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PREFÁCIO
 
 
Desde o aparecimento da edição anterior, grande quantidade de material
novo foi coligida, disso resultando que novas propriedades da Atmosfera
Humana vieram à luz.
Embora na atualidade seja impossível dizer exatamente em que consiste a
aura, parece-me que positivamente estamos às voltas com um fenômeno
ultravioleta. Algumas mulheres têm a faculdade de alterar as cores de sua aura
mediante o esforço voluntário (nenhum homem ou menino, ao que até agora se
sabe, possui essa faculdade), e essas cores indubitavelmente não pertencem ao
espectro solar visível, daí que talvez estejamos lidando com um segundo e mais
elevado espectro de comprimentos de onda mais curtos.
A aura física exibe outra propriedade interessante no fato de poder ser
influenciada por forças externas como a eletricidade e a ação química.
Naturalmente, muito tempo e reflexão têm sido dedicados à tentativa de
descobrir de que modo a dicianina afeta os órgãos visuais, mas a explicação disso
ainda permanece incompleta.
Embora não se faça menção da fotografia, a aura tem sido ocasionalmente
fotografada em certa medida, mas de modo algum satisfatoriamente, nem foram
determinadas as condições necessárias à obtenção de impressões. Não obstante,
estou seguro de que uma fotografia do tamanho, forma e condição da Aura
Humana não só é possível como ademais será tirada em breve, permitindo assim
que a aura se transforme numa ajuda ainda maior no campo da diagnose médica.
Tenho me empenhado seriamente em alcançar esse objetivo, mas agora, minha
idade, com seus naturais ataques, além de outras dificuldades, me excluem de
qualquer esperança de poder realizá-lo. Entretanto, o pioneiro que obtiver êxito
nesse sentido já tem, antecipadamente, as minhas mais sinceras congratulações.
 
 
W. J. K.
Hatter Street,
Bury St. Edmunds.
 
 
 
 
 
Capítulo I
 

A AURA DAS PESSOAS SADIAS


 
INTRODUÇÃO
 
Dificilmente, uma em dez milhares de pessoas tem consciência de estar
envolta por uma névoa intimamente relacionada com o corpo, esteja dormindo ou
acordada, faça frio ou calor, névoa que, embora invisível sob circunstâncias
comuns, pode ser vista quando as condições são favoráveis. Essa névoa, o
protótipo do nimbo ou halo constantemente representado em volta dos santos,
tem sido manifestada a certos indivíduos possuidores de visão especialmente
privilegiada, os quais, em consequência disso, têm recebido o título de
"Clarividentes", e até bem recentemente, a ninguém mais. Essa nuvem ou
atmosfera, geralmente chamada de AURA, é o tema deste tratado, na medida em
que possa ser percebida mediante o emprego de telas que contêm uma substância
química peculiar em solução. Convém esclarecer desde logo que o autor não tem
a mínima pretensão de ser clarividente e também não é ocultista, mas deseja
frisar aos leitores que suas pesquisas têm sido inteiramente físicas, podendo ser
repetidas por quem quer que se interesse pelo assunto.
Enquanto a faculdade de ver a aura esteve confinada a poucos indivíduos, e
as pessoas comuns não tinham meios de corroborá-la ou de refutá-la, estava
aberta uma porta para a impostura. Como este tem sido o caso até o presente, o
assunto sempre foi encarado com desconfiança; porém não há mais charlatanismo
na detecção da aura humana pelos métodos empregados do que na de micróbios
por meio do microscópio. A principal diferença está na afirmação de algumas
pessoas de que são capazes de ver a aura devido à posse de uma capacidade
visual acima do normal, ao passo que ninguém ainda teve a audácia de afirmar
que tem o poder de enxergar um objeto do tamanho de um milésimo de milímetro
sem o auxílio de instrumentos. Não pode haver nenhuma dúvida quanto à
realidade da existência de uma aura a envolver o ser humano, e isto será em breve
um fato universalmente aceito, agora que ela pode ser visível a praticamente
todas as pessoas dotadas de visão normal.*
O autor considera que noventa e cinco por cento das pessoas dotadas de
visão normal poderiam enxergar a aura. Um senhor afirma que só uma pessoa
entre quatrocentas, que ele tentou fazer ver a aura, foi incapaz de distinguir o
fenómeno.
Na verdade, seria estranho que a aura não variasse em circunstâncias
diferentes, e há boas razões para crer que um estudo de suas modificações
revelará que elas têm algum valor para o diagnóstico de doenças.
O autor roga a indulgência dos leitores para as poucas observações pessoais
que faz. Ele procurou ser tanto quanto possível imparcial e preciso ao registrar
todas as observações, tentando evitar armadilhas e erros origina- dos de
entusiasmo e imaginação incontrolados. Isto, numa parte do assunto, é bem
difícil, pois, muita coisa depende de uma visão subjetiva. Mas é justo acrescentar
que a sua visão é o seu sentido mais perfeito; e, consequentemente, ele pode ser
capaz de distinguir visualmente um pouco mais do que o homem médio, e desse
modo pode ter percebido efeitos que escapam à observação de outros. Algumas
das deduções que fez podem ser consideradas, e quiçá justamente, demasiado
dogmáticas, já que estão fundadas num número muito pequeno de casos; mas a
escusa que para isso oferece é que foram apresentadas unicamente com a
intenção de proporcionar hipóteses de trabalho que possam auxiliar em futuras
investigações.
A descoberta de uma tela que torna a aura visível não foi, de modo algum,
acidental. Após ler a respeito da ação dos raios N sobre o sulfeto de cálcio
fosforescente, o autor esteve por longo tempo fazendo experimentos com forças
mecânicas de certas emanações corpóreas, e chegou à conclusão, seja ela certa ou
errada, de que havia detectado duas forças, além do calor, que podiam atuar sobre
suas agulhas e que essas forças estavam situadas na porção infravermelha do
espectro. Houve uma dificuldade com esses experimentos e, no início de 1908,
ele acreditou que certos corantes poderiam ajudá-lo. Após considerar seus
diferentes espectros e, na medida do possível, certificar-se de suas propriedades,
experimentou vários corantes fixando-se sobre o corante do coltar, a "Dicianina",
como o que provavelmente seria o mais útil. Enquanto esperava por essa
substância química, um pensamento fulgurou-lhe na mente, a saber, que essa
substância poderia tornar visível alguma porção dos efeitos das forças acima
referidas; e, se este fosse o caso, ele esperaria ver a aura humana. Já ouvira falar
desse fenômeno, mas, até então, nunca o movera a intenção de investigá-lo, pois
acreditava-o muito além de suas faculdades naturais.
Tão logo o corante foi obtido, fizeram-se telas de vidro recobertas de colódio
ou gelatina e tingidos com ele, mas se revelaram completamente inúteis, pois
ocorreu decomposição quase instantânea. Vários outros métodos foram
experimentados com sucesso variável, mas o único que surtiu resulta- dos
realmente satisfatórios foi o de células de vidro cheias com uma solução alcoólica
de dicianina. Mesmo essas, após algum tempo, mudar de cor devido à
decomposição química, e precisam ser mantidas no escuro quando estão fora de
uso. São necessárias duas dessas telas para o trabalho ordinário, sendo uma
escura e a outra clara, mas, como faremos ver mais adiante, outras telas muito
diferentes serão necessárias para fins especiais. Logo que uma tela foi terminada,
o autor olhou um amigo através dela e viu instantaneamente em torno de sua
cabeça e de suas mãos uma débil névoa acinzentada, que concluiu ele, não
poderia ser outra coisa senão a aura humana. Durante seus experimentos iniciais
ele observou que podia, por alguns minutos, ver essa névoa mesmo sem a
intervenção da tela. Esse poder durava apenas um breve espaço de tempo, mas
verificou que podia ser renovado olhando-se para a luz por uma tela escura, o
que, é interessante observar, constitui a regra geral. Uma minoria de indivíduos
que não conseguem enxergar a aura, ou que só o fazem com dificuldade após
olhar para a luz através de uma tela escura de dicianina, verificará que eles
poderão detectá-la com maior facilidade e clareza se a examinarem através da
tela clara de dicianina. Aqui está a principal razão de ser da segunda tela.
A princípio, a aura tinha um tal fascínio que todos os momentos livres, de
manhã, ao meio-dia e à noite, eram ocupados no uso da tela para experimentação,
mas o autor descobriu, por experiência própria, que a dicianina tinha um efeito
nocivo sobre os olhos, tornando-os tão doloridos a ponto de ser necessário deixar
o trabalho por alguns dias. Por esse motivo, recomendamos que a tela escura de
dicianina não seja usada por tempo superior a uma hora diária, aproximadamente.
A ação do corante é aparentemente cumulativa, de modo que a faculdade de
enxergar a aura sem nenhum uso prévio da tela é gradualmente adquirida; não
obstante, o autor considera conveniente fitar a luz por alguns segundos antes de
examinar um paciente.
A aura só pode ser definida, satisfatoriamente, quando certas condições
forem cumpridas. Em primeiro lugar, a luz não deve ser demasiado intensa. A
quantidade necessária precisa ser determinada em cada observação, e a
experiência é o único guia, já que algumas pessoas podem perceber melhor a aura
quando a luz, na opinião de outros, está excessivamente intensa. De modo geral,
o corpo da pessoa que estiver sendo examinada deve estar apenas distintamente
visível depois que o observador tenha se acostumado à penumbra. A luz deve ser
difusa, procedente de uma única direção e iluminar o paciente por inteiro e por
igual. A melhor disposição se obtém com o observador de costas para uma janela
escurecida e o paciente voltado para ela. Um método alternativo, e
ocasionalmente o único que pode ser empregado fora do lar, é o de ter uma tenda
semelhante à câmara escura portátil, dobrável em forma de X, usada para
fotografia, somente que forrada com um material preto fosco, em lugar do
ordinário tecido amarelo, e tendo removidas as cortinas frontais. Em geral, é
possível, na própria casa do paciente, com pouco remanejamento, colocar a tenda
de frente para a janela, ou então, se se puder obter um aposento suficientemente
amplo, ela pode ser instalada junto de uma janela e a cerca de três ou quatro pés
em frente dessa janela, de modo que a pessoa a ser examinada seja iluminada.
Todas as janelas do aposento, exceto a situada aos fundos da tenda, devem ser
completamente escurecidas ao passo que aquela deve ter o estore (ou cortina)
aberto em maior ou menor grau, conforme a necessidade. A objeção importante a
essa disposição é que o observador tem de ficar contra a luz, o que é
inconveniente a todas as partes da inspeção, sendo especialmente inadequado
para observações relacionadas com as cores complementares, descritas mais
adiante. É sempre essencial dispor de um plano de fundo preto e fosco.
Uma grande parte do trabalho do autor tem sido levada a efeito numa sala
dotada de uma só janela. Essa janela dispõe de um estore comum na sua parte
superior e, na parte inferior, tem um outro estore,* constituído de duas camadas
de sarja preta, que se pode erguer a qualquer altura desejada. A sarja permite a
passagem de considerável porção de luz, até demais, salvo em dias muito
escuros, mas a iluminação é, além disso, regulada baixando-se o estore ordinário.
Essa disposição é conveniente, pois um pequeno vão pode ser deixado entre os
dois estores, permitindo a entrada de mais luz no local, quando o paciente está
sendo examinado através da tela de cor carmim profundo, e ocasionalmente
quando as cores complementares estão sendo empregadas.
 
* Em sua atual residência, o panorama é mais amplo, de modo que dois
estores foram instalados.
 
Em oposição à janela, a uma distância de oito a dez pés, uma haste
sustentando cortinas preta e branca, qualquer das quais pode ser utilizada
segundo a necessidade.
É importante lembrar que o paciente deve estar pelo menos trinta
centímetros adiante do plano de fundo para evitar que quaisquer eventuais sobras
ou marcas nele venham a produzir ilusões ópticas, assim viciando as
observações.
Mas não é provável que surjam problemas por esse motivo, a não ser que o
investigador seja novato.
Como várias pessoas tentaram ver a aura e não o conseguiram - algumas
devido à disposição defeituosa da iluminação, outras devido ao tensionamento
dos olhos e outras ainda devido a vários mal-entendidos e todas a - puderam ver
facilmente sob condições adequadas, uma breve descrição de alguns
experimentos preliminares pode ser de alguma ajuda nas tentativas iniciais de
detectar a aura. Quando esses experimentos forem efetuados conscienciosamente
e forem bem sucedidos, o observador terá vencido as principais dificuldades.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um iniciante deve obter alguém que mantenha as mãos aproximadamente a
um pé de distância de um fundo preto no mesmo plano e em paralelo com ele,
separadas de oito a dez polegadas e com os dedos estendidos como mostra o
Diagrama 1. Ele então deverá olhar pela tela escura de dicianina durante
aproximadamente trinta segundos para a luz do dia (o céu, se for possível, mas
não diretamente para o Sol). Essa tela deve ser mantida bem próxima dos olhos,
para evitar que qualquer porção de luz venha a atingir os olhos sem ter primeiro
atravessado o fluido azul. Sem essa precaução, a tela terá pouco ou nenhum
efeito sobre a visão. A influência da tela geralmente perdura por uma hora ou
mais, mas, às vezes, por ocasião das primeiras experiências, só perdura por um
período bem mais curto, quando a operação pode ser repetida com a frequência
necessária. A seguir, os estores devem ser manipulados de tal sorte que as mãos a
serem examinadas estejam apenas distintamente visíveis ao observador, enquanto
ele está de costas para a janela e lhe faz sombra com o próprio corpo. Essa
posição lhe permite aumentar a luz incidente sobre as mãos em maior ou menor
grau, simplesmente por efeito de mover-se um pouco para a direita ou para a
esquerda, sem precisar mexer nos estores. O observador, por via de regra, será
então capaz, quase de imediato, de detectar riscas procedentes dos dedos de uma
das mãos dirigindo-se para os dedos da outra, e uma nevoa no intervalo entre as
mãos. Logo que tenha percebido a névoa e as riscas, provavelmente será capaz de
ver uma névoa semelhante, mas não tão nítida, em redor do braço, se este estiver
nu. Vez por outra há alguma ligeira dificuldade na primeira tentativa de
observação, que em geral pode ser vencida se a outra mão for mantida em ângulo
reto com o braço e a curta distância dele. (Veja o Diagrama 2.) Por esse meio a
aura se intensificará, e quando a mão for retirada o observador será capaz de vê-
la em torno do braço nu. Não é preciso dizer que, à proporção que os olhos forem
se acostumando à luz fraca, será preciso alterar periodicamente a iluminação.
 
 
 
Uma grande percentagem de pessoas, após olhar através da tela escura de
dicianina para a luz, é capaz de perceber a aura tal como foi descrita acima, mas
uma reduzida minoria acha impossível detectá-la sem o auxílio da tela clara de
dicianina. É lógico que, quando esta tela for usada, a luz terá que ser ligeiramente
aumentada.
Depois que a aura em torno do braço e da mão tiver sido satisfatoriamente
inspecionada, o observador pode, com vantagem, inspecioná-la através da tela de
carmim profundo. Para tanto, será necessário erguer um pouquinho os estores até
que o braço e a mão possam ser vistos através da tela como antes. Verificará que
a porção maior da aura desapareceu, ao passo que a parte remanescente circula o
membro bem perto, sendo em geral de uma e meia a três polegadas e meia de
largura. Vista de relance, a textura dessa porção da aura parecerá mais opaca, mas
sendo examinada mais atentamente observar-se-á que é delicadamente estriada,
como se tivesse sido escovada com uma escova de pelos de camelo. Em pontos
que variam de minuto a minuto, essas estrias podem ser mais facilmente
distinguidas do que em outros. A porção estriada tem sido chamada de aura
interna, e a parte ampla e amorfa, não visível com a tela de carmim, aura externa.
Às vezes, mas nem sempre, uma observação acurada revelará um espaço
aparentemente vazio entre o corpo e a aura interna. Essa área é chamada duplo
etéreo. Todas essas diferentes partes serão descritas em capítulos subsequentes.
É imperativo que as mãos e os braços sejam contemplados exatamente como
quando se olha uma pintura; não deve haver tensionamento ou esforço dos olhos.
Quanto mais precisamente o observador puder focalizar os olhos sobre o plano
em que as mãos se situarem, tanto mais fácil e claramente será capaz de perceber
a aura. O ato de forçar a vista não só constitui um obstáculo como
frequentemente até impedirá por inteiro a percepção da névoa. A razão disso será
apresentada mais adiante.
Logo que o observador se sentir capaz de ver a aura com bastante facilidade,
poderá passar a examiná-la em torno de uma grande porção do corpo ou, melhor
ainda, do corpo todo. Para a primeira tentativa, é preferível que o sujeito esteja
gozando de boa saúde e seja, se possível, robusto, porque a aura sempre perde
nitidez durante a enfermidade. É também útil lembrar que a nitidez da aura varia
de um dia para outro, mesmo quando a pessoa goza de perfeita saúde.
Enquanto o sujeito estiver se despindo e assumindo posição para o exame, o
observador, a não ser que já o tenha feito, deverá olhar a luz através da tela escura
de dicianina durante alguns segundos. A seguir a luz deve ser regulada baixando-
se os estores da janela, quando se notará que a quantidade de luz necessária será
muito menor se todo o corpo estiver sendo observado do que ao se observar
unicamente as mãos. Postando-se de costas para a janela, e em oposição ao
sujeito (usando uma tela clara de dicianina se necessário), o observador deverá
distinguir de imediato, ou após alguns segundos, uma débil névoa envolvendo o
corpo. Esta varia, mesmo que a pessoa goze de boa saúde, de acordo com a idade,
o sexo, e as peculiaridades individuais.
A primeira coisa a observar é a textura, fina ou grossa, já que não há duas
pessoas com auras idênticas. Observe a cor que em geral é algum matiz do azul
mesclado a maior ou menor quantidade de cinza. Uma grande ajuda na
determinação da cor é fazer a pessoa colocar as mãos sobre os quadris, e ao
mesmo tempo estender os cotovelos, quando no espaço entre o tronco e os braços
a aura que emana do corpo será reforçada pela procedente dos braços.
No início de um exame sistemático será aconselhável fazer que o paciente
fique primeiro de frente para o observador e a luz. A aura em torno da cabeça
pode ser melhor vista enquanto ele está de pé ou sentado com as mãos caídas dos
lados. Sua largura pode ser aproximadamente medida notando-se a distância a
que ela se estende além dos ombros, e essa posição também permite uma
comparação da aura nos dois lados, o que é de grande importância porque em
certos casos de doença ela será mais larga de um lado do que de outro. Nessa
fase, deve-se prestar atenção à forma geral da aura enquanto as mãos estiverem
pendentes, pois muitas vezes há diferença quando elas estão completamente
erguidas. Durante a maior parte do exame será vantajoso deixar o paciente de pé,
com a mão repousando levemente no topo da cabeça, de modo que a aura da
axila, do tronco, das coxas e das pernas seja influenciada o menos possível pela
aura procedente dos braços. Esta é também a ocasião para determinar o tamanho
e a forma da aura, e se ela segue o contorno do corpo, ou se é mais larga junto ao
tronco do que junto aos membros inferiores; e, se assim for, até onde desce antes
de se contrair. Alguma anormalidade de textura pode, às vezes, ser detectada, o
que depois será estudado melhor com telas especiais.
Ocasionalmente, a aura pode ser dividida, segundo sua aparência, em duas e,
às vezes, em três porções distintas, mas o estudo aprofundado dessas porções
deve ser adiado para uma fase posterior do exame. Depois que toda a informação
relativa à aura dos lados da pessoa for obtida, o sujeito deverá ficar de lado a fim
de permitir que a aura em suas costas e frente sejam investigadas. Se em qualquer
instante houver suspeita de que a iluminação é irregular, a aura deverá (além do
exame precedente) ser de novo examinada quando o sujeito tiver dado as costas
para a luz, e novamente completada quando o paciente estiver de lado, de frente
para a direção oposta à que assumira anteriormente. Essa simples manobra
eliminará um grande número de erros.
A aura envolve todo o corpo humano, mas devido à delicadeza e
transparência de sua textura só é visível em secções; consequentemente, quando
se deseja investigar uma porção que emana de um ponto em particular, torna-se
necessário virar o paciente de tal modo que essa porção possa ser vista contra o
plano de fundo.
A fase subsequente do exame consiste em separar a aura interior do exterior
por meio da tela escura de carmim. Se o paciente tiver algo errado em relação a
essa aura, o defeito geralmente se manifestará mediante alguma alteração, como,
por exemplo, falta de nitidez, ou alteração de textura, que poderá, por exemplo,
ser granulada. Em geral os danos são meramente locais. As faixas de cores
complementares podem agora ser usadas, e finalmente a aura entre o corpo e os
braços, enquanto o paciente estiver com as mãos nos quadris e os cotovelos para
fora, pode ser examinada através de telas de várias cores.
Além das variedades em tamanho e forma da aura, tanto na saúde como na
doença, há grande modificação em sua textura. As alterações são geralmente tão
sutis que traduzi-las em palavras é impossível, mas qualquer um que tenha
inspecionado várias auras seria, na verdade, um pobre observador se não notasse
quão raro é haver duas auras iguais. Embora os desenhos diagramáticos possam
parecer iguais, a semelhança termina aí. Não serviria a nenhum propósito útil
classificar as auras como finas, médias ou grossas, pois as diferenças entre elas é
tão gradativa que frequentemente seria impossível decidir a classe em que uma
dada aura deveria se enquadrar.
Além de fatores como saúde deficiente, fadiga, depressão, etc., que se sabe
afetarem as auras individuais, verificou-se que todas as auras, ou quase todas,
variam de nitidez de tempos em tempos, sendo geralmente mais claras nos dias
que, medidos com actinômetro, são mais favoráveis à fotografia. Alterações de
temperatura e de umidade não parecem influir. A verdadeira explicação desse
fenômeno permanece obscura. O que foi exposto acima ensinados uma
importante lição, a saber, a necessidade de se tentar ver a aura uma segunda vez
caso o investigador fracasse na primeira tentativa.
O exame de várias pessoas que gozam de boa saúde mostra não só variações
individuais, o que seria natural esperar, como também a existência de diferenças
de grupos. Os homens, independentemente da idade, à parte peculiaridades
individuais, possuem, todos, a mesma aura característica. Exata- mente o oposto
é o que ocorre com as mulheres, porque suas auras sofrem uma grande
transformação em dado período de suas vidas. Na infância, a aura é idêntica à de
um homem. Na fase adulta, ela está muito mais desenvolvida, ao passo que, na
adolescência dos doze ou treze até os dezoito ou dezenove anos de idade - ela
vagarosamente progride do tipo masculino para o tipo feminino mais
desenvolvido.
A inspeção de um homem mostra que a aura envolve toda a cabeça por
igual, geralmente sendo de três a quatro polegadas mais larga que a amplitude
dos ombros. Quando ele está de frente para o observador com os braços
levantados e as mãos pousadas sobre a cabeça, a aura exterior parecerá mais
estreita dos lados do tronco do que em torno da cabeça, e acompanhando o
contorno do corpo, onde, em geral, não excede a quatro ou cinco polegadas de
largura, ou, aproximadamente, uma décima quinta parte de sua altura. Vista de
perfil aparecerá sobre o dorso tão larga como sobre as laterais, mas não será tão
larga na frente. É sempre contínua junto aos membros inferiores, embora um
pouco diminuída na largura. Em torno dos braços, parece a que envolve as
pernas, mas costuma ser mais ampla em torno das mãos, e constantemente se
projeta por uma boa distância além das pontas dos dedos. A aura interior
geralmente tem de duas e meia a três e meia polegadas de extensão, e obedecer o
contorno de todo o corpo.
A descrição que acabamos de fazer também se aplica às auras de meninas
até a idade de doze ou treze anos, mas a textura é em geral mais fina, tornando
ocasionalmente difícil distinguir-lhe o limite, o que também ocorre com os
meninos. Portanto, crianças não são sujeitos adequados para se observar no
início.
A aura de uma mulher tem forma específica. Acima dos ombros, em torno
da cabeça, e ao longo dos braços e mãos é muito semelhante à de um homem. A
diferença logo se manifesta quando, de frente para o observador, ela coloca as
mãos sobre a cabeça, pois sua aura se estende mais, a partir dos flancos do
tronco, do que nos homens, e alarga-se até atingir sua dimensão total ao nível da
cintura. Daí em diante, ela se contrai gradualmente até os tornozelos. Esta é a
forma mais perfeita, a forma ovoide, mas, às vezes, ela parece estreitar-se mais
em cima (mas não quando a pessoa goza de perfeita saúde), antes de alcançar o
nível da parte inferior das coxas, de onde prossegue para baixo aproximadamente
com a mesma largura ou apenas se estreitando lentamente. Essa gradual
diminuição é tão difícil de descrever em palavras que etc. mais fácil descrevê-la
como "seguindo o contorno dos membros", É claro que não é exatamente assim,
mas a expressão dá uma ideia geral do fato.
Quando uma mulher fica de lado, sua aura parecerá mais larga atrás do que
na frente, e sua parte mais larga situa-se na região lombar (rins) devido à curva da
espinha dorsal. Deve descer em linha reta, desde os ombros até as nádegas
(estando a igual distância do corpo em cada um desses pontos), e de- pois seguir
a forma das coxas e das pernas. Em geral, a névoa é mais acentuada na frente dos
seios e dos mamilos, e esse aumento depende, é claro, da atividade funcional das
glândulas, pois torna-se mais definida durante a gravidez e a lactação e,
ocasionalmente, também, apenas em menor grau, durante um curto espaço de
tempo antes, durante e após a menstruação. Uma vez que a aura se tenha
desenvolvido plenamente, a idade não produz nela nenhuma alteração, mas a
doença pode fazê-lo. As Figuras de 9 a 18 são boas representações diagramáticas
das auras de mulheres saudáveis.
Entre as mulheres saudáveis, as auras podem diferir da forma acima descrita.
As modificações são devidas a diferenças na largura dos lados do tronco e no
nível em que a concentração se completa sobre os membros inferiores. Ao
mesmo tempo notar-se-á que sua largura na frente do corpo varia, mas não na
mesma proporção. No dorso, as variações são mais frequentes e mais acentuadas,
sendo geralmente relacionadas ao temperamento. Numa pessoa, a margem
exterior da aura é aparentemente bastante reta do nível dos ombros até a parte
mais proeminente das nádegas, e daí assume a forma das coxas e pernas. Outra
pessoa exibirá uma curva externa na região lombar, que diminui à medida que
alcança a parte média das coxas, ou pode quase chegar ao chão antes de se
contrair totalmente. No Capítulo VI, apresentamos um relato detalhado desses
abaulamentos. A largura média da aura de uma mulher, na altura da cintura, é de
oito a dez polegadas, às vezes não se estende por mais de seis ou sete, enquanto
que, ocasionalmente, pode atingir a largura de quinze polegadas. A aura interior
assemelha-se à de um homem, exceto, talvez, pelo fato de não ser tão ampla.
Com a aproximação da puberdade, a aura começa a se expandir, deixando a
forma infantil para adquirir, em cinco ou seis anos, a forma característica da
mulher adulta. A mudança geralmente começa pouco antes do aparecimento da
menstruação, mas só muito raramente o estágio de transição terá sido notado
antes do início do desenvolvimento exterior do corpo. Por exemplo, uma menina
de 14 anos de idade (Caso 10. Figuras 7 e 8.), teve uma acentuada aura
transicional antes da menstruação. A criança mais nova a exibir qualquer
aumento da aura ao lado do tronco tinha apenas doze anos e dois meses. Tratava-
se de uma menina muito alta, de desenvolvimento precoce. Outro exemplo de
crescimento precoce da aura é de uma menina bem desenvolvida sujeita a acessos
epilépticos que, à idade de treze anos, tinha uma aura infantil, mas, seis meses
depois, esta começou a se desenvolver. Uma segunda menina da mesma idade
possuía uma aura na fase transicional, e, a julgar por seu tamanho, devia ter
começado a crescer antes que a menina entrasse na adolescência. Ela era vigorosa
e saudável e tinha o desenvolvimento natural à sua idade.
Tanto quanto nos tem sido possível determinar, em regra geral a aura começa
a se expandir entre os catorze e quinze anos de idade, e, com uma ou duas
exceções, todas as meninas inspecionadas na idade entre quinze e dezoito anos
tinham auras transicionais. Uma jovem fraca de quase dezessete anos, que nunca
menstruara, conservava uma aura infantil perfeitamente formada. Uma mulher de
vinte e oito anos, cujas faculdades estavam muito abaixo da média, tinha uma
aura do tamanho e da forma de uma criança de dezesseis anos. Sua tia dizia que
"seus hábitos e suas faculdades mentais eram aproximadamente iguais aos de
uma menina daquela idade". Por outro lado, uma mulher bem formada de trinta
anos, com útero não desenvolvido, que só menstruara quatro vezes na vida,
estava circundada por uma aura muito nítida, maior do que a normalmente
observada. Outra mulher, de quarenta e dois anos, dezesseis anos após a remoção
de seus ovários, tinha uma aura normal dos lados do tronco, mas
excepcionalmente larga nas costas e na frente do corpo.
Não há nenhuma dúvida quanto ao desenvolvimento da aura feminina no
período da adolescência, mas permanece incerto se ele se deve inteiramente à
maturação funcional dos órgãos sexuais ou se outras mudanças do período
contribuem para esse desenvolvimento. Seja como for podemos dizer com
segurança, como se verá a seguir, que a menstruação tem um sutil efeito sobre a
aura, ao passo que a gravidez produz acentuadas alterações.
No momento, basta dizer que a aura pode ser naturalmente dividida em três
partes distintas.
Na primeira, há um espaço escuro transparente, que é estreito e em geral
obliterado pela segunda porção. Quando visível, parece uma faixa escura vazia,
não maior que um quarto de polegada, circundando o corpo e a ele adjacente, não
exibindo nenhuma alteração de tamanho em nenhuma região. A essa parte
chamaremos duplo etéreo.
A segunda é a aura interior. É a porção mais densa e varia comparativamente
pouco, ou mesmo não varia em seu todo, de largura, seja no dorso, na frente ou
dos lados, e tanto em homens como em mulheres segue o contorno do corpo. É
como se estivesse na superfície do duplo etéreo, mas frequentemente aparece
como se estivesse em contato com o próprio corpo.
A terceira porção, ou aura exterior, começa na parte distal da aura interior e
tem tamanho inconstante. É a margem externa extrema visível da nébula que tem
sido, até aqui, tida como o limite externo da aura. Quando se observa toda a aura
sem a intervenção de nenhuma tela, as duas últimas divisões parecem mescladas,
mas a parte mais próxima do corpo parece mais densa. Se, entretanto, uma tela de
carmim-claro for empregada, cada um dos fatores pode ser distinguido, ou se a
tela for escura e a luz for adequadamente disposta, a parte externa ficará
completamente eliminada.
As seguintes descrições são selecionadas de pessoas que estavam em gozo
de boa saúde, com idades variáveis do início da infância para cima. Estão
organizadas de acordo com a idade, primeiramente homens e, a seguir, mulheres.
Caso 1.
 
A., criança muito saudável, com quinze horas de vida, foi examinada deitada
sobre tecido preto na cama da mãe, Embora fosse vista em circunstâncias
adversas, sua aura era claramente visível, sendo de cor cinzenta matizada de
amarelo. Tanto quanto se podia distinguir, acompanhava o contorno do corpo.
Esta foi a mais nova criança já examinada, e talvez seja interessante notar que
tanto a mãe como a babá puderam ver a nuvem em redor dela quando olharam
através da tela escura de dicianina. Essa criança foi examinada uma segunda vez,
com a idade de quatro meses, sob condições mais favoráveis, sobre um sofá, com
um tecido preto sobre ela. Sua aura seguia o contorno do corpo e tinha de largura
pouco mais de uma polegada, com exceção da parte em redor da cabeça, onde era
mais larga. A cor mudara para um cinza-azulado escuro.
 
 
Caso 2.
 
B., um menino saudável de quatro meses, foi examinado deitado sobre
tecido preto e com um fundo preto por trás dele. A aura pode ser facilmente
detectada e tinha uma cor cinza-azulado. A exterior parecia ter aproximadamente
uma polegada de largura, em torno do corpo e membros, mas dos lados da cabeça
era um pouco mais larga do que a amplitude de seus ombros. Através da tela
escura de carmim, a aura interior aparecia muito bem-definida de três quartos de
polegada de largura e exibia estriação bem marcada.
 
 
Caso 3.
 
 
Figuras I e 2.) C., um menino vigoroso, saudável, com cinco anos de idade,
de pé, de frente para o observador. Sua aura parecia ter cerca de seis polegadas de
largura em torno da cabeça. Ao longo dos lados do tronco tinha aproximadamente
três polegadas e três quartos de amplitude, sendo um pouco mais estreita junto às
coxas e pernas. A aura interior era bem visível, tendo de largura, junto ao tronco,
aproximadamente duas polegadas e cerca de uma polegada e um quarto junto às
pernas. Quando se virou de lado, a aura exterior tinha duas polegadas na frente e
a interior perto de um quarto de polegada menos. Essas duas medidas diminuíam
ligeiramente mais para baixo. No dorso, a aura tinha aproximadamente duas
polegadas e meia de largura junto ao tronco, e se contraía à medida que descia. Aí
também a aura interior media cerca de um quarto de polegada menos que a
externa. Sua cor era um cinza-azulado.
Vale a pena lembrar que nas crianças, especialmente nos meninos, a aura
interior é geralmente tão larga quanto a exterior, e ocasionalmente há uma
pequena dificuldade em separar uma da outra.
 
 
 
 
 

Caso 4.
 
D., um jovem de catorze anos de idade, era muito alto e sempre gozara de
boa saúde. Sua aura sempre foi bem nítida e de uma cor cinza-azulado. Quando
de frente para o observador, sua aura exterior tinha sete polegadas em torno da
cabeça, quatro polegadas dos lados do tronco e três polegadas e meia ao longo do
resto do corpo. A aura interior media duas polegadas de largura em torno de todo
o seu corpo. O duplo etéreo era visível, tendo um oitavo de polegada de largura.
Quando estava de lado, sua aura exterior media cerca de três polegadas de largura
no dorso junto aos ombros e às nádegas, descendo depois em linha reta. Tinha a
mesma medida sobre toda sua extensão frontal.
 
 
Caso 5.
 
(Figuras 3 e 4.) E., um atleta profissional, com trinta e três anos de idade.
Era bem proporcionado em tudo, e de saúde robusta. A cor de sua aura era azul
com um pouco de cinza. A aura exterior media oito polegadas em torno da
cabeça e cinco polegadas ao longo de todo o tronco, braços e pernas. A aura
interior era extremamente nítida, medindo três polegadas de largura, e sua
estriação era bastante fácil de ver. Uma visão lateral demonstrou que a aura
interior tinha a mesma largura nas costas, na frente e dos lados, mas a aura
exterior era um pouco mais estreita na frente do que nas costas. O duplo etéreo
era bem-definido, cerca de um quarto de polegada de largura. Esta aura tinha uma
textura inusitadamente grossa.
Depois de muita dificuldade, um negro puro, nativo dos Estados Unidos, foi
ajustado para exame.
 
 
 
 
 
 
Caso 6.
 
F., um negro saudável de cinquenta anos de idade, foi examina- do em 1912.
Era alto e bem constituído um espécime típico de sua raça. Sua aura exterior era
de um homem normal em torno do corpo, onde média cinco polegadas de largura,
mas era estreita junto à cabeça, onde só tinha sete polegadas. A largura da aura
interior era de três polegadas ao longo de todo o corpo, e havia estriação, embora
a princípio fosse difícil de distinguir. A dificuldade era manifestamente devida à
cor e não a falta de definição, Era uma névoa opaca de cor castanho-acinzentado.
Não sobressaía contra o fundo de cor preta tão distintamente quanto as auras
cinza-azulados comuns. Por outro lado, era facilmente visível através de uma tela
azul-claro quando o fundo era branco. As faixas de cores complementares (veja o
Capítulo V), fazendo-se o devido desconto da cor da pele, eram uniformes em
todo o corpo e aparente- mente normal. A atração mútua das auras que
emanavam do sujeito e das mãos do observador será descrita mais adiante.
 
 
Caso 7.
 
G., um bebê feminino deitado na cama da mãe, foi examinado com uma
semana de vida. As condições externas eram desfavoráveis, mas com alguma
dificuldade a aura foi percebida como uma névoa esverdeada seguindo o
contorno do corpo, sendo muito estreita, porém mais ampla em torno da cabeça.
Quando a criança tinha quatro meses (compare A., Caso 1, e B., Caso 2) foi
examinada uma segunda vez em melhores condições. A aura foi muito difícil de
detectar, pois não era tão distinta quanto se esperava. Parecia ter apenas meia
polegada de amplitude em torno do corpo, sendo um pouco mais ampla em torno
da cabeça. O aspecto mais interessante desse caso era que a cor tinha mudado de
esverdeado para um matiz de cinza.
 
 
Caso 8.
 
H., uma criança frágil, foi examinada aos quatro anos de idade. Era uma
menina bem pequena, mas de boa saúde. Tinha uma aura extensa para uma
menina de sua idade e de seu tamanho. A aura exterior media três polegadas em
torno de todo o corpo, exceto a cabeça, onde média cinco polegadas. A aura
interior média cinco polegadas de largura, sendo distinta e estriada. A cor era azul
puro.
 
 
Caso 9.
 
(Figuras 5 e 6.) I., uma menina alta de nove anos, foi recentemente
examinada. Ela apenas tivera as doenças próprias da infância. A cor de sua aura
era muito peculiar - verde, amarelo e cinza justapostos, mas não mesclados. (Veja
o Capítulo III.) A aura exterior media oito polegadas em torno da cabeça, sendo
extraordinariamente larga e excepcional para uma criança. Em volta do tronco e
dos membros, tinha a forma infantil usual e sua amplitude era média, isto é, no
tronco media três polegadas e, daí para baixo, um pouco menos. A aura interior
media cerca de duas polegadas e meia de largura, exibindo estriação nítida, sendo
exatamente o que seria de esperar em se tratando de uma menina de boa saúde. O
interesse maior está no tamanho notável da aura em torno da cabeça. (Compare
com o Caso 15 num adulto.) É mais que provável que, quando for adulta ela será
uma mulher inteligente.
 
 
 

 
Caso 10.
 
(Figuras 7 e 8.) J. sempre foi muito saudável e sua aura tem sido examinada
de vez em quando, permitindo assim que seu desenvolvimento fosse observado
em diferentes períodos de sua adolescência. Quando foi examinada pela primeira
vez, em janeiro de 1911, ela tinha doze anos e meio, e suas duas auras eram
distintas e normais para uma menina dessa idade. A exterior média seis polegadas
de largura em torno da cabeça, e quando ela ficava de frente para o observador,
media três polegadas e meia ao longo do tronco, contraindo-se um pouco junto
aos membros inferiores. Quando se virava de lado, tinha a mesma largura ao
longo de todo o corpo, tanto atrás como na frente. A aura interior mostrava
estriação normal e tinha duas polegadas e meia de largura.
Em dezembro do ano seguinte, ela tornou a ser examinada, contando, a essa
altura, catorze anos e meio de idade. Seu corpo começava a se desenvolver, e ela
já menstruara uma ou duas vezes. Sua aura exterior permanecia do mesmo
tamanho em redor da cabeça, mas, vista de frente para o observador, crescera
para cinco polegadas junto ao tronco e não se modificara junto às pernas. Uma
visão lateral mostrou um alargamento de meia polegada em frente do corpo,
enquanto que na região lombar tornara-se uma polegada e meia mais larga. A
aura interior não sofrera nenhuma alteração.
Após outros doze meses, toda a aura se expandiu. Alcançara sete polegadas
ao redor da cabeça, seis e meia junto ao tronco e três e meia junto às pernas. Vista
de lado, media três e meia polegadas na frente, seis na altura dos rins e três e
meia junto às pernas.
Após um lapso de outros dois anos e três meses, sua aura foi examinada pela
quarta vez. Seu desenvolvimento físico estava dentro do normal para a idade, que
era de quase dezoito anos. A aura atingiu a forma adulta, embora, talvez ainda
viesse a se expandir, mas com certeza não muito. De frente para o observador,
media em redor da cabeça e junto ao tronco nove polegadas, e, junto das pernas,
quatro e meia, compondo uma forma perfeitamente oval. Quando se virou de
lado, a aura média seis polegadas na região lombar e quatro e meia no restante do
corpo.
 
 
 
 
Caso 11.
 
(Figuras 9e 10.). K. O que vem a seguir é um exemplo de uma aura de forma
perfeita, de largura média, envolvendo uma jovem de vinte e três anos de idade,
modelo artístico, sendo sua profissão uma garantia suficiente de que fosse bem
constituída. É esperta, inteligente e muito saudável, nunca tendo padecido de
nenhuma doença séria. Ao serem examinadas, suas auras atingiam o padrão
médio de distinção e tamanho, a exterior sendo de oito polegadas em volta da
cabeça e nove junto ao tronco. A curva do ovoide começava acima da cabeça e
terminava junto aos pés, onde média de largura dez polegadas. Era bastante
simétrica. Uma vista de perfil mostrou que a aura externa tinha quatro polegadas
e meia na frente do tronco, contraindo-se para quatro junto às pernas, ao passo
que, no dorso, media seis polegadas, descendo em linha reta desde os ombros até
as nádegas. Sua cor era cinza-azulado.
A aura interior era distinta e sua estriação podia ser distinguida com
facilidade. Media três polegadas e meia junto ao tronco, na frente, dos lados e nas
costas, mas só três polegadas junto às pernas.
Quando sua aura foi mostrada a vários médicos, houve oportunidade para se
observarem alguns efeitos interessantes. Uma vez, quando ela estava de pé com
as mãos pendentes dos lados do corpo, apareceram simultaneamente, de súbito,
três raios brilhantes, todos procedentes de uma longa distância além dos limites
visíveis da aura exterior. Não se descobriu nenhuma causa manifesta para esse
fenômeno, que perdurou por tempo considerável. Outra ocasião, ficando o lugar
um tanto superaquecido, a mulher se sentiu fraca. O primeiro indício dessa
condição foi que ambas as auras escureceram; subsequentemente, quando ela se
recobrou, as auras gradativamente voltaram a seu estado normal.
 
 
 

 
Caso 12.
 
(Figuras 11 e 12.) L., uma senhora de constituição vigorosa, com faculdades
intelectuais certamente acima da média, foi examinada recentemente. Era robusta
e cheia de energia, e sua aura, como seria de esperar, era grande e de textura fina.
A cor era azul e nítida. A aura media nove polegadas em torno da cabeça, dez nos
lados do corpo e gradativamente contraía-se para cinco junto aos pés, formando
um perfeito ovóide. Uma vista lateral mostrou cinco polegadas na frente e oito à
altura dos rins, sem nenhuma curva dorsal. A nitidez era extraordinária na aura
interior, que media quatro polegadas de largura em torno de todo o corpo e
membros inferiores. Um aspecto interessante era que a nitidez da extremidade
distal da aura exterior não exibia a agudeza comum e dava a impressão de uma
névoa quase imperceptível mais além, fenômeno raramente presente salvo
quando a aura é larga. Foi chamada de aura ultra-exterior. (Veja na página 45 o
Capítulo III.) O exemplo seguinte é de uma aura de menor grau, a completa
antítese da que acabamos de descrever.
 
 
 
Caso 13.
 
(Figuras 13 e 14.) M., uma mulher minúscula, mas bem feita, de vinte e oito
anos, teve sua aura examinada em 1913. Nunca estivera seriamente enferma, mas
suas faculdades mentais estavam decididamente abaixo: do padrão normal.
A cor de sua aura era cinza quase sem matizes azuis, indicando, assim, um
tipo essencialmente inferior. Na forma e no tamanho, embora seu pleno
desenvolvimento tivesse sido alcançado, correspondia à forma transicional
normalmente encontrada entre meninas na adolescência. De frente para o
observador, em redor da cabeça e dos lados do tronco a aura exterior tinha uma
largura de apenas seis polegadas, contraindo-se para três polegadas nos membros
inferiores. Vista de lado, media três polegadas na frente, mas nas costas tinha
uma protuberância mais larga na região da cintura, onde media sete polegadas. A
aura interior media cerca de duas polegadas por todo o corpo, sendo levemente
estriada.
 
 
 
 
 
 
 
 

Caso 14.
 
(Figura 15.) N. era uma mulher casada de vinte e cinco anos de idade. A
forma de sua aura era bastante comum para sua idade, mas distinguia-se por
apresentar vários raios emanando do corpo ao mesmo tempo. Havia dois feixes,
cada qual procedente de um ombro, dirigindo-se para cima; outro descia da axila
direita; e outro subia a partir da crista ilíaca. Quando ela se virou de lado, um
quinto feixe, pequeno, podia ser visto emanando de um pequeno tumor fibro-
adenoidal do seio esquerdo.
 
 
Caso 15.
 
(Figura 16.) O., uma senhora que acabara de completar vinte e três anos de
idade, nunca tivera nenhuma doença séria, mas nunca fora robusta, e sofria os
efeitos de excesso de trabalho e de não fazer exercícios adequados. Queixava-se
de palpitações frequentes e de grande fadiga. Não havia nada organicamente
errado com ela, e depressa se recuperou. A principal peculiaridade era a forma de
sua aura exterior, que media doze polegadas junto à cabeça e onze junto ao
tronco, contraindo-se para quatro junto aos pés, sendo sua curva bastante
acentuada. Uma vista lateral mostrou que a aura era normal na frente, medindo
quatro polegadas de largura, mas nas costas, em sua parte mais ampla, media oito
polegadas e tinha forma de arco, começando na cabeça e encurvando-se para o
exterior até o nível da cintura, de onde se voltava para dentro até os pés. A aura
interior media duas polegadas e meia em torno de todo o corpo, e não exibia a
nitidez usual, devido ao seu estado de saúde; não obstante, podia-se detectar seu
contorno. Em exame subsequente, sua aura interior readquirira a nitidez normal.
Há um outro tipo de aura que só ocasionalmente é encontrada entre as
mulheres. Tem a largura usual dos lados do tronco e se contrai muito levemente
junto as coxas e as pernas, daí seguindo em linha reta para baixo. Geralmente, a
aura exterior é igualmente larga tanto nas costas como na frente, e é uniforme ao
longo dos membros inferiores. Sua margem livre é de nitidez ordinária e não há
sinal da aura ultra-exterior. A aura interior, outrossim, é mais larga que a média.
Considerando-a em sua totalidade, ela se aproxima muito de uma aura masculina
de largura extraordinária. O seguinte exemplo é bem ilustrativo.
 
 

 
Caso 16.
 
(Figuras 17 e 18.) P., uma jovem naturalmente vigorosa, bem constituída, de
vinte e cinco anos de idade, veio a nós para que examinássemos sua aura em
1918. A aura exterior, estando ela de frente para o observa- dor, era de tamanho
médio, medindo nove polegadas e meia em torno da cabeça, nove junto ao tronco
e, na sua parte mais larga junto às coxas, media seis polegadas, continuando essa
mesma medida ao longo das pernas até os pés. Isto fazia a curva do flanco para a
coxa pequena. Uma visão de perfil mostrou que a aura tinha seis polegadas de
largura na frente sem nenhum estreitamento em parte alguma. Nas costas, descia
em linha reta, medindo, nas coxas e pernas, seis polegadas, e, claro, sendo um
pouco mais larga na região lombar.
 

 
Nada havia de notável na sua aura interior, que apresentava estriação e
media cerca de três polegadas e meia em torno do corpo. A cor da aura era cinza-
azulado.
Como a hereditariedade representa um papel tão importante na determinação
das qualidades de muitos fatores constitutivos do corpo, seria, na verdade,
estranho se algumas das peculiaridades da aura não fossem transmitidas à
descendência. Os poucos casos coletados de dois ou mais indivíduos de uma
mesma família, mostram que essa suposição é provavelmente correta, mas uma
confirmação absoluta exigirá longo estudo e pesquisas extensas. A análise
completa de uma aura deve incluir observações sobre a textura tanto quanto sobre
o tamanho e a forma. Na prática, verificou-se ser impossível comparar
diretamente a textura de várias auras individuais, mesmo que da mesma família,
pois o exame de duas ou mais pessoas não pode ser feito simultaneamente, e em
geral transcorre muito tempo entre os exames. É bastante fácil comparar o
tamanho e a forma de auras de adultos umas com as outras, quando eles são do
mesmo sexo, mas as dificuldades começam a surgir logo que a comparação tenha
que ser feita entre as auras de um homem e de uma mulher ou entre a de uma
mulher e a de uma criança, já que o tipo masculino é bastante diferente do
feminino. Praticamente, o único método é o de medir a largura da aura sobre o
tronco com o sujeito de frente para o observador.
Para tal fim, alguma escala é indispensável. É quase certo que a altura de
uma pessoa tem apenas uma pequena influência sobre a largura da aura, uma vez
que a aura de uma pessoa alta não parece ser muito mais larga, se na verdade é
mais larga, que a de uma pessoa baixa, o que elimina qualquer pretensão de se
estabelecer uma proporção entre a altura do sujeito e a largura de sua aura. Além
disso, devemos lembrar que as crianças têm auras relativamente mais largas em
relação a sua altura do que os adultos. Para aumentar a dificuldade, as
anormalidades também devem ser levadas em consideração.
Desvios similares são encontrados às vezes em vários membros de uma
mesma família. Como está excluída a possibilidade de haver uma proporção entre
a altura do paciente e a largura de sua aura, parece só haver um método, e esse
mesmo insatisfatório, para se obter um padrão necessário. Isto é, fixando
arbitrariamente os limites das dimensões médias da aura e considerando
quaisquer desvios dessas dimensões como sendo anormais. Assim, todas as auras
podem ser divididas em três categorias, a saber, largas, médias e estreitas. De
modo geral, a aura de uma mulher pode ser considerada média quando medir de
oito a dez polegadas de largura nos lados do tronco nas partes mais largas.
O padrão para os homens é de quatro a cinco polegadas, e para crianças
entre duas e meia a três e meia. Como as auras das adolescentes estão mudando
de mês em mês, será necessário considerar cada uma de per si, pois não é
possível estabelecer nenhuma outra norma. Esses números são os resultados
unicamente da experiência e não pretendem ter exatidão científica. É em geral
muito difícil decidir se um caso deve ou não ser classificado como médio.
Um exemplo será suficiente para esclarecer isso. Suponha que a aura de uma
mulher, nos lados do tronco, seja um pouco mais larga que os limites
estabelecidos como médios, e que se contraia prematuramente junto às coxas e
pernas mais do que o normal, sendo, na verdade, do tipo espatulado (página 128);
em que categoria deveria se enquadrar? O caso deve ser tratado individualmente.
As seguintes tabelas contêm todos os exemplos de indivíduos da mesma
família examinados até o fim de 1918. A primeira tabela está relacionada com
casos em que há duas ou mais gerações envolvidas, e a segunda, com casos
pertencentes à mesma geração. Em dois exemplos, as mesmas pessoas aparecem
em ambas as tabelas. As idades dos pacientes são referentes às datas de seu
exame.
 
 
 

 
Como o tipo de uma certa aura depende, em grande parte, do temperamento,
que por sua vez é uma característica transmitida, parece quase certo que os
principais atributos das auras são hereditários, e em certos casos serão mantidos
mais ou menos inalterados durante a vida, se não forem modificados por doenças.
De acordo com isso, verificar-se-á que as auras de crianças espertas e
inteligentes, mesmo novas e inexperientes, são mais amplas que as das crianças
calmas e apáticas, muito embora estas últimas tenham o físico mais avantajado.
As primeiras, provavelmente, também, possuirão auras acima, e as últimas
abaixo, do padrão geral de tamanho, já que nos adultos prevalece a mesma regra,
as melhores auras circundando as pessoas mais inteligentes, e as menores
envolvendo pessoas obtusas ou de tipo intelectualmente baixo. Isto não se vê
apenas em torno do corpo, mas evidencia-se ainda mais em torno da cabeça; e é
mais notável entre os homens do que entre as mulheres, já que as auras daqueles
não se expandem tanto em redor do tronco. Auras de mulheres são mais variáveis
que as de homens, mas os melhores espécimes invariavelmente pertencerão a
pessoas naturalmente inteligentes e enérgicas, sem tendência a sintomas
neuróticos. Na descrição acima apresentada, subentende-se uma perfeita saúde.
A textura, outra característica a considerar, é de manejo mais difícil, pois a
delicadeza de suas modificações por vezes desafia qualquer tipo de descrição.
Ver-se-á que a aura interna é mais bem-definida e mais larga em pessoas de
ambos os sexos que sejam naturalmente robustas e gozem de boa saúde, mas
mais fraca em sujeitos fracos, o que revela serem as potencialidades físicas e não
as mentais os principais fatores de energia dessa porção.
Em geral, a textura da aura externa dos homens é mais grossa que a das
mulheres; mas, fazendo-se o devido desconto disso, finura e transparência podem
ser consideradas características de um tipo superior de aura. Mais adiante
demonstraremos que quanto maior for o componente cinzento na cor da aura,
tanto mais obtuso e mentalmente deficiente será a pessoa.
A educação é um fator que, teoricamente, deveria ter uma enorme influência
refinadora, mas quaisquer mudanças por ela induzidas são tão delicadas a ponto
de ser imperceptíveis por nossos atuais métodos de exame.
A influência da hereditariedade e do temperamento sobre a aura é uma parte
fascinante deste assunto, e não é preciso ser profeta para antever que os
pesquisadores que trabalharem nessa direção colherão uma rica messe.
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II
 

O DUPLO ETÉREO
 
 
Temos agora que voltar nossa atenção para a estrutura da aura. Como seria
de esperar, trata-se de um fenômeno que não é simples, mas complexo, e pode ser
dividido em três partes bem distintas, com o acréscimo de uma quarta para maior
conveniência. Os nomes dados às diferentes partes são respectivamente Duplo
Etéreo, Aura Interior e Aura Exterior, ao passo que o quarto elemento
constitutivo se chama Aura Ultra-exterior.
O Duplo Etéreo. Logo que a aura foi detectada, uma característica sua atraiu
a atenção. À primeira vista, essa característica foi considerada meramente como
uma ilusão de óptica, mas com o prosseguimento das investigações viu-se que era
bem real. Trata-se do duplo etéreo. Pode ser visto com frequência, através de
telas de diferentes cores, como uma faixa escura adjacente ao corpo e seguindo-
lhe os contornos, separando este último da verdadeira aura. Comumente, tem de
um dezesseis avos a um oitavo de polegada de largura, raramente mais, mantendo
uma amplitude uniforme em torno de todo o corpo. Na doença, esse espaço, às
vezes, parecerá muito mais amplo, mas tratar-se-á, então, presumivelmente, de
uma condição patológica e, decerto, não idêntico ao fenômeno natural. O seu
tamanho varia com diferentes pessoas, e mesmo na mesma pessoa sob condições
alteradas. Ocasionalmente, é tão notável que pode ser visto mesmo num casual
relance de olhos; outras vezes é necessário um exame muito cuidadoso para sua
identificação, sendo muitas vezes imperativo o uso de uma tela especial. Em
casos em que haja dificuldade de distingui-lo, a aura propriamente dita está
aparentemente muito próxima do corpo, mas, mesmo assim, uma observação
cuidadosa revelará em geral uma diferença de estrutura, cujos detalhes podem ser
elucidados por meio de telas coloridas.
A experiência tem demonstrado que as pessoas que com mais frequência
exibem plenamente o duplo etéreo são pacientes com tendência neurótica, em que
a aura não atinge completamente o padrão normal de brilho. Se a aura é mais
distinta de um lado do que de outro, o duplo etéreo é, às vezes, mais pronunciado
no lado mais fraco e só com dificuldade pode ser detectado no lado brilhante. O
seguinte caso exemplificará essas condições.
 
Caso 17.
 
X. E., uma jovem de dezoito anos de idade. Sua aura, para sua idade, era
ampla e espatulada (página 128), mostrando um traço da aura ultra- exterior, que
era mais distinta junto aos membros inferiores, assim fazendo a forma parecer
quase normal. Essa aura ultra-exterior parcial só tem sido vista poucas vezes. O
abaulamento histérico usual era acentuado nas costas. A aura exterior média dez
polegadas junto à cabeça e ao tronco, e se contraía acentuadamente na parte
superior das coxas, diminuindo para quatro polegadas e meia nos tornozelos;
vista de lado, media seis polegadas na frente, e no ponto mais largo, a saber, na
região lombar, dez polegadas. A interior era toda estriada, mas no lado esquerdo
não era de modo algum tão brilhante como no lado direito, onde era normal. O
duplo etéreo, com cerca de um oitavo de polegada de largura, podia ser visto à
primeira vista ao longo de todo o lado esquerdo, mas, do lado direito e na frente,
só podia ser detectado com grande dificuldade. Nas costas, desde a altura dos
ombros até o meio da região glútea era duas vezes mais largo, e daí para baixo ao
longo da coxa esquerda reassumia sua largura anterior.
Os experimentos simples, detalhados abaixo, devem agora ser feitos com um
sujeito dotado de um duplo etéreo bem nítido. O sucesso completo pode não ser
obtido de uma única vez, já que condições indeterminadas não raro exercem
alguma influência. Por essa razão, pode-se ter que dedicar aos experimentos
considerável espaço de tempo, mas como os resultados são atualmente apenas de
importância teórica não será preciso obtê-los para fins de diagnose.
Qualquer porção do corpo pode ser utilizada, mas talvez a parte mais
conveniente seja o braço e a mão, já que a investigação é mais prolongada do que
o espaço de tempo que a maioria das pessoas se dispõe a permanecer descoberta.
O braço e a mão proporcionam uma outra vantagem - o observador pode, com
muito pouco trabalho, utilizar os seus próprios membros. Logo que o sujeito
tenha sido colocado em postura adequada, será aconselhável o observador
sensibilizar os próprios olhos, da maneira usual, com a tela escura de dicianina.
 
Experimento 1.
 
Inspecione o braço e a mão de um sujeito contra um fundo preto através de
uma tela azul-escuro. O duplo etéreo aparecerá então como uma faixa escura sem
nenhuma estriação ou granulação, adjacente ao corpo e bastante distinta da aura
propriamente dita.
 
Experimento 2.
 
Substitua o fundo preto por um fundo branco e regule a luz com precisão. O
duplo etéreo será então percebido como uma linha escura.
 
Experimento 3.
 
Empregue uma tela verde em vez da azul. Contra o fundo preto, o duplo
etéreo será visto como uma linha escura, mas não tão nítida como quando a tela
azul foi usada. A aura, também, será visível mas menos distinta.
 
Experimento 4.
 
Quando a mesma tela é usada com o braço do sujeito perante um fundo
branco, em penumbra, o duplo etéreo é escuro.
 
Experimento 5.
 
Se se escolher, a seguir, uma tela amarela, o duplo etéreo permanecerá
escuro, tanto contra um fundo claro como contra um fundo escuro.
 
Experimento 6.
 
Frequentemente, quando examinado através de uma tela vermelho-escuro, o
duplo etéreo continuará como uma faixa preta em redor do corpo, semelhante ao
seu aspecto quando visto através de outras telas, porém mais definido.
Ocasionalmente ele aparecerá, em vez de um espaço vazio, finamente granulado
com tendência a estriação, mas como algo muito diferente da aura interna, na cor
e na textura.
 
Experimento 7.
 
Quando se examina o duplo etéreo contra um fundo branco através de uma
tela carmim-escuro com a iluminação adequada, ele pode se tornar róseo e muito
diferente do matiz carmim que o fundo branco assumiu. Examinado atentamente,
parecerá estriado e as finas estrias parecerão a fonte de sua cor.
 
Verificou-se que o uso de telas coloridas é absolutamente necessário para se
detectar certos componentes, bem como para se elucidar alguns dos atributos da
aura, de sorte que não será demais consignar aqui algumas palavras sobre a ação
das diferentes telas, embora essa digressão possa parecer muito elementar. Como
todas as cores se comportam de maneira análoga, só consideraremos
detalhadamente o vermelho.
 
Primeiro - Vistos através de uma tela vermelho-escuro, todos os objetos
brancos parecerão vermelhos, substâncias vermelhas tornar-se-ão de um matiz
mais claro e todas as outras cores ficarão mais escuras. Poder-se-á ver isso
claramente se, à luz diurna comum, colocarmos um pedaço de papel branco e um
pedaço de papel preto um ao lado do outro, e pusermos, transversal- mente sobre
eles, uma tira de papel vermelho não muito escuro, ficando metade sobre um e
metade sobre o outro. Quando esse arranjo é examinado através de uma tela
vermelho-escuro o papel vermelho perde quase toda a sua cor, e o contraste entre
ele e o papel preto será aumentado. Por outro lado, a tira de papel vermelho e o
papel branco parecerão quase da mesma cor.
 
Segundo - Mantenha os papéis na mesma posição e observe-os através da
tela vermelho-claro. O papel vermelho terá então um matiz mais es- curo, mas o
contraste entre ele e o papel branco permanecerá inalterado, cada qual tendo
ganho proporcionalmente mais cor vermelha.
Teoricamente, o papel vermelho deveria aparecer com mais destaque contra
o preto, mas o resultado depende da pureza do preto.
Se o papel vermelho tiver um matiz muito escuro, o contraste entre ele e o
papel preto permanecerá inalterado, ao passo que o contraste entre o papel
vermelho e o branco ficará diminuído.
A razão desses efeitos é óbvia quando nos lembramos que a luz branca do
dia é composta de todas as cores do espectro solar visível, e que um objeto
aparece como branco quando reflete a totalidade dessas cores nas proporções
adequadas, mas torna-se colorido quando reflete uma porção do espectro,
absorvendo sua porção restante. Na maioria dos casos, um objeto absorve uma
porção limitada de luz, de modo que reflete seus próprios raios coloridos com
acréscimo de mais ou menos luz branca. O matiz depende da proporção de luz
branca misturada com os raios coloridos, e é realmente uma expressão C
quantitativa. Se a luz branca que está sendo refletida pelo objeto colorido ti- ver
esses raios, que são similares aos absorvidos pelo objeto, abstraídos por
quaisquer meios, então o objeto terá matiz mais escuro. É isto o que as telas
coloridas fazem.
Como a luz do dia é de quantidade limitada, uma tela vermelho-escuro a
absorverá por completo, com exceção dos raios vermelhos, que são transmitidos
através dela para os olhos. Esses raios também são limitados na quantidade. O
papel branco, no experimento acima referido, reflete praticamente toda a luz
diurna que sobre ele incide, inclusive os raios vermelhos. Esses são os únicos
raios não absorvidos pela tela. Consequentemente, o papel branco, quando é visto
através da tela vermelha, deve parecer vermelho. O papel vermelho se não for
escuro demais, reflete os raios vermelhos misturados com uma grande porção de
outros que são absorvidos pela tela vermelha. O papel vermelho e o papel branco
parecem quase da mesma cor quando vistos através da tela vermelha, devido ao
fato de que o primeiro absorve uma porção da luz branca que, se fosse refletida
(como o é pelo papel branco), seria absorvida pela tela. Quando substituímos a
tela vermelho-escuro por um vermelho- claro, todos os raios vermelhos serão
transmitidos com o acréscimo de uma grande quantidade dos restantes raios do
espectro, de modo que o papel vermelho terá sua cor intensificada ao ser
observado através dessa tela. Será necessário ter em mente que a tela vermelho-
claro atua sob luz amortecida precisamente da mesma maneira que a vermelho-
escuro o faz sob luz intensa. Quando esses experimentos são repetidos, os
resultados podem não sair exatamente como são aqui descritos. Isso se deve às
diferenças nas cores utiliza- das e à quantidade de luz empregada, mas o princípio
permanecerá válido.
Outro experimento se faz necessário. Se examinarmos um carvão em brasa
(vermelho vivo), tanto no escuro como no claro, através de uma tela vermelha de
qualquer matiz, a cor vermelha do carvão parecerá intensificada, pois tem luz
própria, e desse modo cor se adiciona a cor.
E razoável deduzir desses experimentos que o duplo etéreo é bastante
transparente e circunda rigorosamente todo o corpo. Quando observado sob
condições muito favoráveis, é distintamente estriado com delicadas linhas de
matiz mais escuro que o do estroma circundante, aparentemente homogêneo.
É provável que a totalidade do duplo etéreo receba sua cor dessas linhas
coloridas. O matiz é um belo rosa que certamente contém mais azul do que o
carmim. É difícil entender como essa coloração rósea possa ser vista contra um
fundo branco colorido com a tela carmim, e até agora não há explicação
satisfatória para isso, a menos que o duplo etéreo tenha luz própria, isto é, seja
luminoso, ou que haja aí envolvido algum fenômeno relacionado com a porção
ultravioleta do espectro.
 
