Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
por
i
ii
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Reitora
Cláudia Aparecida Marliére de Lima
Vice-Reitor
Hermínio Arias Nalini Júnior
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação
Renata Guerra de Sá Cota
ESCOLA DE MINAS
Diretor
José Alberto Naves Cocota Junior
Vice-Diretor
Cláudio Eduardo Lana
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
Chefe
Edson Tazava
iii
EVOLUÇÃO CRUSTAL E RECURSOS NATURAIS
iv
CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA – VOL. 82
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Nº 442
Orientador
OURO PRETO
2022
v
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO
CDU 550.8:556.3
FOLHA DE APROVAÇÃO
Membros da banca
Prof. Dr. Luis de Almeida Prado Bacellar - Universidade Federal de Ouro Preto
Prof. Dr. Lucas Pereira Leão - Universidade Federal de Ouro Preto
Prof.ª Dr.ª Cibele Clauver de Aguiar- Universidade Federal de Viçosa
O Prof. Dr. Luis de Almeida Prado Bacellar, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito
no Repositório Institucional da UFOP em 16/02/2023.
Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.002460/2023-64 SEI nº 0482618
Dedico esta dissertação aos meus pais, José Maria e Teresinha, presença de Deus aqui na Terra, por
acreditarem em mim e me incentivarem a nunca desistir dos meus objetivos. Mesmo quando o chão
parecia sumir sob meus pés, vocês estavam ao meu lado, me motivando a continuar. Esta conquista é
nossa!
viii
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus, por me permitir conquistar mais este objetivo e por me sustentar
durante esta jornada. Aos meus pais, Teresinha e José Maria, por sempre apoiarem as minhas decisões
e me incentivarem a seguir em frente. Não seria possível alcançar estes resultados sem a companhia e
incentivo do meu pai durante os primeiros campos, além do empréstimo do seu carro, companhia diária
no percurso Lafaiete/Ouro Preto/Mariana. Ao amparo da minha mãe durante as madrugadas enquanto
eu redigia esta dissertação. Vocês são meu porto seguro!
À minha prima Débora, meus avós, meu namorado Igor e minha amiga Karina, por serem colo, carinho
e minhas fontes de força. Aos amigos da geo, Rafael, Vanessa, Mikha, Bia, Galdino e Pâmela, gratidão.
Sou imensamente grata à Giovanna, sua mãe Sandra e seu irmão Marcos, por sempre me acolherem em
sua casa com tanto carinho e amor após os exaustivos dias de trabalho, minha segunda família.
Ao meu companheiro de campo e laboratório, Álvaro, por tornar os dias mais leves e animados. Além
de ser meu auxílio na pulverização de amostras, transporte dos pesados litros de água e instrumentos
para os ensaios. Você foi, sem dúvidas, uma pessoa fundamental no decorrer desta caminhada.
À Jordania, por todas as contribuições, à quem eu sempre recorria nos momentos de dúvida e
preocupações. Aprendi muito com você! Sou grata por todo conhecimento compartilhado. Você é luz!
Ao Luiz Henrique, agradeço por me auxiliar em vários campos, especialmente, na definição das áreas
de estudo e nos levantamentos geofísicos. Por se abdicar de alguns finais de semana e horários de folga
para me acompanhar, tirar dúvidas e orientar.
Agradeço ao meu orientador, Luis Bacellar, pela disposição em me orientar, incentivar e aconselhar,
além da sua contribuição para o desenvolvimento de um bom trabalho.
À VALE S.A, agradeço o incentivo à pesquisa científica e subsídio financeiro concedido a este projeto.
À FUNDEP, por gerenciar os recursos financeiros deste projeto. À CAPES - Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela concessão de bolsa. À UFOP, por ter me
proporcionado um ensino público de excelente qualidade.
ix
x
Sumário
AGRADECIMENTOS ..........................................................................................................................ix
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................ xiii
LISTA DE TABELAS ....................................................................................................................... xvii
RESUMO..............................................................................................................................................xix
ABSTRACT..........................................................................................................................................xxi
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1
1.1 Apresentação .................................................................................................................................... 1
1.2 Objetivos e metas.............................................................................................................................. 3
1.3 Localização das áreas de estudo ....................................................................................................... 3
CAPÍTULO 2. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS E GEOLOGIA REGIONAL .................. 5
2.1 Clima ................................................................................................................................................ 5
2.2 Vegetação ......................................................................................................................................... 5
2.3 Geomorfologia.................................................................................................................................. 6
2.4 Geologia regional ............................................................................................................................. 6
2.5 Geologia local................................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 3. ESTADO DA ARTE ..................................................................................... 13
3.1 Ciclo hidrológico ............................................................................................................................ 13
3.2 Fluxo de água subterrânea .............................................................................................................. 14
3.2.1 Infiltração e recarga ...................................................................................................... 16
3.3 Aquíferos ........................................................................................................................................ 21
3.3.1 Propriedades físicas dos aquíferos................................................................................ 22
3.4 Balanço hídrico............................................................................................................................... 23
3.5 Monitoramento da saturaçâo da canga por eletroresistividade ....................................................... 24
3.6 Cangas ............................................................................................................................................ 26
3.6.1 Gênese e caracterização física das cangas .................................................................... 28
3.6.2 Cavidades em cangas .................................................................................................... 29
3.6.3 Caracterização hídrica das cangas ................................................................................ 31
CAPÍTULO 4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 35
4.1 Levantamento bibliográfico e compilação de dados ...................................................................... 35
4.2 Seleção das áreas de estudo ............................................................................................................ 35
4.3 Caracterização das cangas .............................................................................................................. 36
4.1.1 Ensaios laboratoriais ..................................................................................................... 36
xi
4.4 Caracterização das rotas de fluxo .................................................................................................. 39
4.1.2 Ensaios de infiltração ................................................................................................... 39
4.1.3 Levantamento eletrorresistivo...................................................................................... 43
CAPÍTULO 5. RESULTADOS..............................................................................................45
5.1 Contextualização geomorfológica ................................................................................................. 45
5.2 Cavidades ....................................................................................................................................... 47
5.3 Vegetação ...................................................................................................................................... 49
5.4 Propriedades fisicoquímicas das cangas ........................................................................................ 51
5.4.1 Coleta de amostras ....................................................................................................... 51
5.4.2 Tipologias .................................................................................................................... 53
5.4.3 Composição química.................................................................................................... 55
5.4.4 Composição mineralógica............................................................................................ 57
5.4.5 Análise Microscópica .................................................................................................. 58
5.4.6 Porosidade aparente ..................................................................................................... 64
5.5 Infiltração e fluxo de água nas cangas ........................................................................................... 65
5.5.1 Infiltrômetro de aspersão de Cornell............................................................................ 67
5.5.2 Infiltrômetro de anéis duplos ....................................................................................... 72
5.5.3 Infiltrômetro de mini disco .......................................................................................... 74
5.5.4 Levantamento de Eletrorresistividade.......................................................................... 75
CAPÍTULO 6. DISCUSSÕES ................................................................................................89
6.1 Características das cangas das duas áreas ...................................................................................... 89
6.2 Porosidade e condutividade hidráulica .......................................................................................... 92
6.3 Percolação de água ...................................................................................................................... 100
CAPÍTULO 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................105
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................109
Adendo ...................................................................................................................................119
xii
Lista de figuras
Figura 1.1- Localização das áreas de estudo e o posicionamento em relação ao Quadrilátero Ferrífero;
A) Setor nordeste do Campus Morro do Cruzeiro – UFOP (área 1); ................................. 4
Figura 2.1- Porção superior da coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero. Modificado de: Endo et
al. (2019b). .......................................................................................................................... 9
Figura 2.2- Perfil evidenciando as duas fácies presentes na área 1: fragmentada na base e canga no topo.
Fonte: Assis (2018). .......................................................................................................... 10
Figura 2.3- Mapa geológico da região de estudo na escala 1:50.000. Modificado de Baltazar et al. (2005)
com base hidrográfica do IGAM (Sisema 2019). ............................................................. 11
Figura 2.4- Seção geológica esquemática das litologias presentes na área de estudo. Sua localização
está representada na figura 2.3. Fonte: Goes et al. (2016)................................................ 11
Figura 3.1- Curvas características relacionando condutividade hidráulica e teor de umidade a carga de
pressão para um solo arenoso.. ......................................................................................... 15
Figura 3.2- Modelo esquemático do infiltrômetro de Cornell. Modificado de Van Es & Schindelbeck
(2015)................................................................................................................................ 18
Figura 3.3- Modelo esquemático do infiltrômetro de anéis duplos, fonte: Freitas et al. (2021). ......... 19
Figura 3.4- Representação esquemática do infiltrômetro de disco. Modificado de METER Group
(2021)................................................................................................................................ 20
Figura 3.5- Representação do arranjo dipolo-dipolo do caminhamento elétrico em campo. Fonte: Braga
(2006)................................................................................................................................ 26
Figura 3.6- Perfil representativo da cavidade na zona de contato, mostrando colapso do teto na parte
inferior inicial. Fonte: Auler et al. (2022). ....................................................................... 31
Figura 3.7- Modelo hidrogeológico conceitual de área constituída por canga sobreposta ao e itabirito.
Fonte: Dias & Bacellar (2021). ......................................................................................... 33
Figura 4.1- Ensaio de porosidade aparente. A) Submersão das amostras; B) Pesagem das amostras
úmidas; C) Pesagem da amostra submersa; D) Detalhamento da pesagem submersa ...... 38
Figura 4.2– Ensaio em campo empregando o infiltrômetro de aspersão de Cornell e identificação de
suas partes. ........................................................................................................................ 40
Figura 4.3- Infiltrômetro de anéis duplos. A) Disposição dos anéis fixados com massa de vidraceiro em
campo; B) Inserção de água no infiltrômetro. .................................................................. 41
Figura 4.4- Ensaio em campo empregando o mini infiltrômetro de disco e identificação de suas partes.
.......................................................................................................................................... 42
Figura 4.5- Procedimentos de campo para o levantamento de eletrorresistividade. A) Marcador
industrial empregado para marcar posicionamento dos eletrodos; ................................... 44
Figura 5.1- Mapa de declividade, em graus, da área 1 e pontos onde os ensaios de infiltração foram
realizados. A maior cavidade identificada ocorre na quebra de relevo do platô .............. 45
Figura 5.2- Visualização da continuidade da cobertura de canga presente na área 2. Imagem do Google
Earth Pro (2022). A linha vermelha delimita uma jazida abandonada ............................ 46
Figura 5.3- Mapa de declividade, em graus, da área 2, pontos onde os ensaios de infiltração foram
realizados e localização da caverna. ................................................................................ 47
Figura 5.4- Cavidade presente na área 1. ............................................................................................. 48
xiii
Figura 5.5- Talude situado próximo à área 2 (localizada pelo retângulo vermelho na figura 5.2) exibindo
cavidades em diferentes níveis. ......................................................................................... 48
Figura 5.6- Feições identificadas no interior da caverna na área 2: A) Abertura de acesso, com blocos
desabados de canga; B) Foliação herdada da formação ferrífera ..................................... 49
Figura 5.7- Vegetação na área 1, pontos onde os ensaios de infiltração foram realizados e localização
da cavidade. Imagem do Google Satellite da galeria do ArcGis 10.3. .............................. 50
Figura 5.8- Vegetação presente na área 2, com localização dos pontos de execução dos ensaios de
infiltração e da caverna. Imagem de alta resolução (3cm/pixel) ....................................... 51
Figura 5.9 Pontos amostrados na área 1. .............................................................................................. 52
Figura 5.10- Amostras retiradas do teto e base da cavidade existente na área 1. ................................. 52
Figura 5.11- Pontos amostrados na área 2. ........................................................................................... 53
Figura 5.12- Amostra retirada do teto do conduto localizado na porção leste da área 2. ..................... 53
Figura 5.13- Características das cangas da área 1. Cangas do setor leste da área: A) Canga pouco porosa
e macia; B) Canga com grãos de tamanhos e coloração variados;.................................... 54
Figura 5.14- Características das cangas situadas na área 2. A) Canga detrítica inconsolidada, muito
porosa; B) Canga detrítica inconsolidada, contendo muitos clastos. ................................ 55
Figura 5.15- Difratograma das amostras de canga da área 1. A) Canga localizada próximo ao ponto
P22; B) Amostra retirada do interior da cavidade (teto); .................................................. 57
Figura 5.16- Difratograma das amostras de canga retiradas da área 2. A) Amostra de canga retirada do
teto do conduto; B) Canga detrítica inconsolidada; C) Canga detrítica consolidada ........ 58
Figura 5.17-Fotomicrografias da canga detrítica situada na área 1. A) Meso e microporos, placas de
mica e matriz gethítica, LTP; B) Poro cavitário, grãos de quartzo muito fraturados ........ 59
Figura 5.18-Fotomicrografias da canga detrítica da área 1. A) Poros cavitários envolvidos por goethita
de hábito radial, LTP; B) Poro cavitário e matriz goethítica, LTP ................................... 60
Figura 5.19-Fotomicrografias da canga detrítica da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e
matriz goethítica, LRC; B) Poros cavitários, grãos de hematita e matriz goethítica ........ 61
Figura 5.20- Fotomicrografias da canga detrítica da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e
matriz goethítica, LRC; B) Canal envolvido por goethita, LTP ....................................... 62
Figura 5.21-Fotomicrografias da canga estruturada da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e
goethita envolvendo a hematita, LRC; B) Processo de martitização ................................ 63
Figura 5.22-Fotomicrografias da canga estruturada da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e
goethita envolvendo poros, LRC; B) Poros cavitários, grãos de hematita e goethita ....... 63
Figura 5.23-Localização dos pontos onde foram executados os ensaios empregando os infiltrômetros
de aspersão de Cornell, anéis duplos e com mini disco na área 1. .................................... 66
Figura 5.24- Localização dos pontos onde foram executados os ensaios empregando os infiltrômetros
de aspersão de Cornell, anéis duplos e com mini disco na área 2. .................................... 66
Figura 5.25- Resultados dos ensaios de infiltração, utilizando o infiltrômetro de Cornell, na área 1. Os
segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média ................................ 67
Figura 5.26- Pontos onde o escoamento superficial demorou a iniciar. A) Macroporos e micro cavidade
no ponto 4, infiltrômetro de Cornell; B) Microcavidade após retirada de amostra........... 68
Figura 5.27- Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos na
área 1. ................................................................................................................................ 68
xiv
Figura 5.28- Resultados dos ensaios de infiltração com infiltrômetro de Cornell, em canga detrítica, na
área 2. Os segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média ............ 69
Figura 5.29- Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos para
as cangas detríticas na área 2. ........................................................................................ 70
Figura 5.30- Resultados dos ensaios de infiltração, com o infiltrômetro de Cornell, em canga
estruturada, na área 2. .................................................................................................... 70
Figura 5.31- Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de todos os ensaios
obtidos para as cangas estruturadas com foliação paralela na área 2. ............................ 71
Figura 5.32- Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos para
as cangas estruturadas com foliação oblíqua na área 2. ................................................. 72
Figura 5.33- Resultados dos ensaios de infiltração, com o infiltrômetro de anéis duplos, na área 1. Os
segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média ............................. 73
Figura 5.34- Resultados dos ensaios de infiltração com o infiltrômetro de anéis duplos, na área 2. Os
segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média ............................. 74
Figura 5.35- Detalhe de onde foi feito o ensaio no P2 com infiltrômetro de anéis duplos na área 2. A)
Porção não cimentada da canga, contendo clastos de tamanho médio .......................... 74
Figura 5.36- Precipitação ao longo do mês de março em Ouro Preto, estação da Bauxita. Fonte:
Cemaden (2022). ............................................................................................................ 76
Figura 5.37- Precipitação ao longo do mês de abril no município de Mariana, estação Vila Maquiné.
Fonte: Cemaden (2022). ................................................................................................. 76
Figura 5.38- Mapa hipsométrico com localização das linhas de eletrorresistividade na área. O mapa foi
confeccionado a partir dos dados topográficos fornecidos pela VALE. ........................ 77
Figura 5.39- Pontos de inserção da solução salina. A) Abertura superficial (cavidade, delimitada por
linha tracejada vermelha) situada entre as posições de 9 e 10m .................................... 77
Figura 5.40- Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos
multitemporais (background, to, t1, t2 e t3)................................................................... 80
Figura 5.41- Mapa hipsométrico com localização das linhas de eletrorresistividade na área 2. Mapa
confeccionado a partir dos dados topográficos .............................................................. 81
Figura 5.42- Abertura superficial (delimitada por linha tracejada) localizada entre os estacas de 15 e 16
onde a solução salina foi injetada................................................................................... 82
Figura 5.43- Seções de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos multitemporais
(background, to, t1, t2 e t3) ............................................................................................ 84
Figura 5.44- Seções em planta dos levantamentos de eletrorresistividade realizados na área 1A)
Background; B) Seção to; C) Seção t1; D) Seção t2; E) Seção t3. .................................. 86
Figura 5.45- Seções em planta dos levantamentos de eletrorresistividade realizados na área 2. A)
Background; B) Seção to; C) Seção t1; D) Seção t2; E) Seção t3. .................................. 88
Figura 6.1- Talude em antiga jazida localizada próximo à área 2 (Figura 5.2) expondo cavidades em
diferentes níveis e os horizontes que ocorrem na área estudada: canga ......................... 91
Figura 6.2- Cavidade situada na área 1 e seus condutos. A) Abertura principal e condutos; B) Contato
entre a fácies canga e o horizonte de transição na direção da abertura da cavidade ...... 92
Figura 6.3- Comparação dos valores de porosidade aparente obtidos nas duas áreas de estudo. ........ 93
Figura 6.4- Inúmeros macroporos na superfície do ponto 6 (Figura 5.23) no trecho oeste da área 1, onde
o teor de ferro e a taxa de infiltração é mais elevada. .................................................... 95
xv
Figura 6.5- Comparação entre as taxas de infiltração obtidas neste estudo, empregando os infiltrômetros
de Cornell e de anéis duplos, com valores fornecidos pela literatura. .............................. 96
Figura 6.6- Valores de condutividade e permeabilidade hidráulica e a classificação das cangas
estudadas. Modificado de Freeze & Charry (1979). ......................................................... 98
Figura 6.7- Classificação da condutividade hidráulica vertical (alta, intermediária e baixa, classificação
baseada na média e desvio padrão) ................................................................................... 99
Figura 6.8- Classificação das taxas de infiltração (alta, intermediária e baixa) obtidas por meio do
emprego do infiltrômetro de Cornell na área 2. .............................................................. 100
Figura 6.9- Seções de background das três linhas (C1, C2 e C3) obtidas por levantamento geofísico na
área 2. .............................................................................................................................. 101
Figura 6.10- Seções de background das três linhas (U1, U2 e U3) obtidas por levantamento geofísico
na área 1. ......................................................................................................................... 102
Figura 6.11- Seções multitemporais (to – background, t1, t2, t3, t4) de levantamento eletrorresistivo na
linha central (U2) da área 1. ............................................................................................ 103
Figura 6.12- Seções multitemporais (to – background, t1, t2, t3, t4) de levantamento eletrorresistivo na
linha central (C2) da área 2. ............................................................................................ 104
xvi
Lista de tabelas
Tabela 3.1- Parâmetros de Van Genuchten para as classes de texturas do solo e valores de A para o
disco de raio 2,5cm e valores de sucção entre 0,5 e 6cm.................................................. 21
Tabela 4.1 - Nomenclatura e descrição dos tipos de poros. ................................................................. 36
Tabela 5.1 - Composição química das amostras de canga das duas áreas de estudo, 1 e 2. A localização
dos pontos corresponde aos locais dos ensaios com o infiltrômetro de Cornell. .............. 56
Tabela 5.2- Valores de massa específica, porosidade aparente e absorção de água para as cangas
pertencentes à área 1. Localização das amostras nas figuras 5.9 e 5.10. .......................... 64
Tabela 5.3– Valores de massa específica, porosidade aparente e absorção de água das cangas situadas
na área 2. Localização das amostras nas figuras 5.11 e 5.12. ........................................... 65
xvii
xviii
Resumo
As cangas são coberturas endurecidas ricas em ferro que ocorrem no Quadrilátero Ferrífero (QFe),
capeando, principalmente, os itabiritos da Formação Cauê, onde situam-se intensas atividades de
minerárias. Apesar da significativa porosidade, alguns pesquisadores consideram as cangas como de
baixa condutividade hidráulica. Outros as classificam como muito condutivas, favorecendo a recarga
dos aquíferos sotopostos, e sua supressão por atividades de mineração afetaria consequentemente a
recarga dos aquíferos subjacentes. Estudos relacionados ao comportamento hídrico das cangas são ainda
escassos, o que motivou o desenvolvimento deste trabalho. Para tal, selecionaram-se duas áreas (1 e 2),
ambas no sudeste do Quadrilátero Ferrífero, com dois dos principais tipos de canga da região,
estruturada e detrítica. Estas cangas normalmente são formadas por um horizonte superficial mais
endurecido, a crosta, superposta a um horizonte de transição, mais erodível, onde se desenvolve
preferencialmente feições de carstificação. Selecionou-se algumas amostras da crosta desses dois tipos
de canga para caracterização mineralógica, microestrutural, química e para quantificação da porosidade
aparente. Baseados nestes dados, foram medidas as taxas de infiltração com três tipos de infiltrômetros:
de aspersão, modelo Cornell, de anéis duplos e de mini disco. A comparação dos resultados destes
estudos com os de trabalhos prévios mostra que a porosidade e, especialmente, a condutividade
hidráulica das cangas é variável, dependendo das características químico-mineralógicas, texturais e
estruturais locais. Contudo, as cangas exibem porosidade aparente e condutividade hidráulica
equivalente à de uma areia siltosa ou silte, com predomínio de fluxo por poros maiores que 0,5mm de
diâmetro. O estudo foi complementado por acompanhamento da infiltração e percolação de solução
salina traçadora por seções multitemporais de eletrorresistividade, por caminhamento elétrico com
arranjo dipolo-dipolo. Este levantamento geofísico indicou o predomínio de fluxos mais verticais na
área onde ocorre apenas canga detrítica, cujo relevo é mais suave, e horizontais no local onde há
ocorrência dos dois tipos de canga e o relvo é mais íngreme. Em ambas constatou-se conexão com
feições de carstificação mais profunda. Feições cársticas foram também identificadas em maiores
profundidades e como estudos prévios indicaram que a carstificação nestes meios tem forte
condicionamento geomorfológico, a recarga dos aquíferos subjacentes tende a ser significativa, mas
variável no espaço.
xix
xx
Abstract
Ferricretes are hardened iron-rich covers and occur in the Iron Quadrangle (IQ) mainly as products of
supergenic alteration of Cauê Formation itabirites. These rocks are the main iron ore in QF, therefore
the ferricretes are located in areas of intense iron mining activities. Despite their significant porosity,
previous works proved that ferricretes usually have low hydraulic conductivity. Their contribution to
the recharge of the underlying aquifers is still barely known due to the scarcity of studies about
groundwater dynamics of ferricretes. Two areas (1 and 2) were selected for this study: both are located
in the southeast of IQ and have two types of ferricrete, namely, structured and detrital. These ferricretes
profiles usually have a hardened surface horizon, the crust, and an underlying erodible transitional
horizon with development of karstification features. Some samples of the crust of both types of ferricrete
were selected for mineralogical, microstructural, chemical characterization and for quantification of
apparent porosity. The infiltration rates were measured with three types of infiltrometers: Cornell
sprinkle infiltrometer, double rings and mini disc. The comparison of the results of this work with those
of previous works show that the porosity and, specially, the hydraulic conductivity of ferricretes is
variable and depend on the mineralogical, textural and structural characteristics. Nevertheless, the
ferricretes exhibit apparent porosity and hydraulic conductivity equivalent to that of silty sand or silt
soils, with a predominance of flow through pores larger than 0.5 mm in diameter. Multitemporal electro
resistivity sections with dipole-dipole arrangement were carried out and indicated that the flow is mainly
vertical where only detrital ferricrete occurs in areas of smoother relief; where both types of ferricretes
occur and the turf is steeper, the flow is mainly horizontal. For both types of ferricrete, there is a
connection between surface horizons and deeper karstification feature. Karst features were also
identified at greater depths, therefore, they play an important role in the recharge of underlying aquifers,
which tends to be significant, but variable in space.
xxi
xxii
CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO
A água é um bem mineral essencial à vida humana, seja para o consumo doméstico, agrícola ou
industrial. A demanda crescente por este recurso, aliada às alterações climáticas e impactos antrópicos,
exigem maior compreensão sobre os diversos fenômenos associados ao seu armazenamento e transporte.
É denominada água subterrânea toda aquela que se situa em subsuperfície, e ela corresponde a
aproximadamente 97% de toda água doce disponível no planeta, ou seja, menos de 3% da água potável
é superficial (Feitosa et al. 2008). Devido à crescente poluição de rios e lagos, a utilização da água
subterrânea se torna cada vez maior, justificando a necessidade da investigação mais detalhada dos
aquíferos. O estudo e análise da água subterrânea são mais caros e trabalhosos se comparados aos da
água superficial. Como consequência, há carência de dados referentes à disponibilidade, quantidade,
qualidade e distribuição desse bem (Cleary 2007).
