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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E
SOCIEDADE
MONOGRAFIA
“O TURISMO RURAL COMO ALTERNATIVA
DE RENDA À AGRICULTURA FAMILIAR DO
MUNICÍPIO DE QUINZE DE NOVEMBRO”
ANTÔNIO ALTÍSSIMO
2002
1
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
ANTÔNIO ALTÍSSIMO
Seropédica, RJ
Novembro de 2002
2
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA
E SOCIEDADE
ANTÔNIO ALTÍSSIMO
MONOGRAFIA APROVADA EM / /
3
RESUMO
4
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 07
2 CONTEXTUALIZAÇÃO .......................................................................................... 10
4 A RELEVÂNCIA DO TEMA.................................................................................... 24
4.1 O tema inserido no ambiente de estudo ................................................................... 24
4.2 O potencial do espaço em estudo ............................................................................ 24
4.3 A agricultura familiar e a relação com o turismo rural............................................ 24
4.3.1 O fator associativo e a pluriatividade ................................................................... 26
4.4 O turismo na visão do setor público ........................................................................ 26
5 METODOLOGIA....................................................................................................... 28
5.1 Delimitação do universo de estudo .......................................................................... 28
5.2 Instrumento de coleta de dados ............................................................................... 28
5.3 Perfil das pessoas do universo do trabalho .............................................................. 28
5.4 Plano de coleta de dados.......................................................................................... 28
5.5 Análise dos dados .................................................................................................... 28
5
AGRADECIMENTOS
6
1. INTRODUÇÃO
1
População atual de 3.500 habitantes, destes 1.715 pessoas na cidade e 1.785 pessoas na zona rural.
2
A multifuncionalidade será abordada de forma detalhada ainda neste trabalho.
3
Tipo de turismo normalmente encontrado na região que envia turista para outros lugares.
4
Funcionários do Escritório Municipal da ASCAR-EMATER/RS, do município de Quinze de Novembro,
inaugurado em julho de 1992, com atuação em Extensão Rural e Assistência Técnica em todo o
município.
5
Formação do Lago da Hidrelétrica de Passo Real, construída em 1971, pelo Companhia Estadual de
Energia Elétrica (CEEE), para geração de energia e servir de reservatório de água para as hidrelétricas
Maia Filho e Itaúba.
6
Consórcio Regional de Desenvolvimento do Turismo.
7
O turismo e o turismo rural por si só despontam como itens de estudo, e quando
olhado com suas relações, como: com o comércio e as indústrias locais, a agricultura
familiar, o processamento artesanal de produtos, a agregação de valor a estes produtos,
o lazer, a recreação, a qualidade de vida, as relações humanas, a auto-estima, etc..., e
ainda, por influenciar a economia e a política local e regional, a sua importância ganha
expressão.
O espaço em foco, situa-se num contexto onde temos a massiva preponderância
das monoculturas capitaneada pela soja, depois milho, além do trigo no inverno. A
monocultura da soja se coloca como um vício, por pior que a safra se desenvolva, o
agricultor não larga, por fatores que devem ser considerados: - a estrutura existente, a
liquidez do produto no mercado, a comodidade tecnológica disponível, as alternativas
apresentadas pouco abrangentes e as vezes com viabilidade duvidosa.
A região também emprega um nível tecnológico “moderno” na produção
agrícola e pecuária de fazer inveja à muitas regiões desenvolvidas .
Com altas produtividades em soja, milho, trigo, aveia, suínos, aves e leite.
No entanto, é crescente o aumento da pobreza urbana e rural, não diferindo de
outras regiões que também sofreram o impacto da “modernização” da agricultura.
Afora isto, em 1971, a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica) inaugura a
usina hidrelétrica de Passo Real, no município de Salto do Jacuí, para geração de
energia, suprindo uma demanda do crescimento da agricultura e do estado. Com isto
27.000 ha de férteis terras foram inundadas e mais de 1.200 famílias desalojadas de suas
propriedades rurais.
O alagado inicialmente, provocou inúmeros problemas sociais, com o passar do
tempo os municípios e a população remanescente foi se adaptando e transformando as
águas do lago em fonte de recursos.
E neste ínterim que com a emancipação de Quinze de Novembro, impulso forte
foi dado ao turismo, e o rural não escapou deste incremento.
O turismo no município foi incentivado, inicialmente contra a vontade de parte
da população que entendia o turismo como algo supérfluo, contra uma conjuntura de
mercado regional (cooperativas de produção e outros) que trabalha exclusivamente com
grãos e leite não abrindo espaço para outros processos produtivos e reprodutivos.
Neste contexto cooperativista tradicional7 (cooperativas de produção) os
“excluídos estão sempre à margem do processo produtivo, longe do mercado, crédito,
qualificação profissional, etc.
É por isto que o estudo é desafiante na medida que o turismo tem potencial para
inserir parcela destas famílias que estão fora de qualquer processo social.
Por ser a região essencialmente agrícola com visão produtivista, é que a criação do
Consórcio Regional de Turismo Rota das Terras, trouxe a possibilidade e a alternativa
para buscar “válvulas de escape” para uma significativa parcela da população.
No contexto regional também está fortemente demarcado o nível de
investimento em tecnologia tanto na área da produção de grãos (soja e milho) como na
pecuária (leite e suínos). Por outro lado ainda é significativo o número de produtores
com baixo nível tecnológico convivendo neste ambiente. Com um relevo que favorece,
toda as atividades sofrem mecanização (agrícola e pecuária), alta inversão de divisas em
insumos, instalações e equipamentos. Predominantemente os incentivos para a adoção
destes sistemas de produção vem das cooperativas de produção, espalhadas e
abrangentes e de influencia política e econômico.
