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Castro Jaime Zunguze

Impacto do xitique na convivência social na Massinga

Licenciatura em Agropecuaria

Universidade Pedagogica

Massinga

2018
Castro Jaime Zunguze

Impacto doxitique na convivência social na Massinga

Trabalho de pesquisa a ser


entregue ao docente para efeitos
de avaliacao na cadeira de
Antropologia Cultural

Docente: Dr. Siquisse

Universidade Pedagogica

Massinga

2018
Índice
CAPITULO 0..................................................................................................................3

0. Introdução..............................................................................................................3

0.1. Motivação........................................................................................................3

0.2. Objectivos........................................................................................................4

0.3. Problematização..............................................................................................4

0.4. Hipóteses.........................................................................................................5

0.5. Metodologias...................................................................................................5

0.6. Justificativa......................................................................................................6

CAPITULO I...................................................................................................................7

1. Caracterização geográfica da área em estudo.........................................................7

CAPITULO II..................................................................................................................9

2. Fundamento teórico...............................................................................................9

2.1. Revisão da literatura.........................................................................................10

2.1.1. O xitique como pretexto para o convívio familiar.......................................11

2.1.2. Características do Xitique...........................................................................12

CAPITULO III...............................................................................................................14

3. Descrição e tratamento do título..........................................................................14

3.1. Impacto de xitique na convivência social......................................................14

3.2. Salientando o impacto do xitique como uma forma de ajuda mútua na


Massinga...............................................................................................................14

3.3. Como é feito o xitique familiar?.....................................................................15

4. Conclusão............................................................................................................18

5. Bibliografia...........................................................................................................19

5.1. Fontes orais...................................................................................................19

5.2. Fontes escritas..............................................................................................19


3

CAPITULO 0
0. Introdução

O presente trabalho de pesquisa tem um tema inserido numa temática cultural das
comunidades rurais assim como das urbanas escolheu-se abordar este tema –
Impacto do xitique na convivencia social – pois considera-se um tema que faz parte
da cultura.Oxitiqueé uma prática conhecida bastante comum nas famílias, entre
amigos e entre colegas de trabalho. Na perspectiva de (CUNHA, 2011), Xiticar é
uma prática económica e financeira comum em Moçambique, uma análise
desenvolvimentista e que não rompa com o paradigma capitalista olha para o xitique
apenas como um retorno, mais ou menos elaborado, à tradição ou uma mera
estratégia de contingência devido à persistente escassez de recursos, e meios de
acesso a eles, a que está sujeita uma parte da população de Moçambique.

O tema abordado tem como objecto de estudo descrever ate que ponto o xitique
influencia na convivência social das comunidades.

0.1. Motivação

Além de o xitique influenciar na convivência social que é uma questão cultural, esta
prática tambem ajuda na geração de rendimentos que permitem cobrir necessidades
básicas, por ser uma forma de poupança e que aborda questão cultural, é
fundamental descrever a sua influência para boas relações sociais. O meu interesse
partiu da experiência que tive quando paresenciei num Xtique familiar na casa de
uma tia que segundo as mães que lá estavam a prática do xitique promove a
interacção familiar conhecer os membros das familias dos seus irmãos e irmãs e
também promove a ajuda mútua entre as famílias.
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0.2. Objectivos
0.2.1. Geral

 Descrever até que ponto o xitique influência na convivência social no distrito


de Massinga.

0.2.2. Específico

 Caracterizar a prática dexitiquecomo um meio para um convivio social;


 Descrever o posicionanento da comunidade para com o xitique como um
motor para boas relacoes sociais;
 Explicar as estratégias da comunidade para garantir uma boa convivência
social.

0.3. Problematização

Segundo (TRINDADE, 2015, p. 86) grande parte dos autores que pesquisam a
prática do xitiki inserem-na no que denominam de redes de solidariedade (Loforte,
s/d; Cruz e Silva, 2002; Dava et al., s/d) ou de reciprocidade (ESPLING, 1999).
Estas redes de relações são criadas para fazer face “ a situações estruturais que
conduzem à vulnerabilidade e pobreza” (Loforte, s/d) e incluem, entre outras, redes
de parentesco, vizinhança, a comunidade religiosa, associações locais e grupos
informais de poupança, como o xitiki. A este propósito, Loforte (Ibid., p. 286) destaca
do xitique na “solidificação destas relações pelo contacto directo com outras
pessoas”. Através desse contacto, criam e aderem a redes que se constituem, por
vezes, como grupos informais de poupança e ajuda mútua, de modo a minimizar a
crise económica, alargando assim a sua rede social.

