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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE

SÔNIA CRISTINA DANTAS DE BRITO

A SINERGIA ENTRE CIÊNCIA, PRÁTICA E MOVIMENTO SOCIAL NA


CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO NO ESTADO DO
TOCANTINS

Palmas/TO

2023
SÔNIA CRISTINA DANTAS DE BRITO

A SINERGIA ENTRE CIÊNCIA, PRÁTICA E MOVIMENTO SOCIAL NA


CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO NO ESTADO DO
TOCANTINS

Tese apresentada ao Programa de Pós - graduação


em Ciências do Ambiente da Universidade
Federal do Tocantins, como requisito para
obtenção do título em Doutora em Ciências do
Ambiente.

Orientador: Prof ª. Dr ª. Marina Haizenreder


Ertzogue
Coorientadora: Prof ª. Dr ª. Keile Aparecida
Beraldo

Palmas/TO

2023
SÔNIA CRISTINA DANTAS DE BRITO

A SINERGIA ENTRE CIÊNCIA, PRÁTICA E MOVIMENTO SOCIAL NA


CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO NO ESTADO DO
TOCANTINS

Tese aprovada como requisito


para obtenção do grau de Doutor
no Curso de Doutorado em
Ciências do Ambiente, da
Universidade Federal do
Tocantins, na linha de pesquisa
Natureza Cultura e Sociedade.

Data da Aprovação: 18/10/2023

Banca examinadora

Profa. Dra. Marina Haizenreder Ertzogue - UFT

Prof ª. Dr ª. Keile Aparecida Beraldo - UFT

Prof. Dr. Waldecy Rodrigues - UFT

Profa. Dra. Cynthia Mara Miranda - UFT

Profa. Dra. Elineide Eugênio Marques - UFT

Profa. Dra. Patrícia Martins Guarda - UFT

Profa. Dra. Marielen Aline Costa da Silva- UFNT


Para meus pais, Sônia Maria e Ricardo
Evaristo, que sempre se esforçaram
para em me oferecer a melhor
educação e que acreditam na ciência.
AGRADECIMENTOS

Agradeço profundamente minha orientadora Marina Haizenreder Ertzogue e


coorientadora Keile Aparecida Beraldo, pela orientação perspicaz, paciência incansável
e apoio ao longo desta jornada acadêmica.

Expresso minha gratidão aos membros da banca examinadora, por dedicarem seu
tempo e expertise na avaliação deste trabalho e por suas valiosas contribuições que
enriqueceram este estudo.

Aos meus colegas de turma, em especial à Ana Beatriz (Bia), pelos mil cafezinhos
regados a muitas risadas e, às vezes, lamentações, pela colaboração, troca de ideias e
amizade ao longo desses anos.

Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente por todo


suporte, acesso às instalações e recursos necessários para a pesquisa e a CAPES pelo
apoio financeiro concedido por meio de bolsas de estudo.

Ao Núcleo de estudos em agroecologia e desenvolvimento sustentável


(NEADS/UFT) e ao Instituto de Desenvolvimento Regional da UFT, por disponibilizar
estrutura física ideais no momento da escrita da tese e apoio nos momentos de pesquisa
de campo.

Aos participantes da pesquisa, que disponibilizaram parte de seu tempo para


contribuir com este trabalho e no processo de desenvolvimento da agroecologia em nosso
estado.

À minha família, em especial meus pais Sônia Maria e Ricardo Evaristo, pelo
amor incondicional, encorajamento constante e compreensão durante este período
desafiador, e ao meu irmão, irmãs e sobrinhos, por todo o carinho. Ao meu cachorrinho
Duke, que por várias vezes me acompanhou nas madrugadas de estudo, apesar de estar
sempre dormindo.

Aos amigos Gi, Nayara, Jesuíno, Fábio, Marcelo, Elaine e Autenir pelas
cervejinhas nos momentos necessários de descontração, por todo apoio moral e incentivo
quando mais precisei.
Por fim, dedico este trabalho à memória de Ana Primavesi, cujo legado inspirou
e ainda inspira muitos estudiosos no tema.
A terra é a base de toda a vida.
Você tem que ver a o mundo
por inteiro como um conjunto
(Ana Primavesi).
RESUMO

As transformações nos sistemas agroalimentares, impulsionadas pela Revolução Verde,


trouxeram maior produtividade ao setor agrícola, mas também acarretaram danos ao meio
ambiente e à saúde humana. Apesar da agricultura ter sido fundamental para o
desenvolvimento das civilizações, atualmente, enfrenta uma crise devido à exploração
indiscriminada do meio ambiente. A agroecologia surge como uma alternativa para
mitigar esses problemas. No Brasil, o tema é abordado como ciência, prática e movimento
social. Nesse contexto, este estudo investigou como a agroecologia, a partir desses três
aspectos, tem contribuído para a construção do conhecimento agroecológico no
Tocantins, localizado na Amazônia Legal. Compreender o cenário da agroecologia no
estado pode fortalecer o processo de construção do conhecimento, criar redes de
relacionamentos e gerar políticas públicas para o setor. Para alcançar esse objetivo foram
utilizados métodos quali-quanti, incluindo revisão sistemática de literatura, bibliometria,
revisão narrativa e análise de conteúdo. Enquanto ciência, observou-se que a produção
científica sobre a agroecologia na Amazônia Legal é limitada em bases de dados
internacionais, sendo ainda mais escassa quando se trata do Tocantins. No entanto, as
informações coletadas em ambientes científicos da Associação Brasileira de
Agroecologia, revelaram um maior envolvimento com a temática, com números bem
maiores de material de divulgação de experiências. Identificou-se uma diversidade de
instituições e pesquisadores envolvidos, o que reflete a pluralidade da agroecologia.
Enquanto prática, as experiências agroecológicas são predominantemente encontradas em
territórios de povos e comunidades tradicionais, como áreas indígenas, quilombolas e
assentamentos. Os movimentos sociais desempenham um papel crucial na promoção da
agroecologia, destacando-se a Rede Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA)
que reuni diversos movimentos e organizações em prol da promoção da agroecologia. Os
Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEAs), que nasceram com uma estrutura de
interação entre ciência, prática e movimento social, e a partir de uma política pública
demandada pelos movimentos, conseguiu a academia das comunidades e da sociedade.
No entanto, a desmantelamento das políticas públicas de promoção da agroecologia a
partir de 2016 e os impactos da pandemia da Covid-19 levaram tanto os movimentos
sociais quanto os NEAs a operarem principalmente na resistência. Com a recente
mudança de governo, mais alinhado às causas ambientais e sociais, há expectativas de
uma reaproximação entre o poder público, os movimentos sociais e a sociedade civil. Isso
pode resultar na reestruturação das políticas públicas de promoção da agroecologia. No
entanto, apesar da diversidade de atores envolvidos na agroecologia no Tocantins, há um
distanciamento entre esses grupos, o que prejudica a criação de uma rede de agroecologia
no estado. Esse desafio precisa ser superado para fortalecer o movimento agroecológico
e aproveitar o atual contexto político nacional favorável.
Palavras-chave: Interação; Rede de agroecologia; Pluralidade; Desenvolvimento
sustentável
ABSTRACT

The transformations in agri-food systems, driven by the Green Revolution, have brought
greater productivity to the agricultural sector but have also caused damage to the
environment and human health. Although agriculture has been fundamental to the
development of civilizations, it currently faces a crisis due to the indiscriminate
exploitation of the environment. Agroecology emerges as an alternative to mitigate these
problems. In Brazil, the topic is approached as a science, practice, and social movement.
In this context, this study investigated how agroecology, based on these three aspects, has
contributed to the construction of agroecological knowledge in Tocantins, located in the
Legal Amazon. Understanding the scenario of agroecology in the state can strengthen the
knowledge-building process, create networking opportunities, and generate public
policies for the sector. To achieve this objective, quali-quantitative methods were used,
including systematic literature review, bibliometrics, narrative review, and content
analysis. As a science, it was observed that scientific production on agroecology in the
Legal Amazon is limited in international databases, being even scarcer when it comes to
Tocantins. However, the information collected in scientific environments of the Brazilian
Agroecology Association revealed greater involvement with the theme, with significantly
more dissemination material of experiences. A diversity of institutions and researchers
involved was identified, reflecting the plurality of agroecology. As a practice,
agroecological experiences are predominantly found in territories of traditional peoples
and communities, such as indigenous areas, quilombola settlements, and settlements.
Social movements play a crucial role in promoting agroecology, with the Tocantinense
Agroecology Articulation Network (ATA) standing out, bringing together various
movements and organizations in favor of promoting agroecology. The Agroecology
Study Centers (NEAs), which emerged as a structure of interaction between science,
practice, and social movement, and as a public policy demanded by the movements,
managed to bridge academia with communities and society. However, the dismantling of
public policies promoting agroecology starting in 2016 and the impacts of the Covid-19
pandemic led both social movements and NEAs to mainly operate in resistance. With the
recent change of government, more aligned with environmental and social causes, there
are expectations of a rapprochement between the government, social movements, and
civil society. This could result in the restructuring of public policies promoting
agroecology. However, despite the diversity of actors involved in agroecology in
Tocantins, there is a distance between these groups, hindering the creation of an
agroecology network in the state. This challenge needs to be overcome to strengthen the
agroecological movement and take advantage of the current favorable national political
context.
Keywords: Interaction; Agroecology network; Plurality; Sustainable development
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Mapa da Amazônia Legal ............................................................................... 29


Figura 2. Mapa do estado do Tocantins .......................................................................... 30
Figura 3. Fluxograma das etapas da Revisão Sistemática de Literatura com base na
proposta de Cronin et al. (2008) ..................................................................................... 31
Figura 4. Etapas do método de entrevista em profundidade .......................................... 35
Figura 5. Etapas do método de análise de conteúdo ....................................................... 35
Figura 6. Nuvem de palavras a partir das palavras-chave dos artigos coletados nas bases
de dados Web of Science e Scopus ................................................................................. 59
Figura 7. Indexadores da Revista Brasileira de Agroecologia ....................................... 65
Figura 8. Capa do Caderno de agroecologia desenvolvido pela Articulação Tocantinense
de Agroecologia.............................................................................................................. 85
Figura 9. Fluxograma do método Entrevista em profundidade utilizado no estudo....... 89
LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Termos utilizados na busca por artigos científicas, relacionados ao recorte da


pesquisa, nas bases de dados internacionais Web of Science e Scopus .......................... 52
Quadro 2. Autores, quantidade de artigos, instituições e países dos estudos selecionados
para a pesquisa ................................................................................................................ 56
Quadro 3. Estados da Amazônia Legal e os temas mais abordados nas produções
científicas coletadas ........................................................................................................ 60
Quadro 4. Estudos realizados no Estados do Tocantins relacionados ao tema agroecologia
........................................................................................................................................ 61
Quadro 5. Título do artigo, ano e instituição dos artigos publicados na RBA e RCA sobre
agroecologia no Tocantins .............................................................................................. 70
Quadro 6. Instituições, departamento/unidades identificadas nas publicações relacionadas
à categoria Educação e Construção do Conhecimento Agroecológico no Tocantins .... 74
Quadro 7. Título, autores, ano de publicação e área de estudo das publicações
relacionadas à categoria Educação e construção do conhecimento agroecológico ........ 78
Quadro 8. Edições, cidade e temas dos Encontros Tocantinense de Agroecologia ....... 84
Quadro 9. Composição da coordenação ampliada da Rede de Articulação Tocantinense
de Agroecologia.............................................................................................................. 84
Quadro 10. Comunidades Quilombolas participantes do projeto Caderno Saberes e
Fazeres Quilombolas – Planos de Gestão Territorial e algumas das experiências
agroecológicas ................................................................................................................ 92
Quadro 11. Parceiros da Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA) ................ 93
Quadro 12. Nome dos Núcleos de Estudo em Agroecologia, Instituição e Localização 95
Quadro 13. Ações executadas pelos NEAs do Tocantins, em eventos e/ou atividades junto
às Comunidades/Sociedade. ........................................................................................... 95
Quadro 14. Parceiros do Núcleos de Estudos em Agroecologia no Tocantins .............. 96
Quadro 15. Desafios enfrentados pela Articulação Tocantinense de Agroecologia e pelos
Núcleos de estudos em Agroecologia no período da pandemia da COVID-19 ............. 99
Quadro 16. Desafios enfrentados pela Articulação Tocantinense de Agroecologia e pelos
Núcleos de estudos em Agroecologia com o desmantelamento das políticas públicas de
promoção da agroecologia ............................................................................................ 100
Quadro 17. As perspectivas em relação a agroecologia a partir da Articulação
Tocantinense de Agroecologia e dos Núcleos de estudos em agroecologia................. 101
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Quantidade de artigos científicos sobre o tema agroecologia na Amazônia


Brasileira no período de 2003 a 2021 ............................................................................. 54
Gráfico 2. Publicações sobre o tema agroecologia por estados da Amazônia brasileira.55
Gráfico 3. Quantidade de artigos publicados por ano na RBA e RCA de estudos realizados
no Tocantins. .................................................................................................................. 67
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAEPM Associação dos Artesãos Extrativistas do Povoado Mumbuca


ABA-Agroecologia
Associação Brasileira de Agroecologia
era Plataforma Agroecologia em Rede
AKMT Associação da Comunidade Remanescente de Quilombo
Kalunga do Mimoso do Tocantins
AMB Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Bico do
Papagaio
ANA Articulação Nacional de Agroecologia
APA-TO Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins
ASCOLOMBOLAS- Associação das Comunidades Quilombolas das Margens do
RIOS Rio Novo, Rio Preto e Riachão
ASMUBIP Associação Regional das Mulheres Trabalhadoras Rurais do
Bico do Papagaio
ASQUICCAPO Associação Quilombola das Comunidades do Claro, Prata e
Ouro Fino
ATA Rede Articulação Tocantinense de Agroecologia
ATER Assistência Técnica e Extensão Rural
CAPES Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CBA Congresso Brasileiro de Agroecologia
CEB Comunidades Eclesiais de Base
CEULP/ULBRA Centro Universitário Luterano de Palmas
CIAPO Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica
CIMI Conselho Indigenista Missionário
CIMQCB Cooperativa Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu
CIRAD Investigação agrícola para o desenvolvimento
CNAPO Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico
COEQTO Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do
Tocantins
COMSAUDE Comunidade de Saúde, Desenvolvimento e Educação
CONSEA-TO Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional
COOAF-Bico Cooperativa de produção e comercialização dos Agricultores
Familiares Agroextrativistas e Pescadores Artesanais de
Esperantina Ltda
COOPTER Cooperativa de Trabalho, Prestação de Serviços, Assistência
Tecnica e Extensão Rural
CPOrg-TO Comissão de Produção Orgânica do Estado Tocantins
CPT Comissão Pastoral da Terra
EBAA Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa
ECA Escola de Comunicações e Artes
EFA Escola Família Agrícola de Porto Nacional
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ENA Encontro Nacional de Agroecologia
ETI Escola de tempo integral
FAEAB Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do
Brasil
FAO Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura
FAPT Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Tocantins
FEAB Federação de Estudantes de Agronomia do Brasil
FIAN Internacional Organização pelo Direito Humano à Alimentação e à Nutrição
Adequadas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IFTO Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Tocantins
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
MAB Movimento dos atingidos por barragens
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MCT Ministério da Ciência e Tecnologia
MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário
MDS Desenvolvimento Social e Combate à Fome
MEC Ministério da Educação
MIQCB Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu
MPA Ministério da Pesca e Aquicultura
MP-TO Ministério Público do Tocantins
MST Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra
NEA Núcleos de Estudos em Agroecologia
NEA-AMO Núcleo de Estudos de Agroecologia da Amazônia Oriental
NEADS Núcleo de estudos em Agroecologia e desenvolvimento
sustentável
NEUZA Núcleo de Pesquisa e Extensão em Saberes e Práticas
Agroecológicas
OMS Organização Mundial da Saúde
ONG Organizações Não Governamentais
PAA Programa de Aquisição de Alimentos
PEAPO Políticas Estaduais de Agroecologia e de Produção Orgânica
PESAGRO-RIO Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro
PLANAPO Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
PNAE Programa Nacional de alimentação escolar
PNAPO Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
PNATER Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural
PNSAN Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
PPGCult Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura e Território
PPGGespol Programa de Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas
PROAMBIENTE Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção
Familiar Rural da Amazônia
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
Agroecologia
PRONERA Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
RBA Revista Brasileira de Agroecologia
RBEC Revista Brasileira de Educação do Campo
RCA Revista Cadernos de Agroecologia
Rede PENSSAN Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança
Alimentar e Nutricional
RSL Revisão Sistemática de Literatura
RURALTINS Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Tocantins
SAN Segurança alimentar e nutricional
SAT Sistemas Agrícolas Tradicionais
SEAGRO Secretaria de Agricultura, Pecuária e Aquicultura
SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SISOrg Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica
SPG Sistema Participativo de Garantia
STR Sindicato dos Trabalhadores Rurais
TI Território Indígena
UESC Universidade Estadual de Santa Cruz
UFAC Universidade Federal do Acre
UFES Universidade do Espírito Santos
UFG Universidade do Goiás
UFMA Universidade Federal do Maranhão
UFMT Universidade Federal do Mato Grosso
UFNT Universidade Federal do Norte do Tocantins
UFPA Universidade Federal do Pará
UFPR Universidade Federal do Paraná
UFRA Universidade Federal Rural da Amazônia
UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFT Universidade Federal do Tocantins
UNB Universidade Nacional de Brasília
UNESP Universidade Estadual Paulista
UNIFAP Universidade Federal do Amapá
UNIRG Universidade de Gurupi
UNITINS Universidade Estadual do Tocantins
VIGISAN Vigilância da segurança alimentar e nutricional
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................20
1.1 Justificativa ..............................................................................................................25
1.2 Estrutura da Tese ....................................................................................................25
2 OBJETIVO .................................................................................................................28
2.1 Objetivo Geral .........................................................................................................28
2.2 Objetivos Específicos ...............................................................................................28
3 METODOLOGIA.......................................................................................................29
3.1 Área de estudo..........................................................................................................29
3.2 Revisão Sistemática de Literatura e Bibliometria ................................................30
3.3 Revisão Narrativa ....................................................................................................33
3.4 Entrevista em Profundidade e Análise de Conteúdo............................................33
4 CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................36
4.1 A evolução das práticas agrícolas: da subsistência a mercadoria .......................36
4.2 Campesinato, Povos e Comunidades Tradicionais e a Agricultura Familiar no
Brasil: desintegração, resistência e resiliência ............................................................40
4.3 O Movimento Agroecológico no Brasil: avanços e rupturas ...............................43
5 CAPÍTULO 2. O CAMPO CIENTÍFICO DA AGROECOLOGIA NA
AMAZÔNIA LEGAL E TOCANTINS: REVISÃO SISTEMÁTICA E
BIBLIOMETRIA ..........................................................................................................48
5.1 Agroecologia como uma Ciência Participativa .....................................................48
5.2 Procedimentos metodológicos.................................................................................50
5.3 Resultados e Discussões ...........................................................................................52
5.4 Conclusão .................................................................................................................61
6 CAPÍTULO 3 – A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
AGROECOLÓGICO NO TOCANTINS A PARTIR DOS AMBIENTES
CIENTÍFICOS DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGROECOLOGIA .........63
6.1 Os espaços científicos da agroecologia no Brasil ..................................................64
6.2 Procedimento metodológicos ..................................................................................66
6.3 Resultados e Discussões ...........................................................................................67
6.4 Conclusão .................................................................................................................79
7 CAPÍTULO 4 – DESAFIOS E PERSPECTIVAS NA CONSTRUÇÃO DO
CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO NO ESTADO DO TOCANTINS SOB O
OLHAR DOS ATORES ENVOLVIDOS ....................................................................81
7.1 Os Movimentos Sociais no desenvolvimento da agroecologia .............................82
7.2 Os Núcleos de Estudos em Agroecologia como uma política de interação .........86
7.3 Procedimentos Metodológicos ................................................................................88
7.4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..........................................................................90
7.4.1 Breve histórico da Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA) .................90
7.4.2 Breve histórico dos Núcleos de estudos em agroecologia do Tocantins
(NEAs)...................... .......................................................................................................94
7.4.3 Desafios e Perspectivas no campo da agroecologia sob olhar da Rede Articulação
Tocantinense de Agroecologia e os Núcleos de estudos em agroecologia no Tocantins 97
7.5 CONCLUSÃO........................................................................................................102
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................104
8.1 Contribuições da Tese ...........................................................................................105
8.2 Trabalhos futuros ..................................................................................................105
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................107
APÊNDICE ..................................................................................................................110
ANEXO .........................................................................................................................113
20

1 INTRODUÇÃO

As transformações ocasionadas pelas mudanças nos sistemas agroalimentares


trouxeram maior produtividade para o setor agrícola; no entanto, resultaram, e ainda
resultam, em prejuízos ao meio ambiente e a saúde humana. Com isso, A produção de
alimentos, o aumento da população mundial, o uso intenso dos recursos naturais e os
efeitos das mudanças climáticas são algumas questões que ocupam a agenda de cientistas
e gestores do mundo todo. O homem sempre fez uso de produtos retirados da natureza,
em especial para a garantia da sua alimentação. Assim, as civilizações sempre tiveram a
agricultura como base para o seu desenvolvimento. Porém, a produção agrícola encontra-
se em um momento de crise, causada pelas mais diversas formas de exploração dos
ecossistemas utilizados para o cultivo (Mazoyer; Roudart, 2010; Oliveira Júnior, 1989).
De acordo Worster (2003), toda forma de cultivo de alimento resultou em
drásticas mudanças no ecossistema terrestre, geralmente negativas ao meio ambiente, em
virtude de projetos e implementos errôneos. Dentre as diversas inovações do modo de
produção capitalismo, uma delas afetou profundamente a essa relação homem-natureza e
foi chamado de mercado geral de terras. Esse novo olhar para o ambiente, apenas como
uma mercadoria, proporcionou a sua comercialização sem restrições e trouxe alterações
na estrutura dos sistemas agroecológicos tradicionais, que embora alterasse a natureza,
estes preservavam a diversidade e a sua complexidade. Porém, passaram a intensificar
tanto a produção de alimentos quanto a de riqueza pessoal.
O modelo produtivo dos sistemas alimentares passou a ser baseado em princípios
advindos daquilo que se tornaria um dos grandes marcos na história evolutiva da
agricultura: a Revolução Verde. Iniciado no século XX, esse padrão de produção
disseminou método fundamentados em melhorias genéticas das plantas e de maquinários,
com objetivo de expandir a geração de alimentos. Este se tornou a escolha de agricultores
que possuíam condições financeiras e uma área propicia à lucratividade. Em alguns
países, o poder público contribuiu na disseminação das práticas baseadas nesse modelo,
a partir de políticas de incentivo (Mazoyer; Roudart, 2010; Miller Júnior, 2007).
É inquestionável que a Revolução Verde, que se tornou paradigma de produção
para agronegócio e agronomia, trouxe um crescimento significativo nos lucros. Apesar
disso, seu custo é alto para a maior parte dos agricultores, especialmente nos países em
desenvolvimento. O eventual sucesso desse modelo, em termos de produção e
21

produtividade, resultou na indigência no campo, no êxito rural, na redução da diversidade


socioambiental, desigualdade na distribuição de terras e renda (Machado; Machado Filho,
2014; Mazoyer; Roudart, 2010; Schneider; Escher, 2011).
Para Caporal (2007), a Revolução Verde foi um sistema complexo que
institucionalizou um padrão produtivo, estruturado junto a vários ambientes institucionais
públicos e privados, nacionais e internacionais. Por meio desse mecanismo, a pesquisa e
o desenvolvimento foram direcionados à geração de modernos pacotes tecnológicos de
uso universal, com a finalidade de aumentar os rendimentos do plantio,
independentemente do contexto ambiental.
Nas regiões onde o modelo produtivo contemporâneo já está muito avançado,
parece difícil continuar a aumentar a produtividade por meio de um uso intensificado dos
meios de produção convencionais. De fato, em muitos locais, foram cometidos abusos de
utilização dessa estrutura que levaram a situações inconvenientes, inclusive inversões de
ordem ecológica, sanitária ou social. Os impactos que surgiram, a partir da aplicação dos
princípios da Revolução Verde nos sistemas agrícolas geraram uma reação que
condenava tal modelo. Paralelamente a isso, as maiores corporações voltadas para o setor
agrícola e de fabricação de alimentos passavam a ter maior domínio no ramo (Mazoyer;
Roudart, 2010; Schneider e Grisa, 2015).
Nesse contexto, a agroecologia tem se apresentado como uma panaceia. Segundo
Hecht (1997), quando estudiosos passaram a analisar as práticas agriculturas tradicionais,
indígenas e camponesas, notaram que os modelos produtivos eram complexos e se
adaptavam facilmente às condições locais, além de possuírem estruturas muito
semelhantes às encontradas no meio ambiente. Para Machado e Machado Filho (2014),
as práticas agroecológicas resgatam o modo produtivo anterior à Revolução Verde, porém
se apropriam da evolução científica e tecnológica dos últimos 50 anos, a qual incorpora
dilemas sociais, políticos, culturais, ambientais, energéticos e éticos em qualquer escala.
De acordo com FAO (2022), a agroecologia está em destaque na lista de
prioridades para a sustentabilidade no mundo. Entre as preocupações mais recentes, do
planeta, estão os efeitos das mudanças climáticas e a desertificação, onde as práticas
agroecológicas se inserem como opção mais sustentável e pode enfrentar contratempos
que ameaçam tanto territórios quanto as economias nacional e do mundial. O último
Relatório Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (2023),
destacam que a fome e a insegurança alimentar e nutricional ainda assombram o país e o
22

mundo. Cerca de 700 milhões de pessoas passam fome no planeta, e desses, mais 33
milhões são brasileiros.
Os resultados do II Inquérito Nacional da Insegurança Alimentar no Brasil no
Contexto da Covid-19 (II VIGISAN), realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em
Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN, 2022) chama atenção
a proporção de Insegurança Alimentar moderada e grave, acima de 30,0%, nos domicílios
com presença de menores de 10 anos, em alguns estados brasileiros. O momento de
intensificação das crises foi também quando os movimentos do campo agroecológico
assumiram maior proeminência na construção de ações que priorizam a vida.
Ainda com foco apenas nessas duas áreas de conhecimento, um dos conceitos
mais antigos parte de autores que se tornaram referência no tema. Segundo Altieri (1995)
e Rosset e Altieri (1997), a agroecologia trata do desenvolvimento de sistemas agrícolas
que, a partir das interações ecológicas que ali ocorrem, gerarão os insumos biológicos e,
consequentemente, a fertilidade, produtividade e proteção do solo e da cultura. No
entanto, processo de desenvolvimento do tema, suas definições e interpretações sofreram
algumas mudanças.
Caporal (2009) corrobora ao afirmar que o termo, originado no campo da ciência,
tinha como objetivo incentivar a massificação dos processos de manejo e estruturação dos
agroecossistemas para um formato mais sustentáveis, na busca da rápida mudança de
padrão. O intuito era garantir a produção de alimentos saudáveis e nutritivos com menos
impactos ambientais.
Com tempo, essa visão tornou-se mais ampla quando outras disciplinas, como
zoologia, botânica/fisiologia vegetal e uma nova abordagem integrando princípios
agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, passaram a influenciar no processo
evolutivo do tema. Nesse cenário, a agroecologia passou a ser discutida sob três
dimensões que agrupam os elementos centrais: ecológica e técnico-agronômica;
socioeconômica, cultural e sociopolítica. Esses eixos não são trabalhados de forma
isolada; elas se entrecruzam e influenciam umas nas outras. Com isso, para o estudo, faz-
se necessário o debate no aspecto interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar
(Candiotto, 2020; Guzmán; Ottmann, 2004; Wezel et al. 2009).
Outra importante interpretação e que norteou esta pesquisa vem de Ploeg (2011),
quando o autor destaca, em suas pesquisas, a agroecologia como: ciência, que traz críticas
severas à industrialização dos sistemas agrícolas e seus impactos; prática, que se baseia
23

na aplicação, evidente ou não, e que gera reflexões que são reunidas e concebidas na
teoria; movimento social, relacionado à mobilização não somente por aqueles
intimamente envolvidos na prática e/ou teoria, mas todos que buscam alimentos bons e
seguros, pautados na justiça social e na relação harmoniosa entre o campo e a cidade.
No Brasil, a agroecologia também é abordada enquanto ciência, prática e
movimento social. Até 1970, não havia qualquer movimentação voltada para o tem; no
entanto, princípios de base ecológica já eram colocados em prática na agricultura através
de imigrantes europeus e povos e comunidades tradicionais. Foi nessa década que surgiu
o Movimento Agricultura Alternativa. Este era um movimento social de caráter técnico-
agrícola, sustentado em ações protagonizadas por agricultores, pesquisadores,
professores, discentes e militantes, que se estruturaram a partir de críticas às gravidades
provenientes da Revolução Verde (Abreu et al., 2016; Brandenburg, 2002; Deleuze;
Guattari, 2000; Souza, 2013).
O Movimento Agricultura Alternativa teve como autor o importante ecologista
brasileiro José Lutzenberger num cenário mundial de urgente preocupação com o meio
ambiente. Lutzenberger esperava incitar conscientização ecológica da sociedade,
inspirando-a a buscar no passado um modelo produtivo sustentável para uso no presente.
O Autor acreditava que, se não houvesse uma mudança, o futuro seria inviável (Pereira,
2012).
Na década seguinte, foram realizadas várias edições do histórico evento Encontro
Brasileiro de Agricultura Alternativa (EBAAs), um espaço que fomentou projetos e
contribuiu na mobilização e organização de agricultores com perfil ecológico, além de
reunir os mais diversos atores atuantes na área (Canuto, 1998). Com isso, nos anos 90,
ocorreu um aumento no número de produções científicas e cursos criados na área de
conhecimento da agroecologia. Essa ciência se materializa ao aderir a várias disciplinas
em seu contexto e ao apresentar-se como um campo complexo e de
multidimensionalidade, pois aglutina também conhecimentos e saberes tradicionais e a
vivência dos agricultores (Candiotto, 2020; Caporal, 2009).
Nessa caminhada, a institucionalização da agroecologia teve um expressivo
avanço, especialmente a partir da década de 2000, quando o Brasil se tornou,
internacionalmente, pioneiro nesse processo. Nesse ínterim, também cresceram as
iniciativas para a segurança alimentar, direcionadas à promoção da produção alimentar
mais saudável (Canavesi et al., 2016; Guéneau et al., 2019; Silva, 2019; Souza, 2013).
24

