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palmares.phtml

ZUMBI DOS PALMARES: HÁ 324 ANOS


MORRIA O MAIOR SÍMBOLO DA LUTA
ABOLICIONISTA DO BRASIL
Homenageado com o Dia da Consciência negra, Zumbi foi o
maior e último líder quilombola do Brasil. Sua biografia continua
rodeada de controvérsias

REINALDO LOPES PUBLICADO EM 20/11/2019, ÀS 11H00

Homenageado com o Dia da Consciência negra, Zumbi foi o maior


e último líder quilombola do Brasil. Sua biografia continua
rodeada de controvérsias

REINALDO LOPES PUBLICADO EM 20/11/2019, ÀS 11H00


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Zumbi dos Palmares, por Antônio Parreiras


Zumbi dos Palmares, por Antônio Parreiras - Wikimedia Commons
Em fevereiro de 1685, uma carta quase inacreditável cruzou o
Atlântico e chegou a Pernambuco. Estava assinada simplesmente
Rei.

O texto dizia:

Eu El-Rei faço saber a vós Capitão Zumbi dos Palmares que hei por
bem perdoar-vos de todos os excessos que haveis praticado, e que
assim o faço por entender que vossa rebeldia teve razão nas
maldades praticadas por alguns maus senhores em desobediência
às minhas reais ordens. Convido-vos a assistir em qualquer
estância que vos convier, com vossa mulher e vossos filhos, e
todos os vossos capitães, livres de qualquer cativeiro ou sujeição,
como meus leais e fiéis súditos, sob minha real proteção.
Dom Pedro II, Rei de Portugal

Mas não sabemos se o “capitão” aceitou o convite. Na verdade,


não sabemos nem se a carta chegou um dia a ser entregue. Mas
sabemos que o destinatário, tratado nessa linguagem cheia de
honoríficos e rapapés, era mesmo o guerreiro Zumbi, um opositor
quase mítico do domínio português no Brasil.

Se ele já era um mito no século 17, os debates e pesquisas


tampouco revelaram muito sobre o verdadeiro Zumbi. Isso se
deve em boa parte ao fato de que os relatos acerca de sua vida
foram, sem exceção, feitos por seus inimigos: os colonos e
portugueses que se puseram a combatê-lo, a soldo de senhores
escravistas.

A incerteza sobre a vida do líder é tão brutal que se estende até a


forma do nome do líder palmarino – o certo é Zumbi ou Zambi? A
primeira forma é mais comum nos relatos lusos, mas isso não quer
dizer que seja a certa.

VERSÃO INIMIGA

Sabermos tão pouco dele não deixa de ser, de certa forma,


adequado. Em línguas bantu, nzambi ou nzombi querem dizer algo
como espírito ou fantasma. No Congo, Nzambi a Mpgungu é o
nome do deus - ou espírito - máximo.
Os zumbis do cinema têm a ver com isso: no Haiti, há a ideia de
que um bokor, um feiticeiro, possa aprisionar a alma de alguém
em seu próprio corpo ressuscitado - e também, na versão que não
foi parar em Hollywood, numa garrafa: um zumbi astral.

E a imagem de Zumbi é um fantasma criado por seus inimigos.


Para valorizar o próprio esforço ou para justificar os fracassos em
capturá-lo, os primeiros relatos acerca dele, feitos em sua maioria
por militares portugueses, ajudaram a criar o personagem que
acabaria se tornando um fundador da identidade dos
descendentes de africanos no Brasil.

Um homem forte, orgulhoso, inconformado com sua condição


social, que resolveu enfrentar seus algozes e libertar seu povo.
Mas tampouco essa imagem de um Zumbi revolucionário se
sustenta em fatos. Sua biografia está envolta em diversas dúvidas.
Entre as mais elementares está sua origem.

Era ele um chefe africano trazido à força para ser escravo? Ou


teria nascido no Brasil? Ou até mesmo: teria escravos ele próprio?
Sobre uma coisa, pelo menos, os especialistas concordam: ele
viveu e morreu em Palmares, um quilombo – ou seja, um reduto
de ex-escravos e seus descendentes.

