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Belo Horizonte - MG
2015
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Geografia
(Tratamento da Informação Espacial)
Belo Horizonte - MG
2015
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
CDU: 577.4
Daniella Teixeira Carmo de Oliveira
Banca Examinadora:
_______________________________________________
Prof. Dr. Guilherme Taitson Bueno (Orientador) PUC Minas
_______________________________________________
Profa. Dra. Adriana Monteiro da Costa – UFMG
_______________________________________________
Profa. Dra. Lussandra Martins Gianasi – UFMG
Um trabalho nunca é feito sozinho, muitas pessoas fazem parte de sua construção. São
conversas, conselhos, troca de experiências, livros, artigos, mestres, colegas, paisagens,
estradas, trados, pás e mãos, muitas mãos. Agradeço a Deus por colocar todas essas coisas em
meu caminho, para que hoje, olhando para trás, possa compreender como cada detalhe foi
fundamental para chegar até aqui.
Aos mestres deixo meu profundo agradecimento. Meu orientador Guilherme Taitson Bueno
pelo criterioso empenho em fazer de mim e deste trabalho sempre um pouco mais, pelos
ensinamentos em campo e sala de aula o meu muito obrigado pela partilha. Aos agricultores
do Assentamento Pastorinhas, Márcio da Silva, sua esposa Selma da Silva e a Valéria
Carneiro meu mais sincero agradecimento pela amizade e por abrirem as portas, mais uma
vez, e me ensinar com tanta simplicidade tudo aquilo que não se encontra nos livros. Aos
demais professores do Programa, em especial, professor Oswaldo Bueno por me resgatar a
essência da Geografia; ao professor Luiz Eduardo Panisset pelos conselhos, aprendizado e
confiança; e ao professor José Flávio Morais pela delicada atenção em aperfeiçoar não apenas
este trabalho, mas essa profissional.
Agradeço aos colegas de classe, em especial aos que caminharam comigo em campo: Lucas
Arêda, Vanessa Brandão e Graziele Nogueira; e ao colega Thiago Soares pela ajuda na
elaboração dos mapas. Agradeço a toda equipe do Programa, em especial Délio e Tatiane pela
presteza e gentileza em todos os momentos. A CAPES pela bolsa de estudos.
Agradeço aos meus familiares e amigos, em especial minha mãe Hilda Teixeira, que sempre
cultivou em mim a sensibilidade de ver a natureza com amor e gratidão; e ao meu
companheiro Daniel Dolabella, por se dispor às “aventuras geográficas” que o coloquei com
tamanha generosidade.
Ana Primavesi
RESUMO
A questão agrária atual impõe desafios quanto à soberania alimentar nacional. A concentração
fundiária e a exploração da terra acentuam ainda mais os conflitos no campo. Além disso, o
crescimento populacional reforça o desafio da alimentação saudável e acessível a todos. Para
tanto, mudanças na maneira de produzir podem reverter a situação delicada que se apresenta:
a sustentabilidade de sistemas agrícolas pode ser alcançada por meio de práticas que integrem
o homem com a natureza buscando uma maneira equilibrada do uso dos recursos naturais. A
agroecologia é uma alternativa para mitigar os impactos da atividade agrícola moderna. Sua
aplicação, principalmente em assentamentos de reforma agrária, é importante para promover o
acesso à terra e a produção de alimentos livres de agroquímicos, que hoje representam um
enorme problema ambiental e de saúde. A agroecologia vem crescendo e ganhando maior
espaço. Programas governamentais como o Brasil Agroecológico, do Ministério do
Desenvolvimento Agrário, e o PRONAF Agroecologia reforçam a prática, assim como a
Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – PNAPO a qual fomenta sua
implementação. O solo, essencial para a atividade agrícola, tem sua qualidade influenciada
pelo manejo utilizado, sendo os métodos conservacionistas mais próximos da
sustentabilidade. Assim, essa pesquisa busca avaliar a qualidade do solo em duas áreas de
modo a comparar o grau do impacto da prática agroecológica em relação ao estado natural do
meio. O Assentamento Pastorinhas, localizado no município de Brumadinho, Minas Gerais,
foi o local de estudos escolhido para tal avaliação. Duas áreas do Assentamento foram
utilizadas para coletas de amostras do solo, ambas com Latossolos Amarelos, uma agrícola e
outra de floresta Atlântica que conserva as características próximas das naturais. As análises
químicas e físicas foram feitas pelo Laboratório de Solos da Universidade Federal de Lavras –
MG, e parte dos dados obtidos foram aplicados ao Sistema ISA (Indicadores de
Sustentabilidade de Agroecossistemas). Os resultados mostraram que as práticas
agroecológicas são capazes de manter a qualidade química do solo (pH, CTC, nutrientes) em
níveis bastante superiores ao da floresta, porém, a qualidade física do solo mostrou-se inferior
à qualidade da floresta (infiltração, densidade e estabilidade de agregados,). A agroecologia
encontra-se muito próxima da sustentabilidade de agroecossistemas. A transição
agroecológica é então caminho para se alcançar a soberania alimentar, com acesso à terra,
qualidade dos alimentos produzidos e relação ambiental equilibrada.
Palavras-chave: Agroecologia, qualidade do solo, indicadores de sustentabilidade, segurança
alimentar, Assentamento Pastorinhas.
ABSTRACT
The current agrarian question imposes challenges to the national food sovereignty. The
concentration of land ownership and the land exploitation further accentuate the conflicts in
the field. In addition, population growth reinforces the challenge of healthy eating that might
be accessible to all. Therefore, changes in the producing way can reverse the delicate situation
at hand: the sustainability of agricultural systems can be achieved through practices that
integrate man and nature seeking a balanced usage of natural resources. Agroecology is an
alternative to mitigate the impacts of modern agricultural activities. Its application,
particularly in agrarian reform settlements, is important to promote access to land and the
production of food without agrochemicals, which today represent a huge environmental and
health problem. Agroecology has grown and gained ground. Government programs such as
“Brasil Agroecológico”, from Ministry of Agrarian Development and the “PRONAF
Agroecologia”, reinforce the practice, as well as the National Policy for Agroecology and
Organic Production - PNAPO encourages its implementation. The soil, essential for
agriculture, has its quality influenced by its management, and conservationists methods are
closer to sustainability. Thus, this research aims to assess soil quality in two areas in order to
compare the impact of agroecology in relation to the natural state of the medium. The
Assentamento Pastorinhas, located in the municipality of Brumadinho, Minas Gerais, was
chosen as the study site for this review. Two areas of the settlement were used for soil sample
collection, both with Yellow Latosols, one agricultural and other Atlantic Forest Remaining
that preserves natural features. The chemical and physical analyzes were performed by the
Soil Laboratory of the Federal University of Lavras - MG, and the part data applied to the ISA
system (Agroecosystems Sustainability Indicators). The results showed that agroecological
practices are able to maintain the chemical soil quality (pH, CEC, nutrients) in levels well
above the levels of the forest, however, the soil physical quality was lower than the forest
quality (aggregate stability , infiltration). Agroecology is very close to the agroecosystems
sustainability. The agroecological transition is then way to achieve food sovereignty, with
access to land, high quality of produced food and balanced environmental relationship.
Key words: Agroecology, soil quality, sustainability indicators, food security, Pastorinhas
settlement.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Cratylia argentea na EMBRAPA Milho e Sorgo, Minas Gerais............................72
Figura 2 – Rotação e consórcio de culturas EMBRAPA Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG....75
Figura 3 – Mapa de localização do Município de Brumadinho, MG ......................................76
Figura 4 – Mapa de hipsometria de Brumadinho, MG ........................................................... 79
Figura 5 – Voçorocas próximas ao Assentamento Pastorinhas em Brumadinho, MG ........... 80
Figura 6 – Mapa declividade de Brumadinho, MG .................................................................81
Figura 7 – Mapa solos Brumadinho, MG ............................................................................... 82
Figura 8 – Mapa vegetação de Brumadinho, MG ................................................................... 84
Figura 9 – Mapa de uso e ocupação do solo de Brumadinho, MG ..........................................85
Figura 10 – Localização do Assentamento Pastorinhas carta de Brumadinho, MG................ 86
Figura 11 – Cultivo próximo à floresta - Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG ........90
Figura 12 – Área de cultivo do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG .......................90
Figura 13 – Área da Agrovila do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG ....................91
Figura 14 – Galinheiro em área de pousio do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG..94
Figura 15 – Composteira do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG ...........................94
Figura 16 – Fluxograma das etapas metodológicas da pesquisa ..............................................95
Figura 17 – Mapa pontos de coleta no Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG...........100
Figura 18 – Área da trincheira P1: área agrícola ...................................................................103
Figura 19 – Área da trincheira P2: floresta ombrófila densa .................................................103
Figura 20 – Perfil Solo P1 – Área Agrícola ...........................................................................105
Figura 21 – Perfil Solo P2 – Área de floresta ........................................................................107
Figura 22 – Triângulo Textural ..............................................................................................127
Figura 23 – Infiltrômetro P1 Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG .........................132
Figura 24 – Infiltrômetro P2 Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG..........................133
Figura 25 – Indicadores de Qualidade do Solo em P1 primeiros 23 cm ................................156
Figura 26 – Indicadores de Qualidade do Solo em P2 primeiros 23 cm ................................156
Figura 27 – Indicadores de Qualidade do Solo em P1 ...........................................................158
Figura 28 – Indicadores de Qualidade do Solo em P2 ...........................................................158
Figura 29 – Indicadores de Segurança Alimentar em P1 .......................................................160
Figura 30 – Indicadores de Gerenciamento de Resíduos em P1 ............................................160
Figura 31 – Indicadores de Gestão do Uso de Agrotóxicos em P1 ........................................162
Figura 32 – Indicadores de Práticas de Conservação do Solo e Água em P1 ........................162
LISTA DE TABELAS
Gráfico 1 – Principais produtos de exportação brasileira nos anos de 2003 e 2013 ................33
Gráfico 2 – Famílias assentados entre 1995 e 2011 ................................................................ 38
Gráfico 3 – pH do Solo ..........................................................................................................109
Gráfico 4 – Acidez Potencial do Solo ....................................................................................110
Gráfico 5 – Índice de Saturação por Alumínio do Solo .........................................................111
Gráfico 6 – Matéria Orgânica do Solo ...................................................................................112
Gráfico 7 – Relação Carbono e Nitrogênio do Solo ..............................................................113
Gráfico 8 – Capacidade de Troca Catiônica Potencial do Solo .............................................115
Gráfico 9 – Relação entre CTC e MO ....................................................................................116
Gráfico 10 – Soma de Bases Trocáveis do Solo ....................................................................118
Gráfico 11 – Saturação por Bases do Solo .............................................................................118
Gráfico 12 – Cálcio no Solo ...................................................................................................119
Gráfico 13 – Potássio no Solo ................................................................................................120
Gráfico 14 – Fósforo Remanescente do Solo .........................................................................121
Gráfico 15 – Magnésio do Solo .............................................................................................123
Gráfico 16 – Enxofre do Solo ................................................................................................124
Gráfico 17 – Manganês do Solo .............................................................................................125
Gráfico 18– Densidade do Solo .............................................................................................128
Gráfico 19 – Infiltração total ..................................................................................................134
Gráfico 20 – Taxa de Infiltração ............................................................................................134
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 16
2.2.6 Hidrografia.......................................................................................................... 86
2.2.7 Clima .................................................................................................................. 87
2.2 Assentamento Pastorinhas: histórico e práticas de manejo........................................ 88
3 METODOLOGIA ............................................................................................................. 95
4.2.3 Matéria Orgânica (MO) e a relação Carbono Nitrogênio (C/N) ...................... 112
4.2.4 Capacidade de Troca Catiônica (CTC) ............................................................. 114
4.2.5 Fertilidade .........................................................................................................117
4.3 Análises Físicas ....................................................................................................... 126
4.3.1 Textura .............................................................................................................. 126
4.3.2 Densidade ......................................................................................................... 127
4.3.3 Estabilidade de Agregados ............................................................................... 129
4.3.4 Infiltração.......................................................................................................... 132
16
lucro pelo capitalista que nada produziu. Assim, a agricultura deixa de ser uma forma de
subsistência humana, para se tornar apenas um produto de mercado. A negação da
propriedade capitalista está na luta pela posse da terra, sendo essa a maneira encontrada por
muitos agricultores, que não desejam migrar para os centros urbanos, de reconquistar a
autonomia do trabalho, ocupando, assim, novas terras e construindo um regime anticapitalista
baseado na terra de trabalho. A legitimidade de sua causa baseia-se principalmente no direito
previsto pela Constituição Federal – capítulo III, que trata da Política Agrícola e Fundiária e
da Reforma Agrária, expressa nos artigos 184 a 1911.
Muitas são as consequências do processo referente ao sistema agrícola moderno2 em
diversas esferas, como as ambientais e socioeconômicas; problemas que afetam direta e
indiretamente toda a população seja ela do campo ou urbana. Um exemplo é o uso intensivo e
indiscriminado de agroquímicos nas lavouras brasileiras, que são as que mais consomem
esses produtos no mundo, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente3. Além de impactar
diretamente o solo e os lençóis freáticos, os agrotóxicos e pesticidas comprometem a vida
biológica do solo, essencial para a estrutura e qualidade do mesmo, refletindo na cadeia
alimentar dos seres vivos. Os ataques de pragas às lavouras são sintomáticos, e estão
relacionados ao desequilíbrio do ecossistema. O uso desses produtos eleva os custos da
produção para o produtor rural e para o consumidor, colocando em risco aqueles que
manuseiam tais produtos, altamente tóxicos, além, é claro, dos consumidores finais, que
ingerem altas quantidades de elementos nocivos à saúde.
A gravidade dos problemas causados pela presença de agrotóxicos nos alimentos é
alarmante, e merece atenção. O Programa de Análise de Resíduo de Agrotóxicos em
Alimentos – PARA – realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA –
divulgou em outubro de 2013, relatório de atividade referente aos anos de 2011 e 2012. Em
2011, 36% e em 2012, 29% dos alimentos analisados continham níveis de substâncias tóxicas
acima do permitido pela legislação brasileira que trata do uso de agrotóxicos4. Alguns dos
alimentos analisados apresentaram presença de substâncias de uso proibido no Brasil ou sem
registro, além de substâncias não permitidas para a cultura com presença de ingredientes
1
A lei trata das diretrizes para reforma agrária com desapropriação de áreas que não cumprem a função social da
propriedade rural, sendo repassadas às famílias sem-terra por meio de compra e venda, dos proprietários aos
assentados pelo Governo Federal, através do INCRA – Instituto de Colonização e Reforma Agrária.
2
Sistema agrícola moderno ou agricultura moderna é assim denominado por utilizar técnicas provenientes da
Revolução Verde e demais adaptações do modelo, como as feitas pela Biotecnologia e Engenharia Genética. O
termo moderno não faz referência temporal, apenas ao modelo agrícola.
3
BRASIL: Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://goo.gl/pztaIG. Acesso em 05/06/2014.
4
Lei Estadual nº 10.545 de 13 de dezembro de 1991; Lei Federal nº 7.802 de 11 de julho de 1989; Instrução
Normativa nº 002, de 3 de janeiro de 2008; e Decreto Federal nº 4.074 de 4 de janeiro de 2002.
17
ativos não autorizados ou acima do Limite Máximo de Resíduo – LMR – parâmetro
agronômico que determina a quantidade de agrotóxico permitido no alimento. Em Minas
Gerais, das 65 amostras, 30 foram consideradas insatisfatórias, sendo o pimentão, a cenoura e
o feijão, os alimentos com níveis acima do permitido. Minas Gerais é hoje um dos maiores
consumidor de agroquímicos do país, e um dos principais estados com níveis de LMR acima
do permitido. A falta de fiscalização agrava ainda mais o uso desses produtos que chega aos
consumidores sem inspeção de qualidade adequada.
Dos contaminantes que mais afetam a qualidade das águas, todos estão relacionados,
direta ou indiretamente, com a agricultura. Segundo dados da Agência Nacional das Águas –
ANA (2011) – a contaminação por excesso de nutrientes é a mais comum em todo mundo e
está ligada, sobretudo, às atividades agrícolas, pois há no escoamento de insumos
provenientes da lavoura contendo excesso de nitrogênio e fósforo, presentes nos agroquímicos
utilizados, os principais elementos que geram a toxidez. Com isso, algumas algas, as
cianobactérias são levadas a produzir toxinas prejudiciais à saúde do homem, dos animais
aquáticos e selvagens que tenham contato com a água contaminada. A contaminação por
excesso de nutrientes pode levar a acidificação nos ecossistemas de água doce, impactando
gravemente a biodiversidade. Em longo prazo, o enriquecimento com nutrientes pode causar o
esgotamento do oxigênio na água, ou seja, a hipereutrofia dos lagos e lagoas eliminando
diversas espécies, inclusive peixes, o que afetaria toda a estrutura e diversidade dos
ecossistemas aquáticos. Além da eutrofização, citam-se a contaminação por erosão e
sedimentação; salinidade; acidificação e presença de metais pesados como problemas
ambientais relacionados à contaminação das águas.
Outro relevante impacto ambiental do modelo moderno de agricultura é a erosão do
solo. Dentre as variáveis responsáveis pela quantidade das perdas de solo sofridas, várias
estão relacionadas à agricultura. Além da erodibilidade, erosão pela chuva e comprimento ou
grau do declive, o manejo do solo pela prática agrícola é uma das principais vias de perda. As
áreas sem cobertura vegetal são as que mais sofrem, entretanto, áreas cultivadas terão esses
valores reduzidos devido à proteção que a cultura exerce no solo. Assim, cobertura vegetal,
sequências de culturas e práticas de manejo menos agressivas são combinações que garantem
menores perdas de solo (BERTONI; NETO 2012). Os sistemas modernos, em função de sua
dinâmica, são os mais propensos a perdas, ao passo que as técnicas provenientes da
agroecologia, por exemplo, são consideradas conservacionistas por praticarem a rotação de
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cultura e tempo mínimo de pousio, com cobertura residual, diminuindo, assim, as perdas por
erosão.
Ainda em relação ao solo, suas características físicas e químicas, que podem garantir
sua qualidade para a agricultura, são muitas vezes intensamente perturbadas pela atividade
agrícola moderna. O uso intensivo de maquinário agrícola, afeta a estrutura do solo podendo
provocar compactação, o que dificulta o crescimento das raízes e o desenvolvimento vegetal.
Assim, problemas no crescimento das plantas ocasionadas por tal compactação do solo podem
levar à redução da produtividade agrícola, induzindo o aumento do uso de fertilizantes e, por
conseguinte dos pesticidas, de modo a tentar reverter tal situação. O excesso de pesticidas
destrói os microrganismos naturais, responsáveis pela agregação, estrutura e mobilização de
nutrientes, como o fósforo, diminuindo sua fertilidade natural. Outras técnicas agrícolas
modernas utilizadas como a irrigação continuada, além do gasto excessivo de água, lixiviam
intensamente o solo, levando à redução da fertilidade, ocasionando, novamente, o aumento do
uso de agroquímicos.
É evidente que a atividade agrícola por si só gera impactos em seu processo, seja no
revolvimento do solo para preparo e plantio, que destrói a estrutura superficial; na
compactação pelo uso de maquinário; na perda de nutrientes quando realizada a irrigação e
colheita; e no desnudamento causado pelo intervalo de colheita-plantio, deixando o solo mais
susceptível à erosão. O pouco tempo de pousio e a não rotação de culturas, desgastam e
degradam o solo intensamente. Dessa forma, a agricultura tem sido cada vez mais difícil,
arriscada, onerosa e desastrosa, expondo ao perigo o meio ambiente, e assim, a sobrevivência
do homem em todo globo (PRIMAVESI, 2002).
Paralelamente, aos processos fundiários e processos ambientais consequentes do
modelo agrícola moderno, outra importante dinâmica geográfica destaca-se: o crescimento
demográfico. Dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – apontam que a
população brasileira em 1980 era de, aproximadamente, 118 milhões de habitantes.
Atualmente, já são mais de 196 milhões e projeções revelam que, em 2050, esse número
chegará a 215 milhões de habitantes. É inevitável indagar como essa população será
alimentada. O problema da fome é desafiador e a relação feita com a produção de alimentos é
comum. Porém, a dificuldade está mais intimamente relacionada ao acesso da população ao
alimento do que a quantidade produzida. A miséria é assim o fator direto à fome, pois a baixa
renda restringe o cidadão a adquirir alimento e demais bens de consumo. Para Castro (1980) a
subnutrição e a desnutrição são também problemas inerentes à fome. A má alimentação
19
causada por uma dieta com baixos nutrientes é extremamente comum. A anemia, causada pela
fome oculta, mata lentamente milhares de pessoas em todo mundo. Tornou-se mais difícil a
definição da subalimentação que o próprio flagelo que é a fome (GEORGE, 1982). A miséria
é então o principal fator da fome no mundo, e está relacionada à má distribuição de renda, e
também de terras.
Algumas questões são pertinentes em relação ao processo produtivo como um todo, e
a primeira delas é: o que tem sido produzido nas áreas agricultáveis brasileiras? A
expropriação da terra das mãos do produtor rural pode levar a diminuição da produção de
alimentos, já que esses deixam de ser uma prioridade nos padrões do agronegócio.
Atualmente no Brasil há uma intensa expansão das silviculturas de eucalipto, matérias-primas
para agrocombustíveis e mineração, que concorrem com a produção de alimentos que
abastecem o mercado interno.
Outra importante questão é: quem então está produzindo alimento para a população
urbana e rural? Os cinturões verdes das grandes cidades contam com propriedades de pequeno
e médio porte. Normalmente localizadas próximo às capitais e grandes centros urbanos, pelo
caráter perecível dos alimentos produzidos. Ressalta-se a dificuldade enfrentada por regiões
afastadas, como a amazônica, e mesmo as interioranas que dependem dos alimentos vindos
desses cinturões. Em Minas Gerais, o cinturão verde de Belo Horizonte, formado por alguns
dos munícipios da região metropolitana, abastecem os mercados da capital mineira e de outras
cidades próximas. Cabe também, o questionamento acerca da qualidade desses alimentos, já
que são utilizados níveis de agrotóxicos e outros produtos químicos nocivos à saúde muito
acima do permitido.
O atual sistema agrário brasileiro vem causando graves impactos em diversas esferas,
e as ações para a reforma agrária são ainda incipientes. Mitigar a fome e a miséria baseia-se
em fornecer condições para que a população possa adquirir ou produzir seu próprio sustento
(CAVALLI, 2001). Uma forte tendência na adoção dos manejos agroecológicos nos
assentamentos de reforma agrária mostra-se como uma tentativa de suprir a demanda tanto
por renda, quanto por alimento, aliadas à preservação ambiental.
As técnicas empregadas na agroecologia, além de fomentar a produção de alimentos
para abastecimento local e regional, promovendo a segurança alimentar e nutricional, tem
como base a produção em consonância com os recursos naturais, utilizados de maneira
otimizada e, assim, menos degradante. Há, com isso, um uso mais sustentável dos recursos
naturais, e, também, maior diversidade na produção. O mercado consumidor de produtos
20
agroecológicos é crescente, auxiliando na renda do produtor rural, e em melhorias na
qualidade de vida, ajudando a manter o homem no campo com melhores condições de
sustento e uma alimentação mais saudável para seus consumidores.
Outras questões são pertinentes e intrínsecas à manutenção do homem no campo,
principalmente as relacionadas à melhor infraestrutura e oportunidades de ensino, trabalho,
saúde e lazer, nas esferas local e regional. Porém, ainda que sejam realizadas as reformas
necessárias para desenvolvimento agrário, partindo da reforma agrária e do atendimento às
necessidades básicas sociais, o solo, substrato essencial para a prática agrícola, vem sendo
utilizado de maneira extremamente degradante, e pode colocar em risco a capacidade de se
produzir alimento ou mesmo qualquer outro produto.
A erosão, perdas de solo e nutrientes e a compactação são resultados do uso
inadequado deste. A manutenção da qualidade do solo é fundamental para que possa existir a
atividade agrícola. O manejo adequado, considerando às suas especificidades, é fundamental
para a perduração do substrato da vida vegetal. Assim, práticas agrícolas que manejem
adequadamente o solo e que utilizem os recursos naturais com cautela são essenciais para o
equilíbrio e a longevidade da prática agrícola. É necessário, e urgente, buscar novas
alternativas que levem a agricultura a trabalhar, em qualquer escala de produção, com
manejos menos agressivos e que utilizem melhor os recursos naturais, aproximando-se de
uma prática conservacionista. A sustentabilidade tão utópica poderá assim, tornar-se mais real
e tangível, ainda que limitada.
Dessa forma, a Agroecologia, vem sendo apontada por diversos autores5 e pela
sociedade envolvida como alternativa ao modelo agrícola vigente. Esse sistema se
fundamenta não apenas no manejo dos recursos naturais com bases ecológicas, mas também
nas bases culturais, sociais e econômicas do meio de cultivo (MOREIRA; CARMO, 2004).
Sua difusão espacial tem sido grande não só no Brasil, mas em todo mundo. Países como
Cuba e vários outros da Europa e América Latina vêm passando pela transição agroecológica
e aderindo aos modelos SAFs – Sistemas Agroflorestais. Pesquisadores investem em estudos
de espécies de plantas que aumentem a fixação de nutrientes no solo, levando a agroecologia
a patamares mais tecnológicos, além, é claro, de diversos outros estudos, inclusive aqueles
relacionados às variações e adaptações climáticas, que já são uma realidade e um também um
desafio para as próximas décadas. O sistema agroecológico tem suas bases na agricultura
5
ALMEIDA (2009); ALTIERI (2012); BONILLA (1992); CAMPANHOLA, VALARINI (2011); CAPORAL
(2009); COSTABEBER (1999); FRONCHET (2012); JESUS (1996); LUZZI (2007); ROSSET (1998);
ZAMBERLAN, e outros.
21
rudimentar, muito remota à Revolução Verde, mas conta atualmente com um arranjo holístico
que vai além das técnicas de plantio-colheita. Sua atual estrutura permite aliar tecnologias
ecológicas para desenvolvimento agrário equilibrado, justo e saudável. Alguns dos pilares
desse sistema são os consórcios de culturas, a não utilização de agroquímicos e o uso
adequado dos recursos naturais. Sua diversidade de manejos advém da capacidade de
adaptação a diferentes locais, com características ambientais distintas.
A sustentabilidade, que se busca alcançar com a Agroecologia, pode ser entendida
como “a condição de ser capaz de perpetuamente colher biomassa de um sistema, porque sua
capacidade de se renovar ou ser renovado não é comprometida” (GLIESSMAN, 2005, p. 38).
Ransen (1996) citado por Reichert et al. (2003) consideram que a sustentabilidade pode ser
conotada como um filosofia, ou conjunto de estratégias, habilidades e metas para manter-se
por longo prazo. Uma das maneiras de mensurar a sustentabilidade dos sistemas agrícolas é a
avaliação da qualidade do solo. Essa avaliação é de fundamental importância, uma vez que o
solo é a base para sustentação agrícola. Segundo Casalinho et al. (2007) essa qualidade pode
ser entendida como a capacidade que um determinado tipo de solo apresenta para
desempenhar uma ou mais funções relacionadas à sustentação da atividade, da produtividade
e da diversidade biológica”. Vezzani (2001) propõe que um solo com qualidade desejável
apresente interação dos subsistemas mineral, vegetal e microbiológico, organizados em alto
nível de ordem. Esse nível é atingido quando há maior presença de macroagregados e alto teor
de matéria orgânica retida.
Para mensurar tal sustentabilidade e a qualidade ambiental do solo, utilizam-se
indicadores, importantes para o processo de avaliação. Indicadores, em geral, são
instrumentos que permitem mensurar um sistema, fenômeno ou tendência. Seu objetivo, de
acordo com Van Ballen (2006) é quantificar uma série de informações sobre diferentes
fenômenos, podendo ser qualitativos ou quantitativos. Dentre as funções dos indicadores as de
comparações entre lugares e situações e a antecipação de futuras tendências são algumas das
passíveis de aplicação em sistemas agrícolas. Freitas e Giatti (2009) expõem que os
indicadores de sustentabilidade fundamentam-se nos princípios de equidade em relação às
gerações presentes e futuras
Alguns indicadores já são bastante difundidos, como o MESMIS (Marco para la
Evaluación de Sistemas de Manejo de Recursos Naturales Incorporando Indicadores de
Sustentabilidad) e o IDEA (Indicateurs de Durabilité des Exploitations Agricole), além de
outros. No Brasil o IBGE desenvolveu o IDS – Índice de Desenvolvimento Sustentável
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(Estudos e Pesquisas – 2012), utilizado para avaliação do desenvolvimento em diversas
linhas, como forma de planejamento e gestão de ações governamentais. Outro importante e
recente instrumento de avaliação é o ISA – Indicadores de Sustentabilidade em
Agroecossistemas – desenvolvido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária - EPAMIG-MG;
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG; a Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural - EMATER e outros, que será, em partes, utilizado nesta pesquisa.
De acordo com Ferreira et al. (2012), o ISA é uma ferramenta de gestão que objetiva
realizar um diagnóstico dos balanços sociais, econômicos e ambientais do estabelecimento
rural. O conjunto de 23 indicadores, agrupados em subíndices de diversas temáticas, avalia
princípios e critérios que norteiam a transição de agroecossistemas para maior grau de
sustentabilidade. Dos diversos indicadores, os relacionados à qualidade do solo são
importantes para a avaliação da capacidade do ambiente prover os recursos necessários para a
manutenção dos agroecossistemas, de modo a assegurar a produtividade agrícola. Além dos
parâmetros sugeridos pelo ISA para avaliação da qualidade do solo, outros serão incluídos,
principalmente relacionados à física do solo e sua relação com elementos químicos
diretamente ligados à produtividade.
