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I. “(Per causa sui intelligo quod cuium) não existência implica contradição; (aut, per
alio verba, quod) cuja essência é idêntica à existência, o que implica que nisto há
necessidade de ser”.
II. “(Dicitur quod res est finitum in tuum genum cum finiri potest per alium rem
eiusdem naturae). Que se acresça a isso a substância, isto é, Deus, enquanto
considerado pela mesma noção de sujeito representada pela coisa criada, como
aquilo que, portanto, aplica a tudo o quanto há a finitude de gênero”.
III. “(Per substantia intelligo) aquilo (quod) é absolutamente per ipsum, i.e., aquilo que
é, por essência, ser”.
IV. “(Per attributus intelligo) aquilo que constitui a essência da substância; ou, como
se verá mais propriamente na argumentação de Espinosa, aquilo que é concebido por
Deus como sendo o punctum maximi momenti ,i.e., o ponto mais importante, da
constituição da substância de Deus”.
V. “(Per modus intelligo affectiones substantiae), isto é, aquilo que é, age, vem a ser
fora de suas causas - existe - e persiste - mantém-se em condição de existência - por
meio da substância”.
VI. “(Per Deus), ou, adiantando a conclusão a qual chegará Espinoza, substância,
(intelligo entem omnino infinitum, id est, substantia quod constat infiniti attributus) -
os quais denominamos modos ou entes, os quais são portadores de acidentes,
mediante os quais os imoventes são produzidos - (,quorum uterque exprimit
essentiam aeternum et infinitum), ou, por outras palavras, cada um dos quais exprime
uma noção de sujeito, cujo conceito consiste num conjunto de formas determinantes,
as quais denominamos sujeito, gênero, espécie e diferença”.
Explicação: “(Dico quod est omnino infinitus, et non quod est infinitus in tui genus).
Ora, a razão de tal é, ao se analisar profundamente as definições precedentes,
axiomática, contudo, ainda a direi a vós: Deus não é infinito no seu gênero,
porquanto algo que seja tal não necessariamente é, não obstante ser ilimitado por
definição, passível de ‘sofrer’ infinitas atribuições. Assim prossegue Espinosa: (;quia
ad quod iustus est infinitus in tui genus possunt negare eum infinitus attributus, et,
per contra, ad quod est omnino infinitus pertinet ad respectivem essentiam omne
quid exprimit essentiae et non envolvet nulla negatio), isto é, se lhe predica tudo o
quanto é ser, pois este é, em seu supremo sujeito, absoluto ser”.
VII. “(Dicitur liberum quid est solum per necessitudinem tui) essência. Aqui convém
uma distinção: não digo natureza, tal qual o faz Espinosa, pois na essência de um
ente residem todas as suas potências e atos atuais, por sua vez, em sua natureza
residem tão somente seus atos atuais enquanto considerados como ações de graus
de perfeição distintos constituintes de uma enteléquia absolutamente mutável.
Prossigamos com a palavra de Espinosa. (Et per ipsum est certum ad agire; et dicetur
necesse, aut magis proprie, coactus, quid est certum per alium rem ad esse et ad
agunt quidae et quodammodo)”.
I. “(Omne quod existit, existit in se aut in alium rem), i.e., existe per se ou per alio”.
II. “(Quid non potest designari per alium rem oportet quod sit per se), i.e., aquilo que,
por deficiência, não se concebe a si mesmo deve sê-lo por outro. Uma vez que tal
procede, conclui-se que aquilo que existe per se é concebido per se, e aquilo que
existe per alio é concebido per alio”.
III. “(ex data causa determinata necessario sequitur effectus; si non existit quis
causam certum, non est sequitur effectum). Ora, tal se patenteia axiomático de tal
modo que se há uma causa determinada é porque dela se segue, por necessidade de
sua natureza, um efeito também determinado”.
IV. “(Scientia effectus dependet scientiae causae et involvit eum), assim como o
conhecimento da causa depende do conhecimento do efeito e envolve-o”.