VIDA EM PALMARES

Os primeiros relatos sobre o quilombo de Palmares são


desencontrados e datam do início do século 17. Eles indicam que
ele surgiu em fins do século 16, no sul da então capitania de
Pernambuco. Fugindo provavelmente de um engenho de cana
nordestino, um grupo de escravos africanos deixou o litoral e foi
para o interior – tentando evitar caçadores de recompensa e
soldados que, a mando dos senhores de engenho, capturavam e
matavam fugitivos.

Em Palmares, rituais e costumes africanos foram mantidos /


Crédito: Acervo AH

A jornada a pé, que pode ter durado até dois anos, levou os ex-
escravos para a serra da Barriga, região conhecida genericamente
como os Palmares: um pedaço de mata Atlântica coberto por
palmeiras, encravado no meio da zona da mata (atualmente
território de Alagoas). Aquelas terras tinham fama de ser férteis,
mas a combinação entre mata fechada e terreno íngreme fazia
dela uma fortaleza natural.

Se os criadores do quilombo realmente vieram de um engenho, a


grande maioria deveria ser homem, pois as fazendas abrigavam
poucas mulheres. A proporção de escravos nascidos no Brasil
também devia ser muito baixa, uma vez que era raro que africanos
conseguissem viver o suficiente para ter sua própria família. “Tudo
indica que africanos do complexo angolano (região que
englobava, além de Angola, também parte do atual Congo) teriam
tido um papel determinante em Palmares”, afirma Mário Maestri
historiador brasileiro.

Há, por exemplo, a tradição de que eles chamavam seu reduto de


Angola Janga, ou Angola Pequena. Se essa ideia estiver correta, o
povo original de Palmares era composto, em grande parte, por
gente do grupo linguístico bantu – um dos primeiros na África a
desenvolver a agricultura, a criação de animais e o uso do ferro,
tendo se expandido por boa parte de seu continente.

SOCIEDADE ALTERNATIVA

Já nos primeiros anos de organização, o aglomerado de fugitivos


se tornou uma pedra no sapato dos portugueses. Os habitantes
de Palmares, periodicamente, invadiam engenhos para capturar
escravos, roubar comida e armas e raptar mulheres, artigo raro no
quilombo em formação.
Sim, hoje é consenso que havia escravos em Palmares - quem era
pego em incursões continuava em condição servil.

Mas algo - outro consenso - precisa ficar bem claro aqui: uma coisa
era ser propriedade de um senhor português e ser forçado a
trabalhar até a morte. Outra era viver entre negros com uma forte
possibilidade de alforria - bastava atuar em outra incursão.

Em 1602, o então governador geral do Brasil, Diogo Botelho,


mandou uma expedição contra eles – a primeira de 40, ou até
mais de 60, de acordo com alguns historiadores.

Depois de destruir cabanas e fazer alguns prisioneiros, os


portugueses pensaram ter acabado com a vila. Mas, sempre que
uma tropa aparecia, os palmarinos migravam para o mato,
deixando para trás roças e cabanas que eram destruídas e
queimadas. Dias depois, outras eram erguidas.

Esse modo de vida limitava o crescimento do povoado. Mas, em


1630, a sorte sorriu para Palmares. Foi quando os holandeses
desembarcaram em Pernambuco, na tentativa de tirar os lucros
do açúcar das mãos de portugueses e espanhóis, então
governados pelo mesmo rei. A invasão colocou em polvorosa o
Nordeste. Com a vitória inicial dos holandeses, em 1645, parte dos
luso-brasileiros manteve uma espécie de guerrilha.
A vida no Quilombo dos Palmares / Crédito: Wikimedia Commons
Donos de engenho alistaram seus escravos para a luta, o que
facilitava as fugas. Em meio à instabilidade, Palmares cresceu,
recebeu milhares de novos moradores e, quando enfim os
holandeses foram expulsos, em 1654, a vila tinha virado uma
potência formada por vários aglomerados populacionais.

Os dados sobre as dimensões de Palmares são desencontrados.


Documentos coloniais falam em 30 mil pessoas, número
provavelmente superestimado. O crescimento demográfico deu-
se principalmente pela chegada de novos moradores. Para
alimentar a população crescente, a economia local era composta
por uma mistura de caça, coleta e agricultura, em que se
plantavam gêneros como mandioca, batata-doce e feijão.