Na fase de entrevistas explorativas, verificou se que no bairro Eduardo Mondlane,


meu campo de estudo, algumas pessoas recorrem ao xitique como meio para se
interligarem com outras familias promovendo assim uma boa relação com seus
visinhos e com a comunidade em geral. A comunidade entende que o xitique é a
maneira mais óbvia de promover uma boa interacção uns para com os outros, por
isso que segundo ele – maes com quem falei – não estar envolvido em nenhum
grupo familiar de xitique é um sinal de anti-socialismo.
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0.4. Hipóteses

Positiva:

 O xitique quando é feito de forma saudável serve como pretexto para


aproximar e causar convívio familiar.

Negativa:

 Quando as famílias criam essa cultura de convívio familiar na recepção do


xitique, neste caso “fere” o membro que recebe, pois ele sente uma pressão
para dar festa como forma de retribuir os objectivos.

0.5. Metodologia

Para a presente pesquisa é de referir que usou-se o método de pesquisa descritiva,


isto é, porque compreender o papel do ‘xitique’1na sociedade é uma tarefa
trabalhosa. As pesquisas descritivas têm como objectivo principal a descrição das
características de uma determinada população e perceber as relações entre as
variáveis de estudo.

Baseou-se também em pesquisas bibliográficas, e que segundo GIL (2002), consiste


em estabelecer uma base científica para construir uma plataforma do conhecimento
sobre o tema.Este material já elaborado é composto principalmente por livros e
artigos científicos, não só a pesquisa bibliográfica, mas também através do estudo
em campo que está focalizado numa comunidade desenvolvida por meio de
observação directa das actividades e por entrevistas para capturar certas
informações explicações das interpretações do que acontece no xitique.

A abordagem usada é de uma pesquisa qualitativa, pois a fonte de dados sãodo


ambiente natural, deste modo o investigador é um elemento principal da
pesquisa.Ainda usou-se a abordagem de pesquisa quantitativa visto que poderá ser
usada a quantificação para o tratamento de dados, através de técnicas estatísticas
como determinar a percentagem, media, o desvio padrão entre outras técnicas
estatísticas.

Quanto aos instrumentos de recolha ira se usou-se as entrevistas abertas pois elas
permitem a recolha de dados detalhados sobre experiencias dos entrevistados,
1
Uma actividade muito comum no sul do Save tanto nas zonas rurais e urbanas.
6

apresentam uma vantagem de reduzir a incapacidade do entrevistado para


responder como deve ser por consequência de de problemas dovocabulario e ainda
possibilitam a interacção do entrevistado e do entrevistador. As respostas dos
entrevistados foram anotadas em blocos ou num papel e depois reorganizadas de
forma ainda mais simples de serem interpretadas.

0.6. Justificativa

A decisão de acompanhar os xitiquess familiares, um dos vários tipos existentes,


está directamente ligada àquele que é o principal objectivo da presente pesquisa:
mostrar que ponto o xitique podera influenciar na convivencia social.

Assim se constitui o xitique, como uma rede de solidariedade e entreajuda, ajuda


essa que não é limitada e está cuidadosamente prescrita, ainda que de modo
informal. Ela é de tal modo aceite como natural que a ajuda que se presta hoje pode
(e deve) ser solicitada amanhã. Sobre a forma como o xitiki é entendido, a Cecilia –
que está inserida em tres grupos de xitique familiare – destacou que (...) Para mim o
objectivo nao é o dinheiro ou os bens em si mas sim a questão de solidariedade,
convívio com meus familiares, mas também os grupos devem promover uma ajuda
mútua (...). Neste sentido, pode dizer-se que a prática do xitique cria parentes. A
relação que se estabelece entre membros de um grupo de xitique é a de um
compromisso também afectivo. Por esta razão, este compromisso pode ser maior e
mais importante que o que se tem com uma instituição financeira formal. Quando
existe um compromisso fundado por um determinado tipo de relação cujo contrato
se dá na linguagem dos afectos - que é a linguagem da família - aí o xitique deixa de
ser um crédito ou uma poupança e passa a ser família.

