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DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EVOLUÇÃO
CRUSTAL E RECURSOS NATURAIS
por
Ouro Preto
2016
ii
GEODIVERSIDADE E GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA NA
MG.
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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Reitor
Vice-Reitor
ESCOLA DE MINAS
Diretor
Issamu Endo
Vice-Diretor
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
Chefe
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CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
MG.
Orientador
OURO PRETO
2016
ix
Universidade Federal de Ouro Preto – http://www.ufop.br
Escola de Minas - http://www.em.ufop.br
Departamento de Geologia - http://www.degeo.ufop.br/
Campus Morro do Cruzeiro s/n – Bauxita
35.400-000 Ouro Preto, Minas Gerais
Tel. (31) 3559-1600, Fax: (31) 3559-1606
e-mail: pgrad@degeo.ufop.br
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CDU: 551.4
Catalogação: www.sisbin.ufop.br
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É a hora e a vez de Guimarães Rosa sorrir e dizer pra cumpadre meu Quelemén:
perigoso nada, mira e veja, nas Gerais, essas coisas...
Fernando Sabino
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AGRADECIMENTOS
À minha mãe, Dedete, que sonhou comigo este momento. Ao meu pai, Getúlio, pelo
exemplo de persistência. A minha irmã, Joelma, por mostrar que tudo se ajeita, mesmo nos
momentos incertos.
Ao Prof. Dr. Paulo de Tarso Amorim Castro pela paciência, dedicação e confiança no
meu trabalho durante o percurso do mestrado.
Aos amigos da pós, Suzana F. e Fabrício A. por dividirem comigo momentos decisivos
da realização deste trabalho. Aos amigos de graduação, que nunca se fizeram distantes: Ana
Virginia L., Daniara B., Cahio G., Edgar A., Lucas G., Yanne Q. Aos amigos de Itapecerica,
essências nas horas distração, de maneira especial, Danilo M. e Mariana T. Aos amigos Arthur
L., responsável por conselhos valiosos nestes anos e Fabiano V., por me ajudar perceber o
mundo da melhor forma possível.
Por fim, ao tempo, senhor de destinos, que a cada dia nos promove uma vida cheia de
futuro.
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SUMÁRIO
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CAPÍTULO 5 – GEODIVERSIDADE E GEMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA NO
ANTICLINAL DE MARIANA .......................................................................................................... 37
5.1 ESCALA DE TRABALHO E VARIÁVEIS ............................................................................. 37
5.2 COMPARTIMENTAÇÃO DO ANTICLINAL DE MARIANA E CÁLCULO DO ÍNDICE DE
RIQUEZA GEODIVERSIDADE POR COMPARTIMENTOS ........................................................... 46
5.4 GEODIVERSIDADE MÚLTIPLA SIMPLES E PONDERADA DO ANTICLINAL DE
MARIANA ............................................................................................................................................ 50
5.5 CÁLCULO DO ÍNDICE DE GEODIVERSIDADE UTILIZANDO IMAGENS RASTER ..... 54
CAPÍTULO 6 – LOCAIS DE INTERESSE GEOLÓGICO NO ANTICLINAL DE MARIANA
............................................................................................................................................................... 63
6.1 LIG ANTÔNIO PEREIRA ........................................................................................................ 64
6.2 LIG MORRO DE SANTANA .................................................................................................. 67
6.3 LIG MORRO SANTO ANTÔNIO ........................................................................................... 69
6.4 LIG PEDREIRAS DE QUARTZITO........................................................................................ 71
6.5 LIG MORRO DA QUEIMADA ............................................................................................... 74
6.6 LIG SERRA DA BRÍGIDA ...................................................................................................... 76
CAPÍTULO 7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 81
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
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LISTA DE TABELAS
xix
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RESUMO
A região das minas de ouro no Anticlinal de Mariana, sudeste do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais,
foi intensamente modificada pela ação antrópica, por meio da mineração de elementos como ouro,
quartzito, bauxita e topázio imperial. Ao longo dos flancos do Anticlinal de Mariana e de sua zona de
charneira (Serra de Ouro Preto, Serra de Antônio Pereira e Passagem de Mariana) as características
geomorfológicas foram alteradas, gerando formas antropogênicas, uma vez que estes trabalhos
realizados pelo homem deflagraram intensos processos erosivos e de movimentação de massa. Tendo
em vista tais aspectos, foi realizado este estudo, levando-se em consideração as características
geológicas da região para determinação da geodiversidade, a partir de três diferentes metodologias com
base em análises de imagens de satélite, bases cartográficas e trabalhos de campo: Índice de Riqueza de
Geodiversidade, Geodiversidade Múltipla Simples e Ponderada, e Índice de Geodiversidade por
imagens tipo raster. A área foi compartimentada de acordo com suas características geológico-
estruturais para facilitar as interpretações dos índices de geodiversidade e foram consideradas no cálculo
dos índices as variáveis geologia, geomorfologia, hidrografia e mineração. A quantificação da
geodiversidade serviu de guia para determinação de seis locais de interesse geológico (LIGs), todos
associados a mineração: Antônio Pereira, Morro Santana, Morro Santo Antônio, Pedreiras de Quartzito,
Morro da Queimada e Serra da Brígida. Todos os LIGs são de fácil acesso, em zona urbana, e devem
ser áreas prioritárias para a geoconservação.
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ABSTRACT
The gold mining region at the Mariana Anticline is located southeast of the Iron Quadrangle, in Minas
Gerais. This area was intensely modified by anthropic activity, through the mining of elements such as
gold, quartzite, bauxite and imperial topaz. Throughout the flanks of the Anticlinal de Mariana and its
hinge zone (Serra de Ouro Preto, Serra de Antônio Pereira e Passagem de Mariana) the characteristics
geomorphology was transformed, giving rise to anthropogenic forms, since the aforementioned man-
made modifications triggered intense erosive and mass movements processes. This study was developed
taking into account the geological features of the area, in order to determine geodiversity from three
different methodologies base with satellite images analysis, cartographic bases and field work:
Geodiversity Richness Index, Multiple Simple and Weighted Geodiversity Index, and Geodiversity
Index through raster-type images. The area was compartmentalized according to is geological and
structural features in order to simplify the interpretation of the Geodiversity Indexes. The variables
geology, geomorphology, hydrography, and mining were considered in the calculation of the indexes.
The quantification of the geodiversity was used as a guide to determining six sites of geological interest
(SGIs), all associated with mining: Antônio Pereira, Morro Santana, Quartzite Quarries, Morro da
Queimada e Serra da Brígida. All SGIs are easy to access, in urban areas, and should be prioritized for
geoconservation.
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CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Figura 1.1 - Esboço Geológico da Região do Anticlinal de Mariana. Adaptado de Barbosa (1969).
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
No final do século XVII, houve a descoberta de grandes depósitos de ouro aluvionar e, em 1771,
a cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto) foi fundada e desenvolveu-se em função deste bem metálico.
O ápice da corrida do ouro ocorreu durante a primeira metade do século XVIII com intensas atividades
mineradoras subterrâneas e a céu aberto, em vales e encostas, principalmente na Serra de Ouro Preto e
Serra de Antônio Pereira (Ouro Preto) expressões geomorfológicas dos flancos sul e nordeste,
respectivamente; e em Passagem de Mariana e Morro Santana (Mariana), zona de charneira do
Anticlinal de Mariana.
Ao longo dos flancos do Anticlinal de Mariana foram realizadas as lavras do ouro através de
grandes desmontes, escavações, transporte e deposição de material removido, abertura de poços, galerias
e canais, além de desmatamento generalizado e ocupação urbana desorganizada. Estas intervenções no
meio físico são caracterizadas na literatura como Geomorfologia Antropogênica, uma vez que estes
trabalhos realizados pelo homem deflagraram intensos processos erosivos e de movimentação de massa,
alterando a morfologia natural do meio.
Conforme Szabó et al. (2010) aborda, Geomorfologia Antropogênica é o estudo do papel dos
seres humanos na criação e/ou modificação de acidentes geográficos e a sua capacidade de alterar
processos geomorfológicos como intemperismo, erosão, transporte e deposição. A partir da demanda da
população, seja por necessidades espaciais ou materiais, novos territórios e recursos são explorados,
novas tecnologias são adotadas e o impacto dos seres humanos no meio natural se torna cada vez maior,
modificando, ou mesmo gerando estes acidentes geográficos. As modificações do meio podem ocorrer
de forma direta, como na exploração de bens minerais, ou de forma indireta, como em ações que o
homem altera características do meio e este passa a sofrer por processos geológicos dos quais não sofria
antes.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
1.2 OBJETIVOS
O objetivo precípuo desta pesquisa é determinar o índice de geodiversidade na região das minas
de ouro no Anticlinal de Mariana, usando como classes a geologia; a geomorfologia, esta integrada com
elementos de feições antropogênicas geradas pela mineração; hidrografia e ocorrências minerais da
região.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
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CAPÍTULO 2
Figura 2.1 - Localização da área de estudo no Quadrilátero Ferrífero, entre os municípios de Ouro Preto e Mariana.
