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Tennessee Williams

Columbus, Mississippi, 1911


New York NY, 1983
Esta propriedade está condenada (1946)
A dramaturgia de Tennessee é inseparável da
representação do Sul dos Estados Unidos e de
suas questões sociais e econômicas.
Mais do que qualquer outra parte do país, o Sul
é profundamente impregnado por tensões e
conflitos inerentes ao contexto capitalista de
trabalho, convívio e pensamento nos Estados
Unidos na primeira metade do século XX, tanto
quanto pela cadência melancólica dos blues e
pela pulsação do jazz.
O Longo Adeus (1940)

Como na música dos blues, o tom lírico das falas,


nesta peça, apresenta uma ressonância épica
implícita: as cenas evocadas pela personagem central,
Joe, poderiam compor as reminiscências de milhões
de indivíduos em situação igual ou semelhante.
As histórias e lembranças não o enclausuram no
interior de uma individualidade particularizante: elas
lhe dão abrangência e tridimensionalidade para além
da própria persona figurada em cena.
A Dama da Loção Anti Piolho (1941)

Grande parte das peças em um ato de


Tennessee trata da vida e das angústias dos
despossuídos e deserdados, dos párias e
desenraizados, enfim, daqueles que, por vários
motivos e por tortuosos caminhos, deixaram de
ter um lugar nas relações de produção e no
sonho capitalista de consumo e ascensão social.
E contam tristes histórias das mortes das
bonecas (1957)
A representação da homossexualidade, um dos
elementos de cunho autobiográfico no teatro de
Tennessee, aparece em muitas de suas peças em um
ato, seja de forma explícita, seja latente.
No caso desta, o tema é tratado de forma direta e
despojada de sentimentalismo ou apologia, o que
confere ao texto um caráter indiscutivelmente corajoso
e radical.
(Political Stages: Plays that shaped a Century. Emily
Mann & David Roessel, pg. 392)
O Último dos Meus Relógios de Ouro Maciço
(1946)
Num quarto de hotel decadente do Delta do
Mississippi, Charlie Colton, de 78 anos, bem-sucedido
vendedor itinerante do ramo de calçados de luxo no
passado, relata suas experiências e lembranças a
Harper, de 35, um vendedor da nova geração. A
matéria ficcional da peça permite detectar no
protagonista aspectos que prefiguram o caixeiro
viajante Willie Loman, da peça de Arthur Miller, um
grande marco da dramaturgia moderna no século XX.
A Mais Estranha Forma de Amor (1946)

A personagem central desta peça pertence ao


universo dos lúmpens, dos solitários e dos
andarilhos, seres que sobrevivem
precariamente de expedientes e trabalhos
temporários, e que habitam os pequenos
cômodos insalubres das pensões decadentes de
Nova Orleans e de cidades industriais do meio
oeste dos Estados Unidos.
Mr Paradise (1939)

Veleidades poéticas da juventude levaram Jonathan Jones,


em algum momento do passado, a publicar um pequeno
livro de versos sob o pseudônimo constrangedoramente
simplório de Anthony Paradise. Várias décadas se
passaram, e agora, maduro e solitário, vivendo num
quarto no decadente bairro boêmio de Nova Orléans, ele é
procurado por uma jovem estudante da elite local que,
tendo encontrado acidentalmente um dos exemplares do
livro em um antiquário da cidade, acredita-se imbuída da
missão de revelar ao mundo a suposta grandeza do poeta
esquecido.
Sobre o lirismo nas peças de Tennessee

A afinidade de Tennessee com a poesia lírica é um dos


traços recorrentes em seu trabalho dramatúrgico, e
transparece fartamente na tessitura compositiva de suas
peças em um ato.
A poesia caracteriza-se por condensar significados e por
expressá-los por meio de imagens, jogos de sentidos,
padrões rítmicos e recursos simbólicos.
Estes elementos são abundantes na composição dos
diálogos, nas características textuais das rubricas e até
mesmo na composição formal de títulos em alguns casos.
Fala comigo como a chuva e me deixa ouvir
(1953)
Os laços familiares e amorosos, quando presentes nas
peças de Tennessee, ostentam as marcas de uma
desagregação já consumada ou então em processo,
como ocorre nesta peça, e deixam poucas ilusões
quanto às perspectivas de futuro.
As personagens são flagradas em circunstâncias de
crise em que a solidão, a pobreza e a perda de
perspectivas de convívio afetivo colocam
irreversivelmente em cheque suas expectativas e seu
senso de identidade.
Verão no Lago (1937)

