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Título original:
The Aeslhetic Dimension
(Die Permanenz der Kunst)
© Carl Hanser Verlag, Munique, 1977
Tradução de Maria Elisabete Costa
Revisor da tradução: João Tiago Proença
Capa de Edições 70
Depósito legal n.° 131175/99
ISBN 972-44-0194-4
Todos os direitos reservados para a língua portuguesa por
Edições 70
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HERBERT MARCUSE
DIMENSÃO DE
ESTÉTICA
íediçoes 70
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PREFÁCIO
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meramente «técnica» da arte revolucionária nada diz da qualidade
da obra, nem da sua autenticidade e verdade.
Para além disto, uma obra de arte pode denominar-se
«revolucionária» se, em virtude da configuração estética,
apresentar a ausência de liberdade do existente e as forças que se
rebelam contra isso no destino exemplar do indivíduo, romper a
realidade mistificada (e reificada) e der a ver o horizonte de uma
transformação (libertação).
Neste sentido, toda a verdadeira obra de arte seria
revolucionária, na medida em que subverta as formas dominantes
da percepção e da compreensão, apresente uma acusação à
realidade existente e deixe aparecer a imagem da libertação. Isto
verifica-se tanto no drama clássico como nas peças de Brecht, tanto
nas Afinidades Electivas de Goethe como nos Anos de Cão de
Günther Grass, tanto em William Blake como em Rimbaud.
A diferença óbvia na apresentação do potencial subversivo
deve-se à diferença de estrutura social com que estas obras se
confrontam: a distribuição da opressão entre a população, a
composição e a função da classe dominante, as possibilidades
existentes de mudança radical. Estas condições históricas estão
presentes nas obras de arte de vários modos: explicitamente ou
como pano de fundo e horizonte, na linguagem e nas imagens. Mas
são expressões e manifestações históricas específicas da mesma
substância trans-histórica da arte: possuem uma dimensão própria
de verdade, protesto e promessa, uma dimensão que reside na sua
própria forma estéticat Assim, o Woyzeck de Büchner, as peças de
Brecht, mas também os romances e as narrativas de Kafka e de
Beckett são revolucionários em virtude da
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teórica própria, que milita contra toda a tentativa de lhe atribuir uma
forma estética (").
Mas, se a obra de arte não pode ser compreendida em termos de
teoria social, também não o pode ser em termos de filosofia. Na sua
discussão com Adorno, Lucien Goldmann rejeita a afirmação de
Adorno de que, para compreender uma obra literária, « há que
transcender em direcção à filosofia, à cultura filosófica e ao
conhecimento critico». Ao contrário de Adorno, Goldmann insiste na
concreticidade imanente à obra, que a torna uma totalidade (estética)
por direito próprio: «A obra de arte é um universo de cores, sons e
palavras e caracteres concretos. Não há morte, só há Fedra moribunda»
(12).
A reificação da estética marxista deprecia e distorce a verdade
expressa neste universo - minimiza a função cognitiva da arte como
ideologia. Pois, o potencial radical da arte reside precisamente no seu
carácter ideológico, na sua relação transcendente com a «base». (A
ideologia nem sempre é mera ideologia, falsa consciência. A
consciência e a figuração de verdades que aparecem como abstractas
em relação ao processo de produção estabelecido também são funções
ideológicas. A arte é uma destas verdades. Como ideologia, opõe-se à
sociedade existente. A autonomia da arte contém o imperativo
categórico: «as coisas têm de mudar». Se a libertação dos seres
humanos e da natureza tem de ser possível, então, o nexo social da
destruição e da repressão deve ser rompido. Isto não significa que a
revolução se torne temática; pelo contrário, nas obras esteticamente
mais perfeitas, isso não acontece. Parece que, nessas obras, a
necessidade da revolução é pressuposta como o a priori da arte. Mas, a
revolução é como que também ultrapassada e
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da arte são dados apenas na própria obra como um todo: no que diz e
no modo como diz.
Neste sentido, toda a arte é “l‟artpour Vart” apenas na medida em
que a forma estética revela dimensões da realidade interditas e
reprimidas: aspectos da emancipação. A poesia de Mallarmé é um
exemplo extremo; os seus poemas evocam modos de percepção,
audição, gestos - uma festa de sensualidade que destrói a experiência
de todos os dias e antecipa um princípio de realidade, uma
sensibilidade, radicalmente diferentes.
O grau a que a distância e o afastamento da práxis constituem o
valor emancipatório da arte torna-se particularmente claro nas obras
literárias que parecem fechar- -se rigidamente contra tal práxis. Walter
Benjamin rastreou isso nas obras de Poe, Baudelaire, Proust e Valéry.
Elas exprimem uma «consciência de crise» (Krisenbewusstsein): um
prazer na decadência, na destruição, na beleza do mal; uma exaltação
do associai, do anómico - a rebelião secreta da burguesia contra a sua
própria classe. Benjamin escreve sobre Baudelaire:
Parece irrelevante atribuir à sua obra uma posição nos mais
avançados baluartes da luta humana pela libertação. Desde o
princípio, parece muito mais prometedor segui-lo nas maquinações
em que, sem dúvida, se sente à vontade: no campo inimigo. Estas
maquinações são uma bênção para o inimigo apenas nos casos mais
raros. Baudelaire foi um agente secreto, um agente do
descontentamento secreto da sua classe com as suas regras
próprias. Quem confrontar Baudelaire com esta classe obtém mais
dele do que aquele que o 3 rejeitar como não interessante, de um
ponto de vista proletário (‟ ).
