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RESUMO
Anselmo de Aosta no século XI propôs uma prova a priori da existência de Deus que atesta a
sua existência. Sua tese consiste em conceber Deus “como aquilo do qual nada maior se pode
pensar”. Seu argumento foi criticado e reformulado ao decorrer da filosofia, entre os filósofos
que trabalharam esse argumento estão Gaudino, São Tomas de Aquino, e Kant. Mas apesar de
toda a crítica o seu argumento ainda hoje é considerado relevante.
Palavras chaves: Anselmo de Aosta; Argumento; Deus; a priori.
1 Introdução
Encontrar uma prova para fundamentar a existência de Deus foi e ainda continua a ser
uma problemática muito rica em debates e um campo aberto para contribuição. Além de
englobar não só a área da filosofia, mas também a teologia. Não são poucos os filósofos que se
proporão a tal investigação dedicando tempo e páginas em seus escritos, sejam eles modernos
ou medievais. E entre esses muitos filósofos está Anselmo de Aosta, um monge beneditino e
bispo de Cantuária, do século XI, que se propôs a elaborar um argumento para provar a
existência de Deus a priori. Seu de argumento tem sido denominado como ontológico e
simultâneo:
São então estes dois termos que identificam e qualificam o tipo de argumento que
Anselmo propõe em seu livro Proslogion. Contudo, o termo ontológico foi colocado por Kant
ao trabalhar com essa prova. Também se faz interessante ressaltar que está obra só pode ser
1
Aluno do 4º período do curso de Licenciatura em Filosofia pelo Instituto Católico de Estudos Superiores do
Piauí ICESPI. Email: francisrafaelsilva844@gmail.com
totalmente compreendida se lida juntamente com o Monologion, onde Anselmo prova a
existência de Deus por via cosmológica e argumenta dos efeitos para as causas.
Anselmo de Aosta é considerado o primeiro pensador a elaborar um argumento
ontológico para demostrar a existência de Deus, sendo seguindo por filósofos como: Descartes,
Spinoza, Leibniz, Hume entre outros. Primeiramente ele escreve um pequeno livro chamado
Monologion (Solilóquio) onde apresenta quatro provas que partem do mundo para provar a
existência de Deus, mas é somente no Proslogion (Colóquio), ou ainda, a fé apoiando-se na
razão, onde Anselmo lança o argumento a priori. O Proslogion foi escrito a pedido de seus
irmãos, monges, afim de apresentar um argumento forte para provar a existência de Deus que
não se baseasse nas Escrituras e que até mesmo os não-crentes pudessem admitir como
verdadeiro.
Anselmo chega a uma conclusão que tal argumento consistia na proposição: Deus é
“aquilo do qual nada de maior pode-se pensar” (id quo maius cogitari nequit). Com essa prova
o abade consegue dá uma importante contribuição para as provas ontológicas, pois, apresenta
um argumento de fácil compreensão e que todo e qualquer indivíduo que faça uso da razão
consegue deduzir a existência de Deus. Contudo, proposição anselmiana não escapou de críticas
que de certo modo reduziram toda a sua eficácia, mas não sua validade até os dias atuais e a sua
relevância para filósofos posteriores. Ainda hoje sua prova possui grande importância como
constata Glauber Ataide:
Percebe-se que o argumento anselmiano foi útil para que se pudesse estudar esse tipo
de argumentos aprioristas para discutir a existência de Deus. Sem sombra de dúvidas este
argumento não foi esquecido e subjugado por tantas outras tentativas de provar a existência de
Deus feita por tantos outros filósofos medievais, modernos ou contemporâneos.
Então tentaremos nos pontos que seguem esboçar a estrutura da prova anselmiana e
algumas críticas a qual foi submetida a mesma. As críticas que serão apresentadas
correspondem alguns dos filósofos que contraporão prova de Anselmo. Incialmente a do monge
Gaudino, contemporâneo de Anselmo, a de São Tomas de Aquino, o grande doutor angelicus,
e pôr fim a de Emmanuel Kant.
2 Um ser do qual não é possível pensar nada maior
Dessa maneira ele brilhantemente chega ao ponto chave da sua prova a priori. E justifica
a sua proposição se apoiando nessa concepção que ele acredita que todos possuem de Deus,
aquilo do qual maior se pode pensar.
