63. Finke M, Büchner A, Ruigendijk E, Meyer M, Sand- tioning children with autism. J Autism Dev Disord.
mann P. On the relationship between auditory 2003; 33:685-701.
cognition and speech intelligibility in cochlear im- 76. Cheng C-H, Chan P-YS, Hsieh Y-W, Chen K-F. A
plant users: An ERP study. Neuropsychology. 2016; meta-analysis of mismatch negativity in children with
87:169-181. attention deficit-hyperactivity disorders. Neurosci
64. Ceponiene R, Alku P, Westerfield M, Torki M, Town- Lett. 2016; 612:132-137.
send J. ERPs differentiate syllable and nonphonetic 77. Tsai M-L, Hung K-L, Lu H-H. Auditory Event-re-
sound processing in children and adults. Psychophy- lated Potentials in Children with Attention Defi-
siology. 2005; 42:391-406. cit Hyperactivity Disorder. Pediatr Neonatol. 2012;
65. Melo  de, Biaggio EPV, Rechia IC, Sleifer P. Poten- 53:118-124.
ciais evocados auditivos corticais em neonatos nasci- 78. Senderecka M, Grabowska A, Gerc K, Szewczyk
dos a termo e pré-termo. CoDAS. 2016; 28:491-496. J, Chmylak R. Event-related potentials in children
66. Hövel H, Partanen E, Tideman E, Stjernqvist K, with attention deficit hyperactivity disorder: An
Hellström-Westas L, Huotilainen M et al. Auditory investigation using an auditory oddball task. Int J
event-related potentials are related to cognition at Psychophysiol. 2012; 85:106-115.
148
Parte II – Cap. 14 • POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS DE LONGA LATÊNCIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES CLÍNICAS |
79. Yamamuro K, Ota T, Iida J, Nakanishi Y, Matsuura in adult cochlear implant recipients: a follow-up
H, Uratani M et al. Event-related potentials reflect study. Acta Otolaryngol. 2013; 133:853-857.
the efficacy of pharmaceutical treatments in children 92. Rahne T, Plontke SK, Wagner L. Mismatch negativity
and adolescents with attention deficit/hyperactivity (MMN) objectively reflects timbre discrimination
disorder. Psychiatry Res. 2016; 242:288-294. thresholds in normal-hearing listeners and cochlear
80. Sanfins MD, Hatzopoulos S, Della Torre OH, Dona- implant users. Brain Res. 2014; 1586:143-151.
don C, Skarzynski PH, Colella-Santos MF. Methyl- 93. Nash A, Sharma Anu, Kathryn Martin, Allison Biever.
phenidate effects on P300 responses from children Clinical Applications of the P1 Cortical Auditory
and adolescents. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2017; Evoked Potential (CAEP) Biomarker. In: A Sound
96:152-155. Foundation Through Early Amplification. Chicago,
81. Tuomainen OT. Auditory short-term memory trace 2007, pp. 39-45.
formation for nonspeech and speech in SLI and dys- 94. Bartha-Doering L, Deuster D, Giordano V, am Zeh-
lexia as indexed by the N100 and mismatch negativity nhoff-Dinnesen A, Dobel C. A systematic review
electrophysiological responses. Neuroreport .2015; of the mismatch negativity as an index for auditory
26:374-379. sensory memory: From basic research to clinical and
82. Kaganovich N, Schumaker J, Macias D, Gustafson developmental perspectives. Psychophysiology. 2015;
D. Processing of audiovisually congruent and incon- 52:1115-1130.
gruent speech in school-age children with a history 95. Finley CC, Wilson BS, White MW. Models of Neural
of specific language impairment: a behavioral and Responsiveness to Electrical Stimulation. In: Co-
event-related potentials study. Dev Sci. 2015; 18: chlear Implants. Springer New York: New York, NY,
751-770. 1990, pp. 55-96.
83. Key APF, Dove GO, Maguire MJ. Linking Brainwaves 96. Howe AS, Bani-Fatemi A, De Luca V. The clinical
to the Brain: An ERP Primer. Dev Neuropsychol. utility of the auditory P300 latency subcomponent
2005; 27:183-215. event-related potential in preclinical diagnosis of
84. Purdy SC, Kelly AS, Davies MG. Auditory Brainstem patients with mild cognitive impairment and Alzhei-
Response, Middle Latency Response, and Late Cor- mer’s disease. Brain Cogn. 2014; 86:64-74.
tical Evoked Potentials in Children with Learning 97. Chen J, Chen S, Zheng Y, Ou Y. The effect of aging
Disabilities. J Am Acad Audiol. 2002; 13:356-366. and the high-frequency auditory threshold on speech-
-evoked mismatch negativity in a noisy background.
85. Mahé G, Doignon-Camus N, Dufour A, Bonnefond
Audiol Neurotol. 2016; 21:1-11.
A. Conflict control processing in adults with develo-
pmental dyslexia: An event related potentials study. 98. Chang Y-S, Chen H-L, Hsu C-Y, Tang S-H, Liu C-K.
Clin Neurophysiol. 2014; 125:69-76. Parallel Improvement of Cognitive Functions and
P300 Latency Following Donepezil Treatment in Pa-
86. Hommet C, Vidal J, Roux S, Blanc R, Barthez MA,
tients with Alzheimer’s Disease. J Clin Neurophysiol.
De Becque B et al. Topography of syllable change-de-
2014; 31:81-85.
tection electrophysiological indices in children and
149
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
103. Kaufman DAS, Bowers D, Okun MS, Van Patten R, in major depressive disorder patients revealed by
Perlstein WM. Apathy, Novelty Processing, and the auditory MMN. Psychiatry Res Neuroimaging. 2015;
P3 Potential in Parkinson’s Disease. Front Neurol. 234:7-14.
2016; 7:95. 112. Kärgel C, Sartory G, Kariofillis D, Wiltfang J, Müller
104. Münte TF, Joppich G, Däuper J, Schrader C, Den- BW. Mismatch Negativity Latency and Cogniti-
gler R, Heldmann M. Random Number Generation ve Function in Schizophrenia. PLoS One. 2014;
and Executive Functions in Parkinson’s Disease: An 9:e84536.
Event-Related Brain Potential Study. J Parkinsons 113. Kaur M, Lagopoulos J, Ward PB, Watson TL, Naismith
Dis. 2015; 5:613-620. SL, Hickie IB et al. Mismatch Negativity/P3a Complex
105. Casali RL, Amaral MIR do, Boscariol M, Lunardi in Young People with Psychiatric Disorders: A Cluster
LL, Guerreiro MM, Matas CG et al. Comparison of Analysis. PLoS One. 2012; 7:51871.
auditory event-related potentials between children
114. Baldeweg T, Hirsch SR. Mismatch negativity indexes
with benign childhood epilepsy with centrotempo-
illness-specific impairments of cortical plasticity in
ral spikes and children with temporal lobe epilepsy.
schizophrenia: A comparison with bipolar disorder
Epilepsy Behav. 2016; 59:111-116.
and Alzheimer’s disease. Int J Psychophysiol. 2015;
106. Boscariol M, Casali RL, Amaral MIR, Lunardi LL, 95:145-155.
Matas CG, Collela-Santos MF et al. Language and
115. Kajosch H, Gallhofer B, Corten P, From L, Verbanck P,
central temporal auditory processing in childhood
Campanella S. The bimodal P300 oddball component
epilepsies. Epilepsy Behav. 2015; 53:180-183.
is decreased in patients with an adjustment disorder:
107. Filippini M, Boni A, Giannotta M, Pini A, Russo A, An event-related potentials study. Clin Neurophysiol.
Musti MA et al. Comparing cortical auditory pro- 2016; 127:3209-3216.
cessing in children with typical and atypical benign
epilepsy with centrotemporal spikes: Electrophysio- 116. Zarchi O, Avni C, Attias J, Frisch A, Carmel M, Mi-
logic evidence of the role of non-rapid eye movement chaelovsky E et al. Hyperactive auditory processing in
sleep abnormalities. Epilepsia. 2015; 56:726-734. Williams syndrome: Evidence from auditory evoked
potentials. Psychophysiology. 2015; 52:782-789.
108. Hirose Y, Hara K, Miyajima M, Matsuda A, Maehara
T, Hara M et al. Changes in the duration and frequen- 117. Greer JMH, Hamilton C, McMullon MEG, Riby DM,
cy of deviant stimuli engender different mismatch Riby LM, George MS. An event related potential stu-
negativity patterns in temporal lobe epilepsy. Epilepsy dy of inhibitory and attentional control in Williams
Behav. 2014; 31:136-142. syndrome adults. PLoS One. 2017; 12:e0170180.
109. Qiao J, Qian L-J, Zhao H-F, Gong G-H, Geng D-Q. 118. Key AP, Dykens EM. Event-related potential index
The relationship between quality of life and clinical of age-related differences in memory processes in
phenotype in patients with treatment resistant and adults with Down syndrome. Neurobiol Aging. 2014;
non-treatment resistant depression. Eur Rev Med 35:247-53.
Pharmacol Sci. 2017; 21:2432-2436. 120. Werner K, Fosi T, Boyd SG, Baldeweg T, Scott RC,
110. Xu S, Chai H, Hu J, Xu Y, Chen W, Wang W. Passive Neville BG. Temporal lobe impairment in West syn-
Event-Related Potentials to a Single Tone in Treat- drome: event-related potential evidence. Ann Neurol.
ment-Resistant Depression, Generalized Anxiety Di- 2015; 77:47-57.
sorder, and Borderline Personality Disorder Patients. 120. Ehlers MR, López Herrero C, Kastrup A, Hildebrandt
J Clin Neurophysiol. 2014; 31:488-492. H. The P300 in middle cerebral artery strokes or
111. Qiao Z, Yang A, Qiu X, Yang X, Zhang C, Zhu X et hemorrhages: Outcome predictions and source lo-
al. Gender effect on pre-attentive change detection calization. Clin Neurophysiol. 2015; 126:1532-1538.
150
15
POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE LONGA LATÊNCIA
COM ESTÍMULOS DE FALA NA POPULAÇÃO INFANTIL
Hannalice Gottschalck Cavalcanti
Sheila Andreoli Balen
151
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Os sons de fala usados para a avaliação do PEALL 3. INFLUÊNCIA DA IDADE NA
incluem vogais naturais ou sintetizadas, sílabas e pala- RESPOSTA DO PEALL
vras. Em estímulos com maior energia espectral, como
a fala, a amplitude da resposta cortical é maior nos Entre 1960 e 1970 vários pesquisadores demons-
picos de N1 e P2 e a latência menor quando compara- traram que o PEALL pode ser registrado tanto em bebês
do a sons não verbais12,13,14. Sons com duração maior a termo e prematuros quanto em crianças maiores.37
produzem respostas mais robustas, principalmente na Observam-se ao longo do desenvolvimento da criança
população infantil15. As palavras que possuem o fone- modificações na morfologia, latência e amplitude de
ma plosivo inicial (/b/, /p/, /d/, /t/, /g/, /k/) mostram todos os componentes do PEALL, alcançando valores
este mesmo padrão quando comparadas a fonemas adultos em torno dos 16 a 18 anos de idade.
não plosivos (/f/, /l/, /m/, /r/)16,17,18. A latência da onda P1 tem se mostrado eficiente
A diferença em latência reflete a sensibilidade como biomarcador para a maturação das áreas corticais
da via auditiva cortical à pista auditiva e ao tempo de auditivas38,39, sendo promissor para o uso no monitora-
início da sonorização do som, possibilitando a discri- mento do desenvolvimento cortical de bebês de risco.
minação entre pares mínimos e podendo ser associada A variabilidade nos protocolos e seus parâmetros
à alteração na consciência fonológica e habilidade na para a captação e análise do PEALL, bem como a
leitura19. Varia com o voice onset time (VOT), sendo influência do estímulo de fala utilizado, dificulta um
menor em consoantes sonoras comparada às surdas, padrão normativo para a análise do PEALL. Porém,
como por exemplo /da/ e /ta/ ou /ba/ e /pa/10,20,21. estudos apontam as seguintes conclusões e generaliza-
ções sobre o PEALL em bebês e crianças pequenas37:
Os estímulos mais referidos na literatura são /
ondas e componentes individuais do PEALL
da/ sintético22,23,24,25 /da/ natural com ruído de banda se desenvolvem em velocidades distintas, por
larga20, o contraste dos fonemas /g/, /m/ e /t/ natural serem originadas em diferentes estruturas e vias;
para avaliar a habilidade de discriminação para es- as mudanças mais importantes no registro do
pectros de frequências graves, médias e agudas17,18,26 PEALL ocorrem no primeiro ano de vida e
e o /ba/ sintético27. persistem até a adolescência;
as ondas P1 e N2 são mais proeminentes em
crianças e jovens quando comparadas à se-
2. APLICAÇÕES CLÍNICAS quência obrigatória P1, N1 e P2 tipicamente
registrada em adultos;
A aplicação do estímulo fala na clínica e na latência e amplitude de P1 diminuem com a
pesquisa durante o PEALL, é bastante abrangente. maturação;
Na clínica, o PEALL pode ser usado para estimar o P1 é onda que aparece primeiro, seguida pela
limiar auditivo e avaliar a discriminação auditiva, onda P2 e uma onda clara e robusta, a N2 que
considerando-se a componente obrigatória do com- surge entre 3 e 6 anos de idade;
plexo P1-N1-P228. Esta resposta obrigatória aparece a onda P2 conduz a maturação da onda N1;
independentemente da atenção auditiva e representa a onda N1 não é observada até os 3 anos de idade
a codificação sensorial das características acústicas do e somente com longo ISI ou longa velocidade
estímulo auditivo29,30. do sinal. A maturação da onda N1 é muito mais
O PEALL com fala é utilizado para relacionar lenta do que a P1;
o processamento auditivo central com alterações ondas individuais do PEALL parecem refletir
fonoaudiológicas como gagueira31, distúrbios espe- processos neurais específicos para diferentes
estímulos de fala.
cíficos de linguagem32,25 como preditor do desenvol-
vimento de habilidades cognitivas e linguísticas33,
para avaliar a habilidade do processamento auditivo 4. P
ROTOCOLO PARA O
temporal20, monitorar a maturação das vias auditivas REGISTRO DO PEALL
centrais após o uso de aparelho de amplificação sonora
individual (AASI)22,26,34 ou do implante coclear4,27,35,36 Atualmente, alguns desafios são ainda evidentes
ou, ainda, para monitorar o desempenho auditivo relacionados à escolha dos parâmetros de captação
após a reabilitação auditiva22. de resposta e sua relação com os marcadores de
152
Parte II – Cap. 15 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE LONGA LATÊNCIA COM ESTÍMULOS DE FALA NA POPULAÇÃO INFANTIL |
P1 normalidade por faixa etária que possam ser apli-
cados de forma corrente no contexto clínico no uso
50μV do PEALL em bebês e crianças. No quadro 1, são
bebê apresentados parâmetros sugeridos por Hall III37 e
P1 aqueles adotados pelos autores deste capítulo durante
pesquisas realizadas no Departamento de Fonoau-
Amplitude em μV
5 anos
diologia e Laboratório de Inovação Tecnológica em
Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do
adulto Norte e no Departamento de Fonoaudiologia da Uni-
P1
P2 versidade Federal da Paraíba. O protocolo dos autores
deste capítulo foi organizado baseado em estudos
de pesquisadores da Faculdade de Odontologia da
0 100 200 300 400 500
Universidade de São Paulo40,41,42,43.
pré-estímulo início do estímulo Latência em ms
153
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
O preparo do bebê para a realização do PEALL realizado com o bebê/criança em estado de vigília,
segue o que habitualmente é recomendado em eletro- pois os componentes do PEALL são influenciados
fisiologia, envolvendo a limpeza da pele do paciente pelo sono44. Porém, nos primeiros meses de vida, o
com gaze e pasta abrasiva de boa qualidade nos locais bebê permanece de 16 a 18 horas dormindo, o que
de posicionamento dos eletrodos. torna a aplicação do PEALL em vigília uma tarefa
Os eletrodos descartáveis utilizados devem ser difícil. Toda a nossa avaliação foi realizada enquanto
adequados e de boa qualidade para exames de ele- o bebê se encontrava no estado 3 ou 4 da escala de
trofisiologia e posicionados com pasta eletrolítica, Brazelton e Nugent45.
principalmente, no eletrodo não invertido Fz ou Cz. Outros pesquisadores46 já observaram respostas
Caso seja utilizado um equipamento de dois canais do PEALL em bebês a termo e prematuros em sono
para a realização do PEALL, pode-se captar a respos- natural utilizando o paradigma oddball com dois
ta auditiva no canal A e a resposta ocular, no canal estímulos (um raro e um frequente). É importante
B, visando monitorar os movimentos palpebrais e que seja estabelecido previamente e com pesquisa em
oculares durante a captação da resposta auditiva e no ouvintes normais os parâmetros do protocolo, bem
momento da análise dos traçados, pois estes ocorrem como condições de mensuração do bebê, pois esses
em uma latência prévia ao PEALL.
poderão alterar o padrão de resposta do PEALL.
No canal A, o eletrodo ativo é posicionado no
Durante o estado de vigília o bebê/criança deve
centro da linha média do crânio (Cz) ou em Fz co-
ser distraído por um vídeo sem som durante a reali-
nectado na entrada positiva (+) do pré-amplificador.
zação do procedimento com o intuito de otimizar o
Em bebês muito pequenos, deve-se ter cuidado para
aparecimento da resposta auditiva. O envolvimento
não posicionar o eletrodo Cz em cima da fontanela;
ele pode ser colocado anteriormente ou na posição em um vídeo ou tarefa ativa reduz o ruído do pré-es-
Fz. O eletrodo de referência inserido na mastoide tímulo e, portanto, melhora a morfologia das ondas
homolateral da orelha a ser testada (M1) e conectado nas longas latências47. Observe na figura 2 um bebê
na entrada negativa (−). O eletrodo-terra inserido na de três meses a termo posicionado para a realização
mastoide do lado não testado (M2) e conectado à en- do PEALL numa cadeira de bebê.
trada ground do pré-amplificador. No canal B, o eletro- Após os seis meses de idade o bebê pode ser
do ativo na posição supraorbital e na entrada positiva posicionado sentado numa cadeira semelhante à de
(+) e o eletrodo-referência, na margem infraorbital, alimentação e na sua frente, o vídeo sendo apresentado
conectado na entrada negativa (−). Após a conexão sem som. É importante que no ambiente de teste não
dos eletrodos no pré-amplificador do equipamento, tenham outros distratores que chamem a atenção da
deve ser realizada o teste de impedância dos eletrodos, criança, pois o PEALL pode sofrer influência de meca-
que devem estar entre 1 e 3 Ohms. nismos atencionais e de memória. Nos bebês maiores,
Durante a avaliação, o bebê pode ser acomodado o desafio é a aceitação da colocação e manutenção
em uma cadeira bebê-conforto ou no colo do respon- dos eletrodos e dos fones de inserção para a captação
sável. A recomendação, em geral, é que o PEALL seja das respostas do potencial evocado auditivo cortical.
154
Parte II – Cap. 15 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE LONGA LATÊNCIA COM ESTÍMULOS DE FALA NA POPULAÇÃO INFANTIL |
No protocolo utilizado pelas autoras, são apre- de protocolos a serem utilizados amplamente na clí-
sentados estímulos do tipo /da/, aferidos duas vezes nica. É importante destacar que o PEALL em crianças
na intensidade 70 dBNAn para constatar a repro- sofre variabilidades importantes dos parâmetros
dutibilidade das respostas e uma vez em 0 dBNAn adotados, em particular, do tipo de estímulo e forma
para comprovar que o que está sendo captado em 70 de apresentação deste, bem como o estado de vigília
dBNAn é a resposta da via auditiva, pois espera-se que do bebê/criança e suas funções cognitivas, além da
a resposta auditiva observada em 70 dBNAn no canal idade e seus geradores biológicos.
A não permaneça em 0 dBNAn. Da mesma forma em Destaca-se, por outro lado, que o PEALL, por
70 dBNAn, é observado visualmente se o registro das ser captado sem a necessidade de resposta do bebê/
ondas é diferente do que é evidenciado no canal B, criança, tem potencial tanto no monitoramento do
que registra respostas de movimento ocular. desenvolvimento cortical auditivo quanto no processo
Os componentes P1, N1, P2 e N2 são considera- terapêutico de crianças com distúrbios de linguagem
dos presentes quando apresentam reprodutibilidade e/ou deficiência auditiva, conforme já vem sendo
nas duas promediações em 70 dBNAn no canal A exposto por diferentes pesquisadores. No entanto,
diferentes do canal B em 70 dBNAn e do canal A em alerta-se que respostas eletrofisiológicas embora te-
0 dBNAn. O P1 é marcado como o primeiro pico po- nham um valor importante na avaliação audiológica
sitivo após 50 ms, seguindo de um declínio negativo, não substituem a observação do comportamento
sendo este registrado como N1, seguido de um novo auditivo do bebê/criança frente a estímulos diferentes,
pico, P2, e declínio negativo a N2. principalmente, de fala. Portanto, sugere-se que os
Conforme já exposto, não se espera a presença PEALL sejam sempre utilizados em conjunto com
de todos os componentes no primeiro ano de vida procedimentos de avaliação do desenvolvimento do
e há diferença na morfologia dos componentes ao comportamento auditivo e de linguagem de bebês/
longo do desenvolvimento. Na figura 3, observa-se crianças.
um exemplo de registro de P1 (latência em 192 ms)
de um bebê a termo de três meses.
155
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Vaughan, HG. In: Early identification of infants with 21. Sharma A, Dorman MF. Neurophysiologic correlates
developmental disabilities. Philadelphia: Gruce and of cross-language phonetic perception. J Acoust Soc
Stration. 1988; 160:180. Am. 2000; 107(5):2697-26703.
8. Kraus N, McGee TJ, Koch DB. Speech sound repre- 22. Thabet MT, Said NM. Cortical auditory evoked
sentation, perception, and plasticity: a neurophysio- potential (P1): a potential objective indicator for
logic perspective. Audiology and Neurotology. 1998; auditory rehabilitation outcome. Int J Pediatr Otorhi-
3(2-3):168-82. nolaryngol. 2012; 76(12):1712-1718.
9. Hyde M. The N1 response and its applications. Au- 23. Novak GP, Kurtzberg D, Kreuzer JA, Vaughan HG.
diology and Neurotology. 1997; 2(5):281-307. Cortical responses to speech sounds and their for-
mants in normal infants: maturational sequence
10. Kurtzberg D. Cortical event-related potential as- and spatiotemporal analysis. Electroencephalog Clin
sessment of auditory system function. Seminars in Neurophysiology. 1989; 73(4):295-305.
Hearing. 1989; 10(3):252-261.
24. Marx CG, Goshorn EL. P1 amplitude across replica-
11. Ponton C, Eggermont JJ, Khosla D, Kwong B, Don tes: does measurement method make a difference? J
M. Maturation of human central auditory system Clin Neurphysiol. 2013; 30(3):287-290.
activity: separating auditory evoked potentials by
25. Kabel AH, Mesallam T, Ghandour HH. Follow up
dipole source modeling. Clinical Neurophysiology. of P1 peak amplitude and peak latency in a group
2002; 113(3):407-20. of specific language-impaired children. Int J Pediatr
12. deRegnier RA, Wewerka S, Georgieff MK, Mattia F, Otorhinolaryngol. 2009; 73(11):1525-1531.
Nelson CA. Influences of postconceptional age and 26. Carter L, Dillon H, Seymour J, Seeto M, Van Dun
postnatal experience on the development of auditory B. Cortical auditory-evoked potentials (CAEPs) in
recognition memory in the newborn infant. Dev. adults in response to filtered speech stimuli. J Am
Psychobiol. 2002; 41(3):216-25. Acad Audiol. 2013; 24(9):807-822.
13. Čeponien R, Rinne T, Näätänen R. Maturation of cor- 27. Sharma A, Dorman MF, Spahr AJ. A sensitive period
tical sound processing as indexed by event-related po- for the development of the central auditory system
tentials. Clin Neurophysiology. 2002; 113(6):870-82. in children with cochlear implants: implications for
14. Cone B, Whitaker R. Dynamics of infant cortical age of implantation. Ear Hear. 2002; 23(6):532-539.
auditory evoked potentials (CAEPs) for tone and 28. Almeqbel A. Speech-evoked cortical auditory respon-
speech tokens. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2013; ses in children with normal hearing. South African J
77(7):1162-73. Commun Disorders. 2013; 60(1):38-43.
15. Fellman V, Huotilainen M. Cortical auditory event- 29. King A, Carter L, Van Dun B, Zhang V, Pearce W,
-related potentials in newborn infants. Semin. Fetal Ching T. Australian Hearing Aided Cortical Evoked
Neonatal Med. 2006; 11(6):452-458. Potentials Protocols. Australia: National Acoustic
Laboratories. 2014.
16. Gage N, Poeppel D, Roberts TPL, Hickok G. Audi-
tory evoked M100 reflects onset acoustics of speech 30. Weber-Fox C, Wray AH, Arnold H. Early childhood
sounds. Brain Res. 1998; 814(1):236-9. stuttering and electrophysiological indices of langua-
ge processing. J Fluency Disord. 2013; 38(2):206-221.
17. Golding M, Purdy S, Sharma M, Dillon H. The effect
31. Ismail N, Sallam Y, Behery R, Al Boghdady A. Cortical
of stimulus duration and inter-stimulus interval on
auditory evoked potentials in children who stutter.
cortical responses in infants. Australian and New
Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2017; 97:93-101.
Zealand J Audiology. 2006; 28(2):122.
32. Gilley PM, Sharma A, Dorman M, Martin K. Abnor-
18. Purdy SC, Sharma M, Munro KJ, Morgan CLA. Sti- malities in central auditory maturation in children
mulus level effects on speech-evoked obligatory corti- with language-based learning problems. Clin Neu-
cal auditory evoked potentials in infants with normal rophysiol. 2006; 117(9):1949-1956.
hearing. J Clin Neurophysiol. 2013; 124(3):474-480.
33. Choudhury N, Benasich AA. Maturation of auditory
19. Easwar V, Glista D, Purcell DW, Scollie SD. The ef- evoked potentials from 6 to 48 months: prediction to
fect of stimulus choice on cortical auditory evoked 3 and 4-year language and cognitive abilities. Clin
potentials (CAEP): Consideration of speech segment Neurophysiol. 2011; 122(2):320-338.
positioning within naturally produced speech. Int J 34. Chang H-W, Dillon H, Carter L, Van Dun B, You-
Audiol. 2012; 51(12):926-931. ng S-T. The relationship between cortical auditory
20. Almeqbel A, McMahon C. Objective measurement of evoked potential (CAEP) detection and estimated
high-level auditory cortical function in children. Int audibility in infants with sensorineural hearing loss.
J Pediatr Otorhinolaryngol. 2015; 79(7):1055-1062. Int J Audiol. 2012; 51(9):663-670.
156
Parte II – Cap. 15 • POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE LONGA LATÊNCIA COM ESTÍMULOS DE FALA NA POPULAÇÃO INFANTIL |
35. Lopes, Raquel Caroline Ferreira. Caracterização dos 41. Agostinho-Pesse RS, Alvarenga KdF. Potencial evo-
potenciais evocados auditivos corticais em indivíduos cado auditivo de longa latência para estímulo de fala
com longo tempo de uso do implante coclear [disser- apresentado com diferentes transdutores em crianças
tação]. Bauru: Universidade de São Paulo, Faculdade ouvintes. Rev CEFAC. 2014; 16(1):13-22.
de Odontologia de Bauru; 2013 [citado 2017-12-20]. 42. Alvarenga KdF, Vicente LC, Jacob-Corteletti LCB,
doi:10.11606/D.25.2013.tde-05042013-150441. Lopes AC, Banhara MR, Silva RAd, et al. Influência
36. Alvarenga KF, Amorim RB, Agostinho-Pesse RS, dos contrastes de fala nos potenciais evocados audi-
Costa OA, Nascimento LT, Bevilacqua MC. Speech tivos corticais. Braz J Otorhinolaryngol. 2013:336-41.
perception and cortical auditory evoked potentials
43. Banhara MR. Potenciais auditivos de longa latência:
in cochlear implant users with auditory neuropathy
N1, P2, N2 e P300, evocados por estímulo de fala em
spectrum disorders. Int. J. Pediatr. Otorhinolaryngol.
usuários de implante coclear: Universidade de São
2012; 76(9):1332-1338.
Paulo; 2007.
37. Hall Iii JW. eHandbook of auditory evoked responses:
Principles, procedures & protocols. St. Augustine, FL: 44. Kurtzberg D, Hitpert PL, Kreuzer JA, Vaughan HG.
Pearson Education, Inc; 2015. Differential maturation of cortical auditory evoked
potentials to speech sounds in normal fullterm and
38. Eggermont JJ, Ponton CW. Auditory-evoked poten-
very low‐birthweight infants. Developmental Medi-
tial studies of cortical maturation in normal hearing
cine & Child Neurology. 1984; 26(4):466-75.
and implanted children: correlations with changes in
structure and speech perception. Acta Oto-laryngo- 45. Brazelton TB, Nugent JK. Neonatal behavioral asses-
logic. 2003; 123(2):249-252. sment scale: Cambridge University Press; 1995.
39. Sharma A, Dorman MF. Central auditory develo- 46. Didoné DD, Garcia MV, da Silveira AF. Long latency
pment in children with cochlear implants: clinical auditory evoked potential in term and premature in-
implications. Cochlear and brainstem implants. 64: fants. International archives of otorhinolaryngology.
Karger Publishers; 2006, p.66-88. 2014; 18(01):016-20.
40. Ventura LMP, Costa Filho OA, Alvarenga KdF. Ma- 47. Lavoie BA, Hine JE, Thornton RD. The choice of dis-
turação do sistema auditivo central em crianças tracting task can affect the quality of auditory evoked
157
16
ELETROCOCLEOGRAFIA NO MONITORAMENTO
CIRÚRGICO DO IMPLANTE COCLEAR
Adriana Ribeiro Tavares Anastasio
Miguel Angelo Hyppolito
159
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
cóclea ossificada ou obliterada. Além disso, o MC N1 tem o mesmo significado que a onda I do potencial
pode ser registrado em indivíduos com alterações da evocado auditivo de tronco encefálico (PEATE). Não há
orelha interna, com perda auditiva de grau variando como registrar simultaneamente todos os potenciais
entre moderado e profundo, tanto nas baixas quanto devido as suas características particulares. O uso de
nas altas frequências. protocolos diferenciados permite privilegiar um ou
outro potencial. Nem todos os potenciais elétricos
obtidos com a ECoG têm recebido o mesmo destaque
PA na prática clínica, e por muitos anos, o foco da ava-
0.50 μV
Alternada liação do funcionamento coclear tem sido a relação
PS
de amplitude entre o PS e o PA (PS/PA).
μV
PA
MC Condensação LB
PS
N2
5μV
160
Parte II – Cap. 16 • ELETROCOCLEOGRAFIA NO MONITORAMENTO CIRÚRGICO DO IMPLANTE COCLEAR |
PA
1.2 μVIdiv 80 dB
70 dB
1.2
1.2 60 dB
50 dB
1.2
40 dB
0.6
30 dB
0.3
0.3 20 dB
0.3 10 dB
0
15 ms
Figura 3 − Eletrococleografia-MT. Resposta do PAC ao estímulo clique em intensidades diferentes. PA = potencial de ação. A marca
‘ indica o PA. (Adaptado de Schoonhoven et al., 1995 , p. 624.)
NOVAS APLICAÇÕES
no diagnóstico de disfunção auditiva retrococlear. de Ménière (DM)/hydrops endolinfático (HE) que a
Entretanto, a presença de perda auditiva pode difi- literatura especializada é a mais vasta em relação a
cultar a análise da onda I no PEATE, que pode não qualquer outra doença coclear.
estar presente ou não se encontrar bem definida, o O parâmetro avaliado na ECoG para identificar a
que compromete a análise e interpretação do exame. presença da hidropisia endolinfática é o alargamento
O uso da ECoG poderá registrar o PAC (N1 ou onda
do PS e aumento da relação PS/PA. O alargamento
I do PEATE) de forma clara e precisa permitindo a
do PS é mais evidente quando o paciente apresenta
análise do intervalo interpicos. O eletrodo TIPtrode,
sintomas de hidropisia, como, por exemplo, sensação
nesses casos, reforça a presença da onda I (ou PAC),
com maior amplitude e melhor definição do traçado de plenitude aural e perda de audição leve. A hipótese
(Figura 4). para explicar este alargamento é que nos estágios ini-
ciais da doença, o aumento do volume endolinfático
altera as propriedades hidromecânicas do compar-
3.3. Doença de Ménière/hydrops timento coclear e o PS está sempre alterado na pre-
endolinfático sença de distensão da escala média. A especificidade
A doença de Ménière é uma desordem da orelha da relação PS/PA é bem maior que a sensibilidade
interna, progressiva, cujos sintomas clássicos são ver- na população com DM. Isso significa que é muito
tigem, perda auditiva flutuante, zumbido e plenitude provável que os indivíduos com aumento da relação
aural. A fisiopatologia não é totalmente esclarecida, PS/PA recebam o diagnóstico de doença de Méniére,
mas não há dúvidas de que os portadores apresentam mas apenas cerca de 50% deles realmente tenham a
um hidrops endolinfático. Dentre as aplicações clínicas doença. É importante ressaltar que o tipo de eletrodo
da ECoG, sem dúvida, é no diagnóstico da doença utilizado afeta diretamente a amplitude do PS e do PA.
161
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
0.50 [uV/dv]
AP
SP
III
V
80 nHL
-1.0 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10
Figura 4 − Eletrococleografia-ET (TIPtrode) no traçado superior. PEATE com fone de inserção e eletrodo de superfície descartável no
traçado inferior. Observar a diferença da amplitude e morfologia do PAC (superior) com a onda I (inferior). A latência absoluta perma-
nece a mesma nos dois registros. SP = potencial de somação; AP = potencial de ação; I = onda I; III = onda III; V = onda V.
3.4. Neuropatia Auditiva/Espectro semelhante entre grupos com e sem ENA, mas com
da Neuropatia Auditiva duração aumentada.
162
Parte II – Cap. 16 • ELETROCOCLEOGRAFIA NO MONITORAMENTO CIRÚRGICO DO IMPLANTE COCLEAR |
à destruição total de qualquer resíduo coclear. A nestes casos é a “resposta coclear total”, que tem sido
perda da audição residual é atribuída ao traumatismo correlacionada à percepção de fala no pós-operatório.
direto da membrana basilar e não está relacionado Adunka et al. (2016) e Koka et al. (2017) em
a qualquer interferência relacionada à presença do seus estudos de intraoperatório da cirurgia de im-
eletrodo dentro da cóclea. O desenvolvimento de ele- plante coclear com eletrodos intracocleares têm pos-
trodos atraumáticos e mais curtos que permitam uma sibilitado o monitoramento de mudanças auditivas
preservação adequada dos resíduos cocleares trouxe durante a inserção do feixe de eletrodos. Neste teste,
também a necessidade de ferramentas adequadas de o sítio de gravação da resposta intracoclear progride
avaliação e de monitoramento no ato cirúrgico do da base para o ápice, com o registro da área coclear
nível de traumatismo ocasionado pela inserção do mais sensível ao estímulo sonoro acústico por tons
feixe de eletrodos intracoclear. puros. Ocorre aumento exponencial na amplitude
A eletrococleografia intracoclear em pacientes do potencial microfônico coclear e prolongação de
implantados com o implante coclear mede potenciais sua latência quando áreas de preservação de células
diferentes, como o potencial microfônico coclear ciliadas estão presentes.
(MC), o potencial de ação composto (PAC), o poten-
cial de somação (PS) e a resposta neurofônica do nervo Fraysse et al. (2006) têm mostrado em pacientes
auditivo (NNA). O MC representa a combinação de implantados com eletrodos para a preservação auditi-
correntes primárias derivadas do mecanismo de trans- va respostas constantes em amplitude de onda através
dução mecanoelétrico das células ciliadas externas, do feixe de eletrodos estimulados com um pico de res-
quando da deflexão dos estereocílios em contato com posta do potencial microfônico coclear nos eletrodos
a membrana tectorial. O NNA representa a resposta mais basais que responde para frequências de 0,5 ou 1
neural em bloqueio de fase que ocorre nas fibras do KHz, sendo esta uma resposta que aumenta quando
nervo auditivo. O PAC é gerado pelo nervo auditivo o eletrodo está mais próximo do nervo auditivo. A
e o PS é uma resposta de corrente direta em resposta análise deste tipo de resposta também pode predizer
a múltiplos sítios de geração. o surgimento de fibrose entre o eletrodo implantado e
o modíolo (gânglio espiral), podendo refletir em piora
O potencial de ação composto evocado eletrica-
do desempenho com o implante coclear.
mente (ECAPs) reflete a resposta do nervo auditivo e
NOVAS APLICAÇÕES
ECoG reflete a resposta das células ciliadas cocleares Quando do registro da ECoG no intraoperatório
e do nervo auditivo. da cirurgia de implante coclear assim que o feixe de
eletrodos é inserido, ocorre um aumento na amplitude
Desde 2014, estudos como os de Fitzpatrick et al.,
do potencial microfônico coclear (MC) à medida que
com o registro de ECoG no pós-operatório, têm sido
o eletrodo é inserido mais profundamente próximo a
realizados a partir da estimulação acústica seguida do
uma área de resposta a 0,5Kh isso pode representar
registro da resposta intracoclear obtida por um dos
eletrodos intracocleares ou eletrodo posicionado na apenas a diferença de tempo entre a implantação e
janela redonda. A resposta registrada é derivada de o registro da resposta ou uma diferença de audição
uma resposta neural e sensorial a um estímulo acús- residual entre os diferentes pacientes estudados até
tico transiente apresentado com polaridade alternada. o momento ou a posição intracoclear do eletrodo de
A resposta das células ciliadas é representada pelo registro, que ocorre quando são comparados registros
potencial microfônico coclear medida pela diferença realizados por implantes de fabricantes diferentes.
entre duas respostas alternadas. A ECoG também con- As respostas do MC e do NNA medidos no
tém uma resposta neural em bloqueio de fase referente ducto coclear são obtidas pela somação de polaridades
ao nervo auditivo (resposta Neural Neurofônica Au- alternadas, sendo denominadas respostas de somação;
ditiva – NNA), que ocorre com a despolarização das elas representam as respostas de cada harmônico da
células ciliadas internas, e no traçado é representado frequência de tom puro e incluem os componentes da
pelo potencial de somação. Seus resultados mostram resposta com distorções assimétricas que não mudam
correlação significativa entre a ECoG e os limiares com a fase do estímulo. A NNA, quando presente,
auditivos pós-implante coclear. A maioria destes sobrepõe o MC e está reduzida quando a resposta do
primeiros estudos tem utilizado eletrodos de janela nervo auditivo é suprimida por neurotoxinas.
redonda posicionados no intraoperatório do implante O potencial de ação composto evocado eletrica-
coclear; o estímulo utilizado é o tone burst com faixa mente (eCAP) tem sido utilizado nos sistemas de tele-
de frequência de 250 a 4000 Hz. A resposta captada metria do intraoperatório do implante coclear, desde
163
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
1999. Este é um potencial evocado de curta latência redonda é aberta e o feixe de eletrodos é inserido
que se sobrepõe ao artefato de estímulo, mas que é conforme a recomendação do fabricante. Durante
filtrado pelo equipamento. O equipamento permite esta inserção o estímulo tipo tone burst é emitido pelo
a medida de impedância dos eletrodos e o eCAP. O fone de ouvido (tone burst a 500 Hz, 110 dB spl ou 97
eCAP é uma onda com pico negativo (N1) em 0,2 a dB HL, de polaridade alternada, sendo 2 estímulos de
0,4 ms após o estímulo elétrico, seguida de uma onda rarefação e 2 de condensação, com 50 ms de duração
positiva (P1) ou um platô que ocorre entre 0,6 e 0,8 e 5 ms de intermitência de estímulo), 4-6 estímulos
ms. A amplitude do eCAP pode atingir até 1 µV , o por segundo; enquanto isso, a ECoG é obtida pela
que é maior que o potencial de ação composto obtido gravação das respostas dos eletrodos mais apicais. O
pelo estímulo acústico convencional na EChoG com amplificador do equipamento de neurotelemetria do
eletrodos transtimpânicos (30 µV). Koka et al. (2017) implante coclear é utilizado, amplificando a resposta
sugerem que o pico positivo inicial, quando presente com ganho de 1.000. A resposta aos eletrodos inse-
no eCAP, origina-se do potencial de ação gerado no ridos depende da relação sinal/ruído de até 18 dB. A
centro da fibra nervosa auditiva ou muito próximo do amplitude do potencial microfônico coclear (MC) é
corpo celular do neurônio do gânglio espiral, portanto medida na janela redonda. Finalizada a inserção do
o dendrito deste neurônio seria o responsável pelo feixe de eletrodos, a medida da resposta é obtida de
aparecimento do pico de onda P0. Portanto, um pico outros eletrodos mais apicais como o 1, 5, 9 e 13, no
P0 alargado pode ser usado como um indicador de caso de feixe de eletrodos com 16 eletrodos. A partir da
degeneração do dendrito proximal. A figura 5 mos- medida, nestes eletrodos determina-se o eletrodo que
tra um exemplo do traçado da eletrococleografia no responde ao estímulo de 500 Hz. Depois, a frequência
intraoperatório do IC. Quanto a preservação coclear de estímulo pode ser mudada para uma faixa de 125
pós-implante coclear, os melhores resultados com o a 2000 Hz por oitava, utilizando o eletrodo 1 como
implante têm mostrado que a ECoG intraoperatória eletrodo para a gravação da resposta do MC em dBNA.
é um método sensível para detectar mudanças ele- Geralmente este procedimento pode acrescentar 5 a
trofisiológicas na resposta durante a implantação do 10 minutos ao procedimento cirúrgico.
feixe de eletrodos, mas tem valor prognóstico limitado
para pacientes com surdez neurossensorial de severa
a profunda, apresentando algum valor nos casos em Amplitude do Potencial Microfônico
Coclear (MC) durante a inserção do
que se pretende preservar os sons de baixa frequência. MC
50 eletrodo na escala timpânica
(dB)
Para a obtenção da ECoG no intraoperatório 40
do implante coclear, após o paciente ser anestesiado 30
e estar estável, um fone de ouvido intracanal (ER-3A)
20
é posicionado no meato auditivo externo da orelha a
10
ser implantada. Como esse fone não é estéril, o mesmo
é coberto com película adesiva para campo cirúrgico, 0
50 100 150 200
com a devida atenção para não obstruir o seu tubo -10
Tempo – segundos
de conexão. Os cabos de conexão são posicionados
Figura 5 − Exemplo de traçado de eletrococleografia de in-
fora do campo cirúrgico. O procedimento cirúrgico é traoperatório da cirurgia de implante coclear. Amplitude do
convencionalmente realizado (mastoidectomia, tim- potencial microfônico coclear (MC) em dB em uma inserção do
panotomia posterior e exposição da janela redonda feixe de eletrodos na rampa timpânica. (Modificado de O’Connell
através do recesso do nervo facial). Imediatamente an- et al., 2017.)
tes da abertura da janela redonda para a inserção dos
eletrodos intracocleares, os cabos são reconectados ao
5. REFERÊNCIAS
fone de ouvido. A unidade interna do implante coclear
é posicionada no bolsão subperiosteal que receberá o 1. Adunka OF, Giardina CK, Formeister EJ, Choudhury B,
implante. A antena do implante é protegida por uma Buchman CA, Fitzpatrick DC. Round window electro-
capa asséptica e conectada à unidade interna, é reali- cochleography before and after cochlear implant elec-
zado o processo de calibração e a ECoG, iniciada. O trode insertion. Laryngoscope. 2016; 126(5):1193-200.
equipamento de registro utilizado é o mesmo usado 2. Aimoni C, Ciorba A, Bovo R, Trevisi P, Busi M, Martini
para a medida da impedância dos eletrodos e para A. Hearing threshold assessment in Young children
realizar a neurotelemetria. A membrana da janela with electrocochleography (EcochG) and auditory
164
Parte II – Cap. 16 • ELETROCOCLEOGRAFIA NO MONITORAMENTO CIRÚRGICO DO IMPLANTE COCLEAR |
brainstem responses (ABR): Experience at the Uni- contour advance cochlear implant. Otol. Neurotol.
versity Hospital of Ferrara. Auris Nasus Larynx. 2010; 2006; 27:624-633.
37(1):553-557. 18. Gibson WPR. Essentials of electric response audio-
3. Anastasio ART. A eletrococleografia na neuropatia/ metry. New York: Churchill and Livingstone; 1978.
dessincronia auditiva. [Tese]. 90f. Faculdade de Me- 19. Hall JW. New handbook for auditory evoked responses.
dicina: Universidade de São Paulo; 2006. 1a ed. Boston: Allyn and Bacon; 2007.
4. Berlin CI, Hood LJ, Goforth-Barter L, Bordelon J. 20. Hood LJ. Auditory neuropathy: what is it and what
Clinical Application of Auditory Efferent Studies. In: can we do about it? Hear J. 1998; 51:10-8.
Berlin CI. The Efferent Auditory System. Basic Science
21. Koka K, Saoji AA, Attias J, Litvak LM. An Objective
and Clinical Applications. San Diego: Singular. 1999,
Estimation of Air-Bone-Gap in Cochlear Implant Re-
p.105-25.
cipients with Residual Hearing Using Electrocochleo-
5. Brownell WE. Outer Hair Cell Electromotility and graphy. Frontiers in Neuroscience. 2017; 11:210-214.
Otoacoustic Emissions. Ear Hear. 1990; 11(1):82-2.
22. Littler TS. The physics of the ear. London: Pergamon
6. Dallos P. Some electrical circuit properties of the organ Pres; 1965.
of Corti. I. Analysis without reactive elements. Hear
23. Lu Y, Zhang Q, Wen Y, Ji F, Chen A, Xi X, Li X. The
Res. 1983; 12(1): 89-120.
SP-AP compound wave in patients with auditory
7. Dallos P. The active cochlea. J Neurosci. 1992; neuropathy. Acta Otolaryngol. 2008; 128(1):896-900.
12:4575-585.
24. McMahon CM, Patuzzi RB, Gibson WPR, Sanli H.
8. Durrant JD, Ferraro JA. Analog model of human click Frequency-specific electrocochleography indicates
elicited SP and effects of high-pass filtering. Ear Hear. that presynaptic and postsynaptic mechanisms of au-
1991; 12(1):144-148. ditory neuropathy exist. Ear Hear. 2008; 29(3):314-325.
9. Durrant JD, Wang J, Ding DL, Salvi RJ. Are inner or 25. Møller AR, Jannetta PJ. Auditory evoked potentials
outer hair cells the source of summating potentials recorded from the cochlear nucleus and its vicinity in
recorded from the round window? J Acoust Soc Am. man. J Neurosurg. 1983; 59(1):1013-1018.
1998; 104:370-77.
26. Munhoz MSL, Silva MLG, Caovilla HH, Ganança MM,
10. Elberling C, Salomon G. Cochlear microphonics re- Frazza, MM. Potenciais evocados auditivos- Aspectos
corded from the ear canal in man. Acta Otolaryngol. históricos e técnicos. In: Munhoz MSL, Ganança HH,
1973; 75(1):489-95.
NOVAS APLICAÇÕES
Silva MLG, Ganança MM. Audiologia Clínica. vol. 2.
11. Ferraro JA, Arenberg IK, Hassanein RS. Electroco- São Paulo: Atheneu, 2003, p.149-172.
chleography and symptoms of inner ear dysfunction. 27. Nguyen LT, Harris JP, Nguyen QT. Clinical utility of
Arch Otolaryngol. 1985; 111(1):71-74. electrocochleography in the diagnosis and manage-
12. Ferraro JA, Blackwell WL, Mediavilla SJ, Thedinger BS. ment of Ménière´s disease: AOS and ANS membership
Normal summating potential to tone burst recorded survey data. Otol Neurotol. 2010; 31(1):455-459.
from the tympanic membrane in humans. J Am Acad 28. Noguchi Y, Nishida H, Komatsuzaki A. A comparison
Audiol. 1994; 5(1):17-23. of extratympanic versus transtympanic recordings in
13. Ferraro JA, Krishnan G. Cochlear potentials in clinical electrocochleography. Audiology. 1999; 38:135-40.
audiology. Audiol Neurootol. 1997; 2(1):241-256. 29. O’Connell BP, Holder JT, Dwyer RT, Gifford RH, Noble
14. Ferraro JA, Ruth RA. Electrocochleography. In: Jacob- JH, Bennett ML, Rivas A, Wanna GB, Haynes DS,
son J. Auditory evoked potentials: Overview and Basic Labadie, RF. Intra- and Postoperative Electrocochleo-
principles. Boston: Allyn and Bacon. 1994, p.101-122. graphy May Be Predictive of Final Electrode Position
15. Fitzpatrick DC, Campbell AT, Choudhury B, Dillon and Postoperative Hearing Preservation. Frontiers in
MT, Forgues M, Buchman CA et al. Round window Neuroscience. 2017; 11(291):1-12.
electrocochleography just before cochlear implan- 30. Oliveira JAA. Fisiologia Clínica da Audição - Cóclea
tation: relationship to word recognition outcomesin Ativa. In: Lopes Filho O. Tratado de Otorrinolaringo-
adults. Otol. Neurotol. 2014; 35:64-71. logia. São Paulo: Roca, 1994, p.510-30.
16. Forgues M, Koehn HA, Dunnon AK, Pulver SH, 31. Pappas Jr DG, Pappas DG, Carmichael L, Hyatt DP,
Buchman CA, Adunka OF. Distinguishing hair cell Toohey LM. Extratympanic electrocochleography:
from neural potentials recorded at the round window. diagnostic and predictive value. Am J Otol. 2000;
J Neurophysiol. 2014; 111:580-593. 21(1):81-87.
17. Fraysse B, Macías AR, Sterkers O, Burdo S, Rams- 32. Ruben R, Sekula J, Bordley J. Human cochlear response
den R, Deguine O. Residual hearing conservation to sound stimuli. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1960;
and electroacoustic stimulation with the nucleus 24 69(1):459-476.
165
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
33. Schoonhoven R, Fabius MAW, Grote JJ. Input/output 38. Withnell RH. Brief report: the cochlear microphonic
curves to tone bursts and clicks in extratympanic and as an indication of outer hair cell function. Ear Hear.
trantympanic electrocochloegraphy. Ear Hear. 1995; 2001; 22(1):75-7.
16:619-30. 39. Withnell RH, Lilly DJ. Outer hair cells, cochlear me-
34. Sininger YS, Oba S. Patients with auditory neuro- chanical amplification, otoacoustic emissions, and
pathy: who are they and what can they hear? In: the cochlear microphonic. ASHA. 2002; 12(2):11-13.
Sininger YS, Starr A. Auditory Neuropathy: a new 40. Wuyts FL, Van de Heyning PH, Van Spaendonck M,
perspective on hearing disorders. San Diego: Singular, Van der Stappen A, D´Haese P, Erre JP, Charlet de
2001, p.15-35. Sauvage R, Aran JM. Rate influences on tone burst
35. Snyder RL, Schreiner CE. The auditory neurophonic: summating potential amplitude in electrocochleogra-
basic properties. Hear. Res. 1984; 15:261-280. phy: clinical and experimental data. Hear Res. 2001;
36. Turner CW, Reiss LAJ, Gantz BJ. Combined acoustic 152(1):1-9.
and electric hearing: preserving residual acoustic 41. Zheng XY, Ding DL, McFadden SL, Henderson D.
hearing. Hear Res. 2008; 242:164-171. Evidence that inner hair cells are the major source of co-
37. Wever EG, Bray CW. Auditory nerve impulses. Science. chlear summating potentials. Hear Res. 1997; 113:76-88.
1930; 71:215.
166
17
MICROCEFALIA, DESORDENS AUDITIVAS E
POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS
Klinger Vagner Teixeira da Costa
Mariana de Carvalho Leal
Pedro de Lemos Menezes
167
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
168
Parte II – Cap. 17 • MICROCEFALIA, DESORDENS AUDITIVAS E POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS |
também podem cursar com lesão auditiva periférica toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus (CMV), her-
que serão mais bem detalhados a seguir. pes simples (HSV), Treponema pallidum (sífilis) além
de outras infecções como o vírus da Zika, que foi
incorporado recentemente, ainda ocupam lugar de
3. DESORDENS AUDITIVAS destaque como um dos principais fatores de risco de
perda auditiva na infância. A infecção congênita pelo
Pelas recomendações do Joint Committee on CMV é uma das mais importantes, por estar relacio-
Infant Hearing (JCIH)22, a condição de microcefalia nada à perda auditiva com mais frequência do que nas
especificamente não é incluída como um indicador outras infecções em casos sintomáticos e mesmo nos
de risco de perda auditiva, mas pode ser considerada assintomáticos. A identificação da infecção congênita,
pelo critério de anomalias craniofaciais. No entanto, bem como da perda auditiva, pode ser ao nascimento,
as infecções congênitas (TORCHS), que são um dos na infância ou até mesmo anos mais tarde.
principais fatores etiológicos relacionados à microce-
Nos pacientes com etiologia relacionada a infec-
falia, especialmente o CMV devido ao risco de perda ções congênitas, o mecanismo envolvido na gênese
auditiva tardia, são incluídas como indicadores de da perda auditiva é bastante variado, envolvendo
risco e por isso devem seguir a recomendação para desde danos às estruturas do órgão de Corti até às
a avaliação audiológica diferenciada em todos os as- vias auditivas centrais, podendo levar a manifestações
pectos da triagem, diagnóstico e acompanhamento. bastante variadas quanto à frequência e ao grau de
Recentemente, em 2016, um estudo evidenciou a perda auditiva (Tabela 1).
perda auditiva SN como uma manifestação da SCZV
A patologia da surdez relacionada ao CMV
sugerindo a inclusão de mais esse agente no rol das
ainda não é totalmente conhecida. Estudos em ossos
infecções congênitas como indicador de risco de
temporais demostram inflamação, edema na cóclea
perda auditiva14.
e gânglio espiral, antígenos virais no gânglio espiral,
As desordens auditivas podem ser observadas órgão de Corti, escala média e membrana de Reiss-
por meio do atraso de linguagem, presente em cerca ner24. Ainda não está bem esclarecido se as alterações
de 33% das criança com microcefalia16. A depender do encontradas são devidas ao efeito direto do vírus ou
fator etiológico e do grau de severidade, a criança pode a resposta imune do hospedeiro. O mecanismo rela-
NOVAS APLICAÇÕES
nascer e apresentar exames de triagem auditiva nor- cionado à progressão e flutuação também não está
mais21. Mangunatmadja et al. estudaram 194 crianças, ainda bem elucidado.
na Indonésia, com diagnóstico de microcefalia e perda Hipóteses têm sido levantadas implicando a reati-
auditiva, por meio de Potencial Evocado Auditivo de vação viral e reação inflamatória localizada25. Na rubéo-
Tronco Encefálico (PEATE) e observaram que 58% la congênita, o vírus causa a morte de células no órgão
eram de grau moderado a profundo23. No Brasil, ainda de Corti e na estria vascular, desencadeando alterações
não há dados sobre a prevalência da perda auditiva na endolinfa26. Em crianças com infecção congênita
nesta população. pelo Toxoplasma gondii, a forma cística do parasito
As infecções congênitas são os principais fatores pode ser encontrada na estria vascular, no ligamento
relacionados à microcefalia associada à perda audi- espiral, na mácula sacular e no canal auditivo interno;
tiva. As TORCHS, que compreendem classicamente porém, não se observa reação inflamatória nestes sítios
Adaptada de Cohen et al.24 PA: Perda auditiva; PASN: Perda auditiva sensorioneural.
*
169
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
e acredita-se que a perda auditiva é secundária à me- utilidade ainda maior no estabelecimento dos limiares
ningoencefalite pós-natal pelo parasito27. Em relação auditivos.
à infecção pelo Herpes simplex não há definição exata Os PEA representam a atividade elétrica na via
da fisiopatologia da perda auditiva28; na infecção pelo auditiva, que é produzida ou estimulada (evocada)
Treponema pallidum (sífilis) ocorre endarterite obli- por sons (estímulos acústicos). Os sons que podem ser
terante e a perda auditiva normalmente é profunda29. utilizados para eliciar os PEA podem ser cliques, tone
Nos casos de infecção congênita pelo vírus da Zika, a bursts e até mesmo estímulos de fala36. Segundo Kraus
fisiopatologia da perda auditiva ainda não está escla- et al., as principais aplicações clínicas dos PEA são:
recida, tendo sido encontrada em 5,8% dos pacientes determinação do limiar de detecção do sinal acústico
que apresentam a SCZV com microcefalia, assim como e avaliação das integridades estrutural e funcional dos
em infecções por outros vírus, a perda pode ser tardia, componentes neurais da via auditiva37.
porém estudos prospectivos com essa população ainda
estão em andamento para se conhecer melhor os pos- A nomenclatura utilizada para classificar os PEA
síveis danos relacionados a essa infecção14. normalmente se baseia no tempo de latência em que
as ondas dos potenciais surgem após o estímulo dado.
Todos esses agentes relacionados a infecções con-
Porém, alguns potenciais ainda são designados de
gênitas intrauterinas, principalmente quando ocorre
acordo com as estruturas anatômicas que os geram
precocemente durante a gestação podem estar asso-
(p. ex., Eletrococleografia, Potencial Evocado Audi-
ciados à microcefalia. Assim, ainda que não haja dano
tivo de Tronco Encefálico). Assim, os potenciais são
coclear, a própria condição de comprometimento das
classificados de acordo com suas latências em: curta
regiões subcortical e cortical cerebrais podem resultar
(Eletrococleografia – EcoG, PEATE, Potencial Evo-
em desordens centrais e déficit no processamento au-
cado Auditivo de Estado Estável), média (PEAML) e
ditivo central30. Desta forma, é possível haver surdez
longa (PEALL, P300, Mismatch Negativity – MMN).
completa em indivíduos com a porção periférica da via
auditiva normal, uma vez que o dano pode estar situado, A possibilidade de avaliar a via auditiva através
primariamente, nas regiões auditivas do cérebro, córtex dos diferentes potenciais evocados nos permite iden-
auditivo no lobo temporal e outras regiões relacionadas tificar o provável local da lesão, sendo um recurso
às habilidades auditivas (surdez central)31-33. diagnóstico extremamente útil para a definição do
O acompanhamento dessas crianças com aten- topodiagnóstico, somando-se a esses métodos os exa-
ção especial ao desenvolvimento das habilidades au- mes de imagem, principalmente a ressonância nuclear
ditivas e de linguagem, além da avaliação audiológica magnética (RNM) para a avaliação do comprometi-
periódica, é fundamental na tentativa de diagnosticar mento central, que darão subsídios para os diagnósticos
e intervir precocemente reabilitando essas crianças de anatômico e funcional da perda auditiva, essenciais para
forma multidisciplinar. um tratamento e prognóstico adequados.
