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L u c i l e n e R e g i na l d o
Ro qu i na l d o Fe r r e i r a
ÁFRICA, MARGENS
E OCEANOS
PERSPECTIVAS DE HISTÓRIA SOCIAL
2021
Campinas
E D TO R A
8
Salvador, batizou uma escrava própria, uma mulher nagô que recebeu
o nome de Marcelina. Essa escrava é a pessoa lembrada nas tradições
orais como Obatossi, uma devota de Xangô que sucedeu Iyá Nassô na
liderança do terreiro.º
Francisca da Silva teve dois filhos nascidos na África que também
sofreram as agruras da escravidão na Bahia. Um deles aparentemente
veio com ela no mesmo navio negreiro, enquanto o outro chegou anos
depois. Um documento sobre este último descreve sua nação como nagô
oyó.Infere-se dai que a mãe veio do mesmo lugar, assim confirmando o
argumento de Lima sobre a origem de Iyá Nassô. Lima pontuou que, com
tantos oyôs na Bahia, era improvável que alguém usasse aquele título tão
importante sem realmente ter o direito a ele." Ainda que algumas pessoas
na Bahia fizessem reivindicações especiosas à posse de titulos africanos
como veremos adiante uma análise da vida de Francisca da Silva em
relação aos eventos em Oyo dá credibilidade ao argumento de que antes
de sua escravização ela ocupava a posição de Iyá Nassô naquele reino.'?
Na segunda metade do século XVIII, Oyó estava no auge de seu
poderio, dominando vários estados vassalos. Nesse cenário, o culto a
Xangô simbolizava a autoridade política da metrópole. A Iyá Nassô era uma
figura-chave. Detentora do terceiro mais alto posto feminino da corte,
ela dirigia os rituais relacionados a Xangô no palácio do alafin [rei]. Como
as demais mulheres com cargos no palácio, a Iyá Nassô era considerada,
simbolicamente, uma das esposas do alafin. Assim como algumas outras
pessoas com postos no topo da hierarquia, ela era obrigada a suicidar-se
depois da morte do soberano. Contudo, aparentemente houve exceções
quando o rei morria de causas não naturais. Nos últimos anos do século
XVIII,quatro monarcas sucessivos foram assassinados ou se mataram."
O primeiro foi Abiodún, cujo reinado próspero terminou quando morreu
envenenado, acontecimento provavelmente ocorrido em 1789. Sete anos
depois, seu sucessor, Aóle, foi forçado a se suicidar a saida tradicional
para reis iorubás que haviam perdido a confiança de seus conselheiros.
Com sua morte, o poderoso general Afonjá, mais tarde um importante
ator na queda do reino, declarou independência, seguido por outros
chefes. Assim iniciou-se um periodo de anarquia política, e os dois alafins
se matou. Depois disso, o reino permaneceu sem soberano até por volta
de 1802, quando o Alafin Majotu foi entronizado. Ele reinou por muitos
anos, até cerca de 1831."
As fontes não mencionam o destino reservado aos funcionários da
corte que em tempos normais teriam morrido juntamente com o alafin.
Em momentos de conflito político, por vezes eram tomadas medidas
extremas para dispersar os apoiadores de um monarca falecido. Há
evidências, de regiões vizinhas, de membros da realeza e seus aliados
que acabaram vendidos, por facções rivais, para comerciantes de
escravos na costa." É verossímil que, pelo poder que detinha no palácio,
a sacerdotisa do Xangô do alafin tenha sido alvo de escravização após
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Figura 1
Escarificações de Oyó. O tipo identificado como "variations of the abaja" é
característico da família real. Johnson, The History, p. 104.
ÁFRICA, MARGENS E OCEANOS 287
seguidos pelos egbás e ijexas. É significativo que, nas fontes sobre Serra
Leoa e o Caribe, os ketus não sejam sequer mencionados."
