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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ANÁLISE DA ZONA DE RECARGA E SUA INTERAÇÃO COM O AQUÍFERO


CÁRSTICO NA LAGOA DO MATADOURO, ZONA URBANA DE SETE LAGOAS: UMA
ABORDAGEM CIENTÍFICA E AMBIENTAL

Pedro Henrique da Silva Assunção

MONOGRAFIA no 316

Ouro Preto, abril de 2019

1
2
ANÁLISE DA ZONA DE RECARGA E SUA INTERAÇÃO
COM O AQUÍFERO CÁRSTICO NA LAGOA DO
MATADOURO, ZONA URBANA DE SETE LAGOAS: UMA
ABORDAGEM CIENTÍFICA E AMBIENTAL

i
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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Reitora
Prof.ª Dr.ª Cláudia Aparecida Marliére de Lima

Vice-Reitor
Prof. Dr. Hermínio Arias Nalini Júnior

Pró-Reitora de Graduação
Prof.ª Dr.ª Tânia Rossi Garbin

ESCOLA DE MINAS
Diretor
Prof. Dr. Issamu Endo
Vice-Diretor
Prof. Dr. Hernani Mota de Lima

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
Chefe
Prof. Dr. Marco Antonio Fonseca

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MONOGRAFIA
Nº 316

ANÁLISE DA ZONA DE RECARGA E SUA INTERAÇÃO COM O


AQUÍFERO CÁRSTICO NA LAGOA DO MATADOURO, ZONA
URBANA DE SETE LAGOAS: UMA ABORDAGEM CIENTÍFICA
E AMBIENTAL

Pedro Henrique da Silva Assunção

Orientador

Prof.º Dr.º Paulo Henrique Ferreira Galvão

Monografia do Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Departamento de Geologia da


Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto como requisito parcial para avaliação
da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso – TCC 402, ano 2019/1.

OURO PRETO
2019

v
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Escola de Minas - http://www.em.ufop.br
Departamento de Geologia - http://www.degeo.ufop.br/
Campus Morro do Cruzeiro s/n - Bauxita
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Ficha de Aprovação

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

TÍTULO: ANÁLISE DA ZONA DE RECARGA E SUA INTERAÇÃO COM O


AQUÍFERO CÁRSTICO NA LAGOA DO MATADOURO, ZONA
URBANA DE SETE LAGOAS: UMA ABORDAGEM CIENTÍFICA E
AMBIENTAL

AUTOR: Pedro Henrique da Silva Assunção

ORIENTADOR: Paulo Henrique Ferreira Galvão

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Paulo Henrique Ferreira Galvão ________________________ DEGEO/UFOP

Profª. Drª. Adivane Terezinha da Costa __________________________ DEGEO/UFOP

Prof. M.Sc.. Ana Maciel de Carvalho ____________________________ DEGEO/UFOP

Ouro Preto, _______/_______/_______

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Agradecimentos
Agradeço a Deus por ser a luz e guia na missão de minha vida. A toda minha família que
sempre me incentivou a correr atrás de meus sonhos, pois sonhos nunca envelhecem. Aos meus
queridos pais Nair e Pedro (in memoriam) que me ensinaram o amor incondicional e os verdadeiros
valores da vida. Ao meu irmão Daniel pelo companheirismo. Ao apoio incondicional de todos meus
familiares nesta fase da minha vida, em especial a tia Neide e tio Geraldo por terem sido meu porto
seguro em Ouro Preto.

A todos meus mestres que me ensinaram a ciência geológica, em especial aos professores
Adivane, Gláucia, Maximiliano e Isaac. Ao meu professor orientador Paulo Galvão, pelos
ensinamentos da hidrogeologia cárstica, orientação, amizade e, principalmente, por me incentivar a ser
um excelente profissional.

Ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Sete Lagoas que foi o grande
incentivador, especialmente o presidente Arnaldo Nogueira, ao setor da engenharia, nas pessoas da
Nuna Oliveira, Nathália Oliveira e Aline Gonçalves, por acreditar na importância deste trabalho. A
todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho, em especial, Leila
Menegasse, Laudo, Michele, Rafael e Mariana.

A Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE) por ter sido, desde o início da minha
graduação, uma grande escola de aprendizado e companheirismo, onde despertei o interesse pela
ciência espeleológica, pelo carste e pelo incrível mundo subterrâneo das cavernas.

Ao Programa de Educação Tutorial (PET) – Engenharia Geológica, por ter sido fundamental
na minha formação, onde despertei o interesse pela questão ambiental das águas, agradeço a todos os
membros que convivi e a tutora e incentivadora Adivane.

A Carste Ciência e Meio Ambiente, que contribuiu, mesmo por pouco tempo de estágio, para
o meu crescimento pessoal e profissional.

A todos meus amigos, que compartilharam comigo os melhores momentos de Ouro Preto. À
minha estimada casa República Boite Casablanca, seus atuais moradores, ex-alunos e homenageados,
pela história de grandes amizades e companheirismo, onde pude viver importantes momentos de
minha vida.

Por fim, agradeço ao Departamento de Geologia, à Escola de Minas, à Universidade Federal


de Ouro Preto, por terem me proporcionado um ensino público superior de qualidade. Á Fundação
Gorceix pelo amparo e auxilio na minha estadia em Ouro Preto.

ix
x
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................... ix
SUMÁRIO ................................................................................................................................................. xi
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................................... xv
LISTA DE TABELAS............................................................................................................................. xix
RESUMO .................................................................................................................................................. xxi
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1
1.1 APRESENTAÇÃO .................................................................................................................. 1
1.2 LOCALIZAÇÃO E ACESSOS................................................................................................ 2
1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................................. 3
1.4 JUSTIFICATIVAS ................................................................................................................... 4
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................... 5
2.1 CICLO HIDROLÓGICO ......................................................................................................... 5
2.1.1 Processos envolvidos no ciclo hidrológico ................................................................ 5
2.2 BACIA HIDROGRÁFICA ...................................................................................................... 6
2.2.1 Balanço hídrico .......................................................................................................... 6
2.3 ÁGUA SUBTERRÂNEA E AQUÍFEROS ............................................................................. 7
2.3.1 Conceitos básicos em hidrogeologia .......................................................................... 8
2.3.2 Distribuição vertical da umidade no subsolo ............................................................. 9
2.3.3 Classificação dos aquíferos ........................................................................................ 9
2.3.4 Interação de águas superficiais e subterrâneas ......................................................... 10
2.4 SISTEMAS CÁRSTICOS ...................................................................................................... 11
2.4.1 O carste ..................................................................................................................... 11
2.4.2 Processo de carstificação ou espeleogênese ............................................................. 12
2.4.3 Tipos genéticos e evolutivos do carste ..................................................................... 13
2.4.4 Compartimentação do sistema cárstico .................................................................... 14
2.4.5 Formas, paisagem e feições do carste ...................................................................... 15
2.5 HIDROGEOLOGIA CÁRSTICA .......................................................................................... 17
2.5.1 Sistemas aquíferos cársticos: conceitos.................................................................... 17
2.5.2 Hidrodinâmica dos aquíferos cársticos .................................................................... 19
2.5.3 Transmissão e armazenamento no epicarste ............................................................ 20
2.6 MÉTODOS APLICÁVEIS EM HIDROGEOLOGIA CÁRSTICA ...................................... 21
2.6.1 Geoprocessamento e sensoriamento remoto ............................................................ 21

xi
2.6.2 Métodos geofísicos ................................................................................................... 21
2.6.3 Técnica de traçadores ............................................................................................... 22
2.6.4 Métodos hidráulicos.................................................................................................. 22
3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................................. 23
3.1 CONTEXTO GEOLÓGICO ................................................................................................... 23
3.1.1 Geologia Regional .................................................................................................... 23
3.1.2 Geologia Local .......................................................................................................... 24
3.2 CONTEXTO HIDROGEOLÓGICO ...................................................................................... 29
3.2.1 Modelo conceitual hidrogeológico ........................................................................... 29
3.2.2 Características hidrogeoquímicasi9l das águas subterrâneas.................................... 31
3.2.3 Parâmetros hidráulicos do aquífero (T, K e k) .......................................................... 32
3.3 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS .............................................................................................. 32
3.3.1 Clima e Precipitação ................................................................................................. 32
3.3.2 Hidrografia ................................................................................................................ 33
3.3.3 Geomorfologia .......................................................................................................... 33
3.4 ABASTECIMENTO PÚBLICO DE ÁGUA EM SETE LAGOAS ....................................... 34
3.5 USO E OCUPAÇÃO .............................................................................................................. 35
3.6 LAGOA DO MATADOURO ................................................................................................. 36
4 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................... 39
4.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................... 39
4.2 LEVANTAMENTO DE DADOS CLIMATOLÓGICOS ...................................................... 39
4.3 LEVANTAMENTO DE DADOS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS ......................................... 40
4.4 SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO .............................................. 40
4.4.1 Sensoriamento remoto .............................................................................................. 40
4.4.2 Geoprocessamento e Sistemas de Informação Geográfica ....................................... 41
4.5 MAPEAMENTO DE CAMPO GEOMORFOLÓGICO E AMBIENTAL ............................ 41
4.5.1 Mapeamento das formas cársticas de recarga ........................................................... 41
4.5.2 Mapeamento do uso e ocupação da área de estudo .................................................. 42
4.6 MÉTODO HIDRÁULICO...................................................................................................... 42
4.6.1 Análise dos parâmetros físico-químicos in situ ........................................................ 43
4.6.2 Teste de bombeamento de aquífero .......................................................................... 43
4.6.3 Preparação para o teste (pré-teste) ............................................................................ 43
4.6.4 Realização do teste ................................................................................................... 44
4.6.5 Interpretação dos resultados ..................................................................................... 45

xii
5 ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA E AMBIENTAL .......................................................... 47
5.1 FORMAS CÁRSTICAS DE RECARGA .............................................................................. 47
5.1.1 Córrego do Matadouro ............................................................................................. 47
5.1.2 Lagoa do Matadouro ................................................................................................ 48
5.2 USO E OCUPAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................................................... 52
5.2.1 Área urbanizada........................................................................................................ 53
5.2.2 Sistema de abastecimento de água CDI ................................................................... 53
5.2.3 Córrego do Matadouro ............................................................................................. 54
5.2.4 Lagoa do Matadouro ................................................................................................ 55
6 ANÁLISE HIDROGEOLÓGICA ......................................................................................... 57
6.1 AVALIAÇÃO CLIMATOLÓGICA DE SETE LAGOAS .................................................... 57
6.1.1 Precipitação .............................................................................................................. 57
6.1.2 Evapotranspiração Real ............................................................................................ 58
6.2 HIDRODINÂMICA DO AQUÍFERO CÁRSTICO SETE LAGOAS .................................. 59
6.2.1 Hidrodinâmica regional ............................................................................................ 59
6.2.2 Hidrodinâmica local ................................................................................................. 61
6.3 CONDIÇÃO INTERMITENTE DA LAGOA DO MATADOURO ..................................... 63
6.4 RECARGAS E ZONA DE TRANSMISSÃO DO AQUÍFERO CÁRSTICO ....................... 64
6.5 PARÂMETROS HIDRÁULICOS E FÍSICO-QUÍMICOS ................................................... 65
6.6 IMPACTOS NA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA LOCAL ............................. 68
6.7 MODELO CONCEITUAL HIDROGEOLÓGICO ............................................................... 70
7 CONCLUSÕES ....................................................................................................................... 73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 75

xiii
xiv
INDÍCE DE FIGURAS
Figura 1.1 – Localização das área de estudo, em coordenadas UTM, com seus respectivos
posicionamentos no território do município de Sete Lagoas, no mapa do território do
Brasil e do estado de Minas Gerais, mostrando a Lagoa do Matadouro (1) localizada na
zona urbana e a Lagoa Grande (2) localizada na zona industrial e os respectivos poços
locados da áreas (modificado do Google Earth). ................................................................. 3
Figura 2.1 – Figura dos processos do Ciclo hidrológico (Feitosa et al. 2008). ........................ 6
Figura 2.2 – Figura dos processos do ciclo hidrológico e balanço hídrico relacionados
(modificado de Tucci 2001). ................................................................................................ 7
Figura 2.3 – Figura representativa da distribuição vertical da água subterrânea no subsolo
(Feitosa et al. 2008). ............................................................................................................ 9
Figura 2.4 – Figura dos tipos de aquífero em relação a porosidade do meio, com destaque,
vermelho, para os aquíferos cársticos (modificado de Teixeira et al. 2003). .................... 10
Figura 2.5 – Figura mapa mostrando as regiões cársticas no brasil e cavernas dando ênfase
em de região de Sete Lagoas (modificado de CECAV (2009). ......................................... 12
Figura 2.6 – Tipos evolutivos do carste e processos de carstificação envolvidos (Klimchouk
2015). ................................................................................................................................. 14
Figura 2.7 – Resumo da compreensão de todo sistema cárstico formas e processos (Ford &
Williams 2007). ................................................................................................................. 17
Figura 2.8 – Dinamismo hidráulico representado pela oscilação da sazonalidade da superfície
freática. No período de seca (a) as bacias aquíferas são independentes, já no período de
chuva (b) passam a ser interconectadas, de modo que o sistema A contribui com o fluxo
(overflow) do sistema B. Ilustração: Mylène Berbert-Born (Modificado de Sanchez &
Lobo 2016). ........................................................................................................................ 18
Figura 2.9 – Bloco diagrama da hidrodinâmica cárstica (Sanchez & Lobo 2016)................. 20
Figura 2.10 – Zona insaturada focando do epicarste e zona de transmissão dinâmica cárstica
(modificado de Ford & Williams 2007). ........................................................................... 21
Figura 3.1 – Contexto geológico regional no qual a área de estudo está inserida em relação ao
Cráton São Francisco e as faixas móveis adjacentes (modificado de Alkmim & Martins
Neto 2012). ........................................................................................................................ 24
Figura 3.2 – Sequência estratigrafia do Grupo Bambuí com suas respectivas formações, da
base para o topo, com os ciclos sedimentares regressivos (modificado de Vieira et al.
2007). ................................................................................................................................. 25
Figura 3.3 – Afloramentos da litofácies 1 do Membro Pedro Leopoldo descrito por Vieira et
al. (2007). (A) afloramento no interior da lagoa do Matadouro, no fundo da dolina
principal. (B) Afloramento nas margens do córrego do Matadouro. Fonte: Autor. .......... 26
Figura 3.4 – Geológia e coluna estratigráfica mostrando a distribuição espacial das unidades
litoestratigráficas que ocorrem na região de sete Lagoas, onde se localiza a área de estudo
(modificado de Galvão 2015). ........................................................................................... 27

xv
Figura 3.5 – (A) Mapa estrutural evidenciando as estruturas principais tais como lineamentos,
fraturas, falhas e dobras (B) Estereogramas mostrando a direção principal de acamamentos
das unidades litoestratigráficas aflorantes na região de Sete Lagoas, com destaque para a
localização da área de estudo neste contexto (modificado de Galvão 2015). .................... 29
Figura 3.6 – Modelo conceitual representativo dos tipos aquíferos existentes no município de
Sete lagoas e sua características geológicas, hidrológicas e hidrodinâmicas, além do mapa
de superfície potenciométrica com as direções do fluxo subterrêneo e condições de
contorno, referente ao aquífero cártico (Galvão 2015). ..................................................... 31
Figura 3.7 – Mapas com localização dos poços de bombeamentos do SAAE de Sete Lagoas,
mostrando sua distribuição pelo território do município, com destaque para os poços
contaminados do CDI na área de estudo (modificado de Galvão 2015). ........................... 35
Figura 3.8 – Gráfico evidenciando as médias mensais de precipitação e temperatura de Sete
Lagoas obtidas de normais climatológicas de 1961 a 1990, da Estação Meteorológica de
Sete Lagoas (INMET). ....................................................................................................... 33
Figura 4.1 – (A) Realização das medições das dimensões máximas das formas do relevo
cárstico com o uso de uma trena de 30 m. (B) Utilização da GPS e prancheta para as
anotações das coordenadas gerográficas e informações sobre a morfologia e condições das
feições cársticas. ................................................................................................................. 42
Figura 4.2 – Poços utilizados no teste de aquífero da Estação CDI do SAAE (A) Figura
representativa do teste de aquífero (Feitosa et a.l 2008) (B) Poço PT-19 estabelecido para
o bombeamento (C) Poço PT-21 definido para a observação do rebaixamento do nível da
água. ................................................................................................................................... 44
Figura 4.3 – Fotos dos equipamentos utilizados: (A) Planilha para anotação baseada em
(Feitosa & Costa Filho 1998) (B) Medidor de vazão modelo Handheld Ultrasonic
Flowmeter (C) Sensor do medidor de vazão ultrasônico (D) Medidor de nível d’água
Hidrosuprimentos modelo HSNA-100 (E) Multiparâmetro Ultrameter IITM (F) Coleta de
água para analise físco-química. Fonte: Autor. .................................................................. 45
Figura 4.4 – (A) Superposição das curvas padrões de s e W(u) num determinado ponto
coincidente proposta por Theis (1935). (B) Curva para a determinação de t0 proposta por
Cooper & Jacob (1946). Fonte: modificado de Feitosa et al (2008). ................................. 46
Figura 6.1 – Precipitação anual em milímetros durante o período 1993 - 2015, com a média e
desvio padrão. ..................................................................................................................... 58
Figura 6.2 - Evapotranspiração real anual em milímetros durante o período 1993 - 2015, e
com a média e a variação da temperatura (°C). .................................................................. 58
Figura 6.3 – Mapas de superfícies potenciométricas confeccionados por meio das
informações dos níveis estáticos levantadas por Pessoa (1996) e Galvão (2015), com as
respectivas direções principais do fluxo subterrâneo do Aquífero Cárstico Sete Lagoas. . 60
Figura 6.4 – Mapas da superfície potencimétrica da área de estudo indicando o sentido do
fluxo da água subterrânea para N. (A) Mapa considerando os níveis estáticos (B) e mapa
considerando o bombeamento do poço PT-19 após 48 horas. ........................................... 62
Figura 6.5 – Imagens de satélites e de campo em épocas de seca e chuva mostrando a
sazonalidade e dinamismo do nível da água da Lagoa do Matadouro. (A) Dolinas cheias

xvi
de água (B) Dolinas secas, ambas localizadas no centro da lagoa. Fonte: imagens de
satélites do Google Earth. .................................................................................................. 63
Figura 6.6 - Ilustração indicando as formas de recarga e transmissão no aquífero cárstico
local, bem como o comportamento do fluxo subterrâneo. ................................................. 64
Figura 6.7- Gráfico da superposição entre a Curva teórica de Theis (1935) e a curva
Rebaixamento (s) x Tempo (t) gerada pelo teste de aquífero realizado na área de estudo. 65
Figura 6.8 - Gráfico da curva mono-log de Rebaixamento (s) x Tempo (t) obtida pelo método
de Cooper & Jacob (1946), destacando o s e o ciclo logarítmico utilizado na análise. ..... 65
Figura 6.9 – Gráficos da relação dos parâmetros físico-químicos em função do tempo (min)
durante o teste de aquífero, respectivamente CE x STD, pH X T e Rebaixamento x ORP.
........................................................................................................................................... 67
Figura 6.10 - Gráficos das análises químicas evidenciando a contaminação das águas
subterrâneas por Fe, Mn e Nitrito nos poços PT-19, PT-20 e PT-21, durante os anos de
2015 e 2016. ....................................................................................................................... 69
Figura 6.11 – Ilustração do modelo hidrogeológico conceitual da área de estudo
representando todos os processos envolvidos na dinâmica hídrica do aquífero cárstico
local. ................................................................................................................................... 71

xvii
xviii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 3.1 – Parâmetros hidráulicas da matriz e regional do Aquífero Cárstico Sete Lagoas
(Galvão 2015). ..................................................................................................................... 32
Tabela 4.1 – Tabela com os poços pré-estabelecidos para o bombeamento e observação, com
informações sobre sua localização, profundidade e parâmetros hidráulicos. ..................... 43
Tabela 5.1 – Tabela com as formas cárstica de recargas da Lagoa do Matadouro e suas
características * Medidas tomadas em campo ** Medidas obtidas por meio do software
ArcGis® 10.1. ..................................................................................................................... 50
Tabela 6.1 – Tabela com as coordenadas, nível d’água e carga hidráulica utilizadas nos
mapas potenciométricos. ..................................................................................................... 61
Tabela 6.2 – Comparação dos métodos de intepretação dos testes de aquíferos realizados em
2011 e 2019. ........................................................................................................................ 66

xix
xx
Resumo
Os aquíferos cársticos são importantes reservatórios de água potável que abastecem a população de
diversas cidades situadas sobre esses mananciais subterrâneos. Contudo, eles são extremamente
vulneráveis a contaminação, haja vista que a alta velocidade do fluxo subterrâneo permite que os
contaminantes alcancem as águas subterrâneas rapidamente e sem tempo suficiente para se
degradarem. Em Sete Lagoas a maior parte da água para o abastecimento humano é proveniente do
aquífero cárstico, constituído pelas rochas carbonáticas da Formação Sete Lagoas do Grupo Bambuí.
O crescimento urbano acelerado e sem planejamento do município provocou o aumento da demanda
de água ocasionando uma superexplotação, além de problemas como subsidências e contaminação do
aquífero. A área de estudo está localizada na zona urbana de Sete Lagoas, onde encontram-se poços
tubulares do SAAE que estão captando águas contaminadas por esgoto e matéria orgânica, sendo a
lagoa e córrego do Matadouro possíveis fonte desse impacto, indicando prováveis conexões com o
aquífero. Portanto, a fim de se investigar essas conexões entre as zonas de recarga e o aquífero cárstico
e avaliar os impactos na quantidade e qualidade das águas subterrâneas, foram realizados o
sensoriamento remoto e o mapeamento geomorfológico e ambiental, a análise climatológica, além de
um teste de bombeamento de aquífero de 48 horas. Foi possível identificar dolinas e uvalas
consideradas feições de recarga autogênica e concentrada, além disso, observaram-se impactos
ambientais próximos a zonas de recarga. Constatou-se que a dinâmica hídrica da lagoa do Matadouro é
influenciada pela hidrodinâmica regional e que não houve mudanças nas condições hidráulicas do
aquífero. As contaminações por coliformes, escherichia coli, nitrito e por matéria orgânica indicaram a
conexão hídrica da lagoa e do córrego do Matadouro com o aquífero.

