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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

O Texto Dramático

Dino Alves Estato: 708222917

Curso: Licenciatura: Licenciatura em


ensino de Língua Portuguesa
Disciplina: Introdução aos Estudos
Literários
Ano de Frequência: 1o Ano

Turma: AH

Nome do Docente:

Quelimane, Novembro de 2022


Classificação
Categorias Indicadores Padrões Nota
Pontuação
do Subtotal
máxima
tutor
 Índice 0.5
 Introdução 0.5
Aspectos
Estrutura
organizacionais  Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 2.0
problema)
 Descrição dos
Introdução 1.0
objectivos
 Metodologia
adequada ao objecto 2.0
do trabalho
 Articulação e
domínio do discurso
académico
3.0
Conteúdo (expressão escrita
cuidada, coerência /
coesão textual)
Análise e  Revisão
discussão bibliográfica
nacional e
2.0
internacional
relevante na área de
estudo
 Exploração dos
2.5
dados
 Contributos teóricos
Conclusão 2.0
práticos
 Paginação, tipo e
tamanho de letra,
Aspectos
Formatação paragrafo, 1.0
gerais
espaçamento entre
linhas
Normas APA  Rigor e coerência
Referências 6ª edição em das
2.0
Bibliográficas citações e citações/referências
bibliografia bibliográficas
Folha para recomendações de melhoria:A ser preenchida pelo tutor

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Índice
1. Introdução .......................................................................................................................... 5

1.1. Objectivos de Trabalho ................................................................................................... 6

1.1.1. Objectivo geral ............................................................................................................. 6

1.1.2. Objectivo específico ..................................................................................................... 6

1.1.3. Metodologia ................................................................................................................. 6

2. Texto dramático ................................................................................................................. 7

2.1. Conceito de texto dramático ............................................................................................ 7

2.2. Estrutura do texto dramático ............................................................................................ 8

2.3. Características do Texto Dramático ............................................................................... 10

2.4. Texto Teatral ................................................................................................................. 12

3. Conclusão ........................................................................................................................ 16

4. Referências bibliográficas ................................................................................................ 17

iv
1. Introdução

O presente trabalho com o tema texto dramático, distingue-se das demais


manifestações literárias pelo facto de se destinar não só a ser lido mas também a ser visto, isto
é, ele pressupõe, logo à partida, um espectador. Em qualquer peça de teatro, não só temos
presente um leitor/ouvinte implícito, como também um espectador implícito, daí a profusão
de didascálias, que não são mais que indicações do autor relativamente a aspectos tão díspares
como a identificação de personagens, tom de voz, cinética e gestualidade, bem como a todo o
universo circundante em que as personagens se movem e agem, tais como ruídos exteriores,
estados de espírito, tempo e espaço. Estas didascálias não visam apenas fornecer ao eventual
encenador da peça e aos actores indicações proscénicas, elas têm também, por vezes, uma
função equivalente à desempenhada pelos comentários meta narrativos na diegese, dirigindo-
se explicitamente ao leitor, com fins explicativos, predicativos e persuasivos, entre outros. O
texto dramático, entendido como conjunto de “textos principal” e de “texto secundário”, é um
texto literário, quer dizer, é um texto regulado pelo código do sistema semiótico literário e faz
parte do conjunto de textos se designam por literatura, podendo ser objecto de concretizações,
através da leitura, em processos de comunicação literária.

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1.1. Objectivos de Trabalho

1.1.1. Objectivo geral

Conceituar o texto dramático.

1.1.2. Objectivo específico

 Caracterizar o texto dramático;

 Distinguir o texto teatral do texto dramático.

1.1.3. Metodologia

Esta breve pesquisa apresenta abordagem metodológica qualitativa com objectivos


descritos e propósito de levantar informações sobre o fenómeno da educação híbrida na
perspectiva de aulas não presenciais. A fim de obter os resultados esperados pelas metas e
objectivos traçados foi realizado o levantamento bibliográfico utilizando de fontes de pesquisa
como livros, e artigos científicos.
O estudo qualitativo pauta-se nos conhecimentos teóricos, partindo do pressuposto que
a ciência é a compilação que explicam os fenómenos, as coisas de diversas naturezas, sejam
biológicas, físicas ou sociais, como explica Stake (2016).
Nos procedimentos de pesquisa, que desenham o método escolhido, a explicação
ocorre por meio de um estudo teórico com base em livros, artigos, teses, dissertações e outros
materiais relevantes que possam denotar dados ou informações pertinentes ao tema
delimitado, com enfoque que descreve uma situação específica, já mencionada no parágrafo
supracitado.
Quanto ao delineamento da pesquisa (Gil, 2010), no que se refere ao planeamento, em
sua dimensão mais ampla, ela classifica-se como pesquisa bibliográfica, desenvolvida base
em estudo de material já publicado em livros e periódicos científicos, e com estudo de caso,
com análise de um determinado grupo de sujeitos.