Parte da água que atinge o solo e/ou rochas após o processo de precipitação, infiltra e constitui
a água subterrânea. Posteriormente, ela pode ser submetida a três etapas: ficar retida na zona
vadosa/insaturada, fluir lateralmente (interfluxo) ou atingir a zona saturada, recarregando o aquífero
(Feitosa et al. 2008). Esta última etapa representa o principal processo após a infiltração da água no
solo, pois corresponde ao recurso renovável do aquífero. Dessa forma, entender como a infiltração e
percolação de água ocorre em coberturas superficiais é extremamente necessário, pois elas influenciam
diretamente no comportamento dos reservatórios hídricos subterrâneos.
A canga, nome atribuído, no Brasil (Dorr 1964), às coberturas formadas por processos
policíclicos de intemperismo e pedogênese, ocorrem, no Quadrilátero Ferrífero, recobrindo
principalmente, rochas da formação ferrífera que constituem um importante reservatório de água
subterrânea, o Aquífero Cauê (Ramos et al. 2020), onde grande parte das atividades minerárias estão
localizadas. Além disso, há também registros de canga associadas à bauxita sobre unidades do Grupo
Piracicaba (Assis 2018).
Este material recebe diferentes nomenclaturas em outros locais como ferricretes (Bourmann
1993), iron duricrusts (Beauvais & Colin 1993) e lateritas (Nahon & Tardy 1992), muitas vezes
empregados sem uma definição apropriada. As cangas têm sido tradicionalmente classificadas em quatro
tipos (detrítica, estrutural, química e rica) de acordo com sua gênese, estrutura e teor de ferro (Dorr
1964, 1969), sendo os dois primeiros mais frequentes.
O Quadrilátero Ferrífero (QFe) é conhecido mundialmente por suas riquezas minerais, o que
despertou o interesse de diversos pesquisadores para estudos de caráter científico e exploratório. Além
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
dos bens minerais, como ferro e ouro, outro recurso de grande importância presente no QFe é o hídrico
(Baeta & Piló 2020). Apesar de haver muitas pesquisas relacionadas à exploração mineral nesta região,
a caracterização hidrogeológica em áreas de mineração necessita de estudos mais detalhados.
De fato, a principal reserva de água subterrânea existente nessa região está situada na Formação
Cauê, unidade geológica que abriga as grandes jazidas de minério de ferro (Mourão 2007, Ramos et al.
2020). Estas rochas exibem idade deposicional entre 2.520 Ma (Nunes 2016) e 2.420 Ma (Babinski et
al. 1995) e passaram por alguns eventos tectônicos, que minimizaram a porosidade primária e deram
origem à porosidade fissural (Mourão 2007). Neste contexto, ao se efetuar a explotação desta
commodity, é muitas vezes necessária a retirada da camada de canga, afetando a recarga dos aquíferos
e, consequentemente, a reposição de água.
Uma das características das cangas é a presença de cavidades, que podem ser geradas pela
infiltração de água meteórica ao longo de juntas/fraturas (Calux 2013). Inicialmente, atuam processos
químicos e endógenos, seguidos de erosão mecânica (Auler & Piló 2005). A ocorrência de água em
cavidades situadas nesta litologia se dá por meio de suas aberturas/comunicações com o meio externo
ou pela infiltração através das fraturas e/ou porosidade existentes (Dutra 2017). Assim como em
aquíferos cársticos, é preciso verificar se nas cangas também ocorre maior infiltração e recarga nas zonas
em que as cavidades estão presentes. Estudar essas feições em formações ferríferas se torna cada vez
mais importante, visto o aumento da demanda pelo minério de ferro, e a rigorosa legislação ambiental
sobre proteção de cavidades naturais (Calux 2013.).
2
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Trabalhos anteriores (Dutra 2017, Firmino e Souza 2018, Ferreira 2020, Dias 2021) buscaram
avançar em estudos relacionados ao comportamento hidrogeológico das cangas e a influência da
carstificação nestes processos, mas as informações ainda são escassas e às vezes contraditórias. Dessa
maneira, esta pesquisa visa evoluir ainda mais no entendimento da dinâmica hídrica deste material.
Tem-se como objetivo principal desta pesquisa a análise do comportamento hidrogeológico nas
regiões cobertas por cangas no Quadrilátero Ferrífero (MG), visando progredir, sobretudo, no
entendimento da recarga dos aquíferos sotopostos, procurando quantificar a influência da carstificação
nestes processos.
• Caracterizar as taxas de infiltração nas diversas tipologias de canga, visto que o escoamento
superficial é aparentemente elevado nestas;
• Identificar regiões com variados tipos de canga e verificar a distribuição espacial dos caminhos
preferenciais de infiltração e percolação de água, como cavidades;
• Verificar a influência das cavidades presentes nesses locais no aporte de água subterrânea.
Buscando atender aos objetivos do trabalho, foram selecionadas duas áreas com ocorrência de
cangas, uma pertencente à UFOP – Campus Morro do Cruzeiro (área 1), em Ouro Preto, e a outra situada
próximo ao distrito de Camargos (área 2), município de Mariana. Ambas estão localizadas na porção
sudeste do Quadrilátero Ferrífero, região centro-sudeste do estado de Minas Gerais (Figura 1.1).
3
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 1.1 - Localização das áreas de estudo e o posicionamento em relação ao Quadrilátero Ferrífero; A) Setor
nordeste do Campus Morro do Cruzeiro – UFOP (área 1); B) região de Camargos (área 2). Imagem Google Satellite
da biblioteca do ArcGis 10.3. Fonte: a autora.
4
CAPÍTULO 2
2 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS E GEOLOGIA REGIONAL
2.1 CLIMA
O clima predominante na área com presença de cangas, que ocorrem nas regiões mais elevadas
do QFe, é do tipo Cwa, segundo a classificação de Köppen: temperado quente, com estação seca de abril
a setembro e chuvosa de outubro a março (Schaefer et al. 2015). A temperatura média anual é de 20,5°C
e a precipitação anual corresponde a 1.300mm (Baêta 2012).
2.2 VEGETAÇÃO
O Quadrilátero Ferrífero está situado na zona de transição entre Cerrado e Mata Atlântica, por
isso, essa região apresenta grande variedade de vegetação, sendo possível, em uma pequena área,
encontrar diversos tipos de ecossistemas (Schaefer et al. 2015). Grande parte dos ecossistemas situados
em canga no Brasil, são encontrados no QFe, variando desde campos rupestres até florestas (Messias &
Carmo 2015).
Grande parte da vegetação presente nas cangas é de pequeno porte, devido à falta de nutrientes
e água, cuja circulação fica restrita a fraturas que eventualmente aconteçam. Porém, quando a canga se
apresenta mais fragmentada, é possível que uma vegetação de porte maior se desenvolva apesar da
escassez de nutrientes (Leonardi 2014).
Devido a heterogeneidade topográfica das áreas com cangas, são encontrados diversos tipos de
vegetação, sendo mais comuns, as fitofisionomias campestres e arbustivas. A vegetação campestre
ocorre quando há o desenvolvimento de solos rasos e permite o contato direto da neblina com a
superfície, aumentando o potencial hídrico do solo (Baêta 2012). Já a vegetação arbustiva e subarbustiva
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
se desenvolve em substratos levemente ondulados a planos e sem acúmulo de água (Jacobi & Carmo
2012, Baêta 2012).
2.3 GEOMORFOLOGIA
O nome Quadrilátero Ferrífero deriva da disposição de algumas serras que lhe conferem a forma
quadrangular. As terras altas com relevos dissecados evidenciam a erosão diferencial com forte controle
litológico (Monteiro et al. 2014). Essa região está tectonicamente soerguida, com altitudes que variam
entre 900 e 1000 m, podendo alcançar 1500 a 2000 m em alguns locais (Medina et al. 2005).
As regiões onde os quartzitos e itabiritos prevalecem formam cristas elevadas e com altas
declividades, pois são rochas muito resistentes à erosão e ao intemperismo (Medina et al. 2005). Já as
regiões compostas por rochas granito-gnáissicas, denominadas terras baixas, são menos resistentes,
assim, apresentam espesso manto de intemperismo. Xistos e filitos compõem altitudes intermediárias e
geralmente ocorrem preenchendo sinclinais e anticlinais topograficamente invertidos (Varajão 1991,
Medina et al. 2005).
Grande parte das cangas do QFe situam-se em regiões elevadas, geralmente sobrepostas às
formações ferríferas, sustentando o relevo (Medina et al. 2005, Dutra 2017). Ocorrências sobre outras
formações geológicas, como filitos e xistos, também são conhecidas, como na área do Morro do
Cruzeiro, Campus da UFOP (Assis 2018), igualmente sustentando o relevo. Isso acontece devido à sua
alta resistência física, promovida pelo processo de dissolução e reprecipitação do ferro, ocasionadas,
principalmente, pela ação biológica (Monteiro et al. 2014). É possível estabelecer uma relação entre a
idade e elevação da canga, em que as mais altas são mais antigas do que as localizadas em regiões mais
baixas, de acordo com estudos geocronológicos da razão (U – Th) / He (Monteiro et al. 2014). Além
disso, os horizontes mais antigos são fragmentados e, normalmente, deslocados para locais de menor
altitude. As cangas que se formam em vales podem ser produto tanto de fragmentos de camadas mais
antigas e mais elevadas, quanto da remobilização do ferro existente em cangas mais velhas (Thomas
1979).
Estudos buscando entender a complexa geologia do QFe e sua evolução, tiveram início no
século XIX e continuam até os dias atuais. O QFe possui área de aproximadamente 7.000 km² e está
situado na extremidade sul do Cráton São Francisco, região sudeste do estado de Minas Gerais (Roeser
6
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
& Roeser 2010). Essa região é bastante conhecida por sua riqueza mineral, e inicialmente, no século
XVII, houve grande exploração de ouro, que ocasionou o povoamento dessa região. Atualmente, o
recurso mais extraído é o minério de ferro (Alkmin & Marshack 1998, Roeser & Roeser 2010, Leonardi
2014).
O QFe pode ser subdividido em sete grandes unidades litoestratigráficas (Endo et al. 2020):
Complexos Metamórficos, Supergrupo Rio das Velhas, Supergrupo Minas, Supergrupo Estrada Real,
Grupo Barbacena, Supergrupo Espinhaço e Unidades sedimentares.
7
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
O Grupo Itacolomi de idade 2,06 Ma (Machado et al. 1993, 1996) é composto da base para o
topo, pelas formações Florália e Pico do Itacolomi, respectivamente. A Formação Florália, consiste de
ortoquartzitos, enquanto a Formação Pico do Itacolomi compreende quartzitos, metaconglomerados
com seixos, calhaus e raramente matacões de veios de quartzo, itabirito, filito e granito (Dorr 1969,
Endo et al. 2020).
Dentre as Unidades cenozoicas, é possível citar as Cangas, que segundo Endo et al. (2020), são
aglomerados rochosos constituídos principalmente de fragmentos de formação ferrífera e
subordinadamente de filito e quartzo cimentados por óxido de ferro. Este material pode ser classificado
em quatro diferentes tipos de acordo com o teor de ferro e textura: detrítica, estruturada, química e rica
(Endo et al. 2020). De acordo com estes autores, o material detrítico é derivado especialmente da
8
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Formação Cauê, e o ferro do cimento limonítico foi dissolvido a partir da formação, durante o processo
de intemperismo, transportado no estado ferroso, e redepositado na superfície ou próximo dela. No QFe,
as cangas se distribuem, em grande parte, ao longo dos topos e encostas das serras onde afloram,
principalmente, rochas do Grupo Itabira (Castro & Varajão 2020).
Figura 2.1 – Porção superior da coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero. Modificado de Endo et al. (2019b).
Segundo alguns autores (Baltazar et al. 2005, Goes 2016, Assis 2018, Varajão &Varajão 2020),
as cangas pertencentes à área 1 ocorrem sobre as unidades da Formação Fecho do Funil do Grupo
9
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Piracicaba (Figuras 2.3 e 2.4). Segundo Varajão & Varajão (2020), os depósitos desta área seriam
originados in situ, tendo como protólito filitos, dolomitos argilosos e vulcânicas ácidas desta formação.
Elas ocorrem associadas ao depósito de bauxita, produto bastante explorado durante a década de 50 para
a produção de alumínio (Varajão 1988, Assis 2018).
Contudo, de acordo com o mapa apresentado por Endo et al. (2019a), a canga desta região ocorre
sobreposta às rochas do Grupo Sabará, Formações Saramenha e Córrego do Germano, que são
constituídas por clorita xistos, mica xistos com intercalações de metagrauvacas, quartzitos, formação
ferrífera bandada do tipo granular e quartzitos ferruginosos (Endo et al. 2020). A falta de afloramentos
e a inexistência de furos de sondagem dificultam estabelecer a rocha subjacente as cangas desta área.
Assis (2018) definiu duas fácies para a canga deste local: maciça/fragmentada na base e canga
no topo (Figura 2.2). A fácies fragmentada resulta da degradação da forma maciça e é constituída
majoritariamente por goethita, exibindo também quartzo e gibbsita em menores proporções. A canga,
por seu lado, é composta principalmente por goethita e hematita, apresentado, secundariamente, quartzo
e gibbsita (Assis op.cit.).
Figura 2.2 - Perfil evidenciando as duas fácies presentes na área 1: fragmentada na base e canga no topo. Fonte:
Assis (2018).
Na área 2 estão presentes as formações ferríferas do Grupo Itabira, rochas do Grupo Caraça
indiviso e cangas (Figura 2.3). A região está situada próximo ao sistema de Falhas Água Quente, que se
estende por cerca de 60km norte-sul, percorrendo desde Mariana até Santa Bárbara, passando por
Camargos, Bento Rodrigues, Santa Rita Durão, Morro da Água Quente e Catas Altas. Esse sistema de
10
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
falhas exibe movimento reverso com transporte para oeste sobrepondo rochas do Complexo
Metamórfico Santa Bárbara às litologias do Supergrupo Minas (Rossi 2014). A oeste a falha se instala
em um nível estratigráfico superior na porção média da Formação Cauê (Chemale Jr. & Endo 1991).
Figura 2.3 - Mapa geológico da região de estudo na escala 1:50.000. Modificado de Baltazar et al. (2005) com
base hidrográfica do IGAM (Sisema 2019) e estrutural de Endo et al. (2019).
Figura 2.4 - Seção geológica esquemática das litologias presentes na área de estudo. Sua localização está
representada na figura 2.3. Fonte: Goes et al. (2016).
11
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
12
CAPÍTULO 3
3 ESTADO DA ARTE
A água que atinge o solo passa pelo processo de infiltração, que consiste na transferência da
água da superfície do terreno para o interior do solo e/ou rocha. Mas este processo depende de diversos
fatores, como a quantidade de água disponível para infiltrar, natureza do solo/rocha, quantidades de água
e ar presentes em seu interior, além da textura, estrutura, tamanho e disposição do espaço poroso (Salles
et al. 1999, Silveira et al. 2001, Feitosa et al. 2008). À medida em que ocorre a saturação em
subsuperfície e a intensidade da chuva é maior do que a capacidade de infiltração no solo, a água que
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
É denominada água subterrânea toda aquela que ocorre em subsuperfície. Ela pode ser definida
de acordo com sua distribuição vertical no solo e nas rochas, dividindo-se em duas zonas, de acordo
com o grau de saturação. A zona saturada refere-se à região em que todos os espaços entre os grãos
estão preenchidos por água e está situada abaixo da superfície freática (Feitosa et al. 2008).
A zona não saturada, também classificada como zona de aeração ou vadosa, situa-se entre a
superfície freática e a superfície do terreno, e os espaços intergranulares são parcialmente preenchidos
por água e gases (Feitosa et al. 2008). Essa zona é dividida, de baixo para cima, em: zona capilar, situada
entre a superfície freática e o limite em que a água ascende por capilaridade; zona intermediária,
compreendida entre o limite de ascensão capilar da água e o ponto alcançado pelas raízes das plantas e;
zona de água no solo ou zona de evapotranspiração, que corresponde ao intervalo entre o limite atingido
pelas raízes das plantas e a superfície do solo, com espessura dependente da densidade e tamanho da
vegetação (Feitosa et al. op. cit.). O volume de água que fica retido no solo, mesmo após um longo
período de drenagem gravitacional, movimentando-se apenas para cima devido à evaporação ou
transpiração, é denominado capacidade de campo (Feitosa et al. 2008). Após satisfeita esta capacidade
e havendo água disponível, inicia-se a percolação profunda (Freitas 2010). Quando o teor de umidade
está abaixo do qual a planta não consegue retirar água proporcionalmente à taxa que transpira, resultando
em seu murchamento, ele é denominado ponto de murcha (Silva et al. 2006). A umidade de 1.500 kPa
é usualmente considerada como ponto de murcha permanente (PMP) e, a de 10 kPa ou 33 kPa, como
capacidade de campo (CC) (Teixeira & Bhering 2017). A água disponível no solo corresponde à
diferença entre a capacidade de campo e o ponto de murchamento (Teixeira & Bhering 2017).
Segundo Freeze & Cherry (1979), na zona não saturada, o teor de umidade volumétrico (θ) é
menor do que a porosidade; a pressão do fluido ou pressão de poros (p) é menor que a pressão
atmosférica e a carga de pressão (ψ) é negativa. Os valores de condutividade hidráulica não saturada
(Ksat ou K (ψ)) e umidade são fornecidos em função da carga de pressão. Logo, para fluxo não saturado,
ψ < 0, θ = θ (ψ) e K = K (ψ).
14
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
condutividade saturada pela sucção (Fredlund et al. 1994). As curvas de sucção pela umidade e de
sucção pela condutividade hidráulica não saturada são denominadas curvas características.
A determinação da curva de retenção de água pode ser útil para a determinação indireta da
distribuição dos diâmetros dos poros de um solo, uma vez que a sucção será diretamente relacionada
com o diâmetro destes, como prediz a teoria dos tubos capilares (Li et al. 2005).
Figura 3.1 - Curvas características relacionando condutividade hidráulica e teor de umidade a carga de pressão
para um solo arenoso. Fonte: Liakopoulos (1965) apud Freeze &Cherry (1979).
Parte da água que infiltra, permanece nos espaços preenchidos por água e ar da zona não
saturada do solo. Outra parte, pode fluir lateralmente na zona não saturada, em regiões mais rasas e
pouco permeáveis e é denominada interfluxos (Freeze & Cherry 1979, Feitosa et al. 2008). Em áreas de
carstificação de cangas o interfluxo pode ocorrer sazonalmente (Dias 2021). Um processo que também
15
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
deve ser levado em consideração é a ascensão capilar, pois a água que infiltra no solo pode depois
evaporar ou, ainda, ser consumida pelas plantas e transpirar. Por fim, a água infiltrada não
evapotranspirada pode atingir o nível freático, promovendo a recarga dos aquíferos (Feitosa et al. op.
cit.).
Toda água que infiltra no solo, supera o processo de evapotranspiração, passa pela zona não
saturada do terreno, atinge a zona saturada e se torna parte do armazenamento do aquífero, é considerada
recarga (Healy 2010). As áreas de recarga, portanto, apresentam fluxo de água descendente e constituem
os locais de reabastecimento dos reservatórios subterrâneos (Freeze & Cherry 1979). Existem três tipos
de fonte de recarga: direta, proveniente da precipitação; indireta, propiciada pelos corpos hídricos
superficiais; e artificial, provocada por ação antrópica, como por exemplo, a irrigação (Rebouças 2002).
Alguns fatores influenciam no processo de recarga, dentre eles tem-se: características geológicas,
geomorfológicas, hidrogeológicas, pedológicas, umidade do solo, vegetação, intensidade da
precipitação, escoamento e acumulação da água (Lerner 1990, Rebouças 2002, Healy 2010). A
espessura do solo também interfere na recarga, já que solos mais espessos têm capacidade de armazenar
a água precipitada por mais tempo e, posteriormente, liberá-la para o aquífero subjacente (Seraphim &
Bezerra 2019).
Diferentes métodos, diretos e indiretos, podem ser empregados para mensurar a recarga de um
aquífero: medidas de variação do nível de água, balanço hídrico, análise de curva de recessão, traçadores
hidrogeoquímicos, balanço de cloreto, isótopos (Freeze & Cherry 1979).
A recarga, portanto, está ligada à infiltração, que consiste no fluxo de água a partir da superfície
através da zona não saturada (Freeze & Cherry 1979). Contudo, parte da água infiltrada retorna à
superfície por evapotranspiração.
Há diversas equações empíricas que descrevem as taxas e infiltração com o tempo. Uma das
mais conhecidas é a de Philip (1957):
B 1
I = K + ( )2 Equação 3.1
2t
Como representado na equação 3.1, sob chuva intensa a taxa de infiltração diminui com o tempo
até atingir um valor constante, equivalente à condutividade hidráulica vertical (Selby 1993), quando a
sucção devido à capilaridade é eliminada com o crescimento da umidade. A determinação da taxa de
infiltração (TI) da água no solo ou rocha pode ser realizada por meio de diferentes métodos, dentre eles
16
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
3.2.1.1 Infiltrômetros
Nos ensaios com infiltrômetros de anéis emprega-se tradicionalmente uma carga hidráulica
constante, ou seja, eles são inundados internamente. Uma alternativa a isto, é acoplar um simulador de
chuva ao anel de infiltração possibilitando o umedecimento do solo de maneira natural e considerando
o efeito do impacto de gotas de chuva na superfície (Ogden et al. 1997). Os simuladores tendem a ser
também mais vantajosos pois apresentam menor consumo de água e tempo de execução de ensaio mais
reduzido (Ogden et al. 1997).
O modelo de infiltrômetro denominado “Cornell Sprinkle Infiltrometer”, descrito por Van Es &
Schindelbeck (2003), corresponde a um simulador de chuva portátil (aspersor) acoplado a um anel
simples. Ele é pequeno, leve, prático, de fácil calibração e manuseável por uma única pessoa, além de
demandar pouca água. Ele foi desenvolvido na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, e permite
medir a infiltração de água no solo sob diferentes taxas de precipitação. O simulador de chuva apresenta
volume de 20,6 litros e 69 tubos gotejadores em sua parte inferior, que consiste em um anel de infiltração
de 0,241m de diâmetro. Um tubo de Mariotte permite controlar a intensidade de chuva (Santi et al. 2012,
Van Es & Schindelbeck 2015, Seratto et al. 2019).
17
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
escoamento deve ser posicionado na direção descendente do relevo (Van Es & Schindelbeck op. cit.).
Assim, é possível determinar o escoamento superficial (ml/min) de água no solo (Equação 3.2) (Martins
& Santos 2017, Seratto et al. 2019).
Figura 3.2 - Modelo esquemático do infiltrômetro de Cornell. Modificado de Van Es & Schindelbeck (2015).
Vt
ES= Equação 3.2
457,30Xt
Em que, Vt (ml) é o volume de água que escoou e foi coletado no recipiente, 457,30cm2 é a área
do anel e t é o tempo em minutos durante o qual o volume (Vt) foi coletado.
A taxa de infiltração (TI) é calculada pela diferença entre a intensidade de precipitação simulada
(P) e o escoamento superficial (ES), sua unidade de medida é cm/min (Equação 3.4).
Outro parâmetro que pode ser obtido é a sorção (S) dada em cm/min², utilizando o valor da
intensidade de precipitação simulada e o tempo transcorrido (tRO) até o início do escoamento
superficial. Esse tempo varia em função das condições iniciais de água no solo e da intensidade de
precipitação (Equação 3.5).
18
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Este é um método simples e econômico, no qual dois anéis são fixados concentricamente no
solo até uma profundidade determinada e a água é aplicada por inundação em ambos. O anel externo
tem a função de minimizar a dispersão lateral no anel interno (Freitas et al. 2021), favorecendo a
infiltração vertical e obtenção de valores de taxa de infiltração mais exatos (Figura 3.3).
Figura 3.3 - Modelo esquemático do infiltrômetro de anéis duplos, fonte: Freitas et al. (2021).
Uma carga hidráulica inicial é estabelecida e a variação do nível de água é medida em intervalos
regulares de tempo, por meio de uma régua graduada fixada no anel interno. Logo, a taxa de infiltração
é obtida por meio da razão entre a variação do nível de água pelo tempo.
Esse infiltrômetro é composto por duas câmaras: superior, que permite controlar a sução com
um tubo de Mariotte, podendo variar de 0,5 a 7cm, e, inferior, que consiste no reservatório de água. Da
base para o topo, ele é constituído por um disco de aço inoxidável poroso, com aproximadamente 4,5cm
19
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
de diâmetro, que possibilita a passagem de água apenas quando está em contato com a superfície do
solo. Acoplado a ele, tem-se o reservatório graduado que permite armazenar cerca de 90ml de água,
logo acima, separados por uma barreira de borracha, encontra-se a câmara onde está localizado os tubos
de Mariotte e de controle de sucção, e no topo, o equipamento é vedado por uma rolha de borracha
(Figura 3.4).
