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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA: TRATAMENTO DA


INFORMAÇÃO ESPACIAL

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO SOLO DE UM SISTEMA


AGROECOLÓGICO POR INDICADORES DE
SUSTENTABILIDADE:
ESTUDO DE CASO NO ASSENTAMENTO PASTORINHAS, BRUMADINHO, MINAS
GERAIS.

Daniella Teixeira Carmo de Oliveira

Belo Horizonte - MG
2015
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Geografia
(Tratamento da Informação Espacial)

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO SOLO DE UM SISTEMA


AGROECOLÓGICO POR INDICADORES DE
SUSTENTABILIDADE:
ESTUDO DE CASO NO ASSENTAMENTO PASTORINHAS, BRUMADINHO, MINAS
GERAIS.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Geografia – Tratamento da
Informação Espacial – da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, como requisito para
obtenção do título de Mestre em Geografia.

Daniella Teixeira Carmo de Oliveira


Orientador: Prof. Dr. Guilherme Taitson Bueno

Belo Horizonte - MG
2015
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Oliveira, Daniella Teixeira Carmo de


O48a Avaliação da qualidade do solo de um sistema agroecológico por indicadores
de sustentabilidade: estudo de caso no assentamento Pastorinhas, Brumadinho,
Minas Gerais / Daniella Teixeira Carmo de Oliveira. Belo Horizonte, 2015.
176 f. : il.

Orientador: Guilherme Taitson Bueno


Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Geografia - Tratamento da Informação Espacial.

1. Ecologia agrícola. 2. Conservação do solo. 3. Sustentabilidade. 4. Inocuidade


dos Alimentos. 5. Assentamentos humanos. I. Bueno, Guilherme Taitson. II.
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em
Geografia - Tratamento da Informação Espacial. III. Título.

CDU: 577.4
Daniella Teixeira Carmo de Oliveira

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO SOLO DE UM SISTEMA AGROECOLÓGICO


POR INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE:
Estudo de caso no Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, Minas Gerais

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da


Informação Espacial – da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito
parcial para título de Mestre em Geografia.

Banca Examinadora:

_______________________________________________
Prof. Dr. Guilherme Taitson Bueno (Orientador) PUC Minas

_______________________________________________
Profa. Dra. Adriana Monteiro da Costa – UFMG

_______________________________________________
Profa. Dra. Lussandra Martins Gianasi – UFMG

Belo Horizonte, 28 de março de 2015.


Dedico esse trabalho a todos os agricultores e agricultoras que
plantam não apenas nosso alimento, mas também nosso futuro.
Dedico ainda àqueles que estão na luta pela terra.
AGRADECIMENTOS

Um trabalho nunca é feito sozinho, muitas pessoas fazem parte de sua construção. São
conversas, conselhos, troca de experiências, livros, artigos, mestres, colegas, paisagens,
estradas, trados, pás e mãos, muitas mãos. Agradeço a Deus por colocar todas essas coisas em
meu caminho, para que hoje, olhando para trás, possa compreender como cada detalhe foi
fundamental para chegar até aqui.

Aos mestres deixo meu profundo agradecimento. Meu orientador Guilherme Taitson Bueno
pelo criterioso empenho em fazer de mim e deste trabalho sempre um pouco mais, pelos
ensinamentos em campo e sala de aula o meu muito obrigado pela partilha. Aos agricultores
do Assentamento Pastorinhas, Márcio da Silva, sua esposa Selma da Silva e a Valéria
Carneiro meu mais sincero agradecimento pela amizade e por abrirem as portas, mais uma
vez, e me ensinar com tanta simplicidade tudo aquilo que não se encontra nos livros. Aos
demais professores do Programa, em especial, professor Oswaldo Bueno por me resgatar a
essência da Geografia; ao professor Luiz Eduardo Panisset pelos conselhos, aprendizado e
confiança; e ao professor José Flávio Morais pela delicada atenção em aperfeiçoar não apenas
este trabalho, mas essa profissional.

Agradeço aos colegas de classe, em especial aos que caminharam comigo em campo: Lucas
Arêda, Vanessa Brandão e Graziele Nogueira; e ao colega Thiago Soares pela ajuda na
elaboração dos mapas. Agradeço a toda equipe do Programa, em especial Délio e Tatiane pela
presteza e gentileza em todos os momentos. A CAPES pela bolsa de estudos.

Agradeço aos meus familiares e amigos, em especial minha mãe Hilda Teixeira, que sempre
cultivou em mim a sensibilidade de ver a natureza com amor e gratidão; e ao meu
companheiro Daniel Dolabella, por se dispor às “aventuras geográficas” que o coloquei com
tamanha generosidade.

Agradeço ao Grupo de Estudos de Questões Agrárias – GEQA – da Faculdade de Direito da


UFMG pelo belo ano de estudos, trocas, aprendizado e amizade, em especial professora Delze
dos Santos. A mestre e amiga Maria Diana de Oliveira, por me ajudar chegar até aqui; e aos
colegas de trabalho da SEDRU-MG pelos momentos de aprendizado e descontração.
“Lembra-te que és pó e a pó retornarás [...] Nenhum avanço técnico pode nos
desligar do fato de que nos originamos do solo e a ele voltaremos. Mesmo se
vivermos em cidades de concreto, asfalto e vidraças, os alimentos virão do solo,
trazendo-nos minerais da terra, e os nossos corpos serão entregues novamente ao
solo, para lhe devolvermos o que dele recebemos".

Ana Primavesi
RESUMO

A questão agrária atual impõe desafios quanto à soberania alimentar nacional. A concentração
fundiária e a exploração da terra acentuam ainda mais os conflitos no campo. Além disso, o
crescimento populacional reforça o desafio da alimentação saudável e acessível a todos. Para
tanto, mudanças na maneira de produzir podem reverter a situação delicada que se apresenta:
a sustentabilidade de sistemas agrícolas pode ser alcançada por meio de práticas que integrem
o homem com a natureza buscando uma maneira equilibrada do uso dos recursos naturais. A
agroecologia é uma alternativa para mitigar os impactos da atividade agrícola moderna. Sua
aplicação, principalmente em assentamentos de reforma agrária, é importante para promover o
acesso à terra e a produção de alimentos livres de agroquímicos, que hoje representam um
enorme problema ambiental e de saúde. A agroecologia vem crescendo e ganhando maior
espaço. Programas governamentais como o Brasil Agroecológico, do Ministério do
Desenvolvimento Agrário, e o PRONAF Agroecologia reforçam a prática, assim como a
Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – PNAPO a qual fomenta sua
implementação. O solo, essencial para a atividade agrícola, tem sua qualidade influenciada
pelo manejo utilizado, sendo os métodos conservacionistas mais próximos da
sustentabilidade. Assim, essa pesquisa busca avaliar a qualidade do solo em duas áreas de
modo a comparar o grau do impacto da prática agroecológica em relação ao estado natural do
meio. O Assentamento Pastorinhas, localizado no município de Brumadinho, Minas Gerais,
foi o local de estudos escolhido para tal avaliação. Duas áreas do Assentamento foram
utilizadas para coletas de amostras do solo, ambas com Latossolos Amarelos, uma agrícola e
outra de floresta Atlântica que conserva as características próximas das naturais. As análises
químicas e físicas foram feitas pelo Laboratório de Solos da Universidade Federal de Lavras –
MG, e parte dos dados obtidos foram aplicados ao Sistema ISA (Indicadores de
Sustentabilidade de Agroecossistemas). Os resultados mostraram que as práticas
agroecológicas são capazes de manter a qualidade química do solo (pH, CTC, nutrientes) em
níveis bastante superiores ao da floresta, porém, a qualidade física do solo mostrou-se inferior
à qualidade da floresta (infiltração, densidade e estabilidade de agregados,). A agroecologia
encontra-se muito próxima da sustentabilidade de agroecossistemas. A transição
agroecológica é então caminho para se alcançar a soberania alimentar, com acesso à terra,
qualidade dos alimentos produzidos e relação ambiental equilibrada.
Palavras-chave: Agroecologia, qualidade do solo, indicadores de sustentabilidade, segurança
alimentar, Assentamento Pastorinhas.
ABSTRACT
The current agrarian question imposes challenges to the national food sovereignty. The
concentration of land ownership and the land exploitation further accentuate the conflicts in
the field. In addition, population growth reinforces the challenge of healthy eating that might
be accessible to all. Therefore, changes in the producing way can reverse the delicate situation
at hand: the sustainability of agricultural systems can be achieved through practices that
integrate man and nature seeking a balanced usage of natural resources. Agroecology is an
alternative to mitigate the impacts of modern agricultural activities. Its application,
particularly in agrarian reform settlements, is important to promote access to land and the
production of food without agrochemicals, which today represent a huge environmental and
health problem. Agroecology has grown and gained ground. Government programs such as
“Brasil Agroecológico”, from Ministry of Agrarian Development and the “PRONAF
Agroecologia”, reinforce the practice, as well as the National Policy for Agroecology and
Organic Production - PNAPO encourages its implementation. The soil, essential for
agriculture, has its quality influenced by its management, and conservationists methods are
closer to sustainability. Thus, this research aims to assess soil quality in two areas in order to
compare the impact of agroecology in relation to the natural state of the medium. The
Assentamento Pastorinhas, located in the municipality of Brumadinho, Minas Gerais, was
chosen as the study site for this review. Two areas of the settlement were used for soil sample
collection, both with Yellow Latosols, one agricultural and other Atlantic Forest Remaining
that preserves natural features. The chemical and physical analyzes were performed by the
Soil Laboratory of the Federal University of Lavras - MG, and the part data applied to the ISA
system (Agroecosystems Sustainability Indicators). The results showed that agroecological
practices are able to maintain the chemical soil quality (pH, CEC, nutrients) in levels well
above the levels of the forest, however, the soil physical quality was lower than the forest
quality (aggregate stability , infiltration). Agroecology is very close to the agroecosystems
sustainability. The agroecological transition is then way to achieve food sovereignty, with
access to land, high quality of produced food and balanced environmental relationship.

Key words: Agroecology, soil quality, sustainability indicators, food security, Pastorinhas
settlement.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Cratylia argentea na EMBRAPA Milho e Sorgo, Minas Gerais............................72
Figura 2 – Rotação e consórcio de culturas EMBRAPA Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG....75
Figura 3 – Mapa de localização do Município de Brumadinho, MG ......................................76
Figura 4 – Mapa de hipsometria de Brumadinho, MG ........................................................... 79
Figura 5 – Voçorocas próximas ao Assentamento Pastorinhas em Brumadinho, MG ........... 80
Figura 6 – Mapa declividade de Brumadinho, MG .................................................................81
Figura 7 – Mapa solos Brumadinho, MG ............................................................................... 82
Figura 8 – Mapa vegetação de Brumadinho, MG ................................................................... 84
Figura 9 – Mapa de uso e ocupação do solo de Brumadinho, MG ..........................................85
Figura 10 – Localização do Assentamento Pastorinhas carta de Brumadinho, MG................ 86
Figura 11 – Cultivo próximo à floresta - Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG ........90
Figura 12 – Área de cultivo do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG .......................90
Figura 13 – Área da Agrovila do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG ....................91
Figura 14 – Galinheiro em área de pousio do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG..94
Figura 15 – Composteira do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG ...........................94
Figura 16 – Fluxograma das etapas metodológicas da pesquisa ..............................................95
Figura 17 – Mapa pontos de coleta no Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG...........100
Figura 18 – Área da trincheira P1: área agrícola ...................................................................103
Figura 19 – Área da trincheira P2: floresta ombrófila densa .................................................103
Figura 20 – Perfil Solo P1 – Área Agrícola ...........................................................................105
Figura 21 – Perfil Solo P2 – Área de floresta ........................................................................107
Figura 22 – Triângulo Textural ..............................................................................................127
Figura 23 – Infiltrômetro P1 Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG .........................132
Figura 24 – Infiltrômetro P2 Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG..........................133
Figura 25 – Indicadores de Qualidade do Solo em P1 primeiros 23 cm ................................156
Figura 26 – Indicadores de Qualidade do Solo em P2 primeiros 23 cm ................................156
Figura 27 – Indicadores de Qualidade do Solo em P1 ...........................................................158
Figura 28 – Indicadores de Qualidade do Solo em P2 ...........................................................158
Figura 29 – Indicadores de Segurança Alimentar em P1 .......................................................160
Figura 30 – Indicadores de Gerenciamento de Resíduos em P1 ............................................160
Figura 31 – Indicadores de Gestão do Uso de Agrotóxicos em P1 ........................................162
Figura 32 – Indicadores de Práticas de Conservação do Solo e Água em P1 ........................162
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Macronutrientes do Solo ......................................................................................117


Tabela 2 – Estabilidade de Agregados do Perfil 1 .................................................................130
Tabela 3 – Estabilidade de Agregados do Perfil 2 .................................................................131
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Principais produtos de exportação brasileira nos anos de 2003 e 2013 ................33
Gráfico 2 – Famílias assentados entre 1995 e 2011 ................................................................ 38
Gráfico 3 – pH do Solo ..........................................................................................................109
Gráfico 4 – Acidez Potencial do Solo ....................................................................................110
Gráfico 5 – Índice de Saturação por Alumínio do Solo .........................................................111
Gráfico 6 – Matéria Orgânica do Solo ...................................................................................112
Gráfico 7 – Relação Carbono e Nitrogênio do Solo ..............................................................113
Gráfico 8 – Capacidade de Troca Catiônica Potencial do Solo .............................................115
Gráfico 9 – Relação entre CTC e MO ....................................................................................116
Gráfico 10 – Soma de Bases Trocáveis do Solo ....................................................................118
Gráfico 11 – Saturação por Bases do Solo .............................................................................118
Gráfico 12 – Cálcio no Solo ...................................................................................................119
Gráfico 13 – Potássio no Solo ................................................................................................120
Gráfico 14 – Fósforo Remanescente do Solo .........................................................................121
Gráfico 15 – Magnésio do Solo .............................................................................................123
Gráfico 16 – Enxofre do Solo ................................................................................................124
Gráfico 17 – Manganês do Solo .............................................................................................125
Gráfico 18– Densidade do Solo .............................................................................................128
Gráfico 19 – Infiltração total ..................................................................................................134
Gráfico 20 – Taxa de Infiltração ............................................................................................134
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ANA - Agência Nacional das Águas


ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária
AP - Assentamento Pastorinhas
APA SUL RMBH - Área de Proteção Ambiental da Região Metropolitana de Belo Horizonte
ATER - Assistência Técnica de Extensão Rural
CAR - Cadastro Ambiental Rural
CEASA - Central de Abastecimento de Minas Gerais
CEPFES - Centro de Educação Popular e Formação Social
CODEMIG - Companhia de Desenvolvimento econômico de Minas Gerais
CONSEA – Conselho Nacional de Alimentar e Nutricional
COPAM - Conselho Estadual de Política Ambiental
CPRM - Serviço Geológico do Brasil
CPT - Comissão Pastoral da Terra
CSC - Unidade Morfoestrutural Crista Monoclinal da Serra do Curral
CTSANS - Comitê Temático de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável
DATER - Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural
DFPP - Departamento de Financiamento e Proteção da Produção
EMATER - Empresa Agropecuária
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
ETR - Estatuto do Trabalhador Rural
FEAM - Fundação Estadual de Meio Ambiente
FJP - Fundação João Pinheiro,
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEA - Indicateurs de Durabilité des Exploitations Agricole
IDS - Índice de Desenvolvimento Sustentável
IEF-MG - Instituto de Floretas de Minas Gerais
INCRA - Instituto de Colonização e Reforma Agrária
IQA- Índice de qualidade de água
IQES - Índice da qualidade dos serviços de esgotamento sanitário municipal
ISA - Indicadores de Sustentabilidade em Agroecossistemas
LMR - Limite Máximo de Resíduo
MAPA - Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário
MESMIS - Marco para la Evaluación de Sistemas de Manejo de Recursos Naturales
Incorporando Indicadores de Sustentabilidad
MST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra
ONG - Organização sem fins lucrativos
P1 - Perfil 1
P2 - Perfil 2
PAA - Programa de Aquisição de Alimentos
PARA - Programa de Análise de Resíduo de Agrotóxicos em Alimentos
PDA - Plano de Desenvolvimento do Assentamento
PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar
PNAPO - Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
PNDRSS - Plano Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário
PNRA - Plano Nacional de Reforma Agrária
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PRONATER - Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural)
Puc Minas - Pontifícia Universidade Católica
PVC - Policloreto de polivinila
RMBH - Região Metropolitana de Belo Horizonte
SAFs - Sistemas Agroflorestais
SEAPA - Secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
SEMAD - Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Governo de
Minas Gerais
SINIMA - Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente
SNJ/MJ - Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça
UFLA - Universidade Federal de Lavras
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
ZEE - Zoneamento Ecológico Econômico
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 16

1 FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA .................................................................................... 26


1.1 Dinâmicas Agrárias Brasileiras.................................................................................. 27
1.1.1 Processos históricos da ocupação e exploração da terra no Brasil e seus reflexos
socioeconômicos e ambientais .......................................................................................... 28
1.1.2 Reforma Agrária e Agroecologia: caminho do desenvolvimento rural
sustentável ......................................................................................................................... 34
1.2 Solos e Agricultura .................................................................................................... 42
1.2.1 Formação e dinâmica dos solos .......................................................................... 44
1.2.2 Propriedades químicas do solo ........................................................................... 46
1.2.3 Propriedades físicas do solo ............................................................................... 57
1.3 Agroecossistemas sustentáveis ....................................................................................... 67
1.3.1 Agroecologia: conceitos ..................................................................................... 68
1.3.2 Agroecologia: manejos ....................................................................................... 71

2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS .......................................................... 76


2.1 Aspectos Físicos de Brumadinho ............................................................................... 78
2.2.1 Geologia ............................................................................................................. 78
2.2.2 Geomorfologia .................................................................................................... 78
2.2.3 Pedologia ............................................................................................................ 82
2.2.4 Vegetação ........................................................................................................... 83
2.2.5 Uso e Ocupação do Solo.....................................................................................85

2.2.6 Hidrografia.......................................................................................................... 86
2.2.7 Clima .................................................................................................................. 87
2.2 Assentamento Pastorinhas: histórico e práticas de manejo........................................ 88

3 METODOLOGIA ............................................................................................................. 95

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................................... 102


4.1 Descrição morfológica e classificação do solo ............................................................. 104
4.2 Analises química: fertilidade ........................................................................................ 108
4.2.1 pH e Acidez do Solo ......................................................................................... 108
4.2.2 Saturação por Alumínio....................................................................................111

4.2.3 Matéria Orgânica (MO) e a relação Carbono Nitrogênio (C/N) ...................... 112
4.2.4 Capacidade de Troca Catiônica (CTC) ............................................................. 114
4.2.5 Fertilidade .........................................................................................................117
4.3 Análises Físicas ....................................................................................................... 126
4.3.1 Textura .............................................................................................................. 126
4.3.2 Densidade ......................................................................................................... 127
4.3.3 Estabilidade de Agregados ............................................................................... 129
4.3.4 Infiltração.......................................................................................................... 132

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................................................. 135


5.1 Química do Solo: Fertilidade ................................................................................... 135
5.2 Física do Solo........................................................................................................... 147
5.3 Sistema ISA ......................................................................................................... 15454

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 15763

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 167


INTRODUÇÃO

A agroecologia e sua relação com a qualidade do solo e com a sustentabilidade dos


sistemas agrícolas perpassa toda a história agrária e fundiária deste país. Sem compreender as
relações territoriais de poder, as dinâmicas produtivas e a base legal, torna-se incompleto o
entendimento dessa nova forma de produzir não apenas alimento, mas também relações de
trabalho no campo e na cidade; relações ambientais e organizações territoriais
descentralizadas, pensando na característica mais marcante da agroecologia: ser uma ciência
holística, afastando assim a ideia de que se trata apenas de um conjunto de técnicas para a
agricultura.
Passados séculos da exploração portuguesa no Brasil, muitas marcas ainda são
encontradas por todo o território. A principal herança colonial deixada pelos portugueses tem
relação estreita com a terra, e fez do Brasil um dos países com a maior concentração
fundiária. A dinâmica de produção do campo brasileiro foi sendo desenhada desde o século
XVI até os dias atuais com base nos mesmos preceitos de antigamente, o que reforçou o
quadro de exclusão, desigualdades e conflitos gerados pelo modelo. As relações de trabalho
que disseminaram no país após o fim da escravatura, no século XIX, foram também causas
diretas desses conflitos (MARTINS, 2003). Uma de suas consequências foi o êxodo rural que
teve como reflexo o inchaço urbano, que se traduziu em precárias condições de sobrevivência
(MARTINE et al., 1987). Para George (1982) a terra é a base da produção, assim como o
homem é força e meio de produção, sendo essas as duas condições para a riqueza na
sociedade capitalista: a posse do solo e a certeza da mão-de-obra para se produzir. Com a
revolução técnica, novas formas de produção foram introduzidas, modificando as relações
ambientais, econômicas e sociais.
A Revolução Verde modificou drasticamente a forma de se fazer agricultura no Brasil.
A promessa de aumento na produtividade era sustentada pelas novas técnicas, e
consequentemente, levaria ao aumento dos lucros, o que fazia do pacote tecnológico objeto de
desejo entre os grandes produtores da época. A expansão do agronegócio no Brasil é reflexo
direto da apropriação do campo pelo capital. Oliveira (2007) explica que nesse sistema a
renda capitalista da terra não nasce da produção, como no processo do campesinato, mas sim
da distribuição da mais-valia que é baseada na expansão da agricultura e nas relações
capitalistas de produção. Neste processo, o trabalhador não paga a renda como na produção
camponesa – em produto, trabalho ou dinheiro – ele produz seu salário e é expropriado de seu

16
lucro pelo capitalista que nada produziu. Assim, a agricultura deixa de ser uma forma de
subsistência humana, para se tornar apenas um produto de mercado. A negação da
propriedade capitalista está na luta pela posse da terra, sendo essa a maneira encontrada por
muitos agricultores, que não desejam migrar para os centros urbanos, de reconquistar a
autonomia do trabalho, ocupando, assim, novas terras e construindo um regime anticapitalista
baseado na terra de trabalho. A legitimidade de sua causa baseia-se principalmente no direito
previsto pela Constituição Federal – capítulo III, que trata da Política Agrícola e Fundiária e
da Reforma Agrária, expressa nos artigos 184 a 1911.
Muitas são as consequências do processo referente ao sistema agrícola moderno2 em
diversas esferas, como as ambientais e socioeconômicas; problemas que afetam direta e
indiretamente toda a população seja ela do campo ou urbana. Um exemplo é o uso intensivo e
indiscriminado de agroquímicos nas lavouras brasileiras, que são as que mais consomem
esses produtos no mundo, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente3. Além de impactar
diretamente o solo e os lençóis freáticos, os agrotóxicos e pesticidas comprometem a vida
biológica do solo, essencial para a estrutura e qualidade do mesmo, refletindo na cadeia
alimentar dos seres vivos. Os ataques de pragas às lavouras são sintomáticos, e estão
relacionados ao desequilíbrio do ecossistema. O uso desses produtos eleva os custos da
produção para o produtor rural e para o consumidor, colocando em risco aqueles que
manuseiam tais produtos, altamente tóxicos, além, é claro, dos consumidores finais, que
ingerem altas quantidades de elementos nocivos à saúde.
A gravidade dos problemas causados pela presença de agrotóxicos nos alimentos é
alarmante, e merece atenção. O Programa de Análise de Resíduo de Agrotóxicos em
Alimentos – PARA – realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA –
divulgou em outubro de 2013, relatório de atividade referente aos anos de 2011 e 2012. Em
2011, 36% e em 2012, 29% dos alimentos analisados continham níveis de substâncias tóxicas
acima do permitido pela legislação brasileira que trata do uso de agrotóxicos4. Alguns dos
alimentos analisados apresentaram presença de substâncias de uso proibido no Brasil ou sem
registro, além de substâncias não permitidas para a cultura com presença de ingredientes

1
A lei trata das diretrizes para reforma agrária com desapropriação de áreas que não cumprem a função social da
propriedade rural, sendo repassadas às famílias sem-terra por meio de compra e venda, dos proprietários aos
assentados pelo Governo Federal, através do INCRA – Instituto de Colonização e Reforma Agrária.
2
Sistema agrícola moderno ou agricultura moderna é assim denominado por utilizar técnicas provenientes da
Revolução Verde e demais adaptações do modelo, como as feitas pela Biotecnologia e Engenharia Genética. O
termo moderno não faz referência temporal, apenas ao modelo agrícola.
3
BRASIL: Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://goo.gl/pztaIG. Acesso em 05/06/2014.
4
Lei Estadual nº 10.545 de 13 de dezembro de 1991; Lei Federal nº 7.802 de 11 de julho de 1989; Instrução
Normativa nº 002, de 3 de janeiro de 2008; e Decreto Federal nº 4.074 de 4 de janeiro de 2002.
17
ativos não autorizados ou acima do Limite Máximo de Resíduo – LMR – parâmetro
agronômico que determina a quantidade de agrotóxico permitido no alimento. Em Minas
Gerais, das 65 amostras, 30 foram consideradas insatisfatórias, sendo o pimentão, a cenoura e
o feijão, os alimentos com níveis acima do permitido. Minas Gerais é hoje um dos maiores
consumidor de agroquímicos do país, e um dos principais estados com níveis de LMR acima
do permitido. A falta de fiscalização agrava ainda mais o uso desses produtos que chega aos
consumidores sem inspeção de qualidade adequada.
Dos contaminantes que mais afetam a qualidade das águas, todos estão relacionados,
direta ou indiretamente, com a agricultura. Segundo dados da Agência Nacional das Águas –
ANA (2011) – a contaminação por excesso de nutrientes é a mais comum em todo mundo e
está ligada, sobretudo, às atividades agrícolas, pois há no escoamento de insumos
provenientes da lavoura contendo excesso de nitrogênio e fósforo, presentes nos agroquímicos
utilizados, os principais elementos que geram a toxidez. Com isso, algumas algas, as
cianobactérias são levadas a produzir toxinas prejudiciais à saúde do homem, dos animais
aquáticos e selvagens que tenham contato com a água contaminada. A contaminação por
excesso de nutrientes pode levar a acidificação nos ecossistemas de água doce, impactando
gravemente a biodiversidade. Em longo prazo, o enriquecimento com nutrientes pode causar o
esgotamento do oxigênio na água, ou seja, a hipereutrofia dos lagos e lagoas eliminando
diversas espécies, inclusive peixes, o que afetaria toda a estrutura e diversidade dos
ecossistemas aquáticos. Além da eutrofização, citam-se a contaminação por erosão e
sedimentação; salinidade; acidificação e presença de metais pesados como problemas
ambientais relacionados à contaminação das águas.
Outro relevante impacto ambiental do modelo moderno de agricultura é a erosão do
solo. Dentre as variáveis responsáveis pela quantidade das perdas de solo sofridas, várias
estão relacionadas à agricultura. Além da erodibilidade, erosão pela chuva e comprimento ou
grau do declive, o manejo do solo pela prática agrícola é uma das principais vias de perda. As
áreas sem cobertura vegetal são as que mais sofrem, entretanto, áreas cultivadas terão esses
valores reduzidos devido à proteção que a cultura exerce no solo. Assim, cobertura vegetal,
sequências de culturas e práticas de manejo menos agressivas são combinações que garantem
menores perdas de solo (BERTONI; NETO 2012). Os sistemas modernos, em função de sua
dinâmica, são os mais propensos a perdas, ao passo que as técnicas provenientes da
agroecologia, por exemplo, são consideradas conservacionistas por praticarem a rotação de

18
cultura e tempo mínimo de pousio, com cobertura residual, diminuindo, assim, as perdas por
erosão.
Ainda em relação ao solo, suas características físicas e químicas, que podem garantir
sua qualidade para a agricultura, são muitas vezes intensamente perturbadas pela atividade
agrícola moderna. O uso intensivo de maquinário agrícola, afeta a estrutura do solo podendo
provocar compactação, o que dificulta o crescimento das raízes e o desenvolvimento vegetal.
Assim, problemas no crescimento das plantas ocasionadas por tal compactação do solo podem
levar à redução da produtividade agrícola, induzindo o aumento do uso de fertilizantes e, por
conseguinte dos pesticidas, de modo a tentar reverter tal situação. O excesso de pesticidas
destrói os microrganismos naturais, responsáveis pela agregação, estrutura e mobilização de
nutrientes, como o fósforo, diminuindo sua fertilidade natural. Outras técnicas agrícolas
modernas utilizadas como a irrigação continuada, além do gasto excessivo de água, lixiviam
intensamente o solo, levando à redução da fertilidade, ocasionando, novamente, o aumento do
uso de agroquímicos.
É evidente que a atividade agrícola por si só gera impactos em seu processo, seja no
revolvimento do solo para preparo e plantio, que destrói a estrutura superficial; na
compactação pelo uso de maquinário; na perda de nutrientes quando realizada a irrigação e
colheita; e no desnudamento causado pelo intervalo de colheita-plantio, deixando o solo mais
susceptível à erosão. O pouco tempo de pousio e a não rotação de culturas, desgastam e
degradam o solo intensamente. Dessa forma, a agricultura tem sido cada vez mais difícil,
arriscada, onerosa e desastrosa, expondo ao perigo o meio ambiente, e assim, a sobrevivência
do homem em todo globo (PRIMAVESI, 2002).
Paralelamente, aos processos fundiários e processos ambientais consequentes do
modelo agrícola moderno, outra importante dinâmica geográfica destaca-se: o crescimento
demográfico. Dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – apontam que a
população brasileira em 1980 era de, aproximadamente, 118 milhões de habitantes.
Atualmente, já são mais de 196 milhões e projeções revelam que, em 2050, esse número
chegará a 215 milhões de habitantes. É inevitável indagar como essa população será
alimentada. O problema da fome é desafiador e a relação feita com a produção de alimentos é
comum. Porém, a dificuldade está mais intimamente relacionada ao acesso da população ao
alimento do que a quantidade produzida. A miséria é assim o fator direto à fome, pois a baixa
renda restringe o cidadão a adquirir alimento e demais bens de consumo. Para Castro (1980) a
subnutrição e a desnutrição são também problemas inerentes à fome. A má alimentação

19
causada por uma dieta com baixos nutrientes é extremamente comum. A anemia, causada pela
fome oculta, mata lentamente milhares de pessoas em todo mundo. Tornou-se mais difícil a
definição da subalimentação que o próprio flagelo que é a fome (GEORGE, 1982). A miséria
é então o principal fator da fome no mundo, e está relacionada à má distribuição de renda, e
também de terras.
Algumas questões são pertinentes em relação ao processo produtivo como um todo, e
a primeira delas é: o que tem sido produzido nas áreas agricultáveis brasileiras? A
expropriação da terra das mãos do produtor rural pode levar a diminuição da produção de
alimentos, já que esses deixam de ser uma prioridade nos padrões do agronegócio.
Atualmente no Brasil há uma intensa expansão das silviculturas de eucalipto, matérias-primas
para agrocombustíveis e mineração, que concorrem com a produção de alimentos que
abastecem o mercado interno.
Outra importante questão é: quem então está produzindo alimento para a população
urbana e rural? Os cinturões verdes das grandes cidades contam com propriedades de pequeno
e médio porte. Normalmente localizadas próximo às capitais e grandes centros urbanos, pelo
caráter perecível dos alimentos produzidos. Ressalta-se a dificuldade enfrentada por regiões
afastadas, como a amazônica, e mesmo as interioranas que dependem dos alimentos vindos
desses cinturões. Em Minas Gerais, o cinturão verde de Belo Horizonte, formado por alguns
dos munícipios da região metropolitana, abastecem os mercados da capital mineira e de outras
cidades próximas. Cabe também, o questionamento acerca da qualidade desses alimentos, já
que são utilizados níveis de agrotóxicos e outros produtos químicos nocivos à saúde muito
acima do permitido.
O atual sistema agrário brasileiro vem causando graves impactos em diversas esferas,
e as ações para a reforma agrária são ainda incipientes. Mitigar a fome e a miséria baseia-se
em fornecer condições para que a população possa adquirir ou produzir seu próprio sustento
(CAVALLI, 2001). Uma forte tendência na adoção dos manejos agroecológicos nos
assentamentos de reforma agrária mostra-se como uma tentativa de suprir a demanda tanto
por renda, quanto por alimento, aliadas à preservação ambiental.
As técnicas empregadas na agroecologia, além de fomentar a produção de alimentos
para abastecimento local e regional, promovendo a segurança alimentar e nutricional, tem
como base a produção em consonância com os recursos naturais, utilizados de maneira
otimizada e, assim, menos degradante. Há, com isso, um uso mais sustentável dos recursos
naturais, e, também, maior diversidade na produção. O mercado consumidor de produtos

20
agroecológicos é crescente, auxiliando na renda do produtor rural, e em melhorias na
qualidade de vida, ajudando a manter o homem no campo com melhores condições de
sustento e uma alimentação mais saudável para seus consumidores.
Outras questões são pertinentes e intrínsecas à manutenção do homem no campo,
principalmente as relacionadas à melhor infraestrutura e oportunidades de ensino, trabalho,
saúde e lazer, nas esferas local e regional. Porém, ainda que sejam realizadas as reformas
necessárias para desenvolvimento agrário, partindo da reforma agrária e do atendimento às
necessidades básicas sociais, o solo, substrato essencial para a prática agrícola, vem sendo
utilizado de maneira extremamente degradante, e pode colocar em risco a capacidade de se
produzir alimento ou mesmo qualquer outro produto.
A erosão, perdas de solo e nutrientes e a compactação são resultados do uso
inadequado deste. A manutenção da qualidade do solo é fundamental para que possa existir a
atividade agrícola. O manejo adequado, considerando às suas especificidades, é fundamental
para a perduração do substrato da vida vegetal. Assim, práticas agrícolas que manejem
adequadamente o solo e que utilizem os recursos naturais com cautela são essenciais para o
equilíbrio e a longevidade da prática agrícola. É necessário, e urgente, buscar novas
alternativas que levem a agricultura a trabalhar, em qualquer escala de produção, com
manejos menos agressivos e que utilizem melhor os recursos naturais, aproximando-se de
uma prática conservacionista. A sustentabilidade tão utópica poderá assim, tornar-se mais real
e tangível, ainda que limitada.
Dessa forma, a Agroecologia, vem sendo apontada por diversos autores5 e pela
sociedade envolvida como alternativa ao modelo agrícola vigente. Esse sistema se
fundamenta não apenas no manejo dos recursos naturais com bases ecológicas, mas também
nas bases culturais, sociais e econômicas do meio de cultivo (MOREIRA; CARMO, 2004).
Sua difusão espacial tem sido grande não só no Brasil, mas em todo mundo. Países como
Cuba e vários outros da Europa e América Latina vêm passando pela transição agroecológica
e aderindo aos modelos SAFs – Sistemas Agroflorestais. Pesquisadores investem em estudos
de espécies de plantas que aumentem a fixação de nutrientes no solo, levando a agroecologia
a patamares mais tecnológicos, além, é claro, de diversos outros estudos, inclusive aqueles
relacionados às variações e adaptações climáticas, que já são uma realidade e um também um
desafio para as próximas décadas. O sistema agroecológico tem suas bases na agricultura

5
ALMEIDA (2009); ALTIERI (2012); BONILLA (1992); CAMPANHOLA, VALARINI (2011); CAPORAL
(2009); COSTABEBER (1999); FRONCHET (2012); JESUS (1996); LUZZI (2007); ROSSET (1998);
ZAMBERLAN, e outros.
21
rudimentar, muito remota à Revolução Verde, mas conta atualmente com um arranjo holístico
que vai além das técnicas de plantio-colheita. Sua atual estrutura permite aliar tecnologias
ecológicas para desenvolvimento agrário equilibrado, justo e saudável. Alguns dos pilares
desse sistema são os consórcios de culturas, a não utilização de agroquímicos e o uso
adequado dos recursos naturais. Sua diversidade de manejos advém da capacidade de
adaptação a diferentes locais, com características ambientais distintas.
A sustentabilidade, que se busca alcançar com a Agroecologia, pode ser entendida
como “a condição de ser capaz de perpetuamente colher biomassa de um sistema, porque sua
capacidade de se renovar ou ser renovado não é comprometida” (GLIESSMAN, 2005, p. 38).
Ransen (1996) citado por Reichert et al. (2003) consideram que a sustentabilidade pode ser
conotada como um filosofia, ou conjunto de estratégias, habilidades e metas para manter-se
por longo prazo. Uma das maneiras de mensurar a sustentabilidade dos sistemas agrícolas é a
avaliação da qualidade do solo. Essa avaliação é de fundamental importância, uma vez que o
solo é a base para sustentação agrícola. Segundo Casalinho et al. (2007) essa qualidade pode
ser entendida como a capacidade que um determinado tipo de solo apresenta para
desempenhar uma ou mais funções relacionadas à sustentação da atividade, da produtividade
e da diversidade biológica”. Vezzani (2001) propõe que um solo com qualidade desejável
apresente interação dos subsistemas mineral, vegetal e microbiológico, organizados em alto
nível de ordem. Esse nível é atingido quando há maior presença de macroagregados e alto teor
de matéria orgânica retida.
Para mensurar tal sustentabilidade e a qualidade ambiental do solo, utilizam-se
indicadores, importantes para o processo de avaliação. Indicadores, em geral, são
instrumentos que permitem mensurar um sistema, fenômeno ou tendência. Seu objetivo, de
acordo com Van Ballen (2006) é quantificar uma série de informações sobre diferentes
fenômenos, podendo ser qualitativos ou quantitativos. Dentre as funções dos indicadores as de
comparações entre lugares e situações e a antecipação de futuras tendências são algumas das
passíveis de aplicação em sistemas agrícolas. Freitas e Giatti (2009) expõem que os
indicadores de sustentabilidade fundamentam-se nos princípios de equidade em relação às
gerações presentes e futuras
Alguns indicadores já são bastante difundidos, como o MESMIS (Marco para la
Evaluación de Sistemas de Manejo de Recursos Naturales Incorporando Indicadores de
Sustentabilidad) e o IDEA (Indicateurs de Durabilité des Exploitations Agricole), além de
outros. No Brasil o IBGE desenvolveu o IDS – Índice de Desenvolvimento Sustentável

22
(Estudos e Pesquisas – 2012), utilizado para avaliação do desenvolvimento em diversas
linhas, como forma de planejamento e gestão de ações governamentais. Outro importante e
recente instrumento de avaliação é o ISA – Indicadores de Sustentabilidade em
Agroecossistemas – desenvolvido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária - EPAMIG-MG;
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG; a Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural - EMATER e outros, que será, em partes, utilizado nesta pesquisa.
De acordo com Ferreira et al. (2012), o ISA é uma ferramenta de gestão que objetiva
realizar um diagnóstico dos balanços sociais, econômicos e ambientais do estabelecimento
rural. O conjunto de 23 indicadores, agrupados em subíndices de diversas temáticas, avalia
princípios e critérios que norteiam a transição de agroecossistemas para maior grau de
sustentabilidade. Dos diversos indicadores, os relacionados à qualidade do solo são
importantes para a avaliação da capacidade do ambiente prover os recursos necessários para a
manutenção dos agroecossistemas, de modo a assegurar a produtividade agrícola. Além dos
parâmetros sugeridos pelo ISA para avaliação da qualidade do solo, outros serão incluídos,
principalmente relacionados à física do solo e sua relação com elementos químicos
diretamente ligados à produtividade.
Uma primeira compreensão do que trata a agroecologia, suas bases e conceitos, foi
trabalhada na pesquisa “Agroecologia e Qualidade de Vida” (OLIVEIRA et al., 2009) que
buscou avaliar a qualidade de vida que a prática traz para seus adeptos. A continuação do
tema, com novo enfoque nesse trabalho, é analisar seus aspectos mecânicos de produção,
dentro da esfera geográfica, ou seja, compreender como o manejo agroecológico influencia na
qualidade do solo. Não se trata de uma avaliação agronômica, nem mesmo com
especificidades de culturas ou relações entre o solo e plantas, mas sim de avaliação geral do
comportamento do solo quando manejado de forma agroecológica.
Para isso, o local de estudo localiza-se no município de Brumadinho, região
metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, que pertence ao cinturão verde, e à bacia do
Rio Paraopeba. O sistema agroecológico utilizado no Assentamento de Reforma Agrária
Pastorinhas será analisado juntamente com uma área testemunho de Floresta (resquício de
Mata Atlântica) que pertence ao assentamento.
Objetiva-se, de modo geral, avaliar como a prática agroecológica interfere na
qualidade do solo no Assentamento estudado, tendo em vista a comparação do solo dessa área
com uma natural, que preserva as mesmas características ambientais. É possível que os

23
manejos da agroecologia mantenham as características químicas e físicas, relacionadas à
garantia de sua qualidade próxima às naturais? Para isso, de modo específico, objetiva-se:

a) Caracterizar o meio físico da área (geologia, relevo, solos, clima e vegetação);


b) Caracterizar o modo de produção e o manejo do solo no Assentamento
Pastorinhas;
c) Avaliar a qualidade do solo quanto às propriedades químicas: matéria orgânica,
complexo sortivo e pH.
d) Avaliar a qualidade do solo quanto às propriedades físicas: granulometria,
densidade do solo, capacidade de infiltração e estabilidade dos agregados;

Importantes trabalhos já publicados sobre essa temática, tratando dos atributos físicos,
químicos e também biológicos do solo e da sua qualidade sob diferentes cultivos, manejos e
tipos de solo, podem ser vistos nos trabalhos de Aratani et al. (2009); Araújo et al. (2007);
Benites et al. (2010); Bertol et al. (2004); Carneiro et al. (2009); Cunha et al. (2012); Faria et
al. (2010); Gilles et al. (2009); Loss et al. (2009); Lourente et al. (2011); Mendança et al.
(2012); Panachuki et al. (2011); Silva (2010); Silva et al. (2010); Viana et al. (2011); Xavier
et al. (2006) e outros. Ainda assim, algumas lacunas ficam expostas, principalmente no que
diz respeito a estudos comparativos de sistemas agroecológicos e a sustentabilidade agrícola
na Geografia. Grande parte dos estudos sobre agricultura vem sendo feitos por agrônomos.
Seu nível de detalhamento e qualidade contribui para o desenvolvimento agrícola, mas, quase
sempre não incorporam as problemáticas do campo com vistas ao melhor desenvolvimento
rural. Além disso, nesses estudos a dimensão espacial e as conexões entre os solos e os demais
componentes do meio natural são pouco exploradas. No âmbito geográfico, poucos trabalhos
associam elementos da Geografia Humana e Geografia Física, refletindo a dicotomia entre
homem e natureza.
Busca-se, com essa pesquisa, realizar um estudo integrando aspectos físicos e
humano/sociais, mas, sobretudo, contribuir para o debate e reflexão acerca da eficiência
ambiental e agrícola da agroecologia, além da qualidade dos alimentos cultivados, da
segurança alimentar e da estrutura fundiária brasileira, podendo assim, auxiliar na discussão
para construção de novas bases para o planejamento e gestão do campo, com mais equidade
social e equilíbrio ambiental na perspectiva da proposta agroecológica. É papel das

24
universidades desenvolver estudos de relevância acadêmica, mas também social, de modo a
fomentar a reflexão sobre questões inerentes ao cotidiano.
A estrutura do trabalho está dividida em cinco capítulos, sendo o primeiro uma revisão
bibliográfica das questões que se referem à geografia agrária do Brasil e às dinâmicas
pedológicas; além das relações da agricultura com os solos, refletindo sobre a sustentabilidade
de agroecossistemas. O segundo capítulo traz a contextualizando do município de
Brumadinho na região metropolitana de Belo Horizonte; sua relação histórico-geográfica; a
caracterização física; e a descrição da área de estudo, expondo as técnicas de produção e as
culturas produzidas na propriedade agrícola. A caracterização física de Brumadinho foi feita
por meio de estudos do local, utilizando-se mapas, fotografias e imagens de satélite que
auxiliam na compreensão do recorte espacial, além da elaboração de mapas temáticos.
O capítulo III descreve a metodologia utilizada, a dos Indicadores de Sustentabilidade
de Agroecossistemas – ISA – sendo que apenas um conjunto dos indicadores foi utilizado, o
que diz respeito à qualidade do solo, tendo em vista o objetivo do trabalho. Foram ainda
acrescentadas outras análises de solo que não são contempladas no ISA, mas foram
pertinentes para o trabalho. Serão apresentadas ainda as técnicas de campo e laboratório
utilizadas nas análises feitas pelo laboratório de solos da Universidade Federal de Lavras –
UFLA.
O capitulo IV descreve detalhadamente as áreas de coleta de dados, faz a descrição
morfológica do solo e sua classificação com base no Sistema Brasileiro e apresenta os
resultados obtidos das análises de solo. O capítulo V traz a discussão desses resultados de
forma a justificá-los e relacioná-los com elementos tanto químicos, quanto físicos do solo.
Nesse importante capítulo, o gráfico resultante da aplicação do sistema ISA é apresentado e
discutido, sendo então verificada a hipótese da pesquisa. Posteriormente, são feitas as
considerações finais que compilam tanto os resultados, como também a reflexão feita no
capitulo I, apontando para uma referência, caminho ou estratégia para se atingir a
sustentabilidade agrícola.