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2. Texto dramático

2.1. Conceito de texto dramático

A palavra dramática provém “de palavra latina «drama», nome genérico de toda
criação literária que desenrola um acontecimento dentro de um espaço e um tempo
determinado que está escrito em diálogo.” (Toro, 2011, p. 29).
Contudo, é importante não confundir o texto dramático com a sua conversão em teatro como
espectáculo, mesmo que a sua finalidade principal seja a encenação para um público.
Na opinião de Alves e Antunes (2005, p. 47), o texto dramático integra-se “no modo
literário do Drama (em português, e até noutras línguas, Drama e dramático apresentam
significados muito semelhantes), enquanto o texto teatral é especificamente um texto
espectacular.”
Ocorre ainda observar que o objectivo principal do texto dramático é “ser lido, sendo
conservadas as formas e expressão linguística originais. O diálogo, neste caso é o elemento
principal.” (Silva, 2007, p. 13).
Neste sentido, considera-se que, neste género literário, é fundamental a existência de
mais do que uma pessoa, dado que assenta na comunicação directa entre as personagens
(Toro, 2011). O público também entra neste jogo, já que também existem monólogos.

Figura 1 – Funcionamento da comunicação no texto dramático (cf. Calvo, s.d., p. 9)

Como podemos observar na figura acima apresentada, a mensagem corresponde ao


texto dramático, cujo autor é o emissor e visa comunicar com um receptor, que lê o texto. As
referências são os fenómenos sociais, os aspectos da realidade a que a mensagem faz alusão, e
os códigos correspondem às formas que o autor usa na produção do seu texto escrito.

7
O texto dramático, isto é, o texto integrável no modo do drama 1 pertence à literatura e
deve ser objecto de análise da teoria da literatura, mas já o mesmo não se passa com o texto
teatral, que é um específico texto espectacular e que, por conseguinte, constitui um fenómeno
de semiose só parcialmente literária.

2.2. Estrutura do texto dramático

O texto dramático caracteriza-se pelo seu radical de apresentação, pois o seu autor
textual está oculto, dissimulando, quer em relação aos receptores do texto, cabendo às
personagens, aos agentes da história representada, que comunicam entre si e com os
receptores do texto, a assunção da responsabilidade imediata e explícita, sem mediadores
intratextuais, dos actos de enunciação.

O texto dramático caracteriza-se estruturalmente por ser constituído por um texto


principal, isto é, pelas réplicas, pelos actos linguísticos realizados pelas personagens que
comunicam entre si – no texto dramático monólogo não existem réplicas, nem interlocutores
atrito senso, embora neles se possam manifestar elementos dialógicos e se possam identificar
interlocutores implícitos ou latentes e por um texto secundário, formado pelas didascálias ou
indicações cénicas.

Na perspectiva de Alves e Antunes (2005, p. 48), a estrutura do texto dramático é


composta “por um texto principal, as réplicas – que são actos linguísticos realizados pelas
personagens que comunicam entre si –, e por um texto secundário – formado pelas didascálias
e as indicações cénicas.”

