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CURITIBA
2021
ANDRÉ SOUZA DOS SANTOS
Oral history and comics: contributions of Graphic Design and the concept of
multimodal text in the production of an open educational resource
CURITIBA
2021
__________________________________________________________________________
Claudia Bordin Rodrigues da Silva
Doutora
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
__________________________________________________________________________
Luciano Henrique Ferreira Da Silva
Doutor
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
__________________________________________________________________________
Ed Marcos Sarro
Doutor
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
CURITIBA
2021
AGRADECIMENTOS
SANTOS, André Souza dos Santos. Oral history and comics: contributions of
Graphic Design and the concept of multimodal text in the production of an open
educational resource. 2021. Final paper (Graphic Design Technology) -
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2021.
Comic books can be a powerful tool in the process of teaching and learning history.
As multimodal texts par excellence, when articulating different semiotic modes, they
can contribute to the articulation of historical concepts related to temporality. This
work aimed to develop an open educational resource (OER) for the teaching of
History in Elementary School - Early Years based on the language of comics, the
methodology of Oral History and concepts in the areas of Historical Education and
Social Semiotics.
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................13
1.1 OBJETIVOS ......................................................................................................14
1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO .........................................................................15
2 HISTÓRIA NAS HQS ...........................................................................................16
2.1 O ENSINO DE HISTÓRIA E AS HQS ...............................................................16
2.2 EXEMPLOS DE HQS NO ENSINO DE HISTÓRIA ...........................................23
2.3 QUADRINHOS, LICENÇAS ABERTAS E REA ................................................26
3 SEMIÓTICA E HISTÓRIA COM AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS .................30
3.1 PENSANDO OS QUADRINHOS COMO TEXTOS MULTIMODAIS A PARTIR DA
SEMIÓTICA SOCIAL ..............................................................................................30
3.2 PENSANDO OS QUADRINHOS COMO INSTRUMENTOS PARA
ARTICULAÇÃO DE CONCEITOS DE SEGUNDA ORDEM COM A EDUCAÇÃO
HISTÓRICA .............................................................................................................32
3.3 ANÁLISE DOS RECURSOS SEMIÓTICOS DE SIMILAR: 1968 DITADURA
ABAIXO ...................................................................................................................36
4 DESENVOLVIMENTO DE UM REA PARA ENSINO DE HISTÓRIA COM HQS .42
4.1 CONCEITO DO RECURSO EDUCACIONAL ABERTO ...................................42
4.2 PAINEL SEMÂNTICO .......................................................................................43
4.3 ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO .................................................................44
4.3.1 CADERNO DE ORIENTAÇÕES AO PROFESSOR .......................................45
4.3.2 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS AOS ALUNOS .............................................50
4.3.3 DISPONIBILIZAÇÃO DO REA ........................................................................54
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................57
REFERÊNCIAS.......................................................................................................59
APÊNDICE A - Caderno de Orientações ao Professor (versão em cores) .......64
APÊNDICE B - Caderno de Orientações ao Professor (versão preto e branco)
.......................................................................................................84
APÊNDICE C - HQ Espaço e tempo se fundem ..................................................104
APÊNDICE D - HQ Um dia de Rita (cores e preto e branco) ..............................105
APÊNDICE E - HQ Um dia de Aurora (cores e preto e branco) .........................106
APÊNDICE F - HQ Instrução à pesquisa (cores e preto e branco) ...................108
APÊNDICE G - Slides - Caderno de Orientação ao Professor ...........................110
APÊNDICE H - Licença Creative Commons Atribuição-CompartilhaIgual 4.0
Internacional .......................................................................................................118
13
1 INTRODUÇÃO
de um fazer a muitas mãos. Assim, a escolha pelo uso e produção de recursos livres
e gratuitos, sempre que possível, acompanhou todas as decisões do projeto.
Acredito que a produção de um recurso didático a partir dos conhecimentos
e práticas relacionados ao Design Gráfico, aliado a conceitos de ensino de história e
experimentações anteriores com a linguagem dos quadrinhos situadas em sala de
aula, pode ser pertinente ao trazer aspectos de outras áreas para a metodologia do
Design e, estas, fundamentarem a elaboração de um texto que articula diferentes
meios semióticos – como o são as histórias em quadrinhos. Ao mesmo tempo,
pessoalmente, este projeto representa um valioso momento em que, ao trazer a
produção de recursos didáticos à avaliação e discussão com outros designers,
assim como, e principalmente, professores e professoras que conectam o estudo
dos quadrinhos aos seus usos, possamos explorar e encontrar possíveis caminhos
de encontro entre áreas, às vezes, tão distantes: o Design e a História.