 
 
 
Capítulo III
 
A AURA INTERIOR
 
A aura propriamente dita situa-se logo fora do duplo etéreo. Por algum
tempo, foi considerada indivisível, conquanto a parte mais próxima do corpo seja
evidentemente mais densa, e tenha textura diferente da porção mais distante; não
obstante, uma parecia mesclar-se à outra demasiado gradativa- mente para ser
tratada em separado. Após muitas tentativas, verificou-se ser possível dividir a
aura em duas partes distintas, com o auxílio de telas colori- das, além das telas
contendo dicianina. Essas partes são conhecidas como auras exterior e interior.
As novas telas foram responsáveis por um grande aumento de nosso
conhecimento sobre o assunto, por abrir um maior campo de observação no caso
das doenças, permitindo uma explicação de vários fenômenos que anteriormente
eram inexplicáveis.
As telas mais úteis para a presente finalidade são C, carmim profundo; Ca,
carmim claro; e A, azul-claro (azul-de-metileno). Depois de o paciente ter sido
inspecionado da maneira ordinária sem tela, a aura pode ser examinada através de
A. Com seu auxílio as duas auras podem ser claramente distinguidas. A interior
parecerá mais densa e geralmente mais granulada, sua margem exterior mais
definida, mas sua estrutura incompletamente diferenciada. A aura exterior
destaca-se plenamente, e sua extremidade distal pode ser percebida com razoável
precisão, de modo que seu tamanho e forma podem ser notados. A seguir, a tela
Ca pode ser empregada, quando a aura exterior ficará mais ou menos eliminada,
de acordo com a luz admitida e o matiz da tela. Esses fatores devem ser
arranjados de tal modo que as duas auras sejam visíveis, permitindo que a
amplitude da aura interior, tal como vista através da tela A, seja verificada.
Por último, examina-se a aura através da tela de cor carmim-escuro, C,
quando muito mais luz será necessária. É razoável esperar que a tela C corte
alguma parte da aura interior bem como a totalidade da aura exterior. Entretanto,
a conclusão a que chegamos, após repetidos ensaios, é a de que nenhuma
obliteração ocorre quando a luz é adequadamente regulada. É especialmente para
prevenir esse erro que a largura da aura interior tem de ser determinada pelas
telas A e Ca. A aura interior, quando vista através da tela de carmim profundo,
geralmente tem uma largura entre aproximadamente uma polegada e meia e três
polegadas e meia, de acordo com a idade e a individualidade do paciente, sendo,
talvez, relativamente mais larga, embora absolutamente mais estreita, numa
criança do que num adulto. Quando o observador adquire prática, pode poupar
tempo, omitindo o exame através das telas de carmim-claro e azul.
Na saúde, os limites da aura interior são determinados pela distância atingida
pelas estrias, quando examinadas através da tela carmim-escuro. Via de regra, a
largura é uniforme em todo o redor da cabeça e do tronco, e geralmente, mas não
sempre, um tanto mais estreita ao longo dos membros. Ocasionalmente, tanto em
pessoas do sexo masculino como do feminino, ela se torna mais larga e de textura
mais grossa, de acordo com o local. Mas como a estriação pode ser discernida,
embora talvez com dificuldade, não pode haver dúvidas sobre as suas margens.
Isso é completamente diferente do que ocorre em distúrbios físicos locais. A
posição mais comum para o alargamento é nos lados da cintura nas mulheres, e, a
seguir, na altura dos rins, entre os homens, mas uma aparência granulada nesta
última situação é geralmente patológica e será descrita mais adiante. As mulheres
costumam apresentar alargamentos da aura em frente dos seios e do abdômen, ao
que no referiremos no capítulo dedicado à gravidez.
Via de regra, a aura interior acompanha o contorno do corpo, sua
extremidade proximal estando em justaposição ao duplo etéreo, ou, na maioria
dos casos, aparentemente, ao próprio corpo. A margem externa é livre, irregular-
mente crenada com largas curvas. A estrutura consiste em grãos excessivamente
finos, arranjados de modo a ter uma aparência estriada. As estrias, também, são
indescritivelmente finas, paralelas entre si e em ângulo reto com o corpo. Não
exibem nenhuma cor intrínseca. Parecem estar reunidas em feixes, as linhas mais
longas ao centro e as mais curtas por fora. Esses feixes são reunidos entre si e
suas formas produzem os lineamentos da aura interior. Na maioria das pessoas
saudáveis, a estriação é visível sem a menor dificuldade, ao passo que, em outras
de constituição delicada ou durante alguma doença ela só pode ser detectada, no
melhor dos casos, por um cuidadoso arranjo de luz e seleção da tela adequada.
Onde quer que essa aura avance sobre o duplo etéreo, praticamente o
obliterará, e esse fato suscita a questão de saber se seus grânulos não estarão
sempre presentes no duplo etéreo, embora invisíveis, ou se eles são
exteriorizados por alguma força que emane do corpo, deixando-o assim
destituído de todos os grânulos e, em consequência, bastante transparente. Na
parte final do último capítulo, essa questão foi considerada quando o paciente
gozava de boa saúde, e a conclusão a que chegamos foi de que o duplo etéreo não
continha grânulos. No último parágrafo, foi dito que a aura interior, até onde se
pode descobrir, não possuía cor, e no Capítulo II, as estrias do duplo etéreo
pareciam ser a origem da cor rósea ocasionalmente percebida. Se as estrias da
aura interior e do duplo etéreo forem como é provável, contínuos, as descrições
estarão aparentemente em desacordo. A discrepância, porém, só é superficial, já
que, na aura interior, a cor rosa desmaiada seria suplantada pelo matiz vermelho
da tela e pelo matiz mais profundo que a aura assume. Tanto a saúde precária
como as doenças locais alteram todas as condições, e parece provável que a
substância granular da aura interior invade, por vezes, o duplo etéreo. Este
assunto será discutido em outro capítulo.
A aura exterior começa onde a interior termina, e se espalha em torno do
corpo até uma distância variável. Não tem um contorno absolutamente nítido,
mas esvai-se gradualmente no espaço, conquanto na maioria dos casos sua borda
exterior seja suficientemente óbvia para possibilitar medições. Isso, porém, não é
inteiramente válido para todos os casos, porquanto, ocasionalmente, sob
condições muito favoráveis, uma névoa extremamente fina pode ser percebida
estendendo-se para fora até uma distância considerável, o que dá a impressão de
que podemos mais estar consciente de sua presença do que ser realmente capazes
de distinguir. Essa névoa ilusória é presumivelmente uma continuação da aura
exterior; como em todas as ocasiões se tem observado, a periferia desta última
tem sido menos definida que o usual. Só tem sido observada em pessoas dotadas
de auras amplas. Para efeito de referência, o fenômeno foi denominado aura
ultra-exterior.
No final de 1915, a aura de um paciente foi examinada produzindo
resultados muito interessantes e surpreendentes, sendo esse o primeiro caso que
parecia capaz de proporcionar alguma ajuda na elucidação da natureza da aura
ultra-exterior.
 
 
Caso 18.
 
(Figura 19.) W. B., vinte e nove anos de idade, foi examinada pela primeira
vez em 1914. Ela era uma mulher forte e corpulenta, com ossos um tanto
pequenos. Quatro anos antes era magra mas ganhara corpo rapidamente,
tornando-se gorda e flácida. Seu peso era cento e sessenta e oito libras (cerca de
75 quilos). Era anémica e queixava-se de fraqueza, de falta de ar e de ser incapaz
de percorrer qualquer distância sem padecer grandes dores nas costas.
Auscultado, o coração estava normal, porém envolvido pela gordura. Sua tiroide
era muito pequena.
 
 
A aura exterior tinha boa forma e, em torno da cabeça e do tronco, quase
podia ser classificada como larga, medindo nove polegadas e meia de largura e
estreitando-se daí para baixo, até atingir a largura de quatro polegadas e meia
junto aos tornozelos. Era muito distinta mas na margem exterior não muito bem-
definida, mesclando-se a uma aura ultra-exterior bastante óbvia. Uma vista lateral
mostrou que media quatro polegadas e meia na frente do corpo e junto às coxas e
pernas, e seis na região lombar. A aura interior, como seria de esperar de seu
estado de saúde, era muito débil. Media três polegadas e meia em torno de todo o
corpo. A faixa de cor complementar exibia uma mancha amarela no dorso,
começando nas vértebras dorsais inferiores e aumentando de largura em torno do
sacro. É interessante notar que a eletricidade de superfície (veja a página 85), era
uniforme em todo o corpo e atingia alta intensidade.
Ela foi examinada uma segunda vez em novembro do mesmo ano. O que foi
ótimo, porque os detalhes acima enumerados foram verificados, eliminando-se
assim qualquer hipótese de erro na inspeção anterior.
Em maio de 1915, a paciente desfrutava de perfeita saúde, sentindo-se forte
e cheia de energia, capaz de caminhar longas distâncias sem se fatigar ou sentir
dores lombares. Seu peso se reduziu de aproximadamente catorze libras (cerca de
6 quilos) e suas carnes se tornaram mais firmes.
Ambas as auras eram bem distintas, a exterior medindo doze polegadas no
tronco, dez na cabeça e cinco e meia nos tornozelos. Sua extremidade distal era
bem definida, quase tanto quanto em casos comuns e mais do que costuma
ocorrer com auras amplas. Nem o mais leve traço da aura ultra-exterior pôde ser
detectado. A aura interior foi percebida, medindo quatro polegadas de largura. Se
essa aura tinha ganho meia polegada de largura é impossível dizer, pois, por
ocasião da primeira inspeção, devido ao seu estado de saúde, ela era indistinta, e
pode ser que fosse um tanto mais larga do que o enunciado, ao passo que, nessa
observação, ela era perfeitamente nítida. Não havia nenhuma dúvida quanto ao
alargamento da aura exterior.
A mulher foi então colocada sobre um banco isolado e eletricamente
carregado por intermédio da grande máquina de Wimshurst. As auras se esvafram
da maneira usual (veja a página 83), mas a operação prosseguiu até pouco tempo
depois de elas terem desaparecido. Posteriormente, as auras voltaram lentamente
e, atingindo sua extensão total, a exterior ganhara três polegadas de largura. Ela
media agora quinze polegadas de largura, e a margem distal era bastante nítida.
Mesmo essa largura estava bem enquadrada dentro dos limites externos
observados da aura ultra-exterior vista em ocasiões anteriores. Esse experimento
assinala a correção da hipótese de que a aura ultra-exterior é apenas uma
extensão mal definida da exterior.
Outro exemplo é extremamente interessante, pois nos proporciona maiores
informações e, ao mesmo tempo, confirma as observações realizadas no último
caso.
Caso 11, continuação. Em junho de 1915, o modelo artístico já
anteriormente referido (Caso 11) foi cuidadosamente examinado pela primeira
vez, a fim de nos assegurarmos de que suas auras estavam em suas condições
normais. Procurou-se especialmente uma aura ultra-exterior, da qual, entre- tanto,
nem o mais leve indício pôde ser detectado. A aura interior tinha um padrão
médio de nitidez, próprio de um bom estado de saúde, e via-se claramente sua
estriação. A jovem foi então colocada sobre um banco isolado e eletrificada
negativamente mediante o auxílio de uma grande máquina de Wimshurst. O
efeito foi o normal, mas, por alguma razão desconhecida, a aura não desapareceu
tão rapidamente quanto costuma ocorrer com a maioria das pessoas, e isso se
confirmou em todos os experimentos subsequentes. Perseveramos com a carga
elétrica por alguns minutos após ter a aura se desvanecido. Uma mão sustentada
perto do corpo da mulher, enquanto não havia aura alguma para ver, provocou um
raio, como sempre, mas não houve resposta áurica. Esse fato é interessante, pois
desconhecia-se se um raio podia alcançar o corpo sem reforço. Se ele
absolutamente entrou em contato, não pôde ser determinado.
 
Logo que se interrompeu a carga elétrica, a aura começou lentamente a
voltar. Depois de poucos minutos, suas medidas foram tomadas pela segunda vez.
A aura média dez polegadas na cabeça, quinze no tronco e seis nas per- nas,
tendo uma perfeita forma oval. Media seis polegadas na frente, e na região
lombar nove, procedendo em linha reta dos ombros à parte mais larga das
nádegas, medindo seis polegadas daí para baixo. A aura interior tinha quatro
polegadas de largura, mas era indistinta. Era quase impossível afirmar, a
princípio, se existia ou não estriação, pois as mudanças se processavam depressa
demais para permitir um exame acurado. Decorrida meia hora, fez-se outro
exame. A aura interior ainda permanecia inalterada, enquanto que a exterior
estava mais ampliada, tendo ganho outras três polegadas, embora sua margem
fosse mal definida, aparentando uma aura ultra-exterior. Sua porção mais externa
era similar à verdadeira aura ultra-exterior, mas um pouco mais próxima do corpo
ela parecia ser intermediária entre ele e a aura exterior comum, o que
aparentemente prova que a primeira é meramente uma extensão da segunda.
Se a aura ultra-exterior é apenas uma extensão da exterior, não é improvável
que esteja sempre presente, seja a exterior larga ou não, mas seja demasiado
indistinta para nossos atuais meios de observação. Auras de largura média, e até
auras estreitas, podem ser ampliadas por intermédio de eletricidade estática,
como mais adiante descreveremos. (Página 78.)
O tamanho e a forma comuns da aura exterior já foram cabalmente descritos
no Capítulo I. Ela consiste em uma nuvem tênue e amorfa, e parece
completamente sem estrutura, capaz de ser iluminada, mas não é, no sentido
comum da expressão, dotada de luz própria. (Veja a página 67.)
Durante um exame prolongado observa-se que a aura não é absolutamente
estável, pois sofre mudanças constantes em várias partes. Uma porção pode
tornar-se mais brilhante e, após alguns segundos ou minutos, voltar a seu estado
esmaecido original, enquanto alguma outra área inicie o mesmo ciclo de
mudanças. Normalmente essas variações ocorrem de maneira espontânea ou sem
nenhuma causa aparente.
Os raios, as mais frequentes das mudanças temporárias, podem, para fins
práticos, ser divididos em três grupos:
 
1. Raios que procedem de uma parte para outra parte do corpo, ou de uma
pessoa para outra.
2. Correntes que partem diretamente do corpo para o espaço.
3. Manchas mais brilhantes inteiramente circundadas pela aura, que por
parecerem surgir da mesma maneira que um raio dos outros dois grupos, têm sido
chamados de pseudoraios.
 
O último grupo, composto de pseudo-raios, será considerado em primeiro
lugar. Eles são sempre vistos em estreita proximidade com o corpo e em nenhuma
outra parte. Ocorrem na aura interior e são limitados pelo corpo, por um lado, e
pela aura exterior, por outro. Em sua forma comum, são alongados, com seu eixo
longitudinal paralelo ao corpo. Seus fustes geralmente podem ser vistos com
bastante nitidez, mas seus extremos gradualmente se esmaecem. Costuma
aparecer de súbito e desaparecer com a mesma rapidez. Quando se os examina
através de uma tela de carmim-escuro, pode-se, em muitos casos, reconhecer
estriação e, em outros, granulação. Esses pseudo-raios não são tão comuns quanto
os raios nos outros grupos. Não devem ser confundidos com as manchas
granulares da aura interior, tão encontradiças, embora o autor deva confessar que
durante longo tempo teve deles uma impressão errônea.
Os raios do primeiro grupo são, talvez, os mais brilhantes de todos, e podem
ser observados originando-se de qualquer parte do corpo e dirigindo-se para
qualquer outra, desde que ambas estejam suficientemente próximas entre si, e o
ângulo entre elas não seja demasiado grande. São antes emitidos, via de regra, de
irregularidades da superfície do que de porções uniformes do corpo. Quando o
braço é mantido longe do corpo, um ou mais raios conectivos podem ser vistos.
Aqui eles aparentemente procedem do tronco para o braço, exatamente na direção
contrária, porque os raios são perpendiculares ao tronco, e formam diferentes
ângulos com o braço. Outro bom exemplo, e que está ocorrendo constantemente,
pode ser visto durante o tempo em que o paciente permanece em pé com as mãos
nos quadris e os cotovelos estendidos para fora; um raio pode emergir da axila
rumo ao punho. Efeito análogo pode ser obtido se o observador mantiver uma das
mãos a curta distância do paciente, quando raios se desenvolverão entre ambos,
proporcionando uma ilustração da atração mútua entre as auras de diferentes
pessoas. Mediante cuidadosa observação, ver-se-á que esses raios são formados
principalmente por prolongamentos da aura interior, e, durante um curto espaço
de tempo após a remoção da mão do observador, a aura interior permanecerá
intensificada. Esse fenômeno já foi utilizado para demonstração. (Página 14.)
Um caso notável de influência exterior produzindo um raio será descrito
mais adiante. Certa vez observou-se que um raio, passando entre as mãos de duas
pessoas, se alterou, em poucos segundos, de um amarelo brilhante para um
vermelho vivo transparente.
Raios do segundo grupo são aparentemente projetados no espaço em ângulo
reto com o corpo, sem nenhum desvio. Em muitos casos só são perceptíveis
dentro dos limites da aura exterior, embora não seja incomum vê-los prolongados
até a aura ultra-exterior caso exista, mas é impossível afirmar se se estendem para
além dessa região. A proporção que os raios dirigem-se para fora, eles geralmente
esmaecem. Os lados de seus fustes são em geral paralelos (raramente
divergentes), e suas pontas são rombudas. Esse é especialmente o caso quando
são derivados dos dedos.
Uma linha reta perpendicular ao corpo é evidentemente a direção natural dos
raios, mas sob estimulação externa podem defletir e dirigir-se a qualquer parte do
corpo, mas nunca foram vistos descrever uma curva. É muito fácil presenciar esse
fenômeno, pois raios que emanam das pontas dos dedos parecerão dar
continuidade aos dedos se nada houver nas proximidades para atraí-los. Se os
dedos da outra mão forem colocados a oito ou dez polegadas de distância e forem
movidos de um lado para outro, todos os raios procedentes de uma mão para
outra serão bastante retos, conquanto os movimentos alterem constantemente os
ângulos formados entre elas e os dedos de cada lado. Não haverá jamais a mais
leve curva. Uma excelente ilustração é proporcionada pelo seguinte experimento:
coloque uma pessoa com suas mãos apartadas como acabamos de descrever, e
uma outra, do mesmo modo, apenas em ângulo reto no mesmo plano, com uma
mão de cada lado do par anterior. Os principais raios então formarão uma cruz, e
os raios secundários conectarão as mãos adjacentes. Nenhum desses raios exibirá
qualquer curvatura.
O tamanho de um raio varia muito e depende, em grande parte, de sua
posição. Por exemplo, raios procedentes dos ombros são quase sempre largos, ao
passo que os emitidos pelas pontas dos dedos raramente excedem um diâmetro e
meio de um dedo. Embora já tenham sido observados raios originando-se de
todas as partes do corpo sob condições favoráveis, eles raramente têm sido
observados originando-se do paciente rumo ao observador, quando os dois estão
de frente um para o outro. Este fato é explicado por sua extrema transparência,
tendo em vista que a sua visibilidade depende de um fundo mais adequado do que
o proporcionado pela pele. O encurtamento da distância entre eles também
aumenta a dificuldade. Um plano de fundo preto é o mais eficaz, porque os raios
vistos contra esse fundo tornam-se o mais nítido possível. Mesmo que os raios
emanados de um paciente em direção do observador sejam invisíveis, sua
presença pode, às vezes, ser detectada pelo fato de causarem uma alteração na
faixa de cor complementar, como descreveremos mais adiante.
Além da cor azulada comum, o vermelho e o amarelo têm sido observados
matizando os raios. Talvez eles possam assumir outras cores. Aparente- mente,
não surgem da aura externa, pois nunca foram observados afetando quer sua
densidade quer seu brilho.
Como sua estrutura semelha a da aura interna, chegou-se à conclusão de que
tanto os raios como a aura têm uma origem comum; na verdade, um raio é
composto de fascículos que saem da aura interior.
Já aludimos à circunstância de que, quando uma pessoa sustenta uma das
mãos próxima de qualquer parte do corpo de outra pessoa, aparecem raios
procedentes de uma em direção à outra. A estrutura de um raio assim composto
foi elucidada pela seguinte observação:
Um homem negro nos procurou para que sua aura fosse examinada (Caso 6).
Esta era de textura muito grossa e de uma cor castanho-brumoso. Quando a mão
do observador foi sustentada próxima de seu corpo, o raio conjunto usual foi
formado e pode ser facilmente analisado, constatando-se que se compunha de
raios levemente coloridos intercalados de raios castanhos, cada qual abrangendo
toda a distância entre as duas pessoas sem nenhum amálgama.
É digno de nota o fato de que esses raios possam ser obtidos mais
prontamente entre duas pontas do que entre duas amplas superfícies regulares.
Por exemplo, se o observador aproximar um dedo do lado de uma pessoa que
esteja sendo examinada, logo aparecerá um raio que certamente será visto mais
depressa e mais definidamente próximo do dedo do que do corpo.
Posteriormente, ele pode ou não tornar-se igualmente brilhante ao longo de toda a
sua extensão. Outrossim, se o observador sustentar um dedo a igual distância de
uma parte pontuda do corpo do paciente, como por exemplo o nariz, o queixo, o
cotovelo dobrado, ou um dedo, os raios serão gerados com mais rapidez, sendo
em geral mais brilhantes. De modo que, por assim dizer, o potencial áurico é
maior nas regiões em ponta do que em superfícies planas, semelhando, nesse
aspecto, à eletricidade estática.
Se o observador mantiver um braço desnudo em parare-lo com o corpo de
um sujeito, as auras decorrentes também se tornarão mais brilhantes e se
mesclarão, mostrando que existe uma atração mútua entre ambas. Em todos esses
casos, a distância entre o sujeito e o observador deve ser suficiente para permitir
um intervalo de uma ou duas polegadas entre suas auras visíveis. É extremamente
importante que as duas pessoas fiquem mentalmente tão passivas quanto
puderem. Mais adiante falaremos ainda sobre a influência da mente sobre a aura,
mas a seguinte observação é bastante para mostrar a necessidade de cautela. Leve
o observador seu dedo a uma distância de dezoito polegadas do sujeito,
aproximadamente. Verificará então que a emissão de um raio das pontas dos
dedos rumo ao sujeito está sujeita a controle voluntário, podendo o intervalo ser
transposto com maior ou menor facilidade mediante esforço consciente.
 
 
 
 
 
 
Capitulo IV
 
PROBLEMAS ÓPTICOS
 
 
A aura humana é invisível na escuridão total, podendo ser vista melhor e
mais facilmente sob luz mortiça, quando os olhos estão adaptados a uma situação
de penumbra. Visto ser essa condição de grande importância relativamente a
vários problemas que merecerão discussão, uma breve e concisa explicação será
aqui oportuna. Sem levar em consideração senão os fatos fisiológicos mais
elementares, sabe-se que, no olho normal e saudável, a íris se contrai mais ou
menos em proporção à intensidade da luz. (Não trataremos aqui de mudanças
relativas à acomodação.) A abertura da pupila é, pois, consequentemente exígua,
permitindo assim que os objetos externos sejam enfocados o mais nitidamente
possível sobre a fóvea. Esta parte da retina se compõe de cones cromossensíveis a
todos os raios do espectro solar comumente visível. Mesclas desses raios em
certas proporções determinarão a sensação de luz branca, ao passo que luz de um
só comprimento de onda, ou de misturas de comprimentos de onda diferentes da
proporção que produz a luz branca, determinará sensações de cor.
No estado de adaptação ao escuro, a íris se torna mais dilatada e o olho mais
sensível a ligeiras mudanças de iluminação. A pupila mais dilatada também
permite que passe mais luz, o que, por si só, representa uma vantagem num
ambiente pouco iluminado, porém, o mais importante é que permite que uma
maior porção da retina seja iluminada. Essa nova porção da retina difere da
fóvea, visto que contém um número de bastonetes muito maior que o de cones, à
proporção que se chega à periferia. Os bastonetes são considerados cegos para
cores, e sua estimulação só produz uma sensação de cinzento. São principalmente
ativados pelos raios mais curtos e mais refrangentes. No estado adaptado à
penumbra o ponto de máxima luminosidade foi deslocado rumo ao extremo
violeta do espectro para o verde-amarelado.
É muitíssimo importante determinar, se possível, como a tela de dicianina
permite que a aura seja percebida. A solução dessa questão depende, em parte,
dos próprios atributos da aura, mas, em grau ainda maior, da ação exercida por
essa substância química sobre os olhos.
Certa ocasião, antes de serem iniciados os exames sistemáticos das auras,
uma senhora desejou ver a névoa ou nébula em redor de seu braço e mão.
Foi-lhe dada uma tela azul-escuro a fim de que olhasse para a luz através
dela, mas, após utilizá-la, ela se viu inteiramente incapaz de enxergar a aura.
Nesse meio-tempo verificou-se que uma tela de azul-de-metileno lhe tinha sido
apresentada inadvertidamente. Foi-lhe permitido usá-la sem que a informassem
do engano, porque reconheceu-se nisso um bom teste do valor comparativo das
duas telas. Ela, subsequentemente, fitou a luz através da tela devida e logo que os
estores forem regulados, pôde detectar a aura. Duas outras vezes, em ocasiões
diferentes, a tela de azul-de-metileno foi inconscientemente fornecida em lugar
da tela de dicianina, tendo sido essa tela também experimentada intencionalmente
por várias vezes, mas sempre se revelou neutra.
Reichenbach, em sua obra Researches on Magnetism, relaciona para mais de
cinquenta sensitivos que conseguiram enxergar luz procedente de magnetos ou
ímãs, etc., sob escuridão total. A não ser que todas essas pessoas fossem
impostoras (e não há razão para classificá-las como tais), ou elas possuíam uma
visão extremamente aguda, que lhes permitia detectar uma iluminação demasiado
fraca para produzir qualquer sensação em homens e mulheres comuns, ou então a
qualidade de sua visão era diferente, permitindo-lhes distinguir fenômenos
normalmente invisíveis. Esta última suposição é provavelmente a correta, pois a
energia emanada dos magnetos, etc., produz vibrações situadas a alguma
distância além do espectro solar comumente visível. O mesmo se pode dizer em
relação à aura humana. Uma razão para se chegar à conclusão acima expressa é
que, se as ondulações efetivas fossem idênticas às de qualquer parte do espectro
visível, haveria um grande número de pessoas dotadas de visão suficientemente
aguda para testemunhar um fenômeno tão interessante nos polos de um magneto
ou ímã e as aparições algo similares aqui referidas como aura. Esse argumento
será ainda mais fortalecido se se puder provar que os clarividentes não possuem
mais que uma agudeza visual média para todos os fins práticos. Uma pessoa
clarividente foi consultada e vivamente replicou que "o dom não estava de modo
algum relacionado com a visão comum", e que, na verdade, alguns clarividentes
possuíam uma visão comum deficiente. Sob essas circunstâncias, podemos
concluir com segurança que indivíduos capazes de ver a aura humana e a nébula
em torno de magnetos, etc., obtêm seus poderes não de sua acuidade visual, mas
da capacidade de enxergar raios não incluídos no espectro comumente visível.
Se algumas pessoas são capazes de distinguir ondulações fora do espectro
normalmente visível, não haveria aparentemente nenhuma razão particular para
que, mediante o auxílio de algum aparelho, ou mesmo graças ao tratamento dos
olhos, outras pessoas não sejam capazes de fazer o mesmo, exatamente isso o que
reivindicamos para a dicianina. É Conquanto, desde o princípio, tenha sido
reconhecido que a dicianina exerce uma influência peculiar sobre os órgãos
visuais, por longo tempo, a parte dos olhos afetada e a natureza da mudança
provocada permaneceram totalmente incompreendidas, e, mesmo agora, qualquer
tentativa de explicação só pode ser hipotética.
Há nove ou dez anos atrás, quando o autor estava investigando por meios
mecânicos as forças emanadas do corpo, um feixe de luz refletido de um pequeno
espelho móvel (semelhante aos usados para galvanômetros) sobre uma escala foi
empregado, e como era necessário ler com precisão a deflexão a uma distância de
oito pés, utilizamos binóculos que precisavam ser totalmente abertos para
permitir uma visão clara. Certo dia, alguns anos depois, aconteceu-lhe olhar
através das lentes, verificando, para sua surpresa, que agora não precisava abrir
tanto o binóculo para obter uma visão perfeita, ainda que o objeto só estivesse à
metade da distância. A única explicação plausível que se pode apresentar para
essa ocorrência é que a distância focal de seus olhos fora, de algum modo,
encurtada virtual ou absolutamente, e como nenhuma outra causa se manifestou,
o efeito só podia ser atribuído ao fato de estar constantemente olhando através da
tela de dicianina, O fato de que alguma alteração ocorrera em seus olhos é
confirmado pela circunstância de que, por ocasião do início do exame visual
(mais de dez anos atrás), o autor pensava em adquirir lentes mais fortes, o que,
terminando seus problemas visuais, esqueceu-se de fazer, não o tendo feito até a
presente data, tanto mais que sua distância de leitura na realidade diminuiu,
embora não tenha ocorrido, obviamente, um ajustamento de sua visão.
Logo após essa descoberta, um amigo, médico, mencionou que um senhor, a
quem estivera mostrando a aura por meio da tela de dicianina, não precisou de
óculos para ler ou escrever durante mais de vinte e quatro horas depois, embora
antes não pudesse distinguir adequadamente letras impressas sem o auxílio de
lentes. Esses dois casos levaram à conclusão de que era perfeitamente possível
que o corante afetasse, até certo ponto, várias pessoas de maneira semelhante e
talvez pudesse fornecer, ao menos em parte, uma explicação das mudanças
oculares necessárias para que a aura possa ser vista. Mas antes de descrever os
experimentos levados a cabo para pôr essa ideia à prova, convém assinalar que
deparamos com vários outros exemplos de pessoas que, após usar telas de
dicianina, apanharam um livro ou jornal declarando ser capazes de enxergar o
que estava impresso, sem o auxílio de lentes, melhor do que comumente o fariam.
Os dois casos seguintes estão entre os primeiros registrados. Uma senhora,
enquanto o esposo falava, pegou um livro e exclamou que "era capaz de lê-lo
com muita facilidade sem os óculos", os quais, a propósito, ela deixará em casa,
"coisa que não pudera fazer durante anos". No segundo exemplo, um médico,
após uma alusão à propriedade da dicianina em questão, tentou ler um jornal sem
os óculos. Via de regra, só conseguiria fazê-lo afastando o texto à distância de um
braço, mas agora verificava que conseguia lê-lo cerca de seis a oito polegadas
mais perto.
Toda a pessoa que notara uma temporária melhora visual era presbita,
conquanto não em grau extremo. Esse efeito nunca foi observado em emetropia
nem em miopia.
Como parecia impossível que telas coloridas pudessem influenciar a
acomodação visual, todos os experimentos foram conduzidos do ponto de vista
das outras funções dos olhos. Para isso, utilizou-se um microscópio, em que o
ajuste fino baixava ou erguia a objetiva 1/100 de polegada para cada revolução. O
cursor foi dividido em dez partes, de modo que cada divisão correspondia a
1/1000 de polegada. Na Tabela III essa unidade é representada pela abreviatura
mpol (milipolegadas). Foram empregadas a mais baixa ocular e uma objetiva de
polegada e meia. Prepararam-se telas enchendo-se células de vidro com fracas
soluções aquosas de diferentes corantes - carmim, amarelo K, azul-de-metileno e
violeta genciana respectivamente. A exata intensidade das cores parecia
irrelevante desde que permitisse suficiente iluminação do objeto no palco, mas
essa condição infelizmente introduziu um fator perturbador, isto é, a grande
quantidade de luz branca que passava através das telas.
O procedimento adotado foi o seguinte: o observador focalizava um pelo
selecionado da probóscide de uma varejeira (o objeto usado) o mais nitidamente
possível mediante um ajustamento grosseiro, sendo o ajuste fino colocado em
zero. Logo que uma imagem nítida era obtida, ele desviava o olhar por um ou
dois segundos e então relanceava os olhos sobre o objeto o mais rapidamente que
podia, para determinar se o foco estava correto. Se necessário, outro ajustamento
era feito. Isso era feito duas ou três vezes para assegurar a eliminação de efeitos
de acomodação visual.
Inseria-se então uma tela colorida entre o espelho e o objeto. O pelo tinha
agora que ser focalizado uma segunda vez. Desta vez o ajuste fino foi o único a
ser usado, com as mesmas precauções anteriores. Esse procedimento foi repetido
com cada tela-filtro por sua vez, a posição do cursor do ajuste fino foi anotada
para cada observação feita e os resultados registrados.
A seguir, o observador fitava a luz através da tela de dicianina escura durante
cerca de trinta segundos e depois repetia toda a série de observações, focalizando
o objeto, primeiramente à luz branca, e, depois, através de cada uma das telas-
filtro em rodízio.
O que se segue é um relato detalhado de um experimento. O experimentador
(A na tabela) tendo as preocupações mencionadas acima, focalizou o pelo com o
ajuste grosseiro, estando o ajuste fino no zero. O resultado foi chamado 0. Uma
tela amarela foi então colocada sob o objeto, que permaneceu em perfeito foco.
Resultado 0. O filtro foi então mudado, utilizando-se um vermelho. O pelo já não
aparecia em foco e para retificar o foco o cursor teve de ser girado um décimo de
revolução na direção que erguia a objetiva afastando-a do objeto. O resultado foi
designado como - 1 mpol. Uma tela azul foi então inserida, e o cursor do ajuste
fino teve de ser girado para uma divisão após o zero na direção oposta. Isto fez a
objetiva aproximar-se da lâmina, e o efeito foi denominado + 1 mpol. Com o
filtro violeta, só se obteve uma boa definição quando o cursor foi girado para
duas divisões adiante, ao todo três décimos de revolução, ou + 3 mpol.
O observador então fitou a luz através da tela escura de dicianina durante
cerca de trinta segundos, e depois refocalizou o objeto sem a intervenção de
nenhuma tela, quando então foi necessário baixar a objetiva + 2,5 divisões a
partir do zero, resultado que foi devidamente registrado. As telas vermelha,
amarela, azul e violeta foram, cada qual por sua vez, inseridas, mas entre cada
tentativa o observador olhava a luz através da tela escura de dicianina durante
alguns segundos. Os resultados foram para o vermelho + 1 mpol, amarelo + 1
mpol, azul +2 mpol e violeta +3,5 mpol. Esse observador foi testado em três
ocasiões diferentes, e as leituras obtidas não mostraram variações.
A maioria dos observadores nesses experimentos eram médicos, e todos
tinham experiência no uso do microscópio. Somente os resultados que passaram
pelos testes mais rigorosos acima detalhados foram mantidos (em número de
cinquenta). Um ou dois observadores não foram pacientes o bastante, mas a causa
da maioria dos malogros foi a dificuldade de vencer a acomodação visual.
Durante cada série de experimentos o foco do microscópio foi propositadamente
alterado duas ou três vezes, quando isso era viável, sem conhecimento do
observador, e, a não ser que os reajustes coincidissem plenamente com as leituras
originais, a série era rejeitada. Consequentemente, não mais do que uma série em
cada três ou quatro foi aceita.
Foi interessante notar que, quanto maior a alteração de foco necessária após
olhar através da tela de dicianina, tanto mais facilmente a aura era percebida. Em
nenhum caso, quando a mudança para a luz branca após o uso da tela de dicianina
excedia esse requisito após a inserção da tela azul isoladamente, houve a menor
dificuldade em enxergar a aura. Quando a dicianina produzia menor efeito que a
tela azul, quanto mais as leituras se aproxima- var, tanto mais prontamente o
observador percebia a aura. Se se usar um microscópio para aferir se uma pessoa
é ou não capaz de enxergar a aura com facilidade, será desnecessário passar por
toda a série de testes. O seguinte procedimento será plenamente suficiente: em
primeiro lugar, focalize o objeto sob luz comum, depois com uma tela azul
debaixo do objeto e, finalmente, de novo sob a luz do dia após fitar a luz através
da tela de dicianina. Infelizmente, porém, só de raro em raro, este método pode
ser empregado, já que poucas pessoas estão suficientemente familiarizadas com o
uso desse instrumento.
Alguns observadores acham difícil obter uma boa nitidez quando a tela
violeta está sob o objeto. A dificuldade é devida ao fato de o corante usado
(violeta genciana) apresentar duas faixas brilhantes com o espectroscópio, com
um máximo entre 4.000 λ e 4.500 X, e a outra entre 6.500 e 7.000 A*. (Veja o
Atlas of Absorption Spectra, de Mees.) Estando tão separa- das no espectro, as
cores são antagónicas entre si. A tela violeta só foi mantida por conveniência, já
que bem pouca importância se pode atribuir a resultados obtidos com o seu
auxilio. É preciso ter em mente que, no espectro, o violeta consiste em
comprimentos de onda adjacentes entre si, ao passo que todos os pigmentos e
corantes violeta são meras misturas de vermelho e azul.
 
* A é o símbolo da unidade Angstrom, isto é, 10̵̵ ¹º metro, ou um décimo-
milionésimo de milimetro.
 
Na Tabela III, as três primeiras séries foram obtidas por observadores com
menos de quarenta anos, as três seguintes por observadores entre quarenta e
sessenta anos de idade, e a terceira por observadores com mais de sessenta anos.
O décimo observador era um estudante de medicina cuja acomodação visual foi
temporariamente suprimida por atropina, a décima primeira foi uma clarividente.
As últimas leituras são as médias de cinquenta casos. A leitura superior de cada
série é anterior e a leitura inferior é posterior ao fato de ter o observador fitado a
luz através da tela de dicianina. Os números explicam por que pessoas acima da
idade de cinquenta anos têm mais dificuldade para enxergar a aura em suas
primeiras tentativas do que indivíduos mais jovens. O caso número onze é
extremamente interessante, já que a observadora era clarividente, e este autor
ficou muito satisfeito em conhecê-la, pois sempre quis saber até que ponto os
olhos de uma pessoa clarividente diferem dos normais quanto a aspectos práticos.
Felizmente essa senhora era bastante hábil no uso do microscópio e era
cuidadosa. Seu marido possuía um instrumento muito bom, que ela estava
habituada a manusear. Deve-se salientar que antes de ela olhar através da tela de
dicianina, os filtros coloridos sob o objeto do microscópio só produziram o efeito
comum sobre seus olhos. A dicianina, porém, teve uma maior influência do que
em qualquer outro caso antes ou depois dela. Esta é a senhora a que
anteriormente aludimos como sendo capaz de ver melhor sem seus óculos do que
o fazia há anos. (Página 5.)
 
 

 
A fim de se poder apreciar esses experimentos plenamente, é necessário
recordar alguns detalhes de física elementar. A luz diurna comum, como se sabe,
consiste em ondulações no éter de diferentes comprimentos de onda. O espectro
solar visível divide-se em seis secções principais (omitindo-se propositadamente
o anil), a saber: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta. Se um prisma
de quartzo for usado, haverá uma secção do espectro além do violeta, chamado
cor alfazema-acinzentado, que algumas pessoas não conseguem enxergar. A
intensidade do espectro luminoso à luz do dia é maior perto da região amarela, de
onde gradativamente diminui no sentido dos extremos vermelho e violeta. Não há
razão física pela qual o amarelo deva ser mais forte do que qualquer outra cor do
espectro, e a causa disso é puramente fisiológica.
Embora pleno de maravilhas, o olho humano não é, de modo algum, um
instrumento óptico perfeito. É imperfeitamente corrigido para aberrações
cromáticas, já que as várias cores entram em foco em planos diferentes. Como o
vermelho é a cor menos refrangente, tem seu foco no ponto mais distante do
cristalino, e o violeta o tem no ponto mais próximo deste. O ponto focal do
amarelo fica aproximadamente a meio caminho entre o do vermelho e o do
violeta, e no olho normal os raios amarelos incidem exatamente sobre a retina, ao
passo que as outras cores entram em foco um pouco à frente ou atrás dela. A
necessária correção é providenciada nos centros cerebrais. Como os raios
vermelhos se focalizam atrás da retina, o cristalino deve ser movido ligeiramente
para frente para fazê-los incidir exatamente na retina. Isto equivale a mover a
objetiva do microscópio para distanciá-lo um pouco mais do objeto. Por um lado,
os raios azuis e violetas exigem que o cristalino se mova para estar mais próximo
da retina, equivalendo a levar a objetiva mais para perto do objeto.
Assim, quando o objeto tiver sido primeiramente focalizado à luz branca, e
de novo, depois que os filtros coloridos tenham sido inseridos sob o objeto, um
após o outro, será preciso afastar a objetiva da lamina, para os raios menos
refrangentes, e aproximá-la, para os mais refrangentes.
Voltemos agora à tela de dicianina. Antes de fitar a luz através dessa tela nos
experimentos que acabamos de detalhar, o vermelho foi a única cor negativa em
relação ao branco e ao amarelo, ao passo que o azul e o violeta eram positivos.
Nas séries totalmente descritas, o observador A, após olhar através da tela de
dicianina, achou o vermelho, o amarelo e o azul negativos, ao passo que o violeta
permaneceu positivo, mas somente em pequena proporção. Isso se torna mais
evidente se deduzirmos +2,5 mpol de cada uma das cifras, fazendo as leituras
corrigidas para vermelho -1,5 mpol, amarelo -1,5 mpol, azul -0,5 mpol, e violeta
-1 mpol. Esses experimentos provam que no olho ocorreu alguma alteração
equivalente a um maior alcance do olho ou um encurtamento do foco principal, o
que permite aos presbitas ler sem os óculos. Dir-se-ia, igualmente, que os raios
brancos e amarelos, na linha D ou próximo dela, entram em foco no verdadeiro
foco principal do olho normal; nos olhos, após exposição à tela escura de
dicianina, os raios no lado violeta, provavelmente no verde-amarelo ou verde,
entram em foco nesse ponto, e assim possivelmente o fenômeno está associado
com a extensão dos poderes visuais até as regiões do espectro situadas além dos
limites usuais. A impressão induzida sobre o olho sensibilizado por uma aura
visível, etc., poderia, então, ser o resultado, ao menos em parte, da ação dos raios
ultravioleta. Isso seria, também, a explicação das variações de cor vistas com ou
sem telas, ou das faixas de cores complementares. Essa hipótese se apóia
sobremaneira no fato de que, quanto maior for a alteração produzida pela tela de
dicianina no teste de focalização do microscópio, tanto mais fácil será enxergar a
aura.
 
*+2,5 mpol é a quantidade de ajuste necessária para levar o objeto a entrar
em foco novamente sob luz branca, após ter-se olhado através da tela de
dicianina.
 
 
Fica evidente desses experimentos que a dicianina tem o poder de encurtar o
foco do olho, conquanto haja muitas dificuldades na determinação do modo como
isso se obtém. A acomodação, visto que aparentemente permanece inalterada,
não parece tomar parte na operação, e como ainda nenhum teste foi ideado, a
questão deve ser tratada de forma totalmente teórica. Para tanto, o olho deve ser
considerado sob três diferentes aspectos, a saber, o físico, o químico e o nervoso.
 
O equivalente ao encurtamento do foco principal do olho pode ser obtido:
 
1. Aumentando-se a curvatura da córnea ou cristalino. Essa proposição é tão
improvável que não merece consideração.
2. Pelo aumento do índice de refração dos meios.
 
Se a mudança for devida a essa causa, os meios fluidos serão as partes mais
provavelmente afetadas.
a. Pelo aumento de sólidos na solução.
b. Por uma tensão maior.
c. Por uma mudança química na substância.
 
a. A primeira dentre essas suposições não poderia ocorrer durante o curto
espaço de tempo que se leva olhando através da tela.
b. A segunda seria meramente um glaucoma incipiente, e a repetição da
sensibilização do olho poderia causar todo o inconveniente dessa doença. Como
nenhuma fase desta afecção produz sintomas similares aos produzidos pela
dicianina, essa proposição não é correta.
c. Parece realmente que uma alteração química é a única explicação possível
da produção de um aumento do índice de refração. Em que consiste essa
alteração é coisa que não se pode imaginar, mas o fato de que uma verdadeira
modificação realmente ocorreu é acentuado pelas peculiaridades na percepção
das cores, como veremos mais adiante.
Embora não seja razoável imaginar que um encurtamento da distância focal
do olho possa ser obtido diretamente através de influência nervosa, há entretanto
base para supor que a dicianina exerça uma influência sobre o sistema nervoso
ocular; seja na retina, seja nos gânglios centrais, separadamente ou em conjunto.
A comparação entre os dois experimentos subsequentes, um diminuindo e o outro
aumentando a eficiência do olho, é instrutiva.
 
Experimento 1.
 
Faça uma pessoa olhar para uma faixa de cor primária, como está indicado
no Capítulo VI, com apenas um olho, impedindo que o outro veja a faixa. Se a
pessoa olhar depois para uma tela branca, com os dois olhos, a faixa de cor
complementar será visível. Se fechar o olho que não viu a cor, o espectro ainda
permanecerá. Se fechar o olho que foi impressionado pela cor, nenhuma faixa de
cor complementar poderá ser observada.
 
Experimento 2.
 
Uma senhora que nunca tinha visto a aura tentou detectá-la sob as mais
favoráveis condições de iluminação e de fundo, mas fracassou por completo. Um
olho foi sensibilizado com dicianina da maneira usual, enquanto que o outro foi
fechado. O resultado foi que ela pode ver imediatamente a aura quando a
procurou com ambos os olhos. Era também visível quando ela fechou o olho não
sensibilizado. Quando usou só este último conseguiu ver a aura, mas não tão
distintamente. Após olhar através da tela de dicianina para a luz com ambos os
olhos, cada olho estava igualmente perceptivo.
 
Experimento 3.
 
A. não conseguiu enxergar a aura, mas após sensibilizar um olho por meio
de uma tela de dicianina, ele verificou que ambos os olhos estavam igualmente
eficientes, embora não exatamente na mesma extensão do que quando,
subsequentemente, olhou através da tela com ambos os olhos da maneira usual.
 
Experimento 4.
 
P. era incapaz de perceber a aura. Após sensibilizar um só olho com a tela de
dicianina, ela permaneceu incapaz de detectá-la, fosse usando um ou ambos os
olhos. Depois de fitar a luz através da mesma tela da maneira usual, com ambos
os olhos, ela foi capaz de enxergar a aura.
 
Experimento 5.
 
G.K. tentou enxergar a aura, mas não conseguiu ver o menor sinal dela.
Então olhou para a luz com o olho direito, durante aproximadamente trinta
segundos, através da tela de dicianina, enquanto fechava e cobria o esquerdo.
Logo depois, pôde distinguir a aura com o olho esquerdo, mas não era tão distinta
como quando só usou o olho direito. A sensibilização de ambos os olhos
aumentou a eficiência ligeiramente.
 
Esses experimentos têm sido repetidos várias vezes, com resultados
similares.
As inferências desses experimentos são intrincadas e muito difíceis de
interpretar. A única explicação aparentemente plausível é a de que o observador
tem, naturalmente, uma leve capacidade de percepção da aura, mas tão leve a
ponto de permanecer latente até ser excitada por alguma estimulação exterior.
Essa ideia é fortalecida até certo ponto por uma senhora que tentou enxergar a
aura sem ter olhado através da tela de dicianina, tendo fracassado completamente.
Contudo, ela perseverou durante cerca de dez minutos, quando então afirmou
achar que podia ver a névoa, mas não estava certa de que a impressão não fosse
mera imaginação. Seus olhos foram a seguir influenciados pela tela de dicianina,
após o que ela pode ver distinta e imediatamente a aura, não havendo diferença
em relação ao que notara antes, salvo na sua nitidez.
O próximo passo é considerar as condições em que a aura pode ser vista. A
penumbra é a condição de iluminação mais favorável (não a escuridão completa),
que também é a melhor iluminação para o trabalho prático. Em geral, a aura pode
ser vista em torno de qualquer parte do corpo humano, contra um fundo escuro,
sob a luz diurna ordinária, quando olhada através de telas coloridas.
A tonalidade da cor necessária nessas telas depende da intensidade da luz.
Tirou-se partido desse método para o exame da aura interna através da tela
vermelha ou carmim. (Capítulo III.) Muitas telas de diferentes cores têm sido
experimentadas para evitar, se possível, a necessidade de um quarto escuro, mas
não se encontrou nenhuma suficientemente satisfatória. Levando-se em conta
todas elas, uma tela azul-escuro é mais eficiente para ver a aura exterior, mas não
revela as peculiaridades da aura interior tão bem quanto a vermelha. Algumas
pessoas podem ver a aura sob luz comum em maior ou menor grau.
A conclusão que se pode tirar dos enunciados acima apresentados é que um
estado de adaptação do olho à obscuridade não constitui requisito essencial para a
percepção da aura, mas esse fenômeno pode ser muito melhor observado quando
o olho tenha sido parcialmente reduzido a essa condição. Deve-se ter em mente
que a necessidade de uma iluminação fraca pode ser parcialmente devida à
delicadeza da aura, cuja visibilidade é destruída por uma luz intensa.
Reconhece-se em geral que um objeto que propicie apenas um ligeiro
estimulo visual devido a sua cor, quando visto pela primeira vez num estado de
adaptação incompleta, é cinzento e gradualmente se torna colorido. O
desenvolvimento progressivo da cor depende do avanço em direção da adaptação
completa ou de um aumento crescente do estímulo da cor. Isso está de acordo
com a aparência da aura, que a princípio parece cinzenta e depois exibe a adição
de alguma cor, geralmente azul ou verde.
Foi dito há algum tempo que um dos efeitos que a dicianina tinha sobre os
olhos era o de conferir a capacidade de perceber raios ultravioleta, e essa hipótese
será ainda mais fortalecida pelo estudo das cores áuricas que agora faremos.
Para nossos propósitos atuais é irrelevante se as ondulações de diferentes
comprimentos de onda são discriminadas nos centros nervosos, ou se elas são
separadas na retina pelas terminações nervosas das fibras que transmitem o
estímulo para o cérebro, e nele originam a percepção da luz, ou por fluorescência
dos meios dos olhos. Essas cores devem ser plenamente estudadas. São
necessárias telas para sua investigação, e os experimentos têm assegurado que as
de cor escura são preferíveis, já que, usando-as, uma boa quantidade de luz pode
ser admitida no recinto; a não ser por isso, a exata tonalidade da cor empregada
não tem consequências. As telas usadas são:
 
Vermelha............ feita com uma solução de carmim. (O mesmo usado para
caracterizar a aura interior.)
 
Laranja............... feita com uma solução de amarelo-ovo.
 
Amarela............. feita com uma solução de amarelo K.
 
Verde................. feita com uma solução de verde naftol.
 
Azul................... feita com uma solução de azul-de-metileno.
 
Violeta............... feita com uma solução de violeta genciana.
 
 
Outros corantes terão o mesmo efeito.
 
Antes de considerar os efeitos dessas telas sobre a aura, será aconselhável
dizer algumas palavras sobre sua ação sob circunstâncias normais.
De acordo com uma teoria amplamente aceita, os olhos possuem três
conjuntos de nervos sensíveis à cor, que são excitados pelo vermelho, amarelo, “e
azul, respectivamente, e todas as outras cores são percebidas como consequência
da excitação de dois ou mais desses nervos, em graus variáveis, simultaneamente.
O espectro da luz diurna comum, decomposta por meio de um prisma,
consiste em um vasto número de ondulações de diferentes comprimentos de onda
que produzem as cores do arco-íris (a porção visível do espectro solar), além de
muitos outros que são comumente invisíveis. Do ponto de vista da Física, as
ondulações de cada cor e cada matiz de cor são bem distintas, e o conceito de
cores primárias e secundárias é inteiramente fisiológico. Embora existam leves
variações entre diferentes indivíduos, para todos os propósitos práticos, as cores
do espectro em torno das linhas de Fraudenhofer B. D. e F. (cerca de 6900 A,
5900X, e 4870X, respectivamente), podem ser consideradas, com suficiente grau
de precisão, como as três primárias para as seguintes considerações.
 
* Quanto à razão de escolher amarelo em lugar de verde, veja o Capítulo VI,
página 113.
 
Suponhamos que um raio de luz composto de ondulação de 6900X,
aproximadamente, penetre nos olhos; ele influirá sobremaneira nos nervos
sensíveis ao vermelho e parecerá ao observador como vermelho, A proporção que
os comprimentos de ondas se tornam mais curtos, digamos, próximos a 6400A,
os raios estimularão tanto os nervos sensíveis ao vermelho como os sensíveis ao
amarelo, produzindo a sensação de alaranjado. Os comprimentos de onda quando
reduzidos a cerca de 5900A, serão vistos como sendo amarelos. Da mesma
forma, à medida que as ondulações diminuírem gradativa- mente de
comprimento, de 5900A para 4870X, o observador perceberá as cores verde-
amarelado, verde-azulado e, por fim, azul, sucessivamente. O anil ficará de fora.
Subsequentemente, atingir-se-á uma cor muito interessante, ou seja, o violeta,
que se estende aproximadamente de 4200A a 3950X. Esses raios não só excitam
os nervos sensíveis ao azul, como também estimulam os nervos sensíveis ao
vermelho. Portanto, num dos extremos do espectro solar visível, existem raios
vermelhos que excitam os nervos sensíveis ao vermelho em maior ou menor
grau, e no outro extremo, há ondulações compostas de comprimentos de onda
muito diferentes, que influenciam os mesmos nervos sensíveis ao vermelho,
conquanto nas partes intermediárias do espectro, à proporção que os
comprimentos de onda diminuem, a estimulação das terminações nervosas
sensíveis ao vermelho também diminuem até praticamente desaparecer.
Quando se utiliza um prisma de quartzo para decompor a luz solar, um
cinza-alfazema aparece além do violeta. A visibilidade dessa porção é
provavelmente devida à fluorescência dos meios de refração dos olhos, quando os
comprimentos de ondas mais curtos, invisíveis, são convertidos em
comprimentos mais longos e visíveis. Além desses, há também ondulações que
não podem ser detectadas a olho nu.
Como possível explicação da visibilidade da aura e dos vários fenômenos
cromáticos a ela associados, o autor sugeriria que a tela de dicianina sus- cita
alguma mudança nos olhos, de modo que as sensações, não somente de luz, mas
também de cor, possam, até certo ponto, ser evocadas, seja como for, por partes
do espectro ultravioleta. Não é difícil conceber que sob tais circunstâncias, por
uma extensão dos processos que ocorrem no extremo violeta do espectro visível
comum, quando as terminações nervosas da retina sensíveis ao vermelho estão de
novo, e com comprimentos de onda decrescentes, cada vez mais estimuladas,
poderia ocorrer uma repetição mais ou menos completa da série de cores
espectrais, provavelmente muito modificada, sob muitos aspectos. Em resumo,
um segundo espectro, mais elevado. O violeta mantém a mesma relação com o
azul e o vermelho ultravioleta que o alaranjado mantém com o vermelho e o
amarelo.
Objetos coloridos refletem matizes diferentes dos do espectro, tanto mais
que as cores percebidas podem ser o resultado de uma combinação das várias
partes do espectro, devido ao fato de certas ondulações serem absorvi- das da luz
branca. Os raios refletidos raramente são simples, sendo em geral misturados
com luz branca, porque o objeto é geralmente incapaz de absorver a tonalidade de
qualquer conjunto de ondas contidas na luz sobre ele incidente. Por exemplo, um
objeto verde pode refletir:
1. Só ondulações do verde.
2. Ondulações do azul e do amarelo misturadas.
3. Ou 1 ou 2, com o acréscimo de luz branca. Consequentemente, o matiz de
verde resultante percebido depende da soma total da ação exercida sobre todos os
nervos sensíveis à cor.
Quando se examinam objetos através de várias telas coloridas, se a cor do
objeto e da tela só diferirem em matiz, aquele parecerá mais escuro ou mais claro,
conforme seja a tela mais clara ou mais escura que ele. Se o objeto e a tela forem
da mesma cor e matiz, o objeto permanecerá de matiz inalterado. (Veja a página
38.) Se a tela e o objeto forem de diferentes cores, de acordo com a tonalidade da
primeira, este último ficará mais escuro ou terá seu matiz alterado pela mescla
das duas cores. Por exemplo, considere um objeto amarelo. Parecerá escuro,
aproximando-se do preto, se a tela for azul muito escuro, ao passo que, se for
azul-claro o objeto mudará de cor, tornando-se esverdeado em decorrência da
mistura do azul com o amarelo.
Quase todo observador após usar a tela escura de dicianina vê a aura como
uma névoa azul ou cinza-azulado. Surge então a questão de saber se essa cor azul
é devida a comprimentos de onda de cerca de 4200λ, ou pertencentes a uma
região situada além do espectro visível comum. No primeiro caso, deve ser
devida a luz comum refletida, devendo seguir as leis comuns quando examinada
através das telas coloridas; no segundo seria razoável esperar algum desvio das
aparências usuais.
A investigação requer que o observador seja capaz de detectar a aura sem
usar a tela clara de dicianina; não tenha nenhuma deficiência da visão para cores;
e seja capaz de descrever com precisão as cores que vê. Consequentemente, um
artista capaz de perceber a aura seria a pessoa ideal. É curioso que ao examinar a
aura através das várias telas não há dois experimentadores que deem nomes
idênticos às cores que veem. O motivo disso pode ser, às vezes, a imperfeição de
suas capacidades descritivas, já que as cores são invariavelmente esquisitas e
quase indescritíveis, ou por serem as diferenças, em outras ocasiões, tão
pronunciadas que é impossível duvidar de que seus órgãos visuais tenham sido
afetados de formas diferentes, embora, sob circunstâncias normais, as cores
sejam corretamente designadas. Os efeitos extraordinários parecem, com
frequência, produzidos pelo fato de duas ou mais cores vistas simultaneamente
não se mesclarem. Por exemplo, azul e amarelo são frequentemente vistos como
azul e amarelo, e não verde como seria de prever; vermelho e azul não fazem
necessariamente violeta ou púrpura. Em alguns casos, é provável que uma
combinação parcial realmente ocorra, complicando ainda mais as coisas, de modo
que o azul e o amarelo não só aparecem separadamente como também mesclados
como verde, fazendo uma estranha mistura de cores.
Essas impressões peculiares podem ser explicadas supondo-se que, embora
as sensações devidas à estimulação simultânea pelo amarelo e o azul sejam
combinadas no cérebro para formar o verde, como as cores vistas em relação à
aura se situam fora da experiência ordinária, elas são reconhecidas com os
curiosos resultados já mencionados.
Uma modelo artístico estava em pé diante de um fundo preto, com as mãos
nos quadris e os cotovelos estendidos, enquanto as auras nos espaços vazios entre
os braços e o corpo eram examinadas. O., um artista profissional, sem utilizar
nenhuma tela, descreveu a aura como sendo uma névoa de cor azul e cinza. O
aspecto era o mesmo por todos os espaços, salvo na parte mais próxima do corpo
(evidentemente a aura interior), que era um tanto mais pronunciada. A seguir ele
examinou a aura através de telas coloridas, e os resultados aparecem tabulados na
série I da Tabela IV (páginas 68e69). Perguntou-se então à modelo se ela poderia
alterar a cor do seu lado esquerdo para o vermelho. Ela só conseguiu produzir
uma cor cinza-avermelhado. Depois, do mesmo modo, uma boa cor azul foi
produzida do seu lado direito. Através das telas O. viu as mencionadas cores nas
séries 2 e 3 da tabela. A seguir, a modelo tentou produzir um amarelo do seu lado
direito, mas a cor resultante, sendo instável, não se prestou para uma série de
testes. Entretanto, apareceu um verde intenso e através da primeira tela
empregada, que era amarela. Ocorre com frequência que uma mudança na cor da
aura, quando provocada por esforço voluntário, não se mantém por tempo
suficientemente longo para permitir um exame completo através das telas.
Por várias ocasiões, em relação a experimentos similares, o autor examinou
a aura dessa mulher através de telas coloridas. Os resultados são apresentados nas
séries 4 a 7 da tabela. As séries 8 e 9 são as cores registradas por Q. e o autor,
que, sem a intervenção de nenhuma tela, apareceram como um azul-ultramarino
francês transparente.
Os outros exemplos da tabela foram colhidos para ilustrar as cores durante o
estado de boa saúde. Em casos de doenças, são muito frequentes as alterações das
cores da aura quando vistas através de telas de diferentes cores, especialmente a
azul, e, numa grande proporção de casos, algum matiz do amarelo estará
presente.
As observações acima relatadas bastam para mostrar que a cor natural da
aura permanece azul quando vista através de uma tela amarela, em vez de seguir
a regra comum e tornar-se verde; esse amarelo em algum matiz é constantemente
percebido quando um azul-escuro ou violeta é empregado – o que é impossível
sob circunstâncias ordinárias. Outrossim, quando por um esforço voluntário da
parte do sujeito a aura tenha seu matiz alterado, as cores vistas através das telas
não coincidem com as que seriam naturalmente esperadas.
Essas investigações confirmam a opinião de que a mudança radical no
aparelho visual é provocada pelas telas de dicianina. Em relação aos
experimentos acima relatados, os seguintes pontos devem ser particularmente
observados:
 
1. A relativa facilidade com que as cores da aura puderam ser alteradas para
azul ou verde.
2. A dificuldade que esse sujeito experimentou na produção do amarelo, e a
instabilidade do resultado.
3. Os efeitos estranhos encontrados por ocasião do exame da aura verde com
telas.
 
Durante o exame de pacientes, várias mulheres (mas nenhum homem) foram
capazes de mudar as cores de suas auras em maior ou menor grau, algumas com
muita facilidade, as quais com um pequeno adestramento podiam prestar uma
assistência inestimável. A maioria dessas pessoas tinha um temperamento
excitável. Infelizmente todas elas eram inacessíveis para fins experimentais, pois
nenhuma era modelo artístico.
A explicação da aura é plena de dificuldades, algumas das quais
desaparecem tão logo a auto luminosidade seja admitida.
À página 48 ficou dito que a aura não pode ser vista sob total escuridão, e
consequentemente não tem luminosidade própria, na acepção comum dessa
expressão. A essa afirmação cabe uma restrição e uma crítica quanto ao
significado da expressão "luminosidade própria". Em geral, ela denota que um
objeto pode ser visto na escuridão através de alguma propriedade, inerente ou
adquirida, de emitir raios aproximadamente entre 7500X, 4000X, amplitude do
espectro solar comumente visível. Se, entretanto, a substância emite raios de,
digamos, 3500X, que geralmente são invisíveis, será classificada entre os objetos
que não têm luminosidade própria. Se o olho humano puder, de uma maneira ou
de outra, tornar-se capaz de enxergar esses raios, então tal substância será
definida como dotada de luminosidade própria; consequentemente essa expressão
se reduz a um conceito fisiológico. Se esses postulados forem admitidos, parece
fácil avançar mais um passo e conhecer que um objeto pode emitir raios que
seriam visíveis, caso fossem suficientemente abundantes para atuar como
estímulo eficaz. Já que a estimulação adequada pode tornar eficaz um estímulo
que de outra forma seria subliminar, e tal resultado parece ter sido obtido no caso
em discussão, qualquer que seja a natureza dos raios em questão, a aura pode ser
concebida como dotada de luminosidade própria neste sentido estritamente
limitado.
 