Neste sentido, quando estamos perante um texto dramático, reparamos de imediato


que, visualmente, a sua forma é diferente dos outros géneros textuais. Logo após o título, são
mencionados os nomes das personagens, que aparecem frequentemente pela ordem que
surgem no decorrer do texto. Geralmente, os autores optam ainda por acrescentar alguns
dados importantes sobre estas, tais como a idade, estrato social ou relação de parentesco com
outra personagem. Observamos depois uma configuração paralela da obra que é constituída
por duas partes: o diálogo (texto principal) e as didascálias (texto secundário) (Calvo, s.d.).
1
Em português e noutras línguas, os lexemas “drama” e “dramático” apresentam actualmente significados muito
heterogéneos. Utilizaremos estes lexemas de acordo com a terminologia aristotélica, entendendo por “drama”
aquele poema que imita pessoas e que se contrapõe portanto à imitação “narrativa” AGUIAR & SILVA ( 2002:
604).
8
Nas palavras de Rocha (2007, p. 64), “Ambos os textos estão interligados e são
complementares contribuindo para a compreensão do texto como um todo.”
A acção do texto dramático é vista como a sucessão e o desenrolar dos acontecimentos
e apresenta uma estrutura externa e uma estrutura interna.
A estrutura externa corresponde à divisão em actos e em cenas. Estes correspondem à
mudança de cenário e pressupõem “uma interrupção visível indicada por una pausa que
propicia da reflexão do espectador (Calvo, s.d., p. 27). As cenas equivalem a divisões do ato,
cujo princípio e fim são determinados “por da entrada de personagens” (Calvo, s.d., p. 29).
A estrutura interna da acção dramática divide-se em exposição, conflito e desenlace.
Na exposição, dá-se a “Apresentação das personagens e dos antecedentes da acção” (Diegues,
2010, p. 18). É aqui que os protagonistas expõem o problema e resolvem procurar a solução
do mesmo.
A dimensão do problema apresentado na exposição define a gravidade do conflito, que
corresponde a um conjunto de “acontecimentos que constituem a acção teatral” (Diegues,
2010, p. 18), conduzindo ao clímax, que resulta da progressão da acção. Por fim, surge o
desenlace, que corresponde ao desfecho da acção dramática.
A acção requer a definição e interacção de diversos elementos dramáticos. Dentre eles,
destacam-se as personagens. No teatro grego da Antiguidade clássicas, os atores usavam
máscaras que lhes permitiam interpretar diversas personagens e ajudavam o público a
distingui-las (Bourscheid, 2008).
Actualmente, de um modo geral, cada personagem é representada por um actor. As
personagens podem distinguir-se em função do relevo que têm na acção, podendo ser:
principais ou protagonistas (quando têm um papel relevante na acção), secundárias (quando
não desempenham um papel crucial e determinante na acção) e figurantes (que, normalmente,
têm um papel decorativo).
O espaço equivale ao espaço físico que se pretende recriar e onde decorre a acção. No
texto dramático, o tempo pode ser encarado a partir de três perspectivas: “o tempo da
representação, da duração do conflito em palco; o tempo da acção ou da história, dos anos ou
da época em que se desenrola o conflito; e o tempo da escrita ou altura em que o autor
concebe a obra.” (Diegues, 2010, p. 25):
No texto principal encontramos as falas das personagens, que podem aparecer sob a
forma de monólogo (quando a personagem fala consigo mesma), diálogo (fala entre duas ou
mais personagens) ou aparte (comentários de uma personagem para o público). Nas palavras

9
de Calvo (s.d., p. 20), “O diálogo teatral é diferente da narrativa porque o nome do
personagem é sempre escrito antes do que ele vai dizer.”
Rocha (2007, p. 65) relembra que as didascálias, presentes no texto dramático, “são o
equivalente às descrições no romance.” A mesma autora (Rocha, 2007, p. 75) refere que as
didascálias têm uma dupla função: “por um lado, elas permitem ao leitor de se reportar a uma
visão do mundo que facilita a leitura das réplicas e, neste caso, falamos de didascálias
diegéticas; por outro, elas formam um texto instrutório que visa directamente a realidade
cénica do autor e, nesse caso, falamos de didascálias cénicas.”

2.3. Características do Texto Dramático

Texto Dramático é constituído por:


Texto principal composto pelas falas dos atores que é ouvido pelos espectadores;

Texto secundário (ou didascálico) que se destina ao leitor, ao encenador da peça ou aos
atores.

Texto Dramático é composto:


 Pela listagem inicial das personagens;

 Pela indicação do nome das personagens antes de cada fala;

 Pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou


quadros);

 Pelas indicações sobre o cenário e guarda-roupa das personagens;

 Pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que


devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir
as palavras;

Acção – é marcada pela actuação das personagens que nos dão conta de
acontecimentos vividos.
Estrutura externa – o teatro tradicional e clássico pressupunha divisões em actos,
correspondentes à mutação de cenários, e em cenas e quadros, equivalentes à mudança de
personagens em cena.
10
O teatro moderno, narrativo ou épico, põe completamente de parte as normas
tradicionais da estrutura externa.

