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SÃO PAULO
2023
SUMÁRIO
RESUMO………………………………………………………………………………………3
INTRODUÇÃO……………………………………...…………………………………….…..4
OBJETIVOS…………………………………………………………………………………...6
JUSTIFICATIVA……………………………………………………………………………….
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METODOLOGIA E DOCUMENTAÇÃO…………………………………………….
……………………………..7
CRONOGRAMA………...…………………………………………………………………….9
BIBLIOGRAFIA...……………………………………………………………………..…….10
ANEXOS……...…………………………………………………………………………...…12
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RESUMO
O projeto propõe-se a estudar e apresentar uma experiência de Teatro Fórum, a qual será fruto
de um programa artístico-pedagógico desenvolvido pela presente autora em conjunto com
crianças de faixas etárias variadas (6 a 12 anos) participantes do grupo Batatinha Frita
Coletivo Teatral do Riacho oriundo da favela São Remo, Zona Oeste da capital paulistana.
Nesse sentido, com base nos estudos de Boal (2015), Santos (2019), Pupo (2005) e Netto
(2018), planeja-se conduzir os encontros semanais previstos no programa artístico-pedagógico
e analisar o percurso do grupo, tendo como critérios estruturas do fazer teatral. Alguns pontos
possíveis de reflexão são: a apropriação do material narrativo escolhido e reconhecimento da
temática abordada; a formação e integração do coletivo; e o desenvolvimento físico, vocal e
imaginativo. Além disso, será feita uma breve avaliação acerca do impacto da experiência de
Teatro Fórum na comunidade citada. Assim, o projeto caminha para contribuir com os estudos
da pedagogia teatral com crianças ao buscar uma intersecção entre a função artística e a
função social do teatro.
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INTRODUÇÃO
Seguindo essa lógica, vê-se a necessidade do lúdico e da narrativa para que o trabalho
possa se desenvolver estética e tematicamente com as crianças. Os estudos de Maria Lúcia
Pupo (1991, 2005) no que tange à pedagogia teatral, às reflexões sobre o lúdico e a construção
de sentidos e ao uso de textos narrativos enquanto propulsores de jogo e vice-versa serão
referências fundamentais para o seguimento da pesquisa. Até o momento, foram feitos jogos,
tais como: “Imagem da Hora”; “Quantos 'as"'; “Máquina de Ritmos”; “Imagem da palavra”; e
outros no sentido de adentrar os assuntos relevantes à vida dessas crianças. Para inspirar as
criações do grupo, escolhi um conto africano, comumente nomeado “O Jabuti de Asas”,
presente no livro “O mundo se despedaça” do autor nigeriano Chinua Achebe. A partir dessa
narrativa lúdica que conta a história de um desentendimento entre pássaros e um jabuti, em
ocasião de uma festa no céu proposta pelos deuses, que acaba por causar a formação
aparentemente quebradiça do casco do segundo animal, pretende-se criar a dramaturgia do
Teatro Fórum. Até a apresentação da experiência para a comunidade teremos
aproximadamente um percurso formado por doze encontros.
Por fim, assim como Carolina Angélica Netto, doutoranda em Educação, Contextos
Contemporâneos e Demandas Populares e integrante do grupo Magdalenas Anastácia do
Centro de Teatro do Oprimido do Rio de Janeiro, considera sua pesquisa uma Pesquisa-Ação
Ativista, também considero esta, já que ela não busca uma ideia de neutralidade e é “uma
pesquisa ação com caráter de intervenção”. Como parte do estudo são incluídas as minhas
experiências sociais e políticas juntamente com as dos participantes envolvidos no campo da
investigação para elaborarmos sobre “Como criar coletivamente uma experiência de
Teatro Fórum com crianças residentes da favela São Remo?”
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OBJETIVOS
O projeto tem por objetivo criar e apresentar uma experiência de Teatro Fórum com
crianças do grupo Batatinha Frita Coletivo Teatral do Riacho residentes na favela São
Remo, Zona Oeste de São Paulo. Desse modo, os objetivos específicos para a concretização
da pesquisa são:
1. Estimular o interesse pela linguagem teatral e democratizar o acesso à arte, por meio
do planejamento e execução de aulas de teatro semanais no Centro Cultural Riacho
Doce;
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JUSTIFICATIVA
METODOLOGIA E DOCUMENTAÇÃO
CRONOGRAMA
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Elaboração da monografia
BIBLIOGRAFIA
ACHEBE, Chinua. O mundo se despedaça. São Paulo, Companhia das Letras, 2009.