Uma primeira compreensão do que trata a agroecologia, suas bases e conceitos, foi
trabalhada na pesquisa “Agroecologia e Qualidade de Vida” (OLIVEIRA et al., 2009) que
buscou avaliar a qualidade de vida que a prática traz para seus adeptos. A continuação do
tema, com novo enfoque nesse trabalho, é analisar seus aspectos mecânicos de produção,
dentro da esfera geográfica, ou seja, compreender como o manejo agroecológico influencia na
qualidade do solo. Não se trata de uma avaliação agronômica, nem mesmo com
especificidades de culturas ou relações entre o solo e plantas, mas sim de avaliação geral do
comportamento do solo quando manejado de forma agroecológica.
Para isso, o local de estudo localiza-se no município de Brumadinho, região
metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, que pertence ao cinturão verde, e à bacia do
Rio Paraopeba. O sistema agroecológico utilizado no Assentamento de Reforma Agrária
Pastorinhas será analisado juntamente com uma área testemunho de Floresta (resquício de
Mata Atlântica) que pertence ao assentamento.
Objetiva-se, de modo geral, avaliar como a prática agroecológica interfere na
qualidade do solo no Assentamento estudado, tendo em vista a comparação do solo dessa área
com uma natural, que preserva as mesmas características ambientais. É possível que os
23
manejos da agroecologia mantenham as características químicas e físicas, relacionadas à
garantia de sua qualidade próxima às naturais? Para isso, de modo específico, objetiva-se:
Importantes trabalhos já publicados sobre essa temática, tratando dos atributos físicos,
químicos e também biológicos do solo e da sua qualidade sob diferentes cultivos, manejos e
tipos de solo, podem ser vistos nos trabalhos de Aratani et al. (2009); Araújo et al. (2007);
Benites et al. (2010); Bertol et al. (2004); Carneiro et al. (2009); Cunha et al. (2012); Faria et
al. (2010); Gilles et al. (2009); Loss et al. (2009); Lourente et al. (2011); Mendança et al.
(2012); Panachuki et al. (2011); Silva (2010); Silva et al. (2010); Viana et al. (2011); Xavier
et al. (2006) e outros. Ainda assim, algumas lacunas ficam expostas, principalmente no que
diz respeito a estudos comparativos de sistemas agroecológicos e a sustentabilidade agrícola
na Geografia. Grande parte dos estudos sobre agricultura vem sendo feitos por agrônomos.
Seu nível de detalhamento e qualidade contribui para o desenvolvimento agrícola, mas, quase
sempre não incorporam as problemáticas do campo com vistas ao melhor desenvolvimento
rural. Além disso, nesses estudos a dimensão espacial e as conexões entre os solos e os demais
componentes do meio natural são pouco exploradas. No âmbito geográfico, poucos trabalhos
associam elementos da Geografia Humana e Geografia Física, refletindo a dicotomia entre
homem e natureza.
Busca-se, com essa pesquisa, realizar um estudo integrando aspectos físicos e
humano/sociais, mas, sobretudo, contribuir para o debate e reflexão acerca da eficiência
ambiental e agrícola da agroecologia, além da qualidade dos alimentos cultivados, da
segurança alimentar e da estrutura fundiária brasileira, podendo assim, auxiliar na discussão
para construção de novas bases para o planejamento e gestão do campo, com mais equidade
social e equilíbrio ambiental na perspectiva da proposta agroecológica. É papel das
24
universidades desenvolver estudos de relevância acadêmica, mas também social, de modo a
fomentar a reflexão sobre questões inerentes ao cotidiano.
A estrutura do trabalho está dividida em cinco capítulos, sendo o primeiro uma revisão
bibliográfica das questões que se referem à geografia agrária do Brasil e às dinâmicas
pedológicas; além das relações da agricultura com os solos, refletindo sobre a sustentabilidade
de agroecossistemas. O segundo capítulo traz a contextualizando do município de
Brumadinho na região metropolitana de Belo Horizonte; sua relação histórico-geográfica; a
caracterização física; e a descrição da área de estudo, expondo as técnicas de produção e as
culturas produzidas na propriedade agrícola. A caracterização física de Brumadinho foi feita
por meio de estudos do local, utilizando-se mapas, fotografias e imagens de satélite que
auxiliam na compreensão do recorte espacial, além da elaboração de mapas temáticos.
O capítulo III descreve a metodologia utilizada, a dos Indicadores de Sustentabilidade
de Agroecossistemas – ISA – sendo que apenas um conjunto dos indicadores foi utilizado, o
que diz respeito à qualidade do solo, tendo em vista o objetivo do trabalho. Foram ainda
acrescentadas outras análises de solo que não são contempladas no ISA, mas foram
pertinentes para o trabalho. Serão apresentadas ainda as técnicas de campo e laboratório
utilizadas nas análises feitas pelo laboratório de solos da Universidade Federal de Lavras –
UFLA.
O capitulo IV descreve detalhadamente as áreas de coleta de dados, faz a descrição
morfológica do solo e sua classificação com base no Sistema Brasileiro e apresenta os
resultados obtidos das análises de solo. O capítulo V traz a discussão desses resultados de
forma a justificá-los e relacioná-los com elementos tanto químicos, quanto físicos do solo.
Nesse importante capítulo, o gráfico resultante da aplicação do sistema ISA é apresentado e
discutido, sendo então verificada a hipótese da pesquisa. Posteriormente, são feitas as
considerações finais que compilam tanto os resultados, como também a reflexão feita no
capitulo I, apontando para uma referência, caminho ou estratégia para se atingir a
sustentabilidade agrícola.
25
1 FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA
26
O modelo agrícola mais difundido e utilizado atualmente no Brasil, e no mundo, é o
moderno, que traz em seus manejos práticas advindas da Revolução Verde. Sua atividade
baseia-se em tecnologias aplicadas à agricultura, principalmente relacionadas ao manejo do
solo e irrigação. O uso de pesticidas para controle de espécies invasoras é o recurso mais
utilizado na agricultura atualmente, além das sementes transgênicas. Cada vez mais
agrotóxicos são produzidos e comercializados. Porém, seu uso intensivo acarreta diversos
impactos graves à saúde humana. Seus efeitos na qualidade do solo e água também são
bastante negativos.
Os estudos agrários fazem parte da Geografia Humana, e para Deffontaines (1939)
citado por Ferreira (2002) é importante conhecer o quadro físico onde será exercida a
atividade humana. Para tanto, investigações acerca das características naturais da região em
estudo são importantes. Sabe-se que a agricultura é uma das principais atividades que causam
impacto negativo aos recursos naturais. Principalmente no que diz respeito ao solo, estudos
que avaliem sua qualidade são fundamentais para nortear melhores práticas agrícolas de
maneira sustentável. Assim, serão também discutidas as principais dinâmicas de formação dos
solos, suas características químicas e físicas e os parâmetros de qualidade do solo. De modo a
contribuir para a discussão acerca da sustentabilidade de agroecossistemas, as bases e
conceitos da agroecologia serão apontados, assim como os principais manejos que regem a
atividade agroecológica. O desenvolvimento rural e a sustentabilidade de sistemas agrícolas
são caminhos almejados para que a atividade agrícola se perpetue com qualidade e segurança,
trazendo benefícios aos produtores e consumidores, causando o menor impacto ambiental e
socioeconômico possíveis.
27
1.1.1 Processos históricos da ocupação e exploração da terra no Brasil e seus reflexos
socioeconômicos e ambientais
28
agrícola passa a reorganizar-se de modo a atender as demandas urbanas. Essa dinâmica
fomenta a economia dos centros urbanos, uma vez que a renda concentra-se nas mãos dos
proprietários de terra que circulam a renda gerada no campo nos centros urbanos, onde na
maioria das vezes residem. Desse modo, a acumulação do capital no espaço urbano evidencia
uma exploração desigual do campesinato, que apenas tem servido de gerador de renda,
alargando ainda mais as diferenças de classes e estruturas da qualidade de vida nos dois
espaços (MARAFON et al., 2007).
A exploração da força de trabalho também é elemento comum do Brasil atual e do
Brasil colônia. Ainda que hoje não exista trabalho escravo na mesma proporção quantitativa,
muitos casos são descobertos em todas as atividades do 1º, 2º e até mesmo 3º setor. O tráfico
de pessoas está associado a essa exploração de caráter escravista. O Governo Federal por
meio do Ministério da Justiça lançou em 2006, no governo Lula, o I Plano de Enfrentamento
ao Tráfico de Pessoas; e em 2013 o II Plano, já no governo Dilma Rousseff, foi elaborado.
Foram no total, entre 2005 e 2011, 514 inquéritos encaminhados à Polícia Federal, sendo 13
casos de tráfico interno e 344 de trabalho escravo no Brasil. Dados da Polícia Federal
apontam ainda, que no mesmo período, 157 casos de tráfico internacional de pessoas foram
registrados no relatório apresentado pela Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da
Justiça (SNJ/MJ), em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
(UNODC)6. Infelizmente, muitos casos acabam não sendo descobertos ou investigados o que
diminui os números totais apresentados pelo Ministério da Justiça.
Essa exploração não é fato recente na história do Brasil, nem do mundo, e ela conta
com um elemento central: o capitalismo. Em períodos econômicos mais antigos, como o
feudalismo, foi sendo esboçado o que nortearia as relações econômicas e de trabalho. No
período de transição do feudalismo para o capitalismo, a terra e os alimentos produzidos
tornaram-se mercadorias. Em uma primeira fase dessa transição, o capitalismo concorrencial,
tinha o objetivo de produzir e circular a mercadoria, e suas relações de trabalho passaram ao
assalariamento e arrendamento. Essas relações de produção são baseadas na separação dos
trabalhadores dos meios de produção, mantendo apenas as força de trabalho, para que o
capitalista, dono dos meios de produção, possa então comprá-la. Assim, sendo o trabalho
criador de valor, sua medida é dada pela quantidade de trabalho necessário para produzir
mercadoria. Como o trabalhador produz mais do que o necessário para sua sobrevivência e de
sua família, o capitalista retorna ao trabalhador, em forma de salário, apenas uma parte do
6
BRASIL, Ministério da Justiça - Polícia Federal. Disponível em: http://goo.gl/QjIkMG. Acesso em 14 de abril
de 2014.
29
valor produzido para que este possa para adquirir o que precisa para viver e reproduzir-se
como trabalhador. É dessa forma que o capitalista garante a continuação do ciclo de
exploração do trabalho, sendo o salário pago uma mediação dada pela taxa de lucro média do
capitalista (OLIVEIRA, 2007).
Martins (1986) aponta o que Marx chamou de relações pré-capitalistas, tendo como
exemplo a renda capitalista da terra:
Sendo a terra um fator natural, sem valor, pois não é resultado do trabalho humano,
teoricamente não deveria ter preço. Mas, antes do advento do capitalismo, nos países
europeus, o uso da terra estava sujeito a um tributo, ao pagamento da renda em
trabalho, espécie ou dinheiro. Essas eram formas pré-capitalistas de renda decorrente
unicamente do fato de que algumas pessoas tinham monopólio da terra, cuja
utilização ficava, pois, sujeita a um tributo. O advento do capitalismo não fez cessar
essa irracionalidade. Ao contrário, a propriedade fundiária, ainda que sob diferentes
códigos, foi incorporada pelo capitalismo, contradição essa que se expressa na renda
capitalista da terra (MARTINS, 1986, p. 20).
30
lavouras de cana do Nordeste, colherem o café ou a cana no Sudeste e Centro-Oeste
brasileiro. Já na região Amazônica, a grilagem, violência e a expulsão dos camponeses e
indígenas foram ainda mais intensas e devastadoras, com a morte por assassinato de 2/3 da
população em cerca de 20 anos entre as décadas de 1970 e 1980.
O pacote tecnológico lançado pelo governo na década de 1960, na Revolução Verde,
apresentam, como elencado por Gliessman (2005) seis práticas básicas, impulsionadoras da
agricultura moderna, dentre as quais citam-se o cultivo intensivo do solo, a aplicação de
fertilizantes, o controle químico de pragas e a manipulação genética. Entretanto, uma vez que
o solo é o substrato essencial para a agricultura, o mesmo deve ser manejado de modo a
preservar ao máximo sua qualidade, ao passo que o uso intensivo pode acarretar em graves
problemas ambientais.
A mecanização agrícola foi introduzida pela Revolução Verde, e vem sendo
modernizada a cada ano. Segundo o censo agropecuário do IBGE, o uso de máquinas nas
lavouras de todo o Brasil era, em 1970, de 165.870 tratores, e no ano de 2006, esse valor
passa para 820.673, evidenciando o aumento do uso deste equipamento no campo. O uso das
máquinas prejudica a bioestrutura do solo, causando a compactação e acelerando a erosão
(PRIMAVESI, 2002). Seu uso reduziu drasticamente a mão de obra nas lavouras, levando ao
desemprego em várias regiões do país.
A destruição ambiental é também pertinente para a análise agrária do Brasil. O
exponencial crescimento agrícola brasileiro se deu à custa de florestas e do Cerrado. Valverde
(1985) alerta para o intenso desmatamento da Mata Atlântica no período colonial, onde
grande parte da vegetação florestal do litoral nordestino até São Paulo foi suprimida.
Posteriormente à queda dos ciclos da cana-de-açúcar, o Brasil fortaleceu o cultivo de café na
região sul e sudeste do país, além do algodão, e da pecuária leiteira. Os processos de
desmatamento para cultivo agrícola mantêm ainda hoje com forte ameaça à Floresta
Amazônica, que é explorada por madeireiros, criadores de gado e produtores de grãos, além
da intensa atividade minerária na região. Outras regiões também são intensamente exploradas
pela atividade agrícola como o Cerrado, na porção Central do país e a Caatinga, no nordeste
do Brasil.
Outros tipos de degradação, como a erosão e voçorocamento, causados pela
mecanização e a supressão da vegetação próxima aos cursos d’água é responsável por perdas
de solo em áreas agricultáveis. Primavesi (2002) alerta para um modelo imposto a um país
tropical sem as devidas considerações de seu clima e os tipos de solo, já que os manejos
31
modernos vindos de países europeus e norte-americanos encontram-se em uma faixa fria do
globo, e as técnicas são, na maioria, voltadas para minimizar os feitos das baixas
temperaturas, o oposto do que acontece do Brasil.
A marcha do povoamento foi também responsável pela supressão de grande parte do
bioma Cerrado na expansão da fronteira agrícola com as lavouras de soja; e parte da floresta
Amazônica com a exploração da borracha, metais e criação de gado. Atualmente, além das
áreas cultiváveis que já passaram pelo processo de derrubada da vegetação nativa, outras
áreas são exploradas em meio à natureza, colocando em risco a biodiversidade (CAPORAL,
2009) e modificando a paisagem de muitas regiões. Essa expansão desmata, em média, 1,5%
o equivalente a três milhões de hectares por ano de Cerrado no país (MACHADO, 2004
citado por CAPORAL, 2009).
Diversos questionamentos surgiam na década de 1980 pela posição brasileira de maior
produtor mundial de banana, café e mandioca; o segundo maior na produção de açúcar e
laranja; e terceiro maior produtor de cacau, soja, algodão e bovinos. Tendo em vista a posição
do país no mercado mundial, dadas ao volume das exportações, chegou a colocar em dúvida a
real existência de um problema agrário (VALVERDE, 1985). Atualmente, a soja e o minério
de ferro são os principais produtos exportados para a China, um dos países que mais faz
negócios com o Brasil, de acordo com dados da Receita Federal (BRASIL, 2014)7.
O crescimento do agronegócio no campo brasileiro é demostrado pelo gráfico 1 que
apresenta a evolução das exportações brasileiras pelo agronegócio. De 2003 para 2013 as
vendas da soja cresceram de 14% para 23%; o açúcar bruto, frango in natura, milho, chá
verde e o café tiveram aumento; ao passo que o farelo de soja, celulose e o suco de laranja
caíram nas exportações. Segundo dado do Ministério de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento – MAPA – do total brasileiro exportado em abril de 2014 tem-se 19.724
milhões de dólares, sendo que somente do agronegócio foram lucrados 9.620 milhões de
dólares. Contabilizando de janeiro a abril de 2014, os lucros do agronegócio com a exportação
foi de 29.847 milhões de dólares. Em abril de 2014, os gastos com importações custaram
19.218 milhões de dólares no total, demonstrando um saldo positivo, diferente do ocorrido em
2013, quando no mesmo período o saldo foi negativo na balança de exportações e
importações (BRASIL, 2014).
Porém, todo esse avanço tecnológico resultou em uma série de impactos ambientais e
sociais que culminaram no questionamento de sua viabilidade e validade desse modelo
7
BRASIL, Receita Federal. Disponível em: http://goo.gl/Gi985N. Acesso em 13/05/2014.
32
agrícola. Apesar de produzir em larga escala e com alta produtividade, a ausência da
responsabilidade de se cultivar alimentos coloca em risco a segurança alimentar do país. Além
disso, o uso intensivo dos recursos naturais pela agricultura moderna já apresenta sinais de
exaustão e depende de insumos externos para produzir. Muitos dos problemas ambientais
estão vinculados ao sistema hegemônico que promove a agricultura moderna, mas que
também repercute em problemas sociais, econômicos, políticos e culturais (ALTIERI, 2012).
“Em resumo, a agricultura moderna é insustentável: ela não pode continuar a produzir comida
suficiente para a produção global, em longo prazo, porque deteriora as condições que a torna
possível” (GLIESSMAN, 2005, p. 33).
8
BRASIL, Ministério de agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: http://goo.gl/Z51Ia3. Acesso em
13/05/2014.
33
1.1.2 Reforma Agrária e Agroecologia: caminho do desenvolvimento rural sustentável
34
ocupada por estabelecimentos com área igual ou maior que 100 hectares representam apenas
9,6% do total de estabelecimentos agrícolas brasileiros e ocupam 78,6% da área total. Porém,
os estabelecimentos com área total inferior a 10 hectares constituem mais de 50% dos
estabelecimentos ocupando apenas 2,4% da área total (IBGE, 2009 citado por HOFFMANN,
2010).
Em relação à utilização das terras, os censos do IBGE de 1970 a 1996 apontam que as
pastagens plantadas são as principais formas de utilização, tendo em 1975 seu maior pico: 125
milhões de hectares. As pastagens naturais cresceram em 2006 chegando a mais de 100
milhões de hectares. Os Sistemas Agroflorestais – SAFs – apresentaram, ao longo dos anos,
menor representatividade na utilização das terras. Em Minas Gerais, a utilização de terras em
1995 tem como principal atividade as pastagens naturais, com mais de 25 milhões de hectares,
dos 40 milhões de hectares passíveis a atividades agrícolas da época. Já os dados do censo de
2006 apontam para um aumento nas pastagens plantadas, chegando a mais de 100 milhões de
hectares.
As relações no campo estão, cada vez mais, excludentes e violentas. Os conflitos
gerados por todas essas dinâmicas são expressos nos dados da Comissão Pastoral da Terra –
CPT – que faz os balanços anualmente. O livro dos conflitos no campo elaborado pela CPT
apresenta a evolução destes, desde 1985. Dados mais recentes, do último decênio, mostram
que em 2003 o número total de conflitos por terra foi de 1.335 em todo país; e 1.067 em 2012.
Ainda com base nos dados do decênio, 370 pessoas foram assassinadas no campo em função
dos conflitos travados por terra, água, tempos de seca, políticas agrícolas, garimpo e conflitos
trabalhistas; sendo registrados 14.834 mil conflitos no campo em geral que envolveu quase
sete milhões de pessoas.
Em face dos conflitos gerados a primeira organização por luta pela terra, aconteceu em
1954 e teve como fundador José dos Prazeres, e líderes como Francisco Julião, Clodomir de
Moraes, João Pedro Teixeira e Elizabeth Teixeira. As Ligas Camponesas originadas na região
nordeste do país, mais especificamente no estado de Pernambuco, foram um movimento que
perdurou até 1964, quando foi posto na ilegalidade pelo governo militar e teve seus membros
perseguidos. Outro movimento de grande expressão nacional e internacional é o Movimento
dos Trabalhadores Sem-Terra – MST. Alguns elementos foram fundamentais para seu
surgimento no Brasil. Para Stedile e Fernandes (2012), o primeiro deles foi a situação
socioeconômica do país, já que a modernização da agricultura e introdução de novas culturas
– como a soja – na década de 1970 modificou drasticamente a forma de se fazer agricultura e
35
também as relações de trabalho. Com isso, houve um enorme contingente populacional
expulso das lavouras, inicialmente no Sul do país. Com poucas opções – o êxodo para as
fronteiras agrícolas ou para as cidades – muitos camponeses se viram com restritas opções e
decidiram resistir no campo e lutar pela terra na região em que viviam. Foi essa a base social
que impulsionou o surgimento do MST. Outro elemento foi fundamental para sua gênese foi o
ideológico com o apoio da Comissão Pastoral da Terra – CPT – que ganhou corpo após
reflexões a respeito dos conflitos por terra que ocorriam no Norte e Centro-Oeste do país. O
terceiro elemento que propiciou o surgimento do MST como um movimento nacional, foi a
situação política e o processo de democratização que vivia o Brasil na época. O país foi
tomado por intensas críticas ao militarismo, e a luta pela democratização e o fim da ditadura
militar foram cruciais, pois criou condições de reivindicações também do campo, ainda que
num contexto urbano (STEDILE; FERNANDES, 2012).
Outros importantes princípios são a luta pela dignidade humana, por meio da
distribuição de terras e das riquezas que são produzidas pelo trabalho do camponês, com base
nos direitos humanos, na luta contra as formas de dominação, e com destaque para a luta da
mulher de forma igualitária (FERNANDES, 2000). Hoje, a luta popular avança sem um plano
consistente e coerente de reforma agrária que desconcentre a estrutura fundiária, uma das
principais causas dos conflitos e injustiças. Para Fernandes (2007), há hoje apenas duas
formas de manifestações políticas na luta pela terra: a ocupação – que tem sido o principal
veículo de acesso à terra – e a marcha dos movimentos camponeses para pressionar o Estado
na execução de políticas públicas.
O primeiro documento que tratou da reforma agrária no Brasil foi o Estatuto da Terra,
criado pelo governo militar em 1964, que compreendia objetivos ocultos com sua criação, já
que no campo a efervescência dos movimentos sociais, como a Via Campesina, MST, igreja
católica, e outros, ganhava força e já chegava aos centros urbanos. O Estatuto foi aprovado
pelo presidente do governo militar, Castelo Branco. A lei 4.504/64 regulava os direitos e
obrigações para a execução da reforma agrária e promoção de políticas agrícolas. Essa lei
estabeleceu a promoção e coordenação da reforma agrária para o Instituto de Colonização e
Reforma Agrária – INCRA. Fernandes (2007) afirma que o objetivo do governo não era de
aplicar a lei, mas apenas controlar os conflitos agrários.
A principal ferramenta legal para a reforma agrária são os artigos 184 a 191 da
Constituição Federal que tratam da política agrícola e fundiária e da reforma agrária. A função
social da propriedade rural deve ser cumprida, obedecendo aos seguintes critérios:
36
aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente; observâncias das disposições que regulam as relações de
trabalho; e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e trabalhadores
(SIRVINSKAS, 2010). Para Melo (2009), o condicionamento textual da propriedade para o
cumprimento da função social é passível de interpretações diversas, desde as tradicionais até
as progressistas.
Poucas famílias ao longo dos anos e governos foram realmente assentadas. No período
militar não houve assentamento rural de famílias sem-terra, apenas um fracassado projeto
agrícola que tinha o objetivo de “colonizar” expandindo a fronteira agrícola. Nos governos
posteriores ao golpe militar, apesar da pressão dos movimentos sociais, e principalmente do
MST, o Plano Nacional de Reforma Agrária – PNRA – foi feito, mas não saiu de fato do
papel. Este foi o primeiro Plano que tratou da reforma agrária, sendo elaborado em 1985, pelo
então presidente José Sarney, que o sancionou pelo decreto nº 91.766. Entre os anos de 1985 e
1989, a meta era assentar 1,4 milhão de famílias, mas apenas 85 mil foram realmente
assentadas. No governo Collor, a promessa foi assentar 500 mil famílias, mas com a extinção
do Ministério da Reforma Agrária, não houve reassentamento de nenhuma família, apenas
ações de regularização fundiária. No governo Fernando Henrique Cardoso, ainda que
efetivados assentamentos e da propaganda do governo em cima dos números, uma grande
contradição tratou de desfazer a imagem criada pelo governo. Ainda que crescente o número
de famílias assentadas nos oito anos que FHC governou, a concentração fundiária também
cresceu intensamente. No governo seguinte, do presidente Lula, o II Plano Nacional de
Reforma Agrária foi elaborado no ano de 2005, mas sem investimento consistente no
reassentamento. Nele foram apresentadas algumas questões, referentes não apenas do número
de famílias sem-terra, mas também daquelas com terra insuficiente. Cerca de 5 milhões de
famílias residentes no campo, apresentam renda inferior a dois salário mínimos, muitos desses
arrendatários e meeiros (BRASIL, 2015). Trabalhou-se com II PNRA a qualificação e
melhoramento de assentamentos precários (MATTEI, 2012).
Atualmente, no governo da presidente Dilma Rousseff, pouco foi feito pela reforma
agrária, e apesar do crescimento do número de assentados, esses são inferiores aos governos
passados. Segundo o INCRA, a meta ainda é manter a qualidade e não a quantidade de
assentamentos. De forma comparativa, o ano com maior número de famílias assentadas foi
2006, com mais de 136 mil; e em 2013 pouco mais de 30 mil, vindo de valores como 23 mil
em 2012 e 20 mil em 2011 de assentamentos. O gráfico 2 mostra a evolução das famílias
37
assentadas entre os anos de 1995 a 2011, divulgado em janeiro desse ano pelo Incra. Após um
pico entre 1998 e 1999, houve considerável queda na efetivação da reforma agrária, que
apenas entre os anos de 2005 e 2008 se elevou novamente. Após esse período, os dados
apontam uma queda linear até o ano de 2011. Em 2014 o INCRA realizou o assentamento de
32 mil famílias em todo o país, sendo ao todo 145 projetos de assentamentos com
investimento de R$ 1 bilhão 395 milhões nas ações finalísticas (BRASIL, 2015).
Os assentamentos de reforma agrária têm importante papel social para reprodução de
sistemas agrícolas sustentáveis. Muitos assentamentos utilizam práticas conservacionistas que
podem assegurar um desgaste ambiental menor e maior acesso à terra. Para tanto, ações de
reforma agrária consistente são fundamentais para iniciar o processo de produção de
alimentos de maneira equilibrada ambientalmente, com objetivo de abastecer o mercado local
e regional, garantindo, ou, ao menos, buscando a segurança e soberania alimentar e
nutricional.
38
Algumas das diretrizes estratégicas de implementação da reforma agrária dizem
respeito à democratização da terra através da criação de assentamentos rurais sustentáveis,
regularizando as terras públicas e organizando a estrutura fundiária do país. A participação
social é fundamental durante todo o processo. Outra importante diretriz diz respeito à
fiscalização dos imóveis rurais, fomento a produção agroecológica, inserção dos agricultores
na cadeia produtiva, sendo a capacitação dos assentados fundamental para realização dessas
diretrizes (BRASIL, 2015).
Responsável pelas desapropriações e assentamento das famílias, o INCRA, tem função
imprescindível para a reforma almejada. Este trabalha, principalmente, junto ao Ministério do
Desenvolvimento Agrário – MDA – que busca promover a política de desenvolvimento rural,
democratizando o acesso à terra, com base numa gestão territorial eficiente que busca a
estruturação fundiária como premissa, além da inclusão produtiva, ampliação da renda e
redução dos conflitos no campo de modo a contribuir para a soberania alimentar,
desenvolvendo a economia, de forma socioambiental justa (Ministério do Desenvolvimento
Agrário, 2015).
O MDA apresenta diversos programas e ações que visam o desenvolvimento rural
sustentável. Dentre eles o Plano Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário
– PNDRSS. Além disso, diversos programas de governo são voltados para o desenvolvimento
sustentável do campo. A Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) é responsável por
importantes ações como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional
de Alimentação Escolar (PNAE), e a Rede Brasil Rural, dentre outros relacionados ao
fomento do turismo rural; artes e artesanato; feiras e eventos; processos agrícolas; políticas
setoriais para café e leite; além dos selos de certificação de produtos da agricultura familiar.
Todos esses programas estão ligados ao Departamento Geração de Renda e Agregação de
Valor.
Outro importante programa do Governo Federal é o de assistência técnica rural,
vinculado ao Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (DATER). São
realizados convênios com a Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER – responsável pela
capacitação e gestão dos recursos previstos pelo Pronater (Programa Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural) para o crédito agrícola. Já o Departamento de Financiamento e
Proteção da Produção (DFPP) tem programas basilares como o Programa Garantia-Safra, o
Programa Seguro da Agricultura Familiar, Programa Mais Alimentos, Programa de Garantia
de Preços para Agricultura Familiar e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
39
Familiar, o PRONAF. Este último tem uma linha de crédito para o financiamento de
investimentos dos sistemas de produção agroecológicos ou orgânicos, incluindo-se os custos
relativos à implantação e manutenção do empreendimento.