7
Considera-se aquelas cooperativas fundadas na década de 50, e inicialmente formadas com tritícolas,
apoiando a Revolução verde.
8
A massa de excluídos que vive neste ambiente e que predominantemente se
dedica à outras atividades por ter sobra de mão-de-obra na família e/ou para auferir
recursos e complementar a receita familiar, ficou enfraquecida nas últimas décadas.
9
2. CONTEXTUALIZAÇÃO
10
Protagonistas estes com poucas perspectivas, com desgastes emocionais,
estresses, com inúmeras disfunções (úlceras, hipertensão, problemas de ordem
psicológica e outros tantos), resultado desse processo de desarmonizarão das relações
interpessoais por esta nova ordem.
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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3. 1. A revolução na agricultura
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fronteira agrícola (política de colonização). Isto significa que a política agrária é
eminentemente uma política estrutural – de intervenção direta em estruturas existentes,
tendo em vista sua alteração ou consolidação e de longo prazo, pois seus efeitos serão
plenamente percebidos apenas passado algum tempo após a sua implementação.
Ademais, a política agrária está assentada na concepção de que a propriedade e a posse
da terra – especialmente em economias e sociedades como as latino americanas – são
fatores especiais que condicionam a estrutura da produção agrícola, as condições de
produção de grupos sociais distintos e as relações de poder no campo, e determinam a
distribuição da riqueza e da renda entre os diferentes tipos de agricultores que coexistem
no meio rural. Neste sentido, a política agrária é considerada um instrumento
indispensável para que desencadeie num país com as características do nosso, um
autêntico processo de desenvolvimento rural sustentado e não apenas de
desenvolvimento agrícola”.
Nos últimos tempos a produção familiar tem tomado uma maior importância em
vários setores: literatura e política agrícola muito em função da falência do modelo
vigente e a luz de uma nova ordem economia.
Se a política de colonização assim como a política agrária priorizam a posse da
terra em detrimento de uma política de viabilização de propriedades novas, das famílias
e por conseqüência a viabilização de um ambiente social que irá privilegiar ou
beneficiar muitos. O processo de expansão de fronteiras e o processo de assentar sem
bases técnicas , políticas e assistênciais sólidas incorrerão em erros que terão
desdobramentos a curto prazo, normalmente negativos.
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Por outro lado, a pluriatividade pode ser um fator de aumento da jornada de
trabalho e/ou se constituir na diminuição da penosidade da atividade agrícola pela
compra de equipamentos, fruto do aumento da renda que vem da atividade paralela e
que por conseqüência vem melhorar as condições de trabalho dentro da propriedade.
Por ser uma prática que se enquadra na cultura das comunidades, e por encaixar-se
numa economia que tende a informalização das relações de trabalho, a pluriatividade
atravessou décadas, sofreu com as mudanças estruturais e políticas; foi rotulada de
atrasada , pouco produtiva, pouco econômica, com práticas contrárias ou que não
acompanhavam a velocidade da tecnologia, etc. A organização da família de
agricultores com propriedade de terra oferece uma segurança a esse trabalhador
pluriativo que é a produção de alimentos, a moradia e a solidariedade familiar. Não se
pode generalizar a pluriatividade a toda agricultura familiar, as situações são distintas,
os significados são múltiplos e, logicamente, a dinâmica de exercer a pluriatividade
também é múltipla.
Com certeza a forma como está se desenvolvendo a pluriatividade no pós
Revolução Verde tende a formar novos tipos de famílias rurais pluriativas com base na
propriedade onde esta pode ser explorada de outras formas que não a exclusivamente
agrícola.
É durante a década de 90 que o conceito de pluriatividade toma força no debate,
após a difusão de conceitos trabalhados na década anterior nos países desenvolvidos,
sobretudo na Europa. No Brasil está ligado a evolução da Agricultura familiar e na
modernização da agricultura (Wilkinson, 2000:10).
Em Wilkinson; 2000 – são colocadas 3 questões que são levantadas quanto à
análise e propostas política desenvolvidas nos estudos de pluriatividade: “Em primeiro
lugar, a separação de agricultura e agroindústria em distintos tipos de ocupação muitas
vezes não corresponde à realidade e onde ela existe pode ser parcialmente revertida.
Analisamos em outro lugar, a importância de agroindústrias rurais onde o próprio
agricultor processa seu produto agrícola. Esta estratégia de verticalização ou de
agregação de valor tem sido responsável pela elaboração de política como PRONAF
Agroindústria a nível nacional, e PROVE no Distrito Federal, agora reduplicado em
vários municípios. A miniaturização de tecnologias, a segmentação dos mercados e a
persistência de mercados de proximidade abrem oportunidades para manter e fortalecer
tendências de agroindustrialização integrada a atividade agrícola. A valorização de
produtos “naturais”, também age no mesmo sentido a medida em que promove uma
agroindustrialização light (produtos preparados e embalados) integrada à atividade
agrícola.
Segundo, os novos mercados de nicho não precisam ser ocupados,
prioritariamente, por “chacaristas” ou “neo-rurais”. Se os recursos para programas
visando o setor de PMEs (Sebrae, Programa de Crédito Agregar) fossem dirigidos a
reconversão de atores tradicionais e se fossem acompanhados de programas de
capacitação uma parte importante destes mercados de nicho, poderia ser contestada por
produtores agora sendo excluídos dos mercados tradicionais de commodities. Nestes
novos mercados a barreira mercadológica parece mais forte que a tecnológica o que
favorece os “neo-ruralistas”. Por outro lado, muitas vezes existe importantes elementos
de continuidade entre os mercados de proximidade ocupados por produtores tradicionais
e os novos mercados de nicho. Não é indiferente que categoria social ocupa estes novos
espaços de mercado, tanto do ponto de vista do êxodo rural quanto da dinâmica social
do meio rural. Políticas de aprendizagem dos atores tradicionais nas áreas críticas de
mercados, tecnologia e gestão podem influenciar fortemente o resultado.