V. “([...] conceptus [rei] non involvit conceptum alii). Na verdade, Espinosa, o conceito
de um ente sempre envolve o aspecto da substância que ele expressa, de modo que
uma coisa se explica pelas coisas que envolvem o aspecto da substância de sua
expressão”.
VI. “(Idea verus debet consentire cum tuum ideatem), i.e., a expressão que se tem do
objeto de expressão deve condizer com este”.
VII. “(Essentia quod potest designari quam inexistentium non involvit existentiam).
Ora, nada pode ser concebido como não existente, porquanto tudo o quanto é
concebido por um intelecto infinito que, portanto, identifica-se com uma atividade
causante também infinita existe, quer potencialmente, quer atualmente,
necessariamente por consequência da necessidade de sua causa. Se tal procede,
então, conclui-se que a essência de tudo o quanto é concebido por um intelecto
infinito envolve necessariamente a existência”.
P:II. “(Duo substantiae quod habet attributus plures habent nihil communis inter se).
Ora, se, adiantando a conclusão a qual chegará Espinosa, há tão somente uma
substância, não há como haver distinção de substâncias, mas tão somente distinção
da substância com relação a seus modos, acidentes e imoventes, que distinguem-se
entre si apenas por meio de seus graus de ser, quais sejam, à substância pertence o
absoluto ser, aos modos pertence o ser direto, aos acidentes pertence o ser indireto,
e aos imoventes pertence o ser nulo”.
P:III. “(Rei quod nihil habet communis inter se, unus non potest esse causam alii.).
Ora, se, com base nos comentários precedentes, analisarmos corretamente esta
proposição, vemo-nos compelidos a admitir que tal não procede, porquanto nada
existe que não tenha a substância como termo médio que lhes dá o ser; portanto,
tudo o quanto é pode ser concebido ora como causa, ora como efeito”.
Demonstração: “Dado o que acima foi exposto, não convém patentear a atual
demonstração”.
P:IV. “(Duo vel plure res quod sunt diversum distinguunt inter se per diversitam) do
aspecto da essência da substância que exprimem enquanto sendo”.
P:V. “(In natura non potest esse datum duo vel plure substantiam cum idem
proprietas sive attributum.). Aqui inicia-se a argumentação que nos direciona a
conclusão de que na natureza existe tão somente uma substância, a qual todos
chamam Deus”.
Demonstração: “Sumariamente, explicá-la-ei a vós. Inicio, então, dizendo que tudo o
quanto é exprime, conforme o anteriormente dito, um aspecto da substância. Ora, se
tal procede, então, as coisas distinguem-se pelo modo por meio do qual expressam
um aspecto da substância. Com efeito, tal distinção aplica-se de três maneiras tão
somente, quais sejam, pela modalidade do movimento, pelos acidentes e pelas
propriedades dos entes. Assim, se duas ou mais substâncias forem idênticas tanto
na modalidade do movimento que é-lhes inerente, quanto nos acidentes dos quais
elas são sustentáculo, como nas propriedades as quais elas portam, não haverão
duas substâncias distintas, mas tão somente uma única substância”.
Demonstração: “Ora, se tudo o quanto é pode ser concebido ora como causa, ora
como efeito, justamente por ter a substância como termo médio, então, uma
substância não pode ser causa doutra, não por serem distintas, mas, pelo contrário,
tão somente por serem idênticas e, portanto, uma única substância, que é causa sui e
causa de tudo o mais”.
Corolário: “([...] Nunc, [unus substantia] non potest esse causam substantiae; per
necessitate, omnino, substantiam non potest esse effectum alii rei.). Ora, tal
apresenta-se-nos como axiomático, uma vez que concluímos que se todas as
substâncias forem idênticas, o que se mostrará evidente mais adiante, haverá tão
somente uma substância. Ora, se tal procede, então, há tão somente uma substância
existente, a qual não pode produzir outra substância, pois nada se pode criar, mas
tão somente transfigurar, o que implica que a substância só pode transfigurar-se de
modo a efetivar aquilo que lhe é em potência, e não de modo a gerar um novo ato”.
Outra demonstração: “([...] Si substantia posset esse effectum alii rei, eum scientia ut
dependeat respectivis causae; ergo, non esset [,per definitionem,] substantiam.)”.
