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Sobre o ente infinito existente em ato e a tríplice primazia de Scotus

Scotus, nesta questão, não busca dizer que o ente infinito existente em ato é o
Deus Cristão, isto devido a distinção entre verdades de fé e verdades que
pertencem a razão natural. Todavia, ele pela razão natural, justifica que se um
ente é infinito em ato, ele deve ser único, pois a superabudância só se
pode encontrar em algo único. Pós isto, ele também argumenta que o ente infinito em
ato é dotado de inteligência e vontade infinita.

Scotus argumenta que, não podemos conceber a existência de Deus imediatamente


apenas se concebendo sua essência (embora em certa medida ele aceite o argumento
de Anselmo), e isto se dá pois devido a limitação do intelecto humano conceber a
essência divina. Deste modo, devemos fazer uma prova *quia*, ou seja, partindo
do que nos é acessível e das criaturas. Por isto, Scotus recorre as propriedades
relativas do Ente Infinito, o quais são propriedades do ente infinito em
relação com as criaturas, as quais são: causalidade eficiente, final e causalidade
da ordem de eminência (o qual será provado que o Ente Infinito o tem prima
zia sobre as três). Primeiramente, Scotus irá argumentar em pró de um Ente infinto
que há primazia na causalidade eficiente, pois se alguém tem primazia em
causalidade eficiente, necessariamente há de ter nas outras duas propriedades.
Também, há de se provar que esta tríplice primazia pertence a uma única natu
reza, não em quididades diferentes.

Comecemos pela causalidade eficiente, e definindo seus termos.

Efetivo é algo que existe e pode produzir algum efeito, já os efetíveis são os
entes que existem e possuem atualidade de ser por outro ou que podem vir a
existir. Assim, para virem ao ato, precisam de outrem, pois não são atualidades em
si mesma, antes, são compostos de ato e potência e são seres contigentes.
E estes seres que são possíveis, não podem ser em ato do nada, pois a mera
possibilidade de um ser possível em ato implica em uma causa eficiente que também
é em ato, e deste modo, se o nada é ausência de ato entitativo, logo etc. Deste
modo, se seres contigentes implicam em causas eficientes, também não há de
se admitir que estes seres contigentes viessem a ser ato por si mesmo, pois se não
existisse, ou seja, em algo que não era nada e que passa por si mesmo à
existência, então seríamos levados ao absurdo da primeira colocação, onde algo
apareceu do nada. Deste modo, Scotus tente a admitir que deve haver um ente
infinito em ato na ordem de causalidade eficiente. A argumentação dele se baseia em
que, na ordem de causas essencialmente ordenadas, Scotus argumenta
que a primazia na ordem eficiente deve ser igualmente necessária. “Se A é primeiro
no sentido exposto a minha conclusão está assegurada. ”.
Então, se algum ente for possível enquanto
ente primeiro na causalidade eficiente, a conclusão de que há algum ente
simplesmente primeiro estaria constatada. Caso contrário A seria apenas um efetivo
posterior, ou seja, seria efetível por outro. Ora, a causa eficiente primeira não
deve
depender de nada anterior a ela para existir.

Uma objeção é feita a partir do regresso infinito, mas é inválido no sentido de


causas essencialmente ordenadas. Pois na ordem de causas essencialmente orde
nadas, não se supõe que A, sendo causa do B, quando pare de existir, B continua
tendo seu ser em ato. Pois, na ordem de causas essencialmente ordenadas, A é
justamente quem conserva B em ato, não sendo apenas relação Pai-Filho, mas causas
per se.

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