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DIÁLOGO ACERCA DA NECESSIDADE EXISTENCIAL

Ixámafros: Diz-me, então, como devemos iniciar o diálogo acerca da existência de Deus?

Aplodório: Posto que o propósito deste diálogo seja a existência de Deus, devemos iniciá-lo
pela afirmação desta, uma vez que este é o seu princípio, isto é, a afirmação de que Deus
existe é o que possibilita negar a sua existência.

Ixámafros: A afirmação da existência de Deus nos impõe, necessariamente, a determinar o


conceito de existência para, assim, determinarmos o conceito de Deus, estás de acordo?

Aplodório: Certamente estou.

Ixámafros: Diz-me, então, defendes que a existência de Deus possa ser compreendida ou
apenas determinada pela razão?

Aplodório: A existência de Deus, de fato, não pode ser compreendida pela razão, mas nada
nos impossibilita de determiná-la por meio desta.

Ixámafros: Por que afirmas isto?

Aplodório: Diz-me, por que a nossa existência seria digna de compreender Deus, isto é, o
princípio da realidade?

Ixámafros: Mas este questionamento não implica em uma contradição? Pois, se não fossemos
dignos de compreender a existência de Deus, não estaríamos questionando-a.

Aplodório: O que exatamente queres afirmar?

Ixámafros: Sabemos que apenas a existência humana possui a razão, logo, podemos afirmar
que a existência humana compartilha com a existência de Deus um princípio em comum, uma
vez que as outras existências irracionais não compartilham outro princípio com Deus senão o
fato de serem provenientes de Deus, estás de acordo estas afirmações?

Aplodório: Não somente estou de acordo com estas afirmações, como também acredito que
devemos desenvolvê-las.

De fato, a existência humana, sendo uma existência real — isto é, existindo na realidade e
sendo dependente e limitado existencialmente a ela — e, logo, proveniente de Deus, existe
para e pela existência de Deus. Porém, a sua existência, como bem afirmas, possui um
princípio existencial — isto é, um fator comum com a existência de Deus — imanente ao seu
propósito existencial, portanto, este princípio é o que nos permite determiná-la, mas não
compreendê-la; isto é, a razão — enquanto imanente ao propósito existencial da existência
humana — necessita que esta exista além do propósito de existir para e pela existência de
Deus em um nível existencial superior as demais existências irracionais, pois, pelo fato da
razão ser imanente à exerção de seu propósito existencial, ela não apenas existe para e pela
existência de Deus, mas, além deste propósito, existe também por um princípio proveniente
da própria existência de Deus, isto é, do seu próprio propósito em existir para e por Deus.
Com isto, eu não apenas afirmo que a existência existe para e por Deus e que a razão é um
modo de exercer um propósito de nível existencial superior ao de outras existências que não a
possuem, mas também afirmo que a existência humana compartilha este princípio com Deus
para exercer este propósito.

Ixámafros: Afirmas, então, que pelo fato de possuirmos um princípio existencial em comum
com a existência de Deus, podemos determiná-la por meio desta, mas não compreendê-la,
pois a sua existência transcende a razão, uma vez que ela transcende a realidade e, logo, é
um conhecimento inexistente nesta pelo fato da razão ser limitada à realidade — existindo
como um princípio existencial necessário à exerção de um propósito existencial?

Aplodório: É exatamente isto o que eu afirmei, mas acredito que devemos determinar o
conceito de conhecimento.

Ixámafros: Certamente, pois, quando afirmamos que a existência de Deus é um conhecimento


inexistente na realidade, não estamos afirmando que ele não existe nela — o que seria uma
incoerência com as nossas afirmações —, e sim que a sua totalidade existencial não existe
nela. Disto isto, temos que determinar a realidade como uma existência e, logo, imanente a
Deus e existente para e por ele, bem como determinar a razão como um princípio existencial
imanente a este fator.

Aplodório: Portanto, podemos afirmar que o conhecimento é a existência de Deus na realidade,


isto é, a existência de princípios existenciais — exercidos pela existência real — imanentes à
existência da realidade como existente para e por Deus por meio de sua existência, isto é, por
meio da exerção destes princípios?

Ixámafros: Estou de acordo com este conceito, mas, um fator incomoda-me, como o
conhecimento de Deus pode ser inexistente na realidade? Bem sei que este conceito é um
fator imanente à existência, mas, explique-me, como este conhecimento pode não existir na
realidade e existir nas existências que nela existem?

Aplodório: A resposta é simples: Por que o conhecimento é um fator imanente à nossa


existência? Porque é por meio dele que exercemos o nosso propósito existencial, e, logo, por
meio deste que a realidade exerce o seu no nível existencial em que existimos. O fato é que o
conhecimento não existe na realidade como uma existência, e sim como um princípio do qual o
existir é imanente, pois existir é exercer um propósito, logo, ser o conhecimento de uma
necessidade existencial, isto é, de uma necessidade do propósito da realidade.

Ixámafros: Se tais afirmações estão corretas, o conhecimento acerca de Deus não existe na
realidade, pois esta não é Deus, mas existe na existência por meio da realidade, pois o existir
é Deus, isto é, existir é exercer um propósito e o propósito de existir é existir para e por Deus.
Entretanto, quanto à existência, podemos determiná-la e compreendê-la por meio da razão ou
apenas determiná-la? Além disto, de que modo Deus não pode ser compreendido?

Aplodório: Se conseguimos determinar a existência de Deus por meio da razão, certamente,


não apenas podemos determinar o que é a existência real em sua totalidade existencial, mas
também compreendê-la, pois a compreensão do que é a existência é imanente à existência
humana, isto é, ao seu propósito existencial exercido por meio da razão — e este fator não
apenas é o que nos possibilita ter este diálogo, mas tê-la para exercer este propósito.
Ixámafros: De que modo exercemos?

Aplodório: Não podemos compreender os princípios existenciais de Deus na realidade sem


compreender, primeiramente, a nossa própria existência.

Ixámafros: Como e por quê?

Aplodório: Se o princípio da compreensão de todo conhecimento existente na realidade é a


razão — uma vez que determinamos a sua existência como imanente à exerção de nosso
propósito existencial, o qual é imanente à compreensão da realidade —, nós temos que
compreendê-la, compreender as suas dependências e limitações, sua necessidade em nossa
existência e na realidade para, assim, compreendermos o que é a existência, a realidade e, por
fim, os princípios existenciais de Deus.

Quanto à compreensão de Deus, nós podemos compreendê-lo de modo limitado à razão, isto
é, de acordo com a sua necessidade na exerção de nosso propósito existencial enquanto
possuidor de sua necessidade neste, todavia, como bem sabes, Deus é incompreensível em
sua totalidade existencial, logo, quando me refiro a compreender Deus, refiro-me a exercer
este propósito por meio da razão, isto é, por meio da compreensão de nossa existência.

Ixámafros: Portanto, devemos determinar estes conceitos antes de prosseguir o raciocínio de


nosso diálogo, não?

Aplodório: É uma suposição tentadora, entretanto, nosso diálogo não se refere a eles.

Ixámafros: Como podes afirmas isto?

Aplodório: Não estou afirmando que eles não são imanentes para o propósito deste diálogo,
mas, para que possamos determiná-los, necessitaríamos determinar o seu princípio: Deus.

Ixámafros: E isto não é uma incoerência?

Aplodório: Certamente é, mas se trata de uma incoerência necessária ao desenvolvimento da


própria. É semelhante ao que mencionamos no início deste diálogo: a afirmação é o que
possibilita a negação; logo, sendo a negação apenas um conceito equivalente à afirmação ao
que se refere o propósito — isto é, existente como a exposição de um conhecimento — as
negações, e refiro-me às negações como oposição de conceitos, são apenas afirmações
incoerentes com a exerção de um determinado conhecimento — referente ao seu conceito —,
e não ao seu propósito existencial, ou seja, a negação não existe no ato de negar um
determinado conhecimento — pois conhecimento é existir —, e sim no de compreender o seu
conceito como um fator existente à exerção de um propósito existencial e negar a sua
afirmação neste conceito. Deste modo, não devemos determinar estes conceitos, pois se
referem à existência da razão, e não ao seu conceito, o qual já determinamos como um
princípio existencial existente para a exerção de um propósito existencial em um nível
existencial superior ao de outras existências irracionais. Portanto, se o conhecimento é a
existência de princípios existenciais, princípios estes necessários para a exerção de um
propósito, e a razão é um princípio necessário à exerção de um propósito: o conhecimento
existente na razão por meio da própria torna-se um conceito, pois este conhecimento é a
própria exposição do que é a razão enquanto existente para este propósito, isto é, a
compreensão do conhecimento existencial.
Ixámafros: Responda-me, então, por que a razão humana é um parâmetro válido para
distinguir a existência humana das demais existências? Pois, posto que a existência real é
proveniente da existência de Deus e, logo, existe para e por Deus, nossa existência possui o
mesmo propósito existencial de toda existência, pois toda existência real existe para e por
Deus. Além disto, qual seria este propósito?