O diagnóstico dos TPAC é realizado com base
em história clínica detalhada associada a testes com- 4.1. Potencial Evocado Auditivo de
portamentais e eletrofisiológicos sensíveis e específi- Tronco Encefálico
cos34. Os testes eletrofisiológicos desempenham um Dos potenciais evocados auditivos, os com-
papel importante como ferramentas que auxiliam ponentes (ondas) de curta latência são os de maior
não apenas para o diagnóstico topográfico e o grau aplicabilidade clínica; são fáceis de gravar, não são
da lesão, mas são extremamente úteis para avaliar a afetados por anestésicos, sedativos, anticonvulsivantes
evolução do paciente em tratamento, uma vez que as ou sono38,39.
comparações intrassujeitos são os melhores parâme-
tros no uso destes potenciais35. Na população considerada com indicador de
risco de perda auditiva, o PEATE tem sua importância
desde a triagem auditiva, com o PEATE no modo au-
4. POTENCIAIS EVOCADOS
tomático, passando pelo diagnóstico para a avaliação
AUDITIVOS de limiar por frequência específica, assim como para
A avaliação audiológica através dos métodos avaliar a integridade da via auditiva.
subjetivos, de crianças com microcefalia devido ao Pelos motivos já citados, a análise clínica do
comprometimento neurológico que apresentam, PEATE é baseada nas latências das ondas I, III e V, e
torna-se muito mais difícil e, assim, os PEA tem dos intervalos I-III, III-V e I-V (Figura 2). A diferença
170
Parte II – Cap. 17 • MICROCEFALIA, DESORDENS AUDITIVAS E POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS |
III IV
I II V
Latências
I-III III-V
I-V
dos intervalos entre as orelhas e a relação da amplitude com comprometimento do sistema nervoso central
das ondas V e I (V/I) são dados a serem considerados são variadas. Normalmente, as latências da onda I e
para elaborar diagnósticos40. Na criança, as ondas do do intervalo interpicos I-III se encontram normais
PEATE refletem o amadurecimento da via auditiva; as uma vez que a porção periférica da via auditiva en-
latências das ondas I, III e V diminuem em função da contra-se preservada na microcefalia isolada41. Em
idade, e o processo de amadurecimento se completa relação à onda V, pode haver aumento da latência41,
NOVAS APLICAÇÕES
em torno dos 18 meses de idade39. O processo de redução da amplitude42 ou até mesmo sua ausência38.
mielinização do tronco encefálico, crescimento axo- O aumento da latência do intervalo I-V é a alteração
nal, aumento do diâmetro axonal, desenvolvimento mais comum39 e pode ocorrer devido ao aumento
de propriedades dendríticas centrais, formação de da latência do intervalo III-V, que representa o seg-
conexões sinápticas centrais, melhora da eficiência mento da via auditiva na porção mais alta do tronco
sináptica, sincronização e bloqueio de fase do sistema encefálico41,43,44. Entretanto, o aumento da latência do
auditivo podem ser observados, eletrofisiologicamen- intervalo I-V deve ser analisado dentro dos parâme-
te, por meio das mudanças em alguns parâmetros tros já definidos, de acordo com a idade da criança45.
avaliados no PEATE. A diminuição da latência do Pode ser observada também redução na relação V/I42.
limiar da onda I indica melhora no processamento
periférico do estímulo auditivo; as alterações de ama-
durecimento das ondas subsequentes (aumento na
4.2. Potencial Evocado Auditivo de
amplitude, diminuição das latências e dos intervalos Média Latência
interpicos) refletem uma organização sináptica nas Os PEAML têm como finalidade dar conti-
via auditiva do tronco encefálico39. nuidade à avaliação da função eletrofisiológica da
É importante destacar que essas crianças devem via auditiva em níveis mais altos, chegando à região
ser acompanhadas com reavaliações periódicas, nos cortical. A principal contribuição dos PEAML se dá
casos dos que apresentaram exame alterado para ava- na avaliação do processamento auditivo central, uma
liar a evolução, assim como nos que não apresentaram vez que este potencial representa o segmento da via
alteração na triagem auditiva com o objetivo também auditiva desde o tálamo até o córtex auditivo.
de diagnosticar perda tardia. Os PEAML consistem em uma sequência de 3
As alterações observadas nos parâmetros (am- ondas positivas (Po, Pa e Pb) e 3 ondas negativas (Na,
plitude de onda, latência de ondas e de intervalos Nb e Nc)46. As ondas mais consistentes são Na, Pa,
interpicos) dos componentes do PEATE em crianças Nb e Pb que ocorrem no intervalo de 10 a 50 ms38 e
171
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
atingem os padrões adultos por volta dos 8-10 anos pode-se extrapolar a avaliação além do córtex audi-
de idade (Figura 3)47. tivo primário para o secundário, área importante na
A origem anatômica de cada onda está na porção linguagem47,49.
profunda do córtex auditivo, e as evidências indicam Na prática clínica, o registro e a análise dos
que cada onda se origina nos seguintes segmentos PEAML geralmente se concentram em torno do
anatômicos48,49: complexo Na-Pa, uma vez que as ondas Nb e Pb são
inconstantes em crianças com menos de 4 anos de
ondas Na – Estruturas subcorticais com par- idade53. Em crianças, para a aquisição de uma Pa es-
ticipação importante do colículo inferior e do tável, os cliques são utilizados numa taxa menor que
corpo geniculado medial; no adulto. Em relação ao lado da orelha estimulada,
onda Pa – Região posteromedial do giro de o complexo Na-Pa é semelhante para ambos os lados,
Heschl; enquanto a Pb é mais consistente quando o estímulo
onda Nb – Giro de Heschl (córtex primário); é binaural ou na orelha direita. A medida de latência
onda Pb – Giro de Heschl ou córtex auditivo interpicos Na-Pa é parâmetro relevante na avaliação
secundário. da via auditiva entre a parte alta do tronco encefálico
e o córtex auditivo49. Outro parâmetro utilizado é a
A onda Pa é, normalmente, a mais robusta do comparação inter-hemisférica da diferença nas ampli-
PAML e é comparável, neste aspecto, com a onda V tudes do complexo Na-Pa, ipsi e contralateralmente.
do PEATE37. Sua latência é de cerca de 30 ms, e seu
Enquanto o PEATE não sofre influência do sono
pico é igual ao do adulto por volta dos 8 anos de
ou de drogas sedantes, o mesmo não ocorre com os
idade50,51. Sofre redução em pacientes com lesão de PEAML, pois sofre influência do status do sistema
lobo temporal se comparada com a onda gerada do reticular ativador ascendente, que tem participação
hemisfério normal52. na origem da onda Pb54. A obtenção dos PEAML em
A latência da onda Pb se aproxima de 50 ms e, lactentes e crianças pequenas é confiável desde que
algumas vezes, é considerada como sendo a primeira o paciente se encontre desperto ou em sono leve54,55.
onda (P1) dos PEALL38,47,48. A onda Pb também é A associação da realização do PEATE com
considerada uma componente “pré-atencional”, uma PEAML possibilita avaliar a via auditiva desde o
vez que sofre influência do grau de atenção do pa- nervo acústico até as porções subcorticais e corticais
ciente durante o exame. Está presente em menos de relacionadas ao processamento auditivo53,56; ambos
50% de adultos normais e, em crianças, normalmente podem ser gravados já na criança com 38 semanas de
somente após os 4 anos de idade; quando presente, idade gestacional e “facilmente” gravados após os 2
meses de idade49. Em bebês, a onda Na é a componente
mais consistente57,58.
Luo et al.49 estudaram 93 crianças com idades
desde 1 semana até 3 anos; os autores observaram
que a gravação dos PEAML é perfeitamente possível
1 nesta faixa etária e quando associados ao PEATE, há
Pa P1
IV V aumento da sensibilidade no diagnóstico neurofi-
I
II
III
VI VII siológico. Concluíram que com o aumento da idade
Po pode haver aumento da latência interpicos Na-Pa,
0 bilateralmente, decorrente do aumento da distância
da via auditiva em paralelo ao crescimento cefálico.
No
As anormalidades podem ser observadas quando há
Na Nb
-1
o desaparecimento ou atrasos nas latências das ondas
ou dos intervalos interpicos.
Em crianças com diagnóstico de microcefalia, a
10 avaliação auditiva merece mais atenção nas áreas que
envolvem a porção mais alta do tronco encefálico até o
córtex cerebral. Como os PEAML avaliam a via auditi-
Figura 3 − Potencial Evocado Auditivo de Média Latência. va desde o tálamo até o córtex auditivo, o diagnóstico
172
Parte II – Cap. 17 • MICROCEFALIA, DESORDENS AUDITIVAS E POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS |
pode ser complementado à medida que forem refeitos ondas N1e P247. Estímulos tonais, de duração mais
ao longo do crescimento e do desenvolvimento da longa, têm sido mais utilizados (tone burst); no entan-
criança. Uma vez que o melhor parâmetro para esses to, uma série de outros estímulos como vogal, sílaba,
potenciais é a avaliação intrassujeitos, podem ser uti- palavra e até frases podem ser usados60. Consistem
lizados para acompanhar a maturação da via auditiva de duas ondas positivas (P2) e duas ondas negativas
e observar o impacto das intervenções de reabilitação (N1 e N2) (Figura 4).
auditiva empregadas. A origem anatômica de cada onda está nos se-
guintes segmentos anatômicos61:
4.3. Potenciais Evocados Auditivos onda P1 – Giro de Heschl ou córtex auditivo
de Longa Latência secundário;
Os PEALL são gravados após 50 ms do estímulo onda N1 – Lobo frontal;
dado; baseando-se no tempo de latência em que as onda P2 – Giro temporal superior anterior;
ondas surgem após o estímulo, os PEALL podem ser onda N2 – Regiões supratentoriais incluindo o
divididos em: córtex frontal.
NOVAS APLICAÇÕES
influenciados pelas características físicas do estímulo habilidades de discriminação auditiva60. Entretanto,
(intensidade, duração e frequência)59 e quanto maior para diagnósticos que envolvem doenças do sistema
o grau de atenção do paciente, maior a amplitude das nervoso central, os resultados do PEALL devem ser
IV/V
.5
μV P0 P2
III VI P1
Pa
II N0
I
Na
Nb
N1 N2
0 5 10 20 50 100 200
173
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
associados à avaliação comportamental e a exames aferentes e eferentes, entre o tálamo e o córtex tem-
de imagem63. poroparietal e o córtex pré-frontal, e do tálamo para
Em crianças, os estudos se concentram em po- o hipocampo e região límbica, com a participação da
pulações de bebês prematuros. Assim como os bebês formação reticular, o que explica que a detecção, a
com diagnóstico de microcefalia, bebês prematuros sensação e a discriminação do estímulo utilizado no
fazem parte de grupo de risco de déficits auditivos e exame dependem do estado de alerta e atenção do
outras anormalidades64. Fellman et al. observaram em paciente67. Em relação a sua maturação, ao nascimento
bebês prematuros diminuição da amplitude da onda se encontra por volta de 500 ms e somente por volta
N2 em relação ao grupo-controle sugerindo haver de 15-17 anos de idade é que se encontra em torno
maior risco de distúrbios cognitivos. A realização dos de 300 ms68,69.
PEALL em crianças com diagnóstico de microcefalia É um potencial endógeno, cognitivo e que in-
é relevante, ao passo que estes potenciais possibilitam depende, diretamente, das características físicas do
estadiar a condição eletrofisiológica auditiva no nível estímulo utilizado70. Para que haja o registro da onda
cortical que por sua vez necessitará ser monitorada deste potencial, faz-se necessária a discriminação
ao longo do crescimento e do desenvolvimento in- de um estímulo auditivo raro, acompanhado por
fantil. Além disso, podem ser utilizados para avaliar outro estímulo frequente de mesma modalidade e
a efetividade do treinamento auditivo com sons de características físicas diferentes (paradigma oddball),
fala em crianças com DPAC65, que é representada que significa o reconhecimento de uma mudança no
por aumento da amplitude do complexo N1-P266. estímulo auditivo por parte do indivíduo59.
Nas crianças com comprometimento neurológico É possível utilizar uma variação do paradigma
importante e crianças na primeira infância, os testes oddball, que é composto por três estímulos, frequente,
de avaliação do processamento auditivo central não raro e “de distração”, capaz de modificar a resposta e
podem ser feitos com confiabilidade, a avaliação da resultar no surgimento de dois componentes, P3a e P3b.
resposta eletrofisiológica através do potencial cortical O P3a é “automático”, independe do nível de atenção,
é a alternativa de acessar de alguma forma essa res- surge antes (cerca de 250 ms) e com amplitude menor
posta em nível central. que P3; o P3b, mais tardio (cerca de 350 ms), ocorre
quando o indivíduo descrimina “ativamente” os estí-
4.3.2. P300 mulos. Como o nível de atenção é um fator limitante
O P300 é um potencial cognitivo também co- para a realização do P300 convencional em crianças,
nhecido como P3; é um potencial evocado auditivo a análise passa a ser do P3a (resposta P300 passiva)71.
considerado de longa latência composto por uma O estudo do P300 em crianças com diagnóstico
onda positiva que ocorre em torno de 30 0ms após de microcefalia pode ser exemplificado por meio de
o estímulo dado (Figura 5). É gerado por conexões pesquisas com crianças com Transtornos do Espectro
P3
Tom raro
P2
N2
Tom frequente
N1
174
Parte II – Cap. 17 • MICROCEFALIA, DESORDENS AUDITIVAS E POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS |
Alcoólico Fetal (TEAF), em que a microcefalia pode Segundo Hall36, o MMN é, provavelmente, a medida
fazer parte do quadro clínico em graus variados72,73. objetiva mais acurada do processamento auditivo no
Gerhold et al., ao estudarem 35 crianças em idade sistema nervoso central.
escolar (18 com exposição pré-natal severa ao álcool Os centros anatômicos geradores do MMN estão
e 17 controle), observaram que as crianças com distribuídos nos lobos temporais (córtex primário e
TEAF apresentaram latência aumentada e amplitude secundário) e nos lobos frontais, predominantemente
diminuída da onda do P30074. Crianças com TEAF, o direito, formando um complexo de conexões neuro-
com perímetro cefálico normal ou reduzido, são nais responsável por grande parte do processamento
consideradas de risco de perda auditiva e devem ser auditivo central36.
acompanhadas, periodicamente, ao longo do processo Dentre os potenciais de longa latência, o P300 e o
de maturação da via auditiva através dos potenciais MMN são os mais utilizados no propósito de estudar
evocados auditivos, tendo o P300 a importância em as DPAC. Ao passo que o P300 depende da atenção
avaliar a cognição. do paciente, em crianças o MMN assemelha-se ao do
Em crianças com DPAC, o P300 além de ter seu adulto por volta dos 4 meses de idade80 e se destaca
papel diagnóstico, pode ser utilizado para avaliar o como uma ferramenta viável em Pediatria por não
progresso do paciente durante o treinamento auditi- depender do nível de atenção da criança nem sofrer
vo75. Observam-se redução da latência e aumento da interferência do sono84. Outra característica que
amplitude da onda do P300 ao longo do treinamento merece destaque no MMN é a boa correspondência
auditivo decorrentes de alterações neurofisiológicas entre o limiar em que este é eliciado e o limiar de
que se devem à plasticidade neuronal do sistema discriminação comportamental85.
nervoso central75-77. Sua importância vai além do diagnóstico das
DPAC, pois é uma ferramenta importante no estudo
4.3.3. Mismacth Negativity: (COGNITIVO) da maturação neurofisiológica no sistema auditivo
central ao longo da terapia de treinamento auditi-
O Mismatch Negativity (MMN) é um potencial vo86,87. Em Pediatria, os estudos se concentram em
cognitivo que se caracteriza por uma onda negativa crianças com dislexia88-90 e com espectro autista que,
que surge após P2, entre 100 e 300 ms78, com latência e frequentemente, se apresentam com prejuízo na habi-
NOVAS APLICAÇÕES
amplitude variáveis a depender do estímulo utilizado lidade de comunicação por haver comprometimento
(Figura 6)79-81. A forma mais típica de se registrar o no processamento simultâneo das características do
MMN é por meio do paradigma oddball78,82,83 e suas som, conteúdo e informação contextual91; nas crianças
variações que se caracterizam pela inserção de vários autistas com comprometimento linguístico, observa-
tipos de estímulos diferentes. Reflete um processo -se aumento considerável da latência da onda92,93. Em
automático de detecção de mudanças que não requer crianças com DPAC, observa-se redução da amplitude
atenção, consciência ou resposta comportamental81. do MMN94.
Tom raro
N1 Tom frequente
175
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS dos diversos tipos de estímulos para eliciar o MMN,
observa-se que tais estímulos passaram de simples
O diagnóstico da microcefalia e o impacto nas para complexos, de artificiais para naturais, de não
múltiplas funções motoras e sensoriais de cada pa- linguísticos para linguísticos, e têm sido estudados
ciente são um desafio que requer uma avaliação de forma associada com outros tipos de estímulos (p.
multidisciplinar e contínua, pois são inúmeras as ex., visual e somatossensorial) através da ressonância
limitações que passam a ser constatadas ao longo do magnética funcional (RNMf). Assim, a realização de
crescimento e do desenvolvimento infantil. forma associada dos PEA com outras tecnologias pro-
Ultrapassar a barreira do diagnóstico morfoló- mete fornecer um diagnóstico integrado nos diversos
gico e, de fato, estabelecer um diagnóstico funcional distúrbios relacionados ao sistema nervoso central.
embasado na condição neurofisiológica é de extrema No tocante à microcefalia, devido aos vários
valia para se conseguir propor terapias de reabilitação. graus de comprometimento do sistema nervoso cen-
Com a epidemia da infecção pelo vírus da Zika no Bra- tral, especialmente na microcefalia secundária, quan-
sil em 2015, um novo quadro passou a ser descrito na do o perímetro cefálico é normal ao nascimento, o
história da microcefalia; em paralelo com a epidemia
grau de suspeição por parte da equipe para distúrbios
de Zika, passou-se a observar aumento nos casos de
auditivos deve ser ainda maior, pois o quadro pode ser
bebês com microcefalia em diversos estados do país.
silencioso e tardio; o acompanhamento destas crianças
Ao passo em que a associação causal entre a deve ser realizado por meio de reavaliações periódicas
“possível” infecção congênita pelo vírus da Zika e a com PEA utilizando o parâmetro intrassujeitos para
microcefalia era confirmada, o comprometimento entender o processo de maturação da via auditiva.
auditivo nestes bebês era e ainda permanece um
campo nebuloso, sendo necessários estudos para o Assim, os PEA surgem como ferramenta in-
conhecimento mais detalhado a respeito das carac- dispensável que propiciará melhor compreensão do
terísticas da perda auditiva, da evolução e, principal- enigma das desordens auditivas na condição da mi-
mente, do topodiagnóstico. O fato é que a discussão crocefalia e suas múltiplas apresentações, merecendo
sobre audição e microcefalia deve ser considerada ampla apreciação dos seus “potenciais”.
num contexto teórico em que escutar/entender são
ações eminentemente cerebrais que se alinham à
cognição juntamente com outras funções centrais. Os 6. REFERÊNCIAS
PEA, embora classificados de acordo com o tempo 1. WHO. WHO Director-General summarizes the out-
de latência de suas ondas, representam em termos come of the Emergency Committee regarding clusters
neurofisiológicos a condição funcional da via auditiva of microcephaly and Guillain-Barré syndrome. Feb
desde a porção mais periférica até o córtex cerebral. 1, 2016. http://www.who.int/mediacentre/news/sta-
A avaliação auditiva de bebês com microcefalia por tements/2016/emergency-committee-zika- microce-
meio apenas das Otoemissões Acústicas (OEA) e do phaly/en/# (accessed March 3, 2016).
PEATE passa a ser extremamente limitada para um 2. Marinho F, Araújo VEM, Porto DL, Ferreira HL,
diagnóstico auditivo real; o estudo dos demais PEA Coelho MRS, Lecca RCR et al. Microcefalia no Brasil:
nesta população passa a ser indispensável e urgente prevalência e caracterização dos casos a partir do Sis-
na perspectiva de compreender a melhor forma de tema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc),
empregá-los, de seus parâmetros e, assim, elaborar 2000-2015. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2016;
terapias futuras para uma geração de bebês cujas li- 25(4):701-12.
mitações ainda estão por vir. Os potenciais de média e 3. Brasil Ministério da Saúde. Informe Epidemiológico
longa latências ganham espaço neste conjunto; como n.32 − Semana Epidemiológica 25/2016 − Monito-
em crianças os níveis de atenção e de sono passam a ramento dos casos de microcefalia no Brasil. 2016.
ser fatores limitantes no estudo destes potenciais, o http://combateaedes.saude.gov.br/images/pdf/ infor-
estudo da onda P3a e do MMN se destacam por não me_microcefalia_epidemiologico_32.pdf (accessed
sofrerem tais limitações. July 4, 2016).
Os PEA podem ser eliciados por meio de diver- 4. Calvet G, Aguiar RS, Melo AS et al. Detection and
sos estímulos acústicos e o uso de estímulos de fala sequencing of Zika virus from amniotic fluid of fetuses
parece ser o caminho mais fisiológico para dimen- with microcephaly in Brazil: a case study. Lancet Infect
sionar a condição auditiva. Na evolução da utilização Dis. 2016; 16:653-60.
176
Parte II – Cap. 17 • MICROCEFALIA, DESORDENS AUDITIVAS E POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS |
5. Araújo TVB, Rodrigues LC, Ximenes RAA, Miranda- 94(6):406-406A. Available from: http://www.who.int/
-Filho DB, Montarroyos UR, Melo APL et al. Associa- bulletin/volumes/94/6/16-176990/en/
tion between Zika virus infection and microcephaly in 16. Harris SR. Measuring head circumference: Update on
Brazil, January to May, 2016: preliminary report of a infant microcephaly. Can Fam physician [Internet].
case-control study. Lancet Infect Dis. 2016; 16:1356-63. 2015; 61(8):680-4. Available from: http://www.pubme-
6. Pang T, Atefy R, Sheen V. Malformations of cortical dcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=4541430&-
development. Neurologist. 2008; 14(3):181-91. tool=pmcentrez&rendertype=abstract
7. Harris SR. Congenital idiopathic microcephaly in an 17. Barkovich A., Kuzniecky RI, Jackson G., Guerrini R,
infant: congruence of head size with developmen- Dobyns W. A developmental and genetic classification
tal motor delay. Dev Neurorehabil [Internet]. 2013; for malformations of cortical development. Neurology.
16(2):129-32. Available from: https://acces.bibl.ula- 2005; 65(12):1873-87.
val.ca/login?url=https://search.ebscohost.com/login. 18. Dolk H. The Predictive Value of Microcephaly During
aspx?direct=true&db=mnh&AN=23477466&lang=- the First Year of Life for Mental Retardation at Seven
fr&site=ehost-live Years. Dev Med Child Neurol. 2008; 33:974-83.
8. Von der Hagen M, Pivarcsi M, Liebe J, von Bernuth H, 19. Microcephaly Epidemic Group. Microcephaly in in-
Didonato N, Hennermann JB, et al. Diagnostic approa- fants, Pernambuco State, Brazil, 2015. Emerg Infect
ch to microcephaly in childhood: A two-center study Dis. 2016; 22:1090-3. http://wwwnc. cdc.gov/eid/
and review of the literature. Dev Med Child Neurol. article/22/6/16-0062_article
2014; 56(8):732-41. 20. van der Linden V; Rolim Filho EL, Lins OG, van
9. Ashwal S, Michelson D, Plawner L, Dobyns WB. Prac- der Linden A, Aragão MFVV, Brainer-Lima AM et
tice Parameter: Evaluation of the child with microce- al. Congenital Zika syndrome with arthrogryposis:
phaly (an evidence-based review). Am Acad Neurol retrospective case series study. BMJ. 2016; 354:i3899
[Internet]. 2009; 73:887-97. Available from: https:// doi: https://doi.org/10.1136/bmj.i3899
www.aan.com/pressroom/home/getdigitalasset/8479 21. Johnson JL, White KR, Widen JE, Gravel JS, James M,
10. Baxter PS, Rigby AS, Rotsaert MHEPD, Wright I. Kennalley T et al. A Multicenter Evaluation of how
Acquired Microcephaly: Causes, Patterns, Motor and Many Infants with Permanent Hearing Loss Pass a
IQ Effects, and Associated Growth Changes. Pedia- Two-Stage Otoacoustic Emissions/Automated Audi-
trics [Internet]. 2009; 124(2):590-5. Available from: tory Brainstem Response Newborn Hearing Screening
NOVAS APLICAÇÕES
http://pediatrics.aappublications.org/cgi/doi/10.1542/ Protocol. Pedriatrics. 2005; 116(3):663-72.
peds.2008-2784 22. American Academy of Pediatrics, Joint Committee on
11. Passemard S, Kaindl AM, Verloes A. Microcephaly. Infant Hearing. Year 2007 position statement: prin-
In: Handbook of Clinical Neurology. 2013, p. 129-41. ciples and guidelines for early hearing detection and
12. Beswick R, Driscoll C, Kei J. Monitoring for post- intervention programs. Pediatrics. 2007; 120:898-921.
natal hearing loss using risk factors: a systematic 23. Mangunatmadja I, Widodo DP, Pusponegoro HD.
literature review. Ear Hear [Internet]. 2012; 33(6):745- Brainstem auditory evoked potentials in children with
56. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ microcephaly. Pediatr Indones. 2003; 43:28-30.
pubmed/22955247. 24. Cohen BE, Durstenfeld A, Roehm PC. Viral Cau-
13. Goderis J, De Leenheer E, Smets K, Van Hoecke H, ses of Hearing Loss: A Review for Hearing Health
Keymeulen A, Dhooge I. Hearing loss and congenital Professionals. Trends Hear. 2014 Jul; 18:1-17.
CMV infection: a systematic review. Pediatrics [Inter- doi:10.1177/2331216514541361.
net]. 2014; 134(5):972-82. Available from: http://www. 25. Noyola DE, Demmler GJ, Williamson WD, Griesser C,
ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25349318. Sellers S, Llorente A et al. Congenital CMV Longitudi-
14. Leal MC, Muniz LF, Ferreira TS, Santos CM, Al- nal Study Group. Cytomegalovirus urinary excretion
meida LC, Van Der Linden V et al. Hearing Loss in and long-term outcome in children with congenital
Infants with Microcephaly and Evidence of Congenital cytomegalovirus infection. Pediatr Infect Dis J. 2000;
Zika Virus Infection - Brazil, November 2015-May 19(6):505-10.
2016. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2016 Sep 2; 26. Lee JY, Bowden DS. Rubella virus replication and
65(34):917-9. doi: 10.15585/mmwr.mm6534e3. links to teratogenicity. Clin Microbiol Rev. 2000;
15. Costello A, Dua T, Duran P, Gülmezoglu M, Ola- 13(4):571-87.
dapo OT, Perea W, et al. Defining the syndrome 27. Salviz M, Montoya JG, Nadol JB, Santos F. Otopatho-
associated with congenital Zika virus infection. logy in Congenital Toxoplasmosis. Otol Neurootol.
Bull World Health Organ [Internet]. 2016 Jun 1; 2013; 34(6):1165-9.
177
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
28. Westerberg BD, Atashband S, Kozak FK. A systematic 42. Jiang ZD, Brosi DM, Wilkinson AR. Comparison
review of the incidence of sensorineural hearing loss of brainstem auditory evoked responses recorded at
in neonates exposed to Herpes simplex virus (HSV). different presentation rates of clicks in term neonates
Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2008; 72:931-7. after asphyxia. Acta Paediatr. 2001; 90:1416-21.
29. Phillips JS, Gaunt A, Phillips DR. Otosyphilis: a ne- 43. Jiang ZD, Brosi DM, Wilkinson AR. Auditory neural
glected diagnosis? Otol Neurootol. 2014; 35:1011-3. responses to click stimuli of different rates in the
30. Boscariol M, Guimarães CA, Hage SR de V, Garcia VL, brainstem of very preterm babies at term. Pediatr Res.
Schmutzler KMR, Cendes F et al. Auditory processing 2002; 51(4):454-9.
disorder in patients with language-learning impair- 44. Jiang ZD, Brosi DM, Wilkinson AR. Brain-stem au-
ment and correlation with malformation of cortical ditory function in very preterm infants with chronic
development. Brain Dev. 2011; 33(10):824-31. lung disease: Delayed neural conduction. Clin Neu-
31. Musiek FE, Lee WW. Neuroanatomical correlates rophysiol. 2006; 117(7):1551-9.
to central deafness. Scandinavian Audiology. Scand 45. Gorga MP, Kaminski JANR, Beauchaine KL, Neely ST.
Audiol. 1998; 49:18-25. Auditory Brainstem Responses from Children Three
32. Musiek FE, Baran JA. The auditory system: Anatomy, Months to thre eyear so fage: normal pattern so fresp
physiology, and clinical correlates. 2007. on se II. J Speech Hear Res. 21989; 32:281-8.
33. Griffiths TD. Central auditory pathologies. Br Med 46. Schochat E. Potencial Evocado Auditivo de Média
Bull. 2002; 63:107-20. Latência. In: Bevilacqua MC, Martinez MAN, Balen
SA, Pupo AC, Reis ACMB, Frota S, editores. Tratado
34. American Academy of Audiology. Guidelines for the
de Audiologia. 1ª ed. São Paulo: Ed. Santos. 2011, p.
Diagnosis, Treatment and Management of Children
217-29.
and Adults with Central Auditory Processing Disorder.
Am Acad Audiol. 2010; (August):51. 47. Hall III JW. Auditory Middle-Latency Response
(AMLR). In: HALL III JW, editor. New Handbook of
35. Bellis TJ, Bellis JD. Central auditory processing
Auditory Evoked Responses. 1st ed. Boston: Pearson
disorders in children and adults. In: Celesia GG,
Education. 2006, p. 441-87.
Hickok G, editors. The Human Auditory System
Fundamental Organization and Clinical Disorders 48. Hall III JW. Anatomy and Physiology Boston: Allyn
[Internet]. 1st ed. New York: Elsevier B.V. 2015, p. & Bacon, 1992. cap. 2, p. 41-69. In: Hall III JW, editor.
537-56. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/ Handbook of Auditory Evoked Responses. Boston:
B978-0-444-62630-1.00030-5. Allyn & Bacon; 1992, p. 41-69.
36. Hall III JW. Overview of Auditory Neurophisiology. In: 49. Luo JJ, Khurana DS, Kothare SV. Brainstem audi-
Hall III JW, editor. New Handbook of Auditory Evoked tory evoked potentials and middle latency auditory
Responses. 1st ed. Boston: Hall III JW. 2006, p. 1-34. evoked potentials in young children. J Clin Neu-
rosci [Internet]. 2013; 20:383-8. Available from:
37. Kraus N, Kileny P, McGee T. Potenciais evocados
http://dx.doi.org/10.1016/j.jocn.2012.02.038
auditivos de média latência. In: Katz J, editor. Tratado
de Audiologia Clínica. 1ª ed. São Paulo: Manole. 1999, 50. Pratt H. Middle Latency Reponses. In: Burkard R, Don
p. 384-402. M, Eggermont JJ, editors. Auditory Evoked Potencial.
1st ed. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins.
38. Legatt AD. Electrophysiologic auditory tests. In: Ce-
2007, p. 463-81.
lesia GG, Hickok G, editors. The Human Auditory
System Fundamental Organization and Clinical Disor- 51. Suzuki T, Hirabayashi M, Kobayashi K. Auditory Mi-
ders [Internet]. 1st ed. New York: Elsevier B.V. 2015, ddle Responses in Young Children. Br J Audiol [Inter-
p. 289-311. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/ net]. 1983; 17(1):5-9. Available from: http://www.tan-
B978-0-444-62630-1.00017-2. dfonline.com/doi/full/10.3109/03005368309081476.
39. Wilkinson AR, Jiang ZD. Brainstem auditory evoked 52. Kraus N, Özdamar Ö, Stein L, Reed N. Absent auditory
response in neonatal neurology. Semin Fetal Neonatal brain stem response: Peripheral hearing loss or brain
Med. 2006; 11(6):444-51. stem dysfunction? Laryngoscope. 1984, v. 94, p. 400-6.
40. Hall III JW. Anatomy and Physiology Principles of 53. Vitte E, Tankéré F, Bernat I, Zouaoui A, Lamas G,
Auditory Responses. In: Hall III JW, editor. New Han- Soudant J. Midbrain deafness with normal brainstem
dbook of Auditory Evoked Responses. 1st ed. Boston: auditory evoked potentials. Neurology [Internet].
Pearson Education. 2006, p. 35-57. 2002; 58:970-3. Available from: http://www.ncbi.nlm.
nih.gov/pubmed/11914420.
41. Das P, Bandyopadhyay M, Ghugare BW, Ghate J, Singh
R. Auditory evaluation of the microcephalic children 54. McGee T, Kraus N. Auditory development reflec-
with brain stem evoked response audiometry (BERA). ted by middle latency response. Ear Hear. 1996;
Indian J Physiol Pharmacol. 2010; 54(4):376-80. 17(October):419-29.
178
Parte II – Cap. 17 • MICROCEFALIA, DESORDENS AUDITIVAS E POTENCIAIS EVOCADOS AUDITIVOS |
55. Shafer VL, Morr ML, Kreuzer JA, Kurtzberg D. Matu- 66. Tremblay K, Kraus N, McGee T, Ponton C, Otis B.
ration of Mismatch Negativity in School-Age Children. Central auditory plasticity: changes in the N1-P2
Ear Hear. 2000; 23:118-36. complex after speech-sound training. Ear Hear. 2001;
56. Kimiskidis VK, Lalaki P, Papagiannopoulos S, Tsitouri- 22(2):79-90.
dis I, Tolika T, Serasli E et al. Sensorineural hearing loss 67. Chermak DG, Musiek FE. Central auditory processing
and word deafness caused by a mesencephalic lesion: disorders: new perspectives. 1st ed. Chermak DG,
clinicoelectrophysiologic correlations. Otol Neurotol Musiek FE, editors. San Diego: California Singular
[Internet]. 2004; 25:178-82. Available from: http:// Publishing Group. Inc. 1997, 230p.
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15021780 68. Buchwald JS. Comparison of plasticity in sensory and
57. Rogers SH, Edwards DA, Henderson-Smart DJ, Petti- cognitive processing systems. Clin Perinatol. 1990;
grew AG. Middle latency auditory evoked responses 17(1):57-66.
in normal term infants: a longitudinal study. Neu- 69. Diniz Júnior J, Mangabeira-Albernaz PL, Munhoz
ropediatrics [Internet]. 1989; 20(2):59-63. Available MS, Fukuda Y. Cognitive potentials in children with
from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2739875 learning disabilities. Acta Otolaryngol [Internet]. 1997;
58. Kraus N, Ian Smith D, Reed NL, Stein LK, Cartee C. 117:211-3. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.
gov/pubmed/9105451
Auditory middle latency responses in children: Effects
of age and diagnostic category. Electroencephalogr 70. Duarte JL, Alvarenga KDF, Costa OA. Potencial cog-
Clin Neurophysiol. 1985; 62:343-51. nitivo P300 realizado em campo livre: aplicabilidade
do teste. Rev Bras Otorrinolaringol. 2004; 70(6):780-5.
59. Duarte JL, Alvarenga K de F, Banhara MR, Melo
ADP de, Sás RM, Costa Filho OA. Potencial evocado 71. Hall III JW. P300 Response. In: Hall III JW, editor.
auditivo de longa latência-P300 em indivíduos nor- New Handbook of Auditory Evoked Responses. 1st ed.
mais: valor do registro simultâneo em Fz e Cz. Rev Boston: Pearson Education. 2006, p. 518-47.
Bras Otorrinolaringol [Internet]. 2009; 75(2):231-6. 72. del Campo M, Jones KL. A review of the physical features
Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?s- of the fetal alcohol spectrum disorders. Eur J Med Ge-
cript=sci_arttext&pid=S0034-72992009000200012& net [Internet]. 2016. Available from: http://linkinghub.
lng=en&nrm=iso&tlng=pt elsevier.com/retrieve/pii/S1769721216303822
60. Oppitz SJ, Didoné DD, da Silva DD, Gois M, Fol- 73. Hoyme HE, Kalberg WO, Elliott AJ, Blankenship J,
gearini J, Ferreira GC et al. Long-latency auditory Buckley D, Marais A-S, et al. Updated Clinical Guidelines
NOVAS APLICAÇÕES
evoked potentials with verbal and nonverbal stimuli. for Diagnosing Fetal Alcohol Spectrum Disorders. Pe-
Braz J Otorhinolaryngol [Internet]. 2015; 81(6):647- diatrics [Internet]. 2016; 138(2):e20154256-e20154256.
52. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j. Available from: http://pediatrics.aappublications.org/
cgi/doi/10.1542/peds.2015-4256
bjorl.2014.10.005
74. Gerhold MM, Jacobson SW, Jacobson JL, Molteno CD,
61. Kushnerenko E. Maturation of the cortical auditory
Meintjes EM, Andrew CM. An ERP Study of Response
event-related brain potentials in infancy. Department
Inhibition in the Auditory Domain in Children with
of Psychology. University of Helsinki. 2003.
Fetal Alcohol Spectrum Disorders. Alcohol Clin Exp
62. Ventura LMP, Alvarenga KDF, Costa Filho OA. Proto- Res. 2016; 1-11.
col to collect late latency auditory evoked potentials.
75. Alonso R, Schochat E. The efficacy of formal auditory
Braz J Otorhinolaryngol [Internet]. 2009; 75(6):879- training in children with (central) auditory proces-
83. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ sing disorders: behavioral and electrophysiological
pubmed/20209291 evaluation. Brazillian J Otorhinolaryngol [Internet].
63. Didoné DD, Garcia MV, Da Silveira AF. Long latency 2009; 75(5):726-32. Available from: http://dx.doi.
auditory evoked potential in term and premature org/10.1016/S1808-8694(15)30525-5
infants. Int Arch Otorhinolaryngol. 2014; 18(1):16-20. 76. Musiek F, Shinn J, Hare C. Plasticity, Auditory Training,
64. Fellman V, Kushnerenko E, Mikkola K, Ceponiene R, and Auditory Processing Disorders. Semin Hear. 2002;
Leipälä J, Näätänen R. Atypical auditory event-related 23(4):263-75.
potentials in preterm infants during the first year of 77. Bellis TJ. Developing deficit-specific intervention plans
life: A possible sign of cognitive dysfunction? Pediatr for individuals with auditory processing disorders.
Res. 2004; 56(2):291-7. Semin Hear. 2002; 23(4):287-95.
65. Hall III JW. Auditory Late Responses (ALR). In: HALL 78. Hall III JW. Mismatch Negativity (MMN) Response.
III JW, editor. NEW Handbook of Auditory Evoked In: Hall III JW, editor. New Handbook of Auditory
Responses. 1st ed. Boston: Pearson Education. 2006, Evoked Responses. 1st ed. Boston: Pearson Education;
p. 488-517. 2006, p. 548-80.
179
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
79. Sams M, Hämäläinen M, Antervo A, Kaukoranta E, multisensory brain structures: An meg study. PLoS
Reinikainen K, Hari R. Cerebral neuromagnetic res- One. 2012; 7(5):1-9.
ponses evoked by short auditory stimuli. Electroence- 88. Tuomainen OT. Auditory short-term memory trace
phalogr Clin Neurophysiol. 1985; 61:254-66. formation for nonspeech and speech in SLI and dys-
80. He C, Hotson L, Trainor LJ. Development of infant mis- lexia as indexed by the N100 and mismatch negativity
match responses to auditory pattern changes between electrophysiological responses. Neuroreport [Inter-
2 and 4 months old. Eur J Neurosci. 2009; 29:861-7. net]. 2015; 26(6):374-9. Available from: http://www.
81. Näätänen R, Paavilainen P, Rinne T, Alho K. The mis- ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25807176
match negativity (MMN) in basic research of central 89. Noordenbos MW, Segers E, Serniclaes W, Mitterer H,
auditory processing: A review. Clin Neurophysiol. Verhoeven L. Neural evidence of allophonic percep-
2007; 118(12):2544-90. tion in children at risk for dyslexia. Neuropsychologia
82. Rocha-Muniz CN, Befi-Lopes DM, Schochat E. Mis- [Internet]. 2012; 50(8):2010-7. Available from: http://
match negativity in children with specific langua- dx.doi.org/10.1016/j.neuropsychologia.2012.04.026
ge impairment and auditory processing disorder.
90. Bishop DVM, Hardiman MJ, Barry JG. Lower-Fre-
Braz J Otorhinolaryngol [Internet]. 2015; 81(4):408-
quency Event-Related Desynchronization: A Signature
15. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
of Late Mismatch Responses to Sounds, Which Is Re-
pubmed/26142650
duced or Absent in Children with Specific Language
83. Kraus N, McGee T, Ferre J, Hoeppner JA, Carrell T, Impairment. J Neurosci [Internet]. 2010; 30(46):15578-
Sharma A, et al. Mismatch negativity in the neuro- 84. Available from: http://www.jneurosci.org/cgi/
physiologic/behavioral evaluation of auditory proces- doi/10.1523/JNEUROSCI.2217-10.2010
sing deficits: a case study. Ear Hear [Internet]. 1993;
14(4):223-34. Available from: http://www.ncbi.nlm. 91. Schall U. Is it time to move mismatch negativity
nih.gov/pubmed/8405727 into the clinic? Biol Psychol [Internet]. 2016; 116:41-
6. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.
84. Loewy DH, Campbell KB, Bastien C. The mismatch
biopsycho.2015.09.001
negativity to frequency deviant stimuli during natural
sleep. Electroencephalogr Clin Neurophysiol. 1996; 92. Roberts TPL, Cannon KM, Tavabi K, Blaskey L, Khan
98:493-501. SY, Monroe JF, et al. Auditory magnetic mismatch
85. Näätänen R, Astikainen P, Ruusuvirta T, Huotilainen field latency: A biomarker for language impairment
M. Automatic auditory intelligence: An expression of in autism. Biol Psychiatry [Internet]. 2011; 70(3):263-
the sensory-cognitive core of cognitive processes. Brain 9. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.
Res Rev [Internet]. 2010; 64(1):123-36. Available from: biopsych.2011.01.015
http://dx.doi.org/10.1016/j.brainresrev.2010.03.001 93. Oram Cardy JE, Flagg EJ, Roberts W, Roberts TPL.
86. Lovio R, Halttunen A, Lyytinen H, Näätänen R, Kujala Delayed mismatch field for speech and non-speech
T. Reading skill and neural processing accuracy im- sounds in children with autism. Neuroreport. 2005;
provement after a 3-hour intervention in preschoolers 16(5):521-5.
with difficulties in reading-related skills. Brain Res 94. Sharma M, Purdy SC, Newall P, Wheldall K, Beaman
[Internet]. 2012; 1448:42-55. Available from: http:// R, Dillon H. Electrophysiological and behavioral
dx.doi.org/10.1016/j.brainres.2012.01.071 evidence of auditory processing deficits in children
87. Paraskevopoulos E, Kuchenbuch A, Herholz SC, Pan- with reading disorder. Clin Neurophysiol. 2006;
tev C. Evidence for training-induced plasticity in 117(5):1130-44.
180
SEÇÃO II − Avaliação dos Potenciais
Evocados Auditivos no Domínio
das Frequências
183
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
evidenciando sua funcionalidade. Esta estimulação
ocorre em regiões específicas da membrana basilar.
Mesmo quando vários estímulos são apresentados,
como no caso da estimulação simultânea das REAEE,
a frequência portadora de cada estímulo vibra uma
porção diferente da membrana basilar e estimula
uma população diferente das células ciliadas13. Isto
ocorre porque as frequências portadoras devem ser
moduladas por frequências diferentes e apresentar um
intervalo entre si de pelo menos uma oitava (Figura 3).
Esta característica fisiológica das REAEE pos-
Figura 1 − Produção de um estímulo modulado em amplitude. A sibilita a apresentação simultânea de tons de várias
primeira linha representa o estímulo no domínio do tempo e a se- frequências, mantendo a especificidade de frequência
gunda, no domínio da frequência. Na terceira coluna da segunda
linha, pode-se observar que o espectro de frequência do estímulo da resposta, reduzindo o tempo da avaliação auditiva.
modulado (onda AM) é composto pelo estímulo portador mais Além disto, as REAEE podem ser analisadas por
dois componentes, que correspondem à frequência portadora
mais ou menos a frequência de modulação.
meio de métodos estatísticos que diferenciam o sinal
do ruído e determinam objetivamente se a resposta
está presente, auxiliando o examinador na interpre-
Tempo Frequência
tação do registro6,13,16,17.
500 Hz (77 Hz)
184
Parte II – Cap. 18 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL: INTRODUÇÃO E ASPECTOS TÉCNICOS |
0 250 Hz
Cóclea E Cóclea D
Célula Ciliar
Sinapse com Ruído Sinapse com
Célula Ciliar
Célula Ganglionar Atividade Elétrica do Célula Ganglionar
(Compressão) (Compressão)
(Retificação) Cérebro e Músculos (Retificação)
da Cabeça e Pescoço
Figura 3 – Modelo de geração e identificação das respostas auditivas de estado estável por estimulação múltipla e dicótica. Nas
extremidades direita e esquerda estão as representações da ativação coclear por um estímulo múltiplo modulado em amplitude e
a ativação de regiões específicas da cóclea. No centro inferior da figura, observa-se a despolarização das células ganglionares que
geram as respostas evocadas auditivas de estado estável. Os sinais gerados no tronco encefálico são extraídos do ruído de fundo.
No centro superior da figura, encontra-se a representação no domínio da frequência das respostas evocadas auditivas de cada um
NOVAS APLICAÇÕES
dos componentes do estímulo combinado (as 8 barras verticais) e do ruído de fundo após a análise por meio de técnicas objetivas
de detecção das respostas.
Estimulação
Fone
Registro
Ativo
Referência
Terra
Figura 4 − Derivação dos eletrodos em um sistema de um canal e apresentação dos estímulos por via aérea para a aquisição das REAEE.
185
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
(CAE) ou mesmo nos casos em que este apresente dos sinais do eletroencefalograma (EEG), através de
característica anatômica curva pode contribuir para eletrodos de superfície. Durante a fase de aquisição
a atenuação da energia sonora e, consequentemente, das REAEE, os sinais registrados no EEG precisam
diminuição da amplitude da resposta elétrica. Outra ser monitorados continuamente com o objetivo de
observação importante relacionada ao uso do fone identificar a presença de artefatos, como ruídos de
de inserção é em relação ao nível de pressão sonora linha (rede elétrica), atividades musculares e mau
gerado em CAE. Os mesmos podem ser diferentes contato entre os eletrodos e a pele. Se estes artefatos
daqueles ajustados no protocolo de teste, pois os CAE forem identificados, deverão ser tomadas medidas
menores tendem a gerar níveis de pressão sonoras para atenuá-los durante a realização do exame, evi-
maiores que os CAE maiores. O uso da calibração tando altos níveis de ruído residual.
em dBNA ou dBNAn é uma alternativa para o ajuste O nível de ruído residual depende do sistema uti-
destas variações. lizado para a aquisição das REAEE. Estudos clássicos
A pesquisa dos limiares por via óssea pode que utilizam o sistema MASTER sugerem que o nível
contribuir para o diagnóstico diferencial da perda de ruído deve ser inferior a 11 nV para a determinação
auditiva, principalmente nos casos de otite média e/ou de uma resposta verdadeiramente ausente21.
malformação de orelha externa ou média. Geralmente John et al.22 consideraram que a escolha do pa-
o vibrador deve ser posicionado no osso temporal ou radigma de detecção é uma variável importante na
mastoide, sendo obtidas respostas mais evidentes19. análise da presença das REAEE. Os autores afirmam
Entretanto, este tipo de transdutor ainda é pouco que, em geral, os potenciais evocados são sinais de
utilizado na prática clínica devido à limitação no baixa amplitude e que normalmente não são reco-
nível máximo de apresentação, que não deve exceder nhecidos na presença do ruído de fundo no registro
limites superiores a 40 dBNA, pois podem gerar ar- do EEG. Logo, é necessário selecionar um paradigma
tefatos elétricos, que podem ser analisados de forma ideal para otimizar a acurácia do teste e diminuir o
inadequada como respostas20. Assim, é importante tempo de realização do exame. O paradigma mais
que ao utilizar este procedimento na prática clínica, utilizado para melhorar a relação sinal/ruído durante
o profissional defina um protocolo que minimize a detecção das REAEE é a promediação. Entretanto,
a interferência dos artefatos elétricos e, além disso, o paradigma da promediação é menos efetivo quan-
tenha conhecimento das limitações do procedimento. do o ruído varia muito a cada série de estimulação.
A pesquisa dos limiares em campo livre pode ser Neste caso, é necessário utilizar outras técnicas para
indicada nas situações em que se pretende avaliar o melhorar a relação sinal/ruído, como por exemplo:
aparelho de amplificação sonora individual (AASI) em (1) rejeição de artefato23 ou promediação ponderada.
pacientes que não são capazes de responder à avaliação Os autores sugerem que ambas as técnicas melhoram
por meio da audiometria em campo livre. Assim, esta a relação sinal/ruído, entretanto, os protocolos que
técnica pode ser capaz de predizer o ganho funcional, utilizam a promediação ponderada são significati-
que seria a diferença existente entre os limiares auditi- vamente melhores que os de rejeição de artefatos
vos em campo livre com e sem amplificação. O estímulo quando consideramos REAEE com frequências de
de estado estável possui algumas caraterísticas que favo- modulação entre 80 e 100 Hz. Quando há melhora
recem seu uso para esta finalidade. Por ser evocado por da relação sinal/ruído, as respostas são detectadas
estímulo contínuo modulado em amplitude e fase, não mais rápido, sendo um fator importante na avaliação
sofre distorção ao ser transmitido pela caixa acústica, auditiva de bebês9,16,25-27.
além de ser passível de estimulação em forte intensida- Associado ao paradigma de detecção adotado,
de; a resposta é gerada em poucos segundo após o início para melhorar a relação sinal/ruído, também é ne-
da estimulação, que se estabiliza e permanece com um cessário manter o paciente relaxado, de preferência
componente de frequência que se mantém constante dormindo e em um ambiente confortável, assim
em amplitude e fase por todo o tempo. como realizar o registro durante um tempo suficiente,
aumentando o número de estímulos apresentados e
3.1. Método de registro e análise das o número de promediação para reduzir os níveis de
ruído e melhorar a detecção da resposta.
REAEE O aumento do tempo de promediação do regis-
As REAEE caracterizam-se como atividade elé- tro melhora a relação sinal/ruído e a determinação
trica, portanto são identificadas a partir do registro das REAEE, o que favorece a precisão da estimativa
186
Parte II – Cap. 18 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL: INTRODUÇÃO E ASPECTOS TÉCNICOS |
do limiar psicoacústico14,28,29 (Figura 5). É importan- da frequência que permitem diferenciar as REAEE da
te um equilíbrio entre o tempo de teste e a precisão atividade elétrica de fundo de forma quantitativa33.
para a detecção da resposta evocada e estimativa do As técnicas objetivas de detecção de respostas
limiar psicoacústico. Assim, a fim de se estabelecer mais utilizadas para a detecção das REAEE são o
um equilíbrio entre o tempo de registro e altas taxas teste F espectral (TFE), a Magnitude Quadrática da
de detecção da resposta, os clínicos precisam se es-
Coerência (do inglês – Magnitude-Squared Cohe-
forçar para melhorar a tomada de decisão clínica. Por
rence – MSC) e a Medida de Sincronismo de Fase
exemplo, na presença de ruído relacionado ao estado
(MSF)9,16,25-27. O desempenho destas técnicas é ava-
do sujeito, são necessários períodos de registro mais
longos. Registros com maior número de varreduras liado por meio de taxas de detecção em função do
aumentam a confiabilidade da resposta e permite a número de estímulos (ou varreduras) para diferentes
identificação das REAEE em um nível de intensidade intensidades de estimulação.
mais fraco.30 As técnicas que consideram amplitude e fase
Não existem normas universais para os fabrican- do sinal apresentam desempenho ligeiramente su-
tes de equipamentos de teste de REAEE, o tipo de teste perior ao das técnicas que avaliam estes atributos em
estatístico e o tempo de registro variam entre sistemas separado9,16,25-27,34-36. Nestes trabalhos, o desempenho
comerciais e cada fabricante pode implementar o seu das técnicas foi avaliado utilizando estimulação de
próprio paradigma de teste30. frequência específica que evoca respostas com menor
Entretanto, o diagnóstico baseado em critérios relação sinal/ruído do que a estimulação de banda
estatísticos é apontado como um dos diferenciais das larga12. Dessa maneira, é imperativo que o exami-
REAEE9,31,32. O critério de presença ou não de respostas nador conheça a técnica estatística utilizada, pois
baseia-se em técnicas objetivas de detecção de respos- este paradigma influencia na estimativa dos limiares
tas, que são técnicas estatísticas aplicadas no domínio eletrofisiológicos.
500
NOVAS APLICAÇÕES
300 nV
Ruído
inicial
200 nV
Amplitude
50
(nV) Amplitude da resposta: 43 nV
20 nV
11 nV
5
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo para detecção (segundos)
Figura 5 – Representação da curva de ruído e da amplitude da resposta em função do tempo de teste. Podem-se observar as curvas
de ruído de dois registros diferentes. Nota-se que a amplitude do ruído diminui à medida que o tempo de teste aumenta. As respostas
de estado estável, representadas pelos círculos laranja, são identificadas como presentes (significativas) quando a sua amplitude
sobrepõe a amplitude do ruído de fundo. Quanto maior o ruído inicial, maior o tempo necessário para que a resposta de estado
estável seja detectada.
187
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
4. APLICAÇÃO CLÍNICA DAS Herdman e Stapells51 avaliaram a especificidade
tonal das REAEE em múltiplas frequências em indi-
REAEE
víduos com diferentes configurações audiométricas
Antes dos 6 meses de idade é difícil obter com e graus de perdas auditivas. Neste estudo, foram
fidedignidade respostas auditivas na criança37-39. Por apresentados, simultaneamente, tons de várias fre-
esse motivo, os procedimentos eletrofisiológicos são quências modulados em amplitude entre 77 e 105 Hz.
ferramentas importantes na avaliação da audição em Os autores concluíram que as REAEE propiciam boa
crianças nesta faixa etária40-42. Há necessidade de mé- estimativa do grau e da configuração audiométrica em
todos que mensurem de forma confiável a audição de indivíduos com perdas auditivas sensorioneurais, su-
crianças com menos de 6 meses de idade, estimando gerindo que o exame pode ser utilizado em indivíduos
os limiares auditivos nas diferentes frequências, em difíceis de serem testados utilizando a audiometria e
ambas as orelhas e em indivíduos com os diversos em crianças com menos de 6 meses de idade.
tipos de configuração audiométrica39. John, Dimitrijevic e Picton,11 avaliando a eficiên-
As REAEE têm sido apontadas como uma téc- cia das REAEE com estímulos simultâneos nas frequên-
nica promissora para avaliar a audição de pacientes cias de 500 a 4000 Hz, observaram que a vantagem da
que não cooperam espontaneamente na determinação avaliação simultânea de ambas as orelhas é que o exame
dos limiares auditivos. Entretanto, ainda são poucos pode ser realizado duas a três vezes mais rápido do que
os dados que propõem critérios de normalidade para quando apenas um estímulo é apresentado11.
os limiares eletrofisiológicos das REAEE43. Alguns Entretanto, alguns estudos39,48,52 evidenciam que,
estudos mostram variabilidade entre os limiares das apesar da especificidade de frequência e de existir
REAEE, especialmente nas frequências graves6,44. forte correlação entre as REAEE e os limiares tonais
Sávio et al.45 encontraram limiares em 57 ± 11; 55 nas frequências de teste, o uso do tom puro modulado
±12; 51 ±11; 48 ±13 dBNA para tom modulado em como estímulo gera respostas de estado estável de
500, 1000, 2000 e 4000 Hz respectivamente. Luts; baixa amplitude, especialmente para as frequências
Desloovere; Wouters46 descrevem limiares menores, de 500 e 4000 Hz.
variando entre 37 e 32 dBNA. Ozdeck et al.49 mencionaram que os parâmetros
Stapells47 afirma que a maior dificuldade em de aquisição usados nos protocolos para medidas
utilizar as REAEE na clínica audiológica refere-se das REAEE são fatores importantes que dificultam a
ao número reduzido de estudos em crianças com obtenção das respostas em frequências mais graves.
perdas auditivas, o que dificulta o estabelecimento de Diferenças como número de estímulos apresentados,
correlações entre os limiares das REAEE e os limiares duração do teste e a escolha do paradigma de detecção
obtidos com o padrão-ouro: audiometria tonal com- da resposta podem parcialmente explicar a ausência
portamental ou potencial evocado auditivo de tronco de respostas em 500 Hz.
encefálico (PEATE) com frequência específica. Lins et al.6 afirmam que a dificuldade de obter
Além disso, alguns destes estudos apresentam respostas em 500 Hz com modulação em amplitude
diferenças entre os protocolos e as condições ambien- está relacionada ao maior jitter para REAEE em fre-
tais de teste, como dificuldades na determinação dos quências mais baixas, devido à assincronia neural, que
parâmetros ideais para o estímulo, no controle do pode explicar a baixa correlação entre as REAEE e os
tempo de duração do teste e na escolha do paradigma limiares tonais comportamentais em frequências gra-
de detecção48,49. ves quando comparadas com as frequências agudas.
Apesar destas diferenças, Stapells47 sugere alguns Muitos trabalhos se dedicaram a descrever e ava-
critérios de normalidade das REAEE e fatores de liar a aplicabilidade das REAEE nos últimos 30 anos.
correção para a estimativa do limiar auditivo por via Atualmente, parâmetros de estimulação e registro
aérea, sendo estes valores definidos como 50, 45, 40 e estão descritos, e critérios de normalidade começam
40 dBNA para as frequências 500, 1000, 2000 e 400 Hz. a ser estabelecidos de maneira difusa entre os centros
Entretanto, Small e Stapells50 já haviam recomendado de pesquisa em todo o mundo. As REAEE são uma
valores menores para neonatos pré-termos, sendo 30, avaliação objetiva promissora no diagnóstico precoce
30, 50 e 50 dBNA para as mesmas frequências ante- de perdas auditivas, bem como na avaliação de indi-
riores, mas acrescentam que ainda são necessárias víduos que não respondem aos métodos comporta-
novas pesquisas. mentais. Entretanto, faz-se necessária a realização de
188
Parte II – Cap. 18 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL: INTRODUÇÃO E ASPECTOS TÉCNICOS |
pesquisas multicêntricas que fornecerão padrões de 13. Lins OG. Audiometria fisiológica tonal utilizando
normalidade mais consistentes, passíveis de serem respostas de estado estável auditivas do tronco cere-
utilizados na rotina clínica fonoaudiológica. bral. São Paulo, 71f . Tese − Universidade Federal de
São Paulo, Escola Paulista de Medicina, 2002.
14. John MS, Lins OG, Boucher BL, Picton TW. Mul-
REFERÊNCIAS tiple auditory steady-state responses (MASTER):
stimulus and recording parameters. Audiology. 1998;
1. Regan DM. Human Brain Electrophysiology: Evoked 37(2):59-82.
Potentials and Evoked Magnetic Fields in Science and
15. Stapells DR, Linden D, Suffield JB, Hamel G, Picton
Medicine. Amsterdam: Elsevier, 1989.
TW. Human auditory steady state potentials. Ear
2. Galambos R, Makeig S, Talmachoff PJ. A 40-Hz Hear. 1984; 5(2):105-13.
auditory potential recorded from the human scalp.
16. Valdes JL, Perez-Abalo MC, Martin V, Savio G,
Proc Natl Acad Sci USA. 1981; 78(4):2643-7.
Sierra C, Rodriguez E et al. Comparison of statisti-
3. Pethe J, Von Specht H, Mühler R, Hocke T. Ampli- cal indicators for the automatic detection of 80 Hz
tude modulation following responses in awake and auditory steady state responses. Ear Hear. 1997 Oct;
sleeping humans − a comparison for 40 Hz and 80 18(5):420-9.
Hz modulation frequency. Scand Audiol Suppl. 2001
17. Rodrigues GRI, Lewis DR, Fichino SN. Potenciais
Jan; (52):152-5.
Evocados Auditivos de Estado Estável no diagnós-
4. Herdman AT, Lins O, Van Roon P, Stapells DR, Scherg tico audiológico infantil: uma comparação com os
M, Picton TW. Intracerebral sources of human audi- Potenciais Evocados Auditivos de Tronco Encefálico.
tory steady-state responses. Brain Topogr. 2002 Jan; Brazilian J Otorhinolaryngol. 2010 Feb; 76(1):96-101.
15(2):69-86.
18. Jasper HH. Report of the committee on methods
5. Neves IF, Schochat E. Maturação do processamento of clinical examination in electroencephalography.
auditivo em crianças com e sem dificuldades escolares Electroencephalogr Clin Neurophysiol. 1958 May;
*** Auditory processing maturation in children with 10(2):370-5.
and without learning difficulties. Pró-Fono R Atual
Cient [online]. 2005; 17(3):311-20. 19. Small SA, Stapells DR. Multiple Auditory Steady-State
Response Thresholds to Bone-Conduction Stimuli in
6. Lins OG, Picton TW, Boucher BL, Durieux-Smith A,
Young Infants with Normal Hearing . Ear and Hearing
NOVAS APLICAÇÕES
Champagne SC, Moran LM et al. Frequency-specific
2006. Jun; 27(3):219-28.
audiometry using steady-state responses. Ear Hear.
1996 Apr; 17 (2):81-96. 20. Picton TW, John MS. Avoiding electromagnetic arti-
facts when recording auditory steady-state responses.
7. Cone-Wesson B, Rickards F, Poulis C, Parker J, Tan L,
J Am Acad Audiol. 2004 Sep; 15(8):541-54.
Pollard J. The auditory steady-state response: clinical
observations and applications in infants and children. 21. Herdman AT, Stapells DR. Thresholds determined
J Am Acad Audiol. 2002 May; 13(5):270-82. using the monotic and dichotic multiple auditory
steady-state response technique in normal-hearing
8. Chou Y-F, Chen P-R, Yu S-H, Wen Y-H, Wu H-P.
subjects. Scand Audiol. 2001 Jan; 30(1):41-9.
Using multi-stimulus auditory steady state response
to predict hearing thresholds in high-risk infants. Eur 22. John MS, Dimitrijevic A, Picton TW. Weighted ave-
Arch Otorhinolaryngol. 2011 Apr 22. raging of steady-state responses. Clin Neurophysiol.
9. Picton TW, Dimitrijevic A, John MS, Van Roon P. 2001 Mar; 112(3):555-62.
The use of phase in the detection of auditory stea- 23. Picton TW, Linden D, Hamel G, Maru J. Aspects of
dy-state responses. Clin Neurophysiol. 2001 Sep; averaging. Semin Hear. 1983; (4):324-40.
112(9):1698-711. 24. Dobie RA, Wilson MJ. Objective response detection
10. Dimitrijevic A, John MS, Van Roon P, Picton TW. in the frequency domain. Electroencephalogr Clin
Human auditory steady-state responses to tones Neurophysiol. 1993; 88(6):516-24.
independently modulated in both frequency and 25. Dobie R a, Wilson MJ. A comparison of t test, F test,
amplitude. Ear Hear. 2001 Apr; 22(2):100-11. and coherence methods of detecting steady-state
11. John MS, Dimitrijevic A, Picton TW. Auditory steady- auditory-evoked potentials, distortion-product otoa-
-state responses to exponential modulation envelopes. coustic emissions, or other sinusoids. J Acoust Soc
Ear Hear. 2002 ;23(2):106-17. Am. 1996 Oct; 100(4 Pt 1):2236-46.
12. John MS, Dimitrijevic A, Picton TW. Efficient stimuli 26. Luts H, Van Dun B, Alaerts J, Wouters J. The influence
for evoking auditory steady-state responses. Ear Hear. of the detection paradigm in recording auditory stea-
2003 Oct; 24(5):406-23. dy-state responses. Ear Hear. 2008 Aug; 29(4):638-50.
189
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
27. Wilding TS, McKay CM, Baker RJ, Kluk K. Auditory 41. Norton SJ, Gorga MP, Widen JE, Folsom RC, Sininger
steady state responses in normal-hearing and hearin- Y, Cone-Wesson B, et al. Identification of neonatal
g-impaired adults: an analysis of between-session am- hearing impairment: evaluation of transient evoked
plitude and latency repeatability, test time, and F ratio otoacoustic emission, distortion product otoacous-
detection paradigms. Ear Hear. 2012; 33(2):267-78. tic emission, and auditory brain stem response test
28. John MS, Picton TW. Human auditory steady-sta- performance. Ear Hear. 2000 Oct; 21(5):508-28.
te responses to amplitude-modulated tones: phase
42. Gravel JS, Hood LJ. Avaliação Audiológica Infantil.
and latency measurements. Hear Res. 2000 Mar;
In: Musiek FE, Rintelmeann WF, editors. Perspectivas
141(1-2):57-79.
