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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO-UNIVASF

CURSO DE GRADUAÇÃO DE ANTROPOLOGIA

RENAN DE SANTANA SANTOS

TRABALHO COLETIVO E SEUS ASPECTOS NA APICULTURA EM


COMUNIDADES RURAIS DE ANÍSIO DE ABREU (PI).

SÃO RAIMUNDO NONATO (PI)


2021
RENAN DE SANTANA SANTOS

TRABALHO COLETIVO E SEUS ASPECTOS NA APICULTURA EM


COMUNIDADES RURAIS DE ANÍSIO DE ABREU (PI).

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Federal do Vale do São Francisco –
UNIVASF, Campus Serra da Capivara, como
requisito para obtenção do título de Bacharel em
Antropologia.

Orientador: Prof. Dr. Rainer Miranda Brito.

SÃO RAIMUNDO NONATO (PI)


2021
Santos, Renan de Santana

S237t Trabalho coletivo e seus aspectos na apicultura em comunidades rurais


de Anísio de Abreu / Renan de Santana Santos - São Raimundo Nonato-PI,
2021.
34 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Antropologia) -


Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus Serra da Capivara,
São Raimundo Nonato, 2021.

Orientador: Profª Dr. Rainer Miranda Brito.

1. Apicultura. 2. Trabalho coletivo. 3. Comunidades rurais. 4. Abelhas. I.


Brito, Rainer Miranda. II. Título. III. Universidade Federal do Vale do São
Francisco.
CDD 595.799

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Biblioteca SIBI/UNIVASF


Bibliotecária: Kênia Leandra Ferreira Alves CRB/15: 886/O
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO - UNIVASF
COLEGIADO DE ANTROPOLOGIA - CANT/SRN
Rua João Ferreira dos Santos, S/N, Bairro Campestre
São Raimundo Nonato – PI, CEP 64.770-000

TERMO DE APROVAÇÃO

Renan de Santana Santos


TRABALHO COLETIVO E SEUS ASPECTOS INSERIDOS NA APICULTURA
EM COMUNIDADES RURAIS DE ANÍSIO DE ABREU (PI)

Trabalho de conclusão de curso apresentado


como requisito parcial para obtenção do grau
de Bacharel em Antropologia pela
Universidade Federal do Vale do São
Francisco – UNIVASF.

Aprovado pela Banca Examinadora em 21 de Outubro de 2021.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________
Rainer Miranda Brito - Orientador

________________________________________
Joaquim Izidro do Nascimento do Junior - Membro

_________________________________
Natacha Simei Leal - Membro

______________________________________
Rainer Miranda Brito
Coordenador da disciplina de monografia
Coordenador do Colegiado de Antropologia

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO - UNIVASF


CNPJ: 05.440.725/0001-14 / Inscrição Estadual: isenta.

SEDE (REITORIA) CAMPUS DA SERRA CAPIVARA


Avenida José de Sá Maniçoba, s/n Centro, Campus Universitário, Rua João Ferreira dos Santos, Bairro Campestre, s/n
Petrolina – PE CEP: 56304-205 São Raimundo Nonato – PI, CEP: 64770-000
Fone: (87) 3862-9353 Fone: (89) 3582-9750
RESUMO
A apicultura é uma atividade rural que transcende o desenvolvimento de um
determinado lugar. Nas comunidades de Anísio de Abreu - Boa Esperança, Sítio do
Morro e Caboclo dos Birocas - percebe-se como melhorou a economia e a
socialização dentro das localidades. Atualmente a apicultura é a atividade rural mais
valorizada e praticada na região de Anísio de Abreu. O processo apícola dessas
comunidades foi a introdução e a importância do trabalho coletivo, que desenvolveu e
melhorou a produção de mel, um passo importante para os apicultores e para a
apicultura da região. A atividade apícola ganhou importância no espaço comunitário
por ser um serviço que demanda poucos gastos e tem um ótimo retorno econômico,
além de exigir menos mão de obra comparada a outras atividades rurais. A apicultura
nessas comunidades melhorou a convivência entre os moradores e criou um vínculo
amistoso entre os apicultores. Objetiva-se neste estudo trazer a importância do
trabalho coletivo e seus aspectos para a apicultura, sinalizando seu caráter como
atividade essencial para as comunidades da região de Anísio de Abreu. O resultado
desse estudo mostra como a apicultura com o trabalho coletivo através da
solidariedade e das parcerias ganhou relevância e um papel fundamental nas
comunidades.

Palavras-chaves: Apicultura. Trabalho coletivo. Trabalho Rural. Antropologia Rural.


ABSTRACT
Beekeeping is a rural activity that transcends the development of a particular place. In
the communities of Anísio de Abreu - Boa Esperança, Sítio do Morro and Caboclo dos
Birocas - one can see how the economy and socialization within the localities has
improved. Beekeeping is currently the most valued and practiced rural activity in the
Anísio de Abreu region. The beekeeping process of these communities was the
introduction and importance of collective work, which developed and improved the
production of honey, an important step for beekeepers and for beekeeping in the
region. The beekeeping activity has gained importance in the community as it is a
service that requires little expense and has a great economic return, in addition to
requiring less labor compared to other rural activities. Beekeeping in these
communities has improved coexistence between residents and created a friendly bond
between beekeepers. The aim of this study is to focus collective work and its aspects
in beekeeping, signaling its character as an essential activity for communities in the
region of Anísio de Abreu. The result of this study shows how beekeeping with
collective work through solidarity and partnerships gained relevance and a
fundamental role in communities.

Keywords: Beekeeping. Collective work. Rural work. Rural anthropology.


AGRADECIMENTOS
Queria agradecer primeiramente a Deus que ajuda nos momentos mais difíceis
e através de sua graça ter dado força e sabedoria para a conclusão desta monografia.
Agradecer a nossa senhora Aparecida por ter dado sua bênção para continuar a
realizar meus sonhos e sempre me dar esperanças para poder sempre batalhar e lutar
pelos meus objetivos.
Agradeço ao meu orientador Rainer Miranda Brito professor docente do curso
de antropologia UNIVASF campus Serra da Capivara, pelo o tempo disponível e seu
empenho e dedicação para a realização desta pesquisa. Aos meus amigos de turma
Camila Oliveira, Iorrany Cristina de Oliveira, Felipe José da Silva, Marcos Venicius
Pereira (Dudu) pela troca de conhecimentos e os momentos vividos durante o período
de graduação.
A minha família em especial minha mãe Maria Soledade Santana pela a
educação que me ensinou e toda sua garra para poder dar a melhor criação possível.
E ao meu pai Renato Ferreira dos Santos pelo o ensinamento de como se tornar uma
pessoa de bem. Ao meu primo Dhonatas Ferreira pelo tempo que convivemos e
trocamos conhecimento durante a graduação e ao meu irmão de vida Domeciano
Pereira da Silva Junior pelo o tempo que moramos juntos e a troca de conhecimento.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 7

1.1 A apicultura e o trabalho coletivo nas comunidades rurais do Brasil ....... 8

2 APICULTURA NAS COMUNIDADES RURAIS DE ANÍSIO DE ABREU. 12

2.1 Os Apicultores reconhecem o termo “Trabalho coletivo”? ..................... 17

2.2 Sem o trabalho coletivo é possível a apicultura ser exercida? .............. 18

3 TRABALHO COLETIVO, SOLIDARIEDADE E PARCERIAS .................. 21

3.1 Trabalho Coletivo................................................................................... 22

3.2 Solidariedade ......................................................................................... 24

3.3 Parceria ................................................................................................. 26

4 A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO COLETIVO PARA A APICULTURA 29

4.1 Trabalho coletivo inserido na apicultura e as mudanças provocadas nas


relações comunitárias. .................................................................................... 31

5 CONCLUSÃO ........................................................................................... 32

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 34
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1 INTRODUÇÃO
Esta monografia tem como objetivo apresentar a importância e os aspectos do
trabalho coletivo na apicultura para comunidades rurais no semiárido piauiense. O
foco desta pesquisa está na região de Anísio de Abreu, Piauí, mais especificamente
nas comunidades Boa Esperança, Caboclo dos Birocas e Sítio do Morro. Esta
pesquisa intenta detalhar uma parte do processo e dos trabalhos da apicultura e refletir
sobre ela: a retirada, a separação e a venda do mel. Isto é, uma descrição reflexiva
sobre a dinâmica dos trabalhos apícolas e seus engajamentos coletivos. Como a
apicultura afeta socialmente e economicamente a comunidade? Como ela cria
vínculos de trabalho coletivo?
Antes de entrar na discussão sobre a apicultura nas localidades já citadas,
vamos situar a cidade de Anísio de Abreu. Localizada no semiárido piauiense, região
sudeste do estado, Anísio de Abreu fica a 560 quilômetros da capital Teresina,
fazendo parte da microrregião de São Raimundo Nonato que fica a 54 quilômetros de
distância de Anísio de Abreu. Boa Esperança fica a 14 quilômetros de Anísio de
Abreu, já Sítio do Morro fica a 11 quilômetros e Caboclo dos Birocas a distância são
7 quilômetros.
As comunidades rurais em Anísio de Abreu encontraram na apicultura uma
maneira de conseguir lucro e se desenvolver socialmente e economicamente. O
trabalho coletivo é o responsável pelo grande salto no desenvolvimento da atividade
apícola. A solidariedade entre as pessoas que trabalham nesse serviço ajudou no
melhoramento da extração de mel, mudando de patamar a atividade apícola na região.
Como cada pessoa tem uma função, o apicultor não perde tempo fazendo várias
funções, conseguindo terminar toda produção de mel, assim não gerando prejuízos.
A apicultura de modo geral rende bem e gera lucro alto entre as comunidades.
Contudo, demanda muito trabalho como produção. Ainda assim, muitas pessoas na
região de Anísio de Abreu investem na apicultura pelo fato de render mais dinheiro e
dar menos trabalho em relação à agricultura ou à pecuária. Sua mão de obra custa
barato, pois a venda de mel gera um lucro formidável, assim os apicultores não gastam
muito com a mão de obra.
Uma grande vantagem para os apicultores e uma mudança interessante no
processo da apicultura, foi a inserção do trabalho coletivo. Pois com as compras de
maquinários precisaria de pessoas para poder manuseá-las. Aumentaram as
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vantagens para os moradores das comunidades, como o aumento da apicultura, o


