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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE MINAS

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EVOLUÇÃO CRUSTAL


E RECURSOS NATURAIS

Geologia Ambiental e Conservação de Recursos Naturais

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Análise da Dinâmica Hidrogeológica de Diversas Tipologias de


Canga do sudeste do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais

por

Nilciléia Cristina de Magalhães Oliveira


Orientador: Luis de Almeida Prado Bacellar

Ouro Preto, novembro 2022


ANÁLISE DA DINÂMICA HIDROGEOLÓGICA DE DIVERSAS

TIPOLOGIAS DE CANGA DO SUDESTE DO QUADRILÁTERO

FERRÍFERO, MINAS GERAIS

i
ii
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Reitora
Cláudia Aparecida Marliére de Lima
Vice-Reitor
Hermínio Arias Nalini Júnior
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação
Renata Guerra de Sá Cota

ESCOLA DE MINAS
Diretor
José Alberto Naves Cocota Junior
Vice-Diretor
Cláudio Eduardo Lana

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
Chefe
Edson Tazava

iii
EVOLUÇÃO CRUSTAL E RECURSOS NATURAIS

iv
CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA – VOL. 82

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Nº 442

ANÁLISE DA DINÂMICA HIDROGEOLÓGICA DE DIVERSAS

TIPOLOGIAS DE CANGA DO SUDESTE DO QUADRILÁTERO

FERRÍFERO, MINAS GERAIS

Nilciléia Cristina de Magalhães Oliveira

Orientador

Luis de Almeida Prado Bacellar

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos


Naturais do Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto
como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Ciência Naturais, Área de Concentração:
Geologia Ambiental e Conservação de Recursos Naturais

OURO PRETO

2022
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SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO

O482a Oliveira, Nilcileia Cristina de Magalhães.


OliAnálise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do
sudeste do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. [manuscrito] / Nilcileia
Cristina de Magalhães Oliveira. - 2022.
Oli132 f.: il.: color., gráf., tab., mapa.

OliOrientador: Prof. Dr. Luis de Almeida Prado Bacellar.


OliDissertação (Mestrado Acadêmico). Universidade Federal de Ouro
Preto. Departamento de Geologia. Programa de Pós-Graduação em
Evolução Crustal e Recursos Naturais.
OliÁrea de Concentração: Geologia Ambiental e Conservação de Recursos
Naturais – Garn.

Oli1. Recursos hídricos. 2. Geofísica - Eletrorresistividade. 3. Cangas -


Cavidades. 4. Infiltração. I. Bacellar, Luis de Almeida Prado. II.
Universidade Federal de Ouro Preto. III. Título.

CDU 550.8:556.3

Bibliotecário(a) Responsável: Sione Galvão Rodrigues - CRB6 / 2526


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
REITORIA
ESCOLA DE MINAS
COORDENACAO DO PROGRAMA DE POS-GRADUACAO
EM EVOLUCAO CRUSTAL

FOLHA DE APROVAÇÃO

Nilciléia Cristina de Magalhães Oliveira

Análise da Dinâmica Hidrogeológica de Diversas Tipologias de Canga do sudeste do Quadrilátero


Ferrífero, Minas Gerais.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais da Universidade


Federal
de Ouro Preto como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Ciências Naturais.

Aprovada em 30 de novembro de 2022.

Membros da banca

Prof. Dr. Luis de Almeida Prado Bacellar - Universidade Federal de Ouro Preto
Prof. Dr. Lucas Pereira Leão - Universidade Federal de Ouro Preto
Prof.ª Dr.ª Cibele Clauver de Aguiar- Universidade Federal de Viçosa

O Prof. Dr. Luis de Almeida Prado Bacellar, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito
no Repositório Institucional da UFOP em 16/02/2023.

Documento assinado eletronicamente por Isaac Daniel Rudnitzki, COORDENADOR(A) DE CURSO DE


PÓS-GRADUAÇÃO EM EVOLUÇÃO CRUSTAL E RECURSOS NATURAIS, em 02/03/2023, às 12:31,
conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de
outubro de 2015.

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R. Diogo de Vasconcelos, 122, - Bairro Pilar Ouro Preto/MG, CEP 35402-163


Telefone: (31)3559-1605 - www.ufop.br
“Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com
você por onde você andar." Josué (1): 9

Dedico esta dissertação aos meus pais, José Maria e Teresinha, presença de Deus aqui na Terra, por
acreditarem em mim e me incentivarem a nunca desistir dos meus objetivos. Mesmo quando o chão
parecia sumir sob meus pés, vocês estavam ao meu lado, me motivando a continuar. Esta conquista é
nossa!

viii
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus, por me permitir conquistar mais este objetivo e por me sustentar
durante esta jornada. Aos meus pais, Teresinha e José Maria, por sempre apoiarem as minhas decisões
e me incentivarem a seguir em frente. Não seria possível alcançar estes resultados sem a companhia e
incentivo do meu pai durante os primeiros campos, além do empréstimo do seu carro, companhia diária
no percurso Lafaiete/Ouro Preto/Mariana. Ao amparo da minha mãe durante as madrugadas enquanto
eu redigia esta dissertação. Vocês são meu porto seguro!

À minha prima Débora, meus avós, meu namorado Igor e minha amiga Karina, por serem colo, carinho
e minhas fontes de força. Aos amigos da geo, Rafael, Vanessa, Mikha, Bia, Galdino e Pâmela, gratidão.
Sou imensamente grata à Giovanna, sua mãe Sandra e seu irmão Marcos, por sempre me acolherem em
sua casa com tanto carinho e amor após os exaustivos dias de trabalho, minha segunda família.

Ao meu companheiro de campo e laboratório, Álvaro, por tornar os dias mais leves e animados. Além
de ser meu auxílio na pulverização de amostras, transporte dos pesados litros de água e instrumentos
para os ensaios. Você foi, sem dúvidas, uma pessoa fundamental no decorrer desta caminhada.

À Jordania, por todas as contribuições, à quem eu sempre recorria nos momentos de dúvida e
preocupações. Aprendi muito com você! Sou grata por todo conhecimento compartilhado. Você é luz!

Ao Luiz Henrique, agradeço por me auxiliar em vários campos, especialmente, na definição das áreas
de estudo e nos levantamentos geofísicos. Por se abdicar de alguns finais de semana e horários de folga
para me acompanhar, tirar dúvidas e orientar.

Agradeço ao meu orientador, Luis Bacellar, pela disposição em me orientar, incentivar e aconselhar,
além da sua contribuição para o desenvolvimento de um bom trabalho.

Agradeço aos laboratórios de Hidrogeotecnia – NUGEO; Ferrovias e Asfalto – DECIV; Laminação –


DEGEO; Microscopia da Pós-Graduação – DEGEO e Difração de Raios X – DEGEO, pertencentes à
UFOP, e ao Laboratório de Mineralogia do Solo - Departamento de Solos da UFV, que possibilitaram
o desenvolvimento das análises. Ao Sereno, pelo apoio na confecção das lâminas, que não foi fácil,
apesar da escassez de insumos, se esforçou e conseguiu me entregar o melhor resultado possível.
Agradeço à Gabriela o auxílio na pulverização de amostras e confecção dos difratogramas. Aos
professores, Tazava e Ramon, por me ajudarem com a análise microscópica. À Daiana, Gláucia, Gustavo
e Isaac, pela empatia e dedicação para o bom desenvolvimento da pós-graduação do DEGEO -UFOP.

À VALE S.A, agradeço o incentivo à pesquisa científica e subsídio financeiro concedido a este projeto.
À FUNDEP, por gerenciar os recursos financeiros deste projeto. À CAPES - Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela concessão de bolsa. À UFOP, por ter me
proporcionado um ensino público de excelente qualidade.

ix
x
Sumário
AGRADECIMENTOS ..........................................................................................................................ix
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................ xiii
LISTA DE TABELAS ....................................................................................................................... xvii
RESUMO..............................................................................................................................................xix
ABSTRACT..........................................................................................................................................xxi
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1
1.1 Apresentação .................................................................................................................................... 1
1.2 Objetivos e metas.............................................................................................................................. 3
1.3 Localização das áreas de estudo ....................................................................................................... 3
CAPÍTULO 2. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS E GEOLOGIA REGIONAL .................. 5
2.1 Clima ................................................................................................................................................ 5
2.2 Vegetação ......................................................................................................................................... 5
2.3 Geomorfologia.................................................................................................................................. 6
2.4 Geologia regional ............................................................................................................................. 6
2.5 Geologia local................................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 3. ESTADO DA ARTE ..................................................................................... 13
3.1 Ciclo hidrológico ............................................................................................................................ 13
3.2 Fluxo de água subterrânea .............................................................................................................. 14
3.2.1 Infiltração e recarga ...................................................................................................... 16
3.3 Aquíferos ........................................................................................................................................ 21
3.3.1 Propriedades físicas dos aquíferos................................................................................ 22
3.4 Balanço hídrico............................................................................................................................... 23
3.5 Monitoramento da saturaçâo da canga por eletroresistividade ....................................................... 24
3.6 Cangas ............................................................................................................................................ 26
3.6.1 Gênese e caracterização física das cangas .................................................................... 28
3.6.2 Cavidades em cangas .................................................................................................... 29
3.6.3 Caracterização hídrica das cangas ................................................................................ 31
CAPÍTULO 4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 35
4.1 Levantamento bibliográfico e compilação de dados ...................................................................... 35
4.2 Seleção das áreas de estudo ............................................................................................................ 35
4.3 Caracterização das cangas .............................................................................................................. 36
4.1.1 Ensaios laboratoriais ..................................................................................................... 36

xi
4.4 Caracterização das rotas de fluxo .................................................................................................. 39
4.1.2 Ensaios de infiltração ................................................................................................... 39
4.1.3 Levantamento eletrorresistivo...................................................................................... 43
CAPÍTULO 5. RESULTADOS..............................................................................................45
5.1 Contextualização geomorfológica ................................................................................................. 45
5.2 Cavidades ....................................................................................................................................... 47
5.3 Vegetação ...................................................................................................................................... 49
5.4 Propriedades fisicoquímicas das cangas ........................................................................................ 51
5.4.1 Coleta de amostras ....................................................................................................... 51
5.4.2 Tipologias .................................................................................................................... 53
5.4.3 Composição química.................................................................................................... 55
5.4.4 Composição mineralógica............................................................................................ 57
5.4.5 Análise Microscópica .................................................................................................. 58
5.4.6 Porosidade aparente ..................................................................................................... 64
5.5 Infiltração e fluxo de água nas cangas ........................................................................................... 65
5.5.1 Infiltrômetro de aspersão de Cornell............................................................................ 67
5.5.2 Infiltrômetro de anéis duplos ....................................................................................... 72
5.5.3 Infiltrômetro de mini disco .......................................................................................... 74
5.5.4 Levantamento de Eletrorresistividade.......................................................................... 75
CAPÍTULO 6. DISCUSSÕES ................................................................................................89
6.1 Características das cangas das duas áreas ...................................................................................... 89
6.2 Porosidade e condutividade hidráulica .......................................................................................... 92
6.3 Percolação de água ...................................................................................................................... 100
CAPÍTULO 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................105
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................109
Adendo ...................................................................................................................................119

xii
Lista de figuras
Figura 1.1- Localização das áreas de estudo e o posicionamento em relação ao Quadrilátero Ferrífero;
A) Setor nordeste do Campus Morro do Cruzeiro – UFOP (área 1); ................................. 4
Figura 2.1- Porção superior da coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero. Modificado de: Endo et
al. (2019b). .......................................................................................................................... 9
Figura 2.2- Perfil evidenciando as duas fácies presentes na área 1: fragmentada na base e canga no topo.
Fonte: Assis (2018). .......................................................................................................... 10
Figura 2.3- Mapa geológico da região de estudo na escala 1:50.000. Modificado de Baltazar et al. (2005)
com base hidrográfica do IGAM (Sisema 2019). ............................................................. 11
Figura 2.4- Seção geológica esquemática das litologias presentes na área de estudo. Sua localização
está representada na figura 2.3. Fonte: Goes et al. (2016)................................................ 11
Figura 3.1- Curvas características relacionando condutividade hidráulica e teor de umidade a carga de
pressão para um solo arenoso.. ......................................................................................... 15
Figura 3.2- Modelo esquemático do infiltrômetro de Cornell. Modificado de Van Es & Schindelbeck
(2015)................................................................................................................................ 18
Figura 3.3- Modelo esquemático do infiltrômetro de anéis duplos, fonte: Freitas et al. (2021). ......... 19
Figura 3.4- Representação esquemática do infiltrômetro de disco. Modificado de METER Group
(2021)................................................................................................................................ 20
Figura 3.5- Representação do arranjo dipolo-dipolo do caminhamento elétrico em campo. Fonte: Braga
(2006)................................................................................................................................ 26
Figura 3.6- Perfil representativo da cavidade na zona de contato, mostrando colapso do teto na parte
inferior inicial. Fonte: Auler et al. (2022). ....................................................................... 31
Figura 3.7- Modelo hidrogeológico conceitual de área constituída por canga sobreposta ao e itabirito.
Fonte: Dias & Bacellar (2021). ......................................................................................... 33
Figura 4.1- Ensaio de porosidade aparente. A) Submersão das amostras; B) Pesagem das amostras
úmidas; C) Pesagem da amostra submersa; D) Detalhamento da pesagem submersa ...... 38
Figura 4.2– Ensaio em campo empregando o infiltrômetro de aspersão de Cornell e identificação de
suas partes. ........................................................................................................................ 40
Figura 4.3- Infiltrômetro de anéis duplos. A) Disposição dos anéis fixados com massa de vidraceiro em
campo; B) Inserção de água no infiltrômetro. .................................................................. 41
Figura 4.4- Ensaio em campo empregando o mini infiltrômetro de disco e identificação de suas partes.
.......................................................................................................................................... 42
Figura 4.5- Procedimentos de campo para o levantamento de eletrorresistividade. A) Marcador
industrial empregado para marcar posicionamento dos eletrodos; ................................... 44
Figura 5.1- Mapa de declividade, em graus, da área 1 e pontos onde os ensaios de infiltração foram
realizados. A maior cavidade identificada ocorre na quebra de relevo do platô .............. 45
Figura 5.2- Visualização da continuidade da cobertura de canga presente na área 2. Imagem do Google
Earth Pro (2022). A linha vermelha delimita uma jazida abandonada ............................ 46
Figura 5.3- Mapa de declividade, em graus, da área 2, pontos onde os ensaios de infiltração foram
realizados e localização da caverna. ................................................................................ 47
Figura 5.4- Cavidade presente na área 1. ............................................................................................. 48

xiii
Figura 5.5- Talude situado próximo à área 2 (localizada pelo retângulo vermelho na figura 5.2) exibindo
cavidades em diferentes níveis. ......................................................................................... 48
Figura 5.6- Feições identificadas no interior da caverna na área 2: A) Abertura de acesso, com blocos
desabados de canga; B) Foliação herdada da formação ferrífera ..................................... 49
Figura 5.7- Vegetação na área 1, pontos onde os ensaios de infiltração foram realizados e localização
da cavidade. Imagem do Google Satellite da galeria do ArcGis 10.3. .............................. 50
Figura 5.8- Vegetação presente na área 2, com localização dos pontos de execução dos ensaios de
infiltração e da caverna. Imagem de alta resolução (3cm/pixel) ....................................... 51
Figura 5.9 Pontos amostrados na área 1. .............................................................................................. 52
Figura 5.10- Amostras retiradas do teto e base da cavidade existente na área 1. ................................. 52
Figura 5.11- Pontos amostrados na área 2. ........................................................................................... 53
Figura 5.12- Amostra retirada do teto do conduto localizado na porção leste da área 2. ..................... 53
Figura 5.13- Características das cangas da área 1. Cangas do setor leste da área: A) Canga pouco porosa
e macia; B) Canga com grãos de tamanhos e coloração variados;.................................... 54
Figura 5.14- Características das cangas situadas na área 2. A) Canga detrítica inconsolidada, muito
porosa; B) Canga detrítica inconsolidada, contendo muitos clastos. ................................ 55
Figura 5.15- Difratograma das amostras de canga da área 1. A) Canga localizada próximo ao ponto
P22; B) Amostra retirada do interior da cavidade (teto); .................................................. 57
Figura 5.16- Difratograma das amostras de canga retiradas da área 2. A) Amostra de canga retirada do
teto do conduto; B) Canga detrítica inconsolidada; C) Canga detrítica consolidada ........ 58
Figura 5.17-Fotomicrografias da canga detrítica situada na área 1. A) Meso e microporos, placas de
mica e matriz gethítica, LTP; B) Poro cavitário, grãos de quartzo muito fraturados ........ 59
Figura 5.18-Fotomicrografias da canga detrítica da área 1. A) Poros cavitários envolvidos por goethita
de hábito radial, LTP; B) Poro cavitário e matriz goethítica, LTP ................................... 60
Figura 5.19-Fotomicrografias da canga detrítica da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e
matriz goethítica, LRC; B) Poros cavitários, grãos de hematita e matriz goethítica ........ 61
Figura 5.20- Fotomicrografias da canga detrítica da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e
matriz goethítica, LRC; B) Canal envolvido por goethita, LTP ....................................... 62
Figura 5.21-Fotomicrografias da canga estruturada da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e
goethita envolvendo a hematita, LRC; B) Processo de martitização ................................ 63
Figura 5.22-Fotomicrografias da canga estruturada da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e
goethita envolvendo poros, LRC; B) Poros cavitários, grãos de hematita e goethita ....... 63
Figura 5.23-Localização dos pontos onde foram executados os ensaios empregando os infiltrômetros
de aspersão de Cornell, anéis duplos e com mini disco na área 1. .................................... 66
Figura 5.24- Localização dos pontos onde foram executados os ensaios empregando os infiltrômetros
de aspersão de Cornell, anéis duplos e com mini disco na área 2. .................................... 66
Figura 5.25- Resultados dos ensaios de infiltração, utilizando o infiltrômetro de Cornell, na área 1. Os
segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média ................................ 67
Figura 5.26- Pontos onde o escoamento superficial demorou a iniciar. A) Macroporos e micro cavidade
no ponto 4, infiltrômetro de Cornell; B) Microcavidade após retirada de amostra........... 68
Figura 5.27- Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos na
área 1. ................................................................................................................................ 68

xiv
Figura 5.28- Resultados dos ensaios de infiltração com infiltrômetro de Cornell, em canga detrítica, na
área 2. Os segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média ............ 69
Figura 5.29- Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos para
as cangas detríticas na área 2. ........................................................................................ 70
Figura 5.30- Resultados dos ensaios de infiltração, com o infiltrômetro de Cornell, em canga
estruturada, na área 2. .................................................................................................... 70
Figura 5.31- Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de todos os ensaios
obtidos para as cangas estruturadas com foliação paralela na área 2. ............................ 71
Figura 5.32- Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos para
as cangas estruturadas com foliação oblíqua na área 2. ................................................. 72
Figura 5.33- Resultados dos ensaios de infiltração, com o infiltrômetro de anéis duplos, na área 1. Os
segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média ............................. 73
Figura 5.34- Resultados dos ensaios de infiltração com o infiltrômetro de anéis duplos, na área 2. Os
segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média ............................. 74
Figura 5.35- Detalhe de onde foi feito o ensaio no P2 com infiltrômetro de anéis duplos na área 2. A)
Porção não cimentada da canga, contendo clastos de tamanho médio .......................... 74
Figura 5.36- Precipitação ao longo do mês de março em Ouro Preto, estação da Bauxita. Fonte:
Cemaden (2022). ............................................................................................................ 76
Figura 5.37- Precipitação ao longo do mês de abril no município de Mariana, estação Vila Maquiné.
Fonte: Cemaden (2022). ................................................................................................. 76
Figura 5.38- Mapa hipsométrico com localização das linhas de eletrorresistividade na área. O mapa foi
confeccionado a partir dos dados topográficos fornecidos pela VALE. ........................ 77
Figura 5.39- Pontos de inserção da solução salina. A) Abertura superficial (cavidade, delimitada por
linha tracejada vermelha) situada entre as posições de 9 e 10m .................................... 77
Figura 5.40- Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos
multitemporais (background, to, t1, t2 e t3)................................................................... 80
Figura 5.41- Mapa hipsométrico com localização das linhas de eletrorresistividade na área 2. Mapa
confeccionado a partir dos dados topográficos .............................................................. 81
Figura 5.42- Abertura superficial (delimitada por linha tracejada) localizada entre os estacas de 15 e 16
onde a solução salina foi injetada................................................................................... 82
Figura 5.43- Seções de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos multitemporais
(background, to, t1, t2 e t3) ............................................................................................ 84
Figura 5.44- Seções em planta dos levantamentos de eletrorresistividade realizados na área 1A)
Background; B) Seção to; C) Seção t1; D) Seção t2; E) Seção t3. .................................. 86
Figura 5.45- Seções em planta dos levantamentos de eletrorresistividade realizados na área 2. A)
Background; B) Seção to; C) Seção t1; D) Seção t2; E) Seção t3. .................................. 88
Figura 6.1- Talude em antiga jazida localizada próximo à área 2 (Figura 5.2) expondo cavidades em
diferentes níveis e os horizontes que ocorrem na área estudada: canga ......................... 91
Figura 6.2- Cavidade situada na área 1 e seus condutos. A) Abertura principal e condutos; B) Contato
entre a fácies canga e o horizonte de transição na direção da abertura da cavidade ...... 92
Figura 6.3- Comparação dos valores de porosidade aparente obtidos nas duas áreas de estudo. ........ 93
Figura 6.4- Inúmeros macroporos na superfície do ponto 6 (Figura 5.23) no trecho oeste da área 1, onde
o teor de ferro e a taxa de infiltração é mais elevada. .................................................... 95

xv
Figura 6.5- Comparação entre as taxas de infiltração obtidas neste estudo, empregando os infiltrômetros
de Cornell e de anéis duplos, com valores fornecidos pela literatura. .............................. 96
Figura 6.6- Valores de condutividade e permeabilidade hidráulica e a classificação das cangas
estudadas. Modificado de Freeze & Charry (1979). ......................................................... 98
Figura 6.7- Classificação da condutividade hidráulica vertical (alta, intermediária e baixa, classificação
baseada na média e desvio padrão) ................................................................................... 99
Figura 6.8- Classificação das taxas de infiltração (alta, intermediária e baixa) obtidas por meio do
emprego do infiltrômetro de Cornell na área 2. .............................................................. 100
Figura 6.9- Seções de background das três linhas (C1, C2 e C3) obtidas por levantamento geofísico na
área 2. .............................................................................................................................. 101
Figura 6.10- Seções de background das três linhas (U1, U2 e U3) obtidas por levantamento geofísico
na área 1. ......................................................................................................................... 102
Figura 6.11- Seções multitemporais (to – background, t1, t2, t3, t4) de levantamento eletrorresistivo na
linha central (U2) da área 1. ............................................................................................ 103
Figura 6.12- Seções multitemporais (to – background, t1, t2, t3, t4) de levantamento eletrorresistivo na
linha central (C2) da área 2. ............................................................................................ 104

xvi
Lista de tabelas
Tabela 3.1- Parâmetros de Van Genuchten para as classes de texturas do solo e valores de A para o
disco de raio 2,5cm e valores de sucção entre 0,5 e 6cm.................................................. 21
Tabela 4.1 - Nomenclatura e descrição dos tipos de poros. ................................................................. 36
Tabela 5.1 - Composição química das amostras de canga das duas áreas de estudo, 1 e 2. A localização
dos pontos corresponde aos locais dos ensaios com o infiltrômetro de Cornell. .............. 56
Tabela 5.2- Valores de massa específica, porosidade aparente e absorção de água para as cangas
pertencentes à área 1. Localização das amostras nas figuras 5.9 e 5.10. .......................... 64
Tabela 5.3– Valores de massa específica, porosidade aparente e absorção de água das cangas situadas
na área 2. Localização das amostras nas figuras 5.11 e 5.12. ........................................... 65

xvii
xviii
Resumo
As cangas são coberturas endurecidas ricas em ferro que ocorrem no Quadrilátero Ferrífero (QFe),
capeando, principalmente, os itabiritos da Formação Cauê, onde situam-se intensas atividades de
minerárias. Apesar da significativa porosidade, alguns pesquisadores consideram as cangas como de
baixa condutividade hidráulica. Outros as classificam como muito condutivas, favorecendo a recarga
dos aquíferos sotopostos, e sua supressão por atividades de mineração afetaria consequentemente a
recarga dos aquíferos subjacentes. Estudos relacionados ao comportamento hídrico das cangas são ainda
escassos, o que motivou o desenvolvimento deste trabalho. Para tal, selecionaram-se duas áreas (1 e 2),
ambas no sudeste do Quadrilátero Ferrífero, com dois dos principais tipos de canga da região,
estruturada e detrítica. Estas cangas normalmente são formadas por um horizonte superficial mais
endurecido, a crosta, superposta a um horizonte de transição, mais erodível, onde se desenvolve
preferencialmente feições de carstificação. Selecionou-se algumas amostras da crosta desses dois tipos
de canga para caracterização mineralógica, microestrutural, química e para quantificação da porosidade
aparente. Baseados nestes dados, foram medidas as taxas de infiltração com três tipos de infiltrômetros:
de aspersão, modelo Cornell, de anéis duplos e de mini disco. A comparação dos resultados destes
estudos com os de trabalhos prévios mostra que a porosidade e, especialmente, a condutividade
hidráulica das cangas é variável, dependendo das características químico-mineralógicas, texturais e
estruturais locais. Contudo, as cangas exibem porosidade aparente e condutividade hidráulica
equivalente à de uma areia siltosa ou silte, com predomínio de fluxo por poros maiores que 0,5mm de
diâmetro. O estudo foi complementado por acompanhamento da infiltração e percolação de solução
salina traçadora por seções multitemporais de eletrorresistividade, por caminhamento elétrico com
arranjo dipolo-dipolo. Este levantamento geofísico indicou o predomínio de fluxos mais verticais na
área onde ocorre apenas canga detrítica, cujo relevo é mais suave, e horizontais no local onde há
ocorrência dos dois tipos de canga e o relvo é mais íngreme. Em ambas constatou-se conexão com
feições de carstificação mais profunda. Feições cársticas foram também identificadas em maiores
profundidades e como estudos prévios indicaram que a carstificação nestes meios tem forte
condicionamento geomorfológico, a recarga dos aquíferos subjacentes tende a ser significativa, mas
variável no espaço.

Palavras-chave: cangas, infiltração, eletrorresistividade, cavidade.

xix
xx
Abstract
Ferricretes are hardened iron-rich covers and occur in the Iron Quadrangle (IQ) mainly as products of
supergenic alteration of Cauê Formation itabirites. These rocks are the main iron ore in QF, therefore
the ferricretes are located in areas of intense iron mining activities. Despite their significant porosity,
previous works proved that ferricretes usually have low hydraulic conductivity. Their contribution to
the recharge of the underlying aquifers is still barely known due to the scarcity of studies about
groundwater dynamics of ferricretes. Two areas (1 and 2) were selected for this study: both are located
in the southeast of IQ and have two types of ferricrete, namely, structured and detrital. These ferricretes
profiles usually have a hardened surface horizon, the crust, and an underlying erodible transitional
horizon with development of karstification features. Some samples of the crust of both types of ferricrete
were selected for mineralogical, microstructural, chemical characterization and for quantification of
apparent porosity. The infiltration rates were measured with three types of infiltrometers: Cornell
sprinkle infiltrometer, double rings and mini disc. The comparison of the results of this work with those
of previous works show that the porosity and, specially, the hydraulic conductivity of ferricretes is
variable and depend on the mineralogical, textural and structural characteristics. Nevertheless, the
ferricretes exhibit apparent porosity and hydraulic conductivity equivalent to that of silty sand or silt
soils, with a predominance of flow through pores larger than 0.5 mm in diameter. Multitemporal electro
resistivity sections with dipole-dipole arrangement were carried out and indicated that the flow is mainly
vertical where only detrital ferricrete occurs in areas of smoother relief; where both types of ferricretes
occur and the turf is steeper, the flow is mainly horizontal. For both types of ferricrete, there is a
connection between surface horizons and deeper karstification feature. Karst features were also
identified at greater depths, therefore, they play an important role in the recharge of underlying aquifers,
which tends to be significant, but variable in space.

Keywords: ferricretes, infiltration, electro resistivity, karstification.

xxi
xxii
CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO

A água é um bem mineral essencial à vida humana, seja para o consumo doméstico, agrícola ou
industrial. A demanda crescente por este recurso, aliada às alterações climáticas e impactos antrópicos,
exigem maior compreensão sobre os diversos fenômenos associados ao seu armazenamento e transporte.