Palavras chave: Carste, Hidrogeologia cárstica, Aquífero cárstico, Sete Lagoas.

xxi
xxii
CAPITULO 1
1 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO

A água é um elemento essencial para a manutenção da vida no planeta e sua demanda pela
humanidade tem-se elevado globalmente. Segundo UNESCO (2018), o uso da água aumenta cerca de
1% por ano e a expectativa é que essa taxa continue aumentando em função do crescimento
populacional, desenvolvimento econômico, mudanças no padrão de consumo, entre outros fatores. A
estimativa é que as demandas industriais e domésticas por água superem a demanda agrícola, ainda
que globalmente a agricultura permaneça à frente. Além disso, grande parte da água potável utilizada
para o consumo e para a irrigação nas atividades agrícolas é proveniente de águas subterrâneas.

A água subterrânea é parte essencial do ciclo hidrológico, constituindo cerca de 97% da água
doce disponível no planeta, sendo um recurso natural importante por ser bastante utilizada como fonte
primária de água para uso agrícola, doméstico e industrial (Feitosa et al. 2008). Devido às mudanças
climáticas e impactos antrópicos sobre as águas superficiais, a necessidade pelo uso dos recursos
hídricos subterrâneos também tem aumentado consideravelmente, o que os tornam mais susceptíveis a
impactos tanto na qualidade quanto na quantidade, além de aumentar o número de conflitos pelo seu
uso.

No caso dos sistemas cársticos, a água subterrânea desempenha um papel fundamental na


formação desses ambientes naturais, sendo imprescindível nos processos de dissolução química e
erosão mecânica das rochas. Dessa forma, as condições geológicas e a ação da água possibilitam o
desenvolvimento de uma rede complexa de condutos subterrâneos por onde a água consegue fluir com
facilidade. E ao depender da solubilidade e porosidade das rochas que compõe o sistema, os condutos
cársticos podem ser ainda maiores e interconectados, como é o caso das rochas carbonáticas e
dolomíticas. Por essas especificidades, este tipo de aquífero é ainda mais vulnerável e susceptível a
impactos antrópicos (Ford & Willians 2007, Auler et al. 2015, Souza & Auler 2018).

O município de Sete Lagoas (MG) está inserido em uma região cárstica sob a qual ocorreu seu
processo de expansão urbana e desenvolvimento das atividades econômicas que provocou um aumento
pela demanda de água para o abastecimento público. A partir da década de 1940 a água subterrânea
passou a ser a principal fonte hídrica, uma vez que as fontes superficiais não atendiam a necessidade
da cidade. Atualmente, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), uma autarquia municipal, é
responsável pelo serviço público de abastecimento de água em Sete Lagoas, atendendo demandas
domésticas, comerciais e industriais por meio da captação de água feita em mais de 100 poços
tubulares ativos com uma significativa produção de, aproximadamente Q=1873 m3/h, além da

1
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

captação de águas superficiais feita no rio das Velhas. Devido à explotação inadequada, são comuns
problemas como falta de água, contaminação de poços e problemas geotécnicos (subsidências)
principalmente na porção central da zona urbana (Botelho 2008, Galvão 2015).

Dentre as várias questões em regiões cársticas relacionadas a ações antrópicas, a contaminação


do aquífero é comum, devido a sua alta vulnerabilidade intrínseca. Há três poços próximo à lagoa do
Matadouro, localizada na porção urbana do município, recentemente em 2016, começaram a captar
águas com altos teores de matéria orgânica, muito parecida com os materiais do substrato da lagoa,
comprometendo a qualidade da água da região. Essa lagoa é intermitente, permanecendo seca no
período de estiagem, o que a torna uma área momentânea de pastagem e acúmulo de lixo e dejetos.
Em seu centro existem evidências de zonas de recarga e infiltração pontuais, como dolinas e uvalas,
bem como ao lado, uma dolina na margem esquerda do córrego Matadouro. Portanto, são levantadas
algumas questões nessa pesquisa. A primeira é se existe uma conexão entre a lagoa/córrego e o
aquífero, a ponto dos impactos ambientais na lagoa/córrego de serem possíveis fonte de contaminação
da água nos poços. A segunda questão é se essa matéria orgânica, associada a sedimentos terrígenos,
ao infiltrarem nas zonas de recarga, podem estar obstruindo condutos cársticos a ponto de diminuírem
os parâmetros hidráulicos do aquífero. A última questão levantada é por qual(ais) motivos a lagoa do
Matadouro deixou de ser perene e passou a ser intermitente.

Nesse contexto, procurou-se compreender com este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) a
dinâmica hidrogeológica das zonas de recarga e sua interação com a rede de condutos subterrâneos no
Aquífero Cárstico Sete Lagoas. A fim de investigar essas conexões entre as lagoas, tidas como
importantes zonas de recarga do aquífero, e os condutos cársticos, foram aplicados o sensoriamento
remoto, geoprocessamento, mapeamento de campo e testes de bombeamento para determinação dos
parâmetros hidráulicos do aquífero.

1.2 LOCALIZAÇÃO E ACESSOS

A área de estudo encontra-se na região central do estado Minas Gerais, Brasil (Figura 1.1), no
município de Sete Lagoas, que possui uma área territorial de aproximadamente 536 km2 e uma
população de mais de 237 mil habitantes (IBGE 2018). A extensão da área estudada tem,
aproximadamente, 2 km2 e localiza-se no centro urbano do município.

O município de Sete Lagoas está a cerca de 70 km a noroeste da capital do estado Belo


Horizonte, o acesso à região é feito a partir das rodovias BR-040 (Anel Rodoviário) sentido Brasília-
DF, ou pela rodovia MG-424 (Estrada Velha), passando pelos municípios de Prudente de Morais,
Matozinhos, Pedro Leopoldo e Vespasiano.

2
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Figura ‎1.1 – Localização das área de estudo, em coordenadas UTM, com seus respectivos posicionamentos no
território do município de Sete Lagoas, mostrando a lagoa e o córrego do Matadouro (modificado do Google
Earth).

1.3 OBJETIVOS

O objetivo principal é a determinação de possíveis conexões entre pontos de recarga


(sumidouros) presentes na lagoa e no córrego do Matadouro e condutos cársticos do aquífero que são
interceptados por poços de captação do SAAE, próximos à área de influência hídrica dessa lagoa e do
córrego. Além da avaliação de impactos na quantidade e qualidade das águas subterrâneas. Nesse
sentido, são definidos como objetivos específicos:

● Identificar possíveis pontos de recarga (sumidouros) e pontos de descarga (surgências e


poços) no domínio de influência hídrica da lagoa e córrego do Matadouro;
● Identificar possíveis fontes de contaminações antrópicas que possam afetar o aquífero, por
meio do mapeamento de campo do uso e ocupação da área de estudo;
● Verificar a influência do clima, ao longo do tempo, na dinâmica hídrica da lagoa do
Matadouro, fazendo o levantamento de informações meteorológicas;
● Verificar possíveis mudanças na dinâmica do aquífero local, determinando parâmetros
hidráulicos, como condutividade hidráulica e transmissividade, por meio de teste de
aquífero e comparar com testes feitos anteriormente;

3
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

● Melhor entendimento da hidrodinâmica do aquífero cárstico, por meio da confecção de


mapas de superfície potenciométrica e de modelos tridimensionais hidrogeológicos.
● Compreender os impactos ambientais na qualidade das águas subterrâneas do aquífero, por
meio do levantamento de dados químicos e bacteriológicos.

1.4 JUSTIFICATIVAS

Sete Lagoas teve um rápido crescimento populacional e industrial que levou a uma falta de
planejamento urbano estratégico, refletindo em problemas de fornecimento de água. A maior parte da
água de consumo é proveniente de fontes subterrâneas, evidenciada pela grande quantidade de poços
de captação no município. De acordo com o SAAE, cerca de 105 poços estão ativos e 21 poços
inativos, sendo que alguns apresentam-se contaminados, como é o caso dos poços próximo a área de
estudo. Além disso, a elevada taxa de extração de águas subterrâneas faz com que os condutos mais
rasos, em algumas áreas, estejam na zona não saturada, provocando eventos de subsidências e
problemas geotécnicos (Galvão 2015).

Tendo em vista a necessidade de se estudar melhor essa região, este trabalho busca contribuir
para o entendimento das zonas de recarga e da rede de condutos cársticos na zona urbana do
município. As informações hidrogeológicas levantadas podem ser úteis na gestão dos recursos hídricos
do aquífero cárstico local que, por serem heterogêneos e anisotrópicos, necessitam de maior atenção
do poder público. Além disso, o trabalho contou com o apoio institucional do SAAE de Sete
Lagoas/MG, que se prontificou em oferecer recursos para a logística das atividades campo, como
veículos, caminhões pipa, autorização do bombeamento dos poços e acompanhamento dos serviços.

O Sistema de Abastecimento de Água – CDI, administrado pelo SAAE, constituía uma das
principais fontes de abastecimento público de água em Sete Lagoas, abastecendo os bairros próximos,
como Vapabuçu, CDI I e II. Contudo, o sistema foi desativado por volta de 2016, devido a
contaminações das águas subterrâneas, o qual era interceptado por poços tubulares de alta vazão.
Houve a tentativa de tratamento da água contaminada com uma estação de tratamento de médio porte,
que não solucionou o problema da contaminação. Portanto, é necessário que se identifique as fontes
dos contaminantes para que sejam mitigados os impactos na qualidade da água subterrânea, principal
fonte de abastecimento doméstico do município.

Ainda considerando as regiões cársticas existentes no território brasileiro, onde importantes


centros urbanos estão localizados (CECAV 2009), há a necessidade de elaboração de novos estudos
hidrogeológicos a fim de atingir o máximo de aquíferos cársticos, atuando na sua conservação e
proteção.

4
CAPÍTULO 2

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo serão discutidos aspectos teóricos fundamentais para realização deste trabalho,
cujas referências abrangem desde conceitos básicos, como ciclo hidrológico, a conceitos técnicos e
específicos sobre hidrogeologia cárstica.

2.1 CICLO HIDROLÓGICO

A água está presente em toda superfície terrestre, seja na litosfera, na atmosfera, na hidrosfera
ou na biosfera e ocorre em seus três estados físicos (sólido, líquido e vapor). Condicionada pela
energia solar, gravidade e rotação terrestre, a água está em um constante movimento cíclico fechado a
nível global. Esse fenômeno de circulação da água é conhecido como ciclo hidrológico (Figura 2.1),
constituído por processos físico-químicos e mecanismos de transferência das massas de água, sendo
eles: precipitação, interceptação, infiltração, escoamento superficial, transpiração, evaporação e
escoamento subterrâneo (Tucci 2001, Feitosa et al. 2008).

2.1.1 Processos envolvidos no ciclo hidrológico

A precipitação é o processo em que a água em seu estado de vapor nas nuvens se condensa em
fomas de gotículas que, ao atingir a quantidade, tamanho e peso suficientes para sofrerem influência
da gravidade, precipitam-se na forma de chuva, neve ou granizo, dependendo das condições
meteorológicas. Ao se precipitar, a água encontra alguns obstáculos, como a cobertura vegetal ou
centros urbanos onde a água se acumula e evapora. Esse processo é tido como interceptação. A água
que não passa pela interceptação pode atingir diretamente o solo e passar pelo processo de infiltração,
uma vez que o solo, em certas situações, pode ser um meio permo-poroso que permite a percolação e
infiltração condicionadas pela gravidade e capilaridade. Quando há a saturação da água em
subsuperfície ou devido a declividade do relevo, pode-se gerar um fluxo superficial denominado de
escoamento superficial. Este processo é influenciado pela gravidade, direcionando a água de cotas
mais altas para cotas mais baixas, por meio de redes de drenagens efêmeras que se concectam a
drenagens perenes como rios e córregos (Tucci 2001, Feitosa et al. 2008).

Existem dois processos principais que acontecem no sentido superfície-atmosfera: transpiração


e evaporação. A transpiração acontece à medida em que as plantas absorvem a água pelas raízes em
contato com o solo húmido e uma parte dessa água retorna a atmosfera na forma de vapor. A
evaporação é o processo mais abundante de transferência de água em forma de vapor para a atmosfera

5
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

e ocorre em quase toda parte da superfície. A maior contribuição da evaporação vem dos oceanos, mas
também ocorre em todo manancias superficiais (Tucci 2001, Feitosa et al. 2008).

O escoamento subterrâneo é todo fluxo da água abaixo do nível de saturação que permeia os
aquíferos, sendo um escoamento lento se comparado ao escoamento superficial. É possivel separar
esses dois tipos de escoamentos por meio de métodos aplicados a um hidrograma, que é um gráfico da
saída de água de um sistema hidrográfico. A quantificação exata do escoamento subterrâneo é
praticamente impossível, devido a complexidade das redes de fluxo e heterogeneidade dos materias
geológicos por onde a água flui, embora seja possível quantificar valores médios dos parâmetros
hidráulicos pela Lei de Darcy em meio poroso homogêneos (Tucci 2001, Feitosa et al. 2008).

Figura ‎2.1 – Figura dos processos do Ciclo hidrológico (Feitosa et al. 2008).

2.2 BACIA HIDROGRÁFICA

A bacia hidrográfica é um elemento essencial para análise das águas superficiais e meteóricas.
De acordo com a definição de um sistema físico, pode-se considerar uma bacia hidrográfica como tal,
onde o volume de água precipitado é a entrada e o volume escoado para o exutório é a saída do
sistema. O volume de água infiltrado no solo, mais o volume evaporado e transpirado são tidos como
perdas do sistema. A bacia hidrográfica pode ser definida também como uma região geográfica
delimitada pelos interflúvios, em que o volume de água precipitado é captado e por meio dos
processos de escoamentos, convergindo para o exutório (Tucci 2001).

2.2.1 Balanço hídrico

Ao considerar uma bacia hidrográfica um sistema físico e os processos envolvidos no ciclo


hidrológico, como a precipitação (P), a evaporação (E), o escoamento superficial ou deflúvio (Q sup),

6
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

escoamento subterrâneo (Qsub), a infiltração (I), a transpiração (T), pode-se analisar o balanço da água
em um dado momento de tempo (Tucci 2001).

Segundo Feitosa et al. (2008) o balanço hídrico pode ser analisado por uma equação em que a
diferença entre entradas e saídas é igual ao armazenamento interno do sistema. Portanto, a equação do
balanço hídrico está de acordo como o princípio da conservação de massa. Na superfície, a equação
pode ser descrita de forma simplificada:

Por outro lado, o armazenamento subterrâneo pode ser descrito como:

Considerando a totalidade do sistema hídrico (Figura 2.2) somam-se os armazenamentos


superficiais e subterrâneos, percebe-se que a infiltração (I) se anula na equação do balaço hídrico
global:

onde, ∆Stotal é o armazenamento total, P é a precipitação, Qtotal representa o escoamento total do sistema
e ET representa a evapotranspiração.

Figura ‎2.2 – Figura dos processos do ciclo hidrológico e balanço hídrico relacionados (modificado de Tucci
2001).

2.3 ÁGUA SUBTERRÂNEA E AQUÍFEROS

A água subterrânea é um recurso natural que faz parte do ciclo hidrológico e, portanto, é
imprescindível que se compreenda sua interação com as águas superficiais em bacias hidrográficas
(Feitosa et al. 2008). Esse recurso é essencial para o ser humano em diversos aspectos, dentre outros,
para o fornecimento de água para consumo e para o uso doméstico, industrial e agrícola.

7
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

2.3.1 Conceitos básicos em hidrogeologia

O conceito de porosidade total pode ser definido pela relação do volume de vazios (Vv) pelo
volume total (Vt) que é definido pelo Vv mais o volume de sólido (Vs), presente nos meios geológicos.
Os espaços vazios existentes em uma rocha ou solo podem ter origem primária, ou seja, são
intrínsecos à matriz ou podem ser secundários, promovidos por processos posteriores a formação da
rocha ou solo, por exemplo, fraturas e dissolução (Feitosa et al. 2008). Alguns autores (Freeze &
Cherry 1979, Ford & Williams 2007, Goldscheider & Drew, 2007) consideram como porosidade
terciária, os espaços produzido pela dissolução.

A permeabilidade está relacionada com a interconectividade dos espaços vazios que, ao


depender do tipo de porosidade, pode ser classificada em permeabilidade primária, secundária e
terciária. Quanto maior a conexão entre os poros, maior a capacidade de transmisão da água. No
entanto, se a permeabilidade for baixa, a conectividade entre os espaços vazios será menor e, portanto,
menor será a capacidade de transmissão da água subterrânea (Freeze & Cherry 1979, Karmann et al.
2000).

O aquífero é toda formação geológica que contém água armazenada em seu interior e sendo
possível que haja o movimento natural das águas subterrâneas em quantidades significativas. Portanto,
para que haja o fluxo da água subterrânea a formação geológica deve ser um meio poroso e permeável,
por exemplos os arenitos. Além disso, é importante que o aquífero seja passível de ser explorado
economicamente (Freeze & Cherry 1979, Tucci 2001, Feitosa et al. 2008).

O aquitardo é constituido por uma formação semipermeável, isto é, armazena grandes


quantidades águas embora a transmita em uma taxa muito menor, em relação ao aquífero. Um
aquitardo pode ser delimitado na base e/ou no topo por aquíferos podendo haver uma infiltração
vertical ou drenança (Tucci 2001, Feitosa et al. 2008). Por outro lado, existe o aquiclude que são
formações capazes de armazernar água em quantidade considerável, mas não conseguem transmití-la
devido a baixa permeabilidade do meio geológico; bons exemplos são as argilas e pelitos. Formações
que não são capazes de conter e nem transmitir volumes de água, ou seja, são denominadas de
aquífugos (Freeze & Cherry 1979, Feitosa et al. 2008).

As propriedade hidrodinâmicas são importantes para o entendimento do funcionamento dos


aquíferos. Pode-se destacar o coeficiente de armazenamento (S), que indica a relação entre mudanças
de quantidade de água armazenadas no aquífero (Bear 1972). A transmissividade (T) é a capacidade
de transmissão horizontal de água em uma espessura saturada do aquífero. A condutividade hidráulica
(K) indica a facilidade com que a água é transportada pelos aquíferos; esta propriedade depende do
meio e do fluido (Freeze & Cherry 1979, Feitosa et al. 2008).

