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Actus essendi.
Portanto, é isto que o verdadeiro adiciona ao ente, a saber, a conformidade, ou a
adequação da coisa e do intelecto; e a esta conformidade, como dito, segue-se o
conhecimento da coisa.
Assim, portanto, a entidade de uma coisa precede a razão da verdade, mas o
conhecimento é um efeito da verdade. Logo, segundo isto, a verdade ou o verdadeiro se
define de três modos.
De um modo, segundo o que precede a razão da verdade e sobre a qual o
verdadeiro é fundado; e assim Agostinho o define no livro “Solilóquios”: verdadeiro é
aquilo que é; e Avicena em sua “Metafísica”: a verdade de cada coisa é a propriedade
de seu ser que foi estabelecido para ela; e alguns assim: verdadeiro é o indiviso, e
aquilo que é.
De outro modo, é definido segundo aquilo no qual a razão de verdade é
formalmente aperfeiçoada; e assim Isaac diz que a verdade é a adequação da coisa e do
intelecto; e Anselmo no livro “Sobre a verdade”: a verdade é a retidão perceptível
apenas pela mente. Pois essa retidão é dita segundo uma certa adequação, e o Filósofo
diz na “Metafísica, IV”, que ao definir o que é verdadeiro, dizemos ‘ser, o que é’, ou
‘não ser, o que não é’.
Do terceiro modo, o verdadeiro é definido segundo o efeito conseqüente; e assim
Hilário diz que o verdadeiro é o declarativo e o manifestativo do ser; e Agostinho no
livro “Sobre a verdadeira religião”: verdade é aquilo pelo qual é mostrado aquilo que é;
e no mesmo livro: a verdade é segundo aquilo pelo qual julgamos os inferiores.
[51584] De veritate, q. 1 a. 1 ad 1
Ao primeiro, deve ser dito que aquela definição de verdade de Agostinho é dada
segundo aquilo que tem o fundamento na coisa, e não segundo àquela razão de verdade
que se completa na adequação da coisa ao intelecto. Ou pode-se dizer que quando é dito
que o verdadeiro é aquilo que é, a palavra ‘é’ não é tomada no sentido de significar o
ato de ser, mas sim como o que é notado pelo intelecto componente, a saber, significa
uma proposição afirmativa, de modo que, assim, a definição de Agostinho retoma à
mesma definição do filósofo citada acima.
[51585] De veritate, q. 1 a. 1 ad 2
Ao segundo é clara pelo que foi dito.
[51586] De veritate, q. 1 a. 1 ad 3
Ao terceiro, deve-se dizer que uma coisa pode ser inteligida sem outra, de dois
modos. De um modo, que algo seja entendido e o outro não: e assim, aquelas coisas que
diferem pela razão, se relacionam de tal modo, que uma pode ser inteligida sem a outra.
Outro modo, algo pode ser entendido sem outro, quando é entendido mesmo que a outra
coisa não exista: e assim o ente não pode ser entendido sem a verdade, porque o ente
não pode ser entendido sem concordar ou se adequar ao intelecto. Mas não é necessário,
entretanto, que quem entende a razão do ente, entenda a razão da verdade, assim como
nem todo mundo que entende o ente, entende o intelecto agente; e, no entanto, nada
pode ser entendido sem o intelecto agente.
[51587] De veritate, q. 1 a. 1 ad 4
Ao quarto, deve-se dizer que o verdadeiro é a disposição do ente não por adicionar
alguma natureza a ele, nem por expressar algum modo especial de ente, mas algo que é
encontrado genericamente em todo ente, que, no entanto, não é expresso pelo nome
‘ente’; por isso, não é necessário que haja uma disposição, seja corrupta, diminuta, ou
contraente.