É denominada água subterrânea toda aquela que se situa em subsuperfície, e ela corresponde a
aproximadamente 97% de toda água doce disponível no planeta, ou seja, menos de 3% da água potável
é superficial (Feitosa et al. 2008). Devido à crescente poluição de rios e lagos, a utilização da água
subterrânea se torna cada vez maior, justificando a necessidade da investigação mais detalhada dos
aquíferos. O estudo e análise da água subterrânea são mais caros e trabalhosos se comparados aos da
água superficial. Como consequência, há carência de dados referentes à disponibilidade, quantidade,
qualidade e distribuição desse bem (Cleary 2007).

Parte da água que atinge o solo e/ou rochas após o processo de precipitação, infiltra e constitui
a água subterrânea. Posteriormente, ela pode ser submetida a três etapas: ficar retida na zona
vadosa/insaturada, fluir lateralmente (interfluxo) ou atingir a zona saturada, recarregando o aquífero
(Feitosa et al. 2008). Esta última etapa representa o principal processo após a infiltração da água no
solo, pois corresponde ao recurso renovável do aquífero. Dessa forma, entender como a infiltração e
percolação de água ocorre em coberturas superficiais é extremamente necessário, pois elas influenciam
diretamente no comportamento dos reservatórios hídricos subterrâneos.

A canga, nome atribuído, no Brasil (Dorr 1964), às coberturas formadas por processos
policíclicos de intemperismo e pedogênese, ocorrem, no Quadrilátero Ferrífero, recobrindo
principalmente, rochas da formação ferrífera que constituem um importante reservatório de água
subterrânea, o Aquífero Cauê (Ramos et al. 2020), onde grande parte das atividades minerárias estão
localizadas. Além disso, há também registros de canga associadas à bauxita sobre unidades do Grupo
Piracicaba (Assis 2018).

Este material recebe diferentes nomenclaturas em outros locais como ferricretes (Bourmann
1993), iron duricrusts (Beauvais & Colin 1993) e lateritas (Nahon & Tardy 1992), muitas vezes
empregados sem uma definição apropriada. As cangas têm sido tradicionalmente classificadas em quatro
tipos (detrítica, estrutural, química e rica) de acordo com sua gênese, estrutura e teor de ferro (Dorr
1964, 1969), sendo os dois primeiros mais frequentes.

O Quadrilátero Ferrífero (QFe) é conhecido mundialmente por suas riquezas minerais, o que
despertou o interesse de diversos pesquisadores para estudos de caráter científico e exploratório. Além
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

dos bens minerais, como ferro e ouro, outro recurso de grande importância presente no QFe é o hídrico
(Baeta & Piló 2020). Apesar de haver muitas pesquisas relacionadas à exploração mineral nesta região,
a caracterização hidrogeológica em áreas de mineração necessita de estudos mais detalhados.

De fato, a principal reserva de água subterrânea existente nessa região está situada na Formação
Cauê, unidade geológica que abriga as grandes jazidas de minério de ferro (Mourão 2007, Ramos et al.
2020). Estas rochas exibem idade deposicional entre 2.520 Ma (Nunes 2016) e 2.420 Ma (Babinski et
al. 1995) e passaram por alguns eventos tectônicos, que minimizaram a porosidade primária e deram
origem à porosidade fissural (Mourão 2007). Neste contexto, ao se efetuar a explotação desta
commodity, é muitas vezes necessária a retirada da camada de canga, afetando a recarga dos aquíferos
e, consequentemente, a reposição de água.

As cangas são constituídas, majoritariamente, por fragmentos de formação ferrífera, hematita


compacta, magnetita e martita, cimentadas por óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio (Bourman 1993,
Monteiro et al. 2014). Alguns estudos qualificam este material como pouco permeável e com elevada
porosidade, além de ser muito resistente à erosão (Machado 2011). Para outros autores, a canga favorece
a recarga dos aquíferos sotopostos (Mourão 2007) e sua supressão poderia prejudicar a alimentação dos
depósitos de água subterrânea e a vazão de nascentes. Em outras palavras, ainda há muitas dúvidas sobre
o real papel desempenhado pelas cangas no regime hidrológico local.

Uma das características das cangas é a presença de cavidades, que podem ser geradas pela
infiltração de água meteórica ao longo de juntas/fraturas (Calux 2013). Inicialmente, atuam processos
químicos e endógenos, seguidos de erosão mecânica (Auler & Piló 2005). A ocorrência de água em
cavidades situadas nesta litologia se dá por meio de suas aberturas/comunicações com o meio externo
ou pela infiltração através das fraturas e/ou porosidade existentes (Dutra 2017). Assim como em
aquíferos cársticos, é preciso verificar se nas cangas também ocorre maior infiltração e recarga nas zonas
em que as cavidades estão presentes. Estudar essas feições em formações ferríferas se torna cada vez
mais importante, visto o aumento da demanda pelo minério de ferro, e a rigorosa legislação ambiental
sobre proteção de cavidades naturais (Calux 2013.).

Entender como ocorre a infiltração e percolação de água em diferentes tipologias de cangas é


fundamental, devido ao aumento do consumo e à contaminação dos corpos d´água, especialmente os
superficiais. Além disso, este material apresenta certas peculiaridades que dificultam o entendimento de
seu comportamento hidrológico, como sua elevada heterogeneidade tanto em superfície como em
profundidade, sua dureza, que dificulta a instalação de equipamentos de monitoramento (ex.: lísímetros,
piezômetros ou tensiômetros) e a escassez de boas exposições, como cortes e erosões.
Consequentemente, verifica-se uma grande carência de dados sobre este material, seja de suas
características físicas, como também das hidrológicas.

2
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Trabalhos anteriores (Dutra 2017, Firmino e Souza 2018, Ferreira 2020, Dias 2021) buscaram
avançar em estudos relacionados ao comportamento hidrogeológico das cangas e a influência da
carstificação nestes processos, mas as informações ainda são escassas e às vezes contraditórias. Dessa
maneira, esta pesquisa visa evoluir ainda mais no entendimento da dinâmica hídrica deste material.

1.2 OBJETIVOS E METAS

Tem-se como objetivo principal desta pesquisa a análise do comportamento hidrogeológico nas
regiões cobertas por cangas no Quadrilátero Ferrífero (MG), visando progredir, sobretudo, no
entendimento da recarga dos aquíferos sotopostos, procurando quantificar a influência da carstificação
nestes processos.

Como objetivos secundários, pretende-se:

• Caracterizar as taxas de infiltração nas diversas tipologias de canga, visto que o escoamento
superficial é aparentemente elevado nestas;

• Identificar regiões com variados tipos de canga e verificar a distribuição espacial dos caminhos
preferenciais de infiltração e percolação de água, como cavidades;

• Verificar a influência das cavidades presentes nesses locais no aporte de água subterrânea.

1.3 LOCALIZAÇÃO DAS ÁREAS DE ESTUDO

Buscando atender aos objetivos do trabalho, foram selecionadas duas áreas com ocorrência de
cangas, uma pertencente à UFOP – Campus Morro do Cruzeiro (área 1), em Ouro Preto, e a outra situada
próximo ao distrito de Camargos (área 2), município de Mariana. Ambas estão localizadas na porção
sudeste do Quadrilátero Ferrífero, região centro-sudeste do estado de Minas Gerais (Figura 1.1).

3
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 1.1 - Localização das áreas de estudo e o posicionamento em relação ao Quadrilátero Ferrífero; A) Setor
nordeste do Campus Morro do Cruzeiro – UFOP (área 1); B) região de Camargos (área 2). Imagem Google Satellite
da biblioteca do ArcGis 10.3. Fonte: a autora.

4
CAPÍTULO 2
2 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS E GEOLOGIA REGIONAL

2.1 CLIMA

O clima predominante na área com presença de cangas, que ocorrem nas regiões mais elevadas
do QFe, é do tipo Cwa, segundo a classificação de Köppen: temperado quente, com estação seca de abril
a setembro e chuvosa de outubro a março (Schaefer et al. 2015). A temperatura média anual é de 20,5°C
e a precipitação anual corresponde a 1.300mm (Baêta 2012).

A umidade relativa é maior durante os meses de dezembro e janeiro, em contrapartida, as


menores médias mensais ocorrem em agosto e setembro. O período de maior insolação coincide com a
fase mais seca, outono e inverno, assim, no mês de dezembro ocorrem as menores médias. A evaporação
total, de maneira geral, está relacionada com a umidade relativa e a insolação. Dessa forma, os maiores
valores de evaporação ocorrem nos períodos de menor umidade relativa e maior insolação (Davis et al.
2005).

2.2 VEGETAÇÃO

O Quadrilátero Ferrífero está situado na zona de transição entre Cerrado e Mata Atlântica, por
isso, essa região apresenta grande variedade de vegetação, sendo possível, em uma pequena área,
encontrar diversos tipos de ecossistemas (Schaefer et al. 2015). Grande parte dos ecossistemas situados
em canga no Brasil, são encontrados no QFe, variando desde campos rupestres até florestas (Messias &
Carmo 2015).

Os campos rupestres ferruginosos, também conhecidos como vegetação de canga, constituem


formações herbáceo-arbustivas e estão localizados nos topos de morro, normalmente, em afloramentos
acima de 900-1800m (Schaefer et al. 2015). Este ecossistema, embora esteja ameaçado devido as
atividades mineradoras relacionadas à presença do minério de ferro, é um dos menos estudados em
Minas Gerais (Jacobi & Carmo 2008, Messias et al. 2012, Diniz et al. 2014, Schaefer et al. 2015).

Grande parte da vegetação presente nas cangas é de pequeno porte, devido à falta de nutrientes
e água, cuja circulação fica restrita a fraturas que eventualmente aconteçam. Porém, quando a canga se
apresenta mais fragmentada, é possível que uma vegetação de porte maior se desenvolva apesar da
escassez de nutrientes (Leonardi 2014).

Devido a heterogeneidade topográfica das áreas com cangas, são encontrados diversos tipos de
vegetação, sendo mais comuns, as fitofisionomias campestres e arbustivas. A vegetação campestre
ocorre quando há o desenvolvimento de solos rasos e permite o contato direto da neblina com a
superfície, aumentando o potencial hídrico do solo (Baêta 2012). Já a vegetação arbustiva e subarbustiva
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

se desenvolve em substratos levemente ondulados a planos e sem acúmulo de água (Jacobi & Carmo
2012, Baêta 2012).

2.3 GEOMORFOLOGIA

O nome Quadrilátero Ferrífero deriva da disposição de algumas serras que lhe conferem a forma
quadrangular. As terras altas com relevos dissecados evidenciam a erosão diferencial com forte controle
litológico (Monteiro et al. 2014). Essa região está tectonicamente soerguida, com altitudes que variam
entre 900 e 1000 m, podendo alcançar 1500 a 2000 m em alguns locais (Medina et al. 2005).

A topografia do QFe é controlada por quatro fatores principais: diferentes susceptibilidades


litológicas à erosão, possíveis movimentos epirogênicos no Mesozoico-Cenozoico, mudanças climáticas
no Cenozoico, e ação protetora das cangas sobrepostas às Formações Ferríferas Bandadas (Monteiro et
al. 2014).

As regiões onde os quartzitos e itabiritos prevalecem formam cristas elevadas e com altas
declividades, pois são rochas muito resistentes à erosão e ao intemperismo (Medina et al. 2005). Já as
regiões compostas por rochas granito-gnáissicas, denominadas terras baixas, são menos resistentes,
assim, apresentam espesso manto de intemperismo. Xistos e filitos compõem altitudes intermediárias e
geralmente ocorrem preenchendo sinclinais e anticlinais topograficamente invertidos (Varajão 1991,
Medina et al. 2005).

Grande parte das cangas do QFe situam-se em regiões elevadas, geralmente sobrepostas às
formações ferríferas, sustentando o relevo (Medina et al. 2005, Dutra 2017). Ocorrências sobre outras
formações geológicas, como filitos e xistos, também são conhecidas, como na área do Morro do
Cruzeiro, Campus da UFOP (Assis 2018), igualmente sustentando o relevo. Isso acontece devido à sua
alta resistência física, promovida pelo processo de dissolução e reprecipitação do ferro, ocasionadas,
principalmente, pela ação biológica (Monteiro et al. 2014). É possível estabelecer uma relação entre a
idade e elevação da canga, em que as mais altas são mais antigas do que as localizadas em regiões mais
baixas, de acordo com estudos geocronológicos da razão (U – Th) / He (Monteiro et al. 2014). Além
disso, os horizontes mais antigos são fragmentados e, normalmente, deslocados para locais de menor
altitude. As cangas que se formam em vales podem ser produto tanto de fragmentos de camadas mais
antigas e mais elevadas, quanto da remobilização do ferro existente em cangas mais velhas (Thomas
1979).

2.4 GEOLOGIA REGIONAL

Estudos buscando entender a complexa geologia do QFe e sua evolução, tiveram início no
século XIX e continuam até os dias atuais. O QFe possui área de aproximadamente 7.000 km² e está
situado na extremidade sul do Cráton São Francisco, região sudeste do estado de Minas Gerais (Roeser

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

& Roeser 2010). Essa região é bastante conhecida por sua riqueza mineral, e inicialmente, no século
XVII, houve grande exploração de ouro, que ocasionou o povoamento dessa região. Atualmente, o
recurso mais extraído é o minério de ferro (Alkmin & Marshack 1998, Roeser & Roeser 2010, Leonardi
2014).

O QFe pode ser subdividido em sete grandes unidades litoestratigráficas (Endo et al. 2020):
Complexos Metamórficos, Supergrupo Rio das Velhas, Supergrupo Minas, Supergrupo Estrada Real,
Grupo Barbacena, Supergrupo Espinhaço e Unidades sedimentares.

O Supergrupo Minas de idade Paleoproterozóica, é constituído por rochas metassedimentares


de baixo a médio grau, e exibe contato discordante com as rochas do Supergrupo Rio das Velhas,
subjacente. Essa unidade se originou de sedimentos continentais a marinhos (Figura 2.1), e se divide, da
base para o topo, em quatro grupos: Tamanduá e Caraça, compostos por metassedimentos clásticos;
Itabira, com metassedimentos químicos; e, Piracicaba, com metassedimentos clásticos e químicos (Dorr
1969, Alkmim & Marshak 1998, Almeida et al. 2005, Farina et al. 2016, Barbosa 2018).

O Grupo Caraça é composto por metassedimentos clásticos e subdivide-se em duas Formações:


Moeda e Batatal (Almeida et al. 2005). A Formação Moeda é constituída por quartzitos, quartzitos
sericíticos, filitos e metaconglomerados (Dorr 1969). A Formação Batatal consiste essencialmente de
filitos, apresentando secundariamente, metachert e formações ferríferas. O contato entre as duas
Formações é normalmente abrupto (Dorr op. cit.).

O Grupo Itabira compreende metassedimentos químicos de ambiente marinho (Dorr 1969,


Almeida et al. 2005) e se divide, da base para o topo, nas Formações Cauê e Gandarela, respectivamente.
A Formação Cauê é muito importante economicamente, pois nela se concentram as reservas do minério
de ferro (Farina et al. 2016). Ela é composta por itabiritos, itabiritos dolomíticos, itabiritos anfibolíticos
e, em menores proporções, filitos, quartzitos e mármores (Castro et al. 2020). Os itabiritos se originaram
do metamorfismo que atuou nas Formações Ferríferas Bandadas (FFB) do tipo Lago Superior (Dorr
1969). As jazidas de minério de ferro da Formação Cauê apresentam grandes espessuras e constituem
altos teores de ferro (Klein 1993). Segundo Dorr (1964), os minérios de ferro supergênicos do
Quadrilátero Ferrífero podem ser divididos em três categorias: itabirito enriquecido, com cerca de 49%
de Fe; minério de grau intermediário, com concentração de ferro em torno de 57 e 65% e menos de 7%
de sílica; e canga, com aproximadamente 67% de Fe.

O contato da Formação Cauê com as formações Batatal e Gandarela é transicional. A Formação


Gandarela é representada, principalmente, por mármores, em sua maioria, dolomíticos e,
secundariamente, por filitos dolomíticos, formação ferrífera dolomítica e filitos (Dorr 1969).

7
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

O Grupo Piracicaba é constituído basicamente por metassedimentos clásticos, mas também


contém precipitados químicos, que foram depositados em ambiente marinho e deltaico (Dorr 1969). O
contato entre os Grupos Piracicaba e Itabira, é marcado por uma discordância erosiva (Dorr 1969, Farina
et al. 2016). Essa unidade estratigráfica é subdividida em quatro Formações: Cercadinho, Fecho do
Funil, Taboões e Barreiro. A Formação Cercadinho inclui quartzito, quartzito ferruginoso,
conglomerados, filitos ferruginosos, filitos prateados, filitos dolomíticos, dolomito e filitos roxos (Dorr
1969). A Formação Fecho do Funil é constituída por filitos dolomíticos, dolomitos argilosos e silicosos,
e filitos. A Formação Taboões é composta por quartzitos de granulação fina, exibindo contato
concordante e gradacional com a Formação Barreiro sobrejacente. Os litotipos presentes na Formação
Barreiro são, predominantemente, filitos e filitos grafitosos (Dorr op. cit.).

O Supergrupo Estrada Real é composto por rochas metassedimentares marinhas e continentais


dos grupos Sabará e Itacolomi (Endo et al. 2020). O Grupo Sabará tem espessura média de 1.750 m e
constitui-se das formações Saramenha, Córrego do Germano e Catarina Mendes (Almeida et al. 2005,
Endo et al. 2019a, b, Freitas 2019, Freitas et al. 2019, Freitas et al. em prep.). A Formação Saramenha
é composta por clorita xistos, mica xistos com intercalações de metagrauvacas, quartzitos e formação
ferrífera bandada (Endo et al. 2020). A Formação Córrego do Germano está situada na base do Grupo
Sabará, e compreende formação ferrífera bandada do tipo granular e quartzitos ferruginosos (Endo et al.
2020).

O Grupo Itacolomi de idade 2,06 Ma (Machado et al. 1993, 1996) é composto da base para o
topo, pelas formações Florália e Pico do Itacolomi, respectivamente. A Formação Florália, consiste de
ortoquartzitos, enquanto a Formação Pico do Itacolomi compreende quartzitos, metaconglomerados
com seixos, calhaus e raramente matacões de veios de quartzo, itabirito, filito e granito (Dorr 1969,
Endo et al. 2020).

O Grupo Barbacena inclui rochas metassedimentares clásticas e químicas, além de


metavulcânicas máficas e ultramáficas. Entre elas tem-se grafita xistos, gonditos, queluzitos, metacherts,
xistos manganesíferos, micaxistos, quartzitos feldspáticos e filitos (Endo et al. 2020).

O Supergrupo Espinhaço, de idade Mesoproterozoica, é constituído majoritariamente por


metarenitos e metaconglomerados (Endo et al. 2020), mas contém quartzitos, metadiamictitos, filitos e
formações ferríferas (Endo et al. 2019a).

Dentre as Unidades cenozoicas, é possível citar as Cangas, que segundo Endo et al. (2020), são
aglomerados rochosos constituídos principalmente de fragmentos de formação ferrífera e
subordinadamente de filito e quartzo cimentados por óxido de ferro. Este material pode ser classificado
em quatro diferentes tipos de acordo com o teor de ferro e textura: detrítica, estruturada, química e rica
(Endo et al. 2020). De acordo com estes autores, o material detrítico é derivado especialmente da

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Formação Cauê, e o ferro do cimento limonítico foi dissolvido a partir da formação, durante o processo
de intemperismo, transportado no estado ferroso, e redepositado na superfície ou próximo dela. No QFe,
as cangas se distribuem, em grande parte, ao longo dos topos e encostas das serras onde afloram,
principalmente, rochas do Grupo Itabira (Castro & Varajão 2020).

Figura 2.1 – Porção superior da coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero. Modificado de Endo et al. (2019b).

2.5 GEOLOGIA LOCAL

As duas áreas de estudo compreendem rochas do Supergrupo Minas, além de depósitos


terciários e quaternários, objeto desta pesquisa. A área 1 está inserida na aba sul do Anticlinal de Mariana
e a área 2 entre a aba nordeste deste anticlinal e a falha de Água Quente.

Segundo alguns autores (Baltazar et al. 2005, Goes 2016, Assis 2018, Varajão &Varajão 2020),
as cangas pertencentes à área 1 ocorrem sobre as unidades da Formação Fecho do Funil do Grupo

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Piracicaba (Figuras 2.3 e 2.4). Segundo Varajão & Varajão (2020), os depósitos desta área seriam
originados in situ, tendo como protólito filitos, dolomitos argilosos e vulcânicas ácidas desta formação.
Elas ocorrem associadas ao depósito de bauxita, produto bastante explorado durante a década de 50 para
a produção de alumínio (Varajão 1988, Assis 2018).

Contudo, de acordo com o mapa apresentado por Endo et al. (2019a), a canga desta região ocorre
sobreposta às rochas do Grupo Sabará, Formações Saramenha e Córrego do Germano, que são
constituídas por clorita xistos, mica xistos com intercalações de metagrauvacas, quartzitos, formação
ferrífera bandada do tipo granular e quartzitos ferruginosos (Endo et al. 2020). A falta de afloramentos
e a inexistência de furos de sondagem dificultam estabelecer a rocha subjacente as cangas desta área.

Assis (2018) definiu duas fácies para a canga deste local: maciça/fragmentada na base e canga
no topo (Figura 2.2). A fácies fragmentada resulta da degradação da forma maciça e é constituída
majoritariamente por goethita, exibindo também quartzo e gibbsita em menores proporções. A canga,
por seu lado, é composta principalmente por goethita e hematita, apresentado, secundariamente, quartzo
e gibbsita (Assis op.cit.).

Figura 2.2 - Perfil evidenciando as duas fácies presentes na área 1: fragmentada na base e canga no topo. Fonte:
Assis (2018).

Na área 2 estão presentes as formações ferríferas do Grupo Itabira, rochas do Grupo Caraça
indiviso e cangas (Figura 2.3). A região está situada próximo ao sistema de Falhas Água Quente, que se
estende por cerca de 60km norte-sul, percorrendo desde Mariana até Santa Bárbara, passando por
Camargos, Bento Rodrigues, Santa Rita Durão, Morro da Água Quente e Catas Altas. Esse sistema de

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

falhas exibe movimento reverso com transporte para oeste sobrepondo rochas do Complexo
Metamórfico Santa Bárbara às litologias do Supergrupo Minas (Rossi 2014). A oeste a falha se instala
em um nível estratigráfico superior na porção média da Formação Cauê (Chemale Jr. & Endo 1991).

Figura 2.3 - Mapa geológico da região de estudo na escala 1:50.000. Modificado de Baltazar et al. (2005) com
base hidrográfica do IGAM (Sisema 2019) e estrutural de Endo et al. (2019).

Figura 2.4 - Seção geológica esquemática das litologias presentes na área de estudo. Sua localização está
representada na figura 2.3. Fonte: Goes et al. (2016).

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

12
CAPÍTULO 3
3 ESTADO DA ARTE

Neste capítulo serão abordados alguns fundamentos teóricos essenciais ao desenvolvimento


deste trabalho, abrangendo desde conceitos básicos, como ciclo hidrológico, até processos que envolvem
a percolação de água em subsuperfície, além de técnicas empregadas e caracterização do material
analisado.

3.1 CICLO HIDROLÓGICO

O ciclo hidrológico é condicionado pela energia solar, gravidade e rotação terrestre e os


principais processos deste são precipitação, interceptação, infiltração, escoamento superficial,
transpiração, evaporação e escoamento subterrâneo (Silveira 2001, Feitosa et al. 2008).

O vapor de água que condensa na atmosfera sob determinadas condições meteorológicas, ao


atingir quantidade, peso e tamanho suficientes para sofrer influência da gravidade, são transferidos para
a superfície terrestre em forma de precipitação (neblina, geada, chuva, granizo e neve). A intensidade
da chuva é definida pela precipitação em um determinado período e a unidade de medida utilizada é o
milímetro de chuva, que corresponde ao volume de um litro por metro quadrado de superfície. Se a
precipitação for moderada, ela contribui para a recarga dos aquíferos, mas se ela for de alta intensidade,
provocará também o escoamento superficial e possíveis inundações (Bertoni & Tucci 2001, Singhal &
Gupta 2010). Parte da água que precipita evapora durante seu trajeto em direção à superfície terrestre,
sem sequer atingi-la. Há também, o processo de interceptação, que ocorre com o volume precipitado
que cai sobre a vegetação ou centro urbanos, onde se acumulam e evaporam (Feitosa et al. 2008).

A evaporação é ocasionada quando a água é convertida em vapor, devido à energia fornecida


pela radiação solar, temperatura do ar, vento e pressão de vapor (Feitosa et al. 2008). Existe também a
transpiração, que consiste na perda de água pelas plantas para a atmosfera. Estes dois processos, recebem
juntos, o nome de evapotranspiração potencial (ETP), representando um valor máximo para essas perdas
(Feitosa et al. 2008). Entretanto, a verdadeira quantidade de água que retorna para a atmosfera, recebe
o nome de evapotranspiração real (ETR) e, pode ser calculada indiretamente por relações teóricas
(Bertoni & Tucci 2001, Feitosa et al. 2008).

A água que atinge o solo passa pelo processo de infiltração, que consiste na transferência da
água da superfície do terreno para o interior do solo e/ou rocha. Mas este processo depende de diversos
fatores, como a quantidade de água disponível para infiltrar, natureza do solo/rocha, quantidades de água
e ar presentes em seu interior, além da textura, estrutura, tamanho e disposição do espaço poroso (Salles
et al. 1999, Silveira et al. 2001, Feitosa et al. 2008). À medida em que ocorre a saturação em
subsuperfície e a intensidade da chuva é maior do que a capacidade de infiltração no solo, a água que
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

precipita se acumula e pode ocasionar o escoamento superficial. A intensidade do escoamento


superficial depende de diversos fatores, entre eles, a declividade do terreno, a permeabilidade do solo e
a magnitude da chuva (Feitosa et al op. cit., Freeze & Cherry 1979).

3.2 FLUXO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA

É denominada água subterrânea toda aquela que ocorre em subsuperfície. Ela pode ser definida
de acordo com sua distribuição vertical no solo e nas rochas, dividindo-se em duas zonas, de acordo
com o grau de saturação. A zona saturada refere-se à região em que todos os espaços entre os grãos
estão preenchidos por água e está situada abaixo da superfície freática (Feitosa et al. 2008).

A zona não saturada, também classificada como zona de aeração ou vadosa, situa-se entre a
superfície freática e a superfície do terreno, e os espaços intergranulares são parcialmente preenchidos
por água e gases (Feitosa et al. 2008). Essa zona é dividida, de baixo para cima, em: zona capilar, situada
entre a superfície freática e o limite em que a água ascende por capilaridade; zona intermediária,
compreendida entre o limite de ascensão capilar da água e o ponto alcançado pelas raízes das plantas e;
zona de água no solo ou zona de evapotranspiração, que corresponde ao intervalo entre o limite atingido
pelas raízes das plantas e a superfície do solo, com espessura dependente da densidade e tamanho da
vegetação (Feitosa et al. op. cit.). O volume de água que fica retido no solo, mesmo após um longo
período de drenagem gravitacional, movimentando-se apenas para cima devido à evaporação ou
transpiração, é denominado capacidade de campo (Feitosa et al. 2008). Após satisfeita esta capacidade
e havendo água disponível, inicia-se a percolação profunda (Freitas 2010). Quando o teor de umidade
está abaixo do qual a planta não consegue retirar água proporcionalmente à taxa que transpira, resultando
em seu murchamento, ele é denominado ponto de murcha (Silva et al. 2006). A umidade de 1.500 kPa
é usualmente considerada como ponto de murcha permanente (PMP) e, a de 10 kPa ou 33 kPa, como
capacidade de campo (CC) (Teixeira & Bhering 2017). A água disponível no solo corresponde à
diferença entre a capacidade de campo e o ponto de murchamento (Teixeira & Bhering 2017).

Segundo Freeze & Cherry (1979), na zona não saturada, o teor de umidade volumétrico (θ) é
menor do que a porosidade; a pressão do fluido ou pressão de poros (p) é menor que a pressão
atmosférica e a carga de pressão (ψ) é negativa. Os valores de condutividade hidráulica não saturada
(Ksat ou K (ψ)) e umidade são fornecidos em função da carga de pressão. Logo, para fluxo não saturado,
ψ < 0, θ = θ (ψ) e K = K (ψ).