O acesso se dá, partindo do Belo Horizonte, pela BR040 até a Rodovia dos Inconfidentes
(BR356), seguindo até Ouro Preto. O trajeto entre Ouro Preto e Mariana pode ser feito através da MG129
ou pela BR356, figura 2.2.
Figura 2.2 - Vias de acesso à área de estudo. As principais vias são a BR040, BR356 e MG129. Fonte: Google
Maps (2015)
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Figura 2.3 - Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero. Adaptado de Alkmim e Marshak (1998). Destaque
em vermelho, as unidades que afloram no Anticlinal de Mariana: Grupo Nova Lima, Grupo Caraça, Grupo Itabira,
Grupo Piracicaba e Grupo Sabará.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
O Anticlinal de Mariana é uma estrutura regional que encontra-se na porção sudeste do QF,
estando a Serra de Ouro Preto no flanco sul do anticlinal, a serra de Antônio Pereira no flanco nordeste
e Passagem de Mariana na zona de charneira deste Anticlinal (figura 2.4).
Figura 2.4 - Mapa geológico simplificado do Quadrilátero Ferrífero, mostrando a área de estudo. (Extraído de
Lagoeiro (2000), adaptado de Dorr (1969)).
No contexto do Anticlinal, ocorrem o SGRV, representado pelo grupo Nova Lima, e SGM,
representado pelos grupos Caraça, Itabira, Piracicaba e Sabará, distribuídos ao longo de toda a estrutura
antiformal. Do ponto de vista estrutural, na área são observados estruturas regionais como o próprio
Anticlinal de Mariana e as Falhas de São Vicente, Alegria, Água Quente, Frazão e Fundão, como mostra
a figura 2.5.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Figura 2.5 - Mapa geológico-estrutural em que estão definidas as estruturas regionais presentes na área de estudo.
O contato entre o embasamento e o Grupo Nova Lima aflora a leste de Mariana e, conforme
Nalini Jr (1993), é tectônico. O contato superior, entre o Grupo Nova Lima e a Formação Moeda,
unidade de base do Supergrupo Minas, é bem definido sendo comum a presença de veios de quartzo
intensamente deformados e foliação milionitica, indicando esforço tectônico.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Cavalvanti (1999) observou que esta unidade forma, em uma escarpa continua, uma homoclinal
na cidade de Ouro Preto, com espessura aproximada de 40m. O contato com a unidade superior,
Formação Batatal, é tectônico.
Grupo Itabira
Este grupo é composto pelas formações Gandarela e Cauê e bordejam o antiforme.
O contato entre a Formação Cauê e a Formação Gandarela é gradacional, quanto mais próximo
do contato, a proporção de minerais de ferro diminui e a dos minerais carbonáticos aumenta.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Grupo Piracicaba
Segundo Nalini Jr (1993), o Grupo Piracicaba ocorre nas bordas da estrutura antiforme e se
estende pela zona de charneira desta. É composto por quatro formações:
Grupo Sabará
Esta unidade foi elevada à condição de grupo por Renger et al. (1994) e é composto por uma
sequência metavulcanossedimentar com mica xisto e clorita xisto intercalados com metagrauvaca,
quartzito, quartzito feldspático, quartzito ferruginoso, formação ferrífera e metaconglomerados. (CPRM
1993).
2.3 GEOMORFOLOGIA
Dentre os estudos que descreveram a geomorfologia do Quadrilátero Ferrífero (QF), destacam-
se Barbosa & Rodrigues (1967), Dorr (1969), Cristofoletti & Tavares (1976), Varajão (1991), Saadi et
al. (1992) e CPRM (1993).
A geomorfologia regional pode ser definida por duas unidades geomorfológicas diferentes: o
Quadrilátero Ferrífero e os Planaltos Dissecados. O relevo típico do Quadrilátero Ferrífero se dá entre
as serras do Caraça, do Curral, da Moeda, de Ouro Preto e a do Itacolomi, enquanto as feições típicas
dos Planaltos Dissecados (RADAMBRASIL 1983), na região nordeste da área de estudo e leste do
estado de Minas Gerais, registram bruscas variações no relevo através da queda acentuada das altitudes.
Na unidade do QF, as altitudes médias variam de 1400 a 1600m, sendo a morfologia marcada
pelo controle estrutural e litológico, onde são descritos relevos que apresentam sinformes suspensos e
antiformes esvaziados, além de cristas estruturais do tipo hog back (CPRM 1993). De acordo com
Barbosa (1985), vários ciclos foram responsáveis pelo metamorfismo das rochas que sofreram complexa
deformação polifásica, gerando esses tipos de relevo.
morfogenética do Quadrilátero Ferrífero está, então, condicionada ao controle litológico, que provoca
erosão diferencial geradora de pequenas superfícies.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
2.4 PEDOLOGIA
O núcleo do Anticlinal de Mariana, onde aflora o SGRV, é uma área de forte dissecamento
promovido pelo Rio das Velhas e seus afluentes e representa um padrão de paisagem significativo dentro
do Quadrilátero Ferrífero. Encontra-se nessa região Cambissolos Háplicos, de fertilidade natural
invariavelmente baixa, com pedregosidade superficial em alguns trechos mais íngremes horizonte B
pouco espesso, caracterizando Neossolos Litólicos. Nos flancos do anticlinal, nas serras que o define,
aparecem os Latossolos e Cambissolos latossólicos de caráter perférrico. (Filho et al. 2010).
O SGM aflora nos flancos do Anticlinal de Mariana e, segundo Tavares (2006), as coberturas
superficiais de crosta laterítica (cangas), cujo material de origem é o itabirito e apresentam cor vermelho-
escura muito intensa devido a concentração de ferro, ocorrem nos topos e nas vertentes desses morros e
são produtos de alteração supergênica em climas tropicais. Estas crostas inibem a pedogênese e o
amadurecimento do solo. Também ocorrem solos pouco espessos de cor clara, onde afloram os
quartzitos da Formação Moeda.
Conforme Filho et al. (2010), no Quadrilátero Ferrífero predomina-se solos pouco evoluídos,
com forte influência do material de origem em suas características, sendo possível afirmar que os
processos erosivos têm uma influência maior na formação dos solos. Os solos, então, estão
condicionados pelo relevo, em geral acidentado, pela forte resistência ao intemperismo das litologias
regionais e pelo baixo recobrimento vegetal.
2.5 CLIMA
O clima em que a região está inserida, de acordo com a classificação climática de Koppen, está
definido nos tipos Cwa e Cwb. Estes tipos são definidos pela elevada pluviosidade com maior
concentração entre os meses de outubro a março (IGA 1995).
Conforme Antunes (1986), o Cwa predomina em regiões mais baixas, com verões úmidos e
quentes, sendo o índice pluviometrico médio anual de 1100 -1500mm, estação seca curta e temperatura
média anual entre 19,5-21,8ºC. O Cwb é característico nas porções mais elevadas, onde os verões são
brandos, a temperatura média anual mais baixa, variando entre 17,4 a 19,8ºC e a média do mês mais
quente é proxima aos 22ºC.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
2.6 HIDROGRAFIA
A serra de Ouro Preto, flaco sul do Anticlinal de Mariana é o divisor das bacias hidrográficas
do Rio Doce e Rio das Velhas. A figura 2.6 mostra as drenagens da área de estudo, onde estão as
cabeceiras da bacia do Rio Doce, cujas nascentes se encontram na Serra de Ouro Preto.
Precisamente, a nascente do Rio Doce se dá na bacia do Ribeirão do Carmo, que dentro da cidade de
Ouro Preto recebe o nome de Ribeirão do Funil, e possui um padrão de drenagem predominantemente
dendrítico que, ao confluir com o rio Piranga forma o rio Doce, que possui uma extensão de 134 km e
uma área de 2279km² equivale a aproximadamente 3% da bacia do Rio Doce (Tavares 2006).
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CAPÍTULO 3
REFERENCIAL TEÓRICO
Em 1975, Bertalanffy propôs a Teoria Geral dos Sistemas (TGS) que apresenta um modelo
analítico capaz de uniformizar, de maneira lógica, os processos de conhecimento, nos mais diversos
ramos da ciência. Essa teoria, amplamente adotada e difundida, reflete um status paradigmático no meio
científico e, assim, indica problemas e soluções em formas de modelo para à comunidade científica de
modo geral. (Kuhn 1998)
Segundo Christofoletti (1979; 1995), os conceitos da TGS já vinham sendo aplicados nos
estudos geomorfológicos na década de 1950, embora está ainda não tivesse sido proposta, por Arthur N.
Strahler, ganhando aplicação em estudos de cunho ambiental, nas décadas seguintes. Christofoletti
classifica ainda os sistemas nas seguintes categorias: isolados, não isolados, morfológicos, sequência e
processos e respostas. Seguindo este conceito, foi definido para este trabalho o sistema em sequência e
o de processos e respostas, pois abrange o relacionamento entre sistemas naturais e antrópicos.
