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Duas perspectivas sobre o conhecimento:

René Descartes e David Hume

1
Índice
Introdução.....................................................................................................................3
A origem do conhecimento...........................................................................................4
Conhecimento a priori VS Conhecimento a posteriori..................................................4
Empirismo e racionalismo............................................................................................ 4
O empirismo................................................................................................................. 5
O racionalismo..............................................................................................................5
A relação entre o racionalismo e o empirismo............................................................. 5
O desejo de chegar a conhecimentos verdadeiros...................................................... 6
Método cartesiano........................................................................................................ 6
Razões que levaram Descartes a duvidar de tudo.......................................................7
A dúvida cartesiana...................................................................................................... 7
Dúvida cartesiana e dúvida cética................................................................................8
A descoberta da primeira verdade............................................................................... 9
As duas operações da razão: intuição e dedução....................................................... 9
A função de Deus na filosofia cartesiana..................................................................... 9
Provas da existência de Deus.................................................................................... 10
Três tipos de ideias: inatas, adventícias e factícia..................................................... 10
Res cogitans, res infinita e res extensa...................................................................... 11
Objeções e críticas a Descartes................................................................................. 11
Conteúdos da mente: impressões e ideias................................................................ 13
Relações de ideias VS Questões de facto................................................................. 14
Relação causa-efeito..................................................................................................15
Conjunção constante, conexão necessária e o hábito............................................... 15
O problema da indução.............................................................................................. 15
As objeções e críticas a David Hume.........................................................................16
Conclusão...................................................................................................................17
Bibliografia..................................................................................................................18
Webgrafia................................................................................................................... 18

2
Introdução
Antigamente, tal como nos dias de hoje, o Homem sempre teve uma grande
curiosidade em desmistificar o fenómeno do conhecimento, sabendo desde sempre
a complexidade e dificuldade que acarreta.
São várias as perguntas que são questionadas em relação ao conhecimento desde
de onde vai o Homem buscar conhecimento que tem? Qual a sua fonte? Será que já
nascemos com conhecimento? Será que a nossa mente é uma tábua rasa, uma
folha em branco?
Para responder às questões da origem do conhecimento, existem duas teses,o
empirismo (conhecimento à posteriori), defendido por David Hume, que afirma que a
experiência sensorial é a base do conhecimento e as crenças são formadas por
hábito e associação e o racionalismo (conhecimento à priori) defendido por René
Descartes,que defende que a razão é a fonte primária do conhecimento e que a
dúvida metódica leva à certeza indiscutível.
Desta forma iremos abordar as duas teorias defendidas por estes dois grandes
filósofos de modo a conhecer as suas perspectivas.

3
Conhecimento
A origem do conhecimento
A noção central do nosso quotidiano designa-se de conhecimento. O conhecimento
pode ser definido com três palavras: crença, verdade e justificação, esta definição é
conhecida maioritariamente como definição tripartida ou teoria de CVJ. A origem do
conhecimento é um tema central para a filosofia em geral, mas mais para a
epistemologia, em particular, que sustenta que o conhecimento é incerto e que a
certeza absoluta é inatingível. Filósofos céticos, questionam a confiabilidade dos
sentidos e argumentam que nunca podemos ter certeza absoluta sobre a verdade.
Algumas das questões principais a que o ceticismo tenta responder são: “o que é o
conhecimento?”; “Como justificamos as nossas crenças?”; “O conhecimento é
subjetivo e varia de pessoa para pessoa?”. Estas questões destacam a natureza
desafiadora do ceticismo, que questiona as bases do conhecimento humano e
examina a confiabilidade dos métodos que utilizamos para adquirir e justificar as
nossas crenças.

Conhecimento a priori VS Conhecimento a posteriori


A distinção entre conhecimento a priori e conhecimento a posteriori é uma parte
fundamental da epistemologia, que é o estudo do conhecimento. Essas categorias
referem-se ao momento em que adquirimos ou justificamos o nosso conhecimento
em relação à experiência. O conhecimento a priori é o conhecimento que podemos
adquirir independentemente da experiência sensorial direta ou específica, pois essa
forma de conhecimento origina-se da razão, da lógica, da análise conceitual ou de
princípios autoevidentes.
Um exemplo desse tipo de conhecimento são as verdades matemáticas, como 1 + 1
= 2, e verdades lógicas, como "nenhum cego consegue ver", pois podem ser
conhecidas sem depender da experiência empírica. O oposto disso é o
conhecimento a posteriori que é o conhecimento que depende da experiência
sensorial direta ou da observação. Exemplo disso é saber se chove fora de casa, ou
saber fatos históricos, porque só é possível saber essas informações por meio de
uma experiência sensorial.