Outras ações contribuíram no desenvolvimento da agroecologia no campo da


ciência, entre as quais, destacam-se a criação da Articulação Nacional de Agroecologia
(ANA) - composta por diversas instituições como: Organizações Não Governamentais
(ONGs), associações de agricultores e movimentos sociais; e a Associação Brasileira de
Agroecologia (ABA) – que, em suas atividades consegue reunir pesquisadores, técnicos,
militantes e demais apoiadores e interessados no tema. Esta última é a responsável pelos
espaços de divulgação científico: a Revista Brasileira de Agroecologia (RBA) e a Revista
Cadernos de Agroecologia. Além disso, organiza os Congressos Brasileiros de
Agroecologia (CBA) (Candiotto, 2020).
Em 2010, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), lançou um
edital com a proposta de criação de Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEAs) nas
instituições de ensino superior por todo o país. Estes ficaram conhecidos por suas ações
que articulam ensino, pesquisa e extensão, além de garantirem espaço de diálogo
constante e permanente com a sociedade civil, que passou a contribuir no processo de
construção do conhecimento científico (Souza, 2013).
Toda essa construção teve seu ápice em 2012 com a criação da Política Nacional
de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO). Esta tinha como objetivo integrar,
articular e adequar políticas e programas visando o desenvolvimento sustentável e a
qualidade de vida da população. Isso se daria por meio do uso sustentável dos recursos
naturais e da oferta e consumo de alimentos saudáveis e de base agroecológica, oriundos
da agricultura familiar. No processo de concepção dessa política, a atuação dos atores-
chaves teve grande importância (Guéneau et al., 2019).
Porém, a partir de 2016, com a mudança do governo, houve um desmantelamento
das principais políticas públicas de segurança alimentar e nutricional que apoiavam a
transição do modelo de produção convencional para a produção agroecológica. Isso
representou um grande golpe para a agroecologia sendo que uma das ações drásticas, que
gerou o aniquilamento, paralisação ou transferência de políticas importantes para outras
instituições, foi a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Somado
a isso, houve um relaxamento nas normas ambientais e fundiárias, além de crédito
facilitado ao setor do agronegócio (Grisa, 2018; Niederle et al.; 2021).
Com um modelo de produção agrícola embalado pelos princípios da Revolução
Verde, o Tocantins explora o cerrado financiado pelo poder público desde o final da
25

década de 1990. Atualmente, o estado compõe a fronteira agrícola conhecida como


MATOPIBA, que abrange quatro estados: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Tal
exploração trouxe efeitos deletérios do agronegócio sobre o social e ambiental. Essa
prática tem sido a causa de muitos conflitos entre fazendeiros e povos e comunidades
tradicionais, já que o crescimento econômico não conseguiu diminuir os índices de
pobreza e de concentração de renda nos municípios onde a produção de grãos se destaca
(Favareto, 2019; Petarly et al. 2019; Sousa, 2022; Sousa et al., 2019).
Nesse contexto, o estado do Tocantins, assim como o restante da região norte
Amazônia Legal, vive momentos de discordância, quando por um lado os programas de
desenvolvimento que afetam as questões socioambientais e a culturais seguem sendo a
base na região, e por outro, agricultores familiares, ribeirinhos, povos indígenas e
comunidades tradicionais, apesar de viverem em um ambiente adverso, continuam nas
práticas sustentáveis dentro de uma perspectiva compatível com o desenvolvimento
sustentável (Sousa et al., 2022).

1.1 Justificativa

Ao reconhecer a agroecologia enquanto promotora de desenvolvimento rural


sustentável e conhecendo os caminhos que o estado percorreu e percorrerá ao seguir
alinhado ao padrão hegemônico nos sistemas agroalimentares. Diante disso, este estudo
busca compreender como o tema se apresenta no estado do Tocantins? Quem são os atores
envolvidos? E como essa estrutura tem contribuído na construção do conhecimento
agroecológico. Isso pode auxiliar no fortalecimento do movimento agroecológico, na
criação de redes de relações, sejam elas científicas ou não. Assim, se espera que as
informações disponibilizadas nesta tese possam colaborar, futuramente, com o processo
de construção de políticas públicas de promoção da agroecologia na região.

1.2 Estrutura da Tese

A princípio, será apresentada uma Introdução geral sobre o tema a ser abordado,
que discorrerá de forma breve sobre o aspecto histórico da agricultura no mundo e suas
transformações, até a chegada da Revolução Verde com seus benefícios e prejuízos. Além
disso, mostrará a caminhada da agroecologia no mundo, no Brasil e, por fim, no estado
26

do Tocantins. Adicionalmente, serão apresentados conceitos e as modificações que


ocorreram ao longo do desenvolvimento da agroecologia. Toda essa estrutura será
apresentada a partir de uma revisão de literatura.
No item Objetivos, são expostos o objetivo geral que norteou esta tese e os
objetivos específicos que delineiam as ações que foram necessárias para conseguir
alcançar o que este estudo se propôs.
A seção Metodologia detalha os métodos utilizados tanto para a coleta de dados
quanto para a análise destes, além de apresentar informações sobre a área estudada. Em
cada capítulo, são expostos os métodos em seu processo de aplicação na execução da
pesquisa.
No Capítulo 1, apresenta-se a fundamentação teórica que traz o processo de
desenvolvimento da agricultura no mundo, suas transformações e consequências, além
dos principais conceitos que estão relacionados ao tema abordado. Também são
apresentadas breves informações sobre o Tocantins, a área de estudo deste trabalho.
O Capítulo 2 traz uma das formas de abordagem da agroecologia no Brasil: o
contexto científico e um breve histórico de seu desenvolvimento tanto a nível mundial
quanto nacional. Apesar da tese se concentrar no Tocantins, este capítulo proporciona a
compreensão do campo científico da agroecologia com base em produções científicas de
estudos realizados na Amazônia Legal, dando um breve destaque para o estado estudado.
Para alcançar esse objetivo, realizou-se uma Revisão Sistemática de Literatura (RSL)
utilizando-se das principais bases de dados internacionais: Scopus e Web of Science e
análise bibliométrica. Com isso, identificou-se a produtividade da região, bem como os
autores e suas respectivas instituições/organizações, os periódicos em que publicaram, e
os temas que abordaram. Compreender como se apresenta o campo científico da
agroecologia na Amazônia Legal, pode auxiliar no processo de construção do
conhecimento agroecológico, fortalecer a rede científica na região e, consequentemente,
o Movimento Agroecológico.
No Capítulo 3 Ao serem identificados espaços de divulgação científica da
Articulação Nacional de Agroecologia (ANA): a Revista Brasileira de Agroecologia
(RBA) e a Revista Cadernos de Agroecologia (RCA), foram realizadas buscas por artigos,
resumos e relatos de experiências no tema agroecologia e que tiveram como área de
estudo o Tocantins. Diferentemente das bases de dados internacionais, nesses ambientes
encontrou-se dados relevantes sobre as produções científicas no estado, com número
27

superiores aqueles encontrados no capítulo anterior. A partir desses resultados e


entendendo a importância da educação em agroecologia para a Construção do
Conhecimento Agroecológico, foi realizada uma Revisão Narrativa de todo material
referente a essa categoria. No Tocantins, o processo de Construção do Conhecimento
Agroecológico por meio da Educação confirma a complexidade e a diversidade que
acompanham a agroecologia, a partir da identificação dos temas abordados e atores
envolvidos. Esse conhecimento pode contribuir na criação de uma rede de agroecologia
que fortalecerá o movimento agroecológico no estado.
O Capítulo 4, traz um breve histórico da Articulação Tocantinense de
Agroecologia (ATA) e os Núcleos de Estudos de Agroecologia (NEAs) do Tocantins, a
partir da realização de entrevistas em profundidade que, posteriormente, passaram pela
análise de conteúdo com auxílio do software ATLAS.ti. Assim, foi possível identificar
alguns atores envolvidos no processo de construção do conhecimento agroecológico.
Além disso, foram identificados territórios de atuação, parcerias, ações executadas e,
principalmente, desafios enfrentados e suas perspectivas. Compreender suas estruturas e
como esses grupos atuam, mostrou acima de tudo seu processo de resistência e resiliência
num estado que favorece o sistema produtivo convencional.
Por fim, Considerações Finais sobre os cinco capítulos foram delineadas com
base nos resultados encontrados sobre o panorama da agroecologia no Tocantins, sob a
perspectiva da ciência, prática e movimento social.
28

2 OBJETIVO
2.1 Objetivo Geral

O estudo busca compreender o desenvolvimento da agroecologia no Tocantins, a


partir da abordagem ciência, prática e movimento social, suas interações e contribuições
no processo de Construção do Conhecimento Agroecológico.

2.2 Objetivos Específicos

• Compreender o campo científico da agroecologia na Amazônia Legal, com


destaque para o Tocantins, a partir das bases de dados internacionais Scopus e
Web of Science;
• Apresentar as experiências na categoria Educação e Construção do Conhecimento
Agroecológico, a partir da produção científica encontrada nos ambientes de
divulgação científica da ABA-Agroecologia;
• Identificar os desafios e perspectivas da Rede Articulação Tocantinense de
Agroecologia e Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEAs) do Tocantins no
processo desenvolvimento da agroecologia no estado.
29

3 METODOLOGIA

3.1 Área de estudo

Esta tese tem como área de estudo o estado do Tocantins; porém outros estados
componentes da Amazônia Legal também são analisados no Capítulo 2. Essa região é
formada por Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins, Mato Grosso
e parte do Maranhão, que representa cerca de 60% do território nacional, conforme mostra
a Figura 1 (Chaves; Cezar, 2019).

Figura 1. Mapa da Amazônia Legal

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2020).

O Tocantins, localizado na Região Norte do país, possui uma área de 277.620,9


km². Composto por 139 municípios, seu território está dividido em três regiões
geográficas intermediárias: Palmas (área central), Araguaína (área norte) e Gurupi (área
sul), que representam as principais cidades do estado (IBGE, 2017; Melo et al., 2020).
30

Figura 2. Mapa do estado do Tocantins

Fonte: Elaborado pela autora (2023) adaptado de Tocantins (2023).

3.2 Revisão Sistemática de Literatura e Bibliometria

A Revisão Sistemática de Literatura (RSL) é um método que proporciona um


panorama das pesquisas realizadas no contexto estudado. É bastante utilizada por
pesquisadores que desejam identificar e analisar um determinado campo científico com
maior rigor, a partir da sistematização de estudos anteriores (Cronin et al., 2008; Dybå e
Dingsøyr; 2008; Kitchenham, 2004; Schmidt, 2008) corroboram ao afirmar que a RSL
passa por uma avaliação crítica e sintetizada dos estudos importantes que tratam de uma
questão, tema ou fenômeno, tudo isso a partir de métodos explícitos e rígidos. Os artigos
que irão compor o estudo são identificados como dados primários, o que faz com que o
método seja um estudo secundário. Os procedimentos são determinados antecipadamente
e documentados num protocolo.
O método de RSL, que foi utilizado no Capítulo 2, é um grande auxiliar no arranjo
e síntese das informações sobre o objeto de estudo. Além disso, admite o uso prático de
ampla coleção de informações para a catalogação e identificação de trabalhos relevantes,
31

ou não, para a pesquisa (Kitchenham, 2004; Petricrew; Roberts, 2006; Cronin et al.,
2008).
No Capítulo 2 da tese, a proposta de Cronin et al. (2008) foi aplicada. Esta consiste
na divisão das ações em quatro fases: o desenho da pesquisa, a definição dos critérios de
inclusão e exclusão de artigos, seleção da literatura e, por fim, a análise dos dados
encontrados, conforme ilustrado na Figura 3.

Figura 3. Fluxograma das etapas da Revisão Sistemática de Literatura com base na


proposta de Cronin et al. (2008)

Desenho da pesquisa

Definição dos critérios


de inclusão e exclusão

Seleção da literatura

Análise dos dados

Fonte: Elaborado pela autora (2022) adaptado de Cronin et al. (2008).

Assim, na primeira etapa, que diz respeito ao desenho da pesquisa, a questão que
norteou o estudo é definida. Em seguida, os critérios de inclusão e exclusão foram
estabelecidos, os quais estipularam as especificidades que os artigos devem ter para
compor a pesquisa. As limitações, que devem ser claras e replicáveis, podem estar
relacionadas a fatores como datas, periódicos, base de dados, idioma, entre outras (Cronin
et al., 2008).
Após os primeiros passos, a estrutura do trabalho direciona para o momento da
seleção da literatura, onde geralmente são utilizadas séries de palavras-chave. Para obter
32

uma cobertura mais completa sobre o tema estudado, o ideal é a utilização de uma grande
variedade de bases de dados. Em alguns casos, pode ser necessário acessar outras fontes,
tais como, revistas-chave ou anais de eventos, para identificar artigos relevantes que não
estão indexados. Os artigos passarão por uma leitura detalhada para sua seleção. Esse
trabalho é, com mais frequência, realizado por dois revisores, a fim de aumentar a
confiabilidade da pesquisa. A clareza de todo esse procedimento deve permitir que outros
pesquisadores possam reproduzi-lo ou atualizá-lo (Cronin et al., 2008; Dybå; Dingsøyr,
2008; Page et al., 2021).
A avaliação da qualidade dos estudos selecionados é necessária para minimizar
o viés no processo de pesquisa. Além disso, auxilia na obtenção de informações sobre
comparações e direciona a interpretação dos resultados. No entanto, não é um
procedimento simples, pois não existe uma definição geral do que seria essa qualidade.
Dessa forma, artigos de algumas revistas ou conferências que não detalham dos métodos
de investigação, por serem limitados à quantidade de páginas, podem estar sendo
avaliados pela redação e não pela pesquisa em si, pois geralmente a qualidade do estudo
está intimamente ligada a qualidade da investigação. Assim, os estudos tendenciosos são
conduzidos ao erro e, consequentemente, resultam em revisões sistemáticas de literatura
incorretas (Dybå; Dingsøyr, 2008).
Na quarta e última etapa, todo o material coletado foi analisado e sistematizado.
Nesse processo, os resultados da busca foram exportados com extensão (.ris) para o
Programa de Gerenciamento Rayyan Systematic (https://rayyan.qcri.org/), que auxilia
autores de revisões sistemáticas na fase de triagem dos artigos.
Para a análise, optou-se também pelo uso da bibliometria como complemento,
ao trazer uma abordagem quantitativa ao classificar e representar itens importantes para
mapeamento do campo científico estudado. De acordo com Zupic e Čater (2015), essa
parceria entre a bibliometria e as revisões sistemáticas auxiliam na identificação de
elementos sem o viés subjetivo. Esse método quantitativo possibilita mapear o campo
científico, classificando e representando alguns elementos como: principais artigos,
autores e revistas.
A bibliometria aborda os aspectos quantitativos da produção, da disseminação e
do uso das informações registradas, ou seja, permite situar a produção científica de um
país em relação ao mundo, de uma instituição em relação ao país e de um cientista em
relação às comunidades científicas. Este tipo de análise possibilita realizar uma avaliação
33

das fontes de comunicação, do desenvolvimento da produção científica de forma


cronológica, da produtividade científica das instituições e de seus autores, a capacidade
de propagação das produções, o crescimento do campo científico estudado, o nível de
envelhecimento do campo pesquisado e a influência que essas publicações podem exercer
na comunidade científica. Portanto, a bibliometria complementa a Revisão Sistemática
de Literatura, no sentido de auxiliar na identificação dos artigos e revistas mais influentes
e no mapeamento do campo de conhecimento (Reveles; Takahashi, 2007; Rosa et al.,
2009; Zupic; Carter, 2015).

3.3 Revisão Narrativa

No Capítulo 3, foi utilizado o método de Revisão Narrativa, que se trata de uma


abordagem qualitativa. Nessa técnica, as produções científicas têm o intuito de descrever
e discutir o estado da ciência de um ponto ou tema particular sob uma perspectiva teórica,
de modo a descrever um contexto. Esse método pode auxiliar na educação contínua de
um determinado tema, ao fornecer conhecimento atualizado (Rother, 2007).
Geralmente, as bases de dados não são informadas, assim como o delineamento
metodológico e as medidas de avaliação para inclusão dos artigos. Além disso, as
informações não precisam chegar ao esgotamento. Os estudos adotam uma abordagem
qualitativa e seguem uma estrutura: Introdução, Desenvolvimento, Discussão e
Referências (Rother, 2007). No entanto, Vosgerau e Romanowski (2014) afirmam que
em algumas ocasiões, a quantidade de conteúdo pode ser grande; então, é comum
determinar o campo de pesquisa e o tema a ser pesquisado, além de definir um recorte
temporal e as fontes de dados.

3.4 Entrevista em Profundidade e Análise de Conteúdo

A entrevista qualitativa em profundidade e/ou semiestruturada se caracteriza


como um instrumento de coleta de dados que possibilita o diálogo em um espaço
relacional, a fim de favorecer o protagonismo do participante. Tais métodos de coleta e
análise foram abordados nos Capítulos 4 e 5. O investigador promove neste espaço as
condições para que sejam expressas livremente as opiniões, emoções e experiências de
vida, cabendo ao pesquisador controlar o fluxo delas. Trata-se, portanto, de uma
34

abordagem dinâmica e ajustável, que proporciona um entendimento produtivo acerca de


questões particulares do entrevistado, além de auxiliar no detalhamento de processos
intricados relacionados ao mesmo (Duarte, 2006; Moré, 2015).
Seguindo a estrutura indicado por Duarte (2015), a entrevista em profundidade
segue algumas etapas: a definição da entrevista - que pode ser aberta com questões não-
estruturadas e tem como base uma questão central; semiaberta com questões
semiestruturadas e tem como base um roteiro; e fechada com questões estruturadas e tem
como base um questionário. Em seguida, é realizada a seleção dos informantes, que
depende do tipo de entrevista. São indicadas 5 categorias que auxiliam nesse processo de
seleção do entrevistado, que pode ser um: Especialista, Informante-chave, Informante-
padrão, Informante complementar e Informante-extremista. A amostra está mais ligada
significância do entrevistado, do que uma representação estatística. Dessa forma, o autor
propõe duas formas de escolha da amostra: por conveniência – baseada na viabilidade e
de forma intencional – seleção por juízo particular. Os instrumentos de coleta podem ser:
caderno de anotações, gravações, telefone e internet, cada um com suas vantagens e
desvantagens. Para a descrição e análise de conteúdo são utilizadas as categorias para
organizar as informações coletadas e então, é realizada a descrição interpretativa,
conforme mostra a figura 4.
Para fins de análise do material coletado foi utilizou-se o método de análise de
conteúdo. Segundo Bardin (2011), é uma técnica que já era utilizada desde as primeiras
tentativas da humanidade para interpretar os livros sagrados, tendo sido sistematizada
como método apenas na década de 1920. A autora define, ainda, que esse processo
designa um conjunto de técnicas de análise da comunicação visando obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo de mensagens,
indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção de tais materiais.
No momento da transformação do conteúdo em unidades, o conteúdo deve ser
lido novamente e com atenção para conseguir determinar as unidades de análise, que
podem ser: palavras, frases, temas ou documentos. Na etapa da definição de contexto, que
se trata de uma unidade geralmente mais ampla e fixa limites na interpretação. A
categorização vai agrupar as informações a partir do que há em comum entre elas e que
precisam ser válidas, pertinentes ou adequadas. Na quarta etapa, a descrição, após a
35

definição das categorias e identificado o conteúdo de cada uma. Na última etapa, é


realizada a interpretação dos dados analisados (Moraes, 1999).

Figura 4. Etapas do método de entrevista em profundidade

Fonte: Elaborado pela autora (2023) adaptado de Duarte (2015).

Figura 5. Etapas do método de análise de conteúdo

Preparação das
informações
Transformação do
conteúdo em unidades
Classificação das unidades
em categorias

Descrição

Interpretação

Fonte: Elaborado pela autora (2023) adaptado de Moraes (1999).


36

“Agroecologia é o cerne
para a justiça climática.”
(Fábio Pacheco)

4 CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.1 A evolução das práticas agrícolas: da subsistência a mercadoria

A presença humana no mundo remonta a algo próximo a 1.000.000 de anos, o que


torna a agricultura um fenômeno novo em relação ao histórico da humanidade. Conforme
registros arqueológicos, os indícios de práticas agrícolas e de criação surgiram há apenas
10.000 anos atrás, no máximo. Por muito tempo, o homem extraía da natureza apenas os
elementos necessários para a alimentação, o que garantia sua reprodução A escolha das
espécies a serem domesticadas tinham motivos diferentes, de acordo com cada população.
Nesse processo de mudança, de uma estratégia para outra, houve uma alteração na
organização social (Mazoyer; Roudart, 2010; Oliveira Júnior, 1989).
A princípio, a alimentação era feita por meio da caça, pesca e coleta.
Posteriormente, os cereais começaram a fazer parte da dieta e, logo, as técnicas foram
aprimoradas. Dentre os tipos de cultivos, havia o formato de produção tradicional, que
embora alterasse a natureza, preservava a diversidade e a complexidade. Além disso, era
uma fonte de estabilidade social, passada de geração a geração. Essa estrutura teve início
antes da Idade Moderna e buscava rearranjar plantas e animais (Oliveira Júnior, 1989;
Worster, 2002).
Apontado por Worster (2002), como sistemas agroecológicos tradicionais, este
meio de cultivo tinha como foco a subsistência, ou seja, o cultivo era para o consumo,
mas, esporadicamente alguns produtos eram enviados às cidades para comercialização ou
para pagamento de impostos. Esse formato de produção baseava-se na observação e
imitação da sabedoria da natureza, o que rendia inúmeras vantagens quanto à eficiência
no uso da luz, da água e dos nutrientes.
A partir do século XV, algumas mudanças começaram a acontecer no sistema
alimentar mundial, e a dinâmica dos sistemas agroecológicos tradicionais acompanhou
esse processo, que trouxe drásticas modificações no uso da terra. Então, no século XVIII,
aconteceu a Primeira Revolução Agrícola Contemporânea. Esta surgiu no Centro-Norte
Europeu, e se tornou o sistema produtivo dominante até o início do século XX. Nesse
modo de produção, foram introduzidas as leguminosas e/ou tubérculos, que alimentavam
37

pessoas e animais. Estes últimos passaram a fazer o trabalho de tração e a gerar esterco
para a fertilização do solo. Com o tempo, houve o desenvolvimento do comércio e dos
mercados, e a produção camponesa passou a ser também para suprir as necessidades das
indústrias por matéria prima (Oliveira Júnior, 1989; Worster, 2002).
Com o poder político tomado pela burguesia urbana, nasce o Capitalismo, que tem
entre suas principais características: a conversão do trabalho humano e da terra em
mercadorias; o desenvolvimento da indústria, que passou a ser a principal atividade
econômica nacional e internacional; e a enorme divisão social do trabalho. Esse processo
muda, totalmente, as bases da agricultura e foi identificado como a Segunda Revolução
Agrícola Contemporânea – a industrialização da agricultura (Oliveira Júnior, 1989).
Foi a partir da Primeira Guerra Mundial, que a indústria química e mecânica se
desenvolveu e ganhou maiores possibilidades para produção em massa de insumos para
a agricultura. Essa mudança trouxe a dependência da agricultura mais aos recursos
industriais do que locais e novos elementos surgiram no sistema agrário alimentar, como
tratores, arados, colheitadeiras, adubos químicos, entre outros. Tal processo também
ocasionou a evolução dos meios de transporte, do armazenamento e da conservação de
produtos oriundos da agricultura. No entanto, essas transformações não trouxeram
melhorias para a agricultura tradicional camponesa, pois tais tecnologias aumentaram o
distanciamento entre os processos sociais e ecológicos (Altieri, 1999; Oliveira Júnior,
1989; Worster, 2002).
Esse sistema agrícola e alimentar mundial, composto por subsistemas regionais
relativamente especializados, concorrentes e muito desiguais em eficiência, desenvolveu-
se de maneira contraditória e divergente. Por um lado, um número reduzido de
propriedades e de regiões do mundo que sempre acumulou mais capital, concentrou os
cultivos e as criações mais produtivas e conquistou novas partes de mercado. Por outro,
vastas regiões e a maioria dos camponeses do mundo mergulharam na crise e na
indigência até serem excluídos (Mazoyer; Roudart, 2010).
Esse processo de mudança no modo de produção agrícola, com princípios da
chamada Revolução Verde, era apresentado pelos que propunham essa alternativa como
a ideia de que o progresso e o desenvolvimento determinavam a troca das variedades das
espécies produzidas localmente pelas melhoradas a partir de modificação genética. Essas
transformações deixaram evidente uma mudança na relação homem e o meio ambiente;
38

pois, apesar do sucesso produtivo, apostou-se caro contra a natureza, e as consequências


foram consideráveis (Oliveira Júnior, 1989; Altieri, 2012; Mazoyer; Roudart, 2010).
Esse novo modelo passa a ser dependente de insumos necessários para se manter
o padrão de produção para a comercialização. Apesar de contar com a forte promoção e
ter conseguido alcançar grande êxito nos países desenvolvidos, a partir do capital
abundante e limitada mão-de-obra, isso não aconteceu nos países em desenvolvimento,
pois grande parte dos agricultores dessas localidades era muito pobre. Portanto, é ilusória
a ideia de que tal modo de produção, ao ser disseminada por todo o mundo, atenderia às
futuras necessidades humanas (Mazoyer; Roudart, 2010; Oliveria Júnior, 1989).
Worster (2002) afirma que, entre as diversas inovações do modelo produtivo
capitalista, uma delas afetou com mais profundidade essa relação homem-natureza, o
chamado mercado geral de terras. Esse novo olhar para o meio ambiente, apenas como
uma mercadoria proporcional a sua comercialização sem restrição, trouxe alterações na
estrutura dos sistemas agroecológicos tradicionais, que passaram a intensificar tanto a
produção de alimentos quanto a de riqueza pessoal.
Worster (2002), traz questionamentos e reflexões sobre os efeitos da mudança nos
sistemas produtivos:
Será que o antigo modo de vida camponês medieval, entrou em colapso porque
estava degradando o ambiente? Estava ele entrando em decadência por conta
das demandas prementes do crescimento populacional? Foi ele pressionado a
ponto de entrar em colapso? Até foi possível dar atenção às soluções oferecidas
por uma nova geração de empreendedores capitalistas em ascensão? Ou, muito
ao contrário, foi o novo modo de produção capitalista imposto aos camponeses
que estavam vivendo em equilíbrio com seu ambiente e eram relutantes à
mudança? (Worster, 2002, p. 33).