Outros programas de cunho estruturador para o desenvolvimento rural são os
vinculados à Secretaria de Desenvolvimento Territorial. São programas que comtemplam
projetos de serviços de infraestrutura de modo a fornecer melhores condições para a educação
e cultura, atrelados a dinamização econômica dos territórios rurais através do fortalecimento
do cooperativismo e outros. A Secretaria de Reordenamento Agrário – SRA – cuja principal
atribuição tem sido a gestão do crédito fundiário e programas cadastrais, estabelece maneiras
de subsidiar o apoio econômico às famílias da área rural, assim como organizar o espaço
agrário com base nos cadastros rurais9. Diversos outros programas relacionados à
regularização fundiária na Amazônia Legal, e políticas para as mulheres rurais e quilombolas
são desenvolvidas pelo Ministério.
Recentemente, após o lançamento da Política Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica – PNAPO – 2013 a 2015, em parceria com outros dez Ministérios, e com a
participação dos movimentos sociais e da sociedade civil, o Governo Federal criou o Brasil
Agroecológico, ampliando o compromisso de efetivar ações promotoras do desenvolvimento
rural sustentável. Para sua efetivação, a articulação do Governo Federal, com os Estados e
Municípios, são essenciais para integrar políticas de incentivo, fortalecimento e ampliação dos
sistemas agrícolas de bases ecológicas. As diretrizes da PNAPO visam:
Promover a soberania e segurança alimentar e nutricional e do direito humano à
alimentação adequada e saudável; promover do uso sustentável dos recursos
naturais; promover a conservação e recomposição dos ecossistemas naturais, por
meio de sistemas de produção agrícola e de extrativismo florestal baseados em
recursos renováveis; promover sistemas justos e sustentáveis de produção,
distribuição e consumo de alimentos, que aperfeiçoem as funções econômica,
social e ambiental da agricultura e do extrativismo florestal; valorizar a
agrobiodiversidade e os produtos da sociobiodiversidade e estímulo às
experiências locais de uso e conservação dos recursos genéticos vegetais e
animais, que envolvam o manejo de raças e variedades locais, tradicionais ou
crioulas; ampliar a participação da juventude rural na produção orgânica e de
base agroecológica; e contribuir com a redução das desigualdades de gênero.
(BRASIL, 2015).
9
O cadastro Ambiental Rural (CAR) é dado pelo Decreto nº 7.830/2012 com base no Novo Código Florestal
(Lei nº 12.651/2012) definido de acordo com o art. II como registro eletrônico de abrangência nacional junto ao
órgão ambiental competente, no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (SINIMA),
obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das
propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e
econômico e combate ao desmatamento.
40
Fortalecer as redes de produção, aumentar a oferta de Ater com foco em práticas
agroecológicas; ampliar o acesso à água e a sementes, fortalecer as compras
governamentais de produtos e ampliar o acesso ao consumidor de alimentos
saudáveis, sem uso de agrotóxicos ou transgênicos na produção agrícola,
fortalecendo assim, economicamente as famílias agricultoras. (BRASIL, 2015).
Todos os programas e ações dos órgãos de fomento à reforma agrária formam uma
estrutura de governo, em âmbito federal, que subsidiam também as ações estaduais. Em
Minas Gerais, a EMATER (Órgão Federal), trabalha em parceria com o Estado, vinculada à
Secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – SEAPA-MG – e oferece apoio nos
serviços de extensão rural aos agricultores familiares e assentados em todo o estado. Porém, a
redução do quadro de técnicos e o fechamento de escritórios regionais nos últimos anos tem
afetado negativamente o trabalho de extensão rural, tendo em vista o grande numero de
municípios mineiros a da atenção para atendê-los de forma eficiente. Além da EMATER-MG
a EMBRAPA Agrobiologia, localizada no Estado do Rio de Janeiro, trabalha com pesquisas
para melhorar a capacidade produtiva agroecológica, assim como, promover a adesão a este
sistema agrícola. Outras unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária atuam no
seguimento agroecológico com pesquisas avançadas em tecnologias acessíveis ao agricultor
familiar e ao assentado rural. Ainda assim, grande parte das ações é recente e há pouco
incorporaram a temática agroecológica, principalmente no que se refere ao incentivo da
prática em assentamentos de reforma agrária. Além disso, ao se tratar de programas
destinados para a agricultura familiar, determinada por módulos, ou seja, o tamanho da
propriedade, se beneficiam proprietários rurais que não atuam na produção de alimentos,
desviando-se do objetivo do programa que é promover, sobretudo, a soberania alimentar do
país. Há ainda um longo caminho de transformação do campo brasileiro rumo à
sustentabilidade, mas que já se mostrou não somente possível como também necessário.
41
1.2 Solos e Agricultura
42
A qualidade do solo e a sustentabilidade de sistemas agrícolas estão intimamente
ligadas, pois são consequências naturais de processos mais eficientes ambientalmente, e
também econômicos e sociais. O tipo de manejo influi diretamente na qualidade do solo,
assim como diversos outros fatores, inclusive os naturais. Reichert et al. (2003) afirmam que
um solo com qualidade ambiental adequada para a agricultura é aquele que mantém a
infiltração sem maiores impedimentos; faz a retenção e disponibilização de água para as
plantas; responde positivamente o manejo empregado; resiste à erosão; troca calor e gases
com a atmosfera e com a raízes; e possibilita o crescimento das raízes.
Quimicamente, a qualidade está relacionada, sobretudo, à quantidade de matéria
orgânica disponível, pH e os nutrientes presentes no solo. A presença de nutrientes é um dos
aspectos fundamentais que irão garantir a boa qualidade do solo, assim como o bom manejo
destes. A ciclagem natural dos nutrientes é responsável pela manutenção e bom
funcionamento do solo e do ecossistema como um todo. Essa ciclagem é fundamental para
manter o estoque de nutrientes, evitando a perda da fertilidade natural do solo (LOPES;
GUILHERME, 2007) essencial para a qualidade química. O aporte de nutrientes sintéticos de
maneira inadequada pode gerar problemas de toxidez difíceis de serem sanados. Solos
adubados por longos períodos dessa forma apresentam menor quantidade de húmus e menos
matéria orgânica, ao serem comparados a solos com adubação mineral. Apesar do bom
crescimento vegetal dos solos adubados sinteticamente, este é resultado apenas da ação dos
fertilizantes utilizados, ou seja, sem a adição destes produtos não há uma resposta natural do
solo, sendo sua qualidade e capacidade química limitada. O adubo orgânico, proveniente da
compostagem ou da adubação verde, não enriquece o solo com matéria orgânica, mas
aumenta os níveis de nutrientes, principalmente nitrogênio no solo o que garante fertilidade
por mais tempo e de maneira natural (PRIMAVESI, 2002).
Para melhor entendimento acerca das questões relativas à qualidade do solo, é
conveniente compreender as dinâmicas do mesmo, desde sua formação. A interação entre
fatores de formação dos solos e os processos pedogenéticos dará origem a diferentes tipos de
solos. Devem ser ainda consideradas as características químicas que interferem diretamente
na sua qualidade, além das propriedades físicas, muito importantes já que interferem
diretamente nas propriedades químicas e biológicas. Cada tipo de solo, em conjunto com a
vegetação do entorno, posição da vertente, disponibilidade de recursos hídricos e o clima são
fundamentais para uma avaliação consistente da qualidade, já que todos esses fatores naturais
têm influência direta no comportamento do solo.
43
1.2.1 Formação e dinâmica dos solos
44
Brady e Weil (2013) refletem a respeito da importância da atividade dos
microrganismos no processo de formação dos solos. Para os autores, sem os organismos vivos
na Terra atuando no intemperismo químico, este processo poderia ser até mil vezes mais lento
resultando em um desenvolvimento insuficiente da formação de solos do planeta. Tal fato
pode ser observado em regiões do globo onde o clima frio impede ou dificulta a vida e a
atividade microbiana. São regiões com solos pouco ou quase nada desenvolvidos com
espessuras bastante incipientes.
Para Fontes (2012) este é um processo que controla parcialmente a fertilidade natural
do solo uma vez que o intemperismo relaciona-se diretamente com as características do
saprolito e dos solos em formação na superfície da crosta de acordo com a intensidade em que
ocorre. O material de origem, que pode ser rico em minerais que contêm elementos químicos
importantes para a nutrição das plantas é determinante para que os solos tenham fertilidade
natural. É o caso dos solos do sul do Brasil, originários de rochas basálticas. Solos
desenvolvidos sobre calcário também contam com fertilidade natural em razão dos minerais
presentes. Estes representam grandes dimensões em todo o planeta, ocorrendo em áreas que
somam entre 7% e 10% do território mundial; sendo que nessas áreas, 25% dos assentados
são agricultores. No Brasil, o semiárido do nordeste apresenta solos calcários com elevada
fertilidade natural (PEREIRA et al., 2012).
Kämpf e Curi (2012) analisam os modelos dos autores Fanning e Fanning (1989); van
Breemen e Buurman (1998), e Simonson (1985) que conceberam modelos para determinar
processos pedogênicos. São eles o modelo dos processos específicos e o modelo dos
processos múltiplos, onde quatro categorias gerais dão origem a vários outros processos
específicos de formação. São eles: adição, remoção, translocação e transformação. Para
interpretação das características no solo dos processos específicos é necessário atentar-se para
o fato de que esses são resultados de um ou mais processos específicos e que estão
condicionados aos fatores ambientais de formação. Dessa forma, os processos somados aos
resultados dos processos de intemperismo físico e químico determinam localmente o perfil do
solo expresso nesse balanço. As ações formadoras podem ainda ser identificadas e descritas
considerando a acumulação de matéria orgânica; estrutura do solo; acumulação de sais
solúveis, minerais e argilas; lixiviação; concentração de óxidos e a redução microbiana; além
de outros fatores.
45
1.2.2 Propriedades químicas do solo
10
Plasmas do solo referem-se a todo material do solo de tamanho coloidal, e relativamente solúvel, não ligado
aos grãos, que consiste em material amorfo e cristalino, além do material orgânico. Seu tamanho é, na prática,
delimitado em torno de 2 µm.
46
cátions trocáveis, cerca de 20 a 40 vezes mais que minerais de argila como a Caulinita. Ainda
assim, solos com presença de argilominerais 1:1 são, muitas vezes, indicados para a atividade
agrícolas, uma vez que possuem menor plasticidade, coesão, viscosidade, expansão e
contração, além da adsorção de ânions serem mais acentuada (BRADY; WEIL, 2013).
A fertilidade de um solo está relacionada, entre outros fatores, à capacidade de
adsorção de íons pelos coloides, assim como sua qualidade ambiental. Gliessman (2005)
salienta que os íons dissolvidos quando não absorvidos pelas raízes das plantas ou por fungos
imediatamente, podem ser lixiviados da solução do solo. Assim, a capacidade de troca
catiônica – CTC – é a maneira mais eficiente de reter os minerais necessários à nutrição das
plantas. Alguns princípios regem as reações de trocas catiônicas. De acordo com Brady e
Weil (2013) fazem parte dos princípios a reversibilidade, ou seja, o deslocamento de íons; a
equivalência de cargas, onde é necessário o mesmo número de carga para substituição na
troca; a lei de reação que faz um balanço do equilíbrio entre a proporção de nutrientes no
coloide, que será a mesma na solução, e ambas serão as mesmas em relação ao sistema global;
os efeitos dos ânions sobre a relação das massas, lei de massas que avalia a reação de
associação forte entre um cátion liberado e um ânion, impedindo a reação do sentido inverso,
quando liberado; a seletividade do cátion, que se liga com maior ou menor força ao coloide; e
os cátions complementares, relacionados com a força da ligação dos íons com os coloides.
Há também a troca de ânions, comum em solos tropicais devido ao maior grau de
intemperismo, acidez e argilas do tipo 1:1 com presença de óxidos de Fe e Al. Nesses solos, a
quantidade de cargas negativas sobre os coloides é menor que as cargas positivas, tendo assim
maior adsorção de ânions. O pH é o principal regulador da troca aniônica já que, à medida que
o pH aumenta, a capacidade de troca aniônica – CTA – diminui, ao contrário do que acorre na
CTC. As plantas podem absorver nutrientes liberados por esse tipo de troca, sendo importante
para o crescimento e desenvolvimento, além do controle eficaz na lixiviação (BRADY;
WEIL, 2013). Assim, a acidez do solo influencia a carga elétrica nas partículas da superfície e
controla o desalojamento de outros íons, que por sua vez irão afetar a retenção de íons e sua
disponibilização de nutrientes a curto prazo, sendo a retenção e disponibilização
componentes-chave para a fertilidade do solo (GLIESSMAN, 2005).
Essencial para o solo, a matéria orgânica é constituída de material orgânico vivo,
como raízes, pedofauna e microrganismos, e também componente não vivo. A decomposição
de material vegetal pelos microrganismos modifica a composição do material, resultando na
formação do húmus. A matéria orgânica do solo (MOS) é um dos principiais agentes de
47
agregação de partículas, o que influencia diretamente sobre a estabilidade de agregados do
solo (PASSOS et al., 2007). Benites et al. (2010) ressaltam a importância da MO no
ecossistema terrestre, atuando como um regulador de processos ecossistêmicos, tais como a
CTC, estruturação e retenção da umidade do solo e a capacidade de estocar carbono (C)
atmosférico, que é fixado pelas plantas. As características da MOS são resultado dos
processos aos quais os solos foram submetidos, podendo ser utilizadas como indicador de
mudanças no uso e manejo do solo (BENITES et al., 2010).
Para se determinar o teor da MOS, de acordo com Curi e Kämpf (2012) é necessário
quantificar a massa de carbono presente. Em média encontra-se 58% de C na massa da
matéria orgânica (PRIMAVESI, 2002; KAMPF; CURI, 2012). Gliessman (2005) relaciona a
quantidade de matéria orgânica no solo através do conteúdo de carbono e também do
nitrogênio presente. Mudanças nessa relação podem ser observadas quando áreas de floresta
passam a ser cultivadas, havendo um decréscimo na MOS em razão do incremento na taxa de
mineralização desses elementos. Práticas agrícolas alteram os teores de C e N, além da
qualidade da matéria orgânica e a agregação dos solos (PASSOS et al., 2007).
A relação entre carbono orgânico e nitrogênio no solo é um importante indicador. Na
agricultura, a relação C/N é empregada para caracterizar a matéria orgânica total do solo e
também o aporte desses elementos pela adubação, seja por esterco, palha ou outros compostos
orgânicos. O aporte desses elementos em solos agrícolas revolvidos é da ordem de 9% quando
há boa mineralização (BAIZE, 2000). Normalmente, a razão entre C/N varia de 15/1 em solos
florestados. Os valores são bem diferentes para materiais diversos, como a serragem de
madeira, cuja relação é de 600/1. Valores elevados dessa relação indicam que os
microrganismos têm pouco N para se alimentar, competindo assim com os vegetais superiores
(LEPSCH, 2011).
A matéria orgânica concentra-se na parte mais superficial do solum, alcançando em
média de 15 a 20% do horizonte A (GLIESSMAN, 2005). Seu papel é extremamente
importante para o desenvolvimento das plantas. Além de fornecer nutrientes, a matéria
orgânica mantem equilibrado o ecossistema do solo, uma vez que garante a boa estrutura,
aumenta a retenção de água e nutrientes, atua na proteção mecânica dos solos e fornece a base
alimentar dos micronutrientes (GLIESSMAN, 2005). Responsável pelos processos de CTC do
solo, e também pela formação e estabilidade de agregados, o que resulta na qualidade física
do solo, a matéria orgânica fornece energia para o crescimento microbiano, refletindo na
48
maior ciclagem de nutrientes e aumento da CTC, o que constitui um dos principais
indicadores da qualidade do solo (XAVIER et al., 2006).
O húmus apresenta cor escura resultado do processo de humificação. Esta é uma
fração sólida, responsável por algumas propriedades químicas e físicas do solo. Sua formação
advém de processo bioquímico bastante complexo. Segundo Primavesi (2002) o húmus
quando decomposto perde a sua estrutura, porém quando decompostos demais restos vegetais,
forma-se novamente sua estrutura no solo. Observa-se que, não é o húmus que possui força
agregante, mas sim o produto intermediário da decomposição bacteriana, os ácidos
poliurônicos que não dão cor ao solo, mas são capazes de floculá-lo. O húmus é o produto da
decomposição parcial da matéria orgânica. Sua capacidade de agregação em grumos, ao ser
decomposto, transforma sua bioestrutura em agregados maiores. O húmus ativa processos de
respiração, metabolismo e adsorção vegetal, em especial, o fósforo.
O pH é importante regulador do solo, principalmente para a agricultura. A faixa típica
fica entre muito ácido, pH 3 e fortemente alcalino, pH 8. Poucas culturas agrícolas se
desenvolvem bem fora da faixa entre 5 e 8, já que valores muito baixos ou altos
comprometem a disponibilidade de nutrientes. De acordo com Gliessman (2005) leguminosas
são sensíveis a pH baixos em razão do impacto que solos ácidos têm sobre os simbiontes
microbianos para a fixação de nitrogênio, assim como as bactérias. A CTC também é
condicionada pelo pH do solo (BRADY; WEIL, 2013).
A alcalinidade e salinidade do solo são resultado de processos naturais e antrópicos.
Naturalmente, regiões áridas e semiáridas têm grande acumulação de sais solúveis ou
insolúveis. Os sais liberados pela rocha sã por meio do intemperismo são pouco ou nada
removidos pela lixiviação – que é pequena devido às baixas taxas de precipitação comuns
nessas regiões – ficando suspensos nos rasos solos que apresentam esse tipo de processo.
Com as técnicas de irrigação, planejadas inadequadamente, há um acréscimo de sais no solo,
além de alguns fertilizantes inorgânicos utilizados na agricultura moderna, que elevam ainda
mais o nível de sais, podendo levando à salinização do solo. Já os solos alcalinos sofrem com
o excesso de íons de OH¯, o que dificulta a absorção de nutrientes pelas plantas. Uma forma
de equilibrar solos alcalinos é através da irrigação planejada de forma adequada
(GLIESSMAN, 2005).
Os macronutrientes, assim chamados, são um conjunto de nutrientes minerais com
maior expressividade nos solos brasileiros. Fazem parte desse conjunto o nitrogênio (N),
fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), enxofre (S) e magnésio (Mg). Há ainda outra categoria,
49
a dos micronutrientes que são absorvidos pelas plantas em menores quantidades, são eles:
boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mg), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e
zinco (Zn). Todos estes nutrientes minerais são elementos essenciais para a nutrição mineral
da planta, porém, os macronutrientes são exigidos em maiores quantidades pelas plantas, na
ordem de g/Kg-1 de matéria seca; ao passo que, os micronutrientes são exigidos na ordem de
mg Kg-1 de matéria seca de planta (DECHEN; NACHTIGALL, 2007).
Para que haja eficiente absorção dos nutrientes pelas plantas os mesmos devem estar,
como elenca Primavesi (2002), existir no solo de forma assimilável, ou seja, com água
disponível para solubilização; devem ser alcançados pela raiz, assim, solos compactados
podem interromper o processo de absorção de nutrientes; a velocidade de difusão; e a
fotossíntese, tendo o gás carbônico disponível – as plantas quebra-vento utilizadas na
agroecologia auxiliam no processo, pois criam uma barreira para o vento que chega próximo
às culturas em brisa capaz de fornecer o CO2 de maneira adequada, o que não aconteceria caso
houvesse apenas ventos fortes.
A boa absorção dos nutrientes pelas plantas é ainda condicionada pela proporção entre
os elementos. Para tanto, algumas considerações são importantes para o entendimento dessas
correlações. Ainda de acordo com Primavesi (2002), não apenas as proporções entre
nutrientes são essenciais para a absorção, mas também os níveis dos mesmos devem estar
adequados. Não basta que determinado nutriente esteja em nível alto no solo. Níveis baixos
muitas das vezes já são suficientes para o crescimento da planta, pois apresenta o chamado
efeito de diluição, capacidade que a planta tem de crescer e, de fato, diluir os nutrientes para
toda a área de crescimento, enquanto uma planta com problemas no crescimento acumula os
nutrientes em uma área restrita. Após a absorção, a produção ainda esta vinculada a alguns
processos. No caso de áreas agrícolas a metabolização e a absorção ocorrem conforme sua
concentração no solo, a concentração dos demais nutrientes, a idade fisiológica da planta e a
insolação e sombreamento.
A importância do equilíbrio proporcional dos nutrientes tanto macro como micro
baseiam-se no fato destes últimos agirem como ativadores das enzimas essenciais no processo
de metabolismo vegetal. “A deficiência de um elemento provoca o excesso ou toxidez de
outro, e consequentemente o excesso de um produz a deficiência de outro” (PRIMAVESI,
2002, p. 279). Os nutrientes mantêm seu equilíbrio em pares ou grupos, como por exemplo, o
NPK, N/Cu, Ca/Mg, C/N e outros.
50
a) Nitrogênio
Segundo Baize (2000) o aporte de nitrogênio no solo ocorre de diferentes formas. Uma
delas é o nitrogênio total, em forma mineral ou orgânica, exceto na forma gasosa, além da
forma amoniacal, nítrica, mineral e orgânica. O Nitrogênio não sendo um nutriente mineral
chega ao solo por diferentes maneiras, uma delas é a adubação; ar, adicionado pelas chuvas; e
pelo manejo de espécies que fornecem o elemento. Sua fixação se dá pela matéria orgânica do
solo por meio biológico fotoquímico, sendo a fixação biológica dos microrganismos
importante forma de retenção. As argilas também adsorvem com facilidade a amônia (NH₃)
principalmente à presença de luz. A temperatura é um dos principais fatores na absorção do
N, juntamente com a água e o oxigênio. Quanto maior a temperatura, mais rápida é também a
absorção. Para uma fixação biológica eficiente de nitrogênio atmosférico, são necessárias boa
disponibilidade de matéria orgânica, cálcio e fósforo (PRIMAVESI, 2002).
Dos nutrientes mais requeridos pelas plantas, o nitrogênio é também um dos mais
deficientes. Como afirmam Gliessman (2005) e Brandy e Weil (2013) o N é fundamental na
síntese das enzimas que controlam todos os processos biológicos, além de ser essencial para
que as plantas utilizem os carboidratos. Sua deficiência afeta muitas das relações enzimáticas,
já que o N é exigido na síntese de enzimas. O amarelamento das plantas é o primeiro sinal da
deficiência deste elemento, processo chamado de clorose. A baixa disponibilidade de N
decorre de 95% do mesmo encontrar-se na forma orgânica, sendo que uma pequena parcela
deste é mineralizada durante o decorrer do ano. A grande necessidade das plantas pelo N faz
dele um dos nutrientes mais limitantes na produtividade na maioria das culturas agrícolas
(PASSOS et al., 2007).
Sua perda é comum por lixiviação sendo altos os potenciais de perda, por isso, como
mostra Gliessman (2005) as formas disponíveis de N no solo são mantidas em níveis mais
baixos em função da rápida absorção. Primavesi (2002) salienta que o N é o primeiro
nutriente a faltar em situações de seca, sendo necessária a adubação para balancear a
deficiência, e que, aproximadamente 50% do nitrogênio adubado não são aproveitados devido
ao escapamento pelo ar, além da lixiviação; em função também do adensamento do solo,
impedindo que a raiz alcance o elemento; e a falta de fósforo e excesso de alumínio.
As plantas da família das leguminosas são responsáveis pela fixação simbiótica do
nitrogênio, sendo essa uma das principais fontes. Associadas a essas plantas estão as bactérias
do gênero Rhizobium e Bradyrhizobium. A primeira tem melhor funcionalidade em solos não
51
muito ácidos, ao passo que a segunda tolera níveis mais agudos de acidez. De acordo com
Brandy e Weil (2013) esses microrganismos infectam as radicelas e também as células
corticais das raízes, formando assim os nódulos que irão fixar o nitrogênio. Nessa associação,
as plantas chamadas hospedeiras suprem as bactérias com carboidrato que é fonte de energia,
e as bactérias fornecem de volta às plantas os compostos reativos de nitrogênio. As
leguminosas podem melhorar o crescimento de outras espécies não fixadoras de nitrogênio
através de conexões micorrízicas. A presença das leguminosas auxilia ainda no aceleramento
do reflorestamento natural em paisagens degradadas, e reduz a necessidade de adubos
nitrogenados quando há rotação de culturas. Chamado também de adubo verde o N fortalece e
nutre o solo devido à incorporação de biomassa.
b) Fósforo
Outro importante nutriente para o crescimento vegetal é o fósforo (P), responsável por
transferir a energia da síntese de substâncias orgânicas. Segundo Primavesi (2002) este é o
elemento com maiores problemas para agricultura nas regiões tropicais, dada a facilidade de
sua fixação formando compostos inacessíveis às plantas, podendo ocorrer em forma de
humatos, apatita ou mesmo ligado ao ferro e alumínio. Solos com pH acima de 5,5 auxiliam
na menor fixação do P pelo Fe e Al, disponibilizando melhor o nutriente para as plantas. Em
função disso, é que as calagens são feitas, ainda que raramente essas consigam mobilizar o P
ligado ao solo, mas auxiliam na absorção de uma adubação fosfatada feita posteriormente. A
mobilização do P é então realizada pelos microrganismos do solo, assim é necessária uma boa
bioestrutura, com grumos que garantam melhor arejamento, uma adequada superfície de
matéria orgânica e disponibilidade de cálcio.
A absorção do P ocorre em forma de fosfato em solução do solo pelas raízes. Quando
sua disponibilidade é limitada, as plantas apresentam coloração azulada ou verde-escura com
pigmentos roxos abaixo das folhas e ao longo das veias; o desenvolvimento das raízes e frutos
é também é comprometido. Elas ainda tornam-se atrofiadas e com hastes finas
(GLIESSMAN, 2005; BRADY; WEIL, 2013). Os problemas relacionados ao P no solo, no
que diz respeito à fertilidade, são condicionados pela baixa concentração e pela dificuldade de
absorção pelas plantas, já que, na maioria das vezes, estão em condições altamente insolúveis.
Quando fontes solúveis de fósforo são adicionadas ao solo elas são fixadas e alteradas para
compostos também insolúveis.
52
O excesso de P provoca problemas ambientais como degradação de áreas e a
eutrofização acelerada em lagos e rios pelo excesso do nutriente – em regiões com adubação
superfosfatada. Ocorrem casos de saturação do solo por excesso de P, sendo necessário um
melhor planejamento das quantidades utilizadas. Uma das maneiras encontradas de melhorar
a absorção de P pelas plantas é misturar adubos com amônio aos de fósforo, colocando-os em
faixas. Dessa forma, a acidez produzida pela oxidação dos íons de amônio e a absorção de
cátions de amônia, é capaz de manter o fósforo nas mesmas condições solúveis, podendo
então ser absorvido pelas plantas (BRADY; WEIL, 2013).
c) Potássio
53
Apesar de ser o macronutriente mais abundante no solo, o K tem limitações quanto à
sua disponibilidade para as plantas. Sua retenção pelos minerais primários e fixação em
formas não assimiláveis comprometem a fertilidade natural do solo. As perdas por lixiviação
também são grandes, sendo mais susceptível que o fósforo, por exemplo. As formas de
disponibilização do K no solo dependem do tipo de argila presente. As do tipo 2:1 contêm
mais potássio, enquanto as 1:1 menos. O potássio em estruturas de minerais primários
encontra-se indisponível para a planta; já em minerais secundários, este se encontra
lentamente disponível; e em estruturas coloidais, o K tanto trocável quanto solúvel, encontra-
se prontamente disponíveis (BRADY; WEIL, 2013). As plantas com deficiência de K
apresentam, segundo Gliessman (2005), quebra de equilíbrio hídrico, com pontas secas, folhas
crespas, e em alguns casos, raízes apodrecidas.
A remoção continua do K pelas culturas pode comprometer a disponibilidade total do
elemento, assim, Brady e Weil (2013) sugerem que, além da reposição em aplicações maiores
no preparo do solo, é bem vinda à aplicação de menores quantidades de K em intervalos de
tempo menores. Essa prática pode oferecer vantagens quanto à diminuição de perdas do
nutriente, e também diminuir o consumo desnecessário por algumas plantas e as perdas por
lixiviação. Ernani et al. (2007), ressalta que os fertilizantes orgânicos, que utilizam restos
vegetais, cinzas e excreções de animais – como as das aves – apresentam capacidade de
liberar o nutriente para o solo, independente da taxa de mineralização, pois o K nessa
condições é totalmente solúvel. Este se torna disponível para as plantas, quando adicionado no
solo, imediatamente.
d) Cálcio
O Cálcio é um importante elemento para o solo, e suas funções vão além de nutrir os
vegetais e regular o pH do solo. Ele atua na neutralização do alumínio e manganês tóxico,
além de flocular o solo, o que auxilia na agregação. Sua relação com o húmus é essencial,
pois, sem o elemento presente no solo, não há formação de húmus, somente o que Primavesi
(2002) chama de turfa. Porém, o Ca em forma de calagem é o agente para decomposição e
perda da matéria orgânica. Assim, a calagem deve ser bem planejada para que não haja
grandes perdas de matéria orgânica. Primavesi (2002) relaciona a calagem como medida de
agregação do solo em zonas temperadas e tropicais. Na primeira, há agregação, porém para
que haja de fato uma boa agregação, é necessário que não existam outros cátions polivalentes
54
no solo; já no segundo, em zonas tropicais como o Brasil, a elevada quantidade de ferro e
alumínio oxidado, inibem o efeito floculante do Ca, já que esses elementos fazem este papel.
