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Livro Eletrônico

Aula 01

Conhecimentos Específicos p/ DPE-RJ (Técnico Superior - Serviço Social) Pós-Edital

Professor: Rubens Mauricio Corrêa


Rubens Mauricio Corrêa
Aula 01

Aula 01

Pesquisa social e produção de


conhecimento em Serviço Social.

Assessoria e Supervisão em Serviço Social.

O projeto ético-político do Serviço Social.

Direitos humanos e Serviço Social.

Políticas sociais e relação Estado/sociedade.


Contexto atual e o neoliberalismo.

SUMÁRIO
1. Introdução ..................................................................................................................... 2
2. Pesquisa social e produção de conhecimento em Serviço Social .................................... 3
3. Assessoria, consultoria, auditoria e supervisão técnica em Serviço Social ...................... 6
3.1. As origens da temática assessoria/consultoria no Serviço Social .............................................. 6
3.1.1. Assessoria/Concultoria nos anos 1970 ................................................................................................................... 6
3.1.2. Assessoria/Concultoria nos anos 1980 ................................................................................................................... 7
3.1.3. Assessoria/Concultoria nos anos 1990 ................................................................................................................... 7
3.1.4. Assessoria/Concultoria nos anos 2000 ................................................................................................................... 7

3.2. Assessoria e consultoria na área do Serviço Social .................................................................... 8


3.2.1. As possibilidades de atuação profissional na área da assessoria ........................................................................... 9
3.2.2. Estratégias para o trabalho de assessoria/consultoria ......................................................................................... 11

4. O projeto ético-político do Serviço Social ..................................................................... 12


5. Direitos Humanos e Serviço Social ............................................................................... 22

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5.1. DIREITOS HUMANOS NA MODERNIDADE ................................................................................ 22


5.2. Direitos Humanos e o Serviço Social ........................................................................................ 23
6. Políticas sociais e relação Estado/sociedade. Contexto atual e o neoliberalismo ......... 24
6.1. Origem histórica da Política Social ........................................................................................... 24
6.2. A política social e o Estado capitalista e liberal ....................................................................... 27
6.3. Política Social e Democracia .................................................................................................... 28
7. Considerações Finais da Aula ....................................................................................... 32

1. INTRODUÇÃO
Olá Pessoal! Após nossa aula demonstrativa, onde fizemos as apresentações do professor, do
material e iniciamos o estudo de alguns temas do Serviço Social, vamos dar sequência ao nosso
curso, nos termos do edital.
Na presente aula vamos trabalhar, com foco na prova, os seguintes temas:
• Pesquisa social e produção de conhecimento em Serviço Social.
• Assessoria e Supervisão em Serviço Social.
• O projeto ético-político do Serviço Social.
• Direitos humanos e Serviço Social.
• Políticas sociais e relação Estado/sociedade. Contexto atual e o
neoliberalismo.
Aproveito a oportunidade para recomendar a leitura do meu artigo publicado em nosso site do
E àC à à áàá à àá àT -se de um breve relato, onde busco
passar aos candidatos um pouco da experiência adquirida nesses muitos anos da minha vida de
concursando, com valiosas dicas para sua preparação, tais como o uso de técnicas para a captação
da informação, aprofundamento do conhecimento, memorização e fixação.
Como poderão perceber, existe, em regra, um caminho longo a ser percorrido até a aprovação. No
entanto, quando o candidato começa a se preparar da forma correta, percorrerá este caminho em
linha reta, sendo esta, portanto, a menor distância até sua aprovação...
Na atual fase da preparação, sugiro enfaticamente que sejam utilizadas, durante a leitura, canetas
grifa-texto, com o objetivo de marcar as palavras-chave e trechos relevantes, segundo suas
necessidades e critérios de seletividade. Na próxima etapa, elas serão muito úteis na memorização
e fixação do conteúdo. Ao fim de cada capítulo, revise rapidamente todas as palavras-chave e
trechos marcados, por meio de uma leitura dinâmica, buscando na memória o conteúdo relacionado
com cada uma dessas palavras. Se a memória falhar, revise o conteúdo que não conseguir associar
aos respectivos conteúdos grifados. Em seguida, programe revisões destas marcações após 24h, 7
dias e 30 dias. Feitas algumas considerações iniciais, vamos iniciar a aula de hoje.

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2. PESQUISA SOCIAL E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM SERVIÇO SOCIAL


Para abordar o tema da Pesquisa Social, comumente é utilizado pelo Serviço Social a produção
de Maria Cecília de Souza Minayo, que vem se constituindo como importante referência para os/as
assistentes sociais brasileiros/as.
Para a autora, a pesquisa deve ser considerada como uma atividade básica para a Ciência,
à à à à à à àáà à à à à à à
à à à à à à à à à à à à à à à MINáYO à
1994, p. 17)
A autora ressalta ainda que a pesquisa embora seja uma prática teórica, ela é capaz de associar
à à àO à à à à à à à à à à à à
problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema à à à MINáYO à à à
17)
Considerando o exposto, compreende-se que toda investigação deve ser iniciada por meio de
um problema que apresente uma pergunta e que esta precisa estar vinculada a conhecimentos
prévios e que possivelmente será capaz de criar novos problemas, questionamentos, ou seja,
permitindo que se apresente como uma etapa. (MINAYO, 1994)
Desse modo, Minayo (1994) afirma que na articulação das problemáticas (anterior e nova) é
à à à àT à à à à à à à à à à à à
enquanto bases da ciência ocidental.
A autora ressalta que

A teoria é construída para explicar ou compreender um fenômeno, um processo ou um


conjunto de fenômenos e processos. Este conjunto citado constitui o domínio empírico
da teoria, pois esta tem sempre um caráter abstrato. (MINAYO, 1994, p. 18)

Portanto, conforme ressalta a autora, nenhuma teoria, por mais elaborada e desenvolvida
que ela se apresente, ela é capaz de todos os fenômenos e processos, afinal, o pesquisador terá a
capacidade apenas de recortar determinados aspectos da realidade para análise. (MINAYO, 1994)
Aprofundando melhor o entendimento, Minayo (1994) traz em seu livro que as teorias,
portanto, são capazes de apresentar explicações parciais de uma determinada realidade e para tanto
apresenta algumas funções, a saber:
a) colaboram para esclarecer melhor o objeto de investigação;
b) ajudam a levantar as questões, o problema, as perguntas e/ou as hipóteses com mais
propriedade;
c) permitem maior clareza na organização dos dados;

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d) e também iluminam a análise dos dados organizados, embora não possam direcionar
totalmente essa atividade, sob pena de anulação da originalidade da pergunta inicial.
(MINAYO, 1994, p. 18 -19)
Resumindo, a teoria se apresenta como um conhecimento que nos serve no processo de
investigação, sendo parte importante de todo o processo de pesquisa, auxiliando na orientação para
a aquisição de dados, informações, bem como auxiliando o pesquisador para a análise dos mesmos
e dos seus conceitos. (MINAYO, 1994)
A autora afirma ainda que para o processo de investigação é necessária a construção de um
sistema de pro à à à à à à à à à à
à àP à à à à à à à à à MINáYO à à
p.19)
Segundo Minayo (1994, p.19), as proposições de uma teoria precisam ainda apresentar três
à à à àà à à à à à à à à à à
à à à à à à à à à à
Já em relação aos conceitos, a autora afirma que as à à à à à
à à à à à à MINáYO à à à
O aspecto cognitivo, segundo a autora apresenta conceito delimitador. Para melhor compreensão,
Minayo exemplifica da seguinte forma:

Se decidimos analisar a influência da AIDS no comportamento de adolescentes do sexo


feminino de uma escola X, turma Y, eliminamos todas as outras possibilidades. Enquanto
valorativos, os conceitos determinam com que conotações o pesquisador vai trabalhar.
Ou seja, que corrente teórica adotará na interpretação do comportamento adolescente
e da AIDS, por exemplo. (MINAYO, 1994, p. 20)

Na função pragmática, a autora afirma que o conceito deve ser operativo, tendo a capacidade
de permitir que o investigador a utilize em uma possível pesquisa de campo. (MINAYO, 1994, p. 20)
E no caráter comunicativo, o conceito precisa se apresentar objetivo, compreensível,
específico e abrangente, de forma a que interlocutores de diversas áreas sejam capazes de se
relacionar com ele.
Minayo (1994) sinaliza ainda a importância da pesquisa qualitativa, afirmando que ela tem a
capacidade de responder a questões muito particulares e que

ela se preocupa nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais aprofundado das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis. (MINAYO, 1994, p. 21 -22)

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No tocante à pesquisa de viés quantitativo, esta

[...] recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno, as


relações entre variáveis, etc. A utilização conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa
permite recolher mais informações do que se poderia conseguir isoladamente. (FONSECA,
2002, p. 20)

Desse modo, considerando as características da pesquisa de cunho qualitativo e quantitativo,


M à à à à à à à à à -se no mundo dos significados das
ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e
àáà à à à à à à à à àse complementam, não havendo
oposição entre elas.
Cabe ressaltar que a Pesquisa Social e os elementos trazidos por Minayo (1994) permitem
qualificar a atuação profissional do/a assistente social, visto o caráter investigativo da profissão. A
esse respeito, Guerra (2009, p. 712) afirma que

[...] a investigação é inerente à natureza de grande parte das competências profissionais:


compreender o significado social da profissão e de seu desenvolvimento sócio-histórico,
identificar as demandas presentes na sociedade, realizar pesquisas que subsidiem a
formulação de políticas e ações profissionais, realizar visitas, perícias técnicas, laudos,
informações e pareceres sobre matéria do Serviço Social, identificar recursos. Essas
competências referem-se diretamente ao ato de investigar, de modo que, de postura a
ser construída pela via da formação e capacitação profissional permanente (cuja
importância é inquestionável), a investigação para o Serviço Social ganha o estatuto de
elemento constitutivo da própria intervenção profissional.