No Brasil, as evidências sobre subgrupos iorubas específicos são
fragmentárias. Na Bahia, o primeiro relato sobre o assunto é de Nina
Rodrigues, do final do século XIX. Ele identificou os oyóôs como os
mais numerosos, seguidos pelos ijexás e egbás a mesma configuração
vista nos dados de Serra Leoa. As evidências disponíveis sugerem que
a presença de oyôs na Bahia se estende até as primeiras décadas do
século. Um estudo recente documenta a vida de um oyô conhecido
como Rufino José Maria, que chegou à capital baiana como escravo por
volta de 1822.?? Nesse momento, já havia conterrâneos seus na cidade,
alguns deles já libertos. Além da própria Iyá Nassô, ha o caso do oyó
Antonio Yacouba Pereira dos Santos, que aparece na documentação
como liberto a partir de 1822. Certamente existiam outros, ainda
desconhecidos pela historiografia. A presença de libertos daquele
reino ainda no início dos anos 1820 revela que o desembarque de
oyôs vinha acontecendo havia algum tempo."
288 A "NAÇÃO KETU" DO CANDOMBLÉ EM CONTEXTO HISTÓRICO
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Figura 2 A região iorubá c. 1780. A cidade de Oyó-Ilê, capital do reino de Oyó, ficava
próxima ao rio Niger. As regiões de Egbá, Onko, Egbado, Anagô, Ekiti e Igbomina eram
politicamente subordinadas a Oy6. Mapa reproduzido de Law, The Oyo Empire, p. 89. Usada
com permissão da Oxford University Press.
quer dizer que nenhum ketu tenha sido vendido à escravidão atlântica.
Na segunda metade do século anterior, o reino sofreu vários ataques
do Daomé. O mais significativo foi em 1789, quando cerca de dois mil
ketus foram feitos prisioneiros. No entanto, as tradições orais daomeanas
afirmam que a maioria fora sacrificada, sendo apenas uma pequena fração
vendida como escravos." Após esse ataque, não há notícias de outra
incursão no reino antes do fim definitivo do envolvimento brasileiro no
tráfico atlântico em 1850-1851. Na década de 1860 ocorreram alguns
conflitos em Ketu, mas os problemas mais intensos tiveram lugar na
decada de 1880, resultando na destruição da capital pelo Daomé em
1886. Como se vê, esses fatos colocam em xeque o argumento de que
290 A "NAÇÃO KETU" DO CANDOMBLÉ EM CONTEXTO HISTÓRICO
resgate. Mas ela acompanhou de perto os passos do filho e não por acaso
Thomé teve como padrinho de batismo o companheiro da mãe, o liberto
nagô José Pedro Autran. O vinculo de compadrio era considerado uma
forma real de parentesco no Brasil, assim como em outras partes do
mundo católico. Esperava-se que os padrinhos agissem como mentores
para seus afilhados, e, no caso dos africanos, os ajudassem a se adaptar
ao idioma e aos costumes da nova e estranha terra. Como afilhado do
consorte da mãe, Thomé pôde manter-se próximo de sua progenitora.**
José Pedro Autran era natural de Ijexá, um reino iorubá a sudeste
de Oyô. Embora a maioria das referências históricas detalhadas sobre essa
desse orixá como patrono do terreiro e como rei de Oyó. Fonte: Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Arquivo Central, Rio de Janeiro, Terreiro da Casa
Branca. Foto F105631, Usada com permissão.
ÁFRICA, MARGENS E OCEANOS 295
"Asipa, o astuto chefe de guerra, que anda com as duas pernas como se
tivesse apenas uma".* Em iorubá, a expressão "andar com apenas uma
perna é uma metáfora para pessoas que possuem poderes sobrenaturais,
bb)
surge uma explicação para a repetição do termo gmo Afonjá nos poemas
panegíricos sobre Marcelina.
Ainda que esses textos orais pareçam oferecer pistas tentadoras
sobre a vida de Marcelina, a apreciação real de seu significado requer
tradução cuidadosa, uma tarefa que está além do escopo deste capitulo.