A escolha do tema é justificada pela importância que a prática do xitique – é uma


versão melhorada de uma pática cultural muito comum aqui na Massinga sobretudo
nas zonas rurais chamada “ntsima”2- Tem vindo a ganhar actualmente à nivel
cultural e social. Assim pensei que seria de extrema importância trazer uma
discussão em torno deste tema, sendo que xiticar é uma prática importante na vida
da comunidade devido ao seu capital cultural e socio-económico.

2
Ntsima é uma forma de ajuda mútua praticada nas zonas rurais.
7

CAPITULO I

1. Caracterização geográfica da área em estudo

Limites

Massinga está situado na zona central da província de Inhambane, tendo como


limites, a Sul os distritos de Funhalouro e Morrumbene, a oeste o distrito de
Funhalouro, a Norte e Nordeste o distrito de Vilankulo, e a Este o oceano Índico
(PERFIL DISTRITAL, 2014).

Clima

O clima do distrito é dominado por zonas do tipo tropical seco, no interior, e húmido,
à medida que se caminha para a costa, com duas estações: a quente ou chuvosa
que vai de Outubro a Março e a fresca ou seca de Abril a Setembro A zona litoral,
com solos acidentados e permeáveis, é favorável para a agricultura e pecuária,
apresentando temperaturas médias entre os 18° e os 30° C. A precipitação média
anual na época das chuvas (Outubro a Março) é de 1200mm, com maior incidência
nos meses de Fevereiro e Março, em que chegam a ocorrer inundações.

Vegetação

A Vegetação do Distrito de Massinga apresenta duas caracteristicas a saber:

a) Uma cobertura vegetal natural constituída por savanas arbóreo-arbustivas e


matas abertas cobrindo cerca de metade da zona;

b) De culturas tradicionais arbonizadas cobrindo uma área substancial. Pequenas


manchas de vegetção natural cobertas referidas nas alíneas a) e b).

Solos

A zona interior do distrito apresenta solos franco-arenosos e areno-argilosos e uma


precipitação média anual de 650 a 750mm, com temperaturas elevadas, que
provocam deficiências de água.
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Hidrogeografia

Do litoral pra o interior, a qualidade de agua doce (rios, lagos e subterancas) em


relacao as necessidades das populacoes que residem., passam sucepassa
sucessivamente de uma situação favorável do litoral, de equlibrante na zona central
e de desfavorável para o interior. Massinga possui poucos recursos hidricos.

 Rios – Chibanhane, único importante e quee abstec e a zona Urbana de


Massinga e baixas como Rovene, chiludsele, Guitangue e Chicamba.
 Lagos – Nhanguengue, Chipongue, Fetive, Guetivane, Nhachefutsuane,
Matelane, Vuve, Nhamanite e Tsukure.

População

A sua população está estimada em 199 mil habitantes à data de 1/7/2012. Com uma
densidade populacional aproximada de 26,8 hab/km2, prevê-se que o distrito em
2020 venha a atingir os 211 mil habitantes A estrutura etária do distrito reflecte uma
relação de dependência económica de 1:1, isto é, por cada 10 crianças ou anciões
existem 10 pessoas em idade activa. Com uma população jovem (46%), abaixo dos
15 anos), tem um índice de masculinidade de 79% (por cada 100pessoas do sexo
feminino existem 79 do masculino) e uma taxa de urbanização de 11%, concentrada
na Vila de Massinga e zonas periféricas de matriz semiurbana.

Principais actividades económicas

Agricultura, silvicultura, pesca, Indústria, energia, construção,Comércio e


Transportes.

A população não economicamente activa (27%) é constituída principalmente por


mulheres domésticas e estudantes a tempo inteiro. A distribuição da população
economicamente activa indica que 81% são camponeses por conta própria, na sua
maioria mulheres. O comércio e outros serviços tem tido uma importância crescente,
ocupando já 12% da população activa do distrito.
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CAPITULO II
2. Fundamento teórico

Este título “Impacto de xitique na convivência social” já foi tratado por vários autores,
que defendem que Xiticar é uma prática económica e financeira comum em
Moçambique. Uma análise desenvolvimentista e que não rompa com o paradigma
capitalista olha para o xitique apenas como um retorno, mais ou menos elaborado, à
tradição ou uma mera estratégia de contingência devido à persistente escassez de
recursos, e meios de acesso a eles, a que está sujeita uma parte da população de
Moçambique (BRITO, LUÍS et al, 2010,p.13).

