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poema "I Juca-Pirama", de Gonçalves Dias

No poema, o último descendente da tribo tupi é feito prisioneiro pelos timbiras e é dado início ao ritual
antropofágico. O guerreiro, antes de receber o golpe fatal, inicia seu canto de morte, no qual narra toda a
sua bravura e revela que tem um pai cego e doente e pede para ser libertado a fim de cuidar dele. O
cacique timbira lhe concede a liberdade, e o guerreiro promete voltar logo após a morte do pai. Quando
parte e encontra o pai, o ancião percebe, pelo cheiro das tintas, que o filho fora preso para o sacrifício e
decide levá-lo até os timbiras para que o ritual antropofágico fosse cumprido.

VIII Noutra quadra melhor. - Alarma! alarma!


"Tu choraste em presença da morte? - Esse momento só vale apagar-lhe
Na presença de estranhos chorasse? Os tão compridos transes, as angústias,
Não descende o cobarde do forte; Que o frio coração lhe atormentaram
Pois choraste, meu filho não és! De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.
Possas tu, descendente maldito Ele que em tanta dor se contivera,
De uma tribo de nobres guerreiros, Tomado pelo súbito contraste,
Implorando cruéis forasteiros, Desfaz-se agora em pranto copioso,
Seres presa de vis Aimorés. Que o exaurido coração remoça.

"Possas tu, isolado na terra, A taba se alborota, os golpes descem,


Sem arrimo e sem pátria vagando, Gritos, imprecações profundas soam,
Rejeitado da morte na guerra, Emaranhada a multidão braveja,
Rejeitado dos homens na paz. Revolve-se, enovela-se confusa,
Ser das gentes o espectro execrado; E mais revolta em mor furor se acende.
Não encontres amor nas mulheres, E os sons dos golpes que incessantes fervem.
Teus amigos, se amigos tiveres, Vozes, gemidos, estertor de morte
Tenham alma inconstante e falaz! Vão longe pelas ermas serranias
[...] Da humana tempestade propagando
Quantas vagas de povo enfurecido
"Um amigo não tenhas piedoso Contra um rochedo vivo se quebravam.
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d'argila cuidoso Era ele, o Tupi; nem fora justo
Arco e frecha e tacape a teus pés! Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,
Sê maldito, e sozinho na terra; Aturado labor de tantos anos,
Pois que a tanta vileza chegaste, Derradeiro brasão da raça extinta,
Que em presença da morte choraste, De um jacto e por um só se aniquilasse.
Tu, cobarde, meu filho não és." - Basta! clama o chefe dos Timbiras,
- Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste,
IX E para o sacrifício é mister forças. -
Isto dizendo, o miserando velho
A quem Tupã tamanha dor, tal fado O guerreiro parou, caiu nos braços
Já nos confins da vida reservara, Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias Com lágrimas de júbilo bradando:
Da sua noite escura as densas trevas "Este, sim, que é meu filho muito amado!
Palpando. - Alarma! alarma! - O velho para "E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
O grito que escutou é a voz do filho, "Corram livres as lágrimas que choro,
Voz de guerra que ouviu já tantas vezes "Estas lágrimas, sim, que não desonram."

1. As estrofes do canto VIII descrevem a reação do ancião tupi diante de seu filho e da tribo dos timbiras.
a. Qual é essa reação? Justifique sua resposta com elementos do texto.
b. Por que o pai reage dessa forma? Justifique sua resposta com elementos do texto.

2. Em outra parte do poema, no canto IV, no início do ritual antropofágico, o guerreiro tupi canta assim
seu canto de morte:

"Então, forasteiro,
Cai prisioneiro
De um troço guerreiro
Com quem me encontrei:
O cru dessossego
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego,
Qual seja, - dizei!

Eu era o seu guia


Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou."

Logo em seguida, ele chora e pede que lhe poupem a vida. De acordo com os versos acima, qual foi o
motivo de o guerreiro tupi ter pedido clemência aos timbiras? Justifique sua resposta com elementos do
texto.

3. O canto IX retrata a atitude do jovem guerreiro tupi ao ver que o pai não tinha compreendido o motivo
de seu retorno.
a. Qual é essa atitude? O que ela revela? Justifique sua resposta com elementos do texto.

b. No final do canto IX, o ancião chora e afirma: "Estas lágrimas, sim, que não desonram". Por que,
nesse contexto, tais lágrimas não desonram?

c. Conclua: De acordo com o canto IX, pode-se dizer que o jovem guerreiro será levado ao sacrifício?
Justifique sua resposta com elementos do texto.

4. A poesia de Gonçalves Dias expressa um novo ponto de vista a respeito do indígena. Diferentemente
de toda a literatura anterior, em que prevalecia a visão que o branco tinha a respeito dos povos nativos,
o poeta romântico buscou dar voz ao índio, mostrando-o pela perspectiva dos seus próprios valores e da
sua própria cultura. De acordo com o poema em estudo, que valores o indígena associa ao ritual
antropofágico?

5. Um dos traços importantes do Romantismo é o nacionalismo e a busca das raízes nacionais.


Enquanto na Europa essas raízes foram buscadas na Idade Média, no Brasil, uma nação recém-
independente, os primeiros poetas românticos elegeram o índio, a fauna e a flora como elementos
fundadores de nossa nacionalidade.
a. No poema de Gonçalves Dias, o herói indígena, como representante de nossas raízes, destaca-se por
quais valores e sentimentos?

b. A valorização da figura do índio pelos escritores românticos europeus, por influência de Rousseau,
está presente também no Romantismo brasileiro. Identifique no herói do poema "I-Juca-Pirama"
elementos relacionados ao mito do bom selvagem.
# Respostas:
1. 
a. 
Resposta: O ancião renega o filho ("meu filho não és") e passa a rogar-lhe maldições, como não ser
amado pelas mulheres, não ter amigos confiáveis ("Tenham alma inconstante e falaz"), não ter
sepultamento digno e viver como um "maldito" e "sozinho na terra".

b. 
Resposta: Ele acredita que o filho é um covarde, que temeu a morte ("Tu choraste em presença da
morte") e, por isso, não era digno de pertencer a "uma tribo de nobres guerreiros".

2.
Resposta: O guerreiro pediu clemência porque estava preocupado com a subsistência do pai, um ancião
cego e fraco ("Em mim se apoiava, / Em mim se firmava, / Em mim descansava").

3. 
a. 
Resposta: O jovem tupi entra em combate contra os timbiras e os vence ("Quantas vagas de povo
enfurecido / Contra um rochedo vivo se quebravam"); tal atitude revela sua bravura e destreza na luta.

b. 
Resposta: Não desonram porque não são lágrimas derramadas por causa de uma suposta covardia do
filho, mas, sim, em razão da emoção de perceber a coragem e a bravura dele.

c.  Justifique sua resposta com elementos do texto.


Resposta: Provavelmente sim, pois ele provou que é um guerreiro valoroso e o chefe dos timbiras
afirma: "Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste, / E para o sacrifício é mister forças".

4. 
Resposta: De acordo com o poema, o ritual antropofágico envolve valores como a coragem e a
dignidade diante da vida e da morte.

5.
a. 
Resposta: Pela coragem, bravura, dignidade, fidelidade às suas tradições e amor filial.

b. 
O herói é fiel ao pai e à nação a qual pertence mostrando, assim, honradez e firmeza de caráter, já que
sacrifica a própria vida por tais valores.

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