No entanto Mazoyer e Roudart (2010), afirmam que outras formas de produção


agrícola continuaram ativas nos Países em desenvolvimento. Muitas delas, com baixa
produtividade, entraram em crise ao serem depreciadas e excluídas, por não conseguirem
concorrer com agriculturas mais potentes. As poucas que conseguiram desenvolver meios
de sobrevivência e progressão, demostraram engenhosidade e seguem nesse caminho.
Nesse cenário, onde o saber tradicional perde espaço, Oliveira Júnior (1989) se alinha aos
autores, ao afirmar que:
A partir da Segunda Revolução Agrícola há uma alienação material e
econômica do “saber” necessário à produção. Os problemas gerados e
resolvidos pela própria agricultura fogem de sua esfera de decisão,
constituindo-se numa questão de ordem econômica e política em escala
ampliada, mundial (Oliveira Júnior, 1989, p.70).
39

Segundo Araújo e Oliveira (2016), no Brasil, o modelo de modernização da


agricultura brasileira também está fundamentado na lógica capitalista, com produtividade
que suga o meio ambiente, além de se apoderar de vidas e de tecnologias. Nesse sentido,
os autores entendem que o Estado tem mantido e fortalecido os setores relacionados ao
agronegócio. Para Canuto (2004), essa prática promove a exclusão pelo modelo
produtivo, além de ocasionar concentração de terra e renda, consequentemente, gerando
desemprego e mão de obra escrava, fomenta a grilagem de terras e se tornou o responsável
pelo aumento do desmatamento da Amazônia e Cerrado. Por onde passa, as atividades do
agronegócio deixam conflitos e violência, além de causar efeitos deletérios na saúde
humana.
O termo agronegócio teve sua origem da década de 90, e nasceu com uma proposta
ideológica no intuito de firmar a imagem do novo padrão de desenvolvimento da
agricultura, que trazia sofisticação, eficiência e produtividade (Carneiro et al., 2015).
Segundo Scoleso (2022), o modelo produtivo com o qual atualmente o agronegócio se
equivale, chama-se Agricultura 4.0. Trata-se de uma forma de produção apoiada à um
grupo de tecnologias digitais de ponta, que possuem a capacidade de potencializar, nos
mais diversos estágios, a produtividade agrícola.
Vista como a representação de uma nova engenharia de produção, Scoleso (2022)
afirma que Agricultura 4.0,
Não se limita ao território ou ao espaço fabril. Ela é composta de uma série de
elos, conexões e componentes político-econômico-jurídicos, muito embora sua
base esteja consolidada na intensificação dos processos produtivos
automatizados/tecnologizados e nas mudanças contínuas na cadeia geradora de
valor e logística. É na política, nas reformas e na flexibilização das leis que
estão dadas as capacidades de ampliação extra de acumulação (Scoleso, 2022).

Nesse contexto, passaram a existir dois movimentos: de um lado, o hegemônico,


que representa a liberalização do comércio agrícola nacional e a globalização dos sistemas
agroalimentares e, do outro um movimento contra hegemônico com representação no
novo desenvolvimento rural, que tenta realinhar agricultura-natureza-sociedade. Este
último, busca elaborar novos meios para auxiliar na produção, distribuição e consumo de
alimentos, como uma manifestação de resistência, resiliência e emancipação dos
camponeses e agricultores familiares (Escher, 2016).
40

4.2 Campesinato, Povos e Comunidades Tradicionais e a Agricultura Familiar no


Brasil: desintegração, resistência e resiliência

De acordo com Worster (2002), o sistema agroecológico, agora denominado


sistema agroecológico capitalista ou monocultura, transformou os cultivos diversificados
em produção de poucos cultivos, com foco na comercialização para a obtenção de renda.
Com isso, perdeu-se o intuito inicial que se limitava a subsistência, cujo excedente era
utilizado para o pagamento de tributos, e o agricultor passou a especializar-se em
determinado cultivo.
A evolução das forças produtivas estabeleceu um novo paradigma para a
agricultura e para ambiente rural. Este foi profundamente alterado pela modernização e
pela integração socioeconômica mundial. O Campesinato ficou à margem do progresso
em curso, levando ao início do seu declínio. Com isso, o conhecimento tradicional,
transmitido ao longo de gerações, tornou-se incapaz de acompanhar as habilidades
técnicas e gerenciais exigidas no novo cenário. Assim, o agricultor, antes autônomo,
passou a necessitar de assistência (Mendras, 1984; Nazareth; Wanderley, 2014).
O Campesinato pode ser identificado tanto como “sociedades camponesas”
quanto “agricultura camponesa”, pois consiste, historicamente, em uma cultura ou
civilização. Seu objetivo principal é a família, que determina toda a estratégia de produção
e reprodução. Contudo, existe também uma dimensão de natureza político-ideológico que
traz a representação da postura crítica diante do modelo dominante da agricultura
moderna. Com isso, o campesinato tornou-se um sujeito coletivo mobilizador da
população rural e que exigia o direito de acesso à terra (Castro, 2019, Jollivet, 2001;
Nazareth e Wanderley, 2014).
Segundo Rosset (2018), passou a existir uma pluralidade em torno do contexto da
agricultura camponesa, onde havia grupos que funcionam baseadas nos circuitos de
produção e consumo curto dissociado, atuando numa forte relação entre o arranjo
produtivo, o meio ambiente e a sociedade; e aqueles que tinham como padrão o
agronegócio, que não possuía relação com o socioambiental.
Assim surgi a Agricultura Familiar, que não se separou da ideia do Campesinato,
mas se transformou num agente social contemporâneo, que não deixou de lado a família
como o cerne das suas tomadas de decisões. Estes receberam a missão de se adaptar à
nova forma de vida e de produção, porém, como mensageiros de uma tradição. É
41

importante observar a habilidade de adaptação e resistência, desse grupo, ao moderno


cenário econômico e social, que deixa de ser apenas representantes do campesinato
tradicional, porém sem perder a fortaleza do passado que mantem como direção
determinando as práticas e as concepções das famílias (Jollivet, 2001; Lamarche, 1993;
Nazareth; Wanderley, 1996).
No Brasil, o uso do termo Campesinato teve início na década de 1950 e com um
contexto mais complexo. No primeiro momento, foi relacionado de forma política aos
protestos de grupos e partidos esquerdistas ao redor das áreas campestres. Dessa forma,
passou a ser vista como uma classe política (Martins, 2000; Sabourin, 2009).
Em 2018, o movimento foi internacionalmente reconhecido na Declaração das
Nações Unidas sobre os Direitos dos Camponeses e outras pessoas que trabalham nas
áreas rurais. Porém, alguns países como o Brasil, apesar de terem o campesinato atuando
também nesse modelo, não aderiram a esse reconhecimento (Carvalho, 2005; Castro,
2019; Castro, 2023).
No histórico de ocupação e apropriação da terra no Brasil, o IBGE (2020) afirma
no Atlas do espaço rural brasileiro que,
É possível perceber que muitas desigualdades existentes na atualidade têm
raízes em séculos de exploração e exclusão de parte da população,
principalmente de povos indígenas e populações afrodescendentes. Conhecer
e entender essas raízes, levando em consideração as populações historicamente
mais vulneráveis, é um movimento necessário para construir mecanismos de
mudança e reduzir as desigualdades no campo e na sociedade como um todo
(IBGE, 2020).

Ainda segundo o IBGE (2020), a agricultura familiar é um sistema produtivo


agropecuário em que o núcleo familiar centraliza a gestão da propriedade e a maior parte
da mão de obra. A família também é a base de reprodução social e cultural desse
segmento, o núcleo ao redor do qual se constroem. Para Wanderley (2009), em síntese,
entre a agricultura familiar e camponesa no Brasil,
Não existe nenhuma mutação radical entre camponeses e/ou agricultor familiar
por ora no Brasil. Pode-se dizer que estamos lidando com categorias
equivalentes, facilmente intercambiáveis, em que o adjetivo familiar revela a
característica que, junto da expressão política, apresentam-se como traços
típicos da categoria camponesa (Wanderley, 2009).

Assim, no processo de modernização da agricultura no Brasil, a agricultura


familiar que possui esse histórico camponês, teve suas características estruturais
assumidas desde o início como incompetente, o que a levou a ser excluída. Apesar disso,
42

os agricultores familiares conseguiram se manter por meio da produtividade agrícola e


oriundos (Guanziroli, 2001; Wanderley, 1998).
Guanziroli (2001), afirmava que o país tinha o ambiente rural visto como
complexo e isso estava relacionado à variedade de paisagens e tipos de agricultores, cada
um com seus interesses, estratégias e formas de produção e que sofrem de maneiras
diferentes à iguais empecilhos e restrições. Essa complexidade é reafirmada, anos depois,
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2020) no Atlas do espaço rural
brasileiro que mostra que,
O setor abarca desde extrativistas e outros produtores sem área, sistemas
agrícolas tradicionais indígenas e de outros povos e comunidades tradicionais,
agricultura familiar e não familiar, com produção destinada ao consumo
próprio ou à venda, até estabelecimentos voltados exclusivamente à
comercialização e à exportação, pautados pela lógica do agronegócio e das
grandes propriedades. Tem-se, assim, um mosaico de diferentes realidades,
com características demográficas, econômicas, sociais e ambientais diversas,
além de sistemas produtivos específicos, meios de acesso à terra diversos
(IBGE, 2020).

De acordo com o Instituto de Geografia e Estatística (2020), os Sistemas Agrícolas


Tradicionais (SATs) tem sua importância na preservação e criação de métodos e saberes
fundamentais que garantem a segurança alimentar e contribuem no desenvolvimento
sustentável. Assim, reconhecer a variedade de produtores e o valor de cada um, é um
processo crucial que torna possível dar um direcionamento na concepção de uma
sociedade mais justa e igualitária que atenda todos os segmentos sociais. Os SATs vão
muito além das práticas de plantio e criação de animais, eles formam uma rede social
organizada (Eidt; Udry, 2019).
Segundo o IBGE (2020) sobre as práticas tradicionais é importante entender que
Não se configuram como algo estático ou um arcabouço de conhecimentos
antigos e ultrapassados que simplesmente são repassados de geração a geração.
Ao contrário, trata-se de maneiras específicas de produzir conhecimentos
novos e inovações. A ideia de que os conhecimentos e práticas tradicionais são
estáticos perdurou durante muito tempo na academia e nos órgãos de pesquisa
e precisa ser superada para tornar possível, alinhando-se os diferentes tipos de
conhecimento, a criação de ferramentas que contribuam para a promoção de
uma vida digna a todos os grupos sociais (IBGE, 2020).

Nesse contexto, a agroecologia, emerge como uma forma de resistência e


resiliência da Agricultura familiar e camponesa. É considerada conjuntamente como uma
ciência, uma prática e um movimento social. Abrange todo o sistema alimentar, desde o
solo até a organização das sociedades humanas, além de ser carregada de valores e
baseada em princípios fundamentais. Apesar de ser um termo novo, enquanto ciência e
43

prática é tão primitivo como o princípio da agricultura (IPEA, 2017; Niederle et al., 2019;
Wezel et al., 2018).

4.3 O Movimento Agroecológico no Brasil: avanços e rupturas

A agroecologia possui grande potencialidade no apoio ao desenvolvimento rural


sustentável, pois não se trata apenas de questões voltadas para o manejo ecologicamente
responsável com o meio ambiente, mas também é um campo científico que tem como
objetivo redirecionar a sociedade à sua coevolução social e ecológica. Ao integrar os
saberes tradicionais de agricultores com os conhecimentos de ciências distintas, traz um
entendimento analítico e crítico do modelo vigente e a partir disso é possível traçar
estratégias (Caporal, 2009).
Em vários países, bem como no Brasil, a modernização da agricultura teve início
no período desenvolvimentista do segundo pós-guerra, chegando ao seu auge na década
de 1970. Neste período, a dinâmica tecnológica e a expansão dos mercados agrícolas
foram institucionalmente induzidas através de políticas de intervenção do Estado, como
investimentos na pesquisa aplicada, na assistência técnica. Foi nesse período, que teve
início uma grande mobilização ambiental mundial dando origem aos movimentos
ambientais, que surgiram com o intuito de alertar sobre uma série de questões que
envolviam a relação sociedade e meio ambiente (Schneider; Escher, 2011; Worster,
2003).
Segundo Worster (2003), era importante refletir sobre certas ações humanas que
poderiam afetar futuras gerações:
Quantos seres humanos a biosfera pode suportar sem entrar em colapso sob o
impacto da poluição e do consumismo? As mudanças na atmosfera, causadas
pela atividade humana, levarão à uma maior incidência de câncer ou a menores
colheitas de grãos, ou ao derretimento das calotas polares? Está a tecnologia
tornando a vida mais perigosa, ao invés de mais segura? Tem o Homo sapiens
quaisquer obrigações morais para com a terra e seu ciclo de vida, ou esta vida
existe meramente para satisfazer aos desejos infinitamente expansivos de nossa
própria espécie? (Worster, 2003, p. 22).

As manifestações desse período, que aconteciam a nível mundial, eram compostas


por uma população preocupada com a degradação do meio ambiente, em especial aqueles
advindos da expansão agrícola, e suas consequências sociais e econômicas. Alicerçado
nesse momento de mobilização ambiental, no mesmo ano, nasce o Movimento
Agricultura Alternativa no Brasil. (IPEA, 2017; Niederle et al., 2019).
44

Os principais atores desse movimento foram: Agrônomos vinculados à Federação


das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil (FAEAB) e a Federação de
Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB). Na década seguinte, acontecem os
Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa (EBAAs), com quatro edições 1981,
1984, 1987 e 1989. O primeiro evento teve como um dos seus organizadores a Engenheira
Agrônoma Ana Maria Primavesi, considerada pioneira nos estudos sobre agroecologia no
país. Ainda nessa mesma década surgem os Grupos de Agricultura Alternativa, que
seriam a base no desenvolvimento dos futuros Núcleos de estudo em agroecologia
(NEAs) (Cardoso, 2023).
Logo, o Movimento Agricultura Alternativa passa a ser chamado de Movimento
agroecológico e ganha reforço com a atuação das Comunidades Eclesiais de Base (CEB),
que trazem discussões sobre um novo modelo de agricultura. Logo o movimento se
expandiria entre as comunidades rurais e organizações de base (IPEA, 2017).
Na década seguinte, a Instrução Normativa 007 dá diretrizes para a produção de
orgânicos, como resultado do início de uma aproximação entre a sociedade civil e o poder
executivo (Fonseca, 2009). Porém, foi nos anos 2000 que ações mais efetivas marcaram
o crescimento do movimento agroecológico no país, como: os Encontros Nacionais de
Agroecologia (ENAs); a formação da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) que
atua como um mecanismo de articulação entre as organizações sociais, governo,
pesquisadores e instituições acadêmicas (Petersen, 2009).
A fundação da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), o
lado acadêmico-científico, responsável pela organização de congressos e publicações de
artigos relacionados à temática, com participação ativa e ampla de instituições de ensino,
pesquisa e extensão e sociedade civil organizada envolvida, que se tornou um espaço de
valorização da agroecologia como ciência e o I Congresso Brasileiro de Agroecologia
(CBA) (Niederle et al., 2019).
Ainda na década de 2000, é publicada a Lei de Orgânicos - 10.831 que definia e
estabelecia as condições obrigatórias para a produção e a comercialização de produtos da
agricultura orgânica. Além disso, atendendo às diretrizes da Política Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN), surgi a Resolução nº 12 de incentivo à
produção orgânica do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o qual permitia que
os produtos agroecológicos e orgânicos fossem adquiridos com um sobre preço de até
30% (Niederle et al., 2019).
45

Nesse mesmo período é lançada a Política Nacional De Assistência Técnica E


Extensão Rural (PNATER), que trazia em suas diretrizes os princípios da agroecologia
(Brasil, 2007). Na modalidade de crédito, surgi o Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (PRONAF Agroecologia), que era destinada ao financiamento da
transição agroecológica. Em 2007, é regulamentada a Lei de Orgânicos - 10.831/2003
que cria os mecanismos de controle para a garantia da qualidade orgânica, o selo único
oficial do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SISOrg) e o
Sistema Participativo de Garantia (SPG) (Niederle et al., 2019).
Em 2011, levando como lema: 2011 razões para marchar por desenvolvimento
sustentável com justiça, autonomia, liberdade e igualdade; a Marcha das Margaridas foi
à Brasília. Esse movimento de mulheres organizadas foi essencial no processo de criação
do Programa Nacional de Agroecologia (Aguiar, 2015; Moura, 2016).
Assim, todo esse caminhar culmina no Decreto nº 7.794/2012, que institui a
Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) que objetiva integrar,
articular e adequar políticas, programas e ações de incentivo à transição agroecológica e
à produção orgânica (Niederle et al., 2019). Esse rápido desenvolvimento da agroecologia
rendeu, ao país, o título internacional de pioneiro na criação de uma política para esse
tema. Assim, em 2018, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica foi
reconhecida, pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO), como uma das melhores ações mundiais de promoção da agroecologia e recebeu
o prêmio Future Policy Award (Bayle; Beauval, 2013; Niederle et al., 2019; Schmitt et
al., 2017).
Com o porte e a abrangência dessa política, que estava diretamente vinculada à
agricultura familiar, a PNAPO se tornou referência para vários países que buscavam lidar
com a pobreza rural e tinham como objetivo a promoção do desenvolvimento rural
sustentável (FAO, 2014; Sambuichi, et al., 2017).
A partir da PNAPO surgem as instâncias gestoras os conselhos de agroecologia e
produção orgânica denominadas de Comissão Interministerial de Agroecologia e
Produção Orgânica (CIAPO) e a Comissão Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica (CNAPO). A CIAPO tinha como missão a elaboração e execução das propostas
de planos e programas, além de estruturar esferas do Poder Executivo federal, estaduais
e municipais. Já a CNAPO atuava na promoção da participação da sociedade, na criação
de subcomissões temáticas em conjunto com âmbitos governamentais e da sociedade,
46

além de preconizar diretrizes, objetivos, instrumentos e planos e programas a serem


priorizados; e ainda fazer o acompanhamento e o monitoramento desse processo (Brasil,
2012).
Assim, a partir de uma idealização participativa, que permitiu a articulação entre
órgãos de governo e movimentos sociais, foram criados os Planos Nacionais de
Agroecologia e Produção orgânica (PLANAPOs), que tiveram duas edições: PLANAPO
I – 2013/2015 e PLANAPO II – 2016/2019. Como principal instrumento de execução da
PNAPO, seu objetivo era de ampliação e efetivação das ações que direcionavam para o
desenvolvimento rural sustentável (Brasil, 2013).
No seu primeiro ciclo e resultou em grande número de ações públicas e incentivou
a articulação entre agentes públicos e privados, auxiliando na inclusão da temática em
processos de planejamento e implementação de políticas públicas, de nível federal e
subnacional. No segundo ciclo, de 2016 a 2019, a Assistência Técnica e Extensão Rural
(ATER) foi orientada com foco na agroecológico (Niederle et al., 2019).
Em nível subnacional, já existem algumas iniciativas de construção de Políticas
Estaduais de Agroecologia e de Produção Orgânica (PEAPOs) nos estados. Esse foi um
estudo realizado por Guéneu et. al. (2019), que analisou a situação de 11 (onze) estados
no país e descobriu que, no período de 2010 até 2019, a institucionalização da
agroecologia aconteceu a partir de leis e decretos ou ainda são objetos de projetos de leis
em votação. Em todos esses estados, assim como na PNAPO, esse processo beneficiou-
se de um cenário político favorável que aproximou sociedade civil e poder público
(Niederle et al., 2019; Petersen et al., 2013; Sambuichi et al., 2017).
Baseados na PNAPO, alguns estados estão instituindo ou já instituíram sua
Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica (PEAPO). Porém, ainda são
poucas as pesquisas que mostram a influência desses grupos na esfera estadual. Essa
política direciona seu planejamento para a produção agroecológica e orgânica, em geral,
visando: produção, comercialização, beneficiamento, instrumentos para financiamento e
incentivos. Os estados que já conseguiram estabelecer sua política foram beneficiados por
uma conjuntura política favorável que proporcionou, assim como na PNAPO, uma
aproximação entre o poder executivo, técnicos, administrativo e movimentos sociais
(Guéneau et al., 2019).
Assim como, no caso da PNAPO, a construção das PEAPOs, nos estados que
possuem ou estão em implementação dessa política, foi marcada pela forte atuação das
47

organizações da sociedade civil, destacando-se, novamente, a participação de


pesquisadores e/ou professores e estudantes universitários ou institutos federais e
estaduais de educação, associações, representantes locais de movimentos sociais e
sindicatos rurais (Guéneau et al., 2019).
Para Guéneau et al. (2019), ainda assim alguns estados estão instituindo ou já
instituíram sua Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica (PEAPO), em
geral direcionada ao planejamento para a produção agroecológica e orgânica com foco na
produção, comercialização, beneficiamento, instrumentos para financiamento e
incentivos. Um diferencial nos estados que já conseguiram estabelecer sua política foi a
conjuntura política favorável que proporcionou, assim como na PNAPO, uma
aproximação entre o poder executivo, técnicos, administrativo e movimentos sociais.
A partir de 2016, todo avanço na promoção da agroecologia e na produção de
políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, é afetado por um processo
desmantelamento, que tem seu início na extinção do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA). Essa ação afetou a relação de coexistência entre a agricultura familiar e
o agronegócio, que perpetuava desde os anos 90 (Medeiros, 2020). Niederle et al. (2021)
afirmam que não afetou somente a execução das políticas públicas, que é a parte mais
aparente e analisada, mas também as relações sociais que haviam sido constituídas entre
os atores políticos e não políticos.
A respeito desse processo que causou a fragilidade das políticas públicas Leite et
al. (2023) reitera que,
Paulatinamente, a categoria agricultura familiar vai sendo esvaziada de seu
conteúdo, expressão de reconhecimento da diversidade da agricultura e do
meio rural brasileiro, com suas múltiplas identidades, passando a se constituir
como um estrato pertencente a uma categoria genérica, isto é, “os produtores
rurais” (Leite et al., 2023, p. 406).

Portanto, para Lourenço et al. (2022) o governo brasileiro agiu para desmantelar
as políticas que atuavam direta ou indiretamente no apoio aos povos do campo, das
florestas, das águas, além da segurança alimentar e nutricional e de agroecologia. Como
resultados bastante evidentes houve o retorno da fome, aumento da violência no campo e
a devastação ambiental. Com isso, os autores informam sobre a importância, imediata, de
uma agenda construída não apenas com o intuito de retomar às políticas públicas, mas
também de elaborar ideias novas com capacidade de fornecer opções que transformem a
sociedade.
48

“O colonialismo não entende fronteiras


naturais, invade tudo furiosamente.”
(Ailton Krenak)

5 CAPÍTULO 2. O CAMPO CIENTÍFICO DA AGROECOLOGIA NA


AMAZÔNIA LEGAL E TOCANTINS: REVISÃO SISTEMÁTICA E
BIBLIOMETRIA

RESUMO
A Amazônia Legal, uma região caracterizada por sua significativa biodiversidade, abriga
diversas experiências agroecológicas voltadas para o desenvolvimento rural sustentável.
Entre os estados que compõem essa região está o Tocantins, que serve como o foco desta
tese. O objetivo geral do estudo era compreender como se manifesta o campo científico
da agroecologia nesse contexto geográfico. Para alcançar esse objetivo, adotou-se uma
abordagem metodológica que combina Revisão Sistemática de Literatura com
Bibliometria. Os dados foram extraídos de bases de dados internacionais, especificamente
o Scopus e o Web of Science. Inicialmente, um total de 138 artigos foi identificado por
meio dessa busca. Após a aplicação de critérios de inclusão e exclusão e a realização de
uma análise detalhada da literatura selecionada, 33 publicações foram consideradas
pertinentes para a pesquisa. Essa investigação facilitou a identificação do volume de
produção científica relacionada à agroecologia na Amazônia Legal, juntamente com uma
exploração das instituições envolvidas, autores, áreas temáticas e periódicos acadêmicos.
Nesse sentido, tornou-se evidente que, apesar de um aumento na produtividade nos
últimos cinco anos, a produção científica no campo da agroecologia ainda permanece
relativamente modesta no contexto internacional. Com relevância significativa, o estado
do Pará destacou-se como o principal contribuinte em termos de documentos produzidos.
Além disso, uma tendência significativa de colaboração entre instituições nacionais e
internacionais foi observada. Entre os principais temas abordados estão: as práticas
agroecológicas, com ênfase em Sistemas Agroflorestais, bem como Políticas Públicas,
como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE). Compreender esse panorama estrutural tem o potencial de
catalisar a formação de redes científicas, que, por sua vez, podem facilitar o envolvimento
de novas colaborações, pesquisadores e estudos que possam aprimorar a visibilidade das
experiências agroecológicas no estado de Tocantins.

Palavras-chave: Construção do conhecimento agroecológico; Produtividade;


Participativa.

5.1 Agroecologia como uma Ciência Participativa

Cientistas de todo o mundo têm demonstrado interesse na agricultura tradicional,


em busca de maneiras de remediar as deficiências da agricultura moderna. Ao ampliar,
multiplicar, extrapolar e apoiar em cenários políticos as experiências vindas desse modo
49

de produção, podem-se gerar benefícios ambientais e econômicos e, ainda, fortalecer a


segurança alimentar (Altieri, 1995; Altieri et al., 1999; Pretty, 1995; Thrupp, 1996).
Na América Latina, as pesquisas sobre agricultura tradicional e camponesa
indicam que as práticas agroecológicas em pequenas propriedades são sustentáveis e
eficientes. Além disso, são mais participativas e justas socialmente. Nesse contexto de
proporcionar inúmeros benefícios, a agroecologia revela-se como um campo
complexidade e multidimensionalidade. Enquanto ciência, estabelece-se como enfoque
científico ao integrar-se a outras disciplinas, que divergem do tradicional das ciências
agrárias, assim como aos saberes e vivências dos agricultores. ´Portanto, essa área não se
restringe apenas a aspectos de produção, mas engloba eixos mais amplos e complexos.
Além disso, essa ciência prioriza a socialização do conhecimento e dos saberes entre os
mais diversos atores, considerando essa troca com uma grande empreitada imprescindível
(Altieri, 2000; Caporal, 2009; Caporal; Costabeber, 2002; Candiotto, 2020; Gliessman,
2000).
Ploeg (2011) destaca em suas pesquisas que a agroecologia se manifesta no Brasil
de três maneiras: como ciência, que traz críticas severas à industrialização dos sistemas
agrícolas e seus impactos; prática, que em sua aplicação, gera reflexões que são reunidas
e concebidas na teoria; e como movimento social, relacionado a movimentação não
apenas por aqueles diretamente ligados à prática e/ou teoria, mas todos que buscam
alimentos de qualidade e seguros, fundamentados na justiça social e em relação
harmoniosa entre o campo e a cidade.
Abreu et al. (2016) argumentam que essa abordagem da agroecologia no país
ocorre de forma conjunta. No campo científico e acadêmico, o tema tem sido discutido
com base na premissa de que a ciência influencia no desenvolvimento da sociedade e na
relevância da interação entre movimentos sociais, redes científicas e construção de
políticas públicas. Assim, tema tem ganhado destaque nos últimos anos, o que se tornou
evidente com o aumento no número de cursos de graduação e pós-graduação a partir da
década de 90. Esse processo propiciou maior interação e rompimento do isolamento
anteriormente presente (Borsatto; Carmo, 2013; Caporal, 2009; Wezel 2018).
De acordo com Abreu et al. (2016), as críticas à modernização na agricultura
foram formuladas e difundidas por intelectuais e profissionais por meio de suas
publicações científicas que apontavam os efeitos nocivos gerados por esse modo de
produção. Nesse contexto, surgi o Movimento Agricultura Alternativa, que ganhou força
50

nas universidades, contando inclusive com a participação de movimentos estudantis.