25
1 FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA

A Geografia no Brasil foi inicialmente influenciada, principalmente, pela escola


clássica francesa, e foi nessa escola que a Geografia Agrária se desenvolveu. Ferreira (2002)
relaciona as três principais transformações metodológicas e temáticas das pesquisas agrárias,
de acordo com o período e o momento socioeconômico da época. Os primeiros estudos do
meio rural foram feitos entre os anos de 1934 até meados de 1960. Seu paradigma era,
sobretudo, a diferenciação de áreas utilizando metodologia descritiva, de interpretação, síntese
e trabalhos de campo. É nesse período que se inicia a industrialização brasileira e a
urbanização, enquanto no campo já havia bom domínio da agricultura, o que levou os estudos
a basearem-se em temáticas relacionadas à caracterização, classificação e distribuição agrícola
por áreas, além de estudos sobre a paisagem rural brasileira.
Já entre 1960 e 1970, com o inicio de uma Geografia instrumental e quantificada, a
chamada Geografia Teorética e Quantitativa, é que o paradigma da Geografia Agrária se
modificou, passando a ser classificatório. Utilizavam-se modelos matemáticos e estatísticos
como método das pesquisas, e as temáticas pesquisadas giravam em torno de estudos
classificatórios, tipologias agrícolas, caracterização social, funcional e econômica da
agricultura, uso da terra e a organização agrária. Nesse momento, havia um maior
desenvolvimento urbano-industrial e a introdução do processo de modernização da
agricultura. Esse foi um período de muitas mudanças e de diversos estudos sobre a agricultura
moderna (FERREIRA, 2002).
O terceiro ciclo do paradigma agrário ocorreu em 1975 e traz, ainda hoje, importantes
estudos da Geografia Agrária Social, que apresenta a relação da interação e ação sobre o
espaço, tendo como características teóricas metodológicas o enfoque pragmático e a análise
da agricultura no contexto do desenvolvimento rural (FERREIRA, 2002). No inicio deste
período, o êxodo rural era resultado imediato do processo de modernização do campo. É nesse
momento também que a agricultura passou a ser dominada pelo capitalismo e foi
intensamente industrializada. Assim, estudos que abordavam a transformação do espaço rural,
a modernização da agricultura, as relações de trabalho, desenvolvimento rural, desequilíbrios
regionais e a pequena produção familiar em face da agroindústria foram extremamente
importantes para a Geografia Agrária. É nesse contexto que serão discutidas as principais
questões agrárias da atualidade, ainda que com reflexos extremamente remotos, de um
passado colonial.

26
O modelo agrícola mais difundido e utilizado atualmente no Brasil, e no mundo, é o
moderno, que traz em seus manejos práticas advindas da Revolução Verde. Sua atividade
baseia-se em tecnologias aplicadas à agricultura, principalmente relacionadas ao manejo do
solo e irrigação. O uso de pesticidas para controle de espécies invasoras é o recurso mais
utilizado na agricultura atualmente, além das sementes transgênicas. Cada vez mais
agrotóxicos são produzidos e comercializados. Porém, seu uso intensivo acarreta diversos
impactos graves à saúde humana. Seus efeitos na qualidade do solo e água também são
bastante negativos.
Os estudos agrários fazem parte da Geografia Humana, e para Deffontaines (1939)
citado por Ferreira (2002) é importante conhecer o quadro físico onde será exercida a
atividade humana. Para tanto, investigações acerca das características naturais da região em
estudo são importantes. Sabe-se que a agricultura é uma das principais atividades que causam
impacto negativo aos recursos naturais. Principalmente no que diz respeito ao solo, estudos
que avaliem sua qualidade são fundamentais para nortear melhores práticas agrícolas de
maneira sustentável. Assim, serão também discutidas as principais dinâmicas de formação dos
solos, suas características químicas e físicas e os parâmetros de qualidade do solo. De modo a
contribuir para a discussão acerca da sustentabilidade de agroecossistemas, as bases e
conceitos da agroecologia serão apontados, assim como os principais manejos que regem a
atividade agroecológica. O desenvolvimento rural e a sustentabilidade de sistemas agrícolas
são caminhos almejados para que a atividade agrícola se perpetue com qualidade e segurança,
trazendo benefícios aos produtores e consumidores, causando o menor impacto ambiental e
socioeconômico possíveis.

1.1 Dinâmicas Agrárias Brasileiras

O espaço rural brasileiro apresenta mudanças dinâmicas, que fomentam os novos


arranjos e, assim, os elementos da análise geográfica. A atividade agrícola é responsável por
desenvolver processos sociais e econômicos que organizam o espaço. Elementos geográficos,
como a paisagem, território e lugar foram sendo desenhados e determinados através das
organizações espaciais que os camponeses deram ao campo. As questões agrárias perpassam
processos históricos, político, econômicos, legais e sociais do país. A estrutura fundiária é
então, resultado desses fatores no tempo. Assim, alguns pontos importantes desses processos
históricos norteiam a discussão e levam ao entendimento do arranjo estrutural de hoje.

27
1.1.1 Processos históricos da ocupação e exploração da terra no Brasil e seus reflexos
socioeconômicos e ambientais

Mais de 500 anos de exploração e expropriação marcaram severamente a estrutura


fundiária do país, que mesmo depois da queda da coroa portuguesa no Brasil, manteve seu
funcionamento com diversas feições de colônia. As bases econômicas, por exemplo, se
mantiveram em determinados aspectos, apesar da liberdade de comércio que se teve após esse
período. A organização do espaço agrário herdada dos tempos coloniais conservou, com
algumas modificações, a base econômica agropecuária brasileira entre expansões, supressões
e substituição de culturas (VALVERDE, 1985). O que antes era chamado de plantation no
Brasil Colônia, ligado ao capitalismo mercantil, com a exploração em ciclos exaustivos –
ciclo do cacau, ciclo da cana-de-açúcar e ciclo do café – foram modificados com o tempo em
estrutura, mas mantido em essência produtiva. Os grandes ciclos do século XXI são o da
cana-de-açúcar – para produção de agrocombustíveis – e de soja, principais artigos de
exportação. Outros produtos agrícolas são também cultivados para exportação, além da
pecuária intensiva na região Centro-Sul do país, também crescente. Assim, ainda hoje, é
possível identificar traços da colônia no Brasil quando se tem o agronegócio como um dos
principais geradores de riqueza, por meio das matérias-primas brasileiras exportadas gerando
lucro aos empresários estrangeiros.
No Brasil colônia, a riqueza gerada aqui, tinha como destino a coroa portuguesa, hoje
transposta à figura do grande empresário estrangeiro e das multinacionais instaladas em
território nacional, que detêm os principais meios de produção no campo e a maior parte da
renda produzida. Com a dominação do campo, muitas das famílias que ali viviam são
forçadas a migrar para a área urbana. Martine (1987) acredita que a crescente metropolização
levou a uma grande oferta de mão de obra o que originou baixos salários e subempregos,
causando uma má qualidade de vida. Para Martins (2003) é a partir deste cenário surgem os
conflitos agrários originados como causa remota pelo latifúndio, mas tendo problemas sociais,
culturais e políticos como causa imediata dessas tensões. Os autores afirmam que os conflitos
agrários e a expulsão do trabalhador do campo são um dos principais fatores que explicam a
pobreza nas áreas urbanas do Brasil.
A relação socioeconômica e de qualidade de vida no campo são desfavoráveis ao
pequeno produtor, e tem elevado o crescimento dos núcleos urbanos, devido à migração
campo-cidade, o que tem justificado a criação de novos municípios (ELIAS, 2007). O espaço

28
agrícola passa a reorganizar-se de modo a atender as demandas urbanas. Essa dinâmica
fomenta a economia dos centros urbanos, uma vez que a renda concentra-se nas mãos dos
proprietários de terra que circulam a renda gerada no campo nos centros urbanos, onde na
maioria das vezes residem. Desse modo, a acumulação do capital no espaço urbano evidencia
uma exploração desigual do campesinato, que apenas tem servido de gerador de renda,
alargando ainda mais as diferenças de classes e estruturas da qualidade de vida nos dois
espaços (MARAFON et al., 2007).
A exploração da força de trabalho também é elemento comum do Brasil atual e do
Brasil colônia. Ainda que hoje não exista trabalho escravo na mesma proporção quantitativa,
muitos casos são descobertos em todas as atividades do 1º, 2º e até mesmo 3º setor. O tráfico
de pessoas está associado a essa exploração de caráter escravista. O Governo Federal por
meio do Ministério da Justiça lançou em 2006, no governo Lula, o I Plano de Enfrentamento
ao Tráfico de Pessoas; e em 2013 o II Plano, já no governo Dilma Rousseff, foi elaborado.
Foram no total, entre 2005 e 2011, 514 inquéritos encaminhados à Polícia Federal, sendo 13
casos de tráfico interno e 344 de trabalho escravo no Brasil. Dados da Polícia Federal
apontam ainda, que no mesmo período, 157 casos de tráfico internacional de pessoas foram
registrados no relatório apresentado pela Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da
Justiça (SNJ/MJ), em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
(UNODC)6. Infelizmente, muitos casos acabam não sendo descobertos ou investigados o que
diminui os números totais apresentados pelo Ministério da Justiça.
Essa exploração não é fato recente na história do Brasil, nem do mundo, e ela conta
com um elemento central: o capitalismo. Em períodos econômicos mais antigos, como o
feudalismo, foi sendo esboçado o que nortearia as relações econômicas e de trabalho. No
período de transição do feudalismo para o capitalismo, a terra e os alimentos produzidos
tornaram-se mercadorias. Em uma primeira fase dessa transição, o capitalismo concorrencial,
tinha o objetivo de produzir e circular a mercadoria, e suas relações de trabalho passaram ao
assalariamento e arrendamento. Essas relações de produção são baseadas na separação dos
trabalhadores dos meios de produção, mantendo apenas as força de trabalho, para que o
capitalista, dono dos meios de produção, possa então comprá-la. Assim, sendo o trabalho
criador de valor, sua medida é dada pela quantidade de trabalho necessário para produzir
mercadoria. Como o trabalhador produz mais do que o necessário para sua sobrevivência e de
sua família, o capitalista retorna ao trabalhador, em forma de salário, apenas uma parte do
6
BRASIL, Ministério da Justiça - Polícia Federal. Disponível em: http://goo.gl/QjIkMG. Acesso em 14 de abril
de 2014.
29
valor produzido para que este possa para adquirir o que precisa para viver e reproduzir-se
como trabalhador. É dessa forma que o capitalista garante a continuação do ciclo de
exploração do trabalho, sendo o salário pago uma mediação dada pela taxa de lucro média do
capitalista (OLIVEIRA, 2007).
Martins (1986) aponta o que Marx chamou de relações pré-capitalistas, tendo como
exemplo a renda capitalista da terra:
Sendo a terra um fator natural, sem valor, pois não é resultado do trabalho humano,
teoricamente não deveria ter preço. Mas, antes do advento do capitalismo, nos países
europeus, o uso da terra estava sujeito a um tributo, ao pagamento da renda em
trabalho, espécie ou dinheiro. Essas eram formas pré-capitalistas de renda decorrente
unicamente do fato de que algumas pessoas tinham monopólio da terra, cuja
utilização ficava, pois, sujeita a um tributo. O advento do capitalismo não fez cessar
essa irracionalidade. Ao contrário, a propriedade fundiária, ainda que sob diferentes
códigos, foi incorporada pelo capitalismo, contradição essa que se expressa na renda
capitalista da terra (MARTINS, 1986, p. 20).

O colonato buscou novas relações de produção, e a substituição do trabalhador cativo,


que tinha como herança à escravidão, pelo trabalhador livre, o imigrante europeu, que ocorreu
de forma intensa, com mais de um milhão e seiscentos mil imigrantes que vieram para o
Brasil no período entre 1881 e 1913 (MARTINS, 1986). As leis trabalhistas – que somente
chegam ao campo vinte anos depois de sua criação e aplicação nos centros urbanos –
extinguem o colonato. O Estatuto do Trabalhador Rural – ETR – Lei 4.214/63, chegou ao
campo em 1963. Essa lei foi promulgada pelo então presidente João Goulart, pouco antes do
golpe militar que sofrera o Brasil, sendo revogada e substituída em 1973 pela Lei 5.889 pelo
governo Médici que regulamentou o trabalho do camponês durante muito tempo, tendo seu
texto incluído pela Lei 11.718/2008 no governo Lula.
Novas relações de trabalho foram surgindo, mas pouco se fez para que uma verdadeira
mudança no campo brasileiro ocorresse. Com a intensa expropriação de terras e as mudanças
nas relações de trabalho o agricultor configurou a atividade de “boia-fria” (SILVA, 1999) nas
lavouras de cana-de-açúcar, café e laranja – principais produtos cultivados no Brasil na época.
Eram trabalhadores sem contrato, levados de sua cidade natal para colheitas em fazendas em
São Paulo e demais cidades, retornando ao fim da safra. Esses migrantes ficaram assim
conhecidos, e viviam como conceitua Valverde (1985) por biscateiros.
As mudanças nos processos de produção, e consequentemente nas relações de
trabalhos, impactaram social e ambientalmente todo o campo brasileiro. Com a mecanização
da lavoura o trabalho foi fragmentado, levando a um desemprego sazonal e migrações
pendulares ainda mais drásticas. Martins (2003) aponta não raro os mesmos trabalhadores das

30
lavouras de cana do Nordeste, colherem o café ou a cana no Sudeste e Centro-Oeste
brasileiro. Já na região Amazônica, a grilagem, violência e a expulsão dos camponeses e
indígenas foram ainda mais intensas e devastadoras, com a morte por assassinato de 2/3 da
população em cerca de 20 anos entre as décadas de 1970 e 1980.
O pacote tecnológico lançado pelo governo na década de 1960, na Revolução Verde,
apresentam, como elencado por Gliessman (2005) seis práticas básicas, impulsionadoras da
agricultura moderna, dentre as quais citam-se o cultivo intensivo do solo, a aplicação de
fertilizantes, o controle químico de pragas e a manipulação genética. Entretanto, uma vez que
o solo é o substrato essencial para a agricultura, o mesmo deve ser manejado de modo a
preservar ao máximo sua qualidade, ao passo que o uso intensivo pode acarretar em graves
problemas ambientais.
A mecanização agrícola foi introduzida pela Revolução Verde, e vem sendo
modernizada a cada ano. Segundo o censo agropecuário do IBGE, o uso de máquinas nas
lavouras de todo o Brasil era, em 1970, de 165.870 tratores, e no ano de 2006, esse valor
passa para 820.673, evidenciando o aumento do uso deste equipamento no campo. O uso das
máquinas prejudica a bioestrutura do solo, causando a compactação e acelerando a erosão
(PRIMAVESI, 2002). Seu uso reduziu drasticamente a mão de obra nas lavouras, levando ao
desemprego em várias regiões do país.
A destruição ambiental é também pertinente para a análise agrária do Brasil. O
exponencial crescimento agrícola brasileiro se deu à custa de florestas e do Cerrado. Valverde
(1985) alerta para o intenso desmatamento da Mata Atlântica no período colonial, onde
grande parte da vegetação florestal do litoral nordestino até São Paulo foi suprimida.
Posteriormente à queda dos ciclos da cana-de-açúcar, o Brasil fortaleceu o cultivo de café na
região sul e sudeste do país, além do algodão, e da pecuária leiteira. Os processos de
desmatamento para cultivo agrícola mantêm ainda hoje com forte ameaça à Floresta
Amazônica, que é explorada por madeireiros, criadores de gado e produtores de grãos, além
da intensa atividade minerária na região. Outras regiões também são intensamente exploradas
pela atividade agrícola como o Cerrado, na porção Central do país e a Caatinga, no nordeste
do Brasil.
Outros tipos de degradação, como a erosão e voçorocamento, causados pela
mecanização e a supressão da vegetação próxima aos cursos d’água é responsável por perdas
de solo em áreas agricultáveis. Primavesi (2002) alerta para um modelo imposto a um país
tropical sem as devidas considerações de seu clima e os tipos de solo, já que os manejos

31
modernos vindos de países europeus e norte-americanos encontram-se em uma faixa fria do
globo, e as técnicas são, na maioria, voltadas para minimizar os feitos das baixas
temperaturas, o oposto do que acontece do Brasil.
A marcha do povoamento foi também responsável pela supressão de grande parte do
bioma Cerrado na expansão da fronteira agrícola com as lavouras de soja; e parte da floresta
Amazônica com a exploração da borracha, metais e criação de gado. Atualmente, além das
áreas cultiváveis que já passaram pelo processo de derrubada da vegetação nativa, outras
áreas são exploradas em meio à natureza, colocando em risco a biodiversidade (CAPORAL,
2009) e modificando a paisagem de muitas regiões. Essa expansão desmata, em média, 1,5%
o equivalente a três milhões de hectares por ano de Cerrado no país (MACHADO, 2004
citado por CAPORAL, 2009).
Diversos questionamentos surgiam na década de 1980 pela posição brasileira de maior
produtor mundial de banana, café e mandioca; o segundo maior na produção de açúcar e
laranja; e terceiro maior produtor de cacau, soja, algodão e bovinos. Tendo em vista a posição
do país no mercado mundial, dadas ao volume das exportações, chegou a colocar em dúvida a
real existência de um problema agrário (VALVERDE, 1985). Atualmente, a soja e o minério
de ferro são os principais produtos exportados para a China, um dos países que mais faz
negócios com o Brasil, de acordo com dados da Receita Federal (BRASIL, 2014)7.
O crescimento do agronegócio no campo brasileiro é demostrado pelo gráfico 1 que
apresenta a evolução das exportações brasileiras pelo agronegócio. De 2003 para 2013 as
vendas da soja cresceram de 14% para 23%; o açúcar bruto, frango in natura, milho, chá
verde e o café tiveram aumento; ao passo que o farelo de soja, celulose e o suco de laranja
caíram nas exportações. Segundo dado do Ministério de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento – MAPA – do total brasileiro exportado em abril de 2014 tem-se 19.724
milhões de dólares, sendo que somente do agronegócio foram lucrados 9.620 milhões de
dólares. Contabilizando de janeiro a abril de 2014, os lucros do agronegócio com a exportação
foi de 29.847 milhões de dólares. Em abril de 2014, os gastos com importações custaram
19.218 milhões de dólares no total, demonstrando um saldo positivo, diferente do ocorrido em
2013, quando no mesmo período o saldo foi negativo na balança de exportações e
importações (BRASIL, 2014).
Porém, todo esse avanço tecnológico resultou em uma série de impactos ambientais e
sociais que culminaram no questionamento de sua viabilidade e validade desse modelo

7
BRASIL, Receita Federal. Disponível em: http://goo.gl/Gi985N. Acesso em 13/05/2014.
32
agrícola. Apesar de produzir em larga escala e com alta produtividade, a ausência da
responsabilidade de se cultivar alimentos coloca em risco a segurança alimentar do país. Além
disso, o uso intensivo dos recursos naturais pela agricultura moderna já apresenta sinais de
exaustão e depende de insumos externos para produzir. Muitos dos problemas ambientais
estão vinculados ao sistema hegemônico que promove a agricultura moderna, mas que
também repercute em problemas sociais, econômicos, políticos e culturais (ALTIERI, 2012).
“Em resumo, a agricultura moderna é insustentável: ela não pode continuar a produzir comida
suficiente para a produção global, em longo prazo, porque deteriora as condições que a torna
possível” (GLIESSMAN, 2005, p. 33).

Gráfico 1 – Principais produtos de exportação brasileira nos anos de 2003 e 2013


Principais Produtos Exportados AÇÚCAR DE CANA EM
2003 BRUTO
4%
CARNE DE FRANGO in
SOJA EM GRÃOS natura
14% 6%
FARELO DE SOJA
9%
MILHO
1%
DEMAIS
41% CARNE BOVINA in natura
5%
CELULOSE
6%
SUCOS DE LARANJA
4% FUMO NÃO
MANUFATURADO CAFÉ VERDE
3% 4%
AÇÚCAR REFINADO
3%

Principais Produtos Exportados


2013 AÇÚCAR DE CANA EM
BRUTO
9% CARNE DE FRANGO in
SOJA EM GRÃOS
23% natura
7%
FARELO DE SOJA
7%
MILHO
6%
DEMAIS
25%
CARNE BOVINA in natura
SUCOS DE LARANJA 5%
2%

AÇÚCAR REFINADO CELULOSE


3% FUMO NÃO CAFÉ VERDE 5%
MANUFATURADO 5%
3%

Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da ECEX/MDIC


Elaboração: CGOE/DPI/SRI/MAPA8

8
BRASIL, Ministério de agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: http://goo.gl/Z51Ia3. Acesso em
13/05/2014.
33
1.1.2 Reforma Agrária e Agroecologia: caminho do desenvolvimento rural sustentável

Fruto da herança colonial e da expropriação capitalista, a concentração de terra no


Brasil é motivo de intensas lutas travadas pelos camponeses. Muitas dessas terras foram
distribuídas pela corte portuguesa, as capitanias hereditárias, e depois as Sesmarias,
principalmente no Nordeste do país. Essa concentração de terras foi sendo passada de geração
a geração, por herança, e mantida pelos demais governos que nunca fizeram uma verdadeira
reforma agrária. A Lei nº 601 de 1850, conhecida como a Lei de Terras, trouxe a valoração da
propriedade privada que passou a ter valor comercial de compra e venda. Assim, os posseiros
intitulados pelo governo, tornaram-se donos reais das terras cedidas pela corte, estendendo os
direitos de posse aos descendentes, e também a estrangeiros. A Lei 601 previa sanção àqueles
que, por ventura, se apossassem de terras devolutas ou alheias sem ato de compra, sob pena de
pagamento de multa e reclusão de seis meses. Essa pode ser considerada a primeira forma
legal de repressão do trabalhador livre ao acesso à terra. Para Martins (1986) a Lei de Terras e
a legislação subsequente instituíram garantias legais e judiciais que mantinham a exploração
da força de trabalho, ainda que o cativeiro tivesse entrado em colapso, onde o peso do Estado
se inclinava para o lado do grande fazendeiro, dificultando, ou mesmo impedindo a posse da
terra aos que nela trabalhavam. Em 1962 o Congresso Nacional aprovou a lei que definia os
casos de desapropriação por interesse social – artigo 147 da Constituição Federal de 1946.
Pouco antes do Golpe Militar que sofreria o Brasil em 1964, o então presidente da república,
João Goulart assinou o decreto nº 53.700 declarando de interesse social para fins de
desapropriação algumas áreas rurais. Porém, esse decreto não alcançava grandes fazendeiros,
apenas pequenos e médios proprietários de terra, interessados apenas na especulação
imobiliária.
A concentração fundiária no Brasil é dada pelo Censo Agropecuário do IBGE. Em
1985, os dados mostram que 90% dos estabelecimentos rurais possuíam área inferior a 100
hectares, ocupando 21% da superfície total, a saber, 80 milhões de hectares. Os
estabelecimentos com área inferior a 10 hectares representam apenas 2,6% de área ocupada,
representando 53% do número total de estabelecimentos. Já os estabelecimentos com área
superior a 1.000 hectares, os latifúndios, representam 165 milhões de hectares, o que significa
44% em área agrícola do país, apesar do pequeno número de propriedades, somente 50
estabelecimentos, revelando a intensa concentração de terras no Brasil (OLIVEIRA, 2001).
Ainda segundo dados do IBGE mais recentes, a grande proporção de área total agrícola

34
ocupada por estabelecimentos com área igual ou maior que 100 hectares representam apenas
9,6% do total de estabelecimentos agrícolas brasileiros e ocupam 78,6% da área total. Porém,
os estabelecimentos com área total inferior a 10 hectares constituem mais de 50% dos
estabelecimentos ocupando apenas 2,4% da área total (IBGE, 2009 citado por HOFFMANN,
2010).
Em relação à utilização das terras, os censos do IBGE de 1970 a 1996 apontam que as
pastagens plantadas são as principais formas de utilização, tendo em 1975 seu maior pico: 125
milhões de hectares. As pastagens naturais cresceram em 2006 chegando a mais de 100
milhões de hectares. Os Sistemas Agroflorestais – SAFs – apresentaram, ao longo dos anos,
menor representatividade na utilização das terras. Em Minas Gerais, a utilização de terras em
1995 tem como principal atividade as pastagens naturais, com mais de 25 milhões de hectares,
dos 40 milhões de hectares passíveis a atividades agrícolas da época. Já os dados do censo de
2006 apontam para um aumento nas pastagens plantadas, chegando a mais de 100 milhões de
hectares.
As relações no campo estão, cada vez mais, excludentes e violentas. Os conflitos
gerados por todas essas dinâmicas são expressos nos dados da Comissão Pastoral da Terra –
CPT – que faz os balanços anualmente. O livro dos conflitos no campo elaborado pela CPT
apresenta a evolução destes, desde 1985. Dados mais recentes, do último decênio, mostram
que em 2003 o número total de conflitos por terra foi de 1.335 em todo país; e 1.067 em 2012.
Ainda com base nos dados do decênio, 370 pessoas foram assassinadas no campo em função
dos conflitos travados por terra, água, tempos de seca, políticas agrícolas, garimpo e conflitos
trabalhistas; sendo registrados 14.834 mil conflitos no campo em geral que envolveu quase
sete milhões de pessoas.
Em face dos conflitos gerados a primeira organização por luta pela terra, aconteceu em
1954 e teve como fundador José dos Prazeres, e líderes como Francisco Julião, Clodomir de
Moraes, João Pedro Teixeira e Elizabeth Teixeira. As Ligas Camponesas originadas na região
nordeste do país, mais especificamente no estado de Pernambuco, foram um movimento que
perdurou até 1964, quando foi posto na ilegalidade pelo governo militar e teve seus membros
perseguidos. Outro movimento de grande expressão nacional e internacional é o Movimento
dos Trabalhadores Sem-Terra – MST. Alguns elementos foram fundamentais para seu
surgimento no Brasil. Para Stedile e Fernandes (2012), o primeiro deles foi a situação
socioeconômica do país, já que a modernização da agricultura e introdução de novas culturas
– como a soja – na década de 1970 modificou drasticamente a forma de se fazer agricultura e

35
também as relações de trabalho. Com isso, houve um enorme contingente populacional
expulso das lavouras, inicialmente no Sul do país. Com poucas opções – o êxodo para as
fronteiras agrícolas ou para as cidades – muitos camponeses se viram com restritas opções e
decidiram resistir no campo e lutar pela terra na região em que viviam. Foi essa a base social
que impulsionou o surgimento do MST. Outro elemento foi fundamental para sua gênese foi o
ideológico com o apoio da Comissão Pastoral da Terra – CPT – que ganhou corpo após
reflexões a respeito dos conflitos por terra que ocorriam no Norte e Centro-Oeste do país. O
terceiro elemento que propiciou o surgimento do MST como um movimento nacional, foi a
situação política e o processo de democratização que vivia o Brasil na época. O país foi
tomado por intensas críticas ao militarismo, e a luta pela democratização e o fim da ditadura
militar foram cruciais, pois criou condições de reivindicações também do campo, ainda que
num contexto urbano (STEDILE; FERNANDES, 2012).
Outros importantes princípios são a luta pela dignidade humana, por meio da
distribuição de terras e das riquezas que são produzidas pelo trabalho do camponês, com base
nos direitos humanos, na luta contra as formas de dominação, e com destaque para a luta da
mulher de forma igualitária (FERNANDES, 2000). Hoje, a luta popular avança sem um plano
consistente e coerente de reforma agrária que desconcentre a estrutura fundiária, uma das
principais causas dos conflitos e injustiças. Para Fernandes (2007), há hoje apenas duas
formas de manifestações políticas na luta pela terra: a ocupação – que tem sido o principal
veículo de acesso à terra – e a marcha dos movimentos camponeses para pressionar o Estado
na execução de políticas públicas.
O primeiro documento que tratou da reforma agrária no Brasil foi o Estatuto da Terra,
criado pelo governo militar em 1964, que compreendia objetivos ocultos com sua criação, já
que no campo a efervescência dos movimentos sociais, como a Via Campesina, MST, igreja
católica, e outros, ganhava força e já chegava aos centros urbanos. O Estatuto foi aprovado
pelo presidente do governo militar, Castelo Branco. A lei 4.504/64 regulava os direitos e
obrigações para a execução da reforma agrária e promoção de políticas agrícolas. Essa lei
estabeleceu a promoção e coordenação da reforma agrária para o Instituto de Colonização e
Reforma Agrária – INCRA. Fernandes (2007) afirma que o objetivo do governo não era de
aplicar a lei, mas apenas controlar os conflitos agrários.
A principal ferramenta legal para a reforma agrária são os artigos 184 a 191 da
Constituição Federal que tratam da política agrícola e fundiária e da reforma agrária. A função
social da propriedade rural deve ser cumprida, obedecendo aos seguintes critérios:

36
aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente; observâncias das disposições que regulam as relações de
trabalho; e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e trabalhadores
(SIRVINSKAS, 2010). Para Melo (2009), o condicionamento textual da propriedade para o
cumprimento da função social é passível de interpretações diversas, desde as tradicionais até
as progressistas.
Poucas famílias ao longo dos anos e governos foram realmente assentadas. No período
militar não houve assentamento rural de famílias sem-terra, apenas um fracassado projeto
agrícola que tinha o objetivo de “colonizar” expandindo a fronteira agrícola. Nos governos
posteriores ao golpe militar, apesar da pressão dos movimentos sociais, e principalmente do
MST, o Plano Nacional de Reforma Agrária – PNRA – foi feito, mas não saiu de fato do
papel. Este foi o primeiro Plano que tratou da reforma agrária, sendo elaborado em 1985, pelo
então presidente José Sarney, que o sancionou pelo decreto nº 91.766. Entre os anos de 1985 e
1989, a meta era assentar 1,4 milhão de famílias, mas apenas 85 mil foram realmente
assentadas. No governo Collor, a promessa foi assentar 500 mil famílias, mas com a extinção
do Ministério da Reforma Agrária, não houve reassentamento de nenhuma família, apenas
ações de regularização fundiária. No governo Fernando Henrique Cardoso, ainda que
efetivados assentamentos e da propaganda do governo em cima dos números, uma grande
contradição tratou de desfazer a imagem criada pelo governo. Ainda que crescente o número
de famílias assentadas nos oito anos que FHC governou, a concentração fundiária também
cresceu intensamente. No governo seguinte, do presidente Lula, o II Plano Nacional de
Reforma Agrária foi elaborado no ano de 2005, mas sem investimento consistente no
reassentamento. Nele foram apresentadas algumas questões, referentes não apenas do número
de famílias sem-terra, mas também daquelas com terra insuficiente. Cerca de 5 milhões de
famílias residentes no campo, apresentam renda inferior a dois salário mínimos, muitos desses
arrendatários e meeiros (BRASIL, 2015). Trabalhou-se com II PNRA a qualificação e
melhoramento de assentamentos precários (MATTEI, 2012).
Atualmente, no governo da presidente Dilma Rousseff, pouco foi feito pela reforma
agrária, e apesar do crescimento do número de assentados, esses são inferiores aos governos
passados. Segundo o INCRA, a meta ainda é manter a qualidade e não a quantidade de
assentamentos. De forma comparativa, o ano com maior número de famílias assentadas foi
2006, com mais de 136 mil; e em 2013 pouco mais de 30 mil, vindo de valores como 23 mil
em 2012 e 20 mil em 2011 de assentamentos. O gráfico 2 mostra a evolução das famílias

37
assentadas entre os anos de 1995 a 2011, divulgado em janeiro desse ano pelo Incra. Após um
pico entre 1998 e 1999, houve considerável queda na efetivação da reforma agrária, que
apenas entre os anos de 2005 e 2008 se elevou novamente. Após esse período, os dados
apontam uma queda linear até o ano de 2011. Em 2014 o INCRA realizou o assentamento de
32 mil famílias em todo o país, sendo ao todo 145 projetos de assentamentos com
investimento de R$ 1 bilhão 395 milhões nas ações finalísticas (BRASIL, 2015).
Os assentamentos de reforma agrária têm importante papel social para reprodução de
sistemas agrícolas sustentáveis. Muitos assentamentos utilizam práticas conservacionistas que
podem assegurar um desgaste ambiental menor e maior acesso à terra. Para tanto, ações de
reforma agrária consistente são fundamentais para iniciar o processo de produção de
alimentos de maneira equilibrada ambientalmente, com objetivo de abastecer o mercado local
e regional, garantindo, ou, ao menos, buscando a segurança e soberania alimentar e
nutricional.

Gráfico 2 – Famílias assentados entre 1995 e 2011


Número de Famílias

Fonte: INCRA. Disponível em: http://goo.gl/auTqk3, 2014.

38
Algumas das diretrizes estratégicas de implementação da reforma agrária dizem
respeito à democratização da terra através da criação de assentamentos rurais sustentáveis,
regularizando as terras públicas e organizando a estrutura fundiária do país. A participação
social é fundamental durante todo o processo. Outra importante diretriz diz respeito à
fiscalização dos imóveis rurais, fomento a produção agroecológica, inserção dos agricultores
na cadeia produtiva, sendo a capacitação dos assentados fundamental para realização dessas
diretrizes (BRASIL, 2015).
Responsável pelas desapropriações e assentamento das famílias, o INCRA, tem função
imprescindível para a reforma almejada. Este trabalha, principalmente, junto ao Ministério do
Desenvolvimento Agrário – MDA – que busca promover a política de desenvolvimento rural,
democratizando o acesso à terra, com base numa gestão territorial eficiente que busca a
estruturação fundiária como premissa, além da inclusão produtiva, ampliação da renda e
redução dos conflitos no campo de modo a contribuir para a soberania alimentar,
desenvolvendo a economia, de forma socioambiental justa (Ministério do Desenvolvimento
Agrário, 2015).
O MDA apresenta diversos programas e ações que visam o desenvolvimento rural
sustentável. Dentre eles o Plano Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário
– PNDRSS. Além disso, diversos programas de governo são voltados para o desenvolvimento
sustentável do campo. A Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) é responsável por
importantes ações como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional
de Alimentação Escolar (PNAE), e a Rede Brasil Rural, dentre outros relacionados ao
fomento do turismo rural; artes e artesanato; feiras e eventos; processos agrícolas; políticas
setoriais para café e leite; além dos selos de certificação de produtos da agricultura familiar.
Todos esses programas estão ligados ao Departamento Geração de Renda e Agregação de
Valor.
Outro importante programa do Governo Federal é o de assistência técnica rural,
vinculado ao Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (DATER). São
realizados convênios com a Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER – responsável pela
capacitação e gestão dos recursos previstos pelo Pronater (Programa Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural) para o crédito agrícola. Já o Departamento de Financiamento e
Proteção da Produção (DFPP) tem programas basilares como o Programa Garantia-Safra, o
Programa Seguro da Agricultura Familiar, Programa Mais Alimentos, Programa de Garantia
de Preços para Agricultura Familiar e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

39
Familiar, o PRONAF. Este último tem uma linha de crédito para o financiamento de
investimentos dos sistemas de produção agroecológicos ou orgânicos, incluindo-se os custos
relativos à implantação e manutenção do empreendimento.
Outros programas de cunho estruturador para o desenvolvimento rural são os
vinculados à Secretaria de Desenvolvimento Territorial. São programas que comtemplam
projetos de serviços de infraestrutura de modo a fornecer melhores condições para a educação
e cultura, atrelados a dinamização econômica dos territórios rurais através do fortalecimento
do cooperativismo e outros. A Secretaria de Reordenamento Agrário – SRA – cuja principal
atribuição tem sido a gestão do crédito fundiário e programas cadastrais, estabelece maneiras
de subsidiar o apoio econômico às famílias da área rural, assim como organizar o espaço
agrário com base nos cadastros rurais9. Diversos outros programas relacionados à
regularização fundiária na Amazônia Legal, e políticas para as mulheres rurais e quilombolas
são desenvolvidas pelo Ministério.
Recentemente, após o lançamento da Política Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica – PNAPO – 2013 a 2015, em parceria com outros dez Ministérios, e com a
participação dos movimentos sociais e da sociedade civil, o Governo Federal criou o Brasil
Agroecológico, ampliando o compromisso de efetivar ações promotoras do desenvolvimento
rural sustentável. Para sua efetivação, a articulação do Governo Federal, com os Estados e
Municípios, são essenciais para integrar políticas de incentivo, fortalecimento e ampliação dos
sistemas agrícolas de bases ecológicas. As diretrizes da PNAPO visam:
Promover a soberania e segurança alimentar e nutricional e do direito humano à
alimentação adequada e saudável; promover do uso sustentável dos recursos
naturais; promover a conservação e recomposição dos ecossistemas naturais, por
meio de sistemas de produção agrícola e de extrativismo florestal baseados em
recursos renováveis; promover sistemas justos e sustentáveis de produção,
distribuição e consumo de alimentos, que aperfeiçoem as funções econômica,
social e ambiental da agricultura e do extrativismo florestal; valorizar a
agrobiodiversidade e os produtos da sociobiodiversidade e estímulo às
experiências locais de uso e conservação dos recursos genéticos vegetais e
animais, que envolvam o manejo de raças e variedades locais, tradicionais ou
crioulas; ampliar a participação da juventude rural na produção orgânica e de
base agroecológica; e contribuir com a redução das desigualdades de gênero.
(BRASIL, 2015).

Para tanto, as metas traçado pelo Brasil Agroecológico são:

9
O cadastro Ambiental Rural (CAR) é dado pelo Decreto nº 7.830/2012 com base no Novo Código Florestal
(Lei nº 12.651/2012) definido de acordo com o art. II como registro eletrônico de abrangência nacional junto ao
órgão ambiental competente, no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (SINIMA),
obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das
propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e
econômico e combate ao desmatamento.
40
Fortalecer as redes de produção, aumentar a oferta de Ater com foco em práticas
agroecológicas; ampliar o acesso à água e a sementes, fortalecer as compras
governamentais de produtos e ampliar o acesso ao consumidor de alimentos
saudáveis, sem uso de agrotóxicos ou transgênicos na produção agrícola,
fortalecendo assim, economicamente as famílias agricultoras. (BRASIL, 2015).

Suas principais ações para se alcançar tais metas são:

Disponibilizar R$ 7,0 bilhões em crédito para cultivo e beneficiamento da


produção; promover a Ater agroecológica para 75 mil famílias, com 50% de
participação das mulheres rurais; promover a ATER para a transição de sistemas
sustentáveis de produção; fortalecer a rede de pesquisa com disponibilização de
tecnologias agroecológica; promover a formação agroecológica com ênfase na
agroecologia para agricultores/as, jovens e técnicos de Ater; apoiar 30 redes de
agroecologia, extrativismo e produção orgânica de agricultores familiares;
alcançar 50 mil unidades de produção com adequação à produção orgânica;
implantar 60 mil unidades de tecnologias sociais de acesso à água de produção;
apoiar a conservação, multiplicação, disponibilização, distribuição e
comercialização de sementes e mudas crioulas e varietais; apoiar a promoção e
comercialização dos produtos orgânicos e agroecológicos; ampliar a participação
dos produtos orgânicos e agroecológicos em mercados locais, regionais e
institucionais. (BRASIL, 2015).