Bertalanffy (1975) coloca que a TGS, em última análise, é capaz de identificar as propriedades,
os princípios e as leis características dos sistemas em geral, sem levar em conta a sua tipologia, a ordem,
a natureza de seus elementos componentes e as relações ou forças entre eles, mesmo ressaltando que,
por definição, sistema é um conjunto de elementos em interação de natureza organizada.
Para Mattos & Perez Filho (2004), sistema é um todo que tem uma organização e é integrado
por elementos que relacionam entre si, que ganham significado se forem considerados em conjunto a
partir de três conceitos: todo, partes e interrelação. Conforme os autores, o todo e as partes que compõem
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
o sistema são capazes de defini-lo. Porém, esses elementos devem possuir a capacidade de funcionar
como um todo integrado. Assim, para a compreensão total desse todo, é necessário o entendimento das
suas partes e como elas se interrelacionam.
Sistemas abertos são aqueles que possuem a capacidade de troca de matéria e energia com os
sistemas vizinhos ou espaço circundante, podendo ter um balanço positivo ou negativo, conforme
definido por Christofoletti (1980; 1999), que também afirma que estes sistemas são, na maioria das
vezes, identificados e exemplificados por meio de vertentes, indústrias, cidades e bacias hidrográficas.
O precursor do termo geossistema foi Sotchava (1978). A análise geossistêmica está relacionada
aos sistemas territoriais naturais que se diferenciam no contexto geográfico, formados de elementos
naturais que estabelecem uma condição e/ou uma relação no tempo e no espaço, como parte de um todo
e é influenciado por fatores sociais e econômicos. Na visão de Sotchava, relatado por Dias & Santos
(2007):
Monteiro (2001) coloca que o tratamento geossistêmico objetiva, a princípio, à integração por
etapas de análise das variáveis naturais e antrópicas e etapas em que se relacionam os recursos, os usos
e os problemas, derivando em uma síntese com unidades homogêneas. Ainda segundo o autor, o
resultado é uma conclusão de aplicação, onde se descreve a real qualidade do meio ambiente, através de
uma análise tempo-espacial integrada das inter-relações entre a sociedade e ambiente na construção da
paisagem.
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Entretanto, Bertrand & Bertrand (2007) resgatam o conceito de geossistema proposto por
Sotchava (1977), acrescentando a dimensão da ação antrópica, sendo assim uma categoria espacial de
componentes relativamente uniformes e homogêneos.
Os geossistemas são tratados neste trabalho como unidades naturais integrais que se distinguem
em suas transformações por meio do resultado das ações naturais e antrópicas, tais como o relevo e as
minerações ao longo do tempo na área estudada.
3.2 GEODIVERSIDADE
O termo geodiversidade apareceu pela primeira vez no final do século XX e, desde então, vários
significados foram atribuídos ao conceito do termo e, segundo Brilha (2005), é um termo de aplicação
recente. Segundo Gray (2004), o termo surgiu durante Conferência de Malvern, no Reino Unido quando
geólogos e geomorfólogos tratavam sobre conservação geológica e paisagística.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
A linha de pesquisa seguida neste trabalho vai de encontro com a definição de geodiversidade
proposta por Serrano e Ruiz-Flaño (2007), cujo termo se refere à variabilidade da natureza abiótica,
contendo os elementos de natureza litológica, tectônica, geomorfológica, pedológica, hidrológica,
topográfica e os processos físicos da superfície da Terra, mares, oceanos, em conformidade aos
processos naturais endógenos e exógenos e, ainda, antrópicos que englobam a diversidade de partículas,
elementos e lugares.
𝑁 ×𝑅
𝐺 = ln 𝑆
Equação 2.1
R é a rugosidade;
S é a superfície real.
Seguindo a linha de pesquisa de Serrano & Ruiz-Flaño (2007), Hjort & Luoto (2010) aplicaram
esta fórmula para determinar o índice de geodiversidade para a paisagem subártica no norte da Finlândia.
Os autores, neste estudo, utilizam de uma grade com células amostrais com tamanho regulares, com o
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
intuito de determinar valores estatísticos para se obter uma relação entre a variabilidade dos processos
geomorfológicos com a geodiversidade total.
Pellitero (2012) adaptou as metodologias propostas por Serrano & Ruiz-Flaño (2007) e Hjort &
Luoto (2010) para realizar o cálculo do índice de geodiversidade no parque “Macizo de Fuentes
Carrionas”, na Espanha. Determinou grids regulares e, conforme Hjort & Luoto (2010), considerou que
a utilização do coeficiente R não seria necessária. Como resultado, obteve o mapeamento da
geodiversidade que serviu de base para determinação de áreas prioritárias para a conservação.
Pereira (2014) fez uma avaliação quantitativa da geodiversidade para a Área de Proteção
Ambiental Sul – APA Sul de Belo Horizonte, Minas Gerais, a partir da adaptação da metodologia de
Pellitero (2012), determinando a riqueza da área em termos de diversidade abiótica. Com os resultados,
foram selecionados e inventariados Locais de Interesse Geológico (LIGs) nas regiões classificadas como
de mais alta geodiversidade, indicando as áreas prioritárias para preservação e geoconservação.
Segundo Pereira et al. (2012), o uso das metodologias para avaliação quantitativa e distribuição
espacial da geodiversidade é muito recente e se baseiam, principalmente, sobreposição cartográfica em
Sistema de Informação Geográfica (SIG) de elementos do meio físico, resultando em um mapa de
geodiversidade. As aplicações deste mapa passam pelo planejamento territorial, a conservação da
natureza e a gestão dos recursos naturais.
De acordo com Pereira (2014), utilizar de índices e do uso da estatística para comparar diversos
ambientes acaba por provocar as mais diversas discussões entre os pesquisadores. Entretanto, aplicar
esse tipo de metodologia pode trazer muitos ganhos tanto para a comunidade científica como para a
comunidade civil, uma vez que promove a identificação e mensura as áreas prioritárias para a
conservação.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Segundo Korb (2006), o termo Tecnógeno, foi introduzido pela escola russa com os estudos de
Chemekov e Ter-Stepanian quando se referiam às circunstâncias geológico-geomorfológicas atuais, cuja
ação humana ganha um importante significado nos processos da dinâmica externa da Terra quando
comparada aos processos anteriores.
Os trabalhos sobre o Tecnógeno estão relacionados com o reconhecimento, caracterização,
compreensão e avaliação das transformações dos recursos ambientais a partir a intervenção antrópica.
(Andrade 2012).
As ações humanas que transformam o meio geológico, desde a produção agrícola e pastoril
denominada Revolução Neolítica, vêm sistematicamente se intensificando, resultando em espaços
profundamente modificados, como as regiões agrícolas, mineradas e industrializadas; indicando assim
que o Holoceno poderia ser considerado uma transição entre o Pleistoceno e o Tecnógeno (Pedrosa
2007).
Conforme Zalasiewicz et al. (2008), Zalasiewicz et al. (2011) e Hooke (2006), do início da
Revolução Industrial até os dias atuais, a população humana global cresce exponencialmente,
aumentando a necessidade e, consequentemente, a exploração dos recursos naturais. Ainda segundo os
autores, mesmo se tendo provas e evidências que comprovam a intensidade que a ação humana modifica
as condições ambientais originais no Holoceno, é ainda precoce reconhecer, do ponto de vista
estratigráfico, que o Quaternário tenha chegado ao fim.
A humanidade tornou-se um fator transformante das configurações espaciais do Planeta,
servindo como objeto de estudo de pesquisas atuais que buscam esclarecer e entender como a ação
geomórfica antrópica tem alterado as formas de relevo e seus processos condicionantes.
De acordo com Peloggia (1998) e Fujimoto (2005), a intervenção antrópica na dinâmica da
natureza pode ocasionar em algumas consequências para o ambiente. Essas consequências podem ser
agrupadas em três níveis de abordagem, sendo que o primeiro nível está associado a ocorrência de
transformações no relevo, mais especificamente em sua forma. O segundo nível é referente às alterações
na dinâmica geomorfológica, ou seja, nos processos geomorfológicos. O terceiro nível é relativo à
formação de depósitos que podem ter sido desenvolvidos devido a dinâmica antrópica imposta ao meio,
depósitos esses denominados tecnogênicos.
Peloggia (2005) diz que, uma paisagem qualquer, natural ou não, pode sofrer processos
degradativos tecnogênicos, que são aqueles onde há mobilização de material geológico, produzindo
formas de primeiro tipo, como vertentes ravinadas e terrenos com rampas. Segundo Fujimoto (2005), é
possível identificar também sulcos erosivos, cones de dejeção ou cicatrizes de solapamento, produzidos
por processos tecnogênicos.
Entretanto, ao contrário da degradação, os processos tecnogênicos também podem gerar
depósitos tecnogênicos construtivos, quando há acumulação de material geológico, seja de forma direta
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
(meios mecânicos) ou de forma indireta (como resultado da degradação) gerando formas como aterros,
morrotes artificiais, planícies aterradas e planícies tecnogênicas (Fujimoto 2005).