Aplodório: A tua dúvida, ó Ixámafros, é compreensível, pois se a existência é proveniente de


Deus e existe para e por ele, mas não existe do mesmo modo, o modo como uma existência
exerce o propósito de existir para e por Deus é distinto. Porém, é evidente que a existência
existe para e por Deus, mas Deus não existe nem para nem pelas existências que dele provém
e para e por ele existem; portanto, se a existência humana é a única existência real que possui
um princípio em comum com a existência de Deus, o modo de existir — exercer o propósito
existencial — da existência humana é superior ao propósito de outras existências provenientes
de Deus e que, entretanto, existem para e pelo mesmo propósito, tornando-a superior em
nível existencial quanto à exerção de propósito.

Ixámafros: Afirmas, então, que o fato da existência real existir para e pelo mesmo propósito
não é um fator relevante para a distinção de seu propósito, pois existe para e por Deus?

Aplodório: Não somente para e por Deus, mas — o que pode não ter sido explícito em minhas
afirmações — por meio de sua própria existência existente para e por este propósito. E isto
responde o questionamento acerca do propósito deste princípio existencial.

Ixámafros: De que modo, caro Aplodório?

Aplodório: Tu afirmaste que não existe distinção entre o propósito da existência real, somente
entre a sua determinação; e eu afirmei que esta determinação é o meio como este propósito é
exercido. Ora, se a existência humana existe para e por Deus como uma existência digna de
ter um princípio existencial em comum com a sua existência, este princípio deve ser necessário
para o seu propósito; logo, o propósito da existência humana em possuir um princípio em
comum com a existência de Deus é o próprio propósito deste fator em sua existência existente
ao propósito de existir para e por Deus: a consciência de existir para e por Deus.

Ixámafros: Certamente, mas, responda-me, por que a razão é necessária para possibilitar a
consciência da existência humana quanto ao fato de existir para e por Deus — uma vez que
este é o propósito existencial da existência real —, e como este fato ocorre?

Aplodório: Este questionamento é respondido com a sua consequência: o questionamento


acerca da realidade, pois quando a questionamos, estamos questionando a nossa própria
existência e, logo, o nosso próprio propósito existencial.

Ixámafros: Compreendo, o propósito de uma existência é existir para e por Deus, mas
somente a existência que compartilha um princípio com a sua existência existe de modo
comum a ela, isto é, transcende o seu propósito existencial e o exerce sem a sua própria
determinação como existência existente a um propósito, estou correto?

Aplodório: Sim, Ixámafros, tu estás.

Ixámafros: Mas como podemos afirmar que outras existências irracionais não compartilham
um princípio com a existência de Deus ou, até mesmo, não compartilham a razão?
Aplodório: Pois bem, Ixámafros, Deus possui apenas um princípio do qual a razão é inerente: o
infinito. E isto implica que a razão — enquanto princípio existencial — é apenas mais uma
determinação do propósito de existir para e por Deus, mas, ao ser o infinito, Deus torna-se
existente na razão, pois ele é infinito e ele determina a razão para tê-lo e exercê-lo em sua
existência como um princípio existencial existente na realidade para este propósito, tornando-a
mais que um princípio existencial enquanto ser do ter Deus. Porém, a razão não é infinita no
sentido de ser ou ter o infinito — ser ou ter Deus —, e sim no sentido de ser o ter do que o
infinito é: Deus. Ora, sabemos que a existência real é imanente a Deus, logo, a afirmação de
que a razão é infinita no sentido de ser o ter do que Deus é não se refere ao sentido de tê-lo
com o propósito de existir para e por meio dele — uma vez que tal fator é imanente à
existência real —, e sim ao sentido de ter aquilo que é determinado pela determinação de seu
propósito e pelo qual o seu propósito é determinado: a sua existência enquanto princípio
existencial infinito existente em nossa existência como um fator imanente ao propósito de um
nível existencial do qual apenas a razão — enquanto princípio existencial — exerce na
existência animada existente para este propósito por meio da exerção do propósito de seu
nível de existência.

Ixámafros: Pois bem, se afirmas que Deus possui apenas um princípio; que este princípio é o
infinito; que a existência humana o possui por meio da determinação de sua existência; e que
seu propósito é exercido por esta determinação; qual a necessidade em ser o ter do infinito
determinado pela determinação de seu propósito existencial, se este existe para, por e no
próprio infinito em que é determinado?

Aplodório: Estás raciocinando incorretamente, caro Ixámafros, não se trata de ter ou não a
razão quanto ao fato de existir para e por Deus, e sim quanto ao fato de existir para um
propósito em comum a Deus por meio da determinação de sua existência, isto é, existir para
um propósito e ter como propósito a sua própria existência; em outras palavras, o propósito
da existência humana não é distinto pelo seu modo de exercê-lo por meio da razão, e sim é o
próprio, como bem sabes, logo, o infinito pelo qual a existência humana exerce a razão é o
infinito pelo qual existimos — exercemos nosso propósito — como existência animada na
realidade, isto é, pela reprodução, logo, quando afirmas que o infinito da razão é exercido no
próprio infinito em que é determinado para sê-lo, afirmas que a razão é exercida por meio da
reprodução, o que é incoerente, posto que a razão não é um fator da existência animada, e
sim do seu existir, pois ela é um princípio existencial, e não um conhecimento, isto é, a razão
é o princípio existencial do conhecimento existencial — uma vez que a existência da realidade
está na razão enquanto ser do ter Deus —, logo, da existência de Deus na realidade. Ou seja,
sendo o conhecimento a existência de Deus por meio de princípios existentes para a exerção
do propósito existencial da realidade e, logo, das existências reais que existem para e por este
propósito, a razão torna-se o princípio de todo conhecimento existencial, pois ela é o princípio
existencial da realidade enquanto existente para e por Deus, logo, dos princípios existenciais
necessários ao existir para e por Deus: a existência de Deus na realidade.

Ixámafros: Deste modo, podemos afirmar que o conceito da razão foi determinado como
imanente ao modo e ao propósito da existência humana como o ser do ter a exercerão do
infinito por meio da razão — bem como a sua existência como a existência de Deus na
realidade por meio da exerção de seus princípios existenciais —, mas como isto se relaciona
com o fato de que outras existências são, em nível de existência, aptas a ter uma razão, isto
é, de ter e exercer o infinito por meio da determinação de sua existência e de seu propósito
em existir para e por esta determinação? Também, se possível, poderia explicar como a
existência humana exerce o infinito por meio de seu propósito em existir para e por Deus e o
porquê de outras existências não possuírem o propósito da razão humana em existir para e
por Deus de modo como ela?

Aplodório: Tuas dúvidas são interessantes, pois, aparentemente, nada impossibilita que a
existência animada possua e exerça o infinito da razão, mas, uma vez que o propósito da
existência humana é determinado como a própria existência da razão em sua existência, não
podemos considerar esta afirmação coerente, pois a existência da realidade existe para e por
Deus de modo determinado pela razão em sua própria existência.

Quanto à exerção do infinito por meio do propósito da existência humana, poupaste-me


esforços, pois, com a afirmação de que outras existências não possuem a razão humana e que
o propósito da razão humana é o existir para e por Deus, respondeste esta questão, uma vez
que ele é exercido na própria existência humana.

Ixámafros: Se a minha razão permite-me compreender as tuas afirmações, estás afirmando


que nenhuma outra existência real possui a razão, pois a existência existe para e por Deus,
estou correto?

Aplodório: Certamente.

Ixámafros: Pois bem, se determinamos que a existência real existe para e por Deus, e se a
existência humana é a única existência racional, e esta razão é determinada pelo seu propósito
em existir para e por Deus, podemos afirmar que a existência animada existe para um
propósito do qual a razão é imanente. Logo, a afirmação de que outra existência animada
possui a razão tal como a humana — isto é, possui em sua determinação o infinito e o exerce
em seu propósito —, é incoerente, pois a exerção do propósito em existir para e por Deus é
determinado como a própria existência da razão em sua exerção de propósito existencial; ou
seja, de fato, a existência animada tem a possibilidade de ter e exercer o infinito, pois existe
para este propósito, entretanto, apenas a existência humana exerce este propósito — isto é,
existe não apenas pelo propósito de existir para e por Deus, mas também é determinada para
este propósito, pois este existe por meio da exerção de seu nível de existência, logo, uma
necessidade da exerção de propósito da existência animada em um nível existencial do
propósito de sua própria existência.

Aplodório: Tua capacidade de compreensão é excelente, ó caro Ixámafros, pois compreendeste


bem o fato do propósito desta determinação ser uma necessidade da própria existência
animada enquanto existente para e por Deus, mas, agora, prossigas.

Ixámafros: Digo-te o mesmo, excelentíssimo Aplodório.

Prosseguindo, se eu te compreendi corretamente, ao afirmar que nenhuma outra existência


possui o propósito da razão humana em existir para e por Deus de modo tal como a existência
humana existe, afirmei que o propósito da existência humana é exercido pela própria
consequência de sua existência, corrija-me se eu estiver errado.
Aplodório: Não há o que corrigir, mas me respondas: Por que é que continuas a afirmar a
possibilidade de que outras existências reais tenham uma razão, isto é, a possibilidade de
exercer o infinito por meio de seu propósito tal como a nossa existência?

Ixámafros: E tu acreditas que não seja possível?