___. 200 Exercícios e Jogos para o Ator e o Não-Ator com Vontade de Dizer Algo Através do
Teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 4ª edição, 1982.
___. Jogos para Atores e Não Atores. Posfácio: Sergio de Carvalho. Tradução: Barbara
Wagner Mastrobuono e Célia Euvaldo. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
CAMELO, Diego de Castro. Mediação teatral e infância: pistas para uma aproximação a
partir do faz de conta. Monografia (Graduação). Escola de Comunicações e Artes,
Universidade de São Paulo, 2020.
GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro educador: saberes construídos nas lutas por
emancipação. Petrópolis: RJ, Vozes, 2017.
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LEAL, Dodi (org). Teatra da Oprimida [livro eletrônico]: últimas fronteiras cênicas da pré-
transição de gênero. Porto Seguro: UFSB, 2019.
NASCIMENTO, Rachel . Letramento racial crítico e teatro das oprimidas: Peça “Nega ou
Negra?” do Coletivo Madalena Anastácia. 2018. (Apresentação de Trabalho: X COPENE - X
Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as Negros/as).
___. Cor das Oprimidas: Coletivo Madalena Anastácia como movimento feminista negro
educador. Dissertação (Mestrado). Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow
da Fonseca (CEFET/RJ), 2019.
NETTO, Carolina Angélica Ferreira. Por uma educação antirracista: teatro do oprimido,
letramento étnico-racial e a transformação social de meninas negras. Dissertação
(Mestrado). Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ),
2018.
PUPO, Maria Lúcia de Souza Barros. No reino da desigualdade: Teatro Infantil em São
Paulo nos anos setenta. São Paulo: Perspectiva, 1991.
___. O lúdico e a construção do sentido. São Paulo: Sala Preta, 2001, v.1, p. 181-187.
https://doi.org/10.11606/issn.2238-3867.v1i0p181-187
___. Entre o Mediterrâneo e o Atlântico, uma aventura teatral. São Paulo: Perspectiva, 2005.
SANTOS, Bárbara. Teatro do Oprimido Raízes e Asas: uma teoria da práxis. 1ª ed. Rio de
Janeiro: Ibis Libris, 2016.
___. Percursos Estéticos: imagem, som, ritmo, palavra – abordagens originais sobre o
Teatro do Oprimido. 1ª ed. São Paulo: Padê editorial, 2018.
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ANEXOS
— Uma vez — começou ela — todos os pássaros foram convidados para uma festa no céu.
Estavam felicíssimos, preparando-se para o grande dia. Pintavam o corpo com tintura
vermelha de madeira e nele faziam belos desenhos. O Cágado, que assistia a todos esses
preparativos, logo descobriu o significado daquilo tudo. Nada do que acontecia no mundo dos
animais lhe escapava, pois era muito astuto. Tão logo ouviu dizer que ia haver uma grande
festa no céu, sua goela começou a coçar só de pensar no assunto. Naqueles dias estava
havendo uma grande escassez de alimentos e fazia duas luas que o Cágado não comia uma
boa refeição. Seu corpo chocalhava todo como um pedaço de pau seco dentro de um casco
vazio. Então começou a planejar uma maneira de
ir ao céu.
O Cágado não tinha asas, é verdade, mas mesmo assim foi falar com os pássaros e pediu-lhes
licença para ir com eles à festa. “Nós conhecemos você bem demais”, responderam os
pássaros, depois de ouvi-lo falar. “Você é um sujeito ingrato e cheio de astúcias. Se
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permitirmos que venha conosco, logo, logo fará uma das suas!” O Cágado contestou: “Vocês
pensam que me conhecem. Eu estou completamente mudado. Aprendi que aqueles que
arranjam encrenca para os outros estão mais é arranjando encrencas para si próprios”. O
Cágado tinha muita lábia e em pouco tempo todos os pássaros concordaram que ele tinha
realmente mudado. Então, cada um lhe deu uma de suas penas e com elas o Cágado fabricou
duas asas. Por fim, veio o grande dia e o Cágado foi o primeiro a chegar ao ponto de encontro.