Segundo Suertegaray (2002), os depósitos tecnogênicos são resultados de processos bastante
intensos, ou seja, eles se formam em curtos períodos temporais e ocorrem devido a fenômenos pontuais
na escala planetária. Estes depósitos representam mudanças mais rápidas que as ocorridas em períodos
geológicos anteriores.
As mudanças provocadas pelo homem sobre o meio natural impactam de maneira positiva e/ou
negativa, a estrutura e a geomorfologia de diversos ambientes em diferentes escalas. Essas
transformações ocorrem, na perspectiva do tempo histórico, de maneira rápida, e, por vezes, acarretadas
em função das novas conformações do espaço, suprindo às demandas sociais, políticas e econômicas
sobre os recursos ambientais. (Andrade 2012).
As alterações antrópicas da paisagem que hoje permeiam o Planeta não têm precedentes
geológicos e históricos, podendo ou não representar uma transição irreversível para uma nova paisagem.
Sendo assim, prever o futuro quanto ao caminho da paisagem será de grande importância, ajudando na
capacidade de antecipar, influenciar, reagir, ou capitalizar sobre o futuro (Haff 2001; Wilkison 2005).
Quando se discute sobre a ação do homem na configuração da paisagem o uso dos termos
tecnógeno, antropogênico, antropogeomorfologia existe um duplo significado, a depender da escolha do
autor. Estes termos podem se referir a um novo período geológico ou aos processos ou feições criadas
pelo homem, ou ainda, como no caso deste trabalho, para ambos os sentidos.
Geomorfologia Antropogênica é o estudo do papel dos seres humanos na criação e/ou
modificação de acidentes geográficos e a sua capacidade de alterar processos geomorfológicos como
intemperismo, erosão, transporte e deposição (Szabó et al. 2010). A partir da demanda da população,
seja por necessidades espaciais ou materiais, novos territórios e recursos são explorados, novas
tecnologias são adotadas e o impacto dos seres humanos no meio natural se torna cada vez maior,
gerando estas novas geoformas.
Szabó et al. (2010), utilizando dos estudos de Haigh (1978), diferenciaram e classificam as
geoformas antropogênicas de acordo com sua origem em dois grupos. No primeiro grupo estão
relacionadas as formas de origem direta, ou seja, geradas por processos construtivos e pelas escavações,
como na exploração de bens minerais. No segundo grupo estão aquelas geradas de forma indireta, como
em ações que o homem altera características do meio e este passa a sofrer por processos geológicos dos
quais não sofria antes, como formas erosivas aceleradas, os assoreamentos e entulhamentos e as rupturas
de taludes.
Uma outra classificação, segundo a gênese das geoformas, foi proposta por Dávid (2010 in
Szabó et al. 2010) em que se distingue três tipos de forma: as de escavações, que são formas negativas;
as de acumulações, que são formas positivas; e, ainda, as formas originadas pela retirada de material
21
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
causando aplainamento de superfícies. O autor faz uso da classificação de acordo com as dimensões das
formas antropogênicas, utilizando dos termos macroformas, mesoformas e microformas.
A princípio, as jazidas de ouro foram encontradas em depósitos aluvionares em que não havia
necessidade especial de processos para se recuperá-lo. Conforme Abreu (1973) descreve, a lavra era
realizada pelo processo de catação, pois o ouro estava livre, separado da canga, em pó ou em pepitas e
acumulado naturalmente. Por não necessitar de aparelhagem específica, a mineração nos primeiros
tempos se deu e se esgotou rapidamente.
Segundo Eschwege (1833) o processo de catação de ouro nos córregos se dava de forma
rudimentar, com a utilização de pequenas vasilhas para retirar areias desses canais onde havia uma
separação do ouro, uma vez que este metal é mais denso que outros sedimentos e, portanto, fica
acumulado próximo a área fonte (serras).
Nessa fase inicial a extração aurífera era realizada principalmente pelos homens livres e pobres
e alguns escravos, pois era um meio livre e qualquer pessoa poderia se apossar deste trabalho, conforme
Rugendas (1956) descreve, “a maioria gasta todo o lucro na venda próxima, em aguardente”. Nos vales,
o escoamento da água dos serviços minerários poderia ser feito por meio de carumbés, carregados por
escravos, ou com o uso dos rosários – engenhos de rodas d’água para drenagem das lavras.
Com a mão de obra escrava, foram introduzidas as bateias de madeiras, arredondadas e pouco
fundas, que facilitam a separação do ouro, mais denso, dos sedimentos menos densos. Também houve
a adesão do uso das chamadas “canoas”, em que um canal secundário era aberto nas margens dos rios,
facilitando o trabalho com o material de fundo desses fluxos de água. O processo de bateamento
começava quando os negros entravam no leito dos rios e mergulhavam a bateira enchendo-a de
cascalhos. Com movimento circulares, o ouro acabava por ser concentrado no fundo da bateia e o
cascalho era então descartado. (Paula 2013).
Segundo Paula (2013), os depósitos auríferos encontrados em serras, encostas e terraços, para
serem explorados, requisitavam de água, que era levada através de um canal principal de onde partiam
outros, chamados aquedutos. A água ajudava na desagregação do solo, rico em ouro. Este procedimento
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
também foi utilizado quando se tinham evidências de ouro nos veios de quartzo, no contato entre as
rochas mais friáveis (filitos e xistos, base das serras) das menos friáveis (itabiritos, topos de serra).
Gonçalves (2004) descreve as dificuldades nesse tipo de lavra do ouro, pois as instalações
exigidas para os desmontes, a depender da localização das terras minerais, eram bastante onerosas e
consistiam em conduzir a água através de penhascos e montes por jiraus de madeira de lei que
sustentavam bicas fechadas até ou alcatruzes (manilha ou tubo com que se faz a canalização da água)
até que chegassem aos pontos onde o ouro se encontrava.
Estas explorações acabaram por transformar a paisagem deixando registros da atividade humana
sobre o meio natural, uma vez que morros inteiros foram descaracterizados. É escopo deste trabalho a
análise dessas transformações, tendo em vista os vestígios de aquedutos, desmontes e deposição de
material gerado pela mineração ao longo do Anticlinal de Marina.
De acordo com Abreu (1973), apenas quando este ouro chegou na fase de quase esgotamento é
que se partiu para a extração do ouro em jazidas de rochas duras, onde foi necessário construir algumas
galerias e explorar a rocha matriz ou lavar terras de baixo teor.
Para se lavrar o ouro nas serras, escolhia-se os contatos entre os filitos e os itabiritos, onde se
formaram os veios hidrotermais e onde o ouro foi precipitado durante os eventos metamórficos. A
prospecção era feita de forma intuitiva, já que o conhecimento geológico da região não era de domínio
dos mineiros.
A lavra começava com aberturas de canais perpendiculares às serras até atingir uma camada ou
veios, escorando as rochas friáveis com estacas e mourões, que serviam para aliviar as tenções do
material rochoso e serviam para direcionar o escoamento de águas. Ao se atingir essas camadas, eram
realizadas aberturas de pequenos buracos (cavernas) em que era necessário que os mineiros passagem
agachados para fazer a extração do ouro. Quando as rochas eram mais resistentes, era possível a abertura
de grandes túneis e galerias que iam até o filão aurífero. Este processo requeria o serviço de diversos
escravos que transportavam o ouro retirado em carumbés nas cabeças ou por carrinhos.
Andrade (2012) faz um relato importante sobre os estilos de mineração de ouro nas Minas Gerais
do século XVIII, em que cita autores como Roberto Simonsen e Caio Prado Júnior que dizem haver uma
tendência em se relacionar a evolução das minas de ouro e a produção do metal com a capacidade e
23
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Riva et al. (2001) aprofunda neste conceito e afirma que o patrimônio geológico está relacionado
aos recursos naturais que não são renováveis e que possuem de valor cientifico, cultural, educativo e/ou
de interesse paisagístico e recreativo. Segundo este autor, o patrimônio pode ser formações rochosas,
estruturas, geoformas, depósitos sedimentares, ocorrências minerais e paleontológicas, em que se
permitam reconhecer, estudar e interpretar a evolução da história geológica da Terra e os processos que
a tem modelado.
Ostanello (2012) define o patrimônio geológico como um conjunto de LIGs que são
inventariados e, posteriormente, caracterizados de uma determinada região, com as elementos de sua
geodiversidade. Os LIGs, segundo Arana-Castillo (2007), são os lugares em que estão presentes os
afloramentos em que são visíveis uma ou mais características consideradas de grande importância dentro
da história geológica de uma determinada região.
Dentre os ganhos com pesquisas em geoconservação pode-se citar, além da preservação dos
geossítios, o geoturismo, estudos de registros paleoambientais, preservados em relevo e sedimentos ou
proporcionar estudos de campo de treinamento para geólogos, geomorfólogos, pedólogos ou alunos de
ensino formal e informal.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
26
CAPÍTULO 4
MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 MATERIAIS
Os materiais utilizados neste trabalho consistem em bases bibliográficas e cartográficas, que
foram selecionadas a partir da estimativa de sua importância em relação à variabilidade ambiental
abiótica no contexto do Anticlinal de Mariana.
