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MOACIR COSTA DE ARAÚJO LIMA

Quântica:
Espiritualidade e Sucesso

Esta obra foi digitalizada e corrigida por Emanuel Noimann dos Santos
em dezembro de 2007, para uso exclusivo de pessoas com deficiência
visual, nos termos da legislação vigente.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL


DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L699q Lima, Moacir de Araújo
Quântica : espiritualidade e sucesso / Moacir Costa de Araújo Lima. -
Porto Alegre, RS : AGE, 2007.
Inclui bibliografia
14x21cm. ; 125 p. ISBN 978-85-7497-369-2
1. Ciência e espiritismo.
2. Física quântica.
I. Título.
07-3678.
CDD: 133.9 CDU: 133.9
EDITORA
PORTO ALEGRE 2007 Moacir Costa de Araújo Lima, 2007
Capa: MARCO CENA
Diagramação: LAURI HERMÓGENES CARDOSO
Supervisão editorial: PAULO FLÁVIO LEDUR
Editoração eletrônica: AGE - ASSESSORIA GRÁFICA E EDITORIAL
LTDA.
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Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Dedicatória
Lúcia Helena
Amor, paixão, admiração, solidariedade, amizade, brilho.
São qualidades que caracterizam, que são despertadas, mas não
definem,
porque o nível do teu ser e tua essência jamais serão esgotados no
mundo
das palavras.
Se teu é o autor, de quem poderá ser o livro?
Priscila e Andrei
Há, por certo, muitos filhos extraordinários neste mundo.
Mas vocês são insuperáveis e podem ter a certeza de que, seja qual
for
a aparência, a situação ou o momento, são também os mais amados.
Eurides, minha mãe, onde quer que estejas, o agradecimento pelo ser
que me deste e por teu inefável carinho.
Samuel, meu pai. Sei que ninguém poderia estar mais feliz do que tu
ao veres mais uma obra do teu filho.
A todos vocês, com muito amor, eu, que de certa forma sou obra de
vocês, dedico esta obra que é minha.
Sumário
Introdução 9
A Física Quântica 13
Uma breve panorâmica 19
O rumo do sonho de Einstein 22
Teoria das Cordas: a sinfonia cósmica 32
Teoria das Cordas: a busca da Teoria do Tudo 39
As constantes universais: a sinfonia cósmica - ainda as cordas 49
Do imaterial para o material 56
As interconexões 61

Espiritualidade e religião 70
Espiritualidade - Harmonia - Realização 76
Ação e reação 84
A Lei de Causa e Efeito: causalidade 90
O sucesso: Lei das Atrações 97
O bem e o sucesso 113
Epílogo 121

Introdução
Neste livro, veremos que a Física Quântica, a espiritualidade e o
sucesso se complementam no caminho da realização integral do
homem.
A ciência traz novidades importantes e, conforme veremos, parte de
concepções abstratas, abandonando o experimentalismo como único
caminho, e faz seu Universo de descobertas, pela imaterialidade da
matemática, sem dispensar a antes tão relegada intuição.
Poderemos verificar que a linguagem e até o método para buscar e
dizer a verdade aproximam físicos e místicos bem intencionados.
Há uma nova descrição do Universo, em que a matéria perde a
substancialidade e passa a ser conseqüência e não causa.

Nos anos 80, em que ocorreu na Física uma verdadeira epidemia de


busca de partículas, não passava um mês sem que ”novas partículas”
fossem descobertas.
Era uma tentativa de, voltando a Demócrito, explicar o Universo
através de ”tijolos básicos”, de unidades materiais a partir de cujas
combinações tudo poderia ser descrito.
Essas partículas, no entanto, começaram a revelar comportamentos
estranhos e imprevisíveis, fazendo até com que os físicos lhes
atribuíssem graus de estranheza. E a expressão usada: ”grau de
estranheza de determinada partícula”.
De repente, no entanto, surge a quebra de paradigma. Os cientistas se
dão conta de que andavam procurando pelo caminho errado. A
unidade fundamental não estaria na matéria. Esta seria mera
conseqüência.

A unidade fundamental estaria na energia, em filetes energéticos


multidimensionais, que, vibrando, produziriam a matéria e suas
propriedades.
Um problema: como veremos depois, num pequeno histórico dessas
teorias, não há a menor possibilidade de visualização de uma
supercorda.
A teoria jamais poderá ser testada em laboratório, o que levou alguns
físicos a dizerem que não se tratava de Física e sim de Filosofia.
A tradução dos modelos matemáticos criava entes conceituais, mas a
partir deles a explicação do Universo e a busca de uma teoria
unificada faziam sentido.
Utilizava-se, sem dar nome, o método da abdução, que consiste
exatamente em pressupor a existência de algo e verificar, a partir das
propriedades desse algo, como ele se encaixa no comportamento do
Universo.
Se é uma entidade sem identidade que, em conseqüência, deve ser
descartada, ou se, ao contrário, a postulação de sua existência vai se
tornando fundamental para explicar os fenômenos da natureza.
Como a matemática é criação da mente humana e seus elementos
não são materiais, não são físicos, estamos em pleno universo da
criação mental e entendemos por que se diz que o objeto científico é
criado dentro da teoria.
A expectativa do fato cria o fato.
Assim pensaram por muito tempo estudiosos da espiritualidade, que
hoje tem uma base científica.
E qual a importância, para nós, desse conhecimento?
Está exatamente no fato de apontar para nosso poder de criação, para
uma consciência que transcende a matéria, e nos dar uma base sólida
para nos situarmos num novo mundo, em que somos co-criadores.
Assim sendo, sabemos estar cercados de variados tipos de energia,
ou até mesmo inteligências, que atraímos, por pensamento e emoção,
para a concretização de nossos ideais.

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Não é segredo, nem existe mistério. É a ciência mostrando um novo


Universo e dentro dele um novo homem, criador de seu destino e
responsável, exatamente por ter liberdade de escolha.
E a ciência apontando para o livre-arbítrio e trazendo ares de
liberdade que o determinismo e as religiões fatalistas sempre
negaram.
Nesse novo e fascinante universo, ninguém está para sofrer. ”A
verdade liberta”, e o homem liberto traça seus rumos no caminho da
felicidade.
Será bem-sucedido, quer dizer, terá sucesso, porque terá sabido se
comunicar com um Universo cheio de vida, realização e progresso,
com que devemos aprender a sintonizar.
De início, mostraremos algumas curiosidades do mundo quântico e da
participação de nossa consciência, em diferentes níveis de realidade.
Depois, percorreremos o caminho das grandes descobertas da Física,
até a teoria das cordas, entremeando essa nova visão com dizeres de
Vivekananda, Leopoldo Bettiol, Meimei, através de Chico Xavier,
Jesus, Dalai Lama, Buda, Kardec, mostrando que há uma realidade
interpretável em diferentes níveis e que seu entendimento nos permite
construir o sucesso, desde que não invertamos o caminho da busca.
A crescente compatibilidade entre ciência e fé nos dará importantes
fundamentos e nos ensinará a sintonizar, o que só é possível vibrando
na mesma freqüência, com a realização e a felicidade.
A ciência parte do imaterial para chegar ao material. Enquanto tinha a
matéria como centro e procurava nela a solução para os problemas do
Universo, resolveu apenas questões locais, separou, à moda
ocidental, e distanciou-se de uma visão de conjunto que a tudo
abrangeria.
Enquanto buscarmos somente os bens materiais, poderemos até
consegui-los em abundância, mas não estaremos vivendo a sensação
de completude do ser humano.

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Entendendo nossa natureza espiritual, estaremos partindo da causa e,


sem angústia, mas com foco, as realizações materiais serão
conseqüência, e não produzirão efeitos colaterais danosos.
Vamos, então, examinar, como tudo isso acontece.

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A Física Quântica

O que de novidade trouxe este ramo do conhecimento, para hoje se


tornar quase um modismo e despertar em todos o desejo de
conhecêlo melhor?
Pois a Física Quântica nos trouxe uma descrição completamente nova
do Universo.
Partículas apresentam o fenômeno da superposição, quer dizer, uma
mesma partícula pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Elétrons às vezes se comportam como onda e às vezes como
partícula. A diferença é muito importante e as duas situações,
ocorrendo simultaneamente, não eram entendidas na Física
tradicional. Isso porque uma partícula, quer dizer, um pedacinho de
matéria, só poderia estar em um lugar a cada momento. Já uma onda,
está em vários lugares ao mesmo tempo.
O mais surpreendente, nesse fenômeno conhecido como dualismo
onda-partícula, foi a descoberta de que o comportamento é
determinado pelo observador.
Enquanto não estão sendo observados, elétrons se comportam como
ondas, havendo apenas possibilidade de estarem ou não em
determinado lugar.
Ao serem observados, a consciência do observador determina que se
comportem como partículas, ocupando, entre as prováveis posições,
uma delas.
Assim, a Física Quântica trouxe, definitivamente, para o cenário da
ciência, a consciência do observador como responsável por alterações
no comportamento das partículas.
É o que tradicionalmente se conhecia como poder da mente, ou poder
do pensamento, que para um cientista mecanicista não passava de
especulação mística.

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Mas, os místicos já diziam, antes de a parapsicologia comprovar, que


o pensamento se transmite à distância e pode agir sobre a própria
matéria inanimada.
A Quântica também trouxe o Princípio da Incerteza.
Tecnicamente, esse princípio, através de uma equação, afirma que
quanto mais precisos formos na determinação da posição de um
elétron, mais imprecisos seremos na determinação de sua quantidade
de movimento e vice-versa.
No terreno da Filosofia da Ciência, isso quer dizer que nem sempre,
conhecida a causa, chega-se a um efeito único, plenamente
determinável, e traz em seu bojo uma importante conclusão:
Nem tudo está determinado. Se nem tudo está determinado e nossa
consciência influi sobre os acontecimentos, podemos escolher. Se
podemos escolher, temos livre-arbítrio, liberdade e responsabilidade.
O mundo quântico, que é o mundo do infinitamente pequeno, nos
apresenta um imenso conjunto de possibilidades, com diferentes graus
de probabilidade. A Física Quântica é uma Física de possibilidades,
entre as quais escolhemos as que queremos transformar no que
chamamos realidade.
Mais uma vez está presente o binômio liberdade-responsabilidade.
Por isso, não é válido, nem útil, nem construtivo, nos prendermos a
situações negativas, acreditando que não podemos alterá-las porque
fazem parte de um destino preestabelecido, que estaria em
conformidade com o determinismo.
A ciência está a nos dizer que com pensamento e emoção,
escolhemos a realidade.
Obviamente, temos nossos limites.
Muitos focam essa possibilidade de criar uma melhor realidade e
assim buscar a realização em objetivos meramente materiais,
consumistas. E assim inventam segredos e realizam uma verdadeira
propa-

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ganda enganosa, do tipo: durma feio e pobre e acorde com a cara de


torn Cruise e a fortuna do Bill Gates.
Esse tipo de interpretação, que usa de modo desautorizado as
conclusões da Física Quântica, vai gerar muitas desilusões.
É verdade que sempre podemos progredir e melhorar. É verdade que
o segredo é ter foco sem angústia e, por isso, assim como um atleta
que está tentando iniciar sua carreira, começamos com objetivos
menores, acessíveis, até reunirmos condições de chegar, quem sabe,
a uma medalha de ouro.
Mas não é voltando-nos para o consumismo puro e entendendo que a
felicidade consiste apenas no acúmulo de bens materiais, que iremos
atingir nossa realização.
Nesse caminho, não estamos acessando o aspecto espiritual da
mente e estamos colocando a matéria como único nível de realidade.
A mensagem da ciência é bem mais completa.
É buscando o bem que o produzimos em nós. E fazendo o bem que
evoluímos, é auxiliando pelo prazer de auxiliar que criamos condições
de receptividade que irão nos colocar em sintonia com a prosperidade.
Dando mesquinhamente, fazendo uma espécie de conta de chegada a
respeito do que receberemos em troca do doado, sintonizamos com a
mesquinharia, que é a antecâmara da miséria.
Nossas emoções produzem o alimento de nossas células. Podemos
alimentá-las com pensamentos de altruísmo e grandeza, que nos
conectarão com fontes de energia que geram o progresso, ou com as
emoções do queixume, da autodestruição ou da doença.
Não há mistério; não há segredo. E uma lei tão antiga quanto a
presença do homem na terra: Os semelhantes se atraem: ”Quem
semeia ventos, colhe tempestades”. ”A cada um segundo suas obras”.
É assim que o Universo se comporta em relação a nós.
Trata-se de um Universo rico, porém diversificado, de onde nós, por
sentimentos e emoções, buscaremos o que merecermos.

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Então, pela linguagem da ciência, nós nos construímos e arquitetamos


nosso destino, em conexão com o Universo, ligando-nos a fontes de
energia, ou mesmo entidades, se assim preferirmos entender, ou a
ambas, de acordo com nosso pensar, que constrói nosso agir.
Vamos ver exatamente essa lei cósmica, dita de outra maneira, num
conto de Meimei, extraído da obra Pai Nosso, através de Xico Xavier.
Ei-lo:
O EFEITO DA CÓLERA
Um velho judeu, de alma torturada por pesados remorsos,
chegou, certo dia, aos pés de Jesus, e confessou-lhe estranhos
pecados.
Valendo-se da autoridade que detinha no passado, havia despojado
vários amigos de suas terras e bens, arremessando-os à ruína total e
reduzindo-lhes as famílias a doloroso cativeiro. com maldade
premeditada, semeara em muitos corações o desespero, a aflição e a
morte.
Achava-se, desse modo, enfermo, aflito e perturbado... Médicos não
lhe solucionavam os problemas, cujas raízes se perdiam nos
profundos labirintos da consciência dilacerada.
O mestre, porém, ali mesmo, na presença de Simão Pedro onde se
encontrava, orou pelo doente e, em seguida, lhe disse: ”Vai em paz e
não peques mais”.
O ancião notou que uma onda de vida nova lhe penetrava o corpo,
sentiu-se curado, e saiu, rendendo graças a Deus.
Parecia plenamente feliz, quando, ao atravessar a extensa fila dos
sofredores que esperavam pelo Cristo, um pobre mendigo, sem
querer, pisou-lhe num dos calos que trazia nos
pés.
O enfermo restaurado soltou um grito terrível e atacou o
mendigo a bengaladas.
Estabeleceu-se grande tumulto.

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Jesus veio à rua apaziguar os ânimos.


Contemplando a vítima em sangue, abeirou-se do ofensor
e falou:
”Depois de receberes o perdão, em nome de Deus, para tantas faltas,
não pudeste desculpar a ligeira precipitação de um companheiro mais
desventurado do que tu”.
O velho judeu, agora muito pálido, pôs as mãos sobre o peito e bradou
para o Cristo:
”Mestre, socorre-me!... Sinto-me desfalecer de novo... Que será
isso?”
Mas Jesus apenas respondeu, muito triste: ”Isso, meu irmão, é o ódio
e a cólera que outra vez chamaste ao próprio coração”.
E, ainda hoje, isso acontece a muitos que, por falta de paciência e
amor, adquirem amargura, perturbação e enfermidade.
Assim se encerra o conto.
Não está rigorosamente de acordo com a Lei de Ação e Reação, ou
com o que alguns querem chamar de Lei das Atrações?
Não fecha também com a Física Quântica, que afirma estarmos todos
interconectados no Universo?
E ainda está em plena consonância com o dizer do já falecido filósofo
brasileiro, Huberto Rohden:
”O mal que os outros nos fazem não nos faz mal porque não nos torna
maus; o mal que fazemos aos outros é que nos faz mal porque nos
torna maus.” E, reciprocamente:
”O bem que fazemos aos outros é que nos faz bem, porque nos torna
bons.”
Observamos, então, na fé, representada no conto sobre Jesus, na
Filosofia e na Ciência, um apontar de caminhos iguais, mostrando
sermos o resultado de nossos pensamentos, ações e emoções. Enfim,
somos a obra-prima de nós mesmos.

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Vamos passear pelo campo da evolução da ciência, tirando dali


conseqüências importantes e lições de vida e aprendizagem,
verificando que a boa intenção e a espiritualidade, embasadas no mais
atual conhecimento científico, levam à felicidade, ao sucesso e à tão
almejada paz.

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Uma breve panorâmica

Fascinantes possibilidades têm se aberto no caminho da evolução da


ciência, o que transformou muitos físicos, antigamente céticos e donos
da verdade, em investigadores, abertos ao novo e que consideram,
como o Ph.D. Allan Wolf, que o fascinante é viver no mistério.
Os físicos retomam a busca de Einstein pelo chamado Universo
Elegante.
O que isso significa?
Significa termos uma única teoria, uma magna equação capaz de
explicar o comportamento de todo o cosmos.
O que se conseguiu nesse sentido tem um preço que é absolutamente
fantástico, que consiste em admitir hipóteses que antes seriam
consideradas místicas, como, por exemplo:
O Universo em que vivemos não é único. Abre-se aqui a hipótese dos
universos paralelos, a única conhecida no momento capaz de explicar
por que a gravidade é uma força fraca. Comentaremos adiante esse
detalhe.
Mais: há lugares escondidos dos sentidos, o que os místicos já diziam,
e uma aproximação com a mística era tudo o que os cientistas
ortodoxos não queriam.
Entretanto, mesmo sem entrarmos nos meandros dos possíveis
universos paralelos, há no nosso próprio universo de expressão
múltiplas realidades que escapam à nossa percepção.
Sabemos da limitação dos sentidos; sabemos que nesse momento, à
nossa volta, há microorganismos nascendo, morrendo e se
reproduzindo.
Sabemos que há vidas dentro de nosso corpo físico, que nossas
células têm vida e matemática próprias, constituindo-se na menor

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unidade de consciência e que, mesmo assim, eu e minhas células


somos um.
Em nosso próprio universo, há o que físicos como Alan Guth, do MIT,
consideram uma realidade muito estranha. E o caso do fenômeno da
superposição, em que não se pode determinar exatamente onde está
uma partícula, até porque ela pode estar em dois lugares ao mesmo
tempo.
Já imaginaram como seria nosso conceito de beleza se fôssemos
visualmente sensíveis à faixa dos Raios X? Andaríamos, por certo, a
admirar fêmures e crânios, mas nada que tivesse relação com a pele.
Diante de fatos tão singelos, como podem alguns céticos pretender a
negação do espírito e de suas faculdades?
Mas, estamos só no nosso universo, por enquanto.
Voltemos aos paralelos, que são ferramentas necessárias para
chegarmos à Teoria do Tudo, aquela que explicaria numa só equação
básica todas as forças do Universo.
Chegamos à conclusão de que as partículas atômicas e subatômicas
não existem só em nosso Universo. Migram para universos paralelos,
diferentes do nosso, em que todas as possibilidades podem acontecer.
Num deles, Napoleão ganhou a batalha de Waterloo; noutro, a
Inglaterra manteve as colônias nos Estados Unidos sob sua
dependência.
Tais hipóteses, consideradas extremamente desconfortáveis, mais
estranhas do que o fato de Tom Jobim estar vivo, foram negadas, por
muito tempo, mas retornam cada vez mais fantásticas, o que nos
remete aTeillard Chardin: ”Só o fantástico tem alguma possibilidade de
ser real”.
O maior desejo dos físicos é encontrar uma única e elegante teoria
para todas as leis do Universo.
Vamos entender o porquê dessa busca e de se falar em Universo
Elegante.
Quanto maior o número de fenômenos que uma lei pode explicar,
quanto maior o número de problemas que uma fórmula pode

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resolver, mais nos aproximamos de uma unificação, que é a


culminância de uma análise inteligente sobre a natureza.
Quando uma criança começa a resolver problemas de aritmética, não
estando bem preparada, poderá ter a impressão de que cada
problema exige uma lei diferente.
Decora, quem sabe, a operação aritmética que deve aplicar em cada
exercício, mas queda estática diante do novo.
Crescendo em seu conhecimento, vai verificar que somar cinco
cadernos com quatro cadernos não exige uma matemática diferente
daquela necessária para somar cinco pessoas com quatro pessoas ou
números quaisquer de elementos do mesmo grupo. Estará começando
a abstrair e terá cada vez mais problemas resolvidos pela mesma lei.
E o que buscam os físicos: grandes leis, em número cada vez menor,
para resolver um número cada vez maior de problemas. Até
chegarmos à Teoria do Tudo, a Grande Unificação, o sonho de
Einstein.
Em seus últimos anos de vida, Einstein, mesmo quando doente e
impossibilitado de deixar o leito, não abandonava seu caderno de
notas, onde escrevia as equações na busca da unificação das leis
físicas. Voltaremos a esse famoso caderno e suas fórmulas,
antecipando que Einstein, bem como os físicos teóricos das
supercordas, hoje não partem do material. Não são experimentalistas.
Deduzem da matemática como é e como se comporta o Universo e,
em nenhum momento, na interpretação e adequação das fórmulas que
dizem nossa realidade em sua linguagem própria, abandonam a
intuição.
Segundo Michio Kaku, da Universidade da Cidade de Nova Iorque, no
momento da criação, o Universo era puro, simétrico, elegante e nobre.

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O rumo do sonho de Einstein
Nos últimos vinte anos de sua vida, em Princeton, New Jersey,
Einstein vive com seu caderno por perto, reestudando e escrevendo
equações que possibilitassem chegar à Teoria do Tudo.
Esse sonho, que, como veremos, mais tarde foi abandonado, quase
desprezado, é, na verdade, o que o físico Brian Greene, da nova
geração de físicos da Universidade de Colúmbia, considera o Santo
Graal da Física contemporânea.
Especula-se que podemos viver num universo onde a realidade se
comporta como ficção científica, um universo de 11 dimensões, com
universos paralelos na porta ao lado, feito de música, composto por
um só ingrediente. Esse assunto será tratado ao examinarmos a
Teoria das Cordas, mas é interessante pinçar, aqui e agora, que a
idéia de um único ingrediente formador de todo o universo físico está
em Kardec, ao mencionar o ”fluido universal”.
Independentemente da concepção antiga da palavra fluido, o que se
tem nas informações passadas a Kardec é exatamente a idéia de um
só ingrediente para compor todo o cosmos, em absoluta oposição à
Física da época e em perfeita harmonia com os mais avançados
conceitos da atualidade.
Mas, retomemos a unificação, a busca da equação-chave.
Para Michael Green, da Cambridge University, explicar fenômenos de
modo simples é progredir. É a busca de grandes teorias para muitos
fenômenos.
Esse poder de síntese, esse progresso teórico, encontramos, no
campo do aperfeiçoamento humano e da evolução espiritual, em
Jesus, ao resumir os dez mandamentos num só: ”Amai-vos uns aos
outros”, o que de fato, se praticado implicará seguir todos os demais, e
em Kardec, ao tratar de duas grandes leis espirituais: a sobrevivência

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e a reencarnação, compreendida na primeira a comunicação, porque o


que existe tem que se manifestar de alguma forma; e na segunda, a lei
da evolução, em que a regra é progredir sempre.
Voltemos à busca da unificação na Física.
Segundo a história, o que para alguns é lenda, em 1665, uma maçã,
caindo da macieira, chamou a atenção de Newton.
Perquirindo a lei que determinaria a queda da maçã, Newton formula a
Lei da Gravitação Universal, primeira e mais misteriosa das leis
referentes às forças da natureza, porque até hoje inexplicada em seu
mecanismo causal, e com ela explica desde a queda dos corpos até o
movimento dos planetas em torno do Sol.
Uma mesma força, a força gravitacional, aplicável em várias funções.
com isso, Newton unificou céus e a terra. Estava efetivada uma
unificação entre o celeste e o terrestre, sendo a gravidade a primeira
das quatro forças fundamentais na Física a ser compreendida.
Apesar de estabelecer a fórmula para o cálculo da força gravitacional,
Newton não sabia como ela funcionava. A explicação só veio no início
do século XX.
Em 1905, um jovem de vinte e seis anos, empregado no
Departamento de Patentes do governo da Suíça, chamado Albert
Einstein, escreveu quatro equações, o que significa dizer: desenvolveu
quatro teorias, que revolucionaram tanto a Física, que o ano do
centenário de sua publicação, 2005, foi considerado o Ano
Internacional da Física.
Uma das mais importantes conclusões de Einstein foi que a
velocidade da luz era a velocidade limite no Universo. Ou seja, nada
no Universo pode mover-se ou propagar-se com velocidade superior à
da luz, que é de aproximadamente 300.000km/s (quilômetros por
segundo).
Isso trazia um problema: ia contra a imagem da gravidade de Isaac
Newton. Para Newton, o efeito da gravidade era instantâneo; quer
dizer: se num determinado momento o Sol explodisse, sendo o

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efeito gravitacional instantâneo, se propagaria do Sol à Terra, sem


gastar tempo.
Isso eqüivale a dizer que, no exato instante da explosão, ou do
desaparecimento do Sol, a Terra sairia de órbita, pela tangente.
Para Einstein, nada se propaga com velocidade superior à da luz.
Então, como a luz do Sol leva cerca de oito minutos para chegar à
Terra, os efeitos da gravidade também levariam cerca de oito minutos
para aqui serem sentidos e, portanto, a Terra permaneceria mais oito
minutos em órbita de um Sol já não existente.
Antes de explicarmos por que Einstein estava certo, cabe uma rápida
consideração, de natureza relativística, a respeito de presente,
passado e futuro.
Vamos imaginar uma estrela 100 anos-luz distante da Terra. Um ano-
luz é uma unidade de distância usada em astronomia que corresponde
à distância percorrida pela luz em um ano, com a velocidade de
300.000km/s.
Imaginemos entre essa estrela e nós, exatamente na metade do
caminho, um planeta, com observadores inteligentes.
Suponhamos que essa estrela explodisse agora e que sua luz fosse
visível, tanto para nós quanto para os imaginados observadores, na
metade do caminho.
Como a imagem da estrela, transmitida por sua luz, assim como
qualquer outro efeito produzido por sua presença ou desaparecimento,
se propaga no espaço com a velocidade da luz, a explosão e o
desaparecimento da estrela só seriam percebidos pelos observadores
na metade do caminho entre a estrela e nós, daqui a 50 anos.
Então, daqui a exatos cinqüenta anos, para os observadores a 50
anos-luz da estrela, sua explosão estaria acontecendo. Seria presente.
Na estrela, seria passado, e para nós seria futuro, porque só depois de
mais 50 anos, 100 a contar da explosão, suas imagens chegariam a
nós.
Por isso, Einstein afirmou que na infinidade do espaço tudo é passado.
Muitas estrelas que enxergamos não existem mais.