UM PAÍS DENTRO DO PAÍS


É certo que também havia comércio com os vizinhos. “A ideia de
que Palmares era um refúgio isolado no mato pode até ser
verdadeira para os primeiros anos de assentamento. No entanto,
após a metade do século, o relacionamento entre os negros e seus
vizinhos certamente já evoluíra para um intenso intercâmbio com
índios e até com brancos”, diz Flávio Gomes, pesquisador do
Departamento de História da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ).

A presença de brancos em Palmares foi alvo de discussão, mas


sabe-se que isso ocorreu depois em quilombos de outras regiões.
Apesar da suposta hostilidade em relação aos brancos, há indícios
de que criadores de gado levavam seus rebanhos para pastar na
região de Palmares e mantinham comércio com os quilombolas, a
ponto de serem chamados, com desdém, de colonos dos negros.

Em relação aos índios, o convívio parece ser mais evidente.


Escavações arqueológicas têm encontrado cerâmica indígena,
provavelmente contemporânea ao quilombo. “É tentador fazer
essa associação e dizer que havia índios dentro do quilombo, mas
pode se tratar também de algum tipo de comércio”, diz o
arqueólogo americano Scott Allen, da Universidade Federal de
Alagoas.

Já segundo Pedro Paulo Funari, historiador e arqueólogo que


integrou a primeira equipe a fazer sondagens no local, a cerâmica
indica que havia índias em Palmares: “A produção de cerâmica
estava ligada às atribuições das mulheres. A presença desse
material em Palmares pode querer dizer que os ex-escravos
tinham esposas indígenas”.

Coisa perfeitamente consistente com a escassez de mulheres


negras por lá. De qualquer modo, a mestiçagem estava na ponta
da língua dos palmarinos. Seu idioma parecia ter uma base
africana misturada a palavras e estruturas tiradas do português e
do tupi – os colonos precisavam de intérpretes para falar com eles.

A consolidação do quilombo culminou na criação de uma espécie


de confederação entre os vários povoados de Palmares. A
população local escolheu como chefe um guerreiro conhecido
como Ganga-Zumba, que governava a partir de Macaco, a
principal vila do refúgio. Não se sabe se Ganga-Zumba seria nome
próprio ou um título dado ao líder. “A palavra ganga significava
‘poder’, ou ‘sacerdote’ em várias sociedades da África central”, diz
Flávio Gomes.

GUERRA E PAZ

Para a maioria dos especialistas, foi nessa época de relativa


calmaria que Zumbi teria nascido em Palmares. Um dos motivos
para sustentar que o líder nasceu ali mesmo e não chegou depois,
fugindo da escravidão, é o fato de que ele seria sobrinho de
Ganga-Zumba.

Porém, o traço familiar é também incerto. Para Mário Maestri, a


designação de sobrinho não deve ser entendida literalmente. “A
trama de parentescos deve ter sido sobretudo simbólica. As
condições históricas não teriam permitido a formação de um clã
familiar que dominasse politicamente Palmares”, diz Maestri.
Assim, dizer que Zumbi era sobrinho de Ganga-Zumba equivaleria
a afirmar que ele era um protegido do chefe.

A origem de Zumbi permanece controversa. Ter nascido ou não


em Palmares determina se ele foi ou não escravo. E caso ele tenha
nascido livre em Palmares, onde, como diz o professor Funari, a
miscigenação entre negros e índios era comum, não se pode
afastar a chance de que ele próprio fosse mestiço de pai africano
e mãe índia. Dá para imaginar o tamanho da polêmica em que
estamos nos metendo aqui? “Não se pode dizer o quanto essa
possibilidade é confiável. Mas que é possível, é”, diz Funari.

Busto de Zumbi, no Rio de Janeiro / Crédito: Wikimedia Commons


Se a origem de Zumbi é incerta, a infância é definitivamente
lendária. Décio Freitas, historiador gaúcho, escreveu um texto
clássico sobre Palmares, em que dizia ter descoberto um relato da
captura de Zumbi ainda bebê por uma expedição portuguesa ao
local.

Ele teria sido vendido ao padre Antônio Melo, que o teria criado
para ser coroinha. Aos 15 anos, no entanto, Zumbi teria fugido.
“Essa é uma versão fantasiosa, mas não impossível”, diz Flávio
Gomes. “Décio jamais mostrou o documento em que apoiava essa
biografia de Zumbi. E, além disso, ele ficou conhecido por
romancear sistematicamente sua produção”, diz Maestri.