Neste capitulo, apresenta-se a abordagem central a contextualização do surgimento


do xitique, em que demostra-se que questões históricas, sociais, culturais,
económicos, estiveram por detrás do surgimento da pratica de xitique.
De acordo com ISABEL (2011) o xitique pode ser enquadrado num contexto de
actividades geradoras de rendimentos para o sustento de produção, que considera
ter surgido como resposta aos programas de reajustamento e estrutural, pressão
económica, a perda de empregos, crise económica, problemas financeiros que
abalaram as famílias Moçambicanas, Isto é, trata-se de estratégias de
sobrevivência.
Por sua vez, TEREZA no seu artigo sobre a arte de xiticar (2011), considera que a
questão da pobreza em Moçambique, foi um dos grandes factores que influenciaram
no surgimento de esse tipo de práticas associativas como é o caso do xitique. As
práticas sociais de ajuda mútua ocorrem desde o início das sociedades humanas.

Na perspectiva de “ALI (2010) ”, a ligação das práticas do xitique e as mulheres em


Moçambique é uma evidência empírica e tem sido objecto de pesquisas e reflexões.
As mulheres estão muito activas nas actividades produtivas e circuitos económicos
do país e uma parte substantiva do rendimento gerado e utilizado para o sustento
das famílias.
As organizações de mulher de base mais popular estão, algumas vezes, fortemente
relacionadas com a produção e comércio de modo a gerar rendimentos e a reforçar,
mutuamente, as capacidades de pequenos grupos. As iniciativas de muitas
mulheres e alguns homens, muitas vezes consideradas informais, pontuais e
precárias servem de base para se criarem negócios, a partir das famílias, bairros ou
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comunidades, com vista a complementar ou a gerar o seu sustento e a manter a


vitalidade social e política da sua comunidade.

2.1. Revisão da literatura

A literatura que pude revisar trata em geral o xitique como um objecto de


sobrevivência, bastando-lhe descrevê-lo de forma mecânica e relacioná-lo com
outras práticas económicas consideradas tradicionais. O seu valor para uma visão
outra sobre o desenvolvimento através de uma economia não-capitalista é, em geral,
relacionado com o facto de poder ser interpretado como mais um modo ancestral de
conhecimento, actualizado e reapropriado nas condições actuais mas sem valor
socioeconómico (CASIMIRO, 2010,p.36).

A partir de um modelo em que qualquer acumulação de capital seja central, é certo


que o xitique e outras racionalidades económicas que tais só podem ser entendidas
como uma arte de poupar em conjunto para depois despender em bens de
necessidade básica o que é pouco mais do que a tragédia diária da sobre vivência.
O xitique é uma manifestação das agências e racionalidades eficazes que estão a
tecer a rede social em Moçambique. Estas racionalidades não recorrem à mera
repetição daquilo que é chamado de tradicional mas refazem, redignificam e
reelaboram, estrategicamente, revalidam saberes, dispositivos, relações e objectivos
(FRANCISCO et all., 2006).
A dignidade, a alegria, a capacidade de construir e atingir objectivos estão presentes
quer nos resultados concretos dos xitiques estudados-compra de terra, blocos,
cristaleira, capulanas, pagamento de propinas, festa de casamento.
Por fim, tanto a literatura como a realidade empírica mostram que xiticar é sobretudo
uma coisa de mulheres.
Na perespectiva de DAVA etall.(1996-1997), Xiticar tem objectivos e-económicos e
contribui entre outras coisas, para a coesão social, controlo dos recursos existentes,
identidade e afirmação pessoa e comunitária.
As variações encontradas na forma de fazer o xitique nem sempre contemplam
todos estes mecanismos socioeconómicos mas, de uma forma geral, a prática
revela-se organizada e informada por uma ética de conduta em que se destacam as
competências acima referidas assim como, a força da comunidade, a coesão social,
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a confiança mútua, a persistência, o trabalho, a produção alternativa de riqueza ou


recursos e a justiça, em escalas de proximidade.
A educação popular entendida como a conscientização dos grupos e das
comunidades e do desenvolvimento de competências tendências de interpretação,
análise, registo e Comunicação, que passam também pelo escrito, está na base da
actividade de xiticar ainda que não sejam entendidas nem desenvolvidas enquanto
tal.
O xitique pode constituir também, uma instância educativa popular de valorização de
aptidões e aprendizagens não escolares porém vitais, relevantes e úteis nas
sociedades em causa e na consolidação e ampliação de conhecimentos dos grupos
em diversas áreas dos saberes e da sua capacidade de reflexão sobre si e sobre a
sociedade em geral.

