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Os Magons e 0 Movimento Republicano (1870 - 1910)" Alexandre Mansur Barata ** Abstract Toe purpuse of this article 1s 19 apprehend and to rescue tbe activity of Brazilian Pree-Masonry between 1870 and 1910, ween happened intense debates searching to build a now national sdeniity. 1 was looking for civilization and progress, expressed in defense of conscience freedom, abolition of slave work and the republic. The Brazilian Pree-Masonry, with its pecultar organization, Knew, at that time, an important growing of fis activities around all the couniry. The sociability proporcionated hy Free- ‘Masonry lodges, putting 1ogetber expressive sectors of the society, ended up to transform them in important spread centers discussing on the republican project Key words: Free-Masonry; Republic; Liberalism Resumo SE ‘Este artigo apreende e resgata a atuagao da Maconaria brasileira enire 1870 e 1910, perfodo marcado pelos intensos debates que procuravam estruturar uma nova identidade nacional. Suscava-se a civilizagdo 0 pro~ reso, encarnados na defesa da liberdade de consciéncia, na aboligdo do trabalbo escravo e na Repilblica. Marcada por uma estrutura organizacional peculiar, a Maconaria brasileira conbeceu, rio periodo, um smportante Ccrescimento das suas atividades em todo 0 territorio nacional. Aglutinando selores expressives da sociedade, a “sociabilidade” proporcionada pelas Iojas magéntcas acabou por transformd-las em importantes contros de di- vulgagdo e discussdo do projeto republicano. Palavras-chave: Maconaria; Republica; Liberalismo "Para c6lera-que-espuma da sogra ("Cachorr2o! Coitada da minha fitha..."), repugnancia das cunhadas (‘Pobre de nossa irma, casada com bode pre- to), consternagao de minha Mie (“Nossa Senhora, que pecado!") ¢ escan- dalo da Cidade (*Pobre moga! Também, casar com nortista Snimado por nosso Primo Mario Alves da Cunha Horta, pedrero livre femérito, mneu Pai ousara trpingacse! Primeiro, Cavaleiro da Rosa Cruz. Depols, da Aguia Branca ¢ Negra. E freqUentava noitantemente a casa maldita, sempre escura, de janclas © ports herméticas. Lembro-me bem: ‘Guando Ihe pascava em frente, com minha Mae, ela descrevia uma curva + Arvigo elsborda a pani da dicsertapto de westrado “Laces « Sombras: dds pede livres brasiciros (1870-J910)"y detendids jorta a0 proptaia de posegradungio em Historia Social de Universdede Federal Fuminene. Professor do Departamento de Wisteria de Universidade F 1 de Saiz de For 126 prudente, largava o passeio e tomava a sarjeta para distanciar-se dos Goals gradcados do pordo onde, diaiam, havia um negro caprino ceva- do com came podre de anjinhos ¢ cujo Bufo enxotrado era fatal.” (Pedro Naya ~ Bad de Osos) Introdugio A década de 20 deste século conheceu um importante proces- so de reflexo sobre os caminhos da pesquisa hist6rica. Ao questio- nara hegemonia da Histéria politica na produc historiografica fran- cess, 0s historiadores dos Annales passaram a defender uma nova concepgio de historia onde o econdmico € 0 social ocupavam lugar fundamental Nosanns60, com o crescimento do marxismo nos meios 2ca- démicos, acentuou-se na pesquisa histérica a marginalizacio dos es- tudos politicos. Contudo, este quadro vem se modificando. O crescente did- logo entre a Hist6ria e as outras ciéncias sociais (Ciéncia Politica, Sociologia, Lingiistica) contribuiu para que a dimensio politica voltasse a ocupar um espaco fundamental nos estudos histéricos, num proceso que R. Remond chamou de “renascimento da his- t6ria politica”, E, portanto, neste contexto de renovacao historiogeifica ¢ de crescimento dos estudos politicos que as reflexdes deste artigo se inserem. Nosso objetivo € repensar a atuagao da instituicho magoni- ca no final do século XIX € inicio do século XX no Brasil, perfodo marcado pelos grandes debates que procuravam estraturar nma nova identidade nacional, tentando compreender a especificidade da *so- ciabilidade” proporcionada pelas lojas magOnicas que acabou por transformé-1as em importantes centros de divulgacao ¢ discussto do ideario liberal, a despeito dos cuidados que devem ser guardados de ‘uma identificagao simplista. A Maconaria e a “Ilustragao brasileira” A partir de 1870, a sociedade brasileira conheceu profundas transformagOes. A crise do escravismo ¢ o crescimento da propagan- da republicana, aliados ao surto de “idéias novas”, como se referiu 1 REMOND, Rox que = Hata on? Esmdor Mateo Rib de Jee, v7, a3, 198, (0+ Macons = © Movineato Repubicae- (1870-1910) 27 Silvio Romero, possibilitaram.a maior consciéncia dos problemas do pais, bem como busca pela definic20 de um novo padiio de iden- tidade nacional. Para Roque Spencer Maciel