Aplodório: Ora, se nós determinamos a razão como um princípio imanente ao modo e ao


propósito da existência humana como o ser do ter e exercer o infinito por meio da razão, sim,
pois se a razão é imanente ao modo e ao propósito da existência humana em ter e exercer o
infinito por meio da razão, isto torna impossível o fato de que outras existências animadas
tenham a razão — mesmo que existam para e por ela —, pois o próprio princípio da razão é o
infinito, e este infinito é o próprio propósito de sua determinação na existência humana, isto é,
o princípio da razão é imanente à exerção do propósito da existência humana em existir para e
por Deus no nível existencial consequente à sua própria existência.

Ixámafros: Faz-me entender, o que exatamente isto significa?

Aplodório: Significa que, se a razão é infinita e o seu propósito é o infinito, ela não necessita
de outras existências para exercê-lo em seu nível existencial — o animado racional.

Ixámafros: E isto implica que toda existência real é subordinada à existência humana, pois, se
de fato este propósito é exercido apenas pela nossa existência enquanto que as demais
existem para e por Deus, estas devem, necessariamente, existir para e por Deus por meio da
subordinação à existência humana, pois apenas esta possui a razão. Entretanto, como
podemos afirmar que não há outras existências racionais em outros planetas?

Aplodório: Ora, se a posse da razão pela animação é uma necessidade de seu propósito
existencial enquanto consequência da exerção do seu propósito de existência, podemos
afirmar que não há outras existências racionais em outros planetas pelo fato do seu propósito
de existência existir para possuir a razão enquanto princípio existencial imanente ao propósito
existencial da realidade e, logo, da existência animada.

Ixámafros: Ou seja, podemos afirmar que a existência humana é a única existência racional
pelo fato de existir apenas uma razão enquanto necessária para o propósito existencial da
existência animada, o que, todavia, não impossibilita o fato de outras existências em outros
planetas possuírem a razão apenas enquanto nível existencial de um propósito existencial, isto
é, que possuam a razão como uma necessidade subordinada ou não ao nosso propósito, seja
ela superior, seja inferior. Mas isto me gera uma dúvida: Por que as outras existências reais
não são humanas, isto é, por que, ao contrário de existirem para a existência humana ou da
existência humana existir para elas, não são a própria?

Aplodório: A tua explicação e a tua dúvida são magníficas. Para respondê-las, eu faço-te um
questionamento: Por que existem existências inanimadas e existências animadas, se ambas
são existências reais — existem para e pelo mesmo propósito?

Ixámafros: Tenho duas suposições, ou ambas existem porque a existência animada é uma
progressão da existência inanimada e, logo, depende dela para existir, ou porque a existência
animada é inerente à existência inanimada e, logo, existe nela.
Aplodório: Vamos analisar estas suposições, mas antes, explica-me a distinção entre o existir
por dependência e o existir por inerência.

Ixámafros: Pois bem, sabemos que a existência inanimada é a existência que não possui a
animação, isto é, que não é proveniente de uma reprodução, e a existência animada é aquela
que é. Tal princípio implica na seguinte questão: Por que a existência animada possui a
animação e a existência inanimada não?

Aplodório: Pelo mesma razão que apenas a existência humana é racional: a existência real
necessita existir para e por Deus e, logo, possui a necessidade de existir para e por Deus, isto
é, a animação é o modo como este propósito é exercido em um nível existencial referente à
exerção deste propósito de acordo com o seu princípio existencial, ou seja, de acordo com o
princípio existencial do propósito de um nível existencial em existir para permitir a exerção de
tal princípio.

Ixámafros: Portanto, podemos afirmar que a existência inanimada existe para a animação,
mas, todavia, nunca irá possuí-la, estás de acordo?

Aplodório: Sim, e esta afirmação implica em outra questão: Como a existência inanimada
progrediu até a existência animada?

Ixámafros: De fato, um intrigante e complexo questionamento, meu caro Aplodório, pois, se


ambas as minhas suposições são inerentes desta progressão e foi afirmado que a existência
inanimada nunca será animada, como é possível que esta progressão tenha ocorrido?

Aplodório: Eu acredito tanto na afirmação que houve uma progressão quanto na afirmação de
que a existência inanimada nunca será animada; portanto, podemos afirmar que tanto a
existência inanimada quanto a existência animada sempre existiram, entretanto, nenhuma
existência animada existe sem uma existência inanimada, de modo que a existência animada
nunca inexistiu enquanto a existência inanimada existia, pois Deus é uma existência animada
e, ao ser o infinito, é o infinito animado, não sendo dependente de uma reprodução ou sendo
limitado ao que não existe, pois ele é o existir.

Ixámafros: Com isto queres afirmar que tanto a existência animada quanto a existência
inanimada sempre existiram enquanto princípios inerentes a Deus, mas que, antes de uma
existência animada existir na realidade, existiu uma existência inanimada da qual toda
existência real é proveniente, estou correto?

Aplodório: Impressionante, ó caro Ixámafros, mas isto nós implica a questionar: Como esta
progressão ocorreu e o que é a existência inanimada da qual a existência animada provém?

Ixámafros: Ora, a existência inanimada que provém de Deus e da qual a existência real é
proveniente é a própria realidade em que estas existências existem.

Aplodório: Pela necessidade! De fato, estás correto, mas, então, o que seria a realidade?

Ixámafros: Se Deus é o infinito animado, a realidade é o finito inanimado, não concordas?

Aplodório: Plenamente, mas o que isto significa ao nosso diálogo?


Ixámafros: Queres saber qual a implicância da existência da realidade como finito inanimado
sendo proveniente do infinito animado, estou correto?

Aplodório: Sim, mas, se possível, quero saber como a realidade pode ser uma existência finita
e inanimada e suportar o infinito animado.

Ixámafros: Como a progressão do inanimado ao animado ocorreu?

Aplodório: Como posso saber se não determinamos a existência daquilo em que este progresso
ocorreu, isto é, a realidade?

Ixámafros: Não determinamos a existência de Deus, mas, todavia, estamos desenvolvendo


afirmações acerca desta progressão.

Aplodório: Estás afirmando, então, que a progressão entre o animado infinito ao inanimado
finito é igual à progressão existente entre o animado ao inanimado?

Ixámafros: Não, pois esta afirmação é incoerente com todo o raciocínio anterior, posto que a
existência do animado infinito ao inanimado finito é inerente ao infinito animado, ao contrário
da existência real existente no inanimado finito, pois esta progressão entre o inexistir e o
existir na realidade não se distingue na existência animada ou na inanimada, pois ambas
existem em Deus enquanto princípios existenciais.

Aplodório: Eu te compreendi, estás te referindo ao princípio destas progressões, isto é, a


existência animada e a existência inanimada são provenientes do próprio inanimado enquanto
existências reais, mas, enquanto que a progressão entre o infinito animado ao finito inanimado
é inerente ao seu princípio, a progressão entre a existência inanimada à existência animada
não é inerente ao seu princípio infinito, ou seja, a progressão da existência de Deus até a
existência da realidade não se refere a uma progressão no propósito existencial, e sim na
própria existência infinita de Deus.

Ixámafros: Bem exposto as tuas afirmações, mas tu esqueceste um detalhe.

Aplodório: Diz-me, qual detalhe eu esqueci?

Ixámafros: Como podemos distinguir a existência infinita e animada de Deus da existência


finita e inanimada da realidade, posto que estas sejam o princípio existencial da existência
animada, isto é, posto que esta seja dependente ou inerente à existência inanimada?

Aplodório: Se compreendi corretamente, tu estás afirmando que, se a existência animada


proveniente de Deus só existe na realidade — mesmo que ela não seja tudo que existe —, isto
é, em uma existência finita e inanimada em que o seu princípio existencial é o infinito
animado, nós não determinamos a distinção entre realidade e Deus quanto ao fato de
existirmos como uma existência animada na realidade, ou seja, qual a distinção entre a
realidade e Deus quanto ao fato de existirmos como uma existência limitada à realidade.

Ixámafros: Sim, compreendeste corretamente o sentido de minhas afirmações.


Aplodório: Ora, se a existência inanimada existe na realidade e possibilita a progressão do
inanimado ao animado, a existência inanimada possibilita a progressão a Deus, portanto,
podemos afirmar que este é o seu propósito existencial enquanto existência inanimada. Estás
de acordo?

Ixámafros: Sim, estou de acordo, mas quero mencionar que esta progressão entre a existência
inanimada à existência animada existe para e por Deus, bem como a existência inanimada
existe para e pela existência inanimada da realidade; isto é, a progressão que afirmamos
ocorrer da existência inanimada à existência animada é a animação, entretanto, a existência
inanimada não sofre nenhuma progressão para que exista na realidade, pois ela é a própria
progressão entre o existir da realidade e a necessidade de ser animada e infinita ao que se
refere o seu propósito existencial.

Aplodório: Estás afirmando que a progressão entre a existência inanimada à existência


animada é a necessidade de ser animada e infinita do propósito existencial da realidade
manifestada na existência inanimada que nela existe e existe para sofrer a progressão ao
animado?

Ixámafros: Sim, acreditas que devemos prosseguir com este raciocínio?