A princípio, foi realizada a compilação e o estudo dos principais trabalhos de caráter geológico
e histórico sobre os temas abordados neste trabalho, como a geologia regional do Quadrilátero Ferrífero,
a Teoria Geral de Sistemas e os geossistemas, o tecnógeno e a geomorfologia antropogênica, um estudo
histórico das minerações no Anticlinal de Mariana, a geodiversidade e os estudos de geoconservação e
patrimônio geológico. A base das consultas se deram a partir de teses e dissertações disponibilizadas no
banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e nos portais
das Instituições Federais de Ensino (IFEs).
Com o intuito de se fazer uma análise mais precisa da geologia, foram estudados os mapas
levantados em Trabalhos de Graduação (TGs) como o “Mapeamento geológico da região das Minas De
Maquiné – Del Rey e Porção Nordeste do Anticlinal de Mariana – Serra de Antônio Pereira”, de Toniolo
& Santos (1996); “Geologia de um segmento da aba sul do Anticlinal de Mariana”, de Brito &
Massucato (1992); e “Geologia de um segmento da aba SW do Anticlinal de Mariana”, de Fonseca &
Sano (1993).
Os estudos geomorfológicos utilizaram como base imagens de radar e satélite com auxílio do
software Google Earth Pro e os dados topográficos digitais SRTM citados anteriormente, disponíveis
em livre acesso na web.
4.2 MÉTODOS
O trabalho aqui apresentado está estruturado em etapas cuja sequência e organização estão
representadas no fluxograma da figura 4.1.
Para cada classe utilizada no cálculo da geodiversidade, será utilizado um método de análise
diferente.
A classe geologia foi dividida em quatro variáveis diferentes: Formações Geológicas, Litologia,
Idade Geológica e Densidade de Lineamentos; conforme tabela 4.1. Foram realizados recortes dos dados
da CODEMIG (2005) para as três primeiras variáveis, enquanto a variável Densidade de Lineamentos
foi gerada a partir de dados SRTM sob diferentes condições de exagero vertical e direção azimutal do
efeito de luz e, posteriormente, tratada na ferramenta Line Density no software ArcGis 10.1.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Quaternário
Neogeno
Paleogeno
Idade Riaciano
Sideriano
Neoarqueano
Meso a neoarqueano
Muito alta
Alta
Densidade de Média
Lineamentos
Baixa
Muito baixa
A classe Hidrografia, tabela 4.2, é representada pela Densidade de Drenagens, sendo classificada
em graus de densidade, através do uso da na ferramenta Line Density no software ArcGis 10.1.
31
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
A última classe considerada é a Ocorrência Mineral, tabela 4.4, que possui apenas uma variável
denominada com o mesmo nome. Nesta classe, há a determinação de Ocorrências Minerais em
polígonos, embora os dados sejam pontuais, foi utilizada a ferramenta Buffer no ArcGis 10.1, gerando
polígonos com raio de 30 metros.
A classe Geologia e suas variáveis foram separadas em shapefiles especificas com o uso da
ferramenta Select Atribute Table no ArcGis 10.1, na qual é possível selecionar os dados que se quer
exportar individualmente, gerando então mapas de polígonos. Para o cálculo da densidade de
33
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
lineamentos, foi necessário traçar tais lineamentos a partir das imagens SRTM e integrar com os
lineamentos regionais já definidos na base cartográfica da região.
Para as ocorrências minerais, foi criada uma shapefile no software ArcGis 10.1 na qual é
evidenciada a variedade e a distribuição destas ocorrências no Anticlinal de Mariana. Como a shapefile
de origem é em forma de pontos, foi realizada a conversão para uma shapefile de polígonos através da
ferramenta Buffer, criando-se polígonos cujos raios são de 30m, tamanho dos pixels finais nas imagens
raster.
Após o tratamento das bases cartográficas e a individualização de shapefiles para cada variável,
e posteriormente, para cada elemento, foram atribuídos valores aleatórios para cada um dos elementos,
com o a finalidade do programa diferenciar o valor de cada célula na próxima etapa.
Para a atribuição dos valores, as tabelas de atributos de cada elemento foram editadas no
software ArcGis 10.1. Uniu-se as diferentes shapefiles com a ajuda da ferramenta Merge, gerando uma
shapefile única para cada variável, mas preservando a individualidade e as características de cada
elemento.
Na última etapa de tratamento houve a conversão dos dados do formato vetorial obtidos nas
etapas anteriores para o formato raster, com o objetivo de que, para cada elemento representado, passe
a existir um único valor associado para cada célula. A conversão é realizada no ArcGis 10.1, utilizando
a ferramenta Pollygon to Raster, da caixa de ferramentas Conversion Tools. É necessário, nesta etapa,
definir o tamanho das células (pixels) do arquivo de saída. O tamanho das células deve ser coerente com
a escala de trabalho (Hjort & Luoto 2012), e neste caso, o valor de cada célula (30 x 30 metros).
Para realizar esta conversão, todas as shapefiles devem estar na forma de polígonos, e caso
estejam em forma de linhas ou pontos, é necessário criar uma área ao redor dessas feições com a
ferramenta Buffer, respeitando o tamanho da célula definida.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
No final destas etapas, o banco de dados possui todas as variáveis no formato de shapefiles de
polígonos e em imagens raster com células de 30m, permitindo o cálculo do índice de geodiversidade
através dos diferentes métodos apresentados a seguir.
𝑁 ×𝑅
𝐺 = ln 𝑆
Equação 4.1
R é a rugosidade;
Em seguida, adotando a metodologia utilizada por Serrano e Ruiz-Flaño (2007), Hjort & Luoto
(2010) e Pereira (2012), houve a execução das operações com as variáveis disponíveis, realizando o
cruzamento das classes, usando as imagens raster geradas nas etapas anteriores. A equação é aplicada
com o uso do software ArcGis 10.1, sendo que as variáveis de entrada são carregadas na ferramenta Cell
Statistic no pacote de ferramentas Spacial Analyst Tools. As variáveis Geologia e Geomorfologia foram
35
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
cruzadas num primeiro momento, sem levar em conta a variável Feições Antropogênicas. Em seguida,
entrou-se com os dados naturais, ou seja, todas as quatro classes (Geologia, Geomorfologia, Hidrografia
e Mineração), excluindo apenas a variável “Feições Antropogênicas” da variável Geomorfologia. Por
fim, todas as variáveis foram trabalhadas, resultando no mapa do índice de geodiversidade para a região
do Anticlinal de Mariana.
Nas visitas de campo, foram analisados, catalogados, identificados, caraterizados os locais com
diferentes índices de geodiversidade e assim foram definidos os Locais de Interesse Geológico (LIGs),
seguindo a ficha elaborada na figura 4.2.
Figura 4.2 - Ficha de identificação, caracterização e descrição dos LIGs. Fonte: Adaptado de Pereira (2014).
36
CAPÍTULO 5
ANTICLINAL DE MARIANA
No caso das variáveis Litologia, Unidades Geológicas e Idade Geológicas (figuras 5.1, figuras
5.3, figuras 5.3 respectivamente) os mapas mostram as distribuições das características especificas de
cada caso no recorte da área de estudo. O mapa de Densidade de Lineamentos, figura 5.4, mostra a alta
concentração destes lineamentos na porção sudoeste e nordeste, regiões dos flancos do anticlinal de
Mariana; além da alta concentração também na porção nordeste na região que separa o domínio
Quadrilátero Ferrífero dos Planaltos Dissecados.
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Figura 5.1 - Mapa da variável Litologia do Anticlinal de Mariana. (ver tabela 4.1, pág 30 para referências das
siglas)Fonte: CODEMIG (2010).
Figura 5.2 - Mapa da variável Formações Geológicas do Anticlinal de Mariana. Fonte: CODEMIG (2010)
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Figura 5.3 - Mapa da variável Idades Geológicas do Anticlinal de Mariana. Fonte: CODEMIG (2010)
Figura 5.4 - Mapa da variável Densidade de Lineamentos do Anticlinal de Mariana. Fonte: SRTM.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
O mapa de declividade, figura 5.5, mostra a predominância dos relevos ondulados e fortemente
ondulados na maior parte da região, sendo a exceção a porção nordeste, em que há o relevo suavemente
ondulado em maior distribuição. No mapa de orientação das vertentes, figura 5.6, é possível observar
que existe um controle estrutural na orientação das encostas, sendo reconhecidas áreas com diferentes
características. O flanco sul do Anticlinal de Marina (Serra de Ouro Preto) aparece com as vertentes
com caimento para sul, sudeste e sudoeste, enquanto o flanco nordeste (Serra de Antônio Pereira) tem
as vertentes com orientação para norte e nordeste. No núcleo do anticlinal há a indicação que as vertentes
estão predominantemente orientadas para noroeste, seguindo a direção do vale do Rio das Velhas. O
mapa de rugosidade, figura 5.7, mostra que existe um padrão de maior rugosidade nas regiões dos
flancos e da zona de charneira do anticlinal, enquanto valores intermediários de rugosidade se propagam
pelo vale do Rio das Velhas e as regiões com os menores valores são aquela relacionadas aos planaltos
dissecados.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Figura 5.6 - Mapa da variável Orientação das Vertentes do Anticlinal de Mariana. Fonte: SRTM.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Figura 5.8 - Mapa da variável Densidade de Drenagens do Anticlinal de Mariana. Fonte: SRTM.