de Barros, este periodo viv surgir uma clite intelectual que se propunha a “ilustrar” 0 pats, a liberalizar de fato as instituigbes € que, portanto, acreditava no po- der das idéias — da ciéncia — como 0 Unico mecanismo legitimo de transformacio do pais. Em sintese, buscava-se a colocagao do pais 20 “nivel do sécalo”. {6o) estes homens buscaram instramentas capazes de integrat-nos, de ‘ex m grande comunidade euro-americanat ao invés de se enirega- qem a uima supost realidade brssilesa, precuravam crivla pela ago Gducatva. da ei, da escola, da imprens, do liveo, () Cenamente, CSG Vaeias que truntam sio extamente aguelas que melhor sr em a0 propoatio de ntepragio do pals a cultura ccidenial, confun- {idn com a humaaidade; sho-ae douitinas qe nos trizem nia Aloso- fia propessists di historia ¢ quedo ym sentido ecuménico 20s acon- ecimentos que se verificam no pais” Repensar a identidade nacional, para esta geracao de inte- lectuais, era um “esforgo de universalizagao” e de conseqiente negacdo do passado marcado pela heranga ibética, pelo escravismo, pelo colonial, pelo singular. Nicolau Sevcenko destaca que a pa~ lavra de ordem da “geracao modemista de 1870" era condenar sociedade “fossilizada” do Império e pregar as grandes reformas redentoras: a aboli¢ao, a repiblica e a democracia”. Segundo Roque Spencer, o liberalismo brasileiro do final do século XIX enfrentava uma luta semelhante & vivida pelo libera- lismo do século XVIII europeu. Seu contedido era juridico-polit co, ¢ era em nome do direito natural que condenaya a escrava- tura e a ordem imperial. Todavia, para realizar a sua tarefa precipua de liberalizar de fato as instituigdes do periodo, a “Ilus- tracio brasileira” encontrou, na Igreja Catélica, baluarte do conservadorismo, importante obstaculo. Os liberais classicos, tipo dominante na “Ilustragao brasilei- ra”, segundo Roque Spencer, fundados em uma viszo juridica do homem, possufam, como ponto de partida te6rico, a crenca fun- damental na liberdade humana, Se discordavam quanto a forma de governo (repiblica ou monarquia constitucional) mais ade- 2 BARROS, Roque #. ML Hera Bra © Hl hu, 186: pi. 3. SEVGENKO, Ri leratre como mir, 3d. Sto Pai: Basis, 128 quada para a realizacao do ideal liberal, todavia eram undnimes na critica d excessiva ceatralizagio do sistema imperial brasileiro ‘via Poder Moderador, na defesa da aboligio do trabalho escravo € na defesa da livre manifestagao do pensamento. “Sua tarefa era libertar o trabalho, a consciéacia ¢ 0 voto."* Sérgio Buarque de Holanda, 20 analisar este periodo assina- lou declinio da instituigio macénica, o que, de certa maneira, teria possibilitado o erescimento da doutrina positivista. Se, nos anos 20 ¢ 30 do século XIX, ser magom era sinénimo de ser patriota, nos anos finais do Império generalizou-se a crenga na regeneracao da Humanidade pela Giéncia, viga mestra da filoso- fia de A. Comte”. Mesmo sem apresentar as razdes desse declinio, a posigio do autor vem sendo corroborada pela historiografia, que insiste em considerar a Maconaria como uma instituicao que atuou de forma mais efetiva apenas durante o process de emancipacao brasileira, possuindo, posteriormente, uma presenca inexpressiva. Minha proposta de repensar o papel desempenhado pela Maconaria no final do século XIX ¢ inicio. do século XX, procurando vinculé-l2 a “Ilustracao brasileira’, visa justamente a questionar essa posicao comum historiografia brasileira. Evidentemente, esta perspectiva nao busca excluir 2 atuacao dos positivistes na estruturac2o ena legitimacao do regime republicano, como bem demonstraram José Murilo de Carvalho e Roque 5. M. de Barros, Entretanto, ‘ela quer destacar a necessidade de se levar em consideragao 1 inegavel crescimento organizacional mag6nico ¢ 0 seu pa- pel na formacio de uma expressiva parcela da elite politica do periodo' Resgatara Magonaria como um instituigao formadora de opi- niao implica na necessidade de pensi-la, antes de mais nada, como uma forma especifica de sociabilidade que possut no carater secre to/fechado um elemento definidor, mas que, 20 mesmo tempo, im- de um forte limite as suas ages. Esta limitacdo diz respeito as dificuldades em administrar as divergéncias entre seus membros, BARROS. nog 3M § ROLAND: Stuio Bre Magna ao Poaeens” In —. Mairi Gea da Chicago Grae ted Sie a Pr: Compan dar Lats 1990p. 15910, BARROS, Rogue S-M, des apc 107-15 ‘Or Macoas €0 Movimento Republicano - (1870-1910) 129 evitando as constantes cisdes € o conseqiiente enfraquecimento da instituigao. Tal risco, entretanto, nao pressupée que ela nao possuis- se um projeto de aco, como bem expressou Quintino Bocaitiva, em 1897, por ocasiao de sua posse no cargo de grio-mestre