 

 
A posição da aura é a seguinte:
A aura aparece como uma nuvem fraca cujas estrutura e distribuição são
determinadas por forças que emanam do corpo e que se tornam visíveis sob a luz
mortiça e difusa.
Tão logo uma certa alteração no olho tenha sido produzida pelo uso de telas
de dicianina, a aura pode ser vista. Julga-se que a alteração ocorre pela
sensibilização da retina à luz ultravioleta. A aura não pode ser percebida sob total
escuridão; portanto, ela ou não produz raios que possam ser reconhecidos pelo
olho, ou, se o faz, eles não são suficientemente abundantes para causar
estimulação eficaz.
 
 
APÊNDICE AO CAPÍTULO IV
 
Desde o início desta recente e calamitosa guerra,* tem sido impossível obter
dicianina e, atualmente, a probabilidade de se obterem novos suprimentos parece
muito remota. Ela era produzida inicialmente na Alemanha e a demanda sempre
foi limitada, de modo que não parece haver nenhuma probabilidade de que a nova
indústria de corantes venha a experimentar esse com- posto específico enquanto
as cores mais comercializáveis não tiverem sido produzidas até o ponto de
saturação.
 
*A I Guerra Mundial, 1914-18 (N.T.).
 
Não é razoável supor que as propriedades atribuídas à dicianina sejam
confinadas a um único corante, e provavelmente outros, mais ou menos
eficientes, podem ser descobertos entre os que serão produzidos, tão logo a
situação se torne mais estável. Os experimentos necessários devem ser efetuados
por outros, pois o autor desta obra, devido à idade e a enfermidades em número
cada vez maior, se sente impossibilitado de efetua-las. Penso, entretanto, que
algumas indicações sobre o procedimento talvez sejam úteis.
Em primeiro lugar, é de se esperar que um corante adequado seja encontrado
entre os de cor azul, e especialmente aqueles que transmitem os comprimentos de
onda mais curtos do espectro na maior quantidade, com a menor quantidade
possível dos comprimentos mais longos.
Na pesquisa de corantes adequados, sugeriríamos o uso do microscópio de
um modo semelhante ao descrito na página 55, mas o processo pode ser
consideravelmente abreviado. Suponhamos que o mesmo alcance microscópico e
o mesmo objeto sejam utilizados; seria apenas necessário focalizar com precisão
um pelo da probóscide da varejeira sob luz diurna comum, usando o ajuste
grosseiro, que não deve ser alterado de novo. A seguir, o observador deverá
relancear os olhos para a luz, de meio a um minuto, através de uma tela contendo
uma solução moderadamente escura do corante a ser testado. Depois disso,
deverá focalizar o pelo uma segunda vez com o ajuste fino. Se nenhuma alteração
de foco for necessária, provavelmente o corante não serve para o fim que temos
em vista, mas se for necessário baixar a objetiva, aproximando-a da lâmina duas
ou mais divisões no cursor, então o corante poderá ser testado na prática em lugar
da dicianina antes de olhar para a aura. Nenhum outro experimento deve ser
realizado no mesmo dia.
N.B. É absolutamente necessário que o método mencionado na página - 55,
para obter a precisão de foco e eliminar os efeitos de acomodação visual, seja
seguido à risca. Com um pouco de prática, a realização do mesmo se torna
bastante fácil.
 
 
 
 
 
 
Capítulo V
 

EFEITOS DE DIFERENTES FORÇAS SOBRE A AURA


 
No capítulo precedente foram apresentadas provas no sentido de demonstrar
a grande probabilidade de a visibilidade da aura e suas cores dependerem dos
raios ultravioleta, e de que a capacidade de percebê-las não só pode ser adquirida
como também, até certo ponto, explicada. O presente capítulo será dedicado
principalmente à investigação de várias propriedades das auras e às forças que as
geram.
Constantemente tem-se buscado observar a aura no escuro, porém sem
nenhum sucesso, ficando assim provado que ela não tem luminosidade própria no
sentido comum dessa expressão. (Veja o Capítulo IV.) Agora é preciso examinar
as condições que governam sua visibilidade. Os melhores resultados se obtêm
sob luz diurna difusa, adequadamente graduada. Têm sido feitos esforços, sem
muito sucesso, no sentido de determinar se luzes de diferentes cores revelariam a
aura com maior ou menor nitidez. Ela pode ser detectada em diferentes graus de
nitidez através de telas vermelhas, amarelas, verdes e azuis, que também
produzem resultados que variam com a intensidade da cor. Um detalhe
importante se torna mais notável quando empregamos uma tela vermelha, isto é,
as estrias da aura interior.
À primeira vista, o aspecto nebuloso poderia sugerir que a aura fosse alguma
espécie de vapor. Isto é altamente improvável pelas seguintes razões: a aura
permanece inalterada, esteja o paciente com calor ou com frio. As únicas
condições que poderiam fazer um vapor parecer estacionário seriam as do tipo
que governam as nuvens dos picos das montanhas, onde, em dado momento, a
quantidade de névoa acrescentada corresponde exatamente à quantidade perdida
mediante difusão e evaporação. Neste caso, porém, qualquer variação dos ventos
altera a posição ou a forma da nuvem, mas a exsudação, por mais extrema que
seja, e o movimento do corpo não logram produzir mudanças semelhantes na
névoa áurica. Sua estrutura é tão delicada que compará-la com um nevoeiro
comum seria como comparar a mais fina cambraia à mais grosseira lona.
Provavelmente, a interpretação mais correta da aura a que se pode chegar no
momento é ser ela o resultado da emanação de uma força do corpo, o que, como
toda espécie de força, é invisível, mas se torna perceptível mediante a sua ação,
como veremos mais adiante neste capítulo. Se considerarmos por um momento
esta concepção, veremos que não é tão prematura nem tão fantástica como à
primeira vista poderia parecer, e que se pode encontrar paralelos no mundo
animal. Todos sabemos que o corpo humano gera calor e, consequentemente,
propaga-o em parte pelo espaço circundante como radiação calórica. Essa
radiação, como bem sabemos, consiste em comprimentos de onda infravermelha
transmitida através do éter. Outrossim, certos insetos, etc., como por exemplo
pirilampos ou lagartas de fogo, têm o poder de emitir ondas que são percebidas
como luz. É desnecessário multiplicar os exemplos.
Se animais emitem ondas no éter, cujo comprimento abrange a maioria das
partes calóricas e visíveis do espectro solar, não parece haver razão por que
ondulações ultra-violeta não fossem produzidas de modo análogo. Quando estas
últimas são emitidas do corpo humano, parte delas pode ser a verdadeira fonte da
aura que circunda homens e mulheres. Esta afirmação não implica nenhuma parte
específica do espectro ultravioleta.
Este é o melhor momento para examinar se há outras forças que produzem
fenômenos de algum modo semelhantes à aura. Não é, de modo algum,
necessário que a força que a provoca corresponda inteiramente à força emanada
do corpo humano. Felizmente, o magnetismo, a eletricidade (seja de uma
máquina estática ou dos polos de uma pilha galvânica) e a radioatividade
representam três diferentes formas de energia, que produzem algum tipo análogo
de manifestações que podem ser testemunhadas sob condições semelhantes as
necessárias para tornar visível a aura humana.
A névoa magnética não é tão facilmente percebida como a aura humana. Os
melhores resultados são obtidos quando o plano de fundo é perfeitamente liso e
preto, e a iluminação é controlada, usando-se telas de dicianina, como para o
exame da aura. Seria razoável esperar que as nuvens visíveis acompanhassem as
linhas de força magnéticas; mas, tanto quanto se tem observado até o presente,
esse não é o caso, embora seja possível que as diferenças aparentes se devam
inteiramente a condições experimentais imperfeitas e desapareçam à medida que
estas sejam aprimoradas.
Os magnetos ou ímãs, usados nos experimentos seguintes formam uma
ferradura de seis polegadas e uma barra de oito, esta última toda pintada de preto.
Posteriormente, um forte imã permanente, constituído de cinco ferra- duras,
também foi usado, mas não apresentou diferenças apreciáveis, a não ser pelo fato
de produzir uma aura mais distinta. Esse ímã foi usado em lugar de um
eletromagneto que, devido à sua complexidade, não era adequado.
Observando-se uma ferradura magnetizada em circuito com o seu induzido,
ver-se-á uma névoa azulada com aproximadamente uma polegada de largura
circundando-a uniformemente. O espaço central também parecerá enevoado.
Logo que o induzido é removido, ocorre uma grande alteração na forma da
névoa, a qual, enquanto permanece em torno do magneto, se adensa perto dos
polos, efeito que se inicia aproximadamente uma polegada acima e culmina um
pouco atrás deles. Mudança semelhante ocorre no espaço central mas, como este
tem dimensões fixas, a névoa apenas se adensa mais junto às extremidades livres.
Dos polos propriamente ditos, se projetam raios para o espaço, geralmente
visíveis, várias polegadas além, e com um ímã composto foram detectados a até
aproximadamente um pé de distância. Por qualquer razão não determinada, a
névoa magnética pode ser muito mais visível num dia do que em outro.
Os raios emanados do Polo Sul têm pouca ou nenhuma tendência à
expansão, ao passo que os originados do polo oposto tomam ligeiramente a forma
de leque, e o dois feixes se fundem a curta distância dos polos. Quando se
examina desse mesmo modo uma barra magnetizada, ver-se-á a nuvem em torno
de toda a sua extensão, só que mais larga e mais densa nos extremos. Com essa
forma de magneto os raios projetados de um polo não sofrem a influência dos
originados do outro, pois estão afastados um do outro ao máximo, e suas
disposições podem ser observadas com precisão. Se colocarmos uma tachinha
com a ponta voltada para fora no polo de um magneto, a névoa ficará mais
brilhante ao lado da tachinha e se concentrará na ponta da mesma. Como era de
se prever, se duas ferraduras magnéticas forem mantidas com seus polos perto
uns dos outros mas não se tocando no mesmo plano, e uma delas for girada, a
névoa será mais brilhante quando os polos diferentes estiverem opostos uns aos
outros, e vice-versa. A rotação contínua dará, assim, origem a fases de brilho
alternado.
Não é preciso dizer nada sobre a nuvem luminosa em redor da ponta de um
corpo altamente eletrificado, pois todos já estamos familiarizados com esse fato,
tanto mais que nada tem a ver com nosso presente assunto. Entretanto, os polos
de uma pilha galvânica, quando desconectados estão em estado semelhante, mas
devido ao seu potencial muito baixo, só algumas pessoas conseguem distinguir a
névoa em torno deles. O campo de força se torna visível como uma névoa quando
a procuramos da mesma maneira como fazemos com a nuvem magnética. Como
seria de esperar, a névoa circunda qualquer condutor que conecte os polos. Se um
pedaço de fio for ligado com o elemento de zinco, e outro com o carbono da
pilha, e esses dois fios forem de tal modo arranjados que fiquem paralelos entre si
e separados por uma distância de duas polegadas, aproximadamente, todo o
espaço intermediário será levemente nebuloso. Se colocarmos entre eles um não-
condutor, a nuvem já não será tão difusa, mas concentrar-se-á em redor dos fios.
Essa névoa tem coloração azulada. Em circunstâncias similares, pode-se ver uma
nuvem envolvendo um cristal radioativo de nitrato de urânio. O cristal
primeiramente usado era de formato irregular e sua névoa concentrava-se na
extremidade menor e tinha coloração amarela. Certa ocasião, quando o cristal foi
posto junto de um magneto, observou-se uma atração mútua entre as nuvens que
circundavam os corpos, que parecia estender-se em direção um do outro por uma
curta distância, após o que perderam a individualidade, ou porque realmente se
mesclaram ou porque cada qual mais perto de sua fonte camuflava o outro, à
proporção que se enfraquecia.
Seria supérfluo mencionar outros experimentos para provar que, sob certas
condições favoráveis, pode-se ver uma névoa em redor de substâncias em que
haja certas formas de energia ordinariamente demonstráveis por outros meios
menos diretos.
Se a aura for o resultado de uma força física oriunda do corpo e atuando
sobre o meio circundante, parece provável que forças externas, que não as forças
áuricas emanadas de uma segunda pessoa a influenciam, mas só os experimentos
poderão determinar de que maneira se traduz essa influência. O magnetismo é a
força mais fácil de aplicar e, consequentemente, foi a primeira a ser usada. O ímã
eletromagnético não foi tão conveniente quanto o ímã permanente, por isso foi
posto de lado após várias tentativas.
Quando os polos de uma ferradura magnética, após a remoção do induzido,
são mantidos a seis ou oito polegadas do corpo de uma pessoa saudável, o
observador será quase de imediato capaz de distinguir um aumento do brilho da
aura na parte do corpo mais próxima dos polos, e, simultaneamente, a névoa
projetada dos polos do magneto tornar-se-á mais visível. Esta, em poucos
segundos, se concentrará numa única estria ou raio ligando o corpo e o magneto,
e terá a mesma largura que os polos, incluindo o espaço entre eles. Teoricamente,
deveria haver dois raios emergentes do corpo, um de cada polo, e também, se a
aura possuísse polaridade, um deveria ser mais brilhante e maior que o outro. Isto
não ocorre, talvez devido à proximidade dos dois polos do magneto. Se o
magneto for girado lentamente, o raio seguirá e parecerá originar-se da parte do
corpo mais próxima do magneto. Assim, o local de emissão do raio estará
mudando constantemente, mas não se pode detectar nenhuma diminuição de
tamanho ou de brilho. A única exceção parece ser quando um raio emana de uma
protuberância do corpo, como nariz, cotovelo ou mamilo, quando continuará a
manifestar-se, mesmo se o magneto estiver mais perto de uma superfície plana do
corpo, confirmando assim a suposição de que o potencial áurico é maior nas
pontas.
Quando, em vez de uma ferradura, um polo de uma barra magnética for
mantido a curta distância do corpo de um paciente, algo semelhante se produzirá,
só que será menos flagrante. Até onde se pôde verificar, nenhum polo de um
magneto exerce maior influência sobre a aura do outro. Consequentemente,
supõe-se que a aura é igualmente influenciada por ambos os polos do magneto, e
por conseguinte, no que diz respeito ao magnetismo, a aura não possui
polaridade. A atração mútua de duas auras pertencentes a pessoas diversas é mais
intensa do que a existente entre um magneto e uma aura.
Vale a pena relatar aqui uma curiosa experiência feita com o magneto.
Durante o exame da aura de uma mulher, que chegou à fase das faixas de
cores complementares, sobreveio uma escuridão devida a uma terrível trovoada, e
o exame teve de ser suspenso. Esperava-se que a iluminação logo melhorasse e,
para passar o tempo, testamos a ação do magneto sobre a aura. O efeito foi
surpreendente, porque quando o magneto era mantido perto da paciente ela
gritava e dizia que lhe causava grande dor. Ela foi testada de vá- rios modos, com
os olhos fechados, com o magneto coberto, etc., de modo que não soubesse
quando o instrumento lhe era aproximado, mas em cada caso em que
aproximamos dela o magneto, ela o sentiu, não errando sequer por uma vez, de
tal modo que era impossível duvidar de que sensação fosse genuína.
 
Como a escuridão se manteve, o restante do exame teve de ser adiado. Três
ou quatro dias depois, a paciente voltou para completar o exame, quando a ação
do magneto foi testada, uma segunda vez. Nem a mais leve sensação consciente
foi suscitada, donde concluímos que as condições peculiares relacionadas ao
estado da atmosfera eletrificada devia, de algum modo, tê-la tornado
anormalmente sensível.
Graças a um mero golpe de sorte, no outono do ano de 1916, uma trovoada
teve início durante o exame da aura de outra paciente. Conquanto a trovoada e os
relâmpagos fossem frequentes e não muito distantes, a tempestade não era tão
séria como a antes mencionada. Durante o seu auge, o efeito de um poderoso
magneto, composto de cinco partes, segurado ou movido perto de diferentes
partes do corpo da paciente foi testado. O resultado, quanto a provocar qualquer
sensação, foi absolutamente nulo, o que era tanto mais interessante pois essa
pessoa, apesar de gozar de boa saúde, tinha um temperamento definidamente
histérico. Poder-se-ia, pois, prever que ela se revelaria mais sensível a influências
dessa natureza do que um indivíduo não neurótico.
Os efeitos produzidos pela eletricidade estática são muitíssimo interessantes.
Para os primeiros experimentos, selecionamos mulheres, em razão da amplitude
de suas auras exteriores, mas os mesmos resultados são obtidos com homens e
crianças, quando se faz o devido desconto das diferentes for- mas de suas auras.
Há uma ligeira diferença no resultado, de acordo com o sinal da carga
empregada, e visto que a negativa induz uma mudança com uma fase transicional
intermediária, ela será considerada em primeiro lugar. Um método de
investigação será agora descrito.
O sujeito é colocado sobre um banco eletricamente isolado, com as mãos
sobre a cabeça, para permitir ao observador notar com a maior precisão possível a
amplitude de ambas as auras e fazer uma anotação mental de seu brilho. Logo
que essas observações tenham sido completadas, uma carga negativa é aplicada
através de uma cadeia ligada ao polo correspondente de uma máquina de
Wimshurst. Geralmente,* em poucos segundos, a aura exterior se contrai e torna-
se mais densa, ao passo que a interior perde a nitidez. Dessa fase em diante,
ambas as auras diminuem de brilho e em pouco tempo a interior desaparece por
completo. A prova desse desaparecimento é fornecida pelo exame da aura interior
através de uma tela escura carmim, quando se acabará por distinguir um espaço
vazio. A aura exterior, a essa altura, ter-se- á contraído e tornado escassamente
visível, apenas para ser detectada um pouco fora do limite próprio da aura
interior. Se a eletrificação prosseguir por mais tempo, a aura exterior também
desaparecerá sem deixar vestígios. Logo que a carga se dissipe, as auras
começarão a retornar.
Esse experimento pode ser repetido de modo a permitir um exame da aura
durante todo o tempo através da tela escura carmim que, se for de cor
suficientemente intensa, vai, é claro, obliterar a aura exterior, antes mesmo da
eletrificação, da maneira ordinária. Mas tão logo a operação de eletrificação do
sujeito tem início, as auras começam a se alterar, a interior se enfraquecendo, mas
a exterior ficando visível através da tela, como resultado de concentração
imediatamente fora do limite da aura interior, que agora parece grosseiramente
granulada sem apresentar sinais de estriamento. Nenhuma modificação é
detectada na aura exterior, salvo uma condensação, que a torna mais opaca e,
consequentemente, visível através da tela colorida. Logo que esse estágio seja
alcançado, as duas auras começam a se enfraquecer rapidamente e, como seria de
se esperar, a aura interior desaparece antes da exterior, que está mais condensada
e é a última a desaparecer. Após a carga ser dissipada, as duas auras retornam
simultaneamente, e, durante o procedimento, a aura externa não revela nenhuma
condensação. Com as mãos nos quadris e os cotovelos estendidos, uma série
similar de mudanças pode ser demonstrada. Nos vãos entre os braços e o corpo, a
aura exterior é circundada pela interior, e quando a primeira é concentrada uma
massa opaca brilhante fica reunida no centro, apresentando um aspecto muito
bonito. Todas as outras alterações ocorrem exatamente como ficou descrito. Esses
experimentos devem ser efetuados em diferentes ocasiões, pois uma repetição
após curto espaço de tempo nunca é realmente satisfatória. Quando se usa uma
carga positiva, geralmente não ocorre a condensação da aura exterior, embora
ocasionalmente ela exiba uma tendência nesse sentido. As duas auras
desaparecem simultaneamente.
 
* O tempo necessário para a eletrificação induzir as mudanças descritas
varia em diferentes dias nos mesmos sujeitos, bem como em cada indivíduo.
 
Duas máquinas de Wimshurst foram empregadas para a realização desses
experimentos. Uma grande, com dezoito polegadas, e outra pequena, com placas
de dez polegadas, esta última produzindo uma centelha mais longa e a outra uma
centelha mais condensada e mais forte. Os primeiros experimentos foram
realizados com o instrumento pequeno, e resultados plenamente satisfatórios só
puderam ser obtidos quando a máquina estava funcionando na sua melhor forma.
A máquina grande só ocasionalmente deixou de dispersar completamente a aura e
se revelou muito mais confiável.
Um notável efeito disso é o aumento da aura, geralmente de cinquenta por
cento. Os melhores resultados foram obtidos mediante o emprego da máquina
grande. Quando se deseja obter maior expansão, a eletrificação deve ser
prolongada por um breve tempo após o desaparecimento completo da aura. Após
seu reaparecimento, a aura continua a expandir-se durante algum tempo, até
atingir o seu máximo, e então permanece estacionária. Graus modera- dos de
aumento podem ser obtidos com cargas comparativamente pequenas. Tão logo
esse fenômeno foi observado, ele foi estudado com pessoas sadias ou não, de
ambos os sexos e de todas as idades, verificando-se ser universal e não revelar
maiores variações individuais do que seria de se esperar.
Além das alterações do tamanho, acima descritas, outras mudanças
podem ser observadas. Imediatamente após o reaparecimento das auras, a interior
é levemente maior e um pouco menos visível, mas ainda mostra estrias. Contudo,
rapidamente reassume seu aspecto natural. Coincidentemente, a expansão está
ocorrendo, mas, com raras exceções, ela nunca atinge seu brilho original. Torna-
se indefinida nas proximidades da sua periferia e gradualmente se esvai. Tem-se a
impressão de não haver nenhum aumento real na quantidade da névoa, mas sim
uma sua distribuição por um espaço maior. Uma aparência não idêntica, mas
muito semelhante à aura ultra-exterior é muitas vezes produzida. A recolocação
temporária das roupas não faz nenhuma diferença, já que, por ocasião de sua
remoção, a aura exterior ainda permanece expandida.
Quando uma pessoa que mostra uma aura ultra-exterior é eletrificada, toda a
aura exterior, via de regra, aumenta de tamanho, estendendo-se pelo espaço por
aquela ocupado. Em dois ou três casos, a aura interior não diminuiu de
intensidade, ou pelo menos não no mesmo grau, como ocorreu em casos em que
não havia sinal de aura ultra-exterior. A explicação disso é muito fácil se for
admitido que a aura ultra-exterior é apenas uma extensão mal definida da exterior
e já ocupa o espaço que será preenchido pela expansão, como resultado de
eletrificação anterior.
Devido à falta de nitidez dos seus limites externos, geralmente há
dificuldade de determinar o tamanho da aura em torno da cabeça, depois que um
sujeito foi eletrificado; mas sobre o resto do corpo, até onde se pode ajuizar, toda
a aura fica, de modo geral, ampliada proporcionalmente, e, desse modo, ela retém
a sua forma natural. Quaisquer peculiaridades locais são geralmente acentuadas.
O Caso 20 é um bom exemplo disso.
 
 
 
 
Caso 19.
 
(Figuras 20 e 21.) V. S., uma menina bem desenvolvida, com oito anos de
idade, de temperamento excitável, mas que nunca sofreu de doença alguma, com
exceção das doenças infantis normais, foi examinada durante o verão de 1915.
Ambas as auras eram bem visíveis para uma criança dessa idade, e normais,
exceto por uma saliência bojuda nas costas que começava na cabeça e terminava
nos pés, sendo mais ampla na região lombar. O arco, embora facilmente visível,
não era bem marcado. A aura exterior média sete polegadas em redor da cabeça,
quatro dos lados do tronco e três junto às pernas; na frente, três polegadas; no
dorso, cinco polegadas, reduzindo-se para três junto às pernas. A aura interior
media duas polegadas e meia de largura.
Enquanto estava sobre o banco isolado, ela recebeu uma carga positiva da
grande máquina de Wimshurst, durante cerca de cinco minutos. As auras
rapidamente desapareceram da maneira usual e rapidamente retornaram, logo que
a carga foi dissipada. Após um lapso de aproximadamente um quarto de hora,
suas auras foram novamente examinadas. A interior readquirira seu estado
natural. A exterior tinha aumentado. Em torno da cabeça, estava inalterada, mas
junto ao tronco, era três polegadas mais larga e não acompanhava as linhas do
contorno do corpo tão de perto como antes. Também era mais ampla junto às
pernas, onde média quatro polegadas. Na aparência, era muito semelhante à aura
transicional de uma menina de quinze ou dezesseis anos de idade, exceto por ser
um tantinho mais larga nas coxas e nas pernas. Houve também um aumento de
tamanho nas costas e na frente. A saliência em forma de arco tornara-se mais
visível.
 
 
 

 
Caso 20.
 
I. S., uma jovem robusta e de desenvolvimento um tanto precoce, com
quinze anos de idade, foi inspecionada em julho de 1915, quando gozava de boa
saúde. Ambas suas auras atingiram o grau médio de distinção. A exterior exibia a
tradicional aparência natural de sua idade, medindo sete polegadas de largura na
cabeça e no tronco, e quatro nas pernas, sendo esta última parte bastante larga.
Uma vista lateral da aura mostrou uma largura de cinco polegadas na frente, sete
na região lombar, com a margem externa reta para cima e para baixo, e quatro
polegadas junto às pernas. De modo geral, era um pouco mais larga que o natural
para sua idade. A aura interior era saudavelmente estriada e media três polegadas
de largura.
Ela subiu no banco isolado e recebeu, durante alguns minutos, uma carga
elétrica positiva. Usamos a pequena máquina de Wimshurst. A aura toda
desapareceu e, alguns minutos após o seu retorno, ampliou-se até dez polegadas
junto à cabeça e ao tronco, seis na frente, nove no dorso e seis nas pernas. A
perda da nitidez foi rápida. Consideramos que o tamanho e a forma sejam um
prognóstico da fase adulta, que no caso dela será atingida provavelmente logo
depois de completar dezoito anos.
 
 
Caso 21.
 
(Figuras 22 e 23.) B. S., um estudante de onze anos e de temperamento
excitável, mas dotado de boa saúde, foi examinado em 1915. As duas auras
possuíam o grau médio de nitidez, e a exterior era larga para a sua idade,
medindo, de frente para o observador, sete polegadas em redor da cabeça, cinco
no tronco e quatro nas pernas. De lado, media quatro polegadas e meia na frente,
sete à altura dos rins e quatro nos tornozelos. Era arqueada nas costas, iniciando-
se a curvatura na cabeça e terminando nos pés. A aura interior media três
polegadas de largura e exibia a estriação natural. Estando isolado, ele recebeu
uma carga positiva. A aura levou um tempo bastante longo para desaparecer,
mas, depois, quando voltou completamente, viu-se que tinha se expandido,
enquanto que a curva estava extremamente evidente. As medidas eram, estando
ele de frente, dez polegadas ao redor da cabeça, mesmo dos lados do tronco, seis
junto às pernas. Uma vista lateral apresentou seis polegadas na frente e nas
pernas, e doze na região lombar.
 
 
 
Caso 22.
 
(Figuras 24 e 25.) E., um homem alto, forte e bem-constituído, de cinquenta
anos de idade, foi examinado em 1915. Sua aura exterior era extraordinariamente
larga e distinta. A interior não era tão nítida como seu físico fazia prever. Não
havia sinal de aura ultra-exterior. A aura exterior tinha boa forma, dez polegadas
e meia em redor da cabeça, sete no tronco e seis nas pernas. De lado, media seis
polegadas e meia na frente, e sete nas costas. A interior mostrava estriação bem
clara, medindo um pouco mais de quatro polegadas de largura. De pé sobre o
banco isolado, recebeu uma carga negativa, e as duas auras desapareceram da
maneira usual, apenas levando para isso um tempo um tanto longo. Em
consequência, a aura exterior se expandiu bastante, mas, ao mesmo tempo,
tornou-se proporcionalmente menos distinta e a margem distal era um tanto
indefinida. Não havia aura pseudo-ultra-exterior. O tamanho da aura era quinze
polegadas em volta da cabeça, dez junto ao tronco, nove nas pernas, com a
mesma largura nas costas e na frente.
 
 

 
 
A princípio, tínhamos como certo que a aura, após alargar-se mediante
eletrificação estática, logo reassumiria seu estado natural, o que se revelou um
erro quando examinamos um paciente (Caso 48, descrito mais adiante) que
estivera submetido a tratamento elétrico para fins terapêuticos. Na primeira
ocasião, a margem externa da aura do paciente era tão bem-definida quanto o
normal, mas por ocasião de sua terceira visita (a aura não foi inspecionada na
segunda), a exterior assumira um aspecto indistinto de uma aura ultra-exterior, o
que continuou acontecendo até o final das experiências, embora certa vez tenha
decorrido um intervalo de uma semana durante o qual nenhuma carga foi
aplicada e, todavia, nenhuma contração se verificou. Nesse caso, a aura ultra-
exterior parecia ser exclusivamente o resultado da aplicação de eletricidade
estática, mas não se supunha que uma mudança de tamanho induzida num minuto
ou dois fosse persistir por vários dias.
Quinze dias após ter sido administrada a última carga, a aura do paciente
tornou a ser examinada, verificando-se que tinha o grau médio de nitidez e que
voltara às dimensões anotadas na primeira visita, a não ser por uma névoa muito
tênue de quatro polegadas de largura que, entretanto, nem de longe parecia uma
aura ultra-exterior e, provavelmente, se esvaiu em poucos dias.
A duração do aumento de tamanho induzido por uma única aplicação de
eletricidade estática só poderia ser determinada experimentalmente, como
tentamos fazer num dos dois casos detalhados a seguir.
 
1. Uma paciente recebeu uma carga em quantidade grande o suficiente para
provocar apenas o completo desaparecimento de sua aura que, em seu retorno,
expandiu-se em quarenta por cento além do tamanho original. Dois dias depois,
ela foi examinada pela segunda vez, para um fim totalmente diferente, e
verificamos que a aura estava quatro polegadas mais ampla junto ao tronco do
que era no começo do exame anterior, e exibia todas as características da aura
ultra-exterior.
 
2. Em maio de 1918, M. W., uma senhora forte e saudável bondosa- mente
se apresentou como voluntária para submeter-se a um exame diário de sua aura,
durante um experimento para determinar quanto tempo duraria uma expansão
induzida eletricamente. A aura exterior que tinha forma perfeita e bem-definida,
pôde ser medida com precisão apresentando as seguintes dimensões: em torno da
cabeça e do tronco, onze polegadas; na parte superior das coxas, sete; e daí para
baixo, cinco polegadas. Na frente, sete polegadas contraindo-se para cinco junto
aos tornozelos; nas costas, cinco polegadas junto os ombros e nádegas, sem
saliência na região lombar, onde media oito polegadas. A aura interior media
aproximadamente três polegadas e meia de largura em torno de todo o corpo,
salvo nas coxas e pernas, onde era ligeira- mente mais estreita.
Ela foi colocada em cima do banco isolado e recebeu uma carga elétrica
durante três minutos e meio. As auras não desapareceram por completo. Após
alguns minutos, a aura tornou a ser inspecionada e medida. Expandira-se e já não
mostrava margens bem-definidas, aparentando agora uma aura ultra- exterior.
Tanto quanto se podia observar, a aura exterior media dezoito polegadas em redor
da cabeça e junto aos lados do tronco, oito nas coxas, e seis nas pernas. De lado,
media dez polegadas na frente, onze na região lombar e seis nos tornozelos.
No dia seguinte notou-se que a aura readquirira sua margem nítida,
permitindo, uma vez mais, uma fácil medição. Em torno da cabeça, media onze
polegadas; nos lados do tronco, catorze; e nas coxas e pernas, oito. Na frente, dez
polegadas; na parte mais larga das costas, onze; e nos tornozelos, oito. Esses
números mostram que a aura, conquanto ainda maior que o normal, estava
consideravelmente reduzida de tamanho. Também recobrara, em grande parte,
seu brilho perdido. No dia seguinte, como prometera, essa senhora tornou a nos
visitar. Antes do exame esperava-se que a aura exterior estivesse menor que na
véspera mas não exatamente no seu tamanho normal. Entretanto, quando as
dimensões foram tomadas e comparadas com as de seu primeiro exame, elas se
equivaliam perfeitamente. Neste exemplo, a aura levou mais de vinte e quatro
horas e menos de quarenta e oito para voltar ao normal.
Se se pudesse tirar quaisquer conclusões de apenas dois casos, dir-se-ia que
nenhum tempo definido pode ser estipulado para a volta da aura a seu tamanho
normal após ter sido aumentada pela eletricidade.
O aumento da aura por eletricidade pode ser alcançado por outros métodos
além da eletrificação direta dos pacientes postados sobre um banco eletricamente
isolado. Um método mais rápido e quase tão eficaz é manter um pincel elétrico
(electric brush) próximo de uma pessoa sob condições adequa- das. O pincel
usado para esse fim consiste de uma fina vara de latão, de nove polegadas de
comprimento, presa a um cabo de vidro, e com certo número de tufos de fios
metálicos fixados em ângulo reto, os quais, quando expandidos em paralelo com
a vara, formam um grande número de pontas em série. Quando este é conectado
com uma cadeia a um dos condutores positivos da máquina de Wimshurst e
carregado, uma forte brisa (breeze) elétrica é induzida.
Por ocasião do primeiro experimento o pincel elétrico foi sustentado
próximo da espinha dorsal de uma paciente e movido para cima e para baixo,
após o que verificou-se que a aura tinha aumentado de tamanho, como é ilustrado
pelo caso registrado a seguir. É obviamente impossível conduzir mais que um
experimento desta natureza com um mesmo paciente num único dia, dada a
extensão de tempo que a aura leva para reassumir seu estado normal.
 
 
Caso 23.
 
C. E., dezoito anos incompletos, tinha auras exterior e interior bem
conformadas, sem nenhuma anormalidade e bastante amplas para sua idade. A
exterior media oito polegadas na cabeça e no tronco, contraindo-se para quatro
nos tornozelos; cinco polegadas ao longo da frente e sete na parte mais larga das
costas, onde tinha uma forma ligeiramente arqueada. O pincel elétrico ligado por
uma cadeia ao condutor positivo da máquina de Wimshurst foi sustentado em
paralelo à linha central vertical do tronco, em frente do corpo, e movido uma vez
para baixo junto dessa linha, mas sem tocá-la. Nenhuma mudança na aura pôde
ser detectada. Após um ou dois minutos o pincel foi passado ao longo da espinha
dorsal da mesma maneira, uma vez, e inspecionou-se uma vez mais a aura.
Crescera consideravelmente, agora medindo, em redor da cabeça e do tronco,
doze polegadas, e nas pernas e na frente, oito, e na região lombar, doze,
persistindo ainda a forma arqueada. A jovem foi colocada, a seu devido tempo,
sobre o banco isolado, sendo eletrificada negativamente, e então a aura se esvaiu
da maneira usual. Ao fim de alguns minutos, viu-se que a aura se expandira ainda
mais, sendo duas ou três polegadas mais ampla que anteriormente. Após a
aplicação do pincel e o recebimento de carga negativa estando a pessoa no banco
isolado, a névoa tornou-se menos distinta, especialmente no último caso. A aura
interior não pareceu se alterar.
A razão pela qual o pincel foi sustentado próximo da frente e depois junto às
costas da paciente era determinar se a eletricidade estática influenciava a aura
diretamente, carregando os grânulos que a constituem, levando-os assim a se
repelirem uns aos outros e provocando uma expansão sem qualquer aumento de
substância; ou se seu aumento de tamanho era devido a uma alteração das forças
áuricas produzidas pela estimulação do sistema nervoso central. Se se
confirmasse a segunda hipótese, imaginava-se muitíssimo provável que o pincel
elétrico pudesse produzir mais efeito quando fosse aplicado perto da medula
espinhal do que em qualquer outra parte.
Com o mesmo propósito, realizou-se outro experimento com uma jovem de
dezoito anos que tinha uma aura nítida, larga em tomo da cabeça, mas estreita,
para sua idade, no tronco. Ela era saudável e manifestamente inteligente, mas
tinha o desenvolvimento físico retardado. O pincel elétrico negativamente
carregado foi mantido perto de sua testa, mas sem tocá-la, não mais do que
alguns segundos. A aura foi de imediato reexaminada e exibia uma larga
expansão em toda ela, mas com esse aumento de tamanho houve uma
correspondente diminuição de nitidez. Não se faz necessário apresentar suas
medidas detalhadas.
A não ser em dois casos, a suposição de que o pincel elétrico produziria
maior efeito quando aplicado à medula espinhal sempre foi confirmada. Mas
esses dois casos não foram semelhantes, pois seus resultados foram obtidos sob
diferentes circunstâncias.
Num desses casos, um homem que permaneceu sobre o banco isolado pois
devido a um equívoco não lhe fora dito que descesse, enquanto o pincel era
movido cinco ou seis vezes para baixo e para cima, em frente de seu tronco,
quando, além da ação local visada, uma carga foi evidentemente comunicada a
todo o corpo. No outro caso, o pincel fora movimentado para cima e para baixo,
em frente de uma mulher, durante aproximadamente um minuto.
Uma carga elétrica permanece na superfície de um corpo carregado, e o
corpo humano não faz exceção à regra geral. Independentemente dos estados
eletrificados, produzidos sob condições experimentais como as acima referi- das,
uma carga superficial varia, de momento a momento, em sua distribuição e
potencial, ainda que num mesmo e único indivíduo; fizeram-se investigações
para determinar as relações que porventura houvessem entre esses estados
elétricos locais ou gerais e a aura. Três modelos artísticos, cada qual por vá- rias
ocasiões, e uma série de outras pessoas, uma ou duas vezes, foram examinadas, e
algumas observações interessantíssimas foram feitas. Todavia, só descreveremos
aqui as que tiverem algo a ver com o assunto em questão.
Os aparelhos usados para as investigações foram eletroscópios comuns de
uma única folha de ouro e planos de prova. Esses instrumentos são tão
conhecidos que não é necessário fazer qualquer descrição deles além de dizer que
a folha móvel de ouro media aproximadamente três polegadas de comprimento e
um dezesseis avos de largura. Essa medida foi selecionada após muitas tentativas,
como sendo a que dá melhores resultados. Um eletroscópio (E.1.) foi instalado
junto a um fino disco metálico correspondente ao plano de prova usado. Às vezes
o disco foi substituído por um condensador menor composto de duas placas de
latão tendo três quartos de polegada de diâmetro, isolados entre si por goma-laca.
A placa superior foi conectada por um fio flexível isolado ao plano de prova.
Subsequentemente achou-se mais conveniente ter um eletroscópio separado
(E.2.), com um condensador fixo coloca- do dentro da caixa de vidro. Havia, é
claro, uma ligação para permitir que a placa inferior, em comunicação com a
folha de ouro, fosse carregada de fora.
Em geral é fácil carregar um eletroscópio como E.1. diretamente do corpo
colocando o plano de prova sobre a superfície do extensor do braço e depois
sobre o disco do eletroscópio, e repetindo a operação tantas vezes quantas sejam
necessárias para obter o maior grau de divergência da folha de ouro. A carga será
quase sempre negativa. Qualquer parte do corpo pode ser tratada como indicamos
acima; quando, como ocorre com frequência, uma carga suficiente não pode ser
comunicada ao instrumento ou é necessário poupar tempo, é preferível empregar
o seguinte método: carregue o eletroscópio E.1. com eletricidade do mesmo sinal,
geralmente negativo, da eletricidade de superfície até a folha de ouro divergir
alguns graus. Se agora o plano de prova for mantido perto e acima do disco
metálico, após ter tocado qual- quer parte do paciente, ele motivará uma
divergência ainda maior da folha de ouro. Pela repetição pode-se fazer uma
comparação aproximada do potencial nas diferentes partes do corpo.
Quando se usa um eletroscópio do tipo E.2., o disco do condensador
conectado com a folha de ouro é carregado por uma máquina estática com
eletricidade do mesmo sinal da possuída pela pele, enquanto que o plano de prova
ligado pelo fio flexível permanece em conexão com a terra. Por esse meio,
quando o plano de prova entra em contato com a superfície do corpo e depois é
removido, ocorrerá um aumento na divergência da folha de ouro. Logo que o
plano de prova é conectado com a terra, a folha de ouro volta a sua condição
anterior. Por esse método, podemos, rapidamente, fazer observações.
Infelizmente, esse instrumento não é tão delicado como o anterior.
*Um maior grau de precisão pode ser obtido ligando-se três ou quatro
pedacinhos mi- músculos de ebonite à superfície superior do disco do
eletroscópio para aí descansar o plano de prova, desse modo permitindo que a
distância entre o disco e o plano de prova seja sempre o mesmo.
Esses experimentos, ao contrário do que se esperava, em geral mas não
invariavelmente, mostraram que certas partes do corpo como a palma das mãos,
nariz, cotovelos, mamilos, etc., que são salientes em sua maioria, são quase, se
não inteiramente, desprovidos de potencial elétrico.*
A senhora A., modelo artístico, certa ocasião, depois de estar despida por
considerável espaço de tempo, e, consequentemente, de estar tão livre de
influências externas quanto era possível estar, como roupas, por exemplo, estava,
ao que se verificou, altamente carregada de eletricidade, podendo ser considerada
um caso típico. Sua aura estava muitíssimo nítida nesse dia. Seu corpo foi testado
inteiramente e, com muito cuidado, com o plano de prova, ao menos uma vez e
em muitas partes várias vezes, de modo que os resultados podem ser
considerados extremamente precisos. (Figuras 26 a 28.) Com exceção da testa,
todo o corpo mostrava uma carga negativa na superfície, a qual, entretanto, estava
irregularmente distribuída. Na frente, era menor na linha central do tórax, mas
começou a aumentar um pouco acima do umbigo, atingindo o máximo logo
acima do púbis. No restante da frente do tronco e nas coxas e pernas, era tão
regular quanto possível. Os lados e a parte maior das costas tinham o mesmo
potencial, exceção feita à sétima vértebra cervical, onde era aparentemente nula,
e ao sacro, onde o potencial aumentou de cima para baixo, até atingir, um pouco
acima da fenda glútea, o máximo de qual- quer parte do corpo. Em duas outras
ocasiões, essa mulher não deu sinais de uma carga na superfície de nenhuma
parte do corpo, com exceção da parte inferior do sacro, onde um considerável
aumento de potencial sempre podia ser detectado. Nesses dias sua aura não
estava menos nítida que o normal.
Outra modelo artístico, cuja aura era em geral bem-definida, normal- mente
mostrava muito pouca eletricidade na superfície, mas, em certa ocasião em que a
eletricidade superficial estava bem pronunciada e uniformemente distribuída por
todo o corpo, exceto na parte inferior do sacro e logo acima do púbis, onde era
mais intensa, sua aura não se mostrou tão nítida como de hábito. Isso, entretanto,
pode ter sido consequência de condições meteorológicas peculiares, já que as
auras de outras pessoas dificilmente atingiam o padrão ordinário de visibilidade.
 
* Visto que a pele, não estando úmida, é condutora muito precária de
eletricidade, o aumento do potencial nas saliências não está presente tal como
ocorre com os condutores.
 
 
 
 
 
 
Bem recentemente, uma mulher muito saudável foi examinada
cuidadosamente, pois algumas peculiaridades anteriormente nunca encontradas
em pessoa sã foram observadas na distribuição de uma considerável carga de
superfície. Todo o lado direito mostrava um potencial mais elevado, levando a
folha de ouro do eletroscópio a desviar-se duas vezes mais do que o causado
pelas partes correspondentes do lado esquerdo. As cargas foram distribuídas
uniformemente, como um todo, em ambos os lados. Não é rara uma condição
semelhante em alguns casos de enfermidade, como epilepsia e hemiplegia,
quando a aura também se mostra assimétrica.
A importância dessa condição foi desde logo reconhecida, e para assegurar
de modo inequívoco que a peculiaridade era genuína, a investigação foi realizada
primeiramente com um e depois com o outro eletroscópio, com resultados
similares. O exame costumeiro da aura foi empreendido imediatamente depois,
mas não se pode detectar a mais leve diferença nos dois lados, fosse em tamanho,
forma, textura ou cor, antes ou depois de uma carga está- tica ter sido aplicada.
Em agosto de 1917, outro caso de distribuição assimétrica de eletricidade
superficial foi verificado. A carga era negativa e, no que diz respeito a cada lado,
uniformemente distribuída, mas, como no caso anterior, era maior na metade
direita do corpo do que na esquerda. Embora a paciente não estivesse bem por
algum tempo, sendo anêmica, não descobrimos nada que pudesse explicar essa
peculiaridade.
Um interessante efeito foi notado quando essa mulher subiu no banco
isolado e recebeu uma carga negativa, ocasião em que sua aura exterior
concentrou-se mais extensamente e levou mais tempo para desaparecer no lado
esquerdo do que no direito, donde se inferiu que deve haver alguma diferença nos
dois lados demasiado sutil para ser apreciada pelos olhos.
Homens e crianças só diferem de mulheres na distribuição da carga de
superfície pelo fato de não terem locais de intensidade máxima na região do
púbis e do sacro. Em geral, a eletricidade de superfície é bem marcada na parte
posterior do antebraço, onde provavelmente, ela é devida à abundância de pelos
nessa região.
Uma mudança local, tanto na aura como na quantidade de eletricidade de
superfície, foi apresentada por uma mulher de quarenta e quatro anos de idade,
pouco antes de dar entrada no hospital para submeter-se a uma operação devida a
osteossarcoma do úmero. No corpo, a carga foi pequena, mas bem pronunciada
na parte de cima do braço, acima e abaixo do tumor, ao passo que nenhuma pôde
ser detectada sobre a parte doente. A aura interior era mais grosseira aqui do que
em qualquer outra parte, mas ainda exibia estriamento.
Os resultados desses experimentos podem ser tabulados, e mostrarão que há
grandes diferenças entre as condições áurica e elétrica, que parecem não
depender uma da outra.
O estudo da aura sempre exerceu fascínio sobre nós, e certo dia, quando
ponderávamos sobre o assunto, nós pusemos a imaginar se não seria possível, por
meios químicos, induzir alterações, fosse no tamanho, na textura ou na cor, pois
já notáramos anteriormente que a aura emanada de uma parte do corpo pintada
com iodo diferia das porções adjacentes. Se substâncias químicas fossem
aplicadas ao próprio corpo, talvez não se produzissem efeitos bem claros, e as
interpretações dos resultados poderiam permanecer duvidosas, já que fatores
adicionais à ação direta sobre a aura poderiam estar envolvidos. Decidimos,
portanto, usar vapores aplicados a certa distância do corpo. Como a primeira
aplicação aconteceu no lado esquerdo, passamos geralmente a utilizar essa
prática daí por diante, embora, é claro, tenhamos feito tentativas também do lado
direito, bem como por todo o corpo, para nos certificarmos de que não existem
diferenças locais. Além disso, dois gases diferentes, como cloro e bromo, foram
aplicados um em cada lado do corpo, e os resultados coincidiram com os obtidos
pelas substâncias químicas, quando empregadas separadamente em várias
ocasiões. Essas observações, entretanto, só são válidas para um sujeito sadio,
dotado de aura simétrica, e só são corretas para uma única substância química,
mas não necessariamente para a mistura de dois gases.
 
Carga de Superfície
 
Grande deficiência ou completa ausência nas pontas.
Muito pequena na testa, palmas das mãos, etc.
Em geral, negativa, mas pode ser positiva.
Aumentada pelo movimento muscular.
Menor na superfície flexora do que na extensora do braço.
Aumentada por fricção da pele.
A umidade da pele impede a acumulação.
 
 
Aura
 
Mais marcada nas pontas.
Bem nítida. Presença ou ausência de eletricidade superficial não fazem
diferença.
Não há polaridade.
Movimento muscular não causa alteração.
Nenhuma diferença nas superfícies flexora ou extensora.
Inalterada por fricção da pele. A umidade da pele não faz diferença.
Quando o corpo é eletrificado artificialmente, a aura diminui ou desaparece
por inteiro. Posteriormente ela, em geral, aumenta de tamanho.
 
Experimento 1.
 
O primeiro exame foi realizado com iodo, em julho de 1912. Ele típico e foi
repetido muitas vezes com os mesmos resultados, de modo que apresentaremos
dele um relato completo. Um modelo artístico postou-se em pé, de frente para o
observador, com as mãos nos quadris e os cotovelos para fora. A cor da aura nos
vãos entre os braços e o corpo era de um azul nítido em ambos os lados. Do lado
esquerdo, espargimos vapores de iodo obtido derramando-se algumas gotas de
tintura de iodeto forte num recipiente vaporizador e aquecendo-o com uma
espiriteira, a curta distância do corpo, em cuja direção os vapores eram
delicadamente soprados. Assim que terminamos de fazer isso, efetuamos um
exame da maneira usual, verificando que a aura apresentava diferentes cores nos
dois lados, e depois, quando o sujeito girou o corpo lentamente, as linhas de
demarcação aparentemente correspondiam às linhas medianas das costas e da
frente. A aura do lado direito ainda conservava sua cor azul, mas no lado
esquerdo era castanho-avermelhado e opaca. A cor era muito peculiar, e,
certamente, continha alguma mistura de outras. Com as faixas de cores
complementares o matiz do lado esquerdo era mais escuro com a azul, a
vermelha e a amarela, mas mais claro com a verde. Esta última cor era
especialmente visível nas extensões da faixa além do corpo, demonstrando sua
presença em quantidade considerável. Através das telas os matizes eram
desiguais nos dois lados. (Veja a Tabela V. série 1.)
 
Experimento 2.
 
Uma senhora européia, com sangue malaio nas veias, mostrou uma aura de
um cinzento-azulado misturado com branco, o que lhe dava uma aparência opaca
que é facilmente vista através das telas de diferentes cores, mas que não é comum
ver a olho nu. Tendo ela as mãos nos quadris e os cotovelos voltados para fora,
sua aura nos intervalos entre os braços e o corpo exibia mais verde do que em
torno do corpo, e essa cor era ainda mais evidente com as várias telas coloridas
através das quais a aura parecia de uma cor verde-acinzentado, em vez do mais
usual cinza-azulado. (Veja a Tabela V, série 2.)
A vaporização de iodo no lado esquerdo tornou a cor castanho-avermelhado,
ao passo que a aura do lado direito permaneceu inalterada. A diferença entre os
dois lados era bastante óbvia. Ao exame através das diferentes telas, a única
alteração detectada no lado esquerdo foi a adição de vermelho, o que se acentuou
especialmente quando usamos as telas vermelhas e alaranjada. O efeito da
substância química sobre o tamanho e a forma da aura é curioso e interessante. A
aura exterior permaneceu inalterada, mas a interior afastou-se do corpo, dando
lugar a uma aparência semelhante a um duplo etéreo extraordinariamente largo.
A interior ficou também indubitavelmente diminuída na amplitude e menos
distintamente estriada. Observou-se em especial que as duas auras estavam
claramente contiguas.
Quando se substitui o iodo por um pouco de bromo, a alteração produzida na
aura nem sempre é idêntica. Às vezes, ela se tornará de um puro azul, outras
vezes, de um verde opaco, c, ocasionalmente, parece haver um estágio
intermediário, quando a cor é uma mistura de azul e verde sem nenhuma mescla.
Esses efeitos cromáticos foram exibidos nos três exemplos seguintes, em que os
preparativos preliminares foram tão semelhantes quanto possível.
 
Experimento 3.
 
A aura de um jovem alto e bem constituído, de vinte e três anos de idade,
voltado para o observador, com as mãos nos quadris e os cotovelos estendidos,
mostrou-se azulada, mas depois de o lado esquerdo ter sido vaporizado com
bromo, a cor dos vãos era de um verde opaco, ao passo que a aura do lado direito
continuou inalterada. O exame através das diferentes telas revelou que a cor do
lado esquerdo era verde, ao passo que a aura do lado direito conservava sua cor
normal. (Veja a Tabela V, série 3.)
 
Experimento 4.
 
B. F., uma mulher de vinte e três anos de idade, possuía uma aura ampla e
bem feita, da cor azul usual misturada com um pouco de cinza. Vapor de bromo
foi usado perto do lado esquerdo de seu tronco, e a aura desse lado tornou-se de
um azul-celeste, correspondendo ao matiz mais escuro da relação de cores de
Rowney. A aura interior parecia menos distinta, embora seu estriamento
permanecesse inalterado.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Experimento 5.
 
D., uma mulher de vinte e nove anos, manifestando sinais indubitáveis da
doença de Raynaud, teve o lado esquerdo de sua aura vaporizado com bromo. A
cor, que anteriormente era cinza-azulado, tornou-se de um azul puro misturado
com verde, ambas não se mesclando.
Até recentemente, as variações nas mudanças de cor induzidas pelo bromo
eram atribuídas a algumas diferenças desconhecidas nas próprias auras.
Verificou-se ser isso incorreto, já que a aura parece primeiro tornar-se verde,
depois azul e verde, e finalmente torna-se azul, de acordo com a quantidade de
bromo usada. Sem dúvida, a aura de uma pessoa requer uma quantidade maior de
vapor para chegar ao estágio final de azul do que a de outra. Isto talvez se deva à
idiossincrasia, mas é provável que o fator saúde também deva ser levado em
conta.
As peculiaridades acima referidas ao bromo foram descobertas
acidentalmente. Certa vez uma quantidade dessa substância química, muito maior
do que a usual, foi inadvertidamente empregada na vaporização de um modelo
artístico. Os vapores foram tão abundantes que o recipiente evaporador teve de
ser transportado imediatamente para fora do quarto, mas nesse processo ele foi
mantido por alguns instantes perto da mulher. Uma parte do gás atingiu-lhe o
lado direito, que estava desprotegido, e obviamente atuou ali sobre a aura,
embora em pequena extensão. Não se pensou no resultado, pois tinha-se como
certo que toda a aura fosse da mesma cor, quer azul, quer verde. Logo que o
exame teve início, porém, observamos um grande contraste nos dois lados, o
direito sendo de um verde opaco e o esquerdo, azul. Fizemos ainda um outro teste
na primeira oportunidade para corroborar essa observação. O paciente escolhido
foi uma mulher de perfeita saúde com trinta anos de idade. Seu lado esquerdo foi
levemente vaporizado com bromo enquanto o direito foi protegido. A aura,
anteriormente de cor azul, transformou-se em verde opaco. Depois, foi
fartamente vaporizada com a substância, quando então transformou-se num azul
de matiz completamente diferente ao da cor natural. Após cada uma das
aplicações, a aura foi examinada através das várias telas, e em cada caso exibiu
uma proporção de verde consideravelmente maior que antes.
É digno de nota o fato de o bromo ser o único vapor que se verificou ser
capaz de produzir mudanças dicromáticas na aura, conquanto outras observações
provavelmente descobrirão outras substâncias com propriedades similares.
Já que ocorrem modificações nas cores da aura mediante exposição à ação
do bromo e do iodo, seria de estranhar se seu congênere, o cloro, não exercesse
alguma influência semelhante sobre ela, o que efetivamente se verificou, se bem
que, contrariamente às expectativas, esse elemento se revelasse menos ativo que
os outros dois. A aura, em todos os casos, sem nenhuma exceção, quando tratada
com cloro, tornava-se mais opaca e de um verde-amarelado, mas de um matiz
que não era idêntico ao produzido pelo bromo.
 
Experimento 6.
 
Aplicamos cloro no lado esquerdo de uma mulher. O gás foi gerado pelo
processo usual, a saber, a ação de ácido sulfúrico sobre uma mistura de sal e
dióxido de manganês. A cor da aura, que originalmente era azul, mudou agora
para um verde opaco. O exame através da tela escura de carmim revelou que a
aura interior perdera nitidez e estriamento, só podendo ser detectada com
dificuldade. Quanto às outras mudanças observadas, veja a Tabela V, série 4.
Um matiz verde é o mais fácil de produzir e foi encontrado quando a aura foi
submetida à ação da amônia, do ácido carbonico em forma de gás ou dos vapores
de um forte ácido cloridrico, bem como de cloro ou bromo.
 
Poder-se-á objetar com justiça que os gases não atuaram diretamente sobre
as auras como se supunha, mas sim sobre a pele e, através dela, sobre as forças
áuricas, tornando assim secundária a mudança de cor. Para eliminar tanto quanto
possível esse erro, solicitamos a um modelo artístico que se vestisse e seu lado
foi então vaporizado da maneira usual com iodo. Quando ela se despiu,
verificamos que um resultado idêntico ao do experimento anterior foi produzido.
Visto que em todos esses testes só uma pequena quantidade da substância
química foi usada, a maior parte nunca poderia estar próxima das roupas, e
qualquer proporção do vapor que efetivamente tivesse entrado em contato com
ela seria provavelmente devido à temperatura, depositada como sólido, de modo
que, se, por qualquer razão, uma parte do gás tivesse pene- trado a trama do
material, deveria ter sido em uma quantidade muito pequena. A substância
química teria depois que atravessar o espaço vago existente entre as roupas e o
corpo, tornando, desse modo, a quantidade de iodo que pudesse ter alcançado a
pele tão infinitesimal, que sua ação poderia ser absolutamente ignorada.
Sempre observamos que quando um lado do corpo era tratado com vapor de
iodo, a aura se tornava castanho-avermelhado, e essa cor era confinada ao mesmo
lado, sendo limitada pelas linhas medianas do corpo, tanto da frente como de trás.
O outro lado permanecia ou inalterado ou mudado de diferente maneira.
O passo seguinte seria naturalmente aplicar o vapor à espinha dorsal.
Algumas gotas de tintura de iodo foram colocadas num recipiente evaporador,
aquecidas até o ponto de evaporação e depois espargidas de cima para baixo, ao
longo da espinha dorsal de uma paciente, por duas vezes, concentrando-se essa
operação tanto quanto possível no centro. O resultado foi a aura tornar-se de uma
cor castanho-avermelhado, cor que se distribuía igualmente em ambos os lados.
Essa distribuição uniforme sempre acontecia quando uma quantidade grande ou
moderada da substância química era empregada.
A aura de uma mulher saudável era cinza-azulado, sendo esta cor
exatamente a mesma nos dois lados do corpo. Suas costas foram vaporizadas
passando-se em suas proximidades uma vasilha aberta de tintura + iodeto + Fort
rapidamente de alto a baixo, sem tocar a espinha, por uma vez. Nenhuma
mudança na aura pôde ser detectada do lado esquerdo, ao passo que a cor do lado
direito tornou-se daquele castanho-avermelhado que constitui o efeito costumeiro
do uso desse vapor.
Este último experimento tem sido repetido um bom número de vezes com
diferentes pessoas, apenas variando-se a rapidez do movimento e o número de
vezes que o vaporizador foi passado. Os resultados foram os seguintes: com
movimentos lentos ou quando os movimentos eram repetidos várias vezes, as
auras de ambos os lados eram, igualmente, ou quase igualmente, afetadas; com
uma ou, quando muito, duas rápidas passagens da vasilha, um dos lados
permanecia inalterado, e o outro tomava-se castanho-avermelhado; e, por último,
a aura de um dos lados tornava-se da cor castanho-avermelhado usual, enquanto
o outro só era parcialmente modificado, conservando mais ou menos sua cor
original. Esses resultados correspondiam à extensão da vaporização. A coloração
mais profunda ocorreu tantas vezes do lado direito quanto do esquerdo.
Ao considerar os efeitos da eletricidade sobre a aura, pensamos que o ozônio
talvez pudesse ter determinado algumas das alterações observadas. Por essa e
outras razões, fizemos muitos experimentos com esse agente. O gás foi gerado
mediante um tubo de ozônio conectado com a máquina grande de Wimshurst. Às
vezes, o paciente se postava de modo que só um lado era influenciado pelo gás,
outras vezes ambos os lados eram alternadamente expostos à sua influência;
outras vezes fazíamos o sujeito voltar-se várias vezes lentamente, para que todo o
seu corpo fosse afetado do modo mais uniforme possível.
 
Observou-se uma mudança de cor em cada um dos casos, e em muitos, a
aura tornou-se mais distinta e por vezes mais opaca. O matiz atingido foi o
castanho-avermelhado, não muito diferente daquele produzido pelo iodo. As
alterações causadas pelo ozônio não foram exatamente iguais em todas as
ocasiões, mas geralmente as diferenças podiam ser explicadas como dependentes
ou de anormalidades da aura devidas a saúde precária ou de efeitos diretos de
eletricidade.
K. E., trinta e dois anos de idade, possuía uma aura muito bem feita, cuja cor
era cinza-azulado, mas, quando inspecionada através da tela azul-escuro,
misturava-se com uma pequena quantidade de amarelo. Ela se inclinou sobre o
tubo de ozônio colocado em cima de uma cadeira, sendo apenas o tubo interno
conectado com a máquina elétrica. Nenhuma mudança de cor foi induzida.
Ambos os tubos foram então excitados. A aura tornou-se castanho-avermelhado.
No lado oposto, a aura tornou-se mais opaca e um matiz esbranquiçado foi
aduzido à cor original. Subsequentemente, ela subiu no banco eletricamente
isolado, recebendo uma carga negativa. Alguns minutos depois, foi novamente
examinada, quando se verificou que a aura exterior estava aumentada da maneira
usual. Não houve outras alterações nas cores, pois o lado esquerdo permaneceu
castanho-avermelhado e o direito era de um azul-acinzentado opaco.
Embora nunca até então se tivesse notado a eletricidade estática provocar
qualquer alteração de cor, como nos pareceu aconselhável eliminar qual- quer
possibilidade de essa mudança passar despercebida, eletrificou-se primeiramente
o ar conforme ficou descrito acima.
Parece curioso que quando um lado de um paciente tenha sido exposto ao
ozônio haja qualquer alteração da aura no outro lado do corpo, mas esse
fenômeno foi observado com frequência. O mesmo efeito, apenas em menor
grau, tem sido observado quando da aplicação de outras substâncias químicas. A
principio, pensou-se que poderia ser causado por um pequeno vestígio do gás que
teria atingido o lado oposto. Esta suposição no entanto foi afastada pela aplicação
de uma quantidade muito pequena do gás, o que deu lugar a uma opacidade extra
e a nenhuma intensificação da cor azul. A diferença das duas cores nos dois lados
permaneceu, depois que a eletrificação subsequente demonstrou que a
eletricidade não tinha nenhum papel na indução da mudança de cor. A única
explicação que se pode oferecer é a assimetria da aura. (Veja a página 165.)
Precisamos agora focalizar as mudanças áuricas que podem ser suscitadas
(1) voluntariamente por esforços da parte do sujeito, e (2) mediante sugestões
feitas ao sujeito sob estado hipnótico.
Na investigação dos efeitos de esforços voluntários, vários fatores são
importantes para assegurar sucesso. O paciente deve ter auras exterior e interior
bem nítidas; deve gozar de boa saúde; deve ter um interesse compreensivo sobre
o assunto; possuir grandes poderes de concentração; e, por último, precisa ter
perseverança, se não for bem sucedido na primeira tentativa.
 
 
Caso 24.
 