Tem importante função ao garantir o crescimento dos meristemas e ápices radiculares.
O Ca impede ainda danos à membrana celular, evitando a saída de substâncias intracelulares,
exercendo papel estruturador. Atua como modulador da ação dos hormônios. Como estimula
o crescimento das raízes está indiretamente relacionado à produtividade agrícola, bem como
por se atrelar à atividade microbiana e auxiliar na disponibilidade do Mo, além da absorção de
outros nutrientes reduzindo o NO3- (DECHEN; NACHTIGALL, 2007).
Brady e Weil (2013) discorrem a respeito da deficiência do Ca nas plantas. Apesar de
raras deficiências, com exceção de solos ácidos, o nutriente apresenta boa absorção pelas
plantas, principalmente pelas raízes jovens. A deficiência do Ca leva à intoxicação por outros
elementos que, até então, eram inofensivos. Isso leva à perda de galhos, levando a planta à
morte. Em solos ácidos, elava a toxidade de alumínio e manganês. A absorção do cálcio
como nutriente vegetal depende da temperatura do ambiente. Em temperaturas elevadas o
processo ocorre de maneira mais eficiente. Para efeito do nutriente na planta, há intima
dependência do equilíbrio deste com demais cátions, principalmente o potássio, manganês,
zinco, magnésio, boro, cobre e ferro (PRIMAVESI, 2002).
e) Enxofre
55
com a argila, diferente de outros nutrientes. Assim, solos com baixos teores naturais do
elemento têm seu fornecimento seriamente comprometido. Brady e Weil (2013, p.455)
elencam as tendências dessa baixa do nutriente. Em primeiro lugar sua falta é devida à
“diminuição do dióxido de enxofre na poluição do ar, a eliminação da maioria das
‘impurezas’ de enxofre nos adubos N-P-K e o aumento das remoções de enxofre por culturas
de maior rendimento”.
Grande parte do enxofre é encontrada em minerais do solo, através da água da chuva,
matéria orgânica (PRIMAVESI, 2002) e gases de enxofre presentes na atmosfera (BRADY;
WEIL, 2013). Gliessman (2005, p. 97), afirma que a absorção de enxofre pelas plantas se dá
na forma de “ânion (SO42-) quando há ligações orgânicas no solo ou mediante a dissociação
de sulfatos de Ca, Mg ou Na”. O superfosfato utilizado na lavoura contém enxofre, sendo
este, por vezes, mais absorvido pelas plantas que outros nutrientes importantes como o
fósforo. Sua deficiência se parece com a do nitrogênio, que impede a formação de proteínas.
Além disso, pode provocar a lignificação precoce das raízes por causar deficiência na
absorção pelas plantas de outros nutrientes (PRIMAVESI, 2002).
f) Magnésio
g) Manganês
56
vezes, a fração principal do elemento encontra-se na forma não-trocável (Mn3+ ; Mn4+). O
Mn2+ é a forma disponível do elemento, que tem relação direta com o pH para solubilizar-se,
sendo que valores de pH entre 6,0 e 6,5 podem ser críticos. O pH baixo favorece a redução, ao
passo que, pH alto favorece a oxidação. A MO em equilíbrio com outros cátions,
principalmente Fe, Ca e Mg também é condição para que o Mn esteja disponível para a planta
(DECHEN; NACHTIGALL, 2007).
O manganês tem o papel de ativar as enzimas importantes para a fotossíntese, e para o
metabolismo e assimilação do nitrogênio (Brady: Weil, 2013). Apesar da importante função
do elemento quanto à síntese de clorofila, e principalmente, na ativação das enzimas,
participando do funcionamento do fotossistema da fotossíntese, responsável pela fotolise da
água, o Mn quando em teores elevados no solo é tóxico. Essa toxidez ocorre pelo ambiente
propício à acumulação, onde há grande disponibilidade de húmus, pH inferior à 5,5 e elevadas
condições redutoras. Há então, absorção pelas plantas maior que o necessário. A deficiência
do Mn é também preocupante, já que compromete o conteúdo de carboidratos não estruturais,
evidenciado na redução do crescimento das raízes (DECHEN; NACHTIGALL, 2007).
57
a) Textura
58
A proporção dos diferentes tamanhos das partículas é importante para o entendimento
do comportamento e, assim, adequação dos manejos agrícolas do solo (BRADY; WEIL,
2013). Para Ribeiro et al. (2012) em relação às atividades agrícolas, a textura apresenta
importante papel na determinação da utilização dos solos, já que influencia diretamente
importantes relações de produtividade como a retenção e disponibilidade de água e nutrientes,
além da capacidade de trocar cátions; susceptibilidades à erosão e compactação. Apenas
processos pedológicos são capazes de alterar a textura de um solo, ações como iluviação,
erosão seletiva e intemperismo dos minerais modificam o tamanho das partículas (RIBEIRO,
et al., 2012).
b) Estrutura
59
influencia diretamente no arranjamento estrutural. Sua importância na agricultura relaciona-
se, sobretudo, por estar diretamente ligada ao desenvolvimento das raízes e o crescimento das
plantas, na retenção de nutrientes, água e ar (SANTOS, et al., 2013).
Os agregados são compostos por minúsculas placas laminares de argila e partículas de
matéria orgânica. Os níveis hierárquicos dos agregados são passiveis de identificação quando
desmanchados. Esses se quebram em agregados menores até tornarem-se individuais,
separados em silte, argila e húmus, etapa essa que pode se repetir diversas vezes até chegar ao
desmembramento final (BRADY; WEIL, 2013). A formação dos agregados do solo acontece,
principalmente, nos horizontes superficiais, geralmente granulares arredondados, com
tamanhos que variam entre macroagregados, tamanhos de 0,23 a 5 mm de diâmetro; e
microagregados, de 2 a 250 micrômetros de diâmetro, sendo os agregados menores mais
estáveis do que os maiores. Os agregados de menor tamanho são responsáveis pelo maior
armazenamento de matéria orgânica e sítios de N mineralizável (PASSOS et al., 2007). Já os
agregados maiores e mais pesados conferem maior estruturação, porosidade, condutividade
hidráulica e resistência à compactação, sendo importantes para a sustentabilidade dos sistemas
produtivos (SCHOSSLER et al., 2012).
Para a formação de grumos estáveis à ação da água é necessário, segundo Primavesi
(2002), a presença de matéria orgânica e microrganismos. As bactérias mais eficientes no que
a autora chamada de colagem são as Cytophaga e Sporocytophaga que ao decompor material
celulósico, produzem uma substância capaz de agregar os grumos do agregado. A formação
argilo-humoso ocorre pela atração eletrostática do grupo dos carboxílicos COOH-. A
estabilidade dos agregados à água é resultado da ação açúcar ácido que alimenta fungos e
actinomicetos, que se envolvem aos grumos conferindo-lhes estabilidade. Segundo Curi e
Kämpf (2012), a quantidade de coloides no solo e sua organização estrutural também
influenciam na agregação e em sua estabilidade. Os processos físico-químicos e biológicos
são os principais responsáveis pela formação dos agregados. Associados, principalmente à
argila, a formação dos agregados do solo apresenta ainda ação dos processos de floculação,
expansão e contração da argila. Solos arenosos, como contêm pouca argila, tem nos processos
biológicos a principal forma de agregação.
A estrutura do complexo argilo-húmus, tem, geralmente, cátions de Ca ou Fe, que
fornecem a ligação entre as argilas e polímeros orgânicos, por meio de pontes entre eles. O
cálcio apresenta ligações sólidas, bastante estáveis, que impedem a mineralização rápida da
matéria orgânica, que se opõem à dispersão de argilas. Solos com o complexo húmus-cálcio-
60
argila apresentam cores pretas escuras, bem visíveis principalmente em solos carbonáticos. O
ferro pode substituir o Ca em solos sem presença significativa deste elemento, mas rico em
Fe. Porém, a ligação entre estes é mais frágil por causa da quebra da água em torno dos
cátions. Solos com o complexo húmus-ferro-argila dão ao solo coloração brunada. Assim, a
formação da estabilidade do complexo argila-húmus depende da quantidade e da qualidade da
matéria orgânica, da presença de argila e cátions de ligação, sendo favoráveis à fauna e a
microflora.
O complexo argila-húmus estável fornece aos solos novas propriedades, todas
favoráveis à sua fertilidade, como a floculação dos coloides de argila e substâncias húmicas
favoráveis à estruturação arejada e um estoque hídrico suficiente; além da ligação argila-
húmus, que impede a mineralização da matéria orgânica humificada. Tal ligação húmica,
impede a dispersão da argila, evitando o adensamento e compactação do solo, e a integração
entre argila e húmus, no mesmo composto, aumentando a capacidade do solo em reter os
nutrientes indispensáveis para as plantas (GOBAT; ARAGNO; MATTHEY, 2003). Todos os
processos relacionados ao complexo argila-húmus, como afirmam Brady e Weil (2013)
resultam na formação de agregados menores, em longo prazo. Em solos altamente
intemperizados, como os Latossolos, a ação cimentante dos óxidos de ferro e de outros
compostos orgânicos, produzem pequenos agregados, bastante estáveis (BRADY; WEIL,
2013).
Os fatores que promovem a aproximação das partículas são a floculação das argilas,
processo físico e químico que dependem do pH e dos cátions presentes tanto na solução do
solo quanto adsorvidos; processos como a desidratação e a pressão das raízes; além dos
organismos do solo. Os principais agentes que dão estabilidade aos agregados são os
argilominerais, óxidos de ferro e alumínio e a matéria orgânica, além dos microrganismos que
produzem substâncias que atuam como estabilizadores ou mesmo funcionando como uma
rede que envolve os agregados do solo, por exemplo, as hifas, fungos associados às pequenas
raízes (DEMARCHI et al., 2011). Assim, são importantes manejos voltados tanto para a
manutenção da matéria orgânica no solo, quanto para a fixação de fungos e bactérias, que
produziram associadas às raízes, tais substâncias estabilizadoras.
Alguns processos naturais e de influência antrópica modificam a formação e a
estabilidade de agregados. Os processos naturais físico-químicos, também chamados de
abióticos, estão associados, principalmente, às argilas, sendo solos com textura fina,
naturalmente mais propensa a ter maior estabilidade. Diferentes práticas de manejo alteram o
61
teor da MO e atividade biológica do solo (MUZILLI, et al., 1998). Os principais processos
abióticos são a floculação ou atração mútua entre as partículas de argila e moléculas
orgânicas; e processos de expansão e contração das massas de argila. Estes estão associados à
formação de agregados menores, e os processos biológicos, à formação de agregados maiores.
Assim, o volume de materiais argilosos, as atividades dos organismos no solo e o teor de MO
são as principais influências naturais do processo de agregação; em contrapartida, o principal
processo antrópico que influencia tal agregação está no preparo do solo agrícola (BRADY;
WEIL, 2013).
A estabilidade dos agregados do solo é fundamental para a produtividade agrícola, já
que esses são formados pela matéria orgânica, que por sua vez atua diretamente na estrutura
do solo. Na agricultura é comum a prática do revolvimento do solo antes do plantio. Essa
prática tem sido bastante contestada já que tem implicações negativas diretas no que tange à
estrutura física do solo e também na redução da matéria orgânica pela oxidação (SANTOS et
al., 2012). A autora aponta ainda que esse revolvimento implica em impactos aos atributos
físicos do solo como a redução do tamanho dos agregados, que por sua vez, irão influenciar
na redução da macroporosidade e infiltração da água no solo, aumentando a densidade e a
resistência do solo à penetração. Loss et al. (2009) afirmam que as técnicas da produção
agroecológica evitam a destruição dos agregados e a inversão de suas camadas. Para Bertol et
al. (2004) as práticas agrícolas conservacionistas preservam a matéria orgânica no solo,
responsável pela qualidade física do solo e também pela produtividade. Ao contrário, as
práticas da agricultura moderna, que revolvem intensamente o solo, acarretam em menor
estabilidade dos agregados, pois rompem a estrutura e aceleram a decomposição da matéria
orgânica. Esse sistema ainda aumenta a susceptibilidade à erosão.
Os usos agrícolas e urbanos alteram a agregação e assim a estabilidade dos agregados
do solo. Essa propriedade é um importante indicador de qualidade do solo, tendo em vista que
quanto maior a agregação e estabilidade desses, maior é a resistência à erosão hídrica. Solos
de baixa estabilidade apresentam índices de agregação ou de Diâmetro Médio Ponderado
(DMP) abaixo de 0,5 mm. Tais solos tornam-se impermeáveis quando irrigados, formando
crostas à superfície. Já solos com DMP maior que 0,5 mm são considerados relativamente
resistentes ao esboroamento e à dispersão, ou seja, quanto maior for a porcentagem de
agregados retidos nas peneiras, melhor a agregação. Assim, agregados maiores são mais
estáveis, sendo que o fracionamento dos agregados provocado por pisoteio de animais,
movimentação de implementos agrícolas, intenso revolvimento das camadas superficiais do
62
solo e a constante incorporação de matéria orgânica, provocam alterações em outras
propriedades físicas do solo como porosidade e densidade, que comprometem a qualidade e
capacidade produtiva do recurso natural (DEMARCHI et al., 2011).
Além do DMP, o Diâmetro Médio Geométrico (DMG) e o Índice de Estabilidade dos
Agregados (IEA) também é utilizado como parâmetro de avaliação do tamanho dos
agregados, além do estado da agregação do solo. Cada um desses apresenta um principio,
como no caso do DMG, que representa uma estimativa do tamanho das classes dos agregados
que apresentam maior ocorrência. Já o IEA representa a medida da agregação total do solo,
desconsiderando a distribuição por classes de agregados, sendo que quanto maior for a
quantidade de agregados de diâmetro inferior a 0,25 mm, menor será o IEA (DEMARCHI et
al., 2011).
c) Densidade e porosidade
A densidade do solo é definida como a massa por unidade de volume do solo seco,
incluindo as partículas sólidas e o espaço entre poros. Dessa forma, solos com maior
proporção de espaços porosos em relação a seu volume, possuem menor densidade, tendo
maior número de espaços vazios, sendo assim, menos compactados (BRADY; WEIL, 2013).
Tal porosidade relaciona-se ao volume ocupado por água e ar (SANTOS et al., 2013). A
porosidade do solo, segundo Curi e Kämpf (2012) depende da sua estrutura e pode variar de
acordo com a textura e a quantidade de matéria orgânica presente que, por sua vez, implicam
no tipo de estrutura e profundidade.
A atividade biológica apresenta importante relação com a porosidade, já que altos
teores de óxido de ferro e alumínio promovem alta porosidade. Solos arenosos, que
apresentem baixos valores de matéria orgânica, por exemplo, tendem a maior consolidação
decorrente da estrutura pouco desenvolvida e da densidade das partículas comparada a solos
argilosos que possuem melhor estruturação. Essa relação é exemplificada por Lepsch (2011,
p. 132) que compara a densidade mais elevada dos solos arenosos com os argilosos.
63
As atividades agrícolas afetam diretamente a densidade do solo e sua qualidade. O
aumento na densidade do solo é indicativo de ambiente inadequado para o crescimento
radicular, havendo redução da aeração e infiltração, modificando o comportamento da água e
dos nutrientes (BRADY; WEIL, 2013). O revolvimento do solo causa ainda redução da
matéria orgânica e danos à estrutura do mesmo. A utilização de maquinário agrava a
compactação e por sua vez a aumenta a densidade. Áreas florestadas apresentam muito baixa
densidade do solo, e qualquer modificação é sentida pelas plantas. A alta densidade, que
ocorre também de maneira espontânea, inibe o crescimento radicular das plantas por criar
maior resistência à penetração. Segundo Brady e Weil (2013) em iguais condições de
densidade e alto teor de água, as raízes terão mais facilidade de penetração em um solo
arenoso do que em um solo argiloso.
Primavesi (2002) afirma que o maior problema dos solos agrícolas está na perda da
estrutura favorável ao longo dos anos, levando ao adensamento e encrostamento em função da
deterioração dos grumos. Este processo dificulta o crescimento radicular das culturas. Para
Lourente et al. (2011) o tipo de preparo do solo adotado em diferentes sistemas de manejo,
acarreta respostas diferentes do solo. O preparo com intenso revolvimento, trânsito de
máquinas agrícolas, manejo dos resíduos vegetais e as condições de umidade no solo no
momento do preparo interferem de maneira negativa na física do solo. A compactação gera
modificações na estrutura, reduzindo o volume e diminuindo os poros, resultando na redução
da produtividade.
A compactação do solo restringe não apenas o espaço da raiz, mas também da água e
consequentemente da disposição dos nutrientes, formando o que Primavesi (2002, p. 61)
chama de “barreira física”. A falta de água e oxigênio também agrava o desenvolvimento
satisfatório da cultura. Primavesi (2002 p. 52,53) exemplifica o enraizamento em solos
compactados e adensados:
64
d) Infiltração
A infiltração é o processo de movimento da água pelo qual essa entra nos espaços
porosos do solo, transformando-se, posteriormente, em água do solo. Fundamental para a
hidrologia da paisagem exerce influência na umidade, bem como no potencial de degradação
do solo, no escoamento superficial e nos processos de inundação em fundos de vales. As taxas
de infiltração não são constantes ao longo do tempo, ao contrário variam de acordo com o tipo
de argila e episódios de irrigação ou chuva (BRADY; WEIL, 2013).
A compactação associa-se diretamente com a quantidade de água disponível. Bertol et
al. (2004) discorrem sobre a aceleração da decomposição da matéria orgânica, quando os
manejos convencionais rompem os agregados da camada superficial do solo, o que reflete
negativamente na estabilidade dos agregados. Em seu trabalho, os autores avaliam o
comportamento hídrico em solos afetados negativamente pela compactação, resultando em
desagregação pelo impacto das gotas de chuva, o que favorece a erosão, a diminuição das
taxas de infiltração e o aumento do escoamento superficial. Eles comparam diferentes tipos de
manejo agrícola e avaliam os níveis de degradação e conservação.
A erosão e as perdas de solo pela agricultura têm sido questionadas, principalmente
em relação a manejos atualizados pela agricultura moderna. Dentre os fatores controladores
das taxas de erosão destacam-se a erosividade da chuva, propriedades do solo, cobertura
vegetal e características da encosta. Os parâmetros utilizados para investigação da
erosividade são: o total de chuva, sua intensidade e energia cinética (GUERRA, 2007). Ainda
que, pelo simples valor do total de chuvas não seja possível aferir perdas de solo relacionadas,
destaca-se uma maior probabilidade, principalmente em áreas agrícolas, por ser uma
importante variável, já que além da intensidade da chuva influenciar no escoamento
superficial, o tipo de manejo agrícola será em partes responsável pelas taxas de saturação.
Para Bertoni e Neto (2012) a chuva é um dos fatores climáticos mais importantes no processo
de erosão dos solos, sendo o volume e a velocidade da enxurrada, dependentes também da
intensidade e duração da chuva, os principais fatores da erosão pela chuva, ressaltando que a
intensidade dessas é o fator pluviométrico mais importante da erosão. Durante uma chuva
muito forte, milhares de gotas de chuva caem sobre o solo, desprendendo as partículas da
massa. Essas partículas podem ser lançadas a uma altura de maia de 60 cm e com distância de
1,5m. Um solo exposto torna-se muito mais susceptível à erosão que um vegetado.
65
As propriedades do solo, principalmente relacionadas à textura, aporte de MO,
estabilidade de agregados e pH são de grande importância nos estudos sobre erosão já que,
juntamente com outros fatores, determinam uma maior ou menor susceptibilidade à erosão.
Dentre esses, a textura talvez seja, um dos mais importantes fatores na determinação do uso
do solo (BERTONI; NETO, 2012). Além disso, o grau de agregação do solo é fator que afeta
diretamente a infiltração. A velocidade da infiltração é mensurada pela quantidade de
partículas finas e espaços porosos. Solos com manejo adequado do solo melhoram suas
condições físicas e a granulação das partículas, reduzindo os efeitos da enxurrada e a erosão
de grande parte das chuvas. Como o impacto das gotas de chuva rompem os agregados, os
desprendendo e transportando, causam, sobretudo, uma maior compactação na superfície do
terreno, reduzindo a capacidade do solo em absorver água, aumentando a enxurrada na
superfície (BERTONI; NETO, 2012).
No trabalho de Barthès e Roose (2002), foram simuladas chuvas em vinhedos no Sul
da França, de modo a avaliar a susceptibilidade do solo ao escoamento superficial, através da
relação entre estabilidade de agregados do solo e erosão. A profundidade do escoamento e as
perdas de solo foram medidas em períodos de tempo, e após 30 minutos, as duas estavam
negativamente correlacionadas com o conteúdo do solo superficial em macroagregados
estáveis. Nas áreas de escoamento taxas de escoamento e perda de solo de três anos estavam
negativamente relacionadas à estabilidade de agregados do solo superficial, especialmente do
conteúdo em macroagregados estáveis; essas correlações foram melhoradas quando a
declividade da encosta e agressividade do clima foram considerados, além da estabilidade de
agregados. Nos vinhedos de encosta, a frequência das feições erosivas estava negativamente
correlacionada com o conteúdo dos macroagregados estáveis no solo superficial,
especialmente na ausência de práticas de conservação. Esses resultados confirmam que a
estabilidade de agregados é um indicador relevante da susceptibilidade do solo ao escoamento
e à erosão, especialmente em áreas Mediterrâneas ou Tropicais, onde chuvas intensas são
mais frequentes. Mais precisamente, os resultados mostram que a susceptibilidade do solo ao
escoamento e à erosão estava ligada à resistência à hidratação dos agregados do solo
superficial: de fato, a hidratação resulta na compressão do ar aprisionado dentro de agregados
rapidamente encharcados, e é a principal causa da desintegração de agregados quando o solo
seco é imerso.
66
1.3 Agroecossistemas sustentáveis
67
1.3.1 Agroecologia: conceitos
68
rotação de cultura, manejo de pragas e doenças com barreiras mecânicas, controle biológico,
dentre outras. Assim, a qualidade dos produtos vegetais é consequência da nutrição ecológica
do solo (PRIMAVESI, 2002). Caporal (2009) afirma que a agroecologia não é uma proposta
para se resolver todos os problemas gerados pela ação antrópica dos modelos de produção e
consumo capitalistas e sua estrutura oligopolizada, mas simplesmente orientar estratégias de
desenvolvimento rural na transição para sistemas sustentáveis, pensando-se nas gerações
futuras, na soberania alimentar e no limite dos recursos naturais.
Tendo como referência tais bases e conceitos, a prática agroecológica acontece de duas
maneiras: a primeira com os manejos chamados universais e os manejos locais. Os universais
são aqueles considerados básicos para o arranjo agroecológico, podendo ser aplicados em
qualquer lugar, independentemente de fatores ambientais; já os locais são aqueles específicos,
desenhados no dia-a-dia dos agricultores, aplicados a determinado tipo de solo, clima,
disponibilidade hídrica e outros fatores de ponderação. A construção desses manejos
universais foi realizada ao longo dos anos, numa interação entre pesquisadores e agricultores.
A consolidação desses mecanismos universais vem sendo moldada, já que a agroecologia é
uma tecnologia recente na história.
Data seu surgimento, segundo Gliessman (2005) em 1920, quando, pela primeira vez,
tentou-se relacionar duas ciências: a agronomia e a ecologia. Na década de 1930, quando
ecologistas propuseram o termo agroecologia, o mesmo passou a ser entendido como a
ecologia aplicada à agricultura. Apenas no final dos anos de 1950, o conceito foi
amadurecido, em função dos estudos na época sobre ecossistemas. Já nas décadas de 1960 e
1970, a aplicação do termo ganhou maior interesse e se intensificou como pesquisa. Quando,
em 1980, o termo sustentabilidade foi aplicado à agricultura, foi que a agroecologia, ganhou
enfim, espaço nas pesquisas e discussões internacionais. Atualmente, já mais bem difundida,
novas tecnologias estão sendo incorporadas. Percebe-se seu caráter moldável, dinâmico e
integrador, já que esta é uma ciência com características holísticas (GLIESSMAN, 2005).
Os princípios da agroecologia buscam reestabelecer uma racionalidade ecológica
aplicada à agricultura com base no conhecimento mais profundo das dinâmicas dos
agroecossistemas e dos princípios que os regem e mantêm seu funcionamento. Assim, Altieri
(2012) aponta o surgimento da ciência agroecológica como capaz de sanar tais lacunas e
disponibilizar os princípios ecológicos básicos sobre como estudar, projetar e manejar
agroecossistemas para que os mesmos sejam produtivos e ao mesmo tempo capazes de
conservar os recursos naturais, adaptáveis culturalmente e viáveis social e economicamente.
69
Na agroecologia as inter-relações entre seus componentes e a dinâmica dos processos
ecológicos são enfatizadas. Pelo caráter holístico conferido à mesma, é possível abarcar
elementos ambientais, sociais, econômicos e culturais na atividade agrícola ecológica.
Os manejos universais e também locais seguem o principio de equidade entre sistemas
agrícolas e sistemas naturais, como nos agroecossistemas e ecossistemas. A gestão dos fluxos
de energia, primeiro desafio para se criar agroecossistemas sustentáveis, busca uma menor
dependência de recursos não renováveis, de maneira a alcançar o equilíbrio satisfatório entre
o uso de energia capaz de manter os processos internos e externos do sistema. Em seguida,
busca-se a manutenção dos ciclos de nutrientes com o fechamento máximo possível, a fim de
reduzir as perdas de nutrientes do sistema para que haja maior retorno desses. Já os
mecanismos reguladores de população dependem diretamente da resistência a pragas,
garantindo um habitat que assegure a presença de inimigos naturais e antagonistas
(GLIESSMAN, 2005). Ainda segundo o autor (GLIESSMAN, 2005, p. 79) um
agroecossistema sustentável é aquele capaz de incorporar as qualidades de um ecossistema
natural de “resiliência, estabilidade, produtividade e equilíbrio que assegurará melhor a
manutenção do equilíbrio dinâmico necessário para se estabelecer uma base ecológica de
sustentabilidade”.
Altieri (2012) aponta ainda princípios ecológicos de importante aplicação aos
agroecossistemas, como a ciclagem da biomassa e otimização da disponibilidade de nutrientes
em fluxos equilibrados; seguridade do solo em condições favoráveis para o crescimento das
plantas, com especial atenção ao manejo da matéria orgânica e incremento de atividades
biológicas; minimização das perdas dos fluxos de radiação solar, ar e água, manejando o
microclima e a cobertura do solo; e a promoção da diversidade inter e entre espécies no
agroecossistemas. Além dessas, outras importantes bases para uma agricultura sustentável,
são elencadas por Zamberlam (2012). Dentre elas, a baixa dependência de insumos externos;
utilização eficiente dos recursos naturais locais; preservação da diversidade biológica;
utilização do conhecimento dos agricultores e da cultura local; conservação das variedades
das sementes locais e outros. O principal objetivo da agroecologia é então integrar os
diferentes componentes dos agroecossistemas de modo a aumentar sua eficiência biológica, a
capacidade produtiva e sua autossuficiência. Alguns processos ecológicos têm a função de
fortalecer a imunidade do sistema; diminuir a toxidade gerada pelos agroquímicos; fomentar a
função metabólica; equilibrar sistemas regulatórios; aumentar a conservação e manter a
produtividade em longo prazo (ALTIERI, 2012).
70
1.3.2 Agroecologia: manejos
a) Adubação verde
71
nitrogênio pelos pequenos nódulos que se desenvolvem próximos às raízes e são colonizados
pelas bactérias que transformam o nitrogênio encontrado no meio ambiente de forma a ser
absorvido pelas plantas, que o transformarão em proteína, e posteriormente alimentarão as
plantas. Sua principal característica está na sua capacidade de tolerar secas prolongadas sem
desfolhar ou perder a capacidade de rebrotar nesses períodos (CASTILLO et al., 2007).
A EMBRAPA Milho e Sorgo, Sete Lagoas – Minas Gerais, vem trabalhando nas
pesquisas dessa planta (Figura 1). Segundo Walter Matrangolo11, em 14 meses, 72 toneladas
da Cratylia argentea foram incorporadas ao solo na forma de massa verde, o que corresponde
a 340 Kg de nitrogênio por hectare. Em época de seca, no mínimo oito toneladas de massa são
incorporadas, assim, o aporte não é prejudicado em nenhuma época do ano, sendo a
incorporação de nitrogênio bem distribuída no solo. Para Altieri (2012), os benefícios dos
cultivos de cobertura do solo são muitos, dentre eles as melhorias na fertilidade, aumento da
fixação de nitrogênio, reciclagem de nutrientes e manutenção da matéria orgânica no solo.
Além disso, melhorias na estrutura do solo podem ser atribuídas à adubação verde, pois este
auxilia na agregação do solo, no aumento da macroporosidade e infiltração, além de reduzir o
encrostamento, a lixiviação e a erosão dentro e entre os sulcos.
Figura 1: Cratylia argentea na unidade experimental de pesquisa EMBRAPA Milho e Sorgo, em Sete
Lagoas, Minas Gerais.
Fonte: OLIVEIRA, 2013.