Como observa Karin Barber, para o forasteiro, a interpretação de
oríki apresenta grandes desafios. Alegorias enigmáticas são uma
característica fundamental dessa forma narrativa. Muitas vezes,
a interpretação dos versos depende do conhecimento de eventos,
Oyó, e não Ketu, como o seu mais provável lugar de origem. Nesse
sentido, se Marcelina era de Oyó, à semelhança de Iyá Nassô, isso
poderia explicar por que algumas tradições orais descrevem as duas
mulheres como parentes carnais.
304 A "NAÇÃO KETU" DO CANDOMBLÉ EM CONTEXTO HISTÓRICO
escrava por volta de 1835. Segundo a tradição oral, ela foi iniciada pela
africana Iyá Akalá, uma contemporânea de Iyá Nassô, também envolvida
com acomunidade religiosa da Barroquinha. Maria Julia comprou sua
liberdade em 1840 e casou-se com Francisco Nazareth de Etra, liberto
de nação jeje, natural da região de Mahi, na atual República do Benim.
Por volta de 1850-1859, o casal fundou o Gantois.*
As evidências documentais trazem a possibilidade de recuperar
nuances da vida de personagens lembrados nas tradições orais e, ao
mesmo tempo, lançam luz sobre outros individuos, cujas memórias foram
minguando até cair no esquecimento. Entre eles, o caso do liberto nagô
Bemvindo da Fonseca Galvão é de especial interesse. Como Marcelina e o
filho de Iyá Nassô chamado Thomé, Bemvindo foi batizado como escravo
em 1824, o que sugere que os três foram escravizados na mesma época.
Bemvindo comprou sua liberdade em 1836." Durante o cativeiro, ele
morou poucos quarteirões da casa de Iyá Nassô e é provável que tenha
a
seu foco na queda do antigo império não deixa de ser uma tentativa de
reacender as brasas do imaginário cultural sobre eventos que faziam
parte da experiência coletiva da geração de seus pais, marcando a
história do candomblé e do terreiro fundado por Iyá Nassô.
mas ela foi iniciada para Xangô na Casa Branca, ainda nos tempos
de Marcelina. Em 1910 Aninha fundou seu próprio terreiro, o Ilê
Axé Opô Afonjá, já mencionado, tornando-se então uma das mais
célebres defensores da nação ketu."º Para o antropólogo Luis Nicolau
Parês, casos como este explicam o aumento constante, ao longo do
século XX, do número de terreiros que reivindicam a identidade
ketu, um fenômeno que ele chama da "nagoização" do candomblé."
Contudo, as evidências apresentadas neste texto sugerem que, além
do papel indisputável da "conversão" à nação ketu por descendentes
de africanos não iorubás, outro fator decisivo foi a adesão de descen-
dentes de outros subgrupos iorubas. Ou seja, ao mesmo tempo que
descendentes de gruncis, mahis, angolas foram adotando a nação ketu
no contexto religioso, os filhos e netos de oyos, ijexás, egbas e de
outros subgrupos iorubás também o fizeram, como a história da Casa
Branca deixa claro. Em outras partes da diáspora iorubá, ocorreram
processos parecidos, como no caso de Cuba, onde, nos primeiros anos
do século XX, pessoas de várias origens étnicas, inclusive brancas, se
identificavam como lucumis por meio da iniciação na Regla de Ocha,
religião afro-cubana de matriz iorubá.!!*
Nas primeiras décadas do século XX, à medida que a população
africana da Bahia diminuia, tornando as origens étnicas das comunidades
de candomblé mais remotas no tempo, mudanças na maneira de
conceber a herança africana eram inevitáveis. Quanto aos descendentes
de iorubás, a heterogeneidade desse grupo durante o período do tráfico
de escravos foi, sem dúvida, um fator importante nesse processo.
Pessoas de diversas regiões da Iorubalândia conviviam, casando entre
si, como no caso de Iyá Nassô, que era de Oyô, mas se casou com
um ijexá, e Eliseu do Bonfim, que era egbá, mas tomou como esposa
uma mulher oy6. Alguns se casaram com pessoas fora de seu grupo
linguístico, como a fundadora do Gantois, que era egba e se casou com
um jeje da região mahi. Nesse contexto, ao longo de gerações de uniões
exogâmicas, os antecedentes étnicos se tornaram múltiplos.