A esse respeito, Guerra (2009), afirma que o caráter investigativo da profissão é reforçado em
virtude do contato direto com a realidade social que comumente os/as assistentes sociais têm, por
meio dos instrumentais técnico operativos, tais como atendimentos a indivíduos e famílias, visitas
domiciliares, visitas institucionais, entrevistas, análises territoriais, mapeamentos, etc que realiza,
ou seja, a intervenção direta na realidade da população.
Para Guerra (2009), quando o Assistente Social realiza a atende um usuário, realiza uma visita
domiciliar, ele está obtendo informações diretas da realidade, portanto, fazendo uso da dimensão
investigativa da profissão.
P à à à à à à à à à à à à
à à à à à à à à à à à à à GUE‘‘á à à
p. 713)
Desse modo, compreende-se que o/a assistente social produz conhecimentos o tempo todo,
não somente de caráter acadêmico nas universidades, centros de pesquisa, mas cotidianamente no
seu espaço de trabalho.

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3. ASSESSORIA, CONSULTORIA, AUDITORIA E SUPERVISÃO TÉCNICA EM


SERVIÇO SOCIAL
A temática assessoria/consultoria no Serviço Social na atualidade é uma confluência das duas
incidências:
• demandas explícitas para esse trabalho para os(as) assistentes sociais;
• os(as) assistentes sociais, notadamente os(as) envolvidos(as) na docência, vêm buscando
espaços de assessoria.

Os que requisitam os profissionais de Serviço Social para assessoria/consultoria vêem neste sujeito
uma capacidade de conhecimentos a serem disponibilizados, em geral sobre políticas sociais e na
área de mobilização social. E os profissionais de Serviço Social que buscam a assessoria/consultoria,
identificam esse espaço como propício para a efetivação do atual projeto de formação profissional
do assistente social ou como uma alternativa de trabalho.

3.1. AS ORIGENS DA TEMÁTICA ASSESSORIA/CONSULTORIA NO SERVIÇO SOCIAL

A recorrência ao tema assessoria/consultoria no Serviço Social não é tão recente. A temática no


Serviço Social sempre esteve ligada a busca de uma nova possibilidade de atuação profissional, para
além das ações profissionais classicamente desenvolvidas pelo Serviço Social (intervenção junto aos
usuários dos serviços sociais e políticas sociais públicas ou privadas).

3.1.1. Assessoria/Concultoria nos anos 1970

A remota produção dos anos de 1970 apresenta a assessoria como uma estratégia de atuação que
visa à superação da tricotomia de intervenção, à época, do Serviço Social: caso, grupo e comunidade.
Aponta para a riqueza da atuação profissional na assessoria, mas já indica a nebulosa compreensão
do que seja assessoria, a partir de entrevistas com assistentes sociais que se julgam assessores.

O estudo conclui que na realidade poucas dessas atuações são de assessoria e o que há é
uma adoção dessa nomenclatura devido ao status que a mesma disponibiliza
(VASCONCELLOS; SAVOY; GUIRADO; 1977).

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3.1.2. Assessoria/Concultoria nos anos 1980

Os anos de 1980 apresentam duas importantes questões para o estudo do tema. O primeiro é o
artigo sobre assessoria escrito por Balbina Ottoni Vieira (1981) e inserido em seu segundo livro sobre
supervisão. Esse artigo, escrito em pressupostos do estrutural-funcionalismo, trata da importância
da assessoria para assistentes sociais. A segunda questão é a experiência, vivenciada por vários
cursos de Serviço Social no Brasil, da criação de campos próprios de estágio junto aos movimentos
sociais. Esses trabalhos, mesmo que na época não seja ainda uma assessoria, face à nebulosa relação
entre exercício profissional e prática política, foram os percussores das atividades de assessoria que
hoje os assistentes sociais desenvolvem no campo das políticas sociais.

3.1.3. Assessoria/Concultoria nos anos 1990

Os anos de 1990 apresentam um boom da temática assessoria, que está ligado a duas questões. A
primeira pela conjuntura de reestruturação produtiva e reforma do aparelho do Estado que exigiu a
reorganização das instituições. Nesse processo, o conhecimento do Serviço Social foi solicitado (o
que demonstra o reconhecimento acadêmico da profissão) e disponibilizado, tanto na perspectiva
da busca da garantia dos direitos da população usuária, como ao contrário com vistas a contribuir
para aprofundamento da redução de direitos que a citada reforma e a reestruturação produtiva
promoveram. Aqui também há indícios de um elogio inocente dos assistentes sociais ao seu trabalho
de assessoria sem perceber que o deslocamento do seu exercício profissional, sem a sua substituição
por outro profissional da área, era prejudicial para a população usuária. Por outro lado, fruto do
mesmo reconhecimento acadêmico, há importantes experiências de assessorias a implementação
das políticas sociais pós Constituição Federal de 1988. Quanto à realização dos campos próprios de
estágio, há uma brusca redução destes na maioria dos cursos de Serviço Social do Brasil, fruto da
releitura do Serviço Social sobre a factibilidade destes e, em especial, do desfinanciamento da
extensão nas universidades. Produção importante sobre o tema é o artigo de Vasconcelos (1998).

3.1.4. Assessoria/Concultoria nos anos 2000


Nos anos 2000, a temática assessoria/consultoria continua presente em iniciativas profissionais, mas
ainda pouco problematizadas sobre o que sejam esses processos. Identificam-se experiências de
assessoria com diferentes perspectivas políticas. Importante se atentar para o grande crescimento
dos cursos privados de Serviço Social e a estratégia destes na construção de campos próprios, dada
a impossibilidade de inserirem o grande número de alunos que têm nas instituições onde atuam os
profissionais de Serviço Social nas diferentes cidades brasileiras. Emerge, então, nesse período,
textos que se intitulam sobre assessoria, mas que na sua maioria são problematizações ou relatos
sobre trabalhos, na sua maioria pontuais, junto a comunidades, movimentos sociais ou entidades de
trabalhadores, frutos dessas experiências universitárias.

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Enfim, pelo que foi visto podemos observar que a temática vem sendo tratada no Serviço Social,
contudo não há uma clareza sobre o que seja. Historicamente, o exercício de assessoria está ligado
ao status que essa função tem, que está ligado ao reconhecimento intelectual que se dispensa ao
assessor. Consideramos importante a clareza do que seja assessoria/consultoria, não como uma
forma de supremacia desta. Ao contrário, para que não caiamos no modismo e neguemos outras
ações profissionais também importantes, como o trabalho com comunidades, com movimentos
sociais e a importância da supervisão de programas e de profissionais.

3.2. ASSESSORIA E CONSULTORIA NA ÁREA DO SERVIÇO SOCIAL

A bibliografia do Serviço Social brasileiro sobre assessoria/consultoria é recente e marcada, na sua


maioria, por reflexões sobre experiências de assessoria. Essas reflexões, geralmente ricas, são
marcadas por uma imprecisão sobre o tema e pela ausência de referência teórica sobre o assunto.
Percebemos, em geral, uma nebulosa compreensão de assessoria, ora entendida como a supervisão
profissional, ora como trabalho interventivo junto a comunidades ou movimentos sociais, ora como
militância política. Longe de isso ser uma mera questão epistemológica, entendemos como
importante a desvelação do que estamos, na categoria profissional, chamando de
assessoria/consultoria.
Se observarmos a origem da palavra (FERREIRA, 1999), podemos entender que assessoria é aquela
ação que visa auxiliar, ajudar, apontar caminhos. Não sendo o assessor um sujeito que opera a ação
e sim o propositor desta, junto a quem lhe demanda esta assessoria.

Assim, definimos assessoria/consultoria como aquela ação que é desenvolvida por um


profissional com conhecimentos na área, que toma a realidade como objeto de estudo e
detém uma intenção de alteração da realidade. O assessor não é aquele que intervém,
deve, sim, propor caminhos e estratégias ao profissional ou à equipe que assessora e
estes têm autonomia em acatar ou não as suas proposições. Portanto, o assessor deve
ser alguém estudioso, permanentemente atualizado e com capacidade de apresentar
claramente as suas proposições. (MATOS, 2006, p.).

A distinção entre assessoria e consultoria é mínima. Consultoria vem da palavra consultar, que
significa pedir opinião. Portanto, consultoria é mais pontual que assessoria que remete a ideia de
assistir. Vale trazer aqui a definição de Vasconcelos (1998):

Frequentemente para que uma equipe ou assistente social solicite um processo de


consultoria, é necessário que já tenha passado, ainda que precariamente, pela elaboração
de um projeto de prática, objetivando, com a consultoria, respostas para algumas
questões pontuais que dificultam o encaminhamento do mesmo (VASCONCELOS, 1998,
p. 128).

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Os processos de assessoria são também solicitados tanto por uma equipe como por indicação
externa, mas neles nos deparamos com uma realidade diferente.

