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TERMO DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
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Rainer Miranda Brito - Orientador
________________________________________
Joaquim Izidro do Nascimento do Junior - Membro
_________________________________
Natacha Simei Leal - Membro
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Rainer Miranda Brito
Coordenador da disciplina de monografia
Coordenador do Colegiado de Antropologia
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 7
5 CONCLUSÃO ........................................................................................... 32
REFERÊNCIAS ........................................................................................ 34
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1 INTRODUÇÃO
Esta monografia tem como objetivo apresentar a importância e os aspectos do
trabalho coletivo na apicultura para comunidades rurais no semiárido piauiense. O
foco desta pesquisa está na região de Anísio de Abreu, Piauí, mais especificamente
nas comunidades Boa Esperança, Caboclo dos Birocas e Sítio do Morro. Esta
pesquisa intenta detalhar uma parte do processo e dos trabalhos da apicultura e refletir
sobre ela: a retirada, a separação e a venda do mel. Isto é, uma descrição reflexiva
sobre a dinâmica dos trabalhos apícolas e seus engajamentos coletivos. Como a
apicultura afeta socialmente e economicamente a comunidade? Como ela cria
vínculos de trabalho coletivo?
Antes de entrar na discussão sobre a apicultura nas localidades já citadas,
vamos situar a cidade de Anísio de Abreu. Localizada no semiárido piauiense, região
sudeste do estado, Anísio de Abreu fica a 560 quilômetros da capital Teresina,
fazendo parte da microrregião de São Raimundo Nonato que fica a 54 quilômetros de
distância de Anísio de Abreu. Boa Esperança fica a 14 quilômetros de Anísio de
Abreu, já Sítio do Morro fica a 11 quilômetros e Caboclo dos Birocas a distância são
7 quilômetros.
As comunidades rurais em Anísio de Abreu encontraram na apicultura uma
maneira de conseguir lucro e se desenvolver socialmente e economicamente. O
trabalho coletivo é o responsável pelo grande salto no desenvolvimento da atividade
apícola. A solidariedade entre as pessoas que trabalham nesse serviço ajudou no
melhoramento da extração de mel, mudando de patamar a atividade apícola na região.
Como cada pessoa tem uma função, o apicultor não perde tempo fazendo várias
funções, conseguindo terminar toda produção de mel, assim não gerando prejuízos.
A apicultura de modo geral rende bem e gera lucro alto entre as comunidades.
Contudo, demanda muito trabalho como produção. Ainda assim, muitas pessoas na
região de Anísio de Abreu investem na apicultura pelo fato de render mais dinheiro e
dar menos trabalho em relação à agricultura ou à pecuária. Sua mão de obra custa
barato, pois a venda de mel gera um lucro formidável, assim os apicultores não gastam
muito com a mão de obra.
Uma grande vantagem para os apicultores e uma mudança interessante no
processo da apicultura, foi a inserção do trabalho coletivo. Pois com as compras de
maquinários precisaria de pessoas para poder manuseá-las. Aumentaram as
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comunidade em pessoas mais solidárias. Criou-se uma boa parceria entre os grandes
e pequenos apicultores por meio da troca de mão de obra. Outro ponto interessante
dentro dessa parceria é o fato de o grande apicultor pagar os serviços ao pequeno
apicultor.
As discussões serão relacionadas às abordagens de Antônio Candido (2010) e
Fernanda Barbosa (2019). O primeiro trata sobre solidariedade e parcerias. E a
segunda sobre o trabalho coletivo e suas formas. Candido (2010) fala da solidariedade
que acontece dentro da comunidade como cada morador ajuda uns aos outros,
focando principalmente no exemplo dos mutirões. As parcerias acontecem dentro das
roças comunitárias entre o produtor e proprietário da roça. Já Fernanda Barbosa
(2019) mostra como o trabalho coletivo é fundamental para o desenvolvimento da
apicultura.
Antonio Candido (2010) traz nos seus argumentos estudos sobre solidariedade
e sua importância para a comunidade trabalhar junto. A coletividade entre as pessoas
da comunidade citada pelo autor mostra como a comunidade é solidária, essa ideia
ganha mais embasamento quando ele exemplifica os mutirões. Nesse exemplo ele
mostra como o trabalho coletivo é importante para o funcionamento do mutirão. Esse
caso mostra como as comunidades rurais em conjunto podem fazer a atividade rural
ter um desempenho excelente. Na discussão titulada “parcerias” o autor traz que os
grandes proprietários rurais alugam roças dos pequenos proprietários utilizando para
atividades agrícolas. O pequeno proprietário tem uma pequena porcentagem sobre o
lucro da produção agrícola.