24

Mas, retornemos ao problema da propagação da gravidade,


instantâneo para Newton e na velocidade da luz para Einstein.
O movimento dos planetas estava explicado pela teoria de Newton.
Seria, então, de perguntar: ”E agora, Einstein?”
Einstein substitui a força de Newton por uma idéia revolucionária sobre
o espaço-tempo.
Acrescenta às três dimensões físicas conhecidas do espaço uma
dimensão extra, não espacial: o tempo.
Postula, então, que o continuum espaço-tempo é uma espécie de
cama elástica.
A presença de massas encurva essa cama elástica. A grande massa
do Sol produz linhas de curvatura, e por essas linhas movem-se os
planetas, que se conservam em órbita porque seguem as curvas
causadas pela presença do Sol.
A Teoria da Relatividade Geral explicava a gravidade como resultado
de ligações e curvaturas no fabrico do espaço-tempo, e as alterações
nessas curvaturas se propagavam com a velocidade da luz.
Foram dez anos de pesquisa, através de equações matemáticas, para
chegar a essas conclusões.
A essa altura, Einstein passa a gozar de uma enorme popularidade,
comparável, por exemplo, à de Charles Chaplin.
No entanto, Einstein queria mais. Começava a tentativa de unificar a
gravidade e o eletromagnetismo, este unificado por Maxwell no século
XIX.
A unificação da eletricidade com o magnetismo permitiu a utilização do
telégrafo, com que se conseguia, em segundos, a transmissão de
mensagens a longa distância.
Ainda não sabiam os físicos por que o telégrafo funcionava.
Buscava-se uma relação entre eletricidade e magnetismo.
Hans Christian Õersted descobre que uma corrente elétrica cria um
campo magnético. Por essa razão, a ocorrência de raios desorienta
bússolas próximas ao local.

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Então, Maxwell explica o fenômeno em linguagem matemática.


Quatro fórmulas, quatro equações, simples, que explicam toda a
unificação entre a eletricidade e o magnetismo e, com ela, a força
eletromagnética, que é uma das chamadas forças fortes.
Estava realizada mais uma unificação, no dizer dos físicos, de modo
extremamente elegante.
Daí surge um desafio que acompanhou Einstein até o fim de sua vida:
tentar unificar a gravidade e o eletromagnetismo.
Einstein acreditava que o Universo precisaria ter um grande e belo
modelo para a base de tudo. Por quê?
Porque, segundo o físico Walter Lewin, Einstein era um dos físicos
que realmente queriam conhecer a ”Mente de Deus”.
Hoje, uma unificação bem mais ampla é sinalizada pela Teoria das
Cordas.
Entretanto, a simples unificação da gravidade com o eletromagnetismo
já é bastante complexa. As diferenças parecem superar as
semelhanças.
A gravidade é uma força fraca, comparada com a eletromagnética e
outras.
Basta, por exemplo, pegar um ímã e aproximá-lo de um conjunto de
dips colocados sobre uma mesa. Não esqueçamos que a Terra, com
toda sua gravidade, está tentando puxar os dips para baixo e, não
obstante seu tamanho, perde para o pequeno ímã.
Também ao levantarmos um peso do chão, ou ao subirmos uma
escada, estamos contrariando a gravidade de todo o planeta e
vencendo-a.
Às dificuldades já existentes para a unificação, somam-se outras entre
1920 e 1930: duas novas forças são descobertas no núcleo atômico; a
força nuclear forte, que mantém unidos prótons e nêutrons e a força
nuclear fraca, responsável pela radioatividade conseqüente da
transformação de partículas.
E, a partir de 1920, começa uma forma extravagante de pensar a
Física. L. Bohr penetra nos estudos do núcleo atômico onde as leis de
Einstein e Maxwell não eram aplicáveis.
O Universo previsível e ordenado cede lugar a um Universo
imprevisível, em que as leis rígidas e imutáveis cedem lugar a um
estudo de probabilidades.
Uma Nova Física, prevendo, entre diferentes possibilidades, a
probabilidade de cada uma e a descoberta posterior, que nos
reintegrou ao Universo, de que a consciência do observador é quem
elege entre as várias possibilidades, a que irá se colapsar em
realidade.
Enquanto a mecânica de Newton nos apartava do Universo, dando-
nos a função de espectadores passivos, a Nova Física trazia a
participação, a interferência da consciência do observador no
fenômeno.
Um bizarro jogo de consciências. O cientista olhando para o átomo e
sabendo que está sendo ”olhado” por ele.
Estabelecia-se um conflito entre a idéia de um universo previsível,
defendida por Einstein, e a de um Universo imprevisível, apenas
probabilístico, esposada por Bohr.
Esse novo Universo surpreendeu os físicos, que durante algum tempo,
por preconceito e acomodação, preferiam negar a quebra de
paradigma, de tal modo que o grande avanço das novas idéias
ocorreu a partir da década de 80, com muitos itens postulados e
pesquisados já em nosso século.
Walter Lewin chega a afirmar que nas pequenas escalas as coisas são
completamente diferentes de tudo o que estamos acostumados a ver.
Trata-se, segundo o físico citado, de um mundo louco, onde o bizarro
é o normal.
Se as coisas no nosso dia-a-dia ocorressem da mesma maneira que
ocorrem no mundo quântico, chegaríamos a um restaurante e
pediríamos, por exemplo, uma massa a frutos do mar.
O garçom, gentilmente nos responderia: - you tentar.
Isso porque no mundo quântico seus habitantes não estão
acostumados a ordens precisas. Tudo são possibilidades.

26

27
E também não haveria por que nos aborrecermos, se em vez da
massa a frutos do mar nos fosse servido um filé à moscovita.
Nesse mundo, há apenas uma possibilidade de ser servido o pedido,
como também não seria estranho se o café expresso fosse corde-rosa
ou alaranjado.
Em algum Universo paralelo, nosso pedido estaria atendido. Existem
centenas de possibilidades, e todas acontecerão em algum lugar.
E Lewin complementa:
”Você dirá que isso tem que estar errado. Mas existem tantas coisas
na Física que foram descobertas e deveriam estar erradas, que hoje
temos que ter muito cuidado ao dizer que algo está definitivamente
errado.”
Coisas consideradas impossíveis têm alguma chance de acontecer em
nosso próprio universo. Ocorre que são pouco freqüentes.
Como não são de ocorrência diária, essas coisas nos parecem
impossíveis. Não integram a rotina de nossas observações, até porque
estas são limitadas.
Por isso, físicos do MIT, como Edward Fachri, confessam que
internamente, em seu instinto, não compreendem muitos desses
fenômenos.
Mas essa situação é fácil de entender. Algum de nós compreende
intimamente que se uma nave viajar pelo espaço com velocidades
próximas à da luz, o tempo será diferente para ela do que é para nós.
Que eles poderão retornar vinte ou trinta anos mais velhos, enquanto
nós teríamos envelhecido muito mais?
Quanto mais não será difícil sentir que há fenômenos em que o tempo
anda em sentido inverso, de tal modo que o efeito precede a causa.
Mas podemos buscar situações mais simples, para exemplificar a
dificuldade de sentir o que sabemos ser correto. Daria para convencer
um homem primitivo, sem qualquer noção de Física, de que a Terra é
esférica e de que há alguém com os pés voltados contra os dele?
28

Por isso, os cientistas acreditam nos modelos matemáticos embora


sensorialmente não vivam os fenômenos a que eles levam.
E por isso admitem as equações da mecânica quântica, porque nunca
houve uma previsão da mecânica quântica que estivesse errada ou
contrariasse uma observação.
Assim, em 1930, a quântica descobre os segredos do átomo e às duas
forças conhecidas, gravitacional e eletromagnética, somam-se outras
duas: a força nuclear forte (S) e a força nuclear fraca (W).
A unificação se tornava mais difícil.
As grandes teorias da Física separaram-se em dois campos.
A Relatividade Geral para o macro e a quântica para o micro.
Mas até que se unifiquem as teorias, os grandes reinos do cosmos
nunca serão totalmente compreendidos. Estaríamos, e talvez
estejamos, vivendo a situação de duas famílias que não se dão, nem
se falam, mas moram na mesma casa.
A necessidade da unificação se faz presente quando estudamos, por
exemplo, os buracos negros.
Estes foram previstos matematicamente pelo astrônomo alemão Karl
Schwarzchild, enquanto combatia na Segunda Grande Guerra, em
1916.
Os buracos negros consistiriam numa espécie de aglomerado de
estrelas. Uma massa fantástica condensada num espaço muito
pequeno. Schwarzchild postulou a existência dos buracos negros,
escrevendo as equações de Einstein de uma maneira diferente e
interpretando-as.
Os céticos negaram. Para eles, os cálculos do astrônomo eram
apenas uma teoria. Mas, provando mais uma vez que as teorias
derivadas das equações matemáticas antecipam a experiência em
novas descobertas, os satélites confirmaram, pela existência de
grandes vazios espaciais, a hipótese dos buracos negros.
Possuem eles uma tal compactação de matéria que a gravidade
gerada é tão grande a ponto de nem mesmo a luz poder escapar.
E aí surge a necessidade da unificação.

29

Que teoria usar para os buracos negros? A da relatividade, porque são


muito pesados, ou a da quântica, porque são muito pequenos? O que
usar para descrever as leis de seus núcleos?
Por uma questão de bom senso, teríamos que usar as duas teorias.
Mas, oh decepção: as duas teorias unidas se destroem. Criam
inconsistências.
Os cientistas não se conformam e retomam o sonho de Einstein.
Edward Witten, um dos maiores físicos da atualidade, considerado por
muitos como o sucessor de Einstein, afirma que não podemos ter duas
teorias se queremos explicar o Universo. O Universo, diz ele, tem que
fazer sentido.
Se o macro e o micro pertencem ao mesmo Universo, deve haver uma
explicação única.
E essa explicação única surge de uma fantástica teoria matemática
que leva a um só ingrediente todo o Universo. Ingrediente que não foi,
nem jamais será visto. Que não é testável em laboratório.
E tão fantástico que alguns físicos ainda perguntam se é ciência ou
ficção; se é ciência ou filosofia pura.
Mais uma vez, perseguimos e parece que vamos atingir a unificação.
Talvez as cordas sejam o sonho de Einstein.
E com isso, não podemos deixar de lembrar Newton, em sua
fantástica metáfora do Universo, quando, com a modéstia que
caracteriza os grandes cientistas, afirma:
”Às vezes me sinto como uma criança à beira-mar, catando
conchinhas. Por vezes me vem às mãos uma bela e colorida e eu
a examino em detalhes. Tento conhecê-la, enquanto o grande
oceano da verdade jaz diante de mim.”
É por isso que hoje pensamos em diferentes níveis de realidade,
quebramos tabus e preconceitos e temos o físico Amit Goswami
afirmando que o Universo é lógica e matematicamente inconsistente
sem a idéia de uma Consciência Suprema. Leia-se Deus.

30

É importante observar que todas essas revolucionárias teorias, desde


Einstein, vêm da matemática pura. E a matemática é absolutamente
imaterial. Seus entes são criados pela mente humana, ou, na opinião
de alguns lógicos, são entidades platônicas.
E a mente, representação da consciência, no sentido espiritual, está
interligada a tudo e observemos o que é muito importante.
Foi desprendida da matéria, pelo formalismo da matemática, que a
ciência conseguiu explicar o Universo material.
Enquanto a matéria era a base, pouco se progrediu.
Quando se entendeu que o caminho era outro e que o mundo material
é conseqüência de um mundo mais amplo, realizamos os grandes
vôos da imaginação que fizeram da Física essa aventura do
pensamento, e na própria ciência encontraram um vislumbre da
espiritualidade.
A Teoria das Cordas é nova e extremamente audaciosa.
De onde surgiu? Veremos a seguir.

31

Teoria das Cordas: a sinfonia cósmica


UM PRELÚDIO

Poderemos interpretar de várias maneiras essa teoria, cujo


desenvolvimento iremos descrever.
Há uma leitura mística, que não colide com a leitura física, porque os
campos do conhecimento se somam. Diferentes níveis de realidade,
distintas visões,não significam exclusões.
O Princípio do Terceiro Incluído, trazido pelo movimento da
transdisciplinaridade do pensador francês Edgard Morand com o físico
Basarab Nicolescu, admite que pode haver um nível de realidade em
que AV-A, lê-se A e não A, coincidem.
Esse princípio, como tantos outros da quântica, elide a possibilidade
de estarem corretas as posturas maniqueístas que muitas vezes
resultam de uma perversa interpretação do Princípio do Terceiro
Excluído, da lógica tradicional, que afirma que não pode ser A e não-
A, em linguagem lógica - (AV-A).
Por essa linha de raciocínio, chegamos a concluir coisas do tipo: Não
pode ser bem e não-bem, quer dizer, bem e mal. Então, os que se
acreditam defensores e responsáveis pelo bem, sabendo que bem e
mal não podem coexistir, resolvem eliminar o mal. Leia-se eliminar os
maus. Interprete-se matar os que não rezam por sua cartilha.
Isso gerou as Cruzadas, as Guerras Santas e outras tantas
barbaridades em que um grupo, nomeando-se representante e
proprietário do bem, além de detentor da única verdade, eliminou
sistematicamente quem a qualquer outro grupo, de pensamento
distinto, pertencesse.
Todo ditador, todo fanático de qualquer seita ou mesmo agremiação
política pune, execra e, quando pode, mata, em nome da verdade de
que se julga possuidor.
Foi assim no conflito ciência-religião, hoje marchando para uma
complementação ciência-religiosidade ou espiritualidade.
Em 1980 surgiu um grande número de novas idéias. Progredia muito a
Teoria das Partículas e o físico inglês Stephen Hawking dizia que os
físicos estavam prontos para ler a mente de Deus.
Em breve, segundo ele, não haveria mais problemas para a integral
compreensão do Universo.
Ledo engano. O Universo de partículas superpovoado não resistiu a
uma viagem para trás, capaz de explicar o que ocorreu na época do
Big-Bang.
Numa seqüência de descobertas que mostraremos, as partículas
passaram a plano secundário. Eram efeito e não causa.
A Teoria das Cordas descreve um Universo como que feito de notas
musicais. Fala-se, nos congressos de Física, na grande sinfonia
cósmica.
As leis físicas, conforme examinaremos e aqui adiantamos, passaram
a ser harmônicos de uma supercorda.
É uma descrição muito diferente daquela dada pelo materialismo
realista. As partículas não eram as partículas, e a natureza passou a
ser feita de pequenas notas musicais.
Antes de aprofundarmos a Teoria das Cordas e suas conseqüências,
mostrando que há vários instrumentos, caminhos e maneiras de
produzir, ou encontrar, hoje o mais apropriado é produzir a realidade,
vamos a um artigo de Swami Vivekananda, extraído de seu livro
Epopeyas de Ia Antígua índia, intitulado ”O Psiquismo e a Ciência”,
que entremearemos com comentários.
”Para responder a pergunta se os fenômenos psíquicos
(incluam-se aqui os mediúnicos) podem ser demonstrados
cientificamente, convém, antes de tudo, saber o que se entende por
demonstração.

32

33

”Se se trata de fenômenos físicos e químicos, com os quais estamos


mais ou menos familiarizados, é exato que qualquer um é capaz de
compreender a demonstração dos mais simples fenômenos ”Se
efetuarmos uma experiência científica em presença de um cretino, ele
não entenderá absolutamente nada, pois se necessita não pouca
preparação mental para compreender uma experimentação.
”Se por demonstração científica se entende situar um fato, um
fenômeno natural num plano em que todos, sem exceções, o
compreendam, nego a possibilidade de tal demonstração científica,
pois se assim fosse, de nada serviriam as universidades. Para que nos
haveríamos de instruir se desde que temos uso da razão pudéssemos
compreender toda a verdade científica?”
Lembro que hoje devemos considerar elementos que transcendem a
razão tradicional. A matemática e a intuição revelam um novo mundo
bizarro e totalmente apartado dos valores tradicionais. Isso, no ponto
da Física.
Na análise da espiritualidade, para onde apontam as mais modernas
conclusões da ciência, é necessário muitas vezes ir para além do
racional, sem desprezá-lo, mas ampliando-lhe as fronteiras.
Não esqueçamos a quântica: as partículas não são partículas; as
coisas não são feitas de matéria; são feitas de pensamentos, idéias,
intuições, que são propriedades do espírito humano, que tem seu nível
natural de expressão num mundo causal de que o material é simples
conseqüência.
Retomemos Vivekananda.
Em troca, mais propriamente consideraríamos a demonstração
científica como a exposição de fatos mais complexos, a fim de situálos
no plano de nossa consciência comum.
Porém, mesmo isso é muito difícil e requer rigorosa disciplina mental.
Portanto, a demonstração científica dos fenômenos psíquicos requer,
de uma parte, a prova do fenômeno e, da outra, a necessária e
suficiente disciplina mental nos que presenciariam a experimentação
fenomênica.

34

Nessas condições, estaremos com disposição de admitir ou rejeitar a


prova de qualquer fenômeno psíquico que se nos apresente; mas,
sem esses requisitos, não é possível demonstrar cientificamente
nenhum fenômeno psíquico.
É interessante observar que hoje essas condições de validade
estabelecidas por Vivekananda são aplicáveis a qualquer fenômeno,
desde os mediúnicos, até os quânticos. Vivekananda prossegue:
”Quanto a saber se as religiões são o resultado de uma sonhadora
fantasia, sem outro conteúdo que conjecturas, é uma afirmação
gratuita demais, que não se apoia em sólidos argumentos, pois
mesmo em nossos dias presenciamos fenômenos de pronto
inexplicáveis, que têm sido objeto de investigação. O cego de
nascimento pode negar a existência do Sol e, apesar de sua negação,
o Sol existe.” A mesma afirmação cética, contida no parágrafo anterior,
segundo a qual as religiões são o resultado de uma sonhadora
fantasia, sem outro conteúdo que conjecturas, foi e ainda é feita por
vários físicos, em relação à Teoria das Cordas, pois não se
conformam que algo que não se possa ver, pesar, medir, nem mesmo
detectar de alguma forma, surgido como veremos de modelos
puramente matemáticos, possa explicar todo o Universo sensível, o
antigamente chamado Universo material.
E o ranço cultural, o inconformismo, dos que ainda advogam a
substancialidade da matéria e desejam considerá-la a causa de tudo.
Retomando Vivekananda:
”Faz tempo que se investigaram os fenômenos psíquicos, e muitos se
dedicaram a disciplinar-se rigorosamente com o fim de aumentar a
sensibilidade dos seus nervos, e realizaram fenômenos muito
diferentes dos físicos.”

35

Aqui estão entendidos como fenômenos físicos aqueles assim


conceituados dentro do mecanicismo. Hoje, o fantástico é o corriqueiro
dentro do mundo quântico.
Sem dúvida, prossegue Vivekananda, reconheço que são abundantes
as patranhas, fraudes, imposturas e artifícios em tudo o que se refere
a psiquismo; mas em relação à matéria não sucede outro tanto? Cabe
lembrar aqui, mais um alerta de Kardec: ”o bom senso encarnado”. E
necessário instruir-se e é preferível rejeitar verdades a aceitar
mentiras.
A afirmação é plena de sentido. Enquanto rejeitamos verdades, nos
quedamos à espera de um maior amadurecimento, que, mais tarde,
nos fará compreendê-las, mas, ao aceitar mentiras, começamos toda
uma construção mental sobre falsas bases, fracos alicerces, que nos
obrigarão futuramente a um trabalho de demolição, para posterior
reconstrução. Voltando a Vivekananda:
”Há moeda legítima e moeda falsa; há virtudes e hipocrisias; há
verdades e mentiras envoltas nas mesmas palavras; há coisas como,
por exemplo, o éter transmissor, cuja existência afirmam alguns
sábios, tão rotundamente como se entre as mãos o expremessem, e
outros negam com a mesma veemência, como se houvessem
chegado ao extremo da indagação.
Se o agnóstico positivista medisse a sua ciência experimental com o
mesmo metro que aplica ao que não quer crer, tremeriam ali os
alicerces de seu edifício científico.” Impressiona, sob todos os
aspectos, o conjunto de conceitos de Vivekananda, que, como uma
luva, se ajustam à visão contemporânea da ciência.
E ele prossegue, demonstrando um conhecimento antecipado, de
como agiria e pensaria a ciência do século XXI.
Em tudo quanto esteja sujeito a esse mundo de relatividades, vivemos
em plena hipótese, e, nunca satisfeitos com a que acabamos de
estabelecer, buscamos em seguida outra explicação, movidos pelo
anelo natural de conhecer definitivamente a verdade. (Só depois de

36

1980, um número significativo de cientistas começou a adotar esse


posicionamento, que fez de muitos pioneiros da investigação
conceitual figuras rejeitadas por seus pares.)
Não é possível, prossegue Vivekananda, ser agnóstico no psíquico e
continuar indagando no físico. Temos de nos esforçar por conhecer o
que parece incognoscível.
Nesse sentido, cabe lembrar o budismo, que afirma: ”Construímos
nossas paisagens e nos limitamos a elas”. Por isso, se determinamos
que algo é impossível, ou inatingível, para nós assim será, enquanto
não mudarmos nossa atitude mental, criando condições de sintonia e
receptividade com níveis mais amplos de realidade.
Portanto, diz Vivekananda, no meu entender, os fenômenos psíquicos,
não só os de importância mínima como o movimento dos veladores e
das pancadilhas de mãos invisíveis, mas os de intensa clarividência e
clariaudiência, próprios de um superior estado mental, são os
verdadeiros degraus da investigação psíquica.
É impressionante a verificação da aproximação metodológica entre a
chamada investigação científica e a investigação dos fenômenos
psíquicos.
A abdução, como método contemporâneo, está presente nos dois
campos, e é por isso que, em breve, o estudo do espírito, cujas bases
científicas foram lançadas por Allan Kardec, na majestosa construção
do intelecto que é o Livro dos Espíritos, será não mais uma questão de
fé, mas de bom senso; não mais matéria de catecismos, mas de
compêndios científicos, em que a Nova Física estará cada vez mais
presente.
Em relação ao caminho da busca e suas condições, Vivekananda
continua:
”A primeira coisa que se tem de inquirir é se a mente consegue ou não
alcançar tal estado superior. A consciência não está necessariamente
ligada à existência, pois em nosso corpo existem e se sucedem
fenômenos psíquicos dos quais não temos consciência.” Sabemos
hoje que há um juízo de valores filtrando, eliminando, a maior parte
das informações recebidas, para adaptar tudo aos padrões

37

a que estamos habituados, dentro da falsa idéia que nos venderam e


compramos com tanto entusiasmo, segundo a qual a realidade externa
independe de nós e só faz parte dela o que os sentidos conseguem
apreender. É por isso, porque o cérebro só vê, só registra, aquilo que
está preparado para ver, que de 400 bilhões de bits (unidades de
informação) que recebemos por segundo, registramos, decodificamos,
apenas dois mil.
Prossegue Vivekananda:
Por exemplo, ninguém é consciente de seu cérebro e, contudo, sabe
que o cérebro existe. Assim, não necessitamos tanto da consciência -
aqui a palavra consciência é usada no sentido de tomarmos
conhecimento dos eventos e não como a consciência que dirige a
máquina física, no sentido de espírito -, como do reconhecimento da
existência, de algo que não seja a matéria grosseira.
O conhecimento desse algo superior à matéria podemos alcançar
mesmo nesta vida, e não resta dúvida de que pessoas têm obtido e
demonstrado esse conhecimento, tanto como se tem obtido e
demonstrado o dos fenômenos físicos.
Assim, Vivekananda encerra seu artigo.
Veremos, ao penetrar na Teoria das Cordas, que este artigo poderia
ter sido escrito por um físico contemporâneo.
Pois foi a leitura de alguns textos budistas que surpreendeu Fritjof
Kapra, pela extrema semelhança conceitual entre as afirmações do
texto e as da Física Quântica. Foi uma das razões que o levaram a
escrever O Tão da Física.
Após essas sinalizações, para as surpresas que encontraremos, em
termos de método e conclusões, vamos examinar o surgimento e a
evolução da Teoria das Cordas.

