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Não pode haver nada que não tenha um princípio, mas qual é esse
princípio? E não há na verdade um único Princípio de todas as
coisas. Se considerarmos o Universo como um todo, é evidente
que ele contém todas as coisas, pois todas as partes estão contidas
no Todo; por outro lado, o Todo é necessariamente ilimitado pois,
se possuísse um limite, este limite não estaria contido no Todo, e
essa suposição é absurda. O que não possui limite pode ser
chamado de Infinito e, como ele contém tudo, ele é o princípio de
todas as coisas. Aqui é preciso ressaltar um ponto: o Infinito é
necessariamente um, visto que dois Infinitos que não fossem
idênticos excluíram-se mutualmente; isso resulta que só pode
haver um único Princípio de todas as coisas, e esse Princípio é o
Perfeito, porque o Infinito não pode ser tal a menos que seja
Perfeito.
III
II
O que nós queremos dizer mostra a concordância, e ousamos
dizer até mesmo a identidade real (apesar de certas diferenças de
exposição), da doutrina gnóstica com as doutrinas orientais; e
dizemos isso particularmente no tocante ao Vedanta, a mais
ortodoxa de todos os sistemas metafísicos fundados sob o
Bramanismo. É justamente por isso que podemos complementar
o que já fora dito sob os diversos estados do ser, realizando um
empréstimo de algumas citações do Tratado do Conhecimento do
Espírito de Adi Shankaracharya.
‘’A ação que não se opõe à ignorância não pode afastá-la; mas o
Conhecimento dissipa a ignorância, como a Luz dissipa as
trevas.’’
‘’É Brahmā, que após a posse não há nada para possuir; após o
gozo da felicidade da qual não há felicidade que possa ser
desejada; e após a obtenção do conhecimento, não há
conhecimento que possa ser obtido.’’
‘’É Brahmā, que após ser visto, nenhum outro objeto pode ser
contemplado; com o qual se identificou, nenhum nascimento
pode ocorrer; o qual fora percebido, nada mais pode ser
percebido.’’
‘’É Brahmā por qual todas as coisas são clarificadas, cuja luz faz
brilhar o Sol e todos os corpos luminosos, mas que não é tornado
manifesto por sua luz.’’
‘’De tudo que fora visto e de tudo que fora entendido, nada existe
senão Brahmā e, pelo conhecimento do
princípio, Brahmā contemplado como o Ser verdadeiro, vivente,
feliz, sem dualidades.’’
IV
De tudo que fora dito, pode-se concluir que não é preciso agir;
mas isso ainda assim seria inexato, senão em princípio, ao menos
na aplicação que queremos fazer. Com efeito, a ação é a condição
dos seres individuais, pertencente ao Império do Demiurgo. O
pneumático ou o sábio está sem ação na realidade, mas, como ele
ainda reside em um corpo, ele possui a aparência de ação.
Exteriormente falando, ele é totalmente idêntico aos outros
homens, mas ele sabe que isso é apenas uma aparência ilusória, e
isso é suficiente para que ele seja realmente libertado da ação,
pois o através do Conhecimento, obtém-se a libertação. Pela
mesma razão que ele é libertado da ação, ele não está mais sujeito
ao sofrimento, pois o sofrimento é um resultado do esforço,
portanto, da ação. É nisso que consiste o que chamamos de
imperfeição, se bem que não há aí nada de imperfeito.
É evidente que a ação não pode existir para aquele que contempla
todas as coisas em si, como existentes no Espírito Universal, sem
qualquer distinção de objetos individuais, assim o exprime estas
palavras dos Vedas: ‘’Os objetos diferem simplesmente pela
designação, acidente e nome, como os utensílios terrestres
recebem diferentes nomes, quaisquer que sejam, são apenas
diferentes formas de terra.’’ ‘’A terra, princípio de todas as formas,
não possui forma, mas contém todas em potência de vir-a-ser;
assim também é o Espírito universal.’’
‘’É assim que ele se move livre como o vento, pois seus
movimentos são estão limitados pelas paixões.’’ ‘’Quando as
formas são destruídas, o Yogi e todos os seres entram na essência
que penetra tudo.’’ ‘’Ele está sem qualidades e sem ação;
incorruptível, sem volição; feliz, imutável, sem forma;
eternamente livre e puro.’’ ‘’Ele é como o éter, espalhado por toda
parte e penetrando ao mesmo o exterior e interior das coisas; ele
é incorruptível, imorredouro; ele é o mesmo em todas as coisas.
Puro, impassível, sem forma e imutável.’’ ‘’Ele é o
grande Brahmā, eterno, puro livre, um, incessantemente feliz,
não-dualista, existente, perseverante e sem fim.’’