Exceto pelo texto de Décio, não há outro relato sobre a juventude


de Zumbi. Ele deve ter crescido num período anterior à guerra que
os portugueses moveram contra o quilombo, impulsionados pela
falta de mão de obra nos engenhos. Nessa época, a vida social em
Palmares era um arremedo daquilo que seus habitantes
conheciam dos antepassados na África, talvez com elementos
indígenas e até portugueses incorporados ao seu cotidiano.

Seus líderes, a exemplo de Ganga-Zumba, deviam ser guerreiros e


guias religiosos. Não sabemos se Zumbi se casou ou teve filhos
(embora a carta do rei de Portugal, reproduzida no início desta
reportagem, sugira isso). Zumbi é geralmente descrito como
guerreiro porque os relatos sobre ele aparecem num período de
guerra. Mas não é difícil imaginar que, em tempos de paz, Zumbi
plantasse mandioca e caçasse porcos-do-mato.

GENERAL ZUMBI
Foi num relatório do comando militar da capitania de
Pernambuco, escrito por volta de 1670, que o nome Zumbi
aparece citado pela primeira vez. O documento atribui a ele o
sucesso dos ex-escravos fugidos nos combates com colonos nas
cercanias da serra da Barriga. Zumbi seria o homem de confiança
do chefe Ganga-Zumba, uma espécie de general dos exércitos de
Palmares.

Outros documentos da mesma época destacam a capacidade


militar de Zumbi. Um deles diz que, ao enfrentar uma expedição
liderada por Manuel Lopes Galvão, Zumbi levou um tiro na perna
que o teria deixado manco, mas não o impedira de continuar
lutando.

Sob ataques constantes, Palmares se tornou uma fortaleza, com


diversos povoados cercados por muralhas reforçadas de pau a
pique. Na encosta que levava até a vila de Macaco, os quilombolas
cavavam buracos, colocavam estacas no fundo e as cobriam com
folhas secas. Isso era tão comum que o local entrou para os mapas
dos soldados coloniais com o apelido de Outeiro dos Mundéus
(mundéu, ou mundé, é justamente o nome dessa armadilha).

E os palmarinos também partiam para a ofensiva. “Diversas


expedições quilombolas atacaram, entre 1660 e 1670, os
povoados de Serinhaém, Porto Calvo, Penedo e Alagoas,
principalmente para capturar armas e munição, mas também para
saquear fazendas e estabelecimentos comerciais”, escreveu Décio
Freitas em seu Palmares – A Guerra dos Escravos.
Por volta de 1675, as comunidades atacadas financiaram uma
grande expedição militar sob o comando de Fernão Lopes
Carrilho, que já tinha enfrentado e vencido índios e escravos
rebeldes em outros cantos do Nordeste. Ele aprisionou ou matou
vários dos principais chefes do quilombo, feriu o próprio Ganga-
Zumba e quase capturou a mãe do líder. Carrilho chegou a
anunciar que tinha destruído Palmares de vez. Não era verdade,
mas, pela primeira vez em décadas, a situação forçou Ganga-
Zumba a negociar.

Em 1678, uma missão enviada pelo rei de Palmares, como foi


anunciado, adentrou o Recife. Um cronista escreveu: “Notável foi
o alvoroço que causou a vista daqueles bárbaros. Porque
entraram com seus arcos e flechas, e uma arma de fogo,
corpulentos e valorosos todos”.

O acordo de paz previa que os nascidos em Palmares ficariam


livres, ganhariam terra para cultivar, direito de comercializar com
seus vizinhos e a condição de vassalos de Portugal. Parecia ótimo,
não fosse o fato de que os escravos libertados (e talvez o próprio
Zumbi, de acordo com aqueles que defendem a tese de ele nasceu
escravo e fugiu para Palmares) teriam de voltar para seus
senhores.

Ganga-Zumba decidiu aceitar as cláusulas e se mudou com


algumas centenas de seguidores e seu irmão Gana-Zona para a
localidade de Cucaú. Zumbi se recusou a ir e declarou ser o novo
líder de Palmares (Ganga-Zumba morreu logo depois e as histórias
da época dão conta de que Zumbi teria mandado envenená-lo).
Seguiu-se uma guerra entre partidários de Zumbi e de Gana-Zona
que levou à intervenção dos portugueses e à extinção do
“quilombo livre” de Cucaú.

