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Caifazes

Idealizado por Antônio Bento de Sousa e Castro, o Movimento dos Caifazes organizava fugas de
escravos no final do século XIX. Antônio Bento e seus comparsas roubavam os negros e os enviavam
para o quilombo do Jabaquara (Santos). Então eles eram mandados para a província cearense, local
onde a igualdade racial já havia sido decretada. O Movimento dos Caifazes teve influência de artistas
como o poeta Luís Gama que disse, "o escravo que mata o seu senhor pratica um ato de legítima
defesa". Após sua morte, foi substituído por Antônio Bento.

Antonio Bento era filho de uma família paulistana bem rica. Seu modo de agir e se vestir era tido
como excêntrico entre a burguesia paulistana daquela época. O escritor Raul Pompéia descreveu o
burguês de São Paulo da seguinte forma: “Magro, estreitado, do tornozelo à orelha, no longo capote
preto como num tubo, chapéu alto, cabeça inclinada, mãos nos bolsos, quebrando contra o peito
pela fenda da gola o rijo cavaignac de arame, o olhar disfarçado nos óculos azuis como uma lâmina
no estojo, marcha retilínea de passo igual tirado sobre articulações metálicas”.

Tamanha era a vontade de Antonio Bento em roubar os negros, que ele os acomodava em sua casae
nas residências de seus comparsas caifazes. Nesta época, houve uma pressão social e econômica
contra a escravidão, então muitas cidades decretaram Lei Áurea e acabaram libertando os negros
roubados pelos Caifazes. Assim, alguns senhores começaram a contratar negros como trabalhadores
ganhando salário fixo.

Caifazes é um nome de inspiração bíblica, retirado de uma passagem do evangelho de São João. O
personagem que batizou o grupo tinha o nome de Caifás, homem que supostamente traía por
causas "nobres".

Com uma atividade prolífica, o grupo dos Caifazes ganhou estudos de diversos historiadores e obras
como a de Maria Helena Petrillo Berardi, onde é possível encontrar a declaração de Afonso de
Freitas de que em dez anos "não existiria mais escravos em São Paulo" caso os Caifazes
continuassem agindo de forma tão efetiva.

Assinatura da lei Áurea pela princesa Isabel completa 125 anos nesta segunda-feira

Na gandaia!
O professor de História e Geografia do Colégio Anchieta Fernando Santos Martins Portugal, conta
que a vaidade da princesa Isabel e as “farras” de Dom Pedro II são mitos que circulam sobre a
assinatura da lei Áurea : — Diz a lenda, que a princesa Isabel assinou a lei áurea porque seu pai
[Dom Pedro II] estava fora, na gandaia.

Dizem também que foi para ficar marcada na história, e não ser só mais uma princesa. Mas isso são
lendas que se escuta na faculdade

Medo de São Paulo A violência contra os escravos no Estado de São Paulo era motivo de chantagem,
conta a professora de história da Unesp Lucia Helena Silva:
— Quando alguém queria assustar um escravo do Rio de Janeiro, por exemplo, falava que ele iria
para São Paulo.

O Estado considerado como perigoso também foi o cenário de grandes fugas, que receberam o
apoio de “fantasmas”. Entenda na imagem a seguir

Conhecidos como fantasmas, os Caifazes eram um grupo de abolicionistas que apoiavam grandes
fugas de escravos em São Paulo

Conhecidos como fantasmas, os Caifazes eram um grupo de abolicionistas que apoiavam grandes
fugas de escravos em São Paulo. O movimento começou com o apoio de artistas como Luiz Gama, e
foi idealizado e continuado por Antônio Bento no final do século 19 .

A professora Lucia Helena conta que o nome Caifazes vem da Bíblia, em uma referência aos algozes
de Jesus Cristo

Conhecidos como fantasmas, os Caifazes eram um grupo de abolicionistas que apoiavam grandes
fugas de escravos em São Paulo. O movimento começou com o apoio de artistas como Luiz Gama, e
foi idealizado e continuado por Antônio Bento no final do século 19 .