Fernanda Fernandes (2019) vai abordar como o trabalho coletivo é fundamental
para a atividade apícola, devido ao fato de algumas funções que são exercidas na
apicultura exigirem a coletividade. Os apicultores dividem entre si cada função, assim
realizando o processo apícola. A autora também destaca a importância das
associações entre apicultores para obter melhores resultados em questões de
produção e economia. Na sua concepção o trabalho coletivo é o grande responsável
por todo esse processo pois sem ele a apicultura de grande porte praticamente não
aconteceria.
Entrevistas feitas com moradores das localidades Boa Esperança, Sítio do
Morro e Caboclo dos Birocas da região de Anísio de Abreu, Piauí, serão usadas como
base para as reflexões desta pesquisa. São falas importantes de apicultores que
vivem nas comunidades citadas e trazem questionamentos interessantes. Dhonatas
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Santos, Augusto Ferreira, José Filho Santana, Caynã Santana e Solon Paes são os
entrevistados, cada um traz um ponto de vista semelhante com alguma diferença, mas
seguindo a mesma ideia sobre o trabalho coletivo e sua importância para a apicultura
e como a atividade apícola é importante para as comunidades. As discussões serão
mais detalhadas nos capítulos a seguir.
O primeiro capítulo chamado “A apicultura nas comunidades rurais de Anísio
de Abreu” mostra como a acontece a apicultura na área rural de Anísio de Abreu
especificamente nas localidades Boa Esperança, Caboclo do Birocas e Sítio do Morro.
Mostrando como a apicultura é importante para a região e ajudou no processo do seu
desenvolvimento, sendo a atividade rural mais ativa pelo fato da produção de mel ser
bastante valorizada e lucrativa. Além de trazer alguns pontos interessantes sobre a
apicultura, como a forma de retirar o mel, sua comercialização, como a apicultura
chegou e começou nessas comunidades, e outros fatores.
O segundo capítulo denominado “Trabalho coletivo, solidariedade e parcerias”
faz uma relação naquilo que existe dentro da apicultura como o trabalho coletivo,
solidariedade e parceria. Exemplifica qual é o papel desses três termos dentro da
atividade apícola, isso relacionado com a coletividade existente na apicultura.
Trazendo como essas abordagens contribuíram para o desenvolvimento e
melhoramento das atividades apícolas nessas comunidades rurais de Anísio de
Abreu. Baseados nas discussões de Barbosa (2019) e Candido (2010) como citados
anteriormente.
O terceiro capítulo é um capítulo nomeado “A importância da coletividade para
a apicultura" que vai discutir a importância da coletividade para a apicultura e como
ela é fundamental para seu funcionamento. Outro ponto debatido é como o trabalho
coletivo é o principal fator para a apicultura acontecer e sua ausência provocaria uma
quase inexistência da atividade apícola. Outro fato interessante demonstra como
existe uma parceria amistosa entre apicultores e como a coletividade ajudou a
intensificar essa coligação.
O último capítulo traz uma conclusão da pesquisa relatando a importância e o
impacto positivo da apicultura para as localidades da região de Anísio de Abreu. Outro
ponto destacado é como o trabalho coletivo é fundamental e essencial para o
progresso da atividade apícola, assim trazendo eficiência, benefícios e melhorias para
a apicultura das localidades Sítio do Morro, Boa Esperança e Caboclo dos Birocas.
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de mão de obra. Nesse último ponto entra o quesito coletividade, pois a atividade
apícola precisa bastante do trabalho coletivo, isso gerando menos esforço individual.
Na entrevista realizada com Dhonatas Ferreira percebe em sua fala como a
apicultura é importante para as comunidades rurais, além de ser a atividade rural mais
exercida nas localidades. Destaca sua vantagem econômica e lucrativa em relação às
outras atividades rurais, e menos exigência do esforço físico. Outro ponto interessante
foi o melhoramento das relações entre os moradores da comunidade pois gerou um
grande vínculo entre a população, melhorando as tomadas de decisões que envolvam
a comunidade, como por exemplo em questões públicas.