8
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

2.3.2 Distribuição vertical da umidade no subsolo

A água subterrânea pode ser definida de acordo com a sua distribuição vertical ao logo das
rochas e dos solos, podendo ser dividida em duas zonas principais: saturada e não saturada (Figura
2.3). A zona saturada, ou freática, é aquela em que todos os espaços vazios estão preenchidos por
água, estando localizada abaixo do nível de água ou superfície freática. Por definição, a superfície
freática ou piezométrica é onde água está submetida a somente a pressão atmosférica (Freeze &
Cherry 1979, Feitosa et al. 2008).

A zona não saturada, ou vadosa, é a região acima da superfície freática, onde os poros estão
parcialmente prenchidos por gases e água, podendo ser dividida em três partes: zona de água no solo,
zona intermediária e a franja capilar (Freeze & Cherry 1979, Feitosa et al. 2008). Na franja capilar,
ocorre o fenômeno da capilaridade, que promove a acenção da água por meio de forças capilares, até
um determinado nível. Além disso, a franja capilar é delimitada inferiormente pelo nível freático
(Freeze & Cherry 1979, Feitosa et al. 2008).

Figura ‎2.3 – Figura representativa da distribuição vertical da água subterrânea no subsolo (Feitosa et al. 2008).

2.3.3 Classificação dos aquíferos

Existem algumas classificações dos tipos de aquíferos, sendo uma que considera a pressão
hidráulica e a capacidade transmição de água em suas superfícies limítrofes e outra que o tipo da
porosidade do meio geológico.

Baseados na pressão hidráulica e transmissividade nas superfícies limítrofes, os aquíferos


livres ou não confinados possuem como seu limite superior o nível freático, que está apenas sob
pressão atmosférica. Podem ser divididos em drenantes quando o limite inferior (base) for constituído
de um meio semipermeável e não drenantes quando a base for delimitada por uma camada

9
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

impermeável. O aquífero suspenso é um tipo específico de aquífero livre que ocorre sob uma camada
restrita impermeável ou semipermeável, em uma zona vadosa. Segundo Feitosa et al. (2008), o
conceito de aquífero confinado está relacionado à pressão da água em seu limite superior (topo),
quando esta é maior que a pressão atmosférica, ou seja, existe uma pressão de carga, além da
atmosférica.

Por fim, existem os aquíferos cársticos que são compostos por rochas solúveis favoráveis à
dissolução. Este processo desenvolve a porosidade terciária (cárstica) desenvolvendo uma rede de
condutos que transmitem a água (Karmann et al. 2000).

Figura ‎2.4 – Figura dos tipos de aquífero em relação a porosidade do meio, com destaque, vermelho, para os
aquíferos cársticos (modificado de Teixeira et al. 2003).

2.3.4 Interação de águas superficiais e subterrâneas

O sistema hídrico como um todo é composto tanto pelas águas superficiais quanto pelas
subterrâneas, além das águas atmosféricas, ambas obedecendo aos processos do ciclo hidrológico
(Freezy & Cherry 1979).

Segundo Tucci (2001), o sistema hídrico é também constituído de componentes que


relacionam entre si, sejam os elementos naturais (aquíferos, rios penetrantes no aquífero) ou elementos
artificiais feitos pelo homem (poços, barragem, canais). Para que seja possível entender o sistema
como um todo é preciso estudar separadamente cada um dos componentes e posteriormente
compreender a interação entre cada um deles.

Considera-se, por exemplo, que haja interação de um rio com um aquífero, isso permite
analisar se o rio é efluente, isto é, recebe água do aquífero, ou se ele é influente, fornecendo água para
o aquífero (Karmann et al. 2000, Feitosa et al. 2008).

10
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

2.4 SISTEMAS CÁRSTICOS

Os ambientes cársticos podem ser considerados sistemas naturais geohidrodinâmicos que


envolvem a interação dos processos do ciclo hidrológico com o substrato geológico específico,
constituído principalmente por rochas solúveis, possibilitando a existência de ecossistemas únicos.
Como produto das interações, esses ambientes apresentam paisagens e formas peculiares e de grande
beleza cênica, sejam elas encontradas no subterrâneo ou na superfície. No entanto, esses sistemas
também são frágeis e sensíveis às ações antrópicas, portanto, necessitam de maior atenção e proteção
(Ford & Williams 2007, Auler et al. 2015, Souza & Auler 2018).

2.4.1 O carste

Pelo ponto de vista fisiográfico, o termo carste pode ser definido como um tipo específico de
paisagem que desenvolve uma complexa rede de condutos subterrâneos, por onde a água flui em
sistemas de cavernas/condutos, ambos formados pelo processo de dissolução de rochas, como
calcários, margas ou gipso (Ford & Williams 2007). Além disso, a dissolução de rochas solúveis
produz formas intrínsecas na superfície terrestre, como fissuras, pináculos de pedras, depressões
fechadas e drenagens que desaparecem em um determinado ponto para o subterrâneo (Palmer 2007).

Os ambientes cársticos ocorrem em cerca de 20% da superfície terrestre, predominantemente


em regiões onde afloram rochas suceptíveis à dissolução (Ford & Williams 2007). No Brasil, o carste
se desenvolve predominante em calcários e dolomitos do Proterozoico Superior e Cambriano Inferior
(Auler & Farrant 1996), constituindo cerca de 2,5% da parte continental do país (Figura 2.5) (Sánchez
& Lobo 2016).

Sob a perspectiva da etmologia, “carste” vem do termo alemão “karst” e tem origem em uma
região do oeste da Eslovênia denominada “kras”, onde foram realizados os primeiros estudos
detalhados por volta do fim do século XIX, nascendo a Carstologia. As pesquisas iniciais a cerca da
evolução da paisagem cárstica (carste clássico) foi feito por Jovan Cvijić (1893) e Alfred Martel
(1894) que se dedicaram ao estudo das cavernas. Martel foi reconhecido como pai da espeleologia
científica (Palmer 2007). O rápido desenvolvimento dos estudos do carste em vários aspectos, o
aumento da sua importância prática e científica e, principalmente os avanços sobre espeleogênese,
desempenharam um importante papel nas mudanças que contribuiram para o conhecimento geral do
carste (Klimchouk 2015).

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Figura ‎2.5 – Mapa mostrando as regiões cársticas no brasil e cavernas dando ênfase na região de Sete Lagoas
(modificado de CECAV 2009).

2.4.2 Processo de carstificação ou espeleogênese

O processo de desenvolvimento dos sistemas cársticos (espeleogênese) pode ser considerado


um processo de transferência de massas/transporte de massas que depende do fluxo da água
subterrânea, responsável pelo equilíbrio/desequilíbrio do sistema água-rocha (Klimchouk 2015). Outro
fator relevante é a dissolução responsável pela criação e evolução sistêmica da rede de permeabilidade,
oriundas do alargamento de fraturas nas rochas, de uma porosidade tardia (Klimchouk et al. 2000).

O carste, em quase todos seus atributos essenciais, tem sua origem na espeleogênese, ou seja,
o carste é uma função da espeleogênese. Segundo as distintas características hidrodinâmicas, existem
dois tipos fundamentais de espeleogênese: epigênica e hipogênica (Klimchouk et al. 2000, Klimchouk
2015). A espeleogenese hipogênica ou hipogênese trata-se do desenvolvimento de estruturas de
permeabilidade ampliadas pela dissolução, promovida por fluídos ascendentes originados de fontes
distantes ou internas, que não dependem da recarga direta da superfície adjacente. Além disso, a

12
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

hipogênese está relacionada à condição hidrodinâmica do aquífero confinado, em que o fluxo


subterrâneo está sob pressão e confinado entre camadas de menor pemeabilidade (Klimchouk 2007).

Por outro lado, a espeleogênese epigênica ou epigênese ocorre em condições próximas a


superfície terrestre, onde predominam a circulação das águas superficiais e meteóricas que abastecem
os aquíferos. Portanto, a epigênese está condicionada a uma hidrodinâmica aberta, cujas zonas de
recarga estão imediatamente acima de aquíferos livres (Klimchouk 2015). Na epigênese, o processo de
dissolução está intimamente relacionado a reações de equilíbrio químico presente no sistema água-
rocha, neste caso, rochas carbonáticas (Sánchez & Lobo 2016). As reações de equilíbrio mais comuns
são a acidulação da água pelo gás carbônico presente no solo e atmosfera (1), dissolução das rochas
carbonáticas (2) e precipitação de depósitos químicos (espeleotemas) (3), representadas de forma
simplificada pelas equações:

( )
( )
( )

2.4.3 Tipos genéticos e evolutivos do carste

Na perspectiva da gênese, existem dois tipos de carste distinguíveis na crosta superior, o carste
hipogênico e epigênico. Podem ser diferenciados principalmente pelas condições de contorno,
geoquímica, hidrodinâmica dos regimes de fluxo da água subterrânea e pelo respectivo tipo de
espeleogenese (Klimchouk 2015).

Desde certo tempo pensava-se a evolução do carste sob a perspectiva geomorfológica, como
um produto de um processo que ocorria apenas exposto à superfície. Sob o contexto da evolução
geológica, considerando os processos diagenéticos e tectônicos, Klimchouk (1996) e Klimchouk &
Ford (2000) desenvolveram uma classificação dos tipos de carste em seus sucessivos estágios de
evolução.

Além disso, Klimchouk (2015) contribui com a classificação acrecentando os domínios


espeleogenéticos, visto na Figura 2.6. No domínio da epigênese existem os ditos carste entrincheirado,
coberto, exumado, enterrado e o carste exposto: denundado e aberto. Na transição entre os domínios
está o carste subjacente. No domínio da hipogênese o carste profundo e estabelecido e por fim o carste
singenético no estágio da eogênese.

13
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Figura ‎2.6 – Tipos evolutivos do carste e processos de carstificação envolvidos (Klimchouk 2015).

2.4.4 Compartimentação do sistema cárstico

Os termos exocarste e endocarste são comumentes utilizados para compatimentação do


sistema cárstico, originados da literatura europeia. O exocarste refere-se às características do carste na
superfície e o endocarste no subterrâneo. Este é usualmente dividido em hipercarste, onde a dissolução
é influêciada pelas águas meteóricas e no hipocarste, pelas águas juvenis ou conatas (Ford & Williams
2007). Todavia, Andreychouk et al. (2009) propõem uma nova concepção de exocarste e endocarste,
partindo dos princípios geológicos de circulação de fluidos e divisão da crosta. Dessa forma,
Klimchouk (2015) percebe que ambos os termos são empregados de forma equivocada na literatura,
pois, na geociência, o exógeno remete-se aos processos de energia externa e, endógeno às fontes
internas da Terra.

Partindo dessas ponderações, o exocarste representa a parte mais superior da crosta entre
superfície e profundidades de 500 até 7000 m, caracterizado pela presença de recargas meteóricas, sob
pressões hidrostáticas e temperaturas moderadas, menores que 80 a 100ºC (Andreychouk et al. 2009).

14
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Para Klimchouk (2012), o termo exocarste se aproximada da definição do carste epigênico, que se
desenvolve em profundidades ainda mais rasas, sob a circulação da água subterrânea com recarga
meteórica direta, onde predomina a espeleogênese epigênica.

Dessa maneira, entende-se que o exocarste contém a zona subcutânea do carste, o epicarste.
Segundo Bakalowicz (2004), o epicarste é a camada externa de interface com a biosfera; pode-se
incluir a atmosfera e pedosfera, que contribui no desenvolvimento do carste, atuando na distribuição
da água infiltrada e na solução solvente (CO2 + H2O) da rocha, resultando em diversas formas tanto da
superfície quanto no subterrâneo.

O hipocarste é definido como a zona entre o exocarste e o endocarste, acima do intervalo de


máxima compactação, onde predominam a espeleogênese hipogênica por fluidos ascendentes na zona
hidrostática (Klimchouk 2012). Segundo Andreychouk et al. (2009), o endocarste compreende a parte
mais inferiores dentro da crosta, profundidades abaixo de 500 a 7000 m, onde as pressões excedem a
hidrostática e as temperaturas são elevadas (> 80 a 100°C), além da presença da circulação de fluidos
mais agressivos, podendo existir cavernas que devem sua origem aos processos endógenos.

2.4.5 Formas, paisagem e feições do carste

As formas e paisagens do carste são resultados de processos hidrológicos e geoquímicos


envolvidos no desenvolvimento do sistema cárstico. Podem existir em diversas escalas e comumente
são características de regiões húmidas (Ford & Williams 2007). As feições do relevo cárstico são
formas geomorfológicas remanescentes, em sua maioria, oriundas principalmente da dissolução de
rochas solúveis em superfície terrestre. Elas podem ser classificadas em formas cársticas de entrada,
de saída e residuais.

As formas cársticas de entrada permitem a recarga da água superficial e/ou meteórica para o
sistema aquífero. Dentre elas existem os lapiás (karrens) que são canais na superfície das rochas,
formados pela dissolução da água meteórica. As dolinas são formas cársticas típicas de depressões
fechadas circulares ou ovais, que possuem largura maior que a profundidade e, de acordo com sua
gênese, elas podem ser classificadas como dolinas de dissolução e de colapso. E o conjunto de duas
dolinas interconectadas é denominado de uvala. Os sumidouros consistem em pontos por onde água
superficial adentra no sistema aquífero e se une ao escoamento subterrâneo (recarga pontual), embora
que sempre um sumidouro se encontrará um uma depressão cárstica (dolinas), podendo considerá-las
iguais conceitualmente (Palmer 2007). O polje tipicamente são extensas regiões do carste que possuem
as adjacências abruptas e o fundo plano, com uma drenagem superficial que adentra ao subterrâneo
por um sumidouro (Palmer 2007, Ford & Williams 2007, Travassos et al. 2015).

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

As formas cársticas de saídas são aquelas por onde as águas subterrâneas reacendem à
superfície, por processos hidrodinâmicos ou devido à condição do meio geológico. De acordo com
Travassos et al. (2015), podem-se destacar as surgências que são um tipo de nascente típica de
ambientes cársticos e, quando se localiza no meio subterrâneo é chamado de ressurgência, por
exemplo, numa caverna. A lagoa cárstica é uma típica depressão cárstica com água devido o aumento
da recarga do sistema aquífero cárstico, que interage com as água superfíciais e/ou meteóricas, isto é,
dependendo das condições hidrodinâmicas podem ser formas cársticas de entrada.

Segundo Ford & Williams (2007), as formas e paisagens cársticas residuais são tipicamente
descritas como uma planície contendo morros dispersos e isolados, que possuem distintas formas e
nomes (torres, hum, morros isolados, mogotes e cones).

As cavernas são feições cársticas subterrâneas formadas pelo processo de espeleogênese,


constituindo formas complexas e são afetadas principalmente pela interação geologia, química e
mecanismos hidrodinâmicos da água subterrânea. De acordo com a União Internacional de
Espeleologia (UIS), caverna pode ser definida como uma cavidade natural subterrânea e acessível pelo
ser humano (Ford & Williams 2007, Palmer 2007).

Os condutos cársticos também são formados pelo processo de espeleogênese, constituindo


uma rede de condutos (canais), considerados como um tipo de porosidade terciária (Ford & Williams
2007). Diferentemente das cavernas, os condutos se localizam em zonas totalmente saturadas por onde
há o fluxo da água subterrânea, sobretudo turbulento. Apenas cerca de 1% da porosidade de condutos
de um aquífero cárstico é acessível ao homem (cavernas), os demais compõem a rede de condutos
freáticos (Karmann et al. 2000).

16
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Figura ‎2.7 – Resumo da compreensão de todo sistema cárstico formas e processos (Ford & Williams 2007).

2.5 HIDROGEOLOGIA CÁRSTICA

Os sistemas de águas subterrâneas no carste possuem algumas características intrínsecas que


se distinguem dos demais aquíferos e que, portanto, os princípios devem ser aplicados de forma
apropriada para o contexto cárstico (Ford & Williams 2007). A hidrogeologia cárstica ocupa-se em
compreender as características e controles de desenvolvimento dos aquíferos cársticos. A importância
da compreensão desses aquíferos é crescente, por serem bons reservatórios subterrâneos e também por
sua influência relacionadas a problemas geotécnicos e ambientais (Feitosa et al. 2008).

2.5.1 Sistemas aquíferos cársticos: conceitos

O aquífero cárstico pode ser considerado um sistema aquífero, pois possui uma organização
complexa e funcional (Stevanović 2015). Ademais, o entendimento da hidrodinâmica desses sistemas
torna-se difícil, em vistas de suas características genéticas (Feitosa et al. 2008).

Porosidade e permeabilidade tripla da rocha

White (2003) propõe um modelo de permeabilidade tripla que consiste na soma das
permeabilidades da matriz da rocha (porosidade primária), das fraturas (porosidade secundária) e dos
condutos (porosidade terciária). Os aquíferos cársticos se distinguem dos demais por possuírem uma
rede de condutos subterrâneos, os quais transmitem o fluxo de água. Esses condutos são produto de
uma permeabilidade secundária desenvolvida pelo processo de dissolução nas descontinuidades (e.g.
17
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

fissuras, planos de acamamento) de rochas solúveis, como calcários, dolomitos e mármores (Ford &
Williams 2007). Além disso, a rede de condutos pode mudar ao longo do tempo, onde os condutos
podem colapsar ou serem preenchidos por sedimentos, ou condutos saturados podem se transformar
em condutos não saturados e vice e versa (Goldscheider & Drew 2007).

Heterogeneidade e anisotropia hidráulica

Para hidrogeologia cárstica, um dos grandes desafios é compreender como se comporta o


escoamento das águas dentro de um sistema aquífero cárstico. Diferentemente das regiões não-
cársticas, onde, na maioria das vezes, o fluxo de água pode ser identificado pelas análises de mapas
topográficos, em regiões de carste, a água subterrânea independe da topografia da superfície
(Goldscheider & Drew 2007). Devido a essas características particulares, o aquífero cárstico é
considerado extremamente heterogêneo e anisotrópico, pelo fato da alta variação da posição espacial e
da direção da condutividade hidráulica no aquífero (Ford & Williams 2007).

Variabilidade temporal e dinamismo hidráulico

Umas das características marcantes dos aquíferos cársticos é a variabilidade temporal. Em um


curto intervalo de tempo, a hidrodinâmica do aquífero pode sofrer severas modificações, devidos às
condições hidrológicas. Portanto, o constante monitoramento de sistemas cársticos é necessário à
medida que os eventos hidrológicos acontecem, sobretudo durante eventos de alto fluxo (Goldscheider
& Drew 2007). Sanchez & Lobo (2016) exemplificam o dinamismo hidráulico de um sistema cárstico
por meio da organização espacial de bacias aquíferas, onde é representada a oscilação sazonal do nível
de água e sua influência na conectividade da rede de condutos e contribuição hidrológica (Figura 2.8).

Figura ‎2.8 – Dinamismo hidráulico representado pela oscilação da sazonalidade da superfície freática. No
período de seca (a) as bacias aquíferas são independentes, já no período de chuva (b) passam a ser
interconectadas, de modo que o sistema A contribui com o fluxo (overflow) do sistema B. Ilustração: Mylène
Berbert-Born (modificado de Sanchez & Lobo 2016).

18
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

2.5.2 Hidrodinâmica dos aquíferos cársticos

A hidrodinâmica é o estudo do movimento das águas em diferentes meios geológicos. A


compreensão da circulação da água no carste requer maior atenção ao aplicar os princípios da
hidrodinâmica desenvolvido em meios porosos (Freezy & Chery 1979, Feitosa et al .2008)

Zonas hidráulicas do aquífero cárstico

Ford & Williams 2007 propõem a divisão do aquífero cárstico em três zonas hidráulicas, em
relação à superfície freática: insaturada ou vadosa, epifreática ou de oscilação e saturada ou freática
(Figura 2.9). Na zona insaturada, os espaços vazios estão parcialmente preenchidos por água, sejam
nos poros ou fraturas. Fazem parte desta zona o solo, o epicarste e a zona de transmissão livre
percolação. A zona epifreática ou de oscilação é o intervalo onde a superfície freática sofre oscilações
em relação ao nível basal. Por fim, a zona saturada é a mais profunda, onde os espaços vazios estão
saturados em água; sua espessura é temporalmente variável. Pode ser subdividida em zona freática
rasa, zona freática profunda e zona freática estagnada (Ford & Williams 2007).