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então, não se percebe por que razão o escritor deve falar a sua
linguagem - não seria ainda a linguagem da libertação.
É característico que os textos mencionados comprometam a
arte com «o povo», que «o povo» apareça como o único aliado
contra o barbarismo. Tanto na estética marxista como na teoria
e propaganda da Nova Esquerda, há uma forte tendência para
falar do «povo» em vez do proletariado. Esta tendência exprime
o facto de, sob o capitalismo monopolista, a população
explorada ser muito maior do que o «proletariado» e de
compreender uma grande quantidade de estratos da classe
média anteriormente independentes. Se «o povo» é incorporado
no sistema prevalecente de necessidades, então só a ruptura
com este sistema pode transformar «o povo» num aliado contra
o barbarismo. Antes de tal, o escritor não pode tomar
simplesmente um «lugar entre o povo», que previamente lhe
estava reservado. Os escritores devem, antes de mais, criar esse
lugar, e isto é um processo que talvez exija que se oponham ao
povo, que talvez os impeça de falar a sua linguagem. Neste
sentido, hoje, a palavra «elitismo» pode bem ter um conteúdo
radical. Trabalhar para a radicalização da consciência e das
necessidades significa tomar o material explícito e consciente
bem como a discrepância ideológica entre o escritor e «o povo»,
em vez de a obscurecer e camuflar. A arte revolucionária pode
realmente tornar-se «O Inimigo do Povo».
A tese básica de que a arte deve ser um factor de
transformação do mundo pode facilmente tornar-se no
contrário, se a tensão entre a arte e a práxis radical diminuir de
modo a que a arte perca a sua própria dimensão de
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Capítulo III
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«motivo» desta transformação, talvez seja determinado pela classe -
mas, na obra, este «assunto», despido da sua imediatidade, torna-se
algo qualitativamente diferente, parte de outra realidade. Mesmo onde
um fragmento da realidade ficou por transformar (por exemplo, frases
de um discurso atribuído a Robespierre), o conteúdo é mudado pela
obra como um todo; o seu sentido pode até tornar-se no oposto.
+A «tirania da forma»: numa autêntica obra prevalece a necessidade
de não se poder mudar uma linha, um som (que, em última análise,
não existe). Esta necessidade interior (a qualidade que distingue a obra
autêntica das inautênticas) é, na verdade, tirania porquanto suprime a
imediatidade da expressão. Mas, o que aqui é suprimido é a falsa
imediatidade: falsa na medida em que arrasta a realidade mistificada
irreflectida.
Em defesa da forma estética, Brecht escreve em 1921:
Observo que começo a tornar-me num clássico. Todos aqueles
esforços extremos [do expressionismo] para vomitar por todos os
meios certo conteúdo (banal ou, em breve, banal) ! Acusam-se os
clássicos da sua sujeição à forma e esquece- -se que é a forma que
se submete. (24)
Brecht relaciona a destruição da forma com a banalização. Na
realidade, esta conexão não faz justiça ao expressionismo, muito do
qual de nenhum modo é banal. Mas o veredicto de Brecht relembra a
relação essencial entre a forma estética e o efeito de distanciamento: a
expressão deliberadamente privada da forma «banaliza», porquanto
suprime a oposição ao universo estabelecido do discurso - uma
oposição que se cristaliza na forma estética.
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Michael Kohlhaas, a Woyzeck e aos amantes de todos os tempos.
Experimentam o mundo desmistificado. A intensificação da
percepção pode ir ao ponto de distorcer as coisas de modo que o
indizível é dito, o invisível se toma visível e o insuportável
explode. Assim, a transformação estética transforma-se em
denúncia - mas também em celebração do que resiste à injustiça e
ao terror, e do que ainda se pode salvar.
A mimese ocorre na literatura por meio da linguagem;' esta
torna-se mais tensa ou mais solta, forçada a produzir pensamentos
profundos de outro modo obscurecidos. A prosa é sujeita ao seu
próprio ritmo. Diz-se aquilo que habitualmente se cala, não se diz o
que habitualmente se repete ocultando o que é essencial. A
reestruturação toma lugar através da concentração, do exagero, da
ênfase sobre o essencial, da reordenação de factos. O portador
destas qualidades não é a frase particular, nem as suas palavras,
nem a sua sintaxe; o portador é o todo. Só o todo é que concede a
estes elementos o seu significado e função estética.
A mimese crítica encontra expressão nas formas mais variadas.
Encontra-se tanto na linguagem de Brecht, formada pela
imediatidade da necessidade de mudança, como na linguagem
esquizofrenicamente diagnostica de Beckett, onde não se fala de
mudança. A denúncia está tanto na linguagem sensual, emocional,
do Werther como nas Fleurs du Mal ou na dureza de Stendhal e de
Kafka.
A denúncia não se esgota a si mesma no reconhecimento do
mal; a arte é também a promessa da libertação. Esta promessa é,
também, uma qualidade da forma estética ou, mais precisamente,
do belo como uma qualidade da forma
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estética. A promessa é arrancada da realidade estabelecida. Conjura a
dominação do poder, a aparência (Schein) da libertação. Mas só a
aparência; naturalmente, a realização desta promessa não está dentro
das possibilidades da arte.