38

Teoria das Cordas: a busca da Teoria do Tudo

A nova teoria abandona a idéia de que os componentes fundamentais


do Universo seriam as partículas materiais. Estas passaram da
categoria de causa à classificação como efeitos.
As cordas são como pequeníssimos filetes de energia, invisíveis e
indetectáveis, que ao vibrar produziriam a matéria, vale dizer, as
partículas e todas as suas propriedades. Seriam o ingrediente
fundamental do Universo.
Esse Universo seria a conseqüência do modo como as cordas vibram.
Mas como surgiu e se desenvolveu essa teoria?
Como vimos, a Física estava equacionada em dois grandes princípios:
tínhamos a Relatividade Geral, para explicar o macro, e as leis da
Física Quântica, para o micro.
Confrontava-se o movimento majestoso e previsível das galáxias, com
a turbulência e a imprevisibilidade dos fenômenos atômicos e
subatômicos descritos pela Teoria Quântica.
Postas a funcionar em conjunto, como exemplificamos no caso dos
buracos negros, as teorias se destruíam reciprocamente.
Os tijolos fundamentais do Universo ainda eram as partículas. De
repente, alguns físicos pensam em substituí-las por filetes de energia.
O que era explicado pela colisão de partículas, passa a ser explicado
pela vibração dos filetes energéticos.
Numa interessante metáfora, o físico James Jabs diz que trocamos
bolas de bilhar por espaguete.
O grande problema é que a existência das cordas não se prova por
nenhuma experiência. Não é testável, o que causa profundo mal-estar
aos experimentalistas.

39

Sheldon Glashow, da Boston University, pergunta se a Teoria das


Cordas é uma teoria científica ou filosófica e propõe sua negação,
uma vez que não há como experimentá-la. Entretanto, num momento
posterior, conclui que, embora não se possa experimentar a Teoria
das Cordas, sua admissão está em pleno acordo com o
funcionamento do Universo.
Voltamos à importância do método abdutivo: postula-se a existência
do ente e testa-se como ele entra no funcionamento dos fenômenos.
Até hoje os céticos e materialistas não perceberam, ou não
entenderam, ou não quiseram entender, que o mesmo raciocínio que
leva à ”crença” na existência das supercordas, nascidas de uma teoria
absolutamente imaterial, foi usado por Allan Kardec, pioneiramente, no
estudo da Ciência do Espírito, lançando os fundamentos do que ele
chamou ”uma filosofia racional livre dos prejuízos do espírito de
sistema”.
No século XXI, consolida-se a Teoria das Cordas, e o Universo passa
a ser entendido como construído a partir de um só elemento. Durante
muito tempo, a ciência oficial entendeu esse princípio como não
válido. Haveria n partículas diferentes primitivas. Hoje há um só
elemento primitivo.
Pois examinemos a antecipação a esse conhecimento na resposta à
pergunta número 30 do Livro dos Espíritos, que aqui reproduzimos:
A matéria é formada de um só ou de vários elementos?
- De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais como
corpos simples não são verdadeiros elementos (no sentido de não
serem simples), mas transformações da matéria primitiva.
E na pergunta 31:
De onde provêm as diferentes propriedades da matéria?
- Das modificações que as moléculas elementares sofrem ao se
unirem e em determinadas circunstâncias (as vibrações dos filetes
energéticos).

40

A antecipação da Teoria das Cordas e da perda de substancialidade


da matéria prossegue na pergunta 32:
De acordo com isso, o sabor, o odor, as cores, as qualidades
venenosas ou salutares dos corpos não seriam mais do que
modificações de uma única e mesma substância primitiva?
- Sim, sem dúvida, e não existem senão pela disposição dos órgãos
destinados a percebê-las.
E na pergunta 33, o dito que só hoje é explicado pela Teoria das
Cordas:
A mesma matéria elementar é suscetível de passar por todas as
modificações e adquirir todas as propriedades?
- Sim, e é isso que deveis entender quando dizemos que tudo está em
tudo.
Vemos aqui o argumento da Unificação muito antes de os cientistas se
preocuparem com isso.
Em Witten, vimos: Se o Universo é um só, deve haver uma só lei que
o explique. E, muito antes, em Kardec, a afirmação ainda mais precisa
e absolutamente radical e inovadora para a época:
”A mesma matéria elementar é suscetível de passar por todas as
modificações e adquirir todas as propriedades. Tudo está
em tudo.”
Conclusão lógica: Se tudo é formado a partir de um único ingrediente
primitivo fundamental, deve haver uma lei explicando tudo,
substituindo ou modificando as teorias conflitantes: a Teoria do Tudo.
Vamos examinar o magnífico e difícil caminho percorrido pela Teoria
das Cordas, uma teoria imaterial para explicar toda a matéria a
esclarecer, mais uma vez, a afirmação budista de que o mundo que
percebemos pelos sentidos não é único nem causal.
Eles nos dizem que operamos informados por cinco ladrões, referindo-
se aos sentidos, que preferimos chamar informantes limitados.
Mas que sonegam informações, isso lá sonegam.

41

Cabe às mentes esclarecidas perceber os limites dos sentidos,


aproveitar suas informações referentes ao plano em que operam e
saltar para outros níveis, com outra instrumentação, para ir além
desse panorama limitado.
Aí entrará uma racionalidade diferente e funcionarão os mecanismos
da percepção extra-sensorial.
Examinemos então o caminho de peregrinação das cordas. Em 1968,
um jovem físico, Gabriele Veneziano, examinando alguns trabalhos do
físico e matemático suíço Leonhard Euler (1707-
1783), encontra neles uma forma de descrever a força forte.
O físico Leonard Susskind, examinando a função gama de Euler,
equação escrita há 200 anos, viu naquelas equações a descrição de
partículas que tinham uma estrutura interna que vibrava. De acordo
com a fórmula, era uma corda. Um desses filetes era o de energia,
cuja vibração cria as partículas e suas propriedades.
É interessante observar que o único suporte da teoria era um modelo
matemático e, o que é ainda mais espantoso: a interpretação nova de
uma fórmula escrita há 200 anos. Um novo caminho não experimental
de descobrir os meandros do cosmos.
Susskind, entusiasmadíssimo com as possibilidades abertas pela
interpretação e acreditando que uma fórmula matematicamente
correta tem que ter aplicação na descrição do Universo, escreveu um
artigo para ser examinado por seus pares na academia.
Resposta: o artigo não deve ser publicado. Não teria qualquer
relevância. Seria apenas uma especulação a partir de uma fórmula
matemática.
Esqueciam que muitas vezes a matemática previu novos entes físicos,
como fora o caso da antimatéria, mais especificamente o antielétron,
previsto numa equação de Dirac, muito antes de seu rastro ser
detectado numa câmara de Wilson.
A resposta da academia foi para Susskind uma grande decepção.
Conta ele, em conseqüência desse fato, que a primeira conseqüência

42

de sua descoberta foi tomar uma bebedeira monumental em função


do desgosto sofrido.
A ciência continuava querendo explicar tudo com partículas e colisões,
a tal ponto que a cada mês era descoberta uma nova partícula.
Formou-se um verdadeiro zoológico de partículas, uma exposição
internacional de partículas premiadas.
Perseguia-se a explicação do Universo pelo caminho da materialidade
das partículas.
A partir delas seriam explicadas as forças da natureza e até para as
ações à distância juntava-se à idéia de uma partícula de força a de
uma partícula mensageira.
Buscava-se a unificação via partículas, embora se soubesse que nos
primórdios do Universo, instantes após o Big-Bang, as partículas
seriam indistinguíveis.
Mesmo assim, sabendo que no começo as forças se confundiriam, os
cientistas montaram um modelo explicativo do Universo a partir das
partículas e forças conhecidas.
Steven Weinberg deu a esse modelo o nome de Modelo-Padrão.
A força fraca, G, mais a força eletromagnética, EM, mais a nuclear
fraca e a nuclear forte existiriam juntas em forma de uma super-
força.
O modelo e a caça às partículas entraram na moda e geraram
prêmios Nobel em cascata. Uma contínua sucessão deles.
Mas, as grandes festas escondiam uma grande omissão: na verdade,
a força gravitacional estava fora do modelo.
De outro lado, a Teoria das Cordas não decolava; parecia uma teoria
maluca, embora pioneiros continuassem a insistir no desenvolvimento
de suas equações.
Poucos jovens, nos cursos de Física, interessavam-se por essa teoria
em 1973.
Foi quando o físico John Schwarz deduziu nas equações a existência
de partículas sem massa. Mas, na verdade, nada funcionava.

43

De repente, a idéia: estariam lidando com a gravidade.


Para isso ser possível, ter-se-ia que mudar a idéia do tamanho das
cordas e admitir cordas abertas, presas em nossa dimensão, e cordas
fechadas, que poderiam migrar para universos paralelos.
A misteriosa partícula de que Schwarz tentava livrar-se parecia ser o
grávon.
A Teoria das Cordas havia produzido a peça que faltava no
modelopadrão e explicaria a transmissão da gravidade no mundo
quântico.
Schwarz submete suas novas conclusões para publicação, mas a
comunidade científica não toma conhecimento do fato.
Schwarz não desiste e encontra um jovem físico, Michael Green,
disposto a arriscar sua reputação e carreira na Teoria das Cordas.
Mas, em 1980, descobrem que a teoria tinha anomalias. Anomalias
matemáticas perturbam a Física teórica. Ocorrem quando as
equações são discrepantes.
Por exemplo: se tivermos, para descrever um mesmo modelo, uma
mesma teoria, uma equação do tipo 2x=4, e outra descrita pela
fórmula 4x= 1. A primeira nos dá para x o valor 2 e só nessa condição
será válida. Toda interpretação que dela se seguir somente será
verdadeira se x valer 2. Mas a segunda, 4x=1, nos leva a estabelecer
para x o valor 1A. Ou 0,25. As conclusões decorrentes do uso dessa
fórmula só serão verdadeiras se x for igual a 0,25.
Se as duas equações integram o mesmo sistema, estamos diante de
uma anomalia matemática que, por levar a conclusões antagônicas,
destrói a teoria.
O remédio era tentar livrar-se das anomalias. As equações, resolvidas
por diferentes caminhos, o que não é o caso do exemplo anterior,
deveriam levar a um só valor para x.
Em 1984, numa tarde de tormenta em Aspen, Schwarz e Green se
reúnem, tentando livrar-se da anomalia do sistema.
Por diferentes caminhos, utilizando as equações estudadas, deveriam
chegar a um valor que era 496, nos dois lados.

44

Tudo se resumiu a cálculos e, ao final, encontraram dos dois lados das


equações o número 496. A anomalia era apenas aparente. O sistema
era coerente. Esse sistema, livre de anomalias, descrevia todas as
forças e, de repente, apesar das reservas da comunidade acadêmica,
a teoria entra na moda.
Começa o sucesso, e os autores da teoria têm conferências em
todo lugar.
A difícil união da serenidade gravitacional com a inquietude quântica
começa a parecer possível. A Teoria das Cordas acalma a quântica e
permite a junção.
É um triunfo da matemática. O sucesso de uma teoria para explicar o
Universo, sem materialidade, não observável, estabelecida
via equações.
Dá para começar a pensar por que somos criadores, em grau menor,
do Universo. A matemática que o explica é uma ciência imaterial, de
objetos imateriais, criados pela mente humana.
A expectativa do fato cria o fato.
Isso é a expressão verdadeira de nossas possibilidades, de nossa
força mental, cientificamente comprovada, sem o oba-oba de
autoajudas baratas, que terminam saindo caro e que centram na
materialidade, na conquista de bens materiais e, mor das vezes
supérfluos, a realização humana.
Veja-se o que se consegue com foco e com o correto uso da mente.
A ciência faz o que as crenças tradicionais não fizeram. Destrona e
destrói a matéria, provando-lhe a não substancialidade, e decreta a
morte do materialismo por falta de objeto.
E, ainda mais: a nova teoria exige novas dimensões no Universo, que
sempre pensamos constituído de três dimensões espaciais,
cornprimento, largura e altura, e mais a dimensão temporal
acrescentada por Einstein.
E tudo o que os sentidos nos permitem perceber, mas a explicação
coerente do Universo exige muito mais.

45

Será que os céticos, como lembrava Vivekananda, farão as objeções


que costumam fazer quando se trata de examinar a espiritualidade?
Possivelmente, não ousarão, porque estariam fornecendo um atestado
de ignorância, com firma reconhecida em cartório por autenticidade,
ao contrariarem as conclusões da ciência.
Muitos, no entanto, pensando ser diferentes, se manterão
teimosamente na negativa. Aí o derrotado é o sábio de sacristia e o
titulado de meia ciência. Cada um, a sua maneira, pretendendo-se
dono da verdade, sem a busca do conhecimento necessário e, nem
mesmo, o alcance mental para tanto.
Retomando as dimensões, para nos encontrarmos com alguém, em
nosso espaço vulgar, o de percepção cotidiana, precisamos quatro
peças de informação: quatro dimensões.
A rua, uma dimensão. Em relação a cada dimensão há dois sentidos.
Poderemos nos mover na rua, uma das dimensões, para frente ou
para trás, tomando como referência, por exemplo, a numeração.
Mas o prédio que procuramos pode estar de um lado ou de outro da
rua. Esta possui uma largura, segunda dimensão, em relação à qual,
dado um ponto de referência, podemos nos mover para a direita ou
para a esquerda; são os dois sentidos dessa dimensão.
Mas, ainda devemos saber em que andar do prédio ocorrerá o
encontro. Estamos tratando da altura, terceira dimensão espacial, e
em relação a ela podemos, no prédio, estar subindo ou descendo, os
dois sentidos correspondentes à dimensão altura: para cima ou para
baixo.
Mas precisamos estabelecer a hora do encontro. E aí reside a quarta
dimensão: o tempo, uma dimensão não espacial.
Mais dimensões espaciais é algo que não temos a menor
possibilidade de imaginar, mas que a matemática calcula.
Uma das conseqüências da existência de outras dimensões espaciais
seria que o que vemos fechado é aberto para uma dimensão não
perceptível por nossos sentidos.
46

Um ser plano, de duas dimensões, não teria a percepção da altura.


Dentro de um quadrado, estaria fechado e não veria o que existe fora
dele, nem dele poderia sair sem que uma abertura fosse feita nessa
figura plana.
Um ser inteligente de três dimensões enxergaria dentro desse
quadrado; não seria percebido pelo ser bidimensional, mas poderia
puxá-lo para cima e assim fazendo-o plotar-se numa dimensão que
não percebe, tirá-lo de dentro do quadrado, sem fazer qualquer
abertura ou alteração na figura, dando aos habitantes do mundo
superficial a impressão de que o retirado do quadrado teria
atravessado suas paredes.
Experiências no terreno da parapsicologia demonstram a possibilidade
de transmissão do pensamento entre pessoas situadas em ambientes
fechados, com as paredes blindadas a qualquer radiação
eletromagnética conhecida.
As experiências de apports de objetos, realizadas no campo da ciência
do espírito, reunindo o matemático alemão Zolner e outros cientistas,
como Weber, do eletromagnetismo, e Wundt, mostraram objetos
atravessando paredes, nas chamadas sessões de materialização, e
conseguiram que cordas com as extremidades seladas ficassem com
nós.
Há então a possibilidade de nossa consciência, no sentido de espírito,
como de outras consciências liberadas do invólucro material operarem
em espaços multidimensionais, que também explicariam muitas das
chamadas cirurgias astrais.
Há fraudes? Sim. Há engodos e embustes? Sim. Mas em nada
invalidam o fenômeno. Em 1919, o matemático alemão Theodor
Kaluza já pensava em mais dimensões do que podemos perceber.
”Talvez”, dizia ele, ”apenas talvez elas existam”.
Em 1916, Einstein estabeleceu as curvas da gravidade. No caso do
eletromagnetismo, onde ocorrem as curvas que devem existir? O lugar
para sua ocorrência só pode ser uma dimensão extra.

47

O físico Oskar Klein admite que podemos viver em mais dimensões do


que percebemos, embora essas dimensões possam ser muito
pequenas.
Embora pequenas, podem influir, porque na Teoria das Cordas a
forma é tudo. Por exemplo, a freqüência de notas musicais pode ser
determinada pelas alterações na forma da coluna de ar, por onde se
propagam.
As cordas regulariam algumas constantes físicas, cuja existência e
precisão tornam sem sentido a teoria de um Universo feito pelo acaso.
Vamos examinar essa questão.

48

As constantes universais: a sinfonia cósmica - ainda as cordas

Existem 20 números, 20 constantes fundamentais da natureza, que


dão ao Universo suas características. Assim a constante usada
quando se calcula a força da gravidade, chamada constante
gravitacional, a constante dielétrica, etc.
Essas constantes têm valor rigoroso e são calculadas até mais de
doze decimais, quer dizer, doze casas além da vírgula.
Há experiências com simuladores em laboratórios, em que os
cientistas, através de controles, mudam o valor dessas constantes.
Basta mudar o valor de apenas uma delas para termos conseqüências
dramáticas. O Universo simplesmente desaparece.
A dimensão extra, ou as dimensões extras, é o fator que regula essas
constantes, não permitindo que se alterem e, com isso, possibilitando
que o Universo continue a existir dentro das condições e sujeito às leis
que conhecemos.
As dimensões extras produzem todas as constantes da natureza,
mantendo a sinfonia afinada.
Cabe aqui uma indagação de natureza filosófica: essas vinte
constantes, calculáveis até mais de dez decimais e o mecanismo para
mantêlas inalteradas, poderiam ser atribuídas ao acaso?
Basta lembrarmos que a alteração de somente uma delas faria o
Universo entrar em colapso. E mais: se elas não valessem o que
valem desde o começo, o Universo simplesmente não existiria tal
como o conhecemos. Átomos não se combinariam, elétrons ficariam
presos nas órbitas, etc. O Universo não funcionaria.
A probabilidade de terem sido essas constantes estabelecidas ao
acaso foge a qualquer nesga de bom senso e contraria frontalmente
os princípios do cálculo de probabilidades.
49

- Como elas existem num Universo praticamente infinito, a


probabilidade de surgirem ao acaso seria ainda menor do que a
probabilidade de que um número muito grande de pessoas, um bilhão,
por exemplo, fossem convidadas a escrever 20 números, com até
doze casas depois da vírgula e todas, sem se comunicarem, mas
absolutamente todas, escrevessem os mesmos números.
A inteligente construção do Universo só pode ser obra de uma
Suprema Inteligência.
“Efeitos inteligentes provêm de causas inteligentes, e o acaso não
pode ser considerado inteligente.” É uma consideração de Kardec.
Pois bem, mas, apesar do sucesso dos anos 80, a teoria continuava a
ter problemas, e, de repente, estávamos diante de cinco Teorias das
Cordas.
Complicado para quem busca a unificação, para quem quer
estabelecer a Teoria do Tudo. A Teoria do Tudo só pode ser uma.
Diante das cinco Teorias das Cordas, caberia a pergunta: se uma
descreve o Universo, quem vive nos outros quatro? A teoria ameaçava
perder terreno novamente. Burt Ovrut, da Pensilvanya University,
havia advertido que estávamos estudando as partículas de modo
errado.
Adepto da Teoria das Cordas, postulava que tudo era produzido pelas
vibrações das cordas, falando, como vimos, num Universo feito de
notas.
Repetindo: as partículas não eram partículas, e as leis da Física
seriam harmônicos de uma supercorda, como os harmônicos de uma
sinfonia resultam da vibração de cordas de um instrumento musical.
Mas, há uma pergunta: quem toca as supercordas? Ou, quem as
programou para vibrarem de modo a produzir uma sinfonia e não um
ruído?
O acaso? É difícil acreditar que alguém que desconheça
completamente a música sente-se a um piano e, batendo nas teclas
ao acaso, produza mais do que simples ruídos.
A sinfonia cósmica tem um maestro e executor.

50

Mas ao problema das cinco teorias somava-se o de unir a Teoria das


Cordas com o Big-Bang, e aí nada encaixava.
O Big-Bang não nos diz o que explodiu nem por que explodiu.
Tampouco descreve as condições logo após a explosão.
Para o físico Michio Kaku, da New York University, as leis da Física,
tais como as conhecemos, desaparecem quando retroagimos ao
momento do Big-Bang, momento em que o Universo está concentrado
num só e diminuto núcleo, chamado de singularidade.
A Teoria das Cordas, por apresentar cinco versões, começa a
desabar.
Os cínicos passam a considerá-la uma teoria rude demais. Era um
beco sem saída.
Enquanto isso, Michael Duff, da Universidade de Michigan, estuda a
supergravidade e propõe onze dimensões para o Universo.
A Teoria das Cordas propunha dez e quase o destruiu.
Na verdade, entretanto, a briga da Teoria das Cordas com a da
Supergravidade residia em uma dimensão a mais ou a menos.
O grande problema da Teoria das Cordas estava na existência de
cinco teorias diferentes.
Aparece a solução: o genial físico Edward Witten, considerado o
sucessor de Einstein e no mínimo um dos maiores físicos da
atualidade, demonstra que as cinco teorias das cordas, na verdade,
eram uma só. Eram cinco maneiras diferentes de ver a mesma coisa e
para torná-las de fato uma só e explicar o problema da gravidade, era
necessário acrescentar mais uma dimensão às dez postuladas.
A desprezada idéia da Teoria da Supergravidade era reconhecida, e
Michael Duff, quase marginalizado em 1980, é reabilitado.
com a 11ª dimensão entende-se toda a matéria distribuída numa vasta
estrutura, uma gigantesca membrana chamada superbrana.
A 11a dimensão, tudo postulado matematicamente, é extremamente
diminuta. Mede 10, elevado ao expoente -20 milímetros, ou seja O,
vírgula, 19 zeros e, depois o número 1, milímetros.

51

A teoria recebeu o nome de Teoria M, embora ninguém saiba


exatamente o que esse M quer dizer.
Para alguns seria M de Magic, teoria mágica, ou de mother, teoria-
mãe, ou de mad, teoria maluca, ou de magesty, majestosa, ou de
mistery, mistério, ou o W de Witten, seu criador, de cabeça para baixo.
Quando Neil Turok, Burt Ovrat e Ed Witten, numa pausa em um
congresso, na Inglaterra, resolveram ”dar um tempo” e ir a Londres, de
trem, para assistir à peça teatral Copenhagen, resolveram soltar a
imaginação, fazendo livres associações.
Daí nasceu uma idéia nova sobre a formação do Universo.
Colisão de membranas que constituem universos paralelos. Como não
são planas, chocam-se em certos pontos, e cada choque produz um
Big-Bang.
Tudo explicado? Não. Apenas postergado, porque ficou até mais
complexo.
Se o Universo e muitos universos se originaram do choque de
membranas, de onde vieram quando começaram as membranas?
Ainda não nos é dado tudo conhecer.
Para uma comprovação experimental da Teoria das Cordas, os
cientistas constróem enormes aparatos para tentar surpreender o
grávon, fugindo, migrando para um Universo paralelo, o que explicaria
a gravidade fraca. A passagem seria percebida pela ausência.
A Fermilab construiu um túnel, acelerador de partículas, circular, de
6,5 km para tentar flagrar a fuga do grávon, a partir de colisão frontal
de partículas.
O CERN - Centro Europeu para Pesquisas Nucleares está construindo
um maior a 150km da fronteira da França com a Suíça.
É a tentativa de uma comprovação experimental da Teoria das
Supercordas.
Burt Ovrut diz que talvez nunca se consiga essa evidência
experimental e até se descubra que foram gastos mais de trinta anos
no caminho errado para a busca da unificação.