As assessorias são solicitadas ou indicadas, na maioria das vezes, com o objetivo de


possibilitar a articulação e preparação de uma equipe para a construção do seu projeto
de prática por meio de um expert que venha assisti-la teórica e tecnicamente
(VASCONCELOS, 1998, p. 129).

Uma vez definido o que seja assessoria e consultoria, passaremos aqui a chamar atenção para
algumas iniciativas que se apresentam como assessoria/consultoria, mas não são.

Como a supervisão profissional caiu em desuso no Serviço Social desde os anos de 1970, a
assessoria/consultoria tem sido utilizada como sinônimo. Contudo, como já apontava Vieira, não é:

O que distingue assessoria da supervisão é sua natureza temporária, eventual (o


supervisado procura o assessor quando precisa) e ampla liberdade do assessorado em
aceitar ou não, em seguir ou não as indicações do assessor. Mais do que supervisor,
assessor tem uma autoridade de à à à à à à o à VIEIRA,
1981, p. 108).

3.2.1. As possibilidades de atuação profissional na área da assessoria


A assessoria, mesmo que na Universidade encontre seu espaço privilegiado de trabalho, pode ser
desenvolvido pelos assistentes sociais no conjunto das atribuições que desenvolvem nos seus locais
de trabalho. A formação profissional e a experiência possibilitam, especialmente, um domínio sobre
as políticas sociais e de práticas educativas com a população.
Se observarmos a atual lei de regulamentação da profissão, Lei n. 8.662/1993, poderemos identificar
o exercício da assessoria/consultoria como uma atribuição privativa do assistente social e também
como uma competência desse profissional:
Art. 4º Constituem competência do Assistente Social:
(...)
VIII prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e
outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo2;
IX prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício
e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;
(...)

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A 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social:


(...)
III assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras
entidades, em matéria de Serviço Social.
(...)

A partir disso temos trabalhado com a perspectiva de que existem na atualidade três
frentes de assessoria, em potencial, a serem desenvolvidas e/ou aprofundadas pelos
profissionais de Serviço Social (MATOS, 2006).

No campo das atribuições privativas identificamos como importante reforçar e ampliar as atividades
de assessoria dos assistentes sociais aos profissionais da mesma profissão. Essa frente de assessoria
visa qualificar a intervenção profissional e traz o compromisso, em tese, da Universidade com a
formação profissional continuada dos assistentes sociais.
Análise relevante sobre essa frente de assessoria é desenvolvida por Vasconcelos (1998). A partir de
uma reflexão sobre a dicotomia entre teoria e prática na profissão e preocupada com a viabilização
de um projeto profissional competente, e que se posicione contra o avanço do projeto neoliberal, a
autora propõe como caminho uma articulação concreta entre a Academia e o meio profissional. Para
tanto, segundo a autora, se faz necessário romper com o raciocínio, na profissão, de que em um
espaço se elabora teoricamente e, em outro, se aplica/intervém. É nessa perspectiva que a autora
propõe como caminho a assessoria e/ou consultoria como uma estratégia possível.

Na perspectiva de Vasconcelos, a assessoria/consultoria seria um desdobramento de uma


relação mais próxima entre a Academia e o meio profissional, por meio da disciplina
estágio supervisionado . Pois é no trabalho de supervisão que os docentes envolvidos
tomam contato com a realidade institucional e, a partir daí, podem pensá-la e
problematizá-la. E também nesse processo é possível ao assistente social tomar contato
(e interagir) com o debate posto na Academia.

Almeida (2006) trata da experiência de assessoria aos profissionais de Serviço Social por meio da
disciplina estágio supervisionado articulada ao projeto de extensão que coordena. Interessante,
porque nessa sua proposta os alunos de Serviço Social integram junto com o autor a equipe de
assessoria.
No campo das competências profissionais identificamos duas frentes de assessoria/consultoria:
• a assessoria à gestão das políticas sociais: atualmente, várias são as experiências de
assessoria prestada por assistentes sociais aos diferentes sujeitos envolvidos nesta área,
como por exemplo: aos gestores públicos, privados e filantrópicos; aos conselhos
tutelares, conselhos de direitos e de políticas; aos profissionais que atuam nos setores

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públicos e privados; aos movimentos sociais; entre outros. Sobre essa frente é
importante que os integrantes da categoria profissional tenham clareza dos objetivos e
intenções dessa demanda. Importante reflexão, sobre os contraditórios interesses de
assessoria, é desenvolvida por Freire (2006), por meio da sua experiência de assessoria
a empresas, gestores e trabalhadores.

• a assessoria a organização política dos usuários: essa rica frente pode ser desenvolvida
no bojo das atividades que os profissionais de Serviço Social desenvolvem nos seus
locais de trabalho. Para tanto, faz-se necessário que as equipes de Serviço Social
desenvolvam um profundo debate sobre o seu exercício trabalho profissional, na
perspectiva do trabalho coletivo, para que a assessoria não vire um -trabalho à à
nem consista em uma ação episódica. Essa frente de assessoria pode vir a possibilitar
uma contribuição concreta da categoria, por meio do seu exercício profissional, para a
rearticulação e/ou fortalecimento dos movimentos sociais.

3.2.2. Estratégias para o trabalho de assessoria/consultoria

O primeiro ponto a ser tratado pelos assessores é o desvelamento do porque da assessoria. Em geral,
uma assessoria quando é solicitada é porque o profissional, a equipe ou movimento social identifica
a necessidade de alguma mudança. Por isso Vieira (1981), na concepção tradicional, trata da
importância da assessoria na mudança de hábitos e depois de congelamento das ações julgadas
corretas para aquelas equipes que se assessora. Assim, o assessor propõe a solução, por meio da
correção de problemas.
Contudo, a assessoria pode ser entendida como um processo que gera mudança, mas a partir de
uma relação em que assessores e assessorados possuem distintas contribuições a serem dadas. Isso
fica claro no texto de Vasconcelos (1998) quando a autora propõe que a Universidade desenvolva
assessoria as equipes de Serviço Social por meio do estágio supervisionado.
A assessoria não deve ser apenas para aqueles sujeitos ou equipes com problemas e sim um
processo, que pode ser continuado, de aperfeiçoamento da ação desenvolvida pelos assessorandos.
O assessor, na sua privilegiada posição de agente externo e a partir da sua capacidade profissional,
pode contribuir apontando caminhos e auxiliando na desvelação de questões que a equipe e o
profissional, sozinhos, não podem identificar.
Esse processo de estudo da realidade pode ser desenvolvido por meio de diferentes procedimentos.
Vasconcelos (1998), pensando em equipes de Serviço Social, propõe alguns eixos que, acreditamos,
também podem contribuir para outras frentes de assessoria, que são:
• conhecimento do estágio da equipe quanto à projeção do espaço profissional e dos seus
registros de prática (relatórios, artigos, estatísticas etc.);
• qual o tipo de relação eventual ou não com a Academia;
• expectativas da equipe sobre a assessoria/consultoria;
• qual o tempo disponível para as atividades que envolvam projetar, sistematizar e
analisar o fazer profissional;

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• o número de profissionais interessados na assessoria versus o contingente total de


profissionais;
• a inserção quantitativa e qualitativa dos profissionais nos projetos;
• a existência de recursos institucionais destinados à realização de cursos, pesquisas,
levantamentos, aquisição de bibliografia etc.

Uma vez definidos os pressupostos da assessoria, cabe o início do processo em si. Essa etapa,
talvez a mais importante, é a operacionalização das intenções. É preciso ter claro que o assessor não
é um porta-voz do que deve ou não ser feito. Não está em cena aqui a figura de um assessor que
estuda a realidade, ouve e acolhe as sugestões de quem o contratou, que propõe alterações do fluxo
de trabalho e depois busca convencer a quem assessora congelar as suas ações, para que assim
possa ter o perfeito desempenho.
Ao contrário, o processo de assessoria é cotidianamente construído com os sujeitos fundamentais
os assessorados e estes têm autonomia em acatar ou não as proposições da assessoria. Esse
processo deve ser franco e aberto, por ambos os lados. O assessor é um sujeito propositivo, mas que
só terá êxito nesta atividade se tiver interlocução com quem assessora. Para tanto, fundamental é a
adoção de estratégias de trabalho participativas.
Uma vez atingido o objetivo, principal ou não, da assessoria, esta necessariamente não se acaba.
Entendemos que o processo pode ter continuidade ou não. Afinal, na nossa concepção não está em
cena uma adaptação a um modelo ideal de atuação. A realidade é dinâmica e apresenta
permanentemente desafios, que podem ser melhor encarados por meio da troca de conhecimentos
que a assessoria propicia. Importantes espaços para isso são as avaliações que devem ser
periodicamente realizadas.

4. O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL


Conforme já estudamos, o serviço social no Brasil, ao longo do tempo, terminou por transformar o
objeto de sua atuação, isto é, o oficio apresentou respostas, segundo as demandas factuais que lhes
iam sendo apresentadas.
Desta forma, compreende-se que os assistentes sociais no Brasil, a partir da década de 1980,
orientam sua atuação com o intuito de fortalecer as lutas da classe trabalhadora.
Neste contexto, a práxis profissional termina por ser perpassada em algumas de suas dimensões.
Senão vejamos, direcionar sua atuação com um fim específico, pede que o profissional do Serviço
Social tenha uma compreensão da dimensão política e interventiva que abarcam tal escopo de
atuação. Isto quer dizer que, para compreender a prática de sua própria profissão, faz-se mister
inseri-la no contexto das relações entre as classes sociais e destas com o ambiente laboral, bem
como, compreender seus mecanismos intrínsecos de poder econômico, político e cultural, sem,
contudo, perder de vista as particularidades de sua profissão, a qual, por sua vez, não deixa de estar
inserida em uma divisão social e técnica de trabalho.