Será que há ou poderá haver obras autênticas em que as Antígonas
destroem finalmente os Creontes, em que os camponeses derrotam os
príncipes, em que o amor é mais forte do que a morte? Esta inversão
da história é uma ideia reguladora da arte, na lealdade mantida (até à
morte) à visão de um mundo melhor, uma visão que mesmo na
derrota permanece autêntica. Mas sem a ideia de um progresso
inexorável, contra a cega confiança numa humanidade que
eventualmente se afirmará. De outro modo, a obra de arte e a sua
pretensão de verdade seriam falsas.
Na mimese transformadora, a imagem da libertação só se
manifesta como algo quebrado pela realidade. Se a arte fosse
prometer que, no fim, o bem triunfaria sobre o mal, tal promessa
seria refutada pela verdade histórica. Na realidade, é o mal que
triunfa, e apenas existem ilhas de bem onde nos podemos refugiar
durante algum tempo. As verdadeiras obras de arte têm disso
consciência; rejeitam as promessas fáceis; recusam o aliviante final
feliz. Devem rejeitá-lo, pois o reino da liberdade é inabarcável pela
mimese, esta não consegue dar-lhe forma. O final feliz é «o
contrário» de arte. Onde, no entanto, aparece, como em Shakespeare,
como na Ifigênia de Goethe, como no final do Fígaro, como em
Falstajf, como em Proust, parece ser negado pela obra no seu
conjunto. No Faustoo final feliz acontece pura e simplesmente no
paraíso e a grande comédia não se pode libertar da tragédia que tenta
banir. A mimese persiste como representação da realidade,
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representação transformadora. Esta sujeição resiste à qualidade
utópica da arte: a infelicidade e a servidão ainda se reflectem na
mais pura imagem da felicidade e da liberdade. Contêm o protesto
contra a realidade em que são destruídos.
* Na realidade, a questão não está no final feliz', o que importa é a
obra como um todo. Ela preserva a lembrança da tristeza passada.
Esta pode ser superada (anfgehoben) na resolução do conflito e é
como superada que permanece. Como também permanece na
angústia perante o futuro. Um exemplo de Ibsen: o mais «burguês»
dos grandes dramaturgos faz A Dama do Mar voltar ao seu
casamento por sua própria decisão; afasta-se do “Estrangeiro” com
quem viveu a aventura do mar e procura então realizar-se no seio da
família. Mas, a peça no seu conjunto contraria essa solução. A
liberdade de Ellida tem o seu limite na impossibilidade de desfazer
o passado. Tal impossibilidade nada tem a ver com a sociedade de
classes; baseia-se antes na irreversibilidade do tempo, na
objectividade inconquistável e na legalidade
da natureza. ______________
A arte não pode cumprir a sua promessa e a realidade não
oferece promessas, mas apenas possibilidades. Voltamos ao
conceito tradicional da arte como ilusão (Schein): embora talvez
seja mais bela, não é a realidade. E um facto, mas a estética
burguesa sempre entendeu a aparência (Schein) como a
manifestação da verdade, uma verdade própria da arte e despojou a
realidade concreta da sua pretensão à legitimação total. Assim, há
duas realidades e dois tipos de verdade. A cognição e a experiência
são antagonicamente divididas, pois a arte como ilusão (Schein) tem
um conteúdo e uma função
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cognitivos. A verdade única da arte rompe com a realidade de todos
os dias e das férias, que bloqueia toda a dimensão da sociedade e da
natureza. A arte é a transcendência para esta dimensão onde a sua
autonomia se constitui como autonomia na contradição. O combate
contra esta transcendência, na qual se impõe a autonomia histórica da
arte - e com isso o seu protesto contra a sociedade existente - entrega
a arte àquela realidade para cuja transformação devia servir. Embora
o abandono da forma estética possa proporcionar o espelho mais
imediato de uma sociedade em que se destroem, se atomizam, se
destituem das suas palavras e imagens, sujeitos e objectos, a rejeição
da transformação estética transforma tais obras em pedaços e
fragmentos da verdadeira sociedade, cuja «antiarte» pretendem ser.
A antiarte nega à partida as suas próprias intenções.
As várias fases e tendências da antiarte ou da não-arte
compartilham uma assumpção comum - a saber, que o período
moderno se caracteriza por uma desintegração da realidade, que
torna toda a forma fechada em si mesma, toda a intenção de
significado (Sinngebung) falsa, se não impossível (25). Afirma-se que
a colagem, a montagem com vários meios ou a renúncia a qualquer
mimese estética são a forma da realidade; essa forma reflectiria a
realidade destroçada que contradiría toda a formação estética. Antes,
o oposto é que acontece. Experimentamos, não a destruição de cada
todo, de toda a unidade, de todo o significado, mas antes o domínio e
o poder do todo, a unificação sobreposta, administrada. A catástrofe
não é a desintegração, mas a reprodução e a integração do que existe.
E na cultura intelectual da nossa sociedade é a forma estética que, em
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virtude da sua alteridade, se pode opôr a esta integração.
Significativamente, o recente livro de Peter Weiss tem o título
Aesthetik des Widerstands (Estética da Resistência).