A partir dos mapas gerados e seguindo os critérios de classificação das unidades propostos por
Souza et al. (2005) e Oliveira (2010) para a região, foram determinadas oito unidades geomorfológicas
(figura 5.9) para o Anticlinal de Mariana (Nascimento & Castro 2016):
1) Topo de morros: São topos em cristas com altitudes variando entre 1300m até 1560m.
2) Escarpas: elevações alongadas com vertentes íngremes e côncavas e alta densidade de
canais.
3) Relevo ondulado: desníveis dos topos para os vales são menores que aqueles
registrados na Escarpas com alta densidade de canais.
4) Encosta do Rio das Velhas: encostas com altitudes entre 1000m e 1100m.
5) Vale do Rio das Velhas: baixa densidade de drenagem com relevo suavemente
ondulado; corresponde a cabeceira do Rio das Velhas.
6) Relevo de Planalto: caracterizando uma plataforma elevada, baixa densidade de canais.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
O mapa de Feições Antropogênicas, figura 5.10, foi criado a partir da observação de imagens
de satélite e através das visitas de campo das feições geradas pelos processos minerários durante os
últimos séculos na região. Foram indicados desmontes gerados pelos pela extração de ouro, bauxita,
quartzito e topázio imperial ao longo de toda a borda do anticlinal.
43
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Na região estudada existem tanto formas positivas quanto formas negativas. Os processos de
extração de ouro em aluviões, por exemplo, produziu formas de acumulação e escavação, enquanto
aqueles empregados nas serras (aberturas de galerias, minerações a céu aberto), devido à maior
declividade, tendeu a produzir um maior número de formas de escavação, mesmo havendo acúmulos de
material encontradas na serra. (Paula 2013)
A escala de trabalho limitou a classificação das formas antropogênicas de acordo com sua
natureza (positivas ou negativas). Foram, então, classificadas de acordo com o bem mineral extraído
destas formas.
O mapa de distribuição das ocorrências minerais, figura 5.11, foi gerado a partir de dados
pontuais destas ocorrências. Foi criado um polígono com o raio de 30m, tamanho das células unitárias,
para que não haja nenhum subestimação dessa classe no cruzamento de dados para o cálculo do índice
de geodiversidade da região.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Figura 5.11 - Mapa da variável Ocorrências Minerais do Anticlinal de Mariana. Fonte: CPRM.
Figura 5.12 - (A) Mapa de elevação do terreno. (B) Perfil longitudinal A-B. (C) Perfil longitudinal C-D. (D) Perfil
longitudinal E-F (Serra de Ouro Preto e Serra de Antônio Pereira).
O perfil A-B (figura 5.12B), com direção sudeste-noroeste, reflete que o Anticlinal é do tipo
“esvaziado”, ou seja, o núcleo foi erodido (Vale do Rio das Velhas) enquanto os flancos foram
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
preservados e mantêm as cotas mais altas da região. A figura 5.12C é um perfil gerado na direção
noroeste-sudeste, passando pela zona de charneira do Anticlinal de Mariana e chegando ao relevo
característico de planaltos, com altitudes inferiores a 1000m. Por fim, o perfil E-F da figura 5.12D
mostra a Serra de Antônio Pereira (flanco nordeste) separando os domínios Vale do rio das Velhas e dos
Morros com Topos Arredondados.
Este tópico do trabalho foi apresentado em formato de resumo expandido com o título
“Compartimentação e Cálculo do Índice de Geodiversidade no Anticlinal de Mariana, MG” no XI
Simpósio Nacional de Geomorfologia – SINAGEO – Maringá/PR – 2016, dos autores Nascimento &
Castro (2016).
Foi realizada nesta etapa do trabalho a compartimentação do Anticlinal de Mariana a partir dos
elementos geomorfológicos analisados vetorialmente, figura 5.13, com o objetivo de se representar as
unidades com especificidades geológico-estruturais semelhantes. Desta forma, seis compartimentos
foram delimitados e observa-se que o Anticlinal de Mariana possui uma paisagem bastante diversificada,
com características associadas às inúmeras combinações da estrutura geológica e geomorfológica
existente.
O compartimento 4 (C4) representa o vale do Rio das Velhas. Predomina na região as rochas do
Supergrupo Rio das Velhas, rochas mais antigas expostas devido ao esvaziamento do anticlinal. A
geomorfologia deste compartimento representa o vale do Rio das Velhas e suas encostas.
O compartimento 5 (C5) apresenta um relevo de planalto onde está situada a sede do município
de Mariana. A Formação Sabará predomina neste compartimento, embora as demais formações do
Supergrupo Minas e Rio das Velhas também ocorram na área.
Serrano & Ruiz-Flaño (2007, 2009), assim como nesta seção deste trabalho, utilizou-se os dados
no formato vetorial, com a necessidade de se normalizar a superfície, uma vez que os compartimentos
comparados são diferentes na questão da área.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Número de elementos
Elementos de geodiversidade
C1 C2 C3 C4 C5 C6
Litologia 17 17 14 10 18 16
Idades Geológicas 7 4 4 5 5 5
Geologia
Formação Geológica 12 12 12 5 14 13
Densidade de lineamentos 7 7 0 7 0 0
Unidades Naturais 5 8 5 4 3 4
Geomorfologia Declividade 14 14 7 7 7 0
Feições Antropogênicas 3 1 2 0 0 2
Hidrografia Densidade de Drenagens 0 0 7 14 14 7
Mineração Ocorrência Mineral 7 5 4 7 3 7
Total de Elementos 72 68 55 66 64 54
Rugosidade 0,61 0,69 0,64 0,61 0,47 0,51
ln S 3,85 3,61 3,21 3,81 3,25 3,98
Com a tabela 5.1 preenchida e os cálculos do índice de riqueza geodiversidade realizados, criou-
se a tabela 5.2, onde os valores do incide de geodiversidade aparecem em ordem decrescente, e, em
seguida, o mapa da figura 5.14 com os índices de geodiversidade por compartimento do Anticlinal de
Mariana.
Tabela 5.2: Índice de riqueza da Geodiversidade em ordem decrescente para cada compartimento de
paisagem.
Compartimento C2 C1 C3 C4 C5 C6
Índice de
12,99 11,40 10,96 10,56 9,26 6,91
Geodiversidade
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
representatividade maior que a hidrografia e mineração. O resultado disto é que as variáveis mais
representativas, aspectos geológicos e geomorfológicos, contribuem, mesmo que indiretamente, de
forma mais expressiva na quantificação e no cálculo do índice de geodiversidade. Está situação
corrobora com o fato de que os elementos da geologia e geomorfologia são os responsáveis pela maior
ou menor geodiversidade de um ambiente, já que as outras variáveis estão diretamente atreladas as
condições geomorfológicas e/ou geológicas de uma região.
Tanto a tabela 5.1 quanto o mapa da figura 5.15 mostram que as áreas com os maiores índices
de geodiversidade estão associadas ao controle geológico-estrutural a qual a região foi submetida, que,
por consequência, evidencia as diferentes formas de relevo, densidade de lineamentos, mineralizações.
Já os compartimentos cujos menores índices de geodiversidade estão associados são aqueles em que há
uma menor rugosidade, formas de relevo menos escarpadas, revelando terrenos mais homogêneos.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
A Geodiversidade Múltipla Simples (GMS) é a soma dos elementos encontradas em cada mapa
temático básico por compartimento geomorfológico, enquanto a Geodiversidade Múltipla Ponderada
(GMP) é obtida dividindo-se o número de elementos encontradas em cada classe padrão pela sua área
total de ocorrência num mesmo compartimento geomorfológico.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
C1 83 47 1,765
C2 80 37 2,162
C3 72 25 2,880
C4 62 45 1,377
C5 74 26 2,846
C6 78 54 1,444
1
GMS: Geodiversidade Múltipla Simples; 2GMP: Geodiversidade Múltipla Ponderada.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
As variáveis utilizadas são aquelas apresentadas no início deste capítulo e a escala de trabalho
escolhida foi a de 1:50.000, devido a base de dados cartográficos e a possibilidade de se representar
todas as classes dentro desta escala.
A tabela 5.3 mostra as variáveis e o número de elementos a partir das quais foi possível gerar os
cruzamentos dos dados, resultando nos mapas a seguir. No total, foram totalizadas 11 varáveis, que
comportam 119 elementos.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Os valores mais altos estão nas regiões com maior rugosidade, maior declividade e naquelas em
que há maior densidade de lineamentos e de drenagens. Esse dado mostra que as bordas do Anticlinal
de Mariana e sua zona de charneira são os que apresentam maior diversidade de elementos geológicos.