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Na nossa sociedade (em essência, capitalista), a divisão do trabalho é técnica, além de ser, também
por essência, social.
É social na medida em que cada um ocupa um determinado lugar no processo de produção, em
sentido amplo. E que tais locais são interdependentes. Por outro lado, não deixa de ser técnica no
que tange ao tipo de trabalho é realizado, ou seja, material ou intelectual.
Tudo isso se relaciona com o lugar no qual determinada profissão se encontra na especialização do
trabalho coletivo. Na nossa sociedade (de classes), devido à diversidade de interesses, tanto
individuais, como de grupos, é natural que surjam projetos societários dos mais diversos, inclusive
podendo se contrastar ou mesmo serem antagônicos.
Tratam-se de são projetos que trazem consigo diferentes concepções da própria sociedade e, por
conseguinte, do homem.
Nada obstante, os projetos profissionais, por sua própria natureza, não são construídos de maneira
independentes dos projetos societários, uma vez que lhe serve de meta, objetivos com finalidades
próprias. Como dissemos, há uma interdependência.
Dentro deste universo, os projetos ético-político profissionais (dentro dos quais o assistente social
está inserido) representam desdobramentos de uma visão mais crítica da sociedade, em sentido
amplo. Bem como, de uma visão, autocrítica, da própria profissão, conforme ocorreu a partir da
década de 60, com o movimento de Reconceituação do Serviço Social latino-americano, como vimos
anteriormente. Por sua vez, isso também está intimamente relacionado com a estrutura
macrossocietária, uma vez que a própria história da profissão está vinculada a um contexto de
grande recusa e crítica aos métodos conservadores e tradicionais, os quais historicamente
perpassam por ela.
Durante o terceiro Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, ocorrido no ano de 1979, na cidade
de São Paulo, a categoria profissional passou a legitimar uma nova direção ética, teórica e prática.
Notem a questão ética, totalmente ligada a reflexões sobre um contexto que não foge à moral.
“ à à à à à à à C à àV à à à
marco desta intenção de ruptura, uma das direções do processo de renovação do serviço social
brasileiro.
A partir deste Congresso foi estabelecido um amplo processo de mudança dentro da profissão,
cabendo destacar:
• a maior vinculação com a classe trabalhadora;
• laicização e ampliação do escopo da profissão;
• inserção acadêmica e científica da profissão;
• maior militância política contra a ditadura;
• a criação de uma proposta metodológica no campo do trabalho;
• amplo desenvolvimento organizativo das entidades como conselhos regionais e conselho
Federal;
• consequentes mudanças no perfil profissional.

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Apesar de todas essas transformações, o efetivo desenvolvimento do projeto profissional vinculado


à classe trabalhadora e a superação de uma hegemonia burguesa, beirando a intransigência, só
ocorreu na década de noventa, depois de um significativo acúmulo, por assim dizer, filosófico da
categoria nas bases de formação e de sua atuação profissional.
É que mudanças desta magnitude, que trazem consigo uma mudança de mentalidade, sempre
ocorrem de maneira lenta, dentro da história da humanidade.
De fato sua concretização só se tornou uma realidade depois de um redimensionamento dentro do
ensino, quando se introduz conteúdos que vislumbravam uma formação profissional, com
fundamentos para responder às demandas sociais existentes neste novo contexto, isto é, quando,
de fato, a sociedade assume uma postura crítica frente à realidade, buscando a ressignificação das
práticas interventivas tradicionais com a incorporação de um viés teórico-metodológico, por que
não dizer, inspirado na tradição marxista.
Muitos debates sobre este projeto ético-político oriundo do serviço social têm sido recorrentes no
meio acadêmico e em espaços de intervenções profissionais.
Tudo isso ocorre frente à uma necessidade de um exercício profissional direcionado à construção de
uma ordem social que, conforme alguns autores estudiosos do tema, tratar-se-ia de uma sociedade
sem exploração/dominação de classe, etnia, gênero, o que terminaria por ser um posicionamento
favorável à consolidação da democracia.
Apenas a título de um breve aprofundamento, quando falamos em um projeto ético-político,
referimo-nos a uma projeção, um anseio manifestado por toda a sociedade, o que envolve sujeitos
individuais e coletivos, em torno de uma determinada valoração, por assim dizer, ética, a qual
termina por estar vinculada aos projetos societários.
Dentro deste contexto, é importante compreender que os projetos profissionais não somente estão
relacionados com os projetos societários, mas como podem (e deveriam) estar em concordância
com estes.
Interessante notar que existe a possibilidade da elaboração destes projetos, por alguns autores
chamados de contra-hegemônico (isto é, que de certa forma aliam interesses societários com
profissionais), projetos estes que, portanto, estariam intimamente vinculados a um projeto de
transformação da sociedade.
Nada obstante, estes projetos, mesmo que não totalmente concordantes, podem coexistir, na
medida em que tem por base a implementação de valores eticamente aceitos.
Em síntese, os projetos coletivos societários ou profissionais deveriam sempre dizer respeito à
escolha de valores, condições objetivas, intencionalidades e meios para alcançá-las, dentro das
reflexões éticas.
Para alguns autores, no âmbito da categoria profissional de Serviço Social, os projetos ético-políticos
apresentam- à à à à à à à à à à à
medida em que a sua concretização ocorre por componentes jurídicos, técnicos e éticos, os quais
terminam por direcionar o próprio fazer profissional.
Os projetos profissionais do Serviço Social apresentariam, portanto, a auto-imagem de uma
profissão, na medida em que:

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• Elegem seus próprios valores (que o legitimam perante a sociedade);


• Delimitam, bem como priorizam seus objetivos e funções;
• Desenvolvem os requisitos teóricos e práticos do oficio;
• Prescrevem normas para o comportamento dos profissionais;
• Estabelecem bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras
profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado).

Na busca pela realização deste projeto ético-político-profissional, estudiosos no assunto ressaltam


a importância da constante afirmação dos princípios e valores elencados no Código de Ética
Profissional de 1993, por se tratar de um reconhecimento à liberdade, à autonomia e à emancipação
da categoria e suas questões centrais.
Além disso, tal código representa uma árdua conquista de direitos sociais, defesa dos direitos
humanos, por sua vez, contrário ao autoritarismo bem como quaisquer tipos de arbítrio.
Ainda defendem os estudiosos o contínuo aprofundamento e a investigação, na medida em que
consolidam a cidadania e da democracia, bem como, defendem a socialização da participação, do
acesso a bens e serviços por todos.

Entre outros valores, preconiza-se dentro do projeto da categoria:


• Posicionamento a favor da equidade e da justiça social;
• Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito;
• Garantia do pluralismo;
• Compromisso com a qualidade dos serviços prestados na articulação com outros
profissionais.

Tais princípios estão intimamente ligados à própria Lei 8.662 de 1993, a qual regulamenta a profissão
de assistente social e também dá as Diretrizes Curriculares da ABEPSS de 1996.
Estes podem ser considerados o arcabouço jurídico específico, que dá uma base legal para a
constituição do projeto ético-político do Serviço Social brasileiro, uma vez que determinam e
fundamentam a formação e o trabalho destes profissionais.
Importante frisar a importância em debater o projeto ético-político do serviço social no Brasil na
medida em que, que dada a sua característica de projeto contra-hegemônico, trata-se de um grande
desafio, no que diz respeito a sua consolidação, uma vez que o cenário socioeconômico dentro do
qual ele está inserido não é um local onde tendências contestatórias ao padrão de acumulação
capitalista são os mais bem vindos.
É possível identificar fortes dilemas acerca da efetivação do projeto ético-político, pois, dentro da
própria categoria há posicionamentos otimistas acerca do mesmo, mas também há quem apresenta