Grupos de estudos e pesquisa foram então estabelecidos, focando, a princípio, em
tecnologias e práticas de agriculturas alternativas. Em pouco tempo, esses estudantes
comporiam equipes de profissionais em organizações não governamentais (ONGs), em
movimentos sociais e, até mesmo, em entidades estatais. A rede emergente desse
movimento em prol de uma agricultura alternativa tornou-se a base para a
institucionalização da agroecologia no país (Paulino e Gomes, 2020).
Dessa forma, a partir de um movimento que teve início nos anos 70 e alcançou
seu ápice na década de 2000, grupos de estudos surgiram em todas as regiões do país,
buscando consolidar a agroecologia como uma base científica. Foi nesse período que o
Governo Brasileiro começou a intensificar e incentivar o enfoque agroecológico em áreas
como ensino, pesquisa, extensão rural e assistência técnica. Assim, progressivamente,
novos ambientes interativos tecnocientíficos voltados para o tema começaram a se formar
(Moura, 2017; Niederle et al., 2019).
Sabendo-se da relevância da agroecologia como ciência no processo de construção
do conhecimento agroecológico e de sua influência na elaboração de políticas públicas
para o setor, este estudo procura compreender como essa área do conhecimento é
representada nas bases de dados internacionais. Os resultados exibirão as principais
produções científicas, os autores, instituições envolvidas e os temas abordados. Embora
o estudo tenha sido conduzido com foco na região da Amazônia Legal, houve um breve
destaque para os resultados relacionados ao Tocantins, que é área de estudo desta tese.

5.2 Procedimentos metodológicos

A área de estudo refere-se à Região da Amazônia Legal, composta por 9 estados:


Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e parte do
Maranhão, conforme ilustrado na Figura 5. Essa região representa cerca de 60% do
território nacional (Chaves; Cezar, 2019). Vale ressaltar que, dentro desse cenário mais
amplo, o Tocantins teve um breve destaque.
Para responder às questões desta pesquisa, optou-se pela combinação de métodos
qualitativos e quantitativos. Nesse sentido, foram empregados estudos Bibliométricos e
de Revisão Sistemática para melhor compreender do campo científico da agroecologia na
51

Amazônia Legal. Essas duas metodologias, quando aplicadas em conjunto, fornecem uma
visão mais abrangente do tema em discussão.
A RSL é frequentemente empregada por pesquisadores que desejam identificar
e analisar um determinado campo científico de maneira mais rigorosa, com base na
sistematização de estudos anteriores (Cronin et al., 2008; Kitchenham, 2004; Schmidt,
2008).
A estrutura deste trabalho seguiu a proposta de Cronin et. al. (2008), que divide o
processo em quatro fases: desenho da pesquisa, definição dos critérios de inclusão e
exclusão de artigos, seleção da literatura e, finalmente, a análise dos dados obtidos.
A pesquisa que foi realizada no período de novembro de 2021 a junho de 2022,
sem recorte temporal, uma vez que não foram identificados outros estudos na mesma
categoria. Optou-se por utilizar toda a produção científica disponível nas bases de dados:
Web of Science e Scopus.
Na primeira etapa, referente ao desenho da pesquisa, definiu-se a questão a ser
investigada, isto é, o objetivo principal do trabalho. Dado que o foco era o campo
científico, a indagação formulada foi: Como se apresenta o campo científico da
Agroecologia no contexto da Amazônia Legal e Tocantins?
Na etapa subsequente, estabeleceram-se os critérios de inclusão e exclusão. Com
isso, foram incluídas produções científicas da região em estudo, independentemente do
idioma, e abrangendo todo o período disponível nas bases de dados já mencionadas.
Assim, o recorte temporal da pesquisa compreendeu o período de 2003, ano da primeira
publicação científica relacionada ao contexto em questão, até 2021. Excluíram-se artigos
que não abordavam a Amazônia Legal, que estavam fora do tema proposto e duplicados.
Após essas etapas iniciais, o processo seguiu para a seleção de literatura,
priorizando-se artigos revisados por pares. A escolha por tais bases de dados (Scopus e
Web of Science) decorreu da preocupação com a qualidade da pesquisa, conferindo mais
robustez ao trabalho.
Durante a busca por produções científicas, utilizaram-se palavras-chave que
direcionassem a pesquisa para artigos alinhados ao objetivo do estudo. Com isso, foram
empregados os seguintes termos: Amazônia Legal e Agroecologia – em português e
inglês – e suas variantes. Além dessas palavras, incluiu-se o nome dos estados que
compõem a região em estudo, conforme descrito na Quadro 1.
52

Na quarta e última etapa, todo o material coletado foi analisado e sistematizado.


A análise dos artigos foi realizada por meio da bibliometria, através da estatística básica,
o que gerou informações de caráter quantitativo. Aplicou-se ainda a estrutura de nuvem
de palavras, criada através do site https://www.mentimeter.com/pt-BR/features/word-
cloud. Esse recurso os termos mais frequentes entre as palavras-chave indicadas em cada
artigo, de forma a auxiliar na construção e visualização do resultado.

Quadro 1. Termos utilizados na busca por artigos científicas, relacionados ao recorte da


pesquisa, nas bases de dados internacionais Web of Science e Scopus
Termos utilizados
“Amazônia Legal” and Agroecologia*
“Amazônia Legal” and Agroecologia* and Acre
“Amazônia Legal” and Agroecologia* and Amapá
“Amazônia Legal” and Agroecologia* and Amazonas
“Amazônia Legal” and Agroecologia* and Maranhão
“Amazônia Legal” and Agroecologia* and Mato Grosso
“Amazônia Legal” and Agroecologia* and Pará
“Amazônia Legal” and Agroecologia* and Rondônia
“Amazônia Legal” and Agroecologia* and Roraima
“Amazônia Legal” and Agroecologia* and Tocantins
“Legal Amazon” and Agroecology*
“Legal Amazon” and Agroecology* and Acre
“Legal Amazon” and Agroecology* and Amapá
“Legal Amazon” and Agroecology* and Amazonas
“Legal Amazon” and Agroecology* and Maranhão
“Legal Amazon” and Agroecology* and Mato Grosso
“Legal Amazon” and Agroecology* and Pará
“Legal Amazon” and Agroecology* and Rondônia
“Legal Amazon” and Agroecology* and Roraima
“Legal Amazon” and Agroecology* and Tocantins
Fonte: Elaborado pela Autora (2022).
*Possibilita o retorno de resultados com termos derivados das palavras-chaves

5.3 Resultados e Discussões

As primeiras informações a partir dos dados coletados dizem respeito à


produtividade científica sobre o tema agroecologia com estudos realizados nos Estados
que compõem a Amazônia Legal. Nessa etapa, foram encontrados um total de 138
53

publicações relacionadas ao termo utilizados nas buscas nas bases de dados Web of
Science e Scopus. Esse material passou pelo processo de seleção, onde foram analisados
através do: títulos, resumos e/ou corpo textual de cada artigo científico, restando 104
artigos, que passaram por leitura em profundidade e formaram o corpus da pesquisa com
33 publicações. Esses números mostram que ainda é muito baixo o número publicações
relacionados ao tema Agroecologia, no contexto da Amazônia Legal, especialmente,
quando se trata dados coletados em bases buscas internacionais.
No período estudado, percebeu-se que o ano de 2003 teve apenas 1 (um) artigo
científico publicado, conforme gráfico 1. Supõe-se que a quantidade de publicação, nessa
época, tenha ocorrido pelo fato da agroecologia ainda estar em processo de
desenvolvimento pelo país, ainda com incentivo governamental, o qual veio acontecer
nos anos seguintes. Segundo Bianchini (2015), foi nessa década que houve uma
aproximação do movimento agroecológico com o governo, o que permitiu um maior
diálogo entre os atores envolvidos no contexto, o que possibilitou ações e políticas
públicas que atendessem as demandas do setor.
Ainda sobre as produções científicas, dois momentos chamaram atenção, que
foram os períodos de 2004 a 2007 e 2012 a 2015, pois nesses intervalos não foram
registradas publicações, como mostra o gráfico 1. É difícil identificar o que causou esse
hiato nas duas ocasiões, mas a primeira quebra pode ter ocorrido pelo mesmo motivo da
baixa quantidade de publicação em 2003. Já no segundo intervalo, não há indícios do que
pode ter acontecido, pois a agroecologia estava no seu melhor momento no país.
De acordo com Trovatto et al. (2017), a instituição da Política Nacional de
Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), em 2012, foi um momento histórico e
relevante, em vários aspectos, para o movimento agroecológico. No período de 2013 a
2015, foi dado início ao Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
(PLANAPO), que buscou implementação de programas e ações incentivadoras da
transição agroecológica (Brasil, 2013). Portanto, a nível nacional a agroecologia estava
numa conjuntura muito favorável para as produções científicas, a partir das atividades de
apoio governamental.
Entre 2016 e 2018, houve o aumento na quantidade de artigos publicados, com: 2,
3 e 7 produções científicas, respectivamente, como mostra o gráfico 1. Isso não foi
surpreendente, pois como citado, anteriormente, o cenário nacional era conveniente à
novos estudos no tema. Já em 2019 (5) e 2020 (3) os números caíram (gráfico 1). Essa
54

queda pode estar ligada a diversos fatores, entre eles: o retrocesso nos processos de
institucionalização da agroecologia, após a mudança de governo e os cortes de recursos
na pesquisa, ciência e tecnologia. Além disso, o ano de 2020 foi marcado pelo início da
pandemia da Covid-19, que também pode ter afetado a execução das pesquisas.

Gráfico 1. Quantidade de artigos científicos sobre o tema agroecologia na Amazônia


Brasileira no período de 2003 a 2021
2021 7
2020 2
2019 5
2018 7
2017 3
2016 2
ANO DA PUBLICAÇÃO

2015 0
2014 0
2013 0
2012 0
2011 1
2010 2
2009 1
2008 2
2007 0
2006 0
2005 0
2004 0
2003 1
0 1 2 3 4 5 6 7 8
QUANTIDADE DE ARTIGOS

Fonte: Elaborado pela Autora (2022).

Foram analisadas a quantidade de publicações científicas para todos os Estado


componentes da Amazônia Legal. Portanto, nesse item, o Pará lidera o ranking de
produtividade com 16 artigos, como mostra o gráfico 2, ou seja, 48,4% de toda a produção
científica da região no tema agroecologia. Desses, 6 artigos foram publicados somente
em 2021. Foi encontrado, também, um artigo com pesquisa realizada em dois estados
sendo eles: Pará e Maranhão, reforçando a representatividade deste primeiro.
Na sequência, surgem os estados do Mato Grosso com 5 artigos e o Acre com 4
artigos, sendo 15% e 12%, respectivamente. O Amazonas teve 3 (9,09%) publicações,
Rondônia e Tocantins tiveram 2 produções cada um, que corresponde a 6,06%. Já o
Estado do Maranhão apresentou apenas 1 artigo, enquanto Amapá e Roraima não tiveram
nenhuma publicação científica, conforme mostra a gráfico 2.
55

Gráfico 2. Publicações sobre o tema agroecologia por estados da Amazônia brasileira.


18 16
QUANTIDADE DE PUBLICAÇÃO
16
14
12
10
8
6 5
4
4 3
2 2
2 1
0 0
0
Acre Amapá Amazonas Maranhão Mato Pará Roraima Rondônia Tocantins
Grosso
ESTADO DA AMAZÔNIA LEGAL

Fonte: Elaborado pela Autora (2022).

O estado do Pará foi o que apresentou uma maior quantidade de experiências


agroecológicas espalhadas por todo o estado. Com a implantação de políticas públicas
que promoviam a agroecologia, no cenário nacional, a partir de 2010 foi possível o acesso
de organizações públicas e de sociedade civil do Pará a tais políticas (Assis et al., 2019).
Esse contexto, pode ter contribuído para a execução de mais estudos no tema agroecologia
e que, consequentemente, geraram produções científicas sobre estado. Assim, pode-se
dizer que o Pará se tornou referência no campo científico da agroecologia na Amazônia
Brasileira.
Em relação aos pesquisadores, percebe-se no quadro 2. a diversidade de
Instituições e pesquisadores envolvidos, tanto do país quanto do exterior, o que confirma
que a pluralidade faz parte dos estudos que abordagem o tema. Para Caporal (2009), são
as redes de relações que favorecem o compartilhamento de elementos epistemológicos
que são importantes no desenvolvimento da agroecologia enquanto ciência. Nesse
aspecto, percebe-se a importância da consolidação das redes científicas geradas a partir
dos estudos relacionados
Na sequência foi realizada uma análise quanto aos autores e suas produções
científicas, onde notou-se que os pesquisadores com maior número de artigos são
vinculados a instituições nacionais e internacionais, no caso França e Canadá, conforme
mostra o quadro 2. Dois autores se destacaram por apresentarem 3 (três) publicações cada
um, sendo eles: Sebastião Elviro de Araújo Neto pesquisador vinculado à Universidade
Federal do Acre (UFAC) e o pesquisador Marc Piraux que está associado à Universidade
Federal do Pará (UFPA), mas já teve vínculo com a - Empresa Brasileira de Pesquisa
56

Agropecuária (EMBRAPA) e com a instituição francesa Investigação agrícola para o


desenvolvimento (CIRAD), que trabalha com pesquisa agronômica e de cooperação
internacional com foco no desenvolvimento sustentável em regiões tropicais e
mediterrâneas. O perfil dos demais pesquisadores identificados neste estudo estão
apresentados no quadro 2.

Quadro 2. Autores, quantidade de artigos, instituições e países dos estudos selecionados


para a pesquisa
Autor/Autora Artigos Instituição/Organização País
Sebastião Elviro de Araújo
3 Brasil
Neto 1 - Universidade Federal do Acre (UFAC)
1 - Universidade Federal do Pará (UFPA)
2 - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Marc Piraux 3 (EMBRAPA) Brasil e França
3 - Investigação agrícola para o desenvolvimento
(CIRAD)
1 - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA)
Nathalie Cialdella 2 Brasil e França
2 - Investigação agrícola para o desenvolvimento
(CIRAD)
1 - Universidade Federal Rural da Amazônia
Antonio Gabriel L. Resque 2 Brasil
(UFRA)
1 - Universidade Nacional de Brasília (UNB)
2 - Investigação agrícola para o desenvolvimento
Emilie Coudel 2 Brasil e França
(CIRAD)
3 - Universidade PaulVale ́ry
1 - Investigação agrícola para o desenvolvimento
Christophe Le Page 2 (CIRAD) França
2 - Universidade PaulVale ́ry
1 - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -
Osvaldo Ryohei Kato 2 Brasil
(EMBRAPA)
Regina Lúcia Félix Ferreira 2 2 - Universidade Federal do Acre - (UFAC) Brasil
Jacson Rondinelle da Silva 1 - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -
2 Brasil
Negreiros (EMBRAPA)
1- Universidade de Columbia/Instituto de recursos,
Hannah Wittman 2 ambiente e sustentabilidade Canadá
2 - Universidade Simon Fraser
Fonte: Elaborado pela autora (2022).

Torna-se interessante destacar a importância da EMBRAPA, uma instituição de


grande renome no país e que atua em pesquisas voltadas para agricultura e pecuária e tem
contribuído no processo de construção do conhecimento científico da agroecologia. De
acordo com EMBRAPA (2006), desde os anos 70, existem trabalhos relacionados à
transição agroecológicas e na década seguinte foi possível contribuir com o
fortalecimento institucional da temática. Nesse caminhar, em 2006, foi lançado o Marco
Referencial em Agroecologia, documento que trazia a agroecologia como novo
paradigma científico para o desenvolvimento rural e organização social.
57

Dessa forma, percebe-se nesse estudo que a EMBRAPA continua atuando em


pesquisas relacionadas a agroecologia, confirmando sua importância na construção de
conhecimento científico, a partir de produções a nível nacional e internacional. Para
Caporal (2009), a formação dessas redes de relações favorece o compartilhamento de
elementos epistemológicos que são importantes no desenvolvimento da agroecologia
enquanto ciência.
Quanto aos periódicos, foram identificadas publicações científicas distribuídas em
31 periódicos. Desse total 39, 3% são nacionais, 21,2% da Holanda, 12,1% da Inglaterra
e 9% dos Estado Unidos, os demais são de países da Europa e do Continente Americano.
As revistas com os maiores números de publicações, cada uma com 2 artigos, foram: a
Agroforestry Systems, da Editora holandesa Springer e a Revista Brasileira de Educação
do Campo (RBEC), uma publicação nacional do Departamento de Educação do Campo
da Universidade Federal do Tocantins (UFT), atualmente em processo de transição para
Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT).
A Agroforestry Systems publica resultados de pesquisas, de natureza fundamental
ou aplicada, sobre aspecto que envolva agrofloresta e que tem publicações desde a década
de 80. Na Plataforma Sucupira, espaço reservado para o acesso a classificação da
produção científica em periódicos, foi observado no Quadriênio 2017-2020 que a revista
possui Qualis A2. Já a Revista Brasileira de Educação do Campo trabalha com artigos
sobre temas relacionados à Educação do campo, desde 2016. Sua classificação científica,
na última avaliação da CAPES foi Qualis A4. Portanto, os dois periódicos apresentam
boa classificação, pois na escala de avaliação a maior classificação é Qualis A1.
Entre as produções científicas que formaram o corpus da pesquisa, foram
encontrados artigos com 3 (três) idiomas diferentes, sendo a Língua Inglesa predominante
(54,5%), seguida do Português (39%) e (6%) estavam na língua francesa. Observou-se,
também que do material coletado, quanto ao tipo de pesquisa, 30,3% das publicações
eram teóricas, enquanto 69,7% consistiam em artigos empíricos. Por fim, foram
analisadas as palavras-chave mais frequentes nos artigos coletados, identificadas a partir
do uso de nuvem de palavras.
De acordo com Surveygizmo (2012), nuvens de palavras são imagens exibidas
como uma ilustração à leitura pouco profunda e o tamanho dos termos mostra a frequência
com que esta foi citada. Para isso, as palavras em outros idiomas foram traduzidas, além
disso, foi realizada a aglutinação de termos semelhantes e/ou no plural. Optou-se por
58

analisar termos dos três estratos mais destacados. Assim, surge no primeiro estrato: Solo,
Agroecologia e Agricultura; no segundo estrato: Amazônia, Familiar e Preta; no terceiro
estrato: Alimentação, Pública, Análise, Educação e Agrofloresta, como mostra a figura 6.
Ao analisar tais palavras observar-se a grande relação entre elas. Com obviedade,
entre as palavras-chave com maiores frequências, duas estão relacionadas diretamente
aos termos utilizados nas buscas nas bases de dados - Agroecologia e Amazônia. Já os
termos Agricultura e familiar formam a representatividade da agroecologia enquanto a
prática e conhecimento tradicional, conforme figura 6. Esses elementos são pilares das
práticas agroecológicas (Picolotto, 2014). De acordo com Sousa (2022), na Amazônia, a
agricultura familiar possui enorme diversidade nos aspectos ambientais e sociais,
atribuída ao processo de povoamento da região, que a tornam uma extensa arena para
ações da agroecologia.
O termo solo, que também se destacou, surgiu a partir da união de palavras com o
mesmo significado sendo, nesse caso, a expressão “terra”. Que relação com o termo Preta,
pois trata-se da Terra preta de Índio. Esse tipo de solo tem sido bastante estudada e
segundo Kern e Kämpf (1989) e Kämpf e Kern (2005), são registros marcantes da
civilização antiga na Amazônia Legal. Além disso, é definido como um elemento
importante na busca pela sustentabilidade na produção agrícola dessa região. O termo
análise também está relacionado ao solo, no sentido de ser analisadas suas condições para
fins agrícolas, no contexto agroecológico.
Observa-se que as demais palavras, Alimentação, Pública, Educação e
Agrofloresta e demais, que não foram colocadas na discussão, representam a pluralidade
da agroecologia adquirido no seu processo de desenvolvimento do país. Percebe-se ainda,
que os termos presentes na nuvem de palavras representam a agroecologia no contexto
abordado no Brasil, ou seja, como ciência, prática e movimento social.
O termo Alimentação está intimamente relacionado à Segurança alimentar e
Nutricional figura 6. A agroecologia, de acordo com (Niederle et al., 2021) ganhou forte
aliado à sua promoção quando foi criada a Lei de Segurança alimentar e nutricional
(SAN), em 2006. Portanto, a frequência dessa palavra mostra a grande relação e
importância da Segurança alimentar e nutricional no processo de desenvolvimento da
agroecologia e que uma não caminha sem a outra.
Destacou-se, também, a palavra Política e no estrato seguinte o termo Pública, ou
seja, apesar de aparecerem em estratos diferentes, trata-se de Políticas Públicas, como
59

mostra a figura 6. Portanto, percebe-se um grande interesse da comunidade acadêmica


por este tema. Sabe-se que a partir dos anos 2000, a promoção da agroecologia por meio
de políticas públicas fez o país torna-se pioneiro a nível internacional (Sabourin et al.,
2019). Porém, tais políticas sofreram um processo de desmantelamento, além de
mudanças institucionais (Bauer; Knill, 2012; Niederle et al., 2021).

Figura 6. Nuvem de palavras a partir das palavras-chave dos artigos coletados nas bases
de dados Web of Science e Scopus

Fonte: Elaborado pela Autora (2022).

Após uma leitura profunda dos artigos selecionados, observou-se que as práticas
agroecológicas foram os temas mais abordados, nos estudos encontrados, Quadro 3.
Portanto, percebe-se que há muitas ações acontecendo nos estados da Amazônia Legal.
Entre tais práticas, a implantação de sistemas agroflorestais foi a mais encontrada. De
acordo com Felipe et al. (2023), os sistemas produtivos tradicionais/ancestrais foram os
primeiros sistemas agroflorestais e tinham como base a diversidade no cultivo, o manejo
e poda das árvores e arbustos em um esquema integrado ou de sucessão.
60

Outro assunto bastante citado e estudado foram as Políticas Públicas, citadas


principalmente nos mercados institucionais a partir dos Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de alimentação escolar (PNAE), ganharam
destaque, conforme Quadro 3. Tais programas foram ações que fortaleceram a agricultura
familiar e formaram um elo entre a política agrícola e as políticas sociais de garantia da
segurança alimentar e nutricional, além de contribuírem na diversificação dos sistemas
produtivos, ampliando a aplicação de princípios e práticas agroecológicas. No entanto,
são programas vistos como difíceis, por causo do seu processo burocrático (Beraldo,
2016; Niederle et al., 2019; Sabourin et al., 2019).

Quadro 3. Estados da Amazônia Legal e os temas mais abordados nas produções


científicas coletadas
ESTADO TEMAS ABORDADOS
- Produção agroecológica e aspectos etnosociais
Acre
- Soberania alimentar e transição agroecológica
Amapá Não foi encontrado estudo para este estado
- Agroecossistemas e manejo do solo
- Quintais agroflorestais
- Política cultural, Movimento dos sem-terra (MST) e transação
Pará agroecológica
- Políticas Públicas: Mercados institucionais - Programa de aquisição
de Alimentos (PAA).
- Educação superior e Educação do Campo.
- Agricultura familiar e Desenvolvimento territorial
- Políticas Públicas: Mercados institucionais - Programa de aquisição
de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de alimentação escolar
(PNAE)
Mato Grosso
- Agroecologia e agroextrativismo
- Mulheres e Território
- Insegurança alimentar e nutricional
- Práticas agroecológicas
Rondônia - Sistemas agroflorestais/agrofloresta
- Sistemas Agroflorestais/agrofloresta
Roraima
- Aptidão agrícola e uso da terra
Tocantins - Sistema agroflorestal/agrofloresta
Maranhão/Pará - Sistema agroflorestal/agrofloresta
Fonte: Elaborado pela Autora (2022).

Ao serem destacados os dados referentes ao estado do Tocantins, percebe-se um


número muito baixo de artigos científicos publicados. Foram encontradas apenas duas
produções, uma no ano de 2018 e outra em 2019. Os autores e autoras que executaram os
estudos representam 3 instituições do Tocantins e 1 do Estado de São Paulo. Um desses
estudos foi escrito em inglês e o outro em francês, conforme mostra a Quadro 4.
61

Uma das pesquisas abordou o tema Educação e a Agroecologia, onde autores


buscaram entender a percepção dos alunos de Engenharia Agronômica da Universidade
Estadual do Tocantins – Câmpus Palmas, em relação a agroecologia. O outro estudo foi
realizado na Região do Bico do Papagaio, em 4 municípios: Buriti, Esperantina, Axixá e
São Miguel. Teve como objetivo analisar o Programa de Desenvolvimento
Socioambiental da Produção Familiar Rural da Amazônia (PROAMBIENTE), onde
identificaram que o programa promoveu maior conscientização em relação ao controle
do uso do fogo, além de auxiliar no aumento da fruticultura e dos quintais agroflorestais.

Quadro 4. Estudos realizados no Estados do Tocantins relacionados ao tema


agroecologia
Título/Ano Autores Periódico/ Instituição Tema
Qualis abordado
Agronomic 1.Deyla Paula de Estação 1.Fundação de Educação e
Engineering students’ Oliveira Científica Amparo à Pesquisa do Agroecologia
perceptions about 2.Michele Ribeiro (UNIFAP) – Estado do Tocantins
agroecology: a case Ramos B1 (FAPT)
study at a public 3.Arison José 2.Universidade
University in Tocantins Pereira Estadual do Tocantins
(2018) (UNITINS)
3.Centro
Universitário
Luterano de Palmas
(CEULP/ULBRA)
PROAMBIENTE dans 1.Clara Soler Jacq Confins – A1 Universidade de São Política
la région du “Bico do 2.Neli Aparecida Paulo Pública e
Papagaio” – de Mello-Théry Agroecologia
contributions
principales (2019)

Fonte: Elaborado pela autora (2022).

Para Guzmán (2001) e Abreu et al. (2009), o diferencial da ciência agroecológica


para a convencional, está na necessidade de suscitar o conhecimento com diversas
características específicas e com isso permitir sucessiva propagação, diversidade e
reavaliação dos seus princípios, conceitos e/ou objeto de estudo.

5.4 Conclusão

O estudo propôs-se a analisar o campo científico da agroecologia na região da


Amazônia Legal, uma área de imensa importância ambiental, com um breve destaque
62

para o estado do Tocantins. Esse esforço possibilitou esquematizar a maneira como a


produção científica se apresenta no tema estudado.
De forma geral, percebe-se que, embora a quantidade de estudos sobre a
agroecologia na Amazônia Legal tenha aumentado nos últimos 5 anos, o número ainda é
baixo ao se considerar todo o período analisado. Para o Tocantins, esse número é
superbaixo, além disso, os estados do Amapá e Roraima não apresentaram dados. Essa
situação gera questionamentos sobre o processo de desenvolvimento da agroecologia
nesses estados e suas experiências.
A variação no número de artigos publicados, nesse intervalo, pode ter sido
influenciada por diversos eventos no contexto histórico do movimento agroecológico no
país, como: a institucionalização da agroecologia, que possibilitou maior promoção da
prática por todo o país a partir de década de 2000; a criação de ambientes nacionais de
divulgação científica, o que pode ter levado os pesquisadores e buscarem esses espaços
em detrimento aos periódicos vinculados às bases de dados internacionais; o
desmantelamento dos espaços governamentais e, consequentemente, das políticas
públicas e programas para o setor, além da a pandemia da Covid-19, que podem ter
afetado o número de artigos em 2019 e 2020.
A diversidade de instituições e pesquisadores que estudam a agroecologia na
Amazônia Legal confirma a pluralidade tão característica dessa área. É importante
ressaltar a presença da EMBRAPA, que desde os anos 70, tem contribuído no processo
de desenvolvimento do tema no país, como é o caso do Marco Referencial da
Agroecologia lançado em 2006.
Em relação ao Tocantins, já se sabe que nos espaços de divulgação científica
organizados pela Associação Brasileira de Agroecologia – A Revista Brasileira de
Agroecologia e a Revista Cadernos de Agroecologia, os números são bem diferentes. Tais
informações serão expostas no capítulo seguinte.
63

“É um erro considerar essas agriculturas


tradicionais e imutáveis, diferentes daquelas
praticadas nos países desenvolvidos. E seria
outro erro imaginar o desenvolvimento
agrícola como uma pura e simples
substituição dessas agriculturas pela única
reconhecidamente moderna.”
(Mozayer; Roudart, 2010)

6 CAPÍTULO 3 – A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO


AGROECOLÓGICO NO TOCANTINS A PARTIR DOS AMBIENTES
CIENTÍFICOS DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGROECOLOGIA1

RESUMO

Há décadas, o movimento agroecológico, tanto na teoria quanto na prática, tem se


desenvolvido no Brasil. Nesse processo, tem contribuído para a construção do
conhecimento agroecológico, que emerge da compreensão da falta de práticas
sustentáveis sob as perspectivas ambiental e social. Isso implica a necessidade de uma
mudança de conduta em direção à sustentabilidade. Nos anos 2000, quando o movimento
passou a dialogar mais intensamente com o Governo Federal, surgiram diversas ações
para promover a agroecologia. Entre essas, destaca-se a criação de espaços específicos
para divulgação científica relacionada à agroecologia. A Associação Brasileira de
Agroecologia, originada como um ambiente acadêmico-científico para valorizar a
agroecologia como ciência. A associação tem realizado discussões sobre a construção do
conhecimento agroecológico, com destaque para a educação. Nesse contexto,
reconhecendo a relevância dos ambientes científicos organizados pela Associação
Brasileira de Agroecologia, este estudo buscou compreender de forma concisa a produção
científica da agroecologia no estado do Tocantins, com base no material disponível nesses
espaços. Para isso, utilizou-se a Revisão Narrativa. Compreender como o processo de
Construção do Conhecimento Agroecológico se manifesta por meio da educação no
estado do Tocantins permitirá identificar onde e como essas ações e mudanças estão
ocorrendo e quem são os atores envolvidos. Essa compreensão pode auxiliar na
formulação de programas, instrumentos e políticas públicas, bem como no
estabelecimento de uma rede de colaborações em torno das questões agroecológicas.
Portanto, foi observada uma diferença significativa entre a produção científica do
Tocantins nos espaços de divulgação científica da ABA, em comparação com as bases de
dados internacionais mencionadas anteriormente. Além disso, notou-se a participação de
muitos instituições e organizações na elaboração dos estudos, abordando uma variedade
de temas. Essa estrutura propicia a criação de uma rede científica, que pode facilitar a
realização de novos estudos sobre agroecologia no estado.