Demonstração: “Ora, tal patenteia-se pelo seguinte: se, como provaremos mais
adiante, há tão somente uma substância, a qual é sustentáculo de tudo o mais, e se
tudo o quanto é, é pela substância, então, a substância é absoluto ser, o que nos leva
a conclusão de que, se não há substância, não há ser. Portanto, à natureza da
substância convém o ser, i.e., a substância e o ser se identificam”.
P:VIII. “(Omnis substantia est necessario infinitum). Ouso, ainda, dizer que a
substância é necessariamente eterna”.
Demonstração: “Ora, tal justifica-se pelo seguinte: se existe tão somente uma
substância, a qual é sustentáculo de tudo o mais, então, deve-se concebê-la como
existente eternamente em ato, pois, do contrário, intercalar-se-ia o nada absoluto, o
qual é, por definição, absolutamente errôneo. Portanto, a substância é, por
necessidade, eterna e, por consequência, infinita, pois tudo o quanto é eterno é
simples, e tudo o quanto é simples é infinito”.
Escólio I: “Omito-o por não ver necessidade em expô-lo, pois, no conteúdo de tal,
Espinosa nada mais diz senão o que já ficou patente por si”.
Escólio II: “([...] Notandum: (I) quod verum definitionem omnis rei non involvit non
exprimit nisi naturam rei definita. Ubi est effectus: (II) quod nullo definitio involvit vel
designat numerum certum singularum visa exprimere iustus naturam rei definita. [...].
(III) Notandum quod est necessario ad omnis rei quod existit causam certum quibus
eum existit. (IV) Denique notandum quod hoc causam quibus rem existit contineri
debet in ipsa naturam et definitionem rei existentium, [...], vel debet exist extra eum.
Hoc datum, sequitur quod, si existit in Naturæ numerum certum singularum, debet
necessario exist causam quibus exist hoc numerum, et non alium maior vel minor..
[...]. Per hoc, potest concludere, omnino, quod in omne hoc cuius naturae potesnt
exist plure singularum debet necessario esse causam externum quibus haec
singularum exisnt. Ergo, visa quod ad natura substantiae pertinet existentiam,) a
substância não pode ser produzida por coisa alguma, e, por consequência, a
substância não pode ter sua quantidade justificada por uma causa externa, então, à
natureza da substância convém que esta seja única em quantidade e em qualidade.
Passemos agora à argumentação da doutrina amorista. Tal inicia-se com o seguinte:
se existirem inúmeras substâncias de mesmas qualidades, estas serão tão somente
uma substância. Para tanto, é necessário que algo as una. Ora, esse algo só pode ser
o ser, já que este é unívoco e identifica-se com a substância, a qual é, por
consequência, unívoca. Tal afirmação prova-se pelo seguinte: ora, tem de haver um
conceito simpliciter simplex, pois, se não houvesse tal, não haveria conceito algum,
porquanto não haveria um conceito que define-se per se e, portanto, teríamos uma
regressão ao infinito, na qual um conceito seria composto de outros que, por sua vez,
seriam compostos de outros… Ora, tal conceito é tão somente o de
ser-em-ato-que-ama, porquanto, tudo o quanto é, é ser, em ato, e que ama a
substância. Destarte, conclui-se que o ser é um conceito unívoco justamente por ser
um conceito simpliciter simplex. Passemos agora ao porquê da substância
identificar-se com o ser e ser, portanto, tal qual, unívoca. Ora, tal se dá, pois aquilo
que sustenta o que é ser só pode ser ser, isto é, tão somente o ser pode sustentar-se,
o que implica que a substância e o ser se identificam. Ora, se tal procede, então a
substância é aplicada univocamente às coisas existentes, o que implica que tudo é
tão somente uma substância que é única e invariavelmente a intermediação de ser
das coisas. Uma vez que tal procede, conclui-se que o ser é unívoco, a substância e o
ser se identificam, a substância é, por consequência, unívoca, e a substância é,
portanto, única”.