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obstáculos quanto a sua efetivação. Claro que este debate é saudável, desde que se chegue a
consensos de caminhos a seguir.
Importante comentarmos que, neste contexto, destacam alguns estudiosos que talvez tal projeto
seja menos um projeto ético-politico que balize a formação e o exercício dos profissionais e mais
uma pretensão imprecisa, duvidosa, e mesmo de incipiente clareza, que se expressam frases de
muito efeito e de pouca consistência.
De fato, pode-se observar recentemente grandes obstáculos à materialização do projeto ético-
politico do serviço social, na medida em que um pensamento neoliberal, que termina por preconizar
um mercado de consumo, um individualismo possessivo, os quais sobrepõem as reais prioridades
humanas e sociais, terminando por ampliar assim desigualdades pela concentração de renda, poder,
e mesmo ciência e cultura.
Isto posto, verifica-se claramente que é imprescindível fomentarmos as discussões acerca do projeto
ético-político, principalmente dentro de um cenário de tensões e contradições da nossa sociedade
contemporânea.
A despeito de sua importância significativa, é importante desmistificarmos que tal projeto (e mesmo
o Código referido) não se trata de um documento pronto, um guia sistematizado, que o profissional
irá receber após sua formação ou após efetivar sua inscrição no conselho regional. Tal projeto
pressupõe a construção de estratégias de implementação, intervenções mesmo, capazes de se
contrapor, de forma inabalável, à ordem social atual.
Trata-se o projeto de um valioso aporte teórico, ético e político para a construção de uma sociedade
diferente da capitalista, sem menosprezar suas qualidades, mas sem fechar os olhos aos seus
defeitos.
Cumpre, por fim, frisar que a efetivação do projeto somente se viabilizará na medida em que houver
uma real articulação da teoria com a realidade. Neste sentido, afirmam os estudiosos que há uma
importante necessidade de maior apropriação dos princípios do Código de Ética profissional como
basilares da atuação profissional entendendo que exige-se não apenas uma implementação de
variados documentos políticos e legais afeitos à profissão, mas também, a avaliação de questões
culturais, políticas e econômicas, as quais transcendem os projetos coletivos e societários.
Na introdução deste texto assinalamos que se o debate acerca do projeto ético-político é, nestes
termos, muito recente, a sua história remonta à transição dos anos setenta aos oitenta do século
passado. Com efeito, foi naqueles anos que a primeira condição para a construção deste novo
projeto se viabilizou: a recusa e a crítica ao conservadorismo profissional. É claro que a denúncia do
conservadorismo do Serviço Social não surgiu repentinamente na verdade, desde a segunda
metade dos anos sessenta (quando o Movimento de Reconceituação, que fez estremecer o Serviço
Social na América Latina, deu seus primeiros passos), aquele conservadorismo já era objeto de
problematização. O trânsito dos anos setenta aos oitenta, porém, situou esta problematização num
nível diferente na escala em que coincidiu com a crise da ditadura brasileira, exercida, desde 1º de
abril de 1964, por uma tecnoburocracia civil sob tutela militar a serviço do grande capital.
A resistência à ditadura, conduzida no plano legal por uma frente de oposição hegemonizada por
segmentos burgueses descontentes, ganhou profundidade e qualidade novas quando, na segunda
metade dos anos setenta, a classe trabalhadora se reinseriu na cena política, por meio da

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mobilização dos operários métalo-mecânicos do cint à à à“ àP à à áBCà à


A partir de então, a ditadura que promovera a modernização conservadora do país contra os
interesses da massa da população, valendo-se, inclusive, do terrorismo de Estado foi levada, de
derrota em derrota, à negociação com a qual, culminando na eleição indireta de Tancredo Neves
(1985), concluiu seu ciclo desastroso.
A primeira metade dos anos oitenta assistiu à irrupção, na superfície da vida social brasileira, de
demandas democráticas e populares reprimidas por largo tempo. A mobilização dos trabalhadores
urbanos, com o renascimento combativo da sua organização sindical; a tomada de consciência dos
trabalhadores rurais e a revitalização das suas entidades representativas; o ingresso, também na
cena política, de movimentos de cunho popular (por exemplo, associações de moradores) e
à à à à à à à à à à à à à
do protagonismo de setores intelectuais; a reafirmação de uma opção democrática por segmentos
da Igreja católica e a consolidação do papel progressista desempenhado por instituições como a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) tudo isso pôs na
agenda da sociedade brasileira a exigência de profundas transformações políticas e sociais.
É neste contexto que o histórico conservadorismo do Serviço Social brasileiro, tantas vezes reciclado
e metamorfoseado, confrontou-se pela primeira vez com uma conjuntura em que a sua dominância
no corpo pr à à à à à à à à à à à à
reconhecer-se como inserido no conjunto das camadas trabalhadoras) podia ser contestada uma
vez que, no corpo profissional, repercutiam as exigências políticas e sociais postas na ordem do dia
pela ruptura do regime ditatorial.
A luta pela democracia na sociedade brasileira, encontrando eco no corpo profissional, criou o
quadro necessário para romper com o quase monopólio do conservadorismo no Serviço Social: no
processo da derrota da ditadura se inscreveu a primeira condição a condição política para a
constituição de um novo projeto profissional.
Como todo universo heterogêneo, o corpo profissional não se comportou de modo idêntico. Mas as
suas vanguardas, na efervescência democrática, mobilizaram-se ativamente na contestação política
à àIIIàC àB à àá à“ à à à à àC à à
à à à à à à à à -se ao movimento dos
trabalhadores e, rompendo com a dominância do conservadorismo, conseguiram instaurar na
profissão o pluralismo político, que acabou por redimensionar amplamente não só a organização
profissional (dando vida nova, por exemplo, a entidades como a ABESS depois renomeada ABEPSS
e, posteriormente, ao CFESS) como, sobretudo, conseguiram inseri-la, de modo inédito, no marco
do movimento dos trabalhadores brasileiros, como ficou constatado na análise de Abramides e
Cabral (1995).
A luta contra a ditadura e a conquista da democracia política possibilitaram o rebatimento, no
interior do corpo profissional, da disputa entre projetos societários diferentes, que se confrontavam
no movimento das classes sociais. As aspirações democráticas e populares, irradiadas a partir dos
interesses dos trabalhadores, foram incorporadas e até intensificadas pelas vanguardas do Serviço
Social. Pela primeira vez, no interior do corpo profissional, repercutiam projetos societários distintos
daqueles que respondiam aos interesses das classes e setores dominantes. É desnecessário dizer

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que esta repercussão não foi idílica: envolveu fortes polêmicas e diferenciações no corpo profissional
o que, por outra parte, é uma saudável implicação da luta de ideias.
Tal repercussão foi favorecida, ademais, pelas modificações ocorridas no próprio corpo profissional
(seu aumento quantitativo, a presença crescente de membros provenientes das novas camadas
médias urbanas etc.). No entanto, para a constituição de um novo projeto profissional, a condição
política, primeira e necessária, não é suficiente outros componentes deveriam comparecer para
que ele tomasse forma.
Ainda nos anos setenta, quando, como resultado da Reforma Universitária imposta pela ditadura, o
Serviço Social legitimou-se no âmbito acadêmico, surgiram os cursos de pós-graduação (primeiro os
mestrados e depois, nos anos oitenta, os doutorados; também foram fomentadas as
especializações).
É nos espaços da pós-graduação, cujos primeiros frutos se recolhem no trânsito dos anos setenta
aos oitenta, que, no Brasil, se inicia e, nos anos seguintes, se consolida a produção de conhecimentos
a partir da área de Serviço Social então, o corpo profissional começou a operar a sua acumulação
teórica. Um balanço desta produção mostra que, apesar de muito desigual, ela engendrou uma
massa crítica considerável, que permitiu à profissão estabelecer uma interlocução fecunda com as
ciências sociais e, sobretudo, revelar quadros intelectuais respeitados no conjunto do corpo
profissional e, também, em outras áreas do saber.
Observe-se que a expressão massa crítica refere-se ao conjunto de conhecimentos produzidos e
acumulados por uma determinada ciência, disciplina ou área do saber. O Serviço Social é uma
profissão uma especialização do trabalho coletivo, no marco da divisão sócio-técnica do trabalho
-, com estatuto jurídico reconhecido (Lei 8.669, de 17 de junho de 1993); enquanto profissão, não é
uma ciência nem dispõe de teoria própria; mas o fato de ser uma profissão não impede que seus
agentes realizem estudos, investigações, pesquisas etc. e que produzam conhecimentos de natureza
teórica, incorporáveis pelas ciências sociais e humanas. Assim, enquanto profissão, o Serviço Social
pode se constituir, e se constituiu nos últimos anos, como uma área de produção de conhecimentos,
apoiada inclusive por agências públicas de fomento à pesquisa (como, por exemplo, o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq).
Na acumulação teórica operada pelo Serviço Social é notável o fato de, naquilo que ela teve e tem
de maior relevância, incorporar matrizes teóricas e metodológicas compatíveis com a ruptura com
o conservadorismo profissional nela se empregaram abertamente vertentes críticas,
destacadamente as inspiradas na tradição marxista. Isto significa que, também no plano da produção
de conhecimentos, instaurou-se um pluralismo que permitiu a incidência, nos referenciais cognitivos
dos assistentes sociais, de concepções teóricas e metodológicas sintonizadas com os projetos
societários das massas trabalhadoras (ou seja: de concepções teóricas e metodológicas capazes de
propiciar a crítica radical das relações econômicas e sociais vigentes). À quebra do quase monopólio
do conservadorismo político na profissão seguiu-se a quebra do quase monopólio do seu
conservadorismo teórico e metodológico.
Concomitantemente e este componente atravessará os anos oitenta e permanecerá na agenda
profissional ao largo da década seguinte -, ganhou peso o debate sobre a formação profissional: a
reforma curricular de 1982 foi precedida e sucedida por amplas e produtivas discussões, fortemente
estimuladas pela antiga ABESS.