Atuais em avaliação auditiva. São Paulo: Manole.
29. Luts H, Wouters J. Comparison of MASTER and 2001, p.301-22.
AUDERA for measurement of auditory steady-state
responses Comparación de MASTER y AUDERA 43. Rodrigues GRI, Lewis DR. Establishing auditory
para la medición de las respuestas auditivas de estado steady-state response thresholds to narrow band CE-
estable. Int J Audiol. 2005 Jan; 44(4):244-53. -chirps® in full-term neonates. Int J Pediatr Otorhino-
30. Vander Werff KR. Accuracy and Time Efficiency laryngol. 2014 Feb [cited 2015 Jun 17]; 78(2):238-43.
of Two ASSR Analysis Methods Using Clinical Test 44. Stürzebecher E, Cebulla M, Elberling C, Berger T.
Protocols. J Am Acad Audiol. 2009 Jul 1; 20(7):433-52. New efficient stimuli for evoking frequency-specific
31. Lins OG, Picton TW. Auditory steady-state responses auditory steady-State responses. J Am Acad Audiol.
to multiple simultaneous stimuli. Electroencephalogr 2006 Jun; 17(6):448-61.
Clin Neurophysiol. 1995 Sep; 96(5):42032. 45. Savio G, Cárdenas J, Pérez Abalo M, González A,
32. Korczak P, Smart J, Delgado R, Strobel TM, Bradford Valdés J. The low and high frequency auditory stea-
C. Auditory steady-state responses. J Am Acad Au- dy state responses mature at different rates. Audiol
diol. 2012 Mar; 23(3):146-70. Neurootol. 2001; 6(5):279-87.
33. Picton TW, John MS, Dimitrijevic A, Purcell D. Hu- 46. Luts H, Desloovere C, Wouters J. Clinical Application
man auditory steady-state responses. Int J Audiol. of Dichotic Multiple-Stimulus Auditory Steady-State
2003 Jun; 42(4):177-219.
Responses in High-Risk Newborns and Young Chil-
34. Silva JJ, Santos T, Tierra-Criollo CJ, Melges DB. dren. Audiol Neurotol. 2006 Jan 12; 11(1):24-37.
Objective Response Detection of Multiple Auditory
Steady-State Responses: Rice Detector vs Component 47. Stapells DR. Frequency-specific thresholds asses-
Synchrony Measure. J Phys Conf Ser. 2013 Dec 31; sment in young infants using transient ABR and
477:12031. brainstem ASSR. In: Seewald R, Tharpe AM, editors.
Comprehensive handbook of pediatric audiology. San
35. Larrea PFC. Detecção da Resposta Auditiva em
Regime Permanente com modulante exponencial Diego: Singular Publishing Group. 2011, p.407-48.
utilizando múltiplas derivações de eletroencefalogra- 48. Vander Werff KR, Brown CJ. Effect of audiometric
fia. Rio de Janeiro, 91f . Dissertação − Universidade configuration on threshold and suprathreshold au-
Federal do Rio de Janeiro, COPE; 2015. ditory steady-state responses. Ear Hear. 2005 Jun;
36. Abdo F, Santos T, Tierra-Criollo CJ. Parameters to 26(3):310-26.
monitor multiple auditory steady-state responses: 49. Ozdek A, Karacay M, Saylam G, Tatar E, Aygener N,
Spectral F test. In: 2012 ISSNIP Biosignals and Bioro- Korkmaz MH. Comparison of pure tone audiometry
botics Conference: Biosignals and Robotics for Better and auditory steady-state responses in subjects with
and Safer Living (BRC). Manaus: IEEE. 2012; p. 1-4.
normal hearing and hearing loss. Eur Arch Oto-Rhi-
37. Northen JL, Downs M. Audição em Crianças. São no-Laryngology. 2010 Jan 18; 267(1):43-9.
Paulo: Manole, 1989.
50. Small AS, Stapells RD. Maturation of bone conduction
38. Weber BA, Diefendorf A. Triagem auditiva neonatal.
multiple auditory steady-state responses. Int J Audiol.
In: Musiek FE, Rintelmean WF, editors. Perspectivas
2008 Jan 7; 47(8):476-88.
Atuais em avaliação auditiva. São Paulo: Manole.
2001, p. 323-42. 51. Herdman AT, Stapells DK. Auditory steady-state res-
39. Calil DB, Lewis DR, Fiorini AC. Achados dos poten- ponse thresholds of adults with sensorineural hearing
ciais evocados auditivos de estado estável em crianças impairments. Int J Audiol. 2003 Jul; 42(5):237-48.
ouvintes. Distúrbios da Comun. 2006; 18(3):391-401. 52. Ballay C, Tonini R, Waninger T, Yoon C, Manolidis
40. Galambos R, Wilson MJ, Silva PD. Identifying hearing S. Steady-state response audiometry in a group of
loss in the intensive care nursery: a 20-year summary. patients with steeply sloping sensorineural hearing
J Am Acad Audiol. 1994 May; 5(3):151-62. loss. Laryngoscope. 2005 Jul; 115(7):1243-6.
190
19
RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO
ESTÁVEL EM ADULTOS: ESTIMATIVA
DOS LIMIARES COMPORTAMENTAIS
Josilene Luciene Duarte
Kátia de Freitas Alvarenga
Marcel Frederico de Lima Taga
Otávio Gomes Lins
Amplamente utilizado para predizer limiares negativos observados no PEAML e que estes poderiam
psicoacústico em crianças, principalmente após o ser registrados em valores muito próximos ao limiar
advento e a obrigatoriedade da Triagem Auditiva comportamental do indivíduo e com especificidade
Neonatal Universal (TANU), as Respostas Evocadas de frequência.
Auditivas de Estado Estável (REAEE) também podem Desta forma, acredita-se que pelo fato de a
auxiliar na predição dos limiares psicoacústicos na resposta auditiva de 40 Hz ser uma variação do
avaliação audiológica do adulto, principalmente em PEAML, ambos são gerados pelas mesmas estrutu-
casos especiais, como aqueles indivíduos que apresen- ras, como córtex auditivo e região superior do lobo
tam limitações cognitivas e motoras para responder temporal, envolvendo também as regiões talâmicas e
à Audiometria Tonal Liminar (ATL), além daqueles talamocorticais2,3, giro de Heschl4, fissura sylviana5 e
indivíduos que, por algum motivo, simulam seus li- regiões dos lobos temporal e frontal6,7. Por outro lado,
miares auditivos. O primeiro relato das REAEE como a modulação em torno de 80-110 Hz gera REAEE
procedimento na avaliação audiológica em adultos foi provenientes do tronco encefálico, fato constatado
apresentado por Galambos; Makeig; Talamachoff1. por meio da pesquisa dos Potenciais Evocados Audi-
Neste estudo, os autores ao pesquisarem o efeito da tivos de Tronco Encefálico (PEATE), com diferentes
variação na taxa de apresentação do estímulo na taxas de apresentação. Com o aumento da taxa de
pesquisa do Potencial Evocado Auditivo de Média apresentação do estímulo, as ondas I e III do PEATE
Latência (PEAML) entre 10, 20 e 40 apresentações/ tendem a desaparecer, sendo que nas taxas de apre-
segundo observaram que, à medida que a taxa de sentação entre 80-110 Hz resta apenas a onda V e o
apresentação do estímulo era aumentada, a forma da contingente negativo Slow Negative 10 (SN10) que
onda tornava-se diferente, até que em apresentações tendem a se sobrepor, gerando, assim, uma resposta
de 40/segundo registrava-se uma onda com intervalo de estado estável 8. Herdman et al.3 sugeriram que a
de 25 ms interestímulos. A onda resultante das REAEE REAEE com modulação em torno de 88 Hz seja gerada
de 40 Hz mostrava-se como o resultado da consolida- principalmente pelas estruturas do tronco encefálico
ção ou sobreposição dos sucessivos picos positivos e envolvidas com a audição.
191
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
1. RELAÇÕES ENTRE REAEE Audiometry) e/ou audiometria condicionada com
os limiares das REAEE em indivíduos com perda
E AUDIOMETRIA TONAL
auditiva sensorioneural coclear mostraram forte
LIMINAR correlação entre ambos os procedimentos23-29, com
as maiores diferenças entre os limiares para a perda
1.1. Pesquisa dos Limiares Auditivos auditiva de grau leve23,24,30 e as menores para os graus
(40 Hz versus 80 Hz) mais acentuados24. Adicionalmente, constataram a
forte correlação entre os limiares para as frequências
Ambas as modulações podem registrar REAEE
de 0,5 a 4 kHz8,31-34, com maior concordância para a
próximas ao limiar auditivo9-11, porém com algumas
perda auditiva de grau profundo34-37.
diferenças. Alguns autores relataram que como as
REAEE de 40 Hz são geradas principalmente pelo A literatura da área mostrou diferença média (±
córtex auditivo primário12-14, elas são influenciadas desvio-padrão) entre os limiares da ATL (Audiometria
pela maturação neurológica12,13 e pelo estado de vigília Tonal Liminar) e REAEE de 30 (± 12) dB para perda
do indivíduo15; sendo assim, alguns estudos demons- auditiva de grau leve e 11(± 2,9) dB no grau modera-
traram que a amplitude da resposta é menor quando do38 e, considerando todos os graus de perda auditiva,
o indivíduo está em estado de sono ou sedado16,17. Por a diferença pode variar de 6 a 23 dB para a frequência
este motivo, alguns autores têm recomendado utilizar de 0,5 kHz, de 4 a 18 dB para a frequência de 1 kHz,
a modulação de frequência em torno de 80 a 100 Hz de 4 a 15 dB para a frequência de 2 kHz e de 4 a 14
para o registro das REAEE em lactentes18,19. dB para a frequência de 4 kHz19,32,33,36.
Na pesquisa dos limiares auditivos em adultos, Outro dado importante que foi descrito tanto
as REAEE de 40 Hz mostram-se melhores tanto em nos estudos realizados com o VRA quanto com a ATL
indivíduos com audição normal quanto em indivíduos é que houve menor correlação entre os limiares da
com perda auditiva, quando comparadas às REAEE ATL e REAEE para a frequência de 0,5 kHz19,20,31,36,37,39,
de 80 Hz15,20,21, pois apresentam amplitudes cinco como também para a frequência de 4 kHz comparada
vezes maiores quando obtidas na superfície do crâ- às demais frequências40.
nio3. No entanto, nos primeiros anos de vida, ocorre A seguir, serão apresentados dados de alguns
o inverso, já que as amplitudes das REAEE de 40 Hz estudos que analisaram a diferença média encontrada
são muito pequenas em lactentes, aumentando com entre os limiares obtidos por meio de ATL e REAEE
a idade, enquanto as REAEE de 80 Hz variam muito em adultos com audição normal (Tabela 1)3,18,32,41-53 e
pouco com a idade22. Desta maneira, as REAEE com adultos com perda auditiva (Tabela 2)19,31,32,35,36,43-45,47,
modulação em torno de 80 a 110 Hz parecem ser 48,52,54-58
, com exceção da perda auditiva retrococlear,
ideais para predizer limiares auditivos em neonatos pois, assim como nos PEATE, esta correlação não
e crianças, associada ao fato de que estas podem estar existe.
dormindo e/ou sedadas, por não serem afetadas pelo As REAEE podem ser utilizadas na prática clíni-
sono e maturação neurológica. ca quando a estimativa dos limiares comportamentais,
Assim, a aplicabilidade clínica das REAEE é por meio de ATL ou VRA, não podem ser utilizadas ou
muito importante no diagnóstico audiológico infan- quando os resultados obtidos por estes procedimentos
til, com os estudos amplamente direcionados para a não forem confiáveis37,59. Como exemplo podemos
comparação entre limiares psicoacústicos e as REAEE citar a avaliação de neonatos e crianças com atraso
com modulação na faixa de 70 a 110 Hz. Assim, as no desenvolvimento cognitivo e/ou neuropsicomotor,
discussões neste capítulo serão referentes às modu- ou mesmo adultos com estas características além
lações superiores a 70 Hz. dos simuladores que impossibilitem obter resposta
fidedigna ao exame.
1.2. Limiares Psicoacústicos Versus Ambas as medidas podem ser utilizadas para um
REAEE na Perda Auditiva mesmo objetivo, entretanto, quando estas são reali-
Sensorioneural: Revisão da zadas através de procedimentos comportamentais,
dependem de uma resposta condicionada ou cons-
Literatura ciente do indivíduo, enquanto, quando são realizadas
Os estudos que realizaram a comparação dos li- por meio de procedimentos fisiológicos, dependem
miares obtidos por meio do VRA (Visual Reinforcement basicamente da integridade de geradores neurais
192
Parte II – Cap. 19 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM ADULTOS |
Tabela 1 − Diferença média (desvio-padrão) dos limiares fisiológicos obtidos por REAEE e limiares psicoacústicos obtidos
por ATL em diferentes frequências, em indivíduos com audição normal, para alguns estudos disponíveis na literatura.
Carnaúba (2014) 41
13 8 7 2
Dimitrijevic et al. (2002)3) 17,00 (10) 4,00 (11.00) 4,00 (8) 11,00(7)
NOVAS APLICAÇÕES
Perez-Abalo et al. (2001) 19
12,03(11,08) 12,90(10) 10,02(11,10) 12,29(10,08)
Tabela 2 − Diferença média (desvio-padrão) dos limiares fisiológicos obtidos por REAEE e limiares psicoacústicos obti-
dos por ATL em diferentes frequências, em indivíduos com perda auditiva, para alguns estudos disponíveis na literatura.
193
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Diferença média (± desvio-padrão)
específicos. Assim, é um equívoco dizer que medem Tanto o primeiro quanto o segundo método po
a mesma coisa, pois são medidas realizadas através dem ser utilizados em um grupo em que ambos os
de procedimentos diferentes que medem processos limiares são conhecidos, sendo que a escolha de uma
distintos em um mesmo evento. Por isso, sempre ou outra terá impacto no viés observado. A literatura
existirá uma diferença entre elas, que é denominada da área descreve que o viés pode variar de acordo
com o grau da perda auditiva, ou seja, nas perdas
viés e que pode ser diferente de acordo com o grau
auditivas sensoriais de graus acentuados, observam-
da perda auditiva. A resposta fisiológica apresenta -se diferenças menores entre limiares por REAEE e
uma amplitude que depende do nível de sensação os por ATL, quando comparadas às perdas auditivas
ao estímulo e para a sua medida, faz-se necessária sensoriais menos acentuadas e à audição normal31,37,47.
subtraí-la do ruído de fundo elétrico, o que faz com Este fenômeno tem sido relacionado ao uso de in-
que os limiares auditivos obtidos pelas REAEE sejam, tensidades mais fortes do estímulo necessárias para
na maioria das vezes, superiores aos limiares obtidos gerar a REAEE em perdas auditivas mais acentuadas
pela avaliação comportamental. e ao recrutamento auditivo que resulta em aumento
na amplitude da resposta fisiológica, facilitando a
Existem dois métodos para predizer os limia-
detecção destas em intensidades próximas ao limiar
res comportamentais pelos limiares fisiológicos das
auditivo. Neste caso, quando a diferença entre os li-
REAEE: miares varia significativamente com o nível da perda
o primeiro seria utilizar a equação de regressão auditiva, recomenda-se a equação de regressão para
linear relacionando as duas medidas; e, estimar os limiares comportamentais.
o segundo, pela simples subtração entre os li- É importante ressaltar que a diferença entre os
miares obtidos por REAEE e os limiares obtidos limiares obtidos por REAEE e ATL, relacionada ao
por ATL. grau da perda auditiva, pode ser controlada durante
194
Parte II – Cap. 19 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM ADULTOS |
a obtenção dos limiares por REAEE, mantendo-se o nível da perda auditiva, de acordo com os gráficos de
nível de ruído residual para níveis próximos a 11 nV, dispersão (Figura 1).
sendo possível com o aumento do tempo de promedia- A figura 1 claramente mostra a existência de um
ção do exame. Assim, quando a diferença entre ambos viés entre os limiares por REAEE e por ATL, com forte
os procedimentos não varia significativamente com o
correlação entre ambos (coeficientes de correlação
grau da perda auditiva, a simples subtração entre os
R2 foram de 0,78 para 0,5 KHz a 0,88 para 2 KHz e
limiares obtidos por REAEE e ATL já será suficiente
todos p < 0,001). Para todas as frequências, a maio-
para estimar os limiares psicoacústico, ao contrário
ria dos limiares por REAEE foi mais alta do que os
do uso da equação de regressão linear relacionando
as duas medidas. limiares por ATL. Esta observação é confirmada pelo
intercepto das linhas de regressão que são todas ne-
Recentemente, em um estudo realizado em nosso
gativas, ou seja, elas interceptam o eixo Y (onde estão
laboratório, com o objetivo de verificar se os limiares
representados os limiares por ATL), abaixo do ponto
por ATL podem ser estimados a partir dos limiares
por REAEE em indivíduos com perdas auditivas co- zero. Os valores dos interceptos variaram de −6 para 2
cleares de diferentes graus, Duarte et al. (2018 – artigo KHz a −14 para 0,5 KHz. A figura 1 também mostra
enviado para publicação) avaliaram 48 indivíduos (25 claramente alguns casos outlier em que a diferença
do gênero masculino e 23 do feminino), com faixa esteve fora do comportamento geral. A inclinação da
etária de 8 a 30 anos, por meio da pesquisa das REAEE reta de regressão variou em torno de 0,96 (com erro
realizadas utilizando-se do MASTER (Multiple Audi- padrão de 0,05) para 0,5 kHz a 1 (0,05) para 1 KHz.
tory Steady-State Response), versão 2.04.i00 Bio-logic A inclinação, portanto, não diferiu significativamente
Systems Corp. e ATL. Neste estudo, a diferença entre de um para o intervalo de confiança de 95% (média ±
os limiares não variou de forma significativa com o 1,96 vezes o erro padrão) para todas as frequências.
NOVAS APLICAÇÕES
80 100
ATL (dB NA)
60 80
40 60
20 40
0 20
-20 0
0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
REAEE (dB NA)
2 kHz 4 kHz
ATL = -6+0,98 REAEE (R2 = 0,88) ATL = -11+0,97 REAEE (R2 = 0,83)
120 120
100 100
80 80
60 60
40 40
20 20
0 0
0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
Figura 1 − Dispersão (XY) dos limiares obtidos por ATL e dos limiares obtidos por REAEE para cada frequência portadora. Os limiares
por ATL são representados no eixo Y, enquanto os limiares por REAEE são representados no eixo X. Os limiares para cada sujeito, orelha
e frequência são plotados com círculos abertos. As linhas de 45° são representadas por linhas contínuas (—), enquanto as linhas de
regressão são representadas por linhas tracejadas (---). Acima de cada gráfico são mostradas as equações de regressão linear e os
coeficientes de correlação R2 (entre colchetes).
195
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
A literatura da área também demonstra dife- à média para a frequência de 1 KHz, e de 2 a 3 dB
renças semelhantes entre os limiares por REAEE e menor do que a média para as demais frequências.
por ATL em condições normais, em indivíduos com O valor máximo da diferença foi de 85 dB, enquanto
perdas auditivas32. Uma vez que a inclinação da reta de o mínimo foi de −15 dB.
regressão foi muito próxima de um, o valor da inter- A figura 2 mostra os gráficos de Bland e Alt-
seção foi muito semelhante ao valor do viés. Portanto, man61, gráficos de dispersão das diferenças das médias
em nossos dados, tanto a subtração do viés quanto dos limiares por REAEE e ATL para cada frequência,
a aplicação da equação da reta de regressão tiveram assim como o limite de concordância superior e
praticamente os mesmos resultados. Nossa reta de inferior de 95%. De acordo com a figura 2, há uma
regressão foi semelhante àquelas obtidas por outros visualização muito mais evidente da concordância
estudos,31,35 que foram ligeiramente menores do que entre os limiares por REAEE e ATL do que a figura
um, o que diferiu dos achados de outros pesquisado- 1. Ela claramente mostra o viés entre os limiares. Os
res60, 24, em que a inclinação da reta foi maior. Contudo, casos em que as diferenças entre os limiares foram
é pertinente destacar que, enquanto o primeiro grupo extremas, os limiares por REAEE eram mais altos
de autores registrou as REAEE por períodos de até 15 do que os limiares por ATL. O viés aparentemente
minutos, próximo aos 12 minutos de nosso estudo, não variou com o limiar por ATL, e a diferença entre
para decidir se a resposta estava presente ou não, o os limiares pareceu não variar com o nível de perda
segundo grupo de autores não registrou mais do que auditiva.
um minuto e um minuto e meio. Este fato demonstra Uma vez corrigida a diferença entre os limiares,
a importância de registros com períodos de prome- a variabilidade da diferença, que é o desvio-padrão, é
diação mais longos e, consequentemente, níveis de outro dado importante a ser analisado, pois esta será
ruído residual menores. a variabilidade da estimativa do limiar37. Em nossos
Em nossos dados também optamos pela subtra- dados, os desvios-padrão do viés foram respectiva-
ção dos limiares obtidos por REAEE e ATL (Tabela mente 17, 10, 8 e 14 dB para as frequências 0,5, 1, 2
3), já que a diferença se manteve constante de acordo e 4 kHz, com exceção da frequência 0,5 kHz. Esses
com o grau da perda auditiva. desvios-padrão são bastante semelhantes aos rela-
tados pela maioria dos autores. Tlumaka et al.62, em
Tabela 3 − Estatística básica para as diferenças entre os sua meta-análise, obtiveram desvios-padrão médios
limiares medidos por REAEE e ATL. ponderados calculados para as mesmas frequências,
respectivamente de 12, 12, 10 e 10 dB para indivíduos
Frequência (kHz)
com audição normal e 13, 13, 12 e 13 dB para indi-
0,5 1 2 4 víduos com deficiência auditiva. Em alguns casos,
N 94 94 94 94 a diferença entre os limiares é excepcionalmente
Média 17 10 8 14 grande (alguns mais de 3,5 desvios-padrão em relação
Desvio-padrão 14 13 11 14 à média), em especial para a frequência de 0,5 kHz.
Mínimo -8 -15 -15 -15 Em todos estes casos, o limiar por REAEE foi sem-
Mediana 15 10 5 12
pre superior ao limiar por ATL. Nossa concordância
limita os pontos de que em 95% dos casos o limiar
Máximo 85 60 50 60
“real” por ATL estará em uma região 28 dB abaixo
e acima do limiar estimado para as frequências de
A tabela 3 mostra os dados descritivos das di- 0,5 e 4 kHz, 26 dB para a frequência de 1 kHz e 22
ferenças entre os limiares por REAEE e por ATL. O dB para a frequência de 2 kHz. A variabilidade não
viés foi positivo em todas as frequências, devido a foi muito diferente entre as frequências, apesar de
média dos limiares por REAEE ser maior do que a ser ligeiramente maior para as frequências de 0,5 e
média dos limiares por ATL em todas as frequências. 4 KHz e ligeiramente menor para a frequência de 2
O valor do viés foi semelhante ao valor do intercepto KHz. Para avaliar a variabilidade de nossas estimati-
na equação de regressão linear (Figura 1), que foi de vas, calculamos intervalos de confiança de 95% das
17 dB versus 14 dB para 0,5 kHz, 10 dB versus 10 dB diferenças e dos intervalos de confiança. Estes cálculos
para 1 kHz, 8 dB versus 6 dB para 2 kHz e 14 dB versus indicam que, se a experiência fosse repetida 20 vezes
11 dB para 4 kHz. O desvio-padrão do viés variou de com a mesma população, em 19 ocasiões as diferen-
11 dB (2 kHz) a 14 dB (0,5 kHz). A mediana foi igual ças obtidas seriam em torno de ±3 dB das diferenças
196
Parte II – Cap. 19 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM ADULTOS |
0,5 kHz 1 kHz
100 100
20 Média 20
0 0
-20 Média -1.96DP -20
0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
Média ATL e REAEE (dB NA)
2 kHz 4 kHz
100 100
80 80
60 60
40 40
20 20
0 0
-20 -20
Figura 2 − Dispersão (XY) das diferenças entre os limiares por REAEE e ATL e as médias entre eles para cada frequência portadora.
As diferenças são representadas no eixo Y, enquanto as médias são representadas no eixo Y. Os dados são plotados com círculos
abertos. As linhas de zero são traçadas com linhas tracejadas (---), enquanto os limites de confiança superior e inferior de 95% são
traçados com linhas contínuas (—).
NOVAS APLICAÇÕES
encontradas para as frequências de 0,5, 1 e 4 KHz e Difference (REDD). A tabela 4 apresenta a análise es-
±2 dB para a frequência de 2 KHz, isto é, entre 14 a tatística descritiva dos valores de REDD e dos limiares
20 dB para a frequência de 0,5 KHz, 7 a 13 dB para 1 das REAEE para as frequências de 0,5 a 4 kHz para 60
KHz, 6 a 10 dB para 2 KHz e 11 a 17 dB para 4 kHz. crianças com faixa etária de 0 a 6 meses. De acordo
Para as estimativas individuais, o limiar “real” por com os resultados do estudo, a influência anatômica
ATL seria ±33 dB em torno do limiar estimado para as do conduto auditivo externo da criança comparada
frequências de 0,5 e 4 kHz, ±30 dB para a frequência ao adulto permite um NPS superior ao ajustado no
de 1 kHz e ±26 dB para a frequência de 2 kHz. Estas equipamento, o qual pode compensar a diferença
faixas são melhores do que a ausência de qualquer dos limiares obtidos por REAEE, ao considerar os
informação sobre limiar auditivo, no entanto, elas efeitos da maturação das vias auditivas periféricas e
são bastante amplas. centrais. Além disso, o limiar eletrofisiológico obtido
É importante ressaltar que, apesar de as REAEE por REAEE não devem ser considerados isoladamente
serem também aplicáveis na população adulta, a in- no momento de regular o aparelho de amplificação
dicação clínica é para a população pediátrica. Assim, sonora individual nesta população.
na avaliação de neonatos, também devem ser conside-
radas variáveis como maturação do sistema auditivo,
principalmente em relação às particularidades ana- CONSIDERAÇÕES FINAIS
tômicas desta população. Neste contexto, Oliveira et
al.63 avaliaram a relação entre os limiares obtidos pelas As medidas das Respostas Evocadas Auditivas de
REAEE e a diferença entre o Nível de Pressão Sonora Estado Estável têm se mostrado uma ferramenta im-
(NPS) do estímulo de estado estável medido no con- portante para predizer os limiares psicoacústicos, nos
duto auditivo externo da criança e o valor ajustado no casos em que há dificuldade de estimar estes limiares
protocolo do exame, conhecida por Real-Ear-to-Dial por meio de métodos comportamentais, contudo é
197
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Tabela 4 − Análise estatística dos limiares das Respostas Evocadas Auditivas de Estado Estável e da Real-Ear-to-Dial
Difference (REDD) na faixa etária de zero a seis meses (Oliveira et al., 2014)63.
REDD REAEE
imprescindível que o profissional considere aspectos São Paulo, 71f . Tese − Universidade Federal de São
relacionados aos mecanismos anatomofisiológicos do Paulo, Escola Paulista de Medicina, 2002.
sistema auditivo, variáveis psicoacústicas relacionadas 9. Kuwada S, Batra R, Maher VL. Scalp potentials of
ao tipo de estímulo e unidade de calibração, assim normal and hearing-impaired subjects in response to
como tempo de promediação e nível de ruído residual. sinusoidally amplitude-modulated tones. Hear Res.
1986; 21:179-192.
10. Aoyagi M, Kiren T, Furuse H, Fuse T, Suzuki Y, Yolota
REFERÊNCIAS M, Koike Y. Pure-tone threshold prediction by 80-Hz
amplitude-modulation following response. Acta Oto-
1. Galambos R, Makeig S, Talmachoff PJ. A 40-Hz audi- laryngol Suppl (Stockh). 1994; 511:7-14.
tory potential recorded from the human scalp. Proc 11. Rickards FW, Tan LE, Cohen LT, Wilson OJ, Drew JH,
Natl Acad Sci USA. 1981; 78(4):2643-47. Clark GM. Auditory steady-state evoked potential in
2. Pantev C, Roberts LE, Elbert T, Ross B, Wienbru- newborns. Br J Audiol. 1994; 28:327-37.
ch C. Tonotopic organization of the sources of hu- 12. Stapells DR, Galambos R, Costello JA, Makeig S.
man auditory steady-state responses. Hear Res. 1996; Inconsistency of auditory middle latency and steady-
101(1-2):62-74. -state responses in infants. Electroencephalogr Clin
3. Herdman AT, Lins O, Van Roon P, Stapells DR, Scherg Neurophysiol. 1988; 71(4):289-95.
M., Picton TW. Intracerebral sources of human au- 13. Aoyagi M, Kiren T, Kim Y, Suzuki Y, Fuse T, Koike Y.
ditory steady-state responses. Brain Topogr. 2002; Frequency specificity of amplitude-modulation-fol-
15(2):69-86. lowing response detected by phase spectral analysis.
4. Ross B, Draganova R, Picton TW, Pantev C. Frequency Audiol. 1993; 32(5):293-301.
specificity of 40-Hz auditory steady-state responses. 14. Ross B, Pantev C. Auditory steady-state responses
Hear Res. 2003; 186(1-2):57-68. reveal amplitude modulation gap detection thresholds.
5. Gutschalk A, Mase R, Roth R, Ille N, Rupp A, Hahnel J Acoust Soc Am. 2004; 115(5 Pt 1):2193-206.
S, Picton TW, Scherg M. Deconvolution of 40 Hz stea- 15. Petitot C, Collet L, Durrant J. Auditory steady-state
dy-state fields reveals two overlapping source activities responses (ASSR): Effects of modulation and carrier
of the human auditory cortex. Clin Neurophysiol. 1999; frequencies. Int J Audiol. 2005; 44(10):567-573.
110(5):856-68.
16. Levi EC, Folsom RC, Dobie RA. Amplitude-modula-
6. Reyes SA, Salvi RJ, Burkard RF, Coad ML, Wack DS, tion following response (AMFR): effects of modulation
Galantowicz PJ, Lockwood AH. PET imaging of the rate, carrier frequency, age and state. Hear Res. 1993;
40 Hz auditory steady-state response. Hear Res. 2004; 68(1):42-52.
194(1-2):73-80.
17. Pethe J, Von Specht H, Hocke T. Amplitude modulation
7. Reyes SA, Lockwood AH, Salvi RJ, Coad ML, Wack DS, following responses in awake and sleeping humans: a
Burkard RF. Mapping the 40-Hz auditory steady-state comparison for 40 Hz and 80 Hz modulation frequen-
response using current density reconstruction. Hear cy. Scand Audiol Suppl. 2001; 30(1):152-55.
Res. 2005; 204(1-2):1-15.
18. Herdman AT, Stapells DR. Thresholds determined
8. Lins OG. Audiometria fisiológica tonal utilizando using the monotic and dichotic multiple auditory
respostas de estado estável auditivas do tronco cerebral.
198
Parte II – Cap. 19 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM ADULTOS |
steady-state response technique in normal-hearing and exponential envelope AM2/FM stimuli in normal-
subjects. Scand Audiol. 2001; 30(1):41-49. -hearing adults. Int J Audiol. 2007; 46 (8):399-406.
19. Perez-Abalo MC, Sávio G, Torres A, Martin V, Ro- 31. Dimitrijevic A, John MS, Van Roon P, Purcell DW,
driguez E, Galan L. Steady state responses to multiple Adamonis J, Ostroff J, Nedzelski JM, Picton TW.
amplitude-modulated tones: an optimized method to Estimating the audiogram using multiple auditory
test frequency-specific thresholds in hearing-impaired steady-state responses. J Am Acad Audiol. 2002;
children and normal-hearing subjects. Ear Hear. 2001; 13(4):205-224.
22(3):200-11. 32. Luts H, Wouters J. Hearing assessment by recording
20. Maanen AV, Stapells DR. Comparison of multiple multiple auditory steady-state responses: the influence
auditory steady-state responses (80 Hz versus 40 Hz) of test duration. Int J Audiol. 2004; 43(8):471-78.
and Slow Cortical Potentials for threshold estima-
33. Schmulian D, Swanepoel D, Hugo R. Predicting pu-
tion in hearing-impaired adults. Int J Audiol. 2005;
re-tone thresholds with dichotic multiple frequency
44(11):613-24.
auditory steady state responses. J Am Acad Audiol.
21. Van Der Reijden CS, Mens LHM, Snik AFM. Fre- 2005; 16:5-17.
quency-specific objective audiometry: tone-evoked
34. Duarte JL. A utilização da resposta auditiva de estado
brainstem responses and steady-state responses to
estável para estimar limiares auditivos na perda au-
40 Hz and 90 Hz amplitude modulated stimuli. Int J
ditiva neurossensorial. Bauru (SP), 118f. Dissertação
Audiol. 2006; 45(1):40-5.
(Mestrado em Fonoaudiologia) − Universidade de
22. Pethe J, Muhler R, Siewert K, von Specht H. Near-thre- São Paulo. Faculdade de Odontologia de Bauru, 2007.
shold recordings of amplitude modulation following
responses (AMFR) in children of different ages. Int J 35. Herdman AT, Stapells DR. Auditory steady-state res-
Audiol. 2004; 43(6):339-45. ponse thresholds of adults with sensorineural hearing
impairment. Int J Audiol. 2003; 42(5):237-48.
23. Rance G, Briggs RJS. Assessment of hearing in infants
with moderate to profound impairment: the Mel- 36. Swanepoel D, Hugo R, Roode R. Auditory Steady-State
bourne experience with auditory steady-state evoked response for children with severe to profound hearing
potential testing. Ann Otol Rhinol Laryngol Suppl. loss. Arch Otolaryngol Head and Neck Surg. 2004;
2002; 189:22-8. 130:531-35.
24. Rance G, Rickards F. Prediction of hearing threshold in 37. Picton TW, Dimitrijevic A, Perez-Abalo MC, Van
NOVAS APLICAÇÕES
infants using auditory steady-state evoked potentials. Roon P. Estimating audiometric thresholds using
J Am Acad Audiol. 2002; 13(5):236-45. auditory steady-state responses. J Am Acad Audiol.
2005; 16(3):140-56.
25. Stueve MP, O’rourke C. Estimation of hearing loss in
children: comparison of auditory steady-state respon- 38. Canale A, Lacilla M, Cavalot AL, Albera R. Audi-
se, auditory brainstem response, and behavioral test tory steady-state responses and clinical applications.
methods. Am J Audiol. 2003; 12(2):125-136. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2006; 263(6):499-
26. Luts H, Desloovere C, Kumar A, Vandermeersch E, 503. http://dx.doi.org/10.1007/s00405-006-0017-y.
Wouters J. Objective assessment of frequency-specific PMid:16557415.
hearing thresholds in babies. Int J Pediatr Otorhino- 39. Vander Werff KR, Brown CJ. Effect of audiometric con-
laryngol. 2004; 68(7):915-26. figuration on threshold and suprathreshold auditory
27. Calil DB. Achados dos Potenciais Evocados Auditivos steady-state response. Ear Hear. 2005; 26(3):310-326.
de Estado Estável em crianças ouvintes e crianças 40. Attias J, Buller N, Rubel Y, Raveh E. Multiple auditory
portadoras de deficiência auditiva neurossensorial. steady-state responses in children and adults with nor-
São Paulo, 79f. Dissertação − Pontifícia Universidade mal hearing, sensorineural hearing loss, or auditory neu-
Católica, 2005. ropathy. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2006; 115(4):268-
28. Rance G, Roper R, Symons L, Moody LJ, Poulis C, 76. http://dx.doi.org/10.1177/000348940611500404.
Dourlay M, Kelly T. Hearing threshold estimation in PMid:16676823.
infants using auditory steady-state responses. J Am 41. Carnauba ATL. Estudo das respostas auditivas de es-
Acad Audiol. 2005; 16(5):291-300. tado estável em um novo protocolo (1000, 2000, 4000
29. Han D, Mo L, Liu H, Chen J, Huang L. Threshold e 8000 Hz). Recife, 95f. Dissertação − Universidade
estimation in children using auditory steady-state Federal de Pernambuco, 2014.
responses to multiple simultaneous stimuli. ORL J 42. D’haenens W, Vinck B M, De Vel E, Maes L, Bockstael
Otorhinolaryngol Relat Spec. 2006; 68(2):64-8. A, Keppler H, et al. Auditory steady-state responses in
30. D’haenens W, Dhooge I, Vel ED, Maes L, Bockstael A normal hearing adults: A test-retest reliability study.
& Vinck BM. Auditory steady-state responses to MM Int J Audiol. 2008; 47(8):489-498.
199
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
43. D’haenens W, Vinck B M, Maes L, Bockstael A, Keppler auditory steady state responses. Ear and Hearing.
H, Philips B, et al. Determination and evaluation of 1997; 18(5):420-29.
clinically efficient stopping criteria for the multiple 53. Van Maanen A, Stapells DR. Comparison of multiple
auditory steady-state response technique. Clin Neu- auditory steady-state responses (80- vs. 40-Hz) and
rophysiol. 2010; 121(8):1267-78. slow cortical potentials for threshold estimation in hea-
44. Hosseinabadi R, Jafarzadeh S. Auditory steady-state ring-impaired adults. Int J Audiol. 2005; (44):613-24.
response thresholds in adults with conductive and 54. Lachowska M, Bohórquez J, Özdamar Ö, Niemczyk
mild to moderate sensorineural hearing loss. Iran Red K, Lachowska M. Estimating audiometric thresholds
Crescent Med J. 2015; 24;17(1):e18029. doi: 10.5812/ using simultaneous acquisition of ASSR and ABR from
ircmj.18029. eCollection 2015 QASSR in patients with sensorineural hearing loss. Int
45. Kaf WA, Durrant JD, Sabo DL, Boston JR, Taubman LB, J Audiol. 2016; 55:748-57.
Kovacyk K. Validity and accuracy of electric response 55. Lin YH, Ho HC, Wu HP. Comparison of auditory stea-
audiometry using the auditory steady-state response: dy-state responses and auditory brainstem responses
evaluation in an empirical design. Int J Audiol. 2006; in audiometric assessment of adults with sensorineural
45(4):211-23. hearing loss. Auris Nasus Larynx. 2009; 36(2):140-45.
46. Lins OG, Picton PE, Picton TW, Champagne SC,
56. Maanen AV, Stapells DR. Normal multiple auditory
Durieux-Smith A. Auditory steady-state responses to
steady state response thresholds to air conducted sti-
tones amplitude-modulated at 80-110 Hz. J Acoust
muli in infants. J Am Acad Audiol. 2009; 20(3):196-207.
Soc Am. 1995; 97:3051-63.
57. Ramos HF, Grasel SS, Beck R, Ramos M, Ramos B,
47. Lins OG, Picton TW, Boucher BL, Durieux-Smith A,
Almeida R, et al. Evaluation of residual hearing in co-
Champagne SC, Moran LM, et al. Frequency-specific
chlear implants candidates using auditory steady-state
audiometry using steady-state responses. Ear Hear.
response. Int J Audiol. 2015; 135(3):246-53.
1996; 17(2):81-96.
58. Schmulian D, Swanepoel D, Hugo R. Predicting pu-
48. Beck RMO, Ramos BF, Grasel SS, Ramos HF, Moraes
re-tone thresholds with dichotic multiple frequency
MFBB, Almeida ER et al. Estudo comparativo entre
auditory steady state responses. J Am Acad Audiol.
audiometria tonal limiar e resposta auditiva de estado
2005; 16(1):5-17.
estável em normouvintes. Braz J Otorhinolaryngol.
2014; 80(1):35-40. ISSN 1808-8694. http://dx.doi. 59. Picton TW, Van Roon P, John MS. Human auditory
org/10.5935/1808-8694.20140009. steady-state responses during sweeps of intensity. Ear
and hearing. 2007; 28(4):542-57.
49. Ozdek A, Karacay M, Saylam G, Tatar E, Aygener N,
Korkmaz MH. Comparision of pure tone audiometry 60. Cone-Wesson B, Rickards F, Poulis C, Praker J, Tan L,
and auditory steady: state responses in subjects with Pollard J. The auditory steady-state response: clinical
normal hearing and haring loss. Eur Arch Otorhino- observations and applications in infants and children.
laryngol. 2010; 267(1):43-9. http://dx.doi.org/10.1007/ J Am Acad Audiology. 2002; 13(5):270-82.
s00405-009-1014-8. PMid:19536554. 61. Bland JM, Altman D. Statistical methods for assessing
50. Petitot C, Collet L, Durrant JD. Auditory steady-state agreement between two methods of clinical measure-
responses (ASSR): effects of modulation and carrier ment. Lancet. 1986; 327(8476):307-10.
frequencies. Int J Audiol. 2005; 44(10):567-73. 62. Tlumak AI, Rubinstein E, Durrant JD. Meta-analysis of
51. Picton TW, Dimitrijevic A, John MS, Van Roon P. The variables that affect accuracy of threshold estimation
use of phase in the detection of auditory steady-state via measurement of the auditory steady-state response
responses. Clinical Neurophysiology. 2001; 112(9): (ASSR). Int J Audiol. 2007; 46(11):692-710.
1698-711. 63. Oliveira LC, Alvarenga KF, Araujo ES, Salgado MH,
52. Valdes JL, Perez-Abalo MC, Martin V, Savio G, Sier- Costa Filho OA. Auditory Steady-State Response in
ra C, Rodriguez E, Lins O. Comparison of statisti- the First Six Months of Life. Audiol Neurotol Extra.
cal indicators for the automatic detection of 80 Hz 2014; 4:12-22.
200
20
RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO
ESTÁVEL EM CRIANÇAS: ESTIMATIVA DOS LIMIARES
COMPORTAMENTAIS POR VIA AÉREA
Alexsandra Glória Apolônio dos Santos
Otávio Gomes Lins
201
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
criança ao estímulo sonoro é reforçada visualmente Segundo Northern e Downs2, a avaliação auditi-
através da ativação e iluminação de um brinquedo va de crianças, especialmente quando houver suspeita
animado tridimensional7. de comprometimento auditivo, é um processo contí-
Entretanto, embora a avaliação auditiva com- nuo e adaptado de acordo com a idade. Vários testes
portamental seja importante na população infantil, poderão ser necessários para obter a maior quantidade
muitos fatores podem limitar a capacidade da criança possível de informações audiométricas específicas da
de cooperar, tais como as limitações motoras e/ou frequência em cada orelha.
cognitivas e crianças não cooperantes. Assim sendo, a avaliação eletrofisiológica inse-
Na prática clínica, observa-se que, às vezes, a re-se nesse contexto com uma importância particular
criança não aceita a colocação dos fones; sendo assim, na avaliação da integridade do sistema auditivo em
é necessário realizar o teste em campo livre. Esta forma bebês e crianças pequenas, utilizando-se das Respos-
de apresentação do estímulo impossibilita a detecção tas Evocadas Auditivas de Estado Estável (REAEE).
da perda auditiva unilateral, assim como a definição O exame das REAEE contribui no fechamento ou
do grau da perda auditiva bilateral assimétrica, visto conclusão do diagnóstico de forma mais precisa e,
consequentemente, auxilia o processo de seleção e
que são registradas as respostas da melhor orelha8.
adaptação dos aparelhos de amplificação sonora in-
Logo, os exames fisiológicos e/ou eletrofisiológi- dividual (AASI), desempenhando papel importante
cos, por serem técnicas objetivas, isto é, técnicas que no processo de reabilitação e no acompanhamento
não dependem da participação ativa do paciente, vêm do desenvolvimento das crianças. Seu uso no diag-
tornando-se ferramentas importantes na avaliação nóstico audiológico envolve a apresentação do tom
audiológica infantil, tanto como medida principal puro modulado nas frequências entre 500 e 4000 Hz.
quanto confirmação de outros testes2,8,9.
A possibilidade de serem registradas em várias
Segundo Regaçone; Gução; Frizzo10, o interesse frequências, e em ambas as orelhas ao mesmo tempo,
em pesquisas acerca dos procedimentos eletrofisioló- representa uma das principais vantagens das REAEE,
gicos, associado à neuroimagem, possibilita a avalia- sendo caracterizada como múltiplas respostas auditi-
ção funcional em diversas doenças e a correlação de vas de estado estável (Multiple Auditory Steady-Satate
aspectos do comportamento a fenômenos fisiológicos Responses – MASTER)14-16. Tal característica afeta
observáveis no sistema nervoso. fortemente a duração do teste, permitindo um ótimo
Os dois métodos que vêm sendo comumente ganho de tempo, sendo especialmente importante para
utilizados na prática clínica são os potenciais evocados a população pediátrica, cujo tempo disponível para rea-
auditivos de tronco encefálico (PEATE) e as emissões lizar uma avaliação é frequentemente muito limitado17.
otoacústicas (EOA). A técnica dicótica de múltiplos estímulos com oito
Embora seja possível utilizar os estímulos tonais sinais (quatro para cada orelha) apresentados simulta-
breves, com frequência específica (tones pips ou tones neamente estima-se que seja, clinicamente, de duas a
bursts) para a obtenção dos limiares por PEATE11, há três vezes mais rápida que a técnica de estímulo único15
dificuldade na padronização dos estímulos e na detec- para a determinação dos limiares eletrofisiológicos.
ção das respostas, somados ao longo tempo gasto na
determinação dos limiares eletrofisiológicos de cada
frequência em cada orelha separadamente12.
3. MATURAÇÃO DOS LIMIARES
A pesquisa das emissões otoacústicas, por sua
DAS REAEE
vez, embora seja considerada, atualmente, o exame Os achados encontrados nos procedimentos
padrão-ouro para a triagem auditiva neonatal, permi- utilizados para avaliar a audição em crianças devem
tindo avaliar a integridade das células ciliadas externas estar interligados com as características físicas e
da cóclea e o sistema auditivo eferente13, não fornece funcionais do sistema auditivo em crescimento. Para
limiares auditivos e, portanto, não fornece o perfil que haja a compreensão da natureza dos comprome-
audiométrico do paciente. timentos auditivos e, paralelamente, avanço científico
Ressalta-se, entretanto, que cada exame auditivo na avaliação audiológica infantil, o conhecimento da
fornece informações diferentes da audição, contendo anatomia e fisiologia do sistema auditivo e do proces-
suas vantagens e desvantagens, sendo que uma técnica so maturacional se faz necessário. Tal entendimento
não substitui a outra, e sim a complementa. ajudará na segurança do diagnóstico.
202
Parte II – Cap. 20 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM CRIANÇAS |
Alguns dos fatores mais críticos que influenciam Rance e Rickards20 observaram que as REAEE
na avaliação audiológica infantil são idade, nível de para cada frequência de teste de 500 a 4000 Hz em
desenvolvimento e maturação neural da criança que um grupo de bebês com até 3 meses de idade foram
está sendo avaliada9. aproximadamente 10 a 15 dBNA maior que os limiares
O sistema auditivo no feto e na criança tem uma obtidos em adultos ou em crianças mais velhas.
sequência própria de desenvolvimento. Ao nascimento, Alaerts et al.26 observaram influência da idade
a cóclea humana é funcional, porém o sistema nervoso nas diferenças entre os limiares de REAEE e compor-
auditivo continua a se desenvolver por, pelo menos, tamentais, entre os subgrupos de crianças: menor de
mais uma década. A via auditiva até o tronco encefáli- 1 ano, entre 1 e 2 anos e acima de 2 anos de idade.
co apresenta duas fases no seu processo de maturação Em todas as frequências, a diferença média entre os
neurológica. Na primeira, por volta do sexto mês de limiares das REAEE e comportamentais foi 11 ± 12,
vida intrauterina, ocorre a maturação em sua parte 12 ± 13 e 20 ± 12 dBNPS para os bebês com menos
periférica. Na segunda fase, as vias auditivas, ao longo de 1 ano, as crianças com 1-2 anos e as crianças com
do sistema nervoso central, tornam-se mielinizadas. mais de 2 anos de idade respectivamente.
Essa fase inicia-se após o nascimento e completa-se Os autores discutem alguns fatores que podem
por volta dos 18 meses de vida pós-natal18. ter ocasionados diferenças entre os limiares maiores
Estudos demonstram que essas modificações no para o grupo testado com mais de 2 anos de idade: 1-
processo maturacional têm implicações clínicas nas obtenção de níveis de respostas mínimos em lactentes
respostas dos potenciais evocados auditivos. As res- menores, cujos resultados podem ser mais altos que
postas evocadas auditivas de estado estável ocorrem os reais limiares auditivos comportamentais; 2- di-
diferentemente em bebês normais e adultos. ficuldade de obtenção dos limiares das REAEE em
Limiares das REAEE em neonatos e bebês apre- crianças pequenas, especialmente em baixas frequên-
sentam-se aproximadamente 10 dB mais altos que cias. Consequentemente, os limiares das REAAE são
os encontrados em adultos. Achados afirmam que altos e, portanto, os escores de diferença são maiores26.
sujeitos adultos apresentam em média limiares de Ao comparar os limiares das REAEE entre crian-
20 a 30 dBNA para frequências média/baixa, e 15 ças com idades de 10 a 58 meses e adultos, Rance et
a 20 dBNA para frequências altas19. Em neonatos e al.27 não encontraram diferença significativa em ne-
NOVAS APLICAÇÕES
crianças, contrastivamente, é maior, com alguns es- nhuma frequência portadora. Santos28, em um estudo
tudos afirmando que as frequências média/baixa têm realizado em crianças com audição normal, também
limiares de resposta de 35 a 45 dBNA e as frequências verificou que os limiares das REAEE não variaram
altas, 25 a 40 dBNA19-23. significantemente com a idade.
Rezende24 verificou que houve diferença esta- No estudo de Santos28, a casuística foi composta
tisticamente significativa (p < 0,05) entre os limiares por 65 crianças com audição normal, sendo 30 do gê-
das REAEE em neonatos e em adultos em todas as nero feminino (43%) e 35, do masculino (57%). Das 65
frequências, sendo maiores em neonatos. O estudo crianças avaliadas, 15 permitiram a realização da VRA
foi realizado com neonatos de 10 a 28 dias e adultos com fones supra-aurais do tipo TDH-39, possibilitando
na faixa etária de 20 a 38 anos, ambos com audição a avaliação das duas orelhas separadamente. Nas demais
normal. Os limiares de normalidade para neonatos crianças (50), a VRA foi realizada em campo livre, e
foram de 40 dBNPS em 500 Hz e 30 dBNPS em 1000, os resultados obtidos foram comparados aos limiares
2000 e 4000 Hz. Em adultos, os limiares foram iguais eletrofisiológicos das REAEE da melhor orelha. A
a 30 dBNPS em todas as frequências. idade das crianças variou de 6 a 48 meses (média 17
Souza25 encontrou média de limiares igual a ± 10 meses para as crianças que realizaram a VRA em
32,20 dBNPS, 28,55 dBNPS, 24,10 dBNPS e 24,95 campo livre e média 39 ± 6 meses para as que realiza-
dBNPS para as frequências de 500 Hz, 1000 Hz, 2000 ram a VRA com fones). A idade mínima foi definida
Hz e 4000 Hz, respectivamente, em adultos. baseada no limite mínimo confiável para a VRA ser
Outros estudos também constataram diferen- utilizada como método viável na avaliação auditiva.
ças significativas entre os limiares das REAEE de Os limiares eletrofisiológicos obtidos em dB-
crianças e adultos com audição normal para todas as NPS foram convertidos para dBNA, de acordo com
frequências21-26. Luts et al.21 encontraram limiares de a norma ANSI S3-629: Specification for Audiometers e
crianças em média 11 dBNPS maiores que os limiares ISO 389.230: The calibration standard insert earphones,
em adultos. com as correções de -6; -0; -3 e -6 dB para os tons de
203
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
0,5; 1; 2 e 4 kHz, respectivamente, para que pudesse Parâmetros diferentes, em particular, a duração do
ser realizada uma comparação equivalente com os exame pode afetar significativamente os achados em
resultados da VRA, já que esses são obtidos em dBNA. sujeitos normais.
Na tabela 1 estão demonstrados a distribuição da
média e o desvio-padrão dos limiares das REAEE em
4. ESTIMATIVA DOS LIMIARES
intervalos de classe de idades para cada frequência.
Verifica-se que os limiares não variam significante- AUDITIVOS ATRAVÉS DAS
mente com a idade (ANOVA REAEE p = 0,474). Para REAEE
a faixa etária de 6 a 12 meses, a média dos limares das
REAEE foi de 11 ± 8 e para a faixa etária de 37 a 48 Sabendo-se que o êxito da intervenção precoce
meses, de 12 ± 11 dBNA. em crianças depende, primordialmente, de técnicas de
avaliação que possam refletir uma estimativa abran-
Savio et al.31 identificaram, em um estudo de
gente e confiável da audição, as REAEE têm grande
coorte, diminuição dos limiares com o aumento da
utilidade na prática clínica tornando-se uma ótima
idade em cerca de 7, 10, 12 e 14 dB para faixa de fre- ferramenta no diagnóstico auditivo infantil. A técnica
quências de 500-4000 Hz, respectivamente, em um das REAAE objetiva garantir a maior especificidade
grupo de neonatos e crianças com audição normal, com os seus estímulos para que possa predizer com
entre o período neonatal e posteriormente, com 7 e eficácia a sensibilidade auditiva de cada frequência,
12 meses. Os limiares, em dBNA, para o grupo de principalmente na avaliação de crianças pequenas que
neonatos foram 16 ± 11, 22 ± 12, 19 ± 12 e 23 ± 13 não realizam os exames comportamentais.
e para o grupo entre 7 e 12 meses, foram 9 ± 9, 12 ±
Vários estudos foram realizados com o objetivo
10, 7 ± 8 e 9 ± 7.
de traçar os limiares das REAEE em neonatos e crian-
De acordo com o estudo longitudinal de Rance ças com audição normal20-22,26,31-41. A tabela 2 mostra
e Tomlin22, realizado com bebês a termo, os limiares um resumo dos valores dos limiares das REAEE para
das REAEE podem variar durante o primeiro ano de cada frequência obtidos nestes estudos.
vida devido ao processo de maturação. Isto ocorre
Os achados dos estudos descritos na tabela 2
especialmente para os estímulos de frequências altas. apontam que os limiares em bebês e crianças, até apro-
Os limiares das REAEE para frequência-teste de 4000 ximadamente um ano e meio de idade, com audição
Hz obtidos nos bebês com 12 meses de idade tiveram normal, encontram-se em torno de aproximadamente
decréscimo significativo, aproximando-se dos níveis 20 a 55 dBNA. Observa-se nos estudos de Rance e
do adulto. A média dos limiares reduziram de 33 Tomlin22 e de Rance e Rickards20 que os limiares das
dBNA, com 6 semanas de vida, para 22 dBNA, com REAEE foram mais elevados no grupo de menor faixa
52 semanas. Por outro lado, para a frequência de 500 etária, sugerindo mudanças maturacionais. Ressalta-
Hz, os resultados mostraram ainda imaturidade, com -se que, embora haja diferenças metodológicas e que
redução apenas de 5 dB entre os períodos de vida (6 tais diferenças dificultam a comparação dos limiares
e 52 semanas). das REAEE encontrados, os resultados na maioria
Diferenças metodológicas entre os estudos dos estudos mostram limiares maiores para as fre-
dificultam a comparação em relação aos limiares. quências graves.
Tabela 1 − Distribuição da média e desvio-padrão dos limiares das REAEE nas frequências de 0,5 a 4,0 KHz, segundo a
faixa etária em meses.
6 a 12 21 14 ± 10 15 ± 7 8±5 5±3 11 ± 8
13 a 24 16 16 ± 11 17 ± 9 8±5 8±5 12 ± 9
25 a 36 18 18 ± 10 16 ± 8 11 ± 5 9±8 13 ± 8
37 a 48 10 17 ± 15 18 ± 12 9±6 6±3 12 ± 11
Fonte: Santos.28
204
Parte II – Cap. 20 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM CRIANÇAS |
Tabela 2 – Valores (em dBNA) de limiares das REAEE em crianças com audição normal.
Frequência (Hz)
Estudos Idade
500 1000 2000 4000
Çelik et al. (2016) 36
1 – 11 meses 50 ± 17 43 ± 19 38 ± 17 42 ± 18
Casey; Small (2014) 45
6,5 – 19 meses 28 22 20 22
Alaerts et al. (2010) 26*
≤ 4 meses 39 ± 13 38 ± 13 30 ± 11 32 ± 11
Calil (2006) 37**
2 – 19 meses ------ ------ ------ ------
Luts et al. (2006) 21
< 3 meses 37 ± 10 35 ± 10 32 ± 10 36 ± 9
3 – 7 dias 46 ± 11 ------ ------ 38 ± 11
Rance; Tomlin (2006)22
6 semanas 40 ± 7 ------ ------ 33 ± 8
Rance et al. (2005) 38
1 – 3 meses 32 ± 7 32 ± 7 24 ± 6 28 ± 7
Cone-Weson et al. (2002) 19
1 – 79 meses 39 ± 8 34 ± 10 26 ± 10 39 ± 12
Rance; Rickards (2002) 20
1 – 8 meses 43 ± 12 42 ± 10 35 ± 8 34 ± 10
0 – 29 dias 57 ± 11 55 ± 12 51 ± 12 48 ± 13
Sávio et al. (2001)31
7 – 12 meses 46 ± 9 44 ± 10 37 ± 8 33 ± 9
Lins et al. (1996) 39
1 – 1 meses 33 ± 13 22 ± 10 17 ± 8 21 ± 10
Levi et al. (1995)40 1 mês 36 ± 11 42 ± 11 34 ± 15 ------
Rickards et al. (1994) 41***
1 – 7 dias 41 ± 10 ------ ------ 35 ± 11
*
Foi realizada conversão livre dos valores obtidos em dBNPS para dBNA.
**
Dados deste estudo foram obtidos em cada orelha separadamente: OD (14 ± 12,6; 17, 2 ± 6, 4; 16,3 ± 7,3 e 10,6 ± 5,4) e OE (12,2 ± 9,9;
16,8 ± 9, 1; 14,1 ± 9,6 e 6 ± 7,3) para as frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz respectivamente.
***
Limiar testado na frequência de 1500 Hz (24 ± 9).
NOVAS APLICAÇÕES
4.1. Diferença entre os Limiares das Dessa forma, na tentativa de acrescentar subsí-
REAEE e VRA e sua Variabilidade dios à aplicabilidade clínica das REAEE na avaliação
audiológica infantil, Santos28 examinou como os
Perez-Abalo et al.23 explicam que as diferenças limiares eletrofisiológicos obtidos pelas REAEE po-
entre os limiares eletrofisiológicos e comportamentais dem estimar os limiares auditivos comportamentais
são inerentes à técnica de promediação para se extrair obtidos pela VRA em crianças com audição normal.
o potencial evocado do ruído. Ou seja, as REAEE Santos28 observou nos dados uma diferença de
necessitam de um tempo de promediação maior, até 14 dBNA entre os limiares das REAEE e da VRA.
de modo que se observa clara tendência da técnica Esta diferença média está dentro da margem esperada,
REAEE apresentar limiares superiores aos valores uma vez que se encontra inferior ao limite máximo
da VRA, e limiares altos, em alguns momentos, para desejado que o limiar comportamental possa ser
níveis acima da normalidade42. estimado pelo limiar eletrofisiológico, limite este de
Salienta-se que a diferença média e o desvio-pa- 30 dB32. Diferenças médias similares foram relatadas
drão entre o limiar das REAAE e o limiar compor- por outros estudos: Aoyagi et al.44 encontraram dife-
tamental depende, entre outros fatores, da idade, do renças de até 16 dB, e Rance e Rickards20 observaram
grau de audição, da frequência portadora, da duração diferenças de até 15 dB.
do teste e do ambiente de teste. Na tabela 3, é possível verificar alguns achados,
Muitos estudos examinaram a relação entre os de poucos estudos, que referiram isoladamente a
limiares das REAEE e os limiares comportamentais diferença entre os limiares das REAEE e os limiares
em crianças com deficiência auditiva e audição nor- comportamentais obtidos por meio da VRA em
mal19-21,26,43, mas as comparações são difíceis porque crianças com audição normal. As diferenças estão
os achados para os normais, em alguns estudos, não apresentadas na tabela em unidade única dBNA para
foram relatados separadamente dos achados para os facilitar a comparação entre os estudos. Dessa forma,
bebês que tiveram perda auditiva. os estudos que apresentaram limiares obtidos em
205
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Tabela 3 – Diferença (em dBNA) entre os limiares das REAEE e comportamentais em crianças com audição normal para
cada frequência.
Frequência (Hz)
Estudos Idade (meses)
500 1000 2000 4000
9 ± 11 13 ± 12 10 ± 12 9 ±7
Santos (2010)28* 6 – 48
10 ± 13 14 ± 13 10 ± 9 9±8
Casey; Small (2014) 45**
6,5 – 19 20 — 20 28
Alaerts et al. (2010)26 *** ≤4 11 ± 15 16 ± 12 9 ± 12 10 ± 12
Rance et al. (2005)38 1–3 30 ± 7 31 ± 6 22 ± 7 28 ± 8
Luts et al. (2006) 21 ***
<3 2 ± 13 6 ± 15 4 ± 13 3 ± 12
*
Limiares deste estudo foram obtidos pela VRA em campo livre (50 crianças) e com fones supra-aurais do tipo TDH-39 (15 crianças). Os
resultados da primeira linha referem-se à diferença dos limiares das REAEE e VRA com fone. A segunda linha consiste nos resultados da
diferença dos limiares das REAEE e VRA em campo livre.