As forças gravitacional e capilar, e a capacidade de adsorção das partículas minerais e orgânicas,


são fatores que influenciam a retenção de água no solo. As curvas de retenção de umidade no solo e os
teores de água disponíveis podem ser determinados por meio do estabelecimento de sucções
progressivas em um solo saturado, medindo-se os correspondentes umidades (Bonder 2008). A partir da
curva de umidade volumétrica pela sucção, pode-se determinar por relações experimentais a curva de

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

condutividade saturada pela sucção (Fredlund et al. 1994). As curvas de sucção pela umidade e de
sucção pela condutividade hidráulica não saturada são denominadas curvas características.

As curvas de secagem e umedecimento quase nunca coincidem, devido ao fenômeno


denominado histerese (Figura 3.1) (Hillel 1980). A histerese provocada pelos processos de molhagem e
secagem pode ser atribuída à não uniformidade dos poros, às bolhas de ar capturadas pelos vazios do
solo durante o umedecimento e à contração ou expansão do solo (Calle 2000).

A determinação da curva de retenção de água pode ser útil para a determinação indireta da
distribuição dos diâmetros dos poros de um solo, uma vez que a sucção será diretamente relacionada
com o diâmetro destes, como prediz a teoria dos tubos capilares (Li et al. 2005).

Figura 3.1 - Curvas características relacionando condutividade hidráulica e teor de umidade a carga de pressão
para um solo arenoso. Fonte: Liakopoulos (1965) apud Freeze &Cherry (1979).

A capacidade de infiltração é um parâmetro utilizado, normalmente, para quantificar a


infiltração em solos e rochas (Feitosa et al. 2008). Ela está relacionada à quantidade de água absorvida
ao longo do tempo, e é influenciada pela declividade, textura, composição, uso e ocupação do terreno.
Seu valor inicial é elevado e diminui gradativamente, à medida em que o solo ou rocha se satura, até
alcançar valor constante (Feitosa et al. 2008). Em locais planos onde não existe gradiente para a água
escorrer, a infiltração tende a ser maior (Salles et al. 1999, Fagundes 2010, Dutra 2017). Além disso,
este processo depende de diversos fatores dos solos ou rochas como porosidade, umidade antecedente,
capacidade de campo, condutividade hidráulica saturada e não saturada, presença de camada menos
permeável no perfil (Fagundes et al. 2012, Seratto et al. 2019).

Parte da água que infiltra, permanece nos espaços preenchidos por água e ar da zona não
saturada do solo. Outra parte, pode fluir lateralmente na zona não saturada, em regiões mais rasas e
pouco permeáveis e é denominada interfluxos (Freeze & Cherry 1979, Feitosa et al. 2008). Em áreas de
carstificação de cangas o interfluxo pode ocorrer sazonalmente (Dias 2021). Um processo que também

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

deve ser levado em consideração é a ascensão capilar, pois a água que infiltra no solo pode depois
evaporar ou, ainda, ser consumida pelas plantas e transpirar. Por fim, a água infiltrada não
evapotranspirada pode atingir o nível freático, promovendo a recarga dos aquíferos (Feitosa et al. op.
cit.).

3.2.1 Infiltração e recarga

Toda água que infiltra no solo, supera o processo de evapotranspiração, passa pela zona não
saturada do terreno, atinge a zona saturada e se torna parte do armazenamento do aquífero, é considerada
recarga (Healy 2010). As áreas de recarga, portanto, apresentam fluxo de água descendente e constituem
os locais de reabastecimento dos reservatórios subterrâneos (Freeze & Cherry 1979). Existem três tipos
de fonte de recarga: direta, proveniente da precipitação; indireta, propiciada pelos corpos hídricos
superficiais; e artificial, provocada por ação antrópica, como por exemplo, a irrigação (Rebouças 2002).
Alguns fatores influenciam no processo de recarga, dentre eles tem-se: características geológicas,
geomorfológicas, hidrogeológicas, pedológicas, umidade do solo, vegetação, intensidade da
precipitação, escoamento e acumulação da água (Lerner 1990, Rebouças 2002, Healy 2010). A
espessura do solo também interfere na recarga, já que solos mais espessos têm capacidade de armazenar
a água precipitada por mais tempo e, posteriormente, liberá-la para o aquífero subjacente (Seraphim &
Bezerra 2019).

Diferentes métodos, diretos e indiretos, podem ser empregados para mensurar a recarga de um
aquífero: medidas de variação do nível de água, balanço hídrico, análise de curva de recessão, traçadores
hidrogeoquímicos, balanço de cloreto, isótopos (Freeze & Cherry 1979).

A recarga, portanto, está ligada à infiltração, que consiste no fluxo de água a partir da superfície
através da zona não saturada (Freeze & Cherry 1979). Contudo, parte da água infiltrada retorna à
superfície por evapotranspiração.

Há diversas equações empíricas que descrevem as taxas e infiltração com o tempo. Uma das
mais conhecidas é a de Philip (1957):

B 1
I = K + ( )2 Equação 3.1
2t

Onde I é a taxa de infiltração após tempo t; B é a sorção (devido à sucção), e K é a condutividade


hidráulica vertical.

Como representado na equação 3.1, sob chuva intensa a taxa de infiltração diminui com o tempo
até atingir um valor constante, equivalente à condutividade hidráulica vertical (Selby 1993), quando a
sucção devido à capilaridade é eliminada com o crescimento da umidade. A determinação da taxa de
infiltração (TI) da água no solo ou rocha pode ser realizada por meio de diferentes métodos, dentre eles

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

tem-se os infiltrômetros. Com estes instrumentos é possível, portanto, determinar a condutividade


hidráulica vertical de solos e rochas.

3.2.1.1 Infiltrômetros

Os infiltrômetros de anel simples ou duplos permitem quantificar a infiltração por meio do


acompanhamento das taxas de fluxo de área inundada sob determinada carga hidráulica. O infiltrômetro
de anel simples produz resultados superdimensionados de taxa de infiltração, pois parte do fluxo é
sugado lateralmente por forças capilares do meio mais seco circundante ao anel. Quanto mais profunda
a cravação do anel simples e quanto maior seu diâmetro, menor é o efeito desta dispersão lateral de
fluxo. Contudo, na prática, nem sempre é simples o emprego de anéis maiores e de cravação mais
profunda. Para superar estes inconvenientes, têm sido propostas equações para corrigir o efeito da
dispersão lateral de fluxo e, assim, fornecer valores mais fidedignos de taxas de infiltração e,
consequentemente, da condutividade hidráulica (Reynolds & Erick 1990). O infiltrômetro de anel duplo,
por outro lado, emprega um anel externo adicional, que tem a finalidade de confinar o fluxo do anel
interno na vertical, fornecendo, em tese, valores mais confiáveis destes parâmetros hidráulicos.

Nos ensaios com infiltrômetros de anéis emprega-se tradicionalmente uma carga hidráulica
constante, ou seja, eles são inundados internamente. Uma alternativa a isto, é acoplar um simulador de
chuva ao anel de infiltração possibilitando o umedecimento do solo de maneira natural e considerando
o efeito do impacto de gotas de chuva na superfície (Ogden et al. 1997). Os simuladores tendem a ser
também mais vantajosos pois apresentam menor consumo de água e tempo de execução de ensaio mais
reduzido (Ogden et al. 1997).

Infiltrômetro de aspersão de Cornell

O modelo de infiltrômetro denominado “Cornell Sprinkle Infiltrometer”, descrito por Van Es &
Schindelbeck (2003), corresponde a um simulador de chuva portátil (aspersor) acoplado a um anel
simples. Ele é pequeno, leve, prático, de fácil calibração e manuseável por uma única pessoa, além de
demandar pouca água. Ele foi desenvolvido na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, e permite
medir a infiltração de água no solo sob diferentes taxas de precipitação. O simulador de chuva apresenta
volume de 20,6 litros e 69 tubos gotejadores em sua parte inferior, que consiste em um anel de infiltração
de 0,241m de diâmetro. Um tubo de Mariotte permite controlar a intensidade de chuva (Santi et al. 2012,
Van Es & Schindelbeck 2015, Seratto et al. 2019).

O anel simples de infiltração é cravado no solo a uma profundidade de aproximadamente 7,5cm


para delimitar a aplicação de água no espaço amostral (Van Es & Schindelbeck 2015). Nesse anel, tem-
se uma mangueira responsável por coletar a água que não infiltra e direcioná-la para um recipiente
coletor que se localiza abaixo do infiltrômetro, onde ficará armazenada (Figura 3.2). O orifício de

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

escoamento deve ser posicionado na direção descendente do relevo (Van Es & Schindelbeck op. cit.).
Assim, é possível determinar o escoamento superficial (ml/min) de água no solo (Equação 3.2) (Martins
& Santos 2017, Seratto et al. 2019).

Figura 3.2 - Modelo esquemático do infiltrômetro de Cornell. Modificado de Van Es & Schindelbeck (2015).
Vt
ES= Equação 3.2
457,30Xt

Em que, Vt (ml) é o volume de água que escoou e foi coletado no recipiente, 457,30cm2 é a área
do anel e t é o tempo em minutos durante o qual o volume (Vt) foi coletado.

O infiltrômetro de Cornell permite determinar o valor da intensidade de precipitação simulada


em cm/min (Equação 3.3), que é controlada pela movimentação do tubo de Mariotte localizado na parte
superior do equipamento.
(h1−h2)
P= tf
Equação 3.3

Onde, h1 e h2 (cm) são as cargas hidráulicas inicial e final de água no reservatório,


respectivamente e tf (min) o tempo de duração do ensaio.

A taxa de infiltração (TI) é calculada pela diferença entre a intensidade de precipitação simulada
(P) e o escoamento superficial (ES), sua unidade de medida é cm/min (Equação 3.4).

TI=P-ES Equação 3.4

Outro parâmetro que pode ser obtido é a sorção (S) dada em cm/min², utilizando o valor da
intensidade de precipitação simulada e o tempo transcorrido (tRO) até o início do escoamento
superficial. Esse tempo varia em função das condições iniciais de água no solo e da intensidade de
precipitação (Equação 3.5).

S=(2tRO)0,5xP Equação 3.5

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Infiltrômetro de anéis duplos

Este é um método simples e econômico, no qual dois anéis são fixados concentricamente no
solo até uma profundidade determinada e a água é aplicada por inundação em ambos. O anel externo
tem a função de minimizar a dispersão lateral no anel interno (Freitas et al. 2021), favorecendo a
infiltração vertical e obtenção de valores de taxa de infiltração mais exatos (Figura 3.3).

Figura 3.3 - Modelo esquemático do infiltrômetro de anéis duplos, fonte: Freitas et al. (2021).

Uma carga hidráulica inicial é estabelecida e a variação do nível de água é medida em intervalos
regulares de tempo, por meio de uma régua graduada fixada no anel interno. Logo, a taxa de infiltração
é obtida por meio da razão entre a variação do nível de água pelo tempo.

Infiltrômetro de mini disco

Este equipamento, também denominado permeâmetro de disco ou infiltrômetro de tensão,


permite determinar as propriedades hidráulicas do solo de maneira simples e rápida. Ele pode ser
empregado in situ, demanda pouca água e permite realizar o ensaio em um curto intervalo de tempo.
Além disso, apresenta o diferencial de fornecer a infiltração de água sob sucções variáveis, as quais
permitem caracterizar os poros existentes. (Fernandes 2011, METER Group 2021). De acordo com a
teoria da capilaridade é possível estimar o tamanho dos poros conforme a sucção estabelecida. Segundo
Li et al. (2004), sucções de -0,5, -2 e -6 excluem fluxo em poros com diâmetro maior ou igual a 6, 1,5
e 0,5mm, respectivamente. Luxmoore (1981) classifica os poros em: macro, diâmetro maior que 1mm;
meso, diâmetro entre 1 e 0,01mm; e, micro, diâmetro inferior a 0,01mm.

Esse infiltrômetro é composto por duas câmaras: superior, que permite controlar a sução com
um tubo de Mariotte, podendo variar de 0,5 a 7cm, e, inferior, que consiste no reservatório de água. Da
base para o topo, ele é constituído por um disco de aço inoxidável poroso, com aproximadamente 4,5cm

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

de diâmetro, que possibilita a passagem de água apenas quando está em contato com a superfície do
solo. Acoplado a ele, tem-se o reservatório graduado que permite armazenar cerca de 90ml de água,
logo acima, separados por uma barreira de borracha, encontra-se a câmara onde está localizado os tubos
de Mariotte e de controle de sucção, e no topo, o equipamento é vedado por uma rolha de borracha
(Figura 3.4).

Figura 3.4 - Representação esquemática do infiltrômetro de disco. Modificado de METER Group (2021).

Quando se determina a taxa de infiltração sob tensão, é possível obter a condutividade hidráulica
não saturada. Um dos métodos empregados para se obter o valor da condutividade hidráulica é o de
Zhang (1997), que consiste no ajuste dos dados de infiltração versus o tempo com a função (Equação
3.6):

I = C1 √t + C2 t Equação 3.6

Onde C1(m/s) está relacionado à sortividade do solo e C2 (m/s) é a condutividade hidráulica.


Como a condutividade hidráulica (K) é não saturada, então ela pode ser calculada a partir de (Equação
3.7):
C1
K= A
Equação 3.7

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

C1 é a inclinação da curva da infiltração acumulada versus a raiz quadrada do tempo e A é um


valor que relaciona os parâmetros de Van Genuchten para um determinado tipo de solo com a taxa de
sucção e o raio do disco do infiltrômetro (Tabela 3.1).

Tabela 3.1- Parâmetros de Van Genuchten para as classes de texturas do solo e valores de A para o disco de raio
2,5cm e valores de sucção entre 0,5 e 6cm. Fonte: Meter Group.

A
Textura do solo α n/ho
–0.5 –1 -2 -3 -4 -5 -6
Areia 0.145 2.68 2.84 2.4 1.73 1.24 0.89 0.64 0.46
Areia argilosa 0.124 2.28 2.99 2.79 2.43 2.12 1.84 1.61 1.4
Loam arenoso 0.075 1.89 3.88 3.89 3.91 3.93 3.95 3.98 4
Loam 0.036 1.56 5.46 5.72 6.27 6.87 7.53 8.25 9.05
Silte 0.016 1.37 7.92 8.18 8.71 9.29 9.9 10.55 11.24
Loam siltoso 0.02 1.41 7.1 7.37 7.93 8.53 9.19 9.89 10.64
Loam argilo-arenoso 0.059 1.48 3.21 3.52 3.24 5.11 6.15 7.41 8.92
Loam argiloso 0.019 1.31 5.86 6.11 6.64 7.23 7.86 8.55 9.3
Loam argilo- siltoso 0.01 1.23 7.89 8.09 8.51 8.95 9.41 9.9 10.41
Areno-argiloso 0.027 1.23 3.34 3.57 4.09 4.68 5.36 6.14 7.04
Silto-argiloso 0.005 1.09 6.08 6.17 6.36 6.56 6.76 6.97 7.18
Argiloso 0.008 1.09 4 4.1 4.3 4.51 4.74 4.98 5.22

Para solos cujo valor de n é inferior a 1,35, emprega-se a equação proposta por Dohnal et al.
(2010) para determinar a condutividade (Equação 3.8).

1C (αr )0.6
0
K = 11.65(n0.82 −1)exp [34.65(n−1.19)αh
Equação 3.8
0

Onde n e α são os parâmetros de Van Genuchten para o solo, ro é o raio do disco e ho é a sucção
escolhida.

3.3 AQUÍFEROS

A ocorrência e mobilidade da água em subsuperfície depende das características do material,


como litologia, textura e estrutura (Singhal & Gupta 2010). A água subterrânea se move bem lentamente
das áreas de alto potencial hidráulico para as áreas de baixo potencial, e seu tempo de residência no
subsolo, normalmente, é acima de 200 anos (Cleary 2007). São denominados aquíferos, as formações
geológicas que contém água e podem transmiti-la em quantidades significativas sob gradientes
hidráulicos comuns (Freeze & Cherry 1979, Feitosa et al. 2008). Existem também, formações
impermeáveis como a argila e o folhelho, que podem conter água, mas são incapazes de transmiti-la em

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

condições naturais, essas recebem o nome de aquiclude. Já os aquitardos, são camadas ou formações
semipermeáveis que transmitem água a taxas muito baixas, por filtração vertical ou drenança. E, por
fim, tem-se as formações que não transmitem e nem armazenam água, denominadas aquifugo (Caicedo
2001, Feitosa et al. op. cit. 2008, Singhal & Gupta op. cit.).

Os aquíferos podem ser classificados em livres e confinados (Feitosa et al. 2008). Aquíferos
confinados, são aqueles em que a pressão da água em seu topo é maior do que a pressão atmosférica, ou
seja, existe uma pressão de carga além da atmosférica. Eles também podem ser considerados drenantes
ou não-drenantes, de acordo com as características da camada confinante. Os aquíferos confinados
drenantes apresentam pelo menos uma de suas camadas limítrofes semipermeáveis, permitindo o fluxo
pelo topo e/ou pela base; em contrapartida, nos aquíferos confinados não-drenantes as camadas inferior
e superior são impermeáveis. São chamados aquíferos livres, não-confinados ou freáticos, aqueles cuja
superfície se encontra sob pressão atmosférica. Além disso, podem ser denominados aquíferos
suspensos, os aquíferos livres que possuem sua base e extensão limitadas por camadas impermeáveis ou
semipermeáveis.

3.3.1 Propriedades físicas dos aquíferos

Uma das propriedades físicas inerentes aos aquíferos é a porosidade (η), que corresponde ao
volume de espaços vazios em relação ao volume de total da rocha ou solo (Equação 3.9) (Feitosa et al.
2008).
VV
η= Vt
Equação 3.9

A porosidade pode ser de origem primária, relacionada à matriz do solo ou da rocha, ou


secundária, desenvolvida depois que a rocha já está consolidada (fraturas, dissolução). Há também a
porosidade efetiva (ηe) ou vazão específica (Sy), um parâmetro adimensional que representa a quantidade
específica de água fornecida por uma determinada formação geológica. Ela é dada pela relação entre o
volume de água drenado por meio de forças gravitacionais (Vg), pelo volume de rocha (Vt) (Equação
3.10).
Vg
ηe ≅ S y = Vt
Equação 3.10

A porosidade efetiva é usualmente medida em testes de aquífero (Freeze & Cherry 1979, Cleary
2007, Feitosa et al. 2008). Existem alguns parâmetros que são utilizados para descrever as propriedades
hidrogeológicas das formações geológicas, como a condutividade hidráulica (K) e o coeficiente de
armazenamento (S).

A condutividade hidráulica refere-se à facilidade do aquífero em conduzir água. Ela depende da


porosidade do meio, tamanho e forma das partículas e das características do fluido, como massa

22
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

específica e viscosidade (Equação 3.11). Por meio da condutividade hidráulica, é possível definir a
isotropia ou anisotropia de uma formação geológica, assim como a homogeneidade do meio. Vale
ressaltar que apenas a porosidade do material não é suficiente para que ele tenha boa condutividade,
pois é necessário também que os poros estejam conectados (Cabral 2008, Freeze & Cherry 1979).
k⍴g
K= Equação 3.11
μ

Onde:

k= permeabilidade intrínseca (L²);

⍴= massa específica (M/L³);

g= aceleração da gravidade (L/T);

μ= viscosidade dinâmica (M/L.T).

Na zona não saturada a condutividade hidráulica varia com o teor de umidade dos materiais,
pois quanto mais secos os solos e rochas, menos condutivos eles são (Freeze & Cherry 1979). O
coeficiente de armazenamento (S) corresponde ao volume de água liberado por um volume unitário do
aquífero, ao diminuir a carga hidráulica de uma unidade. Para aquíferos livres, o coeficiente de
armazenamento é equivalente à vazão específica (Sy) e para os aquíferos confinados está relacionado
ao armazenamento específico (Ss).

3.4 BALANÇO HÍDRICO

O balanço hídrico é utilizado para quantificar os componentes presentes no processo de


movimentação da água, precipitação (P), evapotranspiração real (ET), escoamento superficial (Qsup),
escoamento subterrâneo (Qsub) e infiltração (I). Ele pode ser executado em escala de detalhe em
horizontes superficiais, para determinar a infiltração ou evapotranspiração, ou em escala regional,
objetivando verificar a quantidade de água que infiltra no terreno e pode se converter em recarga para o
aquífero. Dessa maneira, a diferença entre as entradas e saídas deve ser igual à variação do
armazenamento no próprio sistema durante um ano, pelo princípio da conservação de massa (Feitosa et
al. 2008, Freeze & Cherry 1979).

Na superfície, a equação pode ser descrita como:

∆Ssup= P-ET- Qsup -I Equação 3.12

Já em subsuperfície, o armazenamento é calculado da seguinte forma:

∆Ssub= ET- Qsup –I Equação 3.13

23
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

A soma do armazenamento hídrico superficial e subterrâneo (Equação 3.14), resulta no Stotal que
representa o armazenamento total, no qual obtém-se o Qtotal referente ao escoamento total do sistema e
há o cancelamento da infiltração (I).

∆Stotal= P-ET- Qtotal Equação 3.14

O balanço hídrico quando executado em escala regional pode fornecer informações de recarga
do aquífero (Dias 2021).

3.5 MONITORAMENTO DA SATURAÇÂO DA CANGA POR


ELETRORESISTIVIDADE

A eletrorresistividade é um método geofísico de baixo custo, utilizado para determinar a


resistividade elétrica de rochas e solos. Por meio de ensaios executados na superfície do terreno, é
possível identificar corpos minerais e estruturas geológicas no subsolo, devido à resposta elétrica dos
materiais, e também de trechos mais ou menos saturados na zona vadosa e de fluxos preferenciais nos
aquíferos (Telford et al. 1990, Borges 2002, Braga 2006). A resistividade representa a dificuldade da
corrente elétrica de atravessar o material, logo, ela corresponde ao inverso da condutividade, que pode
ser classificada como eletrônica ou eletrolítica. A condutividade eletrônica está relacionada ao transporte
de elétrons pela matriz da rocha, através de metais e semicondutores. Já a condutividade eletrolítica,
associa-se ao deslocamento dos íons presentes na água situada nos poros, sendo comum de eletrólitos
sólidos e líquidos (Borges 2002, Braga 2006). Assim, empregando este método, é possível realizar o
monitoramento da frente de saturação, e visualizar a infiltração ao longo de um perfil no solo ou de
canga.

Para determinar o valor da resistividade do material, aplica-se a lei de Ohm. Essa lei define que
a corrente elétrica (I) através de um condutor é proporcional à diferença de potencial (V) aplicada nele,
fornecendo a resistência elétrica (R), uma constante, cuja unidade de medida é em Ohms (Telford et al.
1990). Além disso, para obter o valor da resistividade elétrica em Ohm.m (⍴), deve-se considerar a área
(S) e o comprimento (L) do condutor (Equação 3.15).
V.S
⍴= Equação 3.15
I.L

Os equipamentos medem a resistividade aparente (⍴a), pois as condições no subsolo não são
homogêneas. Assim, seu valor depende da natureza do solo e rochas atravessados pela corrente (Equação
3.16) e, do tipo de arranjo utilizado na investigação (Telford et al. 1990).
𝑉
⍴a=k 𝐼 Equação 3.16

Onde, k é um fator geométrico relacionado ao arranjo dos eletrodos, e pode ser obtido por
(Equação 3.17):

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.


K= 1 1 1 1 Equação 3.17
− − +
𝐴𝑀 𝐵𝑀 𝐴𝑁 𝐵𝑁

AM, BM, AN e BN, representam a distância entre os respectivos eletrodos.

Os diferentes tipos de elementos presentes no ambiente geológico apresentam a propriedade


física da resistividade, que permite caracterizar a litologia, alteração, saturação, composição
mineralógica, porosidade, faturamento, quantidade e natureza dos sais dissolvidos, entre outros fatores.
Uma rocha cristalina apresenta baixa porosidade, portanto, alta resistividade. Entretanto, se esta rocha
estiver fraturada e houver água preenchendo essas fraturas, sua resistividade será menor (Telford et al.
1990, Borges 2002, Braga 2006, Fagundes 2010).

Uma das técnicas empregadas para a análise da resistividade, e que será utilizada neste estudo,
é o caminhamento elétrico (CE). Esta técnica é aplicada quando se tem interesse em verificar o subsolo
em duas dimensões, permitindo avaliar também, a variação lateral dos valores de resistividade aparente.
Há vários arranjos de eletrodos usualmente empregados no caminhamento elétricos, como, por exemplo,
dipolo-dipolo, polo-dipolo, gradiente (Telford et al. 1990). No arranjo dipolo-dipolo são utilizados
quatro eletrodos, dois de corrente (A e B) e dois de potencial (M e N). Realiza-se caminhamentos ao
longo de um perfil estipulado, movendo-se todo o conjunto eletródico e mantendo-se fixo o espaçamento
dos dipolos. A profundidade de investigação está diretamente relacionada ao espaço intereletrodos, ou
seja, ela será maior quanto maior for a distância entre eles (Kearey et al. 2002, Fagundes 2010). As
R
medidas de profundidades teóricas de investigação (Z= 2 ), correspondem ao ponto de interseção entre a

linha que parte do centro do arranjo dos eletrodos AB e outra que parte do centro do arranjo MN, com
ângulo de 45° (Figura 3.5). As sondagens dipolares permitem alcançar profundidades maiores com um
arranjo mais curto, apesar de seus dados estarem sujeitos a ruídos e apresentarem menor resolução
(Borges 2002, Braga 2006, Elis et al. 2008).

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 3.5 - Representação do arranjo dipolo-dipolo do caminhamento elétrico em campo. Fonte: Braga (2006).

Para que seja possível obter um modelo com dados mais próximos dos reais, efetua-se a inversão
matemática, que pode se basear, por exemplo, no método dos mínimos quadrados. A inversão objetiva
minimizar as distorções nas pseudo-seções de resistividade aparente causadas pela geometria do arranjo
eletródico utilizado (Fagundes 2010) e transformá-la numa seção mais próxima da realidade. Esta
inversão é realizada por meio de programas computacionais, sendo utilizado, neste caso, o Res2DInv
(GEOTOMO SOFTWARE 2016).

3.6 CANGAS

Na literatura, há controvérsias em relação a nomenclatura deste material de alteração.


Normalmente, emprega-se o termo geral de laterita ao se referir à bauxita, canga, ferricrete, crostas duras
de ferro ou alumínio, horizontes mosqueados, carapaças, couraças, se estendendo às formações ou
horizontes de solos ferríferos (Tardy 1993).

De acordo com Augustin et al. (2013), as lateritas são formações compostas por óxidos e
hidróxidos de Fe e Al e argilossilicatos, originadas por intensos processos de intemperismo físico e
químico, que promovem a lixiviação da sílica e originam um horizonte endurecido. Nos trópicos, onde
a temperatura e precipitação são maiores, o intemperismo ocorre com mais intensidade. Fatores como
altas temperaturas, precipitação, topografia que acentua a infiltração e estabilidade tectônica, favorecem
o intemperismo químico e, consequentemente, a formação de lateritas (Leonardi 2014). Devido aos
vários materiais que são intitulados laterita em diferentes partes do globo, ela recebeu algumas
denominações específicas em seu país de origem, sendo a ferruginosa designada, no Brasil, como canga
(Goudie 1973). Esta designação foi mencionada por Eschwege entre os anos de 1811 e 1817 quando

26
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

descreveu um material como este na cidade de Ouro Preto (Augustin et al. 2013). Na literatura
internacional essas crostas endurecidas ricas em Fe recebem outras denominações, como ferricretes ou
“iron duricrusts” (Ollier & Galloway 1990, Conacher et al. 1991, Tardy 1993), mas neste trabalho será
empregado o termo canga.

As cangas podem ser consideradas importantes registros paleoclimáticos e paleoambientais, já


que a sua gênese não corresponde à processos de intemperismo recentes, onde os depósitos estão
situados, mas ao período em que foram formadas (Costa 1990). Outro fator relevante na formação da
canga é o relevo, o desenvolvimento destes materiais ocorre em ambientes tectonicamente estáveis e em
áreas planas, sem ação constante da erosão (Tardy 1993, Figueiredo 2000). Desta maneira, a infiltração
da água, a eliminação dos elementos mais solúveis e concentração daqueles mais estáveis, como o
alumínio e ferro, são favorecidos (Licht et al. 2007).

De maneira geral, as cangas podem ser originadas por acumulação relativa, quando há
concentração de Fe2O3 e/ou Al2O3 in situ, ou por acumulação absoluta, processo que envolve o
transporte de íons de Fe2O3 e/ou Al2O3 em solução, incluindo materiais sólidos que contenham esses
elementos (Augustin et al. 2013, Souza & Carmo 2015). Isso indica que as concentrações desses
elementos não são necessariamente derivadas de rochas subjacentes (Bourman 1993). Portanto, para
classificá-las não basta realizar apenas uma análise química do material, é necessário observar a variação
lateral, a evolução geomorfológica, a estratigrafia, a forma e tamanho dos grãos, entre outros fatores.
Além disso, mesmo após formada, a canga também pode passar por um processo contínuo de
intemperismo (Bourman & Ollier 2002).