Dhonatas Santos morador da localidade Boa Esperança cita que a apicultura é
a atividade rural mais praticada na comunidade pelo fato de todos participarem e
exigirem menos esforço físico como é o caso da agricultura. Outro ponto que destaca
é sua renda pois é algo bastante lucrativo, diferente da pecuária que o bicho precisa
ser bem alimentado e beber muita água, algo difícil no sertão devido à escassez de
chuva e o gasto com a ração não compensa muito na hora da venda do animal.
Analisando sua fala e os exemplos trazidos é possível perceber como a apicultura é
algo importante e fundamental para essas comunidades rurais de Anísio de Abreu por
alguns fatores que serão exibidos ao decorrer da pesquisa.
Dhonatas também em seus relatos mostra que a apicultura melhorou as
relações dentro da comunidade, como é uma atividade que exige o trabalho coletivo
para sua cooperação, os vínculos entre os moradores aumentaram. Isso impacta até
em decisões sobre questões da comunidade, como fazer alguma obra pública ou algo
comemorativo, por exemplo festejos ou festas tradicionais. Essas decisões sempre
têm um consenso favorável às decisões comunitárias. A atividade apícola além do
trabalho coletivo que é exigido mostra como ela cria laços entre os apicultores dentro
e fora da apicultura.
No começo da apicultura na região muitos apicultores não tinham dinheiro para
comprar maquinário, caixas onde fica a colmeia da abelha e baldes para
armazenamento do mel. Foi por esse fato que os apicultores começaram a fazer
associação para comprar os instrumentos e a divisão para seu uso era combinado
entre os apicultores. Quando acontecia a retirada do mel de umas das localidades a
de outra comunidade já era agendada para outro dia geralmente da mesma semana.
Atualmente cada localidade já tem seu maquinário e com isso preserva tempo e
menos desperdício de mel, pois se demorar um tempo para sua retirada pode criar na
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colmeia casulos de filhote da abelha. Outro problema era que às vezes alguns
apicultores tinham muitas caixas de “oropa” em lugares distantes fazendo demorar o
processo apícola acontecer, assim atrapalhava outros apicultores a retirar seu mel.
Devido a todos esses problemas citados acima os apicultores de cada
comunidade decidiram comprar seus próprios maquinários, assim não causando mais
prejuízo na produção de mel. Isso também evitou chocar as datas para a retirada de
mel, organizando melhor a produção apícola. A coletividade continuou agora mais
restrita, sem a solidariedade entre as comunidades, mas cada comunidade continuou
com o trabalho conjunto. Devido ao fato de cada comunidade possuir seu maquinário,
ficou difícil apicultores irem para outras comunidades ajudar na retirada de mel, pois
geralmente tiram na mesma época chocando datas. Mas dentro da própria
comunidade o trabalho coletivo continua ainda, pois a coletividade ficou mesmo assim
muito forte dentro de cada localidade.
Nas localidades Boa Esperança, Caboclo dos Birocas e Sítio do Morro os
apicultores recebem ajuda também de pessoas não ligadas a apicultura, como é no
caso de filhos ou esposas ajudarem no processo apícola. A ajuda acontece pelo
motivo de ter algumas funções leves dentro do processo apícola, para ser exercida
assim economizando tempo para os apicultores buscarem caixas de “oropa” na mata
ou lugares longe do local da retirada do mel.
Pode perceber como a apicultura envolve toda a comunidade não sendo
apenas um serviço exclusivo dos apicultores, recebendo ajuda dos moradores da
localidade. Esse acontecimento mostra como a atividade apícola é muito coletiva
nesses lugares, impactando ainda mais a importância do trabalho coletivo que é
essencial para seu desenvolvimento. Trazendo uma maneira diferente de olhar para
o processo apícola pois não é somente a produção de mel que está envolvida, mas
todo um conjunto de laços entre apicultura e comunidade.