Valores intermediários são encontrados no vale do Rio das Velhas, núcleo do Anticlinal, enquanto os
menores valores são encontrados no domínio dos Planaltos Dissecados, onde os terrenos são menos
rugosos, as ocorrências minerais aparecem em menor volume e a hidrografia apresenta pouca variação.
55
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Em comparação com a figura 5.16, o mapa da figura 5.17 aparece com os contornos mais bem
definidos. A presença da classe Hidrografia contribuiu de forma conexa na definição dos locais com
maior e menor índice de geodiversidade. Além disso, a variável Ocorrência Mineral contribuiu de
maneira pontual no cálculo do referido índice.
A região das minas de ouro no Anticlinal de Mariana passou por diversas transformações na
paisagem nos últimos três séculos, sendo a atividade humana da mineração a maior responsável pela
transformação da paisagem.
No flanco sul do Anticlinal de Mariana, além da mineração subterrânea de ouro, também houve
o desmonte da serra para lavagem do material geológico e prospecção rudimentar do metal precioso.
Entre o flanco sul e a zona de charneira do anticlinal, além da exploração de ouro, como no Morro Santo
Antônio, a atividade mineraria se voltou para a extração de quartzitos, que perdura até os dias atuais.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
No flanco nordeste, próximo ao Morro de Santana há ruinas de exploração de ouro, assim como em
Antônio Pereira, onde há também formas relacionadas ao garimpo de topázio imperial.
Comparando as imagens de satélite apontadas na figuras 5.19A e 5.19B que mostram os dois
flancos do Anticlinal de Mariana, o flanco sul possui uma superfície rugosa mais expressiva que o flanco
nordeste. Também ocorre que no flanco sul existe uma maior ocupação urbana, causada principalmente
pela atividade minerária de ouro na região, sobre ruinas e o material geológico que foi desmontado.
Figura 5.19 - Flancos do Anticlinal de Mariana: (A) Flanco Sul. (B) Flanco Nordeste. Fonte: Google Earth. (2016).
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Figura 5.20 – Mapa de integração das Formas Antrópicas e Rugosidade nas bordas do Anticlinal de
Mariana.
O compartimento C3, zona de charneira do Anticlinal de Mariana, é aquele com maior
distribuição em área das feições antrópicas, cerca de 15,24% da área total do compartimento foi
trabalhada pela mineração de ouro e quartzito. O flanco sul, C1, apresenta 3,7% em áreas que formam
feições antropogênicas identificadas neste trabalho, enquanto o compartimento C2, flanco nordeste,
aparece com aproximadamente 4,2% de área modificada pelo homem.
O grau de rugosidade varia de média a muito alta nas formas antropogênicas associadas à
exploração de ouro, mostrando o alto valor de alteração superficial nestes locais. Essas formas são as
que estão distribuídas em maior extensão na área de estudo e ocorrem nas vertentes da paisagem, tanto
no flanco sul quanto no flanco nordeste do Anticlinal de Mariana.
Nas formas geradas pela exploração de quartzito, o grau de rugosidade varia entre baixa e média.
Neste caso, as minerações de quartzito estão concentradas em zonas onde a declividade das vertentes
são menores e nos vales.
O garimpo de topázio está localizado em uma região em que a rugosidade é relativamente alta,
devido ao trato irregular do terreno em busca da gema. O inverso ocorre na forma gerada na retirada de
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
bauxita, onde o grau de rugosidade aparece muito baixo, pois a exploração não gerou alterações
superficiais representativas.
A partir da análise do grau de rugosidade e das formas antropogênicas, foi possível gerar o mapa
da figura 5.21 de acordo com o índice de geodiversidade, levando-se em consideração todos os 119
elementos apresentados na tabela 5.5. Com este mapa, é possível comparar os índices de geodiversidade
relatados anteriormente com o índice de geodiversidade em que se inclui a variável Feições
Antropogênicas, realizando o objetivo precípuo deste trabalho.
Figura 5.21 - Mapa do Índice de Geodiversidade, com a variável Feições Antropogênicas. (119 elementos).
Com a inclusão da variável Feições Antropogênicas, houve uma diferenciação dos pontos onde
havia altos índices de geodiversidade. Isto ocorre devido ao fato de que o uso dessa variável promoveu
uma diferenciação do contexto regional e o contexto local. Observando a figura 5.21, pode-se constatar
que os maiores valores de geodiversidade continuam aparecendo nas bordas do anticlinal e na zona de
charneira, os valores intermediários no vale do Rio das Velhas e os valores menores na região dos
planaltos.
O que diferencia o mapa da figura 5.21 dos demais mapas, são os hotspots, gerados
principalmente pelas feições antropogênicas. Estes hotspots, ocorrem nas bordas do Anticlinal de
59
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Mariana onde ocorreram a intervenção humana na busca pelo ouro, quartzito, bauxita e topázio imperial.
Poderia haver uma superestimação, devido ao fato destas feições ocorrem apenas na borda do Anticlinal.
Entretanto, como já foi representado nos mapas e descrito anteriormente, o contexto regional possui
altos valores do índice geodiversidade, sendo a variável Feições Antropogênicas determinante para a
diferenciação dos locais de interesse geológico.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Figura 5.22 - Mapa do Índice de Geodiversidade, com a variável Feições Antropogênicas, sem uso da rugosidade.
(119 elementos).
Alguns trabalhos, como García-Cortés & Urquí (2009) e Ostanello (2012), optam pela
determinação dos locais de interesse geológico a partir da inventariação dos lugares já conhecidos pelas
propriedades geológicas com algum potencial geoturístico. Neste trabalho, por meio da análise das áreas
que incidem diferentes índices de geodiversidade associados as ocorrências de formas antropogênicas
associadas à mineração, foram propostos os Locais de Interesse Geológico (LIGs) abordados na próxima
seção.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
62
CAPÍTULO 6
Sendo assim, são apresentados seis locais de interesse geológico: Antônio Pereira, Morro
Santana, Morro Santo Antônio, Pedreiras de Quartzito e Serra da Brígida. A figura 6.1 mostra a
localização dos LIGs ao longo do Anticlinal de Mariana.
Figura 6.1 - Mapa de Localização dos LIGs no Anticlinal de Mariana sobre imagem de satélite.
Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Figura 6.2 - Variáveis utilizadas para definir o índice de geodiversidade do LIG Antônio Pereira.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Na região, próximo à rua da Lapa, ocorrem atividades de garimpo de topázio imperial (figura
6.3A). O garimpo é realizado de forma rudimentar, com uso de picaretas, pás e carrinhos de mão. As
alterações antrópicas sobre a paisagem consiste na abertura de “voçorocas”, figura 6.3B, no latossolo
dos dolomitos da Formação Gandarela. O topázio é encontrado junto a níveis ricos em manganês,
responsável por dar uma tonalidade mais escura a estes níveis, conhecidos localmente como “borras de
café”.
Figura 6.3 - (A) Topázio imperial garimpado na região de Antônio Pereira. (B) Formas antrópicas geradas devido
extração de topázio imperial.
Ainda no distrito de Antônio Pereira, na rua do Beco Novo (658694 m. E/7752842 m. S, 23K,
798m), existe uma pedreira de dolomitos da Formação Gandarela, figura 6.4A com níveis mineralizados
em ouro, que também foram explorados, em veios de quartzo associados a piritas (figura 6.4B), sendo
as piritas utilizadas como traçadoras.
Figura 6.4 - (A) Pedreira de dolomitos da Formação Gandarela associadas a veios auríferos. (B) Detalhe de piritas
em meio a níveis micáceos na Formação Gandarela. Fotos: Bruna Meyer. (2015)
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
A pedreira está próxima ao Córrego Água Suja, afluente do Rio Gualaxo do Norte, e é neste
vale que ocorre a transição da Formação Gandarela para a Formação Moeda que sustenta a serra de
Antônio Pereira. A laterita ocorre na base da serra, onde houve a exploração de ouro e gerou o relevo
ruiniforme, antropogênico (figura 6.5).
O fato de estar em uma região de garimpo condiciona a preservação parcial da região. Os índices
de geodiversidade para este sítio varia entre 2 e 8, ou seja, a quantidades de elementos abióticos na área
varia bastante. A área está localizada em uma região em que predomina a unidade geomorfológica
Relevo Suave Ondulado e há ocorrências minerais de ferro, ouro e manganês.
O local é importante no âmbito educacional, científico e turístico, uma vez que é possível
observar o patrimônio geomorfológico, arqueológico, mineralógico, mineiro e geológico. É possível se
ter uma imagem panorâmica do flanco nordeste do Anticlinal de Mariana neste sítio, figura 6.6,
favorecendo o entendimento estrutural e geomorfológico da área.
Figura 6.6 – Vista panorâmica do flanco Nordeste do Anticlinal de Mariana. Serra de Antônio Pereira ao fundo,
lavras de topázio em primeiro plano.