Devido à descontinuidade das crostas de ferro e alumínio endurecidas e, da acumulação absoluta


destes elementos na forma de óxidos, hidróxidos e caulinita, pode ocorrer a formação de nódulos (Soares
2013). Eles resultam da reorganização do material original e podem apresentar estrutura concêntrica,
maciça endurecida ou cimentada (Brewer 1964). Segundo Tardy (1993) e Tardy & Roquin (1998), as
cangas foram formadas em locais de clima tropical, e a sua deposição teve início no Cretáceo Superior
se estendendo até o Oligoceno na América do Sul.

Sob as atuais condições bioclimáticas que imperam no QF, alternância das condições climáticas
em úmidas e secas, as cangas têm sido progressivamente degradadas, como atestam as evidências de
campo. Esta degradação ocorre tanto por erosão mecânica como por processos biogeoquímicos, com
dissolução e reprecipitação de componentes (Shuster et al. 2012, Monteiro et al. 2014, Spier et al. 2019).
Ao longo das fases úmidas a canga pode originar um Latossolo Concrecionário cuja espessura é
condicionada à ação de cupins e formigas (pedobioturbação) (Schaefer et al. 2015). Esse processo
promove a seleção das partículas, resultando na concentração de argila e silte na superfície devido à

27
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

triagem biológica (Schaefer 2001). Durante a transição da fase úmida para a seca e vice-versa há redução
das espécies vegetais que são menos resistentes ao fogo e a sazonalidade, assim, o solo friável produzido
na fase úmida se perde por erosão. No clima seco os solos são muito rasos e ocorrem afloramento de
canga cimentada (petroplintita). Este ciclo pode se repetir diversas vezes ao longo do tempo geológico
sem alcançar o equilíbrio (Schaefer et al. 2015).

3.6.1 Gênese e caracterização física das cangas

Sobre as rochas itabiríticas do Quadrilátero Ferrífero há um espesso manto de intemperismo


composto por óxidos e hidróxidos de ferro, caulinita, gibbsita e alguns grãos de quartzo. Grande parte
desses solos são rasos, pedregosos e cascalhentos e, mesmo nos mais profundos (latossolos), é possível
observar canga em vários graus de degradação (Schaefer et al. 2015). De acordo com Dorr (1964), a
área do QFe coberta por canga é de aproximadamente 100 km².

As cangas são constituídas por fragmentos de formação ferrífera, hematita compacta, magnetita,
martita e outros minerais em menor proporção, cimentadas por óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio
(Dorr 1964, 1969, Monteiro et al. 2014). Por ser um material bastante resistente, a canga exerce o papel
de controle estrutural do relevo, além de favorecer a formação de cavidades (Dorr 1964, Souza & Carmo
2015). Essa propriedade decorre das repetidas dissoluções e reprecipitações do ferro, provocando a
restauração de sua estabilidade mecânica e a reciclagem do horizonte em que ela está situada, agindo
assim, como uma camada protetora do material sotoposto (Monteiro et al. 2014).

As cangas no QF têm sido divididas em quatro tipos diferentes (Dorr 1964,1969, Souza &
Carmo 2015):

i) Canga rica: brecha ou conglomerado de hematita de alto grau cimentada por


pouca limonita, contendo, em muitos casos, mais de 66% de ferro. Apesar do cimento preencher
alguns poros, grande parte permanece vazia;

ii) Canga normal, também classificada como detrítica ou clasto suportada: corresponde
entre 20% e 80% de fragmentos de hematita e itabirito, cimentados por limonita. Exibe aspecto
conglomerático e apresenta cerca de 50% a 60% de ferro;

iii) Canga química, também denominada canga suportada pela matriz; constituída por
pouco material detrítico, cimentado por muita limonita, apresentando baixas porosidade e
permeabilidade. Normalmente ocorrem em encostas suaves e é muito aluminosa;

iv) Canga estruturada: formada pela hidratação do ferro presente no itabirito e lixiviação
parcial de quartzo, preservando a estrutura original da rocha (bandamentos primários ou tectônicos).

28
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

De acordo com o trabalho desenvolvido no Quadrilátero Ferrífero por Spier et al. (2019), a
canga in situ (canga estruturada) preserva parcialmente a estrutura do saprolito, enquanto a canga
transportada não exibe traços da litologia original. Apesar de apresentarem composição semelhante,
material detrítico, hematita, martita, óxidos de manganês, fosfatos secundários, gibbsita e cimento
goethítico, a canga transportada é mais heterogênea, contendo também, fragmentos de canga mais
antiga. Além disso, ela é bastante porosa, com poros atingindo cerca de 2 cm de diâmetro (Spier et al.
Op. cit.).

As cangas estruturadas tendem a ser mais antigas e a se localizar nas maiores altitudes, em
platôs, enquanto as detríticas tendem a ocupar os setores mais baixos do relevo, especialmente em
rampas e baixadas, às vezes, inclusive, cobrindo a canga estruturada (Spier et al. 2019, Dias 2021). As
cangas detríticas muitas vezes ocorrem formando espessos pacotes constituídos por camadas de
diferentes granulometrias (Dutra 2017), denotando deposição sob diferentes condições de energia.

No Brasil, as cangas são abundantes em duas das mais importantes províncias minerais do
mundo, no Quadrilátero Ferrífero (QF) e na Serra dos Carajás (SC) (Maurity & Kotschoubey 1995,
Spier et al. 2019). Nestas regiões, as cangas nem sempre apresentam os horizontes do perfil laterítico
clássico descrito na literatura (Nahon & Tardy 1992, Bourman 1993, Dias & Bacellar 2021, Machado
et al. 2021). Normalmente, elas exibem um nível superficial de grande dureza, que atinge até dezenas
de metros de espessura, denominado couraça ou iron duricrust, sobreposto a um horizonte menos
resistente e mais erodível, que tem recebido várias denominações, como mottled zone (Nahon & Tardy
1992, Bourman 1993, Bourman & Ollier 2002, Widdowson 2007, Grimes & Spate 2008), zona de baixa
densidade (Twidale 1987, Maurity 1995), horizonte de transição (Gonçalves et al. 2016, Gonçalves
2019) ou fácies fragmentada (Assis 2018). Neste trabalho serão adotados os termos crosta para a camada
de canga e horizonte de transição para o material friável sotoposto à canga.

3.6.2 Cavidades em cangas

São variados os tipos de feições cársticas encontradas em regiões constituídas por canga, como
cavidades, condutos e dolinas. Tais feições têm sido descritas não só no Quadrilátero Ferrífero e na Serra
de Carajás (Auler et al. 2019, Ferreira 2020; Dias 2021, Machado et al. 2021), mas também em outros
lugares do mundo (Dixey 1920, Axelrod et al. 1952, Simmons 1964, Sponholz 1994, Grimes & Spate
2008). A carstificação se desenvolve preferencialmente abaixo da crosta mais resistente, no horizonte
transicional, no contato deste com o saprolito das formações ferríferas subjacentes ou até mesmo no
interior destas (Machado et al. 2014, Dias & Bacellar 2021, Auler et al. 2022).
Feições cársticas são produto da interação hidrológica e geoquímica que promovem a dissolução
ou corrosão da rocha (Calux 2013). A presença de cavidades é comum em rochas carbonáticas, mas

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

também estão presentes em outros litotipos, como em itabiritos e em cangas. Pesquisas relacionadas a
cavernas em formações ferríferas no Brasil eram muito escassas, o primeiro estudo mais detalhado
referente ao tema foi o de Simmons (1963), no Quadrilátero Ferrífero. Contudo, a partir de 2005, o
interesse por essas informações cresceu devido ao aumento da demanda do minério de ferro no mercado
internacional. Em decorrência disso, houve maior rigor dos órgãos de legislação ambiental (Calux 2013).
O Quadrilátero Ferrífero pode ser considerado uma província espeleológica devido à grande
densidade de cavernas situadas em rochas ferríferas, uma das maiores do mundo (Karmann & Sánchez
1979). As cavidades no QFe estão localizadas, em sua maioria, em rochas do Grupo Itabira, composto
por itabiritos, dolomitos ferruginosos e filitos hematíticos, no contato erosivo entre a canga e o material
subjacente, e na própria canga (Pereira & Souza 2009, Auler et al. 2022).
Grande parte das cavidades situadas em cangas são resultantes do intemperismo da Formação
Cauê. Essa formação é constituída por diferentes tipos de itabirito e apresenta depósitos de óxidos de
ferro com até 500 metros de espessura (Dutra 2013). De acordo com estudos realizados no Quadrilátero
Ferrífero por Calux et al. (2019), a ocorrência de cavidades em formações ferríferas está diretamente
relacionada a locais com minério de ferro de alto teor e situam-se, preferencialmente, em eixos e flancos
de dobras, fraturas (tectônicas e atectônicas) e em planos de falha (Calux et al. 2019). Em dados
apresentados pelo CANIE - Cadastro Nacional de Informações Espeleológica, das 1490 cavidades
presentes no Quadrilátero Ferrífero, 989 situam-se em canga/formação ferrífera bandada, ou seja, mais
de 66% ocorrem em litologias associadas ao ferro (Castro et al. 2020).
As cavernas em formações ferríferas e cangas podem ser condicionada por fatores litológicos,
estruturais e geomorfológicos (Nola & Bacellar, 2021) e originadas por diversos processos, entre eles
tem-se: erosão, que correspondem às cavidades geradas no contato entre a canga e as rochas subjacentes
devido ao processo de erosão diferencial; dissolução, formadas nos itabiritos situados abaixo da canga;
lixiviação; e biogêneses ou ampliação, por escavações da megafauna, por exemplo (Simmons 1963,
Dutra 2013).
Os platôs de canga são mais resistentes se comparados ao material que sustenta sua estrutura,
com isso, ocorre erosão dos litotipos situados em sua base (horizonte de transição), resultando no recuo
lateral das vertentes (Pereira et al. 2012). Devido ao recuo da borda do platô e ao fluxo subsuperficial
(interfluxo) ao longo do contato entre a canga e a formação ferrífera intemperizada, a erosão é facilitada,
causando a ruptura do relevo e favorecendo a geração e ampliação de poros e cavernas (Pereira et al.
2012, Auler et al. 2022.). Dessa forma, as cavidades tendem a se localizar no horizonte de transição,
mais friável (Figura 3.6), entre a camada de canga (teto) e a formação ferrífera intemperizada (base)
subjacente (Auler et al. 2022).

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Figura 3.6 - Perfil representativo da cavidade na zona de contato, mostrando colapso do teto na parte inferior
inicial. Fonte: Auler et al. (2022).
Normalmente, as cavidades nessas tipologias são de pequena extensão (Dutra 2017, Auler et al.
2022) e situam-se em quebras de relevo, seja internamente ou externamente ao platô de canga, e
apresentam inclinação semelhante à da vertente (Dutra 2017). Também podem estar localizadas na borda
de lagoas, nas cabeceiras e borda de drenagens, desde a alta até a baixa vertente (Piló & Auler 2009).
Estudos desenvolvidos por Auler et al. (2022) em mais de 1800 cavidades inseridas nestas litologias e
situadas nas regiões de Carajás, QFe e sul do Espinhaço, revelaram que a maior parte dessas cavernas
(88%) não ultrapassam 50m de extensão.
O interior destas cavidades é bastante rugoso em decorrência de sua litologia e formação, onde
há predominância da erosão (Dutra 2017). A presença de descontinuidades nas paredes e no teto
ocasionam queda de fragmentos com tamanhos consideráveis em seu piso e grande parte do material
sedimentar encontrado dentro dos condutos é de origem autóctone (Pereira & Souza 2009, Dutra 2017).
O teto destas cavidades apresenta pequena espessura, variando de decímetros a poucos metros.
Isto ocorre porque essas tipologias foram formadas em superfície, provenientes do intemperismo
experimentado pelo itabirito e rochas subjacentes, que foram expostas há milhões de anos (Dutra 2017).
A proximidade com a superfície associada com a porosidade da canga, favorecem o processo de
infiltração (Calux 2013).

Geralmente, as cavidades são secas, a umidade presente na forma de surgências e poças


temporárias é mais proeminente na estação chuvosa e ocorre devido ao gotejamento e percolação de
águas pluviais através de feições geológicas, provocando fluxo subsuperficial irregular (Schaefer et al.
2015, Dutra 2017). A ocorrência de água no interior das cavernas, juntamente com a ação microbiana,
auxilia no processo de redução do ferro que é removido pelo fluxo subterrâneo como de Fe (II)
dissolvido na água (Parker et al. 2013).

3.6.3 Caracterização hídrica das cangas

As formações Quaternárias e Terciárias como alúvios, colúvios e cangas, podem apresentar boas
condições para armazenamento e circulação de água subterrânea (Dutra 2017). Segundo Carmo et al.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

(2012), as cangas favorecem a recarga hídrica em subsuperfície devido à presença de muitos poros,
fraturas e cavidades. Cerca de 80% das reservas de água subterrânea situadas no Quadrilátero Ferrífero
estão associados às cangas e às formações ferríferas, correspondendo à 4 bilhões de m³ (ICMBio 2010).
Mourão (2007) definiu no QFe algumas unidades hidrogeológicas como aquíferos e unidades
confinantes, de acordo com as propriedades hidráulicas e características litológicas dominantes. São
elas: aquíferos inconsolidados, aquíferos quartzíticos, aquífero carbonático, aquíferos em formações
ferríferas, aquíferos em xistos, aquíferos em rochas granito-gnáissicas e unidades confinantes. Os
aquíferos em cangas foram classificados como inconsolidados (Mourão 2007, Gonçalves et al. 2018),
ou seja, exibem porosidade intersticial, são livres, descontínuos, heterogêneos anisotrópicos. Desta
forma, apresentam grande importância para a recarga dos aquíferos sotopostos. Ramos et al. (2020) não
associaram a canga à nenhuma unidade hidrogeológica, pois segundo estes autores, ela atuaria como
zona de passagem de água para unidades sotopostas e não teria a capacidade de armazená-la.
Apesar de serem caracterizadas por significativas porosidades, entre 15 e 30%,
excepcionalmente, superiores a 50%, seja em micro como na mesoescala (Dorr 1969, Firmino e Souza
2018, Spier et al. 2019, Dias 2021), há controvérsias quanto a condutividade hidráulica das cangas.
Alguns autores atribuem alta condutividade (Lazarim & Loureiro 2000, Mourão 2007, Auler et al. 2022)
e permeabilidade a este material, enquanto outros argumentam que embora a porosidade seja elevada, a
baixa conexão entre os poros reduziria a condutividade hidráulica (Dorr 1964, Firmino e Souza 2018).
Dois estudos desenvolvidos na Serra do Gandarela (Hidrovia 2017, Firmino e Souza 2018), leste
do Quadrilátero Ferrífero, determinaram a condutividade hidráulica por meio de ensaios empregando o
infiltrômetro de anéis duplos. Hidrovia (2017) obteve maior condutividade hidráulica para a canga
detrítica, correspondendo a 7,77x10-6 m/s. Enquanto para as cangas hematíticas, a condutividade variou
entre 0 e 1,65x10-6 m/s. Já Firmino e Souza (2018) alcançou valores de condutividade hidráulica de
1,39x10-8 m/s para as cangas mais preservadas e 4,17x10-8 m/s para as mais degradadas. Dias (2021)
realizou 20 ensaios de infiltração empregando o infiltrômetro de aspersão de Cornell em cangas situadas
na Serra da Moeda (QF) e constatou que nem todas as cangas apresentam uma curva de infiltração típica.
Destes, 12 foram executados em canga detrítica e fornecerem condutividade hidráulica igual a 2,8x10 -
6
m/s. Já os 8 ensaios desenvolvidos em canga estruturada, exibiram valores mais elevados com média
de 8,3x10-6m/s.
A interação canga/atmosfera promove a umidade do solo recoberto, ocasionada pela elevada
taxa de transferência de água da atmosfera para subsuperficie. Alguns estudos revelaram que a recarga
hídrica subterrânea é maior em solos constituídos por vegetação aberta, onde a evapotranspiração e a
interceptação são menores (Schaefer et al. 2015, Dias 2021). Enquanto solos sob mata fechada
apresentam-se úmidos somente nos primeiros 100cm (Schaefer et al. 2004). Parte da água não infiltrada
escoa superficialmente, provocando cachoeiras sazonais.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Dias (2021) afirma que as cangas se comportam como um meio cárstico-fissural (Figura 3.7), o
que explicaria a presença de água no interior destas cavidades por infiltração em fraturas ou macroporos
(Dutra 2017). Além disso, nascentes e efeito cachoeira nas escarpas são ocasionados pelo interfluxo que
ocorre no contato entre a canga e a rocha subjacente (horizonte de transição), devido ao seu caráter mais
friável e erodível (Dutra 2017, Dias 2021).
Quando a água atinge o horizonte de transição ela tende a recarregar o aquífero, pois, o caráter
pouco permeável de cangas muito maciças dificulta a evapotranspiração da água que infiltra,
especialmente pelas descontinuidades e cavidades conectadas à superfície, logo, a água que não é
perdida pelo interfluxo, atravessa o saprólito e se torna recarga para o aquífero (Dias 2021). Dessa
maneira, Dias & Bacellar (2021) classificaram o fluxo de água como lento, principalmente através da
matriz, horizonte de transição e saprólito, enquanto ao longo de cavidades e descontinuidades ele
apresenta velocidade elevada.

Figura 3.7 - Modelo hidrogeológico conceitual de área constituída por canga sobreposta ao e itabirito. DS:
Depressão superficial; T: tálus. Fonte: Dias & Bacellar (2021).

Na superfície das cangas e no interior das cavernas existem lagoas temporárias ou perenes, que
representam ambiente fundamental para existência de alguns organismos. Algumas dessas lagoas
situam-se há aproximadamente 1800 m de altitude no Quadrilátero Ferrífero (Carmo et al. 2012). Esta
saturação temporária ou perene é outro fator que tende a favorecer a infiltração e recarga.

33
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

34
CAPÍTULO 4
4 MATERIAIS E MÉTODOS

O projeto foi desenvolvido nas seguintes etapas: levantamento bibliográfico, seleção das áreas
de estudo, caracterização das cangas, caracterização das rotas de fluxo, análise e interpretação dos
resultados, elaboração da dissertação e de artigo científico.

4.1 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO E COMPILAÇÃO DE DADOS

Inicialmente, realizou-se a pesquisa e compilação bibliográfica referente, sobretudo, às cangas,


infiltração, recarga de aquíferos e métodos de ensaios de campo e laboratoriais. Esta etapa incluiu a
leitura de artigos científicos, teses, relatórios, livros e dissertações, em especial as desenvolvidas por
Dias (2021) e Firmino e Souza (2018), cujos trabalhos fomentaram o aprofundamento e a busca por
novas respostas relacionadas ao tema desta pesquisa.

Ademais, efetuou-se o levantamento de dados que consistiu, primeiramente, na análise de


imagens de satélite (Google Earth Pro Google 2021) para pré-seleção das áreas a serem estudadas. Em
seguida, iniciou-se o estudo geológico da região, empregando como base cartográfica o mapa
confeccionado por Baltazar et al. (2005) na escala de 1:50.000 e o mapa do Quadrilátero Ferrífero na
escala de 1:150.000 (Endo et al. 2019).

4.2 SELEÇÃO DAS ÁREAS DE ESTUDO

Inicialmente, cinco áreas foram previamente definidas com o auxílio de imagens de satélite do
software Google Earth Pro. Posteriormente, os trabalhos de campo tiveram início e objetivaram a
investigação mais detalhada das características do local, como tipos e atributos das cangas, feições de
cavernamento, além da facilidade de acesso e transporte de equipamentos.

Um dos fatores fundamentais na definição das áreas de estudo foi a ocorrência de diferentes tipos
de canga, estruturada e detrítica, mas com condições geomorfológicas distintas das encontradas por Dias
(2021) e facilidade de acesso. Dessa forma, duas áreas foram selecionadas, pois atenderam os requisitos
determinados. As áreas selecionadas se situam no Campus Morro do Cruzeiro da UFOP (área 1), no
município de Ouro Preto, e no distrito de Camargos no município de Mariana (área 2).

Os dados topográficos da área 1 foram obtidos de um levantamento executado pela VALE S.A
no Quadrilátero Ferrífero, adquiridos via aerolevantamento LiDAR (Light Detection and Ranging) em
escala de detalhe, resolução de 1m. Para área 2, os dados topográficos de alta resolução (3cm/pixel)
foram obtidos por meio do levantamento com drone MAVIC PRO 2, marca DJI, executado por uma
empresa contratada, cuja altura de voo foi de 115m. Estas informações foram empregadas para a
confecção dos mapas de elevação e declividade. Para este último, os intervalos foram definidos baseados
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

nos valores utilizados por Dias (2021), que apesar de corresponder a uma área de estudo diferente, foi
empregada como base de comparação.

4.3 CARACTERIZAÇÃO DAS CANGAS

Trabalhos adicionais de campo auxiliaram nesta tarefa e ao final foram definidos trechos com
propriedades distintivas (tipo de canga, porosidade, presença de cavidade) para serem caracterizados em
detalhe. Posteriormente à seleção das áreas de interesse para o desenvolvimento da pesquisa, iniciaram
os estudos macromorfológicos e análise mineralógica (por difração de raios-X), geoquímica, textural e
estrutural da canga, incluindo coleta de amostras superficiais e subsuperficiais. Também foi quantificada
a porosidade aparente, que corresponde à relação entre o volume de vazios interconectados e o volume
da rocha (Frazão 2002). Além disso, confeccionaram-se lâminas delgadas e polidas para investigação
microscópica das amostras, quantificando-se a estrutura, intensidade e conectividade do espaço poroso.

4.1.1 Ensaios laboratoriais


4.1.1.1 Microscopia óptica

Foram confeccionadas, no laboratório de Laminação do DEGEO/UFOP, 15 lâminas delgadas,


8 da área 1 e 7 da área 2, impregnadas com resina e corante azul para facilitar a identificação dos poros.
O critério utilizado para seleção das amostras foi a representatividade das variações texturais, estruturais
e dos resultados de infiltração obtidos em cada local. As análises micromorfológicas foram efetuadas
no Laboratório de Microscopia da Pós-Graduação do DEGEO, utilizando microscópio óptico da marca
Zeiss para, principalmente, identificar, quantificar e descrever o sistema poroso. As descrições do espaço
poroso seguiram as recomendações de Bullock et al. (1985) (Tabela 4.1). As abreviações empregadas
para identificação dos minerais foram definidas por Whitney & Evans (2010).

Tabela 4.1 - Nomenclatura e descrição dos tipos de poros. Fonte: Bullock et al. (1985).

Nomenclatura Descrição dos poros


Poros cavitários Largos, com paredes irregulares, esféricos a alongados, geralmente isolados

Poros em Canais Alongados, cilíndricos ou arqueados, de paredes suaves e conformação regular

Porosidade planar Poros com paredes finas e retas, semelhantes a fissuras

4.1.1.2 Difração de raios-X

Para melhor entendimento e diferenciação composicional, oito amostras, quatro de cada área de
estudo, foram submetidas à análise de raios-X. Inicialmente, realizou-se, manualmente, a pulverização
das amostras no laboratório de difratometria de raios X do Departamento de Geologia (DEGEO) da
UFOP, até que suas partículas atingissem tamanhos máximos de 45μm. Posteriormente, elas foram
conduzidas ao laboratório de Mineralogia do Solo - Departamento de Solos - Universidade Federal de

36
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Viçosa e escaneadas pelo difratômetro Panalytical X´PERT PRO, PW 3040/60, equipado com tubo de
cobalto (radiação Co-Kα, λ = 1,79026Å), com filtro de Fe, operado com uma diferença de potencial de
40kV e corrente elétrica de 30mA. As amostras em pó foram acondicionadas em porta-amostras de
modo a provocar o mínimo de orientação possível. Por fim, os resultados foram tratados no laboratório
de difração de raios X do DEGEO-UFOP, empregando-se o software X’Pert HighScore PANalytical
para obtenção dos difratogramas.

4.1.1.3 Porosidade aparente

Determinou-se a porosidade aparente, massa específica aparente e absorção de água de 20


amostras, 10 de cada área de estudo. Estas análises foram executadas no laboratório de Ferrovias e
Asfalto do Departamento de Engenharia Civil da UFOP, de acordo com a norma NBR 5564:2022, como
descrito a seguir.

As amostras selecionadas apresentavam dimensões de aproximadamente 50mm, sem geometria


específica. Inicialmente, elas foram lavadas em água corrente com o auxílio de uma escova para remoção
de impurezas (raízes, líquens). Em seguida, elas foram colocadas em um recipiente onde adicionou-se
água destilada até submergir 1/3 da altura das amostras. Decorridas 4h de ensaio, acrescentou-se mais
água até atingir 2/3 dos corpos de prova. Após mais 4h efetuou-se a submersão total do material (Figura
4.1A). A submersão das amostras teve duração de 48h. Posteriormente, elas foram retiradas da água,
secas levemente com pano úmido e pesadas ao ar em uma balança com precisão de 0,01g (Figura 4.1B),
obtendo-se, desta maneira, a massa saturada (Msat).

Outra informação necessária para o cálculo é a massa submersa (Msub), fornecida por meio da
pesagem submersa de cada corpo de prova, individualmente. O procedimento consistiu na utilização de
um recipiente com água e balança acoplada à um fio de massa desprezível conectado à uma cesta, onde
foram colocados os corpos de prova (Figuras 4.1C, D). Após esta etapa, as amostras foram levadas à
estufa a uma temperatura de 110 +/- 5 °C até atingir massa constante. As amostras foram retiradas da
estufa e deixadas no dessecador por aproximadamente 1h para esfriar. Por fim, foram pesadas ao ar,
novamente, e determinada a massa seca (Msec). Obtidos esses valores, efetuaram-se os cálculos da massa
específica aparente (ρa) (Equação 4.1), porosidade aparente (ηa) (Equação 4.2), e absorção de água (αa)
(Equação 4.3).
Msec
ρa = M Equação 4.1
sat −Msub

(M −M )
ηa = (M sat−M sec ) . 100 Equação 4.2
sat sub

(Msat −Msec )
αa = Msec
. 100 Equação 4.3

37
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Onde a porosidade aparente (ηa) e a absorção (αa) são expressas em percentagem (%), e a massa
específica aparente (ρa) é fornecida em g/cm³.

Figura 4.1 - Ensaio de porosidade aparente. A) Submersão das amostras; B) Pesagem das amostras úmidas; C)
Pesagem da amostra submersa; D) Detalhamento da pesagem submersa. Fonte: a autora.

4.1.1.4 Análise geoquímica

Para maior detalhamento composicional das cangas, determinação de elementos majoritários e


traços, foram selecionadas seis amostras, três de cada área de estudo, para análise geoquímica. Realizou-
se a pulverização manual das amostras no laboratório de hidrogeotecnia (NUGEO) e, em seguida, elas
38
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

foram encaminhadas para o Laboratório de Geoquímica Ambiental (LGqA) do DEGEO. A técnica


empregada para análise do material foi ICP-OES (ICP-OES) (Inductively Coupled Plasma Optical
Emission Spectrometry), por meio do espectrômetro de emissão óptica com plasma indutivamente
acoplado da marca Agilent, modelo 725.

4.4 CARACTERIZAÇÃO DAS ROTAS DE FLUXO

Nesta etapa foram caracterizadas as condições de infiltração e percolação de água nas distintas
tipologias de canga, por meio da integração de vários métodos de campo em diferentes escalas espaciais
e temporais. Os dois principais métodos empregados foram o método geofísico da eletrorresistividade,
associada ao uso de traçador salino, e ensaios com diferentes infiltrômetros.

4.1.2 Ensaios de infiltração

Os ensaios de infiltração foram executados utilizando-se três tipos de infiltrômetro: de aspersão,


modelo Cornell, de anéis duplos e mini disco. Para todos eles, inicialmente, realizavam-se os seguintes
procedimentos: definia-se os locais para execução dos ensaios de acordo com o tipo de canga, presença
de feições cársticas e descontinuidades, visando, também, melhor representatividade espacial. Em
seguida, anotava-se as coordenadas dos pontos onde os ensaios seriam executados, obtidas por meio do
GPS, e limpava-se o local com o auxílio de uma escova de pedreiro. Feito isso, seguia-se para as etapas
de instalação que variavam de acordo com o tipo de infiltrômetro.

