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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CAMPUS DE CAICÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

RAUL BRENO DA SILVA LUCENA

O BORDADO NA ECONOMIA DO MUNICÍPIO DE TIMBAÚBA DOS


BATISTAS (RIO GRANDE DO NORTE)

CAICÓ – RN
2017
RAUL BRENO DA SILVA LUCENA

O BORDADO NA ECONOMIA DO MUNICÍPIO DE TIMBAÚBA DOS


BATISTAS (RIO GRANDE DO NORTE)

Monografia apresentado ao curso de


Geografia Bacharelado – CERES, como
parte dos requisitos necessários para
obtenção do título de Bacharel em
Geografia.

Orientadora: Profa. Dra. Jeane Medeiros


Silva

CAICÓ – RN
2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Profª. Maria Lúcia da Costa Bezerra - -
CERES--Caicó

Lucena, Raul Breno da Silva.


O Bordado na economia do município de Timbaúba dos Batistas
(Rio Grande do Norte) / Raul Breno da Silva Lucena. - Caicó/RN:
UFRN, 2017.
71f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do


Norte. Centro de Ensino Superior do Seridó. Departamento de
Geografia. Curso de Geografia.
Orientadora: Drª. Jeane Medeiros Silva.

1. Bordado. 2. Economia. 3. Cultura. 4. Timbaúba dos


Batistas. I. Silva, Jeane Medeiros. II. Título.

RN/UF/BS-CAICÓ CDU 746.3(813.2)


Raul Breno da Silva Lucena

A monografia O BORDADO NA ECONOMIA DO MUNICÍPIO DE TIMBAÚBA DOS


BATISTAS, apresentada por Raul Breno da Silva Lucena, foi __________________
como requisito para obtenção do Grau de Bacharel em Geografia.

Aprovada em: ____/ _____/ _____

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________
Prof ª. Dra. Jeane Medeiros Silva
Departamento de Geografia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________________
Prof ª. Ma. Isabel Cristina dos Santos
Departamento de Geografia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________________
Prof ª. Dra. Sandra Kelly de Araújo
Departamento de Geografia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço а Deus que permitiu que tudo isso acontecesse, durante
esses anos de minha vida. Agradeço também a Deus por ter me dado saúde е força
para superar todas as dificuldades ao longo dessa graduação.

Agradeço ao meu Pai, Moacir, um homem que tenho como espelho e exemplo de
vida.

À minha mãe, Rejane, a mulher que me deu a vida, que sempre lutou para a
realização desse sonho.

A meu irmão, Réjones, por toda parceria e ajuda ao longo desses anos.

Agradeço à minha orientadora, Dra. Jeane Medeiros Silva.

Agradeço muito ao amigo e colega de classe: Wanderson Araújo, obrigado pela


força durante esses quatro anos de graduação.

Agradeço a José Santos pelas várias ajudas ao longo desses anos de graduação.

Agradeço a Patrícia pelas várias ajudas para a finalização desse trabalho.

Agradeço aos amigos de longas datas: Claudin, Sidney, Denis, Bruno, Jonas e Léo.

Agradeço à minha Tia Letinha.

Agradeço aos meus amigos e amigas da Universidade, que fiz durantes esses anos
de graduação: Samuel Dantas, Luiz, Inácio, Tonivaldo, Nils, Jucielho, Erasmo,
Samuel Araújo e Camila Cristina.
A dor é temporária. Ela pode durar um
minuto, ou uma hora, ou um dia, ou um
ano, mas finalmente ela acabará e
alguma outra coisa tomará o seu lugar. Se
eu paro, no entanto, ela dura para
sempre.
(Lance Armstrong)
RESUMO

O bordado de Timbaúba dos Batistas é elemento chave para identificarmos a


economia e a cultura da cidade. Reflete fielmente a sua cultura, as origens, o povo,
ou seja, o bordado tem uma grande representatividade em Timbaúba dos Batistas. A
arte de bordar está na prática secular das mulheres, e recentemente também dos
homens timbaubenses. Essa arte foi trazida para a região seridoense através das
mulheres dos colonizadores portugueses, sendo considerado o berço dessa arte a
Ilha da Madeira (Portugal). Por meio dos bordados da Ilha da Madeira se conheceu
melhor um pouco da cultura portuguesa. Essa herança lusitana se perpetua até os
dias atuais e é praticado por milhares de pessoas como gosto para decorar
vestimentas e acessórios domésticos, sendo mesmo uma prática terapêutica. Nos
séculos passados, a prática do bordado funcionava como elemento constitutivo na
formação feminina, sobretudo, na construção do papel da “moça prendada”. Sendo
assim, o bordado era praticado apenas por mulheres como passa tempo ou para
enfeitar os seus enxovais de casamento, no entanto, nos dias atuais, o bordado se
tornou uma atrativa forma de se obter renda para milhares de famílias de toda região
do Seridó, sendo uma alternativa econômica conveniente para quem não possui
outra atividade econômica. Assim, essa pesquisa se propôs como objetivo geral
analisar a atividade bordadeira na cidade de Timbaúba dos Batistas/RN.
Especificamente, procurou compreender sua importância econômica para centenas
de famílias Timbaubenses e entender sua importância cultural para a cidade. Os
resultados indicam que se trata de uma atividade essencial para a sobrevivência das
famílias de Timbaúba dos Batistas.

Palavras-chave: Timbaúba dos Batistas/RN. Bordado. Renda. Economia e cultura.


ABSTRACT

The Timbaúba dos Batistas (Brazil) embroidery is key element to identify the
economy and the culture of the city. It reflects faithfully its culture, the origins, the
people, that is, the embroidery has a great representation in Timbaúba of the
Baptists. The art of embroidery is in the secular practice of women, and recently also
of Timbauban men. This art was brought to the Serido region through the women of
the Portuguese colonizers, being considered the cradle of this art the Island of
Madeira (Portugal). Through the embroidery of the Island of Madeira, a little of
Portuguese culture was better known. This Lusitanian heritage is perpetuated to the
present day and is practiced by thousands of people as a taste to decorate clothing
and domestic accessories, and is even a therapeutic practice. In past centuries, the
practice of embroidery served as a constituent element in the feminine formation,
above all, in the construction of the role of the "stuck-up girl". Thus, embroidery was
practiced only by women as time passes or to adorn their wedding dresses, however,
today, embroidery has become an attractive way to obtain income for thousands of
families from all over Seridó, being a convenient economic alternative for those who
do not have other economic activity. Thus, this research proposed as a general
objective to analyze the embroidering activity in the city of Timbaúba dos Batistas /
RN. Specifically, it sought to understand its economic importance for hundreds of
Timbuktu families and to understand its cultural importance to the city. The results
indicate that this activity is essential for the survival of the Timbaúba do Batistas
families.

Keywords: Timbaúba dos Batistas / RN. Embroidery. Income. Economy and culture.
LISTA DE FIGURAS

1 – Máquina popularmente conhecida por Pretinha...................................................18

2 – Máquinas de softwares computadorizadas de fabricar bordado..........................22

3 – Casa das Bordadeiras de Timbaúba dos batistas................................................26

4 – Entrada da Feira Internacional de Artesanato (FIART)........................................27

5 – Estrutura interna da (FENEARTE).......................................................................28

6 – Estande dos bordados de Timbaúba dos Batistas...............................................29

7 – Desenhos rupestres no Sítio Pintado...................................................................32

8 – Desenhos rupestres no Sítio Pintado...................................................................32

9 – Desenhos rupestres no Sítio Pintado...................................................................33

10 – Desenhos rupestres no Sítio Pintado.................................................................33

11 – Casa do Major José Batista dos Santos, fundador de Timbaúba......................34

12 – Mapa de localização de Timbaúba dos batistas................................................38

13 – Monumento alusivo ao cinquentenário de Timbaúba dos Batistas...................39

14 – Árvore que deu o nome à cidade de Timbaúba dos Batistas.............................40

15 – Vista aérea da cidade de Timbaúba dos Batistas..............................................41

16 – Atrações culturais da semana de Emancipação de Timbaúba..........................43

17 – Atrações culturais da semana de Emancipação de Timbaúba..........................43

18 – Espaço onde ocorre a corrida entre os jegues...................................................45

19 – Festa da corrida de Jegues de Timbaúba dos Batistas/RN...............................46

20 – Igreja de São Severino Mártir de Timbaúba dos Batistas..................................47


LISTA DE GRÁFICOS

1 – Produto Interno Bruto...........................................................................................51

2 – Nível de Escolaridade das Bordadeiras...............................................................54

3 – Tempo de serviço com o bordado em anos.........................................................55

4 – Se houve profissão anterior ao bordado..............................................................56

5 – Ganho mensal com o bordado.............................................................................57

6 – Com quem aprendeu a bordar.............................................................................58

7 – Uso da máquina comum e industrial....................................................................59

8 – Bordar como renda extra ou subsistência............................................................60

9 – Melhorias de vida adquirida através do bordado.................................................61


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DNA – Ácido Desoxirribonucleico

EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

FAMUSE – Feira de Artesanato dos Municípios do Seridó

FENEART – Feira Nacional de Negócios do Artesanato

FIART – Feira Internacional de Artesanato

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PIB – Produto Interno Bruto

RN – Rio Grande do Norte

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

2 CONTEXTO HISTÓRICO DO BORDADO: DA SUA GÊNESE ATÉ OS DIAS


ATUAIS ..................................................................................................................... 14

2.1 Uma análise histórica do bordado ...................................................................... 14

2.2 Surgimento da primeira máquina de bordar e seu aperfeiçoamento ao longo dos


séculos ...................................................................................................................... 16

2.3 A chegada do bordado ao Brasil ........................................................................ 19

2.4 A chegada do bordado na região Seridoense através mulheres dos nossos


colonizadores portugueses........................................................................................ 20

2.5 Tecnologia aliado a produção de bordados........................................................ 22

2.6 Confecções de bordado como uma forma de empreendimento profissional ....... 24

2.7 Bordados na região Seridoense, Caicó e Timbaúba dos Batistas como destaque
pela qualidade e produção ........................................................................................ 25

2.8 Principais feiras de artesanato nas quais o bordado Timbaubense é exposto .... 26

2.8.1 Feira Internacional de Artesanato (FIART) ....................................................... 26

2.8.2 Feira Nacional de Negócios do Artesanato (FENEARTE) ................................ 28

2.8.3 Feira de Artesanato dos Municípios do Seridó (FAMUSE)............................... 29

3 TIMBAÚBA DOS BATISTAS: ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIOCULTURAIS


.................................................................................................................................. 31

3.1 Contexto histórico do município de Timbaúba dos Batistas ................................ 31

3.2 Fatores históricos que contribuíram para o desenvolvimento econômico da


cidade de Timbaúba dos Batistas ............................................................................. 35

3.3 Caracterização Socioespacial da cidade de Timbaúba dos batistas .................. 37

3.4 Principais eventos festivos da cidade de Timbaúba dos Batistas ....................... 42

3.4.1 Festa de emancipação política ........................................................................ 42

3.4.2 Festa da Corrida de Jegues ............................................................................. 44


3.4.3 Festa do padroeiro São Severino Mártir ........................................................... 46

4 METODOLOGIA.....................................................................................................49

4.1 Procedimentos metodológicos.............................................................................49

4.2 Área de Estudo.....................................................................................................49

5 CONTEXTO HISTÓRICO DO BORDADO EM TIMBAÚBA DOS BATISTAS ....... 50

5.1 Atividade bordadeira na formação de vida de centenas de mulheres e sua


relevância econômica para Timbaúba dos batistas ................................................... 51

5.2 E as pessoas que vivem da atividade do bordado............................................... 54

5.3 Como são produzidos os bordados...................................................................... 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................65

