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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”


INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

BEATRIZ MACHADO MAENAKA

VARIAÇÃO SAZONAL EM PARÂMETROS


ASSOCIADOS À BIOLOGIA TERMAL E AO
BALANÇO HÍDRICO NA PERERECA RASPA-
CUIA, Scinax fuscovarius (ANURA, HYLIDAE).

Rio Claro - SP
2022
BEATRIZ MACHADO MAENAKA

VARIAÇÃO SAZONAL EM PARÂMETROS ASSOCIADOS À


BIOLOGIA TERMAL E AO BALANÇO HÍDRICO NA PERERECA
RASPA-CUIA, Scinax fuscovarius (Anura: Hylidae)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Instituto de Biociências – Câmpus de Rio Claro, da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”, para obtenção do grau de Licenciada e
Bacharela em Ciências Biológicas

Orientador: Prof. Dr. Denis Otávio Vieira de Andrade

Coorientador: MSc. Luis Miguel Senzano Castro

Rio Claro - SP
2022
M185v
Maenaka, Beatriz Machado
Variação sazonal em parâmetros associados à biologia termal e ao balanço
hídrico na perereca raspa-cuia, Scinax fuscovarius (Anura: Hylidae) / Beatriz
Machado Maenaka. -- Rio Claro, 2022
43 p. : il., tabs.

Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado e licenciatura - Ciências


Biológicas) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Biociências,
Rio Claro
Orientador: Denis Otávio Vieira de Andrade
Coorientador: Luis Miguel Senzano Castro

1. Zoologia. 2. Temperatura corporal. 3. Estresse hídrico. 4. Herpetologia. 5.


Anuros. I. Título.

Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca do Instituto de Biociências, Rio Claro. Dados
fornecidos pelo autor(a).
Essa ficha não pode ser modificada.
BEATRIZ MACHADO MAENAKA

VARIAÇÃO SAZONAL EM PARÂMETROS ASSOCIADOS À


BIOLOGIA TERMAL E AO BALANÇO HÍDRICO NA PERERECA
RASPA-CUIA, Scinax fuscovarius (Anura: Hylidae)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Instituto de Biociências – Câmpus de Rio Claro, da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”, para obtenção do grau de Licenciada e
Bacharela em Ciências Biológicas

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Denis Otávio Vieira de Andrade (orientador)


Prof. Dr. Luis Miguel Senzano Castro (coorientador)
Prof. Dr. Ariovaldo Pereira da Cruz Neto
Prof. Dr. Célio Fernando Baptista Haddad

Aprovado em: 10 de janeiro de 2022

Assinatura do discente
Assinatura do coorientador

Assinatura do orientador
Dedico este trabalho aos meus pais,
que sempre me deram suporte além do
necessário para o meu ingresso na
universidade e me apoiaram
incondicionalmente nesta jornada de
realizar uma graduação longe de casa.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, quero agradecer aos meus pais, por me apoiarem em todos os


apectos ao longo desse percurso e me darem toda a estrutura necessária para
alcançar esse ofício, independente da distância e da minha escolha profissional. À
nossa amada cachorra Melanie, que sempre deu sentido aos meus passos, mesmo
fora de casa. Passar os últimos anos sem a sua companhia diária foi de longe a parte
mais desafiadora da minha graduação. Às minhas irmãs Carolina, Gabriela e Flavinha
que, apesar da saudade, marcaram presença e afago nos dias difíceis e me provaram
que não há fronteiras geográficas que nos impeçam de compartilhar e celebrar nossas
conquistas.
Não existe agradecimento suficiente para retribuir aos meus amigos de
infância, Bruna e Rodrigo, por tudo que compartilhamos nesses últimos 11 anos e
seguiremos partilhando. Vivemos o dia-a-dia dos tempos de escola, fomos suporte um
para o outro na tensa fase de vestibular, e continuamos unidos em uma relação
fraterna de apoio para além da nossa diversidade profissional. Em todo esse contexto,
dedico especial agradecimento à Terê, uma segunda mãe que cuidou de nós três e
dos nossos corações em crescimento. Toda e qualquer qualidade nobre que houver
em mim é resultado dessa amizade. Indenpendente de onde eu estiver, vocês são
meu porto seguro.
Jamais seria possível chegar até aqui se não estivesse cercada dos grandes
amigos que ganhei na graduação: Amanda, minha parceira de estágio docência e uma
inspiração de professora e ser humano. Ao meu amigo companheiro Aryel, com quem
tive o privilégio de morar e compartilhar sonhos, anseios e receitas maravilhosas. Ao
meu querido Chun, que será sempre a minha melhor recordação das viagens de
campo e festas da faculdade. Ao Lusca, por tanto apoio e conselhos acolhedores. Ao
Marcio, por toda a sua sensatez e bondade que iluminam meus dias desde quando o
conheci. À Miyuki que, com sua serenidade, se mostrou sempre firme e confiável. Ao
Tavares, por nos proporcionar momentos incríveis, engraçados e risadas fraternas.
Ao que nós oito construímos nesses seis anos juntos dou o nome de família.
Três nunca é demais. A Biologia me deu uma quarta irmã, Ariel. Obrigada por
segurar minha mão com tanta firmeza e ao mesmo tempo com tanto carinho. Por ser
uma das pessoas em quem mais confio e cujos sonhos mais anseio acompanhar.
Nossa rotina juntas já me faz muita falta e nossa amizade transcende qualquer
barreira geográfica ou temporal. Ariel se tornou um dos meus nomes preferidos; para
mim, é sinônimo de amor e confiança.
Por este momento especial que é fechar um ciclo e dar início a uma vida
acadêmica, devo tudo novamente ao meu querido amigo Aryel e aos maravilhosos
Murilo e Tolima, que me acolheram em um momento delicado de pandemia para que
eu concluísse meus trabalhos no laboratório. Sem vocês, essa linha crucial da minha
vida não seria traçada.
Fico em eterna dívida com todos os meus professores do ciclo básico e da
graduação, sem os quais eu não teria bases para escolher uma carreira e lutar por
ela. Quero agradecer especialmente aos professores Luiz Marcelo de Carvalho, Leda
e Danielle, pela incrível e inesquecível orientação em meu trabalho de Licenciatura.
Aos professores Kleber, Alessandra Coan e Cenira, por me orientar em um lindo
trabalho de estágio em meu bacharelado. Por fim, devo tudo ao meu orientador,
professor Denis, e ao meu co-orientador, professor Luis Miguel, por todos os
ensinamentos e por me encorajar a estudar a fascinante biologia dos anfíbios e seguir
carreira acadêmica em um momento tão duro e austero para a ciência brasileira.
Acrescento especial agradecimento ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), pelo financiamento do presente trabalho, que
marcou a minha iniciação científica na graduação.
Listen,
if stars are lit,
it means there is someone who needs it.
It means it is essential
that every evening
at least one star should ascend
over the crest of the building.

(Listen! – Vladimir Mayakovsky)


RESUMO

Devido à ectotermia e à pele altamente permeável, a regulação da temperatura


corpórea (TC) e do balanço hídrico dos anfíbios anuros é altamente sensível às
variações de temperatura e disponibilidade de água ambientais. Sazonalmente, as
variações ambientais são frequentemente acompanhadas por ajustes concorrentes,
tanto na biologia termal, quanto no balanço de água dos animais. No presente
trabalho, estudamos variações sazonais em parâmetros associados à biologia termal
e ao balanço hídrico da perereca raspa-cuia, Scinax fuscovarius (Anura, Hylidae). Esta
espécie é uma perereca de médio porte, arborícola, noturna e com ampla distribuição
geográfica na América do Sul, sendo conhecida por manter-se ativa ao longo de todo
o ano, o que a torna particularmente propícia aos objetivos propostos no presente
estudo. Medimos os seguintes parâmetros de fisiologia térmica: temperatura corpórea
dos animais em campo (TCAMPO), temperatura preferida (TPREF) em laboratório e
temperaturas críticas mínima (TCMÍN) e máxima (TCMÁX). Em termos de balanço
hídrico, analisamos as taxas de perda evaporativa de água (PEA) a 15, 25 e 35 °C, a
tolerância dos animais à desidratação e a taxa de reidratação (ambas a 25 °C). A
coleta dos animais em campo e os experimentos foram realizados durante as duas
estações mais marcantes do local de estudo: uma estação quente e úmida (verão) e
outra fria e seca (inverno). Constatamos variações sazonais em T CAMPO, TPREF,
tolerância a desidratação e taxa de reidratação, que foram maiores no verão. Já as
taxas de PEA não variaram significativamente entre as estações, embora tenham
aumentado com a temperatura. Também não foram constatadas variações sazonais
na tolerância termal (TCMÁX e TCMÍN). Nossos dados mostram que S. fuscovarius
apresenta ajustes sazonais em alguns parâmetros de fisiologia térmica e de balanço
hídrico, mas não em outros. Estes resultados devem refletir diferenças no grau de
flexibilidade fenotípica, compromissos funcionais, especialmente entre a
termorregulação e o balanço hídrico, e variações sazonais nas contingencias
ambientais.