O esforço do artista para a superação da separação entre arte e vida
não pode ultrapassar esta separação. Wellershoff aponta o facto
decisivo: «existem diferenças sociais intransponíveis entre a fábrica
de conservas e o estúdio do artista: a fábrica de Warhol» (26); entre a
pintura gestual e os gestos “vivos” do trabalho fabril. Estas diferenças
tão pouco se podem transpor deixando acontecer as coisas (ruídos,
movimentos, conversa fiada, etc.) e incorporando-as, inalteradas,
numa determinada estrutura (por exemplo, num livro, num concerto).
A imediatidade, que significa aqui a abstracção de mediações, assim
adquirida é com isso mistificada: não aparece como o que é e o que
faz - é uma imediatidade artificial.
A libertação (Entschrdnkung) e a dessublimação que ocorrem na
antiarte renegam assim a realidade (e falsificam- -na), porque lhe
falta o poder cognitivo e incisivo da forma estética; são a mimese sem
transformação. A colagem, a montagem e a deslocação não alteram
este facto. A exibição de uma lata de sopa nada diz da vida do
trabalhador que a produziu nem da do seu consumidor. A renúncia à
forma estética não anula a diferença entre a arte e a vida - mas anula a
que existe entre essência e aparência, na qual reside a verdade da arte
e que determina o valor político da arte. A dessublimação da arte
pretende libertar a espontaneidade - tanto do artista como do receptor.
Mas assim como, na práxis radical, a espontaneidade só pode fazer
avançar o movimento de libertação como espontaneidade
mediatizada, isto é,
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resultante da transformação da consciência - o mesmo acontece na
arte. Sem esta dupla transformação (dos sujeitos e do seu mundo), a
dessublimação da arte só pode levar o artista a tornar-se supérfluo
sem democratizar e generalizar a criatividade.
Neste sentido, a renúncia à forma estética da negação resulta na
renúncia à responsabilidade. Priva a arte da verdadeira forma em
que pode criar essa outra realidade dentro da estabelecida - o
mundo da esperança.
O programa político da abolição da forma autônoma conduz a
um «nivelamento dos graus da realidade entre a arte e a vida» e
desse modo à paralisia da força de resistência da arte. Só esta
rendição da sua condição autônoma é que permite à arte infiltrar-se
no «conjunto dos valores de uso». Este processo é ambivalente.
«Pode tão facilmente significar a degeneração da arte na cultura de
massas, comercializada, como, por outro lado, transformar-se numa
contracultura subversiva.» (27) Mas, esta última alternativa parece
duvidosa. Hoje em dia, só se concebe uma contracultura subversiva
em contradição com a indústria da arte prevalecente e a sua arte
heterónoma. Ou seja, uma verdadeira contracultura teria de insistir
na autonomia da arte, na sua própria arte autônoma.
Consequentemente, uma arte que se revoltasse contra a integração
no mercado não aparecería necessariamente como «elitista»? «Face
à dimuição do valor de uso de uma literatura completamente
comercializada, a noção anacronico-elitista do Ditchen como uma
„arte superior‟ distinta volta a assumir um carácter que é
subversivo.» (28)
A obra de arte só pode obter relevância política como
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obra autônoma. A forma estética é essencial à sua função social. As
qualidades da forma negam as da sociedade repressiva - as
qualidades da sua vida, do seu trabalho, o seu amor.
A qualidade estética e a tendência política estão inerentemente
relacionadas, mas a sua unidade não é imediata. Walter Benjamin
formulou a relação interna entre tendência e qualidade na tese: «A
tendência da obra literária só pode ser politicamente correcta se
também for correcta pelos padrões literários» (29). Esta formulação
rejeita com suficiente clareza a vulgar estética marxista. Mas, não
soluciona a dificuldade implícita no conceito de «correcção» literária
de Benjamin - nomeadamente, a sua identificação da qualidade
literária e política no domínio da arte. Esta identificação harmoniza a
tensão entre forma literária e conteúdo político: a forma literária
perfeita transcende a tendência política correcta; a unidade da
tendência e da qualidade é antagônica.
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Capítulo IV
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ilusão e a aparência são qualidades da realidade dada, antes de o
serem da arte. E a mistificação não é apenas uma característica da
sociedade capitalista. A obra de arte, por outro lado, não encobre
o que ela é - revela-o.
Este Outro possível permanece fiel à história real na medida
em que é válido transcendentemente a cada situação histórica
específica. A tragédia existe sempre em todo o lado enquanto a
peça satírica a segue sempre e em toda a parte; a alegria
desaparece mais depressa do que a dor. Este conhecimento,
inexoravelmente expresso na arte, talvez abale a fé no progresso,
mas também pode manter viva outra imagem e outro objectivo da
práxis, nomeadamente, a reconstrução da sociedade e da natureza
sob o princípio do aumento do potencial humano de felicidade e
da diminuição do sofrimento. A revolução existe por amor à vida,
não à morte. Aqui se situa talvez o mais profundo parentesco
entre a arte e a revolução. A resolução de Lenine de não ouvir as
sonatas de Beethoven, que tanto admirava, atesta a verdade da
arte. O próprio Lenine o sabia - e rejeitava este conhecimento.
... muitas vezes não consigo ouvir música. Age sobre os
meus nervos. Uma pessoa gostaria de dizer tolices, de acariciar
as cabeças da gente que vive num inferno de sujidade e que, no
entanto, pode criar tal beleza. Mas, hoje em dia, não se pode
acariciar a cabeça de ninguém - a nossa mão seria mordida.