Empirismo e racionalismo
O empirismo e o racionalismo são duas teorias filosóficas que oferecem respostas
distintas ao problema da origem do conhecimento e à questão de como adquirimos
crenças verdadeiras. Ambas as abordagens têm contribuições significativas para a
compreensão do conhecimento, mas diferem na ênfase dada à experiência sensorial
e à razão inata. O empirismo está mais alinhado ao conhecimento a posteriori,
enquanto o racionalismo está associado ao conhecimento a priori.

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O empirismo
O empirismo defende que todo o conhecimento genuíno e a nossa estrutura
cognitiva é fruto de uma experiência sensorial e da observação do mundo, de modo
que, quanto mais vastas e ricas forem as nossas experiências pessoais, mais amplo
será o nosso conhecimento. Por isso, os empiristas defendem a ideia da “tábua
rasa” que é uma visão em que a mente humana, no nascimento, é uma folha em
branco, desprovida de ideias, conhecimento ou predisposições inatas e,
posteriormente, essa folha em branco vai-se preenchendo ao longo da vida,
consoante as experiências pessoais. Um dos principais nomes relacionados ao
empirismo é o de David Hume, um filósofo escocês que influenciou
significativamente a filosofia no que toca ao tema do conhecimento.

O racionalismo
O racionalismo defende que parte do nosso conhecimento é inata e baseada na
razão, independentemente da experiência sensorial. Os racionalistas apoiam a ideia
de que um conhecimento, para ser válido, necessita de satisfazer dois princípios: a
necessidade lógica e a universalidade. O racionalismo admite a tese inatista, a qual
defende que o conhecimento parte de impressões inatas que acompanham todos os
seres humanos, os quais são dotados da capacidade racional desde o nascimento,
ao contrário do empirismo. René Descartes, um filósofo francês foi um dos maiores
contribuintes para o crescimento desta teoria do conhecimento, e na filosofia em
geral.

A relação entre o racionalismo e o empirismo


Ambas as abordagens têm contribuições significativas para a compreensão do
conhecimento, mas diferem na ênfase dada à experiência sensorial e à razão inata.
O empirismo está mais alinhado ao conhecimento a posteriori, derivado da
experiência, enquanto o racionalismo está associado ao conhecimento a priori,
relacionado com a razão e com a lógica. A complexidade da relação entre essas
categorias destaca a riqueza das discussões filosóficas sobre a origem e a natureza
do conhecimento. Algumas visões filosóficas sobre o conhecimento, juntam
elementos dessas duas teorias, reconhecendo a contribuição tanto da experiência
quanto da razão na formação do conhecimento.

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RENÉ DESCARTES
O desejo de chegar a conhecimentos verdadeiros
René Descartes, um filósofo, matemático e cientista francês do século XVII, é
conhecido pelo seu método cartesiano e pela sua procura por conhecimento
indubitável. O desejo de Descartes de alcançar conhecimentos verdadeiros e
indubitáveis é expresso na sua famosa frase "Cogito, ergo sum" (Penso, logo existo).

Método cartesiano
Para superar a dúvida, Descartes desenvolveu um método sistemático de dúvida e
análise, conhecido como método cartesiano. Esse método envolve dividir problemas
complexos em partes menores mais compreensíveis, procurando soluções claras e
evidentes. Ele acreditava que, ao chegar a conclusões claras e evidentes em cada
etapa, poderia construir um sistema de conhecimento sólido e indubitável.
O problema posto por Descartes é sobre a capacidade humana de alcançar a
verdade, não como um atributo divino, distante do comum mortal, mas como uma
característica de toda a humanidade. Com esse objetivo, encontra uma forma
metódica de aplicar a dúvida, que com base no processo matemático, torna possível
ao homem distinguir o falso do verdadeiro. Só assim é possível obter o
conhecimento de forma segura e fácil e chegar ao ponto mais alto a que se pode
chegar: o domínio sobre o mundo e a sabedoria da vida. O filósofo apresenta quatro
regras fundamentais e inequívocas para alcançar esse fim:
Evidência: jamais devemos aceitar uma verdade se não a reconhecermos
evidentemente como tal e se não tivermos qualquer possibilidade de a colocar em
dúvida;
Análise: dividir cada um dos problemas que analisamos em problemas mais simples,
retirando as partes supérfluas para melhor distinguir o que é falso e o que é verdade;
Síntese: utilizando um ato fundamental do espírito humano, a dedução, esta regra
recomenda ordenar os pensamentos de forma a começar pelos mais simples e
fáceis de conhecer, para pouco a pouco os elevar até aos conhecimentos mais
complexos; Enumeração: fazer enumerações e revisões tão gerais até que se tenha
certeza de não omitir nenhuma.