Aplodório: Certamente, devemos continuar este raciocínio, pois, se estas afirmações forem
verdadeiras, saberemos o que é a progressão do inanimado ao animado por meio do próprio
raciocínio. Então, explique-as.

Ixámafros: Posto que Deus é o infinito animado, Deus não está na realidade, isto é, Deus não
existe no finito inanimado, e sim nos princípios existenciais que nele existem e existem para a
sua existência por Deus por meio das existências que nela existem; logo, a progressão do
inanimado ao animado é a manifestação da existência de Deus na existência inanimada, isto é,
na própria realidade existente para e por Deus por meio de sua existência inanimada finita
inerente ao animado finito — seu princípio existencial — que por meio da própria existe —
exerce o seu propósito existencial —, tornando-a infinita quanto ao fato de existir para e por
Deus. Portanto, a exerção deste propósito infinito é existente no princípio existencial do
tempo: o infinito da exerção de seu propósito existencial, uma progressão existencial infinita,
uma animação infinita.

Aplodório: Então, estás afirmando que o tempo é o infinito existir da realidade para e por
Deus, ou seja, que o tempo é infinito em um espaço finito, pois o espaço finito existe para e
por Deus e, logo, a existência da realidade é infinita enquanto exercer o seu propósito
existencial — o qual é exercido por meio dos princípios existenciais de sua existência.

Ixámafros: Sim, mas isto implica em alguns questionamentos, não?

Aplodório: Certamente, e eu irei fazê-los e, com a tua ajuda, respondê-los. Tuas afirmações
implicam em três principais questões: Como a realidade pode ser considerada finita? Existe
apenas uma realidade? Por que a realidade existe à razão como um conceito relacionado com a
sua própria existência enquanto princípio existencial por meio da divisão do conhecimento
existente na realidade?
Ixámafros: Ora, a realidade é considerada finita, pois ela não é infinita como Deus, ela possui
um princípio, e este princípio é o que a torna infinita em existência, mas não em existir, isto é,
a realidade sempre existirá e existirá de modo infinito, mas não como Deus, e sim como um
infinito quanto à exerção de seu propósito e, logo, em sua existência — e esta afirmação
responde, do mesmo que a questão acerca do porquê existir apenas uma existência com a
razão, a questão acerca da possibilidade de existirem outras realidades.

Aplodório: Portanto, se a realidade é infinita em existência, isto é, expandindo sua existência


infinitamente e existindo de modo infinito, mas não em existir — pois existir infinitamente e de
modo infinito implicaria na existência da realidade como uma inexistência pelo fato de seu
existir torna-se infinito, logo, uma inecessidade —, podemos afirmar que, mesmo existindo
apenas uma realidade, existem infinitas realidades quanto ao fato da realidade existir, isto é,
existirem infinitas realidades ao que se refere a sua existência como existente infinitamente e
de modo infinito, isto é, que o infinito existir da realidade torna a realidade infinita ao que se
refere a sua existência enquanto finita, logo, que existem infinitas realidades ao que se refere
a realidade enquanto existência existente em si, de modo que o infinito existir da realidade
torna a sua existência, enquanto infinito existir por meio de si, um infinito de existir enquanto
existência finita, logo, infinitos existir existentes na realidade.

Ixámafros: Quanto á última questão acerca do porquê de a realidade existir à razão como um
conceito relacionado com a sua própria existência enquanto princípio existencial por meio da
divisão do conhecimento existente na realidade, acredito que estejas te referindo ao fato do
conhecimento desenvolvido por meio da razão acerca do existir da realidade ser determinado
pela própria enquanto princípio existencial, logo, questionas o porquê deste desenvolvimento
depender da divisão de conceitos inerentes à existência da realidade, ao invés de ser uma
inclusão, isto é, ao invés deste desenvolvimento incluir a realidade em si por meio da razão.

Aplodório: É exatamente este o meu questionamento.

Ixámafros: Em primeiro lugar temos que determinar que este questionamento implica no fato
da realidade existir de modo a ser Deus em si. Em segundo lugar, que a necessidade
existencial da realidade seja o Deus em si, de modo que sua existência é a extensão de Deus.
Em terceiro lugar, que o Deus em si da realidade é exercido por meio da razão, isto é, por
meio do ser do ter Deus na exerção dos princípios existenciais determinados pela própria: os
níveis de existência. Em quarto lugar, que o nível existencial da realidade é a sua própria
existência, isto é, que o seu conhecimento, propósito e necessidade existencial são inerentes
ao seu existir enquanto Deus em si, de modo que o nível existencial da realidade é o infinito
existir para e por Deus.

Portanto, a existência da realidade existente por meio da razão enquanto princípio existencial
por meio da divisão do conhecimento existente na própria, torna o conhecimento existente na
própria razão uma necessidade do Deus em si, de modo que o infinito existir da realidade
determinado pela razão é uma necessidade do Deus em si, logo, dos princípios existenciais
exercidos e existentes para e por este fator, bem como dos níveis de existência enquanto
subordinados ao nível existencial, isto é, ao propósito da própria existência enquanto existente
para e por Deus com e nos princípios existenciais da realidade.
Aplodório: Ou seja: este desenvolvimento não apenas é uma consequência na exerção do
propósito de um nível existencial, mas, enquanto necessidade do Deus em si, é inerente ao
princípio existencial da razão, logo, implicando na divisão de conceito enquanto desenvolvido
por meio da razão acerca do existir da realidade, isto é, enquanto desenvolvido pela
determinação do Deus em si na exerção dos princípios existenciais deste.

Ixámafros: Dito isto, acredito saber a resposta acerca de como a progressão da existência
inanimada à existência animada ocorreu.

Aplodório: Ora, então me digas.

Ixámafros: Sabemos que existe uma existência inanimada da qual a existência animada é
proveniente, sabemos também que a existência animada só pode existir como consequência
de uma reprodução entre o animado e que esta progressão existe para que a realidade exista
para e por Deus por meio das existências que nela existem. Ora, não é evidente que esta
progressão existe para que a realidade exista para e por Deus? Que a reprodução entre o
animado é entre Deus e a realidade, isto é, entre o princípio e o propósito da própria existência
da realidade? Que a progressão do animado de Deus ao inanimado da realidade é a energia
existente nesta, isto é, existente como um princípio existencial necessário para a existência da
realidade como uma existência finita existente de modo infinito infinitamente?

Aplodório: Eu ainda não consigo compreender este raciocínio.

Ixámafros: Certo, tentarei o meu melhor. Sabemos que a realidade é uma existência finita e
inanimada e, entretanto, possui o infinito animado como seu princípio existencial. Para
responder estas questões, não podemos nos esquecer de que o seu propósito é responder
como a progressão do inanimado ao animado ocorreu, resposta esta que é o propósito de
responder o questionamento acerca do fato de que, embora possuam o mesmo propósito
existencial, existirem distinções entre a existência animada e a existência inanimada, e que,
por sua vez, é referente às minhas duas suposições acerca da progressão do inanimado ao
animado existir ou por dependência ou por inerência, a qual ainda aguarda uma resposta.

Sabemos que o animado só pode existir como consequência de uma reprodução entre o
animado, logo, não poderia existir na realidade pela própria reprodução, isto é, sem a
reprodução de Deus com a sua existência. Portanto, podemos afirmar que Deus reproduziu a
animação na realidade. Ora, a progressão do inanimado ao animado ocorreu com a reprodução
de Deus na realidade, ou seja, com a exerção de seu propósito no tempo. Portanto, temos o
conhecimento e o propósito de como ocorreu, mas a necessidade de ter ocorrido é a resposta
que responderá esta complexa questão. Eu havia suposto duas possíveis progressões entre o
inanimado ao animado: dependência e inerência. Todavia, agora que estas afirmações foram
desenvolvidas, torna-se evidente que elas são a resposta para tal questionamento, de modo
que o animado é dependente do inanimado para existir na realidade e o inanimado é inerente
ao existir animado, isto é, inerente a Deus; ou seja, a progressão do inanimado ao animado
ocorreu por meio da existência do tempo no espaço — princípio existencial —, do existir do
espaço inanimado ao animado — necessidade existencial —, e por meio da energia existente
na reprodução de Deus na realidade — propósito existencial.
Deste modo, a resposta para o questionamento acerca do porquê da existência inanimada e
animada existirem para e por Deus, mas existirem em níveis de existência distintos, é que o
inanimado é a reprodução de Deus no existir do tempo, isto é, apenas no infinito da realidade,
enquanto que o animado é a reprodução de Deus no existir do espaço, isto é, no existir da
própria reprodução entre Deus e a realidade; ou seja, a progressão entre o inanimado ao
animado ocorreu por meio do tempo com a existência da realidade para e por Deus, de modo
que a energia do tempo exercido pela realidade à própria existência tornou-se o modo pelo
qual Deus é reproduzido na realidade, logo, a existência inanimada tornou-se energia no
espaço por meio do tempo, tornando a reprodução de Deus na realidade — a animação — a
energia na existência animada por este princípio, isto é, na existência existente no infinito de
Deus: os princípios existenciais do infinito existir da realidade.