Palavras-chave: anfíbios, preferência térmica, tolerância térmica,


balanço hídrico, sazonalidade.
ABSTRACT

Due to ectothermy and the high permeability of their skin, the thermal biology and
water balance of anuran amphibians are highly influenced by variations in
environmental temperature and water availability. Seasonally, environmental
variations are often followed by concurrent adjustments in thermal biology and water
balance. In this study, we investigated the seasonal variation in parameters
associated to the thermal biology and water balance in the snouted treefrog, Scinax
fuscovarius (Anura, Hylidae). This species is a midsize arboreal and nocturnal
treefrog with a wide geographical distribution in South America. S. fuscovarius is
known by remaining active throughout the year, which makes it particularly adequate
to the goal of the present study. Thermal measured parameters included body
temperature of field active frogs (TFIELD), thermal preference (TPREF) in laboratory and
the minimum and maximum critical temperatures (CTMIN and CTMAX, respectively).
In terms of water balance, we measured: rates of evaporative water loss (EWL, at
15, 25 and 35 °C); dehydration tolerance (EWLCRIT) and water uptake (WU) rate
(both at 25 °C). Capture and measurements were carried out in the middle of the two
seasons typical for the study site: the hot/wet summer and the cold/dry winter. All
experiments were carried out with adult individuals captured in Rio Claro, in the state
of São Paulo, Brazil. We found that TFIELD, TPREF, EWLCRIT and WU were higher in
summer compared to winter. EWL rates did not vary seasonally, but showed a
positive relationship with experimental temperatures. There were no seasonal
variations in the tolerance to critical temperatures (CTMAX and CTMIN). Our data show
that S. fuscovarius presents seasonal adjustments in some parameters of their
thermal biology and water balance, but not in others. This should reflect differences
in the degree of phenotypic plasticity among the tested parameters, functional
compromises, specially between thermoregulation and water balance, and seasonal
changes in environmental contingencies.

Keywords: amphibians, thermal preference, thermal tolerance, water balance,


seasonality.
Sumário

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11
2 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 16
2.1 Espécie e local de estudo .............................................................................. 16
2.1.1 Trabalho em campo .................................................................................... 16
2.1.2 Manutenção dos animais em laboratório .................................................... 17
2.2 Protocolos experimentais ............................................................................... 18
2.2.1 Parâmetros de fisiologia térmica ................................................................. 19
2.2.1.1 Temperatura preferida (TPREF) ................................................................. 19
2.2.1.2 Limites termais críticos ............................................................................. 19
2.2.2 Parâmetros de balanço hídrico ................................................................... 20
2.2.2.1 Perda evaporativa de água (PEA)............................................................ 20
2.2.2.2 Tolerância à desidratação ........................................................................ 21
2.2.2.3 Taxa de reidratação ................................................................................. 22
2.3 Tratamento e análise dos dados .................................................................... 23
3 RESULTADOS ................................................................................................. 25
3.1 Fisiologia térmica ........................................................................................... 25
3.2 Balanço hídrico .............................................................................................. 25
4 DISCUSSÃO..................................................................................................... 30
5 CONCLUSÃO ................................................................................................... 34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 35
ANEXO – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DE USO DE ANIMAIS EM
PESQUISA (CEUA) ....................................................................................... 42
11

1 INTRODUÇÃO

Em anfíbios anuros, bem como em outros animais ectotérmicos, a temperatura


corpórea (TC) é primariamente regulada pela disponibilidade de nichos térmicos no
ambiente, explorados através de mecanismos comportamentais termorregulatórios
(BRATTSTROM, 1963; HUEY & STEVENSON, 1979; HUTCHISON & DUPÉ, 1992;
POUGH, 2004). Ademais, a alta permeabilidade tegumentar, característica dos
anfíbios, determina um risco importante de perda de água por evaporação que, em
excesso, pode comprometer a manutenção de um balanço hídrico adequado em
espécies terrestres (FEDER & BURGGREN, 1985; TRACY et al., 1993; LILLYWHITE,
2006; TRACY et al., 2014). Assim, tanto variações na temperatura quanto na
disponibilidade de água no ambiente exercem profunda influência na biologia termal
e no balanço de água dos anfíbios anuros (TRACY et al., 1993; POUGH, 2004;
TRACY et al., 2014). Além disso, sabemos que muitos parâmetros associados à
regulação da TC dos anuros são afetados pelo estado de hidratação dos animais, da
mesma forma que variáveis importantes para a regulação do balanço hídrico são
afetadas por variações da TC (FEDER & BURGGREN, 1985; TRACY et al., 1993;
POUGH, 2004; TRACY et al., 2014). Portanto, a regulação dessas duas importantes
funções fisiológicas é tanto dependente de fatores ambientais como também dos
compromissos funcionais entre elas (FEDER & BURGGREN, 1985; POUGH, 2004;
TRACY & CHRISTIAN, 2005; GALINDO et al., 2018; ROZEN-RECHELS et al., 2019).
Temperatura e disponibilidade de água são fatores ambientais que variam
geográfica e temporalmente (MONTEIRO, 1973). Numa escala temporal, variações
consideráveis podem ocorrer tanto ao longo do ciclo circadiano como sazonalmente
(SEEBACHER & ALFORD, 1999). Assim, anfíbios anuros frequentemente exibem
ajustes diários e sazonais em diversos parâmetros associados à sua biologia termal e
ao balanço de água (SEEBACHER & ALFORD, 1999; SANABRIA & QUIROGA, 2011;
NORONHA-DE-SOUZA et al., 2015; ANDERSON, BOVO & ANDRADE, 2018). Estas
respostas são amplamente aceitas como mecanismos compensatórios que permitem
aos animais manter suas atividades frente às alterações nas condições ambientais,
especialmente em termos de temperatura e disponibilidade de água (KISS et al., 2009;
SANABRIA, QUIROGA & MARTINO, 2012; ANDERSON, BOVO & ANDRADE, 2018;
NOWAKOWSKI et al., 2018). Ademais, em resposta às variações sazonais mais
pronunciadas nas condições ambientais, muitas espécies de anfíbios anuros
12

restringem suas atividades ao período do ano, geralmente a primavera/verão, no qual