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Razões que levaram Descartes a duvidar de tudo
Dúvida Metódica: Descartes começou o seu projeto filosófico aplicando a dúvida
metódica. Ele duvidou de tudo o que podia ser duvidado para encontrar uma base
sólida e indubitável para o seu conhecimento. Isso inclui questionar a confiabilidade
dos sentidos, da razão e até mesmo da existência do mundo material.
Dedução Racional: Descartes favorecia a dedução racional como meio de alcançar
conhecimento seguros. Ele argumentava que, a partir de verdades indubitáveis, por
meio da razão pura, seria possível chegar a conclusões que também eram
indubitáveis. Isso contrastava com a abordagem empírica que dependia da
observação sensorial.
Matematização do Conhecimento: Descartes tinha grande confiança na matemática
como modelo para alcançar o conhecimento seguro e indubitável. Ele acreditava
que, assim como na matemática, onde as verdades são claras e evidentes,
poderia-se estabelecer um sistema de conhecimento universalmente válido.

A dúvida cartesiana
Descartes rejeitava a ideia de que tudo poderia ser determinado exclusivamente a
partir de uma análise lógica, noção que desprezava a necessidade de observações
ou experimentações que pudessem corroborar para a eliminação de ambiguidades.
Para enfrentar incertezas, o filósofo apresentou algumas regras, entre elas, a dúvida
cartesiana, um dos principais pontos da sua obra.
A principal ideia da dúvida cartesiana era duvidar de tudo, isto é, jamais aceitar nada
como verdade absoluta até que se pudesse ter a certeza de que realmente se
tratava de algo verdadeiro. Ao aplicar este conceito, Descartes chegou a uma
verdade fundamental: ele existia, e isso era algo que não se podia duvidar, portanto,
só podia ser verdade.
Os três argumentos da dúvida cartesiana
A dúvida cartesiana é justificada por meio de três argumentos:
1. Ilusão dos sentidos: de acordo com este argumento, não poderíamos confiar
nos nossos sentidos, os quais são limitados e enganosos;
2. Argumento dos sonhos: não sabemos distinguir o mundo externo daquilo que
é produto da nossa mente;
3. Génio maligno: Descartes levantou a hipótese da existência de um deus ou
demónio malévolo, poderoso e astuto, determinado a enganar os homens
com todas as suas energias.

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Portanto, criou-se um impasse: como poderia o filósofo encontrar certezas infalíveis
se acreditava ser indispensável duvidar de tudo que se apresentasse perante ele?
Se, por um lado, Descartes acreditava que o ato de duvidar colocava em dúvida até
os nossos sentidos, por outro, é impossível duvidar do pensamento, pois duvidar do
pensamento já é pensar. Assim, o nosso pensamento e a nossa existência seriam
inquestionáveis, uma certeza sobre a qual o método filosófico de Descartes poderia
ser edificado. Nasceu, então, a máxima cartesiana “Penso, logo existo” (Ego cogito
ergo sum).
Todavia, se a única certeza do homem é o “eu”, como poderia ser construída a ponte
que ligasse a certeza que residia no indivíduo à incerteza do mundo externo? Foi
então que Descartes criou uma ligação entre o pensamento subjetivo e a realidade
objetiva, forma que possibilitou afirmar que o pensamento seria composto por ideias,
válidas apenas se fossem claras e distintas o suficiente para diferenciarem-se de
outras.

Dúvida cartesiana e dúvida cética


Contrariamente à dúvida cética , a dúvida cartesiana não é um ponto de chegada ,
mas sim um ponto de partida, não é uma suspensão permanente do juízo , mas sim
uma decisão de considerar provisoriamente falsas as crenças. Como o cético
Descartes parte da dúvida , mas ao contrário do cético, não permanece nela.
Descartes não duvida por duvidar, ele duvida porque procura um conhecimento do
qual não haja razões para duvidar. Por isso se diz que a dúvida cartesiana é
metódica: é um método para encontrar o conhecimento absolutamente seguro que
Descartes procura. A dúvida cética tem por objetivo mostrar que o conhecimento
não é possível. A dúvida cartesiana tem o objetivo oposto , mostrar que há
conhecimento, isto é, verdades indubitáveis. Descartes procura responder ao
argumento cético da regressão infinita mostrando que a sua primeira premissa é
falsa,isto é mostrando que não é verdade que todas as nossas crenças são
justificadas com outras crenças. O cogito representa o triunfo sobre o ceticismo na
medida em que é uma crença básica , que não precisa de ser justificada com base
noutras crenças , constitui-se como primeira evidência, fornecendo os alicerces
seguros que Descartes procurava para edificar o conhecimento. Por conseguinte
Descartes afirma que os céticos não conseguem demonstrar que não há
conhecimento. Porquê ? Porque há pelo menos uma verdade , “Penso logo existo “
que resiste a todas as dúvidas, mesmo as mais radicais. Essa verdade é justificada
pela própria dúvida. Quando duvidamos estamos a pensar e ,se pensamos , somos
necessariamente alguma coisa . Este é um conhecimento que nenhum cético
consegue abalar