A primeira oportunidade favorável ocorreu durante a inspeção de aura de
uma jovem, G., de pouco menos de vinte anos de idade, cujo desenvolvimento
fora tardio. Seu caso era interessante, devido ao rápido desenvolvimento de sua
aura, a qual, em menos de dezoito meses, crescera duas polegadas de largura ao
lado da cintura. Suas funções naturais tinham sido verificadas, e ela parecia a
imagem da saúde. Sua aura era muito nítida, de forma perfeita, de brilho
uniforme em redor de todo o corpo, e não revelava sinais de raios em suma, era a
pessoa ideal para nosso propósito. Antes de iniciarmos o experimento, deixamo-
la ver como a aura emanada da ponta de um dedo podia ser estendida ou
diminuída voluntariamente, e pedimos-lhe
que reproduzisse esse fenómeno, por si mesma. Nisso, ela obteve sucesso quase
que imediato, sendo então convidada a tentar induzir prolongamentos Áuricos de
várias partes do corpo. O primeiro local escolhido foi a protuberância ilíaca, da
qual teoricamente deveriam, frequentemente, se originar raios, embora, na
prática, fosse raro vê-los. Em cerca de meio minuto a aura interior na parte
selecionada começou a parecer mais brilhante e depois passou a estender-se
gradualmente para fora e para cima, até a margem externa da aura exterior. A
jovem então relaxou seus esforços e os raios rapidamente diminuíram.
O local escolhido a seguir foi a parte de baixo do tórax, enquanto ela se
mantinha na mesma posição, a saber, de frente para o observador. Raios de todos
os tipos (página 49) e também manchas de luz costumam ser vistas nessa parte. O
resultado foi inesperado, pois em vez de projetar-se para fora, toda a aura interior,
desde a sexta costela até a crista do osso ilíaco tornou-se brilhante sem nenhuma
extensão, constituindo, na verdade, um grande pseudo-raio. Os dois ombros
foram os pontos selecionados a seguir. Aqui não parecia haver nenhuma
dificuldade, pois os raios se manifestavam quase imediatamente, dirigindo-se
para cima e para o exterior.
A paciente agora virou-se de lado e concentrou seus esforços na projeção de
um raio da ponta do nariz. O raio apareceu imediatamente e se estendeu por sete
ou oito polegadas, prolongando-se realmente além dos limites da aura exterior
visível. Visto que, a essa altura, a jovem estava evidentemente ficando cansada,
pedimos-lhe, à guisa de último experimento, que emitisse um raio desde um de
seus mamilos. O que ela fez imediatamente, mas toda a aura interior em frente ao
seio tornou-se mais brilhante.
Já ficou assinalado que a aura sobre as proeminências do corpo é mais
suscetível a influências externas devido ao fato de que o potencial áurico é maior
nas pontas do que nas superfícies planas. É muito natural supor que os esforços
voluntários produzissem melhores resultados nessas pontas. Os experimentos
acima mencionados tomados em conjunção com muitos outros similares provam
que essa suposição é correta. Mas não devemos esquecer que a concentração da
mente num dado ponto, escolhido para fins experimentais, é comparativamente
fácil, quando uma porção distinta do corpo é selecionada, mas a dificuldade
aumenta quando se escolhe uma pequena área no meio de uma grande superfície
plana. Em todos os casos observou-se que, à medida que o sujeito se torna
fatigado, seu poder de concentração diminui e os efeitos geralmente produzidos
diminuem de intensidade, tornando-se difusos.
No exemplo acima mencionado, quando desejamos um raio unicamente do
mamilo da jovem, a aura interior em torno de todo o seu seio também foi afetada
em menor grau. Se esse efeito se confinasse a um único caso, a difusão poderia
ser atribuída à fadiga, mas o mesmo experimento foi repetido por diferentes
mulheres, sempre com resultados semelhantes, mesmo que a paciente se
encontrasse perfeitamente descansada. O fenômeno se deve provavelmente à
íntima conexão fisiológica entre a glândula e o mamilo, o que não permite que
um seja afetado sem uma correspondente alteração no outro.
Logo que a investigação demonstrou que a emissão de raios da aura interior
estava, pelo menos em certo grau, sob o controle do indivíduo, a pesquisa foi
naturalmente dirigida no sentido das mudanças de cor voluntaria- mente
induzidas, o que, como acreditávamos, não apenas seria de grande interesse mas
teria ademais considerável importância na corroboração da teoria apresentada no
Capítulo VI, isto é, que as alterações de cor eram frequentemente a base das
manchas mais claras e mais escuras vistas nas faixas de cores complementares. A
fim de levar a cabo os necessários experimentos, requisitamos os serviços de um
modelo artístico que foi objeto de muitas provas até mudar de cidade.
 
 
Caso 25.
 
Uma viúva de vinte e sete anos, mãe de dois filhos, teve sua aura examinada
da maneira usual. Era nítida e de cor azul-acinzentado. Enquanto de frente para o
observador, sua aura exterior em torno da cabeça e do tronco média de largura
aproximadamente dez polegadas, mas estreitava-se a uma curta distância abaixo
do nível do púbis e tornava-se da largura de quatro polegadas junto aos
tornozelos. Quando ela se virou de lado, a aura em frente de seu tronco média
cinco polegadas, e quatro daí para baixo. Nas costas, media quatro polegadas na
altura dos ombros, formando uma protuberância gibosa até alcançar oito
polegadas na região lombar. Contraía-se repentinamente logo abaixo das nádegas,
medindo quatro polegadas, e mantinha quase essa mesma largura ao longo das
extremidades. A aura interior media três polegadas na cabeça e no tronco, e um
pouco menos mais para baixo. A faixa de cor complementar só mostrou uma
mancha no sacro, sendo uni- forme em todo o resto do corpo. Com as mãos sobre
a cabeça, as extensões da faixa dos lados do corpo eram semelhantes em ambos
os lados. Voltada para o observador, com as mãos nos quadris e os cotovelos
estendidos, suas auras nos vãos do corpo eram semelhantes na cor e na densidade
em ambos os lados. Ela gozava de excelente saúde, mas, como se poderia
concluir da forma de sua aura, tinha temperamento histérico.
Consideramos aconselhável iniciar as tentativas de projeção de raios a partir
de diferentes partes de seu corpo. Isso ela executou sem muita dificuldade, mas
como os experimentos diferiam dos mencionados no último caso apenas por
pequenas variações, eles não serão descritos. Mas vale a pena registrar que o
primeiro raio levou mais tempo para aparecer, ao passo que cada raio sucessivo
aparecia com rapidez cada vez maior, até que o último irrompeu quase
instantaneamente. Ela conseguiu perceber facilmente sua própria aura, e ver raios
bastante distintamente, por vezes até antes dos observadores.
Orientamo-la então no sentido de procurar induzir mudanças de cor na aura.
Como o uso de nomes de cores teria introduzido não só uma inevitável fonte de
incerteza e de erro, mas também um fator de importância ignorada envolvendo
esforço adicional e provavelmente o desperdício de considerável energia,
obtivemos precisão para todas as instruções ministradas por efeito de atrair a
atenção da mulher para algum objeto- um livro, por exemplo - da cor solicitada.
 
Experimento I.
 
Estando ela de pé com as mãos nos quadris, solicitamos- The primeiramente
que tornasse a aura no espaço esquerdo da mesma cor de certo livro (porção mais
escura de alizarina carmesim da folha de amostras de cores de Rowney).*
Em cerca de um minuto ela disse que "podia ver a aura mudar de matiz,
tornando-se de um vermelho escarlate, mas não conseguia torná-la da mesma cor
do livro". Posteriormente, ela assinalou o rubro escarlate como a cor obtida. As
impressões do observador foram as seguintes: a princípio, não houve alteração na
aura, ambos os lados sendo iguais: logo ocorreu uma indefinida e quase
indescritível mudança, e por fim toda a aura pareceu desaparecer, deixando um
espaço negro; ela então reapareceu e desapareceu duas ou três vezes, quando o
espaço tornou-se cinza-avermelhado (cinza e rubro), em lugar de ser, como no
princípio, cinza-azulado. No início da mudança, só a aura interior foi afetada, e a
parte mais próxima da axila foi decididamente a porção mais colorida e mais
densa. Solicitamos à mulher que mantivesse a condição alterada até o fundo preto
ser substituído por um branco, para permitir o exame com as faixas de cores
complementares. Com a faixa de cor complementar azul, a extensão direita
preservou exatamente o mesmo matiz que tinha antes da experiência, mas sua
extensão esquerda era muito mais escura, com as faixas de cor complementar
azul e amarela, ao passo que, com a vermelha, ficou a princípio mais escura e, à
medida que o sujeito ficou fatigado, tornou-se mais clara. A fim de eliminar erros
devidos a uma iluminação não uniforme, fizemo-la voltar as costas para o
observador, mas isso não produziu nenhuma diferença nas cores. É interessante
observar que, em duas ou três ocasiões, diferentes observadores viram e
assinalaram o desaparecimento e o retorno da aura como descrevemos mais atrás.
 
* Os nomes de todas as cores mencionadas neste livro são tirados da folha de
cores de Rowney.
 
 
Experimento 2.
 
Solicitamos-lhe agora que tornasse azul a aura do lado direito, o que ela fez
com relativa facilidade. A cor obtida foi o matiz mais es- curo do azul
permanente. Após erguer as mãos e colocá-las sobre a cabeça, a aura do lado
direito continuou azul, enquanto que do lado esquerdo mantinha o matiz
avermelhado (Experimento I), mesmo ao longo das coxas e pernas. O efeito
produzido pelas diferentes cores nos dois lados era estranho e bizarro ao extremo.
 
Experimento 3.
 
De pé com as mãos erguidas, ela tentou alterar as cores da aura do lado
esquerdo para amarelo. Ela disse que "não podia ver distinta- mente essa cor",
mas, para o observador, embora o matiz se alterasse de alguma forma, nunca se
transformou em verdadeiro amarelo. A cor seguinte na relação era o matiz mais
escuro do ocre romano. Dentre as cores vermelha, amarela e azul, a última
parecia-lhe a mais fácil e o amarelo a mais difícil de produzir.
Por muito interessante que esses experimentos efetivamente sejam, eles
foram considerados apenas como o prelúdio daquilo que, conquanto menos
impressionante, tem mais valor. O principal objetivo durante todo o processo era
obter um raio colorido emanado, não de alguma projeção do corpo, mas sim de
uma área circunscrita, numa grande superfície plana. Para tanto, eram necessárias
algumas condições novas; primeiramente, que a aura em torno do raio não fosse
afetada de modo algum ou, quando muito, que só o fosse ligeiramente. Isto
significava que o sujeito deveria ser capaz de concentrar a mente numa área
muito limitada. Uma segunda condição era que os raios fossem emitidos em
ângulo reto do corpo e se dirigissem diretamente para o observador. Com toda
probabilidade, isso levaria o raio a ser invisível da maneira usual, pois a pele não
constitui um bom fundo para contraste. E, por último, que o sujeito fosse capaz
de manter o raio constante por um período de tempo suficiente a fim de permitir
um exame crítico com várias faixas de cores complementares.
O autor, sabedor das muitas dificuldades inerentes a isso, ficou
agradavelmente surpreso com os resultados das primeiras tentativas, que, em
grande parte, eram devidos a pacientes esforços por parte do modelo, a qual,
antes de terminados os experimentos, já começava a perder o poder de
concentração, devido a puro cansaço. Seu poder de perceber os raios coloridos foi
de grande auxílio, já que assim podia dar um sinal do momento em que podíamos
passar a procurá-los.
 
Experimento 4.
 
Uma pequena área, parte do seio e parte da região sobre o esterno, foi
escolhida para a primeira tentativa, e pedimos ao modelo que tornasse a aura
vermelha nesse local. Dentro de um minuto ela disse que "podia ver o local
vermelho", enquanto ele ainda permanecia invisível ao observador. Entretanto,
com as faixas de cores complementares, viu-se uma mancha mais escura com a
amarela, mas mais clara com a vermelha.
 
Experimento 5.
 
No teste seguinte pedimos à mulher que emitisse um raio vermelho de um
pequeno espaço acima do abdômen, não excedendo uma polegada de diâmetro,
sem mencionar ou de algum modo indicar sua posição exata. Logo que ela estava
pronta, o abdômen foi examinado com a faixa de cor complementar azul, e o
local, um pouco acima e à esquerda do umbigo, foi imediatamente detectado, e o
autor colocou seu dedo sobre o exato centro desse local, em que a mudança tinha
sido produzida.
 
Experimento 6.
 
A. então tentou alterar o matiz da aura sobre um lugar ignorado no tórax,
escolhendo como cor o amarelo. Quando ela fez a tentativa, o local foi procurado
com o auxílio da faixa de cor complementar azul. Um sítio de aproximadamente
duas polegadas de diâmetro, mais escuro que o resto da faixa, mas não
claramente definido, foi descoberto sobre a metade superior do seio esquerdo, e o
autor pôs o dedo no centro desse local escuro. Esse ponto, em vez de coincidir
com o meio do lugar em que ela estava se concentrando, situava-se apenas à sua
margem, cerca de meia polegada longe do seu centro real. O aspecto difuso da
alteração de cor devia-se evidente- mente ao cansaço.
Os efeitos da sugestão durante o estado hipnótico não serão considera- dos.
As diferenças entre esses efeitos e os fenômenos registrados acima não são, de
nenhum modo, tão fundamentais como se poderia imaginar, já que num caso os
resultados são suscitados pelos próprios esforços do indivíduo, ao passo que no
outro uma sugestão externa é aceita e posta em ação. No estado hipnótico, a
mente objetiva está separada do mundo exterior, permitindo que a mente
subjetiva exerça um controle mais ativo. O autor acredita que está expondo o
assunto corretamente, mas confessa que seu interesse principal se concentra nos
aspectos físicos dos resultados obtidos.
O Dr. A. Douglas sugeriu que seria interessante verificar se ocorrem
mudanças na aura durante a hipnose e, com esse objetivo, trouxe-nos uma
senhora que gentilmente consentiu em colocar-se à disposição dele para as
necessárias investigações.
 
 
Caso 26.
 
Fez-se um exame completo da aura da Srta. X, antes da realização de
quaisquer experimentos. Sua aura exterior era de forma espatulada, um tanto
mais larga em cima dos ombros do que o normal, mas não tinha nenhuma outra
peculiaridade. A aura interior era um pouco larga. O estriamento podia ser visto
facilmente, mas junto ao lado direito do tórax e à altura dos rins era grosseira. A
faixa de cor complementar azul nessas regiões era mais escura, o que também era
o caso do lado esquerdo do tórax entre o esternoxifóide e os planos subcostais,
seguindo o contorno das costelas.
 
Experimento 1.
 
O Dr. Douglas induziu um sono hipnótico de primeiro grau. A aura exterior
diminuiu de tamanho em torno do corpo e tornou-se menos distinta, ao passo que
a interior, conquanto preservando sua amplitude natural, não era, de modo algum,
nítida. Acima dos ombros, ambas as auras aumentaram de tamanho e de nitidez,
mas o estriamento era menos acentuado. A aura interior podia ser vista
claramente acima da cabeça, circunstância bastante incomum já que o cabelo
interfere enormemente em seu reconheci- mento. Logo que a Srta. X foi
despertada de sua letargia, as auras começaram a voltar a seu estado normal; que
foi atingido em poucos minutos.
 
Experimento 2.
 
O Dr. Douglas então colocou-a em estado cataléptico, enquanto ela estava
voltada para ele. Seu braço esquerdo foi erguido e sua mão posta sobre a cabeça.
A condição de sua aura era a mesma do último experimento, salvo o fato de a
interior ser bem mais brilhante e mais opaca em torno do braço e da mão, onde
também nenhum estriamento foi detectado. No momento em que ela foi
despertada, sua aura rapidamente readquiriu sua condição original.
 
Experimento 3.
 
Ela foi então passada no estado de transe. Quase imediatamente a aura
interior de todo o corpo desapareceu deixando um espaço vazio e escuro de
aproximadamente duas polegadas de largura. (Compare com a página 77.)
Justamente do lado de fora desse espaço vazio a aura exterior se acumulava,
parecendo opaca e ao mesmo tempo contraída. Nada permaneceu visível neste
espaço escuro através da tela escura de carmim. Quando a tela foi posta de lado e
o aposento escurecido, observou-se um raio brilhante procedente do cotovelo
esquerdo da paciente rumo ao Dr. Douglas, que estava postado a
aproximadamente meio metro. Esse raio media aproximada- mente três polegadas
de largura e era bastante reto. Perto de sua terminação espalhava-se um pouco.
Logo que ela começou a se reanimar, a aura interior começou a retornar, mas não
readquiriu completamente sua condição normal antes que outro teste fosse
iniciado.
 
Experimento 4.
 
O último experimento foi repetido. A aura interior diminuiu enormemente,
mas desta vez não desapareceu por completo. A aura exterior estava na mesma
condição em que se encontrava durante o último experimento. De súbito a aura
interior aumentou de brilho, e coincidentemente a mulher readquiriu a
consciência, embora não tivesse sido despertada pelo Dr. Douglas.
Durante o tempo em que Srta. X esteve em estado hipnótico se
estendêssemos a mão para perto de seu corpo, a atração mútua não era tão forte
nem a aura se tornava tão brilhante como de ordinário, ao passo que o intervalo,
antes que qualquer mudança pudesse ser detectada, era consideravelmente mais
longo do que em circunstâncias comuns.
Uma semana mais tarde, o Dr. Douglas trouxe a mesma senhora, uma
segunda vez, para exames com telas coloridas nas várias fases da hipnose.
 
Experimento 5.
 
A aura de Srta. X foi examinada e apresentou a mesma aparência encontrada
no exame preliminar, descrito na página 100. Os detalhes de um exame ulterior
com telas coloridas são apresentados na tabela. (Veja a Tabela VI, série 1.)
 
Experimento 6.
 
Foi induzida hipnose de primeiro grau. Para os detalhes gerais, veja a página
101. Para as cores das telas, veja a tabela (Tabela VI, série 2.)
 
Experimento 7.
 
O Dr. Douglas, sem despertá-la, passou Srta. X para o estado de transe. A
porção maior da aura interior desaparecera, mas o que restou foi investigado
através de telas azul e violeta, apresentando a aura exterior uma cor muito
diferente. Enquanto o exame se processava, uma súbita mudança sobreveio às
auras, ambas se tornando mais brilhantes, mais especialmente a interior. O Dr.
Douglas disse que ela estava voltando à consciência por sua própria conta, sem
ter recebido nenhuma instrução da parte dele. Ele mal acabara de falar, e ela já
estava plenamente acordada.
 
Experimento 8.
 
Estando Srta. X na mesma posição, durante o exame através da tela azul-
escuro, o Dr. Douglas, sem o conhecimento deste autor, tornou a induzir nela um
estado hipnótico de primeiro grau. De imediato, uma alteração nas auras foi
observada, e enquanto essa alteração era descrita ao Dr. Douglas, Srta. X entrou
no estado de transe. Isto, também, este autor descobriu instantaneamente. Quando
ela recobrou a consciência normal, suas auras aumentaram de brilho.
 
Experimento 9.
 
A seguir, Srta. X entrou em sono hipnótico e fez-se-lhe a sugestão de que
tinha um braço flácido e que não podia ser movido. Observou-se a mesma
posição dos experimentos anteriores, só que sua mão foi apoiada em seu quadril
sustentada por suas roupas na cintura. Foi então despertada. O experimento foi
planejado para imitar tanto quanto possível a completa imobilidade de um
membro.
As auras, especialmente a interior no espaço entre o braço e o tronco, não
eram tão brilhantes como do outro lado, onde pareciam normais. As cores vistas
através das telas estão assinaladas na Tabela VI, série 4. Logo que lhe foi dada a
permissão para mover o braço, as auras voltaram à sua condição normal.
Experimento 10.
 
O sujeito agora estava em pé, com as mãos sobre a cabeça e, enquanto se
encontrava nessa posição, a aura tornou a ser inspeciona- da, verificando-se que
se apresentava normal. Sem fazê-la adormecer, o Dr. Douglas deu-lhe passes ao
longo da superfície interna da parte superior do braço e do antebraço, única
região em que a aura se tornou menos visível mas onde não chegou a desaparecer
por inteiro. Essa parte estava também insensível, como ficou demonstrado por
beliscões e picadas. Logo que os passes foram interrompidos, a sensação
gradativamente retornou ao membro, e a aura tornou-se pari passu normal.
 
 

 
 
É muito interessante notar que não houve uma intensificação da aura em
torno da mão do Dr. Douglas, enquanto ele dava os passes, como em geral se vê
quando esses movimentos são imitados por outras pessoas.
 
Experimento 11.
 
Enquanto a Srta. X se encontrava em seu estado de vigília, solicitamos-lhe
que mudasse a cor de sua aura, fosse localmente ou numa metade do corpo. O
resultado foi o melancólico fracasso. A seguir, ela foi posta sob hipnose e
instruída a alterar a cor da aura de seu lado direito para vermelho. Foi incapaz de
fazê-lo, mas após algum tempo a aura tornou-se de um ocre-acinzentado sujo.
Então pedimos-lhe que tornasse azul o lado direito de sua aura. Isso ela
conseguiu fazer relativamente bem. Quando ergueu os braços, havia um contraste
entre as cores da aura dos dois lados. Quando ela se virou, pôde-se ver que as
auras nos dois lados eram dessemelhantes e que as linhas de demarcação eram as
linhas médias verticais de trás e da frente. Isto era o que podia ter sido previsto.
 
Experimento 12.
 
Pedimos-lhe a seguir que tingisse de amarelo uma pequena porção da aura
sobre o peito. Essa pequena mancha, invisível a olho nu, quando examinada com
a faixa de cor complementar azul, mostrou-se instantaneamente. Esses
experimentos demonstraram que Srta. X, em seu estado natural, não tinha
poderes para alterar a cor de sua aura, mas, quando em esta- do de hipnose,
tornava-se, ao menos em certo grau, capaz de seguir as instruções que lhe eram
dadas.
Numa terceira ocasião, o Dr. Douglas trouxe uma outra senhora que
bondosamente nos ofereceu seus serviços para fins experimentais.
A aura da Sra. Y foi examinada da maneira usual, verificando-se que era
bem feita, ampla e azul. A aura exterior tinha um grau médio de distinção, mas a
interior mal atingia o padrão de clareza próprio de uma pessoa saudável,
conquanto se pudesse ver facilmente seu estriamento. Havia um raio bem
desenvolvido procedente de seu ombro direito e dirigido para cima até os limites
da aura exterior.
 
Experimento 13.
 
Enquanto essa senhora estava voltada para os observadores, o Dr. Douglas
colocou-a em leve estado hipnótico. A aura exterior então diminuiu de brilho e
mostrou uma tendência para se concentrar imediatamente do lado de fora da
interior. Esta última não se contraiu mas ficou menos nítida.
 
Experimento 14.
 
Então ela passou para o estado de transe. Ambas as auras tornaram-se ainda
mais indistintas, mas nenhuma desapareceu por completo. Durante o tempo em
que ela esteve nessa condição, um raio procedeu de seu cotovelo esquerdo e
alcançou a protuberância ilíaca.
 
Experimento 15.
 
Fez-se então uma sugestão, durante seu sono hipnótico, de que a aura do
lado esquerdo se separasse do corpo, de modo a deixar um intervalo entre ela e o
corpo. A aura não mostrou nenhuma mudança do lado direito, mas, do lado
esquerdo, em resposta à sugestão, pareceu contrair- se e concentrar-se a cerca de
seis polegadas do tronco, mas não deixou espaço vazio entre o corpo e a aura e,
sempre que o Dr. Douglas deixava de dar-lhe sugestões, ela voltava
imediatamente ao mesmo estado que prevalecia do seu lado direito. Um
fenômeno curioso ocorreu durante o experimento, a saber, a aura do lado direito
tornou-se de um azul mais brilhante, enquanto que o esquerdo assumiu um matiz
esverdeado. Logo que a Sra. Y. se tornou consciente, sua aura readquiriu a forma
natural, mas as alterações de cor perduraram algum tempo. Observou-se que a
aura dessa senhora não desaparecia durante a hipnose no mesmo grau em que o
fazia a aura da Srta. X, sob circunstâncias similares. Ocorreu um outro fato
interessante. Quando uma mão era sustentada perto do corpo da paciente, durante
a hipnose, os raios procedentes dos dedos do observador eram normais, mas a
aura da paciente não respondia com a usual vivacidade ou no mesmo grau em que
o fazia quando a paciente se encontrava em sua condição normal.
 
Experimento 16.
 
Imprimimos, a seguir, uma carga elétrica negativa na Sra. Y, com a pequena
máquina de Wimshurst, enquanto ela se encontrava sobre o banco eletricamente
isolado. Suas auras diminuíram enormemente, mas nunca se obliteraram por
completo. A seguir, quando lhe aplicamos uma carga positiva, toda a aura
desapareceu. Em ambos os casos, a volta à sua condição natural foi mais lenta do
que o usual.
 
Experimento 17.
 
Depois solicitamos à Sra. Y que fizesse uma tentativa para tornar vermelha a
aura do lado esquerdo. Houve certamente uma pequena alteração na direção
certa, mas não foi muito definida. Era um bom resultado para uma primeira
tentativa, e há pouca dúvida de que ela pudesse ser bem sucedida se praticasse
por um breve período de tempo.
O Dr. Douglas propôs que ela fosse hipnotizada e que o experimento fosse
repetido. Nessas condições, obteve-se uma mudança para o púrpura, não para o
vermelho. A seguir, ela foi instruída a tornar vermelha uma pequena porção sobre
o peito. A cor alterou-se o bastante para ser detectada por meio das faixas de
cores complementares. Uma segunda tentativa foi feita durante o mesmo sono.
Esse teste teve mais sucesso, pois a referida porção pôde ser distinguida a olho nu
como tendo cor diferente. Ela também se queixou de ter uma sensação peculiar
no ponto afetado.
A maior parte deste capítulo foi dedicada a uma comparação entre a aura e
as névoas que circundam certas substâncias inorgânicas, bem como aos efeitos
produzidos por vários meios. Agora é necessário ver até que ponto os detalhes
coligidos nos podem auxiliar no reconhecimento da força ou das forças geradoras
da aura, bem como as diferenças entre essas e outras forças. Mas, para permitir
que se faça uma comparação, será preciso, em primeiro lugar, esboçar as
principais características, até onde sejam conhecidas, das forças que estão por
trás dos fenômenos relacionados com a aura.
A força ou forças que dão origem à aura humana são geradas provavelmente
no próprio corpo. Parece escassamente possível que as duas auras sejam
produzidas por uma única força, quando nos lembramos, primeiramente, que a
aura interior é estriada, e que sua margem é bastante bem-definida e que ela é
frequentemente prolongada em forma de raios que passam para a aura exterior, e
até através dela, sem nenhuma alteração concomitante nesta última. Outrossim,
ocasionalmente, durante um estado de enfermidade, a aura interior desaparece
localmente ¨ in totum¨ ou, o que é mais comum, deixa um espaço parcialmente
vazio. Esse espaço vazio, quando não inclui toda a sua amplitude, situa-se perto
do corpo, parecendo superficialmente um duplo etéreo muito largo, enquanto que
o resíduo da aura interior pode reter seu estriamento ou pode tornar-se granulada.
Em nenhum desses casos a aura exterior invade o território da interior, mas pode
ser afetada simultaneamente. A aura interior pode, por meios artificiais, ser
forçada a desaparecer de qualquer parte do corpo, deixando um espaço vazio,
como quando é influenciada pela eletricidade ou por alguma substância química.
(Veja as páginas 77 e 91.) Em segundo lugar, a aura exterior é inteiramente
nebulosa, com uma margem distal indefinida, sua margem proximal coincidindo
com a margem exterior da aura interior. A hipótese de haver mais de uma força
envolvida é, desse modo, fortalecida pela aparência crenada da aura interior e os
fenômenos associados com a produção de raios. Se ambas as auras fossem
produzidas por uma única e mesma força, seria razoável esperar que a aura
exterior também mostrasse uma tendência a adotar um contorno ondulado, que
seria o resultado de atividades variáveis nas áreas adjacentes, e também
participasse, até certo ponto, da produção e emissão de raios.
Em terceiro lugar, a aura exterior é mais desenvolvida em torno do tronco
nas mulheres, da puberdade em diante, do que nos homens, enquanto não há
crescimento ou qualquer modificação correspondente na aura interior.
Portanto, é preciso concluir que há, pelo menos, duas forças em ação, uma
das quais, a que origina a aura interior, pode ser chamada de força áurica interior,
ou abreviadamente FAI; e a outra, que dá origem a aura exterior, a força áurica
exterior, ou FAE, Ainda que no decurso das investigações se acabe por
demonstrar que as duas auras são apenas duas diferentes manifestações de uma
única e mesma força, para fins práticos talvez seja vantajoso tratar deste assunto
como se duas forças estivessem presentes.
A FAI, ao que parece, atua intensamente no âmbito de uma área bastante
circunscrita, e a distribuição de linhas de força pode ser facilmente detectada, e a
parte da aura em que essas linhas são manifestadas tem sido de- nominada de
aura interior. Não se sabe se a FAI afeta a aura além da sua porção estriada
visível. Em caso negativo, a divisão é natural; de outro modo, ela é empírica. De
modo geral essa força é distribuída bastante uniformemente por todo o corpo,
mas a amplitude da aura interior junto aos lados do tronco mostra que ela deve
ser bem mais poderosa nessa localização do que nos membros. Embora contínua,
a força não é constante, pois são comuns as projeções em forma de raios
instáveis, e esses feixes estão continuamente mu- dando de posição.*
 
*Esses raios proporcionam solução para um problema que intrigou muito o
autor quando fazia experimentos com meios mecânicos visando à detecção e
mensuração de raios N. A dificuldade era que às vezes se obtinha grande
deflexão do aparelho registrador, demasia- do grande, na verdade, para ser
medida, muito embora os raios encontrassem obstáculos das mais diversas
naturezas, ao passo que, em outras ocasiões, nas mesmas condições físicas, os
resultados eram negativos. Pode-se agora entender facilmente que uma deflexão
ocorria sempre que um desses raios incidisse sobre a agulha ou ponteiro, e que,
quando nenhum rato estivesse presente, a agulha ou ponteiro permanecia
estacionário. O autor deixou de efetuar esse tipo de experimento após concluir
que, qualquer que fosse o caso, não parecia haver perspectiva alguma de que
viesse a ser útil para fins de diagnóstico, como a princípio esperava. Logo que
teve em mãos os meios de tornar a aura visível e sub- metê-la a exame, pareceu-
lhe que melhor e maior compreensão poderia ser obtida graças ao estudo daquilo
que se enxergava do que daquilo que não se podia ver.
 
Eles atravessam a aura exterior, mas seu trânsito não causa alteração fora de
sua rota direta. Está é tão facilmente modificada por qualquer afecção local do
corpo a ponto de tornar a aura interior um indicador extremamente sensível,
ainda que os tecidos comprometidos possam estar a alguma distância sob a
superfície. Está, também, mais ou menos sob controle voluntário, sendo suas
atividades mais facilmente aumentadas do que inibidas.
A FAE certamente tem um âmbito de ação mais amplo que a FAI, e não
mostra indicações visíveis de linhas de força. Como resultado de sua ação,
produz-se em torno de todo o corpo uma névoa que exibe maior campo, em
tamanho, forma e textura, do que a aura interior, e cujos limites externos é
impossível determinar com exatidão. Por vezes, essa aura exterior deve estender-
se por considerável distância, especialmente quando é acompanhada por uma
aura ultra-exterior, ou quando ela se expandiu após a dissipação de uma carga
elétrica aplicada. Comparada com a aura interior, ela está muito menos sujeita ao
controle de seu dono, o que, na verdade, só foi demonstrado no caso acima
registrado de uma senhora em estado de hipnose, e em alguns casos em que
mudanças de cor mais ou menos completas foram produzidas por esforços
voluntários. E mesmo essas mudanças sempre começam e são mais evidentes na
aura interior.
Diferentes estados de saúde prejudicada, seja geral ou local, reagem sobre as
forças e indiretamente sobre as duas auras, alterando-as, mas não
necessariamente da mesma maneira. No caso de uma afecção local, não é, de
modo algum, raro a aura interior perder todas as suas estrias e transformar-se
numa massa mais densa e mais opaca, de diferente matiz ou cor relativamente à
porção adjacente, ou suas estrias podem tornar-se grosseiras e, na aparência,
muito dessemelhantes das linhas delicadas quando em estado saudável.
Ocasionalmente, pode-se ver um espaço completamente destituído de aura
interior. Sempre que ocorre uma mudança numa larga porção do corpo, a aura
interior pode ou não ficar correspondentemente mais estreita num lado que de
outro. Quando ocorre uma contração da aura interior, ela é acompanhada de
alguma modificação de textura e constantemente por outras alterações mal
definidas a que nos referiremos mais adiante. A aura exterior varia menos que a
interior. Sua cor, textura e nitidez podem mudar mas, via de regra, a principal
alteração é na amplitude; ela se contrai mas nunca desaparece por completo, a
não ser sob a influência de alguma força exterior aplicada artificialmente.
Mudanças patológicas, envolvendo grandes porções do corpo ou afecção do
sistema nervoso, podem causar alterações bastante difusas desta aura, o que, em
certas circunstâncias, tem valor de diagnóstico. A aura exterior pode ser contraída
enquanto a interior conserva sua amplitude natural, mas o inverso não acontece,
pois a exterior nunca mantém seu tamanho normal depois que a interior
encolheu.*
 
* O Caso 42 6, até o momento, a única aparente exceção a esse enunciado, e,
provavelmente, estaria enquadrado na regra se a presença de uma aura ultra-
exterior não tornasse impossível a determinação exata dos limites externos.
 
Têm-nos indagado repetidamente se a origem da aura é elétrica ou
magnética. Conquanto nós próprios, a princípio, acreditássemos na origem eletro-
magnética dos fenômenos tratados neste livro, tivemos o cuidado específico de
apresentar respostas muito cautelosas, preferindo, na ausência de um
conhecimento exato, designar as forças envolvidas como "áuricas" - termo que
não envolve nenhuma pretensão de qualquer real entendimento de sua natureza,
causa ou ação. Entretanto, logo que se fizeram tentativas no sentido de identificar
as forças áuricas, fosse com a eletricidade ou com o magnetismo, surgiram
dificuldades.
Considere o leitor, primeiramente, o caso do magnetismo. A névoa em redor
de um ímã possui polaridade, o que, como já ficou dito, pode ser demonstrado
colocando-se duas ferraduras magnetizadas perto uma da outra no mesmo plano
mas sem se tocarem. Girando-se uma delas, verifica-se que a névoa entre os
magnetos ou ímãs é mais brilhante quando polos diferentes estão em oposição e
vice-versa. De outra parte, não se conhecem meios de demonstrar que a
polaridade magnética seja propriedade de qualquer das auras. A aura exterior não
é influenciada por nenhum ímã; a interior é influenciada por qualquer dos polos,
precisamente da mesma maneira e aparentemente com a mesma intensidade, e
nenhum poder repulsivo ou inibidor foi descoberto até agora. Isso basta para
demonstrar que as forças áuricas e magnéticas não são idênticas.
Outrossim, seria de esperar que, se fossem de origem eletromagnética, as
auras revelariam distúrbios e desigualdades locais e gerais atribuíveis à
quantidade e distribuição de eletricidade superficial. Já assinalamos que isso não
ocorre e não foi possível estabelecer qualquer relação entre a eletricidade
superficial natural e a aura; além disso, a natureza de uma carga aplicada não
produz diferença aparente nos efeitos obtidos.
Sugeriu-se que a aura fosse devida à radioatividade. Essa hipótese nos
parece muito improvável e, na verdade, quase impossível, mas achamos que, a
menos que façamos alguma referência a esse assunto, alguns leitores acreditarão
que deixamos de estudar essa possível origem da aura.
A radioatividade é, em certo grau, uma propriedade universal da matéria, e
seria surpreendente se o corpo humano não revelasse traços desse fenômeno. Para
fazer comparações entre a aura humana e a névoa que circunda um corpo
radioativo, será necessário empregar alguma substância que possua a propriedade
em grau acentuado. Sais de urânio parecem tão adequados quanto quaisquer
outras substâncias.
A nuvem que envolve um cristal de nitrato de urânio difere da existente em
torno de um ímã, tanto mais que é irregular e composta de raios que vão até sua
margem, e são mais numerosos onde a névoa é mais ampla. Na verdade, parece-
se superficialmente com a aura interior, a qual, além disso, ela atrai e pela qual é
atraída. Provavelmente toda semelhança termina aqui. A radioatividade se deve à
ruptura de átomos e só a encontramos, ao menos em grau apreciável, em certos
elementos dotados do mais elevado peso atômico conhecido, os quais, se ocorrem
no corpo humano, serão apenas em traços diminutos. O ferro (Fe-55,9) é o
elemento de maior peso atômico encontrado em abundância no corpo. Ele,
entretanto, não possui, em circunstâncias comuns, nenhuma das referidas
propriedades. Parece, portanto, impossível que a aura seja causada pela
radioatividade dos elementos que entram na composição do corpo, e as
dificuldades de aceitar tal explicação de sua origem se tornam in- superáveis
quando se considera que, na vida, a aura está, até certo ponto, sob controle
voluntário, ao passo que, após a morte, ela desaparece por inteiro.
Qualquer que seja a verdadeira natureza das forças áuricas, não pode haver
dúvida de que os fenômenos a que elas dão origem estão intimamente
relacionados com as atividades do sistema nervoso central e são dele
dependentes, como os seguintes exemplos demonstrarão:
 
1. O pincel elétrico aplicado à espinha produz um aumento de volume
instantâneo da aura, ao passo que, aplicado à linha mediana em frente do corpo,
não produz efeito. (Veja a página 84.) A razão disso é óbvia, pois a medula
espinhal e os grandes nervos dela procedentes estão próximo da superfície das
costas, podendo ser facilmente estimulados, mas não há grandes centros nervosos
próximo da superfície na frente do corpo. O mesmo efeito é produzido quando se
sustenta o pincel perto da testa.
 
2. Mudanças na forma e no tamanho da aura ocorrem como resultado de
doença nervosa grave, como, por exemplo, epilepsia, histeria, hemiplegia, e,
quando estas estão plenamente manifestadas, permanecem constantes; se,
entretanto, elas forem devidas a algum distúrbio nervoso passageiro, como
ciática, herpes-zoster, etc., quando a pessoa se recobra, a aura gradativamente
volta à condição normal.
 
3. Todos os tipos de comprometimento das faculdades mentais causam
automaticamente uma diminuição do tamanho e nitidez da aura, que também é
mais estreita nos débeis mentais. Esses fatos corroboram a ideia de que os centros
cerebrais superiores estão intimamente relacionados com o potencial da força
áurica.
 
4. Quando uma pessoa desmaia, a aura perde boa parte de seu brilho e tem
seu tamanho reduzido. As mudanças são provavelmente o resultado de exaustão
nervosa temporária.
 
O temperamento, ou a soma total das faculdades mentais e físicas dos
indivíduos, como já se observou, exerce grande influência sobre a aura-influência
essa principalmente proporcional aos dotes mentais. A aura é afetada não só no
volume, mas também na qualidade, como o ilustram as auras cinzentas e de
granulação grossa de pessoas sem inteligência. Não é necessário insistir mais na
existência de uma intima relação entre o sistema nervoso central e a aura, e um
melhor entendimento da natureza dessa relação nos proporcionará, sem nenhuma
dúvida, a chave para solucionar inúmeros problemas.
Muitos pontos também precisam de resposta, como, por exemplo, as causas
que determinam a forma da aura normal e as diferenças sexuais; o mecanismo
das porções descoloridas observadas com as faixas de cores complementares; a
natureza das estrias da aura interior, e as mudanças associadas com a granulação,
etc. Atualmente, pouco mais se pode fazer do que mera- mente descrever as
observações feitas.
Este é talvez um bom momento para responder uma pergunta feita com
muita insistência quanto à existência da aura em torno de um corpo morto.
Embora o exame de cadáveres nos tenha parecido sempre repulsivo, fizemos por
várias vezes tal exame e não observamos, em nenhuma das vezes, qual- quer
traço de aura. É justo dizer que, em cada um desses casos, várias horas tinham
decorrido desde o óbito. O momento da partida de um ser humano, a nosso ver, é
demasiado solene para ser ocupado com experimentos, por mais interessantes que
sejam.
O desaparecimento da aura é apenas o que seria de esperar, tendo em vista os
resultados obtidos em estados de hipnose, e bem assim a diminuição da nitidez
verificada quando se examina um paciente com saúde precária.
 
 
 
 
 
 
Capítulo VI
 

AS CORES COMPLEMENTARES
 
Logo após a descoberta da aura, um amigo nos chamou a atenção para o fato
de que se se fitasse uma luz e se voltassem os olhos, primeiro para um lado e
depois para o outro de qualquer pessoa, as cores do espectro geralmente não
seriam idênticas. Tendo-se convencido de que esse fenômeno peculiar realmente
se manifestava, o autor achou possível utilizar a aparição como um auxiliar nas
diagnoses, mas acreditava que, para tanto, as investigações deveriam ser
efetuadas metodicamente. Começamos nossos experimentos mediante a fixação
de luz de gás, não que por qualquer instante pensássemos que um plano tão
rudimentar pudesse ser satisfatório, mas a esperança de que a descoberta de seus
defeitos nos pudesse assistir em futuras tentativas. Notamos que a aparição
resultante era complexa, já que sua principal porção era de uma cor e era
circundada por outra completamente diferente. A inconveniência de ter que
trabalhar com duas ou mais cores era desde logo evidente, e isto, somado a outra
dificuldade insuperável oriunda das constantes mudanças das cores do espectro,
que foram iniciadas pelos leves movimentos dos olhos para comparar os dois
lados do paciente, tornava impossível obter resultados exatos. Reconhecíamos
também que para auferir quaisquer benefícios desse processo era essencial uma
imagem monocromática. Após muitos experimentos, concluímos que, para
conseguir isso, pedaços de papel de diferentes cores serviriam tão bem quanto
qualquer outra coisa, embora eles fossem substituídos depois, em grande parte,
por telas coloridas transparentes, que mais adiante serão descritas.
Este capítulo será consagrado ao problema do efeito da aura sobre as cores
complementares, e dificilmente se poderá conceber propriedade mais
extraordinária que essa. O espectro monocromático é modificado pela aura, de tal
modo que sua cor é alterada para um matiz mais claro ou mais escuro, ou sua
coloração é alterada sob certas condições.
Não é preciso dizer que todo esse tópico é difícil e complicado, mas as
explicações que nos parecem mais úteis serão dadas. Algumas das teorias
apresentadas podem parecer artificiais ou mesmo heterodoxas; não obstante, são
apresentadas por falta de melhores hipóteses. Como todo este assunto depende
por inteiro da visão para cores, algumas anotações preliminares não serão
superfluas.
Uma teoria amplamente aceita postula a existência, nos olhos, de três
conjuntos de nervos sensíveis à cor. A luz branca é o resultado de uma
estimulação igual de todos os nervos sensíveis à cor, ou talvez fosse mais exato
dizer de uma estimulação proporcional à que ocorre com a luz do Sol. A retirada
ou o enfraquecimento do estímulo a qualquer conjunto produzirá uma sensação
de cor que é assim derivável da excitação de um, de dois ou de todos esses
conjuntos de nervos, separadamente ou em combinação. Quando mais de um
conjunto de nervos é excitado, eles geralmente são desigualmente estimulados.
Este autor, por muitos anos, considerou que cada pessoa tem suas próprias
cores primárias, e, portanto, vê um objeto colorido diferentemente de qualquer
outra, mas como resultado da educação todos chamam a cor* pelo mesmo nome.
Por exemplo, consideremos duas pessoas A e B que olham para um mesmo
objeto de uma cor usualmente designada como sendo um matiz do amarelo. Essa
cor poderia apenas estimular em A um conjunto de nervos sensíveis à cor, e seria
para ela um amarelo puro. Por outro lado, com relação a B, não só os nervos
sensíveis ao amarelo são excitados, mas, até certo ponto, as sensíveis ao azul; ela
veria um tom amarelo-esverdeado. Mas, como tanto A como B foram ensinadas
que a cor é um certo matiz do amarelo, a essa cor, sempre que vista, chamarão
pelo mesmo nome. Não obstante, se A a visse com os olhos de B, ela designaria
de modo diferente. Ambas estariam corretas. Segue-se como corolário que cada
indivíduo provavelmente vê na Natureza cores diferentes das percebidas por seu
próximo. Não é necessário entrar nessa questão mais plenamente a não ser para
dizer que as cores primárias deste autor são, no momento, vermelho, amarelo e
azul, conquanto trinta anos atrás os discos azuis fossem de um azul purpúreo.
Não propomos a consideração de nenhuma outra teoria, pois esta atenderá ao
propósito de explicar a ação das cores complementares.
 
 
Um teste simples para obter nossas cores primárias pessoais consiste
em comprimir o olho fechado, quando geralmente se verão pequenos
pontos amarelos cobrindo todo o campo de visão. Misturados com
estes há discos maiores, azuis, e por fim, pontos vermelhos de
tamanho intermediário entre os discos amarelos e azuis. Os amarelos
são os mais numerosos, seguidos pelos azuis e os vermelhos são em
menor número e mais difíceis de obter.
 
Pondo de lado toda especulação, ver-se-á que, quando um conjunto de
nervos sensíveis à cor é exaurido em seu maior grau, o observador, durante algum
tempo, ficará necessariamente cego para essa cor correspondente. Se os nervos
fatigados forem os sensíveis ao vermelho, ele ficará cego para o vermelho,
conquanto ainda permaneça capaz de perceber todas as cores que não contenham
o vermelho. Além disso, ele será capaz de ver qualquer cor que tenha uma
mistura de vermelho, mas como se todo o vermelho tivesse sido removido.
Tomando um exemplo simples, o púrpura seria mais ou menos azul. Essa
cegueira artificial para cores evidentemente faz com que os olhos se tornem
hipersensíveis a muitas cores e a matizes de cores que não contêm vermelho, já
que o vermelho ajuda a obscurecer um matiz muito fraco de outras cores. Os
seguintes experimentos foram realizados por muitas pessoas e proporcionarão
uma prova das afirmações que acabamos de fazer. Quando uma faixa de luz
tingida de carmim for projetada sobre uma tela branca por uma lanterna mágica
terá certa visibilidade, mas se o observador olhar primeiro através de um vidro
vermelho ou azul para a luz do dia, por mais ou menos um minuto, verá a faixa
como tendo mais azul ou mais vermelho respectiva- mente, embora quiça não tão
brilhante. Efeitos análogos podem ser obtidos depois de os olhos terem se
fatigado de olhar para uma tira de papel azul ou amarela (vide ultra), quando o
observador ficou, para todos os fins práticos, temporariamente cego para o azul
ou cego para o amarelo. Se fosse possível inibir durante um curto espaço de
tempo dois conjuntos de nervos sensíveis à cor, o observador seria
completamente monocromático. Mas esse procedi- mento extremado não é
condição necessária às presentes investigações, e na prática verificou-se ser
impossível por esse método induzir total cegueira para o vermelho, para o azul ou
para o amarelo. Entretanto, a observação de que 'os olhos ficaram anormalmente
sensíveis a certos matizes" permanece correta. É perfeitamente razoável supor
que essa hipersensibilidade dos olhos para as cores permita que os raios da aura,
provavelmente ultravioleta, de outro modo invisível, sejam percebidos, e que esta
seja uma das explicações do motivo por que porções de cores diferentes podem
ser vistas dentro das faixas de cores complementares.
Na situação de saúde precária, como se verá mais adiante, a aura
frequentemente contém mais amarelo do que na situação de boa saúde, e essa cor
é especialmente acentuada em áreas circunscritas de distúrbios locais. Essas
porções são geralmente vistas como lugares amarelos no meio da faixa de cor
complementar azul. A explicação desse fenômeno é provavelmente a seguinte:
quando os olhos se tornarem suficientemente fatigados pela bem-sucedida
indução da faixa de cor complementar azul, os nervos sensíveis ao amarelo
apenas são capazes de transmitir ao cérebro sensações dessa cor em grau
limitado, conquando ainda conservam intacta a faculdade de perceber os
comprimentos de onda mais curtos do amarelo ultravioleta. Possivelmente esses
últimos exerçam maior influência devido ao fato de não serem obscurecidos pelo
amarelo, mas facilmente perceptível, do espectro solar comumente visível. Outro
fator que provavelmente favorece a percepção das cores áuricas, mas ao qual não
devemos atribuir importância exagerada, é que o corpo assume em geral as cores
da faixa de cor complementar e, desse modo, permite um melhor contraste com o
amarelo ou com outras cores que a aura possa possuir localmente. (Veja página
133.)
Todos sabem que, se olharmos intencionalmente durante um breve espaço de
tempo para um objeto colorido e a seguir fitarmos o teto ou uma tela branca, etc.,
veremos um espectro desse mesmo objeto, semelhante ao original na forma mas
de cor diferente. Essa cor secundária sempre terá, por igual quantidade de
estimulação, a mesma coloração, que depende da cor do objeto, e é chamado
complementar em relação à cor primária. Por exemplo, depois de se ter fitado um
objeto amarelo, a cor do objeto virtual será azul, sendo a cor exata influenciada
pelo matiz do amarelo empregado e, até certo ponto, por idiossincrasias pessoais.
Quando um pesquisador olhar por tempo suficientemente longo um objeto
amarelo, variando de acordo com a intensidade de luz e a firmeza do olhar, etc.,
ele sempre verá a imagem consecutiva, a princípio, da mesma coloração azul, que
gradativamente se tornará mais clara, e, com mais frequência, misturar-se-á com
o vermelho, tornando-se púrpura ou cor de ameixa. Nesses casos, a cor
complementar sempre inclui um matiz do vermelho, embora, a princípio, seja
mascarada pela intensidade da cor azul.
Se, no entanto, ele a princípio vir um espectro cor de ameixa ou purpúreo,
pode estar certo de que seus olhos não foram adequadamente fatigados pela cor
amarela original, ou então que há uma maior quantidade de luz branca no
aposento do que normalmente costuma haver. Essas modificações mostram que é
aconselhável familiarizar-se com os variáveis matizes por que passa o espectro
mas que, ao mesmo tempo, eles não têm tanta importância como já se acreditou
que tivessem. Após curto espaço de tempo, o espectro desaparecerá, mas,
certamente, retornará com cor alterada. Via de regra, esta mudança secundária
pode ser desprezada, porque o uso da cor complementar raramente continua por
tempo suficientemente longo para o seu aparecimento. Entretanto, as mudanças
secundárias às vezes podem ser úteis, como o seguinte caso exemplifica.
Após o exame de uma mulher por meio das cores complementares ter sido
completo e o estore erguido, em plena luz do dia, enquanto falávamos com ela,
uma nova imagem posterior se tornou visível em seu corpo, e no meio da faixa
houve uma marca amarela aproximadamente do tamanho de um shilling sobre a
parte superior da mama esquerda, a cerca de duas polegadas do esterno. Essa
marca passara despercebida no exame anterior. O ponto era quase invisível
imediatamente após a faixa colorida ter desaparecido, mas, logo, que os olhos
tornaram a ser influenciados da maneira ordinária para obtenção das faixas de
cores complementares, essa porção tornou-se novamente perceptível e muito
nítida. Ali estava um efeito inesperado que até o presente momento nunca mais
foi repetido.
Outra inferência, evidente por si mesma, ainda permanece, a saber, é que,
quando o fundo não é branco, as cores complementares nem sempre aparecerão
em seus verdadeiros matizes, mas sim como que misturadas à cor do fundo.
Visto que essas cores complementares são inteiramente subjetivas, elas
receberão os nomes de pigmentos que oferecem as melhores combinações, que
serão suficientemente exatas para todos os propósitos descritivos. Depois de fazer
vários experimentos com as cores usualmente denominadas primárias, as
conclusões a que chegamos foi que elas não davam resultados tão bons como as
mistas. Como consequência dos experimentos, as seguintes cores foram
escolhidas como sendo as mais úteis.
 
1. Amarelo-ouro, cor complementar, Azul-da-Prússia.
 
2. Azul-da-Antuérpia, cor complementar, Amarelo-ouro.
3. Carmim, cor complementar, Verde-esmeralda.
4. Verde-esmeralda, cor complementar, Carmim.
 
Se possível, cada observador deve selecionar por experiência a cor ou cores
que melhor se adaptem a ele.
No trabalho de rotina, pode-se fazer uso de tiras de papel coloridas com três
polegadas de comprimento e três quartos de polegada de largura, com uma pinta
preta no centro, afixadas num quadro preto. A experiência tem demonstrado que
este é o tamanho maior que se pode usar convenientemente, já que um objeto
mais longo não produz a cor complementar perfeita até os extremos. Com uma
paciente postada alguns pés à frente do observador, uma dessas tiras dará uma
faixa de cor complementar que, quando usada transversalmente, será mais larga
que o corpo, permitindo que os extremos que são projetados de cada lado além do
corpo sejam comparados um com o outro e, também, com a porção central do
próprio corpo. No inverno ou em tempo brumoso, especialmente em Londres, a
dificuldade de usar tiras de papel para obter as cores complementares subjetivas é
grande, e é ocasionalmente impossível fazer um exame completo, dado o
excessivo tempo necessário e que é extremamente fatigante tanto para a paciente
como para o pesquisador. Para superar esse inconveniente foi planejado um
aparelho que pode ser usado à luz do dia ou, numa emergência, à luz de gás.
Consiste numa máscara cilíndrica de aproximadamente seis polegadas de
comprimento e cinco de largura, com um extremo moldado de forma a ajustar-se
ao rosto, ao passo que o outro possui uma tampa giratória em que há uma fenda
oblonga de três quartos de polegada de largura. Assim, a fenda pode ser girada
para ficar na horizontal ou na vertical, em relação aos olhos, como for necessário.
Por trás da fenda, coloca-se um pedaço de vidro polido e, por trás deste,
novamente uma tela transparente, que pode ser ou uma cavidade contendo um
fluido ou então um pedaço de vidro colorido. A máscara deve ser pintada de
preto por dentro ou forrada de veludo. Uma pequena marca pode ser feita sobre o
vidro polido para atuar de modo semelhante ao da pinta dos papéis coloridos. A
distância entre os olhos e a tela será mais ou menos corrigida para visão
emetrópica, mas para presbiopia e miopia serão necessários os óculos de leitura
usados pelo observador. O aparelho deste autor tem um diafragma removível com
lentes da mesma distância focal que os óculos que ele usualmente usa.*
 
A distância entre os olhos e a tela é muito menor que a distância
comum de leitura, produzindo um ligeiro esforço dos olhos que, ao
que temos verificado, tem sido benéfico na prática.
 
Para usar o dispositivo só é necessário sustentá-lo em frente e junto do rosto
e fitar a luz mantendo os olhos fixos na marca feita no vidro polido. Em poucos
segundos os olhos ter-se-ão tornado suficientemente afetados, e a faixa de cor
complementar pode ser percebida do mesmo modo como os papéis coloridos
foram utilizados. O uso do aparelho requer mais habilidade do que o dos papéis
coloridos, já que a tela precisa de alterações na intensidade da cor, de acordo com
a intensidade da luz.
Logo que o paciente esteja pronto para exame, deve postar-se em frente de
um fundo branco colocado contra a luz e uniformemente iluminado em toda sua
extensão. Se houver quaisquer sombras no fundo, deve-se fazê-las corresponder
nos dois lados. Preferivelmente a luz deve ser mais intensa do que quando a
própria aura está sendo inspecionada, mas quase sempre será preciso que um
estore esteja parcial ou totalmente baixado. Depois de estar tudo adequadamente
preparado, o observador deve fitar o céu através da tela transparente na máscara,
ou fixar uma das tiras de papel coloridas, mantendo os olhos fixos na pinta, por
vinte a trinta segundos, conforme a intensidade da luz.
Quando se usam tiras coloridas, é necessário luz intensa, de modo que será
preciso afastar o estore para permitir que o papel seja totalmente iluminado.
Então o observador volta-se para o paciente e olha para algum ponto
predeterminado na linha mediana de seu corpo, quando, se usada
transversalmente, a faixa de cor complementar será vista alcançando
transversalmente o corpo e estendendo-se para o fundo em qualquer dos lados,
sendo o todo simultaneamente visível. Ele está, assim, capacitado a notar
variações nos matizes da cor em cada parte da faixa. As cores das extensões da
faixa prolongadas além do tronco podem ser comparadas entre si, mas
obviamente não com a porção situada sobre o próprio corpo. O método acima
mencionado, apesar de simples, exige prática considerável, e o domínio de um ou
dois detalhes, sem grande importância em si mesmos, ajudará muito, favorecendo
a rapidez e o conforto de sua execução. Primeiro, quando se olha para a tira
colorida, é indispensável fixar os olhos num ponto específico e conservá-lo
exatamente em foco o tempo todo, visto que, se isso não for feito corretamente,
não haverá nitidez e será bem maior o tempo necessário para obter o efeito
desejado. Para tanto, é preciso um ligeiro esforço voluntário, mas a prática logo
tornará quase automático esse esforço. Segundo, um novato, em geral, sente
alguma dificuldade para manter os olhos num certo local do corpo do paciente,
dada a tendência da faixa de cor complementar vaguear muitas vezes para fora do
campo de visão, e para os olhos a seguirem, destruindo assim completamente o
valor da observação. Quando o hábito de manter os olhos fixos num único ponto
tiver sido adquirido, a faixa de cor complementar permanecerá razoavelmente
imóvel, e mesmo que se mover, voltará por si mesma à posição correta. Como a
habilidade também aqui só pode ser obtida mediante exercícios, é uma boa ideia
treinar os olhos sobre um objeto inanimado antes de proceder ao exame do
paciente humano.
Para o futuro, salvo especificação em contrário, a tira de papel amarela com
sua faixa de cor complementar azul será a cor implicada, e também por razão de
brevidade as letras c.c. serão empregadas em lugar de "cor complementar", e c.p.
indicará a cor da própria tira.
Como há variações naturais na cor da pele, e sombras no corpo de um
paciente, o observador deve notar toda modificação, por mais insignificante que
seja, antes de inspecionar com a faixa de c.c. Com cuidado, ponderação e um
pouco de experiência, a maioria das dificuldades devidas a essas causas
desaparecerá. Em sua forma mais simples, a faixa de c.c. projetada sobre o corpo
de uma pessoa que esteja gozando de boa saúde terá o mesmo matiz em toda sua
extensão, desprezadas as variações na cor da pele, e as extensões da faixa além
do corpo geralmente terão cores correspondentes uma à outra.
Quando as extensões da faixa de c.c. revelam, sobre um paciente saudável,
um matiz de um lado diferente do de outro, a diferença rara será grande. Essa
dissimilaridade de matiz é a forma mais simples de alteração da faixa de c.c., e só
pode ser consequência de iluminação imprópria; entretanto, toda dúvida pode ser
dissipada fazendo-se o paciente dar uma volta completa, quando, sendo isto feito
corretamente, as diferenças de matiz terão trocado de lugar, sendo isso prova
positiva de que a alteração depende da própria aura.
Outro efeito muito característico costuma ser produzido da seguinte forma:
observe qual extensão da faixa azul tem o matiz mais escuro; a seguir fite a tira
de papel azul c.p. para induzir uma faixa de c.c. amarela. Com mais frequência
esta última terá um matiz mais claro onde a faixa de c.c. azul era mais escura, e
vice-versa.
Uma mudança ocasional na faixa de c.c., quando projetada sobre o corpo de
um paciente que na oportunidade não goze de boa saúde, e postado de frente para
o observador, é o fato de um lado do corpo ser mais escuro que o outro. Quando
isto acontece, os matizes podem entremesclar-se gradualmente, ou uma linha
demarcatória nítida pode dividi-los. Na maioria dos casos, quando essa divisão é
bem definida, ela ocorrerá na linha mediana do corpo, mas há muitas exceções à
regra, e a linha de separação pode ocorrer a qual- quer distância à direita ou à
esquerda. Se a faixa de c.c. (clara num lado do corpo e escura do outro), for
continuada além do corpo, a extensão no lado claro terá invariavelmente um
matiz mais pálido do que a extensão da porção escura da faixa. Essa mudança
raramente ocupa todo o tronco, se é que chega a ocupá-lo, e ocorre com mais
frequência entre os níveis das mamas e do umbigo. Por vezes, uma coxa tem
diferente matiz da outra. A parte escura geralmente se sobrepõe a uma porção
enferma do corpo, e ver-se-á que esse local é absolutamente de cor mais profunda
que o resto da faixa. Por outro lado, a porção afetada do corpo pode fazer a faixa
de c.c. tornar-se mais clara, em vez de mais escura.
Há outra variação ligeiramente diferente, mas muito mais comum, em que,
em vez de a faixa de c.c. transversalmente a uma metade do corpo ter seu matiz
mudado, uma mancha grande ou pequena é mais clara ou mais escura que o resto
da faixa que a circunda. Quando a mancha é grande, ela ocasionalmente assume o
contorno de um órgão no todo ou em parte. As manchas menores, não mais de
uma ou duas polegadas de diâmetro, não determinam em si mesmas qual órgão é
afetado, embora em geral assinalem alguma enfermidade ou algum distúrbio
local e quase invariavelmente acusem a sede da dor ou da hiperestesia.
Uma terceira alteração da faixa de c.c., de ocorrência constante, consiste de
manchas ou pontos de uma cor diferente do resto da faixa. Algum matiz do
amarelo parece o mais frequente, e a interpretação, com pouquíssimas exceções,
é que o paciente tem, na ocasião, ou teve recentemente, dor e hiperestesia nesse
local. A cor não denota necessariamente nada de anormal, pois tem sido vista
com frequência sobre o epigastro, mesmo quando não havia dispepsia que a
justificasse, e ela é então manifestamente dependente da digestão ativa de
alimentos ingeridos pouco antes do exame. Em qualquer outra parte do corpo, ela
assinala alguma alteração patológica.
Quatro tiras de papel coloridas de c.p. ou quatro telas transparentes foram
selecionadas, cada qual possuindo vantagens não apresentadas pelas outras. Essas
vantagens parecem depender em geral de causas obscuras relacionadas com o
paciente. Para observações ordinárias a tira de c.p. que dá origem à faixa de c.c.
azul é a mais útil, e geralmente a única necessária, já que é mais sensível a
mudanças do que a faixa de c.c. amarela que é, como sua complementar,
especialmente valiosa como controle da faixa de c.c. azul, se a mu- dança de
matiz for apenas ligeira. Mas há ocasiões em que é melhor trabalhar com a faixa
de c.c. amarela em lugar da azul. Talvez a mais sensível de todas as faixas de c.c.
seja a verde, mas infelizmente ela não sofre tantas variações quanto a azul, e as
mudanças são de um caráter mais efêmero. Em casos de dúvida, sua delicadeza
de ação determinará qualquer questão acerca de sutis diferenças de cor. A escolha
de cor da faixa de c.c. geralmente não é importante, quando se tem em mente que
vez por outra, devido a idiossincrasias pessoais, podem-se obter melhores
resultados com uma cor do que com outra.
Um exame prolongado fatigará os olhos do observador, e como nenhuma
soma de força de vontade poderá ser de qualquer auxílio ele deverá ou abandonar
a inspeção por alguns minutos ou mudar a faixa de c.c. O primeiro alvitre,
quando possível, é preferível, pois o segundo é apenas um artifício a ser usado
quando o tempo for um fator de importância. Nesse caso, o melhor será usar a
faixa de c.c. oposta.
Surge agora uma questão muito pertinente e das mais difíceis de responder.
O que é que faz a faixa alterar sua cor? Em primeiro lugar, pelas razões já
apresentadas, parece mais provável que os olhos do observador estejam
hipersensíveis a certas cores após fitarem uma das tiras de c.p. de papel colorido,
e capaz de distinguir matizes tão próximos um do outro que passariam
despercebidos à visão comum. Em segundo lugar, teoricamente, parece haver
cinco influências que podem alterar o matiz da faixa de c.c.; primeiramente a
pele; depois, a densidade da aura; em terceiro lugar, alguma mudança na textura
da aura; em quarto lugar, a cor da aura e, finalmente, os raios.
Consideraremos uma a uma cada uma dessas proposições. Após dar um
desconto para toda possível variação de matiz que possa ser apreciada da maneira
usual, será perfeitamente razoável imaginar que talvez existam na pele cores que
só possam ser distinguidas em circunstâncias excepcionais. Temos tido isso
constantemente em vista, e temos procurado casos que pudessem esclarecer essa
dúvida, mas, até o momento, sem sucesso, de modo que, embora possível, essa
intervenção deve ser tão extremamente rara a ponto de ser desprezível. Um fato
que especialmente pesa contra a hipótese de a pele ser a causa da mudança é que,
quando a faixa de c.c. está descolorida até a margem do corpo, a extensão será de
igual maneira afetada, sendo mais clara ou mais escura, conforme o caso. Em
nenhuma circunstância pode esta última mudança ser devida à influência da pele;
consequentemente, não há nada a que ela possa ser atribuída exceto à aura,
conquanto pareça escassamente possível que uma nuvem tão transparente,
incolor, quase invisível, tenha influência tão poderosa sobre as faixas de c.c.
Em segundo lugar, será a densidade da aura capaz de induzir qualquer
mudança na faixa de c.c.? Como a aura é composta de material altamente
rarefeito (a palavra é usada intencionalmente), seria necessário adquirir uma
enorme densidade antes que qualquer alteração perceptível pudesse ser
produzida. Tudo aponta para uma resposta negativa a essa proposição. Um caso
ilustra o fato da maneira mais vigorosa. Uma mulher, postada de lado para o
observador, mostrou uma aura em frente do abdômen umas quatro vezes mais
larga do que no tórax; no entanto, quando ela deu meia volta, nenhuma diferença
pôde ser detectada, fosse diretamente ou com a faixa de c.c., que teve cor
uniforme tanto no tórax como no abdômen. A gravidez proporciona casos
análogos, já que a aura, em tais casos, em frente do abdômen é muito mais larga
do que diante do tórax. Nunca se observou se essa largura extra determinava
alguma alteração no matiz da faixa de c.c. a não ser que fosse acompanhada de
alguma alteração de cor ou de textura.
As duas primeiras influências teóricas que poderiam causar uma mudança no
matiz da faixa de c.c. foram, assim, desprezadas, e ainda há uma terceira e uma
quarta, que oferecem melhores chances para uma solução do problema.
Em terceiro lugar, pode uma alteração na textura da aura induzir uma
mudança suficiente na faixa de c.c. para explicar variações nos matizes? Quando
o autor começou a usar as faixas de c.c. imaginava que, depois de fitar a tira de
papel colorido de c.p. e a explorar o corpo através da tela clara de dicianina, foi
capaz de distinguir matizes de cor melhor do que sem a intervenção da tela, e, em
consequência, esse método foi usado habitualmente. Infelizmente, isso foi um
erro, pois levava a manchas que podiam ser vistas descoloridas sem a intervenção
de uma tela, sendo atribuídas inteiramente a uma alteração na textura da aura,
dando consequentemente maior importância a essa condição do que ela merecia.
É altamente provável que, na maioria dos casos, uma alteração de textura e
mudanças cromáticas caminhem lado a lado. Mas existem casos em que nenhum
traço de cor pode ser detectado, de modo que a modificação da textura da aura é a
única explicação restante. Se, com cada uma das faixas de c.c. empregadas
sucessivamente, a mancha continua a ser ou mais escura ou mais clara do que o
matiz circundante da faixa, presume-se que a mudança de matiz seja o resultado
de alguma peculiaridade na textura da aura. Por outro lado, se uma das faixas
mostrar uma mancha clara que pareça escura com o resto das faixas, então é
provável que haja alguma outra mudança. Vemos que duas das faixas podem
revelar uma mancha clara que outras mostram escura. Isso provavelmente
significa que a mancha é causada por duas cores áuricas, que, devido
principalmente a radiações ultra-violetas, por qualquer razão não se mesclam da
maneira comum. Uma boa ilustração do que pode ser tido como uma alteração de
textura produzindo uma mancha escura é o que a seguir apresentaremos.
 
