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Índice
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I. Introdução
Uma expressão idiomática ocorre quando um termo ou frase assume significado diferente
daquele que as palavras teriam isoladamente. Assim, a interpretação é captada globalmente, sem
necessidade da compreensão de cada uma das partes. Usamos expressões idiomáticas a todo
instante.
O presente trabalho visa discutir as diferentes formas como as expressões idiomáticas são usadas
na comunicação na visão de certos autores, como ponto de partidas, propomos os seguintes
objetivos:
Específicos:
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Expressões idiomáticas (conceito)
Expressões idiomáticas são recursos da fala e da escrita, que ganham novos sentidos conotativos e
ultrapassam seus significados literais quando aplicados em contextos específicos. Como por
exemplo “estar com a cabeça nas nuvens” com o sentido de estar distraído. Por isso, a sua
interpretação deve ser feita de maneira geral, sem ter que observar cada elemento que compõe a
sentença. Muitas vezes, essas expressões não podem ser traduzidas e só podemos compreendê-las avaliando
o contexto em que foram utilizadas.
Lima (2012, p.598), ao tratar sobre expressões idiomática, as refere como sendo Figuras de
Linguagem “que são certas maneiras de dizer que expressam o pensamento ou o sentido com
energia e colorido, a serviço das intenccoes estéticas de quem as use”. Isto e, há uma agregação
de novos valores semânticos na relação estabelecida entre as palavras dentro de um contexto
linguístico.
A competência comunicativa
Para falar do uso das expressões idiomáticas na comunicação e importante compreender o que a
competência comunicativa. No final dos anos sessenta Dell Hymes, um conceituado linguista
americano, criou o conceito de “competência comunicativa” reagindo à teoria de Noam Chomsky
(1965) que tinha criado uma distinção entre competência linguística e desempenho. Hymes
defendia que se adquire a capacidade de comunicar ao utilizar a língua nos mais variados
contextos. Esta teoria “engloba tanto o conhecimento da língua como a capacidade de a usar.”
(Esperança, 2004: 14). Em 1972, este linguista redigiu um artigo intitulado “On communicative
competence” que, apesar de não ter sido escrito para a aprendizagem de uma língua estrangeira,
serviu de base para esse tipo de ensino e começou a ser estudado por muitos. Também Michael
Halliday, linguista britânico e australiano, que criou desde os anos cinquenta o conceito de
“Systemic-Functional Linguistics” ia contra o que defendia Chomsky relativamente à aquisição
de uma língua, pois este defende que “a língua deixa de ser um mero sistema regulado por regras
e passa a ser estudada de um ponto de vista sócio-semiótico, considerando-a como um sistema de
produção de significados” 7 – este conceito foi desenvolvido por outros estudiosos ao longo dos
anos. O linguista também escreveu Language as Social Semiotic: The Social Interpretation of
Language and Meaning (1978), defendendo que se deveria estudar uma língua tendo em
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consideração o funcionamento da mesma em sociedade. Desta forma, nos anos setenta, Hymes e
Halliday (e certamente muitos outros que os seguiram) “Defendiam que de nada adianta estudar a
língua se não se souber utilizá-la.” (Diatta, 2016: 27-28).
Um nativo quando se encontra num processo de comunicação não reflete sobre se está a utilizar
uma EI ou não e não se questiona se o interlocutor conhece aquela expressão ou se a vai
compreender, para um nativo utilizar uma EI é algo natural e, na maioria das vezes, não se
apercebe de que está a utilizar uma expressão idiomática. Nesta reflexão, defendemos que a
riqueza de uma língua está para além da própria gramática, está no uso e seu carácter evolutivo,
dinâmico e flexível.
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Expressões Idiomáticas como um recurso da língua
Utilizamos as EIs nas diferentes formas de comunicação ao longo dos nossos discursos e com
diferentes fins. Amaral (1947), decidiu enumerar os vários fins da utilização de EIs no discurso.