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A descoberta da primeira verdade
Encontrar um método que seja um guia seguro da investigação de todas as ciências,
para Descartes, só é possível através de uma crítica radical de todo o saber. Duvidar
de tudo e considerar tudo provisoriamente falso até se chegar a um princípio sólido
sobre o qual já não seja possível a dúvida e que possa servir de fundamento a
outros conhecimentos.
Então, eu que penso e que me posso enganar ou ser enganado ou mesmo duvidar
da própria realidade, devo necessariamente ser qualquer coisa e não nada? Por isso
“cogito, ergo sum” (penso, logo existo) é a única proposição absolutamente
verdadeira porque a própria dúvida a confirma. Não posso afirmar nada sobre, por
exemplo, um corpo onde eu exista, apenas existo como uma coisa que duvida, isto
é: que pensa.
O “cogito” (penso) é uma relação do eu consigo mesmo, um princípio que tem como
ponto de partida problematizar qualquer outra realidade e que ao mesmo tempo
permite justificá-la. É este o princípio inabalável de Descartes, sobre o qual não se
pode duvidar mais.

As duas operações da razão: intuição e dedução


Além de serem operações de razão, a intuição e a dedução, são também duas
funções cognitivas, duas formas de conhecimento e duas formas de raciocínio. A
intuição é a assimilação rápida e momentânea de uma evidência (ideia clara e
perceptível) como por exemplo o "Cogito, ergo sum" ("Penso, logo existo") e o facto
de um triângulo ter três lados. Por outro lado, a dedução é um encadeamento de
intuições, pois a partir de proposições que se conhecem por intuição, é inferida uma
outra proposição que é também de certeza absoluta verdadeira, estamos perante
um raciocínio dedutivo, tendo como exemplo Descartes deduzir a verdade que Deus
existe depois de estabelecer o "Cogito, ergo sum" por intuição . Ambas as operações
desempenham papéis significativos no método cartesiano e em outras abordagens
filosóficas que valorizam a razão como fonte fundamental de conhecimento.

A função de Deus na filosofia cartesiana


Na filosofia cartesiana, Deus desempenha um papel crucial como garantia da
verdade e fundamento da certeza. Descartes argumenta que, como um ser perfeito
e não enganador, Deus garante a veracidade das ideias claras e distintas. Estas
ideias, que são apreendidas pela mente de forma evidente, são consideradas como
garantidas como verdadeiras, uma vez que Deus não enganaria um ser perfeito.
Descartes sustenta que a clareza e a distinção de algumas ideias são indícios da
existência de Deus. A existência de Deus é vista como uma garantia para a validade
do raciocínio humano, especialmente porque a capacidade de raciocinar de forma
clara e distinta é dada por Deus. Ao introduzir a existência de Deus, Descartes
busca evitar o ceticismo radical.

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A dúvida metódica inicial levou-o a questionar até mesmo a existência de um Deus
não enganador, mas, ao estabelecer a existência de Deus, ele fornece um
fundamento seguro para a confiabilidade da razão. Além da garantia epistemológica,
Deus também serve como fundamento moral. A moralidade, para Descartes, está
ligada à natureza perfeita de Deus, e a conformidade com as leis morais é
considerada uma expressão da vontade divina.

Provas da existência de Deus


A ideia inata está associada a “ser perfeito” (um ser omnisciente, omnipotente e
bom). Assim, Descartes procura comprovar a existência de um Deus considerado
perfeito, para isso René utiliza três argumentos céticos, que contém como ponto
partido uma mesma premissa: a ideia de perfeição e são baseadas exclusivamente
na razão, ou seja, a priori. Primeiramente, apresenta o argumento ontológico, onde
Descartes afirma que a propriedade de existir é algo que um ser perfeito tem. Logo
se algo não existe, então não é perfeito pois falta-lhe essa propriedade. Assim, Deus
tem de existir. O segundo argumento é titulado por argumento da marca impressa
em que é explicado que a ideia de ser perfeito que cada ser tem deve-se a Deus, um
ser perfeito. Por último, mas não menos importante, o filósofo explica que a
existência do ser pensante e imperfeito não é ele próprio, pois caso fosse dar-lhe-ia
todas as ideias de perfeição que contém. Sendo assim, só Deus é que pode ser o
criador de todos os seres pensantes e imperfeitos.