Adjunto do Grande Oriente do Brasil. Embora longa, a citagao é exemplar: G.) se n6s nos limitissemos a fazer a caridade, a dar pensbes, a ser sociedade de beneficéneia, cairiamos no ridiculo de uma organizagao tao complicada ¢ '2o aparitesa, com cerimorial to minucioso de pa- lavras, simais, toques e passos, com sessdes noturnas Secretas, 120 pro- longadas, para fins tao insignificantes plenamente preenchido, sem tantas formalidades, por quantas associagdes, estangeiras ou hacio- nis, que se acham, para esse fim, estebelecidas entre nos. & esta 2 Contraprora da assergao, tans vewes por mim afirmada nesta Assex bigis. — A Magonaria ¢ ums associagao altamente polities. Mas, qual Ecsta politica’ Tendes o direito de perguntarme. Responderei, co tmegando por definir os termos da contwovérsia: — Politica é a arte de teducar 0 povo e dirgito nas vias do progresso e do engrandecimen- to, até a consecugio dos seus fins no seio da humanidade. E isio que niés Macons chamramos de alta politica; tal qual delineada na nossa Consttuigio.(.) A nossa politica, ede grande como a nossa instituigio, Eaquela que nos faz amar o crihanismo, e detestar 0 jesuitismo; que nos impele estudar e oWvir os soctaitsias © rebater os anarguistas, que nos obriga a aceltar e manter a Republica e repelir a monarartes Gue nos da a diferenga profunda entre © jacobinismo © patriotiome, pois este € um sentimento de amor, © € aqucle um mau sentimento 8: dio, contririo 30 nosso lema de fratermidade universal, dos ho- mens € dos povos.” Assim, torna-se fundamental perceber o grau de penetragao que © idedrio macdnico possuia junto aos grandes debates que sacudiram a sociedade brasileira do periodo, ou seja, perceber sua aco en- quanto grupo de pressio politica ¢ instrumento de controle ideols- ico. Destacar, portanto, a instituicao magOnica enquanto um impor tante mecanismo de intermediacio de interesses que se constitui na relagio entre o Estado e a sociedade. Estrutura organizacional da Maconaria brasileira De modo particular, a estrutura organizacional da Magonaria em nosso pais, neste periodo, apresentou trés fases bastante distintas. Na primeira, de 1863 a 1883, o poder central da Ordem estava divi- dido em dois grupos: 0 Grande Oriente do Brasil da rua dos 1. Yer: Boe de Grande Oriente do Bran, Rio de Jasito, 2203 164, moj 897, 130 Beneditinos e o Grande Oriente do Brasil da rua do Lavradio, Essa divisdo, iniciada em 1863, sofreu um pequeno intervalo entre maio ‘e setembro de 1872, devido 2 formacao do Grande Oriente Unido © Supremo Conselho do Brasil. A segunda fase, de 1883 a 1890, € marcada pela unio oficial entre o Grande Oriente do Lavradio e 0 Grande Oriente dos Beneditinas, formando, novamente, o Grande Oriente do Brasil. Fa terceira, a partir de 1890, coma formagio dos Grandes Orientes estaduais, vinculados ou no ao Grande Oriente do Brasil, com sede no Rio de Janeiro. ‘A grande divisio nas fileiras do Grande Oriente do Brasil ocor- reu durante 0 Grio-Mestrado do Visconde de Caysu, em 1863. Sete Lojas, com aproximadamente mil ¢ quinhentos membros, formaram uma nova Obediéncia — 0 Grande Oriente dos Beneditinos — e elegeram para gro-mestre Joaquim Saldanha Marinho, politico e jornalista bastante conhecido por suas posi- .90cs anti-clericais e pela defesa do regime republicano. Tal divi- sao certamente pode ser atribuida a descontentamentos quanto a0 processo eleitoral ocorrido para a direeao do Grande Oriente do Brasil, Mas é preciso ressaltar que o grupo liderado por Saldanha Marinho sofria grande influéncia da corrente macénica francesa € nio aceitave a idéia que identificava exclusivamente Maconaria com filantropia. Esta perspectiva pode ser apreendida no artigo de A. F. Amaral publicado no Bolettm do Grande Oriente, editado pelo circulo dos Beneditinos em 1873: {A Maconaria € mais alguma coisa do que uma companhia de socorro iimuo: € uma insituigdo filanteopica no sentido mais lato da palsvra. () Compreendeu, pois, + Magonaria cada para proteger a humani- dade e dardhe pleno desenvolvimento, que 2 sua missio era dupls, como dupla é a natureza do homem. Para realiza-la cumpria-lhe, por tanto, no $6 dar pio 10s famintos, vestr os nus © abrigar os que nao livessem (eto, como também procurar dar toda expansio as faculds: ides morais do homem — a lateligéneia, o live-arbieio —done s2gra- dos que o clovam scima da natures eriada, © 0 tomam elo visivel entre cla e 2 divindade.