52

Mas, acredita que isso é pouco provável, porque modelos


matemáticos altamente consistentes não poderiam levar ao nada.
Estamos partindo do mundo das idéias para chegar ao mundo das
formas. Platão mais uma vez está presente e mais se reforça a idéia
de que o Universo causal não é o mundo material que percebemos.
O Universo fica praticamente criado pelos vôos de nossa imaginação.
Esse Universo é de riqueza, sabedoria e abundância.
E com inteligência, foco e emoção bem dirigidos, poderemos colocar
as imensuráveis forças cósmicas a trabalhar para nós, porque tudo
está interligado e recebemos nas freqüências em que nos
emocionamos e pensamos.
Neste novo mundo, descrito pela matemática como uma nova ciência,
está presente a espiritualidade e, com ela, o sucesso.
É do que trataremos objetivamente daqui em diante, com base na
mais pura e avançada ciência.
Cabe ainda um comentário sobre as onze dimensões:
A cabala hebraica fala na árvore da vida, Sephirot. Tangida pelos
ventos, vibra, produzindo o Universo, do micro ao macrocosmos e
tudo o que nela está representado existe como potencialidade no ser
humano. Basta saber vibrar para entrar em ressonância.
E mais, o que é extraordinário: a árvore da vida se nos apresenta sob
dez aspectos, provenientes de Deus. Temos aí as onze dimensões
ditas de outra forma?
Para os cabalistas, na árvore da vida está representado tudo o que no
cosmos existe, em todos os planos de manifestação.
Os místicos orientais, segundo observa Fritjof Kapra, possuem uma
visão dinâmica do Universo semelhante à da Física moderna, e,
conseqüentemente, não é de surpreender que também eles tenham
usado a imagem da dança para expressar sua intuição da natureza.
Um importante exemplo, que assim como a Teoria das Cordas parte
do imaterial para explicar o material, numa metáfora mística, mas não
mais abstrata do que as matemáticas, está nas imagens de

53

ritmo e dança e aparece no livro Viagem_Tibetana, de Alexandra


David-Néel.
Na obra, a autora narra seu encontro com um lama que se referia a si
mesmo como um ”mestre do som” e que assim lhe descreveu a
matéria: ”Todas as coisas são agregadas de átomos que dançam e
que, por meio de seus movimentos, produzem sons. Quando o ritmo
da dança se modifica, o som também se modifica. Cada átomo canta
incessantemente sua música, e_o som, a cada momento, cria formas
densas e sutis.”
Lembremos que as cordas produzem todos os componentes da
matéria, bem como suas propriedades, a partir de sua vibração (som,
ou dança). O som é usado aqui de modo genérico, como o resultado
de vibrações. Na verdade, as vibrações eletromagnéticas não têm a
mesma natureza das ondas sonoras. No entanto, harmoniosamente,
noutro nível de percepção, não há por que não dizer que produzem
uma sinfonia. No hinduísmo, o deus Shiva, um dos mais antigos e
populares deuses entre os indianos, aparece, entre suas várias
encarnações, como o Rei dos Dançarinos. Segundo a crença hindu,
todas as vidas são parte de um grande processo rítmico de criação e
destruição, de morte e renascimento, simbolizado na dança de Shiva.
Nela, está simbolizado o eterno ciclo vida-morte, que se desdobra,
continuamente, de modo assim narrado por Ananda Coomaraswamy:
”Na noite de Brahma, a natureza acha-se inerte e não pode dançar até
que Shiva o determine. Ele se ergue de seu êxtase e, dançando, envia
através da matéria inerte ondas vibratórias do som que desperta e,
vede! A matéria também dança, aparecendo como uma glória que o
circunda. Dançando, ele sustenta seus fenômenos multiformes. Na
plenitude do tempo, dançando, ainda, ele destrói todas as formas e
nomes pelo fogo e lhes concede novo repouso. Isso é poesia e,
contudo, também é ciência.” E isso foi dito muito antes de Aristóteles
pensar a Física e, por óbvio, muitos antes de a Física chegar à
suprema abstração e imaterialidade da Teoria do Tudo.

54

Concordam, então, místicos e cientistas, num ponto fundamental: o


mundo material não é causal; a matéria não explica a si mesma; o
mais sutil cria o denso.
Na dança de Shiva, na Árvore Sefirótica, que necessita de um sopro
para vibrar e, vibrando, produz tudo o que existe, e na Teoria das
Cordas encontramos um Universo formado a partir de vibrações. De
ritmos, de sons, num sentido figurado, todos eles produzidos a partir
de oscilações de elementos fundamentais, imateriais, energéticos,
tocados pelo maior de todos os virtuosos, capaz de planejar e
executar a Grande Sinfonia Cósmica.

55

Do imaterial para o material

A Física cada vez mais abandona o caminho antigo: começar a


pesquisar pela matéria, pelas partículas, para daí, a partir das
propriedades materiais das partículas, explicar o Universo.
A matéria perde sua substancialidade quando se abandona a visão
clássica mecanicista baseada na existência de partículas sólidas e
indestrutíveis deslocando-se no vazio.
Hoje sabemos que mesmo os componentes do núcleo, residência do
último e derrocado reduto da perenidade e substancialidade da
matéria, continuamente se transformam em energia, deixando de
existir como matéria, e depois retornam à situação material, repetindo
continuadamente o processo. Foi o que levou Einstein a dizer: ”As
partículas nascem no vazio e retornam ao
vazio”.
Da mesma maneira como é descrita na Teoria Quântica, a concepção
budista encara todos os objetos como processos em um fluxo
universal, negando substancialidade à matéria.
Então, o entendimento do universo e da vida depende cada vez mais
de abstração.
A matemática, ferramenta essencial para a explicação do Universo, é
uma ciência formal por excelência. Quer dizer: não tem objeto
material.
E foi interpretando e criando fórmulas matemáticas que os cientistas
chegaram à interpretação, hoje aceita, da formação do Universo e de
seus componentes.
E mais: é importante que se diga que a matemática e seus elementos,
como, por exemplo, os números, são criações da mente humana. O
homem, através de seus conceitos, de sua criação mental, criou o
caminho para interpretar o cosmos. De certa forma, o pensamento

56

abstrato criou o cosmos, pois realidade é aquilo que conseguimos


interpretar.
Por isso, muitas vezes, precisamos ir além do meramente racional e
desenvolver novos instrumentos de percepção, como a intuição, por
exemplo.
É Allan Wolf que nos diz que as coisas são feitas de pensamentos,
idéias e intuições.
O desenvolvimento de faculdades como a intuição nos permitirá um
acesso mais simples e direto à realidade do Universo.
A base desse Universo é energia e intenção, e essa energia é de
natureza espiritual.
Hoje sabemos que não estamos isolados. O Universo é pleno de
campos energéticos, com os quais, através de nossa mente, podemos
nos conectar. Nossa mente influi sobre os fenômenos visíveis e
invisíveis.
Na verdade, constantemente estamos recebendo sinais do Universo e
nos conectamos a eles ou não.
A conexão ocorre com aquelas fontes de informação mais compatíveis
com nossos ideais e tendências.
Explicando: o Universo é entendido como uma gigantesca rede de
informações. São fluxos de informações que organizam a matéria. As
grandes informações estão em diferentes níveis de realidade aos
quais nossa consciência pode ter acesso.
Assim, muitas vezes, até inconscientemente recebemos informações.
De onde vêm nossos pensamentos?
Alguns produzimos por nossa vontade, como, por exemplo, quando
nos dedicamos a estudar determinados conteúdos.
Mas, há outros pensamentos que surgem de repente. Por assim dizer,
é como se pipocassem inopinadamente em nosso cérebro. Alguns
trazem boas idéias que devemos desenvolver e outros, fatores
negativos que devemos afastar.
Tudo de acordo com nossas tendências e seu desenvolvimento.
Aquele que desde criança entendeu que o importante é obter
vantagens a qualquer custo, mesmo mentindo, fraudando e enga
nando,

57

desenvolverá uma percepção cada vez mais aguçada e perceberá a


cada momento sinais indicadores de como enganar o próximo, como
colar numa prova, como servir-se da boa-vontade alheia para fins
escusos. Tornar-se-á um especialista no ramo. Estará constantemente
conectado a esses campos informacionais.
Um 171 do Código Penal em processo de aperfeiçoamento (o artigo
171 do Código Penal define o crime de estelionato).
Por outro lado, quem a partir do lar, através de exemplos e
conversações proveitosas, desenvolveu uma escala de valores onde
há respeito aos direitos do semelhante, em que a dignidade e a honra,
sob a presidência da ética, serão elementos fundamentais, estará
sempre atento às oportunidades de progredir, agindo com correção e
afastando os caminhos do ludibrio.
Quando nos preparamos, vibrando através de nossos pensamentos e
emoções, a mente recebe sinais e informações do cosmos.
Não se pode afastar aqui a hipótese de que essas informações, via
sintonia de freqüências, venham de outras mentes, de pessoas
encarnadas ou não.
Estamos cercados de inteligências. Chamemos campos energéticos,
espíritos, ou a denominação que melhor nos aprouver, esses campos
comunicam-se conosco via lei das atrações: ”O semelhante atrai o
semelhante”. ”Os afins se atraem”.
Dessa forma, habituamo-nos a determinadas conexões e temos a
tendência de mantê-las. E é por pensamentos e emoções que nos
ligamos a um tipo ou outro de energias, que sempre virão ao encontro
de nossos objetivos e do campo vibratório que produzimos em torno
de nós.
Aqui já estamos adentrando numa percepção além da sensorial,
saltando para um nível de realidade em que, embora não
abandonando por um instante sequer o bom senso, nos permitimos ir
além do meramente racional.
Isso porque também estamos tratando de intuição. Essa forma de
perceber, que durante tempo foi chamada de sexto sentido e que é um
atalho maravilhoso para concluirmos, sem dados materiais objetivos

58

em número suficiente, sobre decisões a tomar e a intenção das


pessoas com quem nos relacionamos.
”Se teu coração e teu pensamento estão em desacordo, não toma
decisões precipitadas”, dizia-nos freqüentemente uma entidade
espiritual.
Estou falando em entidade espiritual, porque já demonstramos à
saciedade a abertura da ciência para a espiritualidade e, como no
campo do Hinduísmo, do Budismo, da Cabala e do Espiritismo, este
criando inclusive um método para a investigação do espírito, as
verdades da ciência são até, muitas vezes, antecipadas.
Assim, poderemos falar com clareza da realidade espiritual, essência
do ser humano, em perfeita consonância com a ciência
contemporânea, deixando de nos preocupar com os esperneios dos
céticos e materialistas, que voluntariamente se enclausuraram no
atraso mental da negação sem exame.
O ateu é hoje o maior de todos os crentes, no sentido comum dessa
palavra, porque crê na inexistência de algo cujo inexistir não consegue
comprovar. Crê que não existe algo cujo não-existir jamais
demonstrará. É um fã ardoroso e incondicional adepto do sistema da
dupla negação. É um crente sem base. Um adepto da fé cega.
E como sabemos que criamos nossas paisagens e nos limitamos a
elas, já oferecemos aos materialistas a visão de uma paisagem nova e
vivificadora. Mas, ninguém ensina a quem não quer aprender e, por
isso, ingressamos numa nova paisagem, despreocupados, doravante,
com aqueles que ainda não entenderam, na base do não li, mas não
gostei; não examinei, mas rejeitei; e assim por diante. A eles, nosso
até-mais, quando decidirem romper o casulo, criando coragem de
deixar de ser lagarta que mal se arrasta, para atingir o brilho das cores
e alcançar a graça do vôo da borboleta. São fases!
Retomando a intuição, é importante estar atento a seus avisos. Pode
às vezes falhar, como falhos e limitados são todos os sentidos, mas
não é por serem falhas a visão e a audição que deixamos de usálas
dentro do universo de informações que nos podem fornecer.

59

Por isso, sabemos hoje que somos essencialmente uma realidade


espiritual. Não somos seres humanos que ocasionalmente participam
de uma experiência espiritual. Somos espíritos que no momento
estamos vivenciando uma experiência humana.
Aos negadores, resta dizer que, se usarem seu mesmo grau de
exigência cética para o terreno da ciência pura, deverão rir dos
cientistas ao descreverem o Universo a partir da Teoria das Cordas,
que nunca foram e jamais serão vistas, muito menos colocadas num
tubo de ensaio e entrar em paroxismo quando o CERN - Centro
Europeu para Pesquisas Nucleares, monta gigantesco aparato de
pesquisa nuclear, a 150 km da fronteira da França com a Suíça, para
flagrar o matematicamente proposto grávon, fugindo para uma outra
dimensão ou para um Universo paralelo.
”Só o fantástico tem alguma probabilidade de ser real”, no dizer de
Teillard Chardin.
Por isso, o homem é uma realidade que se manifesta em múltiplos
aspectos, de tal modo que a dicotomia cartesiana não faz o menor
sentido.
E assim, como ente que se manifesta em múltiplos aspectos, só
podemos entender sua realização mediante o atingir de objetivos que
contemplem todas as suas possibilidades, incluindo o material e o
espiritual, pois a realização não consiste na priorização de um aspecto
para sopitar o outro, e sim num harmônico desenvolvimento de todos
eles.
Filosofia, fé e ciência, na gigantesca marcha evolucional do espírito
humano, marcham de mãos dadas e têm em seus conjuntos de
investigação intersecções vastíssimas.
Vamos mesclar um pouco mais ciência, filosofia e espiritualidade,
para, dominando alguns conceitos básicos, podermos entender melhor
o que é a felicidade, a realização, o sucesso, mostrando como a
ciência, ao descrever um novo mundo, nos mostra novos caminhos e
como, nesses caminhos, a espiritualidade do homem o levará à plena
realização.

60

As interconexões

Hernani Guimarães Andrade, em sua obra Morte - Uma Luz no Fim do


Túnel, nos traz importantes considerações sobre Deus e a ciência,
com base em relatos de alguns cientistas, que passaremos a
examinar.
Hernani entende que relativamente à crença num Deus
antropomórfico, retratado sob a figura de um venerável ancião de
barbas e cabelos brancos, tendo à guisa de auréola um triângulo
luminoso sobre sua cabeça, sentado num rico trono, rodeado de anjos
e outros componentes da corte celestial, inerte, anotador atento dos
detalhes da conduta humana e exigindo louvor e adoração
permanentes, sob pena de impor aos desobedientes severas e, mor
das vezes, eternas penas, é explicável e até mesmo justificável a
posição daqueles que se dizem ateus.
Entretanto, se tal ateísmo é inspirado tão-somente por uma não
concordância com semelhante imagem atribuída ao Criador, essa
descrença também não deixa de ser um tanto primária e ingênua.
O teólogo Michael Leadwitt, participante de reuniões internacionais
entre cientistas e religiosos que tentam relacionar essas áreas do
conhecimento, na busca de um melhor entendimento de Deus, afirma
que o deus necessitado de louvores, carente de elogios, não é Deus.
E blasfêmia.
Basta imaginar um ente supremo, criador de todo o Universo, capaz
de ser ofendido por um simples humano, fisicamente nada mais do
que uma minúscula unidade de carbono perdida no fundo do quintal
da Via Láctea. Seria apequenar demais a imagem de Deus.
No entanto, isso já foi muito usado e se pode concluir que o tamanho
da arrogância está na medida do poder daqueles que construíram
Deus à sua imagem e semelhança.

61

E não raras vezes, fizeram desse ser supremo o guardião particular de


seus interesses, uma espécie de guarda-costas de luxo infinitamente
poderoso.
E ainda dizem: Deus é fiel! E devem pensar: e que não seja para ver.
Perderá a confiança e o respeito dessa importantíssima pessoa, cujas
vontades deve atender, sob pena de ver-Se privado da honra de sua
crença. E muito pequeno.
Mas, há outras e inteligentes modalidades de entender Deus. Deus
desantropomorfizado, na primeira pergunta do Livro dos Espíritos, que
é vazada em termos de: ”Que é Deus?”
Voltando a Hernani, vemo-lo citando o livro de Paul Davies intitulado
Deus e a Nova Física. Nesse livro, Davies focaliza quatro grandes
questões que poderiam ser respondidas e levar-nos a vislumbrar uma
solução do problema da existência ou não de um Deus criador do
Universo.
Antes de passarmos a essas perguntas e a interessantes conclusões
de Davies, devemos dizer que à época do livro, pouco antes de
2000, ainda não estava consagrada a Teoria das Cordas e a teoria M,
que junto com a Física Quântica demoliram uma a uma as quatro
pilastras de sustentação do prédio do realismo materialista. Mas, há
aqui uma conclusão muito importante para a época, e, por isso,
citamos as perguntas:
1. Por que são e como são as leis da natureza?
2. Por que é o Universo feito de coisas como é feito?
3. Como apareceram essas coisas?
4. Como conseguiu o Universo sua organização?
Como vimos, tais perguntas já estão respondidas pela Física
contemporânea, pelo caminho da matemática e da intuição.
As coisas são feitas a partir de um único ingrediente básico: as cordas,
o que em 2000 ainda não era consabido, mas fora afirmado no Livro
dos Espíritos 143 anos antes.
62

Embora, segundo Hernani, a obra de Davies não responda aos


questionamentos propostos, apresenta um trecho, em seu final, que
aqui repetimos:
”Seria estulto negar que muitas das idéias tradicionais sobre Deus, o
homem e a natureza do Universo foram varridas pela Nova Física.
Mas, a nossa pesquisa trouxe muitos sinais positivos também. A
existência da mente, por exemplo, como um padrão absoluto, holista,
organizacional, capaz até de subsistir sem corpo, refuta a filosofia
reducionista, que afirma sermos todos nós nada mais do que montes
de átomos em movimento.”
Essa mente, capaz de existir sem corpo, como padrão abstrato é uma
manifestação da consciência, no sentido quântico, o que chamamos
espírito. Essa consciência, esse espírito, é, para muitos cientistas, o
observador, a nossa essência.
Num livro lançado em 1984 por Sir Fred Hoyle, intitulado O Universo
Inteligente, o autor afirma haver evidências científicas de que nosso
Universo é governado por alguma sorte de hierarquia de inteligências
interconectadas. Baseia-se o autor, entre outros fatos, na extrema
improbabilidade da haver surgido por mero acaso a vida em
nosso planeta.
No mesmo sentido de um Universo Inteligente, encontramos
no Livro dos Espíritos:
Na pergunta sete: poder-se-ia encontrar a causa primária da formação
das coisas nas propriedades íntimas da matéria?
Resposta: ”Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? E
sempre necessária uma causa primária.”
”Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da
matéria seria tomar o efeito pela causa, pois essas propriedades são
em si mesmas um efeito, que deve ter uma causa.”
Vejam que a resposta nega substancialidade à matéria, tal como o faz
a Física de nossos dias. Foi, sem dúvida, uma antecipação.

63

E, continuando, em termos absolutamente compatíveis com o


conhecimento do século XXI, temos a pergunta 8:
Que pensar da opinião que atribui a formação primária a uma
combinação fortuita da matéria, ou seja, ao acaso?
A resposta: ”Outro absurdo! Que homem de bom senso poderia
considerar o acaso como ser inteligente? E, além disso, o que é o
acaso? Nada!”
”A harmonia que regula as forças do Universo (hoje sabemos de uma
vintena de constantes necessárias para que o Universo funcione,
precisas, para tanto, até 12 decimais, reguladas provavelmente pela
extremamente minúscula décima dimensão espacial das supercordas)
revela combinações e fins determinados, e, por isso mesmo, um poder
inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso seria uma falta de
senso, porque o acaso é cego e não pode produzir efeitos inteligentes.
Um acaso inteligente já não seria acaso.” ] Vemos aí, mais uma vez, a
idéia do Universo inteligente, progra- l mado por uma Inteligência
Suprema.
Os adeptos da teoria do acaso raciocinam com a mesma lógica de
quem acreditasse que se colocássemos uma potente carga de
explosivos em uma tipografia e a detonássemos, o resultado da
explosão seria uma coleção de livros finamente encadernados.
E desconhecer a mais pueril observação de que os sistemas ao acaso
se desorganizam. É negar a probabilidade e a Lei de Clausius, ou
Segundo Princípio da Termodinâmica, querer atribuir Universo e vida
ao acaso.
Em seu majestoso pensar filosófico, Santo Agostinho nos fala de uma
ma imanente, que se manifesta com a evolução da matéria. Santos da
Igreja, filósofos, pensadores e cientistas estão a nos descrever um
mesmo Universo.
De lamentar é apenas o fato de que, enquanto estudiosos das
religiões e da ciência vão aplainando arestas e chegando a um
denominador comum, muitos homens de religião, ao invés de
enfocarem

64

os milhares de motivos que teriam as crenças para se unirem, buscam


em pequenas e quase insignificantes diferenças de método e de
conceitos pretextos para esquecer toda a grandeza do Deus que
dizem representar e amar e passam a guerrear entre si, mostrando
que nem sempre quem sabe as idéias é capaz de vivenciá-las.
Retomando a idéia do Universo inteligente, a tendência de grande
parcela dos cientistas interessados nesse problema é aceitar a
existência de uma espécie de consciência subjacente à nossa
realidade, da qual se originou o espaço, o tempo, a energia e todas as
demais coisas que compõem o nosso Universo. E uma nova
representação que substitui o primitivo e ingênuo modelo
antropomórfico daquilo que podemos entender por Deus.
Segundo Hernani, a existência de Deus, compreendida sob esse
aspecto, indubitavelmente tem apoio em evidências de caráter
científico. Desse modo, pode-se substituir a simples crença em Deus
por um conhecimento positivo da sua realidade.
Examinemos um trecho de um livro psicografado em 1960 pelo
espírito de André Luiz, através de Chico Xavier: ”Nos fundamentos da
criação vibra o pensamento imensurável do Criador, e sobre esse
plasma divino vibra o pensamento mensurável da criatura, a constituir-
se no vasto oceano de força mental em que os poderes do espírito se
manifestam.”
É importante observar a linguagem e o ano: 1960.
A linguagem, referindo-se a vibração, Teoria das Cordas e oceano de
força mental, Teoria Quântica, era, em parte, pouquíssimo conhecida
na época e, em outra parte, ainda desconhecida.
Diz que o Universo se origina de vibrações, o que não entendia a
Física daquele tempo e participa da descrição quântica do Universo,
que parece vazada numa linguagem mística, ao dizer: ”Vivemos num
oceano infinito de luz chamado energia de ponto zero”.
Nesse oceano, abrem-se para nós infinitas possibilidades, com
diferentes graus de probabilidade. Entre elas, nossa consciência
elegerá a que quer colapsar em realidade.

65

Aqui se reforça a idéia de sermos co-construtores do Universo;


participantes, embora fisicamente em nível quântico, no mundo do
infinitamente pequeno, e não meros observadores passivos sem
possibilidade de intervenção. Vamos, agora, retornar um pouco no
tempo e comentar alguns ditos de um grande sábio. l Leopoldo
Bettiol, meu mestre, médico, humanista, filósofo, um dos dezessete
hierólogos, estudioso das religiões comparadas, da América Latina, na
década de 60, para vermos que entre as mentes mais lúcidas a
separação entre ciência, filosofia e espiritualidade é apenas uma
questão didática, fruto do modo analítico de pensar e i ensinar próprio
dos ocidentais, mas que representam, de fato, distintos aspectos de
uma só coisa: o conhecimento. Fincamos e comentaremos aqui
trechos de seu discurso por ocasião do Jubileu de Prata do Centro
Esotérico Vivekananda, de Porto Alegre, em 1960. Foi nesse Tatwa,
um Centro de Irradiação Mental, que com 14 anos realizei minha
primeira grande conferência pública sobre o tema Liberdade,
Igualdade e Fraternidade. Era um treze de julho, véspera da queda da
Bastilha, ocorrida em 14 de julho de 1789, e o tema era precisamente
o lema da Revolução Francesa. I Diz Bettioll, em seu estilo sui
generis: ”Aristóteles insistiu na consideração de que o homem é um
ser II social. Faz 2.000 anos. O seu mestre, Platão, ter-lhe-ia ensinado
II que esse homem, ser social e, por isso, político, era um místico. II
”Como ser social, teria pensado no mundo; como místico, teria
pensado em Deus. São diferenças. ”A sistemática afirma que bem
antes, em eras primevas, em qualquer latitude, o homem tribal já
acariciava uma fé. ”Pelo tempo além, ao lado do homem que crê,
estará o homem que pensa; um reza, outro analisa; um contenta-se
com efeitos, outro procura causas. Um terceiro buscará a causa das
causas, o noema do fenômeno. É o experimental.