Devemos bater nas cabeças, bater impiedosamente - embora
idealmente sejamos contra toda a violência. (3I)
Na verdade, a arte não se situa sob a lei da estratégia
revolucionária. Mas, talvez esta última um dia incorpore algo da
verdade inerente à arte. A expressão de Lenine «gostaria»
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não exprime uma preferência pessoal, mas uma alternativa
histórica - uma utopia que deve ser traduzida para a realidade.
Há na arte inevitavelmente um elemento de hybris: o mundo
criado pela arte não pode ser transposto para a realidade.
Permanece um mundo «fictício», embora como tal visione e
antecipe a realidade. Assim, a arte corrige a sua idealidade: a
esperança nela apresentada não deve e nem pode permanecer um
ideal (o oculto imperativo categórico da arte!), a sua realização,
porém, permanece exterior à arte. Na realidade, a «pura
humanidade» da Ifigênia de Goethe realiza-se na cena de
despedida da peça - mas só aí, na própria peça. É absurdo
concluir que precisamos de mais Ifigénias que preguem o
evangelho da pura humanidade, e de mais reis que a aceitem.
Além disso, sabemos há muito tempo que essa pura humanidade
não redime todos os crimes e sofrimentos humanos: torna-se
antes sua vítima. Assim, ela permanece ideal: as condições para
a sua realização geram- -se na luta política contra a realidade
dada. O ideal entra nesta luta apenas com o fim, telos\ transcende
a práxis concreta. Mas, as imagens do próprio ideal mudam com
a mudança da luta política. Hoje em dia, a «pura humanidade»
(tanto quanto hoje pode ser um ideal) encontrou talvez a sua
representação literária mais verdadeira na filha surda-muda de
Mãe Coragem, que é morta por um grupo de soldados enquanto
salva a cidade com o seu tambor.
Surge agora a questão: os elementos críticos, transcendentes,
da forma estética também serão operativos nas obras de arte
predominantemente afirmativas, conformistas? E vice-versa: a
negação extrema na arte conterá ainda afirmação?
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A forma estética, em virtude da qual uma obra se opõe à
realidade estabelecida é, ao mesmo tempo, uma forma de afirmação
através da catarse reconciliadora. Esta catarse, na qual a afirmação
se impõe, é um acontecimento mais ontológico do que psicológico.
Baseia-se nas qualidades específicas da própria forma, na sua
ordem não repressiva, no seu poder cognitivo, na sua imagem de
sofrimento que chegou ao fim. Mas a «solução», a reconciliação,
que a catarse oferece, também preserva o irreconciliável. A relação
interna entre os dois pólos pode ser ilustrada por dois exemplos de
extrema afirmação e extrema negação - a «Tümerlied» (Canção da
Torre) no Fausto de Goethe:
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rebelião: afirma nesse total horror a impotente força do amor.
Mesmo aqui, nas mãos do assassino e ao lado do corpo
despedaçado da querida Lulu, uma mulher exprime o grito pela
eternidade da felicidade: «Mein Engel! - Lass dich noch einmal
sehen! Ich bin dir nah - in Ewigkeit!... O verflucht!» (Meu anjo! -
Deixa-me olhar-te mais uma vez! Estou junto de ti! Estarei junto de
ti - na eternidade!... Maldição!). De modo semelhante, nas peças
mais aterrorizadoras de Strindberg, onde homens e mulheres
parecem viver apenas de ódio, tédio e maldade, ressoa o grito de O
Sonho: «Es ist schade um die Menshen.» (Pobres seres humanos!).
Esta unidade de afirmação e negação prevalecerá também na
afirmação apolínea da «Canção da Torre»? O verso «não importa o
quê» invoca o sofrimento (do cantor e dos outros) que entrou na
felicidade. A felicidade tem a última palavra, mas é uma palavra de
recordação. E, no último verso, a afirmação tem um tom de tristeza
- e de desafio.
Na sua análise do poema de Goethe Überallen Gipfeln... (33),
Adorno revelou como a mais sublime forma literária preserva a
memória da dor no momento de paz:
As maiores obras líricas devem a sua dignidade precisamente
à força-com que nelas o Ego, afastando-se da alienação, invoca a
aparência da natureza. A sua pura subjectividade, que nelas
parece intacta e harmoniosa, comprova o contrário: o sofrimento
numa existência alheia ao sujeito, bem como o amor desta
existência. Na verdade, a sua harmonia nada é realmente senão o
acordo entre tal sofrimento e tal amor. Mesmo o Warte nur,
balde / ruhest du auch» (espera somente, em breve / repousarás
também) tem o gesto de consolo: a sua beleza abissal não se
pode separar
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Capítulo V
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estética (da peça, do poema, do romance), o terror é evocado,
chamado pelo seu nome, para testemunhar, para se denunciar. E
apenas um momento de triunfo, um momento na corrente da
consciência. Mas a forma capturou-o e deu-lhe permanência. Em
virtude desta realização da mimese, estas obras contêm a
qualidade de Beleza na sua forma talvez mais sublime: como Eros
político. Na criação de uma forma estética, em que o grito sobre o
horror do fascismo não se asfixia - apesar de todas as forças de
repressão e obliteração, os instintos vitais rebelam-se contra a
fase global sado- masoquista da civilização contemporânea. O
regresso do recalcado, conseguido e preservado na obra de arte,
pode intensificar esta rebelião.