(..) Mas cultivar a inteligéncia das massas, tensinar-thes os seus direitos, dizer 20 infimo dos aria, a0 ultimo dos hilotas, a0 mais degradudo dos vildes, — tw és homem, e portanto és livre ~ fol sempre colsa grave e perigosz: a ilustragio ¢ a liberdade das massas fere © derruba os interesses ilegitimos dos fortes e dos Tver pole ao Grande Oreste Unite «Supreme Cone do Brule de Inve 20-3 04 tevin (0 Magns« Movies Repubizan = (1870 - 1910) 131 Se 0 circulo dos Beneditinos, chefiado por Saldanha Marinho, defendia uma atuagao mais vigorosa e politica da Maconaria na defe- sa do racionalismo, da liberdade de consciéncia, enfim, dos princi- pios caros & “modernidade”, o circulo do Lavradio assumia uma posi- (ao regalista e monarquista Apesar dessas divergéncias, entre maio ¢ setembro de 1872, ocorreu uma breve unizo entre os dois circulos — Lavradio € Beneditinos — diante da necessidade de combater o inimigo co- mum, tendo em vista a grande agitacio provocada pela “Questo Religiosa” ou "Questo episco-macdnica” do Segundo Reinado, que culminou com a prisio dos bispos D. Vital D. Anténio Macedo Costa, respectivamente bispos de Olinda e Belém. A partir da se- gunda metade do século XIX, a Igreja Catélica no Brasil, seguindo ‘uma tendéncia internacional, iniciou um processo de reorganizagio interna conhecido como romanizagao do clero catélico. A romanizaGio significou o fonalecimento da Igreja como instituicao, iniciando um movimento de condenagao aos chamados “eros mo- demos": o progresso, o racionalismo, o liberalismo, a liberdade reli- giosa. Fsbocava-se, concretamente, um novo contexto. A Macona- fia que, até entio, poderia ser considerada como uma das ins ges mais organizadas do pais, passava a sofrer fortes ataques da Igreja Catolica ultramontana/conservadora, que era a Igreja “ofici- al” do Estado. Foi desta forma que, a 20 de maio de 1872, 0 Grande Oriente do Lavradio, presidido pelo Visconde do Rio Branco, € 0 Grande Oriente dos Beneditinos, presidido por Saldanha Marinho, fundiram-se numa tinica Obediéncia: 0 “Grande Oriente Unido € Supremo Conselho do Brasil”. Entretanto, a derrota do Visconde do Rio Branco, no pleito para a escolha do grao-mestre da nova Obediéncia, foi suficiente para o retorno a situaclo anterior, o que se prolongaria até 1883. Em marco de 1882, Saldanha Marinho pediu demissao do cargo de grao-mesire do circulo dos Beneditinos, possibilitan- do, dessa forma, as negociagoes para a fusao definitiva dos dois Grandes Orientes. A unio oficial da Maconaria brasileira foi entdo realizada em 18 de janeiro de 1883, sob a direcao de Francisco José Cardoso Jinior. No contexto de crescimento da propaganda ultramontana da Igreja Catélica, as razOes que pos- sibilitaram essa unido, em certa medida, relacionam-se com a fragilidade da instituigao, apés um longo periodo de divisses internas. 132 A década de noventa do século passado marcou, contudo, uma nova etapa para a organizagao magGnica brasileira. Paralelamente 2 instalacao da ordem republicana federalista, 0 Grande Oriente do Brasil agitou-se novamente. Muitas Lojas passaram a questionar a autoridade do Grande Oriente do Brasil como Obediéncia central, ‘ocorrendo também uma federalizacio da Maconaria brasileira com actiagdo de varios Grandes Orientes estaduais auténomos e inde- pendentes, como: Grande Oriente Paulista (1893), Grande Oriente e Supremo Conselho do Rio Grande do Sul (1893), Grande Oriente Mineiro (1894). A Magonaria, como a Republica, federalizava-se. A organizagio do espago magénico Durante o perfodo estudado, constatou-se inequivocamen- te a grande expansio da sociabilidade magénica por quase todo 6 territ6rio brasileiro. A Maconaria possufa uma extensa rede de lojas instaladas nos mais diversos e distantes nuicleos populacionais. Estas lojas se articulavam de forma a defender seus principios, consubstanciados na busca do aperfeigoamen- to moral do homem ¢ na luta por uma sociedade mais secula- rizada. Tal constatacao singularizava a organizagio magénica em relacdo a outras insttuicoes do perfodo, como a Tgreja, o Exérci- to € 0 proprio aparelho de Estado que possu‘am bases espaci- ais muito frégeis. ‘A evolugao da presenca mag6nica no territ6rio brasileiro, apesar de ininterrupta, ocorreu num ritmo bastante peculiar. Os dados apresentados na Tabela 1, que mostram a evolugao do mimero de lojas em cada Estado brasileiro no perfodo entre 1860-1920, indicam uma expansio quantitativa e espacial da atividade mac6nica. Se na primeira metade do século XIX, essa atividade se concentrava no Rio de Janeiro, na Bahia ¢ em Pernambuco, no final do século XIX e inicio do século XX, ve- tificou-se a criagdo de um grande némero de lojas em diversas regides do pais, em pequenas e grandes cidades, especialmente em Sao Paulo, Minas Gerais € Rio Grande do Sul. Apesar das oscilagdes quanto ao niimero de Lojas em atividade, o que se pode constatar, efetivamente, a consolidacao da Ordem Ma~ c6nica em todo o territério nacional. Se, entre 