Estrutura interna:
 Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.

 Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.

 Desenlace – desfecho da acção dramática.

Classificação das Personagens:


Quanto à sua concepção:
 Planas ou personagens -tipo
– Sem densidade psicológica uma vez que não alteram o seu comportamento ao longo da acção. Representam
um grupo social, profissional ou psicológico);
 Modeladas ou Redondas
– Com densidade psicológica, que evoluem alongo da acção e, por isso mesmo, podem
surpreender o espectador pelas suas atitudes.
Quanto ao relevo ou papel na obra:
Protagonista ou personagem principal Individuais;
Personagens secundárias ou figurantes Colectivas.

Tipos de caracterização:
Directa
– A partir dos elementos presentes nas didascálias, da descrição de aspectos físicos e
psicológicos, das palavras de outras personagens, das palavras da personagem a
propósito de si própria.

Indirecta
– a partir dos comportamentos, atitudes e gestos que levam o espectador a tirar as suas próprias
conclusões sobre as características das personagens.

Espaço
– O espaço cénico é caracterizado nas didascálicas onde surgem indicações sobre
pormenores do cenário, efeitos de luz e som.

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2.4. Texto Teatral
Texto teatral constitui um texto que só parcialmente depende do sistema semiótico
literário, que não faz parte do corpus textual denominado “ literatura” e que cujas
características comunicacionais não se identificam com as da comunicação literária.
O texto teatral modeliza a própria comunicação humana de modo específico,
utilizando meios semióticos que não ocorrem nos textos de nenhuma arte, pois que produz a
modelização dos movimentos de comunicação com o material dos movimentos comunicativos
(linguagem, gesto e mímica). Esta modelização realiza-se no espaço dramático e no espaço
cénico e resulta das falas e da acção dramática das personagens, da presença corporal e do
desempenho dos actores, das características da encenação. Esta comunicação intercénica
funciona como fonte de uma comunicação extracénica, uma comunicação em que os
receptores são os espectadores, o público que assiste à representação do espectáculo e cujas
reacções de aplauso ou de desagrado podem gerar consideráveis efeitos de feedback na
comunicação intercénica.
O emissor do texto teatral é um emissor plural, uma cadeia de emissores, um
“microgrupo criador” desempenhando cada membro do microgrupo funções semanticamente
diferenciadas, embora independentes.

O receptor de um texto teatral, ao contrário do receptor do texto dramático, nunca é


um indivíduo isolado ou uma massa de indivíduos isolado. O receptor teatral é um grupo de
espectadores, de uns indivíduos que se congregam para assistirem juntos, num determinado
espaço e num determinado tempo, à realização de um espectáculo.
O receptor do texto teatral tem de possuir uma competência linguística que o habilite
a compreender o texto principal do texto dramático – se assim não acontecer, a comunicação
teatral será irremediavelmente afectada - mas tem possuir também uma competência
comunicativa genérica, difluente do conhecimento de códigos culturais, que lhe permita
interpretar adequadamente os actos linguísticos e as acções das personagens dramáticas, e
uma competência comunicativa específica que lhe possibilite decoração ficar a multiplicidade
de signos.
O texto teatral sendo uma modalidade de uso da língua (fala) utiliza uma série de
recursos expressivos de outra ordem, tal como a gestualidade, os movimentos do corpo e a
mímica Marcuschi (2010,p.25).