Figura 3.4 - Representação esquemática do infiltrômetro de disco. Modificado de METER Group (2021).
Quando se determina a taxa de infiltração sob tensão, é possível obter a condutividade hidráulica
não saturada. Um dos métodos empregados para se obter o valor da condutividade hidráulica é o de
Zhang (1997), que consiste no ajuste dos dados de infiltração versus o tempo com a função (Equação
3.6):
I = C1 √t + C2 t Equação 3.6
20
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Tabela 3.1- Parâmetros de Van Genuchten para as classes de texturas do solo e valores de A para o disco de raio
2,5cm e valores de sucção entre 0,5 e 6cm. Fonte: Meter Group.
A
Textura do solo α n/ho
–0.5 –1 -2 -3 -4 -5 -6
Areia 0.145 2.68 2.84 2.4 1.73 1.24 0.89 0.64 0.46
Areia argilosa 0.124 2.28 2.99 2.79 2.43 2.12 1.84 1.61 1.4
Loam arenoso 0.075 1.89 3.88 3.89 3.91 3.93 3.95 3.98 4
Loam 0.036 1.56 5.46 5.72 6.27 6.87 7.53 8.25 9.05
Silte 0.016 1.37 7.92 8.18 8.71 9.29 9.9 10.55 11.24
Loam siltoso 0.02 1.41 7.1 7.37 7.93 8.53 9.19 9.89 10.64
Loam argilo-arenoso 0.059 1.48 3.21 3.52 3.24 5.11 6.15 7.41 8.92
Loam argiloso 0.019 1.31 5.86 6.11 6.64 7.23 7.86 8.55 9.3
Loam argilo- siltoso 0.01 1.23 7.89 8.09 8.51 8.95 9.41 9.9 10.41
Areno-argiloso 0.027 1.23 3.34 3.57 4.09 4.68 5.36 6.14 7.04
Silto-argiloso 0.005 1.09 6.08 6.17 6.36 6.56 6.76 6.97 7.18
Argiloso 0.008 1.09 4 4.1 4.3 4.51 4.74 4.98 5.22
Para solos cujo valor de n é inferior a 1,35, emprega-se a equação proposta por Dohnal et al.
(2010) para determinar a condutividade (Equação 3.8).
1C (αr )0.6
0
K = 11.65(n0.82 −1)exp [34.65(n−1.19)αh
Equação 3.8
0
Onde n e α são os parâmetros de Van Genuchten para o solo, ro é o raio do disco e ho é a sucção
escolhida.
3.3 AQUÍFEROS
21
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
condições naturais, essas recebem o nome de aquiclude. Já os aquitardos, são camadas ou formações
semipermeáveis que transmitem água a taxas muito baixas, por filtração vertical ou drenança. E, por
fim, tem-se as formações que não transmitem e nem armazenam água, denominadas aquifugo (Caicedo
2001, Feitosa et al. op. cit. 2008, Singhal & Gupta op. cit.).
Os aquíferos podem ser classificados em livres e confinados (Feitosa et al. 2008). Aquíferos
confinados, são aqueles em que a pressão da água em seu topo é maior do que a pressão atmosférica, ou
seja, existe uma pressão de carga além da atmosférica. Eles também podem ser considerados drenantes
ou não-drenantes, de acordo com as características da camada confinante. Os aquíferos confinados
drenantes apresentam pelo menos uma de suas camadas limítrofes semipermeáveis, permitindo o fluxo
pelo topo e/ou pela base; em contrapartida, nos aquíferos confinados não-drenantes as camadas inferior
e superior são impermeáveis. São chamados aquíferos livres, não-confinados ou freáticos, aqueles cuja
superfície se encontra sob pressão atmosférica. Além disso, podem ser denominados aquíferos
suspensos, os aquíferos livres que possuem sua base e extensão limitadas por camadas impermeáveis ou
semipermeáveis.
Uma das propriedades físicas inerentes aos aquíferos é a porosidade (η), que corresponde ao
volume de espaços vazios em relação ao volume de total da rocha ou solo (Equação 3.9) (Feitosa et al.
2008).
VV
η= Vt
Equação 3.9
A porosidade efetiva é usualmente medida em testes de aquífero (Freeze & Cherry 1979, Cleary
2007, Feitosa et al. 2008). Existem alguns parâmetros que são utilizados para descrever as propriedades
hidrogeológicas das formações geológicas, como a condutividade hidráulica (K) e o coeficiente de
armazenamento (S).
22
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
específica e viscosidade (Equação 3.11). Por meio da condutividade hidráulica, é possível definir a
isotropia ou anisotropia de uma formação geológica, assim como a homogeneidade do meio. Vale
ressaltar que apenas a porosidade do material não é suficiente para que ele tenha boa condutividade,
pois é necessário também que os poros estejam conectados (Cabral 2008, Freeze & Cherry 1979).
k⍴g
K= Equação 3.11
μ
Onde:
Na zona não saturada a condutividade hidráulica varia com o teor de umidade dos materiais,
pois quanto mais secos os solos e rochas, menos condutivos eles são (Freeze & Cherry 1979). O
coeficiente de armazenamento (S) corresponde ao volume de água liberado por um volume unitário do
aquífero, ao diminuir a carga hidráulica de uma unidade. Para aquíferos livres, o coeficiente de
armazenamento é equivalente à vazão específica (Sy) e para os aquíferos confinados está relacionado
ao armazenamento específico (Ss).
23
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
A soma do armazenamento hídrico superficial e subterrâneo (Equação 3.14), resulta no Stotal que
representa o armazenamento total, no qual obtém-se o Qtotal referente ao escoamento total do sistema e
há o cancelamento da infiltração (I).
O balanço hídrico quando executado em escala regional pode fornecer informações de recarga
do aquífero (Dias 2021).
Para determinar o valor da resistividade do material, aplica-se a lei de Ohm. Essa lei define que
a corrente elétrica (I) através de um condutor é proporcional à diferença de potencial (V) aplicada nele,
fornecendo a resistência elétrica (R), uma constante, cuja unidade de medida é em Ohms (Telford et al.
1990). Além disso, para obter o valor da resistividade elétrica em Ohm.m (⍴), deve-se considerar a área
(S) e o comprimento (L) do condutor (Equação 3.15).
V.S
⍴= Equação 3.15
I.L
Os equipamentos medem a resistividade aparente (⍴a), pois as condições no subsolo não são
homogêneas. Assim, seu valor depende da natureza do solo e rochas atravessados pela corrente (Equação
3.16) e, do tipo de arranjo utilizado na investigação (Telford et al. 1990).
𝑉
⍴a=k 𝐼 Equação 3.16
Onde, k é um fator geométrico relacionado ao arranjo dos eletrodos, e pode ser obtido por
(Equação 3.17):
24
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
2π
K= 1 1 1 1 Equação 3.17
− − +
𝐴𝑀 𝐵𝑀 𝐴𝑁 𝐵𝑁
Uma das técnicas empregadas para a análise da resistividade, e que será utilizada neste estudo,
é o caminhamento elétrico (CE). Esta técnica é aplicada quando se tem interesse em verificar o subsolo
em duas dimensões, permitindo avaliar também, a variação lateral dos valores de resistividade aparente.
Há vários arranjos de eletrodos usualmente empregados no caminhamento elétricos, como, por exemplo,
dipolo-dipolo, polo-dipolo, gradiente (Telford et al. 1990). No arranjo dipolo-dipolo são utilizados
quatro eletrodos, dois de corrente (A e B) e dois de potencial (M e N). Realiza-se caminhamentos ao
longo de um perfil estipulado, movendo-se todo o conjunto eletródico e mantendo-se fixo o espaçamento
dos dipolos. A profundidade de investigação está diretamente relacionada ao espaço intereletrodos, ou
seja, ela será maior quanto maior for a distância entre eles (Kearey et al. 2002, Fagundes 2010). As
R
medidas de profundidades teóricas de investigação (Z= 2 ), correspondem ao ponto de interseção entre a
linha que parte do centro do arranjo dos eletrodos AB e outra que parte do centro do arranjo MN, com
ângulo de 45° (Figura 3.5). As sondagens dipolares permitem alcançar profundidades maiores com um
arranjo mais curto, apesar de seus dados estarem sujeitos a ruídos e apresentarem menor resolução
(Borges 2002, Braga 2006, Elis et al. 2008).
25
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 3.5 - Representação do arranjo dipolo-dipolo do caminhamento elétrico em campo. Fonte: Braga (2006).
Para que seja possível obter um modelo com dados mais próximos dos reais, efetua-se a inversão
matemática, que pode se basear, por exemplo, no método dos mínimos quadrados. A inversão objetiva
minimizar as distorções nas pseudo-seções de resistividade aparente causadas pela geometria do arranjo
eletródico utilizado (Fagundes 2010) e transformá-la numa seção mais próxima da realidade. Esta
inversão é realizada por meio de programas computacionais, sendo utilizado, neste caso, o Res2DInv
(GEOTOMO SOFTWARE 2016).
3.6 CANGAS
De acordo com Augustin et al. (2013), as lateritas são formações compostas por óxidos e
hidróxidos de Fe e Al e argilossilicatos, originadas por intensos processos de intemperismo físico e
químico, que promovem a lixiviação da sílica e originam um horizonte endurecido. Nos trópicos, onde
a temperatura e precipitação são maiores, o intemperismo ocorre com mais intensidade. Fatores como
altas temperaturas, precipitação, topografia que acentua a infiltração e estabilidade tectônica, favorecem
o intemperismo químico e, consequentemente, a formação de lateritas (Leonardi 2014). Devido aos
vários materiais que são intitulados laterita em diferentes partes do globo, ela recebeu algumas
denominações específicas em seu país de origem, sendo a ferruginosa designada, no Brasil, como canga
(Goudie 1973). Esta designação foi mencionada por Eschwege entre os anos de 1811 e 1817 quando
26
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
descreveu um material como este na cidade de Ouro Preto (Augustin et al. 2013). Na literatura
internacional essas crostas endurecidas ricas em Fe recebem outras denominações, como ferricretes ou
“iron duricrusts” (Ollier & Galloway 1990, Conacher et al. 1991, Tardy 1993), mas neste trabalho será
empregado o termo canga.
De maneira geral, as cangas podem ser originadas por acumulação relativa, quando há
concentração de Fe2O3 e/ou Al2O3 in situ, ou por acumulação absoluta, processo que envolve o
transporte de íons de Fe2O3 e/ou Al2O3 em solução, incluindo materiais sólidos que contenham esses
elementos (Augustin et al. 2013, Souza & Carmo 2015). Isso indica que as concentrações desses
elementos não são necessariamente derivadas de rochas subjacentes (Bourman 1993). Portanto, para
classificá-las não basta realizar apenas uma análise química do material, é necessário observar a variação
lateral, a evolução geomorfológica, a estratigrafia, a forma e tamanho dos grãos, entre outros fatores.
Além disso, mesmo após formada, a canga também pode passar por um processo contínuo de
intemperismo (Bourman & Ollier 2002).
Sob as atuais condições bioclimáticas que imperam no QF, alternância das condições climáticas
em úmidas e secas, as cangas têm sido progressivamente degradadas, como atestam as evidências de
campo. Esta degradação ocorre tanto por erosão mecânica como por processos biogeoquímicos, com
dissolução e reprecipitação de componentes (Shuster et al. 2012, Monteiro et al. 2014, Spier et al. 2019).
Ao longo das fases úmidas a canga pode originar um Latossolo Concrecionário cuja espessura é
condicionada à ação de cupins e formigas (pedobioturbação) (Schaefer et al. 2015). Esse processo
promove a seleção das partículas, resultando na concentração de argila e silte na superfície devido à
27
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
triagem biológica (Schaefer 2001). Durante a transição da fase úmida para a seca e vice-versa há redução
das espécies vegetais que são menos resistentes ao fogo e a sazonalidade, assim, o solo friável produzido
na fase úmida se perde por erosão. No clima seco os solos são muito rasos e ocorrem afloramento de
canga cimentada (petroplintita). Este ciclo pode se repetir diversas vezes ao longo do tempo geológico
sem alcançar o equilíbrio (Schaefer et al. 2015).
As cangas são constituídas por fragmentos de formação ferrífera, hematita compacta, magnetita,
martita e outros minerais em menor proporção, cimentadas por óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio
(Dorr 1964, 1969, Monteiro et al. 2014). Por ser um material bastante resistente, a canga exerce o papel
de controle estrutural do relevo, além de favorecer a formação de cavidades (Dorr 1964, Souza & Carmo
2015). Essa propriedade decorre das repetidas dissoluções e reprecipitações do ferro, provocando a
restauração de sua estabilidade mecânica e a reciclagem do horizonte em que ela está situada, agindo
assim, como uma camada protetora do material sotoposto (Monteiro et al. 2014).
As cangas no QF têm sido divididas em quatro tipos diferentes (Dorr 1964,1969, Souza &
Carmo 2015):
ii) Canga normal, também classificada como detrítica ou clasto suportada: corresponde
entre 20% e 80% de fragmentos de hematita e itabirito, cimentados por limonita. Exibe aspecto
conglomerático e apresenta cerca de 50% a 60% de ferro;
iii) Canga química, também denominada canga suportada pela matriz; constituída por
pouco material detrítico, cimentado por muita limonita, apresentando baixas porosidade e
permeabilidade. Normalmente ocorrem em encostas suaves e é muito aluminosa;
iv) Canga estruturada: formada pela hidratação do ferro presente no itabirito e lixiviação
parcial de quartzo, preservando a estrutura original da rocha (bandamentos primários ou tectônicos).
28
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
De acordo com o trabalho desenvolvido no Quadrilátero Ferrífero por Spier et al. (2019), a
canga in situ (canga estruturada) preserva parcialmente a estrutura do saprolito, enquanto a canga
transportada não exibe traços da litologia original. Apesar de apresentarem composição semelhante,
material detrítico, hematita, martita, óxidos de manganês, fosfatos secundários, gibbsita e cimento
goethítico, a canga transportada é mais heterogênea, contendo também, fragmentos de canga mais
antiga. Além disso, ela é bastante porosa, com poros atingindo cerca de 2 cm de diâmetro (Spier et al.
Op. cit.).
As cangas estruturadas tendem a ser mais antigas e a se localizar nas maiores altitudes, em
platôs, enquanto as detríticas tendem a ocupar os setores mais baixos do relevo, especialmente em
rampas e baixadas, às vezes, inclusive, cobrindo a canga estruturada (Spier et al. 2019, Dias 2021). As
cangas detríticas muitas vezes ocorrem formando espessos pacotes constituídos por camadas de
diferentes granulometrias (Dutra 2017), denotando deposição sob diferentes condições de energia.
No Brasil, as cangas são abundantes em duas das mais importantes províncias minerais do
mundo, no Quadrilátero Ferrífero (QF) e na Serra dos Carajás (SC) (Maurity & Kotschoubey 1995,
Spier et al. 2019). Nestas regiões, as cangas nem sempre apresentam os horizontes do perfil laterítico
clássico descrito na literatura (Nahon & Tardy 1992, Bourman 1993, Dias & Bacellar 2021, Machado
et al. 2021). Normalmente, elas exibem um nível superficial de grande dureza, que atinge até dezenas
de metros de espessura, denominado couraça ou iron duricrust, sobreposto a um horizonte menos
resistente e mais erodível, que tem recebido várias denominações, como mottled zone (Nahon & Tardy
1992, Bourman 1993, Bourman & Ollier 2002, Widdowson 2007, Grimes & Spate 2008), zona de baixa
densidade (Twidale 1987, Maurity 1995), horizonte de transição (Gonçalves et al. 2016, Gonçalves
2019) ou fácies fragmentada (Assis 2018). Neste trabalho serão adotados os termos crosta para a camada
de canga e horizonte de transição para o material friável sotoposto à canga.
São variados os tipos de feições cársticas encontradas em regiões constituídas por canga, como
cavidades, condutos e dolinas. Tais feições têm sido descritas não só no Quadrilátero Ferrífero e na Serra
de Carajás (Auler et al. 2019, Ferreira 2020; Dias 2021, Machado et al. 2021), mas também em outros
lugares do mundo (Dixey 1920, Axelrod et al. 1952, Simmons 1964, Sponholz 1994, Grimes & Spate
2008). A carstificação se desenvolve preferencialmente abaixo da crosta mais resistente, no horizonte
transicional, no contato deste com o saprolito das formações ferríferas subjacentes ou até mesmo no
interior destas (Machado et al. 2014, Dias & Bacellar 2021, Auler et al. 2022).
Feições cársticas são produto da interação hidrológica e geoquímica que promovem a dissolução
ou corrosão da rocha (Calux 2013). A presença de cavidades é comum em rochas carbonáticas, mas
29
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
também estão presentes em outros litotipos, como em itabiritos e em cangas. Pesquisas relacionadas a
cavernas em formações ferríferas no Brasil eram muito escassas, o primeiro estudo mais detalhado
referente ao tema foi o de Simmons (1963), no Quadrilátero Ferrífero. Contudo, a partir de 2005, o
interesse por essas informações cresceu devido ao aumento da demanda do minério de ferro no mercado
internacional. Em decorrência disso, houve maior rigor dos órgãos de legislação ambiental (Calux 2013).
O Quadrilátero Ferrífero pode ser considerado uma província espeleológica devido à grande
densidade de cavernas situadas em rochas ferríferas, uma das maiores do mundo (Karmann & Sánchez
1979). As cavidades no QFe estão localizadas, em sua maioria, em rochas do Grupo Itabira, composto
por itabiritos, dolomitos ferruginosos e filitos hematíticos, no contato erosivo entre a canga e o material
subjacente, e na própria canga (Pereira & Souza 2009, Auler et al. 2022).
Grande parte das cavidades situadas em cangas são resultantes do intemperismo da Formação
Cauê. Essa formação é constituída por diferentes tipos de itabirito e apresenta depósitos de óxidos de
ferro com até 500 metros de espessura (Dutra 2013). De acordo com estudos realizados no Quadrilátero
Ferrífero por Calux et al. (2019), a ocorrência de cavidades em formações ferríferas está diretamente
relacionada a locais com minério de ferro de alto teor e situam-se, preferencialmente, em eixos e flancos
de dobras, fraturas (tectônicas e atectônicas) e em planos de falha (Calux et al. 2019). Em dados
apresentados pelo CANIE - Cadastro Nacional de Informações Espeleológica, das 1490 cavidades
presentes no Quadrilátero Ferrífero, 989 situam-se em canga/formação ferrífera bandada, ou seja, mais
de 66% ocorrem em litologias associadas ao ferro (Castro et al. 2020).
As cavernas em formações ferríferas e cangas podem ser condicionada por fatores litológicos,
estruturais e geomorfológicos (Nola & Bacellar, 2021) e originadas por diversos processos, entre eles
tem-se: erosão, que correspondem às cavidades geradas no contato entre a canga e as rochas subjacentes
devido ao processo de erosão diferencial; dissolução, formadas nos itabiritos situados abaixo da canga;
lixiviação; e biogêneses ou ampliação, por escavações da megafauna, por exemplo (Simmons 1963,
Dutra 2013).
Os platôs de canga são mais resistentes se comparados ao material que sustenta sua estrutura,
com isso, ocorre erosão dos litotipos situados em sua base (horizonte de transição), resultando no recuo
lateral das vertentes (Pereira et al. 2012). Devido ao recuo da borda do platô e ao fluxo subsuperficial
(interfluxo) ao longo do contato entre a canga e a formação ferrífera intemperizada, a erosão é facilitada,
causando a ruptura do relevo e favorecendo a geração e ampliação de poros e cavernas (Pereira et al.
2012, Auler et al. 2022.). Dessa forma, as cavidades tendem a se localizar no horizonte de transição,
mais friável (Figura 3.6), entre a camada de canga (teto) e a formação ferrífera intemperizada (base)
subjacente (Auler et al. 2022).
30
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 3.6 - Perfil representativo da cavidade na zona de contato, mostrando colapso do teto na parte inferior
inicial. Fonte: Auler et al. (2022).
Normalmente, as cavidades nessas tipologias são de pequena extensão (Dutra 2017, Auler et al.
2022) e situam-se em quebras de relevo, seja internamente ou externamente ao platô de canga, e
apresentam inclinação semelhante à da vertente (Dutra 2017). Também podem estar localizadas na borda
de lagoas, nas cabeceiras e borda de drenagens, desde a alta até a baixa vertente (Piló & Auler 2009).
Estudos desenvolvidos por Auler et al. (2022) em mais de 1800 cavidades inseridas nestas litologias e
situadas nas regiões de Carajás, QFe e sul do Espinhaço, revelaram que a maior parte dessas cavernas
(88%) não ultrapassam 50m de extensão.
O interior destas cavidades é bastante rugoso em decorrência de sua litologia e formação, onde
há predominância da erosão (Dutra 2017). A presença de descontinuidades nas paredes e no teto
ocasionam queda de fragmentos com tamanhos consideráveis em seu piso e grande parte do material
sedimentar encontrado dentro dos condutos é de origem autóctone (Pereira & Souza 2009, Dutra 2017).
O teto destas cavidades apresenta pequena espessura, variando de decímetros a poucos metros.
Isto ocorre porque essas tipologias foram formadas em superfície, provenientes do intemperismo
experimentado pelo itabirito e rochas subjacentes, que foram expostas há milhões de anos (Dutra 2017).
A proximidade com a superfície associada com a porosidade da canga, favorecem o processo de
infiltração (Calux 2013).
As formações Quaternárias e Terciárias como alúvios, colúvios e cangas, podem apresentar boas
condições para armazenamento e circulação de água subterrânea (Dutra 2017). Segundo Carmo et al.
31
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
(2012), as cangas favorecem a recarga hídrica em subsuperfície devido à presença de muitos poros,
fraturas e cavidades. Cerca de 80% das reservas de água subterrânea situadas no Quadrilátero Ferrífero
estão associados às cangas e às formações ferríferas, correspondendo à 4 bilhões de m³ (ICMBio 2010).
Mourão (2007) definiu no QFe algumas unidades hidrogeológicas como aquíferos e unidades
confinantes, de acordo com as propriedades hidráulicas e características litológicas dominantes. São
elas: aquíferos inconsolidados, aquíferos quartzíticos, aquífero carbonático, aquíferos em formações
ferríferas, aquíferos em xistos, aquíferos em rochas granito-gnáissicas e unidades confinantes. Os
aquíferos em cangas foram classificados como inconsolidados (Mourão 2007, Gonçalves et al. 2018),
ou seja, exibem porosidade intersticial, são livres, descontínuos, heterogêneos anisotrópicos. Desta
forma, apresentam grande importância para a recarga dos aquíferos sotopostos. Ramos et al. (2020) não
associaram a canga à nenhuma unidade hidrogeológica, pois segundo estes autores, ela atuaria como
zona de passagem de água para unidades sotopostas e não teria a capacidade de armazená-la.
Apesar de serem caracterizadas por significativas porosidades, entre 15 e 30%,
excepcionalmente, superiores a 50%, seja em micro como na mesoescala (Dorr 1969, Firmino e Souza
2018, Spier et al. 2019, Dias 2021), há controvérsias quanto a condutividade hidráulica das cangas.
Alguns autores atribuem alta condutividade (Lazarim & Loureiro 2000, Mourão 2007, Auler et al. 2022)
e permeabilidade a este material, enquanto outros argumentam que embora a porosidade seja elevada, a
baixa conexão entre os poros reduziria a condutividade hidráulica (Dorr 1964, Firmino e Souza 2018).
Dois estudos desenvolvidos na Serra do Gandarela (Hidrovia 2017, Firmino e Souza 2018), leste
do Quadrilátero Ferrífero, determinaram a condutividade hidráulica por meio de ensaios empregando o
infiltrômetro de anéis duplos. Hidrovia (2017) obteve maior condutividade hidráulica para a canga
detrítica, correspondendo a 7,77x10-6 m/s. Enquanto para as cangas hematíticas, a condutividade variou
entre 0 e 1,65x10-6 m/s. Já Firmino e Souza (2018) alcançou valores de condutividade hidráulica de
1,39x10-8 m/s para as cangas mais preservadas e 4,17x10-8 m/s para as mais degradadas. Dias (2021)
realizou 20 ensaios de infiltração empregando o infiltrômetro de aspersão de Cornell em cangas situadas
na Serra da Moeda (QF) e constatou que nem todas as cangas apresentam uma curva de infiltração típica.
Destes, 12 foram executados em canga detrítica e fornecerem condutividade hidráulica igual a 2,8x10 -
6
m/s. Já os 8 ensaios desenvolvidos em canga estruturada, exibiram valores mais elevados com média
de 8,3x10-6m/s.