SEM ACORDO

As autoridades coloniais e o próprio rei de Portugal tentaram


repetidas vezes oferecer ao novo chefe um acordo semelhante ao
que fizeram com Ganga-Zumba, mas Zumbi nunca aceitou. No
início da década de 1690, o bandeirante Domingos Jorge Velho foi
chamado e recebeu a missão de liderar uma expedição para caçar
e exterminar de vez os focos de resistência em Palmares.

À frente de mateiros experientes e conhecidos pelos métodos


particularmente sanguinários, Jorge Velho não escapou de tomar
algumas sovas dos guerreiros de Zumbi. Em 1692, num combate
de três semanas, sua tropa de cerca de mil homens foi reduzida
pela metade, antes de fugir e se perder no mato. Dois anos depois,
Jorge Velho voltou. Tinha sob seu comando um incrível exército
para a época: 9 mil homens – e alguns canhões.

A resistência de Palmares dependia de manter a artilharia inimiga


longe das muralhas de Macaco. Depois de um cerco que durou
semanas, no entanto, Jorge Velho conseguiu se aproximar com
seus canhões. Zumbi liderou pessoalmente um ataque
desesperado para evitar a destruição das barreiras, mas falhou. Os
bandeirantes mataram centenas de guerreiros e invadiram a
capital palmarina. Zumbi fugiu.
Estátua de Zumbi dos Palmares / Crédito: Wikimedia Commons
O último ano da vida do líder foi marcado por ataques esparsos,
ao lado de um punhado de companheiros, que tentavam manter
viva a rebelião escrava. Foi por meio de um membro desse grupo,
Antônio Soares, que os homens de Jorge Velho chegaram a Zumbi.
Capturado e torturado, Soares aceitou levar os bandeirantes em
sigilo até o esconderijo rebelde.
Lá chegando, ele mesmo teria matado Zumbi com uma traiçoeira
punhalada. De posse do corpo do líder, os mercenários
arrancaram-lhe um dos olhos e cortaram-lhe a mão direita. O
pênis de Zumbi foi decepado e enfiado em sua própria boca. Já a
cabeça foi salgada e levada para Recife, onde apodreceu em praça
pública.

A LENDA

Curiosamente, a história acima sobre a morte do líder


permaneceu esquecida durante muito tempo. Tudo em nome de
uma versão mais, digamos, épica: “Até o início dos anos 1960, a
historiografia dizia que Zumbi e outros tantos em Palmares
tinham cometido suicídio em 1694, ao se atirar dos penhascos da
serra da Barriga”, diz Flávio Gomes. Para reforçar ainda mais a
aura lendária, a narrativa do suicídio coletivo tem paralelos com o
que teriam feito os judeus que defendiam a fortaleza de Massada,
no século 1 (diante da iminente derrota, eles preferiram se jogar
das montanhas a cair nas mãos dos invasores romanos).

Essa visão pode, portanto, ter sido forjada por um cronista


português cheio de histórias da Antiguidade na cabeça. O fundo
de verdade por trás disso é que Jorge Velho precisou construir
uma contramuralha, na diagonal em relação ao muro da vila de
Macaco, de forma a poder levar seus canhões perto o suficiente
para arrasar as defesas de Zumbi.

A obra avançou bastante, mas ainda havia uma pequena brecha


entre ela e um desfiladeiro quando os palmarinos a descobriram.
Zumbi, então, ordenou o ataque através da passagem que
restava. Os guerreiros de Palmares foram repelidos e cerca de 500
deles acabaram rolando barranco abaixo, o que parece ter sido
interpretado, erroneamente, como suicídio.

Mas de fato há relatos de que, quando os soldados coloniais


entraram em Macaco e nos demais povoados, algumas mães
palmarinas mataram seus filhos e a si próprias para evitar a
escravidão.

Conheça mais sobre a história de Zumbi dos Palmares através


dessas obras:

Um Grito de Liberdade. A Saga de Zumbi dos Palmares, Álvaro


Cardoso Gomes (2015)

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Zumbi dos Palmares - herói negro da nova consciência nacional,


Eduardo Fonseca Júnior (2003)

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Zumbi dos Palmares, Renato Lima e Graça Lima (2009)

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