melhoramento da socialização entre as pessoas, além de ser uma renda muito
lucrativa. Isso mostra como o debate sobre o trabalho coletivo e seus aspectos foi
fundamental para o crescimento e melhoramento da apicultura nessas regiões.

1.1 A apicultura e o trabalho coletivo nas comunidades rurais do Brasil

A apicultura está presente em muitas comunidades rurais espalhadas pelo


Brasil, sendo uma das atividades rurais mais praticadas. Existem vários estudos
relacionados à apicultura. Na antropologia encontramos autores contemporâneos que
tratam sobre esse assunto. Essa atividade tem uma questão social envolvida: o
trabalho coletivo, que gera um vínculo entre os moradores e apicultores das
comunidades. Alguns autores, desde clássicos como Antônio Candido (2010) a
contemporâneos no caso de Fernanda Fernandes Barbosa (2019) debatem sobre
trabalho coletivo e seus aspectos envolvidos. Tal como a divisão de tarefas, parceria,
solidariedade, coletividade e entre outros. Neste trabalho serão relacionados os
debates sobre o trabalho coletivo e a apicultura, mostrando como os dois podem ter
uma conexão.
O autor contemporâneo Misael Gomes da Silva traz nas suas discussões a
importância da coletividade na apicultura. Na sua obra denominada O homem e a
apicultura: a teoria do Autor rede, reciprocidade e a sustentabilidade
socioambiental, o autor exemplifica como o trabalho coletivo é importante para o
processo apícola. “[...] o apicultor precisa do “outro” para exercer sua atividade, seja
na coleta do mel, seja na coleta da própolis ou em qualquer outra atividade” (SILVA,
2012, p. 94).
Seguindo a linha sobre o trabalho coletivo, o autor renomado Émile Durkheim
na sua obra chamada Sociologia no capítulo “Organização Orgânica” destaca a
importância da coesão entre os indivíduos para que a solidariedade ocorra de maneira
efetiva e coletiva. Consequentemente, nesse caso exemplificado a individualidade
entre os indivíduos têm que ser absorvida pela coletividade criada entre os mesmos.
A primeira só é possível na medida em que a personalidade individual seja
absorvida pela a personalidade coletiva; a segunda só é possível se cada um tiver uma
esfera própria de ação e, consequentemente, uma personalidade. É preciso, pois, que
a consciência coletiva deixe descoberta uma parte da consciência individual, para que
não se estabeleçam essas funções especiais que ela não pode regulamentar; além
disso, esta região é extensa, mas a coesão que resulta desta solidariedade é mais
forte. (DURKHEIM, 2000, p.83).
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Já o autor Clovis Caldeira na sua obra chamada, Mutirão: formas de ajuda


mútua no meio rural, o trabalho coletivo é tratado como algo precursor e solidário da
América, sendo parte da sua tradição, presentes nas sociedades do continente.
Viva ainda em algumas regiões, decadente noutras, é das mais
interessantes a tradição de trabalho coletivo solidário na América, onde as
influências autóctones se misturam às de alguns povos, também de passado
comunitário, que entraram na formação de suas nacionalidades (CALDEIRA,
1959, p. 7).

Os estudos sobre o trabalho coletivo estão presentes nas discussões


antropológicas. Nas comunidades rurais os aspectos coletivos são bastante
presentes, as populações comunitárias são solidárias umas com as outras. A
antropologia rural traz com maior amplitude os debates relacionados ao trabalho
coletivo, tais como as de Moacir Palmeira (Welch et al., 2009). O trabalho coletivo é
um componente fundamental para o funcionamento das atividades rurais. A apicultura
é um exemplo, pois ela tem muitas funções a ser exercida e quanto mais pessoas
ajudando melhor o seu desenvolvimento. Como já destaca os autores citados acima,
o trabalho coletivo além de ser importante faz parte da tradição comunitária de muitas
populações rurais brasileiras. Neste trabalho será apresentado o trabalho coletivo e
seus aspectos inseridos na apicultura das comunidades localizadas na região de
Anísio de Abreu, Piauí. Sendo abordado como acontece e qual sua importância dentro
do espaço apícola. O estudo mostra os impactos causados pela coletividade em
relação a comunidade provocando uma socialização amigável entre os moradores.
Além da questão econômica, dando uma condição financeira agradável. Mas isso foi
possível somente por causa do trabalho coletivo, ele foi o agente principal para a
apicultura se desenvolver e crescer nas comunidades de Anísio de Abreu.
Esta pesquisa foca em três localidades de Anísio de Abreu: Caboclo do Birocas,
Sitio do Morro e Boa Esperança. Mostrando que todos os pontos exemplificados acima
estão inseridos na atividade apícola dessas comunidades. A apicultura é uma
atividade rural muito forte nessas localizações, pois é responsável pela a maior parte
das rendas das comunidades. Fundamental também para consumo próprio pois o mel
tem vários benefícios seja alimentício ou medicinal.
E o trabalho coletivo é fundamental para a apicultura acontecer, sem ela a
apicultura de grande porte não existiria nessas comunidades. Por outro lado, a
coletividade aumentou os vínculos sociais, transformando assim as pessoas da
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comunidade em pessoas mais solidárias. Criou-se uma boa parceria entre os grandes
e pequenos apicultores por meio da troca de mão de obra. Outro ponto interessante
dentro dessa parceria é o fato de o grande apicultor pagar os serviços ao pequeno
apicultor.
As discussões serão relacionadas às abordagens de Antônio Candido (2010) e
Fernanda Barbosa (2019). O primeiro trata sobre solidariedade e parcerias. E a
segunda sobre o trabalho coletivo e suas formas. Candido (2010) fala da solidariedade
que acontece dentro da comunidade como cada morador ajuda uns aos outros,
focando principalmente no exemplo dos mutirões. As parcerias acontecem dentro das
roças comunitárias entre o produtor e proprietário da roça. Já Fernanda Barbosa
(2019) mostra como o trabalho coletivo é fundamental para o desenvolvimento da
apicultura.
Antonio Candido (2010) traz nos seus argumentos estudos sobre solidariedade
e sua importância para a comunidade trabalhar junto. A coletividade entre as pessoas
da comunidade citada pelo autor mostra como a comunidade é solidária, essa ideia
ganha mais embasamento quando ele exemplifica os mutirões. Nesse exemplo ele
mostra como o trabalho coletivo é importante para o funcionamento do mutirão. Esse
caso mostra como as comunidades rurais em conjunto podem fazer a atividade rural
ter um desempenho excelente. Na discussão titulada “parcerias” o autor traz que os
grandes proprietários rurais alugam roças dos pequenos proprietários utilizando para
atividades agrícolas. O pequeno proprietário tem uma pequena porcentagem sobre o
lucro da produção agrícola.
Fernanda Fernandes (2019) vai abordar como o trabalho coletivo é fundamental
para a atividade apícola, devido ao fato de algumas funções que são exercidas na
apicultura exigirem a coletividade. Os apicultores dividem entre si cada função, assim
realizando o processo apícola. A autora também destaca a importância das
associações entre apicultores para obter melhores resultados em questões de
produção e economia. Na sua concepção o trabalho coletivo é o grande responsável
por todo esse processo pois sem ele a apicultura de grande porte praticamente não
aconteceria.
Entrevistas feitas com moradores das localidades Boa Esperança, Sítio do
Morro e Caboclo dos Birocas da região de Anísio de Abreu, Piauí, serão usadas como
base para as reflexões desta pesquisa. São falas importantes de apicultores que
vivem nas comunidades citadas e trazem questionamentos interessantes. Dhonatas
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Santos, Augusto Ferreira, José Filho Santana, Caynã Santana e Solon Paes são os
entrevistados, cada um traz um ponto de vista semelhante com alguma diferença, mas
seguindo a mesma ideia sobre o trabalho coletivo e sua importância para a apicultura
e como a atividade apícola é importante para as comunidades. As discussões serão
mais detalhadas nos capítulos a seguir.
O primeiro capítulo chamado “A apicultura nas comunidades rurais de Anísio
de Abreu” mostra como a acontece a apicultura na área rural de Anísio de Abreu
especificamente nas localidades Boa Esperança, Caboclo do Birocas e Sítio do Morro.
Mostrando como a apicultura é importante para a região e ajudou no processo do seu
desenvolvimento, sendo a atividade rural mais ativa pelo fato da produção de mel ser
bastante valorizada e lucrativa. Além de trazer alguns pontos interessantes sobre a
apicultura, como a forma de retirar o mel, sua comercialização, como a apicultura
chegou e começou nessas comunidades, e outros fatores.
O segundo capítulo denominado “Trabalho coletivo, solidariedade e parcerias”
faz uma relação naquilo que existe dentro da apicultura como o trabalho coletivo,
solidariedade e parceria. Exemplifica qual é o papel desses três termos dentro da
atividade apícola, isso relacionado com a coletividade existente na apicultura.
Trazendo como essas abordagens contribuíram para o desenvolvimento e
melhoramento das atividades apícolas nessas comunidades rurais de Anísio de
Abreu. Baseados nas discussões de Barbosa (2019) e Candido (2010) como citados
anteriormente.
O terceiro capítulo é um capítulo nomeado “A importância da coletividade para
a apicultura" que vai discutir a importância da coletividade para a apicultura e como
ela é fundamental para seu funcionamento. Outro ponto debatido é como o trabalho
coletivo é o principal fator para a apicultura acontecer e sua ausência provocaria uma
quase inexistência da atividade apícola. Outro fato interessante demonstra como
existe uma parceria amistosa entre apicultores e como a coletividade ajudou a
intensificar essa coligação.
O último capítulo traz uma conclusão da pesquisa relatando a importância e o
impacto positivo da apicultura para as localidades da região de Anísio de Abreu. Outro
ponto destacado é como o trabalho coletivo é fundamental e essencial para o
progresso da atividade apícola, assim trazendo eficiência, benefícios e melhorias para
a apicultura das localidades Sítio do Morro, Boa Esperança e Caboclo dos Birocas.
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2 APICULTURA NAS COMUNIDADES RURAIS DE ANÍSIO DE ABREU