P:IX. “(Quanto magis rem et enssem res habet, multo magis attributus eum sunt
propria), ou por termos da doutrina amorista, quanto mais próximo em ser da
substância uma coisa é, tanto mais atributos lhe são próprios”.
P:XI. “(Deus, vel, per aliis verbis, substantia quod apparet infinitus attributus, quorum
uterque exprimit essentiam aeternam et infinitum, existit necessario)”.
Outra demonstração: “(Para cada coisa deve poder designar-se a causa, ou razão,
pela qual a coisa existe [...]. Ora, esta razão ou causa deve estar contida ou na
natureza da coisa ou fora dela. [...] a existência da substância também resulta
somente da natureza dela, a qual envolve a existência. [...] Daqui se segue que existe
necessariamente aquilo de que não é dada qualquer razão ou causa que lhe impeça a
existência. Por conseguinte, se não pode ser dada qualquer razão ou causa que
impeça que Deus exista ou que lhe iniba a existência, é absolutamente forçoso
concluir que existe necessariamente. Ora, se fosse dada uma tal razão ou causa, ela
deveria ser dada ou na própria natureza de Deus ou fora dela, isto é, em outra
substância de natureza diferente). Ora, se Deus pudesse inibir sua própria existência,
Ele necessariamente existiria, e enquanto absoluto ser, o que implicaria que Deus não
poderia inibir sua própria existência; portanto, a primeira objeção não procede. Ora,
se Deus tivesse sua existência inibida por outra substância, esta não seria
substância, porquanto a substância aplica-se univocamente. Portanto, tal substância
não poderia, não sendo substância, inibir-Lhe a existência. Em conclusão, a segunda
objeção não procede tão menos que a anterior”.
Outra demonstração: “(Não ter poder para existir é impotência, e, pelo contrário, ser
capaz de existir é potência [como é per se notum]. Por conseguinte, se o que agora
existe necessariamente é constituído apenas por entes finitos, segue-se que os entes
finitos têm mais poder que o ente absolutamente infinito, o que é absurdo. Portanto,
ou não existe alguma coisa, ou um ente absolutamente infinito tem necessariamente
de existir. Ora, nós existimos ou em nós próprios ou noutra coisa que exista
necessariamente; por conseguinte, existe necessariamente um ente absolutamente
infinito, isto é, Deus). Passemos agora a demonstração da doutrina amorista. Ora, se
não houvesse substância, isto é, aquilo que é absolutamente per ipsum e que,
portanto, é em si absoluto ser, então, ter-se-ia o nada absoluto. Ora, tal não procede,
porquanto o nada absoluto é impossível por consequência, o que se deve ao fato de
que aliquid est. Donde se segue que a substância, ou por outros termos, Deus, existe
necessariamente”.
Escólio: “([...] Com efeito, as coisas que são feitas por causas externas, quer sejam
compostas de muitas partes quer de poucas, devem tudo o que tenham de perfeição
à eficácia da causa externa, e consequentemente a existência delas tem origem
exclusivamente na perfeição da causa externa, e não na que lhes é própria. Pelo
contrário, tudo o que a substância possui de perfeição não é devido a nenhuma
causa externa, porquanto a sua existência tem de resultar exclusivamente da
natureza que lhe é própria, a qual não é mais do que a própria essência dela. [...]).
Demonstração: “Ora, tal se nos apresenta como per se notum, visto que concluímos
que a substância aplica-se univocamente a toda coisa, e é, portanto, única. Com
efeito, se a substância fosse divisível, seria composta, se composta, seria também
finita, se finita, seria destrutível, o que é evidentemente absurdo. Portanto, a
substância é indivisível e, com efeito, não pode-se predicar-lhe qualquer atributo do
qual resulte que a substância possa ser dividida”.
P:XIV. “(Afora Deus, não pode ser dada nem ser concebida nenhuma substância)”.
Corolário II: “(Resulta em segundo lugar: que a coisa extensa e a coisa pensante
[,isto é, que a extensão e o pensamento, enquanto coisas que não existem nem
tampouco são concebidas per se, mas tão somente per alio,] são ou atributos de
Deus, ou afecções dos atributos de Deus)”.