1.1 OBJETIVOS
Assim como seria difícil traçar um ponto no tempo em que a escrita surgiu —
diferenciando-se dos recursos gráficos para fins de comunicação e de cujos usos,
aplicações e transformações ela é fruto —, seria penoso afirmar quando surgiu a
“linguagem” das histórias em quadrinhos.
Não é o objetivo, aqui, discutir sobre a transformação de representações
pictóricas de ícones em símbolos, construindo diferentes recursos simbólicos de
comunicação, seja de correlação fonética ou não. Tão pouco pretendemos esmiuçar
o processo de formação dos elementos que compõem a linguagem das histórias em
quadrinhos — o que poderia nos levar, como o fez Scott McCloud (1995, p. 10-19), a
uma longa digressão que incluiria códices mixtecas do século XIV, a Coluna de
Trajano erigida no século II e mesmo pinturas rupestres como as de Lascaux,
datadas de 17000 AEC. Para compreender a trajetória das histórias em quadrinhos
e o ensino, partimos do ponto em que elas estavam prestes a se estabelecer e
serem reconhecidas como tais: o final do século XIX e início do século XX.
A crescente produção de livros, periódicos e revistas ilustradas durante os
anos 1800 foi acompanhada pela experimentação no uso e impressão de textos e
imagens, de modificações técnicas relevográficas e planográficas (SILVA, 2012, p.
45). Periódicos em diferentes países dividiam suas páginas entre o noticioso e as
tiras (comic strips) caracterizadas pelo humor, pela caricatura e pela narrativa —
exemplos clássicos são encontrados no Brasil com Angelo Agostini, e seus
personagens Nhô-Quim e Zé Caipora da década de 1890, e nos EUA com Richard
Outcault, e seu Yellow Kid da década de 1890 (EDGAR & SEDGWICH, 2007, p. 54;
SILVA, 2012, p. 48-63; PAZ, 2017, p. 50-71).
17
1 Disponível em:
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Yellow_Kid_Indulges_In_A_Cockfight..._A_Waterl
oo.jpg> . Acesso em 15 mar. 2021.
2 “Todos os elementos semânticos que conhecemos como típicos da linguagem dos comics,
foram sistematizados e aprimorados nestes períodos de afirmação da comic art [três primeiras
décadas do século XX]: balões, legendas, vinhetas, requadros, sarjetas, onomatopeias, linhas
cinéticas entre outros elementos gráficos, se institucionalizaram como códigos de linguagem
sequencial (COUPERIE; HORN, 1973)”. (SILVA, 2012, p. 52)
18
Figura 3 – Selos do Comics Code Authority (EUA) e Código de Ética dos Quadrinhos (Brasil).
3 NALIATO, Samir. Confins do Universo 002 – A censura nos quadrinhos. Universo HQ, 5 set.
2015. Disponível em: <http://universohq.com/podcast/confins-do-universo-002-a-censura-nos-
quadrinhos/>. Acesso em: 15 mar. 2021
4 WILL EISNER. The Army Years and PS Magazine. Disponível em:
<http://www.willeisner.com/biography/5-the-army-years.html>. Acesso em 15 mar. 2021.
5 PS MAGAZINE: informing army readiness. PS History. Disponível em:
<http://www.psmagazine.army.mil/About-PS/PS-History/>. Acesso em 16 mar. 2021
20
6 Disponível em:
<https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:PS,_The_Preventive_Maintenance_Monthly>.
Acesso em: 16 mar. 2021.
21
Figura 5 – Detalhe de capa de livro escolar de 1949 produzido pela National Comics e
distribuído pelo Institute for American Democracy; e detalhe de página de HQ chinesa durante
o governo de Mao Tse-Tung.
7DCE EDITORIAL. Superman: a classic message restored. DC Comics, ago. 2017. Disponível
em: <https://www.dccomics.com/blog/2017/08/25/superman-a-classic-message-restored>.
Acesso em: 15 mar. 2021.
22
Figura 9 – Detalhe de quadrinho de Asterix entre os Bretões (1962) com uma paródia dos
ônibus de dois andares ingleses
Por fim, Vilela ainda pontua a potencialidade de HQs como recursos de base
à discussão de conceitos importantes para a história como bárbaro/civilizado,
império, expansionismo (2014, p. 1324) — o que também caracterizamos como
conceitos substantivos do ensino de história — e anacronismo (2014, p. 1441), ao
qual adicionamos outros conceitos de segunda ordem como permanências, rupturas
e periodizações — noções que contribuem na identificação, compreensão e crítica
de “processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas
sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo” (BRASIL, 2018, p.