Todos os programas e ações dos órgãos de fomento à reforma agrária formam uma
estrutura de governo, em âmbito federal, que subsidiam também as ações estaduais. Em
Minas Gerais, a EMATER (Órgão Federal), trabalha em parceria com o Estado, vinculada à
Secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – SEAPA-MG – e oferece apoio nos
serviços de extensão rural aos agricultores familiares e assentados em todo o estado. Porém, a
redução do quadro de técnicos e o fechamento de escritórios regionais nos últimos anos tem
afetado negativamente o trabalho de extensão rural, tendo em vista o grande numero de
municípios mineiros a da atenção para atendê-los de forma eficiente. Além da EMATER-MG
a EMBRAPA Agrobiologia, localizada no Estado do Rio de Janeiro, trabalha com pesquisas
para melhorar a capacidade produtiva agroecológica, assim como, promover a adesão a este
sistema agrícola. Outras unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária atuam no
seguimento agroecológico com pesquisas avançadas em tecnologias acessíveis ao agricultor
familiar e ao assentado rural. Ainda assim, grande parte das ações é recente e há pouco
incorporaram a temática agroecológica, principalmente no que se refere ao incentivo da
prática em assentamentos de reforma agrária. Além disso, ao se tratar de programas
destinados para a agricultura familiar, determinada por módulos, ou seja, o tamanho da
propriedade, se beneficiam proprietários rurais que não atuam na produção de alimentos,
desviando-se do objetivo do programa que é promover, sobretudo, a soberania alimentar do
país. Há ainda um longo caminho de transformação do campo brasileiro rumo à
sustentabilidade, mas que já se mostrou não somente possível como também necessário.

41
1.2 Solos e Agricultura

A qualidade do solo de áreas com atividade agrícola apresenta parâmetros ou índices


aceitáveis de qualidade instituídos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA –
nº 420/2009. Porém, esses parâmetros referem-se apenas aos atributos químicos do solo, com
foco na contaminação por substâncias contidas em agroquímicos utilizados na lavoura, que
afetem o solo e as águas subterrâneas. Os demais atributos físicos e biológicos são também de
suma importância par avaliação da qualidade do solo e poderiam ser também regulamentados.
Legalmente, o Estado de Minas Gerais, através da Deliberação Normativa do COPAM –
Conselho Estadual de Política Ambiental – nº 166/2011, estabelece valores de referência para
qualidade do solo, juntamente com a Deliberação Normativa COPAM nº 2/2010 que institui o
Programa Estadual de Gestão de Áreas Contaminadas, que estabelece as diretrizes e
procedimentos para a proteção da qualidade do solo e gerenciamento ambiental de áreas
contaminadas por substâncias químicas. A lista dos valores orientadores traz substâncias
inorgânicas, hidrocarbonetos aromáticos voláteis, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e
benzenos clorados, com valores de referência da qualidade do solo e das águas subterrâneas
na investigação agrícola, residencial e industrial. O grande empecilho para o bom
funcionamento dessa norma é a fiscalização ineficiente, principalmente no setor agrícola. O
uso indiscriminado de agrotóxico nas lavouras é o principal responsável pela contaminação do
solo e das águas do lençol. A ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – é a
responsável pela fiscalização dos processos envolvendo os agrotóxicos. A legislação traz
ainda a normatização quanto à pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a
utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins.
Valarini (2011) conceitua qualidade do solo, como capacidade de funcionamento, nos
limites do ecossistema, onde a sustentabilidade da produtividade biológica e da qualidade do
meio ambiente é garantida, assim como a saúde dos animais e das plantas. Cunha et al. (2012)
definem qualidade do solo como capacidade que este tem em desempenhar funções que sejam
capazes de sustentar a produtividade das plantas e dos animais, mantendo a qualidade da água
e do ar, dando suporte à saúde e habitação humanas, dentro dos limites do ecossistema.
Moreira et al. (2006) apontam as variáveis físicas, químicas e biológicas do solo como
capazes de mensurar a qualidade do mesmo.

42
A qualidade do solo e a sustentabilidade de sistemas agrícolas estão intimamente
ligadas, pois são consequências naturais de processos mais eficientes ambientalmente, e
também econômicos e sociais. O tipo de manejo influi diretamente na qualidade do solo,
assim como diversos outros fatores, inclusive os naturais. Reichert et al. (2003) afirmam que
um solo com qualidade ambiental adequada para a agricultura é aquele que mantém a
infiltração sem maiores impedimentos; faz a retenção e disponibilização de água para as
plantas; responde positivamente o manejo empregado; resiste à erosão; troca calor e gases
com a atmosfera e com a raízes; e possibilita o crescimento das raízes.
Quimicamente, a qualidade está relacionada, sobretudo, à quantidade de matéria
orgânica disponível, pH e os nutrientes presentes no solo. A presença de nutrientes é um dos
aspectos fundamentais que irão garantir a boa qualidade do solo, assim como o bom manejo
destes. A ciclagem natural dos nutrientes é responsável pela manutenção e bom
funcionamento do solo e do ecossistema como um todo. Essa ciclagem é fundamental para
manter o estoque de nutrientes, evitando a perda da fertilidade natural do solo (LOPES;
GUILHERME, 2007) essencial para a qualidade química. O aporte de nutrientes sintéticos de
maneira inadequada pode gerar problemas de toxidez difíceis de serem sanados. Solos
adubados por longos períodos dessa forma apresentam menor quantidade de húmus e menos
matéria orgânica, ao serem comparados a solos com adubação mineral. Apesar do bom
crescimento vegetal dos solos adubados sinteticamente, este é resultado apenas da ação dos
fertilizantes utilizados, ou seja, sem a adição destes produtos não há uma resposta natural do
solo, sendo sua qualidade e capacidade química limitada. O adubo orgânico, proveniente da
compostagem ou da adubação verde, não enriquece o solo com matéria orgânica, mas
aumenta os níveis de nutrientes, principalmente nitrogênio no solo o que garante fertilidade
por mais tempo e de maneira natural (PRIMAVESI, 2002).
Para melhor entendimento acerca das questões relativas à qualidade do solo, é
conveniente compreender as dinâmicas do mesmo, desde sua formação. A interação entre
fatores de formação dos solos e os processos pedogenéticos dará origem a diferentes tipos de
solos. Devem ser ainda consideradas as características químicas que interferem diretamente
na sua qualidade, além das propriedades físicas, muito importantes já que interferem
diretamente nas propriedades químicas e biológicas. Cada tipo de solo, em conjunto com a
vegetação do entorno, posição da vertente, disponibilidade de recursos hídricos e o clima são
fundamentais para uma avaliação consistente da qualidade, já que todos esses fatores naturais
têm influência direta no comportamento do solo.

43
1.2.1 Formação e dinâmica dos solos

Na Pedologia, o solo é definido como corpo tridimensional, na superfície terrestre,


resultado da interação de fatores ambientais tais como material de origem, clima, relevo,
organismo e tempo (KÄMPF; CURI, 2012). No limite inferior entre o solo e a rocha
consolidada, chamado também de contato lítico, tem-se o saprolito. O conjunto dos materiais
friáveis que cobrem a rocha sã é chamado regolito, composto pelo solum, no topo, e pelo
saprolito, na base. Essa divisão faz parte da estrutura do regolito. A diferenciação entre o solo
e o saprolito é o teor mais alto de material orgânico no solo, além de raízes de plantas,
organismos vivos e a alteração pelo intemperismo mais intensa no solo que no saprolito
(BRADY; WEIL, 2013).
De maneira geral, o solum – termo em latim – refere-se à parte superior da crosta
terrestre. O saprolito é caracterizado por ser material solto, num misto de rocha alterada e
solo, que se forma acima da rocha consolidada, também chamada de rocha sã, matriz ou rocha
mãe. O solo, que se forma sobre esses materiais é constituído de partículas minerais e
orgânicas, com organização espacial formando assim sua estrutura. Essa estrutura contém
ainda poros que são preenchidos por água e gases. Dessa forma, tem-se a matriz do solo, a
solução do solo e o ar do solo em proporções específicas dependentes das condições
ambientais e interferências antrópicas (KÄMPF; CURI, 2012).
A ação do intemperismo, em seu conjunto de processos físicos e bioquímicos desgasta
a rocha e modifica suas características, transformando-a e fragmentando-a, sintetizando novos
minerais. Parte desses elementos permanece como resíduo alterado e outros são removidos,
sendo transportados pela água. O intemperismo físico fragmenta a rocha preservando as
unidades internas dos cristais. Por sua vez, o intemperismo químico altera a rocha e seus
minerais liberando os íons que irão recombinar-se formando sais. Estes podem ser dissolvidos
e lixiviados, deixando o sistema. Na dissolução, algumas substâncias são diretamente
absorvidas pelas plantas. As substâncias dissolvidas são, principalmente, ácidos carbônicos,
oxigênios e compostos orgânicos. A decomposição e solubilização pela água de minerais
primários ocorrem mais facilmente, principalmente em períodos de tempo longo e condições
naturais de calor e precipitação abundantes. Normalmente, o intemperismo chamado
geoquímico – que ocorre na parte inferior do solo – decompõe minerais primários, ao passo
que o intemperismo pedoquímico altera os minerais secundários influenciados por atividades
biológicas e processos pedogenéticos (LEPSCH, 2011).

44
Brady e Weil (2013) refletem a respeito da importância da atividade dos
microrganismos no processo de formação dos solos. Para os autores, sem os organismos vivos
na Terra atuando no intemperismo químico, este processo poderia ser até mil vezes mais lento
resultando em um desenvolvimento insuficiente da formação de solos do planeta. Tal fato
pode ser observado em regiões do globo onde o clima frio impede ou dificulta a vida e a
atividade microbiana. São regiões com solos pouco ou quase nada desenvolvidos com
espessuras bastante incipientes.
Para Fontes (2012) este é um processo que controla parcialmente a fertilidade natural
do solo uma vez que o intemperismo relaciona-se diretamente com as características do
saprolito e dos solos em formação na superfície da crosta de acordo com a intensidade em que
ocorre. O material de origem, que pode ser rico em minerais que contêm elementos químicos
importantes para a nutrição das plantas é determinante para que os solos tenham fertilidade
natural. É o caso dos solos do sul do Brasil, originários de rochas basálticas. Solos
desenvolvidos sobre calcário também contam com fertilidade natural em razão dos minerais
presentes. Estes representam grandes dimensões em todo o planeta, ocorrendo em áreas que
somam entre 7% e 10% do território mundial; sendo que nessas áreas, 25% dos assentados
são agricultores. No Brasil, o semiárido do nordeste apresenta solos calcários com elevada
fertilidade natural (PEREIRA et al., 2012).
Kämpf e Curi (2012) analisam os modelos dos autores Fanning e Fanning (1989); van
Breemen e Buurman (1998), e Simonson (1985) que conceberam modelos para determinar
processos pedogênicos. São eles o modelo dos processos específicos e o modelo dos
processos múltiplos, onde quatro categorias gerais dão origem a vários outros processos
específicos de formação. São eles: adição, remoção, translocação e transformação. Para
interpretação das características no solo dos processos específicos é necessário atentar-se para
o fato de que esses são resultados de um ou mais processos específicos e que estão
condicionados aos fatores ambientais de formação. Dessa forma, os processos somados aos
resultados dos processos de intemperismo físico e químico determinam localmente o perfil do
solo expresso nesse balanço. As ações formadoras podem ainda ser identificadas e descritas
considerando a acumulação de matéria orgânica; estrutura do solo; acumulação de sais
solúveis, minerais e argilas; lixiviação; concentração de óxidos e a redução microbiana; além
de outros fatores.

45
1.2.2 Propriedades químicas do solo

Os coloides das argilas e do húmus são partículas dos fragmentos da rocha e da


matéria orgânica (MO) com tamanho pequeno, inferior a 1 µm de diâmetro, embora alguns
autores considerem o valor de 2 µm de diâmetro para a fração argila (BRADY; WEIL, 2013).
Essas partículas são materiais altamente reativos com superfícies carregadas eletricamente.
Para os autores citados acima, o tamanho e formato dos coloides são responsáveis por uma
maior área superficial reativa, que desencadeiam as reações químicas e eletrostáticas da
natureza no solo. Essas partículas carregam íons com diferentes cargas – cátions e ânions – e
são atraídos pelas forças eletrostáticas da superfície. Em sua maioria apresentam carga de
superfície negativa, mas podem variar quando se encontram em ambiente muito
intemperizados ou ácido. A adsorção de íons pelos coloides permite que estes não se percam
por lixiviação ou reações com as soluções do solo. Além de fornecer nutrientes para as
plantas, os coloides retêm moléculas de água, metais tóxicos, pesticidas, vírus e diversos
minerais e substâncias orgânicas (BRADY; WEIL, 2013).
Dois tipos de coloides compõem a estrutura dos argilominerais no solo. Têm-se as
argilas silicatadas que apresentam estruturas cristalinas em camadas, com maioria de carga
negativa; e as silicatadas sem estrutura cristalina, formadas a partir de cinzas vulcânicas, que
possuem cargas negativas e positivas, além de grande capacidade de reter água. Outro tipo de
plasmas do solo10 são os óxidos de ferro (Fe) e alumínio (Al), mais comuns no Brasil por
serem característicos de áreas úmidas e quentes que sofrem mais intensamente as ações do
intemperismo. Há ainda os coloides orgânicos que também são chamados de húmus. Estes
estão ligadas a anéis de átomos de nitrogênio (N), oxigênio (O) e hidrogênio (H). Apresentam
variação de carga de acordo com o pH do solo, transformando na carga líquida como ânion
(BRADY; WEIL, 2013).
Os argilominerais têm sua ocorrência condicionada pelo material de origem,
intemperismo e pedogênese (KÄMPF et al., 2012). Assim, uma grande diversidade dessas
interações pode ser encontrada nos solos. As unidades estruturais dos argilominerais,
representadas por suas superfícies basais, podem ter efeito mais significativo em um ou outro
tipo de solo. Argilas silicatadas do tipo 1:1 apresentam menor capacidade de adsorver cátions
trocáveis, ao passo que as argilas silicatadas tipo 2:1 têm alta capacidade de adsorção de

10
Plasmas do solo referem-se a todo material do solo de tamanho coloidal, e relativamente solúvel, não ligado
aos grãos, que consiste em material amorfo e cristalino, além do material orgânico. Seu tamanho é, na prática,
delimitado em torno de 2 µm.
46
cátions trocáveis, cerca de 20 a 40 vezes mais que minerais de argila como a Caulinita. Ainda
assim, solos com presença de argilominerais 1:1 são, muitas vezes, indicados para a atividade
agrícolas, uma vez que possuem menor plasticidade, coesão, viscosidade, expansão e
contração, além da adsorção de ânions serem mais acentuada (BRADY; WEIL, 2013).
A fertilidade de um solo está relacionada, entre outros fatores, à capacidade de
adsorção de íons pelos coloides, assim como sua qualidade ambiental. Gliessman (2005)
salienta que os íons dissolvidos quando não absorvidos pelas raízes das plantas ou por fungos
imediatamente, podem ser lixiviados da solução do solo. Assim, a capacidade de troca
catiônica – CTC – é a maneira mais eficiente de reter os minerais necessários à nutrição das
plantas. Alguns princípios regem as reações de trocas catiônicas. De acordo com Brady e
Weil (2013) fazem parte dos princípios a reversibilidade, ou seja, o deslocamento de íons; a
equivalência de cargas, onde é necessário o mesmo número de carga para substituição na
troca; a lei de reação que faz um balanço do equilíbrio entre a proporção de nutrientes no
coloide, que será a mesma na solução, e ambas serão as mesmas em relação ao sistema global;
os efeitos dos ânions sobre a relação das massas, lei de massas que avalia a reação de
associação forte entre um cátion liberado e um ânion, impedindo a reação do sentido inverso,
quando liberado; a seletividade do cátion, que se liga com maior ou menor força ao coloide; e
os cátions complementares, relacionados com a força da ligação dos íons com os coloides.
Há também a troca de ânions, comum em solos tropicais devido ao maior grau de
intemperismo, acidez e argilas do tipo 1:1 com presença de óxidos de Fe e Al. Nesses solos, a
quantidade de cargas negativas sobre os coloides é menor que as cargas positivas, tendo assim
maior adsorção de ânions. O pH é o principal regulador da troca aniônica já que, à medida que
o pH aumenta, a capacidade de troca aniônica – CTA – diminui, ao contrário do que acorre na
CTC. As plantas podem absorver nutrientes liberados por esse tipo de troca, sendo importante
para o crescimento e desenvolvimento, além do controle eficaz na lixiviação (BRADY;
WEIL, 2013). Assim, a acidez do solo influencia a carga elétrica nas partículas da superfície e
controla o desalojamento de outros íons, que por sua vez irão afetar a retenção de íons e sua
disponibilização de nutrientes a curto prazo, sendo a retenção e disponibilização
componentes-chave para a fertilidade do solo (GLIESSMAN, 2005).
Essencial para o solo, a matéria orgânica é constituída de material orgânico vivo,
como raízes, pedofauna e microrganismos, e também componente não vivo. A decomposição
de material vegetal pelos microrganismos modifica a composição do material, resultando na
formação do húmus. A matéria orgânica do solo (MOS) é um dos principiais agentes de

47
agregação de partículas, o que influencia diretamente sobre a estabilidade de agregados do
solo (PASSOS et al., 2007). Benites et al. (2010) ressaltam a importância da MO no
ecossistema terrestre, atuando como um regulador de processos ecossistêmicos, tais como a
CTC, estruturação e retenção da umidade do solo e a capacidade de estocar carbono (C)
atmosférico, que é fixado pelas plantas. As características da MOS são resultado dos
processos aos quais os solos foram submetidos, podendo ser utilizadas como indicador de
mudanças no uso e manejo do solo (BENITES et al., 2010).
Para se determinar o teor da MOS, de acordo com Curi e Kämpf (2012) é necessário
quantificar a massa de carbono presente. Em média encontra-se 58% de C na massa da
matéria orgânica (PRIMAVESI, 2002; KAMPF; CURI, 2012). Gliessman (2005) relaciona a
quantidade de matéria orgânica no solo através do conteúdo de carbono e também do
nitrogênio presente. Mudanças nessa relação podem ser observadas quando áreas de floresta
passam a ser cultivadas, havendo um decréscimo na MOS em razão do incremento na taxa de
mineralização desses elementos. Práticas agrícolas alteram os teores de C e N, além da
qualidade da matéria orgânica e a agregação dos solos (PASSOS et al., 2007).
A relação entre carbono orgânico e nitrogênio no solo é um importante indicador. Na
agricultura, a relação C/N é empregada para caracterizar a matéria orgânica total do solo e
também o aporte desses elementos pela adubação, seja por esterco, palha ou outros compostos
orgânicos. O aporte desses elementos em solos agrícolas revolvidos é da ordem de 9% quando
há boa mineralização (BAIZE, 2000). Normalmente, a razão entre C/N varia de 15/1 em solos
florestados. Os valores são bem diferentes para materiais diversos, como a serragem de
madeira, cuja relação é de 600/1. Valores elevados dessa relação indicam que os
microrganismos têm pouco N para se alimentar, competindo assim com os vegetais superiores
(LEPSCH, 2011).
A matéria orgânica concentra-se na parte mais superficial do solum, alcançando em
média de 15 a 20% do horizonte A (GLIESSMAN, 2005). Seu papel é extremamente
importante para o desenvolvimento das plantas. Além de fornecer nutrientes, a matéria
orgânica mantem equilibrado o ecossistema do solo, uma vez que garante a boa estrutura,
aumenta a retenção de água e nutrientes, atua na proteção mecânica dos solos e fornece a base
alimentar dos micronutrientes (GLIESSMAN, 2005). Responsável pelos processos de CTC do
solo, e também pela formação e estabilidade de agregados, o que resulta na qualidade física
do solo, a matéria orgânica fornece energia para o crescimento microbiano, refletindo na

48
maior ciclagem de nutrientes e aumento da CTC, o que constitui um dos principais
indicadores da qualidade do solo (XAVIER et al., 2006).
O húmus apresenta cor escura resultado do processo de humificação. Esta é uma
fração sólida, responsável por algumas propriedades químicas e físicas do solo. Sua formação
advém de processo bioquímico bastante complexo. Segundo Primavesi (2002) o húmus
quando decomposto perde a sua estrutura, porém quando decompostos demais restos vegetais,
forma-se novamente sua estrutura no solo. Observa-se que, não é o húmus que possui força
agregante, mas sim o produto intermediário da decomposição bacteriana, os ácidos
poliurônicos que não dão cor ao solo, mas são capazes de floculá-lo. O húmus é o produto da
decomposição parcial da matéria orgânica. Sua capacidade de agregação em grumos, ao ser
decomposto, transforma sua bioestrutura em agregados maiores. O húmus ativa processos de
respiração, metabolismo e adsorção vegetal, em especial, o fósforo.
O pH é importante regulador do solo, principalmente para a agricultura. A faixa típica
fica entre muito ácido, pH 3 e fortemente alcalino, pH 8. Poucas culturas agrícolas se
desenvolvem bem fora da faixa entre 5 e 8, já que valores muito baixos ou altos
comprometem a disponibilidade de nutrientes. De acordo com Gliessman (2005) leguminosas
são sensíveis a pH baixos em razão do impacto que solos ácidos têm sobre os simbiontes
microbianos para a fixação de nitrogênio, assim como as bactérias. A CTC também é
condicionada pelo pH do solo (BRADY; WEIL, 2013).
A alcalinidade e salinidade do solo são resultado de processos naturais e antrópicos.
Naturalmente, regiões áridas e semiáridas têm grande acumulação de sais solúveis ou
insolúveis. Os sais liberados pela rocha sã por meio do intemperismo são pouco ou nada
removidos pela lixiviação – que é pequena devido às baixas taxas de precipitação comuns
nessas regiões – ficando suspensos nos rasos solos que apresentam esse tipo de processo.
Com as técnicas de irrigação, planejadas inadequadamente, há um acréscimo de sais no solo,
além de alguns fertilizantes inorgânicos utilizados na agricultura moderna, que elevam ainda
mais o nível de sais, podendo levando à salinização do solo. Já os solos alcalinos sofrem com
o excesso de íons de OH¯, o que dificulta a absorção de nutrientes pelas plantas. Uma forma
de equilibrar solos alcalinos é através da irrigação planejada de forma adequada
(GLIESSMAN, 2005).
Os macronutrientes, assim chamados, são um conjunto de nutrientes minerais com
maior expressividade nos solos brasileiros. Fazem parte desse conjunto o nitrogênio (N),
fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), enxofre (S) e magnésio (Mg). Há ainda outra categoria,

49
a dos micronutrientes que são absorvidos pelas plantas em menores quantidades, são eles:
boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mg), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e
zinco (Zn). Todos estes nutrientes minerais são elementos essenciais para a nutrição mineral
da planta, porém, os macronutrientes são exigidos em maiores quantidades pelas plantas, na
ordem de g/Kg-1 de matéria seca; ao passo que, os micronutrientes são exigidos na ordem de
mg Kg-1 de matéria seca de planta (DECHEN; NACHTIGALL, 2007).
Para que haja eficiente absorção dos nutrientes pelas plantas os mesmos devem estar,
como elenca Primavesi (2002), existir no solo de forma assimilável, ou seja, com água
disponível para solubilização; devem ser alcançados pela raiz, assim, solos compactados
podem interromper o processo de absorção de nutrientes; a velocidade de difusão; e a
fotossíntese, tendo o gás carbônico disponível – as plantas quebra-vento utilizadas na
agroecologia auxiliam no processo, pois criam uma barreira para o vento que chega próximo
às culturas em brisa capaz de fornecer o CO2 de maneira adequada, o que não aconteceria caso
houvesse apenas ventos fortes.
A boa absorção dos nutrientes pelas plantas é ainda condicionada pela proporção entre
os elementos. Para tanto, algumas considerações são importantes para o entendimento dessas
correlações. Ainda de acordo com Primavesi (2002), não apenas as proporções entre
nutrientes são essenciais para a absorção, mas também os níveis dos mesmos devem estar
adequados. Não basta que determinado nutriente esteja em nível alto no solo. Níveis baixos
muitas das vezes já são suficientes para o crescimento da planta, pois apresenta o chamado
efeito de diluição, capacidade que a planta tem de crescer e, de fato, diluir os nutrientes para
toda a área de crescimento, enquanto uma planta com problemas no crescimento acumula os
nutrientes em uma área restrita. Após a absorção, a produção ainda esta vinculada a alguns
processos. No caso de áreas agrícolas a metabolização e a absorção ocorrem conforme sua
concentração no solo, a concentração dos demais nutrientes, a idade fisiológica da planta e a
insolação e sombreamento.
A importância do equilíbrio proporcional dos nutrientes tanto macro como micro
baseiam-se no fato destes últimos agirem como ativadores das enzimas essenciais no processo
de metabolismo vegetal. “A deficiência de um elemento provoca o excesso ou toxidez de
outro, e consequentemente o excesso de um produz a deficiência de outro” (PRIMAVESI,
2002, p. 279). Os nutrientes mantêm seu equilíbrio em pares ou grupos, como por exemplo, o
NPK, N/Cu, Ca/Mg, C/N e outros.

50
a) Nitrogênio

Segundo Baize (2000) o aporte de nitrogênio no solo ocorre de diferentes formas. Uma
delas é o nitrogênio total, em forma mineral ou orgânica, exceto na forma gasosa, além da
forma amoniacal, nítrica, mineral e orgânica. O Nitrogênio não sendo um nutriente mineral
chega ao solo por diferentes maneiras, uma delas é a adubação; ar, adicionado pelas chuvas; e
pelo manejo de espécies que fornecem o elemento. Sua fixação se dá pela matéria orgânica do
solo por meio biológico fotoquímico, sendo a fixação biológica dos microrganismos
importante forma de retenção. As argilas também adsorvem com facilidade a amônia (NH₃)
principalmente à presença de luz. A temperatura é um dos principais fatores na absorção do
N, juntamente com a água e o oxigênio. Quanto maior a temperatura, mais rápida é também a
absorção. Para uma fixação biológica eficiente de nitrogênio atmosférico, são necessárias boa
disponibilidade de matéria orgânica, cálcio e fósforo (PRIMAVESI, 2002).
Dos nutrientes mais requeridos pelas plantas, o nitrogênio é também um dos mais
deficientes. Como afirmam Gliessman (2005) e Brandy e Weil (2013) o N é fundamental na
síntese das enzimas que controlam todos os processos biológicos, além de ser essencial para
que as plantas utilizem os carboidratos. Sua deficiência afeta muitas das relações enzimáticas,
já que o N é exigido na síntese de enzimas. O amarelamento das plantas é o primeiro sinal da
deficiência deste elemento, processo chamado de clorose. A baixa disponibilidade de N
decorre de 95% do mesmo encontrar-se na forma orgânica, sendo que uma pequena parcela
deste é mineralizada durante o decorrer do ano. A grande necessidade das plantas pelo N faz
dele um dos nutrientes mais limitantes na produtividade na maioria das culturas agrícolas
(PASSOS et al., 2007).
Sua perda é comum por lixiviação sendo altos os potenciais de perda, por isso, como
mostra Gliessman (2005) as formas disponíveis de N no solo são mantidas em níveis mais
baixos em função da rápida absorção. Primavesi (2002) salienta que o N é o primeiro
nutriente a faltar em situações de seca, sendo necessária a adubação para balancear a
deficiência, e que, aproximadamente 50% do nitrogênio adubado não são aproveitados devido
ao escapamento pelo ar, além da lixiviação; em função também do adensamento do solo,
impedindo que a raiz alcance o elemento; e a falta de fósforo e excesso de alumínio.
As plantas da família das leguminosas são responsáveis pela fixação simbiótica do
nitrogênio, sendo essa uma das principais fontes. Associadas a essas plantas estão as bactérias
do gênero Rhizobium e Bradyrhizobium. A primeira tem melhor funcionalidade em solos não

51
muito ácidos, ao passo que a segunda tolera níveis mais agudos de acidez. De acordo com
Brandy e Weil (2013) esses microrganismos infectam as radicelas e também as células
corticais das raízes, formando assim os nódulos que irão fixar o nitrogênio. Nessa associação,
as plantas chamadas hospedeiras suprem as bactérias com carboidrato que é fonte de energia,
e as bactérias fornecem de volta às plantas os compostos reativos de nitrogênio. As
leguminosas podem melhorar o crescimento de outras espécies não fixadoras de nitrogênio
através de conexões micorrízicas. A presença das leguminosas auxilia ainda no aceleramento
do reflorestamento natural em paisagens degradadas, e reduz a necessidade de adubos
nitrogenados quando há rotação de culturas. Chamado também de adubo verde o N fortalece e
nutre o solo devido à incorporação de biomassa.

b) Fósforo

Outro importante nutriente para o crescimento vegetal é o fósforo (P), responsável por
transferir a energia da síntese de substâncias orgânicas. Segundo Primavesi (2002) este é o
elemento com maiores problemas para agricultura nas regiões tropicais, dada a facilidade de
sua fixação formando compostos inacessíveis às plantas, podendo ocorrer em forma de
humatos, apatita ou mesmo ligado ao ferro e alumínio. Solos com pH acima de 5,5 auxiliam
na menor fixação do P pelo Fe e Al, disponibilizando melhor o nutriente para as plantas. Em
função disso, é que as calagens são feitas, ainda que raramente essas consigam mobilizar o P
ligado ao solo, mas auxiliam na absorção de uma adubação fosfatada feita posteriormente. A
mobilização do P é então realizada pelos microrganismos do solo, assim é necessária uma boa
bioestrutura, com grumos que garantam melhor arejamento, uma adequada superfície de
matéria orgânica e disponibilidade de cálcio.
A absorção do P ocorre em forma de fosfato em solução do solo pelas raízes. Quando
sua disponibilidade é limitada, as plantas apresentam coloração azulada ou verde-escura com
pigmentos roxos abaixo das folhas e ao longo das veias; o desenvolvimento das raízes e frutos
é também é comprometido. Elas ainda tornam-se atrofiadas e com hastes finas
(GLIESSMAN, 2005; BRADY; WEIL, 2013). Os problemas relacionados ao P no solo, no
que diz respeito à fertilidade, são condicionados pela baixa concentração e pela dificuldade de
absorção pelas plantas, já que, na maioria das vezes, estão em condições altamente insolúveis.
Quando fontes solúveis de fósforo são adicionadas ao solo elas são fixadas e alteradas para
compostos também insolúveis.

52
O excesso de P provoca problemas ambientais como degradação de áreas e a
eutrofização acelerada em lagos e rios pelo excesso do nutriente – em regiões com adubação
superfosfatada. Ocorrem casos de saturação do solo por excesso de P, sendo necessário um
melhor planejamento das quantidades utilizadas. Uma das maneiras encontradas de melhorar
a absorção de P pelas plantas é misturar adubos com amônio aos de fósforo, colocando-os em
faixas. Dessa forma, a acidez produzida pela oxidação dos íons de amônio e a absorção de
cátions de amônia, é capaz de manter o fósforo nas mesmas condições solúveis, podendo
então ser absorvido pelas plantas (BRADY; WEIL, 2013).

c) Potássio

Dos macronutrientes o potássio (K) se difere de outros importantes como N e P, por se


tratar de cátion. Seu comportamento está relacionado às propriedades de troca catiônica e com
o intemperismo. Em altas quantidades não causa problemas ambientais como a eutrofização,
por não ser tóxico, mesmo nessas quantidades. Porém, pode inibir a absorção de outros
elementos. Essencial na ativação das enzimas, o potássio tem importante papel no controle de
perdas de água pelos estômatos das folhas o que eleva a capacidade das células das raízes em
absorver água do solo. Tem função de auxiliar na redução do estresse ambiental sofrido pelas
plantas (BRADY; WEIL, 2013). Gliessman (2005, p. 96) corrobora as afirmações dos autores
acima, refletindo acerca do caráter regulador do potássio no solo:
Ele está envolvido, por exemplo, na regulação osmótica (movimento estomatal) e é
um co-fator para muitos sistemas enzimáticos [...] A maior parte dos processos
metabólicos que foram estudados é afetada pelo potássio. No metabolismo de
proteínas, por exemplo, parece que o potássio ativa certas enzimas responsáveis pela
síntese de ligação de peptídeos e pela incorporação de aminoácidos à proteína [...]
As plantas mostram melhor resistência a doenças e a estresses ambientais quando há
fornecimento adequado de potássio.

Primavesi (2002) atenta para a capacidade do potássio, que quando abastecido de


maneira suficiente, exerce resistência do vegetal ao frio, seca e doenças. Em temperaturas
mais elevadas e úmidas, a absorção de K pela raiz é ainda melhor, já que há uma difusão
eficiente do nutriente no solo. Ao se fazer adubação potássica, a interação deste com o cálcio
e magnésio, em presença de nitrogênio, prejudica a absorção, pois provoca um desequilíbrio
entre ânions e cátions. A autora citada acima exemplifica o mecanismo: “ocorre uma absorção
excessiva de potássio em prejuízo a de cálcio, o que aumenta o efeito tóxico de magnésio”
(PRIMAVESI, 2002, p. 318).

53
Apesar de ser o macronutriente mais abundante no solo, o K tem limitações quanto à
sua disponibilidade para as plantas. Sua retenção pelos minerais primários e fixação em
formas não assimiláveis comprometem a fertilidade natural do solo. As perdas por lixiviação
também são grandes, sendo mais susceptível que o fósforo, por exemplo. As formas de
disponibilização do K no solo dependem do tipo de argila presente. As do tipo 2:1 contêm
mais potássio, enquanto as 1:1 menos. O potássio em estruturas de minerais primários
encontra-se indisponível para a planta; já em minerais secundários, este se encontra
lentamente disponível; e em estruturas coloidais, o K tanto trocável quanto solúvel, encontra-
se prontamente disponíveis (BRADY; WEIL, 2013). As plantas com deficiência de K
apresentam, segundo Gliessman (2005), quebra de equilíbrio hídrico, com pontas secas, folhas
crespas, e em alguns casos, raízes apodrecidas.
A remoção continua do K pelas culturas pode comprometer a disponibilidade total do
elemento, assim, Brady e Weil (2013) sugerem que, além da reposição em aplicações maiores
no preparo do solo, é bem vinda à aplicação de menores quantidades de K em intervalos de
tempo menores. Essa prática pode oferecer vantagens quanto à diminuição de perdas do
nutriente, e também diminuir o consumo desnecessário por algumas plantas e as perdas por
lixiviação. Ernani et al. (2007), ressalta que os fertilizantes orgânicos, que utilizam restos
vegetais, cinzas e excreções de animais – como as das aves – apresentam capacidade de
liberar o nutriente para o solo, independente da taxa de mineralização, pois o K nessa
condições é totalmente solúvel. Este se torna disponível para as plantas, quando adicionado no
solo, imediatamente.

d) Cálcio

O Cálcio é um importante elemento para o solo, e suas funções vão além de nutrir os
vegetais e regular o pH do solo. Ele atua na neutralização do alumínio e manganês tóxico,
além de flocular o solo, o que auxilia na agregação. Sua relação com o húmus é essencial,
pois, sem o elemento presente no solo, não há formação de húmus, somente o que Primavesi
(2002) chama de turfa. Porém, o Ca em forma de calagem é o agente para decomposição e
perda da matéria orgânica. Assim, a calagem deve ser bem planejada para que não haja
grandes perdas de matéria orgânica. Primavesi (2002) relaciona a calagem como medida de
agregação do solo em zonas temperadas e tropicais. Na primeira, há agregação, porém para
que haja de fato uma boa agregação, é necessário que não existam outros cátions polivalentes

54
no solo; já no segundo, em zonas tropicais como o Brasil, a elevada quantidade de ferro e
alumínio oxidado, inibem o efeito floculante do Ca, já que esses elementos fazem este papel.
Tem importante função ao garantir o crescimento dos meristemas e ápices radiculares.
O Ca impede ainda danos à membrana celular, evitando a saída de substâncias intracelulares,
exercendo papel estruturador. Atua como modulador da ação dos hormônios. Como estimula
o crescimento das raízes está indiretamente relacionado à produtividade agrícola, bem como
por se atrelar à atividade microbiana e auxiliar na disponibilidade do Mo, além da absorção de
outros nutrientes reduzindo o NO3- (DECHEN; NACHTIGALL, 2007).
Brady e Weil (2013) discorrem a respeito da deficiência do Ca nas plantas. Apesar de
raras deficiências, com exceção de solos ácidos, o nutriente apresenta boa absorção pelas
plantas, principalmente pelas raízes jovens. A deficiência do Ca leva à intoxicação por outros
elementos que, até então, eram inofensivos. Isso leva à perda de galhos, levando a planta à
morte. Em solos ácidos, elava a toxidade de alumínio e manganês. A absorção do cálcio
como nutriente vegetal depende da temperatura do ambiente. Em temperaturas elevadas o
processo ocorre de maneira mais eficiente. Para efeito do nutriente na planta, há intima
dependência do equilíbrio deste com demais cátions, principalmente o potássio, manganês,
zinco, magnésio, boro, cobre e ferro (PRIMAVESI, 2002).

e) Enxofre

O comportamento do enxofre no solo é muitas vezes oposto ao do nitrogênio. Brady e


Weil (2013) exemplificam algumas dessas diferenças entre os elementos. O enxofre tem
relativa imobilidade na planta, de forma que a clorose desenvolve-se primeiramente nas folhas
novas, ao contrário do nitrogênio que tem maior mobilidade na planta. Outra diferença
apontada pelos autores citados acima está na falta do elemento. As plantas com deficiência de
enxofre tendem a ter baixo teor de açúcar em sua seiva, porém apresentam alta concentração
de nitrato, ao contrário do que ocorre quando à falta de nitrogênio nas plantas.
Em seu estudo, Carmona et al. (2009) avaliam a concentração de S em uma plantação
de arroz, e verificam que somente com a disponibilidade natural do elemento pela rocha
matriz e com doses de adubo aplicadas é que se atinge a faixa de suficiência necessária para a
nutrição das plantas. O fato dos teores de enxofre contidos no solo não apresentarem relação
direta com os teores de argilominerais torna-se uma das razões da dificuldade em
disponibilizar o elemento para as plantas, já que não há uma ligação com a matéria orgânica e

55
com a argila, diferente de outros nutrientes. Assim, solos com baixos teores naturais do
elemento têm seu fornecimento seriamente comprometido. Brady e Weil (2013, p.455)
elencam as tendências dessa baixa do nutriente. Em primeiro lugar sua falta é devida à
“diminuição do dióxido de enxofre na poluição do ar, a eliminação da maioria das
‘impurezas’ de enxofre nos adubos N-P-K e o aumento das remoções de enxofre por culturas
de maior rendimento”.
Grande parte do enxofre é encontrada em minerais do solo, através da água da chuva,
matéria orgânica (PRIMAVESI, 2002) e gases de enxofre presentes na atmosfera (BRADY;
WEIL, 2013). Gliessman (2005, p. 97), afirma que a absorção de enxofre pelas plantas se dá
na forma de “ânion (SO42-) quando há ligações orgânicas no solo ou mediante a dissociação
de sulfatos de Ca, Mg ou Na”. O superfosfato utilizado na lavoura contém enxofre, sendo
este, por vezes, mais absorvido pelas plantas que outros nutrientes importantes como o
fósforo. Sua deficiência se parece com a do nitrogênio, que impede a formação de proteínas.
Além disso, pode provocar a lignificação precoce das raízes por causar deficiência na
absorção pelas plantas de outros nutrientes (PRIMAVESI, 2002).

f) Magnésio

Outro importante macronutriente é o magnésio (Mg) disponível às plantas através do


Mg trocável presente no complexo argila-húmus. Tem importante relação com o cálcio,
principalmente na fração entre 1:1 e 15:1 (Ca/Mg). A absorção pelas plantas se dá de forma
semelhante ao cálcio, cerca de 0,15 a 0,75% da matéria seca. Este está relacionado
diretamente com a fotossíntese e a síntese de óleos e proteínas, além de atuar na ativação das
enzimas envolvidas no processo de metabolismo energética da planta (BRADY; WEIL,
2013).

g) Manganês

O manganês (Mn) apesar de ser um micronutriente é tanto importante para a nutrição


das plantas quanto os demais nutrientes. Dentre os outros elementos, o Mn é considerado “o
décimo primeiro elemento mais abundante na natureza” (DECHEN; NACHTIGALL, 2007, p.
118). É encontrado na forma de óxidos e sulfetos, e também associados ao Fe. Dependendo da
valência – 2, 3 ou 4 – em que se encontram no solo, podem ou não ser solubilizados. Muitas

56
vezes, a fração principal do elemento encontra-se na forma não-trocável (Mn3+ ; Mn4+). O
Mn2+ é a forma disponível do elemento, que tem relação direta com o pH para solubilizar-se,
sendo que valores de pH entre 6,0 e 6,5 podem ser críticos. O pH baixo favorece a redução, ao
passo que, pH alto favorece a oxidação. A MO em equilíbrio com outros cátions,
principalmente Fe, Ca e Mg também é condição para que o Mn esteja disponível para a planta
(DECHEN; NACHTIGALL, 2007).
O manganês tem o papel de ativar as enzimas importantes para a fotossíntese, e para o
metabolismo e assimilação do nitrogênio (Brady: Weil, 2013). Apesar da importante função
do elemento quanto à síntese de clorofila, e principalmente, na ativação das enzimas,
participando do funcionamento do fotossistema da fotossíntese, responsável pela fotolise da
água, o Mn quando em teores elevados no solo é tóxico. Essa toxidez ocorre pelo ambiente
propício à acumulação, onde há grande disponibilidade de húmus, pH inferior à 5,5 e elevadas
condições redutoras. Há então, absorção pelas plantas maior que o necessário. A deficiência
do Mn é também preocupante, já que compromete o conteúdo de carboidratos não estruturais,
evidenciado na redução do crescimento das raízes (DECHEN; NACHTIGALL, 2007).

1.2.3 Propriedades físicas do solo

A dinâmica da organização física do solo é de extrema importância para sua qualidade.


Para Brandy e Weil (2013) as propriedades físicas do solo influenciam o modo como este
funciona em um ecossistema e também na forma mais apropriada de manejo. Os projetos
agrícolas, e até mesmo de engenharia civil, são diretamente relacionados às características
físicas do solo.
Aratani et al. (2009) afirmam que a qualidade de um solo agrícola pode ser avaliada
por meio dos parâmetros químicos, físicos e biológicos, sendo importante na identificação da
sustentabilidade dos sistemas de manejo. Contudo, a qualidade física do solo reflete nos
processos químicos e biológicos, devendo ter destaque nos novos estudos. O solo, ao receber
os impactos do manejo agrícola, tem na qualidade física os primeiros sinais de desgaste. O
conjunto dos principais indicadores da qualidade física do solo, como estabilidade de
agregados, estrutura, porosidade, infiltração, compactação e densidade são importantes para a
avaliação da sustentabilidade de sistemas agrícolas e são brevemente descritos a seguir.