Os autores deste estudo não obtiveram valor na frequência de 1000 Hz, porque poucas crianças submeteram-se ao exame comporta-
**
dBNPS foram convertidos em dBNA, de acordo com Outro fator que pode explicar a diferença média
a norma ANSI S3-629: Specification for Audiometers e encontrada entre os estudos refere-se à maneira como
ISO 389.230: The calibration standard insert earphones. as REAEE foram realizadas, sono natural, hidrato
Nos estudos de Alaerts et al.26, Rance et al.38 e de cloral e anestesia geral. No estudo de Luts et al.21,
Luts et al.21, os limiares da VRA foram obtidos em algumas crianças se submeteram ao exame por meio
momentos posteriores à obtenção dos limiares ele- de anestesia geral. Embora a anestesia não afete os
trofisiológicos. No estudo de Alaerts et al.26, a média limiares das REAAE obtidos com modulação entre
de tempo entre os dois exames, REAEE e VRA, foi 80 e 110 Hz, espera-se que haja diminuição do ruído
17 meses; em Luts et al.21, o delay foi de 7 meses. Em de fundo, de modo que os limiares podem ser alcan-
Rance et al.38, a VRA foi realizada quando as crianças çados em menos varreduras do que no sono natural
tinham entre 6 e 23 meses de vida. ou condição de vigília.
Como o tempo de testes comportamentais va- No estudo de Santos28, embora recorreu-se ao
riou entre os estudos, a idade pode ter sido um dos uso do hidrato de cloral em algumas crianças buscan-
fatores que influenciou nos escores de diferença entre do um nível de relaxamento satisfatório para a reali-
os limiares das REAEE e VRA. Diferentemente do zação do exame, a maioria dos limiares das REAAE
que foi encontrado no estudo de Santos28, Rance et foi obtido em sono natural. Observou-se, logo, um
al.38 relataram diferenças médias superiores entre os viés (diferença entre o limiar das REAAE real e o
limiares das REAEE e VRA, 22 a 31 dBNA. Os auto- limiar estimado) menor em relação ao encontrado
res consideram que a imaturidade das RAEEE, em em outros estudos.
lactentes, pode ter contribuído para esta diferença, Além disso, objetivou-se no estudo de Santos28
já que as respostas comportamentais só puderam ser a busca pelo limiar eletrofisiológico preciso, pois se
confirmadas a partir dos 6 meses de idade. Casey e tratava de uma pesquisa de limiar, o que levou, conse-
Small45 encontraram em seu estudo, realizado com quentemente, a uma maior quantidade de varreduras
crianças entre 6,5 e 19 meses de vida, com audição e promediações para melhorar a relação sinal/ruído.
normal, uma diferença de 20 a 28 dBNA entre os Isso pode ter contribuído para valores de viés menores.
limiares comportamentais por via aérea e das REAEE. Em geral, estudos em crianças com audição nor-
As chances de que o status da audição das crian- mal ou próximo da normalidade, descrevem grande
ças mudem ao longo do tempo, nessa situação de variabilidade entre os limiares tonais e as respostas
atraso entre a realização das REAAE e VRA, podem das REAEE20,27,37-39,46-49. Os desvios-padrão no estudo
afetar principalmente os desvios-padrão. de Santos28 variaram de 7 a 13 dBNA, concordando
206
Parte II – Cap. 20 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM CRIANÇAS |
com o estudo de Calil et al.37, no qual foi observada 4.2. Tempo de Duração do Teste
uma variação de 5,4 a 12,6 dBNA. A variabilidade
observada foi diferente em relação à frequência. Em relação ao tempo de aquisição dos limiares
por meio das REAEE, para ambas as orelhas, simulta-
Muitos estudos relataram diferença maior para neamente, Santos28 observou que a pesquisa do limiar
as frequências de 500 e 4000 Hz34,49-51. Este achado, no nas crianças com audição normal teve maior percen-
entanto, não foi observado no estudo de Santos28, no tual de duração para a faixa compreendida entre 30
qual foram observadas, em média, respostas mais altas e 45 minutos, com duração média de 44 minutos.
e variabilidade maior para as frequências de 500 Hz e Salienta-se que o tempo aqui mencionado se refere ao
1000 Hz quando comparadas às demais frequências período para se obter a menor intensidade, na qual foi
analisadas. detectada, objetivamente, resposta significativa para
Esta discrepância também tem sido relatada em cada frequência testada.
estudos anteriores17,23,32,43 e vários fatores contribuem,
Por outo lado, Rance e Tomlin22 descreveram que
possivelmente, para este fenômeno: a própria carac-
o tempo decorrido para a pesquisa em bebês normais
terística intrínseca da técnica, ou seja, a resposta nas
foi 20 a 30 minutos. Ressalta-se, entretanto, que neste
frequências agudas é mais clara e mais próxima do
estudo, a obtenção das REAEE foi realizada apenas
limiar por motivos fisiológicos, de forma similar ao
em duas frequências.
que ocorre no potencial evocado auditivo de tronco
encefálico, e a presença de ruído eletrofisiológico nas Em seus estudos, Rance20,56,57 encontrou tempo
frequências baixas. de duração de 45 a 60 minutos. Luts et al.33 referiram
Alaerts et al.26 mostraram que a detecção de um tempo médio de 58 minutos, e Ballay et al.57 afir-
resposta varia com a frequência, com estímulos de maram duração de 1 a 2 horas.
500 Hz evocando amplitudes de REAEE mais baixas Todavia, os achados encontrados no estudo de
ou níveis mais altos em relação às demais frequências, Santos28 referentes à variável tempo são similares aos
1000, 2000 e 4000 Hz. A possível razão para o maior de outros estudos que envolvem a pesquisa do limiar
limiar das REAEE na região de baixa frequência é a eletrofisiológico por meio das REAEE. No estudo de
sincronização neural mais fraca20-22,31,39. Rance et al.38, o tempo decorrido também foi predo-
Levando-se em consideração a variável gênero, minantemente de 30 a 45 minutos. Para Attias et al.,49
NOVAS APLICAÇÕES
tem sido relatado na literatura a inexistência de dife- a duração da pesquisa foi de 25 a 40 minutos, e Calil
renças entre o desenvolvimento das crianças conforme et al.37 encontraram duração média de 46,35 para
o gênero37,52,53. Em Santos,28 também não foi observada crianças com audição normal.
diferença estatisticamente significante entre os limia- Segundo Picton et al.,32 os limiares registrados
res do gênero feminino e do masculino. Entretanto, pelas REAEE e a variabilidade destes limiares intersu-
observou-se ligeira tendência de as crianças do gênero jeitos diminuem com o aumento do tempo de registro
feminino apresentarem limiares maiores que as do e são menores em sujeitos com perda auditiva com-
gênero masculino. parados aos sujeitos com audição normal, explicada
Segundo Don et al.,54 o tamanho da cabeça e o pelo recrutamento fisiológico associado às perdas
comprimento da porção coclear são os fatores deter- auditivas cocleares. A detecção de resposta do limiar
minantes para esta diferença em relação ao gênero, po- em indivíduos com audição normal é mais suscetível
rém, temperatura e hormônios também contribuem. de ser obscurecida por EEG (eletroencefalograma)
As respostas evocadas auditivas de estado estável de baixo nível e ruído ambiente em comparação a
tendem a ter latências menores e amplitudes maiores um indivíduo com perda auditiva, que requer níveis
para os sujeitos do gênero feminino. O pequeno tama- de intensidade mais altos para induzir as respostas
nho da cabeça e o menor comprimento da via auditiva no limiar. Dessa forma, a detecção das REAEE em
ocasionam latência menor e aumento na descarga da sujeitos ouvintes requer maiores amostras de EEG,
sincronização das fibras53. prolongando, consequentemente, a duração do exame.
Buscando um padrão de normalidade para os A amplitude das REAEE é pequena próximo
recém-nascidos, considerando o gênero, Anschau55 ao limiar. Cada varredura contém 16 segmentos de
demonstrou distribuição dos valores médios em 1,024 segundos, portanto, o tempo do exame é de
dBNA similar para todas as frequências pesquisadas aproximadamente 163 segundos para cada frequência,
em 37 lactentes (variação de 4 a 15 dias de vida), na ou seja, menos de 3 minutos. Considerando-se que
comparação entre meninos e meninas. encontramos pequenas amplitudes próximo do limiar,
207
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
pode ser difícil de se obterem respostas com relação 4. Secretaria de Atenção à Saúde/Ministério da Saú-
sinal/ruído significativa com poucas varreduras, e de (Brasil). Portaria n. 589, de 08 de outubro de
tempo maior de gravação deve produzir respostas 2004. Institui os mecanismos para operacionalização
com melhor relação sinal/ruído e amplitude56. dos procedimentos de atenção à saúde auditiva no
Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema
Um dado ainda a ser referenciado no estudo de
Único de Saúde - SIA/SUS. Diário Oficial da União
Santos28 é que, embora a faixa etária maior (43-48 me- 10 dez 2004 [acesso em 5 mar 2017]. Disponível em:
ses) tenha apresentado média de duração ligeiramente http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2004/
menor (35 minutos) tendo como mínimo 15 minutos prt0589_08_10_2004_rep.html.
e máximo 48 minutos, não houve proporcionalmente
5. Líden G, Kankkunnen A. Visual reinforcement au-
diferença significativa entre o tempo de duração do diometry. Acta. Otolaryngol. 1969 Jun; 67(2):281-92.
exame de acordo com a idade.
6. Widen JE, O’Grady GM. Using visual reinforcement
audiometry in the assessment of hearing in infants.
5. CONCLUSÃO Hearing J. 2002 Jun; 55(1):28-36.
7. Gravel JS, Hood LJ. Avaliação audiológica infantil. In:
Estudar a avaliação audiológica de bebês e crian- Musiek FE, Rintelmann WF. Perspectivas atuais em
ças pequenas tem sido um desafio, principalmente se avaliação auditiva. São Paulo: Manole, 2001, p. 301-22.
for considerado que a perda auditiva ainda constitui 8. Duarte JL. A utilização da resposta auditiva de estado
um sério problema de saúde pública, apesar de seu estável para estimar limiares auditivos em indivíduos
prognóstico ser favorável quando há identificação com perda auditiva neurossensorial. São Paulo. 118f.
precoce e intervenção multidisciplinar adequada. Dissertação [Mestrado em Fonoaudiologia] - Facul-
Ainda que a audiometria tonal constitua a base dade de Odontologia de Bauru, da Universidade de
da avaliação audiológica, sendo a técnica usada com São Paulo, 2007.
mais frequência para a avaliação auditiva periférica, os 9. Lins OG. Audiometria fisiológica tonal utilizando
achados dos estudos encontrados na literatura sobre as respostas de estado estável auditivas do tronco cere-
REAEE vêm enfatizando a viabilidade de sua inclusão bral. São Paulo. 112f. Tese [Doutorado em Medicina]
no diagnóstico audiológico de crianças. A sua utiliza- - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal
ção permite, pois, traçar de forma objetiva um perfil de São Paulo, 2002.
audiométrico semelhante à audiometria tonal liminar, 10. Regaçone SF, Gução ACB, Frizzo ACF. Eletrofisiologia:
propiciando, assim, que crianças pequenas e pouco Perspectivas Atuais de sua Aplicação Clínica em Fo-
cooperantes ou de difícil testagem se beneficiem de noaudiologia. Verba Volant. 2013 Jan-Jun; 4(1):1-20.
seu uso, melhorando os processos de habilitação e/ 11. Pinto FR, Matas CG. Comparação entre limiares de
ou reabilitação fonoaudiológica. audibilidade e eletrofisiológico por estímulo tone burst.
Rev Bras Otorrinolaringol. 2007 Jul/Ago; 73(4):513-22.
Recomenda-se, entretanto, a necessidade de
mais investigações que visem ao estabelecimento de 12. Gorga MP, Johnson TA, Kaminski JR, Beauchaine KL,
Garner CA, Neely ST. Using a combination of click-
critérios mínimos necessários para o planejamento e
-and tone burst-evoked auditory brain stem response
a aplicação de protocolos com finalidade de padro-
measurements to estimate pure-tone thresholds. Ear
nização, contribuindo com a validação diagnóstica.
Hear. 2006 Feb; 27(1):60-74.
13. Matas CG. Medidas eletrofisiológicas da audição –
REFERÊNCIAS audiometria de tronco cerebral. In: Carvalho RMM.
Fonoaudiologia: Informação para formação. Rio de
1. Sininger YS, Doyle KJ, Moore JK. The case for early
Janeiro: Guanabara Koogan, 2003, p. 43-57.
identification of hearing loss in children. Auditory sys-
tem development, experimental auditory deprivation 14. Lins OG, Picton TW. Auditory steady-state responses
and development of speech perception and hearing. to multiple simultaneous stimuli. Electroencephalogr
Pediatr Clin North Am. 1999; 46(1):1-14. Clin Neurophysiol. 1995 Sept; 96(5):420-32.
2. Northern JL, Downs MP. Audição e perda auditiva em 15. John MS, Dimitrijevic A, Picton TA. Auditory steady-
crianças. 5ª ed. São Paulo: Manole, 2005. -state responses to exponential modulation envelopes.
3. Joint Cojmmitee on Infant Hearing.Year 2000 Position Ear Hear. 2002 Apr; 23(2):106-17.
Statement: principles and guidelines for early hearing 16. Picton TW, John MS, Dimitrijevic A, Purcell D. Human
detection and interventions programs. Pediatrics. 2000 Auditory Steady-State Responses. Int J Audiol. 2003
Oct; 106(4):798-817. Jun; 42(4):177-219.
208
Parte II – Cap. 20 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM CRIANÇAS |
17. Swanepoel D, Schmulian D, Hugo R. Establishing Recife. 123f. Tese [Doutorado em Neuropsiquiatria e
normal hearing with the dichotic multiple-frequency Ciências do Comportamento] − Universidade Federal
auditory steady-state response compared to an audi- de Pernambuco, Recife, 2010.
tory brainstem response protocol. Acta Otolaryngol. 29. American National Standards Institute. (1996). Speci-
2004 Jan; 124(1):62-8. fications for Audiometers. (ANSI S3-6 – 1996), New
18. Karpijoke E, Jaaskelainen S. Neonatal brainstem au- York. ANSI.
diometry with standard neurophysiological auditory 30. International Organization for Standardization.
evoked potential recording in small premature babies. (1994). Reference equivalent threshold sound pres-
8th Congress of the International Organization of sure levels for pure tones and insert earphones. (ISO
Societies for Electrophysiological Technology (OSET) 389-2 – 1994), Geneva, Switzerland. ISO.
proceedings. Am J Electroneurodiagn Technol. 2007;
31. Savio G. Cárdenas J, Pérez Abalo M, González A, Val-
47(4):324-25.
dés J. The low and high frequency auditory steady state
19. Cone-Wesson B, Dowell RC, Tomlin D, Rance G, Ming responses mature at different rates. Audiol Neurootol.
WJ. The auditory steady-state response: comparisons 2001; 6(5):279-87.
with the auditory brainstem response. J Am Acad
32. Picton TW, Dimitrijevic A, Perez-Abalo MC, Van Roon
Audiol. 2002 Apr; 13(4):173-87.
P. Estimating audiometric thresholds using auditory
20. Rance G, Rickards F. Prediction of Hearing Threshold steady-state responses. J Am Acad Audiol. 2005 Mar;
in Infants Using Auditory Steady-State Evoked Po- 16(3):140-56.
tentials. J Am Acad Audiol. 2002 May; 13(5):236-45.
33. Luts H, Desloovere C, Kumar A, Vandermeersch E,
21. Luts H, Desloovere C, Wouters J. Clinical application Wouters J. Objective assessment of frequency-specific
of dichotic multiple-stimulus auditory steady-state hearing thresholds in babies. Int J Pediatr Otorhino-
responses in high-risk newborns and young children. laryngol. 2004 Feb; 68(7):915-26.
Audiol Neuro-Otol. 2006; 11:24-37.
34. John MS, Brown DK, Muir PJ, Picton TW. Recording
22. Rance G, Tomlin D. Maturation of auditory steady-state auditory steady-state response in young infants. Ear
responses in normal babies. Ear Hear. 2006; 27(1):20-9. Hear. 2004 Dec; 25(6):539-53.
23. Perez-Abalo MC, Savio G, Torres A, Martín V, Ro- 35. Rance G. Auditory Steady-State Responses: generation,
driguez E, Galán L. Steady state responses to mul- recording and clinical applications. San Diego: Plural
tiple modulated tones: an optimized method to test Publishing. 2008, p. 161-184.
NOVAS APLICAÇÕES
frequency- specific thresholds in hearing- Impaired
children and normal-hearing subjects. Ear Hear. 2001 36. Çelik O, Eskiizmir G, Uz UA. Comparison of thre-
Jun; 22(3):200-11. sholds of auditory steady-state response and auditory
brainstem response in healthy term babies. J Int Adv
24. Rezende CF. Limiares auditivos eletrofisiológicos por
Otol. 2016; 12(3):277-81.
resposta evocada auditiva em regime permanente
em neonatos com audição normal. Belo Horizonte. 37. Calil DB, Lewis DR, Fiorini AC. Achados dos poten-
62f. Dissertação [Mestrado em Engenharia Elétrica] ciais evocados auditivos de estado estável em crianças
– Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Hori- ouvintes. Distúrbios Comun 2006 Dez; 18(3): 391-401.
zonte, 2015. 38. Rance G, Roper R, Symons L, Moody LJ, Poulis C,
25. Souza DPM. Limiar auditivo com o Potencial Evo- Dourlay M et al. Hearing thresholds estimation in
cado em Regime Permanente utilizando técnicas de infants using auditory steady-state responses. J Am
detecção objetiva. Belo Horizonte. 86f. Dissertação Acad Audiol. 2005 May; 16(5):291-300.
[Mestrado em Engenharia Elétrica] – Escola de En- 39. Lins OG, Picton TW, Boucher BL, Durieux-Smith A,
genharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Champagne SC, Moran LM, et al. Frequency-specific
Horizonte, 2011. audiometry using steady-state responses. Ear Hear.
26. Alaerts J, Luts H, Van Dun B, Desllovere C, Wouters 1996 Apr; 17(2):81-96.
J. Latencies of Auditory Steady-State Responses Re- 40. Levi EC, Folsom RC, Dobie RA. Coherence analysis
corded in Early Infancy. Audiol Neurotol. 2010 Jan; of envelope-following responses (EFRs) and frequen-
15(2):116-27. cy-following responses (FFRs) in infants and adults
27. Rance G, Rickards FW, Cohen LT, De Vidi S, Clark Hear Res. 1995 Sept; 89(1-2):21-7.
GM. The automated prediction of hearing threshold 41. Rickards FW, Tan LE, Cohen LT, Wilson OJ, Drew JH,
in sleeping subjects using auditory steady-state evoked Clark GM. Auditory steady-state evoked potential in
potentials. Ear Her. 1995 Oct; 16(5):499-507. newborns. Br J Audiol. 1994 Dec; 28(6):327-37.
28. Santos AGA. Respostas Auditivas de Estado Estável 42. Han D, Mo L, Liu H. Threshold Estimation in Children
em Crianças de 6 a 48 meses com audição normal. Using Auditory Steady-State Responses to Multiple
209
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Simultaneous Stimuli. J Otorhinolaryngol Relat Spec. using multiple auditory steady-state responses. J Am
2006 Jan; 68(2):64-8. Acad Audiol. 2002; 13(4):205-24.
43. Stueve MP, O’ Rourke C. Estimation of hearing loss 51. Luts H, Wouters, J. Hearing assessment by recording
in children: comparison of auditory steady-state res- multiple auditory steady-state responses: the influence
ponse, auditory brainstem response, and behavioral of test duration. Int J Audiol. 2004; 43(8):471-78.
test methods. Am J Audiol. 2003 Dec; 12(2):125-36. 52. Ferraz OB, Freitas SV, Marchiori LLM. Análise das
44. Aoyagi M, Kiren T, Furuse H, Fuse T, Suzuki Y, Yo- respostas obtidas por potenciais evocados auditivos
kota M, et al. Pure-tone threshold prediction by 80- de estado estável em indivíduos normais. Rev Bras
Hz amplitude-modulation following response. Acta Otorrinolaringol. 2002 jul/ago; 68(4):480-86.
Otolaryngol Suppl. 1994; 511:7-14. 53. Picton TW, Van Roon P, John MS. Multiple auditory
45. Casey KA, Small, SA. Comparisons of Auditory Steady steady state responses (80-101 Hz): effects of ear,
State Response and Behavioral Air Conduction and gender, handedness, intensity and modulation rate.
Bone Conduction Thresholds for Infants and Adults Ear Hear. 2009; 30(1):100-09.
with Normal Hearing. Ear Hear. 2014; 35(4):423-43. 54. Don M, Ponton CW, Eggermont JJ, Masuda A et al.
46. Beck RMO. Comparação entre respostas auditivas de Gender differences in cochlear response time: an
estado estável e avaliação comportamental em crianças explanation for gender amplitude differences in the
candidatas ao implante coclear. São Paulo. 77f. Tese unmasked auditory brain-stem response. J Acoust Soc
[Doutorado em Medicina] - Faculdade de Medicina, Am. 1993; 94(4):2135-48.
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. 55. Anschau CC. Análise dos potenciais evocados audi-
47. Komazec Z, Lemajić-Komazec S, Jović R, Nadj C, Jo- tivos de estado estável em lactentes ouvintes. Porto
vancević L, Savović S. Comparison between auditory Alegre. 32f. Monografia [Especialização em Fonoau-
steady-state responses and pure-tone audiometry. diologia] - Universidade Federal de Rio Grande do
Vojnosanit Pregl. 2010 Sep; 67(9):761-65. Sul, Porto Alegre, 2012.
48. Chou YF, Chen PR, Yu SH, Wen YH, Wu HP. Using 56. Rance G, Briggs R J. Assessment of hearing in infants
multi-stimulus auditory steady state response to pre- with moderate to profound impairment: the Mel-
dict hearing thresholds in high-risk infants. Eur Arch bourne experience with auditory steady-state evoked
Otorhinolaryngol. 2012; 269(1):73-9. potential testing. Ann Otol Rhino Laryngol Suppl.
49. Attias J, Buller N, Rubel Y, Raveh E. Multiple auditory 2002; 189:22-8.
steady-state responses in children and adults with 57. Ballay C, Tonini R, Waninger T, Yoon C, Manolidis
normal hearing, sensorineural hearing loss or audi- S. Steady-state response audiometry in a group of
tory neuropathy. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2006; patients with Steeply Sloping Sensorineural Hearing
115(4):268-76. Loss. Laryngoscope. 2005 July; 115(7):1243-46.
50. Dimitrijevic A, John MS, Van Roon P, Purcell DW,
Adamonis J, Ostroff J, et al. Estimating the audiogram
210
21
RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO
ESTÁVEL EM CRIANÇAS COM PERDA AUDITIVA
Danielle Gomes Pinto
Otávio Gomes Lins
211
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
disto, estimar limiares comportamentais, observando no padrão de respostas frente à estimulação múltipla
a possibilidade de esta fórmula ser aplicada, com eficá- e simultânea.
cia, nos limiares obtidos nas REAEE, em casos em que Outros afirmam que algumas frequências têm
não possa ser realizada a avaliação comportamental. limiares naturalmente maiores que as demais fre-
Estariam incluídos nestes casos indivíduos com quências testadas. Calil, Lewis e Fiorini6 na avaliação
limitação cognitiva, motora, pacientes que não con- com REAEE em crianças ouvintes entre 3 e 14 meses
dicionam, ou crianças com menos de 1 ano de idade de idade, avaliando a correlação entre os achados de
em que se relata que as respostas comportamentais VRA, PEATE e REAEE, observaram que o estímulo
não seriam tão confiáveis. As REAEE, nestes casos, de 500 Hz apresenta níveis de respostas maiores por
contribuem com as informações necessárias para a ter um espectro de frequência semelhante ao ruído
programação de Aparelhos de Amplificação Sonora interno do paciente e ao ruído de fundo, o que poderia
Individual (AASI) e Implante Coclear (IC) para estes influenciar na sua comparação com os achados da
indivíduos, que demanda a realização prévia de exa- audiometria, apesar de referir forte correlação entre
mes de detecção de limiares por frequência específica. os achados dos três exames.
Ao se escolher uma técnica de avaliação auditi- O tipo de estímulo utilizado também teria sua
va, deve-se considerar o que se deseja avaliar e qual parcela de influência nos limiares obtidos nas respos-
o propósito da avaliação, respeitando as limitações e tas, pois a via auditiva responderia diferentemente aos
possibilidades de cada técnica escolhida. A pesquisa tipos de estímulo. O efeito de somação dos estímulos
das REAEE demonstra-se uma alternativa viável na de banda larga provocaria o aparecimento de limiares
avaliação audiológica infantil, porém, esta técnica em menor intensidade comparados ao tom puro.
não está normatizada, o que limita sua aplicabilidade Os achados do estudo de Linares7 ilustram essa
clínica, sendo necessária a realização de estudos de situação. Foram avaliadas 23 crianças entre 1 e 7 anos
comparação dos achados desta técnica com os achados de idade, de forma a comparar os achados dos exames
de técnicas diagnósticas padrão-ouro, e protocolos de REAEE com os de PEATE clique, PEATE tone burst
bem definidos, a fim de melhor definir a confiabili- e VRA. A correlação entre a REAEE e audiometria
dade destes achados. variou entre 0,70 e 0,93; para a comparação com o
A ferramenta mais eficiente para a avaliação PEATE clique, entre 0,83 e 0,89; e para o PEATE tone
audiológica em termos de duração e acurácia ainda burst, 0,73 a 0,93.
continua sendo a audiometria tonal. Entretanto, os Neste mesmo estudo, na avaliação da correla-
estudos sobre as REAEE vêm enfatizando o seu valor ção para diferentes graus de perda, de acordo com
clínico como uma ferramenta importante para se tra- a predição do limiar auditivo de Jerger8, foi revelada
çar, de forma objetiva, um perfil audiométrico seme- concordância moderada, pois observou-se que cinco
lhante ao da audiometria tonal liminar, propiciando, crianças (21,7%) com perda leve bilateralmente, foram
assim, que crianças pequenas e pouco cooperantes, ou classificadas pelo teste das REAEE (tom puro modu-
de difícil testagem, se beneficiem de seu uso. lado) quando comparado ao PEATE de estimulação
A existência de diversos protocolos de registro de banda larga, como perda severa em ambas orelhas,
para as REAEE tem impacto significante no compor- e quatro crianças (17,4%) para a orelha direita e duas
tamento da resposta encontrada, o que a literatura já (8,7%) para a orelha esquerda com perda severa, foram
vem discutindo. Alguns estudos já têm refletido sobre classificadas como perda profunda. Esta diferença nos
a influência da estimulação múltipla ou simples na achados de limiares entre as técnicas foi justificada
amplitude das respostas. Picton, Van Roon e John4 e pelo tipo do estímulo de natureza diferente aplicado
Picton, Van Roon e John 5 referem que haveria redução em cada uma delas.
significativa na amplitude de resposta à estimulação Outra questão que vem sendo relatada é o com-
simultânea e múltipla, quando comparada à estimu- portamento da diferença entre os limiares compor-
lação de frequências isoladas. tamentais e eletrofisiológicos em relação ao grau da
Principalmente para as frequências de 1 kHz e 2 perda auditiva dos sujeitos em avaliação. Rance et
kHz, o que refletiria em obtenção de limiares piores al.9 referem que as REAEE superdimensionariam as
para essas frequências durante a estimulação múltipla. perdas auditivas, uma vez que se observa um compor-
Lins1, entretanto, referiu que não haveria mudança tamento de diminuição da diferença entre os limiares
212
Parte II – Cap. 21 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM CRIANÇAS COM PERDA AUDITIVA |
comportamentais e eletrofisiológicos à medida que O estudo de Rodrigues e Lewis15 reflete sobre esta
aumenta o grau da perda auditiva. questão. Os autores avaliaram 14 crianças entre 4 e
Entretanto, infere-se que isto de fato não ocorre, 36 meses de idade, com diagnóstico de perda auditiva
este comportamento de diminuição da diferença entre coclear, descrevendo a correlação entre os achados
os limiares eletrofisiológicos e comportamentais, à da técnica de múltipla estimulação nas frequências
medida que aumenta o grau da perda, se justificaria de 500 Hz, 1000 Hz, 2000 Hz e 4000 Hz com a VRA,
por questões relacionadas ao tempo de promediação observando coeficientes de correlação intraclasse de
durante a realização das REAEE10,11. 0,90; 0,93; 0,93; 0,89 para as frequências de 0,5, 1, 2
e 4 KHz, respectivamente, de forma a revelar forte
Picton et al.12 relataram essa questão ao descre-
concordância entre as técnicas.
verem as respostas de um mesmo indivíduo frente a
estímulos de tom puro modulado (500 Hz a 4000 Hz), Entretanto, referiram que em algumas das ava-
em estimulação bilateral simultânea, em comparação liações de correlação observaram-se valores negati-
com limiares comportamentais, com tempos de pro- vos, ou seja, as respostas apresentaram-se melhores
quando registradas pelas REAEE do que pela VRA.
mediação crescentes às REAEE.
Isto se justificou no estudo, pelo fato de aspectos matu-
Primeiramente, com um tempo de registro de racionais motores influenciarem as respostas da VRA
1,6 min, foram descritos limiares de cerca de 30 a 40 e não as das REAEE, uma vez que na VRA solicita-se
dB acima dos limiares comportamentais e após 9,8 como resposta por parte do paciente o movimento de
min, foram encontrados limiares em intensidades cabeça em direção ao estímulo sonoro.
menores, com menor variabilidade da diferença entre
Aspectos estes observados no estudo do nosso
os limiares eletrofisiológicos encontrados e os limiares
laboratório, Pinto3, durante a avaliação de crianças
comportamentais.
normais e com perdas auditivas (n = 41) entre 6 e 48
Em protocolos com tempos de gravação in- meses de vida na comparação de limares obtidos pela
feriores a 2 min descreve-se que não seria possível VRA e pelas REAEE (Figura 1), indivíduo 4 (OD, 4
identificar respostas de estado estável com amplitudes kHz), indivíduo 20 (OE, 4 kHz) e indivíduo 26 (OE,
menores que 40 nV e como as REAEE se caracterizam 4 kHz).
por respostas de amplitude/frequência, um menor Uma possível consideração a ser feita em relação
NOVAS APLICAÇÕES
tempo de promediação poderia incorrer em ausência a tais achados, refere-se ao fato de que na avaliação
de respostas e aumento de falso-positivos. comportamental de crianças, há probabilidade de os
Outra justificativa reside no fato de a avaliação resultados encontrados serem mais altos do que os
comportamental no estudo de Picton et al.12 ter sido verdadeiros limiares auditivos, devido à maturação
realizada por fones. Acredita-se, pois, que ao alcançar das respostas com o desenvolvimento das habilidades
a especificidade de orelha, por meio do uso de fones, auditivas e motoras16,17.
obtém-se uma diferença maior entre as técnicas eletro- Na técnica da VRA, mais importante que a
fisiológica e comportamental, de forma semelhante ao orientação é a habilidade de detecção do som. Logo,
que vem sendo observado nos estudos sobre REAEE a necessidade de mais tempo de condicionamento,
e audiometria tonal liminar convencional. o cansaço, a agitação e o tempo de atenção reduzido
A predisposição para obtenção de melhores com necessidade de maior número de interrupções
limiares na técnica da VRA com fones pode explicar no exame são fatores que influenciam nos limiares
tal comportamento de manutenção da diferença dos obtidos, ainda que não inviabilizem o procedimento.
limiares, não havendo aproximação dos limiares com Vale ressaltar, contudo, que o esperado é que
o aumento do grau da perda. Fato este que vem sendo naturalmente os limiares eletrofisiológicos sejam mais
relatado na literatura13,14. altos que os comportamentais, o que se justificaria,
A própria natureza de avaliação de cada uma das provavelmente, pelo fato de as REAEE avaliarem
técnicas influenciaria nos achados. O fato de o teste especificamente a via auditiva na altura do colículo
de REAEE ser objetivo, não necessitar da participação inferior e a VRA, a função auditiva propriamente dita,
ativa do paciente durante a aquisição, e a VRA ser além dos aspectos inerentes à natureza de avaliação
comportamental (subjetiva), ou seja, requerer uma diferenciada de ambas as técnicas18.
resposta motora por parte do indivíduo em teste, Há relatos de que as REAEE são capazes de esti-
também teria influência nos achados. mar a audição residual. Isso se dá porque em muitos
213
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Figura 1 – Perfis individuais dos limiares obtidos por ambos os métodos de avaliação para cada frequência (0,5, 1, 2 e 4 kHz), n = 41
sujeitos. Os valores de limiares são representados no eixo Y, enquanto os limiares por REAEE VRA são representados no eixo X. Os
limiares para cada sujeito, orelha e frequência das REAEE são plotados com círculos abertos. Os limiares para cada sujeito, orelha e
frequência de VRA são plotados com círculos fechados.
casos os aparelhos de PEATE clique, que é a técnica correlacionando os limiares obtidos na VRA e
eletrofisiológica para a determinação de limiar que REAEE nas frequências de 0,5, 1,0, 2,0 e 4,0 kHz
vem sendo utilizada clinicamente, tem limitação de para a população estudada (crianças de 6 meses a
intensidade máxima de estimulação que se centra em 4 anos de idade normais e com perda auditiva nos
torno de 90 a 100 dBnNA, já os estímulos de natureza diversos graus, 82 orelhas), demonstrando forte
contínua apresentados nas REAEE são capazes de correlação entre os achados de ambas as técnicas,
estimular em intensidades mais fortes, o que possibi- o que se refletiu em índice de R2 alto, 500 Hz (R2
litaria mensurar perdas auditivas de grau profundo. = 0,98), 1000 Hz (R2 = 0,98), 2000 Hz (R2 = 0,98) e
No estudo de Rodrigues, Lewis e Fichino19 é 4000 Hz (R2 = 0,97).
descrita uma situação em que houve ausência de res- Observa-se relação linear entre os limiares das
postas à VRA e identificou-se resposta à REAEE, na duas técnicas com inclinação da reta maior para
avaliação de indivíduos com perda auditiva de grau as frequências agudas (2 e 4 kHz), demonstrando
profundo. Entretanto, discutiu-se a possibilidade de discreta aproximação entre os limiares obtidos nas
essa presença de respostas ao teste das REAEE em REAEE e na VRA.
maior intensidade, estar relacionada a respostas ves- Isto indica que os limiares das REAEE são ligei-
tibulares e não auditivas. ramente mais próximos dos limiares da VRA para es-
Quanto ao comportamento da média das dife- tímulos de frequências agudas. A presença deste efeito
renças entre as REAEE e a VRA, dentre as frequências pode ser fator desencadeante para provocar maior
de teste, é descrita maior aproximação entre os valores slope (inclinação), através da equação da regressão
dos limiares da VRA e das REAEE ao se considerarem linear, para as frequências agudas.
as frequências agudas. Este resultado tem sido de- Ainda em relação às diferenças médias entres os
monstrado por Rance et al.20, Lins, Picton e Boucher21, limiares das REAEE e da VRA, estudos relataram maior
Perez-Abalo et al.22, Picton et al.12 e Duarte11. diferença para as frequências de 500 e 4000 Hz23-27.
Aspecto que também foi observado no estu- Este achado, no entanto, não foi observado
do de Pinto3. A figura 2 representa os gráficos de igualmente em toda a amostra. Em média, foram
regressão linear simples, obtidos em laboratório, observadas respostas mais altas para as frequências
214
Parte II – Cap. 21 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM CRIANÇAS COM PERDA AUDITIVA |
Figura 2 – Gráficos de regressão linear simples correlacionando os achados das REAEE e da VRA nas frequências de 500, 1000,
2000 e 4000 Hz. As linhas de 45° são representadas por linhas contínuas (—), enquanto as linhas de regressão são representadas
NOVAS APLICAÇÕES
por linhas tracejadas (---). Acima de cada gráfico são mostradas as equações de regressão linear e os coeficientes de correlação R2.
de 500 Hz e 1000 Hz quando comparadas às demais Outros fatores têm sido considerados, como a
frequências analisadas. Esta discrepância também tem presença de ruído eletrofisiológico nas frequências
sido relatada em estudos anteriores e vários fatores baixas devido ao predomínio do mesmo em graves12,
contribuem para este fenômeno8,24-26. assim como o efeito mascarante ocasionado pelo
O principal motivo para este tipo de achado de- ruído ambiental nestas frequências nos estudos cujos
dados foram coletados em ambientes não tratados
ve-se possivelmente à própria característica intrínseca
acusticamente23,26.
da técnica, ou seja, a resposta nas frequências agudas
Em relação às diferenças médias entre os limiares
é mais clara e mais próxima do limiar por motivos fi-
eletrofisiológicos e comportamentais, ao avaliarmos
siológicos, de forma similar ao que ocorre no potencial
crianças entre os 6 e 48 meses de idade com audição
evocado auditivo de tronco encefálico8.
normal e perda auditiva, verificou-se em nosso la-
Há ativação neural diferenciada quanto à fre- boratório, no estudo de Pinto3, que as diferenças se
quência de 500 Hz. Existe maior dispersão na fase apresentaram num valor de até 18 dB (IC 10 a 26)
dos neurônios respondendo a essa frequência, que havendo um comportamento semelhante da diferença
é provocada pela mudança lenta da onda sonora na entre os limiares das REAEE e da VRA, tanto para in-
membrana basilar, atingindo uma região mais ampla divíduos normais quanto com perda auditiva (Tabela
na cóclea. O resultado é a diminuição da amplitude 1). Diferenças médias similares foram relatadas por
no registro do sinal, que também tem sido relatada outros estudos: Aoyagi et al.28 encontraram diferenças
para os potenciais evocados auditivos de tronco de 4 a 16 dB; Rance e Rickards18 observaram diferenças
encefálico por frequência específica em 500 Hz8,23,26. de 10 a 15 dB.
215
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Tabela 1 − Estatísticas descritivas da diferença média médias superiores entre os limiares das REAEE e
(viés) entre os limiares das REAEE e da VRA descritos em VRA, 22 a 31 dB. Estas diferenças deram-se possivel-
para cada frequência (n = 82). Estão descritos os valores de
desvio-padrão e viés médio para o intervalo de confiança
mente pela promediação aplicada, que foi mais curta.
de 95% (IC95). Quanto maior a promediação, melhor a relação sinal/
ruído e mais fácil a identificação de respostas pelas
Frequência Viés médio Desvio-padrão
(KHz) (dB) (dB)
REAEE, diminuindo-se a relação de diferença entre
os limiares das REAEE e da VRA.
0,5 12 5
1,0 18 4 Contudo, Luts e Wouters27 verificaram que as
2,0 14 4 diferenças variaram de -2 a 4 dB, e Rodrigues e Le-
4,0 12 5 wis15 encontraram diferenças entre 2 e 4 dB, ambas
menores que os achados do nosso laboratório, dentre
kHz = quilohertz, dB = decibel.
os métodos de avaliação, fatores possivelmente rela-
cionados ao tempo de promediação para a aquisição
A tabela 1 apresenta a diferença média (viés)
das REAEE, conforme já discutido22,24,28.
entre os limiares eletrofisiológicos e os limiares com-
portamentais, obtida no nosso laboratório, no estudo Tão importante quanto a diferença é a variabi-
de Pinto,3 na avaliação de crianças normais e com lidade desta diferença ou desvio-padrão, ou seja, o
perdas auditivas nos diversos graus entre 6 meses e quanto os valores obtidos pelas diferenças entre os
48 meses de idade (82 orelhas). limiares variam em torno da média. Em geral, estudos
Observa-se que foram encontrados alguns va- que buscaram um padrão de normalidade para as
lores negativos entre a diferença média dos limiares respostas em 500, 1000, 2000 e 4000 Hz das REAEE
obtidos pelos dois métodos de avaliação, indicando em crianças, com audição normal e perda auditiva
limiares eletrofisiológicos melhores que os limiares (Quadro 1) descrevem grande variabilidade dentre os
da VRA, em algumas circunstâncias. Os intervalos de limiares tonais e as respostas das REAEE22,24,25.
confiança do viés variaram de 2 dB (4 kHz) a 26 dB Variabilidade esta, também observada no nosso
(1 kHz). Esta diferença média está dentro da margem laboratório, no estudo de Pinto3. Os desvios-padrão
esperada, uma vez que se encontra inferior ao limite das médias das diferenças obtidas por nós variaram
máximo descrito pela literatura, cerca de 20 dB8,17,24. de 5 dB (Tabela 1), concordando com o estudo de
Por outro lado, diferentemente do que foi encon- Calil, Lewis e Fiorini6, no qual foi observada variação
trado neste estudo, Rance et al.9 relataram diferenças de 5,4 a 12,6 dB8,25,28.
Quadro 1 – Média da diferença dos limiares das RAEE e respostas comportamentais (viés) com valores de desvio padrão,
por frequência avaliada (500 a 4000 Hz) descritos na literatura em estudos realizados com adultos e crianças, com audição
normal e perdas auditivas, com a técnica de estimulação múltipla as REAEE, adaptado de Pinto et al., 20163.
216
Parte II – Cap. 21 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM CRIANÇAS COM PERDA AUDITIVA |
Lins et al., 1996 9±9 13 ± 12 11 ± 10 12 ± 13
Dimitrijevic et al., 2002 13 ± 11 5±8 5±9 8 ± 11
Herdman, Stapells, 2003 14 ± 13 8±9 10 ± 10 3 ± 10
Van Mannen, Stapells, 2005 17 ± 11 15 ± 7 19 ± 9 4 ± 10
NOVAS APLICAÇÕES
entre 6 meses e 48 meses de idade, normais e com 2. Santos AGA dos. Respostas auditivas de estado estável
perdas auditivas. em crianças de 6 a 48 meses com audição normal.
71f. [Tese de Doutorado]. Universidade Federal de
Houve alta correlação entre os achados de ambas
Pernambuco: Programa de Pós-graduação em Neu-
as técnicas, o que se refletiu em um índice R2 de 0,97
ropsiquiatria e Ciências do Comportamento, 2010.
a 0,98 dentre as frequências testadas. Desta forma,
as respostas evocadas auditivas de estado estável de- 3. Pinto DGP. Respostas auditivas de estado estável em
crianças de 6 a 48 meses.162f [Tese de Doutorado].
monstraram ser, diante dos dados por nós obtidos,
Universidade Federal de Pernambuco: Programa de
uma ferramenta efetiva na identificação de perda
Pós-graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do
auditiva e normalidade para a faixa etária estudada. Comportamento, 2016.
Estudar a avaliação audiológica de bebês e crian- 4. Picton TW, Van Roon P, John MS. Human auditory
ças pequenas tem sido um desafio, principalmente se steady-state responses during sweeps of intensity. Ear
for considerar que a perda auditiva ainda constitui and Hearing. 2007; 28(4):542-557.
um sério problema de saúde pública, apesar de seu 5. Picton, TW, Van Roon P, John MS. Multiple auditory
prognóstico ser favorável quando há identificação steady state responses (80–101 Hz): effects of ear,
precoce e intervenção multidisciplinar adequada. gender, handedness, intensity and modulation rate.
Os achados da literatura e os estudos que vêm Ear and Hearing. 2009; 30 (1):100-109.
sendo desenvolvidos em nosso laboratório reforçam 6. Calil DB, Lewis DR, Fiorini AC. Achados dos poten-
que o uso das REAEE é viável em lactentes e crianças ciais evocados auditivos de estado estável em crianças
pequenas, possibilitando a caracterização da configu- ouvintes. Rev Dist Comunicação. 2006; 18(3):391-401.
ração audiométrica. A sua inclusão no diagnóstico 7. Linares AE. Correlação do Potencial Evocado Auditivo
audiológico de crianças é de grande valor, especial- de Estado Estável com outros achados em audiologia
mente para crianças de difícil condicionamento, e para pediátrica [Tese de doutorado]. 111f. São Paulo: Uni-
crianças cujos resultados auditivos comportamentais versidade de São Paulo, 2009.
217
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
8. Jerger J, Hayes D. The cross-check principle in pediatric 19. Rodrigues GR I, Lewis DR, Fichino SN. Steady-state
audiometry. Rev Arch Otolaryngol. 1976; 102:614-620. auditory evoked responses in audiological diagnosis
9. Rance G, Roper R, Symons L, Moody LJ, Poulis C, in children: a comparison with brainstem evoked
Dourlay M, Kelly T. Hearing thresholds estimation in auditory responses. Braz J Otorhinolaryngol. 2010;
infants using auditory steady-state responses. J Am 76(1):96-101.
Acad Audiol. 2005; 16(5):291-300. 20. Clark GM. The automated prediction of hearing thre-
10. Farias VBD, Sleifer P, Pauletti LF, Krimberg CFD. Cor- shold in sleeping subjects using auditory steady-state
relação dos achados do potencial evocado auditivo de evoked potentials. Ear Hear 1995; 16:499-507.
estado estável e da avaliação auditiva comportamental 21. Lins OG, Picton TW, Boucher BL. Frequency-specific
em lactentes com perda auditiva sensorioneural. Co- audiometry using steady-state responses. Ear Hear.
Das. 2014; 26(3):226-230. 1996; 17(2):81-96.
11. Duarte JL. A utilização da resposta auditiva de estado 22. Perez-Abalo MC, Savio G, Torres A, Martín V, Ro-
estável para estimar limiares auditivos em indivíduos dríguez E, Galán L. Steady state responses to mul-
com perda auditiva neurossensorial. 118f. Dissertação tiple modulated tones: an optimized method to test
[Mestrado] – Faculdade de Odontologia de Bauru, frequency-specific thresholds in hearing – Impaired
Universidade de São Paulo, 2007. children and normal-hearing subjects. Ear Hear. 2001;
12. Picton TW, Dimitrijevic A, Perez-Abalo MC, Van 22: 200-211
Roon P. Estimating audiometric thresholds using 23. Beck RMDO, Ramos BF, Grasel SS, Ramos HF, Moraes
auditory steady-state responses. J Am Acad Audiol. MFBBD, Almeida ERD, Bento RF. Comparative study
2005; 16(3):140-156. between pure tone audiometry and auditory steady-
13. John MS, Brown DK, Muir PJ, Picton TW. Recording -state responses in normal hearing subjects. Braz J
auditory steady-state response in young infants. Ear Otorhinolaryngol. 2014; 80(1):35-40.
Hear. 2004; 25(6):539-553. 24. Korczac P. Auditory Steady-State Responses. J Am
14. Attias J, Buller N, Rubel Y, Raveh E. Multiple auditory Acad Audiology. 2012; 23(3):146-170.
steady-state responses in children and adults with 25. Herdman AT, Stapells DR. Thresholds determined
normal hearing, sensorineural hearing loss or audi- using the monotic and dichotic multiple auditory
tory neuropathy. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2006; steady-state response technique in normal-hearing
115(4):268-276. subjects. Scand Audiol. 2001; 30(1):41-49.
15. Rodrigues, GRI, Lewis, DR. Potenciais evocados audi 26. Dimitrijevic A, John SM, Van Roon P, Purcell DW,
tivos de estado estável em crianças com perdas auditi Adamonis J, Ostroff J, Nedzelski JM, Picton TW.
vas cocleares. Pró-Fono Rev Atual Científica. 2010; Estimating the audiogram using multiple auditory
22(1):37-42. steady-state responses. J Am Acad Audiol. 2002;
16. Han D, Mo L, Liu H. Threshold Estimation in Children 13(4):205-224.
Using Auditory Steady-State Responses to Multiple 27. Luts H, Wouters J. Hearing assessment by recording
Simultaneous Stimuli. ORL J Otorhinolaryngol Relat multiple auditory steay-state responses: the influence
Spec. 2006; 68(2):64-68. of test duration. Int J Audiol. 2004; 43(8):471-478.
17. Tlumak AI et al. 80 Hz auditory steady-state responses 28. Aoyagi M, Kiren T, Furuse H, Fuse T, Suzuki Y, Yokota
(ASSR) at 250 Hz and 12,000 Hz. Int J Audiol. 2007; M, Koike Y. Pure-tone threshold prediction by 80-Hz
46(1):26-30. amplitude-modulation following response. Acta Oto-
18. Rance G, Rickards F. Prediction of Hearing Threshold laryngol Suppl. 1994; 511:7-14.
in Infants Using Auditory Steady-State Evoked Poten- 29. Aoyagi M, Kiren T, Furuse H, Fuse T, Suzuki Y, Yokota
tials. J Am Acad Audiol. 2002; 13(5):236-245. M, Koike Y. Pure-tone threshold prediction by 80-Hz
amplitude-modulation following response. Acta Oto-
laryngol Suppl. 1994; 511:7-14.
218
22
TRIAGEM AUDITIVA POR MEIO DAS RESPOSTAS
EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL
Érika da Rocha Mahon
Thamara Suzi dos Santos
Otávio Gomes Lins
1. A IMPORTÂNCIA DA TRIAGEM triagem seja aplicada em pelo menos 95% dos bebês
nascidos, devendo apresentar menos de 3% de resul-
AUDITIVA: IMPACTOS E
tados falso-positivos em programas bem conduzidos,
SELEÇÃO DOS MÉTODOS DE e nenhum caso de resultados falso-negativos4. As
IDENTIFICAÇÃO DA PERDA crianças que apresentam indicadores de risco e que
AUDITIVA NEONATAL passaram na TA também devem ter monitoramento
auditivo a cada 3 meses até o terceiro ano de vida, pois
Uma das principais metas dos profissionais que podem desenvolver perdas auditivas progressivas ou
lidam com a saúde auditiva é assegurar condições que de instalação tardia. Dessa maneira, um programa
possibilitem o pleno desenvolvimento e a manutenção de triagem auditiva deve incluir procedimentos de
da comunicação humana, especialmente através do avaliação que sejam rápidos e eficazes, apresentando
uso da linguagem verbal. alta sensibilidade e especificidade3-5. Neste contexto, o
uso de exames objetivos tem se mostrado mais eficaz
A prevalência da perda auditiva na infância é
na detecção e diagnóstico da perda auditiva5.
de aproximadamente 1 a 3 por 1000 nascimentos em
Atualmente, existem dois métodos que podem
neonatos com condições de nascimento sem risco. O
ser utilizados nos protocolos de TA: o exame de
conhecimento das consequências da perda auditiva
emissões otoacústicas (EOA) e o potencial evocado
e a alta prevalência levam ao crescente interesse na
auditivo de tronco encefálico (PEATE) com o estímulo
implantação de programas de triagem auditiva (TA).
clique3,4. A principal vantagem destes métodos é que
Os programas de triagem auditiva têm como objetivo
são procedimentos não invasivos e que não necessi-
identificar a perda auditiva e intervir nos períodos tam da resposta do paciente, especialmente quando
iniciais de desenvolvimento da linguagem, a fim de consideramos a população em questão (neonatos). O
minimizar alterações futuras, propiciar melhor quali- British Columbia Early Hearing Program − BCEHP6
dade de vida e mais oportunidade de inserção social.1-4 refere que a escolha de um destes métodos depende
O Joint Commitee on Infant Hearing − JCIH3 da necessidade de priorizar informações específicas
sugere que todas as crianças nascidas devem ser fornecidas por cada uma das técnicas de avaliação.
submetidas à triagem auditiva neonatal universal. O BCEHP6 apresenta algumas considerações sobre
E recomenda que a perda auditiva seja identificada as vantagens e limitações de cada método.
antes dos 3 meses de idade para que a intervenção As EOA são originadas pelo processo de con-
ocorra até os 6 meses de idade. Espera-se que a tração das células ciliadas externas, ou seja, pelo
219
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
mecanismo de amplificação coclear. Essa energia so- aperfeiçoamento dos métodos eletrofisiológicos de
nora emitida pela cóclea é captada no meato acústico detecção e diagnóstico para que as perdas auditivas pos-
externo aproximadamente 10 ms após a estimulação sam ser determinadas o mais precocemente possível.
acústica7. O exame de EOA é um procedimento rápi- Considerando-se estas prerrogativas e reco-
do, que pode ser realizado com o neonato acordado. mendações, é imperioso o aperfeiçoamento dos pro-
Entretanto, as EOA não fornecem informações sobre cedimentos de avaliação auditiva, buscando atender
os limiares auditivos. A ausência das EOA não indi- aos princípios que regem a triagem auditiva: rapidez,
ca a existência de perda auditiva significativa, pois eficiência e confiabilidade.
podem estar alteradas devido à existência de gaps
aéreo-ósseos mínimos (5 dB, p. ex.) ou à presença de 2. APLICAÇÃO DAS RESPOSTAS
fluidos (cerume ou vérnix) no canal auditivo externo. EVOCADAS AUDITIVAS DE
Isto aumenta o número de respostas falso-positivas e,
portanto, reduz a especificidade do teste3.
ESTADO ESTÁVEL NA
O PEATE pode ser definido como o registro da TRIAGEM AUDITIVA
atividade bioelétrica da via auditiva até o tronco encefá- A avaliação auditiva de lactentes nos primeiros
lico evocada por estímulos de curta duração e registrada 6 meses de vida é um processo complexo que inclui
através de eletrodos posicionados no escalpo. O traçado a seleção de métodos que promovam informações
consiste em uma série de picos e vales que ocorrem precisas para o diagnóstico da perda auditiva.
com latência de aproximadamente 10 ms e estão rela- Novas técnicas estão sendo desenvolvidas para
cionados à via auditiva periférica e central (núcleos do complementar a investigação da perda auditiva. Nesta
tronco encefálico). Assim, o PEATE permite a avalição perspectiva, pode-se inserir o exame para a obser-
da integridade das vias auditivas8. O PEATE-clique ou vação das respostas evocadas auditivas de estado
PEATE automático pode ser utilizado como método estável (REAEE), que é um método eletrofisiológico
de triagem auditiva, com o estímulo apresentado a 35 normalmente empregado no diagnóstico audiológi-
dBNAn. O BCEHP6 argumenta que, devido às caracte- co. O método permite a apresentação simultânea de
rísticas anatômicas das orelhas dos neonatos, a presença vários tons nas duas orelhas, reduzindo o tempo do
de um traçado claro e com reprodutibilidade em 35 teste. O exame pode ser utilizado em grupos que não
dBNAn evidencia limiares auditivos bem menores que cooperam espontaneamente com a audiometria. As
o nível de intensidade apresentado. Entretanto, sabe-se REAEE oferecem como vantagens a boa correlação
que o limiar eletrofisiológico determinado através do com os limiares auditivos e a possibilidade de identifi-
PEATE clique irá corresponder mais especificamente à cação das respostas por meio de testes estatísticos10,11.
sensibilidade auditiva da frequência com melhor limiar Apesar destas evidências, o estímulo mais utili-
auditivo (ao tom puro). Portanto, perdas auditivas em zado (tom puro modulado em amplitude) para obter
faixas de frequências isoladas ou com configurações as REAEE sempre evidencia menor correlação com as
descendentes abruptas ou ascendentes podem não ser frequências mais graves, especificamente em 500 Hz11.
identificadas9. Além disto, se as respostas no PEATE
As REAEE com os tons modulados normalmen-
automático forem ausentes, a interpretação deste resul-
te são empregadas como procedimento complemen-
tado deve ser feita criteriosamente e em associação com
tar para o diagnóstico auditivo devido à possibilidade
as EOA, pois a ausência de respostas ao PETAE auto-
de testar várias frequências simultaneamente. O uso
mático na presença de EOA é um achado comum em
das REAEE como método de triagem auditiva ainda
casos de desordem do espectro da neuropatia auditiva3.
é muito preliminar. Resende et al.12 elaboraram um
Mesmo com as limitações características de cada protocolo para a triagem auditiva escolar utilizando
método de avaliação auditiva, os órgãos e associações as REAEE por tons modulados. Embora tenham
envolvidas com a saúde auditiva3-5 são enfáticos em obtidos bons índices de sensibilidade, os autores
afirmar que o impacto da perda auditiva na aquisição identificaram respostas de baixa amplitude e tempos
e no desenvolvimento da linguagem, na aprendizagem mais elevados para a realização do teste, o que pode
e na interação social, além da alta prevalência da perda ser explicado pela estimulação de regiões muito
auditiva são fortes justificativas para a implantação da específicas da cóclea. Além disso, a pesquisa ficou
triagem auditiva neonatal universal (TANU)9. direcionada a apenas três frequências, diminuindo
O JCIH3 inclui em suas diretrizes e perspec- a sensibilidade para diferentes configurações de
tivas para o aprimoramento destes programas, o perda auditiva.
220
Parte II – Cap. 22 • TRIAGEM AUDITIVA POR MEIO DAS RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL |
Uma alternativa para aumentar a amplitude das passa-alto de 1000 Hz e filtro passa-baixo de 8000 Hz.
REAEE é a modificação das características do estímu- Foram encontradas concordâncias entre os resultados
lo de teste ou a substituição por estímulos de espectro das EOA e das REAEE. Os autores sugeriram que 50
abrangente, como o ruído branco e o chirp13-15. Apesar dBNPS seria a intensidade ideal usada nos protocolos
de não apresentarem especificidade de frequência, de triagem auditiva para a diferenciação entre audição
quando os ruídos de banda larga são filtrados, con- normal e perda auditiva. Os autores observaram que o
centram a energia em banda de frequências mais ruído branco AM pode ser uma ferramenta útil para
restritas (Figura 1). a triagem auditiva, por ser um estímulo mais abran-
O uso de filtros passa-alto e passa-baixo auxilia gente que estimula uma área maior da membrana
no design (construção) de estímulos acústicos que basilar, gerando REAEE com amplitudes maiores.
geram REAEE com amplitudes mais robustas , porque Entretanto, afirmam que são necessários mais estudos
estimulam regiões mais abrangentes da membrana para melhor definição dos parâmetros e protocolos
basilar (Figura 2), fornecem informações sobre a de aplicação.
sensibilidade auditiva em faixas de frequências graves Nesta perspectiva, Santos17 propôs um pro-
e agudas, simultaneamente, e podem reduzir o tempo tocolo de identificação de perdas auditivas através
de teste. Devido a suas características acústicas, os de REAEE por ruído modulado. Em uma primeira
estímulos de ruído ou chirp de banda larga ou filtrados etapa, a autora utilizou ruído de banda larga e ruído
não são muito apropriados para serem utilizados em filtrado em bandas de frequências graves e agudas.
protocolos de diagnóstico audiológico, mas são ade- Os ruídos filtrados foram apresentados isolada e
quados para uso em protocolos de triagem auditiva. simultaneamente a indivíduos com audição normal
Pinto, Griz e Lins16 compararam os resultados em três níveis de intensidades diferentes (55, 45 e 25
das EOA e das REAEE com ruído branco modulado dBNPS). A autora descreveu que as taxas de detecção
em amplitude em bebês do nascimento ao sexto de respostas e o tempo de teste variavam com o ní-
mês de vida. Os autores utilizaram o ruído branco vel de intensidade apresentado. As maiores taxas de
modulado em amplitude (AM) filtrado com filtro detecção e os tempos de teste mais curtos ocorreram
NOVAS APLICAÇÕES
Figura 1 − Representação do ruído de banda larga e ruído filtrado modulados no domínio do tempo e da frequência. A primeira
coluna representa o ruído de banda larga cujo espectro de frequência varia entre 1 e 8000 Hz. A segunda coluna representa o ruído
filtrado. Na primeira linha da segunda coluna, está o componente passa-baixa com frequência de corte em 1000 Hz, a segunda linha
traz o componente passa-alta com frequência de corte em 2000 Hz e, finalmente, a terceira linha apresenta os dois componentes
combinados em apresentação múltipla.
221
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Tempo
Frequência
PA PA
Membrana
Basilar
BL BL
PB PB
OE OD
OE OD 0,1 µV PB PB PA PA
0,1 µV
Resposta
(FFT)
0 250 Hz 0 250 Hz
Figura 2 − Modelo de ativação da membrana basilar por meio de estímulos de ruído de banda larga e ruído filtrado. As duas pri-
meiras linhas representam os estímulos de ruído no domínio do tempo e das frequências, sendo apresentados simultaneamente às
orelhas direita e esquerda. Na terceira, pode-se observar a região de ativação da membrana basilar. O ruído de banda larga estimula
toda a membrana basilar e gera um componente de resposta para cada orelha (quarta linha). O ruído filtrado é constituído de dois
componentes que estimulam regiões mais restritas da membrana basilar, correspondendo à área de maior excitação para as faixas
de frequências agudas e graves, gerando dois componentes de respostas para cada orelha.
na intensidade mais alta. Em seguida, Santos17 con- ruído filtrado em apresentação simultânea pode ser
duziu um experimento com indivíduos com audição utilizado em protocolos de triagem auditiva, sendo
normal e perda auditiva, utilizando o ruído de banda apresentado a um nível de 60 dBNPS17.
larga e o ruído filtrado em apresentação simultânea John, Dimitrijevic e Picton13 compararam a am-
para a estimativa dos limiares eletrofisiológicos atra- plitude das REAEE a diferentes estímulos e o tempo
vés das REAEE. Os limiares eletrofisiológicos foram mínimo de exame, em adultos com audição normal.