Quando todos os pássaros já estavam reunidos, partiram em bando. O Cágado estava muito
contente e falante no meio das aves e, passado pouco tempo, elas o escolheram para fazer o
discurso durante a festa, porque o consideravam um grande orador. “Há algo muito
importante que não podemos esquecer”, disse ele enquanto voavam para o céu. “Quando as
pessoas são convidadas para uma grande festa como esta, elas costumam adotar nomes novos,
em honra da ocasião. Nossos hospedeiros, lá no céu, naturalmente esperam que sigamos essa
tradição tão antiga.” Nenhum dos pássaros jamais ouvira falar nisso, mas eles sabiam que o
Cágado, embora tivesse outros defeitos, era um sujeito viajado, que conhecia os usos e
costumes de diversos povos. Então, cada um deles resolveu adotar um nome novo. Quando
todos já tinham escolhido um novo nome, o Cágado anunciou o seu. Passaria a se chamar
Todos Vocês. E Ekwefi continuou. — Por fim, o bando chegou ao céu e seus hospedeiros
ficaram muito satisfeitos de vê-los. O Cágado, nas suas plumagens multicores, levantou-se e
agradeceu o convite. Tão eloquente foi seu discurso, que todos os pássaros se sentiram felizes
por tê-lo levado à festa. E abanavam a cabeça, com ar de aprovação, a tudo o que ele dizia. Os
hospedeiros pensaram que o Cágado fosse o rei dos pássaros, principalmente porque parecia
um tanto quanto diferente de seus companheiros. Depois de terem sido trazidas e comidas as
nozes de cola, o povo do céu colocou diante dos convidados os mais deliciosos manjares que
o Cágado jamais vira ou sonhara. A sopa foi trazida quente do fogo, no mesmo caldeirão onde
fora cozinhada. Estava cheia de carne e peixe. O Cágado farejava ruidosamente. Havia pirão
de inhame e também sopa de inhame com peixe fresco, cozida no azeite de dendê. Havia
ainda potes de vinho de palma. Quando tudo foi colocado diante dos convidados, um dos
habitantes do céu adiantou-se e provou um pouco de cada prato. Depois, pediu aos
convidados que começassem a comer. Mas o Cágado, pondo-se de pé num salto, perguntou:
E o hospedeiro respondeu: “Para todos vocês”. Voltando-se para os outros pássaros, o Cágado
disse: “Não esqueçam que meu nome é Todos Vocês. O costume aqui é servirem o orador do
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grupo em primeiro lugar e mais tarde, os restantes. Assim que eu terminar de comer, eles
servirão vocês”. E assim falando, começou a comer, enquanto os pássaros resmungavam entre
si raivosamente. O povo do céu pensou que era uso deles deixarem para o rei toda a comida. E
o Cágado comeu a melhor parte dos pratos e depois bebeu dois potes de vinho de palma, até
ficar tão cheio de comida e de bebida que o corpo mal lhe cabia no casco. Depois, os pássaros
juntaram-se ao redor das tigelas para comer as sobras e bicar os ossos que o Cágado havia
jogado no chão. Alguns estavam tão furiosos que não conseguiam comer. Preferiram voar de
volta à casa, com o estômago vazio. Porém, antes de partir, cada pássaro arrancou do Cágado
a pena que havia lhe emprestado. E ele lá ficou, dentro de seu casco duro, cheio de comida e
de vinho, mas sem asas para o voo de regresso. Pediu aos pássaros que levassem uma
mensagem para a mulher dele, porém todos se recusaram. Finalmente o Papagaio, que ficara
mais furioso que os demais, pareceu mudar de ideia de repente e concordou em leva a tal
mensagem. “Diga à minha mulher”, disse-lhe o Cágado, “que ponha do lado de fora todas as
coisas macias que houver na casa, e cubra todo o compound com elas, para que eu possa pular
do céu sem grande perigo.” O Papagaio prometeu transmitir a mensagem e foi-se embora, a
voar. Mas, quando chegou à casa do Cágado, disse à mulher que pusesse do lado de fora todas
as coisas mais duras que tivesse, em vez das macias. E então a mulher começou a tirar para
fora enxadas, facões, lanças, espingardas e até mesmo um canhão que o marido possuía. O
Cágado olhou lá de cima do céu e viu a mulher tirando coisas da casa, mas a distância era
grande demais para que discernisse os objetos. Quando tudo parecia estar pronto, ele se
deixou cair. Foi caindo, caindo, caindo, que pensou que nunca mais ia parar de cair. E então,
com o barulho de um tiro de canhão, espatifou-se no meio do compound.
— Ele morreu? — indagou Ezinma.
— Não — respondeu Ekwefi. — Mas seu casco ficou todo quebrado.
Porém, como havia nas redondezas um grande curandeiro, a mulher do Cágado mandou
chamá-lo. O curandeiro juntou todos os pedacinhos do casco do Cágado e os colou de novo.
Por isso é que o casco do Cágado é daquele jeito.
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