as condições ambientais são mais propícias (ABE, 1995; ANDRADE, 2016; SCHIVO
et al., 2019). Na outra porção do ano, que normalmente compreende os meses de
outono/inverno, os animais permanecem em inatividade sob um estado de estivação
ou hibernação (SINSCH, 1988; SEEBACHER & ALFORD, 1999; PRADO,
UETANABARO & HADDAD, 2005; RASTOGI et al., 2010; NOWAKOWSKI et al.,
2018). Obviamente, esse padrão sazonal de atividade é também acompanhado por
ajustes sazonais profundos das funções fisiológicas incluindo a regulação da T C e o
balanço de água (CARVALHO, NAVAS & PEREIRA, 2009).
A temperatura corpórea dos anfíbios anuros em campo (TCAMPO) é regulada
pela exploração de nichos termais disponíveis no ambiente, podendo variar
consideravelmente entre diferentes espécies, atributos organísmicos e fatores
ambientais (HUEY & STEVENSON, 1979; BRATTSTROM, 1963; HUTCHISON &
DUPÉ, 1992; ANGILLETTA, 2009). De qualquer maneira, é largamente aceito que
anfíbios anuros selecionam intervalos de TCAMPO nas quais os custos
termorregulatórios são minimizados e a maioria de seus processos fisiológicos e
atividades ecológicas tende a ser otimizada (AVERY, 1982; ANGILLETTA, 2009;
KÖHLER et al., 2011). Em laboratório, essa preferência termal, referida como
temperatura corpórea preferida (TPREF), pode ser determinada em um gradiente
térmico, no qual os custos termorregulatórios são cancelados e há oportunidades de
exploração de uma ampla faixa de temperaturas, que são oferecidas de maneira
padronizada (TRACY & CHRISTIAN, 2005; porém ver NAVAS et al., 2021). O
desempenho dos anfíbios anuros em diversas funções também é afetado pela
temperatura (PREEST & POUGH, 2003; TRACY & CHRISTIAN, 2005; KÖHLER,
2011). A temperatura na qual o pico de desempenho é alcançado é chamada de
temperatura ótima, a qual, em muitos casos, é concordante com a T PREF
(ANGILLETTA, 2009; ANGILLETTA, NIEWIAROWSKI & NAVAS, 2002). Ao se afastar
desta faixa de temperaturas ótimas e preferenciais, o desempenho dos anuros declina
gradualmente, podendo atingir temperaturas críticas mínima (TC MÍN) ou máxima
(TCMÁX) que inviabilizam a sobrevivência do organismo (LUTTERSCHMIDT &
HUTCHISON, 1997; SANABRIA, QUIROGA & MARTINO, 2012; ANDERSON &
ANDRADE, 2018). Na prática, é comum o uso de outros indicadores, que não a morte
do animal, para a determinação das temperaturas críticas. Em anuros, por exemplo,
é largamente aceito que a ocorrência de espasmos, rigidez muscular e incapacidade
13

de endireitamento corporal sejam indicativas de uma “morte ecológica” e, portanto, do


intervalo de tolerância termal dos animais (LUTTERSCHMIDT & HUTCHINSON,
1997). Em anfíbios anuros, alguns estudos mostram que tanto TCAMPO e TPREF quanto
TCMÍN e TCMÁX variam tanto entre diferentes regimes climáticos (SANABRIA,
QUIROGA & MARTINO, 2012; SIMON, RIBEIRO & NAVAS, 2015) como
sazonalmente (BÍCEGO-NAHAS, GARGAGLIONI & BRANCO, 2001; SANABRIA,
QUIROGA & MARTINO, 2012).
A alta permeabilidade da pele dos anfíbios os deixa expostos ao risco constante
de perda evaporativa de água (PEA) que, em excesso, pode comprometer um balanço
de água adequado (TRACY, 1976; TRACY et al., 1993; LILLYWHITE, 2006; TITON
JUNIOR & GOMES, 2017; SENZANO & ANDRADE, 2018). As taxas de PEA podem
variar consideravelmente entre diferentes espécies e em função de diversos
parâmetros fisiológicos (e.g., permeabilidade tegumentar) e ambientais (temperatura,
umidade e fluxo de ar) (WITHERS et al., 1982; TITON JUNIOR & GOMES, 2015;
KLEIN, et al., 2016). Na direção oposta à perda de água por evaporação, porém
igualmente dependente do grau de permeabilidade do tegumento, temos a eficiência
com que os animais conseguem se reidratar quando em contato com água livre
(POUGH, 2004; HILLMAN, 2018), que é central para a manutenção de um balanço de
água adequado (HILLMAN, 2018). Finalmente, similarmente as determinações de
limites termais críticos, é possível determinar o nível máximo de desidratação sob o
qual os animais conseguem manter sua viabilidade funcional (TRACY et al., 2014;
HILLMAN, 2018; SENZANO & ANDRADE, 2018). Geralmente, essa tolerância à
desidratação é determinada através da desidratação paulatina dos animais até que
algum indicador pré-estabelecido seja atingido – no caso dos anfíbios anuros,
normalmente, a incapacidade de endireitar o corpo de volta à sua posição habitual
(GREENBERG & PALEN, 2021). Portanto, as taxas de PEA e de reidratação e a
tolerância à desidratação são fatores críticos para a manutenção do equilíbrio hídrico
dos anfíbios anuros (TRACY et al., 1993; TRACY et al., 2014; HILLMAN, 2018). Tais
parâmetros são conhecidos por variar interespecificamente em função de atributos
morfológicos (TITON JUNIOR & GOMES, 2015; KLEIN et al., 2016; TITON JUNIOR
& GOMES, 2017) e comportamentais (SINSCH, 1988; PREEST & POUGH, 2003;
NOWAKOWSKI et al., 2018) que parecem estar em concordância com características
do habitat ocupado pelas diferentes espécies (TITON JUNIOR & GOMES, 2015;
NOWAKOWSKI et al., 2018), além de também poderem variar sazonalmente
14

(SINSCH, 1988).
A biologia termal e o balanço de água nos anfíbios anuros exibem uma
complexa interação que envolve compromissos e limitações funcionais importantes
(TRACY et al., 1993; TRACY & CHRISTIAN, 2005; ANDERSON & ANDRADE, 2017).
Por exemplo, sob altas temperaturas e baixa umidade, a água evapora mais
rapidamente e as taxas de PEA aumentam (TRACY, 1976; TITON JUNIOR & GOMES,
2017; SENZANO & ANDRADE, 2018). Assim, temperaturas mais altas implicam em
um maior risco de desidratação, de forma que o grau de desidratação em anuros pode
modular sua preferência térmica (TRACY & CHRISTIAN, 2005; ANDERSON &
ANDRADE, 2017). Por outro lado, a água ao evaporar sobre a superfície corpórea,
produz um resfriamento evaporativo, o que faz com que a T C dos anuros seja
geralmente um pouco mais fria que a temperatura do ambiente ao redor ou da
superfície com a qual estão em contato (HUEY & STEVENSON, 1979;
BRATTSTROM, 1963; HUTCHISON & DUPÉ, 1992). Finalmente, variações de
temperatura são conhecidas por afetar as taxas de reidratação e a tolerância à
desidratação em anfíbios anuros (POUGH, 2004; SENZANO & ANDRADE, 2018),
bem como o nível de hidratação é conhecido por afetar a tolerância, a preferência
termal e o desempenho comportamental (TRACY & CHRISTIAN, 2005; TRACY et al.,
2014).
Em regiões neotropicais, especialmente áreas de clima subtropical, onde as
chuvas se concentram nas estações quentes (primavera e verão), a maioria das
espécies de anuros apresenta um padrão sazonal de atividade (ANDRADE, 2016;
NORONHA-DE-SOUZA et al., 2015; SIMON, RIBEIRO & NAVAS, 2015; SCHIVO et
al., 2019) entrando em estivação na temporada fria e seca do ano, geralmente definida
por parte do outono e todo o inverno (ABE, 1995; ANDRADE, 2016). Entretanto, há
algumas espécies de anuros neotropicais que, embora concentrem maior atividade na
estação quente e úmida, se mantêm ativos ao longo de todo o ano (KISS et al., 2009;
ANDERSON, BOVO & ANDRADE, 2018). Face às variações de temperatura e
disponibilidade de água ao longo das estações, é bastante provável que estas
espécies exibam algum grau de ajuste nos parâmetros associados à regulação da T C
e ao balanço hídrico, como comentado acima. Portanto, no presente estudo, nós
investigamos os possíveis ajustes sazonais em parâmetros associados à biologia
termal e ao balanço hídrico em indivíduos adultos da perereca raspa-cuia – Scinax
fuscovarius (Anura, Hylidae) –, em uma área de clima subtropical, no interior do
15