Recarga do aquífero cárstico: controle de entrada

Pode-se destacar dois tipos de recargas dos aquíferos cárstico em relação a origem da captação
de água: autogênica e alogênica (Figura 2.9). Quando a recarga tem origem dentro do próprio sistema
cárstico é tida como autogênica, por outro lado a recarga alogênica tem sua origem em regiões não-
cárticas. No que se refere ao tipo de infiltração, a água pode se infiltrar de forma concentrada em
pontos de recarga (sumidouros e dolinas) ou difusa através dos solos e fratura/matriz das rochas, vista
na Figura 2.9 (Ford & Williams 2007, Goldscheider & Drew 2007).

Fluxo subterrâneo do aquífero cárstico: controle de transmissão e armazenamento

A configuração dos caminhos preferenciais do fluxo (escoamento) subterrâneo é influenciada


pela densidade, tamanho e distribuição dos espaços vazios, consequentemente controlando as
propriedades de transmissão e armazenamento. O fluxo pode ser concentrado via condutos e canais ou
difuso pela matriz e fissuras do meio geológico. Assim, o fluxo através de condutos é caracterizado
pelas altas taxas de velocidade e condutividade hidráulica e geralmente por ser turbulento. Por outro
lado, o fluxo por poros na matriz e fissuras são relativamente mais lentos. No entanto, os condutos
possuem um armazenamento da água normalmente menor em relação ao volume total do aquífero,
enquanto a maior parte se encontra na matriz e fissuras da rocha ou em outras partes do sistema como
o epicarste (Goldscheider & Drew 2007).

Ademais, o conceito de infiltração difusa e concentrada se difere do conceito de fluxo difuso e


concentrado, haja vista que o tipo do fluxo subterrâneo na zona saturada independe do tipo de recarga
(Burdon & Papakis 1963).

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Descarga do aquífero cárstico: controle de saída

As surgências ou nascentes são as formas de relevo mais representativas da terminação dos


sistemas de rios subterrâneos, sendo comuns no relevo cárstico. Elas são controladas pela elevação da
superfície freática na saída (descarga) do sistema aquífero. Portanto, elas são importantes, pois
fornecem informações sobres as características acerca do aquífero e, sobretudo, são fontes essenciais
de água para gestão dos recursos hídricos (Ford & Williams 2007).

Figura ‎2.9 – Bloco diagrama da hidrodinâmica cárstica (Sanchez & Lobo 2016).

2.5.3 Transmissão e armazenamento no epicarste

Como já visto, o epicarste compreende a parte intemperizada da rocha e está abaixo do solo e
acima da rocha sã. As espessuras podem variar de 3 a 10 m, dependendo do clima. A taxa de
dissolução das rochas carbonáticas são maiores no epicarste devido a proximidade com a superfície e
com o solo que fornecem CO2 necessário para atingir 80% da denudação por dissolução. Outra
característica importante é a capacidade de absorção e armazenamento do epicarste que se dá nos
períodos húmidos, quando a taxa de recarga ultrapassa a taxa de transmissão vertical. O excesso de
água é armazenado nos espaços vazios (fissuras e poros na matriz), constituindo-se o aquífero
epicarste logo acima da barreira de transmissão capilar. Seu armazenamento é influenciado pelas
espessuras do epicarste, porosidade média e taxa de entradas e saídas de água (Ford & Williams 2007).

20
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

O epicarste pode ser comparado analogamente a um “escorredor”, em que sua capacidade de


retenção é influenciada pela relação entre a taxa de recarga e a taxa de transmissão para as zonas
epifreáticas e freática. A taxa de transmissão, por sua vez, é controlada pela condutividade hidráulica
vertical, que é bastante variável devido aos distintos caminhos e velocidades do fluxo subterrâneo, que
pode ocorrer lentamente por capilaridade em pequenos volumes (difuso) ou, até mesmo, rapidamente
em grandes volumes por sumidouros verticais (concentrado) (Figura 2.10).

Figura ‎2.10 – Zona insaturada com foco do epicarste e da zona de transmissão dinâmica cárstica (modificado de
Ford & Williams 2007).

2.6 MÉTODOS APLICÁVEIS EM HIDROGEOLOGIA CÁRSTICA

Ao considerar a complexidade dos sistemas aquíferos cársticos, percebe-se a necessidade de


técnicas investigativas mais específicas. A combinação dessas técnicas com métodos tradicionais na
hidrogeologia podem contribuir de forma significativa na complementação das inadequações entre
eles (Goldscheider & Drew 2007).

2.6.1 Geoprocessamento e sensoriamento remoto

A técnica de sensoriamento remoto são bastante recorridas na hidrogeologia, principalmente


para interpretação de padrões de drenagens e detecção de descontinuidades e feições geológicas, como
fraturas e dolinas. Contudo, não existem barreiras para a aplicação do sensoriamento remoto e a
combinação com os sistemas de informações geográficas permitem uma visão integrada. Uma vez
fotointerpretadas as estruturas e formas do carste, é importante que seja feito o reconhecimento de
campo, a fim de reconhecê-las (Feitosa et al. 2008).

2.6.2 Métodos geofísicos

Os métodos geofísicos são excelentes técnicas de investigação do subsolo. Na hidrogeologia


cárstica eles podem ser aplicados com o objetivo de identificação de zonas de fraturas nas rochas para

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

prospecção de água subterrânea, bem como estimar espessuras das zonas de sobrecarga e avaliação de
vulnerabilidade do aquífero. Os métodos elétricos são excelentes para detectarem como condutos
saturados se comportam como condutor elétrico e como resistor nas rochas calcárias. Por fim, nas
investigações hidrogeológicas a geofísica contribui para a detecção de zonas de alta porosidade,
delineação das orientações e dimensões dos aquíferos, além da determinação de zonas de infiltração e
caminhos do fluxo subterrâneo (Goldscheider & Drew 2007).

2.6.3 Técnica de traçadores

A técnica de traçadores é uma excelente ferramenta na hidrogeologia cárstica, possibilitando a


delineação dos limites de captação, a estimação das velocidades dos fluxos, determinação de áreas de
recargas e fontes de poluição. Os traçadores podem ser divididos em quatro classes: artificiais,
naturais, particulados e pulsos. Dentre elas se destacam os traçadores artificiais fluorescentes, por
serem razoavelmente conservativos, seguros à saúde, de baixo custo e altamente detectáveis (Ford &
Williams 2007). Segundo Goldscheider & Drew (2007), existem distintas substâncias naturais e
artificiais que possuem a propriedade de fluorescência, devido à presença do grupo aromático
funcional, que absorvem a luz e a reemite em comprimentos de onda mais elevados. Normalmente
estas substâncias são ausentes nas águas naturais, portanto tornam-se eficazes traçadores. Palmer
(2007) destacam os principais traçadores fluorescentes utilizados: a fluoresceína e rodamina WT. As
interpretações dos resultados obtidos pelos testes de traçadores fluorescentes podem ser quantitativos e
qualitativos. No entanto, a aplicabilidade dos dados depende dos procedimentos amostrais e analíticos.
Ainda os resultados podem ser negativos, pouco definidos, bem definidos ou totalmente configurados,
estes últimos oferecem maiores resoluções, nos quais a massa e descarga dos traçadores injetados
podem ser comparadas a massa e descarga recuperadas (Goldscheider & Drew 2007).

2.6.4 Métodos hidráulicos

Os métodos hidráulicos consistem em monitoramento da superfície freática, por meio de


elaboração de mapas potenciométricos e testes hidráulicos em poços tubulares. Eles fornecem
informações a cerca dos parâmetros hidráulicos e hidrogeológicos, que incluem porosidade,
capacidade de armazenamento, carga hidráulica, transmissividade e condutividade hidráulicas,
velocidade e taxas do fluxo subterrâneo. Dentre esses métodos, pode-se destacar o teste de
bombeamento de aquífero, em que seus parâmetros são obtidos por meio da análise quantitativa dos
dados de rebaixamento do poço de observação versus tempo de bombeamento no poço bombeado
(Goldscheider & Drew 2007). As interpretações dos resultados obtidos pelos testes aquíferos cárstico
podem ser analisadas pelos métodos Theis (1935) e Cooper & Jacob (1946). Diferentemente dos
demais, os aquíferos cársticos, por serem heterogêneo e anisotrópico, necessitam de teste de mais
longa duração, e os resultados dependem muito das condições hidrogeológica do meio.

22
CAPÍTULO 3

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Para a caracterização da área foram levantadas informações relevantes sobre os contextos


geológico e hidrogeológico, gestão da água subterrânea em Sete Lagoas, aspectos fisiográficos, uso e
ocupação da área e caracterização da lagoa do Matadouro, apresentadas em tópicos neste capítulo.

3.1 CONTEXTO GEOLÓGICO

A área se localiza na zona urbana de Sete Lagoas, inserida regionalmente no extremo sudeste
do Cráton São Francisco (Figura 3.1), que se constitui do embasamento cristalino arqueano, recoberto
por sequências pelito-carbonáticas neoproterozoicas pertencentes ao Grupo Bambuí e sedimentos
inconsolidados cenozoicos (Pessoa 1996, Ribeiro et al. 2003, Tuller et al. 2010).

3.1.1 Geologia Regional

O Cráton São Francisco estabeleceu-se no neoproterozoico, cujos limites são constituídos


pelas faixais móveis Araçuaí, Brasília, Rio Preto e Sergipana, que são resultados da orogenia
brasiliana durante o estabelecimento do oeste do supercontinente Gondwana (Almeida 1977, Alkmim
et al. 1989, Alkmim et al. 2006, Alkmim & Martins Neto 2012). O limite leste do cráton é constituído
pela faixa Araçuaí proveniente do orógeno Araçuaí-Oeste Congo (Alkmim et al. 2006), que exerceu
forte influência tectônica sobre o compartimento estrutural leste (E) definido Alkmim et al. (1989).
Portanto, a intensidade da deformação aumenta a partir do interior do cráton em direção às faixas
móveis (Tuller et al. 2010). A região de Sete Lagoas está localizada a oeste do compartimento E, com
vergência tectônica da deformação de leste para oeste, por isso, essa região apresenta um grau de
deformação mais baixo.

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Figura ‎3.1 – Contexto geológico regional no qual a área de estudo está inserida em relação ao Cráton São
Francisco e as faixas móveis adjacentes (modificado de Alkmim & Martins Neto 2012).

3.1.2 Geologia Local

No município de Sete Lagoas, afloram rochas do embasamento cristalino pertencentes ao


Complexo Belo Horizonte, sequências litoestratigráficas do Grupo Bambuí e sedimentos cenozoicos
incosolidados. A distribuição estratigráfica, da base para o topo, é apresentada de acordo com o mapa
geológico elaborado por Galvão (2015), escala 1:25.000 (Figura 3.4), que detalhou o mapeamento
realizado por Tuller et al. (2010).

Estratigrafia

O Complexo Belo Horizonte representa o embasamento cristalino arqueano, marcado por


gnaisses e zonas migmatíticas, podendo ocorrer intrusões máficas. O contato de diferentes litotipos
24
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

gnaisses, migmatitos e granitóides geralmente é transicional (Ribeiro et al. 2003). Estas unidades
afloram em 18% na porção sul do território de Sete Lagoas. De acordo com Pessoa (1996), as
principais fraturas presentes nestas rochas são mais frequentes junto às zonas migmatizadas, algumas
preenchidas por calcita ou mesmo veios quartzo-feldspáticos e pegmatoides.

O Grupo Bambuí pode ser definido como a cobertura neoproterozoica sobre o embasamento,
constituída da base para o topo pelas seguintes unidades litoestratigráficas (Figura 3.2): Formação
Carrancas, Formação Sete Lagoas, Formação Serra de Santa Helena, Formação Lagoa do Jacaré,
Formação Serra da Saudade e Formação Três Marias (Costa & Branco 1961, Scholl 1976, Dardenne
1978, Grossi & Quade 1985, Tuller et al. 2010, Ribeiro et al. 2015). As sequências do Grupo Bambuí
constituem três megaciclos sedimentares regressivos: (1) carbonático constituído pela Formação Sete
Lagoas, (2) argilo-carbonático pelas formações Serra de Santa Helena e Lagoa do Jacaré e (3) argilo-
arenoso pelas formações Serra da Saudade e Três Marias. No caso da área de estudo, apenas as
formações Sete Lagoas e Serra de Santa Helena e sedimentos inconsolidados cenozoicos afloram,
sendo apenas esses comentados a seguir (Tuller et al. 2010, Vieira et al. 2007).

Figura ‎3.2 – Sequência estratigrafia do Grupo Bambuí com suas respectivas formações, da base para o topo,
com os ciclos sedimentares regressivos (modificado de Vieira et al. 2007).

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

A Formação Sete Lagoas foi diferenciada por Costa & Branco (1961), redefinida por Schöll
(1976), Dardenne (1978) e Grossi & Quade (1985). De maneira geral, a sequência é constituída por
rochas carbonáticas-siliciclásticas depositadas em ambiente de inframaré a supramaré em uma
plataforma em rampa dominada por tempestades e marés (Vieira et al. 2007, Tuller et al. 2010). Essas
sequências ocorrem principalmente nas porções centrais e a oeste de Sete Lagoas (Galvão 2015),
constituindo-se cerca de 27% do município de Sete Lagoas (Figura 3.4). A Formação Sete Lagoas é
dividida em dois membros: um inferior, denominado de Membro Pedro Leopoldo e outro superior, o
Membro Lagoa Santa (Ribeiro et al. 2003, Tuller et al. 2010, Galvão 2015).

O Membro Pedro Leopoldo pode ser identificado por 3 litofácies nos arredores de Sete
Lagoas: litofácies 1 consiste em calcilutito cinza claro a bege, com intercalações de pelito amarelo e
marcas de onda truncadas; litofácies 2, corresponde a um calcilutito caracterizado pela presença de
cristais de aragonita e acamamento tabular e laminado; e litofácies 3, corresponde a dolomitos em
camadas sobrepostas com espessura métrica a submétrica (Vieira et al. 2007, Galvão 2015). Em dois
pontos na área de estudo foram identificados afloramentos da Litofácies 1 do membro Pedro Leopoldo
descrita por Vieira et al. (2007). Nas margens do córrego do Matadouro e do interior da lagoa do
Matadouro (Figura 3.3).

O Membro Lagoa Santa, de modo geral, é composto por um calcário cinza-escuro a preto e
calcário estromatolítico, apresentando-se em camadas tabulares contínuas e pouco espessas. Pode ser
identificado por duas litofácies na proximidades do município de Sete Lagoas: litofácies 5, que são
calcarenitos e calcisiltitos pretos, com laminação plano-paralela, truncamento de ondas e estratificação
cruzada de médio porte; e litofácies 6, estromatólitos bem preservados de ambiente plano de maré
(Vieira et al. 2007, Galvão 2015).

Figura ‎3.3 – Afloramentos da litofácies 1 do Membro Pedro Leopoldo descrito por Vieira et al. (2007). (A)
afloramento no interior da lagoa do Matadouro, no fundo da dolina principal. (B) Afloramento nas margens do
córrego do Matadouro. Fonte: Autor.

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Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

A Formação Serra de Santa Helena ocorre tipicamente na serra homônima, e na porção centro
meridional do município setelagoano (Dardenne 1978), abrangendo cerca de 40% de Sete Lagoas
(Figura 3.4). De maneira geral, a sequência compreende litotipos de origem siliciclástica, com raros
sedimentos carbonáticos, sendo argilitos e siltitos intercalados com lentes esparsas de margas e
calcarenitos muito finos, de espessura variada. O ambiente deposicional da sequência foi interpretado
como sendo marinho moderadamente profundo a raso, de baixa energia, abrangendo as zonas de
inframaré, intermaré e supramaré (Tuller et al. 2010). Em superfície, esses pelitos são encontrados
geralmente intemperizados, podendo, contudo, apresentarem-se maciços, como no caso das pedreiras,
onde encontram-se ardósias de tonalidade verde-escura (Pessoa 1996).

Os sedimentos inconsolidados cenozoicos podem ser diferenciados entre coberturas dentríticas


areno-argilosas com níveis de cascalhos, terraços aluviais e aluviões que ocorrem ao longo dos rios
das Velhas e Parabopeba. Estão cobrindo a Formação Sete Lagoas, e onde está localizada grande parte
da área malha urbana, além das drenagens e terraços dos rios, ocorrendo na região central e nordenste
do município correspondendo aproximadamente 10% do território setelagoano (Galvão 2015, Gomes
no prelo) (Figura 3.4).

Figura ‎3.4 – Geologia e coluna estratigráfica mostrando a distribuição espacial das unidades litoestratigráficas
que ocorrem na região de sete Lagoas, onde se localiza a área de estudo (modificado de Galvão 2015).

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Geologia Estrutural

Segundo Pessoa (1996), um dos principais fatores que influenciam no regime de fluxo
subterrâneo, principalmente em ambientes de rochas calcárias é a trama estrutural impressa através dos
tempos, pela dinâmica oriunda dos eventos tectônicos pretéritos que define o arcabouço tectônico
remonta da estruturação brasiliana do Cráton do São Francisco e suas faixas marginais. Neste
contexto, o município de Sete Lagoas, encontra-se a oeste do compartimento estrutural E (Alkmim et
al. 1989), onde as unidades litoestratigráficas possuem deformação de muito baixa a baixa intensidade,
com transporte tectônico de E-W, ou seja, a intensidade de deformação diminui da Faixa Araçuaí (a
leste) para o cráton.

Segundo Danderfer (1994), a região apresenta diversos grupos de estruturas (falhas, dobras,
foliações, lineações e fraturas) pertencentes a fases distintas de uma deformação progressiva, que
afetou principalmente as rochas do Grupo Bambuí. Determinados grupos de estruturas não foram
evidenciados nos litotipos do embasamento cristalino, atestando, dessa forma, sua não participação no
processo de deformação. As rochas do Grupo Bambuí mostram-se pouco deformadas, apenas,
localmente, encontram-se dobras ou falhas em escala mesoscópica, ocorrendo, na maioria dos casos,
através de movimentação interestratal e intraestratal do tipo epidérmica (thinskinned). Além disso, o
autor identificou, a partir da interpretação de imagens de radar e satélites na escala 1:100.000, alguns
sistemas de fraturamento rúptil, de significado evolutivo disperso no contexto geotectônico regional,
com dois conjuntos de direções principais: o primeiro, N10-20W, relacionado a fraturas distensivas e o
segundo, N50-60E, relacionado a fraturas de cisalhamento.

Galvão (2015) interpretou a região de Sete Lagoas como um sistema de falhas, formando
grabens e horsts, devido à mudança brusca da profundidade do embasamento em curtas distâncias. A
zona urbana está inserida em um graben central, no qual a área de estudo está localizada (Figura 3.5a).
A Formação Sete Lagoas assim como a Formação Serra de Santa Helena seguem o caimento da bacia
para nordeste, formada pelo embasamento na borda (SW) e pelo depocentro da bacia (NE), onde
ocorrem as maiores espessuras das unidades. Ambas as sequências possuem planos de acamamento,
que mergulham suavemente para NE (Figura 3.5b).

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Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Figura ‎3.5 – (A) Mapa estrutural evidenciando as estruturas principais tais como lineamentos, fraturas, falhas e
dobras (B) Estereogramas mostrando a direção principal de acamamentos das unidades litoestratigráficas
aflorantes na região de Sete Lagoas, com destaque para a localização da área de estudo neste contexto
(modificado de Galvão 2015).

3.2 CONTEXTO HIDROGEOLÓGICO

Os principais estudos hidrogeológicos na região de Sete Lagoas foram concebidos por Pessoa
(1996) com a caracterização hidrogeológica atentando-se para as potencialidades, e Galvão (2015)
com a criação do modelo conceitual associado ao desenvolvimento urbano. Ambos levantaram
informações a cerca das características e condições hidrogeológicas dos aquíferos desta região
cárstica. Dessa maneira, foram descritos três tipos de aquífero, de acordo com a unidade geológica: (1)
aquífero fissural das rochas do embasamento cristalino; (2) aquífero cárstico, composto pelas rochas
carbonáticas da Formação Sete Lagoas; e (3) aquífero granular, formado pelos sedimentos
inconsolidados, ocorrendo, principalmente, na região central da área urbana (Figura 3.6).

