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O que é VERITAS (a verdade)?

1 – É necessário que todas as demonstrações sejam reduzidas a alguns princípios


evidentes em si mesmos pelo intelecto, e o mesmo se aplica a qualquer assunto que se
investigue. Caso contrário, se iria ao infinito na demonstração ou na investigação, e
assim pereceria toda ciência e conhecimento das coisas.

2 – Pois bem, aquilo que o intelecto concebe como evidentíssimo, e no qual todas as
outras concepções são reduzidas, é o ENS (ente). Por isso é necessário que todas as
outras concepções do intelecto sejam tomadas a partir de adições ao ENS (ente).

3 – Contudo, ao ENS (ente) é impossível adicionar algo que lhe seja estranho ou alheio,
como acontece quando a diferença é adicionada ao gênero, ou o acidente ao sujeito: pois
qualquer natureza é essencialmente ENS (ente). Por isso o ENS (ente) não pode ser
gênero.

4 – Por outro lado, é possível adicionar algo sobre o ENS (ente), enquanto exprima um
modo do próprio ENS (ente), que o nome ENS (ente) não exprime. O que se pode dar
de dois modos:
4.1 – Algo que exprima SPECIALIS MODUS ENTIS (um modo especial de ente):
salienta um aspecto específico de um ente que o diferencia de outro.
De fato, há diversos GRADUS ENTITATIS (graus de entidade), pelos quais são
aceitos os diversos MODI ESSENDI (modos “de ser”); e de acordo com esses modos,
são aceitos DIVERSA RERUM GENERA (os diversos gêneros de coisas).
Exemplo – a SUBSTANTIA (substância) não adiciona sobre o ENS (ente)
alguma natureza sobreposta ao ENS, como algo alheio a ele; mas o nome
SUBSTANTIA (substância) exprime SPECIALIS QUIDAM MODUS ESSENDI (um
modo especial “de ser”), a saber, ENS PER SE (o ente por si; absoluto; ente, enquanto
ente). E o mesmo se pode dizer dos outros gêneros.

4.2 – Algo que exprima GENERALIS MODUS ENTIS (um modo geral de ente):
salienta um aspecto geral, consequente a todo ente. O que se pode dar de dois modos:
absoluta e relativamente.

4.2.1 – Que seja consequente a cada ENS IN SE (i.e., ao ente enquanto ente; em
si mesmo; absolutamente). Nesse primeiro modo há outros dois modos, pois ou se
exprime algo afirmativo no ente, ou se exprime algo negativo.
4.2.1.1 – * AFFIRMATIVE: o único que se pode dizer afirmativa e
absolutamente em todo ente é ESSENTIA EIUS (a essência dele), pela qual o ente se
diz ESSE (ser). Para expressar isso se usa o nome RES (coisa): pois enquanto ENS
(ente) recebe seu nome de ACTU ESSENDI (ato “de ser”); RES (coisa) exprime
QUIDITATEM VEL ESSENTIAM ENTIS (a quididade ou essência do ente).
4.2.1.2 – * NEGATIVE: o que se pode dizer negativa e absolutamente
em todo ente é INDIVISIO (indivisão), que é expressa pelo nome UNUM (uno); pois
algo uno, nada mais é do que um ente indiviso.
4.2.2 – Que seja consequente UNUM ENS IN ORDINE AD ALIUD (i.e., a um
ente em ordem a outro; relativamente). Nesse segundo modo também há outros dois
modos, pois ou se exprime algo como que negativamente, ou se exprime algo como que
afirmativamente.
4.2.2.1 – * DIVISIONEM UNIUS ENTIS AB ALTERO (divisão ou
distinção de um ente por outro): é o que distingue um ente de outro, sendo expresso
pelo nome ALIQUID (algo). Nesse sentido, assim como UNUM (uno) se diz
absolutamente do ente enquanto é indiviso; ALIQUID (algo) se diz relativamente do
ente enquanto é dividido, i.e., distinguido.
4.2.2.2 – * CONVENIENTIAM UNIUS ENTIS AD ALIUD
(conveniência de um ente a outro): é algo que deve convir a todo ente relativamente.
Mas isso só é aceito em algo, cuja a natureza seja conveniente com todo ente: tal algo é
a alma, que “de certo modo é tudo”.
De fato, na alma há VIS COGNITIVA ET APPETITIVA (força cognitiva e
apetitiva): CONVENIENTIAM ENTIS AD APPETITUM (a conveniência do ente ao
apetite) se exprime pelo nome BONUM (bom), pois “o bom é o que todas as coisas
apetecem”; CONVENIENTIAM ENTIS AD INTELLECTUM (a conveniência do ente
ao intelecto) se exprime pelo nome VERUM (verdadeiro).
De fato, toda cognição se completa (é perfeita) por ASSIMILATIONEM
(assimilação) do cognoscente à coisa cognoscida, por isso essa ASSIMILATIONEM
(assimilação) é dita causa da cognição.
Assim sendo, uma primeira comparação do ente ao intelecto é que ENS
INTELLECTUI CONCORDET (o ente concorde ao intelecto). Essa concórdia se diz
ADAEQUATIO INTELLECTUS ET REI (adequação do intelecto e da coisa): e nisso
está a razão formal completa VERI (do verdadeiro).
Logo, é isto que VERUM (o verdadeiro) adiciona sobre ENS (o ente), i.e.,
CONFORMITATEM, SIVE ADAEQUATIONEM REI ET INTELLECTUS (a
conformidade ou a adequação da coisa e do intelecto). E dessa CONFORMITATEM,
como já se disse, se segue a cognição da coisa.
Portanto, [I]a entidade da coisa precede [II]a razão da VERITATIS (verdade), mas
[III]
a cognição é certo efeito da VERITATIS (verdade).

5 – Assim sendo, diante disso, podem ser encontrados três modos de definir VERITAS
SIVE VERUM (a verdade ou o verdadeiro):
5.1 – [I]Um modo, segundo aquilo que precede a razão da VERITATIS (verdade) e
sobre o qual ela está fundada. Nesse modo a verdade é definida como o ente: “verdade é
o que é”; “a verdade de cada coisa é a propriedade de seu ESSE (ser) que é estabelecido
para ela”; “a verdade é o ser indiviso e aquilo que é”.

5.2 – [II]Outro modo, se define segundo aquilo no qual a razão da verdade é formalmente
completada. Nesse modo a verdade é definida como verdade: “verdade é a adequação
da coisa e do intelecto”; “verdade é a retidão perceptível só pela mente”.

5.3 – [III]Segundo aquilo que é efeito da verdade. Nesse modo se define a verdade como
seu efeito, resultado ou consequência: “a verdade é aquilo pelo qual se mostra aquilo
que é”; “a verdade é declarativa e manifestativa do ESSE (ser)”; “a verdade é aquilo
segundo o qual julgamos os inferiores”.
ENS

ESPECIAL GERAL

GRADUS ABSOLUTO RELATIVO

COMO QUE COMO QUE


MODUS AFIRMATIVO NEGATIVO
AFIRMATIVO NEGATIVO

GENERA ESSENTIA INDIVISIO CONVENIENTIAM DIVISIO

RES UNUM BONUM VERUM ALIQUID

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