2.1.1. O xitique como pretexto para o convívio familiar

Para além do xitique que envolve essencialmente valores monetários, existe


também o intrafamiliar. Um das formas consiste em as famílias juntarem dinheiro e,
no fim de cada mês, comprarem bens (utensílios domésticos, mobiliário,
electrodomésticos, …) e ofertarem-nos a um dos contribuintes.
A compra dos bens é feita em função das necessidades da pessoa que irá receber.
No dia da entrega, é organizado um convívio como forma de apimentar o momento.
(TRINDADE, 2015), afirma que o xitique é uma prática que não deve ser abandonada
pois ajuda muitas famílias. Para eles, não obstante o facto de existirem bancos
comerciais para se fazer poupança, não se pode descurar do valor social que a
prática representa.
“Nenhuma prática deve substituir a outra. Trata-se de duas coisas diferentes: uma (o
xitique) é tradicional e a outra (poupança bancária) é moderna. Há famílias que
optam pelas duas formas e outras que não”, concluem.
Assim como CASIMIRO,& TERESA (2011), defende que a ideia da prática do xitique
trata-se de algo muito antigo, que devido a essas condições de pobreza que
anteriormente foram descrevidos, está a ser novamente reinventado. E actualmente
são várias as mulheres que têm aderido a prática do xitique como uma forma de
subsistência.
12

2.1.2. Características do Xitique

Segundo (TRINDADE, 2015)(s/d) a característica particular do xitique é que e


maioritariamente feito entre mulheres. O que não quer dizer que não exista uma
participação masculina. O xitique funciona a partir da criação de um grupo de
pessoas, variando o número de acordo com os contextos. Esse grupo de pessoas se
junta para começar a fazer poupança, podendo fazer um xitique diário, semanal,
quinzenal ou mensal, conforme a necessidade e capacidade de cada um/a. O mais
comum é o xitique mensal.
Decidem então que cada um/a contribuirá mensalmente com o montante que é
estipulado tendo em conta a capacidade de cada um/a, e posto isso decidem
também qual será a data limite mensal para cada um/a tirar a sua parte, que a cada
fim desse período alguém ira receber o xitique. O passo a seguir é decidir qual será
a ordem em que ira receber o montante de recursos. A escolha pode ser aleatória ou
pode ser feita de acordo com a necessidade de cada componente do grupo. Quando
o xitique chegar ao fim e todos/as receberem a sua parte, voltam ao início e
recomeçam.
A autora (TRINDADE, 2015), considera que outro aspecto a ter em conta no xitique
são o que podemos chamar de rituais, que é a existência de encontros, onde alguns
grupos de xitique, principalmente os familiares, organizam encontros mensais, com
direito a almoço/lanche, música, danças e cânticos, sempre na casa de quem irá
receber o dinheiro. Podem também oferecer-se presentes, como louça e capulanas
(pedaço de pano tradicional, colorido, que se usa para vários fins).
Em termos de importância, Trindade considera que o xitique é importante porque
permite uma maior coesão do grupo, a criação de redes de ajuda mútua e
solidariedade, assim como o estreitamento das amizades e laços familiares.
TERESA CRUZ E SILVA (2002), afirmam que a forma de pagamento do xitique não
tem que ser necessariamente monetária, havendo casos em que essa contribuição
se traduz em bens materiais. Os fundos circulam entre os seus membros e a sua
coleta e distribuição funcionam, regra geral, na base da confiança e empatia, ao
mesmo tempo que obriga cada membro do grupo a fazer a poupança de um
montante predeterminado e dentro da periodicidade previamente definida para o
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pagamento da sua quota. A distribuição da poupança entre os membros do grupo é


feita periódica e rotativamente.
Em relação as características, para Trindade o xitique opera entre um grupo de
pessoas, constituído por amigas/os, colegas de trabalho ou familiares, que estipulam
um montante de contribuição assim como a periodicidade dos encontros para
prestação de contas, distribuição rotativa do poupado por cada uma das pessoas
envolvidas no grupo e confraternização.