O primeiro fim apresentado é a ironia. Este autor afirma que “Na ironia podemos encontrar certa
gradação que vai do sarcasmo ao eufemismo, espraiando-se pela zombaria, pelo motejo ou pelo
remoque, ou anichando-se na antífrase ou na paremia, isto é, na significação intencional de um
provérbio.” (1947: 444). Relativamente ao emprego das EIs no discurso dos portugueses e ao
facto de estes as utilizarem sem se aperceberem realmente de que o estão a fazer, o autor afirma o
seguinte:
Após a ironia, o autor refere a ênfase, descrevendo-a como “ditos portuguesíssimos, cuja
característica é a força da expressividade, é a violência de sentido ou de imagem, dições cuja
virtude está no magistral emprego de exageros, que são, no entanto, boa imagem de verdades
fortes que se têm para dizer.” (1947: 445-446) e de seguida fala-nos do oposto, de uma
“imprecisão intencional” (1947: 446). Para o autor o paradoxo ou o contraste de certos
fraseologismos servem para dar a estes “um jogo de paradoxo semântico de invulgar poder
frásico.” (1947: 447) e também faz referência às antíteses, que para o autor são “as oposições que
visam ao realce das ideias.” (1947: 447) pensamos que podemos exemplificar esta ideia com a EI
“não ter pés nem cabeça” ou “fazer do pé para a mão”. Para finalizar os comentários sobre os
valores das EIs no discurso, o autor (1947: 149- 150) afirma:
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procurar colher flores expressivas no vastíssimo campo da nossa
fraseologia.
Também sobre os valores das EIs no discurso, Santos (1990) afirma que as EIs servem para
vários fins “indo da sugestão poética ao realismo prosaico, do comentário irreverente ao
conformismo dócil, da ironia subtil à rude fraqueza.” (1990: 9). Alguns anos mais tarde, Xatara
(1995), também na linha dos autores já referidos, decide dividir os vários valores das EIs em:
assertivo, eufemístico, enfático e irónico (1995: 201-202). Vilela (2002), na mesma linha de
pensamento, enumera os diferentes tipos de expressividade que alcançamos, através das EIs:
intensificar, ironizar, rimar e suavizar (2002: 183-184). Como afirma o autor “trata-se de um
amplo leque de conotações onde a expressividade tem múltiplos “portais” sempre disponíveis
para a ironia, para o implícito, para a inferência, para a avaliação, normalmente, de pendor
negativo” (2002: 184).
Jorge e Jorge (1997) defendem que o discurso publicitário, por exemplo, recorre a estas unidades
como forma de seduzir, persuadir ou convencer o público (1997: 11). As autoras também
defendem o valor argumentativo da linguagem idiomática:
Concordando com os valores acima descritos, passemos a uma exemplificação simples e eficaz.
Lendo estes dois enunciados, parece-nos evidente que o segundo é mais expressivo e dá mais
força à ideia de “caro”. Quando um nativo quer enfatizar a ideia de algo caro utiliza esta
expressão de forma natural e o efeito pretendido é conseguido, como defende Jorge (2012) “A
fraseologia interage com o discurso, é discurso, e reforça a expressividade do enunciado” (2012:
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62). Podemos assumir que, para os nativos que leem os enunciados referidos acima, a diferença é
óbvia.
Alvarez (2012) acrescenta ainda que as EIs “permitem aos falantes desabafar as tensões, os
sentimentos, as emoções [...] a ironia, o sentido trágico e gracioso da vida etc.” (2012: 12). A
autora declara que as unidades fraseológicas são expressões vivas e únicas, muitas vezes, numa
língua e “especificidades das culturas, transportadas pela inerência da sua expressividade e
emotividade, expressa nos relatos da vida, cheia de densos significados humanos, políticos e
ideológicos.” (2012: 358).
Nesta definição, para além das diferentes razões pelas quais utilizamos as EIs, deparamo-nos com
a ligação entre EI e o seu dinamismo, ou seja, o facto de serem expressões vivas, que podem
permanecer durante décadas numa língua ou desaparecerem pela falta de uso, assim como a sua
unicidade e ligação intrínseca à cultura de um país e/ou povo.
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Conclusão
De acordo com os objectivos propostos neste trabalho, concluímos que Expressões idiomáticas são
recursos da fala e da escrita, que ganham novos sentidos conotativos e ultrapassam seus significados
literais quando aplicados em contextos específicos. Como por exemplo “estar com a cabeça nas
nuvens” com o sentido de estar distraído.
As EIs exercem várias funções, uma delas é a de simplificar uma argumentação, permitindo
ironizar ou sugerir algo que não se ousa falar diretamente. Desse modo, elas exigem uma
interpretação, sendo assim, seu domínio possibilita que se conheça ainda mais o idioma. O
motivo que leva um falante ou um escritor a usar expressões idiomáticas é o desejo de
acrescentar à mensagem algo que a linguagem convencional não poderia suprir. Uma expressão
idiomática pode enriquecer uma frase, dando-lhe força ou sutileza, pode enfatizar a intensidade
dos sentimentos de alguém e pode ainda atenuar o impacto de uma declaração austera, com
humor ou ironia.
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Reference Bibliography
Lima, C. H. (2012). Gramatica Normativa da Lingua Portuguesa. 50 ed. Rio de Janeiro: Jose
Olimpio.