4.1.2.1 Infiltrômetro de Aspersão de Cornell

Por meio do infiltrômetro de anel simples acoplado simulador de chuva, desenvolvido pela
Universidade de Cornell (Zwirtes et al. 2013), mensuraram-se as taxas de infiltração e de escoamento
superficial nas áreas estudadas. No total, foram realizados 47 ensaios, 27 na área 1 e 20 na área 2.
Inicialmente, efetuou-se a fixação do anel de PVC na canga por meio de massa impermeável (massa de
vidraceiro), devido à impossibilidade de cravá-lo, como é recomendado para materiais menos duros,
como os solos (Figura 4.2). Em seguida, a mangueira coletora do escoamento superficial foi conectada
no orifício situado na base do anel. Feito isso, encheu-se o reservatório do simulador de chuva com água
e tamparam-se as aberturas superiores para evitar vazamento e ajustava-se o tubo de Mariotte de acordo
com a carga hidráulica desejada. Neste trabalho empregou-se carga hidráulica igual a 3cm, para manter
baixa intensidade da chuva e minimizar o escoamento superficial, pois, de acordo com testes executados
em campo utilizando diferentes cargas hidráulicas, verificou-se que quanto maior a intensidade da
precipitação, maior o escoamento, dificultado a coleta da água não infiltrada devido à pequena
capacidade de armazenamento do recipiente coletor. Então, determinou-se a taxa de precipitação pelo
simulador para a carga estabelecida, e em seguida, este foi postado sobre o anel. Por fim, anotou-se o

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

nível da água no reservatório, abriu-se o tubo de ar (tubo de Mariotte), dando início à chuva simulada,
e acionou-se o cronômetro. A cada 3 minutos, registrou-se o nível de água e mensurou-se o volume
coletado em um recipiente de silicone situado na extremidade da mangueira com uma proveta graduada
em mililitros. A adaptação do recipiente coletor do escoamento superficial se deu devido à irregularidade
da superfície da canga, sendo necessário um material maleável e que melhor se ajustasse ao terreno
(silicone). Cada ensaio durou em média 45 minutos até a vazão se tornar constante em três medidas
consecutivas. Os dados coletados foram anotados, e depois transferidos para uma planilha eletrônica
para serem tratados.

Figura 4.2 – Ensaio em campo empregando o infiltrômetro de aspersão de Cornell e identificação de suas partes.

O infiltrômetro de anel simples, acoplado ao simulador de chuva, tende a superestimar os valores


de infiltração. Isto porque ao invés de um fluxo totalmente vertical descendente no perfil, parte se
desloca lateralmente devido às forças capilares do material mais seco no entorno da área do anel (Zhang
et al. 2016). Uma das alternativas para diminuir este efeito é cravar o anel o mais profundo possível,
com a finalidade de tentar restringir ao máximo o fluxo na vertical (Reynolds & Erick 1990). Contudo,
na canga, material muito resistente, isto é impossível. Objetivando corrigir o efeito da altura da lâmina
d´água e do diâmetro do anel e da profundidade de cravação, é possível aplicar a seguinte equação
experimental (Equação 4.4, Reynolds & Erick 1990) para converter a taxa de infiltração básica (TIB)
em condutividade hidráulica saturada (Ks).

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

is
K s = [H/(C Equação 4.4
1 d+C2 a)]+1/[α(C1 d+C2 a)]+1

Onde is é a taxa de infiltração quase constante [L/T], correspondendo à TIB média; a é o raio
interno do cilindro [L], foi considerado igual a 10cm, devido à redução da área interna do anel provocada
pela massa de fixação; H é a água acumulada no cilindro [L], foi assumida carga hidráulica de 0,5cm,
referente à quantidade que fica empoçada; d é a profundidade de inserção do cilindro no meio poroso
[L], e como não foi cravado, considerou-se próximo de zero (0,01cm); α é o número de sorção do meio
poroso [1/L], assumindo-se 0,27 para a canga (vide tabela 3.1); C 1 = 0,316π e C 2 = 0,184π são
parâmetros de forma. Dessa maneira, os valores de taxa de infiltração básica (TIB) de cada ensaio foram
divididos por 1,26.

4.1.2.2 Infiltrômetro de anéis duplos

Foram realizados 15 ensaios empregando o infiltrômetro de anéis duplos, 9 na área 1 e 6 na área


2. O equipamento consiste em dois anéis de diâmetros distintos, um de PVC de 25cm e outro de
polipropileno de 50cm. Primeiramente, buscou-se selecionar os mesmos pontos onde foram executados
os ensaios utilizando o infiltrômetro de Cornell, mas devido ao maior diâmetro do anel externo e às
irregularidades da superfície, não foi possível aplicar esse critério para todos os locais ensaiados. Os
anéis foram fixados, concentricamente, na canga, também com massa de vidraceiro, e uma régua
graduada foi inserida no anel interno (Figura 4.2A). Posteriormente, preencheu-se os anéis com água,
começando pelo externo, com o auxílio de uma mangueira para minimizar o impacto que poderia
ocasionar a retirada da massa impermeável, até atingir carga hidráulica igual a 10cm (Figura 4.2B). A
leitura do nível de água foi realizada em intervalos de 2, 5, 10 e 20 minutos, conforme recomendado por
Firmino e Souza (2018). Cada ensaio foi executado até a taxa de infiltração se tornar constante, em torno
de 150 minutos.

Figura 4.3 - Infiltrômetro de anéis duplos. A) Disposição dos anéis fixados com massa de vidraceiro em campo;
B) Inserção de água no infiltrômetro.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

4.1.2.3 Infiltrômetro de minidisco

Foram executados, em cada área, três ensaios utilizando o infiltrômetro de mini disco da marca
Meter objetivando determinar as taxas de infiltração e a condutividade hidráulica não saturada em três
níveis de sucção (-0,5, -2 e -6cm). Os locais foram definidos baseados nos ensaios prévios de infiltração
e buscando alcançar melhor representatividade espacial. Inicialmente, para garantir bom contato entre a
base do infiltrômetro e a superfície da canga, aplicou-se uma fina camada de areia, como recomendado
(METER Group 2021), propiciando também, o nivelamento do terreno, verificado por meio de um nível.
Em seguida, inseriu-se água na câmara de Mariotte, porção superior do instrumento, e, após tampá-la, a
taxa de sucção foi definida ajustando-se o tubo de sucção (Figura 4.4). Em seguida, encheu-se o
reservatório e posicionou-se a base do instrumento sobre a delgada camada niveladora de areia. Foram
tomadas medidas de tempo necessário para a infiltração de cada 1ml infiltrado, até ocorrer a infiltração
de, pelo menos, 15ml de água ao longo de cada sucção estabelecida, conforme recomendação (METER
Group 2021). Por fim, os dados coletados e anotados em uma tabela foram transferidos para a planilha
eletrônica para cálculo da taxa de infiltração acumulada e dos valores de condutividade hidráulica, por
meio do método proposto por Zhang (1997), para cada uma das sucções.

Figura 4.4 - Ensaio em campo empregando o mini infiltrômetro de disco e identificação de suas partes.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

4.1.3 Levantamento eletrorresistivo

Com bases nos dados de campo e resultados de infiltração, foram realizados 30 levantamentos
multitemporais de eletrorresistividade, utilizando-se da técnica de caminhamento com arranjo dipolo-
dipolo e traçador salino. Em cada área de estudo os ensaios compreenderam três linhas de 20m cada
com espaçamento intereletrodos de 1m e equiespaçada entre si com o mesmo valor, nas quais foram
executados cinco levantamentos, totalizando 15 seções. A posição das linhas foi definida com o auxílio
de três trenas longas (50m) de vibra de vidro (Figura 4.3D) e os pontos de inserção dos eletrodos foram
indicados utilizando-se marcador industrial (Figura 4.3A).

Devido à resistência da canga, que impossibilitou cravar os eletrodos, foram efetuados pequenos
furos (1x4cm) na superfície do terreno com o auxílio de ponteira de pedreiro e marreta (Figura 4.3B),
onde uma massa condutora composta por farinha, óleo, sal, água e cremor de tártaro (Dias 2021) foi
inserida para auxiliar na fixação dos eletrodos (Figura 4.3C). Executou-se uma seção prévia, a fim de
obter valores de resistividade elétrica para condições naturais (background), e mais quatro
levantamentos subsequentes à injeção de solução salina (NaCl): imediatamente após a inserção do
traçador, 1 hora depois, 4 horas depois e decorridas 48 horas, possibilitando a caracterização ao longo
do tempo da percolação de água. A solução de água saturada com cloreto de sódio foi injetada após o
levantamento da seção definidora do background em feições que em tese facilitariam a percolação do
fluido (Figura 4.3F), como por exemplo, fendas, canais de bioturbação e aberturas superficiais
(condutos).

As seções foram obtidas com o eletrorresistivímetro multicanais e multieletrodos de marca


alemã (LGM Geophysikalische Messgeräte), intitulado Lippmann 4point light 10W (Lippmann 2008).
Primeiramente, calibrou-se o equipamento que, em seguida, foi conectado ao notebook por meio de uma
interface serial (Figura 4.3E). Os parâmetros do levantamento (número de eletrodos, espaçamento,
níveis de investigação) foram inseridos no software Geotest (GEOTEST Software 2020) e transferidos
para o eletrorresistivímetro. Os dados da leitura de cada pseudo seção foram salvos e, posteriormente,
tratados. Por fim, empregou-se o software Res2DInv (Geotomo 2016) e Res3DInv (Geotomo 2016) para
inverter matematicamente as seções obtidas ao longo dos levantamentos de eletrorresistividade.

Os resultados alcançados permitiram caracterizar o padrão multitemporal de infiltração e a rota


de percolação de água nas diferentes tipologias de canga em cada área. Ademais, os dados invertidos
foram exportados no formato xyz e utilizados no software Surfer para gerar seções em planta
correspondentes a cada nível de investigação.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 4.5 - Procedimentos de campo para o levantamento de eletrorresistividade. A) Marcador industrial


empregado para marcar posicionamento dos eletrodos; B) Ponteira de pedreiro e marreta, para execução dos furos;
C) Eletrodo fixado à canga por meio de massa condutora; D) Demarcação das três linhas do levantamento paralelas
entre si com auxílio de trenas; E) Disposição do notebook e eletrorresistivímetro em campo; F) Injeção de traçador
salino em abertura superficial.

Por fim, realizou-se a análise e discussão dos resultados.

44
CAPÍTULO 5
5 RESULTADOS

5.1 CONTEXTUALIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA

O relevo das duas áreas é bem distinto. Na área 1, a canga ocorre em um platô de altitude elevada
(Figura 5.1), aproximadamente 1200m, e com declives inferiores a 17,5º, bordejado à norte-nordeste
por uma escarpa com base no vale do ribeirão do Funil. Há controvérsias sobre qual seria a formação
geológica subjacente a este platô de canga. Para alguns pesquisadores (Goes et al. 2016 e Varajão
&Varajão 2020), a unidade subjacente seriam os filitos da Formação Fecho do Funil e a escarpa limitada
pela quebra de relevo seria condicionada pelo contato por falha de empurrão com os xistos e filitos do
Grupo Sabará (Figura 2.4). Estas duas formações e as estratigraficamente inferiores (Formação
Cercadinho e grupos Itabira e Caraça) comporiam a aba sul do anticlinal vazado de Mariana, que tem
limite, a norte, na crista formada pela Serra de Ouro Preto (vide Figura 2.4). Para Endo et al. (2020), o
platô de canga teria se desenvolvido sobre unidades das Formações Saramenha e Córrego do Germano.

O platô é constituído por cangas e, mais internamente, por bauxitas (Assis 2018). A área de
estudo envolveu um segmento a norte do platô, onde se desenvolvem exclusivamente cangas, em terreno
que verte com baixas declividades (<17,5º) para norte, onde é limitado pela escarpa.

Figura 5.1 - Mapa de declividade, em graus, da área 1 e pontos onde os ensaios de infiltração foram realizados. A
maior cavidade identificada ocorre na quebra de relevo do platô situado a sul, com áreas com declives maiores que
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

17.5º, indicada pela linha tracejada. Mapa confeccionado a partir dos dados topográficos fornecidos pela VALE.
Fonte: a autora.

Na área 2 a canga ocorre em uma rampa com cerca de 100m de largura e declividade de
aproximadamente 17,5° para sudoeste, e que se estende para noroeste por cerca de 2,5km (Figura 5.2).
Na porção norte-nordeste há quebra abrupta do relevo, a partir da qual a declividade aumenta, chegando
a 50° (Figura 5.3). A sul-sudeste, onde ocorrem rochas do Grupo Caraça indiviso e da Formação Moeda,
a elevação diminui, até atingir um vale cujas litologias são do Grupo Nova Lima, onde situa-se o Córrego
Água Funda (vide Figura 2.3). Esta região se encontra entre duas grandes estruturas geológicas do QF,
o anticlinal de Mariana, a sudoeste, e a falha de empurrão da Água Quente, a nordeste (Castro et al.
2020).

Figura 5.2 - Visualização da continuidade da cobertura de canga presente na área 2. Imagem do Google Earth Pro
(2022). A linha vermelha delimita uma jazida abandonada de extração de canga e a linha tracejada branca delimita
a rampa com ocorrência de canga, cujo caimento está indicado por setas. Fonte: a autora.

Nesta rampa há uma antiga jazida abandonada de extração de canga para emprego como material
para pavimentação. Estas atividades de extração mineral conformaram um talude íngreme, com extensa
exposição de canga, a qual se desenvolve sobre os saprolitos de BIFs da Formação Cauê.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Figura 5.3 - Mapa de declividade, em graus, da área 2, pontos onde os ensaios de infiltração foram realizados e
localização da caverna. Confeccionado a partir dos dados topográficos obtidos por meio de levantamento com
drone. Fonte: a autora.

A rampa localizada na área 2 exibe maiores inclinações na porção centro-noroeste e sua


declividade reduz gradativamente em direção ao setor sudeste, onde ela cessa. Já na área 1, os valores
de declividade são menores e exibem pouca variação onde a canga ocorre, correspondendo a um local
mais plano (platô), em que predominam os intervalos entre 0 e 12,3°.

5.2 CAVIDADES
A área 1 apresenta na camada de canga, próximo à quebra de relevo, uma cavidade de
aproximadamente 1m de altura (Figura 5.4). Esta feição não foi acessada, mas é possível observar que
ela apresenta cerca de 1,5m de profundidade, além da constituir alguns condutos que se comunicam e
estendem-se lateralmente por cerca de 3m para oeste, exibindo algumas aberturas em diferentes níveis.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.4 - Cavidade presente na área 1.

Na jazida de extração de canga a 600 m a noroeste da área 2 (Figura 5.2) ocorre um talude de
corte íngreme, com extensa exposição de canga. que é constituído da base para o topo por saprolitos de
BIFs da Formação Cauê, sobre os quais se desenvolve um horizonte de transição mais poroso onde se
ocorre, preferencialmente, a carstificação, sotoposto a um horizonte mais endurecido (crosta). Esta
carstificação se manifesta como uma fenda de abertura decimétrica a métrica, que ocorre ao longo de
quase todo o talude nas cangas imediatamente abaixo da crosta. Adicionalmente, observam-se outras
pequenas cavidades, mais esparsas, em maiores profundidades do horizonte transicional (Figura 5.5),
evidenciando que embora a carstificação seja mais conspícua próxima à superfície, também ocorre ao
longo do perfil. Algumas dessas cavidades apresentam aproximadamente quatro metros de altura e
ocorrem inteiramente na canga, no contato canga-horizonte de transição ou inteiramente no horizonte
de transição.

Figura 5.5 - Talude situado próximo à área 2 (localizada pelo retângulo vermelho na figura 5.2) exibindo cavidades
em diferentes níveis.

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Sob a superfície onde alguns ensaios de infiltração e os levantamentos eletrorresistivos foram


executados, também foi identificada uma caverna de aproximadamente 2m de altura, 3m de largura e
com no mínimo alguns metros de profundidade, constituída por canga detrítica e estruturada (Figura
5.6A). Apesar de sua extensão, esta caverna não foi identificada na base de dados do CECAVE.

Em seu interior, verificaram-se blocos soltos, principalmente próximo à entrada (Figura 5.6A),
paredes e base muito úmidos (Figuras 5.6C, D, E), água empoçada e feições de percolação de água
(Figura 5.6C e D). Na base e parede da caverna foi identificado a foliação herdada da formação ferrífera
na canga estruturada (Figura 5.6B e E).

Figura 5.6 - Feições identificadas no interior da caverna na área 2: A) Abertura de acesso, com blocos desabados
de canga; B) Foliação herdada da formação ferrífera em canga estruturada, com vestígios de umidade.; C) Piso
interno úmido; D) Superfície interna úmida e pequenos condutos na parede; E) Piso muito úmido, com presença
de musgos.

5.3 VEGETAÇÃO

As duas áreas de estudo exibem vegetação rupestre, com presença de espécies herbáceas e
arbustivas, além de líquens nas superfícies expostas. A área 1 apresenta, majoritariamente, vegetação de
pequeno porte (Figura 5.7).

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.7 - Vegetação na área 1, pontos onde os ensaios de infiltração foram realizados e localização da cavidade.
Imagem do Google Satellite da galeria do ArcGis 10.3. Fonte: a autora.

Na área 2, a vegetação é também do tipo campo rupestre. Apesar de pouco desenvolvida,


constituída, principalmente, por musgos, líquens e arbustos, exibe em certos locais, vegetação de porte
arbóreo, especialmente onde a canga está mais degradada pelo intemperismo, ou se aproveitando das
feições cársticas (fraturas alargadas, buracos), onde os detritos e, consequentemente, a umidade são
maiores. (Figura 5.8). Além disso, as paredes e piso da entrada da caverna verificou-se a presença de
muitos musgos e líquens.
Nos arredores do canal de drenagem efêmera situado na porção sudoeste da área de estudo, onde
há mudança de litologia, a vegetação acontece de formas diferentes: a leste, onde um dos ensaios de
infiltração foi realizado, é do tipo herbácea/arbustiva e à oeste é arbórea.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Figura 5.8 - Vegetação presente na área 2, com localização dos pontos de execução dos ensaios de infiltração e
da caverna. Imagem de alta resolução (3cm/pixel) obtida por levantamento com drone. Fonte: a autora.

5.4 PROPRIEDADES FISICOQUÍMICAS DAS CANGAS

5.4.1 Coleta de amostras

As amostras foram coletadas em diferentes porções das áreas buscando melhor


representatividade espacial, textural e estrutural da crosta superficial endurecida das ferricretes (Figuras
5.9 e 5.11), pois o objetivo principal é correlacionar as características destas com a infiltração e
percolação rasa. Desta forma, selecionaram-se amostras superficiais dos diferentes tipos de canga
(detrítica inconsolidada, detrítica consolidada, estruturada), além de amostras da crosta retiradas do
interior da cavidade na área 1 e do conduto na área 2 (Figuras 5.10 e 5.12).

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.9 - Pontos amostrados na área 1.

Figura 5.10 - Amostras retiradas do teto e base da cavidade existente na área 1.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Figura 5.11 - Pontos amostrados na área 2.

Figura 5.12 - Amostra retirada do teto do conduto localizado na porção leste da área 2.

5.4.2 Tipologias

Foi identificada apenas canga do tipo detrítica na área 1, enquanto na área 2 esta predomina,
embora também aflore canga estruturada. Conforme descrito a seguir, algumas particularidades das
cangas foram observadas em cada área, especialmente quanto à variação espacial da coloração, tamanho
dos grãos e porosidade.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Há uma subdivisão evidente das cangas detríticas da área 1. Na porção leste estas apresentam
poucos e pequenos poros, que não ultrapassam 1cm de diâmetro. Elas constituem pó amarelado, são
mais macias e macroscopicamente exibem pouca goethita. Seu arcabouço compreende grãos
subangulares, com coloração variando de cinza escuro a amarelo e granulometria entre 2mm e 1,5cm,
com matriz silto-argilosa de cor marrom (Figuras 5.13A e B).

Na porção oeste, onde a goethita é mais abundante e desenvolvida (Figura 5.13C), evidenciada
pela formação de feições circulares na superfície resultantes do hábito botrioidal deste mineral (Figura
5.13D), além de alguns canais/condutos envolvidos por elas (Figura 5.13E). Os grãos desta canga são
menores, não sendo possível diferenciá-los. Esta canga é de dureza mais elevada, apresenta pó de
coloração avermelhada e macroporos com diâmetros de até 1,5cm (Figura 5.13F).

Figura 5.13 - Características das cangas da área 1. Cangas do setor leste da área: A) Canga pouco porosa e macia;
B) Canga com grãos de tamanhos e coloração variados; Cangas do setor oeste da área: C) Canga com goethita com
hábito botrioidal bem desenvolvido e alguns macroporos; D) Feição circular originada pelo hábito da goethita; E)
Microcavidade bordejada por goethita; F) Canga muito porosa.

Na área 2, foi possível subdividir as cangas detritícas em: (i) inconsolidadas, que ocorrem na
porção leste da área, constituída por clastos subarredondados, fracamente cimentados e distribuídos de
forma irregular (Figura 5.14A, B); e detrítica consolidada, localizada na porção oeste da área de estudo,
bastante cimentada, com matriz goethítica, grãos de textura fina e média (Figura 5.14C).
As cangas detríticas inconsolidadas exibem elevada quantidade de poros em lâmina delgada,
cerca de 30%, e exibem muitos clastos de aproximadamente 4cm soltos na superfície, além de uma
camada de solo com cerca de 15cm de espessura em certos locais, onde a vegetação é mais desenvolvida

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

e ocorrem termiteiros. Já a canga estruturada, exibe grãos finos, bastante cimentados e com poros
paralelos aos planos foliação (Figura 5.14D, E). A canga estruturada ocorre localmente na porção oeste
e apresenta foliação muito dobrada, herdada dos itabiritos (Figuras 5.14F, G). Em alguns trechos a
foliação encontra-se paralela à superfície do terreno (Figura 5.14H) e em outros oblíqua (Figura 5.14I).

Figura 5.14 - Características das cangas situadas na área 2. A) Canga detrítica inconsolidada, muito porosa; B)
Canga detrítica inconsolidada, contendo muitos clastos de variados tamanhos e fracamente cimentada; C) Canga
detrítica consolidada exibindo grãos de quartzo milimétricos e poros de tamanhos variados; D) Canga estruturada
evidenciando a foliação herdada da formação ferrífera; E) Canga estruturada um pouco degradada
superficialmente; F) Dobra identificada no interior da caverna; G) Dobras evidenciadas na superfície em cangas
estruturadas; H) Canga estruturada, com foliação paralela à superfície do terreno; I) Canga estruturada com
foliação oblíqua à superfície.

5.4.3 Composição química

Como esperado, todas as cangas apresentam elevados teores de ferro, alumínio e manganês. As
cangas nas duas áreas exibem textura, estruturas e composição distintas. As cangas da área 2
apresentaram razão ferro/alumínio mais elevada que as da área 1 (Tabela 5.1). Por outro lado, as cangas
da área 1 exibiram maiores teores de manganês (Mn), de cálcio (Ca), sódio (Na) e níquel (Ni).

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Na área 2 o teor de ferro varia de acordo com o tipo de canga, crescente em concentração na
seguinte ordem: concentração canga detrítica inconsolidada (P4), canga detrítica consolidada (P20) e
canga estruturada (P19), respectivamente.

Também é possível estabelecer uma relação da concentração de alumínio nas cangas da área 1.
O maior teor deste elemento foi identificado na canga situada na porção leste (P22) da área, enquanto a
canga localizada na extremidade oeste (P6), maior elevação, exibiu a menor concentração.

Tabela 5.1 - Composição química das amostras de canga das duas áreas de estudo, 1 e 2. A localização dos pontos
corresponde aos locais dos ensaios com o infiltrômetro de Cornell (Figura 5.7).

Área 1 Área 2
Amostra
P6 P7 P22 P4 P19 P20
As <LQ 159,00 <LQ 26,47 <LQ <LQ
Ba 756,00 98,16 1794,00 6,88 2,22 53,69
Cr 14,76 133,00 60,04 142,00 13,69 67,02
Cu 11,88 11,33 9,27 8,43 2,5 15,98
Ni 40,64 147,00 53,38 <LQ <LQ <LQ
Sc 3,02 5,2 2,19 <LQ <LQ <LQ
Sr 10,1 1,7 17,26 <LQ <LQ <LQ
Th 34,37 14,44 15,84 9,77 <LQ <LQ
V 17,98 164,00 58,67 202,00 20,32 134,00
Concentração mg/kg

Y 44,68 14,07 23,46 1,01 <LQ 14,92


Zn 212,00 86,16 401,00 29,82 30,46 43,80
Mn 126.132,00 2.643,00 14.548,00 649,00 980,00 1.868,00
Sb 16,98 25,06 23,5 <LQ 34,56 23,78
Al 15.591,00 23.263,00 26.219,00 9.440,00 2.174,00 12.291,00
Fe 281.216,00 433.453,00 416.059,00 434.614,00 505.702,00 461.526,00
Fe/Al 18,04 18,63 15,87 46,04 232,61 37,55
Ca 71,2 <LQ 66,3 <LQ <LQ <LQ
K 5.492,00 969,00 3.300,00 34,2 <LQ <LQ
Mg 671,00 1.111,00 2.114,00 295,00 <LQ 129
Na 296,00 87,86 491,00 <LQ <LQ <LQ
P 148,00 1.199,00 457,00 2.594,00 592,00 1.720,00
S 589,00 576,00 243,00 322,00 590,00 154,00
Ti 826,00 4.213,00 1.599,00 5.859,00 323,00 3.596,00
LQ: Limite de Quantificação

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

5.4.4 Composição mineralógica

Selecionaram-se 8 amostras, destas, 4 na área 1, e 4 na área 2. Os pontos de coleta são os mesmos


onde foram feitos os ensaios com os infiltrômetros de aspersão de Cornell e de anéis duplos nestas áreas
(Figuras 5.7 e 5.8).

Na área 1 uma amostra foi retirada do teto da cavidade, e as outras três definidas buscando maior
representatividade espacial: uma amostra da extremidade leste, outra da região central e a terceira mais
a oeste da área. As outras 4 pertencem à área 2 -, sendo duas de canga detrítica inconsolidada, uma delas
coletada na superfície acima do conduto (Figura 5.12); e as outras duas foram uma de canga estruturada
e a outra de canga detrítica consolidada.

A composição mineralógica das quatro amostras coletadas na área 1 foi a seguinte:

• Canga detrítica (P22): goethita, gibbsita e caulinita (Figura 5.15A);


• Canga detrítica (teto da cavidade): goethita, gibbsita e quartzo (Figura 5.15B);
• Canga detrítica (P26): goethita e gibbsita (Figura 5.15C);
• Canga detrítica (P7): goethita e caulinita (Figura 5.15D).

Todas elas são constituídas por goethita, três delas apresentam gibbsita, duas são compostas por
caulinita e o quartzo foi detectado apenas na amostra retirada do topo da cavidade.

Figura 5.15 -Difratograma das amostras de canga da área 1. A) Canga localizada próximo ao ponto P22; B)
Amostra retirada do interior da cavidade (teto); C) Amostra de canga do P26; D) Canga situada no P7, local onde
o levantamento de eletrorresistividade foi executado.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Na área 2, a constituição das amostras apresentou algumas variações:

• Topo do conduto: goethita, gibbsita, hematita e quartzo (Figura 5.16A);


• Canga detrítica inconsolidada (P4 anéis): goethita, hematita, gibbsita e quartzo (Figura 5.16B);
• Canga detrítica consolidada (P6 anéis): goethita, hematita e quartzo (Figura 5.16C);
• Canga estruturada (P19 Cornell): goethita, gibbsita e hematita (Figura 5.16D).

As análises de difração de raios X revelaram que há uma grande uniformidade mineralógica dos
três tipos de cangas na área 2, que são constituídos, majoritariamente, por goethita e hematita, e,
secundariamente, por quartzo e gibbsita

Figura 5.16 - Difratograma das amostras de canga retiradas da área 2. A) Amostra de canga retirada do teto do
conduto; B) Canga detrítica inconsolidada; C) Canga detrítica consolidada; D) Canga estruturada.

5.4.5 Análise Microscópica

A análise das lâminas delgadas permitiu detalhar a composição mineralógica, feições, arranjos
e estruturas presentes nas cangas das duas áreas. Foram confeccionadas 15 lâminas, 8 da área 1 e 7 da
área 2. Para classificação da porosidade seguiu a recomendação de Bullock et al. (1985).

Microscopicamente, as amostras da área 1 contêm, de modo geral, goethita, gibbsita e quartzo,


enquanto as da área 2 apresentaram majoritariamente, goethita e hematita, e secundariamente, quartzo.