A apicultura na região de Anísio de Abreu é bastante comum, sendo uma das
principais rendas econômicas. É uma atividade bastante presente nas comunidades
rurais, principalmente pelo fato de o mel ser muito lucrativo para as pessoas que
moram na localidade. Neste capítulo serão mostrados os exemplos das comunidades
Boa Esperança, Caboclo dos Birocas e Sítio do Morro. Essas localidades têm uma
grande concentração de retirada de mel na região de Anísio de Abreu. A sua
importância para a população é nítida, pois é uma atividade que demanda menos
trabalho comparado com outras atividades rurais. Seu lucro é vantajoso em relação
aos outros serviços.
Segundo um senhor de Caboclo dos Birocas chamado Solon Paes a apicultura
começou em Anísio de Abreu e região através de um homem chamado Detinho como
é conhecido popularmente na cidade. Detinho foi um vereador impactante na região
de Anísio de Abreu com vários mandatos ao longo de sua carreira política. Bancos
como o Banco do Nordeste e Banco do Brasil começaram a mostrar para Detinho que
investir na apicultura podia trazer uma boa renda, então começou a comprar caixas e
maquinários para retirar mel. Com todo esse processo um de seus funcionários
chamado Raimundo Silva também começou a investir na apicultura conseguindo um
ótimo lucro financeiro. Raimundo começou a comprar casa, carro e moto, muitos viram
ele adquirindo bens materiais e começaram a investir na apicultura. Após todo esse
acontecimento as comunidades rurais começaram a ter a apicultura como uma grande
renda econômica e consequentemente ela foi evoluindo ao longo dos anos.
A retirada nas comunidades Boa Esperança, Caboclo dos Birocas e Sítio do
Morro, tem algumas etapas a serem seguidas. Primeiro é a compra das caixas de
abelhas onde a mesma vai depositar seu mel como se fosse uma colmeia. Depois as
caixas de abelha são colocadas na mata em lugares estratégicos onde a abelha tem
mais facilidade para pegar seu alimento como perto de plantas que tenham flores ou
pólen. Também nas caixas são colocados alguns alimentos doces para chamar a
abelha até a caixa como rapadura, água com açúcar, chame-chame (produto vendido
em lojas para atrair abelhas) e entre outros alimentos. Dentro delas tem um item
chamado “quadro” onde se coloca uma cera para as abelhas poderem fazerem o mel
e nesse quadro a capa de mel fica grudada na cera.
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Segundo quesito é o maquinário para realizar o processo da retirada de mel,


como a máquina que retém o mel ela gira até conseguir extrair todo o mel que estava
depositado na caixa de abelha. O apicultor coloca o “quadro” que fica dentro da caixa
para a abelha armazenar o mel e depois ele põe esses quadros nessa máquina e gira
até conseguir retirar todo seu mel. Mas antes desse processo os quadros são
colocados na mesa apícola onde eles vão ser limpos tirando algum resíduo
indesejado, os apicultores usam um garfo específico para fazer essa limpeza.
Também a um escorredor para colocar os quadros que já foram extraídos do seu mel,
pois ainda fica um restinho e para não ocorrer desperdícios o escorredor extrai o resto
de mel que fica.
Terceiro quesito é o balde de mel, eles são usados como armazenamento do
próprio do mel. Geralmente esses baldes tem 18 litros e na sua maioria tem a cor
branca, não tenha algo que defina a cor mais é uma curiosidade para se ressaltar.
Todos têm que conter tampa para não entrar algum tipo de sujeira no mel e depois do
armazenamento do mel tem que estar sempre bem fechado até a hora da sua venda.
Outro aspecto interessante é que o balde é a base para definir o valor do mel, pois os
apicultores das localidades de Anísio de Abreu usam o termo balde para referir a
valorização do mel. um exemplo é quando o apicultor fala “o balde de mel custa
quanto?”, nesse caso percebe a utilização e a referência de valor do termo balde.
Alguns apicultores dessas localidades citadas acima afirmam que a apicultura
com caixas e uma grande produção de mel começou após os anos 2000, não se tem
dados exatos, pois a cooperativa não encontra essas informações já que a mesma é
recente. A atividade apícola começou na região do nordeste após sua progressão em
outras regiões do Brasil (BARBOSA, 2019). Isso é notável no sudeste do Piauí:
municípios como Anísio de Abreu, São Raimundo Nonato, Caracol e Jurema são
muito relevantes no que se refere ao investimento na apicultura.
Com a crescente da atividade apícola na região de Anísio de Abreu na época
que estava começando a progredir na localidade, muitos apicultores compraram
caixas de abelha, baldes para armazenamentos e maquinários para fazer a retirada
de mel. Antes o mel era visto apenas como produto para consumo próprio, sem levar
em conta questões econômicas e produção em grande escala. Como tem muitas
abelhas ou “oropas” (como na região são chamadas genericamente todas as abelhas)
viu-se que a apicultura podia ser uma atividade rural lucrativa e rentável em questão
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de mão de obra. Nesse último ponto entra o quesito coletividade, pois a atividade
apícola precisa bastante do trabalho coletivo, isso gerando menos esforço individual.
Na entrevista realizada com Dhonatas Ferreira percebe em sua fala como a
apicultura é importante para as comunidades rurais, além de ser a atividade rural mais
exercida nas localidades. Destaca sua vantagem econômica e lucrativa em relação às
outras atividades rurais, e menos exigência do esforço físico. Outro ponto interessante
foi o melhoramento das relações entre os moradores da comunidade pois gerou um
grande vínculo entre a população, melhorando as tomadas de decisões que envolvam
a comunidade, como por exemplo em questões públicas.
Dhonatas Santos morador da localidade Boa Esperança cita que a apicultura é
a atividade rural mais praticada na comunidade pelo fato de todos participarem e
exigirem menos esforço físico como é o caso da agricultura. Outro ponto que destaca
é sua renda pois é algo bastante lucrativo, diferente da pecuária que o bicho precisa
ser bem alimentado e beber muita água, algo difícil no sertão devido à escassez de
chuva e o gasto com a ração não compensa muito na hora da venda do animal.
Analisando sua fala e os exemplos trazidos é possível perceber como a apicultura é
algo importante e fundamental para essas comunidades rurais de Anísio de Abreu por
alguns fatores que serão exibidos ao decorrer da pesquisa.
Dhonatas também em seus relatos mostra que a apicultura melhorou as
relações dentro da comunidade, como é uma atividade que exige o trabalho coletivo
para sua cooperação, os vínculos entre os moradores aumentaram. Isso impacta até
em decisões sobre questões da comunidade, como fazer alguma obra pública ou algo
comemorativo, por exemplo festejos ou festas tradicionais. Essas decisões sempre
têm um consenso favorável às decisões comunitárias. A atividade apícola além do
trabalho coletivo que é exigido mostra como ela cria laços entre os apicultores dentro
e fora da apicultura.
No começo da apicultura na região muitos apicultores não tinham dinheiro para
comprar maquinário, caixas onde fica a colmeia da abelha e baldes para
armazenamento do mel. Foi por esse fato que os apicultores começaram a fazer
associação para comprar os instrumentos e a divisão para seu uso era combinado
entre os apicultores. Quando acontecia a retirada do mel de umas das localidades a
de outra comunidade já era agendada para outro dia geralmente da mesma semana.
Atualmente cada localidade já tem seu maquinário e com isso preserva tempo e
menos desperdício de mel, pois se demorar um tempo para sua retirada pode criar na
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colmeia casulos de filhote da abelha. Outro problema era que às vezes alguns
apicultores tinham muitas caixas de “oropa” em lugares distantes fazendo demorar o
processo apícola acontecer, assim atrapalhava outros apicultores a retirar seu mel.
Devido a todos esses problemas citados acima os apicultores de cada
comunidade decidiram comprar seus próprios maquinários, assim não causando mais
prejuízo na produção de mel. Isso também evitou chocar as datas para a retirada de
mel, organizando melhor a produção apícola. A coletividade continuou agora mais
restrita, sem a solidariedade entre as comunidades, mas cada comunidade continuou
com o trabalho conjunto. Devido ao fato de cada comunidade possuir seu maquinário,
ficou difícil apicultores irem para outras comunidades ajudar na retirada de mel, pois
geralmente tiram na mesma época chocando datas. Mas dentro da própria
comunidade o trabalho coletivo continua ainda, pois a coletividade ficou mesmo assim
muito forte dentro de cada localidade.
Nas localidades Boa Esperança, Caboclo dos Birocas e Sítio do Morro os
apicultores recebem ajuda também de pessoas não ligadas a apicultura, como é no
caso de filhos ou esposas ajudarem no processo apícola. A ajuda acontece pelo
motivo de ter algumas funções leves dentro do processo apícola, para ser exercida
assim economizando tempo para os apicultores buscarem caixas de “oropa” na mata
ou lugares longe do local da retirada do mel.
Pode perceber como a apicultura envolve toda a comunidade não sendo
apenas um serviço exclusivo dos apicultores, recebendo ajuda dos moradores da
localidade. Esse acontecimento mostra como a atividade apícola é muito coletiva
nesses lugares, impactando ainda mais a importância do trabalho coletivo que é
essencial para seu desenvolvimento. Trazendo uma maneira diferente de olhar para
o processo apícola pois não é somente a produção de mel que está envolvida, mas
todo um conjunto de laços entre apicultura e comunidade.
A comunidade começou a exercer o trabalho coletivo antes mesmo da
ascensão da apicultura. Tudo começou na agricultura onde os moradores das
localidades ajudavam os proprietários das roças nos afazeres do processo agrícola,
como adubar, semear, limpar o matagal e entre outras funções. Mas diferentemente
da apicultura a agricultura não tinha o envolvimento da comunidade, era algo mais
restrito entre agricultores devido ao pensamento que é um serviço pesado para
mulheres e crianças impossibilitando sua participação na atividade agrícola. Esse
exemplo mostra como a apicultura além de ter a coletividade como algo marcante,
16