REFERÊNCIAS ..........................................................................................................67

ANEXO
12

INTRODUÇÃO

O bordado de Timbaúba dos Batistas é sempre lembrado por seus moradores


como algo simbólico, que representa regionalmente e nacionalmente a cidade,
gerando orgulho e trazendo reputação ao município. Tendo em suas diversas etapas
de elaboração diversos atores envolvidos, sendo esses de grande importância para
que o mesmo tome sua forma e seja vendido em diversos lugares. O bordado
timbaubense está encravado na origem cultural do município seridoense, e em seu
desenvolvimento econômico.
No princípio, a atividade do bordado era realizada apenas por mulheres, como
forma de passa tempo ou para produção dos enxovais. Atualmente, homens e
mulheres dividem as tarefas do bordado com o objetivo de adquirir um meio de
sobrevivência competente para a família. O bordado de Timbaúba dos Batistas,
mesmo que as bordadeiras ainda conservem um pouco da antiga paixão que
sentiam ao bordar, prevalece agora com a missão de gerar receita para o município
e tantas famílias que veem nesta arte um sustento diário, já para outros é uma fonte
de renda extra.
O bordado timbaubense escolhido como objeto central de estudo neste
trabalho, proporciona uma análise sobre a influência dessa arte na economia do
município de Timbaúba dos Batistas/RN, ficando assim, como tema central do
trabalho.
A justificativa para a elaboração dessa pesquisa consiste na ideia de discorrer
sobre a importância primorosa do bordado de Timbaúba dos Batistas para a
construção da identidade e cultura da cidade e principalmente vale destacar a sua
relevância para a economia da cidade. O que permite considerar a importância do
trabalho para a população local e de sua história contidos no bordado. A partir da
introdução dessa atividade bordadeira no município timbaubense, a prática e a
produção do mesmo vêm, ao longo dos anos, mostrando-se positivas para o
desenvolvimento econômico e cultural da cidade, tendo em vista que muitos
moradores, na maioria mulheres, praticam essa atividade bordadeira como fonte de
renda e de subsistência. Para se ter uma ideia do que o bordado simboliza para o
município, basta lembrar que em Timbaúba dos Batistas existem mais de 900
bordadeiras, segundo informação da vice-presidente da cooperativa das bordadeiras
13

de Timbaúba dos Batistas, lembrando que a cidade tem pouco mais de 2.312
habitantes (IBGE/2014). O trabalho julga ser esse tema relevante para o município,
pois quase não existe trabalho científico publicado sobre o mesmo.
O objetivo geral do estudo visa analisar a atividade bordadeira no município
de Timbaúba dos Batistas/RN. E observar o impacto econômico que essa atividade
causa na vida das pessoas que vivem da prática do mesmo. Por outro lado, os
objetivos específicos visam compreender como funciona a atividade bordadeira na
cidade de Timbaúba dos Batistas/RN, além de investigar a história, a cultura e a
participação na economia da cidade desta atividade.
A monografia será dividida em três capítulos. No primeiro capitulo, será feito
um contexto histórico do bordado: da sua gênese até os dias atuais, com um tópico
abordando sobre a chegada do bordado à região Seridoense e seu desenvolvimento
ao longo dos séculos. No segundo capítulo, será apresentado um contexto histórico
do município de Timbaúba dos batistas. Por fim, no terceiro capítulo, será
apresentada a história do bordado e das bordadeiras Timbaubenses.
14

2 CONTEXTO HISTÓRICO DO BORDADO: da sua gênese até os dias atuais

2.1 Uma análise histórica do bordado

O bordado teve sua origem na Antiguidade e o primeiro tipo de bordado


conhecido foi o Ponto Cruz, no qual seus primeiros registros foram introduzidos
pelas civilizações antigas. Os nossos ancestrais, que moravam em cavernas,
começaram a utilizar a técnica do ponto cruz usando a pele dos animais como fonte
de matéria-prima para a produção dos seus vestuários. Ao mesmo tempo em que
esses próprios homens caçavam para se alimentar, eles usavam os ossos dos
restos mortais dos animais como agulhas, já as tripas e as fibras das plantas eram
improvisadas como linhas (LOURENÇO, 2012).
Existem evidências que relatam que o bordado seja tão antigo quanto à
existência dos seres humanos e que suas aplicações foram introduzidas pelos
homens há dezenas de milhares de anos a.C. Inclusive, no livro sagrado dos
cristãos, à Bíblia, são feitas referências ao bordado.
Há relatos que foi encontrado um fóssil na Rússia, que tinha as vestes
adornadas com grânulos de marfim. Como a maioria das outras artes têxteis e dos
trabalhos com agulhas, várias técnicas da arte dos bordados surgiram no Oriente
Médio. A arte dos bordados manuais com suas variadas técnicas, ainda é bastante
utilizada nos dias atuais em todo o mundo (LOURENÇO, 2012).
Silva (2012, p. 19) destaca a utilização do bordado ponto cruz na produção de
trajes e também sobre pesquisas arqueológicas a procura de evidências:

Foram realizadas escavações arqueológicas em túmulos egípcios onde


conseguiram extrair alguns fragmentos de linho datados de 5000 A.C os
quais evidenciaram o uso do Ponto Cruz na costura de peças de tecido. Já
os romanos na antiguidade faziam a descrição do bordado como a “pintura
de uma agulha”, porém foram os babilônicos que deram nome a esta
técnica. Todavia há divergências a cerca da proveniência do ponto cruz, da
forma como é utilizado hoje. Alguns acreditam que ele tenha aparecido na
China e posteriormente conduzido até a Europa.
15

O bordado é uma arte cultivada ha milhares de anos: desde a Antiguidade até


os dias atuais; as comunidades usam essa arte para diversos fins no qual veremos
no quadro logo abaixo.

QUADRO 01 – Finalidades do bordado.

FINS CARACTERÍSTICAS
Estético Ornamentação
O bordado exprime as características de um
lugar através de desenhos que podem
Identificação
caracterizar a cultura e hábitos de uma
sociedade.
Econômico Ramo Empresarial
Econômico Doméstico Renda Extra

Elaboração: LUCENA, 2017.

A maneira como o bordado é desenvolvido depende da cultura do país, cada


lugar tem sua forma de produção com diferentes feições, tendo em vista as tradições
da região e por isso cada país tem seu estilo de bordar, fruto da sua cultura e dos
seus valores, reproduzindo a sua tradição, identificando a sua história. Bordado é a
arte de decorar tecidos com imagens e figuras, utilizando fio e agulha. O bordado
pode ser feito manualmente ou à máquina, atualmente.
Ao longo dos séculos o bordado teve uma evolução estética significativa, mas
sempre manteve seu apelo estético. Nesse período essa arte foi ganhando formas,
cores e detalhes. Foi em meio a uma "epidemia" de ponto cruz que:

Em meados do século XVIII variados pessoas de inúmeras posições sociais


faziam o ponto cruz e nesse espaço de tempo despontaram os mostruários,
com o intuito de tornar fácil a escolha dos motivos das cores. No que se
refere à elaboração do ponto cruz, são exemplos às letras do alfabeto,
borboletas, flores, casas, bordas floridas e as famosas amostras. Nos
desenhos, aparecia ou a assinatura de quem fazia o trabalho, a data e, às
vezes até mesmo a idade da bordadeira. Ao longo dos tempos os desenhos
aplicados no tecido para serem contornados por linhas de diversas cores
obtiveram novas inspirações e muita vitalidade, levando os trabalhos às
possibilidades de engrandecer a decoração, dar ares à criatividade e
também valorizar a habilidade manual (SILVA, 2012, p. 19).

Com o passar do tempo, essa prática foi evoluindo. No Oriente Médio, várias
técnicas de bordado foram surgindo e atravessando séculos até mesmo milênios e
16

se espalhando pelo mundo. O bordado manual ainda é muito praticado nos dias de
hoje.
No Ponto Cruz você passa um fio de linha de bordar sobre outro formando um
cruzado; sendo feito manualmente esse tipo de bordado é considerado a forma
pioneira no que se diz respeito à utilização do bordado nas mais diversas regiões e
cultura.
Após vários processos de aperfeiçoamento, o ponto cruz chegou muito
inovado para atender às necessidades e ao gosto da mulher moderna, que dá
preferência aos motivos práticos e rápidos para decorar a casa, enfeitar roupas e
presentear.

2.2 Surgimento da primeira máquina de bordar e seu aperfeiçoamento ao longo


dos séculos

Existem diversos relatos sobre o primeiro inventor da máquina de bordar.


Algumas evidências apontam que a mesma tenha surgido por volta do ano de 1851.
Segundo o site da Singer1, Isaac Singer foi o primeiro a patentear a primeira
máquina de bordar:

Isaac Singer obteve a patente da primeira máquina de costura realmente


prática. Foram necessários onze dias de trabalho que resultaram em cinco
pontos firmes e contínuos, para que Isaac Singer tivesse certeza de ter
criado um novo produto que iria revolucionar o milenar processo de recortar,
modelar, armar e unir pedaços de tecidos para confeccionar calças,
camisas, casacos, vestidos, corpetes e tantas outras peças para o
vestuário.

No entanto, para Freitas (1954, apud BRITO, 2010, p. 122), a primeira


máquina de bordar surgiu em 1900, construída por M. Hurtu, o mesmo apresentou
uma máquina capaz de reproduzir os matizados, anteriormente feitos à mão. Nessa
hipótese, a autora argumenta que Hurtu inventou a primeira máquina de bordar
semelhante às “máquinas comuns” atuais, quando na verdade a invenção de Hurtu
foi nada mais que um aperfeiçoamento das demais máquinas inventadas no século
XIX.

1
Singer disponível- http://www.singer.com.br/nossa-historia/, Acesso em: 10 maio 2016.
17

Brito (2010, p. 122) ainda faz mais algumas ressalvas acerca dos inventores
da primeira máquina de costura:

Não se pode definir precisamente quem é o dono da ideia da máquina de


costura e esta imprecisão marcou o primeiro confronto sobre as patentes de
que se tem notícia. O motivo principal para esta imprecisão é que cada um
dos inventores que se dedicaram a trabalhar sobre o instrumento trouxeram
contribuições que foram sendo apropriadas pelos demais. Thomas Saint foi
o primeiro a conceber a costura à máquina, em 1790. Depois dele, outros
inventores se dispuseram a aperfeiçoar a máquina de costura, como Josef
Madersperger e John Adams Dodge. Barthelemy Thimmonier foi quem
iniciou a produção de máquinas de costura para o comércio e Walter Hunt o
primeiro a incluir uma lançadeira e agulha com olho na ponta para fazer
uma costura fechada prática, o que facilitou a adaptação para o mercado.
Elias Howe Jr. foi o primeiro a patentear uma máquina, tendo uma agulha
com olho na ponta, que transportava um fio contínuo e fazia costura
fechada, aperfeiçoada por Lerow e Blodgett que criaram um movimento
contínuo da costura em plano horizontal.

Na época que surgiu a máquina de costurar e bordar ocorreu uma vigorosa


onda de publicidade em torno desse instrumento que na época era usado para
produzir enxovais e ornamentar a casa.
Essa intensa divulgação versava sobre dois temas, que tinham a casa como
tema central: a máquina como um instrumento do lar e para o lar. As donas de casa
passaram a ensinar a suas filhas a manusear a máquina para que elas aliassem
seus afazeres domésticos com a prática de bordar. A máquina deveria estar
presente, facilitando a rotina e cuidados com a casa. Era um motivo de orgulho para
essas mães já que elas sempre ficavam ao lado de suas filhas para reparar qualquer
erro e eventuais descuidos, era um olhar atento e afetuoso, pronto a corrigir
qualquer imperfeição (BRITO, 2010).
No Brasil, a primeira empresa voltada para a fabricação de máquinas de
costura foi a empresa Singer, sendo a pioneira no segmento. Em 1958, no Rio de
Janeiro, a Singer abriu seu primeiro ponto de vendas. Em 1955, na cidade (Figura
01), sendo a primeira máquina fabricada no Brasil pela empresa Singer. Nas
décadas seguintes, a Singer lançou sua primeira máquina industrial, sendo sempre
aperfeiçoada ao longo dos anos e bastante utilizada nos dias atuais.
18

Figura 01 – Máquina popularmente conhecida por Pretinha

Fonte: Disponível em:http://www.singer.com.br/nossa-historia/, Acesso em: 10 de maio, 2017.

E Brito (2010, p. 125) ressalta o papel fundamental que a Empresa Singer


desempenhou na organização de oficinas profissionalizantes para a formação de
várias bordadeiras no Brasil:

A Empresa Singer promovia a venda de suas máquinas, amparada na


realização de oficinas específicas. Assim, além de ensinar a costurar e a
bordar, formava-se uma profissional que era capaz de cortar uma fazenda,
modelar a roupa, adaptar os pontos de bordado, outrora realizados à mão,
para o ziguezague da máquina. Desta forma, as participantes do curso
aprendiam uma formação profissional, ao mesmo tempo em que se sentiam
seguras para adquirir sua máquina de costura pessoal.

Definitivamente, a empresa Singer foi fundamental para o desenvolvimento e


história do bordado em todo país, pois foi a primeira empresa do segmento a se
instalar no Brasil e a disponibilizar máquinas de costura em seus diversos pontos de
vendas pelo brasil.
A empresa Singer está presente em mais de 145 países, é líder mundial na
fabricação de máquinas de costura doméstica e, consequentemente, lidera os
demais segmentos de atuação. A empresa destaca-se pela ampla variedade de
19

máquinas de costura domésticas e industriais. É referência na produção de


acessórios como agulhas e óleo multiuso, e tem como lema a inovação e qualidade.
É a única empresa de máquina de costura com fábrica no Brasil, no qual seu polo
principal se encontra em Juazeiro do Norte (CE). Logo, possui uma ampla rede de
distribuição e assistência técnica espalhada por todo o território nacional.

2.3 A chegada do bordado ao Brasil

Lopes; Medeiros (2012) enfatizam que a arte de bordar foi introduzida no


Brasil através das mulheres dos colonizadores portugueses nos primórdios do
século XVII e XVIII. Essa atividade era praticada, a princípio, como forma de
entretenimento para essas mulheres, que trouxeram consigo, no período colonial,
essa arte da Ilha da Madeira/Portugal e repassaram como uma forma de herança
para as mulheres do Brasil.

