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Anselmo de Cantuária:

Unum argumentum
Ennzo Moura Silverio Ribeiro
ennzomoura2017@usp.br
Pressupostos
RES ALIQUID NOME
coisa algo Exposição/Apresentação

ESSERE EXISTIRE
DEFINIÇÃO
ser existir
Necessariamente positiva,

expondo a causa e/ou os


COGITARE INTELLIGERE
pensar inteligir atributos
Proslogion
Ergo Domine, qui das Portanto, Senhor, que dá o
Anselmo de Cantuária (1033 - 1109) fidei intellectum, da mihi,
intelecto da fé, de para mim
ut, quantum scis o quanto sabes despender,
expedire, intelligam, quia intelige-se que és assim
Estrutura do Proslogion: es sicut credimus, et hoc como cremos e isso é o que
es quod credimus. Et cremos. E cremos que tu és
- Proêmio + Cap. I quidem credimus te esse
algo que nada maior
- Prece
aliquid quo nihil maius
cogitari possit. An ergo pode-se pensar (aliquid
- Cap. II ao VI non est aliqua talis quo nihil maius cogitari
- Argumento natura, quia «dixit possit). Ou, portanto, não
- Cap. VII ao XXVI insipiens in corde suo: sendo de tal outra natureza,
- Atributos de Deus non est Deus» [Ps 13,1; por que diz o insipiente em
52,1]? seu coração: Deus não é?
Primeira crítica: Gaunirio
Dubitanti, utrum sit, vel neganti, quod sit aliqua talis Porventura, duvidando ou negando ser que é algo de
natura, «qua nihil maius cogitari possit», cum esse tal natureza, a qual nada maior pode-se pensar, sendo
illam hinc dicitur primo probari, quod ipse negans vel com aquilo dali dito a primeira prova, porque negando
ambigens de illa iam habeat eam in intellectu, cum ou ambivalendo isto próprio sobre aquilo já tem-se
audiens illam dici id, quod dicitur, intelligit, deinde isso no intelecto, ouvindo aquilo digo isto que diz-se
inteligir. Desde que o que intelige-se, necessariamente,
quia, quod intelligit, necesse est, ut non in solo
não é somente no intelecto, mas é, pois, na coisa, e
intellectu, sed etiam in re sit – et hoc ita probatur, quia
isso, então, prova que é maior ser na coisa que
maius est esse et in re quam in solo intellectu, et si somente no intelecto, e se aquilo só é no intelecto, o
illud in solo est intellectu, maius illo erit, quidquid que quer que seja maior àquilo, pois, foi na coisa,
etiam in re fuerit, ac sic maius omnibus minus erit assim, o maior que todos os menores é aquilo e não é
aliquo et non erit maius omnibus, quod utique maior que tudo, sobretudo porque repugna-se. E
repugnat, et ideo necesse est, ut maius omnibus, quod necessariamente por isso ser como um todo maior,
esse iam probatum est in intellectu, non in solo porque é, então, provado no intelecto, e não somente
intellectu, sed et in re sit, quoniam aliter maius no intelecto, mas é na coisa, visto que outro todo
omnibus esse non poterit –, respondere forsan potest: maior não pode ser; quiçá você possa responder:
O que, a isso, responde o próprio autor do livro (§5)
Hoc autem non tam facile probari posse uidetur de eo quod Pois isso não pode tão facilmente provar vendo sobre esse
maius dicitur omnibus. Non enim ita pates quia quod non dito todo maior. Pois, então, não se evidencia o que não pode
esse cogitari potest, non est maius omnibus quae sunt, sicut ser pensado; não são todos maiores que ser, assim como não
quia non est quo maius cogitari non possit; nec sic est é o que maior não pode pensar. Assim, nem é em dúvida que
indubitabile quia, si est aliquid ‘maius omnibus’, non est esse algo todo maior não é o algo que maior não pode
aliud quam ‘quo maius non possit cogitari’, aut si esset, non pensar, ou se foi, não foi algo semelhante; de algum modo
esset similiter aliud, quomodo certum est de eo quod dicitur certamente foi sobre isso, porque se diz que maior não pode
‘quo maius cogitari nequit’. Quid enim si quis dicat esse pensar. Se, pois, é dito ser algo que são todos maiores e,
aliquid maius omnibus quae sunt, et idipsum tamen posse contudo, isto próprio pode pensar não ser, se não fora algo
cogitari non esse, et aliquid maius eo etiam si non sit, posse maior, pode, contudo, pensar? Ou isso assim aberto pôde
tamen cogitari? Na hic sic aperte inferri potest: non est ergo inferir: não é que são todos maiores; assim como onde foi
maius omnibus quae sunt, sicut ibi apertissime diceretur: dito abertamente: portanto, não é o que maior não pode
ergo non est quo maius cogitari nequit? Illud namque alio pensar? Porque aquele outro a qual direciona isso que se diz
indiget argumento quam hoc quod dicitur ‘omnibus maius’; ao argumento, o todo maior, não é, verdadeiramente, este;
in isto uero non est opus alio quam hoc ipso quod sonat ‘quo ofício ao qual este outro, que maior não pode pensar,
maius cogitari non possit’. Ergo si non similiter potest propriamente ressoa. Portanto, não pode semelhantemente
probari de eo quod ‘maius omnibus’ dicitur, quod de se per provar sobre esse todo maior o que se diz, porque sobre si
seipsum probat ‘quo maius nequit cogitari’: iniuste me próprio se prova o que maior não pode pensar: injustamente
reprehendisti dixisse quod non dixi, cum tantum differat ab me repreendestes dizendo o que eu não disse, com tanta
eo quod dixi. diferença disso que eu disse.
Segunda crítica: Tomás de Aquino
- Suma Teológica, Primeira Parte, Questão II: De Deo an Deus sit