quebra a barreira da mulher no espaço rural. As crianças ajudam, no caso do processo


apícola elas participam porque gostam e ainda vê como uma forma de aprendizado.
A apicultura é uma atividade rural bastante interessante não somente pela a
produção de mel, mas como ela afeta a comunidade internamente e externamente.
De forma interna vale ressaltar que todo mundo ajuda e não reclama da função que
vai exercer na retirada do mel. E externamente melhorou os vínculos entre moradores
da comunidade causando uma união mais estável ou amistosa, como em tomadas de
decisões que envolvam a localidade. A atividade apícola é algo tão marcante que é
muito valorizada não somente pelos apicultores, mas por todo mundo que mora na
comunidade.
A valorização da retirada do mel é tão significativa pois quando a produção de
mel é bastante lucrativa muitos apicultores decidem fazer um grande churrasco para
comemorar o acontecimento. Nessas festas os moradores contribuem com carne,
bebidas e dinheiro, em alguns casos os grandes apicultores pagam sozinhos todos os
produtos citados. Esse último caso reflete uma forma de agradecimento do grande
apicultor pelo serviço prestado pelos outros apicultores na retirada do mel.
Nos últimos anos percebeu-se a discrepância entre a valorização da apicultura
com a agricultura e pecuária mostrando como essas duas atividades rurais se
tornaram a segunda opção dos moradores. Pode-se destacar três pontos para
exemplificar esse ponto. Primeiro é questão econômica, a agricultura e a pecuária
utilizam bastante dinheiro para a compra de ração para os bichos e tratores para arar
a terra. O retorno financeiro não empolga os moradores, pois o lucro é pouco.
Segundo ponto, a escassez de chuva é um grande ponto negativo, devido à seca o
plantio não rende o esperado e os animais não engordam o suficiente para ser
vendidos. Terceiro ponto, os jovens se interessam mais a participar da apicultura do
que da agropecuária, por causa de ser uma atividade bastante coletiva a retirada do
mel é um trabalho onde muitos se divertem conversando, bebendo e ao mesmo tempo
se empenhando no serviço.
Esses três pontos exemplificados no parágrafo anterior mostram como alguns
fatores aumentaram o interesse da extração de mel, fazendo a apicultura ser algo
chamativo também aos mais novos. Muitos jovens não conseguem empregos por ser
uma região onde não se tem muita oportunidade para trabalhar e a atividade apícola
se torna uma boa opção para fazer dinheiro. Com essa atividade rural eles conseguem
juntar uma renda para se manterem alguns meses nas localidades. Às vezes muitos
17

acabam indo para outros estados em busca de emprego e condições melhores de


vida por não encontrarem na região uma forma de trabalhar e se manter.
Todos esses aspectos trazidos nas discussões acima por incrível que pareça
tem muito a ver com o trabalho coletivo. Pois a apicultura de grande porte necessita
da coletividade para seu funcionamento e ao mesmo tempo provoca o interesse
múltiplo pela prática do serviço apícola. Moradores ao verem outras pessoas indo
participar da atividade apícola promovem outros moradores a se interessar pela a
apicultura, demonstrando como o trabalho em conjunto pode trazer grandes
resultados. Exemplos desse último caso podem ser os próprios jovens pois muitos
deles fazem outras pessoas mais novas verem a apicultura como um caminho
interessante para aprendizado e uma maneira de ter seu próprio dinheiro. Isso mostra
que a coletividade além de ser fundamental para o progresso da apicultura é
importante para inclusão de jovens na atividade apícola.
Mas com todos esses pontos trazidos será que os apicultores e moradores
consideram o termo “trabalho coletivo”? Sem o trabalho coletivo é possível a apicultura
ser exercida? Essas perguntas serão debatidas e respondidas no tópico a seguir.

2.1 Os Apicultores reconhecem o termo “Trabalho coletivo”?

Quando a pesquisa traz aos argumentos sobre o trabalho coletivo na cabeça


do leitor fica a dúvida se os apicultores entendem seu serviço como uma atividade
coletiva. Esse ponto de vista depende muito da escolaridade do apicultor pois sua
maioria não tem escolaridade completa, no máximo o ginásio completo. Os mais
jovens entendem quando perguntados sobre o reconhecimento do trabalho coletivo
que eles exercem, mas ainda surgem algumas dúvidas e questionamentos que os
mesmos nunca pararam para refletir. Já os mais velhos e aqueles que não tem uma
escolaridade completa não enxergam a coletividade dentro do espaço apícola, mas
sim como uma “ajuda” que o apicultor retribui ao outro.
Quando questionados sobre o termo “trabalho coletivo” o apicultor Augusto foi
mais relutante em sua fala: “rapaz nois vê que os apicultores ajudam um ao outro,
mas não fala de trabalho coletivo, até posso saber o que é coletivo, mas não sei
explicar muito bem”. Já José Filho falou que é todo o conjunto que envolve o trabalho
apícola: "Sim, pra mim o coletivo é conjunto entre nois, eu entendi isso”. Vendo essas
falas ambos reconhecem o trabalho coletivo, mas não conseguem expressar da
18

melhor forma como isso acontece, algo considerável pois não é da dominância deles
esse assunto.
Agora em conversas com jovens como Dhonatas Santos da Boa Esperança e
Caynã Santana do Sítio do Morro as respostas foram mais desenvolvidas pois ambos
possuem escolaridade mais alta, o primeiro está no ensino superior e o segundo
terminou recentemente o ensino médio. Ambos reconhecem a apicultura como
trabalho coletivo é algo fundamental para seu acontecimento. No quesito de
reconhecer o termo “trabalho coletivo", Caynã e Dhonatas foram enfáticos em seus
argumentos demonstrando convicção em suas falas e conhecimento sobre a
discussão. Admitem que a coletividade é o principal agente dentro da apicultura, ela
faz a atividade apícola funcionar de maneira positiva. O apicultor Caynã Santana foi
direto e simples em sua resposta: "Sim, ela está presente e isso não tem nem
discussão”.
Na fala do apicultor Dhonatas foi convicto e preciso em sua fala: “Sim. É um
serviço que demanda muito da galera, quanto mais gente ajudando melhor, lógico que
quando é para os grandes apicultores eles pagam, mas eles nos ajudam quando
vamos retirar então tá tudo certo. Além do mais quando estamos tirando pra eles
levam janta e toda vez pinga, saímos até bêbado às vezes (risos)”.