Estado de São Paulo, Brasil. Para tanto, determinamos a T CAMPO, TPREF, TCMÍN e
TCMÁX, além das taxas PEA (a 15, 25 e 35 °C). Medimos também sua tolerância à
desidratação e a sua taxa reidratação (ambas a 25 °C). Todos os experimentos foram
conduzidos na porção mediana das duas estações do ano que melhor definem o clima
da região onde o estudo foi realizado: uma estação quente e úmida (primavera/verão;
que se estende de meados de setembro até março) e outra fria e seca (outono/inverno,
que se estende de abril a agosto). Embora se encontre mais ativa nos meses quentes
e úmidos do ano, S. fuscovarius apresenta uma atividade contínua ao longo de todo
o ano (FROST et al., 2006; HADDAD; TOLEDO & PRADO, 2008), o que a torna um
modelo particularmente adequado aos objetivos do presente estudo. Considerando as
características da espécie e as condições climáticas do local, a nossa hipótese de
trabalho é que S. fuscovarius deve apresentar ajustes sazonais em parâmetros
associados à sua fisiologia térmica e ao balanço hídrico.
16

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Espécie e local de estudo

Popularmente conhecida como “perereca raspa-cuia”, Scinax fuscovarius


(Anura: Hylidae) é uma espécie arborícola de médio porte (HADDAD; TOLEDO &
PRADO, 2008) e ampla distribuição geográfica na América do Sul, ocorrendo desde
a Bolívia até o Brasil e desde o Paraguai até Uruguai e Norte da Argentina (FROST et
al, 2006). Seu estado de conservação é estável e a espécie é comumente encontrada
em áreas de pântano, vegetação arbustiva e pastagem (AQUINO et al., 2010). Além
disso, é considerada uma espécie generalista, sendo frequentemente encontrada em
ambientes antropizados (GRANDINETTI & JACOBI, 2005). Scinax fuscovarius possui
atividade noturna e tem sua atividade reprodutiva concentrada na estação quente e
chuvosa (primavera/verão) (RODRIGUES; UETANABARO; LOPES, 2005).
A coleta dos espécimes e os procedimentos experimentais foram conduzidos
no município de Rio Claro, situado na região centro-leste do Estado de São Paulo
(região Sudeste do Brasil), a 173 km da capital São Paulo. A cidade possui 167 m de
altitude (CLIMA, 2019). De acordo com a classificação Köppen-Geiger (1936), o clima
em Rio Claro é subtropical úmido (Cwa) (KOTTEK, M. et al., 2006), com temperatura
anual média de aproximadamente 20.3 °C e precipitação anual média em torno de
1294 mm (CLIMA, 2019). Na região, a temporada mais quente do ano vai de janeiro
a março (verão), cujas temperaturas variam entre 17.3 e 28.2 °C, época que também
concentra os maiores índices de precipitação, entre 150 e 240 mm (CLIMA, 2019). Já
a temporada mais fria ocorre entre junho e agosto (inverno), acompanhada pela baixa
umidade, com temperaturas entre 9.8 e 24.5 °C e precipitação entre 21 e 45 mm
(CLIMA, 2019).

2.1.1 Trabalho em campo

Coletamos 57 indivíduos adultos de S. fuscovarius de ambos os sexos no


município de Rio Claro, São Paulo, Brasil (22° 23'49,7 "S 47° 32'36,0" W). Os períodos
de amostragem ocorreram durante o verão (de dezembro a janeiro, n = 35 indivíduos)
e durante o inverno (de junho a julho, n = 22 indivíduos) entre 2020 e 2021. Em cada
17

estação, os animais foram buscados através de procura ativa durante o período


noturno, entre 18h e 22h. Após serem encontrados, os animais foram capturados e,
imediatamente, medimos sua temperatura cloacal (TCAMPO) com termômetro digital
(Incoterm, modelo 6132, precisão de 0,1 °C) e transferimos os animais para
recipientes plásticos individuais (7x14x10 cm). No momento da captura, usamos luvas
duplas para minimizar a condução de calor do corpo do pesquisador para o do animal
(ver NAVAS & ARAUJO, 2000) e aceitamos como válidas apenas as medições obtidas
em até cerca de 60 segundos. Para obter uma visão geral do perfil sazonal do
ambiente em nosso local de coleta, instalamos (5 cm acima do solo, na sombra) um
sensor de dados HOBO portátil (Pro v2 U23-002, EUA) que monitorava continuamente
a temperatura e a umidade relativa (UR) do ar por 24 horas durante nossos trabalhos
de campo diários (um total de oito dias em cada temporada). Além disso, também
coletamos informações adicionais, com ajuda de um psicrômetro (PCE-320, PCE
Instruments), sobre o local especifico de coleta de cada indivíduo (horário de captura,
UR, temperatura do substrato e temperatura do ar).
Ao final das medições de campo, os indivíduos foram conduzidos ao laboratório
de Fisiologia Animal do Instituto de Biociências da Unesp Campus Rio Claro, onde
medimos o comprimento rostro-cloacal (SVL) com o uso de paquímetro digital (0,01
precisão mm). Na manhã seguinte, os animais foram fotografados dorsalmente contra
um substrato branco (cerca de 4-6 imagens por espécime) para posterior identificação,
com base no padrão de mancha dorsal de cada espécime (REISSER et al., 2008). Em
caso de eventual recaptura, o indivíduo era liberado de volta ao local de coleta na
noite seguinte. A licença para coleta de animais foi emitida pelo Instituto Chico Mendes
da Conservação da Biodiversidade, Brasil (MMA-JCMBIO, nº 22028-1) e todos os
procedimentos e protocolos experimentais foram aprovados pelo Comitê de Ética para
Uso de Animais em Pesquisa (CEUA/Unesp, n° de protocolo 2223/2020).

2.1.2 Manutenção dos animais em laboratório

Em ambas as estações, os animais permaneceram no laboratório por um


período máximo de duas semanas, para que fossem minimizados possíveis efeitos do
cativeiro sobre seus parâmetros fisiológicos e, consequentemente, sobre os
resultados dos experimentos (NAVAS & GOMES, 2001). Os animais foram mantidos
em sala climatizada a 24 °C em contêineres plásticos individuais de 29 L
18

(45,7x32,6x28cm). Cada container possuía dois tubos de PVC (20 cm), folhagens
espalhadas pela caixa e dois potes rasos (3x10 cm) com água. Os animais tiveram
livre acesso à água e a uma variação de fotoperiodicidade natural, e foram privados
de alimentação durante o período de permanência em cativeiro, garantindo-se o
estado pós-absortivo durante as medições. Os experimentos foram iniciados dois dias
após a captura.

2.2 Protocolos experimentais

Como protocolo geral, primeiramente foi determinada a temperatura preferida


(TPREF) de todos os animais em um gradiente térmico, sendo este experimento
realizado no período noturno, entre 18h e 22h30min. Em seguida, os animais foram
separados aleatoriamente em diferentes grupos de no mínimo nove indivíduos, para
avaliação dos demais parâmetros térmicos e hídricos. Assim, em um dos grupos,
foram determinadas a PEA e a reidratação, experimentos de curta duração (2-3 horas)
e considerados de baixo estresse para os animais. Em outros dois grupos, foram feitas
as medições consideradas de alto estresse, como tolerância a desidratação, TCMÍN e
TCMÁX, sendo estes dois últimos parâmetros determinados no mesmo grupo de
indivíduos (detalhes fornecidos abaixo). Ocasionalmente, alguns indivíduos que a
princípio haviam sido selecionados apenas para os experimentos de curta duração (e
que apresentavam-se em bom estado) foram adicionados em alguma das medições
de tolerância a desidratação, TCMÍN ou TCMÁX, para incrementar o tamanho amostral
(n) destes parâmetros.
As taxas de PEA foram medidas entre 10h e 16h usando um sistema de perda
de água de fluxo aberto, sob três temperaturas experimentais (15, 25 e 35 ° C),
medindo-se a PEA sob cada temperatura em dias separados e de forma aleatória. A
capacidade de reidratação através da “mancha pélvica”, a tolerância a desidratação e
as temperaturas críticas (TCMÍN e TCMÁX) foram testadas durante o dia, geralmente
entre 09h e 16h. Como protocolo geral, antes das medições de TPREF, TCMÍN, TCMÁX,
tolerância a desidratação e reidratação, os animais foram expostos a um período de
aclimatação de duas horas à temperatura de 25 °C em recipientes plásticos com água,
para evitar a desidratação. Para os experimentos de PEA, os animais foram
aclimatados por duas horas de acordo com a temperatura experimental (15, 25 ou 35
° C). Os dados de medições que foram consideradas malsucedidas por qualquer
19

motivo (por exemplo, defecação, micção ou excesso de movimento) foram


descartados e o indivíduo foi medido novamente em um dia diferente. Nenhum
indivíduo foi submetido a mais de um procedimento experimental por dia.