P:XV. “(Tudo o que existe, existe em Deus, e sem Deus nada pode existir nem ser
concebido)”.
Corolário I: “(Daqui resulta que Deus é causa eficiente de todas as coisas que podem
cair sob um intelecto infinito)”.
Corolário II: “(Resulta em segundo lugar que Deus é causa por si, e não por acidente),
ou melhor dizendo, que a substância é causa in se e per se, e não in alio ou per
accidens”.
Corolário III: “(Resulta em terceiro lugar que Deus é absolutamente causa primeira).
Tal prova-se pelo seguinte: se a substância é indivisível e, portanto, simples, então,
ela não pode ser, de modo algum, efeito, porquanto ser simples implica não ter partes
que o precedem e que o compõem, enquanto ser efeito implica ser composto e, por
isso, ser efetível, o que não procede, por definição, na substância. Portanto, a
substância é absolutamente primeira na ordem do ser e das causas”.
P:XVII. “(Deus age somente pelas leis da sua natureza [...]). Pelo que Deus não é
livre”.
Demonstração: “Na substância, não existem princípios contraditórios, visto que nela
concebe-se o princípio da não-contradição. Donde resulta que a substância pode
executar tão somente a melhor ação possível. Ora, se a substância age tão somente
da melhor forma possível e se ela só age conforme a necessidade de sua natureza,
porquanto lhe é impossível agir por necessidade de sua essência dado que tudo o
que está compreendido numa também está noutra, então, não existe a possibilidade
de a substância selecionar a não melhor ação, pelo que ela não é livre, mas per se
coactum”.
Corolário I: “(Daqui resulta: (I) [que] não existe causa alguma, extrínseca ou
intrínseca a Deus, que o incite a agir, além da perfeição da sua própria natureza)”.
Corolário II: “((II) Só Deus é causa livre. Com efeito, só Deus existe pela única
necessidade da sua natureza e age somente pela necessidade da sua natureza; pelo
que só ele é causa livre). Respondo a esta objeção com o seguinte: se a substância
fosse livre, ela poderia agir da não melhor forma, o que implica em contradição
intrínseca, porquanto ela agiria de modo contrário a si mesma, o que não pode
ocorrer a um intelecto infinito. Portanto, tal objeção não procede, e nossa tese
mantém-se de pé”.
Escólio: “([...] Deus tem no seu intelecto uma infinidade de coisas criáveis. [...]. Pelo
que o intelecto de Deus, enquanto é concebido como constituindo a essência de
Deus, é efetivamente a causa das coisas, tanto da essência como da existência delas
[...]. Assim, como o intelecto de Deus é a causa única das coisas, [...], é de
necessidade que ele seja diferente das coisas, tanto em razão da essência como em
razão da existência; pois o que é causado difere da respectiva causa precisamente no
que dela tem). Na verdade, nem a existência nem a essência das coisas pode diferir
das da substância, pois senão o ser nem a substância seriam unívocos. Como já
ficou mais que provado a univocidade de ambos, tal não procede. Quanto ao último
segmento, digo-vos que o que é causado difere da respectiva causa tão somente na
modalidade do movimento, nos acidentes e nas propriedades que são-lhes inerentes,
jamais em substância”.
P:XVIII. “(Deus é causa imanente de todas as coisas, e não causa transitiva). Tal
prova-se pelo seguinte: se existe tão somente uma substância, a qual é sustentáculo
de tudo o mais, então, tal substância tem de necessariamente ser a causa immanens,
isto é, a causa imediata, de todas as coisas”.
Demonstração: “(Tudo o que existe em Deus deve ser concebido por Deus, pelo que
Deus é causa das coisas que nele existem [...]. Em seguida, fora de Deus não pode
haver substância alguma, isto é, uma coisa que, fora de Deus, exista em Deus [...].
Por conseguinte, Deus é causa imanente de todas as coisas [...])”.
P:XIX. “(Deus é eterno, ou, por outras palavras, todos os atributos de Deus são
eternos)”.
P:XX. “(A existência de Deus e sua essência são uma e mesma coisa)”.
Corolário I: “(Daqui resulta, em primeiro lugar, que a existência de Deus, assim como
sua essência, é uma verdade eterna)”.