Não obstante isso, pergunta-se por que, no contexto de Salvador,
a
designação ketu passou a substituir nagô, ja em uso por tanto tempo,
como o termo guarda-chuva? Parês sugere que pode ter decorrido de
um sentimento nacionalista dos iorubás em relação à reconstrução da
ÁFRICA, MARGENS E OCEANOS 311
cidade de Ketu nos anos 1890, após sua destruição pelo Daomé na década
anterior. Contudo, naquele periodo, com o fim de quase um século de
guerra, muitas outras cidades iorubás estavam sendo reocupadas ou
reconstruidas em novos locais. Como a capital de um dos mais antigos
reinos iorubás, seria Ketu um caso especialmente impressionante?"
Outra possibilidade é que Ketu tenha assumido uma importância
simbólica para o candomblé de matriz iorubá. Por sua localização
geografica, Ketu possui influências religiosas heterogêneas. Na fronteira
leste esta a Iorubalândia central, enquanto no limite ocidental está a região
dos povos de lingua gbe, conhecidos no Brasil como jejes. No que tange
à religião, ao longo do tempo, os contatos com estes últimos resultaram
Notas
pp. 175-180.
ÁFRICA, MARGENS E OCEANOS 315
17 Law. The Oyo Empire, pp. 245-289; Reis & Mamagonian. "Nagô and Mina";
David Eltis. "The Diaspora of Yoruba Speakers, 1650-1865: Dimensions and
Implications". In: Toyin Falola & Matt Childs (org.). The Yoruba Diaspora in
the Atlantic World. Bloomington, Indiana University Press, 2004, pp. 17-39;
Biobaku. The Egba, pp. 13-26.
18 Estimativas minhas, baseadas em análise de registros de batismo em duas
freguesias de Salvador. Arquivo da Cúria Municipal de Salvador (ACMS),
Freguesia da Conceição da Praia, Batismos 1815-1824; Batismos 1834-1844;
Freguesia da Sé, Batismos 1829-1861.
19 Henry B. Lovejoy. Prieto: Yorúbá Kingship in Colonial Cuba during the Age of
Revolutions. Chapel Hill, University of North Carolina University Press,
2018, pp. 103-104; Eltis. "The Diaspora", 21, 31-34. Qta era a cidade mais
importante do território Awori, outro subgrupo iorubá.
20 David H. Brown. Santeria Enthroned: Art, Ritual, and Innovation in an Afro-Cuban
Religion. Chicago, University of Chicago Press, 2003, pp. 63-65, 191-195;
Miguel Willie Ramos. "Lucumi (Yoruba) Culture in Cuba: a Reevaluation
(1830s-1940s)". Tese de doutorado. Miami, Florida International University,
2013, pp. 143, 217, 236 e 329. Um exemplo é o oyó Adechina No Remigio,
batizado em 1833, lembrado em tradições orais como o primeiro artesão na
ilha que fabricava tambores de batá, um tipo de tambor específico ao culto
a Xangô entre os iorubas. Outra ialorixa lendária, Oba Teró, teria sido
ção, ver Reis. Rebelião; sobre Francisca da Silva e seus filhos, ver pp. 466-467.
42 Verger. Orixás, p. 28; idem. Os libertos, p. 89; Lima. "Ainda sobre a nação de
Queto", p. 77; Castillo & Parês. "Marcelina da Silva e seu mundo", p. 124;
Parês & Castillo. "José Pedro Autran", pp. 23-25.
43 Peel, "The Cultural Work"; Olatunji Ojo. "Heepa (Hail) Origa: The Orisa
Factor in the Birth of Yoruba Identity". Journal of Religion in Africa, 39, 2009,
pp. 30-59.
ÁFRICA, MARGENS E OCEANOS 319
58 Mary Ann Barber. Oshielle, or, Village Life in the Yoruba Country. London, James
Nisbet, 1858, pp. 36, 66-71; Schiltz. "Yoruba Thunder Deities", pp. 84-86.
