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ARTIGO 7

O sétimo pergunta se a verdade em Deus se diz essencialmente ou pessoalmente


E parece que se diz pessoalmente.
[51714] De veritate, q. 1 a. 7 arg. 1
Pois tudo o que em Deus importa relação de princípio, se diz pessoalmente. Mas a
verdade é desse modo, como fica claro em Agostinho no livro “Sobre a verdadeira
religião”: onde diz que a verdade divina é a suma semelhança de princípio sem qualquer
dessemelhança, do qual se origina a falsidade. Logo, a verdade se diz pessoalmente em
Deus.
[51715] De veritate, q. 1 a. 7 arg. 2
Além disso, assim como nada é semelhante a si mesmo, nada é igual a si mesmo.
Mas a semelhança em Deus importa uma distinção de pessoas, segundo Hilário, pelo
fato de que nada é semelhante a Deus. Logo, pela mesma razão, a igualdade. Mas a
verdade é uma certa igualdade. Logo, importa uma distinção pessoal em Deus.

[51716] De veritate, q. 1 a. 7 arg. 3


Além disso, tudo o que importa emanação em Deus, se diz pessoalmente. Mas a
verdade importa uma certa emanação, porque significa a concepção do intelecto, assim
como a palavra. Logo, assim como a palavra se diz pessoalmente, assim também a
verdade.
[51717] De veritate, q. 1 a. 7 s. c.
Ao contrário, a verdade das três pessoas é uma, como diz Agostinho em “Sobre a
Trindade, VIII”. Logo, é essencial e não pessoal.
[51718] De veritate, q. 1 a. 7 co.
Resposta. Deve-se dizer que a verdade em Deus pode ser aceita de dois modos: de
um modo próprio, de outro modo como que metafórico. Pois se a verdade for tomada
propriamente, então implicará a igualdade do intelecto divino e da coisa. E porque o
intelecto divino primeiro intelige a coisa que é sua essência 1, pela qual intelige todas as
outras coisas, portanto, a verdade em Deus implica principalmente a igualdade do
intelecto divino e da coisa, que é sua essência, e conseqüentemente do intelecto divino
às coisas criadas. Mas o intelecto divino e a essência divina não são adequáveis entre si
como “aquilo que mede” e “aquilo que é medido”, pois um não é o princípio do outro,
mas são totalmente a mesma coisa. Portanto, a verdade resultante de tal igualdade não
implica nenhum princípio, quer seja da parte da essência, quer da parte do intelecto, que
nesse caso é uma e mesma coisa; pois assim como, nesse caso, é a mesma coisa o que
intelige e a coisa inteligida, assim é a mesma, a verdade da coisa e a verdade do
intelecto, sem nenhuma conotação de princípio. Mas se a verdade do intelecto divino for
tomada como adequável às coisas criadas, ainda assim, a verdade permanecerá a
mesma, assim como Deus entende a si mesmo e às outras coisas pelos mesmos meios;
entretanto, no intelecto da verdade acrescenta-se a razão de princípio às criaturas, ao
qual o intelecto divino é comparado como “aquilo que mede” e causa. Mas todo nome
que em Deus não implica a razão de princípio ou a razão daquilo que vem a partir de um
princípio, ou mesmo ainda que implique a razão de um princípio às criaturas, é dito
essencialmente. Portanto, em Deus, se a verdade é tomada propriamente, se diz
essencialmente; no entanto, é apropriada à pessoa do Filho, como a arte e outras coisas
que pertencem ao intelecto. Metaforicamente ou “por certa semelhança”, a verdade é
tomada em Deus quando a aceita segundo a razão que se encontra nas coisas criadas,
1
Intelige a si mesmo.
nas quais se diz a verdade, na medida em que uma coisa criada imita seu princípio, a
saber, o intelecto divino. Assim, semelhantemente, diz-se que a verdade em Deus é a
suma imitação do princípio, o que convém ao Filho; e segundo este sentido de verdade,
a verdade propriamente convém ao Filho e se diz pessoalmente; e assim fala Agostinho
no livro “Sobre a verdadeira religião”.
[51719] De veritate, q. 1 a. 7 ad 1
Portanto, a resposta ao primeiro é clara.
[51720] De veritate, q. 1 a. 7 ad 2
Ao segundo, deve-se dizer que a igualdade em Deus às vezes implica uma relação
que denota uma distinção pessoal, como quando dizemos que o Pai e o Filho são iguais;
e assim, em nome da igualdade, intelige-se uma distinção real. Às vezes, porém, em
nome da igualdade não se intelige uma distinção real, mas apenas racional, como
quando dizemos que a sabedoria e a bondade divinas são iguais. Portanto, não é
necessário implicar uma distinção pessoal; e tal é a igualdade implicada pelo nome de
verdade, pois é igual ao intelecto e à essência.
[51721] De veritate, q. 1 a. 7 ad 3
Ao terceiro, deve-se dizer que, embora a verdade tenha sido concebida pelo
intelecto, a razão do conceito não é expressa pelo nome da verdade, como pelo nome da
palavra; por isso não é semelhante essas argumentações.

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