A comunidade começou a exercer o trabalho coletivo antes mesmo da
ascensão da apicultura. Tudo começou na agricultura onde os moradores das
localidades ajudavam os proprietários das roças nos afazeres do processo agrícola,
como adubar, semear, limpar o matagal e entre outras funções. Mas diferentemente
da apicultura a agricultura não tinha o envolvimento da comunidade, era algo mais
restrito entre agricultores devido ao pensamento que é um serviço pesado para
mulheres e crianças impossibilitando sua participação na atividade agrícola. Esse
exemplo mostra como a apicultura além de ter a coletividade como algo marcante,
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melhor forma como isso acontece, algo considerável pois não é da dominância deles
esse assunto.
Agora em conversas com jovens como Dhonatas Santos da Boa Esperança e
Caynã Santana do Sítio do Morro as respostas foram mais desenvolvidas pois ambos
possuem escolaridade mais alta, o primeiro está no ensino superior e o segundo
terminou recentemente o ensino médio. Ambos reconhecem a apicultura como
trabalho coletivo é algo fundamental para seu acontecimento. No quesito de
reconhecer o termo “trabalho coletivo", Caynã e Dhonatas foram enfáticos em seus
argumentos demonstrando convicção em suas falas e conhecimento sobre a
discussão. Admitem que a coletividade é o principal agente dentro da apicultura, ela
faz a atividade apícola funcionar de maneira positiva. O apicultor Caynã Santana foi
direto e simples em sua resposta: "Sim, ela está presente e isso não tem nem
discussão”.
Na fala do apicultor Dhonatas foi convicto e preciso em sua fala: “Sim. É um
serviço que demanda muito da galera, quanto mais gente ajudando melhor, lógico que
quando é para os grandes apicultores eles pagam, mas eles nos ajudam quando
vamos retirar então tá tudo certo. Além do mais quando estamos tirando pra eles
levam janta e toda vez pinga, saímos até bêbado às vezes (risos)”.
A apicultura é uma atividade ampla não sendo somente algo que precise de
maquinários para sua execução, pois tirar uma colmeia que esteja em uma árvore
pode ser considerada apicultura. Mas na visão dos moradores das localidades da
região de Anísio de Abreu a atividade apícola é considerada com um grande porte
com a utilização de instrumentos necessários para fazer a extração de mel em
grandes quantidades. Por isso o questionamento, sem o trabalho coletivo é possível
a apicultura ser exercida, para os apicultores locais é quase impossível pois seu modo
de ver o processo apícola é o de grande porte, ou seja, que utiliza os maquinários.
Eles não consideram o exemplo da colheita de mel retirada de um enxame na árvore
citado anteriormente como apicultura.
Esse pensamento sobre a apicultura ser somente algo de grande porte vem
muito da cultura do povo piauiense pois eles vieram reconhecer a atividade apícola
quando começou a ser exercido a retirada de mel com caixas de criação de abelhas,
maquinários e baldes como armazenamento. O trabalho coletivo está ligado por ser o
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equipe pois ele supera as adversidades e traz mais benefícios que malefícios a
apicultura demonstrando que a individualidade não tem vantagens na atividade
apícola. O Apicultor Caynã destaca: “não, ninguém sozinho consegue ter um
desempenho de uma equipe, lógico tem a questão da harmonia, mas isso tem de
sobra entre nois”.
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maneira coletiva e não sendo totalmente individualista. “Devendo ser considerado que
ele (trabalho coletivo) promove, também, a troca de experiências e de convivência
entre as pessoas, promovendo, assim, um ambiente fecundo para o crescimento e
desenvolvimento das pessoas de forma holística.” (BARBOSA, 2019, p.36).
Outro ponto destacado pela a autora é como o trabalho coletivo gera algo que
ela denomina como uma solidariedade social entre os apicultores, isso inserindo o
contexto do serviço em conjunto praticado na retirada do mel. Analisa que o trabalho
coletivo gera menos prejuízos na produção apícola, evitando perda de mel na hora da
sua colheita. Traz uma conclusão interessante sobre todo o processo que envolve a
apicultura para conseguir força política para progredir no mercado.
Por isso, a participação em associações e organizações civis, como o trabalho
coletivo, é salutar para gerar solidariedade social, diminuir os custos da produção e
dos escoamentos dos produtos, no caso, dos apicultores de mel, bem como
proporcionar uma unidade de força política para galgar um espaço no mercado e para
lutar por políticas públicas. (BARBOSA, 2019, p.36)
Uma discussão trazida por Fernanda Barbosa mostra como a apicultura tem
todo um desenvolvimento econômico, é uma atividade que traz uma renda
consideravelmente boa. Ela defende que isso tudo é possível pelo fato do social está
interligado com a economia, sem esse fator não existiria o movimento econômico. “[…]
não existe econômico sem o social, o social é fundante, determinante o econômico é
derivado, resultado, subordinado.” (BARBOSA,2021, p.36).