11
Entrevista realizada em junho de 2013, em visita à Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, Minas Gerais.
72
b) Sistema de policultivos - Consórcio de culturas
73
Os policultivos também têm efeitos sobre o controle de pragas. As pragas são
frequentemente menos abundantes em área com policultivos que em áreas monocultoras.
Altieri (2012) afirma que o uso do sistema de produção em consórcio e policultivo aumentam
os predadores e parasitas como controle natural da população de pragas, devido ao aumento
da variedade e quantidade de fontes disponível de alimento, além das melhorias no micro-
habitat, nos sinais químicos que modificam a localização das espécies de pragas e o aumento
da estabilidade da dinâmica das populações que tem relação predador-presa e parasita-
hospedeiro.
74
d) Rotação de cultura
Para Primavesi (1992) para uma eficaz rotação são necessárias, no mínimo, de quatro
a cinco culturas, sendo seis a quantidade ideal, além da troca das culturas, indispensável para
uma melhor adequação ambiental, principalmente para a qualidade do solo. É importante
ressaltar a necessidade do pousio entre as rotações das culturas. Podem-se intercalar culturas
anuais e permanentes, além do rodizio lavoura-pastagem. Essa última é indicada quando há
persistência de pragas. Há também o sistema de rodízio de três anos de plantio de culturas e
três anos de plantio de forrageira. A figura 2 apresenta diferentes estágios das culturas, onde
houve rotação das espécies de folhas. A rotação é importante para que outros nutrientes sejam
consumidos, equilibrando assim os disponíveis, além da modificação das substâncias
excretadas pelas plantas, que irão dissipar muitas das possíveis espécies invasoras. Ao
modificar a cultura plantada, há utilização de um novo grupo de nutrientes que estavam
inutilizados, ou pouco utilizados pela plantação anterior. Assim, a resposta produtiva é sempre
positiva, desde que manejada corretamente. Assim, a rotação é fundamental para a
manutenção de solos férteis e produtivos.
Figura 2 – Rotação e consórcio de culturas EMBRAPA Milho e Sorgo, Sete Lagoas, Minas Gerais.
Fonte: OLIVEIRA, 2014.
75
2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS
12
Fonte: IBGE Cidades. Acesso em 03/03/2015. Disponível em: http://goo.gl/lixvMl
76
A região de planejamento Central13 engloba o município de Brumadinho, além de
Belo Horizonte e vários outros municípios próximos. Os principais produtos por hectare da
região Central são: milho, com significativa expressão frente aos outros produtos destaca-se,
seguido do feijão, cana-de-açúcar, café e mandioca. Já o município de Brumadinho apresenta
produção de cereais, leguminosas e oleaginosas. Destaca-se a produção de arroz em casca,
feijão e milho em grão (IBGE, 2007). Na lavoura temporária, arroz, batata-doce, cana-de-
açúcar, cebola, feijão, mandioca, milho e tomate são os principais produtos cultivados. Já na
lavoura permanente produz-se banana, goiaba, laranja, limão, manga, maracujá e tangerina
(IBGE, 2012). Segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 200614, a maioria dos
estabelecimentos rurais do município tem principalmente proprietários do sexo masculino,
seguido do produtor individual, aquele que não tem funcionários registrados. É possível
observar no município de Brumadinho diversas propriedades com atividades agrícolas de
hortifruti. Estas áreas caracterizam a paisagem local, que entre serras e rios, expõe uma das
principais fontes de renda dos moradores da área rural: a agricultura.
Historicamente, o município de Brumadinho já era posto importante na produção de
alimentos para as bandeiras paulistas, sendo o núcleo de abastecimento e descanso.
Posteriormente, com a riqueza do minério de ferro, Brumadinho, até então chamado de
Brumado do Paraopeba, passou a ser explorado para mineração. A construção do ramal que
ligava Paraopeba à Estrada de Ferro Central do Brasil desenvolveu o povoado que recebeu
migrantes estrangeiros para o trabalho nas minas. Isso favoreceu o desenvolvimento do
povoado, que aos poucos se tornava uma pequena cidade com equipamentos, serviços e
população mais volumosa. A produção de café também movimentava a economia de
Brumado. Após a Lei Estadual de 1891 que criou o distrito Brumado do Paraopeba, apenas
em 1923 o distrito passou a chamar-se Brumadinho, sendo reconhecido pelo Decreto Estadual
de 1938 como município (Prefeitura Municipal de Brumadinho, 2014).
13
Regionalização adotada oficialmente pelo Governo do Estado de Minas até o momento (março 2015) que
contempla, além dos municípios da região metropolitana de Belo Horizonte, outras diversas cidades. Uma nova
regionalização vem sendo estudada pelo Governo do Estado que visa maior coerência no agrupamento regional.
Os chamados “territórios de desenvolvimento” serão apresentados ainda este ano (2015) e passarão a compor as
novas regiões mineiras.
14
Disponível em: http://goo.gl/2LNL6f Acesso em 21/06/2014.
77
2.1 Aspectos Físicos de Brumadinho
2.2.1 Geologia
2.2.2 Geomorfologia
79
Na região próxima ao assentamento, e na maior parte do município de Brumadinho,
não é comum ver voçorocas dominado a paisagem, assim como nas áreas mais próximas ao
assentamento também é raro a observação dessas. A exceção diz respeito às áreas em ocorrem
atividades mineradoras, muitas dessas localizadas bastante próximas ao local onde fica o
Assentamento Pastorinhas. Em local bastante próximo ao Assentamento é possível observá-
las em grau, possivelmente avançado.
A figura 5 é um registro feito de dentro do Assentamento, e exemplifica algumas
dessas voçorocas encontradas no limite com a mineradora que explora de minério de Ferro.
As mineradoras em atividade no município são de pequeno porte, porém estão em maior
número na região, rica em mineral de Ferro. Um dos principais problemas de mineradoras de
pequeno porte está na não obrigatoriedade legal de um estudo aprofundado de risco ambiental
para instalação e atividades das mesmas, sendo a exigência legal de estudos, anuências e
licenças, além de audiências públicas com participação das comunidades afetadas, apenas
para empreendimentos de grande impacto ambiental.
80
A declividade (Figura 6) é um importante fator na análise física, pois pode ter relação
com processos erosivos, indicando áreas com especial potencial de preservação dado grau de
declive. O município de Brumadinho tem a maior parte do território com relevo plano a suave
ondulado. Alguns pontos na porção sul e central, mas principalmente nas partes no extremo
norte, a leste e oeste, apresentam relevo ondulado e forte ondulado. O relevo montanhoso
acompanha o complexo das serras ao norte, leste e oeste, onde se encontram a Serra dos Três
Irmãos e Serra do Curral.
No Assentamento Pastorinhas, o relevo varia entre plano e suave ondulado. Na área
agrícola, as áreas planas predominam, com algumas áreas de relevo suave ondulado; assim
como na área de floresta, que apresenta relevo suave ondulado. À medida que se caminha para
o norte na área de floresta, a declividade aumenta, mas com a vegetação densa no local, não
foram vistos processos erosivos, nem mesmo em estágio inicial, o que possivelmente
aconteceria de maneira diferente em uma área sem vegetação e mesma inclinação.
81
2.2.3 Pedologia
82
De acordo com os dados da APA Sul (CPRM, 2005), encontram-se na região
CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico; textura argilosa ou média; fase não
pedregosa e pedregosa; floresta tropical subperenifólia; relevo forte ondulado e montanhoso +
LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico ou câmbico; textura argilosa; relevo forte
ondulado e ondulado; ambos A moderado. CAMBISSOLO HÁPLICO Perférrico típico;
textura média cascalhenta ou média pouco cascalhenta/média cascalhenta; fase pedregosa e
endopedregosa; floresta tropical subperenifólia + LATOSSOLO VERMELHO Perférrico
câmbico ou típico; textura argilosa/argilosa pouco cascalhenta; fase endopedregosa; ambos A
moderado; relevo forte ondulado e montanhoso. LATOSSOLO VERMELHO Perférrico
típico, textura argilosa ou muito argilosa, A moderado, fase cerrado tropical subcaducifólio,
relevo suave ondulado.
2.2.4 Vegetação
83
Há ainda correlação com a maior retenção de umidade nesses tipos de solo, o que favorece
sua ocorrência nas proximidades das linhas de drenagem. Nas outras áreas, encontram-se a
cobertura por campo cerrado e campo gramíneo.
A figura 8 mostra os tipos de vegetação presentes no município. Predominam a
floresta estacional decidual densa, com manchas de floresta arbustiva arbórea densa e floresta
ombrófila densa. Há apenas uma concentração de savana próxima à sede municipal, e uma
grande área destinada à agropecuária na porção sul e central. Ao comparar o mapeamento do
RADAMBRASIL DE 1982 com as bases utilizadas para elaboração do mapa abaixo (IBGE,
2010; CPRM, 2010 e EMBRAPA, 2006) é possível aferir que houve intensa supressão da
vegetação de Savana, apontada anteriormente, como presente nas porções central e noroeste, e
pontos na porção oeste, o que já não aparece mais, apenas uma pequena mancha na parte
central, próxima ao norte. As atividades agropecuárias que fazem limite com a porção Savana
delimitada próximo à sede municipal podem ter sido responsáveis pela supressão do bioma no
município, assim como as atividades minerárias que ocorrem próximas ao ponto. Ambas as
atividades necessitam de desmatar a vegetação, e no caso da mineração também o solo.
84
2.2.5 Uso e Ocupação do Solo
85
2.2.6 Hidrografia
A área de estudo faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, situa-se a sudeste
do Estado de Minas Gerais, sendo um dos principais tributários do Rio São Francisco. Sua
área total abrange 13.643 Km², o que corresponde a 2,5% da área total de Minas Gerais. Seus
principais afluentes são o Rio Águas Claras, Macaúbas, Betim, Camapuã e Rio Manso 16. O
Rio Paraopeba nasce no município de Cristiano Otoni, próximo a Serra da Moeda e desagua
na foz da represa de Três Marias, município de Felixlândia. Passa, dentre outros municípios
por Brumadinho, bastante próximo à área de estudo, o Assentamento Pastorinhas o que pode
ser observado através da carta topográfica do IBGE Brumadinho SF-23-X-A-II-2 (Figura 10).
Essa bacia é responsável por cerca de 53% do fornecimento de água para a região
metropolitana de Belo Horizonte. Nota-se a importância que as águas do Paraopeba
representam para o estado, sendo importantes ações de planejamento que visem sua
recuperação. Atividades sustentáveis são pauta para o Plano Diretor dos Recursos Hídricos
(FEAM, 2011). Ainda encontra-se em discussão o Plano Diretor da Bacia, sendo elaborada a
versão final, ainda sem previsão para publicação17.
1 km
16
Disponível em: http://goo.gl/Xlqjoo > Acesso em 25/06/14.
17
Informações dadas pelo IGAM, junho de 2014.
86
Segundo dados da Fundação Estadual de Meio Ambiente – FEAM – o diagnóstico do
esgotamento sanitário da bacia encontra-se entre ruim e muito ruim, com alguns municípios
considerados bons em relação ao índice da qualidade dos serviços de esgotamento sanitário
municipal (IQES). Quanto ao índice de qualidade de água (IQA), significativa parte encontra-
se com qualidade média, ou seja, com IQA acima de 50 e menor que 70, com apenas alguns
cursos considerados ruins. O município de Brumadinho apresenta IQES muito ruim e IQA
médio. As duas estações de tratamento do esgoto do município estão, uma fora de operação e
outra em condições precárias de funcionamento, ambas de responsabilidade da prefeitura
municipal18.
2.2.7 Clima
18
Disponível em http://goo.gl/DUXH2S > Acesso em 25/06/14.
87
2.2 Assentamento Pastorinhas: histórico e práticas de manejo
88
outros assentamentos de reforma agrária. Três acampados fizeram o curso nacional de
agroecologia, em módulos em Minas Gerais, Paraíba, Recife e Paraná. A ONG Caritas teve
papel fundamental para que o assentamento se tornasse uma referência agroecológica e
exemplo para muitos assentados que visitam o local para troca de experiências. O curso de
capacitação oferecido pela ONG potencializou o saber tradicional dos agricultores.
Dos 14 hectares cultivados no assentamento, área essa já explorada pela antiga
fazenda, uma grande diversidade de culturas pode ser observada (Figura 11) em meio aos 142
hectares de Floresta Ombrófila Densa (Figura 12). Prática base da agroecologia, o consórcio e
a rotação de culturas garante tal diversidade. Novas práticas agroecológicas surgem do dia-a-
dia dos agricultores da rotina na lavoura, as chamadas práticas locais. Elas garantem a
qualidade dos alimentos produzidos e a sobrevivência das famílias. O que impulsionou as
vendas das hortaliças produzidas no assentamento foi a parceria com a escola Balão
Vermelho, situada na zona Sul de Belo Horizonte. Depois de uma visita da escola ao local, a
vontade de ajudar e de consumir alimentos saudáveis foi grande, e semanalmente o
assentamento leva os produtos até a escola para venda. Essa prática se reproduziu em outras
escolas particulares da capital. Atualmente, duas feiras são fonte de renda das famílias. Uma
delas, ação da prefeitura de Belo Horizonte, e a outra em uma Igreja Católica, a Igreja do
Carmo, zona Sul da capital, onde os assentados vendem parte da produção duas vezes na
semana.
No município onde os assentados vivem há certa dificuldade em comercializar os
produtos. Apenas as escolas e creches recebem doações, e por vezes, compram do
assentamento. Muitos atravessadores – pessoas que compram dos agricultores para revender
nos mercados de abastecimento, como o Ceasa (Central de Abastecimento de Minas Gerais) –
atuam na região, porém, pagam valores muito baixos para os agricultores. Em função disso, e
para fomentar a agricultura familiar, o Governo Federal e Estadual tem programas para venda
direta dos agricultores para as escolas públicas da região, mas que abarcam poucas
propriedades agrícolas, além do limite de venda anual que os agricultores têm.
89
Figura 11 – Cultivo próximo à floresta - Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG.
Fonte: OLIVEIRA, 2013.
90
A estrutura do assentamento é diferente dos demais. Ao contrário da maioria dos
assentamentos de reforma agrária, em que há o parcelamento da área, o Assentamento
Pastorinhas é um assentamento comunitário, sem divisão de glebas entre as famílias. Uma
área foi destinada à moradia dos assentados, chamada Agrovila (Figura 13). Ela foi construída
pelos próprios agricultores em locais sorteados entre as famílias, considerando-se o número de
filhos dos casais. Apesar do desmatamento de uma parte da área para a construção das casas,
em discordância por parte de alguns assentados, a determinação foi feita pelo INCRA, que
estabeleceu que cada família desmataria 400 m² para a instalação das casas, e preservariam
600 m². O projeto das moradias foi estabelecido no Plano de Desenvolvimento do
Assentamento – PDA – que durou cerca de um ano. Foram disponibilizados R$ 9.375,00 para
cada família construir sua casa, sendo essas padronizadas pelo INCRA.
91
Embora, de maneira geral, a construção da Agrovila seja vista pelos assentados como
um grande avanço, outros assentados mostram-se insatisfeitos com a sua localização e modelo
(OLIVEIRA et al., 2013) já que a proximidade entre as casas, e o desenvolvimento das
famílias, pode, num futuro próximo, gerar problemas de aglomerados rurais, parecido com os
urbanos. Hoje, o Assentamento Pastorinhas conta com energia elétrica, que chegou ao
assentamento apenas em 2010, mas ainda não há saneamento básico e esgotamento sanitário.
Os sistemas utilizados são, na maioria, alternativos e variam entre fossa séptica, caixa
biodigestora e outros. Algumas famílias utilizam ainda a fossa negra, mas estão em processo
de modificação. Apesar das alternativas à fossa negra serem duráveis, seu custo de
implementação pode onerar a renda de algumas famílias. As parcerias com universidades têm
ajudado nesse sentido, já que tecnologias mais baratas estão sendo testadas no assentamento.
Além dos manejos agroecológicos universais utilizados no assentamento como
consórcio e rotação de culturas, irrigação por bombeamento, utilização de adubo orgânico,
proveniente da compostagem, as caldas naturais e plantas quebra-vento para controle de
espécies invasoras, os assentados trabalham em manejos agroecológicos locais desenvolvidos
pela prática do dia-a-dia dos agricultores. Uma das adaptações feitas pelos agricultores do
Assentamento Pastorinhas foi com as plantas quebra-vento. Geralmente, utilizam-se flores de
diferentes espécies, como girassol, por exemplo, numa espécie de cordão em torno de
determinada plantação. Para não perderem espaço de cultivo, as famílias testaram o milho,
pimentão, berinjela e jiló em torno de culturas mais sensíveis como alface, rúcula e chicória.
Culturas onde as folhas são consumidas, como abobrinha (abóbora italiana), pimentão e o
tomate, por exemplo, a cavalinha, rica em sílica, é utilizada para se fazer um chá e borrifada
nessas culturas para proteger as cascas do ataque de lagartas. Para o combate às lagartas, é
feito um macerado com algumas delas em dissolução em 20 litros de água. Ao ser borrifado
nas plantas, o odor que exala inibe a aproximação de outras lagartas. Para combate a insetos
como caramujo e lesma, é utilizado o cipó-timbó. É feita uma fusão da planta em álcool por
oito dias. Valéria Carneiro19, assentada e líder do assentamento, alerta para o cuidado que se
deve ter com essa calda, que em contato com peixes pode matá-los.
Para extermínio da formiga, utiliza-se a mamona ou o gergelim preto que ao ser
colocado no local onde as formigas se aglomeram, fermenta e as mata. Os fungos e bactérias
que causam doenças nas plantas são combatidos com Bouganvile. Colhe-se as folhas mais
escuras e bate-se no liquidificador, o resultado é um sumo que pode ser pulverizado nas
19
Entrevista realizada em novembro de 2009. OLIVEIRA; ARAÚJO, 2009.
92
plantas doentes. A cultura de tomate que é extremamente sensível a altas temperaturas,
ataques de pragas e doenças, recebe a pulverização das folhas de Bouganvile desde cedo, uma
vez por semana, desde o plantio até a colheita. Para o combate a nematoides, utiliza-se o
cravo que garante que a planta não murche rapidamente com o ataque, principalmente do
pulgão. Valéria ressalta que o controle biológico deve ser feito com cuidado e observação, já
que existem insetos negativos, que causam danos às plantas, mas há também os positivos e
benéficos ao meio. Ela afirma ainda que a agroecologia permite essa observação e manejo,
pois na agricultura convencional, a utilização dos pesticidas extermina todos esses seres, os
maléficos, mas também os benéficos.
A EMATER tem atuado junto aos agricultores do AP levando inovações alternativas.
Uma delas foi o consorciamento de aveia junto às hortaliças. Além dessa, várias outras
experiências são feitas no assentamento visando o aprimoramento das técnicas
agroecológicas. A rotação de culturas é de suma importância, não apenas para o descanso do
solo, mas também para redução de pragas. A rotação de culturas com plantio de cravo entre as
safras é outra prática que vem sendo testada nos últimos meses. O pousio de algumas glebas
tem sido utilizado para criação de galinhas, como mostra a figura 14 e posteriormente
plantado. Os nutrientes contidos nas fezes do animal têm alta concentração fósforo, potássio e
nitrogênio, além de amônia (NH3) proveniente da decomposição de microrganismos. A
composteira (Figura 15) feita no assentamento segue um arranjo de “cama de gato”. Ela não
precisa ser revolvida, como comumente é feito, já que forma-se um esqueleto que tem como
base toras de bananeira, galhos e gravetos mais grossos. O esterco, galhos mais finos, palha,
serragem e restos da lavoura são colocados por cima. Com a ação dos microrganismos e a
decomposição dos materiais, a parte de cima vai descendo, fazendo o revolvimento necessário
naturalmente. A compostagem, depois de pronta, torna-se uma terra escura e grumosa, que
contém os principais nutrientes necessários para a nutrição do solo e das plantas.
As composteiras em galinheiro também têm sido utilizadas e vêm trazendo bons
resultados. Nesse caso, os mesmos materiais são adicionados, porém na área do galinheiro
construído recentemente no Assentamento. São os próprios animais que fazem o trabalho do
revolvimento, sendo necessárias apenas algumas intervenções, de uma a duas vezes para
revolvimento do material durante seu ciclo, aproximadamente três meses. O tempo para
decomposição e resultado final do processo é o mesmo da composteira em “cama de gato”,
sendo condicionado pelas variações do tempo.
93
Figura 14 – Galinheiro em área de pousio do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG.
Fonte: OLIVEIRA, 2013.
94
3 METODOLOGIA
As etapas da pesquisa estão descritas pelo fluxograma abaixo (Figura 16) que
apresenta sua organização metodológica. Inicialmente, o referencial teórico trata das questões
pertinentes à geografia agrária no Brasil, seguido dos conceitos sobre solos e agricultura.
Algumas reflexões a cerca da sustentabilidade de agroecossistemas e agroecologia, que são
retomadas na análise dos resultados. O conteúdo cartográfico da pesquisa perpassa a
interpretação, reunião, análise e elaboração de produtos cartográficos. O mapeamento prévio,
que envolve levantamento fotográfico e cartográfico, foi realizado. Em campo, foram feitas
amostragens exploratórias e identificação com clinômetro do ponto ideal para abertura das
trincheiras. Após sua abertura foram coletadas as amostras seguindo a orientação para cada
tipo de análise laboratorial. A análise de infiltração seguiu uma adaptação da elaborada por
Hills (1970). Em laboratório foram feitas as análises e seus resultados apresentados e
discutidos, chegando assim a análise dos resultados obtidos com auxilio do programa ISA.
95
O método utilizado nessa pesquisa é o comparativo que busca verificar a similaridade
entre dois ou mais objetos de análise, sendo necessária a explicação das divergências
apresentadas nos resultados obtidos em qualquer tempo, constituindo uma experimentação
direta ou indireta. Ele é capaz de apontar índices de melhor ou pior aproveitamento de uma
atividade, por exemplo, servindo de base para propostas de aperfeiçoamento. Gonzalez (2008)
reúne diferentes abordagens utilizadas pelos pesquisadores que construíram, ao longo do
tempo, o método comparativo. Para Mill (1984), citado por Gonzalez (2008), o método
comparativo segue duas linhas: uma consiste em comparar diferentes casos em que ocorre
determinado fenômeno; e outro que compara casos em que o fenômeno não ocorre.
Durkeim (1987) citado por Gonzalez (2008), afirma que a comparação de casos é a forma
de se demonstrar que um fenômeno é causa de outro. Estes, quando produzidos artificialmente
pelo observador, tem-se o método de experimentação como verificador; quando, ao contrário,
os fatos são produzidos de maneira espontânea, sem interferência do observador, o método
empregado é o da experimentação indireta, tendo assim o método comparativo. Outros
autores que discutem o método comparativo discordam das bases epistemológicas e objetivos
do método comparativo, como por exemplo: “para Przeworski e Teune (1970), deve ser a
busca de explicações. Sartori (1994) defende o ponto de vista do uso como método de
controle, o que também é referido por Morlino (1994)” (GONZALEZ, 2008, p. 6).
Nessa pesquisa, as comparações feitas circundam uma atividade extremamente antiga,
que foi se moldando com a incorporação de tecnologias: a agricultura. Assim, o método
comparativo aplicado visa analisar um fenômeno espontâneo, a floresta, e outro fenômeno
produzido artificialmente, a agricultura. O manejo aplicado à agricultura é então, na visão dos
autores acima, o fenômeno que será causa dos demais. De forma simplificada, a comparação
dos dois ambientes tem o objetivo de avaliar se o manejo empregado causa impactos
negativos na área agrícola, sendo a área de floresta o parâmetro de tais comparações, dada sua
proximidade do ambiente natural.
Para tal comparação, utilizaram-se indicadores, que, em geral, são instrumentos que
permitem mensurar um sistema, fenômeno ou tendência. O objetivo desses indicadores, de
acordo com Van Ballen (2006) é quantificar uma série de informações sobre diferentes
fenômenos. Esses indicadores podem ser qualitativos ou quantitativos. Dentre as funções dos
indicadores elencadas pelo autor, as mais aplicáveis a esta pesquisa são as de comparações
entre lugares e situações e a antecipação de futuras tendências. Freitas e Giatti (2009) expõem
que os indicadores de sustentabilidade fundamentam-se nos princípios de equidade em relação
96
às gerações presentes e futuras congregando aspectos econômicos, juntamente com a saúde e
qualidade de vida. Para a mensuração dos índices de sustentabilidade são utilizadas, de forma
matemática, informações quantitativas associadas ao desenvolvimento. Para Kronemberger et
al. (2004, p. 13):
98
As demais analises, químicas, e principalmente, físicas que não fazem parte do
conjunto ISA foram analisadas separadamente no Capitulo 5. A forma como são feitas as
coletas de solo no sistema ISA se diferem das realizadas nessa pesquisa, em razão dos
objetivos e grau de aprofundamento dado. No ISA, as análises de solo (item 12) são feitas por
amostragem em ziguezague, com tradagem até 20 cm e com amostras de solo compostas.
Dessa forma, o agricultor tem mais agilidade para realizar as coletas, de forma homogênea,
envolvendo uma grande área amostral. Esse procedimento difere das etapas seguidas nessa
pesquisa – a saber, abertura de trincheira e coleta por horizontes do solo – que visa uma
avaliação mais aprofundada acerca da qualidade do solo agrícola em comparação com a
floresta.
Assim, em junho de 2014 em campo, tradagens exploratórias foram feitas com auxilio
de um trado holandês de modo a comparar preliminarmente os solos segundo seus atributos
de mais fácil observação, como a cor e a textura. Para tanto, foram feitas tradagens em
algumas partes da floresta, de modo a compará-la com a parte agrícola do assentamento. A
escolha dos pontos para a abertura das trincheiras para a descrição e amostragem dos solos,
nas duas áreas, foi feita com auxílio do clinômetro, visando garantir que ambos se
encontrassem na mesma posição da vertente, permitindo assim a comparação. Foram abertas
as trincheiras, uma na área agrícola (P1) e outra na floresta ombrófila densa (P2), utilizando as
seguintes ferramentas: enxadão, enxada, pá e picareta. A descrição do perfil foi feita
considerando-se os horizontes demarcados baseando-se nas características de cor, textura e
estrutura aparente. A cor foi obtida por meio da Cartela de Munsell.
Após esse procedimento, foram então realizadas as coletas por horizonte de amostras
deformadas e indeformadas, seguindo as orientações da Embrapa para análises de solo
utilizadas pelo laboratório de solos da Universidade Federal de Lavras – UFLA. As amostras
deformadas foram coletas com auxilio de uma faca e acomodadas em sacos plásticos, lacrados
com fita tipo crepe. Essas foram coletadas para as análises químicas e algumas físicas, como
textura e densidade (Método do Torrão). Já as amostras indeformadas foram coletas mais
cuidadosamente com faca e em seguida acomodadas em sacos plásticos, vedados com fita tipo
crepe e guardados em plástico-bolha no interior de caixas de isopor, para preservar a
estrutura. Todas as amostras foram acomodadas em sacolas e transportadas de maneira
adequada. Para essa análise, a de estabilidade de agregados, foram amostradas profundidades
diferentes das demais análises, a saber, 3 cm, 9 cm, 20 cm e 60 cm, respectivamente
99
horizontes A1, A2 (Ap1, Ap2; A1.1 e A1.2 – os primeiros relacionados ao perfil agrícola P1 e
demais perfil de floresta P2); AB e B1 todas elas indeformadas.
Após as coletas em campo, as mesmas foram levadas ao laboratório de Geociências da
Puc Minas, para serem quarteadas, assim como analisadas para fins de classificação.
Posteriormente, foram levadas à Universidade Federal de Lavras. Lá, as análises químicas de
fertilidade e físicas – textura, densidade e estabilidade de agregados forma feitas. A análise de
infiltração foi feita em novembro de 2014 no Assentamento Pastorinhas, seguindo a mesma
lógica das coletas: uma análise in loco na parte agrícola e outra a área de floresta, ambas nos
mesmos pontos de coleta das amostras de solo. A análise de infiltração foi feita vinte dias
após revolvimento e abertura das linhas de plantio pelo trator na área de amostragem agrícola.
A figura 17 mostra a posição do Assentamento no município de Brumadinho, e as áreas de
coleta no Assentamento. As coletas foram feitas em junho de 2014, nas duas áreas: a agrícola
(P1), em pousio há três meses, e na área de floreta (P2).
Figura 17 – Mapa dos pontos de coleta de solo no Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG.
Fonte: OLIVEIRA, 2015
100
A metodologia empregada para análise das taxas de infiltração foi feita de acordo com
a proposta de Hills (1970) adaptada por Cunha e Guerra (2002). Na proposta de Hills (1970),
utiliza-se para montar o infiltrômetro um cilíndrico de aço, com diâmetro de 100 mm e altura
de 15 cm; seguido de um suporte quadrado, tubos de alimentação e a garrafa alimentadora de
polietileno, todos encaixados. Para fins de facilitar a construção do equipamento, optou-se
nessa pesquisa, por utilizar apenas o cilindro fabricado em material de Policloreto de
polivinila (PVC), como sugerem Cunha e Guerra (2002). Como Hills (1970) mesmo salienta,
uma técnica simples, popular e barata, além de portátil.