A sua proposta de argumento a priori passa a ser um dos mais significativos argumentos
para se conceber a existência de Deus e após Anselmo os filósofos vão fazendo críticas e
reformulando o argumento ontológico. Mas o que de fato chama a atenção é também a
originalidade de Anselmo, pois:
Anselmo não ficou livre de críticas e a primeira que foi dirigida ao seu argumento foi o
do monge Gaudino que contrapõe a ideia de Deus como “aquilo do qual nada de maior pode-
se pensar” no livro Liber pro insipiente (Em defesa do insensato) de Gaudino. Este apresenta a
sua objeção ilustrando com o argumento da uma ilha perdida de beleza inestimável que sendo
compreensível a mente daqueles que a ouvem não necessariamente possa existir na realidade,
compreende se que:
Por outro lado, recordo Gaudilon, não é suficiente ter uma ideia dele [Deus]
para que se possa afirmar sua realidade objetiva. Se assim fosse, então bastaria
pensar uma coisa, como, por exemplo, uma ilha cheia de delicias e, portanto,
a mais perfeita, para que estivéssemos autorizados a admitir sua existência.
(REALE; ANTISERI, 1990 p. 497).
Assim claramente se vê que o Gaudino, com seu argumento da Ilha perdida, não se
aplicável a aquilo do qual nada maior se pode pensar. Mas de certo modo o sábio opositor
identifica essa falha no argumento, ou seja, que tal proposição só pode ser aplicável ao ser id
quo maius cogitari nequit.
São Tomas de Aquino também analisa e lança críticas a proposta de Anselmo, mas
considera bons os argumentos anselmianos a posteriori. O doutor angélico na Suma Teológica
esclarece nem todos concebem Deus como ser id quo maius cogitari nequit. Ele argumenta:
(...) deve-se afirmar que talvez aquele que ouve o nome de Deus não
entenda que ele designa algo que não se possa cogitar maior; pois
alguns acreditaram que Deus é um corpo. Mas admitido que todos deem
ao nome de Deus a significação que se pretende: maior que Ele não se
pode cogitar, não se segue daí que cada um entenda que aquilo que é
significado pelo nome exista na realidade, mas apenas na apreensão do
intelecto. Nem se pode deduzir que exista na real idade, a não ser que
se pressuponha que na realidade exista algo que não se possa cogitar
maior, o que recusam os que negam a existência de Deus. (AQUINO,
2001. p. 163).
Assim, São Tomas apresenta a sua crítica a prova de Santo Anselmo apontando um erro
do abade, que é a passagem da essência para a existência, da ideia para o real.
Kant aceita inicialmente o argumento ontológico, isso no seu período intitulado “sono
dogmático”, mas após o seu despertar passa a rejeitar totalmente a argumento ontológico a qual
defendera aos moldes de Descartes e Wolf. Está renuncia radical da possibilidade de provar a
existência de Deus a priori e até mesmo a posteriori é apresentada na Crítica a Razão Pura. A
crítica consiste que para ele há uma “distinção radical entre a existência pensada e a existência
real” (REALE; ANTISERI, 1990 p. 498). Kant, contudo, não consegue apagar definitivamente
a importância do argumento ontológico.
4 Conclusão
Portanto, percebe-se que o prova da existência de Deus levantada por Anselmo de Aosta,
o primeiro dos escolásticos, se apresenta como um verdadeiro marco para discursão da
existência de Deus. A sua estrutura argumentativa e sua clareza de pensamento nos seus escritos
e a sua filosofia proporcionou aos filósofos sérias reflexões para a elaboração de críticas do seu
pensamento. E apesar dos fortes ataques a sua prova a priori da existência de Deus, ainda hoje
a sua proposta permanece viva e inspira a novas formulações e análises. E isso é perceptível na
presença de pensadores, lógicos contemporâneos como Hartshorne, Plantinga, Gödel e Sobel
apostam em argumentos de natureza ontológica para provar a existência de Deus.
5 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. v. I, parte I. 3 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009. p.
692
ANTISERI, Dario. REALI, Giovanni. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3 ed.
São Paulo: Paulus, 1990. p. 685. V. 1
Santo ANSELMO. Proslógio. Tradução de Angelo Ricci. IN._. Os Pensadores. São Paulo:
Nova Cultural, 1988. p. 90-111.