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Em terceiro lugar, o enfoque de pluriatividade, tende a aceitar a irreversibilidade
da modernização agrícola, evidente na referencia a uma agricultura de duas velocidades
e também na maneira de interpretar as tendências de declínio das ocupações agrícolas.
Novas exigências dos atores econômicos ligados ao mercado de produtos que usam
menos insumos químicos, bem como a exploração do mercado para produtos orgânicos
e a campanha contra transgênicos colocou em questão o futuro do modelo produtivista.
Nada exclui que estas tendências sejam reapropriados pela agricultura em escala, mas
no momento elas criam um ambiente propício a uma revalorização da produção familiar
sobretudo se acrescentamos as preocupações em torno do meio ambiente. Esta
conjunção de fatores aponta para promover a multifuncionalidade da propriedade
agrícola que complementaria a pluriatividade do produtor rural e cujo eixo natural seria
a agricultura familiar”.
É nesta conjugação de mercados agrícolas, (artesanais, orgânicos coloniais),
novas atividades rurais (agroturismo, lazer) é que surgiu perspectivas de inserção de
parcela de excluídos, de modificação de políticas públicas e de integração rural - urbana
de forma a propiciar condições de ampliar relações de mercados.
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a) A gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são
executados por indivíduos que mantém entre si laços de parentesco ou de matrimonio;
b) A maior parte do trabalho é igualmente proporcionado pelos membros da
família;
c) A propriedade dos meios de produção (embora nem sempre a terra) pertence a
família, e é no seu interior que se efetua sua transmissão em caso de falecimento ou
aposentadoria dos responsáveis pela unidade produtiva (FAO/INCRA, 1996, in Brose,
1999:36).
Apesar da existência destas características comuns, não podemos perder de vista
a enorme heterogeneidade existente no seio da agricultura familiar brasileira.
Conforme sugere o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA, 1996, in Brose, 1999:38) esta se divide em 3 grandes categorias, segundo seu
estágio de desenvolvimento tecnológico e perfil sócio-econômico:
a) Agricultura familiar consolidadas, constituída por estabelecimentos familiares
integrados ao mercado e com acesso a inovações tecnológicas e a políticas públicas. A
maioria funciona em padrões empresariais, alguns chegando até a integrar o chamado
agribusines.
b) Agricultura familiar em transição, constituída por estabelecimentos que tem
acesso apenas parcial aos circuitos da inovação tecnológica e do mercado, sem acesso a
maioria das políticas e programas governamentais; embora não estejam consolidadas
como empresas, possuem amplo potencial para sua viabilização econômica.
c) Agricultura familiar periférica, constituída por estabelecimentos rurais
geralmente inadequados em termos de infra-estrutura e cujo integração produtiva à
economia nacional depende de fortes e bem estruturados programas de reforma agrária,
crédito, pesquisa, assistência técnica e extensão rural, agro-industrialização, dentre
outros.
d) Esta classificação é usada por órgãos de extensão e formação por facilitar
didaticamente o seu entendimento e aprendizado. Hoje questiona-se também esta
classificação principalmente pela tênue divisão existente e pela interpretação que cada
cidadão, entidade ou setor dá a cada categoria.
A FAO9 também faz uma tabela comparativa entre os modelos de agricultura
patronal e agricultura familiar.
9
- Material citado por Brose.
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contrário, apresenta um perfil essencialmente distributivo e possibilita maior eqüidade
sócio cultural. As vantagens apresentadas pela agricultura familiar são muito maiores no
que diz respeito à estabilidade e capacidade de adaptação, devido à sua ênfase na
diversificação é a maior maleabilidade de seu processo decisório.
A Agricultura Familiar não é um bloco homogêneo, dividida em diferentes
segmentos, anteriormente citados, exige tratamentos diferentes e específicos por parte
das políticas públicas.
É neste contexto que a agricultura familiar tem se revelado extremamente forte
e constrói provas suficientes para contrapor teorias de décadas passadas que indicavam
sua eliminação no início deste século. Adaptando-se e fazendo do espaço que ocupa um
cenário de produção, de organização e de formulação de propostas. Isto não implica
dizer que o êxodo rural não existe; pelo contrário, ele existe e acontece cotidianamente,
o que mudou foi o destino das famílias que saem. Na região de estudo, o principal
destino tem sido as cidades de médio porte, com população urbana superior a trinta mil
habitantes
Além disso temos as disparidades regionais que induzem à parâmetros mais
flexíveis para estas categorias, como a utilização da Renda Monetária Bruta, conforme
indicado pelos estudos da FAO/INCRA 1990;
- Extrato A, com renda entre a média da unidade geográfica (consolidados)
- Extrato B, com renda entre a média e a mediana da unidade geográfica
(transição)
- Extrato C, com renda abaixo da mediana da unidade geográfica (periféricos).
Ainda segundo dados da FAO, por falta de capacidade de outro financiamento,
pela exigüidade e fraqueza das terras, pela baixa capacitação dos recursos humanos ou
por serem vítimas do forte viés urbano das políticas públicas, as unidades de
subsistência tendem à dissolução levando consigo algumas em transição, motivados
pela migração ou pela pulverização mini-fundiária que gera estabelecimentos inviáveis,
por localização, forma de exploração ou sistemas de produção. Não existe precisão na
delimitação entre os estabelecimentos de subsistência e os em transição sugerindo zonas
de sobreposição.