57
a) Textura

Trata-se da distribuição das partículas do solo em relação ao seu tamanho. O diâmetro


das frações grosseiras varia desde matacões, fração maior que 20 cm; calhau, fração de 2 a 20
cm; e cascalho, fração de 2 cm a 2 mm. Já as partículas de menor tamanho presentes no solo
variam de areia à argila, onde a areia grossa apresenta diâmetro entre 2 e 0,2 mm; areia fina
de 0,2 a 0,05 mm; silte de 0,05 a 0,002 mm; e por fim a argila com frações menores que 0,002
mm. Já as classes texturais englobam 13 classes, estando agrupadas em: textura arenosa,
textura argilosa, textura muito argilosa, textura média e textura siltosa (SANTOS et al., 2013).
Os grãos de areia geralmente apresentam o quartzo (SiO2) como principal mineral, além de
outros minerais silicatados. Para a planta, a disponibilidade de nutrientes é baixa, tanto pela
relação química, tanto pela física, uma vez que os poros entre os grãos de areia são grandes e
com reduzida capacidade de reter água e nutrientes (BRADY; WEIL, 2013). A entrada e
circulação do ar também ocorrem melhor em solos arenosos. Ainda de acordo com Brady e
Weil (2013) o silte, quando composto por materiais intemperizáveis, com o menor tamanho
das partículas apresenta boa capacidade de intemperismo, e assim, liberação dos nutrientes
para as plantas em quantidades significativas. Os poros entre as partículas do silte retêm
melhor água e nutrientes que a areia, já que têm menor capacidade de drenagem. Sua
maleabilidade é baixa, o que reflete na alta susceptibilidade à erosão eólica ou hídrica. Por sua
vez, as argilas, com área superficial muito grande, têm excelente capacidade de absorção de
água (ainda que não a disponibilize totalmente às plantas), nutrientes e outras substâncias.
Com alta plasticidade, pode ser facilmente moldada. Seu formato é de lâminas finas e
achatadas. Seus poros são pequenos, o que mantém lenta a percolação da água.
A argila fina (< 0,2 μm) é, provavelmente, a fração mais móvel na água percolante.
Entretanto, a mobilidade desse tipo de partícula no fluxo de água através de meios porosos
depende fortemente do seu comportamento floculante em suspensão aquosa. Para isso, a
matéria orgânica adicionada aos minerais argilosos e aos óxidos de Fe pode elevar a
estabilidade coloidal em suspensões aquosas, uma vez que o transporte de partículas coloidais
por água, através de meios porosos, está diretamente atrelado à capacidade de floculação das
partículas em suspensão aquosa, e matéria orgânica adsorvida pode ser determinante no
transporte de coloides inorgânicos através do solo, saprolitos e aquíferos subterrâneos
(KRETZSCHMAIR; ROBARGE; WEED, 1993).

58
A proporção dos diferentes tamanhos das partículas é importante para o entendimento
do comportamento e, assim, adequação dos manejos agrícolas do solo (BRADY; WEIL,
2013). Para Ribeiro et al. (2012) em relação às atividades agrícolas, a textura apresenta
importante papel na determinação da utilização dos solos, já que influencia diretamente
importantes relações de produtividade como a retenção e disponibilidade de água e nutrientes,
além da capacidade de trocar cátions; susceptibilidades à erosão e compactação. Apenas
processos pedológicos são capazes de alterar a textura de um solo, ações como iluviação,
erosão seletiva e intemperismo dos minerais modificam o tamanho das partículas (RIBEIRO,
et al., 2012).

b) Estrutura

A estrutura do solo é uma das principais características morfológicas. Ela é


segundo Riberto et al. (2012) o resultado do arranjo das partículas primárias do solo em
agregados, separados por fraca resistência. Os agregados individuais em conjunto formam a
unidade estrutural. Essas se configuram de diferentes formas, separadas entre si por
superfícies de fraqueza, de modo a obter maior ou menor espaço poroso o que reflete
diretamente na aeração, infiltração, retenção de água e a susceptibilidade à erosão.
A classificação da estrutura do solo pode ser feita em campo, a olho nu, ou com
auxilio de lupas e lentes de microscópio (RIBEIRO, et al., 2012). É definida segundo o tipo,
variando em grânulos, cubos, prismas, colunas, placas e lâminas, relacionados ao tamanho,
desde muito pequeno, pequena, média, grande e muito grande. A partir da forma têm-se o tipo
da unidade estrutural, assim definidos: laminar, prismática, em blocos ou poliédrica, granular
ou esferoidal. Outra importante característica é o grau de desenvolvimento da estrutura ligada
à coesão dos agregados. Esses podem variar em relação à presença de unidades estruturais ou
não. No caso de ausência das unidades estruturais, distingue-se em grão simples, não
coerente; e maciça, coerente. Já no caso das unidades estruturais formadas, têm-se a seguinte
classificação: fraca, moderada e forte. A definição do grau se dá pela resistência dos
agregados, proporção entre materiais agregados e não agregados, além da sua face exposta no
horizonte.
A estrutura é variável ao longo do perfil, em relação ao tamanho, forma e
desenvolvimento. Normalmente, o horizonte A por conter maior teor de matéria orgânica
apresenta estrutura mais forte que os horizontes seguintes. Ressalta-se que a umidade

59
influencia diretamente no arranjamento estrutural. Sua importância na agricultura relaciona-
se, sobretudo, por estar diretamente ligada ao desenvolvimento das raízes e o crescimento das
plantas, na retenção de nutrientes, água e ar (SANTOS, et al., 2013).
Os agregados são compostos por minúsculas placas laminares de argila e partículas de
matéria orgânica. Os níveis hierárquicos dos agregados são passiveis de identificação quando
desmanchados. Esses se quebram em agregados menores até tornarem-se individuais,
separados em silte, argila e húmus, etapa essa que pode se repetir diversas vezes até chegar ao
desmembramento final (BRADY; WEIL, 2013). A formação dos agregados do solo acontece,
principalmente, nos horizontes superficiais, geralmente granulares arredondados, com
tamanhos que variam entre macroagregados, tamanhos de 0,23 a 5 mm de diâmetro; e
microagregados, de 2 a 250 micrômetros de diâmetro, sendo os agregados menores mais
estáveis do que os maiores. Os agregados de menor tamanho são responsáveis pelo maior
armazenamento de matéria orgânica e sítios de N mineralizável (PASSOS et al., 2007). Já os
agregados maiores e mais pesados conferem maior estruturação, porosidade, condutividade
hidráulica e resistência à compactação, sendo importantes para a sustentabilidade dos sistemas
produtivos (SCHOSSLER et al., 2012).
Para a formação de grumos estáveis à ação da água é necessário, segundo Primavesi
(2002), a presença de matéria orgânica e microrganismos. As bactérias mais eficientes no que
a autora chamada de colagem são as Cytophaga e Sporocytophaga que ao decompor material
celulósico, produzem uma substância capaz de agregar os grumos do agregado. A formação
argilo-humoso ocorre pela atração eletrostática do grupo dos carboxílicos COOH-. A
estabilidade dos agregados à água é resultado da ação açúcar ácido que alimenta fungos e
actinomicetos, que se envolvem aos grumos conferindo-lhes estabilidade. Segundo Curi e
Kämpf (2012), a quantidade de coloides no solo e sua organização estrutural também
influenciam na agregação e em sua estabilidade. Os processos físico-químicos e biológicos
são os principais responsáveis pela formação dos agregados. Associados, principalmente à
argila, a formação dos agregados do solo apresenta ainda ação dos processos de floculação,
expansão e contração da argila. Solos arenosos, como contêm pouca argila, tem nos processos
biológicos a principal forma de agregação.
A estrutura do complexo argilo-húmus, tem, geralmente, cátions de Ca ou Fe, que
fornecem a ligação entre as argilas e polímeros orgânicos, por meio de pontes entre eles. O
cálcio apresenta ligações sólidas, bastante estáveis, que impedem a mineralização rápida da
matéria orgânica, que se opõem à dispersão de argilas. Solos com o complexo húmus-cálcio-

60
argila apresentam cores pretas escuras, bem visíveis principalmente em solos carbonáticos. O
ferro pode substituir o Ca em solos sem presença significativa deste elemento, mas rico em
Fe. Porém, a ligação entre estes é mais frágil por causa da quebra da água em torno dos
cátions. Solos com o complexo húmus-ferro-argila dão ao solo coloração brunada. Assim, a
formação da estabilidade do complexo argila-húmus depende da quantidade e da qualidade da
matéria orgânica, da presença de argila e cátions de ligação, sendo favoráveis à fauna e a
microflora.
O complexo argila-húmus estável fornece aos solos novas propriedades, todas
favoráveis à sua fertilidade, como a floculação dos coloides de argila e substâncias húmicas
favoráveis à estruturação arejada e um estoque hídrico suficiente; além da ligação argila-
húmus, que impede a mineralização da matéria orgânica humificada. Tal ligação húmica,
impede a dispersão da argila, evitando o adensamento e compactação do solo, e a integração
entre argila e húmus, no mesmo composto, aumentando a capacidade do solo em reter os
nutrientes indispensáveis para as plantas (GOBAT; ARAGNO; MATTHEY, 2003). Todos os
processos relacionados ao complexo argila-húmus, como afirmam Brady e Weil (2013)
resultam na formação de agregados menores, em longo prazo. Em solos altamente
intemperizados, como os Latossolos, a ação cimentante dos óxidos de ferro e de outros
compostos orgânicos, produzem pequenos agregados, bastante estáveis (BRADY; WEIL,
2013).
Os fatores que promovem a aproximação das partículas são a floculação das argilas,
processo físico e químico que dependem do pH e dos cátions presentes tanto na solução do
solo quanto adsorvidos; processos como a desidratação e a pressão das raízes; além dos
organismos do solo. Os principais agentes que dão estabilidade aos agregados são os
argilominerais, óxidos de ferro e alumínio e a matéria orgânica, além dos microrganismos que
produzem substâncias que atuam como estabilizadores ou mesmo funcionando como uma
rede que envolve os agregados do solo, por exemplo, as hifas, fungos associados às pequenas
raízes (DEMARCHI et al., 2011). Assim, são importantes manejos voltados tanto para a
manutenção da matéria orgânica no solo, quanto para a fixação de fungos e bactérias, que
produziram associadas às raízes, tais substâncias estabilizadoras.
Alguns processos naturais e de influência antrópica modificam a formação e a
estabilidade de agregados. Os processos naturais físico-químicos, também chamados de
abióticos, estão associados, principalmente, às argilas, sendo solos com textura fina,
naturalmente mais propensa a ter maior estabilidade. Diferentes práticas de manejo alteram o

61
teor da MO e atividade biológica do solo (MUZILLI, et al., 1998). Os principais processos
abióticos são a floculação ou atração mútua entre as partículas de argila e moléculas
orgânicas; e processos de expansão e contração das massas de argila. Estes estão associados à
formação de agregados menores, e os processos biológicos, à formação de agregados maiores.
Assim, o volume de materiais argilosos, as atividades dos organismos no solo e o teor de MO
são as principais influências naturais do processo de agregação; em contrapartida, o principal
processo antrópico que influencia tal agregação está no preparo do solo agrícola (BRADY;
WEIL, 2013).
A estabilidade dos agregados do solo é fundamental para a produtividade agrícola, já
que esses são formados pela matéria orgânica, que por sua vez atua diretamente na estrutura
do solo. Na agricultura é comum a prática do revolvimento do solo antes do plantio. Essa
prática tem sido bastante contestada já que tem implicações negativas diretas no que tange à
estrutura física do solo e também na redução da matéria orgânica pela oxidação (SANTOS et
al., 2012). A autora aponta ainda que esse revolvimento implica em impactos aos atributos
físicos do solo como a redução do tamanho dos agregados, que por sua vez, irão influenciar
na redução da macroporosidade e infiltração da água no solo, aumentando a densidade e a
resistência do solo à penetração. Loss et al. (2009) afirmam que as técnicas da produção
agroecológica evitam a destruição dos agregados e a inversão de suas camadas. Para Bertol et
al. (2004) as práticas agrícolas conservacionistas preservam a matéria orgânica no solo,
responsável pela qualidade física do solo e também pela produtividade. Ao contrário, as
práticas da agricultura moderna, que revolvem intensamente o solo, acarretam em menor
estabilidade dos agregados, pois rompem a estrutura e aceleram a decomposição da matéria
orgânica. Esse sistema ainda aumenta a susceptibilidade à erosão.
Os usos agrícolas e urbanos alteram a agregação e assim a estabilidade dos agregados
do solo. Essa propriedade é um importante indicador de qualidade do solo, tendo em vista que
quanto maior a agregação e estabilidade desses, maior é a resistência à erosão hídrica. Solos
de baixa estabilidade apresentam índices de agregação ou de Diâmetro Médio Ponderado
(DMP) abaixo de 0,5 mm. Tais solos tornam-se impermeáveis quando irrigados, formando
crostas à superfície. Já solos com DMP maior que 0,5 mm são considerados relativamente
resistentes ao esboroamento e à dispersão, ou seja, quanto maior for a porcentagem de
agregados retidos nas peneiras, melhor a agregação. Assim, agregados maiores são mais
estáveis, sendo que o fracionamento dos agregados provocado por pisoteio de animais,
movimentação de implementos agrícolas, intenso revolvimento das camadas superficiais do

62
solo e a constante incorporação de matéria orgânica, provocam alterações em outras
propriedades físicas do solo como porosidade e densidade, que comprometem a qualidade e
capacidade produtiva do recurso natural (DEMARCHI et al., 2011).
Além do DMP, o Diâmetro Médio Geométrico (DMG) e o Índice de Estabilidade dos
Agregados (IEA) também é utilizado como parâmetro de avaliação do tamanho dos
agregados, além do estado da agregação do solo. Cada um desses apresenta um principio,
como no caso do DMG, que representa uma estimativa do tamanho das classes dos agregados
que apresentam maior ocorrência. Já o IEA representa a medida da agregação total do solo,
desconsiderando a distribuição por classes de agregados, sendo que quanto maior for a
quantidade de agregados de diâmetro inferior a 0,25 mm, menor será o IEA (DEMARCHI et
al., 2011).

c) Densidade e porosidade

A densidade do solo é definida como a massa por unidade de volume do solo seco,
incluindo as partículas sólidas e o espaço entre poros. Dessa forma, solos com maior
proporção de espaços porosos em relação a seu volume, possuem menor densidade, tendo
maior número de espaços vazios, sendo assim, menos compactados (BRADY; WEIL, 2013).
Tal porosidade relaciona-se ao volume ocupado por água e ar (SANTOS et al., 2013). A
porosidade do solo, segundo Curi e Kämpf (2012) depende da sua estrutura e pode variar de
acordo com a textura e a quantidade de matéria orgânica presente que, por sua vez, implicam
no tipo de estrutura e profundidade.
A atividade biológica apresenta importante relação com a porosidade, já que altos
teores de óxido de ferro e alumínio promovem alta porosidade. Solos arenosos, que
apresentem baixos valores de matéria orgânica, por exemplo, tendem a maior consolidação
decorrente da estrutura pouco desenvolvida e da densidade das partículas comparada a solos
argilosos que possuem melhor estruturação. Essa relação é exemplificada por Lepsch (2011,
p. 132) que compara a densidade mais elevada dos solos arenosos com os argilosos.

Em solos arenosos, as partículas de maiores dimensões ocupam maior volume em


relação aos solos argilosos; estes, porém, além de possuir grandes poros, como os
arenosos, também possuem poros muito pequenos (microporos), que reduzem a
densidade do solo, uma vez que os espaços porosos possuem uma massa específica
menor que as partículas sólidas.

63
As atividades agrícolas afetam diretamente a densidade do solo e sua qualidade. O
aumento na densidade do solo é indicativo de ambiente inadequado para o crescimento
radicular, havendo redução da aeração e infiltração, modificando o comportamento da água e
dos nutrientes (BRADY; WEIL, 2013). O revolvimento do solo causa ainda redução da
matéria orgânica e danos à estrutura do mesmo. A utilização de maquinário agrava a
compactação e por sua vez a aumenta a densidade. Áreas florestadas apresentam muito baixa
densidade do solo, e qualquer modificação é sentida pelas plantas. A alta densidade, que
ocorre também de maneira espontânea, inibe o crescimento radicular das plantas por criar
maior resistência à penetração. Segundo Brady e Weil (2013) em iguais condições de
densidade e alto teor de água, as raízes terão mais facilidade de penetração em um solo
arenoso do que em um solo argiloso.
Primavesi (2002) afirma que o maior problema dos solos agrícolas está na perda da
estrutura favorável ao longo dos anos, levando ao adensamento e encrostamento em função da
deterioração dos grumos. Este processo dificulta o crescimento radicular das culturas. Para
Lourente et al. (2011) o tipo de preparo do solo adotado em diferentes sistemas de manejo,
acarreta respostas diferentes do solo. O preparo com intenso revolvimento, trânsito de
máquinas agrícolas, manejo dos resíduos vegetais e as condições de umidade no solo no
momento do preparo interferem de maneira negativa na física do solo. A compactação gera
modificações na estrutura, reduzindo o volume e diminuindo os poros, resultando na redução
da produtividade.
A compactação do solo restringe não apenas o espaço da raiz, mas também da água e
consequentemente da disposição dos nutrientes, formando o que Primavesi (2002, p. 61)
chama de “barreira física”. A falta de água e oxigênio também agrava o desenvolvimento
satisfatório da cultura. Primavesi (2002 p. 52,53) exemplifica o enraizamento em solos
compactados e adensados:

Quando a raiz tem desenvolvimento livre, duplicando seu comprimento, o espaço


explorado será oito vezes maior. A planta explora um maior volume de solo, sendo
melhor nutrida [...] A planta, duplicando o comprimento radicular, pode absorver
água e nutrientes de um espaço 8 vezes maior, do que consegue com a metade do
comprimento radicular. Consequentemente recebe oito vezes mais água e nutrientes.
Portanto, qualquer barreira que impeça o livre desenvolvimento radicular apresenta
um empecilho ao desenvolvimento vegetal.

64
d) Infiltração

A infiltração é o processo de movimento da água pelo qual essa entra nos espaços
porosos do solo, transformando-se, posteriormente, em água do solo. Fundamental para a
hidrologia da paisagem exerce influência na umidade, bem como no potencial de degradação
do solo, no escoamento superficial e nos processos de inundação em fundos de vales. As taxas
de infiltração não são constantes ao longo do tempo, ao contrário variam de acordo com o tipo
de argila e episódios de irrigação ou chuva (BRADY; WEIL, 2013).
A compactação associa-se diretamente com a quantidade de água disponível. Bertol et
al. (2004) discorrem sobre a aceleração da decomposição da matéria orgânica, quando os
manejos convencionais rompem os agregados da camada superficial do solo, o que reflete
negativamente na estabilidade dos agregados. Em seu trabalho, os autores avaliam o
comportamento hídrico em solos afetados negativamente pela compactação, resultando em
desagregação pelo impacto das gotas de chuva, o que favorece a erosão, a diminuição das
taxas de infiltração e o aumento do escoamento superficial. Eles comparam diferentes tipos de
manejo agrícola e avaliam os níveis de degradação e conservação.
A erosão e as perdas de solo pela agricultura têm sido questionadas, principalmente
em relação a manejos atualizados pela agricultura moderna. Dentre os fatores controladores
das taxas de erosão destacam-se a erosividade da chuva, propriedades do solo, cobertura
vegetal e características da encosta. Os parâmetros utilizados para investigação da
erosividade são: o total de chuva, sua intensidade e energia cinética (GUERRA, 2007). Ainda
que, pelo simples valor do total de chuvas não seja possível aferir perdas de solo relacionadas,
destaca-se uma maior probabilidade, principalmente em áreas agrícolas, por ser uma
importante variável, já que além da intensidade da chuva influenciar no escoamento
superficial, o tipo de manejo agrícola será em partes responsável pelas taxas de saturação.
Para Bertoni e Neto (2012) a chuva é um dos fatores climáticos mais importantes no processo
de erosão dos solos, sendo o volume e a velocidade da enxurrada, dependentes também da
intensidade e duração da chuva, os principais fatores da erosão pela chuva, ressaltando que a
intensidade dessas é o fator pluviométrico mais importante da erosão. Durante uma chuva
muito forte, milhares de gotas de chuva caem sobre o solo, desprendendo as partículas da
massa. Essas partículas podem ser lançadas a uma altura de maia de 60 cm e com distância de
1,5m. Um solo exposto torna-se muito mais susceptível à erosão que um vegetado.

65
As propriedades do solo, principalmente relacionadas à textura, aporte de MO,
estabilidade de agregados e pH são de grande importância nos estudos sobre erosão já que,
juntamente com outros fatores, determinam uma maior ou menor susceptibilidade à erosão.
Dentre esses, a textura talvez seja, um dos mais importantes fatores na determinação do uso
do solo (BERTONI; NETO, 2012). Além disso, o grau de agregação do solo é fator que afeta
diretamente a infiltração. A velocidade da infiltração é mensurada pela quantidade de
partículas finas e espaços porosos. Solos com manejo adequado do solo melhoram suas
condições físicas e a granulação das partículas, reduzindo os efeitos da enxurrada e a erosão
de grande parte das chuvas. Como o impacto das gotas de chuva rompem os agregados, os
desprendendo e transportando, causam, sobretudo, uma maior compactação na superfície do
terreno, reduzindo a capacidade do solo em absorver água, aumentando a enxurrada na
superfície (BERTONI; NETO, 2012).
No trabalho de Barthès e Roose (2002), foram simuladas chuvas em vinhedos no Sul
da França, de modo a avaliar a susceptibilidade do solo ao escoamento superficial, através da
relação entre estabilidade de agregados do solo e erosão. A profundidade do escoamento e as
perdas de solo foram medidas em períodos de tempo, e após 30 minutos, as duas estavam
negativamente correlacionadas com o conteúdo do solo superficial em macroagregados
estáveis. Nas áreas de escoamento taxas de escoamento e perda de solo de três anos estavam
negativamente relacionadas à estabilidade de agregados do solo superficial, especialmente do
conteúdo em macroagregados estáveis; essas correlações foram melhoradas quando a
declividade da encosta e agressividade do clima foram considerados, além da estabilidade de
agregados. Nos vinhedos de encosta, a frequência das feições erosivas estava negativamente
correlacionada com o conteúdo dos macroagregados estáveis no solo superficial,
especialmente na ausência de práticas de conservação. Esses resultados confirmam que a
estabilidade de agregados é um indicador relevante da susceptibilidade do solo ao escoamento
e à erosão, especialmente em áreas Mediterrâneas ou Tropicais, onde chuvas intensas são
mais frequentes. Mais precisamente, os resultados mostram que a susceptibilidade do solo ao
escoamento e à erosão estava ligada à resistência à hidratação dos agregados do solo
superficial: de fato, a hidratação resulta na compressão do ar aprisionado dentro de agregados
rapidamente encharcados, e é a principal causa da desintegração de agregados quando o solo
seco é imerso.

66
1.3 Agroecossistemas sustentáveis

Um agroecossistema é um local, de propriedade privada ou comunitária, de produção


agrícola compreendido como um ecossistema, sendo comparável estruturalmente e
funcionalmente com os ecossistemas naturais. Apesar de tal comparação a ação humana
torna-os bastante diferentes, sendo, contudo, possível observar semelhanças na organização
estrutural dos dois, principalmente no que se refere ao fluxo de energia, ciclagem de
nutrientes e mecanismos reguladores de população. O desafio de criar agroecossistemas
sustentáveis está em alcançar as principais características dos ecossistemas naturais, buscando
desenhar o sistema agrícola com o natural (GLIESSMAN, 2005).
Os processos ecológicos nos agroecossistemas, de acordo com Altieri (2012) seguem
processos fundamentais para seu funcionamento. São eles os processos energéticos, que
tratam da transformação da energia solar em energia primária – com a fotossíntese – e sua
transferência de um organismo para outro na cadeia trófica; além da energia do trabalho
humano e animal. O aporte de energia através dos combustíveis fósseis é questionável, assim
como fertilizantes e herbicidas, considerando o ideal de sustentabilidade desses ecossistemas.
Outro processo é o biogeoquímico, que adiciona nutrientes ao sistema agrícola por meio da
liberação no solo, fixação atmosférica de nitrogênio por leguminosas, água de chuva,
escoamento de insumos de áreas vizinhas e fertilizantes. Os hidrológicos podem ter papel
fisiológico, quando a água ganha nutrientes do sistema por meio da erosão e lixiviação. Além
disso, o balanço geral da água num agroecossistemas varia em relação às proporções da
umidade no solo, precipitação, fluxo lateral da água na superfície, evapotranspiração,
percolação profunda e escorrimento lateral. Por último, os processos sucessionais,
procedimento pelo qual os organismos ocupam e modificam um local gradualmente às
condições ambientais, de tal forma que, outras espécies são capazes de substituir as que
originalmente habitavam tal espaço, como os campos agrícolas modernos.
Os manejos agroecológicos utilizados em agroecossistemas sustentáveis partem da
premissa da integração e racionalidade do uso dos recursos naturais. Todas as práticas estão
ligadas entre si, sendo uma auxiliar à outra. Portanto, um sistema com desenho agroecológico
deve seguir não apenas uma, mas todas as ações dos manejos universais, e introduzir, com o
cotidiano, novas práticas locais. Sistemas em transição introduzem, gradativamente, novos
manejos agroecológicos até completarem o arranjo.

67
1.3.1 Agroecologia: conceitos

As definições conceituais em torno da agroecologia são muitas, variam desde


definições simplificadas como uma das utilizados por Gliessman (2005, p. 54) que a define
como “aplicação de conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de
agroecossistemas sustentáveis”, como as mais amplas, como a de Altieri (2004, p.26) “a
agroecologia geralmente representa uma abordagem agrícola que incorpora cuidados especiais
relativos ao ambiente, assim como aos problemas sociais, enfocando não somente a produção,
mas também a sustentabilidade ecológica do sistema de produção”.
A agroecologia é, portanto, mais que apenas tratar de manejos ecológico, mas
constitui-se em um campo do conhecimento cientifico, que dado seu enfoque holístico e
abordagem sistêmica, contribui para o direcionamento das sociedades e para o
desenvolvimento rural (CAPORAL et al., 2009). Trata-se, como frisa Leff (2002) de um novo
paradigma produtivo que envolve diferentes ciências, técnicas e práticas para a produção
ecológica sustentável no campo. Dentre diversos conceitos uma base é perceptível e sempre
utilizada: a sustentabilidade traduzida no uso racional e equilibrado dos recursos naturais. Na
prática, os manejos alternativos aos do sistema agrícola moderno, são embasados em um
filosofia ou modo de vida, que tem a preservação da natureza como pilar fundamental. Muitas
dessas práticas decorrem da essência da agricultura, ainda nos tempos de sua concepção. Na
agroecologia a valorização do conhecimento local e empírico dos agricultores é fundamental
para atingir seus objetivos.
Assim, culturalmente, a agroecologia fomenta o desenvolvimento local construído
através da realidade vivida pelos agricultores (BALEM; SILVEIRA, 2002); socialmente,
fortalece as relações sociais, pois possibilita trabalhar e morar no mesmo local, intensificando
os laços com a família e vizinhos (PINHEIRO, 2004). A economia ecológica, segundo May
(1998) busca melhor gerenciamento da interação homem e natureza de modo a assegurar a
disponibilidade dos recursos naturais para as gerações futuras. Ainda em face da economia, o
acesso aos meios de produção ecológicos diminui os custos com a lavoura já que não há
necessidade de insumos externos para se produzir agroecologicamente. No viés ambiental
estão as principais bases da agroecologia. Todos os manejos visam o uso racional dos
recursos naturais, sobretudo um maior cuidado com o manejo do solo. Primavesi (1992, 2002)
trabalha com diversas técnicas que mantêm o equilíbrio nutricional e a bioestrutura do solo,
como a proteção da terra, adubação verde, biofertilizantes, manutenção da matéria orgânica,

68
rotação de cultura, manejo de pragas e doenças com barreiras mecânicas, controle biológico,
dentre outras. Assim, a qualidade dos produtos vegetais é consequência da nutrição ecológica
do solo (PRIMAVESI, 2002). Caporal (2009) afirma que a agroecologia não é uma proposta
para se resolver todos os problemas gerados pela ação antrópica dos modelos de produção e
consumo capitalistas e sua estrutura oligopolizada, mas simplesmente orientar estratégias de
desenvolvimento rural na transição para sistemas sustentáveis, pensando-se nas gerações
futuras, na soberania alimentar e no limite dos recursos naturais.
Tendo como referência tais bases e conceitos, a prática agroecológica acontece de duas
maneiras: a primeira com os manejos chamados universais e os manejos locais. Os universais
são aqueles considerados básicos para o arranjo agroecológico, podendo ser aplicados em
qualquer lugar, independentemente de fatores ambientais; já os locais são aqueles específicos,
desenhados no dia-a-dia dos agricultores, aplicados a determinado tipo de solo, clima,
disponibilidade hídrica e outros fatores de ponderação. A construção desses manejos
universais foi realizada ao longo dos anos, numa interação entre pesquisadores e agricultores.
A consolidação desses mecanismos universais vem sendo moldada, já que a agroecologia é
uma tecnologia recente na história.
Data seu surgimento, segundo Gliessman (2005) em 1920, quando, pela primeira vez,
tentou-se relacionar duas ciências: a agronomia e a ecologia. Na década de 1930, quando
ecologistas propuseram o termo agroecologia, o mesmo passou a ser entendido como a
ecologia aplicada à agricultura. Apenas no final dos anos de 1950, o conceito foi
amadurecido, em função dos estudos na época sobre ecossistemas. Já nas décadas de 1960 e
1970, a aplicação do termo ganhou maior interesse e se intensificou como pesquisa. Quando,
em 1980, o termo sustentabilidade foi aplicado à agricultura, foi que a agroecologia, ganhou
enfim, espaço nas pesquisas e discussões internacionais. Atualmente, já mais bem difundida,
novas tecnologias estão sendo incorporadas. Percebe-se seu caráter moldável, dinâmico e
integrador, já que esta é uma ciência com características holísticas (GLIESSMAN, 2005).
Os princípios da agroecologia buscam reestabelecer uma racionalidade ecológica
aplicada à agricultura com base no conhecimento mais profundo das dinâmicas dos
agroecossistemas e dos princípios que os regem e mantêm seu funcionamento. Assim, Altieri
(2012) aponta o surgimento da ciência agroecológica como capaz de sanar tais lacunas e
disponibilizar os princípios ecológicos básicos sobre como estudar, projetar e manejar
agroecossistemas para que os mesmos sejam produtivos e ao mesmo tempo capazes de
conservar os recursos naturais, adaptáveis culturalmente e viáveis social e economicamente.

69
Na agroecologia as inter-relações entre seus componentes e a dinâmica dos processos
ecológicos são enfatizadas. Pelo caráter holístico conferido à mesma, é possível abarcar
elementos ambientais, sociais, econômicos e culturais na atividade agrícola ecológica.
Os manejos universais e também locais seguem o principio de equidade entre sistemas
agrícolas e sistemas naturais, como nos agroecossistemas e ecossistemas. A gestão dos fluxos
de energia, primeiro desafio para se criar agroecossistemas sustentáveis, busca uma menor
dependência de recursos não renováveis, de maneira a alcançar o equilíbrio satisfatório entre
o uso de energia capaz de manter os processos internos e externos do sistema. Em seguida,
busca-se a manutenção dos ciclos de nutrientes com o fechamento máximo possível, a fim de
reduzir as perdas de nutrientes do sistema para que haja maior retorno desses. Já os
mecanismos reguladores de população dependem diretamente da resistência a pragas,
garantindo um habitat que assegure a presença de inimigos naturais e antagonistas
(GLIESSMAN, 2005). Ainda segundo o autor (GLIESSMAN, 2005, p. 79) um
agroecossistema sustentável é aquele capaz de incorporar as qualidades de um ecossistema
natural de “resiliência, estabilidade, produtividade e equilíbrio que assegurará melhor a
manutenção do equilíbrio dinâmico necessário para se estabelecer uma base ecológica de
sustentabilidade”.
Altieri (2012) aponta ainda princípios ecológicos de importante aplicação aos
agroecossistemas, como a ciclagem da biomassa e otimização da disponibilidade de nutrientes
em fluxos equilibrados; seguridade do solo em condições favoráveis para o crescimento das
plantas, com especial atenção ao manejo da matéria orgânica e incremento de atividades
biológicas; minimização das perdas dos fluxos de radiação solar, ar e água, manejando o
microclima e a cobertura do solo; e a promoção da diversidade inter e entre espécies no
agroecossistemas. Além dessas, outras importantes bases para uma agricultura sustentável,
são elencadas por Zamberlam (2012). Dentre elas, a baixa dependência de insumos externos;
utilização eficiente dos recursos naturais locais; preservação da diversidade biológica;
utilização do conhecimento dos agricultores e da cultura local; conservação das variedades
das sementes locais e outros. O principal objetivo da agroecologia é então integrar os
diferentes componentes dos agroecossistemas de modo a aumentar sua eficiência biológica, a
capacidade produtiva e sua autossuficiência. Alguns processos ecológicos têm a função de
fortalecer a imunidade do sistema; diminuir a toxidade gerada pelos agroquímicos; fomentar a
função metabólica; equilibrar sistemas regulatórios; aumentar a conservação e manter a
produtividade em longo prazo (ALTIERI, 2012).

70
1.3.2 Agroecologia: manejos

Os manejos agroecológicos chamados universais estão relacionados às práticas base.


Para Loss et al. (2009) existem diversas técnicas agroecológicas que modificam positivamente
as propriedades do solo, especialmente em agroecossistemas com culturas perenes. O autor
exemplifica algumas técnicas como a manutenção da cobertura permanente do solo; a
integração da adubação orgânica e verde; o controle da erosão, por meio do estabelecimento
de culturas em curvas em nível; o terraceamento e as faixas de retenção; e o cultivo mínimo,
em faixa ou bordadura. As recomendações para o manejo agroecológico são direcionadas
para práticas que favoreçam a biologia do solo, pois os organismos são responsáveis pelas
transformações químicas e físicas do solo (CUNHA et al., 2012). Tais práticas, segundo
Passos et al. (2007) alteram os teores de carbono orgânico e nitrogênio, melhorando a
qualidade da matéria orgânica, a agregação do solo e as taxas de ciclagem. Muitos manejos
mostram-se positivos, sobretudo quando comparados a sistemas modernos de agricultura. A
seguir, os principais manejos agroecológicos, chamados universais serão apresentados.

a) Adubação verde

A adubação verde consiste na inserção de plantas que quebrem a monotonia das


monoculturas, enriquecendo o solo com diferentes materiais orgânicos, diversificando a vida
no solo, e melhorando assim o desenvolvimento da cultura principal. Essas devem ser
utilizadas não como cultura principal, dada a inviabilidade econômica, mas sim como plantas
auxiliares (PRIMAVESI, 1992). A adubação verde quando feita com leguminosas, faz grande
aporte de nitrogênio. A cobertura verde pode ser feita com ervilha, centeio, aveia-preta, trigo,
nabo-forrageiro, girassol e outros, obtendo excelentes resultados (PRIMAVESI, 2002). É
também possível incorporar massa verde na superfície do solo, sem plantio. São restos de
colheita e outras plantas depositadas superficialmente sob o solo, fazendo uma cobertura seca.
Os adubos verdes têm desempenhado fundamental papel na ciclagem de nutrientes,
tanto dos adicionados por fertilizantes minerais, como dos provenientes da mineralização da
matéria orgânica (AMBROSANO, 2013). Das plantas mais utilizadas para adubação verde
estão as leguminosas, como a mucuna, guandu, tremoço, ervilhaca, serradela, cunhã, puerária,
caupi e outras. Outra planta de adubação verde que vem se desenvolvendo bem no consórcio
com culturas principais é a Cratylia argentea. Leguminosa, arbustiva, tem grande fixação de

71
nitrogênio pelos pequenos nódulos que se desenvolvem próximos às raízes e são colonizados
pelas bactérias que transformam o nitrogênio encontrado no meio ambiente de forma a ser
absorvido pelas plantas, que o transformarão em proteína, e posteriormente alimentarão as
plantas. Sua principal característica está na sua capacidade de tolerar secas prolongadas sem
desfolhar ou perder a capacidade de rebrotar nesses períodos (CASTILLO et al., 2007).
A EMBRAPA Milho e Sorgo, Sete Lagoas – Minas Gerais, vem trabalhando nas
pesquisas dessa planta (Figura 1). Segundo Walter Matrangolo11, em 14 meses, 72 toneladas
da Cratylia argentea foram incorporadas ao solo na forma de massa verde, o que corresponde
a 340 Kg de nitrogênio por hectare. Em época de seca, no mínimo oito toneladas de massa são
incorporadas, assim, o aporte não é prejudicado em nenhuma época do ano, sendo a
incorporação de nitrogênio bem distribuída no solo. Para Altieri (2012), os benefícios dos
cultivos de cobertura do solo são muitos, dentre eles as melhorias na fertilidade, aumento da
fixação de nitrogênio, reciclagem de nutrientes e manutenção da matéria orgânica no solo.
Além disso, melhorias na estrutura do solo podem ser atribuídas à adubação verde, pois este
auxilia na agregação do solo, no aumento da macroporosidade e infiltração, além de reduzir o
encrostamento, a lixiviação e a erosão dentro e entre os sulcos.

Figura 1: Cratylia argentea na unidade experimental de pesquisa EMBRAPA Milho e Sorgo, em Sete
Lagoas, Minas Gerais.
Fonte: OLIVEIRA, 2013.

11
Entrevista realizada em junho de 2013, em visita à Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, Minas Gerais.
72
b) Sistema de policultivos - Consórcio de culturas

O consórcio de culturas já foi utilizado antigamente, mas deu lugar ao plantio de


grandes áreas monocultoras. Tal consórcio deve ser estruturado de acordo com as
características das plantas, utilizando-se apenas “culturas companheiras”, que irão auxiliar no
desenvolvimento uma da outra, sem competição. É importante não apenas consorciar culturas
agrícolas, mas essas com plantas para adubação verde. Ao fim da colheita, há maior
fornecimento de palha, contribuindo para a preservação, conservação e recuperação do solo.
O fornecimento das sementes também é favorecido, tendo bom preço de mercado. Assim, as
principais vantagens são o melhoramento substancial da terra, além da venda das sementes
(PRIMAVESI, 1992). Os policultivos podem envolver combinações de culturas anuais com
anuais, anuais com perenes, ou mesmo perenes com perenes. O consórcio de cereais com
leguminosas ou raízes tuberosas com árvores frutíferas é também utilizado. Diversos arranjos
espaciais podem envolver, desde simples combinações de duas espécies em filas alternadas,
como também consórcios mais complexos envolvendo várias espécies misturadas. As
espécies podem ser plantadas ao mesmo tempo ou em épocas diferentes, assim como as
colheitas podem ser simultâneas ou escalonadas (ALTIERI, 2012).
O principal objetivo do consórcio de culturas é equilibrar o consumo de nutrientes pela
planta, visto que cada espécie apresenta necessidades diferentes de nutrientes, e monoculturas
tendem a exaurir determinado(s) nutriente(s) deixando o solo deficiente. O equilíbrio
nutricional do solo garante a manutenção por mais tempo da produtividade, sendo
dispensáveis insumos químicos para (re)fertilização. A rotação das culturas e o tempo de
pousio entre lavouras são fundamentais para a qualidade química do substrato.
Os principais consórcios de culturas companheiras, segundo Primavesi (1992), são:
milho com feijão-de-porco, milho e mucuna-preta, laranjeira e feijão-de-porco, aveia e
ervilhaca, girassol e batatinha, gergelim e sorgo, arroz e algodão, arroz e aveia-preta, linho e
alfafa e diversas outras culturas. O feijão, por exemplo, beneficia-se quando consorciado com
a soja ou com o feijão-de-corda, mas prejudica-se ao ser plantado juntamente com mandioca,
cravo ou tomate. O milho, ao ser consorciado com feijão, alface, espinafre ou folhas de pínus
tem boa produção, ao contrário de quando consorciado com batatinha, repolho ou funcho. É
possível o consórcio de mais de uma dupla de culturas, como o caso da pimenta-do-reino,
plantada juntamente com seringueiras, cacaueiros, coqueiros e maracujá.

73
Os policultivos também têm efeitos sobre o controle de pragas. As pragas são
frequentemente menos abundantes em área com policultivos que em áreas monocultoras.
Altieri (2012) afirma que o uso do sistema de produção em consórcio e policultivo aumentam
os predadores e parasitas como controle natural da população de pragas, devido ao aumento
da variedade e quantidade de fontes disponível de alimento, além das melhorias no micro-
habitat, nos sinais químicos que modificam a localização das espécies de pragas e o aumento
da estabilidade da dinâmica das populações que tem relação predador-presa e parasita-
hospedeiro.

c) Controle biológico de pragas

A diversidade de espécies controla a incidência de pragas, não havendo um inimigo


natural, mas a quantidade disponível de organismos que irão competir entre si (PRIMAVESI,
1992). Assim, o extermínio de pragas por pesticidas, prática comum na agricultura moderna, é
extremamente prejudicial, pois ao exterminar as pragas, exterminam também organismos
benéficos. A microvida – bactérias, vírus e fungos – além de insetos e pequenos animais são
importantes para o solo, tanto nos aspectos químicos: na decomposição da matéria orgânica;
quanto nos aspectos físicos: na bioestruturação do solo. Ambientes sadios e equilibrados
apresentam raros ataques de pragas na lavoura.
Zamberlam e Froncheti (2012) afirmam que a maneira mais eficaz de proteger as
plantas dos ataques de espécies invasoras é garantir um solo saudável. Para tanto, a prevenção
se dá por meio da adubação orgânica e mineral, rotação de culturas e consorciação, uso de
culturas adaptadas à região, e uso de variedades resistentes. A planta biologicamente sadia,
tendo um metabolismo avaliado como normal, não oferece substâncias que insetos e
microrganismos possam utilizar (PRIMAVESI, 1992). Nesse sentido, Caporal (2009) elenca
algumas práticas relacionadas ao uso da cobertura vegetal e de plantas que fixem nitrogênio
para controlar espécies invasoras. São elas: uso de adubos orgânicos, plantio em nível, e
cordões ou contornos de plantas quebra-vento. Um ambiente sadio e equilibrado é capaz de
reproduzir-se sem que haja ataques severos de pragas. Ainda que possível de ocorrer, são
menores as chances em ambientes agrícolas com maior equilíbrio entre as culturas, o solo e os
microrganismos.