Três tipos de ideias: inatas, adventícias e factícia


Ao aprofundar a sua mente (o cogito ou pensamento), o filósofo francês descobre
três tipos diferentes de ideias. As ideias inatas, que segundo Descartes, são ideias
produzidas pela razão, que nascem connosco, são claras e distintas o que permite
nos levar ao conhecimento verdadeiro. Além disso, estas ideias têm essências
verdadeiras, imutáveis e eternas. Ou seja, para René, Deus originou a ideia de
perfeição na sua mente, assim Deus deixa a sua marca no ser em que está a criar.
De seguida, as ideias adventícias, adquiridas através dos sentidos pois não existem
na razão desde início, podendo ser confusas e suscitar dúvidas, como as ideias de
árvore ou avestruz. Por fim, as ideias factícias produzidas pela imaginação através
de uma combinação de imagens fornecidas pelos sentidos e pela memória que
quando se misturam permitem imaginar coisas nunca antes vistas, tornando estas
ideias confusas e irreais, como as sereias e os unicórnios.

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Res cogitans, res infinita e res extensa
Descartes já sabia que era e que existia mas não sabia o que era ele. Desta forma
admite que é apenas uma coisa pensante (res cogitans) e um elemento mental cuja
intenção é pensar. O corpo e a mente são duas substâncias completamente
distintas, pois o corpo ao contrário da mente é matéria e faz parte do mundo físico, a
esta distinção dá-se o nome de dualismo de substâncias.
Perante isto, define que o seu corpo é uma oposição ao cogito com características
como ser uma coisa extensa (res extensa) e um elemento material. Desta forma e
em jeito de resumo podemos dizer que o dualismo cartesiano ( dualismo de
substâncias) está dividido em dois grupos, a mente e o corpo, a mente é um res
cogitans (coisa pensante), uma substância mental é indubitável (evidente), por outro
lado o corpo é uma coisa extensa (res extensa), uma substância física e dubitável
(duvidosa). Descartes utiliza ainda o conceito de "res infinita" para descrever a
natureza de Deus como uma substância infinita e perfeita. Para René, Deus é a res
infinita que existe de maneira necessária e é a causa de todas as coisas finitas.

Objeções e críticas a Descartes


A teoria proposta por Descartes foi alvo de várias objeções, George Edward Moore,
filósofo britânico, refuta o génio maligno pois segundo este argumento temos que:
1. Se não sei se estou num cenário cético então não sei que tenho duas mãos
2. Não sei se estou num cenário cético
3. Logo, não sei que tenho as duas mãos.
Assim Moore considera que a conclusão retirada através do génio maligno é
incompreensível porque é mais convidativo usar o facto que temos duas mãos para
rejeitar a possibilidade de estarmos perante um cenário cético, desta forma George
reconstroi o seguinte argumento:
1. Se não sei se estou num cenário cético,
2. Sei que tenho duas mãos,
3. Logo, sei que estou num cenário cético.
Deste modo Moore acha que ao recorrer ao génio maligno, Descartes está a
estabelecer padrões demasiados elevados para o conhecimento.
Uma outra objeção à teoria racionalista é feita por Hume que considera que uma
dúvida radical, como a que recomenda Descartes, é impraticável, visto que, esta
rejeita qualquer crença que admitia a mais pequena dúvida, considerando-as
provisoriamente falsas. Sendo assim, Hume refere que não podemos simplesmente
viver como se tudo fosse duvidoso, pois a nossa natureza exige que acreditemos em
certas coisas que são importantes para a nossa vida. Além disso, Hume defende
que a dúvida metódica, não permite reconstruir o edifício do conhecimento depois de
o destruirmos, isto porque, uma vez adotada a dúvida, nunca mais nos conseguimos
ver livres dela.