1861-1865, fun- cionavam 180 lojas, este numero cresceu para 417 no qUingi€nio 1916-1920. (Or Majom eo Menino Repsbeae = (1479-1910) 133 ‘TABELA 1: Evolugo do nimero de Iojas maxOncas no Bra, por estado em qPingténon ‘asei-520) wei ite 197) 176 IL EL 1696 KO 1906 BL B16 ies 80 1975 1880 1685 1690 1895 100 05 190 IS 920 er ee nm 2 2 # 8 8 & 8 7 m6 im » No 2 3 0 6 M wom Oo “ Bs pr es 0 DP Om OB 6 Boob uD ws BR Oo oR OD B fe 5 wh RU o> SB eo DB 2 m os 29 no 9 9 HR RB Ss 3 #5 66 5 $5 77 7 6 B 113 22 1 t 9 Bu 7 3 Mrooo 68 3 6 7 8 3 Oo TT 8 8 oo 8 8 0 $ 2 2 2 t bor i 3 a aM 0 0 1222 3 0 we BoD a a in hot o$ os 4 3 2 2 dos a sg Ms 6 6 # #@ § $3 1 4 6 € 7 & S$ 2 $ 3 3 12 6 5 4 1d mM 1 4 7 67 3 @ 3 8 B87 6 @ of ttt 3a 3 3 2 8 7 4 8 m4 dt G8 ak kt kk 2 2 wm 0 0 0 9 0 9 6 0 9 0 OO To 180 12 305 342 M1246 289 497 GIS 5S53 O71? Fonte: PROEBER, K. Cadssro geral dos lojas magdnicas no Brasitivas, abatl= ‘das ¢ initivas. Rio de Janczo, ec:autor,075; Colegio dos Reletins do Grande Onente do Brasil (&71- 1910). Até 1890, a cidade do Rio de Janeiro — capital do pais e sede do Grande Oriente do Brasil — era o nticleo mac6nico mais desen- volvido, possuindo cerca de 35% das lojas magénicas em funciona- mento de todo 0 pais No litoral nordesiino, Recife ¢ Salvador constituiam os tradicio- nals centtos magonices.Entretanto, enquanto em Pernambuco ocor- ria uma maior propagaga0 das ideias magOnicas pelo interior do Esta~ do, na Bahia, até 1910, Salvador permanecia, praticamente, como 0 nico nticleo mag0nio. ‘i nas regides Sudeste ¢ Sul, o movimento magbnico se des- tacou por sua extensio e homogeneidade. Em Minas Gerais, du rante a década de 70 do século passado, ocorreu um crescimento bastante expressivo, com a funcagao de aproximadamente 37 novas lojas maconicas, a maioria deles instaladas pelo Grande Oriente dos Beneditinos. Ouro Preto constituia o nucleo mais im- 134 portante, sendo ultrapassado, no inicio do séeulo XX, por Belo Horizonte € Juiz de Fora. No Rio de Janeiro, excluindo a capital lo pats, aatividade macOnica se concentrava nas cidades de Niter6i Campos. A partir de 1890, a Maconaria paulista assumiu uma posicao de lideranga dentro do movimento, contando com uma extensa rede de lojas espalhadas, sobretudo, no eixo que ligava as cidades de Ribeirdo Preto, Campinas € Sa0 Paulo. Acompa- nhando a expansio paulista, os limos anos do século XIX marca- ram uma intensa atividade magnice no Rio Grande do Sul em tomo das cidades de Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria e Rio Grande. Sem sombra de divida, com a Repiblica, a Maconaria conhe- ceu importantes transformagdes no seu processo de institucionalizagio, Além do expressivo aumento do ntimero de lojas em funcionamento, verificou-se um processo de ‘nacionali- zacao" e de “federalizacio” do movimento macOnico. Se, durante © Império, as atividades macOnicas se concentravam, principal- mente, no Rio de Janeiro, o perfodo republicano presenciou 0 fortalecimento da Maconaria, nao por acaso, em Sao Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco ¢ Bahia, estados que pos- sufam significativas representagdes no Congresso Nacional. ‘A Maconaria e o movimento republicano © crescimento do movimento republicano inserese neste contexto de grandes transformagées, verificadas na segunda me- tude do século XIX. A partir de 1870, acentuou-se no pais um anseio renovador. A Monarquia passava a ser considerada inade- ‘quada, ultrapassada, atrasada. Assim, o golpe de Deodoro, em novembro de 1889, encerrava um processo de definiclo de uma nova estruturacdo do Esiado brasileiro. Em 1868, ocorreu a queda do gabinete liberal de Zacarias de Gois ca entrega do poder aos conservadores, liderados pelo Vis- conde de Ttaboraf, contra uma Camara unanimemente liberal. Con- siderada por Saldanha Marinho como um “estelionato politico”, a ‘queda do Ministerio Zacarias abriu espacos para graves manifes- tacdes contra a validade e a representatividade das instituigoes monarquicas. Como decorréncia, em 1859, uma ala mais extre- mada do Partido Liberal rebelou-se e deu publicidade ao *Mani- festo Liberal Radical”, que exigia amplas reformas eleitorais, descentralizacao, total liberdade religiosa, ensino livre, Senado temporirio ¢ eletivo, substituicio do trabalho escravo pelo livre, (Or Magn co MovinenteRepuliemo (1470. 