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Santo Anselmo da Cantuária

- Argumento Ontológico -

Biografia:

Santo Anselmo, filósofo e monge beneditino nasceu em Aostra, na Itália, antigo Reino de
Borgonha por volta do 1033 e veio a falecer em Cantuária, no Reino Unido a 21 de abril de
1109 com 76 anos.

Santo Anselmo, devido ao seu percurso religioso era conhecido a partir de três designações
diferentes, sendo elas: St. Anselmo de Aostra em virtude à sua cidade natal; St. Anselmo de
Bec devido à localização do seu mosteiro e em consequência por se tornar monge beneditino,
filosofo e prelado da igreja e Santo Anselmo de Cantuária em virtude à sua função como
arcebispo na cidade.

Santo Anselmo, aos 15 anos desejava entrar para um mosteiro no qual não conseguiu
alcançar esse objetivo devido ao seu pai, Gundulfo, pois este não lhe deu consentimento.
Entra para a Abadia de Bec, onde a 22 de fevereiro de 1079 torna-se abade, já a 4 de
dezembro de 1093, durante o reinado de Guilherme II da Inglaterra, Anselmo é consagrado
arcebispo de Cantuária. Devido a diversas controvérsias das investiduras da Igreja é exilado
por duas vezes, entre 1057 e 1100 e em seguia entre 1105 e 1107.

Durante o seu cargo como abade de Bec, Santo Anselmo escreveu as suas primeiras e mais
importantes obras filosóficas, o “Monológico” entre 1076/77 e “ Proslógio” entre 1077/78.

Já a 1720 Santo Anselmo é proclamado Doutor da Igreja numa bula papal de Clemente XI,
onde é venerado e comemorado a 21 de abril.

O problema da existência de Deus:

A existência de Deus corresponde à necessidade do ser humano em explicar o universo e


encontrar um sentido para a existência humana.

Assim, a justificação sobre o universo e a vida humana é apresentada como uma criação de
um ou mais deuses, a vida terrena como um plano superior identificado como o paraíso no
qual é acompanhado pela crença em uma alternativa punitiva como o inferno.

Argumento Ontológico:

O argumento ontológico é a priori, ou seja, não recorre à experiência, este argumento parte do
conceito de Deus e de premissas para assim concluir que Deus existe na realidade.
Santo Anselmo parte da definição “Ser maior do que o qual nada pode ser pensado” e, a partir
dessa definição conclui que Deus existe na realidade, pois se Deus não existisse, ou fosse
apenas um pensamento, ou seja, existisse apenas em pensamento, mas não na realidade, Deus
não seria maior do que o qual nada pode ser pensado.

O argumento de Santo Anselmo apresenta-se pelas premissas;

(1) Deus existe no pensamento;

Na qual afirma que Deus existe pelo menos como uma entidade mental (ateus aceitam esta
premissa), pois, pode-se pensar na existência de um ser supremo, para afirmar ou negar a sua
existência na realidade temos de compreender o que está a ser afirmado ou negado, assim
Deus existe pelo menos como uma entidade mental, ou como conceito se este é afirmado ou
negado.

(2) Se Deus existe no pensamento e não na realidade, então um ser mais perfeito do que
Deus é concebível;

Esta premissa sustenta que se Deus existir como uma entidade mental, mas não como corpo,
existente na realidade, seria possível conceber um ser mais perfeito do que Deus, pois desta
forma presumivelmente podemos conceber um ser que, para além de existir no pensamento
também poderá existir na realidade.

Existir no pensamento e na realidade é mais que perfeito do que existir apenas no pensamento
porque, existir apenas no pensamento é algo menor do que se este existisse no nosso
pensamento como na realidade.