59 O assentamento de Oxóssi é localizado na entrada do templo de Qbatálá, o
que evidencia seu papel como protetor. Willys Santos. Comunicação pessoal,
março de 2018.
15 de
p. 63; Para Trinidad, ver Warner-Lewis. Guinea's Other Suns, pp. 81, 84-85
e 134. Na Casa Branca, outro nome para Oxóssi é Onilê, "dono da terra".
Para Silveira, isso seria evidência de que Oxóssi fosse o primeiro dos orixás a
ser cultuado na Bahia. No entanto, entre os iorubás, onilé é utilizado para se
referir a várias divindades, entre elas Erinle. A associação do termo com Erinle
explicação mais provável para o uso encontrado na Casa Branca.
é a
64 Entrevista com Areelson Conceição Chagas, Elemaxô da Casa Branca, 21
de outubro de 2019. Segundo Mestre Didi, trineto de Marcelina Obatossi,
o culto a Oxóssi teria sido estabelecido na Barroquinha por uma certa Iyá
Lussô Danadana, natural de Ketu e "mãe" de Iyá Nassô, provavelmente no
sentido espiritual. Aparentemente seguindo a ideia de Didi, Verger também
cita Iyá Lussô como uma das fundadoras do prototerreiro. Contudo, numa
vertente da tradição oral colhida no Gantois, Iyá Nassô é descrita como "mãe
de Oxóssi", o que sugere que o culto fosse trazido por ela. Cf. Deoscóredes
ÁFRICA, MARGENS E OCEANOS 321
M. dos Santos. West African Sacred Art and Rituals in Brazil. Ibadan, Nigeria,
Institute of African Studies, 1967, p. 83; Verger. Orixás, p. 28. Melville J.
& Frances S. Herskovits papers, Schomburg Center for Research in Black
Culture, Brazil field notes, 1941-1942, Bahia, Box 19, Folder 10, Book E,
Informants. Entrevista com Maria José, 21 de março de 1942, p. 60. Para uma
análise crítica das referências a Iyá Lussô na literatura sobre o candomblé, ver
Silveira. O candomblé da Barroquinha, pp. 397-399.
65 Silveira. O candomblé da Barroquinha, p. 385.
66 Idem, p. 386; Johnson. The History, pp. 8, 15-16 e 169; Law. The Oyo Empire, p.
83; Smith. Kingdoms, pp. 71-72. Em outro sentido, mais genérico, o termo popo
refere-se aos vários povos do tronco linguístico conhecido como adja ou aja,
no sul da atual República do Benim: Jacques Bertho. "La parenté des yoruba
aux peuplades de Dahomey et Togo". Africa, 19 (2), 1949, pp. 121-132, Para
uma análise das possíveis etimologias do termo, ver Robin Law. "Problems of
Plagiarism, Harmonization and Misunderstanding in Contemporary European
Sources: Early (Pre-1680s) Sources for the "Slave Coast" of West Africa", In:
Beatrix Heintze & Adam Jones (org.). European Sources for Sub-Saharan Africa
before 1900: Use and Abuse. Stuttgart, Frobenius Institut, 1987, pp. 347-349.
67 Entrevista por telefone com Samuel Awolere, natural de Ipapó, 27 de novembro
de 2019. Qmosanda é mencionado rapidamente por Johnson, num trecho sobre
o suicídio de Xangô. Junto com outros aliados leais de Xangô, Omosanda teria
se matado depois da morte do primo. Na versão de Johnson, "Papo" [i.e., Ipapo]
foi o lugar onde Qmosanda tirou a vida. Johnson. The History, p. 153.
68 Castillo. "La famille Pereira", p. 58; "Oriki de Yacouba Pereira of Kpakpo
[lpapóp". Sou grata à familia Pereira de Porto-Novo, especialmente aos finados
Maroufo e Afoussa Pereira, por compartilhar a transcrição desse panegírico
familiar.