40 dBNPS para orelhas com audição normal; 50-65 Os autores utilizaram, inicialmente, o ruído de banda
dBNPS para perda leves e 70-80 dBNPS para perdas larga AM e o ruído de banda larga AM filtrado com
moderadas. A autora também determinou os índices (1) filtro passa-baixo (RPB) e com (2) filtro passa-
de sensibilidade e especificidade para os estímulos tes- -alto (RPA). Os estímulos foram apresentados sepa-
tados e verificou que estes índices variavam de acordo rada e simultaneamente técnica Multiple Auditory
com a intensidade utilizada. Por fim, concluiu que o Steady-State Response (MASTER). Em um segundo
222
Parte II – Cap. 22 • TRIAGEM AUDITIVA POR MEIO DAS RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL |
experimento, estudaram o ruído de banda larga com frequência abrangente, mas que é composto pela so-
modulação exponencial de 1, 2 e 10. E, finalmente, breposição de várias ondas de cosseno cujo intervalo
utilizaram os estímulos transitórios (cliques, ruído- de frequência varia de acordo com a taxa de repetição
-bursts breve e tone bursts breve). do estímulo desejado. Este tipo de estímulo é chamado
John, Dimitrijevic e Picton13 concluíram que chirp. Portanto, o chirp é um estímulo acústico senoi-
o ruído de banda larga e o ruído passa-alta (RPA) dal com mudanças de frequência contínuas.
geraram respostas significativas com cerca de 33 se- O chirp é construído de forma a compensar o
gundos a 50 dBNPS, sugerindo que as REAEE podem atraso da onda viajante, alinhando o tempo de chegada
ser utilizadas como um teste rápido e objetivo para de cada componente de frequência na região cor-
a avaliação auditiva. O estudo também sugere que respondente ou de máxima excitação da membrana
o estímulo mais eficiente para a triagem auditiva é basilar (Figura 3). Esta compensação torna o estímulo
o clique porque gera respostas mais rápidas que os mais eficiente porque aumenta o sincronismo da ativi-
demais estímulos. dade de componentes neurais diferentes, contribuindo
Entretanto, a onda viajante em resposta a estí- para o aumento da amplitude das respostas14,18.
mulos breves leva um tempo considerável para atingir Elberling et al.18 idealizaram um estímulo, pa-
regiões da base ao ápice da cóclea. A onda viajante tenteado CE-Chirp® (C de Claus e E de Elberling),
não estimula as células ciliadas e as fibras do nervo baseado na dispersão temporal calculada usando
auditivo ao mesmo tempo. Por isso, o componente o modelo coclear de Boer.19 O CE-Chirp® pode ser
neural da resposta é dissipado, e a amplitude da res- filtrado e decomposto em componentes com espec-
posta diminui. Stürzebecher et al.14 propõem o uso de tro de frequência menos abrangente18. O CE-Chirp®
um estímulo transitório, portanto, com espectro de filtrado pode ser centrado em frequências específicas
NOVAS APLICAÇÕES
Tempo
Click Ativação assíncrona
0.2 kHz 0 30 ms
20 2
90 93 96 Hz
0 10 20 30 ms 0 1 10 ms
Tempo
Chirp Ativação síncrona
0.2 kHz
2 0 30 ms
20
Atraso da onda viajante compensado Frequência
90 93 96 Hz
0 10 20 30 ms 0 1 10 ms
Figura 3 − Modelo de ativação da membrana basilar por meio de estímulos clique e chirp. Os estímulos clique e chirp estão repre-
sentados no domínio do tempo na primeira coluna. Ambos os estímulos ativam toda a membrana basilar, entretanto, o alinhamento
dos componentes do chirp compensa o atraso da onda viajante (segunda coluna) e promove respostas com maiores amplitudes em
relação às respostas do clique (terceira coluna).
223
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
(500, 1000, 2000 e 4000 Hz), sendo denominados de protocolos de triagem auditiva. A seleção de parâme-
narrow band CE-Chirp® (NB CE-Chirp®) ou podem tros adequados permite a detecção das REAEE com
apresentar banda de frequências mais abrangentes, acurácia e, consequentemente, possibilita a aplicabi-
centrados em faixas de frequências graves e agudas. lidade clínica desta técnica promissora.
Os estímulos da família do chirp foram inicial-
mente utilizados em protocolos de PEATE. E, mais
3. EFICÁCIA DE UM TESTE
recentemente, para a estimativa de limiares auditivos
através das REAEE. Rodrigues e Lewis20 estimaram DE TRIAGEM AUDITIVA E
os limiares das REAEE em neonatos em 34,5; 28; REAEE A ESTÍMULOS COM
12,5 e 15 dBNAn para o NB CE-Chirp® centrados em ESPECTRO DE FREQUÊNCIA
500, 1000, 2000 e 4000 Hz20. As autoras verificaram ABRANGENTE
que o tempo necessário para estabelecer cada limiar
das REAEE foi em média 21,2 (±5) minutos. Lee et A eficácia de um teste de triagem refere-se à ca-
al.21 demonstraram que as REAEE ao NB CE-Chirp® pacidade de distinguir os “casos dos não casos”, sendo
oferecem melhores correlações com os limiares com- chamados de “casos” aqueles indivíduos com condição
portamentais que as REAEE ao tom modulado em um de interesse de estudo e os “não casos”, os indivíduos
grupo de indivíduos com audição normal e com per- que não apresentam a condição de interesse de estudo.
das auditivas. Entretanto, a determinação das REAEE Nos programas de triagem auditiva neonatal, a
ao NB CE-Chirp® na frequência de 500 Hz tende a condição de interesse de estudo é a identificação da
ser menos confiável do que nas frequências agudas. perda auditiva permanente significativa, entendendo-
Paralelamente, estudos mais recentes apontam -se como a perda auditiva acima de 30 ou 40 dBNA nas
a possibilidade do uso do estímulo de ruído e chirp frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz3, podendo
filtrados em bandas de frequências graves e agudas na ser de origem neurossensorial ou condutiva26.
utilização em protocolos de triagem auditiva. Mahon21 Considerando-se o contexto de um programa
utilizou o ruído filtrado a 50 dBNPS e o estímulo HiLo triagem auditiva, o teste de triagem auditiva deve
CE-Chirp® a 30 dBNAn, ambos constituídos de dois conseguir separar os indivíduos com audição normal
componentes (passa-alta e passa-baixa) em apresen- daqueles que apresentam perdas auditivas. Desta
tação múltipla para a diferenciação de indivíduos com forma, os testes de triagem auditiva podem ser consi-
audição normal e perdas auditivas neurossensoriais derados como testes binários, que incluem os critérios
em 38 adultos. A autora verificou que ambos os es- de passa-falha em seus resultados. Os resultados dos
tímulos identificaram perdas auditivas acima de 30 testes de triagem podem ser positivos (“falha” no teste)
dBNA, sendo observados índices de sensibilidade ou negativos (“passa” no teste) para a perda auditiva26 .
maiores para os componentes passa-alta do ruído e Entretanto, a aplicação clínica do teste de triagem
do HiLo CE-Chirp®. binário dependerá de sua habilidade de identificar
Alguns estudos13,23-25 afirmam que os estímulos a perda auditiva (“falha”) quando o indivíduo real-
de banda larga ou estímulos filtrados ativam uma mente apresenta perda auditiva ou descartar a perda
região mais larga de membrana basilar, aumentam a auditiva (“passa”) quando o indivíduo tem audição
amplitude das REAEE e diminuem o tempo de teste. normal. Neste caso, quatro resultados são possíveis:
A mudança dos parâmetros dos estímulos tem o obje a) Resultado do teste “falha” na presença da perda
tivo de tornar a detecção das REAEE mais eficiente e auditiva (verdadeiro positivo); b) Resultado do teste
rápida, sendo uma alternativa viável para protocolos “passa” na presença de perda auditiva (falso-negativo);
de triagem auditiva. c) Resultado do teste “falha” na ausência de perda au-
A especificidade técnica de cada teste torna a ditiva (falso-positivo); e d) Resultado do teste “passa”
avaliação audiológica um procedimento complexo. na ausência de perda auditiva (verdadeiro negativo)26.
Quanto maior o número de informações coletadas, Portanto, o desempenho do teste de triagem au-
mais rápido e preciso serão a identificação e o diagnós- ditiva dependerá de duas de dimensões: sensibilidade
tico auditivo. As técnicas eletroacústicas e eletrofisio- e especificidade do teste.
lógicas de avaliação auditiva têm sido desenvolvidas A sensibilidade de um teste de triagem auditiva
para obter respostas rápidas e minimizarem os riscos refere-se à probabilidade de identificar os verdadeiros
de resultados falso-negativos e falso-positivos nos positivos dentre todos os indivíduos que realmente
224
Parte II – Cap. 22 • TRIAGEM AUDITIVA POR MEIO DAS RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL |
apresentam perda auditiva, enquanto a especificidade ser explicado pelo aumento da largura de ativação
do teste corresponde à probabilidade de identificar os da membrana basilar e a consequente melhora da
verdadeiros negativos dentre todos os indivíduos que relação sinal/ruído15.
não apresentam perda auditiva26. Os autores ressaltam que o fato de as REAEE
Um teste de triagem aceitável deve considerar evocadas por ruído não serem afetadas pelo para-
simultaneamente os índices de sensibilidade e espe- digma de detecção é vantajoso para a sua aplicação
cificidade, sabendo-se, entretanto, que é praticamente na identificação de perdas auditivas e para possíveis
impossível obter um teste de triagem perfeito. normalizações entre protocolos15.
As recomendações preconizam índices de sen- Neste trabalho, os estímulos com menor especi-
sibilidade próximos a 100% e especificidade acima ficidade na frequência (1 Hz a 8 kHz) apresentaram
de 96%3. Estes índices têm sido alcançados com a maiores taxas de detecção e menores tempos de de-
combinação de dois testes de identificação (EOAE e tecção. Com base no comportamento destas REAEE
PEATE) e/ou reteste 30 dias após a falha na EOAE3,27. evocadas e das intensidades de estimulação, 16 pro-
A etapa de detecção apenas com as EOA tem apon- tocolos de triagem auditiva foram comparados pelos
tado índices de sensibilidade em torno de 82%. Com autores. Os verdadeiros negativos (VN) acima de 90%
o PEATE-A, os índices são ligeiramente maiores, em foram observados para protocolos que utilizavam a
torno de 89%28-30. intensidade 55 dBNPS com ruídos de 1 Hz a 8 KHz, e
A evasão dos programas de triagem auditiva 2 kHz a 8 kHz. Nos protocolos que utilizaram apenas
entre o teste e o reteste é alta e compromete conside- a banda aguda (2 kHz a 8 kHz), a ausência de infor-
ravelmente o diagnóstico precoce da perda auditiva31. mação sobre a audição em frequências graves poderia
A Associação Americana de Pediatria (AAP) aponta comprometer a acurácia diagnóstica, a exemplo do
o aprimoramento das avaliações eletrofisiológicas que acontece com outras técnicas, como as emissões
como um dos desafios para aumentar o alcance dos otoacústicas e PEATE clique35,36.
programas3. Por outro lado, o ruído de 1 Hz a 8 kHz não
Alguns trabalhos se propuseram a investigar os apresentou especificidade em frequência, o que po-
melhores parâmetros de estimulação e registro de deria levar a baixos índices especificidade. A solução
NOVAS APLICAÇÕES
REAEE evocadas por estímulos de espectro amplo, alternativa proposta pelos autores e mencionada em
por considerar o uso das REAEE na etapa de triagem trabalhos anteriores13 é a apresentação simultânea
como ferramenta promissora que poderia fornecer das duas bandas (1 Hz a 1 kHz e 2 kHz a 8 kHz). Os
informações que os métodos utilizados atualmente autores destacam a importância da investigação destas
não fornecem e em tempo hábil. respostas em indivíduos com perda auditiva para a
Santos et al.15 investigaram a influência do pa- obtenção dos índices de acurácia diagnóstica15.
radigma de detecção em REAEE evocadas por ruído Mahon22 estudou a eficácia dos estímulos de
de banda larga e ruído filtrado em bandas de fre- ruído filtrado e HiLo CE-Chirp® (chirp filtrado)
quências graves e agudas. Os ruídos filtrados foram para identificar perdas auditivas acima de 30 dBNA
apresentados isolada e simultaneamente a indivíduos em adultos. Ambos os estímulos apresentaram dois
com audição normal, em três níveis de intensidades componentes. O primeiro componente apresentava
diferentes (55, 45 e 25 dBNPS). Os autores descreve- espectro de frequência concentrado na faixa de fre-
ram que as taxas de detecção de respostas para duas quência grave (1-1000 Hz) e o segundo componente
técnicas estatísticas, a Magnitude Quadrática da foi constituído de espectro de frequência centrado na
Coerência (Magnitude Square Coherance-MSC) e o faixa de frequência aguda (2000-8000 Hz). A autora
Teste F Espectral (TFE). Não foi observada diferença analisou os índices de sensibilidade, especificidade
estatisticamente significante entre as taxas de detecção e acurácia de cada componente dos estímulos com-
do TFE e da MSC. Além disso, os tempos de detecção parando-os com a sensibilidade auditiva dos partici-
foram similares e os resultados falsos-positivo (das pantes nas frequências graves e agudas. O estímulo de
técnicas) se mantiveram em torno de 5%. Estes resul- ruído filtrado foi apresentado a 50 dBNPS e o HiLo
tados sugeriram que as REAEE evocadas por ruídos CE-Chirp® a 30 dBNAn. Os níveis de intensidades
modulados em amplitude são menos afetadas pelo foram selecionados após medidas de equivalência
paradigma de detecção do que os estímulos especí- para que os resultados pudessem ser comparados
ficos em frequência32-34. Este comportamento pode com fidedignidade.
225
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
A autora verificou que os índices de sensibilidade os componentes passa-baixa dos mesmos estímulos
para os componentes passa-baixa foram 96% para o anteriores, o que são adequados para os protocolos
estímulo de ruído filtrado e 100% para o estímulo de triagem auditiva.
HiLo CE-Chirp®, com apenas 1,3% e 0% de resulta- Sabe-se, também, que o tempo é uma variável
dos falsos -negativos respectivamente. Os índices de importante a ser considerada na avaliação infantil. Os
sensibilidade dos componentes passa-alta foram de estímulos com amplo espectro de frequência estimu-
82% para ambos os estímulos, o que justifica os índi- lam regiões mais abrangentes da membrana basilar e
ces de 7,8% de resultados falsos -negativos. Quanto à geram respostas com maiores amplitudes, reduzindo
especificidade, os melhores índices foram observados o tempo de teste. Mahon22 observou que as REAEE
para os componentes passa-alta, sendo 100% para o ao estímulo de ruído filtrado e HiLo CE-Chirp® ocor-
ruído filtrado e 98% para o HiLo CE-Chirp®, quando reram em torno de 360 segundos para os indivíduos
comparados com o componente passa-baixa (87% com audição até 30 dBNA. Apenas uma resposta
para ruído filtrado e 96% para o HiLo CE-Chirp®)22. com o estímulo HiLo CE-Chirp® foi identificada em
Os índices de acurácia para a identificação da um tempo mais longo (480 segundos). Neste mesmo
perda auditiva acima de 30 dBNA descritos neste tra- trabalho, os tempos de coleta mais curtos foram
balho foram de 92-91% para o componente passa-alta obtidos com os componentes passa-alta do estímulo
do ruído filtrado e do HiLo CE-Chirp®, e 89-97% para (Figura 4). Picton et al.24 argumentam que tempos de
120 120
110 110
100 100
90 90
80 80
70 70 Baixa
60 60 Frequência
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0 60 120 180 240 300 360 420 480 540 600 0 60 120 180 240 300 360 420 480 540 600
Figura 4 − Distribuição das REAEE para os estímulos de ruído filtrado e HiLo CE-Chirp®, segundo o tempo para a detecção da res-
posta (segundos) e a sensibilidade auditiva por faixa de frequência. Os círculos cheios (pretos) representam as REAEE detectadas (ou
presentes). Os círculos abertos (brancos) representam as REAEE que não foram detectadas até 600 segundos. Além das respostas
verdadeiro-negativas e verdadeiro-positivas, a figura também representa algumas REAEE falso-negativas e falso-positivas.
226
Parte II – Cap. 22 • TRIAGEM AUDITIVA POR MEIO DAS RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL |
coleta mais longos garantem mais acurácia na deter- 9. Durante AS, Carvallo RMM, Costa MTZ, Cianciarul-
minação das REAEE, pois reduzem o ruído de fundo, lo MA, Voegels RL, Takashi GM, Soares AVN, Spir
melhorando a relação sinal/ruído. Por outro lado, o EGA. A implementação de programa de triagem au-
julgamento da presença/ausência da resposta deve ditiva neonatal universal em um hospital universitário
brasileiro. Pediatria (Santiago). 2004; 26(2):78-84.
ser realizado individualmente para cada frequência
ou estímulo portador, já que existem diferenças entre 10. Rance G, Rickards FW, Cohen LT, De Vidi S, Clark
as suas amplitudes. GM. The Automated Prediction of Hearing Thre-
sholds in Sleeping Subjects Using Auditory Stea-
Estudos como os de Santos et al.15 e Mahon22 dy-State Evoked Potentials. Ear Hear. 1995 Oct;
apontam para a possibilidade de utilizar estímulos de 16(5):499-507.
espectro de frequência abrangente em protocolos de 11. Lins OG. Audiometria fisiológica tonal utilizando
triagem auditiva, já que identificam de forma rápida respostas de estado estável auditivas do tronco cere-
as perdas auditivas em diferentes faixas de frequência. bral. São Paulo, 71f. Tese – Universidade Federal de
Entretanto, os autores sugerem que alguns parâme- São Paulo, Escola Paulista de Medicina, 2002.
tros ainda precisam ser definidos, por exemplo, a 12. Resende LM de, Carvalho SA da S, Dos Santos TS,
apresentação simultânea das duas bandas (1 Hz a 1 Abdo FI, Romão M, Ferreira MC et al. Auditory
kHz e 2 kHz a 8 kHz)15; a determinação dos níveis steady-state responses in school-aged children: a pilot
de intensidades ideais, considerando a apresentação study. J Neuroeng Rehabil. 2015 Jan; 12:13.
de intensidades semelhantes ou diferentes para cada 13. John MS, Dimitrijevic A, Picton TW. Efficient stimuli
componente do estímulo22 para que estes estímulos for evoking auditory steady-state responses. Ear Hear.
2003 Oct; 24(5):406-23.
sejam utilizados na clínica audiológica.
14. Stürzebecher E, Cebulla M, Elberling C, Berger T.
New efficient stimuli for evoking frequency-specific
auditory steady-state responses. J Am Acad Audiol.
REFERÊNCIAS
2006 Jun; 17(6):448-61.
1. Azevedo MF De. Programa de prevenção e identifi- 15. Santos TS, Silva JJ, Lins OG, Melges DB, Tierra-
cação precoce dos distúrbios da audição. In: Schochat -Criollo CJ. Detection efficiency of auditory steady
E, editor. Processamento Auditivo. São Paulo: Lovise; state evoked by modulated noise. Hear Res. 2016 Sep;
339:125-31.
NOVAS APLICAÇÕES
1996, p. 75-106.
16. Pinto DG, Griz SMS, Lins OG. Potencial Evocado
2. Lichtig I. Avaliação do comportamento auditivo em
Auditivo de Estado Estável com estímulo de ruído
neonatos de berçário de alto risco. In: Lichtig I, Car-
branco modulado em amplitude em triagem auditiva
valho RMM, editores. Audição: abordagens atuais.
neonatal. Rev CEFAC. 2012 Jun; 14(3):383-9.
Carapicuíba: Pró-Fono. 1997, p. 45-63.
17. Santos T. Resposta Auditiva em Regime Permanente
3. Joint Commitee on Infant Hearing. Year 2007 position
evocada por ruído modulado: Uma proposta de
statement: Principles and guidelines for early hearing
protocolo para identificação de perdas auditivas.
detection and intervention programs. Pediatrics. 2007
Belo Horizonte, 70f. Tese – Universidade Federal de
Oct . 120(4):898-921.
Minas Gerais, 2016.
4. Lewis DR, Marone SAM, Mendes BCA, Cruz OLM,
18. Elberling C, Don M, Cebulla M, Stürzebecher E. Au-
Nóbrega M de. Comitê multiprofissional em saúde
ditory steady-state responses to chirp stimuli based
auditiva: COMUSA. Braz J Otorhinolaryngol. 2010
on cochlear traveling wave delay. J Acoust Soc Am.
Feb; 76(1):121-8.
2007 Nov; 122(5):2772-85.
5. WHO. Primary ear and hearing care training resour- 19. Boer E. Auditory physics. Physical principles in hea-
ce. WHO PRESS; 2006. 1-90 p. ring theory. I Phys Rep. 1980 Jun; 62(2):87-174.
6. British Columbia Early Hearing Program (BCEHP) 20. Rodrigues GRI, Lewis DR. Establishing auditory
Audiology Assessment Protocol. 2012; (November). steady-state response thresholds to narrow band
Disponível em: www.phsa.ca/Documents/bcehpau- CE-chirps® in full-term neonates. Int J Pediatr Otorhi-
diologyassessmentprotocol.pdf nolaryngol. 2014 Feb; 78(2):238-43.
7. Kemp DT. Stimulated acoustic emissions from within 21. Lee MY, Ahn SY, Lee HJ, Jung JY, Rhee C-K, Suh
the human auditory system. J Acoust Soc Am. 1978 M-W. Narrow band CE-Chirp auditory steady-state
Nov; 64(5):1386-91. response is more reliable than the conventional ASSR
8. Biacabe B, Chevallier JM, Avan P, Bonfils P. Functio- in predicting the behavioral hearing threshold. Auris
nal anatomy of auditory brainstem nuclei: application Nasus Larynx. 2016 Jun; 43(3):259-68.
to the anatomical basis of brainstem auditory evoked 22. Mahon ER. Respostas evocadas auditivas de estado
potentials. Auris Nasus Larynx. 2001 Jan; 28(1):85-94. estável através dos estímulos de ruído branco, ruído
227
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
filtrado e HiLo CE-Chirp®. Recife. 176f . Tese − Uni- 30. Suppiej A, Rizzardi E, Zanardo V, Franzoi M, Erma-
versidade Federal de Pernambuco, 2017. ni M, Orzan E. Reliability of hearing screening in
23 . John MS, Lins OG, Boucher BL, Picton TW. Mul- high-risk neonates: comparative study of otoacous-
tiple auditory steady-state responses (MASTER): tic emission, automated and conventional auditory
stimulus and recording parameters. Audiology. 1998; brainstem response. Clin Neurophysiol. 2007 Apr;
37(2):59-82. 118(4):869-76.
24. Picton TW, John MS, Dimitrijevic A, Purcell D. Hu- 31. Gerner de Garcia B, Gaffney C, Chacon S, Gaffney M.
man auditory steady-state responses. Int J Audiol. Overview of newborn hearing screening activities in
2003 Jun; 42(4):177-219. Latin America. Rev Panam Salud Publica. 2011 Mar;
25. Stürzebecher E, Cebulla M, Neumann K. Click- 29(3):145-52.
-evoked ABR at high stimulus repetition rates for 32. Dobie RA, Wilson MJ. A comparison of t test, F test,
neonatal hearing screening. Int J Audiol. 2003 Mar; and coherence methods of detecting steady-state
42(2):59-70. auditory-evoked potentials, distortion-product otoa-
26. Hyde M. Principle and methods of population Hea- coustic emissions, or other sinusoids. J Acoust Soc
ring screening in EHDI. In: Seewald R, Tharper Am. 1996 Oct; 100(4 Pt 1):2236-46.
AM, editors. Comprehensive Handbook of Pediatric 33. Valdes JL, Perez-Abalo MC, Martin V, Savio G,
Audiology. San Diego: Singular Publishing Group. Sierra C, Rodriguez E, et al. Comparison of statisti-
2011, p. 283-337. cal indicators for the automatic detection of 80 Hz
27. Mijares E, Báez L, Cabrera L, Pérez-Abalo MC, Torres- auditory steady state responses. Ear Hear. 1997 Oct;
-Fortuny A. Hearing screening using auditory steady 18(5):420-9.
state responses obtained by simultaneous air- and 34. Picton TW, Dimitrijevic A, John MS, Van Roon P.
bone-conduction stimuli. Acta Otorrinolaringológica The use of phase in the detection of auditory stea-
Española. 2014; 66(1):8-15. dy-state responses. Clin Neurophysiol. 2001 Sep;
28. Geal-Dor M, Adelman C, Levi H, Zentner G, Stein- 112(9):1698-711.
-Zamir C. Comparison of two hearing screening pro- 35. Kandogan T, Dalgic A. Reliability of Auditory Stea-
grams in the same population: oto-acoustic emissions dy-State Response (ASSR): Comparing Thresholds
(OAE) screening in newborns and behavioral scree- of Auditory Steady-State Response (ASSR) with
ning when infants. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. Auditory Brainstem Response (ABR) in Children
2010 Dec; 74(12):1351-5. with Severe Hearing Loss. Indian J Otolaryngol Head
29. Norton SJ, Gorga MP, Widen JE, Folsom RC, Sininger Neck Surg. 2013 Dec; 65(Suppl 3):604-7.
Y, Cone-Wesson B, et al. Identification of neonatal 36. Rodrigues GRI, Lewis DR. Potenciais evocados
hearing impairment: evaluation of transient evoked auditivos de estado estável em crianças com perdas
otoacoustic emission, distortion product otoacous- auditivas cocleares. Pró-Fono Rev Atualização Cien-
tic emission, and auditory brain stem response test tífica. 2010 Mar; 22(1):37-42.
performance. Ear Hear. 2000 Oct; 21(5):508-28.
228
23
RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE
ESTADO ESTÁVEL POR VIA ÓSSEA
Elizângela Dias Camboim
Érika da Rocha Mahon
Otávio Gomes Lins
1. IMPORTÂNCIA DO TESTE POR em técnicas que estimulam apenas a via aérea. Isso
VIA ÓSSEA implica em 10 a 20% de resultados falsos-positivos,
devido à alta prevalência de alteração transitória nas
Nos últimos anos, com o crescimento dos pro- primeiras 48 horas de vida8-10.
gramas de triagem auditiva no mundo, muito tem se O uso do registro por condução óssea é importan-
estudado sobre os protocolos a serem utilizados no te para auxiliar na identificação de alterações auditivas
diagnóstico precoce das perdas auditivas. A identi- causadas por problemas na orelha média. Com isso, o
ficação precoce do tipo e grau da perda auditiva e a maior interesse neste registro está aplicado especial-
intervenção até os 6 meses de idade são fundamentais mente na determinação do tipo de perda auditiva11.
para o desenvolvimento da audição e linguagem1.
Uma das alterações mais comum na primeira in-
fância é a de orelha média, devido à predisposição ana- 2. MECANISMOS DE CONDUÇÃO
tômica nesta idade, ocorrendo em até 70% das crianças POR VIA ÓSSEA
no primeiro ano de vida2-7. Este tipo de alteração pode
ocasionar perda de audição geralmente transitória e O modo pelo qual o som é conduzido por via ós-
flutuante, classificada como perda auditiva condutiva, sea é muito complexo. A onda viajante dentro da cóclea
pois se refere a uma alteração na condução do som. se forma independentemente do local de estimulação.
A identificação dessas alterações, já em um pro- Os padrões vibratórios da membrana basilar para os
tocolo de triagem, pode contribuir para uma conduta sons transmitidos pelo ar ou pelo osso são os mesmos.
adequada e viabilizar o diagnóstico e o tratamento No entanto, os mecanismos pelos quais a agitação da
precoce, evitando, assim, as complicações e conse- membrana basilar é produzida são bastante diferentes.
quências causadas por este tipo de alteração. A audição por VO ocorre quando as ondas sonoras
Há diversos tipos de perda auditiva, além da chegam até os ossos da cabeça, fazendo-os vibrar.
condutiva, já citada, ainda existem as mistas e senso- Três mecanismos de condução óssea foram
rioneurais. Para diferenciar estes diferentes tipos de descritos para explicar a transmissão sonora por esta
alterações auditivas, são necessárias avaliações por via12,13. São eles: mecanismo de compressão ou dis-
estimulação aérea (VA) e óssea (VO). torção do osso temporal; mecanismo por inércia; e o
Atualmente, o protocolo mais utilizado nos mecanismo ósseo timpânico. As figuras 1 a,b ilustram
programas de triagem auditiva neonatal baseia-se como funcionam esses três mecanismos.
229
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Sistema
Receptores de vibração Auditivo
Central
Estímulo
a
Via Óssea
Pele 1 Osso Temporal Compressão,
inércia do fluido
dos canais
semicirculares
Células
Músculo Estapédio Ciliadas
Externas
Figura 1 – (a) Transmissão sonora por VO. (b) Transmissão sonora por VA. Fonte: baseado em Stenfelt Hakansson, 2002.
1. Mecanismo de compressão ou distorção do osso frequência, porém em fase diferente; isso resulta
temporal: que estabelecem a onda viajante den- no deslocamento do esqueleto cartilaginoso do
tro da cóclea14. Quando a estimulação sonora meato auditivo externo, o que gera sons transmi-
ocorre por vibração no osso, gera diferentes pa- tidos pelo ar dentro do canal auditivo, seguindo
drões vibratórios no crânio. Esses deslocamen- a via convencional da condução aérea.
tos causam a compressão do líquido dentro do
labirinto membranoso, resultando no aumento
da atividade da membrana basilar. 3. RESPOSTA EVOCADA
2. Mecanismo por inércia: causada pela resposta AUDITIVA DE ESTADO
da inércia da cadeia ossicular e especialmente ESTÁVEL POR VIA ÓSSEA
da platina do estribo, e os fluidos da orelha in-
terna. Quando o osso temporal vibra, as paredes Vários estudos já comprovaram que é possível
da cavidade de orelha média vibram junto, e a realizar por VO em múltiplas frequências simulta-
inércia dos ossículos deixa-os, relativamente, neamente para pesquisa de limiar e estimativa de gap
imóveis durante a vibração. Esse efeito de inércia aéreo ósseo em adultos e crianças. A grande maioria
aumenta a compressão que ocorre na rampa utilizou o vibrador ósseo B-7115-21.
coclear. A cadeia ossicular no homem parece
estar ajustada no sentido de diminuir a condu-
ção por via óssea através do desenvolvimento 3.1. Fatores que influenciam na
de massas relativamente substancial acima do determinação das REAEE por
eixo de rotação da cadeia. VO
3. Mecanismo ósseo timpânico: é explicada pela
energia irradiada no meato auditivo externo, na Vários são os fatores que podem influenciar
qual o som vibratório da parte óssea do meato é na determinação das REAEE por VO. Isso difere na
conduzido ao meato auditivo externo e, então, análise entre crianças e adultos. É necessário conhe-
através da membrana timpânica, utiliza a via cer as diferenças em cada um dos fatores para ter o
aérea normal. Quando os ossos do crânio são domínio técnico no momento do registro. A seguir
excitados, o osso da mandíbula vibra na mesma estão descritos cada um desses fatores16-21.
230
Parte II – Cap. 23 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL POR VIA ÓSSEA |
3.1.1. Posição e fixação do vibrador ósseo
O vibrador ósseo pode ser posicionado em re-
giões diferentes do crânio: na testa, osso temporal ou
mastoide e fixado com haste, banda elástica ou, ainda,
usando a própria mão. No entanto, dependendo do
local posicionado, pode afetar a intensidade do sinal
que atingirá a cóclea17-22. No adulto, os valores dos
limiares são diferentes entre as posições da testa e
mastoide. O uso do vibrador ósseo na testa determina
maior limiar em comparação à posição na mastoide.
Na criança, o limiar eletrofisiológico não é afe-
tado pela posição do vibrador ósseo no crânio, ou
Figura 2 – (A) Eletrodo ativo em Cz; (B) eletrodo-referência na
modo de fixação (banda elástica ou mão). nuca; (C) eletrodo-terra na clavícula direita; (D) estimulação
Vários estudos que realizaram as REAEE com auditiva por via aérea com fones de inserção, posicionados
no canal auditivo externo, e por via óssea com vibrador ósseo
estímulo de VO apresentaram o vibrador com pressão posicionado na mastoide.
constante no osso do crânio de 400 a 500 g utilizando
banda elástica ou a própria mão18-20, 23-26.
NOVAS APLICAÇÕES
eletrodo ativo em Cz; eletrodo-referência na nuca e mascaramento não é realizado de rotina na população
o eletrodo-terra, na clavícula direita (Figura 2A-D). infantil, principalmente devido o nível de mascaramen-
A impedância entre os eletrodos foi mantida abaixo to efetivo por VO não ter sido determinado usando
de 3 kΩ28. esses métodos26. Um dos fatores que justifica isso é a
atenuação para estímulo de VO nesta população. Um
estudo realizado com potencial evocado auditivo de
3.1.2. Efeito de oclusão
tronco encefálico (PEATE) de dois canais observou
O efeito de oclusão é definido como aumento na que a latência e amplitude da onda V são menores e
pressão sonora em frente à membrana timpânica nas mais longas no canal contralateral em comparação com
frequências abaixo de 1000 Hz, causando melhoria na o ipsilateral, no lactente. Essa diferença está presente
sensitividade auditiva nestas frequências, quando o até os 2 anos de idade. Já no adulto, não há diferença
estímulo é apresentado por VO, com oclusão do canal de latência ou amplitude entre os canais29.
auditivo externo14. Este fenômeno ocorre em adultos A atenuação interaural por VO é bem menor
com audição normal e perda auditiva sensorioneural, no adulto em comparação com a criança. Um estudo
não ocorrendo nas perdas auditivas condutivas25. Mas, observou que a atenuação varia em relação ao local de
os limiares chegam a apresentar, nas orelhas ocluídas, fixação do vibrador ósseo. Da região temporal para a
melhora de 17 dB nas frequências de 250 a 1000 Hz, mastoide, varia de 30 a 35 dB em neonatos e de 20 a 25
não havendo diferença significativa na análise das dB em crianças com até 1 ano de idade. A atenuação
amplitudes na população adulta20. da região do occipital para o temporal varia de 15 a
Já nas crianças com idade inferior a 6 meses, não 20 dB em ambos os grupos. Já na população adulta,
há diferença significativa dos limiares por VO nem não há diferença entre o local de fixação do vibrador
das amplitudes nas frequências de 500, 1000, 2000 e ósseo, e a atenuação não foi maior do que 5 a 10 dB30.
4000 Hz com a orelha ocluída em comparação com Na avaliação das REAEE por VO, quando se
a não ocluída20. observam respostas nos dois canais, ambas as cócleas
231
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
podem ter sido estimuladas, no entanto, se a resposta podendo constituir-se em um problema principal-
estiver presente apenas no canal ipsilateral, é possível mente quando realizado o teste em altas intensidades18.
concluir que o sinal estimulou apenas a cóclea ipsila- Artefatos foram observados em vários estudos,
teral. Quando o estímulo por VO for apresentado em os quais observaram respostas espúrias nas REAEE
valores próximo ao limiar, em crianças com função por VO, quando avaliaram pacientes com perda audi-
coclear normal, a cóclea que responderá será a que tiva profunda em intensidades altas, principalmente
estiver mais próxima ao vibrador ósseo23. Sendo assim, nas frequências de 500 e 1000 Hz. Não há artefato de
não haverá necessidade do uso de ruído mascarante estímulo na frequência de 4000 Hz15-17, 32-33.
na orelha não testada. Algumas medidas podem ser usadas para con-
Nos casos em que é necessário utilizar o mas- trolar o artefato de estímulo por VO, uma delas é
caramento, deve-se trabalhar com o nível mínimo de o uso do Mu metal (liga metálica), que serve como
mascaramento efetivo necessário para isolar a orelha- blindagem de campo magnético, podendo ser usado
-teste. Small, Smyth e Leon26 observaram que o nível para envolver o vibrador ósseo, evitando, assim, que
do mascaramento efetivo para REAEE por VO em a energia gerada no vibrador se dissipe gerando ar-
crianças são mais elevados em 500 Hz em comparação tefatos eletromagnéticos34. Outra forma de verificar
a 2000 Hz quando comparado com os adultos. Com se existe artefato do estímulo é afastando o vibrador
isso, recomendaram que para as REAEE por VO a 35 do contato com o osso do crânio e verificando se a
dBNA nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz resposta desaparece. Caso permaneça presente, será
fossem utilizadas as intensidades de mascaramento considerado artefato do estímulo28.
de 81, 68, 59 e 45 dB nas crianças e 66, 63, 59 e 55 dB Como todo registro de potencial evocado audi-
nos adultos respectivamente. Os autores observaram tivo sofre também com a interferência de músculo e
que, em ambos os grupos, houve necessidade de mais rede elétrica, é importante que a realização das REAEE
mascaramento para eliminar a resposta de 500 Hz por VO seja feita com o paciente relaxado, deitado ou
comparada com 2000 Hz. Todas as comparações dos dormindo, podendo ser em sala comum, porém com
pares foram significativas, exceto 2 e 4 kHz. Os adultos aterramento específico para o equipamento28.
mostraram menores mudanças no nível do mascara-
mento, exceto em 500 Hz comparado com 2000 e 4000
Hz. O fato é que para eliminar as respostas da orelha 3.4. Calibração do Vibrador Ósseo
não testada, quando se avalia a frequência de 1000 Hz, Para a calibração do estímulo na realização das
faz-se necessário o uso de maior intensidade de ruído REAEE do vibrador ósseo, a ANSI S3.635 recomenda
mascarante do que quando se testam as frequências force level, o qual representa referência do limiar equi-
de 4000 Hz. O aumento do ruído é dado linearmente valente em dB re: 1µN que corresponde a 0 dBNA na
com o aumento da intensidade de teste na frequência mastóide, em adultos. Como os adultos apresentam
de 1000 Hz, por exemplo, a cada 10 dB de aumento na mais sensibilidade para altas frequências do que para
intensidade aumentam-se 10 dB de ruído mascarante. as baixas na condução por VO, é necessário, para equa-
Na comparação entre nível mínimo de mascaramento lizar o espectro de frequência e converter para dBNA,
para pesquisa de limiar comportamental e REAEE, são force level de 38; 22,5; 11 e 15,5 re: 1 µN, nas frequên-
necessários 10-17 dB a mais de ruído na comportamen- cias de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz respectivamente.
tal do que nas REAEE, porém, não se podem prever
tais valores pelo nível de mascaramento utilizado na
avaliação comportamental31. 3.5. Tipos de Estímulos por VO
O tipo de estímulo é determinante no padrão
de resposta e registro das REAEE. Diferentes tipos
3.3. Artefato do Estímulo de estímulos podem ser utilizados, no entanto, o mais
Na estimulação por VO, existe um problema comum é o tom puros modulado em amplitude, nas
significante, que é o artefato de estímulo do EEG frequências portadoras de 500, 1000, 2000 e 4000
(eletroencefalograma), o qual pode ser gerado pela Hz. A vantagem desses estímulos é que suas respos-
energia do Aliasing aparecendo exatamente na mesma tas são específicas por frequência. Se for utilizada a
frequência da modulação do estímulo, podendo ser técnica MASTER, múltiplas frequências simultâneas
interpretada como resposta por causa do estímulo podem ser apresentadas, diminuindo o tempo de teste
e da resposta estarem no mesmo overlap de tempo, em relação à apresentação das frequências isoladas.
232
Parte II – Cap. 23 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL POR VIA ÓSSEA |
Entretanto, este estímulo não produz respostas de 3.7. Relação das REAEE por
grandes amplitudes em intensidades próximas ao VO e Limiares Auditivos
limiar36-38.
Comportamentais
Poucos são os estudos com REAEE utilizando
ruído, talvez por ser um estímulo com amplo espectro Vários estudos já relataram forte correlação
de frequência e com isso não estimular regiões especí- entre o limiar da REAEE por VO e limiar comporta-
ficas da cóclea. Porém, alguns autores que estudaram mental em sujeitos com audição normal, bem como
as REAEE utilizando ruído por VA comprovaram que estimativa de gaps aéreo ósseo e perdas auditivas
sensorioneurais15,17,21,48,49.
este tipo de estímulo apresenta respostas de maior am-
plitude e, por isso, são detectados mais rapidamente, Em geral, os limiares das REAEE por VO são
sendo indicado na triagem auditiva39-41. maiores do que os limiares comportamentais, obvia
mente por serem duas formas de registros com-
pletamente diferentes17. A diferença desses valores,
3.6. Limiares das REAEE por VO publicada em vários estudos, estão apresentadas no
Vários estudos em diferentes países, envolvendo quadro 3. Esses valores diferem entre a população
crianças e adultos, já foram realizados utilizando o adulta e a infantil, sendo observados nos estudos a
sistema das REAEE, tanto por VA quanto por VO, seguir, que a diferença da VO para os limiares com-
em busca da confiabilidade dos achados e predição portamentais é maior na população infantil do que
de limiares auditivos42-46. na população adulta.
Small e Stapells23 relataram que existem mudanças
maturacionais nos limiares dependentes de frequências, 3.8. Comparação dos Limiares das
na comparação entre adultos e crianças. Na pesquisa REAEE por VO e VA
das REAEE por VO, a população infantil apresenta li-
A sensitividade auditiva por VO é diferente da
miares, cerca de 20 a 30 dB melhores nas frequências de por VA, devido à complexidade do mecanismo por
500 e 1000 Hz, quando comparado com as frequências VO já explicado anteriormente. Outro fator que pode
de 2000 e 4000 Hz na mesma população. Já os adultos justificar essa diferença, principalmente, na pesquisa
NOVAS APLICAÇÕES
apresentam melhores limiares nas frequências de 2000 do limiar das REAEE, seria a questão da maturação
e 4000 Hz quando comparado com a população infan- quando comparada às respostas em crianças e adul-
til. Os autores observaram que na população adulta, tos48. Existe diferença da sensitividade de VO para VA,
as frequências de 500, 1000 e 2000 Hz apresentam afetando a interpretação do gap, especialmente na po-
mesma intensidade sendo cerca de 10 dB pior do que pulação infantil, a qual apresenta melhores respostas
a frequência de 4000Hz. Relataram que os limiares das por VO nas baixas frequências19,23. Logo, a presença de
REAEE por VO tendem a aumentar com a idade, no gap aéreo ósseo não caracteriza, necessariamente, um
entanto, as altas frequências não sofrem mudanças. A problema condutivo. A diferença entre VO e VA tende
média dos limiares dos adultos são em torno de 17-19 a ocorrer nos limiares das REAEE por VO, mas não
dB pior do que nos bebês nas frequências de 500 e 1000 nos limiares comportamentais, os quais são similares.
Hz, e em 4000 Hz a diferença entre estes dois grupos A média dos gaps entre VO e VA nas REAEE foi de
é menor que 3 dB. 8, 7, 6 e 10 dB na população adulta e 16, 12, 0, 8 dB
Nos quadros 1 e 2 estão descritos os limiares das na população infantil, nas frequências de 500, 1000,
frequências de 500 a 4000 Hz, realizados por vários 2000 e 4000 Hz respectivamente48.
estudos que utilizaram amplitude modulada, frequên- É importante entender a relação entre VO e VA
cia modulada na população adulta e modulação mista nas REAEE com objetivos de diagnósticos diferencial
na população infantil. das perdas auditivas e aplicação em programas de
triagem auditiva neonatal.
É possível observar no estudo de Small e Ning25,
descrito no quadro 1, que os limiares das frequências
mais graves (500 e 1000 Hz) tendem a melhorar quan- 4. TRIAGEM AUDITIVA
do a orelha está ocluída; no entanto, nas frequências
de 2000 e 4000 Hz, os limiares tendem a ser melhores Nos últimos anos vem surgindo o interesse de
com a orelha não ocluída. desenvolver novas técnicas que visem ao diagnóstico
233
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Quadro1 − Médias dos limiares das REAEE por VO em adulto.
Limiar das REAEE por via óssea em adultos normais
Condição de
Estudo Grupo Estímulo 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz 4000 Hz
Teste*
Testa
Lins et al.15 Adulto AM 31 29 20 19
Ocluído
Temporal
Small, Stapells18 Adulto AM 22 26 18 18
Ocluído
Testa
Jeng et al.17 Adulto AM 47 33 40 37
Ocluído
Testa
Dimitrijevic et al.16 Adulto AM/FM 32 18 10 13
Ocluído
Temporal
Small, Stapells23 Adulto AM/FM 31 17 20 10
Não ocluído
Temporal
Small, Hu25 Adulto ----------- 19 10 22 25
Ocluído
Temporal
Small, Hu25 Adulto ------------ 23 18 20 15
Não ocluído
Mastoide
Ishida, Cuthbert e Stapells47 Adulto AM/FM 20 14 22 27
Ocluída
Casey, Small48 Adulto AM2 ------- 20 15 12 8
AM = Amplitude Modulada; FM = Frequência Modulada. *condição de teste: local de colocação do eletrodo e oclusão ou não da orelha.
Quadro 2 − Médias dos limiares das REAEE por VO em crianças (0 a 2 anos de idade).
Limiar do REAEE por via óssea em crianças normais
Estudo Grupo Estímulo Condição de teste* 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz 4000 Hz
Osso temporal
Small e Stapells19 Pré-termo MM 16 16 37 33
Não ocluída
Osso temporal
Small e Stapells19 Pós-termo MM 14 2 26 22
Não ocluída
Osso temporal
Small, Hatton e Stapells20 Pré-termo MM 16 17 35 33
Não ocluída
Osso temporal
Small e Stapells23 Pós-termo MM 13 5 20 9
Não ocluída
Small, Hu25 Pós-termo ------- Ocluída 12 3 27 20
Small, Hu25 Pós-termo ------- Não ocluída 18 5 28 22
Casey, Small48 Pós-termo AM2 ------- 11 9 20 14
MM = Modulação mista. *condição de teste: local de colocação do eletrodo e oclusão ou não da orelha.
Quadro 3 − Média das diferenças dos limiares das REAEE por VO e limiares comportamentais.
Frequência
Estudo Grupo 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz 4000 Hz
Hulecki, Small50 7-15 meses 9 9,8 14,3 14,0
Hulecki, Small50 18-30 meses 10,4 8,6 13 16,5
Casey, Small 48
6,5-18 meses -0,5 2,5 2,5 5,6
Casey, Small48 Adulto 1,3 1,3 2,5 0,0
Haughton, Pardoe 51
Adulto -3 0 -2 -2
234
Parte II – Cap. 23 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL POR VIA ÓSSEA |
rápido e eficaz de perdas auditivas permanentes ou 30 dB acima do limiar e encontraram diferenças na
temporárias. Como as REAEE estão sendo cada vez média de amplitude e fase entre VO e VA, particular-
mais aceitas na prática clínica, e para que seja possível mente nas frequências portadoras de 500 e 1000 Hz.
fazer o diagnóstico diferencial e identificação dos tipos As médias das amplitudes variam de acordo com
de perda auditiva, é importante o registro também a faixa etária e com a frequência portadora. A popula-
por via óssea17. ção adulta difere bastante da infantil, principalmente
Diante do crescimento dos programas de triagem nas frequências altas de 2000 e 4000 Hz. Na frequência
auditiva em todo o mundo e a possibilidade de se uti- de 500 Hz, as médias de amplitudes são iguais para
lizarem as REAEE por condução aérea e/ou óssea, se adultos e crianças, exceto na intensidade de 50 dBNA,
faz necessária a elaboração de um protocolo que pro- em que a amplitude do adulto é maior. E em 1000 Hz,
porcione respostas rápidas e de maior amplitude52-55. as amplitudes dos adultos foram discretamente me-
A permuta entre o tempo e a precisão da resposta nores que as das crianças nas intensidades de 40 e
tem sido reconhecida, sendo aceitável o tempo mais 50 dBNA. Em 2000 Hz, as amplitudes do adulto são
prolongado apenas quando for para a identificação maiores que as das crianças. Geralmente, as médias
de respostas próximas ao limiar, ou seja, quando for das amplitudes são maiores nas frequências mais agu-
necessária a aplicação do protocolo para o diagnóstico das, tanto por VO quanto por VA, sendo o declínio da
das perdas auditivas56,57. amplitude das respostas maior com a diminuição da
frequência, e mais acentuada na frequência de 500 Hz
5. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL por VO em comparação com a VA16-19,23.
DAS PERDAS AUDITIVAS Hatton e Stapells58 realizaram um estudo com-
parando o estímulo simples e múltiplo e observaram
Para se fazer o diagnóstico diferencial das perdas
diferenças na amplitude da VA, na frequência porta-
auditivas, se faz necessária a pesquisa dos limiares das
dora de 2000 Hz, sendo 45 nV para estímulo simples
REAEE por VA e VO.
e 35 nV para múltiplas frequências. Os autores obser-
Nagashima et al.21 gravaram as REAEE por VO
varam, na estimulação simples, que não há diferença
e VA nas frequências de 500 a 4000 Hz em crianças
com otite média pré- o pós-tratamento. Os autores da amplitude na comparação da VA com VO. E que,
NOVAS APLICAÇÕES
encontraram limiares por VO dentro dos padrões de mesmo diante da redução da amplitude na técnica
normalidade, com variação de média de 10,8 a 21,7 dB múltipla das REAEE, isto não afetará a vantagem da
e os de VA, com variação de médias de 7,5 a 32,5 dB redução do tempo na gravação do teste.
pré-tratamento. A estimativa do gap foi de 20 a 40 dB Torres-Fortuny et al.59 também não encontraram
em 500 Hz, 10 a 30 dB em 1000 Hz, 0 a 10 dB em diferença da amplitude de VA comparada com a VO.
2000 Hz e 0 a 20 dB em 4000 Hz. Concluíram que a A explicação para isso é que foram estimuladas ape-
estimativa dos gaps pode ser usada clinicamente para nas duas frequências com valores diferentes, sendo
predizer a perda auditiva condutiva e que a diferença 2000 Hz por VA e 500 Hz por VO, o que não causaria
do gap aéreo ósseo é menor no pós-tratamento. diminuição significante da amplitude. Encontraram
Jeng et al.17 estimaram o gap aéreo ósseo usando valores da amplitude na condição simultânea de VA de
REAEE em adultos com perda auditiva condutiva si- 41± 2 e VO 41±3 nV. Na condição isolada, os valores
mulada e compararam com a medida da audiometria foram: VA 41±3 e VO 39±2 nV.
tonal. Observaram forte correlação entre as medidas,
As amplitudes por condução aérea, com esti-
porém com estimativa de gaps de 10, 13, 2 e 9 dB
mulação de múltiplas frequências, se apresentam em
maiores para as REAEE do que para os tons puros da
torno de 40-70 nV, enquanto com estimulação simples
audiometria comportamental, nas frequências de 500,
aparece em torno de 70-110 nV36, 39,60.
1000, 2000 e 4000 Hz respectivamente.
Lins e Picton36 relataram que a amplitude do estí
5.1. Análise e Comparação das mulo por VA diminui cerca de 81% de sua amplitude
original quando apresentado estímulo simultâneo
Amplitudes das Respostas por
em comparação com o isolado. Na intensidade de
VO 30 dBNA, com estimulação por VO, a amplitude
Lins et al.15 e Dimetrijevic et al.16 avaliaram as encontrada foi 41 nV ±21 em bebês na frequência
respostas do estímulo por VO na intensidade de 20 a portadora de 500 Hz20.
235
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
De modo geral, na apresentação das REAEE com Amplitude
tons de estimulação de frequências múltiplas, as am- (µV)
plitudes de VA variam de 60-80 nV e as amplitudes de 0,08
100
VO variam de 25 a 52 nV, na intensidade convertidas
para 50 dBNPS em adultos19, 20, 23, 36, 39, 59,60. Não foram
encontrados estudos que relatem sobre a amplitude 0,06 75
de VO utilizando o estímulo de ruído.
Via Aérea
0,04 50
6. REAEE POR VO COM Via Óssea
ESTÍMULO DE RUÍDO
0,02 25
Recentemente, foi realizado um experimento com
REAEE utilizando ruído de banda larga para avaliar
a audição em adultos28. Algumas medidas puderam 0
0,00
ser analisadas e comparadas entre as estimulações por
20 30 40 50
condução óssea e aérea. Dentre elas: as amplitudes,
percentual de detecção e tempo de detecção. Intensidade (dB NPS)
236
Parte II – Cap. 23 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL POR VIA ÓSSEA |
Percentagem de detecção 100
Percentagem de detecção
(%) 80
100
60 Via Aérea
40 Via Óssea
75 20
0
1 2 3 4 5 6
Via Aérea Tempo para detecção (minutos)
50
Via Óssea Figura 5 − Eixo vertical: distribuição do percentual de detecção;
eixo horizontal: distribuição do tempo em minutos; círculos cheios
pretos representam as detectadas por VO e os círculos abertos
25 brancos representam as detectadas por VA.
NOVAS APLICAÇÕES
Resposta por VO fazer o diagnóstico diferencial das perdas auditivas já
no período de triagem, vem se estudando a aplicação
O tempo de duração do teste é fundamental para
de um único procedimento que seja possível não só
precisão e identificação das REAEE56. Vários estudos
minimizarem os resultados falsos-positivos, mas
já relataram que o estímulo utilizando o ruído evocam
também identificar as perdas auditivas permanentes
respostas maiores e mais rápidas, e diminui o tempo
(perda neurossensorial − verdadeira-positiva) das
de detecção das respostas38,44,52,54.
temporárias (perda condutiva).
Na comparação do tempo de detecção por VO Mijares et al.61 realizaram um estudo com REAEE
e VA, observou-se no estudo de Camboim28 que as com estimulação simultânea por VA e VO em 80 bebês
respostas por VA aparecem mais rapidamente do que com menos de 2 meses de idade, e avaliaram a eficiên-
as respostas por VO em indivíduos normais, sendo cia diagnóstica de uma prova automatizada baseada
90% das respostas por VA obtidas após um minuto de no registro dos potenciais evocados auditivos de
teste e 100% das respostas foram significativas após estado estável (PEAEE) com estimulação simultânea
2 minutos. Já o tempo de detecção das respostas por por VA e VO. Utilizaram apenas duas frequências,
VO foi aproximadamente 2 minutos em 90% dos casos uma grave em 500 Hz por via óssea e uma aguda em
e após 5 minutos, em 100% dos casos com limiares 2000 Hz por via aérea, com intensidade do estímulo
normais (Figura 5). de 50 dBNA para via aérea e 30 ou 35 dBNA para via
Estes achados estão de acordo com outros estu- óssea. Obtiveram eficiência diagnóstica de 100% de
dos, que encontraram tempo para a detecção das res- sensibilidade e 97% de especificidade, quando compa-
postas dos REAEE, utilizando o ruído, nos voluntários rada com outras provas utilizadas nos programas de
adultos normais, variando de meio a três minutos na triagem auditiva neonatal, como emissões otoacústi-
intensidade de 50 dBNPS41,44. Já para obter as REAEE cas e potencial evocado auditivo de tronco encefálico.
utilizando o tom, Mijares et al.61 relataram tempo Concluíram que esta prova permite discriminar as
médio de 5,3 minutos. perdas condutivas das neurossensoriais, reduzindo
237
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
com isso os resultados falsos-positivos e aumentando Amplitude
a eficiência diagnóstica deste método. (µV)
0,08
Torres-Fortuny et al.59 avaliaram a interação da
apresentação simultânea por condução óssea e aérea
na amplitude das REAEE. Observaram mudanças
não significantes da amplitude de VO e VA, tanto na 0,06
estimulação simultânea quanto na simples. Usaram
frequências diferentes com 2 dB/oitava para cada via de Via Aérea
estimulação, sendo 500 Hz por VO e 2000 Hz por VA, 0,04
o que poderia justificar a não redução da amplitude. Via Óssea
Um aspecto a ser considerado é que quando se
usa estimulação simultânea por VO e VA, o efeito de 0,02
oclusão que ocorre nos adultos conduz a um aumento
da sensitividade auditiva, especialmente em baixas
frequências (< 1000 Hz)14. 0,00
20 30 40 50
Intensidade (dB NPS)
8. ESTIMULAÇÃO SIMULTÂNEA
VA E VO COM RUÍDO Figura 6 − Eixo x: distribuição das intensidades estudadas; eixo
y: valores das amplitudes de respostas. As médias das amplitudes
estão apresentadas pelos círculos cheios pretos (VO) e círculos
Recentemente, Camboim28 realizaram um estudo abertos (VA) no eixo central da relação intensidade/amplitude.
com REAEE simultâneo por VO e VA, utilizando o
estímulo de ruído de banda larga, em sujeitos normais.
Compararam a amplitude, o percentual de detecção e
o tempo de detecção das respostas.
8.1. Amplitude das REAEE Houve menor redução no estudo de Camboim28 quan-
do comparado com a literatura. Existem pelo menos
Simultâneas por VO e VA
duas possibilidades para explicar esse fenômeno: a
As amplitudes de VA são maiores que as ampli- primeira é que intensidades maiores causam maior
tudes de VO também na condição simultânea. Essas deflexão nas células ciliadas e, consequentemente,
amplitudes crescem com o aumento da intensidade maior compressão. A segunda possibilidade é que
do estímulo28 (Figura 6). dois tons mascaram mais que dois ruídos, pois na
Em intensidades baixas (20 dBNPS), pratica- estimulação com os dois tons, uma região específica
mente não há respostas nem por VA e nem por VO, da cóclea será estimulada, sendo a energia distribuída
pois as amplitudes de respostas estão abaixo do nível numa região menor da membrana basilar, causando
do ruído (20 nV). A partir do momento em que se au- maior deflexão das células e, consequentemente,
menta a intensidade, as repostas de VA e VO começam maior saturação. Já o ruído estimulará toda área da
a aparecer seguindo o padrão da relação intensidade/ membrana basilar, fazendo com que as células ciliadas
amplitude, ou seja, quanto maior a intensidade, maior tenham menor deflexão, num segmento em que cada
a amplitude. área receberá menor quantidade de energia distribuí-
A amplitude das REAEE foi de 0,06 µV para da, trabalhando, assim, de maneira mais linear, com
VA e 0,042 µV para VO, ocorrendo diminuição da menor compressão.
amplitude para aproximadamente 92% por VA e As amplitudes das REAEE são menores quando o
86% por VO em comparação com a condição isolada estímulo é apresentado simultaneamente comparado
na intensidade de 50 dBNPS. Lins e Picton36 encon- ao isolado. Esta interação não depende das frequên-
traram redução da amplitude de até 58% quando cias de modulação. A cóclea funciona como um
apresentou dois tons iguais por VA, modulados em filtro passa-banda com retificadores de compressão
frequências diferentes e apresentados na intensidade ou saturação da curva das células ciliadas internas, a
de 60 dBNPS, justificando que isso ocorre devido à qual gera potencial de ação apenas no movimento de
retificação compressiva das células ciliadas internas. despolarização36 (Figura 7a-d).
238
Parte II – Cap. 23 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL POR VIA ÓSSEA |
Estímulos Respostas
A D
Ruído Ar Ruído Osso Via Óssea Via Aérea
Modulação: 93 Hz Modulação: 85 Hz
85 Hz 93 Hz
0,1 µV
Via Aérea Via Óssea
0 250 Hz
FFT
Membrana
B Basilar
Geradores no tronco encefálico Ruído
C Cóclea
SAÍDA
SAÍDA
ENTRADA
Figura 7 – (a) Segmento de dois estímulos com ruído modulado em frequências diferentes por VA e VO. (b) Representação da
estimulação de toda membrana basilar, a qual aparece de forma “desenrolada” para facilitar a visualização. (c) Transdução coclear,
NOVAS APLICAÇÕES
os geradores da resposta no tronco encefálico e de outras fontes de ruído elétrico da cabeça. (d) Resposta do estímulo no espectro
de frequência.
Por isso, ao se apresentarem dois tons que esti- distorce o estímulo em altas intensidades. Com isso,
mulam a mesma região da membrana basilar, ocorre poder-se-ia pensar que a diferença das amplitudes
compressão devido à retificação da transdução das encontrada entre VA e VO, na intensidade de 50 dB-
células ciliadas, com isso, a soma das amplitudes, na NPS, teria sido causada por uma não linearidade do
estimulação simultânea, é menor que as amplitudes vibrador ósseo, o qual não conseguiria acompanhar
na estimulação isolada36 (Figura 8a,b). a intensidade dos estímulos nas intensidades maio-
John et al.37 relataram que as amplitudes de VA res. No entanto, no estudo de Camboim28 foi testado
são significativamente atenuadas nas frequências de em laboratório o transdutor ósseo, e foi observado
1000 e 2000 Hz, na estimulação múltipla em compara- comportamento linear de transmissão sonora até 50
ção a simples em altas intensidades (75 dBNPS). Mo dBNPS.
e Stapells62 não encontraram efeito de atenuação em Quando os estímulos simultâneos são aplicados,
500 Hz, e acreditam que a intensidade não tenha sido as amplitudes das respostas são diferentes, exceto em
alta o suficiente para causar interação na apresentação 20 dBNPS. Nesta intensidade, as amplitudes de VA e
múltipla por VA. VO se assemelham. A partir de 30 dBNPS, essa di-
Mo et al.24 relataram que na estimulação por ferença torna-se estatisticamente significante, sendo
VO, em 50 dBnNA, houve atenuação significativa da a VA maior que a VO em todas as condições28. Foi
amplitude em 500 e 1000 Hz entre a comparação de observado em outros estudos, com tons modulados
estimulação simples e múltipla. A interação ocorrida em amplitude (AM), com dBnNA, que a VA parece
em 15 dB a menos por VO pode acontecer devido apresentar maiores amplitudes do que VO, tanto em
ao mecanismo de transdução do vibrador ósseo que adultos quanto em crianças, porém não foi descrito
239
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Célula Ciliar menores, a detectabilidade cai, porém sempre a VA
Transdução Compressiva com melhores percentuais de detecção do que a VO
Ar Osso
(Figura 9).
a) É possível observar que a intensidade de 50
Isolado dBNPS parece ser a melhor intensidade para a fina-
lidade de triagem, pois apresentou um percentual de
Saída Osso
Saída Ar
Compressão
b)
quando as EOA foram ausentes, não houve resposta
significativa das REAEE em 50 dBNPS e quando as
Entrada Ar + Osso
EOA estavam presentes, as REAEE tiveram respostas
Figura 8 – (a) Estimulação isolada pelo ar e pelo osso. (b) Estimu-
significativas em 100% dos casos.
lação simultânea mostrando que a soma das duas estimulações
é menor do que se a apresentação fosse separada.
8.3. Tempo de Detecção das
Respostas das REAEE
Simultâneas por VA e VO
se houve diferença estatisticamente significante18,23,36.
Camboim28 relataram que isso pode ocorrer, devido à Na apresentação das REAEE simultâneas por VA
diferença de intensidade percebida pelas vias estimu- e VO, 90% das respostas por VA são significativas após
ladas, pelo efeito de mascaramento da VA sobre a VO 1 minuto e meio, e 100% das respostas após 3 minutos.
ou pela própria fisiologia de transmissão óssea. Apesar E por VO, 90% das respostas foram positivas após 3
de o estímulo ter sido apresentado no mesmo NPS, a minutos e meio, como mostra a figura 10.
intensidade que chega à cóclea pode ser diferente. Sten-
felt e Hakansson64 relataram que as intensidades que
chegam à cóclea são diferentes quando estimuladas por Percentagem de detecção
VA e VO na mesma intensidade. Eles observaram que (%)
a VO responde em média 6 dB a menos que a VA. Isso 100
varia de acordo com a frequência estimulada. Uma das
hipóteses que eles atribuíram foi à provável diferença
na via de transmissão da intensidade percebida como
mostra a figura 1. Torres-Fortuny et al.59 encontraram 75
valores similares por VA e VO, possivelmente, por Via Aérea
terem estimulado frequências diferentes (500 Hz por
VO e 2000 Hz por VA). Via Óssea
50
Não é fácil compreender a razão deste fenômeno.