A interação canga/atmosfera promove a umidade do solo recoberto, ocasionada pela elevada
taxa de transferência de água da atmosfera para subsuperficie. Alguns estudos revelaram que a recarga
hídrica subterrânea é maior em solos constituídos por vegetação aberta, onde a evapotranspiração e a
interceptação são menores (Schaefer et al. 2015, Dias 2021). Enquanto solos sob mata fechada
apresentam-se úmidos somente nos primeiros 100cm (Schaefer et al. 2004). Parte da água não infiltrada
escoa superficialmente, provocando cachoeiras sazonais.
32
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Dias (2021) afirma que as cangas se comportam como um meio cárstico-fissural (Figura 3.7), o
que explicaria a presença de água no interior destas cavidades por infiltração em fraturas ou macroporos
(Dutra 2017). Além disso, nascentes e efeito cachoeira nas escarpas são ocasionados pelo interfluxo que
ocorre no contato entre a canga e a rocha subjacente (horizonte de transição), devido ao seu caráter mais
friável e erodível (Dutra 2017, Dias 2021).
Quando a água atinge o horizonte de transição ela tende a recarregar o aquífero, pois, o caráter
pouco permeável de cangas muito maciças dificulta a evapotranspiração da água que infiltra,
especialmente pelas descontinuidades e cavidades conectadas à superfície, logo, a água que não é
perdida pelo interfluxo, atravessa o saprólito e se torna recarga para o aquífero (Dias 2021). Dessa
maneira, Dias & Bacellar (2021) classificaram o fluxo de água como lento, principalmente através da
matriz, horizonte de transição e saprólito, enquanto ao longo de cavidades e descontinuidades ele
apresenta velocidade elevada.
Figura 3.7 - Modelo hidrogeológico conceitual de área constituída por canga sobreposta ao e itabirito. DS:
Depressão superficial; T: tálus. Fonte: Dias & Bacellar (2021).
Na superfície das cangas e no interior das cavernas existem lagoas temporárias ou perenes, que
representam ambiente fundamental para existência de alguns organismos. Algumas dessas lagoas
situam-se há aproximadamente 1800 m de altitude no Quadrilátero Ferrífero (Carmo et al. 2012). Esta
saturação temporária ou perene é outro fator que tende a favorecer a infiltração e recarga.
33
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
34
CAPÍTULO 4
4 MATERIAIS E MÉTODOS
O projeto foi desenvolvido nas seguintes etapas: levantamento bibliográfico, seleção das áreas
de estudo, caracterização das cangas, caracterização das rotas de fluxo, análise e interpretação dos
resultados, elaboração da dissertação e de artigo científico.
Inicialmente, cinco áreas foram previamente definidas com o auxílio de imagens de satélite do
software Google Earth Pro. Posteriormente, os trabalhos de campo tiveram início e objetivaram a
investigação mais detalhada das características do local, como tipos e atributos das cangas, feições de
cavernamento, além da facilidade de acesso e transporte de equipamentos.
Um dos fatores fundamentais na definição das áreas de estudo foi a ocorrência de diferentes tipos
de canga, estruturada e detrítica, mas com condições geomorfológicas distintas das encontradas por Dias
(2021) e facilidade de acesso. Dessa forma, duas áreas foram selecionadas, pois atenderam os requisitos
determinados. As áreas selecionadas se situam no Campus Morro do Cruzeiro da UFOP (área 1), no
município de Ouro Preto, e no distrito de Camargos no município de Mariana (área 2).
Os dados topográficos da área 1 foram obtidos de um levantamento executado pela VALE S.A
no Quadrilátero Ferrífero, adquiridos via aerolevantamento LiDAR (Light Detection and Ranging) em
escala de detalhe, resolução de 1m. Para área 2, os dados topográficos de alta resolução (3cm/pixel)
foram obtidos por meio do levantamento com drone MAVIC PRO 2, marca DJI, executado por uma
empresa contratada, cuja altura de voo foi de 115m. Estas informações foram empregadas para a
confecção dos mapas de elevação e declividade. Para este último, os intervalos foram definidos baseados
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
nos valores utilizados por Dias (2021), que apesar de corresponder a uma área de estudo diferente, foi
empregada como base de comparação.
Trabalhos adicionais de campo auxiliaram nesta tarefa e ao final foram definidos trechos com
propriedades distintivas (tipo de canga, porosidade, presença de cavidade) para serem caracterizados em
detalhe. Posteriormente à seleção das áreas de interesse para o desenvolvimento da pesquisa, iniciaram
os estudos macromorfológicos e análise mineralógica (por difração de raios-X), geoquímica, textural e
estrutural da canga, incluindo coleta de amostras superficiais e subsuperficiais. Também foi quantificada
a porosidade aparente, que corresponde à relação entre o volume de vazios interconectados e o volume
da rocha (Frazão 2002). Além disso, confeccionaram-se lâminas delgadas e polidas para investigação
microscópica das amostras, quantificando-se a estrutura, intensidade e conectividade do espaço poroso.
Tabela 4.1 - Nomenclatura e descrição dos tipos de poros. Fonte: Bullock et al. (1985).
Para melhor entendimento e diferenciação composicional, oito amostras, quatro de cada área de
estudo, foram submetidas à análise de raios-X. Inicialmente, realizou-se, manualmente, a pulverização
das amostras no laboratório de difratometria de raios X do Departamento de Geologia (DEGEO) da
UFOP, até que suas partículas atingissem tamanhos máximos de 45μm. Posteriormente, elas foram
conduzidas ao laboratório de Mineralogia do Solo - Departamento de Solos - Universidade Federal de
36
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Viçosa e escaneadas pelo difratômetro Panalytical X´PERT PRO, PW 3040/60, equipado com tubo de
cobalto (radiação Co-Kα, λ = 1,79026Å), com filtro de Fe, operado com uma diferença de potencial de
40kV e corrente elétrica de 30mA. As amostras em pó foram acondicionadas em porta-amostras de
modo a provocar o mínimo de orientação possível. Por fim, os resultados foram tratados no laboratório
de difração de raios X do DEGEO-UFOP, empregando-se o software X’Pert HighScore PANalytical
para obtenção dos difratogramas.
Outra informação necessária para o cálculo é a massa submersa (Msub), fornecida por meio da
pesagem submersa de cada corpo de prova, individualmente. O procedimento consistiu na utilização de
um recipiente com água e balança acoplada à um fio de massa desprezível conectado à uma cesta, onde
foram colocados os corpos de prova (Figuras 4.1C, D). Após esta etapa, as amostras foram levadas à
estufa a uma temperatura de 110 +/- 5 °C até atingir massa constante. As amostras foram retiradas da
estufa e deixadas no dessecador por aproximadamente 1h para esfriar. Por fim, foram pesadas ao ar,
novamente, e determinada a massa seca (Msec). Obtidos esses valores, efetuaram-se os cálculos da massa
específica aparente (ρa) (Equação 4.1), porosidade aparente (ηa) (Equação 4.2), e absorção de água (αa)
(Equação 4.3).
Msec
ρa = M Equação 4.1
sat −Msub
(M −M )
ηa = (M sat−M sec ) . 100 Equação 4.2
sat sub
(Msat −Msec )
αa = Msec
. 100 Equação 4.3
37
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Onde a porosidade aparente (ηa) e a absorção (αa) são expressas em percentagem (%), e a massa
específica aparente (ρa) é fornecida em g/cm³.
Figura 4.1 - Ensaio de porosidade aparente. A) Submersão das amostras; B) Pesagem das amostras úmidas; C)
Pesagem da amostra submersa; D) Detalhamento da pesagem submersa. Fonte: a autora.
Nesta etapa foram caracterizadas as condições de infiltração e percolação de água nas distintas
tipologias de canga, por meio da integração de vários métodos de campo em diferentes escalas espaciais
e temporais. Os dois principais métodos empregados foram o método geofísico da eletrorresistividade,
associada ao uso de traçador salino, e ensaios com diferentes infiltrômetros.
Por meio do infiltrômetro de anel simples acoplado simulador de chuva, desenvolvido pela
Universidade de Cornell (Zwirtes et al. 2013), mensuraram-se as taxas de infiltração e de escoamento
superficial nas áreas estudadas. No total, foram realizados 47 ensaios, 27 na área 1 e 20 na área 2.
Inicialmente, efetuou-se a fixação do anel de PVC na canga por meio de massa impermeável (massa de
vidraceiro), devido à impossibilidade de cravá-lo, como é recomendado para materiais menos duros,
como os solos (Figura 4.2). Em seguida, a mangueira coletora do escoamento superficial foi conectada
no orifício situado na base do anel. Feito isso, encheu-se o reservatório do simulador de chuva com água
e tamparam-se as aberturas superiores para evitar vazamento e ajustava-se o tubo de Mariotte de acordo
com a carga hidráulica desejada. Neste trabalho empregou-se carga hidráulica igual a 3cm, para manter
baixa intensidade da chuva e minimizar o escoamento superficial, pois, de acordo com testes executados
em campo utilizando diferentes cargas hidráulicas, verificou-se que quanto maior a intensidade da
precipitação, maior o escoamento, dificultado a coleta da água não infiltrada devido à pequena
capacidade de armazenamento do recipiente coletor. Então, determinou-se a taxa de precipitação pelo
simulador para a carga estabelecida, e em seguida, este foi postado sobre o anel. Por fim, anotou-se o
39
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
nível da água no reservatório, abriu-se o tubo de ar (tubo de Mariotte), dando início à chuva simulada,
e acionou-se o cronômetro. A cada 3 minutos, registrou-se o nível de água e mensurou-se o volume
coletado em um recipiente de silicone situado na extremidade da mangueira com uma proveta graduada
em mililitros. A adaptação do recipiente coletor do escoamento superficial se deu devido à irregularidade
da superfície da canga, sendo necessário um material maleável e que melhor se ajustasse ao terreno
(silicone). Cada ensaio durou em média 45 minutos até a vazão se tornar constante em três medidas
consecutivas. Os dados coletados foram anotados, e depois transferidos para uma planilha eletrônica
para serem tratados.
Figura 4.2 – Ensaio em campo empregando o infiltrômetro de aspersão de Cornell e identificação de suas partes.
40
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
is
K s = [H/(C Equação 4.4
1 d+C2 a)]+1/[α(C1 d+C2 a)]+1
Onde is é a taxa de infiltração quase constante [L/T], correspondendo à TIB média; a é o raio
interno do cilindro [L], foi considerado igual a 10cm, devido à redução da área interna do anel provocada
pela massa de fixação; H é a água acumulada no cilindro [L], foi assumida carga hidráulica de 0,5cm,
referente à quantidade que fica empoçada; d é a profundidade de inserção do cilindro no meio poroso
[L], e como não foi cravado, considerou-se próximo de zero (0,01cm); α é o número de sorção do meio
poroso [1/L], assumindo-se 0,27 para a canga (vide tabela 3.1); C 1 = 0,316π e C 2 = 0,184π são
parâmetros de forma. Dessa maneira, os valores de taxa de infiltração básica (TIB) de cada ensaio foram
divididos por 1,26.
Figura 4.3 - Infiltrômetro de anéis duplos. A) Disposição dos anéis fixados com massa de vidraceiro em campo;
B) Inserção de água no infiltrômetro.
41
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Foram executados, em cada área, três ensaios utilizando o infiltrômetro de mini disco da marca
Meter objetivando determinar as taxas de infiltração e a condutividade hidráulica não saturada em três
níveis de sucção (-0,5, -2 e -6cm). Os locais foram definidos baseados nos ensaios prévios de infiltração
e buscando alcançar melhor representatividade espacial. Inicialmente, para garantir bom contato entre a
base do infiltrômetro e a superfície da canga, aplicou-se uma fina camada de areia, como recomendado
(METER Group 2021), propiciando também, o nivelamento do terreno, verificado por meio de um nível.
Em seguida, inseriu-se água na câmara de Mariotte, porção superior do instrumento, e, após tampá-la, a
taxa de sucção foi definida ajustando-se o tubo de sucção (Figura 4.4). Em seguida, encheu-se o
reservatório e posicionou-se a base do instrumento sobre a delgada camada niveladora de areia. Foram
tomadas medidas de tempo necessário para a infiltração de cada 1ml infiltrado, até ocorrer a infiltração
de, pelo menos, 15ml de água ao longo de cada sucção estabelecida, conforme recomendação (METER
Group 2021). Por fim, os dados coletados e anotados em uma tabela foram transferidos para a planilha
eletrônica para cálculo da taxa de infiltração acumulada e dos valores de condutividade hidráulica, por
meio do método proposto por Zhang (1997), para cada uma das sucções.
Figura 4.4 - Ensaio em campo empregando o mini infiltrômetro de disco e identificação de suas partes.
42
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Com bases nos dados de campo e resultados de infiltração, foram realizados 30 levantamentos
multitemporais de eletrorresistividade, utilizando-se da técnica de caminhamento com arranjo dipolo-
dipolo e traçador salino. Em cada área de estudo os ensaios compreenderam três linhas de 20m cada
com espaçamento intereletrodos de 1m e equiespaçada entre si com o mesmo valor, nas quais foram
executados cinco levantamentos, totalizando 15 seções. A posição das linhas foi definida com o auxílio
de três trenas longas (50m) de vibra de vidro (Figura 4.3D) e os pontos de inserção dos eletrodos foram
indicados utilizando-se marcador industrial (Figura 4.3A).
Devido à resistência da canga, que impossibilitou cravar os eletrodos, foram efetuados pequenos
furos (1x4cm) na superfície do terreno com o auxílio de ponteira de pedreiro e marreta (Figura 4.3B),
onde uma massa condutora composta por farinha, óleo, sal, água e cremor de tártaro (Dias 2021) foi
inserida para auxiliar na fixação dos eletrodos (Figura 4.3C). Executou-se uma seção prévia, a fim de
obter valores de resistividade elétrica para condições naturais (background), e mais quatro
levantamentos subsequentes à injeção de solução salina (NaCl): imediatamente após a inserção do
traçador, 1 hora depois, 4 horas depois e decorridas 48 horas, possibilitando a caracterização ao longo
do tempo da percolação de água. A solução de água saturada com cloreto de sódio foi injetada após o
levantamento da seção definidora do background em feições que em tese facilitariam a percolação do
fluido (Figura 4.3F), como por exemplo, fendas, canais de bioturbação e aberturas superficiais
(condutos).
43
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
44
CAPÍTULO 5
5 RESULTADOS
O relevo das duas áreas é bem distinto. Na área 1, a canga ocorre em um platô de altitude elevada
(Figura 5.1), aproximadamente 1200m, e com declives inferiores a 17,5º, bordejado à norte-nordeste
por uma escarpa com base no vale do ribeirão do Funil. Há controvérsias sobre qual seria a formação
geológica subjacente a este platô de canga. Para alguns pesquisadores (Goes et al. 2016 e Varajão
&Varajão 2020), a unidade subjacente seriam os filitos da Formação Fecho do Funil e a escarpa limitada
pela quebra de relevo seria condicionada pelo contato por falha de empurrão com os xistos e filitos do
Grupo Sabará (Figura 2.4). Estas duas formações e as estratigraficamente inferiores (Formação
Cercadinho e grupos Itabira e Caraça) comporiam a aba sul do anticlinal vazado de Mariana, que tem
limite, a norte, na crista formada pela Serra de Ouro Preto (vide Figura 2.4). Para Endo et al. (2020), o
platô de canga teria se desenvolvido sobre unidades das Formações Saramenha e Córrego do Germano.
O platô é constituído por cangas e, mais internamente, por bauxitas (Assis 2018). A área de
estudo envolveu um segmento a norte do platô, onde se desenvolvem exclusivamente cangas, em terreno
que verte com baixas declividades (<17,5º) para norte, onde é limitado pela escarpa.
Figura 5.1 - Mapa de declividade, em graus, da área 1 e pontos onde os ensaios de infiltração foram realizados. A
maior cavidade identificada ocorre na quebra de relevo do platô situado a sul, com áreas com declives maiores que
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
17.5º, indicada pela linha tracejada. Mapa confeccionado a partir dos dados topográficos fornecidos pela VALE.
Fonte: a autora.
Na área 2 a canga ocorre em uma rampa com cerca de 100m de largura e declividade de
aproximadamente 17,5° para sudoeste, e que se estende para noroeste por cerca de 2,5km (Figura 5.2).
Na porção norte-nordeste há quebra abrupta do relevo, a partir da qual a declividade aumenta, chegando
a 50° (Figura 5.3). A sul-sudeste, onde ocorrem rochas do Grupo Caraça indiviso e da Formação Moeda,
a elevação diminui, até atingir um vale cujas litologias são do Grupo Nova Lima, onde situa-se o Córrego
Água Funda (vide Figura 2.3). Esta região se encontra entre duas grandes estruturas geológicas do QF,
o anticlinal de Mariana, a sudoeste, e a falha de empurrão da Água Quente, a nordeste (Castro et al.
2020).
Figura 5.2 - Visualização da continuidade da cobertura de canga presente na área 2. Imagem do Google Earth Pro
(2022). A linha vermelha delimita uma jazida abandonada de extração de canga e a linha tracejada branca delimita
a rampa com ocorrência de canga, cujo caimento está indicado por setas. Fonte: a autora.
Nesta rampa há uma antiga jazida abandonada de extração de canga para emprego como material
para pavimentação. Estas atividades de extração mineral conformaram um talude íngreme, com extensa
exposição de canga, a qual se desenvolve sobre os saprolitos de BIFs da Formação Cauê.
46
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 5.3 - Mapa de declividade, em graus, da área 2, pontos onde os ensaios de infiltração foram realizados e
localização da caverna. Confeccionado a partir dos dados topográficos obtidos por meio de levantamento com
drone. Fonte: a autora.
5.2 CAVIDADES
A área 1 apresenta na camada de canga, próximo à quebra de relevo, uma cavidade de
aproximadamente 1m de altura (Figura 5.4). Esta feição não foi acessada, mas é possível observar que
ela apresenta cerca de 1,5m de profundidade, além da constituir alguns condutos que se comunicam e
estendem-se lateralmente por cerca de 3m para oeste, exibindo algumas aberturas em diferentes níveis.
47
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Na jazida de extração de canga a 600 m a noroeste da área 2 (Figura 5.2) ocorre um talude de
corte íngreme, com extensa exposição de canga. que é constituído da base para o topo por saprolitos de
BIFs da Formação Cauê, sobre os quais se desenvolve um horizonte de transição mais poroso onde se
ocorre, preferencialmente, a carstificação, sotoposto a um horizonte mais endurecido (crosta). Esta
carstificação se manifesta como uma fenda de abertura decimétrica a métrica, que ocorre ao longo de
quase todo o talude nas cangas imediatamente abaixo da crosta. Adicionalmente, observam-se outras
pequenas cavidades, mais esparsas, em maiores profundidades do horizonte transicional (Figura 5.5),
evidenciando que embora a carstificação seja mais conspícua próxima à superfície, também ocorre ao
longo do perfil. Algumas dessas cavidades apresentam aproximadamente quatro metros de altura e
ocorrem inteiramente na canga, no contato canga-horizonte de transição ou inteiramente no horizonte
de transição.
Figura 5.5 - Talude situado próximo à área 2 (localizada pelo retângulo vermelho na figura 5.2) exibindo cavidades
em diferentes níveis.
48
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Em seu interior, verificaram-se blocos soltos, principalmente próximo à entrada (Figura 5.6A),
paredes e base muito úmidos (Figuras 5.6C, D, E), água empoçada e feições de percolação de água
(Figura 5.6C e D). Na base e parede da caverna foi identificado a foliação herdada da formação ferrífera
na canga estruturada (Figura 5.6B e E).
Figura 5.6 - Feições identificadas no interior da caverna na área 2: A) Abertura de acesso, com blocos desabados
de canga; B) Foliação herdada da formação ferrífera em canga estruturada, com vestígios de umidade.; C) Piso
interno úmido; D) Superfície interna úmida e pequenos condutos na parede; E) Piso muito úmido, com presença
de musgos.
5.3 VEGETAÇÃO
As duas áreas de estudo exibem vegetação rupestre, com presença de espécies herbáceas e
arbustivas, além de líquens nas superfícies expostas. A área 1 apresenta, majoritariamente, vegetação de
pequeno porte (Figura 5.7).
49
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 5.7 - Vegetação na área 1, pontos onde os ensaios de infiltração foram realizados e localização da cavidade.
Imagem do Google Satellite da galeria do ArcGis 10.3. Fonte: a autora.
50
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 5.8 - Vegetação presente na área 2, com localização dos pontos de execução dos ensaios de infiltração e
da caverna. Imagem de alta resolução (3cm/pixel) obtida por levantamento com drone. Fonte: a autora.
51
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
52
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 5.12 - Amostra retirada do teto do conduto localizado na porção leste da área 2.
5.4.2 Tipologias
Foi identificada apenas canga do tipo detrítica na área 1, enquanto na área 2 esta predomina,
embora também aflore canga estruturada. Conforme descrito a seguir, algumas particularidades das
cangas foram observadas em cada área, especialmente quanto à variação espacial da coloração, tamanho
dos grãos e porosidade.
53
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Há uma subdivisão evidente das cangas detríticas da área 1. Na porção leste estas apresentam
poucos e pequenos poros, que não ultrapassam 1cm de diâmetro. Elas constituem pó amarelado, são
mais macias e macroscopicamente exibem pouca goethita. Seu arcabouço compreende grãos
subangulares, com coloração variando de cinza escuro a amarelo e granulometria entre 2mm e 1,5cm,
com matriz silto-argilosa de cor marrom (Figuras 5.13A e B).
Na porção oeste, onde a goethita é mais abundante e desenvolvida (Figura 5.13C), evidenciada
pela formação de feições circulares na superfície resultantes do hábito botrioidal deste mineral (Figura
5.13D), além de alguns canais/condutos envolvidos por elas (Figura 5.13E). Os grãos desta canga são
menores, não sendo possível diferenciá-los. Esta canga é de dureza mais elevada, apresenta pó de
coloração avermelhada e macroporos com diâmetros de até 1,5cm (Figura 5.13F).
Figura 5.13 - Características das cangas da área 1. Cangas do setor leste da área: A) Canga pouco porosa e macia;
B) Canga com grãos de tamanhos e coloração variados; Cangas do setor oeste da área: C) Canga com goethita com
hábito botrioidal bem desenvolvido e alguns macroporos; D) Feição circular originada pelo hábito da goethita; E)
Microcavidade bordejada por goethita; F) Canga muito porosa.
Na área 2, foi possível subdividir as cangas detritícas em: (i) inconsolidadas, que ocorrem na
porção leste da área, constituída por clastos subarredondados, fracamente cimentados e distribuídos de
forma irregular (Figura 5.14A, B); e detrítica consolidada, localizada na porção oeste da área de estudo,
bastante cimentada, com matriz goethítica, grãos de textura fina e média (Figura 5.14C).
As cangas detríticas inconsolidadas exibem elevada quantidade de poros em lâmina delgada,
cerca de 30%, e exibem muitos clastos de aproximadamente 4cm soltos na superfície, além de uma
camada de solo com cerca de 15cm de espessura em certos locais, onde a vegetação é mais desenvolvida
54
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
e ocorrem termiteiros. Já a canga estruturada, exibe grãos finos, bastante cimentados e com poros
paralelos aos planos foliação (Figura 5.14D, E). A canga estruturada ocorre localmente na porção oeste
e apresenta foliação muito dobrada, herdada dos itabiritos (Figuras 5.14F, G). Em alguns trechos a
foliação encontra-se paralela à superfície do terreno (Figura 5.14H) e em outros oblíqua (Figura 5.14I).
Figura 5.14 - Características das cangas situadas na área 2. A) Canga detrítica inconsolidada, muito porosa; B)
Canga detrítica inconsolidada, contendo muitos clastos de variados tamanhos e fracamente cimentada; C) Canga
detrítica consolidada exibindo grãos de quartzo milimétricos e poros de tamanhos variados; D) Canga estruturada
evidenciando a foliação herdada da formação ferrífera; E) Canga estruturada um pouco degradada
superficialmente; F) Dobra identificada no interior da caverna; G) Dobras evidenciadas na superfície em cangas
estruturadas; H) Canga estruturada, com foliação paralela à superfície do terreno; I) Canga estruturada com
foliação oblíqua à superfície.
Como esperado, todas as cangas apresentam elevados teores de ferro, alumínio e manganês. As
cangas nas duas áreas exibem textura, estruturas e composição distintas. As cangas da área 2
apresentaram razão ferro/alumínio mais elevada que as da área 1 (Tabela 5.1). Por outro lado, as cangas
da área 1 exibiram maiores teores de manganês (Mn), de cálcio (Ca), sódio (Na) e níquel (Ni).
55
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Na área 2 o teor de ferro varia de acordo com o tipo de canga, crescente em concentração na
seguinte ordem: concentração canga detrítica inconsolidada (P4), canga detrítica consolidada (P20) e
canga estruturada (P19), respectivamente.
Também é possível estabelecer uma relação da concentração de alumínio nas cangas da área 1.
O maior teor deste elemento foi identificado na canga situada na porção leste (P22) da área, enquanto a
canga localizada na extremidade oeste (P6), maior elevação, exibiu a menor concentração.