Já Lourenço (2012, p. 6) ressalta que:

No início do século XX, surgiu o bordado a máquina. Feito em máquina de


costura doméstica reta a pedal, que ainda é utilizado. Mas, este tipo de
bordado requer bastante trabalho por parte do bordador, que tem de
movimentar braços e pernas para bordar e tem pouco rendimento
comparado a outras formas de bordar. Na década de 50 surgiu o bordado
em máquina de costura zig-zag industrial, garantindo uma produtividade
maior. Exigindo do bordador, entretanto, mais habilidade e agilidade, pois o
movimento do bastidor tem que ser feito de forma manual.

A forma como o bordado é confeccionado varia de país para país, cada lugar
possui seu estilo o qual é fruto da cultura local e de seus valores, reproduzindo a sua
tradição, identificando a sua história.
Silva (2012, p.19) ainda destaca sobre a importância e representatividade do
bordado ao longo dos tempos:

Por séculos o bordado foi apreciado como símbolo de riqueza e poder, não
menos hoje, quando damos crédito a um bordado de grife em uma peça de
vestuário. No passado o Oriente aperfeiçoou e desenvolveu técnicas na arte
de bordar, que até hoje são praticadas nos bordados manuais. Os
imperadores nipônicos do século VII, no oriente, trajavam roupas de seda
20

bordadas com desenhos do Sol, da Lua, das estrelas, montanhas e de


figuras mitológicas, como dragões.

Na Antiguidade Clássica, os romanos faziam uso do bordado para enfeitar


seus trajes e utensílios.
Araújo (2013) destaca que, nos séculos passados, o bordado era usado para
ornamentar objetos de casa como baú e mesa, se tornando também uma boa forma
de presentear alguém. O bordado como tradição entre famílias era passado de mãe
para filha, ou seja, era/é passado de geração para geração.
Araújo (2013, p. 33) ainda salienta acerca da influência de como a utilização
da máquina de bordar exercia sobre a vida de uma mulher no século passado:

O bordado é uma prática desenvolvida apenas por mulheres e possuía,


inicialmente, um caráter estritamente familiar. O bordado era transmitido de
mãe para filha e entre os membros femininos da família, tais como primas,
sobrinhas e netas. Naquela época, por volta do século XVIII, falava-se da
qualidade da mulher “prendada”, onde o sucesso para conseguir um bom
casamento estaria ligado a ideia de que a mulher deveria ter conhecimento
e habilidade para desenvolver a costura e o bordado.

2.4 A chegada do bordado na região Seridoense através mulheres dos nossos


colonizadores portugueses

Silva (2012) aborda que a gênese do bordado seridoense está fundamentada


no bordado típico da Ilha da Madeira, e sua introdução no Seridó se deu entre o final
do século XVIII ao início do século XIX, através das mulheres dos colonizadores
portugueses durante a fase de interiorização da província. Esta arte em Portugal foi,
por séculos, executada apenas para ornamentar igrejas e vestes eclesiásticas. As
cidades de Caicó e Timbaúba dos Batistas são os locais onde mais se reflete essa
tradição na região do Seridó.
A arte de ambas cidades é de muita semelhança, mas cada uma tem suas
próprias características e significados. Para Arilza Soares 2 (2011):

2
Arilza Soares, Vento Nordeste, http://papjerimum.blogspot.com.br/2011/08/bordados-seridoenses-
perfeicao-na-arte.html, (acesso em: 15 de maio, 2015).
21

Mesmo apresentando características semelhantes ao bordado típico da Ilha


da Madeira, em Portugal, as mulheres seridoenses deram características
próprias, se utilizando de cores vivas, representando a fauna e a flora
locais. O bordado é realizado diretamente sobre o tecido, geralmente
utilizando linho, percal ou poli algodão. As técnicas mais utilizadas são o
Richelieu, Matiz, Ponto Cheio, turco, granito, ponto reverso, crivo, bainha,
ponto aberto e pesponto. Em contraste com o bordado do litoral, totalmente
branco, o bordado seridoense é colorido, formando principalmente flores e
arabescos. Originalmente, este artesanato era produzido à mão, apenas
com agulha e linha, mas atualmente as bordadeiras já se utilizam de
máquinas de costura. São realizadas principalmente sobre caminhos de
mesa, panos de bandeja, lençóis de cama, toalhas para lavabo, toalhas de
banho, redes, camisetas e blusas de cambraia. Usam-se, também,
bordados no enxoval de recém-nascidos se utilizando de linha de seda.

Brito (2010, p. 120) observa as formas de se produzir o bordado e tenta


explicar os métodos que normalmente as bordadeiras utilizam para se elaborar uma
peça de bordado:

Quando se borda a mão, os desenhos podem ser menores, devido à


precisão dos movimentos, o que provavelmente gera uma percepção de
que é ―mais delicado. Na máquina de pedal são produzidos praticamente
os mesmos desenhos e composições, mas a bordadeira precisa ser
minuciosa e experiente para ter a dimensão espacial exata da formação dos
pontos, evitando que eles escapem ao desenho. Na máquina industrial, por
sua vez, os motivos são, geralmente, florais e maiores do que aqueles feitos
nas máquinas simples, uma vez que este tipo de máquina não consegue ser
muito precisa no detalhamento das peças, por conta de sua velocidade.

A máquina comum exige um gingado maior da bordadeira, sendo necessário


deslocar membros superiores e inferiores do corpo, sem exceção, vai do cotovelo,
mão, joelho e pé, ou seja, as bordadeiras necessitam ter uma boa coordenação
motora, ter muita paciência e, acima de tudo, a bordadeira deve ter um amor
envolvido durante a atividade para que se possa produzir uma arte de qualidade.
Essa forma de trabalhar exige bastante esforço por parte do bordador e tem pouco
rendimento em relação a outras formas de bordar. Requerendo do bordador,
todavia, mais capacidade e presteza, pois o movimento do bastidor tem que ser feito
de forma manual (SILVA, 2012).
As mulheres do Seridó enriqueceram os bordados de origem portuguesa com
cores vivas, transformando o trabalho em desenhos de flores e animais.
Os bordados mais delicados necessitam ser produzidos em máquinas
rudimentares, tendo em vista que são apreciadas pela qualidade superior às demais
peças produzidas em máquinas industriais. Há ainda as bordadeiras que usam
22

máquinas de softwares sofisticadas para a produção do bordado (LOPES;


MEDEIROS, 2012)

2.5 Tecnologia aliado a produção de bordados

Acompanhando a frenética evolução da tecnologia no mundo, na década de


1980 despontaram as bordadeiras eletrônicas, profissionais e industriais. A
tecnologia ofereceu uma vantagem para as pessoas que trabalham nesse setor de
confecções porque as peças são fabricadas em curto prazo, pois existe a praticidade
de poderem usar máquinas de softwares (Figura 02) aliando ao antigo prazer de
bordar a facilidade, a simplicidade e a alta produtividade. Essas máquinas de bordar
computadorizadas exigem um menor esforço (LOURENÇO, 2012).
Destaca-se que são poucas as bordadeiras que têm condições de fazer um
investimento em máquinas de softwares, pois as mesmas têm um custo elevado e
não conseguem entrar no orçamento da maioria das bordadeiras. Esse ramo
empresarial de confecções de bordados está em alta, tendo em vista a praticidade e
rapidez na produção das peças e no aumento dos lucros.

Figura 02 – Máquinas de softwares computadorizadas de fabricar bordado

Fonte: Disponível em: http://www.singer.com.br/nossa-historia/, acesso em: maio, 2017.


23

As máquinas de bordar computadorizadas podem economizar tempo e


esforço. Elas são moderadamente simples de serem operadas. Algumas vêm com
seu próprio software, que pode ser programado pelo próprio usuário, enquanto
outras se conectam diretamente a um computador pessoal. As máquinas vêm com
um software ou um aparelho que controla a operação, algumas agulhas e um arco
projetado para caber nos aros.
Desde seu surgimento, as bordadeiras eletrônicas e os softwares de criação
de bordados têm sido aprimorados constantemente. Ao longo dos anos surgem
novos modelos com mais artifícios para favorecer o trabalho dos bordadores,
trazendo consigo vantagens que possibilitam a realização de uma maior demanda
de peças em um curto espaço de tempo.
A partir das bordadeiras eletrônicas cresceu muito o número de homens
envolvidos no trabalho de bordados, tanto na parte de software quanto na operação
das máquinas: “O bordado industrial como o próprio nome já diz é dirigido à indústria
da confecção. Com máquinas que produzem múltiplos bordados iguais ao mesmo
tempo” (LOURENÇO, 2012, p. 5).
Vale destacar que os bordados que são produzidos nessas máquinas
computadorizadas de software não têm nem de perto a qualidade e os mínimos
detalhes de um bordado feito manualmente, pois esse tipo de bordado visa à
quantidade ao invés da qualidade.
O bordado é uma atividade que envolve atenção e paciência no processo de
aprendizado, requer disciplina, o uso do corpo inteiro, o domínio de técnicas para o
manuseio e da criatividade de novos repertórios, o amor envolvido entre a
bordadeira e o bordado, construindo sutilmente uma forma de estar e de ver o
mundo (BRITO, 2010).
Contudo, o que mais importa saber é que seja bordado manual ou industrial,
ele nos acompanha desde os nossos primórdios e não importa que o tempo passe,
sempre terá alguém à procura dessa arte repleta de detalhes que enche a vida de
cor, embeleza e traz alegria para todos.
Ao longo dos séculos até os dias atuais o bordado ganhou um grande espaço
na indústria de vestuários. Percebe-se a utilização da arte do bordado
principalmente na indústria de confecções de grife. Não se pode negar que o
bordado conquistou um prestígio na sociedade por ser uma bela arte.
24

Silva (2012) reforça suas considerações acerca dessa arte e destaca que o
bordado é fonte de inspiração e enriquece decorações de lares, fornecendo
identificação a tudo, personalizando vestuário, enfeitando vestidos de casamento, na
produção de roupas de grife, identificando empresas; enfim, qualquer imagem pode
ser transformada em bordado, valorizando e adornando a figura estampada.
Silva (2012, p. 19) fala também sobre a importância dessa atividade no
decorrer dos séculos e explica:

Por séculos o bordado foi apreciado como símbolo de riqueza e poder, não
menos hoje, quando damos crédito a um bordado de grife em uma peça de
vestuário. No passado o Oriente aperfeiçoou e desenvolveu técnicas na arte
de bordar, que até hoje são praticadas nos bordados manuais. Os
imperadores nipônicos do século VII, no oriente, trajavam roupas de seda
bordadas com desenhos do Sol, da Lua, das estrelas, montanhas e de
figuras mitológicas, como dragões.

2.6 Confecções de bordado como uma forma de empreendimento profissional

Sobre o desenvolvimento do trabalho com bordados profissionais, destaca-se


a confecção como um setor que virou tendência dispondo de um diversificado
campo de trabalho. Para muitas pessoas, o ramo da produção do bordado é a
oportunidade de começar seu próprio empreendimento.
O bordado profissional é um negócio que pode ser iniciado em casa, como
empresa informal, o que facilita muito a oportunidade de trabalho, pois minimiza os
custos, ou seja, o pequeno empreendedor pode iniciar seu negócio no ramo do
bordado e incrementar com produtos de confecção fazendo uma junção do útil com
o agradável (LOURENÇO, 2012).
É um bom setor para se apostar, pois é um mercado que vem se expandindo
ao longo dos anos. A área de atuação é vasta, permitindo prestar serviços de
bordados personalizados para particulares como: bordados de nomes em toalhas,
fraldas, camisetas, lençóis etc.
O empreendedor que tem seu negócio voltado ao bordado e para a
confecção pode gerar significativos lucros ao prestar serviço de forma terceirizada
para boutiques e pequenos comércios varejistas de confecção. Abrange também
serviços de personalização de uniformes para empresas, escolas, camisetas de
25

grupos (turismo, igrejas e estudantes). É possível também montar quiosques de


bordados em shoppings, supermercado ou quem sabe até em aeroportos (SILVA,
2012).

2.7 Bordados na região Seridoense, Caicó e Timbaúba dos Batistas como destaque
pela qualidade e produção

No Seridó, as cidades de Caicó e Timbaúba dos Batistas são as que mais se


destacam quando o assunto é bordar. As bordadeiras são reconhecidas
nacionalmente pelo seu talento e maestria para se produzir a arte do bordado.
Silva (2012) destaca essa atividade para ambas as cidades (Timbaúba e
Caicó) e ressalta acerca do reflexo que essa atividade representa para a sociedade,
particularmente para Timbaúba. Como já foi destacado aqui, o bordado Seridoense
surgiu através das mulheres dos colonizadores Portugueses que trouxeram essa
arte da Ilha da Madeira e deixaram como herança cultural e econômica para as
mulheres do Brasil. Os bordados do Seridó apresentam formas com detalhes
característicos e idênticos ao bordado Madeirense.
Destaca-se uma competição saudável entre as bordadeiras das cidades de
Caicó e Timbaúba dos Batistas. Desde outrora, existe uma rivalidade entre ambas
as cidades com relação ao reconhecimento da arte do bordado. Robson Pires 3
(2011) frisa:

Os bordados de Timbaúba dos Batistas são exportados para a França,


Afeganistão e Itália além de outros países. Na Feira de Milão em 1996 a
cidade recebeu o título de melhor Bordado do Mundo. Há uma disputa com
Caicó. Pessoas do município de Timbaúba reclamam que: a cidade borda e
Caicó leva a fama. Há, entretanto, uma explicação. Residem em Caicó
várias bordadeiras timbaubenses.