 
Caso 28.
 
C., um homem de cinquenta e três anos de idade, foi examinado em outubro
de 1914. Não era muito vigoroso, mas costumava sair-se bem de qualquer
enfermidade. Vinha de recobrar-se de um ataque de lumbago ocorrido após
remar, pois não estava acostumado ao exercício, e posteriormente contraíra um
resfriado. Tivera problemas de indigestão e também já fora muito amigo do
álcool. Sua aura tinha uma cor cinza-azulado. A exterior, bastante nítida e
distinta, tinha oito polegadas de largura do lado da cabeça, quatro e meia no
tronco, cinco nas costas, e três nas coxas e pernas. A aura interior estava abaixo
da média em nitidez, media cerca de três polegadas de largura, era granulada na
região lombar e também no hipocondrio direito quando se postou de lado; mas, a
não ser por isso, era saudável. Todas as quatro faixas de c.c. mostraram uma
mancha escura nas costas, no nível das duas vértebras dorsais inferiores e de
todas as lombares; essa mancha atingia cerca de duas polegadas desde a margem
do corpo em cada lado. Essa mancha não parecia de nenhuma coloração local da
aura, tal como testada pelas faixas de c.c., de modo que não havia nada a que
pudesse ser atribuída exceto à textura. Na frente, com a faixa de c.c. azul, havia
uma mancha escura sobre o fígado e uma amarela sobre o epigastro. Ele tinha dor
e sensibilidade em todos esses lugares. Enquanto estava de frente para o
observador, com as mãos nos quadris, quando a aura nos espaços entre o corpo e
os braços foi examinada por meio das telas coloridas, nenhum amarelo foi
encontrado. Se se avistasse essa cor, provavelmente a mancha nas costas, embora
escura com a faixa de c.c. azul, pareceria mais clara com o amarelo.
Uma mancha pode ser produzida por duas ou mais cores. Uma mancha de
bom tamanho foi vista sobre a região sacral de um paciente, de uma cor rosada
quando a faixa de c.c. azul foi usada. Como a cor era incomum, essa área foi
examinada com outras três faixas de c.c. Com a amarela, parecia mais escura do
que o resto da faixa. Não era certamente um amarelo puro, pois continha uma
mistura de outras cores que não podiam ser dissociadas. Com as faixas vermelha
e verde, a cor foi a vermelha; e o matiz diferiu nos dois casos, mas era impossível
decidir quanto às particularidades da variação. Cada faixa também determinou
uma ligeira alteração no tamanho e na forma da mancha.
A única explicação plausível era a de que a mancha fosse multicolorida,
sendo composta de pelo menos duas cores (certamente o vermelho e o amarelo
estavam lá), e que as diferentes faixas de c.c. as dissolviam. A não ser que a
mancha rosada consistisse de raios ultravioleta, seu aparecimento nas faixas
vermelha e verde seria incompreensível.
Ao usar a faixa de c.c. azul não é ocorrência incomum encontrar manchas
escuras e amarelas na mesma pessoa, mas manchas claras acompanhando a
amarela não são frequentes. Só numa ocasião se viu, ao usar a faixa de c.c. azul,
manchas amarelas escuras e claras no mesmo indivíduo. A paciente era uma
senhora histérica, cujo caso é descrito em outro capítulo.
A alteração patológica da textura que dá origem a uma mancha escura na
aura, quando vista com auxilio da faixa de c.c., sempre consiste, até onde
pudemos observar no presente momento, em um estado grosseiramente granulado
da aura interior, mas não ficou estabelecido se a aura exterior concorre de algum
modo para sua formação. Em nenhum caso em que a faixa de c.c. azul tenha sido
empregada e uma mancha clara tenha se tornado visível, foi possível excluir
todas as alterações cromáticas da aura, de modo a se estar razoavelmente
confiante de que a mudança fosse inteiramente devida a alguma modificação de
textura. Teoricamente, uma alteração da substância pode ter ocorrido, mas é
extremamente difícil obter prova inequívoca disto, pois os olhos do observador
geralmente se fatigam antes que o exame seja completado, e, além disso, os
pacientes naturalmente fazem objeção a uma inspeção demasiado prolongada,
tendo ali comparecido, usualmente, não para fins experimentais mas sim para
obter um diagnóstico.
O quarto agente, a saber, a cor da aura, tem um fundamento mais seguro,
pois manchas de cores diferentes das que circundam a faixa de c.c. estão sendo
percebidas constantemente. Ao empregar a faixa de c.c. azul, o amarelo é a cor
mais comum, e a mais frequente, a seguir, é um rosa indefinido. Os matizes do
amarelo vão de um limão transparente até o matiz mais escuro do ocre-romano.
Além de um rosa muitíssimo variável, há um grande número de cores que
desafiam descrição, já que são obviamente misturas de cores ultra-violeta. Se
essas cores estão naturalmente mas apenas localmente presentes na aura, é
necessária uma explicação da razão por que elas não podem ser percebidas, a não
ser durante o uso das faixas de c.c. Tal explicação foi parcialmente apresentada
na página 120. Em raras ocasiões tem sido possível detectá-las na aura sobre (não
ao lado) o corpo, mas nunca de forma suficientemente distinta para poderem ser
descritas. É possível que olhos mais bem treinados ou mais peculiarmente
adaptados possam ter o poder de decompo-las. Houve tempo em que se acreditou
possível que o uso de telas coloridas pudesse revelar essas manchas sem ser
preciso recorrer ao tedioso processo de cegar parcialmente os olhos para cores.
Mas a tentativa fracassou por razões que apresentaremos logo mais.
No Capítulo IV, ao discutir a probabilidade de um segundo espectro, fizemos
o relato de um exame da aura nos intervalos entre o corpo e os braços de pessoas
postadas de frente para o observador, com as mãos nos quadris. Os resultados são
extremamente interessantes, mas as discrepancias são tão grandes a ponto de
impossibilitar qualquer tentativa de tabulá-los de alguma forma útil. Entretanto,
quando se examina a aura através de diferentes telas coloridas, dois fatos
importantes ressaltam: primeiro, durante o estado são, um tom azul é
predominante; segundo, durante o estado mediano de saúde, a aura,
constantemente tem uma adição do amarelo.
Via de regra, em estado de boa saúde, a aura conserva sua cor natural, azul
ou cinza-azulado conforme o caso, ao ser examinada através das telas amarela ou
laranja, mas geralmente recebe um reflexo de vermelho ou violeta quando se
empregam telas muito escuras dessas cores. Com a tela verde, a cor natural
permanece, ou então a aura se torna de um puro azul. A ação da tela azul no
escuro não é a que naturalmente se poderia esperar, pois quase sempre leva a aura
a assumir uma cor azul de diferente qualidade e que não se parece com a da tela.
Por vezes, quando visto através de qualquer das telas coloridas, esse azul pode
estar mesclado, sem estar fundido, com vermelho, amarelo ou verde, mas
raramente essas cores são nítidas. As auras de pacientes constitucionalmente
fracos, que tenham sofrido um processo de debilitamento por qualquer razão, ou
que estão enfermos por ocasião do exame, apresentam-se comumente mais ou
menos alteradas quando vistas através das diferentes te-las, o que se deve, na
maioria das vezes, ao acréscimo de vermelho, amarelo ou verde, individualmente
ou em conjunto. O amarelo raramente está ausente e em geral predomina sobre as
outras cores. Pode ser um amarelo brilhante, mas quanto pior o estado de saúde
do paciente, tanto mais a cor se aproxima do matiz mais escuro do ocre romano.
A tela azul é a mais útil, e é a única necessária para mostrar o amarelo
quando se tem pouco tempo, mas, quando possível, todas as telas devem ser
empregadas, pois às vezes se obtêm alguns efeitos bastante bizarros. A aura nos
intervalos entre o braço e o tronco pode ser totalmente azul, mas em geral a aura
interior tem um matiz diferente da exterior, sendo geralmente mais escuro ou
mais vivo. A interior pode ser amarela, enquanto que a exterior permanece azul.
Uma outra variação é a exterior exibir uma mistura de amarelo ou ser totalmente
amarela. A aura exterior nunca contém amarelo, desde que a interior continue
azul, nem é esta cor mais acentuada na primeira do que na segunda, de modo que
se pode seguramente concluir que a aura interior se torna amarelo com mais
frequência e em maior grau que a exterior. Assinalamos noutro lugar que a
interior é a parte da aura que com mais frequência se altera localmente e, em
consequência, é muito sujeita a assumir uma cor amarela nas manchas.
Quando um observador está investigando a aura nos intervalos entre os
braços e o corpo de um paciente, tendo em vista o fenômeno da cor, ele está
trabalhando em condições vantajosas, incluindo, além de uma maior
profundidade da aura, um fundo preto, mas, ao examinar as manchas amarelas no
corpo, as condições não são de modo algum tão favoráveis, porquanto o corpo
constitui um fundo de qualidade inferior, de modo que uma mancha amarela é
mais difícil de ver, e consequentemente só pode ser detectada por processos
sensíveis. Esta é a razão por que não se deve dar importância exagerada à cor
assumida pelo corpo em consequência do uso da faixa de c.c. (Veja a página 115.)
Em várias ocasiões, ao usar as telas transparentes para o exame com cores
complementares, a faixa, em vez de ser projetada diretamente sobre o corpo,
parecia ter avançado várias polegadas na frente do paciente, e se fosse horizontal,
parecia curvar-se rumo ao observador. Este fenômeno sempre ocorreu de surpresa
e o autor nunca foi capaz de induzi-lo voluntariamente focalizando os olhos num
plano em frente do paciente, nem tampouco, quando o fenômeno se apresenta, é o
autor capaz de tomar a projetar as faixas sobre o corpo, sem voltar a olhar através
da tela de c.p. para induzir uma nova imagem posterior. Esse tipo peculiar de
imagem, além do mais, é perfeitamente inútil, já que a faixa de c.c., em vez de ser
bem definida, tem sempre uma aparência estranha e brumosa e nunca revelou o
mais leve sinal de qualquer mancha.
Visto que as cores complementares são invisíveis em meio ao ar, e
necessitam de um fundo para serem percebidas, seu aparecimento a pouca
distância à frente do corpo de um paciente tem um interesse peculiar. Isso prova
que precisa haver alguma substância aliada a um vapor ou gás que constitui o
fundo. Há apenas uma coisa que esse fundo pode razoavelmente ser, isto é, a
aura.
 
 
 
 
Capítulo VII
 
A AURA EXTERIOR NA ENFERMIDADE
 
Se for correta a teoria de que as forças geradas dentro do corpo dão origem a
condições em redor do corpo que podem ser vistas em certas circunstâncias, e
que são conhecidas como as auras, será razoável prever que essas forças variarão
e farão os resultados variarem na saúde e na doença. Na primeira condição, após
abrir uma margem de variação para idade e sexo, as auras, tanto a exterior como a
interior, são, dentro de limites bem-definidos, muito semelhantes, podendo todas
as variações serem atribuídas à individualidade. É extremamente difícil imaginar
qualquer desvio da saúde que possa ocorrer sem, de algum modo, influir numa ou
em mais de uma dentre as forças áuricas e, consequentemente, sobre a própria
aura. Se a enfermidade for apenas local, provavelmente haverá apenas uma
mudança circunscrita a certa região da aura; mas, se o paciente sofrer de uma
enfermidade geral, toda a aura estará sujeita a ficar afetada; mas, havendo
recuperação da saúde, a aura poderá retornar ao seu estado anterior. (Veja os
Casos 18 e 48.) A alteração na aura ocasionalmente não parece proporcional à
gravidade da doença, já que muitas das modificações são extremamentes sutis
para serem detectadas pelos métodos rudimentares de observação atualmente
disponíveis, mas deve-se postular que, no futuro, processos de investigação mais
aprimorados desvendarão maior número e variedade de defeitos. As mudanças
que mais provavelmente se descobrirão na atualidade são diferenças de tamanho
e forma da aura acompanhadas por alterações de cor e de textura.
As auras de qualquer pessoa que goze de boa saúde são invariavelmente
simétricas quando ela está de pé, de frente ou de costas para o observador. Um
caso mencionado em outra parte (Caso 51) é a única exceção. Ao longo da frente
e das costas de uma pessoa postada de lado não há igualdade. Quando um
paciente em mau estado de saúde está sendo inspecionado, é impossível, desde
que a forma apropriada da aura seja conservada, determinar se as medições da
aura são as mesmas de quando ele gozava de boa saúde, a não ser que porventura
um exame anterior ou posterior tenha sido feito. (Veja os Casos 18 e 48.)
Devemos nos lembrar que mesmo que o paciente tenha sido examinado durante o
estado de sanidade, uma variação das dimensões corretas de sua aura pode ser
apenas aparente, devido a alguma mudança de textura, já que ela e a visibilidade
estão intimamente associadas.
 
Na primeira edição deste livro, foram citados dois casos de auras
simétricas em pessoas que gozavam de boa saúde, mas uma delas
tivera anteriormente um ataque epiléptico, 0 que na ocasião não fora
por ela admitido.
 
Neste capítulo, nossa atenção estará restrita a casos em que a totalidade ou
uma grande porção de aura é modificada na forma por causas constitucionais. O
primeiro desvio de uma aura típica que selecionamos é um que ocorre
constantemente e é mais acentuado nas mulheres (apenas em razão do tamanho
natural da aura) do que nos homens. No tipo em questão a aura é simétrica, mas,
em lugar de diminuir gradualmente e atingir seus limites mais estreitos, não
abaixo da parte inferior das coxas, como no estado de sanidade, ela subitamente
se contrai, quase em toda a sua extensão, ou ao nível da parte mais baixa do
tronco ou a curta distância abaixo desse nível. Para usar um termo de botânica,
sua forma foi denominada "espatulada". Vista de lado, a aura na frente é de
largura média ou até mais ampla, ao passo que nas costas há uma protuberância
na região lombar. A expansão geralmente começa perto do nível dos ombros e se
contrai acentuadamente no mesmo plano horizontal dos lados do tronco, e depois
acompanha o contorno do corpo. A aura interior aparentemente retém a forma e o
tamanho próprios das pessoas que gozam de boa saúde.
O tipo espatulado de aura constitui um forte pressuposto de um
temperamento histérico, e quanto mais pronunciada a forma tanto mais certa é a
correção do diagnóstico. Embora mais comum nas mulheres adultas, não está
confinado a elas, pois foi notado numa menina de oito anos de idade, em meninos
de seis e de doze anos, bem como em homens adultos. Todos esses casos
exibiram uma forma espatulada tão perfeita como as formas naturais das auras de
jovens mulheres, de rapazes e de homens o permitiriam. Em todos os casos a
névoa era mais ampla dos lados do tronco do que seria normal, ao passo que,
junto às coxas, era natural na amplitude ou até mais estreita. Esses exemplos são
suficientes para demonstrar que a forma histérica da aura pode ocorrer em
qualquer dos sexos. Raramente ela é detectada em meninas ainda não púberes, ou
em meninos, não obstante seja possível que esse desvio ocasionalmente tenha
sido passado por alto, devido às dificuldades em distinguir alterações
características. É muitíssimo difícil decidir se a aura de uma menina quando no
estado de transição, especialmente durante o período inicial, é espatulada ou não.
Provavelmente, o estágio intermediário nas meninas é aquele em que a aura
geralmente começa a assumir a forma anormal dos lados do tronco. É duvidoso
que, por ocasião do nascimento, a aura chegue a mostrar a largura aumentada na
cintura ou o estreitamento acima do terço superior das coxas, como se vê nos
estados histéricos típicos. Num caso promissor, a aura de uma jovem com doze
anos de idade e muito bem desenvolvida foi cuidadosamente examinada,
verificando-se que estava na fase inicial do estado de transição. Tendo em vista
que ela, naquela ocasião, exibia tendências histéricas, esperava-se que pelo
menos uma protuberância anormal da aura exterior estivesse presente nas regiões
lombares, nas costas. Mas nenhum traço de uma e nem o mais leve sinal de aura
espatulada puderam ser detectados.
Uma convexidade na altura dos rins parece estar presente em todos os casos
de aura espatulada. Essa protuberância típica geralmente começa perto do nível
dos ombros, convexo para trás, e depois, curvando-se para dentro sob as nádegas,
e é quase patognomônico da histeria em ambos os sexos, ao passo que, no
homem ou nos indivíduos jovens, é, às vezes, a única mudança que pode ser
detectada.
Meninas mais emotivas do que o normal, e que são sempre descritas pelos
parentes como "algo histéricas", embora nunca tenham sofrido seriamente de tal
mal, manifestam uma tendência para a aura espatulada. Por outro lado, mulheres
não naturalmente histéricas, que passam por grave ansiedade ou tribulação,
exibem auras dotadas dessa característica especial. Um exemplo bastante notável
(Caso 35), o de uma jovem senhora, será mencionado mais adiante.
 
 
Caso 29.
 
(Figuras 29 e 30.) D. X. era uma jovem que em dois meses completaria
dezessete anos de idade quando foi examinada; um tanto alta, tinha um perfeito
esqueleto que cinco meses antes sofrera uma pesada queda. A emaciação
progredira gradualmente sem qualquer razão óbvia, pois todos os seus órgãos
estavam sãos. Sua menstruação, que começara aos catorze anos de idade, estava
suspensa há vários meses. Ela se encontrava deprimida e apática, mas não se
queixava de dores. A história de sua família estava longe de ser boa, sendo ela
filha única e de pais neuróticos. Sua aura era cinzenta, levemente tingida de azul,
indicando um tipo pouco desenvolvido. Em volta da cabeça, a aura exterior tinha
sete polegadas de largura; aos lados do tronco, oito, o que seria a largura média
para sua idade se a forma não fosse espatulada, e contrafa-se a curta distância
abaixo da parte inferior do corpo, onde média quatro polegadas e meia,
diminuindo para três junto aos tornozelos.
De lado, não chegava a quatro polegadas em torno do tronco, na frente, e
diminufa ao longo das coxas e pernas; por trás, media quatro polegadas ao nível
da es- pinha da escápula, mas desde este ponto ela rapidamente se encurvava para
fora, e de novo para dentro, readquirindo sua largura anterior logo abaixo das
nádegas, e contraindo-se ligeiramente daí para baixo. A maior extensão que a
protuberância atingiu foi de nove polegadas, o que em si mesmo era notável para
uma moça de sua idade, especialmente devido ao fato de sua coluna ser
peculiarmente reta. A aura interior era naturalmente estriada, tinha cerca de três
polegadas de largura na altura do tronco e um pouco menos junto aos membros
inferiores. A cor nos intervalos entre os braços e o corpo, enquanto estava com as
mãos nos quadris, exibia, através das diferentes telas, mais amarelo do que seria
compatível com um estado de boa saúde.
Ali estava uma aura espatulada ideal, tão notável que sua tia, que a
acompanhava, conseguiu facilmente distinguir-lhe a configuração. Prescreveu-se-
lhe massagem geral, alimentação adequada, etc. Ela só nos fez uma visita, mas
suas amigas depois nos escreveram dizendo que ela readquirira peso e parecia
gozar de boa saúde.
Enquanto examinávamos algumas crianças para apurar os efeitos da
hereditariedade sobre as dimensões da aura, deparamos com um caso precoce de
aura espatulada.
 
 
 
Caso 30.
 
(Figuras 31 e 32.) E. X., uma menina com menos de oito anos de idade, foi
examinada em 1910. Era uma criança inteligente e esperta, muito excitável, mas
tinha ascendentes neuróticos em ambos os lados da família. (Veja a Tabela I.) A
cor de sua aura era cinza-azulado. A interior media aproximadamente uma
polegada e meia de largura e exibia estriamento. Do lado esquerdo, sobre todo o
tronco, era brilhante, sendo um bom exemplo de pseudo-raio. (Página 49.) Em
breve espaço de tempo, esse raio se enfraqueceu e a aura assumiu sua condição
natural. Havia áreas de brilho local que davam a impressão de que raios estavam
sendo emitidos de várias partes do corpo, mas nenhum era absolutamente
desenvolvido. Em torno da cabeça, a aura exterior era um pouco mais larga do
que os ombros. Quando a menina colocou as mãos atrás do pescoço, a aura
apresentou uma largura de quatro polegadas nos lados do tronco, estreitando-se a
pouco menos de três polegadas a curta distância abaixo do púbis, de onde
prosseguia normalmente para baixo. Não era fácil determinar a largura exata, pois
a margem, especialmente junto aos membros inferiores, era mal definida. Vista
de lado, a aura exterior media apenas três polegadas de profundidade na frente do
corpo, mas nas costas formava uma protuberância desde o nível dos ombros até
seis polegadas na altura da região lombar, e curvava-se para dentro a uma curta
distância abaixo das nádegas. A faixa de c.c. era uniforme por todo o corpo. Essa
criança tinha uma aura ampla para a sua idade, o que é tanto mais singular
quando se sabe que os outros membros da família possuíam auras estreitas. Era
um espécime típico de aura infantil espatulada.
 
 
 
 
 
 
 
 
Caso 31.
 
O exemplo a seguir foi escolhido porque o paciente exibia uma aura muito
distinta desta classe. O menino tinha doze anos de idade, estava longe de ser
robusto, era naturalmente vivaz e excitável, nunca tendo sofrido qualquer
enfermidade séria. O pai tinha o mesmo temperamento e a mãe inclinava-se para
a histeria. Ele fora vítima de alguns ataques muito peculiares, tendo um deles
ocorrido dois anos antes, outro cerca de um ano depois, e um terceiro uma
semana antes do exame. Desde o princípio cada ataque era súbito e consistia
numa perda de individualidade. Ele compreendia tudo o que se passava, mas tudo
lhe parecia muito distante e completamente fora de sua esfera de ação. Os ataques
terminavam tão rapidamente como começavam, e, posteriormente, ele não se
sentia nem um pouco mal por causa deles. O menino fez-nos um relato muito
bom do acesso que teve alguns dias antes de nos visitar. Ocorrera quando ele se
encontrava na escola. Ele conhecia todos e tudo o que fora dito ou feito. Repetira
suas lições à maneira de papagaio, mas estava absolutamente incapacitado para
aprender qualquer coisa nova. Para ele, o sintoma mais curioso era o seu conceito
de tempo, parecendo-lhe a meia hora pelo menos três horas.
Sua aura exibia uma cor azul e era vista com bastante facilidade. A exterior
media seis polegadas e meia em torno da cabeça, enquanto o menino estava de
frente para o examinador, e cinco polegadas dos lados do tronco, sendo simétrica
em ambos os lados. Encurvava-se para dentro de forma aguda ao nível da parte
mais baixa do tronco, onde media apenas três polegadas, e continuava dessa
largura ao longo das coxas e pernas. De lado, media cerca de três polegadas na
frente do corpo, mas nas costas havia uma protuberância de seis polegadas de
largura, começando ao nível da espinha da escapula e terminando ao mesmo nível
da curva para dentro da aura ao lado do tronco, e daí seguindo o curso normal
para baixo. A aura interior media cerca de duas polegadas em toda a sua
extensão, e podia-se distinguir facilmente seu estriamento. As faixas de c.c. eram
uniformes por todo o corpo.
A descrição anteriormente apresentada é tão próxima da réplica de auras
espatuladas em homens adultos que seria inútil apresentar outros casos em
detalhes.
Aliados a esses casos de histeria há outros que apresentam certas
semelhanças, mas têm uma importante diferença, a saber: eles aparentemente se
desenvolvem após severo choque do sistema nervoso ou algum ferimento. O
nome histeria traumática designa suficientemente bem essa condição. Seria
interessante saber se as auras dessas pessoas exibiam a forma espatulada antes da
ocorrência do ferimento em questão. Esse é provavelmente o caso, embora até o
presente não se tenham obtido provas absolutamente conclusivas disso. É sem
dúvida instrutivo que uma em cada duas ou três dezenas de pessoas que sofreram
acidentes similares desenvolvesse esses sintomas nervosos, enquanto o resto
permanecesse imune a eles. Isso assinala vigorosamente o fato de haver uma
predisposição constitucional. A criança mais nova, cuja aura exibiu uma perfeita
forma espatulada, enquadrando-se nessa classificação, foi um menino de seis
anos de idade. (Caso 34.) O primeiro aparecimento dessa condição após um
acidente, especialmente por ter sido acompanhado de um exantema de origem
nervosa, fortalece o argumento em favor de tendências neuróticas antecedentes.
 
 
Caso 32.
 
(Figuras 33 a 35.) N., soldado reformado, foi ferido no ombro durante a
guerra da África do Sul. Aparentemente, o choque desse ferimento induziu
transtornos funcionais de natureza grave em seu coração, tornando-lhe necessário
estar em repouso absoluto durante tempo considerável antes de poder voltar à
ativa. Depois disso, ficou temporariamente inválido uma ou duas vezes, tendo por
fim de deixar para sempre a corporação. Após ter sido reformado, ele foi de mal a
pior até a ocasião em que veio a nós para um exame, não podendo ficar em pé
sem o apoio de uma bengala. Tanto o esforço físico como o mental o fatigavam
rapidamente. Já consultara muitos cirurgiões famosos em Londres.
Sua aura exterior quase alcançava o padrão de nitidez de uma pessoa
saudável, mas, para um homem, era extraordinariamente espatulada. Media nove
polegadas junto à cabeça e seis no tronco, enquanto estava de frente para o
observador. Encurvava-se para dentro logo abaixo do nível do corpo, tornando-se
de três polegadas ao longo das pernas. Uma vista lateral mostrou que media três
polegadas na frente, mas nas costas havia uma protuberância começando na
altura dos ombros e terminando logo abaixo das nádegas, que media na parte
mais larga sete polegadas, ao passo que mais abaixo só tinha três. A aura interior
era demasiado indistinta para sugerir saúde, e podia se detectar estriamento
apenas com muitíssima dificuldade. Tinha três polegadas junto à cabeça e duas e
meia em outras partes.
A faixa de c.c. era uniforme por todo o corpo, com exceção de um trecho
longo e estreito sobre a espinha, com cerca de duas polegadas de largura, indo da
quarta vértebra dorsal até o extremo inferior da segunda vértebra lombar. A
totalidade da coxa e perna direitas era mais escura que o tronco, ao passo que a
perna esquerda era mais clara, e as extensões para além dos membros eram
equivalentes, sendo mais claras no esquerdo e mais escuras no direito. O exame
teve de ser feito às pressas, dada a impossibilidade de o paciente se expor por
mais de alguns minutos. Sua perna direita era mais fraca que a esquerda. Os
reflexos do joelho eram excessivos e iguais em ambos os lados.
 
 
 
 
 
 
 
Caso 33.
 
(Figuras 36 a 38.) D., uma mulher muito magra, de quarenta e cinco anos de
idade, tinha sido uma criada numa casa durante vinte e sete anos. Sua patroa a
considerava excitável, mas não histérica, até onde soubesse. Gozou de boa saúde
até janeiro de 1914, quando sofreu um acidente, caindo de uma cadeira e ferindo-
se nas costas. Esperava-se que se recuperasse em pouco tempo, mas infelizmente
isso não ocorreu, Fora tratada em dois ou três diferentes hospitais, mas em vez de
melhorar, piorou.
O exame, que foi realizado antes que qualquer pergunta lhe fosse dirigida ou
que qualquer exame da maneira comum fosse feito, revelou uma aura espatulada,
estreita, mas de um nível de nitidez muito bem enquadrado na média. Media sete
polegadas junto à cabeça e oito junto ao tronco, contraindo-se para três ao longo
das pernas. A aura interior média duas polegadas e meia ao longo de todo o
corpo, exceto do lado direito, onde era grosseiramente granulada e parecia medir
quatro polegadas de largura. Essa porção granulada podia ver-se ampliando-se
consideravelmente da frente para as costas. Provavelmente essa aparente
amplitude extra da aura interior não era genuína, e sim devida ao fato de a
exterior participar do transtorno. Nenhum estriamento pôde ser detectado nesse
lugar, mas em toda a sua parte restante era visível. Como de hábito acontece nos
casos histéricos, a faixa de c.c. revelou muitos distúrbios locais. Havia uma
grande mancha multicolorida nas costas estendendo-se da sexta vértebra dorsal
até a parte mais baixa do sacro. A porção central dessa mancha era amarela, ao
passo que as partes superior e inferior eram escuras. No ombro direito, tanto nas
costas como na frente, havia uma mancha amarela, e na frente, junto ao lado
direito do tronco, havia outra mancha amarela que ia do nível do plano torácico a
uma curta distância acima do plano umbilical. O limite interno era desordenado
na linha mediana do corpo. Queixava-se de dor excessiva na coluna e no lado
direito do tórax.
 
 
 
Caso 34.
 
A. I., um menino de seis anos de idade, foi examinado no início de 1916. Até
o último mês de julho, tivera boa saúde, era um tanto excitável, mas não o que se
consideraria comumente uma criança nervosa. Uma circunstância muito peculiar
vinha sendo observada com frequência em relação a ele; como resultado de
emoção ou de alguma indisposição trivial, como, por exemplo, um resfriado, um
exantema instantaneamente irrompia sobre uma porção de seu corpo. Seria
inoportuno descrever aqui esse exantema minuciosamente; basta dizer que
ocorria em largas manchas e de algum modo parecia lepra rubra. Quando
acompanhava um resfriado, o exantema durava algumas horas, mas se fosse
causado por excitação desaparecia, em média, de alguns minutos a meia hora
depois.
Em julho de 1915, ele fraturou o braço perto da articulação do cotovelo e foi
levado para o hospital, onde seu exantema suscitou grande interesse. Desde o
acidente, ele se tornara muito nervoso, entrava em pânico ao menor ruído,
receando ser deixado sozinho no escuro e era incapaz de fazer as coisas que
estava acostumado a fazer; estava, em suma, transformado por completo em
outro menino. Nenhum de seus pais mostrava qualquer tendência neurótica.
Ambas as auras eram bastante nítidas, e a exterior tinha a aparência do
estado de transição, observado nas meninas de dezesseis anos, a não ser pelo fato
de encurvar-se para dentro de forma mais aguda no nível do corpo. Verificou-se
que media cinco polegadas junto à cabeça e ao tronco, menos de quatro junto às
coxas e pernas, quatro polegadas na frente, e nas costas na região lombar, seis
polegadas e meia, sendo, no geral, uma aura ampla para um menino de sua idade.
A faixa de c.c. era uniforme por todo o corpo, com exceção de uma mancha
amarela na parte posterior do pescoço, entre a terceira e a sétima vértebras
cervicais. Teria essa mancha algo a ver com o exantema? (Compare os Casos 77 e
78.)
Conquanto em todos os casos de histeria examinados a aura espatulada
estivesse presente, em alguns estados análogos em que essa forma tinha sido
confiantemente prevista não se apresentou. O seguinte é um exemplo digno de
nota.
 
 
Caso 35.
 
H., uma jovem senhora de vinte e cinco anos de idade, quando tinha dezoito,
cuidara de um parente inválido durante um ano e meio, tempo durante o qual não
teve sequer uma única noite de repouso sem ser incomodada, embora trabalhasse
o dia todo. Em consequência disso, após a morte do parente, ela teve um colapso
nervoso e, de moça inteligente que era, tornou-se abobalhada. Por natureza,
possuía uma índole afável; felizmente essa parte de seu caráter não se alterou.
Externamente, era uma mulher bem formada, mas tinha o útero pouco
desenvolvido e só menstruara três vezes na vida. Numa cidade do Interior, sofrera
uma cirurgia cuja natureza não pudemos apurar com precisão. Em toda a volta de
seus olhos, a pele era profundamente pigmentada, de coloração violácea, dando a
impressão, a pouca distância, de ter olheiras. Quando a vimos pela primeira vez,
ela sofria de hemiplegia funcional do lado direito do corpo, com quase total perda
de sensação da clavícula para baixo, e só era capaz de arrastar-se uns poucos
passos sem o auxílio de bengala. Sob tratamento, readquiriu depressa o uso dos
membros e a sensação tornou-se normal.
Uma peculiaridade de seu caso era que a coxa afetada media duas polegadas
a mais de circunferência do que a sã: a perna também era mais grossa, mas não
no mesmo grau. Esse aumento de tamanho, devido ao acúmulo de gordura e não
a um edema generalizado, desapareceu poucos meses após sua recuperação,
quando seus dois membros inferiores se tornaram simétricos. Um ano depois, ela
sofreu uma ligeira recaída, que teve curta duração. Durante sua enfermidade
sempre esteve desejosa de sarar, fez quanto pode para ajudar, e nunca mostrou
nenhum desejo indevido por simpatia.
Sua aura foi examinada pela primeira vez em janeiro de 1909, e novamente
em novembro de 1915. Não apresentaremos uma descrição do primeiro exame,
pois naquela ocasião a aura interior não podia ser separada do exterior. Na
segunda ocasião, verificou-se que a aura exterior era quase idêntica à que fora
vista no primeiro exame.
A paciente gozava de boa saúde quando foi examinada em 1915, mas ainda
tinha movimentos lentos, embora parecesse mentalmente normal. Ambas as auras
eram distintas. A interior, porém, quase não alcançava o padrão de clareza de
pessoas sãs. Exibia estriamento que podia ser visto sem dificuldade, e de largura
media três polegadas e meia junto ao tronco, e um pouco menos ao longo dos
membros. A aura exterior era do tipo oval. Media nove polegadas e meia em
torno da cabeça, onze junto ao tronco, e gradualmente se contraía até atingir
quatro polegadas e meia nos tornozelos. Na frente, media cinco polegadas ao
longo de todo o corpo, e nas costas tinha quatro polegadas e meia na altura dos
ombros, e na parte mais larga sete, daí descendo em linha reta sem formar
nenhuma protuberância. A faixa de c.c, era uniforme por todo o corpo, não
mostrando pontos descoloridos. Nada de extraordinário foi visto na cor da aura
quando esta foi examinada através das diferentes telas.
 
 
Caso 36.
 
Uma paciente que vimos recentemente possuía uma aura extremamente
interessante, pois vista de frente parecia normal, mas de perfil mostrava-a larga
na frente, ao passo que nas costas havia uma acentuada protuberância de tipo
histérico, que começava um pouco abaixo dos ombros e terminava a curta
distância abaixo das nádegas. Uma referência ao diagrama de uma seção
transversal (Figura 40, d) tornará evidente a forma curiosa dessa protuberância,
particularmente proeminente ao longo da linha mediana.
N., uma mulher pobre, de aparência miserável, veio a nós para ser
examinada em maio de 1915. Tinha sessenta e dois anos de idade e nunca fora
robusta. Ultimamente, passara por algum transtorno familiar e ao mesmo tempo
preocupava-se com a guerra tendo, em consequência, um colapso completo.
Sentada ou de pé, ela sentia que iria cair, pois o aposento girava
interminavelmente ao redor dela. Queixava-se de dor de cabeça, de náusea, de
sensações estranhas por todo o corpo e de incapacidade para dormir
adequadamente. Sua aparência era por vezes muito peculiar, dando a impressão
de que estava ficando fora de si. Sua mãe fora insana. Por ocasião do exame,
nenhum mal orgânico foi encontrado para explicar os sintomas, de modo que sua
doença foi considerada pura neurastenia. Sob tratamento, sua saúde melhorou
rapidamente, e ela pôde deixar o leito em poucos dias e executar pequenas tarefas
em torno do quarto. Em uma ou duas semanas ela recuperou a saúde.
Por ocasião do exame, ambas as suas auras se revelaram bem marcadas. A
exterior mostrava-se próxima do tipo espatulado e tinha uma grande
protuberância na região lombar, começando nos ombros e terminando logo
abaixo das nádegas. Esta parte era altamente característica de histeria. A aura
interior era grosseiramente estriada, nítida, mas de uma aparência muitíssimo
singular. Parece extremamente provável que a aura estivesse num estágio
intermediário entre a forma normal e a espatulada.
Por trás, a faixa de c.c. revelou duas manchas amarelas nas costas, a superior
situada do lado esquerdo da espinha, desde a quarta até a sexta vértebra dorsal, e
a segunda sobre as duas vértebras lombares inferiores e a parte superior do sacro,
e havia uma terceira mancha sobre a coxa direita, onde a paciente acusava ter
sensações peculiares. Na frente, havia uma mancha amarelo-claro sobre o
epigastro, devida evidentemente à digestão, já que não havia nenhuma outra
condição que a justificasse. Uma mancha escura também foi vista na parte
inferior do abdômen do lado direito. Em todos esses lugares ela sofria dores e
manifestava sensibilidade.
A cor de sua aura era cinza-azulado e a olho nu parecia igual dos dois lados,
mas as telas de diferentes cores revelaram uma dessemelhança, o lado direito
sendo azul através da tela verde, ao passo que o esquerdo era esverdeado e mais
opaco; através da tela azul, a aura interior do lado esquerdo era um ocre amarelo,
mas do lado direito, mais claro e menos amarelo.
Além de estar associadas a auras espatuladas, as protuberâncias dorsais
ocorrem em circunstâncias diferentes. Variedades dessas curvas se apresentam
em casos de males orgânicos; outras denotam que o paciente pode ser excitável,
mas não é necessariamente neurótico. Todos os casos de mudança orgânica do
sistema nervoso central são acompanhados pelas curvas dorsais de alguma
descrição, e a ausência destas últimas é indício da presença de males orgânicos.
Numa forma característica, que poderemos chamar de "arqueada", a aura
geralmente começa a se alargar na cabeça e, prosseguindo para baixo, atinge sua
amplitude total na região lombar para depois diminuir, atingindo seu ponto mais
estreito não acima do nível dos joelhos, porém mais comumente na altura dos
tornozelos.
Quando a aura de um paciente que esteja de pé, voltado ou de costas para o
observador, apresenta irregularidades assimétricas, o lado saudável proporciona
um bom padrão para medição e para textura, etc.; mas quando o paciente se volta
de lado, a falta de uma unidade fixa para medição de qualquer crescimento ou
diminuição é um sério percalço. É preciso deixar espaço para as variações
apresentadas por sujeitos sadios, e é obrigatório recorrer, em grande parte, à
experiência, e comparar mentalmente a aura com outra que se saiba ser saudável.
Falando de um modo geral, não se experimentará grande dificuldade ao lidar com
as auras de homens e mulheres jovens antes da puberdade, já que são bastante
uniformes em todo o corpo. Com relação a mulheres e moças de catorze e mais
anos, o caso se torna mais complicado e um padrão para medição é quase
essencial. O melhor que se pode idealizar, em- bora sujeito a muitas objeções, é
tomar alguma proporção tendo a parte mais larga da aura dos lados do tronco
como unidade, caso em que a largura da aura na frente ou nas costas de um
paciente será em geral representada por uma fração própria. Numa mulher adulta
saudável a razão entre a aura na frente do corpo e a dos lados é de
aproximadamente um terço, e ocasionalmente essa razão pode subir até a metade,
enquanto que o valor da aura dorsal rara- mente alcança dois terços, a não ser em
mulheres neuróticas; certamente qualquer número mais elevado é patológico. Nas
meninas, o estado de transição da aura agrava em muito a dificuldade, já que se
deve deixar uma margem de tolerância de acordo com o progresso da aura em
direção da forma adulta. Até o presente momento, nenhuma diminuição da aura
em larga escala tem si- do reconhecida, seja nas costas ou na frente do corpo, essa
condição, se ocorre, é rara.
 
 
Caso 37. (Figura 39.)
 
B., uma mulher solteira de quarenta e seis anos de idade, que estivera mal
por longo tempo, veio a nós para examinarmos a sua aura. Verificamos que tinha
cor cinza-azulado, estando ela de frente, e tinha forma e tamanho médios,
medindo cerca de oito polegadas na cabeça e no tronco e contraindo-se para
aproximadamente quatro polegadas na altura dos tornozelos. Quando se postou
de lado, a aura exterior mostrou uma protuberância nas costas a começar do topo
da cabeça e terminando junto aos pés, onde média quatro polegadas de largura.
Em sua parte mais larga, media apenas o dobro disto. Na frente, media quatro
polegadas ao longo de todo o corpo. A aura interior era estreita, medindo apenas
duas polegadas de largura em todo o corpo, muito indistinta, tanto que o
estriamento não podia ser definido no lado direito, sendo apenas perceptível do
lado esquerdo. A faixa de c.c. mostrou uma mancha escura sobre a sexta e a
sétima vértebra dorsal, uma segunda de cor ocre amarelo, desde a décima à
décima segunda vértebra dorsal, e uma terceira, estreita, sobre o sacro. Na frente,
havia uma mancha sobre o hipocondrio direito, escura, mas não tanto quanto as
das costas. Finalmente, a coxa esquerda tinha em todo o seu redor um matiz mais
profundo que a direita.
Essa paciente era professora. Sua enfermidade (esclerose generalizada),
começara, de acordo com seu próprio relato, em 1911, após um ataque de gripe.
Estivera internada no hospital da universidade durante um curto espaço de tempo
antes do exame. A doença estava progredindo. Por ocasião do exame, estava
fraca, cambaleava com os olhos fechados e tinha a tendência a fazer o mesmo ao
caminhar. O reflexo do joelho era excessivo. Ela não tinha nistagmo, mas suas
pupilas não reagiam à luz nem manifestavam acomodação. Sua coxa e perna
esquerdas estavam debilitadas. Pronunciava as palavras indistintamente. O que,
segundo ela, fazia desde criança, mas uma pessoa amiga que a acompanhava
declarou que esse defeito aumentara bastante ultimamente.
Embora a aura só possa ser percebida, para qualquer posição específica, do
corpo, como uma extensão lateral no mesmo plano, todavia em estado de saúde e
num considerável número de estados patológicos não é difícil delinear o
diagrama de uma secção transversal. Isto foi feito. A Figura 40, a & b, é de um
homem e de uma mulher saudáveis, e as secções situam-se ao nível da segunda
vértebra lombar, aproximadamente. Em outros casos, está longe de ser fácil traçar
o diagrama. Tomemos, por exemplo, a aura espatulada na cintura de uma
paciente, quando as medidas são conhecidas. Aí é bastante simples traçar um
diagrama no que diz respeito à frente e aos lados, mas quando se trata das costas,
começa a dificuldade, porque embora a espessura total seja conhecida, todavia
muitas curvas podem ser feitas a partir dos lados do tronco até o ponto extremo
da aura nas costas.
As mais prováveis são a Figura 40, c & e, para um homem e a Figura d& A
para uma mulher. Pessoalmente achamos que a Figura 40, c & d, são corretas
para histeria, e nossa opinião se fundamenta num aspecto comum da aura, que
não parece tensa na parte mais externa quanto na mais próxima do corpo, quando
um paciente está postado de lado; além disso, o ângulo dos ombros com as
nádegas é exatamente tão agudo quanto o traçado no diagrama, o que torna a
curva transversal um tanto similar à vertical.
 
 
 

 
Em casos em que a curva dorsal começa na altura da cabeça e termina junto
aos pés, este autor nunca notou essa aparente diferença de densidade da aura
perto do corpo e na margem da protuberância e, consequentemente, imagina que
a forma difira da aura espatulada tanto na secção horizontal como na vertical.
(Figura 40, e & f.) É claro que futuras observações poderão provar que esta ideia
é incorreta. Existe uma terceira forma distinta da secção transversal, mais
pronunciada em epilépticos, como veremos adiante. (Figura 40, g a k.) A
assimetria da aura nos dois lados do corpo não é uma ocorrência particularmente
incomum, e pode estar envolvida só a aura exterior ou ambas. A epilepsia, que
parece sempre associada à falta de simetria, será tomada como o primeiro
exemplo da aura assimétrica.
A aura dos epilépticos tem um caráter todo próprio, completamente diferente
do tipo histérico. Este último foi há pouco descrito como largo e simétrico, ao
passo que o tipo epiléptico é peculiarmente desigual. A irregularidade se estende
desde o alto da cabeça até a sola dos pés e é obviamente devida mais a uma
contração da aura num dos lados do que a algum aumento no outro. A mudança
não é meramente de amplitude, mas também de textura. É singular que em todos
os casos a diminuição ocorreu no lado esquerdo, mas investigações ulteriores
poderão revelar que o decréscimo pode ocorrer também do lado direito. Os
pacientes que foram examinados eram, sem exceção, destros, e é bastante
provável que um epiléptico canhoto teria sua aura afetada do lado direito.
Pacientes que não sofrem desse mal ocasionalmente têm auras que até certo
ponto simulam a aura epiléptica típica. Estes serão considerados mais adiante,
mas nem de longe comprometem o valor do diagnóstico do tipo em casos
duvidosos.
A primeira coisa que chama atenção quando se examina a aura de um
epiléptico, tenha o paciente tido um ataque recentemente ou não, é a acentuada
diminuição de amplitude num de seus lados, e isto é necessariamente mais
notável em mulheres do que em homens. O observador notará de imediato que a
aura exterior, do lado direito da cabeça, é duas ou três polegadas mais larga do
que o ombro, ao passo que, à esquerda, geralmente não excederá em muito a
largura do ombro e pode até ser menor que ela. É mais estreita ao longo de todo o
lado esquerdo do tronco, das coxas e das pernas do que do lado direito. Um
exame cuidadoso sempre mostrará que a aura interior é afetada
correspondentemente, não sendo tão ampla à esquerda como à direita - um sinal
de grande importância. Além do mais, sua aparência é mais opaca do que o
normal, e o estriamento, quando não inteiramente ausente, é geralmente difícil de
detectar. A textura da aura exterior é quase sempre, se não sempre, desigual nos
dois lados. Com o paciente de lado, as auras não apresentam nenhuma
anormalidade na frente, mas, nas costas, uma protuberância poderá ou não ser
vista. A cor da aura é em geral cinza com uma deficiência da usual coloração
azul.
 
 
Caso 38. (Figura 41.)
 
N.W. era um homem de quarenta e cinco anos que nunca tivera nenhuma
doença séria até alguns meses antes da inspeção, quando teve um acesso
epiléptico, e subsequentemente vários outros. Nenhum de seus irmãos ou irmãs
tinham sofrido desse mal e também, até onde se podia verificar, não eram
neuróticos de modo algum. Seus filhos eram todos saudáveis e vigorosos. Ele não
sofrera nenhum traumatismo na cabeça que pudesse explicar esses ataques.
Nenhuma das auras atingia o padrão de nitidez em matéria de clareza, como
seria de esperar. A aura exterior do lado direito era mais clara e mais ampla do
que do lado esquerdo, onde era mais grossa de textura. A aura interior do lado
direito era mais larga que do esquerdo, e suas estrias podiam ser vistas com
facilidade, sendo normais; do lado esquerdo, não só era difícil detectar
estriamento como ademais, quando visto, era grosseiro. Com o paciente de frente
para o observador, junto à cabeça, do lado direito, a aura exterior média dez
polegadas, contra sete do lado esquerdo; junto ao tronco, do lado direito, tinha
seis polegadas de largura, ao passo que mal alcançava cinco do lado esquerdo.
Vista de lado, tinha cinco polegadas na frente e seis na região lombar, onde havia
uma protuberância leve, mas apreciável. A aura interior tinha quatro polegadas
do lado direito do tronco, e três junto aos membros inferiores. Do lado oposto,
tinha uma boa polegada a menos. A faixa de c.c. era uniforme por todo o corpo.
As telas de diferentes cores não desvendaram nenhuma anormalidade, salvo o
fato de a aura mostrar uma cor amarela através da tela azul-escuro. A cor era
mais marcante e mais profunda do lado esquerdo.
 
 

 
Caso 39. (Figura 42.)
 
I.E., de trinta e nove anos de idade, era epiléptica há mais de um quarto de
século, e o número de seus acessos aumentara gradualmente até que, nessa
ocasião, durante alguns meses, eles vinham ocorrendo numa média de dois ou
três por dia, e nunca menos de três ou quatro na semana. Seu histórico familiar
era ruim, pois sua mãe e uma irmã tinham padecido do mesmo mal, ao passo que
a capacidade intelectual de uma outra irmã sua era consideravelmente abaixo do
normal. Durante os dois últimos anos, aproximadamente, sua capacidade mental
vinha falhando e ela se queixava muito de perda de memória. A não ser pelos
acessos, sempre desfrutara de boa saúde. Como seria de esperar, sua aura era
típica de epilepsia. Um primeiro exame foi realizado em 1910, e um segundo em
1915, sendo sua aparência, nas duas ocasiões, exatamente semelhantes. A cor de
sua aura era decididamente inferior à da largura média para uma mulher. A
exterior era in- distinta e a interior o era ainda mais, mas não havia dificuldade
em ver nenhuma delas, conquanto suas margens fossem mal definidas. Do lado
esquerdo, ambas as auras eram mais estreitas, mais grosseiras e mais opacas que
do lado direito. Podia-se observar facilmente um estriamento do lado direito, ao
passo que, do lado esquerdo, era duvidoso haver qualquer estriamento.
Do lado direito, junto à cabeça e ao tronco, a aura exterior média sete
polegadas de largura, quatro junto à coxa e três junto à perna. A largura da aura
interior era de três polegadas. Do lado esquerdo, a aura somente contava cinco
polegadas na cabeça e no tronco, na perna, três, enquanto que a aura interior só
media duas polegadas e um quarto de largura. A aura exterior tinha três
polegadas e meia na frente, quatro e meia na região lombar e três e meia junto às
pernas. Esses números mostram que a aura exterior, no lado direito, era estreita
para uma mulher, sendo-o ainda mais no esquerdo. As faixas de c.c. não
apresentaram resultados dignos de nota. Quando vista através das diferentes telas
coloridas, a aura não exibiu os mesmos tons nos dois lados; o esquerdo continha
mais amarelo.
A paciente foi colocada em cima do banco eletricamente isolado e recebeu
várias cargas de eletricidade positiva e negativa alternadamente. O efeito, embora
definido, não era tão pronunciado quanto o usual, sendo o aumento final de
apenas duas polegadas do lado direito e um pouco menos do esquerdo, ao passo
que, ao mesmo tempo, as margens se tornaram ainda menos nítidas,
impossibilitando saber-se com exatidão a proporção do aumento. A aura do lado
esquerdo ainda continuava a parecer mais grosseira que do lado direito, e a
diferença comparativa parecia ser igual, apesar da perda de nitidez dos dois lados.
 
 

 
Caso 40.
 
X. T., um estudante de treze anos de idade. Um amigo observou-lhes os
"ataques de ausência" e pediu ao pai dele que o trouxesse para o exame. Ele veio
em 1909 e, propositadamente, não lhe fizemos perguntas antes do exame. A aura
era obviamente assimétrica. Sua cor era de um cinza-esverdeado. A aura exterior
média seis polegadas de largura do lado da cabeça, e a interior três polegadas do
lado direito, ao passo que, a esquerda, media quatro e duas polegadas,
respectivamente. Com as mãos atrás do pescoço, a aura exterior do lado direito
do tronco tinha quatro polegadas de largura, estreitando-se cerca de meia
polegada daí para baixo, e a interior contava meia polegada menos que a exterior.
Do lado esquerdo a aura exterior só tinha três polegadas de largura, e a
interior apenas duas e meia junto ao tronco, não chegando a tanto nos membros
inferiores. De lado, a interior media duas polegadas e meia de largura ao longo de
toda a parte da frente do corpo, sendo a exterior um pouquinho mais ampla. Nas
costas, a interior era igual, mas a exterior apresentava uma protuberância de
aproximadamente seis polegadas na região dorso-lombar. No demais, media
apenas três polegadas. A faixa de c.c. era uniforme por todo o corpo, mas a
extensão do lado direito da cabeça era mais escura que a do lado esquerdo.
Curiosamente, havia uma mistura de castanho na faixa de c,c, além do corpo,
especialmente do lado esquerdo. As extensões junto aos lados do tronco eram
muito semelhantes, mas a cor castanha não era tão acentuada. Findo o exame, seu
pai disse que o menino estava em tratamento do "pequeno mal" e que nunca
tivera um ataque grave.
Surgem aqui naturalmente duas questões relativamente às diferenças no
tamanho das auras nos dois lados, dos epilépticos. A primeira é se a assimetria é
congênita ou se a aura é simétrica por ocasião do nascimento e passa a alterar-se
com o início dos acessos, e a segunda é se a disparidade, uma vez produzida, é
permanente.
Há tantas dificuldades no processo de determinar se a assimetria da aura
epiléptica é congênita que é impossível na atualidade chegar a uma conclusão
definitiva, mas o autor inclina-se a pensar que tal não é o caso.
Se fosse congênita, a forma ocorreria em pessoas predispostas à doença, e
poder-se-ia esperar que, ocasionalmente, seriam encontrados casos em que uma
variação existente no tamanho tanto da aura exterior como no do interior, em
qualquer dos lados, indicaria essa predisposição, muito embora nenhum acesso
ainda tivesse ocorrido. Até o presente momento, não se examinou nenhuma
pessoa cuja aura sugerisse epilepsia e que indubitavelmente nunca tivesse tido
um ataque. Quando possível, as auras de parentes próximos de epilépticos têm
sido pesquisadas tendo em vista esse defeito, mas sempre com o mesmo
resultado.
Outro fato importante é que algumas crianças que possuem auras
perfeitamente simétricas tiveram ataques convulsivos durante os dois primeiros
anos de vida. Devemos recordar que não é nada fácil examinar a aura em torno de
uma criança antes da idade de seis ou sete anos aproximadamente, porque, afora
sua timidez e a dificuldade de mantê-la quieta, sua aura é estreita, e leves
diferenças de tamanho são difíceis de detectar.
Um exemplo (Caso 44) que se coloca frontalmente contra a teoria da
assimetria congênita, é o de uma mulher que teve eclampsia puerperal.
Subsequentemente ao ataque, as auras se mostraram dessemelhantes nos dois
lados. Ela mesma era forte e saudável antes do casamento, e nenhum de seus
irmãos ou irmãs jamais exibira a mais leve tendência neurótica.
Se as desigualdades não são congênitas, então elas provavelmente começam
por ocasião do primeiro ataque. Uma oportunidade de decidir essa questão seria
proporcionada por observações de um indivíduo que, a princípio, exibia uma aura
normal e, posteriormente, com o desenvolvimento dos acessos epilépticos,
manifestou as alterações assimétricas típicas ou nenhuma mudança específica,
conforme o caso. É mais que provável que esse ponto venha a ser estabelecido
definitivamente desse modo.
Há pouca ou nenhuma dúvida de que auras que tenham desenvolvido
características epilépticas típicas sejam afetadas permanentemente, como bem
ilustra o seguinte exemplo:
 
 
Caso 41.
 
B., uma mulher de aparência juvenil com trinta e nove anos de idade, veio a
nós para o exame de sua aura em razão de uma queda que tivera seis meses antes,
ocasião em que ferira o ombro e o braço esquerdos e todo o lado esquerdo do
corpo. Vinha sentindo dores constantes desde o acidente. Quando erguia algum
peso, sentia um puxão no lado esquerdo do abdômen. Vinha se tornando
melancólica e enfraquecendo desde o dia do acidente. O observador não esperava
encontrar nenhuma alteração na forma de sua aura, ou, quando muito, uma ligeira
tendência para o tipo espatulado, e estava completamente desprevenido para
testemunhar as mudanças que estavam efetivamente presentes.
Com a paciente voltada de frente, a aura exterior do lado direito média dez
polegadas junto à cabeça e ao tronco, e seis junto à perna, o que era um tanto
larga para essa parte do corpo. Tinha aspecto natural, de uma cor cinza- azulado,
e sua margem externa era bastante distinta. A aura interior tinha três polegadas de
largura e era definitivamente estriada. Do lado esquerdo, a exterior não tinha
mais que oito polegadas na cabeça e no tronco, e pouco menos de quatro na
perna. Parecia grosseira, e sua margem era indistinta. A aura interior tinha duas
polegadas e três quartos de largura, e era grosseiramente estriada. Esta última
emitia um curto raio, de aproximadamente quatro polegadas de comprimento, do
ombro ferido. Para nos assegurarmos perfeitamente de que aquela disparidade de
tamanho nos dois lados não estava sendo induzida pela luz, solicitamos à
paciente que desse uma volta completa, mas nenhuma alteração foi notada. Uma
vista lateral mostrou que a aura tinha quatro polegadas de largura na frente e a
mesma largura nas costas, exceto que havia uma protuberância começando no
nível dos ombros e terminando pouco abaixo das nádegas. Sua parte mais larga
media oito polegadas, contração da aura do lado esquerdo indicava que a
diminuição na largura em todo o lado esquerdo não poderia ter sido produzida
pelo acidente, já que o ferimento ficava mais abaixo. Não é necessário entrarmos
em mais detalhes de ferimentos demonstrados com as faixas de c.c., etc., pois
isso não serviria para esclarecer o assunto em questão.
A paciente foi colocada sobre o banco eletricamente isolado, onde recebeu
uma carga elétrica negativa por cinco minutos. Desenvolveu-se um alargamento
da aura exterior, e até onde se poderia julgar, era proporcionalmente uniforme ao
longo de todo o corpo, tornando a desigualdade da aura exterior ainda mais
notável que antes. A aura interior permaneceu constante.
Como a aura acima descrita era tipicamente epiléptica, indagamos da
paciente, logo após o exame, se já sofrera de acessos, ainda que não houvesse
nada em sua aparência geral, ou na história que ela nos deu, que sugerisse
epilepsia. Sem hesitar nem por um momento, a resposta foi que não tivera
acessos desde que tinha doze anos de idade, mas antes disso durante dois ou três
anos ela os tivera, à base de dois ou três por ano, acreditando também que sofrera
convulsões na infância.
Ali estava um caso de permanência do tipo epiléptico de aura, conquanto os
ataques estivessem suspensos por vinte e sete anos. Se não fosse congênita, a
assimetria deveria ter se desenvolvido durante a infância. O autor não acredita ser
possível que, sem o histórico mais completo do caso, tivesse surgido alguma
suspeita de epilepsia.
 
 
Caso 42.
 
Em outubro de 1915, N. E., uma mulher de trinta e quatro anos de idade,
veio a nós para ter sua aura examinada. Ela se queixou de estar muito extenuada e
incapaz de efetuar seu trabalho adequadamente durante algum tempo. Desmaiava
com frequência. Esses desmaios sobrevinham quando ela se encontrava de pé,
sentada ou deitada. Por vezes, perdia a consciência gradualmente e, outras vezes,
conseguia evitar um ataque mediante esforços voluntários, e em vários casos não
tinha nenhuma noção do acesso até ele terminar. Seu coração era um tanto fraco,
mas não havia avaria orgânica. Seu pai tivera um ataque quinze anos antes, que
na ocasião fora considerado epiléptico; a não ser por isso, ela parecia ser o único
membro com problema nervoso de uma grande família. Acreditava-se que o
exame da aura fosse coisa corriqueira e que decidiria se os tais acessos eram de
origem nervosa ou devidos ao estado geral de saúde. A aura toda era muito
diferente de qualquer outra já vista, tanto que uma descrição detalhada será
interessante.
A primeira coisa a atrair a atenção era que a aura toda não atingia os padrões
médios de nitidez, embora fosse suficientemente clara para ser vista e examinada
com facilidade. A segunda, que a margem externa era extremamente mal
definida, e a um exame superficial a aura parecia larga devido a uma aura ultra-
exterior muito evidente. Após um exame prolongado e cuidadoso, concluiu-se
que a aura exterior comum tinha largura média na altura do tronco, mas era ampla
nas partes inferiores das coxas e pernas. Estimava-se que media nove polegadas
na cabeça e no tronco e seis nas pernas, ao passo que uma visão lateral mostrou
que media seis polegadas na frente, oito na região lombar e seis nas pernas. Aqui
terminava a simetria, pois a aura, que era azul com uma ligeira mistura de cinza,
diferia nos dois lados, sendo o direito de cor mais pura. Além do mais, a aura era
mais grosseira do lado esquerdo do que do direito. A fim de nos certificarmos de
que não havia desigualdades na iluminação, etc., durante qualquer parte do
exame, solicitamos à paciente que desse uma volta completa várias vezes, mas
nenhuma alteração foi detectada. Quando a aura interior foi examinada através
das telas vermelhas (vários matizes diferentes dessa cor foram empregados), do
lado direito era obviamente mais larga em uma boa polegada; mais nítida e mais
marcadamente estriada do que do lado esquerdo. Media quatro polegadas e meia
do lado direito do tronco, e meia polegada menos junto à coxa e à perna, tendo a
mesma largura tanto nas costas como na frente, ao passo que media apenas três
polegadas ao longo do lado esquerdo. As faixas de c.c. não revelaram nada digno
de nota.
A característica mais incomum dessa aura era o tamanho e a nitidez da aura
ultra-exterior. Em aspecto estava mais ou menos entre a aura ultra-exterior, tal
como geralmente é vista e o resultado do aumento induzido pela eletricidade
estática.
Depois que um pincel de metal conectado ao polo positivo de uma grande
máquina de Wimshurst foi movimentado para cima e para baixo da espinha
algumas vezes, sem tocá-la, uma considerável porção da aura ultra-exterior ficou
mais distinta, mas ainda se esvaeceu gradualmente até ficar irreconhecível.
Todavia, dava uma clara impressão de que o lado direito era bem mais largo que
o esquerdo. Depois que a paciente foi colocada em cima do banco eletricamente
isolado e recebeu cargas elétricas alternadamente positivas e negativas por várias
vezes, a mesma condição foi mantida.
Com as mãos nos quadris e os cotovelos estendidos, sua aura nos intervalos
entre os braços e o corpo, quando examinada através de diferentes telas, mostrou
cores desiguais nos dois lados, tendo o esquerdo maior quantidade de amarelo.
 