Pois a coletividade não está conectada somente ao trabalho, mas na forma do
desenvolvimento local, assim ajudando a comunidade progredir de forma harmônica
e econômica, enfrentando as barreiras que a pobreza provoca no seu próprio
progresso"[…] o enfrentamento da pobreza, como insuficiência de desenvolvimento,
exige nova concepção encontrada nas propostas de desenvolvimento local.”
(BARBOSA, 2019, p.36). Esses questionamentos dão ênfase ao argumento sobre a
importância do trabalho coletivo não somente ao serviço, mas a toda comunidade que
está envolvida no processo.
Para concluir o último questionamento, a autora Fernanda Barbosa (2019)
destaca como a organização coletiva funciona a partir de interesses pessoais,
provocando uma cooperação para suprir necessidades individuais. E a partir dessas
cooperações nascem os aspectos no campo político, econômico e social. Todas essas
concepções ajudam na constituição processual de aprendizado e estruturação de
poder.
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3.2 Solidariedade
assim realiza um serviço mais eficiente. Esse ponto trazido pelo autor mostra como
em qualquer atividade é importante cada pessoa ter sua função definida pois o
trabalho coletivo age em conjunto. Esse argumento do Antonio Candido tem
semelhanças com esta pesquisa, os apicultores têm suas funções definidas, ou seja,
é como cada indivíduo tinha seu cargo definido assim não tendo desavenças e
chegando em um consenso coletivo. Na explicação do autor ele deixa claro que no
final os agricultores para agradecer a ajuda oferecem alimentos e uma festa, uma
forma de encerrar o trabalho. No contexto da apicultura relatado na pesquisa isso
também acontece, mas com uma diferença além da festa e comida, os apicultores
oferecem porte financeiro como dinheiros, objetos valiosos e por assim adiante.
Consiste essencialmente na reunião de vizinhos (pessoas da
comunidade), convocado por um deles, a fim de ajudá-lo a efetuar determinado
trabalho: derrubada, roçada, plantio, limpa, colheita, malhação, construção de
casa, fiação etc. Geralmente os vizinhos são convocados e o beneficiário lhes
oferece alimento e uma festa, que encerra o trabalho. (CANDIDO, 2010, p.82)
3.3 Parceria
Esse exemplo de Antonio Candido (2010) pode ser comparado com a apicultura
da região pois existe a parceria entre o grande e o pequeno apicultor. Os relatos dos
apicultores que moram nas localidades Sítio do Morro, Boa Esperança e Caboclo dos
Birocas, mostram como funcionam essas parcerias, logicamente havendo algumas
diferenças com abordagem do autor Antonio Candido. Falas de alguns apicultores vão
mostrar como funciona essa dinâmica na apicultura.
relato do apicultor Augusto Ferreira destaca que o grande apicultor paga pelo
o seu serviço, além de ajudar na mão de obra, no caso da apicultura a divisão de
produto seria o dinheiro assim o pequeno apicultor recebe uma porcentagem do lucro
da produção de mel obtida pelo o grande apicultor. Augusto em seu relato: “Meu fi
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eles pagam um tanto bom não pode reclamar, eles também ajuda nois quando vamo
tirar, todo mundo acabou virando amigo”.
José Santana destaca a parceria pelo fato de a troca de mão de obra ajudar os
pequenos apicultores a agilizarem todo o processo da retirada de mel, outro ponto que
ele destaca é que quanto mais o lucro do grande apicultor mais ele paga para o
pequeno apicultor. José Filho em sua fala: “De boa eles pagam um valor bom, agora
depende de quantos baldes eles vão tirar se for muito eles pagam mais ainda. A ajuda
deles é boa para a gente, pois quando eles tá na labuta com nois a retirada é rápido”.