Em campo o cilindro foi então encaixado no solo a 5 cm de profundidade. Com uma
régua dentro dos demais 10 cm do tubo, foram feitas as medições. Utilizando um cronômetro,
o infiltrômetro foi preenchido com água, e mediu-se a profundidade da água após 30
segundos, 60 segundo, 1 minuto e meio, e dois minutos. Após esse tempo, a profundidade da
água foi medida a cada um minuto até chegar aos 30 minutos de experimento. Um asterisco
foi marcado na tabela cada vez que a água atingiu os 5 cm de profundidade, para assim ser
preenchido com água novamente o infiltrômetro. O produto final do experimento com o
infiltrômetro foi dado em um gráfico onde, no eixo horizontal está o tempo, e, no eixo
vertical, o total de água utilizada no infiltrômetro dada em mililitros (ml) que dará a taxa de
infiltração de um e outro sistema (CUNHA; GUERRA, 2002).
101
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
102
Figura 18 – Área da trincheira P1: área agrícola
Fonte: OLIVEIRA, 2014.
103
4.1 Descrição morfológica e classificação do solo
Descrição morfológica
104
B1 41- 70 cm; amarelo-brunado (7.5YR 6/6, seco) e bruno-amarelado (7.5YR 5/6,
úmido); argilo-arenosa; moderada grande e blocos subangulares; muito duro,
firme, plástico e ligeiramente pegajoso; transição difusa e plana.
Descrição morfológica
A1.1 0-8 cm; bruno-acinzentado-escuro (10YR 4/2, seco) e cinzento muito escuro
(10YR 3/1, úmido); franco-argilo-arenosa; moderada pequeno e blocos
subangulares; ligeiramente duro, muito friável, não plástico e ligeiramente
pegajoso; transição gradual e ondulada.
AB 23-38 cm/ 22-27cm; preto-cinzento muito escuro (10YR 3/1, úmido); franco-
argilosa; moderada muito pequeno e granular; ligeiramente duro, muito friável,
não plástico e não pegajoso; transição gradual, irregular.
BA 38-48 cm/ 27-48 cm; bruno muito claro-acinzentado (10 YR 7/3, seco) e bruno-
amarelado (10YR 5/4, úmido), mosqueado cinzento-brunado-claro (10YR 6/2,
seco) abundante, médio e difuso; franco-argilo-arenosa; moderada grande blocos
subangulares; ligeiramente duro, muito friável, não plástico e não pegajoso;
transição difusa e ondulada.
106
B2 80- 160 cm; rosado (7.5 YR 8/4, seco) e amarelo-avermelhado (7.5 YR 7/6,
úmido); franco-argilo-arenosa; fraca pequeno e blocos subangulares;
ligeiramente duro, muito friável, não plástico e ligeiramente pegajoso; transição
difusa e plana.
RAÍZES – Abundantes muito finas e muitas finas nos horizontes A1 e A2; poucas muito finas
no horizonte AB; poucas muito finas e raras muito finas em B1 e B2.
107
Os dois perfis analisados são classificados, de acordo com o Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (EMBRAPA, 2013), como LATOSSOLO AMARELO. Latossolos são
comumente formados em regiões tropicais e equatoriais, em avançado estágio de
intemperização, ou seja, muito evoluídos. Segundo Santos et al. (2013) são normalmente
profundos, variam de fortemente a bem drenados, destituídos de minerais primários e
secundários de menor resistência ao intemperismo. São também solos, em geral, fortemente
ácidos, com baixa saturação por bases, podendo ser distróficos e alumínicos.
A latossolização é aplicada a uma gama de processos que levam à formação daquilo
que, na taxonomia de solos, é conhecido como horizontes óxidos, de material muito
intemperizado; formando os Latossolos. Segundo Fanning e Fanning (1931) favorece a
formação dos Latossolos a presença de rochas máficas, como o basalto, assim como, minerais
intemperizáveis como guibisita, hematita e goetita, dentre outras, sendo essas formadas por
transformações minerais complexas; a baixa atividade da argila e cores uniformes do solo,
comumente o vermelho, são características dos Latossolos.
As análises químicas realizadas com objetivo de avaliar a fertilidade das duas áreas
amostradas foram: pH, nutrientes (macro: Ca, P, K, Mg, S; e micro: Mn), CTC, saturação por
bases e por alumínio, e matéria orgânica (C) e nitrogênio (N).
O pH (em água) do solo dos dois perfis (gráfico 3) apresenta valores que variam entre
4,6 e 6,4, o que de acordo com Meurer (2007) se altera entre pouco ácido e extremamente
ácido. Em P1, o pH tem seu maior valor na parte mais superficial: Ap1 a 5 cm de
profundidade, sendo o valor do pH encontrado de 6,4; em Ap2 o valor do pH passa para 5,8;
4,8 e 4,6 em AB e BA; e nos horizontes B1, B2 e B3 os valores encontrados são,
respectivamente, 4,6; 5,0 e 5,1. As variações em termos de classificação do pH foram em P1
pouco ácido (Ap1), ácido (Ap2), muito ácido (B2 e B3) e extremamente ácido (AB, BA e B1).
No caso de P2 houve pequena variação entre a acidez presente nos horizontes. Em A 1.1 o pH
encontrado foi de 5,3; em A1.2 4,9, em AB 5,0; BA 4,9; B1 5,2 e B2 5,3. De forma a classificá-
108
los a maior parte dos horizontes diagnosticados pertencem ao grupo muito ácido (A1.1, AB, B1
e B2) e extremamente ácidos (A1.2 e BA).
A curva nos dois perfis no gráfico mostra uma inversão dos valores nos horizontes
superficiais quando o valor do pH de P1 aumenta em relação ao de P2 dos 5 cm de
profundidade aos 20 cm. Nessa profundidade P1 varia de pouco ácido a ácido e P2 muito
ácido e extremamente ácido. Após os 20 cm, P2 tem pH maior que P1 com variações entre
muito ácido e extremamente ácido. P1 apresenta dos 35 cm aos 160 cm valores extremamente
ácidos, elevando para muito ácido apenas nos 200 cm de profundidade. Já P2 tem uma
variação entre os 20 cm e 70 cm, mantendo-se os valores de pH mais próximos dos 70 cm
abaixo. Tais variações nos perfis evidenciam que em P1 as principais alterações positivas se
deram na parte superficial do solo, enquanto P2 manteve seus níveis de acidez em todo perfil.
Gráfico 3 – pH do Solo
pH
3 4 5 6 7
0
20
40
60
80
P1
100
P2
120
140
profundidade cm
160
180
200
109
Por meio do extrator SMD chegou-se à determinação da acidez potencial que
considera em sua análise a quantidade de hidrogênio (H) e alumínio (Al) numa formula
simples: H+Al dada em cmol/dm3. A variação entre os dois perfis (gráfico 4) é mais
significativa apenas nos horizontes superficiais. P1 apresenta em Ap1 2,32 cmol/dm3 de acidez,
3,24 cmol/dm3 em Ap2 e 4,4 cmol/dm3 em AB. Já P2 apresenta em A1.1 5,05 cmol/dm3 e 7,78
cmol/dm3 em A1.2 e AB, ou seja, em P2 a acidez é maior que P1 chegando a variar mais que o
dobro de P1. Os valores da acidez potencial de P1 e P2 são próximos dos 40 cm a 200 cm de
profundidade ainda que maior em P2, apenas com uma inversão aos 70 cm de profundidade,
quando P1 passa a ter valor maior que P2. Assim, P1 apresenta no horizonte BA 4,2
cmol/dm3, B1 3,24 cmol/dm3 e B2 e B3 1.86 cmol/dm3; e P2 apresenta em BA 4,04 cmol/dm3;
2,24 cmol/dm3 em B1 e 2,59 em B2.
20
40
60
80
P1
100 P2
120
140
profundidade cm
160
180
200
No gráfico 5 tem-se os dados de saturação por alumínio. Uma grande diferença entre
os perfis analisados é notável já que, na parte mais superficial do solo, em que P1 e P2 têm
valores de saturação por Al próximos, o restante das amostras indica uma diferença
significativa. Assim, em P1 no horizonte Ap1 e Ap2 o valor de saturação encontrado é de 0,00 e
2,46%, respectivamente; ao passo que em P2 nos mesmos horizontes os valores são 3,68 em
A1.1 e 82,42% em A1.2. Nos demais horizontes de P1 os valores variam: AB 28,46%; BA
41,10%; B1 41,67%, maior valor encontrado, diminuindo em B2 para 17, 31%; e em B3 para
7,25%. Assim, em P1 os valores começam bastantes baixos na superfície, aumentando na
parte mediana do perfil, e diminuindo em maior profundidade. Já em P2, o menor valor
encontra-se no horizonte superficial A1.1 e já apresenta significativo aumento em A1.2. Em AB
e BA os valores se mantêm na faixa dos 80% com ligeira diminuição em B1 com 75,63% de
saturação e volta a crescer em B2 com 80%. O maior valor encontrado está em A1.2 com
82,42%.
Gráfico 5 – Índice de Saturação por Alumínio do Solo
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0
20
40
60
80
P1
100 P2
120
140
profundidade cm
160
180
200
111
4.2.3 Matéria Orgânica (MO) e a relação Carbono Nitrogênio (C/N)
A matéria orgânica presente no solo dos dois perfis são representadas pelo gráfico 6
que mostra, em ambos os perfis, uma diminuição gradativa na quantidade de matéria orgânica
(MO) em relação à profundidade, ou seja, quanto maior a profundidade, menor é a quantidade
de matéria orgânica presente no perfil do solo. A proximidade das linhas de P1 e P2 dos 45
cm aos 200 cm de profundidade, demostra que a diferença na concentração da MO é bastante
pequena, e modificam-se apenas nos horizontes superficiais (0 – 35 cm) onde é comum
encontrar maior concentração de matéria orgânica, já que é na superfície do solo que acontece
o processo de mineralização, ou seja, a decomposição de massa pelos microrganismos que ali
habitam.
20
40
60
80
P1
100
P2
120
140
profundidade cm
160
180
200
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
0
20
40
60
80
P1
100 P2
120
140
profundidade cm
160
180
200
113
As duas linhas mantêm certa proximidade desde os horizontes mais profundos; ao
passo que próximo aos 70 cm chegam a quase sobrepor-se uma à outra, aproximando
novamente aos 35 cm de profundidade. As maiores variações são percebidas entre os 25 cm e
15 cm de profundidade, onde essas se cruzam, sendo que nesse momento P1 passa a ter uma
relação maior que P2, este que têm valores mais elevados durante todo o perfil. Aos 5 cm de
profundidade, as linhas novamente se cruzam, próximas a sobreposição, voltando P2 a ter
maior relação entre o C/N.
A relação entre o Carbono e Nitrogênio (C/N) é maior em áreas florestas pela maior
concentração de carbono orgânico, que nitrogênio no solo. Lepsch (2011) afirma que a
relação entre os elementos, em solos florestados, é da ordem de 15 para 1. Na área de estudos
identificada como P2, os valores chegam a 26,68 de C por 2,3 de N no horizonte superficial
A1.1, nos primeiros 5 cm de profundidade, sendo o valor ponderado da relação C/N de 11,60.
Na área de plantio, P1, os valores também no horizonte superficial Ap1, com mesma
profundidade, apresenta 16,65 de C e 1,5 de N, valor esse esperado para áreas florestadas,
sendo sua relação ponderada (C/N) bem próxima à área de floresta: 11,10. Nos demais
horizontes de P1, foi encontrada uma relação de 13,56 em Ap2 (maior valor registrado tanto no
perfil 1, quanto no perfil 2); em AB 8,18; BA 4,99; B1 3,65; B2 0,90 e B3 1,35. Já em P2, em
A1.2 a relação C/N é de 8,99; em AB 8,46; BA 6,25; B1 3,92 e B2 3,48.
cmol/dm3
CTC Potencial (T)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
0
20
40
60
P1
80
P2
100
120
140
profundidade cm
160
180
200
Fonte: OLIVEIRA, 2014.
115
Contudo, a relação entre a CTC e a MO dos dois perfis, exemplificada no gráfico 9
aponta para P1 como tendo melhor relação que P2, ainda que extremamente próximas. A
relação da capacidade catiônica com o conteúdo de matéria orgânica dos dois perfis está
próxima do coeficiente R2=1, o que significa uma relação muito boa. Porém, a superioridade
de P1, com base dos demais dados já apresentados, aponta que há na área agrícola uma
melhor influência da MO na composição da CTC, possivelmente pela melhor humificação da
MO, muitas vezes mais eficiente do que a argila para melhorar a CTC (GLIESSMAN, 2005),
mas também pelo fato do pH em P1 ser menos ácido que P2, o que influencia diretamente na
capacidade de retenção de íons e na disponibilização desses às plantas.
T% P1, P2
12,0
10,0
y = 1,9262x + 3,2958
R² = 0,948
8,0
y = 1,8078x + 2,8124
R² = 0,9445
6,0
4,0
2,0
0,0
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00
116
4.2.5 Fertilidade
A tabela 1 traz os valores de todos os nutrientes analisados nos dois perfis do solo.
Todos esses elementos são essenciais para o crescimento satisfatório das plantas, desde que
em concentrações equilibradas, ou seja, sem que haja excesso de um elemento, levando-o a
toxidez para as plantas, e desde que os mesmos encontrem-se de forma solubilizada para
aproveitamento da raiz.
Em P1 a quantidade dos nutrientes: potássio, fósforo, enxofre, cálcio e magnésio é
maior que em P2, que tem concentrações maiores apenas para o elemento manganês. O
fósforo, por exemplo, chega a ser 21 vezes maior em P1 que em P2, assim como o potássio
encontrado em P1 é maior quase três vezes que em P2. O enxofre, também é maior em P1
que P2 cerca de três vezes mais; já o cálcio é 2,5 maior em P1 que P2; e o magnésio quase
três vezes maior em P1 que em P2. Apenas o elemento manganês é maior em P2 que em P1,
cerca de três vezes mais. É possível aferir que no perfil que amostra a área agrícola do
Assentamento Pastorinhas, há uma superioridade considerável de nutrientes no solo ao
compará-lo com a área de floresta.
117
Já a soma de bases trocáveis – SB (gráfico 10) – apontam que P1 tem resultados
maiores que P2 em todo o perfil, sendo os maiores valores encontrados em ambos na parte
mais superficial do solo. Em P1, no horizonte Ap1 o valor da soma de bases é de 6,17
cmol/dm3; em Ap2 3,97 cmol/dm3; AB 1,76 cmol/dm3; BA 1,29 cmol/dm3; B1 0,98 cmol/dm3;
B2 1,43 cmol/dm3 e B3 1,28 cmol/dm3. Os valores da soma de bases em P2 é em A1.1 5,23
cmol/dm3; caindo para 0,32 cmol/dm3 em A1.2; em AB 0,30 cmol/dm3; BA 0,27 cmol/dm3;
B1 0,29 cmol/dm3 e B2 0,25 cmol/dm3.
A saturação por bases – V% (gráfico 11) – apontou o P1 com melhores resultados,
caracterizando-o como eutrófico nos horizontes superficiais, tendo Ap1 o maior valor em
relação aos demais horizontes e a P2, com 72% de saturação. Em Ap2, o valor diminui para
55% variando nos demais horizontes com 30% em AB; 22% BA; em B1 23%; 43% B2 e em
B3 40%. Em P2 o maior valor de saturação por bases encontrado foi no horizonte superficial,
A1.1 50%; em A1.2 o valor cai, drasticamente, para 3% em AB; 6% em BA e 8% nos
horizontes B1 e B2, respectivamente.
Gráfico 10 – Soma de Bases Trocáveis do Solo Gráfico 11 – Saturação por Bases do Solo
20 20
40 40
60 60
80 80
P1 P1
100 P2 100 P2
120 120
140
profundidade cm
profundidade cm
140
160 160
180 180
200 200
118
a) Cálcio
20
40
60
80
P1
100
P2
120
140
profundidade cm
160
180
200
Os valores de potássio (K) encontrados nos dois perfis, expressos no gráfico 13,
mostram que a linha P1 mantem-se sempre maior que a P2, principalmente nos horizontes
mais superficiais do solo. No perfil 1, o horizonte Ap1 teve quantificados 300 mg/dm3 e 184
mg/dm3 em Ap2 de potássio, respectivamente, 5 cm e 16 cm de profundidade, ao passo que,
nas mesmas profundidades em P2, o horizonte superficial A1.1 apresentou 128 mg/dm3 e o A1.2
46 mg/dm3 do elemento, ou seja, nem metade do valor encontrado em P1. Nos horizontes
subsuperficiais houve decréscimo do valor, como pode ser observado nos valores
quantificados em P1, AB 102 mg/dm3; BA 76 mg/dm3; B1 com 72 mg/dm3; B2 52 mg/dm3 e
B3 32 mg/dm3. Já os demais horizontes de P2 obtiveram em AB 38 mg/dm3; BA 28 mg/dm3;
em B1 34 mg/dm3 e B2 20 mg/dm3 do nutriente potássio.
Potássio (K)
mg/dm3
10 45 80 115 150 185 220 255 290
0
20
40
60
80
P1
100 P2
120
140
profundidade cm
160
180
200
Fósforo (P-rem)
mg/L
0 10 20 30 40
0
20
40
60
80
P1
100 P2
120
140
profundidade cm
160
180
200
121
Em P1 a concentração do elemento em Ap1 foi de 118,08 mg/dm3; em Ap2 37,15
mg/dm3; 20,91 mg/dm3 em AB; 1,13 mg/dm3 em BA; em B1 0,56 mg/dm3 e B2 e B3 com 0,28
mg/dm3. Em P2 no horizonte A1.1 e A1.2 foram contabilizados 2,00 mg/dm3 de P; em AB 1,71
mg/dm3; 0,84 mg/dm3 em Ba; 0,56 mg/dm3 em B1 e em B2 0,28 mg/dm3. A linha de P1
(gráfico 14) é maior que a linha P2 em todo o perfil, exceto quando as mesmas se cruzam aos
140 cm de profundidade, passando P2 ser maior que P1. Nos primeiros centímetros de
profundidade P1 apresenta maior regularidade dos valores encontrados, diferente de P2 que
sofre aumentos e quedas durante todo o perfil, mostrando descontinuidade. Apenas após os 70
cm é que P2 começa a apresentar declínio constante.
d) Magnésio
O magnésio presente no solo dos dois perfis amostrados pode ser visto no gráfico 15.
Em P1, no horizonte Ap1 foram encontrados 1,00 cmol/dm3 de Mg, assim como em P2,
horizonte A1.1. Nos demais horizontes do P1, tem-se em Ap2 0,50 cmol/dm3; em AB, BA e B2
0,30 cmol/dm3; e em B1 e B3 cmol/dm3. Em P2, com exceção do horizonte A1.1 todos os
demais horizontes apresentam 0,10 cmol/dm3 de magnésio. As linhas de P1 e P2 indicam
esses valores, onde P1 apresenta maior concentração e alternância de valores, diferente de P2
que mantem uma linha continua, exceto nos primeiros 5cm de profundidade. Ainda assim, a
semelhança na concentração do magnésio no solo das duas áreas é próxima, principalmente
nos primeiros centímetros de profundidade, tendo diminuição posterior, mas com valores
sempre mais expressivos em P1 que P2.
122
Gráfico 15 – Magnésio do Solo
Magnésio (Mg)
cmol/dm3
0 1
0
20
40
60
80
P1
100
P2
120
140
profundidade cm
160
180
200
e) Enxofre
123
Na parte mais superficial do solo, P2 apresentou maior valor nos primeiros 5cm, e nas
demais profundidades P1 sempre apresentou valores bastante superiores aos de P2. Assim, as
linhas de P1 e P2 se cruzam próximo aos 15 cm de profundidade, da onde P1 passa a ser
expressivamente maior que P2. A linha da área de floresta mantem-se com valores próximos,
entre cerca de 12 e 17 mg/dm3; já P1 apresenta maior variação, entre aproximadamente 15 e
91 mg/dm3, começando com menor valor, porém crescente até atingir valor máximo
registrado aos 70 cm de profundidade, e diminuir posteriormente tanto quanto mais profundo.
Os resultados encontrados para o nutriente enxofre foram bastante diferentes dos
demais, já que todos os até então analisados, apresentaram dinâmica inversa deste, ou seja,
quanto mais superficial, maior era a concentração, que diminuía gradativamente, ou não, de
acordo com a profundidade. Diferente do elemento em análise que apresentou sua maior
concentração em horizontes mais profundos, principalmente e P1.
20
40
60
80
100
120
140
profundidade cm
160
180 P1
P2
200
Fonte: OLIVEIRA, 2014.
124
f) Manganês
Manganês (Mn)
mg/dm3
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
0
20
40
60
80
P1
100 P2
120
140
profundidade cm
160
180
200
Fonte: OLIVEIRA, 2014.
125
4.3 Análises Físicas
4.3.1 Textura
A textura das amostras dos perfis 1 e 2 estão representadas no triângulo textual (figura
22). As amostras de P1 apresentam textura franco-argilo-arenosa nos horizontes Ap1, Ap2, AB
e B2; e textura argilo-arenosa os horizontes BA e B1. Em P2 as amostras de textura franco-
argilo-arenosa foram encontradas nos horizontes A1.1, BA e B2; já nos horizontes A1.2 e AB
foram identificados a textura franco-argilosa, e em B1 textura argilo-arenosa. De forma
sintética, em P1 com exceção dos horizontes BA e B1 que apresentam textura argilosa, os
demais horizontes tem textura média; assim como todos os horizontes de P2 apresentam
textura média. Observa-se, de modo geral, que a textura dos dois perfis é bastante semelhante,
o que é um ponto favorável para o objetivo central desse trabalho: a comparação de dois solos
com características originalmente semelhantes, mas com diferentes tipos de uso.
126
Figura 22 – Triângulo Textural
Fonte: OLIVEIRA, 2014.
4.3.2 Densidade
A densidade de P1 e P2 pode ser observada no gráfico 18. As linhas mostram que, nos
dois perfis analisados, a densidade é sempre maior em P1 que em P2, exceto nos 60 cm de
profundidade, onde P1 apresenta menor densidade que P2, ainda que o maior valor da área
florestada não ultrapasse o da área agrícola. A proximidade das duas linhas, que chegam a se
cruzar próximo aos 45 cm de profundidade, apresentam variações mais perceptíveis apenas
dos horizontes superficiais. A variação da densidade em P1 fica entre 1,61 e 1,56 g/cm3;
enquanto em P2 a variação encontra-se entre 1,0 e 1,60 g/cm3.
A maior diferença entre os dois perfis analisados está nos primeiros 10 cm. Em P1 o
valor da densidade no horizonte mais superficial, o Ap1 (3 cm) é de 1,61 g/cm3, maior valor
127
encontrado em todo o perfil. Na mesma profundidade, o horizonte A1.1 em P2 é de 1,00 g/cm3,
menor valor encontrado em todo perfil. Nos demais horizontes de P1 têm-se: 1,55 g/cm3 em
Ap2; 1,56 g/cm3 em AB e B1, respectivamente, 9cm; 20cm e 60cm. Já em P2 o valor
encontrado em A1.2 foi 1,39 g/cm3; em AB 1,49 g/cm3 e 1,60 em B1, todos nas mesmas
profundidades que os do perfil 1. Ocorre então em P1, uma relação decrescente da densidade,
ao contrário de P2 que tem essa relação crescente. A densidade é significativamente maior em
P1 nos primeiros cm de profundidade que em P2, o que indica que o revolvimento do solo
agrícola pode ser o principal responsável por esses valores.
10
20
30
P1
P2
40
50
profundidade cm
60
70
Perfil 1
129
Tabela 2 – Estabilidade de Agregados do Perfil 1
Estabilidade de Agregados
Perfil 2
130
Os valores encontrados para o DMG e DMP tiveram variações diferentes das
encontradas em P1. O horizonte A1.2 teve o maior valor encontrado: 4,8448 mm para DMG e
4,9513 mm para DMP; seguido do horizonte A1.2 que apresentou 4,7953 mm para DMG e
4,9316 mm para DMP. No horizonte AB 3,2807 mm de DMG e 4,2189 mm de DMP; e no
horizonte B1 0,5297 mm para DMG e 1,0307 mm de DMP. Esses números apontam também
para uma boa estabilidade dos agregados, garantindo menor risco à erosão. As florestas
apresentam maior estabilidade dos agregados em função do maior aporte de matéria orgânica,
mas principalmente, pela menor perturbação do ambiente, diferente de áreas agrícolas,
pecuárias ou mesmo urbanas.
131
4.3.4 Infiltração
132
Figura 24 – Infiltrômetro na área de floresta do Assentamento Pastorinhas, Brumadinho, MG
Fonte: OLIVEIRA, 2014.
133
Gráfico 19 – Infiltração total
Analisando o gráfico 20 que traz a taxa de infiltração é possível perceber que nos
primeiros minutos a infiltração da água foi praticamente a mesma nos dois perfis, ainda que
um pouco maior em P2, 157 ml e 173 ml, respectivamente. No segundo minuto de
experimento, a infiltração foi também próxima nos dois perfis: 78 ml em P1 e 71 ml em P2.
Apenas nesse momento a taxa de infiltração em P1 é maior que em P2. A partir dos 3 minutos
a taxa de infiltração é sempre superior em P2 em relação a P1 até os 30 minutos do
experimento. Com variações, os dois perfis tiveram infiltração crescente.
134
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
20
Vide p. 108 e 109, gráfico 3.
135
primeiros centímetros do solo, correspondendo ao horizonte Ap1. Diferente do mesmo
horizonte e profundidade na área de floresta, onde o pH encontrado foi mais ácido,
provavelmente em função do maior acúmulo de matéria orgânica em P2 que em P1 na
superfície, que de acordo com Brady e Weil (2013) tende a acidificar o solo, já que a MO
forma complexos solúveis com cátions não ácidos, o que facilita sua perda por lixiviação;
assim como, pelos numerosos grupos funcionais ácidos dos quais os íons de hidrogênio
dissociam-se (BRADY; WEIL, 2013). Esse resultado indica que o manejo agroecológico
reuniu condições para que houvesse aumento no pH do solo. Esse aumento pode, assim, ter
sido provocado pela incorporação de cátions principalmente, o cálcio comumente utilizado
para tal neutralização da acidez do solo em diversos tipos de intervenção de manejo. A
calagem é bastante difundida, porém seu uso indiscriminado pode provocar alterações
danosas ao solo e ao meio ambiente. O ideal é balancear de maneira adequada a concentração
dos nutrientes no solo.
A forma como a reposição dos cátions é feita no Assentamento Pastorinhas difere de
outras propriedades agrícolas que utilizam a calagem sintética, comercializada amplamente no
mercado destinado a atividades agropecuárias. No caso agroecológico, a incorporação dos
principais nutrientes para neutralização do pH é feita por meio do material residual da
compostagem, que age de forma a fornecer ao solo um número maior de nutrientes, porém, a
simples presença dos elementos não é determinante para elevar ou diminuir o pH do solo; esse
depende mais diretamente do complexo de troca em solução e da absorção destes pela planta.
Além disso, a bioestrutura é de fundamental importância para tal determinação,
principalmente a textura do solo e também o teor de matéria orgânica, que podem modificar
os valores do pH do solo, assim, a adição de matéria orgânica seca modifica o pH do solo
(PRIMAVESI, 2002).
O pH torna a solução mais ácida quanto maior forem os íons de hidrogênio livres.
Assim, solos ácidos são aqueles que possuem maior quantidade de íons H+ e menor
quantidade de íons de Ca, Mg, K e Na adsorvidos em seu complexo coloidal (PRIMAVESI,
2002). O pH influência diretamente a CTC do solo (BRADY; WEIL, 2013) e a saturação por
bases (PRIMAVESI, 2002). Segundo Meurer (2007) o pH tem efeitos diretos e indiretos
também sob as plantas, destacando-se a disponibilidade dos nutrientes; solubilidade de
elementos que podem ser tóxicos para as plantas; a atividade dos microrganismos; doenças,
favorecendo ou não seu surgimento; habilidades de competição entre as plantas e as condições
físicas do solo. Todas essas influenciam na qualidade do solo e na produtividade agrícola.
136
Já em relação à acidez potencial21, os resultados podem ser atribuídos à ação da
decomposição da matéria orgânica em P2 maior que P1, elevando tais valores, assim como, a
lixiviação de cátions como cálcio, magnésio e também o potássio, que podem elevar a acidez
potencial, o que é um fator de degradação do solo, principalmente em regiões tropicais. A
CTC e a saturação por bases também condicionam a acidez do solo (MOLINE et al., 2011).
No caso de P1 tanto a CTC, quanto as bases, seja soma ou saturação, são maiores que em P2,
o que explica os resultados encontrados para maior acidez na área florestada. A acidificação,
apesar de um processo natural do solo, pode ser acelerada pelo uso de fertilizantes químicos
de reação ácida, como os fosfatados; nitrificados e nitrogenados; amoniacais ou amídicos, que
dissolvidos podem contribuir para a acidificação da camada superficial do solo,
principalmente quando considerados longos períodos sem correção com calcário, ou mesmo
quando há utilização de doses altas dos produtos. O revolvimento do solo é também capaz de
diluir a acidez gerada pelo uso desses produtos, porém solos com menor revolvimento, como
no plantio direto, acumulam mais matéria orgânica, capaz de neutralizar parte da acidificação
do solo em função da complexação do alumínio (CIOTTA et al., 2002).