Ampliando o enfoque analítico, Baiardi (1998) citado por Brose (1999:40)
elaborou uma tipologia na qual identifica cinco tipos de Agricultura Familiar:
- Tipo A, as unidades familiares de grande extensão: “farmerizados”,
principalmente no cerrado, intensivamente mecanizada e com uso de insumos químicos.
- Tipo B, as unidades integradas verticalmente com agroindústrias: em geral até
50 ha com intensiva tecnologia para homogeneizar a matéria prima.
Tipo C, a agricultura tipicamente colonial no Planalto do RS, no sul de MG, nas serras
do ES e certas regiões do PR e SC.
- Tipo D, a agricultura familiar semi mercantil: que se reproduziu na “brecha
camponesa”, predominante no interior do Nordeste do Centro-Oeste e do Norte, que
vem de longe sendo alvo de uma série de iniciativas públicas.
- Tipo E: as unidades familiares completamente desassistidas: em áreas de
poucos recursos naturais, com grande carência de infra-estrutura, à margem dos
processos de diferenciação dos demais segmentos.
No RS, a agricultura familiar, composta por cerca de 400.000 estabelecimentos é
classificado em: de mercado, de transição e de subsistência.
O Departamento de Estudos Agrários da UNIJUÍ, Deag (1997) citado por Brose,
sobre a estratificação da agricultura familiar no município de Ijuí aprofundou o
diagnóstico técnico-econômico dos estabelecimentos e identificou novo sistema de
produção no que diz respeito à combinação entre Superfície Agrícola Útil, o tipo de
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tração, as combinações de produções (soja + leite; leite + suínos + soja), e a intensidade
da produção de leite; as nove tipologias foram:
- Tração animal leite subsistência (Talsub)
- Tracão Animal Leite comercial (TALcom)
- Tração Simples Leite subsistência menor área de terra (TSLsub A)
- Tração Simples Leite subsistência maior área de terra (TSL Lsub AA)
- Tração Simples Leite comercial (TSL com)
- Tração Simples Leite intensivo (TSL int)
- Tração Mecanizada Completa Leite Grãos menor área de terra (TML
GrA)
- Tração Mecanizada Completa Leite Grãos maior área de terra
(TMLGrAA)
- Tração Mecanizada Completa Suínos (TM sui)
Esta classificação detalhada das unidades familiares de produção com base na
disponibilidade dos fatores de produção, na combinação das produções e características
do meio agroecológico, permitiu demonstrar e caracterizar as diferentes formas de
organização da produção acatadas pelas famílias e, principalmente, analisar o impacto
destas diferentes estratégias do nível de reprodução econômica e social dos
estabelecimentos ao longo do tempo.
A classificação por dinâmica de desenvolvimento elaborado pelo Departamento
Sindical de Estudos Rurais (DESER) 1997 citado por BROSE, 1999:45) coloca quatro
tipologias para o RS:
1. Tipo “Cintura Verde”: Região metropolitana
2. Tipo “Terceira Itália: Encosta da serra nos eixos Porto Alegre- Caxias e Porto
Alegre- Santa Cruz.
3. Tipo “Agro-industrial exportador: Engloba a mesorregião Planalto e Noroeste
do RS
4. Tipo “Malboro”: Compreende as regiões Sul, Litoral e Nordeste do estado.
É importante ressaltar que assim como foi construída ao longo dos últimos anos
uma classificação que permite diferenciar com maior acuidade as unidades de produção
familiar, antes reunidas sob a denominação genérica e indiferenciada de “pequena
produção”, para fim de discussão de políticas públicas e aferição de seus impactos
também é necessário construir uma classificação para diferenciação dos municípios no
meio rural. Os municípios tem limitações e potenciais diferentes entre si, o que irá
definir o quadro referencial para as ações possíveis de serem executadas e delinear o
potencial de desenvolvimento existente.
A importância crescente adquirida nos nossos anos pelo turismo como prática
social e, principalmente, como atividade econômica tem contribuído para o surgimento
de diversas iniciativas direcionadas para seu desenvolvimento. Boa parte das ações está
dirigida para a promoção do turismo pelos benefícios econômicos que pode gerar, como
divisas para os governos, novos investimentos privados em emprego e renda para a
população, objetivo de inúmeros programas governamentais elaborados e executados
principalmente na última década.
Não resta dúvida que o mundo da produção e do trabalho passa por
transformações, tornam-se importantes as iniciativas que visam criar mercados,
dinamizar economias locais e gerar emprego e renda para as populações por meio de
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incentivos a setores como o turismo por ser um dos mais dinâmicos da economia
mundial e está em franca expansão na chamada “indústria de serviços”.
Diz Silveira (2001:134) que o turismo, por conta do fluxo de pessoas, infra-
estrutura e equipamentos de que necessita pode provocar danos ambientais, por isso,
não deve ser visto como uma panacéia, mas com realismo e prevenção. Qualquer plano
de desenvolvimento do turismo deve ser pensado e planejado. Por outro lado Silveira
(2001:134) entende que o turismo só pode ter sustentação com a plena participação das
comunidades locais envolvidas desde o planejamento a gestão.