402). Neste caso, o autor sugere a revista Conan, o Bárbaro (1952) para debater as
ideias de barbárie e civilização e O Príncipe Valente para discutir o conceito de
anacronismo — neste caso deliberado.
Histórias em quadrinhos são uma linguagem narrativa que Will Eisner definiu
como arte sequencial e sobre a qual Scott McCloud se debruçou expandindo o
conceito, apontando como outras linguagens visuais são igualmente sequenciais
(como o cinema) e mesmo chegando a discutir a relevância da atribuição a ela do
estatuto de “arte” (EISNER, 1989, p.8; MCCLOUD, 1995, p. 5-9; 2006, p. 200).
Apontamos aqui, contudo, que ainda que seja formada por diferentes modos
de comunicação (escrita e imagética a princípio), podemos considerá-la um modo
semiótico, que faz usos específicos de recursos semióticos e opera sob uma lógica
semiótica própria (SANTOS, 2019, p. 22-37). Para tanto, nos apoiamos na semiótica
sob a perspectiva multimodal.
Nosso estudo parte dos mesmos princípios apontados por Carey Jewitt e
Gunther Kress em Multimodal Literacy:
Ainda que às vezes possamos falar de teoria multimodal, a teoria por trás
da multimodalidade e com a qual nós (C.J., G.K.) trabalhamos é a teoria
semiótica, e para nós a forma de semiótica que adotamos é a semiótica
social. (JEWITT & KRESS, 2003, p. 9, tradução nossa).
história oral — que permitia alcançar pessoas e grupos antes invisibilizados pela
historiografia tradicional — multiplicaram as publicações na área.
Simultaneamente — e não coincidentemente — a todo esse processo, a
discussão sobre o ensino da história se transformou. Até meados do século XX, ela
foi pautada pela ideia de transposição direta do conhecimento histórico, formalmente
desenvolvido no meio acadêmico, para o espaço escolar. As pesquisas então
desenvolvidas — a partir da década de 1960, especialmente na França e na
Alemanha — modificaram esta visão hegemônica, passando então a colocar o saber
histórico escolar em uma posição qualitativamente e não hierarquicamente diferente
do acadêmico (SILVA, Cristiane 2019, p. 49). No Brasil, as décadas de 1980 e 1990
marcam esta passagem com a produção de pesquisadores das universidades
brasileiras e com a tradução de obras como as de Jörn Rüsen, um dos expoentes da
escola alemã sobre didática da história (SILVA, Cristiane 2019, p.50; CARDOSO,
2019, p. 83).
Atualmente, no Brasil, o ensino de história é pensado de forma a incluir o
trabalho com os diferentes tipos de fontes históricas desde os anos iniciais do
Ensino Fundamental. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que
orienta o ensino dos diferentes componentes curriculares da Educação Básica, vê
nesta metodologia a oportunidade de incutir em alunos e professores uma “atitude
historiadora”, a produção de conhecimento de forma autônoma diante dos objetos de
conhecimento propostos e a percepção e construção de diferentes narrativas,
partindo sempre
[...] do tempo presente. O passado que deve impulsionar a dinâmica do
ensino-aprendizagem no Ensino Fundamental é aquele que dialoga com o
tempo atual. (BRASIL, 2018, p. 397)
11 Os conceitos de segunda ordem, definidos por Peter Lee, são conceitos estruturais do
conhecimento histórico, balizantes dos conceitos substantivos da história como ditadura, democracia,
Idade Média e Renascimento. Cf. SANTOS & CAINELLI, 2016.
36
Fonte: o autor.
12 Capa de Asterix entre os Bretões (Fonte: Asterix entre os bretões. Asterix. Disponível em:
<https://www.asterix.com/pt-pt/a-colecao/os-albuns/asterix-entre-os-bretoes/>. Detalhe de página
de Turma da Mônica: O que é CDC? (Fotne: NHSINGO. Turma da Mônica e UNICEF publicam
páginas sobre a Convenção sobre os Direitos da Criança. ABRAL. Disponível em:
<https://abral.org.br/turma-da-monica-e-unicef-publicam-paginas-sobre-a-convencao-sobre-os-
direitos-da-crianca/>. Acesso em: 17 mar. 2021.Acesso em: 17 mar. 2021). Página de 1968
Ditadura Abaixo (Fonte: URBAN, 2008, p. 130). Detalhe de página de A Infância do Brasil.