 
As dessemelhanças da aura nos dois lados eram, além disso, acentuadas
quando o fundo era pulverizado com iodo. Em vez de afetar os dois lados por
igual, tornava a aura do lado esquerdo castanho-avermelhado, ao passo que no
direito só estava ligeiramente alterada.
Nesse caso, todas as características de uma aura epiléptica estavam
presentes, exceto pelo fato de uma diminuição da aura exterior do lado esquerdo
não poder ser determinada satisfatoriamente devido à aura ultra-exterior, mas
após a eletrificação dava a impressão de ser mais estreita, ou, se não realmente
menor, a porção distal era mais fraca.
Oito meses mais tarde, a paciente foi examinada uma segunda vez. As
aparências gerais eram as mesmas. Nada que pudesse ajudar na explicação das
características extraordinárias foi descoberto.
 
 
Caso 43.
 
Um caso um tanto análogo foi examinado em 1918. O paciente, S. J., era um
velho soldado que se tornara epiléptico e atribuía seus acessos a um golpe na
cabeça que recebera durante a Guerra na África do Sul. Alguma hesitação pôde
ser sentida ao admitir ele a suficiência da causa alegada, já que o golpe não fora
grave, nem sequer o privara de trabalhar, ao passo que os ataques não tiveram
início senão muito tempo depois. Ultimamente, os acessos vinham aumentando
de frequência e em geral tinha vários com poucas horas de intervalo entre si,
sucedidos por um longo intervalo de normalidade.
O exame revelou uma aura ultra-exterior bem distinta e extremamente ampla
para um homem. As margens eram tão mal definidas que tornavam in- certas as
verdadeiras dimensões da aura exterior. Havia uma considerável diferença nas
aparências nos dois lados, no esquerdo sendo mais grosseira e mais opaca do que
no direito. Omitindo a porção ultra-exterior, a aura exterior parecia menos ampla
do lado esquerdo, mas devido ao caráter indefinido da margem, seu tamanho
exato não pôde ser dimensionado com exatidão. A aura interior do lado esquerdo
era grosseiramente estriada e mais estreita que no lado direito, onde exibia
estriamento mais normal. Nas costas, havia uma grande protuberância
começando logo acima dos ombros e terminando um pouco abaixo das nádegas.
As diferentes telas revelaram mais amarelo no lado esquerdo do que no direito. O
paciente não mostrou eletricidade de superfície, mas depois de receber uma carga
negativa, sua aura se expandiu em um grau que o autor jamais vira em homens.
Esse paciente e a anterior são os dois únicos epilépticos que exibiram aura
ultra-exterior, já que esse tipo de aura está consideravelmente abaixo da média
em largura.
Até o final de 1918, somente quatro casos que não eram definidamente
epilépticos tinham apresentado, por ocasião do exame, tanto a aura exterior como
a interior do lado esquerdo do corpo menores do que as do lado direito. Todos
esses casos tinham distúrbios cerebrais; um deles era suspeito de epilepsia
mascarada; outro tivera eclampsia puerperal; um terceiro era um homem que
acabara de ter alta no Hospital Bethlem; e o último caso era o de uma mulher sã.
(Caso 51.)
 
 
Caso 44.
 
Felizmente, exemplos de eclampsia puerperal não são nada comuns, de
modo que se passou muito tempo até que pudéssemos obter um exemplo para
exame. Foi o caso de uma pessoa amiga. A Sra. S., com vinte e sete anos de
idade, mãe de três filhos, teve convulsões na fase inicial de seu parto, e no menor
prazo possível, deu à luz a gêmeos. Teve rápida recuperação e as crianças eram
fortes e saudáveis. Foi examinada três semanas depois do nascimento dos filhos.
Sua aura tinha uma cor cinza-azulado, e mal atingia o padrão saudável de
distinção, mas pode ser facilmente examinada. Do lado direito, a aura exterior
tinha oito polegadas em torno da cabeça e do tronco, cinco na coxa e três e meia
na perna. A aura interior media duas polegadas e meia de alto a baixo. Do lado
esquerdo, a exterior tinha sete polegadas na cabeça e no tronco, e mais embaixo
contraía-se para três nos tornozelos, ao passo que a interior media duas polegadas
e um quarto. A aura exterior do lado esquerdo não era tão nítida como a do lado
direito, e sua margem era mal definida, tornando possível, mas não provável, que
fosse da mesma largura, embora parecesse mais estreita. A aura interior não era
tão perceptível do lado esquerdo quanto do direito, e sua estriação era muito
fraca. Na frente, a aura exterior tinha quatro polegadas no tronco, cinco nas
costas, e nas coxas e pernas três e meia, ao passo que a interior media duas
polegadas e meia, tanto nas costas como na frente. As duas auras eram mais
acentuadas na frente das mamas e em menor grau abaixo da parte inferior do
abdômen, de onde procedia um raio de segunda ordem. A faixa de c.c. era
uniforme por todo o corpo, exceto nas mamas, onde parecia ser de coloração
mais clara. Quando ela levou umas das crianças ao colo, a cor tornou-se mais
apagada. Examinada através da tela azul, a aura era de uma cor ocre suja, mas
tinha ainda mais um aspecto de barro do lado esquerdo.
Este caso foi interessantíssimo, já que era impossível prever se tinha havido
quaisquer mudanças na aura.
 
 
Caso 45.
 
I. X., fabricante de barcos por profissão, com cinquenta e oito anos de idade.
Seu pai e um tio tinham estado confinados num asilo, este último até o dia de sua
morte. O paciente estivera sempre receando o mesmo fim. Com frequência
tomava-se sombrio e, sem razão aparente, muito deprimido. Esses ataques de
depressão perduravam algumas horas, alguns dias ou até semanas de cada vez.
Mas não o impediam de trabalhar. Era, também, sujeito a ataques de nervo, de
terror, etc. Alguns anos depois cometeu suicídio.
Sua aura foi examinada em 1910. A cor era cinza, a textura grosseira,
especialmente da aura interior no lado esquerdo. A aura exterior media em torno
da cabeça sete polegadas de largura, quatro no tronco e na perna do lado direito,
ao passo que a interior media duas polegadas e meia. Do lado esquerdo, a exterior
tinha cinco polegadas em redor da cabeça, e três junto ao corpo e à perna,
medindo a interior duas polegadas. Pessoalmente, o autor o considerava
epiléptico muito antes de começar o estudo da aura, e o resultado da investigação
revigorou essa opinião.
 
 
Caso 46.
 
Este é um caso tristíssimo de um rapaz de grande capacidade que, após uma
carreira brilhante na escola e na universidade, quando trabalhava por obter uma
bolsa de estudos de sua Faculdade para especialização, subitamente entrou em
colapso. Foi internado no Hospital Bethlem, onde permaneceu seis meses. Pouco
antes de ele deixar o hospital sua aura foi examinada. Na ocasião, ele parecia
apático e algo excêntrico, e respondia às perguntas com bastante correção, mas
lentamente. Dizia poder estudar "uma ou duas horas por dia". As auras tinham a
nitidez usual, exibindo azul e cinza sem se mesclarem. A aura exterior em torno
da cabeça media oito polegadas do lado direito, contra seis do esquerdo; quatro
polegadas e meia do lado direito do tronco, e meia polegada a menos junto à coxa
e à perna; mas, do lado esquerdo, tinha três polegadas e meia ao longo de todo o
corpo. A interior tinha duas polegadas de largura por todo o lado esquerdo, e duas
e meia do lado direito. Exibia estriamento em toda parte, salvo sobre o lado
direito da cabeça, onde era granulada. As faixas de c.c. eram uniformes em todo o
corpo, mas a extensão direita era mais escura que a esquerda. As mudanças mais
notáveis na aura diziam respeito à sua cor, tais quais eram vistas através das
diferentes telas. As cores eram muito misturadas, mas sem nenhuma fusão real, o
que tornava impossível fornecer uma descrição acurada, e sua distribuição
também era peculiar. No lado direito, quando as telas vermelha, laranja, amarela
e verde foram empregadas, as cores áuricas pareceram misturadas com um
branco opaco que estava ausente com as telas violeta e azul, bem como do lado
esquerdo. Acima do ombro, com a tela cor de laranja, a aura parecia azul e mais
distinta do que junto ao tronco; com a verde, a coloração foi um azul uniforme ao
longo de todo o corpo; mas com as telas azul e violeta, a aura mostrou verde e
amarelo, e era mais intensa junto ao tronco do que da cabeça. Lado esquerdo:
através das telas cor de laranja, amarela e verde, a cor da aura era azul e amarela,
esta última mais pronunciada ao lado do corpo do que em torno da cabeça. Com
as telas violeta e azul, a cor era mais acentuada junto à cabeça, sendo de um azul-
esverdeado, mas havia uma adição de amarelo ao lado do corpo.
Às vezes verifica-se que a aura exterior é desigual nos dois lados, enquanto
que a aura interior permanece simétrica, mas isso não exclui grandes alterações
nesta última com respeito à cor, textura, etc. Enquanto a interior permanece
normal o paciente pode estar gozando de boa saúde física, mas não estar de todo
são mentalmente, como o seguinte exemplo demonstra.
 
 
Caso 47.
 
Nesse caso, a paciente esteve em observação durante muitos anos, o que a
torna extraordinariamente interessante. N. D., em abril de 1907, quando ela
contava vinte anos de idade, trabalhou em excesso numa escola, ensinando o dia
todo, e estudando à noite para prestar um exame. Ela não se deitava para dormir
senão nas primeiras horas da manhã, não repousando adequadamente, já que
estava obrigada a levantar cedo. Foi para casa passar os feriados da Páscoa
sentindo-se mal, e dois dias depois revelou uma alta temperatura, o primeiro
estágio de meningite, que lhe afetou ambos os hemisférios cerebrais. Estava tão
mal que durante certa noite a enfermeira acreditou que tivesse morrido; todavia,
ela se recuperou fisicamente, mas mentalmente era uma pessoa transformada. Em
lugar de ser estudiosa e racional tornou-se perversa, egoísta e incapaz de se
concentrar. Talvez seja interessante observar que o sinal de Kernig era bem
marcado durante sua enfermidade e continuou evidente em pequeno grau por um
ano e meio; mas, seis meses depois, já não podia ser detectado. Em setembro de
1908, sua aura foi examinada. Tinha uma cor azulada, era nítida e muito mais
ampla do lado esquerdo do que do direito. A faixa de c.c. era uniforme por todo o
corpo, mas suas extensões do lado direito eram consideravelmente mais escuras
que do lado esquerdo. O exame foi realizado antes que a aura pudesse ser
dividida em suas secções exterior e interior.
Junho, 1909. A saúde física ainda era boa e as faculdades mentais
melhoraram muito. A moça abandonara o magistério, e dedicava-se agora às
tarefas do lar. Era capaz de ler um pouco, mas só literatura leve.
Em novembro do mesmo ano, tornou a ser examinada. As características
gerais da aura estavam inalteradas, mas a desigualdade diminuíra. O duplo etéreo
era plenamente visível nos lados, medindo um pouco mais de um oitavo de
polegada de largura. A aura exterior média cinco polegadas do lado direito,
contra sete na cabeça; no tronco, tinha sete polegadas do lado direito e oito do
esquerdo; junto às coxas e pernas, havia bem pouca diferença, sendo sua largura
de aproximadamente quatro polegadas. A aura interior media cerca de três
polegadas de largura e era simétrica. De perfil, a aura exterior media cerca de três
polegadas e meia na frente e outra meia polegada nas costas, ao passo que a
interior media duas e meia, tanto nas costas como na frente.
O ponto importante a notar é que a aura interior era igual dos dois lados. Não
temos certeza se isso ocorreu logo após a sua doença. Temos aqui um exemplo de
recuperação parcial da aura após uma doença grave.
Setembro, 1913. A paciente, que por alguns meses estivera desempenhando
a função de secretária, entrou em colapso novamente, e foi obrigada a abandonar
o emprego. Nas últimas semanas, graves dores de cabeça The impediam toda
concentração no trabalho. Estava muito deprimida e tinha frequentes sensações
de ardor na parte externa das coxas, a direita sendo pior que a esquerda. O
mesmo tipo de desconforto às vezes lhe atacava o ombro direito. Todas as dores
eram mais agudas quando estava cansada. Havia grande perda de sensação sobre
toda a coxa direita e sobre uma larga porção do abdômen, enquanto que nas
costas o lado direito estava mais afetado do que o esquerdo, havendo também
uma parcial perda de sensação nos dois pés. A força da mão direita estava
perceptivelmente diminuída, mas não havia tremor. As duas pernas pareciam
igualmente vigorosas. A língua, em protrusão, desviava-se para a direita. O olho
esquerdo era mais proeminente que o direito, e revelava obliquidade interna mas
não nistagmo. As pupilas reagiam lentamente tanto à adaptação como à luz.
Por ocasião do exame, nenhuma das auras era tão distinta quanto em 1909,
quando gozava de boa saúde física. Conquanto fosse difícil determinar o tamanho
exato da aura exterior, não havia dúvida quanto a ser o lado direito menor que o
esquerdo. Podia ser detectado um estriamento, mas não com facilidade. A faixa
de c.c. revelou várias porções descoloridas sobre o corpo, que eram todas
exageradamente sensíveis ao toque. Com as mãos nos quadris, sua aura mostrou
uma maior quantidade de amarelo do que seria normal nos intervalos entre os
braços e o tronco.
O caso seguinte oferece um interesse mais do que comum, pois proporciona
um exemplo, primeiramente, de uma aura exterior diminuída em todo o lado
direito, ao passo que a interior permaneceu inalterada em suas dimensões; em
segundo lugar, do rápido retorno da aura exterior ao seu tamanho natural; e,
finalmente, uma aparição da aura exterior quase idêntica à da aura ultra-exterior,
que foi evidentemente originada por eletricidade estática, cujo efeito perdurou
por longo tempo.
 
 
Caso 48.
 
A paciente era uma mulher de trinta e sete anos de idade, que permanecera
vinte e um anos na mesma situação como criada doméstica. Gozara de boa saúde
até três meses antes do seu exame, quando teve um grave ataque de gripe, e
quatro dias depois passou a tremer. A cabeça e todos os membros foram afetados.
Os tremores pioravam logo que tentava fazer alguma coisa, cessando quando se
deitava.
Por ocasião do exame, nenhuma de suas auras foi considerada normal-
mente distinta. A exterior, do lado esquerdo, tinha uma forma perfeita e tinha a
largura média. Media oito polegadas e meia na cabeça e no tronco, seis na parte
superior da coxa e quatro e meia na perna. No lado direito, era mais estreita,
medindo somente sete polegadas na cabeça e no tronco, cinco e quatro na coxa e
na perna respectivamente, e, ao mesmo tempo, não era tão nítida. A aura interior
tinha o mesmo tamanho em todo o corpo, mas não era tão nítida do lado direito,
onde um estriamento só podia ser distinguido com dificuldade. Havia uma
mancha clara sobre as quatro vértebras dorsais superiores, e, no lado esquerdo, da
sexta, uma pequena pinta escura onde a faixa de c.c. foi usada. Na frente, essa
faixa tinha cor uniforme.
No devido tempo, ela foi colocada sobre o banco eletricamente isolado, onde
recebeu uma carga elétrica negativa. Desde logo, queixou-se de dores em todo o
corpo. Era uma ocorrência tremendamente inusitada, já que a aplicação da carga
raramente suscitava qualquer sensação. A máquina foi desligada quase de
imediato, mas, por estranho que pareça, quando ela desceu do banco disse que "se
sentia mais inteligente", e os tremores diminuíram muito. A hiperestesia que
existia por todo o corpo diminuiu. Como acreditava ter sido beneficiada com
aquilo, desejou ser novamente eletrificada apesar da dor. Era certo que uma
grande melhora ocorrera. Era o primeiro caso que o autor testemunhava em que
um benefício real era auferido da ação da eletricidade estática aplicada a um
sujeito postado sobre o banco eletricamente isolado. A aura aumentou de
tamanho da maneira usual.
Visto que a mulher parecia sentir-se muito melhor, nós nos oferecemos para
tentar um maior efeito com a eletricidade estática. Ela voltou em 7 de agosto de
1917. Tinha melhor aspecto e o tremor estava consideravelmente atenua- do. Ela
conseguiu com maior facilidade pegar um alfinete. Desta vez, a aplicação de
eletricidade não lhe causou nenhuma sensação. Sua terceira visita ocorreu no dia
10 do mesmo mês, quando já exibia acentuada melhora. A aura parecia de igual
largura em ambos os lados, embora houvesse uma diferença de brilho, que era
menor do lado direito, Desenvolver a uma aura ultra-exterior que era
evidentemente o resultado do tratamento elétrico.
No dia 24, voltou a nos visitar praticamente bem de saúde. A aura, porém,
continuava menos nítida do lado direito, e a mancha vista com o auxílio da faixa
de c.c. nas vértebras dorsais tinha quase desaparecido, mas a aura ultra- exterior
permanecia ainda inalterada, embora ela não fosse eletrificada, fazia já uma
semana. A fim de descobrir a extensão de tempo em que essa condição perdurou,
solicitamos-lhe que voltasse após três semanas. O que ela fez. O esboço próprio
da aura exterior era nítido, mas, além, a aura ultra-exterior ainda estava em
evidência. Havia uma nítida linha demarcatória entre esta última e a aura exterior
comum, as duas não se entremesclando gradualmente uma na outra.
Provavelmente a porção distal teria desaparecido em mais outra semana.
 
 
Case 49.
 
(Figuras 43 e 44.) N. U., trinta e quatro anos de idade, uma mulher que
nunca fora robusta nem sofrera de nenhuma enfermidade séria, ultimamente tinha
passado uma temporada de provação que lhe afetara a saúde, tornara-a deprimida
e a esgotara totalmente. Queixava-se de dores de cabeça, dores nos ombros e no
tórax, do lado esquerdo. Por ocasião de seu exame, o nervo grande occipital foi
achado muito sensível, e havia uma hipersensibilidade do lado esquerdo da
espinha até as vértebras dorsais inferiores. Esta era especialmente acentuada nos
lugares em que os nervos emergiam, bem como na frente nos pontos
correspondentes sobre o tórax e o abdômen. Foi inspecionada pela primeira vez
em 1908. Observou-se que a aura era consideravelmente mais larga do lado
direito do que do esquerdo, pois havia duas polegadas ao longo do tronco, e
menos que isso em torno da cabeça. Vista de lado, a aura era normal. A faixa de
c.c. azul era de matiz muito mais claro sobre o lado esquerdo do tórax do que
sobre o direito. A linha de demarcação era a linha mediana do corpo, mas a
alteração de um lado para o outro era gradual. A faixa de c.c. amarela mostrou
um modificação correspondente. Na frente do abdômen, a coloração era
uniforme. Quando as costas foram examinadas, o lado esquerdo era mais claro
que o direito, os pontos salientes das vértebras assinalando os limites da
mudança.
 

 
A seguir, em novembro, foi examinada novamente após ter recuperado
razoavelmente a saúde. Enquanto estava postada de frente para o observador,
verificou-se que sua aura interior media três polegadas do lado da cabeça e do
tronco, e no resto do corpo um pouco mais de duas polegadas. A aura exterior
tornara-se simétrica nos dois lados, tendo onze polegadas em redor da cabeça,
dez junto ao tronco e cinco nas pernas. De lado, a aura exterior media cinco
polegadas em frente do corpo, nas costas sete, e ao longo dos membros inferiores
quatro polegadas. Embora a aura fosse igual nos dois lados, exibia uma curiosa
dessemelhança, tanto que a margem externa do lado direito era mais bem-
definida que do lado esquerdo, dando a impressão de ser mais es- treita.
Outras mudanças também podiam ser detectadas. A aura interior do lado
esquerdo do tórax, na altura das costelas interiores, era de granulação fina e mais
opaca do que do lado direito. Abaixo desse nível, não havia diferença em nenhum
dos lados. A faixa de c.c. azul ainda mostrava uma grande mancha em frente, à
esquerda, de um matiz mais claro que do lado direito. Aslinhas demarcatórias
eram distintas e acentuadas, situando-se a superior ao longo da borda superior da
mama, a interna ao longo da linha média do esterno, e a inferior nas cartilagens
costais e cerca de uma polegada acima das margens. No abdômen, a faixa era
uniforme em geral, com exceção de uma mancha escura sobre o hipocondrio
direito, situada pouco acima do nível do umbigo. Nas costas, era totalmente
uniforme, salvo dois pequenos pontos, um de matiz mais claro que o resto da
faixa, situado logo abaixo da saliência da escápula do lado esquerdo, e o outro,
mais escuro, sobre o sacro. O primeiro era sensível ao toque.
Resta ser considerada outra forma interessante da aura, cuja existência podia
ser prevista. É característica da hemiplegia. Em diferentes casos investigados,
ligeiras variações, é claro, têm sido detectadas. O seguinte caso é típico.
 
 
Caso 50.
 
(Figura 45.) E., um homem bastante robusto, de sessenta e nove anos, teve
um ataque apoplético em março de 1916. Permaneceu inconsciente alguns dias,
mas não teve sintomas extraordinários. Seu braço e sua perna direitos ficaram
paralisados e ele ficou afásico. Em tempo comparativamente curto, recobrou
razoavelmente certa força nos membros, mas sua fala não melhorou na mesma
proporção. Conseguia entender o que lhe diziam, mas suas respostas eram
incongruentes, já que raro conseguia articular as palavras que pretendia.
Em agosto, sua aura foi examinada. A exterior, do lado direito da cabeça,
media nove polegadas de largura, ao passo que, do lado esquerdo, alcançava
apenas seis e meia. Ao longo do tronco, no lado direito, media cerca de quatro
polegadas e meia, reduzindo-se para perto de três e meia na perna. Do lado
esquerdo, tinha seis e meia junto ao tronco e se contraía para seis na perna.
Embora fosse mais indistinta do que se ele estivesse gozando de plena saúde, do
lado esquerdo a aura ainda era menos nítida do que do direito, tornando
extremamente difícil determinar sua largura exata. De lado, a aura tinha
cincopolegadas na frente, e, nas costas, era bastante natural na forma, sendo reta
de cima a baixo, e tinha quatro polegadas nos ombros e nas nádegas.
 

 
A totalidade da aura interior estava abaixo do padrão comum de brilho.
Acima dos ombros, amalgamava-se de cada lado e era granulada, mas era mais
ampla e fina do lado direito. Do lado esquerdo, era muito grosseira e densa.
Desse mesmo lado do tronco e da perna, media três polegadas de largura, mas do
lado direito, era cerca de uma polegada mais estreita. Estriamentos só se podia
detectar do lado esquerdo, mas não do direito.
Examinadas com telas, as cores eram semelhantes dos dois lados com as
telas vermelha, laranja e violeta. Contrariamente a todas as expectativas, a cor era
azul do lado direito e amarela e verde do esquerdo através da tela verde, ao passo
que, através da tela azul, era azul do lado direito e amarela do esquerdo. Essa
peculiaridade, para a qual não se pode dar nenhuma explicação, é a principal
razão de este caso ter sido selecionado como exemplo de hemiplegia.
Uma questão muito importante que aqui surge é a de saber se as pessoas sãs
têm auras assimétricas. Talvez fosse mais adequado perguntar se a aura não for
simétrica, pode uma pessoa, embora aparentemente sã, gozar efetivamente de boa
saúde, ou haverá aí algum defeito local ou constitucional? Infelizmente, não
dispomos de número suficiente de dados para chegar a alguma conclusão
definida, porque, até agora, só vimos um caso que poderia inequivocamente ser
aqui enquadrado. Esse exemplo ocorreu antes que a aura pudesse ser dividida em
exterior e interior, e consequentemente perde muito de seu interesse. Uma
pesquisa cuidadosa é feita sempre que se apresenta uma oportunidade, de modo
que essa peculiaridade deve estar longe de ser comum. Precisamos, todavia, ter
sempre em mente que uma leve diferença de tamanho da aura nos dois lados é
difícil de distinguir, sobretudo em homens e mulheres jovens, antes da puberdade,
e a detecção não é facilitada se, como acontece às vezes quando a pessoa não tem
boa saúde, o contorno da aura num lado for menos distinto que no outro. De
conformidade com isso, esta investigação teve que restringir-se, em grande parte,
a mulheres.
 
 
Caso 51.
 
C. N., era uma mulher alta e saudável, com vinte e nove anos de idade, que
até então só tivera uma doença séria, ou seja, uma úlcera do estômago alguns
anos antes. Foi examinada em 1908. Sua aura apareceu como uma névoa azul-
claro, larga na altura do tronco e descendo até a parte mais baixa de suas coxas,
antes de finalmente contrair-se para seguir o contorno do corpo. Por alguma razão
inexplicável, parecia mais larga do lado direito, medindo doze polegadas na parte
mais larga e três nos tornozelos. Do lado esquerdo, não parecia exceder nove
polegadas no ponto mais amplo. Quando ela se pôs de lado, sua aura mediu quase
cinco polegadas na frente do corpo, e perto de três ao longo dos membros
inferiores. Nas costas, era ampla até o meio das coxas, onde se contraía.
Os limites da assimetria e, bem assim, a forma de uma secção transversal de
uma aura revelando a mudança precisam ser agora averiguados. Teoricamente,
em exemplos de desigualdade de forma, ou dessemelhança de textura das
metades laterais da aura, oriundas de causas sistêmicas, em contraposição a
causas locais, seria natural esperar que as junções da aura afetada e da não
afetada se situassem ao longo das linhas medianas do corpo, nas costas e na
frente. Constatou ser isto correto em vários casos, dos quais citaremos dois.
 
 
Caso 52.
 
Em abril de 1912, efetuou-se o exame da aura de K. N. Era uma jovem que
tinha apenas acabado de alcançar a maioridade, e que tinha ocasionalmente
sofrido de epilepsia desde a infância, mas que não tivera nenhum ataque nos
quatro anos anteriores à inspeção, e apesar de seus longos intervalos em relação
aos ataques, sua aura ainda conservava o tipo epiléptico. Não é necessário entrar
em minúcias sobre sua forma e tamanho; basta mencionar que eram típicos.
Durante o exame desta paciente, a cor da aura era, a princípio, cinzenta com uma
leve tintura de azul, semelhante à vista em exames anterior e subsequente.
Enquanto as costas estavam sendo examinadas com as faixas de c.c., a aura em
toda sua parte esquerda do tronco, subitamente, sem nenhuma razão óbvia,
tornou-se mais escura que a direita, sendo a linha demarcatória a espinha. O
fundo branco foi substituído por um preto, e a cor da aura no lado esquerdo era
ocre, muito dessemelhante ao cinza do outro lado, que permaneceu inalterado. A
desigualdade era tão notável que não houve dificuldade em determinar a junção
das duas metades da aura, voltando-se a paciente em diferentes ângulos contra o
fundo, quando observamos que as linhas verticais, tanto das costas como da
frente, faziam os limites das duas cores. Coincidentemente com essa mudança de
cor, a aura do lado esquerdo parecia ter-se tornado de textura mais grossa que do
lado direito, mas era impossível decidir se sua granulação tinha realmente se
tornado mais grosseira ou se aquilo era uma mera aparência devida à alteração da
cor.
 
 
Caso 53.
 
R. F., jovem senhora, foi examinada em 1914. Seu intelecto era de nível
perfeitamente médio. Sabia-se que ela tinha tido três acessos, tendo o último
ocorrido dois dias antes de ela ser trazida para exame. Após interrogá-la, não
tivemos dúvida de que era sujeita a numerosos ataques leves (Pequeno Mal), o
que tinha escapado à atenção de seus amigos. Era uma moça alta e bem nutrida,
mas suas curvas espinhais eram exageradas. A primeira coisa a atrair nossa
atenção foi que a aura tinha diferente cor nos dois lados do corpo, sendo o direito
azul com um pouco de cinza, e o esquerdo cinza-esverdeado. A falta de
semelhança era tanta que era fácil afirmar que as diferentes cores se uniam ao
longo das linhas medianas verticais, tanto nas costas como na frente do corpo. A
aura exterior do lado esquerdo da cabeça média sete polegadas, e junto ao tronco,
oito, ao passo que na perna só tinha três polegadas e meia. Do lado direito, media
oito polegadas na cabeça, dez no tronco e quatro e meia daí para baixo. Uma
vista de perfil mostrou que a aura exterior tinha quatro polegadas e meia na
frente, sete nas costas, e quatro e meia junto às pernas. A interior tinha quatro
polegadas do lado direito e três do lado esquerdo.
Havia um curioso espaço vazio entre o corpo e a aura interior na altura dos
rins, medindo sua porção mais larga aproximadamente uma polegada de largura,
e de sete a oito polegadas de extensão. A causa dessa peculiaridade não pode ser
apurada. Com a paciente postada de frente, com as mãos nos quadris e os
cotovelos estendidos, sua aura foi examinada através de telas de diferentes cores,
e revelou um cinza-azulado através das telas vermelha, laranja, amarela e verde
do lado direito, ao passo que a do lado esquerdo era um cinza-esverdeado.
Através da tela azul, o lado direito era azul e o esquerdo azul e amarelo não-
fundidos: por fim, através da tela violeta, o lado direito mostrou-se violeta e o
esquerdo azul.
Esses dois exemplos provam de forma conclusiva que, em alguns casos, e
quiçá em todos, quando a aura não é simétrica, a desigualdade começa nas linhas
medianas do corpo, tanto na frente como nas costas. Se se fizer uma secção
transversal hipotética de uma aura epiléptica, as linhas medianas de- verão ser
tomadas como os pontos em que começa a concentração da aura. A Figura 40, g
& h (página 143) mostra as formas das auras epilépticas masculina e feminina
tais como geralmente se apresentam. Em alguns casos de epilepsia, como se verá
nos Casos 42 e 43, a aura no lado contraído tem uma margem muitíssimo mal
definida, e ocasionalmente dá a impressão de largura extra, tendo a aparência de
uma aura ultra-exterior para além da aura normal. Tendo em vista esta
circunstância e a falta de nitidez da margem, parece simplesmente possível que
em alguns epilépticos a aura exterior pode ser igual- mente ampla nos dois lados,
e que num lado a aura pode estar tão enfraquecida a ponto de produzir o efeito de
contração. Dessa aura tênue, na Figura 40, i & k são secções transversais
presumíveis.
 
 
Caso 54.
 
(Figura 46.) H., uma mulher casada, era vítima de ataques. O primeiro foi
notado quando ela contava dois anos de idade, e ela sabe que teve outros sete nos
dois últimos anos. Antes e depois de cada um, ela sofria graves dores de cabeça, e
o último fez sua temperatura permanecer alta por quatro dias. Era uma mulher de
ar apático, e evidentemente sua mente se enfraquecera.
Foi inspecionada na segunda metade do ano de 1915, quando ambas as auras
eram distintas e sua cor cinzenta. Do lado direito, a aura exterior media nove
polegadas na cabeça, tinha a mesma largura no tronco, e quatro polegadas nas
pernas. Do lado esquerdo, a aura era opaca e de textura grossa, ao passo que a
margem não era tão definida quanto do lado direito. Media seis polegadas junto à
cabeça e ao tronco, e tornava-se de três polegadas na parte inferior da coxa e
perna. Uma vista lateral mostrava a aura exterior como tendo quatro polegadas na
frente, na região lombar sete e, junto às pernas, quatro. A aura interior tinha três
polegadas do lado direito, e, do esquerdo, duas de largura, não sendo meramente
mais estreita mas consideravelmente menos nítida.
 

 
 
A mulher foi colocada em cima do banco eletricamente isolado, onde
recebeu uma carga negativa, ocasião em que a aura interior se desvaneceu
primeiro, e a exterior se aglomerou nos dois lados do tronco na primeira fase,
desaparecendo subsequentemente. Depois que a carga se dissipou, as duas auras
depressa retornaram, mas passaram-se bons dez minutos antes que sua expansão
alcançasse a plenitude. Não houve a usual perda de nitidez, e a aura direita
parecia de textura natural, ao passo que a esquerda permanecia densa. A aura
exterior, do lado direito, cresceu para catorze polegadas junto à cabeça e ao
tronco, e seis junto à perna. Do lado esquerdo, media nove polegadas na cabeça e
no tronco, e quatro na perna. Nesse lado a margem tornara-se mais definida. Para
nos certificarmos de não haver desigualdade na iluminação, o que poderia ser a
causa da disparidade nos dois lados, a paciente foi voltada de costas para o
observador, mas não pudemos detectar nenhuma mudança. A aura interior não
parecia alterada.
Esses resultados nos ajudaram a chegar à conclusão de que a aura do lado
esquerdo não era tão grande como do direito, tornando a desigualdade ainda mais
acentuada do que era antes da eletrificação.
Se a aura exterior se contrair num lado do corpo, e a diminuição começar nas
linhas medianas, na frente e nas costas, ela necessariamente diminuirá em todo
um lado do tronco, tanto nas costas como na frente, bem como além do corpo.
Por mais que experimentássemos, nenhuma demonstração visível desse
fenômeno foi possível, nem parece haver muita chance de que o venha a ser;
porquanto a aura só pode ser percebida como uma silhueta, de modo que a porção
mais larga impede uma definição clara desta última.
A diminuição da aura, seja absoluta ou apenas aparente, deve ser produzida
por uma diminuição das forças áuricas. Se a diminuição dessas forças for
meramente quantitativa, a aura só será contraída ou atenuada. (Figura 40 g a k.)
Mas é mais provável que as mudanças nas forças áuricas também envolvam
alguma alteração no caráter. Essa questão será tratada no capítulo seguinte.
Vista durante o estado de saúde, a aura parece ser tão simétrica no tamanho,
na forma e na textura, que a possibilidade da existência de diferenças entre os
dois lados poderia facilmente ter-nos escapado, se essa questão não tivesse
surgido como consequência direta de descobertas em certos estados patológicos.
O que se segue é um resumo dos fatos que parecem lançar alguma luz sobre
a matéria:
 
1. Assimetria no tamanho. Durante a observação da aura em torno dos
epilépticos, mencionou-se que tanto a aura exterior como a interior eram mais
amplas de um lado do que do outro (página 143) em todos os exemplos, com
exceção dos Casos 42 e 43, onde a igualdade do exterior é aparente, não real.
 
2. Assimetria na textura. Acompanhando a disparidade no tamanho, uma
alteração na textura da aura está geralmente presente no lado menor. (Página
144.) As linhas medianas verticais, anterior e posteriormente, se revelaram como
as posições mais prováveis para o encontro das auras assimétricas, que são em
geral bem-definidas. (Casos 52 e 54)
 
3. Assimetria de cor. Pacientes, mesmo de saúde perfeita, têm sido
observados ocasionalmente com diferenças de cor nos dois lados. Nos neuróticos
e em pessoas de saúde regular tais diferenças não são, de modo algum, in-
comuns e, sempre que as linhas de junção podem ser detectadas, elas são as
linhas medianas verticais. Por vezes, as telas são necessárias para descobrir a
diferença (Caso 42). Para esse fim uma tela azul costumava ser a mais útil.
 
4. Assimetria descoberta mediante as faixas de c.c. Muito antes de ter
surgido a questão da possibilidade da existência de diferenças entre as metades de
uma aura normal, já se notara muitas vezes que as manchas reveladas durante o
exame com as faixas de c.c. eram unilaterais, especialmente na frente, e, quando
perto do centro do corpo, nitidamente limitadas na linha mediana.
 
5. Assimetria de mudanças quimicamente induzidas. Tem-se observado com
frequência que quando um lado era tingido por vapores químicos enquanto o
outro lado era deixado em estado natural, as junções das duas cores situavam-se
nas linhas medianas. O mesmo acontecia quando a aura nos dois lados era tratada
com diferentes agentes químicos.
 
Uma ou duas vezes, quando as costas de um paciente era vaporizada com um
gás, por exemplo, vapor de iodo, em pequeno grau, as cores da aura nos dois
lados não correspondiam entre si. Assimetria devida a esforços voluntários.
Analogamente, sempre que se iniciaram mudanças por esforço voluntário,
elas terminaram nas linhas centrais ou, se elas, contrariamente à intenção, se
estendiam até a outra metade do corpo, eram diferentes em qualidade em
qualquer dos lados da linha mediana.
 
Essas considerações em conjunto proporcionam, presumivelmente, fortes
indícios de que haja algumas diferenças na constituição da aura nos dois lados do
corpo de pessoas em bom estado de saúde, mas que são demasiado delicadas para
ser demonstradas por nossos atuais meios de investigação. Não obstante, há
esperanças de que, num futuro próximo, esta interessante ques- tão seja resolvida
satisfatoriamente graças a outros experimentos.
 
 
APENDICE DO CAPÍTULO VII
 
 
Caso 55.
 
O seguinte exemplo de desenvolvimento tardio é extremamente interessante
e instrutivo, já que a paciente S. K. exibiu uma aura diferente de qualquer outra já
vista. A jovem tinha vinte e dois anos de idade, era constitucionalmente saudável,
mas sofrera de anemia durante breve período de tempo, mas não de tipo grave.
Nunca menstruara, razão por que desejava ter a aura examinada. No talhe, era
alta, grande e de constituição vigorosa, inclinada à corpulência. Era bem
proporcionada, a não ser pelo fato de suas mamas terem conservado a forma
infantil, não sendo suas glândulas mais pronunciadas do que as de uma menina de
seis a oito anos de idade. Na região do púbis havia uma pequena quantidade de
pelos, mais ou menos a quantidade que se poderia esperar na aproximação da
puberdade. Parecia brilhante e inteligente para uma mulher de sua idade e
ocupação.
Antes do exame, pensou-se que qualquer desvio relativamente ao tipo adulto
seria na direção da forma normalmente encontrada em meninas nas idades entre
catorze e dezoito anos. O resultado não correspondeu a essa expectativa.
A primeira impressão recebida por ocasião do exame foi que a aura era larga
em torno da cabeça, onde media pelo menos nove polegadas, ao passo que em
torno do tronco parecia não ter mais do que sete polegadas ou sete polegadas e
meia, e descia em linha reta até os tornozelos, sendo, consequentemente, um
tanto larga nas coxas e pernas. A margem, também, não parecia tão definida
como o usual. Uma cuidadosa inspeção, porém, revelou que a margem, que
acabamos de mencionar, não era verdadeira, já que a aura era na realidade duas
ou três polegadas mais ampla junto ao tronco, mas não tão nítida. Essa porção da
aura parecia uma aura exterior comum, um tanto abaixo da média em matéria de
brilho mas não menos nítida do que costuma ocorrer quando um paciente está
mal de saúde. Diferia em caráter da aura ultra-exterior. Essa adição levava a aura
a tornar-se quase espatulada na forma. Na frente e pelas costas, a aura exterior era
mais ampla do que o usual, e tinha uma protuberância nas regiões lombares, que
começava perto do nível dos ombros e terminava logo abaixo das nádegas. A
aura interior também era ampla, demasiado ampla, pois, efetivamente, a aura
exterior media apenas sete polegadas de largura, ao passo que correspondia, no
tamanho, ao que mais provavelmente se encontraria com uma exterior de dez
polegadas de largura dos lados do tronco.
Após uma carga negativa de eletricidade, a aura exterior se ampliou e
assumiu uma forma quase perfeitamente espatulada, e a protuberância das costas
tornou-se muito pronunciada. Ao mesmo tempo, a diferença nas duas partes da
aura exterior dos lados do tronco tomou-se menos acentuada mas não
desapareceu por completo. Infelizmente a mulher não mostrou sinais de
eletricidade de superfície, e, desse modo, foi impossível averiguar se as máximas
comumente encontradas em mulheres estavam presentes.
Seria inútil tentar tirar alguma conclusão de um único caso, mas é
extremamente interessante comparar o caso acima referido com outros em que o
desenvolvimento físico foi tardio. Toda menina assim afetada, com exceção de
uma, tinha uma aura transicional mais estreita do que o normal para sua idade e,
num único caso excepcional, de tipo infantil. Além do mais, em todo exemplo
inspecionado de tempos em tempos, observou-se que a aura assume a fase
transicional antes do princípio da menstruação. Observou-se, igualmente, que a
aura, apesar das exceções, é em geral estreita quando os órgãos sexuais, depois de
terem começado a funcionar, por qualquer razão cessam temporariamente de
fazê-lo. Assim, não haveria nada de extraordinário se a aura do caso há pouco
mencionado tivesse de sete a sete polegadas e meia de largura. O acréscimo da
parte externa é o ponto que suscita o nosso interesse. Um estudo de casos aná-
logos talvez possa esclarecer a origem do tipo espatulado em pessoas histéricas.
 
 
 
 
 
Capitulo VIII
 

A AURA INTERIOR NA ENFERMIDADE


 
No último capítulo, apresentamos um relato dos desvios de grandes porções
da aura em relação à anormalidade, e vimos que a aura exterior era afetada, ao
passo que a interior podia ou não escapar ao dano. No presente capítulo, serão
consideradas mudanças locais, que, como se verá, afetam com mais frequência
apenas a aura interior, conquanto em alguns casos a exterior também seja afetada.
Em nenhum caso, porém, há uma alteração local da aura exterior sem a
participação da interior.
Alterações restritas na forma da aura não são tão notáveis como as descritas
no último capítulo e consistem ou de uma diminuição local ou ocasionalmente de
uma obliteração da amplitude da aura interior, no todo ou em parte, ao passo que,
externa e contígua à porção avariada, a exterior também pode ser afetada em
certo grau. Além disso, a aura interior está sujeita a alteração de textura,
resultando em aparências completamente distintas observadas em estado de
saúde. As principais modificações locais de estrutura são: (a) estriamento
grosseiro da aura interna; (b) perda do estriamento da aura interior; (c)
granulação da aura interior. Esta última alteração também pode afetar a aura
exterior.
Vemos a forma mais simples de uma diminuição local quando uma boa
porção da aura interior permanece em contato normal com o corpo, mas se torna
mais estreita devido à perda de sua porção distal. Geralmente, toda a amplitude
da porção avariada da aura interior será mais fraca, e seu estriamento menos
acentuado, ao passo que, ao mesmo tempo, a margem livre não estará tão bem-
definida como a das áreas sãs adjacentes. Essas mudanças parecem ser o
resultado de uma diminuição quantitativa, com pouca ou talvez nenhuma
alteração qualitativa da força áurica interior. O seguinte exemplo é típico, além de
interessante a outros respeitos.
 
 
Caso 56.
 
(Figura 47.) X. A., uma mulher casada e sem filhos, com trinta e sete anos de
idade, estava enferma há vários anos. Nos últimos quatro anos, sofrera operações
devidas a um rim flutuante, hérnia dupla e apendicite. Como o rim permaneceu
muito móvel, outra operação lhe fora sugerida.
 

 
Ao ser examinada, sua aura exterior atingia o padrão sadio de nitidez. A
forma era boa, com exceção de um amplo arco dorsal que começava na cabeça e
terminava nos pés. A largura era de nove polegadas e meia em redor da cabeça e
dos lados do tronco. Tinha seis polegadas nas coxas e quatro e meia nos
tornozelos. Ao longo do corpo, pela frente, tinha quatro polegadas e meia, ao
passo que no ponto mais largo do arco, nas costas, media nove polegadas. A aura
interior não era tão nítida quanto a média, mas exibia estriamento em todo o
redor do corpo. Do lado esquerdo, na frente e nas costas, tinha três polegadas. Do
lado direito, acima do nível do umbigo e também do terço superior da coxa para
baixo, tinha a mesma largura, mas entre esses dois pontos media apenas duas
polegadas de largura. Aqui algum estriamento era visível, tendendo a ser um
pouco grosseiro, e a margem externa não era bem definida. Não havia intervalo
entre a aura interior e a exterior. Como esperávamos, a faixa de c.c. apresentou
várias áreas descoloridas. Nas costas, a usual mancha sacral estava presente. Uma
outra amarela, com três polegadas de comprimento, era perceptível acima da
crista do osso ilíaco direito, e uma terceira sobre as costelas inferiores direitas.
Na frente, a maior parte das duas regiões ilíacas era escura, mas a parte inferior
tinha uma coloração mais profunda do que a superior. A cor também era mais
escura do lado direito do que do esquerdo. Além disso, havia uma mancha escura
no hipocôndrio esquerdo. Ela se queixava de dor em cada uma dessas áreas
descoloridas, mas, por estranho que pareça, tanto a dor como a hiperestesia eram
mais intensas na região ilíaca esquerda, embora a cor aí fosse mais clara do que
do lado direito. O escurecimento excessivo do lado direito era atribuído,
corretamente ou não, ao deslocamento do rim. Periodicamente, ela sentia dores
agudas nas costas, o que explicava a mancha descolorida bem visível.
Outras variantes da aura interior contraída são a depressão afunilada e a
cilíndrica, que em geral acarretam uma fratura da aura. O modo de formação é
provavelmente o seguinte: no Capítulo V, demonstramos que as forças áuricas
procedem do corpo em linhas retas que formam ângulos com ele. Se por qualquer
razão uma área circunscrita for avariada, de tal modo que nenhuma força áurica
emane dali, enquanto que em redor de todo o ponto afetado as partes sãs
estiverem emitindo força áurica da maneira comum, resultará disso um espaço
cilíndrico côncavo, com seu eixo longitudinal fazendo ângulo reto com o corpo.
(Caso 59.) Com mais frequência, a área avariada, em vez de ser separada das
porções sadias do corpo por uma linha nítida de demarcação, será circundada por
zonas de forças áuricas gradativamente maiores. (Casos 57 e 58.) O resultado
dessa condição será a formação de um defeito cônico, com seu ápice voltado para
o corpo. Pode ser difícil detectar, a não ser que tenha uma grande área, como no
Caso 58. O efeito desses espaços vazios na aura, por ocasião do uso da faixa de
c.c., já foi descrito.
Essas rupturas da aura interna só podem ser percebidas sob circunstâncias
favoráveis e em secções. Até o presente momento, só duas ou três (veja os Casos
58 e 60) foram observadas, exceto no lado do corpo. A razão disso é óbvia: os
intervalos vazios do lado do corpo, quando o paciente está de frente para o
observador, não precisam ser vistos através da mesma espessura da aura como
quando ocorrem na frente ou nas costas, e devem ser procurados com os sujeitos
postados de lado. Da mesma forma, qualquer aumento de densidade ou de
opacidade da aura ajuda a obscurecer esses espaços. Um fundo adequado é
absolutamente necessário para sua detecção, e o fundo por excelência mais
adequado para esse fim é o preto fosco; cores claras são totalmente inúteis.
Levando em consideração todas essas circunstâncias, para cada um desses
espaços detectados não é de modo algum improvável que vários outros escapem
do nosso reconhecimento.
O seguinte caso ocorreu antes que as duas auras pudessem ser separa- das e é
citado por ter sido o primeiro em que uma aura afetada por doença local foi
observada. Como, no entanto, a diferença no tamanho entre a aura exterior e a
interior nas crianças é muito ligeira, é provável que uma observação através da
tela vermelha não lhe afetasse seriamente o resultado.
 
Caso 57. (Figura 48.) ´
 
H. H., um menino de dez anos, vinha sofrendo de herpes-zoster cinco ou seis
dias antes de se apresentar uma oportunidade de o examinarmos. A parte afetada
era a região lombar direita, em frente do abdômen, e havia também alguns pontos
afetados no flanco. O exantema atingira o estágio de dessecação. Sua aura era
marcada com nitidez, medindo, quando de frente para o observador, seis
polegadas em redor da cabeça e duas e meia nos lados do corpo. Era bastante
normal, porém estreita para um me- nino dessa idade, com exceção de uma
porção do lado direito desde o nível do plano esterno-xifóide até a crista ilíaca.
Do nível superior, que acabamos de mencionar, a aura se curvava para dentro
alcançando o corpo na décima segunda costela. Desse ponto curvava-se para fora,
readquirindo sua plena largura na crista do ilíaco. O ápice desse espaço em
branco aparentemente tocava o corpo, e a parte adjacente da aura não parecia, de
nenhum modo, afetada, fosse na textura ou na cor. Por ocasião do exame com a
faixa de c.c. empregada transversalmente, a metade direita do corpo parecia mais
escura do que a esquerda, e, como se pode calcular, a extensão esquerda era mais
clara que a direita. Quando a faixa de c.c. foi usada nas costas, a cor se revelou
normal acima da décima segunda vértebra dorsal, sendo mais escura embaixo, e a
transição entre as duas era abrupta. Todos os traços do espaço vazio desapareciam
se o menino ficasse em qualquer outra posição que não de frente para o
observador. A aura parecia perfeitamente normal, tanto nas costas como na frente
do corpo.
A aura, no caso seguinte, apresentava uma depressão em forma de funil, e
quando suas duas constituintes foram separadas pela tela carmim, a interior se
revelou avariada.
 
 
Caso 58. (Figura 49.)
 
B., uma senhora idosa, de setenta e três anos, mãe de dez filhos, vinha
sofrendo há algum tempo de dores no epigastro e no abdômen, e, ao mesmo
tempo, perdendo peso. Sugeriu-se que talvez fosse necessária uma operação
exploratória. Visto que nem sua aura nem o exame ordinário subsequente
revelaram sinais definidos de qualquer mal, ela foi aconselhada a esperar por um
breve espaço de tempo antes de submeter-se à cirurgia. Sob o tratamento, todas as
dores desapareceram e ela readquiriu o peso adequado. Três anos mais tarde, ela
se encontrava com boa saúde.
No início de 1914, sua aura exterior tinha boa forma, sendo de nitidez
normal, e media nove polegadas na cabeça e no tronco, quatro nas pernas, seis
nas costas e quatro na frente e ao longo das pernas. A aura interior não era tão
nítida quanto seria se a paciente estivesse em bom estado de saúde. S6 com
dificuldade se podia detectar estriamento, e acima dos ombros ela era quase
invisível. Media três polegadas de largura na cabeça e no tronco, e era meia
polegada mais estreita daí para baixo. De perfil, media nas costas três polegadas,
e duas e meia junto às coxas e pernas. Na frente, onde fosse normal, media três
polegadas. Mas quase se desvanecia perto do nível do umbigo, mas readquiria
sua largura própria, cerca de quatro polegadas acima e abaixo, formando uma
reentrância de forma afunilada. Era grosseiramente granulada dos lados do
tronco. A faixa de c.c. exibiu três manchas amarelas nas costas, uma do lado
esquerdo da espinha, entre a quarta e a sétima vértebra, outra na omoplata
esquerda e a última na região lombar. Na frente, havia uma mancha amarela
sobre o epigastro, uma segunda sobre a parte inferior do abdômen, ao passo que a
faixa era escura sobre o hipocondrio direito. Se tivesse havido qualquer
crescimento, teria sido abaixo da mancha escura, e conteria provavelmente uma
mancha menor e ainda mais escura. As manchas amarelas usualmente não
indicam nenhum mal orgânico sério. Esperava-se confiadamente que a depressão
em forma de funil da aura interior descolo- risse definidamente a faixa de c.c.,
mas, ao contrário, só apareceu ali um pequeno ponto mal definido, de coloração
mais clara que o restante da faixa, o que poderia ser facilmente passado por alto.
Essa mancha teria provavelmente a mesma profundidade de cor que as outras
manchas amarelas, a não ser pela ausência de uma parte da aura interior.
 
Caso 59. (Figura 50.)
 
Este é um caso extremamente instrutivo de uma menina de aparência
delicada. H. M., de sete anos de idade, que, em maio de 1908 se queixou de dores
no quadril direito, o que foi diagnosticado como um estágio bastante precoce de
coxalgia. O teste tubérculo-oftálmico de Calmette apresentou uma reação
decisiva. Tão logo foi possível, ela deu entrada num hospital infantil, onde
permaneceu internada durante vários meses, sendo posterior- mente transferida
para um lar de convalescentes.
Durante o mês de fevereiro de 1909, um ou dois dias depois de sua chegada
ao lar, ela veio a nós para ter sua aura examinada. Parecia então extremamente
bem, não sentia dores, e tinha o movimento completo de sua articulação do
quadril. Sua aura era razoavelmente bem-desenvolvida, mas es- treita, de cor
esverdeada, e media duas polegadas de largura. Era normal para uma menina de
sua idade, exceto que, quando de frente para o observador, havia um completo
intervalo de duas polegadas de extensão junto ao trocanter maior direito. Esse
espaço vazio era plenamente visível e acentuado, a tal ponto que sua mãe o notou
de imediato. Em vez de se encurvarem para fora como o fizeram no último caso,
as margens eram bastante retas, apresentando uma ligeira protuberância. A área
não podia ser detectada quando ela se postava de lado. A faixa de c.c. era
uniforme por todo o corpo, salvo onde uma vista lateral exibia uma mancha clara
sobre o espaço vazio.
Ela se mudou para a Escócia, mas em 1912 voltou a Londres por algumas
semanas, quando um segundo exame foi efetuado. Tornara-se uma jovem alta,
forte e saudável. Sua aura era de um cinza-azulado, de seis polegadas de largura
junto à cabeça, quatro na altura dos rins e três nas partes restantes. A aura interior
media uma polegada e meia em geral. As duas auras pareciam naturais para uma
jovem de sua idade, salvo em roda do quadril direito. A aura quando investigada
sem a intervenção de telas, era menos distinta perto do trocanter,
excepcionalmente próxima do corpo. Quando a tela de carmim foi empregada, a
aura interior estava quase completamente ausente nesse lugar, e nenhum
estriamento pôde ser detectado, conquanto fosse perfeita acima e abaixo. A faixa
de c.c. parecia uniforme por sobre todo o corpo, tanto atrás como na frente,
exceto que, sobre o quadril direito, tinha um matiz mais profundo, que era
prolongado na extensão. Numa vista lateral, a faixa era mais clara sobre o
trocanter. Sua mãe e uma enfermeira, durante o exame, puderam distinguir a
anormalidade sem o menor problema.
 

 
Caso 60.
 
Uma mulher, D. S., com trinta e quatro anos, vinha sofrendo de úlcera no
estômago. Fazia dois meses que deixara um hospital quando a examinamos.
Aquele mal, do qual vinha sofrendo há cinco meses, era sua primeira
enfermidade grave. A aura exterior, com amplitude um tanto acima da média,
tinha uma boa forma e, junto à cabeça e dos lados do tronco, media dez
polegadas e meia; seis, junto às coxas; e se contraía suavemente à medida que se
aproximava dos tornozelos. Uma vista de perfil mostrou que a aura descia reta
nas costas, e tinha quatro polegadas de largura nos ombros e nas nádegas. Na
frente, a aura devia ter seis polegadas de largura diante do corpo e dos membros
inferiores. Entretanto, havia uma diminuição de amplitude a partir do nível da
borda inferior do manúbrio até aproximadamente o plano umbilical. Essa
depressão não poderia ser chamada de afunilada, mas parecia já ter sido assim e
estava voltando à condição normal. Aqui, a aura não era tão brilhante como em
outras partes. A aura interior também estava abaixo da média em matéria de
clareza, mas exibia estriamento. Sua indistinção era devida ao fato de a paciente
não ter recobrado a força. Na frente do epigastro, era estreita e mais fraca do que
sobre o restante do corpo, ao qual ainda estava contígua.
A faixa de c.c. exibiu nas costas uma mancha amarelo-claro do lado
esquerdo da coluna, da quarta à oitava vértebra dorsal, e também uma mancha
escura abrangendo as duas vértebras lombares inferiores e a parte superior do
sacro. Na frente do corpo, havia uma mancha sobre o epigastro, de cor indefinida,
mais acentuada sobre o lugar onde a cor fora anteriormente mais intensa. Uma
longa marca escura ao longo do reto, do lado esquerdo, e duas outras, uma em
cada virilha, sendo a esquerda mais profunda que a direita, também apareceram.
Em todos esses lugares a paciente se queixava de hipersensibilidade e dor.
As telas de diferentes cores não mostraram nenhuma modificação, exceto
que através da tela azul a aura parecia verde e amarela, sem que essas cores se
fundissem uma com a outra.
O principal interesse, neste caso, reside na condição da aura em frente do
epigastro, onde fora alcançado um estágio transicional entre um espaço vazio e o
estado de saúde, mostrando como a restauração da aura ocorre gradualmente do
corpo para fora.
A mudança seguinte da aura interior a ser descrita é a mais difícil de
entender. Consiste de uma diminuição de sua largura a expensas de parte do
corpo mais próxima, deixando um espaço aparentemente vago entre os dois.
Um capítulo precedente foi devotado ao duplo etéreo, que aparece como um
espaço vazio entre o corpo e a aura. Raramente excede a três dezesseis avos de
polegada de largura, e em geral passa despercebido durante a inspeção de um
paciente. Por vezes, porém, quando é mais largo, é reconhecido ao primeiro
relance, sobre todo o corpo, ao passo que vez por outra parece estar mais
claramente definido num dos lados do que no outro. Esta última condição é
geralmente acompanhada por alguma alteração da aura interna. Às vezes o
espaço em branco é visto como localmente ampliado, ao passo que a aura interior
é proporcionalmente estreitada com sua margem externa permanecendo em seu
lugar normal. Atualmente, é impossível decidir se esse espaço vago é um duplo
etéreo ampliado ou surge de um desaparecimento completo de uma porção da
aura. A aparência lembra o espaço claro entre o vapor visível e o bico da chaleira
de onde esse vapor se originou, quando a água no interior está fervendo
livremente.
Em casos bem distintos, esse fenômeno dificilmente pode passar
despercebido, mas em casos em que o fenômeno é pouco acentuado é difícil
determinar se o intervalo entre o corpo e a aura é ou não normal, e o que o torna
ainda mais impressionante é que também uma alteração de textura pode estar
presente. Em muitos casos, esses espaços vazios podem ser invisíveis, sendo
obscurecidos pela aura saudável circundante, de modo que eles provavelmente
não são de fato incomuns.
Nenhuma parte do corpo está livre disso. A mudança tem sido notada sobre
o tronco, na frente, nas costas, e dos lados, bem como nos membros superiores e
inferiores. Ocorre com mais frequência em pessoas neuróticas, e também
acompanha várias condições ou delas resulta, como por exemplo, ferimento
(Caso 68), crescimento (página 222), atrofia muscular (Caso 61), herpes-zoster
(Caso 62), esclerose generalizada (Caso 37), etc. A duração da mudança em geral
não pode ser determinada, mas, num caso de ferimento nas costelas, ela se
revelou puramente temporária (Caso 68).
No Caso 61 (Figuras 51 e 52), apresentamos um relato de algumas mudanças
muito curiosas sofridas pela aura, inclusive um espaço vazio local.
 

 
N., uma mulher que se casara recentemente, com vinte e sete anos de idade,
sofrera de coxalgia com a idade de dois anos. Estivera internada várias vezes em
hospitais, onde sofrera quatro operações, sendo que a cicatriz da última só fechou
quando contava dezenove anos de idade. Era obrigada a usar muleta, pois sua
perna esquerda era duas polegadas mais curta, e sua coxa esquerda tinha quatro
polegadas de circunferência menos que a direita. Por ocasião do seu exame, ela
parecia apresentar um quadro de perfeita saúde.
Sua aura, examinada em 1912, tinha cor azul. Do lado direito a aura exterior
tinha uma margem normalmente definida, e era tipicamente espatulada, medindo
nove polegadas em redor da cabeça e do tronco, encurvando-se para dentro logo
abaixo do nível mais baixo do corpo, e assumindo quatro polegadas na altura do
joelho. Do lado esquerdo, a aura gradualmente se escure- cia junto a sua margem,
e, até onde se podia verificar, media oito polegadas junto ao tronco, mas, a um
exame superficial, parecia ter menos, e inclinava-se para dentro em ângulo agudo
logo abaixo da crista do ilíaco, de onde procedia para baixo medindo três
polegadas de largura. Vista de lado, a aura média quatro polegadas na frente do
tronco, da coxa e da perna direitas, mas era uma polegada mais estreita na coxa e
na perna esquerdas. Nas costas, havia a grande protuberância lombar, usualmente
vista nesse tipo de aura, que media oito polegadas de largura em sua parte mais
ampla; mais embaixo, ao longo das coxas e pernas, a aura tinha a mesma largura
que na frente. A aura interior era de largura igual por todo o corpo, salvo da crista
ilíaca ao meio da coxa, do lado esquerdo. A aura parecia bastante natural acima
da parte afetada, sobre a qual aparecia um vazio escuro medindo três quartos de
polegada de profundidade, semelhante a um duplo etéreo amplo. Era impossível
determinar até onde, em redor da coxa, esse espaço em branco se estendia.
Externamente a esse vazio a aura era grosseiramente estriada. A aura exterior
aqui também era correspondentemente grosseira, e a alteração de textura estava
limitada pelas linhas medianas verticais do corpo, tanto da frente como das
costas. A faixa de c.c. era escura entre a crista ilíaca e o meio da coxa do lado
esquerdo. Ela revelou também uma mancha escura sobre o epigastro devida a
indigestão. A não ser por isso, a faixa era uniforme por todo o corpo.
Um fenômeno sui generis de grande interesse estava associado com
múltiplas mudanças do tipo de consideração num paciente de herpes-zoster. O
exantema era tão extenso que alguma avaria da aura, fora sua completa ausência
sobre toda a área afetada, era esperada. Embora a aura da paciente não fosse
muito distinta, e estivesse abaixo da norma em matéria de clareza, o seguinte
aspecto extraordinário pôde ser facilmente detectado.
Quando a paciente estendeu o braço, a aura adjacente ao exantema
apresentou um aspecto extraordinário; parecia alveolada, com vacúolos sobre o
braço e ao lado do tronco. A princípio, o fenômeno era difícil de explicar, mas a
dificuldade desapareceu logo que nos lembramos que as linhas das forças áuricas
situam-se em ângulo reto com o corpo, e que, nesse caso, algumas delas pro-
cederiam do tronco, outras do braço e ainda outras da axila, todas em diferentes
ângulos, o que as fazia entrecortarem-se continuamente no espaço quase vazio.
Como, devido à enfermidade, as forças áuricas desta parte do corpo estavam
consideravelmente abaixo do normal e irregularmente distribuídas, a aura era
correspondentemente pequena, e assim se produzia sua aparência celular ou
esponjosa. Esse efeito também seria acentuado por uma aura mais ou menos
saudável, tanto atrás como na frente da porção patológica.
 
 
Caso 62.
 
F. F., um sapateiro de vinte e dois anos. Aos sete anos de ida- de ele teve
coxalgia e durante anos sofreu de abscessos devidos a sequestros. Submeteu-se a
várias cirurgias, mas durante os cinco últimos anos gozara de boa saúde até uma
semana antes de sua inspeção, quando observou um exantema sobre o lado do
peito, seguido de uma erupção na axila e no lado interno do braço, e outra porção
semelhante nas costas acompanhada de dor severa. Ao ser examinado, exibiu
uma mancha herpética de aproximadamente uma polegada e meia quadrada logo
abaixo da clavícula. Toda a axila direita e três quartos do braço direito, bem como
outro ponto pequeno das costas próximo da coluna ao nível da terceira vértebra
dorsal, estavam cobertos pelo exantema. As bolhas eram muito grandes, algumas
de meia polegada. Não podia haver dúvida de que se tratava de um sério caso de
herpes-zoster. A inspeção mostrou que a aura era menos distinta que o normal, e
de coloração azul-acinzentado. Do lado esquerdo era natural, mas muito estreita,
a exterior medindo três polegadas de largura e a interior, duas e meia. Na frente e
nas costas, tinha a mesma largura, e não mostrava nenhum desvio de forma
daquilo que se poderia esperar em estado de perfeita saúde. Do lado direito,
porém, a aura era normal em torno da cabeça, mas logo que os braços eram
erguidos, a aparência sob o braço direito e um pouco abaixo, ao longo do tronco,
era muito peculiar. Era granulada mas não tão nitidamente quanto o usual. Contra
um fundo preto, parecia consistir de uma névoa alveolada com orifícios escuros.
O efeito produzido é extremamente difícil de descrever, e a diminuição da
intensidade da parte granular da aura evidentemente resultava de uma perda de
substância. Além do mais, as auras exterior e interior pareciam completamente
amalgamadas, pois nenhum vestígio de diferenciação pôde ser detectado. Abaixo
dessa porção desorganizada, a aura parecia ter readquirido sua condição própria
por uma curta distância. Do lado oposto ao osso ilíaco, da sua crista para baixo,
num espaço de aproximadamente cinco polegadas, a aura apresentava uma
condição semelhante à descrita, só que menos acentuada. Este espaço era
contiguo à articulação antes do doente.
O exemplo seguinte é um caso em que se manifesta uma alteração da
configuração de uma aura devida a distúrbio local, e uma recuperação a partir do
momento em que a paciente começou a melhorar de saúde. Felizmente a mulher
permitia ser examinada vez por outra, e desse modo, se puderam fazer diagramas
ilustrando sua gradual recuperação. Por uma questão de simplicidade, no
diagrama só representamos a aura exterior. Embora a intervalos tentamos deparar
com outros casos em que auras avariadas na forma voltaram gradualmente a sua
forma natural, nenhuma mostrou a mesma proporção de mudança, e nenhuma
pôde ser acompanhada tão de perto.
 