Tabela 5.1 - Composição química das amostras de canga das duas áreas de estudo, 1 e 2. A localização dos pontos
corresponde aos locais dos ensaios com o infiltrômetro de Cornell (Figura 5.7).
Área 1 Área 2
Amostra
P6 P7 P22 P4 P19 P20
As <LQ 159,00 <LQ 26,47 <LQ <LQ
Ba 756,00 98,16 1794,00 6,88 2,22 53,69
Cr 14,76 133,00 60,04 142,00 13,69 67,02
Cu 11,88 11,33 9,27 8,43 2,5 15,98
Ni 40,64 147,00 53,38 <LQ <LQ <LQ
Sc 3,02 5,2 2,19 <LQ <LQ <LQ
Sr 10,1 1,7 17,26 <LQ <LQ <LQ
Th 34,37 14,44 15,84 9,77 <LQ <LQ
V 17,98 164,00 58,67 202,00 20,32 134,00
Concentração mg/kg
56
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Na área 1 uma amostra foi retirada do teto da cavidade, e as outras três definidas buscando maior
representatividade espacial: uma amostra da extremidade leste, outra da região central e a terceira mais
a oeste da área. As outras 4 pertencem à área 2 -, sendo duas de canga detrítica inconsolidada, uma delas
coletada na superfície acima do conduto (Figura 5.12); e as outras duas foram uma de canga estruturada
e a outra de canga detrítica consolidada.
Todas elas são constituídas por goethita, três delas apresentam gibbsita, duas são compostas por
caulinita e o quartzo foi detectado apenas na amostra retirada do topo da cavidade.
Figura 5.15 -Difratograma das amostras de canga da área 1. A) Canga localizada próximo ao ponto P22; B)
Amostra retirada do interior da cavidade (teto); C) Amostra de canga do P26; D) Canga situada no P7, local onde
o levantamento de eletrorresistividade foi executado.
57
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
As análises de difração de raios X revelaram que há uma grande uniformidade mineralógica dos
três tipos de cangas na área 2, que são constituídos, majoritariamente, por goethita e hematita, e,
secundariamente, por quartzo e gibbsita
Figura 5.16 - Difratograma das amostras de canga retiradas da área 2. A) Amostra de canga retirada do teto do
conduto; B) Canga detrítica inconsolidada; C) Canga detrítica consolidada; D) Canga estruturada.
A análise das lâminas delgadas permitiu detalhar a composição mineralógica, feições, arranjos
e estruturas presentes nas cangas das duas áreas. Foram confeccionadas 15 lâminas, 8 da área 1 e 7 da
área 2. Para classificação da porosidade seguiu a recomendação de Bullock et al. (1985).
De modo geral, as seções delgadas extraídas das amostras da área 1 exibem assembleia
mineralógica constituída, especialmente, por goethita, gibbisita e quartzo, além de alguns grãos de mica
(Figuras 5.17A). Os grãos de quartzo variam de subangulosos a bem arredondados, com tamanhos entre
58
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
0,05 e 0,5mm e elevado grau de fraturamento (Figura 5.17B). Eles situam-se dentro dos poros, indicando
possível dissolução deste mineral, mas, alguns deles, encontram-se envoltos por cimento goethítico. As
placas de mica têm dimensões entre 0,04 e 0,3mm e estão distribuídas irregularmente em uma matriz
goethítica. A gibbsita ocorre de duas maneiras: mal desenvolvidas, bordejando os poros e canais (Figuras
5.17C, D e E), e bem desenvolvida, preenchendo alguns deles (Figura 5.17E). Seus cristais apresentam-
se orientados e não orientados e atingem tamanho máximo de 0,05mm. A goethita, normalmente, é bem
desenvolvida, evidenciando a estrutura radial, e ocorre envolvendo os poros e canais (Figuras 5.17F e
G). Mas também acontece como uma micromassa, sendo o constituinte da matriz e do cimento (Figuras
5.17H e I). Nas porções mais escuras da matriz prevalecem as micas, enquanto na região da matriz de
coloração mais clara os grãos de quartzo predominam.
Figura 5.17 -Fotomicrografias da canga detrítica situada na área 1. A) Meso e microporos, placas de mica e matriz
gethítica, LTP; B) Poro cavitário, grãos de quartzo muito fraturados dentro dos poros e envolvidos por cimento
goethítico, LTP; C) Grãos de gibbsita envolvendo poro cavitário e preenchendo canais, matriz goethítica e grão de
mica, LTC; D) Poro cavitário envolvido por gibbsita, grão de mica e matriz goethítica, LTP; E) Poros cavitários,
alguns preenchidos por gibbsita e grãos de mica, LTC; F) Macroporo envolvido por goethita de hábito radial, LTP;
G) Poro cavitário envolvido por goethita exibindo hábito radial e matriz goethítica, LTP; H) Micromassa goethítica
dentro do poro e gibbsita preenchendo canais e poros, LTP; I) Poro cavitário, canal e matriz goethítica, LRC. Gth:
goethita; Mca: mica; Qtz: quartzo; Gbs: gibbsita; LTP: luz transmitida plano-polarizada; LTC: luz transmitida com
polarizadores cruzados; LRC: luz refletida com polarizadores cruzados.
59
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Na seção delgada da amostra do ponto P6, localizado no setor oeste da área, onde foi executado
o ensaio empregando o infiltrômetro de Cornell, verificou-se canais verticais que atingem até cerca de
1,5cm de comprimento (Figuras 5.18D e E).
Figura 5.18 -Fotomicrografias da canga detrítica da área 1. A) Poros cavitários envolvidos por goethita de hábito
radial, LTP; B) Poro cavitário e matriz goethítica, LTP; C) Poros cavitários e canal de conexão entre eles, matriz
goethítica e grãos de gibbsita, LTP; D) Canal de conexão entre os poros e matriz goethítica, LTP; E) Canal de
conexão entre os poros e matriz goethítica, LTP; F) Poro parcialmente preenchido por gibbsita, canais totalmente
preenchidos por gibbsita e matriz goethítica, LTP. Gth: goethita; Gbs: gibbsita; LTP: luz transmitida plano-
polarizada.
As amostras de canga detrítica da área 2 são constituídas por grãos de hematita, goethita, quartzo
e mica. Os cristais de hematita exibem dimensões entre 1mm e 1,5cm, variam de subangulosos a
angulosos e estão alterando-se para goethita (Figuras 5.19A e B). Como resultado deste processo há
formação de muitos poros cavitários dentro destes grãos. Os grãos de quartzo são subarredondados a
arredondados, apresentam tamanho médio de 0,1mm e ocorrem, principalmente, dentro dos poros
(Figuras 5.19C e D). A presença dos grãos de quartzo mais arredondados e seu arranjo caótico, sugerem
60
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 5.19 -Fotomicrografias da canga detrítica da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e matriz
goethítica, LRC; B) Poros cavitários, grãos de hematita e matriz goethítica, LRC; C) Grãos subangulosos a
angulosos de quartzo dentro do poro e matriz goethítica, LTC; D) Poro cavitário, grãos de quartzo e cimento
goethítico, LTP. Gth: goethita; Hem: hematita; Qtz: Quartzo; LRC: luz refletida com polarizadores cruzados; LTC:
luz transmitida com polarizadores cruzados; LTP: luz transmitida plano-polarizada.
A porosidade deste material é elevada e ocorre, principalmente, entre os grãos (Figura 5.20A),
na matriz goethítica, mas também dentro dos cristais alterados de hematita. Grande parte dos poros são
arredondados, bordejados por goethita, exibem até 1,5cm de diâmetro e estão, majoritariamente,
desconectados. Canais de diferentes dimensões, entre 0,02 e 1mm, ocorrem isolados e interligando poros
cavitários (Figuras 20B, C e D). Cabe destacar que as cangas detríticas inconsolidadas exibem poros
cavitários e canais de maiores dimensões e mais abundantes (Figuras 5.20B e D).
61
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 5.20 - Fotomicrografias da canga detrítica da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e matriz
goethítica, LRC; B) Canal envolvido por goethita, LTP; C) Poro cavitário, canais e matriz goethítica, LRC; D)
Canal e micromassa goethítica, LTP. Gth: goethita; Hem: hematita; LTP: luz transmitida plano-polarizada; LRC:
luz refletida com polarizadores cruzados.
As seções delgadas de canga estruturada são constituídas por pouca matriz goethítica de
coloração avermelhada, associada à alteração dos fragmentos de hematita e que evolui com o aumento
da porosidade (Figura 5.21A), além de escasso cimento também goethítico. Os fragmentos de hematita
são subangulosos a angulosos, exibem tamanho médio de 0,25mm, estão distribuídos sem orientação
preferencial e, em alguns deles, é possível observar o processo de martitização (Figuras 5.21B e C).
Secundariamente, verifica-se finos grãos de quartzo (0,04mm) ao longo de uma matriz goethítica de
coloração marrom escura.
62
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 5.21 -Fotomicrografias da canga estruturada da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e goethita
envolvendo a hematita, LRC; B) Processo de martitização (transformação da magnetita em hematita), LRP; C)
Poros cavitários, grãos de hematita (martitização) e matriz goethítica, LRC. Gth: goethita; Hem: hematita; LRP:
luz refletida plano-polarizada; LRC: luz refletida com polarizadores cruzados.
Figura 5.22 -Fotomicrografias da canga estruturada da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e goethita
envolvendo poros, LRC; B) Poros cavitários, grãos de hematita e goethita envolvendo a hematita, LTP; C) Canal,
grãos de hematita e matriz goethítica, LRC; D) Macroporo cavitário, LRC; E) Poro cavitário, grãos de hematita e
micromassa goethítica, LTP; F) Poro cavitário, grãos de hematita e micromassa goethítica, LRC. Gth: goethita;
Hem: hematita; LTP: luz transmitida plano-polarizada; LRC: luz refletida com polarizadores cruzados.
63
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Como as cangas da área 1 são todas detríticas, as variações de porosidade foram associadas à
distribuição espacial e composição químicas das amostras. A mais porosa (31.1%) situa-se na porção
leste da área, onde o teor de alumínio é mais elevado, em contrapartida, a menos porosa (13.8%) está
localizada na extremidade oeste, onde a composição é mais ferruginosa. As amostras coletadas na região
central apresentaram porosidades intermediárias, entre 19.6% e 22.8%. Já as que foram retiradas da base
e do interior da cavidade, exibiram valores também elevados, aproximadamente 29.8% e 30.3%,
respectivamente.
Tabela 5.2- Valores de massa específica, porosidade aparente e absorção de água para as cangas
pertencentes à área 1. Localização das amostras nas figuras 5.9 e 5.10.
64
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
as variedades de cangas da área, com 90% das amostras entre 18.5 e 22.8%. Embora não haja dados
suficientes para um tratamento estatístico, há uma pequena tendência de maiores porosidades para as
cangas detríticas inconsolidados, corroborando as observações de campo.
Tabela 5.3– Valores de massa específica, porosidade aparente e absorção de água das cangas situadas na
área 2. Localização das amostras nas figuras 5.11 e 5.12.
Para determinar o fluxo de água nas cangas foram empregados quatro métodos de investigação
de campo: ensaios de infiltração com três tipos de infiltrômetros e uma de monitoramento multitemporal
com levantamentos geofísicos de eletrorresistividade associado ao uso de traçador salino. A análise da
infiltração foi realizada com os infiltrômetros de aspersão modelo Cornell, de anéis duplos e de mini
disco, que totalizaram 39 ensaios na área 1 (Figura 5.23) e 29 na área 2 (Figura 5.24). As rotas de
percolação da água infiltrada foram analisadas por meio de levantamentos de eletrorresistividade por
caminhamento dipolo-dipolo.
65
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 5.23 -Localização dos pontos onde foram executados os ensaios empregando os infiltrômetros de aspersão
de Cornell, anéis duplos e com mini disco na área 1. Imagem do Google Satellite da galeria do ArcGis 10.3. Fonte:
a autora.
Figura 5.24 - Localização dos pontos onde foram executados os ensaios empregando os infiltrômetros de aspersão
de Cornell, anéis duplos e com mini disco na área 2. Imagem de alta resolução (3cm/pixel) obtida por levantamento
com drone. Fonte: a autora.
66
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Este equipamento foi o mais empregado para a quantificação das taxas de infiltração, 47 ensaios,
devido à sua característica de simular a chuva, assemelhando-se às condições reais. Na área 1 foram
executados 27 ensaios, que forneceram curvas de infiltração vesus tempo com taxa de infiltração inicial
elevada, seguida de decréscimo com tendência exponencial até alcançar a estabilização, como esperado
(Figura 5.25). A taxa de infiltração básica (TIB), em tese, é equivalente à condutividade hidráulica
vertical saturada (Selby 1993), e foi obtida por meio do cálculo da média dos valores de infiltração
situados abaixo da linha preta tracejada, sob a qual convergem os resultados de grande parte dos valores.
Os resultados dos ensaios tendem a apresentar um comportamento oscilatório, que pode ser atribuído à
heterogeneidade natural destes materiais, com macroporos, que podem acelerar momentaneamente a
percolação em subsuperfície (Dias 2021). Para esta área, onde ocorre apenas canga detrítica, a TIB
média foi de 6,40x10-2cm/min (1,07x10-5m/s).
Figura 5.25 - Resultados dos ensaios de infiltração, utilizando o infiltrômetro de Cornell, na área 1. Os segmentos
cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média se encontram abaixo na linha preta tracejada .
67
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
escoamento após, aproximadamente, 13min, e maior taxa de infiltração média. Entretanto, no ponto
P23, região leste, o escoamento superficial iniciou-se rapidamente, aos 1:30min.
Figura 5.26 -Pontos onde o escoamento superficial demorou a iniciar. A) Macroporos e micro cavidade no ponto
4, infiltrômetro de Cornell; B) Microcavidade após retirada de amostra de canga no P4, infiltrômetro de Cornell;
C) Abertura superficial situada próximo ao P7, infiltrômetro de Cornell.
Figura 5.27 -Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos na área 1.
68
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Entre os 20 ensaios realizados na área 2, 16 foram executados sobre a canga detrítica e 4 na canga
estruturada. Assim como na área 1, as curvas também exibiram comportamento padrão e o escoamento
superficial iniciou-se, em média, decorridos 3:00min de ensaio.
Nas cangas detríticas, obteve-se TIB média de 0,08cm/min (1,32x10-5m/s) (Figura 5.28). Os pontos
P4 e P14 não foram incluídos no cálculo da TIB média pois apresentaram resultados de infiltração
anômalo, em ambos, mais elevado, de aproximadamente 0,23cm/min (3,83x10-5m/s), três vezes maior
que o valor da TIB das cangas detríticas. A canga no P4 é do tipo detrítica inconsolidada, constituída
por clastos de hematita de tamanhos variados, entre 1mm e 4cm, pouco cimentados, com algumas
fendas e abundantes termiteiros. Esses fatores favoreceram a percolação da água, resultando na alta
taxa de infiltração e elevado tempo de início do escoamento superficial (14:20min).
Figura 5.28 - Resultados dos ensaios de infiltração com infiltrômetro de Cornell, em canga detrítica, na área 2. Os
segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média se encontram abaixo na linha preta tracejada.
Os pontos P4 e P14 apresentaram TIBs superiores à média.
69
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 5.29 - Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos para as cangas
detríticas na área 2.
A taxa de infiltração das cangas estruturadas (área 2) variou de acordo com o ângulo formado
entre a foliação herdada da formação ferrífera com a superfície do terreno. Os locais onde a foliação se
apresenta oblíqua (P13 e P17) forneceram valores de taxa de infiltração básica mais elevados
(0,22cm/min ou 3,72x10-5m/s) devido à facilidade oferecida pelos poros paralelos à foliação (Figura
5.30A). Já as porções onde a foliação estava paralela à superfície (P15 e P19), a entrada de água foi
menor em decorrência baixa porosidade transversal a esta. Dessa maneira, a TIB encontrada foi de
0,07cm/min (1,22x10-5m/s). O ensaio do ponto 19 não apresentou tendência de estabilização da curva,
mas aumento dos valores da taxa de infiltração depois de 20 minutos, o que pode ser explicado (Figura
5.30B) por um eventual caminho preferencial encontrado pela frente de saturação em subsuperfície.
Figura 5.30 - Resultados dos ensaios de infiltração, com o infiltrômetro de Cornell, em canga estruturada, na área
2. Os segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média se encontram abaixo na linha preta
tracejada. A) Canga estruturada com foliação oblíqua; B) Canga estruturada com foliação paralela.
70
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 5.31 - Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de todos os ensaios obtidos para
as cangas estruturadas com foliação paralela na área 2.
A canga estruturada com foliação oblíqua exibiu relação entre a infiltração, escoamento
superficial e chuva acumulados distinta aos demais, com infiltração elevada e baixo escoamento
superficial (Figura 5.32). Até os 30 minutos de ensaio, a infiltração foi total, e, ao atingir os 45min,
infiltrou 98mm, equivalente à 72% da precipitação acumulada (135mm). O escoamento superficial teve
início apenas aos 12min, aumentando progressivamente em linha reta até atingir 37mm, ou seja, 27%
da chuva acumulada.
71
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 5.32 -Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos para as cangas
estruturadas com foliação oblíqua na área 2.
Aplicando-se esta correção para minimizar o efeito do fluxo lateral nos ensaios executados com
o infiltrômetro de Cornell, anel simples (Equação 4.4), foram obtidos os seguintes valores de taxa de
infiltração: 8,46x10-6m/s para a canga detrítica da área 1; 1,05x10-5m/s para a canga detrítica da área 2;
2,95x10-5m/s e 9,64x10-6m/s para a canga estruturada da área 2 com foliação oblíqua e com foliação
paralela, respectivamente.
Os pontos de ensaio com infiltrômetro de anéis duplos foram, na medida do possível, feitos nos
mesmos locais daqueles executados com infiltrômetro de Cornell. Mas como a superfície da canga é
muito irregular e o diâmetro do infiltrômetro de anéis duplos apresenta o dobro do tamanho, encontrar
regiões maiores e planas se tornou uma tarefa quase impossível. Consequentemente, em pouquíssimos
pontos os ensaios foram feitos exatamente no mesmo local.
72
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 5.33 -Resultados dos ensaios de infiltração, com o infiltrômetro de anéis duplos, na área 1. Os segmentos
cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média se encontram abaixo na linha preta tracejada.
Na área 2, executaram-se 6 ensaios e todos sobre canga detrítica, pois as áreas onde a canga
estruturada estava exposta eram pequenas e não permitiram a fixação deste equipamento. Quatro pontos
apresentaram valores de taxa de infiltração muito estável, aproximando-se da configuração de uma reta,
e permitiram calcular a TIB média: 0,0099cm/min (1,66x10-6m/s) (Figura 5.34). Contudo, no P2 e no
P5, os valores das taxas de infiltração, principalmente os iniciais, foram muito maiores. No primeiro
(P2), a canga era mais friável, constituída por vários clastos de diferentes tamanhos (5mm a 4cm), pouco
cimentados. Além disso, próximo ao local havia uma delgada camada de solo, com cerca de 5cm de
espessura, com desenvolvimento de alguns arbustos e muitas raízes em subsuperfície. Ao término do
ensaio, verificou-se que a porção central do local onde os anéis haviam sido fixados não estava
cimentada, o que pode ter favorecido a infiltração (Figuras 5.35A e B). O segundo (P5) situava-se em
canga estruturada muito alterada, acima da caverna próximo ao talude.
73
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 5.34 -Resultados dos ensaios de infiltração com o infiltrômetro de anéis duplos, na área 2. Os segmentos
cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média se encontram abaixo na linha preta tracejada.
Figura 5.35 -Detalhe de onde foi feito o ensaio no P2 com infiltrômetro de anéis duplos na área 2. A) Porção não
cimentada da canga, contendo clastos de tamanho médio de aproximadamente 2cm; B) Profundidade da região
não cimentada, cerca de 8cm.
Em cada área de estudo, foram executados três ensaios utilizando o infiltrômetro de mini disco
para obter a condutividade hidráulica não saturada da superfície da canga para três diferentes cargas
hidráulicas de sucções: -0,5cm, -2cm e -6cm. Os pontos foram estabelecidos obedecendo os locais onde
os ensaios anteriores foram realizados, a fim de comparar os resultados obtidos. Em cada ensaio efetuou-
se, pelo menos, 15 leituras do tempo necessário para infiltrar 1ml de água no solo ou até a variação do
nível de água no infiltrômetro se tornar constante em relação ao tempo, para cada sucção escolhida,
como recomendado por Souza (2015). Em ambas as áreas, os ensaios com sucção baixa, de -0.5cm, não
foram viáveis, pois com este valor a areia fina disposta sob o equipamento para nivelá-lo e garantir pleno
74
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Para a área 1, as condutividades hidráulicas obtidas por meio das equações 3.6 e 3.7,
empregando-se sucção de -2cm foram: 1,22x10-6, 3,18x10-6 e 4,89x10-7m/s. Com a sucção de -6cm:
9,94x10-8, 1,42x10-7 e 2,84x10-7m/s. Na área 2, os valores foram 1,47x10-6, 9,78x10-7 e 7,33x10-7m/s,
para sucção de -2cm; e 1,28x10-7, 1,42x10-7 e 1,14x10-7m/s utilizando sucção de -6cm. Todas as medidas
foram feitas para cangas detríticas, com exceção da última feita na área 2, feita para canga estruturada.
Nas duas áreas de estudo foram executados levantamentos eletrorresistivos por meio de três
linhas de 20m de comprimento cada e espaçamento de 1m entre elas. A localização dessas linhas foi
definida de acordo com os resultados obtidos nos ensaios de infiltração e ortogonalmente às curvas de
nível. Empregou-se espaçamento intereletrodos de 1m e cinco distâncias entre os dipolos, resultando em
um intervalo de investigação efetiva entre as profundidades de 0,25 m e 3,96m. Em cada linha foram
levantadas 5 seções multitemporais de eletrorresistividade por caminhamento elétrico com arranjo
dipolo-dipolo: background, imediatamente após a injeção salina (to), 1h após injeção salina (t1), 4h após
injeção salina (t2) e 48 horas após injeção salina (t3).
75
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 5.36 - Precipitação ao longo do mês de março em Ouro Preto, estação da Bauxita. Fonte: Cemaden (2022).
Figura 5.37 -Precipitação ao longo do mês de abril no município de Mariana, estação Vila Maquiné. Fonte:
Cemaden (2022).
76
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 5.38 - Mapa hipsométrico com localização das linhas de eletrorresistividade na área. O mapa foi
confeccionado a partir dos dados topográficos fornecidos pela VALE. Fonte: a autora.
Figura 5.39 -Pontos de inserção da solução salina. A) Abertura superficial (cavidade, delimitada por linha
tracejada vermelha) situada entre as posições de 9 e 10m; B) Fenda (delimitada por linha tracejada vermelha)
localizada entre as posições de 4 e 5m.
77
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Na seção de background da linha U1 (Figura 5.40), é possível perceber dois altos resistivos, um
mais superficial e outro mais profundo, entre as posições de 12 a 15m e 8 e 12m, respectivamente.
Também existem dois baixos resistivos, ambos entre as posições 8 e 10m, que se aprofundam para as
duas extremidades da seção. Na linha central (U2) os valores de resistividade são um pouco menores
que os apresentados pela linha U1. Verifica-se apenas um alto resistivo entre as posições de 10 e 16m.
O perfil da linha direita (U3) apresentou variação da resistividade ao longo de toda a seção de
background. Em quatro porções diferentes é possível perceber altos resistivos: um mais superficial e
outro profundo entre as estacas de 12 e 16m, um central com formato circular em um nível intermediário
entre as posições de 2 e 6m. Também há algumas porções menos resistivas, destacando-se as situadas
entre as posições de 5 e 6m e 12 e 15m, a cerca de 1,5m da superfície.
No momento em que o traçador salino foi injetado (to), ocorreu o rearranjo dos valores de
resistividade na linha U1, pois a baixa resistividade causada por este tende a sugar as linhas de corrente.
Consequentemente, pelos altos resistivos identificados na seção de background passarão menos linhas
de corrente, aumentando ainda mais sua resistividade. Ou seja, por onde ela passa, a solução salina tende
a elevar o contraste de resistividades. Os altos resistivos migraram para a região leste da seção, a partir
da posição de 12m, e formou-se uma zona de baixa resistividade próximo às estacas iniciais da linha, à
montante da posição de 9m, atingindo profundidade de 3m, sendo um indicativo de fluxo neste sentido.
Na linha U2, a condutividade da porção oeste é aumentada e surge um alto resistivo com formato circular
entre as posições 8 e 10m. Isso também pode ser explicado pela elevação do contraste elétrico, discutido
anteriormente. Além disso, devido à diminuição da resistividade a partir dos dois pontos onde a solução
salina foi injetada, é possível identificar o caminho percorrido por ela até atingir a profundidade máxima.
Na linha U3, houve redução da resistividade entre as posições de 6 e 9m, onde os baixos resistivos não
ultrapassaram a profundidade de 2,5m. Também ocorreu o desaparecimento da feição circular de
resistividade elevada. As zonas de alto resistivo se restringiram a duas, situadas nas extremidades da
seção, uma entre as posições de 2 e 6m, e outra entre as posições de 12 e 16m.