A professora Lucia Helena conta que o nome Caifazes vem da Bíblia, em uma referência aos algozes
de Jesus Cristo

professora de Filosofia e Ciências Sociais Lucilia Laura Pinheiro Lopes conta que na época da
assinatura da lei Áurea, já no fim da escravidão no Brasil o sistema já estava falido.

— A maioria dos Estados já não tinha mais esse sistema direto de escravidão. Já não havia mais
traslados.

Mesmo com liberdade, o negro no Brasil não tinha acesso a terra, trabalho, crédito e educação. A
professora Lucilia conta que a assinatura da princesa foi uma mudança de sistemas que não
“libertou” realmente por manter a falta de direitos. Ela apontou os fatores da exclusão:

Escola: O negro não podia estudar em escolas públicas, isso estava na lei. Eles alegavam que o negro
teria doenças que podiam ser espalhadas.

Lei da Terra: A lei em que alguém que ocupa uma terra por muito tempo se torna dona dela não se
aplicava aos negros, isso impedia o acesso a terra.

Crédito: Nenhum brasileiro negro tinha acesso ao crédito, como aconteceu com migrantes anos
depois.

Além de Zumbi, uma grande personalidade na luta contra o sistema escravocrata foi Dandara

Além de Zumbi, uma grande personalidade na luta contra o sistema escravocrata foi Dandara. Ao
lado do capoeirista e líder do quilombo dos Palmares, Dandara foi uma das lideranças femininas do
movimento e participou de todos os ataques e defesas da resistência. Segundo a professora Lucilia,
essas são questões históricas que os estudantes brasileiros precisam conhecer

O Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão

O Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão. Informações do portal Brasil.gov.br
informam que o último país no mundo a abolir a escravidão foi a Mauritânia em novembro de 1981,
pelo decreto n° 81.234.
Mesmo na ilegalidade, ainda existem trabalhos que se assemelham à escravidão no País

Mesmo na ilegalidade, ainda existem trabalhos que se assemelham à escravidão no País. Um caso
descoberto recentemente foi de um chinês de 22 anos era mantido em regime de escravidão.

A polícia suspeita que a vítima tenha sido comprada por R$ 30 mil. Outro caso foi o de bolivianos
resgatados de trabalho escravo em confecções de grifes famosas, em março deste ano

Em Busca do Ouro

Sabe aquele dia em que a gente se sente explorado, com um chefe que parece o tocador de
tambor do navio do Ben-Hur, fazendo a marcação e ditando o ritmo, gritando: “remem!
remem!”? E a gente se sente infeliz, achando que ninguém no mundo sofre como nós, não é?
E quando a gente diz: “hoje, trabalhei feito um escravo!”?
Acreditem. Estamos reclamando de barriga cheia. No tempo dos escravos mesmo, os de
verdade, o couro comia literalmente. A coisa era preta. E dura. Com trocadilho.
*
Querem conhecer um exemplo? Afivelem o cinto, meninos e meninas, que o trem da História
vai acelerar. Está na hora de mais uma seção: “A História tem cada história!”
Hoje falaremos da vida dos negros escravos, no Século XVIII, em pleno ciclo do ouro, na
capitania das Minas Geraes (se escrevia assim).
*

A exploração de ouro na época poderia se dar de duas formas: pela procura com batéia -
aquela espécie de bacia de metal - na beira dos rios, onde o ouro aparecia em pepitas, ou
cavoucando os intestinos da terra, a procura de veios em túneis e cavernas. Da primeira
forma, não vamos falar, pois é por demais conhecida. É na segunda forma que descobri
novidades interessantes.
*

Nas minhas férias deste ano, quando fui correr as cidades históricas mineiras, estive em Vila
Rica, quer dizer, em Ouro Preto, onde um guia me levou para conhecer uma antiga mina do
Século XVIII, a Santa Rita. Lá, conheci um outro guia sensacional, chamado Jefferson.