A saturação por alumínio22 foi maior em P2 que em P1, e essa significativa diferença
entre os dois perfis está relacionada, principalmente, em razão dos valores do pH do solo. Este
é o principal controlador da concentração de Al na solução do solo. Solos com pH acima de
5,5 apresentam capacidade baixa ou nula de solubilização do elemento, e até mesmo severa
toxidez do Al em solos com pH abaixo de 5,0 (MEURER, 2007). Para Souza et al. (2007) e
Primavesi (2002), a acidez do solo e o Al3+ são responsáveis pelo engrossamento das raízes,
diminuindo sua ramificação, prejudicando a absorção de água e nutrientes, refletindo no
comprometimento do desenvolvimento radicular das plantas e assim em seu desenvolvimento
satisfatório. Pequenas quantidades de Al trocável podem ser absorvidas pela raiz,
beneficiando o crescimento, uma vez que, aumentam a absorção de fósforo (PRIMAVESI,
2002).
Dessa forma, o ambiente de P1, manejado de forma a fornecer maior concentração de
nutrientes, em especial o Ca, associado a uma CTC e uma saturação por bases melhores no
ambiente agrícola, foram capazes de aumentar o pH na camada superficial, o que neutralizou
o alumínio. Isso é evidenciado pelo valor do pH ser menos ácido em P1 (Ap1 de 6,4 e o valor
da saturação por Al nesse mesmo horizonte ser igual a zero). A toxidez por Al está
relacionada com a toxidez por Mn, e com a deficiência de Ca, Mg e P (SILVA et al., 2007).
21
Vide p. 110, gráfico 4.
22
Vide p. 111, gráfico 5.
137
Assim, um manejo que proporcione incorporação e solubilização constante desses nutrientes,
apresenta um melhor desenvolvimento que outros que apenas retiram esses nutrientes do solo.
Além disso, o equilíbrio entre os nutrientes é essencial para a qualidade do solo, sendo tão
importante quanto sua correção por meio da calagem. Para tanto, o consórcio de culturas é
essencial para manutenção do equilíbrio dos nutrientes no solo, uma vez que, com o consórcio
e rotação de culturas, a exaustão química do solo é significativamente diminuída.
No trabalho de Corrêa et al. (2007) o incremento de calcário no solo destinado ao
plantio de café Arábica diminuiu o valor de Al trocável e da saturação pelo elemento, além de
elevar a saturação por bases. Apesar do cálcio atuar como importante neutralizador do Al, o
excesso de calagem gera um empobrecimento químico do solo em relação aos demais cátions
presentes já que, em solos tropicais, as taxas de CTC até 7,5% têm menos retenção do
elemento. Assim, a calagem deve ser feita de maneira cautelosa, observando-se as
necessidades e conveniências do solo e das plantas, bem como o equilíbrio entre os minerais
(PRIMAVESI, 2002).
Um dos principais indicadores da qualidade do solo é o conteúdo de carbono, já que
esse promove inúmeras funções químicas, físicas e biológicas, atuando nos sistemas agrícolas
e ambientais (STÜRMER et al., 2011). A matéria orgânica23 presente no solo dos dois perfis
foi maior em P2 que em P1, porém com diferença muito pequena, principalmente nos
horizontes abaixo de 40 cm do solo, onde a quantificação nos dois perfis foi bastante próxima,
diferenciando-se apenas acima dos 40 cm. Isso evidencia que o manejo pode ser o principal
responsável pelas variações da quantidade de MO nesses horizontes. Práticas agrícolas
alteram os teores de C e também de N, além da qualidade da matéria orgânica e a agregação
dos solos (PASSOS et al., 2007). Assim, além do aporte natural maior na área de floresta, a
MO do perfil 1 sofre influência direta do manejo que tem no material da compostagem e no
pousio com plantio de espécies florais e camadas de restos de cultura seca, o aporte necessário
para se obter tais níveis de material orgânica, mesmo após a colheita.
As alterações sofridas pelo uso do solo têm estreita relação com a dinâmica da MO e
com o ciclo biogeoquímicos dos elementos. Cultivos em áreas desflorestadas, como no caso
do ambiente P1, tendem a diminuir rapidamente a qualidade do solo, em razão das alterações
em componentes sensíveis à desestabilização do sistema provocado por mudanças, em
especial, as relacionadas ao revolvimento do solo e à redução das taxas de entrada de resíduos
pela retirada da mata. O desflorestamento, afeta diretamente o conteúdo de C orgânico,
23
Vide p. 112, gráfico 6.
138
exercendo influência sobre a quantidade e a qualidade da biomassa vegetal produzida e
incorporada ao solo. Apesar disso, um período de seis anos, com reflorestamento, é suficiente
para elevar novamente os teores de carbono orgânico total a níveis bastante próximos ao da
mata nativa (STÜRMER et al., 2011). Por isso, há ainda a possibilidade de que o manejo
agroecológico minimize as perdas de C orgânico nos horizontes superficiais mesmo no
período de cultivo, em virtude das técnicas conservacionistas adotadas no assentamento, que
garantem menores perdas de solo por processos erosivos, sendo a agregação e estabilidade
dos agregados elementos que mantenham a MO no solo. Outra ação que garante os aportes
naturais de MO é a técnica de irrigação, sem excessos, e assim com menor perda por
lixiviação, além da manutenção da biota local que pode agir, interruptamente na
mineralização do solo.
No sistema convencional de agricultura, o intervalo de pousio das culturas é menor
que 15 dias, na maioria das vezes, o que eleva o desgaste nutricional do solo, aumentando os
riscos de erosão já que sem MO suficiente para boa agregação, a estabilidade desses
agregados fica comprometida. Além disso, o uso de pesticidas interrompe parte do processo
de mineralização, já que extermina do solo grande parte da microvida responsável pela
decomposição dos materiais. Outro agravante é o sistema de irrigação que no excesso peculiar
deste sistema, lixivia intensamente o solo. Assim, um solo em descanso e com cobertura
vegetal adicionada, gera melhores resultados de MO que solos sem pousio e expostos à
erosão.
Os valores de nitrogênio disponibilizados para a planta estão condicionados à sua
fixação pela matéria orgânica, assim como os elementos cálcio e fósforo. A lixiviação é a
principal responsável pela perda do elemento do solo, assim como sua perda por escapamento
no ar, compactação, seca, falta de fósforo e excesso de alumínio (PRIMAVESI, 2002). Corrêa
et al. (2007) afirmam que a assimilação de nutrientes pelas plantas é condicionada pelo pH.
No caso do N, solos com pH próximo a 5,0 aproveitam apenas 50% do nutriente, enquanto
solos com pH 5,5 aproveitam cerca de 75% e em solos com pH maior que 6,0 há
aproveitamento de 100% de N. Novamente, os manejos utilizados, principalmente no que se
refere ao aporte de nutrientes com a compostagem e o consórcio de culturas, interagindo
leguminosas com outras espécies, é importante mantedor de melhores aspectos da qualidade
do solo em relação ao aporte de N. É importante lembrar que valores altos da relação C/N no
solo, de acordo com Lepsch (2011), indicam menores valores de N disponível para
alimentação de microrganismos, que terão que competir com outros vegetais superiores, o que
139
não ocorreu nas amostras dos dois perfis em análise. Nos perfis em discussão a relação C/N24
foi maior na área de floresta que chegou a apresentar no horizonte mais superficial relação de
26/2. Comparando ao perfil da área agrícola, na mesma profundidade a relação foi de 16/1,
aumentando até os 20 cm de profundidade, momento em que P1 é maior que P2, voltando a
ser menor até a maior profundidade amostrada. Tal relação dos elementos condiciona o teor
de MO encontrado em P1 dado, possivelmente, ao maior revolvimento do solo na área
agrícola. A relação C/N quando baixa pode elevar o grau de degradação e reduzir a matéria
orgânica presente no solo. A manutenção de N no solo é então importante para tal equilíbrio
junto ao Carbono.
Responsável pelos processos de CTC do solo, e também pela formação e estabilidade
de agregados, o que resulta na qualidade física do solo, a matéria orgânica fornece energia
para o crescimento microbiano, refletindo na maior ciclagem de nutrientes e aumento da CTC,
o que confere ao solo mecanismos fundamentais de avaliação de qualidade do solo (XAVIER
et al., 2006). A capacidade de adsorção de íons pelos coloides é uma maneira eficiente de
reter nutrientes para as plantas, melhorando assim a fertilidade natural do solo. Os manejos
relacionados às práticas conservacionistas, principalmente aqueles que oferecem melhor
aporte de matéria orgânica e irrigação planejada, são essenciais para que a CTC seja
garantida, uma vez que a lixiviação é a principal fonte de perda de nutrientes. Com uma CTC
eficiente, há menor perda dos nutrientes, pois esses são mais rapidamente absorvidos pelas
plantas.
A CTC25 das duas áreas analisadas demonstrou que algumas variações foram
encontradas em virtude da quantidade de MO no solo. Apesar do perfil 2 apresentar maior
teor de MO que o perfil 1, este conseguiu apresentar melhores resultados quando comparados
conjuntamente, ou seja, na relação entre a CTC e a MO, P1 foi superior, ainda que bastante
próximo da área de floresta. Assim, é possível aferir que, apesar da MO presente no solo ser
maior em P2, outros fatores contribuíram para que P1 conseguisse ter melhor aproveitamento
da CTC, ainda que com menor quantidade de MO quando comparado à área de floresta.
A capacidade que a MO do solo tem em gerar cargas negativas, eleva a CTC do solo,
principalmente em solos com presença da argila caulinita (MEURER, 2007); além disso, a
textura do solo nos horizontes superficiais, assim como o pH podem produzir maior CTC. A
capacidade de troca de cátions varia de um solo para outro, de acordo com a estrutura do
complexo argila/húmus, do tipo de micela presente e também da quantidade de matéria
24
Vide p. 113 e114, gráfico 7.
25
Vide p. 114, 115 e 116, gráficos 8 e 9.
140
orgânica, que quando em forma de húmus torna-se mais eficaz para a CTC que a argila, já que
apresenta maior superfície de área e volume em razão de sua natureza coloidal. Em condições
ácidas, as pontes de íons formadas pelas argilas, constituem-se através de associações de íons
de hidrogênio e grupos de hidroxilas (OH). A acidez do solo, pode também influenciar nas
cargas elétricas superficiais das partículas e controlar se demais íons são desalojados, o que
afeta enormemente a retenção desses íons e sua disponibilização em curto prazo de nutrientes,
essas que são componentes chave para a fertilidade do solo (GLIESSMAN, 2005). Assim,
pode-se aferir que, apesar da concentração de MO ser maior em P2 que P1, mas este propiciar
maior CTC, esta ligado, sobretudo, ao pH menos ácido em P1 que em P2; e à textura do solo
que é, sutilmente, mais argilosa em P1 que em P2; além da maior disponibilidade de
nutrientes em P1. O solo torna-se capaz de manter maior quantidade de MO quando existe
uma CTC satisfatória (PRIMAVESI, 2002).
A maior produtividade de um agroecossistema está intimamente relacionada aos
nutrientes fornecidos para as plantas. Contudo, a simples presença do nutriente, ou vários, não
significa necessariamente que estes estejam de fato disponíveis para a planta. Fatores como
pH, CTC e a textura do solo são determinantes para a real disponibilidade de nutrientes
(GLIESSMAN, 2005). Para completa absorção das raízes das plantas, é necessário que tais
elementos estejam em solução no solo. Além dos nutrientes, classificados em macro ou micro,
em função da sua quantidade nos solos tropicais, e não pela importância, está o pH como
importante indutor na nutrição das plantas. Solos muito ou extremamente ácidos têm na
toxidez dos Al e Mn elementos potencialmente tóxicos, que comprometem o desenvolvimento
das plantas (MEURER, 2007).
O preparo do solo influi diretamente na distribuição dos nutrientes no perfil do solo.
Assim, solos sob preparo convencional apresentam uma distribuição mais uniforme de todos
os nutrientes disponíveis, ao passo que, no plantio direto, há maior acumulo nos primeiros
centímetros do solo (CIOTTA et al., 2002). No Assentamento Pastorinhas, acontece o
revolvimento superficial do solo, para abertura das linhas de plantio, porém o processo de
transplante das mudas ocorre por plantio direto. Entre essas duas ações são incorporadas ao
solo o material da compostagem.
A área agrícola apresentou, superiormente, maior fertilidade26 dada a maior quantidade
de nutrientes que a área de floresta, com alguns elementos chegando a ser 21 vezes maior em
P1 que em P2, com exceção apenas do manganês que foi maior em P2 que em P1. Dessa
26
Vide p. 117, tabela 1.
141
forma, a saturação por bases27 levou parte de P1 a ser classificado como eutrófico nos
primeiros centímetros do solo. Já em P2, a saturação por bases foi baixa em quase todo o
perfil, exceto nos primeiros 5 cm amostrados, que chegaram a 50% de saturação. Além da
soma de bases, os valores de pH, a acidez potencial e saturação por alumínio, podem ser
responsáveis por valores baixos da saturação por bases (CORRÊA, et al., 2007) o que justifica
os valores encontrados em P2.
Os trabalhos de Corrêa et al. (2007) e Lima et al. (2003), a calagem foi responsável
por bons resultados tanto para melhor saturação por bases, como também para menores
valores de saturação por alumínio. Corrêa et a. (2007) afirmam que o pH do solo também
aumentou em decorrência da elevação da saturação por bases, consequência da calagem,
porém houve aumento excessivo na concentração de Mn, muito acima dos valores
considerados adequados, e diminuição do nitrogênio. Os demais macronutrientes,
principalmente a relação Ca:Mg foi positiva.
Dos nutrientes analisados, o cálcio, potássio, fósforo e magnésio apresentaram
comportamento similar, ambos com maior concentração na parte superior do solo,
diminuindo, na maioria das vezes, gradativamente, sempre com maior concentração na área
agrícola que na área de floresta. Ainda assim, a absorção dos nutrientes pela planta é
essencial. O cálcio quando apresenta um alto nível no solo, causa efeito positivo de potássio,
porém se houver deficiência de cálcio, pode ocorrer desassimilação de potássio pela raiz
vegetal, levando ao enfraquecimento da planta (PRIMAVESI, 2002).
A influência do Ca modifica o pH que quando aumenta, os H+ e os íons oxi-hidróxidos
de Al que estão associados às superfícies dos coloides são então removidos ou neutralizados,
facilitando a aproximação dos íons de K das superfícies dos coloides. Já altos níveis de Ca e
Mg na solução dos solo podem reduzir a absorção do nutriente K pelas raízes, já que cátions
competem entre si para serem rapidamente absorvidos pelas plantas (BRADY; WEIL, 2013).
Segundo Primavesi (2002) o Ca apresenta difícil fornecimento. Sua absorção depende da
temperatura, sendo as elevadas, ideais para melhor absorção. Para a autora, o efeito do
nutriente depende, intimamente, do equilíbrio com demais cátions, como o K, Mg, Zn, Mn, B,
Cu e Fe. Dentre eles, a relação Ca/K ideal varia entre 6/10 ou até maior. No caso das áreas
amostradas, P1 e P2, os valores de cálcio28 são menores, máximo encontrado 4 cmol/dm3 e K
o maior valor registrado é de 300 mg/dm3, ambos maiores valores registrados em P1, sendo os
de P2 todos inferiores aos valores expostos. As sementes são prejudicadas quando há falta de
27
Vide p. 118, gráficos 10 e 11.
28
Vide p. 119, gráfico 12.
142
Ca. Seu efeito depende diretamente da presença e equilíbrio de outros cátions, principalmente
Mg, K e B. O Ca, quando em equilíbrio, aumenta a absorção de nitrogênio nítrico, potássio,
além de beneficiar a absorção do magnésio, sódio e manganês (PRIMAVESI, 2002).
Encontra-se potássio em diferentes formas no solo, tem-se o K trocável, K não-
trocável, K fixado, K precipitado, K presente na MOS e K na solução do solo. Para fins de
avaliação da fertilidade, Ernani et al. (2007) apontam que o K resultado das analises é
chamado de extraível, disponível ou trocável. Dos macronutrientes, o potássio29 foi o de
maior teor dentre os demais analisados em P1 e P2, como Brady e Weil (2013, p. 479) já
sinalizam ao afirmar que “o potássio é encontrado em níveis relativamente superiores na
maioria dos solos minerais”. Nos resultados foi possível observar que a quantidade de K em
P1 foi mais que o dobro que em P2, principalmente nos primeiros centímetros do solo. As
fontes originais de K são os minerais primários, como as micas e feldspato, que com a
intemperização tem suas redes estruturais flexíveis. Apesar de ser abundante no solo, a
disponibilização do nutriente para as plantas é bastante restrita, sendo necessário um
complemento por adubação para não comprometer a fertilidade e produtividade agrícola.
Além disso, o potássio é facilmente lixiviado do solo, o que pode comprometer ainda mais
sua absorção pelas plantas (BRADY; WEIL, 2013).
A absorção de potássio em solo seco é baixa, ao passo que, a quantidade do elemento
disponível em solo arável aumenta com a estação seca que, apesar de menor absorção, sua
ascensão à superfície é mais intensa. A quantidade de K encontrada nos dois perfis em
discussão evidencia o que Primavesi (2002) expõe. As coletas forma feitas no período seco no
município de Brumadinho, MG (junho/2014) e os valores encontrados do elemento foram os
maiores tanto na relação de P1 e P2, como na dos outros elementos. Já no período de chuvas,
o comportamento do potássio é inverso: sua quantidade em superfície diminui, porém, a
absorção pelas raízes é melhor, ainda que a lixiviação seja mais intensa. A temperatura
também exerce influencia na absorção do elemento, que em baixas temperaturas tem redução
da absorção, ao ponto de ocorrer sua deficiência aguda. Porém, solos com pH na faixa entre
6,0 e 6,5, ainda que na estação fria, tem maior capacidade de absorção (PRIMAVESI, 2002).
Assim, temperatura e umidade, fatores esses condicionados ao clima, influenciam a
disponibilidade de K para as plantas (ERNANI, et al., 2007).
29
Vide p. 120, gráfico 13.
143
O fósforo apresenta como maior impedimento para absorção das plantas sua fixação.
Este nutriente é essencial para as plantas, pois é responsável pela transferência de energia na
síntese de substâncias orgânicas. Latossolos com grande quantidade de óxidos amorfos tem
maior capacidade de fixar fósforo. A mobilização do P é feita por bactérias capazes de
mobilizar o P das ligações com Al e Fe. Assim, solos como boa bioestrutura, MO e Ca
suficientes, são capazes de garantir fornecimento de P para as plantas. Muitas plantas também
mobilizam o nutriente através de aminoácidos excretados pelas raízes, e também por
micorrizas ou bactérias da rizosfera. Observa-se, assim, o papel da rotação de culturas no
fornecimento de nutrientes, já que outras plantas irão aproveitar o fósforo produzido por
outras culturas (PRIMAVESI, 2002). A rotação com leguminosas como feijão miúdo
(Vignasinensis), guandu (cajanus indicus) e outras são essenciais para boa qualidade química
do solo e melhor desenvolvimento das plantas, resultando em melhores índices de
produtividade ao agricultor.
A capacidade de um solo fixar o fósforo é medida pelos sítios da superfície das
partículas do solo, capazes de reagir com os íons de fosfato. A reação com compostos solúveis
de ferro, alumínio ou manganês fixa o fósforo no solo. Ao se comparar a fixação do fósforo
em solos com valores de pH e mineralogia semelhantes, é possível observar que os solos com
maiores teres de argila tem maior tendência a apresentar maior fixação e menor capacidade de
liberação do P (BRADY; WEIL, 2013). Ademais, o processo de plantio direto concentra
melhor o fósforo, assim como toda a saturação por bases, em razão da maior concentração dos
nutrientes Ca, Mg e K trocáveis na camada superficial do solo, além da complexação de Al
pela MO, que minimiza os efeitos negativos da acidificação (CIOTTA et al., 2002).
Dessa forma, nota-se que, o fósforo30 no ambiente de P2, o P total é de 7,39 mg/dm3 ao
passo que, no ambiente de P1, esse valor é de 160 mg/dm3, grande diferença, devido ao aporte
de nutrientes pela compostagem e pela rotação de culturas, mas também em razão da textura
do solo, como afere Brady e Weil (2013). Os autores apontam ainda que a acidez do solo,
reduzida pela oxidação de amônio, e pela absorção em excesso de cátions de amônia, mantem
o P em forma de compostos solúveis, aumentando a absorção de P pelas plantas. O pH
mantido entre 6 e 7 garante melhor disponibilidade do elemento.
O magnésio depende diretamente da quantidade de potássio, apesar de sua abundância
natural. Sua propriedade mais importante consiste em solubilizar seus compostos e ativar
reações enzimáticas, além de agir na transferência de fosfato ou nucleotídeos de grupos
30
Vide p. 121 e 122, gráfico 14.
144
carboxílios, e ativação de desidrogenase, mutase e liase. Além disso, o Mg tem papel
estruturador sendo componente da molécula de clorofila, requerido para manter a integridade
dos ribossomos e manutenção da estabilidade estrutural dos ácidos nucléicos e membranas.
Sua influência no movimento dos carboidratos das folhas para outras partes da planta
estimulam a capacidade de transporte do fósforo na planta (DECHEN; NACHTIGALL,
2007). A principal fonte de Mg, na maioria dos solos é o Mg trocável no complexo argila-
húmus. Na decomposição de resíduos vegetais e na matéria orgânica, também são encontradas
fontes do elemento. Áreas de floresta, segundo Brady e Weil (2013), desde que não poluídas,
têm na deposição atmosférica, em vez do intemperismo das rochas, fonte de grande parte no
Mg utilizados pelas árvores.
Os resultados do elemento magnésio31 das duas áreas em análise mostraram
comportamento idêntico nos primeiros 5 centímetros do solo, ou seja, na camada mais
superficial. Contudo, nas demais profundidades, não houve em P2 mudança nos valores da
concentração do Mg, que manteve-se nos 10 cmol/dm3 até os 160 cm de profundidade, ao
passo que, em P1 esse valor variou entre 20 e 50 cmol/dm3.
Já o enxofre32, apresentou comportamento inverso a todos os demais elementos
avaliados. Enquanto as maiores concentrações estavam na porção superficial do solo, o
enxofre teve sua maior concentração na parte mais inferior, no ambiente de P1 onde o valor
no horizonte superficial Ap1 foi de 15,56 mg/dm3 e no horizonte B1 o valor máximo
encontrado de 91,28 mg/dm3. No ambiente P2, a concentração do elemento variou tendo
comportamento irregular durante todo o perfil, ou seja, as variações não seguiram linhas
crescentes ou decrescentes. O maior valor encontrado de S em P2 foi ao horizonte superficial
A1.1 com 23,77 mg/dm3, e o menor valor foi registrado em A1.2 e em B1 ambos com 12,14
mg/dm3 de S.
Brady e Weil (2013), explicam que em regiões secas o gesso na forma Ca SO4 2H2O
fornece enxofre inorgânico, estando este, muitas vezes, presente nos horizontes
subsuperficiais. Dessa forma, a proporção entre o S orgânico e inorgânico esta relacionada ao
clima, sendo o árido ou semiárido comum o S inorgânico, e os climas úmidos apresentam
maior concentração de S orgânico. Os compostos inorgânicos de S mais comuns são os
sulfetos e sulfatos. Os minerais de sulfato são facilmente solubilizados e assimilados pela
planta. Esses minerais são comuns em regiões com índice pluviométrico baixo, acumulando-
se nos horizontes subsuperficiais. Há, contudo, a concentração superficial em solos salinos de
31
Vide p. 122 e 123, gráfico 15.
32
Vide p. 123 e 124, gráfico 16.
145
regiões secas na forma de sais neutros. Já os sulfetos são encontrados em regiões úmidas, que
em áreas com drenagem restrita, oxidam formando sulfatos, ficando então disponível para as
plantas. Já em área com drenagem livre, a formação de sulfatos é maior, dada maior oxidação
do enxofre, disponibilizando para as plantas quantidades do elemento em altas quantidades,
chegando à toxidez. A argila é fonte de enxofre, principalmente solos ricos e caulinitas e
óxidos de Fe e Al. Essas argilas adsorvem o sulfato da solução do solo, para posteriormente,
liberá-los, em troca aniônica, especialmente em condições de baixo pH. Em Latossolos,
altamente intemperizados, de trópicos úmidos, podem conter grande quantidade de sulfato,
especialmente em seus horizontes subsuperficiais (BRADY; WEIL, 2013). .
Assim, é possível aferir algumas das principais razões que levaram ao acumulo de S
na parte subsuperficial do solo em P1. Inicialmente, esse é um processo relacionado aos
Latossolos, portanto, comum aos dois perfis. Os Latossolos encontrados nos trópicos úmidos
tem a maior parte do enxofre dos perfis presente como sulfato adsorvido às superfícies
coloidais nos horizontes subsuperficiais (BRADY; WEIL, 2013). Porém, outras
circunstâncias levaram P1 a apresentar maior acumulo de S nos horizontes subsuperficiais que
P2. A primeira delas, diz respeito à quantidade de argilas caulinitas presentes no solo e óxidos
de Fe e Al, comuns em solos já bastante alterados, como os Latossolos, como exposto por
Brady e Weil (2013). A quantidade de Ca presente no solo em P1 (12 cmol/dm 3; 4,4
cmol/dm3), inclusive com maior quantidade nos horizontes subsuperficiais de P1 em relação à
P2 é também outra fonte de enxofre que pode ter elevado seu teor subsuperficial na área
agrícola. O enxofre inorgânico está atrelado à calagem que eleva as concentrações do
elemento (PRIMAVESI, 2002). Um último fator, mas não menos importante, é a matéria
orgânica presente nos dois ambientes em análise que se difere em concentração. No ambiente
de P2, há maior quantidade de MO que no ambiente de P1, o que é esperado, haja vista o
aporte natural de materiais para mineralização. Em P2 o horizonte com maior concentração de
MO apresenta também a maior concentração de S, a saber: A1.1 aos 5cm de profundidade. A
matéria orgânica é também fonte de S (PRIMAVESI, 2002). Dessa forma, todos esses fatores
interagindo de maneira integrada, resultam em um ambiente favorável a acumulação do S o
que explica seu comportamento nos dois ambientes. Portanto, é bastante pertinente a hipótese
que em P1 encontre-se maior concentração de S inorgânico, e em P2 o S orgânico.
146
O manganês33, em ambos os perfis, teve sua maior concentração na parte superior do
solo, como também ocorreu com os nutrientes já apresentados acima, porém foi o único
nutriente com valores maiores na área de floresta que na área agrícola. A principal diferença
nas concentrações de P1 e P2 encontra-se na porção superior do perfil, ou seja, nos primeiros
centímetros do solo. Isso pode ser explicado, como apresentam Dechen e Nachtigall (2007),
pela disponibilidade do elemento em função do pH do solo. Solos com pH superior a 5,5
apresentam oxidação por ação biológica mais favorecida, principalmente quando há boa
estrutura, o que diminui os valores do micronutriente; ao passo que, solos quanto mais ácidos,
reduzem as formas oxidadas favorecendo a disponibilidade do elemento. Os valores baixos de
pH favorecem a redução, e valores altos de pH favorecem a oxidação. Substâncias húmicas
reduzem o Mn e este se oxida com dificuldades em meio ácido, tendo assim uma maior
migração do elemento pelo perfil do solo. Os teores de matéria orgânica e o equilíbrio com os
demais cátions, além do pH e condições de óxidorredução, são os principais fatores que
determinam a disponibilidade do manganês. Assim, os dois perfis analisados apresentam
diferenças no pH que foram determinantes para a concentração do Mn. Solos com pH entre
6,0 e 6,5 tem situação crítica quanto a disponibilidade do nutriente, como é o caso de P1 que
nos primeiros centímetros do solo apresenta pH nessa faixa (Ap1 6,4). Considera-se que o Mn
tem maior facilidade em ser absorvido pelas plantas, quando solúvel no solo, sendo direta a
relação entre o teor solúvel do elemento no solo e na planta. Por outro lado, há também uma
relação negativa entre o teor de Mn nas plantas com o aumento do pH, bem como, relação
positiva quanto ao teor de matéria orgânica presente. Outra evidência que atesta maior
concentração do Mn em P2: a quantidade de matéria orgânica disponível nesse ambiente.
33
Vide p. 125, gráfico 17.
147
como acelerar a erosão. O revolvimento acelera a decomposição da MO; e a compactação
superficial dificulta o crescimento radicular e a infiltração de água, processos que refletem
diretamente na estabilidade de agregados e capacidade de infiltração.
A textura é um dos mais importantes fatores de na determinação do uso do solo, já que
as culturas têm características e necessidades diferentes para seu crescimento. Assim, as
práticas de cultivo devem estar sempre associadas à textura. Culturas plantadas em solos
arenosos, por exemplo, respondem de maneira diferente aos fertilizantes aplicados, que solos
argilosos ainda que, analises química demonstrem similaridade na quantificação de nutrientes,
o melhor aproveitamento destes pelas plantas está relacionado à textura do solo (BERTONI;
NETO, 2012). Algumas propriedades e comportamentos da dinâmica do solo são diretamente
influenciados pelas frações encontradas. A susceptibilidade à erosão, por exemplo, tanto
eólica, quanto hídrica, apresentam melhores resultados quando associadas às frações de argila,
sendo alta quando associada à fração silte, e moderada na fração areia (BRADY; WEIL,
2013).