Palavras-chave: Educação; Rede científica; Sustentabilidade.

1
Parte deste capítulo foi publicado em 28/07/2023. de Brito, S. C. D., Ertzogue, M. H., Beraldo, K. A., &
Silva, S. F. S. (2023). Educação e construção do conhecimento agroecológico no estado do Tocantins.
CONTRIBUCIONES A LAS CIENCIAS SOCIALES, 16(7), 7883–7897.
https://doi.org/10.55905/revconv.16n.7-219
64

6.1 Os espaços científicos da agroecologia no Brasil

Há décadas o movimento agroecológico na teoria e na prática tem se desenvolvido


no Brasil e nesse processo tem proporcionado a construção do conhecimento
agroecológico, que vem do entendimento da falta de práticas sustentáveis elaboradas sob
a perspectiva ambiental ou social. Isso leva a necessidade de uma conduta de mudança
no sentido da sustentabilidade (Barros; Araújo, 2016; Crispim; Santos, 2008; Cotrim e
Dal Soglio; 2016).
Nos anos 2000, quando o movimento passou a ter um maior diálogo com o
Governo Federal surgiram muitas ações de promoção da agroecologia, entre elas a criação
de espaços específicos para divulgações científicas relacionadas à agroecologia (Dal
Soglio, 2006).
A Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), que nasceu como
um ambiente acadêmico-científico de valorização da agroecologia como ciência,
percebeu a importância de fornecer espaço à sociedade científica com o objetivo de dar
reconhecimento acadêmico e estimular a relação desses profissionais com os movimentos
sociais e organizações. Com isso, a ABA-Agroecologia lançou uma revista, que se tornou
um espaço de discussão de forma acadêmica e social. Dal Soglio (2006), na primeira
edição da revista informava objetivo desta:
Pretendemos ser um veículo de informação e integração no campo da
Agroecologia, destinados a todos os pesquisadores, estudiosos e praticantes
que se dedicam à busca de formas sustentáveis de agricultura e ao
desenvolvimento rural sustentável (Dal Soglio, 2006, p. 1).

Assim, em 2006, é lançada a Revista Brasileira de Agroecologia (RBA) com ISSN


1980-9735: que trabalha com as categorias de artigos científicos e ensaios teóricos de
manuscritos, de notas agroecológicas (carta ao editor, carta de revisão e resumos de teses
e dissertações). Segundo Dal Soglio (2006) e Donazzolo et. al. (2020), esse ambiente
tornou-se a voz ativa da associação e recebeu o papel de vanguarda no reconhecimento
da pesquisa na Construção do Conhecimento Agroecológico.
A princípio o periódico publicava resumos aprovados nos Congressos Brasileiros
de Agroecologia, enquanto admitia e analisava artigos originais. Suas publicações são
trimestrais, avaliadas por 20 (vinte) áreas do conhecimento científico. Os manuscritos
publicados podem ser escritos em três idiomas: português, inglês e espanhol e passam por
65

processo de avaliação por pares, ou seja, análise de dois consultores ad hoc para avaliação
cega (ABA-Agroecologia, 2018).
As publicações são de acesso gratuito à sociedade, o que auxilia na divulgação do
das produções científicas no tema agroecologia. Porém, apesar de possui vários
indexadores, conforme figura 7, sua difusão ainda é limitada, pois não está nas bases de
dados internacionais (ABA-Agroecologia, 2018; Donazzolo et al., 2019; Moura, 2017;
Soglio, 2006; Sousa, 2022)

Figura 7. Indexadores da Revista Brasileira de Agroecologia

Fonte: ABA-Agroecologia (2022).

Porém, em 2022, a Revista que em seu estatuto traz a agroecologia como uma
ciência que atua em diversas áreas do conhecimento na transdisciplinaridade e de forma
sistêmica, por vários anos foi avaliada com Qualis B2 na área Interdisciplinar, sua
prioridade, mas, após lançada a avaliação do último Qualis Periódicos (2017-2020), ela
teve sua classificação rebaixada para Qualis B4. Segundo Soglio e Donazzolo (2023),
sem consultar os periódicos a CAPES decidiu por qual área estes seriam avaliados, e a
RBA foi avaliada pela Ciências Agrárias. Porém, em tal área do conhecimento a revista
sempre teve a avaliação B4, pois não está na preferência dos Programas de Pós-
Graduação dessa área.
Além da Revista Brasileira de Agroecologia, a ABA-Agroecologia é responsável
pela organização dos Congressos Brasileiros de Agroecologia (CBA), que acontecem a
cada dois anos, e outros eventos na área. Os resumos, que são apresentados e debatidos
nesses eventos, vão para os anais publicados na Revista Cadernos de Agroecologia. A
revista com ISSN 2236-7934, tem como objetivo dar visibilidade a Construção do
Conhecimento Agroecológico, a partir da comunicação existente entre o saber técnico-
científico e o popular (ABA-Agroecologia, 2018). Para Caporal e Costabeber (2002),
estes ambientes trazem discussões e experiências que tem como principais atores os
agricultores agroecológicos.
Quanto aos conflitos sobre a avaliação pelo novo Qualis Periódicos CAPES, de
acordo com (Dal Soglio e Donazzolo, 2023), percebe-se as divergências nos critérios de
definição da área escolhida para avaliação dos periódicos, pois a Revista Cadernos de
66

Agroecologia foi avaliada com Qualis B1 para área Interdisciplinar, o que causou
estranheza, pois se trata de publicações de resumos expandidos.
De acordo com Aguiar (2016), a Associação Brasileira de Agroecologia tem
debatido sobre a construção do conhecimento agroecológico, onde a educação vem tendo
destaque. Sobre essa relação Educação e Construção do Conhecimento Agroecológico,
Aguiar (2016) afirma que,
Algumas experiências no campo das chamadas agriculturas alternativas, foram
o embrião para a constituição de processos de ensino-aprendizagem dedicados
a uma educação voltada para a sustentabilidade, e vêm sendo consolidadas
através de ações pontuais de educadores ou estudantes, mas também através de
ações coletivas que articularam iniciativas voltadas para o ensino, a pesquisa e
a extensão. Entendemos que estas são iniciativas que configuram o que
estamos chamando de uma Educação em Agroecologia (Aguiar, 2016, p.3).

Nesse contexto, entendendo a importância dos ambientes científicos organizados


pela Associação Brasileira de Agroecologia, buscou-se compreender de forma breve a
produção científica da agroecologia no Tocantins, a partir do material disponível nesses
espaços. Com o conteúdo encontrado e utilizando-se o método de Revisão Narrativa, foi
dado foco na análise da Construção do Conhecimento Agroecológico com base no eixo
Educação e Construção do Conhecimento Agroecológico, inspirada nas categorias
definidas para a sistematização de experiências da Plataforma Agroecologia em Rede
(AeR). Essa plataforma reúne diversas experiências brasileiras e se tornou um dos
principais locais de consonância e comunicação política e metodológica entre as mais
diversas iniciativas populares em andamento pelo Brasil e América Latina (AeR, 2023).
Ter a compreensão de como se apresenta o processo de Construção do
Conhecimento Agroecológico a partir educação, no estado do Tocantins, mostrará onde
e como essas ações e mudanças tem acontecido e quem são os atores envolvidos.
Conhecer esse cenário pode auxiliar na criação de programas, instrumentos e políticas
públicas, além de uma rede de relações ao redor das questões agroecológicas.

6.2 Procedimento metodológicos

Para conseguir alcançar as informações desejadas, foi realizada uma a Revisão


Narrativa com análise da produção científica no estado do Tocantins, a partir do material
encontrado na Revista Brasileira de Agroecologia (RBA) e na Revista Cadernos de
Agroecologia (RCA). A pesquisa foi realizada no período de 30 de janeiro de 2022 a 05
67

de fevereiro de 2022. Não foi definido um recorte temporal, optou-se por trabalhar com
todo o material disponível.
De acordo com Rother (2007), a revisão narrativa é uma abordagem qualitativa,
que se constitui numa investigação crítica de bibliografia publicada em livros, revistas
eletrônicas ou em papel. Essa técnica pode auxiliar na educação contínua, de um
determinado tema, ao fornecer conhecimento atualizado.
Após identificar os artigos referentes a categoria Educação e Construção do
Conhecimento Agroecológico, uma das categorias definidas para a sistematização de
experiências da Plataforma Agroecologia em Rede (AeR), foi realizada a leitura em
profundidade para melhor análise dos documentos.

6.3 Resultados e Discussões

No primeiro momento, nota-se a diferença entre o quantitativo da produção


científica do Tocantins, com base nos espaços de divulgação científica da ABA e a partir
das bases de dados internacionais do capítulo anterior. O resultado foi bastante expressivo
nos ambientes da ABA, como mostra o gráfico 3.
Assim, foram encontrados um total de 39 publicações, entre artigos científicos,
resumos e relatos de experiência. Os números tiveram um perceptível crescimento, apesar
da falta de produção em alguns anos. Com isso, foram encontradas para o ano de 2006 (1
publicação), 2007 (3), 2009 (8), 2012 (1), 2013 (1), 2018 (13), 2020 (13), conforme
gráfico 3.
Gráfico 3. Quantidade de artigos publicados por ano na RBA e RCA de estudos
realizados no Tocantins.
0
2020 13
0
ANO DA PUBLICAÇÃO

2018 13
0
2016 0
0
2014 0
1
2012 1
0
2010 0
7
2008 0
3
2006 1
0 2 4 6 8 10 12 14
ARTIGOS

Fonte: Elaborado pela autora (2022).


68

Como já foi citado, a partir da década de 2000, o movimento agroecológico tem


maior aproximação do poder público, o que culminou na criação da Política Nacional de
Agroecologia (PNAPO), em 2012, e gerou programas e ações importantes de promoção
da agroecologia no país. Pode-se dizer que os dois anos com maior quantidade de
publicações (2018 e 2020) foram frutos do amadurecimento desse processo.
De acordo com Brasil (2013), era o Plano Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica (PLANAPO), que teve seu primeiro ciclo realizado em 2013-2015 e o segundo
2016-2019, tinha como missão colocar em prática as ações e programas instituídos na
PNAPO e que estimulavam a transição agroecológica.
Observa-se no material coletado (quadro 5), que a agroecologia no Tocantins, traz
a representação da abordagem do tema no país, como ciência, prática e movimento social.
Nesse enfoque Wezel et al. (2009) afirma que,
Como ciência, a Agroecologia é multidisciplinar, aportando as bases do novo
paradigma científico. Tem no agroecossistema e na experiência desenvolvida
pelos povos do campo sua unidade de análise. Como prática, a Agroecologia
resgata e ressignifica práticas tradicionais de manejo dos agrossistemas,
ambientalmente sustentáveis, com uso de recursos locais, o que permite a
inclusão social das famílias do campo e promove sua autonomia. Como
movimento, a Agroecologia suscita discussões sobre os modelos de
desenvolvimento do campo e seus impactos ambientais, sociais, culturais,
políticos e econômicos, afirmando-se como um modelo de agricultura e de
sociedade que tem na Educação do Campo seu esteio (Wezel et al., 2009, p.9).

A partir dos resultados se observou o número de instituições e organizações


presentes na elaboração dos estudos, além da variedade de assuntos abordados, conforme
demonstra o quadro 4. Essa estrutura propicia a criação de uma rede científica, o que pode
auxiliar em novos estudos sobre a agroecologia no estado. Entre as instituições estão
presentes as Universidades Federais e particulares, a EMBRAPA, Institutos Federais,
Escola Família Agrícola, além de Organizações não-governamentais e Associações.
Para Silva (2002) o mundo se transformou em uma enorme rede e, nesse sentido,
a ciência para ser desenvolvida depende das associações que surgem em diferentes
aspectos: social, técnico e financeiro. Dessa forma, as redes científicas, que são abertas e
possuem agilidade, possibilitam a união entre diversos atores, admitem mudanças e
reorganização de acordo com a necessidade.
A partir do material coletado, e utilizando-se do método de Revisão Narrativa, foi
dado foco na análise da Construção do Conhecimento Agroecológico, com base no eixo
Educação e Construção do Conhecimento Agroecológico, inspirada nas categorias
69

definidas para a sistematização de experiências da Plataforma Agroecologia em Rede


(AeR). Assim, foram identificadas 12 publicações relacionadas a categoria: Educação e
Construção do Conhecimento Agroecológico e que passaram por leitura em
profundidade, como mostra o quadro 5.
Entre as entidades envolvidas nos estudos estão: Escola Família Agrícola (EFA),
Universidade Federal do Tocantins (UFT), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Centro
Universitário Luterano de Palmas/Universidade Luterana do Brasil (CEULP/ULBRA),
Associação Companhia Os Kaco (Circo Os Kaco). Também foram identificadas as
instituições/organizações de fora do estado: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Universidade de
Brasília (UNB), Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Universidade Federal do
Mato Grosso (UFMT), Empresa de Pesquisa Agropecuária (PESAGRO), conforme
mostra a quadro 5.
Nas publicações analisadas, observou-se grande participação de instituições de
ensino Municipal, Estadual, Federal e particulares, de níveis técnico e superior.
Verificou-se ainda a presença de associações e organizações não-governamentais. Quanto
aos departamentos, constatou-se a diversidade de áreas envolvidas nos estudos (quadro
5), algo muito comum na agroecologia. Segundo Wezel et al. (2009), a agroecologia é
abordada no Brasil como ciência, prática e movimento, apresentando-se, no campo
científico de forma multidisciplinar. Para Mattos et al. (2022), no processo evolutivo
desse tema agroecologia, houve um afastamento do modo engessado vindo de um perfil
disciplinar e linear, em busca de conexão com tópicos de diferentes áreas do
conhecimento.
Ainda sobre as instituições localizadas no estado, é importante ressaltar a atuação
da Escola Família Agrícola (EFA) (quadro 5). Dentre as unidades no Tocantins duas se
destacam e estão localizadas nos municípios de Esperantina e em Porto Nacional. De
acordo com Pereira e Rostas (2023) e Cordeiro et al. (2011), as EFAs surgiram no Brasil
em 1960, utilizando a Pedagogia da Alternância, em que o aluno passa um período
integral na escola e outro na sua propriedade, aplicando o conteúdo estudado. São
entidades de ensino estabelecidas no campo, focadas no jovem camponês, com a
finalidade de reduzir o êxodo rural.
70

Quadro 5. Título do artigo, ano e instituição dos artigos publicados na RBA e RCA
sobre agroecologia no Tocantins
Título Ano Instituição
1 Avaliação do envolvimento de docentes 2006 Universidade de Gurupi (UNIRG)
de escolas situadas em áreas de influência
de córregos em atividades ambientais
educativas
2 Agroecologia no Projeto Rondon – 2007 Universidade Federal Rural do Rio de
Amazônia Oriental, Esperantina Janeiro (UFRRJ)
(Tocantins)
3 Produção de fitomassa, acúmulo de 2007 Escola de Canuanã – Fundação
nutrientes e decomposição de resíduos de Bradesco
leguminosas em solo de várzea do Estado
do Tocantins, Brasil
4 Sensibilização agroflorestal na reserva 2007 Empresa Brasileira de Pesquisa
indígena Krahô: O Relato de uma Agropecuária - EMBRAPA
experiência Transferência de Tecnologia;
Universidade de Brasília (UNB)
5 Plantas visitadas por abelhas 2009 Universidade Federal do Tocantins
africanizadas na Região Sul do Tocantins (UFT)
6 Indicadores de sustentabilidade como 2009 Universidade Estadual do Tocantins
instrumento de avaliação da qualidade de (UNITINS);
vida e das condições para viver do Universidade Federal de Santa Catarina
Reassentamento Mariana (UFSC)
7 Identificação de mudanças no padrão 2009 Universidade Federal do Tocantins
alimentar das famílias do Reassentamento (UFT)
Rural Piabanha I, São Salvador do
Tocantins
8 Desenvolvimento de plântulas de sorgo 2009 Universidade Federal de Tocantins
cultivadas sob elevadas concentrações de (UFT)
adubação orgânica no sulco de plantio
9 Caracterização do Sistema de Produção 2009 Universidade Federal do Tocantins
das Famílias do Reassentamento Rural (UFT)
Piabanha I, São Salvador do Tocantins-
TO
10 Análise da renda familiar no 2009 Universidade Federal do Tocantins
reassentamento Piabanha II – São (UFT)
Salvador do Tocantins
11 Alterações no sistema de produção de 2009 Universidade Federal do Tocantins
famílias afetadas por empreendimento (UFT)
hidrelétrico: caso do Reassentamento
Rural Buriti - Piabanha, São Salvador do
Tocantins – TO – Brasil
12 Desenvolvimento de leguminosas 2012 Universidade do Goiás (UFG) - Escola
herbáceas perenes, semeadas na época das de Agronomia;
águas no sul do Tocantins Agrotécnica Casa de Projetos;
Universidade do Espírito Santo (UFES)
- Centro de Ciências Agrárias;
Universidade Federal do Tocantins
(UFT);
Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ)
13 Avaliação da diversidade de plantas 2013 Universidade Estadual Paulista
espontâneas e a densidade de ácaros (UNESP);
predadores em cultivo de pinhão-manso Universidade Federal do Pará (UFPA);
Universidade Federal do Tocantins
(UFT);
71

Título Ano Instituição


Universidade Federal Rural da
Amazônia (UFRA)
14 Arquitetura vernacular e sustentável: 2018 Centro Universitário Luterano de
moradias no Distrito Taquaruçu, em Palmas (CEULP/ULBRA)/Núcleo de
Palmas -TO Estudo em Agroecologia Unitas
Agroecológica
15 Feira Agroecológica na Universidade 2018 Universidade Federal do Tocantins
Federal do Tocantins (UFT)/Núcleo de estudos em
Agroecologia e desenvolvimento
sustentável (NEADS)
16 Caminhos para construção do 2018 Universidade Federal do Tocantins
conhecimento agroecológico no Estado (UFT)/Núcleo de estudos em
do Tocantins Agroecologia e desenvolvimento
sustentável (NEADS)
17 Implantação de sistema agroflorestal: 2018 Centro Universitário Luterano de
uma representação da agrobiodiversidade Palmas – (CEULP/ULBRA)/Núcleo de
em Palmas, Tocantins Estudo em Agroecologia Unitas
Agroecológica
18 Grupos ecológicos da macrofauna do solo 2018 Instituto Federal de Educação, Ciência e
em diferentes cultivos agrícolas na Tecnologia do Tocantins (IFTO);
Região Sudeste do Tocantins Universidade Federal Rural da
Amazônia (UFRA)
19 Experiência agroecológica na educação 2018 Escola Família Agrícola de Porto
do campo Nacional (EFA) Porto Nacional
20 Memória e tradições: acervo simbólico de 2018 Centro Universitário Luterano de
reassentados do Flor da Serra-TO Palmas – (CEULP/ULBRA)/Núcleo de
Estudo em Agroecologia Unitas
Agroecológica
21 Os quintais agroflorestais do 2018 Centro Universitário Luterano de
Reassentamento Mariana, Tocantins: Palmas – (CEULP/ULBRA)/Núcleo de
garantia da segurança alimentar e Estudo em Agroecologia Unitas
manutenção da biodiversidade Agroecológica
22 Projeto Extratus do Cerrado Lajeado 2018 Associação dos Agricultores e
Agricultoras Familiares da Comunidade
Quilombola de Lajeado União
23 Uso de manipueira no controle de formiga 2018 Instituto Federal de Educação, Ciência e
cortadeira Tecnologia do Tocantins (IFTO);
Universidade Federal do Maranhão
(UFMA)
24 Trichoderma ssp. como promotor de 2018 Universidade Federal do Tocantins
crescimento na fase inicial de mudas de (UFT)
Carica papaya L
25 Sistematização da produção de azeite de 2018 Alternativas para a Pequena Agricultura
babaçu no Bico do Papagaio – Tocantins no Tocantins (APA-TO);
Movimento Interestadual das
Quebradeiras de Coco Babaçu
(MIQCB)
26 Sistematização Unitas Agroecológica: 2018 Centro Universitário Luterano de
vivências, cooperação e práxis no Cerrado Palmas – (CEULP/ULBRA)/Núcleo de
Tocantinense Estudo em Agroecologia Unitas
Agroecológica;
Universidade Federal do Mato Grosso
(UFMT)
27 Vivências do 4° Encontro Tocantinense de 2020 Universidade Federal do Tocantins
Agroecologia no Reassentamento (UFT)/Núcleo de estudos em
Córrego do Prata, Porto Nacional - TO Agroecologia e desenvolvimento
sustentável (NEADS)
72

Título Ano Instituição


28 Produção e Caracterização morfológica 2020 Universidade Federal do Tocantins
de Mudas de Anadenanthera peregrina (UFT);
(L.) Speg. em Diferentes Tipos de Universidade Federal do Paraná
Substratos (UFPR);
Universidade de Brasília (UNB)
29 Os desafios da agroecologia e da 2020 Universidade Federal Rural do Rio de
agricultura orgânica no compartilhamento Janeiro (UFRRJ);
de conhecimento e na comercialização de Empresa de Pesquisa Agropecuária do
produtos no estado do Tocantins Estado do Rio de Janeiro (PESAGRO-
RIO)
30 Implantação e manejo de sistemas 2020 Universidade Federal do Tocantins
agroflorestais na promoção da (UFT)/Núcleo de estudos em
agroecologia no Festival de Circo de Agroecologia e desenvolvimento
Taquaruçu. sustentável (NEADS);
Centro Cultural Circo os Kaco
31 Espécies Nativas do Cerrado com 2020 Centro Universitário Luterano de
Atividade Antimicrobiana de uso na Palmas – (CEULP/ULBRA)/Núcleo de
Medicina Popular Estudo em Agroecologia Unitas
Agroecológica
32 CSA um mercado alternativo para 2020 Universidade Federal do Tocantins
produção agroecológica no Distrito de (UFT)/Núcleo de estudos em
Taquaruçu Palmas, Tocantins Agroecologia e desenvolvimento
sustentável – (NEADS);
Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA)
33 Agroecologia e ecologia dos saberes: a 2020 Universidade Federal do Tocantins
descrição de uma experiência de (UFT)/Núcleo de Pesquisa e Extensão
formação a partir da parceria entre em Saberes e Práticas Agroecológicas
comunidades quilombolas e universidade (NEUZA)
34 Agroecologia e agroturismo na 2020 Universidade Federal do Tocantins
comunidade de Taquaruçu, Palmas, (UFT)/Núcleo de estudos em
Tocantins Agroecologia e desenvolvimento
sustentável (NEADS)
35 A proposta pedagógica da ETI Fidêncio 2020 Universidade Federal do Tocantins
Bogo e suas convergências com a política (UFT)/Núcleo de estudos em
nacional de agroecologia e produção Agroecologia e desenvolvimento
orgânica (PNAPO) sustentável (NEADS)
36 A percepção dos discentes do curso de 2020 Universidade Federal do Tocantins
Engenharia Ambiental da UFT –Campus (UFT)/Núcleo de estudos em
de Palmas sobre questões ambientais e Agroecologia e desenvolvimento
agroecologia sustentável (NEADS)
37 A importância da avifauna no controle de 2020 Centro Universitário Luterano de
pragas em cultivos agroecológicos Palmas (CEULP/ULBRA)/Núcleo de
Estudo em Agroecologia Unitas
Agroecológica
38 Desenvolvimento inicial de Euterpe 2020 Universidade Federal do Paraná
oleraceaMart. (Açaí) sob estresse hídrico, (UFPR);
Gurupi-TO Universidade de Brasília (UNB);
Universidade Federal do Tocantins
(UFT)
39 Análise de diferentes doses de pó de rocha 2020 Universidade Federal do Tocantins
Quartzo-Feldspática na produção de (UFT);
mudas de Cedrela fissilis Vell. Universidade Federal do Paraná
(UFPR);
Universidade de Brasília (UNB)
Fonte: Elaborado pela autora (2023).
73

A EFA Porto Nacional foi criada em 1994, com um diferencial no ensino por meio
do uso do método Paulo Freire - Pedagogia da Libertação – somado à pedagogia da
alternância (Muta, 2004). Em 2015, a partir do Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária (PRONERA), um programa de democratização da educação no campo
mediante formação técnica-profissional direcionada ao desenvolvimento sustentável, foi
criado o curso Técnico em Agroecologia Integrado ao Ensino Médio (Bezerra et al.,
2017). Devido ao perfil da instituição e seu importante histórico no país e no estado, é
interessas notar o direcionado de parte de suas atividades de formação para o
conhecimento agroecológico, na busca por um desenvolvimento local mais sustentável,
apesar de estarem localizadas num dos estados que mais incentivam as atividades do
agronegócio.
Os Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEAs), identificados na coleta de dados
(quadro 5), fazem parte de projetos atuantes na agroecologia integrando ações de
extensão, pesquisa e ensino na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica, além de Instituições Públicas Estaduais de Educação Profissional e
Universidade privadas. A implementação dos NEAs permitiu a criação de espaços que
auxiliam na projeção de sistemas agroalimentares com base em princípios
agroecológicos. Porém, em 2016, houve uma mudança no cenário político que causou o
desmantelamento de políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, mesmo assim
os núcleos se mantiveram resilientes (Borsatto et al., 2022).
Torna-se importante destacar a atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária – EMBRAPA (quadro 5), órgão que teve grande importância no processo
evolutivo do conhecimento da agroecologia no país. De acordo com Santos e Dias (2014),
em 2006 a instituição lançou o Marco Referencial em Agroecologia, trazendo o indicativo
de que o processo de construção do conhecimento agroecológico tem base no diálogo e
participação de agricultoras e agricultores. Após a criação da Política Nacional de
Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), a entidade tem se empenhado em cumprir
com as dezessetes ações, presentes na política e que são de sua competência.
As produções tiveram como área de estudo diversas localidades nas regiões
central, norte e sul do estado, sendo esses municípios: a capital Palmas, Gurupi,
Esperantina, Itacajá, Porto Nacional e Araguaína. Além disso, foram encontrados
trabalhos que contemplavam todo o estado, como mostra o quadro 6.
74

Quadro 6. Instituições, departamento/unidades identificadas nas publicações


relacionadas à categoria Educação e Construção do Conhecimento Agroecológico no
Tocantins
Instituição Departamento/unidade
Universidade Federal Rural do Rio de Programa de Pós-graduação em Agricultura orgânica
Janeiro (UFRRJ) Curso de graduação em Agronomia
Programa de Pós-graduação em Agronomia
Programa de Pós-graduação em Fitotecnia
Curso de graduação em Agricultura Orgânica
Empresa Brasileira de Pesquisa Transferência de Tecnologia
Agropecuária (EMBRAPA)
Universidade de Brasília (UNB) Universidade de Brasília
Escola Família Agrícola (EFA) Porto Nacional
Universidade Federal do Tocantins Núcleo de Pesquisa e Extensão em Saberes e Práticas
(UFT) Agroecológicas (NEUZA)*
Núcleo de estudos em agroecologia e desenvolvimento
sustentável (NEADS)
Programa de Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas
Universidade Estadual de Santa Cruz Não informado
(UESC)
Comissão Pastoral da Terra (CPT) Araguaína
Centro Universitário Luterano de Núcleo de Estudos em Agroecologia Unitas Agroecológica
Palmas/Universidade Luterana do
Brasil (CEULP/ULBRA)
Universidade Federal do Mato Grosso Programa de Pós-graduação em Direito Agroambiental
(UFMT)
Empresa de Pesquisa Agropecuária Rio de Janeiro
(PESAGRO)
Circo Os Kaco Associação Companhia Os Kaco - Tocantins
Fonte: Brito et al. (2023).
*Atualmente o Núcleo de Pesquisa e Extensão em Saberes e Práticas Agroecológicas (NEUZA) está
vinculada à Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT).