Como já foi visto, a condução óssea é complexa e essa
complexidade pode levar à distorção da membrana
basilar em intensidades maiores, perdendo, assim, 25
sua linearidade12-15,36.
240
Parte II – Cap. 23 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL POR VIA ÓSSEA |
NOVAS APLICAÇÕES
existência de gaps de 10 e 20 em voluntários normais. intensidade de VO em 50 dBNPS. A amplitude de
Foi estudado o efeito da variação da intensidade de VA VO permaneceu praticamente a mesma (0,05 µV), já
em relação aos parâmetros de amplitude, percentual a amplitude de VA reduziu cerca de 99%, caindo para
de detecção e tempo de detecção. O estímulo por VA 0,025 µV. Com gap de 20, a média das amplitudes de
foi apresentado nas intensidades de 40 e 30 dBNPS, VA, praticamente, desaparece, ficando abaixo de 0,02
mantendo a intensidade de VO fixa em 50 dBNPS. µV. Isso mostra uma relação de inversão a partir do
Além disso, foi incluída também a análise da resposta gap de 10, numa relação direta da amplitude com a
de VA e VO quando apresentada na intensidade de intensidade. Quanto mais baixa a intensidade, menor
50/50 dBNPS, mantendo o gap 0. a amplitude.
241
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
representada na figura 13. E quanto maior o gap, mais
deslocadas para a direita do gráfico se apresentam as
respostas das amplitudes.
No caso da razão entre as respostas, observa-se
que a distribuição das amplitudes das respostas no
gráfico assume uma configuração semelhante a uma
nuvem que se relaciona verticalmente. Esta nuvem
apresenta-se de forma mais uniforme. Na condição
com gap 0, as respostas se concentram no centro do
gráfico, em torno de 1 da escala logarítmica, e se dis-
tribuem verticalmente de forma linear, quanto maior
a intensidade, maior a amplitude. Nas intensidades de
20/20 e 30/30 dBNPS (círculos cinzas), as respostas
Figura 12 − Eixo vertical: representação do percentual de se concentram na parte inferior e a razão entre elas
detecção das REAEE por VA e VO; eixo horizontal: representa- é próxima a 1, demonstrando que as respostas das
ção dos gaps entre VA e VO estudados; círculos cheios pretos:
representam a relação entre a detecção de resposta da via amplitudes se assemelham, porém estão abaixo de
óssea relacionada ao gap estudado; círculos abertos brancos: 0,04 µV. Nas intensidades maiores, há tendência de
representam a relação entre a detecção da resposta da via óssea deslocamento das respostas, da maior amplitude, para
relacionada ao gap estudado.
a parte superior esquerda do gráfico, com valores da
razão menor que 1, sugerindo que a amplitude das
9.3. Análise Geral das Relações respostas por VA é maior que por VO, como, por
das Amplitudes das REAEE exemplo, as respostas na relação 50/50 dBNPS (cír-
culos pretos). No gap 20, as respostas das amplitudes
Simultâneas por VA e VO
tendem a apresentar-se mais à direita do eixo horizon-
Na análise das relações das amplitudes pela tal. No maior gap, a razão entre as amplitudes é maior
razão, foi possível observar que quanto maior da que 1, indicando que a amplitude da resposta de VO é
intensidade, mais alta (verticalmente) é a resposta maior que a da VA. No gap 10, a razão das amplitudes
Figura 13 − A figura maior, no eixo X, está representada, em escala logarítmica, a razão entre as médias das amplitudes da VO/VA.
O eixo Y expressa a maior amplitude da resposta de VO ou VA. Nas figuras menores, do lado esquerdo, estão expressas as razões da
maior amplitude de cada intensidade apresentada igualmente por VA e VO. Na parte superior, apresenta-se a razão das amplitudes
referentes aos gaps de 0,10 e 20.
242
Parte II – Cap. 23 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL POR VIA ÓSSEA |
se dissipa no eixo central, com leve deslocamento para and auditory braynsten response test performance.
a direita do gráfico. Ear Hear. 2000; 21:508-28.
Nesta análise, foram associados os registros das 9. Cone-Wesson B, Parker J, Swiderski N, Rickards F.
respostas com as intensidades de VA e VO iguais The auditory steady-state response: full term and pre-
(50/50; 40/40; 30/30; 20/20) e com a variação das mature neonates. J Am Acad Audiol. 2002; 13:260-9.
intensidades de VA e fixação da VO, simulando os 10. Hayes D. Screening methods: current status. Ment
gaps de 10 e 20. Retard Dev Disabil Res Rev. 2003; 9:65-72.
11. Dirks, D. Bone conduction measurements. Effects of
vibrador, placement and masking. Arch Otolaryngol.
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS 1964 Jun; 79:594-9.
12. Zemlin WR. Condução óssea. In: Princípios de ana-
Neste capítulo foi possível entender um pouco tomia e fisiologia em fonoaudiologia. Porto Alegre:
mais sobre as REAEE com estímulo por VO e vimos Artes Médicas Sul. 2000, p. 522-24.
que é possível registrar, simultaneamente, as REAEE 13. Vento BA, Durrant JD. Assessing bone conduction
por VO e VA, utilizando tanto o tom puro quanto o thresholds in clinical practice. In: Handbook of Clin
ruído de banda larga e os resultados revelaram que Audiology. 2009, ed. 6.
as respostas das amplitudes são menores na condição
14. Tonndorf J. Bone conduction: studies in experimental
simultânea em comparação com a isolada. animals. Acta Otolaryngol. 1966; 213:1-132.
Vimos, ainda, que as amplitudes de VA são maio- 15. Lins OG, Picton TW. Frequency-specific audiometry
res que as de VO, independentemente da condição using steady-state responses. Ear Hear. 1996; 17:81-96.
e teste. E que o tempo de detecção por VA é menor
16. Dimitrijevic A, John MS, Van RP, Purcell DW, Adamo-
que por VO nos voluntários normais, sendo obtidas
nis J, Ostroff J et al. Estimating the audiogram using
repostas em um tempo aproximado de 3 a 4 minutos. multiple auditory steady-state responses. J AM Acad
Audiol. 2002; 13:205-24.
17. Jeng FC, Brown CJ, Johnson TA, Werff KRV. Esti-
REFERÊNCIAS mating Air-Bone Gaps Using Auditory Steady-State
Responses. J Am Acad Audiol. 2004; 15:63-74.
NOVAS APLICAÇÕES
1. Joint Committee on Infant Hearing – Year 2007 Posi
tion Statement: principles and guidelines for early hea- 18. Small SA, Stapells DR. Multiple Auditory Steady-State
ring detection and intervention programs. Pediatrics. Response Thresholds to Bone-Conduction Stimuli
2007; 120: 898-921. in adults with Normal Hearing. J Am Acad Audiol.
2. Hoekelman RA. Infectious illness during the first year 2005; 16:172-83.
of life. Pediatrics. 1977; 59(1):119-21. 19. Small SA, Stapells DR; Multiple Auditory Steady-State
3. Teele DW, Klein JO, Rosner BA. Epidemiology of otitis Response Thresholds to Bone-Conduction Stimuli in
media in children. Ann Otol Rhinol Laryngol Suppl. Young Infants with Normal Hearing. Ear & Hearing.
1980; 89(3Pt 2):5-6. 2006; 27:30.
4. Hubig DOC. Estudo epidemiológico da otite média 20. Small SA, Hatton JL, Stapells DR. Effects of Bone Os-
em população institucionalizada-creche. [Dissertação cillator Coupling Method, Placement Location, and
de Mestrado]. 91f. São Paulo: Pontifica Universidade Occlusion on Bone-Conduction Auditory Steady-State
de São Paulo, 1989. Responses in Infants. Ear & Hearing. 2007; 28:83-98.
5. Sutton GF, Gleadle P, Rowe SJ. Timpanometry and 21. Nagashima H, Udaka J, Chida I, Shimada A, Kondo
otoacustic emission in cohort of special care neonates. E, Takeda, N. Air-bone gap estimated with multiple
Br J Audiol. 1996; 30:9-17. auditory steady-state response in young children with
6. Bess FH, Humes LE. Fundamentos em audiologia. 2ª otitis media with effusion. Auris Nasus Larynx. 2013;
ed. Porto Alegre: Artmed. 1998, p.138-221. 40:534-38.
7. Kós AOA, Soares CMM. Otite média aguda. In: Caldas 22. Stuart A, Yang EY, Stenstrom R. Effect of temporal area
N, Caldas S, Sih T. Otologia e Audiologia em Pediatria. bone vibrator placement on auditory brain stem res-
Rio de Janeiro: Revinter. 1999, p. 49. ponse in newborn infants. Ear Hear. 1990; 11:363-69.
8. Norton SJ, Gorga MP, Widen JE, Folson RC, Sininger Y, 23. Small SA, Stapells D. Normal ipsilateral/contralateral
Cone Wesson B et al. Identification of neonatal hearing asymmetries in infant multiple auditory steady-state
impairment: evaluation of transient evoked otoacoustic responses to air and bone-conduction stimuli. Ear e
emission, distortion product otoacoustic emission, Hearing. 2008, p.185-98.
243
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
24. Mo L, Zhang F, Han D, Zhang L. Bone-Conducted 40. Pinto DG, Griz SM, Lins OG. Potencial evocado au-
Hearing Assessment with 80-Hz Multiple Auditory ditivo de estado estável com ruído branco modulado
Steady-State Responses to Brief Tones in Adults with em amplitude em triagem auditiva neonatal. São Paulo.
Normal Hearing. ORL. 2011; 73:253-59. Rev. CEFAC. 2011.
25. Small SA, Ning Hu. Maturation of the Occlusion Effect: 41. Santos T. Resposta Auditiva em Regime Permanente
A Bone Conduction Auditory Steady State Response evocada por ruído modulado: Uma proposta de pro-
Study in Infants and Adults with Normal Hearing. Ear tocolo para identificação de perdas auditivas. Belo
e Hearing. 2011; 32(6):708-19. Horizonte. Tese – Universidade Federal de Minas
26. Small SA, Smyth A, Leon G. Effective masking levels Gerais, p.33-46, 2016.
for 500 and 2000 Hz bone conduction auditory steady 42. Valdez-Sosa MJ, Bobes MA, Perez-Abalo MC, Perera
state responses in infants and adults with hearing. Ear M, Carballo JA, Valdez-Sosa P. Comparison of audi-
and Hearing. 2013, p. 63-71. tory evoked potential detection methods using signal
27. Picton TW. Human Auditory Evoked Potentials. Plural detection theory. Audiol. 1987; 26:166-78.
Publishing. 2011. 43. Lins OG. Audiometria fisiológica tonal utilizando
28. Camboim, E. D. Potencial evocado auditivo de estado respostas de estado estável auditivas do tronco cerebral.
estável simultâneo por via aérea e via óssea. Recife, Tese Tese de Doutorado em Medicina (Escola Paulista de
-Universidade Federal de Pernambuco; 2017. 127 f. Medicina), 116f, 2002.
29. Stapells DR, Mosseri M. Maturation of the contralate- 44. John MS, Dimitrijevic A, Picton TW. Efficient stimuli
for evoking auditory steady-state responses. Ear Hear.
rally recorded auditory brainsteim response. Ear Hear.
2003; 24:406-23.
1991; 12:167-73.
45. Rance G, Roper R, Symons L, Moody LJ, Poulis C,
30. Yang EY, Rupert AL, Moushegian G. A developmental
Dourlay M, Kelly T, et al. Hearing threshold estimation
study of bone conduction auditory brainstem respon-
in infants using auditory steady state responses. J Am
ses in infants. Ear Hear. 1987; 8:244-51.
Acad Audiology. 2005; 16:293-302.
31. Small SA, Hansen EE. Effective masking levels for
46. Beck RMO, Ramos BF, Grasel SS, Ramos, HF, Moraes
bone-conducted amplitude and frequency-modulated
MFB, Almeida ERA, Bento RF. Comparative study
tones in adults with normal hearing: A behavioural
between pure tone audiometry and auditory steady-
study. Int J Audiology. 2012; 51:216-19.
-state responses in normal hearing subjects. Braz J
32. Gorga MP, Neely ST, Hoover BM, Dierking DM, Otorhinolaryngol. 2014; 80(1):35-40.
Beauchaine KL, Manning C. Determining the upper
47. Ishida IM, Cuthbert BP, Stapells DR. Multiple auditory
limits of simulation for auditory steady-state response
steady state response thresholds to bone conduction
measurements. Ear and hearing. 2004; 25(3):302-07.
stimuli in adults with normal and elevated thresholds.
33. Small SA, Stapells DR. Artifactual responses when Ear and Hearing. 2011; 32, 3:373-81.
recording auditory steady-state responses. Ear Hear.
48. Casey KA, Small SA. Comparisons of auditory stea-
2004; 25:611-23.
dy state response and behavioral air conduction
34. Brooke RE, Brennan SK, Stevens JC. Bone conduction and bone conduction thresholds for infants and
auditory steady state response: Investigations into adults with normal hearing. Ear and Hearing. 2014;
reducing artifact. EarHear. 2009; 30:23-30. 35:423-39.
35. American National Standards Institute (ANSI). Ameri- 49. Korczak P. Auditory steady-state responses. Tutorial.
can National Standards Specification for Audiometers J Am Acad Audiol. 2012; 23:146-70.
(ANSI S36). New York, 1996. 50. Hulecki LR, Small SA. Behavioral bone-conduction
36. Lins OG, Picton TW. Auditory steady-state responses thresholds for infants with normal hearing. J Am Acad
to multiple simultaneous stimuli. Eletrocoencephal Audiol. 2011; 22:81-92.
Clin Neurophysiology. 1995; 96:420-32. 51. Haughton PM, Pardoe K. Normal pure tone thresholds
37. John MS, Lins OG, Boucher BL, Picton TW. Multiple for hearing by bone conduction. Br J Audiol. 1981;
auditory steady-state responses (MASTER): stimulus 15:113-21.
and recording parameters. Audiology. 1998; 37:59-82. 52. Picton TW, John MS, Dimitrijevic A. Possible roles for
38. Herdmann AT, Picton TW, Stapells DR. Place specifi- the auditory steady-state responses in identification,
city of multiple auditory responses. J Acoust Soc Am. evaluation and management of hearing loss in infancy.
2002; 112:1569-82. Audiology Today. 2002; 14:29-34.
39. John MS, Dimitrijevic A, Picton TW. Auditory steady- 53. Sturzebecherl E, Cebulla M, Neumann K. Click evo-
-state responses to exponential modulation envelopes. ked ABR at high stimulus repletion rates for neonatal
Ear Hear. 2002; 23:106-17. hearing screening. Int J Audiology. 2003; 42:59-70.
244
Parte II – Cap. 23 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL POR VIA ÓSSEA |
54. Picton TW, John MS, Dimitrijevic A, Purcell D. Hu- evoked by simultaneous air-and-bone-conducted sti-
man Auditory steady-state responses. Int J Audiol. mulation in newborns. Int J Audiology. 2016; 55:375-79.
2003; 42:541-54. 60. Herdmann AT, Stapells DR. Thresholds determined
55. John MS, Brown DK, Muir PJ et al. Recording auditory using the monotic and dichotic multiple auditory
steady-state responses in young infants. Ear Hear. steady-state responses technique in normal-hearing
2004; 25:539-53. subjects. Scand Audiol. 2001; 30:41-9.
56. Luts H, Wouters J. Hearing assessment by recording 61. Mijares E, Báez L, Cabrera L, Pérez-Ablo MC, Torres-
multiple auditory steady-state responses: the influence -Fortuny A. Cribado auditivo mediante ponteciales
of test duration. Int J Audiol. 2003, v. 43, p. 471-78. evocados auditivos de estado estable obtenidos por
estimulacion simultânea de La via aérea y La ósea. Acta
57. Savio G, Perez-Abalo MC. Auditory seteady-state Otorrinolaringol Esp. 2014;66(1):8-15. Mo L, Stapells
responses and hearing screening. In: Auditory stea- DR. The effect of brief-tones stimulus duration on the
dy-state response: generation, recording, and clinical brain stem auditory steady-state response. Ear Hear.
applications. Ed. Plural Publishing. 2008, p. 185-99. 2008; 29:121-33.
58. Hatton, J, Stapells DR. The efficiency of the single-ver- 62. Regan MP, Regan D. Nonlinear terms produced by
sus multiple-stimulus auditory steady-state responses passing amplitude-modulated sinusoids through a hair
in infants. Ear Hear. 2011; 32:349-57. cell transdution fuction. Biol Cybern. 1993; 69:439-46.
59. Torres-Fortuny A, Hernández-Pérez H, Ramírez B, 63. Stenfelt S, Hakansson B. Air versus bone conduc-
Alonso I, Eimil E, Guerrero-Aranda A, Mijares E. tion: an equal loudness investigation. Hear Res. 2002;
Comparing auditory steady-state responses amplitude 167:1-12.
NOVAS APLICAÇÕES
245
24
RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO
ESTÁVEL: ESTÍMULOS VERBAIS
Aline Tenório Lins Carnaúba
Maria Eduarda Di Cavalcanti Alves de Souza
Kelly Cristina Lira de Andrade
Pedro de Lemos Menezes
247
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
banda estreita, tons modulados em amplitude, tons plasticidade neuronal em tronco encefálico por meio
combinados de amplitude e frequência modulados, e do PEATE com estímulo verbal após o treinamento
cliques13. Porém, sabe-se que avaliações com a REAEE, auditivo19; avaliar a influência do ruído e de outras
por causa de sua natureza objetiva independente, são condições de escuta adversa nas respostas evocadas
ideais para investigar as bases neurais da percepção da auditivas em tronco encefálico eliciadas por estímulos
fala, sem a interferência da subjetividade da resposta, verbais; estabelecer correlações entre as respostas em
mostrando-se úteis no estabelecimento de relações tronco encefálico e as respostas corticais para estímu-
anatomofuncionais do sistema auditivo humano. los verbais20; propor um método para mapear a área
Além disso, é indiscutível a importância do estu- neural envolvida no processamento da fala por meio
do das bases neurofisiológicas da percepção normal da de eletrodos de superfície;21 e propor um método de
fala, ou seja, de como os elementos acústicos verbais geração e gravação das REAEE, utilizando estímulos
são representados nas vias auditivas centrais, tornan- que simulam a fala, para o aperfeiçoamento de im-
do-se fundamental para o conhecimento acerca de plantes cocleares e/ou próteses auditivas.22
onde e como as diferentes modalidades são traduzidas, Segundo Abrams e Kraus23, diversas são as van-
retransmitidas, representadas e processadas para gerar tagens do uso do PEATE com estímulos verbais:
respostas comportamentais adequadas estímulos de fala são mais frequentes no dia dia que
Sendo assim, este capítulo visa apresentar novos o clique, chirps e tone burst; a compreensão do modo
parâmetros para a avaliação das REAEE com estímu- pelo qual o sistema auditivo responde ao estímulo
los de fala. verbal só pode ser obtida por meio do uso deste tipo
de estímulo, em função da não linearidade do sistema
auditivo; e quando o estímulo verbal é escolhido com
2. HISTÓRICO DOS ESTÍMULOS cuidado, as propriedades acústicas do sinal podem ser
VERBAIS controladas. Além disso, a exposição frequente aos
sons verbais e o uso subsequente destes em contextos
Os primeiros estudos que buscaram avaliar a linguísticos favorecem a plasticidade neuronal da via
codificação das propriedades temporais e espectrais auditiva, podendo acarretar mudanças na represen-
do sinal de fala em humanos foram realizados por tação neural da fala, condição esta que não pode ser
Moushegian et al.15 Desde então, o interesse pelo tema predita a partir do uso de estímulos como o clique.
vem se tornando crescente e, por isso, nos últimos Outro aspecto importante que deve ser reforçado
anos, diversas pesquisas têm sido realizadas a fim de diz respeito ao fato de os potenciais evocados, a
compreender o modo pelo qual a fala é processada partir do uso de estímulos de fala, possuírem grande
no tronco encefálico. reprodutibilidade intra e intersujeitos, apresentando
Em 1990, Bregman14 propôs um quadro teórico características morfológicas estáveis.24
para a Auditory Scene Analysis (ASA), no qual divide Em um discurso contínuo, o envelope temporal
o processamento da entrada de fala em duas fases. A é caracterizado por múltiplas taxas de modulações de
primeira fase, chamada segregação primitiva, analisa a amplitude (AM), variando de 2 a 50 Hz25. As taxas de
entrada acústica para fornecer a percepção dos sons; e AM mais lentas, entre 4 e 20 Hz, são importantes para
a segunda, chamada segregação baseada em esquemas, segmentar a fala em unidades menores26-27. A segmen-
configura a diferenciação da cena, reconstruída a par- tação da fala na extremidade inferior a essa faixa AM
tir das pistas auditivas. Neste modelo, durante a análise foi considerada importante para o processamento da
acústica, os estímulos de fala e não fala compartilham informação no nível da sílaba, enquanto a segmenta-
processos neurais semelhantes, porém são analisados ção da fala na extremidade superior desse intervalo
e processados por vias e estruturas diferentes. fornece informações importantes sobre o nível de
Neste contexto, os objetivos dos estudos têm fonema28. Dada a importância da informação tempo-
sido, dentre outros: estabelecer procedimentos confiá- ral para a percepção da fala, é de particular interesse
veis e valores normativos para a realização adequada compreender como as taxas de modulações silábicas
do PEATE com estímulos verbais6; desenvolver abor- fonêmicas são processadas no córtex auditivo.
dagens experimentais que expliquem os processos de As REAEE trouxeram a promessa de solucionar
percepção da fala16; caracterizar os resultados do PEA- algumas das limitações dos PEATE clique e PEATE
TE com estímulo verbal de crianças com distúrbios de com estímulos de fala, já que o uso de estímulos espe-
aprendizagem e/ou de fala e linguagem17-18; avaliar a cíficos e simultâneos torna mais rápido e específico o
248
Parte II – Cap. 24 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL: ESTÍMULOS VERBAIS |
registro das respostas. Além de pesquisar os limiares a codificação neural e fornecem evidências objetivas
auditivos em intensidades mais fortes, com o objetivo de que a fala amplificada foi detectada. Porém, apre-
de avaliar a audição residual nos casos de perdas au- sentam a desvantagem de que são fortemente afetados
ditivas profundas. Entretanto, poucos estudos corre- pela atenção do sujeito, sendo difícil de controlar em
lacionam as REAEE com estímulos de fala e processa- lactentes. Além disso, a detecção objetiva de formas de
mento auditivo/linguagem2, em 2016, a Interacoustics onda de resposta é desafiadora, já que as ondas variam
propôs uma nova abordagem de geração e gravação intra e intersujeitos. Apesar de terem duração maior
das REAEE22, utilizando estímulos que simulam a do que os estímulos de curta duração, os estímulos
fala, para o aperfeiçoamento de implantes cocleares típicos para evocar os PEAC são ainda relativamente
e/ou próteses auditivas, permitindo uma avaliação curtos e, portanto, estão sujeitos à mesma distorção
clínica do processamento de fala nos dispositivos de e desvantagem já descritas.
amplificação sonora.
Sendo assim, o objetivo da nova abordagem da
Uma vez que o aparelho de amplificação sonora Interacoustsic22 é fornecer uma nova maneira de evocar
é adaptado em um determinado usuário, parâmetros as REAEE, utilizando estímulos de fala sintetizada,
precisam ser ajustados para garantir que o ganho seja porém mantendo as vantagens de abordagens tradi-
definido de forma adequada, permitindo que o espec- cionais, no qual o estímulo e a estrutura de resposta
tro de fala seja amplificado dentro do campo dinâmico no domínio da frequência estão bem definidos e
auditivo. Para uma adaptação adequada, devem ser
previsíveis. Isto é, usando algoritmos automáticos
feitos testes que verifiquem o desempenho do paciente
para a estimação de detecção e amplitude com base
com o uso da amplificação. A verificação de que as
em um conjunto harmônicos de taxas de modulação/
metas prescritas de ganho acústico e saídas máxima
repetição dentro das diferentes bandas de frequência
foram ou não atingidas pode ser realizada por meio
do estímulo.
de fórmulas prescritivas adequadas. No entanto, tais
fórmulas dependem da precisão de cálculos baseados
no limiar auditivo medido ou estimado. Erros, desvios 3. PROCEDIMENTO PARA A
ou imprecisões que possam acontecer em qualquer
um desses estágios podem comprometer as metas de
REALIZAÇÃO DO EXAME
NOVAS APLICAÇÕES
amplificação a serem atingidas. Além disso, com a
As REAEE são captadas e registradas por eletro-
finalidade de se adequarem o desempenho e o con-
dos de superfície e sua atividade eletroencefalográfica
forto da amplificação, relatos do próprio paciente são
é enviada por um sistema de aquisição, que por meio
utilizados para fazer ajustes finos de características
de técnicas espectrais e estatísticas determinam se
eletroacústicas da amplificação. No entanto, no caso
uma resposta está presente ou não.
de neonatos ou adultos em processo de adaptação
de próteses auditivas, impossibilitados de respon- Para o preparo da região de colocação dos ele-
der, além da observação comportamental clínica e trodos, é utilizado álcool a 70% e para a esfoliação,
relatos subjetivos dos responsáveis, não dispomos pasta abrasiva. A colocação dos eletrodos obedece
de qualquer outro meio objetivo de validação que às recomendações do Sistema Internacional 10/20.
garanta que ele esteja detectando o som amplificado, Equipamentos de um canal recebem três eletrodos:
em especial do som de fala em intensidades normais mastoide direita ou esquerda (eletrodo referência),
de conversação. Diante desse impasse, observou-se Fz (eletrodo ativo), Fpz (eletrodo-terra) ou mas-
interesse crescente pelos potencias evocados auditivos. toide direita ou esquerda (eletrodo-referência), Cz
No entanto, os PEATE são inadequados, pois os (eletrodo ativo), Fz (eletrodo-terra); equipamentos
estímulos utilizados para evocá-los são tipicamente de dois canais, quatro eletrodos: mastoide direita e
muito curtos (< 10 ms), e o processamento de apa- esquerda (eletrodo-referência), Fz (eletrodo ativo),
relhos auditivos distorce o estímulo, tornando difícil Fpz (eletrodo-terra) ou mastoide direita e esquerda
a interpretação das ondas. Já os potencias evocados (eletrodo-referência), Cz (eletrodo ativo), Fz (ele-
auditivos corticais (PEAC) estão crescendo em popu trodo-terra). As avaliações dos potenciais evocados
laridade para a verificação do ajuste do aparelho au- deverão conduzidas apenas quando as impedâncias
ditivo, em particular, com o uso de fonemas de curta entre os eletrodos conectados à pele forem inferiores
duração e estímulos semelhantes à fala. Utilizam os a 5 kΩ. No quadro 1, são elencados os demais parâ-
estímulos de verbais com o argumento de que refletem metros utilizados durante a realização do exame.
249
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Durante o exame, os indivíduos serão acomo- São Paulo. Tese , 63f [Doutorado em Medicina] - Escola
dados em uma maca, em decúbito dorsal, ou em uma Paulista de Medicina, Universidade Federal de São
poltrona reclinável, de maneira confortável, com o Paulo; 2002.
objetivo de permitir um relaxamento muscular ade- 5. Matas CG, Leite RA, Gonçalves IC, Neves IF. Potencial
quado, porém precisam manter atenção durante toda a evocado auditivo de tronco encefálico em indivíduos
captação do potencial. Nenhum tipo de sedação deverá com perdas auditivas condutivas e neurossensoriais.
ser realizado para evitar interferências nas respostas. Arq Int Otorrinolaringol. 2005; 9(4):80-6.
6. Russo N, Nicol T, Musacchia G, Kraus N. Brainstem
Responses to Speech Syllable. Clin Neurophysiol. 2004;
Quadro 1 − Parâmetros utilizados para obtenção da REAEE 115:2021-30.
com estímulos verbais.
7. Muniz CN. Processamento de sinais acústicos de
Transdutor Inserção ou supra-aural diferentes complexidades em crianças com alteração
Frequência de de percepção da audição ou de linguagem. São Paulo,
40 Hz Tese , 225f [Doutorado em Ciências] - Universidade
modulação
de São Paulo, 2011.
Frequência portadora 500, 1000, 2000, 4000 Hz
8. Song JH, Banai K, Russo NM, Kraus N. On the Re-
Tipo de apresentação Monoaural ou binaural
lationship Between Speech-and non-speech-Evoked
Estímulos Vogal sustentada ou fala en- Auditory Brainstem Responses. Audiol Neurootol.
cadeada, modulados em 40
2006; 11:233-41.
Hz em amplitude
9. Johnson KL, Nicol TG, Zecker SG, Kraus N et al.
Auditory brainstem correlates of perceptual timing
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS deficits. J Cogn Neurosci. 2007; 19(3):376-85.
10. Banai K, Nicol T, Zecker SG, Kraus N. Brainstem
Recentemente, os potenciais evocados auditivos Timing: Implications for Cortical Processing and
com estímulos verbais são utilizados na avaliação de Literacy. J Neurosci. 2005; 25(43):9850-7.
alterações de linguagem/auditiva. As REAEE trouxe- 11. Abrams DA, Nicol T, Zecker SG, Kraus N. Auditory
ram a promessa de solucionar algumas das limitações brainstem timing predicts cerebral asymmetry for
dos PEATE com estímulos verbais, surgindo como speech. J Neurosci. 2006; 26(43):11131-7.
uma nova ferramenta para o conhecimento do proces- 12. Shinn JB, Musiek FE. The auditory steady state res-
samento do estímulo de fala, fornecendo informações ponse in individuals with neurogical insult of the
importantes sobre os mecanismos e bases neurais das central auditory nervous system. J Am Acad Audiol.
funções auditivas normais e alteradas, já que este pode 2007; 18:826-45.
mostrar medidas quantificáveis de uma codificação 13. Mesgarini N, Chang EF. Selective cortical representa-
neural do som de fala, independentemente da atenção tion of attended speaker in multi-talker speech percep-
do indivíduo. tion. Nature 2012; 485:233-6.doi: 10.1038/nature11020
14. Bregman A. Auditory Scene Analysis: The Perceptual
Organization of Sound. MIT Press; 1990.
REFERÊNCIAS
15. Moushegian G, Rupert A, Stillman R. Scalp-recorded
1. Hall JW. New Handbook for Auditory Evoked Res- early response in man to frequencies in the speech
ponses. Boston: Pearson Education, 2006. range. Electroencephal Clin Neurophysiol. 1973; 35:
2. Menezes PL. Desenvolvimento de um dispositivo capaz 665-7.
de registrar e analisar potenciais evocados auditivos 16. Koch DB, McGee TJ, Bradlow AR, Kraus N. Acous-
nos domínios do tempo e das frequências. São Paulo. tic Phonetic Approach toward understating neural
Tese , 116f [Doutorado em Física Aplicada à Medicina] processes and speech perception. J Am Acad Audiol.
– Universidade de São Paulo; 2008. 1999; 10:304-18.
3. Ramos EG, Zaeyen EJB, Simpson DM, Infantosi AFC. 17. King C, Warrier CM, Hayes E, Kraus N. Deficits in
Detecção no domínio da freqüência da resposta audi auditory brainstem encoding of speech sounds in
tiva no EEG de crianças. Rev Bras Eng Biomédica. children with learning problems. Neurosci Lett. 2002;
2000; 16(3):127-37. 319:111-5.
4. Lins OG. Audiometria fisiológica tonal utilizando res 18. Wible B, Nicol T, Kraus N. Atypical brainstem repre-
postas de estado estável auditivas do tronco cerebral. sentation of onset and formant structure of speech
250
Parte II – Cap. 24 • RESPOSTAS EVOCADAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL: ESTÍMULOS VERBAIS |
sounds in children with language-based learning of Clinical Audiology. Baltimore: Lippincott Williams
problems. Biol Psychol. 2004; 67:299-317. & Wilkins. 2009, p. 611-626.
19. Hayes EA, Warrier CM, Nicol TG, Zecker SG, Kraus 24. Banai K, Kraus N. The dynamic brainstem: implications
N. Neural plasticity following training in children for APD. In: Mcfarland D, Cacace A (eds.). Current
with learning problems. Clin Neuroshysiol. 2003; controversies in Central Auditory Processing Disorder.
114:673-84. San Diego: Plural Publishing Inc. 2008, p. 269-289.
20. Wible B, Nicol T, Kraus N. Correlation between brains- 25. Rosen S. Temporal information in speech: Acoustic,
tem and cortical auditory processes in normal and lan- auditory and linguistic aspects. Philos Trans R Soc
guage-impaired children. Brain. 2005; 128(2): 417-23. Lond B Biol Sci. 1992; 336:367-373.
21. Schalk G, Ritaccio AL, Pesteers A, Taplin A, inventores; 26. Drullman, R, Festen JM, & Plomp R. Effect of reducing
Sheehan T, depositante. Rapid mapping of language slow temporal modulations on speech reception. J
function and motor function without subject partici- Acoust Soc Am. 1994; 95:2670-2680.
pation. WO2016179094. 2016 Nov 10. 27. Shannon RV, Zeng FG, Kamath V et al. Speech recog-
22. Elberling C, Harte JM, inventores; Interacoustics A/S, nition with primarily temporal cues. Science. 1995;
depositantes. System and method for generating and 270:303-304.
recording auditory steady-state responses with a spee- 28. Poeppel D. The analysis of speech in different tem-
ch-like stimulus. US 20160235328 A1. 2016 Aug 18. poral integration windows: Cerebral lateralization
23. Abrams D, Kraus N. Auditory pathway representation as ‘asymmetric sampling in time’. Speech Commun.
of speech sound in humans. In: KATZ J et al. Handbook 2003; 41:245-255.
NOVAS APLICAÇÕES
251
25
AVALIAÇÃO DO MICROFONISMO COCLEAR
DE ESTADO ESTÁVEL
Ilka do Amaral Soares
Pedro de Lemos Menezes
Otávio Gomes Lins
253
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
dos eletrodos de registro nos campos geradores, variações de pressão do ar causadas pelos sons em
enquanto o PEATE fornece informações limitadas potencial elétrico da membrana das células ciliadas .
sobre as atividades nervosas e células ciliadas auditivas Essas variações de pressão são transduzidas em dis-
devido à distância dos eletrodos para estes geradores, paros de potenciais de ação pelas células ganglionares,
o que leva a pequenas amplitudes de registro8. e pelos seus axônios até o sistema auditivo central. O
A EcoG é considerada o melhor método para a eletrococleograma registra a atividade elétrica sincrô-
avaliação dos potenciais cocleares e neurais, podendo nica gerada na cóclea e parte inicial do nervo auditivo
ser registrado de forma invasiva (com eletrodo tim- enquanto transforma os sons em impulsos nervosos19.
pânico) ou não invasiva, com eletrodo posicionado Ao aproximar os eletrodos de registro dos cam-
no conduto auditivo externo (CAE). Essa técnica pos geradores, maior será a captação da amplitude das
analisa o receptor coclear de maneira mais precisa e respostas. Portanto, ao registrar potenciais próximos
possibilita melhor visualização do potencial de ação ao promontório, as respostas serão cerca de 5 vezes
composto (PAC), que representa a onda I do PEATE7. maiores que na membrana do tímpano, até 10 vezes
Entretanto, poucos estudos referem a aplicabilidade maiores que no conduto auditivo externo e até 30
dessa técnica no diagnóstico da DA9,10.
vezes maiores na mastoide ou no lóbulo20.
Porém, tanto o PEATE quanto a EcoG dependem
da interpretação do examinador, o que pode, muitas O microfonismo coclear (MC), o potencial de
vezes, dependendo de a qualidade do registro difi- somação (PS) e o potencial de ação composto (PAC)
cultar o diagnóstico, por esse motivo, esse estudo se constituem a Eletrococleografia (ECoG). O MC repre-
propôs desenvolver uma técnica objetiva de registro senta a soma dos campos elétricos gerados pelos movi-
e avaliação do MC, por meio da resposta evocada mentos do potencial de membrana de todas as células
auditiva de estado estável (REAEE). ciliadas causadas pelos sons, sendo gerado, sobretudo,
As REAEE são potenciais evocados repetitivos pelas células ciliadas das regiões basais da cóclea21,
cujos componentes de frequência se mantêm constan- que representa a medida direta da função das células
tes ao longo do tempo11. O estímulo utilizado são tons ciliadas. O PS tem sua origem duvidosa, podendo ser
puros modulados em frequência, seu registro pode causado pela assimetria do MC e a despolarização da
ser feito com o paciente acordado, em sono natural região basal das células ciliadas e processos periféricos
ou sedado. A captação ocorre por meio de eletrodos das células ganglionares. Já o PAC representa a soma
não invasivos fixados na região da cabeça. dos campos elétricos produzidos pelos potenciais de
A facilidade de registro e a objetividade na iden- ação das células ganglionares ativadas pelos sons20.
tificação das respostas, por meio de procedimentos Por ser um microfone, o MC reproduz a pola-
estatísticos padronizados, estão tornando a REAEE ridade do estímulo sonoro, enquanto o PS e o PAC
uma técnica cada vez mais utilizada, por acrescentar não alteram a polaridade. Ao aumentar a frequência
informações essências para a escolha de uma conduta de estimulação, a amplitude do PAC tende a diminuir,
terapêutica e reabilitadora eficaz em pacientes com enquanto a amplitude do MC e do PS praticamente
alterações auditivas12-15. não se alterada. Ao estimular uma frequência alta, o
Contudo, é preciso investigar a influência que PAC apresenta amplitude reduzida, possibilitando
os parâmetros envolvidos na realização da técni- melhor visualização do MC e do PS. Entretanto, vale
ca REAEE tem no resultado final do exame. Esses salientar que o mascaramento com ruído de banda
parâmetros são: frequência portadora, frequência larga extingue o PAC sem alterar o MC e o PS, pois
moduladora, seja ela isolada ou combinada, tipo de atrapalha o disparo sincrônico de potenciais de ação
estímulo, derivação dos eletrodos, tempo de estimu- sem alterar o potencial receptor. Portanto, ao avaliar
lação ou as técnicas de processamento utilizadas para o potencial evocado auditivo na presença de mas-
tratar o sinal do eletroencefalograma (EEG) e detectar caramento suficiente para eliminar a percepção do
a resposta ao estímulo16,17. estímulo, é possível registrar o MC e o PS sem o PAC.
Porém, para avaliar pacientes com DA por meio
2. MICROFONISMO COCLEAR E da ECoG , é necessário aplicar um protocolo apro-
ELETROCOCLEOGRAFIA priado. Deve-se utilizar o estímulo tone burst, e as
polaridades rarefação e condensação devem ser usadas
O sistema auditivo nos possibilita escutar os para confirmar a inversão do registro, confirmando,
sons18. A cóclea, assim como um microfone, leva as assim, a presença do MC. Devem-se utilizar fones de
254
Parte II – Cap. 25 • AVALIAÇÃO DO MICROFONISMO COCLEAR DE ESTADO ESTÁVEL |
inserção nos registros para a confirmação da resposta elas, denominados Latências Absolutas e Latências
biológica, permitida por meio do bloqueio do seu Interpicos respectivamente25.
tubo, o que descarta a possibilidade de gravação de É analisado por meio da morfologia, latência
artefato elétrico nesses registros7. e amplitude das ondas, da relação da amplitude das
ondas I e V, da relação latência/amplitude, do limiar
de resposta eletrofisiológica, dos intervalos interpicos
3. MICROFONISMO COCLEAR E
e da comparação binaural26.
EMISSÕES OTOACÚSTICAS
O exame do PEATE é considerado muito efi-
As EOA são sons de baixa intensidade gerados ciente no diagnóstico de disfunções neurológicas e
na cóclea e captadas no meato acústico externo. São de déficits periféricos, além de apresentar boa sen-
gerados a partir da vibração da cóclea normal (células sibilidade e especificidade para diferenciar a afecção
ciliadas externas), de maneira espontânea ou por esti- do nervo auditivo da afecção coclear27,28.
mulação sonora, são retransmitidas de forma eferente, Mudanças nas características do clique podem
passando pela orelha média e captadas no meato acús- influenciar no diagnóstico, trazendo novos dados so-
tico externo. Assim como o MC, as EOA também são bre o funcionamento auditivo, como a inversão da po-
geradas nas células ciliadas externas e por esse motivo laridade, que ajuda na visualização do microfonismo
encontram-se presentes em indivíduos normais22. coclear; e a alteração da frequência de apresentação
A presença de respostas das EOA e ausência do clique, que facilita a análise da sincronia neural29.
ou alteração grave do PEATE são um sinal patogno- Os pacientes com DA podem apresentar MC
mônico da DA, porém, vários estudos mostram que mais longo, que pode ser confundido com uma possí-
com o passar dos anos e a evolução da DA, a EOA vel resposta do nervo auditivo no PEATE. Ao inverter
pode desaparecer. Alguns pesquisadores sugerem que a polaridade do estímulo, a resposta também será
essa ausência da EOA pode ocorrer devido à falta de invertida no caso de MC, porém essa mudança não
estímulo no nervo auditivo deficiente23. Outros acre- altera a polaridade se for resposta do nervo auditivo.
ditam que o uso de prótese auditiva pode causar um Esse método sempre deve ser usado como forma de
traumatismo induzido por ruído nas células ciliadas sensibilização do exame e detecção de respostas mais
NOVAS APLICAÇÕES
externas2. A perda secundária de EOA dificulta a confiáveis22.
identificação da DA e contribui para a subestimação No PEATE, para assegurar que as respostas ob-
de sua prevalência. tidas são realmente neurofisiológicas auditivas e não
Outra avaliação que pode ser realizada a partir de artefatos elétricos, é ideal utilizar o procedimento
das EOA é o efeito de supressão, que ocorre como re- de bloquear o tubo plástico do fone de inserção e,
sultado da ativação da via eferente medial descendente assim, confirmar a presença do MC1.
do feixe olivococlear. Pacientes com DA apresentam O PEATE não obtém uma análise tão detalhada
EOAT (Emissões Otoacústicas Transientes) presentes do MC quanto a ECoG, pois, na maioria das vezes,
e ausência de supressão24. o estímulo utilizado é o clique, entretanto, de acordo
com a literatura para melhor análise da amplitude e
4. MICROFONISMO COCLEAR morfologia do MC, o tone burst é o estímulo mais
indicado30.
E POTENCIAL EVOCADO
DE TRONCO ENCEFÁLICO
(PEATE) 5. MICROFONISMO COCLEAR/
DESSINCRONIA AUDITIVA
O PEATE avalia a integridade da via auditiva
desde o nervo auditivo até o tronco encefálico e O termo neuropatia auditiva foi utilizado pela
ocorre durante os 8 milissegundos (ms) após o estí- primeira para definir um grupo de pessoas com sinto-
mulo1. Os resultados obtidos são interpretados por mas auditivos, mas que tinham em comum o funciona-
meio do tempo despendido entre o estímulo sonoro mento normal da cóclea apesar de apresentar alteração
oferecido e o aparecimento das cinco deflexões po- da função do nervo coclear1, além de características
sitivas, as ondas I, II, III IV e V e o intervalo entre clínicas de dificuldade de compreensão das palavras,
255
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
principalmente em ambientes ruidosos, apesar de res- clínicos poderia refinar o diagnóstico diferencial da
ponder a estímulos sonoros em alguns casos. surdez sensorial, neural ou ambas7. Os testes de função
Entretanto, alguns anos depois sugeriram que coclear, particularmente o MC, precisam fazer parte
o termo neuropatia auditiva fosse substituído por do protocolo de Triagem Auditiva Neonatal (TAN)
dessincronia auditiva, uma vez que o nervo coclear em todas as crianças com PEATE ausentes ou altera-
nem sempre está lesado. Apresas de os dois termos dos, auxiliando o diagnóstico da DA6. Nos casos de
continuarem sendo utilizados em trabalhos cien- ausência da EOA, a presença do MC poderia substituir
tíficos, o recomendado atualmente é dessincronia a evidência do funcionamento normal das células
auditiva (DA)1,5. ciliadas no diagnóstico da DA, ressaltando apenas
que a presença da EOA indica função normal das
O diagnóstico é feito por meio de exames au-
CCE, enquanto a presença do MC demostra também
diométricos e eletrofisiológicos, sendo encontrados,
a participação das células ciliadas internas (CCI)39.
em geral, limiares auditivos elevados, discriminação
de fala incompatível com os limiares tonais, reflexo Diante de tantas dificuldades, o diagnósti-
acústico quase sempre ausente, emissões otoacústicas co, a adaptação de AASI e a indicação para o im-
(OEA) presentes e PEATE ausente ou muito alterado, plante coclear de crianças com DA demoram mais
porém com aparecimento do MC robusto, eviden- quando comparadas a crianças com perda auditiva
sensorioneural40.
ciado no próprio PEATE ou na ECoG, sugerindo
função normal das células ciliadas externas porém Estudos enfocando os aspectos neurais da perda
com distúrbio da condução neural1,6,31,32. Outro dado auditiva têm fornecido muitas evidências de que a pri-
encontrado em exames seria a ausência da supressão vação auditiva pode ter efeitos adversos na maturação
eferente da EOA por estímulo transiente (EOAT) do sistema auditivo central, mas esses efeitos podem
com apresentação de ruído bilateral, contralateral ser evitados se o tratamento adequado for fornecido
ou ipsilateral31. no momento certo. Portanto, fatores maturacionais
também devem ser considerados em indivíduos com
Atualmente, alguns estudos relacionam a DA
DA, a fim de compreender melhor a patologia e poder
com mutações genéticas, bem documentadas com
oferecer a melhor opção de intervenção para aqueles
provas de padrões de herança recessiva, dominan-
que sofrem destes distúrbios36.
te e mitocondriais, e ocorrência de perda auditiva
sindrômica e não sindrômica. Um exemplo é o gene
otoferlina, cujas mutações estão associadas à DA. 6. RESPOSTA EVOCADA
A otoferlina desempenha um papel importante na AUDITIVA DE ESTADO
libertação de neurotransmissores na sinapse entre as
CCI e nervo auditivo32,33. A DA também é relatada em ESTÁVEL
lactentes com fatores de risco que incluem hipoxia e
As respostas evocadas auditivas de estado está-
hiperbilirrubinemia6.
vel (REAEE) são respostas eletrofisiológicas a tons
Apesar de ter sido considerada inicialmente modulados em amplitude, frequência ou fase, que
bastante rara, estima-se, que a DA compreenda 5 a podem ser registradas por eletrodos de superfície,
15% de todas as crianças com perda auditiva sensorio- tal como os demais potenciais evocados corticais ou
neural33-35. A maioria destes indivíduos apresenta DA de tronco cerebral. As REAEE são ondas contínuas
bilateral36. Os adultos podem ser identificados com periódicas eliciadas por tons contínuos, que podem
a desordem mais tardiamente, quando os sintomas ser de amplitude ou frequência modulada41. Estes
se tornam aparentes em relação a outros sintomas e potenciais podem ser gerados por uma ampla gama
porque eles são muitas vezes os usuários AASI34. de frequências de modulação42.
É possível que esses dados estejam subestimados, As REAEE podem ser evocadas por tons contí-
uma vez que as OEA podem desaparecer ao longo do nuos modulados em amplitude. Assim, uma vez que
tempo por falta de estímulo do nervo auditivo ou pelo os registros são fiéis à frequência de modulação da
uso de aparelhos de amplificação sonora individual amplitude, a apresentação simultânea de tons com
(AASI)37. Segundo a literatura, um terço das crianças modulações diferentes torna-se possível. As REAEE
acometidas pela DA perdem a EOA, o que dificulta por amplitude modulada (AM) ocorrem em geral a
diagnostico diferencial entre a perda sensorial e a partir de taxas de modulação entre 70 e 110 Hz, pois
DA38. Portanto, o desenvolvimento de novos métodos não são afetadas pelo sono natural ou induzido. Outras
256
Parte II – Cap. 25 • AVALIAÇÃO DO MICROFONISMO COCLEAR DE ESTADO ESTÁVEL |
técnicas de modulação podem, ainda, ser empregadas, 80 e 110 Hz48. A membrana basilar responde a este
como a técnica de frequência modulada (FM) ou a som modulado em amplitude em determinada região,
técnica mista (AM/FM)43-45. com energia na frequência espectral do tom e na
As vantagens da aplicabilidade das REAEE são: sua frequência de modulação. Porém, a energia na
podem ser registradas até 10 a 20 dB acima dos li- frequência de modulação aparecerá apenas durante
miares fisiológicos usando portadoras de 0,5; 1; 2 e 4 o processo de transdução do estímulo pela cóclea20.
kHz; podem ser registradas em lactentes e durante o As oscilações de pressão sonora são transforma-
sono; reproduzem audiogramas comportamentais em das pela cóclea em oscilações do potencial de membra-
pessoas com audição normal ou perda auditiva; são na das células ciliadas, conectando as células ciliadas
simples de analisar, pois utilizam estimativas clara- à membrana basilar e seus estereocílios à membrana
mente definidas do sinal e do ruído, pois ao ocorrerem tectória causando um movimento da membrana
no domínio da frequência fica mais fácil distingui-los basilar de um lado para o outro em resposta à dobra
através de promediação e técnicas estatísticas bem dos estereocílios das células ciliadas. Pois, ao mover
definidas como o teste F e o T2; podem ser avaliadas os estereocílios para cima, ocorre despolarização da
pelo menos quatro frequências por orelha, diferindo membrana da célula ciliar, porém quando ocorre o
uma oitava entre si, além de poderem ser testadas si- movimento para baixo, acontece hiperpolarização
multaneamente; os resultados podem ser apresentados da membrana e a liberação de um neurotransmissor
em forma de um audiograma convencional e o teste (possivelmente o Glutamato) pela região pré-sináptica
pode ser automatizado43. Outra vantagem definida da célula ciliar. Nesse momento, ocorre o disparo
envolve: níveis de saída maiores, que estendem o de potenciais de ação e ao longo dos seus axônios
campo de avaliação para perdas de graus maiores37. no nervo auditivo em direção ao núcleo coclear do
A fisiologia da REAEE se diferencia na cóclea, tronco encefálico20.
onde o som causa polarização e despolarização das As células ciliadas externas são capazes de trans-
CCI, mas apenas a despolarização produz potenciais duzir o som em oscilações do seu potencial de mem-
de ação nas fibras nervosas auditivas, assim a saída brana, e de mudar ativamente seu comprimento em
da cóclea contém um padrão retificado do estímulo resposta a mudanças do seu potencial de membrana,
acústico. Em relação ao potencial microfônico gerado que trabalham como um sistema ativo amplificador e
NOVAS APLICAÇÕES
pelas células ciliadas externas, sua captação torna-se sintonizador, aumentando a sensibilidade e a seletivi-
possível devido à não linearidade da sua curva de dade de frequência do receptor coclear, especialmente
disparo de resposta. Neste caso, o som também causa a estímulos de baixa intensidade.
polarização e despolarização nas células ciliadas exter- Essas oscilações do potencial de membrana das
nas, porém há assimetria entre polarização (potencial células ciliadas não são necessariamente a cópia fiel do
positivo) e despolarização (potencial negativo), sendo estímulo auditivo. Ocorre como uma transdução não
o potencial negativo mais abrupto e com disparo de linear que introduz novos componentes de frequência
menor amplitude46,47. Este padrão de retificação faz no sinal transduzido. Estímulos de baixa intensidade
com que a resposta gerada por um tom contínuo, não alteram a magnitude desse potencial, porém, ao
modulado em amplitude, possa ser detectada como aumentar a intensidade do estímulo, a sua magnitude
um pico espectral na frequência de modulação41. aumenta, tendendo a alcançar o máximo. Essa trans-
Por serem respostas provenientes do tronco dução é compressiva e assimétrica, começando antes
encefálico, podem permitir o desenvolvimento de e sendo mais rápida durante a hiperpolarização da
uma técnica específica de captação do MC da mesma membrana da célula ciliar (Figura 1).
forma que os PEATE, sendo mais uma alternativa de O sinal transduzido de energia na frequência
avaliação do potencial microfônico. de modulação ocorre exatamente por meio da com-
pressão assimétrica, energia inexistente anterior-
mente48. Portanto, o MC será composto pela energia
7. MICROFONISMO COCLEAR DE na frequência espectral do som e na frequência
ESTADO ESTÁVEL de modulação. O sinal é retificado após a sinapse
entre a célula ciliar e a célula ganglionar, causando
Um estímulo auditivo de estado estável habi- mais energia na frequência de modulação. A figura
tualmente utilizado é construído modulando-se a 2 apresenta um exemplo do que ocorre durante a
amplitude de um tom puro a uma frequência entre transdução coclear.
257
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Despolarização
Potencial receptor
Modíolo
Movimento do estereocílio
Figura 1 – Função transdutora, compressiva e assimétrica das células ciliadas.
Célula Ciliar
Compressão Assimétrica
Sinapse com
Célula Ganglionar
Retificação Completa
SAÍDA
ENTRADA
Estímulo
SAÍDA
Microfonismo ENTRADA
95 Hz 1000 Hz
95 Hz 1000 Hz
Portadora: 1000 Hz Modulação: 95 Hz
Figura 2 – Exemplo da transdução da cóclea de um estímulo modulado em amplitude. As colunas apresentam respectivamente:
o estímulo, a célula ciliar, o MC, a sinapse entre a célula ciliar e a célula ganglionar e as respostas neurais. Acima aparece o sinal do
domínio do tempo e abaixo no domínio da frequência. Na lateral esquerda aparece o tom modulado em amplitude. FFT (Fast Fourier
Transform): Transformada Rápida de Fourier.
258
Parte II – Cap. 25 • AVALIAÇÃO DO MICROFONISMO COCLEAR DE ESTADO ESTÁVEL |
8. REGISTRO DO centro gerador − “a cóclea”. O MC obtido a partir de
gravações no promontório é reconhecido como um
MICROFONISMO COCLEAR
forte potencial50, originário principalmente a partir
DE ESTADO ESTÁVEL da ativação das CC localizadas na região mais basal
da cóclea, com as CCE que contribuem essencial-
Para o registro do MCEE, o estudo teve a apro-
mente para a produção de uma resposta51. A avalia-
vação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFPE, com
ção de outros potenciais evocados como o PEATE e
parecer número 728.902, em que foram analisados os EcoG com o eletrodo ativo inserido no CAE também
registros de 26 voluntários de ambos os gêneros. Todos apresenta o registro da resposta do MC com maior
com limiares auditivos menores que 25 dBNA para as amplitude1,7,8,52,53.
frequências de 250 a 8000 Hz. A idade dos indivíduos
avaliados variou entre 18 e 59 anos [média: 35,4 anos, A produção do estímulo e o registro e a análise
desvio-padrão (DP) = 10,43 anos]. das respostas foram realizados utilizando-se um
sistema MASTER (Multiple Auditory Steady-State
O teste iniciou após a limpeza da pele com a Response) de pesquisa16, acoplado ao Audiômetro
pasta NUPREP e a colocação dos eletrodos, com a AC33 Interacoustc. Todos os testes foram realizados
derivação: eletrodo-terra na clavícula direita, eletro- com fone de inserção EAR. Tone 3, dentro da cabine
do-referência G2 no lóbulo contralateral e o eletrodo acústica, climatizada, que seguiu as recomendações
ativo G1 no CAE da orelha a ser analisada. O eletrodo da ANSI 3.1 – 1991.
utilizado dentro do CAE foi o Gold TTE25 Tip Trode
O número máximo de varreduras utilizadas
Electrode 13 mm (Figura 3), os demais foram eletrodos
foi 36 para a obtenção do valor de p < 0,05. Quando
descartáveis da marca Meditrace 200.
atingido o nível de significância esperado, o mesmo
A escolha da derivação, como ilustra a figura 4, foi confirmado em pelo menos 2 varreduras subse-
visou à captação mais adequada do MC, uma vez que quentes. A coleta foi interrompida na presença de alta
os campos elétricos gerados pelo gânglio espiral, nervo taxa de estímulos rejeitados. Observar nas figuras 6 a
auditivo e núcleo coclear são também transversais, 8 os exemplos dos registros realizados.
apontando para a orelha contralateral. Os campos elé- Foram usados estímulos de 500, 1000, 2000 e
tricos gerados pelo lemnisco lateral e córtex auditivo 4000 Hz modulados na mesma frequência de 95 Hz
NOVAS APLICAÇÕES
são verticais, apontando para o vértex. A derivação e apresentados simultaneamente à orelha esquerda a
transversal utilizada minimiza a captação de campos intensidades de 60, 70 e 80 dBNPS. Assim como visto
verticais, usualmente de amplitudes bem maiores que na literatura, as respostas neurais foram reduzidas
os campos transversais49. pela estimulação em ritmos rápidos – 95 Hz54 − e
O eletrodo ativo no CAE garantiu uma resposta suprimidas pela apresentação do estímulo em pre-
mais robusta, pois o eletrodo se encontra próximo ao sença de ruído branco ipsilateral com intensidade
Figura 3 – Gold TTE25 Tip Trode Electrode 13 mm, eletrodos Figura 4 – Derivação utilizada no registro do MCEE. Eletrodo
descartáveis da marca Meditrace 200. ativo no canal auditivo, eletrodo-referência no lóbulo contralateral
e eletrodo-terra na clavícula direita.
259
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Figura 5 – Modelo que ilustra a captação do MC, com estímulo combinado de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, estimulando as células
ciliadas da cóclea. Na ausência e presença do mascaramento ( ), onde as respostas neurais são suprimidas restando o MC.
Figura 6 – MCEE registrado na frequência portadora de 2 KHz, Figura 7 – MCEE registrado na frequência portadora de 500 a
frequência moduladora de 95 Hz e com intensidade de 8 0dB- 4000 Hz, combinada, frequência moduladora de 95 Hz e com
NPS na orelha esquerda. Com uso do mascaramento ipsilateral. intensidade de 80 dBNPS na orelha esquerda. Com uso do
mascaramento ipsilateral.
260
Parte II – Cap. 25 • AVALIAÇÃO DO MICROFONISMO COCLEAR DE ESTADO ESTÁVEL |
As amplitudes das respostas foram maiores na
condição sem mascaramento e crescem com o au-
mento da intensidade do estímulo. Uma análise de va-
riância (ANOVA) multifatorial de medições repetidas
mostrou interação significativa (F (2,10) = 11.686, p
= 0,002) entre condição (com e sem mascaramento) e
intensidade do estímulo (60, 70 e 80 dBNPS). A análise
post-hoc (Fischer LSD) mostrou amplitudes significa-
tivamente maiores das respostas sem mascaramento
nas intensidades de 70 e 80 dBNPS. As amplitudes
em 80 dBNPS foram significativamente maiores que
as amplitudes em 70 e 60 dB, em ambas as condições.
A diferença entre as amplitudes das repostas em 70 e
Figura 8 – MCEE registrado na frequência portadora de 500 a 60 dBNPS alcançou significância apenas na condição
4000 Hz, combinada, frequência moduladora de 95 Hz e com
intensidade de 80 dBNPS na orelha esquerda. Com uso do sem mascaramento. O p crítico considerado foi 0,05.
mascaramento ipsilateral e clipado. Esse experimento demonstrou que o componente
de seguimento de envelope do MC obtido com um
estímulo de estado estável constituído de tons audíveis
suficiente para impedir a percepção do estímulo pelo modulados em amplitude pode ser registrado e anali-
voluntário1. Os registros foram obtidos na presença e sado no domínio da frequência20.
ausência de mascaramento. Com intensidades baixas e moderadas, apenas
Esse modelo (Figura 5) demostra como ocor- células ciliadas próximas da região da membrana basilar
re a transdução assimétrica compressiva liberando estimulada pela frequência da portadora são ativadas,
energia na frequência de modulação (componente de pois a cóclea atua como um filtro passa-banda. Quan-
seguimento de envelope do MC). Na sinapse com as do a intensidade ultrapassa 70 dBNPS, a cóclea passa
células ganglionares, haverá retificação completa do a atuar como um filtro passa-baixo e células ciliadas
sinal transduzido e liberação de mais energia na fre- situadas bem acima da frequência portadora são esti-
NOVAS APLICAÇÕES
quência de modulação20. A resposta captada é a soma muladas. A soma das variações de potenciais de mem-
do MC, das repostas neurais e do ruído produzido brana das células ciliadas ocorreria mais efetivamente
pelo cérebro, músculos da cabeça e outras fontes31. nas regiões basais de alta frequência da membrana
Para comprovar a captação da resposta do MC, a basilar devido à maior sincronia entre os potenciais43.
apresentação do estímulo foi realizada na presença As frequências portadoras apresentam ampli-
do mascaramento ipsilateral, a fim de extinguir a tudes maiores nas frequências médias (1000 e 2000
captação das respostas neurais. Hz), decrescendo significativamente nas baixas (500
Experimentos usando o mascaramento ipsila- Hz) e altas frequências (4000 Hz), atribuindo esse
teral demonstraram que as respostas são realmente comportamento à diminuição do tempo de ativação
originarias do MC1,49. A redução da resposta causada da membrana basilar, em cada ciclo de estimulação
pelo mascaramento resulta na mudança de latência por frequências altas. No caso das frequências porta-
neural, mas não nas respostas sensoriais31. doras baixas, embora o tempo de ativação seja maior,
Para afastar qualquer possibilidade da interfe- os neurônios respondem a fases diferentes de modo
rência de artefatos elétricos e garantir a discriminação que a superposição das respostas seja atenuada56.
entre respostas neurofisiológicas auditivas genuínas Ao estimular o ouvido, uma “onda viajante”
também foi utilizada a técnica de bloquear o tubo forma-se na membrana basilar da cóclea. Esta onda
do fone “clipar ” (saída do estímulo acústico), dessa viajante terá maior amplitude em determinada região
forma a resposta desapareceu em todos os casos, ao longo da membrana basilar, relacionada diretamen-
confirmando que os dados obtidos eram realmente do te à frequência portadora. Ao diminuir a frequência
MC. Porém, ao clipar o tubo de inserção, é preciso ter do estímulo, diminui também o pico da amplitude
cuidado para não mover o transdutor ou os eletrodos, da onda viajante, que atravessa da base para o ápice
pois, isso mudaria a resposta e poderia introduzir da cóclea. Tons de alta frequência estimulam prin-
elementos de incerteza na interpretação da presença cipalmente as regiões basais, enquanto tons de fre-
do MC3,37,53,55. quência mais baixos estimulam regiões mais apicais,
261
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
estimulando, assim, populações diferentes de células Esta amplitude foi menor que a soma algébrica das
ciliadas internas43. amplitudes das respostas aos estímulos isolados, pois
Para verificar os efeitos da frequência portadora a soma das amplitudes das ondas viajantes da mem-
no MC de estado estável, utilizamos tons de 500, 1000, brana basilar é vetorial, e não modular20.