66

”Um santo entronizado pôde ser bastante. As vezes, há quem


prefira um livro e, quem sabe, só haverá paz se junto ao santo e
ao livro colocarmos a balança do físico e a retorta do químico.
”Precisamente aqui, a valia da nossa época, a aliança do
templo, do laboratório e da escola.”
Observamos, em outra linguagem, a união entre ciência, filosofia e
espiritualidade, como resposta às indagações e às inquietudes do
homem que pensa.
E por pensar, criou.
Transformou desertos em áreas férteis, modificou e aprimorou
espécies, criou novas flores pela enxertia; estudando a genética, pelos
transgênicos, aprimorou espécies já existentes, dotando-as de defesas
e propriedades antes não possuídas; sem ser dotado de membros
alados, voou mais rapidamente do que o som e terminou por sair de
seu próprio hábitat, seu planeta de origem, para marchar rumo ao
cosmos, começando por conquistar a Lua, numa gigantesca tarefa de
bandeirante espacial.
Esse prodígio chamado homem aceita o convite de completar a obra
da criação.
Por certo, há muitas pedras no mundo, mas onde se construiu uma
escola, um templo, um hospital, um abrigo seguro para os navios, um
aeroporto, é obra do homem, completando a criação, melhorando
espécies já existentes, criando novas e sendo capaz de sobreviver no
espaço exterior ou nas profundidades oceânicas, graças aos
engenhos que sua mente fabulosa idealizou e construiu.
E nesse sentido que o inconformismo do homem é altamente positivo.
Não fosse nossa volição para o saber, para ampliar horizontes e
desbravar fronteiras do conhecimento, estaríamos meditando nas
cavernas, morrendo de pestes, sem os antibióticos, os transplantes e
as comunicações, que tornaram o mundo único, unido e pequeno.
Por isso, vem de longe a idéia - mais do que a idéia, a certeza de que
o homem é um co-criador. E é para essa grandeza e não para
67

as baixezas desse complexo e, às vezes, contraditório ser que é o


homem, que devemos voltar nossas atenções.
Quantas vezes, diante de toda essa maravilha do conhecimento
humano, nos sentimos como apartados e meros espectadores de
todas essas conquistas! Não é possível! Nós as estamos vivenciando,
nós somos parte delas, nós integramos a espécie que as realizou e
pode realizar

68

ainda mais.
Retornando a Bettiol, falando das almas e suas tendências:
”A alma do selvagem, uma vez foi um sonho, um pesadelo, uma visão.
i.
”A alma do filósofo foi uma mônada invisível, de certo, ] mas
representando uma necessidade cósmica, por isso, que não poderia
haver efeito sem causa. Não era uma demonstração, era uma razão.
”O cientista, postado entre o filósofo e o selvagem, afirmou que a alma
era uma secreção: emoção, sentimento, virtudes, defeitos, gênio,
imbecilidade, loucura, dependem exclusivamente da constituição dos
neurônios e da química cerebral, podendo ser influenciados, até
mesmo pela digestão. E o mundo se conturbou. Religião, moral,
ordem, direito, ética e estética ficaram abalados nos seus
fundamentos, pela ousadia da afirmativa.
”O pensamento humano não se conformou, perquiriu, dissecou,
indagou, descobriu, sistematizou.
”Agora, essa incógnita de milhões de anos, está à vista no terreno
experimental. Pessoas são fotografadas fora do corpo. Verifica-se a
transmissão do pensamento. Já se mede e registra a função cerebral.
Precisamente porque a alma não é o corpo. Vejam que um luminar
percebia tudo isso no início dos anos 60 do século XX.
Podemos entender que, por certo, haverá diferenças entre o pensar e
o sentir de seres em diferentes estágios de evolução. A visão
amedrontada do homem primário será diferente do êxtase de uma
Thereza de Jesus ou de um Francisco de Assis; a visão de
Swedemborg não é a meditação de Buda; não pode haver confronto
entre o crente e o iluminado, mas, ainda assim, a alma é uma só, em
distintas etapas de aperfeiçoamento.

69

Espiritualidade e religião

Os graus de percepção e evolução nos fazem diferentes.


Os mais vividos, por mais experimentados, na medida em que
aproveitam as oportunidades da vida, aceitando seus convites para o
progresso, vão desenvolvendo maior e mais amplo e abstrato
entendimento das razões pelas quais aqui estamos.
E o progresso do pensar não elide a necessidade de crer, a magia da
fé, que cada um alcança segundo seu potencial evolutivo, e de modo
especial aqueles que aceitam a reencarnação sabem perfeitamente o
que segue:
Cada homem tem, por isso, não a crença que quer, mas, somente
aquela que pode ter, aquela coerente com seu modo de ver e
entender o mundo e as pessoas, e é por isso que todas, quando
conduzidas com boa intenção, merecem nosso respeito, tolerância e
compreensão. Essa compreensão tardia teria evitado as guerras em
nome de Deus, a matança em nome do amor, o ódio em nome de uma
suposta verdade única que levava seus arautos a matar quem dela
discordasse. E esse atraso miserável, fruto da má intenção de líderes
manipuladores da boa-fé de seus crentes e que transformaram Deus
no poderoso e particular defensor de seus mais mesquinhos
interesses, persiste até nossos dias.
Sabemos, no entanto, que acolhimento não é adesão. O culto,
qualquer culto, é suscetível de classificação na História das Religiões.
Um culto pode ser catalogado como superior ou inferior pela
profundidade e pelo alcance de seus postulados, conceito e doutrina.
Até pela influência político-social ou pela imponência dos bens
materiais, nenhum deles, até hoje, conseguiu hegemonia ou liderança
universal, razão mais do que suficiente para repelir primazias
dogmáticas deslocadas no tempo, num mundo de diferentes níveis de
realidade, onde a relatividade afirma, que cada fenômeno é relativo ao
observador.

70

O homem aceita um mandamento, um decálogo, um Deus, mas não


aceita um déspota que se arrogue o direito de dar-se como senhor e
dono de sua liberdade mental.
Nesse sentido, a convenção de Paris vale um altar. Foi ali que se
igualou o laboratório e o templo, a escola e o tribunal, e o 1789 da
França iluminou o mundo, permitindo a visão de novos horizontes que
descortinavam uma paisagem em que leigos, nem por isso sem alma,
proclamavam os Direitos do Homem e do Cidadão.
Agora, cada homem tem a crença que quer ou que pode ter,
assegurada nos códigos dos países civilizados que respeitam a
proclamação dos Direitos do Homem e do Cidadão e sem medo de
condenações, ele pode fazer de seu coração o seu próprio altar.
Na relação da Cabala com o Livro dos Vedas, encontra-se a relação
íntima de dois mundos separados: Oriente e Ocidente. Um
confirmando o outro. com uma diferença, segundo Leopoldo Bettiol: ”O
ocidental comprovou cientificamente, desde priscas eras, a força do
pensamento. Eliphas Levi, Steiner, Dürville, Prentice Mulford,
Atkinson, Max Heindel, Ragon, todos sob a influência de Christian
Rozen Kreutz (Cristiano Roza-Cruz), o maior místico europeu, foram
revolucionários e inovadores face às doutrinas orientais.
”Um traço-de-união merece destaque: a predicação do hindu
Vivekananda. com ele, o mentalismo ocidental tomou foros de
disciplina científica e espalhou no mundo orientações e benefícios
largamente conhecidos, baseado no correto uso do pensar,
focalizando na mente o segredo da conexão com o Universo.”
Por isso, pergunto: em 2007, tem sentido falar em revelação de
segredo nesse território do alcance da mente e de sua capacidade de
construir nossos sonhos?
Voltando a Vivekananda, não seria absurdo dizer que o mentalismo
libera o homem de ritos grosseiros. Nem por isso o mentalista será
inimigo das religiões; ao contrário, sabendo-as diferentes

71
sistematizações limitadas pelo alcance da alma humana em distintos
estágios, respeita e coopera com elas, dando exemplo de tolerância e
cordura.
Não somos todos iguais, e nivelar por baixo seria a maior afronta às
leis da evolução, configurada numa espécie de cântico maldito de
retardo, preguiça e má intenção de líderes manipuladores.
Toda a natureza é o Templo de Deus. O homem liberto entra em todos
e a todos respeita. Pode, até, orar em todos eles com a mesma fé.
Mas, se faltar um altar e um ídolo, ele saberá encontrar uma norma
interior, um pensamento puro, um raio de sol, um riso de criança, uma
mão miserável a apertar, uma pedra ou uma flor. E basta.
Creia ou não no espírito, o homem é um exemplar encarnado dessa
realidade espiritual. A alma do homem, independente do corpo, não é
mais uma questão de fé; passou para o domínio científico, como
postulara Allan Kardec e, mais recentemente, Rose Marie Muraro,
suficiente resposta a quem tem olhos de ver e capacidade de pensar.
A parapsicologia e a Noethic Science, ciência que busca o estudo da
essência do ser humano, que não é material por não se submeter às
propriedades comuns da matéria e às leis do espaço vulgar,
multiplicam suas cátedras nos mais avançados centros de estudos de
múltiplos países.
As faculdades do espírito vão se revelando experimentalmente, , e a
alma desdobra-se e consente ser fotografada. E o ectoplasma da
biologia, na palavra de Huxley.
Se não bastasse o Espiritismo, a fenomenologia anímica multiplicou os
processos, como informava a pesquisadora Ivone Castellan em sua
pesquisa.
E, mais uma vez, o derrotado é o sábio de sacristia e o titulado de
meia ciência.
O homem de Aristóteles deu a mão ao homem de Platão, e agora
ambos abraçam o homem de Garrei, o homem que trabalha, pensa e
reza. O ancestral se fez homem, o homem se fez prodígio e o
prodígio, admiração.

72

Cabe aqui estabelecer diferenças entre espiritualidade e religião.


Essas duas palavras são freqüentemente tomadas como sinônimos
ou, ao menos, como intercambiáveis. Segundo Jeffrey B. Reese, autor
do livro Spirítual Quanta, até mesmo pessoas que deveriam conhecer
bem a diferença entre os dois termos citados podem pensar que elas
signifiquem a mesma coisa.
A diferença é, no entanto, importante.
A palavra espiritualidade vem do que alguns chamam uma parte - nós
preferimos chamar essência -, do ser humano, chamada espírito.
Religião é uma prática que se adota ou não. Todos nascem com um
espírito, melhor dizer todos são espíritos, substituindo a velha idéia do
espírito como atributo indefinido do corpo. Um acessório, como um
dedo ou uma orelha, ao invés de entendê-lo como a essência. Tudo
naturalmente derivado da idéia errada que nos venderam sobre um
mundo feito de matéria, sem a possibilidade de intervenção da
consciência.
Essa idéia equivocada integra nossas expressões do dia-a-dia.
Dizemos: eu estou contente, eu estou com dor de cabeça, torci meu
dedo e meu espírito está em evolução, ou, quando eu morrer, meu
espírito irá para o céu.
E flagrante a separação entre o espírito e o eu, passando a essência a
ser tratada como mero acessório.
Então, todos são espíritos, nascendo ou renascendo.
Religião é uma escolha de estudo e um culto.
O uso de nossa espiritualidade, bom, mau, ou indiferente é parte de
nossas atividades, como o uso do cérebro, coração, etc.
Líderes religiosos que usam sua posição de poder para ganhos
pessoais ou propósitos antiéticos, são o melhor exemplo da lacuna
entre religião e espiritualidade.
Muitas vezes acreditamos que se uma pessoa é religiosa, ela será
necessariamente boa e espiritualmente sã. Também pensamos que

73

essa pessoa estará disponível para orientar espiritualmente os


demais, ajudando-os em todas as dificuldades, sempre que seu auxílio
for necessário.
Entretanto, se a adoção de uma religião por si só nos fizesse
espiritualmente evoluídos, não teríamos histórias de pregadores
abusando de crianças, de bispos ou equivalentes cometendo
falcatruas, nem de pastores que, mais interessados na lã do que nas
ovelhas, submetem-nas a rigorosa tosquia, guardando para si o
resultado valioso.
Todos os religiosos dizem que devemos amar Deus, que Deus é amor,
é perdão, etc. Mas, na prática, acrescentam: somente se você
acreditar como eu acredito, somente se você crer no que eu creio.
O amor que dizem que Deus dedica aos homens e estes devem
dedicar uns aos outros só é verdadeiro para os que pensam
igualmente.
Entretanto, sabemos que cada um tem a religião que pode ter e que
diferenças menores só nos afastam, por nossa eterna pretensão de
donos da verdade, que fica mais forte quando entendemos que ela
nos foi revelada diretamente pelo ser supremo, estando portanto fora
de cogitação qualquer questionamento a seu respeito.
A mensagem de Jesus não é a do oficialismo dos que se arrogaram
em seus procuradores e únicos hermeneutas autorizados de seus
ensinamentos. E muitos o fizeram, adotando conclusões opostas num
atropelo ao terceiro princípio da lógica, que é o do terceiro excluído, e
afirma que não pode ser e não-A ao mesmo tempo.
O crê-ou-morre não é conquista do espírito humano. Não faz parte da
espiritualidade. Faz parte de interpretação equívoca de mensagens
luminosas, por parte do oficialismo religioso, nas mãos de líderes
despreparados.
Se pedíssemos a três irmãos, de diferentes idades, para que
descrevessem seus pais, teríamos, por certo, distintas descrições.
Haveria semelhanças e diferenças, que talvez levassem quem escuta
a pensar que se tratasse de pessoas diversas. i
Deverão os filhos brigar em função das diferentes análises, tão j
próprias do ser humano, ou cada um, conservando sua opinião sobre
os aspectos menores, entender que se trata dos mesmos pais, a quem
amam e que gostariam muito de vê-los unidos, num ambiente de paz e
fraternidade?
Trata-se da descrição de seres visíveis, palpáveis, perceptíveis pelos
sentidos.
Falamos de algumas diferenças e elencamos alguns pontos negativos.
Entretanto, também se pode dizer que a prática religiosa bem
orientada pode ser um excelente reforço para o avanço da
espiritualidade.
Espiritualidade e religião são coisas diferentes. Podem caminhar por
trilhos independentes, mas também podem formar poderoso binômio
para a evolução humana, principalmente quando entendemos tomar
por base a prática da caridade e a fé raciocinada.
Devemos aduzir ainda que o espírito tem sua energia própria,
realizadora e, consoante as leis da ciência, conecta-se a energias
desse Universo inteligente, canalizando-as para sua evolução e
sucesso.

74
75

Espiritualidade Harmonia - Realização


Os mais modernos conceitos no terreno da medicina contemplam o
aspecto espiritual do homem. Especialistas, principalmente na área da
geriatria, entendem que a todos os aspectos considerados para o
sucesso de um tratamento deve ser incluído o aspecto espiritual do
paciente.
Ali se encontram as energias capazes de propiciar a realização! dos
objetivos perseguidos.
De outra parte, entendemos que pela espiritualidade o homem faz
conexões mais ricas com o Universo.
E a consciência, em seu sentido espiritual, que é capaz de atuar sobre
as partículas quânticas, e, também, de produzir, dia-a-dia, através de
nossa construção mental, o destino que desejamos. Este, longe; de
estar preestabelecido, é uma possibilidade de nossa consciência que
buscamos com foco e emoção.
Para tanto, devemos entrar em sintonia, vale dizer, em harmonia com
o Universo.
Isso se consegue principalmente exercitando o amor. com ódios,
ressentimentos, mágoas, busca de vinganças, estamos apenas
travando nossa evolução e produzindo veneno para alimentar nossas
células.
Assim, em harmonia com o todo, nos sentiremos partícipes da
evolução.
Quantas vezes nem nos damos conta da fantástica revolução
tecnológica que estamos vivendo em todos os setores? Quantas
vezes nos condenamos à miséria e, principalmente, à pior delas, que é
a miséria mental, descrevendo e traçando para nós uma vida pobre
quando o Universo é um infinito manancial de riquezas?

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Outras tantas vezes, ligamos nosso aparelho de televisão, vemos no


mesmo instante um acontecimento em Pequim, Nova Iorque ou Bagdá
e parece que somos meros telespectadores desse ciclópico progresso,
que transformou o ex-gigantesco mundo de nosso planeta em uma
aldeota de minúsculas proporções.
Tudo nos convida, da Física Nuclear à realidade social, como nos
conceitos de caridade ditados pela espiritualidade, a sermos cada vez
mais participantes e menos espectadores inertes.
Estamos unidos, sintonizando, emitindo e captando, num planeta
interconectado, integrado a um Universo em que a interconectividade
substituiu a idéia do isolamento, tornando-se a magna lei da
Física Quântica.
No vasto Universo em que vivemos, não estamos sós. Estamos
continuamente emitindo e recebendo energias, pensamentos,
emoções.
Se quisermos classificar as emissoras do Universo como boas ou
más, devemos entender que captaremos exatamente aquelas em
cujas freqüências vibrarmos.
Por isso, buscar energias cósmicas e, com elas, a realização, depende
de atitude positiva diante da vida. O adepto da vitimologia atrai e cria
situações que justifiquem sua posição, aparentemente indesejada,
mas, de fato, buscada afanosamente.
Pois não há pessoas que competem até por dor ou doença?
Experimente dizer a uma delas: hoje estou com dor de cabeça. De
pronto ouvirá a resposta:
Dor de cabeça? Não sabes o que é isso. Dor de cabeça tenho eu
que... e assim tentará provar que sua dor de cabeça é a maior do
mundo. Vale essa conexão? Poderá trazer estado de saúde e
felicidade, quando no fundo a pessoa quer que sua dor seja sempre
maior do que a dor dos outros?
Sintonizando nessa freqüência, como na do contar desgraças,
estabelece-se por vezes outro concurso, com objetivos ainda mais
esdrúxulos. A base da competição é simples: ”E possível que eu não
tenha, nem quero ter a maior desgraça. Mas eu a conheço. Ninguém

77

conta mais tragédias do que eu. Para elas, tenho memória prodigiosa
e desafio qualquer um em extensão e profundidade.”
Não se pode afirmar que essas pessoas certamente serão atingidas
por desastres ou tragédias, mas que são candidatos preferenciais, não
há a menor dúvida.
Estão chamando, estão atraindo.
Também a preocupação com valores somente materiais a qualquer
custo é geradora de situações de angústia e inveja que nada
constróem para a grandeza do espírito.
Para a consciência em evolução, para harmonizá-la com o Universo,
com o bem, com o altruísmo, com a ética é que devemos voltar nosso
foco. E aí, para grande surpresa, os bens materiais virão de
acréscimo, porque estaremos atraindo por atitude e emoção e não
repetitividade de fórmulas, as coisas belas e ricas de um Universo rico
, e belo.
”Procurai o reino de Deus e sua justiça e tudo o mais vos será dado de
acréscimo”.
Esse ”tudo o mais” não nos diz nada?
Significa que harmonizado nosso espírito com as leis que determinam
sua evolução, estaremos sintonizados com os planos de felicidade e
no caminho da realização integral.
Cada um de nós tem seu projeto de vida e busca, sem dúvida, sua
realização. Tal realização, no entanto, exige que desenvolvamos todos
os aspectos de nosso ser. Não é só o corpo; é também o espírito, de
quem o corpo é precioso instrumental. Não é só a razão; é também o
sentimento, a emoção, que põe calor em nossas vidas e em nossas
relações.
Essa harmonia de relações nos leva a desenvolver o que o Dalai
Lama chama de compaixão, que, de certa forma, inclui o abrir-se ao
sentimento dos outros e a seus sofrimentos.
Por isso, quando questionado por que motivo, quando procuramos de
todas as maneiras evitar o sofrimento, deveríamos, através da
compaixão, nos abrir para o sofrimento dos outros, Dalai Lama
respondeu:

78

”Creio haver uma diferença significativa entre nosso próprio sofrimento


e o sofrimento que poderíamos experimentar num estado de
compaixão, no qual assumimos sobre nossos ombros o sofrimento de
terceiros: uma diferença qualitativa.
”Quando pensamos no nosso próprio sofrimento, existe uma sensação
de que estamos totalmente dominados. Há uma sensação de
estarmos sobrecarregados, de estarmos oprimidos por alguma coisa.
Uma sensação de desamparo. Ocorre um entorpecimento, quase
como se nossas faculdades estivessem embotadas.
”Ora, ao gerar a compaixão, quando se está assumindo a dor de outra
pessoa, pode-se também, de início, vivenciar um certo desconforto,
uma sensação de constrangimento ou de incapacidade de suportar a
situação. Entretanto, no caso da compaixão, o sentimento é muito
diferente: subjacente à sensação de constrangimento, existe um grau
muito alto de atenção e determinação porque a pessoa está de modo
voluntário e deliberado aceitando o sofrimento do outro por objetivo
maior. Existe um sentimento de ligação e compromisso, uma
disposição a estender a mão aos outros, uma sensação de energia em
vez de entorpecimento. Isso é semelhante ao caso de um atleta.
Enquanto se submete a treinos rigorosos, o atleta pode sofrer muito:
fazendo ginástica, suando, esforçando-se. Creio (aqui a visão de fora)
que essa seja uma experiência muito dolorosa e extenuante. Já o
atleta não a considera assim. Ele a encara como uma grande
realização, uma experiência associada a uma sensação de alegria.
Porém, se fosse sujeito a algum outro esforço físico que não fizesse
parte de seu treinamento atlético, ele poderia pensar: Ai, por que me
fizeram passar por essa terrível tortura? Portanto, a atitude mental faz
a diferença.”
Temos aí a vantagem que haurimos ao conseguirmos nos preocupar
com o sofrimento dos outros.
Diante do nosso, nos sentimos impotentes, incapazes de reagir, e
parecemos bloqueados, dominados por aquele sofrer insuportável.

79

Em relação aos outros, deixamos a situação de nos


sentirmos dominados pelo sofrimento e passamos a ter a
alegria de ajudar alguém a dominar o seu. Saímos de
nosso interesse pessoal e lidamos com problemas que, de
fora, nos acostumamos a superar, ou ajudar a superar, de
tal forma que quando chegarem a nós, já conheceremos
muitas táticas e remédios adequados para melhor lidar
com eles.
A caridade só traz vantagens, mormente quando a buscamos
desinteressadamente.
Por ela, começamos a desenvolver nossa alegria na alegria dos
outros. Nossa felicidade em transformar lágrimas em sorrisos, em
ajudar um irmão necessitado, porque a simples diferença entre poder
ajudar e precisar ser ajudado, já nos torna, quando na primeira
posição, gratos pela oportunidade de crescer.
Ainda há a considerar que a atitude mental é tudo. Mais uma vez a
influência da mente.
É penoso para um aluno ter que ler um livro porque o conteúdo lhe
será cobrado na prova. É prazenteiro quando se vê mais longe e se
percebe no livro a possibilidade de conversar com pessoas
interessantes, os autores e personagens, de ouvir histórias muito bem
contadas, de descobrir as pistas deixadas pelo autor, tornando-se co-
autor, pois é sabido que a leitura não é uma atividade passiva, mas a
grande
oportunidade de aprender.
A leitura será um prazer ou um sacrifício em função da atitude mental
do leitor.
Assim é com tudo em nossa vida.
Perceber novas possibilidades, transformar prévias de fracassos em
realizações, encontrar a resposta no emaranhado das dúvidas, achar
o caminho certo pelo labirinto, transformar perdas de cargos em novas
oportunidades está na visão intuitiva do homem que se programou
para o sucesso e não desiste de seu objetivo.
Esse sabe que não está só e faz do convívio fraterno com seus pares
e com as inteligências invisíveis a norma de conduta que,
harmonizando-o com o universo, o levará à realização.

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Para isso, devemos estar em sintonia, em harmonia com as leis


cósmicas. Uma delas é a da caridade, e a mais importante é a do
amor.
Vimos, no dizer do Dalai Lama sobre abrir-se ao sofrimento dos
outros, como a compaixão, que poderíamos chamar caridade, com
atitude mental positiva, eleva quem a exercita.
Em São Francisco de Assis encontramos o ”É dando que se recebe,
perdoando que se é perdoado”, numa exemplificação prática da Lei de
Ação e Reação que comentaremos adiante.
A Física nos faz entender o despropósito do egocentrismo quando nos
descreve um Universo em que tudo está interconectado e nos informa
que o sistema isolado está tecnicamente morto.
Então, pela ciência e pela fé verificamos que a caridade e o amor,
unindo o homem, engrandecem-no.
São luminares, avatares de todos os quadrantes e dos mais diversos
credos a nos dizer o mesmo, com a assinatura da ciência subposta a
esses ditos.
Também o Livro dos Espíritos, aqui do lado ocidental, nos fala da
importância dos mesmos sentimentos de amor e caridade para nossa
harmonia e realização.
Quando na pergunta 886, referente ao verdadeiro sentido da palavra
caridade como entendia Jesus, a resposta é: ”Benevolência para com
todos, indulgência para com as imperfeições alheias”...
Continua:
”O amor e a caridade são o complemento da lei da justiça, porque
amar o próximo é fazer-lhe todo o bem possível e que desejaríamos
que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: - Amai-vos
uns aos outros como irmãos.
”A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange
todas as relações com os nossos semelhantes, quer se trate de
nossos inferiores (aqui apenas uma força de expressão para designar
pessoas mais ou menos carentes), iguais ou superiores. Ela nos
manda ser indulgentes, porque nós temos necessidade da
indulgência, e nos proíbe de humilhar o infortúnio, ao contrário do que
comumente se pratica.”