Ad secundum dicendum quod forte ille qui audit hoc Em segundo lugar, porque diz-se que desse nome
nomen Deus, non intelligit significari aliquid quo ‘Deus’, aquele que ouve com firmeza, seu significado
maius cogitari non possit, cum quidam crediderint não intelige que é algo que maior não pode pensar
Deum esse corpus. Dato etiam quod quilibet (aliquid quo maius cogitari non possit), porque
intelligat hoc nomine Deus significari hoc quod alguns certos corpos creram que assim Deus é. Dá-se,
dicitur, scilicet illud quo maius cogitari non potest; pois, que qualquer um que pense esse nome ‘Deus’
non tamen propter hoc sequitur quod intelligat id signifique isso que é dito, ou seja, aquilo que maior
quod significatur per nomen, esse in rerum natura; não pode ser pensado; contudo, por causa disso não
sed in apprehensione intellectus tantum. Nec potest se segue que pense-se este significado do nome que
argui quod sit in re, nisi daretur quod sit in re aliquid esteja, naturalmente, na coisa; porém, tão somente
quo maius cogitari non potest, quod non est datum a na apreensão do intelecto. Nem se pode argumentar
ponentibus Deum non esse. que está na coisa, senão dar-se-á que foi na coisa um
algo que maior não se pode pensar: porque não é
Iª q. 2 a. 1 ad 2
estabelecido que Deus não é.
A Prova de Descartes: Quinta meditação (§7-8)
§7: Agora, se do simples fato de que posso tirar de meu pensamento a ideia de alguma coisa, segue-se que tudo o
que reconheço clara e distintamente pertencer a esta coisa pertence-lhe de fato, não posso tirar disso um
argumento e uma prova argumentativa da existência de Deus? É certo que não encontro menos em mim sua
ideia, ou seja, a ideia de um ser soberanamente perfeito, do que a de qualquer figura ou de qualquer número que
seja. E não conheço menos clara e distintamente que uma existência atual e eterna pertencem à sua natureza do
que conheço que tudo o que posso demonstrar de alguma figura ou de algum número pertencem realmente à
natureza dessa figura ou desse número. E, portanto, ainda que tudo o que concluí nas meditações precedentes
não fosse verdade, a existência de Deus deve passar em meu espírito ao menos por tão certa quanto estimei até
aqui todas as verdades das matemáticas, que só dizem respeito aos números e às figuras; se bem que, na verdade,
isso de início não pareça inteiramente manifesto, mas se afigure ter alguma aparência de sofisma. Pois, tendo-me
acostumado em todas as outras coisas a fazer distinção entre a existência e a essência, persuado-me facilmente
de que a existência pode ser separada da essência de Deus e que, assim, pode-se conceber Deus como não
existindo atualmente. Mas, não obstante, quando penso nisso com mais atenção, vejo manifestamente que a
existência não pode ser mais separada da essência de Deus do que, da essência de um triângulo retilíneo, a
grandeza de seus três ângulos iguais a dois retos, ou então da ideia de uma montanha, a ideia de um vale; de
sorte que não há menos repugnância em conceber um Deus (ou seja, um ser soberanamente perfeito) ao qual
falte a existência (ou seja, ao qual falte alguma perfeição) do que em conceber uma montanha que não tenha
vale.
A Prova de Descartes: Quinta meditação (§7-8)
§8: Mas, ainda que de fato eu não possa conceber um Deus sem existência, não mais do que uma
montanha sem vale, todavia, como do simples fato de eu conceber uma montanha com vale não se
segue que haja alguma montanha no mundo, assim também, embora eu conceba Deus com a
existência, parece que por isso não se segue que haja algum Deus que exista; pois meu pensamento
não impõe necessidade nenhuma às coisas; e como só depende de mim imaginar um cavalo alado,
ainda que não haja nenhum que tenha asas, assim eu talvez pudesse atribuir a existência a Deus, ainda
que não houvesse nenhum Deus que existisse. Muito pelo contrário, aqui é que há um sofisma oculto
sob a aparência dessa objeção: pois, do fato de eu não poder conceber uma montanha sem vale, não se
segue que haja no mundo alguma montanha, nem algum vale, mas somente que a montanha e o vale,
quer existam, quer não existam, não podem de forma alguma se separar um do outro; ao passo que, do
simples fato de eu não poder conceber Deus sem existência, segue-se que a existência é inseparável
dele, e portanto que ele existe verdadeiramente; não que meu pensamento possa fazer que isso seja
assim e que imponha às coisas alguma necessidade; mas, ao contrário, porque a necessidade da própria
coisa, a saber, da existência de Deus, determina meu pensamento a concebê-lo dessa forma. Pois não
está em minha liberdade conceber um Deus sem existência (ou seja, um ser soberanamente perfeito
sem uma soberana perfeição), como tenho a liberdade de imaginar um cavalo sem asas ou com asas.
Bibliografia
Alameda, J. Obras completas de San Anselmo, edición bilingue, v. I. BAC: 1952, Madrid.