1910) 135 extincio do poder moderador. Todavia, os “liberais radicais” nao consideravam o término da monarquia como pré-requisito neces- sirio 4 implantacdo de seu programa. Essa perspectiva comegou a ‘ganhar significado em 1870, coma formacao do Partido Republicano ea conseqiente divulgacto de seu "Manifesto" mar R. de Mattos assinala que a formacio do Partido Republi- cano represertou a formulaco de um projeto politico alternative & ‘ordem imperial e, de forma consequente, a contestagioa uma dire- ‘clo politica, intelectual ¢ moral, responsavel por esta ordem impe- tial -adirecio saquarema. Para os “republicanos historicos’, a monar- Quia nilo mais representava os interesses cla sociedade de realizar 0 bem comum e defender a coisa pablica, de garantit as liberdades fundamentais dos cidad2os brasileiros. Em sintese, a Monarquia nao se coadunava coma “causa do progresso”™. Hlaborado por Saldanha Marinho, Quintino Bocaiuva, Aristides obo, Salvador de Mendonga ¢ outros, 0 “Manifesto Republicano” & considerado por varios historiadores, dente cles Sérgio Buarque de Holanda, como antt-revoluciondrio e contemporizador, por defender que as mudancas insttucionais que deveriam ocorrer se processas- ‘sem sem convuls6es, ou seja, dentro da otica da “revolucao pacifica, da revolugao da idéia™. Publicado no jomal A Repiiblica do Rio de Janeiro, 2 3 de de- zembro de 1670, 0 "Manifesto Republicano” estrutura-se numa lon- ga critica a concentragao de poderes no Imperador, o que acabava por nulificar a representagio nacional. A formula politica baseada no principio de que o imperador reina, govema ¢ administra era incompativel com a soberania popular, tinica fonte da legitimidade. ‘Ap6s as duras criticas 4 Monarquia, o “Manifesto” enuncia seu principio cardeal: 0 federalismo. Buscava-se a constituigio de uma Republica federativa, baseada na soberania do povoe: administrada por um govemo representativo, expressa na formula “Centraliza¢a0- Desmembramento. Descentralizagao-Unidade”. Autonoma das provinciss é, pois, para nds mais do que um iteesse imposo pela soldnriedade dot drctos e das telacdes provinci, € um principio cardeal e solene que inscrevemos na nossi binéeir.. O regime fi federapao buseado, portnto, ra independéncia reciproca das provin- o earros, dn, Orden Bares ¢Literaine Folic, Sto Paso: Verse, Rie de Sat. * BP MOuanDA Sava "D mse de Yee =~ Matin Gls Cuiago Basi, 120'So ate Ble 908th p80 136 cias, clevandoas a categoria de Estados proprios, unicamente ligados pelo vinculo da mesma racionalidade € da solidasiedade dos grandes Interesses da representacao © di defesa exterior, ¢ aquele que adctaros ‘no nesso programa, como sendo o Unico capaz de manter « comunhao da familia brasiera™. A fundacio do Partido Republicano na cidade do Rio de Ja~ neiro segue-se uma multiplicacao de clubes e partidos, decidi- dos a defender a causa republicana. Essa propaganda republi cana se concentrava sobretudo nas provincias do Centro-Sul do pais. Além da Corte, destacavam-se as provincias de Sao Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Neste contexto, destacava- se a fragilidade da penetracio das idéias republicanas na pro- vincia do Rio de Janeiro. Ainda que algumas das principais derancas republicanas.nacionais no perfodo da propaganda fossem fluminenses, sua atuagio se fazia essencialmente na Corte. Somente em 1888, o Partido Republicano da Provincia do Rio de Janeiro foi fundado e seu grande impulso relaciona- sc 2 adesiio de monarquistas insatisfeitos com a aboligao do trabalho escravo. “A lentidao com que se expandiu 0 movi- mento republicano na provincia do Rio de Janeiro explicava- se, pela forca do conservadorismo, ¢ esta era garantida em grande parte pela coesao em torno da escravidio">. © mesmo aconteceu em Minas Gerais. AntOnio Olinto dos Santos Pires, primeiro presidente interino do Estado de Minas Gerais, em um artigo publicado na Revista do Arquivo Publico Mineiro em 1927 - “A idéia republicana em Minas; sua evolu- $40; organtzagao definitiva do Partido Republicano”, informa que 0 Partido Republicano s6 teve uma organizagio definitive em Minas, em 1838. Apesar de participarem da luta eleitoral, em Minas Gerais, desde 1880, a trajet6ria dos republicanos mi- neiros poderia ser assim descrita: *(..) se concentrava, 2s vezes, formando niicleos, para se dissolver depois, em movimento cons- tante, dividindo-se, fragmentando-se, avolumando-se, mais tar- de, pelo encontro de clementos dispersos (...)""