81
E culmina:
”Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei, divina lei, pela qual Deus
governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e
organizados e a atração é a lei do amor para a matéria inorgânica (no
sentido de inanimada).” Aqui verificamos como toda a lei universal se
resume numa lei de amor e poderíamos completar o astrônomo inglês
James Jeans, ao dizer que ”o Universo se parece mais com um
gigantesco pensamento do que com qualquer outra coisa”,
acrescentando: com um gigantesco pensamento de amor.
Não podemos, entretanto, a bem de nosso crescimento como
sociedade organizada, confundir a lei do amor e da caridade com
políticas assistencialistas, geradoras de votos alicerçados na preguiça
! e na esmola fácil. A dignidade do ser humano não pode ser objeto de
; compra dos saprófitas, que lucram com a miséria, se alimentam de
uma situação comparável a um excremento social e fomentam a
ignorância por interesse, afinidade e semelhança, apoiados na má-fé.
O homem íntegro, uma vez no poder, procurará dar aos necessitados
condições para proverem o próprio sustento e não viciá-los em uma
conduta que irá cada vez mais diminuí-los diante de seus próprios
olhos. Tornar perene por interesses pessoais ou políticos a situação
de
pedinte, para que este sempre necessite e agradeça o socorro
imediato
do pão, que ainda não lhe deram chance de conquistar, não é ser
caridoso. E ser malfeitor.
Concluindo, sobre o verdadeiro praticar da caridade, temos ao final da
pergunta 888-a do Livro dos Espíritos, por Saint Vincente de Paul: l
”Não vos esqueçais jamais de que o Espírito, qualquer que seja o seu
grau de adiantamento, sua situação como reencarnado ou na
erraticidade, está sempre colocado entre um superior que o guia e
aperfeiçoa e um inferior, perante o qual tem deveres recíprocos a
cumprir. Sede, portanto, caridosos, não somente dessa caridade que
vos leva a tirar do bolso o óbolo que friamente
te atirais ao que ousa pedir-vos, mas ide ao encontro das misérias
ocultas. Sede indulgentes para com os erros de vossos semelhantes;
em lugar de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os e moralizai-os;
sede afáveis e benevolentes para com todos os que vos são inferiores;
sede-o mesmo para com os mais ínfimos seres da criação e tereis
obedecido à lei de Deus.” Reencarnacionistas ou não, cristãos,
budistas, hinduístas ou estudiosos da Física, nossos iluminados nos
levam a uma mesma conclusão: a harmonia e o progresso e a
conseqüente realização dependem de um estado de paz, em que o
amor e a caridade sejam nossas normas de conduta.
Assim cresceremos, se pensarmos dessa forma, assim atrairemos
bons espíritos, ou, se preferirmos dizer, nos conectaremos com boas
energias, ou estaremos em sintonia com as riquezas do cosmos. Seja
qual for a linguagem, a atitude recomendada é a mesma. Não vamos
discutir a mais apropriada linguagem, porque seja ela qual for, está
nos apontando o mesmo caminho.
Haverá quem, no entanto, no calor da discussão pela melhor forma de
dizer, possa olvidar o dito e, discutindo o porquê do amor, termine
exercitando o ódio. São paradoxos humanos.
Vamos, no caminho da realização e da espiritualidade, discutir agora
três grandes leis, todas quase tão velhas como o mundo,
redescobertas e reescritas em novas linguagens de tempos em
tempos e fundamentais para podermos viver em sintonia com esse
novo Universo que a Física nos descreve, sacando dos conceitos
dessa nova ciência lições para otimizar nosso viver no rumo da
felicidade e do sucesso.

83

Ação e reação

Trata-se, no terreno da Física, da chamada Terceira Lei de Newton.


Em termos de mecânica, conforme enunciada originalmente, diz:
Sempre que um agente físico exerce uma força sobre outro, ação,
recebe deste outro uma força de mesma intensidade, mesma direção
e sentido contrário, chamada força de reação.
É importante observar que essas forças sempre possuem o mesmo
valor numérico, a mesma intensidade e que nunca estão aplicadas no
mesmo corpo. Isto é, quem pratica a ação recebe a reação. ; Assim,
se uma pessoa empurra uma parede, com uma certa força, recebe da
parede uma força de mesmo valor, em sentido contra- j rio. Se essa
pessoa estiver de patins, poderá observar com facilidade a presença
da força de reação e quanto maior for a força com que empurrar a
parede, maior será a força que dela irá receber, produzindo seu
deslocamento com maior impulso.
Essa lei é muito mencionada por filósofos, religiosos, pensadores,
quando tentam, de modo objetivo, explicar por que o resultado de
nossas ações sempre retorna a nós. i
Nesse sentido, surgiram explicações físicas para muitos fenômenos
antes desconhecidos.
Assim, se estivermos numa pequena embarcação, no meio de
um lago e jogarmos uma pedra na água, produziremos uma
perturbação na superfície líquida, quer dizer, produziremos um abalo
que irá se propagar: uma onda.
Essa onda será mais forte ou mais fraca, de acordo com o tamanho da
pedra que jogamos no lago e com a intensidade da força com que a
atiramos contra a superfície líquida. Chegando à margem, será
refletida e voltará até seu ponto de origem, balançando nosso
barquinho, nosso universo de conforto.

84

Por que razão?


Castigo de entidades protetoras do lago ofendidas com a pedrada?
Não.
Vingança das margens do lago que, invadidas pelas ondas que
produzimos, resolvem mandar de volta ao causador a perturbação
causada? Também não.
Simples resultado da Lei de Ação e Reação, acompanhada do
fenômeno físico da reflexão das ondas.
Pois fato semelhante ocorre num plano mais sutil com nossos
pensamentos.
Num Universo, antigamente considerado vazio, e hoje sabidamente
preenchido por campos invisíveis, mas de efeitos notáveis, o que
pensamos é uma vibração dirigida ao cosmos. Essa vibração, como
qualquer energia, não se destrói e volta à fonte emissora. Assim,
pensar mal nos prejudica duplamente: Primeiro, porque a energia
negativa que assim produzimos gera produtos nocivos às nossas
células em nosso hipotálamo e transita por nós.
Segundo, porque retornará à origem, mais dia menos dia. Sendo o
pensamento o veículo através do qual a consciência age sobre o
mundo circundante, é por ele que nos comunicamos com as outras
mentes e as inteligências do Universo.
Assim, meditadores aumentam a energia de pensar, e o pensamento
apresenta importantes aspectos pluridimensionais.
Já na antiga União Soviética, Leonid Vassiliev realizou a seguinte
experiência: colocou um hipnólogo e um sensitivo em salas com
paredes de chumbo, blindadas a qualquer radiação eletromagnética
conhecida. A dupla já havia treinado anteriormente, para conseguir a
chamada hipnose beta, que consiste no seguinte:
Uma vez hipnotizado o sensitivo, o hipnólogo, para não ter que a cada
nova experiência repetir todo o processo para tranqüilizar o paciente
até colocá-lo em transe, estabelece uma frase que cada vez

85

que for pronunciada por ele, e somente por ele, fará o sensitivo
retornar ao estado de transe em que se encontrava.
No caso, a experiência foi um pouco diferente. O hipnólogo, durante o
transe do sensitivo, sugeriu que cada vez que, após fazer-lhe um certo
sinal, para evitar um só pensamento emitido sem controle que
pudesse colocar o sensitivo em transe, e, como dissemos, após o sinal
emitisse determinado pensamento, o sensitivo entraria em sono
hipnótico profundo.
A experiência foi feita de modo que o hipnólogo tinha nas mãos um
cronômetro sincronizado com outro, em poder do sensitivo, sendo que
este segundo funcionaria enquanto estivesse pressionado e ao ser
solto pararia imediatamente.
No momento em que, após o sinal, o hipnólogo pensou na seqüência
e acionou o cronômetro, o sensitivo na outra sala adormeceu soltando
o relógio que estava em sua mão. Coincidência perfeita na hora da
parada.
Por onde passou a chamada onda telepática? Certamente não foi pelo
espaço vulgar. Não foi pelas três dimensões que nos informam os
sentidos e sim pelo que os matemáticos chamam de hiperespaço: um
espaço com mais de três dimensões físicas.
Se nossa mente pode operar nesses espaços, o que sensorialmente
vemos fechado é aberto para uma dimensão que nossos sentidos não
detectam, mas em que nossa consciência pode operar.
Os fenômenos de apports, aqueles em que objetos parecem
atravessar paredes, célebres nas sessões de materialização do
passado, têm sua explicação pela possibilidade de as inteligências
espirituais poderem agir no hiperespaço.
Experiência muito interessante, provando a interconectividade do
Universo, foi feita na Rússia já em nosso século.
Uma coelha era separada de seus filhotinhos, que ficavam numa base
naval, enquanto ela era transportada para um submarino, de : onde
nenhuma radiação poderia chegar à base, pois ficava mergulhado a
grande profundidade.

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Pet scaners eram conectados à cabeça da coelha e, enquanto o


submarino se mantinha submerso, seus filhotes eram sacrificados a
intervalos aleatórios de tempo, devidamente registrados na base.
A coelha, durante todo o tempo em que permaneceu no submarino,
não demonstrou qualquer mudança visível em seu comportamento.
No entanto, observados os registros cerebrais, verificou-se que
sofreram significativas alterações, apresentando picos bastante
agudos em cada momento em que um filhote era sacrificado.
A NASA realizou com sucesso experiência de telepatia com o módulo
lunar na face oculta da Lua, em situação em que a comunicação por
rádio era impossível. As mentes se comunicaram.
Independentemente de distâncias, estamos todos conectados no
aspecto mental e com campos invisíveis.
Por isso, em menor ou maior grau, nossos pensamentos produzem
impacto sobre outras mentes e sobre nós mesmos.
As vezes não nos damos conta de quanto dependemos de outras
pessoas e quão interligados estamos.
Vamos a uma loja e compramos uma camisa, de linho, por exemplo.
Quantas pessoas estão envolvidas no processo?
Alguém, assodadamente, poderá responder três: eu, minha mulher,
que levei para opinar, e o vendedor que me atendeu.
É pouco, é pouquíssimo.
E as pessoas envolvidas em todo o processo que transformou
sementes em vegetais, vegetais em tecido e tecido em camisa? Houve
quem cortasse o tecido, quem costurasse, além de todos os
envolvidos na plantação, cultivo e transporte. Mais o beneficiamento
dos materiais, mais a linha para colocar os botões, mais a fabricação
destes, seu transporte, etc.
Sem dúvida, um universo de pessoas, e cada uma colaborou para que
agora nossa personagem esteja vestindo a camisa.
Foi preciso planejar, passo por passo, quem plantaria, quem colheria,
quem transportaria, quem beneficiaria, quem transformaria,

87

quem cortaria, quem costuraria, quem venderia para qual loja e em


que dia estaria exposta? Não.
Pois um cérebro newtoniano jamais se adaptaria a isso. Jamais
admitiria que as coisas no universo funcionam a partir de campos
organizadores.
São os que jamais admitem, por exemplo, a autonomia de funcionários
em sua empresa. Acreditam que as coisas funcionam à força, que
tudo deve estar planejado nos mínimos detalhes, acham que a
autonomia do funcionário pode valer só até o limite de seu trabalho, o
do chefe, e assim conseguem, com um enorme desgaste de energia, o
que poderiam conseguir utilizando e criando campos quânticos.
E, sem dúvida, um novo desafio, uma quebra completa de paradigma
substituir mando por autonomia e abandonar o concreto buscando a
ação de campos invisíveis mas efetivamente organizadores de todo o
cosmos. É um sentir de fluxo que depende de percepções sutis,
fugindo muitas vezes, como fizeram os físicos, do racionalismo puro,
para, via intuição, descobrir um novo Universo e canalizar suas
energias.
E difícil, é uma quebra de rotina, alguns considerarão um risco, mas
onde não há riscos? E é só assim que economizaremos muita energia,
atraindo os campos invisíveis, para que atuem por nós e nos
conectando com eles, criando novos campos, em que o mando
autoritário ceda lugar a uma sinergia de objetivos comuns.
Será o grande desafio, mas é o único caminho para substituir a
imposição da força por compreensão e verdadeiro trabalho de equipe.
São desafios que o Universo dirige ”a quem interessar possa”.
E não se trata de um universo newtoniano, previsível, em que só a
força faz as coisas funcionarem, digno de quem só se orienta por um
rígido manual de instruções fora do qual nada existe. Não. Tratase de
um Universo de possibilidades em que entre infinitas delas temos a
responsabilidade de fazer escolhas.
Falamos de pensamento, sinergia, voltaremos aos campos,
investigamos de Lei de Ação e Reação, que alguns espiritualistas
chamam

88

de Lei de Retorno ou Lei do Carma, essa última, de modo genérico,


bastante mal entendida pelos ocidentais, que a consideram uma lei
meramente punitiva, um espécie de castigo aos transgressores das
leis divinas.
Nada disso: o carma é o desafio que nos impomos e que precisamos
vencer para chegar ao dharma: a missão.
Logicamente, no que os hindus chamam a roda de Samsara, está
presente a Lei de Ação e Reação, uma vez que recebemos o retorno
do que pensamos e praticamos.
Mas, vamos a outra lei, a Lei de Causa e Efeito, para ao final falarmos
na Lei da Atração, estabelecendo as normas para atingir nossos
objetivos e vendo o que há de sério e o que há de consumismo por
trás das mais recentes publicações nesse sentido.

89

A Lei de Causa e Efeito: causalidade

Na mecânica clássica, newtoniana, a Lei de Causa e Efeito relaciona a


força aplicada num corpo com a aceleração produzida, em função da
massa desse mesmo corpo.
Assim, a causa, força, é relacionada com o efeito que produz num
corpo livre, aceleração, em função da massa que vai ser acelerada.
De um modo geral, a partir de estudos semelhantes e, até mesmo,
simples observações baseadas no bom senso, chegamos à conclusão
de que não há efeito sem causa.
Dentro do Universo newtoniano, de uma Física de certezas, passou-se
a entender que, conhecida a causa, pode-se determinar com absoluta
precisão o efeito.
Aí se baseiam os planejamentos tradicionais e a limitação das
pessoas que nada fazem fora de seu manual de instruções, porque
acreditam que ali estão as causas, que, ativadas, produzirão todos os
efeitos desejados.
Vivia-se a ilusão de poder prever resultados futuros com precisão
absoluta.
Filósofos imaginavam que uma supermente, capaz de conhecer todos
os fatores que num determinado instante atuam sobre um corpo,
poderia precisar todo o estado de movimento, bem como a posição do
corpo, em qualquer instante seguinte.
E, tendo essa supermente acesso a todas as informações relativas
aos agentes causais atuando no Universo, poderia prever, com rigor
absoluto, qualquer evento futuro relativo a pessoas, animais ou coisas,
do átomo à galáxia.
Estava descortinado o panorama em que vicejaria a teoria do destino
preestabelecido e de nossa impossibilidade de modificá-lo, bem como
de modificar qualquer coisa, nesse universo predeterminado e
previsível.
Não é esse o pensamento atual.
Diante de uma mesma causa, poderemos chegar a diferentes efeitos,
cada um com diferentes graus de probabilidade de ocorrer.
A incerteza tomou o lugar da certeza.
O que à primeira vista poderia nos parecer caótico, de fato nos torna
livres e responsáveis, pois se há possibilidades, há escolhas; a
possibilidade de escolher nos torna participantes e responsáveis por
atos nossos, realizados a partir de decisões nossas, que poderiam ser
diferentes.
Mas, apesar da quebra de rigidez do princípio, podemos continuar
afirmando que não há efeito sem causa e que também é possível
estabelecer, com algum grau de certeza, a causa produtora, pelo
menos em algumas de suas características, de determinado efeito
observado.
No entanto, não podemos ter sonhos newtonianos, pois isso nos
remeteria de volta a um Universo de que seríamos meros
espectadores.
Assim, muitas pessoas exageram quando dizem que, por não haver
efeito sem causa, tudo o que acontece tem alguma razão de ser.
E verdade. Só que nem sempre essa razão está preestabelecida por
forças superiores à nossa vontade.
Dou um exemplo:
Em 2004, quando estava terminando o livro A Era do Espírito, ao
preparar o computador para ser desligado, mandando fechar o
arquivo, a máquina me fez uma pergunta não-usual.
Ao invés do conhecido ”deseja salvar as alterações”, etc., perguntou
se eu desejava reverter o arquivo A Era do Espírito para outro de
mesmo nome, já existente. Esse outro arquivo constituía-se apenas do
título.

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91

Sem entender o significado de reverter na linguagem da máquina,


respondi sim. Resultado, tudo o que estava escrito se transformou
apenas num título, e o livro foi excluído do computador, sem qualquer
possibilidade de recuperá-lo.
Consegui reescrevê-lo em três dias.
O que importa aqui analisar é o seguinte: eu poderia ter levado o
acontecimento para o lado mágico, de determinações superiores, ou
emboscadas de inferiores, e pensado: bom, se isso aconteceu, de
certo não é para o livro sair agora. Há algum desígnio nesse sentido.
E, se quedasse conformado com suposta destinação ou maquinação
de inimigos invisíveis, ou, achando que tudo era um aviso para deixar
para depois, o livro não teria saído na época certa.
Vivemos num plano em que nem tudo está predeterminado. Estamos
sujeitos a acidentes de percurso das mais diversas ordens. Num
primeiro momento, me desesperei, mas depois reuni forças, apoios
familiares, os mais importantes que pode haver, e o livro saiu em
tempo.
O que interessa examinar aqui é o seguinte: se o livro foi perdido,
haveria uma razão? Não é verdade que tudo o que acontece tem sua
razão de ser? Sim, só que não temos que viver atrás de razões
mágicas a cada passo de nossa vida, para não nos tornarmos
incapazes de lutar para conseguir as transformações que queremos.
A razão era muito simples e, como tudo, na vida trouxe sua lição: se
não entender uma pergunta, não a responda. A causa foi
simplesmente um comando errado, causa imediata, e a causa mediata
foi responder sem saber o que estava respondendo.
Isso para que não fiquemos a pensar que tudo o que acontece tinha
que acontecer. Fomos viciados naquela idéia de um Universo em que
não tínhamos poder de intervenção e passamos a atribuir tudo a
fatores externos a nós, de modo especial os religiosos, a fatores
mágicos e imponderáveis.
O que aconteceu não estava escrito. Era apenas uma das
possibilidades que se apresentavam e que se transformaria em
realidade ou
não, de acordo com a resposta dada à pergunta, escolha de minha
consciência.
Por isso, nem sempre é fácil identificar a causa e facilmente, em
especial através do pensamento mágico, poderemos tomar
interpretações equivocadas.
Em vez de pensarmos estar à mercê de um destino, escrito em seus
mínimos detalhes, devemos nos habituar a administrar possibilidades.
Isso sim é uma manifestação de livre-arbítrio e nos torna
responsáveis.
Devemos aprender a nos mover no campo do incerto. A sentir e
acompanhar as flutuações desse campo e estar com as antenas da
intuição ligadas, para escolhermos as melhores posições de equilíbrio
e os mais adequados movimentos.
Isso porque, se nos movemos no incerto, estamos elegendo a cada
momento, estamos criando e inovando a cada passo e não seguindo
um suposto script pré-moldado, em que até o lugar em que
colocaremos cada pé, a cada passo, já está marcado, como faz um
diretor de cinema diante do ator que não tem capacidade criativa.
”Pisa nas marcas, olha sempre para a câmera e, por favor, não
pensa”, disse John Ford, diretor, a John Wayne, ator.
Às vezes nos rebaixamos voluntariamente ao plano dos incapazes de
escolher e traçar seus rumos e, assim, construir a felicidade,
acreditando que um suposto ser superior já escreveu todo o roteiro da
vida, por nós e para nós.
Movimentar-se nos campos quânticos das possibilidades é chegar ao
plano causal, é envolver-se, é conseguir acesso aos planos que
organizam o visível, sempre de modo probabilístico. É quase um
moverse no caos, no incerto, para eleger o que emergirá desse caos
aparente, que nada mais é do que um mar de possibilidades não
diferenciadas.
Daí, desenvolveremos a capacidade de sair, quando necessário, do
planejamento de uma aula, por exemplo. De executar de modos
diferentes o mesmo planejamento, em função do grupo humano a que
nos dirigimos.

93

O causalista rígido, o homem do tudo está escrito, será


demasiadamente tedioso. Repetirá sempre a mesma piada, oportuna
ou não, em função do grupo, começará e terminará cada aula no
mesmo tempo e com as mesmas palavras, sem saber aproveitar a
ebulição dos questionamentos e inquietudes, numa nova oportunidade
de ensino, crescimento e conquista.
Deus nos livre do conferencista e do professor newtoniano, repetitivo,
maçante, que diante de situação não prevista em seu planejamento
talvez se atire ao chão, sacudindo a cabeça e dizendo: ”Não tem
registro”.
Assim, também, nós que acreditamos na espiritualidade, porque temos
evidências do espírito humano, devemos entender a vida e seus
convites como possibilidades.
Não julgar de imediato que tudo esteja predeterminado e que a pessoa
que sofre qualquer tipo de dor ou acidente já estava destinada a isso,
por capricho do Criador, ou, segundo outro possível entendimento, por
débitos de outras vidas.
Pensando assim, as pessoas chegam a verdadeiros absurdos e,
embora falem em livre-arbítrio, sem perceber, estão advogando a
realidade do fatalismo.
Nem toda pessoa que morre assassinada assassinou alguém numa
vida anterior.
Os falsos adeptos do livre-arbítrio, verdadeiros defensores da teoria do
destino, buscam sempre numa vida anterior a causa de tudo o que
acontece na presente, como se nada de novo, de inusitado, de
alteração de rumos pudesse ocorrer.
Assim, diante da trágica notícia de que mãe matou filho recémnascido,
do alto de sua visão regressiva - deveríamos dizer retrógrada -,
sentenciam: ”Pois isso aconteceu porque esse mesmo filho matou a
mãe na encarnação passada”.
E na pregressa será que a mãe matou o filho? Não saberá nosso juiz
das vidas passadas dizer quem começou a troca de assassinatos. O
importante seria saber quando vai parar a bandidagem doméstica.

94

As coisas não são rigidamente predeterminadas dessa maneira. Nem


sempre a vítima de hoje foi o algoz de ontem.
A vida tem muitas e variadas maneiras, mais ricas, imaginativas e
proveitosas, de fazer com que o culpado entenda a gravidade de seu
erro e busque o aperfeiçoamento.
Há, já dissemos, acidentes de percurso, no plano ainda denso em que
vivemos. Por isso, quando ocorre um grande acidente, não há que se
colocar imediatamente todas as vítimas como culpados de graves
crimes no passado. Punição de tal ordem estaria representando
atitude meramente vingativa das chamadas forças superiores.
É preciso pensar com riqueza de possibilidades. E claro que a vida,
que não cessa com a morte, fará de todo o acontecimento, para as
consciências despertas e esclarecidas, uma oportunidade de
aprendizagem.
Mas, tenhamos respeito à grandeza da Suprema Consciência e, por
esse respeito, deixemos de procurar interpretações pobres e
conformistas para tudo o que ocorre.
Será que as crianças desvalidas estão no mundo para pagar culpas?
Se assim é, por que as entidades de luz nos aconselham a prática da
caridade? Se devem sofrer por determinação superior, não cabe a nós
impedir-lhes o sofrimento.
A verdade é bem outra. Somos responsáveis pela sociedade que
criamos e, mais do que julgar o imponderável, nossa missão é amar e
ajudar, sempre na política de fazer com que o hoje necessitado
amanhã tenha o orgulho de passar da condição de pedinte à posição
de quem prove o próprio sustento.
É evidente que, ao longo de uma ou de muitas vidas, pensamos,
agimos, tomamos atitudes, e esse pensar, agir, posicionar-se tem
efeitos sobre aqueles que de nós estão próximos no convívio.
Então, vamos como causas atuando sobre os outros e recebendo
deles ações diferenciadas. Assim, vamos atraindo em função do que
realizamos, sujeitos, por óbvio, à Lei de Causalidade.
95

A lógica, muitas vezes, nos aponta para a lei de causa e efeito,


sempre de forma probabilística, quando queremos chegar aos
detalhes.
Mas, nas grandes linhas, as conclusões podem ser evidentes.
Ao estudar o fenômeno das chamadas mesas girantes, em Paris,
quando muitos entendiam que as mesas magnetizadas logravam
responder de modo inteligente as perguntas que lhes eram dirigidas,
Kardec ponderou: ”Efeitos inteligentes só podem provir de causas
inteligentes”.
Essa é uma relação típica da Lei de Causa e Efeito.
Colhemos o que semeamos, mas haverá tempo, possibilidade, de ’<
que, conscientes de erros cometidos, possamos recuperá-los a ponto
de modificar a colheita, porque mesmo essa é uma possibilidade
mutável.
E por isso que sempre temos o direito de buscar a felicidade, a alegria
e os bons momentos, porque, quanto mais o fizermos, mais <
sintonizados estaremos com os campos inteligentes que organizam a ]
alegria e a felicidade.
E ser feliz, transmitir alegria de viver aos que de nós se aproximam,
tornar contentes os que convivem conosco, cultivar coisas belas e
saudáveis é produzir emoções positivas e talvez seja, porque a alegria
é manifestação da alma, uma das melhores formas de caridade, pois
essa começa em casa e com os amigos.
A causa alegria tem grande possibilidade de produzir, em nós e nos
outros, de acordo com a compreensão e o merecimento de cada um, o
efeito da felicidade, da paz e do bem-estar.
E um estado de felicidade estar perto de pessoas alegres,
empreendedoras e otimistas, que sabem ver a vida com os olhos da
evolução e com a imensa capacidade de contemplar e admirar o belo,
em todos os terrenos e em todos os seres.
Esses sabem valorizar a obra do Criador e, por conseqüência e
atração, por esse Universo inteligente também serão valorizados.