A base simbólica desta peça age como processo


central de tratamento da matéria representada:
a entrada de Donald, um adolescente de
dezessete anos, na vida adulta, e a relutância de
sua mãe, Mrs. Fenway, em aperceber-se disso.
Tennessee combina elipses e lacunas a imagens
e símbolos que conferem densidade aos
diálogos ao mesmo tempo em que reforçam a
sua economia de expressão.
Vinte e Sete Carros de Algodão. Uma comédia
do Delta do Mississippi (1946)
O título original (27 Wagons Full of Cotton)
constitui, do ponto de vista dos padrões rítmicos
da métrica em língua inglesa, um conjunto de
cinco sílabas fortes seguidas por fracas . Essa
sequência métrica chama-se pentâmetro trocaico:
“TWEN-ty SEV-en WAG-ons FULL of COT-ton”. Na
tradução elaborada pelo grupo TAPA, as atrizes
tradutoras procuraram preservar esse padrão :
“VIN-te SE-te CAR-ros de AL-go-DÃO”.
Lembranças de Betha (1946)

Em um quarto no “Valley”, a famosa zona da luz


vermelha às margens do rio na região leste de
St. Louis, a protagonista Bertha, tuberculosa e
pobre, está em vias de seu despejada. O
impacto da matéria social representada na peça
- a miséria afetiva e material da personagem -
é finamente equacionada por Tennessee no
recorte situacional trabalhado e na profunda e
amarga densidade lírica de sua construção.
Estas São as Escadas que Você Tem que Vigiar
(1941)

As peças em um ato de Tennessee apresentam recortes


situacionais e recursos figurativos inequivocamente
voltados à representação crítica da atmosfera social e
cultural dos Estados Unidos, particularmente no contexto
do Sul.
Nesta peça, a proibição de acesso ao andar superior de
um outrora luxuoso teatro de ópera, agora convertido em
cinema decadente, funciona em chave duplamente crítica,
apresentando a degradação das velhas casas de espetáculo
e sugerindo a modificação dos costumes e da sexualidade.
Tennessee e Candy Darling
Porque você fuma tanto, Lily? Um conto em um ato (1935)

Grande parte das rubricas alusivas às


personagens, nesta peça, é empregada na
composição de elementos figuráveis apenas com
o uso de sugestões de caráter simbólico.
O texto lança um olhar distanciado e
questionador sobre a classe média,
objetivando-o no emprego de um tratamento
cênico de base expressionista.
O Quarto Rosa (1943)

O desencontro das expectativas mútuas das duas


personagens desta peça repercute fortemente na
estrutura ndos diálogos, evocando certas elipses que
parecem antecipar o chamado “teatro do absurdo”.
Ainda que a natureza da matéria representada
pertença ao âmbito tipológico da comédia social em
sua acepção mais típica, os estereótipos associados a
esse subgênero dramatúrgico não sobrevivem à
radical e crescente erosão da coerência dos diálogos.
O filtro da memória e as questões familiares

A fortuna crítica de
seus trabalhos fixou
seu perfil como o de
um autor voltado para
o registro de
questões
autobiográficas,
inspiradas nas
memórias
familiares de sua
infância e juventude.
O grande desafio que se apresenta diante do teatro de
Tennessee é o de reler seus trabalhos na contramão da
crítica dominante, que o desbastou de tudo o que não
fosse condizente com as características associadas à sua
celebridade e com o padrão biográfico de
interpretação que aplicado a seu teatro.
A dramaturgia de Tennessee, épico-lírica por excelência,
demanda grande atenção às suas nuances compositivas,
ou seja, à sua prosódia exuberantemente sulista, aos
diálogos repletos de impurezas léxicas e gramaticais, à
expressividade poética delicadamente imperfeita, e à
recorrência de um certo mordente de humor com toques
de ironia.

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