A obra de arte conseguida perpetua a memória do momento de
prazer. E a obra de arte é bela na medida em que opõe a sua
própria ordem à da realidade - a sua ordem não-repressiva, onde a
própria maldição é proferida em nome do Eros. Aparece nos
breves momentos de realização, de tranquilidade - no belo
«momento» que suspende a dinâmica incessante e a desordem, a
necessidade constante de fazer tudo o que deve ser feito para se
continuar a viver.
O Belo pertence às imagens da libertação:
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-sensuais», o «prurido artístico dos sentidos» são apresentados
como «condições básicas para a autonomização da arte». O
queimar pinturas e estátuas não é uma «expressão de um
fanatismo cegamente violento», mas antes uma «consequência de
um mesquinho ideal de vida burguês, anti-intelectualista;
Savonarola é o seu representante intransigente» (37). Também
Adorno diz que a «hostilidade em relação à felicidade, o
ascetismo, essa spécie de „ethos‟ que constantemente balbucia
nomes como Lutero e Bismarck, não pretende a autonomia
estética» (38). Adorno encontra aqui traços do «mesquinho ódio
burguês ao sexo».
No meio da sensibilidade constitui-se a relação paradoxal da
arte com o tempo - paradoxal porque o que é experimentado
através da sensibilidade é presente, embora a arte não possa
mostrar o presente sem o mostrar como passado. O que se tornou
forma na obra de arte já aconteceu: é recordado, re-apresentado. A
mimese traduz a realidade para a memória. Nesta recordação, a
arte reconheceu o que é e o que podia ser, dentro e fora das
condições sociais. A arte retirou este conhecimento da esfera do
conceito abstracto e implantou-o no domínio da sensualidade.
O seu poder cognitivo extrai a sua força deste domínio. A força
sensual do Belo mantém a promessa viva - a memória da
felicidade passada, que procura regressar.
Embora o universo da arte esteja permeado pela morte, a arte
repudia a tentação de dar um significado à morte. Para a arte, a
morte é uma infelicidade constante, uma ameaça constante mesmo
nos momentos de felicidade, triunfo e realização. (Mesmo em
Tristãio, a morte não deixa de ser um
69
HERBERT MARCUSE
acidente, um duplo acidente da poção do amor e do ferimento. O
hino à morte é um hino ao amor.) Todo o sofrimento se torna
doença de morte - embora a doença em si se possa curar. La
Mortdes Pauvres pode bem ser redenção; a pobreza pode ser
abolida. No entanto, a morte permanece a negação inerente à
sociedade, à história. É a lembrança final das coisas passadas - a
última lembrança de todas as possibilidades abandonadas, de tudo
o que podia ter sido dito e não foi, de cada gesto, e cada carinho não
realizado. Mas, a morte também lembra a falsa tolerância, a pronta
submissão à necessidade da dor.
No trágico da grande arte está o caveat à tese segundo a qual
chegou o tempo de mudar o mundo. Embora a arte dê testemunho
da necessidade de libertação, também atesta os seus limites. O que
foi feito não pode ser desfeito; o que passou não pode ser reavido.
A história é culpa, mas não redenção. Eros e Thanatos não são
apenas adversários, como também amantes. A agressão e a
destruição podem estar, cada vez mais, ao serviço de Eros, mas o
próprio Eros actua sob o signo do sofrimento, do que passa. A
«eternidade do prazer» constitui-se através da morte dos
indivíduos. Para eles, esta eternidade é um universal abstracto. E,
talvez a eternidade não dure muito tempo. O mundo não foi feito
por amor ao ser humano e não se tem tornado mais humano.
Enquanto a arte preservar, com a promessa de felicidade, a
memória dos objectivos inatingidos, pode entrar, como uma ideia
«reguladora», na luta desesperada pela transformação do mundo.
Contra todo o feiticismo das forças produtivas, contra a
escravização contínua dos indivíduos pelas condições objectivas
(que continuam a ser as do domínio), a
70
A DIMENSÃO ESTÉTICA
71
Conclusão
73
HERBERT MARCUSE
sob o princípio da liberdade não é apenas exigido pela existência
contínua dos interesses de classe. As instituições de uma sociedade
socialista, mesmo na sua forma mais democrata, nunca poderíam
resolver todos os conflitos entre o universal e o particular, entre os
seres humanos e a natureza, entre os indivíduos em si. O socialismo
não liberta o Eros da dominação da morte, nem poderia fazê-lo. Este
é o limite que impele a revolução para além de todo o estado de
liberdade conseguido: é a luta pelo impossível, contra o
inconquistável cujo domínio talvez possa, no entanto, ser reduzido.
A arte reflecte esta dinâmica na sua insistência na verdade de um
mundo por ela criado, que não é o mundo da realidade social nem o
tem por solo. A arte abre uma dimensão inacessível a outra
experiência, uma dimensão em que os seres humanos, a natureza e
as coisas deixam de se submeter à lei do princípio da realidade, hoje
dominante. Sujeitos e objectos encontram a aparência dessa
autonomia que lhes é negada na sua sociedade. O encontro com a
verdade da arte acontece na linguagem e imagens distanciadoras,
que tornam perceptível, visível e audível o que já não é ou ainda não
é percebido, dito e ouvido na vida diária.