O sucesso: Lei das Atrações

Todos buscamos, ao longo de nossa existência, chegar a uma vida de


harmonia, tranqüilidade e paz.
Nos objetivos da harmonia, incluímos, naturalmente, um existir pleno
de felicidade e êxito. Buscamos sucesso nas nossas atividades e
progresso em nossas relações.
Sabemos, hoje, que tudo isso não é uma dádiva externa, e sim uma
construção nossa, que depende de acreditar e desenvolver nossas
possibilidades.
A ciência nos dá uma base sólida, confirmando o alcance e o poder da
mente, num Universo muitas vezes obediente aos desejos do
observador.
Ensina-nos que não estamos sós e que há campos organizadores,
cujo contato conosco nos leva a encaminhar efetivamente nossa
realização.
Na definição e interpretação do Universo, os cientistas abandonaram a
materialidade e partiram para conceitos.
Esses conceitos, a partir de formulações matemáticas, nos
descreveram um Universo fantástico, rico em oportunidades à nossa
disposição. A essas oportunidades enriquecedoras nos conectamos
com confiança, pensamento positivo e emoção.
Como somos uma realidade espiritual, não basta centrar
angustiadamente em elementos materiais nossa realização. Esses
podem e até devem compô-la, mas não são o todo.
Assim, num mundo de conceitos, devemos iniciar pelo nosso, sabendo
o que fazemos aqui, para que a programação atenda nossas reais e
não induzidas necessidades.
Temos consciência de que somos espíritos imortais, que nossos ideais
não se perdem e que o futuro não termina com a morte. Aliás,

96

97

falando rigorosamente dentro do Princípio da Conservação da


Energia, o futuro não tem ponto-final. O crescimento da consciência é
permanente.
Distinguindo felicidade, que é algo definitivo, de prazer, que é
temporário e pode ser enganoso, começamos a fazer um bom
planejamento para nosso crescer integral.
Prazer e felicidade podem andar juntos, até porque a verdadeira
felicidade nos dá prazer. Mas, nem sempre esse binômio está ativo e
harmonioso.
Não se pode negar que, ao viciado, o tóxico dá prazer. Um prazer tão
grande, que lhe traz profundas dificuldades de abandoná-lo. Mas trará
felicidade?
Não. Às vezes a curtíssimo, outras vezes a médio ou a longo prazo
produzirá dependência e degradação. Escravizará o usuário e aí se
distingue em absoluto da felicidade, que é fator de engrandecimento.
Essa felicidade é algo que temos que aprender a atrair.
O Universo e, particularmente, o mundo em que vivemos, emite
constantemente sinais inteligentes em nossa direção. São os convites
da vida. Seu espectro é o mais variado possível, resultante das
energias de pensamento que vagam na noosfera - denominação dada
por Teillard Chardin a uma camada invisível que nos envolve, formada
por pensamentos -, como também de campos organizadores.
Por ser amplo o espectro dessas energias, há as boas e as ruins,
cercando-nos constantemente e repelidas em nossa blindagem áurica,
ou filtradas pelos juízos de valor do cérebro, que não permite seu
processamento.
Essa proteção áurica é uma capa de radiação que nos envolve, muda
constantemente de tamanho e coloração, que foi fotografada pela
primeira vez pelo casal Valentin e Semyona Kirlian, na então União
Soviética.
Essa aura, verdadeiro escudo protetor, por vezes apresenta fissuras
em sua estrutura, o que nos torna mais permeáveis, mais suscetíveis
a receber energias externas dessa mesma natureza. J

98

Os russos chamaram essa estrutura de corpo bioplásmico.


Mas, apesar da proteção natural, sem a qual seríamos vítimas de
constantes influências, proteção essa que é uma camada
bioenergética chamada aura humana, é comum essas radiações
mentais penetrarem e serem então percebidas por nós de maneira
quase sempre inconsciente.
Por isso, inspirações para o bem ou não podem nos chegar e
amplificar nossas tendências positivas ou negativas.
Por não estarmos sós, neste imenso Universo concebido como
gigantesca rede de informações, continuamente trocamos informações
com o cosmos.
Por isso, é muito importante, para o caminho da felicidade, procurar
criar um campo harmonioso à nossa volta. Esse campo nos predisporá
a sintonizar com outros afins, reforçando nossos sentimentos de amor
e alegria.
Daí a importância de contemplar o belo.
Precisamos ter tempo para parar um pouco, nessa correria rumo ao
nada a que nos entregamos, e pensar em nossos valores, propósitos,
e em nossas conexões com o Universo.
Parar para contemplar em detalhes a beleza de uma flor. Segundo
Joana de Ângelis, as flores são a assinatura de Deus na paisagem.
Ter capacidade de contemplar o belo é sinal de evolução.
Admirar a lua, as estrelas, que são mundos, muitos dos quais ao
serem contemplados por nós já desapareceram. Mas deixaram sua luz
percorrendo o espaço infinito.
Podemos dizer, então, que um importantíssimo passo no caminho da
realização está em vibrar com o belo, admirando-o e produzindo-o.
Além das paisagens que nos devem extasiar, há outras paisagens
físicas e mentais que podemos criar.
Uma festa com amigos, num local decorado com esmero, onde
pessoas bem arrumadas material e espiritualmente mantêm
conversações agradáveis, é, sem dúvida alguma, um ambiente de
egrégora

99

positiva, onde recarregamos nossa bateria vivendo momentos


agradáveis.
Cultivar as amizades, porque amigos, ao se encontrarem e
conversarem, trocam energias positivas emitidas a partir de seus
pensamentos de afeto recíproco.
Ter inteligência para perceber e, assim, escolher para nosso convívio
pessoas cuja espiritualidade, ética, comportamento nos elevem,
criando sempre em nossos contatos um sentimento de positividade,
afeição e progresso.
Já que falamos em egrégora, cumpre explicar que se trata de uma
espécie de cúpula energética que envolve cada ambiente e que
resulta do somatório dos pensamentos e emoções emitidos nesse
ambiente. É mutável e é também um campo de atração para as
energias de outros campos organizadores.
Freqüentar bons ambientes, lugares belos e saudáveis, onde as
pessoas se preocupam com o bem, é uma terapia agradável e de
preço extremamente acessível.
Conviver com os que querem crescer, que cultivam a esperança e o
otimismo, é formar potentes emissoras e qualificadas receptoras de
luz e realização.
Da mesma forma, ocupar-se dos outros e dedicar algum tempo a
alguém que necessita são fatores que nos fortalecem material, moral e
espiritualmente, porque o plano espiritual é o plano das causas. Se
vamos bem espiritualmente, tudo vai bem, e aquela atenção, aquele
amor que dedicamos aos outros não se perde. Amor e atenção
possuem a propriedade mágica das coisas essenciais e imateriais.
Quanto mais distribuímos, mais crescemos. A operação dar, no plano
desses sentimentos, não é subtrativa e sim aditiva.
Porque a essência do Universo é imaterial e o plano conceitual é o
plano das causas, estando em harmonia espiritual, criaremos todas as
condições necessárias a nosso sucesso e estaremos aptos a perceber
os sinais com que o Universo nos aponta o caminho da realização.

100

De certa forma, como na Física os modelos matemáticos construíram


o Universo, pois o objeto da ciência é construído dentro da teoria, com
pensamento e foco nós construiremos o Universo de vida
que desejamos.
Claro está que temos algumas limitações e, por isso, não podemos
pretender começar nossa construção de vida por algo bombástico e
imediato.
Na verdade, cada átomo tem seus níveis possíveis. Elétrons saltam,
quando energizados, de um nível para outro, mas precisam adquirir
energia para o salto, e este só pode acontecer para um nível
possível naquele átomo.
Assim como nos átomos, temos nossas tendências e relativas
limitações, decorrentes de nossas inclinações naturais e da
experiência de vida que escolhemos efetuar.
É por isso que, embora qualquer de nós possa tentar ser um artista
plástico, e possa, a partir de tentativas empíricas, sem a assistência
de um mestre, melhorar a própria obra, nem todos chegaremos ao
nível dos melhores e dificilmente algum de nós será
um Van Gogh.
O que importa, entretanto, é que, em qualquer nível de atividade,
sempre é possível melhorar e, para vencer, não podemos ter como
padrão os outros, pois isso poderá nos fazer resvalar perigosamente
para o terreno da inveja. O importante é superarmos a nós mesmos.
Cada um de nós é como um elétron em determinada órbita. Pode
saltar dentro dos níveis de seu átomo. Por isso que reconhecer e
ampliar as próprias aptidões é um caminho altamente gratificante.
Por sermos diferentes, temos ideais e aptidões diversas, o que é um
fator de enriquecimento do gênero humano.
Alguns quererão ser grandes cirurgiões; outros, juizes; outros,
músicos; e assim sucessivamente.
Cada um está numa paisagem, num universo, num átomo e sempre
pode crescer nos padrões de seu universo.
Para isso, foco é fundamental e autoconfiança imprescindível.

101

Voltamos a insistir que a contemplação das belezas do cosmos, a


leitura atenta, ainda que parcial, da obra do Criador, o convívio com
pessoas alegres e otimistas, a dedicação ao próximo, o permanente
cultivo da amizade e do amor, buscando conviver em ambientes de
alegria, luz e fraternidade, são indispensáveis para que o Universo
atenda nossas aspirações. Estamos criando condições de sintonia, e
quem sintoniza, capta. E o segredo do ”batei e abrir-se-vos-á”. Basta
saber bater para provocar a onda energética que irá fazer com que os
campos inteligentes e organizadores nos abram as portas.
A porta pode ser de uma casa. A violentas batidas, o campo
inteligente que decide abrir a porta, ou não, esse conjunto físico de
cordas vibrantes dirigido por uma consciência, que chamamos o dono
da casa e sabemos ser nosso semelhante, possivelmente não nos
atenderá, ou, se o fizer, será tomando muitas preocupações. Não se
estabelece, de pronto, um ambiente para boas trocas energéticas, ou
seja, uma boa-vontade de parte do dono para atender a solicitação
que viemos fazer-lhe.
A porta poderá ser do campo da espiritualidade. Quem bate com boa
intenção, com bons pensamentos, buscando forças para o bem, verá a
porta se abrir e encontrará guarida para seus pedidos.
Quem buscar interesse próprio, vantagens ilícitas e trouxer em seu
coração o ódio, verá, também, abrir-se alguma porta. Não aquela dos
planos espirituais superiores, de amor e de luz, mas sim aquela em
que habitam pensamentos semelhantes aos seus.
E mais um aspecto da chamada Lei das Atrações, pouco explorado,
porque menos comercial e não promete realização imediata e a baixo
custo.
A porta pode ser aquela que nos coloca em contato com os campos
imateriais organizadores do Universo. A porta das riquezas cósmicas,
da energia infinita, da realização, que tem um segredo para sua
abertura: não é uma frase mágica como na lenda de Ali-Babá e os ,
quarenta ladrões, mas um pensamento coerente. Uma energia na
freqüência do progresso, emitida por um pensador que acredita na
possibilidade

102

de seu crescimento e na atividade sintonizadora de seu pensamento.


Assim, há muitas portas, em diversos níveis de realidade, cada uma
delas a ser aberta por dentro e possuindo um segredo para que ao
buscador seja franqueada.
E seja qual for o nível de realidade, a mente é a chave e tem que estar
sempre presente. Como na explicação dos fenômenos da Física, a
consciência é a base e o fundamento.
Encontrar a porta adequada e saber como bater para fazê-la abrirse é
tarefa que requer sensibilidade, intuição e perseverança. Uma vez
aberta, transformará a onda do sonho, colapsando-a na realidade
almejada pelo sonhador.
Como cada um de nós tem seus sonhos, devemos verificar se são
sonhos que merecem ser sonhados e cultivados ou mero estado
hipnoidal provocado por uma mídia que nos leva a sonhar com
produtos impossíveis, definindo felicidade como a arte de consumir e
medindo sua intensidade pelo grau de consumo.
É preciso cautela. O sonho de voar de uma criança, bem orientado,
poderá fazer dela um técnico em construção de aeronaves. Sonhado
irresponsavelmente, poderá levá-la a jogar-se do alto de um prédio,
acreditando que basta sua crença para que o vôo seja possível.
Vamos definir horizontes e possibilidades.
Às vezes, as maiores alegrias estão nas coisas mais simples e muitas
vezes as coisas mais necessárias são as mais baratas.
Em seu extraordinário livro Cabala Prática, o rabino Laibl Wolf nos diz
a certa altura: ”A realização custa menos do que você pensa”.
No caminho dessa afirmação, vai mostrando, conforme destaca um
mestre por ele citado, Rebe Yossef Yitschak, que as coisas realmente
necessárias na vida são inversamente proporcionais a
seu custo.
Em outros termos, mais necessário algo é, na norma da vida normal,
menor é seu custo.

103

Segundo ele, uma jóia pode ser extremamente cara a ponto de poder
ter o valor correspondente a várias casas. Mas uma morada é muito
mais necessária e, segundo Rebe Yossef, confirmando sua regra, é
muito mais barata.
As roupas, ainda mais necessárias do que a morada, têm preço
menor. A comida, ainda mais essencial, é mais barata do que as
roupas. A água, ainda mais básica, custa, diria eu, pelo menos por
enquanto, enquanto por nossos desmandos não a tornarmos uma
raridade no planeta, ainda menos do que a comida.
E o mais essencial de tudo é totalmente gratuito: o ar que respiramos.
Segundo Laibl Wolf, essa simples orientação nos mostra que entre as
muitas pessoas que passam anos vagando pelo mundo em busca de
felicidade e realização, muitas talvez estejam procurando no lugar
errado.
A gratificante recompensa do viver não se mede em cifras e, por isso
mesmo, pode estar no simples e no barato.
Alguém a quem amar, com quem compartilhar a vida, alguém a quem
cuidar, alguém em quem podemos confiar.
Tratamos daquilo que é ou nos parece ser urgente, e raramente
conseguimos alcançar o que é realmente importante.
Segundo o rabino Laibl Wolf, a Cabala nos diz para deixar que a
mistura correta flua para dentro do mundo ”real”, quer dizer, para
nosso dia-a-dia.
Impressionante a identidade entre a milenar Cabala e a Física do
século XXI.
Em outra linguagem, foi dito nas últimas linhas o que os físicos
quânticos dizem sobre as energias cósmicas, os campos
organizadores e nossa possibilidade de, sintonizados com eles,
fazermos com que sua energia de realizações flua para nosso interior.
Há outro fenômeno interessante, descrito na Cabala que coincide com
a descrição do insight místico de Fritjof Kapra, no livro O Tão da
Física, e os dizeres de Joseph Dispenza, sobre integrar-se no cosmos
ao estar focado numa experiência.
Tudo consiste numa integração cósmica.
Cada vez mais, a literatura tem descrito fenômenos de integração
corpo-mente.
E muito comum no atletismo, e essa conjugação corpo-intençÕes tem
sido tratada pelo nome ”jogar na área”.
As atletas da ginástica de solo, num exercício de completo domínio do
corpo, não têm tempo de pensar detalhadamente cada movimento
enquanto o executam. O planejamento foi anterior, foi treinado e
repetido, de tal modo que, no momento da execução de sua
verdadeira obra de arte, o corpo está integrado à mente e evolui em
movimentos de graça e perfeição via comando mental. Daí porque a
menor perda de concentração é fatal.
Cientistas contam terem estado tão profundamente envolvidos com
suas experiências ou seus cálculos matemáticos, que, alheios a
barulhos e interrupções, chegam a perder seu sentido do tempo e a
esquecer o horário das refeições.
É o conhecido caso de Einstein, que após conversar muito tempo com
um aluno, numa dependência da Universidade, ao se despedir,
perguntou ao aluno de que extremidade do corredor vinha ao se
encontrarem.
O aluno indicou uma das extremidades, e Einstein agradeceu.
Curioso, o aluno quis saber o motivo da pergunta.
Einstein explicou que o motivo era simples: uma vez que vinha da
extremidade indicada, lugar correspondente ao refeitório, significava
que já havia almoçado, fato de que não se lembrava.
Diz Laibl Wolf que esse fenômeno, uma vez experimentado, jamais é
esquecido. Conclui afirmando que algumas pessoas podem
experimentar isso, interpretando-o como um sentimento místico de
unicidade e união, quando tudo e todos parecem parte de um todo
orgânico.
Esse tipo de experiência foi magistralmente descrito na Nona Profecia;
foi experimentado à beira-mar por Fritjof Kapra; quando sentiu o ritmo
das ondas do mar, lembrou das equações que descrevem

104

105

as ondas eletromagnéticas provenientes do sol, associou com seus


ritmos internos e vivenciou uma experiência de unificação cósmica.
Nesses casos, deixa de haver um mundo exterior e independente lá
fora, e um mundo particular representado pelo ser do observador.
Tudo passa a ser uma coisa só. O observador é parte da paisagem, e
aí estamos no nível de todas as realizações.
Joseph Dispenza, ao ensinar a técnica da criação do dia, mantendo
foco em nossos objetivos, narra aquela situação em que a pessoa, ao
desejar muito algo, de repente se sente tão envolvida na experiência,
que perde a noção de espaço e tempo e se integra em seu objetivo.
Isso, para Dispenza é o observador quântico em plena ação.
Como e o que buscar?
A resposta parece muito simples, mas é sutil.
Em termos gerais, diríamos buscar a felicidade, a realização e o
sucesso.
Mas o que é essa felicidade buscada? E realizar todos os possíveis
sonhos de consumo?
Por certo, sonhos sensatos não serão excluídos, mas, acima de tudo,
a realização do homem tem que contemplar a integralidade do seu
ser.
Então, foco sem angústia é um caminho importante. Mas, sempre
devemos nos considerar na integralidade de um ser, que é, antes de
mais nada, uma consciência em evolução.
Assim, devemos fazer algumas adaptações ao pensamento antigo,
newtoniano, ao qual tanto nos acostumamos.
Planejado nosso dia, a seu final, classicamente somos aconselhados a
perguntar:
Fiz, hoje, o que eu acreditava ser realmente importante?
Trabalhei, hoje, para a realização dos meus objetivos?
Estou realizando minhas verdadeiras aspirações?
Embora válidas, as perguntas identificam um caminho newtoniano.
Aquele caminho da causalidade rígida, em que, dada a causa, é
possível determinar com precisão o efeito.

106

Em termos de ciência contemporânea, precisamos fazer algumas


adaptações muito importantes. Uma delas já une as duas primeiras
perguntas e seria vazada nos termos que seguem:
Criei condições de sintonia para atrair possibilidades e realizar o que
eu acreditava ser realmente importante? Que alternativas,
possibilidades, pensei para a substituição de um único objetivo pré-
programado? Considerei a possibilidade de existirem alguns objetivos
mais importantes do que minha programação original prévia?
Assim estaremos atuando num universo de flexibilidades, um universo
quântico.
Não nos esqueçamos de que muitas vezes mais importante do que ter
um aeroporto de destino é ter alternativas viáveis. Por isso, num plano
de vôo, da localidade A para a localidade B, o piloto não pode ter
como única possibilidade de pouso o aeroporto da cidade B. Seu
plano tem que apresentar alternativas. É uma atitude consonante com
nossa Física de Possibilidades.
Na busca de nossos objetivos, no lar ou na empresa, precisamos
apresentar flexibilidade.
E por isso que as empresas modernas têm substituído o planejamento
rígido, fiscalizado por autoridade inquestionável, pelos processos de
sinergia, em que se ouve o maior número possível de opiniões, pois
todos participam do processo e cada um se sente responsável,
participante efetivo, ao invés de simplesmente ter que obedecer sem
raciocinar, o que o desliga de responsabilidade participativa, de
atividade mental de planejamento, de engajamento em metas
mutáveis, porque as estáticas são muito perigosas num mundo
essencialmente dinâmico.
A sinergia representa uma soma de capacidades que inclui várias
parcelas, que num processo rígido de mando e obediência, em que
somente alguns planejam, cabendo aos demais calar e executar,
seriam excluídas, com considerável e até inimaginável perda de
energia.
Não é por outra razão que as empresas hoje procuram líderes que
tenham espiritualidade. Essa é a maior força. Traz consigo o amor

107

e, com ele, o poder de agregar. Ao conhecimento técnico exigido do


líder, soma-se a necessidade de que tenha um perfil espiritualizado.
Isso modifica o campo interno da empresa, aciona geradores
psicotrônicos, mentais, além dos eletrônicos convencionais, e
estabelece importantes comunicações com os campos invisíveis de
onde partem os elementos organizadores.
Como na empresa, é no lar e na escola.
Não cabe ao pai ou à mãe simplesmente distribuir ordens a seus
filhos, acreditando, newtonianamente, que, uma vez estabelecido um
papel para cada um, o desempenho dessa função trará harmonia e
progresso para o grupo familiar.
Levado a extremos, esse pensamento, ainda vigente em alguns
países em sua forma mais forte, estabelece que os pais escolhem com
quem irão se casar seus filhos.
O que consideraríamos uma absoluta retirada de autonomia, uma
ditadura paterna, é, para muitos, o meio adequado para se determinar
o prosseguimento da família.
Em qualquer situação de que participemos, sabendo que estamos
conectados a campos de energia e realização, para sintonizar com os
aspectos superiores, começamos por nós mesmos a pensar e
vivenciar as situações que queremos ver realizadas no grupo.
Isso vai ao encontro da afirmação de Ghandi, que diz: ”Devemos nos
tornar a mudança que buscamos no mundo”.
Na verdade, isso não envolve apenas uma questão simples de dar o
exemplo daquilo que queremos ver realizado. Vai além. E uma
questão de atrair campos, Lei das Atrações, realizadores de nossos
ideais.
Esses campos de que falamos e participam efetivamente de nosso
dia-a-dia, são campos invisíveis, mas produtores de efeitos visíveis.
No campo da Física são bastante conhecidos o Campo Gravitacional,
campo em que atuam as forças com que os corpos se atraem entre si,
com que a Terra nos mantém presos à sua superfície e que obrigam
os planetas a orbitar em torno do Sol. Embora tecnicamente, a partir
da Relatividade Geral, não se fale em força e sim na curvatura do
continuum espaço-tempo, Newton falou que tudo se passa como se
entre dois corpos houvesse uma força..., o que nos autoriza a falar em
força gravitacional.
Também um ímã origina forças capazes de atrair partículas de ferro
colocadas em sua proximidade. São os campos de forças.
Mas, há mais: o quadro atual do Universo é muito mais rico. Os
campos nos levam a pensar em um Universo não constituído
essencialmente de coisas materiais, e sim em algo semelhante a um
oceano cheio de influências intercambiáveis e de forças invisíveis que
podem se relacionar.
Esses campos, imperceptíveis pelo mecanismo dos sentidos, são a
substância do Universo.
Já relatamos e exemplificamos em obras anteriores, examinando o
aspecto da evolução e seu induvidoso planejamento espiritual, idéias
como a do biólogo Sheldrake.
Postulou ele a existência de campos mórficos que influenciam o
comportamento das espécies.
Em nada difere essa idéia dos conceitos relativos ao Modelo
Organizador Biológico de Hernani Guimarães de Andrade e da
explicação das funções do perispírito, nos livros de Allan Kardec.
Para Sheldrake, esse campo é dotado de pouca energia própria, mas
é capaz de moldar energia vinda de outra fonte.
Entende Sheldrake que os campos mórficos são construídos por meio
de capacidades que se acumulam à medida que membros de alguma
espécie aprendem alguma coisa nova.
Depois que uma parcela não especificada, continua Sheldrake,
aprendeu, por exemplo, a andar de bicicleta, outros membros da
mesma espécie serão capazes de aprender essa habilidade mais
facilmente.
As novas gerações não aprenderam a dirigir automóveis melhor e
mais rapidamente do que os primeiros homens que o fizeram? Não
têm nossos filhos, em média, muito mais habilidade em lidar com

108

109
computadores do que nós, que tomamos contato com essas máquinas
quando poucas pessoas no mundo o faziam?
O número a partir do qual os demais membros da espécie passam a
aprender com mais facilidade está ligado ao conceito de massa crítica.
Depois que um certo número de membros de uma espécie aprendeu
determinada habilidade, os demais não têm necessidade de aprender
concretamente a capacidade em questão. Eles apreendem a sua
gravação no campo. Sintonizam com o campo. Esses campos
proporcionam uma qualidade que pode ser apreendida pelo receptor.
Devemos dizer, naturalmente, pelo receptor ligado.
Por isso, é claro, que há campos de felicidade, sucesso, fortuna e
inteligência, dessa ou outra dimensão, conectados a nós.
Então, sintonizando, isto é, colocando emoção e pensamento na
busca da sintonia desses campos, passaremos a atraí-los. Isso é Lei
da Atração.
Requer sensibilidade, arriscaria dizer, certa dose de boa-intenção e
idealismo para atrairmos as coisas positivas que desejamos.
Aqui, temos uma base científica e não um engodo, partindo do
pressuposto de que a realização do homem está no ter e não no ser,
quando na verdade o segundo é que leva ao primeiro. O engano da
fácil realização faz promessas fantásticas e enganosas, destituídas de
embasamento científico e lógico, do tipo: vá dormir feio e pobre e
amanheça com a cara do Brad Pitt e a fortuna do Bill Gates. E só
pensar para atrair.
Podem escrever que em breve, assim como tantas estultices têm sido
trombeteadas em nome da Física Quântica, por pessoas
absolutamente desprovidas de base científica, que amanhã, numa
repetição do que já ocorreu em outros tempos e com outras
roupagens, haverá pessoas e organizações dando cursos baseados
possivelmente no tal segredo, que não é segredo nenhum, ensinando
a ficar rico sem fazer força.
Por certo terão seus freqüentadores entusiasmados, pois é incontável
o número de integrantes do bloco do me engana, que eu gosto.
Mas, retomemos os campos, sua influência e criação, de modo sério,
para que, cada vez com maior embasamento, nos conscientizemos de
que somos os criadores de nosso destino.
E muito interessante uma afirmação de Margaret J. Wheatley, ao nos
alertar que já vivemos e trabalhamos com uma nova percepção do
espaço.
Apoiamo-nos, diz ela, na informação de que nos alimentamos com as
redes eletrônicas, para ter acesso ao invisível. Pois, quem já viu o
ciberespaço?
E alerta que é hora de pensar no ciberespaço. Diríamos nós, nos
componentes invisíveis que atraímos e reforçamos.
Em relação às organizações, que passam pelos ambientes
governamentais e chegam às empresas, família, escola, comunidades,
etc., é hora de pensar que seu espaço, das organizações, assim como
nosso espaço comum esteja cheio de influências inter-relacionadas e
campos invisíveis de conexão. O espaço não é vazio e influências que
não vemos afetam nosso comportamento.
É impossível ver um campo, mas é fácil perceber sua influência
examinando o comportamento e a sensação resultante dele. Para
saber o que está no campo, basta verificar o que as pessoas estão
fazendo. Elas captam a mensagem, discernem o que é
verdadeiramente valorizado e moldam seu comportamento de acordo
com essa mensagem sutil.
Assim, se encontrarmos numa escola professores e funcionários
preocupados apenas em preencher seus caderninhos de chamada,
com registro de conteúdos e olhando o relógio para não sair da aula
um pouco antes, podemos identificar que o campo dominante é o do
domínio do acessório. Se for só essa a preocupação, significará que
conteúdo e integração estarão interessando muito pouco, até porque a
capacidade de avaliá-los foge ao alcance mental dos fiscais do
perfunctório. E a escola da formalidade superando o conteúdo e do
medo de perder o emprego, cultivado por docentes sob ameaça
permanente.