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O Morro de Santana, figura 6.7, está localizado na porção noroeste do município de Mariana,
próximo a área urbana da sede municipal. O acesso pode ser feito pela MG-129 através de carro e ônibus
urbano. O morro é ocupado por diferentes bairros, sendo que o mais conhecido é o Gogô, que cresceu à
margem da exploração de ouro na região.
Figura 6.7 – Morro Santana, porção sul do flanco nordeste do Anticlinal de Mariana.
Geologicamente, o Morro de Santana está na porção sul do flanco nordeste, sobre afloramentos
de quartzitos e itabiritos. Neste local, existem evidências de sarilhos (furos verticais usados na ventilação
e prospecção de ouro em minas subterrânea) e ruinas da mineração de ouro, figura 6.8.
Figura 6.8 – Ruínas visitadas em atividade educativa no Morro de Santana. (Lamim-Guedes et al., 2012)
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
O LIG Morro de Santana é tombado municipalmente pelo Decreto nº. 4.481 de 28 de fevereiro
de 2008, que garante a preservação arqueológica do local. Apesar disso, na área é comum a retirada de
matérias das ruinas pra a construção de casas nos bairros próximos. (Lamim-Guedes et al., 2012).
Figura 6.9 - Variáveis utilizadas para definir o índice de geodiversidade do LIG Morro de Santana.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
O Decreto nº. 4.481 de 28 de fevereiro de 2008 da cidade de Mariana também diz respeito ao
tombamento do Morro de Santo Antônio. Os dois morros, Santana e Santo Antônio, são contíguos, sendo
que o segundo pertence ao distrito de Passagem de Mariana. O acesso pode ser realizado de carro pela
MG-56, próximo a rotatória de Passagem de Mariana, até a primeira entrada a direita na rua Mariana, e
a pé, no morro.
Neste LIG, há a possibilidade de visitar ruinas das minerações como mundéus, antigas estruturas
de habitações e canais de represamento onde o ouro era lavrado. A figura 6.10 mostra o esquema de um
mundéu e suas ruínas. O local está preservado, principalmente pelo fato se ser um local tombado e da
condição de estar em uma encosta íngreme. Além disso, é uma área com interesse arqueológico e
mineiro.
Figura 6.10 – Representação de mundéu (Ferrand 1998) e ruinas de mundéu no Morro Santo Antônio (Piló 2007).
Imagem retirada do inventário do Morro Santo Antônio no Portal do Patrimônio Cultural.
Afloram quartzitos e itabiritos no topo dos morros que são aplainados, figura 6.11, formando
mesas. As variáveis da geodiversidade e a localização do LIG Morro de Santo Antônio são apresentados
na figura 6.12.O índice de geodiversidade da região apresenta valores altos, variando entre 7 e 10, além
de altos valores de rugosidade e o terreno apresentar declividade variando entre montanhoso e
escarpado. Há ocorrência mineral do ouro na região, sendo interessante a visitação do patrimônio
geomorfológico e arqueológico presente no LIG.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Figura 6.11 – Vista com visada para o Morro Santo Antônio a partir das pedreiras de quartzito do Taquaral.
Figura 6.12 - Variáveis utilizadas para definir o índice de geodiversidade do LIG Morro Santo Antônio.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Figura 6.13 – Pedreira de Quartzito no bairro Liberdade, Ouro Preto. Em um segundo plano, é possível observar
as mesas no Morro Santo Antônio.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Figura 6.14 – (A) Pedreira de quartzito abandonada. (B) Placas de quartzito prontas para serem vendidas como
rocha ornamental.
Na região, também ocorre registros de túneis abertos nos quartzitos para a prospecção de ouro
realizados perpendicularmente a serra. (Coordenadas 660698 m. E/7745499 m. S. UTM 23K, figura
6.15).
Figura 6.15 – Aberturas de túneis nos quartzitos da Formação Moeda para a prospecção de ouro.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Figura 6.16 - Variáveis utilizadas para definir o índice de geodiversidade do LIG Pedreiras de Quartzito.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Este LIG representa intensa ocupação sobre forma antropogênica gerada na mineração de ouro,
figura 6.17. Muitas casas foram construídas sobre ruinas de mundéus, sobre material desmontado da
serra de Ouro Preto. Existem estudos geológicos sobre o Morro da Queimada, como o trabalho de
Fonseca et al. (2001) e Sobreira (2014), que tratam da alterações antrópicas na paisagem devido a
mineração de ouro nos últimos três séculos.
O morro está numa região sobre filitos da Formação Batatal, itabiritos da Formação Cauê e
quartzitos da Formação Moeda. Algumas das variáveis utilizadas no estudo do LIG estão na figura 6.18.
A região está pouco preservada, devido a ocupação irregular e apresenta índice de geodiversidade
natural variando entre 6 e 9, predominantemente. A região se destaca pelo acervo arqueológico e
geomorfológico.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Existe na região o projeto Parque Arqueológico do Morro da Queimada aprovado pela Comissão
Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) ligada ao Ministério da Cultura, em 2005. Hoje, o projeto de
implantação é administrado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a qual proveu a instalação da Casa
Espaço Cultural Morro da Queimada (Rua 15 de Agosto, 516, Morro Santana, Ouro Preto – MG).
Figura 6.18 - Variáveis utilizadas para definir o índice de geodiversidade do LIG Morro da Queimada.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
No local, é possível observar uma geoforma com o substrato avermelhado, figura 6.19,
resquícios de lateritas, onde estão sendo desenvolvidos trabalhos envolvendo recuperação ambiental.
Figura 6.19 - Laterita exposta pela ação humana onde são realizados estudos da Universidade Federal
de Ouro Preto, no LIG Serra da Brígida.
O LIG está no núcleo do Anticlinal de Mariana, e a partir dele é possível observar parte do
flanco nordeste do anticlinal, a Serra de Antônio Pereira; o núcleo do anticlinal, no domínio do
Supergrupo Rio das Velhas (vegetação bem densa); e outras unidades do Quadrilátero Ferrífero, como
o Pico do Frazão e a Serra do Caraça, mostrados na figura 6.20. Sendo assim, é um importante sítio
geomorfológico e geológico da região.
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Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol.75, nº 342, 88p. 2016
Figura 6.20 – Vista panorâmica a partir do LIG Serra da Brígida, com visada para norte. Serra do Caraça ao fundo,
seguido por uma couraça de canga ferruginosa, Pico do Frazão, Serra de Antônio Pereira. Em primeiro plano,
Domínio do Supergrupo Rio das Velhas, com vegetação mais densa.
O local é bem preservado devido ao fato de estar dentro de uma Área de Proteção Ambiental e
do interesse da Universidade Federal de Ouro Preto que desenvolve diversos projetos científicos na
região. Além disso, o interesse geomorfológico ganha destaque pela da visão panorâmica de domínios
do flanco nordeste do Anticlinal de Mariana e seu núcleo, além de unidades do Quadrilátero Ferrífero a
norte. A figura 6.21 é o diagrama de variáveis utilizadas para determinar o índice de geodiversidade,
que é alto na região. A rugosidade é intermediária, enquanto a densidade de lineamentos é alta. O terreno
é fortemente ondulado e pertence ao domínio geomorfológico topo de morros.
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Nascimento, S. T. Geodiversidade e Geomorfologia Antropogênica...
Figura 6.21 - Variáveis utilizadas para definir o índice de geodiversidade do LIG Serra da Brígida.
78
CAPÍTULO 7
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A rugosidade foi um importante elemento no cálculo do índice de geodiversidade, uma vez que
o uso desta permitiu que os dados fossem mais apurados, contribuindo para a definição dos locais com
maiores e menores índice na região estudada.
O índice de geodiversidade serve de guia para determinação de locais de interesse geológico
(LIGs), uma vez que evidencia os locais com maior variedade de elementos geológicos de uma área.
Foram determinados seis desses locais na área de estudo:
1) LIG Antônio Pereira, local associado a exploração de topázio imperial.
2) LIG Morro Santana, sitio arquitetônico ligado a exploração de ouro;
3) LIG Morro Santo Antônio, também associado a mineração aurífera;
4) LIG Pedreiras de Quartzito, lavras de quartzito como rochas ornamentais;
5) LIG Morro da Queimada, ocupação sobre forma antropogênica gerada na mineração de
ouro;
6) LIG Serra da Brígida, associada à exploração de bauxita.
A determinação dos locais de interesse geológico tem o intuito de incentivar políticas de
geoconservação do patrimônio geológico e mineiro, além de propor rotas de visitação turística, cientifica
e didática na região. Todos os LIGs possuem acesso relativamente facilitado, por estarem em áreas
urbanizadas e são próximos a Universidade Federal de Ouro Preto.
A escolha por usar diferentes métodos para quantificar a geodiversidade e o uso da variável
Geomorfologia Antropogênica no Anticlinal de Mariana foi acertada, a medida que os resultados obtidos
foram significativos na determinação dos LIGs.
80
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