2.2. Significado de algumas palavras

Xitiqueé uma palavra tsonga que é traduzida para o português, comummente, como
poupar, amealhar, juntar. Xiticar é do verbo Ku Tica. Alerto as e os leitores para o
facto que adopto, neste texto, a grafia aportuguesada em circulação em
Moçambique das palavras de língua Tsonga e outras que, ao longo do texto, irão
sendo usadas (CUNHA, 2001, P.13) citado por TRINDADE, (2015).

Capulana é um pedaço de pano estampado (normalmente com 2 metros por 1,5


metro) que as mulheres utilizam para cobrirem as ancas e as pernas como se fosse
uma saia. Para além desta função básica e popular, as capulanas podem ser usadas
em momentos especiais como os nascimentos, cerimónias importantes, como dotes,
ou terem funções utilitárias como servirem de peças decorativas em casa, cortinas,
entre muitas outras coisas. As capulanas em Moçambique são também utilizadas
para tornar públicas e disseminar mensagens através do seu uso no corpo das
mulheres ou como toalhas de mesa de conferências, painéis de parede ou outros
modos de exposição. Os padrões e as cores sãomuto variados e estão em
permanente processo de inovação e criação.

Mukumesão duas capulanas unidas por um bordado que servem de lençol ou para
a decoração da cama. Vemba é um lenço de cabeça feito do mesmo tecido das
capulanas.

Maheu é um refresco servido normalmento em encontros como mata-bicho,


preparado a partir da farinha de milho.
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CAPITULO III
3. Descrição e tratamento do título

3.1. Impacto de xitique na convivência social

A proposta inicial da pesquisa é deanalisar e colocar uma pergunta, poderá ser o


xitique uma antecipação tradicional, uma ferramenta de uma economia social?
A minha análise dos materiais recolhidos, observações realizadas e dos discursos
orais das pessoas entrevistadas e da literatura conduziram a um conjuto de
questões principais que problematizarei e teorizarei.

Observação empírica e a reflexão feita levam a considerar que estas análises


escondem mais do que aquilo que mostram. Em primeiro lugar, não valorizam
suficientemente os recursos endógenos da sociedade moçambicana para redistribuir
riqueza e implementar a cultura.

Em uma conversa informal com senhor AdinoMassingue, constatou-se que alguns


grupos de mulheres atribuem um valor acrescentado ao xitique transformando-o
num banco de emprestimo de juros – que neste caso trata-se uma questão
económica particular.
Mas também,este é o momento único para estar com aquela tia, aquela prima que
você nao vê a tanto tempo (MAZIVE,2018,cp).

3.2. Salientando o impacto do xitique como uma forma de ajuda mútua na


Massinga

Segundo CUNHA (2011), xitiqueé uma palavra tsonga que é traduzida para a língua
portuguesa, comummente, como poupar ou amealhar. Contudo ao longo das
entrevistas realizadas foram surgindo mais significados da palavra reforçando a ideia
de que o xitique é colocar alguma coisa de lado mas não apenas em benefício da
comunidade envolvida. Tal como Rosalia Ngomane disse:
“Faço o xitique com as minhas colegas, a minha cunhada, minha vizinha
minha amiga. (...) Somos seis. (...) Na igreja também temos a devoção de tirar
cinquenta contos para juntar para podermos comprar louça (...) para comprar
capulanas26, somos um grupo da igreja”. (cp. Rovene, 2018.10.03).
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3.3. Como é feito o xitique familiar?

O xitiqueé feito entre membros de uma mesma família é geralmente chamado pelas
pessoas que o fazem de xitique familiar (TRINDADE, 2015, p. 19). No entanto,
sendo o objectivo da pesquisa analisar a influência que ele tem sobre as relações de
convivência social, de cooperação, representam na construção e reconstrução de
redes de solidariedade e um lugar privilegiado para a construção cultural e social da
realidade, é importante conhecer todo processo de xiticar que começa com a
construção do proprio grupo.

A criação dos grupos, é muitas vezes por iniciativa das mulheres, é explicada pelo
facto dos familiares viverem espalhados pelos bairros, longe uns dos outros e terem
uma vida renhida, que não lhes permite verem-se e conviverem tanto quanto
querem.

A D. Ivone, uma das senhoras entrevistada, que participa num grupo de xitique
familiar conta, também, que a criação do grupo em que ela faz parte surgiu depois
da sua irmã mais velha reclamar várias vezes que nunca ninguém a visitava, o que
fez com que ela e a irmã pensassem em usar o xitique como forma de as visitas se
tornarem obrigatórias e regulares, pois a cada mes devem se concentrar na casa de
um dos membros do grupo.