Segundo informe recente da Organização Mundial do Turismo (OMT: 1999)10
novas tendências estão surgindo na prática do turismo e do lazer determinadas por
fatores como: interesse crescente por questões relativas ao meio ambiente, em particular
pela qualidade ambiental do lugar nos destinos turísticos; aumento por parte dos turistas
na procura de experiências mais autênticas e de convívio com o modo de vida e
costumes locais; necessidade emergente de práticas de lazer mais saudáveis; demanda
crescente por tranqüilidade e relaxamento que a vida no campo oferece em contraste
com o estresse da vida urbana; interesse maior em cuidar da saúde física e mental, e
portanto, de férias mais ativas; e, principalmente, aumento no volume de ofertas e no
marketing de produtos turísticos ligados ao meio rural e à natureza, por parte de
operadoras e agências de turismo.
O turismo até 1980 era formado por um público que queria ver algo, de massa,
tipo excursões, colônia de férias, etc. Após este período, o público turista busca viver
experiências novas e emocionantes em viagens individuais ou pequenos grupos. Este
turista quer participar, viver as atividades a que se propôs . Nisto o turismo rural tem
sido saliente, exigindo um turista mais educado e orientado para a preservação dos
locais de lazer e entretenimento, buscando a sustentabilidade e a perenidade dos
ambientes.
Ainda Silveira (2001:135) cita: o recente interesse pelos chamados “turismo de
interior” também agrupados sob o rótulo de “turismo alternativo” e que inclui
modalidades como turismo rural, turismo cultural, turismo ambiental, ecoturismo,
turismo de aventura e outros. A procura por lugares com qualidade ambiental e pouco
saturados, por férias ativas, pelo contato com a natureza e a integração com a cultura e
os costumes locais tem feito com que os espaços rurais e naturais tornem-se destinos
privilegiados dos fluxos turísticos de caráter alternativo. Nas palavras de Cavaco, citado
por Silveira (2001:136): “A concentração espacial da demanda a homogeneização da
oferta turística fizeram sentir a necessidade de formar alternativas e diferentes de
turismo, mais harmoniosas nos seus aspectos naturais, sociais e locais: contatos e
partilhas de experiências e saberes entre visitantes e populações autóctones. Perante os
custos ambientais e sociais do turismo de massa, convencional, gregário, próprio de
uma sociedade de consumo, organizado “industrialmente”, afirmam-se procuras
diferenciadas, novas, responsáveis e sustentáveis, seletivas em termos econômicos e em
valores e comportamentos pessoais, seja no próprio interior do país, seja em regiões
mais distantes, desenhando talvez o turismo do futuro, isto é, mais integrado
culturalmente e ambientalmente (1996:104)”.
Economicamente, as formas alternativas de turismo são vistas como
possibilidades para o desenvolvimento de regiões e localidades cujas características as
identificam como espaços rurais ou espaços naturais protegidos, ou simplesmente
lugares que possuem recursos naturais e culturais não degradados e potencialmente
exploráveis para fins turísticos. Outro aspecto que diferencia este tipo de turismo do
10
- Citado por Silveira, 2001.
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produto convencional é seu planejamento como turismo especializado, e, em geral,
praticado em pequena escala. Seu desenvolvimento, além de ser economicamente
viável, deve ter como princípios a preservação do meio ambiente e a promoção do bem-
estar das populações locais.
A apropriação do espaço rural para satisfazer as necessidades de ócio e lazer da
sociedade urbana tem potencializado enormemente as suas aptidões turísticas, não para
a prática do turismo massificado, como foi dito antes, mas de formas alternativas de
turismo, de baixa densidade, adaptados as características do espaço rural.
Muitas atividades estão sendo implantadas e desenvolvidas no espaço rural,
colaborando para torná-lo cada vez mais multifuncional e com papel fundamental e
crescente na vida urbana. A complexação desta configuração fortalece a conexão
urbano-rural.
No que se refere ao turismo rural, dada a relevância que tem adquirido em
matéria de oferta e demanda há uma certa profusão de termos empregados para designá-
lo, os quais trataremos neste trabalho.
Podemos salientar que Silveira destaca que em alguns trabalhos na Europa
definem o turismo rural com base em três fatos:
1. O turismo rural é um conceito amplo que engloba não apenas o gozo das
férias em fazendas, mas qualquer outra atividade turística que ocorre no campo;
2. O turismo rural recobre, igualmente, toda atividade turística no interior do
país.
3. Turismo rural é um conceito que abarca toda atividade turística endógena
suportada pelo ambiente humano e natural. (Comision de Las Comunidades Europeas,
1990, in Silveira. 2001:137)
No Brasil, a Embratur, o órgão oficial responsável pela formulação da política
de turismo no país, adotou um conceito de caráter mercadológico ao definir turismo
rural como “um conjunto de atividades turísticas comprometidas com a produção
agropecuária, agregando valor ao produto do meio rural, resgatando e promovendo o
patrimônio cultural e natural das comunidades do campo” (Embratur: 1998, in Silveira
(2001:137). Alguns autores adotam uma concepção mais ligada aos aspectos culturais a
exemplo de VAZ (1999) in: Silveira (2001:138) para quem “o turismo rural diz respeito
ao conjunto de atividades que compõe a vida no campo, envolvendo a experiência do
dia a dia nas fazendas, o convívio com camponeses, a montaria de cavalos, as
plantações, as pastagens, o sabor dos alimentos comidos diretamente da fonte. “E, ainda
existe autores que levam em conta a dimensão espacial, da atividade, Beni (1998) citado
por Silveira (2001: 138), que conceitua o turismo rural como “o deslocamento de
pessoas à espaços rurais, em roteiros programados ou expontâneos com ou sem
pernoite, para fruição dos cenários e instalações agrícolas”.