Aplodório: A progressão do inanimado ao animado ocorreu com a existência do espaço, tempo


e energia, isto é, com a existência da realidade, com a imanência do infinito em sua existência,
e com a imanência do propósito de existir para e por Deus. Portanto, sendo o propósito da
existência inanimada tornar-se animada, a reprodução de Deus ainda existe na realidade, e ela
é a própria animação, isto é, a energia da reprodução de Deus na realidade por meio da
existência do tempo no espaço: a existência animada. E isto responde o questionamento
acerca do porquê das demais existências reais não serem humanas, bem como o porquê da
existência humana existir para outras existências racionais, caso estas existam ou sejam uma
necessidade de seu propósito existencial.

Ixámafros: Dito isto, temos o necessário para fazer alguns questionamentos necessários para
o propósito deste diálogo, são eles: O que é a existência de Deus e a relação desta com o
infinito? Como o fato da realidade ser infinita se relaciona com os níveis existenciais que nela
existem? Por que a reprodução da animação é distinta em princípios quanto ao modo de
exercê-la? Sendo a realidade infinita em existência, mas não em existir, como sua necessidade
em exercer um propósito se relacionado com o fator infinito?

Aplodório: Sabemos que Deus não possui um princípio existencial, pois ele é o próprio existir,
logo, ele é princípio, propósito e necessidade existencial. Entretanto, sua existência ainda é
incompreensível, logo, quanto mais compreendermos os princípios existenciais de Deus,
menos compreenderemos a sua existência, pois esta é o próprio infinito. Porém, podemos
afirmar que Deus é a necessidade existencial existente nesta realidade, logo, a relação com o
infinito se implica na seguinte questão: Como podemos afirmar que o conceito de Deus não é
consequente do próprio infinito existente na realidade?

Em primeiro lugar, temos que determinar tal questionamento como consequência da relação
entre o conceito de Deus e a sua existência na realidade ser existente apenas por meio de
princípios existenciais, pois este questionamento implica na afirmação de que o conceito de
Deus — existente como princípios existenciais — é consequência do próprio infinito existente
na realidade, o que não apenas determina estes princípios como imanentes à existência da
realidade, mas também determina que a relação entre o conceito de Deus e o determinante
deste são independentes da relação com a sua existência na realidade — isto é, que os
princípios existenciais determinados pela razão como sendo o conceito de Deus não existem na
realidade, e sim na própria razão que as determina por meio desta, determinando-as como
realidade, uma vez que estes princípios são imanentes à sua existência, impossibilitando
qualquer raciocínio —, o que implica ou a afirmar que o conhecimento existe apenas por meio
dos sentidos, tornando a razão um sentindo, ou a afirmar que a razão é limitada a eles,
tornando-a dependente.

Em segundo lugar, temos que determinar que apenas a segunda afirmação é coerente para
este questionamento — posto que a primeira afirmação implica no fato da razão ser apenas
um sentido pelo qual os princípios existenciais existem de modo imanente à existência da
realidade, tornando a realidade um infinito existir existente apenas por meio da razão, uma
vez que estes princípios são determinados por meio dela e nela, logo, qualquer conhecimento
desenvolvido por meio da razão seria existente somente para a própria realidade desta,
tornando os princípios existenciais a própria realidade, e a realidade o conceito de Deus.

Ixámafros: Como arrancar os próprios olhos e afirmar a quem não os arrancou que a realidade
existente por meio deles só existe a quem os tem, logo, não existe, uma vez que, sem eles,
ela continua a existir por meio de outros sentidos. A estes curiosos, cabe arrancar a própria
cabeça para constatar se a realidade é ou não é o nada.

Aplodório: Ou arrancar a própria língua para constatar se a realidade deixa de existir com a
impossibilidade de pronunciá-la. Embora eu acredite que, mesmo arrancando a própria língua,
estes espertalhões escreveriam que a realidade continua a existir, pois podem ouvir e ler tal
palavra, embora, ainda sim, não pudessem, por meio dos demais sentidos, determinar o que
não existe e que não existe pelo fato de ser impronunciável.

Em terceiro lugar, temos que determinar que a aceitação da segunda afirmação implica na
inexistência de qualquer realidade a não ser a realidade que exista de modo limitado aos
sentidos — pois a razão seria limitada aos sentidos e, logo, a relação entre a existência de
Deus e o seu conceito existente na realidade por meio de princípios existenciais tornaria a
existência de Deus a própria razão, uma vez que os princípios existenciais, existindo por meio
da realidade, só poderiam ser os próprios sentidos, isto é, só poderiam existir de modo que a
realidade, sendo o conceito de Deus imanente à sua existência, não possibilitaria a
determinação do conceito de Deus por meio da sua existência, pois sua existência seria a
limitação da própria razão, logo, da própria existência de Deus, tornando o seu conceito os
sentidos. Portanto, a realidade, limitada aos sentidos dos quais a razão também é limitada,
tornaria a existência não o que existe, mas o que é existente nos próprios sentidos: a razão.

Temos, então, a seguinte resposta: sabemos que Deus não possui um princípio existencial,
pois ele é o próprio existir, logo, ele é princípio, propósito e necessidade existencial, porém, o
conceito de Deus existe na realidade não apenas como princípios existenciais, mesmo que
apenas possa ser determinado por meio destes, mas pelo existir das existências imanentes a
estes princípios; ou seja, quando afirmo que Deus é o próprio existir, não afirmo que Deus
existe, pois isto implica na própria existência de Deus, ou que a sua existência é o existir da
realidade, das existências que nela existem, ou dos princípios existenciais que possibilitam o
existir, mas sim o existir dos princípios existenciais imanentes à existência da necessidade
existencial da realidade enquanto existente: a inexistência da necessidade existencial ao que
inexiste na realidade. Portanto, podemos afirmar que o conceito de Deus não é consequente
do próprio infinito existente na realidade, mas não porque a compreensão da realidade é
dependente da razão, mas porque esta compreensão é o próprio conhecimento existente na
realidade por meio da razão existente como um princípio existencial do qual a realidade é
imanente, logo, a realidade é compreensível pelo fato da sua existência ser determinada pela
razão enquanto princípio existencial da existência, e não do existir.

Quanto aos níveis existenciais, a relação entre o infinito da realidade e os níveis existenciais é
uma relação infinita, quanto ao propósito, e imanente à sua existência, pois, mesmo que os
níveis existenciais sejam provenientes do mesmo princípio existencial — isto é, existam para
exercer um propósito — o existir da realidade é infinito, logo, sendo o princípio existencial da
existência uma necessidade da exerção do propósito existencial da realidade, os níveis
existenciais são infinitos, mas não infinitos quanto à sua existência, mas infinito quanto à
reprodução desta por meio do seu princípio existencial, de modo que existem apenas dois
níveis de existenciais — inanimado e animado — e um infinito entre eles quanto à exerção do
propósito existencial. Portanto, existem infinitos níveis existenciais quanto à exerção deste
propósito, e é este fato a razão pela qual os princípios da reprodução são distintos quanto ao
modo de exercê-la, ou seja, existindo infinitos níveis existenciais provenientes do mesmo
princípio existencial quanto à exerção do propósito, a reprodução — sendo o modo pelo qual a
animação exerce seu propósito na realidade de modo infinito — necessita de distinções nos
níveis existenciais quanto ao modo de exercê-la, e isto implica no fato de que a animação
possui a reprodução inerente ao seu nível existencial, pois este é o princípio que determina a
exerção de seu propósito existencial; ou seja, a distinção existente nos níveis existenciais da
realidade é uma necessidade da exerção de seu propósito, logo, as existências que nela
existem são níveis existenciais da exerção deste propósito — de modo que a reprodução da
existência animada, sendo a reprodução de Deus, torna a exerção do propósito da existência
inanimada reproduzível apenas pela sua existência inerente ao animado.

Ixámafros: Logo, existem infinitos níveis existenciais porque o nível existencial é a existência
de um existir animado ou inanimado exercendo seu propósito de acordo com o seu princípio de
existência — o qual é determinado pelo seu princípio existencial de acordo com a necessidade
desta determinação na necessidade para a exerção do próprio, logo, dependente da
reprodução do animado. Portanto, existem apenas dois níveis de existência — o animado e o
inanimado —, estes níveis de existência são o princípio de existência que determina o modo de
exerção do propósito existencial deste princípio entre existente na realidade e existente por
meio da realidade, ou seja, a reprodução da existência inanimada é a existência animada
inerente a sua existência, de modo que a exerção do princípio existencial no inanimado é
exercido na realidade pelo seu existir, enquanto que a existência animada o exerce por meio
do princípio de existência do animado — isto é, por meio da exerção deste propósito na
realidade. Deste modo, os níveis existenciais são infinitos quanto à exerção do propósito da
existência animada e inanimada, de modo que a reprodução infinita do animado e a
irreprodução do inanimado é o que torna o nível existencial infinito quanto à sua exerção.

Aplodório: Agora, quanto à última questão acerca da relação entre o fato da realidade ser
infinita em existência, mas não em existir, e a sua necessidade de exercer o propósito em
existir para e por Deus.