Em 2007, foi publicado o trabalho “Agroecologia no Projeto Rondon – Amazônia


Oriental, Esperantina (Tocantins)” (quadro 6), realizado no município de Esperantina,
analisou ações relacionadas pelo projeto. Coordenado pelo Ministério da Defesa, o
programa tinha o objetivo de integralizar universitário às atividades com foco no
desenvolvimento local sustentável e de fortalecimento da cidadania. Nesse caso, foram
observadas práticas locais de base agroecológicos que, em sua maioria se apresentaram
na estrutura de Sistemas Agroflorestais - SAF, o que indicou um avanço em direção ao
desenvolvimento sustentável do local.
Possivelmente, o modo produtivo tradicional foram os primeiros sistemas
agroflorestais. Esses modelos, são adaptáveis as variações ambientais, a partir do uso de
cultivos biodiversos e manejo e manutenção de árvores e arbustos. Na Amazônia, essa
prática vem de anos e tem grande importância na geração de alimentos e matérias-primas.
No processo evolutivo, sua constituição tem sido afetada pelas possibilidades de mercado,
além de políticas públicas e atualizações (Felipe et al., 2023; Neves, 2021).
75

Com o título “Sensibilização agroflorestal na Reserva Indígena Krahô: O relato


de uma experiência” , divulgado em 2007 (quadro 6), foi realizado um trabalho no
município de Itacajá junto à população Indígena do local. O objetivo era sensibilizá-los,
por meio de metodologias participativas, quanto ao uso de técnicas produtivas com base
agroecológicas como: sistemas agroflorestais e recuperação de sementes tradicionais. Até
aquele momento, o modo de produção da etnia baseava-se no corte e queima da mata com
plantio aproveitando as cinzas. O estudo identificou que esse formato causava desordem
no sistema tradicional de cultivo, além do desgaste do solo e a fome sazonal. Assim,
apesar de observadas mudanças nos sistemas de alguns dos participantes do processo
educativo, houve certa resistência no início, mas posterior disseminação da técnica para
o restante da Reserva.
Ainda que o modo de produção, apresentado na Reserva Indígena, cause alguns
impactos negativos ao povoado, é compreensível o sentimento de recusa no início da
ação. De acordo com Vasconcelos et al. (2023), a base da conexão dos povos indígenas
com os componentes dos ecossistemas naturais acontece através do respeito e sentimento
de pertencimento.
No município de Porto Nacional um estudo realizado sobre a Escola Família
Agrícola, publicado em 2018 com o título “Experiência agroecológica na educação do
campo” (quadro 6), trouxe detalhes sobre a formação através do Curso Técnico em
Agroecologia Integrado ao ensino médio. Em seus resultados, foi dado destaque ao maior
entendimento e respeito dos estudantes quanto a sua relação com o meio ambiente, ao
executar práticas agroecológicas em suas propriedades. Além disso, foi identificado um
aumento na renda familiar após a aplicações das técnicas aprendidas na escola.
A agroecologia em qualquer que seja o eixo abordado – ciência, prática ou
movimento – se apresenta como um campo interdisciplinar que cria vínculo entre os
atores envolvidos. As EFAs, em sua metodologia, executam ações que, ao olhar dos
alunos, a escola, a circunvizinhança e sua própria terra tornam-se ambientes viáveis a
práticas agroecológicas que envolvem o saber local e familiar (Medeiros et al., 2018;
Fávero; Pacheco, 2013; Carvalho; Reis, 2009).
A publicação “Agroecologia e ecologia dos saberes: a descrição de uma
experiência de formação a partir da parceria entre comunidades quilombolas e
universidade”, realizada em Araguaína e divulgado em 2020 (quadro 6), traz uma ação
de formação junto à Comunidade Quilombola Grotão. A atividade, que foi um
76

experimento piloto, aconteceu com base na pedagogia da descolonização de Paulo Freire,


de 1983, através de momentos de socialização entre acadêmicos e habitantes do povoado.
As dinâmicas forma pensadas de forma a atender as características desse grupo.
Para Saraiva e Andrade (2021), destacam a importância de oficinas e eventos junto
a comunidades quilombolas tocantinenses que abordem a temática agroecologia. As
noções vindas dessas ações auxiliam nas possibilidades de acesso a novas tecnologias e
manejos nas práticas, com isso a segurança alimentar, subsistência e a resistência das
comunidades serão prezadas.
Para o município de Palmas, a capital do estado, vários estudos foram
identificados. Dois deles, publicados em 2020 (quadro 6), “Sistema agroflorestal em área
urbana em Palmas, Tocantins: Caracterização florística, implantação e manejo” e
“Implantação e manejo de sistemas agroflorestais na promoção da agroecologia no
Festival de Circo de Taquaruçu” trabalharam o processo de educação e construção do
conhecimento agroecológico através da implantação de sistemas agroflorestais.
O primeiro estudo, realizado em uma universidade particular, possibilitou a
integração do sistema com a comunidade acadêmica e permitiu a disseminação da
consciência ambiental em todos os aspectos que envolvem essa prática agroecológica. Já
o segundo trabalho, ocorreu durante um festival artístico circense e promoveu a difusão
da agroecologia à artista de diversos lugares do país e do mundo, além da população local.
Entre os participantes estavam adultos e crianças. As duas atividades executaram o plantio
do sistema em modo mutirão agroflorestal.
Modo antigo e tradicional de organização para a realização de trabalhos, de forma
coletiva. Em algumas comunidades funcionando como um auxílio mútuo e solidário. No
caso dos mutirões agroflorestais, tais atividades se tornam ambientes ricos no processo
de construção do conhecimento de maneira participativa, através da troca de saberes. Esse
modelo de trabalho desenvolve o sentimento de pertencimento e de corresponsabilidade
pelo andamento da ação (Canuto, 2017).
Outros dois estudos, executados na capital, aconteceram em instituições de ensino,
sendo: uma universidade federal e outra em escola municipal de ensino infantil e
fundamental de tempo integral, todos publicados em 2020. Na instituição de ensino
superior, o trabalho avaliou a percepção de alunos do curso de Engenharia Ambiental
sobre questões relacionadas ao meio ambiente e a agroecologia. Foi identificada a ciência
dos discentes quantos aos temas abordados, porém revelou a necessidade de
77

aprofundamentos que vão além de técnicas de produção de alimentos. No educandário, a


proposta pedagógica passou por análise quanto a sua conformidade com a Política
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO). Nesse sentido, foram
confirmadas as convergências, pois o processo educativo agrega disciplinas do currículo
comum e de um currículo diferenciado com abordagens nos princípios da agroecologia,
que reconhece e fortalece o protagonismo da juventude rural.
Envolver jovens e crianças, do campo e da cidade, em atividades que direcionem
à conscientização de problemáticas ambientais agroecológicas promoverão ações futuras
mais sustentáveis. Para Costa e Sguarezi (2023), a agroecologia apresenta-se como a
melhor indicação permitindo uma visão diferenciada do mundo, a partir de uma formação
mais estruturada com práticas que coaduna princípios essenciais do indivíduo.
A nível estadual quatro trabalhos foram executados: 1 - “Caminhos para
construção do conhecimento agroecológico no estado do Tocantins” (2018); 2 -
“Sistematização Unitas Agroecológica: vivências, cooperação e práxis no Cerrado
Tocantinense” (2018); 3 - “Vivências do 4° Encontro Tocantinense de Agroecologia no
Reassentamento Córrego do Prata, Porto Nacional – TO” (2020); e 4 - “Os desafios da
agroecologia e da agricultura orgânica no compartilhamento de conhecimento e na
comercialização de produtos no estado do Tocantins” (quadro 6) (2020).
Observou-se que todos os estudos possuem um foco bem direcionado ao processo
de construção do conhecimento da agroecologia. O 1º trabalho traz a experiência de um
Núcleo de Estudos em Agroecologia com práticas agroecológicas, que envolve visitas e
a projetos de assentamentos e a implantação de uma horta mandala, em uma universidade
pública. No 2º também trouxe a sistematização das ações voltadas para o campo da
agroecologia, desenvolvidas pelo Núcleo de estudos em Agroecologia de uma
universidade particular, desde a sua criação.
O 3º estudo aborda a vivência, novamente, de um Núcleo de Estudos em
Agroecologia de uma universidade pública, em um importante evento do estado o
“Encontro Tocantinense de Agroecologia”, que consolida as redes agroecológicas e sua
organização. O 4º e último trabalho buscou entender o processo de construção do
conhecimento agroecológico em várias dimensões: econômicas, sociais, ambientais e
políticas, no contexto da agroecologia e da produção orgânica. Foi observada a
importância da articulação entre as instituições públicas e privadas - municipal, estadual
e federal – já atuantes nesse movimento a fim de conservar o meio ambiente associado à
78

segurança alimentar e nutricional no campo e na cidade estimulando uma conexão mais


justa com produtores, comerciantes e consumidores. O estudo mostra ainda a relevância
na criação de políticas públicas direcionadas à produção e estímulo de base ecológica.
Nota-se, a presença dos Núcleos de Estudo em Agroecologia e sua atuação no
Estado ao exercerem seu papel no ensino, pesquisa e extensão, bem como mostrando sua
importância no desenvolvimento da agroecologia no estado. Borsatto et al. (2022)
afirmam que o Estado tem enorme importância no desenvolvimento territorial da
agroecologia e os NEAs foram um exemplo de política de apoio, que somente aconteceu
através desse suporte. A partir desse ambiente, muitas pessoas que participaram de ações,
e hoje, dentro e fora das entidades de ensino, desenvolvem na teoria e na prática o
conhecimento agroecológico.

Quadro 7. Título, autores, ano de publicação e área de estudo das publicações


relacionadas à categoria Educação e construção do conhecimento agroecológico
EDUCAÇÃO E CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO
Agroecologia no Projeto Rondon – Amazônia Oriental, Pellegrini et al. 2007 Esperantina
Esperantina (Tocantins)
Sensibilização agroflorestal na reserva indígena Krahô: O Bueno et al. 2007 Itacajá
Relato de uma experiência
Experiência agroecológica na educação do campo Pinheiro et al. 2018 Porto
nacional
Agroecologia e ecologia dos saberes: a descrição de uma Ramos et al. 2020 Araguaína
experiência de formação a partir da parceria entre
comunidades quilombolas e universidade
A percepção dos discentes do curso de Engenharia Silva et al. 2020 Palmas
Ambiental da UFT – Campus de Palmas sobre questões
ambientais e agroecologia
A proposta pedagógica da ETI Fidêncio Bogo e suas Alves et al. 2020
convergências com a Política Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (PNAPO)
Sistema agroflorestal em área urbana em Palmas, Nunes et al. 2020
Tocantins: Caracterização florística, implantação e
manejo
Implantação e manejo de sistemas agroflorestais na Brito et al. 2020
promoção da agroecologia no Festival de Circo de
Taquaruçu
Caminhos para construção do conhecimento Beraldo et al. 2018 Estadual
agroecológico no estado do Tocantins
Sistematização Unitas Agroecológica: vivências, Sousa et al. 2018
cooperação e práxis no Cerrado Tocantinense
Vivências do 4° Encontro Tocantinense de Agroecologia Silva et al. 2020
no Reassentamento Córrego do Prata, Porto Nacional –
Tocantins
Os desafios da agroecologia e da agricultura orgânica no Santos et al. 2020
compartilhamento de conhecimento e na comercialização
de produtos no estado do Tocantins
Fonte: Brito et al. (2023).
UFT1 – Universidade Federal do Tocantins
ETI2 – Escola de tempo integral
79

Com essas informações observa-se a importância dos espaços científicos


organizados pela Associação Brasileira de Agroecologia - a Revista Brasileira de
Agroecologia e a Revista Cadernos de Agroecologia, apesar de ser um conteúdo ainda
não disponível nas bases de dados internacionais. O material coletado nesses ambientes
mostrou que muitas ações estão acontecendo e muitos atores estão envolvidos no
desenvolvimento da agroecologia no Tocantins. Segundo Abreu et al. (2016), o tema
agroecologia traz para discussão questões sobre a capacidade que a ciência tem sobre
desenvolvimento da sociedade. Nesse sentido, percebe-se que a garantia de um espaço de
divulgação científica contribui na construção do conhecimento agroecológico e,
consequentemente, na promoção da agroecologia enquanto ciência.

6.4 Conclusão
Nesse estudo, foi possível entender a importância dos ambientes científicos
organizados pela Associação Brasileira de Agroecologia, pois tornaram-se referência em
divulgação de estudos à nível nacional. A partir das informações encontradas nesses
ambientes foi possível identificar inúmeras ações e muitos atores envolvidos no processo
de desenvolvimento da agroecologia no Tocantins.
No entanto, as revistas não possuem divulgação internacional, mesmo a Revista
Brasileira de Agroecologia, apesar de rigorosos os trâmites na avaliação dos artigos. Essa
visibilidade, em um cenário mais amplo, poderia atrair novos pesquisadores interessados
em estudar o estado a partir das experiências agroecológicas. Segundo Donazzolo (2020),
esse tem sido um dos maiores desafios da Revista Brasileira de Agroecologia, que busca
obter a indexação mais abrangente nas bases internacionais, o que levaria a uma maior
validação no ambiente científico.
Já a Revista Cadernos de Agroecologia, ainda que não possua os rigores
científicos no processo avaliativo dos trabalhos, é um ambiente de grande importância no
campo da agroecologia, pois possibilita a participação da sociedade em geral, acadêmica
ou não, permitindo a visibilidade de ações que se manteriam incógnitas sem esse espaço
de divulgação.
Supõe-se que nos anos 2018 e 2020, que tiveram maior quantidade de publicações
pode estar relacionada a criação dos Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEAs). Estes
fazem parte de uma política pública que surgiu a partir da demanda do movimento
agroecológico. De acordo com Souza et al. (2017), estes espaços atuam na
80

transdisciplinaridade no ensino, pesquisa e extensão, e contam com a participação de


atores importantes na agroecologia: agricultores e agricultoras, estudantes, professores e
intencionistas.
Nota-se também que, os atores envolvidos e os temas abordados, confirmam a
complexidade e a diversidade que acompanha a agroecologia no país. Entre estes destaca-
se a presença de instituições com conhecido histórico de relação com o tema, como no
caso da Escola Família Agrícola (EFA) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA).
No geral, entende-se que no estado do Tocantins a abordagem da agroecologia se
apresenta sob os mesmos aspectos tratados no país, ou seja, enquanto ciência, prática e
movimento social, e que vem atuando através de diferentes atores, ações e categorias.
Ao serem identificados os atores envolvidos nesse processo, pode possibilitar a
criação de uma rede de agroecologia que atuará nos mais diversos aspectos e territórios,
auxiliando na promoção e fortalecimento do movimento agroecológico no estado.
81

“Os quilombos mostram que dá “pra”


viver bem de forma compartilhada e
respeitando a natureza.”
Antônio Bispo dos Santos (Nêgo
Bispo)

7 CAPÍTULO 4 – DESAFIOS E PERSPECTIVAS NA CONSTRUÇÃO DO


CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO NO ESTADO DO TOCANTINS SOB O
OLHAR DOS ATORES ENVOLVIDOS

RESUMO

O desenvolvimento da agroecologia no Brasil tem sido impulsionado, principalmente,


pelos movimentos sociais. Nas décadas de 80 e 90, suas ações ganharam destaque e
levaram a criação do movimento agroecológico. O movimento social agroecológico
mobiliza não apenas aqueles diretamente envolvidos na prática ou na teoria, mas todos
que buscam alimentos de qualidade, seguros, com justiça social e uma relação equilibrada
entre o campo e a cidade. O Tocantins possui diversos movimentos sociais e organizações
voltados para questões rurais e ambientais, num processo de fortalecimento desses
movimentos foi criada a Rede de Articulação Tocantinense de Agroecologia, em 2015.
Uma importante demanda dos movimentos sociais e que resultou de uma política pública,
foi criação dos Núcleos de Estudos em Agroecologia. Os núcleos surgiram com proposta
de promover o diálogo e integração entre pesquisa, ensino e extensão, trazendo mais
interação entre academia, movimentos sociais e sociedade. Em 2016, mudanças políticas
no âmbito federal afetaram negativamente todos os envolvidos no movimento
agroecológico. Dessa forma, este trabalho aborda os desafios e perspectivas da
agroecologia no Tocantins, a partir da visão de representantes da Articulação
Tocantinense de Agroecologia e dos Núcleos de Estudo em Agroecologia. A pesquisa foi
realizada a partir da entrevista em profundidade e análise de conteúdo. Com isso, foi
possível identificar inúmeras experiências agroecológicas no estado. Geralmente,
concentradas em territórios de povos e comunidades tradicionais, como áreas indígenas,
quilombolas e assentamentos. Os movimentos sociais a partir da Articulação
Tocantinense de Agroecologia desempenham um papel crucial no fortalecimento dessas
práticas. Dentre os maiores desafios enfrentados pela articulação e pelos núcleos estão a
pandemia da Covid-19 e o desmantelamento das políticas públicas de promoção da
agroecologia. No entanto, esses grupos permaneceram ativos, mantendo-se resilientes.
Com a recente mudança de governo, mais alinhado às questões ambientais e sociais, há a
expectativa de uma reaproximação entre o poder público, os movimentos sociais e a
sociedade civil. Isso pode resultar na reestruturação das políticas públicas de promoção
da agroecologia. Diante do exposto, fica evidente que o Tocantins, assim como o restante
do país, conta com uma diversidade de atores envolvidos na agroecologia, que
permaneceram resilientes mesmo em momentos de extrema dificuldade. No entanto, é
necessário superar o distanciamento entre esses grupos que atuam no movimento
agroecológico no estado, para fortalecer essa estrutura com a chance de ter suas demandas
atendidas ao aproveitar o cenário nacional político favorável.

Palavras-chaves: Movimentos sociais; Núcleos de estudos; Rede de agroecologia.


82

7.1 Os Movimentos Sociais no desenvolvimento da agroecologia

O desenvolvimento da agroecologia no Brasil foi sustentado nos movimentos


sociais. Foram nas décadas de 80 e 90, que as ações a partir dos movimentos sociais com
base em práticas agrícolas tradicionais tiveram maior destaque e se converteram no que
hoje é chamado de movimento agroecológico. Portanto, no surgimento da agroecologia
foram os movimentos sociais que tiveram mais destaque do que a ciência. Com a evolução
da agroecologia o país passou a abordar o tema em três aspectos ciência, prática e
movimento social e esses elementos estão intrinsicamente relacionados. A visão política
vem dos movimentos sociais, a prática vem das aplicações tecnológicas que cumprem
propósitos e auxiliam no conhecimento científico (Fontoura; Naves, 2016; Wezel et al.
2009).
Ainda sobre a forma como a agroecologia é abordada no Brasil, Wezel et al.
(2009) afirma que,
Em muitos países, há um uso combinado do termo "agroecologia" como
movimento, como ciência e como prática e, na maioria das situações, eles estão
fortemente interligados. Na Alemanha, a agroecologia tem uma longa tradição
como disciplina científica, e o termo não está associado a um movimento ou a
práticas. Nos EUA e no Brasil, a agroecologia é usada para descrever as três
atividades, com predominância da ciência nos EUA e uma ênfase mais forte
no movimento e/ou na prática no Brasil (Wezel et al., 2009, p.9).

Para Ploeg (2011), o movimento social está relacionado a movimentação não


somente por aqueles intimamente envolvidos na prática e/ou teoria, mas todos que
buscam alimentos bons e seguros, com base na justiça social e na relação harmoniosa
entre o campo e a cidade.
Segundo Wezel et al. (2009), também afirma que como movimento,
a Agroecologia suscita discussões sobre os modelos de desenvolvimento do
campo e seus impactos ambientais, sociais, culturais, políticos e econômicos,
afirmando-se como um modelo de agricultura e de sociedade que tem na
Educação do Campo seu esteio (Wezel et al., 2009, p. 9).

Entre os movimentos que deram respaldo ao movimento agroecológico, Oliveira


(2001) afirma que não se pode negar que o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem
Terra (MST) tem destaque como um movimento social rural bastante organizado e que
representa a longa caminhada de luta dos camponeses pela terra.
No Tocantins, Santos (2020) e Sousa (2021) afirmam que o agronegócio se
desenvolveu a partir do direcionamento capitalista construído em seu contexto histórico.
83

Desde 1930, o curso da ocupação das terras com destino econômico tem ganhado impulso
e, nesse processo, quilombolas e indígenas foram os mais atingidos com os transtornos
no campo social, e que geraram disputas e exclusão. Também foram excluídos os
agricultores mais desprovidos de recursos, pois sempre eram cortados das políticas
voltadas para o setor agrícola. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(2017), aproximadamente 45 mil agricultores familiares, tem sofrido inúmeras
adversidades que vão desde a estrutura de produção, até o difícil acesso à crédito e a
organização social.
No extremo norte do estado, uma região de muito conflitos agrários, de acordo
com Ramos e Lira (2015), surgi padre Josimo Tavares que foi um dos primeiros a atuar
nas questões sociais campesinas nesse local. Porém, por ser uma área de muita tensão, ele
foi assassinado em 1986. Após sua morte seu trabalho tornou-se referência e mobilizou
movimentos e segmentos sociais na luta pela terra.
Ainda sobre quem foi o Padre Josimo Tavares, Ramos e Lira (2015) afirmam que
ele foi,
Uma das maiores representações da luta pela terra “no Bico” sem dúvida foi o
líder da Igreja Católica na região, Padre Josimo Tavares, assassinado em 1986
por fazendeiros que se aliaram para reter as reivindicações dos sem-terra,
organizadas, principalmente, pela CPT (Comissão da Pastoral da Terra). E a
partir de sua morte, tornou-se um dos maiores referenciais da luta pela terra no
Tocantins e no Brasil (Ramos; Lira, 2015, p. 124).

Existem no estado vários movimentos sociais e organizações atrelados as causas


rurais, tal mobilização, culminou na criação, em 1992, da Alternativas para a pequena
agricultura no Tocantins (APA-TO), que é uma organização não-governamental que tem
em sua composição o movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras rurais do
estado do Tocantins, além da Comissão Pastoral da Terra. A ONG ofertava assistência
técnica contribuindo no desenvolvimento dos sistemas de produção local com foco na
sustentabilidade e na agroecologia, isso tudo em um processo participativo, além disso
atuava na negociação e implementação de políticas públicas (APA-TO, 2012).
Entre as atividades da APA-TO estava também a organização de eventos
importantes no tema agroecologia como os Encontros Tocantinense de Agroecologia, que
tiveram cinco edições ocorridas em cinco cidades diferentes, como mostra o quadro 8
(APA-TO, 2012).
84

Quadro 8. Edições, cidade e temas dos Encontros Tocantinense de Agroecologia


Edição Ano Cidade/Local Tema
1º 2015 Guaraí – Comunidade Cultivando Agroecologia, Semeando Vida!
Matinha
2º 2016 Brejinho de Nazaré – Articulando a Diversidade, Fortalecendo a
Comunidade Quilombola Agroecologia
Malhadinha
3º 2017 Aldeia Cipozal - Povo Território e agroecologia em rede: a base para o Bem
indígena Apinajé Viver
4º 2018 Porto Nacional – Alimentando e unindo o campo e a cidade
Reassentamento Prata
5º 2019 São Miguel do Tocantins – Territórios Agroecológicos: Tecendo resistências e
Comunidade Sete Barracas esperança para o campo e a cidade na construção da
democracia popular e do Bem Viver
Fonte: ATA-TO (2015); CPT (2019).

A Rede de Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA), criada em 2015 no


1º Encontro Tocantinense de Agroecologia e consolidada em 2016. Seu surgimento veio
a partir da união de movimentos com os mesmos interesses. Com uma coordenação
ampliada composta por várias organizações civis sociais de grande importância, a rede
tem membros com um extenso histórico de lutas, como mostra o quadro 9 (APA-TO,
2018).

Quadro 9. Composição da coordenação ampliada da Rede de Articulação Tocantinense


de Agroecologia
ORGANIZAÇÃO/MOVIMENTO SOCIAL SIGLA
Alternativas para a pequena agricultura no Tocantins APA-TO
Conselho Indigenista Missionário CIMI
Movimento dos trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra MST
Movimento dos atingidos por barragens MAB
Cooperativa de Trabalho, Prestação de Serviços, Assistência COOPTER
Tecnica e Extensão Rural
Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu MIQCB
Comunidade de Saúde, Desenvolvimento e Educação COMSAUDE
Escola Família Agrícola de Porto Nacional EFA Porto Nacional
ECOTERRA -
Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do COEQTO
Tocantins
Associação Comunidade Matinha -
Pastoral da Terra CPT
Jovens em comunicação -
Fonte: Elaborada pela autora (2019) adaptado de APA-TO (2018).

O evento de 2015, foi marcado pela criação da Articulação Tocantinense de


Agroecologia (ATA), que tem o intuito de fortalecer, debater e incentivar processos
atividades de articulação regional e estadual. Uma de suas missões está em sistematizar e
promover experiências, denunciar ações de impactos ambientais oriundas do
85

agronegócio, além de propor políticas públicas. Visa estabelecer um diálogo as inúmeras


organizações apoiadoras e com os trabalhadores do campo, a fim de ampliar as
experiências já existência no Tocantins. Nesse mesmo encontro foi lançado o Caderno de
experiências agroecológicas, que trazia a sistematização de experiências de práticas
agroecológicas no estado, conforme figura 8 (APA-TO, 2016; Brasil Agroecológico,
2016).

Figura 8. Capa do Caderno de agroecologia desenvolvido pela Articulação Tocantinense


de Agroecologia

Fonte: APA-TO (2016).

A ATA teve um papel importante com atividades de extensão rural e executam


ações de solidariedade para com as famílias do campo, especialmente no período da
pandemia da Covid-19. Foram mobilizadas, junto as organizações e movimentos sociais
componentes da ATA, ações solidárias para atender famílias que estivessem em situação
de vulnerabilidade (Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, 2020).
Borsatto et. al. (2022) afirmam que por vários anos os movimentos sociais que
lutavam pelas causas ambientais e contestavam os modelos de produção agrícola
convencionais foram marginalizados e estereotipados pela imprensa e até pelo governo.
No entanto, atualmente são vistos de forma diferente pela sociedade e passaram a cobrar
mais espaço na agenda governamental. Os NEAs, que também fazem parte desse estudo,
foram construídos nesse contexto.
86

7.2 Os Núcleos de Estudos em Agroecologia como uma política de interação

No artigo anterior foi possível identificar a efetiva participação dos Núcleos de


Estudos em Agroecologia (NEAs) no campo da ciência agroecológica no estado. De
acordo com Borsatto et. al. (2022), a política que implantou os NEAs nas instituições de
ensino e pesquisa no Brasil, possibilitou que grupos já existentes nesse ambiente e que
pesquisavam o tema agroecologia, ganhassem mais poder de atuação. Esse processo
fomentou o que ficou conhecido como “espaços agroecológicos”, que proporcionam à
agroecologia mais reconhecimento dentro das universidades.
Canavesi et al. (2021) afirma que os Núcleos de estudos em agroecologia,
Os Núcleos de Agroecologia são redes que envolvem um conjunto de sujeitos
sociais nas universidades e fora delas para organizar estudos, pesquisas e
extensão em um ambiente de interação na construção do conhecimento
agroecológico. Estão organizados em todas as regiões do país e incluem, além
de universidades, os institutos tecnológicos e os centros de pesquisa
agropecuária federal ou estaduais.