2.2.1 Parâmetros de fisiologia térmica

2.2.1.1 Temperatura preferida (TPREF)

Para a determinação da TPREF, utilizamos um gradiente térmico circular


(50x100cm) construído com placas de aço galvanizado (0.3 mm de espessura),
formando cilindros dispostos em duas fileiras, montados sobre uma plataforma de
cobre (100x100cm). Um dos lados do gradiente foi aquecido a 41 °C, com uso de uma
cinta aquecedora (modelo THG 4", THGHeat), enquanto o lado oposto foi resfriado
com blocos de gelo a -10 °C. O piso do gradiente foi coberto por um forro de TNT
preto, garantindo, deste modo, uma distribuição uniforme das temperaturas entre 10
e 38 °C. A parte superior do gradiente permaneceu coberta por uma tela de TNT
durante todo experimento, para evitar a fuga dos animais. O gradiente era sempre
preparado uma hora antes do início das medições, tempo necessário para sua
estabilização. Como mencionado acima, antes do início dos experimentos, os animais
foram mantidos por 2 horas em uma câmara climatizada a 25°C. Posteriormente, os
animais foram transferidos individualmente para o gradiente, sendo liberados na
região central deste, onde a temperatura do substrato correspondia a
aproximadamente esta mesma temperatura (25 °C). As pererecas foram mantidas no
gradiente por um intervalo ininterrupto de duas horas, livres de qualquer perturbação.
Ao final deste periodo, elas foram rapidamente capturadas, e sua temperatura cloacal
(TPREF) foi medida com o mesmo termômetro e cuidados utilizados em campo.

2.2.1.2 Limites termais críticos

Determinamos as temperaturas críticas mínima (TCMÍN) e máxima (TCMÁX)


através do resfriamento e aquecimento, respectivamente, dos animais sob uma taxa
controlada de mudança da temperatura ambiente (1 °C a cada 10 minutos). Para tanto,
os animais foram inicialmente colocados em um recipiente plástico telado (7x14x10
cm), exceto pelo substrato que continha uma fina camada de água. Estes recipientes
20

foram transferidos para uma câmara climatizada (D.B.O. - Eletrolab modelo EL


101/2RS) programada para alterar a temperatura do ar na direção e taxa desejadas
(ExpeData, v.1.01, Sable Systems). O ponto de início dos experimentos foi a
temperatura de 25 °C, na qual os animais foram mantidos por 2 horas antes do inicio
dos experimentos. TCMÍN e TCMÁX foram sempre determindas nos mesmos indivíduos,
medindo-se primeiramente a TCMÍN e, após um descanso de dois dias, a TCMÁX.
Durante os experimentos, os animais eram inspecionados periodicamente,
verificando-se seu posicionamento e possíveis sinais de espasmos musculares ou
perda de coordenação. Nas temperaturas mais extremas, as pererecas foram viradas
com o ventre para cima, através da rotação da gaiola a cada 1 °C de alteração na
temperatura ambiente, sendo que o limite termal crítico foi determinado como o ponto
em que o animal, posicionado com o ventre para cima, não conseguia retornar à
posição habitual dentro de 15 segundos (LUTTERSCHMIDT & HUTCHISON, 1997).
Neste ponto, a temperatura cloacal (TCMÍN ou TCMÁX) dos animais foi medida com o
mesmo termômetro e cuidados já mencionados anteriormente. Ao final do
experimento, os animais foram retornados ao seu respectivo contêiner, o qual
continha uma fina camada de água a 25 °C para acelerar sua recuperação.

2.2.2 Parâmetros de balanço hídrico

2.2.2.1 Perda evaporativa de água (PEA)

Medimos as taxas de PEA das pererecas em três temperaturas experimentais:


15, 25 e 35 °C, sendo a ordem de medição nas 3 temperaturas aleatorizada entre os
diferentes indivíduos. Cada indivíduo foi medido em apenas uma temperatura por dia,
e todos os indíviduos foram medidos nas 3 temperaturas ao longo de 3 dias
consecutivos. Inicialmente, o animal foi colocado em uma câmara hermeticamente
fechada (200 ml) e transferido para dentro de uma câmara climatizada (D.B.O. -
Eletrolab modelo EL 101/2RS) mantida na temperatura desejada. Essa câmara estava
conectada a duas tubulações, uma de entrada (inlet) que recebia o fluxo de ar
produzido por uma bomba (SS-4 SubsamplerPump, Sable Systems) e uma de saída
(outlet) responsável por conduzir o efluxo do ar que ia da câmara até o medidor de
vapor d’água (RH-300, Sable Systems). A captação de ar pela bomba ocorreu dentro
da própria câmara climática evitando-se, portanto, alterações da temperatura
21

experimental. Ademais, a porta de captação de ar da bomba foi conectada a um


recipiente de vidro (2 L) preenchido com sílica-gel, o que manteve a umidade relativa
do ar enviado para a câmara constante ao redor de 2.5%. A bomba de ar foi regulada
para manter o fluxo de ar em 5 cm.s-1 durante toda a duração dos experimentos.
As medições de umidade relativa foram enviadas a um computador via uma
interface de aquisição de dados (UI-2 A/D converter, Sable Systems), onde foram
registradas e acompanhadas em tempo real com o uso do software Expe-Data (Sable
Systems). Os dados registrados durante os primeiros 30 minutos não foram
considerados para os cálculos das taxas de PEA, sendo dedicados à aclimatação dos
animais as condições experimentais. Após este período inicial de aclimatação, o
experimento foi estendido de 1 a 2 horas até que obtivéssemos pelo menos 15 minutos
contínuos de registros estáveis (“steady-state”), o que foi verificado visualmente em
tempo real através do output gráfico do sistema de aquisição de dados (ver WITHERS
et al., 1982). A média dos registros de RH durante o período de steady state foi
utilizada para o cálculo da taxa de PEA dos animais (ver abaixo). A linha de base
(baseline) dos valores de RH do sistema foi estabelecida medindo-se, antes e após
os experimentos, uma câmara idêntica àquela que continha o animal, porém, vazia.
A taxa de PEA absoluta (µgH2O.s-1) foi calculada pela diferença entre a
densidade de vapor d’água registrada para a câmara vazia (baseline) e os valores
encontrados durante a medição dos animais, multiplicados pelo fluxo de ar (WITHERS
et al. 1982). A PEA por área específica (µgH2O.cm-2.s-1) foi calculada através da
divisão do valor absoluto de PEA por 2/3 (66.6%) da superfície corpórea total
(WITHERS et al., 1982; KLEIN et al., 2016). Tal medida representa a proporção de
tegumento exposto ao ar em anuros assumindo-se a postura de conservação de água
neste grupo (WITHERS et al., 1982). A área de superfície corpórea total (As) foi
estimada de acordo com a relação entre As e a massa corporal (As = 9.1411Mass0,7735)
reportada para a família Hylidae (KLEIN et al., 2016).