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Por outro lado, a ideia de Hume é que se duvidarmos das nossas próprias
capacidades racionais, como exige a dúvida, deixamos de poder recorrer a elas para
deduzir seja o que for a partir do cogito. Pelo menos, é incoerente fazê-lo. A dúvida
universal de Descartes também se aplica às nossas faculdades, impedindo-nos de
contar nelas, mas esta só pode ser ultrapassada usando precisamente essas
faculdades em que deixamos de contar, assim, uma vez estabelecida, a dúvida não
poderia ser ultrapassada. Mostrando assim que a dúvida é incurável.
A próxima objeção tem o nome de círculo cartesiano que critica o facto de Descartes
ter incorrido numa petição de princípio (em que A justifica B, que justifica A, o que
equivale a dizer que B se infere a A, que se infere de B). Por um lado, é o facto de
raciocinarmos a partir da ideia clara e distinta que temos de Deus que nos irá
garantir que Deus existe. Mas, por outro lado, é Deus - que existe e não é
enganador - que garante a verdade e a objetividade das ideias claras e distintas
(incluindo a própria ideia de Deus como ser perfeito). Isto pode ser dito de outro
modo: temos necessidade de confiar no nosso intelecto ou na nossa razão para
provar a existência de Deus e, todavia, sem o conhecimento prévio da existência de
Deus não temos, em princípio, quaisquer motivos para confiar no intelecto ou na
razão.
Outras objeções são o facto de que segundo o argumento ontológico podemos
comprovar que qualquer coisa existe apenas considerando-a perfeita e ainda a ideia
de perfeição não é uma ideia inata pois se fosse todos achávamos as mesmas
coisas perfeitas, o que não se verifica, tendo cada pessoa a sua ideia de perfeição,
desmentido assim o argumento da marca impressa.

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DAVID HUME
Conteúdos da mente: impressões e ideias
David Hume, filósofo escocês do século XVIII, abordou a identificação dos
conteúdos da mente e desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do
ceticismo e do empirismo. O seu objetivo era fazer a geografia ou anatomia da
estrutura interna da nossa mente.
Hume defende que tudo o que ocorre na nossa mente são perceções. No entanto,
todos compreendemos a diferença entre Sentir e Pensar. Essa diferença é explicada
porque, segundo Hume, há duas classes ou categorias de perceções que
desempenham papéis fundamentais na formação do conhecimento. As impressões
que fazem parte da dimensão do Sentir e as ideias que fazem parte da dimensão do
Pensar.
As impressões são sensações que derivam de uma experiência emocional e são
provocadas por sentimentos internos, como emocões ou desejos, também podem
derivar de uma experiência sensorial e neste caso são provocadas por sensações
externas, como as sensasões auditivas, visuais, olfativas, tácteis e degustativas. Por
estes motivos são imediatas e são as percepções mais intensas e mais vividas.
As ideias, por outro lado, são derivadas das impressões e por isso são
representações menos vívidas e mais fracas das sensações originais. Hume
argumenta que todas as ideias têm origem em impressões porque, para ele, a mente
não consegue conceber nada antes de ter experimentado de alguma forma. Lidamos
com ideias e não com impressões quando, por exemplo, recordamos algum
momento, imaginamos ou simplesmente e principalmente, pensamos.

O Princípio da cópia é uma parte fundamental da teoria empirista de David Hume,


em que Hume explica a origem das ideias. Para Hume a experiência sensorial é
vista como a base para a aquisição de conhecimento e é com base nisto que
também se formam as ideias, por isso é que Hume faz a ligação entre a formação
das ideias e as impressões. Hume afirma que a mente humana constrói as ideias
com base nas impressões que sentimos. Se uma ideia não tem como base nenhuma
impressão, então essa ideia não tem experiência e é portanto vazia, não existe, e
por isso é uma ideia inata. O Princípio da cópia consiste no facto de Hume
argumentar que todos os materiais de pensamento, derivam direta ou indiretamente
das impressões.

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Outra distinção feita entre as percepções é o tipo de impressões e o tipo de ideias.
Existem ideias simples e complexas, tal como existem impressões simples e
complexas. As impressões simples são aquelas que fornecem apenas uma
impressão e as ideias simples derivam destas impressões. As impressões
complexas são as que fornecem um conjunto de sensações ao mesmo tempo e
destas derivam as ideias complexas.
Hume destaca a importância da distinção entre impressões e ideias, isto porque ele
argumenta que todo o conteúdo que se encontra na nossa mente pode ser
categorizado nestas duas categorias. Esta perspetiva empirista destaca a
dependência da mente em relação à experiência, tanto emocional como sensorial, e
o uso desta como fonte primária para o conhecimento.