De fato, existe sim esse tipo de queixa por parte das bordadeiras de
Timbaúba, e isso acontece pelo fato da cidade vizinha, Caicó, ser a responsável por
toda comercialização do bordado Seridoense; por ser muito maior, mais
desenvolvida e ter muito mais divulgação e exposição do produto. Mas ressalta-se

3
Robson Pires, Robson Pires o xerife, http://www.robsonpiresxerife.com/notas/a-disputa-pelo-melhor-
bordado-do-serido-e-do-mundo/, acesso em: Abril, 2016.
26

que ambas as cidades têm os melhores bordados e bordadeiras da região e ponto


final.
A cidade de Timbaúba dos Batistas possui uma “Casa das Bordadeiras”
(Figura 03), ambiente de trabalho e de espaço reservado exclusivamente para expor
o artesanato.
É um ponto de destaque em Timbaúba à Casa das Bordadeiras, que se
localiza na entrada do município, cujo capricho da vitrine e variedade de peças atrai
o olhar de quem chega.

FIGURA 03 – Casa das Bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, RN.

Fonte: LUCENA, 2017.

2.8 Principais feiras de artesanato nas quais o bordado Timbaubense é exposto

2.8.1 Feira Internacional de Artesanato (FIART)


Anualmente, em janeiro, realiza-se na capital do estado, Natal, uma edição da
Feira Internacional de Artesanato (FIART). Este grande evento é realizado no Centro
de Convenções em Natal.
27

A FIART (Figura 04) funciona como um encontro de negócios do setor, já que


recebe um grande número de lojistas. Como é um evento que se realiza logo no início do
ano, os artesãos aproveitam para fecharem as primeiras encomendas do ano.
A FIART é considerada uma relevante vitrine para os artesãos potiguares. Vale
destacar que a feira é composta por artesãos de todo o Nordeste, sendo
definitivamente uma grande oportunidade para se apresentar sua marca ao mercado.

Figura 04 – Entrada da Feira Internacional de Artesanato (FIART) – Natal/RN.

Fonte: Disponível em: http://natalacessivel.blogspot.com.br/2011/01/16-fiart-feira-


internacional-de.html, acesso em: maio, 2017.

Os artesãos expõem seus produtos para vender numa área de aproximadamente


8 mil metros quadrados. O evento costuma atrair 60 mil visitantes.
A programação da FIART abrange diversos eventos internos. Na tradicional feira
Potiguar, encontram-se talentosos artistas plásticos, há um espaço reservado para
festivais de danças folclóricas, danças juninas e contemporâneas, shows de artistas
potiguares, oficinas de artesanato, cinema cultural e tribos indígenas e muito mais.
O evento é, sobretudo, para valorizar o artesanato e a rica cultura local. A
FIART conta com a participação de 14 países, bem distribuídos pelos quase 400
28

estandes, que funciona das 16 às 22h. Estima-se que a feira supere a barreira dos
10 milhões de reais em comercialização de produtos.
A cidade de Timbaúba dos Batistas conhecida nacionalmente por seu belo
bordado, sempre marca presença com Stand para expor o bordado na feira.
As bordadeiras que tem a oportunidade de participarem desse grande evento
levam uma demonstração dos seus produtos artesanais, gerando, portanto, um
benefício socioeconômico e reconhecimento muito grande para as bordadeiras e
para o município.

2.8.2 Feira Nacional de Negócios do Artesanato (FENEARTE)

Outro grande evento do nordeste voltado à arte do artesanato é à Feira


Nacional de Negócios do Artesanato (FENEARTE) que ocorre entre os dias 02 a 12
de julho no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. A Fenearte
é a maior feira de artesanato na América Latina.

Figura 05 – Estrutura interna da Fenearte – Recife/PE

Fonte: Disponível em: http://www.joaoalberto.com/2013/05/10/nesta-edicao-47-paises-


expoem-na-fenearte/, acesso em: maio, 2017.
29

Essa grande feira se realiza no Centro de convenções em Pernambuco


contém uma programação bastante diversificada, é um megaevento para todos os
gostos. São mais de 5 mil expositores em quase 800 estandes bem distribuídos por
um grande área de aproximadamente 30 mil metros quadrados.
O evento conta com diversos shows de artistas locais valorizando, sobretudo,
os artesãos e a cultura local. É uma ótima oportunidade de negócios para todos os
envolvidos. A feira da Fenearte vai muito além do artesanato, há espaço para
gastronomia, moda, música, palestras e apresentações de cultura popular.
Estima-se que cerca de 340 mil pessoas visite o evento, com participação de
mais de 50 países diferentes, movimentando aproximadamente 45 milhões em
vendas. Os bordados de Timbaúba sempre estão presentes na nessa feira de
artesanato.

2.8.3 Feira de Artesanato dos Municípios do Seridó (FAMUSE)

Figura 06 – Estande onde ficam expostos os bordados Timbaubense

Fonte: LUCENA, 2017.

Por fim, a Famuse (FEIRA DE ARTESANATO DOS MUNICÍPIOS DO


SERIDÓ), voltada prioritariamente para as pessoas da região Seridoense, é uma
30

feira de destaque regional e é uma vitrine para as muitas pessoas exporem seus
artesanatos para todos os visitantes a que vem prestigiar esse belo evento.
Esse tradicional evento Seridoense se realiza no complexo da Ilha de
Sant’Ana, ocorre durante a última semana de julho é termina logo no início de
agosto. O evento conta com diversas atrações culturais e artistas plásticos; a
culinária Seridoense é sempre um ponto de destaque da feira. Contudo, o grande
destaque da Famuse é o bordado do Seridó.
A Feira de Artesanato do Seridó movimenta a economia da região e é uma
grande oportunidade dos artistas mostrarem seus trabalhos e fecharem negócios.
Os turistas que estão prestigiando a festa de Sant’Ana, aproveitam para apreciar os
diversos tipos de artesanatos espalhados pelos mais de 110 estandes bem
distribuídos pelo salão cultural do complexo da Ilha de Sant’Ana.
O Estande de Timbaúba dos Batistas (Figura 05) é sempre um dos mais
visitados na FAMUSE. Assim como em quase todos os anos, o bordado do
município de Timbaúba dos Batistas é sucesso na Feira de Artesanato dos
Municípios do Seridó. Estima-se que milhares de pessoas de toda a região vêm
prestigiar esse tradicional evento na cidade de Caicó-RN.
31

3 TIMBAÚBA DOS BATISTAS: aspectos econômicos e socioculturais

3.1 Contexto histórico do município de Timbaúba dos Batistas

A cidade de Timbaúba dos Batistas, como tantos outros municípios da região


Seridoense, teve a sua gênese ligada ao crescimento da agropecuária pelo interior
do estado do Rio Grande do Norte. Desta forma, Araújo et al (1994, p. 65) explica:

Como os outros municípios da região do Seridó, Timbaúba dos Batistas


teve o seu povoamento ligado á instalação de fazendas de gado, face á
expansão do criatório pelos sertões nordestinos. Essa atividade favoreceu a
fixação do homem na região timbaubense, a organização de sua economia
e, mesmo hoje, apesar das secas que vem sofrendo a região, ainda
constitui um dos esteios econômicos do município.

As principais atividades propulsoras do desenvolvimento econômico e social


da cidade de Timbaúba foram às atividades agropecuárias e agropastoris, a
plantação da cana-de-açúcar, a colheita do algodão, o plantio de arroz, a pesca; no
âmbito social destaque-se o bordado.
Os índios habitaram as terras Timbaubenses, mais precisamente no “Sítio
Pintado”. Depois de vencida a resistência indígena, começou a surgir os primeiros
povos colonizadores em terras Timbaubenses, esses povos vieram de estados
vizinhos como Pernambuco e Paraíba e de algumas regiões de Portugal, e como se
sabe, foram esses últimos os primeiros colonizadores das Terras brasileiras.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE TMBAÚBA DOS BATISTAS/2013).

A comprovação das presenças indígenas neste município é evidente nas


várias incisões rupestres localizadas no Sítio Arqueológico da comunidade
rural denominada de Sítio Pintado, que atualmente pertence ao Sr. Geraldo
Janúncio de Araújo. O Sítio é formado por diversos blocos de pedra
contendo gravuras de Tradição das Itaquatiaras, em alguns blocos a
camada que reveste a rocha onde estão às gravuras está se erodindo.

Logo abaixo, podemos ver fotos de inscrições ruprestes feita pelos índios que
habitaram, no passado, as terras do Sítio Pintado, no município de Timbaúba;
devido sua história e importância cultutal para o município Timbaubense.
32

Figura 07 – Desenhos rupestres inseridos nas rochas localizadas no Sítio Pintado

Fonte: LUCENA, 2017.

Figura 08 – Desenhos rupestres inseridos nas rochas localizadas no Sítio Pintado

Fonte: LUCENA, 2017.


33

Figura 09 – Desenhos rupestres inseridos nas rochas localizadas no Sítio Pintado

Fonte: LUCENA, 2017.

Figura 10 – Desenhos rupestres inseridos nas rochas localizadas no Sítio Pintado

Fonte: LUCENA, 2017.


34

No ano de 2005 veio o reconhecimento patrimonial, o sítio arqueológico no


município de Timbaúba dos Batistas foi tombado pela Fundação José Augusto,
como Patrimônio Histórico do Estado do Rio Grande do Norte.
Segundo relatos de moradores antigos da cidade, apenas nos primórdios do
século XIX é que se instituíram de uma vez por todas as primeiras famílias nas
terras que posteriormente viriam a integrar a cidade de Timbaúba dos Batistas.

Nos idos do século XVIII as terras férteis de Timbaúba já eram habitadas e


o Tenente-Coronel Manoel de Souza Forte era o proprietário do Termo da
Vila do Príncipe, área onde está localizado o município de Timbaúba dos
Batistas. A região começou a se desenvolver em meados do século XIX,
quando o Major José Batista dos Santos fundou nas terras frescas do vale a
fazenda Timbaúba. Ali teve início a grande atividade de plantio de canaviais,
ensejando uma produção de aguardente e rapadura. (IBGE/2013).

Na segunda metade do século XIX, o major José Batista dos Santos (1826-
1889), constituiu a grande propriedade agrícola conhecida, hoje, como Timbaúba
dos batistas.

Figura 11 – Casa do Major José Batista dos Santos, fundador de Timbaúba


dos Batistas

Fonte: Disponível em: http://encantosdoserido.blogspot.com.br/p/timbauba-dos-batistas.html,


acesso em: maio, 2017.
35

O Tenente-coronel José Batista dos Santos, ao instituir a Fazenda Timbaúba,


estabeleceu o marco histórico de fundação da cidade de Timbaúba dos Batistas,
cidade posteriormente desanexada do Município de Caicó por proposição do
Deputado Manoel Torres de Araújo, disse o genealogistas e historiador timbaubense
Arysson Soares da Silva.

3.2 Fatores históricos que contribuíram para o desenvolvimento econômico da


cidade de Timbaúba dos Batistas

O cultivo de cana-de-açúcar foi a primeira grande atividade econômica


inserida no Brasil pelos portugueses, emergiu na fase colonial do Brasil entre os
séculos XVI e XVII. Nossos exploradores sentiram a necessidade de colonizar as
ricas terras brasileiras. Portanto, Araújo et al (1994, p. 68) frisa:

Como o açúcar era um produto de alto valor no comércio europeu e o


consumo desse produto estava em expansão, os portugueses entenderam
que a produção de açúcar no Brasil seria capaz de lhes garantir grandes
lucros. Além disso, destacava-se ainda o fato de os portugueses terem
experiências na produção do açúcar, pois o produziam nas Ilhas da Madeira
e do Cabo Verde [...] O açúcar foi à base de sustentação da economia e da
colonização do Brasil durante os séculos XVI e XVII. A empresa açucareira
desenvolveu-se na grande propriedade monocultora, empregando
principalmente a mão-de-obra escrava.