2.2 Sem o trabalho coletivo é possível a apicultura ser exercida?

A apicultura é uma atividade ampla não sendo somente algo que precise de
maquinários para sua execução, pois tirar uma colmeia que esteja em uma árvore
pode ser considerada apicultura. Mas na visão dos moradores das localidades da
região de Anísio de Abreu a atividade apícola é considerada com um grande porte
com a utilização de instrumentos necessários para fazer a extração de mel em
grandes quantidades. Por isso o questionamento, sem o trabalho coletivo é possível
a apicultura ser exercida, para os apicultores locais é quase impossível pois seu modo
de ver o processo apícola é o de grande porte, ou seja, que utiliza os maquinários.
Eles não consideram o exemplo da colheita de mel retirada de um enxame na árvore
citado anteriormente como apicultura.
Esse pensamento sobre a apicultura ser somente algo de grande porte vem
muito da cultura do povo piauiense pois eles vieram reconhecer a atividade apícola
quando começou a ser exercido a retirada de mel com caixas de criação de abelhas,
maquinários e baldes como armazenamento. O trabalho coletivo está ligado por ser o
19

precursor para iniciação do processo apícola, apicultores em conjunto começaram a


exercer a apicultura e assim até os dias atuais. Essa ideia fica evidente quando os
apicultores Augusto, José Filho, Dhonatas e Caynã trazem em seus argumentos que
sem o trabalho coletivo não pode ter a apicultura, ou seja, não retira mel
individualmente nas comunidades isso referindo-se a apicultura de grande porte. Mas
cada um desses apicultores tem uma maneira diferente de pensar sobre este assunto,
como será mostrado no parágrafo a seguir.
Na fala de Augusto percebe que sem o trabalho coletivo ficaria impossível de
ter a execução de cada funcionalidade em tempo hábil que a apicultura precisa, pois
não tem como tirar de dia pelo fato de as abelhas ficam mais zangadas e está em seu
processo de trabalho. Augusto relata: “Moço como alguém vai tirar só para garfar,
rodar a máquina, pegas as caixas tudo ao mesmo tempo, ia demorar um ano e de dia
não tem como tirar, então é difícil ter”. Mostrando como a apicultura exige agilidade e
tem funções que precisam ser exercidas de forma conjunta e ao mesmo tempo para
não ocorrer algum tipo de problema durante a retirada de mel.
José Filho em seu discurso foi mais contido não quis enrolar muito, sendo direto
ao ponto e falando em uma quantidade mínima de apicultores para a realização da
coleta de mel. Também traz que nenhum outro apicultor sozinho daria conta de fazer
todo esse processo precisando do trabalho coletivo. José Filho relata: “Não. Ninguém
dá conta de tirar só, tem de ser pelo menos umas oito pessoas”. Veja que a quantidade
de pessoas mínimas já pode ser considerada um número relativamente alto.
Dhonatas em suas concepções foi mais contundente, descreveu que sem o
trabalho coletivo fica impossível de realizar a atividade apícola a tempo e traria
prejuízos para a produção de mel. Em seu relato ainda ressalta como a demora para
retirar o mel pode trazer alguns problemas, exemplo a abelha ir embora da caixa ou
criar filhote na melgueira. No diálogo a seguir Dhonatas destaca também como pode
afetar o apicultor em questões físicas. Dhonatas em sua fala: “Não, primeiro porque o
cara não ia terminar antes de escurecer e segundo o cara cansava em um dia de
serviço deixando os outros dias para completar o dia anterior, assim acaba perdendo
o mel porque daria tempo criar filhote ou as abelhas ir embora”.
Outro argumento importante para entendermos a dinâmica sobre a falta do
trabalho coletivo é os aspectos trazidos por Caynã. Seu pensamento envolve a
questão de uma amizade dentro do trabalho apícola, não tem conflitos e os apicultores
sempre estão em consenso na coleta de mel. Enfatiza a importância do trabalho em
20

equipe pois ele supera as adversidades e traz mais benefícios que malefícios a
apicultura demonstrando que a individualidade não tem vantagens na atividade
apícola. O Apicultor Caynã destaca: “não, ninguém sozinho consegue ter um
desempenho de uma equipe, lógico tem a questão da harmonia, mas isso tem de
sobra entre nois”.
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3 TRABALHO COLETIVO, SOLIDARIEDADE E PARCERIAS


Esse trabalho será relacionado às discussões trazidas sobre a solidariedade
do autor Antônio Cândido. O primeiro traz na sua obra chamada Parceiros do Rio
Bonito, mutirões causados pela a coletividade entre os moradores da comunidade
localizadas em Botucatu e Bofete. Nesses mutirões o trabalho coletivo era o fator
determinante para fazer as atividades agrícolas. Outros serviços também ocorriam
com o trabalho coletivo que se tornava importante para o desenvolvimento das
comunidades. Além de gerar um progresso social, por causa do vínculo entre
moradores e o trabalho. Parcerias outro tema levantado pelo o autor discute a
participação do trabalho coletivo entre os grandes e pequenos agricultores, mesmo
que haja alguns pontos negativos e não seja algo totalmente voluntário existe a
coletividade nesse quesito.
A autora Fernanda Fernandes Barbosa em sua obra chamada Contribuições
para construção da identidade coletiva da mulher na apicultura, trata sobre a
importância do trabalho coletivo para a realização da apicultura, traz sua
essencialidade e como ela se insere na atividade apícola. Sua pesquisa está
diretamente relacionada a apicultura praticada em algumas regiões localizadas na
Paraíba. Traz aspectos sobre associações feitas por apicultores que a partir de seu
conjunto realizam produção de mel e dinâmicas para a realização da sua coleta. Outro
assunto tratado pela a autora é a importância da cooperativa para a apicultura devido
ao fato de comprar o mel e exportar o mesmo, dessa forma muitos apicultores
conseguem vender seu mel.
Essa pesquisa faz relação com os temas abordados por Antonio Candido
(2010) no quesito da solidariedade que se encontra na apicultura nas localidades Boa
Esperança, Sítio do Morro e Caboclo dos Birocas. Nesses povoados a solidariedade
existe dentro da própria sociedade e consequentemente chegou na atividade apícola
gerando o trabalho coletivo entre os apicultores, pois ambos fazem questão de ajudar
um ao outro. Outro aspecto que mostra uma analogia com a apiculturas das
comunidades Anisiense é o tema abordado pelo o autor em "parceria" devido ao fato
do grande apicultor paga para o pequeno apicultor pela sua mão de obra, o autor traz
o grande proprietário trabalhando na roça do pequeno proprietário e ainda pagando
uma porcentagem ao mesmo, isso será melhor exemplificado no decorrer da
pesquisa. Fernanda Barbosa (2019) traz pontos interessantes sobre o trabalho
coletivo dentro da apicultura, exemplificando sua dinâmica e sua importância na
22

atividade apícola. Mostra qual o papel e a funcionalidade das associações e


cooperativas dentro da apicultura. Essas questões serão trazidas no tópico a seguir.