74
d) Rotação de cultura

Para Primavesi (1992) para uma eficaz rotação são necessárias, no mínimo, de quatro
a cinco culturas, sendo seis a quantidade ideal, além da troca das culturas, indispensável para
uma melhor adequação ambiental, principalmente para a qualidade do solo. É importante
ressaltar a necessidade do pousio entre as rotações das culturas. Podem-se intercalar culturas
anuais e permanentes, além do rodizio lavoura-pastagem. Essa última é indicada quando há
persistência de pragas. Há também o sistema de rodízio de três anos de plantio de culturas e
três anos de plantio de forrageira. A figura 2 apresenta diferentes estágios das culturas, onde
houve rotação das espécies de folhas. A rotação é importante para que outros nutrientes sejam
consumidos, equilibrando assim os disponíveis, além da modificação das substâncias
excretadas pelas plantas, que irão dissipar muitas das possíveis espécies invasoras. Ao
modificar a cultura plantada, há utilização de um novo grupo de nutrientes que estavam
inutilizados, ou pouco utilizados pela plantação anterior. Assim, a resposta produtiva é sempre
positiva, desde que manejada corretamente. Assim, a rotação é fundamental para a
manutenção de solos férteis e produtivos.

Figura 2 – Rotação e consórcio de culturas EMBRAPA Milho e Sorgo, Sete Lagoas, Minas Gerais.
Fonte: OLIVEIRA, 2014.

75
2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS

Dos municípios que integram a região metropolitana de Belo Horizonte – RMBH –


capital de Minas Gerais, Brumadinho tem importante destaque na produção de
hortifrutigranjeiros, sendo um dos principais municípios pertencentes ao cinturão verde que
abastece a capital e outros municípios. Com uma área territorial de mais de 600 mil Km² e
uma população estimada em 34 mil habitantes12, Brumadinho é um dos maiores municípios
da RMBH em área. Ao norte faz limite com Belo Horizonte, Ibirité, Sarzedo, Mário Campos,
São Joaquim de Bicas e Igarapé; Nova Lima a leste e Rio Manso e Itatiaiuçu a oeste, e Belo
Vale e Bonfim ao sul. Sua proximidade com Belo Horizonte facilita o escoamento da
produção já que mais de um acesso pode ser utilizado para se transitar de um município a
outro: via BR-381, BR-356 ou BR-040. O mapa abaixo (Figura 3) mostra o limite do
município de Brumadinho e sua posição no estado, assim como as rodovias e principais rios.

Figura 3 – Mapa de localização do Município de Brumadinho, MG.


Fonte: OLIVEIRA, 2014.

12
Fonte: IBGE Cidades. Acesso em 03/03/2015. Disponível em: http://goo.gl/lixvMl
76
A região de planejamento Central13 engloba o município de Brumadinho, além de
Belo Horizonte e vários outros municípios próximos. Os principais produtos por hectare da
região Central são: milho, com significativa expressão frente aos outros produtos destaca-se,
seguido do feijão, cana-de-açúcar, café e mandioca. Já o município de Brumadinho apresenta
produção de cereais, leguminosas e oleaginosas. Destaca-se a produção de arroz em casca,
feijão e milho em grão (IBGE, 2007). Na lavoura temporária, arroz, batata-doce, cana-de-
açúcar, cebola, feijão, mandioca, milho e tomate são os principais produtos cultivados. Já na
lavoura permanente produz-se banana, goiaba, laranja, limão, manga, maracujá e tangerina
(IBGE, 2012). Segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 200614, a maioria dos
estabelecimentos rurais do município tem principalmente proprietários do sexo masculino,
seguido do produtor individual, aquele que não tem funcionários registrados. É possível
observar no município de Brumadinho diversas propriedades com atividades agrícolas de
hortifruti. Estas áreas caracterizam a paisagem local, que entre serras e rios, expõe uma das
principais fontes de renda dos moradores da área rural: a agricultura.
Historicamente, o município de Brumadinho já era posto importante na produção de
alimentos para as bandeiras paulistas, sendo o núcleo de abastecimento e descanso.
Posteriormente, com a riqueza do minério de ferro, Brumadinho, até então chamado de
Brumado do Paraopeba, passou a ser explorado para mineração. A construção do ramal que
ligava Paraopeba à Estrada de Ferro Central do Brasil desenvolveu o povoado que recebeu
migrantes estrangeiros para o trabalho nas minas. Isso favoreceu o desenvolvimento do
povoado, que aos poucos se tornava uma pequena cidade com equipamentos, serviços e
população mais volumosa. A produção de café também movimentava a economia de
Brumado. Após a Lei Estadual de 1891 que criou o distrito Brumado do Paraopeba, apenas
em 1923 o distrito passou a chamar-se Brumadinho, sendo reconhecido pelo Decreto Estadual
de 1938 como município (Prefeitura Municipal de Brumadinho, 2014).

13
Regionalização adotada oficialmente pelo Governo do Estado de Minas até o momento (março 2015) que
contempla, além dos municípios da região metropolitana de Belo Horizonte, outras diversas cidades. Uma nova
regionalização vem sendo estudada pelo Governo do Estado que visa maior coerência no agrupamento regional.
Os chamados “territórios de desenvolvimento” serão apresentados ainda este ano (2015) e passarão a compor as
novas regiões mineiras.
14
Disponível em: http://goo.gl/2LNL6f Acesso em 21/06/2014.

77
2.1 Aspectos Físicos de Brumadinho

O zoneamento Ecológico Econômico – ZEE – da Área de Proteção Ambiental da


Região Metropolitana de Belo Horizonte instituído pela Secretaria de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável do Governo de Minas Gerais – SEMAD – recebeu o nome de
APA SUL RMBH. Trata-se de um instrumento de gestão para apoio e orientação da região
visando à preservação ambiental e o ordenamento territorial, sendo importante para adequar o
uso e ocupação do solo. Sua criação se deu através do Decreto Estadual 35.624 de junho de
1994 que contemplou os municípios de Belo Horizonte, Ibirité, Brumadinho, Nova Lima,
Caeté, Itabirito, Raposos, Rio Acima e Santa Barbara. Posteriormente, com a Lei Estadual n.º
13.960, de julho de 2001, foram incorporados à APA os municípios de Barão de Cocais,
Catas Altas, Mário Campos e Sarzedo declarados como área de proteção ambiental15. Ainda
que, geograficamente, o local de estudos não esteja comtemplado no mapeamento da APA
Sul, este encontra-se bastante próximo separado apenas por poucos minutos em latitude,
sendo possível aferir as características físicas da área. Além deste, outros mapeamentos de
cunho físico auxiliam na descrição da área em questão e serão apresentados a seguir.

2.2.1 Geologia

O sítio em estudo apresenta litologia datada do período Neoarqueano, Supergrupo Rio


das Velhas, cuja descrição aponta para um Gnaisse granítico claro, equigranular, granulação
média, a ortoclásio, quartzo e plagioclásio, com clorita, moscovita e biotita como acessórios
(CODEMIG, 2005). De acordo com o CPRM (2005), a área de estudos faz parte, na coluna
estratigráfica, do Complexo Ortognássicos, do Mesoarqueano, Complexo Bonfim: rochas
graníticas gnaissificadas. São compostos por rochas granito-gnáissicos, constituídos por
tonalitos migmatizados a gnaisses granodioríticos.

2.2.2 Geomorfologia

No Plano Diretor do município de Brumadinho, a análise geomorfológica apresenta


três principais compartimentos: Serras, Paraopeba e Rio Manso. A área de estudo situa-se no
compartimento Paraopeba Leste. Essa porção territorial localiza-se entre o compartimento
Serrano e o Rio Paraopeba, com antigas atividades mineradoras e atuais atividades
15
Disponível em: http://goo.gl/IThgsg. Acesso em 24/06/2014.
78
agropecuárias. A área do Assentamento Pastorinhas insere-se na macro-zona de uso irrestrito
no zoneamento ambiental municipal. A figura 4 mostra a altimetria da área que varia entre
750 e 1600 metros, sendo na porção central do município o relevo de menor altimetria, e as
bordas, principalmente a leste com maior altimetria, chegando aos 1600 m.
O Assentamento Pastorinhas faz parte da Unidade Morfoestrutural Crista Monoclinal
da Serra do Curral - CSC. De acordo com o CPRM – Serviço Geológico do Brasil – a
Unidade Morfoestrutural Crista Monoclinal Serra do Curral está situada no extremo norte do
Quadrilátero Ferrífero. Há domínio de cristas elevadas que chegam a 1400m, extenso ao
alinhamento serrano da Serra do Curral, na direção WSW-ENE, em aproximadamente 50 Km,
entre o Fecho do Funil – garganta epigênica, Rio Paraopeba e Fecho Sabará – e o Rio das
Velhas. As denominações locais de Oeste para Leste estão a Serra dos Três Irmãos, Serra do
Cachimbo, Serra do Curral e Serra do Taquaril. De acordo com o mapeamento da área
próximo ao local de estudos, a unidade de relevo é de dissecação com presença de esporões e
voçorocas.

Figura 4 – Mapa de hipsometria de Brumadinho, MG.


Fonte: OLIVEIRA, 2014.

79
Na região próxima ao assentamento, e na maior parte do município de Brumadinho,
não é comum ver voçorocas dominado a paisagem, assim como nas áreas mais próximas ao
assentamento também é raro a observação dessas. A exceção diz respeito às áreas em ocorrem
atividades mineradoras, muitas dessas localizadas bastante próximas ao local onde fica o
Assentamento Pastorinhas. Em local bastante próximo ao Assentamento é possível observá-
las em grau, possivelmente avançado.
A figura 5 é um registro feito de dentro do Assentamento, e exemplifica algumas
dessas voçorocas encontradas no limite com a mineradora que explora de minério de Ferro.
As mineradoras em atividade no município são de pequeno porte, porém estão em maior
número na região, rica em mineral de Ferro. Um dos principais problemas de mineradoras de
pequeno porte está na não obrigatoriedade legal de um estudo aprofundado de risco ambiental
para instalação e atividades das mesmas, sendo a exigência legal de estudos, anuências e
licenças, além de audiências públicas com participação das comunidades afetadas, apenas
para empreendimentos de grande impacto ambiental.

Figura 5 – Voçorocas próximas ao Assentamento Pastorinhas em Brumadinho, MG.


Fonte: OLIVEIRA, 2014.

80
A declividade (Figura 6) é um importante fator na análise física, pois pode ter relação
com processos erosivos, indicando áreas com especial potencial de preservação dado grau de
declive. O município de Brumadinho tem a maior parte do território com relevo plano a suave
ondulado. Alguns pontos na porção sul e central, mas principalmente nas partes no extremo
norte, a leste e oeste, apresentam relevo ondulado e forte ondulado. O relevo montanhoso
acompanha o complexo das serras ao norte, leste e oeste, onde se encontram a Serra dos Três
Irmãos e Serra do Curral.
No Assentamento Pastorinhas, o relevo varia entre plano e suave ondulado. Na área
agrícola, as áreas planas predominam, com algumas áreas de relevo suave ondulado; assim
como na área de floresta, que apresenta relevo suave ondulado. À medida que se caminha para
o norte na área de floresta, a declividade aumenta, mas com a vegetação densa no local, não
foram vistos processos erosivos, nem mesmo em estágio inicial, o que possivelmente
aconteceria de maneira diferente em uma área sem vegetação e mesma inclinação.

Figura 6 – Mapa de declividade de Brumadinho, MG.


Fonte: OLIVEIRA, 2014.

81
2.2.3 Pedologia

O mapeamento de solos (Figura 7) aponta quatro classes de solos, sendo a área do


Assentamento Pastorinhas, classificada como uma associação de CAMBISSOLO HÁPLICO,
NEOSSOLO LITÓLICO e LATOSSOLOS VERMELHO-AMARELO. Essa classificação
ocupa boa parte do território municipal, assim como os LATOSSOLOS VERMELHO
AMARELO, comtemplando a maior parte do município. Nas áreas de topografia mais
elevada, abordando as porções montanhosas de Brumadinho, estão os NEOSSOLOS
LITÓLICO e LATOSSOSLOS VERMELHO-AMARELO. Uma pequena porção sudeste
apresenta uma mancha de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO associado à
LATOSSOLO VERMELHO e NITOSSOLO VERMELHO. O mapa exploratório de solos do
projeto RADAMBRASIL (1982) indica presença de CAMBISSOLO HÁPLICO distrófico
típico, com A fraco a moderado, textura argilosa à média, pedregoso e não pedregoso com
associações de ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico típico e LATOSSOLO
VERMELHO-AMARELO distrófico típico em áreas de campo cerrado.

Figura 7 – Mapa de solos Brumadinho, MG.


Fonte: OLIVEIRA, 2014.

82
De acordo com os dados da APA Sul (CPRM, 2005), encontram-se na região
CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico; textura argilosa ou média; fase não
pedregosa e pedregosa; floresta tropical subperenifólia; relevo forte ondulado e montanhoso +
LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico ou câmbico; textura argilosa; relevo forte
ondulado e ondulado; ambos A moderado. CAMBISSOLO HÁPLICO Perférrico típico;
textura média cascalhenta ou média pouco cascalhenta/média cascalhenta; fase pedregosa e
endopedregosa; floresta tropical subperenifólia + LATOSSOLO VERMELHO Perférrico
câmbico ou típico; textura argilosa/argilosa pouco cascalhenta; fase endopedregosa; ambos A
moderado; relevo forte ondulado e montanhoso. LATOSSOLO VERMELHO Perférrico
típico, textura argilosa ou muito argilosa, A moderado, fase cerrado tropical subcaducifólio,
relevo suave ondulado.

2.2.4 Vegetação

O município de Brumadinho apresenta vegetação original variando entre Savana e


Floresta. Segundo o RADAMBRASIL (1982) a vegetação de Savana encontra-se
principalmente na porção central e noroeste, e pontos na porção oeste. Há uma predominante
porção do município com presença da vegetação de Floresta, tanto na porção central, quanto à
leste e centro-oeste. Trata-se de Floresta Ombrófila Densa, Aberta e Mista; além da Floresta
Estacional Decidual e Semidecidual. Ao Sul encontra-se contato de Floresta Ombrófila Densa
com Mista. A área de estudo apresenta vegetação de Floreta Ombrófila Densa, com vegetação
secundária, sem palmeira, intercalada com áreas de pastagem.
Ainda de acordo com RADAMBRASIL (1982), o Complexo Divinópolis, da Unidade
Planalto de Campos das Vertentes, por apresentar corpos intrusivos básicos, granitos e
dioritos evolui para associações pedológicas com domínio de LATOSSOLOS VERMELHO-
AMARELOS (álicos e distróficos), LATOSSOLOS VERMELHO-ESCURO e
CAMBISSOLOS (álicos e distróficos), o que proporciona o desenvolvimento de Floretas
Estacional Semidecidual, já bastante devastada pelo homem, sendo substituída por pastagem e
atividades agrícolas. Ocorrem ainda feições botânicas característica de Savana Gramíneo
Lenhosa.
Segundo mapeamento da APA Sul (CPRM, 2005) a cobertura vegetal da região de
estudo apresenta, sobretudo área de mata e campo cerrado. A vegetação de floretas está
diretamente relacionada a ocorrências de solos profundos, como os Latossolos e Cambissolos.

83
Há ainda correlação com a maior retenção de umidade nesses tipos de solo, o que favorece
sua ocorrência nas proximidades das linhas de drenagem. Nas outras áreas, encontram-se a
cobertura por campo cerrado e campo gramíneo.
A figura 8 mostra os tipos de vegetação presentes no município. Predominam a
floresta estacional decidual densa, com manchas de floresta arbustiva arbórea densa e floresta
ombrófila densa. Há apenas uma concentração de savana próxima à sede municipal, e uma
grande área destinada à agropecuária na porção sul e central. Ao comparar o mapeamento do
RADAMBRASIL DE 1982 com as bases utilizadas para elaboração do mapa abaixo (IBGE,
2010; CPRM, 2010 e EMBRAPA, 2006) é possível aferir que houve intensa supressão da
vegetação de Savana, apontada anteriormente, como presente nas porções central e noroeste, e
pontos na porção oeste, o que já não aparece mais, apenas uma pequena mancha na parte
central, próxima ao norte. As atividades agropecuárias que fazem limite com a porção Savana
delimitada próximo à sede municipal podem ter sido responsáveis pela supressão do bioma no
município, assim como as atividades minerárias que ocorrem próximas ao ponto. Ambas as
atividades necessitam de desmatar a vegetação, e no caso da mineração também o solo.

Figura 8 – Mapa da vegetação de Brumadinho, MG.


Fonte: OLIVEIRA, 2014.

84
2.2.5 Uso e Ocupação do Solo

O mapa de uso e ocupação do solo (Figura 9) do município de Brumadinho mostra a


dinâmica territorial que conta com elementos naturais e antropizados. Têm-se destacado no
mapa as vegetações de porte arbustivo e arbóreo, que ocupam fortemente a maior parte do
município, com exceção da porção central, que tem a aglomeração urbana e área destinada à
agropecuária a principal forma de uso e ocupação. Ainda em relação aos aspectos naturais,
têm-se os afloramentos rochosos que aparecem em praticamente todo o município, e os
corpos d’água, com maior volume a oeste. Os afloramentos rochosos concentram-se
linearmente na porção leste do município, acompanhando serras em áreas montanhosas, e
também na porção oeste. Vê-se que o município de Brumadinho é cercado por grandes serras,
que condicionam uma rica hidrografia. Naturalmente, o aglomerado urbano está na sede do
município, ainda que se encontrem outros aglomerados, principalmente ao norte e leste. No
mapeamento do CPRM – Projeto Apa Sul – as atividades minerárias estão também
demarcadas e encontram-se ao norte da sede municipal, bastante próximas ao Assentamento.

Figura 9 – Mapa de uso e ocupação do solo de Brumadinho, MG.


Fonte: OLIVEIRA, 2014.

85
2.2.6 Hidrografia

A área de estudo faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, situa-se a sudeste
do Estado de Minas Gerais, sendo um dos principais tributários do Rio São Francisco. Sua
área total abrange 13.643 Km², o que corresponde a 2,5% da área total de Minas Gerais. Seus
principais afluentes são o Rio Águas Claras, Macaúbas, Betim, Camapuã e Rio Manso 16. O
Rio Paraopeba nasce no município de Cristiano Otoni, próximo a Serra da Moeda e desagua
na foz da represa de Três Marias, município de Felixlândia. Passa, dentre outros municípios
por Brumadinho, bastante próximo à área de estudo, o Assentamento Pastorinhas o que pode
ser observado através da carta topográfica do IBGE Brumadinho SF-23-X-A-II-2 (Figura 10).
Essa bacia é responsável por cerca de 53% do fornecimento de água para a região
metropolitana de Belo Horizonte. Nota-se a importância que as águas do Paraopeba
representam para o estado, sendo importantes ações de planejamento que visem sua
recuperação. Atividades sustentáveis são pauta para o Plano Diretor dos Recursos Hídricos
(FEAM, 2011). Ainda encontra-se em discussão o Plano Diretor da Bacia, sendo elaborada a
versão final, ainda sem previsão para publicação17.

1 km

Figura 10 – Localização do Assentamento Pastorinhas na carta topográfica de Brumadinho, MG.


(Escala: 1: 50.000)
Fonte: IBGE

16
Disponível em: http://goo.gl/Xlqjoo > Acesso em 25/06/14.
17
Informações dadas pelo IGAM, junho de 2014.
86
Segundo dados da Fundação Estadual de Meio Ambiente – FEAM – o diagnóstico do
esgotamento sanitário da bacia encontra-se entre ruim e muito ruim, com alguns municípios
considerados bons em relação ao índice da qualidade dos serviços de esgotamento sanitário
municipal (IQES). Quanto ao índice de qualidade de água (IQA), significativa parte encontra-
se com qualidade média, ou seja, com IQA acima de 50 e menor que 70, com apenas alguns
cursos considerados ruins. O município de Brumadinho apresenta IQES muito ruim e IQA
médio. As duas estações de tratamento do esgoto do município estão, uma fora de operação e
outra em condições precárias de funcionamento, ambas de responsabilidade da prefeitura
municipal18.

2.2.7 Clima

O clima de Brumadinho e da região circundante, referenciado pela bacia do Rio


Paraopeba, é classificado, de acordo com Köppen, no subtipo climático Cwa – clima
temperado úmido com inverno seco e verão quente. As chuvas ocorrem no período de outubro
a março, com maior concentração nos meses de novembro, dezembro e janeiro. Já o período
seco, ocorre entre abril e setembro, sendo os meses de junho, julho e agosto o período de
maior déficit hídrico. A temperatura média anual do município fica em torno dos 21°C, com
mínimas de 16,7°C no período seco e máxima de 27,1°C no período chuvoso (SOUZA,
2006).
Com relevo exercendo forte influência na distribuição das chuvas há maior tendência
de concentração dos valores de precipitação elevados nas áreas de maior altitude, logo, os
divisores de água. De acordo com Lanza (2011), o maior volume de precipitação anual da
bacia do Rio Paraopeba está na extensão da Serra da Moeda, Serra Três Irmãos, Serra Azul,
região de Rezende Costa e em Lagoa Dourada. Almeida (1999) apresenta dados do balanço
hídrico da bacia do Rio Paraopeba. O valor anual das precipitações é de 1.445,1 mm; o total
anual de evapotranspiração real é de 865,4 mm; e o valor do escoamento máximo anual é de
143,5mm. Já os dados de deficiência e excesso hídrico variam de 67,1 mm para deficiência e
533,3 mm para excesso hídrico.

18
Disponível em http://goo.gl/DUXH2S > Acesso em 25/06/14.
87
2.2 Assentamento Pastorinhas: histórico e práticas de manejo

O Assentamento Pastorinhas – AP – localiza-se na região metropolitana de Belo


Horizonte, no município de Brumadinho, próximo ao povoado de Monte Cristo com
localização à Latitude 20º 07’ 32.4’’ S e Longitude 44º 10’ 22.9’’ W. Sua história de luta pela
terra começou em 2002 quando 120 famílias acamparam em frente à fazenda da família
Menezes. A medida provisória 2183/01 do governo Fernando Henrique Cardoso, e mantida
atualmente, prevê que imóveis de domínio púbico ou privado ocupados por motivação de
conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo não poderão ser vistoriados, nem
desapropriados por dois anos consecutivos à ocupação, ou até mesmo no dobro do prazo, caso
haja reincidência de ocupação. Com isso, as famílias se mantiveram durante três anos
acampadas nas estradas do distrito de Tejuco, sendo despejadas por duas vezes (OLIVEIRA
et al., 2009).
No ano de 2005, cansados de esperar a vistoria do INCRA decidiram ocupar a fazenda
improdutiva e a chamaram de Assentamento Pastorinhas, em homenagem à luta das mulheres
que estiveram à frente na luta pela terra. Restaram apenas 20 famílias. Inicialmente, o interior
da fazenda da família Menezes mantinha uma paisagem de extensa pastagem, um curral
próximo à lagoa e a área de floresta. A grande transformação aconteceu com a ocupação das
famílias na fazenda. Essa se deu rapidamente, transformando a paisagem do local, passando
de uma apenas uma área de pastagem para uma área de cultivo de folhosas. Com uma semana,
os barracos de lona e a lavoura já estavam prontos. Com dois meses já havia produção para o
sustento básico das famílias. A rapidez das mudanças foi decisiva, e não permitiu que a
reintegração de posse fosse realizada, já que o trabalho das famílias sensibilizou o juiz da vara
agrária, Renato Dresch, que faria a reintegração de posse ao proprietário (OLIVEIRA et al.,
2013). Assim, com a pressão do MST sobre o INCRA a fazenda foi comprada e repassada às
famílias, que receberam o título de posse apenas em maio de 2006. Desde 2011, as famílias
pagam à União para poder receber, após quitar a divida, o título de propriedade.
As famílias assentadas são de diferentes estados e municípios, mas todas já
trabalhavam direta ou indiretamente com agricultura. Muitas foram expulsas das terras que
trabalhavam para dar lugar às máquinas e ao agronegócio. Algumas se queixavam de
irritações e doenças causadas pelo manejo de agrotóxicos. Inicialmente foram motivadas pelo
instinto, já que não tinham condições de adquirir nenhum tipo de insumo. Ainda quando
acampadas, eram associados ao MST e realizaram cursos sobre agroecologia e vivência em

88
outros assentamentos de reforma agrária. Três acampados fizeram o curso nacional de
agroecologia, em módulos em Minas Gerais, Paraíba, Recife e Paraná. A ONG Caritas teve
papel fundamental para que o assentamento se tornasse uma referência agroecológica e
exemplo para muitos assentados que visitam o local para troca de experiências. O curso de
capacitação oferecido pela ONG potencializou o saber tradicional dos agricultores.
Dos 14 hectares cultivados no assentamento, área essa já explorada pela antiga
fazenda, uma grande diversidade de culturas pode ser observada (Figura 11) em meio aos 142
hectares de Floresta Ombrófila Densa (Figura 12). Prática base da agroecologia, o consórcio e
a rotação de culturas garante tal diversidade. Novas práticas agroecológicas surgem do dia-a-
dia dos agricultores da rotina na lavoura, as chamadas práticas locais. Elas garantem a
qualidade dos alimentos produzidos e a sobrevivência das famílias. O que impulsionou as
vendas das hortaliças produzidas no assentamento foi a parceria com a escola Balão
Vermelho, situada na zona Sul de Belo Horizonte. Depois de uma visita da escola ao local, a
vontade de ajudar e de consumir alimentos saudáveis foi grande, e semanalmente o
assentamento leva os produtos até a escola para venda. Essa prática se reproduziu em outras
escolas particulares da capital. Atualmente, duas feiras são fonte de renda das famílias. Uma
delas, ação da prefeitura de Belo Horizonte, e a outra em uma Igreja Católica, a Igreja do
Carmo, zona Sul da capital, onde os assentados vendem parte da produção duas vezes na
semana.
No município onde os assentados vivem há certa dificuldade em comercializar os
produtos. Apenas as escolas e creches recebem doações, e por vezes, compram do
assentamento. Muitos atravessadores – pessoas que compram dos agricultores para revender
nos mercados de abastecimento, como o Ceasa (Central de Abastecimento de Minas Gerais) –
atuam na região, porém, pagam valores muito baixos para os agricultores. Em função disso, e
para fomentar a agricultura familiar, o Governo Federal e Estadual tem programas para venda
direta dos agricultores para as escolas públicas da região, mas que abarcam poucas
propriedades agrícolas, além do limite de venda anual que os agricultores têm.

89
Figura 11 – Cultivo próximo à floresta - Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG.
Fonte: OLIVEIRA, 2013.

Figura 12 – Área de cultivo do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG.


Fonte: OLIVEIRA, 2013.

90
A estrutura do assentamento é diferente dos demais. Ao contrário da maioria dos
assentamentos de reforma agrária, em que há o parcelamento da área, o Assentamento
Pastorinhas é um assentamento comunitário, sem divisão de glebas entre as famílias. Uma
área foi destinada à moradia dos assentados, chamada Agrovila (Figura 13). Ela foi construída
pelos próprios agricultores em locais sorteados entre as famílias, considerando-se o número de
filhos dos casais. Apesar do desmatamento de uma parte da área para a construção das casas,
em discordância por parte de alguns assentados, a determinação foi feita pelo INCRA, que
estabeleceu que cada família desmataria 400 m² para a instalação das casas, e preservariam
600 m². O projeto das moradias foi estabelecido no Plano de Desenvolvimento do
Assentamento – PDA – que durou cerca de um ano. Foram disponibilizados R$ 9.375,00 para
cada família construir sua casa, sendo essas padronizadas pelo INCRA.

Figura 13 – Área da Agrovila do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG.


Fonte: Google Earth, 2014.

91
Embora, de maneira geral, a construção da Agrovila seja vista pelos assentados como
um grande avanço, outros assentados mostram-se insatisfeitos com a sua localização e modelo
(OLIVEIRA et al., 2013) já que a proximidade entre as casas, e o desenvolvimento das
famílias, pode, num futuro próximo, gerar problemas de aglomerados rurais, parecido com os
urbanos. Hoje, o Assentamento Pastorinhas conta com energia elétrica, que chegou ao
assentamento apenas em 2010, mas ainda não há saneamento básico e esgotamento sanitário.
Os sistemas utilizados são, na maioria, alternativos e variam entre fossa séptica, caixa
biodigestora e outros. Algumas famílias utilizam ainda a fossa negra, mas estão em processo
de modificação. Apesar das alternativas à fossa negra serem duráveis, seu custo de
implementação pode onerar a renda de algumas famílias. As parcerias com universidades têm
ajudado nesse sentido, já que tecnologias mais baratas estão sendo testadas no assentamento.
Além dos manejos agroecológicos universais utilizados no assentamento como
consórcio e rotação de culturas, irrigação por bombeamento, utilização de adubo orgânico,
proveniente da compostagem, as caldas naturais e plantas quebra-vento para controle de
espécies invasoras, os assentados trabalham em manejos agroecológicos locais desenvolvidos
pela prática do dia-a-dia dos agricultores. Uma das adaptações feitas pelos agricultores do
Assentamento Pastorinhas foi com as plantas quebra-vento. Geralmente, utilizam-se flores de
diferentes espécies, como girassol, por exemplo, numa espécie de cordão em torno de
determinada plantação. Para não perderem espaço de cultivo, as famílias testaram o milho,
pimentão, berinjela e jiló em torno de culturas mais sensíveis como alface, rúcula e chicória.
Culturas onde as folhas são consumidas, como abobrinha (abóbora italiana), pimentão e o
tomate, por exemplo, a cavalinha, rica em sílica, é utilizada para se fazer um chá e borrifada
nessas culturas para proteger as cascas do ataque de lagartas. Para o combate às lagartas, é
feito um macerado com algumas delas em dissolução em 20 litros de água. Ao ser borrifado
nas plantas, o odor que exala inibe a aproximação de outras lagartas. Para combate a insetos
como caramujo e lesma, é utilizado o cipó-timbó. É feita uma fusão da planta em álcool por
oito dias. Valéria Carneiro19, assentada e líder do assentamento, alerta para o cuidado que se
deve ter com essa calda, que em contato com peixes pode matá-los.
Para extermínio da formiga, utiliza-se a mamona ou o gergelim preto que ao ser
colocado no local onde as formigas se aglomeram, fermenta e as mata. Os fungos e bactérias
que causam doenças nas plantas são combatidos com Bouganvile. Colhe-se as folhas mais
escuras e bate-se no liquidificador, o resultado é um sumo que pode ser pulverizado nas

19
Entrevista realizada em novembro de 2009. OLIVEIRA; ARAÚJO, 2009.
92
plantas doentes. A cultura de tomate que é extremamente sensível a altas temperaturas,
ataques de pragas e doenças, recebe a pulverização das folhas de Bouganvile desde cedo, uma
vez por semana, desde o plantio até a colheita. Para o combate a nematoides, utiliza-se o
cravo que garante que a planta não murche rapidamente com o ataque, principalmente do
pulgão. Valéria ressalta que o controle biológico deve ser feito com cuidado e observação, já
que existem insetos negativos, que causam danos às plantas, mas há também os positivos e
benéficos ao meio. Ela afirma ainda que a agroecologia permite essa observação e manejo,
pois na agricultura convencional, a utilização dos pesticidas extermina todos esses seres, os
maléficos, mas também os benéficos.
A EMATER tem atuado junto aos agricultores do AP levando inovações alternativas.
Uma delas foi o consorciamento de aveia junto às hortaliças. Além dessa, várias outras
experiências são feitas no assentamento visando o aprimoramento das técnicas
agroecológicas. A rotação de culturas é de suma importância, não apenas para o descanso do
solo, mas também para redução de pragas. A rotação de culturas com plantio de cravo entre as
safras é outra prática que vem sendo testada nos últimos meses. O pousio de algumas glebas
tem sido utilizado para criação de galinhas, como mostra a figura 14 e posteriormente
plantado. Os nutrientes contidos nas fezes do animal têm alta concentração fósforo, potássio e
nitrogênio, além de amônia (NH3) proveniente da decomposição de microrganismos. A
composteira (Figura 15) feita no assentamento segue um arranjo de “cama de gato”. Ela não
precisa ser revolvida, como comumente é feito, já que forma-se um esqueleto que tem como
base toras de bananeira, galhos e gravetos mais grossos. O esterco, galhos mais finos, palha,
serragem e restos da lavoura são colocados por cima. Com a ação dos microrganismos e a
decomposição dos materiais, a parte de cima vai descendo, fazendo o revolvimento necessário
naturalmente. A compostagem, depois de pronta, torna-se uma terra escura e grumosa, que
contém os principais nutrientes necessários para a nutrição do solo e das plantas.
As composteiras em galinheiro também têm sido utilizadas e vêm trazendo bons
resultados. Nesse caso, os mesmos materiais são adicionados, porém na área do galinheiro
construído recentemente no Assentamento. São os próprios animais que fazem o trabalho do
revolvimento, sendo necessárias apenas algumas intervenções, de uma a duas vezes para
revolvimento do material durante seu ciclo, aproximadamente três meses. O tempo para
decomposição e resultado final do processo é o mesmo da composteira em “cama de gato”,
sendo condicionado pelas variações do tempo.

93
Figura 14 – Galinheiro em área de pousio do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG.
Fonte: OLIVEIRA, 2013.

Figura 15 – Composteira do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG.


Fonte: OLIVEIRA, 2009.

94
3 METODOLOGIA

As etapas da pesquisa estão descritas pelo fluxograma abaixo (Figura 16) que
apresenta sua organização metodológica. Inicialmente, o referencial teórico trata das questões
pertinentes à geografia agrária no Brasil, seguido dos conceitos sobre solos e agricultura.
Algumas reflexões a cerca da sustentabilidade de agroecossistemas e agroecologia, que são
retomadas na análise dos resultados. O conteúdo cartográfico da pesquisa perpassa a
interpretação, reunião, análise e elaboração de produtos cartográficos. O mapeamento prévio,
que envolve levantamento fotográfico e cartográfico, foi realizado. Em campo, foram feitas
amostragens exploratórias e identificação com clinômetro do ponto ideal para abertura das
trincheiras. Após sua abertura foram coletadas as amostras seguindo a orientação para cada
tipo de análise laboratorial. A análise de infiltração seguiu uma adaptação da elaborada por
Hills (1970). Em laboratório foram feitas as análises e seus resultados apresentados e
discutidos, chegando assim a análise dos resultados obtidos com auxilio do programa ISA.

Figura 16 – Fluxograma das etapas metodológicas da pesquisa

95
O método utilizado nessa pesquisa é o comparativo que busca verificar a similaridade
entre dois ou mais objetos de análise, sendo necessária a explicação das divergências
apresentadas nos resultados obtidos em qualquer tempo, constituindo uma experimentação
direta ou indireta. Ele é capaz de apontar índices de melhor ou pior aproveitamento de uma
atividade, por exemplo, servindo de base para propostas de aperfeiçoamento. Gonzalez (2008)
reúne diferentes abordagens utilizadas pelos pesquisadores que construíram, ao longo do
tempo, o método comparativo. Para Mill (1984), citado por Gonzalez (2008), o método
comparativo segue duas linhas: uma consiste em comparar diferentes casos em que ocorre
determinado fenômeno; e outro que compara casos em que o fenômeno não ocorre.
Durkeim (1987) citado por Gonzalez (2008), afirma que a comparação de casos é a forma
de se demonstrar que um fenômeno é causa de outro. Estes, quando produzidos artificialmente
pelo observador, tem-se o método de experimentação como verificador; quando, ao contrário,
os fatos são produzidos de maneira espontânea, sem interferência do observador, o método
empregado é o da experimentação indireta, tendo assim o método comparativo. Outros
autores que discutem o método comparativo discordam das bases epistemológicas e objetivos
do método comparativo, como por exemplo: “para Przeworski e Teune (1970), deve ser a
busca de explicações. Sartori (1994) defende o ponto de vista do uso como método de
controle, o que também é referido por Morlino (1994)” (GONZALEZ, 2008, p. 6).
Nessa pesquisa, as comparações feitas circundam uma atividade extremamente antiga,
que foi se moldando com a incorporação de tecnologias: a agricultura. Assim, o método
comparativo aplicado visa analisar um fenômeno espontâneo, a floresta, e outro fenômeno
produzido artificialmente, a agricultura. O manejo aplicado à agricultura é então, na visão dos
autores acima, o fenômeno que será causa dos demais. De forma simplificada, a comparação
dos dois ambientes tem o objetivo de avaliar se o manejo empregado causa impactos
negativos na área agrícola, sendo a área de floresta o parâmetro de tais comparações, dada sua
proximidade do ambiente natural.
Para tal comparação, utilizaram-se indicadores, que, em geral, são instrumentos que
permitem mensurar um sistema, fenômeno ou tendência. O objetivo desses indicadores, de
acordo com Van Ballen (2006) é quantificar uma série de informações sobre diferentes
fenômenos. Esses indicadores podem ser qualitativos ou quantitativos. Dentre as funções dos
indicadores elencadas pelo autor, as mais aplicáveis a esta pesquisa são as de comparações
entre lugares e situações e a antecipação de futuras tendências. Freitas e Giatti (2009) expõem
que os indicadores de sustentabilidade fundamentam-se nos princípios de equidade em relação

96
às gerações presentes e futuras congregando aspectos econômicos, juntamente com a saúde e
qualidade de vida. Para a mensuração dos índices de sustentabilidade são utilizadas, de forma
matemática, informações quantitativas associadas ao desenvolvimento. Para Kronemberger et
al. (2004, p. 13):

Cada índice, ao final, produz um valor numérico, resultado de operações


matemáticas com as informações que utiliza, e, quando comparado a uma escala
padrão, avalia a sustentabilidade. Entre os índices existentes, aqueles mais voltados
para a temática do desenvolvimento sustentável são o Barômetro da
Sustentabilidade, o Painel da Sustentabilidade, a Pegada Ecológica, o Índice de
Sustentabilidade Ambiental (ISA).

Na dimensão ambiental, os indicadores avaliam os impactos das atividades humanas


sobre o meio ambiente. Na perspectiva social refere-se ao processo de desenvolvimento
equilibrado e justo, que leve ao crescimento estável com distribuição de renda equitativa
gerando menores diferenças de classes sociais, melhorando assim a qualidade de vida das
populações. Economicamente, implica na alocação e distribuição eficiente dos recursos
naturais (BALLEM, 2006).
Uma das maneiras de mensurar a sustentabilidade dos sistemas agrícolas é a avaliação
da qualidade do solo. Barrios et al. (2011) propõem a integração das propriedades químicas e
físicas como forma de avaliação da qualidade, e afirmam que todos esses atributos são
passiveis de modificação, seja natural ou antrópica. No caso da ação modificadora do homem,
o tipo de manejo usado no solo pode tanto melhorar as condições naturais quanto degradar
essas propriedades. Quando há perdas significativas do substrato, há também considerável
redução na sua capacidade de sustentar o crescimento vegetal, o que implica numa baixa
produtividade e necessidade de uso mais acentuado de fertilizantes. Uma vez que a qualidade
do solo é um importante indicador de sustentabilidade, seu monitoramento deve ser feito, de
modo a comparar o desempenho dos agroecossistemas ao longo do tempo.
Para isso, o Assentamento Pastorinhas foi escolhido como local de estudos por utilizar
os manejos da agroecologia, e por possuir uma vasta área de floresta, que preserva as
condições próximas às originais do solo. Dessa forma, é possível compará-las de modo a
conhecer as características naturais e assim verificar o grau de sustentabilidade ambiental do
solo que o sistema agroecológico é capaz de manter.
Uma das metodologias utilizadas nessa pesquisa baseou-se no “Sistema de avaliação
de desempenho ambiental e socioeconômico de estabelecimentos rurais” (ISA), resultado do
trabalho de profissionais da diversos órgãos, como a Epamig, Embrapa Milho e Sorgo,
Emater, IEF-MG, Fundação João Pinheiro, UFMG e Governo do Estado de Minas. De acordo
97
com Ferreira et al. (2012) o ISA é uma ferramenta de gestão, que objetiva realizar um
diagnóstico dos balanços sociais, econômicos e ambientais do estabelecimento rural. O
conjunto de 21 indicadores, agrupados em subíndices de diversas temáticas, avalia princípios
e critérios que norteiam a adequação ambiental das propriedades, com a possibilidade de
transição de agroecossistemas para maior sustentabilidade. Dos diversos indicadores, os
relacionados à qualidade do solo são importantes para a avaliação da capacidade do ambiente
prover os recursos necessários para a manutenção dos agroecossistemas, de modo a assegurar
a produtividade agrícola. Além dos parâmetros sugeridos pelo ISA para avaliação da
qualidade do solo, outras análises serão incluídas no presente trabalho, relacionadas à física
do solo e sua relação com elementos químicos diretamente ligados à produtividade. Demais
indicadores do Sistema serão utilizados de modo a verificar a sustentabilidade proveniente das
práticas agroecológicas, índices esses relacionados à segurança alimentar, gerenciamento de
resíduos, uso de agrotóxicos e adoção de práticas conservacionistas.
As análises de solo consideradas pelo ISA são: textura; matéria orgânica; fósforo
disponível; cálcio, magnésio, potássio e alumínio trocáveis; saturação por bases; acidez ativa,
pH; e CTC. As demais análises feitas são: S, Mn, saturação por alumínio, N, densidade do
solo, estabilidade de agregados e infiltração. A análise de regressão do Sistema é gerada pelo
programa SigmaPlot, com base na adaptação da interpretação de análise de solos da
EMBRAPA (2003) e na interpretação de análise de solos pela Comissão de Fertilidade do
Solo do Estado de Minas Gerais. Em cada uma das análises, exceto textura, um resultado
parcial é gerado, e posteriormente o resultado final, compilando e dando pesos a cada uma das
análises. As análises de MO e P estão relacionadas diretamente à textura do solo.
Com os resultados das análises de solo estes foram incorporados ao sistema ISA,
resultando em um valor do índice de sustentabilidade ambiental do sistema agroecológico e
do de sistema de floresta. Para a análise da capacidade produtiva do solo, utilizou-se duas
metodologias de análise. A primeira visa comparar as duas áreas apenas nos primeiros
centímetros do solo, área de influência direta da agricultura. Assim, foi feita uma média
ponderada, considerando os primeiros 23 cm de profundidade do solo, que em P1 contemplou
os horizontes Ap1, Ap2 e AB; enquanto em P2 contemplou A1.1 e A1.2. A média ponderada
considerou a espessura de cada horizonte como peso, para calculo de cada grandeza,
chegando assim aos resultados finais de fertilidade do solo. A outra metodologia utilizada
para comparação da capacidade produtivas das duas áreas foi feita considerando todo o perfil
do solo. Para isso, uma média simples foi feita para se obter o valor de referência.