3.2.1 Modelo conceitual hidrogeológico

Destaca-se o aquífero cárstico devido sua importância em relação ao fluxo regional e


capacidade de armazenamento de água. Esse aquífero está associado às rochas carbonáticas da
Formação Sete Lagoas, as quais, pelo processo de espeleogênese, formam condutos que transmitem e
armazenam a água subterrânea que é principal forma de abastecimento do município (Pessoa 1996,

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Galvão 2015). A transmissão feita pela matriz da rocha é mínima, uma vez que a porosidade é baixa,
cerca de 3% (Peñaranda 2016) e a condutividade hidráulica (K) é em torno de 10 -9 m/s (Galvão et al.
2015). Isso se deve ao processo de recristalização da calcita e quartzo que preencheram os espaços
vazios, diminuindo a porosidade e permeabilidade. A região que apresenta maior capacidade de
produção de água é na porção central do município, onde o calcário está coberto por sedimentos
inconsolidados é mais carstificado, apresentando K próximos de 10-3 m/s (Galvão et al. 2015).

Segundo Galvão (2015) os condutos cársticos se desenvolvem principalmente nos planos de


acamamento, especialmente do Membro Pedro Leopoldo e nas fraturas subverticais, que servem para
aumentar a interconectividade e permeabilidade do aquífero, por onde ocorre o fluxo de água
subterrânea. No caso do Membro Lagoa Santa, as principais feições (cavernas e grutas secas) foram
interpretadas como antigos paleocondutos por onde a água era transmitida.

O aquífero poroso na região central é constituído pelos sedimentos inconsolidados, solos


residuais ou manto de intemperismo, possui velocidade de fluxo mais lenta, porém tem maior
capacidade de armazenar a água. O aquífero poroso também se conecta com o aquífero cárstico, onde
está diretamente sobre o aquífero cárstico, isso ocorre na porção central do município (Galvão 2015).

Por outro lado, a Formação Serra de Santa Helena pode ser considerada como um aquitardo
que separa os dois aquíferos. As características do fluxo subterrâneo acontecem em duas condições:
laminar-difuso pela porosidade intergranular e concentrado pelas fraturas. (Pessoa 1996). A Serra de
Santa Helena, que dá nome a formação, atua como divisor de águas superficial e subterrânea, onde a
água escoa, podendo infiltrar na base através de fraturas, sumidouros ou afloramentos (Galvão 2015).

A recarga dos aquíferos em Sete Lagoas ocorre tanto de forma concentrada e autogênica pelos
sumidouros, dolinas, cavernas ou afloramentos na superfície, como difusa e alogênica passando pelos
sedimentos inconsolidados, fraturas do embasamento aflorante. Pessoa (1996) verificou uma taxa de
recarga para o aquífero cárstico de 2,1% da precipitação anual total ou 6,2% do excedente hídrico
total. Em relação ao fluxo regional, existe uma tendência de acompanhar o caimento da bacia, o
mergulho das camadas e as direções principais das fraturas e falhas, com orientação para NE (Galvão
2015). Isso acontece, pois a principal forma de escoamento e armazenamento da água subterrânea
ocorre pelos condutos que segue os planos de acamamentos da Formação Sete Lagoas. No entanto,
observa-se que há um desvio do fluxo para região central do município, onde estão concentrados os
principais e mais antigos poços de bombeamento da cidade, no centro da zona urbana, gerando um
grande cone de rebaixamento do nível d’água (Galvão 2015).

30
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Figura ‎3.6 – Modelo conceitual representativo dos tipos aquíferos existentes no município de Sete lagoas e sua
características geológicas, hidrológicas e hidrodinâmicas, além do mapa de superfície potenciométrica com as
direções do fluxo subterrêneo e condições de contorno, referente ao aquífero cártico (Galvão 2015).

3.2.2 Características hidrogeoquímicasi9l das águas subterrâneas

Os parâmetros físico-químicos apresentados por Pessoa (1996) e Galvão (2015) mostram que
o pH varia na faixa de 6,0 a 8,0, indicando um caráter neutro a básicos das águas. A condutividade
média das aguas é de 322 μS/cm (Pessoa 1996) e 333 μS/cm (Galvão 2015). Em relação à
hidroquímica, Pessoa (1996) e Galvão (2015) classificam a maior parte das águas subterrâneas na
região como de tipo bicarbonatadas cálcicas, associadas aos calcários da Formação Sete Lagoas. As

31
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

águas do embasamento e perto da Serra de Santa Helena são enriquecidas em magnésio (Mg2+). Estes
diferentes tipos de água podem se misturar com águas mais enriquecidas em cálcio (Ca 2+) e sódio
(Na+), classificadas com águas mistas, que podem indicar interconexões entre os aquíferos. A presença
de nitrato (NO3-) na água subterrânea dos condutos abaixo dos sedimentos inconsolidados, no centro
urbano, provavelmente é devida contaminações antrópicas superficiais recentes (Galvão 2015).

3.2.3 Parâmetros hidráulicos do aquífero (T, K e k)

Cabe destacar que, no aquífero cárstico de Sete Lagoas, a escala tem influência sobres os
parâmetros hidráulicos. A escala regional considera tanto o desenvolvimento dos condutos, quanto a
matriz da rocha, a qual influencia bastante nos valores globais. Os valores de condutividade hidráulica
(K), permeabilidade (k) e transmissividade (T) são menores na matriz, conforme a Tabela 3.1. Esses
valores muito baixos deve-se a pouca porosidade e baixa permeabilidade da matriz da rocha, uma vez
que os espaços vazios foram preenchidos por fluidos de recristalização, como resultado de eventos e
fases deformacionais das unidades da Formação Sete Lagoas (Galvão 2015, Gomes no prelo).

Tabela ‎3.1 – Parâmetros hidráulicas da matriz e regional do Aquífero Cárstico Sete Lagoas (Galvão 2015).

Escala Matriz Regional


Permeabilidade (k) (m2) 1,9 x 10-16 – 4,2 x 10-15 1,2 – 1,8 x 10-11
Condutividade hidráulica (K) (m/d) 1,6 x 10-4 – 3,5 x 10-3 10,0 – 16,0
Transmissividade (T) (m2/d) 1,2 x 10-2 – 2,6 x 10-1 750,0 – 1170,0
3.3 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS

Os aspectos fisiográficos e climáticos de uma região têm influência direta no comportamento


hídrico dos sistemas hidrogeológicos, determinando o controle de recarga e balaço hídrico.
Entendendo a importância desses fatores para a caracterização da região cárstica, foram levantadas as
informações sobre o clima, a pluviometria, a hidrografia, a vegetação e a geomorfologia da região.

3.3.1 Clima e Precipitação

Sete Lagoas está inserida na região central do estado de Minas Gerais onde se predomina um
clima tropical semi-úmido (IBGE 2006a). Segundo Galvão (2015), a precipitação média mensal é de é
de 106 mm. A estação chuvosa ocorre de outubro a março, representando 89% da precipitação anual,
com precipitação total de 1132 mm. O período de estiagem acontece de abril a setembro, com
precipitação mensal média de 139 mm. A temperatura média anual é de 20,9ºC (Figura 3.8).

32
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Figura ‎3.7 – Gráfico evidenciando as médias mensais de precipitação e temperatura de Sete Lagoas obtidas de
normais climatológicas de 1961 a 1990, da Estação Meteorológica de Sete Lagoas (INMET).

3.3.2 Hidrografia

Sete lagoas está inserido regionalmente entre as bacias hidrográficas de segunda ordem dos
rios das Velhas e Paraopebas, ambos afluentes do rio São Francisco. Em escala local, o município está
contido em três sub-bacias de terceira ordem, cuja serra de Santa Helena constitui-se de um importante
divisor dessas águas (Pessoa 1996). A primeira das sub-bacias é a maior composta pelo ribeirão
Jequitibá e seus afluentes, cujas nascentes se encontram em cotas mais elevadas e parte delas estão em
terrenos granito-migmatítico, por outro lado, os córregos Diogo e Matadouro, que percorrem a porção
centro-norte no município em terrenos cársticos e pelitos-cársticos, deságuam na margem esquerda do
rio das Velhas. A segunda, situada na porção sul, é composta pelo ribeirão dos Macacos. Por fim, a
terceira é constituída pelos ribeirões São João e Inhaúma e córrego Lontra. Seu percurso tem direção
preferencial E-W, percorrendo rochas pelito-carbonáticase deságuam na margem direita do rio
Paraopebas. O sistema cárstico proporciona a presença de lagoas, que em alguns casos estão
interligadas ao regime dos aquíferos livres de ambientes pelito-carbonáticos, como ocaso das lagoas
Grande, dos Porcos, dos Remédios, da Capivara e Feia (Cabral 1994).

3.3.3 Geomorfologia

Sete Lagoas faz parte de um ambiente cárstico, apresentando feições típicas com lagoas,
dolinas, cavernas e drenagem subterrânea. As maiores altitudes estão localizadas na serra de Santa
Helena e as taxas de elevação variam de aproximadamente 750 m a 1000 m (Galvão 2015). Segundo
Pedrosa (1992), o relevo pode ser compartimentado localmente em quatro unidades geomorfológicas
distintas: 1) Superfície Rebaixada de Lagoa Santa-Sete Lagoas, com altitudes próximas a 700m,

33
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

contida no grande domínio Depressão São Franciscana; 2) Planalto Dissecado de Santa Helena, na
porção centro noroeste do município e constitui o interflúvio das bacias dos rios das Velhas e
Paraopebas; 3) Planalto Dissecado do rio das Velhas constitui-se de segmentos situados no norte e
nordeste de Sete Lagoas; e 4) Planalto Dissecado do ribeirão da Mata, encontrado ao sul da região
estruturada pelas rochas do embasamento cristalino.

3.4 ABASTECIMENTO PÚBLICO DE ÁGUA EM SETE LAGOAS

Desde 1969 a gestão dos recursos hídricos subterrâneos em Sete Lagoas é feito pelo Serviço
Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), constituído pela Lei 1.083/65 como uma autarquia municipal.
Essa autarquia é responsável pelo serviço público de abastecimento de água e condicionamento da
rede de esgoto do município. O sistema de água e esgoto se mantem por meio de receita advinda das
tarifas de água e esgoto pagas pela população, além dos investimentos feitos para melhoria do próprio
sistema (Botelho 2008). Atualmente, o SAAE tem investido em estudo que visam um melhor
entendimento dos mananciais subterrâneos, a fim de realizar uma melhor gestão destes recursos. Este
trabalho, por exemplo, conta com o apoio institucional dessa autarquia municipal.

Atualmente, a captação de água em Sete Lagoas é feita quase inteiramente por meio de poços
tubulares profundos e abastece em torno de 40% da população, outra parte é captada no rio das
Velhas, abastecendo cerca de 60%. Já foram construídos 133 poços, porém, 7 foram tamponados e 21
estão inativos, pois estão secos ou devido a problemas de contaminação da água, como os poços CDI
que contempla a área de estudo deste trabalho. Estima-se que 105 poços restantes estão ativos (Figura
3.7). Além dos poços do SAAE, existem os poços privados de outras empresas ou particulares,
outorgados pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), e ainda existem os poços
clandestinos, sem outorga. Estima-se que existem mais de 145 poços privados outorgados (SAAE Sete
Lagoas 2019, Gomes no prelo).

34
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Figura ‎3.8 – Mapas com localização dos poços de bombeamentos do SAAE de Sete Lagoas, mostrando sua
distribuição pelo território do município, com destaque para os poços contaminados do CDI na área de estudo
(modificado de Galvão 2015).

3.5 USO E OCUPAÇÃO

Sete Lagoas possui uma área territorial de aproximadamente 536 km2 e atualmente possui uma
população mais de 237 mil habitantes (IBGE 2018). Sete Lagoas é considerada uma cidade média, se
desenvolveu econômica e demograficamente muito rápido, apresentando um crescimento urbano
acelerado e com grande potencial por se tratar de uma cidade com setores industrial, agropecuário e de
serviços dinâmicos (Botelho 2008). Além disso, a vinda de indústrias de grande porte, como a
Bombril, Iveco (FIAT), Itambé, Trevo Alimentos, Ambev e outras indústrias de mineração de calcário
e siderurgia, contribuíram para intensa urbanização de Sete Lagoas.

Pessoa (1996) apresentou a distribuição de classes do uso da terra em Sete Lagoas apontando
o aumento da área urbana sobre a vegetação nativa, em decorrência desse aumento das atividades
econômicas. Como resultado do crescimento urbano desordenado, o surgimento de problemas com
abastecimento público e sanitários, além de problemas geotécnicos que resultam, de acordo com
Galvão (2015) em 17 eventos de colapsos ou subsidências desde 1988 (Figura 3.9).

35
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Figura ‎3.9 – Mapa da expansão urbana de Sete Lagoas e problemas geotécnicos associados (modificado de
Galvão 2015).

3.6 LAGOA DO MATADOURO

A lagoa do Matadouro, conhecida também por lagoa Vapabuçu, está situada no centro urbano
de Sete Lagoas, próxima aos bairros Vapabuçu e CDI. O centro da lagoa está, mais precisamente, sob
as coordenadas 582134 e 7847683, em uma altitude de 734 m (Figura 3.10a). Possui uma área de
aproximadamente 0,13 km2 e um perímetro em torno de 1,6 km. A lagoa está sob uma região de
planície que é facilmente alagada durante os períodos chuvosos, portanto pode ser considerada como
um ambiente lacustre não perene, devido à variabilidade sazonal do seu nível de água (Figura 3.10b e
c) (Neiva Júnior 2018). Além disso, Pessoa (1996) considera que a Lagoa do Matadouro não possui
interação com os aquíferos existente na região.

A lagoa do Matadouro possui um histórico em que é comum o registro de incêndios, as quais


são alvo de reclamações das populações adjacentes (Souza 2013). A presença de fumaça devido aos
incêndios são fenômenos naturais de combustão que ocorre em seu leito (Figura 3.10d), agravando
problemas de saúde dos moradores do entorno, além de provocar danos a fauna, a flora, ao solo,
sobretudo aos recursos hídricos (Neiva Júnior 2018). O motivo desses incêndios tem sido atribuído à
combustão espontânea da turfa gerada em seu leito, mais especificamente durantes os períodos de seca
(Oliveira Júnior 2015). No entanto, foi Neiva Júnior (2018) não conseguiu determinar a causa exata
dessas combustões, devido as condições meteorológicas. Além desse problema, é comum ações
antrópicas em decorrência da utilização da lagoa como pastagem nos períodos de seca pela população

36
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

local (Figura 3.10e). Mediante as ações naturais e antrópicas, é proposto a preservação da lagoa, que
auxiliará na manutenção do aquífero, uma vez que poderá favorecer as infiltrações e precipitações nas
áreas de recarga (Neiva Júnior 2018).

Figura 3.10 – (A) Mapa de localização da lagoa do Matadouro evidenciando as imagens registradas de períodos
de alta (B) e períodos de baixa pluviosidade (C). É comum incêndios espontâneo em seu leito nos períodos secos
(D), além de ações antrópicas devido ao uso inadequado como pastagem registradas (E). Fonte: Google Earth,
fotos Neiva Júnior 2018.

37
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

38
CAPÍTULO 4

4 MATERIAIS E MÉTODOS

Neste capítulo são abordados os materiais e os métodos utilizados neste estudo, realizados em
2 etapas de campos com o mapeamento geomorfológico e ambiental e o teste de bombeamento. Além
de 2 etapas de escritório, sendo composta pela revisão bibliográfica, levantamento de dados
climatológicos e químicos, sensoriamento remoto e, posterior aos campos, tratamento de dados e
geoprocessamento. Todas as etapas são descritas a seguir.

4.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A revisão bibliográfica constituiu-se de um levantamento sistemático de referências, que


serviram de fundamentação teórica deste trabalho. Foram pesquisados artigos científicos, livros, teses
e dissertações, trabalho de conclusão de curso, relatórios técnicos e referências online. O conteúdo
dessas referências trata-se do tema central proposto que envolve a hidrologia, a geologia, a
hidrogeologia em sistemas cársticos, metodologias aplicáveis em aquíferos cársticos, além de
pesquisas anteriores realizadas na área de estudo. Como ferramenta de busca online, foram utilizados
sites de pesquisa tais como, repositórios institucionais, portal de periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Google Acadêmico e ResearchGate. Para um
melhor gerenciamento das referências e das citações textuais foi utilizado o software Mendeley
Desktop® Elsevier© 2018.

4.2 LEVANTAMENTO DE DADOS CLIMATOLÓGICOS

As informações a cerca das condições climáticas (precipitação e evapotranspiração real) de


Sete Lagoas foram fornecidas por Alves (no prelo), que realizou o balanço hídrico climatológico
(BHC) para Sete Lagoas, baseado no método de Thornthwaite & Mather (1955), realizado a partir de
dados climáticos de estação meteorológica convencional (OMM83586, coordenadas 19º27’36”S e
44º15’00”W), monitorada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), sendo que os dados
foram obtidos pelo site do INMET em 17 de dezembro de 2018. Foi escolhido o período de 1993 a
2015 para análise de dados de forma a identificar mudanças significativas que justifiquem a variação
abrupta do nível de água na lagoa do Matadouro nos últimos anos. O balanço hídrico normal foi
realizado por Alves (no prelo) que utilizou dados de precipitação total (PRE), temperatura média do ar
(T) e evapotranspiração potencial (ETP).

39
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

4.3 LEVANTAMENTO DE DADOS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS

Buscou-se junto ao SAAE as últimas analises químicas e biológicas realizadas nos poços do
CDI, a fim de avaliar a qualidade e condições ambientais das águas subterrâneas locais captadas pelos
poços PT-19, PT-20 e PT-21 (Anexo II). Os valores de concentrações tanto dos elementos químicos
quanto da análise bacteriológica foram confrontados com os valores padrões da legislação vigente no
Brasil, sendo considerando as normas: Portaria do Ministério da Saúde (MS) nº 2.914/2011 (Brasil
2011) para qualidade das águas subterrâneas. Para o tratamento e interpretação dos dados químicos foi
utilizado o software Microsoft® Excel 2010 para a confecção de gráficos.

4.4 SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO

Para a realização da fotointerpretação e levantamento das formas do relevo cárstico, uso e


ocupação da terra foram utilizados as técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento por meio
de sistemas de informação geográfica (SIG). Essas ferramentas são eficazes quando utilizadas de
forma integrada, permitindo uma melhor visualização espacial dos objetos e informações geográficas.

4.4.1 Sensoriamento remoto

Neste trabalho, a técnica aplicada foi a fotointerpretação e levantamento espacial das formas do
relevo cárstico e mapeamento do uso e ocupação da terra da área de estudo. Nesse contexto, foi
realizado o levantamento de fotográfico aéreo de alta resolução obtido por auxílio de geotecnologias
(drone). A aquisição dos dados foi feita pelo drone modelo DJI Phantom 4 PRO, multirrotor, com
sensor óptico embarcado, 1” CMOS de 20 megapixels, distância focal nominal de 24 mm f/2,8-11.
Para a coleta de pontos de controle necessários ao ajuste e verificação dos produtos resultantes do
aerolevantamento, utilizou-se a base cartográfica da Coordenadoria de Geoprocessamento da
Prefeitura de Sete Lagoas. Para as etapas de planejamento e realização (controle) do voo e
processamento dos dados, foram utilizados, respectivamente, os aplicativos Drone Deploy e Agisoft
Photoscan. A altura de voo de aquisição foi de 300 m e a velocidade de voo, 15m/s, resultado em 109
imagens que compuseram o mosaico da Lagoa Grande. A partir da ortofoto, em GeoTif, foram
confeccionadas as curvas de nível no aplicativo Global Mapper® 2011. A partir disso, foi possível
obter uma topografia detalhada com precisão centimétrica, que facilitou na fotointerpretação de
formas do relevo cárstico incluindo dolinas e sumidouros que podem indicar possíveis zonas de
recarga do aquífero. Posteriormente, essas informações foram confirmadas via mapeamento de campo.

Para o mapeamento do uso e ocupação da terra e confecção de mapas georreferenciados


utilizou-se imagens orbitais de alta resolução adquiridas pelos satélites RapidEye e disponibilizadas no
portal Geocatálogo do Ministério do Meio Ambiente (Brasil), com intuito de se obter informações

40
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

geoespaciais da área de estudo. As imagens de satélites foram processadas e através da classificação


supervisionada, utilizando-se o software Envi® 3.4.