[51588] De veritate, q. 1 a. 1 ad 5
Ao quinto, deve-se dizer que a disposição não se aceita ali segundo o que está no
gênero da qualidade, mas segundo o que importa certa ordem; pois as coisas que são a
causa do ser de outras são maximamente ente, e aquelas coisas que são a causa da
verdade são maximamente verdadeiras; o filósofo conclui, que a ordem de qualquer
coisa no ser e na verdade é a mesma; assim, a saber, onde se encontra aquilo que é
maximamente ente, será maximamente verdadeiro. Conseqüentemente, isso não se dá
pelo suposto fato do ente e do verdadeiro serem o mesmo na razão, mas sim porque,
segundo aquilo que algo tem de entidade, segundo isso mesmo é naturalmente adequado
ao intelecto; e assim a razão de verdade segue a razão do ente.
[51589] De veritate, q. 1 a. 1 ad 6
Ao sexto, deve se dizer que o verdadeiro e o ente diferem em razão do fato de que
algo está na razão da verdade e não está na razão do ente; mas não que algo seja da
razão do ente e não seja da razão da verdade; portanto, não diferem essencialmente, nem
são distintos um do outro por diferenças opostas.
[51590] De veritate, q. 1 a. 1 ad 7
Ao sétimo, deve se dizer que o verdadeiro não é mais extenso do que o ente; pois
‘ente’, de algum modo, é aceito ser dito como ‘não-ente’, segundo aquilo que o não-ente
é apreendido pelo intelecto; daí o filósofo dizer na “Metafísica, IV” que a negação ou a
privação do ente de algum modo é dita ‘ente’; por isso Avicena também diz no princípio
de sua metafísica, que um enunciado só pode ser formado sobre o ente, pois é
necessário que aquilo sobre o que a proposição é formada, seja apreendido pelo
intelecto; do qual é evidente que todo verdadeiro é de algum modo um ente.
[51591] De veritate, q. 1 a. 1 ad s. c. 1
Ao primeiro daqueles argumentos que objetaram contra, deve se dizer que não é
tautológico dizer ‘ente verdadeiro’, porque algo se exprime pelo nome ‘verdadeiro’ que
não se exprime pelo nome ‘ente’; não por causa deles diferirem na realidade.
[51592] De veritate, q. 1 a. 1 ad s. c. 2
Ao segundo, deve se dizer que embora fornicar seja um mal, na medida em que
tem algo de uma entidade, é naturalmente conformável ao intelecto e, desse modo,
segue-se a razão da verdade; e assim é evidente que a verdade não é nem mais, nem
menos, extensa que o ente.
[51593] De veritate, q. 1 a. 1 ad s. c. 3
Ao terceiro, deve se dizer que quando se diz que é diverso o ser e aquilo que é, é
porque o ato de ser é distinto daquilo ao qual convêm esse ato. Mas o nome ‘ente’ é
assumido do ato de ser, e não daquilo ao qual pertence o ato de ser e, portanto, a razão
não segue.
[51594] De veritate, q. 1 a. 1 ad s. c. 4
Ao quarto, deve se dizer que, a esse respeito, o verdadeiro é posterior ao ente,
porque a razão da verdade difere da razão de ente pelo modo já mencionado.
[51595] De veritate, q. 1 a. 1 ad s. c. 5
Ao quinto, deve se dizer que este argumento é deficiente em três pontos. Primeiro,
porque embora as pessoas divinas sejam distintas na realidade, as coisas apropriadas às
pessoas não diferem na realidade, mas apenas na razão. Em segundo lugar, porque
embora as pessoas sejam realmente distintas umas das outras, elas não são realmente
distintas da essência; logo, tampouco a verdade apropriada à pessoa do Filho é
realmente distinta do ente que foi relacionado à essência. Em terceiro lugar, porque,
embora o ente, o verdadeiro e o bom estejam mais unidos em Deus que nas coisas
criadas, não é necessário, porém, que se distingam de Deus por serem realmente
distintos nas coisas criadas. Pois assim é com aqueles que não têm razão de ser ‘um’ na
realidade, como sabedoria e poder, que, sendo um realmente em Deus, são realmente
distintos nas criaturas: mas o ente, o uno, o verdadeiro e o bom segundo a sua razão são
um segundo a realidade; portanto, onde quer que se encontrem, eles são realmente um,
embora a unidade pela qual estão unidos em Deus seja mais perfeita do que aquela pela
qual estão unidos nas criaturas.