Relações de ideias VS Questões de facto


Segundo Hume, as proposições que formulamos podem também ser divididas em
duas classes ou categorias: Relações de ideias e Questões de facto.
Relações de ideias:
As proposições que podem ser classificadas a priori, como verdadeiras e falsas,
exprimem relações de ideias, isto porque podem ser conhecidas, apenas, através da
análise dos conceitos envolvidos e são independentes da experiência prévia.
Podemos considerar vários exemplos da matemática, ciência, entre outros, como
por exemplo “Um pentágono tem cinco lados.”, este exemplo é um exemplo de uma
verdade necessária, isto é, é verdadeira em todos os mundos possíveis, por esta
razão negar uma proposição deste tipo (relação de ideias) é entrar em contradição.
Estas proposições exigem apenas operações do pensamento, isto porque a maioria
delas são intuitivas e demonstrativamente certas.
Questões de facto:
Contrariamente às relações de ideias, nas questões de facto a verdade das
proposições é determinada a posteriori, isto é, correspondem ao tipo de
conhecimento em que a justificação tem como base a experiência. De acordo com
Hume, apenas desta maneira é possível ter conhecimento, uma vez que todo o
nosso conhecimento provém de impressões recebidas no passado, sendo
dependentes da nossa experiência. Consideremos um exemplo da autoria de Hume
“O sol há de levantar-se amanhã.”, este exemplo é uma verdade contingente, são
verdades para o nosso mundo, neste momento, mas de que podemos não estar
absolutamente seguros e que por isso chama-se verdades contingentes. Estas
proposições são factos, isto porque são proposições explicadas pela ciência, pela
física e entre outras e revelam-nos como funciona o nosso mundo, por isto é que
para Hume só estas proposições nos podem fornecer conhecimento substancial.

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Relação causa-efeito
Segundo Hume, todo o conhecimento que nos permite fazer afirmações sobre o
mundo baseia-se em acontecimentos presentes ou passados, repetitivos e
uniformes porque se baseiam na experiência. No entanto, algumas vezes fazemos
afirmações que implicam o futuro, não só aquilo que observamos ou observámos
porque nem tudo se consegue explicar através da experiência. Por este motivo é
que no raciocínio relativo às questões de facto normalmente verifica-se uma relação
de causa-efeito, quando dois tipos de acontecimentos são constantes temos
tendência a concluir que há uma relação entre eles. Para podermos afirmar que uma
junção de dois acontecimentos do passado constantes poderá também acontecer no
futuro, tem de existir uma conexão necessária entre os dois acontecimentos, isto é,
sendo A e B eventos ou estados de coisas, A sendo a causa e B sendo o efeito,
sempre que, em certas condições, acontece A, acontece inevitavelmente B de tal
maneira que A produz necessariamente B.

Conjunção constante, conexão necessária e o hábito


Quando observamos repetidamente uma conjunção constante, isto é, uma
combinação entre dois momentos ou eventos que é sequencial e uniforme, repetida
no tempo e no espaço, acabamos por gravar na nossa mente e criar uma
expectativa de que o mesmo acontecerá no futuro, isto porque criamos uma rotina,
um hábito. Deste modo, podemos verificar que uma conexão necessária entre
acontecimentos deriva das expectativas que criamos quando existe um hábito, que é
uma disposição interna e psicológica. Esta conexão é o resultado do modo como as
nossas mentes estão estruturadas e acaba por se basear em impulsos, sentimentos
e princípios psicológicos. Hume agora demonstra outra dimensão do seu
pensamento, o naturalismo, que é possível observar através desta crença. Para o
filósofo, somos seres que foram criados para acreditar e imaginar, somos seres de
instinto e de hábito e é por isso que o hábito é tão presente no nosso dia a dia.

O problema da indução
O hábito pressupõem que com aquilo que observámos e observamos consigamos
fazer previsões do que acontecerá no futuro. Por exemplo, sabemos que só
nascerão de humanos, humanos, não outros seres vivos. Neste tipo de exemplos,
recorremos ao raciocínio indutivo. Recorremos a este tipo de raciocínio porque
partimos do princípio de que a natureza é uniforme e constante, utilizamos a crença
do Princípio da Uniformidade da Natureza, que está sempre presente em
interferências indutivas. É esta crença que permite-nos retirar conclusões sobre o
que acontecerá no futuro e sobre o inobservado com base na experiência passada,
ou seja, com base noutros acontecimentos semelhantes, do passado ou do
presente.

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O Princípio da Uniformidade da Natureza não pode ser justificado a priori, porque
exprime uma questão de facto. Só podemos aceitar este princípio se usarmos o
método indutivo e se acreditarmos que o mundo será sempre uniforme, porque se o
mundo deixar de ser uniforme o futuro não repetirá o passado. Se utilizarmos este
princípio estaremos então, a recorrer a uma falácia da petição do princípio, porque
recorremos a uma indução para justificar outra indução. Nisto consiste o problema
da indução, que é uma crítica ao raciocínio indutivo.