Corolário II: “(Em segundo lugar, que Deus, ou, por outras palavras, todos os
atributos de Deus, são imutáveis. Com efeito, se mudassem em relação à existência,
deveriam mudar também em relação à essência, isto é, de verdadeiros tornarem-se
falsos, o que é absurdo). Na verdade, a substância e seus efeitos são
necessariamente atualizáveis, porquanto existir significa atualizar-se [como já foi
suficientemente provado na obra Fundamentos de Metafísica]. Tal prova-se pelo
seguinte: um intelecto infinito e uma atividade causante infinita se identificam, o que
implica que atualizando-se uma, atualiza-se simultaneamente a outra, contudo, tal
não implica que, dada a conveniência que há entre o composto intelecto-atividade
causante e o composto essência-existência, um composto identifica-se com o outro.
Portanto, atualizar o composto intelecto-atividade causante, o qual chamarei, por
puro didatismo, de composto I, não implica atualizar o composto essência-existência,
o qual chamarei, por via do mesmo argumento, de composto II. Assim, atualizar o
composto I da substância e de seus efeitos não atualiza o composto II de ambos.
Donde se segue que a substância é sim mutável, o que não implica que haja inúmeras
substâncias e que com elas se intercala o nada absoluto, mas implica tão somente
que a substância é infinitamente atualizável, o que concorda com sua ilimitabilidade”.
P:XXI. “(Tudo o que resulta da natureza absoluta de qualquer atributo de Deus deve
existir sempre e ser infinito, ou, por outras palavras, é eterno e infinito pelo mesmo
atributo)”.
Demonstração: “Que se acresça que, se algo pode existir ou ser concebido, segue-se
que só pode sê-lo em virtude da substância”.
P:XXIV. “(A essência das coisas produzidas por Deus não envolve a existência)”.
Corolário: “Daqui resulta que a substância não só é causa da existência das coisas,
senão também de suas respectivas essências, pelo que a substância é o intermédio
de ser das coisas, ou, por outras palavras, Deus é não só o que concede-lhes o ser,
mas também o que mantém-lhes sendo. Tal se prova pelo seguinte: ora, se a essência
das coisas criadas não identifica-se com a existência das mesmas, então, suas
essências limitam suas existências, mas não sustentam-nas, pelo que a substância,
sendo absoluto ser, cuja essência identifica-se com sua existência, é o meio pelo qual
as coisas criadas mantêm-se em existência contínua. Daqui resulta, ainda, que, se tal
procede, então, a substância gera tão somente coisas finitas, porquanto é ela quem
lhes sustenta o ato, pelo que pode deixar de sustentá-lo quando for necessário, o que
implica na evidente finitude dos entes”.
P:XXV. “(Deus não é somente causa eficiente da existência das coisas, mas também
da essência delas)”.
Corolário: “Os entes não são mais que modos acidentados, dentre os quais alguns
são acidentalmente imoventes, da substância, ou, por outras palavras,
transfigurações da substância”.
P:XXVI. “(Uma coisa que é determinada a qualquer ação foi necessariamente
determinada a isso por Deus; e a que não é determinada por Deus pode determinar-se
por si própria à ação)”.
P:XXVII. “(Uma coisa que é determinada por Deus a qualquer ação não pode tornar-se
a si própria indeterminada)”.
P:XXVIII. “(Qualquer coisa singular, ou, por outras palavras, qualquer coisa que é
finita e tem existência determinada, não pode existir nem ser determinada à ação se
não é determinada a existir e a agir por outra causa, a qual é também finita e tem
existência determinada; e, por sua vez, esta causa também não pode existir nem ser
determinada à ação se não é determinada a existir e a agir por outra causa, a qual
também é finita e tem existência determinada, e assim indefinidamente)”.
P:XXIX. “(Na Natureza nada existe de contingente; antes, tudo é determinado pela
necessidade da natureza divina a existir e a agir de certo modo)”.