A autonomia da arte reflecte a ausência de liberdade dos
indivíduos na sociedade sem liberdade. Se as pessoas fossem livres,
então a arte seria a forma e a expressão da sua liberdade. A arte
continua presa da ausência de liberdade; ao contradizê-la, adquire a
sua autonomia. O nomos a que a arte obedece não é o do princípio da
realidade estabelecida, mas o das suas transformações - até à sua
negação. Mas, uma mera negação seria abstracta, «má» utopia. A
utopia,
74
A DIMENSÃO ESTÉTICA
que vem à manifestação na grande arte, nunca é a simples negação
do princípio da realidade, mas a sua preservação transcendente
(.Aufhebung) em que o passado e o presente projectam a sua
sombra na realização. A autêntica utopia baseia-se na memória.
«Toda a reificação é um esquecimento» (39). A arte combate a
reificação fazendo falar, cantar e talvez dançar o mundo
petrificado. O esquecer os sofrimentos do passado e a felicidade
passada torna mais fácil a vida sob um princípio de realidade
repressiva. Pelo contrário, a lembrança quer o desvanecimento do
sofrimento e a eternidade do prazer - contra o princípio da
realidade. A sua vontade é impotente: a própria felicidade está
ligada ao sofrimento. Inexoravelmente? O horizonte da história
ainda está aberto. Quando a lembrança intervém no combate pela
transformação, também se luta por uma revolução que sempre foi
reprimida nas revoluções precedentes.
NOTAS
(') Especialmente entre os autores dos periódicos Kursbuch
(Francoforte; Suhrkamp, mais tarde Rotbuch Verlag), Argument
(Berlim), Literaturmagazin (Reinbek, Rowohlt). No centro desta
discussão, está a ideia de uma arte autônoma em confronto com a
indústria de arte capitalista, por um lado, e a parte da propaganda
radical, por outro. Ver especialmente os excelentes artigos de
Nicolas Born, H. C. Buch, Wolfgang Harich, Hermann Peter
Piwitt e Michael Schneider nos volumes I e II da Literaturmagazin,
o volume Autonomie der Kunst (Francoforte, Suhrkamp, 1972) e de
Peter Bürger in Theorie der Avantgarde (Francoforte, Suhrkamp,
1974).
(2) Ver Eric Kõhler em Ideal und Wirklichkeit in der Hòfischen Epik
(Tübingen, Niemeyer, 1956), especialmente o capítulo V.
(3) Ver pp. 56 e segs.
(4) Ver, da minha autoria, Counterrevolution and Revolt (Boston,
Beacon Press, 1972, p. 81).
(5) Ernst Fischer in Aufden Spuren der Wirklichkeit; sechs Essays
(Reinbek, Rowohlt, 1968) reconhece na «vontade da forma»
(Wille zur Gestalt) a vontade de transcender o concreto: negação do
que é e pressentimento (Ahnung) de uma existência mais livre e
mais pura. Neste sentido, a arte é o «irreconciliável, a resistência
do ser humano ao seu desaparecimento na ordem e nos sistemas
(estabelecidos)».
(6) «Duas atitudes antagônicas em relação ao poder que
prevalecem na literatura: resistência e submissão. A literatura não é,
certamente, mera ideologia e não exprime apenas uma
consciência social que invoca a ilusão da harmonia assegurando
aos indivíduos que tudo está como devia estar e que ninguém tem
o direito de esperar que o destino lhe conceda mais do que aquilo
que recebe. A verdade é que a literatura,
77
muitas vezes, justificou as relações sociais estabelecidas; no entanto,
sempre manteve bem vivo aquele grito humano que não pode
satisfazer- -se com a sociedade existente. A mágoa e a dor são
elementos essenciais da literatura burguesa.» (Leo Lowenthal, Das
Bild des Menschen in der Literatur, Neuwid, Luchterhand, 1966, pp. 14 e
segs.).
(7) Ver o meu ensaio «The afirmative Character of Culture» em
Negations (Boston, Beacon Press, 1968).
(8) No seu livro Marxistische Ideologie und allgemeine Kunst theorie
(Tübingen, Mohr, 1970), Hans-Dietrich Sander apresenta uma
análise exaustiva dos contributos de Marx e Engels para uma teoria
da arte. Conclusão algo provocante: a maior parte da estética marxista
é não só uma grosseira vulgarização, mas a inversão total das
opiniões de Marx e de Engels! Escreve ele: Marx e Engels viram «a
essência de uma obra de arte precisamente não na sua relevância
social ou política» (p. 174). Estão mais próximos de Kant, Fichte e
Schelling do que de Hegel (p. 171). A documentação de Sander para
esta tese pode ser demasiado selectiva e minimizar afirmações de
Marx e Engels, que contradizem a interpretação de Sander. No
entanto, a sua análise mostra realmente com muita clareza a
dificuldade da estética marxista em abordar os problemas da teoria da
arte.
O Bertolt Brecht, «Volkstümlichkeit und Realismus» in
Gesammelt Werke (Francoforte, Suhrkamp, 1967), volume VIII, p. 323.
(I0) Georg Lukács, «Es geht um den Realismus», in Marxismus und
Literatur, organizado porFritz J. Raddatz (Reinbek, Rowohlt, 1969),
volume II, p. 77.