As objeções e críticas a David Hume


Contraexemplo do tom azul desconhecido
O próprio David Hume antecipa a possibilidade de se deparar com um
contraexemplo ao Princípio da cópia de o desvalorizar, a verdade é que tal
contraexemplo pode quebrar a nossa confiança nesse princípio. Este exemplo em
particular consiste em imaginar uma situação em que alguém é exposto a uma gama
específica de tons de azul, sendo que propositadamente um desses tons não é
mostrado.
O problema surge porque uma pessoa que nunca tenha tido experiência com esse
tom particular de azul, consegue formar uma ideia sobre ele, mesmo na ausência de
uma impressão correspondente. Ora, isso não seria possível se todas as nossas
ideias fossem cópias de impressões.
Objeção à imagem da mente como tábua rasa
Fodor argumenta que aprender uma língua nova requer a capacidade de representar
as suas regras de funcionamento, implicando que qualquer processo de
aprendizagem linguística pressupõe algum conhecimento prévio de alguma língua.
Dado que temos a habilidade de aprender uma língua desde o nascimento, Fodor
aceita a necessidade de um conhecimento linguístico inato. Se considerarmos que o
conhecimento sobre o funcionamento da língua vem do nascimento como uma
forma legítima de conhecimento sobre o mundo, então devemos abandonar a ideia
de que, ao nascer, a mente é uma "tábua rasa" ou uma "folha em branco".
Objeção do homúnculo
A objeção do homúnculo pode ser resumida da seguinte forma: se nossas mentes
não têm acesso direto ao mundo exterior, mas apenas a uma série de imagens ou
representações mentais, isso nos coloca na situação de sermos como um
homúnculo (uma figura minúscula) confinado a um cinema privado dentro de nossa
própria mente. Nesse cenário, somos apresentados a imagens ou representações
dos objetos do mundo exterior. No entanto, os dilemas relacionados à nossa
conexão com o mundo exterior também se aplicam à relação desse homúnculo com
as imagens exibidas na tela de seu cinema mental. Se mantivermos a mesma
natureza de explicação, acabaremos por postular a existência de outro homúnculo
dentro da mente do primeiro, e assim por diante, resultando em uma regressão
infinita de homúnculos.

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Objeção baseada na argumentação a favor da melhor explicação
Russell rejeita as conclusões céticas de Hume, argumentando que a ideia de
"fundamento racional" de Hume é muito restrita, a menos que exista uma prova
definitiva da sua verdade. Enquanto Hume requer uma prova definitiva para justificar
racionalmente uma crença, Russell defende que pode ser racional acreditar em algo
mesmo sem tal prova. Ele utiliza a abdução para argumentar a favor da melhor
explicação, sustentando que a existência de um mundo externo governado pela
causalidade é uma explicação mais simples e convincente para nossa experiência
do que qualquer cenário cético. Assim, Russell considera que há uma justificação
racional para crer nisso, o que se aplica também à ideia de causalidade.

Conclusão
Em suma, as teorias de Descartes e Hume apresentam abordagens divergentes
sobre o conhecimento. Descartes, através do racionalismo, valoriza a razão como
fonte primordial de certeza, enquanto Hume, com o seu empirismo, enfatiza a
experiência sensorial. As ideias de ambos os filósofos são fundamentais visto que
moldam profundamente a epistemologia, destacando o conflito entre razão e
experiência na procura pelo conhecimento humano.Assim Descartes posiciona-se
como dogmático e Hume como cético.

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Bibliografia
https://pt.slideshare.net/iaduarte/quadrohume-vs-descartes
https://beniciofilho.com.br/descartes-e-david-hume/
https://pt.slideshare.net/LRSR1/comparacao-descartes-hume
https://filosofia-conhecimento.webnode.pt/analise-comparativa-entre-as-teorias-de-descart
es-e-hume/
https://notapositiva.com/rene-descartes-vs-david-hume/
https://www.studocu.com/pt/document/ensino-medio-portugal/filosofia/descartes-vs-hum
e-semelhancas-e-diferencas/16050384
https://filosofianaescola.com/conhecimento/problema-da-inducao/
https://medium.com/the-academy-of-you/what-has-david-hume-got-against-rene-descartes-
7f95591011d9
https://edubirdie.com/examples/the-views-of-rene-descartes-and-david-hume-on-human-kn
owledge-process/
https://www.ukessays.com/essays/philosophy/philosophy-assignment-descartes-and-hume-
philosophy-essay.php
Sites consultado pela última vez dia 27/01/2024

Webgrafia
Informação disponibilizada na classroom pela Professora Olga Pinheiro
Informação disponibilizada em sala de aula pela
PIRES Catarina; AMORIM Carlos – Ponto de Fuga – Filosofia, Areal Editores, 2023, pp.32-87.

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