Uma hora depois (t1) é possível perceber, na linha U1, que a resistividade diminuiu ainda mais
entre as posições de 7 e 9m, alcançando a profundidade máxima, enquanto o trecho compreendido entre
as estacas de 12 e 15m permaneceu muito resistivo. Na linha U2, entre as estacas posicionadas a 8 e
13m e a profundidades maiores que 2m, a resistividade aumenta, acompanhada de decréscimo nesta
mesma posição, mas em porções mais superficiais. O trecho compreendido entre as estacas de 2 e 7m
permanece mais condutivo. Na linha U3 a resistividade diminuiu ainda mais, alcançando maior
profundidade entre as estacas de 6 e 8m. Na porção entre 10 e 12m surgiu uma zona de resistividade um
pouco mais elevada com formato de lâmpada invertida, e à jusante do eletrodo posicionado a 12m, a
seção permaneceu muito resistiva.
78
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Por fim, na seção obtida dois dias após a injeção salina (t3), linha U1, a resistividade apresenta
um aumento significativo entre as posições de 12 e 15m, com prolongamento para oeste, sentido ao
início da seção, em profundidades superiores a 2m. Já entre as posições de 4 e 5m, ela diminui,
aprofundando-se e seguindo em direção às posições iniciais da linha. A linha U2, continuou
manifestando a percolação da solução a partir dos pontos onde ela foi introduzida, e possível retorno
para a superfície por evaporação ou capilaridade entre as estacas de 11 e 12m. Na região leste do perfil
ocorreu aumento lateral e vertical da resistividade. Na linha U3 a resistividade aumentou entre as estacas
de 10 e 16m, estendendo-se até a posição 8m em profundidades intermediárias. Contudo, entre as
posições de 0 e 6m, houve decréscimo da resistividade até 2,5m de profundidade, e entre as estacas de
8 e 10m, a próximo à superfície.
79
Figura 5.40 – Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos multitemporais (background, to, t1, t2 e t3) nas linhas U1 (esquerda), U2 (central)
e U3 (direita), na área 1.
Na área 2, os levantamentos foram executados no setor onde ocorrem tanto na canga detrítica
consolidada como na estruturada, imediatamente à montante da boca da caverna, próximo ao P5, onde
foi realizado o ensaio com infiltrômetro de anéis duplos. As linhas se iniciaram na porção sudeste
(Figura 5.41), a aproximadamente 2m do talude de corte de estrada onde aflora a caverna, e foram
finalizadas (marcador 19m) no trecho mais elevado (NW).A injeção do traçador salino foi efetuada em
três pontos distintos: em uma abertura superficial de aproximadamente 5cm de diâmetro entre as
posições de 15 e 16m (Figura 5.42), local onde se inseriu metade da solução, cerca de 10 litros; e em
dois termiteiros, um situado entre as estacas de 12 e 13m, com inserção de 6l (I2), e o outro próximo
aos pontos de 8 e 9m, com inserção de 4l (I3).
Figura 5.41 - Mapa hipsométrico com localização das linhas de eletrorresistividade na área 2. Mapa confeccionado
a partir dos dados topográficos obtidos por meio de levantamento com drone. Fonte: a autora.
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 5.42 - Abertura superficial (delimitada por linha tracejada) localizada entre os estacas de 15 e 16 onde a
solução salina foi injetada.
Imediatamente após a injeção do traçador salino (to), na linha C1, ocorreu aumento da
resistividade no limite noroeste inferior e uma zona de baixa resistividade foi gerada no centro, entre as
posições de 11 e 13m, seguindo para a base da seção. Na linha C2, observou-se pequenas alterações:
redução da resistividade superficial à montante do ponto de 8m, assim como na região que caracteriza
o teto da caverna; baixos resistivos próximos aos pontos onde a injeção do traçador (12 e 16m), exibindo
uma zona de baixa resistividade se comunicando entre eles; e, aumento do contraste dos valores de
resistividade na região centro-noroeste, maiores na base e menores no topo, indicando concentração das
82
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
linhas de fluxo elétrico no local onde a solução provavelmente percolou. Na linha C3 surgiu um alto
resistivo com formato circular próximo à superfície entre as posições de 2 e 4m. O baixo resistivo,
situado no início da seção, ficou limitado entre as estacas de 4 e 8m, e em dois pontos superficiais,
posições 8, 12 e 15m, onde o traçador salino foi inserido, sugerindo a percolação da solução.
Uma hora depois (t1), na linha C1, a região de alto resistivo ampliou-se, inclusive no centro da
seção. Na linha C2, a porção menos resistiva, localizada entre as estacas de 10 e 17m, se estendeu até
cerca de 2m de profundidade. Na região sudeste, a resistividade ficou ainda menor que a exibida pela
seção anterior. Na linha C3 os valores de resistividade na posição de 12m se tornam menores e, próximo
ao ponto de 16m, o baixo resistivo avança verticalmente até atingir 1,5m de profundidade.
Após 4h (t2), observa-se, novamente, na linha C1, redução da resistividade entre as estacas de
10 e 12m, estendendo-se horizontalmente próximo à superfície e interligando-se com outras zonas de
baixa resistividade. Na linha C2, o baixo resistivo localizado entre as posições de 14 e 16m prolongou-
se verticalmente, partindo de noroeste para sudeste. À jusante do marcador de 12m, a resistividade
diminuiu em direção ao início da linha (menor altitude) e ao alcançar a região entre as posições de 8 e
9m, prolongou-se verticalmente até se ligar à caverna, assim como na região próxima aos pontos de 8 e
6m. Na linha C3, há aumento da zona superficial de baixa resistividade entre as estacas de 5 e 7m, que
se comunica com a caverna sotoposta. Também verifica-se o prolongamento do baixo resistivo entre 11
e 12m, dirigindo-se para noroeste até a profundidade de 2m.
Dois dias depois (t3), a resistividade diminuiu significativamente na porção sudeste da linha C1,
entre as posições de 4,5 e 8m, indicando fluxo da porção mais elevada para a de menores altitudes,
partindo do ponto onde houve injeção da solução, e comunicando-se com a caverna sotoposta. Entre as
estacas de 12 e 17m, tem-se baixos resistivos próximo à superfície, interligando as zonas onde a solução
foi inserida, sugerindo a ocorrência de fluxo lateral. Na seção linha C3, os baixos resistivos se
intensificam horizontalmente e a percolação de água se torna mais evidente, principalmente na região
compreendida entre as estacas de 8 e 17m, próximo à superfície, indicando fluxo lateral.
83
Figura 5.43 - Seções de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos multitemporais (background, to, t1, t2 e t3) realizados nas linhas C1 (esquerda), C2 (central)
e C3 (direita) na área 2.
As seções invertidas plotadas em planta forneceram informações da variação lateral das
resistividades em cada nível de profundidade atingido pelo levantamento, sete no total. Os valores do
eixo y correspondem às linhas que foram levantadas: 1, linhas U1/C1 (esquerda); 2, linhas U2/C2
(central); e 3, linhas U3/C3 (direita). Na área 1 (Figura 5.44), observou-se variação nos valores de
resistividade em todas as camadas no momento da injeção da solução salina (to), principalmente nas
regiões compreendidas entre as estacas de 0 e10m (Figura 5.44B). O alto resistivo situado entre as
posições de 12 e 16m foi dividido ao meio em todas as profundidades, dando origem a uma zona mais
condutiva na direção da linha U2 (central), este fato ficou mais evidente a partir da camada 4. Nas
camadas 4 e 5 houve rearranjo dos valores de resistividade gerando um alto resistivo com formato
circular.
Após uma hora que o traçador salino foi inserido no sistema (Figura 5.44C), não houve grandes
variações nos valores de resistividade ao longo das três primeiras camadas. Contudo, a partir da camada
4, os perfis apresentaram-se mais condutivos, inclusive na porção compreendida entre as estacas de 12
e 16m, onde os valores de resistividade que estavam elevados não ultrapassaram 7000ohm.m.
Dois dias depois (t3) (Figura 5.44E), os valores de resistividade obtidos para as 7 camadas foram
similares aos apresentados para a seção de background (Figuras 5.44A). Verificou-se um alto resistivo
ao longo das três linhas (1, 2 e 3), entre as posições de 12 e 16m, nas três primeiras camadas. Além
disso, a porção de alta resistividade na linha U1 entre as estacas de 1 e 4m e 7 e 9m voltou a aparecer
nas camadas intermediárias (3, 4 e 5), assim como apresentado pela seção de background. As camadas
4 e 5 exibiram um alto resistivo entre as estacas de 10 e 16m nas linhas U3 e U2 (esquerda e central).
Nas duas últimas camadas, 6 e 7, toda a extensão da linha U1 exibiu elevados valores de resistividade,
tal como a linha U3, que apresentou um trecho de alto resistivo a partir do marcador de 12m.
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 5.44 -Seções em planta dos levantamentos de eletrorresistividade realizados na área 1A) Background; B)
Seção to; C) Seção t1; D) Seção t2; E) Seção t3.
As seções obtidas por meio dos levantamentos executados na área 2 não apresentaram grandes
variações nos valores da resistividade nas camadas mais profundas (Figura 5.45). Em todos os
levantamentos observou-se uma zona de baixa resistividade entre as posições de 0 e 6m a partir da
camada 4, que corresponde à 1852m de profundidade, onde está localizado o teto da caverna. Na camada
mais superficial da seção to (momento da injeção), próximo aos pontos onde a solução salina foi
inserida, 8, 12 e 16m, houve diminuição significativa da resistividade (Figura 5.45B). Já na camada 2,
os valores de resistividade aumentaram, principalmente entre as estacas de 8 e 11m. A terceira camada
apresentou zonas de alto resistivo entre as posições de 7 e 9m, 10 e 11m e 14 e 16m ao longo das três
linhas (C1, C2 e C3). Nos perfis correspondentes às camadas mais profundas, os valores de resistividade
foram elevados para todas as linhas a partir da posição de 8m.
86
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Verificou-se uma zona mais condutiva compreendida entre as posições de 11 e 12m, partindo da linha
C2 para a C3 (central para esquerda), indicando um possível fluxo lateral. Contudo, o baixo resistivo
situado entre as estacas de 14 e 16m das camadas 2 e 3, indica fluxo acompanhando a inclinação do
terreno, do ponto mais elevado (final da linha) para o mais baixo (início da linha). As camadas 4, 5, 6 e
7 apresentam aumento da resistividade a partir da posição de 6m até a extremidade constituída pelas
estacas finais da seção.
Decorridas 4h que a solução salina foi inserida (Figura 5.45D), verificou-se o aumento da
condutividade em duas regiões da camada 1. A primeira está situada entre as estacas de 8 e 12m, partindo
da linha C3 para a C1, a segunda também vai da linha C3 para C1 e localiza-se entre as posições de 18
e 14m. Ambas indicam possível fluxo diagonal dos pontos mais elevados para os mais baixos
topograficamente. Na camada 2 a resistividade aumentou na linha C3 entre os pontos de 14 e 16m e
diminuiu entre 11 e 12m. Na terceira camada, surgiu um alto resistivo entre as posições de 15 e 16m da
linha C3 e a zona compreendida entre as estacas de 4 e 6m, teve sua resistividade reduzida. A quarta
camada apresentou uma zona de baixa resistividade entre as estacas de 13 e 14m, ao longo das linhas
C3 e C2, além de um pequeno ponto de baixo resistivo localizado na posição 9m da linha C2, que
provocou aumento da resistividade entres as posições de 6 e 8m dessa mesma linha. Na camada 5
surgiram dois baixos resistivos, um deles foi entre as posições de 12 e 14m e o outro entre 6 e 8m. As
duas últimas camadas, 6 e 7, exibiram aumento da condutividade do início do perfil até a posição de
9m.
A última seção (t3), dois dias após a injeção do traçador salino (Figura 5.45E), foi a que
apresentou os menores valores de resistividade, especialmente nas seções correspondestes às camadas
1 e 2, mais superficiais. Isto pode ser explicado pela precipitação que ocorreu na noite anterior, dia 13
de abril (Figura 5.37). Em ambas camadas, somente duas porções exibiram altos resistivos: na camada
1 eles estão situados entre as estacas de 12 e 13m e, no início da linha C3, entre 0 e 2m; na segunda
camada eles estão localizados entre as posições de 2 e 4m e 8 e 10m, esse último se restringe às linhas
C2 e C1. A camada 3 apresentou uma zona de baixa resistividade entre os pontos de 4 e 8m, e outra
partindo da posição de 14m da linha C3 para a de 12m da linha C1, possível fluxo diagonal de noroeste
para sudeste. Já nas camadas 4, 5, 6 e 7, verificou-se baixa resistividade desde o início do perfil até o
marcador de 8m e valores de resistividade elevados partindo deste ponto até o final do perfil.
87
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 5.45 -Seções em planta dos levantamentos de eletrorresistividade realizados na área 2. A) Background; B)
Seção to; C) Seção t1; D) Seção t2; E) Seção t3.
88
CAPÍTULO 6
6 DISCUSSÕES
Trabalhos anteriores realizados nas cangas da área 1, revelam que elas têm como protólito os
filitos dolomíticos das Formações Gandarela e Fecho do Funil (Assis 2018, Varajão & Varajão 2020).
O maior teor de cálcio e, principalmente potássio, pode ser um indicativo desta origem, relacionada a
sedimentos ricos nestes elementos, ou seja, associada a rochas metassedimentares (filitos) como
defendido em estudos prévios. A concentração anômala de manganês observada na amostra de canga
desta área (P6) está relacionada ao intemperismo, pois este processo provoca a lixiviação do carbonato
do protólito e precipitação do Mn4+, elemento menos móvel da solução (Ribeiro et al. 2021). Além disso,
elas ocorrem associadas à bauxita (Varajão 1988, Assis 2018) e apresentam pelo menos um
argilomineral, gibbsita e/ou caulinita, em todas as amostras analisadas, o que corrobora com o alto teor
de alumínio.
Feições de revestimento dos poros por cristalárias gibbsíticas foram observadas em algumas
lâminas da área 1. Essas feições indicam a lixiviação do ferro e remobilização do alumínio, que precipita
em forma de gibbsita quando há baixa atividade de sílica, comprovando o estágio atual de degradação
das cangas (Beauvais 2009, Machado 2018).
foliação preservada. Em alguns trechos, esta canga se encontra nitidamente em processo de degradação
na superfície, similar à da canga detrítica, denominada por Dias (2021) como pseudodetrítica.
A canga detrítica consolidada ocorre em contato discordante sobre a canga estruturada, como
pode ser verificado ao longo dos cortes de estrada ou no interior da caverna. Em um dos cortes é possível
identificar camadas de canga com granulometrias e graus de seleção distintos, como já observado por
Dutra (2017), evidenciando pulsos de transporte e deposição possivelmente relacionados a mudanças
paleoclimáticas.
Assim como exposto por Machado (2018), a canga detrítica inconsolidada, mais intemperizada,
possui teor de ferro menor que as cangas detrítica consolidada e estruturada, predecessoras, e aumento
do teor de alumínio. A redução do ferro e o aumento na concentração de alumínio refletem na
transformação dos óxidos de ferro em hidróxidos de ferro, evidenciada no processo evolutivo das
cangas, indício de maior grau de intemperismo resultante da degradação progressiva sob as condições
climáticas atuais (Machado op. cit.). Tais dados corroboram as conclusões de trabalhos prévios (Spier
et al. 2019, Dias 2021), de que as cangas detríticas consolidadas seriam mais recentes que as
estruturadas, e que localmente estas estariam sendo recobertas por cangas detríticas inconsolidadas,
ainda mais novas.
Realizando-se uma correlação da composição geoquímica das duas áreas analisadas, verifica-se
que o P7 da área 1 exibe elevada a concentração de As, e também maiores teores de Ni, Cr e V e menor
de Ba, típico de composição ultramáfica, sugerindo rochas fontes do tipo metavulcanossedimentares.
90
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Além disso, no P22, da mesma área, há maiores concentrações de Ba e Zn. Enquanto na área 2 é
observado um padrão geoquímico mais simples, característico dos itabiritos.
No perfil exposto pelo talude situado à cerca de 600m da área 2 (Cascalheira Municipal, Figura
5.2), é possível identificar, assim como retratado por Gonçalves (2019) na região de Carajás, três
horizontes do topo para a base: canga, com espessura de aproximadamente 2m, horizonte de transição,
com espessura superior a 10m e saprólito (Figura 6.1). Neste perfil também foram verificadas 5
cavidades em diferentes níveis: um mais superficial, no contato entre a canga e o horizonte de transição,
e outro a cerca de 7m da superfície inteiramente no horizonte de transição. Profundidade mais elevada
que as encontradas por Auler et al. (2022) para cavidades em litotipos ferríferos no QFe, cujos valores
foram de 2,51, 3,02 e 4,08m para cavernas na canga, no contato entre a canga e a formação ferrífera
intemperizada e inteiramente na BIF (Formação Ferrífera Bandada), respectivamente. Além disso,
identificou-se mais uma caverna inserida na área de estudo, onde os ensaios foram executados. Ela foi
acessada pela abertura situada na vertente de aproximadamente 3m e apresenta grande extensão, acima
de 15m, vários condutos nas paredes de aproximadamente 20cm (vide Figura 5.6) e duas galerias com
cerca de 2m de altura e comprimento superior a 5m. De acordo com Auler et al. (2022), as cavernas
mais longas exibem maior número de conexões entre salas, condicionado, principalmente, por processos
de interfluxo de declives, fator importante no desenvolvimento dessas cavidades.
Figura 6.1 -Talude em antiga jazida localizada próximo à área 2 (Figura 5.2) expondo cavidades em diferentes
níveis e os horizontes que ocorrem na área estudada: canga, horizonte de transição e saprolito.
91
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Na área 1, identificou-se apenas uma cavidade pouco desenvolvida, com extensão máxima de 5m.
Esta cavidade ocorre no contato entre a crosta e o horizonte transicional (Figuras 6.2A e B), e seus
condutos são desenvolvidos inteiramente na fácies canga (Figura 6.2C).
Figura 6.2 -Cavidade situada na área 1 e seus condutos. A) Abertura principal e condutos; B) Contato entre a
fácies canga e o horizonte de transição na direção da abertura da cavidade; C) Condutos localizados à direita da
cavidade comunicando-se com a superfície.
A vegetação em ambas as áreas é escassa na porção coberta por canga, sendo constituída,
principalmente, por indivíduos de porte herbáceo. A ação biológica, especialmente da vegetação,
contribui para a degradação da canga e formação do solo (Machado 2018), fator que pode estar
relacionado ao maior desenvolvimento de solo na área 2.
A média dos valores de porosidade aparente foi maior para as cangas da área 1 (24%), onde ocorre
apenas canga detrítica (Figura 6.3). Na área 2, apesar do pequeno volume de dados, a porosidade
92
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
aparente se mostrou um pouco maior na canga detrítica inconsolidada (21,5%) do que na detrítica
consolidada e na estruturada, estas com valores similares (19,6%, vide Tabela 5.3).
Figura 6.3 - Comparação dos valores de porosidade aparente obtidos nas duas áreas de estudo.
Dias (2021) encontrou na Serra da Moeda, norte do QF, maiores valores de porosidade para as
variedades estruturadas (entre 20,8% e 24,4%), e menores para as detríticas consolidadas (entre 14,4%
e 17,6%). Para esta autora, as cangas detríticas teriam menor desenvolvimento do espaço poroso por
causa da estratificação paralela à superfície das várias camadas resultantes de episódios de deposição,
em contraste com as cangas estruturadas, que apresentam naquela área foliação com altos mergulhos.
Firmino e Souza (2018) encontrou valores ainda maiores (de 27 a 52%) para as cangas detríticas da
região da Serra do Gandarela, no centro-norte do QF. Todos estes resultados sugerem que a porosidade
aparente é muito dependente da tipologia das cangas e de suas direções de anisotropia mineralógica ou
estrutural (acamamento nas detríticas e foliação nas estruturadas). A gênese e os processos atuais de
cinética muito rápida de dissolução/precipitação do ferro, que são muito influenciados pelos fatores
bioclimáticos e geomorfológicos (Monteiro et al. 2014, Machado 2018, Machado et al. 2021),
certamente interferem na porosidade.
É importante destacar que a porosidade aparente é medida pela eliminação de água sob
aquecimento de amostras saturadas por submersão e não necessariamente apresentará boa correlação
com a porosidade efetiva, que representa a porosidade interconectada que permite fluxo hídrico (Freeze
& Cherry 1979). Isto porque as cangas apresentam normalmente alta densidade de macroporos nas
93
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
amostras ensaiadas e estes não necessariamente se encontram conectados. Contudo, se admitir-se que
há equivalência entre a porosidade aparente e a efetiva, o intervalo de valores encontrados para as cangas
das duas áreas corresponderiam à porosidade de materiais de textura arenosa fina a siltosa grossa (Bear
1972, Freeze & Cherry 1979), ou seja, com valores elevados para estas crostas superficiais, de aparência
maciça. Pelas razões expostas, não se espera boa correlação entre a porosidade aparente e as taxas de
infiltração e, por consequência, com a condutividade hidráulica vertical.
Cabe destacar o valor de TIB mais elevado observado no P6 (1,85x10-5m/s) no setor oeste da área
1 (Figura 5.23), que forneceu o menor valor de porosidade aparente (Tabela 5.2). Essa contradição pode
ser explicada pela presença de muitos macroporos cavitário e poros em canais perpendiculares à
superfície, observados em campo e em lâmina delgada (Figura 6.4), que facilitaram a percolação da
água neste setor onde o teor de ferro é mais elevado.
94
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 6.4 -Inúmeros macroporos na superfície do ponto 6 (Figura 5.23) no trecho oeste da área 1, onde o teor de
ferro e a taxa de infiltração é mais elevada.
É importante ressaltar que todos os dados de porosidade aparente e de Kv obtidos nas duas áreas
se referem a crosta superficial endurecida. Isto porque o objetivo principal deste trabalho era de entender
a infiltração e percolação rasa de água. Ressalta-se também a grande dificuldade de se determinar a taxa
de infiltração pelo horizonte transicional, devido à carência de exposições que possibilitassem a
execução deste ensaio. Contudo, segundo Assis (2018), a percolação de água na área 1 seria mais intensa
no horizonte transicional (fácies fragmentada), onde a porosidade é significativa.
95
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
condutividade hidráulica saturada entre os diversos tipos de canga tanto na área 2 como na Serra da
Moeda, em ambas se verificou um padrão relacionado à estrutura. De fato, quando a foliação das cangas
estruturadas não é paralela à superfície, a condutividade hidráulica é maior, em consequência da maior
porosidade devido à lixiviação preferencial dos minerais mais alteráveis da formação ferrífera (ex.:
quartzo, dolomita), ao longo da foliação. Mesmo as cangas detríticas podem apresentar um
desenvolvimento maior da porosidade ao longo do sutil acamamento paralelo à superfície, fato
destacado por Dias & Bacellar (2021).
A variação da condutividade hidráulica vertical da área 1 foi maior que a obtida na área 2,
especialmente nos ensaios empregando o infiltrômetro de aspersão de Cornell, o que pode estar
relacionado ao marcante controle geoquímico destas cangas, mais aluminosas na área 1, e ferruginosas
na área 2.
Figura 6.5 - Comparação entre as taxas de infiltração obtidas neste estudo, empregando os infiltrômetros de
Cornell e de anéis duplos, com valores fornecidos pela literatura.
96
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Nota-se uma pequena tendência de valores mais baixos com os ensaios com o infiltrômetro de
anéis duplos, o que é inesperado, pois nestes mensura-se a infiltração sob condições inundadas (10 cm
de carga hidráulica). Esta discrepância pode ser explicada pela possível formação de um bolsão de ar
avante da frente de saturação, mais difícil de ocorrer com o infiltrômetro de Cornell, onde nem sempre
se forma lâmina superficial de água. Outra possibilidade é que a correção feita com a equação 4.4 pode
não ter sido suficiente para reduzir o efeito das diferenças de condições de contorno (anel não cravado
e carga hidráulica considerada insignificante) com o ensaio com o infiltrômetro de aspersão de Cornell.
Além disso, ensaios empregando um único anel tendem a ter maior proporção de dispersão lateral de
fluxo, provocando a superestimação dos valores de infiltração (Zhang et al. 2016). O anel externo no
infiltrômetro de anéis duplos minimiza este fluxo lateral, proporcionando, dessa maneira, valores de
taxa de infiltração mais baixos. Portanto, estudos adicionais necessitam ser feitos para se dimensionar
as correções necessárias quando se mensura a taxa de infiltração em meios onde a inserção de anéis é
inviável, como em cangas ou rochas duras (Caputo et al. 2010).