2000 e 4000 Hz, modulados a 95 Hz, apresentados A frequência portadora pode ser avaliada de
independentemente à orelha esquerda de dez volun- forma isolada ou combinada (vários estímulos apre-
tários, com intensidade de 80 dBNPS. Estes estímulos sentados a uma orelha ou a ambas). O estímulo
também foram apresentados em conjunto, como no combinado demonstra o potencial para reunir mais
experimento anterior. As mesmas condições de regis- informações em um curto período, acelerando, assim,
tro do experimento anterior foram utilizadas, porém o tempo de teste42. A apresentação combinada não
apenas na condição com mascaramento. causa diminuição da amplitude, em uma ou ambas as
A amplitude da resposta cresce com a frequência orelhas, desde que as frequências portadoras estejam
portadora (500 Hz < 1000 Hz < 2000 Hz < 4000 Hz). separadas por pelo menos uma oitava49.
A amplitude da resposta ao estímulo combinado é Para avaliar o efeito da frequência de modula-
maior que a amplitude da resposta ao estímulo de 4000 ção nas respostas, foi realizado outro experimento,
Hz, porém é menor que a soma das amplitudes dos apresentando tons de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz
estímulos isolados. A análise de variância (ANOVA) modulados nas frequências de 95 Hz, 130, 160, 190 e
simples de medições repetidas foi significativa (F (4,4) 220 Hz e exibidos conjuntamente à orelha esquerda
= 7.284, p = 0,0002). A análise post-hoc (Fischer LSD) de dez voluntários, a uma intensidade de 80 dBNPS.
mostrou amplitudes significativamente maiores das Foram captadas respostas significativas com
respostas ao estímulo combinado que aos estímulos frequências de modulação até 220 Hz. Porém, a
isolados. A amplitude da resposta ao estímulo de 4000 amplitude da resposta decresceu significativamente
Hz é significativamente maior que aos estímulos de com frequências de modulação acima de 160 Hz.
1000 e 500 Hz. A análise estatística de variância (ANOVA) simples
A maior amplitude do componente de seguimen- de medições repetidas foi significativa (Fv (4,4) =
to do envelope do MC para portadoras de frequências 3.304, p = 0,0210) e a análise post-hoc (Fischer LSD)
mais elevadas pode relacionar-se a que as células mostrou amplitudes significativamente maiores para
ciliadas do segmento basal da membrana basilar os estímulos modulados em 95, 130 e 160 Hz que em
(ativadas pelas frequências altas) serem estimuladas 190 e 220 Hz20.
mais sincronicamente do que as células ciliadas do As amplitudes das respostas auditivas neurais de
segmento apical (ativadas pelas frequências baixas). seguimento de envelope possuem um pico de maior
Além disto, elas se situam mais próximas ao eletrodo amplitude em torno de 40 Hz e outro de menor ampli-
de registo. Com intensidades de estimulação eleva- tude, iniciando em torno de 80 Hz e prolongando-se
das, tons de baixa frequência estimularão também até cerca de 200 Hz, porém podem ser obtidas até
regiões de alta frequência da cóclea, porém o possível cerca de 500 Hz em indivíduos jovens57.
ganho de amplitude pela maior área estimulada da Em torno de 25 e 70 Hz, as amplitudes são muito
membrana basilar será anulado pelo cancelamento baixas e difíceis de serem distinguidas do ruído. Estes
causado pela diferença de fase entre diferentes regiões efeitos da frequência da modulação na amplitude da
da membrana basilar. resposta estão relacionados a características dos gera-
As frequências portadoras apresentam amplitu- dores neurais do tronco encefálico e córtex auditivo,
des maiores nas frequências médias (1000 e 2000 Hz), provavelmente uma combinação de superposição de
decrescendo significativamente nas baixas (500 Hz) respostas transientes ao início de cada ciclo de mo-
e altas frequências (4000 Hz). Esse comportamento dulação e da atividade de populações neuronais, res-
é atribuído à diminuição do tempo de ativação da pondendo especificamente ao envelope do estímulo.
membrana basilar, em cada ciclo de estimulação por A amplitude da resposta diminuiu com o aumen-
frequências altas. Portanto, ao utilizar frequências to da frequência moduladora, provavelmente porque
portadoras baixas, embora o tempo de ativação seja a resposta do MC é gerada na base da cóclea, região
maior, os neurônios respondem a fases diferentes de responsável pelas altas frequências, em que a sincronia
modo que a superposição das respostas é atenuada56. é maior. Os estudos em animais mostraram que o MC
A amplitude da resposta ao estímulo combinado gravado a partir da janela redonda é originado por
foi maior que as respostas aos estímulos isolados. geradores localizados na base da cóclea21.
262
Parte II – Cap. 25 • AVALIAÇÃO DO MICROFONISMO COCLEAR DE ESTADO ESTÁVEL |
A versão retificada do tom modulado em am- 3. Deltenre P, Mansbach AL, Bozet C, Clercx A, Hecox
plitude tem um componente espectral na frequência KE. Auditory neuropathy: a report on three cases with
na qual o tom foi modulado (ausente no estímulo early onsets and major neonatal illnesses. Electroence-
original). Este componente representa a transdução phalogr Clin Neurophysiol. 1997; 104(1):17-22.
do estímulo pela cóclea e, por isso, pode ser utilizado 4. Dallos P. Cheatham MA. Production of cochlear po-
para avaliar a sensibilidade da cóclea a este estímulo43. tentials by inner and out hair cells. J Acoustical Soc
Am. 1976; 60:510-2.
5. Ngo RYS, Tan HKK, Balakrishnan A, et al. Audi-
9. CONCLUSÃO tory neuropathy/auditory dys-synchrony detected by
universal newborn hearing screening. Int J Pediatr
O MC é uma resposta periférica, não neural, Otorhinolaryngol. 2006; 70:1299-306.
mediada por meio do potencial de membrana das 6. Rance G, Beer DE, Cone-Wesson B, Shepherd RK,
células ciliadas. Sua latência é muito pequena, da or- Dowell RC, King AM, et al. Clinical findings for a
dem de microssegundos. As principais geradoras do group of infants and young children with auditory
MC, as células ciliadas externas possuem capacidade neuropathy Ear Hear. 1999; 20(3):238-52.
contrátil e fazem parte de um complexo sistema ativo 7. Anastasio RTA, Alvarenga KF, Costa Filho AO. Ele-
envolvendo a membrana tectória, a membrana basilar trococleografia extratimpânica na neuropatia/des-
e as células ciliadas internas20. sincronia auditiva. Rev Bras Otorrinolaringol. 2008;
A técnica para o registro de uma versão de estado 74(1):132-6.
estável do microfonismo coclear apresenta caracte- 8. Stuermer KJ, Beutner D, Foerst A, Hahn M, Lang-
rísticas promissoras para o estudo do microfonismo -Roth R, Walger M. Electrocochleography in children
coclear e diagnóstico diferencial da dessincronia audi- with auditory synaptopathy/ neuropathy: Diagnostic
tiva. Seu registro pode ser realizado nas intensidades findings and characteristic parameters. Int J Pediatric
de 60 a 80 dBNPS. A frequência portadora ideal para Otorhinolaryngol. 2015; 79:139-45.
seu registro é 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, combinadas, 9. Hood LJ. Auditory neuropathy: what is it and what can
enquanto a frequência moduladora ideal para seu we do about it? Hear J. 1998; 51(8):10-8.
registro é de 95 Hz. 10. Santarelli R, Arslan E. Electrocochleography in audi-
tory neuropathy. Hear Res. 2002; 170:32-47.
NOVAS APLICAÇÕES
Embora o MC possa melhorar a sensibilidade e
especificidade de identificação desordens auditivas, 11. Regan, D. Human brain electrophysiology: Evoked
tem havido um número limitado de estudos que potentials and evoked magnetic fields. Science and
investigam o MC nos seres humanos. A escassez medicine. Elsevier. 1989, p.167-209.
de pesquisas com registros de MC pode ser devida, 12. Hall JW. Introduction to Auditory Evoked Responses
em parte, à variabilidade que ocorre com as ampli- Measurement. In: Hall JW III. New Handbook of Au-
tudes em orelhas normais e anormais, bem como à ditory Evoked Responses. Boston: Allyn and Bacon.
dificuldade técnica de separar o MC do artefato de 2006, p. 58-108.
estímulo58. 13. Duarte Jl, Alvarenga KF, Garcia TM, Costa Filho OA,
Lins OG. A resposta auditiva de estado estável na
O MCEE por ser, contudo, um procedimento
avaliação auditiva: aplicação clínica. Pró-Fono 2008;
recente, espera-se que esse estudo possa não só mos-
20(2):105-10.
trar seu valor no diagnóstico de alterações cocleares,
mais também contribuir num futuro próximo para o 14. Picciotti PM, Giannantonio S, Paludetti G, Conti G.
Steady state auditory evoked potentials in normal hea-
diagnóstico rápido e preciso da DA, implantar esta
ring subjects: evaluation of threshold and testing time.
nova técnica aos protocolos de programas de triagem
ORL J Otorhinolaryngol Relat Spec. 2012; 74(6):310-4.
auditiva neonatal, uma vez que pode ser registrado
15. Korczak P, Smart J, Delgado R, Strobel TM, Bradford C.
durante o sono.
Auditory Steady-State Responses. J Am Acad Audiol.
2012; 23:146-70.
REFERÊNCIAS 16. John MS, Picton TW. Human auditory steady-state res-
ponses to amplitude-modulated tones: phase and laten-
1. Star A, Picton TW, Sininger Y, Hood L, Berlin CI. cy measurements. Hearing Research. 2000; 141:57-79.
Auditory Neuropathy. Brain. 1996; 119:741-53. 17. Stürzebecker E, Cebulla M, Pschirrer U. Efficient
2. Doyle KJ, Sininger Y, Starr A. Auditory Neuropaty in stimuli for recording of the amplitude-modulation fol-
Childhood. Laryngoscope. 1998; 108:1374-7. lowing response (AMFR). Audiology. 2011; 40:63-68.
263
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
18. Geisler, CD. From sound to synapse. Physiology of hearing screening. Int J Pediatr Otorhinolaryngol.
the mammalian ear. New York, NY, Oxford University 2011; 75(7):973-5.
Press. 1998. 34. Berlin CI et al. Multi-site diagnosis and management of
19. Abbas PJ, Brown CJ. Electrocochleography. In: Katz 260 patients with auditory neuropathy/dys-synchrony
J. Handbook of clinical Audiology. Baltimore, MD: (auditory neuropathy spectrum disorder). Int J Audiol.
Lippincott Willian & Wilkins. 2009; 6:242-264. 2010; 49(1):30-43.
20. Soares IA, Lins OG. Microfonismo Coclear de Estado 35. Bielecki I, Horbulewicz A, Wolan T. Prevalence and
Estável. In: Tratado de Audiologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: risk factors for auditory neuropathy spectrum di-
Guanabara Koogan, 2015. sorder in a screened newborn population at risk for
21. Withnell RH. Brief report: the cochlear microphonic hearing loss. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2012;
as an indication of outer hair cell function. Ear Hear. 76(11):1668-70.
2001; 22:75-7. 36. Sharma A, Cardon G. Cortical development and
22. Spinelli M, Fávero-Breuel ML, Silva CMS. Neuropatia neuroplasticity in Auditory Neuropathy Spectrum
auditiva: aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos. Disorder. Hearing Research. 2015; p.1-12.
Rev Bras Otorrinolaringol. Nov 2001; 67(6):863-867. 37. Rance G. Auditory neuropathy/dys-synchrony and
23. Simmons JL, Beauchaine KL. Auditory neuropathy: its perceptuais consequences. Trends Amplif. 2005;
case study with hyperbilirubinemia. J Am Acad Audiol. 9:1-43.
2000; 11:337-47. 38. Starr A, Sininger Y, Nguyen T, Michalewski HJ, Oba
S, Abdala C. Cochlear receptor (microphonic and
24. Parra VM, Matas CG, Neves IF. Estudo de caso: neu-
summating potentials, otoacoustic emissions) and
ropatia auditiva. Rev Bras Otorrinolaringol. 2003;
auditory pathway (auditory brain stem potentials) ac-
69(2):283-88.
tivity in auditory neuropathy. Ear Hear. 2001; 22:91-9.
25. Hassan S, Dimitrov R, Munhoz MSL, Caovilla HH.
39. Rose K, Hood LJ, Berlin CI. Overview of the evolution
Da influência do gênero, da intensidade do estímulo
of auditory neuropathy - Its diagnosis and manage-
e do perímetro cefálico nas latências da Audiometria
ment. ASHA. 2002; 12:3-11.
de Tronco Encefálico. Acta Awho. 1997; 16(4):150-60.
40. Stroebel D, Swanepoel DW. Does parental experience
26. Hall JW, New Handbook for Auditory Evoked Res-
of the diagnosis and intervention process differ for
ponses. Boston: Pearson Education. 1992, p.724-34.
children with auditory neuropathy? Int J Pediatric
27. Mallinson BR. Brainstem auditory evoked potentials in Otorhinolaryngol. 2014; 78:2210-5.
the assessment of hearing. S Afr Med J. 1986; 69:813-16.
41. Aoyagi M, Kiren T, Furuse H, Fuse T, Suzuki Y, Yo-
28. Flabiano FC, Leite RA, Matas CG. Audiometria de kota M, Koike Y. Pure-Tone threshold prediction by
Tronco Encefálico em adustos audiologicamente nor- 80Hz amplitude-modulation following response. Acta
mais: comparação das latências absolutas das ondas I, Otolaryngol. (Stockh) Supplement. 1994; 504:7-14.
III, V, interpicos I-III, III-V, I-V, amplitudes das ondas
42. Ferraz OB, Freitas SV, Marchiori LLM. Análise das
I, III, V e relação da amplitude V/I, obtidas em dois
respostas obtidas por potenciais evocados auditivos
equipamentos diferentes. Acta ORL. 2003; 2:21. de estado estável em indivíduos normais. Rev Bras
29. Fávero ML, Silva FLC, Tabith Júnior A, Nicastro FS, Otorrinolaringol. 2002; 68(4):480-486.
Gudmond MC, Spinelli M. Mudanças no parâmetro 43. Lins OG. Audiometria Fisiológica Tonal Utilizando
do clique durante a captação do BERA. Rev Bras Respostas de Estado Estável auditivas do tronco ce-
Otorrinolaringol. 2007; 73(1):7-11. rebral. 116 f. Tese de doutorado em Medicina (Escola
30. Roland PS, Yellin MW, Meyerhoff WL, Frank T. Si- Paulista de Medicina), 2002.
multaneous comparison between transtympanic and 44. Ross B, Draganova R, Picton TW, Pantev C. Frequency
extratympanic electrocochleography. Am J Otol. 1995; specificity of 40-Hz auditory steady-state responses.
16(4):444-50. Hearing Research. Nova York. 2003; 186:57-68.
31. Berlin CI, Bordelon J, St. John P, Wilensky D, Hurley 45. Markessis E, Poncelet L, Colin C, Coppens A, Hoo-
A, Kluka E, Hood LJ Reversing click polarity may un- nhorst I, Deggouj N, Deltenre P. Auditory steady-s-
cover auditory neuropathy in infants. Ear and Hearing. tate evoked potentials (ASSEPs): a study of optimal
1998; 19:37-47. stimulation parameters for frequency-specific thre-
32. Hood LJ. Auditory Neuropathy/Dys-Synchrony Disor- shold measurement in dogs. Clin Neurophysiol. 2006;
der Diagnosis and Management. Otolaryngol Clin N 117:1760-71.
Am. 2015 ; 48(6):1027-40. 46. Furukawa T, Ishii Y, Matsuura S. An analysis of micro-
33. Maris M, Venstermans C, Boudewyns AN. Auditory phonic potencials of the sacculus of goldfish. Japan J
neuropathy/dyssynchrony as a cause of failed neonatal Physiology. 1972; 22:603-16.
264
Parte II – Cap. 25 • AVALIAÇÃO DO MICROFONISMO COCLEAR DE ESTADO ESTÁVEL |
47. Corey DP, Hudspeth AJ. Analysis of the microphonic 53. Masood A, Teal PD, Hollitt C. A non-invasive Cochlear
potential of the bullfrogs sacculus. J Neuroscience. Microphonic measurement system. Medical Enginee-
1982; 3(5):942-961. ring & Physics 2012; 34:1191-95.
48. Lins OG, Picton T. Auditory steady-state responses to 54. Chatrian GE, Wirch AL, Lettich E, Turella G, Snyder
multiple simultaneous stimuli. Electroencephal Clin JM. Click-evoked human electrocochleogram. No-
Neurophysiol. 1996; 420-32. ninvasive recording method, origin and physiologic
significance. Am J EEG Technology. 1982; 22:151-174.
49. Herdman AT, Picton TW, Stapells DR. Place specificity
of multiple auditory steady-state responses. J Acoust 55. Lightfoot G, Stevens J, Sutton G, Brockbank C, Ma-
son S. Guidelines for Cochlear Microphonic Testing.
Soc Am. 2002; 112(4):1569-82.
Newborn hearing screening and assessment. 2011.
50. Eggermont JJ. Electrocochleography. In: Keidel WD,
56. Picton TW, John MS, Dimitrijevic A, Purcell DW.
NeffWD, editors. Handbook of sensory physiolo-
Human auditory steady-state responses. Int J Audiol.
gy. Berlin: Auditorysystem, Springer Verlag. 1976;
2003; 42(4):177-219.
625-705.
57. Purcell DW, John MS, Schneider BA, Picton TW.
51. Dallos P. Some electrical circuit properties of the organ Human temporal auditory acuity as assessed by en-
of Corti. I. Analysis without reactive elements. Hear velope following responses. J Acoust Soc Am. 2004;
Res. 1983; 12:89-120. 116:3581-93.
52. Riazi M, Ferraro JA. Observations on Mastoid ver- 58. Ferraro JA, Durrant JD. Electrocochleography. In: Katz
sus Ear Canal Recorded Cochlear Microphonic in J. ed. Handbook of Clinical Audiology. 5th edition.
Newborns and Adults. J Am Acad Audiol. 2008; Baltimore: Lippincott, Williams and Wilkins. 2002,
19:46-55. p. 249-273.
NOVAS APLICAÇÕES
265
Parte III
269
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Figura 1 − Estrutura do sistema vestibular periférico. Fonte: Oliveira, p. 18.(Disponível: Oliveira, AC de. Estudos dos potenciais miogê-
nicos vestibulares de estado estável. Ribeirão Preto: USP/Faculdade de Medicina, 2010).
Por fim, os órgãos vestibulares detectam a ace- de mácula6,9. Nos humanos, o utrículo contém apro-
leração da cabeça devido à inércia de seu conteúdo ximadamente 30.000 células ciliadas, enquanto no
interno, que resulta em forças nas suas células ci- sáculo contém 16.0006,12.
liadas6,10. Como exemplo, uma situação simples de O utrículo é maior em relação à mácula, e ocupa
rotação no plano de um canal semicircular. Quando a parte superior do vestíbulo7-9. O sáculo possui forma
a cabeça começa a rotacionar, a membrana e os la- globular e se localiza no recesso esférico, próximo da
birintos ósseos movem-se junto com ela por causa cóclea. Sua cavidade não se comunica diretamente com
de sua inércia; no entanto, a endolinfa fica atrás do a do utrículo, e na parte anterior do sáculo encontra-se
labirinto membranoso circundante, girando, assim, a mácula, especificamente a mácula sacular, os quais
no canal em direção oposta à da cabeça6. recebem os filamentos saculares da parte vestibular
do nervo craniano VIII6,8. Quanto a sua inervação, o
nervo vestibular superior inerva os canais superior e
2.1. Cóclea
horizontal do utrículo, enquanto o nervo vestibular
É a parte auditiva da orelha interna10. É uma inferior inerva o canal posterior e o sáculo9,13.
cavidade em forma de espiral no labirinto ósseo, que Os feixes das células ciliadas otolíticas estendem-
faz 2,5 voltas em torno do seu eixo11. A componente -se para uma folha gelatinosa, denominada membrana
central da cóclea é o órgão de Corti, denominado otolítica, que cobre toda a mácula. Nesta membrana
órgão sensorial da audição, sem muita contribuição encontramos finas partículas densas de carbonato de
com o equilíbrio. Em contrapartida, os canais semi- cálcio, chamado otoconia, que dão origem aos otólitos.
circulares e os órgãos otolíticos são partes integrantes O movimento destas células ocorre devido às acele-
do mecanismo do equilíbrio9,11. rações lineares e à gravidade, que exercem forças de
cisalhamento. Esta deformação resulta em deflexão
2.2. Órgãos Otolíticos: Utrículo e dos cílios (ou estereocílios) das células ciliadas, alte-
rando a atividade do nervo vestibular para sinalizar
Sáculo aceleração linear devido ao movimento de translação
Os dois órgãos otolíticos, o sáculo e o utrículo, ou gravidade6.
são responsáveis não apenas pela detecção da rotação Para mais esclarecimentos, faz-se necessário
de cabeça, mas também pela aceleração linear, ou seja, compreender a posição das células ciliadas e a sua
a orientação estática da cabeça relativa à gravidade. movimentação nos órgãos otolíticos. Quando o corpo
Cada órgão mede cerca de 3 mm, situado no labirinto encontra-se em posição ereta, a mácula sacular apre-
membranoso6. As células ciliadas de cada órgão estão senta-se em posição verticalizada e a utricular, hori-
dispostas de forma grosseiramente elíptica e chamada zontalizada. Todavia, as células ciliadas representam
270
Parte III – Cap. 26 • FISIOLOGIA DO POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR CERVICAL |
todas as orientações possíveis dentro do plano de cada Em relação à cabeça em posição vertical, a mácu-
mácula, mas as máculas são orientadas verticalmente la utricular estará em posição horizontal e em repouso,
em planos quase parassagitais. Os sáculos são, por- não havendo estimulação efetiva, pois os cílios estarão
tanto, especialmente sensíveis a acelerações verticais, verticalizados, sem forças tangenciais atuando neles.
incluindo a gravidade. Determinadas células ciliadas Neste caso, ocorre descarga de impulsos espontâ-
saculares também respondem a acelerações no plano nea, de repouso nos axônios, que se ligam às células
horizontal, em particular no eixo anteroposterior6. sensitivas. Na mácula sacular, devido a sua posição
Quanto ao utrículo é organizado para detectar verticalizada, estará ocorrendo estimulação efetiva.
a inclinação da cabeça7-9. Suas células ciliadas no Isto porque os otólitos atraídos pela força gravitacional
epitélio do utrículo têm feixes de cílios apicais que provocam deslocamento das membranas otolíticas em
Otoconia
Membrana otolítica
Quinocílio Estereocílio
Células
ciliadas
271
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Por fim, no que compete à estimulação para de- na fenda sináptica e, consequentemente, a resposta
sencadear o VEMP cervical, esta ocorre inicialmente dos neurônios ganglionares que integram o nervo
na mácula sacular, por ser mais sensível à estimulação vestibular e posteriormente para o tronco encefálico,
auditiva, devido a sua proximidade anatômica com núcleos vestibulares13.
a cóclea, em comparação com os outros órgãos do
sistema vestibular14.
3. REFLEXOS VESTIBULARES
2.3. Canais Semicirculares Os reflexos vestibulares representam uma classe
Os CSC são responsáveis pelo sentido de mo- de reflexos posturais. Como a rotação da cabeça ativa
vimentação da cabeça; todavia, os órgãos otolíticos os receptores sensoriais nos canais sensoriais, além de
(o utrículo e o sáculo) são responsáveis pelo sentido gerar movimentos oculares, os impulsos sensoriais
de movimentação linear, também chamada transla- para os núcleos vestibulares resultam em reajustes
ção1,9,12, visto que a gravidade é uma aceleração linear, posturais6.
como também no senso de orientação, ou inclinação Como visto anteriormente, a via primária para
da cabeça relativa à gravidade6. os reflexos de equilíbrio inicia nos nervos vestibulares,
Os CSC têm formato de anéis são constituídos onde são excitados pelo sistema vestibular5,6,10. Esta via
de três estruturas, denominados horizontal, anterior passa para os núcleos vestibulares e para o cerebelo,
e posterior, dispostas ortogonalmente entre si9,10. No depois são enviados sinais para os núcleos reticulares
interior encontra-se endolinfa; sendo assim, devido à do tronco encefálico e para a medula espinhal através
lei da inércia, cada movimento de cabeça, e por con- dos tratos vestibuloespinhais e reticuloespinhais. Os
sequência do canal semicircular, provoca inicialmente sinais para a medula controlam a inter-relação entre
um movimento da endolinfa no sentido contrário. As facilitação e inibição dos muitos músculos antigravi-
duas extremidades de cada um dos CSC terminam no tacionais Desta forma, controlam automaticamente
utrículo, enquanto uma delas é aberta e promove uma o equilíbrio6.
comunicação entre CSC e utrículo, a outra apresenta O reflexo vestibuloespinhal é responsável por
uma dilatação denominada ampola. A ampola contém manter a postura do corpo e estabilização da cabeça com
uma estrutura, a cúpula, composta por uma substância movimentos musculares compensatórios em resposta à
gelatinosa. Esta comunicação com o utrículo é fechada atividade sensorial aferente dos canais semicirculares e
pela cúpula6,13. máculas sacular e utricular. O desencadeamento desse
Na região ampolar, há também um espessamento estímulo gera descontração muscular central por um
epitelial denominado crista ampolar, a qual contém período muito breve (de poucos milisegundos)7.
as células ciliadas, e estão localizadas logo abaixo da Já o reflexo vestíbulo-ocular é responsável pela
cúpula. Como visto anteriormente, as células cilia- resistência que o corpo exerce no sistema vestíbulo-
das mantém os seus cílios embebidos na substância -ocular para compensar o movimento da cabeça. Há
gelatinosa, e seus movimentos de deflexão da cúpula três reflexos vestíbulos-oculares diferentes. O vestíbu-
levam à inclinação dos cílios15. lo-ocular rotacional compensa a rotação da cabeça e
Os cílios possuem canais iônicos bastante per- recebe sua entrada predominantemente dos canais se-
meáveis ao potássio que se encontram parcialmente micirculares. O reflexo vestíbulo-ocular translacional
abertos quando a cabeça se encontra em posição or- compensa o movimento linear da cabeça. O terceiro
tostática em repouso, de forma que mesmo na ausên- reflexo é a resposta ocular de contrarrolamento, que
cia de estímulos ambientais, o nervo vestibular possui compensa a inclinação da cabeça no plano vertical6,16.
uma taxa basal de disparos de potenciais de ação. O
movimento dos cílios em direção ao quinocílio leva
ao aumento do influxo de potássio, por meio do esti- 4.
cVEMP: DO ESTÍMULO À VIA
ramento da membrana, provocando despolarização. NEURAL
Por outro lado, o movimento dos cílios em direção
ao cílio menor provoca o fechamento dos canais, cau- O cVEMP ocorre por um potencial elétrico
sando hiperpolarização do potencial de repouso do registrado no músculo em resposta a estimulação
receptor. Essa alteração na atividade eletrofisiológica vestibular. O músculo efetor padrão é o esterno-
modula a quantidade de neurotransmissor liberado cleidomastóideo3,5,14,17,18. O reflexo também pode ser
272
Parte III – Cap. 26 • FISIOLOGIA DO POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR CERVICAL |
desencadeado por estimulação galvânica, que ocorre Desta forma, a mácula é ativada pelo estímulo
no processo mastoideo e que atua diretamente nas sonoro, gerando um potencial elétrico que segue pelo
descargas aferentes primárias da parte distal do nervo trajeto do nervo vestibular inferior, núcleo vestibular
vestibular e dos núcleos vestibulares. Na configura- lateral, trato vestibuloespinal e, finalmente, neurônio
ção binaural e bipolar, ao aplicar o estímulo elétrico motor ipsilateral da musculatura cervical. Os núcleos
em ambos os processos mastóideos, as aferências vestibulares estão localizados na ponte, situados no
vestibulares do lado negativo (cátodo) são excitadas assoalho do IV ventrículo e se dividem em: medial,
e as do lado positivo (ânodo) são inibidas, alterando inferior, lateral e superior5,13,22.
o potencial de repouso. O estímulo alcança os tratos O núcleo vestibular lateral recebe respostas pro-
medulares descendentes vestibuloespinhal e reticu- venientes da estimulação da via ipsilateral; contudo,
Sáculo
Figura 3 − Caminho neural do VEMP. Fonte: Oliveira, p. 27 (Disponível: Oliveira AC de. Estudos dos potenciais miogênicos vestibulares
de estado estável. Ribeirão Preto: USP/Faculdade de Medicina, 2010).
273
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
inerva o músculo esternocleidomastóideo e a parte Tal fato pode se evidenciado em outros estudos
superior do trapézio. Uma lesão do espinhal medular que obtiveram a resposta do cVEMP nos membros
repercute em fraqueza dos seguintes movimentos: superiores26 e inferiores27,28.
rotação da cabeça para o lado saudável; abaixamento
dos ombros; ergue o músculo omoplata para fora e
na elevação dos ombros11,23.
5. CAPTAÇÃO DO cVEMP EM
Sendo assim, a via demonstrada pela maioria
OUTRA MUSCULATURA
dos estudos com o cVEMP justificaria o relaxamento Cherchi e colaboradores investigaram a cap-
do músculo esternocleidomastóideo através nervo tação do cVEMP no músculo do tríceps. Para esta
craniano em seu XI par pela via medular. finalidade, utilizaram um estímulo tone burst de 500
Hz em 90 dB, e estimulação galvânica em indivíduos
4.1. Trato Vestibuloespinhal que não apresentassem qualquer comorbidade que
alterasse a resposta reflexa ao estímulo acústico. Os
O percurso do TVE, que se divide em lateral e indivíduos ficaram em uma posição que favoreceu
medial, o qual tem a origem no núcleo vestibular la- o nível de contração muscular tônica e os eletrodos
teral, descende ipsilateralmente pelo funículo ventral foram posicionados no terço médio de cada músculo
da medula e termina nos interneurônios associados tríceps (Figura 4)26.
com grupos de neurônios motores mediais. O TVE Em todos os casos, pelo menos duas formas de
lateral excita os neurônios que inervam os músculos onda de resposta foram obtidas, a partir do tríceps
extensores e os músculos da parte proximal do mem- ipsilateral ao estímulo acústico, e do tríceps contra-
bro. Os impulsos excitatórios que vão ao encontro do lateral ao estímulo. Este experimento mostrou que,
núcleo vestibular lateral são provenientes dos canais para ambos os casos, obteve-se resposta do cVEMP
semicirculares e dos órgãos otolíticos, e os estímulos dos lados ipsilateral e contralateral26.
inibitórios provem das células de Purkinje, da região
do vérmix anterior do córtex cerebelar24. Estas célu-
las são os únicos neurônios do cerebelo capazes de
transmitir impulsos eferentes formados no córtex
cerebelar25.
A função importante do TVE lateral é auxiliar
nos ajustes posturais após acelerações angulares e
lineares da cabeça. Ademais, o TVE medial origina-se
do núcleo vestibular medial, desce pelo funículo ven-
tral da medula para os níveis cervicais e torácicos mé-
dios, finalizando no grupo de interneurônios mediais.
Os estímulos sensoriais do labirinto proveem, na sua
maioria, dos canais semicirculares. Por esta razão, essa
via é responsável pelos ajustes da cabeça em resposta às
acelerações angulares. Este trato causa contrações dos
músculos do pescoço, que se opõem ao movimento
induzido, chamado reflexo vestibulocólico24.
Conforme já explanado, a via do TVE resulta na
comunicação final em nível medular pelos interneurô-
nios. Por sua vez, os interneurônios têm a função de
conectar um neurônio sensitivo a um motor, ou seja,
informar o relaxamento ou a inibição da ação mus-
cular24. Sendo assim, a resposta acústica do cVEMP
pode ocorrer em outros músculos do corpo e de forma Figura 4 − Músculo tríceps. Fonte: Site: Dreamstime (Disponível:
https://fr.dreamstime.com/illustration-stock-le-triceps-muscles-
simultânea. Todavia, a ação de relaxamento é curta e -des-muscles-d-anatomie-d-isolement-sur-le-blanc-l-illustr-d-
não promove a queda do corpo. -image71505291).
274
Parte III – Cap. 26 • FISIOLOGIA DO POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR CERVICAL |
Quanto à justificativa da via neural, resulta da Outro estudo pesquisou as reações posturais
estimulação do sáculo a sons fortes, que gera um sinal evocadas no aparelho vestibular e sua modulação
que percorre a via do nervo vestibular inferior para e transmissão através do caminho do reflexo espi-
o núcleo vestibular lateral. Em seguida , percorre a nhal em homens. Para esta finalidade, foi utilizada
medula espinhal, possivelmente TVE e sinapses em estimulação galvânica bilateralmente nos proces-
interneurônios, e os neurônios motores que iner- sos mastóideos. Os indivíduos ficaram em pé para
vam os músculos somáticos27, fato este explanado promover o estado de contração muscular, com a
anteriormente. cabeça virada para um dos lados e em movimento de
Rudissil e Hain pesquisaram o músculo gas- balanço. O procedimento utilizado foi o método do
condicionamento do reflexo H do músculo sóleo. A
275
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
O presente capítulo elucidou que o percurso do Médica. 12ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2011, p.
VEMP não se restringe ao XI par do nervo craniano, 693-704.
mas sim pelo TVE, que possibilita a comunicação em 12. Guyton A, Hall J. O sentido da audição. In: Tratado
nível medular pelos interneurônios, que por sua vez de Fisiologia Médica. 12ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier.
conecta um neurônio sensitivo a um motor, e informa 2011, p. 671-82.
sobre o relaxamento muscular. 13. Oertel D, Doupe A. The Auditory Central Nervous
Novas pesquisas são necessárias para esclarecer o System. In: Kandel et al. Principles of Neural science.
caminho neural percorrido pelo VEMP, com estudos Fifth edit. New York: The McGraw-Hill Companies.
2013, p. 682-711.
de imagem e com aplicabilidade em outros músculos
como resposta efetora. 14. Welgampola M, Colebatch J. Characteristics and
Clinical applications of vestibular-evoked myogenic
potencials. Neurology. 2005; 64(10):1682-8.
REFERÊNCIAS 15. Hungria H. Fisiologia Vestibular. In: Hungria, H.
Otorrinolaringologia. 7ª edição. Rio de Janeiro: Gua-
1. Oliveira A, Colafêmina J, Menezes P. Vestibular evo- nabara Koogan. 1995, p. 255-62.
ked myogenic potentials low frequency stiuli. Braz J 16. Young Y et al. Vestibular evoked myogenic potentials:
Otorhinolaryngol. 2011; 77(6):706-10. optimal stimulation and clinical. J Biomed Sci. 2006;
2. Silva T et al. Potencial evocado miogênico vestibular 13:745-51.
ocular e cervical simultâneo em indivíduos normais 17. Akin FW, Murnane OD. Vestibular Evoked Myogenic
Ocular and cervical vestibular evoked myogenic. Potentials: Preliminary Report. J Am Acad Audiol 12.
CoDAS. 2016; 28(1):34-40. 2001; 12:445-52.
3. Oliveira A, David R, Colafêmina F. Potenciais miogê- 18. Pereira AB, Silva GSM, Felipe L, Assunção ARM,
nicos evocados vestibulares: metodologias de registro Atherino CCT. Potencial evocado miogênico vesti-
em homens e cobaias. Rev Bras Otorrinolaringol. bular (VEMP). Revista Hospital Universitário Pedro
2008; 74(5):770-5. Ernesto. 2015;14(1):56-59.
4. Felipe L, Kingma H, Gonçalves DU. Vestibular evoked 19. Cunha L, Labanca L, Tavares M, Gonçalves D. Vesti-
myogenic potential. Arq Int Otorrinolaringol. 2012; bular-evoked electromyographic responses in soleus:
16(1):103-7. a comparison between clickand galvanic stimulation.
5. Papathanasiou E et al. Clinical Neurophysiology In- Braz J Otorhinolaryngol. 2014; 80(1):48-53.
ternational guidelines for the clinical application of 20. Watson SRD, Colebatch JG. Vestibular-evoked elec-
cervical vestibular evoked myogenic potentials: An tromyographic responses in soleus: a comparison
expert consensus report. Clin Neurophysiol [Inter- between click and galvanic stimulation. Exp Brain
net]. Int Fed Clin Neurophysiol. 2014; 125(4):658- Res. 1998:119:504-10.
66. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.
21. Barreto A, Colafêmina J, Menezes P. Saccular sensi-
clinph.2013.11.042
tivity function measured by vestibular evoked myo-
6. Goldberg M, Walker M, Hudspeth A. The Vestibular genic potential. Acta Otolaryngol. 2011 (Sept 2010):
System. In: Principles of Neural Science. Fifth edit. New p. 1-6.
York: The McGraw-Hill Companies. 2013, p. 917-34.
22. Aidar R, Suzuki F. Potencial evocado miogênico
7. Mor R, Fragoso M, Taguchi C, Figueiredo J. Anatomia vestibular: novas perspectivas diagnósticas em es-
e fisiologia do aparelho vestibular. In: Bases Anatômi- clerose múltipla. Rev Bras Otorrinolaringol. 2005;
cas da Audição e equilíbrio. São Paulo: Loivise; 2001. 71(1):48-54.
8. Bonaldi L, De Angelis M, Ribeiro E, Smith R. Estrutu- 23. Cambier J, Masson M, Dehen H. Semiologia dos
ra e organização periférica relacionadas ao equilíbrio. nervos cranianos. In: Manual de neirologia. 2ª ed.
In: Bases Anatômicas da Audição e Equilíbrio. São Rio de Janeiro: Atheneu. 1988, p. 55-89.
Paulo: Ed. Santos, 2004.
24. Rubinson K, Lang E. Organização da função moto-
9. Hudspeth A. The Inner Ear. In: Principles of Neural ra. In: Koeppen B, Stanton B, editors. Berne & Levy
Science. Fifth edit. New York: The McGraw-Hill Fisiologia. 6th ed. Elsevier. 2009, p. 157-200.
Companies. 2013, p. 654-80.
25. Apfel MIRE, Ésberard CA, Rodrigues FKPereira,
10. Oliveira J. Fisiologia do sistema vestibular. BJORL. Bahamad FM, Sillero, RO. Estudo estereológico das
1983; 49:17-28. células de Purkinje cerebelares submetidas à intoxi-
11. Guyton A, Hall J. Funções motoras da medula espi- cação alcoólica em ratos wistar. Arq Neuropsiquiatr.
nhal: os reflexos espinhais. In: Tratado de Fisiologia 2002; 60:258-63.
276
Parte III – Cap. 26 • FISIOLOGIA DO POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR CERVICAL |
26. Cherchi M et al. Sound Evoked Triceps Myogenic 28. Iles J, Pisini J. Vestibular-evoked postural reactions in
Potentials. Otol Neurotol. 2009; 30(16):545-50. man and modulation of transmission in spinal reflex
27. Rudisill E, Hain T. Lower Extremity Myogenic Poten- pathways. J Physiol. 1992; 455:407-24.
tials Evoked by Acoustic Stimuli in Healthy Adults. 29. Oliveira A. Potenciais evocados cervicais e ocular
Otol Neurotol. 2008; 29:688-92. na avaliação vestibular. In: Boéchat et al. Tratado
de Audiologia. 2ª ed. São Paulo: Ed. Santos. 2015, p.
193-8.
277
27
POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR
OCULAR NO DIAGNÓSTICO OTONEUROLÓGICO
Aline Cabral de Oliveira
Pedro de Lemos Menezes
279
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
e os canais semicirculares horizontal e anterior, e o 3. CAMINHO NEURAL E
nervo vestibular inferior inerva o canal semicircular
TRAÇADO DO oVEMP
posterior e a maioria do sáculo8. A mediação pelo
nervo vestibular superior não é, portanto, indicativo Apesar de ainda existirem controvérsias quanto
do órgão final envolvido. a via neural do oVEMP, para estímulos por VA, a
As ligações neurais sáculo-oculares são fracas hipótese mais fundamentada é a de que o potencial
quando comparadas com as ligações utrículo-ocula- desencadeado no sáculo ative as fibras do nervo vesti-
res9, sugerindo que as projeções otólito-oculares do- bular inferior, atravesse o canal auditivo interno para
minantes devem ser, de fato, provenientes do utrículo. formar o trato vestibular, o qual chega aos núcleos
Dessa forma, os aferentes dos otólitos das máculas vestibulares no tronco encefálico16. Após a estimu-
utriculares e saculares respondem sensivelmente aos lação dos núcleos vestibulares, este impulso nervoso
estímulos por VA e VO10-11. No entanto, as projeções segue para o fascículo longitudinal medial, onde em
motoras do sáculo para o sistema ocular são bastan- algum momento ocorre a decussação, terminando
te fracas, enquanto existem fortes conexões neurais nos núcleos oculomotores, nos nervos oculares e,
utrículo-oculares e sáculo-cervicais apontando para finalmente, nos músculos oculares17. Esses núcleos
o sáculo como origem dos cVEMP e para o utrículo enviam impulsos ascendentes aos núcleos oculomo-
como origem dos oVEMP12. tores, cerebelo, córtex e hipotálamo16 (Figura 1).
Em contraste ao oVEMP por VA, já está esta- O traçado obtido no oVEMP (Figura 2) consiste
belecido que os oVEMP por via óssea são mediados em uma forma de onda bifásica, em que o primeiro
pelo utrículo. Em pacientes com neurite vestibular pico tem deflexão negativa (N) na latência de 10 mi-
superior, os oVEMP contralaterais estão diminuídos lissegundos (N1), seguida por um pico positivo com
ou ausentes13,14. Uma vez que a divisão superior do latência média de 15 milissegundos, denominado
nervo vestibular contém principalmente aferências P11,2. Alguns autores13 denominam de potencial N10
utriculares, os resultados indicam que os oVEMP por o primeiro pico negativo que ocorre entre 7-11 ms,
VO são mediados pelo utrículo. O nervo vestibular seguido por um pico positivo em torno de 12-16 ms,
superior, no entanto, não contém apenas fibras utricu- referido como P16.
lares, mas também saculares. No entanto, os impulsos Alguns autores relatam que das duas ondas do
de vibração aplicados à mastóide na direção lateral oVEMP, apenas a N10 encontra-se ausente em pa-
ativam, preferencialmente, aferências utriculares, uma cientes com alteração vestibular e presente em sujeitos
vez que os receptores utriculares respondem melhor com perda auditiva e função vestibular normal, o que
às acelerações no plano horizontal2. sugere que as ondas posteriores possam estar envol-
A via neural dos otólitos para os músculos extra vidas com componentes não vestibulares18.
oculares reflete o reflexo vestíbulo-ocular (RVO). Walther et al.19 desenvolveram uma represen-
O oVEMP é uma manifestação deste reflexo, sendo tação gráfica para melhor interpretação clínica dos
assim estabelecido que os oVEMP apresentam origem exames oVEMP. Esta representação, denominada
miogênica15. VEMPogram, pode ser utilizada em todos os exames
Desta forma, o reflexo vestíbulo-ocular se origina VEMP (Figura 3).
no sistema vestibular e termina em núcleos motores.
Em contraste, esta via se estende aos músculos ocula-
res e também pode ser ativada por estímulos acústicos. 4. PARÂMETROS DE
O músculo oblíquo inferior é o local de escolha para a ESTIMULAÇÃO E REGISTRO
captação desse potencial, por ser o mais superficial dos DO VEMP OCULAR
seis músculos extraoculares responsáveis pelos movi-
mentos dos olhos, e apresenta uma via contralateral As condições de estimulação e registro dos
de estimulação2. A estimulação contralateral resulta oVEMP assemelham-se às comumente utilizadas para
em maiores amplitudes de resposta do oVEMP, visto os cVEMP. Podem ser utilizados estímulos acústicos
que a via vestíbulo-ocular é naturalmente cruzada1,9, de forte intensidade, por VA ou VO1,20,21. A ativação do
enquanto o cVEMP apresenta, em grande parte, uma reflexo para a captação o oVEMP é melhor quando são
resposta ipsilateral. utilizados estímulos transmitidos por VA , apresenta
280
Parte III – Cap. 27 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR OCULAR NO DIAGNÓSTICO OTONEUROLÓGICO |
Figura 1 − Caminho neural do oVemp. Fonte: Rosengren S, Welgampola M, Colebatch J. Vestibular evoked myogenic potentials:
past, present and future. Clin Neurophysiol., v.121, p. 636-651, 2010.
1 µV
N1
DE
[μV] [μV]
n 10 = 11.9 ms n 10 = 11.9 ms
p 15 = 15.5 ms
500 Hz LD15 = 12 ms 500 Hz p 15 = 15.5 ms
Amp = 5.4 μV 100 dB NAn LD15 = 02 ms 100 dB NAn Amp = 5.4 μV
AR = 45 %
12.2 12.2
10 10
5 5
12 12
p 15 n 10 n 10 p 15
281
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
alta reprodutibilidade e maior simetria que a ativação olhar ascendente, condição que aumenta a amplitude
por vibração óssea22. do oVEMP15,28. Os oVEMP podem ser registrados
Os tone bursts são mais efetivos que os cliques a partir de outros locais ao redor dos olhos1, no
para a captação do oVEMP, uma vez que estímulos entanto, a origem das respostas nestas posições não
de frequência grave proporcionam respostas mais foi confirmada. As respostas registradas abaixo dos
amplas, e são necessárias menores intensidades de es- olhos parecem ser as mais confiáveis e apropriadas
tímulos, sendo a frequência de 500 Hz (por VA) a mais para uso clínico, particularmente durante o olhar
efetiva3, evitando a transferência de energia acústica superomedial, momento em que o músculo oblíquo
desnecessária para a cóclea. Tanto os estímulos por inferior é ativado3,32.
VA quanto por VO demonstram maior sensibilidade
para tons graves1,23. Os oVEMP são afetados pela direção do olhar, e
as amplitudes aumentam com o olhar superomedial
Em comparação com os oVEMP obtidos em
(olhar para cima)28-30. Dessa forma, a padronização
resposta a estímulos por VA, os oVEMP por VO apre-
sentam maiores prevalências de resposta e maiores da orientação do olhar é necessária para a análise de
amplitudes em indivíduos saudáveis24,25. Em indiví- resultados de estudos individuais e para a geração de
duos com perda auditiva condutiva, os oVEMP por dados normativos. A influência do olhar nos oVEMP
VO apresentam-se, normalmente, sem alterações; é atribuída ao músculo oblíquo. Durante o olhar su-
enquanto os oVEMP por VA estão afetados. Na otite peromedial (Figura 4), este músculo se aproxima da
média crônica, por exemplo, os oVEMP por VO estão pele, e sua atividade tônica aumenta, o que resulta em
frequentemente ausentes, enquanto os oVEMP por amplitudes de oVEMP aumentadas17. Em contraste,
VO podem ser registrados25. Portanto, a ausência de os oVEMP são geralmente ausentes durante o olhar
oVEMP por VA, em tais distúrbios, deve ser conside- para baixo28.
rada como decorrente da perda auditiva condutiva27.
Os oVEMP podem ser obtidos por meio de
estímulos mono ou binaurais27. Foram encontrados li-
miares normais iguais a 80/90 dBNAn para tone bursts
de 500 Hz, por VA23,27 e são utilizados de 100 a 250
estímulos, com taxas de estimulação que variam entre
3 e 5 Hz1,23. A intensidade de estímulo é comumente
escolhida e deve ser de 130 dBNPSp ou 100 dBNAn,
e a perda auditiva condutiva deve ser considerada28-30.
Os oVEMP podem ser registrados por meio de
estimulação acústica monoaural ou binaural simul-
tânea, revelando não haver diferenças entre esses
registros. A maioria dos autores, entretanto, prefere
a estimulação monoaural27.
Os VEMP oculares são registrados por meio
de eletrodos de superfície posicionados próximo
aos olhos e representam a sincronia da atividade
eletromiográfica extraocular associada ao reflexo
vestíbulo-ocular (RVO)18,28,31. Figura 4 – Ativação do oVEMP com ativação muscular durante
o olhar para cima.
Dado que os eletrodos colocados ao redor dos
olhos normalmente se sobrepõem a mais de um mús-
culo extraocular, a atividade superficial registrada é Outro fator importante a ser considerado no
a soma da atividade total de músculos próximos, de registro do oVEMP é o local escolhido para o posi-
modo que as respostas registradas sob os olhos duran- cionamento dos eletrodos. O eletrodo ativo deve ser
te o olhar superomedial parecem ser dominadas pelo colocado nos músculos extraoculares imediatamente
oblíquo inferior1,4,15,18. O ventre do músculo oblíquo abaixo do olho contralateral ao estímulo; o eletrodo-
inferior está mais próximo da superfície que o reto -referência deve ser posicionado 1-2 cm abaixo do ati-
inferior, e sua atividade tônica aumenta durante o vo, no rosto, e o eletrodo-terra, na fronte29 (Figura 5).
282
Parte III – Cap. 27 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR OCULAR NO DIAGNÓSTICO OTONEUROLÓGICO |
verificou-se neste estudo que os cVEMP por VA es-
tavam alterados na fase anterior da DM, enquanto os
oVEMP por VA e os testes calóricos encontravam-se
alterados em fases posteriores37.
Não são apenas as orelhas afetadas em pacientes
com DM que apresentam anormalidades do VEMP,
mas também as orelhas não afetadas. Os oVEMP e
cVEMP alterados (evocados por VA) foram encon-
trados em 40% e 15% das orelhas não afetadas res-
pectivamente36. Os VEMP por VO, no entanto, não
283
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
superior. Um estudo recente observou que as ampli- com presença de associação entre a diminuição da am-
tudes do oVEMP são mais sensíveis e específicas que plitude do cVEMP e o aumento no tamanho do tumor.
os limiares do cVEMP para o diagnóstico da SDCSS, Além disso, foram relatadas latências prolongadas de
e os resultados dos limiares do cVEMP mostraram cVEMP, que foram atribuídas à compressão tumoral
sensibilidade e especificidade entre 80-100% para o do tronco encefálico e do trato espinhal vestibular,
diagnóstico de SDCSS, enquanto as amplitudes do mas também à compressão da bainha de mielina do
oVEMP apresentaram sensibilidade e especificidade nervo vestibular inferior, resultando em desmielini-
maiores que 90%43. zação do nervo. Os oVEMP por VO mostraram-se
Na SDCSS, os oVEMP são caracterizados por reduzidos ou ausentes em 75 a 86% dos pacientes.
amplitudes significativamente maiores e limiares me- Não foi encontrada qualquer correlação significativa
nores39. Neste estudo, as amplitudes do oVEMP por entre os resultados dos exames de oVEMP e cVEMP, o
VA maiores do que 5 µV foram medidas em 7 das 10 que aponta para diferentes origens destes potenciais45.
orelhas com SDCSS, mas em nenhum dos controles
saudáveis, revelando sensibilidade de 0,7 e especifi-
cidade de 1,0 neste pequeno grupo de pacientes com
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
SDCSS. Os limiares diferenciam os pacientes com Recentemente, os oVEMP foram descritos e
SDCSS de indivíduos saudáveis, particularmente, adicionados à bateria de testes otoneurológicos como
quando se utilizam estímulos por VA. Após a cirurgia uma nova ferramenta para o registro do reflexo vestí-
corretiva da SDCSS, os limiares normalizam31. As bulo-ocular. Os oVEMP representam a atividade do
amplitudes contralaterais são ampliadas em ambos músculo extraocular em resposta a estimulação dos
os oVEMP e cVEMP evocados por VA e VO, com otólitos por meio de estímulos sonoros por VA ou
presença de correlação significativa entre o tamanho VO. Em resposta à estimulação vestibular, a atividade
da deiscência e as amplitudes do oVEMP41. eletromiográfica dos músculos extraoculares pode ser
A SDCSS também provoca alteração na sensibi- registrada através de eletrodos de superfície colocados
lidade de frequência, sendo observados oVEMP com abaixo do olho contralateral. Os oVEMP são suscetí-
maiores amplitudes de respostas para frequências de veis de refletir predominantemente a função utricular,
1000 Hz e 2000 Hz, enquanto cVEMP, com maiores enquanto os cVEMP avaliam a função sacular. Assim,
amplitudes de resposta para 250 Hz. Há evidências as medidas dos oVEMP e cVEMP, em adição às provas
de que a SDCSS provoca aumento na admitância calóricas e ao head impulse testing, fornecem uma
acústica para a orelha interna, promovendo predo- avaliação mais aprofundada do sistema vestibular e
minantemente estimulação para baixas frequências permite uma avaliação rápida, eficaz e de baixo custo
e resultando em maior ativação de aferentes vestibu- da função otolítica. Com o aumento crescente do uso
lares. No entanto, os oVEMP não demonstraram a do oVEMP em desordens vestibulares periféricas e
mesma sensibilidade para baixas frequências como centrais como, por exemplo, no diagnóstico da doen-
os cVEMP. Desta maneira, especulou-se que a sensi- ça de Meniére (DM), da neurite vestibular (NV), do
bilidade de frequências do oVEMP pode estar alte- schwannoma vestibular e da síndrome da deiscência
rada devido ao envolvimento de aferentes dos canais do canal semicircular superior (SDCSS), os oVEMP
semicirculares que não respondem à estimulação têm se tornado uma nova ferramenta de diagnóstico
acústica em indivíduos saudáveis, mas que respondem promissora para avaliar a função utricular.
ao som na SDCSS. O nível de contribuição dos canais
semicirculares, bem como as propriedades e sensibi-
lidade acústica dos seus aferentes, para os oVEMP, REFERÊNCIAS
são desconhecidos43.
1. Todd NP, Rosengren SM, Aw ST, Colebatch JG. Ocu-
Enquanto as amplitudes e limiares de VEMP
lar vestibular evoked myogenic potentials (oVEMPs)
são afetados, significativamente, em pacientes com produced by air- and bone-conducted sound. Clin
SDCSS, a latência e a morfologia não são, o que indica Neurophysiol. 2007; 118(2):381-90.
que o sistema vestibular central não é afetado nessa
2. Todd NP, Rosengren SM, Colebatch JG. Ocular vesti
desordem44. bular evoked myogenic potentials (OVEMPs) produ
No schwannoma vestibular, os cVEMP foram ced by impulsive transmastoid accelerations. Clin
relatados como anormais em cerca de 80% das orelhas, Neurophysiol. 2008; 119:1638-51.
284
Parte III – Cap. 27 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR OCULAR NO DIAGNÓSTICO OTONEUROLÓGICO |
3. Chihara Y, Iwasaki S, Ushio M, Fujimoto C, Kashio A, 16. Furman JM, Cass SP. Vestibular Disorders, A Case-s-
Kondo K, et al. Ocular vestibular-evoked myogenic tudy Approach. 2 ed. New York: Oxford, 2003.
potentials (oVEMPs) require extraocular muscles but 17. Rosengren S, Welgampola M, Colebatch J. Vestibular
not facial or cochlear nerve activity. Clin Neurophysiol. evoked myogenic potentials: past, present and future.
2009; 120(3):581-7. Clin Neurophysiol. 2010; 121(5):636-51.
4. Rosengren SM, Todd NP, Colebatch JG. Vestibular-e- 18. Iwasaki S, McGarvie LA, Halmagyi GM, Burgess
voked extraocular potentials produced by stimulation AM, Kim J, Colebatch JG, et al. Head taps evoke
with bone-conducted sound. Clin Neurophysiol. 2005; a crossed vestibule-ocular reflex. Neurology. 2007;
116(8):938-48. 68(15):1227-9.
5. Manzari L, Burgess AM, Curthoys IS. Dissociation 19. Walther LE, Rogowski M, Hormann K, Schaaf H,
285
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
30. Murnane OD, Akin FW, Kelly KJ, Byrd S. Effects of 39. Rosengren SM, Halmagyi GM, Colebatch JG. Ves-
stimulus and recording parameters on the air con- tibular hypersensitivity to sound in superior canal
duction ocular vestibular evoked myogenic potential. dehiscence: large evoked responses in the legs pro-
J Am Acad Audiol. 2011; 22:469-80. duce little postural sway. Clin Neurophysiol. 2008;
31. Welgampola MS, Myrie OA, Minor LB, Carey JP. Vesti- 119(7):1674-82.
bular-evoked myogenic potential thresholds normalize 40. Janky KL, Nguyen KD, Welgampola M, Zuniga MG,
on plugging superior canal dehiscence. Neurology. Carey JP. Air-conducted oVEMPs provide the best
2008; 70(6):464-2. separation between the intact and dehiscent labyrinth.
32. Smulders YE, Welgampola MS, Burgess AM, McGarvie Otol Neurotol. 2013; 34(1):127-34.
LA, Halmagyi GM, Curthoys is. The n10 component 41. Manzari L, Burgess AM, McGarvie LA, Curthoys IS.
of the ocular vestibular evoked myogenic potential Ocular and Cervical Vestibular-Evoked Myogenic
(oVEMP) is distinct from the R1 component of the Potentials to 500 Hz Fz Bone-Conducted Vibration
blink reflex. Clin Neurophysiol. 2009; 120(8):1567-76. in Superior Semicircular Canal Dehiscence. Ear Hear.
33. Murofushi T. Vestibular evoked myogenic potential. 2012; 33(4):508-20.
World J Otorhinolaryngol. 2014; 4(2):6-11. 42. Zuniga MG, Janky KL, Nguyen KD, Welgampola
34. Kantner C, Gurkov R. Characteristics and clinical MS, Carey JP. Ocular versus cervical VEMPs in the
applications of ocular vestibular evoked myogenic diagnosis of superior semicircular canal dehiscence
potentials. Hear Res. 2012; 294(1-2):55-63. syndrome. Otol Neurotol. 2013; 34(1):121-6.
35. Winters SM, Campschroer T, Grolman W, Klis SF. 43. Taylor RL, Bradshaw AP, Halmagyi GM, Welgampola
Ocular vestibular evoked myogenic potentials in res- MS. Tuning characteristics of ocular and cervical
ponse to air-conducted sound in Ménière’s disease. vestibular evoked myogenic potentials in intact and
Otol Neurotol. 2011; 32(8):1273-80. dehiscent ears. Audiol Neurootol. 2012; 17:207-18.
36. Huang CH, Wang SJ, Young YH. Localization and 44. Mcnerney KS. The use of 64-channel electroencepha-
prevalence of hydrops formation in Meniere’s disease lography and positron emission tomography to study
using a test battery. Audiol Neurootol. 2011;16 (1):41-8. vestibular evoked myogenic potentials [Thesis]. New
37. Murofushi T, Nakahara H, Yoshimura E, Tsuda Y. York: Department of Communicative Disorders and
Association of air- conducted sound oVEMP findings Science - State University of New York (USA), 2007.
with cVEMP and caloric test findings in patients with 45. Iwasaki S, Murofushi T, Chihara Y, Ushio M, Suzu-
unilateral peripheral vestibular disorders. Acta Oto- ki M, Curthoys S, et al. Ocular vestibular evoked
laryngol. 2011; 131:945-50. myogenic potentials to bone conducted vibration
38. Kim JS, Kim HJ. Inferior vestibular neuritis. J Neurol. in vestibular schwannomas. Otol Neurotol. 2010;
2012; 259(8):1553-60. 31(1):147-52.