Um sujeito super-mega simpático, vestido com a camisa do Internacional, embora fosse


torcedor do Atlético Mineiro, e que adorava ficar sacaneando o meu Mengão, mesmo quando
eu ameaçava colocá-lo no tronco e arrancar seus bagos com um alicate de unha cego. Mas
como sabia de História o Jefferson! Como também gosto de História (não sei se vocês já
perceberam...), fizemos instantânea camaradagem, trocando várias informações. Um cara
1000% o Jefferson!
*

Mas vamos às coisas que ele contou, misturadas com algumas que eu já sabia.
Já me chamou a atenção o fato daquele buracão não ter vigas escorando, que nem a gente vê
nas minas de filme faroeste americano. Ele me disse que os túneis eram escavados por
chineses de Macau ou de Goa (colônias portuguesas na Ásia), que conheciam a tecnologia
necessária para abrir o buraco de forma que ele não desabasse, mesmo tendo vários metros.

E o interessante é que a forma do túnel favorecia pessoas baixas, como os chineses, com
paredes laterais abauladas, levemente curvas, justas para pessoas passarem com baldes nas
mãos. (parêntesis: fui em várias igrejas em Ouro Preto, Sabará, Mariana...em que há painéis
com cenas chinesas! E até anjinhos com olhinhos puxados. A igreja de Nossa Senhora do Ó,
de Sabará, parece um templo de kung-fu, cheia de dragões, com painéis pintados em
vermelho e dourado...Tinha chinês para dedéu na antiga Minas Gerais!)
*
Outra curiosidade, segundo o Jefferson me contou: os famosos negros minas tinham este
nome por já trabalharem na busca de ouro nas minas da África do Sul e arredores. Era
importados pelos portugueses para o trabalho desse lado do Atlântico. Bem, eu tinha a
informação que os negros mina vinham da feitoria de São Jorge da Mina, no atual Gana,
capturados no Togo, no Benin e na Nigéria. Mas deixa o Jefferson falar.

Os escravos destinados à reprodução eram diametralmente diferentes dos famosos


“mandingos” (negros da tribo Mandika, da África Ocidental, conhecidos por serem altos e
fortes. Nada a ver com o atual ator de filme pornô, que se apelidou de “Mandingo”, e que tem
36cm de pemba), altamente valorizados no período escravocrata norte-americano como
reprodutores. Para trabalhar nas minas, o ideal era negros baixos, atarracados, de pernas
arqueadas, que nem caubói que anda nos filmes naquela pose “roubaram meu cavalo”, sabe
como é? Estes eram os reprodutores valorizados para gerarem novos negros que fossem
trabalhar nas minas. Se um negro, ficasse grande demais, se tivesse um físico de Mike Tyson,
sabem o que acontecia com ele? O seu dono pegava duas pedras, colocava os penduricalhos
do rapaz em uma delas e...CRASH!... Batia uma pedra na outra. Com os bagos do sujeito
entre elas. Sim, amigos. Os caras castravam os negros altos e fortes. Por que? Ora, para
reduzir a agressividade e principalmente para eles não se reproduzirem, gerando outros
negros altos e fortes, que não seriam de serventia para o trabalho nas minas.
*

