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Segundo recolhe Sexto Empírico:

"Que nada existe é argumentado deste modo. Se existe algo, ou bem existe o que é ou o
que não é, ou bem existem tanto o que é como o que não é. Mas nem o que é existe,
como demonstrará, nem o que não é, como explicará, nem também não o que é e o que
não é, ponto este que também justificará. Não existe nada, em conclusão.

É claro, por um lado, que o que não é não existe. Pois se o que não é existisse, existiria
e, ao mesmo tempo, não existiria. Enquanto é pensado como não existente, não existirá,
mas, enquanto existe como não existente, em tal caso existirá. E é de todo ponto
absurdo que algo exista e, ao mesmo tempo, não exista. Em conclusão, o que não é não
existe. E inversamente, se o que não é existe, o que é não existirá. Pois um e outro são
mutuamente opostos, de maneira que se a existência resulta atributo essencial do que
não é, ao que é convir-lhe-ia a inexistência. Mas não é verdadeiro que o que é não existe
e, por tanto, também não o que não é existirá.

Mas é que também não o que é existe. Pois se o que é existe, ou bem é eterno ou
engendrado, ou eterno ou ingénito ao tempo. Mas não é eterno nem engendrado nem
ambas coisas, como mostraremos. Em conclusão, o que é não existe.

Porque se é eterno o que é -há que começar por esta hipótese- não tem princípio algum.
Pois todo o que nasce tem algum princípio, enquanto o eterno, por seu ingénita
existência, não pode ter princípio. E, ao não ter princípio, é infinito. E se é infinito, não
se encontra em parte alguma. Já que se está em algum lugar, esse lugar no que se
encontra é algo diferente dele e, em tal caso, não será já infinito o ser que está conteúdo,
enquanto nada há maior que o infinito, de modo que o infinito não está em parte
alguma. Agora bem, também não está contido em si mesmo. Pois continente e conteúdo
serão o mesmo e o que é um converter-se-á em dois, em espaço e matéria.
Efectivamente, o continente é o espaço e conteúdo, a matéria. E isso é, sem dúvida, um
absurdo. Em consequência também não o que é está em si mesmo. De maneira que, se o
que é eterno, é infinito e, se infinito, não está em nenhuma parte, não existe. Por tanto,
se o que é, é eterno, também não sua existência é em absoluto.

Mas também não o que é pode ser engendrado. Já que se tem sido engendrado, procede
do que é ou do que não é. Mas não procede do que é. Já que se sua existência é, não tem
sido engendrado, senão que já existe. Nem também não procede do que não é, já que o
que não é não pode engendrar nada, dado que o ente criador deve necessariamente
participar da existência. Em consequência o que é não é também não engendrado.

E pelas mesmas razões também não são possíveis as duas alternativas, que seja, ao
tempo, eterno e engendrado. Pois ambas alternativas se destroem mutuamente, e, se o
que é, é eterno, não tem nascido e, se tem nascido, não é eterno.

Por tanto, se o que é não é nem eterno nem engendrado nem também não o um e o
outro, ao tempo, o que é não pode existir.

E, por outro lado, se existe é um ou é múltiplo. Mas não é nem um nem múltiplo,
segundo demonstrar-se-á. Por tanto, o que é não existe, já que se é um, ou bem é
quantidade discreta ou contínua, ou bem magnitude ou bem matéria. Mas, em qualquer
dos supostos não é um, já que se existe como quantidade discreta, poderá ser separado,
e, se é contínua, poderá ser dividido. E, por modo semelhante, se é pensado como
magnitude não deixa de ser separável. E, se resulta que é matéria, terá um triplo
dimensão, já que possuirá longitude, largura e altura. Mas, é absurdo dizer que o que é
não será nenhuma destas propriedades. Em conclusão, o que é não é um. Mas
certamente também não é múltiplo.

Pois, dado que a multiplicidade é um composto de diferentes unidades, excluída a


existência do um, fica excluída, pelo mesmo, a multiplicidade.

Que não existem, pois, nem o que é nem o que não é, resulta fácil de demonstrar. Já que
se tanto o que não é como o que é existem, o que não é será idêntico ao que é quanto à
existência. E, por isso, nenhum dos dois existe. Que o que não é não existe é coisa
convinda. E tem ficado demonstrado que o que é, em sua existência, é idêntico ao que
não é. Por tanto, também não ele existirá. Em consequência, se o que é é idêntico ao que
não é, não podem existir o um e o outro. Porque, se existem ambos, não há identidade e,
se existe identidade, não podem ambos existir. Disso se segue que nada existe."

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