Canga detrítica da área 1

De modo geral, as seções delgadas extraídas das amostras da área 1 exibem assembleia
mineralógica constituída, especialmente, por goethita, gibbisita e quartzo, além de alguns grãos de mica
(Figuras 5.17A). Os grãos de quartzo variam de subangulosos a bem arredondados, com tamanhos entre

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

0,05 e 0,5mm e elevado grau de fraturamento (Figura 5.17B). Eles situam-se dentro dos poros, indicando
possível dissolução deste mineral, mas, alguns deles, encontram-se envoltos por cimento goethítico. As
placas de mica têm dimensões entre 0,04 e 0,3mm e estão distribuídas irregularmente em uma matriz
goethítica. A gibbsita ocorre de duas maneiras: mal desenvolvidas, bordejando os poros e canais (Figuras
5.17C, D e E), e bem desenvolvida, preenchendo alguns deles (Figura 5.17E). Seus cristais apresentam-
se orientados e não orientados e atingem tamanho máximo de 0,05mm. A goethita, normalmente, é bem
desenvolvida, evidenciando a estrutura radial, e ocorre envolvendo os poros e canais (Figuras 5.17F e
G). Mas também acontece como uma micromassa, sendo o constituinte da matriz e do cimento (Figuras
5.17H e I). Nas porções mais escuras da matriz prevalecem as micas, enquanto na região da matriz de
coloração mais clara os grãos de quartzo predominam.

Figura 5.17 -Fotomicrografias da canga detrítica situada na área 1. A) Meso e microporos, placas de mica e matriz
gethítica, LTP; B) Poro cavitário, grãos de quartzo muito fraturados dentro dos poros e envolvidos por cimento
goethítico, LTP; C) Grãos de gibbsita envolvendo poro cavitário e preenchendo canais, matriz goethítica e grão de
mica, LTC; D) Poro cavitário envolvido por gibbsita, grão de mica e matriz goethítica, LTP; E) Poros cavitários,
alguns preenchidos por gibbsita e grãos de mica, LTC; F) Macroporo envolvido por goethita de hábito radial, LTP;
G) Poro cavitário envolvido por goethita exibindo hábito radial e matriz goethítica, LTP; H) Micromassa goethítica
dentro do poro e gibbsita preenchendo canais e poros, LTP; I) Poro cavitário, canal e matriz goethítica, LRC. Gth:
goethita; Mca: mica; Qtz: quartzo; Gbs: gibbsita; LTP: luz transmitida plano-polarizada; LTC: luz transmitida com
polarizadores cruzados; LRC: luz refletida com polarizadores cruzados.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

A porosidade destas amostras é representada, principalmente, por poros cavitários de tamanhos


que variam desde 0,01 até 2cm, majoritariamente desconectados, além de conter alguns canais (Figuras
5.18A, B, C, D, E e F). Grande parte dos poros que estão desconectados são envolvidos por cristais de
goethita com estrutura radial. Além disso, este mineral também se apresenta como uma micromassa
dentro de alguns deles. Microporos cavitários distribuídos na matriz goethítica são abundantes, mas
também há poros maiores, possíveis de serem visualizados a olho nu. Os canais ocorrem conectando os
macros e microporos, e exibem espessura entre 0,05 e 1,5mm (Figuras 5.18C, D e E). Normalmente os
canais mais finos (0,01mm) estão totalmente preenchidos por cristais de gibbsita (Figura 5.18F).

Na seção delgada da amostra do ponto P6, localizado no setor oeste da área, onde foi executado
o ensaio empregando o infiltrômetro de Cornell, verificou-se canais verticais que atingem até cerca de
1,5cm de comprimento (Figuras 5.18D e E).

Figura 5.18 -Fotomicrografias da canga detrítica da área 1. A) Poros cavitários envolvidos por goethita de hábito
radial, LTP; B) Poro cavitário e matriz goethítica, LTP; C) Poros cavitários e canal de conexão entre eles, matriz
goethítica e grãos de gibbsita, LTP; D) Canal de conexão entre os poros e matriz goethítica, LTP; E) Canal de
conexão entre os poros e matriz goethítica, LTP; F) Poro parcialmente preenchido por gibbsita, canais totalmente
preenchidos por gibbsita e matriz goethítica, LTP. Gth: goethita; Gbs: gibbsita; LTP: luz transmitida plano-
polarizada.

Canga detrítica da área 2

As amostras de canga detrítica da área 2 são constituídas por grãos de hematita, goethita, quartzo
e mica. Os cristais de hematita exibem dimensões entre 1mm e 1,5cm, variam de subangulosos a
angulosos e estão alterando-se para goethita (Figuras 5.19A e B). Como resultado deste processo há
formação de muitos poros cavitários dentro destes grãos. Os grãos de quartzo são subarredondados a
arredondados, apresentam tamanho médio de 0,1mm e ocorrem, principalmente, dentro dos poros
(Figuras 5.19C e D). A presença dos grãos de quartzo mais arredondados e seu arranjo caótico, sugerem

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

preenchimento sedimentar (Machado 2018). A goethita compõem a matriz de coloração avermelhada e


o cimento, e ocorre, principalmente, envolvendo os fragmentos de hematita. As micas são finas, cerca
de 0,005mm de espessura, e estão distribuídas na matriz goethítica sem orientação preferencial.

Figura 5.19 -Fotomicrografias da canga detrítica da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e matriz
goethítica, LRC; B) Poros cavitários, grãos de hematita e matriz goethítica, LRC; C) Grãos subangulosos a
angulosos de quartzo dentro do poro e matriz goethítica, LTC; D) Poro cavitário, grãos de quartzo e cimento
goethítico, LTP. Gth: goethita; Hem: hematita; Qtz: Quartzo; LRC: luz refletida com polarizadores cruzados; LTC:
luz transmitida com polarizadores cruzados; LTP: luz transmitida plano-polarizada.

A porosidade deste material é elevada e ocorre, principalmente, entre os grãos (Figura 5.20A),
na matriz goethítica, mas também dentro dos cristais alterados de hematita. Grande parte dos poros são
arredondados, bordejados por goethita, exibem até 1,5cm de diâmetro e estão, majoritariamente,
desconectados. Canais de diferentes dimensões, entre 0,02 e 1mm, ocorrem isolados e interligando poros
cavitários (Figuras 20B, C e D). Cabe destacar que as cangas detríticas inconsolidadas exibem poros
cavitários e canais de maiores dimensões e mais abundantes (Figuras 5.20B e D).

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.20 - Fotomicrografias da canga detrítica da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e matriz
goethítica, LRC; B) Canal envolvido por goethita, LTP; C) Poro cavitário, canais e matriz goethítica, LRC; D)
Canal e micromassa goethítica, LTP. Gth: goethita; Hem: hematita; LTP: luz transmitida plano-polarizada; LRC:
luz refletida com polarizadores cruzados.

Canga estruturada da área 2

As seções delgadas de canga estruturada são constituídas por pouca matriz goethítica de
coloração avermelhada, associada à alteração dos fragmentos de hematita e que evolui com o aumento
da porosidade (Figura 5.21A), além de escasso cimento também goethítico. Os fragmentos de hematita
são subangulosos a angulosos, exibem tamanho médio de 0,25mm, estão distribuídos sem orientação
preferencial e, em alguns deles, é possível observar o processo de martitização (Figuras 5.21B e C).
Secundariamente, verifica-se finos grãos de quartzo (0,04mm) ao longo de uma matriz goethítica de
coloração marrom escura.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Figura 5.21 -Fotomicrografias da canga estruturada da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e goethita
envolvendo a hematita, LRC; B) Processo de martitização (transformação da magnetita em hematita), LRP; C)
Poros cavitários, grãos de hematita (martitização) e matriz goethítica, LRC. Gth: goethita; Hem: hematita; LRP:
luz refletida plano-polarizada; LRC: luz refletida com polarizadores cruzados.

Estas amostras exibem poucos poros cavitários, angulosos e de aproximadamente 0,2mm de


diâmetro (Figuras 5.22A e B); embora muitos estejam desconectados, alguns apresentam pequenos
canais de conexão (Figura 5.22C). Poros maiores, de até 1cm (Figura 5.22D), também são observados
em menores proporções e ocorrem, principalmente, em porções onde a goethita é abundante. A
porosidade aumenta gradualmente da base para o topo, onde a ocorrência da goethita é maior. Em
algumas amostras é possível observar, principalmente à luz refletida e nicóis cruzados, uma estrutura
horizontal produzida pela micromassa goethítica, onde situam-se alguns microporos em forma de
agulha, além de canais (Figuras 5.22E e F).

Figura 5.22 -Fotomicrografias da canga estruturada da área 2. A) Poros cavitários, grãos de hematita e goethita
envolvendo poros, LRC; B) Poros cavitários, grãos de hematita e goethita envolvendo a hematita, LTP; C) Canal,
grãos de hematita e matriz goethítica, LRC; D) Macroporo cavitário, LRC; E) Poro cavitário, grãos de hematita e
micromassa goethítica, LTP; F) Poro cavitário, grãos de hematita e micromassa goethítica, LRC. Gth: goethita;
Hem: hematita; LTP: luz transmitida plano-polarizada; LRC: luz refletida com polarizadores cruzados.

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5.4.6 Porosidade aparente

Foram selecionadas 10 amostras de cada área para a realização do ensaio de porosidade


aparente, absorção de água e massa específica (Tabelas 5.2 e 5.3). Os valores obtidos revelaram que as
cangas na área 1 tendem a ser mais porosas, com média de 23,9% e mediana de 24,3%, que as da área
2, com média de 19.6% e mediana de 20,3%. Cabe destacar, que a porosidade total é certamente ainda
maior, pois nestes ensaios avalia-se apenas a porosidade interconectada liberada por evaporação, após a
saturação das amostras (ABNT 2015).

Como as cangas da área 1 são todas detríticas, as variações de porosidade foram associadas à
distribuição espacial e composição químicas das amostras. A mais porosa (31.1%) situa-se na porção
leste da área, onde o teor de alumínio é mais elevado, em contrapartida, a menos porosa (13.8%) está
localizada na extremidade oeste, onde a composição é mais ferruginosa. As amostras coletadas na região
central apresentaram porosidades intermediárias, entre 19.6% e 22.8%. Já as que foram retiradas da base
e do interior da cavidade, exibiram valores também elevados, aproximadamente 29.8% e 30.3%,
respectivamente.

Tabela 5.2- Valores de massa específica, porosidade aparente e absorção de água para as cangas
pertencentes à área 1. Localização das amostras nas figuras 5.9 e 5.10.

Massa específica Porosidade Absorção de


Amostra
aparente (g/cm³) aparente (%) água (%)

P6 2.615 13.77 5.27


P22 2.31 18.72 8.10
P19 1.95 31.07 15.90
P7 2.49 24.06 9.63
P26 2.29 24.59 10.72
P8 2.35 25.23 10.73
P9 (anéis duplos) 2.42 19.59 8.09
Base da cavidade 2.12 29.77 14.08
Interior da cavidade 2.14 30.29 14.14
Superfície do terreno
2.31 22.81 9.89
acima da cavidade

Na área 2, as cangas detríticas inconsolidadas apresentaram valores de porosidade mais


elevados, mínimo de 20,8% e máximo de 22,4%, enquanto as detríticas consolidadas são menos porosas,
11.9% e 18.5%, e apenas uma delas teve valor próximo das detríticas inconsolidadas, 20.7% (Tabela
5.3). As cangas estruturadas constituem porosidade intermediária, aproximadamente 19.5%, similar à
média dos valores obtidos para os três tipos. Os valores de porosidade mostraram-se similares em todas

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

as variedades de cangas da área, com 90% das amostras entre 18.5 e 22.8%. Embora não haja dados
suficientes para um tratamento estatístico, há uma pequena tendência de maiores porosidades para as
cangas detríticas inconsolidados, corroborando as observações de campo.

Tabela 5.3– Valores de massa específica, porosidade aparente e absorção de água das cangas situadas na
área 2. Localização das amostras nas figuras 5.11 e 5.12.

Massa específica Porosidade Absorção de


Amostra
aparente (g/cm³) aparente (%) água (%)

Detrítica consolidada (P16) 3.97 11.94 3.01


Detrítica consolidada (P18) 2.57 18.52 7.21
Detrítica consolidada (P20) 2.47 20.69 8.36
Detrítica inconsolidada (P4) 2.78 20.82 7.49
Detrítica inconsolidada 2.61 21.12 8.09
Detrítica inconsolidada (P3) 2.44 21.52 8.82
Detrítica inconsolidada (P5) 2.86 22.43 7.85
Estruturada (P15) 3.01 19.49 6.47
Estruturada (P19) 3.46 19.73 5.69
Teto do conduto 2.69 19.90 7.40

5.5 INFILTRAÇÃO E FLUXO DE ÁGUA NAS CANGAS

Para determinar o fluxo de água nas cangas foram empregados quatro métodos de investigação
de campo: ensaios de infiltração com três tipos de infiltrômetros e uma de monitoramento multitemporal
com levantamentos geofísicos de eletrorresistividade associado ao uso de traçador salino. A análise da
infiltração foi realizada com os infiltrômetros de aspersão modelo Cornell, de anéis duplos e de mini
disco, que totalizaram 39 ensaios na área 1 (Figura 5.23) e 29 na área 2 (Figura 5.24). As rotas de
percolação da água infiltrada foram analisadas por meio de levantamentos de eletrorresistividade por
caminhamento dipolo-dipolo.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.23 -Localização dos pontos onde foram executados os ensaios empregando os infiltrômetros de aspersão
de Cornell, anéis duplos e com mini disco na área 1. Imagem do Google Satellite da galeria do ArcGis 10.3. Fonte:
a autora.

Figura 5.24 - Localização dos pontos onde foram executados os ensaios empregando os infiltrômetros de aspersão
de Cornell, anéis duplos e com mini disco na área 2. Imagem de alta resolução (3cm/pixel) obtida por levantamento
com drone. Fonte: a autora.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

5.5.1 Infiltrômetro de aspersão de Cornell

Este equipamento foi o mais empregado para a quantificação das taxas de infiltração, 47 ensaios,
devido à sua característica de simular a chuva, assemelhando-se às condições reais. Na área 1 foram
executados 27 ensaios, que forneceram curvas de infiltração vesus tempo com taxa de infiltração inicial
elevada, seguida de decréscimo com tendência exponencial até alcançar a estabilização, como esperado
(Figura 5.25). A taxa de infiltração básica (TIB), em tese, é equivalente à condutividade hidráulica
vertical saturada (Selby 1993), e foi obtida por meio do cálculo da média dos valores de infiltração
situados abaixo da linha preta tracejada, sob a qual convergem os resultados de grande parte dos valores.
Os resultados dos ensaios tendem a apresentar um comportamento oscilatório, que pode ser atribuído à
heterogeneidade natural destes materiais, com macroporos, que podem acelerar momentaneamente a
percolação em subsuperfície (Dias 2021). Para esta área, onde ocorre apenas canga detrítica, a TIB
média foi de 6,40x10-2cm/min (1,07x10-5m/s).

Figura 5.25 - Resultados dos ensaios de infiltração, utilizando o infiltrômetro de Cornell, na área 1. Os segmentos
cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média se encontram abaixo na linha preta tracejada .

Em grande parte dos locais analisados o escoamento superficial iniciou-se após,


aproximadamente, 5min de ensaio, mas em dois pontos situados na porção oeste da área de estudo, P4
e P7 (Figura 5.23), a água demorou cerca de 26 e 20min, respectivamente, para escoar. Isso pode ter
acontecido devido à presença de muitos macroporos, alguns visíveis na superfície, e ocorrência de
pequenas cavidades/condutos, favorecendo a infiltração e retardando o escoamento superficial (Figuras
5.26A, B, C). Assim como no P6, onde a porosidade na superfície é elevada, que apresentou início do

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

escoamento após, aproximadamente, 13min, e maior taxa de infiltração média. Entretanto, no ponto
P23, região leste, o escoamento superficial iniciou-se rapidamente, aos 1:30min.

Figura 5.26 -Pontos onde o escoamento superficial demorou a iniciar. A) Macroporos e micro cavidade no ponto
4, infiltrômetro de Cornell; B) Microcavidade após retirada de amostra de canga no P4, infiltrômetro de Cornell;
C) Abertura superficial situada próximo ao P7, infiltrômetro de Cornell.

Analisando os valores médios de precipitação, escoamento superficial e infiltração acumulados


para as cangas detríticas da área 1, verificou-se decréscimo da infiltração ao longo do tempo de ensaio
(Figura 5.27). De fato, nos seis primeiros minutos, toda chuva simulada infiltrou, contudo, no final, a
infiltração (23mm) correspondeu apenas à 21% da precipitação acumulada (112mm).

Figura 5.27 -Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos na área 1.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Entre os 20 ensaios realizados na área 2, 16 foram executados sobre a canga detrítica e 4 na canga
estruturada. Assim como na área 1, as curvas também exibiram comportamento padrão e o escoamento
superficial iniciou-se, em média, decorridos 3:00min de ensaio.

Nas cangas detríticas, obteve-se TIB média de 0,08cm/min (1,32x10-5m/s) (Figura 5.28). Os pontos
P4 e P14 não foram incluídos no cálculo da TIB média pois apresentaram resultados de infiltração
anômalo, em ambos, mais elevado, de aproximadamente 0,23cm/min (3,83x10-5m/s), três vezes maior
que o valor da TIB das cangas detríticas. A canga no P4 é do tipo detrítica inconsolidada, constituída
por clastos de hematita de tamanhos variados, entre 1mm e 4cm, pouco cimentados, com algumas
fendas e abundantes termiteiros. Esses fatores favoreceram a percolação da água, resultando na alta
taxa de infiltração e elevado tempo de início do escoamento superficial (14:20min).

Figura 5.28 - Resultados dos ensaios de infiltração com infiltrômetro de Cornell, em canga detrítica, na área 2. Os
segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média se encontram abaixo na linha preta tracejada.
Os pontos P4 e P14 apresentaram TIBs superiores à média.

Ao correlacionar a média da chuva, escoamento superficial e a infiltração acumulados para a


canga detrítica situada na área 2 (Figura 5.29), observou-se que a infiltração acumulada foi maior (39
mm) que a apresentada na área da 1 (24 mm) onde ocorre a mesma tipologia de canga (detrítica). Durante
os 9 minutos iniciais de ensaio a infiltração foi total, reduzindo-se gradativamente até seu término,
equivalendo à 31% da chuva acumulada (123mm).

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.29 - Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos para as cangas
detríticas na área 2.

A taxa de infiltração das cangas estruturadas (área 2) variou de acordo com o ângulo formado
entre a foliação herdada da formação ferrífera com a superfície do terreno. Os locais onde a foliação se
apresenta oblíqua (P13 e P17) forneceram valores de taxa de infiltração básica mais elevados
(0,22cm/min ou 3,72x10-5m/s) devido à facilidade oferecida pelos poros paralelos à foliação (Figura
5.30A). Já as porções onde a foliação estava paralela à superfície (P15 e P19), a entrada de água foi
menor em decorrência baixa porosidade transversal a esta. Dessa maneira, a TIB encontrada foi de
0,07cm/min (1,22x10-5m/s). O ensaio do ponto 19 não apresentou tendência de estabilização da curva,
mas aumento dos valores da taxa de infiltração depois de 20 minutos, o que pode ser explicado (Figura
5.30B) por um eventual caminho preferencial encontrado pela frente de saturação em subsuperfície.

Figura 5.30 - Resultados dos ensaios de infiltração, com o infiltrômetro de Cornell, em canga estruturada, na área
2. Os segmentos cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média se encontram abaixo na linha preta
tracejada. A) Canga estruturada com foliação oblíqua; B) Canga estruturada com foliação paralela.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

O gráfico de infiltração, escoamento superficial e chuva acumulados para a canga estruturada


com foliação paralela apresentou comportamento similar ao obtido para as cangas detríticas. Elevados
valores de infiltração inicial, diminuindo exponencialmente ao longo do ensaio (Figura 5.31). Neste
caso, a infiltração foi total até atingir aproximadamente 9min, ao final, ela correspondeu a cerca de 31%
da chuva acumulada (94mm). O escoamento superficial acumulado aumentou proporcionalmente à
precipitação, atingindo 65mm no término do ensaio.

Figura 5.31 - Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de todos os ensaios obtidos para
as cangas estruturadas com foliação paralela na área 2.

A canga estruturada com foliação oblíqua exibiu relação entre a infiltração, escoamento
superficial e chuva acumulados distinta aos demais, com infiltração elevada e baixo escoamento
superficial (Figura 5.32). Até os 30 minutos de ensaio, a infiltração foi total, e, ao atingir os 45min,
infiltrou 98mm, equivalente à 72% da precipitação acumulada (135mm). O escoamento superficial teve
início apenas aos 12min, aumentando progressivamente em linha reta até atingir 37mm, ou seja, 27%
da chuva acumulada.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.32 -Correlação entre a precipitação, o escoamento superficial e o tempo de ensaio obtidos para as cangas
estruturadas com foliação oblíqua na área 2.

Aplicando-se esta correção para minimizar o efeito do fluxo lateral nos ensaios executados com
o infiltrômetro de Cornell, anel simples (Equação 4.4), foram obtidos os seguintes valores de taxa de
infiltração: 8,46x10-6m/s para a canga detrítica da área 1; 1,05x10-5m/s para a canga detrítica da área 2;
2,95x10-5m/s e 9,64x10-6m/s para a canga estruturada da área 2 com foliação oblíqua e com foliação
paralela, respectivamente.

5.5.2 Infiltrômetro de anéis duplos

Os pontos de ensaio com infiltrômetro de anéis duplos foram, na medida do possível, feitos nos
mesmos locais daqueles executados com infiltrômetro de Cornell. Mas como a superfície da canga é
muito irregular e o diâmetro do infiltrômetro de anéis duplos apresenta o dobro do tamanho, encontrar
regiões maiores e planas se tornou uma tarefa quase impossível. Consequentemente, em pouquíssimos
pontos os ensaios foram feitos exatamente no mesmo local.

Na área 1 realizaram-se 9 ensaios empregando este equipamento, e as curvas obtidas exibiram


comportamento bastante regular, com certa oscilação dos dados, mas tendendo a se situar abaixo de uma
linha limítrofe, de taxa de 0,009cm/min (Figura 5.33). A média da taxa de infiltração básica (TIB)
fornecida por meio dessa análise foi de 0,0043cm/min (7,23x10-7m/s).

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Figura 5.33 -Resultados dos ensaios de infiltração, com o infiltrômetro de anéis duplos, na área 1. Os segmentos
cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média se encontram abaixo na linha preta tracejada.

Na área 2, executaram-se 6 ensaios e todos sobre canga detrítica, pois as áreas onde a canga
estruturada estava exposta eram pequenas e não permitiram a fixação deste equipamento. Quatro pontos
apresentaram valores de taxa de infiltração muito estável, aproximando-se da configuração de uma reta,
e permitiram calcular a TIB média: 0,0099cm/min (1,66x10-6m/s) (Figura 5.34). Contudo, no P2 e no
P5, os valores das taxas de infiltração, principalmente os iniciais, foram muito maiores. No primeiro
(P2), a canga era mais friável, constituída por vários clastos de diferentes tamanhos (5mm a 4cm), pouco
cimentados. Além disso, próximo ao local havia uma delgada camada de solo, com cerca de 5cm de
espessura, com desenvolvimento de alguns arbustos e muitas raízes em subsuperfície. Ao término do
ensaio, verificou-se que a porção central do local onde os anéis haviam sido fixados não estava
cimentada, o que pode ter favorecido a infiltração (Figuras 5.35A e B). O segundo (P5) situava-se em
canga estruturada muito alterada, acima da caverna próximo ao talude.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.34 -Resultados dos ensaios de infiltração com o infiltrômetro de anéis duplos, na área 2. Os segmentos
cujos valores foram utilizados no cálculo da TIB média se encontram abaixo na linha preta tracejada.

Figura 5.35 -Detalhe de onde foi feito o ensaio no P2 com infiltrômetro de anéis duplos na área 2. A) Porção não
cimentada da canga, contendo clastos de tamanho médio de aproximadamente 2cm; B) Profundidade da região
não cimentada, cerca de 8cm.

5.5.3 Infiltrômetro de mini disco

Em cada área de estudo, foram executados três ensaios utilizando o infiltrômetro de mini disco
para obter a condutividade hidráulica não saturada da superfície da canga para três diferentes cargas
hidráulicas de sucções: -0,5cm, -2cm e -6cm. Os pontos foram estabelecidos obedecendo os locais onde
os ensaios anteriores foram realizados, a fim de comparar os resultados obtidos. Em cada ensaio efetuou-
se, pelo menos, 15 leituras do tempo necessário para infiltrar 1ml de água no solo ou até a variação do
nível de água no infiltrômetro se tornar constante em relação ao tempo, para cada sucção escolhida,
como recomendado por Souza (2015). Em ambas as áreas, os ensaios com sucção baixa, de -0.5cm, não
foram viáveis, pois com este valor a areia fina disposta sob o equipamento para nivelá-lo e garantir pleno

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

contato saturou completamente e causou o início do escoamento superficial, invalidando os resultados,


significando que houve pouca infiltração e uma condutividade hidráulica superestimada.

Para a área 1, as condutividades hidráulicas obtidas por meio das equações 3.6 e 3.7,
empregando-se sucção de -2cm foram: 1,22x10-6, 3,18x10-6 e 4,89x10-7m/s. Com a sucção de -6cm:
9,94x10-8, 1,42x10-7 e 2,84x10-7m/s. Na área 2, os valores foram 1,47x10-6, 9,78x10-7 e 7,33x10-7m/s,
para sucção de -2cm; e 1,28x10-7, 1,42x10-7 e 1,14x10-7m/s utilizando sucção de -6cm. Todas as medidas
foram feitas para cangas detríticas, com exceção da última feita na área 2, feita para canga estruturada.

5.5.4 Levantamento de Eletrorresistividade

Nas duas áreas de estudo foram executados levantamentos eletrorresistivos por meio de três
linhas de 20m de comprimento cada e espaçamento de 1m entre elas. A localização dessas linhas foi
definida de acordo com os resultados obtidos nos ensaios de infiltração e ortogonalmente às curvas de
nível. Empregou-se espaçamento intereletrodos de 1m e cinco distâncias entre os dipolos, resultando em
um intervalo de investigação efetiva entre as profundidades de 0,25 m e 3,96m. Em cada linha foram
levantadas 5 seções multitemporais de eletrorresistividade por caminhamento elétrico com arranjo
dipolo-dipolo: background, imediatamente após a injeção salina (to), 1h após injeção salina (t1), 4h após
injeção salina (t2) e 48 horas após injeção salina (t3).

Os levantamentos em ambas as áreas foram executados durante o período de estiagem, na


transição entre as estações chuvosa e seca, meses de março e abril. Na área 1 os ensaios ocorreram
durante os dias 28 (background), 29 (to, t1 e t2) e 31 (t3) de março de 2022 e a precipitação antecedente
foi irrisória (Figura 5.36). Na área 2 os levantamentos foram efetuados nos dias 11 (background), 12
(to, t1 e t2) e 14 (t3) de abril de 2022. Um dia antes do último levantamento (t3), houve uma precipitação
de aproximadamente 11mm (Figura 5.37), acarretando o aumento da umidade no local, especialmente
na caverna, onde verificou-se percolação de água nas paredes e intenso gotejamento a partir do teto.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.36 - Precipitação ao longo do mês de março em Ouro Preto, estação da Bauxita. Fonte: Cemaden (2022).

Figura 5.37 -Precipitação ao longo do mês de abril no município de Mariana, estação Vila Maquiné. Fonte:
Cemaden (2022).

Na área 1 as linhas foram posicionadas próximo ao P7 do ensaio realizado com o infiltrômetro


de Cornell e receberam a denominação de U1, U2 e U3, ortogonalmente às curvas de nível (Figura 5.38).
A canga nesta porção é detrítica, apresenta muitos poros e constitui granulometria fina a média. Entre
as posições (estacas) de 9 e 10m (a partir da origem) da linha central ocorre uma pequena abertura
superficial (cavidade) de aproximadamente 8cm de diâmetro (Figura 5.39A), e uma fenda entre as
estacas de 4 e 5m (Figura 5.39B), locais onde foram injetados aproximadamente 20 litros de solução
(saturada em NaCl).

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Figura 5.38 - Mapa hipsométrico com localização das linhas de eletrorresistividade na área. O mapa foi
confeccionado a partir dos dados topográficos fornecidos pela VALE. Fonte: a autora.