A susceptibilidade à compactação normalmente é baixa em frações de areia, média na
fração silte e alta na fração argila. Já a capacidade de aeração tem melhores possibilidades na
fração areia que nas outras; assim como as taxas de drenagem chegam a ser mais altas nessa
fração, e lenta e muito lenta as frações silte e argila, respectivamente. A capacidade de
retenção de água é melhor na fração argila que nas demais frações. Outros importantes
comportamentos, essenciais para a prática da atividade agrícola, estão relacionados com a
capacidade de armazenamento de nutriente pelas partículas de solo e teor de matéria orgânica
presente. Em ambas, a argila apresenta melhor capacidade, assim como na resistência à
mudança de pH. Assim, é possível observar que muitas das influências das frações do solo
sobre seu comportamento estão relacionadas às frações de argila e silte, principalmente nos
quesitos ligados à química do solo e também relacionados aos processos erosivos (BRADY;
WEIL, 2013). Solos intemperizados, como os Latossolos, apresentam boa proporção de
argilas em sua composição, o que para Fontes (2012) é também um processo que controla
parcialmente a fertilidade natural do solo, uma vez que, o intemperismo relaciona-se
diretamente com as características do saprolito e dos solos em formação na superfície da
crosta, de acordo com a intensidade em que ocorre.
A densidade do solo é afetada diretamente por qualquer fator que influencie o espaço
poroso existente entre as partículas. Tratando-se primeiramente de fatores naturais, à medida
que a profundidade do solo aumenta, a densidade aumenta consequentemente, uma vez que,
148
nas porções mais inferiores, há menos matéria orgânica, essencial para a agregação, além de
menor quantidade de raízes e uma compactação causada pela massa das camadas superiores.
Há ainda a interferência da textura na densidade do solo, onde solos argilosos franco-argilosos
e os franco-siltosos, geralmente possuem maior densidade em comparação com aos solos
arenosos (BRADY; WEIL, 2013). A atividade biológica apresenta importante relação com a
porosidade, já que altos teores de óxido de ferro e alumínio promovem alta porosidade
(CURI; KÄMPF, 2012).
Com base nisso, considerando a textura34 dos dois perfis e os ambientes e que se
encontram, afere-se que a densidade35 do solo em P1 está relacionada com a compactação
maior dos horizontes superficiais, onde há maior pisoteio do solo e tráfego de maquinário. Na
parte mais superficial do solo houve a maior diferença entre os dois perfis, evidenciando o
impacto causado pelo revolvimento do solo agrícola, continuando nas demais profundidades,
porém com valores menos discrepantes entre os dois perfis, ainda que sempre com maior
densidade em P1. No ambiente de floresta, é comum, segundo Brady e Weil (2013) encontrar-
se valores de densidade muito baixos, da mesma forma como no trabalho de Viana et al.
(2011). Assim, os valores encontrados na área de floresta condizem com o esperado para
aquele meio.
Os impactos que geram aumento da densidade do solo estão intimamente ligados às
atividades agrícolas. O aumento da densidade provocado pela agricultura, indica um ambiente
que compromete o crescimento radicular, já que a redução da aeração irá prejudicar o
comportamento da água no solo, pois reduz a capacidade de infiltração do mesmo, além de
restringir a quantidade de oxigênio no solo e a adsorção dos nutrientes e posterior absorção
pela raiz da planta (PRIMAVESI, 2002). Um solo compactado fica ainda mais susceptível à
erosão, já que há maior escoamento superficial do que infiltração. Um solo compactado, de
acordo com Primavesi (2002), permite apenas que ocorra a proliferação de um grande número
de insetos, de poucas espécies.
A estrutura do solo quando afetada modifica o comportamento hídrico, alterando as
taxas de infiltração de água e o escoamento superficial, o que pode potencializar processos
erosivos. A diminuição da cobertura vegetal pode levar ao aumento da compactação do solo, e
consequentemente diminuir a infiltração. Solos com textura franco argilo arenosa, apresentam
os menores valores de resistência à penetração. A maior quantidade de argila diminui a
velocidade de infiltração de água, o que mantem o solo mais úmido e menos compacto; ao
34
Vide p. 126 e 127, figura 22.
35
Vide p. 127 e 128, gráfico 18.
149
passo que, a textura franco arenosa, por possuir maior quantidade de macroporos e baixa
porosidade total, apresenta maior permeabilidade e baixa capacidade de retenção de água
(HUBER; SOUZA, 2013). As áreas amostradas, P1 e P2, apresentam maioria dos horizontes
com textura franco argilo arenoso, o que pode contribuir para melhores condições físicas.
Os usos agrícolas e urbanos alteram a agregação e assim a estabilidade dos agregados
do solo. Essa propriedade é um importante indicador de qualidade do solo, tendo em vista que
quanto maior a agregação e estabilidade desses, maior é a resistência à erosão hídrica. Solos
de baixa estabilidade apresentam índices de agregação ou de Diâmetro Médio Ponderado
(DMP) abaixo de 0,5mm. Tais solos tornam-se impermeáveis quando irrigados, formando
crostas à superfície. Já solos com DMP maior que 0,5mm são considerados relativamente
resistentes ao esboroamento e à dispersão, ou seja, quanto maior for à porcentagem de
agregados retido nas peneiras, melhor a agregação. Assim, agregados maiores são mais
estáveis, sendo que o fracionamento dos agregados provocado por pisoteio de animais,
movimentação de implementos agrícolas, intenso revolvimento das camadas superficiais do
solo e a constante incorporação de matéria orgânica, provocam alterações em outras
propriedades físicas do solo como porosidade e densidade, que comprometem a qualidade e
capacidade produtiva do recurso natural (DEMARCHI et al., 2011).
Nas duas áreas amostradas, os resultados da estabilidade de agregados36 foram
próximos apenas nos primeiros cm de profundidade, a saber 3 cm, indicando boa agregação
na área agrícola, que obteve agregação de 92%, sendo 98% na área de floresta. Os valores de
agregação, DMG e DMP são sempre bastante superiores na área de floresta. Aos 9 cm de
profundidade os valores de agregação em P1são ainda medianos, ao passo que dos 20 aos 60
cm os valores encontrados são bastante baixos, diferentemente da área de floresta que mantêm
excelentes de agregação (sempre próximos à 100) em todo perfil, com exceção da última
profundidade amostrada (60 cm) onde seu valor é drasticamente reduzido para menos de 10¢
de agregação.
Os macroagregados concentraram-se na parte mais superficial do solo, assim como os
maiores valores de DMG e DMP. No trabalho de Schossler et al. (2012) houve também maior
percentual de agregados estáveis nos primeiros 10 cm do solo, porém em área sob pastagem.
Para Santos et al. (2012), a agregação varia deferentemente de acordo com as culturas de
cobertura e com as camadas do solo.
36
Vide p. 129, 130 e 131, tabelas 2 e 3.
150
Muitas das mudanças na estabilidade de agregados e de outros atributos físicos do solo
são decorrentes da calagem e adubação, podendo estar ligadas a estes dois mecanismos que
modificam a composição química da solução do solo, alterando, assim, o pH, a força iônica da
solução e os tipos de íons, que influenciam significativamente a dispersão e floculação dos
coloides, interferindo na agregação. Outro mecanismo diz respeito ao efeito indireto da adição
de calcário e outros adubos ao solo, favorecendo a maior produção de fitomassa das culturas,
o que leva a um maior aporte de matéria orgânica, incrementando a atividade microbiana, e
consequentemente a estabilidade dos agregados (ALBUQUERQUE et al., 2003).
A estabilidade dos macroagregados está relacionada ao teor de C orgânico no solo
(SALTON et al., 2008). Primavesi (2002) afirma que quanto mais MO adicionada ao solo,
maior será a estabilidade dos agregados, sendo isso de importância máxima para a produção
agrícola, já que o desenvolvimento da raiz está também atrelado a esse processo. A atividade
agrícola, no preparo do solo em sua movimentação para plantio, pode tanto promover a
agregação, como destruí-la (BRADY; WEIL, 2013). Com os resultados das duas áreas é
possível aferir, que houve através das práticas de manejos agroecológicas uma melhor
agregação nos primeiros cm de profundidade, comparado com o restante do perfil; porém, a
comparação entre os dois perfis aponta para uma qualidade superior da área de floresta.
Os organismos removem, alteram e até adicionam substâncias às áreas que ocupam.
Existem diversos efeitos dos organismos sobre o meio e sobre outros organismos. Ao enfocar
como o ambiente estabelece uma medida dos efeitos que os organismos têm um sobre os
outros, é possível compreender os mecanismos através dos quais ocorrem diferentes efeitos.
Gliessman (2005) atenta que o conhecimento de tais mecanismos pelo agricultor é importante
para manejo dos produtores que poderão tirar maior vantagem das interações entre eles. A
modificação que um organismo causa no meio, cria impacto sobre outro, gerando uma
interferência que pode ser de remoção, quando um organismo remove algo de ambiente,
reduzindo a disponibilidade de determinado recurso para outros organismos; como uma
interferência de adição, quando um organismo adiciona algo ao meio ambiente podendo ter
impacto positivo, negativo ou mesmo neutro sobre outros organismos. Essas interações de
interferência passam pela competição, parasitismo, mutualismo, alelopatia e outros. Esses
sendo manejados podem potencializar ações importantes para a produtividade agrícola, e
também para o controle eficaz e orgânico de espécies.
A erosão está também atrelada à estabilidade de agregados, podendo deixar o solo
mais ou menos susceptível à ação de fatores que atuam nos processos erosivos. No trabalho
151
de Barthès e Roose (2002), a susceptibilidade do solo à erosão e ao escoamento foi
correlacionada a estabilidade de agregados superficiais (0 a 10 cm), avaliada através da
comparação de amostras peneiradas em 2 mm, secas ao ar (método que checa a resistência
dos agregados à hidratação). Essa relação foi melhorada quando variáveis tais como
agressividade climática, inclinação do terreno e existência de práticas de conservação foram
consideradas em adição à estabilidade agregada. Embora diversos mecanismos possam
contribuir para a desintegração de agregados, o encharcamento (hidratação) pode ser
considerado particularmente importante, especificamente (i) em áreas tropicais e
mediterrâneas, onde chuvas fortes são mais frequentes (Roose, 1996), e (ii) em solos com
baixa ESP (proporção intercambiável/permutável/trocável de sódio) e elevado teor de argila,
como no caso em estudo. Entretanto, desintegração de agregados não é o único mecanismo
envolvido na erosão: separação de partículas através do cisalhamento por pingos de chuva e
escoamento superficial, assim como o transporte por respingos e escoamento, podem também
contribuir para a erosão do solo pela água.
Nas análises de infiltração37 feitas nos dois ambientes, P1 e P2, os resultados
mostraram uma grande diferença entre os dois perfis, chegando a 48% a mais de infiltração
total na área de floresta em comparação com a área agrícola. A taxa de infiltração foi também
maior em P2 que P1. A taxa de infiltração não é algo constante, mas geralmente diminui em
condições de chuvas ou irrigação constante. Solos completamente secos terão os macroporos
abertos disponíveis para conduzir água com maior velocidade e capacidade de absorção
(BRADY; WEIL, 2013). Semelhante a isso, o ambiente P1 teve nos primeiros minutos de
experimentos maior taxa de infiltração em menor tempo, comparado ao ambiente P2, que nos
primeiros minutos de experimento obteve valores menores aos da área agrícola, aproximando-
se no intervalo de 2 a 4 minutos, e elevando a superioridade conforme o tempo de
experimentação. A área de floresta possui umidade natural maior que a área agrícola,
principalmente ao considerar que a área estava em pousio há alguns meses sem receber
irrigação, nem mesmo chuva, estando assim mais seca que a área de floresta.
Diversas razões influenciaram para o resultado dessa análise. Considerando-se que os
dois perfis têm basicamente a mesma textura, o ambiente de floresta de P2, tem no aporte de
matéria orgânica uma das principais razões para melhor estrutura do solo, e assim melhor
infiltração. Os poros deixados pela maior agregação são fundamentais para bons resultados,
principalmente quando associados a uma boa estrutura. Ademais, a interferência no sistema
37
Vide p. 132, 133 e 134, gráficos 19 e 20.
152
de floresta recebe perturbação extremamente menor que a área agrícola, que tem não apenas
no tráfego de maquinário, mas também na própria atividade agrícola maior perturbação do
meio, o que inclui o processo de plantio, colheita, manutenção da cobertura do solo entre
safras e na forma de irrigação, as principais causas e efeitos na qualidade física do solo.
Outros fatores afetam a infiltração, como o tempo de ocorrência da precipitação, o tipo
de vegetação e o manejo do solo. O tipo de vegetação é também fundamental para tal
avaliação. Áreas com vegetação densa protegem melhor os agregados do solo contra a ação
do splash o que favorece a infiltração. Já a forma como é feito o manejo do solo é importante
para a conservação dos mesmos. Aumentar a infiltração e reduzir o escoamento superficial,
elevando o tempo que a água tem para infiltrar no solo, é a primeira maneira de se alcançar o
objetivo de melhor qualidade. Além disso, o cuidado com o solo exposto entre safras é
também fundamental. O plantio de culturas de coberturas protege o solo de processos erosivos
mais danosos, principalmente se em época de maior volume de chuvas. Outra ação positiva é
manter a boa estrutura do solo, minimizando a compactação ocasionada pelo tráfego de
maquinários da lavoura ou mesmo o pisoteio do gado (BRADY; WEIL, 2013). Todas essas
ações garantem maior proteção ao solo que terá o aporte de MO mantendo uma melhor
estabilidade de agregados, reduzindo ação dos possíveis processos erosivos e perdas de solo
comprometedoras à sua qualidade. Quanto mais bem protegido o solo fica, melhor será sua
infiltração.
A água disponível no solo está diretamente associada às restrições do crescimento
vegetal quando há compactação. Para Primavesi (2002), em um solo agrícola adensado, a
crosta superficial pode ser criada pela pressão de maquinário agrícola, mas geralmente ocorre
pela destruição dos grumos do solo, resultado de um manejo inadequado, impedindo, assim, a
infiltração da água pluvial, levando ao escorrimento e erosão. A baixa capacidade do solo
agrícola, em comparação ao solo da área de floresta, de infiltrar água, deixa claro que, a
qualidade física do solo precisa ser mais bem trabalhada para que haja resultados mais
satisfatórios. O manejo dos aspectos químicos, ligados, sobretudo, à fertilidade do solo, é
também corresponsável pela qualidade física, uma vez que, muitos dos nutrientes
desempenham ou são necessários para processos que alteram a estrutura do solo.
153
5.3 Sistema ISA
O Sistema ISA permite uma série de aferições com uso de seus 21 indicadores em
diferentes áreas relacionadas à sustentabilidade de agroecossistemas. O índice de
sustentabilidade de uma propriedade agrícola pode ser avaliado utilizando-se tais indicadores.
Como o objeto dessa pesquisa é a comparação de um sistema agrícola com um sistema natural
de floresta, sendo o segundo apenas um parâmetro para tais comparações, optou-se por avaliar
apenas alguns indicadores relacionados à fertilidade em ambas as áreas de amostragem, e
outros complementares para a área agrícola, sobre temas intrínsecos à agricultura.
Para tanto, uma série de experimentações foram feitas e culminaram em diferentes
perceptivas a respeito da capacidade produtiva do solo. Num primeiro ensaio, foram plotados
apenas os dados dos primeiros centímetros de profundidade em ambos os perfis, de modo a
comparar como se dá a interferência do manejo agrícola no solo. Assim, foram utilizados os
dados dos horizontes mais superficiais do solo, a saber, Ap1, Ap2 e AB em P1 e A 1.1 e A 1.2 em
P2, totalizando 23 cm de profundidade nos dois perfis. A metodologia ISA sugere a análise
dos primeiros 20 cm de profundidade, área onde as raízes das plantas alcançam e onde está a
maior parte dos nutrientes necessários para seu desenvolvimento. Após os 20 cm há pouca
diferença para a agricultura, que trabalha apenas com porções superficiais. Assim, para
aplicação do índice de sustentabilidade, foram seguidos esses parâmetros, fazendo uma média
ponderada de acordo com a espessura dos horizontes até 23 cm em P1 e P2.
Os itens avaliados no conjunto de indicadores de qualidade do solo são: matéria
orgânica, saturação por bases, CTC efetiva, Al trocável, acidez ativa (pH), fósforo, cálcio,
magnésio e potássio. Em relação à matéria orgânica, P1 obteve como resultado parcial a
pontuação 0,70 pontos e P2 obteve 0,99 pontos. O fósforo em P1 obteve 0,97 pontos e P2 0,9
pontos. Já o cálcio, magnésio, potássio e alumínio trocáveis foram, respectivamente, 0,77;
0,57; 0,95 e 0,56 pontos em P1; e 0,53; 0,46; 0,72 e 0,24 pontos em P2. A saturação por bases
em P1 foi de 0,65 pontos e 0,32 pontos em P2. Já a acidez ativa em P1 recebeu 0,79, e em P2
0,23 pontos. Já a CTC em P1 obteve 0,67 pontos, e em P2, 0,57. Observa-se que P2 foi
superior a P1 apenas na pontuação relacionada à matéria orgânica, sendo os demais resultados
favoráveis à área agrícola. O resultado final pontuou P1 com 0,77 pontos, enquanto P2 obteve
0,47 pontos, apontando maior fertilidade na área agrícola.
O relatório final, com os gráficos resultantes da plotagem dos dados sobre a
capacidade produtiva do solo, ou seja, à fertilidade, apresenta o raio de referência da
154
sustentabilidade sendo o limiar 0,70. As figuras abaixo (Figura 25 e Figura 26) demonstram
como se deu tal resultado em P1 e P2. Em P1, dos macronutrientes, o Ca, P e K estenderam-se
além da linha limite, demonstrando resultados superiores ao limiar estabelecido pelo
programa. Matéria orgânica, CTC e pH ficaram bastante próximas à linha que limita o índice
de sustentabilidade do sistema; abaixo dessa linha, apenas Mg e Al. No balanço geral, a
capacidade produtiva da área agrícola alcançou os 0,77 pontos. Ainda que bastante próximo
do limiar, a área agrícola, comparada à área de floresta, teve resultado bastante satisfatório. O
perfil 2 apresentou resultados além da linha apenas para matéria orgânica, e sobre a mesma
linha com o potássio. As demais análises ficaram bem abaixo do limiar proposto pelo sistema.
Os valores indicam que o ambiente agrícola obteve melhor resultado comparando-o
com os valores da floresta. Assim, é possível afirmar que a área agrícola, manejada de acordo
com os princípios e técnicas da agroecologia tem maior capacidade produtiva, já que seu
índice de fertilidade foi superior ao mínimo esperado pelo sistema, ao passo que a área de
floresta obteve um índice abaixo do limiar para capacidade produtiva do solo. O plantio
direto, prática do assentamento, é um dos manejos mais apropriados, pois causa menores
danos ao solo. Em diversos trabalhos, como os de CARNEIRO et al. (2009); MENDONÇA et al.
(2012); GILLES et al. (2009) e PANCHUKI et al (2011), ao se comparar diferentes formas de
plantio, o direto preponderou positivamente sobre os demais. Assim, o potencial agrícola do
perfil 1 pode ser considerado satisfatório, e possivelmente, crescente.
155
Figura 25 – Indicadores de Qualidade do Solo em P1 nos primeiros 23 cm
FONTE: ISA, 2014.
157
Figura 27 – Indicadores de Qualidade do Solo em P1
FONTE: ISA, 2015.
159
Figura 29 – Indicadores de Segurança Alimentar em P1
FONTE: ISA, 2015.
160
Em relação à gestão do uso de agrotóxicos (Figura 31), no Assentamento não é prática
o uso de nenhum produto sintético na lavoura, apenas produtos naturais, como caldas, para
repelir espécies invasoras. A utilização dessas caldas naturais e também de plantas quebra
vento são os únicos manejos utilizados pelos agricultores para gerenciamento de ataques,
quando ocorrem. Sendo assim, a pontuação do índice foi de 0,70 pontos. Portanto, o risco de
contaminação da água por agrotóxico advindo do Assentamento Pastorinhas não existe.
O último índice avaliado nessa pesquisa traz o grau de adoção de práticas
conservacionistas e analisam os aspetos relativos ao solo e à água. Ele sintetiza os dois usos
mais comuns e que necessitam de maior cuidado. A figura 32 mostra os resultados que
consideraram os 14 hactares que são destinados à lavoura no Assentamento Pastorinhas.
Desses, aproximadamente 13 ha são utilizados para plantio da lavoura temporária, ou seja, as
hortaliças, tubérculos e grãos; o outro 1 ha é destinado ao plantio da lavoura permanente que
consiste em pomares. Para preenchimento, a área foi considerada suficiente já que atende às
práticas tidas pelo sistema como conservacionistas. Em relação à conservação das águas, são
adotadas práticas que garantem o fornecimento e abastecimento para a atividade agrícola,
animais e consumo humano, sendo então classificada como suficiente. Ao final, a pontuação
obtida foi de 0,93, valor bastante próximo do total adotado pelo ISA que é igual a 1.
Observados os demais índices aplicados e seus resultados, reforçam-se os benefícios
da agroecologia como forma de agricultura que busca a preservação do meio ambiente, tanto
como o conjunto de manejos aplicados à agricultura, mas também devido a sua forma de gerir
resíduos, efluentes e demais situações cotidianas. A escolha por opções menos agressivas em
prol da conservação da natureza são também relações que os agricultores fazem com a
agroecologia. Assim, não apenas as técnicas agroecológicas, mas também princípios e estilo
de vida são condizentes com a essência da agroecologia: a busca pela sustentabilidade.
161
Figura 31 – Indicadores de Gestão do Uso de Agrotóxicos em P1
FONTE: ISA, 2015.
162
CONSIDERAÇÕES FINAIS
163
economicamente, quanto ambientalmente, que em curto prazo apresentem bons resultados na
produtividade e qualidade da produção. Associações de produtores rurais, sociedade civil e
academia deram mais força à luta da agricultura sustentável. Cursos de graduação e pós-
graduação em agroecologia estão sendo reconhecidos pela qualidade, levando a agroecologia
a elevados patamares tecnológicos e educacionais, já que hoje se tem graduações,
especializações, mestrados e doutorados na área, expandindo a linha de conhecimento com
pesquisas e inovações.
Foi possível, com essa pesquisa, verificar que as práticas agroecológicas são capazes
de manter a qualidade do solo, principalmente no que diz respeito à qualidade química, ou
seja, à fertilidade do solo; ao aporte de matéria orgânica; à regulação do pH e saturação por
alumínio; CTC e outros. Na área agrícola investigada, a principal contribuição para a
melhoria da qualidade do solo pelo manejo agroecológico foi em relação à quantidade de
nutrientes disponíveis no solo, elevando-o à classificação, nos primeiros centímetros de
profundidade, como eutrófico. Outro importante resultado foi o relacionado à matéria
orgânica, que ainda que com menor quantidade no solo, estabeleceu CTC mais satisfatória
que a área de floresta, resultado esse que se deve, possivelmente, a uma diferença na
qualidade da matéria orgânica, já que seu teor na área agrícola é menor.
O grau ou nível de perturbação causado pela agroecologia em relação ao meio natural
foi mais evidente nos resultados da qualidade física do solo, onde a área de floresta foi sempre
superior à área agrícola, principalmente na capacidade de infiltração do solo que chegou a
praticamente o dobro de capacidade na floresta comparada à área agrícola. Tal ação é
decorrente de uma maior compactação do ambiente agrícola, evidenciada pelos valores da
densidade do solo, em comparação ao ambiente de floresta. Isso se explica, possivelmente,
pelas perturbações sofridas em decorrência do pisoteio e trafego de maquinário, e também
pela menor quantidade de matéria orgânica no solo agrícola comparado ao de floresta. Há de
se investigar, ainda, demais causas que alterem a qualidade física do solo, podendo assim,
corrigi-las. Essa maior fragilidade na qualidade física do solo na área agroecológica é então
ponto importante para aprofundamentos futuros, para que se busquem práticas que
minimizem tais impactos.
Por estarem em maior consonância com a natureza, as práticas agroecológicas agridem
menos o meio ambiente, o que é fundamental para perpetuação da atividade agrícola. Por isso,
tendo em vista a adesão da agroecologia em assentamentos de reforma agrária, novos
assentamentos poderão, ao adotar o manejo, elevar a quantidade de alimentos produzido,
164
garantindo segurança alimentar e nutricional, além do abastecimento regional. Outro ponto é a
garantia, em curto e médio prazos, de contribuir para minimizar os conflitos fundiários de
acesso à terra.
Essa adesão, transcrita na expressão “transição agroecológica”, vem sendo incentivada
à medida que ganha espaço em discussões relativas, tanto ao meio ambiente, quanto a uma
busca por melhor qualidade de vida, tanto para o produtor, como para o consumidor final dos
alimentos advindos da produção agroecológica. As práticas da agroecologia mostram-se
capazes de suprir, ainda que em menor escala, o mercado consumidor interno, já que ao
manter em bons níveis a qualidade do solo, e com uso racional e dinâmico dos recursos
naturais, está propensa a reproduzir-se por mais tempo com boa qualidade. Isso difere
profundamente do que acontece no sistema moderno de produção, que deteriora as condições
ambientais que tornam a agricultura possível.
Os desafios para as próximas décadas são vários e, além do mais eminente, que é a
alimentação da crescente população, não apenas brasileira, mas também mundial, estão as
mudanças climáticas. A agricultura apresenta grande fragilidade a alterações do clima,
refletindo muitas vezes em perdas de anos de trabalho por secas ou chuvas excessivas. Não
estamos preparados para as mudanças mais abruptas que estão por vir com as variações
climáticas e é preciso atentar-se. Pesquisas já vêm sendo realizadas nesse sentido e podem ser
ainda mais exploradas para que a agricultura mantenha-se produtiva frente às mudanças. A
agroecologia, em especial, fornece elementos para tal controle pois tem, nas práticas agrícolas
utilizadas, maneiras de auxiliar no fortalecimento de espécies, principalmente em função do
consórcio de culturas. Um solo com boa qualidade pode também auxiliar na adaptação de
plantas, com sementes já mais resistentes que as tratadas isoladas (monocultura) e as
transgênicas.
Combater a fome e a miséria é uma antiga inquietação. Pela primeira vez, o Brasil saiu
do mapa da fome elaborado periodicamente pela ONU. Há ainda muito que fazer,
principalmente na distribuição de riquezas. Não apenas ter a posse da terra, mas nela ter
condições de trabalhar; não apenas ter renda, mas conseguir com ela se sustentar. Problema
comum, seja no campo ou na cidade, a pobreza extrema é reflexo de falhas na educação,
habitação, saúde, cultura e lazer. A má qualidade dos serviços públicos atrasa ou mesmo não
chega a quem mais precisa. As políticas públicas precisam de consonância e integração. Não é
possível conceber o desenvolvimento isolado, apenas localizado em algumas áreas da
165
metrópole, ou para algumas famílias na área rural. É necessária uma organização regional,
que trate com especificidade as questões – problemas e vocações – de cada região.
A transição agroecológica é feita, quando em comunidades, com participação social na
elaboração de um diagnóstico rural participativo, no qual as etapas da transição são elencadas
pelos agricultores. O importante é a adoção de práticas que possam garantir melhores
condições ambientais em longo prazo, apesar das primeiras respostas aos novos estímulos
aparecerem rapidamente. Com isso, a segurança alimentar e nutricional brasileira ganha força
para reforçar e superar quadros de fome e miséria.
O fortalecimento da agricultura de bases ecológicas deve ser primordial para que as
ações planejadas reflitam de fato na realidade das famílias agricultoras. Associado a ações de
infraestrutura e serviços, além de trabalhos de capacitação com a valorização do saber rural, o
fortalecimento da agricultura será ainda mais bem estruturado. A soberania alimentar é, antes
de tudo, objetivo e desejo de todas as nações. Para o Brasil um país essencialmente agrícola,
essa deve ser verdadeira prioridade e caminhar junto com outras ações estruturantes.
Assim, o envolvimento de toda a sociedade se faz necessário, seja ela do campo ou da
cidade, pois se reflete diretamente na mesa de todos nós. Um olhar mais atento a essas
demandas traz novos elementos para o debate, como feito aqui. Muitos pesquisadores
dedicam-se aos estudos relativos ao campo, agricultura, desenvolvimento e sustentabilidade,
mas a sociedade de maneira geral pouco tem se envolvido. São alarmantes os riscos à
soberania alimentar e à saúde humana que o modelo agrícola vigente traz. Os agrotóxicos
podem levar à morte e causam anomalias, ainda em estudos aprofundados. Os principais
veículos de informação se negam a tratar do tema. A alimentação, talvez por ser algo tão
comum, é pouco discutida, e tampouco passa por uma reflexão mais profunda no dia a dia, já
que não cabe falar de fome à mesa.
Buscou-se, enfim, fomentar o debate sobre a qualidade produtiva da agricultura, com
base nos princípios da agroecologia, no que diz respeito ao solo, mas também à qualidade
nutricional dos alimentos produzidos e ao arranjo agrícola, numa crítica à concentração de
terras. As mudanças necessárias perpassam os itens trabalhados nessa pesquisa, e muitos
outros sendo necessárias demais pesquisas que amplifiquem a discussão, movimentando a
academia e a sociedade para uma maior participação social, principalmente referente e à
temas polêmicos e essenciais como reformam agrária, fome, alimentação, degradação
ambiental e tantas outras temáticas interligadas a esse processo.
166
REFERÊNCIAS
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