2.2.2.2 Tolerância à desidratação

Para determinar a tolerância à desidratação, as pererecas foram previamente


aclimatadas a 25 °C por 2 horas em containers contendo uma fina camada de água.
Após este periodo, os animais então 100% hidratados foram pesados em uma balança
com precisão de ±0.0001 g (Adventurer, modelo AR 2140) com suas bexigas urinárias
22

esvaziadas. Posteriormente, cada indivíduo foi transferido para um pequeno tubo


telado (20x10 cm) e exposto a um fluxo de vento constante de 3.8 m/s, fornecido por
um ventilador, em uma câmara climática (D.B.O. - Eletrolab modelo EL 101/2RS)
mantida a 25 °C e umidade relativa variando entre 72 e 85%. Após um periodo de
desidratação inicial de 30 minutos, ao término do qual todos os animais ainda se
mostravam em boas condições gerais, a tolerância dos animais à desidratação foi
verificada, a cada 5 minutos, através da sua capacidade em endireitar o corpo uma
vez colocado com a região ventral virada para cima (GREENBERG & PALEN, 2021).
No momento em que o animal mostrou-se incapaz de realizar essa manobra dentro
de um periodo de 15 segundos, o animal foi pesado novamente e o nível de
desidratação tolerado foi calculado em relação ao peso no início do experimento (i.e.
100% hidratado) (HILLMAN, 2018; SENZANO & ANDRADE, 2018). Ao final do
procedimento, cada indivíduo foi borrifado com água a 25 °C e devolvido a sua gaiola
de manutenção.

2.2.2.3 Taxa de reidratação

Antes das medições, os animais foram 100% hidratados e aclimatados a 25 °C


por 2 horas dentro dos seus containers com água. Depois, tiveram suas bexigas
urinárias esvaziadas por meio de uma massagem na região ventral e foram pesados
para a obtenção do valor de massa (g) correspondente a 100% de hidratação.
Posteriormente, foram expostos ao mesmo protocolo de tolerância à desidratação em
um tubo com fluxo de vento (anteriormente descrito), mas neste caso os animais eram
removidos do tubo ao atingirem 90% de sua massa inicial. Posteriormente, as
pererecas foram transferidas individualmente para um pote plástico (7x14x10 cm)
contendo uma fina camada de água (0.2 mm) e mantido dentro de uma câmara
climatizada a 25 °C. À intervalos de dois minutos e por seis vezes consecutivas, as
pererecas eram cuidadosamente removidas do pote onde estavam se reidratando, o
excesso de água aderida ao corpo era gentilmente removido com papel absorvente,
e sua massa novamente determinada em uma balança de precisão (Adventurer,
modelo AR 2140, com 0.0001 g de precisão).
A taxa de reidratação absoluta (µgH2O.s1) foi calculada com base na regressão
linear do ganho de massa corpórea dos animais ao longo da série de pesagens. Para
obter a reidratação por área específica da superfície corpórea (µgH 2O.cm-2.s1)
23

dividimos a taxa absoluta por 1/3 (33.3%) da área total de superfície do tegumento.
Tal proporção é assumida como a área da superfície ventral do corpo do anuro em
contato com a água (WITHERS et al., 1982; KLEIN et al., 2016).

2.3 Tratamento e análise dos dados

Previamente às análises, empregamos os testes de Shapiro-Wilk e Levene


para verificar os pressupostos de distribuição de normalidade e homoscedasticidade
dos dados, respectivamente. Uma análise de ANCOVA foi utilizada para testar
possíveis efeitos da massa e do sexo como covariáveis em todos os parâmetros
fisiológicos estudados. Para atender às premissas de distribuição, as taxas de PEA
foram transformadas em log10 e os dados de UR em campo foram submetidos à
transformação arco-seno da raiz quadrada.
Para avaliar os fatores potencialmente determinantes da variação da TCAMPO
em cada estação, aplicamos regressões lineares múltiplas relacionando a TCAMPO com
as condições microambientais específicas no momento de coleta de cada indivíduo
(temperatura do ar, temperatura do substrato, umidade relativa). A massa corpórea
também foi incluída nestas regressões devido seu potencial para modificar a T CAMPO.
Uma vez que nossos preditores de regressão variaram acentuadamente em escala e
unidades, escalamos nossas variáveis (média = 0, d.p. = 1) para facilitar a
interpretação dos modelos de regressão (BAGULEY, 2009).
Para avaliar as diferenças entre TPREF e TCAMPO, utilizamos uma ANOVA de
duas vias de medida repetida (RM ANOVA de duas vias) com estação (quente/úmida
vs. fria/seca) e parâmetro térmico (TPREF vs. TCAMPO) como fatores. Para avaliar
mudanças sazonais na TPREF e nas taxas PEA, também aplicamos RM ANOVA de
duas vias – com estação e temperatura como fatores, e massa como uma covariável
para PEA. Sempre que significativo, seguimos cada ANOVA com comparações de
teste post-hoc de Tukey para identificar diferenças significativas entre pares de
medições. Para avaliar mudanças sazonais na TCMÁX, na tolerância a desidratação e
nas taxas de reidratação, utilizamos o t-test não pareado. Para avaliar se há diferenças
sazonais na TCMÍN, utilizamos o teste Mann-Whitney, devido à transformação
logarítmica que falhou em corrigir os pressupostos de distribuição. Todas as análises
foram realizadas usando o programa R (v3.6.2; http://www.R-project.org/) e
empregando o RStudio (v1.2.5033; http://www.rstudio.com/). As diferenças foram
24

consideradas estatisticamente significativas quando P ≤ 0.05. Salvo indicações


contrárias, todos os valores são apresentados como média ± desvio padrão (d.p).
25

3 RESULTADOS

A análise de ANCOVA não constatou influência do sexo nos parâmetros


fisiológicos testados neste trabalho (P > 0.05 em todos os casos), enquanto a massa
influenciou a PEA em ambas as estações (P < 0.001). Portanto, excluímos o sexo em
todos modelos posteriores, e mantivemos a massa como covariável especificamente
para os modelos das taxas PEA.

3.1 Fisiologia térmica

Durante a estação fria e seca, a TCAMPO variou em função da temperatura do


substrato (P = 0.013) e da umidade relativa (P = 0.042), sem efeitos significativos da
temperatura do ar (P = 0.101) nem da massa corpórea (P = 0.510). Durante a estação
quente e úmida, no entanto, a TCAMPO foi determinada pela temperatura do substrato
(P = 0.009) e pela massa corpórea (P = 0.013), sendo a temperatura do ar e a umidade
relativa fatores não significativos (P = 0.684 e P = 0.928, respectivamente) (Tabela 1
e 2, Fig. 1). Os valores de TCAMPO exibidos por animais ativos na natureza foram
menores do que a TPREF observada em laboratório em ambas as estações (F(1,105) =
53.79, P < 0.001; Tabela 3, Fig. 2). Também foram observadas mudanças sazonais
significativas nos valores de TCAMPO e TPREF (F(1,105) = 244.4, P < 0.001). Assim, a
TCAMPO foi maior durante o verão (26.24±1.33 °C) do que no inverno (21.10±1.48 °C)
(P < 0.001). Similarmente, a TPREF foi maior durante o verão (27.23 ± 1.37 °C) em
relação ao inverno (21.10±1.48) (P < 0.001), Tabela 3, Fig. 2). Quanto aos limites
termais críticos, nem a TCMÁX (t(33) = -0.42, P = 0.675) nem a TCMÍN (U = 68, P = 0.067)
variaram significativamente entre as estações (Fig. 3, Tabela 3).

