Você está na página 1de 4

História da Filosofia Contemporânea I

Prof. Alex Moura

Aula 1 06/03

Parte 1
Apresentação do curso e introdução da noção de percepção

Tema: a noção de corpo


Do ponto de vista de um estudo sobre MP, a noção de corpo não é exatamente a mais bem
compreendida (o "filósofo do corpo", afirmação perigosa).
O corpo em MP é uma releitura da problemática da fil. contemporânea: tempo, linguagem,
alteridade, relação mente-corpo.

Chegaremos a um estatuto da fenomenologia partindo da noção de corpo. Partiremos, portanto,


já do conceito. O que a fenomenologia se torna a partir de um novo de estatuto do corpo:
chegaremos, ao fim do curso, ao prefácio.

Partes do curso:
1. sensação
2. introdução à noção de corpo
discussão com a psicopatologia, medicina (já no primeiro livro, de 1938).
membro-fantasma: corpo e temporalidade.
3. seremos conduzidos, então, à noção de ser-no-mundo (Heidegger)
4. o modo como o corpo é compreendido pela psicologia clássica
5. noção de esquema corporal: intencionalidade (Husserl)
6. função simbólica
7. motricidade: tempo e intencionalidade; unificação do corpo, síntese perceptiva etc.
8. hábito (aquisição que o corpo faz estruturalmente)
9. relação do corpo como síntese com a arte
10. sexualidade
11. afonia (patologia)
12. expressão (noção unificadora: tem um caráter constituinte do que é o corpo)
13. corpo e linguagem: o enfoque será a fala
Alguns comentadores: divisão entre a primeira fase e o período dos anos 50 (linguística); Alex
não trabalha com esse corte: há diferenças, mas não uma ruptura.

Hoje: a noção de estrutura (relacionada ao debate quanto à ruptura)


Em MP, há uma confluência entre o estrutural e o fenomenológico; certa discussão com a
Gestalt convive com a fenomenologia.

UM FICHAMENTO POR MÊS: 0,5 ponto cada; entre 10 e 20 páginas; discutiremos um


modelo nas próximas aulas.
Apresentaremos um projeto de dissertação: recortar um tema, colocar uma questão e propor um
caminho (com um mês e meio de antecedência).

Fenomenologia da Percepção
Discutiremos um trecho hoje: sobre a noção de sensação, início da introdução, p. 23.
MP introduz a discussão sobre o estatuto da sensação. Parte da noção principal mobilizada para
se compreender a percepção (de certo intelectualismo e de certo empirismo, este reconhecido
sobretudo nas ciências, uma visão cientificista). Discussão sobre a ciência: pós-século 18. De
um lado, há uma atitude cientificistas (atividade no objeto), de outro, intelectualista (atividade
sobretudo na consciência).
Num caso, a qualidade objetiva no objeto age sobre a consciência/o sujeito, o que determina a
sensação; noutro, tenho a sensação de alguma coisa porque sou uma consciência que projeta
um sentido; não há qualidade, é uma tábula rasa (hipótese reflexiva, analítica pós-cartesiana).
A consciência projeta sobre o objeto, que em si mesmo é destituído de sentido, conferindo-lhe
a significação “verde”, p. ex.
Como o verde para mim é o mesmo verde para você? (MP o pensará, recusando a consciência
transcendental universalizável). Trata-se de uma generalização histórica dessas linhas de
pensamento, não de uma crítica há autores específicos: é assim porque há entre eles um certo
pressuposto comum de que eu posso operar no interior de uma cisão entre sujeito e objeto. O
que importa para ele é a matriz ontológica dualista. MP NÃO É MONISTA: a diferença entre
a coisa e o sujeito não desaparece, ou não haveria mais percepção.

p. 23-...
A sensação é aparentemente uma noção mais óbvia e clara, mas inviabilizou, na base das
hipóteses clássicas, a compreensão da percepção.
Perceber: há uma certa qualidade que reflete em mim um estado; a sensação é um "choque"
instantâneo, indiferenciado e pontual, isto é ser afetado. MP recusará.
MP: mas eu nunca percebo um ponto: a percepção é sempre relacional.
Explica-se a percepção por impressões (julgar, lembrar, associar), mas impressões são pontuais!
MP: como uma impressão se transforma em sentido?
Dificuldade nessa teoria: tudo dependeria sempre de uma experiência anterior.
MP: O que faz com que a percepção seja orientada para a lousa verde? Há algo no próprio
percebido que evoca a sua referência: a associação pressupõe o que quer explicar – haveria
uma indeterminação absoluta (uma regressão). MP: O corpo configura o estímulo, e o estímulo
configura o corpo. A percepção evoca o corpo, mas, para que essa estrutura possa ser percebida
pelo corpo, o corpo dá forma a ela. A lousa não é um verde-objeto fechado, é uma matriz que
se oferece de vários modos, sem deixar de ser o que ela é. Não cairá no relativismo porque a
própria coisa é múltipla, de estrutura plástica, flexível.

Percebemos relações, e a percepção é ela mesma uma relação.


O que torna possível a percepção é a relação figura-e-fundo. Significa que o percebido não é
um objeto.
Ao mesmo tempo, a coisa é relacional e traz algo que faça com que ela seja si mesma, que
garante sua singularidade. A lousa nunca será a mesma lousa, mas nunca deixará de ser lousa.
Não aceita o determinismo e o utilitarismo.
A diferença em relação ao fundo configura a mancha em relação a uma superfície e vice-versa;
não se trata de dois objetos que eu juntei, mas de uma diferenciação, no que aquilo se tornou
perceptível e se mostrou como uma mancha sobre um fundo. A relação configura os termos.
Nunca percebo uma mancha: não existe a mancha, o que existe é um certo jogo de relações que
faz com que algo se torne uma mancha. Há algo originário que também envolve certa atividade
da coisa. Ela se transforma em mancha – não é mais líquido, tinta – somente em relação ao
fundo.
O modo como as partes se relacionam configura o sentido. Isso é a atividade da coisa. Exemplos
das duas linhas e exemplo dos seis pontos (sentido prefigurado da coisa). O sujeito constituinte
some, a constituição dele tem de lidar com o que está prefigurado como significação
(motivação).
Há um coeficiente de singularidade em cada percepção, cada percepção é reestruturada por
cada consciência.
Percebemos não uma coisa ou outra, mas a diferença entre elas: a mesa que não é a parede, a
parede que não é a lousa.
Não percebemos a totalidade da mesa, a percebemos como uma mesa pelo modo como ela está
relacionada com as outras coisas e com ela mesma: essa é a frente de uma mesa porque remete
ao fundo da mesa, aos lados, é a frente de uma mesa. Vemos o visível e o invisível. O que não
aparece conta na percepção. A mesa é figura em relação a si mesma.
Pensamos que é uma mesa, sim, mas a síntese que fazemos é passiva: não se trata de um
irracionalismo.
A mesa não é um objeto, mas um jogo de relações. A mesa deixa de ser uma mesa se se separam
as partes.

Para a próxima aula: pp. 23-30 (o que vimos hoje); pp. 103-110

Você também pode gostar