Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ora
isto é o mesmo que dizer que tenho consciência de uma síntese
necessária a priori dessas representações, a que se chama unidade
sintética originária da apercepção, à qual se encontram subme-
tidas todas as representações Ique me são dadas, mas à qual tam- B 136
bém deverão ser reduzidas mediante uma síntese.
§ 17
O PRINCÍPIO DA UNIDADE SINTÉTICA DA APERCEPÇAO
É O PRINCÍPIO SUPREMO DE TODO O USO DO ENTENDIMENTO
[ 135]
primeiro destes princípios estão submetidas todas as representa-
ções diversas da intuição, na medida em que nos são dadas; ao
13137 segundo, na medida em que têm de poder ser Iligadas numa
consciência; de outro modo, nada pode, com efeito, ser pensado
ou conhecido, porque as representações dadas, não tendo em
comum o acto de apercepção eu penso não estariam desse modo
reunidas numa autoconsciência.
O entendimento, falando em geral, é a faculdade dos conheci-
mentos. Estes consistem na relação determinada de representa-
ções dadas a um objecto. O objecto, porém, é aquilo em cujo
conceito está reunido o diverso de uma intuição dada. Mas toda a
reunião das representações exige a unidade da consciência na
respectiva síntese. Por consequência, a unidade de consciência é
o que por si só constitui a relação das representações a um
objecto, a sua validade objectiva portanto, aquilo que as con-
verte em conhecimentos, e sobre ela assenta, consequente-
mente, a própria possibilidade do entendimento.
[ 136]
Assim, o primeiro conhecimento puro do entendimento,
sobre o qual se funda todo o seu restante uso, e que é também
totalmente independente de todas as condições da intuição sen-
sível, é, pois, o princípio da unidade originária sintética da aper-
cepção. A simples forma da intuição sensível externa, o espaço,
não é ainda conhecimento; oferece apenas o diverso da intuição
a priori para um conhecimento possível. Mas, para conhecer
qualquer coisa no espaço, por exemplo, uma linha, é preciso
traçá-la e, deste modo, !obter sinteticamente uma ligação deter- B 138
minada do diverso dado; de tal modo que a unidade deste acto
é, simultaneamente, a unidade da consciência (no conceito de
uma linha), só assim se conhecendo primeiramente um objecto
(um espaço determinado). A unidade sintética da consciência é,
pois, uma condição objectiva de todo o conhecimento, que me
não é necessária simplesmente para conhecer um objecto, mas
também porque ·a ela tem de estar submetida toda a intuição,
para se tornar objecto para mim, porque de outra maneira e sem
esta síntese o diverso não se uniria numa consciência.
2
DA SINTESE DA REPRODUÇÃO NA IMAGINAÇÃO
[ 137]
Esta última propostçao é, como dissemos, analítica,
embora faça da unidade sintética a condição de todo o pensa-
mento; com efeito, apenas afirma que todas as minhas represen-
tações, em qualquer intuição dada, têm de obedecer à con-
dição pela qual, enquanto minhas representações, somente posso
atribuí-las ao eu idêntico e, portanto, como ligadas sinteti-
camente numa apercepção, abrangê-las pela expressão geral
eu penso.
Mas este princípio não é, contudo, princípio para todo o
entendimento possível em geral, mas só para aquele cuja aper-
cepção pura na representação: eu sou, nada proporciona ainda
de diverso. Um entendimento que, tomando consciência de si
B 139 mesmo, fornecesse ao mesmo tempo o diverso da intuição,! um
entendimento, mediante cuja representação existissem simulta-
neamente os objectos dessa representação, não teria necessidade
de um acto particular de síntese do diverso para a unidade da
consciência, como disso carece o entendimento humano, que só
pensa, não intui. Mas, para o entendimento humano, o acto de
síntese é, inevitavelmente, o primeiro princípio, de tal modo
que o entendimento humano não pode formar o mínimo con-
ceito de outro entendimento possível, s~ja de um entendimento
que seria ele mesmo intuitivo, seja de um outro que teria por
fundamento uma intuição, a qual, embora sensível, fosse de
diferente espécie da que se produz no espaço e no tempo.