Tanto os ensaios com o infiltrômetro de Cornell como o de anéis duplos, envolvem uma área
com centenas de centímetros quadrados, abarcando não só a matriz das cangas, como também fissuras
e poros de maiores dimensões. Por terem menores áreas de aplicação de cargas e sob diversas cargas de
sucção, os ensaios com o infiltrômetro de mini disco objetivaram justamente dimensionar o fluxo pela
matriz. Pela teoria da capilaridade assumindo-se poros com formatos cilíndricos (Li et al. 2005), as
sucções de – 2 e – 6cm só teriam a capacidade de permitir a infiltração de água para poros com diâmetros
menores que 1,5 e 0,5 mm, respectivamente. A definição de macro e microporos é tema de grande
controvérsia na literatura (Beven & Germann 2013) e há muitas classificações, como a de Luxmoore
(1981) que considera como macroporos aqueles com diâmetro maior que 1mm. Se forem considerados
macroporos aquelas com mais de 0,5 cm de diâmetro ao comparar-se a percentagem da condutividade
hidráulica não saturada com a sucção de -2cm com a de – 6cm, pode-se estimar, de forma aproximada,
o percentual de fluxo por microporos nas cangas. Tomando-se os resultados apresentados no capítulo
anterior, as médias de três ensaios de condutividade hidráulica não saturada para as cangas detríticas da
área 1 foi de 16,43.10-7 m/s e de 1,73. 10-7 m/s para as sucções de, respectivamente, -2 e -6 cm, pode-se
afirmar que aproximadamente 10,5% do fluxo ocorre por poros com diâmetros inferiores a 0,5 cm.
Similarmente, como as médias de condutividade não saturada para as cangas da área 2 foram de
respectivamente de 10,06.10-7 m/s e 1,28.10-7 m/s, o percentual de fluxo por poros com menos de 0,5
cm de diâmetro foi de 12,01%.
Ou seja, a maior parte da infiltração de água pela matriz destas cangas tende a ocorrer pela
macroporosidade. Como comentado previamente, na superfície das cangas esta porosidade nem sempre
é facilmente identificável, pois muitas vezes estes encontram-se parcialmente obscurecidos por detritos.
97
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Comparando os valores de taxa de infiltração obtidos por meio do emprego de três diferentes
tipos de infiltrômetros, Cornell, anéis duplos e disco, e assumindo que eles são aproximadamente
equivalentes à condutividade hidráulica, é possível depreender que há fluxo significativo na canga,
inclusive em sua matriz. O valor obtido por meio da utilização do infiltrômetro de anéis duplos foi seis
vezes menor que o apresentado pelo infiltrômetro de Cornell para a canga detrítica da área 2. Enquanto
na área 1, a condutividade hidráulica média dos ensaios empregando o infiltrômetro de Cornell foi 11
vezes maior que a taxa de infiltração básica utilizando o infiltrômetro de anéis duplos.
Verifica-se que os valores de condutividade hidráulica saturada são em geral elevados para esta
crosta superficial, aparentemente tão compacta, correspondendo a valores encontrados por (Freeze &
Cherry 1979) para os depósitos inconsolidados constituídos por areia siltosa (Figura 6.6), pois
apresentam ordem de grandeza entre 10-5 e 10-7m/s coerentemente com os valores de porosidade
discutido previamente.
Figura 6.6 -Valores de condutividade e permeabilidade hidráulica e a classificação das cangas estudadas.
Modificado de Freeze & Charry (1979).
98
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 6.7 -Classificação da condutividade hidráulica vertical (alta, intermediária e baixa, classificação baseada
na média e desvio padrão) obtidas por meio do emprego do infiltrômetro de Cornell na área 1. Imagem do Google
Satellite da galeria do ArcGis 10.3. Fonte: a autora.
O setor leste área 2, onde situam-se as cangas detríticas inconsolidadas, exibiu maior
concentração de condutividades intermediárias (Figura 6.8). Já a porção oeste, constituída por canga
detrítica consolidada e estruturada, apresentou grandes variações. Porém, mesmo neste setor é possível
fazer algumas interpretações, como as maiores condutividades associadas às cangas estruturadas de
foliação oblíqua, pontos 13 e 17.
99
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 6.8 - Classificação das taxas de infiltração (alta, intermediária e baixa) obtidas por meio do emprego do
infiltrômetro de Cornell na área 2. Imagem de alta resolução (3cm/pixel) obtida por levantamento com drone.
Fonte: a autora.
Na área 2 foi possível identificar nas seções de background que as cangas apresentam níveis de
resistividade uniforme subparalelos à superfície topográfica. Isto pode ser consequência das camadas de
cangas detríticas identificadas no corte de estrada ou desta unidade sobre cangas estruturadas. O
horizonte mais superficial encrostado (crosta) é identificável por resistividades superiores a 10000
Ohm.m até 2 m de profundidade, interrompidas por zonas de menor resistividade, onde possivelmente
há canga mais degradada (horizonte transicional). Nos primeiros decímetros da superfície da crosta a
100
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 6.9 - Seções de background das três linhas (C1, C2 e C3) obtidas por levantamento geofísico na área 2.
101
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Figura 6.10 - Seções de background das três linhas (U1, U2 e U3) obtidas por levantamento geofísico na área 1.
102
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Figura 6.11 - Seções multitemporais (to – background, t1, t2, t3, t4) de levantamento eletrorresistivo na linha
central (U2) da área 1.
No ponto I1 da área 2, a frente de saturação foi mais marcante pois injetou-se maior volume de
traçador. No ponto de injeção I3 verificou-se a conexão da frente de saturação que migra
horizontalmente com a caverna mapeada em profundidades (Figura 6.12). Esta conexão é bem
evidenciada sobretudo no tempo t2, quando a anomalia causada pela caverna se aproxima da frente de
saturação descendente. No instante t4 nota-se uma redução generalizada da resistividade na superfície
causada pela precipitação na noite antecedente. Esta chuva provocou gotejamentos no teto da caverna,
escoamento pelas suas paredes e empoçamento na base comprovando-se a conexão hídrica, também já
identificada por Dutra (2017) na Serra do Gandarela.
Na Serra dos Carajás, norte do Brasil, demonstrou-se a conexão hídrica da superfície das cangas
com cavernas por meio do emprego de traçadores, que após lançados na superfície da canga atingiram
cavernas situadas até a 200m a jusante (Ferreira 2020). Esta autora também confirmou que períodos
chuvosos contribuem para percolação em subsuperfície, além de ativarem rotas de fluxo na zona vadosa
no entorno das cavidades. Nesse trabalho também se comprovou que cavernas mais rasas e menores são
103
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
conectadas por fraturas subverticais situadas nas imediações e que as mais profundas recebem fluxos de
até 200 m de distância.
Figura 6.12 - Seções multitemporais (to – background, t1, t2, t3, t4) de levantamento eletrorresistivo na linha
central (C2) da área 2.
Tanto as análises geofísicas quanto os ensaios de infiltração permitiram comprovar que atributos,
sejam eles geológicos ou biológicos, propiciaram o fluxo subsuperficial da água. Os locais onde foram
identificados, superficialmente, macroporos, fendas, condutos e canais de bioturbação, além de
cavidades, forneceram os valores de infiltração e fluxo mais elevados.
104
CAPÍTULO 7
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Foram selecionadas duas áreas de estudo com ocorrência de cangas em rampas topográficas na
poção sudeste do Quadrilátero Ferrífero (MG), a área 1, município de Ouro Preto, e a área 2, município
de Mariana. Nestas áreas ocorrem os dois tipos mais comuns de cangas do Quadrilátero Ferrífero, a
estruturada (área 2), formada in situ a partir da rocha subjacente (itabiritos da Formação Cauê), e a
detrítica (áreas 1 e 2), de origem colúvio-aluvionar.
Na área 1 o protolito da canga detrítica é ainda motivo de controvérsias, pela falta de afloramentos
da rocha fonte. Contudo, as características químicas, mineralógicas da canga e sua associação com
bauxitas, aponta para uma origem associada a rochas metassedimentares (filitos) da Formação Fecho do
Funil, como defendido em estudos prévios. Nesta área é possível perceber uma tendência de maiores
infiltrações e de maior proporção de macroporos no setor oeste, onde o teor de ferro é mais elevado e
de alumínio mais baixo.
Os dois tipos de canga da área 2 podem ser subdivididos de acordo com algumas de suas
características texturais e estruturais. Essas particularidades são consequência, principalmente, da
distribuição espacial, grau de cimentação e degradação. Nesta área a canga estruturada, de ocorrência
minoritária, é nitidamente mais antiga, formada in situ a partir de saprolito de formações ferríferas,
mantendo a foliação destas. Como a foliação se encontra dobrada, a porosidade e a condutividade
hidráulica variam conforme o ângulo desta com a superfície do terreno. De fato, quanto maior for a
inclinação, maior será a quantidade de poros planares desenvolvidos paralelamente à foliação e as taxas
de infiltração são mais elevadas. Já a canga detrítica consolidada, que ocorre discordantemente sobre a
estruturada, constitui grãos de tamanhos homogêneos e bem cimentados, que minimizam a ocorrência
de poros, dificultando a infiltração. Também foram encontradas cangas detríticas inconsolidadas, mais
friáveis e porosas, que podem representar cangas detríticas consolidadas em processo de degradação ou
cangas mais recentes, resultantes da cimentação de detritos provenientes de montante em processo de
cimentação. A cinética geoquímica rápida do Fe dificulta a distinção destas cangas em campo, pois
dissoluções e reprecipitações do Fe podem variar no tempo e no espaço, causando degradação de cangas
estruturadas (como nas pseudodetríticas) e detríticas consolidadas e consolidação parcial das detríticas
não consolidadas.
Independentemente da tipologia das cangas, como em outras áreas com ocorrência deste material
no Quadrilátero Ferrífero e na Serra de Carajás, há frequentemente um horizonte mais endurecido
superficial (crosta), sobre um horizonte de transição, mais poroso e erodível, onde a carstificação
prevalece. O horizonte transicional protegido pela crosta superficial, pode ter sido desagregado por
condições mais redutoras e acidificadas pela matéria orgânica, que facilitam a lixiviação do ferro.
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Dados desta pesquisa e de trabalhos anteriores indicam que a condutividade hidráulica apresenta
grande variabilidade, de cerca de 2,5 ordens de magnitude, causada por diferenças mineralógicas,
texturais e estruturais das cangas. Constatou-se elevada ocorrência de gibbsita e/ou caulinita,
preenchendo totalmente ou parcialmente os poros das cangas detríticas mais aluminosas do setor leste
da área 1. Com isso, apesar de serem mais porosas que as demais cangas analisadas (especialmente da
área 2), os valores de taxa de infiltração obtidos com ensaios com infiltrômetros, foram menores.
Entretanto, resultados de ensaios laboratoriais e de campo evidenciaram que embora haja esta
diferenciação tipológica das cangas das duas áreas, a porosidade e a condutividade hidráulica da crosta
superficial são em geral altas, equivalente à de sedimentos de textura siltosa a arenosa fina. Até mesmo
a matriz das crostas apresenta fluxo preferencial por macroporos, com diâmetros superiores a 0,5mm.
106
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
107
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT – Associação, Brasileira de Normas Técnicas. 2015. NBR 15.845-2: 2015 Rochas para revestimento – Parte
2: Determinação da densidade aparente, da porosidade aparente e da absorção de água.
Alkmim F. F., Marshak S. 1998. Transamazonian orogeny in the southern São Francisco craton region, Minas
Gerais, Brazil: evidence for Paleoproterozoic collision and collapse in the Quadrilátero Ferrífero.
Precambrian Research, 90: 29-58.
Alkmim F.F., Martins Neto, M. A. 2012. Proterozoic first order sedimentary sequences of the São Francisco craton,
eastern Brazil. Marine and Petroleum Geology, 33:127-139.
Alkmim F.F. 2020. Histórico das investigações estratigráficas, estruturais e geotectônicas do Quadrilátero
Ferrífero. In: Castro, P. T. A., Endo, I., Gandini, A. L. Quadrilátero Ferrífero: avanços do conhecimento
nos últimos 50 anos. Belo Horizonte: 3i Editora, pp. 18-69.
Almeida L. G., Castro P. T., Endo I., Fonseca M. A. 2005. O Grupo Sabará no Sinclinal Dom Bosco, Quadrilátero
Ferrífero: Uma Revisão Estratigráfica. Revista Brasileira de Geociências, 35(2):177-186.
Assis D.A. 2018. Tipologia das couraças do morro do cruzeiro, Quadrilátero Ferrífero, MG. Um estudo
macromorfológico, mineralógico, micromorfológico e geoquímico. Monografia n. 278, Departamento de
Engenharia Geológica, Universidade Federal de Ouro Preto, p. 61.
Augustin C. H. R. R., Lopes M. R. S., Silva S. M. 2013. Lateritas: um conceito ainda em construção. Revista
Brasileira de Geomorfologia, 14:241-257.
Auler A. S., Piló L. B. 2005. Introdução às cavernas em minério de ferro e canga. O Carste, Belo Horizonte, v.
17, n. 3, p. 70-72.
Auler A.S., Piló L.B., Parker C.W., Senko J.M., Sasowsky I.D., Barton H.A. 2014. Hypogene cave patterns in iron
ore caves: convergence of forms or processes? Karst Waters Inst. Spec. Publ. 18 (978), 15–19.
Auler A.S., Parker C.W., Hazel A.B., Soares G.A. 2019. Iron formation caves: Genesis and ecology. In: White,
W.B., Culver, C.D., Pipan, T. (Eds.), Encyclopedia of caves. Elsevier Academic Press, Londres, pp. 559–
566.
Auler A.S.; Barton H.A.; Zambelli B.; Senko J.; Parker C.W.; Sasowsky I.D.; Souza T.A.R.; Pujoni D.; Peñaranda
J.; Davis R. 2022. Silica and Iron Mobilization, Cave Development and Landscape Evolution in Iron
Formations in Brazil. Geomorphology, 398: 108068.
Axelrod J.M., Carron M.K., Milton C., Thayer T.P. 1952. Phosphate mineralization at Bomi Hill and Bambuta,
Liberia. West Africa. J. Mineral. Soc Am. 37 (11–12), 883–909.
Baêta H. E. 2012. Contribuição da deposição úmida (chuva e neblina) nas relações hídricas e nutricionais de
fisionomias de campos ferruginosos na Serra da Brígida, Ouro Preto, MG. Dissertação de mestrado,
Instituto de Ciências Exatas e Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 74 p.
Baeta A., Piló L., 2015. Arqueologia nas cavernas e suportes ferruginosos. In: Ruchkys, O.A., Rasteiro, M.,
Travassos, L.P., Faria, L. (Eds.), Patrimônio Espeleológico em Rochas Ferruginosas: Propostas para sua
conservação no Quadrilátero Ferrífero – Minas Gerais. Sociedade Brasileira de Espeleologia, Belo
Horizonte, pp. 210–239.
Baeta A. M. M., Piló H. M. D., 2020. Testemunhos Pré-Coloniais nos Campos Ferruginosos do Quadrilátero
Ferrífero. In: Castro, P. T. A., Endo, I., Gandini, A. L. Quadrilátero Ferrífero: avanços do conhecimento
nos últimos 50 anos. Belo Horizonte: 3i Editora, pp. 416-439.
Baltazar O. F., Baars F. J., Lobato L. M., Reis L. B., Achtschin A. B., Berni G. V., Silveira V. D. 2005. Mapa
Geológico Mariana na escala 1:50.000 com nota explicativa. In: Projeto Geologia do Quadrilátero
Ferrífero – Integração e Correção Cartográfica em SIG com Nota Explicativa. Belo Horizonte:
CODEMIG.
Barbosa A. L. M. 1968. Contribuições recentes à geologia do Quadrilátero Ferrífero. Universidade Federal de
Ouro Preto, Escola de Minas. 63p.
Barbosa L. H. do C. 2018. Serra do Itacolomi revisitada: estratigrafia, arcabouço estrutural e aplicação de métodos
geofísicos, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. Monografia do Trabalho de Conclusão de Curso,
Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto.
133p.
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Bear J. 1972. Dynamics of Fluids in Porous Media. American Elsevier Publishing Company, New York, 764 p
Beauvais A. 2009. Ferricrete biochemical degradation on the rainforest-savannas boundary of Central African
Republic. Geoderma, v.150, p.379-388
Bertoni J. C., Tucci C. E. M. 2001. Precipitação. In: Carlos E. M. Tucci (2ed.) Hidrologia: ciência e aplicação.
Porto Alegre, Editora da UFRGS, 177-241.
Beven K. & Germann P. 2013. Macropores and water flow in soils revisited, Water Resour. Res., 49, 3071– 3092,
doi:10.1002/wrcr.20156
Bittencourt J.S., Vasconcelos A.G., Carmo F.F., Buchmann F.S. 2015. Registro paleontológico em caverna
desenvolvida em formações ferríferas na Serra do Gandarela (MG), in: Ruchkys, U.A., Travassos, L.E.P.,
Rasteiro, M.A., Faria, L.E. (Eds.). Patrimônio espeleológico em formações ferríferas: Propostas para
sua conservação no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. São Paulo: Sociedade Brasileira de
Espeleologia, Campinas, pp. 192-209.
Bonder B.H. 2008. Curvas de retenção de água de um solo coluvionar de Campinas obtidas mediante técnicas de
laboratório e de campo. Comissão de pós-graduação da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade
Estadual de Campinas, Dissertação de Mestrado, 130p.
Bourman R.P. 1993. Perennial problems in the study of laterite: a review. Aust. J. Earth Sci. 40, 387-401.
https://doi.org/10.1080/08120099308728090.
Bourman R.P., Ollier C.D. 2002. A critique of the Schellmann definition and classification of laterite. Catena. 47
(2), 117–131. https://doi.org/10.1016/S0341- 8162(01)00178-3.
Borges W. R. 2002. Investigações geofísicas na borda da bacia sedimentar de São Paulo, utilizando-se GPR e
eletrorresistividade. Dissertação de Mestrado, Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas, Universidade de São Paulo, São Paulo 126p.
Braga A.C.O. 2006. Métodos Geoelétricos Aplicados nos Estudos de Captação e Contaminação das Águas
Subterrâneas. Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, 79 p.
Brewer R. 1964. Fabric and minerals analysis of soils. Jonh Wiley and Sons, New-York.
Cabral J. J. S. P. 2008. Movimento das águas subterrâneas. In: Feitosa F. A. C., Manoel Filho J., Feitosa E. C.,
Demetrio J. G. A. (3ed). Hidrogeologia: conceitos e aplicações. rev. e ampl. Rio de Janeiro: CPRM, 77-
91.
Caicedo N. L. 2001. Água Subterrânea. In: Carlos E. M. Tucci (2ed.) Hidrologia: ciência e aplicação. Porto
Alegre, Editora da UFRGS, 289-333.
Calle J.A.C. 2000. Análise de Ruptura de Talude em Solo Não Saturado. Escola de Engenharia de São Carlos -
Universidade de São Paulo, São Carlos, Dissertação de Mestrado, 156 pp.
Calux A.S. 2013. Gênese e desenvolvimento de cavidades naturais subterrâneas em formação ferrífera no
Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade
Federal de Minas Gerais, 174p
Calux A.S., Cassimiro R., Salgado A. 2019. Caves in iron formations in the Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais,
southeastern Brazil: lithological, morphological and hydrological settings and speleogenesis. Zeitschrift
fur Geomorphologie, 62(2), 125-144.
Caputo M.C., De Carlo L., Masciopinto C., Nimmo J.R. 2010. Measurement of field-saturated hydraulic
conductivity on fractured rock outcrops near Altamura (Southern Italy) with an adjustable large ring
infiltrometer. Environ. Earth Sci. 60, 583–590.
Carmo F. F., Carmo F. F., Campos I. C., Jacobi C. M. 2012. Cangas: Ilhas de Ferro Estratégicas para a Conservação
no Brasil. Ciência Hoje, 50:49-53.
Castro P. T. A., Endo I., Gandini A. L. 2020. Quadrilátero Ferrífero: avanços do conhecimento nos últimos 50
anos. Belo Horizonte: 3i Editora, 480 p. il.
Castro P. T. A., Varajão A. F. D. C. 2020. O Cenozoico no Quadrilátero Ferrífero. In: Castro, P. T. A., Endo, I.,
Gandini, A. L. Quadrilátero Ferrífero: avanços do conhecimento nos últimos 50 anos. Belo Horizonte: 3i
Editora, pp. 166-193.
110
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Chemale Jr.F. R.C.A., Endo I. 1991. Evolução tectônica do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais: um modelo.
Pesquisas, 18(2):104-127.
Cleary R.W. 2007. Águas Subterrâneas. Clean Environment Brasil, 112p.
Conacher A.J., Oilier C.D., Galloway R.W. 1991. Lateritic duricrust and relief inversion in Australia. Catena (18),
p. 585-588.
Costa M.L. 1990. Lateritos e lateritização. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 36. Natal. Anais... Natal, SBG.
l: 404-421.
Davis E. G., Pinto E. J. A., Pinto M. C. F. 2005 Hidrologia. In: Projeto APA Sul RMBH Estudos do Meio Físico:
área de proteção ambiental da região metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte:
CPRM/SEMAD/CEMIG, v.9.
Dias J.C.S. 2021. Avaliação da dinâmica de infiltração e caracterização das cangas de Capão Xavier,
Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos
Naturais, Departamento de Geologia, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Dissertação de
Mestrado, 131p.
Dias J.C.S., Bacellar L.A.P. 2021. A hydrogeological conceptualmodel for the groundwater dynamics in the
ferricretes of Capão Xavier, Iron Quadrangle, Southeastern Brazil. Catena (207), 105-633p.
Diniz J. M. F. S., Reis A. A., Junior F. W. A., Gomide L. R. 2014. Detecção da expansão da área minerada no
Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, no período de 1985 a 2011 através de técnicas de sensoriamento
remoto. Boletim de Ciências Geodésicas, Curitiba, 20:683-700.
Dixey F. 1920. Notes in lateralization in Sierra Leone. Geol. Mag. 57, 211–220.
Dohnal M., Jaromir D., Tomas V. 2010. Improving hydraulic conductivity estimates from minidisk infiltrometer
measurements for soils with wide pore-size distributions. Soil Science Society of America Journal 74, no.
3:804–811.
Dorr II J. V. N. 1964. Supergene iron ores of Minas Gerais, Brazil. Economic Geology. 59: 1203-1240.
Dorr II J. V. N. 1969. Physiographic, stratigraphic and structural development of the Quadrilátero Ferrífero,
Minas Gerais, Brazil. Washington, United States Government Printing Office. 110p.
Dutra G. 2013. Síntese dos processos de gênese de cavidades em litologias de ferro. In: Anais do 32º Congresso
Brasileiro de Espeleologia Barreiras, Bahia, Sociedade Brasileira de Espeleologia, p. 415-426.
Dutra G. M. 2017. Análise de susceptibilidade de duas cavidades em litologia de ferro na Serra do Gandarela,
MG. Estudo de caso: AP_0009 e AP_0038. Dissertação Mestrado, Escola de Minas, Universidade Federal
de Ouro Preto, 85 p.
Dutra G. M., Corrêa T., Frigo F., Dell’Antonio R., Brandi I. 2020. Avanços da Espeleologia no Quadrilátero
Ferrífero. In: Castro, P. T. A., Endo, I., Gandini, A. L. Quadrilátero Ferrífero: avanços do conhecimento
nos últimos 50 anos. Belo Horizonte: 3i Editora, pp. 216-235.
Elis V. R., Mendonça C. A., Porsani J. L., Strobino E. 2008. O uso de sondagens dipolo-dipolo em estudos
hidrogeológicos e de depósitos de resíduos. Revista Brasileira de Geofísica, Rio de Janeiro, 26:317-325.
Endo I., Galbiatti H.F., Delgado C.E.R., Oliveira M.M.F. de, Zapparoli A. de C., Moura L.G.B. de, Peres G.G.,
Oliveira A.H. de, Zavaglia G., Danderfer Fº A., Gomes C.J.S., Carneiro M.A., Nalini Jr.H.A., Castro P.
de T.A., Suita M.T.de F., Tazava E., Lana C. de C., Martins-Neto M.A., Martins M. de S., Ferreira F
F.A., Franco A.P., Almeida L.G., Rossi D.Q., Angeli G., Madeira T.J.A., Piassa L.R.A., Mariano D.F.,
Carlos D.U. 2019a. Mapa geológico do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, Brasil. Escala 1:150.000.
Ouro Preto, Departamento de Geologia, Escola de Minas – UFOP – Centro de Estudos Avançados do
Quadrilátero Ferrífero: www.qfe2050.ufop.br.
Endo I., Delgado C. E. R., Oliveira M. M. F. de, Zapparoli A. de C., Carlos D. U., Galbiatti H. F., Castro P. de T.
A., Suita M. T. de F., Barbosa M. S. C., Lana C. E., Moura L. G. B. de. 2019b. Estratigrafia e Arcabouço
Estrutural do Quadrilátero Ferrífero: Nota Explicativa do Mapa Geológico do Quadrilátero Ferrífero,
Minas Gerais, Brasil. Escala 1:150.000. Ouro Preto, Departamento de Geologia da Escola de Minas –
UFOP - Centro de Estudos Avançados do Quadrilátero Ferrífero: www.qfe2050.ufop.br.