3.1 Trabalho Coletivo

Fernanda Fernandes Barbosa (2019) traz como o trabalho coletivo é importante


para o desenvolvimento apícola citando vários fatores que ajudam a entender a
dinâmica e a sua importância dentro desse contexto. Mostra como o trabalho coletivo
muda a comunidade em várias questões como econômicas, sociais e políticas. Sendo
bastante relutante que a coletividade tenha um papel fundamental na evolução da
apicultura e sendo algo essencial para a mesma. Algo interessante ressaltado pela a
autora é como isso ajuda até mesmo em negociações e na venda do produto na
maioria das vezes o mel, tem a própolis, mas nesta pesquisa o interesse maior é o
mel. Destaca como é importante para troca de experiência e ideias entre os apicultores
experientes e os iniciantes passando informações importantes para o progresso do
serviço. Uma organização melhor assim dando mais ênfase e condições para poder
trabalhar. Entre outros fatores importantes causados pelo trabalho coletivo.
Vantagens do trabalho coletivo: maior intercâmbio de ideias e experiências;
maior objetificação na identificação de problemas e soluções; melhor organização do
trabalho; incorporação de tecnologias que são inacessíveis individualmente; melhor
qualidade e oportunidade nas tarefas; aumento das entradas; melhor poder de
negociação; melhor qualidade das condições de vida e melhor atividade social.
(BARBOSA, 2019, p.35).
Outro ponto que a autora Fernanda Barbosa (2019) traz em seus argumentos é
como a organização coletiva traz benefícios e funções para a apicultura. Fazendo
algumas pontuações necessárias para o entendimento que a organização coletiva faz.
O esforço do grupo se torna mais eficiente rendendo um serviço mais eficaz e melhor
assim tendo resultados positivos na produção de mel. Melhoramento do rendimento
do apicultor nos serviços apícolas, além de ajudar nas questões físicas pois assim o
serviço fica dividido de maneira justa diminuindo o esforço físico que a produção de
mel propõe.
As organizações coletivas supõem as seguintes funções: tornar mais eficiente
o esforço do grupo; aumentar o seu rendimento; diminuir o esforço de cada
participante; dividir o trabalho ou as suas operações a serem realizadas; tornar
um grupo mais integrado e estimular a interdependência dos indivíduos dentro
da organização. (BARBOSA, 2019, p.36).
Outro ponto bastante interessante no seu discurso é a troca de experiência e a
convivência entre apicultores causando entre as pessoas um ambiente para formar e
desenvolver algo holístico. Mostra como a sociedade que está inserida age de
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maneira coletiva e não sendo totalmente individualista. “Devendo ser considerado que
ele (trabalho coletivo) promove, também, a troca de experiências e de convivência
entre as pessoas, promovendo, assim, um ambiente fecundo para o crescimento e
desenvolvimento das pessoas de forma holística.” (BARBOSA, 2019, p.36).
Outro ponto destacado pela a autora é como o trabalho coletivo gera algo que
ela denomina como uma solidariedade social entre os apicultores, isso inserindo o
contexto do serviço em conjunto praticado na retirada do mel. Analisa que o trabalho
coletivo gera menos prejuízos na produção apícola, evitando perda de mel na hora da
sua colheita. Traz uma conclusão interessante sobre todo o processo que envolve a
apicultura para conseguir força política para progredir no mercado.
Por isso, a participação em associações e organizações civis, como o trabalho
coletivo, é salutar para gerar solidariedade social, diminuir os custos da produção e
dos escoamentos dos produtos, no caso, dos apicultores de mel, bem como
proporcionar uma unidade de força política para galgar um espaço no mercado e para
lutar por políticas públicas. (BARBOSA, 2019, p.36)

Uma discussão trazida por Fernanda Barbosa mostra como a apicultura tem
todo um desenvolvimento econômico, é uma atividade que traz uma renda
consideravelmente boa. Ela defende que isso tudo é possível pelo fato do social está
interligado com a economia, sem esse fator não existiria o movimento econômico. “[…]
não existe econômico sem o social, o social é fundante, determinante o econômico é
derivado, resultado, subordinado.” (BARBOSA,2021, p.36).
Pois a coletividade não está conectada somente ao trabalho, mas na forma do
desenvolvimento local, assim ajudando a comunidade progredir de forma harmônica
e econômica, enfrentando as barreiras que a pobreza provoca no seu próprio
progresso"[…] o enfrentamento da pobreza, como insuficiência de desenvolvimento,
exige nova concepção encontrada nas propostas de desenvolvimento local.”
(BARBOSA, 2019, p.36). Esses questionamentos dão ênfase ao argumento sobre a
importância do trabalho coletivo não somente ao serviço, mas a toda comunidade que
está envolvida no processo.
Para concluir o último questionamento, a autora Fernanda Barbosa (2019)
destaca como a organização coletiva funciona a partir de interesses pessoais,
provocando uma cooperação para suprir necessidades individuais. E a partir dessas
cooperações nascem os aspectos no campo político, econômico e social. Todas essas
concepções ajudam na constituição processual de aprendizado e estruturação de
poder.
24

As organizações coletivas abrigam um complexo sistema de relações


sociais que se estruturam a partir das necessidades das intenções e interesses
das pessoas que cooperam no sentido de fazer frente a debilidades naturais.
De dinâmicas dessas relações nascem ações no espaço da economia, política,
constituindo-se em processos de aprendizagem e estruturas de poder.
(BARBOSA,2019, p.37).

3.2 Solidariedade

No capítulo chamado “Formas de solidariedade” da obra Parceiros do Rio


Bonito de Antonio Candido mostra como o trabalho coletivo é importante para gerar
solidariedade entre a comunidade. A solidariedade é responsável por criar uma
coligação entre pessoas que moram na comunidade para fazer algum tipo de serviço.
O trabalho coletivo é o elemento principal para isso acontecer, ele faz criar uma
dinâmica para surgir a mão de obra conjunta. Laços familiares, vizinhanças e a
comunidade quando realizam mutirões para fazer algum trabalho automaticamente
gera uma solidariedade pelo fato de o mutirão exigir o trabalho coletivo. Isso acontece
mais em sociedades caipiras ou interioranas pois é mais fácil chegar em um consenso
para realizar atividades de maneira coletiva. Segundo o autor é uma prática tradicional
dessas sociedades, sendo algo passado para futuras gerações. “[…] Um dos
elementos de sua caracterização era o trabalho coletivo. Definir-se como o
agrupamento territorial, mais ou menos denso, cujos os limites são traçados pela
participação dos moradores em trabalhos de ajuda mútua.” (CANDIDO, p.81, 2010).
Esse contexto do mutirão e da solidariedade insere na área rural de uma
maneira mais ampla, pois ela faz parte da atividade rural e da indústria doméstica.
Esse exemplo pode ser uma grande solução para a falta de mão de obra, mutirões
ajudam a ter um trabalho que coopera em conjunto causando sua valorização dentro
da comunidade. Outra questão a ser destacada é sobre o trabalho individual no
serviço rural, a partir de uma análise do autor viu que individualmente limita o trabalho
rural assim prejudicando a eficácia do serviço, por isso a importância de se ter um
trabalho coletivo. O mutirão ajudou a quebrar deficiências no aspecto rural e causou
uma melhora absurda nas atividades do campo.
As várias atividades da lavoura e da indústria doméstica constituem
oportunidades de mutirão, que soluciona o problema da mão de obra nos
grupos de vizinhança (por vezes entre fazendeiros), suprimindo as limitações
da atividade individual ou familiar. (CANDIDO, 2010, p.81).
Um exemplo que Antonio Candido (2010) traz é em relação a divisão de função
programada para cada pessoa, cada indivíduo tem que exercer distintas funções e
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assim realiza um serviço mais eficiente. Esse ponto trazido pelo autor mostra como
em qualquer atividade é importante cada pessoa ter sua função definida pois o
trabalho coletivo age em conjunto. Esse argumento do Antonio Candido tem
semelhanças com esta pesquisa, os apicultores têm suas funções definidas, ou seja,
é como cada indivíduo tinha seu cargo definido assim não tendo desavenças e
chegando em um consenso coletivo. Na explicação do autor ele deixa claro que no
final os agricultores para agradecer a ajuda oferecem alimentos e uma festa, uma
forma de encerrar o trabalho. No contexto da apicultura relatado na pesquisa isso
também acontece, mas com uma diferença além da festa e comida, os apicultores
oferecem porte financeiro como dinheiros, objetos valiosos e por assim adiante.
Consiste essencialmente na reunião de vizinhos (pessoas da
comunidade), convocado por um deles, a fim de ajudá-lo a efetuar determinado
trabalho: derrubada, roçada, plantio, limpa, colheita, malhação, construção de
casa, fiação etc. Geralmente os vizinhos são convocados e o beneficiário lhes
oferece alimento e uma festa, que encerra o trabalho. (CANDIDO, 2010, p.82)

Em relatos dos caipiras centro de estudo de Antonio Candido percebe como o


mutirão é algo bastante forte. É como se não tivesse uma “obrigação”, mas o dever
de ajudar o próximo. Como se isso não fosse algo obrigatório e algo de forma
espontânea, realmente muitas das vezes acontecem pelo laço de amizade criado pelo
o trabalho em conjunto. Mas na fala de um caipira demonstra que as vezes mesmo o
indivíduo queira negar ele não pode, pois para o caipira ele está servindo não as
pessoas, mas sim a Deus. “Um Caipira me contou que no mutirão não há obrigação
com as pessoas, e sim para com Deus, por amor de quem se serve o próximo; por
isso; a ninguém é dado a recusar auxílio pedido”. (CANDIDO, 2010, p.82).
O mutirão relatado por Antonio Candido mostra como a solidariedade é
necessária para as atividades rurais, demonstrando ser a principal responsável pelos
serviços no campo acontecerem. Além de criar entre os habitantes comunitários uma
base forte para seus aspectos estruturais e funcionais. E a solidariedade consegue
fazer a comunidade criar grande vínculo entre moradores, fazendo espontaneamente
surgir um auxílio coletivo entre os indivíduos.
A necessidade de ajuda, imposta pela a técnica agrícola e a sua
retribuição automática, determinava a formação duma rede ampla de relações,
ligando uns aos outros habitantes do grupo, contribuindo para sua unidade
estrutural e funcional. Este caráter por assim dizer inevitável da solidariedade
aparece talvez ainda mais claramente nas formas espontâneas de auxílio
vicinal coletivo, que constituíam modalidade particular do mutirão. (CANDIDO,
2010, p.83).
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3.3 Parceria