(") In Die Linkskurve III, 5 (Berlim, Maio de 1931, p. 17.
(12) Colloque International sur la sociologie de la littérature
(Bruxelas, Instituto de Sociologia, 1974), p. 40.
(13) Walter Benjamin, «Fragment über Methodenfrage einer
Marxistishen Literatur-Analyse» in Kursbuch 20 (Francoforte,
Suhrkamp, 1970), p. 3. reimpresso em 1970), p. 9.
(14) Leo Lowenthal, Das Bild des Menschen in der Literatur, p. 12.
(15) Reinhard Lettau em «Nashville Skyline» de Bob Dylan
in Der Spiegel, 1974-73, p. 112.
(16) Lucien Goldmann, Towards a Sociology of the Novel
(Londres, Tavistock, 1975), pp. 10 e segs.
(17) Brecht, Gesammelt Werke, vol. VIII, ob. cit., pp. 324 e segs.
OI9 Ibid., p. 323.
( ) Jean-Paul Sartre, On a raison de se rèvolter (Paris,
Gallimard, 1974), p. 96.
78
(20) Brecht, Gesammelt Werke , ob. cit., pp. 324 e segs.
(21) Brecht, Gesammelt Werke, volume VII, pp. 260 e segs.
(22)Friedrich Nietzsche, Der Wille zur Macht (Estugarda, Krõner,
1930), p. 552.
(23)K. A. Wittfogel in Die Linkskurve, II (Berlim, Novembro de
1930), p. 9.
(24) Tagebiicher, 1920-1922, (Francoforte, Suhrkamp, 1976), p.
138.
(25) Ver a análise crítica de Dieter Wellershoff in Die Auflõsung des
Kunstbegriffs (Francoforte, Suhrkamp, 1976).
(26) Wellershoff, Die Auflõsung des Kunstbegriffs, p. 39.
(27)Jürgen Habermas, Legitimation Crisis (Boston, Beacon Press,
1975), pp. 86 e segs.
(28) Mischael Schneider in Literaturmagazin II (Reinbek,
Rowohlt, 1974), p. 265.
(29) Walter Benjamin, «Der Autor ais Produzent», in Raddatz,
Marxismus und Literatur, vol. II, p. 264.
(30) Hegel, «Vorlesunden über dir Aesthetic» em Samtliche Werke
XII (Estugarda, Fromnann, 1927), p. 28.
(31) «Erinnerungen an Zeitgenossen» de Gorki in Sander,
Marxistiche Ideologie und allgemeine Kunsttheorie, p. 86.
(32) Goethe, Faust, II parte (Baltimore, Penguin Books, 1965),
p. 260.
(33) Reina a paz no cume dos montes,
Nem um murmúrio nas árvores,
As aves calaram-se no bosque.
Também tu, em breve,
Estarás em paz.
(34) Theodor W. Adorno, Noten zur Literatur (Francoforte,
Suhrkamp, 1958), pp. 80 e segs.
(35) Georg Büchner, Samtliche Werke und Briefe (Munique, Carl
Hanser, 1974), p. 87.
(36) Adorno, Noten zur Literatur III, pp. 17 e 126.
(37) Horst Bredekamp, «Autonomie und Askeses», in Autonomie
der kunst, pp. 121 e 133.
(38) Adorno, Noten zur Literatur III, p. 132.
(39) Max Horkheimer e Theodor W. Adorno, Dialectic of
Enlightenment (Nova Iorque, Herder and Herder, 1972), p. 230.
79
Bibliografia
81
Goldmann, Lucien, Towards a Sociology of the Novel (Londres,
Tavistock Publisher, 1975).
Habermas, Jürgen, Legitimation and Crisis (Boston, Beacon
Press, 1975).
Horkheimer, Max e Theodor W. Adorno, Dialectic of
Enlightenment (Nova Iorque, Herder and Herder, 1972).
Kòhler, Erich, Ideal und Wirklichkeit in der Hõfischen Epik
(Tübingen, Niemeyer, 1956; segunda edição em 1970).
Lowenthal, Leo, Literature and the Image ofMan (Boston,
Beacon Press, 1957).
Lukács, Georg, «Es geht um den Realismus», in Marxismus und
Literatur, vol.II, organizado por Fritz J. Raddatz (Reinbek,
Rowohlt, 1969).
Marcuse, Herbert, Counterrevolution and Revolt (Boston,
Beacon Press, 1972).
Mãrten, Lu, Die Linkskurve III, 5 (Berlim, Maio de 1931).
Nietzsche, Friedrich, Der Wille zur Macht (Estugarda, Kroner,
1930).
Sander, Hans-Dietrich, Marxistiche Ideologie undallgemeine
Kunsttheorie (Tübingen, Mohr, 1970).
Sartre, Jean-Paul, On a raison de se révolter (Paris, Gallimard,
1974).
ÍNDICE
PREFÁCIO........................................................ 10
CAPÍTULO 1 .................................................... 15
CAPÍTULO II ................................................... 31
CAPÍTULO III .................................................. 45
CAPÍTULO IV .................................................. 57
CAPÍTULO V ................................................... 65
CONCLUSÃO .................................................. 73
NOTAS .............................................................. 77
BIBLIOGRAFIA ............................................... 81