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Parmênides e a Refutação da Mudança

Parmênides foi um estudioso grego que viveu na colônia italiana de Eleia no século V a.C. A
escola eleata que ele defendia é conhecida pela alegação de que a realidade é uma unidade
atemporal. A mudança, juntamente com a passagem do tempo, é apenas uma ilusão ou projeção da
mente. Da obra de Parmênides, sobreviveram apenas fragmentos, que incluem a refutação da
mudança, talvez o mais antigo exemplo de argumentação filosófica prolongada.
O principal fragmento contém uma série de pontos conectados que pretendem mostrar a
impossibilidade da mudança. Segundo Parmênides, qualquer mudança envolve destruição ou criação
na medida que envolve um item que envolve um item que vai do ser ao não ser (ou vice-versa) ou
uma propriedade que vai do ser (instanciado) ao não ser (não instanciado) (ou vice-versa). Então,
qualquer mudança envolve alguma coisa que é e não é, o que é uma contradição aparente. Ele
antecipa a óbvia solução proposta para essa alegação: não há contradição no fato de um item ou
propriedade ser e não ser, desde que pode, digamos, “ser” no presente e “não ser” no futuro ou
passado. Replica então que isso apenas transfere a contradição inerente à mudança para o nível de
mudança no tempo. Levar a mudança a sério exige que pensemos em termos de tempo passado e
tempo futuro como reais: mas o passado e o futuro são diferentes do presente na medida em que o
presente “é” enquanto o passado e o futuro “não são”. A única maneira de pensar o passado e o
futuro como reais (argumentaria Parmênides) é pensá-los como reais agora, o que os tornaria
presentes. Então, pensar sobre mudança exige pensar sobre o passado e o futuro como presentes e
não presentes, como reais e não reais.
A solução de Parmênides para a contradição é negar a realidade tanto da mudança quanto da
passagem do tempo. A percepção pelos sentidos é caracterizada pela mudança, sendo então a
sensação fundamentalmente enganosa. A única maneira de conhecer a verdade sobre o mundo é
desconsiderar a sensação e usar apenas a razão e a lógica.

P1 A mudança é real (suposição de reductio)


P2 Se a mudança é real, então envolve (a) um objeto nascendo ou adquirindo alguma
característica ou (b) um objeto morrendo ou deixando de ter alguma característica.
P3 Se (P2), então há diferentes tempos, ou seja, passado/presente/futuro.
P4 Não há diferentes tempos - só o presente existe.
C1 Há diferentes tempos e não há diferentes tempos.
C2 A mudança não é real.

CARACTERÍSTICAS DO SER

1) O ser é idêntico a si mesmo: se o Ser fosse diferente de si mesmo, ele não seria o que
“é”. Em outras palavras: se não fosse idêntico a si mesmo, o Ser não seria ele mesmo, o que é
impossível, pois, o ser “não pode não ser”.
2) O ser é um: Não podemos conceber que exista outro Ser, pois, se houvesse um “segundo
ser”, ele seria diferente do “primeiro ser” — o que é impossível, pois, assim, “o primeiro ser” teria que
não ser o “segundo ser” e teria que ser compreendido como não sendo. Além disso, é absurdo
pensar que o Ser não é. Por isso, só pode existir um Ser.
3) O Ser não pode ser gerado: Nada pode ser gerado do nada (“o nada não é e não pode
ser”), então ele não pode dar origem ao Ser. Se fosse gerado de outro Ser, como vimos no ponto 2,
isso seria admitir que existem dois seres e um deles seria o “não ser” de outro, e isso é impossível.
4) O ser é imperecível: Parmênides diz que, se não é gerado, o Ser também é imperecível,
pois, do contrário, tornar-se-ia o não ser. Se o Ser não é gerado, existiu desde todo sempre, então
ele já teria experimentado todas as condições que poderiam fazê-lo deixar de ser. Se isso não
aconteceu, é porque o Ser é “sem começo e sem fim”, ou seja, em relação ao tempo, o ser é eterno.
5) O ser é indivisível: Se o Ser pudesse ser dividido, da divisão resultariam seres múltiplos –
o que é impossível, como vimos no ponto 2. Do mesmo modo, cada um desses múltiplos seres seria
o não ser do outro, o que também é impossível. Também presumiríamos, a partir da divisão, a
existência de um Ser que dividiria o outro ser. Logo, como disse Parmênides no fragmento B8: [O
Ser] Nem é divisível, visto ser todo homogêneo (...), mas é todo cheio do que é.*
6) O ser é imutável. A mudança faria com o que o Ser deixasse de ser aquilo que é e se
tornasse algo que ainda não é. Desse modo, admitir a possibilidade de mudança seria admitir o
contrário daquilo que já estudamos: o que não é ser nada é, ou seja, passaríamos a concordar com a
existência do não ser. Se até mesmo a passagem de tempo não é admitida no pensamento
parmenidiano, pois o Ser seria eterno, não é difícil entender que as outras mudanças devem ser
excluídas, pois só é possível pensar em mudança em relação à temporalidade. Só percebemos a
mudança de um objeto A porque no passado ele era A e, no momento presente, ele é B. É por isso
que Parmênides diz que o Ser "jamais foi nem será, pois é, no instante presente”.
7) O ser é imóvel: Da mesma forma que a temporalidade está associada à mudança, está
associada ao espaço: para mover de um lugar ao outro é preciso, também, deslocar-se no tempo.
Para entender melhor, não conseguimos estar na escola e no shopping ao mesmo tempo. No
entanto, para sair da escola e chegar ao shopping, é preciso que exista uma passagem de tempo.
Como, para Parmênides, o Ser está fora da categoria de “tempo”, pois é eterno, também não
podemos colocá-lo na categoria de “espaço”. Por isso, Parmênides diz que o ser “descansa em si
próprio, sempre (…) no mesmo lugar”."

Questões

1- Por que Parmênides pensa que o tempo é uma ilusão?

2- Você concorda que a realidade é fundamentalmente imóvel?

3- De acordo com Parmênides, quais as características do ser? Explique COM SUAS


PALAVRAS cada uma delas.

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