111
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Endo I., Machado R., Galbiatti H.F., Rossi D.Q., Zapparoli A.C., Delgado C.E.R., Castro P.T.A., Oliveira M.M.F.
2020. Estratigrafia e evolução estrutural do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. In: Castro, P. T. A.,
Endo, I., Gandini, A. L. Quadrilátero Ferrífero: avanços do conhecimento nos últimos 50 anos. Belo
Horizonte: 3i Editora, pp. 70-113.
Fagundes J.R.T. 2010. Estudo integrado das características geológico-geotécnicas com vista à avaliação de
recarga de aquífero: região de São Carlos-SP. Escola de Engenharia da São Carlos, Universidade de São
Paulo, São Carlos, Tese de Doutoramento, 397p.
Fagundes E.A.A., Koetz, M., Rudel, N., Dos Santos, T.S., Porto, R. 2012. Determinação da infiltração e velocidade
de infiltração de água pelo método de infiltrômetro de anel em solo de cerrado no município de
Rondonópolis-MT. BIOSFERA,- Goiânia, v.8, N.14; p.
Farina F., Albert C., Martínez Dopico C., Gil Aguilar C., Moreira H., Hippertt J. P., Cutts K., Alkmim F. F., Lana
C. 2016. The Archean-Paleoproterozoic evolution of the Quadrilátero Ferrífero (Brasil): current models
and open questions. Journal of South American Earth Sciences, 68: 4-21.
Feitosa F.A.C., Manoel Filho J., Feitosa E.C., Demetrio J.G.A. 2008. Hidrogeologia: conceitos e aplicações.
Serviço Geológico do Brasil - CPRM Rio de Janeiro: CPRM: LABHID, 812 p.
Fernandes M.A. 2011. Condutividade hidráulica não saturada de um solo arenoso: aplicação do infiltrômetro de
disco. Escola de Engenharia de São Carlos, Dissertação de Mestrado, 151pp.
Ferreira B.S.C. 2020. Análise crítica da metodologia de traçadores químicos fluorescentes para estudo da
influência hídrica ao entorno de cavidades, estudo de caso Serra Norte, Carajás/PA. Núcleo de
Geotecnia, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Dissertação de Mestrado, 111p.
Figueiredo B. R. 2000. Minérios e Ambiente. Campinas, SP: Editora da Unicamp, (Coleção Livro-Texto).
Firmino e Souza B.E.V. 2018. Caracterização da capacidade de armazenamento e de transmissão de água em
distintos maciços de canga do Quadrilátero Ferrífero (MG). Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Dissertação de Mestrado, 128p.
Frank H.T., Buchmann F.S.C., De Lima L.G., Fornari M., Caron F., Lopes R.P. 2012. Cenozoic vertebrate tunnels
in Southern Brazil. Monografias da Sociedade Brasileira de Paleontologia 2, 141–157.
Frazão E. B. 2002. Tecnologia de Rochas na Construção Civil. Editora ABGE. São Paulo.
Fredlund D.G., Xing A., Huang S. 1994. Predicting the permeability function for unsaturated soils using the soil-
water characteristic curve. Canadian Geotechnical Journal 31(4):533–546. http://10.0.4.115/t94-062
Freeze R. A., Cherry J. A. 1979. Groundwater. Nova Jersey, Prentice-Hall. 604p.
Freitas S. M. A. C. 2010. Aplicação e técnicas de quantificação da infiltração e da recarga de aquíferos do Alto
Rio das Velhas (MG). Departamento de Geologia, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto,
Dissertação de Mestrado, 139p.
Freitas F. M., Pinheiro M. A. P., Magalhães J. R., Endo I., Novo T. A. Catarina Mendes Formation: a new Rhyacian
basin of the southern Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, Brazil. (em prep.);
Freitas F. M., Pinheiro M. A. P., Novo T. A., Magalhães J. R., Marinho M. de S. 2019. U-Pb ages for
metasedimentary rocks of the Catarina Mendes Formation, Quadrilátero Ferrífero. Anais do 4º Simpósio
do Cráton do São Francisco. Aracaju.
Freitas F. M. 2019. Geocronologia U-Pb em zircões detríticos e caracterização litoestratigráfica das rochas
metassedimentares da unidade Catarina Mendes: implicações quanto à evolução geotectônica do
Quadrilátero Ferrífero. Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas
Gerais. 83p.
Freitas W.B., Silveira L.J., Spletozer A.G., Barbosa R.A. 2021. Influência do uso e manejo do solo na infiltração
de água: uma revisão. In: Meio ambiente: Gestão, preservação e desenvolvimento sustentável, Vol. 3,
Editora e-Publicar, pp.417-434.
GEOTOMO Software., 2019. Res2Dinvx64 – 2D resistivity & IP inversion software for Windows
XP/Vista/7/8/10. https://www.geotomosoft.com/downloads.php (accessed 12 March 2022).
Goes H., Ribeiro R. S., Lana J.C., Montandon L., Menezes Í., Lopes N., Araújo R. S. 2016. Ação emergencial
para reconhecimento de áreas de alto e muito alto risco a movimentos de massa e enchentes: Ouro Preto,
MG. CPRM, 59p.
112
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Gonçalves D.F., De Paula R.G., Barbosa M.R., Teles C., Maurity C.W., Macambira J.B. 2016. Lateritic terrains
and the evolution of pseudokarstic features – case study in the iron ore mine N4E, Carajás region – Pará,
Brasil. 24th World Mining Congress, Rio de Janeiro, Brasil, pp. 242-251.
Gonçalves D.F. 2019. Caracterização geológico-geotécnica em perfis lateríticos associados a cavidades da região
de Carajás. Instituto Tecnológico Vale, Parauapebas, Dissertação de mestrado, p. 136p.
Gonçalves J.A.C., Pereira P.H.R., Vieira E.M. 2018. Sistemas aquíferos: Hidrogeologia da porção nordeste do
Quadrilátero Ferrífero na região de Itabira (MG). Proceedings XX Congresso Brasileiro de Águas
Subterrâneas. https://aguassubterraneas.abas.org/asubterraneas/article/view/2934
Goudie A. 1973. Duricrusts in Tropical and Subtropical Landscapes. Clarendon Press, Oxford.
Grimes K., Spate A. 2008. Laterite Karst. Ackma J. 73, 49–52.
Healy R.W. 2010. Estimating Groundwater Recharge. Nova York, Cambridge University Press. 237p.
Hidrovia. 2017. Ensaios de infiltração na zona não saturada do aquífero e caracterização de nascentes. Hidrovia
Hidrogeologia e Meio Ambiente, Belo Horizonte, Relatório interno-Vale, 30p.
Hillel D. 1980 Application of soil physics. Academic Press. New York.
ICMBio - Instituto Chico Mendes da Biodiversidade. 2010. Proposta de Criação do Parque Nacional da Serra do
Gandarela. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/o-que
fazemos/PARQUE_GANDARELA_proposta_ICMBio.pdf. Acessado em 15 jul. 2020.
Jacobi C. M., Carmo F.F. 2008. Estudo fitossociológico de uma comunidade vegetal sobre canga como subsídio
para a reabilitação de áreas mineradas no quadrilátero ferrífero, MG. Revista Árvore, 32:345-353.
Jacobi C. M., Carmo F. F. 2012. Diversidade florística nas cangas do Quadrilátero Ferrífero. Belo Horizonte:
Código Editora.
Karmann I., Sanchez L.E. 1979. Distribuição das rochas carbonáticas e províncias espeleológicas do Brasil.
Espeleotema. Sociedade Brasileira de Espeleologia, 13:105-67.
Kearey P., Brooks M., Hill I. 2002. An introduction to geophysical exploration. Blackwell Sci, Oxford.
Lazarim H. A., Loureiro C. O. 2000. Modelagem hidrogeológica computacional do Sistema de fluxo de águas
subterrâneas no bairro Jardim Canadá – Quadrilátero Ferrífero, Nova Lima, MG. In: Anais Congresso
Mundial Integrado de Águas Subterrâneas. 1, Fortaleza, ABAS.
Leonardi F. A. 2014. O mapeamento, caracterização e datação de perfis lateríticos para a identificação e
correlação de superfícies geomórficas: estudo de caso do Quadrilátero Ferrífero. Tese de doutorado,
Instituto de Geociências, UNICAMP, 236p.
Lerner D., Issar A., Simmers I. 1990. Groundwaterrecharge. A guide to understanding and estimating natural
recharge. International Association of Hydrologists. Vol. 8. Heise. Hannover, 345p.Levett, A., Gagen, E.,
Shuster, J., Rintoul, L., Tobin, M., Vongsvivut, J., Bambery, K., Vasconcelos, P., Southam, G., 2016.
Evidence of biogeochemical processes in iron duricrust formation. J. S. Am. Earth. Sci. 71, 131–142.
https://doi.org/10.1016/j.jsames.2016.06.016.
Licht O. A. B., Mello C. S. B., Silva C. R. 2007. Prospecção Geoquímica Depósitos Minerais Metálicos, Não-
Metálicos, Óleo e Gás, CPRM, 788p.
Lippmann E. 2008. 4 Point light 10W, earth resistivity meter - Operating instructions, software version 4.72.
https://www.l-gm.de/documents/4pointlight10W_en.pdf (accessed 23 June 2021lli).
Li X.Y., González A., Solé-Benet A. 2005. Laboratory methods for the estimation of infiltration rate of soil crusts
in the Tabernas Desert badlands Catena, 60, pp. 255-266
Luxmoore R.J. 1981. Micro-, meso- and macroporosity of soil. Soil Sci. Soc. Am. J. 45, 671–672.
Machado N., Noce C. M., Feng. R. 1993. Idades Pb 207/Pb206 de zircões detríticos de rochas meta-sedimentares
da região do Quadrilátero Ferrífero, sul do Cráton do São Francisco. Considerações sobre as áreas fontes
e idades de sedimentação. In: Anais II Simpósio de Geologia do Cráton do São Francisco, Salvador. Soc.
Bras. Geol., Núcleo Bahia, Sergipe. pp. 149-151.
113
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Machado N., Schrank A., Noce C. M., Gauthier G. 1996. Ages of detrital zircon from Archean-Paleoproterozoic
sequences Implications for Greenstone Belt setting and evolution of a Transamazonian foreland basin in
Quadrilátero Ferrífero, southeast Brazil. Earth Planet. Sci. Lett. 141:259-276.
Machado N.A.M. 2011. Metodologias alternativas para facilitação da restauração de áreas de canga degradadas
pela extração de bauxita. Dissertação de Mestrado, Departamento de Geologia, Universidade Federal de
Ouro Preto, 68p.
Machado H.A. 2018. Couraças ferruginosas e solos associados em diferentes ambientes do Quadrilátero
Ferrífero, Minas Gerais, Brasil. Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de
Minas Gerais. Tese de Doutorado, Belo Horizonte, p. 170p.
Machado H.A., Oliveira F.S., Oliveira C.V., 2021. Genesis and Landscape Insertion Of The Ferruginous Duricrust
(Canga) At Pedra Rachada Massif, Quadrilátero Ferrífero, Mg. Revista Brasileira de Geomorfologia. V.
22, nº 1. http://dx.doi.org/10.20502/rbg.v22i1.1933
Martins F. P., dos Santos E. L. 2017. Taxa de infiltração da água e a resistência do solo a penetração sob sistemas
de uso e manejo. Acta Iguazu, 6(4), 28-40.
Maurity C.W., Kotschoubey B., 1995. Evolução recente da cobertura de alteração no platô NI – Serra dos Carajás
– PA. Bol. Mus. Paraense Emílio Goeldi, série Ciências da Terra, Belém, pp. 331–362.
Maurity C.; Kotschoubey B. 2001. Pseudokarst features in the lateritic cover of Serra dos Carajás – Pará State,
Brazil. In: Anais… International Congress of Speleology, 13., Speleological Congress of Latin América
and Caribbean, 4., Brazilian Congress of Speleology, 26. Brasília, pp. 389-411.
Maxwell C. H. 1972. Geology and ore deposits of the Alegria district, Brazil. Washington, USGS/DNPM.
Professional Paper 341J. 72 p.
Medina A. I. M., Dantas M. E., Saadi A. 2005. Geomorfologia. In: Projeto Apa Sul RMBH Estudos do Meio Físico:
área de proteção ambiental sul da região metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte,
CPRM/SEMAD, 45p.
Messias M. C. T. B., Carmo F. F. 2015. Flora e vegetação em substratos ferruginosos do sudeste do quadrilátero
ferrífero. In: Carmo F. F. and Kamino L. H. Y. (3ed). Geossistemas Ferruginosos do Brasil: Áreas
Prioritárias para a Conservação da Diversidade Geológica e Biológica, Patrimônio Cultural e Serviços
Ambientais. Editora, Belo Horizonte, 335-360.
Messias M. C. T. B., Leite M. G. P., Meira-Neto J. A. A., Kozovits A. R. 2012. Fitossociologia de campos rupestres
quartzíticos e ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. Acta Botanica Brasilica, 26:230-242.
METER Group. 2021. Mini disk infiltometer. Disponível em: metergroup.com.
Monteiro H. S., Vasconcelos P. M., Farley K. A., Spier C. A., Mello C. L. 2014. (U-Th)/He geochronology of
goethite and the origin and evolution of cangas. Geochimica et Cosmochimica Acta. 131: 267-289.
Mourão M. A. A. 2007. Caracterização hidrogeológica do Aquífero Cauê, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais.
PhD These, Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, 297 p.
Nahon D. B. 1986. Evolution of iron crusts in tropical landscapes. In: Colman SM, Dethier DP (eds) Rates of
chemical weathering of rocks and minerals. Academic Press, Orlando, p 603.
Nahon D., Tardy Y., 1992. The ferruginous laterites. In: Butt, C.R.M., Zeegers, H. (Eds.), Volume 4: regolith
exploration geochemistry in tropical and subtropical terrains. Elsevier Sci. Publ, B.V., Amsterdam, pp.
41–55.
Nola I.T.S., Bacellar L.A.P. 2021. Multi-criteria analysis for mapping susceptibility to iron formation caves
development in the Gandarela mountain range (MG), southeast Brazil. International Journal of
Speleology. 50(2).
Ollier C.D., Galloway R.W. 1990. The laterite profile, ferricrete and unconformity. Catena. 17 (2), 97–109.
https://doi.org/10.1016/0341-8162(90)90001-T.
Parker C.W., Wolf J.A., Auler A.S., Barton H.A., Senko J.M., 2013. Microbial reducibility of Fe (III) phases
associated with the genesis of iron ore caves in the Iron Quadrangle, Minas Gerais, Brazil. Miner. 3, 395-
411. http:// doi.org/10.3390/min3040395.
114
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Pereira M. C., Souza T. A. R. 2009. A ocorrência de cavernas em minério de ferro e canga: A Evolução dos
Estudos Geoespeleológicos no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. In: Anais do XIII Simpósio
Brasileiro de Geografia Física Aplicada, Viçosa, Universidade Federal de Viçosa.
Pereira M. C., Stávale Y. O., Salgado A. A. R. 2012. Estudo da gênese das cavidades e depressões em minério de
ferro - Quadrilátero Ferrífero/MG: Serras do Rola Moça e do Gandarela. Rev. Bras. Geomorfol. 13 (3)
https://doi.org/10.20502/rbg.v13i3.173.
Philip J. R. 1957. The teory of infiltration. Soil Science 83, 345-357. http://dx.doi.org/10.1097/00010694-
195705000-00002.
Piló L. B., Auler A. 2009. Geoespeleologia das cavidades em rochas ferríferas da região de Carajás, PA. In: Anais
Congresso Brasileiro de Espeleologia, 30, Montes Claros: SBE, 181-186.
Piló L.B., Coelho A., Reino J.C.R. 2015. Geoespeleologia em rochas ferríferas: cenário atual e conservação, In:
Kamino, L.H.Y., Carmo, F.F., Kamino, L.H.Y (Eds.) Geossistemas ferruginosos do Brasil: áreas
prioritárias para conservação da diversidade geológica e biológica, patrimônio cultural e serviços
ambientais. 3iEditora, Belo Horizonte, 125-148.
Pipan T., Culver D.C. 2019. Shallow subterranean habitats. In: White, W.B., Culver, C. D., Pipan, T. (Eds.),
Encyclopedia of caves. Elsevier Academic Press, Londres, pp. 896–908.
Ramos M. L. S., Cordeiro V. F., Fernandes R. A. 2020. Histórico e Arcabouço Hidrogeológico do Quadrilátero
Ferrífero. In: Castro P. T. A., Endo I., Gandini, A. L. Quadrilátero Ferrífero: avanços do conhecimento
nos últimos 50 anos. Belo Horizonte: 3i Editora, pp. 380-415.
Rebouças A.C. 2002. Águas subterrâneas. In: Rebouças A. C., Braga B., Tundisi J.G. (Org.) Águas Doces no
Brasil: capital ecológico, uso e conservação. São Paulo. Escrituras, p.:433-460.
Renger F. E., Noce C. M., Romano A. W., Machado N. 1994. Evolução sedimentar do Supergrupo Minas: 500
m.a. de registro geológico no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, Brasil. Geonomos, 2: 1–11.
Reynolds W.D., Elrick D.E. 1990. Ponded infiltration from a single ring: I. Analysis of steady flow. Soil Sci. Soc.
Am. J. 54: 1233–1241.Ramos, M. L. S., Cordeiro, V. F., Fernandes, R. A. 2020. Histórico e Arcabouço
Hidrogeológico do Quadrilátero Ferrífero. In: Castro, P. T. A., Endo, I., Gandini, A. L. Quadrilátero
Ferrífero: avanços do conhecimento nos últimos 50 anos. Belo Horizonte: 3i Editora, pp. 380-415.
Reynolds W.D. 2008a. Saturated Hydraulic Properties: Ring Infiltrometer 1043. In: M.R. Carter, M. R. &
Gregorich, E.V. Soil Sampling and Methods of Analysis. 2nd Ed. Canadian Society of Soil Science. 1043-
1056
Reynolds W.D. 2008b. Unsaturated Hydraulic Properties: Field Tension Infiltrometer. In: M.R. Carter, M. R. &
Gregorich, E.V. Soil Sampling and Methods of Analysis. 2nd Ed. Canadian Society of Soil Science. 1107-
1129
Rossi D.Q. 2014. Estratigrafia e arcabouço estrutural da região de Fábrica Nova, Quadrilátero Ferrífero, MG.
Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, 104 p.
Roeser H. M. P., Roeser P. A. 2010. O Quadrilátero Ferrífero – MG, Brasil: Aspectos sobre sua história, seus
recursos minerais e problemas ambientais relacionados. Geonomos, 18(1):33-37.
Salles L. E. O., Ferreira M. M., Oliveira M. S., Curi N. 1999. Estimativa da velocidade de infiltração básica do
solo. Pesq. Agropec. Bras., Brasília, 34:2091-2095.
Santi A. L., Amado T. J. C., Silva V. R., Basso C. J., Della Flora L. P., Cherubin M. R., Eitelwein M. T. 2012.
Infiltração de água no solo, determinada por diferentes métodos, como indicador do potencial produtivo
em dois Latossolos manejados com agricultura de precisão. Interciencia, Caracas, 37:2004-2008.
Schaefer C.E.G.R.; Dias J.R.; Mata L.C.; Michel R.F., Oliveira A.C. 2004a. Análise Espacial do Regime Hídrico
dos Solos e da Bacia da Mutuca, após Instalação da Cava da Mina de Capão Xavier - Nova Lima - MG.
In: XV Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Água, Santa Maria – RS.
Schaefer C.E.G.R., Mendonça B.A.F., Ribeiro A.S. 2008b. Solos desenvolvidos sobre canga ferruginosa no
Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. In: Jacobi, C.M. Simpósio Afloramentos Ferruginosos no
115
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
116
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Teixeira W.G., Behring S.B. 2017. Retenção de água no solo pelos métodos da mesa de tensão e da câmara de
Richards. In: Teixeira P.C., Donagemma G.K., Fontana A., Teixeira W.G. (Ed.). Manual de métodos de
análise de solo. 3.ed. rev. e ampl. Brasília, DF: Embrapa, 2017. pt.1, cap.4, p. 34-46.
Telford W. M., Geldart L. P., Sheriff L. E. 1990. Applied Geophysics. Nova York, Cambridge University Press.
770p.
Thomas M. F. 1979. Tropical geomorphology: a study of weathering and landform development in warm climates.
Macmillan, London, 329 p.
Tyndall J. A.; Kunkel J. R. 1999. Unsaturated soil hydrology for Scientists and Engineers. Prentice Hall.
Twidale C.R. 1987. Sinkholes (dolines) in lateritised sediments, western Sturt plateau, Northern territory. Aust.
Geomorphol. (1), 33–52. https://doi.org/10.1016/0169-555X(87)90005-5.
UNAMA – Universidade da Amazônia. 2009. Apostila de Hidrologia aplicada. Belém.
Van Es H., Schindelbeck R. 2015. Field Procedures and Data Analysis for the Cornell Sprinkle Infiltrometer.
Disponível em: https://cpb-us-e1.wpmucdn.com/blogs.cornell.edu/dist/f/5772/files/2015/11/Cornell-
Sprinkle-Infiltrometer-manual-1xf0snz.pdf. Acessado em 05 jul 2020.
Varajão C.A.C. 1988. Estudo Comparativo das Jazidas de Bauxita do Quadrilátero Ferrífero, MG -
Micromorfologia, Geoquímica, Geomorfologia e Sensoriamento Remoto. MS Dissertation, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 213 p.
Varajão C.A.C. 1991. Questão da correlação das superficies de erosão do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais.
Revista Brasileira de Geociências, 21(2): 138-145.
Varajão C.A.C., Varajão A.F.D.C. 2020. Bauxitas do Quadrilátero Ferrífero. In: Castro P.T.A., Endo I., Gandini
A.L. (Eds.), Quadrilátero Ferrífero: avanços do conhecimento nos últimos 50 anos. Belo Horizonte: 3i
Editora, pp. 380-415.
Whitney D. L. & Evans B. W. 2010. Abbreviations for names of rock-forming minerals. American Mineralogist,
95: 185-187.
Widdowson M. 2007. Laterite and ferricrete. In: Nash, D.J., McLaren, S.J. (Eds.), Geochemical sediments and
landscapes. Blackwell Publishing, Oxford, pp. 46–94.
Zhang Renduo. 1997. Determination of soil sorptivity and hydraulic conductivity from the disk infiltrometer. Soil
Science Society of America Journal 61, no. 4:1024–1030.
Zhang J., Lei, T.W., Chen, T.Q. 2016. Impact of preferential and lateral flows of water on single-ring measured
infiltration process and its analysis Soil Sci. Soc. Am. J., 80, pp. 859-869
Zwirtes A. L., Spohr R. B., Baronio C. A., Menegol D. R., Da Rosa G. M., De Moraes M. T. 2013. Utilização do
infiltrômetro de Cornell e dos anéis concêntricos para determinação da infiltração de água em um
latossolo vermelho. Semina Ciências Agrárias, 1(34):3489-3499.Alkmim F.F., Martins Neto, M. A. 2012.
Proterozoic first order sedimentary sequences of the São Francisco craton, eastern Brazil. Marine and
Petroleum Geology, 33:127-139.
117
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
118
Adendo
Precipitação acumulada mensal da cidade de Ouro Preto, estação pluviométrica da Bauxita. Fonte: Cemaden
(2022)
Precipitação acumulada mensal da cidade de Mariana, estação pluviométrica de Vila Maquiné. Fonte: Cemaden
(2022)
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
120
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Modelos tridimensionais de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos realizados em diferentes
intervalos de tempo na área 1.
121
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Modelos tridimensionais de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos realizados em diferentes
intervalos de tempo na área 2.
122
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento de background nas linhas U1
(esquerda), U2 (central) e U3 (direita), na área 1.
123
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento quando houve injeção de traçador
salino nas linhas U1 (esquerda), U2 (central) e U3 (direita), na área 1.
124
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 1h após injeção de traçador salino nas
linhas U1 (esquerda), U2 (central) e U3 (direita), na área 1.
125
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 4h após injeção de traçador salino nas
linhas U1 (esquerda), U2 (central) e U3 (direita), na área 1.
126
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 2 dias após injeção de traçador salino
nas linhas U1 (esquerda), U2 (central) e U3 (direita), na área 1.
127
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento de background nas linhas C1
(esquerda), C2 (central) e C3 (direita), na área 2.
128
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento quando houve injeção de traçador
salino nas linhas C1 (esquerda), C2 (central) e C3 (direita), na área 2.
129
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 1h após injeção de traçador salino nas
linhas C1 (esquerda), C2 (central) e C3 (direita), na área 2.
130
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.
Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 4h após injeção de traçador salino nas
linhas C1 (esquerda), C2 (central) e C3 (direita), na área 2.
131
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...
Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 2 dias após injeção de traçador salino
nas linhas C1 (esquerda), C2 (central) e C3 (direita), na área 2.
132