As imagens satélites LANDASAT foram criteriosamente selecionadas na época de seca e


processadas com a composição das mesmas bandas (2,4 e 5), a fim de comparar a evolução temporal
do espelho d’água das lagoas e da área urbana. Além disso, elas serviram de base para a confecção de
mapas temáticos georreferenciados, sendo esse produto da integração do sensoriamento remoto ao
software ArcGis® 10.1.

4.4.2 Geoprocessamento e Sistemas de Informação Geográfica

Com o auxílio do software ArcGis® 10.1, foram confeccionados mapas temáticos


georreferenciados, tais como mapa de localização da área de estudo, mapa de uso e ocupação, mapa da
geomorfologia cárstica, mapa potencimétrico, a partir banco de dados fornecidos pelo levantamento
hidrogeológico feito por Galvão (2015), além da integração com as imagens aéreas e de satélites.

Além disso, para a elaboração da superfície potenciométrica e modelagem tridimensional,


buscaram-se informações referentes aos níveis estáticos da água, anteriores das décadas de 1960 e
1990, que foram confrontados com valores atuais levantados por Galvão (2015). Para isso, utilizou-se
o Surfer® 4.0 e ArcGis® 10.1 para o auxílio da modelagem computacional das superfícies
potenciométricas.

4.5 MAPEAMENTO DE CAMPO GEOMORFOLÓGICO E AMBIENTAL

Na etapa de campo, foi realizado o mapeamento geomorfológico para o reconhecimento das


estruturas e formas do carste, fotointerpretadas inicialmente pela técnica de sensoriamento remoto,
além da realização de um mapeamento das condições ambientais e interferências antrópicas na lagoa e
suas adjacências.

4.5.1 Mapeamento das formas cársticas de recarga

As formas do relevo cársticos foram inicialmente identificadas via fotointerpretação.


Posteriormente, verificou-se detalhadamente cada uma delas em campo durante o período de estiagem
com intuito de compreender melhor essas formas, sendo realizado um levantamento de informações,
como tipo e morfologia das feições, posição geográfica (coordenadas) de seu centro, suas dimensões
máximas (comprimento e profundidade) e as suas condições naturais e antropogênicas. Durante o
período chuvoso foi feita a vistoria para verificar possíveis sumidouros utilizando corante vermelho
para facilitar visualização do fluxo de água. Para isso foi utilizado uma trena de 30 metros para
medição das dimensões máximas (Figura 4.1a), um GPS Garmin modelo 62s para a aquisição das
coordenadas em projeção Universal Transversa de Mercator (UTM) e datum WGS84, uma prancheta

41
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

para as anotações e observações das condições e da morfologia (Figura 4.1b), além de uma câmera
para o registro fotográfico.

Figura ‎4.1 – (A) Realização das medições das dimensões máximas das formas do relevo cárstico com o uso de
uma trena de 30 m. (B) Utilização do GPS Garmin 62s e prancheta para as anotações das coordenadas
geográficas e informações sobre a morfologia e condições das feições cársticas. Fonte: autor.

4.5.2 Mapeamento do uso e ocupação da área de estudo

Além do mapeamento geomorfológico, foi feito um levantamento sobre as condições


ambientais e interferências antrópicas na lagoa e de suas adjacências, com base no mapa de uso e
ocupação da área. O levantamento consistiu-se nas anotações e registro fotográfico das interações
entre a comunidade local com o ambiente natural, observando as ações humanas sobre a lagoa do
Matadouro e o seu entorno, que incluem o córrego Matadouro e a estação de captação do SAAE, onde
estão os poços inativos PT19, PT20 e PT21 que abasteciam os bairros próximos. Para isso, foram
utilizadas uma caderneta de campo para as anotações pertinentes e uma câmera para o registro
fotográfico.

4.6 MÉTODO HIDRÁULICO

Um dos objetivos deste trabalho é a determinação dos parâmetros hidrodinâmicos, como


condutividade hidráulica, transmissividade e coeficiente de armazenamento do aquífero cárstico e
verificar possíveis conexões com a lagoa. Para isso, aplicou-se o teste de bombeamento e,
concomitantemente, a leitura dos parâmetros físico-químicos, como temperatura, condutividade
elétrica e pH (Anexo I). Além disso, buscou-se comparar os resultados deste teste com o teste feito
anteriormente por Galvão (2015) no mesmo local, a fim de se verificar se houve mudanças nos
parâmetros.

42
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

4.6.1 Análise dos parâmetros físico-químicos in situ

Foram coletados dados de parâmetros físico-químicos da água por um multiparâmetro Myron


L Company modelo Ultrameter IITM, como potencial de oxirredução (pH), condutividade elétrica,
temperatura, potencial de oxirredução e sólidos totais dissolvidos, a fim de monitorar possíveis
conexões hidráulicas e novos aportes de água de possíveis outros condutos. Para o tratamento e
interpretação dos parâmetros físico-químicos foi utilizado o software Microsoft® Excel 2010 para a
confecção de gráficos (Figura 4.3e, f).

4.6.2 Teste de bombeamento de aquífero

O teste de aquífero é um tipo de teste de bombeamento realizado em poço, com a vazão


constante Q, onde é monitorada a evolução do rebaixamento do nível da água por um poço de
observação situado a uma distância r do poço bombeado (Figura 4.2a). A finalidade desse tipo de teste
consiste na determinação dos parâmetros hidrodinâmicos do aquífero (Feitosa et al. 2008). O teste de
aquífero pode ser dividido em três etapas principais: (1) preparação para o teste (pré-teste); (2)
realização do teste; e (3) interpretação dos resultados, os quais são descritos a seguir.

4.6.3 Preparação para o teste (pré-teste)

Este tipo de teste de bombeamento pode ser considerado um dos mais trabalhosos e
dispendiosos na hidrogeologia. Por isso, é necessário um bom planejamento baseados em diretrizes
aceitas para sua execução (Goldscheider & Drew 2007). A preparação consiste no planejamento para
que o ensaio de bombeamento possa ser executado, sem eventualidades. Portanto, a finalidade do pré-
teste está na definição da vazão, previsão dos níveis estático e dinâmico, definição do poço a ser
bombeado e do poço a se observar o rebaixamento, preparação dos materiais necessários e verificação
das condições dos poços e do local onde o teste será executado. Neste trabalho, foram escolhidos os
poços da Estação de Tratamento CDI do SAAE para a aplicação do ensaio, sendo definido como poço
de bombeamento o PT-19 e como poço de observação o PT-21 (Figura 4.2 e Tabela 4.1). A vazão pré-
determinada para o teste foi de 224,7 m3/h. A distância entre os dois poços (r) é de 60,2 m.

Tabela ‎4.1 – Tabela com os poços pré-estabelecidos para o bombeamento e observação, com informações sobre
sua localização, profundidade e parâmetros hidráulicos.

Profundidade NE Vazão (Q)


Poço Tipo UTM E UTM N Cota
(m) (m) (m3/h)
PT-19 Bombeamento 582333 7848251 744 59,0 - 224,7
PT-21 Observação 582365 7848201 723 59,6 6,4 -

43
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Figura ‎4.2 – Poços utilizados no teste de aquífero da Estação CDI do SAAE (A) Figura representativa do teste
de aquífero (Feitosa et al. 2008) (B) Poço PT-21 definido para a observação do rebaixamento do nível da água
(C) Poço PT-19 estabelecido para o bombeamento. Fonte: autor.

4.6.4 Realização do teste

Depois de pré-estabelecidos os poços para o bombeamento e observação, e feito todo o


planejamento, foi executado o ensaio de bombeamento (48 horas), em que o poço bombeado
permaneceu com vazão constante, monitorada por um medidor de vazão Handheld Ultrasonic
Flowmeter. Para a medição da evolução dos rebaixamentos do nível de água no poço de observação,
foi utilizado o medidor de nível da água Hidrosuprimentos modelo HSNA-100, todas as informações
foram registradas por um cronômetro e anotadas em uma planilha modelo proposto por Feitosa &
Costa Filho (1998) (Figura 4.3).

44
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Figura ‎4.3 – Fotos dos equipamentos utilizados: (A) Planilha para anotação baseada em (Feitosa & Costa Filho
1998) (B) Medidor de vazão modelo Handheld Ultrasonic Flowmeter (C) Sensor do medidor de vazão
ultrasônico (D) Medidor de nível d’água Hidrosuprimentos modelo HSNA-100 (E) Multiparâmetro Ultrameter
IITM (F) Coleta de água para analise físco-química. Fonte: autor.

4.6.5 Interpretação dos resultados

O aquífero cárstico local encontra-se nas condições hidrogeológicas em que o regime de


bombeamento é transitório, uma vez que a água liberada é proveniente do armazenamento, o fluxo é
radial para os poços, formando um cone de rebaixamento. Portanto, para as interpretações do teste de
bombeamento, foram adotados os métodos de Theis (1935) e Cooper & Jacob (1946), para a
determinação dos parâmetros hidrodinâmicas do aquífero.

O método proposto por Theis (1935) consiste na solução da equação diferencial geral do fluxo
subterrâneo por uma série convergente, estabelecendo-se a equação de Theis.

( ) ( ) ( )

onde: s = rebaixamento a uma distância r do poço bombeado (L); Q = vazão de bombeamento (L3/T); t
= tempo a partir do início do bombeamento (T); W(u) = função de poço para aquífero confinado não

45
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

drenante; T = transmissividade (L2/T); S = coeficiente de armazenamento (adimensional). A obtenção


dos parâmetros S e T foi feita pela construção da curva padrão W(u) versus 1/u (bi-log), pela a curva
de rebaixamento (s) versus tempo (t) (bi-log), e por fim a superposição das duas curvas (Figura 4.3a),
em que se escolhe um ponto em comum (Feitosa et al 2008).

( ) ( ) ( )

O método de Cooper & Jacob (1946) propõe uma aproximação do valor de W(u), quando u <
0,01, de modo que a equação de Theis possa ser confiavelmente aproximada onde as equações de T e
S podem ser reescrita, conforme mostrado abaixo.

( ) ( )

onde: t0 = tempo zero no eixo abcissas (T) e ∆s = variação do rebaixamento tomando um ciclo
logarítmico (L). Para obter os parâmetros S e T, neste caso, foi construída uma curva de rebaixamento
versus tempo (mono-log), ajustando uma reta aproximada dos pontos plotados (Figura 4.3b).

Com relação à condutividade hidráulica (K), após a obtenção de S e T, pode-se calcular por
meio da manipulação algébrica da relação entre os parâmetros T e K, conforme abaixo.

T →

onde: b = espessura do aquífero.

A espessura do aquífero cárstico na área estudada foi de 50 m considerando o modelo


conceitual hidrogeológico de Galvão (2015). Além disso, os parâmetros obtidos foram comparados
aos valores obtidos por Galvão (2015), com o intuito de analisar possíveis mudanças destes
parâmetros e sua implicação na dinâmica hidrogeológica local.

Figura ‎4.4 – (A) Superposição das curvas padrões de s e W(u) num determinado ponto coincidente proposta por
Theis (1935). (B) Curva para a determinação de t0 proposta por Cooper & Jacob (1946). Fonte: modificado de
Feitosa et al. (2008).

46
CAPÍTULO 5

5 ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA E AMBIENTAL

A análise geomorfológica e ambiental consistiu-se da descrição das formas de relevo cárstico


de recarga encontradas no centro da lagoa e córrego do Matadouro e da caracterização das condições
de uso e ocupação do entorno da lagoa, subdividido em subtópicos neste capítulo.

5.1 FORMAS CÁRSTICAS DE RECARGA

De acordo com as definições e classificações das formas do relevo cárstico adotadas para este
estudo (Ford & Williams 2007), foi possível identificar duas formas de recarga típicas no centro da
lagoa do Matadouro e nas margens do córrego do Matadouro.

5.1.1 Córrego do Matadouro

Na margem direita do córrego do Matadouro, localizado próximo a estrada marginal que liga o
centro aos bairros locais, foi identificado uma dolina que possivelmente está interconectada com o
aquífero cárstico local. Atualmente, essa dolina está desconectada do leito do córrego devido a um
barra de sedimentos fluviais, contudo já foi constatado por registro do SAAE que a dolina desvia o
fluxo principal do córrego (Figura 5.1a).

Figura ‎5.1 – Feições cárstica mapeadas no córrego do Matadouro (A) Dolina desconectada do leito d’água por
um banco de sedimentos (B) Localização da dolina do córrego em relação ao Sistema de abastecimento de água
CDI do SAAE. Fonte: Google Earth.

47
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

5.1.2 Lagoa do Matadouro

No centro da lagoa do Matadouro foi possível identificar duas formas de recarga típicas,
descritas como dolina e uvala, identificadas inicialmente por fotointerpretação na etapa de
sensoriamento remoto e confirmadas durante o mapeamento de campo (Figura 5.2).

Figura ‎5.2 - Mapa das formas cársticas de recarga no interior da lagoa do Matadouro identificadas pelo
sensoriamento remoto e mapeamento de campo. Fonte: Imagens obtidas por drone.

De modo geral, foram identificadas 20 formas cársticas de recarga, sendo 16 dolinas e 4 uvalas,
todas relativamente próximas uma das outras no centro da lagoa. A média das dimensões máximas
dessas formas de relevo foi de 12,2 m de diâmetro e 3,2 m de profundidade, mas percebe-se uma
significativa variação nos tamanhos. Vale ressaltar que a maior feição D09, com 517,3 m2 de área
(41,2 m de diâmetro e 7,0 m de profundidade), apresenta em seu fundo um afloramento rochoso de
calcário (Figura 5.3 c). A morfologia predominante das dolinas é circular e das uvalas é elipsoidal,
com exceção da D09 que se apresenta irregular (Tabela 5.1).

Destacam-se as condições ambientais em que essas feições cársticas possuem, com erosão
natural de suas paredes e acúmulo de material assoreado nos fundos. Ademais, é comuns impactos
antropogênicos diretos, como lixos e restos de animais mortos vistos nas dolinas D01 e D07 (Figura
5.8). Não foi observada em nenhuma das formas a presença de água empossada em seus fundos, uma
vez que o levantamento de campo foi realizado durante o período de estiagem, exceto o campo
48
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

realizado durante o mês de março de 2018, no qual foram identificados sumidouros no fundo das
dolinas D11 e D12.

As formas de relevo cárstico foram classificadas de acordo com Ford & Williams (2007), que
consideram dolinas e uvalas como formas de recarga (entrada), justamente por permitirem o acesso
das águas superficiais e meteóricas ao aquífero cárstico, seja pela infiltração difusa pelo solo (recarga
alogênica) ou pelas fissuras ou concentrada pelo canal principal de fluxo (recarga autogênica). As
dolinas D11 e D12 apresentaram, com confirmação em campo (Figura 5.3 e, f), entradas conectadas
com o canal de fluxo principal, por onde a água escoa com maior velocidade e com turbulência até
atingir o aquífero. A uvala D09 possui a maior profundidade sendo possível interpretar um
afloramento rochoso pertencente ao Membro Pedro Leopoldo. Portanto, é possível considerar, pelas
evidências levantadas na porção central da lagoa do Matadouro, que essas feições cársticas constituem
parte de uma zona de recarga do Aquífero Cárstico Sete Lagoas. Ademais, Galvão et al. (2017), a
partir de estudos isotópicos e hidroquímicos, aponta evidências de conexões hidráulicas entre águas
subterrâneas e de várias lagoas na região, incluindo a lagoa do Matadouro.

49
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Tabela ‎5.1 – Tabela com as formas cárstica de recargas da Lagoa do Matadouro e suas características * Medidas tomadas em campo ** Medidas obtidas por meio do software
ArcGis® 10.1.

Diâmetro x Área** Morfologia Observações


Forma
Tipo UTM E UTM N Cota Profundidade* (m2)
cárstica
(m)
D01 Dolina 582072 7847737 736 11,0 x 3,0 82,1 Circular Impactada lixo eletrodoméstico
D02 Dolina 582092 7847771 734 8,5 x 4,0 34,1 Elipsoidal Erosão natural das paredes
D03 Dolina 582104 7847771 733 9,4 x 2,5 34,5 Circular Vegetação ao fundo
D04 Dolina 582135 7847773 732 3,5 x 1,0 7,2 Circular Vegetação ao fundo
D05 Uvala 582140 7847756 730 21,10 x 4,0 108,1 Elipsoidal Vegetação ao fundo
D06 Dolina 582153 7847750 731 13,20 x 2,0 63,9 Circular Vegetação ao fundo
D07 Dolina 582164 7847753 731 5,0 x 1,0 14,5 Circular Impactada restos de animais no fundo
D08 Dolina 582167 7847736 732 8,7 x 1,0 46,5 Circular Vegetação ao fundo
517,3 Maior forma cárstica com afloramento do calcário no
D09 Uvala 582148 7847707 730 41,2 x 7,0 Irregular
fundo
D10 Dolina 582134 7847693 732 9,0 x 2,0 36,1 Circular Vegetação ao fundo
D11 Dolina 582111 7847693 732 9,70 x 3,0 48,1 Circular Erosão natural das paredes, com sumidouro no fundo
D12 Dolina 582116 7847771 731 5,60 x 3,0 22,0 Circular Erosão natural das paredes, com sumidouro no fundo
D13 Dolina 582124 7847704 733 4,20 x 1,50 13,2 Circular Dimensão pequena
D14 Uvala 582124 7847704 730 21,10 x 4,0 131,2 Elipsoidal Dimensão média e vegetação ao fundo
D15 Dolina 582095 7847713 732 12,90 x 9,0 72,5 Elipsoidal Dimensão média e vegetação ao fundo
D16 Uvala 582208 7847673 731 15,30 x 4,0 82,3 Elipsoidal Duas dolinas interconectadas, bem característica
D17 Dolina 582197 7847691 733 8,30 x 2,0 23,6 Elipsoidal Drenos artificiais
D18 Dolina 582069 7847746 731 2,5 x 2,0 5,1 Circular Erosão natural das paredes
D19 Dolina 582076 784777 732 4,0 x 2,0 6,6 Elipsoidal Erosão natural das paredes
D20 Dolina 582140 7847783 733 2,3 x 1,0 6,9 Circular Vegetação ao fundo

50
Trabalho de Conclusão de Curso, n. XX, XXp. 2019.

Figura ‎5.3 – (A) Dolinas D11, D12 e D13 com morfologia circular (B) Uvala D16 com morfologia típica com o
seu fundo alagado (C) Uvala D09 de maior dimensão com afloramento de calcário do Membro Pedro Leopoldo
(D) Dolina D12 com erosão natural de paredes e o entalhamento de seu fundo (E) Dolina D12 apresentando
sumidouro em seu fundo registrado no período de chuva (F) Detalhe da área de recarga identificada na dolina
D12 com o uso de corante vermelho. Fonte: autor.

51
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

5.2 USO E OCUPAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo está sobre o Aquífero Cárstico Sete Lagoas (Pessoa 1996, Galvão 2015)
localizada no centro urbano de Sete Lagoas, onde destacam-se os objetos que envolvem a
problemática deste trabalho, como a lagoa do Matadouro, o córrego do Matadouro e os poços
tubulares de captação do SAAE. Com o mapa de uso e ocupação da área foi possível identificar 6
classes do uso da terra, que contempla os arredores da lagoa do Matadouro (Figura 5.4). A vegetação
arbórea (1) incluem as matas nativas, as matas ciliares do córrego e árvores dispersas pelo centro
urbano, ocupando cerca de 20% da área de estudo. As áreas de campo (2) compreendem uma grande
pastagem situada a nordeste e terrenos baldios totalizando 26% da área de estudo. A atividade agrícola
concentrou-se no centro próximo a lagoa do Matadouro, onde existe uma horticultura comunitária (3),
além de uma área preparada para o plantio na porção oeste, compreendendo cerca de 10% da área. Por
fim, a classe mais abundante, com 44%, é ocupada pela zona urbanizada (6) e estradas pavimentadas
(5) que compreende residências domésticas e indústrias. Destaca-se, também, que no centro da lagoa
Matadouro é comum, principalmente no período de estiagem, o uso inadequado como pastagem e
despejo de lixo.