98
As demais analises, químicas, e principalmente, físicas que não fazem parte do
conjunto ISA foram analisadas separadamente no Capitulo 5. A forma como são feitas as
coletas de solo no sistema ISA se diferem das realizadas nessa pesquisa, em razão dos
objetivos e grau de aprofundamento dado. No ISA, as análises de solo (item 12) são feitas por
amostragem em ziguezague, com tradagem até 20 cm e com amostras de solo compostas.
Dessa forma, o agricultor tem mais agilidade para realizar as coletas, de forma homogênea,
envolvendo uma grande área amostral. Esse procedimento difere das etapas seguidas nessa
pesquisa – a saber, abertura de trincheira e coleta por horizontes do solo – que visa uma
avaliação mais aprofundada acerca da qualidade do solo agrícola em comparação com a
floresta.
Assim, em junho de 2014 em campo, tradagens exploratórias foram feitas com auxilio
de um trado holandês de modo a comparar preliminarmente os solos segundo seus atributos
de mais fácil observação, como a cor e a textura. Para tanto, foram feitas tradagens em
algumas partes da floresta, de modo a compará-la com a parte agrícola do assentamento. A
escolha dos pontos para a abertura das trincheiras para a descrição e amostragem dos solos,
nas duas áreas, foi feita com auxílio do clinômetro, visando garantir que ambos se
encontrassem na mesma posição da vertente, permitindo assim a comparação. Foram abertas
as trincheiras, uma na área agrícola (P1) e outra na floresta ombrófila densa (P2), utilizando as
seguintes ferramentas: enxadão, enxada, pá e picareta. A descrição do perfil foi feita
considerando-se os horizontes demarcados baseando-se nas características de cor, textura e
estrutura aparente. A cor foi obtida por meio da Cartela de Munsell.
Após esse procedimento, foram então realizadas as coletas por horizonte de amostras
deformadas e indeformadas, seguindo as orientações da Embrapa para análises de solo
utilizadas pelo laboratório de solos da Universidade Federal de Lavras – UFLA. As amostras
deformadas foram coletas com auxilio de uma faca e acomodadas em sacos plásticos, lacrados
com fita tipo crepe. Essas foram coletadas para as análises químicas e algumas físicas, como
textura e densidade (Método do Torrão). Já as amostras indeformadas foram coletas mais
cuidadosamente com faca e em seguida acomodadas em sacos plásticos, vedados com fita tipo
crepe e guardados em plástico-bolha no interior de caixas de isopor, para preservar a
estrutura. Todas as amostras foram acomodadas em sacolas e transportadas de maneira
adequada. Para essa análise, a de estabilidade de agregados, foram amostradas profundidades
diferentes das demais análises, a saber, 3 cm, 9 cm, 20 cm e 60 cm, respectivamente

99
horizontes A1, A2 (Ap1, Ap2; A1.1 e A1.2 – os primeiros relacionados ao perfil agrícola P1 e
demais perfil de floresta P2); AB e B1 todas elas indeformadas.
Após as coletas em campo, as mesmas foram levadas ao laboratório de Geociências da
Puc Minas, para serem quarteadas, assim como analisadas para fins de classificação.
Posteriormente, foram levadas à Universidade Federal de Lavras. Lá, as análises químicas de
fertilidade e físicas – textura, densidade e estabilidade de agregados forma feitas. A análise de
infiltração foi feita em novembro de 2014 no Assentamento Pastorinhas, seguindo a mesma
lógica das coletas: uma análise in loco na parte agrícola e outra a área de floresta, ambas nos
mesmos pontos de coleta das amostras de solo. A análise de infiltração foi feita vinte dias
após revolvimento e abertura das linhas de plantio pelo trator na área de amostragem agrícola.
A figura 17 mostra a posição do Assentamento no município de Brumadinho, e as áreas de
coleta no Assentamento. As coletas foram feitas em junho de 2014, nas duas áreas: a agrícola
(P1), em pousio há três meses, e na área de floreta (P2).

Figura 17 – Mapa dos pontos de coleta de solo no Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG.
Fonte: OLIVEIRA, 2015

100
A metodologia empregada para análise das taxas de infiltração foi feita de acordo com
a proposta de Hills (1970) adaptada por Cunha e Guerra (2002). Na proposta de Hills (1970),
utiliza-se para montar o infiltrômetro um cilíndrico de aço, com diâmetro de 100 mm e altura
de 15 cm; seguido de um suporte quadrado, tubos de alimentação e a garrafa alimentadora de
polietileno, todos encaixados. Para fins de facilitar a construção do equipamento, optou-se
nessa pesquisa, por utilizar apenas o cilindro fabricado em material de Policloreto de
polivinila (PVC), como sugerem Cunha e Guerra (2002). Como Hills (1970) mesmo salienta,
uma técnica simples, popular e barata, além de portátil.
Em campo o cilindro foi então encaixado no solo a 5 cm de profundidade. Com uma
régua dentro dos demais 10 cm do tubo, foram feitas as medições. Utilizando um cronômetro,
o infiltrômetro foi preenchido com água, e mediu-se a profundidade da água após 30
segundos, 60 segundo, 1 minuto e meio, e dois minutos. Após esse tempo, a profundidade da
água foi medida a cada um minuto até chegar aos 30 minutos de experimento. Um asterisco
foi marcado na tabela cada vez que a água atingiu os 5 cm de profundidade, para assim ser
preenchido com água novamente o infiltrômetro. O produto final do experimento com o
infiltrômetro foi dado em um gráfico onde, no eixo horizontal está o tempo, e, no eixo
vertical, o total de água utilizada no infiltrômetro dada em mililitros (ml) que dará a taxa de
infiltração de um e outro sistema (CUNHA; GUERRA, 2002).

101
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

No Assentamento Pastorinhas duas áreas foram utilizadas para comparação da


qualidade do solo: a do sistema agroecológico e a área de floresta, que conserva as condições
naturais mais recentes do meio. Os dois perfis estão dispostos na paisagem como é possível
observar nas figuras 18 e 19. Conhecer o histórico dos últimos meses da área agrícola é
importante, pois este irá influenciar diretamente nos resultados, sendo também fundamental
para justificativa de tais resultados.
Anterior à última colheita, que foi de milho, houve o plantio de brócolis, e
anteriormente, consórcio de folhas como alface, agrião e outras. No solo foi incorporado
material proveniente da compostagem feita com restos vegetais, galhos, cinzas, palha e
esterco de galinha. Tudo isso se refere à gleba amostrada dentro da área agrícola do
Assentamento Pastorinhas. No solo, foram mantidos os restos das colheitas passadas, assim
algumas raízes, restos vegetais, palhas e bagaços de milho ainda são vistos em meio ao solo
superficial. Em profundidade ainda é possível encontrar tais materiais devido ao revolvimento
do solo para plantio. Entre as colheitas e novos plantios foram cultivadas Dianthus
caryophyllus, o craveiro, também conhecido popularmente como cravo. O cravo amarelo foi
plantado já há alguns meses após a colheita de milho e está sendo multiplicado de modo a
promover uma “infestação” da espécie no solo. O próximo plantio será novamente de milho,
porém com um número maior de cravos, de cor amarela e também branca. Como estes
auxiliam no combate a nematoides, espera-se que a próxima colheita seja mais satisfatória que
a primeira.
Considerando-se o ciclo dessas culturas (alface, agrião e outras folhosas; brócolis; e
milho) e o tempo de pousio, estima-se que essa foi a dinâmica da gleba entre 1 ano e meio e
dois anos de atividade agrícola. Esse tempo refere-se apenas as últimas atividades informadas
em entrevista em junho de 2014 pelo agricultor responsável pela área. Ou seja, desde o inicio
do funcionamento do Assentamento Pastorinhas demais culturas já passaram pela área, já que
a rotação de culturas e de glebas é prática comum dos assentados.

102
Figura 18 – Área da trincheira P1: área agrícola
Fonte: OLIVEIRA, 2014.

Figura 19 – Área da trincheira P2: floresta ombrófila densa


Fonte: OLIVEIRA, 2014.

103
4.1 Descrição morfológica e classificação do solo

O perfil 1 – P1 – situado na área agrícola do assentamento apresenta divisão dos


horizontes em Ap (1 e 2), horizonte AB, BA e Bw conforme representado na figura 20,
chegando a 200 cm de profundidade.

Descrição morfológica

Ap 1 0-10/12 cm; bruno-acinzentado (10YR 5/2, seco) e bruno-acinzentado muito


escuro (10YR 3/2, úmido); mosqueado amarelo-brunado (10YR 6/7, seco)
pouco, pequeno e difuso; franco-argilo-arenosa; moderada grande e blocos
angulares; muito duro, firme, não plástico e ligeiramente pegajoso; transição
gradual e ondulada.

Ap 2 10-13cm/ 20-30 cm; bruno-acinzentado (10YR 5/2, seco) e bruno-acinzentado


muito escuro (10YR 3/2, úmido); mosqueado amarelo-avermelhado (7YR 7/6,
seco) e bruno muito claro-acinzentado (10YR 7/3), comum, médio e distinto;
franco-argilo-arenosa; moderada muito grande e blocos angulares; extremamente
duro, extremamente firme, ligeiramente plástico e pegajoso; transição gradual e
ondulada.

AB 13-23 cm; cinzento-brunado-claro (10YR 6/2, seco), bruno-acinzentado-escuro


(10YR 4/2, úmido), mosqueado bruno muito claro-acinzentado (10YR 8/4,
seco), abundante, grande e distinto; franco-argilo-arenosa; moderada médio e
blocos subangulares; duro, firme, ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso;
transição gradual e descontinua.

BA 23-41 cm/30-49 cm; bruno-amarelado-claro (10YR 6/4, seco), bruno-amarelado


(10YR 5/4, úmido), mosqueado bruno muito claro-acinzentado (10YR 8/4,
seco), abundante, grande e distinto; argilo-arenosa; moderada pequeno e blocos
subangulares; ligeiramente duro, friável, não plástico e pegajoso; transição
difusa e plana.

104
B1 41- 70 cm; amarelo-brunado (7.5YR 6/6, seco) e bruno-amarelado (7.5YR 5/6,
úmido); argilo-arenosa; moderada grande e blocos subangulares; muito duro,
firme, plástico e ligeiramente pegajoso; transição difusa e plana.

B2 70-160 cm; amarelo-brunado (7.5YR 6/6, seco) e bruno-forte (7.5 YR 5/8,


úmido); franco-argilo-arenosa; fraca muito grande e blocos subangulares; muito
duro, friável, ligeiramente plástico e não pegajoso; transição difusa e plana.

B3 160-200+ cm; amarelo-brunado (7.5YR 6/6, seco) e bruno-forte (7.5 YR 5/8,


úmido), mosqueado bruno-forte (7.5 YR 5/8, seco); franco-argilo-arenosa;
moderada muito grande e blocos subangulares; ligeiramente duro, friável, não
plástico e não pegajoso; transição difusa e plana.

Figura 20 – Perfil Solo P1 – Área Agrícola


Fonte: Acervo da autora, 2014.
105
RAÍZES – Poucas médias nos horizontes Ap1 e Ap2; poucas finas e raras finas no AB e BA;
raras muito finas em B.

Já o perfil 2 – P2 – situado na área de floresta ombrófila densa apresenta divisão dos


horizontes em A (1.1 e 1.2), horizonte AB, BA e Bw conforme representado na figura 21. Por
se tratar de um mesmo geoambiente há bastante similaridade quanto ao perfil do solo, tendo o
P2 a mesma divisão de horizontes de P1.

Descrição morfológica

A1.1 0-8 cm; bruno-acinzentado-escuro (10YR 4/2, seco) e cinzento muito escuro
(10YR 3/1, úmido); franco-argilo-arenosa; moderada pequeno e blocos
subangulares; ligeiramente duro, muito friável, não plástico e ligeiramente
pegajoso; transição gradual e ondulada.

A1.2 8-23cm/8-22cm; bruno-acinzentado-escuro (10YR 4/2, seco) e cinzento muito


escuro (10YR 3/1, úmido); franco-argilosa; fraca médio e granular; ligeiramente
duro, muito friável, não plástico e não pegajoso; transição difusa e ondulada.

AB 23-38 cm/ 22-27cm; preto-cinzento muito escuro (10YR 3/1, úmido); franco-
argilosa; moderada muito pequeno e granular; ligeiramente duro, muito friável,
não plástico e não pegajoso; transição gradual, irregular.

BA 38-48 cm/ 27-48 cm; bruno muito claro-acinzentado (10 YR 7/3, seco) e bruno-
amarelado (10YR 5/4, úmido), mosqueado cinzento-brunado-claro (10YR 6/2,
seco) abundante, médio e difuso; franco-argilo-arenosa; moderada grande blocos
subangulares; ligeiramente duro, muito friável, não plástico e não pegajoso;
transição difusa e ondulada.

B1 48-80 cm; bruno muito claro-acinzentado (10YR 7/4, seco) e amarelo-brunado


(10YR 6/6, úmido); argilo-arenosa; moderada médio e blocos subangulares;
ligeiramente duro, friável, ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso;
transição difusa e ondulada.

106
B2 80- 160 cm; rosado (7.5 YR 8/4, seco) e amarelo-avermelhado (7.5 YR 7/6,
úmido); franco-argilo-arenosa; fraca pequeno e blocos subangulares;
ligeiramente duro, muito friável, não plástico e ligeiramente pegajoso; transição
difusa e plana.

RAÍZES – Abundantes muito finas e muitas finas nos horizontes A1 e A2; poucas muito finas
no horizonte AB; poucas muito finas e raras muito finas em B1 e B2.

Figura 21 – Perfil Solo P2 – Área de floresta


Fonte: Acervo da autora, 2014.

107
Os dois perfis analisados são classificados, de acordo com o Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (EMBRAPA, 2013), como LATOSSOLO AMARELO. Latossolos são
comumente formados em regiões tropicais e equatoriais, em avançado estágio de
intemperização, ou seja, muito evoluídos. Segundo Santos et al. (2013) são normalmente
profundos, variam de fortemente a bem drenados, destituídos de minerais primários e
secundários de menor resistência ao intemperismo. São também solos, em geral, fortemente
ácidos, com baixa saturação por bases, podendo ser distróficos e alumínicos.
A latossolização é aplicada a uma gama de processos que levam à formação daquilo
que, na taxonomia de solos, é conhecido como horizontes óxidos, de material muito
intemperizado; formando os Latossolos. Segundo Fanning e Fanning (1931) favorece a
formação dos Latossolos a presença de rochas máficas, como o basalto, assim como, minerais
intemperizáveis como guibisita, hematita e goetita, dentre outras, sendo essas formadas por
transformações minerais complexas; a baixa atividade da argila e cores uniformes do solo,
comumente o vermelho, são características dos Latossolos.

4.2 Analises química: fertilidade

As análises químicas realizadas com objetivo de avaliar a fertilidade das duas áreas
amostradas foram: pH, nutrientes (macro: Ca, P, K, Mg, S; e micro: Mn), CTC, saturação por
bases e por alumínio, e matéria orgânica (C) e nitrogênio (N).

4.2.1 pH e Acidez do Solo

O pH (em água) do solo dos dois perfis (gráfico 3) apresenta valores que variam entre
4,6 e 6,4, o que de acordo com Meurer (2007) se altera entre pouco ácido e extremamente
ácido. Em P1, o pH tem seu maior valor na parte mais superficial: Ap1 a 5 cm de
profundidade, sendo o valor do pH encontrado de 6,4; em Ap2 o valor do pH passa para 5,8;
4,8 e 4,6 em AB e BA; e nos horizontes B1, B2 e B3 os valores encontrados são,
respectivamente, 4,6; 5,0 e 5,1. As variações em termos de classificação do pH foram em P1
pouco ácido (Ap1), ácido (Ap2), muito ácido (B2 e B3) e extremamente ácido (AB, BA e B1).
No caso de P2 houve pequena variação entre a acidez presente nos horizontes. Em A 1.1 o pH
encontrado foi de 5,3; em A1.2 4,9, em AB 5,0; BA 4,9; B1 5,2 e B2 5,3. De forma a classificá-

108
los a maior parte dos horizontes diagnosticados pertencem ao grupo muito ácido (A1.1, AB, B1
e B2) e extremamente ácidos (A1.2 e BA).
A curva nos dois perfis no gráfico mostra uma inversão dos valores nos horizontes
superficiais quando o valor do pH de P1 aumenta em relação ao de P2 dos 5 cm de
profundidade aos 20 cm. Nessa profundidade P1 varia de pouco ácido a ácido e P2 muito
ácido e extremamente ácido. Após os 20 cm, P2 tem pH maior que P1 com variações entre
muito ácido e extremamente ácido. P1 apresenta dos 35 cm aos 160 cm valores extremamente
ácidos, elevando para muito ácido apenas nos 200 cm de profundidade. Já P2 tem uma
variação entre os 20 cm e 70 cm, mantendo-se os valores de pH mais próximos dos 70 cm
abaixo. Tais variações nos perfis evidenciam que em P1 as principais alterações positivas se
deram na parte superficial do solo, enquanto P2 manteve seus níveis de acidez em todo perfil.

Gráfico 3 – pH do Solo

pH
3 4 5 6 7
0

20

40

60

80

P1
100
P2
120

140
profundidade cm

160

180

200

Fonte: OLIVEIRA, 2014.

109
Por meio do extrator SMD chegou-se à determinação da acidez potencial que
considera em sua análise a quantidade de hidrogênio (H) e alumínio (Al) numa formula
simples: H+Al dada em cmol/dm3. A variação entre os dois perfis (gráfico 4) é mais
significativa apenas nos horizontes superficiais. P1 apresenta em Ap1 2,32 cmol/dm3 de acidez,
3,24 cmol/dm3 em Ap2 e 4,4 cmol/dm3 em AB. Já P2 apresenta em A1.1 5,05 cmol/dm3 e 7,78
cmol/dm3 em A1.2 e AB, ou seja, em P2 a acidez é maior que P1 chegando a variar mais que o
dobro de P1. Os valores da acidez potencial de P1 e P2 são próximos dos 40 cm a 200 cm de
profundidade ainda que maior em P2, apenas com uma inversão aos 70 cm de profundidade,
quando P1 passa a ter valor maior que P2. Assim, P1 apresenta no horizonte BA 4,2
cmol/dm3, B1 3,24 cmol/dm3 e B2 e B3 1.86 cmol/dm3; e P2 apresenta em BA 4,04 cmol/dm3;
2,24 cmol/dm3 em B1 e 2,59 em B2.

Gráfico 4 – Acidez Potencial do Solo

Acidez Potencial (H+Al)


cmol/dm3
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
0

20

40

60

80
P1

100 P2

120

140
profundidade cm

160

180

200

Fonte: OLIVEIRA, 2014.


110
4.2.2 Saturação por Alumínio

No gráfico 5 tem-se os dados de saturação por alumínio. Uma grande diferença entre
os perfis analisados é notável já que, na parte mais superficial do solo, em que P1 e P2 têm
valores de saturação por Al próximos, o restante das amostras indica uma diferença
significativa. Assim, em P1 no horizonte Ap1 e Ap2 o valor de saturação encontrado é de 0,00 e
2,46%, respectivamente; ao passo que em P2 nos mesmos horizontes os valores são 3,68 em
A1.1 e 82,42% em A1.2. Nos demais horizontes de P1 os valores variam: AB 28,46%; BA
41,10%; B1 41,67%, maior valor encontrado, diminuindo em B2 para 17, 31%; e em B3 para
7,25%. Assim, em P1 os valores começam bastantes baixos na superfície, aumentando na
parte mediana do perfil, e diminuindo em maior profundidade. Já em P2, o menor valor
encontra-se no horizonte superficial A1.1 e já apresenta significativo aumento em A1.2. Em AB
e BA os valores se mantêm na faixa dos 80% com ligeira diminuição em B1 com 75,63% de
saturação e volta a crescer em B2 com 80%. O maior valor encontrado está em A1.2 com
82,42%.
Gráfico 5 – Índice de Saturação por Alumínio do Solo

Índice de Saturação por Alumínio (m)%

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0

20

40

60

80
P1
100 P2

120

140
profundidade cm

160

180

200

Fonte: OLIVEIRA, 2014.

111
4.2.3 Matéria Orgânica (MO) e a relação Carbono Nitrogênio (C/N)

A matéria orgânica presente no solo dos dois perfis são representadas pelo gráfico 6
que mostra, em ambos os perfis, uma diminuição gradativa na quantidade de matéria orgânica
(MO) em relação à profundidade, ou seja, quanto maior a profundidade, menor é a quantidade
de matéria orgânica presente no perfil do solo. A proximidade das linhas de P1 e P2 dos 45
cm aos 200 cm de profundidade, demostra que a diferença na concentração da MO é bastante
pequena, e modificam-se apenas nos horizontes superficiais (0 – 35 cm) onde é comum
encontrar maior concentração de matéria orgânica, já que é na superfície do solo que acontece
o processo de mineralização, ou seja, a decomposição de massa pelos microrganismos que ali
habitam.

Gráfico 6 – Matéria Orgânica do Solo

Matéria Orgânica (M.O.)


dag/kg
0 1 2 3 4 5
0

20

40

60

80

P1
100
P2

120

140
profundidade cm

160

180

200

Fonte: OLIVEIRA, 2014.


112
Em P1, no horizonte Ap1 foram encontrados 2,87 dag/Kg de MO, diminuindo,
gradativamente, ao longo do perfil até chegar a 0,14 dag/Kg nos 200 cm de profundidade. Em
Ap2 foram encontrados 1,87 dag/Kg; AB 1,41 dag/Kg; BA 1,41 dag/Kg; B1 0,86 dag/Kg e B2,
assim como B3, 0,14 dag/Kg de MO. Seguindo a mesma dinâmica do perfil da área agrícola,
P1, o perfil amostrado na área de floresta, P2, apresentou diminuição gradativa da MO de
acordo com a profundidade. Em todo o perfil, o valor de MO foi maior que na área agrícola.
O horizonte A1.1 a 5 cm de profundidade, apresenta 4,60 dag/Kg de MO e 0,24 dag/Kg de MO
no horizonte mais profundo, a 160 cm de profundidade. No horizonte A1.2 e AB foram
encontrados 2,48 dag/Kg de MO; em BA 0,97 dag/Kg; B1 0,54 dag/Kg e B2 0,24 dag/Kg.
O gráfico 7 representa a relação C/N, e é possível observar as linhas de P1 e P2.

Gráfico 7 – Relação Carbono e Nitrogênio do Solo

Relação Carbono e Nitrogênio (C/N)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
0

20

40

60

80
P1

100 P2

120

140
profundidade cm

160

180

200

Fonte: OLIVEIRA, 2014.

113
As duas linhas mantêm certa proximidade desde os horizontes mais profundos; ao
passo que próximo aos 70 cm chegam a quase sobrepor-se uma à outra, aproximando
novamente aos 35 cm de profundidade. As maiores variações são percebidas entre os 25 cm e
15 cm de profundidade, onde essas se cruzam, sendo que nesse momento P1 passa a ter uma
relação maior que P2, este que têm valores mais elevados durante todo o perfil. Aos 5 cm de
profundidade, as linhas novamente se cruzam, próximas a sobreposição, voltando P2 a ter
maior relação entre o C/N.
A relação entre o Carbono e Nitrogênio (C/N) é maior em áreas florestas pela maior
concentração de carbono orgânico, que nitrogênio no solo. Lepsch (2011) afirma que a
relação entre os elementos, em solos florestados, é da ordem de 15 para 1. Na área de estudos
identificada como P2, os valores chegam a 26,68 de C por 2,3 de N no horizonte superficial
A1.1, nos primeiros 5 cm de profundidade, sendo o valor ponderado da relação C/N de 11,60.
Na área de plantio, P1, os valores também no horizonte superficial Ap1, com mesma
profundidade, apresenta 16,65 de C e 1,5 de N, valor esse esperado para áreas florestadas,
sendo sua relação ponderada (C/N) bem próxima à área de floresta: 11,10. Nos demais
horizontes de P1, foi encontrada uma relação de 13,56 em Ap2 (maior valor registrado tanto no
perfil 1, quanto no perfil 2); em AB 8,18; BA 4,99; B1 3,65; B2 0,90 e B3 1,35. Já em P2, em
A1.2 a relação C/N é de 8,99; em AB 8,46; BA 6,25; B1 3,92 e B2 3,48.

4.2.4 Capacidade de Troca Catiônica (CTC)

A CTC importante fator para a produtividade agrícola é dado em porcentagem para


análise. O gráfico 8 aponta para os valores encontrados em P1, onde, nos horizontes
superficiais há maior CTC, ao passo que, à medida que a profundidade aumenta esse valor
diminui, de forma gradativa. Assim, em Ap1 a CTC é de 8,49 cmol/dm3; 7,21 cmol/dm3 em
Ap2; 5,81 cmol/dm3; em AB esse valor é de 5,80 cmol/dm3 e em BA 3,14 cmol/dm3. Já nos
horizontes B, tem-se B1 com 4,22 cmol/dm3; B2 com 3,29 cmol/dm3 e B3 3,14 cmol/dm3. Em
P2 os horizontes superficiais apresentam maior CTC, porém com diminuição brusca após os
25 cm, ou seja, os horizontes A1.1, A1.2 e AB tem CTC variando pouco, respectivamente,
10,28 cmol/dm3; 8,19 cmol/dm3 e 8,17 cmol/dm3. Já no horizonte BA e demais, os valores da
CTC diminuem, chegando a valores como 4,31% cmol/dm3 em BA, 3,53 cmol/dm3 em B1 e
2,84 cmol/dm3 em B2.
114
Os dois perfis apresentam valores próximos durante o intervalo de 70 cm e 200 cm de
profundidade, estando a linha P1 apontando uma CTC maior em relação a P2 ainda que de
forma suave. Dos 70 cm aos 35 cm de profundidade, há aumento da diferença entre P1, que
passa a ser ainda maior que P2. Porém, dos 35 cm de profundidade aos 5 cm, há uma inversão
dos valores de CTC, passando P2 a ter maior valor que P1, troca essa que acontece nos 35 cm
de profundidade e mantem-se até o topo do perfil.
Assim, é possível verificar que a CTC foi menor em P1 durante os primeiros cm de
profundidade do perfil, aumentando após os 35 cm em diante; ao passo que em P2, a CTC foi
maior apenas dos primeiros 35 cm de profundidade, diminuindo em relação a P1 nos demais
horizontes e profundidades. Essa relação inversa está possivelmente relacionada com a MO
presente nos dois perfis, que é maior em P2 que em P1 principalmente nos horizontes
superficiais; como também com a quantidade de argila presentes nos dois perfis, sendo que
em P1 há maior concentração de argila dos 34 aos 70 cm de profundidade, justamente o
momento de inversão da CTC, registrando a superioridade de P1 em relação a P2 nesse
intervalo.

Gráfico 8 – Capacidade de Troca Catiônica Potencial do Solo

cmol/dm3
CTC Potencial (T)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
0

20

40

60
P1
80
P2
100

120

140
profundidade cm

160

180

200
Fonte: OLIVEIRA, 2014.
115
Contudo, a relação entre a CTC e a MO dos dois perfis, exemplificada no gráfico 9
aponta para P1 como tendo melhor relação que P2, ainda que extremamente próximas. A
relação da capacidade catiônica com o conteúdo de matéria orgânica dos dois perfis está
próxima do coeficiente R2=1, o que significa uma relação muito boa. Porém, a superioridade
de P1, com base dos demais dados já apresentados, aponta que há na área agrícola uma
melhor influência da MO na composição da CTC, possivelmente pela melhor humificação da
MO, muitas vezes mais eficiente do que a argila para melhorar a CTC (GLIESSMAN, 2005),
mas também pelo fato do pH em P1 ser menos ácido que P2, o que influencia diretamente na
capacidade de retenção de íons e na disponibilização desses às plantas.

Gráfico 9 – Relação entre CTC e MO

T% P1, P2

12,0

10,0
y = 1,9262x + 3,2958
R² = 0,948
8,0
y = 1,8078x + 2,8124
R² = 0,9445
6,0

4,0

2,0

0,0
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00

Matéria Orgânica dag/kg

Fonte: OLIVEIRA, 2014.

116
4.2.5 Fertilidade

A tabela 1 traz os valores de todos os nutrientes analisados nos dois perfis do solo.
Todos esses elementos são essenciais para o crescimento satisfatório das plantas, desde que
em concentrações equilibradas, ou seja, sem que haja excesso de um elemento, levando-o a
toxidez para as plantas, e desde que os mesmos encontrem-se de forma solubilizada para
aproveitamento da raiz.
Em P1 a quantidade dos nutrientes: potássio, fósforo, enxofre, cálcio e magnésio é
maior que em P2, que tem concentrações maiores apenas para o elemento manganês. O
fósforo, por exemplo, chega a ser 21 vezes maior em P1 que em P2, assim como o potássio
encontrado em P1 é maior quase três vezes que em P2. O enxofre, também é maior em P1
que P2 cerca de três vezes mais; já o cálcio é 2,5 maior em P1 que P2; e o magnésio quase
três vezes maior em P1 que em P2. Apenas o elemento manganês é maior em P2 que em P1,
cerca de três vezes mais. É possível aferir que no perfil que amostra a área agrícola do
Assentamento Pastorinhas, há uma superioridade considerável de nutrientes no solo ao
compará-lo com a área de floresta.

Tabela 1 – Macronutrientes do Solo

PERFIL 1 - ÁREA AGRÍCOLA


K P Mn S Ca Mg
AMOSTRA PROFUN. (cm)
mg/dm3 cmol/dm3
Ap1 5 300 118,08 35,43 15,56 4,4 1
Ap2 16 184 37,15 23,14 25,85 3 0,5
AB 18 102 2,91 5,42 35,88 1,2 0,3
BA 34 76 1,13 3,55 49,14 0,8 0,3
B1 70 72 0,56 1,2 91,28 0,6 0,2
B2 160 52 0,28 1,79 77,82 1 0,3
B3+ 200 32 0,28 1,13 75,26 1 0,2
PERFIL 2 - ÁREA FLORESTA
K P Mn S Ca Mg
AMOSTRA PROFUN.(cm)
mg/dm3 cmol/dm3
A1.1 5 128 2 89,14 23,77 3,9 1
A1.2 15 46 2 13,14 12,14 0,1 0,1
AB 25 38 1,71 12,22 17,15 0,1 0,1
BA 35 28 0,84 6,53 17,7 0,1 0,1
B1 70 34 0,56 2,43 12,14 0,1 0,1
B2+ 160 20 0,28 0,72 13,08 0,1 0,1
Fonte: OLIVEIRA, 2014.

117
Já a soma de bases trocáveis – SB (gráfico 10) – apontam que P1 tem resultados
maiores que P2 em todo o perfil, sendo os maiores valores encontrados em ambos na parte
mais superficial do solo. Em P1, no horizonte Ap1 o valor da soma de bases é de 6,17
cmol/dm3; em Ap2 3,97 cmol/dm3; AB 1,76 cmol/dm3; BA 1,29 cmol/dm3; B1 0,98 cmol/dm3;
B2 1,43 cmol/dm3 e B3 1,28 cmol/dm3. Os valores da soma de bases em P2 é em A1.1 5,23
cmol/dm3; caindo para 0,32 cmol/dm3 em A1.2; em AB 0,30 cmol/dm3; BA 0,27 cmol/dm3;
B1 0,29 cmol/dm3 e B2 0,25 cmol/dm3.
A saturação por bases – V% (gráfico 11) – apontou o P1 com melhores resultados,
caracterizando-o como eutrófico nos horizontes superficiais, tendo Ap1 o maior valor em
relação aos demais horizontes e a P2, com 72% de saturação. Em Ap2, o valor diminui para
55% variando nos demais horizontes com 30% em AB; 22% BA; em B1 23%; 43% B2 e em
B3 40%. Em P2 o maior valor de saturação por bases encontrado foi no horizonte superficial,
A1.1 50%; em A1.2 o valor cai, drasticamente, para 3% em AB; 6% em BA e 8% nos
horizontes B1 e B2, respectivamente.

Gráfico 10 – Soma de Bases Trocáveis do Solo Gráfico 11 – Saturação por Bases do Solo

Soma de Bases Trocáveis (SB) Saturação por bases (V) %


cmol/dm3 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0 1 2 3 4 5 6 7
0 0

20 20

40 40

60 60

80 80
P1 P1
100 P2 100 P2

120 120

140
profundidade cm

profundidade cm

140

160 160

180 180

200 200

Fonte: OLIVEIRA, 2014.

118
a) Cálcio

Apesar de solos ácidos apresentarem menor adsorção de Ca para as plantas, na área de


estudos, o Ca apresentou boa quantidade principalmente nos horizontes superficiais em P1,
com 4,40 mg/dm3 em Ap1 e 3,00 mg/dm3 em Ap2. Nos horizontes abaixo dos 20 cm, os valores
diminuem chegando ao menor valor: 0,60 mg/dm3 em B1. Nos demais horizontes, o valor
encontrado para Ca em AB foi 1,20 mg/dm3; BA 0,80 mg/dm3; B2 e B3 1,00 mg/dm3. Já em
P2, o horizonte superficial A1.1 apresenta 3,90 mg/ dm3 de Ca, seguido de 0,10 mg/dm3 nos
demais horizontes. Os valores encontrados em P2 apontam para um incremento do nutriente
na porção mais superficial do solo em virtude da mineralização que lá ocorre. Diferentemente
do que acontece em P1, que além de apresentar valores superiores, apresenta concentrações
consideráveis nos demais horizontes do perfil. O gráfico 12 mostra a linha de P1 sempre
maior que P2, sendo essa constante dos 15cm aos 160 cm; e a linha P1 com algumas
variações nas camadas superficiais, mantendo-se valores próximos nos demais horizontes.

Gráfico 12 – Cálcio no Solo

Cálcio (Ca) cmol/dm3


0 1 2 3 4 5
0

20

40

60

80
P1
100
P2
120

140
profundidade cm

160

180

200

Fonte: OLIVEIRA, 2014


.
119
b) Potássio

Os valores de potássio (K) encontrados nos dois perfis, expressos no gráfico 13,
mostram que a linha P1 mantem-se sempre maior que a P2, principalmente nos horizontes
mais superficiais do solo. No perfil 1, o horizonte Ap1 teve quantificados 300 mg/dm3 e 184
mg/dm3 em Ap2 de potássio, respectivamente, 5 cm e 16 cm de profundidade, ao passo que,
nas mesmas profundidades em P2, o horizonte superficial A1.1 apresentou 128 mg/dm3 e o A1.2
46 mg/dm3 do elemento, ou seja, nem metade do valor encontrado em P1. Nos horizontes
subsuperficiais houve decréscimo do valor, como pode ser observado nos valores
quantificados em P1, AB 102 mg/dm3; BA 76 mg/dm3; B1 com 72 mg/dm3; B2 52 mg/dm3 e
B3 32 mg/dm3. Já os demais horizontes de P2 obtiveram em AB 38 mg/dm3; BA 28 mg/dm3;
em B1 34 mg/dm3 e B2 20 mg/dm3 do nutriente potássio.

Gráfico 13 – Potássio no Solo

Potássio (K)
mg/dm3
10 45 80 115 150 185 220 255 290
0

20

40

60

80
P1

100 P2

120

140
profundidade cm

160

180

200

Fonte: OLIVEIRA, 2014.


120
c) Fósforo

O fósforo remanescente (P-rem) somente é absorvido pelas raízes quando em solução,


assim, os valores encontrados em P1 e P2 estão assim representados: mg/L. Em P1, observa-
se valores mais elevados do nutriente nas camadas tanto mais superficiais do perfil, mantendo
valores parecidos até os horizontes mais profundos, com queda brusca apenas após os 200 cm.
Diferentemente de P2 que apresenta valores mais elevados apenas no primeiro horizonte, a 5
cm de profundidade, porém ainda inferior ao valor encontrado em P1 na mesma profundidade
tendo queda brusca nos demais horizontes.

Gráfico 14 – Fósforo Remanescente do Solo

Fósforo (P-rem)
mg/L
0 10 20 30 40
0

20

40

60

80
P1

100 P2

120

140
profundidade cm

160

180

200

Fonte: OLIVEIRA, 2014.

121
Em P1 a concentração do elemento em Ap1 foi de 118,08 mg/dm3; em Ap2 37,15
mg/dm3; 20,91 mg/dm3 em AB; 1,13 mg/dm3 em BA; em B1 0,56 mg/dm3 e B2 e B3 com 0,28
mg/dm3. Em P2 no horizonte A1.1 e A1.2 foram contabilizados 2,00 mg/dm3 de P; em AB 1,71
mg/dm3; 0,84 mg/dm3 em Ba; 0,56 mg/dm3 em B1 e em B2 0,28 mg/dm3. A linha de P1
(gráfico 14) é maior que a linha P2 em todo o perfil, exceto quando as mesmas se cruzam aos
140 cm de profundidade, passando P2 ser maior que P1. Nos primeiros centímetros de
profundidade P1 apresenta maior regularidade dos valores encontrados, diferente de P2 que
sofre aumentos e quedas durante todo o perfil, mostrando descontinuidade. Apenas após os 70
cm é que P2 começa a apresentar declínio constante.

d) Magnésio

O magnésio presente no solo dos dois perfis amostrados pode ser visto no gráfico 15.
Em P1, no horizonte Ap1 foram encontrados 1,00 cmol/dm3 de Mg, assim como em P2,
horizonte A1.1. Nos demais horizontes do P1, tem-se em Ap2 0,50 cmol/dm3; em AB, BA e B2
0,30 cmol/dm3; e em B1 e B3 cmol/dm3. Em P2, com exceção do horizonte A1.1 todos os
demais horizontes apresentam 0,10 cmol/dm3 de magnésio. As linhas de P1 e P2 indicam
esses valores, onde P1 apresenta maior concentração e alternância de valores, diferente de P2
que mantem uma linha continua, exceto nos primeiros 5cm de profundidade. Ainda assim, a
semelhança na concentração do magnésio no solo das duas áreas é próxima, principalmente
nos primeiros centímetros de profundidade, tendo diminuição posterior, mas com valores
sempre mais expressivos em P1 que P2.

122
Gráfico 15 – Magnésio do Solo

Magnésio (Mg)
cmol/dm3
0 1
0

20

40

60

80

P1
100
P2

120

140
profundidade cm

160

180

200

Fonte: OLIVEIRA, 2014.

e) Enxofre

O enxofre (gráfico 16) quantificado nos dois perfis apresentaram concentrações


bastante distintas entre um perfil e outro. Em P1, no horizonte superficial Ap1 e Ap2 os valores
encontrados foram, respectivamente, 15,56 mg/dm3 e 25,85 mg/dm3; em AB 35,88 mg/dm3;
BA 49,14 mg/dm3; nos horizontes B tem-se B1 com 91,28 mg/dm3 (maior valor encontrado
em ambos os perfis), B2 com 77,82 mg/dm3 e B3 75,26 mg/dm3. Em P2, nos horizontes
superficiais os valores encontrados foram 23,77 mg/dm3 em A1.1 e 12,14 em A1.2; em AB
17,15 mg/dm3; em BA 17,10 mg/dm3; B1 12,14 mg/dm3 e B2 13,08 mg/dm3.

123
Na parte mais superficial do solo, P2 apresentou maior valor nos primeiros 5cm, e nas
demais profundidades P1 sempre apresentou valores bastante superiores aos de P2. Assim, as
linhas de P1 e P2 se cruzam próximo aos 15 cm de profundidade, da onde P1 passa a ser
expressivamente maior que P2. A linha da área de floresta mantem-se com valores próximos,
entre cerca de 12 e 17 mg/dm3; já P1 apresenta maior variação, entre aproximadamente 15 e
91 mg/dm3, começando com menor valor, porém crescente até atingir valor máximo
registrado aos 70 cm de profundidade, e diminuir posteriormente tanto quanto mais profundo.
Os resultados encontrados para o nutriente enxofre foram bastante diferentes dos
demais, já que todos os até então analisados, apresentaram dinâmica inversa deste, ou seja,
quanto mais superficial, maior era a concentração, que diminuía gradativamente, ou não, de
acordo com a profundidade. Diferente do elemento em análise que apresentou sua maior
concentração em horizontes mais profundos, principalmente e P1.

Gráfico 16 – Enxofre do Solo


Enxofre (S)
mg/dm3
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
0

20

40

60

80

100

120

140
profundidade cm

160

180 P1

P2
200
Fonte: OLIVEIRA, 2014.
124
f) Manganês

O manganês é um micronutriente naturalmente menos abundante nos solos tropicais.


Sua quantificação é exposta através do gráfico 17 que aponta para uma convergência entre as
linhas de P1 e P2 a partir dos 35 cm, sendo ainda mais próxima aos 70cm de profundidade.
Nos primeiros cm de profundidade, a linha P2 é significativamente maior que P1
principalmente até os 15 cm; onde P1 passa a ser maior que P2 apenas entre 16cm aos 18cm,
respectivamente, Ap1 e AB. No restante, P2 mantem-se com maior concentração que P1.
Em P1 Ap1 apresenta 35,43 mg/dm3; Ap2 tem 23,14 mg/dm3de Mn, seguido de AB
com 5,42 mg/dm3; BA com 3,55 mg/dm3; B1 1,20 mg/dm3; B2 1,79 mg/dm3 e B3 1,13 mg/dm3.
Já P2 concentra em A1.1 o maior valor registrado: 89,14 mg/dm3 de Mn, seguido de brusca
queda na concentração: 13,14 mg/dm3 em A1.2; 12,22 mg/dm3 em AB; 6,53 mg/dm3 em BA;
em B1 2,43 mg/dm3 e 0,72 mg/dm3 em B2.