O município de Timbaúba dos batistas teve sua história ligada aos engenhos
de cana-de-açúcar. A cidade se destacava pela plantação de cana-de-açúcar, as
terras férteis e frescas propiciavam a plantação de canaviais e a consecutiva
produção de rapadura e aguardente, auxiliada de uma agricultura suplementar. A
cidade de Timbaúba dos batistas não fugiu à regra de povoamento do Seridó. O
gado foi elemento de fixação do homem branco nessa localidade e suporte de sua
economia. Araújo et al (1994, p. 70).
Na década de 30, o município de Timbaúba contava com cerca de oito
engenhos que funcionavam a todo vapor na produção mel, rapadura e, às vezes, na
produção da cachaça. Atualmente quase todos estão desativados.
Como se sabe, Timbaúba dos Batistas teve sua economia, em outrora,
fundamentada pelo plantio de canaviais, já que se aproveitavam dos solos férteis de
36

alguns sítios para o cultivo da lavoura canavieira. Relatos de trabalhadores da


época, falam que Timbaúba dos Batistas era a maior produtora de rapadura da
região. O plantio de cana-de-açúcar era uma atividade desenvolvida em médias e
grandes fazendas. O sítio Lagoinha, por exemplo, cujos canaviais, em 1914,
estendiam-se por um raio de 30 hectares. Araújo et al (1994, p. 71):

A técnica de plantio era simples. Aproveitavam-se as condições naturais do


solo, cabendo ao fazendeiro, dono do engenho, a tarefa de sistematizar o
trabalho, desde a plantação da lavoura até a produção da rapadura nos
engenhos, determinando a parte que deveria ser suficiente para o consumo
da família, trabalhadores e agregados até a moagem do ano seguinte e a
destinada à comercialização nas praças de Serra Negra do Norte, Jardim de
Piranhas, Caicó, São Fernando e outras localidades do Seridó.

Durante a fase de produção da rapadura era necessário que o autor tivesse


um grau de especialização satisfatório, cada trabalhador executava uma tarefa
específica no método de produção, embora o nível técnico fosse muito baixo. Araújo
et al (1994, p. 72) explica:

Chegando a cana ao engenho, havia um responsável pela moagem, o


chamado “peseiro” ou “pé de engenho”; outro retirava o bagaço que servia
para a alimentação do gado. Depois, a garapa era entregue ao contra-
mestre. Em seguida, passava para o mestre, que detinha o saber técnico,
cabendo-lhe a responsabilidade de dar o ponto na caldeira, etapa
fundamental no fabrico da rapadura. Logo em seguida, o “encaixador”
recebia o mel engrossado e colocava-o numa gamela (espécie de caixa
grande madeira), batendo o mel com uma palheta até ficar aparentemente
açucarado. Quando chegava a esse ponto, o “caixiador” retirava as caixas
(formas de rapadura) de um tanque de água e colocava a espécie; depois
planava com a palheta. As caixas eram colocadas em lugares secos e
arejados para o secamento ser mais rápido. Estava pronta para ser
saboreada!

Em 1942, o famoso historiador potiguar Anfilóquio Câmara afirmava que o


município de Timbaúba dos batistas era um dos pontos mais ricos da região
Seridoense, destacando-se pela produção da cana-de-açúcar, rapadura e cachaça.
No entanto, o ciclo da cana-de-açúcar se enfraqueceu e outras fontes de
renda surgiram e que contribuíram para o desenvolvimento do município. Pode-se
dizer que os principais fatores que ocasionou o decréscimo da produção de cana-de-
açúcar, para Araújo et al (1994, p. 72) foram:
37

a) frequentes secas que assolou a região; b) falta de melhoria na técnica de


cultivo, contribuindo para o empobrecimento do solo; c) falta de linhas de
crédito que impede investimentos no setor; d) subdivisão das unidades
rurais, devido às heranças; e) penetração da rapadura fabricada em outras
regiões, competindo em preço e qualidade com o produto local.

Após o enfraquecimento da cana-de-açúcar, deram-se início a novas


atividades.
Nos idos da década de 1940, o plantio de arroz estava em alta, os sítios da
Lagoinha, Currais e Cipó eram os principais polos de plantação, mas ainda tinha
vários outros no município; o plantio era sempre em larga escala devido à
abundância de água.
Destaco que nessa época, Timbaúba dos Batistas era considerada umas das
maiores produtoras de arroz da região Seridoense, sendo por décadas um dos
pontos altos da economia do município.
Por fim, menciono outras atividades que contribuíram, na época, para o
desenvolvimento econômico de Timbaúba dos Batistas, tais quais: à colheita do
algodão entre as décadas de 1930 e 1970. E o plantio de bananas nas décadas de
1970 e 1980. Hoje, ambas não são mais praticadas devido às longas estiagens que
arrasam nossa região.

3.3 Caracterização Socioespacial da cidade de Timbaúba dos batistas

A cidade de Timbaúba dos Batistas encontra-se situada ao Sul da cidade de


Caicó, na região Seridoense. Limita-se com os municípios; ao norte, São Fernando;
a leste, Caicó; ao noroeste, Jardim de Piranhas e ao sudoeste, Serra Negra do
Norte. Timbaúba é um dos menores municípios do estado do Rio Grande do Norte,
sendo o quinto menor do estado em termos de população.
No dia 10 de maio de 1962, por força da Lei no 2.774, o povoado
desmembrou-se de Caicó tornando-se município com o nome de Timbaúba dos
Batistas, numa homenagem a família Batista que foram os pioneiros responsáveis
pelo engrandecimento do município. Em 1962, foi, portanto, o ano da sua
emancipação.
Timbaúba dos Batistas/RN está a cerca de 305 km de Natal e a 21km da
capital do Seridó, Caicó, na região do sertão do estado do Rio Grande do Norte.
38

Figura 12 – Mapa de localização de Timbaúba dos batistas

Fonte: LUCENA, 2017.

A tranquila cidade do Seridó tem um povo simples e acolhedor. Em dias


normais de semana suas ruas largas e calmas nos fazem pensar constantemente
que estamos em um domingo, pois estão sempre vazias. O pequeno município é
composto por vários casarios antigos, uma casa de cultura popular com uma
biblioteca em seu interior e um auditório logo ao lado; um hotel, algumas praças de
lazer, várias quadras de esportes, um campo de futebol, um colégio estadual e um
colégio municipal e uma creche municipal. A cidade possui, também, o famoso
“Jegódromo” que é um espaço reservado para produção dos eventos festivos da
cidade.
Logo na entrada da cidade de Timbaúba dos Batistas se encontra um
monumento alusivo aos 50 anos de emancipação política. O monumento é uma
junção emblemática que representa algumas características da cultura da cidade e
que conta com bastidores e uma árvore, do bordado e a “timbaubeira” popularmente
chamada, árvore que deu nome a cidade de Timbaúba dos Batistas.
39

Esse monumento foi também uma forma de homenagear as bordadeiras que


ao longo destes anos levaram o nome do bordado por todo o País e até pelo
exterior.

Figura 13 – Monumento alusivo ao cinquentenário da cidade de Timbaúba


dos Batistas

Fonte: LUCENA, 2017.

A cidade foi criada em 12 de agosto de 1963, quando foi desintegrado


oficialmente do município de Caicó, do qual o prefeito era o Sr. José Josias
Fernandes. Em 1° de janeiro de 1964, foi instalada a sede municipal, tomando posse
como prefeito o Sr. Hisbelo Batista de Araújo.
A partir do desmembramento de Caicó, Timbaúba começou a expandir sua
economia e seu desenvolvimento espacial, onde antes a mesma era um distrito da
cidade de Caicó no qual esse mesmo tomava todas as decisões por ela, agora
Timbaúba é considerada uma cidade onde sua economia está vinculada há:
pecuária, bordado, comércio privado e o setor público.
40

O nome do município é originário de uma árvore, chamada pelos índios de


"Timbó-iba", traduzido para o português como árvore de espuma; chamada assim
por seus frutos produz uma espécie de espuma, utilizada como sabão.
O nome do município também está agremiado ao nome de uma das famílias
pioneiras a chegar à região, portanto o sobre nome da cidade: “Batistas” foi derivado
da família BATISTA, ficando, assim, como é conhecida atualmente como: Timbaúba
dos Batistas. Sendo essa a família responsável pelo nome oficial da cidade.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE TMBAÚBA DOS BATISTAS/2013).

Figura 14 – Árvore (Timbó-iba) que deu o nome à cidade de Timbaúba dos Batistas

Fonte: LUCENA, 2017.

No passado, o município possuía poucos açudes. Atualmente o município de


Timbaúba dos batistas é servido de vários açudes de pequeno a médio porte, tendo
algumas propriedades até três açudes. Geralmente as águas dessas represas são
usadas para irrigação da agricultura e pecuária e também para uso doméstico diário.
O município está totalmente inserido na bacia hidrográfica; Piranhas-Açu.
Sendo seus riachos principais: Volta e Tapuio. O Município Timbaubense não
desfruta de mananciais de quantidade suficiente para o abastecimento geral, no
entanto a cidade dispõe de um reservatório privado de médio porte conhecido como
41

açude da “Vida Nova” que abastece toda a cidade, com o apoio essencial do
sistema adutor Piranhas-Caicó. Portanto, Timbaúba é abastecida tanto pelo açude
de sua cidade como, também, pela adutora Manoel Torres que faz o abastecimento
de várias cidades do Seridó.

O município de Timbaúba dos Batistas está localizado na Microrregião do


Seridó Ocidental, inserida na Mesorregião Central Potiguar, no Estado do
Rio Grande do Norte, em pleno Semiárido nordestino, no Seridó Potiguar,
região caracterizada pela escassez e instabilidade das chuvas; altas
temperaturas, baixa umidade e uma paisagem marcada pela vegetação de
caatinga. (PREFEITURA MUNICIPAL DE TMBAÚBA DOS
BATISTAS/2013).

Situa-se a uma distância de 305 km da capital do Estado, Natal. Limita-se ao


Norte com São Fernando, ao Sul com Serra Negra do Norte, ao Leste com Caicó e
ao oeste com Jardim de Piranhas. Com uma extensão territorial de 135,41 km²,
Timbaúba dos Batistas é um dos menores municípios do Estado.

Figura 15 – Vista aérea da cidade de Timbaúba dos Batistas

Fonte: LUCENA, 2017.


42

No que concerne à população de Timbaúba dos Batistas em registros do


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no ano de 2015, a cidade contava com
uma população de 2.418 (dois mil, quatrocentos e dezoito) habitantes. (IBGE/2015).

No tocante à economia, a cidade de Timbaúba dos Batistas contou, em seus


primórdios com a pecuária e a agricultura de subsistência. Com o decorrer dos
tempos, destaca-se o funcionalismo público e o bordado, sendo esse último uma
importante fonte econômica que gera renda de muitas famílias timbaubenses,
embora, em alguns casos, o bordado seja apenas complementar.

3.4 Principais eventos festivos da cidade de Timbaúba dos Batistas

Quanto às manifestações culturais e eventos, destacam-se a festa da


emancipação política realizada no dia 10 de maio; a corrida de jegues no dia 07 de
setembro e a festa do Padroeiro São Severino Mártir, na segunda dezena de
dezembro.

3.4.1 Festa de emancipação política

A Festa da Emancipação Política do município originou-se em 1997,


gerenciado pela Prefeitura Municipal sob a coordenação da Secretaria Municipal de
Educação, com a união das demais secretarias municipais, objetivando comemorar
o aniversário da cidade, como também envolver a comunidade em atividades
culturais e de lazer.
No dia 10 de maio o município de Timbaúba dos Batistas comemora sua
emancipação política. Os festejos pela emancipação são celebrados com uma
extensa programação cultural, que geralmente começa no dia 06/05 e se estende
até dia 10/05. Durante esses dias a cidade de Timbaúba dos Batistas promove sua
semana cultural na praça Chilon Batista.
Esse belo evento festivo valoriza, sobretudo, os artistas locais e artesãos do
município, pois quando falamos em cultura temos aqui em Timbaúba dos Batistas e
no Seridó uma das expressões mais ricas do Brasil.
43

Figura 16– Atrações artísticas e culturais da semana de Emancipação de Timbaúba

Fonte: LUCENA, 2017.

Figura 17 – Atrações artísticas e culturais da semana de Emancipação de Timbaúba

Fonte: LUCENA, 2017.


44

A semana cultural em Timbaúba dos batistas é um evento bastante agradável


e nostálgico, é ofertado para toda população e tem sempre o propósito de valorizar,
sobretudo, a cultura e artistas locais. Percebe-se a participação de crianças, jovens
e adultos que realizam um bonito show musical. O público interage fervorosamente,
tornando o espetáculo ainda mais animado.
Em 2015 foi realizada à terceira semana cultural, se realizou a semana de
emancipação política e cultura, reconhecendo, sobretudo, o que demais relevante
possui o município Timbaubense, sua história, seu povo, e sua tradição. A semana
cultural se encerra após uma longa programação com festa em praça pública para
toda população.