Figura ‎5.4 – Uso e ocupação da área de estudo identificando 6 classes: vegetação arbórea, campo, horta
comunitária, solo, estradas e área urbanizada. Fonte: imagens de satélite RapidEye fornecido pelo Ministério de
Meio Ambiente pelo GeoCatalago.

52
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

5.2.1 Área urbanizada

A área de estudo está situada na zona urbanizada de Sete Lagoas, portanto, as classes do uso e
ocupação mais predominantes são área urbana e estradas pavimentadas, compreendendo bairros
residenciais e industriais, ruas e avenidas principais, além de espaços públicos, como praças e escolas.
A evolução da ocupação da região está inteiramente relacionada com a expansão urbana do município,
que aconteceu de forma rápida durante as últimas décadas (Pessoa 1996, Botelho 2008, Galvão 2015).
Observa-se que o crescimento urbano se intensificou ainda mais entre 2003 e 2018, constituindo-se a
atual condição do uso e ocupação do município (Figura 5.5). A respeito da evolução temporal da
hidrologia das lagoas, destaca-se uma mancha de água (espelho d’água) na lagoa do Matadouro em
1984 e uma grande diminuição do nível da água da lagoa Grande ao nordeste da área.

Figura ‎5.5 – Evolução temporal da malha urbana de Sete Lagoas, com destaque da área de estudo (quadrado
vermelho). Fonte: satélite LandSat 3 5 e 7 extraído do DPI-INPE.

5.2.2 Sistema de abastecimento de água CDI

O sistema de abastecimento de água do CDI está situado no centro leste da área de estudo,
sendo de pertencimento ao SAAE de Sete Lagoas, constituído pelos poços tubulares de captação PT-
19, PT-20 e PT-21 (Figura 5.6a, d, e), além de um reservatório de 150.000 litros (Figura 5.6c), uma
estação de tratamento de água e uma casa de força (Figura 5.6b). Esse sistema abastecia grande parte

53
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

dos bairros próximos, como os bairros Vapabuçu e CDI I e II, sendo instalado entre as décadas de
1980 e de 1990. Atualmente, esses poços estão inativos devido a contaminação das águas subterrâneas
por matéria orgânica e esgoto (Figura 5.6f). A investigação das possíveis fontes de contaminação do
aquífero local foi uma das motivações da realização deste trabalho.

Figura ‎5.6 – (A) PT-19 que possui a maior vazão entre os demais está contaminado por material orgânico que
promove a coloração escura da água. (B) Sede do Sistema de abastecimento de água CDI (C) Reservatório de
150.000 litros (D) O PT-21 desativado por contaminação (E) O PT-21 que se encontra contaminado por esgoto.
(F) Amostra de matéria orgânica presente nas águas subterrâneas. Fonte: autor.

5.2.3 Córrego do Matadouro

O córrego do Matadouro percorre toda área noroeste de estudo, cujo sentido do fluxo é de
sudoeste para nordeste. As suas margens estão recobertas por uma vegetação arbórea de mata ciliar,
embora apresente bastante vegetação não natural como capins. Além disso, é comum o despejo de
entulho de construção civil e lixos domésticos. O seu leito se encontra com bastantes sedimentos de
granulometria que varia entre seixo a matacão, afloramentos de calcário do Membro Pedro Leopoldo,
além de uma grande quantidade de lixos domésticos (Figura 5.7a). As águas superficiais estão
totalmente poluídas por lixos e despejo de esgoto de bairros residenciais, de tal forma que a coloração
da água chega a ser escura e apresentar forte odor (Figura 5.7b)
54
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Figura ‎5.7 – (A) córrego do Matadouro com presença de lixos domésticos e afloramento de calcário. (B) Águas
superficiais totalmente poluídas pelo despejo direto de esgoto conferindo-lhes a coloração escura e forte odor.
Fonte: autor.

5.2.4 Lagoa do Matadouro

A lagoa do Matadouro está na porção centro sul da área de estudo, próxima ao bairro
Vapabuçu e de uma horta orgânica comunitária. Esta lagoa faz parte do conjunto de lagoas distribuídas
por Sete Lagoas, que deu origem ao nome do município.

Segundo relatos de moradores que vivem há tempos nas adjacências, a lagoa deixou de ser
perene por volta da década de 1990, em que a lamina d’água cobria totalmente sua área. Desde então,
com a diminuição do nível d’água, o leito tornou-se exposto junto com todos os sedimentos e matéria
orgânica acumulada, constituída por restos como animais e plantas terrestre e aquática. Após isso,
tornou-se comum princípio de incêndios naturais por toda área da lagoa, registrados e sendo alvos de
reclamações da população local. Devido a isso, foi construído no centro da lagoa um cerco central a
fim de isolar o fogo proveniente desses incêndios. Esta ação foi realizada principalmente envolta das
principais formas cársticas de recarga que também estão no centro do leito da lagoa (Figura 5.2).

A área desta lagoa é de pertencimento da Prefeitura Municipal de Sete Lagoas, embora a lagoa
seja utilizada de forma inadequada pelos moradores dos bairros próximos como lugar de pastagem de
animais (Figura 5.8c, d) ou, até mesmo, lugar de despejo de lixos domésticos (Figura 5.8a), entulhos
de construção civil e despejo de água pluvial (Figura 5.8b).

55
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Figura ‎5.8 – (A) Dolina D07 com despejo de resto de animal em seu centro. (B) Poça de água acumulada ao sul
da lagoa proveniente da rede pluvial da estrada a montante da lagoa. (C) População local utilizando-se da área
em tempos de seca como pasto para seus animais. (D) Cavalos e gado são bem presentes na lagoa e destaque
para uma parte lateral do cerco central. Fonte: autor.

O método de classificação supervisionada do uso e ocupação por meio de imagens de satélites


RapidEye mostrou-se muito eficiente para análise espacial das condições ambientais do meio
ambiente, embora notam-se que existem algumas imperfeições durante o processamento.

A evolução temporal da área urbana em Sete Lagoas aconteceu de forma rápida contribuindo
para a falta de planejamento urbano adequado, anteriormente apontado por Galvão (2015), tornando-se
comuns os problemas como a falta de saneamento básico e crescimento da demanda de água. Além
das ações antrópicas que podem interferir no aquífero, ou seja, aumenta-se o risco à contaminação. Em
consequência disso, a lagoa e o córrego do Matadouro apresentaram-se bastante impactados pela
atividade humana e é fato a contaminação do aquífero local, principalmente por nitrato e nitrito
(Galvão et al. 2017). Os indícios da contaminação por matéria orgânica e esgoto, e a distância
relativamente próxima e feições geomorfológicas de recarga apontam a lagoa e o córrego como
possíveis fontes locais de contaminação do aquífero cárstico local.

56
CAPÍTULO 6
6 ANÁLISE HIDROGEOLÓGICA

Este capítulo busca compreender o contexto hidrogeológico local, por meio da avaliação da
precipitação e evapotranspiração real, da hidrodinâmica regional e local do Aquífero Cárstico Sete
Lagoas, da condição intermitente da lagoa do Matadouro e suas zonas de recarga, dos parâmetros
hidráulicos e físico-químicos, além da avaliação dos impactos e contaminações das águas
subterrâneas, descritas a seguir.

6.1 AVALIAÇÃO CLIMATOLÓGICA DE SETE LAGOAS

Os processos de precipitação e evapotranspiração são dependentes das condições


climatológicas de uma determinada região, as quais variam ao longo do tempo (Tucci 2001). Em
relação ao balanço hídrico, a precipitação é responsável pela entrada de água no sistema hidrológico,
por outro lado, a saída é promovida, em grande parte, pela evapotranspiração real (há, ainda, descargas
naturais e antrópicas), sendo que a diferença da entrada e saída é igual ao armazenamento total de água
no subsolo (Tucci 2001).

Em Sete Lagoas, a água é principalmente armazenada na porosidade terciária (condutos


cársticos) no Aquífero Cárstico de Sete Lagoas – ACSL (Pessoa 1996, Galvão 2015), a partir de
precipitação local via recargas autogênicas e alogênicas (Galvão et al. 2017), sendo a principal fonte
de água para o abastecimento público. Considerando o intervalo de tempo em que ocorreram os dois
principais estudos hidrogeológico do município e o balanço hídrico climatológico fornecido por Alves
(no prelo), pode-se analisar a precipitação e a evapotranspiração real desde 1993 até 2015.

Como a lagoa do Matadouro, a partir da década de 1990, deixou de ser perene, analisar
possíveis mudanças na precipitação e evapotranspiração real ao longo desse período pode indicar se
essa intermitência hídrica é resultado de mudanças climáticas ou não.

6.1.1 Precipitação

Nota-se que, durante esse intervalo, a precipitação manteve-se em médias anuais de cerca de
1320 mm/ano, dentro do desvio padrão, exceto no ano 2014, marcado por uma seca com baixo valor
de precipitação (Figura 6.1). A média é mantida devido ao equilíbrio da precipitação entre os anos, ou
seja, anos mais chuvosos compensam o déficit da precipitação de anos mais secos.

57
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

1800
1600
1400
1200
1000
mm

800
600
400
200
0

2008
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007

2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
Precipitação anual média desvio + desvio -

Figura ‎6.1 – Precipitação anual em milímetros durante o período 1993 - 2015, com a média e desvio padrão.

6.1.2 Evapotranspiração Real

A média da evapotranspiração real foi de 860 mm/ano, aproximadamente 35,15% menor em


relação à média da precipitação, e a temperatura com uma média de aproximadamente 21°C neste
intervalo de tempo. Nota-se que as médias anuais mantém-se próximas à média geral, embora não foi
possível obter as médias anuais dos anos de 2011 e 2014 devido à ausência de informações climáticas
e meteorológicas mensais (Figura 6.2).

1200 24

1000 20

800 16
ETR (mm)

T (°C)

600 12

400 8

200 4

0 0
2011
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010

2012
2013
2014
2015

ETR média ETR T média

Figura ‎6.2 - Evapotranspiração real anual em milímetros durante o período 1993 - 2015, e com a média e a
variação da temperatura (°C).

58
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Pela avaliação climatológica da precipitação e da evapotranspiração real, não existe uma


tendência de diminuição ou aumento desses processos do ciclo hidrológico, mas sim um equilíbrio dos
excessos e déficits durante o período dos últimos 23 anos para a região de Sete Lagoas. Isso implica
que, considerando um longo período, a influência do clima não é suficiente para justificar as mudanças
ocorrentes na quantidade de água nos reservatórios superficiais (lagoas), bem como as mudanças na
hidrodinâmica, recarga e armazenamento do Aquífero Cárstico de Sete Lagoas.

Os principais reservatórios de águas superficiais de Sete Lagoas são as lagoas que conferiram
o nome a cidade. A lagoa do Matadouro faz parte do conjunto dessas lagoas e anteriormente
encontrava-se perene, mas atualmente é uma lagoa intermitente com variação do seu nível da água
durante o ano (Figura 6.5). Considerando a avaliação climatológica realizada, pode-se dizer que a
mudança na condição hidrológica da lagoa do Matadouro não pode ser apenas explicada pela variação
da precipitação (entrada) e evapotranspiração real (saída), uma vez que ambas se mantiveram em
equilíbrio em um longo período de tempo.

6.2 HIDRODINÂMICA DO AQUÍFERO CÁRSTICO SETE LAGOAS

O ACSL foi definido inicialmente por Pessoa (1996) e, posteriormente, detalhado por Galvão
(2015), contribuindo para o entendimento da variação da hidrodinâmica do aquífero e a influência do
crescimento populacional e urbano de Sete Lagoas ao longo do tempo.

6.2.1 Hidrodinâmica regional

Os mapas de superfície potenciométrica realizados por ambos os autores mostram


duas principais tendências na direção do fluxo da água subterrânea. Na porção central e
nordeste do município, onde está a maior parte da área urbana, a direção preferencial do fluxo
subterrâneo é para NE. Na porção central urbana, nota-se o desvio do fluxo subterrâneo
natural devido à um significativo cone de rebaixamento, sendo que, analisando sua evolução
no tempo, observa-se uma formação incipiente do cone no mapa de Pessoa (1996) e uma
forma mais desenvolvida no mapa de Galvão (2015). Na porção oeste do município a direção
preferencial do fluxo subterrâneo é para W em ambos os mapas, não apresentando mudanças
significativas no fluxo (Figura 6.3).

59
Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Figura ‎6.3 – Mapas de superfícies potenciométricas confeccionados por meio das informações dos níveis
estáticos levantadas por Pessoa (1996) e Galvão (2015) modificado, com as respectivas direções principais do
fluxo subterrâneo do Aquífero Cárstico Sete Lagoas.

A direção preferencial do fluxo subterrâneo para NE é comprovada pelo modelo conceitual


hidrogeológico de Galvão (2015), onde o fluxo ocorre principalmente em condutos paralelos ao plano
de acamamento das rochas carbonáticas da Formação Sete Lagoas, que por sua vez seguem o caimento
geral da bacia para NE. O desenvolvimento do cone de rebaixamento, formado no centro urbano, é
atribuído à superexplotação, além do aumento de poços tanto para abastecimentos público e privado
(Galvão 2015). As duas distintas direções preferenciais do fluxo subterrâneo estão relacionadas ao alto
estrutural onde se localiza a serra de Santa Helena que funciona como divisor das águas superficiais e
subterrâneas. Além disso, existem diferentes direções dos mergulhos das camadas tanto para as
direções NE e NW das rochas do Grupo Bambuí.

Ao comparar os dois mapas de superfícies potenciométricas, nota-se um rebaixamento local de


cerca de 20 m do nível da água no aquífero, principalmente no centro urbano onde existe o cone de
rebaixamento. Essa mudança na hidrodinâmica regional pode influenciar na atual condição
hidrogeológica da lagoa do Matadouro, uma vez que foi comprovada por meio do mapeamento
geomorfológico a sua ligação com o aquífero cárstico via dolinas e uvalas (Figura 5.2).

60
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

6.2.2 Hidrodinâmica local

A área de estudo localiza-se hidrogeologicamente na porção central da superfície


potenciométrica regional, próxima ao cone de rebaixamento existente no centro do município. O mapa
de superfície potenciométrica local, considerando apenas dados de níveis estáticos (Tabela 6.1), indica
a sentido preferencial do fluxo subterrâneo para N, com algumas variações da direção para NNE e
NNW, com o nível de água variando de uma cota de 732 m na porção SE para uma cota de 721 m na
porção norte da área (Figura 6.4a).

Ao considerar o bombeamento do PT-19, após 48 horas, é possível notar a influência da


operação dos poços do Sistema de Abastecimento CDI na hidrodinâmica local do aquífero. No
segundo mapa de superfície potenciométrica (Figura 6.4b e Tabela 6.1) nota-se a formação de um
cone de rebaixamento local pelo bombeamento do PT-19, gerando um raio de influência de
aproximadamente 500 m de diâmetro, o qual modifica o sentido principal do fluxo natural subterrâneo
para o centro do cone na porção central da área de estudo. Ademais, percebe-se um rebaixamento do
nível da água que varia de uma cota de 730 m para uma cota de 719 m.

A atual condição hidrogeológica da área de estudo é influenciada pela hidrodinâmica regional


do ACSL, considerando a proximidade da área com o cone de rebaixamento no centro urbano (Galvão
2015) e, além disso, a área está inserida geologicamente em um baixo estrutural na parte central de
Sete Lagoas (Galvão 2015), onde a água é armazenada em condutos cársticos existentes no Membro
Pedro Leopoldo. Os mapas da superfície potencimétrica indicam que o sentido do fluxo da água
subterrânea acontece da lagoa do Matadouro para córrego do Matadouro, cujo fluxo superficial
acontece do sentido SW para NNE, e para os poços tubulares do SAAE, sobretudo quando os poços
PT-19 PT-20 e PT-21 do Sistema de Abastecimento CDI estão em operação.

Tabela ‎6.1 – Tabela com as coordenadas, nível d’água e carga hidráulica utilizadas nos mapas potenciométricos.

ID X Y Z NE h
PT-19 582356 7848222 732,80 9,90 722,9
PT-19 (48h) 582356 7848222 732,80 14,20 718,60
PT-22 582655 7849049 732,60 12,10 720,5
PT-51 580745 7846316 743,50 10,70 732,8
PT-71 583752 7846066 745,00 0,00 745

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Figura ‎6.4 – Mapas da superfície potencimétrica da área de estudo indicando o sentido do fluxo da água
subterrânea para N. (A) Mapa considerando os níveis estáticos (B) e mapa considerando o bombeamento do
poço PT-19 após 48 horas. Fonte: Google Earth.

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Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

6.3 CONDIÇÃO INTERMITENTE DA LAGOA DO MATADOURO

Sob o ponto de vista geomorfológico e hidrológico, a lagoa do Matadouro, resultado de uma


depressão cárstica, pode ser considerada intermitente, pois anualmente existe uma sazonalidade do
nível d’água nos períodos chuvoso e seco. Durante o período chuvoso, a lagoa atinge seu máximo de
saturação com o nível da água preenchendo as feições cársticas de recarga e, às vezes, ocupando quase
toda a área da lagoa (Figura 6.5a). Durante o período de seca, a lagoa atinge o seu mínimo de
saturação em que seu leito fica exposto, sendo possível observar as formas cárstica de recarga
existente no centro da lagoa (Figura 6.5b).

A condição hídrica intermitente resulta, atualmente, em meses onde a lagoa está seca (abril a
setembro), em combustões espontâneas propiciando incêndios naturais, provavelmente devido a tufas
existentes em seu leito (Neiva 2018). Nos períodos de seca, a lagoa é utilizada de forma inadequada
pela população como local de pastagem e despejo de lixo. A sazonalidade hídrica tem influência direta
na recarga do aquífero, uma vez que a água precipitada infiltra diretamente nas feições cársticas,
caracterizando uma recarga autogênica.

Figura ‎6.5 – Imagens de satélites e de campo em épocas de seca e chuva mostrando a sazonalidade e dinamismo
do nível da água da Lagoa do Matadouro. (A) Dolinas cheias de água (B) Dolinas secas, ambas localizadas no
centro da lagoa. Fonte: Google Earth e fotos autor.

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

6.4 RECARGAS E ZONA DE TRANSMISSÃO DO AQUÍFERO CÁRSTICO

Na superfície da lagoa do Matadouro a recarga do aquífero acontece de duas maneiras:


concentrada e autogênica, pelas dolinas e uvalas presentes no centro da lagoa, e difusa e alogênica, via
infiltração do solo existente no leito da lagoa. A transmissão da água acontece pelas descontinuidades
geológicas existentes na rocha, como fraturas e planos de acamamento, identificados em campo. O
fluxo rápido e turbulento ocorre pelas canais verticais principais abaixo das dolinas e pelos condutos
cársticos presentes nos planos de acamamento. Por outro lado, o fluxo lento e difuso acontece por
meio de fraturas secundárias. No epicarste, a rocha se encontra mais fraturada e intemperizada devido
sua proximidade com o solo e superfície (Figura 6.6).

Devido a essas características, pode-se considerar a lagoa do Matadouro como uma importante
zona de recarga do ACSL. A recarga acontece principalmente durante a transição do período seco para
o chuvoso. Contudo, deve-se atentar para a vulnerabilidade intrínseca à contaminação devido a recarga
rápida pelas dolinas, considerando as atuais condições ambientais da área. Nas épocas de seca, o
epicarste pode-se torna a zona propícia para o armazenamento de água considerando suas
características geológicas.

Figura ‎6.6 - Ilustração indicando as formas de recarga e transmissão no aquífero cárstico local, bem como o
comportamento do fluxo subterrâneo.

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Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

6.5 PARÂMETROS HIDRÁULICOS E FÍSICO-QUÍMICOS

Em relação aos parâmetros hidráulicos do aquífero local, o método de Theis (1935) obteve-se
os valores de 1,13 x 10-2 m2/s para transmissividade (T), 9,86 x 10-5 para o coeficiente de
armazenamento (S), e 2,25 x 10-4 m/s para a condutividade hidráulica (K) (Figura 6.7). Pelo método de
Cooper & Jacob (1946) os valores fornecidos são: T = 1,24 x 10 -2m2/s, S = 13,88 x 10-5 e K = 2,48 x
10-4 (Figura 6.8). Observa-se uma diferença nos valores comparando os dois métodos. Pelo método de
Theis (1935) foram obtidos valores um pouco acima em relação ao método de Cooper & Jacob (1946),
mas dentro da mesma ordem de grandeza (Tabela 6.2) (Anexo I).