286
28
POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO
RAMO INFERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO
Maria Eduarda Di Cavalcanti Alves de Souza
Aline Tenório Lins Carnaúba
Pedro de Lemos Menezes
1. UMA BREVE INTRODUÇÃO VEMP também pode ser gerado a partir de múscu-
los extraoculares, como o músculo oblíquo inferior,
O Potencial Evocado Miogênico Vestibular (Ves- em resposta a sons de elevada intensidade através
tibular Evoked Myogenic Potential − VEMP) é um teste do reflexo vestíbulo-ocular (RVO), sendo, portanto,
clínico que avalia a resposta muscular decorrente de denominando VEMP ocular (oVEMP).7,8
estimulação auditiva de alta intensidade, especial- Assim, enquanto o cVEMP avalia a via vestibular
mente da mácula sacular. Tal resposta é ofertada por ipsilateral descendente, ou seja, o nervo vestibular
meio de um reflexo dissináptico vestibulocervical inferior, o oVEMP avalia a via vestibular superior e
inibitório captado nos músculos do corpo em resposta a via contralateral ascendente, ou seja, o nervo vesti-
a esta estimulação. Esse arco-reflexo está envolvido bular superior9. É interessante ressaltar que a técnica
na manutenção do equilíbrio corporal, portanto, de realização do cVEMP e oVEMP combinados gera
pode ser utilizado para avaliação da função vestibular, informações que permitem avaliar o todo o sistema
especificamente do sáculo, nervo vestibular inferior, vestíbulo cólico, por isso, na grande maioria das vezes
núcleo vestibular, trato vestibuloespinhal e/ou nervo são utilizados como testes complementares.7,8
acessório espinhal. De forma mais simples, o VEMP Ambos são os mais empregados na prática diá-
refere-se às diferenças de potencial elétrico registradas ria, mas ainda se encontram facilmente na literatura
do músculo em resposta à estimulação vestibular.1-5 variações na metodologia e interpretação dos resul-
Em 1992, Colebatch & Halmagyi6 realizaram tados coletados, o que limita a comparação de dados
a primeira descrição do VEMP, após indução do de cVEMP e de oVEMP, além de tornar confuso seus
potencial miogênico no músculo esternocleidomas- usos na prática clínica. Por tais motivos, em 2004 foi
tóideo (ECM) por meio de um clique sonoro, sendo estabelecido por meio de uma diretriz intitulada: Inter-
tal resposta denominada VEMP cervical (cVEMP). national guidelines for the clinical application of cervical
Atualmente, o cVEMP pode ser definido como o vestibular evoked myogenic potentials: An expert con-
potencial elétrico gerado a partir do músculo ECM, sensus report, os requisitos mínimos de interpretação
resultado de uma alteração transitória da atividade do cVEMP na clínica e para fins de diagnóstico5. Já
deste músculo, representada por um curto período de para o oVEMP, até o presente momento, não há uma
inibição da atividade muscular e conseguinte ativação diretriz estabelecida com todos os padrões a serem
desta5. Estudos mais recentes vêm mostrando que o seguidos para realização do teste, porém alguns estudos
287
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
sugerem para produção de melhores respostas: o local musculatura periorbital, sendo, portanto, intitulados
de colocação dos eletrodos7,10, o estímulo utilizado7 e de oVEMP.11,12
a direção do olhar do sujeito em teste.7,11,12 O oVEMP é um potencial de latência curto,
É crescente o número de pesquisas realizadas registrado a partir de eletrodos de superfície estreita-
no âmbito dos potenciais miogênicos evocados ves- mente espaçados situados perto dos olhos, composto
tibulares, sendo possível observar diversos registros por respostas miogênicas extraoculares síncronas
da utilização do VEMP adquirido por outros tipos associadas ao RVO ativadas por estimulação sono-
de estímulos, além da geração de potenciais a partir ra11,13. Isto ocorre pela ativação do nervo e núcleo
de diferentes músculos do corpo. Portanto, o obje- vestibular, sendo transmitidos possivelmente através
tivo deste capítulo é explanar de forma detalhada, do fascículo longitudinal mediano, aos núcleos e
baseada na literatura vigente, os diversos estímulos nervos oculomotores e aos músculos extraoculares.
e músculos utilizados para realização do teste, bem Devido à força do arco reflexo vestíbulo-ocular, as
como a aplicação do VEMP na prática clínica, nestas respostas extraoculares são facilmente registradas
diversas circunstâncias. e possuem potencial de diagnóstico promissor13. A
figura 1 mostra o caminho do oVEMP.
Na literatura, recomenda-se que para a realização
2. OS DIVERSOS REGISTROS DO do oVEMP sejam promediados de 100 a 250 estímulos
VEMP tone bursts na frequência de 500 Hz, utilizando a taxa
de estimulação de 3 a 5 Hz e a janela para análise de 50
milissegundos (ms) na intensidade de 95 dB. Deve ser
2.1. VEMP Ocular (oVEMP) utilizado um filtro passa-banda, configurado entre 5 e
A realização de alguns estudos indicou a presen- 500 Hz, 1 a 1000 Hz, e 3 a 500 Hz. Indica-se que os ele-
ça de potenciais evocados miogênicos vestibulares na trodos positivos sejam colocados na pálpebra inferior
Nervo Oculomotor
MLF
VNC Nervo
Vestibular
Figura 1 – O caminho oVEMP presumido, constituído pelo aferente vestibular primário, possivelmente o fascículo longitudinal medial
e os núcleos e nervos oculomotores. MLF − fascículo longitudinal medial; VNC − complexo nuclear vestibular. Fonte: Rosengren,
Welgampola, Colebatch13.
288
Parte III – Cap. 28 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO RAMO INFERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO |
de cada olho, com eletrodos de referência situados 1 amplitude do oVEMP é amplamente influenciada pela
a 2 cm abaixo destes, e o eletrodo-terra colocado no direção do olho, sendo maior quando o indivíduo olha
esterno. A impedância do eletrodo deve ser inferior para cima, menor quando olha para frente e eliminada
a 7 kΩ7,14. Apesar de esta ser a referência mais atual, quando olha para baixo, por isso, a instrução durante
o quadro 1 sinaliza outros autores e suas respectivas a realização do procedimento é que o indivíduo olhe
recomendações para a realização do oVEMP, e o para cima (≥ 2 metros dos olhos) e fixe o olhar em
um ponto, pois as respostas são de maior amplitu-
quadro 2 elenca os parâmetros de estimulação sonora
de quando o sujeito olha nesse sentido7,14,16. Esses
conduzida por via aérea e via óssea, recomendados potenciais consistem uma série de picos positivos e
também para o oVEMP. negativos, geralmente iniciando com um pico negativo
Quadro 2 – Parâmetros de estimulação sonora conduzida por via aérea e via óssea, recomendados para oVEMP.
289
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Na prática clínica, verificou-se que o exame pode e do nervo vestibular inferior, trato vestibuloespinhal
ser utilizado como um possível teste de screening para medial, núcleo e nervo acessórios e músculo ECM (Fi-
a Síndrome da Deiscência do Canal Semicircular gura 2), portanto, é um exame utilizado para analisar
Superior (SDCSS)14, além de auxiliar na obtenção o funcionamento de tais estruturas13.
de informações sobre lesões do tronco encefálico, já Segundo as diretrizes internacionais5 para a
que foi observado atraso na latência do oVEMP em aplicação clínica de potenciais miogênicos evocados
indivíduos com esclerose múltipla18,19. vestibulares cervicais, os parâmetros de gravação e
estimulação do cVEMP estão listados nos quadros 3
2.2. VEMP Cervical (cVEMP) e 4 respectivamente.
O cVEMP, como já definido, é um potencial No exame do cVEMP, é registrada uma onda bifá-
eletrofisiológico inibitório de curta latência, utilizado sica, na qual o pico inicial é positivo, sendo denominado
na avaliação do sistema vestibular através da eletro- como p13, e o segundo pico, negativo, denominado n23.
miografia do músculo ECM estimulado por vibração Neste exame são avaliados três parâmetros principais:
óssea ou estímulo sonoro. É uma manifestação do re- a latência de p13 e de n23 e a amplitude do potencial
flexo vestibulocólico, resultante da ativação do núcleo bifásico, p13n235.
Figura 2 – Via presumida para o cVEMP evocado por som, consistindo no aferente vestibular primário, no trato vestibuloespinhal
medial (MVST) e no nervo espinal acessório (NEA) e músculo esternocleidomastóideo (ECM). CNV − complexo nuclear vestibular;
NA − núcleos ambíguos. Fonte: Rosengren, Welgampola, Colebatch13.
290
Parte III – Cap. 28 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO RAMO INFERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO |
Quadro 3 – Parâmetros de gravação recomendados para A aplicação do cVEMP na prática clínica é
cVEMP. documentado por vários autores na literatura. Lu
Número de canais 1* ou 2 & Young20 mostraram que em pacientes portadores
herpes zoster oticus (síndrome de Ramsay Hunt), que
Ganho de amplificação 5000 vezes pode ser tomado como um tipo específico de neurite
Filtros passa-baixo 5-30 Hz vestibular, os cVEMP não apareceram em mais de
50% dos indivíduos, sugerindo que o envolvimento
Filtro passa-alto 1.000-3.000 Hz
do nervo vestibular inferior é mais comum neste
Taxa de amostragem 2.500-10.000 Hz** grupo quando comparado com outras neurites ves-
tibulares agudas. Outros estudos mostram também
Quadro 4 – Parâmetros de estimulação sonora conduzida por vias aérea e óssea, recomendados para cVEMP.
**O LAeq é formalmente definido na norma ISO como a energia sonora total ponderada ‘’A’’ fornecida ao ouvido durante um determi-
nado período e é o meio comum pelo qual a exposição sonora cumulativa é medida. O “A” refere-se à ponderação de frequência (isto
é, filtragem), mas também são usadas as ponderações C e lineares.5
291
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
examinou o VEMP no TRP em vários pacientes com
lesões unilaterais seletivas e totais das vias aferentes
vestibulares ou vestibulococleares secundárias à oto-
neurocirurgia. Ainda nesse contexto, Ferber-Viart et gastrocnêmios
292
Parte III – Cap. 28 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO RAMO INFERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO |
VEMP em regiões abaixo do pescoço poderiam agre- sujeitos ficaram nas pontas dos pés, olhando em linha
gar valor nas avaliações das vias vestibulocólicas e reta com os olhos fechados. A orelha esquerda foi a
potencialmente auxiliar em diagnósticos de algumas primeira a ser estimulada para todos os sujeitos, quan-
doenças, como vertigem, Rudsill & Hain31 buscaram do obtidos os registros suficientes (entre duas e seis
verificar a possibilidade de se obter VEMP a partir respostas, a depender da forma da onda); o mesmo
do músculo gastrocnêmio(“leg VEMP”). procedimento foi realizado na orelha direita31.
Este estudo contou com a participação de onze Os eletrodos não inversores (NI), eletrodos
indivíduos saudáveis, sendo sete mulheres e quatro positivos, foram colocados nos músculos gastroc-
homens, com a média de idade de 28 anos e que apre- nêmios direito e esquerdo; já os eletrodos inversores
sentaram normalidade no cVEMP. Considerou-se o (I), eletrodos negativos, no maléolo mediano direito e
293
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Tabela 1 – Incidência dos cinco componentes da resposta para ativar os músculos ECM. A EMG retificada****
gastrocnêmica. foi monitorada para assegurar que as contrações
N = 22 P1 N1 P2 N2 P3 musculares fossem semelhantes entre os ensaios. Os
Ipsilateral
limiares de VEMP foram obtidos, reduzindo a inten-
sidade em passos de 3 ou 6 dB nos sucessivos ensaios
Presença 7 10 18 17 5
e foram precisos a 3 dB. Além disto, os limiares de
Ausência 15 12 4 5 17 VEMP foram utilizados como referência, e a inten-
Contralateral sidade de estímulo foi posteriormente estabelecida
Presença 12 14 15 16 5 em níveis fixos acima do limiar de VEMP de cada
Ausência 10 8 7 6 17 indivíduo. Para esse exame, foram promediados 100-
256 estímulos tone burst na frequência de 500 Hz,
Fonte: Rudsill & Han .
31
apresentados por meio de fones de inserção (TDH 49,
Telephonics Corp., Farmingdale, NY, USA) e sendo
De acordo com os resultados encontrados, os a taxa de repetição de estimulação de 5 Hz. Como
autores demonstram que um potencial evocado pode resultados, verificou-se que o VEMP esteve presente
ser registrado a partir do gastrocnêmio usando os em ambos os grupos, sendo o limiar médio maior
mesmos estímulos e parâmetros do cVEMP. As res- no grupo-controle. Não houve diferenças estatísticas
postas encontradas são significativamente mais longas entre os grupos em relação à intensidade, a latência
em latência e menores em amplitude que o cVEMP, e de p13 ou n23 nem na contração do músculo ECM14.
a presença dessa resposta na perna ipsilateral e con- Para a verificação do estímulo vestibuloespinhal,
tralateral ao ouvido estimulado sugere que a resposta foram promediados estímulos tone burst na frequên-
viaja através de caminhos cruzados e não cruzados na cia de 500 Hz, mas com maior duração (20 ms) para
medula espinhal.31 aumentar a probabilidade de produzir respostas nos
Ainda nesse mesmo ano, mas ao contrário do membros inferiores29. Todos os sujeitos foram es-
estudo anterior, Rosegren, Halmagyi e Colebatch14 timulados a 15 dB acima do limiar do VEMP, e os
pacientes com SDCSS também foram estimulados
contaram com a participação de pacientes que apre-
em intensidades maiores (+25, +35 e +45 dB), a
sentavam a Síndrome da Deiscência do Canal Semi-
intensidade era aumentada, dependendo do limiar
circular Superior (SDCSS). O estudo teve o propósito
do VEMP e a tolerância do estímulo. Durante cada
de investigar o comportamento das respostas de EMG
ensaio, os sujeitos ficaram com os olhos fechados, os
de membro inferior evocadas pelo som e o balanço
pés juntos e inclinados para a frente para ativar os
postural, uma vez que tais pacientes normalmente músculos sóleos.14
apresentam reflexos vestibulares evocados pelo som.
A estimulação de cada orelha envolveu dois
Tal estudo contou com a participação de dois grupos,
momentos, com a cabeça girada em 90º para a es-
sendo o primeiro composto por oito indivíduos, sendo
querda e para a direita. Para cada momento, foram
quatro homens e quatro mulheres, com uma média de
promediados 128 estímulos com polaridade alternada
idade de 60,5 anos e que apresentavam os sintomas da
a uma taxa de 3 Hz. A estimulação vestibular galvânica
SDCSS, sintomas vestibulares evocados pelo som (fe-
(GVS) foi realizada através de eletrodos autoadesivos
nômeno de Tullio***) e reflexos vestibulares também de 20 cm², cortados em placas eletrocirúrgicas (1180,
evocados pelo som; e já o grupo-controle continha o 3 M, St. Paul, EUA), revestidos com gel de eletrodo
mesmo número de participantes, sendo três homens e fixados nas mastoides com fita adesiva e uma ban-
e cinco mulheres, na faixa etária média de 57,6 anos. dagem elástica. Os estímulos foram gerados por um
Para a realização do VEMP, os sujeitos foram circuito personalizado e fornecido com o cátodo no
posicionados em decúbito dorsal em uma cadeira, lado afetado e o ânodo, no lado oposto. Outras con-
com o encosto inclinado (30º) e levantaram a cabeça dições de estimulação foram as mesmas já descritas.14
*** O fenômeno de Tullio refere-se a movimentos oculares **** A eletromiografia retificada consiste em tomar o valor
desencadeados por um som intenso e verifica-se em casos absoluto do sinal EMG, ou seja, rebater as fases negativas
de fístula perilinfática, traumatismo craniano e colestea- (ful-wave) ou remover os valores negativos do sinal bruto
toma com erosão de canal semicircular e fenestração35. (half-wave).36
294
Parte III – Cap. 28 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO RAMO INFERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO |
Os eletrodos de registro e de referência foram possam padronizar as técnicas utilizadas, caracterizar
colocados a uma distância de 6-8 cm sobre os mús- completamente o processo e trazer respostas a vários
culos sóleos, bilateralmente, com o eletrodo ativo questionamentos ainda presentes.
fixado superiormente. A EMG retificada foi registada
durante 300 ms a partir dos primeiros 50 ms, antes
do início do estímulo utilizando a taxa de amostra- 2.4. VEMP Tríceps Braquial (Sound
gem de 5 kHz. As respostas EMG de curta e média Evoked Triceps Myogenic
latências foram registradas bilateralmente, mas foram Potentials − SETMP’S)
medidas apenas a partir do sóleo contralateral à ro-
tação da cabeça. As respostas do sóleo à estimulação O tríceps braquial é um músculo que anato-
Quadro 5 – Diferenças dos parâmetros para realização do VEMP sural (leg VEMP).
Britton, Day, Brown, Watson & Colebatch30 Rudsill & Hain31 Rosegren,
Rothwell, Thompson, Halmagyi,
Mardsen29 Colebatch14
Tipo de estimulação Estimulação galvânica Estimulação galvânica Estimulação Estimulação
utilizada unilateral galvânica galvânica
Latência encontrada no Componente precoce: Curta latência (Transmas- Ipsilateral:
momento da resposta 62±2,4 ms toide unipolar): 52,73 ± 4,31 ms
295
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Músculo infraespinhal
Figura 5 – Anatomia do músculo tríceps braquial e suas três cabeças: longa, medial e lateral. Fonte: www.anatomiaonline.com.
Acesso em 25/1/2017.
Inicialmente, foram realizados três experimen- posição adotadas pelos sujeitos da pesquisa podem
tos. O primeiro contou com cinco pacientes do gênero ser visualizadas na figura 6.
feminino para a obtenção do cVEMP. Este teste foi Para a obtenção do potencial miogênico evocado
feito utilizando a metodologia semelhante à utiliza- no tríceps braquial a partir de um estímulo sonoro,
da no estudo de Young et al.34, descrito no tópico do foram colocados dois canais ativos de eletrodos no
cVEMP (item 1.2). Todos os participantes apresen- terço médio de ambos os tríceps braquiais, outros
taram resposta no ECM. Em seguida, foi obtido em dois eletrodos-referência foram posicionados na parte
cada sujeito o potencial miogênico evocado no tríceps distal do olecrano em cada um dos lados, e um eletro-
braquial (SETMP’S) a partir de estímulo sonoro39. do-terra foi colocado na região da testa39. A disposição
Para a realização do teste, os sujeitos perma- dos eletrodos encontra-se ilustrada na figura 7.
neceram com os pés na largura dos ombros, braços A metodologia utilizada para este primeiro
estendidos para frente, com as mãos no nível dos momento foi similar à utilizada por Rudisill & Hain31,
ombros (dedos apontando para cima), cotovelos fle- quando descreveram o VEMP sural, sendo modificada
xionados a 160º e a cabeça virada para frente. Cada para o uso no tríceps braquial. Foram promediados
mão pressionava contra um único transdutor de 400 estímulos tone burst na frequência de 500 Hz,
pressão montado na parede (Pelouze Digital Receiving durante 12,0 ms, sendo a taxa de estimulação em
Scale − Modelo PEL4010)39. A distância dos pés do 4,3 estímulos/s na intensidade de 95 dBNA (nível de
sujeito da parede foi ajustada até que o transdutor audição) (nível de pressão sonora de 132 dB), por um
de pressão montado na parede registrasse 10 libras tempo de 106,6 ms, apresentados por meio de fones de
(4,54 kg) para manter um nível consistente de ativa- inserção ER 3A. Foi utilizado um filtro passa-banda
ção tônica do tríceps porque a amplitude do VEMP configurado entre 10 e 1500 Hz.
obtida em outros músculos é proporcional em nível Observou-se o aparecimento de pelo menos duas
de tônico de contração muscular40. A ilustração das formas de ondas a partir do tríceps ipsilateral e do
296
Parte III – Cap. 28 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO RAMO INFERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO |
A B C
Figura 6 – Posições do sujeito para a realização do VEMP tríceps braquial (SETMP’S). Fonte: Cherchi et al.39
contralateral em resposta ao estímulo acústico. As res- sendo esta resposta denominada SETMP. Embora a
postas foram registradas em um software de potenciais amplitude da resposta SETMP seja menor do que a
evocados Bio-Logic Navigator Pro (Bio-Logic Systems do cVEMP, a resposta é similar em ambos os lados
Corp, Mundelein, IL, USA) e foram combinadas em (bilateralização da resposta), diferente do apresentado
média ponderada a partir da qual se mediram as la- pelo cVEMP, mas semelhante ao VEMP sural.31,39
tências e amplitudes das primeiras ondas positivas e Tomando como referência os três trabalhos
negativas, P1 (positiva) e N1 (negativa)39. identificados na temática dos potenciais evocados no
Os resultados do primeiro experimento sugeri- músculo tríceps braquial, o quadro 6 lista os principais
ram que a resposta do SETMP contralateral havia sido parâmetros utilizados em cada um dos trabalhos.
mais forte do que o ipsilateral. Visando caracterizar o Dentre as aplicações clínicas do SETMP lista-
SETMP colateral, foi realizado o segundo experimento das na literatura estão: uso do mesmo em situações
desse estudo. Para este, treze sujeitos (sete mulheres e em que o cVEMP não pode ser obtido, como em
seis homens) mantiveram a cabeça virada para frente pacientes com dor no pescoço ou com limitações de
e o corpo inclinado para o lado, apoiando-se com o movimento na região; pode também ajudar a avaliar
braço esticado lateralmente e o cotovelo dobrado lesões da medula espinhal cervical, uma vez que os
em 160º. A distância entre o sujeito e a parede foi caminhos atravessam a medula espinhal cervical;
novamente ajustada até que o transdutor de pressão e, por fim, pode contribuir para a compreensão de
montado na parede medisse 4,54 kg (Figura 6B). No por que algumas lesões da medula espinhal cervical
terceiro experimento, os sujeitos do experimento parecem estar associadas a sintomas vestibulares.39
anterior assumiram uma postura estável enquanto É importante ressaltar que as respostas vestibula-
empurravam lateralmente contra um peso de 4,54 kg, res evocadas nos músculos posturais (p. ex. o músculo
que não era relevante para o equilíbrio (Figura 6C)39. sóleo), ao contrário do cVEMP, são dependentes de
Por fim, diante dos resultados encontrados após alguns fatores e só conseguem ser evocados ao se
os três experimentos, conclui-se que em indivíduos executar uma tarefa de equilíbrio e, portanto, são
saudáveis o estímulo acústico monofônico pode pro- modulados por visão, informações proprioceptivas e
duzir um potencial miogênico no músculo tríceps, complexidade da tarefa.29,30
297
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
Figura 7 – Posicionamento dos eletrodos para a realização do VEMP tríceps braquial (SETMP’S). Fonte: Cherchi et al.39
Quadro 6 – Diferenças dos parâmetros para a realização do VEMP tríceps braquial (SETMP’S) documentados na literatura
1990-2009.
298
Parte III – Cap. 28 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO RAMO INFERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO |
foram comparadas entre alturas e correlacionadas com 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
mudanças na ansiedade, medo e excitação do estado.41
Ao final do estudo verificou-se que a amplitude O apanhado teórico elencado neste capítulo
do VEMP aumentou significativamente em ECM (9%) demonstra os vários pontos de captação já utilizados
e SOL (12,7%) com o aumento da altura superficial. para a realização desse teste clínico, em diversos estu-
Estes aumentos modestos na amplitude do VEMP ECM dos, mostrando de um lado, a diversidade de músculos
foram significativamente correlacionados à ansiedade utilizados para tal e as aplicações do VEMP na prática
e confiança e aqueles para o SOL foram significativa- clínica, seja como possível teste de screening e de diag-
mente correlacionados com ansiedade e medo.41 nóstico de algumas doenças; fornecendo informações
Desta maneira, os resultados demonstram que sobre lesões do tronco encefálico, da medula espinhal
Núcleo vestibular
LVN Sáculo
Nervo V Inferior
Gânglio
MVN
IVN Aparelho vestibular
MVST
LVST
cVEMP
armVEMP
legVEMP
Figura 8 – Caminhos do VEMP. As respostas obtidas a partir do músculo esternocleidomastóideo (ECM) ipsilateral (cVEMP) origi-
nam-se no sáculo e são transmitidas a partir dos núcleos vestibulares medianos através do trato vestibuloespinal medial. As respostas
obtidas a partir de músculos ipsilaterais nos membros superiores (arm VEMPs) e inferiores (leg VEMPs) originam-se no sáculo e são
transmitidas a partir do núcleo vestibular lateral através do trato vestibuloespinal lateral. SVN– núcleo vestibular superior; LVN – núcleo
vestibular lateral; MVN – núcleo vestibular medial; IVN – núcleo vestibular inferior; MVST – trato vestibuloespinal medial; LVST – trato
vestibuloespinal lateral. Fonte: Naranjo, Allum, Inglis, Carpenter.41
299
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
em outros grupos musculares, beneficiando a área produce little postural sway. Clin Neurophysiol. 2008;
estudada, os profissionais envolvidos, os portadores 119:1674-1682.
de doenças e assim, o progresso da ciência. 15. McCaslin DL, Jacobson GP. Vestibular Evoked Myo-
genic Potentials (VEMP). In: Jacobson GP, Shepard
NT. Balance function assessment and management.
REFERÊNCIAS San Diego: Plural; 2008, p.558-570.
1. Halmagyi GM, Colebatch JG, Curthoys IS. New tests 16. Todd NP, Rosengren SM, Colebatch JG. Ocular vesti
of vestibular function. Baillière’s Clinical Neurology. bular evoked myogenic potentials (OVEMPs) pro-
1994;3(3):485-500. duced by impulsive transmastoid accelerations. Clin
2. Colebatch JG, Halmagyi GM, Skuse NF. Myogenic Neurophysiol. 2008; 119:1638-1651.
potentials generated by a click-evoked vestibulocollic 17. Todd NP, Rosengren SM, Aw ST, Colebatch JG. Ocular
reflex. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1994; 57(2): vestibular evoked myogenic potentials (OVEMPs)
190-7. produced by air – and bone conducted sound. Clin
3. McCue MP, Guinan JJ Jr. Acoustically responsive fibers Neurophysiol. 2007; 118:381-390.
in the vestibular nerve of the cat. J Neurosci. 1994; 18. Zhou G, Cox LC. Vestibular evoked myogenic po-
(14):6058-70. tentials: history and overview. Am J Audiol. 2004;
4. Halmagyi GM, Curtíos IS. Pruebas de función otolítica. 13:135-143.
Rev Med Univ Navarra. 2003; (47):29-37. 19. Welgampola MS. Evoked potential testing in neuro-o-
5. Papathanasiou, ES, Murofushi T, Akin FW, Colebatch tology. Curr Opin Neurol. 2008; 21:29-35.
JG. International guidelines for the clinical application 20. Lu YC, Young YH. Vertigo from herpes zoster oticus:
of cervical vestibular evoked myogenic potentials: An superior or inferior vestibular nerve origin? Laryngos-
expert consensus report. Clin Neurophysiol. 2014; cope 2003; 113(2):307-11.
125:658-666. 21. Murofushi T, Matsuzaki M, Mizuno M. Vestibular
6. Colebatch JG, Halmagyi GM. Vestibular evoked poten- evoked myogenic potentials in patients with acoustic
tials in human neck muscles before and after unilateral neuromas. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1998;
vestibular deafferentation. Neurology. 1992; 42:1635-6. 124(5):509-12.
22. Ushio M, Matsuzaki M, Takegoshi H, Murofushi T.
7. Felipe L, Kingman. Ocular Vestibular Evoked Myogenic
Click- and short tone burst evoked myogenic potentials
Potentials. Int Arch Otorhinolaryngol. 2014; 18:77-79.
in cerebellopontine angle tumors. Acta Otolaryngol
8. Silva TR, Resende LM, Santos MAR. Potencial evocado Suppl. 2001; 545:133-5.
miogênico vestibular ocular e cervical simultâneo em
23. de Waele C, Huy PT, Diard JP, Freyss G, Vidal PP.
indivíduos normais. CoDAS 2016; 28(1):34-40.
Saccular dysfunction in Meniere’s disease. Am J Otol.
9. Todd NP. The origin of the ocular vestibular evoked 1999; 20(2):223-32.
myogenic potential (OVEMP). Clin Neurophysiol.
24. Di Lazzaro V, Quartarone A, Higuchi K, Rothwell JC.
2010;121(6):978-80.
Short-latency trigemino cervical reflexes in man. Exp
10. Su HC, Huang TW, Young YH, Cheng PW. Aging Brain Res. 1995; 102:474-82.
effect on vestibular evoked myogenic potential. Otol
25. Ferber-Viart C, Soulier N, Dubreuil C, Duclaux R.
Neurotol. 2001; 25(6):977-80. Cochleovestibular Afferent Pathways of Trapezius
11. Rosengren SM, Todd NPM, Colebatch JG. Vestibular Muscle Responses to Clicks in Human. Acta Otolaryn-
evoked extraocular potentials produced by stimulation gol (Stockl). 1998; 118:6-10.
with bone conducted sound. Clin Neurophysiol. 2005; 26. Oliveira AC, David R, Calafemina F. Potenciais miogê-
116(8):1938-48. nicos evocados vestibulares: metodologias de registro
12. Chihara Y, Iwasaki S, Ushio M, Murofushi T. Vestibular em homens e cobaia. Rev Bras Otorrinolaringol. 2008;
evoked extraocular potentials by air-conducted sou- 74(5):770-5.
nd: another clinical test for vestibular function. Clin 27. Alves AM, Tateyama T, Jakaitis F, Silva RC, Kasse CA,
Neurophysiol. 2007; 118(12):2745-51. Dorigueto RS. Potenciais Evocados Miogênicos Ves-
13. Rosengren SM, Welgampola MS, Colebatch JG. Ves- tibulares: Métodos de Registro e Aplicações Clínicas.
tibular evoked myogenic potentials: past, present and Rev. Equilíbrio Corporal Saúde. 2014; 6(2):67-71.
future. Clin Neurophysiol. 2010; 121:636-51. 28. Sena DOB. Abordagem fisioterapêutica no entorse de
14. Rosengren SM, Halmagyi GM, Colebatch JG. Ves- tornozelo por eversão – um estudo de caso. Monogra-
tibular hypersensitivity to sound in superior ca- fia de Conclusão de Curso Fisioterapia. Universidade
nal dehiscence: Large evoked responses in the legs Veiga de Almeida. Rio de Janeiro, 2008.
300
Parte III – Cap. 28 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO RAMO INFERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO |
29. Britton TC, Day BL, Brown P, Rothwell JC, Thompson 35. Crane BT, Carey JP, Minor LB. Superior Semicircular
PD, Marsden CD. Postural electromyographic respon- Canal Dehiscence Syndrome. In: Brackmann DE,
ses in the arm and leg following galvanic vestibular Shelton C, Arriaga MA (Eds.) Otologic Surgery, Phila
stimulation in man. Exp Brain Res. 1993; 94:143-51. delphia, Saunders Elsevier. 2010, p. 507-18.
30. Watson SR, Colebatch JG. EMG responses in the so- 36. Marchetti PH, Duarte M. Instrumentação em Eletro-
leus muscles evoked by unipolar galvanic vestibular miografia. Laboratório de Biofísica. São Paulo. 2006.
stimulation. Electroencephalog Clin Neurophysiol. 37. Nobeschini, L. Anatomia de superfície e palpatória do
1997; 105:476-83. braço e cotovelo. Imaging online. 2010.
31. Rudisill HE, Hain TC. Lower extremity myogenic 38. Baldissera F, Cavallari P, Tassone G. Effects of trans-
potentials evoked by acoustic stimuli in healthy adults. mastoid electrical stimulation on the triceps brachii
301
29
POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO
RAMO SUPERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO
Christiane Cavalcante Feitoza
Pedro de Lemos Menezes
303
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
sons de forte intensidade, podem provocar movi- 3. TÉCNICA DE OBTENÇÃO DO
mentos reflexos oculares na região. Essa informação REGISTRO DO VEMP OCULAR
do utrículo estimula os seis músculos extrínsecos do
olho, sendo a mácula utricular dividida em diferen- Para a obtenção do registro do oVEMP, o indi-
tes regiões funcionais, e cada uma é capaz de gerar víduo deve estar sentado em uma cadeira reclinável
estímulos para um determinado músculo ocular, ou confortável. A montagem de eletrodos descartáveis
seja, os insumos excitatórios utriculares dirigem-se de cloreto de prata é realizada colocando-os infraor-
aos músculos oblíquo superior, reto superior e reto bitalmente em cada olho (abaixo 1 cm do olho) e os
eletrodos-referência são colocados inferiormente
medial ipsilateralmente e aos músculos oblíquos e
ao eletrodo ativo, isto é, 3 cm abaixo da órbita. O
retos inferiores do lado contralateral, ilustrados na
eletrodo-terra dever ser colocado em Fpz, conforme
figura 2.4,6-8 a figura 311.
O oVEMP reflete as funções da via vestíbulo- Num estudo de coorte realizado para descrever
ocular a partir dos núcleos vestibulares que se proje- as características normais do oVEMP em indivíduos
tam para o núcleo oculomotor contralateral através estratificados por idade, ao se avaliar a confiabilidade
do fascículo longitudinal medial contralateral (MLF)9. teste-reteste do oVEMP e determinar se a contami-
Tal resposta é gerada a partir do sistema vestibular pe- nação de referência ocorre usando uma derivação de
riférico, representando uma modulação da atividade eletrodo de referência infraorbital recomendada, a
eletromiográfica (EMG) nos músculos extraoculares impedância individual dos eletrodos foi de 10 kOhms
e mostra a maior amplitude quando registrada no e a impedância dos intereletrodos, 5 kOhms. Ao gravar
o oVEMP, os sujeitos foram sentados e instruídos a
olho contralateral quando o olhar está para cima,
manter a cabeça na linha média e olhar para um alvo
e os estímulos são sons de forte intensidade de 500
posicionado a 30o para cima na linha média. Esta
Hz ou vibração óssea de 250 Hz, respectivamente. posição dos olhos foi mantida durante 20-30 s, o que
A diferença nas melhores frequências entre os dois permitiu a aquisição de 100-150 amostras por análise.
estímulos pode originar-se da diferença nos órgãos Os estímulos para as gravações do oVEMP foram
finais (sáculo ou utrículo), preferencialmente ativada apresentados de forma monoaural através de fones de
por cada estímulo (Figura 2)10. inserção. Os estímulos consistiram em tons de 500 Hz,
304
Parte III – Cap. 29 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO RAMO SUPERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO |
305
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
dois reflexos. As amplitudes de oVEMP correspon- estabeleceram quais parâmetros do VEMP melhor
dentes à idade proporcionaram excelente separação correlacionam as anormalidades clínicas com MRI.
entre as orelhas com DCS e de controle. Embora as Os resultados mostraram que pacientes com sinais de
amplitudes de cVEMP se sobreponham entre as ore- envolvimento do tronco encefálico durante o exame
lhas deiscentes e de controle, foi conseguida melhor neurológico (com Escores do Sistema Funcional do
separação utilizando um estímulo de 2 kHz. A DCS Tronco Encefálico – Brainstem Functional System
está associada a uma amplificação das curvas de sin- Score/FBSFS > 1) tiveram maior escore no oVEMP
tonia do VEMP, com o cVEMP mantendo um viés comparado com pacientes sem sinais de envolvimento
de baixa frequência e oVEMP demonstrando maior do tronco encefálico. Um modelo binário de regressão
realce de alta frequência. Os resultados sugeriram que logística mostrou que pacientes com lesão no tronco
o oVEMP possui excelente sensibilidade na detecção encefálico na MRI são 6.780 vezes mais propensos a
de DCS para frequências de tone burst de tonalidade terem um BSFS > 1 e correlações significativas foram
de 250 Hz a 2 kHz, desde que dados de controle com encontradas entre envolvimento clínico do tronco
correspondência de idade estejam disponíveis. Para encefálico e lesões de ponte e tronco encefálico na
clínicas sem acesso a uma ampla gama de controles MRI, com respostas de latências prolongadas e/ou
ou para aqueles que dependem de dados do cVEMP, ausentes no VEMP. Os autores concluíram que o
a inclusão de um estímulo de 2 kHz de alta frequência escore do VEMP é uma ferramenta de valor na avalia-
poderia ajudar a melhorar a detecção de DCS.1 ção do tronco encefálico em pacientes com esclerose
múltipla precoce.
5.2. Doenças Neurodegenerativas Esse estudo reforça a importância do diagnós-
tico precoce da EM, com ênfase na aplicabilidade do
A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica VEMP nas doenças neurodegenerativas. O escore
e debilitante, que afeta o sistema nervoso central, cujo utilizado pelos autores sinaliza alterações na via de
curso clínico, com seus quase incontáveis sintomas todo o tronco encefálico como um preditor de lesões
associados, apresenta-se como um desafio na área em estágio inicial da doença.
médica.
As lesões de EM podem prejudicar as respostas 5.3. Doença de Meniére
do VEMP, afetando os fascículos vestibulares, nú-
cleos vestibulares, cerebelo e suas eferências, todos Prosper Ménière descreveu a Doença de Ménière
envolvidos na retransmissão e no processamento dos (DM) em 1861, mas um teste diagnóstico com alta
sinais vestibulares. especificidade e sensibilidade ainda não foi desenvol-
vido, e os achados histológicos não estão diretamente
Partindo desse pressuposto, Crnosija e colabora-
relacionados aos sintomas e curso clínico. Em 1995,
dores13 validaram o escore do VEMP como a medida
a Academia Americana de Otorrinolaringologia −
da disfunção do tronco encefálico em pacientes com
Cirurgia de Cabeça e Pescoço (AAO-HNS) propôs
os primeiros sintomas de EM na síndrome clini-
critérios diagnósticos da MD e um sistema de estadia-
camente isolada e investigaram a relação entre os
mento baseado na função auditiva medida pelo limiar
resultados do VEMP e da MRI do tronco encefálico,
de tom puro a 0,5, 1,0, 2,0 e 3,0 kHz. Os pacientes com
em 121 pacientes, com idade média de 32,5 anos,
DM apresentam audição flutuante e vertigem, sendo
com diagnóstico de síndrome clinicamente isolada de
importante identificar danos irreversíveis entre os
EM, com pelo menos uma lesão de desmielinização
sintomas flutuantes.
maior que 3 mm na MRI do cérebro e/ou da medula
espinal. O VEMP foi realizado após 35 dias, em média, Um teste de função vestibular que reflete perda
da MRI e do diagnóstico. Os estímulos foram cliques funcional em DM é claramente necessário. Como o
acústicos de 1 ms de duração, com intensidade de otólito está anatomicamente próximo à cóclea, existe a
130 dB e frequência de estimulação de 1 Hz, em duas possibilidade de que sua perda funcional possa ocorrer
séries de 50 ensaios/tentativas para casa orelha. Os logo após a perda funcional da cóclea.
oVEMP e cVEMP foram analisados para latência, Okuno et al.14 relataram a incidência de hidropi-
razão de assimetria do bloco de condução e ampli- sia endolinfática em cada região do labirinto. Foram
tude. Os primeiros resultados compararam o escore examinados 22 ossos temporais de pacientes com DM
do VEMP em pacientes com e sem sinais e sintomas falecidos. Os autores relataram hidropisia coclear em
clínicos envolvendo o tronco encefálico, e os segundos todos os ossos temporais; 86,5% tinham hidropisia
306
Parte III – Cap. 29 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO RAMO SUPERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO |
sacular, 50% tinham hidropisia utricular e 36,4% Em 2003, Deriu et al.16 demonstraram que a ati-
tinham hidropisia no canal semicircular. vação elétrica de insumos vestibulares pode provocar
Como os potencias oVEMP refletem a função reflexos de curta duração nos músculos masseteres,
otolítica, estudos buscam a avaliação sistêmica da porém a questão é saber se o som também pode evocar
função otolítica na DM. Chen et al.15 avaliaram a reflexos vestibulares nesses músculos.
diferença entre as variáveis cVEMP e oVEMP entre Para esta finalidade, investigaram os efeitos in-
pacientes com DM e controles normais, bem como duzidos por estímulo cliques de forte intensidade no
entre pacientes com DM precoce e tardio. Em 30 pa- EMG da fibra muscular massetérica retificada e não
cientes com DM unilateral e 30 indivíduos saudáveis retificada, bem como as unidades motoras isoladas
(como controles normais), os com oVEMP foram nos músculos masseteres, em 18 indivíduos saudáveis.
307
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
dentes, e como as respostas do oVEMP por vibração 3. Murofushi T. Clinical application of vestibular evoked
induzida dependem da duração da vibração aplicada17. myogenic potential (VEMP). Auris Nasus Larynx
[Internet]. Elsevier Ireland Ltd. 2016; 43(4):367-
Nesse estudo, foi utilizado um vibrador manual
76. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.
para produzir pips de vibração de 100 Hz para os anl.2015.12.006
dentes através de uma mordida personalizada ou a
4. Weber KP, Rosengren SM. Clinical Utility of Ocular
outras partes da cabeça, em 10 participantes. Os po- Vestibular-Evoked Myogenic Potentials (oVEMPs).
tenciais de oVEMP foram registrados em resposta à Current Neurology and Neuroscience Reports. 2015;
vibração em três direções ortogonais e cinco estímulos 15(5):22.
de durações entre 10-180 ms. As respostas do oVEMP 5. Suzuki JI, Tokumasu K, Goto K. Eye Movements from
foram analisadas em termos do pico de latência, da Single Utricular Nerve Stimulation In The Cat. 1969;
amplitude pico a pico e da qualidade do traço. Foram 362:350-62.
registrados como resultados que os estímulos de du- 6. Felipe L, Kingma H. Ocular Vestibular Evoked My-
ração mais longa produziram respostas do oVEMP de ogenic Potentials. Int Arch Otorhinolaryngol. 2014;
maior duração, enquanto os estímulos de duração de Jan;18(1):77-9.
um ciclo produziram respostas de menor amplitude 7. Moore KL, Dalley AF, Agur AMR. Anatomia Orien-
e menor qualidade do que as durações de estímulo tada para Clínica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
mais longas. Dessa forma, os autores concluíram que Koogan, 2014.
a aplicação da vibração através dos dentes usando 8. Aires M de M. Fisiologia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Gua-
uma barra de mordida é um meio eficaz de produzir nabara Koogan, 2012.
oVEMP, e que uma relação positiva entre a duração 9. Papathanasiou E, Murofushi T, Akin F, Colebatch J.
do estímulo e a resposta é consistente com a noção de International guidelines for the clinical application
que o oVEMP induzido pela vibração é uma resposta of cervical vestibular evoked myogenic potentials: an
expert consensus report. Clin Neurophysiol [Inter-
oscilatória ao movimento da cabeça, ao invés de ser
net]. Int Fed Clin Neurophysiology. 2014; 125(4):658-
uma simples resposta reflexa que ocorre quando o 66. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
estímulo excede um limiar de estimulação. pubmed/24513390
10. Chihara Y, Iwasaki S, Fujimoto C, Ushio M. Frequency
tuning properties of ocular vestibular evoked myo-
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS genic potentials. Neuroreport. 2009; Oct 28; 20(16):
1491-5.
O oVEMP aplicado isoladamente ou associado 11. Rosengren SM, McAngus Todd NP, Colebatch JG.
a outros exames de potenciais miogênicos mostra-se Vestibular-evoked extraocular potentials produced
promissor como exame complementar no auxílio de by stimulation with bone-conducted sound. Clin
diagnóstico de várias doenças, dentre elas a Deiscência Neurophysiol. 2005; 116(8):1938-48.
do Canal Superior (DCS), doenças neurodegenerati- 12. Piker EG, Jacobson GP, Mccaslin DL, Hood LJ. Nor-
vas como a esclerose múltipla, doença de Meniére e mal Characteristics of the Ocular Vestibular Evoked
doenças musculares que acometam os músculos da Myogenic Potential. 2011; 230(March 2010):222-30.
face, como o masseter e o temporal nas desordens 13. Crnošija L, KrbotSkorić M, Gabelić T, Adamec I,
Habek M. Vestibular evoked myogenic potentials
temporomandibulares.
and MRI in early multiple sclerosis: Validation of the
VEMP score. In Journal of The Neurological Sciences.
REFERÊNCIAS 2017; 15;(372):28-32. DOI: 10.1016/j.jns.2016.11.028.
14. Okuno T, Sando I. Localization, frequency and se-
1. Taylor RL, Bradshaw AP, Halmagyi GM, Welgampola curity of endolymphatic hydrops and the pathology
MS. Tuning Characteristics of Ocular and Cervical of the labyrinthine membrane in Menière’s disease.
Vestibular Evoked Myogenic Potentials in Intact and Ann Otorhynolaryngol. 1987; 96:438-45.
Dehiscent Ears. 2012; 2050:207-18. 15. Chen L, Xu H, Wang W, Zhang Q, Lv Q, Song X.
2. Zuniga MG, Davalos-Bichara M, Schubert MC, Carey Evaluation of the otolith function using c / oVEMPs in
patients with Ménière’s disease. J Otolaryngol - Head
JP, Janky KL. Optimizing Ocular Vestibular Evoked
Neck Surg [Internet]. J Otolaryngol - Head & Neck
Myogenic Potential Testing for Superior Semicircular
Surgery. 2016; 16-21. Available from: http://dx.doi.
Canal Dehiscence Syndrome: Electrode Placement.
org/10.1186/s40463-016-0152-4.
2014; 68131:239-47.
308
Parte III – Cap. 29 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR PELO RAMO SUPERIOR E SEUS PONTOS DE CAPTAÇÃO |
16. Deriu F, Tolu E, Rothwell JC, Tolu E, A JCR. A Sou- potentials elicited with vibration applied to the teeth.
nd-Evoked Vestibulomasseteric Reflex in Healthy Clin Neurophysiol [Internet]. Int Fed Clin Neurophy-
Humans. J. Neurophysiol.2005; (93):2739-51. siology. 2016; 127(1):833-41. Available from: http://
17. Parker-george JC, Bell SL, Griffin MJ. Clinical Neu- dx.doi.org/10.1016/j.clinph.2015.02.007.
rophysiology Ocular vestibular evoked myogenic
309
30
POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO
VESTIBULAR E ENVELHECIMENTO
Augusto César Alves de Oliveira
Lidianne Moreira Sales Veloso
Kelly Cristina Lira de Andrade
Pedro de Lemos Menezes
311
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
muscular, debilidade do sistema muscular, diminuição nos diversos planos do espaço e movimentos corpó-
da flexibilidade, da força, da resistência e da mobilida- reos lineares. Qualquer falha neste sistema resulta em
de articular, fatores que por decorrência, determinam sensações desagradáveis como: náuseas, vertigens,
limitação da capacidade de coordenação e de controle desequilíbrio e nistagmo10,11.
do equilíbrio corporal6.
A manutenção do equilíbrio corporal é um pro-
cesso complexo que depende da integração dinâmica
3. ALTERAÇÕES VESTIBULARES
dos sistemas visual, vestibular e proprioceptivo (Figura
1), que detectam as oscilações posturais do corpo e ge- 3.1. Definição
ram respostas compensatórias para o sistema muscular, As alterações vestibulares, clinicamente caracte-
assim corrigindo e ajustando o equilíbrio corporal7. rizadas por tontura, vertigem, desequilíbrio corporal,
instabilidade à marcha e/ou quedas estão entre as quei-
xas mais comuns na população idosa. Os primórdios
SISTEMA da reabilitação vestibular datam de 1945, em que o
VESTIBULAR médico Cawthorne submeteu soldados lesados após
a 2ª Guerra Mundial, que apresentavam problemas
de tonturas devido a traumatismos12.
EQUILÍBRIO
CORPORAL
3.2. Etiologia
As alterações vestibulares resultam de um con-
SISTEMA SISTEMA flito sensorial entre as informações vindas da visão,
VISUAL PROPRIOCEPTIVO
do labirinto e do sistema proprioceptivo, em que o
cérebro passa a receber informações errôneas sobre
a posição do corpo no espaço, tendo a sensação de
Figura 1 − Equilíbrio corporal: integração dos sistemas vestibular, mal-estar, como se estivesse rodando, flutuando ou
visual e proprioceptivo. caindo, apesar de estar parado. Podem ter vários fa-
tores responsáveis pelo aparecimento dos sintomas,
As informações sensoriais são integradas no como arteriosclerose, diabetes, alteração vascular,
Sistema Nervoso Central (SNC), que organiza as hipertensão, infecções por vírus e bactérias, alterações
informações sensoriais e se encarrega do controle e do metabolismo e hormonais, uso de drogas ototóxi-
planejamento motor, desencadeando o reflexo vestí- cas, traumatismos, hábitos alimentares inadequados,
bulo-ocular (RVO) e o reflexo vestibuloespinal (RVE) vida sedentária e estresse8.
adequados para manutenção do equilíbrio corporal. O
equilíbrio corporal é um dos fatores determinantes de 3.3. Tipos
um envelhecimento ativo, uma vez que as consequên-
cias do desequilíbrio são devastadoras, costumam ser A disfunção vestibular pode ter localização
periférica e/ou central. Quando periférica, podem
graves e podem até levar a óbito8.
surgir vertigem e outros tipos de tontura combina-
A perda de equilíbrio corporal é uma condição das com perda de audição, zumbido, sensação de
física associada à senescência por vários motivos, como pressão ou desconforto no ouvido e manifestações
a perda de massa muscular, diminuição da resposta neurovegetativas. Quando central, as tonturas podem
reflexa, diminuição da flexibilidade e de força mus- coexistir com ataxia, diplopia, paresia ou paralisia
cular, dificuldade de marcha, mobilidade reduzida, facial, disartria, disfagia, fraqueza, incoordenação de
diminuição da acuidade visual, além da prevalência movimentos, distúrbios de motricidade e sensibilida-
de doenças vestibulares. Fatores psicológicos como de, entre outros sintomas neurológicos13.
depressão e ansiedade também têm sido associados
ao medo de cair em idosos9.
O sistema vestibular é responsável pela manuten- 3.4 Métodos Avaliativos
ção do equilíbrio corporal, tendo função de fornecer A avaliação das alterações vestibulares é uma eta-
informações sobre as acelerações angulares da cabeça pa muito importante para a definição do diagnóstico.
312
Parte III – Cap. 30 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR E ENVELHECIMENTO |
Pacientes com queixas como vertigem, alterações de qualidade de vida do idoso. Um desses avanços é o uso
equilíbrio, hipoacusia e zumbido são candidatos a do Potencial Miogênico Evocado Vestibular (VEMP).
uma avaliação otoneurológica, que se constitui de
anamnese detalhada, exame físico completo, exames
laboratoriais, radiológicos, audiométricos, eletronis- 5. POTENCIAL MIOGÊNICO
tagmografia e provas rotatórias. O objetivo dessa ava- EVOCADO VESTIBULAR
liação consiste em identificar se existe algum distúrbio (VEMP) E ENVELHECIMENTO
dos sistemas relacionados ao equilíbrio, diferenciá-los
entre centrais e periféricos, grau de acometimento, A avaliação do sistema vestibular é fundamental
etiologia e prognóstico. O grande elemento semio- para o tratamento de pessoas com distúrbios de equi-
313
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
tríceps; e iv) VEMP gastrocnêmio (gVEMP) para os para a avaliação do funcionamento do sistema ves-
registros no músculo gastrocnêmio26. tibular como um todo e, consequentemente, dos
O VEMP investiga se o órgão vestibular está músculos responsáveis pelo equilíbrio. Com isso
hipersensível ao som (causada por algumas doenças poderia ser usado como auxílio no diagnóstico de
da orelha interna) e se existem alterações no sáculo, alterações musculares, monitorização do tratamento
no nervo vestibular ou no núcleo vestibular22. de pacientes com alterações de equilíbrio provenientes
A atividade eletromiográfica de diversos mús- de alterações musculares após período de fortale-
culos do corpo humano, em especial dos cervicais, é cimento e/ou reabilitação vestibular, prevenindo e
captada por meio de eletrodos de superfície27. Este antecipando o risco de quedas. Em estudo recente de
reflexo é ativado mediante uma estimulação sonora e revisão sistemática com meta-análise de estudos sobre
baseia-se na relação existente entre o sistema cocleo- VEMP31, percebeu-se, de acordo com os achados, que
vestibular e a musculatura cervical anterior21. o componente de latência (tanto do VEMP ocular,
quanto de VEMP cervical) estava mais atrasado nos
As respostas do VEMP têm sido clinicamente idosos do que nos adultos jovens. Para os autores, tal
investigadas em condições patológicas severas, como atraso poderia estar associado à redução do número
tumor do acústico (neurite vestibular), doença de de neurônios com o avanço da idade, que acarretaria
Meniére, esclerose múltipla22,28. no núcleo vestibular implicações importantes que
Na análise das respostas de VEMP, devem ser poderiam ter relação com a deterioração do equilíbrio
considerados principalmente os parâmetros de ampli- em idosos.
tude e latência. As ondas eletromiográficas do registro
do potencial de ação, captadas no VEMP de maneira
geral no músculo esternocleidomastóideo, habitual- 6. REABILITAÇÃO VESTIBULAR
mente, se definem pelas seguintes características21,29: NO IDOSO
latência: tempo que transcorre desde a estimu- O mecanismo de equilíbrio requer um influxo
lação acústica até o aparecimento do valor mais sensorial adequado do sistema visual, “vestibular,
positivo ou negativo das ondas; proprioceptivo” para a sua manutenção. Os princi-
morfologia da onda; pais mecanismos reflexos envolvidos: RVO (reflexo
amplitude pico a pico ou a diferença de valores vestíbulo-ocular), que tem nos canais semicirculares,
entre o ponto mais positivo de uma onda e o responsável pela estabilização da imagem durante a
mais negativo de outra. movimentação cefálica; RVE (reflexo vestibuloes-
Naturalmente, o organismo se prepara para pinal) responsável por manter a postura do corpo e
restabelecer o equilíbrio por meio do processo de estabilização da cabeça com movimentos musculares
compensação vestibular, que é um processo de adapta- compensatórios em resposta à atividade sensorial
ção e plasticidade do SNC dependente das aferências aferentes dos canais semicirculares e mácula sacular
sensoriais intactas restantes e de algumas estruturas e utricular32,33.
de integrações centrais, como os núcleos vestibulares A terapia de reabilitação vestibular é um método
e o cerebelo30. Porém, no indivíduo idoso, esse pro- de tratamento complementar, não invasivo, que atua
cesso está comprometido pelo envelhecimento das no sistema vestibular e potencializa a neuroplasticida-
estruturas envolvidas, retardando esse processo de de do SNC, promovendo a recuperação do equilíbrio
compensação. corporal, acelerando e estimulando os mecanismos
O conhecimento sobre o mecanismo de ação e a naturais de compensação, adaptação e habituação,
acurácia do VEMP como teste diagnóstico tem sido com isso, melhorando o equilíbrio corporal e a qua-
ampliado. Com isso já se evidenciam suas vantagens lidade de vida13,32,34.
(exame objetivo, confiável, não invasivo, de baixo A reabilitação vestibular baseia-se em programas
custo, fácil execução, rápido e sem desconforto para de exercícios com os olhos, a cabeça e o corpo ou em
o paciente) e desvantagens (necessidade de padro- manobras físicas específicas, associados à mudança de
nização do exame, não só na população adulta, mas hábitos e esclarecimentos sobre o desequilíbrio, obje-
também na população idosa)19. tivando modificar o sistema de controle postural por
Partindo desse pressuposto, surgem questiona- meio da experiência de diferentes ambientes visuais
mentos se o VEMP poderia ser aplicado clinicamente com estímulos congruentes e que geram conflitos;
314
Parte III – Cap. 30 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR E ENVELHECIMENTO |
diminuir a tontura e a instabilidade corporal; e aumen- reduzindo risco de quedas, fragilidade e limitações
tar a estabilização do olhar e o controle postural para funcionais e sociais20,36.
melhorar a competência e o bem-estar na realização
de AVD20.
7. VÍDEO HEAD IMPULSE TEST
Os objetivos principais da reabilitação vestibular
(vHIT)
são: promover a estabilização visual e aumentar a
interação vestibulovisual durante a movimentação O avanço das tecnologias vem proporcionando
da cabeça; proporcionar melhor estabilidade está- a oferta de novas técnicas diagnósticas e terapêuticas
tica e dinâmica nas situações de conflito sensorial; direcionadas às disfunções vestibulares, contribuindo
e diminuir a sensibilidade individual por meio de
315
| TRATADO DE ELETROFISIOLOGIA PARA A AUDIOLOGIA
REFERÊNCIAS com síndrome vestibular periférica. Rev Bras Otorri-
nolaringol. 2004; 70(1):94-101.
1. Kuchemann BA. Envelhecimento populacional, cuida- 14. Lourenço et al. Distribuição dos achados otoneurológi-
do e cidadania: velhos dilemas e novos desafios. Soc e cos em pacientes com disfunção vestíbulo-coclear. Rev
Estado [Internet]. 2012; 27(1):165-80. Bras Otorrinolaringol [Internet]. 2005; 71(3):288-96.
2. Cruz DT et al. Prevalência de quedas e fatores associa- 15. Guccione AA. Fisioterapia Geriátrica: Equilíbrio e
dos em idosos. Rev Saúde Pública. 2012; 46(1):138-146. quedas no idoso: questões sobre avaliação. 2ª ed. Rio
3. Rebelatto JR, Morelli JGS. Fisioterapia Geriátrica – de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
A prática de assistência ao idoso. 1ª ed. São Paulo: 16. Ricci NA, Gazzola JM, Coimbra IB. Sistemas sensoriais
Manole, 2004. no equilíbrio corporal de idosos Sensory. Arq Bras
Ciências da Saúde. 2009; 34(2):94-100.
4. Miranda D, Morais G, Mendes G, Cruz A, Silva A,
Lucia A. O envelhecimento populacional brasileiro: 17. Doná F, Cotini FC, Rodrigues EF, Gazzola JM, Schar-
desafios e consequências sociais atuais e futuras. Rev lach RC, Kasse CA. Uma abordagem interdisciplinar
Bras Geriatr e Gerontol. 2016; 19(3):507-19. na avaliação e reabilitação do idoso com disfunção
vestibular crônica. Rev Equilíbrio Corpor e Saúde.
5. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
2009; 1:22-32.
(IBGE). Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios
no Brasil. IBGE, 2016. Disponível em: http://www. 18. Oliveira MR; Silva Junior RA, Teixeira DC, et al. Equi-
ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/ líbrio postural e risco de quedas em idosos fisicamente
sinopse/sinopse_tab_brasil_zip.shtm Acesso em: 20 independentes. In: Equilíbrio humano e seus distúr-
maio. 2016. bios: do estilo de vida à reabilitação. Universidade
Norte do Paraná; organização Marchiori LLM et al.
6. Rebelatto JR, Calvo JI, Orejuela JR, Portillo JC. In- Londrina: Unopar. 2015.
fluência de um programa de atividade física de longa
19. Pereira AB, Silva GSM, Felipe L, Assunção ARM,
duração sobre a força muscular manual e a flexibili-
Atherino CCT. Potencial evocado miogênico vestibular
dade corporal de mulheres idosas. Rev Bras Fisioter.
(VEMP). Rev Hospital Universitário Pedro Ernesto.
[Internet]. 2006; 10(1):127-132.
2015; 14(1):56-59.
7. Silva Jr. RA. Equilíbrio Postural e Risco de Quedas em
20. Herdman SJ, Whitney SL. Reabilitação vestibular. 2ª
Idosos Fisicamente Independentes. in: Equilíbrio hu-
ed. São Paulo: Manole, 2002, p. 3-24.
mano e seus distúrbios: do estilo de vida à reabilitação.
Universidade Norte do Paraná; organização Marchiori 21. Guillén VP, García EG, Piñero AG, Piqueras del Rey
LLM et al. Londrina: Unopar. 2015, p. 23-35. A, Pérez CM, Garrigues Hp. Potencial vestibular
miogénico evocado: un aporte al conocimiento de la
8. Horak FB. Postural orientation and equilibrium: What
fisiología y patología vestibular. Patrones cuantitativos
do we need to know about neural central of balance en la población normal. Acta Otorrinolaringol Esp.
to prevent falls? Age end Ageing Oxford; 2006, v. 35, 2015; 56:349-53.
supl. 2:117-121.
22. Murofushi T, Nakahara H, Yoshimura E, Tsuda Y.
9. Peluso TP, Kasse, CA, Aleixo E, Rutter E, Branco-Bar- Association of air-conducted sound oVEMP findings
reiro FCA. Medo de cair em idosos in: Equilíbrio hu- with cVEMP and caloric test findings in patients with
mano e seus distúrbios: do estilo de vida à reabilitação. unilateral peripheral vestibular disorders. Acta Oto-
Universidade Norte do Paraná; organização Marchiori laryngol. 2011; 131(9):945-50.
LLM et al. Londrina: Unopar. 2015.
23. Colebatch JG, Rothwell JC, Bronstein A, Ludman H.
10. Pedallini MEB, Bittar RSM. Reabilitação vestibular: Click-evoked vestibular activation in the Tullio phe-
uma proposta de tratamento. Pró-Fono Rev Atual nomenon. J Neurol Neurosurg Psychiatry [Internet].
Cient. 1999; 1(2):140-4. 1994; 57(12):1538-40.
11. Bear MF, Connors BW, Paradiso MA. Os sistemas au- 24. McCue MP, Guinan JJ. Acoustically responsive fibers
ditivo e vestibular. In: Bear MF, Connors BW, Paradiso in the vestibular nerve of the cat. J Neurosci. 1994;
MA. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 14(10):6058-70.
São Paulo: Artmed. 2002, p. 349-95. 25. Halmagiy GM, colebatch JG, curthoys IS. New tests
12. Gazzola JM, Perracini MR, Ganança MM, Ganança FF. of vestibular function. Baillière’s Clinical Neurology.
Fatores associados ao equilíbrio funcional em idosos 1994; 3(3):485-500.
com disfunção vestibular crônica. Rev Bras Otorrino- 26. Dorigueto RS, Alves AM, Tateyama T, Jakaitisa F,
laringol [Internet]. 2006; 72(5):683-90. Silva RC, Kasse CA. Potenciais Evocados Miogênicos
13. Ganança FF, Castro ASO, Branco FC, Natour J. Inter- Vestibulares: Métodos de Registro e Aplicações Clíni-
ferência da tontura na qualidade de vida de pacientes cas. Rev Equilíbrio Corporal Saúde, 2014; 6(2):67-71.
316
Parte III – Cap. 30 • POTENCIAL EVOCADO MIOGÊNICO VESTIBULAR E ENVELHECIMENTO |
27. Akin FW, Murnane OD, Panus PC, Caruthers SK, 33. Quitschal RM, Fukunaga JY, Ganança MM, Caovilla
Wilkinson AE, Proffitt TM. The influence of voluntary HH. Avaliação do controle postural na hipofunção ves-
tonic EMG level on the vestibular-evoked myogenic tibular. Braz J Otorhinolaryngol. 2014; 80(4):339-45.
potential. J Rehabil Res Dev. 2004; 41(3B):473-80. 34. Horak FB, Shupert CL, Mirka A. Components of
28. chi K, Ohashi T, Nishino H. Variance of vestibular- postural dyscontrol in the elderly: a review. Neurobiol
-evoked myogenic potentials. Laryngoscope. 2001, Aging. 1989, 10:727-38.
111:522-527. 35. Simoceli L, Bittar RS, Sznifer J. Eficácia dos Exercícios
29. Damen, MMJ. Vestibular evoked myogenic potential de Adaptação do Reflexo Vestíbulo-ocular na Esta-
bilidade Postural do Idoso. Arq Int Otorrinolaringol
(VEMP), Clinical application of the threshold. Medical
[Internet]. 2008; 12(2):183-8.
Engineering. 2007, p. 60.
317