69 Sobre o testamento de Marcelina, ver Maria Inês Cortes de Oliveira. O liberto:
o seu mundo e os
Corrupio, 1988, pp. 71-72; Verger. Os libertos,
outros. Salvador,
pp. 86-89; Castillo & Parés. "Marcelina da Silva e seu mundo", pp. 113-151,
70 Santos. "Depoimento de Deoscóredes M. dos Santos (Mestre Didi)". In:
Haroldo Costa (org.). Fala crioulo: O que é ser negro no Brasil. Rio de Janeiro,
Record, 2009, p. 232. Muito conhecido no âmbito do candomblé, Deoscóredes
dos Santos é autor de diversos livros e textos sobre a cultura e a religião afro-
brasileiras, alguns em coautoria com a esposa, a antropóloga Juana Elbein.
Para uma análise de sua obra, ver Félix Ayoh' Omidire. Yorubaianidade:
Oralitura e matriz epistêmica nagô na construção de uma identidade afro-cultural nas
Américas. Salvador, Segundo Selo, no prelo.
A Santos. "Depoimento", pp. 233-234. A grafia das palavras do oríki é do autor.
72 Idem, p. 234.
73 Idem, pp. 233-236; Deoscóredes M. dos Santos. "West African Sacred Art and
Rituals in Brazil". Ibadan, Nigéria, Institute of African Studies, 1967, pp. 3
322 A "NAÇÃO KETU" DO CANDOMBLÉ EM CONTEXTO HISTÓRICO
77-78, 132 e 198; José Jorge de Carvalho & Rita Segata. The Shango Cult
in Recife. Caracas, Fundación de Etnomusicologia y Folklore, 1992, p. 29;
Henry John Drewal & John Mason. "Ogun and Body/Mind Potentiality". In:
Sandra T. Barnes (org.). Africa's Ogun: Old World and New. Bloomington, Indiana
University Press, 1997, pp. 235-260 e 350, nota 8; Kristin Mann. Slavery and
Bloomington, Indiana University
the Birth ofan African City: Lagos, 1760-1900.
pp. 320, 326. Por outro lado, uma versão alternativa do primeiro poema se
refere a ela como omo Xangô em vez de omo Afonjá: Santos & Santos, Sangó, p. 67.
83 Johnson. The History, p. 83; Deoscóredes M. dos Santos & Juana Elbein dos
Santos. "A cultura nagô no Brasil: memória e continuidade". Revista USP, 18,
1993, p. 50; entrevista com o Alagbaã Genaldo Novaes (trineto de Marcos
Teodoro Pimentel), 10 de fevereiro de 2018.
ÁFRICA, MARGENS E OCEANOS 323
84 Law. The Oyó Empire, pp. 245-248, 255-260. Segundo Johnson, esses eventos
teriam acontecido logo após a morte do Alafin Aóle.
85 Johnson. The History, p. 75; "Emi ki é", linhas 32-33. In: Santos & Santos.
Sángô, p. 40. A palavra ará tem vários significados em iorubá, entre eles
"parente". Assim, aráloko 1 'aya pode ser lido como "parente de loko ['aya", ou
seja, "parente de Afonjá".
86 Johnson. The History, p. 198.
87 Barber. "Oriki", p. 315.
88 Para relatos de parentesco, ver Vivaldo da Costa Lima. "O candomblé da Bahia
na década de 1930". Estudos Avançados, 18 (52), 2004, p. 211; idem. "Ainda sobre
a nação de Queto", p. 71; Verger. Os libertos, p. 89.
89 Lisa Earl Castillo. "Bamboxê Obitikô e a expansão do culto aos orixás (seculo
XIX): uma rede religiosa afro-atlântica". Tempo, 22 (39), 2016, pp. 128-129,
131 e 144. A família Bamgbose Martins, que reside no bairro brasileiro de
Lagos, descende de Bamboxê Obitikô. O ramo brasileiro descende de um
neto de Bamboxê, Felisberto Sowzer. Nascido em Lagos em 1877, Felisberto
se estabeleceu no Brasil por volta de 1900.