No capítulo chamado “População rural e parcerias” da obra Parceiros do Rio


Bonito de Antonio Candido vai mostrar como um proprietário rural pode obter através
de parcerias lucros a partir de produtos obtidos em suas propriedades. Isso acontece
devido ao fato do pequeno proprietário “alugar” suas terras para o grande e médio
proprietário, assim combinando uma porcentagem para definir o valor que cada um
vai receber. Geralmente os proprietários fazem um acordo de 25% a 50% do lucro
total da produção obtida, geralmente ocorre a divisão por igual dos produtos entre os
produtores. Na apicultura faz uma analogia entre o grande e o pequeno apicultor pois
nesse caso a um acordo além do grande apicultor cede sua mão de obra ao pequeno
apicultor, o grande apicultor paga pelo o serviços prestados do pequeno apicultor,
assim gerando uma divisão mais justa na produção de mel.
Essencialmente, a parceria é uma sociedade, pela qual alguém fornece a terra,
ficando com direito sobre partes dos produtos obtidos pelo o outro. Na definição da lei:
Dá-se a parceria, quando a pessoa cede o prédio a outra, para ser cultivado,
repartindo-se o fruto entre as duas, na proporção que estipularem. (CANDIDO, 2010,
p.123).
Na parceria descrita por Candido tem um contrato que geralmente é escrito,
mas é algo relativo, as vezes acontecem somente por apalavramento, gerando
brechas e não ocorrendo como deveria ser. Na apicultura descrita na pesquisa isso é
algo raro pois os apicultores a maioria cumprem com sua palavra, mas em caso de
não cumprir quebra na hora a parceria, assim mostrando mais rigidez em relação ao
exemplo do autor Antonio Candido. “teoricamente há um contrato escrito de parceria,
que não se lavra a maior parte das vezes; na prática, não há garantias legais para o
parceiro, embora as haja de fato para o proprietário.” (CANDIDO, 2010, p.124).
Nas discussões de Antonio Candido (2010) mostra como o sistema de parceria
funciona não somente para o grande e médio proprietário, mas também para o
pequeno proprietário, pois ambos precisam da utilização de terras. Isso também
acontece na apicultura o pequeno apicultor precisa da ajuda do grande apicultor
necessitando da sua mão de obra. A diferença no caso trazido por Candido (2010) é
que o pequeno proprietário paga a utilização das terras com a divisão de produtos, já
no caso desta pesquisa o pequeno apicultor paga a mão de obra do grande apicultor
com sua própria mão de obra, dividindo forma igualitária os serviços prestados. Mas
uma curiosidade: o grande apicultor paga o pequeno apicultor para lhe ajudar por
vontade própria sem ser algo obrigatório e a inexistência de um contrato pois é algo
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apalavrado. “É preciso notar que o sistema de parceria é um recurso não apenas do


grande e médio proprietário sem disposição para explorar diretamente a sua terra (e
que se torna locador), mas também do pequeno (que se torna locatário).” (CANDIDO,
2010, p.125).
Na abordagem feita por Antonio Candido (2010) sobre parceria destaca como
afeta a relação entre grande e pequeno proprietário, sem levar em conta as questões
financeiras e mostra uma criação de “amizade” entre eles. Por mais que haja uma
diferença em recursos econômico e social, tem uma criação de vínculo o que se torna
um aspecto positivo para a parceria. Lógico que tem suas desvantagens, mas mostra
ao mesmo tempo que as pessoas podem criar laços mesmo tendo condições
financeiras diferentes. O mesmo equivale para os pequenos e grandes apicultores por
mais que estejam em patamares econômicos diferentes sempre tem o respeito e a
solidariedade entre eles, gerando um bom vínculo entre os apicultores. Esse lado da
parceria pode ser considerado algo necessário para tornar o serviço com um
desempenho bastante produtivo. Considerando algumas ressalvas lógico que às
vezes não tem essa empatia toda, alguns casos isso acontece porque o pequeno
proprietário ou apicultor se vê obrigado a precisa do grande proprietário ou apicultor
como se não fosse algo solidário, mas sim obrigatório, pode acontecer, mas de toda
forma cria uma relação independente se seja amistosa ou não.
Para o observador, a parte mais característica é a massa de pequenos
proprietários e parceiros, quase sempre nivelado pelo o tipo de atividade, os recursos
econômicos e o gênero de vida. Note-se, porém, que, ressalvada a diferença
econômica, é muito menor do que noutras partes a distância entre eles e a maioria dos
fazendeiros, no que se refere ao teor geral da vida. (CANDIDO, 2010, p.125).

Esse exemplo de Antonio Candido (2010) pode ser comparado com a apicultura
da região pois existe a parceria entre o grande e o pequeno apicultor. Os relatos dos
apicultores que moram nas localidades Sítio do Morro, Boa Esperança e Caboclo dos
Birocas, mostram como funcionam essas parcerias, logicamente havendo algumas
diferenças com abordagem do autor Antonio Candido. Falas de alguns apicultores vão
mostrar como funciona essa dinâmica na apicultura.
relato do apicultor Augusto Ferreira destaca que o grande apicultor paga pelo
o seu serviço, além de ajudar na mão de obra, no caso da apicultura a divisão de
produto seria o dinheiro assim o pequeno apicultor recebe uma porcentagem do lucro
da produção de mel obtida pelo o grande apicultor. Augusto em seu relato: “Meu fi
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eles pagam um tanto bom não pode reclamar, eles também ajuda nois quando vamo
tirar, todo mundo acabou virando amigo”.
José Santana destaca a parceria pelo fato de a troca de mão de obra ajudar os
pequenos apicultores a agilizarem todo o processo da retirada de mel, outro ponto que
ele destaca é que quanto mais o lucro do grande apicultor mais ele paga para o
pequeno apicultor. José Filho em sua fala: “De boa eles pagam um valor bom, agora
depende de quantos baldes eles vão tirar se for muito eles pagam mais ainda. A ajuda
deles é boa para a gente, pois quando eles tá na labuta com nois a retirada é rápido”.
Dhonatas Santos em sua fala destaca a parceria como algo muito interessante, existe
respeito entre os apicultores apesar da diferença social entre o pequeno e o grande
apicultor. Destaca também a forma que a troca de mão de obra é algo reconhecido e
se tem o respeito entre os apicultores. Dhonatas em seu relato: “Muito da hora os
caras pagam pra gente e ainda ajudam. Meio que existe um respeito entre a gente,
uma forma de agradecer, tem vez que eu pego o dinheiro porque eles insistem”. Caynã
Santana destaca a parte financeira pois o dinheiro ajuda bastante no pagamento de
contas, despesas e bens materiais, além de enfatizar a ajuda do grande apicultor na
hora da retirada do pequeno apicultor. Caynã em sua fala: “Rapaz eu gosto pois
quando termina eles pagam fico feliz demais com meu dinherim, e ainda trabalha com
nois na retirada. E quando tira muito balde a festa é completa, pois recebo muita
grana”.
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4 A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO COLETIVO PARA A APICULTURA


Essa pesquisa mostra como a atividade coletiva é a grande responsável pelo
processo da retirada de mel. Mostrando que a comunidade está envolvida diretamente
na atividade apícola. Todas as pessoas envolvidas na apicultura têm sua função na
retirada de mel. Como garfar os restos de cera do quadro que fica localizada dentro
da caixa de abelhas, rodar a máquina com os quadros para o mel escorrer até o balde,
buscar as caixas no mato, de carrinho manuseadas pelas próprias mãos. Até mesmo
de automóvel quando as caixas estão em locais longes ou até mesmo em outras
cidades. Recolocar as caixas no mato novamente, limpar os quadros quando se retira
o mel e por assim adiante. Percebe-se que é um processo bastante complexo.
A coletividade é um fator determinante para a apicultura acontecer, ela é o
principal agente para a apicultura de grande porte acontecer. A dinâmica do trabalho
coletivo é interessante para o processo em conjunto ser produtivo, isso pode ser
observado na produção da retirada de mel, pela particularidade de cada função
exercida pelo apicultor. Essa posição sobre a importância do trabalho coletivo é
notória quando os entrevistados relatam que sem ela a apicultura de grande porte não
existiria, individualmente é impossível sua realização. A atividade apícola na região
sempre foi coletiva, mas nas comunidades eles consideram somente como apicultura
essa de grande porte, ou seja, se alguém tirar mel de uma colmeia que esteja na
árvore não é considerado em sua visão como apicultura.
Nas entrevistas feitas com os apicultores é possível notar a importância do
trabalho coletivo para a realização das tarefas que envolvem a retirada de mel. Cada
apicultor segue o mesmo raciocínio sobre o tema com algumas exceções, mas
percebe como fluidez, rapidez e menos esforço físico o conjunto funciona super bem.
Nas análises dos apicultores é perceptível como a demanda ao passar dos anos exigiu
mais ainda o trabalho coletivo, como aumento de caixas de abelhas espalhadas de
uma localidade longe da outra, mais produção de mel nos anos anteriores e mais
maquinários a serem conduzidos. Esses fatores demonstram como a essencialidade
do trabalho coletivo foi fundamental para o desenvolvimento da apicultura nas
comunidades relatadas nesta pesquisa.
Em conversas com Augusto Ferreira da localidade Boa Esperança e José Filho
Santana de Sítio do Morro é percebido como eles acham o trabalho coletivo
fundamental e importante para o andamento da apicultura na região. Ambos têm uma
grande conexão em seus argumentos, falam que a “ajuda” (que no caso é como eles
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denominam o trabalho coletivo) dos outros apicultores é importante para a conclusão