*. Por sua vez, a adesio dos fazendeiros paulistas & causa repu- blicana transformou o movimento em uma forca politicamente ex- 1 0 Manito Republica etd reprodunide em BRASTLIENSE, A. Os p 22 Sendo Acad Dra: Sern Federal, 77. pee Teta Prova Rode neko: Bo Fado, BW. pS orice 1 (930) 26 (Or Magonee o Mevinent» Republiano «(1870 1910) 137 pressiva. Representantes de uma zona econdmica em expansto, 0 fazendeiros paulistas criticavam a excessiva centralizacao admi- nistrativa do Império, que propiciava 0 controle do poder por representantes de dreas econdmicas inexpressivas. Da mesma for- ma que na Corte, apés a queda do gabinete Zacarias de Géis em 1868, na provincia de Sao Paulo formaram-se Clubes Radicais em varias localidades. Com o surgimento do “Manifesto de 1870", es- ses clubes declaram-se republicanos. Em 1873, com a Convencao de Iti surgia 0 Partido Republicano Paulista. Na proporcao em que crescia a propaganda republicana, co- mecavam a fermentar nas lojas magOnicas os debates referentes & superacdo ou nao do regime monarquico. E bem verdade que a idéia de repiblica nao era nova para a Maconaria pois, desde 0 periodo da emancipagio politica do Brasil, j4 existia uma fac magOnica que a desejava. A partir de 1870, os macons republica- fos encontravam no “Grande Oriente do Brasil — ao Vale dos Beneditinos”, liderado por Saldanha Marinho, importante meio de divulgacio de suas teses. Se analisarmos 0 niimero de lojas magé- nicas criadas entre 1870 € 1880, iremos perceber que a maioria clas cstava ligada ao Circulo dos Beneditinos e localizava-se so- bretudo naquelas provincias que possufam expressivos movimen- tos republicanos: 24 em Sio Paulo, 29 em Minas Gerais ¢ 27 no Rio Grande do Sul, além de 18 na Corte. & interessante observar que apenas 08 lojas foram criadas na provincia do Rio de Janeiro, oque demonstra, mais uma ve2, a fragilidade da penetracio da propa- ‘ganda republicana no interior da provincia fluminense e do vinculo entre Maconaria e Republica. Como os Clubes Republicanos, muitas lojas magGnicas se trans- formaram em auténticos centros de efervescéncia republicana. Em ‘Sao Paulo, as Lojas “Amizade” € “América” se destacavam, Em seus ‘quadros podemos encontrar as seguintes nomes: Américo Brasliense, Américo Campos, Bernardino de Campos, Luis Gama entre outros. No Rio de Janeiro, destacam-se Saldanha Marinho, Quintino Bocaiuva, Ubaldino do Amaral. Em Minas Gerais, o crescimento de Clubes Republicanos ¢ Lojas MacOnicas, como em So Paulo e Rio de Janeiro, também foi bastante expressivo. Recorrendo aum segundo texto de Ant6nio, Olinto — A proclamagao da Repiiblica em Minas—, ele assinala que em vinude de perseguigdes por parte dos liberais/monarquis- 138 tas, vérios Clubes Republicanos em Minas Gerais se transformaram em sociedades secretas®. Ao agrupar setores bastantes diversos, 0 movimento republica- no evidentemente nao poderia suscitar um amplo consenso quanto a definigao da natureza do novo regime. Segundo José Murilo de Carvalho, havia trés modelos de republica & disposicao dos republi- canos brasileiros. O primeiro era 0 dos proprietarios rurais, especialmente os proprietérios paulistas. Para estes homens, a repti- blica ideal era a do modelo americano baseado na predomindncia do interesse individual, na liberdade dos direitos de ir e vir, de proprie~ dade, de opiniio, de religito e no cariter federativo da organizaga0 do Estado. © segundo modelo era o dos setores urbanos, formado por pequenos proprietiios, profissionais liberais, jomalistas, estu- dantes. Para estes, repiblica era sindnimo de intervenc2o direta do ovo no govemo, Influenciados pelo jacobinismo a francesa, eram atraidos pelos apelos abstratos em favor da liberdade, cla igualdade, da participacdo. O terceiro modelo era a versio positivista de repti- blica, que influenciava sobretudo os militares, com seu apelo a um cexceutivo forte ¢ intervencionista, consubstanciado no principio da ‘Ordem e Progresso""*, Para os macons, sobretudo aqueles ligados ao Circulo dos Beneditinos, a forma de governo republicana oferecia uma oportu- nidade de romper como centralismo mondrquico e, acima de tudo, equacionar os problemas relativos 2s liberdades individuais, Neste sentido, creio que Saldanha Marinho possa ser considerado aquele que melhor traduziu as expectativas desse segmento, Em 1869, Saldanha Marinho publicou um folheto com o titulo 0 Rei eo Partido Liberal, onde expressou 0 seu diagnésti- co da realidade brasileira, destacando a necessidade de liberalizacio real das instituigdes politicas através da adogao do regime repu- blicano. Segundo ele, a monarquia, estruturada pela Carta outor- gada de 1824, poderia ser responsabilizada pela decadéncia mo- ral e material em que se encontrava 0 pais. Em 1885, esse folheto foi reimpresso com alguns comentirios adicionais ¢ recebeu um novo titulo: A Monarchia ou a Politica do Rei. 15 Miden, p18, ( Maane 0 Movimento Republicans «(1870 -1910) 139 “Harmonizar a autoridade com a liberdade, o direito com o ato —condicZo etema da ordem e prosperidade”. Tomanco como base ‘essa premisss, Saldanha Marinho analisou o processo histérico brasi- leiro, assinalando os obsticulos impostos 3 evolugio natural da naci- onalidade brasileira: o regime republicano, Gnico regime democriti- coe consonante com a indole americana”. Esses