(3) Mas não é concebível um ser mais que perfeito do que Deus;

Nesta terceira premissa defende-se que não se pode conceber um ser mais perfeito do que
Deus, ser supremo. Partindo da definição de Deus como o “ser maior do que o qual nada
pode ser pensado”, então, ao afirmar-se que Deus é o ser maior do que qual nada poderá ser
pensado é o mesmo do que dizer, portanto, que Deus é o ser com todas as qualidades,
omnipotência, omnisciência e total bondade (…), por isso, não se pode conceber um outro ser
melhor ou mais que perfeito do que Deus, ser supremo.

(4) Logo, Deus existe na realidade. (De 1 a 3)

Procedendo da aceitação das premissas, aceita-se deste modo que Deus existe na realidade,
dando assim o argumento ontológico como válido.

Objeções:

Este argumento enfrenta 3 objeções, o que faz com que não seja um argumento sólido.

1: Pode provar-se coisas que não existem;


2: A existência não é um verdadeiro predicado;

3: Falácia da petição do princípio;

Objeção: Pode provar-se coisas que não existem

Guanilo, monge da época de Santo Anselmo apresentou uma primeira crítica seguindo a
mesma estrutura argumentativa do argumento ontológico, defendido por Anselmo: pode
provar-se coisas que não existem.

Para mostrar a sua definição, Guanilo definiu “ilha perfeita” como uma ilha maior do que a
qual nada pode ser pensado e assim conclui, pelas mesmas razões de Santo Anselmo que essa
ilha meramente imaginária existe também na realidade.

O argumento de Guanilo segue as premissas:

(1) A ilha Perfeita existe no pensamento;

(2) Se a ilha Perfeita existe no pensamento e não na realidade, então uma ilha mais que
perfeita do que a ilha Perfeita é concebível;

(3) Mas não é concebível uma ilha mais perfeita do que a ilha Perfeita;

(4) Logo, a ilha Perfeita existe na realidade. (De 1 a 3)

Conclui-se assim, com base na estrutura do argumento ontológico, como não há ilha perfeita
na forma como Guanilo a define, uma das premissas irá ser falsa, na qual Guanilo não
identificou com precisão qual é o erro, mas filósofos posteriores tentaram realizar essa tarefa.

Objeção: A existência não é um verdadeiro predicado

Esta crítica é feita por Kant na qual identifica um erro na segunda premissa do argumento
ontológico. Uma das razões a favor dessa premissa assenta na ideia de que existir na
realidade torna algo mais perfeito do que existir apenas no pensamento, mas Kant defende
que a existência não é um verdadeiro predicado, o qual nos diz que a existência não é um
predicado tal como o é uma propriedade que pode caracterizar uma coisa, pois a existência
não acrescenta nada ao conceito de algo e sim o contrário, a existência é a sua
exemplificação, ou a instanciação.

No seu argumento, Anselmo sustenta que a existência é um predicado que se acrescenta ao


conceito de Deus, definindo-o como um ser maior do que o qual nada pode ser pensado, ou
seja, é maior ter a propriedade de existir do que não ter essa propriedade. Segundo Kant,
afirmar que algo existe não acrescenta nada ao conceito, mas apenas afirma que o conceito é
instanciado, não existindo diferença de propriedades entre o conceito de um Deus existente e
de um Deus não existente, pois a existência não envolve uma nova propriedade.

Se a existência não é uma propriedade ou predicado, então um ser maximamente perfeito não
é maior se existir do que se não existir.

Objeção: Falácia da petição de princípio

Pode-se argumentar que o argumento ontológico comete a falácia informal da petição de


princípio, ou circularidade, pois parte-se da definição de Deus como absolutamente perfeito,
abrangendo também todos os predicados e perfeições, inclusive a sua existência na realidade.

Assim quando se diz, na premissa (1) que “Deus” existe no pensamento já se está a
comprometer, pelo conceito apresentado de Deus, com a ideia de que Deus existe na
realidade.

A partir da observação das críticas realizadas ao argumento ontológico, estas objeções são
convincentes.

Realizado por: Beatriz Nunes, nº5; Catarina Fernandes, nº6- 11ºB

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