3.2 Balanço hídrico

As taxas de PEA aumentaram com a temperatura experimental (F(2,50) = 347.51,


P < 0.001), mas não variaram entre as estações (F(1,50) = 0.42, P = 0.522; Tabela 3,
Fig. 4). A tolerância à desidratação foi maior no verão em relação ao inverno (t(37) =
2.37, P < 0.023; Tabela 3, Fig. 5), assim como a capacidade de reidratação, que
também foi maior no verão do que no inverno (t(16) = -4.68, P < 0.001, Tabela 3, Fig.
6).
26

Tabela 1. Resultados da regressão linear múltipla relacionando a temperatura corpórea em campo


(TCAMPO) aos parâmetros microambientais e à massa corpórea, para S. fuscovarius em diferentes
estações.
Fatores coef. pad. 95% I.C. P-valor R2 ajustado (%)
Inverno
Intercepto 21.26 20.7, 21.8 <0.001 47.12
Temperatura do ar 0.61 -0.14, 1.36 0.101
Temperatura do substrato 0.79 0.19, 1.39 0.013
Umidade relativa -0.60 -0.17, -0.02 0.042
Massa 0.17 -0.36, 0.71 0.510
Verão
Intercepto 26.26 25.77, 26.73 <0.001 30.15
Temperatura do ar -0.16 -0.97 - 0.64 0.684
Temperatura do substrato 0.77 0.21 - 1.33 0.009
Umidade relativa -0.04 -0.86, 0.79 0.928
Massa 0.66 0.15, 1.15 0.013
Os coeficientes padronizados (coef. pad.) são apresentados para cada parâmetro. Os valores de
intervalos de confiança (95% I.C.) representam os limites inferior (2.5%) e superior (97.5%).
Valores de P significativos são indicados em negrito.

Tabela 2. Parâmetros microambientais registrados em campo no momento da coleta dos animais e


registro da TCAMPO em diferentes estações. Temperatura do ar (TAR) e do substrato (TSUB) e umidade
relativa (UR, %). Os valores são apresentados como média ± desvio padrão.
Verão Inverno
Parâmetro n média ± d.p. n média ± d.p.
TAR (°C) durante a coleta 32 26.39±1.30 22 17.89 ± 2.05
TSUB (°C) durante a coleta 28 29.15±1.34 22 23.63±1.29
UR (%) durante a coleta 29 77.74±7.52 20 79.51±4.56

Tabela 3. Parâmetros associados a biologia termal e balanço hídrico de Scinax fuscovarius em


diferentes estações. Temperatura corpórea em campo (TCAMPO), temperatura corpórea preferida (TPREF)
em laboratório, temperaturas críticas mínima (TCMÍN) e máxima (TCMÁX), taxa de perda evaporativa de
água (PEA), tolerância à desidratação e taxa de reidratação. Os valores são apresentados como média
± desvio padrão. Diferenças sazonais estão indicadas pelo sinal "*".
Verão Inverno
Temperatur média ± média ±
Parâmetro n n
a d.p. d.p.
3 2
TCAMPO (°C) 26.24±1.33* 21.10±1.48
5 2
1 27.23 ± 2
TPREF (°C) 23.96 ±1.65
9 1.37* 2
2
TCMÍN (°C) 5.45±2.67 9 3.2±0.99
6
2
TCMÁX (°C) 37.82±2.11 9 37.48±1.94
6
1
15 0.86±0.11 9 0.85±0.09
0
PEA (µgH2O.cm-2.s-1)
1
25 1.48±0.15 9 1.55±0.25
0
27

1
35 2.43±0.43 9 2.35±0.36
0
Tolerância a desidratação 2 1
25 68.32±6.83* 72.96±4.08
(%) 4 5
Reidratação (µgH2O.cm-2.s- 72.59±10.37 36.39±10.0
1) 25 9 9
* 2

Figura 1. Perfil da variação ambiental diária nas médias de temperatura do ar (linhas pretas) e de
umidade relativa (linhas azuis) representativa do inverno (A) e do verão (B) da região onde o estudo foi
realizado. As médias de temperatura e umidade são apresentadas junto a suas variações (desvio
padrão), indicadas pelas hachuras em cinza, com base em dados coletados ao longo de 8 dias
consecutivos à época dos experimentos. Temperaturas do substrato (círculos cinzas) e temperatura
corpórea (TCAMPO) dos animais (ícones pretos de anuros) correspondem aos valores observados no
local de coleta específico para cada indivíduo de Scinax fuscovarius. As médias de TPREF (determinada
em laboratório) também é referenciada em cada estação (linhas tracejadas).

Figura 2. Variação sazonal da temperatura corpórea em campo (T CAMPO) (caixas cinzas) e da


temperatura corpórea preferida em laboratório (TPREF) (caixas brancas) de Scinax fuscovarius. As linhas
horizontais nas extremidades inferior e superior das caixas indicam, respectivamente, o primeiro (Q1)
e o terceiro (Q3) quartis, as linhas que cortam as caixas indicam os valores de mediana e as linhas
verticais representam os limites inferior e superior dos dados, respectivamente. Diferenças entre a
TCAMPO e a TPREF e variações sazonais significativas estão representadas pelo sinal “*”.
28

Figura 3. Temperaturas críticas (A) máxima e (B) mínima de Scinax fuscovarius nas diferentes
estações. As linhas horizontais nas extremidades inferior e superior das caixas indicam,
respectivamente, o primeiro (Q1) e o terceiro (Q3) quartis, as linhas que cortam as caixas indicam os
valores de mediana e as linhas verticais representam os limites inferior e superior dos dados,
respectivamente.

Figura 4. Taxas de perda evaporativa de água de Scinax fuscovarius nas diferentes estações, a 15, 25
e 35 °C. As linhas horizontais nas extremidades inferior e superior das caixas indicam, respectivamente,
o primeiro (Q1) e o terceiro (Q3) quartis, as linhas que cortam as caixas indicam os valores de mediana
e as linhas verticais representam os limites inferior e superior dos dados, respectivamente.
29

Figura 5. Variação sazonal da tolerância a desidratação em Scinax fuscovarius a 25 °C. As linhas


horizontais nas extremidades inferior e superior das caixas indicam, respectivamente, o primeiro (Q1)
e o terceiro (Q3) quartis, as linhas que cortam as caixas indicam os valores de mediana e as linhas
verticais representam os limites inferior e superior dos dados, respectivamente. Diferenças sazonais
significativas estão representadas pelo sinal “*”.

Figura 6. Variação sazonal das taxas de reidratação de Scinax fuscovarius a 25 °C. As linhas
horizontais nas extremidades inferior e superior das caixas indicam, respectivamente, o primeiro (Q1)
e o terceiro (Q3) quartis, as linhas que cortam as caixas indicam os valores de mediana e as linhas
verticais representam os limites inferior e superior dos dados, respectivamente. Diferenças sazonais
significativas estão representadas pelo sinal “*”.
30

4 DISCUSSÃO

Durante a estação fria e seca do ano, a umidade relativa foi um fator


determinante da TCAMPO de S. fuscovarius. Isto aponta para a existência de
compromissos entre a regulação da temperatura corpórea e a manutenção do balanço
hídrico atuando nesta estação. Assim, acreditamos que, sob condições de baixa
umidade, S. fuscovarius seleciona menores temperaturas em campo como uma forma
de minimizar a perda evaporativa de água e, consequentemente, os riscos de
desidratação no período de menor disponibilidade hídrica, ilustrando um possível
trade-off entre a termorregulação e o balanço hídrico (POUGH et al., 2004; KÖHLER
et al., 2011; TRACY et al., 2014). Além disso, a temperatura do substrato (TSUB) teve
forte influência sobre a TCAMPO, em ambas as estações. De fato, em vários casos, a
TCAMPO de S. fuscovarius foi superior a temperatura do ar (TAR), o que reflete a
influência determinante da TSUB para TCAMPO (BAKKEN, SANTEE & ERSKINE, 1985).
Isto pode estar relacionado ao fato de que a amostragem de T CAMPO foi realizada no
início da noite, quando diferenças na inércia térmica entre o ar e o substrato são
refletidas na manutenção de um diferencial térmico entre a temperatura de ambos.
Nossos dados também revelam que S. fuscovarius é uma espécie tigmotérmica, cujas
trocas de calor com o ambiente são dominadas pela condução com o substrato, tanto
no inverno quanto no verão. Relações semelhantes entre a TSUB e a TCAMPO são
relatadas para outras espécies de anfíbios (O'CONNOR & TRACY, 1992; NAVAS et
al., 2013; SOLANO et al., 2016; SANABRIA & QUIROGA, 2019; KHATIWADA, ZHAO
& JIANG, 2020), e, aparentemente, são prevalentes em ambientes de baixa altitude,
como é o caso do nosso local de estudo (NAVAS et al., 2013; KHATIWADA, ZHAO &
JIANG, 2020).
Scinax fuscovarius exibiu uma TPREF maior do que a TCAMPO,
independentemente da estação. Embora seja questionável se a TPREF de fato reflete
uma preferência térmica em anfíbios anuros (NAVAS et al., 2021), sua manutenção
em patamar superior a TCAMPO indica que a regulação da TCAMPO pode ser limitada pela
disponibilidade térmica do ambiente e por potenciais compromissos ecológicos (como
forrageio e reprodução) e funcionais, como, por exemplo, o balanço hídrico
(SEEBACHER & ALFORD, 2002; ROZEN-RECHELS et al., 2019). Considerando que
tais determinantes e compromissos variam sazonalmente (SEEBACHER & ALFORD,
2002), ajustes concorrentes na TPREF de S. fuscovarius poderiam atuar no sentido de
31