Em primeiro lugar, é necessário desenvolver as afirmações acerca do infinito de existência — o


qual a realidade é — e do existir infinito — o qual a realidade não é, pois estas afirmações são
estritamente relacionadas com o fato de que a realidade nunca será Deus, mesmo que o
reproduza. Em segundo lugar, é necessário mencionar que a existência inanimada é a própria
realidade nos níveis existenciais que nela existe. Em terceiro lugar, é necessário mencionar
que a existência infinita da realidade quanto ao fato de existir de modo infinito e infinitamente
não se refere ao seu existir ser infinito, e sim no de sua existência o ser: infinito em existir.

Ixámafros: Certamente respondemos esta questão com as respostas das questões anteriores,
de modo que a realidade não é infinita no existir, pois a existência inanimada não reproduz
Deus, apenas o exerce por meio da existência animada. Portanto eis a resposta: o fator infinito
da realidade se relaciona com o fato de seu princípio existencial ser o infinito para exercê-lo
em sua própria existência por meio do próprio princípio do existir enquanto existente para e
por este princípio. Entretanto, resta-me uma dúvida, por que a necessidade da realidade? Isto
é, eu compreendo os princípios que a determinam, mas não compreendo a razão.

Aplodório: Acredito que não estejas questionando acerca da realidade, e sim acerca da tua
existência enquanto existente na realidade.

Ixámafros: De fato, então, responda-me, por quê?

Aplodório: A verdade é que eu não sei. Todo este nosso diálogo, não satisfaz o desejo de
compreensão, pois não responde o incompreensível. Nunca saberemos o porquê, mas
saberemos a razão deste por meio dos seus próprios princípios. Bem sabes que o vazio que
sentes é consequência disto, agora sabes também que nunca poderás preenchê-lo, pois
mesmo que consigas compreender os princípios da realidade, tu não serás capaz de
compreendê-la, não porque estes princípios possuem como consequência o infinito imanente a
sua existência, mas porque o seu princípio não é a realidade, e este é Deus: o infinito animado
incompreensível, um infinito em si próprio, animado pela própria existência e incompreensível
racionalmente, mas apenas determinada por meio da razão. Mas sei que isto não é suficiente,
continuas questionando o porquê, mas não acerca da realidade, mas o porquê de continuar
existindo com a consciência de tais fatos, e quanto a isto eu te respondo: pelo mesmo
princípio e propósito pelo qual tens consciência de tais conhecimento e sentes este vazio. Pois
bem sabes que este vazio é o inanimado do qual és inerente, mas, compreendendo o que é
Deus, torna-se mentalmente independente deste inanimado, pois Deus torna-se existente em
ti por meio da razão em seu próprio nível existencial. E é por isto que o único modo de
exercemos o propósito existencial de nosso nível existencial é a elevação deste vazio por meio
da razão, pois o princípio deste é Deus — isto é, preenchendo este vazio com Deus por meio
da compreensão do próprio.

Ixámafros: Como podemos compreender o vazio?

Aplodório: Ora, nós temos este vazio por não compreendemos a existência de Deus e
compreendermos que não poderíamos compreender este fato sem o próprio vazio. Portanto,
preenchendo este vazio com a própria razão do incompreensível — Deus — é torná-lo mais
vazio, porém, sabemos que este vazio é o inanimado do qual a animação é inerente, isto é,
este vazio é a impossibilidade de compreender Deus, é a impossibilidade do inanimado ser
animado, é a impossibilidade de reprodução ao que não pode ser reproduzido por existir para
possibilitá-la ao que existe para ser por meio desta impossibilidade, e que é reproduzido pelo
fato de ser a própria reprodução que possibilita a irreprodução, não do que é, mas do que
exerce ao que não é e não o é pelo fato de não existir para ser reproduzido, isto é, pelo fato de
existir para possibilitar a reprodução. Portanto, assim como o inanimado existe para e pelo
animado, mas nunca o será, o vazio existe para e pelo seu preenchimento, mas nunca será.
Este vazio é o conceito de Deus compreensível por meio da reprodução, logo, torná-lo mais
vazio é torná-lo mais compreensível, de modo que este vazio, esta impossibilidade de
irreprodução, é o que possibilitará a reprodução, o que possibilitará a exerção do propósito de
nossa razão em nosso nível existencial, pois tornar-se vazio com Deus é tornar-se preenchido
com tudo que, sem a existência deste vazio, não poderia ser preenchido pelo fato de não
existir tal possibilidade. Deste modo, devemos preencher este vazio com Deus por meio da
razão, isto é, por meio do seu princípio — a razão — com a determinação de seu propósito: a
necessidade de compreender a realidade. Bem sabes que a realidade é uma existência e toda
existência real é um princípio da realidade, logo, a existência real é o existir dos princípios
existenciais da realidade, pois a necessidade de existir não pode ter necessidade, pois ela é a
própria em si enquanto existente para e por Deus.

Aplodório: Portanto, antes que a necessidade existisse, existiu, existe e existirá o tempo em
que a inecessidade não existe, isto é, antes que o conceito de Deus existisse na realidade —
seu princípio existencial — sua existência era uma inecessidade, pois não existia no espaço,
apenas no próprio infinito de Deus; ou seja, a inecessidade é o nada, logo, não existe como
uma existência, apenas como um conceito imanente à existência da realidade como uma
existência finita que existe infinitamente de modo infinito, porém, que não é um existir infinito,
de modo que a inecessidade é a necessidade que não existe no espaço da realidade e, logo,
não existe no tempo, mas existe como um conceito ao espaço que ainda não existe no tempo
que já existe — isto é, a inecessidade é o conceito do nada enquanto necessário para a
compreensão da realidade, mas não de Deus.

Ixámafros: Podemos, então, afirmar que a realidade está dentro de Deus, logo, que o infinito
da realidade se expande em Deus, tornando o que não existe nela, mas existe em Deus,
existente no seu princípio existencial e, logo, sendo uma necessidade da exerção de seu
propósito existencial. Portanto, o que não existe na realidade, mas existe em Deus, existe em
seu próprio princípio existencial, de modo que a expansão infinita da realidade necessária ao
seu propósito existencial implica na existência de Deus por meio da exerção de seu propósito
existencial em sua própria existência finita e inanimada — uma inecessidade à sua existência,
isto é, uma inecessidade para o seu existir de modo infinito e infinitamente —, tornando-a o
Deus em si, pois Deus é a existência infinita animada por si.

Aplodório: Ora, e isto implica na seguinte questão: Como podemos afirmar que o conceito de
Deus não existe apenas na mente que a determina por meio da razão? Pois se a razão, sendo
a determinação do conhecimento existencial na realidade e, logo, na exerção do seu princípio
existencial, é o meio pelo qual compreendemos a realidade, como podemos afirmar que o que
determinarmos como a existência de Deus não existe apenas na mente?

Ixámafros: Nós sabemos que a mente é imanente à animação, de modo que ela é a existência
dos princípios existenciais exercidos pela existência animada, isto é, ela é a existência destes
princípios existenciais no existir animado pelo propósito de exercê-los no nível existencial da
reprodução de Deus: no tempo. Portanto, a razão, existindo na mente, existe no tempo, logo,
existe na existência animada enquanto princípio de existência da exerção de seu propósito
existencial necessário ao existir de modo infinito infinitamente da própria realidade: a infinita
animação. Ou seja, a infinita animação não é a reprodução infinita do animado, mas é a
exerção do seu propósito existencial nos infinitos níveis existenciais por meio da reprodução
infinita. Deste modo, podemos afirmar que o que determinamos como a existência de Deus
não apenas existe na própria razão, mas existe na animação existente por meio de sua
exerção de propósito.

Aplodório: Podemos afirmar, então, que o que determinamos como existência de Deus não
pode existir apenas na mente, pois a razão é um princípio existencial que determina a
existência da realidade enquanto Deus em si, logo, que determina a animação e os infinitos
níveis existenciais da exerção de seu propósito existencial necessário do Deus em si.

Ixámafros: Ora, e como podemos afirmar que a razão não é o próprio princípio da mente?

Aplodório: Pois a determinação dos conceitos em si pela mente existe na existência do


animado, e não por meio do animado; isto é, se o conceito é apenas a determinação de um
conhecimento existente e que existe como um fator imanente à exerção de um propósito
existencial, a determinação dos conceitos em si — como a afirmação de que o conceito está na
própria existência e, logo, que a existência é um propósito existencial de um conhecimento
necessário à exerção deste propósito — ocorre pela mente por meio da sua existência no
animado e do conhecimento necessário à sua existência enquanto existente para e por Deus
por meio da exerção de seu propósito, portanto, a realidade compreendida por meio da razão
é uma determinação da mente enquanto existente no animado.

Ixámafros: Podemos afirmar, então, que a razão não é o princípio da mente no animado,
embora seja a determinação de sua existência neste pelo fato de ser a determinação dos
princípios existenciais e, logo, do propósito existencial da realidade.

Aplodório: Deste modo, acredito que tenhamos encerrado este diálogo, ou ainda resta-te
alguma insatisfação acerca da existência de Deus, das razões pela qual não podemos
compreendê-la, ou da realidade que existe para e por sua existência?

Ixámafros: Certamente estou igualmente satisfeito com nossa determinação do conceito de


Deus, das razões pela qual não podemos compreendê-lo, e com a realidade como uma
existência existente para e por ele.