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Todos os esforços foram dirigidos no sentido de adequar a formação profissional, em nível de


graduação, às novas condições postas seja pelo enfrentamento, num marco democrático, da
à à à à à à à à à à à à à
em crescimento poderia atender.
Em poucas palavras, entrou na agenda do Serviço Social a questão de redimensionar o ensino com
vistas à formação de um profissional capaz de responder, com eficácia e competência, às demandas
tradicionais e às demandas emergentes na sociedade brasileira em suma, a construção de um novo
perfil profissional.
O exame da rica documentação produzida no período (por exemplo, Carvalho et alii, 1984 e
Carvalho, in ABESS, 1993) mostra a pertinência do debate então em curso para os dias atuais.
Por outra parte, a verdade histórica exige que se assinale o papel de vanguarda que, à época, foi
desempenhado pela Faculdade de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
formulando uma pioneira e exitosa proposta de revisão curricular, que constituiu uma referência
nacional (Yazbek, org., 1984).
É neste processo que foram ressignificadas modalidades prático-interventivas tradicionais e
emergindo novas áreas e campos de intervenção, com o que se veio configurando, numa dinâmica
que está em curso até hoje, um alargamento da prática profissional, crescentemente legitimado seja
pela produção de conhecimentos que a partir dela se elaboram, seja pelo reconhecimento do
exercício profissional por parte dos usuários.
Este movimento não se deve unicamente à requalificação da prática profissional (graças à
acumulação de massa crítica e ao redimensionamento da formação), mas, também e sobretudo, à
conquista de direitos cívicos e sociais que acompanhou a restauração democrática na sociedade
brasileira assim, por exemplo, práticas interventivas com determinadas categorias sociais
(crianças, adolescentes, idosos etc.) só se puderam viabilizar institucionalmente porque receberam
respaldo jurídico-legal.
Em síntese, foram estes os principais componentes que, a partir da quebra do quase monopólio do
conservadorismo na profissão, se conjugaram para propiciar a construção do projeto ético-político
do Serviço Social no Brasil. Como se pode inferir desta argumentação, tais componentes foram se
gestando ao longo dos anos oitenta e estão em processamento até hoje.
Ainda nos anos oitenta, as vanguardas profissionais procuraram consolidar estas conquistas com a
formulação de um novo Código de Ética Profissional, instituído em 198616. Até então, o debate da
ética no Serviço Social não era um tema privilegiado é na sequência do Código de 1986, e após a
sua revisão, concluída em 1993, que este tema ganhará relevo significativo, de que será mostra
expressiva a pesquisa de Barroco (2001), precedida de uma discussão cuja documentação foi
relativamente parca (Bonetti et alii, 1996 e Iamamoto, 1998: 140-148).
A reduzida acumulação no terreno da reflexão ética comprometeu o Código de 198617. Seus
indiscutíveis avanços, que o tornaram um marco na história do Serviço Social no Brasil, se
concretizaram no domínio da dimensão política (recorde-se, uma vez mais, que o político extrapola
amplamente o partidário), coroando o rompimento com o conservadorismo na explicitação frontal
do compromisso profissional com a massa da população brasileira, a classe trabalhadora. Entretanto,

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outras dimensões éticas e profissionais não foram suficientemente aclaradas, o que obrigou, em
pouco tempo, à sua revisão.
Nesta revisão, que deu forma ao Código hoje vigente, as unilateralidades e limites de 1986 foram
superadas e, de fato, o novo Código incorporou tanto a acumulação teórica realizada nos últimos
vinte anos pelo corpo profissional quanto os novos elementos trazidos ao debate ético pela urgência
da própria revisão. Neste sentido, o Código de Ética Profissional de 1993 é um momento basilar do
processo de construção do projeto ético-político do Serviço Social no Brasil.
É no trânsito dos anos oitenta aos noventa do século XX que o projeto ético-político do Serviço Social
no Brasil se configurou em sua estrutura básica e, qualificando-a como básica, queremos assinalar
o seu caráter aberto: mantendo seus eixos fundamentais, ela é suficientemente flexível para, sem
se descaracterizar, incorporar novas questões, assimilar problemáticas diversas, enfrentar novos
desafios. Em suma, trata-se de um projeto que também é um processo, em contínuo
desdobramento. Um exemplo do seu caráter aberto, com a manutenção dos seus eixos
fundamentais, pode ser encontrado nas discussões acerca da formação profissional, produzidas com
as modificações advindas da vigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDBEN (Lei
nº 9394, de 20 de dezembro de 1996): as orientações propostas por representantes do corpo
profissional (cf. ABESS, 1997 e 1998) ratificam a direção da formação nos termos do projeto ético-
político.
Esquematicamente, este projeto tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor
central a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolha entre alternativas
concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos
sociais. Consequentemente, este projeto profissional se vincula a um projeto societário que propõe
a construção de uma nova ordem social, sem exploração/dominação de classe, etnia e gênero. A
partir destas opções que o fundamentam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos
humanos e o repúdio do arbítrio e dos preconceitos, contemplando positivamente o pluralismo,
tanto na sociedade como no exercício profissional.
A dimensão política do projeto é claramente enunciada: ele se posiciona a favor da equidade e da
justiça social, na perspectiva da universalização do acesso a bens e a serviços relativos às políticas e
programas sociais; a ampliação e a consolidação da cidadania são explicitamente postas como
garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras. Correspondentemente, o
projeto se declara radicalmente democrático considerada a democratização como socialização da
participação política e socialização da riqueza socialmente produzida.
Do ponto de vista estritamente profissional, o projeto implica o compromisso com a competência,
que só pode ter como base o aperfeiçoamento intelectual do assistente social.
Daí a ênfase numa formação acadêmica qualificada, fundada em concepções teórico metodológicas
críticas e sólidas, capazes de viabilizar uma análise concreta da realidade social formação que deve
abrir a via à preocupação com a (auto)formação permanente e estimular uma constante
preocupação investigativa.
Em especial, o projeto prioriza uma nova relação com os usuários dos serviços oferecidos pelos
assistentes sociais: é seu componente elementar o compromisso com a qualidade dos serviços
prestados à população, aí incluída a publicidade dos recursos institucionais, instrumento

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indispensável para a sua democratização e universalização e, sobretudo, para abrir as decisões


institucionais à participação dos usuários.
Enfim, o projeto assinala claramente que o desempenho ético-político dos assistentes sociais só se
potencializará se o corpo profissional se articular com os segmentos de outras categorias
profissionais que compartilham de propostas similares e, notadamente, com os movimentos que se
solidarizam com a luta geral dos trabalhadores.
Pode-se afirmar que este projeto ético-político, fundamentado teórica e metodologicamente,
conquistou hegemonia no Serviço Social, no Brasil, na década de noventa do século XX.
Esta constatação, no entanto, não significa afirmar que tal projeto esteja consumado ou que seja o
único existente no corpo profissional. Por uma parte, ainda não se desenvolveram suficientemente
as suas possibilidades por exemplo, no domínio dos indicativos para a orientação de modalidades
de práticas profissionais; neste terreno, ainda há muito por fazer-se.
Por outra parte, a ruptura com o quase monopólio do conservadorismo no Serviço Social não
suprimiu tendências conservadoras ou neoconservadoras e, como se viu acima, a heterogeneidade
própria dos corpos profissionais propicia, em condições de democracia política, a existência e a
concorrência entre projetos diferentes.
Todavia, é inconteste que, na segunda metade dos anos noventa, este projeto conquistou a
hegemonia no interior do corpo profissional. Contribuíram para esta conquista dois elementos de
ordem diversa, que a vontade político-organizativa das vanguardas profissionais soube articular
numa definida direção social estratégica.
O primeiro foi o crescente envolvimento de segmentos cada vez maiores do corpo profissional nos
fóruns, nos espaços de discussão e nos eventos profissionais bem como a multiplicação e
descentralização desses fóruns, espaços e eventos. Tal envolvimento se registrou nos vários
Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais e em seus encontros regionais preparatórios, nas
à à à à à à à áBE““ à à à à à
promovidos pelo CEDEPSS, nos encontros regionais e nos seminários nacionais patrocinados pelo
sistema CFESS/CRESS etc.
O segundo consistiu no fato de que as linhas fundamentais deste projeto estão sintonizadas com
tendências significativas do movimento da sociedade brasileira (do movimento das classes sociais).
Estas linhas não derivaram do desejo ou da vontade subjetiva de meia dúzia de assistentes sociais
envolvidos na militância cívica e/ou política; elas expressaram, processadas numa perspectiva
profissional e refratadas no interior da categoria, demandas e aspirações da massa dos
trabalhadores brasileiros. Numa palavra: este projeto profissional vinculou-se a um projeto
societário que, antagônico ao das classes proprietárias e exploradoras, tem raízes efetivas na vida
social.
Neste sentido, a construção deste projeto ético-político profissional acompanhou a curva
ascendente do movimento democrático e popular que, progressista e positivamente, tencionou a
sociedade brasileira entre a derrota da ditadura e a promulgação da Constituição de 1988 (à que
Ulisses Guimarães chamou de Constituição Cidadã) um movimento democrático e popular que,
inclusive apresentando-se como alternativa nacional de governo nas eleições presidenciais de 1989,
forçou uma rápida redefinição do projeto democrático das classes proprietárias.

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5. DIREITOS HUMANOS E SERVIÇO SOCIAL


áà à à à à -político profissional supõe o
amadurecimento teórico-crítico em relação aos limites da luta pelos
direitos humanos, a partir de sua possibilidade real na sociedade em que
vivemos, tendo-a como uma ferramenta estratégica complementar na
construção de uma nova ordem à CFE““ à

5.1. DIREITOS HUMANOS NA MODERNIDADE

A concepção moderna dos direitos humanos baseia-se nos princípios da universalidade, do


direito natural a vida à liberdade e ao pensamento. Mas temos que considerar que somos herdeiros
de uma concepção de direitos humanos que tem por essência a perspectiva liberal, que se baseia
nos direitos humanos civis, como os de propriedade e a sustentabilidade política e ideológica da
sociedade capitalista. Conceito que aprofunda o antagonismo, com as concepções atuais, porque
apresenta em seu teor que alguns direitos são mais importantes que outros, sustentando uma
hierarquia dos direitos políticos e civis em relação aos direitos sociais.