(Fonte: AGUIAR, José. A Infância do Brasil [recurso eletrônico]. Capítulo 2: Século XVII, p. 13.
Disponível em: <https://www.ainfanciadobrasil.com.br/capitulos/>. Acesso em: 17 mar. 2021).
Detalhe de página do livro didático Buriti Mais História (Fonte: Buriti Mais História (1º ano —
manual do professor). São Paulo: Moderna, 2017, p. 52. Disponível em:
<https://pnldf1.moderna.com.br/historia/buritimais>. Acesso em: 17 mar. 2021.)
45
13À esquerda, detalhe de página do livro do professor da coleção Buriti Mais História. (Fonte:
Buriti Mais História (2º ano — manual do professor). São Paulo: Moderna, 2017, p. 96.
Disponível em: <https://pnldf1.moderna.com.br/historia/buritimais>. Acesso em: 30 abr. 2021)
46
Ainda que voltado aos alunos, ele segue os mesmos critérios de projeto
estabelecidos para o caderno do professor, exceto pelo uso do texto em caixa alta.
Para seu uso complementar à proposta de aulas e atividades, priorizamos uma
organização de simples preenchimento e remixagem, dado que este é o principal
instrumento de recolha de informações do projeto – podendo, portanto, ser
modificado para a adequação ao contexto e realidade local de cada escola.
Segundo seus autores, sua licença que permite o uso livre e gratuito,
inclusive para fins comerciais, foi pensada de maneira a suprir uma lacuna de boas
fontes para uso em histórias e quadrinhos, com suporte a outras línguas que não o
inglês e com ampla variedade de glifos — aspecto fundamental em nosso projeto ao
pensarmos sua utilização em um recurso educacional aberto.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
EDGAR, Andrew; SEDGWICH, Peter (ed.). Cultural Theory The Key Concepts.
Londres: ROUTLEDGE, 2007.
EISNER, Will. Quadrihos e arte sequential. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
JEWITT, C., & KRESS, G. Chapter 1: Introduction. In: JEWITT, C. & KRESS, G.
(eds.) Multimodal Literacy. New York: Peter Lang Publishing, 2003, p.1-18.
OLIVEIRA, Thiago Augusto Divardim de. Diálogos entre Paulo Freire e Jörn Rüsen
na perspectiva da práxis: possibilidades para contraposição ao debate das
competências. In XXVII Simpósio Nacional de História da ANPUH: conhecimento
histórico e diálogo social. Natal, jul. 2013.
PINSKY, Carla B. (Org.). Novos temas nas aulas de história. São Paulo: Contexto,
2011.
SANTOS, André Souza dos. Que Escola Será Esta? - Narrativas sobre o espaço
através de bandas desenhadas e fotografias com crianças do 4o Ano do 1o Ciclo do
Ensino Básico de Leiria. Relatório de Pesquisa (Mestrado em Intervenção e
Animação Artísticas). Leiria: IPLeiria, 2019.
SANTOS, Anilton Diogo dos; CAINELLI, Marlene Rosa. O uso do conceito de tempo
em sala de aula: entre o conteúdo substantivo e o de segunda ordem nas aulas de
História. In: XV Encontro Regional de História do Paraná: 100 anos da Guerra do
contestado, Curitiba, UFPR, 2016.
SANTOS, Záira Bomfante dos; MEIA, Ana Clara Gonçalves Alves de. A produção de
textos multimodais: a articulação dos modos semióticos. RevLet - Revista Virtual
de Letras, v. 2, n. 1, 2010, p. 304-318.
62
SILVA, Cristiane Bereta da. Conhecimento histórico escolar. In: FERREIRA, Marieta
de Moraes; OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coords.). Dicionário de ensino de
História. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2019, p. 49-53. Versão ebook.
SILVA, Moisés Pereira; OLIVEIRA, Jôyara Maria Silva de. Paulo Freire e a Educação
Histórica: desafios e possibilidades para a atuação docente no Sistema Modular de
Ensino da rede pública estadual paraense. In Revista Debates Insubmissos,
Caruaru, PE, UFPR, ano 2, v.2 n. 4, 2019, p. 34-47. Disponível em:
<https://periodicos.ufpe.br/revistas/debatesinsubmissos/article/view/239695>.
Acesso em: 12 mar. 2021.
URBAN, Teresa. 1968 Ditadura Abaixo. Curitiba: Arte & Letra, 2008.
WILL EISNER. The Army Years and PS Magazine. Will Eisner. Disponível em:
<http://www.willeisner.com/biography/5-the-army-years.html> Acesso em 15 mar.
2021.
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