Enquanto os rapazes que estão lendo isso fazem cara de dor e automaticamente colocam as
mãos nas jóias da família, vamos seguir adiante. Logo no início do túnel, havia um buraco na
parede da mina. O nome deste buraco era “bucho”. Ali, deveria ser depositado todo o ouro
apurado na escavação. Tinha um escravo que, de tempos em tempos, ia até o bucho, retirava
o conteúdo e levava para o feitor ver e encaminhar para pesagem. Ai dos escravos
cavoucadores se o bucho não estivesse cheio! Primeiro, tomavam uma coça. Depois ficavam
sem comida. E terceiro, ficavam proibidos de sair do túnel até encherem o bucho, mesmo se
estivessem com o próprio bucho vazio, sem comida. Talvez vocês já tenham ouvido a
expressão: “encheu o bucho de dinheiro”. Pois é. Vem deste tempo. Se bem que hoje, dizem:
“encheu o rabo de dinheiro”. Bem, cada um enche o que quiser e ninguém tem nada com
isso, não é mesmo?...
*
As crianças negras trabalhavam nas minas. Por conta de seu tamanho e agilidade, eles eram
fundamentais naquela exploração. Já as mulheres não podiam nem botar a cabecinha na
entrada do túnel. Diziam que dava azar e poderia haver desgraça.
*
Dentro da mina que visitei, até hoje ainda é possível encontrar poeiras na cor vermelho-ocre,
cinza-prata e dourada. Especialmente esta última, era muito usada para revestir altares e
imagens. Parece ouro, mas não é... Tem muita igreja que se diz coberta de ouro, mas que na
verdade, está coberta de pigmento dourado.
*

A expectativa de vida para estes escravos era de uns cinco, dez anos de trabalho, no máximo.
Os coitados ficavam sem ver a luz do sol, trabalhando no escuro, sob a luz de lampiões,
recebendo poeira na cara, respirando e encharcando os pulmões de pó de sílica e outros
resíduos.
Muitos morriam dentro do próprio túnel. Não são poucas as histórias de assombração
envolvendo estas minas, hoje abandonadas. Na que eu visitei, por exemplo, dizem que tem
um baita negão que aparece de vez em quando, apavorando a galera. Tem gente que diz já ter
sentido um bafo no cangote, mãos frias segurando os ombros e unhas dos pés arranhando os
calcanhares. Quer dizer, além de fantasmagórico o bicho é tarado! Vou logo avisando: eu não
vi nada, nem senti nada! Não teve fantasma quando lá estive!
Aliás, antes do Jefferson contar esta história, ele quis que eu entrasse numa das galerias da
mina, e, para que eu percebesse como era o trabalho naquela época, ele pediu para apagar a
luz dos túneis. Caraco! Fiquei sozinho naquele escuraço! Ai, que mêda! Se ele tivesse me
falado do tal negão poltergeist eu nem tinha topado ficar no escuro!
*

Em Vila Rica havia muitas destas minas. Mesmo depois que o ciclo do ouro se esgotou, os
túneis ficaram lá, como testemunhas de uma era de espoliação e exploração. Hoje quase não
tem mais daqueles túneis. Sabem o por quê? Acontece que havia passagens entre as minas e
as casas dos senhores. Em tempos modernos, os maridos saíam para o trabalho e deixavam
as esposas em casa, cuidando do lar. Algumas se sentiam solitárias e acabavam aceitando a
corte de algum “Ricardão”. Pois é. Estavam os dois lá, no bem bão, quando o marido
apontava na entrada do quintal. A cena clássica: “Ih! Meu marido!”; “Raios! E agora? O que é
que eu faço?” “Foge pelo túnel da mina. Tem um alçapão aqui.”
Quando o marido descobria que a mulher entregava a pepita para outro mineiro, no maior
assanhamento, fechava o buraco. O da mina, quero dizer.
Com isso, muitos túneis originados do Século XVIII, que poderiam servir de estudos e
pesquisas históricas, foram soterrados para evitar que continuasse a “dar ladrão” em casa.
*
Mas o que sobrou, dá para a gente ver como era sacrificada a vida dos escravos naquela
época.
Pois é, meus caros. Da próxima vez que vocês reclamarem da vida, de seus patrões, de seus
chefes, lembrem-se dos pobres negros mineiros, no Século XVIII. Dizer que trabalha que
nem um “escravo”, numa mesa, perto da janela, com ar condicionado e água gelada é mole.
Se você que me lê, tivesse nascido com um pouco mais de melanina na pele, e fosse trazido
da África, saberia o que é dar duro. Sem trocadilho.

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