Gráfico 17 – Manganês do Solo

Manganês (Mn)
mg/dm3
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
0

20

40

60

80
P1

100 P2

120

140
profundidade cm

160

180

200
Fonte: OLIVEIRA, 2014.
125
4.3 Análises Físicas

Dentre as análises físicas foram feitas as de granulometria, densidade e estabilidade de


agregados em laboratório; e estrutura e infiltração em campo. A granulometria implica
diretamente numa melhor ou pior infiltração, retenção ou não de água e diferentes graus de
susceptibilidade à erosão, assim, um solo com boas características físicas é extremamente
importante para qualidade do solo e para a produtividade agrícola. A compactação do solo
pode ser percebida facilmente nos valores da densidade e da infiltração, também relacionados
à textura do solo. Essas análises mostram como a atividade agrícola modifica as
características do solo, quando comparadas ao sistema natural de floresta. A boa qualidade
física do solo é de suma importância, pois reflete diretamente na qualidade química e
biológica do solo. O solo, ao receber os impactos do manejo agrícola, tem na qualidade física
os primeiros sinais de desgaste (ARATANI et al., 2009). Já a estabilidade de agregados
responde a qualidade estrutural do solo em relação aos usos. Como este sofre influência direta
do manejo, que por sua vez tem relações também diretas com a cobertura vegetal, o aporte e a
manutenção da matéria orgânica refletem na qualidade do solo: “A qualidade estrutural do
solo passa a ser ferramenta de avaliação da sustentabilidade dos seus sistemas de uso e
manejo” (DEMARCHI et al., 2011, p. 8). A comparação entre o sistema agroecológico e o
natural de floresta dará bases para a avaliação da qualidade do solo resultante da agroecologia.
Para isso, seguem as análises físicas realizadas nas duas áreas P1 e P2.

4.3.1 Textura

A textura das amostras dos perfis 1 e 2 estão representadas no triângulo textual (figura
22). As amostras de P1 apresentam textura franco-argilo-arenosa nos horizontes Ap1, Ap2, AB
e B2; e textura argilo-arenosa os horizontes BA e B1. Em P2 as amostras de textura franco-
argilo-arenosa foram encontradas nos horizontes A1.1, BA e B2; já nos horizontes A1.2 e AB
foram identificados a textura franco-argilosa, e em B1 textura argilo-arenosa. De forma
sintética, em P1 com exceção dos horizontes BA e B1 que apresentam textura argilosa, os
demais horizontes tem textura média; assim como todos os horizontes de P2 apresentam
textura média. Observa-se, de modo geral, que a textura dos dois perfis é bastante semelhante,
o que é um ponto favorável para o objetivo central desse trabalho: a comparação de dois solos
com características originalmente semelhantes, mas com diferentes tipos de uso.

126
Figura 22 – Triângulo Textural
Fonte: OLIVEIRA, 2014.

4.3.2 Densidade

A densidade de P1 e P2 pode ser observada no gráfico 18. As linhas mostram que, nos
dois perfis analisados, a densidade é sempre maior em P1 que em P2, exceto nos 60 cm de
profundidade, onde P1 apresenta menor densidade que P2, ainda que o maior valor da área
florestada não ultrapasse o da área agrícola. A proximidade das duas linhas, que chegam a se
cruzar próximo aos 45 cm de profundidade, apresentam variações mais perceptíveis apenas
dos horizontes superficiais. A variação da densidade em P1 fica entre 1,61 e 1,56 g/cm3;
enquanto em P2 a variação encontra-se entre 1,0 e 1,60 g/cm3.
A maior diferença entre os dois perfis analisados está nos primeiros 10 cm. Em P1 o
valor da densidade no horizonte mais superficial, o Ap1 (3 cm) é de 1,61 g/cm3, maior valor
127
encontrado em todo o perfil. Na mesma profundidade, o horizonte A1.1 em P2 é de 1,00 g/cm3,
menor valor encontrado em todo perfil. Nos demais horizontes de P1 têm-se: 1,55 g/cm3 em
Ap2; 1,56 g/cm3 em AB e B1, respectivamente, 9cm; 20cm e 60cm. Já em P2 o valor
encontrado em A1.2 foi 1,39 g/cm3; em AB 1,49 g/cm3 e 1,60 em B1, todos nas mesmas
profundidades que os do perfil 1. Ocorre então em P1, uma relação decrescente da densidade,
ao contrário de P2 que tem essa relação crescente. A densidade é significativamente maior em
P1 nos primeiros cm de profundidade que em P2, o que indica que o revolvimento do solo
agrícola pode ser o principal responsável por esses valores.

Gráfico 18– Densidade do Solo

Densidade do Solo g/cm³


0 1 2 3
0

10

20

30
P1

P2
40

50
profundidade cm

60

70

Fonte: OLIVEIRA, 2014.


128
4.3.3 Estabilidade de Agregados

A estabilidade de agregados dos dois perfis apresentou resultados bastante próximos.


Em relação à porcentagem de agregados por classes, foram obtidos resultados bastante
próximos, onde a maioria dos agregados contemplou a classe dos 8.0 aos 2.0 mm, ou seja, o
maior tamanho de agregados. Já os valores de Diâmetro Médio Geométrico (DMG) e o
Diâmetro Médio Ponderado (DMP), nos dois perfis, os maiores valores encontraram-se nos
horizontes superficiais, sendo que, à medida que a profundidade aumentou, os valores de
DMG e DMP diminuíram; apenas no perfil 2, no horizonte A1.2 é que os valores de DMG e
DMP foram maiores que A1.1, ainda que com diferença bastante sutil.

Perfil 1

Analisando o perfil 1 (tabela 2) é possível verificar que, em relação à porcentagem de


agregados por classes, nos horizontes Ap1 e Ap2 a maior porcentagem de agregados encontra-
se na classe 8.0 a 2.0, respectivamente, 92,05% e 76,84%. No horizonte AB a maior
porcentagem de agregados foi registrada na classe 1.0 a 0,5 com 25,42% dos agregados; e no
horizonte B1 na classe de 0,5 a 0,25 com 33,16%. Observa-se que, nos primeiros centímetros
de profundidade, a concentração dos agregados é maior, com percentual difusão nos demais
horizontes após 20 cm de profundidade, ou seja, a concentração de agregados maiores está
restrita ao horizonte superficial A.
Já em relação aos valores obtidos para DMG e DMP, nota-se que os maiores valores
encontram-se nos horizontes superficiais, sendo que, à medida que a profundidade aumenta,
os valores de DMG e DMP diminuem. Assim, em Ap1 o valor de DMG é de 3,9868 mm e de
4,6429 mm de DMP; em Ap2, encontram-se 2,7950 mm de DMG e 3,9844 mm de DMP; em
AB o valor de DMG é de 0,5516 mm e 1,3536 mm de DMP; e no horizonte B1 foram
encontrados 0,3139 mm de DMG e 0,6529 mm de DMP. Os valores acima de 0,05 mm de
DMP são considerados bons, mantendo o solo mais resistente ao esboroamento, sendo assim
mais resistentes à erosão (DEMARCHI et al., 2011).

129
Tabela 2 – Estabilidade de Agregados do Perfil 1
Estabilidade de Agregados

P1 Profundidade Classe Agr % DMG DMP

Ap1 3 cm 8.0 - 2.0 92,05 3,9868 4,6429


2-1 1,06
1 - 0,5 1,87
0,5 - 0,25 1,71
0,25 - 0,105 1,38
< 0,105 1,92
Ap2 9 cm 8.0 - 2.0 76,84 2,7950 3,9844
2-1 4,41
1 - 0,5 6,45
0,5 - 0,25 4,78
0,25 - 0,105 4,94
< 0,105 2,58
AB 20 cm 8.0 - 2.0 17,41 0,5516 1,3536
2-1 11,55
1 - 0,5 25,42
0,5 - 0,25 19,93
0,25 - 0,105 8,50
< 0,105 17,18
B1 60 cm 8.0 - 2.0 3,78 0,3139 0,6529
2-1 6,70
1 - 0,5 22,47
0,5 - 0,25 33,16
0,25 - 0,105 11,66
< 0,105 22,23
Fonte: OLIVEIRA, 2014.

Perfil 2

Já em relação à análise do perfil 2 (tabela 3) observa-se que, em relação à porcentagem


de agregados por classes, nos horizontes A1.1 a maior porcentagem de agregados está na classe
de 8.0 a 2.0 com 98,44%; A1.2 tem 98,94% de agregados também na mesma classe, assim
como o horizonte AB tem 81,32% de agregados na classe de 8.0 a 2.0. Já o horizonte B1
apresenta maior porcentagem de agregados na classe de 1.0 a 0,5 com 30,04%. É possível
perceber que na maior porção do perfil do solo da área de floresta, os agregados estão
superiormente na maior classe, apenas aos 60 cm de profundidade é que os resultados são
diferentes do restante.

130
Os valores encontrados para o DMG e DMP tiveram variações diferentes das
encontradas em P1. O horizonte A1.2 teve o maior valor encontrado: 4,8448 mm para DMG e
4,9513 mm para DMP; seguido do horizonte A1.2 que apresentou 4,7953 mm para DMG e
4,9316 mm para DMP. No horizonte AB 3,2807 mm de DMG e 4,2189 mm de DMP; e no
horizonte B1 0,5297 mm para DMG e 1,0307 mm de DMP. Esses números apontam também
para uma boa estabilidade dos agregados, garantindo menor risco à erosão. As florestas
apresentam maior estabilidade dos agregados em função do maior aporte de matéria orgânica,
mas principalmente, pela menor perturbação do ambiente, diferente de áreas agrícolas,
pecuárias ou mesmo urbanas.

Tabela 3 – Estabilidade de Agregados do Perfil 2


Estabilidade de Agregados

P2 Profundidade Classe Agr % DMG DMP

A 1.1 3 cm 8.0 - 2.0 98,44 4,7953 4,9316


2-1. 0,37
1 - 0,5 0,33
0,5 - 0,25 0,25
0,25 - 0,105 0,25
< 0,105 0,36
A 1.2 9cm 8.0 - 2.0 98,94 4,8448 4,9513
2-1. 0,16
1 - 0,5 0,20
0,5 - 0,25 0,08
0,25 - 0,105 0,37
< 0,105 0,25
AB 20 cm 8.0 - 2.0 81,32 3,2807 4,2189
2-1. 6,5
1 - 0,5 5,59
0,5 - 0,25 2,15
0,25 - 0,105 1,70
< 0,105 2,73
B 60 cm 8.0 - 2.0 9,7 0,5297 1,0307
2-1. 11,16
1 - 0,5 30,04
0,5 - 0,25 26,85
0,25 - 0,105 13,83
< 0,105 8,42
Fonte: OLIVEIRA, 2014.

131
4.3.4 Infiltração

A análise de infiltração foi feita em campo em um período de seca, sendo a última


chuva significativa ocorrida no mês de maio, ou seja, há seis meses, estando o solo
acentuadamente seco. As figuras 23 e 24 mostram os locais onde foram fixados os
instrumentos de medição nas duas áreas: P1 e P2.

Figura 23 – Infiltrômetro na área agrícola do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG


Fonte: OLIVEIRA, 2014.

132
Figura 24 – Infiltrômetro na área de floresta do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG
Fonte: OLIVEIRA, 2014.

O gráfico 19 evidencia, por meio da curva de P2, a superioridade da infiltração em


relação a P1 que tem sua curva mais suave. As duas linhas do gráfico mostram que a
infiltração foi crescente em todo o período do experimento, totalizado em 30 minutos. Apesar
das duas linhas se encontrarem no início, após esse tempo a infiltração é sempre maior em P2
que em P1.

133
Gráfico 19 – Infiltração total

2000 Infiltração Total


ml 1800
1600
P1 P2
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

Fonte: OLIVEIRA, 2014.

Analisando o gráfico 20 que traz a taxa de infiltração é possível perceber que nos
primeiros minutos a infiltração da água foi praticamente a mesma nos dois perfis, ainda que
um pouco maior em P2, 157 ml e 173 ml, respectivamente. No segundo minuto de
experimento, a infiltração foi também próxima nos dois perfis: 78 ml em P1 e 71 ml em P2.
Apenas nesse momento a taxa de infiltração em P1 é maior que em P2. A partir dos 3 minutos
a taxa de infiltração é sempre superior em P2 em relação a P1 até os 30 minutos do
experimento. Com variações, os dois perfis tiveram infiltração crescente.

Gráfico 20 – Taxa de Infiltração

180 Taxa de Infiltração


ml/min
160
140 P1 P2
120
100
80
60
40
20
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

Fonte: OLIVEIRA, 2014.

134
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nesse capítulo serão discutidos e relacionados os resultados das análises químicas e


físicas do solo para avaliação de sua qualidade e posterior comparação das duas áreas: a do
sistema agroecológico e de floresta. Os gráficos, resultado da plotagem dos dados obtidos
nesse trabalho, por meio do sistema ISA, serão aqui apresentados.

5.1 Química do Solo: Fertilidade

Verificou-se que, de modo geral, a qualidade química do solo, tanto em relação à


fertilidade, quantificada pelos nutrientes presentes e pela saturação por bases; como por outros
atributos químicos como pH, acidez, saturação por alumínio, matéria orgânica e outros; a área
agrícola apresentou melhores resultados que a área de floresta, principalmente na
concentração de nutrientes no solo, significativamente superiores nela. Assim, é possível
afirmar que a qualidade química do solo foi bastante superior na área agrícola. Atribui-se esse
resultado ao manejo agroecológico que foi capaz de elevar a qualidade química do solo em
razão da incorporação de nutrientes e matéria orgânica pela compostagem, e pela rotação de
culturas. Além disso, outras técnicas como o consórcio de culturas, associado a espécies
florais utilizadas entre os plantios e colheitas para manutenção da cobertura vegetal, reuniram
condições capazes de favorecer melhores resultados quanto à qualidade química do solo.
Os resultados das análises químicas, os dois perfis P1 e P2, mantinham-se bastante
próximos dos 200-160 cm de profundidade até, aproximadamente, os 40 cm de profundidade,
sendo as principais diferenças observadas nos primeiros centímetros do solo: de zero até os 20
e 30 cm de profundidade, o que evidencia a intervenção do manejo, que acontece,
normalmente, apenas nos primeiros 20 cm de profundidade, área de revolvimento,
incorporação de material proveniente da compostagem e alcance médio das raízes das culturas
produzidas.
O pH, principal característica química do solo, é também responsável pela
mobilização de elementos e sua disponibilidade para as plantas e outros seres vivos. Como
regra geral, sendo o pH em um horizonte do solo baixo, o nível de saturação por base pode ser
demasiadamente baixo (BAIZE, 2000). No caso de P1 e P2, foram classificados como solos
ácidos, de modo geral, porém, foi possível verificar um aumento do pH20 na área agrícola nos

20
Vide p. 108 e 109, gráfico 3.
135
primeiros centímetros do solo, correspondendo ao horizonte Ap1. Diferente do mesmo
horizonte e profundidade na área de floresta, onde o pH encontrado foi mais ácido,
provavelmente em função do maior acúmulo de matéria orgânica em P2 que em P1 na
superfície, que de acordo com Brady e Weil (2013) tende a acidificar o solo, já que a MO
forma complexos solúveis com cátions não ácidos, o que facilita sua perda por lixiviação;
assim como, pelos numerosos grupos funcionais ácidos dos quais os íons de hidrogênio
dissociam-se (BRADY; WEIL, 2013). Esse resultado indica que o manejo agroecológico
reuniu condições para que houvesse aumento no pH do solo. Esse aumento pode, assim, ter
sido provocado pela incorporação de cátions principalmente, o cálcio comumente utilizado
para tal neutralização da acidez do solo em diversos tipos de intervenção de manejo. A
calagem é bastante difundida, porém seu uso indiscriminado pode provocar alterações
danosas ao solo e ao meio ambiente. O ideal é balancear de maneira adequada a concentração
dos nutrientes no solo.
A forma como a reposição dos cátions é feita no Assentamento Pastorinhas difere de
outras propriedades agrícolas que utilizam a calagem sintética, comercializada amplamente no
mercado destinado a atividades agropecuárias. No caso agroecológico, a incorporação dos
principais nutrientes para neutralização do pH é feita por meio do material residual da
compostagem, que age de forma a fornecer ao solo um número maior de nutrientes, porém, a
simples presença dos elementos não é determinante para elevar ou diminuir o pH do solo; esse
depende mais diretamente do complexo de troca em solução e da absorção destes pela planta.
Além disso, a bioestrutura é de fundamental importância para tal determinação,
principalmente a textura do solo e também o teor de matéria orgânica, que podem modificar
os valores do pH do solo, assim, a adição de matéria orgânica seca modifica o pH do solo
(PRIMAVESI, 2002).
O pH torna a solução mais ácida quanto maior forem os íons de hidrogênio livres.
Assim, solos ácidos são aqueles que possuem maior quantidade de íons H+ e menor
quantidade de íons de Ca, Mg, K e Na adsorvidos em seu complexo coloidal (PRIMAVESI,
2002). O pH influência diretamente a CTC do solo (BRADY; WEIL, 2013) e a saturação por
bases (PRIMAVESI, 2002). Segundo Meurer (2007) o pH tem efeitos diretos e indiretos
também sob as plantas, destacando-se a disponibilidade dos nutrientes; solubilidade de
elementos que podem ser tóxicos para as plantas; a atividade dos microrganismos; doenças,
favorecendo ou não seu surgimento; habilidades de competição entre as plantas e as condições
físicas do solo. Todas essas influenciam na qualidade do solo e na produtividade agrícola.

136
Já em relação à acidez potencial21, os resultados podem ser atribuídos à ação da
decomposição da matéria orgânica em P2 maior que P1, elevando tais valores, assim como, a
lixiviação de cátions como cálcio, magnésio e também o potássio, que podem elevar a acidez
potencial, o que é um fator de degradação do solo, principalmente em regiões tropicais. A
CTC e a saturação por bases também condicionam a acidez do solo (MOLINE et al., 2011).
No caso de P1 tanto a CTC, quanto as bases, seja soma ou saturação, são maiores que em P2,
o que explica os resultados encontrados para maior acidez na área florestada. A acidificação,
apesar de um processo natural do solo, pode ser acelerada pelo uso de fertilizantes químicos
de reação ácida, como os fosfatados; nitrificados e nitrogenados; amoniacais ou amídicos, que
dissolvidos podem contribuir para a acidificação da camada superficial do solo,
principalmente quando considerados longos períodos sem correção com calcário, ou mesmo
quando há utilização de doses altas dos produtos. O revolvimento do solo é também capaz de
diluir a acidez gerada pelo uso desses produtos, porém solos com menor revolvimento, como
no plantio direto, acumulam mais matéria orgânica, capaz de neutralizar parte da acidificação
do solo em função da complexação do alumínio (CIOTTA et al., 2002).
A saturação por alumínio22 foi maior em P2 que em P1, e essa significativa diferença
entre os dois perfis está relacionada, principalmente, em razão dos valores do pH do solo. Este
é o principal controlador da concentração de Al na solução do solo. Solos com pH acima de
5,5 apresentam capacidade baixa ou nula de solubilização do elemento, e até mesmo severa
toxidez do Al em solos com pH abaixo de 5,0 (MEURER, 2007). Para Souza et al. (2007) e
Primavesi (2002), a acidez do solo e o Al3+ são responsáveis pelo engrossamento das raízes,
diminuindo sua ramificação, prejudicando a absorção de água e nutrientes, refletindo no
comprometimento do desenvolvimento radicular das plantas e assim em seu desenvolvimento
satisfatório. Pequenas quantidades de Al trocável podem ser absorvidas pela raiz,
beneficiando o crescimento, uma vez que, aumentam a absorção de fósforo (PRIMAVESI,
2002).
Dessa forma, o ambiente de P1, manejado de forma a fornecer maior concentração de
nutrientes, em especial o Ca, associado a uma CTC e uma saturação por bases melhores no
ambiente agrícola, foram capazes de aumentar o pH na camada superficial, o que neutralizou
o alumínio. Isso é evidenciado pelo valor do pH ser menos ácido em P1 (Ap1 de 6,4 e o valor
da saturação por Al nesse mesmo horizonte ser igual a zero). A toxidez por Al está
relacionada com a toxidez por Mn, e com a deficiência de Ca, Mg e P (SILVA et al., 2007).
21
Vide p. 110, gráfico 4.
22
Vide p. 111, gráfico 5.
137
Assim, um manejo que proporcione incorporação e solubilização constante desses nutrientes,
apresenta um melhor desenvolvimento que outros que apenas retiram esses nutrientes do solo.
Além disso, o equilíbrio entre os nutrientes é essencial para a qualidade do solo, sendo tão
importante quanto sua correção por meio da calagem. Para tanto, o consórcio de culturas é
essencial para manutenção do equilíbrio dos nutrientes no solo, uma vez que, com o consórcio
e rotação de culturas, a exaustão química do solo é significativamente diminuída.
No trabalho de Corrêa et al. (2007) o incremento de calcário no solo destinado ao
plantio de café Arábica diminuiu o valor de Al trocável e da saturação pelo elemento, além de
elevar a saturação por bases. Apesar do cálcio atuar como importante neutralizador do Al, o
excesso de calagem gera um empobrecimento químico do solo em relação aos demais cátions
presentes já que, em solos tropicais, as taxas de CTC até 7,5% têm menos retenção do
elemento. Assim, a calagem deve ser feita de maneira cautelosa, observando-se as
necessidades e conveniências do solo e das plantas, bem como o equilíbrio entre os minerais
(PRIMAVESI, 2002).
Um dos principais indicadores da qualidade do solo é o conteúdo de carbono, já que
esse promove inúmeras funções químicas, físicas e biológicas, atuando nos sistemas agrícolas
e ambientais (STÜRMER et al., 2011). A matéria orgânica23 presente no solo dos dois perfis
foi maior em P2 que em P1, porém com diferença muito pequena, principalmente nos
horizontes abaixo de 40 cm do solo, onde a quantificação nos dois perfis foi bastante próxima,
diferenciando-se apenas acima dos 40 cm. Isso evidencia que o manejo pode ser o principal
responsável pelas variações da quantidade de MO nesses horizontes. Práticas agrícolas
alteram os teores de C e também de N, além da qualidade da matéria orgânica e a agregação
dos solos (PASSOS et al., 2007). Assim, além do aporte natural maior na área de floresta, a
MO do perfil 1 sofre influência direta do manejo que tem no material da compostagem e no
pousio com plantio de espécies florais e camadas de restos de cultura seca, o aporte necessário
para se obter tais níveis de material orgânica, mesmo após a colheita.
As alterações sofridas pelo uso do solo têm estreita relação com a dinâmica da MO e
com o ciclo biogeoquímicos dos elementos. Cultivos em áreas desflorestadas, como no caso
do ambiente P1, tendem a diminuir rapidamente a qualidade do solo, em razão das alterações
em componentes sensíveis à desestabilização do sistema provocado por mudanças, em
especial, as relacionadas ao revolvimento do solo e à redução das taxas de entrada de resíduos
pela retirada da mata. O desflorestamento, afeta diretamente o conteúdo de C orgânico,

23
Vide p. 112, gráfico 6.
138
exercendo influência sobre a quantidade e a qualidade da biomassa vegetal produzida e
incorporada ao solo. Apesar disso, um período de seis anos, com reflorestamento, é suficiente
para elevar novamente os teores de carbono orgânico total a níveis bastante próximos ao da
mata nativa (STÜRMER et al., 2011). Por isso, há ainda a possibilidade de que o manejo
agroecológico minimize as perdas de C orgânico nos horizontes superficiais mesmo no
período de cultivo, em virtude das técnicas conservacionistas adotadas no assentamento, que
garantem menores perdas de solo por processos erosivos, sendo a agregação e estabilidade
dos agregados elementos que mantenham a MO no solo. Outra ação que garante os aportes
naturais de MO é a técnica de irrigação, sem excessos, e assim com menor perda por
lixiviação, além da manutenção da biota local que pode agir, interruptamente na
mineralização do solo.
No sistema convencional de agricultura, o intervalo de pousio das culturas é menor
que 15 dias, na maioria das vezes, o que eleva o desgaste nutricional do solo, aumentando os
riscos de erosão já que sem MO suficiente para boa agregação, a estabilidade desses
agregados fica comprometida. Além disso, o uso de pesticidas interrompe parte do processo
de mineralização, já que extermina do solo grande parte da microvida responsável pela
decomposição dos materiais. Outro agravante é o sistema de irrigação que no excesso peculiar
deste sistema, lixivia intensamente o solo. Assim, um solo em descanso e com cobertura
vegetal adicionada, gera melhores resultados de MO que solos sem pousio e expostos à
erosão.
Os valores de nitrogênio disponibilizados para a planta estão condicionados à sua
fixação pela matéria orgânica, assim como os elementos cálcio e fósforo. A lixiviação é a
principal responsável pela perda do elemento do solo, assim como sua perda por escapamento
no ar, compactação, seca, falta de fósforo e excesso de alumínio (PRIMAVESI, 2002). Corrêa
et al. (2007) afirmam que a assimilação de nutrientes pelas plantas é condicionada pelo pH.
No caso do N, solos com pH próximo a 5,0 aproveitam apenas 50% do nutriente, enquanto
solos com pH 5,5 aproveitam cerca de 75% e em solos com pH maior que 6,0 há
aproveitamento de 100% de N. Novamente, os manejos utilizados, principalmente no que se
refere ao aporte de nutrientes com a compostagem e o consórcio de culturas, interagindo
leguminosas com outras espécies, é importante mantedor de melhores aspectos da qualidade
do solo em relação ao aporte de N. É importante lembrar que valores altos da relação C/N no
solo, de acordo com Lepsch (2011), indicam menores valores de N disponível para
alimentação de microrganismos, que terão que competir com outros vegetais superiores, o que

139
não ocorreu nas amostras dos dois perfis em análise. Nos perfis em discussão a relação C/N24
foi maior na área de floresta que chegou a apresentar no horizonte mais superficial relação de
26/2. Comparando ao perfil da área agrícola, na mesma profundidade a relação foi de 16/1,
aumentando até os 20 cm de profundidade, momento em que P1 é maior que P2, voltando a
ser menor até a maior profundidade amostrada. Tal relação dos elementos condiciona o teor
de MO encontrado em P1 dado, possivelmente, ao maior revolvimento do solo na área
agrícola. A relação C/N quando baixa pode elevar o grau de degradação e reduzir a matéria
orgânica presente no solo. A manutenção de N no solo é então importante para tal equilíbrio
junto ao Carbono.
Responsável pelos processos de CTC do solo, e também pela formação e estabilidade
de agregados, o que resulta na qualidade física do solo, a matéria orgânica fornece energia
para o crescimento microbiano, refletindo na maior ciclagem de nutrientes e aumento da CTC,
o que confere ao solo mecanismos fundamentais de avaliação de qualidade do solo (XAVIER
et al., 2006). A capacidade de adsorção de íons pelos coloides é uma maneira eficiente de
reter nutrientes para as plantas, melhorando assim a fertilidade natural do solo. Os manejos
relacionados às práticas conservacionistas, principalmente aqueles que oferecem melhor
aporte de matéria orgânica e irrigação planejada, são essenciais para que a CTC seja
garantida, uma vez que a lixiviação é a principal fonte de perda de nutrientes. Com uma CTC
eficiente, há menor perda dos nutrientes, pois esses são mais rapidamente absorvidos pelas
plantas.
A CTC25 das duas áreas analisadas demonstrou que algumas variações foram
encontradas em virtude da quantidade de MO no solo. Apesar do perfil 2 apresentar maior
teor de MO que o perfil 1, este conseguiu apresentar melhores resultados quando comparados
conjuntamente, ou seja, na relação entre a CTC e a MO, P1 foi superior, ainda que bastante
próximo da área de floresta. Assim, é possível aferir que, apesar da MO presente no solo ser
maior em P2, outros fatores contribuíram para que P1 conseguisse ter melhor aproveitamento
da CTC, ainda que com menor quantidade de MO quando comparado à área de floresta.
A capacidade que a MO do solo tem em gerar cargas negativas, eleva a CTC do solo,
principalmente em solos com presença da argila caulinita (MEURER, 2007); além disso, a
textura do solo nos horizontes superficiais, assim como o pH podem produzir maior CTC. A
capacidade de troca de cátions varia de um solo para outro, de acordo com a estrutura do
complexo argila/húmus, do tipo de micela presente e também da quantidade de matéria
24
Vide p. 113 e114, gráfico 7.
25
Vide p. 114, 115 e 116, gráficos 8 e 9.
140
orgânica, que quando em forma de húmus torna-se mais eficaz para a CTC que a argila, já que
apresenta maior superfície de área e volume em razão de sua natureza coloidal. Em condições
ácidas, as pontes de íons formadas pelas argilas, constituem-se através de associações de íons
de hidrogênio e grupos de hidroxilas (OH). A acidez do solo, pode também influenciar nas
cargas elétricas superficiais das partículas e controlar se demais íons são desalojados, o que
afeta enormemente a retenção desses íons e sua disponibilização em curto prazo de nutrientes,
essas que são componentes chave para a fertilidade do solo (GLIESSMAN, 2005). Assim,
pode-se aferir que, apesar da concentração de MO ser maior em P2 que P1, mas este propiciar
maior CTC, esta ligado, sobretudo, ao pH menos ácido em P1 que em P2; e à textura do solo
que é, sutilmente, mais argilosa em P1 que em P2; além da maior disponibilidade de
nutrientes em P1. O solo torna-se capaz de manter maior quantidade de MO quando existe
uma CTC satisfatória (PRIMAVESI, 2002).
A maior produtividade de um agroecossistema está intimamente relacionada aos
nutrientes fornecidos para as plantas. Contudo, a simples presença do nutriente, ou vários, não
significa necessariamente que estes estejam de fato disponíveis para a planta. Fatores como
pH, CTC e a textura do solo são determinantes para a real disponibilidade de nutrientes
(GLIESSMAN, 2005). Para completa absorção das raízes das plantas, é necessário que tais
elementos estejam em solução no solo. Além dos nutrientes, classificados em macro ou micro,
em função da sua quantidade nos solos tropicais, e não pela importância, está o pH como
importante indutor na nutrição das plantas. Solos muito ou extremamente ácidos têm na
toxidez dos Al e Mn elementos potencialmente tóxicos, que comprometem o desenvolvimento
das plantas (MEURER, 2007).
O preparo do solo influi diretamente na distribuição dos nutrientes no perfil do solo.
Assim, solos sob preparo convencional apresentam uma distribuição mais uniforme de todos
os nutrientes disponíveis, ao passo que, no plantio direto, há maior acumulo nos primeiros
centímetros do solo (CIOTTA et al., 2002). No Assentamento Pastorinhas, acontece o
revolvimento superficial do solo, para abertura das linhas de plantio, porém o processo de
transplante das mudas ocorre por plantio direto. Entre essas duas ações são incorporadas ao
solo o material da compostagem.
A área agrícola apresentou, superiormente, maior fertilidade26 dada a maior quantidade
de nutrientes que a área de floresta, com alguns elementos chegando a ser 21 vezes maior em
P1 que em P2, com exceção apenas do manganês que foi maior em P2 que em P1. Dessa

26
Vide p. 117, tabela 1.
141
forma, a saturação por bases27 levou parte de P1 a ser classificado como eutrófico nos
primeiros centímetros do solo. Já em P2, a saturação por bases foi baixa em quase todo o
perfil, exceto nos primeiros 5 cm amostrados, que chegaram a 50% de saturação. Além da
soma de bases, os valores de pH, a acidez potencial e saturação por alumínio, podem ser
responsáveis por valores baixos da saturação por bases (CORRÊA, et al., 2007) o que justifica
os valores encontrados em P2.
Os trabalhos de Corrêa et al. (2007) e Lima et al. (2003), a calagem foi responsável
por bons resultados tanto para melhor saturação por bases, como também para menores
valores de saturação por alumínio. Corrêa et a. (2007) afirmam que o pH do solo também
aumentou em decorrência da elevação da saturação por bases, consequência da calagem,
porém houve aumento excessivo na concentração de Mn, muito acima dos valores
considerados adequados, e diminuição do nitrogênio. Os demais macronutrientes,
principalmente a relação Ca:Mg foi positiva.
Dos nutrientes analisados, o cálcio, potássio, fósforo e magnésio apresentaram
comportamento similar, ambos com maior concentração na parte superior do solo,
diminuindo, na maioria das vezes, gradativamente, sempre com maior concentração na área
agrícola que na área de floresta. Ainda assim, a absorção dos nutrientes pela planta é
essencial. O cálcio quando apresenta um alto nível no solo, causa efeito positivo de potássio,
porém se houver deficiência de cálcio, pode ocorrer desassimilação de potássio pela raiz
vegetal, levando ao enfraquecimento da planta (PRIMAVESI, 2002).
A influência do Ca modifica o pH que quando aumenta, os H+ e os íons oxi-hidróxidos
de Al que estão associados às superfícies dos coloides são então removidos ou neutralizados,
facilitando a aproximação dos íons de K das superfícies dos coloides. Já altos níveis de Ca e
Mg na solução dos solo podem reduzir a absorção do nutriente K pelas raízes, já que cátions
competem entre si para serem rapidamente absorvidos pelas plantas (BRADY; WEIL, 2013).
Segundo Primavesi (2002) o Ca apresenta difícil fornecimento. Sua absorção depende da
temperatura, sendo as elevadas, ideais para melhor absorção. Para a autora, o efeito do
nutriente depende, intimamente, do equilíbrio com demais cátions, como o K, Mg, Zn, Mn, B,
Cu e Fe. Dentre eles, a relação Ca/K ideal varia entre 6/10 ou até maior. No caso das áreas
amostradas, P1 e P2, os valores de cálcio28 são menores, máximo encontrado 4 cmol/dm3 e K
o maior valor registrado é de 300 mg/dm3, ambos maiores valores registrados em P1, sendo os
de P2 todos inferiores aos valores expostos. As sementes são prejudicadas quando há falta de
27
Vide p. 118, gráficos 10 e 11.
28
Vide p. 119, gráfico 12.
142
Ca. Seu efeito depende diretamente da presença e equilíbrio de outros cátions, principalmente
Mg, K e B. O Ca, quando em equilíbrio, aumenta a absorção de nitrogênio nítrico, potássio,
além de beneficiar a absorção do magnésio, sódio e manganês (PRIMAVESI, 2002).
Encontra-se potássio em diferentes formas no solo, tem-se o K trocável, K não-
trocável, K fixado, K precipitado, K presente na MOS e K na solução do solo. Para fins de
avaliação da fertilidade, Ernani et al. (2007) apontam que o K resultado das analises é
chamado de extraível, disponível ou trocável. Dos macronutrientes, o potássio29 foi o de
maior teor dentre os demais analisados em P1 e P2, como Brady e Weil (2013, p. 479) já
sinalizam ao afirmar que “o potássio é encontrado em níveis relativamente superiores na
maioria dos solos minerais”. Nos resultados foi possível observar que a quantidade de K em
P1 foi mais que o dobro que em P2, principalmente nos primeiros centímetros do solo. As
fontes originais de K são os minerais primários, como as micas e feldspato, que com a
intemperização tem suas redes estruturais flexíveis. Apesar de ser abundante no solo, a
disponibilização do nutriente para as plantas é bastante restrita, sendo necessário um
complemento por adubação para não comprometer a fertilidade e produtividade agrícola.
Além disso, o potássio é facilmente lixiviado do solo, o que pode comprometer ainda mais
sua absorção pelas plantas (BRADY; WEIL, 2013).
A absorção de potássio em solo seco é baixa, ao passo que, a quantidade do elemento
disponível em solo arável aumenta com a estação seca que, apesar de menor absorção, sua
ascensão à superfície é mais intensa. A quantidade de K encontrada nos dois perfis em
discussão evidencia o que Primavesi (2002) expõe. As coletas forma feitas no período seco no
município de Brumadinho, MG (junho/2014) e os valores encontrados do elemento foram os
maiores tanto na relação de P1 e P2, como na dos outros elementos. Já no período de chuvas,
o comportamento do potássio é inverso: sua quantidade em superfície diminui, porém, a
absorção pelas raízes é melhor, ainda que a lixiviação seja mais intensa. A temperatura
também exerce influencia na absorção do elemento, que em baixas temperaturas tem redução
da absorção, ao ponto de ocorrer sua deficiência aguda. Porém, solos com pH na faixa entre
6,0 e 6,5, ainda que na estação fria, tem maior capacidade de absorção (PRIMAVESI, 2002).
Assim, temperatura e umidade, fatores esses condicionados ao clima, influenciam a
disponibilidade de K para as plantas (ERNANI, et al., 2007).

29
Vide p. 120, gráfico 13.
143
O fósforo apresenta como maior impedimento para absorção das plantas sua fixação.
Este nutriente é essencial para as plantas, pois é responsável pela transferência de energia na
síntese de substâncias orgânicas. Latossolos com grande quantidade de óxidos amorfos tem
maior capacidade de fixar fósforo. A mobilização do P é feita por bactérias capazes de
mobilizar o P das ligações com Al e Fe. Assim, solos como boa bioestrutura, MO e Ca
suficientes, são capazes de garantir fornecimento de P para as plantas. Muitas plantas também
mobilizam o nutriente através de aminoácidos excretados pelas raízes, e também por
micorrizas ou bactérias da rizosfera. Observa-se, assim, o papel da rotação de culturas no
fornecimento de nutrientes, já que outras plantas irão aproveitar o fósforo produzido por
outras culturas (PRIMAVESI, 2002). A rotação com leguminosas como feijão miúdo
(Vignasinensis), guandu (cajanus indicus) e outras são essenciais para boa qualidade química
do solo e melhor desenvolvimento das plantas, resultando em melhores índices de
produtividade ao agricultor.
A capacidade de um solo fixar o fósforo é medida pelos sítios da superfície das
partículas do solo, capazes de reagir com os íons de fosfato. A reação com compostos solúveis
de ferro, alumínio ou manganês fixa o fósforo no solo. Ao se comparar a fixação do fósforo
em solos com valores de pH e mineralogia semelhantes, é possível observar que os solos com
maiores teres de argila tem maior tendência a apresentar maior fixação e menor capacidade de
liberação do P (BRADY; WEIL, 2013). Ademais, o processo de plantio direto concentra
melhor o fósforo, assim como toda a saturação por bases, em razão da maior concentração dos
nutrientes Ca, Mg e K trocáveis na camada superficial do solo, além da complexação de Al
pela MO, que minimiza os efeitos negativos da acidificação (CIOTTA et al., 2002).
Dessa forma, nota-se que, o fósforo30 no ambiente de P2, o P total é de 7,39 mg/dm3 ao
passo que, no ambiente de P1, esse valor é de 160 mg/dm3, grande diferença, devido ao aporte
de nutrientes pela compostagem e pela rotação de culturas, mas também em razão da textura
do solo, como afere Brady e Weil (2013). Os autores apontam ainda que a acidez do solo,
reduzida pela oxidação de amônio, e pela absorção em excesso de cátions de amônia, mantem
o P em forma de compostos solúveis, aumentando a absorção de P pelas plantas. O pH
mantido entre 6 e 7 garante melhor disponibilidade do elemento.
O magnésio depende diretamente da quantidade de potássio, apesar de sua abundância
natural. Sua propriedade mais importante consiste em solubilizar seus compostos e ativar
reações enzimáticas, além de agir na transferência de fosfato ou nucleotídeos de grupos

30
Vide p. 121 e 122, gráfico 14.
144
carboxílios, e ativação de desidrogenase, mutase e liase. Além disso, o Mg tem papel
estruturador sendo componente da molécula de clorofila, requerido para manter a integridade
dos ribossomos e manutenção da estabilidade estrutural dos ácidos nucléicos e membranas.
Sua influência no movimento dos carboidratos das folhas para outras partes da planta
estimulam a capacidade de transporte do fósforo na planta (DECHEN; NACHTIGALL,
2007). A principal fonte de Mg, na maioria dos solos é o Mg trocável no complexo argila-
húmus. Na decomposição de resíduos vegetais e na matéria orgânica, também são encontradas
fontes do elemento. Áreas de floresta, segundo Brady e Weil (2013), desde que não poluídas,
têm na deposição atmosférica, em vez do intemperismo das rochas, fonte de grande parte no
Mg utilizados pelas árvores.
Os resultados do elemento magnésio31 das duas áreas em análise mostraram
comportamento idêntico nos primeiros 5 centímetros do solo, ou seja, na camada mais
superficial. Contudo, nas demais profundidades, não houve em P2 mudança nos valores da
concentração do Mg, que manteve-se nos 10 cmol/dm3 até os 160 cm de profundidade, ao
passo que, em P1 esse valor variou entre 20 e 50 cmol/dm3.
Já o enxofre32, apresentou comportamento inverso a todos os demais elementos
avaliados. Enquanto as maiores concentrações estavam na porção superficial do solo, o
enxofre teve sua maior concentração na parte mais inferior, no ambiente de P1 onde o valor
no horizonte superficial Ap1 foi de 15,56 mg/dm3 e no horizonte B1 o valor máximo
encontrado de 91,28 mg/dm3. No ambiente P2, a concentração do elemento variou tendo
comportamento irregular durante todo o perfil, ou seja, as variações não seguiram linhas
crescentes ou decrescentes. O maior valor encontrado de S em P2 foi ao horizonte superficial
A1.1 com 23,77 mg/dm3, e o menor valor foi registrado em A1.2 e em B1 ambos com 12,14
mg/dm3 de S.
Brady e Weil (2013), explicam que em regiões secas o gesso na forma Ca SO4 2H2O
fornece enxofre inorgânico, estando este, muitas vezes, presente nos horizontes
subsuperficiais. Dessa forma, a proporção entre o S orgânico e inorgânico esta relacionada ao
clima, sendo o árido ou semiárido comum o S inorgânico, e os climas úmidos apresentam
maior concentração de S orgânico. Os compostos inorgânicos de S mais comuns são os
sulfetos e sulfatos. Os minerais de sulfato são facilmente solubilizados e assimilados pela
planta. Esses minerais são comuns em regiões com índice pluviométrico baixo, acumulando-
se nos horizontes subsuperficiais. Há, contudo, a concentração superficial em solos salinos de
31
Vide p. 122 e 123, gráfico 15.
32
Vide p. 123 e 124, gráfico 16.
145
regiões secas na forma de sais neutros. Já os sulfetos são encontrados em regiões úmidas, que
em áreas com drenagem restrita, oxidam formando sulfatos, ficando então disponível para as
plantas. Já em área com drenagem livre, a formação de sulfatos é maior, dada maior oxidação
do enxofre, disponibilizando para as plantas quantidades do elemento em altas quantidades,
chegando à toxidez. A argila é fonte de enxofre, principalmente solos ricos e caulinitas e
óxidos de Fe e Al. Essas argilas adsorvem o sulfato da solução do solo, para posteriormente,
liberá-los, em troca aniônica, especialmente em condições de baixo pH. Em Latossolos,
altamente intemperizados, de trópicos úmidos, podem conter grande quantidade de sulfato,
especialmente em seus horizontes subsuperficiais (BRADY; WEIL, 2013). .
Assim, é possível aferir algumas das principais razões que levaram ao acumulo de S
na parte subsuperficial do solo em P1. Inicialmente, esse é um processo relacionado aos
Latossolos, portanto, comum aos dois perfis. Os Latossolos encontrados nos trópicos úmidos
tem a maior parte do enxofre dos perfis presente como sulfato adsorvido às superfícies
coloidais nos horizontes subsuperficiais (BRADY; WEIL, 2013). Porém, outras
circunstâncias levaram P1 a apresentar maior acumulo de S nos horizontes subsuperficiais que
P2. A primeira delas, diz respeito à quantidade de argilas caulinitas presentes no solo e óxidos
de Fe e Al, comuns em solos já bastante alterados, como os Latossolos, como exposto por
Brady e Weil (2013). A quantidade de Ca presente no solo em P1 (12 cmol/dm 3; 4,4
cmol/dm3), inclusive com maior quantidade nos horizontes subsuperficiais de P1 em relação à
P2 é também outra fonte de enxofre que pode ter elevado seu teor subsuperficial na área
agrícola. O enxofre inorgânico está atrelado à calagem que eleva as concentrações do
elemento (PRIMAVESI, 2002). Um último fator, mas não menos importante, é a matéria
orgânica presente nos dois ambientes em análise que se difere em concentração. No ambiente
de P2, há maior quantidade de MO que no ambiente de P1, o que é esperado, haja vista o
aporte natural de materiais para mineralização. Em P2 o horizonte com maior concentração de
MO apresenta também a maior concentração de S, a saber: A1.1 aos 5cm de profundidade. A
matéria orgânica é também fonte de S (PRIMAVESI, 2002). Dessa forma, todos esses fatores
interagindo de maneira integrada, resultam em um ambiente favorável a acumulação do S o
que explica seu comportamento nos dois ambientes. Portanto, é bastante pertinente a hipótese
que em P1 encontre-se maior concentração de S inorgânico, e em P2 o S orgânico.

