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I – JUCA PIRAMA

GONÇALVES DIAS
Publicado Em 1851, Últimos Cantos.
O título I-Juca Pirama
Refere-se não ao nome do herói, mas à
indicação de seu destino: “o que há de morrer”,
“o que é digno de ser morto”. Ao longo da
narração, o protagonista recebe apenas o
qualificativo de sua tribo. É o tupi (tal como o
chefe que o captura é o timbira).
Gênero
Poema narrativo de inegável alcance épico.
Microepopeia estilizada

Narrativa em verso de uma aventura singular;


poder de significação transcendente ou alegórica;
herói com força física, astúcia e caráter notável;
costumes e tradições de um povo; ética na ação
das personagens.
Estrutura
Ritmo


Não só de ressonâncias épicas, mas de
valor sugestivo: a cadência batida
pode lembrar os tambores festivos dos
indígenas.


Cada fala tem o seu metro mais
adequado ao assunto.
Dez seções ou cantos
1ª PARTE
CANTO I

Descrição do ambiente da nação timbira;


preparação do ritual de sacrifício do prisioneiro
mais nobre – o guerreiro tupi “Descende por certo
dum povo gentil”
Verso hendecassílabo (11)
CANTO II
Apresentação dos rituais para o festim
antropofágico e, logo, voz épica interpela o
prisioneiro sobre a sua perturbação; encoraja-o,
justificando que a desgraça só atinge os grandes.
Decassílabo (10)e tetrassílabo (4)
CANTO III

O chefe da tribo, a quem cabe a


execução, insta o prisioneiro a
contar a sua história.

(decassílabo, com irregularidade)


CANTO IV

O guerreiro tupi, com voz


própria, rememora a sua história.
Ao fazê-lo, comove-se com a
lembrança do pai indefeso.
Chorando, implora um acordo: os timbiras o
deixariam viver até que o pai expirasse; ele
retornaria assim que isso sucedesse, para
oferecer-se à morte devida pelas leis da guerra e
domínio de território.
Redondilha menor (5)
CANTO V
O chefe ordena que o prisioneiro seja libertado,
não pelo trato, mas por ter se tornado indigno da
cerimônia, ao revelar-se medroso e covarde. O
herói hesita, mas aceita a infâmia para voltar
para o pai.
Decassílabo e v. livres
2ª PARTE
CANTO VI
Retorno do jovem para junto do pai que
percebe, pelas tintas que lhe cobrem o corpo, pela
ausência de cabelos e pelo ânimo, que o filho fora
capturado e escapara com vida. Presumindo que
os timbiras o haviam libertado por gentileza para
com um velho, resolve devolver o prisioneiro para
que o executem.
Decassílabo e v. livres
CANTO VII

O velho tupi patenteia a infração do filho ao


código de ética guerreira; o chefe timbira conta a
causa da libertação do prisioneiro e humilha o
guerreiro. Enfurecido, o velho renega o
descendente.
Redondilha maior (7)
CANTO VIII

O pai, em 1ª pessoa,
amaldiçoa o filho, que declara
indigno de si.
Endecassílabo (9)
CANTO IX

Momento de reconhecimento e redenção. O


jovem tupi põe-se em luta desigual com os
timbiras, dizimando-os, até que o chefe timbira o
aceita como vítima digna de se oferecer em
sacrifício.
Reconciliação de pai e filho.
Decassílabo
Canto x
Testemunha presencial do episódio, o velho
Timbira rende-se ao poder do tupi e diz a célebre
frase: "meninos, eu vi“
Eneassílabo (11) e redondilha menor(5)
Herói

Anônimo, quebra a unidimensionalidade do


padrão. É um pouco vazio de história, mas é
dotado de psicologia e funciona como lugar de
atualização dos valores éticos conflitantes e da
sucessão de emoções, o que o torna mais
moderno. (sujeita-se ao sacrifício de renunciar à
glória em nome de um valor mais alto).
Personagens

Jovem tupi: herói sentimental. Destaca-se do


ambiente moral em que está. Sujeito de heroísmo
bem particular, ao subordinar suas escolhas à
piedade e ao respeito pelo pai. Renuncia aos
próprios afetos para atender ao bem comum.

Pai: personificação dos valores cavaleirescos


que ordenam o mundo heroico. Reiteração dos
valores guerreiros e adesão irrestrita ao código
de honra.
Multiplicidade de discursos e pontos
de vista

Deslocamento do ponto de vista narrativo

Longos trechos dialogados

Passagens com discurso isolado

Voz épica (narrador), o velho timbira, o próprio


jovem tupi, o pai.
Efeitos de sentido na obra:

grande tensão do poema;

clima dramático;

expectativa do desfecho;
À multiplicidade de vozes corresponde a
variedade de metros e formas estróficas, o
que ocasiona um colorido rítmico ao
poema.
Tema
Heroísmo guerreiro; amor filial e os
conflitos entre lei e afeição.

Para o jovem tupi, maior que a


honra pessoal é o amor pelo pai e o
senso do dever filial.

Honra subordinada ao dever.


Em nome do pai

A honra guerreira e a morte do


jovem tupi são sacrifícios
oferecidos ao pai.
De pai para filho

Palavras finais: “Este, sim, que é


meu filho muito amado.”
(intertexto bíblico do evangelho
segundo Mateus, 17, 5: “Este é o
meu filho amado em quem me
comprazo”).
Considerações finais

Poema narrativo que mobiliza amplos


recursos poéticos e coloca em cena, num
tempo e espaço de cor americana, um
drama em que os valores heroicos triunfam
sobre os sentimentos ingênuos.
 Para A. Candido: I-Juca Pirama – “a
obra prima da poesia indianista”.
Referências

DIAS, Gonçalves, I-Juca Pirama. In:


TEIXEIRA, Ivan (org.) Multiclássicos épicos. São
Paulo: Edusp, 2008.

FRANCHETTI, Paulo. O triunfo do


Romantismo: indianismo e estilização épica em
Gonçalves Dias. In: TEIXEIRA, Ivan (org.)
Multiclássicos épicos. São Paulo: Edusp, 2008.

CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura


Brasileira (vol.2). Rio de Janeiro: Itatiaia, 1997.

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