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111

A empresa em que os funcionários trabalham olhando para o relógio


identifica um campo em que não há sinergia. Provavelmente nunca
são chamados a opinar sobre coisa alguma e o único que se cobra é o
efetivo tempo de permanência no serviço e, sendo o caso, o número
de peças produzidas, como ao vendedor a quem só se cobram metas
interessa vender o número exigido de peças e, fora dessa atividade,
nem pensar em serviço, que, em seu campo, quer dizer realizar o ato
de servir a interesses alheios aos seus.
A empresa de mando, sem sinergia, é o inferno branco. O inferno
luminoso, onde o trabalhador só permanece na esperança de que
chegue o período de não permanecer. É a espera da hora de sair, pelo
menos, por algum tempo.
Quem entra numa festa de carnaval, ou num baile funk, observando o
que as pessoas estão fazendo, facilmente identificará o campo ali
presente.
Assim é em tudo.
Por pensamentos e emoções criamos sintonia e atraímos campos.
Nesse particular, ”o semelhante atrai o semelhante”. E uma das
formas de enunciar a Lei das Atrações.
Embora a aparente desordem do mundo, se desenvolvermos uma
sensibilidade quântica, teremos possibilidade de criar ordem. Se
observarmos os campos que criamos, se os ajudarmos a brilhar com
clareza e coerência, estaremos criando ordem e progresso.
A coerência entre o dizer e o fazer é condição de sintonia e criadora
de harmonia, indispensável elemento para criação, atração e
amplificação de campos realizadores.
Ao dizer, ou acreditar que não é importante fazer o que dizemos, além
da integridade pessoal, perdemos a parceria, por perda de sintonia, de
um precioso conjunto de campos que podem trazer ordem, realização
e sucesso à nossa vida.
112

O bem e o sucesso

Pensando no bem, idealizando coisas positivas, atraímos o sucesso


em seus múltiplos aspectos.
Devemos lembrar que há um vasto oceano de força mental em que os
poderes do espírito se manifestam.
Então, para realizar nossos objetivos, devemos saber nos conectar
com o Universo pleno de riquezas que nos cerca e sobre o qual, com
pensamento e emoção, podemos intervir.
Mas, sempre com a flexibilidade e a visão de alternativas, necessárias
à movimentação em campos extremamente dinâmicos.
Entender o momento, estando sempre preparados para ele.
Não é o caso de quem elege um único objetivo, rígido, imutável e,
ainda, estabelece tempo para sua efetivação. Estará gerando mais
adrenalina e angústia do que condições de atração de fatores
positivos.
Uma pluma apanhada por um vendaval não é quebrada por ele.
Flutua, rodopia, às vezes loucamente, mas se move com absoluta
perfeição dentro das linhas de força mutáveis, dinâmicas, violentas, do
campo do vendaval. E como se tivesse a inteligência de saber que o
vendaval passa e que se opor violentamente a ele é tarefa fadada ao
insucesso.
O vendaval passa e a deposita inteira, leve, com capacidade de voar,
num ponto qualquer do planeta. Tivesse ela um projeto de chegada a
determinado sítio, com alternativas, que é condição para classificar um
projeto como inteligente e viável, e, após o vendaval, retomaria com
tranqüilidade sua marcha, rumo à alternativa mais próxima.
Diríamos que a pluma tem um planejamento quântico.
Já uma estaca, muito mais forte do que a pluma, mas inflexível e
imóvel, como aqueles do planejamento newtoniano, desejosos de

113

impor aos outros suas idéias, que dão a todos ampla liberdade de
pensar desde que pensem como eles e de agir desde que ajam como
eles mandam, seria naturalmente quebrada pelo vendaval.
Pessoas e empresas newtonianas quebram nas tempestades e
acompanham os crackings e até mesmo morrem, por fortes que sejam
naquele seu universo primitivo, ao surgir a mudança, coisa em que
nunca pensaram, mas é uma constante em nosso Universo.
Ter projetos e sintonias alternativas, todos visando à realização, e ter
sensibilidade para sintonizar na estação da hora, entre as várias
portadoras de mensagens satisfatórias, será fundamental.
Um tiranossaurus rex é muito mais forte do que uma barata. Mas não
tem alternativa, não tem capacidade de adaptação. Em conseqüência,
na mudança climática que se seguiu à queda do gigantesco asteróide
que modificou totalmente o clima do planeta Terra, os aparentemente
indestrutíveis tiranossaurus morreram e as frágeis mas extremamente
adaptáveis baratinhas continuam nos incomodando até hoje.
Na metáfora da pluma e da estaca, para realizar a Lei das Atrações,
deveremos buscar o meio-termo.
A pluma será simplesmente conduzida pelos fatos; o sarrafo, embora
com idéias bem definidas, será quebrado se houver acontecimentos
desfavoráveis, em desacordo com seu planejamento, e não
acompanhará a evolução e as mudanças de paradigma.
Então, entre pluma e sarrafo, sejamos gaivotas. Quem sabe um
Fernão Capelo, fugindo da rotina, buscando alternativas e
aprimorando sua arte de voar. Como devemos ser. O parâmetro é
cada um de nós e é a nossos limites que devemos superar.
Uma gaivota aproveita o campo de forças do vento a seu favor. Nem
simplesmente se deixa levar como a pluma, mas por não ser sarrafo,
por poder mudar de atitude, posiciona suas asas de modo diferente,
na calmaria ou na tempestade, conseguindo, em qualquer das duas,
traçar seu plano de vôo e chegar ao objetivo principal, ou a

114

alternativas muito próximas. Esse é o procedimento inteligente que


atrai o campo possível mais adequado ao momento.
Do que foi dito e estudado, concluímos que dependemos de nossa
mente e de idéias claras dentro de possibilidades diferenciadas para
colocarmos as forças do Universo a nosso favor.
Falamos em quântica, espiritualidade e realização.
A quântica mostrou um Universo novo, e os cientistas inverteram o
ponto de partida, começando na imaterialidade para chegar à
explicação do material.
Um novo e prodigioso Universo, do qual somos co-autores. Um
Universo que não prescinde da idéia de Deus, como inteligência
suprema, sem cuja noção, no dizer de Amit Goswami, é lógica e
matematicamente inconsistente.
Por isso, partimos da ciência, pois ela, hoje, nos dá uma base segura
para a compreensão de nossa natureza, mostrando como através da
nossa consciência, leia-se espírito, interferimos na matéria, em nós
mesmos e nos outros. Temos então uma base sólida para o chamado
poder do pensamento positivo e para nos capacitarmos de que somos
os criadores de nosso destino.
No entanto, sempre que algo entra na moda, há perigos de
interpretações equivocadas.
A Física Quântica apresenta uma abertura para a espiritualidade e traz
definitivamente a consciência para o palco das investigações
científicas.
Entretanto, temos hoje, devido ao modismo, muitas pessoas sem a
menor bagagem acadêmica, sem o lastro cultural necessário,
incapazes de resolver até mesmo uma equação de segundo grau, se
arvorando em professores de Física Quântica e, assim, dando dessa
ciência uma lamentável imagem.
Já há o uso indevido da palavra em vários segmentos, leitura das
mãos pelo método quântico, conforme vi anunciado num portão em
Nova Iorque, o que não faz o menor sentido, e não é de duvidar-se

115

que, mais dia menos dia, apareça quem queira fazer da Física
Quântica uma nova religião.
Aí teremos batizado quântico, casamentos quânticos - aliás o
casamento é quântico por natureza, pelas infinitas variáveis que
movimenta e pelas diversas possibilidades que apresenta, inclusive a
não muito provável nos dias de hoje - do ”até que a morte os separe
teremos também ordenações quânticas e assim por diante, o que será
absolutamente despropositado.
Mas, começamos pela ciência e passamos à espiritualidade.
Exatamente porque nela reside a essência do homem e é por essa
essência que atuamos no oceano da força mental.
com uma base lógica que é pressuposto da fé raciocinada, nosso
espírito em evolução, cultivando os valores positivos, será capaz de
atrair as benesses que desejamos do Universo. O amor é condição
para que apliquemos praticamente a Lei das Atrações. E a grande Lei
Universal, sem dúvida a maior e mais importante de todas.
Entendendo de maneira harmônica nossa posição e função no
Universo, seremos integrantes de todo o processo de crescimento que
integra as conquistas da humanidade.
Deixaremos de lado aquela impressão, que às vezes nos assalta, de
que somos meros espectadores do progresso humano e até de que
esse progresso não nos diz respeito.
Mas, a única certeza que podemos ter, com base científica e filosófica,
é que para viver bem neste mundo, viver uma existência gratificante,
cumulada de felicidade e êxito, precisamos pensar, atitude e agir
corretos, coerentes com o oceano de luz em que flutuamos e onde
múltiplas possibilidades nos são oferecidas.
Limitações, devemos enfrentar com ousadia para provar que são
apenas aparentes. Não há barreiras para o espírito humano que
carrega consigo o inquebrantável desejo de evoluir.
E nesse estágio de evolução, vivenciado pela própria ciência,
devemos sentir as mudanças que ocorrem à nossa volta, ter a
coragem

116

como tiveram os físicos, de ultrapassar até mesmo os limites da razão


tradicional, para ingressar numa esfera mais ampla de percepções, em
que a intuição é ferramenta indispensável.
Quando intuirmos o caminho do êxito e nossa mente e coração
estiverem conformes, prossigamos sem medo, que novos horizontes
se abrirão a nossa frente.
Descobriremos que trilhas aparentemente fechadas, pelo escopo de
uma visão limitada, se abrirão em novos níveis de realidade, pois com
pensamentos de amor, de progresso e de felicidade, atraímos amor,
progresso e felicidade.
Então, vamos sonhar grande. Jamais abdiquemos de nossa
capacidade de sonhar, porque sonhar é criar em determinado nível
que depois poderemos trazer até o nível do que chamamos de
realidade.
Vamos sonhar até com o que não existe, porque o que não existe, ao
ser sonhado, passa de certa forma a existir num nível de causas de
que o nosso nível material é mera conseqüência.
Então, conseguiremos criar, chegar até onde chegam os mais
ousados pensamentos, e competirá a cada um descobrir em si
possibilidades fascinantes, realizadoras dos mais arrojados sonhos.
Isso significa viver intensamente o real significado de nossa existência,
que envolve fundamentalmente um espírito em evolução.
Deixar de lado a correria maluca da pressa pela pressa, da busca
desenfreada do desconhecido, do aventurar-se na estrada sem saber
a que paisagem queremos chegar. Temos que reinverter essa correria
insana, que não nos permite pensar em nós mesmos, avaliar nossos
propósitos e o propósito da própria existência e conviver com amigos e
familiares.
Reinverter essa visão imediatista de correr sem saber por que nem
para que e, via intuição, desenvolver uma percepção simples para
compreender a essência do Universo.

117

Na época da comunicação instantânea e universal, via satélite,


devemos entender que a
linguagem universal, capaz de trazer verdadeiro progresso e
realização, é a linguagem do amor.
com ela, desenvolvemos paixão pela vida. Vivemos intensamente
cada momento desta experiência fabulosa e irreversível que é o viver,
único em cada momento e para cada consciência.
Essa paixão não alcança somente a vida material, que é apenas um
aspecto da vida, uma etapa em múltiplas experiências. E pela vida em
si, pela capacidade de amar intensamente, de desejar o progresso, a
aprendizagem, a riqueza, o bem.
Sabemos, e não apenas cremos, que, neste ou noutro plano, sempre
haverá um amanhã que construímos hoje, até que o tempo deixe de
ter o forte significado e caráter de irreversibilidade com que se
apresenta em nossa experiência atual e tudo seja um eterno presente
de luz e compreensão.
Por tudo isso, não posso abrir mão de minhas aspirações e me
transformar num mero expectador de minha própria vida.
Isso tinha cabimento na época do determinismo, em que achávamos
que não tínhamos possibilidade de escolha sobre nossos próprios
atos, pois tudo estava escrito pelo nosso destino.
Hoje sabemos que vivemos uma Física de possibilidades, num mundo
em que, por podermos escolher, podemos dizer que efetivamente
existimos.
Atrair o bem é pensar nele e produzi-lo com nossas emoções e nossos
atos. E entender que vivemos num Universo interconectado e que o
cimento que cola todo esse Universo, o sistema de unificação do
cosmos, é o AMOR.
O amor mostrará o caminho mais seguro. Realizará o somatório dos
sonhos e desejos que levará ao desenvolvimento harmônico de todos
os seres.
Vamos lançar a semente de nossos sonhos em solo fértil.

118

Vamos entender que atraímos na freqüência em que vibramos e,


portanto, somos responsáveis de modo mais ou menos intenso pelo
que nos acontece.
Podemos abdicar da força de nosso pensamento e nos deixar levar
pelas mais variáveis flutuações estatístico-probabilísticas. Mas,
também podemos cultivar o pensamento positivo, ter foco nos nossos
sonhos e assim atrair as possibilidades mais ricas e realizadoras.
Tudo começa por nós, e vale a pena repetir Ghandi: ”Devemos nos
tornar a mudança que buscamos no mundo”.
Para isso é preciso amar e viver intensamente, no sentido dos dizeres
de Chico Xavier, convidando-nos a uma vida rica em intensidade,
vontade de viver e emoções positivas:
”A gente pode
morar numa casa mais ou menos,
numa rua mais ou menos,
numa cidade mais ou menos,
e até ter um governo mais ou menos.
A gente pode
dormir numa cama mais ou menos,
comer um feijão mais ou menos,
ter um transporte mais ou menos,
e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.
A gente pode
olhar em volta e sentir que tudo está
mais ou menos.
Tudo bem.
O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum,

119
é amar mais ou menos, é sonhar mais ou menos, é namorar mais ou
menos, é ter fé mais ou menos, é acreditar mais ou menos.
Se não a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou
menos.”
Chico Xavier

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Epílogo

UMA JUSTA HOMENAGEM E UMA INTERESSANTE COINCIDÊNCIA


Este livro foi escrito e está sendo lançado em 2007.
Há 150 anos, Allan Kardec unia o Céu e a Terra, lançando as bases
da ciência do espírito.
Rasgava-se o véu de mistério que separava a vida material da
espiritual, novos mundos, não físicos, eram revelados, e a
comunicação com os chamados mortos, investigada com rigor e
lógica, mostrava ser a morte apenas uma troca de planos e não o final
da existência.
Já no século 19, Léon Denis adverte que, com o advento dos estudos
espíritas, uma nova ciência vai se formando, mas que é preciso aliar
ao espírito de investigação científica a elevação do pensamento, o
sentimento, os impulsos do coração, sem o que a comunhão com os
seres superiores se torna irrealizável, e nenhuma proteção eficaz se
obterá.
Diz Léon Denis que a regra por excelência das relações com o
invisível é a Lei das Afinidades e Atrações.
Tal assertiva está em pleno acordo com tudo o que estudamos, com
base na Física Quântica, a respeito de nossa sintonia com os campos
energéticos inteligentes do Universo.
Está descrita a Lei das Atrações, que hoje se apresenta como grande
novidade e eivada de exageros.
Ela é muito simples. Bons pensamentos e bons propósitos atraem
energias positivas, possibilitando progresso e realização.
E o Céu?
Kardec rejeita a idéia retrógrada da Terra como centro imóvel do
Universo, cercada por várias esferas concêntricas, de matéria sólida e
transparente, que formavam os vários Céus existentes.

121
Segundo a opinião mais comum, havia sete Céus, sendo os
caracterizados por números mais altos ocupados pelas almas mais
evoluídas.
Uma distribuição topológica, material, de Céus cotados, de modo que
às mais altas cotas correspondiam as moradas mais privilegiadas.
O sétimo Céu era a cobertura. Daí a expressão ”estar no sétimo céu”,
para exprimir a perfeita felicidade.
Os muçulmanos admitem nove Céus, com a mesma idéia básica:
quanto mais alto o Céu, maior a felicidade que nele se desfruta.
Ptolomeu, o famoso astrônomo de Alexandria, defensor da idéia do
geocentrismo, que colocava a Terra como centro imóvel do Universo,
admitia onze Céus e denominava ao último Empíreo, por causa da luz
nele reinante.
A teologia cristã, então, falava de três Céus:
O primeiro, físico, formado pela região do ar e das nuvens, atrás das
quais, por algum tempo, entendiam estar localizado o trono de São
Pedro, porteiro atento aos pretendentes a ingressar no Paraíso,
situado logo adiante.
No segundo Céu da teologia cristã, giravam os astros e no terceiro,
logo além, estaria a morada do Todo-Poderoso.
Kardec estabelece que o Céu, no sentido de lugar dos bem-
aventurados, não é topológico. É o resultado do estado de felicidade
do espírito e pode ser vivenciado em qualquer lugar, pois não se trata
de um sítio espacial e fisicamente localizável.
Ao falar sobre essa felicidade, na obra O Céu e o Inferno, Kardec
estabelece que a felicidade do espírito está na razão direta do
progresso realizado e, por isso, dois espíritos podem estar,
respectivamente, um muito feliz e outro muito infeliz, sem que para
isso necessitem estar situados em lugares diferentes. Não
encontramos aqui mesmo, num mesmo lugar, pessoas felizes e
infelizes?
Quebrando os tabus de um mundo espiritual supostamente
fantasmagórico, Kardec mostra que, assim como os encarnados, os
desencarnados poderão estar felizes ou não, independentemente do
lugar

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em que se encontrem, até porque já sabia que o conceito de lugar


varia de acordo com o nível de realidade e com o tipo de espaço a que
nos referimos.
Afirma ainda o codificador ter o mundo espiritual esplendores por toda
parte, harmonias e sensações somente acessíveis aos espíritos
purificados.
São essas harmonias e sensações que atraem e realizam nossas
aspirações positivas, através do que Léon Denis chamou Lei da
Atração e Afinidade. Nada de novo sobre essa lei e nenhum segredo
especial.
Há mais uma tentativa de transformar uma lei espiritual e física
bastante conhecida numa espécie de segredinho de grupelhos, que
mais se aproxima de fofoca e propaganda enganosa do que de
ciência.
Kardec, ao mostrar que todos somos espíritos e que a condição de
mortos não nos modifica os ideais, descreve um mundo muito mais
amplo e rico, em que, trocando experiências com os desencarnados,
realizamos um verdadeiro processo de simbiose visando ao nosso
esclarecimento.
Amplia a noção da vida. Mostra que a vida é algo tão grandioso que
nem tem oposto, não tem antinonímia. Simples! Morte é o contrário de
nascimento. Vida não tem contrário, até porque começa bem antes do
nascimento e se prorroga para muito além da morte.
O contato com os espíritos, sistematizado cuidadosamente, é a pedra
de toque, a prova cabal da imortalidade.
Isso liquida o velho e sem sentido dito; ”Até hoje ninguém voltou do
outro lado para nos contar como é”.
Ledo engano. A todo momento, entes do outro lado são captados
pelas antenas mediúnicas e se comunicam, dando-nos a certeza de
que nossos ideais, nossos propósitos, continuam, e não dispomos só
do tempo de uma vida para realizá-los.
Kardec, numa metáfora singular, integrou o Céu à Terra,
desmoralizando a morte, porque a ela se seguirá o renascimento, e a
essência espiritual nunca perece.

123

Foi o bom senso encarnado.


Ano de 2007. Há 50 anos, o Sputnik, lançado pela então União
Soviética, que com esse feito assumia a liderança na corrida espacial,
passava para além do céu azul e não colidia com o trono de São
Pedro, nem quebrava algumas cadeiras perpétuas há longo tempo
adquiridas.
Derrubava-se a idéia da materialidade do céu e seu mobiliário.
O céu como materialidade não fazia sentido.
Por isso, Fé raciocinada só o é aquela capaz de encarar a razão face
a face em todas as fases do progresso da humanidade.
Ao homenagearmos aqui o pedagogo, didata e espírito de luz que foi
Kardec, devemos lembrar aos espíritas sua responsabilidade com o
progresso constante, cobrado pelo Mestre no ”Amai-vos e instruí-vos”.
A obra depende de todos.
Diz Léon Denis, em fundamental recomendação àqueles que
acreditam ser o espiritismo exclusiva tarefa dos desencarnados, obra
pronta e acabada:
”O espiritismo será o que o fizerem os homens. Ao contato da
humanidade, as mais altas verdades às vezes se desnaturam e
obscurecem. Podem constituir-se numa fonte de abusos. A gota de
chuva, conforme o lugar onde cai, continua sendo pérola ou se
transforma em lodo.”
Acredito que um dos grandes cuidados que devem ter os espíritas é
de não transformar a doutrina numa seita de dogmatismo e
intolerância, que contrariaria frontalmente o ideal de Kardec, que
sempre viu na doutrina, não uma obra acabada, mas um campo de
pensamento aberto a novas verdades, porque nem tudo teria sido dito.
Para que não caiamos na tentação de nos proclamarmos donos da
verdade absoluta, encerramos esta homenagem ao espírito lúcido e
aberto de Allan Kardec com um trecho do discurso de Léon Denis,
pronunciado em 11 de setembro de 1888, no Congresso Espírita de
Paris:

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”Não vos viemos dizer que devamos ficar confinados no círculo, por
mais vasto que seja, do Espiritismo Kardekiano. Não; o próprio mestre
nos convida a avançar nas vias novas, a alargar sua obra.
”Estendemos as mãos a todos os inovadores, a todos os de boa-
vontade, a todos os que têm no coração o amor da Humanidade.”

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