3.4.2 Festa da Corrida de Jegues

Outro grande evento anual comemorativo em Timbaúba é a tradicional


Corrida de Jegues, que se realiza nos dias 5, 6 e 7 de setembro. O evento que ao
longo das décadas foi ganhando mais notoriedade em âmbito regional atraindo
milhares de pessoas em seus dias de festas.
A tradicional corrida de jegues surgiu através de um ato de caridade em prol
do animal, o jegue, que na época estava ameaçado de extinção. Logo, o jegue se
tornou o personagem principal desse grande evento. Todos os anos, diversos
corredores de todo o estado trazem seus animais, os jegues, para disputar a grande
corrida:
A Festa da Corrida de Jegues teve origem no ano de 1986, foi idealizada
pelo Sr. Ary Maia, secretário da EMATER naquela época quando prestou
serviços neste município. Em 07 de setembro de 1986, realizou-se a
primeira corrida de jegues com o propósito de alertar quanto à extinção do
referido animal. A festa reúne corredores de todo o Nordeste, tornou-se
tradição e é considerada uma das maiores da região. Está inserido no
calendário turístico do Rio Grande do Norte. (PREFEITURA MUNICIPAL DE
TMBAÚBA DOS BATISTAS/2013).

Após várias edições a festa caiu nas graças popular e se perpetua até os dias
atuais, sendo o maior evento do município.
45

A corrida acontece em um local conhecido como “Jegódromo4”, que é uma


espécie de pista de corrida feita para a disputa entre os jumentos. A corrida é dividida em
várias baterias eliminatórias. Para garantir um bom desempenho, os donos dos jumentos
tratam os animais com cuidados especiais, é uma preparação durante todo o ano, o
animal tem que se alimentar bem e descansar bastante, pois tem que está em perfeitas
condições no dia da corrida.

Figura 18 – Espaço onde ocorre a corrida entre os jegues

Fonte: Disponível em: http://www.robsonpiresxerife.com/notas/estima-se-que-25-mil-pessoas-


estiveram-na-corrida-de-jegues-de-timbauba-dos-batistas/, acesso em: maio de 2016.

A tradicional corrida entre os jegues acontece no último dia de festa, dia 7 de


Setembro. As baterias classificatórias se iniciam por volta das 3 horas e a corrida
termina por volta das 6 horas. Após isso, dar-se início às premiações em dinheiro e
troféus para os participantes da corrida.

Após as solenidades, as atrações musicais dão continuidade ao espetáculo; a


festa conta com uma superestrutura de palco, som, luzes e telões. Um forte

4
Jegódromo, R7.com, http://rederecord.r7.com/video/voce-sabe-o-que-e-um-jegodromo-saiba-mais--
51181a116b711ae8aff10da4/, acessado em Abril, 2016.
46

esquema de segurança e a guarnição da polícia mantém a integridade de todo o


público presente.

Figura 19 – Festa da corrida de Jegues de Timbaúba dos Batistas/RN

Fonte: LUCENA, 2017.

A festa tornou-se tradição e é considerada uma das maiores da região.


Estima-se que cerca de 25 mil pessoas venham prestigiar a cidade de Timbaúba em
decorrência da festa. O evento festivo conta com diversas bandas de forró tocando
ao ar livre e de graça para toda a população.
Ainda sobre o período festivo dos dias de festa da corrida de jegues, vale
ressaltar, sobretudo, o impacto econômico ocasionado pelo grande fluxo de pessoas
que circulam pela cidade. Durante a festa o movimento de pessoas é intenso, o
evento conta com uma grande estrutura física que tem como destaque dezenas de
barracas enfileiradas vendendo bebidas e comidas. Ainda vale destacar os diversos
vendedores ambulantes que por sua vez vende seus produtos. Definitivamente a
festa beneficia economicamente o comércio interno e externo.

3.4.3 Festa do padroeiro São Severino Mártir


47

No tocante ao evento festivo religioso, destaco um lugar histórico e


memorável na cidade de Timbaúba que é a igreja católica de São Severino Mártir,
padroeiro da cidade.

A Festa do Padroeiro São Severino Mártir originou-se com a fundação do


templo, por Izabel Izaura de Brito, mulher timbaubense de fé inabalável, que
após receber uma graça através da intercessão desse Santo, deu início a
construção da igreja para comemorar a chegada da imagem do santo, que
se tornou padroeiro da cidade, organizou-se uma festa, que se tornou
tradição. (PREFEITURA MUNICIPAL DE TMBAÚBA DOS BATISTAS/2013).

Em janeiro de 1930 foi concluída a capela original de São Severino Mártir, na


época, pertencendo a Paróquia de Santana de Caicó-RN. A construção do santuário
gerou uma grande euforia na população da cidade, tendo em vista ser um local
sagrado para os cristãos do município.

Figura 20 – Igreja de São Severino Mártir em Timbaúba dos Batistas

Fonte: LUCENA, 2017.

Segundo o historiador timbaubense, Arysson Soares da Silva, os devotos da


cidade, da época, decidiram celebrar essa graça divinal e posteriormente
comemorar a chegada da imagem do santo, que se tornou padroeiro da cidade,
organizou-se uma festa, que se tornou tradição no município e atrai pessoas de
48

todas as regiões que vem anos após anos para glorificar o santo padroeiro da
cidade e prestigiar os vários eventos ofertados para toda população.
Esse evento festivo religioso começa por volta do dia 10 e se estende até o
dia 19 de dezembro. Durante todos esses dias de evento se realiza os mais diversos
tipos de comemorações com uma programação social bastante variada são elas:
chegada de cavalgada, tradicional jantar de São Severino com música ao vivo,
feirinha de São Severino, casamentos comunitários, festival dos doces, leilão e
seresta, pavilhão de São Severino, leilão beneficente e muito mais.
49

4 METODOLOGIA

4.1 Procedimentos metodológicos

As técnicas utilizadas para elaboração da monografia seguiram as seguintes


etapas: 1) levantamento bibliográfico; 2) Pesquisas em campo. As atividades de
campo foram realizadas nos meses de Setembro a Novembro. Essas atividades de
campo tinha o intuito de aplicar um questionário objetivo com perguntas pertinentes
com o propósito de analisar o perfil socioeconômico das bordadeiras.
O produto cartográfico foi realizado através do software ArcGis 10.2.1 (versão
acadêmica). Para elaboração do mapa utilizou-se imagem disponibilizada
gratuitamente do satélite Google Earth Pro (2013) e malha digital do IBGE (2010)
disponibilizada gratuitamente através do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE).
Os gráficos e o quadro foram produzidos por meio do programa Microsoft
Office Excel versão (2010).
Algumas fotos contidas no referido trabalho são de minha autoria, as mesmas
foram capturadas através de um Smartphone Samsung Galaxy J7 Prime. Já o
restante das imagens foram obtidas por meios de blogs e sites, sendo todas
devidamente referenciadas.

4.2 Área de estudo

A presente pesquisa desenvolveu-se no município de Timbaúba dos batistas


que está localizado na microrregião do Seridó Ocidental ou zona homogênea de
Caicó. Sua área territorial total é de 135 km², o que equivale a 0,27% do território
estadual, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
50

5 CONTEXTO HISTÓRICO DO BORDADO EM TIMBAÚBA DOS BATISTAS

No município de Timbaúba dos Batistas o bordado é visto como o grande


símbolo representativo da cultura do município e é de importância econômica
significante para as praticantes dessa atividade.
A história do bordado em Timbaúba dos batistas teve sua gênese nos
primórdios do século XIX, no qual as mulheres dos colonizadores portugueses que
habitaram a região Seridoense e deixaram como forma de herança a arte do
bordado. No princípio, o bordado era desenvolvido à mão, sendo feito para
ornamentar os móveis de casa.
Na década de 1950, uma senhora chamada Francisca Pereira de Araújo
popularmente conhecida como Chiquinha Manteiga decidiu lecionar gratuitamente
às atividades do bordado para as mulheres da comunidade. Ainda nessa época o
bordado era produzido à mão.
Até os anos 1970, o bordado à mão era o carro chefe do artesanato
desenvolvido pela própria comunidade, mas somente para fins pessoais.
No fim da década de 1970, com o declínio das atividades agropecuárias, as
mulheres sentiram a necessidade de se auto sustentar e viram na atividade
bordadeira uma fonte de renda formidável. A atividade bordadeira em Timbaúba teve
uma considerável propagação após a chegada das máquinas manuais vindas de
Recife, Natal, Caicó e Campina Grande.
No início da década de 1980, a senhora Iracema Soares sentiu a necessidade
de ensinar às atividades do bordado para as jovens mulheres começarem não só
aprender, mas, também produzir e comercializar. O propósito era que cada mulher
tivesse a oportunidade de ter um meio de renda.
Dentre este movimento idealizador com fins de alavancar a economia da
comunidade Timbaubense, o bordado foi uma das molas propulsoras para o
desenvolvimento e reconhecimento da referida cidade. Várias mulheres bordam
como fonte de subsistência, outras bordam como renda complementar e outras, em
raras exceções, bordam apenas como passa tempo.
Nos anos 90, o bordado Timbaubense começou a ter uma maior divulgação
com ajuda de órgãos governamentais e associações que deram todo um suporte e
incentivos para que as bordadeiras tivessem a oportunidade de participar de feiras,
51

congressos e eventos artesanais na região. Vale destacar o apoio do SEBRAE que


começaram a investir não só na divulgação, como, também, na capacitação, na
disponibilização de cursos de qualificação e prestando consultorias para as
bordadeiras de forma gratuita.
Um grupo de exímias bordadeiras teve uma importante idealização e
participação na história do bordado Timbaubense são elas: Iracema Soares (patrona
atualmente da casa da bordadeira de Timbaúba dos batistas), Quininha, Chicola,
Marieta entre outras. Todas elas foram importantes para o processo de fabricação,
comercialização e importação do bordado produzido aqui na cidade de Timbaúba
dos batistas. Portanto, foi através destas que o bordado Timbaubense deu seus
primeiros passos a nível regional, estadual e nacional.
A partir dos anos 2000, com os avanços da grande produção do artesanato
local, o bordado industrial Timbaubense teve o devido reconhecimento a nível
regional, estadual e nacional pela sua perfeição, qualidade e de empreendedorismo,
sendo assim galardoado o título de perfeito empreendedor, sendo essa uma
importante e reconhecida premiação concedida pelo SEBRAE, elevando, assim, o
bordado de Timbaúba como um dos melhores do país.

5.1 Atividade bordadeira na formação de vida de centenas de mulheres e sua


relevância econômica para Timbaúba dos batistas

A atividade bordadeira passou a fazer parte da formação da vida de muitas


mulheres na cidade de Timbaúba e na região do Seridó ao longo das décadas.
Geralmente, as bordadeiras iniciam sua vida de artesão por falta de
alternativa, por falta de empregos. Na busca por uma ocupação lucrativa, muitas
vezes, com baixo nível de escolaridade e qualificação para conseguir melhores
empregos, as mulheres veem no bordado um meio formidável e menos implicante se
comparado com o mercado competitivo do trabalho.
Na cidade de Timbaúba dos Batistas, pra se ter uma ideia, existem
aproximadamente 900 bordadeiras praticando esse ofício, ou seja, se analisarmos a
quantidade de pessoas da cidade com número de bordadeiras chega a ser um
número surpreendente, tendo em vista que a população da mesma é pouco mais de
2312 habitantes, segundo (IBGE/2014). Reforçando a ideia que a atividade
52

bordadeira impacta na vida de muitas famílias que não tem do que viver,
enxergando no bordado um meio de obtenção de renda.
O bordado realmente se tornou uma fonte econômica importante para
centenas de pessoas de Timbaúba, pois em geral as pequenas cidades do interior,
boa parte delas estão situadas no circuito inferior econômico, frequentemente
abastecido pelo nível de venda e varejo e pelo comércio em pequena escala.
Geralmente, são estabelecimentos comerciais constituídos por pouco mais de uma
dúzia de funcionários.
Gráfico 1- Produto Interno Bruto

Fonte: Disponível em:


https://cidades.ibge.gov.br/painel/economia.php?lang=&codmun=241430&search=rio-grande-do-
norte|timbauba-dos-batistas|infogr%E1ficos:-despesas-e-receitas-or%E7ament%E1rias-e-pib

No gráfico acima, observa-se que Timbaúba não foge à regra com relação às
poucas atividades que movimentam pequenos municípios no interior do Rio Grande
do Norte, pois, geralmente, a economia dessas pequenas cidades é bastante restrita
ao serviço publico que é o setor que mais emprega como mostra o gráfico acima,
junto com meia dúzia de pequenos comércios. O setor agropecuário vem sofrendo
devido às longas estiagens no município e, portanto, pouco contribui para o
desenvolvimento econômico de Timbaúba dos batistas.
53

Segundo o último senso do IBGE de 2013, as principais atividades que


movimenta economicamente o município Timbaubense são à Agropecuária, a
Indústria e os Serviços sendo nesse último no qual o bordado está inserido.