Figura ‎6.7- Gráfico da superposição entre a Curva teórica de Theis (1935) e a curva Rebaixamento (s) x Tempo
(t) gerada pelo teste de aquífero realizado na área de estudo.

Figura ‎6.8 - Gráfico da curva mono-log de Rebaixamento (s) x Tempo (t) obtida pelo método de Cooper &
Jacob (1946), destacando o s e o ciclo logarítmico utilizado na análise.

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

Em 2011, foi realizado por Galvão (2015) um teste de aquífero de 48 horas nos mesmos poços
PT-19 e PT-21 com as mesmas configurações do teste realizado neste estudo. Ao comparar os dois
testes, observa-se que não há uma variação significativa dos parâmetros hidráulicos do aquífero
cárstico local entre os anos de 2011 e 2019; ambos mantêm-se na mesma escala de grandeza, a não ser
pelo coeficiente de armazenamento, com pequeno aumento em relação ao teste de 2011 (Tabela 6.2).

Tabela ‎6.2 – Comparação dos métodos de intepretação dos testes de aquíferos realizados em 2011 e 2019.

Parâmetros Cooper-Jacob Theis


hidrodinâmicos T (m2/s) S K (m/s) T (m2/s) S K (m/s)
-2 -5 -4 -2 -5
2011 (Galvão 2015) 1,08 x 10 4,37 x 10 2,17 x 10 1,18 x 10 4,22 x 10 2,36 x 10-4
2019 1,24 x 10-2 13,88 x 10-5 2,48 x 10-4 1,13 x 10-2 9,86 x 10-5 2,25 x 10-4

Os parâmetros físico-químicos mostram algumas tendências durante o teste de bombeamento.


A condutividade elétrica (CE) e sólidos totais dissolvidos (STD) tiveram o mesmo comportamento,
com valores de CE um pouco mais elevados em relação aos valores de STD. O pH variou de 6,31 a
7,07, mostrando um comportamento de ácido a neutro, notando-se que, em determinados instantes, a
temperatura tem influência sobre o pH. A temperatura variou de 22,6 a 26,6ºC, com um aumento
durante o dia e uma diminuição durante a noite. O potencial de oxirredução (ORP) teve uma variação
brusca entre os minutos iniciais do teste, passando de uma característica mais oxidante para redutora,
permanecendo ao longo do teste (Figura 6.9).

Os parâmetros hidráulicos dependem das características da geologia do meio em que a água é


armazenada e transmitida e os parâmetros físico-químicos são influenciados pelas características
hidroquímicas em que se encontram as águas subterrâneas. O fato dos parâmetros hidráulicos terem se
mantido de 2011 até hoje, indicam que não houve mudanças significativas nas condições geológicas
dos condutos do aquífero cárstico local. A hipótese inicial era de que possíveis materiais terrígenos
poderiam ser transportados para o aquífero através de dolinas e uvalas, diminuindo o diâmetro de
condutos cársticos e, consequentemente, seus parâmetros hidráulicos, o que não foi observado. O
pequeno aumento do coeficiente de armazenamento (S) pode ser explicado pela realização dos testes
em diferentes épocas; no caso desse trabalho, o teste de aquífero foi realizado no período chuvoso em
que o aquífero se encontra no seu máximo de saturação.

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Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Figura ‎6.9 – Gráficos da relação dos parâmetros físico-químicos em função do tempo (min) durante o teste de
aquífero, respectivamente CE x STD, pH X T e Rebaixamento x ORP.

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

O teste de aquífero indicou que a água retirada do aquífero pelo bombeamento é proveniente
de um mesmo conduto, ou zona carstificada, uma vez que não foram observadas grandes variações na
curva do rebaixamento pelo tempo. Além disso, não houve variações bruscas nos parâmetros físico-
químicos que representasse, por exemplo, a entrada de água superficial no aquífero, como a possível
retirada de água da lagoa do Matadouro. Portanto, com o teste de aquífero de apenas 48 horas não foi
possível evidenciar a conexão entre as águas superficiais da lagoa do Matadouro e os poços do
Sistema de Abastecimento CDI. Entretanto, devido a evidências de superfícies potenciométricas,
ocorrências de nitrito e coliformes total e escherichia coli na água subterrânea sugerindo
contaminação recente superficial por esgoto (Anexo II), bem como dados isotópicos indicando
fracionamento por evaporação (Galvão et al. 2017), pode-se concluir que um teste de 48 horas de
bombeamento não tenha sido o suficiente para captação da água superficial. A sugestão, portanto, é
um teste de bombeamento de maior duração.

Em relação aos parâmetros físico-químicos pode se explicar o comportamento hidroquímico


similar da CE e dos STD pela relação proporcional entre os dois parâmetros, em que os STD podem
ser estimados multiplicando a CE por um fator que varia entre 0,55 a 0,75 (Feitosa et al. 2008). A
variação do ORP de oxidante para redutor no início do teste de bombeamento é justificada pela
retirada de águas mais próximas a superfície e posteriormente a retirada de águas mais profundas do
aquífero que tendem a ser mais redutoras.

6.6 IMPACTOS NA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA LOCAL

As análises químicas realizadas em 2015 e 2016 nos poços PT-19, PT-20 e PT-21 indicam a
contaminação das águas subterrâneas da área de estudo pelos elementos maiores Ferro (Fe) e
Manganês (Mn) e pelo ânion Nitrito (NO2-) (Anexo II). As concentrações do Fe se mostraram acima
do limite permitido pela legislação (3 mg/L - MS nº2.914/2011) no poço PT-19 no ano de 2015, nos
demais poços manteve-se dentro do limite permitido. As concentrações de Mn ultrapassaram o limite
permitido pela legislação (0,1 mg/L – MS nº2.914/2011) em todos os três poços do CDI durante os
anos de 2015 e 2016, com exceção do PT-20, no ano de 2016, em que não realizou-se análise química
neste poço (Gráfico 6.6). Em relação à contaminação por nitrito das águas subterrâneas foi identificada
pelas análises químicas nos poços PT-19 e PT-21 no ano de 2016, em que as concentrações
ultrapassam consideravelmente o limite máximo estabelecido em legislação (1 mg/L) (Figura 6.10).
Além disso, foram realizadas análises microbiológicas nos poços PT-19 e PT-21 durante o ano de
2016 que demostraram a presença de coliforme total e escherichia coli, indicando contaminações por
esgotos.

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Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Figura ‎6.10 - Gráficos das análises químicas evidenciando a contaminação das águas subterrâneas por Fe, Mn e
Nitrito nos poços PT-19, PT-20 e PT-21, durante os anos de 2015 e 2016.

A contaminação por Fe e Mn pode ser explicada pela similaridade química existente entre os
dois cátions, que normalmente ocorrem sob a forma instável (Fe+2 e Mn+2) e a forma estável (Fe+3 e
Mn+3). O Mn+2 pode se associar com o bicarbonato, comum nas águas de aquíferos cársticos,
conferindo a estas águas uma coloração negra com aspectos fuliginosos, ao se desprender do gás
carbônico (Feitosa et al. 2008). A coloração negra das águas nestes poços pode estar tendo
contribuição do Mn, além da presença de matéria orgânica.

Conceitualmente, presença de Fe na água subterrânea é indicativo de uma condição redox do


aquífero, cuja água contém nitrato, que pode estar relacionado a contaminação antrópica (e.g. esgotos,
fossas sépticas, deposito de lixo) (Feitosa et al. 2008). As águas subterrâneas de Sete Lagoas possuem
contaminação antrópica na região urbana central evidenciada pela presença de nitrato (Galvão 2015).
Na área de estudo, há ocorrência de nitrato, mas abaixo do limite de referência (10 mg/L), entretanto,
há contaminação de nitrito, que é um indicativo de poluição recente, uma vez que esse ânion constitui
o estágio inicial de oxidação da amônia (Feitosa et al. 2008). Considerando o mapeamento do uso e
ocupação da área de estudo, pode-se indicar, inclusive, o córrego do Matadouro como possível fonte
da contaminação de esgoto, uma vez que foi confirmada via mapeamento de campo a ocorrência de
uma dolina nesse córrego, próximo dos poços.

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

6.7 MODELO CONCEITUAL HIDROGEOLÓGICO

Ao considerar todos os aspectos analisados que influenciam no contexto hidrogeológico da


área, propõe-se um modelo conceitual que abrange todos os processos envolvidos na dinâmica hídrica
do aquífero cárstico local. A geologia local foi construída baseando-se no perfil construtivo do poço
PT-19 (Anexo II), onde se observa as camadas de sedimentos inconsolados cenozoicos, seguido da
rocha intemperizada (epicarste) e a rocha carbonáticas sã, tratando-se, portanto, de um aquífero livre.
A sazonalidade e o dinamismo hidráulico são representados pelos dois blocos diagramas durante os
períodos seco e chuvoso e a variação do nível da água, constituindo-se a condição intermitente da
lagoa do Matadouro (Figura 6.11). A recarga e zona de transmissão do aquífero foram baseadas no
modelo proposto por Ford & Williams (2007), sendo ilustradas pelas formas cársticas de recarga no
centro da lagoa (autogênica e concentrada) e sua conexão com as fraturas subverticais principais até
atingir os condutos cársticos presentes no plano de acamamento da rocha (Galvão 2015), onde ocorre a
transmissão da água de forma rápida e turbulenta. Por outro lado, a recarga difusa e alogênica é
representada pela infiltração no solo e pelas fraturas subverticais secundárias, cuja transmissão da água
acontece de forma lenta.

Pela análise da hidrodinâmica via mapas da superfície potenciométrica, considerou-se o fluxo


da água subterrânea no sentido dos poços tubulares do Sistema de Abastecimento CDI, representado
no modelo pelo PT-19 e a sua influência na dinâmica hídrica, quando bombeado. Embora a ligação
entre a lagoa do Matadouro e os poços não tenha sido confirmada suficientemente pelo teste de
aquífero, as contaminações no aquífero cárstico confirmadas pelos dados químicos e biológicos podem
indicar as seguintes fontes de contaminação: rede de esgoto, córrego do Matadouro, e a própria lagoa
do Matadouro, via contaminação por matéria orgânica proveniente do seu leito. Esta última foi
observada em amostragens de água bombeadas do PT-19 no início do teste de bombeamento, podendo
ser considerado como uma evidência de interconexão da lagoa com os poços. Ademais, estudos
isotópicos (Galvão et al. 2017) indicam fracionamento por evaporação das águas subterrâneas
bombeadas próximo das lagoas, sugerindo que essas águas de recarga do aquífero (Figura 6.11), eram
superficiais com tempo de exposição suficiente para altas evaporações, comum em ambiente lacustre.

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Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

Figura ‎6.11 – Ilustração do modelo hidrogeológico conceitual da área de estudo representando todos os
processos envolvidos na dinâmica hídrica do aquífero cárstico local.

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

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CAPÍTULO 7

7 CONCLUSÕES

A integração de sensoriamento remoto, geoprocessamento e mapeamento de campo mostrou-se


eficaz na identificação das feições cársticas existentes no centro da lagoa do Matadouro. Dessa
maneira, foi possível classificar dois tipos de formas superficiais do relevo cárstico: dolinas e uvalas.
Com o mapeamento de campo foi possível a confirmação de sumidouros de água no fundo de algumas
dessas dolinas, indicando zonas de recarga do aquífero cárstico local. Do ponto de vista ambiental,
foram identificadas ações antrópicas, como despejo de lixos domésticos na lagoa do Matadouro e de
esgoto no córrego do Matadouro, de tal modo que são consideradas fontes de contaminação do
aquífero cárstico local, confirmadas pelas análises químicas e bacteriológicas realizadas nos poços
tubulares do Sistema de Abastecimento CDI.

A lagoa do Matadouro é considerada uma importante zona de recarga do Aquífero Cárstico Sete
Lagoas, com dois tipos de recarga e infiltração: autogênica e concentrada através das dolinas e uvalas,
e alogênica e difusa por meio da percolação no solo e epicarste. Na zona de transmissão, o fluxo da
água acontece de forma rápida e turbulenta pelos canais principais abaixo das dolinas/uvalas, e de
forma lenta pelas fraturas secundárias existentes no epicarte.

A atual condição hídrica intermitente da lagoa do Matadouro é influenciada pela hidrodinâmica


regional do Aquífero Cárstico Sete Lagoas. Observando a superfície potenciométrica regional, ao
longo do tempo, nota-se um significativo cone de rebaixamento no centro urbano, na qual a área de
estudo localiza-se perifericamente. Como não houve, ao longo do tempo, mudanças na precipitação e
evapotranspiração real, é possível concluir que o rebaixamento regional devido a superexplotação da
água subterrânea seja a principal justificativa da mudança da condição perene para intermitente da
lagoa do Matadouro. Em relação à hidrodinâmica local do aquífero, a superfície potenciométrica
indica o sentido do fluxo subterrâneo da lagoa do Matadouro para os poços do SAAE.

As atuais condições de transmissividade, armazenamento e condutividade hidráulica do aquífero


foram obtidas pelo teste de aquífero e interpretadas pelos métodos de Theis (1935) e Cooper & Jacob
(1946). Comparando com o teste realizado por Galvão (2015) é possível concluir que não houve
mudanças dos parâmetros hidráulicos que justificasse uma alteração das condições geológicas dos
condutos cársticos ou até mesmo uma diminuição dos parâmetros hidráulicos do aquífero devido o
entupimento de condutos por material terrígeno, sendo esta uma condição levantada como hipótese
inicial deste trabalho. Os parâmetros físico-químicos da água bombeada durante o teste é proveniente
de um único conduto ou de uma mesma zona de carstificação, uma vez que não houve variação desses

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Assunção, P. H. S. 2019, Análise da zona de recarga e sua interação com o aquífero cárstico na Lagoa do Matadouro...

parâmetros que indicasse o aporte de águas de outras origens. Analisando apenas o teste de aquífero de
apenas 48 horas, conclui-se que o tempo de bombeamento ainda não foi suficiente para captar as águas
superficiais da lagoa do Matadouro.

Os dados químicos apontaram concentrações elevadas de Fe e Mn, uma vez que as


concentrações destes elementos mantiveram-se acima do limite permitido em legislação. Além da
matéria orgânica, a presença de Mn na água subterrânea contribui para a coloração escura observada
nos minutos iniciais do teste bombeamento. A contaminação por nitrito aponta a contaminação
superficial recente por esgoto, também confirmada pelos dados bacteriológicos devido a presença de
Coliformes totais e Escherichia coli. Essas evidências indicam as possíveis fontes da contaminação
levantadas anteriormente (lagoa e córrego do Matadouro), consideradas indicativos da conexão
hidráulica da lagoa com o aquífero.

Para um melhor entendimento das conexões hidráulicas do aquífero cárstico local, recomenda-
se a utilização integrada de mais métodos aplicáveis na hidrogeologia cárstica, tais como: traçadores
fluorescentes para o mapeamento da rede de condutos e velocidades do fluxo subterrâneo, métodos
geofísicos elétricos (eletrorresistividade) para a determinação indireta do epicarste e zona de
transmissão na lagoa do Matadouro e até mesmo um teste de aquífero de mais longa duração (120
horas).

74
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Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

79
Anexo I –Tabela do Teste de Aquífero
Endereço: Sistema de abastecimento CDI
Data Início: 27/02/2019 Data Final: 01/02/2019 Hora Início: 13:00h Hora final: 13:00h
Poço Bombeado: PT-19 Q: 228 m3/h NE: 6,40 Poço Observado PT- 21
Parâmetros da Água r (m) = 60,20 Rebaixamento Recuperação
t (min)
STD (ppm) CE (µS/cm) pH T (°C) ORP (mg/L) ND (m) s(m) ND (m)
0 6,400 0,000 10,710
1 221,3 332,1 6,79 26,6 48,0
2 7,600 1,200 9,580
3 7,710 1,310 9,510
4 7,780 1,380 9,430
5 240,0 360,0 6,79 26,3 22,0 7,850 1,450 9,380
6 7,960 1,560 9,330
7 7,900 1,500 9,290
8 8,000 1,600 9,240
9 8,040 1,640 9,220
10 235,3 352,7 6,97 26,6 -26,0 8,080 1,680 9,190
12 8,140 1,740 9,130
14 8,200 1,800 9,080
16 239,3 359,3 6,82 25,6 -43,0 8,250 1,850 9,040
18 8,300 1,900 9,000
20 239,5 359,3 6,79 25,6 -45,0 8,320 1,920 8,960
25 242,5 363,6 6,72 25,2 -59,0 8,410 2,010 8,890
30 242,1 362,5 6,74 25,3 -56,0 8,480 2,080 8,830
35 8,540 2,140 8,770
40 247,6 370,2 6,81 25,5 -75,0 8,570 2,170 8,730
45 8,610 2,210 8,680
50 251,0 374,8 6,75 25,2 -75,0 8,660 2,260 8,640
55 8,710 2,310 8,580
60 249,8 372,5 6,75 25,5 -70,0 8,750 2,350 8,550
70 256,7 383,5 6,58 25,1 -60,0 8,810 2,410
80 253,8 379,8 6,64 25,1 -63,0 8,850 2,450
90 240,4 360,1 6,71 25,3 -66,0 8,900 2,500
100 259,4 387,6 6,64 25,1 -64,0 8,960 2,560
110 258,0 384,7 6,71 25,3 -78,0 8,990 2,590
120 256,7 382,9 6,78 25,4 -91,0 9,020 2,620
150 268,3 400,0 7,05 25,6 -101,0 9,130 2,730
180 267,4 399,7 6,31 25,6 -38,0 9,190 2,790
210 274,2 409,2 7,07 25,6 -96,0 9,280 2,880
240 285,8 429,4 6,95 25,4 -88,0 9,320 2,920
270 279,4 417,6 6,79 24,5 -92,0 9,380 2,980
300 281,6 420,1 6,97 24,6 -95,0 9,440 3,040
330 284,6 424,6 7,06 24,2 -100,0 9,500 3,100
360 284,4 424,1 6,76 24,2 -62,0 9,530 3,130
390 286,2 427,2 6,93 24,0 -93,0 9,580 3,180
420 287,6 426,1 6,98 23,9 -90,0 9,650 3,250
450 288,5 429,8 7,00 23,5 -83,0 9,700 3,300
480 289,2 431,2 6,99 23,7 -85,0 9,760 3,360
510 297,1 442,3 7,03 23,6 -87,0 9,790 3,390
540 292,5 434,7 7,02 23,5 -86,0 9,830 3,430
570 291,6 434,8 6,96 23,5 -83,0 9,870 3,470
600 295,9 440,4 6,83 24,4 -80,0 9,840 3,440
660 292,3 435,4 7,05 22,9 -84,0 9,820 3,420
720 301,1 448,0 7,05 22,6 -88,0 9,870 3,470
780 300,0 446,6 7,06 22,8 -89,0 9,870 3,470
840 302,4 449,8 7,07 22,8 -85,0 9,910 3,510
900 306,0 455,2 7,02 22,9 -76,0 9,940 3,540
1020 305,6 456,4 7,00 22,9 -76,0 9,980 3,580
1140 292,3 435,7 6,85 23,9 -60,0 10,160 3,760
1260 297,5 442,8 6,84 24,1 -65,0 10,260 3,860

80
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

1380 292,1 435,2 6,95 24,2 -79,0 10,310 3,910


1440 309,5 461,0 6,81 24,4 -79,0 10,320 3,920
1500 10,330 3,930
1660 308,4 458,8 6,87 24,5 -72,0 10,420 4,020
1800 306,5 455,9 6,83 23,7 -65,0 10,450 4,050
1980 309,6 461,1 6,96 23,2 -63,0 10,610 4,210
2050 315,0 467,5 6,80 23,3 -66,0 10,540 4,140
2160 10,480 4,080
2340 315,4 468,5 6,93 23,3 -57,0 10,520 4,120
2520 314,2 464,0 6,95 23,2 -62,0 10,590 4,190
2700 312,1 463,8 7,01 23,5 -84,0 10,690 4,290
2880 314,3 469,6 6,92 25,6 -80,0 10,710 4,310

81
Anexo II–Tabela dos dados químicos e biológicos

82
Trabalho de Conclusão de Curso, n. 316, 81p. 2019.

83
Anexo III – Perfil construtivo do poço PT-19

84

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