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A compreensão de prática social confirma-se na ênfase da própria concepção de língua
a partir do uso, por isso o ensino-aprendizagem também precisa partir do pressuposto de que
“as línguas se fundam em usos e não o contrário”, como Marcuschi (2010, p. 16) apresenta.
Entretanto, antes de adentrar nas especificidades do texto teatral, pertencente aos
géneros literário e teatral, faz-se necessário situá-lo nas definições de Bakhtin (2010) de
géneros primários e secundários.
É importante salientar que os géneros primários (simples) não carecem de
desenvolvimento, nem são tidos como desorganizados; eles são oriundos, isso sim, de uma
comunicação verbal ou não verbal espontânea. Com isso, a distinção que se deve ter é que o
género primário se faz presente na comunicação discursiva imediata. À medida que estes
géneros integram os complexos (géneros discursivos secundários) transformam-se e adquirem
um carácter especial, passando do imediatismo para a concretize. Ainda na colaboração da
distinção entre os géneros discursivos primários e secundários Dolz e Schneuwly (2011)
elencam as dimensões do género discursivo primário como sendo a troca, interacção, controle
mútuo pela situação, assim como o funcionamento imediato do género como entidade global
comandando todo o processo, como uma só unidade e também não havendo nenhum ou
pouco controle meta - linguístico da acção linguística em desenvolvimento.
Segundo Bronckart (1993), os géneros discursivos primários (ou livres) estabelecem
uma relação imediata com as situações nas quais são produzidos, assim estruturados pela
acção ao ponto que os géneros discursivos secundários (estandardizados) seriam estruturados
na acção que estabelecem com a situação mediada pela produção. Desta forma, distingue-se
do género discursivo primário submetendo-se a um estruturante próprio, convencional, de
natureza especificamente linguística do tipo: narração, discurso teórico, romance etc. O texto
teatral, por sua vez, enquadra-se, como ponto de partida, no género discursivo primário
(simples) formado nas condições das comunicações verbal e não verbal imediatas e
espontâneas, aquele da ideologia do quotidiano e também na interacção e no controle mútuo
da situação.
Por isso, Pavis (2002, p. 7), por considerar prudente, elenca as seguintes ferramentas
necessárias de tomada de consciência do texto teatral para sua leitura e interpretação:
a) Situar o texto teatral historicamente nas classificações de clássico, realista, absurdo,
existencialista e outros;
b) Verificar se o texto teatral é de teoria teatral ou do teatro propriamente dito e;

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c) Utilizar-se de diferentes mecanismos de leitura, pois a palavra em acção é mais
presente no texto teatral do que em outros géneros ou para o teatro.
De acordo com Ubersfeld, (1996):
O teatro é uma arte paradoxal. Podemos ir mais longe e ver a mesma arte do
paradoxo, tanto na produção literária primeira representação concreta, tanto
eterna (indefinidamente reproduzível e repetível) e instantânea (nunca
reprodutível como idêntico a si mesmo): arte performática que é um dia e
nunca o mesmo no dia seguinte8 ( p. 11).

Esta arte paradoxal, levantada por Ubersfeld, explica-se e se aplica pelas múltiplas
leituras do texto teatral, sempre engajadas e motivadas pelo momento histórico social dos seus
participantes (professores e aprendentes). Assim, é uma representação concreta, pois se trata,
antes de tudo, de uma produção literária, visto aí sua perenidade como género teatral
pertencente ao género literário e do qual faz parte o texto teatral; é também instantânea, como
arte performática podendo ser encenada ou lida dramaticamente. No caso da leitura, fazendo-
se valer de técnicas teatrais, ou seja, da teatralidade.
A distinção entre texto dramático e texto teatral parece, portanto, reflectir não só
diferentes circuitos de distribuição, como também práticas estéticas e ideológicas distintas.
São duas visões de tradução de teatro que geram dois tipos de tradução diferentes, de acordo
com duas noções distintas: uma mais próxima do texto em si e outra mais próxima do estilo
específico da representação de uma dada companhia. Se numa tradução orientada para a
representação serão as expectativas do público a ter uma grande influência nas opções de
tradução, numa tradução orientada para a publicação pesarão certamente mais as convenções
do género. Aquando da análise de uma tradução, deve ser tido em conta o facto de que são
simultaneamente argumentos de espectáculo e textos literários e que o tradutor pode seguir
normas diferentes dependendo como encara a função da sua tradução.
Para facilitar o uso e a compreensão do texto teatral em ambientes de ensino -
aprendizagem, assim como os demais textos, nos quais estão contidos muitos elementos
informativos a serem trabalhados ao mesmo tempo, faz-se necessário, de acordo com
Pietraróia (1997, p. 94) “facilitar as leituras, ensinando o aprendente a descobrir pontos de
referência sólidos, tais como a percepção dos índices visuais e da estrutura do texto, o
reconhecimento do tema, das ideias principais e etc.”. Além disso, acreditando no
melhoramento da performance na leitura e na compreensão do texto teatral, deve-se propor
aos aprendentes, segundo Pietraróia, (1997):
Informações culturais pertinentes para determinado texto, favorecer a
construção e a activação de esquemas contextuais prévios adequados,
14
facilitando assim a integração das novas informações àquelas que o leitor10
já possui e propor numerosas actividades de pré-leitura que ajudariam o
leitor a criar ou a activar esquemas relativos ao texto que será lido (p. 93).