 
Caso 63. ( Figura 53.)
 
D., uma senhora de quarenta e sete anos, dedicada às tarefas domésticas, foi
examinada pela primeira vez em fins de julho de 1908.
 

 
Por vários anos, estivera sujeita a indigestão. Durante alguns meses, sofrera
grande desconforto e dor, acompanhados por grande quantidade de flatulência
que começava cerca de uma hora e meia após as refeições, e continuava por outra
meia hora ou por mais tempo. Tinha prisão de ventre e seu estômago estava
dilatado.
A aura do lado esquerdo dirigia-se para baixo da maneira usual para uma
mulher, atingindo o meio da coxa antes de começar a contrair-se estavelmente.
Media cerca de sete polegadas na parte mais larga. Do lado direito, era muito
peculiar. Em redor da cabeça, era semelhante à aura do lado esquerdo, mas ao
nível dos mamilos, onde media cerca de seis polegadas e meia de largura, ela
subitamente se encurvava para dentro num ponto um tanto acima do nível do
umbigo, onde apenas média de largura uma polegada e meia. Desse ponto para
baixo, sua largura não se alterava. De lado, não havia nenhuma peculiaridade,
fosse nas costas ou na frente do corpo.
Quando a faixa de c.c. foi empregada, viu-se uma mancha quadrangular
sobre o hipocondrio direito. Começava na linha mediana e estendia-se em torno
do corpo, tendo sua margem superior nivelada com a cartilagem xifóide, e sua
margem inferior com o umbigo. Esse espaço era várias vezes mais escuro que o
resto da faixa, e suas linhas de demarcação bem-definidas. Com a apalpação,
verificamos haver hipersensibilidade do fígado, e um ponto, situado a duas
polegadas acima do umbigo e a igual distância à direita da linha mediana,
mostrava-se extremamente doloroso a pressão mais forte. A paciente melhorou
muito sob tratamento.
Em outubro de 1908, outro exame foi feito. A aura estava inalterada, a não
ser do lado direito. Sua curvatura não era tão profunda como antes e ela começa a
se alargar antes de finalmente contrair-se ao mesmo nível em que o fazia no lado
esquerdo, a saber, aproximadamente no meio da coxa.
Seis meses depois, a curva para o interior da aura do lado direito ainda podia
ser vista com clareza, mas diminuíra muito; a não ser por isso, não havia
alteração. Como a aura parecia estar readquirindo gradualmente seu estado
natural, foi inspecionado uma vez mais em outubro de 1909. A paciente vinha
sofrendo de indigestão por aproximadamente seis semanas, mas após um
tratamento, que durou as três últimas semanas, melhorara bastante. A aura
tomara-se simétrica dos dois lados do corpo, mas a área anteriormente afetada
ainda apresentava um aspecto diferente de qualquer outra parte.
Essa porção modificada da aura começava aproximadamente ao nível da
cartilagem xifóide e terminava a uma curta distância, acima da crista do ilíaco.
Tinha um aspecto opaco e apresentava textura grossa, não sendo sua cor
perfeitamente azul como a parte saudável. Para a direita, era limitada por listras
de matiz mais claro procedentes diretamente do corpo. Elas diferiam dos raios
ordinários em sua opacidade. Aqui, a aura interior era ligeiramente estreitada, não
apresentando nenhum estriamento e era grosseiramente granulada. Em outros
lugares era uniforme por todo o corpo, medindo duas polegadas de largura e era
razoavelmente estriada. O duplo etéreo estava bem definido como um espaço
escuro, medindo de largura um oitavo de polegada. Isso mostrava que embora a
aura tivesse readquirido sua forma específica, ainda não reassumira sua condição
natural. Com a faixa de c.c. azul, o espaço quadrangular na região do hipocondrio
ainda era mais escuro do que o resto da faixa, mas a diferença não era tão
acentuada. A extensão da faixa do lado direito permaneceu de coloração mais
escura que do lado esquerdo, mas a diferença era menos marcada. A Figura 53
mostra a correção gradual na aura de tempos em tempos.
Alguns meses mais tarde, como a paciente estava gozando de razoável
saúde, sua aura tornou a ser examinada. A exterior era natural no tamanho por
todo o corpo e simétrica. Contudo, a aura interior não readquirira totalmente sua
textura própria do lado direito, pois permanecia grossa e opaca, mas mostrava
sinais de estriamento, embora as linhas fossem diferentes das saudáveis. As
margens superior e inferior da aura doente situavam-se no plano esterno-xifóide e
a um nível um tanto superior ao da crista ilíaca.
 
Com a faixa de c.c. azul, a grande mancha escura ainda existia, mas tornava-
se menos distinta que na ocasião anterior. Ela continuava ao redor até as costas. A
faixa também fez aparecer uma mancha bem acentuada com bordas mal
definidas, do lado esquerdo, parcialmente nas regiões lombar e ilíaca. Ela sentira
dores nesse local no dia anterior, e ele estava hipersensível à palpação.
Após um longo lapso de tempo, a aura foi finalmente examinada no início de
1917. Não tinha nenhum interese especial, a não ser que a aura do lado direito
recuperara sua textura própria completamente, sem deixar traços de sua condição
anormal anterior.
Precisamos agora considerar os aumentos locais de tamanho da aura. Tais
aumentos estão sempre presentes na gravidez, mas só temporariamente, e devem
ser considerados como fisiológicos. Na verdade, como veremos em capítulo
posterior, o aumento na frente dos seios ou do abdômen constitui um dos sinais
desse estado. Os dois casos seguintes são exceções à regra, dado que apesar de
em ambos o aumento ser semelhante ao que ocorre na gravidez, esta condição
não estava presente.
 
 
Caso 64.
 
E. era mãe de dois filhos, dos quais o primeiro fora natimorto e o segundo
contava agora dois anos e meio. Durante algum tempo após o nascimento da
última criança, ela teve hemorragia uterina e um pólipo lhe foi removido no ano
subsequente. Depois da operação, seus períodos menstruais passaram a ocorrer a
intervalos de catorze dias e sua menstruação era abundante, Falhara três vezes.
Seu abdômen estava ligeiramente aumentado. Vinha se sentindo bem, mas estava
longe de ser vigorosa. A coloração de sua aura era cinza-azulado. Media nove
polegadas junto à cabeça e dos lados do tronco, e quatro junto aos tornozelos. De
perfil, a aura média cinco polegadas na frente do abdômen, mas apenas três,
acima e abaixo, e quatro nas coxas e pernas. A aura interior media em todo o
redor do corpo duas polegadas e meia, com exceção da frente do abdômen, onde
era mais ampla. Diagnosticou-se gravidez, incorretamente, como se viu depois.
 
 
Caso 65.
 
N., uma mulher casada e sem filhos. Era muito nervosa e deprimida, pois
vinha emagrecendo durante os últimos doze meses e se queixava de dores vagas
em diferentes partes do corpo. Três anos antes do exame, submetera-se a uma
cirurgia no útero. Sua aura era azul, espatulada, medindo sete polegadas e meia
em volta da cabeça, nove junto ao tronco e não inteiramente quatro nos
tornozelos. Vista de lado, sua aura exterior media nove polegadas na região
lombar e, em outras partes, quatro, e na frente média quatro ao longo do resto do
corpo, exceto a porção em frente da parte mais baixa do abdômen, que era três
quartos de polegadas mais larga. A aura interior media duas polegadas e meia em
redor de todo o corpo, com exceção da parte em frente do abdômen, onde media
três polegadas. Afora essa porção mais ampla, que era granulada, a aura interior
era totalmente estriada. A ausência de estrias nessa localização era indício
contrário à gravidez.
Intimamente relacionada com essa alteração de textura, que será descrita
logo mais, está a indistinção da aura interior ou de ambas as auras
simultaneamente. Um estriamento da aura interior menos definido do que o
normal pode ser encarado como indício presumível de que o paciente não é
naturalmente robusto ou está temporário ou permanentemente com a saúde
comprometida. A única exceção comum é, entre as mulheres, durante a gravidez,
quando então a aura interior ou, mais frequentemente, ambas as auras, está
decididamente mais sombreada do que seria de se esperar em condições de boa
saúde. São tão numerosos os exemplos em que essa condição das auras ocorre,
que a redução da sua visibilidade pode ser enumerada entre os sinais menos
importantes de gravidez.
Um exemplo muito bom dessa condição é o caso seguinte de um homem
alto, forte e bem constituído que, tendo lumbago, encasquetou de curar-se através
do jejum pura e simplesmente. Quando o vimos, embora não tomasse alimento já
por nove dias e só bebesse água, declarou que se sentia em perfeita forma e que
na véspera, depois de atender a todas as suas tarefas matinais, estivera
"mourejando" na jardinagem durante toda a tarde. Quando estava em seu estado
normal de saúde, sua aura era acentuadamente grande, especialmente em torno da
cabeça, pois seus dotes intelectuais estavam consideravelmente acima da média.
Era advogado e polemista.
 
 
Caso 66.
 
H. G., quarenta e oito anos, foi examinado em 1915. A aura exterior
correspondia bem ao padrão normal de distinção e tinha boa forma. A interior
estava quase invisível, mas seu estriamento mal podia ser detecta- do. A faixa de
c.c. era uniforme sobre todo o corpo, exceto em frente ao estômago onde havia
uma mancha amarela. O paciente reconhecia ter sentido um mal-estar naquele
lugar pela primeira vez desde que começara o jejum, e atribuía isso à falta de
alimento. Não havia nada digno de menção com relação à aura. É interessante
notar que sua eletricidade de superfície era quase nula, ao passo que um ou dois
meses antes tinha sido extraordinariamente grande.
 
 
Caso 67.
 
Uma senhora de trinta e quatro anos de idade, que nunca fora vigorosa mas
jamais tivera qualquer doença séria, foi examinada em 1913. Pouco tempo antes,
ela se queixara de indigestão, do que já se recuperara completamente. Era magra,
mas isso lhe era natural. Vários membros de sua família morreram de
tuberculose, mas ela não mostrava sinais dessa doença. Era considerada saudável,
porém delicada. A cor de sua aura era azul tingido de cinza. A aura exterior mal
atingia o padrão médio de distinção, ao passo que a interior estava bem abaixo
dele, embora se pudesse detectar, não sem dificuldade, algum estriamento. As
dimensões da aura exterior eram nove polegadas dos lados do tronco e em torno
da cabeça, quatro na frente do corpo, sete nas costas, e nos membros inferiores,
três e meia. A aura interior media duas polegadas e meia junto à cabeça e ao
tronco, e duas nas pernas. A faixa de c.c. só revelava ligeiras marcas, uma na
frente e outra nas costas. As cores da aura, quando observada através das
diferentes telas, eram curiosas, mas dificilmente dignas de menção aqui.
Encontramos constantemente essa condição nas meninas e mulheres jovens
quando estão anêmicas, mas a aura volta a seu brilho normal à medida que elas
entram em convalescença.
Logo que a aura exterior e interior puderam ser diferenciadas, tornou-se
razoável conjecturar que cada uma delas por vezes exibiria alterações de tamanho
e estrutura. Observou-se incidentalmente que, num grande número de casos, uma
variação no tamanho da aura interior se fizera acompanhar por uma modificação
de substância, de modo que as duas condições podem ser convenientemente
estudadas ao mesmo tempo.
Para compreender as mudanças que ocorrem na textura da aura interior, é
preciso ter em mente que, quando saudável, ela é composta de uma né- voa
extremamente fina, aparentemente constituída de finos grânulos que, por sua
disposição, dão uma aparência estriada. Essa aura conserva quase a mesma
largura sobre toda parte do corpo, de tal modo que talvez seja o resultado de uma
e de apenas uma força emanada do corpo, a saber, a força áurica in- terna.
(Página 107.)
Qualquer desvio do padrão de saúde provavelmente avariará essa força,
induzindo alguma mudança na substância da aura. Uma avaria que em geral pode
ser distinguida sem a intervenção de qualquer tela, é a perda do estriamento
natural. Esta é a mais precoce modificação mórbida da aura interna.
De par com esta falta de estriação, os grânulos incomparavelmente finos que
constituem a aura interior, na condição de boa saúde, serão substituídos por
outros mais grosseiros e opacos. Aparentemente, cada um desses grandes
grânulos é formado pela coalescência de dois ou mais grânulos menores. O
tamanho desses grânulos varia enormemente, mas em geral predomina um
tamanho que dá um caráter distintivo à parte afetada. O estado granular pode
convenientemente ser classificado como fino, médio e grosso, conforme o caso.
Com o aparecimento desses grânulos, o estriamento primeiramente se torna
grosseiro e acaba por desaparecer. Dir-se-ia, com base na pouca frequência das
alterações na largura da aura interior, que a intensidade das forças que as
originam é em geral preservada, mas não se sabe qual é seu papel, ou mesmo se
tem algum, na produção dos grânulos anormais. Uma vez que a aparência
granulada se estabeleça, especialmente se for grosseira, decorre em geral um
largo tempo antes que a aura volte a seu estado primitivo. Podemos citar o
exemplo de uma senhora que exibiu essa peculiaridade sete semanas após sofrer
de torcicolo. Após um intervalo de outros cinco meses, seu pescoço foi de novo
examinado. Quando examinado da maneira usual, havia uma pequena porção
avariada que emanava da parte mais baixa do pescoço. Esta porção media
aproximadamente duas polegadas e meia de largura na base e duas de altura. A
margem exterior consistia de vários pontos, um mais elevado que o outro até que
o mais alto fosse alcançado, e, pelo outro lado do pico, descendia do mesmo
modo. Com uma tela carmim-claro a porção mencionada parecia de granulação
fina, tendo sido muito mais grosseira na ocasião anterior. Quando as faixas de c.c.
foram empregadas, o azul e o verde do lado direito eram mais escuros, ao passo
que o amarelo era uniforme nos dois lados. A mudança de grandes para pequenos
grânulos era obviamente precursora de uma volta à normalidade.
O caso seguinte é extremamente interessante, pois a paciente foi
inspecionada durante saúde precária - após ter sofrido um ferimento - e depois,
novamente, quando gozava de perfeita saúde. Foi assim possível determinar se as
alterações da aura eram transitórias ou permanentes.
 
 
Caso 68.
 
U., uma balconista de vinte e quatro anos de idade que por toda sua vida fora
saudável e vigorosa tornara-se recentemente vítima de indigestão, que sob
tratamento logo desapareceu. Por ocasião do exame, ela estava longe de ser uma
moça forte. Sua aura exterior tinha forma natural e era de uma cor azul-
acinzentado. Dos lados da cabeça e do tronco, media nove polegadas de largura,
seis nas coxas e quatro nos tornozelos. Na frente, tinha quatro polegadas ao longo
de todo o corpo, e nas costas, mostrava uma ligeira protuberância com sete
polegadas de largura, e junto às coxas e pernas tinha três polegadas e meia de
largura.
A aura interior média duas polegadas e três quartos junto ao corpo e um
pouco menos junto aos membros. Um estriamento natural podia ser reconhecido
por todo o corpo, exceto na região do hipocondrio esquerdo, onde se tornara de
textura grossa. A faixa de c.c. mostrou a mudança muito comum sobre o sacro, ao
passo que, sobre o epigastro, havia uma grande mancha escura estendendo-se em
volta, do lado esquerdo até a espinha.
Dois anos mais tarde, ela se tornou anêmica, sempre se sentia fraca, e tornou
a sentir indigestão acompanhada por dilatação do estômago. Enquanto estava
nessas condições, foi examinada uma segunda vez. A aura exterior, salvo por ter
aumentado de tamanho na frente do abdômen, não sofrera alteração. A aura
interior perdera bastante claridade e estava decididamente abaixo da média em
matéria de nitidez, mas podia-se ver seu estriamento sem muita dificuldade.
Permaneceu inalterada, a não ser por ter crescido em frente do tronco, desde o
nível da linha dos mamilos até uma curta distância acima do umbigo. Aqui o
estriamento era visível, mas era grosseiro e tinha uma tendência a tornar-se
granulado. O exame com a faixa de c.c. desvendou uma grande mancha amarela
sobre o hipocôndrio esquerdo.
Como esse crescimento da aura não estava presente na frente do abdômen
durante o primeiro exame, é óbvio que ele passara a existir apenas a um tempo
comparativamente curto, de modo que pensamos que outro exame prova- ria se o
aumento era temporário ou permanente e, desse modo, seria instrutivo. A mulher
bondosamente concordou, mas infelizmente não pôde cumprir sua promessa por
tempo considerável, pois nesse entretempo ela se casou, e seu novo lar ficava ao
norte da Inglaterra.
Seu terceiro exame ocorreu no outono de 1916, quando ainda sentia os
efeitos de uma queda que resultara em duas costelas fraturadas do lado direito.
Não é preciso entrar nos detalhes desse exame, pois, na maior parte, as auras
permaneceram as mesmas, e não havia alteração no crescimento na frente do
abdômen, ao passo que a aura interior readquirira sua nitidez própria. No entanto,
perto do sítio do ferimento recente, desde o nível do plano esterno-xifoide até a
crista do ilíaco, havia um espaço vazio de aproximadamente uma polegada e
meia entre o corpo e a aura interior. Visto que, devido ao ferimento, ela não podia
ser considerada em perfeito estado de saúde, veio a nós quando se sentiu
perfeitamente bem.
Em março de 1917, foi examinada pela última vez. Sua aura exterior parecia
extraordinariamente distinta e maior do que nas inspeções anteriores. Após abrir
espaço para sua margem indefinida, resultado de uma ligeira aura ultra- exterior,
não havia dúvida quanto a um real aumento de tamanho. As medidas eram, na
cabeça, onze polegadas, doze no tronco, seis e meia nas coxas, e quatro nos
tornozelos. Tanto na frente como atrás do tronco, media oito polegadas, e ao
longo das coxas e pernas, tinha a mesma medida dos lados. O crescimento de
ambas as auras em frente do abdômen permaneceu constante. A interior era
grosseiramente estriada perto do local do ferimento (ao passo que a faixa de c.c.
pareceu escura), a não ser por isso parecia saudável por todo o corpo, medindo
três polegadas e meia de largura, e sendo um pouco mais estreita junto aos
membros. O anterior espaço em branco entre o corpo e a aura estava ocupado
pela aura interior da maneira ordinária. A largura extra das auras em frente do
abdômen deve neste caso ser agora considerada uma característica permanente.
Como as auras interiores de pessoas em bom estado de saúde são mais
extensas nas pessoas robustas do que nas constitucionalmente delicadas, é
extremamente improvável que o lado mais largo seja comprovadamente anormal
quando ocorra assimetria. Via de regra, não há dificuldade em chegar a uma
decisão, já que alguma outra modificação no lado afetado sempre pode ser
detectada diretamente ou com a faixa de c.c. Verificar-se-á que sempre que exista
uma contração da aura interior, ocorrerá uma mudança correspondente no
exterior; mas o inverso não ocorre. Vale a pena lembrar que, em todos os casos
em que se observou uma aura interior contraída numa grande superfície, o
paciente havia sofrido alguma enfermidade grave.
O exame de um epiléptico mostra que a aura interior do lado esquerdo é
mais estreita, ao passo que, do lado direito, ela conserva seu tamanho pleno. As
modificações não param aqui, já que invariavelmente, do lado esquerdo, a textura
da aura é de aparência grosseira, ou mesmo granulosa, o que leva ao estriamento,
quando distinguível, a só ser detectado com dificuldade. Essa diminuição
unilateral da aura interior representa muito mais um indício de epilepsia do que a
aura exterior contraída, embora esta última seja consideravelmente mais visível e
tenha sido a primeira a ser descoberta.
A permanência do estado granulado da aura interior alcança o seu zênite em
lugar, onde quase cessa de ser patológico. Isso ocorre em alguma parte das
regiões lombar inferior e sacral de muitas mulheres entre as idades de vinte e
cinquenta anos. Em algumas é a parte mais baixa do sacro, em outras, mais
acima, mas, embora em qualquer caso a linha mediana seja afetada, a mancha
geralmente se estende mais para um lado do que para outro. Quando esta
condição está presente, uma história é invariavelmente contada de dor, ou pelo
menos de mal-estar, nesse lugar das costas durante os períodos menstruais. A
ocorrência desses ciclos a intervalos curtos não permite suficiente tempo para a
aura retornar ao seu estado natural antes que outro ciclo se inicie, tornando assim
perpétua a condição anormal. Outro fato interessante é que essa mancha é em
geral mais pronunciada quando a dor foi mais severa. A condição granulada
pode, via de regra, ser reconhecida mediante o auxílio de uma tela escura de
carmim, mas, antes que esta fosse usada, manchas escuras foram descobertas nas
faixas de c.c., e sua causa fora um grande enigma até que a influência de
mudanças locais foi percebida. Observara-se também que essa mancha escura
não existia em homens e não aparecia em meninas antes da puberdade, nem em
mulheres já passadas do grande climatério, e que geralmente desaparecia durante
a gravidez, a menos que fosse produzida por alguma causa conhecida como, por
exemplo, lumbago. Uma outra prova de sua íntima conexão com a menstruação
ocorreu quando, certa vez, uma jovem senhora que não apresentava o menor sinal
de mancha descolorida sobre a região sacral, ao ser interrogada, declarou que
jamais sofrera a menor dor ou incômodo naquela região durante seus períodos.
Por ocasião do mesmo exame, a faixa de c.c. exibiu uma manchinha clara
descorada, de aproximadamente uma polegada e meia de diâmetro, sobre a
primeira vértebra lombar. Quando interrogada se havia dor ou sensibilidade
exagerada naquele local, respondeu que não, durante a última quinzena, mas que
anteriormente sentira ali muita dor, em certa ocasião tão aguda que a forçara a
recolher-se ao leito. Este é outro exemplo do longo tempo que às vezes decorre
antes que a aura volte ao normal depois de ter sido granulada.
A par das variações muito claras de textura que se percebem facilmente,
como as condições granuladas, há outras de natureza mais delicada,
imperceptíveis a olho nu, mas distinguíveis pelas faixas de c.c. O uso dessas
faixas constituirá o tema do capítulo seguinte.
Os crescimentos fisiológicos da aura interior são de dois tipos. O primeiro
apenas perdura por curto tempo, é muito grande e às vezes se estende para além
dos limites da aura exterior; esses são os raios que já discutimos. O segundo
também é temporário, mas de maior duração; ocasionalmente, pode perdurar
semanas inteiras ou mesmo meses. Uma boa ilustração dessa condição se pode
ver na frente do abdômen durante o estado de gravidez.
Crescimentos patológicos da aura interior indubitavelmente ocorrem, como
no Caso 68. Sempre que a aura interior pareça mais ampla localmente e a textura
não tenha sido bastante alterada para abolir o estriamento em toda a sua
amplitude, não pode haver dúvida que um aumento real está presente. Ao mesmo
tempo, a aura exterior provavelmente também mostrará algum crescimento.
Em muitos casos a extensão da aura inferior é apenas ilusória e resultado de
uma alteração na aura exterior adjacente; em consequência é necessário levar em
consideração a estrutura dessa aura quando se estima a medida do interior.
Durante o estado de saúde a porção da aura exterior situada logo ao lado do
interior tem grânulos maiores do que as partes mais distantes. As camadas de
grânulos de diferentes tamanhos imperceptivelmente se fundem umas nas outras.
Quando surge um distúrbio local na aura interior levando-a a tornar-se granulosa,
os grãos do exterior provavelmente serão igualmente afetados em menor grau. A
proporção que a avaria da aura interior progride, ocorre pari passu uma mudança
no exterior, o que frequentemente se pode verificar pelas alterações cromáticas
nas faixas de c.c. sobre as porções afeta- das. Além do mais, a aplicação no
paciente de eletricidade estática será, às vezes, de alguma ajuda na determinação
da verdadeira amplitude da aura interior e, consequentemente, da extensão da
avaria do exterior, já que esse procedimento faz a interior desaparecer antes do
exterior, deixando um espaço vazio. Entretanto, nem sempre é fácil decidir se
houve um aumento de uma das auras a expensas da outra.
O seguinte caso proporciona uma ilustração muito boa de uma mudança
similar afetando ambas as auras, em resultado da qual a aura interior pareceu
ampliada; e da separação das duas auras mediante a ajuda da eletricidade está-
tica. Há, além disso, outras peculiaridades que tornam o caso digno de menção.
 
 
Caso 69. (Figura 54.)
 
I. W., uma jovem de vinte anos foi ultimamente examinada. Doze meses
antes, tivera um ataque de gripe complicado por pleurisia, do lado esquerdo, e
subsequentemente sofrera uma operação devido a empiema. Alguns meses mais
tarde, glândulas de tamanho aumentado foram removidas do lado direito de seu
pescoço. Aos onze anos, fora internada em um hospital, com paralisia em ambas
as pernas, de onde saiu após ser o seu caso considerado incurável; mas dois dias
depois de voltar ao lar, ela subitamente readquiriu o uso das pernas.
 

 
Por ocasião de seu exame, ambas as auras eram normais quanto à distinção.
A exterior era espatulada, um tanto larga, dez polegadas dos lados da cabeça,
onze junto ao tronco, seis nas coxas e cinco nos tornozelos. A curva interior era
abrupta, e logo abaixo do nível do corpo. A aura interior sobre o lado direito do
pescoço mostrava um espaço vazio de uma boa polegada de largura, e a restante
era grosseiramente granulada. Isto ocorreu sobre o local das glândulas enfermas.
Sobre o resto do lado direito do corpo, a aura era natural, e seu estriamento
claramente definido. Do lado esquerdo, desde a axila até o meio da coxa a aura
era grosseiramente granulada, ao passo que, junto ao pescoço e à perna, era
normal. A aura interior do lado esquerdo do tronco parecia ter seis polegadas de
largura, mas, sobre o resto do corpo, incluindo a porção afetada à direita, não
media mais que três. Tinha-se como certo que a aura granulada ampla do lado
esquerdo incluísse uma porção da aura exterior. Mais tarde, quando a paciente
sobre o banco eletricamente isolado recebeu uma carga positiva suficientemente
grande para fazer a aura interior desaparecer, mas não o bastante para eliminar a
aura exterior, o espaço vazio pôde ser visto melhor e tinha a mesma largura que a
aura interior em outros pontos, a saber, três polegadas, ficando assim provado que
a aura exterior, até uma profundidade de três polegadas, participava da mesma
alteração granular. Com uma carga maior observou-se que a aura exterior
granulada foi a última a desaparecer.
A faixa de c.c. também apresentou algumas anormalidades. Em primeiro
lugar, todo o lado esquerdo desde o nível da clavícula para baixo pare- cia mais
escuro do que o lado direito. Esse aprofundamento da cor começava no meio da
coluna, nas costas e se estendia em redor até a frente, aproximadamente uma
polegada à esquerda da linha mediana. Enquanto a jovem estava de frente para
nós, a extensão direita da faixa de c.c. era normal, ao passo que a extensão
esquerda parecia mais escura, mas era difícil obter a cor verdadeira já que a faixa
foi projetada sobre a própria aura num plano em frente do tronco, e parecia
mesclada com os grânulos. Este era um caso unilateral de um fenômeno já
mencionado. (Página 125.) Um ponto escuro também foi detectado sobre a nuca.
Para resumir, a aura interior não varia de forma e tamanho na mesma
extensão do exterior, e as principais alterações mórbidas se manifestam como
alterações de substância. Fica claro, a partir dos casos citados, que variações de
forma e tamanho na aura exterior ocorrem extensamente e com frequência, ao
passo que, em geral, as modificações estruturais são ou tão leves ou tão delicadas
que chegam a ser quase imperceptíveis.
Nada mais se pode dizer sobre a cor de uma aura vista sem o auxílio de telas.
As cores são, em sua maioria, limitadas ao azul ou cinza, ou a misturas dessas
duas cores em diferentes proporções. O temperamento e os poderes mentais
parecem ter mais importância nesse sentido do que as mudanças temporárias no
estado de saúde. Na tabela seguinte, compilada com base na primeira centena de
exames feitos, as auras foram classificadas segundo suas cores sob os diversos
títulos. I. Auras azuis. II. Auras azul-acinzentados. III. Auras cinzentas. (NB. - A
Tabela originalmente publicada na primeira edição deste livro foi mantida
inalterada, já que a maioria maciça das pessoas examinadas desde então estava
enferma.)
 
 

 
Nos sete casos restantes, não se tomou nota das cores das auras. Esta Tabela
mostra conclusivamente que os indivíduos dotados de auras azuis são, em geral,
mais bem-dotados intelectualmente.
Uma aura congenitamente cinzenta indica uma deficiência das faculdades
mentais, mas não ficou claro se a perda de capacidade cerebral através de
enfermidade mudaria a cor da aura para cinza, o que não parece improvável. N.B.
É bom lembrar que em todos os casos as cores das auras são - fracas e delicadas.
 
 
 
 
 
 
Capítulo IX
 

O USO DAS FAIXAS DE COR COMPLEMENTAR NA


ENFERMIDADE
 
A teoria das faixas de cor complementar já foi discutida em capítulo anterior.
Ainda resta considerar o uso prático dessas faixas, tanto na situação de saúde
como na de doença. A exemplo da maioria de métodos científicos de pesquisa,
uma certa dose de proficiência, que só a prática pode proporcionar, é necessária.
Depois que a técnica tenha sido dominada com a ajuda das instruções
anteriormente ministradas, surgem dificuldades de interpretação. É essencial
adquirir destreza para reconhecer rapidamente as alterações dos matizes, não só
para poupar tempo mas também para prevenir o esforço excessivo dos olhos.
Logo que os olhos tenham sido suficientemente (mas não em excesso) fatigados
pela cor, o primeiro relance é o mais sensível a qual- quer leve alteração da faixa
de c.c., e quanto mais puder ser então percebido melhor; depois, enquanto a
imagem está mudando de cor, e não quando a cor for constante, surge a segunda
melhor oportunidade para notar modificações. Quanto mais habitualmente a faixa
for empregada, mais numerosas serão as variações reconhecidas. O melhor que se
pode esperar neste capítulo é poder dar alguma pequena ajuda a outros
pesquisadores do mesmo tema, pois somente a experiência pode fornecer o
necessário conhecimento.
Geralmente, não é aconselhável, ainda que fosse possível, examinar todo o
corpo minuciosamente numa única sessão, especialmente se for necessário
empregar várias cores complementares, pois os olhos do observador ficam
fatigados e, portanto, incapazes de apreciar as diferenças mais leves, Felizmente,
raramente é necessário usar todas as faixas de c.c. sobre todo o corpo, e o
procedimento em muitos exames pode ser consideravelmente abreviado, se o
histórico do paciente for bastante detalhado para dirigir atenção imediata ao
órgão ou parte do corpo efetivamente afetada. Outrossim, enquanto a forma e as
características gerais da aura estão sendo investigadas, anormalidades podem
atrair atenção e apontar para a posição de uma avaria que necessite de exame
mediante a ajuda das faixas de c.c. As seguintes observações, salvo indicação em
contrário, referem-se à faixa de c.c. azul, como nos capítulos anteriores.
A cor da faixa de c.c. quando usada verticalmente sobre o tórax e o abdômen
de homens e crianças saudáveis será uniforme em toda sua extensão, a menos que
haja alguma irregularidade na pigmentação da pele. O que acabamos de dizer
nem sempre se aplica a meninas acima da idade da puberdade, e raramente a
mulheres adultas com menos de cinquenta anos, em que a cor, às vezes, será toda
uniformemente distribuída, ao passo que, outras vezes, terá um matiz mais escuro
a uma distância curta de sob o umbigo para baixo, sobre a parte inferior do
abdômen. A região em que essa mudança se torna mais acentuada está
aproximadamente a três polegadas acima do púbis. Esta modificação, como se
observará, coincide com as atividades mensais dos órgãos sexuais.
Uma de três condições é indicada por uma faixa de c.c. vertical
monocromática sobre todo o abdômen da mulher: (1) mais comumente, que o
último período menstrual terminou há não menos do que três ou quatro dias, ou
que o próximo não ocorrerá dentro de quatro ou cinco dias; (2) amenorreia; (3)
gravidez. Com a aproximação do período menstrual, a faixa de c.c. se escurecerá
mais embaixo, a princípio ligeiramente, e, depois, à medida que o tempo se
aproxima, mais profundamente. A cor progride de um matiz mais claro para um
mais escuro imperceptivelmente, sem nenhuma linha de demarcação definida, de
modo que o melhor jeito de fazer uma comparação é entre partes distantes da
faixa. Esse aprofundamento gradativo de cor é de grande importância, pois, em
geral, serve para discriminar entre uma alteração incidental própria das funções
sexuais naturais e outra que se deveria atribuir a avarias dos órgãos abdominais e
pélvicos.
O escurecimento da faixa de c.c. na parte inferior do abdômen devido a
outras causas é, por vezes, um impedimento intransponível aos cálculos relativos
aos períodos menstruais. Às vezes, é preciso dar um desconto para a pigmentação
sobre essa parte do corpo se a paciente já foi mãe, mas, em geral, não há
dificuldade de grande monta quando se tem o devido cuidado. Um caso
interessante relacionado a esse assunto é o de uma mulher com trinta e três anos
de idade que manifestou um escurecimento incipiente da faixa de c.c. logo acima
do púbis. Informada de que podia esperar seu próximo período menstrual para os
próximos seis ou sete dias, ela respondeu que ainda faltavam aproximadamente
quinze dias. No entanto, em nossa sessão seguinte ela subitamente exclamou:
"Lembra-se que me disse que minha menstruação ocorreria perto de uma semana
depois de nossa última sessão? Bem, aconteceu sete dias depois, ou seja, uma
semana mais cedo do que estava previsto."
Em outra ocasião, uma jovem esperava menstruar nos próximos três ou
quatro dias. Em relação a ela, não houve alteração de cor na faixa acima da
região púbica. Viemos saber depois que suas regras se atrasaram por uma
semana.
Em geral, a obtenção de tal informação sobre as funções sexuais não tem
importância e ocorre quando outras observações são feitas, porquanto durante a
mesma projeção da faixa, todas as modificações de cor nas diferentes partes de
sua extensão e seus limites podem ser certificados, podendo-se também notar se
as mudanças são gradativas ou abruptas, e se a linha de demarcação é nítida. A
faixa será bastante ampla, na maioria dos casos, para o observador determinar
quaisquer diferenças de cor que ocorram nas duas metades laterais do corpo, bem
como notar aproximadamente sua posição. Subsequentemente, a faixa transversal
deve ser empregada para verificar todas as minúcias. Esta última faixa tem a
vantagem, sobre a vertical, de que, durante a maior parte do exame, apenas a
porção central precisa ser usada, facilitando a observação e tornando-a mais livre
de erros do que quando os extremos têm que ser usados. Os Casos 49 e 71,
Figuras 43 e 56, são instrutivos e servirão de exemplo. No primeiro caso, quando
a faixa de c.c. foi empregada vertical- mente ao longo do meio do tórax e do
abdômen, o lado esquerdo daquele, ao que se observou, era mais claro que o
direito, por considerável distância, e a margem superior da porção descorada
situava-se na face superior da mama, ao passo que o bordo inferior estava sobre a
parte inferior do esterno. A linha de demarcação era nítida, correspondendo à
linha mediana do corpo. Mais abaixo, a faixa sobre o abdômen revelou uma
pequena mancha de matiz diferente, na margem extrema direita, um pouco acima
do nível do umbigo. Isso dava uma valiosa indicação para maiores investigações
com a faixa de c.c. transversalmente, cujo resultado já foi descrito alhures.
Quando o observador começa a examinar a coluna vertebral com as faixas de
c.c., verificará que é vantajoso dividir o exame em partes, já que raramente a
faixa é bastante longa para cobrir simultaneamente todo o espaço. Antes de
começar, será prudente levar particularmente em conta a cor da pele sobre as
vértebras, onde tem de hábito um matiz diferente das partes ad- jacentes da
epiderme. Esta pode ser uma pigmentação natural, ou uma alteração de cor
produzida pela constante pressão das roupas. Logo que o observa- dor olhe para a
coluna, ele com toda a probabilidade constatará alguma variação no matiz da
faixa de c.c. se estiver presente alguma avaria. A irregularidade mais comum
exibida nas costas são manchas vistas sobre a própria coluna, mais claras, mais
escuras, ou de diferente cor, conforme o caso. Essas manchas podem estar
situadas em qualquer parte ao longo de toda sua extensão, mas, com mais
frequência, situam-se entre as duas vértebras lombares inferiores e o sacro, nas
mulheres, onde a cor da faixa constantemente se altera. A razão disso já foi
enunciada. Duas outras posições comuns são entre a vértebra dorsal inferior e a
lombar superior, bem como entre a sétima cervical e dorsal superior. Aqui,
usualmente, algum matiz do amarelo, ou então um matiz mais claro da faixa de
c.c. é geralmente visto, mas, sobre o sacro, o matiz é escuro ou a cor
frequentemente se aproxima do ocre. Não é incomum encontrar duas ou mais
manchas coloridas no mesmo paciente. Outra anormalidade bastante frequente é
o aparecimento de uma estria colorida ao lado da coluna vertebral, ao passo que a
aura sobre a própria coluna permanece natural.
Tais manchas são invariavelmente acompanhadas de dor ou
hipersensibilidade, não necessariamente apenas na época do exame, pois podem-
se passar até semanas antes que as marcas de dor finalmente desapareçam. Um
bom exemplo dessa ocorrência foi apresentado na página 187. Uma mancha na
espinha dorsal, ou perto dela, de cor amarelo-claro, ou de um matiz mais claro
que o resto da faixa, é sinal de que não há mal orgânico, e quase sempre que a
causa é apenas temporária, não raro tendo origem nervosa. As manchas mais
escuras e aquelas cuja cor tenda para o ocre parecem indicar distúrbios mais
importantes ou prolongados.
O caso seguinte é interessante como ilustração das observações que
acabamos de fazer, e também revela um tipo de aura histérica. Caso 70. (Figura
55.) S., uma mulher casada de vinte e oito anos de idade, sem filhos, queixou-se
de vomitar durante as seis semanas anteriores ao exame, problema que se
agravava com qualquer preocupação, e foi examinada pela primeira vez em 1910.
 

 
Por três meses, estivera emagrecendo. Suas menstruações eram regulares.
Sofria ocasionalmente de globus hystericus. Seu tórax tinha forma peculiar, era
plano e a saliência do esterno ficava na altura dos mamilos, embora os seios não
fossem suspensos. Havia sensibilidade exagerada no epigastro, onde qualquer
pressão induzia dor entre os ombros. A aura média dez polegadas em torno da
cabeça, e a mesma largura dos lados do tronco, mas ela abruptamente se
encurvava para dentro, um pouco abaixo do nível do púbis, contraindo-se
rapidamente. Era um espécime típico de aura espatulada. A aura exterior mal
atingia o padrão normal de distinção. Uma vista lateral desvendou uma
protuberância nas costas, na região lombar, com aproximadamente oito polegadas
de profundidade, que se inclinava para o interior a uma curta distância abaixo das
nádegas, nível a partir do qual se contraía rapidamente até sua extensão total. Ao
longo de toda a frente do corpo e dos membros, media cerca de quatro polegadas
de largura. aura interior media aproximadamente duas polegadas e meia de
largura, por todo o corpo. Havia raios fracos que procediam de cada ombro e se
projetavam para cima, e outro perpendicular às costelas inferiores direitas. Entre
as quarta e quinta vértebras lombares e o sacro, a aura interior era granulada, e a
aura exterior adjacente participava da mesma alteração. A faixa de c.c. era
uniforme sobre todo o tórax e o abdômen; nas costas, a faixa mostrava, a cerca de
um palmo em pararelo com a espinha, uma listra do lado esquerdo, de cor mais
clara, alcançando desde a terceira vértebra dorsal até a nona, tendo todas as suas
margens distintamente definidas. Este caso foi considerado de vômito nervoso e
como tal foi tratado.
Perdemo-la de vista por três anos, pois deixara Londres, mas depois voltou
com um novo conjunto de sintomas. Permanecera com boa saúde durante dois
anos, sem manifestar seu velho sintoma. Durante os cinco ou seis últimos meses,
porém, estava emagrecendo, e, por ocasião de seu exame, pesava apenas 41
quilos. Todos os seus novos sintomas indicavam bócio exof-tálmico leve aumento
de tamanho da glândula tiróide - proeminência dos olhos, especialmente do
esquerdo, o bastante para seus amigos lhe chamarem a atenção, rapidez da
pulsação e palpitação, geralmente quando se encontrava na cama, debilitamento
físico e nervosismo, tremores dos membros, particularmente da mão e perna
direitas, sensações estranhas em várias partes do corpo. Também tinha dores do
lado direito do tórax, culminando na extremidade da décima primeira costela.
O exame revelou que ambas as auras eram distintas. As medidas da exterior
eram idênticas às obtidas em exame anterior. A interior tinha a mesma largura
que antes, e era estriada pela maior parte do corpo, exceto do lado direito do
tórax e sobre o sacro, onde era grosseiramente granulada. Do lado esquerdo do
tórax desaparecera perto do corpo, deixando um espaço vazio de
aproximadamente meia polegada de largura. De ambos os lados do pescoço, mais
especialmente do direito, era finamente granulada. A faixa de c.c. revelou uma
mancha escura sobre a coluna, entre a quinta e a nona vértebras, outra sobre o
sacro, ao passo que, na frente, havia uma terceira sobre as costelas direitas
inferiores. Todos esses pontos estavam hipersensíveis. As extensões junto aos
lados do pescoço tinha um matiz mais escuro que em outras partes.
Será interessante comparar essa paciente com outra mulher que tinha sido
acometida da doença de Graves durante alguns anos e estivera sob trata- mento
em diferentes hospitais.
 
 
Caso 71. (Figuras 56 a 58.)
 
K., uma mulher de trinta e sete anos de idade, mãe de dois filhos, foi
examinada em 1911. Até seu casamento, ela fora delicada, mas nunca exibira
sinais de histeria. Entre quatro e cinco anos antes, sua doença fora diagnosticada
como bócio exoftálmico. Por ocasião do exame, seus sintomas eram: leve
aumento de tamanho da glândula tiroide, olhos protuberantes, pulso regular,
ausência de palpitação e grande nervosismo. Ela não se sentia tão forte quanto há
algum tempo atrás, e estava deprimida. Uma semana antes do exame, uma séria
tempestade de trovões a apavorara e, imediatamente depois, sentira uma sensação
peculiar nas coxas e pernas, sendo a coxa esquerda a pior. Essa impressão,
bastante singular, prosseguiu por várias semanas antes de desaparecer por
completo.
 

 
Sua aura era de cor azul-acinzentado e tinha boa forma e tamanho. A aura
exterior media nove polegadas junto à cabeça e ao tronco, reduzindo-se para três
na altura dos tornozelos. Uma vista lateral a revelava como tendo cinco
polegadas na frente, sete nas costas, sem nenhuma protuberância, e três polegadas
de largura junto às pernas. Era grosseiramente estriada junto ao pescoço, do lado
direito, e em menor grau do esquerdo. Na parte inferior do tórax, do lado
esquerdo, era grosseiramente granulada; a não ser por isso, o estriamento era
natural por sobre todo o corpo. Quando ela se postou de lado, um raio foi visto
procedente da décima segunda vértebra dorsal. Esse raio produziu uma mancha
escura quando examinado com a faixa de c.c. Mais adiante, durante a
investigação, o raio desapareceu, e o local foi examinado uma segunda vez com a
faixa de c.c., quando a mancha escura tinha, como se verificou, desaparecido por
inteiro. Isso era indício conclusivo de que um raio e uma mancha podiam ter uma
causa subjacente comum. Além do mais, havia uma grande área escura entre as
vértebras lombares inferiores e a parte superior do sacro. Na frente, a faixa exibia
uma mancha clara sobre o hipocondrio esquerdo. A faixa era de um matiz muito
mais profundo sobre as coxas e pernas, sendo o seu ponto mais escuro os lugares
onde as sensações atingiam o ponto máximo. O sombreado nas figuras é
proporcional à profundidade da cor.
Ela foi examinada uma segunda vez no mês de fevereiro seguinte. Embora
os membros inferiores estivessem livres das sensações peculiares, o lado direito
do tórax não foi atacado.
Nenhuma das auras mostrou qualquer alteração de tamanho ou de forma
desde o exame anterior. Contudo, a faixa de c.c. estava escurecida por todo o lado
direito do tórax. As linhas internas de demarcação entre as cores normais e
anormais eram as linhas verticais atrás e na frente. A coxa esquerda ainda tinha
seu matiz aprofundado pela faixa de c.c., mas não no mesmo grau anterior. Isto
era, evidentemente, uma continuação da condição anterior.
Logo após esse exame, a paciente ficou grávida, e durante esse estado sua
saúde melhorou bastante. Em outubro de 1912, ela foi examinada uma terceira
vez. A única mudança na sua forma foi, como se seria de se esperar, na frente do
abdômen. Aí, a aura exterior média sete polegadas e meia, ao passo que a interior
tinha três e meia; ambas eram cônicas. Nesse caso, a gravidez levou a aura
exterior a diminuir de nitidez em pequeno grau, ao passo que a aura interior foi
mais afetada, perdendo grande parte de sua clareza. Só com dificuldade podia ser
notado o estriamento. Em fins de dezembro, ela deu à luz uma menina saudável;
tanto a mãe como a filha passaram bem. Logo depois disso, ela se mudou para
outro bairro.
Com nossos atuais meios imperfeitos de investigação, o observador não deve
esperar ver descoloração da faixa de c.c. sobre todo local doloroso ou
hipersensível de que o paciente se queixe. Algumas dessas manchas são tão
distintas que mesmo um relance de olhos as detectará, ao passo que outras
diferem do resto das faixas de c.c. tão ligeiramente que é preciso ter vista aguda e
olho treinado para isolá-las. Com a prática, um maior número dessas manchas
descoradas será descoberto.
Não é, de modo algum, fácil compreender por que alguns distúrbios locais
induzem suficiente mudança na aura para produzir uma alteração cromática nas
faixas de c.c., ao passo que outras, aparentemente similares em tudo, dão
resultados negativos. A intensidade do distúrbio, especialmente se for agudo,
parece ser um dos principais fatores responsáveis pela mudança áurica. É
instrutivo observar que essas manchas descoradas nas faixas de c.c. projetadas
sobre a coluna vertebral não são tão comuns entre os homens como entre as
mulheres, e são especialmente marcadas entre mulheres histéricas, nervosas e
excitáveis.
Logo que o exame por meio das faixas de c.c., quando usadas verticalmente,
for concluído, tendo-se observado na medida do possível as posições de
anormalidades locais, a faixa transversal completará toda a informação a ser
colhida por esse método. Ela possibilitará ao investigador examinar os dois lados
do corpo, e com a mesma projeção observar se uma das extensões foi afetada. Via
de regra, ver-se-á que a faixa é bastante larga para incluir a totalidade da área do
distúrbio, mas ocasionalmente serão necessárias ulteriores observações. Isto
também representará a melhor oportunidade de verificar se uma mancha
descorada se alastra sobre toda a largura do corpo, ou só sobre uma porção
limitada, e também de determinar se está situada, totalmente, num lado da linha
mediana, ou a cruza, ou se ela é apenas uma pequena área circundada pela faixa
de c.c. inalterada. Uma grande área cronicamente afetada tem em geral uma cor
profunda, mas as exceções não são nada raras, veja os exemplos representados
pelos Casos 49 e 69. Embora grandes manchas possam ser descobertas em
qualquer parte do corpo, elas ocorrem com mais frequência em alguns pontos do
que em outros. Uma localização comum é sobre as regiões do hipocondrio e do
epigastro. O caso seguinte é uma boa ilustração e demonstra a extensão de tempo
que uma alteração pode perdurar, já que o intervalo entre a primeira e a última
inspeção foi de mais de cinco anos.
 
 
Caso 72.
 
Uma mulher sem filhos, que estivera casada por vários anos, sofria há mais
de doze meses de dor no estômago, a qual aumentava após as refeições e, em
geral, só era aliviada pelo vômito. Estava constantemente nauseada, tinha excesso
de acidez mas não hematêmese. O medo da dor, que ela descreveu como
angustiante, impedia-a de alimentar-se adequadamente; por consequência, estava
emaciada, fraca e anémica. Com base nesses e em outros sintomas, diagnosticou-
se úlcera do estômago, e, sob tratamento, ela melhorou gradualmente e passou a
convalescer. Quando foi examinada pela primeira vez, em 1909, sua aura tinha a
cor azul, e media mais de oito polegadas junto à cabeça e dos lados do tronco, e
quatro junto das pernas. Na frente, media quatro polegadas de largura e, nas
costas, quase seis na região lombar, sendo reta ao longo de todo o corpo. Tinha
boa forma. A aura interior media duas polegadas e meia de largura. Havia vários
raios projetados de diferentes partes do corpo, um de cada ombro, um de cada
flanco, e, do lado direito, um deles fluía para baixo. Quando ela se pôs de lado,
um sexto raio foi observado emanando das vértebras lombares inferiores para
cima e para fora. A faixa de c.c. não revelou manchas nas costas. Na frente, uma
área es- cura sobre o epigastro estava presente, com sua borda superior no plano
esterno-xifóide, e a inferior duas polegadas acima do umbigo; a margem interna
estava na linha mediana, e a margem externa do lado do tronco. Esta área era
várias vezes mais escura que o resto da faixa, e a extensão esquerda era mais
escura do que a direita.
Infelizmente, após estar durante alguns meses aparentemente bem, ela teve
uma recaída em janeiro de 1910, e como não podia ter a atenção adequada no lar,
deu entrada num hospital, para tratamento. Finalmente, recebeu alta e estava
curada, já que não tinha mais dores e podia ingerir alimento sólido sem
problemas. Logo após seu regresso ao lar, foi de novo examinada. Não havia
diferença em sua aura exterior, mas a interior estava granulada do lado esquerdo,
desde a linha do mamilo até a crista ilíaca, na frente, atrás e do lado. Quando a
faixa de c.c. transversal foi usada sobre essa parte do corpo, a grande mancha
descorada pôde ser vista distintamente, mas talvez não fosse tão nítida quanto já
o fora antes. A extensão ainda permanecia mais escura que do lado direito.
Havia duas manchas descoradas nas costas, uma do lado direito da terceira e
quarta vértebras dorsais, onde anteriormente ela sentira dores. A segunda mancha
se localizava sobre as vértebras lombares inferiores. O autor acredita que essas
manchas possam ter estado presentes por ocasião do primeiro exame, mas, como
ele não era tão proficiente no uso das faixas de c.c. como veio a estar depois,
simplesmente não deu por elas.
Em 1914, sua aura foi examinada uma terceira vez. Não reapareceu nenhum
sintoma de úlcera. Embora com saúde razoável, ela nunca recuperou sua força
por completo, e ultimamente vinha se sentindo esgotada. O tamanho e a forma
das auras permaneciam inalterados. Junto às costelas inferiores, do lado
esquerdo, havia um espaço vazio entre a aura interior e o corpo, mas podia-se
distinguir estriamento na porção contraída. Com a faixa de c.c., a mesma mancha
escura sobre o epigastro ainda existia, mas tinha-se alterado, tanto que a porção
escura tinha diminuído de largura, e a parte superior tornara-se de cor mais clara.
Este foi um dos poucos casos já vistos em que uma mancha escura se tornou mais
clara, e a mudança foi extremamente interessante, já que provavelmente
representava o primeiro passo no sentido do desaparecimento completo.
Outro exemplo a respeito do qual seria supérfluo entrar em detalhes, pois é
muito semelhante ao anterior, é o de uma mulher solteira, de vinte e nove anos,
que nos foi trazida pelo Dr. Merrick. O seu exame com auxílio da faixa de c.c.
revelou que a área abdominal afetada era quase idêntica à do último caso, mas
havia uma importante diferença, a saber, que a cor da mancha era mais clara e
não mais escura do que o restante da faixa. Tendo a experiência nos ensinado que
manchas de cor clara geralmente indicam algum distúrbio temporário,
exprimimos a opinião de que a enfermidade da paciente era leve e passageira, o
que se confirmou. Mas é necessário aqui uma palavra de explicação. O autor
intencionalmente deixara de investigar esse caso da maneira ordinária, pois isso
já tinha sido feito pelo Dr. Merrick, e isso foi considerado um teste do valor das
mudanças áuricas.
Esses dois casos são instrutivos, pois neles a faixa de c.c. apresentou efeitos
cromáticos diretamente opostos, embora as regiões em observação fossem as
mesmas em ambos. No último exemplo, qualquer que tenha sido a enfermidade,
havia, com toda probabilidade, um elemento nervoso em ação, e com toda certeza
o distúrbio era inteiramente funcional. No caso anterior, a mulher sofria de
gastrite crônica, com as correspondentes alterações tecidulares.
Alterações análogas podem ocorrer sobre o hipocôndrio direito e em geral
também são limitadas pela linha mediana do corpo. A margem superior situa-se
em geral próxima do nível do plano esterno-xifóide, ao passo que o limite inferior
situa-se perto do nível do plano costal. Esses limites são apenas aproximados, e
constantemente ocorrem variações. Quando se vê uma mancha nessa localização,
um acompanhamento invariável é hipersensibilidade do fígado, com ou sem
hiperestesia superficial. Pessoas dadas à bebida alcoólica em demasia, quase sem
exceção, apresentam essa mancha, a qual, em tais casos, é escura e geralmente
está associada a outra mancha descorada sobre o epigastro. Essas duas manchas
podem se juntar e compor uma única mancha grande. Ocasionalmente, quando a
faixa de c.c. exibe a grande mancha escura que acabamos de mencionar, uma
pequena área ainda mais escura ou outra de matiz diferente pode ser avistada
dentro dela. Essa mancha escura menor é invariavelmente de grande importância,
pois, através dela, a presença de doença maligna, antes de ter sido detectada por
meios ordinários, foi descoberta; diagnóstico que, infelizmente para a paciente, se
revelou correto.
 
 
Caso 73. (Figura 59.)
 
I., uma mulher casada com sessenta e quatro anos de idade, que sempre fora
frágil, teve seu seio removido em 1901. Era gotosa e por cinco anos padecera o
martírio de nevralgia da face e do pescoço, consequência de herpes-zoster. Em
dezembro de 1911, passou a emagrecer rapidamente e sentia dor no abdômen,
começando de um quarto de hora a meia hora após as refeições e durando de uma
hora a uma hora e meia, com vômitos frequentes. Esses e outros sintomas deram
origem à suspeita de câncer, e previa-se que a sede do mal residiria no piloro.
Buscamos repetidamente um tumor, mas não encontramos nenhum. Um amigo
médico gentilmente viu a paciente e manifestou a convicção de que a doença
maligna estava ali presente, mas também foi incapaz de localizar a sede do
problema. Nessa ocasião, ela estava obrigada a guardar o leito.
Aproximadamente dez dias depois, quando melhorou um pouco, veio a nós para
ter sua aura examinada.
 

 
 
A aura exterior era nítida, de bom tamanho e de cor azul-acinzentado. Media
oito polegadas em torno da cabeça e dos lados do tronco, e quatro junto às
pernas, enquanto estava de frente para o observador. Quando se postou de lado,
media quatro polegadas junto às costas e à frente do corpo, exceto na região
lombar, onde média seis. A aura interior, que não era tão nítida como deveria ser
se a paciente gozasse de boa saúde, media duas polegadas e meia de largura por
todo o corpo, e era fracamente estriada. A faixa de c.c. era uniforme por sobre
todo o corpo, exceto na frente do lado direito, desde o plano do piloro até o nível
do umbigo onde havia uma mancha escura limitada pela linha mediana, ao passo
que, do lado direito, ia até onde se podia ver. Havia uma mancha ainda mais
escura logo acima da nona cartilagem costal. Sobre o epigastro, a faixa de c.c.
exibia uma mancha de cor clara. Fez- se o diagnóstico de tumor perto da vesícula
biliar.
Ela apresentou melhoras durante um curto espaço de tempo e foi para o
campo em busca de melhores ares. No final de maio de 1912, ela voltou para o
lar, já que subitamente revelou icterícia. O exame do abdômen desvendou um
tumor duro, do tamanho aproximado de um ovo de pomba, que se podia sentir
perto da vesícula, exatamente no ponto em que a mancha escura fora
anteriormente observada. O tumor cresceu rapidamente, e outros nódulos também
logo apareceram. Ela sobreviveu apenas cinco meses.
Como uma antítese desse caso, uma mulher pediu-nos que lhe
examinássemos a mãe, pois esta já tivera câncer no fígado.
 
 
Caso 74.
 
N., uma mulher com setenta e três anos de idade, foi examinada em
dezembro de 1914, sem que lhe dirigíssemos nenhuma pergunta. A cor de sua
aura parecia de um azul-esverdeado, com uma mistura de branco uma aparência
incomum. A aura exterior correspondia bem ao padrão médio de nitidez, e tinha
boa forma. Media nove polegadas em torno da cabeça, oito no tronco e quatro
junto aos tornozelos. Na frente, tinha quatro polegadas e nas costas, sete no ponto
mais largo. A aura interior não alcançava o padrão de clareza próprio da condição
de boa saúde, mas, com um pouco de dificuldade, podia-se distinguir
estriamento, e em nenhum lugar exibia ela o mais leve sinal de ser granulada.
Quando a faixa de c.c. foi empregada sobre o pescoço, uma pequena mancha foi
percebida do lado esquerdo, ao lado, mas acima das terceira e quarta vértebras
dorsais, levemente mais escura que o restante da faixa. Na frente, só havia uma
mancha fraca de aproximadamente duas polegadas e meia por duas, logo acima
da vesícula. As outras faixas de c.c. não auxiliaram em nada.
Levando em consideração que a aura era saudável e que as alterações
reveladas pelas faixas de c.c. eram insignificantes, o autor ficou convencido de
que não havia tumor maligno. A palpação revelou a presença de cálculos bi-
liares. A paciente então forneceu o seguinte histórico: vinha sofrendo de acessos
de náuseas já há vários anos, e nos últimos três anos vinha emagrecendo. Havia
dor e hipersensibilidade sobre a vesícula. Dois anos antes, dera entrada num
hospital, quando lhe fora recomendada uma cirurgia para, segundo acreditava, a
remoção de cálculos. Ela não permitiu que a fizessem, temerosa por causa de sua
idade. Em resultado do exame, foi aconselhada a ir imediatamente consultar um
cirurgião. Nesse caso, a aura não desvendou nenhum fato que não pudesse ter
sido verificado facilmente por métodos ordinários de exame, mas é interessante
por isso mesmo.
O exame da aura tem sido o meio de tranquilizar não poucas pessoas que
vieram a nós com a impressão de estarem padecendo de câncer.
Outra localização comum para uma mancha descorada é sobre uma e às
vezes ambas as virilhas em mulheres, na maioria com mais de vinte e cinco anos
de idade. Em nenhum caso foi registrada uma mancha sobre uma única virilha
num homem, mas em alguns casos têm sido encontradas faixas escuras
estendendo-se transversalmente sobre a parte mais baixa do abdômen. As
margens superiores raramente alcançam as saliências antero-superiores do osso
ilíaco.
A cor dessas manchas pode ser mais escura ou mais clara, ou de diferente
matiz em relação ao resto da faixa de c.c., e, se houver duas manchas, uma em
cada virilha, raramente serão do mesmo matiz, mas se elas se junta- rem e
formarem um cinto completo transversalmente à parte mais baixa do abdômen,
então a cor será geralmente uniforme em toda a sua extensão. Após tabular os
diferentes casos, verificamos que sessenta por cento dessas áreas descoradas
ficavam do lado esquerdo, cerca de vinte e cinco por cento do lado direito, e o
restante dos dois lados, enquanto que, destas últimas, perto da metade unia-se no
centro.
Essas manchas são invariavelmente diagnósticos de dor ou
hipersensibilidade e, de acordo com a profundidade de seu matiz, esses sintomas
variam de intensidade. Costumam ser acompanhados por locais descoloridos em
outras partes do corpo. Sua posição nas mulheres é suficiente para tornar
provável que possam ter alguma conexão com os órgãos genitais. e, se assim for,
são mais comumente associadas com a atividade ou com um distúrbio funcional
dos ovários. Desse ponto de vista, o caso seguinte é muito instrutivo.
 
 
Caso 75.
 
A Sra. N., de quarenta anos, teve sua aura examinada durante o outono de
1918. A exterior era proporcionalmente um tanto estreita em torno da cabeça; a
não ser por isso, tinha boa forma e não exibia anormalidade. Media nove
polegadas em volta da cabeça, dez e meia junto ao tronco, seis nas coxas, quatro
e meia junto aos tornozelos e tinha a mesma largura nas costas, na altura dos
ombros e das nádegas, descendo em linha reta da cabeça aos pés. O estriamento
da aura interior era visível por todo o corpo, mas do lado esquerdo do tronco e na
região lombar era grosseira. Nenhuma de suas auras atingia o padrão adequado
de distinção para uma pessoa com saúde perfeita. Com a faixa de c.c., uma
mancha escura foi observada sobre o sacro, e, na frente, havia uma em cada
virilha. A do lado direito estendia-se até a crista do ilíaco e continuava para
baixo, mas com menor profundidade de cor até o meio da coxa. Na virilha
esquerda, a mancha era menor e não tão nítida, e não havia escurecimento da
faixa sobre a coxa. Além dessas, ela apresentava outras áreas descoradas, uma do
lado esquerdo das vértebras dorsais, outra sobre o epigastro e uma terceira sobre
o hipocondrio direito. Estas podem ser desprezadas, pois não são importantes
para nosso atual propósito. Além da aura exterior, que é universal depois de uma
pessoa ter sido eletrificada, a aura interior junto a parte inferior do lado direito do
abdômen e da coxa aumentou de tamanho.
A paciente era uma mulher casada, sem filhos, que nunca fora realmente
vigorosa, mas também jamais sofrera qualquer doença séria. A marca- da
diferença no tamanho e no matiz das manchas vistas com a faixa de c.c. sugeria
maior distúrbio do lado direito do que do esquerdo, durante a menstruação.
Indagada se sofria igual dose de incômodos a cada período, os seguintes fatos
foram obtidos. Ela apenas menstruara algumas vezes na vida, mas, a cada mês,
experimentava dor considerável, que era mais intensa em meses alternados. Nas
ocasiões em que sentia as dores mais severas, a coxa direita sempre participava
do desconforto até o seu meio. A parte inferior das costas sempre lhe doía.
A violência alternada do início da menstruação indica ovulação ocorrendo
sucessivamente, primeiro num ovário e depois no outro, e distúrbio funcional
mais intenso quando o direito era o envolvido.
Uma área descorada é ocorrência comum sobre o epigastro, tanto em
homens como em mulheres, tão comum, aliás, a ponto de parecer fisiológica, na
maioria dos casos em que não parece haver razão suficiente para se sus- peitar
qualquer anormalidade. Essas manchas são sempre de cor clara ou amarelo-claro,
e são, em sua maioria, de caráter fugidio. Os matizes e colorações mais escuros
denotam verdadeiros distúrbios gástricos de algum tipo. Se as manchas de cor
clara se revelarem fisiológicas, serão os únicos exemplos conhecidos, mas a
única alternativa possível é existir uma alteração patológica, tão leve a ponto de
ser imperceptível tanto ao paciente como ao observador.
Além dessas grandes áreas afetadas, pequenas manchas descoradas podem
ser visíveis, as quais, em geral, indicam puramente distúrbios locais, e são
acompanhadas por dor ou hipersensibilidade. Essas pequenas áreas são
frequentemente coloridas, sendo algum matiz do amarelo o mais comum, em
primeiro lugar, e uma coloração rósea em segundo, o que, via de regra, denota um
distúrbio mais grave. Em sua maioria, são completamente isoladas, mas podem
estar incluídas numa mancha maior quando indicam um foco de um mal
considerável. Todas as partes do corpo estão sujeitas a elas, e a localização pode
às vezes determinar sua importância.
Um notável exemplo das observações que acabamos de fazer foi visto no
seguinte incidente. O Dr. Merrick, desejando ver a aura, trouxe consigo uma
paciente para ser examinada. Sabendo que essa mulher sofria de úlcera no
estômago, o autor declarou que era extremamente provável que o ponto mais
doloroso ou a localização da úlcera pudessem ser detectados com o auxílio da
faixa de c.c. Não fizemos nenhuma pergunta. O Dr. Merrick conseguiu ver a aura
distintamente, mas não a mancha colorida, pois não estava habitua- do ao uso
dessas faixas, e não conseguia mantê-las fixas no lugar certo.
 