Iopóporos: Peço desculpas, mas não pude deixar de apreciar, escondido aqui neste arbusto,
este maravilhoso diálogo, que não quis interromper justamente pela concentração dos
senhores em desenvolvê-lo. Aliás, por parte de outros amantes da razão, ouvi muitíssimos
elogios acerca dos conhecimentos e virtudes desenvolvidos pelos senhores.

Ixámafros: Quanto a isto, não há pelo que te desculpares, mais justo seria te desculpar pelo
fato de não teres te unido a nós com o teu saber. Mas, diz-me, meu jovem, quem tu és?

Iopóporos: Chamo-me Iopóporos.

Aplodório: Teu nome, ó caro jovem amante da razão, não me é estranho. És discípulo do
explosivo Fulomidas, não?

Iopóporos: Certamente sou.

Ixámafros: Responda-nos, então, como está o seu desenvolvimento racional.


Iopóporos: Atualmente, encontra-se entre política e ética, discursando em publico, como bem
sabes, longos e poderosos raciocínios.

Aplodório: Diz-me, pois, se também estás satisfeito com nosso diálogo, ou, do contrário, se
tens alguma discordância, ou, talvez, se acreditas ser necessário desenvolver mais algumas
afirmações para contribuir ou com a tua compreensão ou com o propósito deste diálogo.

Iopóporos: Certamente estou satisfeito com o seu desenvolvimento, porém, não me sinto
satisfeito com o fato de não sermos capazes de compreender Deus por meio da razão; com a
determinação da mente como existência mortal, pois, sendo dependente da exerção do
propósito existencial do animado, sua existência morre com a morte deste; com o fato da
realidade ser Deus em si; com o fato do conhecimento, por meio da razão, ser limitado ao
nível existencial da exerção de nosso propósito em tê-la para exercê-lo.

Ixámafros: Importantes questionamentos, porém, meu caro jovem, não seria justo se
respondêssemos, pois estamos em maior número.

Iopóporos: Então, como devemos prosseguir?

Aplodório: De fato, não podemos não satisfazer sua necessidade de compreensão pelo que por
nós foi afirmado, pois isto é um dever, assim, considerando que estes questionamentos são
acerca do diálogo, deves expor outros questionamentos e afirmações acerca do conceito de
Deus de modo discordante com a razão.

Iopóporos: Há muitos questionamentos e afirmações das quais, mesmo sem poder, por meio
de minha razão, respondê-las, soube, pelo conhecimento de Deus que desenvolvi por meio
desta e da minha fé neste conhecimento, que não eram reais — seja pelo fato de serem
questionados e afirmados de modo insolente por homens rejeitados pela razão, e que se
orgulham desta rejeição e a usam como princípio de seus raciocínios, seja pelo fato destes
questionamentos e afirmações serem imanentes a um raciocínio falso necessário para a sua
afirmação enquanto justificação desta rejeição e necessidade da própria. Entretanto, diante de
tais condições, exponho tais questionamentos e afirmações, além de outras igualmente
discordantes com a minha razão ou compreensão, não expondo uma dúvida minha quanto a
sua veracidade, mas a razão pela qual não a possuem, são elas:

1) Se Deus é o infinito animado, por que sua existência não é inanimada?

2) A razão pela qual Deus não existe na realidade é o fato pelo qual Deus existe apenas na
mente enquanto necessidade de explicação racional desta no animado.

3) A existência de Deus é uma necessidade do conceito do nada, logo, sua existência existe
apenas como um conceito existente na mente para a justificação do nada.

4) O conceito de Deus é apenas uma necessidade entre a existência da razão e a realidade


existente por meio da mente no animado.

5) Por que Deus, sendo o infinito animado, não é essência?

6) Por que a existência de Deus não é uma necessidade para a sua própria existência e por
que a realidade é Deus em si enquanto princípio e necessidade, mas não propósito?
7) Posto que a realidade possui um princípio, Deus, enquanto conceito de necessidade da
própria, é referente apenas à mente animada finita.

8) Por que a razão, por meio do nada, não pode, por meio da própria, desenvolver Deus?

9) Por que Deus, enquanto princípio, propósito e necessidade, não é, senão, apenas um?

10) Como podemos afirmar que a realidade não é limitada ao existir animado?

11) Como podemos afirmar que o propósito existencial não é consequente da necessidade de
princípio desta existência, isto é, que a necessidade de existir desta existência não é o
propósito do seu princípio não ter o propósito de existir senão existir para tê-lo?

12) Se o conceito de Deus existe nos princípios existenciais, Deus existe, igualmente, na
necessidade destes princípios perante a existência da razão.

13) Se existem infinitos níveis existenciais da exerção de um propósito, a razão torna-se


limitada a isto, de modo a existir infinitos níveis existenciais em que sua exerção por meio de
outro princípio existencial superior a razão.

Por fim, quero menciona que, de modo algum, estes questionamentos e afirmações são
insolentes em si, mas sim que ou foram feitos por pessoas de modo insolentes não com o
propósito de compreenderem a realidade, mas apenas de defenderem a sua, ou foram feitos
por meio de raciocínios falsos.

Ixámafros: Encontro-me em dúvida se a vantagem numérica será suficiente para dar fim a
este desejo pela compreensão.

Aplodório: Não apenas numérica, mas também etária.

Ixámafros: De fato, o tempo é o prazer da razão, que impõe o conhecimento desenvolvido


como sua necessidade para aqueles que a amam.

Aplodório: Pois bem, quanto ao fato de não sermos capazes de compreender Deus por meio da
razão, exponha por que defendes tal posicionamento, uma vez que já afirmamos o porquê de
defendermos o nosso.

Iopóporos: Pelo que compreendo, Deus não pode ser compreendido pelo fato de não ser a
realidade, mas se a realidade está em Deus, podemos compreendê-lo por meio da razão, pois
esta é o princípio dos princípios existenciais da realidade.

Ixámafros: Ora, sendo a razão o princípio existencial do conhecimento, ela está no existir de
modo infinito e infinitamente da realidade, de modo a determiná-lo para um propósito do qual
é a sua própria existência enquanto ser do ter Deus por meio da realidade, portanto, sendo a
realidade Deus em si, o fato da realidade estar em Deus não é um fato para a compreensão de
Deus por meio desta, pois a razão — enquanto determinante do Deus em si — torna-se o
conhecimento de Deus existente na realidade, mas não o próprio.

Iopóporos: E com maestria respondeste o meu questionamento, forçando, assim, Aplodório a


responder um questionamento mais complexo para, então, confirmamos com o próximo.
Aplodório: Agora, resta-me satisfazer o desejo de compreender, deste jovem, a razão pela
qual a mente morre com o animado, porém, conhecendo o meu caro Ixámafros, sei que sua
resposta anterior não foi intencional para me dar a bela oportunidade de responder, sozinho,
tal questionamento, pois sei também que seu desejo em respondê-lo é tão grande quanto o
meu desejo de saber mais que a verdade.

Ixámafros: Bem sei que não és ganancioso, mas desenvolva o raciocínio, quanto a mim, assim
que este for desenvolvido, exponho e desenvolvo as demais considerações.

Aplodório: Tu afirmaste, ó mortal Iopóporos, a afirmação que, sendo dependente da exerção


do propósito existencial do animado, a existência da mente morre com a morte deste?

Iopóporos: Certamente afirmei.

Aplodório: Ao que compreendo, teu questionamento é: Se a mente é a animação, como pode


morrer com a morte daquilo que é inferior a ela quanto ao nível existencial, estou certo?

Iopóporos: Sim, estás!

Aplodório: Pois bem, afirmas também que, sendo dependente da exerção do propósito
existencial do animado, não há razão para que a mente, com a morte deste, morra. Porém,
responda-me, qual o limite da exerção deste propósito?

Iopóporos: Sendo dependente da vida, ela se limita a morte.

Aplodório: E por quê?

Iopopóros: Pois o propósito existencial do animado é exercido no tempo, isto é, por meio da
reprodução da própria existência do animado.

Aplodório: E esta reprodução no tempo não é, senão, o desenvolvimento do inanimado ao


animado, isto é, da reprodução da mente, a qual determinamos como a existência dos
princípios existenciais do tempo no espaço — isto é, dos princípios existenciais exercido na
realidade pelo seu existir de modo infinito e infinitamente.

Ora, sendo o princípio destes princípios existenciais a razão, a mente, com a reprodução do
animado, torna-se mais animada. Ou seja, bem sabes que a existência humana é a única
existência racional, logo, a razão pela qual existe apenas uma existência racional é justamente
o fato da mente se reproduzir para ter a razão, logo, nossa existência, enquanto animada, é a
existência em que a mente está mais desenvolvida para a razão, possibilitando um nível
existencial da exerção do propósito existencial superior aos demais animais irracionais, logo,
limitada a este nível de vida e dependente do nível de morte animado.

Aplodório: Eu ainda não compreendo...