146
O manganês33, em ambos os perfis, teve sua maior concentração na parte superior do
solo, como também ocorreu com os nutrientes já apresentados acima, porém foi o único
nutriente com valores maiores na área de floresta que na área agrícola. A principal diferença
nas concentrações de P1 e P2 encontra-se na porção superior do perfil, ou seja, nos primeiros
centímetros do solo. Isso pode ser explicado, como apresentam Dechen e Nachtigall (2007),
pela disponibilidade do elemento em função do pH do solo. Solos com pH superior a 5,5
apresentam oxidação por ação biológica mais favorecida, principalmente quando há boa
estrutura, o que diminui os valores do micronutriente; ao passo que, solos quanto mais ácidos,
reduzem as formas oxidadas favorecendo a disponibilidade do elemento. Os valores baixos de
pH favorecem a redução, e valores altos de pH favorecem a oxidação. Substâncias húmicas
reduzem o Mn e este se oxida com dificuldades em meio ácido, tendo assim uma maior
migração do elemento pelo perfil do solo. Os teores de matéria orgânica e o equilíbrio com os
demais cátions, além do pH e condições de óxidorredução, são os principais fatores que
determinam a disponibilidade do manganês. Assim, os dois perfis analisados apresentam
diferenças no pH que foram determinantes para a concentração do Mn. Solos com pH entre
6,0 e 6,5 tem situação crítica quanto a disponibilidade do nutriente, como é o caso de P1 que
nos primeiros centímetros do solo apresenta pH nessa faixa (Ap1 6,4). Considera-se que o Mn
tem maior facilidade em ser absorvido pelas plantas, quando solúvel no solo, sendo direta a
relação entre o teor solúvel do elemento no solo e na planta. Por outro lado, há também uma
relação negativa entre o teor de Mn nas plantas com o aumento do pH, bem como, relação
positiva quanto ao teor de matéria orgânica presente. Outra evidência que atesta maior
concentração do Mn em P2: a quantidade de matéria orgânica disponível nesse ambiente.

5.2 Física do Solo

O Assentamento Pastorinhas utiliza práticas conservacionistas, principalmente no que


se refere às interferências químicas sintéticas, ou seja, nenhum tipo de agroquímico é utilizado
nas lavouras, apenas produtos resultados de processos orgânicos, como a compostagem. Isso
auxilia na maior manutenção da microvida do solo, responsável, em parte, por sua qualidade.
Por outro lado, o uso de maquinário agrícola, apesar de utilizado apenas para abertura de
linhas de plantio, causa alterações na estrutura do solo, podendo elevar os impactos negativos,

33
Vide p. 125, gráfico 17.
147
como acelerar a erosão. O revolvimento acelera a decomposição da MO; e a compactação
superficial dificulta o crescimento radicular e a infiltração de água, processos que refletem
diretamente na estabilidade de agregados e capacidade de infiltração.
A textura é um dos mais importantes fatores de na determinação do uso do solo, já que
as culturas têm características e necessidades diferentes para seu crescimento. Assim, as
práticas de cultivo devem estar sempre associadas à textura. Culturas plantadas em solos
arenosos, por exemplo, respondem de maneira diferente aos fertilizantes aplicados, que solos
argilosos ainda que, analises química demonstrem similaridade na quantificação de nutrientes,
o melhor aproveitamento destes pelas plantas está relacionado à textura do solo (BERTONI;
NETO, 2012). Algumas propriedades e comportamentos da dinâmica do solo são diretamente
influenciados pelas frações encontradas. A susceptibilidade à erosão, por exemplo, tanto
eólica, quanto hídrica, apresentam melhores resultados quando associadas às frações de argila,
sendo alta quando associada à fração silte, e moderada na fração areia (BRADY; WEIL,
2013).
A susceptibilidade à compactação normalmente é baixa em frações de areia, média na
fração silte e alta na fração argila. Já a capacidade de aeração tem melhores possibilidades na
fração areia que nas outras; assim como as taxas de drenagem chegam a ser mais altas nessa
fração, e lenta e muito lenta as frações silte e argila, respectivamente. A capacidade de
retenção de água é melhor na fração argila que nas demais frações. Outros importantes
comportamentos, essenciais para a prática da atividade agrícola, estão relacionados com a
capacidade de armazenamento de nutriente pelas partículas de solo e teor de matéria orgânica
presente. Em ambas, a argila apresenta melhor capacidade, assim como na resistência à
mudança de pH. Assim, é possível observar que muitas das influências das frações do solo
sobre seu comportamento estão relacionadas às frações de argila e silte, principalmente nos
quesitos ligados à química do solo e também relacionados aos processos erosivos (BRADY;
WEIL, 2013). Solos intemperizados, como os Latossolos, apresentam boa proporção de
argilas em sua composição, o que para Fontes (2012) é também um processo que controla
parcialmente a fertilidade natural do solo, uma vez que, o intemperismo relaciona-se
diretamente com as características do saprolito e dos solos em formação na superfície da
crosta, de acordo com a intensidade em que ocorre.
A densidade do solo é afetada diretamente por qualquer fator que influencie o espaço
poroso existente entre as partículas. Tratando-se primeiramente de fatores naturais, à medida
que a profundidade do solo aumenta, a densidade aumenta consequentemente, uma vez que,

148
nas porções mais inferiores, há menos matéria orgânica, essencial para a agregação, além de
menor quantidade de raízes e uma compactação causada pela massa das camadas superiores.
Há ainda a interferência da textura na densidade do solo, onde solos argilosos franco-argilosos
e os franco-siltosos, geralmente possuem maior densidade em comparação com aos solos
arenosos (BRADY; WEIL, 2013). A atividade biológica apresenta importante relação com a
porosidade, já que altos teores de óxido de ferro e alumínio promovem alta porosidade
(CURI; KÄMPF, 2012).
Com base nisso, considerando a textura34 dos dois perfis e os ambientes e que se
encontram, afere-se que a densidade35 do solo em P1 está relacionada com a compactação
maior dos horizontes superficiais, onde há maior pisoteio do solo e tráfego de maquinário. Na
parte mais superficial do solo houve a maior diferença entre os dois perfis, evidenciando o
impacto causado pelo revolvimento do solo agrícola, continuando nas demais profundidades,
porém com valores menos discrepantes entre os dois perfis, ainda que sempre com maior
densidade em P1. No ambiente de floresta, é comum, segundo Brady e Weil (2013) encontrar-
se valores de densidade muito baixos, da mesma forma como no trabalho de Viana et al.
(2011). Assim, os valores encontrados na área de floresta condizem com o esperado para
aquele meio.
Os impactos que geram aumento da densidade do solo estão intimamente ligados às
atividades agrícolas. O aumento da densidade provocado pela agricultura, indica um ambiente
que compromete o crescimento radicular, já que a redução da aeração irá prejudicar o
comportamento da água no solo, pois reduz a capacidade de infiltração do mesmo, além de
restringir a quantidade de oxigênio no solo e a adsorção dos nutrientes e posterior absorção
pela raiz da planta (PRIMAVESI, 2002). Um solo compactado fica ainda mais susceptível à
erosão, já que há maior escoamento superficial do que infiltração. Um solo compactado, de
acordo com Primavesi (2002), permite apenas que ocorra a proliferação de um grande número
de insetos, de poucas espécies.
A estrutura do solo quando afetada modifica o comportamento hídrico, alterando as
taxas de infiltração de água e o escoamento superficial, o que pode potencializar processos
erosivos. A diminuição da cobertura vegetal pode levar ao aumento da compactação do solo, e
consequentemente diminuir a infiltração. Solos com textura franco argilo arenosa, apresentam
os menores valores de resistência à penetração. A maior quantidade de argila diminui a
velocidade de infiltração de água, o que mantem o solo mais úmido e menos compacto; ao
34
Vide p. 126 e 127, figura 22.
35
Vide p. 127 e 128, gráfico 18.
149
passo que, a textura franco arenosa, por possuir maior quantidade de macroporos e baixa
porosidade total, apresenta maior permeabilidade e baixa capacidade de retenção de água
(HUBER; SOUZA, 2013). As áreas amostradas, P1 e P2, apresentam maioria dos horizontes
com textura franco argilo arenoso, o que pode contribuir para melhores condições físicas.
Os usos agrícolas e urbanos alteram a agregação e assim a estabilidade dos agregados
do solo. Essa propriedade é um importante indicador de qualidade do solo, tendo em vista que
quanto maior a agregação e estabilidade desses, maior é a resistência à erosão hídrica. Solos
de baixa estabilidade apresentam índices de agregação ou de Diâmetro Médio Ponderado
(DMP) abaixo de 0,5mm. Tais solos tornam-se impermeáveis quando irrigados, formando
crostas à superfície. Já solos com DMP maior que 0,5mm são considerados relativamente
resistentes ao esboroamento e à dispersão, ou seja, quanto maior for à porcentagem de
agregados retido nas peneiras, melhor a agregação. Assim, agregados maiores são mais
estáveis, sendo que o fracionamento dos agregados provocado por pisoteio de animais,
movimentação de implementos agrícolas, intenso revolvimento das camadas superficiais do
solo e a constante incorporação de matéria orgânica, provocam alterações em outras
propriedades físicas do solo como porosidade e densidade, que comprometem a qualidade e
capacidade produtiva do recurso natural (DEMARCHI et al., 2011).
Nas duas áreas amostradas, os resultados da estabilidade de agregados36 foram
próximos apenas nos primeiros cm de profundidade, a saber 3 cm, indicando boa agregação
na área agrícola, que obteve agregação de 92%, sendo 98% na área de floresta. Os valores de
agregação, DMG e DMP são sempre bastante superiores na área de floresta. Aos 9 cm de
profundidade os valores de agregação em P1são ainda medianos, ao passo que dos 20 aos 60
cm os valores encontrados são bastante baixos, diferentemente da área de floresta que mantêm
excelentes de agregação (sempre próximos à 100) em todo perfil, com exceção da última
profundidade amostrada (60 cm) onde seu valor é drasticamente reduzido para menos de 10¢
de agregação.
Os macroagregados concentraram-se na parte mais superficial do solo, assim como os
maiores valores de DMG e DMP. No trabalho de Schossler et al. (2012) houve também maior
percentual de agregados estáveis nos primeiros 10 cm do solo, porém em área sob pastagem.
Para Santos et al. (2012), a agregação varia deferentemente de acordo com as culturas de
cobertura e com as camadas do solo.

36
Vide p. 129, 130 e 131, tabelas 2 e 3.
150
Muitas das mudanças na estabilidade de agregados e de outros atributos físicos do solo
são decorrentes da calagem e adubação, podendo estar ligadas a estes dois mecanismos que
modificam a composição química da solução do solo, alterando, assim, o pH, a força iônica da
solução e os tipos de íons, que influenciam significativamente a dispersão e floculação dos
coloides, interferindo na agregação. Outro mecanismo diz respeito ao efeito indireto da adição
de calcário e outros adubos ao solo, favorecendo a maior produção de fitomassa das culturas,
o que leva a um maior aporte de matéria orgânica, incrementando a atividade microbiana, e
consequentemente a estabilidade dos agregados (ALBUQUERQUE et al., 2003).
A estabilidade dos macroagregados está relacionada ao teor de C orgânico no solo
(SALTON et al., 2008). Primavesi (2002) afirma que quanto mais MO adicionada ao solo,
maior será a estabilidade dos agregados, sendo isso de importância máxima para a produção
agrícola, já que o desenvolvimento da raiz está também atrelado a esse processo. A atividade
agrícola, no preparo do solo em sua movimentação para plantio, pode tanto promover a
agregação, como destruí-la (BRADY; WEIL, 2013). Com os resultados das duas áreas é
possível aferir, que houve através das práticas de manejos agroecológicas uma melhor
agregação nos primeiros cm de profundidade, comparado com o restante do perfil; porém, a
comparação entre os dois perfis aponta para uma qualidade superior da área de floresta.
Os organismos removem, alteram e até adicionam substâncias às áreas que ocupam.
Existem diversos efeitos dos organismos sobre o meio e sobre outros organismos. Ao enfocar
como o ambiente estabelece uma medida dos efeitos que os organismos têm um sobre os
outros, é possível compreender os mecanismos através dos quais ocorrem diferentes efeitos.
Gliessman (2005) atenta que o conhecimento de tais mecanismos pelo agricultor é importante
para manejo dos produtores que poderão tirar maior vantagem das interações entre eles. A
modificação que um organismo causa no meio, cria impacto sobre outro, gerando uma
interferência que pode ser de remoção, quando um organismo remove algo de ambiente,
reduzindo a disponibilidade de determinado recurso para outros organismos; como uma
interferência de adição, quando um organismo adiciona algo ao meio ambiente podendo ter
impacto positivo, negativo ou mesmo neutro sobre outros organismos. Essas interações de
interferência passam pela competição, parasitismo, mutualismo, alelopatia e outros. Esses
sendo manejados podem potencializar ações importantes para a produtividade agrícola, e
também para o controle eficaz e orgânico de espécies.
A erosão está também atrelada à estabilidade de agregados, podendo deixar o solo
mais ou menos susceptível à ação de fatores que atuam nos processos erosivos. No trabalho

151
de Barthès e Roose (2002), a susceptibilidade do solo à erosão e ao escoamento foi
correlacionada a estabilidade de agregados superficiais (0 a 10 cm), avaliada através da
comparação de amostras peneiradas em 2 mm, secas ao ar (método que checa a resistência
dos agregados à hidratação). Essa relação foi melhorada quando variáveis tais como
agressividade climática, inclinação do terreno e existência de práticas de conservação foram
consideradas em adição à estabilidade agregada. Embora diversos mecanismos possam
contribuir para a desintegração de agregados, o encharcamento (hidratação) pode ser
considerado particularmente importante, especificamente (i) em áreas tropicais e
mediterrâneas, onde chuvas fortes são mais frequentes (Roose, 1996), e (ii) em solos com
baixa ESP (proporção intercambiável/permutável/trocável de sódio) e elevado teor de argila,
como no caso em estudo. Entretanto, desintegração de agregados não é o único mecanismo
envolvido na erosão: separação de partículas através do cisalhamento por pingos de chuva e
escoamento superficial, assim como o transporte por respingos e escoamento, podem também
contribuir para a erosão do solo pela água.
Nas análises de infiltração37 feitas nos dois ambientes, P1 e P2, os resultados
mostraram uma grande diferença entre os dois perfis, chegando a 48% a mais de infiltração
total na área de floresta em comparação com a área agrícola. A taxa de infiltração foi também
maior em P2 que P1. A taxa de infiltração não é algo constante, mas geralmente diminui em
condições de chuvas ou irrigação constante. Solos completamente secos terão os macroporos
abertos disponíveis para conduzir água com maior velocidade e capacidade de absorção
(BRADY; WEIL, 2013). Semelhante a isso, o ambiente P1 teve nos primeiros minutos de
experimentos maior taxa de infiltração em menor tempo, comparado ao ambiente P2, que nos
primeiros minutos de experimento obteve valores menores aos da área agrícola, aproximando-
se no intervalo de 2 a 4 minutos, e elevando a superioridade conforme o tempo de
experimentação. A área de floresta possui umidade natural maior que a área agrícola,
principalmente ao considerar que a área estava em pousio há alguns meses sem receber
irrigação, nem mesmo chuva, estando assim mais seca que a área de floresta.
Diversas razões influenciaram para o resultado dessa análise. Considerando-se que os
dois perfis têm basicamente a mesma textura, o ambiente de floresta de P2, tem no aporte de
matéria orgânica uma das principais razões para melhor estrutura do solo, e assim melhor
infiltração. Os poros deixados pela maior agregação são fundamentais para bons resultados,
principalmente quando associados a uma boa estrutura. Ademais, a interferência no sistema

37
Vide p. 132, 133 e 134, gráficos 19 e 20.
152
de floresta recebe perturbação extremamente menor que a área agrícola, que tem não apenas
no tráfego de maquinário, mas também na própria atividade agrícola maior perturbação do
meio, o que inclui o processo de plantio, colheita, manutenção da cobertura do solo entre
safras e na forma de irrigação, as principais causas e efeitos na qualidade física do solo.
Outros fatores afetam a infiltração, como o tempo de ocorrência da precipitação, o tipo
de vegetação e o manejo do solo. O tipo de vegetação é também fundamental para tal
avaliação. Áreas com vegetação densa protegem melhor os agregados do solo contra a ação
do splash o que favorece a infiltração. Já a forma como é feito o manejo do solo é importante
para a conservação dos mesmos. Aumentar a infiltração e reduzir o escoamento superficial,
elevando o tempo que a água tem para infiltrar no solo, é a primeira maneira de se alcançar o
objetivo de melhor qualidade. Além disso, o cuidado com o solo exposto entre safras é
também fundamental. O plantio de culturas de coberturas protege o solo de processos erosivos
mais danosos, principalmente se em época de maior volume de chuvas. Outra ação positiva é
manter a boa estrutura do solo, minimizando a compactação ocasionada pelo tráfego de
maquinários da lavoura ou mesmo o pisoteio do gado (BRADY; WEIL, 2013). Todas essas
ações garantem maior proteção ao solo que terá o aporte de MO mantendo uma melhor
estabilidade de agregados, reduzindo ação dos possíveis processos erosivos e perdas de solo
comprometedoras à sua qualidade. Quanto mais bem protegido o solo fica, melhor será sua
infiltração.
A água disponível no solo está diretamente associada às restrições do crescimento
vegetal quando há compactação. Para Primavesi (2002), em um solo agrícola adensado, a
crosta superficial pode ser criada pela pressão de maquinário agrícola, mas geralmente ocorre
pela destruição dos grumos do solo, resultado de um manejo inadequado, impedindo, assim, a
infiltração da água pluvial, levando ao escorrimento e erosão. A baixa capacidade do solo
agrícola, em comparação ao solo da área de floresta, de infiltrar água, deixa claro que, a
qualidade física do solo precisa ser mais bem trabalhada para que haja resultados mais
satisfatórios. O manejo dos aspectos químicos, ligados, sobretudo, à fertilidade do solo, é
também corresponsável pela qualidade física, uma vez que, muitos dos nutrientes
desempenham ou são necessários para processos que alteram a estrutura do solo.

153
5.3 Sistema ISA

O Sistema ISA permite uma série de aferições com uso de seus 21 indicadores em
diferentes áreas relacionadas à sustentabilidade de agroecossistemas. O índice de
sustentabilidade de uma propriedade agrícola pode ser avaliado utilizando-se tais indicadores.
Como o objeto dessa pesquisa é a comparação de um sistema agrícola com um sistema natural
de floresta, sendo o segundo apenas um parâmetro para tais comparações, optou-se por avaliar
apenas alguns indicadores relacionados à fertilidade em ambas as áreas de amostragem, e
outros complementares para a área agrícola, sobre temas intrínsecos à agricultura.
Para tanto, uma série de experimentações foram feitas e culminaram em diferentes
perceptivas a respeito da capacidade produtiva do solo. Num primeiro ensaio, foram plotados
apenas os dados dos primeiros centímetros de profundidade em ambos os perfis, de modo a
comparar como se dá a interferência do manejo agrícola no solo. Assim, foram utilizados os
dados dos horizontes mais superficiais do solo, a saber, Ap1, Ap2 e AB em P1 e A 1.1 e A 1.2 em
P2, totalizando 23 cm de profundidade nos dois perfis. A metodologia ISA sugere a análise
dos primeiros 20 cm de profundidade, área onde as raízes das plantas alcançam e onde está a
maior parte dos nutrientes necessários para seu desenvolvimento. Após os 20 cm há pouca
diferença para a agricultura, que trabalha apenas com porções superficiais. Assim, para
aplicação do índice de sustentabilidade, foram seguidos esses parâmetros, fazendo uma média
ponderada de acordo com a espessura dos horizontes até 23 cm em P1 e P2.
Os itens avaliados no conjunto de indicadores de qualidade do solo são: matéria
orgânica, saturação por bases, CTC efetiva, Al trocável, acidez ativa (pH), fósforo, cálcio,
magnésio e potássio. Em relação à matéria orgânica, P1 obteve como resultado parcial a
pontuação 0,70 pontos e P2 obteve 0,99 pontos. O fósforo em P1 obteve 0,97 pontos e P2 0,9
pontos. Já o cálcio, magnésio, potássio e alumínio trocáveis foram, respectivamente, 0,77;
0,57; 0,95 e 0,56 pontos em P1; e 0,53; 0,46; 0,72 e 0,24 pontos em P2. A saturação por bases
em P1 foi de 0,65 pontos e 0,32 pontos em P2. Já a acidez ativa em P1 recebeu 0,79, e em P2
0,23 pontos. Já a CTC em P1 obteve 0,67 pontos, e em P2, 0,57. Observa-se que P2 foi
superior a P1 apenas na pontuação relacionada à matéria orgânica, sendo os demais resultados
favoráveis à área agrícola. O resultado final pontuou P1 com 0,77 pontos, enquanto P2 obteve
0,47 pontos, apontando maior fertilidade na área agrícola.
O relatório final, com os gráficos resultantes da plotagem dos dados sobre a
capacidade produtiva do solo, ou seja, à fertilidade, apresenta o raio de referência da

154
sustentabilidade sendo o limiar 0,70. As figuras abaixo (Figura 25 e Figura 26) demonstram
como se deu tal resultado em P1 e P2. Em P1, dos macronutrientes, o Ca, P e K estenderam-se
além da linha limite, demonstrando resultados superiores ao limiar estabelecido pelo
programa. Matéria orgânica, CTC e pH ficaram bastante próximas à linha que limita o índice
de sustentabilidade do sistema; abaixo dessa linha, apenas Mg e Al. No balanço geral, a
capacidade produtiva da área agrícola alcançou os 0,77 pontos. Ainda que bastante próximo
do limiar, a área agrícola, comparada à área de floresta, teve resultado bastante satisfatório. O
perfil 2 apresentou resultados além da linha apenas para matéria orgânica, e sobre a mesma
linha com o potássio. As demais análises ficaram bem abaixo do limiar proposto pelo sistema.
Os valores indicam que o ambiente agrícola obteve melhor resultado comparando-o
com os valores da floresta. Assim, é possível afirmar que a área agrícola, manejada de acordo
com os princípios e técnicas da agroecologia tem maior capacidade produtiva, já que seu
índice de fertilidade foi superior ao mínimo esperado pelo sistema, ao passo que a área de
floresta obteve um índice abaixo do limiar para capacidade produtiva do solo. O plantio
direto, prática do assentamento, é um dos manejos mais apropriados, pois causa menores
danos ao solo. Em diversos trabalhos, como os de CARNEIRO et al. (2009); MENDONÇA et al.
(2012); GILLES et al. (2009) e PANCHUKI et al (2011), ao se comparar diferentes formas de
plantio, o direto preponderou positivamente sobre os demais. Assim, o potencial agrícola do
perfil 1 pode ser considerado satisfatório, e possivelmente, crescente.

155
Figura 25 – Indicadores de Qualidade do Solo em P1 nos primeiros 23 cm
FONTE: ISA, 2014.

Figura 26 – Indicadores de Qualidade do Solo em P2 nos primeiros 23 cm


FONTE: ISA, 2014.
156
Outro experimento feito no ISA foi a comparação das duas áreas, ainda avaliando sua
fertilidade e assim a capacidade produtiva do solo, porém considerando todo o perfil. Tal
análise visa demonstrar como o perfil se comporta, e sua diferença em relação aos primeiros
centímetros de profundidade, área de influência direta da agricultura.
O mesmo conjunto de indicadores de qualidade do solo foi analisado, e os resultados
são apresentados a seguir. Em P1, a matéria orgânica, obteve como resultado parcial a
pontuação 0,31 pontos e P2 obteve 0,62 pontos; valores menores que os anteriores,
principalmente a diferença maior encontrada em P1. O fósforo em P1 obteve 0,80 pontos e P2
0,9 pontos; ambos resultados parecidos com os anteriores. Já o cálcio, magnésio, potássio e
alumínio trocáveis foram, respectivamente, 0,58; 0,45; 0,98 e 0,53 pontos em P1 e 0,36; 0,33;
0,55 e 0,25 pontos em P2. Em P1, apenas o elemento potássio teve pontuação maior na
avaliação de todo o perfil, que nos primeiros 23 cm de profundidade; ainda assim, os demais
elementos ficaram com valores próximos aos anteriores. Já em P2 todos os resultados
referentes a todo o perfil foram menores que o resultado dos primeiros 23 cm de
profundidade, e sutilmente maior apenas em relação ao alumínio. A saturação por bases em
P1 foi de 0,58 pontos e em P2 0,23 pontos, ambos menores que os resultados para os 23 cm.
Já a acidez ativa em P1 recebeu 0,39 e em P2 0,30 pontos; o que indica que em P1 o valor de
todo perfil reduziu praticamente pela metade; enquanto em P2 aumentou levemente esse
valor. A CTC em P1 obteve 0,54 pontos e em P2 0,47; ambos com redução sutil. No resultado
final P1 recebeu 0,56 pontos, e em P2 obteve 0,31 pontos.
Os gráficos 27 e 28 mostram os resultados finais para os dois perfis. Nota-se que
houve redução em praticamente todos os indicadores, assim como no resultado final, abaixo
do limiar nos dois ambientes, porém maior na área agrícola que na área de floresta. As
principais diferenças couberam ao potássio, que foi maior em todo o perfil agrícola,
comparado com os primeiros 23 cm de profundidade; ao aumento do alumínio na área de
floresta e à diminuição do pH do solo em P1. Foi então possível aferir que a área agrícola tem
melhores valores quando analisados apenas os primeiros centímetros de profundidade, o que
se respalda no manejo agroecológico que melhora as condições do solo agrícola. A área de
floresta obtém melhores resultados a respeito da fertilidade de seu solo também nos primeiros
centímetros de profundidade em razão da maior quantidade de matéria orgânica e nutrientes
disponíveis superficialmente.

157
Figura 27 – Indicadores de Qualidade do Solo em P1
FONTE: ISA, 2015.

Figura 28 – Indicadores de Qualidade do Solo em P2


FONTE: ISA, 2015.
158
Em suma, tendo em vista a análise nas duas perceptivas é possível aferir que o manejo
agroecológico modifica o solo elevando sua fertilidade e assim sua capacidade produtiva.
Contudo, ao considerar as demais análises feitas nesse trabalho, tanto dos aspectos químicos,
como dos aspectos físicos, é possível verificar que há superioridade na qualidade química do
ambiente agrícola, o que não ocorre na comparação da qualidade física do mesmo. A
fragilidade exposta em P1, principalmente na densidade e capacidade de infiltração, elucida
que algumas mudanças na forma de manejo podem ser consideradas para que ocorram
melhorias na qualidade física do solo. O ambiente de floresta, que preserva as mesmas
condições ambientais, principalmente, a mesma textura do ambiente agrícola, parametriza as
duas áreas, sendo possível assim, avaliar o grau de perturbação da atividade agrícola no solo.
Demais avaliações no sistema ISA foram feitas, a fim de demonstrar como a área
agroecológica se comporta frente à análise de outros índices de sustentabilidade. Em relação à
segurança alimentar (Figura 29), o resultado obtido foi de 0,83 pontos, maior que o limiar.
Considerou-se para tal avaliação as produções de hortaliças e tubérculos, frutas, e criação de
animas como satisfatória, parcial ou ineficiente para o atendimento das famílias da residência
local, no caso do Assentamento Pastorinhas. Apenas o pomar foi considerado como
atendimento parcial, já que não há no assentamento quantidade recomendada pela Emater
como satisfatória; as demais cumpriram o estabelecido para recebimento da função
“satisfatória”.
Outro índice avaliado foi o de gerenciamento de resíduos e efluentes gerados pelo
imóvel rural (Figura 30). No Assentamento Pastorinhas, das vinte famílias que vivem e
trabalham no local, todas possuem destinação adequada do esgoto doméstico, variando entre
diferentes tipos de fossas desenvolvidas pela permacultura. A destinação de todo lixo
orgânico é a compostagem e demais resíduos são destinados corretamente e coletados pelo
serviço do município. Não é prática no assentamento a queima de lixo. Não há também
geração de efluentes gasosos. Com isso, o índice do gerenciamento recebeu pontuação
máxima.

159
Figura 29 – Indicadores de Segurança Alimentar em P1
FONTE: ISA, 2015.

Figura 30 – Indicadores de Gerenciamento de Resíduos em P1


FONTE: ISA, 2015.

160
Em relação à gestão do uso de agrotóxicos (Figura 31), no Assentamento não é prática
o uso de nenhum produto sintético na lavoura, apenas produtos naturais, como caldas, para
repelir espécies invasoras. A utilização dessas caldas naturais e também de plantas quebra
vento são os únicos manejos utilizados pelos agricultores para gerenciamento de ataques,
quando ocorrem. Sendo assim, a pontuação do índice foi de 0,70 pontos. Portanto, o risco de
contaminação da água por agrotóxico advindo do Assentamento Pastorinhas não existe.
O último índice avaliado nessa pesquisa traz o grau de adoção de práticas
conservacionistas e analisam os aspetos relativos ao solo e à água. Ele sintetiza os dois usos
mais comuns e que necessitam de maior cuidado. A figura 32 mostra os resultados que
consideraram os 14 hactares que são destinados à lavoura no Assentamento Pastorinhas.
Desses, aproximadamente 13 ha são utilizados para plantio da lavoura temporária, ou seja, as
hortaliças, tubérculos e grãos; o outro 1 ha é destinado ao plantio da lavoura permanente que
consiste em pomares. Para preenchimento, a área foi considerada suficiente já que atende às
práticas tidas pelo sistema como conservacionistas. Em relação à conservação das águas, são
adotadas práticas que garantem o fornecimento e abastecimento para a atividade agrícola,
animais e consumo humano, sendo então classificada como suficiente. Ao final, a pontuação
obtida foi de 0,93, valor bastante próximo do total adotado pelo ISA que é igual a 1.
Observados os demais índices aplicados e seus resultados, reforçam-se os benefícios
da agroecologia como forma de agricultura que busca a preservação do meio ambiente, tanto
como o conjunto de manejos aplicados à agricultura, mas também devido a sua forma de gerir
resíduos, efluentes e demais situações cotidianas. A escolha por opções menos agressivas em
prol da conservação da natureza são também relações que os agricultores fazem com a
agroecologia. Assim, não apenas as técnicas agroecológicas, mas também princípios e estilo
de vida são condizentes com a essência da agroecologia: a busca pela sustentabilidade.

161
Figura 31 – Indicadores de Gestão do Uso de Agrotóxicos em P1
FONTE: ISA, 2015.

Figura 32 – Indicadores de Práticas de Conservação do Solo e Água


FONTE: ISA, 2015.

162
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar em estratégias de desenvolvimento para a agricultura brasileira de forma


sustentável implica, imprescindivelmente, em se basear em uma reforma agrária consistente,
que atinja ao máximo as famílias hoje sem-terra. Somente com a desconcentração fundiária e
organização territorial justa e equilibrada será possível modificar os padrões agrícolas
ambientalmente e socialmente comprometidos, ligados sobretudo às tecnologias, quase
exclusivas, dos grandes proprietários, dado o valor agregados aos produtos. Muito já foi dito e
exemplificado a respeito das consequências do processo agrícola brasileiro, que tem na
apropriação capitalista do campo, na geração de conflitos, e má qualidade de vida nas áreas
rurais as causas diretas e indiretas desse processo.
Os dois principais tipos de agricultura a moderna, com o agronegócio; e a familiar, de
bases ecológicas como a agroecologia, representam duas formas extremamente distintas não
apenas na maneira de se cultivar, mas em seus objetivos e meios para se alcançá-los. A crítica
feita ao agronegócio brasileiro é, sobretudo, em razão da apropriação do espaço, de
exploração ambiental intensiva e de seu destino final, tanto produtivo como econômico. A
apropriação do espaço agrícola para fins não alimentares é um risco à soberania alimentar no
país. A exportação é também importante para outras pastas da economia e tem seu papel na
sociedade capitalista, podendo levar o país a crescer e se desenvolver. Porém, esse
crescimento e desenvolvimento devem estar atrelados às necessidades da sociedade de modo
que todos os brasileiros tenham acesso aos frutos desse desenvolvimento, o que não vem
acontecendo. Além disso, as questões relativas ao desgaste ambiental são de extrema
relevância, apesar do “afrouxamento” da legislação ambiental e da aceitação de inúmeros
tipos de agrotóxicos proibidos em diversos países, mas comercializados no Brasil, que
atualmente possui o triste titulo de maior consumidor mundial de pesticidas para lavoura.
Minas Gerais, por sua vez, é um dos maiores estados consumidor desses produtos no país.
É importante que haja ações mais efetivas do Governo Federal no âmbito da
agricultura familiar de base sustentável. Um grandioso passo foi a Política Nacional de
Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), primeira a tratar de maneira institucional da
questão agroecológica no mundo. Ações e programas governamentais de estímulo e apoio
concreto às iniciativas agroecológicas, como o acompanhamento técnico constante, pesquisas
agrícolas de fomento à prática, e outras ações, são essenciais para aprimorar, valorizar e
integrar o agricultor por meio de práticas agrícolas sustentáveis viáveis e vantajosas, tanto

163
economicamente, quanto ambientalmente, que em curto prazo apresentem bons resultados na
produtividade e qualidade da produção. Associações de produtores rurais, sociedade civil e
academia deram mais força à luta da agricultura sustentável. Cursos de graduação e pós-
graduação em agroecologia estão sendo reconhecidos pela qualidade, levando a agroecologia
a elevados patamares tecnológicos e educacionais, já que hoje se tem graduações,
especializações, mestrados e doutorados na área, expandindo a linha de conhecimento com
pesquisas e inovações.
Foi possível, com essa pesquisa, verificar que as práticas agroecológicas são capazes
de manter a qualidade do solo, principalmente no que diz respeito à qualidade química, ou
seja, à fertilidade do solo; ao aporte de matéria orgânica; à regulação do pH e saturação por
alumínio; CTC e outros. Na área agrícola investigada, a principal contribuição para a
melhoria da qualidade do solo pelo manejo agroecológico foi em relação à quantidade de
nutrientes disponíveis no solo, elevando-o à classificação, nos primeiros centímetros de
profundidade, como eutrófico. Outro importante resultado foi o relacionado à matéria
orgânica, que ainda que com menor quantidade no solo, estabeleceu CTC mais satisfatória
que a área de floresta, resultado esse que se deve, possivelmente, a uma diferença na
qualidade da matéria orgânica, já que seu teor na área agrícola é menor.
O grau ou nível de perturbação causado pela agroecologia em relação ao meio natural
foi mais evidente nos resultados da qualidade física do solo, onde a área de floresta foi sempre
superior à área agrícola, principalmente na capacidade de infiltração do solo que chegou a
praticamente o dobro de capacidade na floresta comparada à área agrícola. Tal ação é
decorrente de uma maior compactação do ambiente agrícola, evidenciada pelos valores da
densidade do solo, em comparação ao ambiente de floresta. Isso se explica, possivelmente,
pelas perturbações sofridas em decorrência do pisoteio e trafego de maquinário, e também
pela menor quantidade de matéria orgânica no solo agrícola comparado ao de floresta. Há de
se investigar, ainda, demais causas que alterem a qualidade física do solo, podendo assim,
corrigi-las. Essa maior fragilidade na qualidade física do solo na área agroecológica é então
ponto importante para aprofundamentos futuros, para que se busquem práticas que
minimizem tais impactos.
Por estarem em maior consonância com a natureza, as práticas agroecológicas agridem
menos o meio ambiente, o que é fundamental para perpetuação da atividade agrícola. Por isso,
tendo em vista a adesão da agroecologia em assentamentos de reforma agrária, novos
assentamentos poderão, ao adotar o manejo, elevar a quantidade de alimentos produzido,

164
garantindo segurança alimentar e nutricional, além do abastecimento regional. Outro ponto é a
garantia, em curto e médio prazos, de contribuir para minimizar os conflitos fundiários de
acesso à terra.
Essa adesão, transcrita na expressão “transição agroecológica”, vem sendo incentivada
à medida que ganha espaço em discussões relativas, tanto ao meio ambiente, quanto a uma
busca por melhor qualidade de vida, tanto para o produtor, como para o consumidor final dos
alimentos advindos da produção agroecológica. As práticas da agroecologia mostram-se
capazes de suprir, ainda que em menor escala, o mercado consumidor interno, já que ao
manter em bons níveis a qualidade do solo, e com uso racional e dinâmico dos recursos
naturais, está propensa a reproduzir-se por mais tempo com boa qualidade. Isso difere
profundamente do que acontece no sistema moderno de produção, que deteriora as condições
ambientais que tornam a agricultura possível.
Os desafios para as próximas décadas são vários e, além do mais eminente, que é a
alimentação da crescente população, não apenas brasileira, mas também mundial, estão as
mudanças climáticas. A agricultura apresenta grande fragilidade a alterações do clima,
refletindo muitas vezes em perdas de anos de trabalho por secas ou chuvas excessivas. Não
estamos preparados para as mudanças mais abruptas que estão por vir com as variações
climáticas e é preciso atentar-se. Pesquisas já vêm sendo realizadas nesse sentido e podem ser
ainda mais exploradas para que a agricultura mantenha-se produtiva frente às mudanças. A
agroecologia, em especial, fornece elementos para tal controle pois tem, nas práticas agrícolas
utilizadas, maneiras de auxiliar no fortalecimento de espécies, principalmente em função do
consórcio de culturas. Um solo com boa qualidade pode também auxiliar na adaptação de
plantas, com sementes já mais resistentes que as tratadas isoladas (monocultura) e as
transgênicas.
Combater a fome e a miséria é uma antiga inquietação. Pela primeira vez, o Brasil saiu
do mapa da fome elaborado periodicamente pela ONU. Há ainda muito que fazer,
principalmente na distribuição de riquezas. Não apenas ter a posse da terra, mas nela ter
condições de trabalhar; não apenas ter renda, mas conseguir com ela se sustentar. Problema
comum, seja no campo ou na cidade, a pobreza extrema é reflexo de falhas na educação,
habitação, saúde, cultura e lazer. A má qualidade dos serviços públicos atrasa ou mesmo não
chega a quem mais precisa. As políticas públicas precisam de consonância e integração. Não é
possível conceber o desenvolvimento isolado, apenas localizado em algumas áreas da

165
metrópole, ou para algumas famílias na área rural. É necessária uma organização regional,
que trate com especificidade as questões – problemas e vocações – de cada região.
A transição agroecológica é feita, quando em comunidades, com participação social na
elaboração de um diagnóstico rural participativo, no qual as etapas da transição são elencadas
pelos agricultores. O importante é a adoção de práticas que possam garantir melhores
condições ambientais em longo prazo, apesar das primeiras respostas aos novos estímulos
aparecerem rapidamente. Com isso, a segurança alimentar e nutricional brasileira ganha força
para reforçar e superar quadros de fome e miséria.
O fortalecimento da agricultura de bases ecológicas deve ser primordial para que as
ações planejadas reflitam de fato na realidade das famílias agricultoras. Associado a ações de
infraestrutura e serviços, além de trabalhos de capacitação com a valorização do saber rural, o
fortalecimento da agricultura será ainda mais bem estruturado. A soberania alimentar é, antes
de tudo, objetivo e desejo de todas as nações. Para o Brasil um país essencialmente agrícola,
essa deve ser verdadeira prioridade e caminhar junto com outras ações estruturantes.
Assim, o envolvimento de toda a sociedade se faz necessário, seja ela do campo ou da
cidade, pois se reflete diretamente na mesa de todos nós. Um olhar mais atento a essas
demandas traz novos elementos para o debate, como feito aqui. Muitos pesquisadores
dedicam-se aos estudos relativos ao campo, agricultura, desenvolvimento e sustentabilidade,
mas a sociedade de maneira geral pouco tem se envolvido. São alarmantes os riscos à
soberania alimentar e à saúde humana que o modelo agrícola vigente traz. Os agrotóxicos
podem levar à morte e causam anomalias, ainda em estudos aprofundados. Os principais
veículos de informação se negam a tratar do tema. A alimentação, talvez por ser algo tão
comum, é pouco discutida, e tampouco passa por uma reflexão mais profunda no dia a dia, já
que não cabe falar de fome à mesa.
Buscou-se, enfim, fomentar o debate sobre a qualidade produtiva da agricultura, com
base nos princípios da agroecologia, no que diz respeito ao solo, mas também à qualidade
nutricional dos alimentos produzidos e ao arranjo agrícola, numa crítica à concentração de
terras. As mudanças necessárias perpassam os itens trabalhados nessa pesquisa, e muitos
outros sendo necessárias demais pesquisas que amplifiquem a discussão, movimentando a
academia e a sociedade para uma maior participação social, principalmente referente e à
temas polêmicos e essenciais como reformam agrária, fome, alimentação, degradação
ambiental e tantas outras temáticas interligadas a esse processo.

166
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