Demonstração: “Na verdade, as coisas quando tomadas enquanto efeitos da
substância não são mais que necessárias, contudo, quando tomadas em si mesmas,
as coisas não são senão contingentes, pelo que toda coisa é contingente e
necessária ao mesmo tempo, mas não pelo mesmo aspecto; que se acresça, ainda,
que toda coisa é contingente unicamente por sua enteléquia”.
Demonstração: “(Uma idéia verdadeira deve convir com o seu ideato, isto é, aquilo
que é contido objetivamente no entendimento deve necessariamente existir na
Natureza; ora, na Natureza somente existe uma substância única, que é Deus; e não
existem quaisquer outras afecções além das que existem em Deus, e que não podem
existir nem ser concebidas sem Deus; por consequência, o entendimento, quer seja
finito em ato ou infinito em ato, deve compreender os atributos de Deus e as afecções
de Deus, e nada mais)”.
P:XXXI. “(O entendimento em ato, quer ele seja finito quer infinito, assim como a
vontade, a apetição, o amor, etc., devem ser referidos à Natura Naturans e não à
Natura Naturata)”.
Demonstração: “Por intelecto não se deve entender o aparato por meio do qual o
pensamento se dá, mas tão somente o pensamento absoluto, pelo que deve ser
concebido por si, isto é, pelo que existe como um único intelecto infinito que se
determina a si mesmo, o que o faz distinguir-se em intelecto infinito, intelecto finito e
intelecto extenso finito, quer sejam concebidos em ato quer em potência. Donde,
finalmente, resulta que o intelecto, independentemente de seu gênero, deve ser
referido à Natura Naturans, e não à Natura Naturata”.
Escólio: “Omito-o por vê-lo como inconveniente com relação aos propósitos de
nossa atual investigação”.
P:XXXII. “(A vontade não pode ser chamada causa livre, mas somente causa
necessária)”.
Corolário II: “Não o reproduzo aqui por não ver o que podemos extrair dele de
positivo”.
P:XXXIII. “(As coisas não podiam ter sido produzidas por Deus de maneira diversa e
noutra ordem do que a que têm)”.
Escólio I: “([...] Diz-se que uma coisa é necessária, quer em razão da sua essência,
quer em razão da essência, quer em razão da causa. Com efeito, a existência, seja do
que for, resulta necessariamente ou da respectiva essência e definição, ou de uma
dada causa eficiente. Por estas razões se diz também que qualquer coisa é
impossível, a saber: ou porque a respectiva essência ou definição envolve
contradição, ou porque não existe qualquer causa externa que seja determinada a
produzir tal coisa. [...])”.
Escólio II: “Ora, na eternidade há sucessão e delimitação de eventos. Assim, por meio
da individualidade das coisas é que se delimitam e se sucedem os eventos, que não
são senão as ações interligadas das coisas. Donde se segue que as ações da
substância são tomadas ao final de cada evento. Ora, objetar-se-á, mas como então
justifica-se o juízo de que as ações da substância não podem ser distintas das ações
do concurso atual, pelo que a substância age por necessidade? Ora, diz o ente que
vos escreve, a substância age por necessidade, como já ficou suficientemente
provado, pelo que a substância não poderia agir de modo distinto do que age no
concurso atual, pois não há possibilidade de escolha para a substância já que seu
princípio de melhor ação não lhe permite tal. Daqui resulta que nas coisas não há
perfeição nem imperfeição, porquanto tais são mera distinção de razão, pelo que
nada é efetivamente perfeito nem tampouco imperfeito. Donde se segue que a
substância não é a suma perfeição, mas tão somente a suma incompletude, isto é, a
substância é absolutamente incompleta, pois, dado que a substância é ilimitada, não
pode se lhe impor limites, pelo que a substância não pode ser completa, já que
completude implica a atribuição de limites a uma coisa”.
P:XXXVI. “(Não existe coisa alguma de cuja natureza não resulte qualquer efeito)”.
Demonstração: “Em termos mais adequados, diz-se que não existe coisa alguma que
quando tomada individualmente não produza efeitos, onde está implícito que
qualquer coisa tomada enquanto totalidade pode ou não produzir efeitos, pelo que,
neste caso, nomeamos imoventes, cujo um dos exemplos é o universo”.