O processo de xiticar como qualquer outro passa por muitas fases das quais se
destaca em primeiro lugar o perfil do Xitiqueiro 3:

Na perspectiva do Saudita AlfiadoMucanze:

 Em primeiro lugar para poder entrar num grupo de xitique segundo explicado
Dona Cecília: a pessoa deve ser de confiança – isso quer dizer que para que
a pessoa entre no grupo de ser confiável, sendo o xitique uma prática de
ajuda mútua as pessoas devem confiar umas nas outras.
 Em segundo lugar a pessoa precisa ter um capital inicial ja que trata se de
uma contribuição feita e o dinheiro recolhido é levado e usado na compra de
bens (mobílias, panelas, electrodomésticos, etc.) para a família visitada a
cada mês(cp.Rovene, 04/10/2018).

3
Xitiqueiro é a pessoa que pratica o xitique.
16

3.3.1. Organização

A pessoa responsável pelo xitique não se limita a entregar o dinheiro mas deve
também promover o envolvimento de todo o grupo no processo e organiza um
momento celebratório quasi ritual para que cada um dessas passagens de recursos
seja um acto colectivo de reforço mútuo. A senhora Felizarda Zunguze, descreve
algumas dessas intencionalidades que estão para além de trocas monetárias,
presentes mútuos ou fluxos de dinheiro mesmo dentro de uma rede de proximidade:
O xitique de festa não é para dar, não é para a pessoa receber mas sim é para
reunir as famílias para não haver separação, quando este é feito, compra-se a
comida, a bebida.

Felizarda Zunguze disse:


“Nós compramos a comida, compramos a capulana, compramos a mukume
para uma pessoa nesse mês, nós vamos para essa pes soa nesse mês, e a
camisa para o homem. Mas aquilo é uma forma de convivermos, não é?” (cp.
Rovene, 05.10.2018).

Ela continua realçando que os grupos de xitique têm uma função de integração e até
de inclusão social quando explica que: Há aquelas pessoas [que são] uma mágoa
social… socialmente não são boas pessoas mas como já estão naquele grupo a sua
mentalidade muda. Vão ser um pouco sociais naquele grupo.

3.3.2. Momentos

Os encontros sao feitos uma vez ao mês e tem sido no ultimo final de semada de
cada mês, este momento é tico como um momento de festa, uma celebração em
forma de almoço em família (Mucanze, 2018, cp.).

A chegada aos encontro obedece a mesma logica, a pessoa visitada fica


responsável por preparar a refeição as bebidas, maheu, dias antes do encontro da
festa alguns membro se encontram na casa da pessoa visitada para ajudar na
preparação dalgumas bebidas tradicionais o caso de maheu, as conversas segundo
diz a Dona Ivone teem sido referentes ao universo feminino, como o cuidado e
educação das crianças, moda, comida e receitas partilhadas, pessoas que não se
encontram ali, conhecidas de várias delas, doenças e como tratá-las, problemas
17

familiares de vários tipos, conselhos sobre assuntos diversos, casamentos, entre


outros tipos de informação.

3.3.3. Gestão e entraga de bens

O grupo tem pelo menos um gestor/a ou 2 que é/são responsável/eis por fazer a
gestao dos fundos contribuidos o momento de gestão é feito um ou dois dias antes
do dia do encontro, o/a gestor/a faz os registos dos membros que tiram o valor e a
quantia que ca um tira, o momento de gestãò inclue tambem a escolha dos bens a
serem comprados mas que é uma questão concensual do grupo ou o membro
visitado diz o que precisa que seja comprado. Escolhidos os bens a serem
comprados, são indicadas duas pessoas com o/a gestor/a que normalmente tem
sido a madrinha do membro visitado e um dos mos outros membro com a
companhia do/a gestor/a fazem a compra dos bens que combinaram ou escolhidos
pelo visitado. O momento de entrega dos bens é acompanhado por cânticos danças
de certas cançoes tradicionais, apos a entrega bos bens que o grupo organiza
sengue uma sessão de entrega de prendas por parte dos convidados pois cada
visitado convida seus amigos visinhos colegas e outros familiares que nao estejam
envolvidos no grupo. Feito isso chega o momento da festa onde as familias
oucupam as mesa e o almoço é servido às familias, conversas de la para ca e segue
o momento de convívio as pessoas são apresentadas umas às outras e se alguém
dos convidados estiver interessado em entrar no grupo se prununcia e é registado
no caderno e começa a xiticar (Zunguze, 2018, cp.).
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4. Conclusão