obsticulos impostos A construgao de uma nacionalidade livre ¢ independente tiveram inicio com a repressaio aos movimen- tos de cardter emancipacionista, principalmente & Conjuragaio Minei- ra de 1789. Mas foi com o processo de Independencia que as forgas ligadas ao absolutismo revelaram todo o seu poder. Um vicio de origem nos comprometeu deste 4 independéncia até hoje. A soniade daqueles que quiseram ter de pronto um rei, preva leceu sobre 0 dos que procursvam comecar regularmente, por uma assembléa corstituinte, para que esta exprimindo a vontade soberana Go poro, determinasse a forma do governo a adotar, ¢ estabelecesse ‘06 prinepios polices 4 que devia a nacao subordinar-se. O parido liberal, reeeoso das perturbagoes que Ihe podia opor a influencla pomuguess, anulu a Is:0 para poupar sacrificios, © chegar « seu fim com taior seguranga © rapide? Sea Independencia com D. Pedro I nao significou a adogao de um regime representativo — portanto mais democritico—a disso- lugao da Assembléia Constituinte e a outorga da Constituicio de 1824 apenas confirmaram que: tm miser no olvidar que Rei e democricis so coisas que se repelem: wm Go permanente desividor do outro, © quando, por exze¢io, se consese ‘asilos, dése a0 mundo um espeticulo repugnante, e sempre injgéio, Dorquento um dos assim conserizdos deve sempre nulficar 0 outo™. Com a abdicago de D. Pedro, inaugurow-se.o primeiro perfodo ‘em que os ideais republicans trunfaram. Exemplifca-se o fato com a adocao do Cédigo do Processo € a aprovacao do Ato Adicional de 1834, Entretanto, a maioridade do principe-herdeiro inaugurou um periodo marcado pelo dominio incontestivel do Poder Moderador e, conseqiientemente, do govemo centralizado nas mios do Imperador. O despotismo triunfava, impedindo a constituicao de um sistema de _governo livre e garantidor dos direitos do povo. Os partidos politicos nada mais cram do que um joguete nas mios do Imperidor. Os perio- Fon, 8 1 Boden p09 eden, ps2 140 los em que dominaram os gabinetes ministeriais de maioria liberal ‘ram neutralizados pelo Imperadlor, que utilizava-se do antficio da composi¢ao com membros do Partido Conservador. Sempre que 0 Rei entende conveniente aproximarse dos liberais, hes ajusts logo um antidoto que nulifica-hes 2 aglo; ¢ eles se sajeitam!™. ‘Ao trabalhar com estas especificidades, Saldanha Marinho pro- curava destacar a forca mobilizadora exercida pelo Imperador e, em contrapartida, o cariter meramente formal do regime constitu- ional em Vigor. © Segundo Reinado nao cumprlu sua finalidade maior, que seria a construgto da nacio brasileira pois, restringindo sua aco ao Ambito da luta contra as conquisias liberais, teria contri- buido para o processo inverso: 0 da auséncia da nacdo. io temos govemo representatvo, 26 hi uma vontade, © govemo & um 6 homem, 0 poder pessoal se ostenta; eo poder pessoal € 0 absolutis smo, 0 Estado € el Estas consideragbes revelam uma postura em sintonia com a necessidade de construcao de um projeto politico que possibilitasse a consolidacao de uma identidade nacional. F esta vitia através da doco de reformas sociais e politicas. Portanto, a defesa do regime republicano, para Saldanha Marinho e para os macons em geral, era a possibilidade de conquisiarinstituigdes politicas mais representati- vvas e garantir as liberdades individuais, sobretudo a liberdade de pensamento Promulgads em 1891, a primeira Constiuicao republicana aca~ bou por consagrar os principios liberais clissicos, tais como 0 direito de associacao, de pensamento e de expressao, ¢ a garantia de um governo eleito pelo voto majoritério. Contudo, a consolidacio da Repiiblica foi marcada pelo signo da exclusao dos setores populares do cenatio politico. Consideragées finais Contrariando a tradicZo historiogréfica que julgava a Maconaria uma instituigo com uma atuacao inexpressiva no final do século XIX ¢ inicio do século XX, 0 que procurei demonstrar foi que ela se colocou como uma das principais instituigdes na luia pela estruturacao de uma nova identidade nacional. Possuindo uma dindmica de erescimento e de atuacio bastante ‘specifica, a Magonaria brasileira se mostrou estreitamente ligada 3 (0 Nagont ¢0 Movinesto Repo (1870 110) 141 vida poltica do pats. Toi observado o quanto ela estava ativa ¢ influ- cente, revelando-se como um auténtico grupo de pressio. Aglutinando: ‘expressiva parcela da elite, debateu, quer nas suas Lojas, quer na imprensa, quer no Parlamento, os principais temas que abalarama sociedade brasileira do periodo. Desta forma, ser macom, para cer- tos setores da sociedade, significava uma forma de iniluir, de partici- par na estruturacio do Estado brasileiro.

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