nossa imaginação emp1nca .não teria nunca nada a fazer que fosse
conforme à sua faculdade, permanecendo oculta no íntimo do espírito
como uma faculdade morta e desconhecida para nós próprios. Se o
cinábrio fosse ora vermelho, ora preto, ora leve, ora pesado, se o
homem se transformasse ora nesta ora naquela forma animal, se num
B 101 muito longo dia a Iterra estivesse coberta ora de frutos, ora de gelo e
neve, a minha imaginação empírica nunca teria ocasião de receber no
pensamento, com a representação da cor vermelha, o cinábrio pesado;
ou se uma certa palavra fosse atribuída ora a esta, ora àquela coisa, ou
se precisamente a mesma coisa fosse designada ora de uma maneira,
ora de outra, sem que nisso houvesse uma certa regra, a que os fenó-
menos estivessem por si mesmos submetidos, não podia ter lugar
nenhuma síntese empírica da reprodução.
[ 138]
§ 18
O QUE É A UNIDADE OBJECTIVA DA AUTOCONSCIÊNCIA
[ 139]
tem validade subjectiva. Uns ligam a representação de certa
palavra com uma coisa, outros com outra; a unidade da cons-
ciência.no que é empírico, não tem valor necessário e universal
em relação ao que é dado.
§ 19 <
[ 140]
Quando, porém, atento com mais rigor na relação exis-
tente entre os conhecimentos dados em cada juízo e a distingo,
como pertencente ao entendimento, da relação segundo as leis
da imaginação reprodutiva (que apenas possui validade subjec-
tiva), encontro que um juízo mais não é do que a maneira de
trazer à unidade objectiva da apercepção conhecimentos dados.
A função que desempenha a cópula "é"lnos juízos visa distin- B 142
guir a unidade objectiva de representações dadas da unidade
subjectiva. Com efeito, a cópula indica a relação dessas repre-
sentações à apercepção originária e à sua unidade necessária,
mesmo que o juízo seja empírico e, portanto, contingente,
como, por exemplo, o seguinte: os corpos são pesados. Não
quero com isto dizer que estas representações pertençam, na
intuição empírica, necessariamente umas às outras, mas somente que
pertencem umas às outras, na síntese das intuições, graças à unidade
necessária da apercepção, isto é, segundo princípios da determi-
nação objectiva de todas as representações, na medida em que
daí possa resultar um conhecimento, princípios esses que são
todos derivados do princípio da unidade transcendental da aper-
cepção. Só assim dessa relação surge um juízo, ou seja uma rela-
ção objectivamente válida, que se distingue suficientemente de uma
relação destas mesmas representações, na qual há validade ape-
nas subjectiva, como por exemplo a que é obtida pelas leis da ·
3
DA SINTESE DA RECOGNIÇAO NO CONCEITO A 103
[ 141]
associaÇão. Em conformidade com estas últimas diria apenas:
quando seguro um corpo, sinto uma pressão de peso, mas não
que o próprio corpo seja pesado; o que é o mesmo que dizer
que ambas estas representações estão ligadas no objecto, isto é,
são indiferentes ao estado do sujeito, e não apenas juntas na
percepção (por muito repetida que possa ser).
B 143 § 20
TODAS AS INTUIÇÕES SENSIVEIS ESTÃO SUBMETIDAS As
CATEGORIAS, COMO As CONDIÇÕES PELAS QUAIS UNICA-
MENTE O DIVERSO DAQUELAS INTUIÇÕES SE PODE REUNIR
NUMA CONSCIÊNCIA
[ 142]
JWZO, na medida em que o diverso de uma intuição dada é
determinado em relação a elas (§ 13). Assim, também numa
intuição dada, o diverso se encontra necessariamente submetido
às categorias.
§ 21 11 144
OBSERVAÇAO
[ 143]