Dhonatas Santos em sua fala destaca a parceria como algo muito interessante, existe
respeito entre os apicultores apesar da diferença social entre o pequeno e o grande
apicultor. Destaca também a forma que a troca de mão de obra é algo reconhecido e
se tem o respeito entre os apicultores. Dhonatas em seu relato: “Muito da hora os
caras pagam pra gente e ainda ajudam. Meio que existe um respeito entre a gente,
uma forma de agradecer, tem vez que eu pego o dinheiro porque eles insistem”. Caynã
Santana destaca a parte financeira pois o dinheiro ajuda bastante no pagamento de
contas, despesas e bens materiais, além de enfatizar a ajuda do grande apicultor na
hora da retirada do pequeno apicultor. Caynã em sua fala: “Rapaz eu gosto pois
quando termina eles pagam fico feliz demais com meu dinherim, e ainda trabalha com
nois na retirada. E quando tira muito balde a festa é completa, pois recebo muita
grana”.
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5 CONCLUSÃO
Esses discursos apresentados pelos entrevistados mostram como a apicultura
é algo dinâmico para a comunidade, seja na questão econômica ou na questão da
socialização. Mudou a forma de relação entre moradores da localidade e criou um
respeito dentro da comunidade. Algo interessante de ser levantado mostrando como
o trabalho coletivo afeta até mesmo o jeito das pessoas agirem se transformando em
indivíduos mais respeitosos e amigáveis.
A apicultura evoluiu de forma significativa com a introdução de caixas de
abelhas cada vez mais adaptáveis ao clima e às abelhas, como maquinários com
desempenhos mais efetivos e eficazes. Os apicultores melhoraram suas técnicas em
relação a extração do mel para acontecer menos desperdício e um melhor
aproveitamento do mesmo. O trabalho coletivo melhorou o desempenho em conjunto
criando efetividade na hora do apicultor exercer sua função, outro fato é que cada
funcionalidade tem sua execução de forma eficaz e positiva, isso devido a
solidariedade criada entre os apicultores.
Os moradores de cada comunidade demonstram bastante afeto com a
apicultura devido a importância desta atividade em suas vidas. Percebe-se esse
carinho pelas falas dos apicultores descritas na pesquisa e pelas conquistas pessoais
como casa, veículo, vestimentas e melhoramento na qualidade de vida. Esse exemplo
mostra como o trabalho coletivo funciona de maneira correta pois as conquistas e o
afeto pela atividade apícola criam uma coesão entre os apicultores fazendo a
apicultura acontecer de uma forma bastante produtiva. E todo esforço pelos
apicultores são enxergados quando os mesmos fazem festas para comemorar a
produção de mel obtida, uma maneira de mostrar valorização ao processo que é
envolvido na atividade apícola.
O trabalho coletivo mostra sua importância para a apicultura por deixar essa
atividade mais eficiente e com resultados e empenhos positivos. Esta pesquisa
fundamenta e mostra a eficácia do trabalho coletivo e seus aspectos para a atividade
apícola. Os resultados e as informações obtidas são importantes para mostrar como
a apicultura é essencial para várias comunidades em termos econômicos e sociais.
Além de resultar no desenvolvimento da comunidade trazendo evolução e progresso
para a mesma, exemplo como mais investimento no setor público e privado.
Esta pesquisa exemplificou como o trabalho coletivo é importante para a
apicultura e ela para a comunidade: um apicultor precisa do outro, formando assim
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REFERÊNCIAS
BARBOSA, F. F. Contribuições para a construção da identidade coletiva
da mulher na apicultura. Dissertação (Mestrado em Sistemas Agroindustriais) -
Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, 2019.
CALDEIRA, C. Mutirão: formas de ajuda mútua no meio rural. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1956.
CANDIDO, A. Parceiros do rio bonito: estudo sobre o caipira paulista e a
transformação dos seus meios de vida. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2010.
WELCH, Clifford A.; MALAGODI, Edgard; CAVALCANTI, Josefa S.Barbosa;
WANDERLEY, Maria de Nazareth B. (Orgs). Camponeses brasileiros: leituras e
interpretações clássicas. São Paulo: Editora Unesp, 2009.
DURKHEIM, E. Sociologia. São Paulo: Ática, 2000.
SILVA, M. G. D. O homem e a apicultura: a teoria do ator rede, reciprocidade
e a sustentabilidade socioambiental. Caos- Revista eletrônica de Ciências
Sociais, João Pessoa, n. 21, p. 91-100, Novembro 2012.