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3. Conclusão

Os textos dramáticos parecem, portanto, poder funcionar fora do sistema teatral e este
funcionar sem eles, sendo que pode ainda suceder certos textos pertencerem aos dois sistemas
ou transitarem de um para o outro. Neste sentido, afigura-se como importante o facto de a
tradução dos textos dramáticos ser normalmente entregue a tradutores de narrativa ficcional,
enquanto a tradução dos textos teatrais, quando não feita pelo próprio encenador, é deixada à
responsabilidade de alguém bastante próximo do mundo do teatro. O texto teatral é o principal
elemento dentro da apresentação cénica. O texto teatral representa uma história criada por um
Autor, encenada por Atores, contada para um Público. Por ser basicamente narrado por meio
de diálogos, é chamado de texto Dramático. Através dos textos, todos os elementos que
compõem uma peça teatral são determinados: lugar, tempo em que se passa as cenas ou a
história, características das personagens, etc. Os autores ao pensarem, ou criarem, seus textos
dramáticos fundamentam-se em teorias, que reflectem todo um momento histórico de uma
sociedade. Uma teoria dramática influencia directamente no desenvolvimento dos diferentes
géneros teatrais. O texto dramático realiza-se como texto teatral através de um complexo
processo de transfiguração intersemiótica ou através de um complexo processo de
retextualização. O texto principal do texto dramático deixa de ser comunicado como um texto
escrito, submetido às regras, às convenções e ao condicionalismo da comunicação literária,
para se transformar num texto oralmente realizado por instâncias de enunciação ficticiamente
encarnadas por actores, por comediantes e comunicado por espectadores pelo canal vocal-
auditivo.

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4. Referências bibliográficas

Alves, C. M. F. & Antunes, P. (2005). A criação dramática: o fazer e o pensar – um estudo


com futuros professores do 1º Ciclo do Ensino Básico. Braga: Universidade do Minho.
Bakhtin, M. (2010). “Os gêneros do discurso”. Em Estética da criação verbal. Tradução
de Paulo Bezerra. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, pp. 262-335.
Bourscheid, M. (2008). Encenação e performance no teatro grego antigo. Curitiba:
Universidade Federal do Paraná.
Bronckart, J. P. (1993). “Aspects génériques, typiques et singuliers de l’organisation
textuelle; des actions au discours”. Em Conferência no colóquio Texto e
compreensão. Madri, Universidade Complutense de Madri, 10-20.
Calvo, N. R. (s.d.). Para leer un texto dramático. Disponível em:
https://books.google.pt/books?id=V-ItE3ew81IC&Ip
Diegues, F. M. B. C. (2010). O texto dramático em contexto de sala de aula: proposta para
uma nova abordagem. Dissertação de Mestrado. Porto: Universidade do
Porto/Faculdade de Letras.
Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, v. 5, p. 61.
Marcuschi, L. A. (2010). Da fala para a escrita – atividades de retextualização. São
Pau-lo: Cortez.
_____. “Gêneros textuais: definição e funcionalidade”. Em DIONÍSIO, A. P.;
Pavis, P. (2002). Le théatre contemporain – analise des textes, de Sarraute à Vinaver.
Paris: Nathan.
Pietraróia, C. M. C. (1997). Percursos de leitura – léxico e construção do sentido na
leitura em língua estrangeira. São Paulo: Annablume.
Rocha, F. M. C. (2007). A produção de textos dramáticos na educação básica: Um estudo
com alunos do 4º ano. Dissertação de mestrado. Aveiro: Universidade de Aveiro.
Silva, A. M. P. F. (2007). Escrever em oficinas de texto dramático: estudo de casos.
Dissertação de mestrado. Aveiro: Universidade de Aveiro.
Stake, R E. (2016). Pesquisa qualitativa: estudando como as coisas funcionam. Porto
Alegre: Penso Editora.

Toro, A. G. (2011). Teatralidad: Cómo y por qué enseñar textos dramático. Barcelona: Graó.
Ubersfeld, Anne.(1996). Para ler o teatro. São Paulo: Perspectiva.

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