As declarações dos direitos humanos além de assinalarem situações históricas e


traumáticas, de servirem para preservar a à à àB à à à
de buscarem a transformação, assinalam uma busca de um consentimento social e
político de direitos que não são reconhecidos por todos.

Avanços significativos ocorreram no processo histórico de construção dos direitos humanos


e, conforme assinala Barroco, esse avanço se dá no momento em que os direitos humanos passam
para o âmbito da práxis dirigida a emancipação, ou seja, incorporaram-se nessa práxis os princípios
e valores da racionalidade, liberdade, universalidade, ética, justiça e da política, além de incorporar
as conquistas ao longo do desenvolvimento histórico da humanidade.
A luta pela garantia dos direitos humanos é proveniente das lutas de classes, da pressão
popular, da militância, das pessoas oprimidas e reprimidas, exploradas e subalternizadas, é
resultado da defesa intransigente dos direitos, da emancipação política e humana, além de
contribuírem para que a reprodução ampliada das desigualdades sociais seja denunciada e
desnaturalizada pela sociedade. As lutas ampliam e afirmam o reconhecimento e universalização
dos direitos, mobilizam e conformam políticas.
Os direitos humanos são resultados das contraditórias relações sociais, e que não são
construídos todos ao mesmo tempo e sem passarem pelo processo de avanços e retrocessos no
curso da história, ou seja, é preciso entender que na sociedade moderna se expressam nos diversos
segmentos as contradições inerentes ao próprio sistema econômico: o capitalismo. E observa-se
que ainda existe um descompasso com a realidade quando se discute os direitos humanos, no

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âmbito do fenômeno da globalização que se gesta no mundo. Maria Lucia Barroco sintetiza essas
contradições nos princípios dos direitos humanos, conforme segue:

Avanços:
• Os direitos humanos supõem universalidade;
• Os direitos humanos supõem a democracia e a cidadania;
• Os direitos humanos supõem propriedade como direito natural e o Estado e as leis como
universais.

Limites:
• Esbarram em limites estruturais do capitalismo;
• Esbarram em limites reais: econômicos e sócio-políticos;
• Evidenciam a contradição do discurso abstrato da universalidade e a defesa de interesses
privados.

É a partir dessa lógica que se realiza a contradição entre os direitos humanos e o capitalismo, onde
se gesta um quadro de consequências que afetam uma grande parcela da sociedade, pois dessa
contradição amplia-se o abismo entre a riqueza e a pobreza, entre a liberdade e a desigualdade, a
miséria de milhares de pessoas em detrimento da riqueza de uma minoria.

5.2. DIREITOS HUMANOS E O SERVIÇO SOCIAL

Dentro dessas contradições e antagonismos que o Código de Ética do Serviço Social tenta defender
esta causa, entendendo que a garantia dos direitos humanos são essenciais à sobrevivência de
grande parte de nossa população.
Na formulação do Código de 1993, a incorporação desse princípio surge diante do quadro que se
gestava no Brasil e do posicionamento dos assistentes sociais diante desse quadro considerando os
valores éticos, contra todo tipo de abuso de autoridades, torturas e violências.

P à à à à à à à à à à à à à à
incentivada para alguns, delineia-se o retrato mesquinho à à à à
apodreceu e arrasta tudo e todos para dilemas sórdidos à à à à à à à à
bolsa nada de vida à á à àJ àF àC à à à à à
realidade destas] o que se torna necessário para defender o valor da vida

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Não há como negar que a violação dos direitos humanos se faz presente na sociedade brasileira,
onde o senso comum atua de forma legitimadora da ideologia dominante, que acaba por naturalizar
a violação dos direitos humanos, e por maquiar a negligência do Estado. Importante lembrar que
somos herdeiros de uma cultura sócio histórica fruto de um sistema econômico que prioriza as
questões do capital em detrimento das questões humanas, o que de certa forma explica o senso
comum, mas não justifica.
Na busca de superar esse modelo da desigualdade, rompendo com o comportamento reprodutor
do paradigma da desumanização, o Serviço Social, ancorado pelo Código de Ética Profissional, que
oferece um respaldo no que se refere às atitudes profissionais, vai trabalhar com intuito de garantir
que esses direitos sejam respeitados, ultrapassando a visão conservadora da sociedade diante
dessas demandas.
Desta forma, a atuação do profissional do Serviço Social se dá de maneira descentralizada,
trabalhando nos diversos segmentos na busca da consolidação dos diversos direitos que compõe os
direitos humanos.
O Serviço Social trabalha no âmbito das contradições. É de extrema importância que o profissional
se construa de forma a compreender os mecanismos pelos quais a estrutura social se reproduz, o
conhecimento dessa dinâmica permite ao profissional desmistificar o senso comum, somente a
partir desse ponto é que a intervenção poderá atingir os objetivos previstos no Projeto Ético Político
da profissão, que se coloca no âmbito da participação dos sujeitos de direitos, no desenvolvimento
das lutas sociais para garantia dos direitos humanos.
O Código de Ética fornece uma base ética jurídica que tem como finalidade homogeneizar a atuação
do profissional do Serviço Social em todas as ramificações onde ele está apto a atuar, essa
penetração também deve ser alcançada no que diz respeito aos direitos humanos uma vez que suas
diretrizes estão intrinsecamente ligadas ao que se propõe no exercício da profissão.

6. POLÍTICAS SOCIAIS E RELAÇÃO ESTADO/SOCIEDADE. CONTEXTO ATUAL E


O NEOLIBERALISMO

6.1. ORIGEM HISTÓRICA DA POLÍTICA SOCIAL

A palavra Política origina-se de Pólis, sinônimo de cidade.

Política tem relação com poder; com força e violência; com autoridade, coerção e
persuasão, ao mesmo tempo. É o estabelecimento de um jogo de forças e poder na
escolha e nas metas de ação a serem cumpridas (ARANHA e MARTINS, 1986).

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A Política Social tem a conotação de poder e força por ser de âmbito oficial, ou seja, consiste em
estratégia governamental, composta de planos, projetos, programas e documentos variados, para
mediar os reflexos negativos da relação capital-trabalho.
Foi conquista das mobilizações e lutas dos trabalhadores, desde os primórdios da revolução
industrial nos séculos XVIII e XIX.
Existe um consenso em relação à origem das Políticas Sociais por volta do final do século XIX, em
que se criaram as primeiras leis e medidas de proteção social, com destaque para a Alemanha e a
Inglaterra, fruto de intensos debates entre liberais e reformadores sociais humanistas, segundo
Behring (2000).
Entretanto, somente houve a disseminação dessas medidas de seguridade social após a Segunda
Guerra Mundial, com a implantação do Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social, em alguns
países da Europa.
Política “ à à à à à à à à à à à à àE
de Bem-E à àWelfare State, políticas públicas à à
Entretanto, o termo política social é genérico, provocando uma noção um tanto vaga. Mas é preciso
esclarecer que política social tem identidade própria. Refere-se a, segundo Pereira (1994):

Programa de ação que visa, mediante esforço organizado, a atender necessidades sociais
e cuja resolução ultrapassa a iniciativa privada, individual e espontânea e requer decisão
coletiva, regida e amparada por leis impessoais e objetivas, garantidoras de direitos.

Trata-se a política social de um tipo de política pública, sendo que as duas políticas são programas
de ação. Contudo, a política social é específica, contemplando a política econômica, agrária,
ambiental, dentre outras, operando no interior da política pública, que é mais ampla.
Não se pode entender política pública apenas como política de Estado, mas associada à coisa pública,
ou seja, pertencente à coletividade e submetida às mesmas normas e comunidade de interesse.
Embora as políticas públicas sejam regulamentadas e, em regra, financiadas pelo Estado, elas podem
ser controladas pelos cidadãos, através de entidades privadas ou ONGs.
Política social, Estado de Bem-Estar e Welfare State não são sinônimos, como geralmente são
tratados.
Política social é um conceito mais amplo do que Welfare State, que tem um significado histórico,
pois ocorreu no século XX, após a Segunda Guerra Mundial e tem caráter institucional, em que o
Estado capitalista, inspirado na filosofia do economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946),
regula e provém com benefícios e serviços sociais.
Enquanto a política social originou-se muito antes do século XX, desenvolveu-se em diferentes tipos
de relação entre Estado e sociedade civil.
As políticas sociais do Welfare State são identificadas com o conceito de cidadania, enquanto as
políticas sociais da Lei dos Pobres, patrocinadas inicialmente por regimes monárquicos, temiam
principalmente a desordem social, devido ao aumento da pobreza.