Baseado no exposto, podemos dizer que existem diferentes termos para se referir
ao turismo rural assim como são dadas diversas conceituações para essa atividade. Isto
porque trata-se de uma atividade multifacetada que ocorre no ambiente rural ou em
espaços similares.
A principal motivação para o turismo rural está baseada na procura por atrativos
associados a recreação, descanso, desfrute da paisagem, contato com a natureza, contato
com a cultura local, consumo e/ou compra de produtos locais típicos, passeios (a pé, a
cavalo ou de bicicleta) até a prática de esportes, aventura, pesca, viagens educativas, etc.
Cabe ressaltar a importância do turismo rural no desenvolvimento de localidades
onde ele ocorre. Como diz Vera et al, citado por Silveira (2001:138): “ O turismo rural e
o turismo em espaços naturais são concebidos como fatores de desenvolvimento das
áreas rurais e naturais e, em conseqüência, este tipo de atividade constitui um
20
componente básico do desenvolvimento local a partir do respeito ao patrimônio cultural
e natural e da participação direta da população rural (1997:122)”.
Como em outros países, no Brasil o turismo rural também vem sendo adotado como um
dos instrumentos da política de desenvolvimento de localidades rurais, conforme
demonstra a atividade do governo federal ao incluí-lo nas Diretrizes, Estratégias e
Programas da Política Nacional de Turismo, como uma das atividades estratégicas a
serem usadas para diversificar o produto turístico nacional (Embratur, 1995).
Também no Brasil o turismo rural está sendo colocado no contexto do
desenvolvimento sustentável, assim conceituado pela OMT: “Aquele que satisfaz ou
necessidades presentes dos turistas, ao mesmo tempo que preserva as regiões de destino
e incrementa novas oportunidades para o futuro. Ele deve ser concebido de modo a
conduzir à gestão de todos os recursos existentes, tanto do ponto de vista da satisfação
das necessidades econômicas, sociais e estéticas quanto da manutenção da integridade
cultural, dos processos ecológicos essenciais, da atividade biológica e dos sistemas de
suporte a vida (OMT, 1998:21, in: Silveira, (2001:139).
Em outros termos, o turismo rural sustentável é um enfoque que se propõe
reduzir as tensões surgidas à partir das complexas interações existentes, entre a indústria
do turismo, os visitantes, o meio ambiente e as comunidades locais que são os anfitriões
do mercado do lazer e da viagem. Um enfoque que visa manter a longo prazo a
viabilidade e a qualidade, tanto dos recursos naturais quanto culturais.
Visa harmonizar, o produto turístico, o visitante e a população local.
Há que se ter o cuidado para que o turismo sustentável não fique só na
expressão, dando-se à ela pouca importância como opção real para a política turística, a
medida que as idéias não se transformem em ação, portanto, o planejamento estratégico
integrado deve ser uma das principais metas.
O turismo rural, preliminarmente, sugere-se dois grandes grupos para fins de
classificação, conforme Rodrigues (2001):
1. Turismo rural tradicional: Com diferentes modalidades:
1.1. De origem agrícola: Inclui propriedades que historicamente se constituíram
como unidades de produção agrária durante os diferentes ciclos econômicos do país: do
café, da cana-de-açúcar, do ouro, do gado, da imigração, etc.
1.2. De origem pecuarista: Considerando equipamentos de hospedagem que se
originaram pela pecuária tradicional, principalmente onde a criação de gado funcionou
como instrumento de ocupação territorial no início da colonização.
1.3. De colonização européia: Cuja origem está relacionada à colonização
européia, no sul e sudeste, com propriedade de instalações suntuosas que hoje servem
de hospedaria requintada aos turistas.
2. Turismo rural contemporâneo: Opõe-se à primeira categoria por englobar
equipamentos implantados mais recentemente, notadamente à partir dos anos 70.
Caracteriza-se como alternativa ao turismo de “sol e praias”, predominante como
variante desta modalidade destacamos:
2.1. Hotéis – fazenda: Localizados na zona rural, implantados deliberadamente
para exploração desse turismo específico, valorizando a cultura rural, como o folclore, a
gastronomia, as atividades, de cavalgadas, esporte rural dos mais apreciados.
2.2. Pousadas rurais: De menor porte e de menor luxo procuram oferecer aos
visitantes a fruição da vida no campo, sem muita sofisticação.
2.3. Spas rurais: Enquadrados também na categoria de turismo de saúde,
versão moderna das antigas estações termais, oferece o bucolismo da vida campestre,
associando caminhadas para queima de calorias, esportes aquáticos, banhos de
21
cachoeira para produzir ionização negativa, com a liberação de serotonina no fluxo
sangüíneo, responsável pelo bem-estar dos hóspedes.
2.4. Segunda residência campestre: Localizadas em áreas rurais próximo a
grandes centros urbanos
2.5. Campings e acampamentos rurais: Representam importante meio de
hospedagem no país, para jovem e famílias com crianças, localizadas em vales de rios,
áreas com expressiva cobertura vegetal, como as matas ciliares.
2.6. Turismo de caça e pesca: Presente no pantanal matogrossense,
representado pelos ranchos de pesca. Há casos em que os animais são criados para a
caça.
2.7. Turismo rural místico ou religioso: Em crescente expansão em vários
pontos do país. Em centros religiosos ou de vivência comunitária, e ainda tentativa de
contato com objetos voadores não identificados (OVNI)
2.8. Turismo rural cientifico-pedagógico: Para recepção de alunos e
estagiários. Visitas à escolas agrícolas de nível médio e superior, aliado ensino, lazer e
turismo.