Já para Associação Brasileira de Agroecologia (ABA, 2017), os Núcleos de


estudos em agroecologia são,
Os NEAs acolhem diversidades e fortalecem resistências na construção de
processos educativos participativos e transdisciplinares e sintonizados aos
desafios dos agricultores(as) familiares e urbanos, consumidores(as), povos e
comunidades tradicionais e; realizam pesquisa, ensino e extensão de forma
indissociável (ABA, 2017, p.3).

A política nasceu de um profundo momento de diálogo entre a sociedade civil e o


poder público, uma ação que contou com a participação de diversos ministérios e grupos
que atuam no movimento agroecológico (Cardoso et al., 2018). Todo o percurso
aconteceu por meio de editais promovidos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), órgão de nível federal que fomenta a pesquisa no
Brasil. A estruturação e fortalecimento esteve sob a coordenação de alguns ministérios:
Desenvolvimento Agrário (MDA), Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),
Pesca e Aquicultura (MPA), Ciência e Tecnologia (MCT) e Educação (MEC). Esse
processo ocorreu entre os anos de 2010 e 2016 (Moura, 2016; Souza et al., 2017).
Sobre a origem dos Núcleos de agroecologia Moura (2016) afirma que,
Precisamos situar a origem da ação de apoio aos Núcleos de Agroecologia
principalmente na construção da Política Nacional de Assistência Técnica e
Extensão Rural (PNATER) a partir de 2003, primeira política pública brasileira
a trazer elementos para o trabalho do Estado com agroecologia (Moura, 2016).
87

Ao longo do tempo, os NEAs procuraram garantir espaços de diálogo e o exercício


da indissociabilidade entre pesquisa-ensino-extensão, em constante e permanente
interação com a sociedade. A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão
relaciona-se às práticas das universidades brasileiras e é um princípio orientador da
qualidade da produção universitária. As relações entre ensino, pesquisa e extensão
possibilitaram múltiplas oportunidades de articulação entre as instituições científico-
acadêmicas e a sociedade. As comunidades e seus territórios deixam de ser meros
receptáculos de conhecimentos produzidos ex-situ e passam a fazer parte do processo de
geração do conhecimento científico (Política Nacional de Extensão Universitária, 2013;
Moita e Andrade, 2009).
Porém, em 2016, grandes mudanças ocorreram no cenário federal e causaram a
extinção de diversas políticas, a redução ou o fim de alguns programas importantes nesse
processo de crescimento do movimento. Essa ruptura foi vista como retrocesso quanto a
importância da agroecologia como base para as políticas públicas (Niederle et al., 2019).
Foi a partir desse ano que, notadamente, as políticas de apoio à agricultura familiar
e camponesa foram concebidas sob uma ótica de emancipação frente ao sistema
agroalimentar corporativo. Dessa forma, foram sistematicamente desmanteladas ou
tiveram cortes orçamentários, e incluídas nesse contexto estavam os NEAs. Tal situação,
trouxe um questionamento sobre a capacidade e eficácia do Estado em fomentar sistemas
agroalimentares não-hegemônicos (Borsatto et al., 2022).
Apesar de serem frutos de uma política voltada para o meio acadêmico, os NEAs
não apenas consolidaram processos sociais já existentes, mas também possibilitaram o
surgimento de novos processos. Portanto, os NEAs desempenhavam uma função de
articulação conectando ideias diferentes, iniciativas, atividades e indivíduos envolvidos
com a agroecologia, tanto fora quanto dentro da academia (Borsatto et al., 2022).
No contexto apresentado até aqui, percebe-se a importância dos Movimentos
sociais e dos Núcleos de estudos em agroecologia na Construção do Conhecimento
Agroecológico no Tocantins. Dessa forma, este trabalho apresenta os desafios e as
perspectivas, no contexto da agroecologia no estado, sob o olhar de representantes da
Rede Articulação Tocantinense de Agroecologia – ATA e de Núcleos de estudo em
agroecologia do Tocantins.
Para Abreu et al. (2009) e Fontoura e Naves (2016), a importância que os
movimentos sociais tiveram no processo de desenvolvimento da agroecologia, é resultado
88

da interação com redes científicas, que juntos auxiliaram também no avanço de políticas
públicas de promoção. Portanto, segundo os autores, para evoluir a agroecologia
dependerá de uma forte interação entre os movimentos sociais, redes científicas e
construção de políticas públicas.

7.3 Procedimentos Metodológicos

Esta pesquisa foi realizada nos meses de abril a maio de 2023, durante o estudo
foram utilizados métodos qualitativos tais como, a Entrevista em Profundidade e a
Análise de Conteúdo. A entrevista qualitativa em profundidade e/ou semiestruturada se
caracteriza como um instrumento de coleta de dados que possibilita o diálogo em um
espaço relacional a fim de favorecer o protagonismo do participante. O investigador
promove neste espaço, as condições para que o participante expresse livremente suas
opiniões, emoções e experiências de vida, cabendo ao pesquisador controlar o fluxo das
mesmas (Moré, 2015).
Seguindo a estrutura indicado por Duarte (2015), a entrevista em profundidade
segue algumas etapas: a definição da entrevista - que pode ser aberta com questões não-
estruturadas e tem como base uma questão central; semiaberta com questões
semiestruturadas e tem como base um roteiro; e fechada com questões estruturadas e tem
como base um questionário. Em seguida, é realizada a seleção dos informantes, que
depende do tipo de entrevista. São indicadas 5 categorias que auxiliam nesse processo de
seleção do entrevistado, que pode ser um: Especialista, Informante-chave, Informante-
padrão, Informante complementar e Informante-extremista. A amostra está mais ligada
significância do entrevistado, do que uma representação estatística. Dessa forma, o autor
propõe duas formas de escolha da amostra: por conveniência – baseada na viabilidade e
de forma intencional – seleção por juízo particular. Os instrumentos de coleta podem ser:
caderno de anotações, gravações, telefone e internet, cada um com suas vantagens e
desvantagens. Para a descrição e análise de conteúdo são utilizadas as categorias para
organizar as informações coletadas e então, é realizada a descrição interpretativa,
conforme mostra a figura 9.
Dessa forma, foram realizadas entrevistas com 5 representantes, sendo: 4 de
Núcleos de Estudos em Agroecologia localizados no Estado do Tocantins e 1 da Rede
Articulação Tocantinense de Agroecologia. Desse total, quatro entrevistas aconteceram
89

no formato presencial, na capital Palmas e uma no formato remoto via Google Meet.
Todos os áudios foram gravados com a ajuda de um celular e com o consentimento dos
participantes. Cada entrevista teve em média a duração de uma hora
Também foram realizadas anotações das falas para auxiliar no processo de
transcrição do áudio, o qual foi realizado com o auxílio do aplicativo Transcribe do
Microsoft Word. Em seguida, o material passou por conferência das palavras, para
preservar com fidelidade a fala do/da participante e garantir a reprodução literal de suas
respostas. Os participantes não tiveram suas identidades reveladas, conforme informado
no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Além disso, foi dada total liberdade
durante a entrevista, que possuía um roteiro para que o assunto não desviasse tanto do
contexto de interesse para a pesquisa. Os representantes de núcleo tinham o direito de
encerrarem a pesquisa quando achassem oportuno.

Figura 9. Fluxograma do método Entrevista em profundidade utilizado no estudo

Fonte: Elaborado pela Autora (2023) adaptado de Duarte (2015).


90

Para identificar os entrevistados, a partir de suas falas na entrevista, utilizou-se a


letra “N” para caracterizar os representantes dos Núcleos de estudos em agroecologia,
enumerados de forma cronológica `com base na data da entrevista, e a letra “A” foi usada
para a representação da Rede Articulação Tocantinense de Agroecologia.
Para fins de análise e discussão do material coletado nas entrevistas, empregou-se
o método de análise de conteúdo com o auxílio do software Atlas.ti, no processo de
gerenciamento dos dados. Esse método, segundo Bardin (2011), é uma técnica que já era
utilizada desde as primeiras tentativas da humanidade para interpretar os livros sagrados,
tendo sido sistematizada como método apenas na década de 1920. A autora define, ainda,
que esse processo designa um conjunto de técnicas de análise da comunicação visando
obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo de
mensagens, indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às
condições de produção/recepção de tais materiais

7.4 RESULTADOS E DISCUSSÕES


7.4.1 Breve histórico da Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA)

A partir dos dados coletados, identificou-se que a Rede de Articulação


Tocantinense de Agroecologia (ATA) foi criada em 2015, mas até chegar a essa estrutura
houve um longo caminho de luta, especialmente, na Região do Extremo Norte do
Tocantins, antigo Norte do Goiás, que passou por conflitos agrários.
Segundo a representação da ATA, os conflitos surgem na região na década de 50,
mas somente nos anos 80 é dado início ao processo de regularização das terras. Nesse
tempo, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) já atuava na região. Além disso, chega no
Bico do Papagaio um dos maiores representantes da luta pela terra, o Padre Josimo.

Segundo Mier e Terán et al. (2018), no geral, as abordagens do tema agroecologia


surgiram em momentos de crises nos sistemas agrários e a partir de grande mobilização
dos movimentos sociais, no sentido de buscar uma mudança de forma geral. Tal também
se apresenta na região do Bico do Papagaio.
De acordo com Clementino e Monte-Mór (2004), é uma parte integral da
Amazônia Legal e um ponto de confluência entre o cerrado e a floresta amazônica,
banhada pelos rios Araguaia e Tocantins. Seu nome deriva da forma gráfica do território,
que se assemelha ao bico de um papagaio devido ao curso dos rios Tocantins e Araguaia,
91

que separam Tocantins dos estados do Pará e Maranhão. A região sempre manteve uma
identidade regional fundamentada em atividades econômicas de subsistência, cultura
local e na paisagem dominada pelos Rios Araguaia e Tocantins, uma identidade que data
dos primeiros anos do século XX.
De acordo com a representação da ATA, após a morte do Padre Josimo, foi dado
o início do processo de regularização das terras. Com isso, os atores envolvidos na luta
pela terra resolveram se mobilizar, no sentido de criar uma organização que ofertasse
assistência técnica aos agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais e
assentados da região do Bico do Papagaio. Isso tudo foi motivado pela insegurança em
relação ao histórico do Estado, que nas questões agrárias sempre privilegiou grandes
fazendeiros. Assim, em 1992 nasce a Alternativas para a pequena agricultura no
Tocantins (APA-TO). Portanto, foram os históricos conflitos agrários e o receio quanto
as ações do Estado, que geraram a mobilização dos movimentos sociais enredados às
causas do campo e as práticas de produção sustentável na região.
No material coletado na entrevista, notou-se a forte atuação da ONG que tem suas
atividades executadas por meio de recursos internacionais e nacionais. Dentre suas ações,
uma delas contou com a parceria da Coordenação Estadual das Comunidades
Quilombolas do Tocantins (COEQTO), num projeto financiado pela Climate and Land
use Alliance. Assim, foi lançado um material denominado “Caderno Saberes e Fazeres
Quilombolas – Planos de Gestão Territorial”. O caderno apresentava experiências
agroecológicas sistematizadas, que se tornaram base para o Movimento Quilombola.
Entre as Comunidades participantes do projeto estavam: Mumbuca, Das margens do Rio
Novo, Rio Preto e Riachão, Kalunga do Mimoso e Claro, Prata e Ouro Fino, como mostra
o quadro 9. Portanto, nota-se que apesar de ter surgido como uma demanda a partir dos
conflitos agrários na Região do Bico do Papagaio, a ONG passou a atuar também outras
áreas do estado, identificando as experiências agroecológicas.
Quanto às parcerias, a Rede Articulação Tocantinense de Agroecologia contou
com parceiros importantes, que incluía: instituições federais, instituições de ensino,
movimentos sociais de diversos seguimentos, organização não governamentais,
cooperativas e associações, como mostra o quadro 10.
92

Quadro 10. Comunidades Quilombolas participantes do projeto Caderno Saberes e


Fazeres Quilombolas – Planos de Gestão Territorial e algumas das experiências
agroecológicas
Comunidade Quilombola Algumas experiências
Mumbuca Produção de Farinha
Roça de esgoto sem adubação
Quintal produtivo
Criação de gado com uso da área de vereda no
processo de refrigero
Colheita do capim dourado
Roça de toco
Projeto casinha da árvore – no auxílio ao
aprendizado da leitura e escrita das crianças
Roça de pasto
Das margens do Rio Novo, Rio Preto e Riachão Produção de gergelim
Criação de gado com uso da área de vereda no
processo de refrigero
Roça de toco
Roça de esgoto
Colheita do capim dourado
Roça de pasto
Criação de galinha
Kalunga do Mimoso Roça de toco
Criação de gado
Criação de porco
Criação de galinha
Claro, Prata e Ouro Fino Roça de toco
Criação de gado
Roça de pasto
Criatório de peixe
Horta caseira
Fonte: APA-TO et al. (2018).

Percebe-se que existem diversos movimentos sociais mobilizados junto à ATA,


bem como aconteceu no processo histórico do movimento agroecológico no país.
Segundo Lourenço et al. (2022), cada vez mais surgem novas organizações que buscam
uma aproximação com o movimento agroecológico, a exemplo de grupos das áreas da
saúde e nutrição, fortalecendo a defesa da soberania e segurança alimentar e nutricional.
Cabe lembrar que a primeira geração de políticas, ainda na década de 90, ganhou força
no debate político a partir de um intenso momento de luta e organização dos movimentos
sociais do campo. Com o reconhecimento, pelo Estado, da categoria Agricultura familiar,
os movimentos associados a esse grupo passaram a ser vistos como uma demandante de
políticas e ações voltadas para este setor (Favareto, 2017). Dessa forma, observa-se que
no Tocantins existem inúmeros movimentos sociais engajados no campo da agroecologia,
o que pode fortalecer uma mobilização junto a demais atores envolvidos, de forma a
reivindicar políticas públicas estaduais e/ou municipais para tal categoria.
93

Quadro 11. Parceiros da Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA)


PARCEIROS
Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)
Escola Família Agrícola de Esperantina (EFA - Esperantina)
Escola Família Agrícola de Porto Nacional (EFA – Porto Nacional)
Território Indígena Apinajé (TI - Apinajé)
Alternativas para a pequena agricultura no Tocantins (APA-TO)
Conselho Indigenista Missionário (CIMI)
Movimento dos trabalhadores e trabalhadoras rurais sem-terra (MST)
Movimento dos atingidos por barragens (MAB)
Cooperativa de Trabalho, Prestação de Serviços, Assistência Tecnica e Extensão Rural (COOPTER)
Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB)
Comunidade de Saúde, Desenvolvimento e Educação (COMSAUDE)
ECOTERRA
Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO)
Associação Comunidade Matinha
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Jovens em comunicação
Associação dos Artesãos Extrativistas do Povoado Mumbuca (AAEPM)
Associação das Comunidades Quilombolas das Margens do Rio Novo, Rio Preto e Riachão
(ASCOLOMBOLAS-RIOS)
Associação da Comunidade Remanescente de Quilombo Kalunga do Mimoso do Tocantins (AKMT)
Associação Quilombola das Comunidades do Claro, Prata e Ouro Fino (ASQUICCAPO)
Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR)
Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Bico do Papagaio (AMB)
Cooperativa de produção e comercialização dos Agricultores Familiares Agroextrativistas e Pescadores
Artesanais de Esperantina Ltda (COOAF-Bico)
Associação Regional das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Bico do Papagaio (ASMUBIP)
Cooperativa Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (CIMQCB)
Fonte: Autora (2023).

Nesse processo de criação de políticas, destaca-se a Política Nacional de


Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), que veio a partir da demanda dos
movimentos sociais e redes da sociedade civil, sendo uma proposta estabelecida ao
Governo pelos movimentos de mulheres trabalhadoras rurais no momento da Marcha das
Margaridas, em 2011. Portanto, os movimentos das mulheres rurais acabaram tornando-
se os principais porta-vozes no entendimento mais abrangência da agroecologia
(Lourenço, 2022). Nesse sentido, nota-se que entre os parceiros e membros da Articulação
Tocantinense de Agroecologia a presença de movimentos sociais, associações e até
cooperativa formadas por mulheres.
Nesse contexto, o Tocantins apresenta uma grande diversidade quanto aos
movimentos sociais associados à luta pela terra e agroecologia, em busca da soberania e
segurança alimentar. Anderson et al. (2015) e Nyéléni (2015) atestam que os movimento
sociais e organizações camponesas fizeram da agroecologia uma estrutura política para
defender os seus direitos coletivos.
94

7.4.2 Breve histórico dos Núcleos de estudos em agroecologia do Tocantins (NEAs)

No país, atualmente, existem 282 Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEA)


em todo o país, atendendo todas as regiões (Sousa et al., 2017). No Estado do Tocantins,
foram identificados seis NEAs: a Unitas Agroecológica do Centro Universitário
Luterano/ULBRA - Campus Palmas; o Núcleo de estudos em Agroecologia e
desenvolvimento sustentável da Universidade Federal do Tocantins (NEADS/UFT) –
Campus Palmas; o Núcleo de Pesquisa e Extensão em Saberes e Práticas Agroecológicas
(NEUZA), que atualmente está vinculado a Universidade Federal do Norte do Tocantins
– Campus Araguaína, mas no momento da sua aprovação ainda estava ligado à
Universidade Federal do Tocantins (UFT); Núcleo de Agroecologia Saberes da Terra -
Associação de apoio a Escola Estadual Agrícola David Aires França - Município de
Arraias; Núcleo de estudos em agroecologia e fortalecimento da agricultura familiar -
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO) – Campus
Dianópolis e Núcleo de Estudos de Agroecologia da Amazônia Oriental (NEA-AMO)
Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Município de Gurupi, como mostra o Quadro
12. Para esses dois últimas não foram encontradas informação, além dos nomes e
localidades.
A partir dos dados coletado em entrevistas, o primeiro NEA a ser aprovado no
Tocantins foi a Unitas Agroecológica vinculada à Universidade Lutera de Palmas
(CEULP/ULBRA), que concorreu ao edital de 2014 do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e iniciou suas atividades em 2015. O
segundo foi o Núcleo de Estudos em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável
(NEADS) sediado na Universidade Federal do Tocantins (UFT), que foi aprovado em
2015, e iniciou suas atividades em 2016, conforme mostra o quadro 12.
No edital de 2018 foi aprovada a criação de mais dois NEAs: Núcleo de Pesquisa
e Extensão em Saberes e Práticas Agroecológicas (NEUZA) e Núcleo de Agroecologia
Saberes da Terra. Porém, suas atividades iniciaram somente em 2019. Portanto, estes
tiveram pouco tempo de atuação, pois no ano seguindo surgiu a pandemia da Covid-19,
que paralisou todas as atividades em andamento ou que estavam em planejamento. Além
disso, a criação destes NEAs fez parte das últimas ações do governo para o setor, porém
95

conforme já mencionado anteriormente sofreram com o processo de desmantelamento


institucional, de políticas públicas e programas voltados para a agricultura familiar.

Quadro 12. Nome dos Núcleos de Estudo em Agroecologia, Instituição e Localização


NÚCLEO DE ESTUDOS EM INSTITUIÇÃO/LOCALIZAÇÃO
AGROECOLOGIA (NEA)
1 Unitas Agroecológica Universidade Lutera de Palmas (CEULP/ULBRA).
Município de Palmas. (Aprovado em 2014)
2 Núcleo de Estudos em Agroecologia e Universidade Federal do Tocantins (UFT).
Desenvolvimento Sustentável (NEADS) Município de Palmas. (Aprovado em 2016)
3 Núcleo de Pesquisa e Extensão em Saberes e Universidade Federal do Norte do Tocantins
Práticas Agroecológicas (NEUZA) (UFNT)*. Município de Araguaína. (Aprovado em
2018)
4 Núcleo de Agroecologia Saberes da Terra Associação de apoio a Escola Estadual Agrícola
David Aires França. Município de Arraias.
(Aprovado em 2018)
5 Núcleo de estudos em agroecologia e Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
fortalecimento da agricultura familiar do Tocantins (IFTO). Município de Dianópolis.
(Informações não identificado)
6 Núcleo de Estudos de Agroecologia da Universidade Federal do Tocantins (UFT).
Amazônia Oriental (NEA-AMO) Município de Gurupi. (Informações não
identificado)
Fonte: Elaborado pela Autora (2023).
*No momento da aprovação do projeto pelo CNPq, a instituição ainda fazia parte da Universidade Federal
do Tocantins (UFT).

De acordo com as representações dos NEAs, as principais atividades e temas


abordados, apresentam-se de forma diversificada, conforme quadro 13. Essas ações eram
divulgadas em redes sociais (Instagram, Whatsapp e Facebook) e Plataforma digital
(Youtube). Além disso, como já mostrado no capítulo anterior, também foram
encontrados artigos, resumos e relatos de experiências de alguns NEAs, publicados em
periódicos, livros e anais de eventos.

Quadro 13. Ações executadas pelos NEAs do Tocantins, em eventos e/ou atividades
junto às Comunidades/Sociedade.
AÇÕES DOS NÚCLEOS DE AGROECOLOGIA
Monitoramento de produções em transição agroecológica
Ação voltada para Mercado e comercialização de produtos agroecológicos
Instalação de horta para merenda escolar em Escola Rural
Programa Resistência Agroecologia (Via Youtube) – diversos temas abordados
Caravana Agroecológica do Tocantins
Produção de plantas medicinais
Instalação de Feira agroecológica em Universidade
Oficina de produção de alimentos em pequenos espaços
Seminário Estadual de Agroecologia
Oficina de cartografia etnográfica
Roda de conversa sobre Meio Ambiente
Palestra sobre Políticas Públicas
Técnicas para a agricultura urbana
Diálogo com comunicadora da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP)
96

AÇÕES DOS NÚCLEOS DE AGROECOLOGIA


Diálogos sobre economia rural e bioeconomia
Manipulação de plantas medicinais na produção de fitoterápicos
Seminários sobre agroecologia nos ambientes dos NEAs e nas comunidades
Banco de sementes e de troca de sementes
Fonte: Elaborado pela autora (2023).

Como fazem parte das instituições de ensino, há a participação de alunos de


graduação e pós-graduação, além de professores de diversas áreas, conforme demonstra
o quadro 14. Por isso, existe um grande rodízio dos integrantes que possuem vínculos
com tais ambientes, especialmente, dos graduandos e pós-graduandos, que são em geral
voluntários. No entanto, em alguns casos os formados, que optaram por continuar atuando
no tema, assumiram cargos relacionados à agroecologia, a partir do seu período de
experiência nos NEAs. Com isso, suas novas instituições tornaram-se parceiros nas
atividades e trocas de experiências.
Em se tratando de parcerias, os núcleos já nasceram com parceiros definidos, mas
novos parceiros foram adquiridos no andamento das atividades. Por serem estruturados
no interior de instituições de ensino, vários cursos superiores estão envolvidos, bem como
pesquisadores e professores desses ambientes. Ainda nesse contexto das parcerias,
percebe-se também uma grande diversidade representada por povos e comunidades
tradicionais, instituições federais, estaduais e municipais e movimentos sociais, conforme
o quadro 14.
Para Borsatto et al. (2022), os núcleos são denominados espaços agroecológicos,
que de forma simbólica travam uma luta com os padrões predominantes nos ambientes
institucionais de ensino. Apesar dos NEAs serem resultados de uma política pública com
foco direcionado ao ambiente acadêmico, eles firmam interações já existentes e outras
que ainda virão.

Quadro 14. Parceiros do Núcleos de Estudos em Agroecologia no Tocantins


CURSOS
Técnico em agronomia - Escola Agrícola David Aires França. Município de Arraias
Engenharia Ambiental - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
Engenharia Florestal - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
Teatro - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
Pedagogia - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
Nutrição - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
Medicina - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
Enfermagem - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
Educação do Campo - Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFT)*
Agronomia - Universidade Lutera de Palmas (CEULP/ULBRA)
Farmácia - Universidade Lutera de Palmas (CEULP/ULBRA)
97

Programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente (PPGCiamb) - Universidade Federal do


Tocantins (UFT)
Programa de Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas (PPGGespol) - Universidade Federal do
Tocantins (UFT)
Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura e Território (PPGCult) - Universidade Federal do
Norte do Tocantins* (UFNT)
ÁREA DE ATUAÇÃO DOS PROFESSORES/PESQUISADORES
Antropologia
Engenharia Ambiental
Engenharia Agrícola
Sociologia
Geologia
Engenharia Civil
Engenharia Florestal
Economia
Agronomia
Jornalismo
COMUNIDADES
Quilombola: Grotão, São Vicente
Território Indígena: Karajá e Xerente
Reassentamento/Assentamento/Comunidade tradicional/Associações: Mariana, Taboca, Prata, Flor da
Serra, São Francisco, Dona Celina, Água Doce e Matinha
INSTITUIÇÕES
Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA)
Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA)
Secretaria de Agricultura, Pecuária e Aquicultura (SEAGRO)
Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Humano de Palmas
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural de Palmas
Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Tocantins (RURALTINS)
Ministério Público do Tocantins (MP-TO)
Empresa Pesca e Aquicultura (EMBRAPA)
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR)
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP)
MOVIMENTOS SOCIAIS E OUTROS
Comissão de Produção Orgânica do Estado Tocantins (CPOrg-TO)
Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA-TO)
Fórum de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos
Movimento dos Sem-Terra (MST)
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Supermercado Campelo – Araguaína/TO
Fonte: Autora (2023).

7.4.3 Desafios e Perspectivas no campo da agroecologia sob olhar da Rede Articulação


Tocantinense de Agroecologia e os Núcleos de estudos em agroecologia no Tocantins

Dentre os desafios enfrentados pelos movimentos sociais, bem como os NEAs,


sem dúvida, a Pandemia pelo novo Coronavírus (COVID-19) foi um dos maiores.
Segundo Garcia et al. (2020) e Organização Pan-Americana da Saúde (2020), a
Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a doença como uma emergência de
saúde pública de magnitude global, em resposta à sua rápida propagação e disseminação
98

em vários países. Com isso, a doença foi categorizada como uma pandemia pela OMS em
março de 2020. Nesse processo, a maioria das comunidades acompanhadas pela ATA e
que comercializavam em feiras livres. Muitas localidades carentes, que foram
extremamente impactadas, precisaram recuar e reduzir sua produção alimentos.
Quanto aos NEAs, dois deles aprovados ainda nos primeiros editais do CNPq,
conseguiram atuar por um tempo razoável antes da pandemia. Já os demais núcleos, que
tiveram sua aprovação mais tardia e com início das atividades em 2018, puderam executar
poucas ações. No geral, todos retrocederam em suas atividades e as equipes foram
reduzidas, conforme fala das representações dos NEAs entrevistados.
Portanto, o recuo nas atividades durante o período da pandemia foi bastante
prejudicial aos dois grupos, no entanto, enquanto os núcleos tiveram apenas suas ações
em campo afetadas, as comunidades sofreram com a redução drástica na produção e
venda de alimentos comprometendo suas rendas, como mostram as falas das
representações da ATA e dos NEAs (quadro 15).
De acordo com a representação da Rede ATA, a promoção da comercialização do
tipo circuito curto de comercialização, ou seja, direto do produtor para o consumidor, a
partir das feiras livres, se apresenta como a opção mais interessante para produtos
agroecológicos. No entanto, essas estruturas precisaram parar no período da pandemia da
COVID-19, o que também afetou inúmeras comunidades.
As feiras livres, que estabelecem canais de comercialização de curta distância ao
conectar diretamente produtor e consumidor, surgem como um mecanismo alternativo de
mercado. Simultaneamente, elas desempenham um papel crucial na diversificação de
renda para agricultores familiares e na sua continuidade em atividades rurais. Para muitos
comerciantes, as feiras representam a principal, e às vezes única, fonte de renda. As feiras
livres têm sido cruciais para a estabilização econômica e social, particularmente na
agricultura familiar, sob a perspectiva do comerciante. Além disso, representam um
ambiente público, socioeconômico e cultural, altamente vibrante e diversificado sob a
ótica do consumidor (Godoy; Anjos, 2007; Zanella, et al., 2023).
Nesse cenário, de acordo com a Representação da articulação, uma das saídas,
para tentar ameninar os impactos da pandemia, foram ações que disponibilizaram cerca
2000 mil cestas básicas de produção agroecológica de comunidades quilombolas.
Portanto, nesse período, a produção agrícola destas comunidades foi direcionada à essa
finalidade, o que proporcionou a garantia da venda de parte da produção e a alimentação
99

saudável para aqueles mais necessitados. Segundo a Organização pelo Direito Humano à
Alimentação e à Nutrição Adequadas (FIAN Internacional, 2020), uma das reflexões que
a pandemia da Covid-19 trouxe, foi sobre os impactos negativos causados à segurança
alimentar e nutricional, sobretudo em relação as pessoas em vulnerabilidade
socioeconômica.