integrar a regulação da temperatura corpórea ao complexo de ajustes na sensibilidade


térmica de diferentes funções fisiológicas (ver também ANDERSON, BOVO &
ANDRADE 2018). De fato, ajustes desta natureza são relatadas em anfíbios anuros
para atributos como locomoção (ANDERSON & ANDRADE, 2017) e gasto de energia
(ver KISS et al., 2009; CHANG & HOU, 2005; ROGERS, THOMPSON &
SEEBACHER, 2007). Finalmente, o fato da diferença entre a TPREF e a TCAMPO ter sido
maior durante o inverno do que no verão indica que a diminuição da qualidade térmica
do ambiente no inverno não foi totalmente compensada por um maior investimento
termorregulatório (ANDERSON, BOVO & ANDRADE 2018).
Scinax fuscovarius não apresentou variação sazonal em seus limites termais
críticos. Estudos com anuros que vivem sob regimes climáticos com profunda variação
sazonal de temperatura indicam que ajustes sazonais da tolerância termal podem
estar relacionados com as condições climáticas de cada estação (SANABRIA,
QUIROGA & MARTINO, 2012, 2013; SIMON, RIBEIRO & NAVAS, 2015). Por outro
lado, tem sido sugerido que anuros que vivem sob climas com variação sazonal de
temperatura mais amena, como é o caso do presente estudo, provavelmente não
experimentam variações climáticas suficientemente extremas, que atuariam como
pressões seletivas para o surgimento de flutuações sazonais da tolerância termal
(SIMON, RIBEIRO & NAVAS, 2015; ANDERSON et al., 2018). No entanto, essa
generalização carece de um suporte mais firme, dada a limitação de dados disponíveis
para anuros neotropicais (ANDERSON, BOVO & ANDRADE, 2018) e devido ao fato
de algumas espécies desta região apresentarem uma variação sazonal em suas
tolerâncias termais (SANABRIA, QUIROGA & MARTINO, 2012; 2013). Assim,
acreditamos que a amostragem da tolerância termal em um maior número de espécies
de anuros neotropicais seria esclarecedora quanto à potencial associação entre a
magnitude das variações sazonais climáticas e variações na tolerância termal.
As taxas de perda evaporativa de água (PEA) de S. fuscovarius não variaram
entre as estações, mas aumentaram de acordo com as temperaturas experimentais.
O aumento das taxas de PEA com o aumento da temperatura decorre do aumento da
pressão de vapor d’água em temperaturas mais elevadas (WITHERS, HILLMAN &
DREWES, 1984; WYGODA & KERSTEN, 2013). Assim, alterações do comportamento
termorregulatório, ou mais especificamente da temperatura corpórea, trazem
implicações importantes para a manutenção do balanço hídrico em anfíbios anuros
(TRACY & CHRISTIAN, 2005). No caso de S. fuscovarius, embora as taxas de PEA
32

tenham se mantido constantes nas duas estações, a diminuição da T CAMPO durante a


estação seca do ano, o inverno, resulta em uma diminuição das taxas de perda
evaporativa de água em condições de campo (ver também POUGH, 2004). Nos
parece plausível que, mais do que uma contingência da redução na disponibilidade
de nichos termais no inverno, a diminuição da TCAMPO constitua uma real alteração
sazonal nos compromissos existentes entre balanço de água e termorregulação
(TRACY et al., 1993; POUGH, 2004). Este ajuste poderia ainda se refletir na
diminuição da preferência térmica durante o inverno (ver TRACY & CHRISTIAN,
2005). De fato, a alteração da preferência térmica em direção a temperaturas mais
baixas parece ser uma resposta comum em anfíbios anuros expostos a algum grau
de estresse hídrico (TRACY et al., 1993; POUGH, 2004; TRACY & CHRISTIAN, 2005;
ANDERSON & ANDRADE, 2017). Assim, a redução sazonal da TPREF e da TCAMPO
pode, eventualmente, comprometer o desempenho de alguma(s) funçã(ões)
dependente(s) de temperatura (ROZEN-RECHELS et al., 2019) mas, por outro lado,
estas respostas poderiam resultar em uma melhor possibilidade de conservação do
balanço de água durante os meses mais secos do ano (GVOZDIK, 2011; ANDERSON
& ANDRADE, 2017; ROZEN-RECHELS et al., 2019).
Embora as taxas de PEA não tenham variado entre as estações, S. fuscovarius
tolerou maiores níveis de desidratação e também aumentou sua capacidade de
reidratação no verão. O aumento da tolerância a desidratação e das taxas de
reidratação constituem ajustes importantes para a manutenção do balanço hídrico,
principalmente em espécies arborícolas, que frequentemente exploram microhabitats
mais distantes de corpos d’água (TRACY et al., 2014), como é o caso de S.
fuscovarius (FROST et al., 2006; HADDAD; TOLEDO & PRADO, 2008). Tais ajustes
podem ser particularmente relevantes no verão, quando temperaturas mais quentes e
o aumento da atividade dos anfíbios em campo poderiam expor os animais a um maior
risco de perda evaporativa de água (SEEBACHER & ALFORD, 1999; 2002;
NOWAKOWSKI et al., 2018). No sentido contrário, considerando que o verão é
também a estação mais chuvosa do ano, o aumento da capacidade de reabsorção de
água, observado nesta estação, poderia otimizar a recuperação de eventuais
desequilíbrios do balanço hídrico causados por uma perda excessiva de água. As
reduções da tolerância à desidratação e das taxas de reidratação no inverno
provavelmente são compensadas tanto pelo menor grau de atividade das pererecas
quanto pela redução da TPREF e da TCAMPO, o que reduz os riscos de desidratação no
33

período em que a disponibilidade hídrica do ambiente e a capacidade de reabsorção


de água dos animais são reduzidas.
34

5 CONCLUSÃO

Scinax fuscovarius é uma perereca neotropical que se mantém ativa na


natureza durante o ano todo e apresenta alterações sazonais em funções fisiológicas
ligadas à biologia termal e ao balanço hídrico. Tais ajustes sazonais auxiliam na
manutenção das suas atividadesem campo e na viabilidade funcional do organismo
em períodos que podem ser limitantes para a sua sobrevivência. A redução da T CAMPO
e da preferência termal no inverno, por exemplo, demonstram que S. fuscovarius
apresenta ajustes em sua fisiologia térmica, que são regulados principalmente por
mecanismos comportamentais, e que resulta na preservação do balanço hídrico
durante a estação seca. Por outro lado, o aumento da tolerância a desidratação e
das taxas de reidratação no verão indicam que a espécie apresenta ajustes sazonais
em seu balanço hídrico, que ajudam a evitar os riscos de desidratação no período
mais quente do ano, em que a TPREF e a TCAMPO dos animais são elevadas, o que
também reflete a maior disponibilidade hídrica do ano, fator compensatório para
estes parâmetros.
35

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42

ANEXO – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DE USO DE ANIMAIS EM


PESQUISA (CEUA)
43

Rio Claro, 13 de outubro de 2021.

___________________________________
Beatriz Machado Maenaka (Discente)

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Denis Otávio Vieira de Andrade (Orientador)

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Luis Miguel Senzano Castro (Co-orientador)

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