90 Lisa Earl Castillo. "O terreiro do Gantois: redes sociais e etnografia histórica,
século XIX". Revista de História, 176. São Paulo, USP, 2017, p. 47; idem.
"Bamboxê", p. 129.
91 Idem. "Entre memória, mito e história: viajantes transatlânticos da Casa
Branca". In: João José Reis & Elciene Azevedo (org.). Escravidão e suas sombras.
Salvador, Edufba, 2012, pp. 83-89.
92 Jose Sant'anna. Terreiros de Egungun: um culto ancestral ajro-brasileiro. Salvador,
Edufba, 2015, pp. 155 e 180; Castillo. "Entre memória", pp. 108-109; APB,
Seção Republicano. Livro de saída de passageiros, vol. 53 (1877-1881); Wellington
Castellucci. "A árvore da liberdade nagô: Marcos Theodoro Pimentel e sua
família entre a escravidão e o pós-Abolição, Itaparica, 1834-1968". Revista
Brasileira de História, 38 (78), 2018, pp. 211-233.
93 Castillo, "Entre memoria", pp. 67-69; Juana Elbein dos Santos & Deoscóredes
M. dos Santos. "Ancestor worship in Bahia: the Egun-cult". Journa 1 de la Société
des Américanistes,58, 1969, p. 84; Felix Ayoh Omidire & Alcione Amos. "O
babalaô fala: a autobiografia de Martiniano Eliseu do Bomfim". Afro-Ásia, 46,
2012, pp. 233, 238, 240-241. Sobre o título Aredjé, ver Alfred Kpazodji Glélé
& Gabriel Agossu Houndjrêbo Alapini. "Herança religiosa e espiritual em
África: crenças, práticas, valores culturais e morais, valores de civilização e
de vida social", Proceedings of the Meeting of Experts on Survivals of African Religious
Traditions in the Caribbean and Latin America. São Luis do Maranhão, 24-28 jun.
1985. Brasília, Unesco Archives, 1986, p. 344. Disponível em <https: //
unesdoc.unesco.org/ark: /48223/pf0000071971.por>.
94 Castillo. "Entre memória", pp. 90-93, 95-98; Verger, Orixás, p. 29. O nome
iorubá Fásesin significa "cultuar Ifá traz coisas boas na vida". Sobre Maria Julia
da Conceição, ver Castillo. "O terreiro do Gantois", pp. 9-13, 47-51.
324 A "NAÇÃO KETU" DO CANDOMBLÉ EM CONTEXTO HISTÓRICO
108 Bastide. The African Religions, pp. 191-194, 204-205, 207; Dantas. Vovó nagô,
pp. 37-39, 117, 121-124, 146; Vilson Caetano de Sousa. Nagô: a nação de
ÁFRICA, MARGENS E OCEANOS 325
ancestrais itinerantes. Salvador, Editora FIB, 2005, pp. 52-54; Parés. "The
Nagoization", p. 199.
109 Benedict Anderson. Imagined Communities: Reflections on the Origin and Spread
of Nationalism. London, Verso, 1983.
110 Veja, por exemplo, Lima. "O conceito", p. 76; Parés. "The Nagoization",
p. 186; Butler. "Africa", p. 142.
111 Parês. "The Nagoization".
112 Brown. "Santeria", p. 69; Palmié. "O trabalho cultural", p. 86.
113 Parés. "O mundo atlântico", p. 179; Crowther. 4 Grammar, HI; Johnson.
The History, p. 7. Outra cidade reconstruída na década de 1890 foi ktilé,
mencionada acima em conexão com Airá Intile. Schiltz. "Yoruba Thunder
Deities", p. 90.
114 Luis Nicolau Parés. O rei, o pai e a morte. São Paulo, Companhia das Letras,
2016, cap. 3.
115 Parés. Aformação, pp. 145-146.
116 Verger. "A contribuição especial", p. 115. Talvez seja significativo que muitos
dos dados que Verger colheu na África sobre orixás que no candomblé são
considerados de origem jeje a exemplo de Oxumarê, Nanã Buruku e