Alameda, J. Obras completas de San Anselmo, edición bilingue, v. II. BAC: 1953, Madrid.

Barth, Karl. S. Anselme: Fides quaerens intellectum La preuve de l'existence de Dieu. Tradução de Jean Corrèze, Labor et Fides: 1985,
Genève.

Corbin, M. L'oeuvre d'Anselme de Cantorbéry, v I. Cerf: 1986, Paris.

Corbin, M; Galonnier, A. e Ravinel, R. de. L'oeuvre d'Anselme de Cantorbéry, v II. Cerf: 1987, Paris.

Descartes, René. Meditações Metafísicas. Editora Folha de São Paulo: 2015, São Paulo.

Gilson, Étienne. Sens et Nature de l'argument de saint Anselme. Archives d'histoire doctrinale et littéraire du moyen age: 1934, Paris.

Gilbert, Paul S.J.. Le Proslogion de S. Anselme: Silence de Dieu et joie de l'homme. Editrice Pontificia Università Gregoriana: 1990, Roma.

Schmitt, Franciscus Salesius. S Anselmi Cantuariensis Archiepiscopi Opera Omnia TOMUS PRIMUS. Stuttgart-Bad Cannstatt: 1984.

Schmitt, Franciscus Salesius. S Anselmi Cantuariensis Archiepiscopi Opera Omnia TOMUS SECUNDUS. Stuttgart-Bad Cannstatt: 1984.

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