Ixámafros: Encontro a minha tão esperada deixa! Pois bem, o que Aplodório desenvolveu se
resume na comparação entre a tua afirmação de que a mente, sendo dependente da exerção
do propósito existencial do animado, morre com a morte deste, e com a afirmação de que, se
a mente é a animação, não pode morrer com a morte daquilo que é inferior a ela quanto ao
nível existencial. Ora, o nível existencial do animado é o animado, logo, o nível da exerção
deste propósito existencial depende da animação — isto é, da mente —, assim, limita-se à
necessidade do nível desta exerção: o inanimado. Portanto, a mente no animado, de fato,
morre com a morte deste, pois este não é mais que a exerção de um nível existencial do
propósito existencial — o qual não apenas sabermos ser infinito, mas ser infinito pelo fato da
reprodução da mente ser infinita por meio da reprodução do animado no tempo. Entretanto,
não estamos afirmando que a mente é mortal, pois Deus é o infinito animado, logo, o animado
infinito; assim, a mente, enquanto princípio existencial necessário à animação, é imortal, mas,
enquanto princípio existencial necessário à exerção de um propósito, mortal — de modo que a
sua morte é uma necessidade da sua existência enquanto mente.

Iopóporos: Ou seja, enquanto uma progressão na exerção do nível existencial de um propósito


existencial existente no tempo para possuir o ser do ter Deus: a razão. Bem sei que a
desvantagem numérica em que me encontro é similar à desvantagem entre o animado ao
animado! Porém, ambos os raciocínios possuem como imanência a afirmação de que a
realidade é Deus em si, então, confirme-a e eu, de fato, não terei razões para questioná-los.

Ixámafros: Diz-me, o que compreendes com a afirmação de que a realidade é Deus em si?

Iopóporos: Compreendo que a realidade é o próprio Deus à sua existência.

Ixámafros: E concordas comigo que a realidade está em Deus e que o seu princípio é Deus,
bem como existe para e por ele?

Iopóporos: Isto eu não contesto!

Ixámafros: Pois bem, como e de que modo a realidade existe para e por Deus?

Iopóporos: Por meio de sua existência enquanto exercedora de um propósito existencial.

Ixámafros: E este propósito não é, justamente, existir para e por Deus?

Iopóporos: De fato.

Ixámafros: Ora, se a realidade existe para e por Deus por meio de sua existência, e o princípio
desta é Deus, a realidade o exerce existindo em Deus.

Iopóporos: Prossigas.

Ixámafros: Deste modo, teremos que afirmar ou que a realidade é o nada em si ou é Deus em
si, isto é, ou que a realidade existe para e por Deus existindo nele, porém, não o exercendo,
ou que a realidade existe para e por Deus existindo nele e o exercendo.

Iopóporos: Pela necessidade! Apenas a segunda afirmação, de fato, é coerente.

Ixámafros: Então, terás que afirmar que, se a realidade existe para e por Deus existindo nele
e o exercendo, ela existe para e por si existindo de modo infinito e infinitamente, logo, ela é
Deus em si.

Iopóporos: De que modo?

Aplodório: Agora, meu caro Ixámafros, eu irei agradecer teu nobre ato!
Ora, a realidade é Deus em si pelo fato de Deus, sendo o próprio conhecimento, propósito e
necessidade, não necessitar da realidade, não existir para e nem por ela, e muita menos ser a
realidade, logo, se esta existe em Deus e para e por Deus por meio de sua própria existência
enquanto existente em Deus, a realidade é Deus em si pelo fato de, possuindo como princípio,
propósito e necessidade Deus, ela existe de modo a ser Deus em si.

Iopóporos: Compreendo, a realidade é Deus em si pelo fato de Deus, sendo o infinito animado,
não inexistir em uma inecessidade, de modo que a realidade é uma inecessidade a sua própria
existência, pois ela não é, senão, Deus em si pelo fato de Deus não inexistir na realidade —
um inanimado finito —, mas a realidade não existir como uma inecessidade em Deus.

Ixámafros: Agora, quanto a tua última questão, ela se refere ao fato do conhecimento
desenvolvido por meio da razão ser limitado ao nível existencial da exerção de nosso propósito
em tê-la para exercê-lo, não?

Iopóporos: Foi justamente este o meu questionamento.

Ixámafros: Este questionamento se refere, certamente, aos anteriores, de modo que, se o


conhecimento por meio da razão é limitado à exerção de nosso propósito existencial em tê-la
para exercê-lo, o conhecimento desenvolvido por meio da razão torna-se limitado ao nível
existencial da necessidade de seu propósito.

Iopóporos: De fato, meu caro Ixámafros, este foi o meu questionamento, bem como as suas
duas implicâncias: o fato do conhecimento desenvolvido por meio da razão ser dependente dos
infinitos níveis existenciais da exerção do propósito existencial da mente, bem como o fato da
necessidade deste conhecimento ser limitado ao existir animado.

Ixámafros: Tais questionamentos, de fato, são necessários para a compreensão por meio do
aprofundamento do vazio existencial, o qual, tanto eu quanto Aplodório, estamos satisfeitos
pela necessidade, isto é, não sentimos a necessidade de se aprofundar pelo fato do que já
existe acerca de Deus ser o suficiente para engolir todo nosso desejo, embora, engolindo-o,
permita também o desenvolvimento de outros raciocínios consequentes desta compreensão de
Deus. Todavia, és tu, meu jovem, que não apenas necessita que este desejo emerja do seu
descanso, mas que possibilita que o seu maior descanso seja o cansaço de desenvolver a tua
compreensão do que é o seu aprofundamento no vazio, pois, como grita o caro Fulomidas, a
justiça é a possibilidade de satisfação da necessidade individual por meio do justo: a satisfação
individual por meio desta necessidade coletiva.

Pois é com grande honra que eu inicio o desenvolvimento deste raciocínio, contando com o
despertar do meu caro companheiro de descanso. Em primeiro lugar, temos que desenvolver a
relação entre as duas implicâncias do seu questionamento, para, assim, desenvolver o próprio.
Em segundo lugar, temos que compreender a extensão deste questionamento não como um
questionamento acerca do conhecimento existente apernas na mente por meio da razão, mas
de todo conhecimento existente na realidade. Em terceiro lugar, temos que afirmar que,
embora o conhecimento existencial da realidade seja uma necessidade da exerção de seu
propósito, a razão, enquanto princípio existencial, não é um propósito da sua existência
enquanto Deus em si, somente quanto à sua exerção nos níveis existenciais infinitos deste.
Aplodório: Certamente, ó meu solar Ixámafros, meu despertar é, pois, uma solene admiração
do reconhecimento que sinto perante o desejo de compreensão deste jovem e o respeito que
tu sucintas na eloquência de despertar-me para viver meu sonho!

De fato, estas considerações são necessárias ao desenvolvimento deste raciocínio, eu darei,


então, o primeiro passo avante para o fim do descanso, pois sabemos que, após o fim deste
questionamento, terão outros sete questionamento e outras seis afirmações.

As implicâncias desta questão são: o fato do conhecimento desenvolvido por meio da razão ser
dependente dos infinitos níveis existenciais da exerção do propósito existencial da mente e o
fato da necessidade deste conhecimento ser limitado ao existir animado. Ora, certamente
estas implicâncias são necessárias para a realidade enquanto Deus em si.

Iopóporos: De que modo?

Aplodório: Sendo a realidade Deus em si por meio da própria existência enquanto existente
para e por Deus, o fato da necessidade do conhecimento desenvolvido por meio da razão na
mente ser limitado ao existir animado se refere ao propósito da existência animada enquanto
exercido por meio da reprodução; isto é, o conhecimento desenvolvido por meio da razão se
limita à reprodução da mente, de modo que o nível existencial da exerção de seu propósito
existencial enquanto existir animado é a sua própria existência enquanto existente para
desenvolver estes conhecimentos por meio da animação e a exerção de seu propósito
existencial no tempo.

Ixámafros: Ou seja, o fato do conhecimento ser dependente dos infinitos níveis existenciais da
exerção do propósito existencial da mente é uma necessidade do propósito da realidade ser
Deus em si por meio da própria existência existente de modo infinito e infinitamente, isto é, o
fato do conhecimento desenvolvido por meio da razão ser dependente dos infinitos níveis
existenciais da exerção do propósito existencial da mente é a razão pela qual o conhecimento
desta é o ser do ter Deus, de modo que a mente é o princípio do conhecimento existente na
própria existência por meio da razão, logo, o conhecimento desenvolvido por meio da razão é
limitado à necessidade deste conhecimento ser limitado ao existir animado.

Aplodório: Portanto, podemos desenvolver o raciocínio acerca do fato do conhecimento


desenvolvido por meio da razão ser limitado ao nível existencial da exerção de nosso propósito
em tê-la para exercê-lo. Dá, pois, o primeiro passo meu caro.

Ixámafros: Ora, se a razão é o princípio de todo princípio existencial pelo fato da realidade ser
Deus em si e a razão é o ser do ter Deus, o conhecimento desenvolvido por meio da razão,
necessariamente, será limitado ao fator de imanência da existência da realidade à razão, de
modo que a exerção de nosso propósito em tê-la para exercê-lo no infinito nível existencial da
exerção do propósito de uma existência é apenas um fator do nível existencial da existência, e
não da realidade.

Aplodório: Deste modo, o fato do conhecimento desenvolvido por meio da razão ser limitado
ao nível existencial da exerção de nosso propósito em tê-la para exercê-lo é uma necessidade
da razão estar no Deus em si, logo, na inecessidade da realidade em existir em Deus senão
para e por Deus.

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