Quadro 15. Desafios enfrentados pela Articulação Tocantinense de Agroecologia e


pelos Núcleos de estudos em Agroecologia no período da pandemia da COVID-19
Representação A2: “Uma estratégia que gente sempre adotou, mas veio a pandemia e bagunçou
tudo, são as feiras, porque a gente entende que é talvez o espaço mais interessante para a comercialização
da produção agroecológica, porque de um lado eu tenho uma relação direta do consumidor com quem
produz então assim, tá direto ali eu vou conversar com a pessoa, fico amigo dela, A gente entende que
esses processos eles são além de uma lógica de prateleira mercantil eles são processos de humanização.”
Representação N13: “Um grande impacto foi a pandemia, nesse período ficamos trabalhando
virtualmente, mas a gente tínhamos uns cultivos (na área experimental) e estávamos aqui todos os dias. Era
um refúgio. ”
Representação N23: “A questão da pandemia que afetou as relações que tinham sido criadas. As
relações com os produtores, essa parte que a gente tinha construído, essa relação de confiança que a gente
tinha construído, porque muitos produtores retrocederam. ”
Representação N33: (O NEA estava em atividade junto a uma comunidade) “Quando a gente foi
plantar mesmo, plantou uma área, mas veio a pandemia, A parte e fechou tudo. ”
Representação N43: “A pandemia pegou a gente, digamos, no meio do processo. Nós tivemos que
nos reinventar. Nós fomos forçados a parar as atividades. ”
Fonte: Autora (2023).

Quantos aos Núcleos, de acordo com suas representações, alguns paralisaram


totalmente suas atividades, enquanto outros tentaram manter as atividades através de
ações pela internet no formato remoto ou reduziram suas equipes, drasticamente, a fim de
manter as atividades mais internas com poucas pessoas e apenas em ambiente aberto. Um
dos núcleos ainda conseguiu intermediar a comercialização de produtos de uma
comunidade, com um supermercado parceiro. No entanto, todos os NEAs que
minimamente mantiveram-se ativos, tiveram a preocupação de manterem-se distantes das
comunidades parceiras, no intuito de evitar qualquer risco de transmissão da doença a
esses grupos já bastante fragilizados.
Outro desafio muito citado pelos entrevistados e que se somou aos efeitos da
pandemia da Covid-19, foi o processo de desmantelamento das políticas públicas voltados
para a agricultura familiar. De acordo com Bauer e Knill (2012), o processo de

2
Representação da Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA).
3
Representação de Núcleo de estudos em agroecologia (NEA) no Tocantins.
100

desmantelamento pode provocar a redução na quantidade de políticas e/ou a redução na


finalidade e no grau de intervenção, no público da ação ou na competência administrativa
e de regulação. Dessa forma, nota-se pela fala dos entrevistados (quadro 16), que as ações
do desmantelamento, mencionados por Bauer e Knill, também afetaram atores envolvidos
na promoção da agroecologia no Tocantins.

Quadro 16. Desafios enfrentados pela Articulação Tocantinense de Agroecologia e


pelos Núcleos de estudos em Agroecologia com o desmantelamento das políticas
públicas de promoção da agroecologia
Representação A: “Acabou tudo, você não tinha nenhuma fonte, você não tinha nenhuma
possibilidade, não tinha mais nenhum tipo de apoio, recurso do Ministério do Meio Ambiente nem do MDA
(Ministério do Desenvolvimento Agrário). Então, durante esses 4 anos foi muito complicado. E então?
Todos nós sofremos muito nesse governo Bolsonaro. Todas essas organizações, elas funcionam a partir de
projetos que são negociados e o Governo Federal sempre foi um importante financiador de projetos para
agricultura familiar. ”
Representação N2: “ Foram 2 momentos certamente difíceis que a gente passou: uma o corte de
recursos que é do Governo Bolsonaro, né? E o anterior ao Bolsonaro também cortou. Extinguiu o MDA e
Conselho de Segurança Alimentar. Então, a parte de recurso de projetos foi ficou totalmente escasso. E a
outra, eles tentaram descredenciar gente, ou seja, deixaram com que a gente perdesse a credibilidade. ”

Fonte: Autora (2023).

Outros desafios, enfrentados por esses importantes atores envolvidos no processo


de desenvolvimento da agroecologia no estado, estão relacionados ao histórico de relação
do Tocantins com o agronegócio e a relação dos jovens com o campo. Como já
mencionado nesse artigo, o estado já teve graves episódios de conflitos agrários. Nesse
sentido, os entrevistados afirmam que as políticas de promoção da agroecologia podem
se consolidar no Tocantins, apesar dos seus antecedentes, mas para isso o tema deve estar
presente em vários ambientes.
Quanto a juventude, as representações acreditam que seja importante direcionar
políticas a esse grupo, de forma a garantir sua permanência, pois ainda existem inúmeros
fatores que contribuem para o afastamento. Para Santana e Barcelos (2022), a partir do
momento em que os jovens rurais passam a ter o entendimento sobre a importância de
suas ações e a agroecologia surgi como base para as atividades, torna-se importante a
geração de políticas públicas que auxiliem os jovens do campo.
O tema Políticas Públicas foi bastante citado pelos entrevistados, no contexto da
perspectiva, tanto a nível federal quanto estadual e municipal. Visto que houve um longo
processo de desmantelamento das políticas de promoção da agroecologia, a recente
101

mudança de Governo trouxe uma visão mais otimista sobre esse assunto, como é possível
notar na fala das representações no quadro 17.
Nesse contexto, se observa que os desafios e perspectivas são semelhantes para os
dois grupos. No entanto, quando se trata de condições adversas, os atores que estão na
base são sempre os mais afetados. Isso demonstrou a importância da ATA no Tocantins,
no sentido de fortalecer e apoiar os movimentos sociais envolvidos na causa
agroecológica e afins.
Como um movimento social, a agroecologia é vista como uma solução para os
desafios atuais, como as mudanças climáticas e a desnutrição, contrastando
com o chamado modelo "industrial" e transformando-o para construir sistemas
alimentares sistemas alimentares relevantes localmente que fortalecem a
viabilidade econômica das áreas rurais com base em cadeias curtas de cadeias
de comercialização curtas e produção de alimentos justa e segura. Ele apoia
diversas formas de produção de alimentos por pequenos proprietários e
agricultura familiar, agricultores e comunidades rurais, soberania alimentar,
conhecimento local, justiça social, identidade e cultura locais identidade e
cultura locais e direitos indígenas para sementes e raças (Altieri e Toledo,
2011; Rosset et al., 2011; Nyéléni, 2015).

Quadro 17. As perspectivas em relação a agroecologia a partir da Articulação


Tocantinense de Agroecologia e dos Núcleos de estudos em agroecologia
Representação A: “Estamos acreditando que a gente vai ter um apoio do Governo Federal
importantíssimo para fortalecer. Recentemente, foi retomada a Comissão Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica. A gente tem uma política nacional hoje está sendo retomada. ”
Representação N4: “ A agroecologia é uma política necessária, né? Nós estamos falando de uma
política essencial. É uma ciência essencial à humanidade. E essa ciência é transformada em política. Ela
é essencial para a existência. E nós estamos falando de uma outra forma de produzir comida. A
reestruturação da Política Nacional de Agroecologia é necessidade e nós precisamos dessa política para
fomentar essas práticas nas comunidades. ”
Representação N2: “Construir uma política pública de segurança alimentar para o nosso
município e no nosso estado e tentar pegar esses recursos e trazer mais pra perto das comunidades que
precisam. ”
Representação N3: “A reestruturação do Ministério dos povos indígenas, a Secretaria estadual
dos povos originários e tradicionais do Tocantins, além do Ministério dos direitos humanos, a igualdade
racial que a gente vai ter, porque trabalha a questão de gênero e raça, essa dentro da questão da
agroecologia, principalmente para nós aqui do centro norte tocantinense é muito importante. A
reestruturação do INCRA, que é muito importante, por exemplo, a pessoa que vai assumir o INCRA do
Tocantins, agora é uma pessoa próxima dos movimentos.
Fonte: Autora (2023).

Os NEAs também vêm contribuindo nesse aspecto ao aproximar a academia das


comunidades, movimentos sociais e sociedade, no trabalho de construção do
102

conhecimento agroecológico. Porém, faz-se necessário um suporte financeiro. Souza et


al. (2017) destaca que os NEAs trouxeram a participação dos sujeitos na construção do
conhecimento, evidenciando, em seus princípios e métodos, as formas de atuação de
agricultores, agricultoras, técnicos, técnicas e estudantes, em volta de uma noção comum
de agroecologia.

7.5 CONCLUSÃO

No Tocantins as experiências agroecológicas são encontradas em territórios de


povos e comunidade tradicionais, principalmente áreas indígenas, quilombolas e em
assentamentos. Assim, como em todo o processo de desenvolvimento da agroecologia na
país, nota-se o protagonismo dos movimentos sociais também no estado.
Nesse sentido, a criação da Rede Articulação Tocantinense de Agroecologia
(ATA) fortaleceu os movimentos sociais e organizações que atuam no tema, além garantir
um suporte às comunidades em momentos de crise, como no período da pandemia da
Covid-19. A agroecologia, no contexto dos movimentos sociais, historicamente tem
ganhado força como um movimento político. No entanto, no caso do Tocantins, é
necessário construir novas parcerias e erguer uma frente ampla.
O circuito curto de comercialização, por meio das feiras livres, ainda são muito
utilizadas pelos agricultores familiares. O que causou um grande impacto aos mesmos no
período da pandemia da Covid-19. Outras possibilidades de comercialização precisam ser
pensadas para essa categoria, a fim de assegurar a venda dos produtos em situações
adversas.
O retrocesso político sofrido a partir do desmantelamento das políticas públicas
de promoção da agroecologia, assim como no restante do país, afetaram todos os atores
envolvidos no processo de desenvolvimento da agroecologia no Tocantins. No entanto,
na base da resistência, esses grupos mantiveram-se minimamente atuantes.
Quanto aos NEAs, os resultados observo permitem concluir que aqueles os
aprovados nos últimos editais, tiveram suas ações afetadas pelas restrições da pandemia
da Covid-19. Já que a proposta era de promover a interação entre academia, sociedade e
comunidades. Já os núcleos com mais tempo em atividade deram visibilidade as
experiências agroecológicas no estado, ainda que restrita aos ambientes científicos da
ABA, por meio de artigos e relatos de experiências.
103

Esses produtos envolveram estudantes, professores, agricultores, ONGs,


movimento sociais etc. Os estudantes que participaram das ações dos NEAs, tiveram a
oportunidade de viver na prática as dificuldades encaradas pelos agricultores, além de
contribuir na busca por soluções.
É importante ressaltar que as ações dos NEAs, a partir de 2019, aconteceram com
mínimo apoio institucional e parcerias adquiridas no decorrer das atividades. Nesse
sentido, é preciso que o apoio governamental seja reestruturado, que os núcleos sigam em
busca de novas parcerias, além pensarem na possibilidade de criação da rede de
agroecologia para o estado, de forma a fortalecer o movimento agroecológico no processo
de construção do conhecimento.
Com a mudança recente de Governo, mais alinhado as causas ambientais e sociais,
foi gerada a expectativa de uma reaproximação entre o poder público, movimentos sociais
e sociedades civil, com a possibilidade de terem suas demandas atendidas a partir da
reestruturação das políticas públicas de promoção da agroecologia.
Diante do que foi apresentado até o momento, percebe-se que o Tocantins, bem
como acontece no restante do país, possui grande diversidade de atores envolvidos no
campo da agroecologia, e que se mantiveram na resistentes nos momentos mais difíceis.
No entanto, ainda há um certo distanciamento entre os grupos atuantes, o que precisa ser
trabalhado, no intuito de fortalecer o movimento agroecológico no estado e assim, ter a
possibilidade de cobrar mais ações de apoio, tanto à nível municipal e estadual, de forma
a aproveitar o momento política nacional favorável.
104

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os Resultados da pesquisa permitem concluir que no contexto da Amazônia


Legal, a agroecologia desempenha um papel fundamental na promoção da
sustentabilidade. Assim como, a FAO tem feito globalmente, é vital enfatizar o potencial
da agroecologia para equilibrar a produção de alimentos com a conservação ambiental.
No Tocantins, um estado marcado por conflitos agrários e problemas socioambientais,
essa abordagem se torna ainda mais relevante.
Embora tenha havido um aumento no número de estudos sobre agroecologia na
Amazônia Legal nos últimos cinco anos, a produção científica ainda é considerada baixa,
especialmente no cenário internacional. Isso sugere que a expansão da agroecologia
enfrenta desafios significativos. Quanto a análise das variações no número de artigos
publicados, podem ser explicados por estar relacionados a eventos históricos, como a
institucionalização da agroecologia e a pandemia da Covid-19.
A diversidade de instituições e pesquisadores envolvidos na agroecologia na
Amazônia Legal reflete a pluralidade desse campo. Isso não se limita a questões técnicas
de manejo do solo, mas abrange uma variedade de assuntos.
Torna-se inevitável não reconhecer o protagonismo dos movimentos sociais na
promoção da agroecologia e na luta pela terra no estado. E, assim como aconteceu no
processo de criação da PNAPO, a ideia de uma rede de agroecologia no Tocantins é
relevante e pode fortalecer movimento agroecológico na luta por demandas que atendam
as especificidades do setor.
Os NEAs desempenharam um papel significativo na construção do conhecimento
agroecológico no Tocantins, e embora tenham sido impactados com o processo de
desmantelamento das políticas públicas de promoção da agroecologia e a pandemia da
Covid-19, mantiveram-se resilientes, bem como os demais atores envolvidos com o tema.
Há uma grande expectativa de reaproximação entre o poder público, movimentos
sociais e a sociedade civil para reestruturar as políticas públicas de promoção da
agroecologia a partir da mudança recente de governo, que se apresenta alinhado às
questões ambientais e sociais.
A observação de um certo distanciamento entre os grupos envolvidos com a
agroecologia no estado do Tocantins, destaca, mais uma vez, a necessidade de criar uma
105

rede de agroecologia para fortalecer o movimento e aproveitar o atual contexto político


nacional favorável.

8.1 Contribuições da Tese

O estudo demonstrou a importância da agroecologia no equilibro da produção de


alimentos com a conservação ambiental, especialmente em regiões sensíveis como no
caso da Amazônia Legal. As práticas agrícolas sustentáveis podem contribuir para a
preservação dos ecossistemas e a redução dos impactos causados pelas mudanças
climáticas.
Reforçou também a necessidade de manutenção dos Núcleos de Estudos em
Agroecologia, que promove a interação entra academia, movimentos sociais e sociedade,
proporcionam oportunidades de aprendizado prático e colaborativo, além de contribuir
para a formação de profissionais sobre questões voltadas para o tema.
Deu destaque àqueles que praticam a agroecologia no seu dia a dia, ao sistematizar
algumas das experiências das comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas, de
forma a valorizar seus conhecimentos e práticas tradicionais.
A pesquisa também buscou destacar a importância da criação de redes de relações,
sejam elas científicas ou não, com o objetivo de fortalecer o movimento agroecológico
no estado. Além disso, reafirmou o que muitos estudiosos já expressam, que a
agroecologia tem o potencial de contribuir para a sustentabilidade ambiental, o
desenvolvimento econômico regional, a educação e inclusão social, bem como para o
fortalecimento da voz de movimentos sociais.

8.2 Trabalhos futuros

Com base nas informações apresentadas no estudo, existem vários assuntos


podem ser exploradas no futuro. Entre eles:
• Estudos mais aprofundados sobre o que tem gerado a baixa quantidade de
produções científicas no tema agroecologia no estado do Tocantins e demais
estados da Amazônia Legal;
• Identificar os fatores que impedem a ampliação da visibilidade internacional
das pesquisas e práticas agroecológicas na região da Amazônia Legal;
106

• Identificar os desafios e possíveis soluções na criação das redes científicas e


da rede de agroecologia no Tocantins.
107

REFERÊNCIAS

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do Matopiba: dinâmicas territoriais e impactos socioeconômicos na fronteira da
expansão agropecuária no cerrado. Pedro de L ed. Sãp Paulo: Editora Ilustre, 2019.
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para a agroecologia no Brasil. ComCiência, n. 182, p. 1–7, 2016.
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elementos jurídicos da declaração das nações unidas sobre os direitos dos camponeses.
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Sustainable Development, v. 29, n. December 2009, p. 503–515, 2009.
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históriaAmbiente & Sociedade . [s.l: s.n.].
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Com a Inclusão Social. Holos, v. 2, p. 1–17, 2019.
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do Matopiba: dinâmicas territoriais e impactos socioeconômicos na fronteira da
expansão agropecuária no cerrado. Pedro de L ed. Sãp Paulo: Editora Ilustre, 2019.
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para a agroecologia no Brasil. ComCiência, n. 182, p. 1–7, 2016.
CASTRO, L. F P. O campesinato como sujeito coletivo de direito: um olhar sobre os
elementos jurídicos da declaração das nações unidas sobre os direitos dos camponeses.
Revista Brasileira de Sociologia do Direito, v. 10, n. 2, p. 105–133, 2023.
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[s.l: s.n.].
MAZOYER, M.; ROUDART, L. História das agriculturas no mundo: do Neolítico à
crise contemporânea. [s.l: s.n.]. v. v/n
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orgânica no brasil: avanços, obstáculos e efeitos das dinâmicas subnacionais. [s.l:
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109

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1. Estudos Sociedade e Agricultura, p. 42–61, 2003.
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multidimensionalidade. AMBIENTES: Revista de Geografia e Ecologia Política, v. 2,
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ZUPIC, I.; ČATER, T. Bibliometric Methods in Management and Organization.
Organizational Research Methods, v. 18, n. 3, p. 429–472, 15 jul. 2015.
110

APÊNDICE
111

QUESTIONÁRIO

ROTEIRO PARA ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE COM ATORES


ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA
AGROECOLOGIA NO TOCANTINS

ARTICULAÇÃO TOCANTINENTE DE AGROECOLOGIA

1 - Quando a articulação foi criada?

2 –Antes da criação da articulação, já existia algum envolvimento/histórico com a


agroecologia?

3 - Existe algum tipo de relação da articulação com os demais atores (outras ONGs, poder
público, universidade, etc.) atuantes no tema no Estado?

4. Quais as principais áreas de atuação da articulação e os territórios atendidos?

5 – Em suas atividades a articulação adota metodologias participativas?

6 - Quais os principais parceiros? Por que estes citados foram os escolhidos? Como os
parceiros contribuíram ou tem contribuído nas ações/atividades da articulação?

7 - Como a articulação registra e divulga as ações construídas e os resultados obtidos?

8 – Como a articulação foi afetado pela extinção do MDA e o desmonte das Políticas
Públicas Federais de promoção da agroecologia? De que forma?

9 – Após essas mudanças no cenário nacional, a articulação conseguiu se manter atuante?


Teve algum tipo de apoio financeiro?

10 – Quais as perspectivas da articulação, no âmbito Nacional e Estadual, no campo da


agroecologia?

11 – Nesse contexto, é possível a criação de uma Rede Estadual de Agroecologia?


112

ROTEIRO PARA ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE COM ATORES


ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA
AGROECOLOGIA NO TOCANTINS

NÚCLEO DE ESTUDOS EM AGROECOLOGIA (NEAs)

1 - Quando o núcleo foi criada?

2 –Antes da criação do núcleo, já existia algum envolvimento/histórico com a


agroecologia?

3 - Existe algum tipo de relação do núcleo com os demais atores (outras ONGs, poder
público, universidade, etc.) atuantes no tema no Estado?

4. Quais as principais áreas de atuação do núcleo e os territórios atendidos?

5 – Em suas atividades do núcleo adota metodologias participativas?

6 - Quais os principais parceiros? Por que estes citados foram os escolhidos? Como os
parceiros contribuíram ou tem contribuído nas ações/atividades do NEA?

7 - Como o núcleo registra e divulga as ações construídas e os resultados obtidos?

8 – Como o núcleo foi afetado pela extinção do MDA e o desmonte das Políticas Públicas
Federais de promoção da agroecologia? De que forma?

9 – Após essas mudanças no cenário nacional, o núcleo conseguiu se manter atuante?


Teve algum tipo de apoio financeiro?

10 – Quais as perspectivas do núcleo, no âmbito Nacional e Estadual, no campo da


agroecologia?

11 – Nesse contexto, é possível a criação de uma Rede Estadual de Agroecologia?


113

ANEXO
114

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa: ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO NA CONSTRUÇÃO DO


CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO NO ESTADO DO TOCANTINS (provisório)
Nome do Pesquisadora Principal: Sônia Cristina Dantas de Brito

O Sr. está sendo convidada (o) a participar desta pesquisa, que compõem a tese de
doutorado como título: “Ciência, prática e movimento social e suas conexões com a
agroecologia no Estado do Tocantins” (título provisório) desenvolvida por Sônia
Cristina Dantas de Brito, discente do Programa de Pós-graduação em Ciências do
Ambiente da Universidade Federal do Tocantins, sob orientação da Professora Dra.
Marina Haizenreder Ertzogue e coorientação da Professora Dra. Keile Aparecida Beraldo
e tem como finalidade compreender como os Núcleos de estudos em agroecologia atuam
e contribuem no desenvolvimento da agroecologia no estado do Tocantins. O convite a
sua participação se deve ao fato de integrar um dos Núcleos de Estudos em Agroecologia
(NEAs) localizados no Estado. O público-alvo da pesquisa são os membros de núcleos,
sendo um total de 4 participantes. Ao participar deste estudo a Sr. (a) permitirá que o (a)
pesquisador (a) utilize todo a material coleta no momento da entrevista. O/A Sr. (a) tem
liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em
qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo. Sempre que quiser poderá pedir mais
informações sobre a pesquisa através do telefone da pesquisadora. A pesquisa utilizará o
método de coleta de dados Entrevista em profundidade. Sua contribuição se dará a partir
da participação na entrevista, que poderá acontecer no formato presencial ou via Google
Meet. Em caso de atividade presencial, a entrevista terá seu áudio gravado via celular,
mas no caso de entrevista remota será gravada via Google Meet, tanto o áudio quanto a
imagem. O/A entrevistado/a colaborará respondendo perguntas de um roteiro de
entrevista estruturado pela pesquisadora do projeto. A entrevista somente será gravada se
houver autorização do(a) entrevistado(a), solicitada antes do seu início da conversa. O
tempo de duração da entrevista é de aproximadamente uma hora. As entrevistas serão
transcritas e armazenadas em arquivos digitais. Ao final da pesquisa, todo material será
mantido em arquivo, por pelo menos 5 anos. A participação nesta pesquisa não traz
complicações legais. O potencial risco ou desconforto está no constrangimento durante a
entrevista ou em alguma observação feita durante a atividade. Em caso de possível
115

situação de constrangimento, como indenização a pesquisadora garante retratação


pública. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em
Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução no. 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade. Todas as
informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente a
pesquisadora terá conhecimento dos dados. Ao participar desta pesquisa a Sr. não terá
nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo traga informações
importantes sobre a agroecologia no Estado do Tocantins, de forma que o conhecimento
que será construído a partir desta pesquisa possa revelar detalhes sobre a atuação dos
núcleos de estudos no tema e como estes tem contribuído na promoção da agroecologia.
Quanto ao resultado do estudo a pesquisadora se compromete a divulgar os resultados
obtidos. O/A Sr. (a) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem
como nada será pago por sua participação. Todas as despesas para a execução da pesquisa
será de inteira responsabilidade da pesquisadora por meio de recursos próprios. O
entrevistado receberá uma via do Termo de consentimento livre e esclarecido assinado
pelo entrevistado (a) e entrevistadora.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para


participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem.

Obs.: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,


manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste
termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados
obtidos neste estudo.

______________________________
Integrante NEA

_____________________________
Sônia Cristina Dantas de Brito
Pesquisadora responsável
116

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa: ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO NA CONSTRUÇÃO DO


CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO NO ESTADO DO TOCANTINS (provisório)
Nome do Pesquisadora Principal: Sônia Cristina Dantas de Brito

O Sr. (a) está sendo convidada (o) a participar desta pesquisa, que compõem a tese de
doutorado como título: “Ciência, prática e movimento social e suas conexões com a
agroecologia no Estado do Tocantins” (título provisório) desenvolvida por Sônia
Cristina Dantas de Brito, discente do Programa de Pós-graduação em Ciências do
Ambiente da Universidade Federal do Tocantins, sob orientação da Professora Dra.
Marina Haizenreder Ertzogue e coorientação da Professora Dra. Keile Aparecida Beraldo
e tem como finalidade compreender como os Núcleos de estudos em agroecologia atuam
e contribuem no desenvolvimento da agroecologia no estado do Tocantins. O convite a
sua participação se deve ao fato de integrar a Rede de Articulação Tocantinense de
Agroecologia no Estado. O público-alvo da pesquisa são os membros da organização,
sendo um total de 1 representante. Ao participar deste estudo a Sr. (a) permitirá que o (a)
pesquisador (a) utilize todo a material coleta no momento da entrevista. O/A Sr. (a) tem
liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em
qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo. Sempre que quiser poderá pedir mais
informações sobre a pesquisa através do telefone da pesquisadora. A pesquisa utilizará o
método de coleta de dados Entrevista em profundidade. Sua contribuição se dará a partir
da participação na entrevista, que poderá acontecer no formato presencial ou via Google
Meet. Em caso de atividade presencial, a entrevista terá seu áudio gravado via celular,
mas no caso de entrevista remota será gravada via Google Meet, tanto o áudio quanto a
imagem. O/A entrevistado/a colaborará respondendo perguntas de um roteiro de
entrevista estruturado pela pesquisadora do projeto. A entrevista somente será gravada se
houver autorização do(a) entrevistado(a), solicitada antes do seu início da conversa. O
tempo de duração da entrevista é de aproximadamente uma hora. As entrevistas serão
transcritas e armazenadas em arquivos digitais. Ao final da pesquisa, todo material será
mantido em arquivo, por pelo menos 5 anos. A participação nesta pesquisa não traz
complicações legais. O potencial risco ou desconforto está no constrangimento durante a
entrevista ou em alguma observação feita durante a atividade. Em caso de possível
117

situação de constrangimento, como indenização a pesquisadora garante retratação


pública. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em
Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução no. 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade. Todas as
informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente a
pesquisadora terá conhecimento dos dados. Ao participar desta pesquisa a Sr. não terá
nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo traga informações
importantes sobre a agroecologia no Estado do Tocantins, de forma que o conhecimento
que será construído a partir desta pesquisa possa revelar detalhes sobre a atuação dos
núcleos de estudos no tema e como estes tem contribuído na promoção da agroecologia.
Quanto ao resultado do estudo a pesquisadora se compromete a divulgar os resultados
obtidos. O/A Sr. (a) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem
como nada será pago por sua participação. Todas as despesas para a execução da pesquisa
será de inteira responsabilidade da pesquisadora por meio de recursos próprios. O
entrevistado receberá uma via do Termo de consentimento livre e esclarecido assinado
pelo entrevistado (a) e entrevistadora.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para


participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem.

Obs.: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,


manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste
termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados
obtidos neste estudo.

______________________________
Integrante Rede Articulação Tocantinense de Agroecologia

_____________________________
Sônia Cristina Dantas de Brito
Pesquisadora responsável

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