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História da Filosofia Contemporânea I

Prof. Alex Moura


Aula 2 13/03

Capítulo: O Corpo, pp. 103-110

A noção de horizonte: o principal conceito. Remete ao conceito de intencionalidade (como


veremos).
Somente indicará a noção de tempo. Aqui se trata de uma introdução; essa noção justificada
pelo penúltimo capítulo, O Tempo.

A percepção do objeto e a autoconfiguração do objeto. Está brigando com o pensamento


moderno em geral: distinção/atualidade ontológica sujeito-objeto.
O objeto não é um produto da consciência. Segundo a hipótese moderna, o sujeito é uma
instância constituinte: donde o objeto não teria nenhuma autogeração. Mas, para MP, é o
próprio percebido que se revela. Cada casa tem o seu modo, suas particularidades, modo esse,
porém, que não é determinado pelos seus atributos, como ficará mais claro.

O objetivismo é partilhado pelas duas correntes contra as quais incide. Intelectualismo e


empirismo. A psicologia clássica tem mais espaço aqui.
A partir desse lugar comum, faz uma crítica comum: o problema é que dependem da mesma
base, aquela distinção.

As relações do campo (conceito central) configuram uma totalidade originária. A estrutura é


a configuração de um campo. A relação constitui o sistema, que faz constituir suas partes. A
relação dá a origem do que chamamos de figura e fundo; o campo é a noção originária que
antecede as partes. Incide contra a posição atomista, de que há pontos que compõem a
percepção.
Figura e fundo configuram o campo, que é essa relação primeira.

pp. 103-...
Argumento contra o qual incide: a razão da percepção é o objeto; a percepção constitui o objeto,
o que aparece como uma explicação. Mas MP se pergunta: como se deu a casa dada? As
hipóteses clássicas pressupõem que o objeto já está dado. No argumento, o que vem primeiro,
a percepção, ou o objeto enquanto casa perceptível? Essa casa que se dá a perceber não existe
se não for percebida.
Há um pressuposto aqui: Husserl: a correlação. Se não houver alguém que perceba, não há
objeto, mas, sem o objeto como algo a ser percebido, não há percepção.

Porque a própria figura é cambiável, posso perceber a casa como uma diferença. Não é a sua
atenção que constitui e muda o percebido. O percebido tem uma lógica própria. Porém, se o
órgão perceptor não tivesse tal constituição, não seria possível a percepção. Corpo e percepção
são ativos e passivos. Há a solicitação e quem recebe o estímulo: ambos são atos. Há uma
prefiguração do objeto, o que escapa à hipótese do sujeito moderno.
O objeto não me afeta, mas se prefigura em relação a mim. O objeto e a percepção formam-se
ao mesmo tempo.

Hipótese contra a qual incide: a própria casa e a percepção independente; há, de um lado, a
casa; de outro, as perspectivas sobre a casa. A casa, para essa hipótese, é a síntese* de suas
perspectivas; coisa e fenômeno são separados.

MP: a visão perspectiva que eu tenho me abre a própria casa.

MP: ver um objeto é tê-lo ou na margem ou no centro de um campo, como figura ou como
fundo. Fixar: palavra pouco precisa. A terminologia, por vezes, não contribui para a exposição
neste livro; ver livros posteriores. Por exemplo, “a casa não é um objeto”.
A percepção participa da totalidade, não a constitui, como em Husserl.
O fundo é percebido na medida em que a própria coisa, a figura, o traz.
“A linguagem poética de MP ajuda a entender o conceito.” (Alex)

Quando percebo a mesa, eu a “fixo”, passo a perceber a mesa em suas relações. Horizonte
interno e horizonte externo. Não há, precisamente, fixação, um ponto: há um jogo de relações
no objeto que se relaciona com as demais relações “externas”. Para que algo apareça, outro algo
tem de se esconder. Se não houvesse relação, a referência, não haveria o percebido.

Esconder-se e mostrar-se: é do percebido, não da constituição do corpo ou, por exemplo, do


olho.
Uma perspectiva traz consigo os outros objetos. A referencialidade garante a coisa, são os
horizontes que fazem com que a coisa seja x ou y, que lhe dão figura, forma.
A atenção é secundária, depende dessa percepção originária. Há uma unidade da coisa
simultânea à relação dessas coisas que a circundam, às perspectivas. A unidade não é idêntica,
não é fixa. A unidade, a cada vez, doa-se de um modo, um modo do mesmo conjunto.

Só há figuração se há o velamento de alguma outra coisa, que vai para a margem (trata-se da
lógica do percebido). É um jeito poético de falar de figura e fundo. Percebemos estruturas e não
pontos, entidades isoladas.

O objeto é translúcido porque é a coesão de todas as perspectivas.


Não se trata mais do modo como eu vejo o objeto, a perspectiva tem a ver com como a lousa se
refere à parede, às carteiras etc.

O tempo ou a perspectiva temporal:


O espaço é configurado pelo tempo, o segundo sustenta o primeiro, como veremos.

O tempo funda algo de uma vez por todas, e esse algo fundado tem por testemunha todos os
objetos no tempo. O tempo é um só fluxo que se transforma. Cada momento traz o seu passado
e antecipa o futuro, o presente será uma transformação ao futuro, que, por seu turno, se
transformará em passado. É uma unidade e uma mudança; há fundação e retomada; a cada
visão, está fundada no presente, mas, ao mesmo tempo, está condenada a passar. Há o passado
eminente e o futuro eminente na própria coisa. É como os lados da mesa que não são vistos,
mas estão em eminência de serem percebidos. Os horizontes gerais têm uma eminência que
constituem o presente. É quase como se eu não visse o presente, mas a passagem. Não vemos
só o presente, na medida em que ele carrega seus horizontes; nisso, a percepção reconhece seus
horizontes. Não há ponto no espaço, tampouco o há no tempo.
Na transição, no fluxo, a percepção capta um campo desse fluxo e “a chamo de presente”. A
mesa permanece porque nunca foi um ponto, mas sim um fluxo.

O presente tem um horizonte de retenção daquilo que passou. Pensemos os momentos do tempo
como um campo de horizontes. Uma vez instituído um momento, ele será sempre retomado
necessariamente, toda a cadeia o retomará – a cada novo presente, de um modo distinto. O
passado é sempre carregado de modos distintos, com maior ou menor força, conforme for um
passado mais próximo ou mais distante.

Não há possibilidade de uma síntese porque os horizontes são abertos. A lógica do tempo é
aberta – até chegar a um horizonte anônimo. Um passado recente tem uma presença no presente,
enquanto um mais distante tem outra: mais diluída. Quanto mais distante, mais anônimo. Se
houvesse uma síntese definitiva, o tempo pararia, seria eternidade.

A substancialidade do objeto se escoa pela indeterminação dos horizontes. A abertura da


síntese é a própria condição da temporalidade.

Eu entro numa perspectiva que remete aos horizontes, como no presente, e essa lógica me dá
mais do que aquilo que eu realmente vejo, o que configura a unidade do objeto e faz com que
seja percebido como algo. Os horizontes garantem esse êxtase. Um perfil remete para fora de
si espontaneamente (êxtase). Essa perspectiva (da mesa) abre para os horizontes não vistos, e
essa referência faz com que o campo de relações “mesa” seja percebi como algo.
Graças a isso, eu crio a ilusão de objeto, fundando a ideia de totalidade: eis a origem do erro
daquelas duas hipóteses ou vertentes advindas da modernidade.

Próxima aula: pp. 110-120


Na seguinte: pp. 120-130

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