Figura 5.39 -Pontos de inserção da solução salina. A) Abertura superficial (cavidade, delimitada por linha
tracejada vermelha) situada entre as posições de 9 e 10m; B) Fenda (delimitada por linha tracejada vermelha)
localizada entre as posições de 4 e 5m.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Na seção de background da linha U1 (Figura 5.40), é possível perceber dois altos resistivos, um
mais superficial e outro mais profundo, entre as posições de 12 a 15m e 8 e 12m, respectivamente.
Também existem dois baixos resistivos, ambos entre as posições 8 e 10m, que se aprofundam para as
duas extremidades da seção. Na linha central (U2) os valores de resistividade são um pouco menores
que os apresentados pela linha U1. Verifica-se apenas um alto resistivo entre as posições de 10 e 16m.
O perfil da linha direita (U3) apresentou variação da resistividade ao longo de toda a seção de
background. Em quatro porções diferentes é possível perceber altos resistivos: um mais superficial e
outro profundo entre as estacas de 12 e 16m, um central com formato circular em um nível intermediário
entre as posições de 2 e 6m. Também há algumas porções menos resistivas, destacando-se as situadas
entre as posições de 5 e 6m e 12 e 15m, a cerca de 1,5m da superfície.

No momento em que o traçador salino foi injetado (to), ocorreu o rearranjo dos valores de
resistividade na linha U1, pois a baixa resistividade causada por este tende a sugar as linhas de corrente.
Consequentemente, pelos altos resistivos identificados na seção de background passarão menos linhas
de corrente, aumentando ainda mais sua resistividade. Ou seja, por onde ela passa, a solução salina tende
a elevar o contraste de resistividades. Os altos resistivos migraram para a região leste da seção, a partir
da posição de 12m, e formou-se uma zona de baixa resistividade próximo às estacas iniciais da linha, à
montante da posição de 9m, atingindo profundidade de 3m, sendo um indicativo de fluxo neste sentido.
Na linha U2, a condutividade da porção oeste é aumentada e surge um alto resistivo com formato circular
entre as posições 8 e 10m. Isso também pode ser explicado pela elevação do contraste elétrico, discutido
anteriormente. Além disso, devido à diminuição da resistividade a partir dos dois pontos onde a solução
salina foi injetada, é possível identificar o caminho percorrido por ela até atingir a profundidade máxima.
Na linha U3, houve redução da resistividade entre as posições de 6 e 9m, onde os baixos resistivos não
ultrapassaram a profundidade de 2,5m. Também ocorreu o desaparecimento da feição circular de
resistividade elevada. As zonas de alto resistivo se restringiram a duas, situadas nas extremidades da
seção, uma entre as posições de 2 e 6m, e outra entre as posições de 12 e 16m.

Uma hora depois (t1) é possível perceber, na linha U1, que a resistividade diminuiu ainda mais
entre as posições de 7 e 9m, alcançando a profundidade máxima, enquanto o trecho compreendido entre
as estacas de 12 e 15m permaneceu muito resistivo. Na linha U2, entre as estacas posicionadas a 8 e
13m e a profundidades maiores que 2m, a resistividade aumenta, acompanhada de decréscimo nesta
mesma posição, mas em porções mais superficiais. O trecho compreendido entre as estacas de 2 e 7m
permanece mais condutivo. Na linha U3 a resistividade diminuiu ainda mais, alcançando maior
profundidade entre as estacas de 6 e 8m. Na porção entre 10 e 12m surgiu uma zona de resistividade um
pouco mais elevada com formato de lâmpada invertida, e à jusante do eletrodo posicionado a 12m, a
seção permaneceu muito resistiva.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Decorridas 4h (t2), observa-se redução da condutividade em profundidade na linha U1, partindo


da posição de 0m e aumentando lateralmente até alcançar a estaca de 7m. A linha U2 exibe possível
fluxo de oeste para leste, da maior para a menor declividade, partindo dos pontos de injeção até atingir
a profundidade máxima de 3m. Entre as posições de 11 e 12m, os valores de resistividade também
diminuem em direção à superfície. Contudo, entre as estacas de 12 e 15m, há um alto resistivo de
pequena espessura que se estende de leste a oeste alcançando a profundidade máxima. Na linha U3,
observa-se redução nos valores de resistividade, indicando ocorrência de fluxo, principalmente entre as
posições de 2 e 12m, até cerca de 2m de profundidade. A zona de alto resistivo, neste caso, se limitou
às estacas de 12 e 15m.

Por fim, na seção obtida dois dias após a injeção salina (t3), linha U1, a resistividade apresenta
um aumento significativo entre as posições de 12 e 15m, com prolongamento para oeste, sentido ao
início da seção, em profundidades superiores a 2m. Já entre as posições de 4 e 5m, ela diminui,
aprofundando-se e seguindo em direção às posições iniciais da linha. A linha U2, continuou
manifestando a percolação da solução a partir dos pontos onde ela foi introduzida, e possível retorno
para a superfície por evaporação ou capilaridade entre as estacas de 11 e 12m. Na região leste do perfil
ocorreu aumento lateral e vertical da resistividade. Na linha U3 a resistividade aumentou entre as estacas
de 10 e 16m, estendendo-se até a posição 8m em profundidades intermediárias. Contudo, entre as
posições de 0 e 6m, houve decréscimo da resistividade até 2,5m de profundidade, e entre as estacas de
8 e 10m, a próximo à superfície.

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Figura 5.40 – Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos multitemporais (background, to, t1, t2 e t3) nas linhas U1 (esquerda), U2 (central)
e U3 (direita), na área 1.
Na área 2, os levantamentos foram executados no setor onde ocorrem tanto na canga detrítica
consolidada como na estruturada, imediatamente à montante da boca da caverna, próximo ao P5, onde
foi realizado o ensaio com infiltrômetro de anéis duplos. As linhas se iniciaram na porção sudeste
(Figura 5.41), a aproximadamente 2m do talude de corte de estrada onde aflora a caverna, e foram
finalizadas (marcador 19m) no trecho mais elevado (NW).A injeção do traçador salino foi efetuada em
três pontos distintos: em uma abertura superficial de aproximadamente 5cm de diâmetro entre as
posições de 15 e 16m (Figura 5.42), local onde se inseriu metade da solução, cerca de 10 litros; e em
dois termiteiros, um situado entre as estacas de 12 e 13m, com inserção de 6l (I2), e o outro próximo
aos pontos de 8 e 9m, com inserção de 4l (I3).

Figura 5.41 - Mapa hipsométrico com localização das linhas de eletrorresistividade na área 2. Mapa confeccionado
a partir dos dados topográficos obtidos por meio de levantamento com drone. Fonte: a autora.
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.42 - Abertura superficial (delimitada por linha tracejada) localizada entre os estacas de 15 e 16 onde a
solução salina foi injetada.

Assim como na área 1, as linhas, levantadas ortogonalmente às curvas de nível, foram


denominadas C1, C2 e C3. Nas três linhas, mas especialmente na central e C3, é nítida a tendência de
uma orientação de unidades geoelétricas subparalela à superfície (Figura 5.43). Superficialmente
predominam resistividades baixas e médias e, em maiores profundidades, resistividades mais altas a
noroeste e mais baixas a sudeste, onde identificou-se a caverna em campo. Na seção de background da
linha esquerda (C1), predominam altos resistivos (Figura 5.43), principalmente na extremidade noroeste.
Constituem exceção a zona superficial, à jusante da posição de 16m e a porção compreendida entre as
estacas de 4 e 8m, trecho por onde se estende a cavidade de grandes dimensões. Semelhante ao que
ocorre na linha C1, na seção de background da linha central (C2) também predominam os altos
resistivos, destacando-se uma pequena zona circular superficial entre as posições 3 e 4m. Os baixos
resistivos situam-se apenas na extremidade sudeste, em profundidades maiores que 1m, interpretado
como resultado da caverna com paredes úmidas, e à jusante do eletrodo de 14m, próximo à superfície.
No perfil obtido pelo levantamento na linha C3, observa-se uma zona de alta resistividade, com
espessura de aproximadamente 1,5m, partindo da posição de 7m, próximo à superfície, e estendendo-se
diagonalmente até a profundidade máxima. Ocorre também um baixo resistivo na porção compreendida
entre as estacas de 5 e 10m, em profundidades superiores a 2m.

Imediatamente após a injeção do traçador salino (to), na linha C1, ocorreu aumento da
resistividade no limite noroeste inferior e uma zona de baixa resistividade foi gerada no centro, entre as
posições de 11 e 13m, seguindo para a base da seção. Na linha C2, observou-se pequenas alterações:
redução da resistividade superficial à montante do ponto de 8m, assim como na região que caracteriza
o teto da caverna; baixos resistivos próximos aos pontos onde a injeção do traçador (12 e 16m), exibindo
uma zona de baixa resistividade se comunicando entre eles; e, aumento do contraste dos valores de
resistividade na região centro-noroeste, maiores na base e menores no topo, indicando concentração das
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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

linhas de fluxo elétrico no local onde a solução provavelmente percolou. Na linha C3 surgiu um alto
resistivo com formato circular próximo à superfície entre as posições de 2 e 4m. O baixo resistivo,
situado no início da seção, ficou limitado entre as estacas de 4 e 8m, e em dois pontos superficiais,
posições 8, 12 e 15m, onde o traçador salino foi inserido, sugerindo a percolação da solução.

Uma hora depois (t1), na linha C1, a região de alto resistivo ampliou-se, inclusive no centro da
seção. Na linha C2, a porção menos resistiva, localizada entre as estacas de 10 e 17m, se estendeu até
cerca de 2m de profundidade. Na região sudeste, a resistividade ficou ainda menor que a exibida pela
seção anterior. Na linha C3 os valores de resistividade na posição de 12m se tornam menores e, próximo
ao ponto de 16m, o baixo resistivo avança verticalmente até atingir 1,5m de profundidade.

Após 4h (t2), observa-se, novamente, na linha C1, redução da resistividade entre as estacas de
10 e 12m, estendendo-se horizontalmente próximo à superfície e interligando-se com outras zonas de
baixa resistividade. Na linha C2, o baixo resistivo localizado entre as posições de 14 e 16m prolongou-
se verticalmente, partindo de noroeste para sudeste. À jusante do marcador de 12m, a resistividade
diminuiu em direção ao início da linha (menor altitude) e ao alcançar a região entre as posições de 8 e
9m, prolongou-se verticalmente até se ligar à caverna, assim como na região próxima aos pontos de 8 e
6m. Na linha C3, há aumento da zona superficial de baixa resistividade entre as estacas de 5 e 7m, que
se comunica com a caverna sotoposta. Também verifica-se o prolongamento do baixo resistivo entre 11
e 12m, dirigindo-se para noroeste até a profundidade de 2m.

Dois dias depois (t3), a resistividade diminuiu significativamente na porção sudeste da linha C1,
entre as posições de 4,5 e 8m, indicando fluxo da porção mais elevada para a de menores altitudes,
partindo do ponto onde houve injeção da solução, e comunicando-se com a caverna sotoposta. Entre as
estacas de 12 e 17m, tem-se baixos resistivos próximo à superfície, interligando as zonas onde a solução
foi inserida, sugerindo a ocorrência de fluxo lateral. Na seção linha C3, os baixos resistivos se
intensificam horizontalmente e a percolação de água se torna mais evidente, principalmente na região
compreendida entre as estacas de 8 e 17m, próximo à superfície, indicando fluxo lateral.

83
Figura 5.43 - Seções de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos multitemporais (background, to, t1, t2 e t3) realizados nas linhas C1 (esquerda), C2 (central)
e C3 (direita) na área 2.
As seções invertidas plotadas em planta forneceram informações da variação lateral das
resistividades em cada nível de profundidade atingido pelo levantamento, sete no total. Os valores do
eixo y correspondem às linhas que foram levantadas: 1, linhas U1/C1 (esquerda); 2, linhas U2/C2
(central); e 3, linhas U3/C3 (direita). Na área 1 (Figura 5.44), observou-se variação nos valores de
resistividade em todas as camadas no momento da injeção da solução salina (to), principalmente nas
regiões compreendidas entre as estacas de 0 e10m (Figura 5.44B). O alto resistivo situado entre as
posições de 12 e 16m foi dividido ao meio em todas as profundidades, dando origem a uma zona mais
condutiva na direção da linha U2 (central), este fato ficou mais evidente a partir da camada 4. Nas
camadas 4 e 5 houve rearranjo dos valores de resistividade gerando um alto resistivo com formato
circular.

Após uma hora que o traçador salino foi inserido no sistema (Figura 5.44C), não houve grandes
variações nos valores de resistividade ao longo das três primeiras camadas. Contudo, a partir da camada
4, os perfis apresentaram-se mais condutivos, inclusive na porção compreendida entre as estacas de 12
e 16m, onde os valores de resistividade que estavam elevados não ultrapassaram 7000ohm.m.

Decorridas 4h de ensaio, os valores de resistividade se tornaram ainda menores (Figura 5.44D),


apenas as quatro primeiras camadas entre as estacas de 12 e 16m e a posição de 14m da linha U3
exibiram uma zona de alto resistivo. As camadas 6 e 7, mais profundas, exibiram valor máximo de
resistividade igual a 4000ohm.m. Além disso, um canal condutivo foi gerado na direção da linha central
entre as posições de 12 e 16m.

Dois dias depois (t3) (Figura 5.44E), os valores de resistividade obtidos para as 7 camadas foram
similares aos apresentados para a seção de background (Figuras 5.44A). Verificou-se um alto resistivo
ao longo das três linhas (1, 2 e 3), entre as posições de 12 e 16m, nas três primeiras camadas. Além
disso, a porção de alta resistividade na linha U1 entre as estacas de 1 e 4m e 7 e 9m voltou a aparecer
nas camadas intermediárias (3, 4 e 5), assim como apresentado pela seção de background. As camadas
4 e 5 exibiram um alto resistivo entre as estacas de 10 e 16m nas linhas U3 e U2 (esquerda e central).
Nas duas últimas camadas, 6 e 7, toda a extensão da linha U1 exibiu elevados valores de resistividade,
tal como a linha U3, que apresentou um trecho de alto resistivo a partir do marcador de 12m.
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.44 -Seções em planta dos levantamentos de eletrorresistividade realizados na área 1A) Background; B)
Seção to; C) Seção t1; D) Seção t2; E) Seção t3.

As seções obtidas por meio dos levantamentos executados na área 2 não apresentaram grandes
variações nos valores da resistividade nas camadas mais profundas (Figura 5.45). Em todos os
levantamentos observou-se uma zona de baixa resistividade entre as posições de 0 e 6m a partir da
camada 4, que corresponde à 1852m de profundidade, onde está localizado o teto da caverna. Na camada
mais superficial da seção to (momento da injeção), próximo aos pontos onde a solução salina foi
inserida, 8, 12 e 16m, houve diminuição significativa da resistividade (Figura 5.45B). Já na camada 2,
os valores de resistividade aumentaram, principalmente entre as estacas de 8 e 11m. A terceira camada
apresentou zonas de alto resistivo entre as posições de 7 e 9m, 10 e 11m e 14 e 16m ao longo das três
linhas (C1, C2 e C3). Nos perfis correspondentes às camadas mais profundas, os valores de resistividade
foram elevados para todas as linhas a partir da posição de 8m.

No levantamento realizado 1h após a injeção do traçador salino (Figura 5.45C), a resistividade


diminuiu ainda mais na camada 1 ao longo das posições de 8 e 12m e entre as estacas de 14 e 18m.

86
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Verificou-se uma zona mais condutiva compreendida entre as posições de 11 e 12m, partindo da linha
C2 para a C3 (central para esquerda), indicando um possível fluxo lateral. Contudo, o baixo resistivo
situado entre as estacas de 14 e 16m das camadas 2 e 3, indica fluxo acompanhando a inclinação do
terreno, do ponto mais elevado (final da linha) para o mais baixo (início da linha). As camadas 4, 5, 6 e
7 apresentam aumento da resistividade a partir da posição de 6m até a extremidade constituída pelas
estacas finais da seção.

Decorridas 4h que a solução salina foi inserida (Figura 5.45D), verificou-se o aumento da
condutividade em duas regiões da camada 1. A primeira está situada entre as estacas de 8 e 12m, partindo
da linha C3 para a C1, a segunda também vai da linha C3 para C1 e localiza-se entre as posições de 18
e 14m. Ambas indicam possível fluxo diagonal dos pontos mais elevados para os mais baixos
topograficamente. Na camada 2 a resistividade aumentou na linha C3 entre os pontos de 14 e 16m e
diminuiu entre 11 e 12m. Na terceira camada, surgiu um alto resistivo entre as posições de 15 e 16m da
linha C3 e a zona compreendida entre as estacas de 4 e 6m, teve sua resistividade reduzida. A quarta
camada apresentou uma zona de baixa resistividade entre as estacas de 13 e 14m, ao longo das linhas
C3 e C2, além de um pequeno ponto de baixo resistivo localizado na posição 9m da linha C2, que
provocou aumento da resistividade entres as posições de 6 e 8m dessa mesma linha. Na camada 5
surgiram dois baixos resistivos, um deles foi entre as posições de 12 e 14m e o outro entre 6 e 8m. As
duas últimas camadas, 6 e 7, exibiram aumento da condutividade do início do perfil até a posição de
9m.

A última seção (t3), dois dias após a injeção do traçador salino (Figura 5.45E), foi a que
apresentou os menores valores de resistividade, especialmente nas seções correspondestes às camadas
1 e 2, mais superficiais. Isto pode ser explicado pela precipitação que ocorreu na noite anterior, dia 13
de abril (Figura 5.37). Em ambas camadas, somente duas porções exibiram altos resistivos: na camada
1 eles estão situados entre as estacas de 12 e 13m e, no início da linha C3, entre 0 e 2m; na segunda
camada eles estão localizados entre as posições de 2 e 4m e 8 e 10m, esse último se restringe às linhas
C2 e C1. A camada 3 apresentou uma zona de baixa resistividade entre os pontos de 4 e 8m, e outra
partindo da posição de 14m da linha C3 para a de 12m da linha C1, possível fluxo diagonal de noroeste
para sudeste. Já nas camadas 4, 5, 6 e 7, verificou-se baixa resistividade desde o início do perfil até o
marcador de 8m e valores de resistividade elevados partindo deste ponto até o final do perfil.

87
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 5.45 -Seções em planta dos levantamentos de eletrorresistividade realizados na área 2. A) Background; B)
Seção to; C) Seção t1; D) Seção t2; E) Seção t3.

88
CAPÍTULO 6
6 DISCUSSÕES

6.1 CARACTERÍSTICAS DAS CANGAS DAS DUAS ÁREAS

É difícil elaborar um modelo da arquitetura tridimensional da distribuição das cangas para as


áreas analisadas, pois são escassos os cortes e as investigações diretas, como por trincheiras e sondagens,
devido à dificuldade de se escavar este material, de grande dureza. Mesmo assim, os processos de
formação dos tipos de canga identificados foram estabelecidos, corroborando estudos prévios (Dutra
2017, Spier et al. 2019, Dias & Bacellar 2021). Fatores como composição química e mineralógica,
estrutura, textura, vegetação e relevo podem indicar o local e processo de formação deste material.

Trabalhos anteriores realizados nas cangas da área 1, revelam que elas têm como protólito os
filitos dolomíticos das Formações Gandarela e Fecho do Funil (Assis 2018, Varajão & Varajão 2020).
O maior teor de cálcio e, principalmente potássio, pode ser um indicativo desta origem, relacionada a
sedimentos ricos nestes elementos, ou seja, associada a rochas metassedimentares (filitos) como
defendido em estudos prévios. A concentração anômala de manganês observada na amostra de canga
desta área (P6) está relacionada ao intemperismo, pois este processo provoca a lixiviação do carbonato
do protólito e precipitação do Mn4+, elemento menos móvel da solução (Ribeiro et al. 2021). Além disso,
elas ocorrem associadas à bauxita (Varajão 1988, Assis 2018) e apresentam pelo menos um
argilomineral, gibbsita e/ou caulinita, em todas as amostras analisadas, o que corrobora com o alto teor
de alumínio.

Feições de revestimento dos poros por cristalárias gibbsíticas foram observadas em algumas
lâminas da área 1. Essas feições indicam a lixiviação do ferro e remobilização do alumínio, que precipita
em forma de gibbsita quando há baixa atividade de sílica, comprovando o estágio atual de degradação
das cangas (Beauvais 2009, Machado 2018).

A elevada ocorrência de goethita na superfície do P6 (área 1) e ausência de caulinita, pode estar


relacionada, principalmente, à degradação da canga que, em locais com pluviosidade média anual entre
1200 a 1600 mm/ano, acontece a hidratação da hematita alterando-se para goethita, na superfície da
canga, e em alguns perfis, há eliminação da caulinita e sua transformação em gibbsita (Beauvais &Tardy
1991 apud Machado 2018).

As cangas situadas na área 2 exibem maior concentração de ferro e, em todas as amostras,


identificou-se o mineral hematita, assim como Dias (2021) na Serra da Moeda. Para estas cangas é
possível definir três processos de formação, um para cada tipo: detrítica inconsolidada, detrítica
consolidada e estruturada. A canga estruturada se desenvolve nitidamente a partir do saprolito da
formação ferrífera bandada (BIF), constituindo produto de alteração in situ desta rocha, mantendo a
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

foliação preservada. Em alguns trechos, esta canga se encontra nitidamente em processo de degradação
na superfície, similar à da canga detrítica, denominada por Dias (2021) como pseudodetrítica.

As cangas estruturadas, além de herdarem a foliação da formação ferrífera bandada (BIF),


também exibem diferentes mergulhos, condicionados por dobras. Esta feição também foi descrita por
Dias (2021). Essa condição é classificada por Machado (2018) como fácies de canga isalterítica devido
à permanência das estruturas da formação ferrífera.

A canga detrítica consolidada ocorre em contato discordante sobre a canga estruturada, como
pode ser verificado ao longo dos cortes de estrada ou no interior da caverna. Em um dos cortes é possível
identificar camadas de canga com granulometrias e graus de seleção distintos, como já observado por
Dutra (2017), evidenciando pulsos de transporte e deposição possivelmente relacionados a mudanças
paleoclimáticas.

A canga detrítica inconsolidada ocorre preferencialmente no setor leste da área 2. Não se


identificou relação entre os tipos de cangas e a declividade do terreno, como descrito por Dias & Bacellar
(2021), que encontraram cangas detríticas inconsolidadas em segmentos das vertentes com declividades
inferiores a 6.5º. Contudo, verifica-se que na área estas cangas ocorrem num trecho da rampa com
formas convexas em planta e perfil (nose), diferentemente da detrítica consolidada e a estruturada, que
ocorre num hollow topográfico. Os noses são ambientes de fluxo divergente (Hack & Goodlet 1960), de
menor escoamento superficial e, consequentemente, de menor erosividade, o que justificaria a
acumulação de cangas detríticas inconsolidadas neste trecho. Portanto, elas corresponderiam ao material
proveniente das cangas estruturadas, detríticas e até da própria formação ferrífera, que estariam sendo
desmontadas a montante e se acumulando neste setor de menor energia sobre outras cangas mais antigas.

Assim como exposto por Machado (2018), a canga detrítica inconsolidada, mais intemperizada,
possui teor de ferro menor que as cangas detrítica consolidada e estruturada, predecessoras, e aumento
do teor de alumínio. A redução do ferro e o aumento na concentração de alumínio refletem na
transformação dos óxidos de ferro em hidróxidos de ferro, evidenciada no processo evolutivo das
cangas, indício de maior grau de intemperismo resultante da degradação progressiva sob as condições
climáticas atuais (Machado op. cit.). Tais dados corroboram as conclusões de trabalhos prévios (Spier
et al. 2019, Dias 2021), de que as cangas detríticas consolidadas seriam mais recentes que as
estruturadas, e que localmente estas estariam sendo recobertas por cangas detríticas inconsolidadas,
ainda mais novas.

Realizando-se uma correlação da composição geoquímica das duas áreas analisadas, verifica-se
que o P7 da área 1 exibe elevada a concentração de As, e também maiores teores de Ni, Cr e V e menor
de Ba, típico de composição ultramáfica, sugerindo rochas fontes do tipo metavulcanossedimentares.

90
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Além disso, no P22, da mesma área, há maiores concentrações de Ba e Zn. Enquanto na área 2 é
observado um padrão geoquímico mais simples, característico dos itabiritos.

No perfil exposto pelo talude situado à cerca de 600m da área 2 (Cascalheira Municipal, Figura
5.2), é possível identificar, assim como retratado por Gonçalves (2019) na região de Carajás, três
horizontes do topo para a base: canga, com espessura de aproximadamente 2m, horizonte de transição,
com espessura superior a 10m e saprólito (Figura 6.1). Neste perfil também foram verificadas 5
cavidades em diferentes níveis: um mais superficial, no contato entre a canga e o horizonte de transição,
e outro a cerca de 7m da superfície inteiramente no horizonte de transição. Profundidade mais elevada
que as encontradas por Auler et al. (2022) para cavidades em litotipos ferríferos no QFe, cujos valores
foram de 2,51, 3,02 e 4,08m para cavernas na canga, no contato entre a canga e a formação ferrífera
intemperizada e inteiramente na BIF (Formação Ferrífera Bandada), respectivamente. Além disso,
identificou-se mais uma caverna inserida na área de estudo, onde os ensaios foram executados. Ela foi
acessada pela abertura situada na vertente de aproximadamente 3m e apresenta grande extensão, acima
de 15m, vários condutos nas paredes de aproximadamente 20cm (vide Figura 5.6) e duas galerias com
cerca de 2m de altura e comprimento superior a 5m. De acordo com Auler et al. (2022), as cavernas
mais longas exibem maior número de conexões entre salas, condicionado, principalmente, por processos
de interfluxo de declives, fator importante no desenvolvimento dessas cavidades.

Figura 6.1 -Talude em antiga jazida localizada próximo à área 2 (Figura 5.2) expondo cavidades em diferentes
níveis e os horizontes que ocorrem na área estudada: canga, horizonte de transição e saprolito.

91
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Normalmente, as cavidades em litologias ferruginosas situam-se em pequenas profundidades e


majoritariamente no contato entre a canga e a rocha intemperizada (Dutra 2017, Auler et al. 2022). Mas
as cavidades identificadas na área 2, exibem dimensões e profundidades consideráveis.

Na área 1, identificou-se apenas uma cavidade pouco desenvolvida, com extensão máxima de 5m.
Esta cavidade ocorre no contato entre a crosta e o horizonte transicional (Figuras 6.2A e B), e seus
condutos são desenvolvidos inteiramente na fácies canga (Figura 6.2C).

Figura 6.2 -Cavidade situada na área 1 e seus condutos. A) Abertura principal e condutos; B) Contato entre a
fácies canga e o horizonte de transição na direção da abertura da cavidade; C) Condutos localizados à direita da
cavidade comunicando-se com a superfície.

A vegetação em ambas as áreas é escassa na porção coberta por canga, sendo constituída,
principalmente, por indivíduos de porte herbáceo. A ação biológica, especialmente da vegetação,
contribui para a degradação da canga e formação do solo (Machado 2018), fator que pode estar
relacionado ao maior desenvolvimento de solo na área 2.

A ocorrência de vegetação mais arbórea em superfície relacionada a um clima de maior umidade,


promove a máxima reprodução da atividade biológica, contribuindo com o aumento de sua população
(Machado 2018). Este fator, juntamente com a menor ocorrência de minerais de argila pode estar
relacionado abundância de termiteiros na área 2 (Schaefer et al. 2015). Segundo Schaefer et al. (2015),
os termiteiros exercem um importante papel na ciclagem de nutrientes, e exibem elevada concentração
de fósforo (P), contribuindo para o alto teor deste elemento na amostra de canga detrítica inconsolidada
(P4), por exemplo.

6.2 POROSIDADE E CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA

A média dos valores de porosidade aparente foi maior para as cangas da área 1 (24%), onde ocorre
apenas canga detrítica (Figura 6.3). Na área 2, apesar do pequeno volume de dados, a porosidade

92
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

aparente se mostrou um pouco maior na canga detrítica inconsolidada (21,5%) do que na detrítica
consolidada e na estruturada, estas com valores similares (19,6%, vide Tabela 5.3).

Figura 6.3 - Comparação dos valores de porosidade aparente obtidos nas duas áreas de estudo.