 
Caso 76.
 
T., uma mulher casada, de trinta e três anos, vinha sofrendo de úlcera no
estômago há tempos. Já estivera internada num hospital e foi aconselhada a
reinternar-se para uma cirurgia, pois estava muito emaciada e anêmica em
consequência de repetidos vômitos e hematêmese. Sua aura era bem marcada e
de coloração azulada. Uma mancha amarela aproximadamente do tamanho de um
shilling era visível mediante o auxílio da faixa de c.c., do lado esquerdo, a duas
polegadas e meia da linha mediana e um pouco abaixo da cartilagem ensiforme.
Esta coincidia com o local mais doloroso e era tão sensível que a paciente mal
permitia que a tocassem. O resto do epigastro era sensível, mas não nesse mesmo
grau, Exames ulteriores não puderam então ser efetuados. Era curioso que
nenhuma mancha grande descorada, como seria de esperar, pôde ser vista.
Durante o mês de março de 1910, tornamos a examiná-la. Não estivera em
nenhum hospital, como fora aconselhada, mas tinha melhorado muito, tendo
ganho peso, conquanto ainda estivesse anêmica. A dor quase desaparecera, e só
uma leve sensibilidade no epigastro persistia; os vômitos tinham cessado e ela
conseguia alimentar-se normalmente. Alguma pequena dor e sensibilidade ainda
persistiam na parte inferior do hipocôndrio direito. Sua aura exterior media nove
polegadas em torno da cabeça e dos lados do tronco, e gradativamente se contraía
para quatro, junto aos membros inferiores. Uma vista lateral mostrou a aura
estendendo-se quatro polegadas em frente do corpo, ao passo que, nas costas,
media sete polegadas na região lombar. A aura interior tinha duas polegadas e
meia por todo o corpo. Através da tela escura de carmim, essa aura parecia
granulada do lado esquerdo, entre a linha dos mamilos e a crista ilíaca, e, quando
vista de lado, o mesmo efeito podia ser observado sobre o tórax, que tinha matiz
mais claro. A alteração começava na linha mediana do corpo, situando-se a
margem superior no nível do ponto médio do esterno, e a inferior, acompanhando
o contorno das cartilagens costais. Nessa mancha, havia um ponto ainda mais
claro coincidente com o ponto amarelo visto no primeiro exame. O segundo
ponto descorado consistia de uma pequena marca do lado direito onde a aura era
granulada.
Ocasionalmente, um paciente pode ter considerável distúrbio físico, e
todavia a aura pode estar apenas ligeiramente envolvida. Como ilustração se-
lecionamos o seguinte exemplo.
 
 
Caso 77. (Figuras 60 e 61.)
 
S., uma mulher inteligente e robusta, de vinte e sete anos, foi inspecionada
em fins de 1913. Doze meses antes, ela perdera a mãe após curta enfermidade, e
o choque disso decorrente, junto com as tarefas caseiras extras e o cuidado de
uma criança órfã de mãe, produziu-lhe um ligeiro colapso. Durante quase um
ano, a parte inferior de sua face, o pescoço e a porção superior do tronco
tornaram-se constantemente de um carmesim muito profundo, e abaixo dessa
região, em frente ao nível dos bordos inferiores das mamas, e não tão abaixo nas
costas, a cor vermelha era bem marcada mas não no mesmo grau. A cor mais
profunda tinha um contorno irregular, e os limites e profundidades comparativos
aparecem nas Figuras 60 e 61. Um fenômeno correspondente à tache cerebral e
podia ser obtido por sobre toda essa parte afetada do corpo. Os ataques ocorriam
a qualquer tempo, estivesse a mulher só ou acompanhada. Uma leve mudança de
temperatura era suficiente para provocar um ataque. Cada paroxismo durava
alguns minutos, mas a frequência média era entre vinte e trinta por dia. Ao corar,
ela tinha uma sensação de calor mas não de dor absoluta. A pele em torno da área
mais afetada estava se descamando, e sobre a porção restante, onde a tache
cerebral e podia ser induzida, estava seca, sendo normal em outras partes. O caso
foi considerado relacionado à doença de Raynaud, e esperávamos encontrar uma
aura excepcionalmente interessante, sobretudo com as faixas de c.c., mas não
encontramos nada parecido.
 

 
As duas auras atingiam o padrão usual de distinção e tinham uma cor cinza-
azulado e formato normal. A aura exterior media oito polegadas em torno da
cabeça e dos lados do tronco, ao passo que na frente, media quatro, e atrás, nos
ombros e nádegas, tinha a mesma largura, descendo sem formar protuberância. A
aura interior tinha três polegadas por todo o corpo, com estriamento bem
acentuado, exceto logo acima dos ombros, onde era granulada. Contrariamente à
expectativa, quando não havia ruborização a faixa de c.c.. era uniforme por sobre
todo o corpo, com exceção de uma pequena mancha escura sobre a terceira e
quarta vértebras cervicais.
 
 
Caso 78.
 
Um segundo caso, revelando uma condição muito semelhante, veio a nós
para exame em dezembro de 1914. A paciente era uma jovem que nunca fora
robusta, e por ocasião de sua inspeção estava anêmica. Por alguns meses, seu
pescoço e parte superior do tórax estavam constantemente tornando-se carmesins
sem nenhuma causa óbvia, ao passo que as partes inferiores das faces
participavam em menor grau desse enrubescimento. Os paroxismos só persistiam
por um curto espaço de tempo e depois passavam lentamente. Eles não eram, de
modo algum, tão graves como no caso anterior. Sua mãe era vítima antiga da
doença de Raynaud. Quando a paciente foi examinada, a cor de sua aura era
incomum, isto é, era verde e azul sem mescla entre essas cores. A aura exterior
era ampla e de distinção média, dez polegadas na cabeça e doze no tronco. Tinha,
no entanto, uma margem mal definida, e dava a impressão de que existia ali uma
aura ultra-exterior. Uma vista de perfil revelou que a aura tinha seis polegadas na
frente, oito na região lombar, e cinco nas pernas, sendo de forma ligeiramente
arqueada. A aura interior era nítida e seu estriamento óbvio. A faixa de c.c. exibiu
três manchas amarelas nas costas. A superior era pequena e situava-se sobre a
terceira e quarta vértebras cervicais, a mediana acima da segunda, terceira e
quarta vértebras dorsais, e, finalmente, havia uma grande na região lombar. Na
frente, havia duas áreas escuras, uma em cada virilha, separadas uma da outra por
um intervalo quase descolorido. Essas duas manchas pareciam elevadas
aproximadamente uma polegada, e a aura nesse intervalo era amalgamada. Este
era um fenômeno singular, pois nenhum outro exemplo desse efeito foi jamais
observado, e a razão não podia ser determinada. As três últimas manchas eram
evidentemente devidas a funções ordinárias, ao passo que, por alguma causa não
detectada, havia dor onde a mancha na região dorsal existia. O ponto mais
interessante era a existência da pequena mancha na nuca, que ocupava
exatamente a mesma posição que a outra no caso anterior.
Um caso verdadeiramente notável se apresentou em setembro de 1916, e de
novo alguns meses depois. Como alguns pontos eram de grande interesse e, ao
que tudo indicava, pareciam fornecer a chave para a solução de vários problemas
difíceis, será descrito integralmente. Caso 79. P. B., uma jovem belga de origem
flamenga, queixava-se de surdez subsequente a uma doença na garganta. A parte
descoberta de seu peito, de forma triangular, chamava muito a atenção, pois tinha
um tom carmesim profundo, muito mais profundo do que poderia resultar de
mera exposição. Em poucos minutos, ela perdeu muito de sua cor. Após uma
observação sobre seu aparecimento, ela disse que ao mais leve toque ou roçadura
em qual- quer parte de seu corpo produzia-se uma marca vermelha dentro de um
ou dois minutos, que perdurava por tempo considerável. Isto acontecia desde que
ela podia se lembrar, e não era acompanhado de nenhuma sensação anormal, de
modo que ela poderia estar perfeitamente inconsciente do rubor se não o visse.
Sua pele era lisa e normal, não sendo sujeita a exantemas. Ela, como seria de
esperar, se contundia com muita facilidade. A mente não parecia ter uma
influência como causa provocadora.
Quando um prego era arrastado levemente em sentido transversal sobre
qualquer porção de sua pele, uma linha vermelha aparecia na parte tocada dentro
de um a dois minutos, formava-se um vergão e sua cor gradativamente se
aprofundava até atingir um carmesim escuro. O rubor alastrava-se sobre cada
lado do vergão a uma profundidade de meia polegada ou mais, de acordo com a
pressão aplicada. Essa vermelhidão depois declinava lentamente, deixando o
vergão branco. Este, em geral, persistia por meia hora ou mais. Uma leve
pancadinha de lápis produzia o mesmo efeito. Uma esfregação induzia o rubor,
mas a superfície permanecia lisa. Todas as partes do corpo eram afetadas de
maneira semelhante. A sensação nos vergões, como testamos pela picada de um
alfinete, era mais aguda do que na pele adjacente.
Ela era uma mulher pequena, bem proporcionada e muito bonita, com vinte e
dois anos de idade, vivaz e inteligente e, até onde se podia ajuizar, não
manifestava nenhum sinal de neurose. Sua saúde sempre fora boa. Era filha única
e seus pais estavam vivos e fortes. Contusões leves não sangravam
anormalmente. Ela se acreditava mais sensível a sensações tácteis do que a
maioria das mulheres. Os reflexos dos joelhos eram normais, e não houve reação
anormal quando as solas de seus pés foram roçadas. Os reflexos superficiais eram
muito exagerados. Com o esfigmometro uma pressão de 118 mm de mercúrio era
necessária para obliterar-lhe o pulso.
Ambas as auras eram de nitidez normal. A cor era peculiar - um azul-
cinzento esbranquiçado de mescla com algum verde. O branco tinha uma
aparência opaca, que era maior nos intervalos entre os braços e o corpo, quando a
jovem ficava com as mãos nos quadris. Enquanto estava postada de frente para o
observador, a aura media nove polegadas em torno da cabeça e o mesmo junto
aos lados do tronco, contraindo-se para quatro junto aos pés. Vista de lado, media
quatro polegadas e meia na frente e tinha igual largura nas costas, junto aos
ombros e às nádegas, descendo reta. Essa aura era de forma perfeita e de tamanho
médio para uma mulher. A aura interior media três polegadas por sobre todo o
corpo, com estriação natural. A faixa de c.c. azul revelou uma pequena mancha
purpurea, que ficava mais escura com a faixa vermelha, no pescoço, desde a
terceira até a quinta vértebra cervical e nada mais.
Depois dessa investigação preliminar, várias partes de seu corpo foram
esfregadas ou levemente arranhadas, e lhe examinamos a aura durante o tem- po
em que as alterações estavam se processando. Como em cada caso ocorreram
alterações semelhantes, uma só descrição nos bastará.
A linha central do corpo, entre a cartilagem ensiforme e o umbigo, foi
esfregada delicadamente por alguns segundos. Durante o primeiro minuto,
aproximadamente, não ocorreu nenhuma mudança, mas aos poucos suas auras
pareciam alargar-se e tornarem-se mais distintas e opacas, e ao mesmo tempo o
duplo etéreo, que não era visível antes, tornou-se bem nítido. Media de largura
meia polegada. A aura exterior logo se ampliou até seu máximo, que era de oito
polegadas, exatamente duas vezes sua largura normal. A aura interior, vista
através da tela vermelha, media cerca de cinco polegadas de largura, era
grosseiramente granulada, e tinha perdido completamente suas estrias. Não tinha
nada que se parecesse com raios. Essa condição perdurou alguns minutos, após os
quais as auras reassumiram gradativamente seu estado natural, acompanhando o
enfraquecimento da cor vermelha.
No experimento seguinte, com as mãos descansando nos quadris e os
cotovelos estendidos, a aura nos espaços em forma de losango, assim forma- dos
pelo corpo, foi examinada com telas, antes e depois de uma leve fricção ser
aplicada a um lado do peito. Eis os resultados:
 

 
Até agora, com exceção dessa paciente, embora a aura tenha sido
constantemente examinada, não detectamos nenhuma mudança local sobre partes
onde o rubor foi induzido mediante fricção. Isso talvez possa ser atribuído ao fato
de que ordinariamente só as camadas mais superficiais da pele são afetadas, ao
passo que, no caso acima descrito, as camadas mais profundas do córion
provavelmente também estavam envolvidas. É mais provável que, mesmo num
sujeito normal, se a força usada fosse suficiente para provocar uma ligeira
contusão, a aura seria influenciada de imediato, ou dentro de um curto espaço de
tempo.
Em outro experimento, percutimos delicadamente as vértebras cervicais com
o dedo na região onde a mancha purpúrea foi vista mediante a faixa de c.c. Não
esperávamos que esse procedimento viesse a ter nenhuma influência sobre a aura,
mas quase instantaneamente ocorreu um alargamento geral, conquanto não na
mesma extensão em que ocorrera quando usamos eletricidade estática. A largura
era de onze polegadas em torno da cabeça, doze junto ao tronco e seis nos pés, e,
quando ela esteve de perfil, media seis, junto aos ombros, prosseguindo em linha
reta para baixo.
Esse caso difere dos dois últimos, já que as pacientes anteriores só tiveram
afetada a parte superior de seus corpos. Nelas, a pele frequentemente se tornava
vermelha sem causa aparente, ao passo que, em outras ocasiões, a cor era
induzida pela emoção, ou por alguma ligeira alteração de temperatura, etc. A
epiderme estava avariada nas partes afetadas, que eram secas, e, nos piores
lugares, até mesmo descamadas. A reação urticante sempre podia ser produzida
sobre as áreas anormais e estavam totalmente a elas confinadas. As mudanças de
cor, igualmente, nunca atingiam a mesma profundidade do último exemplo, e só
nas porções muito escuras, no Caso 77, elas se aproximavam das usualmente
induzidas pela mais leve fricção em qualquer ponto na área afetada na mulher P.
B.
É, por certo, uma curiosa coincidência -se for de fato coincidência e não
parece ser que em todos esses três casos a faixa de c.c. revelasse uma mancha
colorida na nuca. No último exemplo, esta era a única mancha que se podia
detectar por sobre todo o corpo, com exceção de uma muito fraca no sacro. A
presença de outras manchas sobre as diferentes partes da coluna era esperada,
houvesse ou não alguma no pescoço.
 
 
Caso 80.
 
E. D., uma mulher de vinte e sete anos, foi inspecionada pela primeira vez,
em 1913. Estivera cuidando da mãe durante uma longa enfermidade e,
imediatamente depois, seu pai também necessitou de grande atenção por motivo
de saúde. Em consequência, ela se tornou grandemente deprimida e esgotada. Por
alguns meses, a intervalos, seus quadris, ambas as mãos e, em graus variáveis,
seus antebraços, ficavam profundamente cianosados. Os ataques eram súbitos no
início e em geral perduravam por tempo considerável. Ela não experimentava
nenhuma dor, mas tinha as mãos sempre frias. Embora não houvesse enfermidade
cardíaca, sofria constantemente de palpitações. Tache cerebral e sempre podia ser
obtida no peito e nas costas, quase, em linha descendente, até a altura da cintura.
Com a paciente de frente para o observador, a aura exterior era bem
marcada, medindo sete polegadas junto à cabeça, oito ao lado do tronco e três e
meia junto aos tornozelos. Uma vista lateral mostrou que media três polegadas e
meia na frente, ao passo que, na região lombar, tinha sete polegadas, exibindo
uma protuberância em forma de arco, que começava no topo da cabeça e
terminava nos pés. Sua cor era cinza-azulado. A aura interior, como seria de
esperar devido a seu estado de saúde, era indistinta, entretanto tinha estrias, mas
era grosseira na região lombar. Três manchas amarelas foram vistas com a faixa
de c.c. sobre as costas, as duas inferiores muito nítidas e a superior nem tanto. A
mais elevada situava-se sobre as terceira e quarta vértebras dorsais, a central
sobre a décima segunda dorsal e a primeira lombar, e a terceira sobre o sacro. Na
frente, também havia três manchas, todas de uma coloração amarela com a faixa
de c.c. azul e de uma tonalidade peculiar indescritível com a faixa vermelha. A
mais elevada situava-se sobre o epigastro e o hipocôndrio esquerdo, a segunda
sobre o lado direito ao nível do umbigo, e a inferior na virilha esquerda. Ela
sentia dor e hipersensibilidade em todas essas áreas descoloridas, especialmente
na inferior sobre as costas e a situada sobre a virilha durante a menstruação,
ocasião em que a dor era sempre severa. Indigestão explicava a mancha superior
na frente. Em fevereiro de 1915, após sua recuperação, ela foi examinada uma
segunda vez. Ultimamente não havia cianose nas mãos nem palpitações. O único
vestígio de seu problema passado era um escurecimento ocasional dos lábios, que
não chegava a ser visto sequer uma vez por semana. A faixa de c.c. revelou duas
manchas nas costas, precisamente nas mesmas posições anteriores, mas a central
estava faltando. A superior se enfraquecera, e a inferior continuava bastante
nítida. Na frente, havia uma mancha amarelo-claro sobre o epigastro, menor e
menos visível do que no primeiro exame, ao passo que a mancha escura na
virilha permanecia inalterada. As manchas fracas provavelmente logo
desapareceriam. (Veja a página 200.) Quando considerávamos a forma da aura
durante o estado de saúde precária, assinalamos que, em casos de histeria, a aura
exterior assume uma forma muito característica, bastante diferente da observada
em pessoas não neuróticas, ao passo que, ao mesmo tempo, a interior conserva
sua configuração natural. Isso é correto mas não ajuda muito, pois alterações sutis
também costumam ocorrer na aura interior, algumas das quais só podem ser
detectadas mediante o auxílio das faixas de c.c. Na histeria, o número e o
tamanho dessas manchas atingem o seu máximo e raramente são igualados ou
excedi- dos em outras enfermidades.
O seguinte caso, excepcional, é quase um fenômeno no que diz respeito ao
número de manchas.
 
 
Caso 81. (Figuras 62 e 63.)
 
S., uma mulher solteira e de grande porte, com trinta e seis anos de idade,
era, a julgar por sua aparência, uma das últimas pessoas com probabilidade de ser
histérica. No entanto, sempre fora nervosa, e alguns anos antes tivera um colapso
após a morte da mãe, mas recobrara-se em tempo comparativamente curto. Em
1913, após regressar de umas férias passadas na praia, passou a se queixar de
dores vagas em diferentes partes do corpo, que mudavam continuamente de um
ponto para outro e variavam de intensidade. Teve uma leve mastite logo
superada. A parte superior da coxa direita também era dolorida e assim continuou
por longo tempo. Noutra ocasião, sentia dor no epigastro com indigestão e
ocasionalmente globus hystericus. Em outra oportunidade, queixou-se de dor
aguda no ombro esquerdo e na parte superior esquerda do tórax. Não se descobriu
nenhuma causa plausível para todos esses problemas.
 

 
No fim do ano examinamos-lhe a aura, apurando que tinha cor azul-
acinzentado. As duas auras alcançavam o padrão de nitidez de uma pessoa
saudável. A exterior era uma aura espatulada típica, medindo oito polegadas em
torno da cabeça, nove e meia nos lados do tronco e quatro junto às pernas, com a
curva usual. Na frente, tinha de largura seis polegadas, o que era muito
considerando-se a largura nos lados, e na região lombar tinha nove polegadas, já
que havia uma grande protuberância começando nos ombros e terminando logo
abaixo das nádegas, abaixo das quais média de largura quatro polegadas. A aura
interior media três polegadas e meia junto ao tronco, e era perto de uma polegada
mais estreita junto às extremidades inferiores. Essa aura, no seu todo, era
claramente estriada, salvo onde fosse granulosa. Esta última condição prevalecia
do lado direito do pescoço, do tórax e na altura dos rins.
A faixa de c.c. mostrou uma grande mancha cor de limão do lado esquerdo,
na frente, desde o ombro até a linha do mamilo, a margem interna
correspondendo à linha mediana do corpo. Estendia-se em redor até as costas,
onde a margem assumia o contorno da escápula. Uma continuação da parte
inferior da mancha na frente era escura, ao nível da cartilagem ensiforme. Havia
uma profunda mancha amarela na virilha esquerda e outra escura no hipocôndrio
direito. A parte superior da coxa direita era amarelo-claro na frente e ia até sua
parte posterior da coxa. Nas costas, havia uma mancha escura sobre a segunda e
terceira vértebras dorsais, e uma amarela sobre a sexta e a sétima, havendo
também uma terceira contínua à última, mais escura, e estendendo-se para baixo
até a segunda vértebra lombar. Por último, havia uma área amarelo-escuro sobre
o sacro. Onde quer que a faixa c.c. exibisse descoloração, a paciente tinha ou dor
ou hiperestesia por ocasião do exame ou um pouco antes.
A paciente a que nos referimos no Capítulo VII (Caso 47) exibia um bom
número de manchas, e isto era apenas o que se podia esperar após a grave doença
que tivera alguns anos antes. Na frente, havia uma mancha amarelo-claro numa
curta distância abaixo da clavícula direita, outra no epigastro, e uma terceira
amarela, mais escura, na parte superior da coxa direita, abaixo do ligamento de
Poupart. Nas costas, havia uma mancha amarela sob a escápula esquerda, uma
segunda na coluna, da quarta à décima vértebra dorsal, e, finalmente, uma grande
mancha sobre o sacro.
Não parece haver nos homens uma tendência tão grande quanto nas
mulheres para o desenvolvimento de manchas, mas, ocasionalmente, uma ou
mais de uma podem ser vistas. Em quase todos os casos em que um homem tenha
mostrado mais de três áreas descoloridas, ele houvera sido vítima de alguma
grave doença, o que nas mulheres teria produzido manchas muito mais
numerosas. Os seguintes casos de ataxia locomotora exemplifica isso.
 
 
Caso 82. (Figuras 64 e 65.)
 
H., um homem de cinquenta e quatro anos, contraiu sífilis quando contava
vinte e dois anos de idade. Doze anos depois, ataxia locomotora lhe foi
diagnosticada, e desde então ele tem frequentado vários hospitais.
Sua instabilidade quando de pé tornava difícil examinar-lhe a aura. Todos os
sintomas de seu mal eram os habitualmente encontrados em relação a essa
doença, de modo que dificilmente necessitaria descrição. Sua aura foi examinada
em 1914. A aura exterior não atingia o padrão de distinção de boa saúde, e tinha
cor cinza. Tinha aproximadamente o mesmo tamanho e forma comumente
encontrados em homens, medindo sete polegadas em torno da cabeça, cinco junto
ao tronco e quatro daí para baixo, enquanto que, nas costas, havia uma
protuberância começando um pouco acima da cabeça e terminando a uma curta
distância abaixo das nádegas. A parte mais larga media oito polegadas. A aura
interior, como se esperava, estava decididamente abaixo do normal em matéria de
clareza e tinha aparência granulada do lado direito do tronco da região lombar.
Sua largura era de duas polegadas e meia e nas costas, na região lombar, era um
tanto mais pronunciada.
Três locais descoloridos foram trazidos à luz pela faixa de c.c. no dorso,
primeiramente, uma mancha de cor ocre sobre as duas ou três vértebras dorsais
superiores, uma amarelo-claro entre a oitava e a décima segunda dorsal, e uma
terceira sobre o sacro, que era um amarelo-escuro. Na frente, havia uma mancha
escura sobre o tórax e uma segunda amarelo-escuro no hipocôndrio direito.
 
 
 

 
Caso 83. (Figuras 66 e 67.)
 
X., uma interna do St. Joseph's Home, com sessenta e dois anos de idade,
desenvolveu tabe dorsal há vários anos. Em várias ocasiões, ela foi paciente
interna de quatro hospitais londrinos, da maioria deles por mais de uma vez. Era
uma mulher magra, de aspecto lastimável que, a julgar por sua aparência, já
sofrera muito. Tinha todos os sinto- mas habituais da doença em fase mais
adiantada que o último caso. Experimentava frequentes acessos de dor,
geralmente angustiantes, e por vezes era compelida a guardar o leito dias a fio.
Era bastante atáxica, mas, às vezes, com ajuda, conseguia andar um pouco.
Sua aura exterior, contrariamente às expectativas, era perfeitamente normal
na forma, não mostrando nada indicativo de doença nervosa. A interior tinha uma
largura média por sobre todo o corpo, embora fosse muito me- nos distinta do que
durante o estado de boa saúde. Era granulada a uma curta distância acima da
crista ilíaca do lado esquerdo e em nenhuma outra parte. Só com muita
dificuldade um fraco estriamento podia ser detectado.
Com a faixa de c.c., uma comprida mancha escura de aproximadamente duas
polegadas de largura, indo da quarta vértebra dorsal até a primeira lombar, e uma
segunda na região lombar foram vistas. Na frente, havia uma área escura sobre o
epigastro e outra sobre o hipocôndrio. Sua característica mais notável era um
escurecimento não uniforme sobre a totalidade de ambas as coxas, tanto atrás
como na frente. A cor da faixa na parte superior da coxa esquerda e no terço
médio da direita era várias vezes mais profunda que sobre o resto dos membros.
As pernas não exibiam nenhuma descoloração. A profundidade da cor
correspondia à severidade da dor, que era mais intensa em alguns lugares do que
em outros, e isso foi indicado nos diagramas.
 

 
Como as doenças do peito formam uma grande proporção de casos vistos na
prática diária, poder-se-ia esperar que proporcionassem um bom campo para o
estudo da aura, mas, na realidade, têm auxiliado bem pouco nas investigações, e,
inversamente, a aura não oferece muito auxílio em sua diagnose. Há várias razões
para que isto seja assim. Uma razão muito importante é que quando um paciente
está sofrendo de uma enfermidade aguda, tem necessariamente que ficar de cama.
É óbvio que além da dificuldade de arranjar um bom fundo para contraste e
regular bem a iluminação, etc., seria na maioria desses casos desaconselhável, se
não absolutamente impróprio, importunar um paciente em tais condições com um
exame que precisa ser inevitavelmente prolongado e fatigante, enquanto que, no
presente estado de nosso conhecimento, os benefícios daí derivados só poderiam
ser problemáticos. Casos crônicos, por outro lado, podem ser examinados
livremente e mostram mudanças na aura, mas nenhuma que tenha grande valor
diagnóstico. Embora o exame possa ser interessante, a atenção deve estar
principalmente voltada para outras condições que se acredite tenham mais
probabilidade de dar resultados de importância prática. No entanto, uma
descrição de um ou dois exemplos dará uma boa ideia das mudanças que se
podem encontrar.
 
 
Caso 84.
 
T., uma mulher casada, de quarenta e três anos, queixou-se certa vez de que,
ao tossir, cuspia um pouco de sangue brilhante. De acordo com seu relato, era na
quantidade de uma colher de chá. Conquanto se fizesse um cuidadoso exame de
seus pulmões, o ponto afetado não pôde ser localizado com precisão. Dois dias
depois, sua aura foi examinada antes do exame usual mediante auscultação, etc.
A aura tinha tamanho e forma adequados para uma mulher daquela idade e não
nos mostrava nenhuma anormalidade até que empregamos a faixa de c.c.
transversalmente sobre seu peito. Uma mancha clara do tamanho aproximado de
um florim, no lado esquerdo no espaço intercostal, a aproximadamente uma
polegada do esterno, foi notada de imediato. Logo que aplicamos um
estetoscópio sobre essa mancha, pudemos ouvir finos estalidos e o autor acredita,
erradamente ou não, que esta fosse a parte do pulmão de onde o sangue se
originava. Mesmo que ele não tivesse visto a mancha pálida na faixa de c.c.,
acredita que dificilmente os sinais físicos escapem de sua observação. Com base
em experiência subsequente, ele está seguro de que a faixa teria mostrado alguma
alteração se tivesse sido cm- pregada logo após a hemoptise. Esta era a única
parte do pulmão em que alguma doença podia ser descoberta.
De todos os sintomas do peito, o sintoma por excelência em que as
alterações da aura poderiam ser de algum auxílio é a tísica incipiente, mas
atualmente não há nenhum caso distinto para apresentar, pois, na verdade, só
temos tido decepções com os que têm sido examinados. É claro que, se houver
bronquite ou enfisema presentes, já que o pulmão é afetado no todo ou em sua
maior parte, não seria razoável esperar a detecção de um pequeno foco
tuberculoso por alguma ligeira alteração da aura que seria inevitavelmente
mascarada pelas mudanças devidas a distúrbios mais gerais. O caso seguinte é
um bom exemplo das mudanças que ocorrem na aura durante tísica crônica.
 
 
Caso 85.
 
G., uma senhora de vinte e sete anos, ficou tuberculosa em 1905 e seu estado
foi se agravando por longo tempo. Teve pleurisia no lado esquerdo em 1906,
pneumotorax nos primeiros meses de 1909, e nos meados desse ano o pulmão
direito ficou afetado. Durante todo esse tempo, estava na Escócia, mas, para
surpresa de todos os seus amigos, ela gradativamente melhorou de saúde. Foi
examinada em 1911. Sua condição era muitíssimo boa, considerando-se o estado
de seus pulmões. A aura exterior, como verificamos, tinha largura média,
medindo oito polegadas na cabeça e nos lados do tronco e contraindo-se para
quatro polegadas junto aos tornozelos. Era simétrica, mas sua textura não era tão
fina do lado esquerdo, entre o maxilar e a crista do osso ilíaco, quanto do direito.
A aura interior tinha três polegadas de largura do lado direito e só duas do lado
esquerdo do tronco, mas era semelhante em tamanho e textura sobre ambas as
coxas e pernas. O estriamento era muito distinto em todo o lado direito, mas do
esquerdo, acima do ombro e junto ao tronco até a crista do ilíaco, a aura interior
era ou grosseiramente granulada ou grosseiramente estriada. Mais embaixo, era
normal. A faixa de c.c. era mais escura sobre a totalidade do lado esquerdo do
tórax, tanto nas costas como na frente, ao passo que, abaixo das cartilagens
costais e costelas, havia uma mancha escura que ia da linha mediana para o lado
até onde se podia ver. Esta última era devida, evidentemente, à indigestão
causada pelo excesso de alimentação, o que fizera parte do tratamento da
paciente. Na parte superior, do lado direito do peito, havia uma mancha escura
sobre a área enferma do pulmão. Considerou-se que a aura revelava que a
paciente tinha grande vitalidade, mas que o pulmão esquerdo estava
completamente deteriorado.
Como a volição é um alto atributo do cérebro, mediante a qual a aura toda
pode ser influenciada, podemos dizer com segurança que toda avaria cerebral
afetará a aura de uma maneira ou de outra. Provavelmente tais distúrbios
produzem efetivamente algumas modificações da aura inteira, mas a maioria das
mudanças é de uma natureza demasiado refinada para ser perceptível, e só as
mais grosseiras podem ser detectadas. As alterações grosseiras que são
reconhecíveis podem ser tão estranhas na aparência, que nem a pessoa mais
imaginosa provavelmente as inventaria. Quem, por exemplo, poderia idealizar a
aura histérica? Quanto mais se contempla esse prodígio, mais inexplicável ele
parece.
Entre as mulheres, a forma oval (Figura 11) da aura é evidentemente a forma
mais elevada, e quanto mais ela se aproxima dessa figura tanto mais perfeita será.
Como já dissemos, a principal peculiaridade da aura histérica está no fato de ser
desproporcionalmente larga dos lados do tronco e na região lombar das costas,
quando comparada com sua estreiteza mais embaixo.
Não é possível seguir os estágios de alterações sofridos pela aura durante sua
transformação da forma normal para a espatulada. A princípio, a ideia era de que
o desenvolvimento da aura, que naturalmente ocorre durante o período
transicional nas meninas, poderia ter-se detido em torno dos membros inferiores.
Conquanto essa teoria parecesse razoável, ela foi profligada pelo fato de as auras
espatuladas serem ocasionalmente vistas em torno de crianças e ainda com maior
frequência em torno de homens adultos. Outra concepção que parece abranger
todos os casos conhecidos, e, portanto, tem mais probabilidade de ser correta, é a
de que um verdadeiro aumento da aura exterior dos lados do tronco com pouco
ou nenhum aumento junto às coxas e pernas está presente. Essa ideia é apoiada
pelo Caso 55 e também pelo fato de que todas as auras histéricas vistas em
homens eram muito mais largas do que qualquer outra já vista em torno de
homens saudáveis. A teoria recebe ainda em seu favor a prova da protuberância
que acompanha a aura nas costas, o que não se pode explicar de nenhuma outra
maneira que não seja a do aumento localizado.
É inútil especular, no atual estágio de nossos conhecimentos, sobre o porquê
dessa configuração peculiar da aura entre mulheres histéricas. Surge, todavia, a
questão prática de saber se uma aura normal alguma vez se torna espatulada.
Parece provável que isso pode ocorrer ocasionalmente. Mas for- mas
intermediárias são raras. Teoricamente elas podem se originar tanto durante a
evolução da doença como durante a recuperação da pessoa.
Quando se vê que a aura é imperfeitamente espatulada, é impossível decidir
numa única sessão, com base apenas em sua aparência, se as mudanças atingiram
o seu máximo ou são progressivas. Vários exames ulteriores devem ser feitos, e
até agora o autor não teve chance de efetuá-los. Felizmente, existe outro método,
ou seja, o aumento artificial da aura mediante emprego de eletricidade estática.
Esse agente em geral acentua as peculiaridades que, sem o seu auxilio, são
demasiado mal definidas para proporcionarem uma observação acurada. Desde
que se descobriu essa propriedade, tem-se prestado atenção especial ao assunto.
A aura exterior da paciente discutida no apêndice do Capítulo VII era
complexa e foram apresentadas razões explicativas do porquê ser ela considerada
normal para aquela pessoa. Sua grande largura, como se recordará, era devida, ao
que se supunha, à configuração espatulada e não à presença de uma aura ultra-
exterior. Mas a questão foi definitivamente estabelecida pela eletricidade, já que,
após a mulher ter sido eletrificada negativamente, sua aura assumiu a verdadeira
figura espatulada. Esse parece ser um exemplo de uma aura metamorfoseando-se
em tipo espatulado, pois, devido ao baixo grau de desenvolvimento físico, seria
razoável esperar que a aura da mulher permanecesse estreita.
Na epilepsia, encontramos uma diferente variação de aura. Aí, em vez de a
aura exterior ser a única afetada ou sê-lo mais particularmente (como na histeria),
as duas auras parecem modificar-se correspondentemente, contraindo-se
unilateralmente. Não podemos apresentar nenhuma explicação dessa diminuição,
e é ainda mais incompreensível o motivo por que o lado esquerdo costuma ser o
influenciado. Tem sido perguntado a amigos da paciente se, durante o ataque, um
lado era mais afetado, ou se a cabeça se voltava para um lado; já que, se as
convulsões fossem mais severas de um lado do que de outro, alguma luz podia
ser lançada sobre a questão. Essas interrogações não produziram respostas
satisfatórias, pois, com uma ou duas exceções, todos disseram que estavam
perturbados demais para poder notar. A mãe de uma menina disse que a filha
tinha mais espasmos do lado direito.
É positivamente certo que a aura é localmente influenciada quando há um
distúrbio circunscrito dos nervos, mas se a alteração é o resultado direto do
distúrbio nervoso, como acontece no caso de avarias funcionais de órgãos, ou se a
mudança na aura é secundária e depende unicamente do órgão efetivamente
afetado, ainda não ficou decidido. Provavelmente cada uma dessas causas,
isoladamente ou em combinação com a outra, esteja em ação em vá- rios casos
ou em várias ocasiões no mesmo caso. Um fato sobressai, ou seja, que um
distúrbio local influencia a aura interior com mais frequência do que a exterior,
mas quando esta última é afetada a primeira raramente fica ilesa, se na verdade
chega alguma vez a ficar efetivamente ilesa.
A nevralgia pode ser tida como exemplo da maneira em que o sistema
nervoso opera sobre a aura. O Caso 49 é um exemplo muito bom. Ao ser vista em
1909, notou-se que toda a aura interior adjacente ao ponto doloroso estava
alterada, já que todo estriamento tinha desaparecido e ela tinha se tornado de
aspecto granulado. A exterior, igualmente, mostrava sinais de desordem, pois as
porções distais eram menos visíveis do que o usual, parecendo menos densas. Em
outras palavras, a força áurica exterior não era tão potente como em situação de
perfeita saúde, mas, ao mesmo tempo, mantinha suas características gerais. Se a
força tivesse sido reduzida ainda mais, a aura ter-se-ia contraído. Esta era a
condição da aura quando foi vista em 1908 (veja a página 157), e é evidente que
na última data a força áurica estava readquirindo sua energia natural.
Num caso agudo de nevralgia, uma menina de treze anos teve uma mancha
ao nível da terceira vértebra dorsal, duas polegadas à direita dessa vértebra, onde
paroxismos de dor lhe sobrevinham subitamente e costumavam perdurar horas a
fio. A hora mais comum para esses acessos era à noite, pouco antes de ir para a
cama, ou logo depois, mas, fosse como fosse, o espasmo a impedia de dormir.
Não havia hiperestesia no local, e não se pode encontrar nenhuma causa para o
problema. A enfermidade mostrou-se intratável por algumas semanas e depois
melhorou ligeiramente. Ela revelou apendicite, ocasião em que a dor subitamente
desapareceu e nunca mais voltou. Sua aura foi examinada e constatou-se que era
natural em torno de todo o corpo, com exceção de uma pequena área, logo acima
do local dolorido, onde era granulada. Foi só na aura interior que se pode
descobrir alguma mudança. Como a área avariada devia ser pequena, não é
provável que a exterior viesse a exibir qual- quer alteração, pois a porção
saudável circundante deve ter atuado como máscara, sem dúvida nenhuma. Nesse
caso, a faixa de c.c. mostrou uma mancha escura, ao passo que, no caso anterior,
a aura afetada induziu uma sombra clara.
Dois ou três pacientes que sofriam de ciática exibiram mudanças muito
semelhantes na aura ao longo de todo o membro afetado. Quando alguma
alteração orgânica de tecido depende de avaria nervosa é provável que a
modificação que ocorre na aura adjacente seja, em parte, devida ao elemento
nervoso, e, em parte, ao tecido enfermo, mas é quase impossível decidir a
proporção associada a cada fator. O herpes-zoster é um exemplo muito bom das
causas combinadas, mas tanto já foi dito acerca dessas alterações que remetemos
o leitor aos Casos 57 e 62.
Visto que esses casos demonstram que o sistema nervoso pode induzir
transformações da aura, tanto com uma mudança correspondente nos tecidos
locais como sem ela, poder-se-ia bem pensar que a modificação dependesse por
inteiro da influência do sistema nervoso e bem assim que os tecidos avariados
não tomavam parte em sua produção. O único método de refutar essa hipótese é
encontrar um caso em que a mudança na aura não possa ser atribuída ao sistema
nervoso. Felizmente, foram feitas anotações sobre vários casos em que é
extremamente improvável que algum meio nervoso avariado estivesse presente.
Os pacientes tinham tumores superficiais, e os exemplos es- colhidos para
servirem como ilustração são um tumor fibro-adenoidal, um cístico do seio, um
gorduroso da coxa e um osteossarcoma do braço. Em nenhum desses casos pôde
qualquer alteração da aura exterior ser detectada, mas em cada um deles havia
avaria do interior.
O tumor fibro-adenoidal fez que a aura interior assumisse o aspecto de um
pequeno raio, de não mais de uma ou duas polegadas de comprimento,
ligeiramente mais largo que a amplitude da aura, e granulado. Visto com a faixa
de c.c. azul, parecia um ponto mais claro que o resto da faixa, e com a amarela,
mais escuro.
O tumor cístico produziu um efeito algo semelhante, a não ser pelo fato de a
aura interior ser alterada em toda a sua largura, consistindo a mudança de uma
condição grosseiramente granulada substituindo o estriamento comum logo
acima do tumor. O exame desse raio, com o auxílio das faixas de c.c.. mostrou
uma área clara com a azul e uma escura com a amarela.
O tumor gorduroso era razoavelmente grande e já existia há vários anos, do
lado externo da coxa esquerda numa mulher que, a não ser por isso, seria
perfeitamente saudável, com trinta e seis anos de idade. O exame não mostrou
nenhuma mudança perceptível perto do tumor, enquanto as faixas de c.c. não
foram empregadas. Com cada uma dessas faixas, a aura sobre o tumor parecia
mais clara que no restante da faixa, indicando que alguma delicada modificação
tinha ocorrido.
O último exemplo foi um osteossarcoma do úmero. Aqui, a aura assumiu a
aparência de um raio grosseiramente granuloso sem qualquer indício de
estriamento. A faixa de c.c. azul produziu um ponto descorado de uma cor
extraordinária que só podemos designar como amarelo-rósco.
Com base nas observações feitas acima, pode-se ter como certo que, embora
o sistema nervoso tenha um muito grande, e quiçá predominante, controle sobre
as auras, todavia outros tecidos, quando em estado precário de saúde, também as
influenciam. A esse respeito, será interessante comparar o Caso 72 com o Caso
76. No primeiro, a paciente tinha uma úlcera no estômago que fez a faixa de c.c,
em frente parecer mais clara do que a cor natural da faixa. A aura interior
também era granulada na região gástrica. Deve-se notar que não houve mudança
de cor na faixa perto das vértebras dorsais. No segundo caso, embora a mulher
estivesse sofrendo acessos constantes de vômitos, só havia uma ligeira
granulação na região gástrica, e a faixa de c.c. não revelou nenhuma alteração de
cor na frente do corpo, mas, nas costas, havia uma listra estreita situada perto da
coluna espinhal do lado esquerdo, desde a terceira até a quarta vértebra dorsal,
decididamente mais clara que o resto da faixa e com margens muito bem-
definidas. No primeiro desses dois exemplos, parecia que o órgão enfermo era o
fator produtor de alterações, ao passo que, no segundo, o estômago só
ligeiramente influenciava a aura, e a principal alteração na faixa se devia a um
elemento nervoso.
Já foi dito o suficiente neste capítulo para mostrar como é importante o papel
representado pelas faixas de c.c. nos exames e bem assim o grande auxilio que
elas podem prestar à diagnose, tanto positiva quanto negativamente -,
positivamente, por demonstrar que as auras sofreram alguma alteração local, o
resultado de algum distúrbio nesse local, e negativamente, por provar que
nenhuma mudança apreciável ocorreu onde um distúrbio subjacente fora
suspeitado. Mas é preciso lembrar que a faixa de c.c. pode ocasionalmente deixar
de mostrar alterações, mesmo quando se sabe que a parte sob ela está enferma. O
auxílio que essa faixa pode prestar é portanto limitado, mas torna-se cada vez
maior na proporção em que o observador adquire experiência pela prática de
apreciar as diferenças mais sutis manifestadas. O mal nos exemplos geradores de
resultados negativos é, quase sem nenhuma exceção, de progressão lenta, como
as que ocorrem em rim contraído, por exemplo, ao passo que as mudanças mais
agudas e ativas provavelmente induzirão maiores alterações nas auras e,
consequentemente, nas faixas de c.c.
 
 
 
 
 
 
Capítulo X
 
A AURA DURANTE A GRAVIDEZ
 
É comum uma paciente, depois de passar um ou dois períodos sem
menstruar, perguntar a um médico se está grávida. Uma demora na resposta nem
sempre é aceitável. As dificuldades em se chegar a uma conclusão cor- reta no
início de uma gravidez são grandes, de modo que qualquer novo método que
possa auxiliar a diagnose será sem dúvida apreciado. É preciso entender que
nenhum sinal isolado de gravidez, como os que são descritos a seguir, pode ser
aceito por si mesmo, mas quando mais de um indício apontam na mesma direção,
positiva ou negativamente, pode-se exprimir uma opinião quase segura. Há três
sinais distintos tornados manifestos por mudanças na aura; chega-se a dois
através das investigações por faixas de c.c., e o terceiro é uma ligeira alteração na
forma das auras e em sua textura.
Ao examinar uma aura para determinar se existe um estado inicial de
gravidez, o primeiro passo no exame consiste em certificarmo-nos se a forma de
ambas as auras normal dos lados e nas costas, e anotar suas larguras,
especialmente da aura interior sobre as várias partes do corpo. Isso fornece um
padrão pelo qual as medições da frente do corpo possam ser comparadas. Via de
regra, uma mulher que goze de boa saúde e não esteja grávida exibirá as duas
auras da mesma largura ao longo de toda a frente do tronco, com a ocasional
exceção de serem um pouco mais largas na frente dos seios, quando o período
menstrual se aproxima. Em quase todos os casos de início de gravidez, a aura
exterior é leve mas definidamente mais ampla na parte mais baixa do abdômen,
começando a alteração uma curta distância abaixo do umbigo; nos últimos
estágios, esse alargamento se estende mais para cima. Ao mesmo tempo, sempre
há um crescimento em frente das mamas, o que se pode observar melhor quando
a paciente não se posta completamente de lado, mas só o bastante para permitir
que apareça o perfil de um seio de cada vez contra o fundo. Quando a posição da
mulher for tal que se obtenha a melhor visão da aura em frente dos seios,
geralmente se vê um pequeno raio procedente do mamilo. Além da largura extra,
a textura da aura geralmente parece mais densa.
A aura interior também participa da alteração nos mesmos lugares em que o
faz a exterior. Sua largura é um pouco aumentada nos primeiros estágios da
gravidez, mas não na mesma extensão em que isso ocorre num período posterior,
sua opacidade um tanto maior e, o que é extremamente importante, seu
estriamento permanece inalterado. Cada caso deve ser plena mente investigado e
julgado com base em seus próprios méritos, já que devido a diferenças
individuais não é possível apresentarmos padrões fixos para as auras.
Notou-se constantemente durante o exame de uma mulher grávida que a aura
não é tão distinta como geralmente o é em estado de sanidade. Por algum tempo,
isso foi atribuído a várias causas, como má iluminação, etc., até se observou ser
tão frequente a ponto de não haver dúvida quanto a sua conexão com a condição
da paciente. Examinando os diferentes registros, essa diminuição de brilho ocorre
numa considerável percentagem de casos, de modo que ela pode ser aceita como
um indício auxiliar de gravidez, e sua presença pode ajudar a formar uma opinião
num caso dúbio.
Após o exame preliminar, o observador procede aos testes com as faixas de
c.c. Para essa parte do exame, a mulher deve primeiramente postar-se de frente
para o investigador. A faixa de c.c. vertical será então percebida como uniforme
em toda a sua extensão se ela estiver em boa saúde e grávida. Atenção especial
deve ser dada à porção situada sobre a parte inferior da faixa perto da região
pubiana. Isso é importante para nos assegurarmos de que a mulher não mostra
sinais de que está em vias de menstruar. Quando a faixa de c.c. é usada
transversalmente sobre os seios, a cor, em mulheres que não estão grávidas nem
amamentando nem sofrendo de nenhuma infecção de mamas, é naturalmente
uniforme (exceto sobre as aréolas e os mamilos), não só nos próprios seios como
também nas partes adjacentes do corpo. Durante a gravidez e a lactação, a cor
não raro se torna mais pálida sobre as mamas. O matiz mais claro é devido a uma
modificação da aura semelhante à já considerada no Capítulo VIII. Essa alteração
não tem importância em si mesma, mas proporciona-nos uma valiosa
corroboração de que uma mudança ocorreu nos seios. Quando uma faixa de c.c.
transversal é projetada sobre as regiões epigástrica e hipogástrica, raramente
ocorre alguma alteração de cor, mesmo que a paciente sofra de náuseas e
vômitos, assinalando o fato de que distúrbio gástrico não depende tanto de
distúrbios locais como de alguma influência mais geral.
O Caso 70 é um exemplo um tanto análogo ao de distúrbios estomacais
durante a gravidez. Mas se uma mulher já sofria de algum problema gástrico
definido antes da gestação, o que acabamos de dizer, obviamente, não será válido
para ela. Nenhum outro auxílio se pode obter das faixas de c.c. quando são
empregadas sobre a frente do corpo.
Já aludimos ao fato de que a maioria das mulheres no vigor dos anos
mostram uma alteração na aura sobre a região lombo-sacral das costas, quando a
faixa de c.c. é escurecida ou até mesmo muda de cor. Essa mancha quase sempre
desaparece do sacro durante a gravidez, geralmente durante os primeiros estágios.
Contudo, se a mãe em perspectiva sofre mais dores do que seria natural durante
seus períodos menstruais, a mancha, via de regra, será portanto mais escura, e,
em consequência, perdurará por mais tempo; mas, seja como for, ela em geral
desaparece antes do quarto mês. Mas se essa área descorada for devida a qualquer
outra causa, como, por exemplo, reumatismo, a gestação não exercerá nenhuma
influência sobre ela. A presença dessa mancha, ao contrário, age contra a
probabilidade de gravidez. A ausência dessa marca numa mulher que se sabe que
anteriormente a tinha, ou que sofria de muita dor lombar durante seus períodos
menstruais, é um sinal muito importante, se não absoluto, de gravidez, a menos
que seja devida a alguma outra causa posteriormente eliminada.
Quando a faixa de c.c. transversal é usada sobre a parte mais baixa do
abdômen, com a paciente postada de lado, as cores das extensões costumam ser
desiguais. Se isso acontecer, a situada em frente do abdômen provavelmente será
mais clara que a das costas. Isto se deve a alguma alteração da aura como a que
discutimos anteriormente, e tem valor positivo, salvo se alguma mudança
detectada no exame precedente do abdômen, com a paciente postada de frente,
for a causa da variação.
Para resumir, os primeiros sinais de gestação mostrados pela aura são:
 
1. Um leve aumento do tamanho da aura na parte inferior do abdômen e em
frente dos seios. A interior, também, pode ficar um pouco mais larga, mas sempre
conserva perfeito o seu estriamento.
2. A faixa de c.c. não mostra descoloração na parte inferior do abdômen.
Uma mancha colorida sobre o estômago não é usual, salvo ter havido,
anteriormente, problemas gástricos. A faixa é em geral mais clara sobre os seios.
3. Ausência da área escura nas regiões lombo-sacrais.
4. Uma indistinção geral das duas auras pode ser acrescentada como indício
auxiliar.
 
O seguinte foi o caso de gravidez que mais cedo o autor teve a oportunidade
de constatar.
 
 
Caso 86.
 
C., uma mulher casada de trinta e três anos e mãe de dois filhos, tendo
passado em branco um período, desejava saber se estava esperando outro bebê.
Não era mulher muito vigorosa, mas na ocasião estava gozando de boa saúde.
Havia boas razões para saber que ela não podia estar grávida por tempo maior
que trinta dias, no máximo. Sofria de dores lombares, especialmente quando
cansada, e mesmo por ocasião de seu exame não estava completamente livre de
tais dores, mas geralmente não as tinha durante a menstruação.
Sua aura exterior era nítida e a interior abaixo da média, mas podia-se
distinguir estriamento facilmente. Postada de frente para o observador, sua aura
exterior média dez polegadas em torno da cabeça, doze junto ao tronco,
contraindo-se para quatro na altura dos tornozelos, o que compunha uma boa
forma oval. Além disso, havia também presente uma aura ultra-exterior
perceptível. Quando ela se pôs de lado, a aura exibiu uma protuberância
levemente arqueada na região lombar, começando na cabeça e terminando nos
pés. Na frente do tronco, a largura geral era de quatro polegadas, mas, em frente
da parte inferior do abdômen, aumentava para seis e, sobre os seios, para mais de
cinco polegadas.
A aura interior tinha meramente duas polegadas e meia em torno de todo o
corpo, salvo em três lugares, a saber, em frente da parte inferior do abdômen, na
região lombar, onde media três polegadas, e em frente das mamas, onde tinha
quase igual largura.
A faixa de c.c. vertical era uniforme em frente do corpo, mas a transversal
mostrou áreas mais pálidas sobre as mamas. Nas costas, havia uma grande
mancha escura na parte superior do sacro, que se estendia quase até a altura da
segunda vértebra lombar.
Nesse exemplo, todas as alterações do normal foram as que se podiam
esperar no início da gravidez, com exceção da mancha escura sobre o sacro, que
se explicava pela dor reumática, de modo que uma opinião sem reservas foi por
nós aventada, segundo a qual a paciente estava efetivamente grávida. Na ocasião
devida uma criança lhe nasceu.
 
 
Caso 87.
 
K., era uma senhora de vinte e nove anos, casada há dois anos e que
esperava estar grávida, pois sua menstruação falhara uma vez e já era quase
tempo de lhe sobrevir uma segunda. Com a paciente postada de frente, sua aura
exterior média dez polegadas em torno da cabeça e do tronco, gradualmente
diminuindo para cinco nos tornozelos. De lado, nas costas, via-se que media
quatro polegadas ao nível dos ombros e das nádegas, com uma leve protuberância
na região lombar, e, na frente, sua largura normal era de quatro polegadas, mas
havia um pequeno aumento na frente dos seios, e outro na parte mais baixa do
abdômen. Nesses locais a aura interior parecia opaca e, em consequência, mais
distinta, mas seu estriamento era claramente visível. Por sobre o corpo todo a
aura interior tinha duas polegadas de largura, era uniforme e exibia estriamento.
A extensão da faixa de c.c. em frente do abdômen era mais clara do que ao
mesmo nível nas costas. Quando ela novamente se pôs de frente para o
observador, a faixa de c.c. vertical pareceu uniforme ao longo de toda a parte da
frente do corpo, exceto sobre as mamas, onde era mais pálida do que as porções
adjacentes do corpo. Não havia alteração de cor sobre a região gástrica. Nas
costas, a cor não estava alterada em parte alguma. As lições aprendidas deste
caso são, primeiramente, que a mulher não mostrava sinais de sua menstruação
estar se aproximando, embora fosse mais que tempo; além disso, que a aura
revelava o fato de haver atividade fisiológica nos seios e sob a parte do abdômen
próximo do púbis. Não havia dúvida quanto a ser um caso de gestação.
A mulher cuja aura foi descrita no Caso 49 acreditava-se grávida por sua
menstruação estar suspensa havia já dois meses. Quando foi examinada, já era
quase tempo de menstruar uma terceira vez. Contudo, não havia alteração na aura
em frente do seio direito, nem nenhum crescimento junto à parte inferior do
abdômen, nem também era a faixa de c.c. de matiz mais escuro acima do púbis;
ao passo que, nas costas, uma proeminente mancha escura era visível sobre o
sacro.
Nesse caso, o único sinal de gravidez era a ausência de descoloração acima
do púbis quando o abdômen foi examinado por meio das faixas de c.c.. ocasião
em que normalmente deveria estar presente. O diagnóstico apresenta- do foi o de
que uma gravidez estava fora de questão e que a menstruação não sobreviria por
pelo menos mais uns quatro ou cinco dias, mas a data de sua ocorrência não
podia ser predita. Na verdade, sobreveio-lhe a menstruação sete dias após o
exame.
À medida que a gravidez progride, as mudanças na aura em frente das
mamas aumentam, mas variam de extensão e não correspondem inteiramente às
alterações em frente do abdômen. A expansão não está confinada à aura exterior,
já que, na maioria dos casos, a interior fica mais ampla. Mesmo quando a aura
interior permanece estacionária no tamanho, fica mais opaca do que as partes
adjacentes, mostrando que as glândulas estão se preparando para assumir suas
funções especiais. Rarissimamente há alguma dificuldade em determinar se a
aura interior na vizinhança dos seios se ampliou, porque é fácil estabelecer uma
comparação com as partes próximas acima e abaixo deles. Conquanto ela possa
parecer, a olho nu, finamente granulada, a intervenção de uma tela escura de
carmim revelará a aparência estriada característica de um bom estado de saúde.
As auras de uma mulher que alcançou o quinto mês de gestação serão mais largas
do que durante o estágio inicial de sua gravidez e podem continuar se expandindo
até se aproximar o tempo do nascimento da criança.
As auras de mulheres após o quarto ou quinto mês podem ser divididas em
duas classes, que, apesar de não muito diferentes, mostram todavia uma diferença
que de modo algum é artificial e que, no futuro, poderão levar a importantes
resultados. Num grupo, o ponto mais amplo da aura não é tão largo como no
segundo, ao passo que a forma é mais regular e segue com maior exatidão o
contorno do corpo, mas usualmente atinge o seu tamanho máximo abaixo da
projeção do abdômen. Quando uma aura assim é vista, estando a paciente de
lado, através de uma tela de carmim profundo, verifica-se que a aura interior
também esta ligeiramente maior junto a todo o abdômen.
No segundo grupo, as auras são mais largas e mais distintas na frente da
parte mais proeminente do abdômen, dando lugar à "aura cônica", que em geral
dá a impressão de ser mais extensa do que realmente é. Quando as duas auras são
separadas da maneira ordinária, verifica-se que a interior também é mais ou
menos cônica, sendo um tanto mais ampla na sua base, em frente à parte mais
proeminente do abdômen, mas dificilmente na mesma extensão da exterior. Este
é um bom exemplo de uma aura interior crescendo e posteriormente diminuindo,
já que reassume seu tamanho natural após o parto. Com as faixas de c.c., a
totalidade dos seios, exceto as aréolas e os mamilos, parecerá em geral mais clara
do que as partes vizinhas do corpo, em qualquer posição que a paciente assuma.
Essa faixa, quando projetada sobre o tórax e o abdômen, pode ter coloração
uniforme, mas, quando a aura interior é cônica, costuma ser mais clara na frente
do abdômen. Se uma mulher que mostra uma aura cônica é examinada com a
faixa de c.c. transversal (ântero-posteriormente), o ponto extremo do abdômen
distendido é em geral mais pálido, e a extensão frontal é mais clara que a dorsal.
No primeiro grupo de casos, só ocorre esta última alternativa,
A palidez da cor sobre os seios e o abdômen, quando associada com o
crescimento e a nitidez da aura interior, indica a probabilidade de que alguma
alteração na própria aura ocorreu, e é um bom exemplo da afirmação de que
"uma alteração de textura na aura é causa suficiente para produzir uma alteração
na cor da faixa de c.c.". (Veja o Capítulo VI.) O caso seguinte é muito
interessante e instrutivo.
 
 
Caso 88.
 
A Sra. T. estava grávida pela quarta vez. Foi examinada logo que atingiu o
sexto mês de gestação. O histórico era que ela tinha se sentido muitíssimo bem
durante todo o período, até as três últimas semanas, quando foi subitamente
despertada de seu sono por um grande alvoroço em sua casa. Daquele momento
em diante, todos os movimentos da criança cessaram e o abdômen diminuiu de
tamanho, embora antes do transtorno os movimentos do bebê vinham sendo tão
ativos que até incomodavam. A mulher ficou deprimida, pensando que o filho
estivesse morto.
Suas auras nos lados e nas costas eram normais sob todos os aspectos. Na
frente, enquanto estava de lado para o investigador, a aura interior media
aproximadamente três polegadas ao longo de todo o tórax e das extremidades
inferiores, só que era um pouco mais pronunciada na frente dos mamilos. Diante
do abdômen proeminente, ela aumentara de largura. A aura exterior media cerca
de quatro polegadas ao longo de toda a parte da frente do corpo, salvo sobre o
abdômen, onde era cônica e media oito polegadas de largura. O interesse maior
estava concentrado na aura interior. Esta, acima da protuberância do esterno e ao
longo das pernas e coxas, era finamente estriada da maneira usual. A parte
anterior ao baixo-ventre era distinta e grosseiramente granulada, ao passo que, na
frente dos dois terços superiores era grosseira- mente estriada e bem marcada.
Ali, ela estava no estágio transicional entre o granuloso e o naturalmente estriado.
Portanto, podia-se ver que a aura era normal em torno de todo o corpo, com
exceção da parte em frente do abdômen, onde era patológica. A faixa de c.c. não
revelou nada de extraordinário, mas talvez valha a pena dizer que era mais clara
no seio esquerdo e mais es- cura no direito do que na porção restante da faixa, ao
passo que, ao mesmo tempo, as extensões eram uniformes. A explicação deste
efeito, como se viu, era bastante fácil, porque o matiz sobre o seio esquerdo é o
que era comum durante a gravidez, mas o seio direito era distintamente
pigmentado. Sendo saudável, não afetou a extensão para além do corpo.
Pensava-se que, nesse caso, a diagnose de morte do bebê se justificasse.
Depois da inspeção da aura, o útero foi apalpado e estava mais mole do que seria
usual ao sexto mês de gestação. Nenhum sinal de sopro uterino nem de pulsação
do feto pôde ser distinguido. Dois meses depois, ela deu à luz uma criança morta.
Em conclusão, o autor deste livro está ciente de muitas deficiências que
espera os leitores lhe venham a revelar. Todo este assunto está eivado de grandes
dificuldades, não apenas na prática, mas também na descrição, pois há um grande
número de minúcias, muito importantes, que é quase impossível pôr em palavras.
Ele procurou evitar quanto pôde o escolho da ambiguidade, mas ao mesmo tempo
acredita que não fez, de modo algum, justiça ao assunto. Repetidas vezes têm
chegado ao seu conhecimento novos fenômenos que transtornam suas ideias
anteriores e o compelem a recomeçar. Ele está seguro de que algumas das
hipóteses apresentadas com o fito de ajudar no progresso das investigações terão
de ser rejeitadas. Está, ademais, firmemente convencido de que o estudo
medicinal da aura se evidenciará aos poucos como um dos meios auxiliares de
diagnose. As investigações da aura suscitam um grande número de questões para
os futuros observadores.
Para ele, o estudo da aura tem sido um trabalho de amor, mas o objeto
principal, que é o de ajudar a diagnose médica, nunca foi perdido de vista. Ficará
satisfeito se a verdadeira ciência tiver com isso progredido, ainda que pouco.
Não podemos finalizar sem agradecer a muitos amigos o bondoso auxílio,
mais especialmente àqueles que se expuseram a grandes inconvenientes pessoais
para nos ajudarem nas pesquisas.
 
 
Editora Pensamento
 
Rua Dr. Mário Vicente, 374 04270 São Paulo, SP
 
Livraria Pensamento
 
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A AURA HUMANA
 
Walter J. Kilner
 
A ideia de uma aura - nuvem radiosa que envolve o corpo - é antiga. Na
Índia, na Grécia, em Roma e no antigo Egito, muito antes que a aura viesse a ser
considerada um atributo normal de todo ser vivo, as imagens sagradas traziam a
representação desse atributo divino.
Na tradição pré-cristã, a aura provinha da identificação dos heróis
mitológicos com o Sol. Na iconografia cristã ela é representada pela auréola ou
pela glória que envolve a cabeça e o corpo dos santos, como sinal divino de
sacralização.
Entretanto, pode bem ser que a ideia religiosa dessa ema- nação de luz se
fundamentasse simplesmente na observação de pessoas dotadas de clarividência.
Durante séculos acreditou-se que tais pessoas podiam ver a aura, que diferia de
indivíduo para indivíduo em cor e natureza, revelando características da saúde
emocional e espiritual de cada um..
Baseando-se nessa tradição milenar, o Dr. Walter John Kilner concebeu a
ideia de que, mediante certos dispositivos, a aura humana pode tornar-se visível a
praticamente todas as pessoas dotadas de visão normal. Suas pesquisas pioneiras
nesse campo, visando contribuir sobretudo para a aperfeiçoamento do diagnóstico
em medicina, estão narradas neste livro.
 
EDITORA PENSAMENTO

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