2.9. Turismo rural etnográfico: Reprodução de aldeias indígenas para receber
grupos de estudantes.
Com certeza entre rol de modalidades não se esgota por aqui outros poderão ser
encontrados na rica experiência de turismo rural no Brasil, talvez até se chegar à uma
tipologia mais genérica, com menos tipos e que expresse grandes grupos em que toda a
experiência possa ser enquadrada.
22
outro lado, eles podem expressar valores ou objetivos compartilhados, mas para os quais
existiram opções alternativas de normas e regulamentações. E, finalmente, estas normas
e regulamentações podem representar um “ideal”, refletindo valores e conhecimentos
consensuais, tanto do lado da produção quanto do consumo, mas cuja adoção implica
custos proibitivos”. (Wilkinson, 1998:33).
Uma parte significativa do setor informal se constituiu à partir de esforços de
burlar leis e regulamentações, sejam fiscais (tributos), trabalhistas (contribuições
sociais, salário mínimo, trabalho infantil) ou sanitárias (abate de animais contaminados),
ferindo os direitos do cidadão/trabalhador/consumidor. Nestes casos, não existe defesa,
muito embora seja importante reconhecer as ambigüidades que cercam cada uma destas
categorias: burocracia excessiva e corrupção podem motivar evasão fiscal; a linha
divisória entre a exploração do trabalho infantil e a unidade familiar de produção pode
ser fina; o desconhecimento pode ser a causa de falhas sanitárias. (Wilkinson;1998:33)
Tem sido muito atraente aos empreendedores o setor informal, mesmo correndo
os risco inerentes à atitude. Os motivos e justificativas saem pelo lado do alto
percentual de lucros (não há pagamento de tributos), pois é corriqueiro a produção
informal ser comercializada por valores aproximados ao de produtos com produção
legalizada; como a carga de tributos é elevada , no setor informal o produtor está
ficando com esta parte; e, ainda o descompromisso com o setor de produção e até para
aplicar o “jeitinho brasileiro11” . Por outro lado as regras, leis e regulamentações rígidas
inatingíveis por grande parcela da produção informal tem desestimulado a continuidade
de inúmeros “iniciantes”.
O estrato da pequena agroindústria que se encontra na informalidade é
responsável pela movimentação de recursos de montante significativo e relevante um
qualquer economia do capitalismo, contudo é complicado sua determinação correta,
justamente por estar obscuro, alheia à qualquer fiscalização e registro de dados de
qualquer pesquisa ou instituição. No setor de turismo a informalidade sempre foi
preponderante, inclusive em locais que viabilizaria o registro oficial destas empresas.
Portanto, onde o turismo é incipiente e fora das principais rotas fica ainda mais
marcante a ação do setor informal.
A diversidade de mercados do setor informal é outra peculiaridade (hotéis,
lanchonetes, pequenos armazéns, quiosques de beira de estrada, pizzarias, balneários e
eventos diversos). Individualmente, são pequenos mercados mas fundamentais a
produção familiar. Este setor em grande parte dos casos é uma extensão das atividades
da cozinha da casa, confundindo-se no início. Atividade informal tem a vantagem de
otimizar a mão-de-obra da família, normalmente começa por um membro e a medida
que a atividade cresce outros membros vão sendo incorporados.
O trabalho informal, apesar de estar à margem das normas busca
incessantemente a formação profissional formal, demonstrando a vontade de “chegar
lá”, como dizem estes atores, que correm em busca de atender as regulamentações
demonstrando que não são aventureiros e oportunistas e sim atores dentro de um
processo concreto e contínuo e financeiramente importante para a família, a comunidade
local e o Estado. Hoje, a luta e a busca pela regularização da produção e
comercialização tem sido incessante nas classes menos beneficiadas da agricultura
familiar para evitar a total exclusão, a busca da cidadania e eqüidade (Wilkinson) destes
atores que enfrentam uma legislação não construída para eles.
11
- Citação popular referente a maneira com que, criativamente, o povo brasileiro contorne as barreiras
legais para se inserir em determinados setores, ambientes, ou mercados.
23
4. A RELEVÂNCIA DO TEMA
24
Foi unânime nas conversas e entrevistas com o público alvo do trabalho frases
como essa dita por D. Lidia, da Tenda Rural12 Amingaí: “As vendas nas tendas dos
nossos produtos é mais uma renda para a família, por menor que seja”. Ela mesma
apresentou outra vantagem psicológica relativo à auto-estima feminina, quando diz: “É
positivo sair de casa, conversar com gente diferente, não cansa e o tempo passa rápido, a
gente nem vê e ainda ganha dinheiro”.
As tendas rurais, que são em número de 5 no município, abriga um universo de
30 famílias associadas, cada grupo é composto por 3 a 11 famílias. Antes da formação
dos grupos, a comercialização dos produtos era feita de forma individual,
desorganizada, sem padrão, sem qualidade, sem uma base de preços e com produção
descontinuada. Em um primeiro momento foi trabalhado um grupo pequeno composto
por 6 famílias e que acabou, por problemas de higiene principalmente, reduzido a 3
integrantes, mas que foi o alicerce de um trabalho integrado que evoluiu para todo o
município. A administração pública foi sensibilizada, cursos de qualificação
aconteceram para os feirantes. Junto a isto os grupos se mobilizaram e formaram listas
de possíveis produtos que poderiam ser comercializados. Cabe ressaltar o envolvimento
e a visão do setor público, EMATER e Prefeitura Municipal, apoiando e alavancando
esta iniciativa e ainda potencializando o mercado consumidor pelo incentivo ao turismo
de eventos , de aventura, de competição, de trilhas, do rural, principalmente, e inserindo
forte e agressivamente o nome do município na Rota das Terras.