Dias (2021) encontrou na Serra da Moeda, norte do QF, maiores valores de porosidade para as
variedades estruturadas (entre 20,8% e 24,4%), e menores para as detríticas consolidadas (entre 14,4%
e 17,6%). Para esta autora, as cangas detríticas teriam menor desenvolvimento do espaço poroso por
causa da estratificação paralela à superfície das várias camadas resultantes de episódios de deposição,
em contraste com as cangas estruturadas, que apresentam naquela área foliação com altos mergulhos.
Firmino e Souza (2018) encontrou valores ainda maiores (de 27 a 52%) para as cangas detríticas da
região da Serra do Gandarela, no centro-norte do QF. Todos estes resultados sugerem que a porosidade
aparente é muito dependente da tipologia das cangas e de suas direções de anisotropia mineralógica ou
estrutural (acamamento nas detríticas e foliação nas estruturadas). A gênese e os processos atuais de
cinética muito rápida de dissolução/precipitação do ferro, que são muito influenciados pelos fatores
bioclimáticos e geomorfológicos (Monteiro et al. 2014, Machado 2018, Machado et al. 2021),
certamente interferem na porosidade.

É importante destacar que a porosidade aparente é medida pela eliminação de água sob
aquecimento de amostras saturadas por submersão e não necessariamente apresentará boa correlação
com a porosidade efetiva, que representa a porosidade interconectada que permite fluxo hídrico (Freeze
& Cherry 1979). Isto porque as cangas apresentam normalmente alta densidade de macroporos nas

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

amostras ensaiadas e estes não necessariamente se encontram conectados. Contudo, se admitir-se que
há equivalência entre a porosidade aparente e a efetiva, o intervalo de valores encontrados para as cangas
das duas áreas corresponderiam à porosidade de materiais de textura arenosa fina a siltosa grossa (Bear
1972, Freeze & Cherry 1979), ou seja, com valores elevados para estas crostas superficiais, de aparência
maciça. Pelas razões expostas, não se espera boa correlação entre a porosidade aparente e as taxas de
infiltração e, por consequência, com a condutividade hidráulica vertical.

Como discutido previamente, com a saturação progressiva do meio durante os ensaios e a


estabilização das taxas de infiltração em regime de fluxo permanente, pode-se admitir que a taxa de
infiltração básica seja equivalente a condutividade hidráulica saturada vertical (Selby, 1993). Ao
analisar a velocidade de infiltração com ensaios empregando o infiltrômetro de aspersão de Cornell,
verificou-se que os valores de condutividade hidráulica (Kv) obtidos para as cangas detríticas da área 1
(8,46x10-6m/s) foram menores que na área 2, oposto a tendência de porosidade aparente. Isso pode ser
explicado pela análise dos dados químicos e das seções delgadas, nas quais se identificou maiores
proporções de alumínio e de gibbsita preenchendo poros cavitários e poros em canais das amostras do
setor leste da área 1, prejudicando a percolação de água. Logo, apesar de a área 1 exibir maior porosidade
aparente, têm-se elevado preenchimento dos poros cavitários, não sendo este fator determinante na
infiltração e percolação de água. Estes dados estão em conformidade com os encontrados por Firmino e
Sousa (2018) na Serra do Gandarela, onde os menores valores de Kv ocorreram na canga detrítica muito
porosa, mas com elevada proporção de gibbsita preenchendo os poros. Estes cristais podem ser oriundos
da alteração de hematitas aluminosas em cangas em processo de degradação (Machado 2018).

Cabe destacar o valor de TIB mais elevado observado no P6 (1,85x10-5m/s) no setor oeste da área
1 (Figura 5.23), que forneceu o menor valor de porosidade aparente (Tabela 5.2). Essa contradição pode
ser explicada pela presença de muitos macroporos cavitário e poros em canais perpendiculares à
superfície, observados em campo e em lâmina delgada (Figura 6.4), que facilitaram a percolação da
água neste setor onde o teor de ferro é mais elevado.

94
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Figura 6.4 -Inúmeros macroporos na superfície do ponto 6 (Figura 5.23) no trecho oeste da área 1, onde o teor de
ferro e a taxa de infiltração é mais elevada.

É importante ressaltar que todos os dados de porosidade aparente e de Kv obtidos nas duas áreas
se referem a crosta superficial endurecida. Isto porque o objetivo principal deste trabalho era de entender
a infiltração e percolação rasa de água. Ressalta-se também a grande dificuldade de se determinar a taxa
de infiltração pelo horizonte transicional, devido à carência de exposições que possibilitassem a
execução deste ensaio. Contudo, segundo Assis (2018), a percolação de água na área 1 seria mais intensa
no horizonte transicional (fácies fragmentada), onde a porosidade é significativa.

Na área 2, as maiores condutividades hidráulicas obtidas foram, em ordem decrescente, nas


cangas estruturadas com foliação oblíqua (2,95x10-5m/s), cangas detríticas (1,05x10-5m/s) e cangas
estruturadas com foliação paralela (9,64x10-6m/s), respectivamente. Os gráficos de chuva acumulada,
escoamento superficial acumulado e infiltração acumulada também comprovam estes dados. A
infiltração foi maior que o escoamento superficial durante todo o ensaio executado em cangas
estruturadas com foliação oblíqua, sendo total nos minutos iniciais (Figura 5.32).

Aplicando-se a correção da condutividade hidráulica saturada (Ks) para os resultados fornecidos


por Dias (2021) no norte da Serra da Moeda (Equação 4.4), noroeste do QF, onde também foi utilizado
o infiltrômetro de Cornell, foram obtidos os seguintes valores: 2,22x10-6m/s para a canga detrítica e
6,59x10-6m/s para a canga estruturada com foliação oblíqua. Quando comparadas com os resultados
alcançados neste estudo empregando o mesmo equipamento, a condutividade hidráulica determinada
por Dias (2021) para a canga estruturada com foliação oblíqua foi quatro vezes menor que a canga
estruturada da área 2 com igual foliação (Figura 6.5). Para as cangas detríticas, a taxa de infiltração
básica de Dias (2021) foi quatro vezes menor que a fornecida pelas cangas detríticas da área 1 e cinco
vezes menor que as obtidas nas cangas detríticas da área 2. Embora seja pequena a variação de

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

condutividade hidráulica saturada entre os diversos tipos de canga tanto na área 2 como na Serra da
Moeda, em ambas se verificou um padrão relacionado à estrutura. De fato, quando a foliação das cangas
estruturadas não é paralela à superfície, a condutividade hidráulica é maior, em consequência da maior
porosidade devido à lixiviação preferencial dos minerais mais alteráveis da formação ferrífera (ex.:
quartzo, dolomita), ao longo da foliação. Mesmo as cangas detríticas podem apresentar um
desenvolvimento maior da porosidade ao longo do sutil acamamento paralelo à superfície, fato
destacado por Dias & Bacellar (2021).

Para os ensaios empregando o infiltrômetro de anéis duplos a Kv média determinada para as


cangas da área 2 (1,66x10-6m/s) foi aproximadamente duas vezes maior que a da área 1 (7,23x10-7m/s).
O valor encontrado na área 1 foi equivalente ao apresentado nas cangas da Serra do Gandarela (Hidrovia
2017), centro norte do QFe, com média igual a 1,97x10-6m/s, e maior que o revelado por Firmino e
Souza (2018) na mesma região, 1,39x10-8m/s para as cangas menos degradadas e 4,17 x10-8m/s para as
mais degradadas. Para comparar os valores, plotou-se em conjunto todos os valores de condutividade
hidráulica obtidos nesta pesquisa e de trabalhos anteriores (Figura 6.5).

A variação da condutividade hidráulica vertical da área 1 foi maior que a obtida na área 2,
especialmente nos ensaios empregando o infiltrômetro de aspersão de Cornell, o que pode estar
relacionado ao marcante controle geoquímico destas cangas, mais aluminosas na área 1, e ferruginosas
na área 2.

Figura 6.5 - Comparação entre as taxas de infiltração obtidas neste estudo, empregando os infiltrômetros de
Cornell e de anéis duplos, com valores fornecidos pela literatura.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Nota-se uma pequena tendência de valores mais baixos com os ensaios com o infiltrômetro de
anéis duplos, o que é inesperado, pois nestes mensura-se a infiltração sob condições inundadas (10 cm
de carga hidráulica). Esta discrepância pode ser explicada pela possível formação de um bolsão de ar
avante da frente de saturação, mais difícil de ocorrer com o infiltrômetro de Cornell, onde nem sempre
se forma lâmina superficial de água. Outra possibilidade é que a correção feita com a equação 4.4 pode
não ter sido suficiente para reduzir o efeito das diferenças de condições de contorno (anel não cravado
e carga hidráulica considerada insignificante) com o ensaio com o infiltrômetro de aspersão de Cornell.
Além disso, ensaios empregando um único anel tendem a ter maior proporção de dispersão lateral de
fluxo, provocando a superestimação dos valores de infiltração (Zhang et al. 2016). O anel externo no
infiltrômetro de anéis duplos minimiza este fluxo lateral, proporcionando, dessa maneira, valores de
taxa de infiltração mais baixos. Portanto, estudos adicionais necessitam ser feitos para se dimensionar
as correções necessárias quando se mensura a taxa de infiltração em meios onde a inserção de anéis é
inviável, como em cangas ou rochas duras (Caputo et al. 2010).

Tanto os ensaios com o infiltrômetro de Cornell como o de anéis duplos, envolvem uma área
com centenas de centímetros quadrados, abarcando não só a matriz das cangas, como também fissuras
e poros de maiores dimensões. Por terem menores áreas de aplicação de cargas e sob diversas cargas de
sucção, os ensaios com o infiltrômetro de mini disco objetivaram justamente dimensionar o fluxo pela
matriz. Pela teoria da capilaridade assumindo-se poros com formatos cilíndricos (Li et al. 2005), as
sucções de – 2 e – 6cm só teriam a capacidade de permitir a infiltração de água para poros com diâmetros
menores que 1,5 e 0,5 mm, respectivamente. A definição de macro e microporos é tema de grande
controvérsia na literatura (Beven & Germann 2013) e há muitas classificações, como a de Luxmoore
(1981) que considera como macroporos aqueles com diâmetro maior que 1mm. Se forem considerados
macroporos aquelas com mais de 0,5 cm de diâmetro ao comparar-se a percentagem da condutividade
hidráulica não saturada com a sucção de -2cm com a de – 6cm, pode-se estimar, de forma aproximada,
o percentual de fluxo por microporos nas cangas. Tomando-se os resultados apresentados no capítulo
anterior, as médias de três ensaios de condutividade hidráulica não saturada para as cangas detríticas da
área 1 foi de 16,43.10-7 m/s e de 1,73. 10-7 m/s para as sucções de, respectivamente, -2 e -6 cm, pode-se
afirmar que aproximadamente 10,5% do fluxo ocorre por poros com diâmetros inferiores a 0,5 cm.
Similarmente, como as médias de condutividade não saturada para as cangas da área 2 foram de
respectivamente de 10,06.10-7 m/s e 1,28.10-7 m/s, o percentual de fluxo por poros com menos de 0,5
cm de diâmetro foi de 12,01%.

Ou seja, a maior parte da infiltração de água pela matriz destas cangas tende a ocorrer pela
macroporosidade. Como comentado previamente, na superfície das cangas esta porosidade nem sempre
é facilmente identificável, pois muitas vezes estes encontram-se parcialmente obscurecidos por detritos.

97
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Comparando os valores de taxa de infiltração obtidos por meio do emprego de três diferentes
tipos de infiltrômetros, Cornell, anéis duplos e disco, e assumindo que eles são aproximadamente
equivalentes à condutividade hidráulica, é possível depreender que há fluxo significativo na canga,
inclusive em sua matriz. O valor obtido por meio da utilização do infiltrômetro de anéis duplos foi seis
vezes menor que o apresentado pelo infiltrômetro de Cornell para a canga detrítica da área 2. Enquanto
na área 1, a condutividade hidráulica média dos ensaios empregando o infiltrômetro de Cornell foi 11
vezes maior que a taxa de infiltração básica utilizando o infiltrômetro de anéis duplos.

Verifica-se que os valores de condutividade hidráulica saturada são em geral elevados para esta
crosta superficial, aparentemente tão compacta, correspondendo a valores encontrados por (Freeze &
Cherry 1979) para os depósitos inconsolidados constituídos por areia siltosa (Figura 6.6), pois
apresentam ordem de grandeza entre 10-5 e 10-7m/s coerentemente com os valores de porosidade
discutido previamente.

Figura 6.6 -Valores de condutividade e permeabilidade hidráulica e a classificação das cangas estudadas.
Modificado de Freeze & Charry (1979).

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Algumas variações na condutividade hidráulica podem ser explicadas pelas diferenças


composicionais locais e pela elevada heterogeneidade da canga. A classificação dos resultados
fornecidos por meio dos ensaios empregando o infiltrômetro de Cornell em alta, intermediária e baixa,
de acordo com os valores de média, somando e subtraindo o desvio padrão, possibilitou algumas
interpretações. Na área 1 observou-se uma tendência de os maiores valores de K se concentrarem na
porção centro-oeste da área, local com maior teor de ferro e ocorrência de mais macroporos na
superfície, enquanto os valores mais baixos estão localizados na região leste (Figura 6.7), onde a
concentração de alumínio é mais elevada.

Figura 6.7 -Classificação da condutividade hidráulica vertical (alta, intermediária e baixa, classificação baseada
na média e desvio padrão) obtidas por meio do emprego do infiltrômetro de Cornell na área 1. Imagem do Google
Satellite da galeria do ArcGis 10.3. Fonte: a autora.

O setor leste área 2, onde situam-se as cangas detríticas inconsolidadas, exibiu maior
concentração de condutividades intermediárias (Figura 6.8). Já a porção oeste, constituída por canga
detrítica consolidada e estruturada, apresentou grandes variações. Porém, mesmo neste setor é possível
fazer algumas interpretações, como as maiores condutividades associadas às cangas estruturadas de
foliação oblíqua, pontos 13 e 17.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 6.8 - Classificação das taxas de infiltração (alta, intermediária e baixa) obtidas por meio do emprego do
infiltrômetro de Cornell na área 2. Imagem de alta resolução (3cm/pixel) obtida por levantamento com drone.
Fonte: a autora.

6.3 PERCOLAÇÃO DE ÁGUA

Como o objetivo do levantamento geoelétrico era o de acompanhar a frente de saturação da


solução salina, o espaçamento intereletrodo foi pequeno, resultando em informações somente até no
máximo de 3,9 m de profundidade. As seções geofísicas exibiram valores de resistividades elétricas em
média maiores para a área 2 (Figura 6.9), com cangas mais ferruginosas, que para a área 1 (Figura 6.10),
com cangas mais aluminosas. Estes dados estão em conformidade com os obtidos por Magalhães (2021)
em um estudo desenvolvido sobre cangas e bauxitas da área 1, com resistividades elétricas menores para
os materiais aluminosos, e mais altos para os ferruginosos. Isso pode ser explicado pela maior ocorrência
de argilominerais e em áreas com teor de alumínio mais elevado, que contribui para adsorção de cátions
e redução da resistividade.

Na área 2 foi possível identificar nas seções de background que as cangas apresentam níveis de
resistividade uniforme subparalelos à superfície topográfica. Isto pode ser consequência das camadas de
cangas detríticas identificadas no corte de estrada ou desta unidade sobre cangas estruturadas. O
horizonte mais superficial encrostado (crosta) é identificável por resistividades superiores a 10000
Ohm.m até 2 m de profundidade, interrompidas por zonas de menor resistividade, onde possivelmente
há canga mais degradada (horizonte transicional). Nos primeiros decímetros da superfície da crosta a

100
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

resistividade é mais baixa provavelmente em decorrência da vegetação herbácea muito conspícua e de


uma leve degradação da canga.

A partir de 2 m de profundidade entre as estacas 4 e 8 verifica-se uma zona de baixíssima


resistividade elétrica (< 5,000 Ohm.m) causada pela caverna, que tem entrada identificada no corte de
estrada imediatamente a jusante (Figura 5.6). Entre as estacas 11 e 16m a mais de 3 metros de
profundidade observa-se um horizonte com as maiores resistividades (> 25,000 Ohm.m) que atinge a
superfície na seção C3. Estas resistividades elevadas podem ser atribuídas à canga estruturada que chega
a aflorar neste trecho. Verifica-se que este horizonte de alta resistividade se projeta abaixo do trecho
mapeado como caverna, o que foi confirmado no campo, com identificação de canga estruturada na base
desta feição.

Figura 6.9 - Seções de background das três linhas (C1, C2 e C3) obtidas por levantamento geofísico na área 2.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Figura 6.10 - Seções de background das três linhas (U1, U2 e U3) obtidas por levantamento geofísico na área 1.

Os perfis de eletrorresistividade obtidos na área 1 permitiram identificar o fluxo


preferencialmente vertical (Figura 6.11), pois poucas horas após injeção da solução salina o traçador
havia alcançado a profundidade máxima atingida pelo levantamento (3,9m), indicando zonas de conexão
entre as descontinuidades e condutos. Já os perfis geofísicos da área de 2 exibiram fluxo
preferencialmente horizontal, o que ficou evidente nas seções de resistividade plotadas em planta, cujos
valores das três últimas camadas (5, 6 e 7), mais profundas, praticamente não experimentaram variações.
Isso pode ser explicado pela maior inclinação do terreno, que induziu a percolação de água do trecho de
maior elevação para os de cotas mais baixa.

102
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Figura 6.11 - Seções multitemporais (to – background, t1, t2, t3, t4) de levantamento eletrorresistivo na linha
central (U2) da área 1.

No ponto I1 da área 2, a frente de saturação foi mais marcante pois injetou-se maior volume de
traçador. No ponto de injeção I3 verificou-se a conexão da frente de saturação que migra
horizontalmente com a caverna mapeada em profundidades (Figura 6.12). Esta conexão é bem
evidenciada sobretudo no tempo t2, quando a anomalia causada pela caverna se aproxima da frente de
saturação descendente. No instante t4 nota-se uma redução generalizada da resistividade na superfície
causada pela precipitação na noite antecedente. Esta chuva provocou gotejamentos no teto da caverna,
escoamento pelas suas paredes e empoçamento na base comprovando-se a conexão hídrica, também já
identificada por Dutra (2017) na Serra do Gandarela.

Na Serra dos Carajás, norte do Brasil, demonstrou-se a conexão hídrica da superfície das cangas
com cavernas por meio do emprego de traçadores, que após lançados na superfície da canga atingiram
cavernas situadas até a 200m a jusante (Ferreira 2020). Esta autora também confirmou que períodos
chuvosos contribuem para percolação em subsuperfície, além de ativarem rotas de fluxo na zona vadosa
no entorno das cavidades. Nesse trabalho também se comprovou que cavernas mais rasas e menores são

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

conectadas por fraturas subverticais situadas nas imediações e que as mais profundas recebem fluxos de
até 200 m de distância.

Figura 6.12 - Seções multitemporais (to – background, t1, t2, t3, t4) de levantamento eletrorresistivo na linha
central (C2) da área 2.

Tanto as análises geofísicas quanto os ensaios de infiltração permitiram comprovar que atributos,
sejam eles geológicos ou biológicos, propiciaram o fluxo subsuperficial da água. Os locais onde foram
identificados, superficialmente, macroporos, fendas, condutos e canais de bioturbação, além de
cavidades, forneceram os valores de infiltração e fluxo mais elevados.

Considerando-se que no afloramento na cascalheira situada a noroeste da área 2 (Figura 5.2)


identificaram-se cavidades em maiores profundidades no horizonte de transição, pode-se afirmar que as
cangas apresentam macroporosidade conectada a nível de matriz, e feições cársticas como dutos e
cavidades em megaescala, resultando num meio de porosidade similar ao cárstico. Como a carstificação
em subsuperfície na região do Quadrilátero ferrífero é muito controlada por condicionantes
geomorfológicos (Nola & Bacellar 2021), a recarga dos aquíferos subjacentes as cangas podem ser
elevadas em alguns trechos.

104
CAPÍTULO 7
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Foram selecionadas duas áreas de estudo com ocorrência de cangas em rampas topográficas na
poção sudeste do Quadrilátero Ferrífero (MG), a área 1, município de Ouro Preto, e a área 2, município
de Mariana. Nestas áreas ocorrem os dois tipos mais comuns de cangas do Quadrilátero Ferrífero, a
estruturada (área 2), formada in situ a partir da rocha subjacente (itabiritos da Formação Cauê), e a
detrítica (áreas 1 e 2), de origem colúvio-aluvionar.

Na área 1 o protolito da canga detrítica é ainda motivo de controvérsias, pela falta de afloramentos
da rocha fonte. Contudo, as características químicas, mineralógicas da canga e sua associação com
bauxitas, aponta para uma origem associada a rochas metassedimentares (filitos) da Formação Fecho do
Funil, como defendido em estudos prévios. Nesta área é possível perceber uma tendência de maiores
infiltrações e de maior proporção de macroporos no setor oeste, onde o teor de ferro é mais elevado e
de alumínio mais baixo.

Os dois tipos de canga da área 2 podem ser subdivididos de acordo com algumas de suas
características texturais e estruturais. Essas particularidades são consequência, principalmente, da
distribuição espacial, grau de cimentação e degradação. Nesta área a canga estruturada, de ocorrência
minoritária, é nitidamente mais antiga, formada in situ a partir de saprolito de formações ferríferas,
mantendo a foliação destas. Como a foliação se encontra dobrada, a porosidade e a condutividade
hidráulica variam conforme o ângulo desta com a superfície do terreno. De fato, quanto maior for a
inclinação, maior será a quantidade de poros planares desenvolvidos paralelamente à foliação e as taxas
de infiltração são mais elevadas. Já a canga detrítica consolidada, que ocorre discordantemente sobre a
estruturada, constitui grãos de tamanhos homogêneos e bem cimentados, que minimizam a ocorrência
de poros, dificultando a infiltração. Também foram encontradas cangas detríticas inconsolidadas, mais
friáveis e porosas, que podem representar cangas detríticas consolidadas em processo de degradação ou
cangas mais recentes, resultantes da cimentação de detritos provenientes de montante em processo de
cimentação. A cinética geoquímica rápida do Fe dificulta a distinção destas cangas em campo, pois
dissoluções e reprecipitações do Fe podem variar no tempo e no espaço, causando degradação de cangas
estruturadas (como nas pseudodetríticas) e detríticas consolidadas e consolidação parcial das detríticas
não consolidadas.

Independentemente da tipologia das cangas, como em outras áreas com ocorrência deste material
no Quadrilátero Ferrífero e na Serra de Carajás, há frequentemente um horizonte mais endurecido
superficial (crosta), sobre um horizonte de transição, mais poroso e erodível, onde a carstificação
prevalece. O horizonte transicional protegido pela crosta superficial, pode ter sido desagregado por
condições mais redutoras e acidificadas pela matéria orgânica, que facilitam a lixiviação do ferro.
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Dados desta pesquisa e de trabalhos anteriores indicam que a condutividade hidráulica apresenta
grande variabilidade, de cerca de 2,5 ordens de magnitude, causada por diferenças mineralógicas,
texturais e estruturais das cangas. Constatou-se elevada ocorrência de gibbsita e/ou caulinita,
preenchendo totalmente ou parcialmente os poros das cangas detríticas mais aluminosas do setor leste
da área 1. Com isso, apesar de serem mais porosas que as demais cangas analisadas (especialmente da
área 2), os valores de taxa de infiltração obtidos com ensaios com infiltrômetros, foram menores.

Entretanto, resultados de ensaios laboratoriais e de campo evidenciaram que embora haja esta
diferenciação tipológica das cangas das duas áreas, a porosidade e a condutividade hidráulica da crosta
superficial são em geral altas, equivalente à de sedimentos de textura siltosa a arenosa fina. Até mesmo
a matriz das crostas apresenta fluxo preferencial por macroporos, com diâmetros superiores a 0,5mm.

Além desta condutividade hidráulica razoavelmente elevada em micro e meso escala, os


levantamentos multitemporais de eletrorresistividade com emprego de traçadores indicaram que embora
predominem fluxos horizontais rasos, condicionados por camadas de características genéticas ou por
estágios de degradação distintos, localizadamente ocorrem conexões com zonas carstificadas em
subsuperfície. Verificou-se uma percolação com maior componente vertical na área 1 e horizontal na
área 2. O predomínio de componentes horizontais de fluxo na área 2 pode ser explicado pela existência
de um horizonte de solo na superfície, sobreposta à canga mais detrítica consolidada e estruturada e pela
maior declividade da rampa. Em ambas as áreas as conexões de descontinuidades superficiais (buracos,
fissuras e termiteiros) com zona carstificadas em subsuperfície (cavernas, condutos), confirmam estudo
prévios que indicam rotas mais rápidas de fluxo descendente (by-pass flow) em relação ao fluxo pela
matriz.

Portanto, as cangas se comportam como um meio de porosidade equivalente à cárstica. Como a


carstificação nas cangas do Quadrilátero Ferrífero é fortemente condicionada não somente pelos fatores
litológicos e estruturais, como também pelos geomorfológicos as taxas de recarga dos aquíferos
subjacentes tendem a não ser baixas, dado os valores razoavelmente elevados de condutividade
hidráulica superficial, mas variáveis espacialmente devido aos fatores acima mencionados.

A retirada da cobertura de canga pelas empresas mineradoras pode afetar o armazenamento de


água em níveis mais superficiais e posterior percolação para zonas mais profundas, convertendo-se em
recarga dos aquíferos. Além disso, esta "retenção" de água favorece a formação e ampliação das
cavidades devido ao aumento do seu tempo de ação e consequente mobilização do ferro.

Para o desenvolvimento de trabalhos futuros com esta temática, recomenda-se:

✓ Caracterização detalhada do horizonte transição, com análise mineralógica, textural, estrutural


e até geomecânica, com definição de, ao menos, da dureza (ex.: com martelo de Schmidt) e da
erodibilidade.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

✓ Levantamento multitemporal de eletrorresistividade com intervalos de tempo mais curtos e com


maior profundidade de investigação, com injeção contínua de traçador salino de forma a
possibilitar o acompanhamento com maior acurácia das rotas de fluxo pelo horizonte de
transição.
✓ Caracterização em campo ou com auxílio de sensores remotos com drones (ex.: combinação de
sensores infravermelhos termais e de outros do espectro eletromagnético) da tipologia e da
densidade de feições cársticas superficiais na crosta e subsuperficiais no horizonte de transição
em cortes e taludes. Desta forma, seria possível avaliar em conjunto o fluxo pela matriz como
pela porosidade cárstica, possibilitando quantificar a recarga aos aquíferos subjacentes.
✓ Construção de parcelas experimentais para que, associadas aos dados de precipitação, seja
possível analisar o escoamento superficial em um espaço amostral mais representativo.
✓ Execução de pequenos furos de sondagem para investigação da condutividade hidráulica
saturada por meio da utilização do permeâmetro de Guelph.
✓ Levantamento das estruturas presentes na canga e identificação da influência destas feições no
aporte e fluxo de água subterrânea.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

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Adendo

Precipitação acumulada mensal da cidade de Ouro Preto, estação pluviométrica da Bauxita. Fonte: Cemaden
(2022)

Precipitação acumulada mensal da cidade de Mariana, estação pluviométrica de Vila Maquiné. Fonte: Cemaden
(2022)
Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Seções de eletrorresistividade em planta da área 1. Valores de resistividade máximo de 20000ohm.m.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Modelos tridimensionais de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos realizados em diferentes
intervalos de tempo na área 1.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Modelos tridimensionais de eletrorresistividade obtidas por meio dos levantamentos realizados em diferentes
intervalos de tempo na área 2.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento de background nas linhas U1
(esquerda), U2 (central) e U3 (direita), na área 1.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento quando houve injeção de traçador
salino nas linhas U1 (esquerda), U2 (central) e U3 (direita), na área 1.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 1h após injeção de traçador salino nas
linhas U1 (esquerda), U2 (central) e U3 (direita), na área 1.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 4h após injeção de traçador salino nas
linhas U1 (esquerda), U2 (central) e U3 (direita), na área 1.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 2 dias após injeção de traçador salino
nas linhas U1 (esquerda), U2 (central) e U3 (direita), na área 1.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento de background nas linhas C1
(esquerda), C2 (central) e C3 (direita), na área 2.

128
Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento quando houve injeção de traçador
salino nas linhas C1 (esquerda), C2 (central) e C3 (direita), na área 2.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 1h após injeção de traçador salino nas
linhas C1 (esquerda), C2 (central) e C3 (direita), na área 2.

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Contribuições às Ciências da Terra, Série M, vol. 82, 132p.

Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 4h após injeção de traçador salino nas
linhas C1 (esquerda), C2 (central) e C3 (direita), na área 2.

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Oliveira, N. C. M. 2022, Análise da dinâmica hidrogeológica de diversas tipologias de canga do sudeste...

Seções invertidas de eletrorresistividade obtidas por meio do levantamento 2 dias após injeção de traçador salino
nas linhas C1 (esquerda), C2 (central) e C3 (direita), na área 2.

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