da retirada do mel e também para a execução em tempo hábil para não haver atrasos
na produção apícola. Augusto reitera que sem a coletividade ou como ele chama
“ajuda” a apicultura de grande porte atrasaria até o dia seguinte e não pode tirar
durante o dia pois o ideal é a noite devido ao fato de as abelhas estarem mais calmas
pois seria o momento de seu descanso, como demonstrado no seu relato: “Demais,
se um apicultor tira só meu fi tinha que aguentasse não ia terminar só no outro dia,
fora que de dia não tem como”. José Filho defende que a coletividade faz a apicultura
fluir pois cada um com sua função melhora o serviço apícola: “se não fosse a
coletividade deles ninguém tirava mel aqui não, ela é importante porque cada um com
sua função faz a apicultura fluir bem melhor”.
Nos argumentos sobre a importância da coletividade no trabalho apícola,
Dhonatas Santos e Caynã Santana foram mais incisivos em comparação aos
discursos de Augusto Ferreira e José Filho. Os dois primeiros citados definem o
trabalho coletivo como algo necessário para algumas funcionalidades, seja em
questões de tempo e agilidade ou em relação ao esforço físico que exige na hora da
retirada do mel. Fica nítido como o trabalho coletivo ajudou em várias questões que
vão muito mais além do conjunto. A forma como os apicultores trabalham juntos exige
menos mão de obra individual e mais rápida na retirada de mel fortificando ainda mais
a importância do trabalho coletivo para a apicultura.
No discurso do apicultor Dhonatas Santos ele reitera como a coletividade no
serviço apícola ajudou em questão de agilidade na hora da retirada e menos perda de
tempo em relação a produção de mel. Sua fala diz o seguinte: “Sim é uma atividade
que depende muito da coletividade pois tem muito serviço, fora que ela faz apicultura
acontecer, é como posso dizer melhor fluir, sem ela não teríamos a produção que
temos nos dias atuais, não quis me referir que antigamente não tinha uma boa
produção, falo em questão que a cada ano aumenta as caixas e então tem lugar que
é longe, com todo mundo trabalhando não perde tempo na retirada”.
Os argumentos de Caynã Santana enfatizam como isso ajudou em menos
esforço físico e um melhor desempenho durante a retirada de mel, fica claro como
existe uma sincronia entre os apicultores, algo bastante interessante. Caynã reitera:
“Sim ela que faz a apicultura funcionar, nois ajuda um ao outro e isso é importante
para ter uma produção de mel legal. A coletividade pra mim é essencial pois a gente
sofre menos e cansa pouco (risos)”.
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4.1 Trabalho coletivo inserido na apicultura e as mudanças provocadas nas


relações comunitárias.

Todo o trabalho apícola precisa da coesão entre apicultores pois é necessária


para que o serviço ocorra sem problemas. É notável a boa relação entre os apicultores
e principalmente a harmonia que existe dentro das comunidades, tem sim alguns
conflitos, mas o intuito da pesquisa é mostrar os pontos positivos que o trabalho
coletivo trouxe para as comunidades. Isso mudou diretamente as relações
comunitárias, como em casos de decisões públicas da comunidade, alguma questão
social que envolva toda a população e o respeito e harmonia entre os moradores das
localidades. A apicultura de grande porte com o trabalho coletivo fez com que
apicultores e moradores criassem um vínculo entre as pessoas das comunidades. Em
relatos dos entrevistados percebe-se em suas análises como aumentou o respeito
entre os apicultores e moradores, exemplificando a veracidade da harmonia que foi
criada dentro das localidades.
O entrevistado Augusto Ferreira relata um pouco sobre essa boa relação
comunitária que foi criada após o surgimento da apicultura, pois antes muitas pessoas
não se falavam, mas nos dias atuais bebem e saem juntas. Augusto enfatiza: “Não
vou mentir meu fi melhorou e muito, tinha gente que nem falava e hoje nois não sai
do bar tomando umas. Até pra fazer um serviço alguns ajudam por causa disso”. José
Santana traz a concórdia entre moradores em sua fala e a confiança que foi criada
entre moradores mostrando empatia que as pessoas têm pela outra. José Filho relata:
“Muito, nas questões de decisões sobre a comunidade. Esses dias abriram um poço
lá aí era perto de casa eles perguntaram se podia eu disse que sim, eles confiaram
em mim, então a apicultura deixou nois mais unido”.
Dhonatas foi mais direto e objetivo sobre suas colocações sobre o vínculo entre
apicultores e também sobre os moradores da comunidade, citando até mesmo o
melhoramento da socialização. Dhonatas em sua fala: “Sim, agora tem mais harmonia
em tomadas de decisões sobre o povoado e também até na relação. A socialização é
boa cara”. Caynã Santana foi mais enfático em seu relato, falou da importância do
respeito e da solidariedade entre as pessoas: “Sim. Aqui todo mundo é solidário com
outro, não tem isso de vaidade aqui não. Cada um respeita demais o outro”.
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5 CONCLUSÃO
Esses discursos apresentados pelos entrevistados mostram como a apicultura
é algo dinâmico para a comunidade, seja na questão econômica ou na questão da
socialização. Mudou a forma de relação entre moradores da localidade e criou um
respeito dentro da comunidade. Algo interessante de ser levantado mostrando como
o trabalho coletivo afeta até mesmo o jeito das pessoas agirem se transformando em
indivíduos mais respeitosos e amigáveis.
A apicultura evoluiu de forma significativa com a introdução de caixas de
abelhas cada vez mais adaptáveis ao clima e às abelhas, como maquinários com
desempenhos mais efetivos e eficazes. Os apicultores melhoraram suas técnicas em
relação a extração do mel para acontecer menos desperdício e um melhor
aproveitamento do mesmo. O trabalho coletivo melhorou o desempenho em conjunto
criando efetividade na hora do apicultor exercer sua função, outro fato é que cada
funcionalidade tem sua execução de forma eficaz e positiva, isso devido a
solidariedade criada entre os apicultores.
Os moradores de cada comunidade demonstram bastante afeto com a
apicultura devido a importância desta atividade em suas vidas. Percebe-se esse
carinho pelas falas dos apicultores descritas na pesquisa e pelas conquistas pessoais
como casa, veículo, vestimentas e melhoramento na qualidade de vida. Esse exemplo
mostra como o trabalho coletivo funciona de maneira correta pois as conquistas e o
afeto pela atividade apícola criam uma coesão entre os apicultores fazendo a
apicultura acontecer de uma forma bastante produtiva. E todo esforço pelos
apicultores são enxergados quando os mesmos fazem festas para comemorar a
produção de mel obtida, uma maneira de mostrar valorização ao processo que é
envolvido na atividade apícola.
O trabalho coletivo mostra sua importância para a apicultura por deixar essa
atividade mais eficiente e com resultados e empenhos positivos. Esta pesquisa
fundamenta e mostra a eficácia do trabalho coletivo e seus aspectos para a atividade
apícola. Os resultados e as informações obtidas são importantes para mostrar como
a apicultura é essencial para várias comunidades em termos econômicos e sociais.
Além de resultar no desenvolvimento da comunidade trazendo evolução e progresso
para a mesma, exemplo como mais investimento no setor público e privado.
Esta pesquisa exemplificou como o trabalho coletivo é importante para a
apicultura e ela para a comunidade: um apicultor precisa do outro, formando assim
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uma interação comunitária importante. Também mostrou a relevância do trabalho


coletivo e seus aspectos, reiterando que uma atividade coletiva pode render grandes
objetivos e resultados como é o caso da apicultura nas localidades Boa Esperança,
Sítio do Morro e Caboclo dos Birocas. Esta pesquisa mostra como o trabalho coletivo
é algo fundamental para a apicultura por trazer benefícios, eficácia e melhorias, além
de ajudar a crescer o processo apícola nas comunidades. Além de trazer como a
apicultura é a atividade rural mais valorizada e praticada nessas localidades.
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REFERÊNCIAS
BARBOSA, F. F. Contribuições para a construção da identidade coletiva
da mulher na apicultura. Dissertação (Mestrado em Sistemas Agroindustriais) -
Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, 2019.
CALDEIRA, C. Mutirão: formas de ajuda mútua no meio rural. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1956.
CANDIDO, A. Parceiros do rio bonito: estudo sobre o caipira paulista e a
transformação dos seus meios de vida. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2010.
WELCH, Clifford A.; MALAGODI, Edgard; CAVALCANTI, Josefa S.Barbosa;
WANDERLEY, Maria de Nazareth B. (Orgs). Camponeses brasileiros: leituras e
interpretações clássicas. São Paulo: Editora Unesp, 2009.
DURKHEIM, E. Sociologia. São Paulo: Ática, 2000.
SILVA, M. G. D. O homem e a apicultura: a teoria do ator rede, reciprocidade
e a sustentabilidade socioambiental. Caos- Revista eletrônica de Ciências
Sociais, João Pessoa, n. 21, p. 91-100, Novembro 2012.

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