Caso interessante é constatado na tenda do Sr. Ernesto e D. Vendila Schneider,
cujas vendas são a principal renda da família que explora ainda outras 7 ha com
produção de grãos (soja, milho, trigo). Sua venda dominante é composta de pão e cuca
coloniais.
Um dos entraves à regularização das agroindústrias foi resumido numa frase do
Sr. Ernesto: “Procuramos ampliar nossa produção de pão e cuca, mas nos exigiram
estrutura de fazer inveja à qualquer padaria da cidade, ia morrer de velho sem pagar a
conta”, analisa, corroborando a análise feita no texto anteriormente.
Citações dos entrevistados, foram observadas “in loco” durante o trabalho que
são qualidades materiais concretas ou subjetivas como o que diz Lorna, da
EMATER/RS local: “O trabalho nas tendas rurais despertou o espírito de grupo, a
organização no grupo e nas atividades em casa, na propriedade, a mulher conseguir uma
renda dela (melhorando a auto confiança), melhorou a qualidade dos utensílios dentro
da casa, facilitando os trabalhos, dando qualidade de vida e a auto-estima (se arruma o
dia que vai atender na tenda), desliga da casa, da rotina diária”.
Quanto às perspectivas dos grupos Lorna diz que: “Ensinamos à pescar agora é
acompanhar e motivar”. Neste sentido o Sr. Paulo Wilke diz: “O pior já passou agora é
caprichar, que no mínimo ficará igual hoje”.
O turismo tem surgido como formador de campo de trabalho absorvendo mão-
de-obra ociosa existente, ou forçando a racionalização de outras atividades relativas ao
turismo, ou substituindo atividades tradicionais por outras novas.
Estas outras atividades (artesanatos, produtos derivados de leite e carnes, confeitos,
panifícios, hortaliças, frutas in natura ou transformados), tem sido relegados em 80%
dos casos às mulheres; culturalmente os machistas dizem que “isto é coisa de mulher”.
Estas tem que produzir, processar, transportar e vender os produtos, normalmente nas
12
- Espaço construído pela associação de produtores de produtos coloniais revidentes na proximidade.
São em número de 5 no município. Servem para a exposição e vendas da produção. (pães, cucas,
hortigranjeiros, frutas, doces, compotas, conservas, embutidos, derivados do leite, açúcar mascavo,
rapadura, confeitos, artesanatos, galinha colonial (caipira), flores, feijão, melado, entre outros).
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“tendas rurais”. Há casos em que o marido não deixa a esposa vender, pois acha e diz
que “minha mulher não é de exposição prá andar por aí vendendo coisas”.
13
- Princípio ativo de inúmeros produtos comerciais. É um herbicida de uso liberado por registro no
Ministério da Agricultura e proibido pelo Ministério da Saúde por ser comprovadamente cancerígeno. É
produto volátil em dias quentes espalhando seu efeito danoso à plantas e animais à distâncias superior a 2
km. Na região tem sido alvo de protestos, principalmente de produtos de frutas e hortaliças, com ações
judiciais em andamento e com ganho de causa, em primeira instância, aos reclamantes.
26
- Potabilidade da água,
- Sossego,
- Cuidados com o meio ambiente (lei ambiental e lixo)”.
27
5. METODOLOGIA
28
6. ANÁLISE DOS RESULTADOS
900,00
800,00 777, 1
791 , 95
759, 65
700,00 669, 97
600,00
500,00
400,00
300,00
200,00
100,00
0,00
Ma r
Ma r
Ou t
Ou t
Ma i
Ma i
Fev
Fev
Nov
Dez
Nov
Dez
Abr
Abr
Set
Ja n
Ju n
Ago
Ja n
Ju n
Ju l
Ju l
M eses
( V alo r V end as)
R$
A no
29
100
90 87
80 75 80
60 55 53 60 50 52 49
40 35 42
28
20 18
9 10
0
00
00
00
00
00
00
00
00
1/
1/
1/
1/
1/
1/
1/
1/
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
/0
01
03
05
07
09
11
13
15
Gráfico-2: Tenda Rural Del’Aurora – Verão 2001/2002
- A análise mostra que o faturamento médio por fim de semana foi de R$ 54,74,
dividido entre as 2 famílias. A tenda não funciona no período de inverno.
- Verificou-se queda acentuada em 3 fins de semana de janeiro, que segundo
relato dos produtores foram os três fins de semana com chuvas ou com eventos
paralelos na região, que restringe o público no local.
- Verifica-se razoável diferença de vendas de um fim de semana para outro, e
forte queda na 2ª quinzena de fevereiro de 2002. Os entrevistados não souberam
precisar o motivo, mas depreende-se que seja em função da existência de eventos
regionais nesta época, que desviaram o público, combinando com o final de temporada
de férias e feriado de carnaval (2ª. Quinzena de fevereiro).
- A forte oscilação das vendas mostra a instabilidade deste tipo de mercado. Uma
alternativa para evitar perdas maiores de produtos é a venda sob encomenda para
aqueles clientes já tradicionais (regulares).
30
- As quedas inesperadas que acontecem são geralmente ocasionadas por fatores
climáticos adversos nos fins de semana ou de eventos de âmbito regional que desviam
os consumidores; como é o caso do mês de Outubro de 2001.
- É marcante a elevada auto estima dos componentes do grupo ,principalmente das
mulheres, maiores responsáveis pelo sucesso deste tipo empreendimento.
31
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
32
8. BIBLIOGRAFIA CITADA
33