Feito o trabalho, Impacto do xitique na convivencia social na Massinga, pode se


concluir que oxitique é que e maioritariamente feito entre mulheres. O que não quer
dizer que não exista uma participação masculina. O xitique funciona a partir da
criação de um grupo de pessoas, variando o número de acordo com os contextos. A
criação dos grupos, é muitas vezes por iniciativa das mulheres, é explicada pelo
facto dos familiares viverem espalhados pelos bairros, longe uns dos outros e terem
uma vida reunida, que não lhes permite verem-se e conviverem tanto quanto
querem.
Em termos de importância, o xitique é importante porque permite uma maior coesão
do grupo, a criação de redes de ajuda mútua e solidariedade, assim como o
estreitamento das amizades e laços familiares. Para além de trocas monetárias,
presentes mútuos ou fluxos de dinheiro mesmo dentro de uma rede de proximidade:
O xitique de festa não é para dar, não é para a pessoa receber mas sim é para
reunir as familias para não haver separação, quando este é feito, compra-se a
comida, a bebida.
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5. Bibliografia
5.1. Fontes orais

Nr Nome Idade Profissão Origem


01 Adino Jaime Massingue 36 anos Professor Massinga
02 FelizardaMário Zunguze 46 anos Vendedeira Massinga
03 Ivone Sabino Mazive 32 anos Doméstica Massinga
04 Rosália Graça Ngomane 41 anos Vendedeira Massinga
05 Saudita AlfiadoMucanze 27anos Enfermeira Massinga

5.2. Fontes escritas

5.2.1. Primarias: Internet, jornais e Revistas.

DAVA, Gabriel, LOW, Jan e MATUSSE, Cristina (1996-1997). Capítulo 6:


Mecanismos de
ajuda mútua e redes informais de protecção social: estudo de caso das províncias
de
Gaza e Nampula e a cidade de Maputo in: Pobreza e Bem-Estar em Moçambique.
http://www.ifpri.org/sites/default/files/pubs/portug/pubs/books/ch6.pdf.

FRANCISCO, António e PAULO, Margarida (2006). Impacto da Economia Informal


naProtecção Social, Pobreza e Exclusão: A Dimensão Oculta da Informalidade em
Moçambique. Maputo: Cruzeiro do Sul, Instituto de Investigação para o
Desenvolvimento JoséNegrãopdf. Consultado em 12/2/11 GOMES, Xadreque«Viver
com o dinheiro dos outros». Jornal Verdade, 17 de Outubro de 2008.

http://www.verdade.co.mz/index.php?
option=com_content&view=article&id=241:xitique&catid=43:economia&Itemid=27
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5.2.1. Secundarias: Monografias, Dissertações e Teses.

CRUZ SILVA, Teresa. 2002. Determinantes globais e locais na emergência de


solidariedade sociais: o caso do sector informal nas áreas periurbanas da cidade de
Maputo. Revista critica das ciências sociais, centro de estudos sociais da
universidade de coimbra. 75-89.

NGUENHA, Ernesto M. Grupos de xitique: Relações sociais, práticas esignificados.


2010. 38 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Antropologia) –
Departamento de Arqueologia e Antropologia, Faculdade de Letras e Ciências
Sociais, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, 2010.

TRINDADE, Catarina Casimiro. (s/d). o dinheiro em poder delas: a prática do xitique


na cidade de maputo. São paulo.2015.

5.2.2. Fontes portais/ Bibliografia geral

CASIMIRO, Isabel Maria. 2011. Mulheres em actividades geradoras de rendimentos


experienciam de Moçambique.

CASIMIRO, Isabel Maria e Amélia Neves De Souto. 2010. Emponderamneto


económico da mulher, movimento associativo e acesso a fundos de
desenvolvimento local

CUNHA, Teresa. 2011. A arte de xiticar num mundo de circunstâncias não ideia.
Edições Afrontamneto. Porto

PERFIL DISTRITAL de 2005, Ministério da Administração Estatal, Direcção Nacional


da Administração Local.

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