Por falta de estrutura física e financeira, o bordado se torna, geralmente, a


única opção de renda para muitas famílias do município Timbaubense. Na cidade de
Timbaúba dos Batistas o bordado é de muita relevância para a economia da cidade,
levando em consideração a importância do mesmo para muitas mães de família que
são bordadeiras e conseguem gerar um lucro considerável para arcar com as
despesas domésticas de casa.
Geralmente, uma grande parte das bordadeiras desenvolve suas funções em
seu próprio domicílio. Brito (2012) explica que bordar é um trabalho por vez exercido
em casa, praticado, quase sempre pelo sexo feminino, sendo considerada uma
atividade complementar em relação ao trabalho do homem. A atividade bordadeira
tem lugar ao lado dos cuidados domésticos, em seu lar, atentando também para a
educação dos filhos, todas entendidas como atividades tradicionalmente femininas.
Reforçando o parágrafo anterior, Brito (2012, p. 80 e 81 apud SORJ, 2008)
ressalta a importância do lar para o ofício da atividade bordadeira e destaca as
diversas tarefas domesticas que a dona de casa exerce ao mesmo tempo em que se
borda:

O bordado, ao se tornar um tipo de trabalho realizado em âmbito doméstico,


se depara com algumas interpretações sobre o exercício das tarefas,
principalmente ao ser entendido como uma tarefa complementar às demais
que compõem as atividades domésticas (Sorj, 2008). É comum ouvir, entre
mulheres que têm trabalhos remunerados, que trabalhar em casa é algo
positivo, à medida que tornam possível combinar a prática econômica às
demais tarefas corriqueiras, permitindo realizar as atividades profissionais
de modo mais ou menos flexível. Por sua vez, essa não separação entre
casa e trabalho leva à sobreposição e ao acúmulo de funções: borda-se ao
mesmo tempo em que se cozinha, que se atende à porta, que se auxilia na
solução das tarefas escolares dos filhos etc.

As casas sempre foi um ambiente agradável para se aprender a bordar,


geralmente as mães ensinam esse ofício para suas filhas. Foi no âmbito doméstico
que muitas mulheres aprenderam a bordar.
Na esfera econômica, o bordado gera renda para as famílias das bordadeiras
como também aquece a economia interna que ganha sua parcela, pois as pessoas
54

que trabalham com o bordado naturalmente irão comprar a matéria-prima no


comercio local.
Há famílias inteiras que garantem sua sobrevivência com a renda adquirida a
partir do bordado, mas vale destacar outra fonte de renda que vem por meio do
programa Bolsa Família do Governo Federal, no qual centenas de famílias são
beneficiadas por serem baixa renda. Portanto, o bordado e o benefício da Bolsa
Família é na maioria dos casos a fonte de renda de centenas de famílias de
Timbaúba dos Batistas.
Frequentemente, as pessoas que tentam a vida na produção de bordados,
são pessoas que possui baixa escolaridade e sem capacitação para entrar no setor
formal, no setor público ou privado. Portanto, essas pessoas, que em geral são
mulheres, veem com bons olhos essa atividade ligada ao bordado. Apesar de a
atividade bordadeira ser um trabalho informal, o mesmo contribui de forma
significativa para o incremento da economia local.

Brito (2010), portanto, frisa:

Os bordados apresentam o prazer da beleza, revelam um novo olhar frente


às imagens de miséria e de confinamento que cercam o imaginário do
sertão nordestino. Mais do que uma saída econômica ou uma política
específica para o desenvolvimento regional, trata-se de uma experiência
estética da comunidade seridoense que mobiliza relações sociais,
tangenciadas pela produção artesanal.

Em todo o País, cerca de 8,5 milhões de brasileiros fazem do artesanato o


seu pequeno negócio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE/2012). Juntos, esses microempreendedores movimentam mais de R$ 50
bilhões por ano.

5.2 E as pessoas que vivem da atividade do bordado

Para iniciar é relevante relatar sobre as bordadeiras existentes aqui em


Timbaúba dos batistas, atores indispensáveis na produção dos bordados. Para este
entendimento, foram aplicados 35 questionários composto por perguntas básicas,
mas objetivas. Essas entrevistas foram feitas por todas as partes da cidade de
Timbaúba, e sempre com objetivo de conhecer o agente principal e responsável pela
produção da arte do bordado, a bordadeira. Através de conversas com as
55

bordadeiras foram ouvido relatos relevantes acerca do bordado: como funciona todo
o processo do bordado, os problemas enfrentados, o que motivou o ingresso no
ramo do bordado dentre outras questões.

O roteiro de perguntas é composto por 8 perguntas pertinentes. Foi uma


oportunidade de conhecer algumas das pessoas que trabalham e que vivem do
bordado. O objetivo dessa entrevista foi analisar um perfil socioeconômico das
mulheres que vivem da atividade bordadeira na cidade de Timbaúba dos batistas e
conhecer as pessoas que dedicam boa parte de seu tempo na execução do trabalho
de artesão.

Primeiramente, foi perguntado sobre o nível de escolaridade das bordadeiras.

Gráfico 2 - Nível de Escolaridade das Bordadeiras

Nível fundamental
20% completo
37%
Nivel fundamental
incompleto
29%
14% Nível médio completo

Nível médio incompleto

Fonte: LUCENA, 2017.

Sendo assim, um percentual relevante de 29% das bordadeiras afirmou ter


concluído o ensino médio. Por outro lado, 37% das entrevistadas relataram ter
concluído o ensino fundamental. Outra porcentagem relevante foi a de 20% das
bordadeiras terem o nível médio incompleto. Por fim, 14% responderam que não
concluíram o ensino fundamental pela falta de acesso ao ensino seguinte. Já outras,
no passado, residiam na zona rural o que dificultava mais ainda o acesso ao ensino.
56

Portanto, no gráfico um, é mostrado o nível de escolaridade, nele percebemos um


dos motivos pelo qual o bordado tornou-se uma saída para muitas pessoas, uma vez
que sem a conclusão dos estudos iniciais e consequentemente com nível de
escolaridade baixo, conseguir emprego torna-se uma tarefa não tão simples.
No gráfico 2, foram perguntadas as bordadeiras a duração média em tempo
de serviço com o bordado, há quanto anos às mesmas se dedicam à atividade
bordadeira como atividade econômica.
Para iniciar, 43% das entrevistadas disseram que trabalha com o bordado a
mais de 10 anos, para ser exato entre 10 e 20 anos, ou seja, mais de uma década
de dedicação ao bordado. Algumas bordadeiras revelaram que após aprenderem a
arte de bordar jamais deixaram de praticar. É uma forma de ganhar seu dinheiro
honestamente, é um trabalho digno e ainda por cima pode-se bordar em sua própria
casa, dividindo as tarefas domésticas com essa atividade do artesanato, disse uma
bordadeira.

Gráfico 3 - Tempo de serviço com o bordado em anos

8%

20% 29%
5 a 10 anos
10 a 20 anos
20 a 30 anos
mais de 30 anos
43%

Fonte: LUCENA, 2017.

Logo em seguida, 29% das bordadeiras contaram que entraram nessa


atividade há 5 e 10 anos. Nesse percentual encaixam-se as jovens filhas das
57

bordadeiras mais antigas, são geralmente adolescentes entre 18 e 25 anos de


idade.
Logo apos, vêm às bordadeiras mais antigas, 20% afirmaram já bordar a mais
ou menos 30 anos. E por fim, 10% relataram já bordar a mais de 30 anos.
É realmente admirável ver pessoas que trabalham a mais de 30 anos com a
atividade do bordado. É algo que merece um maior destaque por parte de todos,
sendo um produto que simboliza a cultura de nossa cidade e a dedicação de quem o
produz e eleva o seu nome através da qualidade encontrada no bordado de
Timbaúba dos Batistas. É uma herança passada de geração em geração, é legado
que se encravou no DNA das mulheres Timbaubenses.

No gráfico 3, veremos a importância da atividade bordadeira para centenas de


mães de família de Timbaúba dos batistas. Para começar, é bem normal
encontrarmos pessoas que dedicaram toda sua vida a uma única profissão. Já
outras pessoas preferem optar por outra, no bordado não é muito diferente.

Gráfico 4 - Se houve profissão anterior ao bordado

34%

Sim
66%
Não

Fonte: LUCENA, 2017.

Está bem nítida a dependência das bordadeiras com relação à atividade do


bordado. Percebe-se uma porcentagem bastante elevada de mulheres que tiram seu
sustento com esse tipo de artesanato. Uma quantidade relevante de entrevistadas
58

achara no bordado o seu sustento por vários anos. Foi perguntado às bordadeiras
se já tiveram alguma profissão anterior ao bordado, no qual 66% responderam que
nunca trabalharam com outra coisa e que sempre viveram do bordado. O restante,
representados por 34% das entrevistadas, relatou que já desempenhavam diversas
outras funções como: vendedora, doméstica e agricultora etc.
No gráfico 4, será apresentado alguns dados relativo a renda que o bordado
gera para as pessoas que vivem do mesmo.

Gráfico 5 - Ganho mensal com o bordado (%)

9%
20% Menos de um salário
minímo
Um salário minímo
71%
Mais de um salário
minímo

Fonte: LUCENA, 2017.

Primeiramente ressalto que as bordadeiras não ganham o mesmo valor todos


os meses, há sempre um variante mês após mês.
Portanto, 71% das bordadeiras relataram que consegue ganhar menos de um
salário mínimo, no entanto esse valor gira em torno de 500 reais, pois depende
muito da solicitação dos atravessadores que são os responsáveis por trazerem os
tipos de bordados e por estabelecerem as formas como se deve se produzir o
bordado. Desta forma, o valor do ganho mensal depende da produção, ou seja,
quanto mais se borda mais ganha, algumas bordadeiras dividem a atividade de
bordar com os trabalhos domésticos diários. Reitero, o ganho mensal é bem relativo.
59

Ainda temos 20% das entrevistadas que fazem até um salário mínimo com o
bordado, essas mulheres que conseguem fazer essa renda explicaram que vivem
disso, que se dedica o dia inteiro, é um pequeno grupo de bordadeiras que
consegue isso. Por fim, 9% das entrevistadas afirmaram ganhar mais de um salário
com o bordado, nesse percentual encaixam-se as microempresárias da cidade, são
na verdade bordadeiras que tem um capital de giro considerável e, portanto,
contratam os serviços de outras bordadeiras. Essas microempresárias são as
conhecidas atravessadoras, são as responsáveis por intermediar o bordado para os
grandes lojistas.

No gráfico 5, foram perguntadas as bordadeiras com quem elas aprenderam o


ofício de bordar.

Gráfico 6 - Com quem aprendeu a bordar (%)

11%

17%
Um parente
Um conhecido
72%
Sozinha

Fonte: LUCENA, 2017.

Durante as entrevista foram perguntados com quem as bordadeiras tinham


aprendido o ofício de bordar, as respostas foram diretas e unânimes, com 72%
respondendo ter aprendido a bordar com a mãe. Em seguida, 17% relataram ter
aprendido esse ofício com um conhecido como amigas. Por fim, 11% responderam
que deram seus primeiros passos sozinhos, explicando que aprendeu apenas
olhando e perguntando.
60

No gráfico 6, foi questionado a respeito sobre o objeto de trabalho das


bordadeiras: a máquina.
Procurando ainda mais entender a respeito de como as bordadeiras
trabalham, as artesãs foram questionadas sobre o tipo de máquina que as mesmas
utilizam para exercer sua atividade rotineira se seria a máquina industrial, a comum,
ou as duas. Vale lembrar que a maioria das bordadeiras da cidade de Timbaúba dos
Batistas é baixa renda, portanto a utilização da máquina elétrica industrial não é
privilégio para todas, tendo vista ser uma máquina muito cara.

Gráfico 7 - Uso da máquina comum e industrial

17%
37% Industrial

Comum
46%
As duas, comum e
industrial

Fonte: Breno, Raul, 2016.

Por mais que a utilização da máquina industrial esteja a todo vapor, 46%
disseram utilizar apenas à máquina comum, uma vez que alguns tipos de bordados
só devem ser manuseados somente na máquina comum. Apesar disso, as
bordadeiras não irão deixar de utilizar a veloz máquina industrial e, portanto, 37%
relataram usar apenas a industrial, pois esse tipo de máquina nas palavras de
algumas bordadeiras gera mais lucros pelo fato da máquina proporcionar uma
elevada produção de bordados. Por fim, 17% das entrevistadas explicaram utilizar
61

as duas máquinas, nesse caso é vantajoso para as bordadeiras porque as mesmas


podem lidar com qualquer tipo de encomenda.
No gráfico 7, foi questionado acerca de como as bordadeiras vivem dessa
atividade rentável.
É sabido que a cidade de Timbaúba é relativamente pequena, o comercio
emprega algumas dezenas de pessoas, outra parte trabalha no funcionalismo
público como a Prefeitura. Logo, para as mulheres, só resta o bordado como um
meio de fazer um lucro. A renda adquirida através da atividade bordadeira
juntamente com o benefício um programa de transferência direta de renda da Bolsa
Família são as principais fontes de receita que sustentam grande parte das famílias
Timbaubenses.

Gráfico 8 - Bordar como renda extra ou subsistência

46%
54%
Renda extra
Subsistência

Fonte: LUCENA, 2017.

Sendo assim, 54% das bordadeiras questionadas explicaram que vivem


somente da atividade bordadeiras, bordam o dia inteiro e só fazem pausas para
cuidar dos afazeres domésticos. Por outro lado, 46% das mulheres afirmaram que
bordam como renda extra, como uma ocupação, como um acréscimo no lucro
mensal.
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No gráfico 8, foi feita um questionamento curioso, foi perguntado se as


bordadeiras tiveram alguma melhoria de vida após começarem a bordar.