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Assim, o objetivo desta última à à à à à à necessário, as pessoas


desta forma definidas eram abrigadas em casas de correção e de trabalho forçado.
Mais tarde, mesmo reconhecendo a existência de pobres incapazes para o trabalho, os governos
persistiram a tratá-los sem qualquer diferenciação em relação aos desempregados e àqueles que
não à à à
Ou seja, a Lei dos Pobres não via a política social como um dever do Estado e estas pessoas eram
discriminadas e vistas como inúteis.
Observa-se que os princípios e critérios que fundamentaram as políticas sociais, seis séculos antes
do Welfare State, apesar de estarem ainda em voga, não se identificam com a concepção de bem-
estar social do século XX.
Fraser apud Pereira (1994), afirma que:

O Welfare State é um sistema de organização social que procura restringir as livres forças
do mercado em três principais direções:
a) garantindo direitos e segurança social a grupos específicos da sociedade, como
crianças, idosos e trabalhadores;
b) distribuindo, de forma universal, serviços sociais como saúde e educação; e
c) transferindo recursos monetários para garantir a renda dos mais pobres em certas
contingências, como a maternidade, ou em situações de interrupção de ganhos devido a
fatores como doença e desemprego.

Estas três áreas de proteção nem sempre foram consideradas de responsabilidade exclusiva do
Estado, o que somente ocorreu a partir dos anos 1940 devido aos seguintes eventos:
• a Segunda Guerra Mundial;
• a prosperidade econômica do pós-guerra;
• o surgimento do fascismo;
• a ameaça do comunismo;
• o fortalecimento da classe trabalhadora, dentre outros.

Behring (2000) analisa, por sua vez, que:

o Welfare State possui uma incompatibilidade estrutural entre acumulação e equidade,


pois não ofereceu igualdade de condições, mesmo o Estado se apropriando do valor
socialmente criado e realizando regulação econômica e social, não eliminou as condições
de produção e reprodução da desigualdade. à

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6.2. A POLÍTICA SOCIAL E O ESTADO CAPITALISTA E LIBERAL

Com a ascensão da burguesia na política, cria-se o Estado como sistema diverso da sociedade civil.
Com a revolução burguesa, separa-se o privado do público. Assim, ocorre a institucionalização do
poder, não mais visto sob a ótica de quem o detém, o senhor feudal ou o monarca, mas daquele que
o representa de direito, e sua legitimidade repousa no mandato popular e não no uso da violência
ou do privilégio.

A Política Social é um fenômeno a partir da constituição da sociedade burguesa, que é o


modo capitalista de produzir e reproduzir-se, portanto, tem relação direta com
capitalismo e está vinculada às acumulações do capital.

Apresenta nefasta submissão à lógica da economia capitalista, remetendo suas causas


exclusivamente à regulação dos conflitos.
No início do capitalismo e da Revolução Industrial, o primeiro caracterizava-se como concorrencial,
no qual na produção desordenada prevalecem as leis de mercado, sem interferência do Estado.
No entanto, surgiu a necessidade de intervenção do Estado, a qual se de através de medidas legais
para intervir na organização de economia.
Trata-se da chamada fase monopolista, na qual a produção é planejada e organizada, e ocorre a
supremacia dos trustes e dos cartéis. O Estado, mediador civilizador, tem grande parcela de valor
socialmente criado e controle do processo produtivo e reprodutivo.
Contraditoriamente, tem a direção de classe, hegemonia do capital, pressão da supercapitalização e
aumento da taxa de lucros.
E o Estado torna-se o gestor das relações entre o conjunto da produção e o conjunto da reprodução
da força de trabalho e essa variação ocorre de acordo com a conjuntura que se dá na correlação de
forças nos momentos históricos determinados.
O Estado e empresas privadas, através de convênios e contratos, executam Políticas Sociais que são
políticas públicas e executam medidas de política social.
Tais medidas consistem em:
• implantação de assistência social;
• implantação de previdência social;
• prestação de serviços;
• proteção jurídica;
• construção de equipamentos sociais; e
• subsídios.

Mas não se pode esquecer que política social é resultado de pressão do movimento
operário em torno da insegurança (desemprego, invalidez, doença, velhice).

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O movimento impõe o princípio dos seguros sociais. Os seguros sociais inicialmente eram caixas de
voluntários, que se tornaram obrigatórias, para cobrir perdas visando à segurança social do
trabalhador, cuja cobertura dá-se contra toda perda de salário.

A Política Social, através do Estado, desempenha papel fundamental de reduzir a crise do


capitalismo, realizando intervenções e estimulando a demanda por bens e serviços e
investindo em equipamentos e tecnologias mais avançadas, com serviços caros.

A Política Social caracteriza-se como mecanismo de reprodução da força de trabalho, constituindo-


se em um processo complexo que se relaciona com a produção, com o consumo e o capital
financeiro.
A Política Social ocupou espaço maior no período fordista, do pleno emprego e do exército industrial
de reserva e restringiu-se na atualidade com o desemprego estrutural.
A revolução tecnológica na produção provocou diminuição de lucros, além da concorrência,
especulação, estagnação do emprego e produtividade.

A Política Social enfoca a manutenção do trabalho com a inclusão de benefícios


permanentes, quando se perde a capacidade de trabalho ou dos excluídos do trabalho,
crianças e idosos (BEHRING, 2000).

6.3. POLÍTICA SOCIAL E DEMOCRACIA

A palavra é originada do grego demos, que significa à à à à à à à à


governo, poder, autoridade. Entretanto, segundo Aranha&Arruda (1986), o conceito é abstrato,
nunca realizou-se de fato.
A Revolução Francesa trouxe o conceito de democracia à à à à à
à à à à à à burgueses e não populares.
Apesar das exigências democráticas não serem apenas da nova classe dos burgueses, mas também
dos operários, que aumentara sensivelmente devido à Revolução Industrial e ao aumento da
concentração urbana.

Regime democrático é um método de governo que consiste em um conjunto de regras de


procedimentos para a formação de decisões coletivas, no qual está prevista e facilitada a
ampla participação dos interessados, que estabelecem quem está autorizado a tomar as
decisões coletivas e com quais procedimentos. Estabelece quais indivíduos estão
autorizados a tomar decisões pelo grupo.

O Estado democrático se coloca do ponto de vista do direito, mas como aponta Vieira (p. 12-1992):

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Tal Estado de Direito não se realiza apenas com a garantia jurídico-formal desses direitos
e liberdades, expressa em documento solene. Quanto a eles, o Estado de Direito
determina sua proteção formalizada e institucionalizada na ordem jurídica e,
principalmente, reclama a presença de mecanismos socioeconômicos dirigidos e
planificados com a finalidade de atingir a concretização desses direitos.

Muitas razões de Estado têm conduzido a contradições entre a simples declaração dos direitos e
liberdades e a sua real efetivação. O que sustenta o Estado de Direito é a sociedade democrática.
Porém, nem toda sociedade é sociedade democrática.
Sociedade democrática, de acordo com Vieira (p. 13-1992):

aquela na qual ocorre real participação de todos os indivíduos nos mecanismos de


controle das decisões, havendo, portanto, real participação deles nos rendimentos da
==0==

produção.

Ou seja, deverá haver, de forma equitativa, distribuição de renda e as decisões serem tomadas no
coletivo, no que se refere às diversas formas de produção.
Assim, a criação de uma sociedade industrial de consumidores e a criação de um Estado de Bem
Estar Social, onde não é permitida a todos a decisão e o usufruto de bens e serviços, consiste apenas
em transformar essas pessoas em consumidores felizes, mas não cidadãos plenos.
Para finalizar, deve-se remeter às palavras de Faleiros (2000), o qual diz que:

a política social não pode ser vista de forma rígida, como se a realidade se apresentasse
dentro de um modelo teórico ideal. É preciso considerar sempre o movimento real e
concreto das forças sociais e da conjuntura.

Para o estudo da Política Social, faz-se necessário levar em conta, em primeiro lugar, o movimento
do capital e também os movimentos sociais. Estes se desenvolvem a partir das lutas em prol dos
cuidados com a saúde e da sua reprodução de curto e longo prazo.
Deve-se levar em conta, também, as conjunturas econômicas e a política, em que o Estado poderá
apresentar alternativas de ação.

A questão da Política Social envolve mediações intrincadas, são multifatoriais:


socioeconômicas, políticas, culturais e atores, forças sociais e classes sociais que disputam
hegemonia nas esferas estatal, pública e privada (FALEIROS, 1986).

Para realizar uma análise desses multifatores, o método dialético é o mais apropriado pelas
ferramentas que possui, com leitura abrangente e totalizadora, focalizando a dinâmica da sociedade
burguesa, e da desigualdade social inerente a essas relações de produção e reprodução.
Oferece ainda, o estudo das transformações ocorridas no século XX para analisar a Política Social até
a contemporaneidade.

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PAUSA PARA ANOTAÇÕES

Vamos dar uma parada. Você se deparou com diversas informações


importantes. Anote tudo o que você acha que pode te causar problemas.
Certamente você fará bom uso de suas anotações. Pronto, agora é com
você. Mãos à obra.

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“Todo esforço sempre é recompensado!”

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS DA AULA


Muito bem! Finalizamos mais uma etapa rumo a sua aprovação. Na aula de hoje
estudamos pesquisa social e produção de conhecimento em Serviço Social,
assessoria e supervisão em Serviço Social, projeto ético-político do Serviço
Social, direitos humanos, bem como Serviço Social e políticas sociais e relação
Estado/sociedade.

Em nossa próxima aula estudaremos o Código de Ética Profissional, a Lei de regulamentação da


profissão e as Resoluções do Conselho Federal de Serviço Social sobre o exercício profissional.

Os exercícios serão disponibilizados em uma aula extra,


contemplando os temas estudados.

Um grande abraço e que Deus te abençoe. Até a próxima aula!

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