Gráfico 9 - Melhorias de vida adquirida através do bordado

29%

71% Sim
Não

Fonte: LUCENA, 2017.

Mesmo que o ganho mensal seja mediano, as bordadeiras mostraram-se


satisfeita após entrarem na vida de artesã. Sendo assim, 71% relataram timidamente
que alcançaram uma evolução na condição de vida, principalmente por ser a única
forma de se conseguir uma renda digna para se complementar com alguma outra
que já tem. O restante, composto por 29%, afirmam não sentir nenhum tipo
significante na sua melhoria de vida, pois o preço pago pelo trabalho é pouco
demais. De fato, essa foi uma pergunta bem pessoal porque vai depender da
interpretação de cada pessoa acerca da “melhoria de vida” através do bordado.

5.3 Como são produzidos os bordados

Para começar, serão explicadas as principais fases que o bordado leva para
chegar até o seu estágio final, estando pronto para ser apreciado pelo consumidor.
São etapas essenciais para que o bordado fique impecável e logo venha atrair o
público consumidor.
63

O bordado abrange um leque bem amplo, podendo ser trabalhado nos mais
variados tipos de vestuários. A partir do momento que a pessoa escolhe o tipo de
tecido, a bordadeira dar início a ornamentação. Silva (2012, p. 37) explica:

O processo inicia com a seleção do tecido. A escolha vai variar de acordo


com o tipo do bordado, se será uma estola, uma vira, ou qualquer outro
bordado [...] Porém há uma variedade de peças trabalhadas com o bordado
são, toalhas de banho, camisetas, conjuntos infantis e de cozinha,
camisolas, vestidos e demais peças de vestiário, cada um com as suas
peculiaridades.

Para Silva (2012) a produção dessas peças pode ser utilizada alguns pontos
como: rechelieu, crivo, ponto cheio e matiz. Esses pequenos pontos feitos por sutis
detalhes são organizados de acordo com o tipo de bordado que será bordado. Após
a escolha tecido se decide o tipo do desenho, sendo assim ocorre à transferência
para o tecido, ficando encarregada dessa próxima função a profissional conhecida
por riscadeira. É frequentemente normal as bordadeiras receberem as peças já
riscadas e com as linhas para desenvolver o bordado, no entanto há bordadeiras
que optam por trabalhar com seu material principal que são as linhas.
Brito (2010, p. 90) explica a forma de se produzir o risco:

[...] o riscado [...] obedece as seguintes passos: depois do estudo prévio


feito sobre o tecido, a consideração da finalidade da peça (e a aplicação de
outros elementos, como as rendas), tem inicio a transposição do desenho
para o tecido, organizando-o. Em geral, parte-se do método considerado
mais tradicional e artesanal do riscado, por meio do uso do lápis grafite e
papel de seda, transferindo o desenho, por papel carbono, para o tecido.

Há ainda o risco feito a gás, no entanto o mesmo é muito pouco utilizado, pois
dependerá do tipo de bordado que será confeccionado. Aqui, Brito (2010, p. 107) faz
uma simples explanação: “O risco a gás é um composto de querosene e anil, que,
posteriormente, é lavado com sal azedo, apara obter o alvejamento da peça e
eliminar qualquer mancha”.
Após a bordadeira fazerem sua parte, entra em ação às outras etapas que
são fundamentais para a finalização do ciclo de produção do bordado, que são à
lavagem e a engoma. Essa tarefa requer uma boa destreza durante sua execução,
pois essa atividade é composta por várias fases, não se limitando naquela simples
lavagem e engoma de uma roupa no qual estamos acostumados a fazer em casa.
64

Primeiramente lava-se a peça do bordado; sendo assim BRITO (2010, p. 153)


explica passo a passo como se dá esse processo de lavagem:

Para lavar a peça, é comum, em um primeiro momento, deixá-la de molho


em água, por umas 3 horas. Passado isso, os resíduos mais superficiais e
fáceis de sair já são percebidos na água. As sujeiras mais comuns são,
além do carbono, as manchas de óleo de máquina, do contato com as mãos
e manchinhas de café. Troca-se essa água por outra com sabão em pó
OMO. A roupa fica cerca de uma hora nesta mistura, enquanto isso, a peça
vai sendo esfregada. Encerrando esse processo, é a hora do grude, uma
mistura de goma de mandioca com água fervendo. (...) Dissolve-se a goma
em água fria e, em seguida, acrescenta-se água fervente.

Sendo assim, depois de feita toda a mescla caseira é preciso aguardar até
que se esfrie e então:

Estando pronta a mistura ela precisa descansar até que esfrie e possa ser
usada. O grude havendo ficado frio mergulha-se a peça na goma até que
fique totalmente molhada. Logo após é torcida e posta para quarar logo
depois é estendida no varal para secar [...] Depois da secagem segue-se o
processo de engoma que se dá com o ferro quente e um pano molhado.
(SILVA, 2012, p. 39).

Portanto, além das bordadeiras, vale ressaltar que há outros personagens


importantes na transformação do bordado. Antes mesmo das bordadeiras iniciarem
os trabalhos em suas máquinas, entra em cena a riscadeira que tem a função de
riscar os eventuais desenhos a serem bordados; após a bordadeira concluir sua
parte, entra em ação a lavadeira que tem a tarefa de tirar todos os resquícios de
sujeira do bordado e para finalizar todo esse ciclo entra em cena a engomadeira que
tem o dever de deixar o bordado engomado e pronto para colocar a venda.
Contudo, entram em cena os comerciantes do bordado que são responsáveis
por intermediar o produto para as empresárias, as quais são segundo Brito “(...)
aquelas que contratam o trabalho de outras bordadeiras” (2010, p. 222) e por fim os
atravessadores que ainda segundo Brito “(...) os atravessadores levam até os
lojistas para, então, chegar ao público do varejo” (2010, p. 226).
Vimos, então, como funciona de forma objetiva o ciclo de produção desse tipo
de artesanato.
65

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo amplo sobre o


desenvolvimento do bordado na cidade de Timbaúba dos Batistas e tentar
compreender a atividade bordadeira como um forte indicador econômico para muitas
famílias Timbaubenses.
Vimos que a história do bordado é bastante antiga sendo introduzido pelas
primeiras civilizações na antiguidade e sofrendo diversas metamorfoses ao longo
dos séculos para se transformar nessa linda arte que vemos hoje.
Vimos no início que o bordado atuou como componente característico na
formação feminina, especialmente, na preparação do papel da “moça prendada”. O
bordado é praticado no município Timbaubense desde o século XX e sua difusão se
dá no seio da família, principalmente, de mãe para filha ou através de amigos ou de
outros membros familiares mais próximos. Portanto, essas características são
atributos usados como pretexto para que as bordadeiras conceda caráter tradicional
à sua prática. Sendo assim, analisar a trajetória da atividade bordadeira no
município de Timbaúba dos Batistas é fundamental para compreender o seu papel
socioeconômico e cultural.
Nesse estudo, ficou visível que Timbaúba dos Batistas, pacata cidade
potiguar, possui uma gritante presença na atividade bordadeira, tendo, diretamente
quase 900 pessoas envolvidas na atividade bordadeiras. Tamanho número
representa a expressiva parcela de quase 40% da população do município.
Consequentemente a prática artesanal do bordado foi definindo-se como
atividade geradora de renda, passando a movimentar vigorosamente o setor informal
da economia local. Com esses aspecto faz aflorar novas relações no cenário de
produção artesanal, tal ao que se refere ao fracionamento de funções dentro do
processo de feitura de uma peça quanto à introdução de novos personagens, novas
mediações e mercados.
Sendo assim, não basta descrever a atividade bordadeira, mas buscar
compreendê-la, observando os seus interpretes sociais, os caminhos da produção e
consumo da mercadoria produzida, algo que se buscou realizar no transcorrer deste
vigente estudo.
66

O problema constatado no bordado timbaubense é acerca da divulgação, falta


de consumidores diretos para o produto e, principalmente, a falta de capital de giro
por partes das bordadeiras. Em geral, por serem de baixa renda, as bordadeiras têm
que lidar com a falta de recurso e, às vezes, com preços elevados da matéria prima.
Geralmente, os consumidores do bordado timbaubense são atravessadores.
Sem muitas opções para se vender o bordado, as bordadeiras veem seu
trabalho desvalorizado e se submetem às circunstâncias desses intermediadores
que, geralmente, não pagam às bordadeiras o valor real de mercado pelo bordado.
Frequentemente os atravessadores revendem o bordado no mercado externo
por preços acima da média. As bordadeiras timbaubenses necessitam de uma maior
divulgação do seu trabalho para que possa ser feito uma melhor vazão dos seus
produtos. O bordado timbaubense carece principalmente da falta de visibilidade para
atrair os consumidores externos.
67

REFERÊNCIAS

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bordadeiras do município de Caicó-RN. Natal/RN, 2013. Disponível em:<
repositorio.ufrn.br:8080/jspui/bitstream/.../1/AdriannaA_DISSERT.pdf> acesso em: 2
de Mai. de 2015.
ARAÚJO, I. F et al. Os engenhos da terra dos batistas. In: Medeiros, M. D. Seridó
antigo: história e cotidiano. Caicó: Museu do Seridó, 1994. p. 64 a 79.
BRITO, T. F. S. Bordados e bordadeiras: Um estudo etnográfico sobre a
produção artesanal de bordados em Caicó. 2010. 285f. Tese (Antropologia
Social) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2010. Acesso em: 27 de Abr. de 2015.
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http://ibge.gov.br/cidadesat/painel/historico.php?lang=&codmun=241430&search=rio-
grande-do-norte|timbauba-dos-batistas|infograficos:-historico. Acesso em: 15 de Set.
de 2015.
LOPES, R. M. R; MEDEIROS, G. P. C. O valor artístico-cultural do bordado de
Caicó/RN e sua relação com o turismo. Disponível em:
<www.spell.org.br/documentos/download/7038> Natal/RN, 2012. 12p. Acesso em:
30 de Abr. de 2015.
LOURENÇO, L. D. ARTESÃO DE BORDADO A MÃO - TIPO PACTHWORK.
Disponível em: <pronatec/wp-content/uploads/2012/07/abm1.pdf.> IFPR -
INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ, 2012. 88f. Acesso em: 01 de Mai. de 2015.
PIRES, Robson Araújo. A disputa pelo melhor bordado do Seridó e do mundo.
Caicó, 11 Abril. 2011. Disponível em: <http://www.robsonpiresxerife.com/notas/a-
disputa-pelo-melhor-bordado-do-serido-e-do-mundo/.> Acesso em: 10 de Set. de
2015.

SILVA, R. R. Abordagens sobre a atividade bordadeira na cidade de Caicó/RN a


partir das teorias da economia espacial de MILTONS SANTOS. 2012. 57f.
Trabalho de Graduação (Graduação em Geografia Bacharelado) – Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Acessado em 25 de Abril de 2015.
SINGER. Nossa história. Disponível em:< http://www.singer.com.br/nossa-historia/.
> Acesso em: 10 de Dez. de 2015.
SOARES, Arilza. A ARTE DE BORDAR COM PERFEIÇÃO: OS BORDADOS
SERIDOENSES. 8 Agosto. 2011. Disponível em:
<http://papjerimum.blogspot.com.br/2011/08/bordados-seridoenses-perfeicao-na-
arte.html.> Acesso em: 14 de Out. de 2015.
TIMBAÚBA DOS BATISTAS. História. Disponível em:
<http://timbaubadosbatistas.rn.gov.br/paginas/ver_13_historia.> Acesso em: 18 de
Nov. de 2015.
ANEXO

QUESTIONÁRIO PARA AS BORDADEIRAS

Data:___/___/___

Nome:

Idade:

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Naturalidade:

Nível de escolaridade:

( ) Nível Fundamental Completo ( ) Nível Fundamental Incompleto

( ) Nível Médio Completo ( ) Nível Médio Incompleto

Endereço:

Bairro:

Município:

1. Tempo de serviço com o bordado em anos?

( ) 5 a 10 anos ( ) 10 a 20 anos ( ) 20 a 30 anos ( ) Mais de 30 anos

2. Se houve profissão anterior ao bordado?

( ) Sim ( ) Não

3. Ganho mensal com o bordado?


( ) Menos de um salário mínimo ( ) um salário mínimo ( ) Mais de um

salário mínimo

4. Este trabalho proporcionou melhorias em sua vida?

( ) Sim ( ) Não

5. Com quem aprendeu a bordar?

( ) Um parente ( ) Um conhecido ( ) Sozinha

6. Uso da máquina comum e industrial?

( ) Industrial ( ) Comum ( ) As duas

7. Bordar como renda extra ou subsistência?

( ) Renda complementar ( ) Sobrevive apenas do bordado

8. Melhorias de vida adquirida através do bordado

( ) Sim ( ) Não

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