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PANDEMIA
Sônia Cristina Dantas Brito1, Marcelo Henrique Toscano Silva1, Matheus Gabriel
Chaves Rodrigues2 e Keile Aparecida Beraldo3 Rose Mary Gondim Mendonça4
1
Programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente, Universidade Federal do Tocantins
(UFT)
2
Coletivo Juventude Agroecológica, Palmas, Tocantins
3
Programa de Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas, Universidade Federal do
Tocantins (UFT)
4
Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal do Tocantins (UFT)
*eng.soniabrito@uft.edu.br
Resumo
Este trabalho tem o objetivo de apresentar a trajetória do Programa Resistência
Agroecológica desde a sua concepção até sua execução, que ocorreu durante o período da
pandemia. Os principais objetivos do Programa, amparados nos princípios da agroecologia
enquanto ciência, prática e movimento social, foram: apresentar e articular os diferentes
atores sociais que trabalham com o tema, além de informar e dialogar com a sociedade
acerca das questões relacionadas à segurança alimentar e nutricional, produção e
comercialização de produtos da agricultura familiar. Utilizou-se de abordagem metodológica
qualitativa, a partir de técnicas de pesquisa descritivas e observação participante. O
programa ocorreu por meio do canal Resistência Contemporânea na Plataforma Youtube,
tendo sido pensado em parceria com o Coletivo Juventude Agroecológica, e contou com a
participação de um grupo de acadêmicos, docentes e sociedade civil que atuam na área,
além do mais, foram entrevistados personagens que constroem esse ideal. Durante os dez
episódios houve 3.235 mil visualizações e 723 curtidas. A exibição dos programas permitiu
refletir sobre o momento de pandemia e a necessidade de resistência e enfrentamento dos
problemas. Assim, a relação do título do Programa com a situação política e econômica
ficou evidente, visto os desafios da continuidade das ações, mas a vontade de continuar no
processo de construção do conhecimento agroecológico. Logo, conclui-se que o Programa
promoveu a discussão não somente no meio acadêmico, mas também nas comunidades.
Introdução
A Agroecologia é tema base para a construção de uma sociedade igualitária, seu conceito
abrange sustentabilidade, não apenas na relação do homem com o plantio, mas também
toda a rede que permeia a vida no campo. Neste trabalho, se entende que “o termo
agroecologia é atualmente utilizado com significados bastante diferentes na ciência, e
também descrito como um movimento ou práticas agrícolas” (Wezel et al., 2009, p. 503),
sendo essa compreensão presente no caso brasileiro.
Durante os anos 2000 o Brasil em parceria com outros países da América Latina colocou em
prática a um conjunto de instrumentos que incorporam preocupações com as questões
socioambientais com editais lançados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia. Dessa forma,
uniu a ciência à prática e a política pública com a experiência dos Núcleos de Estudos em
Agroecologia (NEAs). Estes, vinculados às instituições de ensino e pesquisa, “procuram
garantir espaços de diálogo e o exercício da indissociabilidade entre pesquisa-ensino-
extensão, em constante e permanente interação com a sociedade” (Souza et al., 2017,
p.404).
Frutos de uma política pública brasileira de promoção à agroecologia por meio da ciência,
prática e movimento político, os núcleos vêm desempenhando um importante papel na
articulação entre agricultores, academia e movimentos sociais. No entanto, assim como
outras políticas públicas sofrem com a escassez de recursos, como observado por (Beraldo
et al., 2018, p. 405) “Quando se trata de fomento aos núcleos, os recursos ainda são
escassos e de difícil acesso, o que restringe, mas não impede, que alguns continuem suas
ações, por meio das parcerias construídas a partir de processos autônomos e solidários”.
Além do mais, a pandemia do novo coronavírus impôs um novo problema, a necessidade de
distanciamento, tornando o que já era difícil, ainda pior. Diante deste contexto, a pergunta
que norteia este trabalho é como os Núcleos podem continuar suas ações?
Diante da escassez de recursos e em virtude da pandemia do novo coronavírus, o Núcleo
de Estudos em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal do
Tocantins (NEADS/UFT) em parceria com o Coletivo Juventude Agroecológica, buscou
alternativas para a continuidade de suas ações de ensino, pesquisa e extensão em formato
digital. Assim, nasceu o Programa Resistência Agroecológica, que em formato remoto
através da Plataforma Youtube, debateu numa estrutura de roda de conversa com atores
importantes que permeiam a agricultura familiar, em especial no estado do Tocantins.
Os principais objetivos da ação foram: apresentar e articular os diferentes atores sociais que
trabalham com a agroecologia; discutir, informar e dialogar com a sociedade acerca das
questões relacionadas à agricultura familiar, trocar experiências entre acadêmicos, docentes
e sociedade civil, além de entrevistar personagens que constroem esse ideal. Assim, o
objetivo deste trabalho é apresentar a trajetória do Programa Resistência Agroecológica
desde a sua concepção até a sua execução, que ocorreu durante o período da pandemia,
como também analisar os resultados alcançados.
Metodologia
Neste trabalho utilizou-se de abordagens metodológicas qualitativa, a partir de técnicas de
pesquisa descritivas e observação participante. O método da observação participante
“Consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de
uma situação determinada. Nesse caso, o observador assume, pelo menos até certo ponto,
o papel de um membro do grupo (Prodanov & Freitas, 2013, p. 104.).
Os dados foram coletados a partir das informações disponibilizadas pela Plataforma
Youtube, para visualizações e curtidas. E, por último, os resultados foram apresentados e
analisados a partir dos autores utilizados para a elaboração dos roteiros entre os quais
destaca-se: Paulo Freire, Josué de Castro (1965), Niederle et al (2016).
A equipe executora foi composta por quatro profissionais do NEADS/UFT. A participação foi
voluntária e ativa desde o planejamento da produção e execução do programa. A equipe se
reunia uma vez por semana por meio de videoconferência, para definir: roteiro, articular e
convidar os atores sociais, mediação e parte técnica no momento das transmissões, havia
rodí-zio das funções. Cada tema foi definido e planejado conforme afinidade dos integrantes
da equipe, o que facilitou a mediação.
Os episódios contaram com a participação de atores das mais diversas áreas de diferentes
instituições das esferas federais, estaduais e municipais, agricultores familiares,
pesquisadores, professores, estudantes, representante político, associações, organização
não-governamental. Sobre o debate houve consenso na escolha do contexto local, regional
e nacional, ocorreu a partir de temas presentes no cenário encontrado no Tocantins,
respeitando o pluralismo de ideias e as experiências dos participantes.
Resultados
De início foi pensado quatro programas de caráter experimental, porém devido ao sucesso
dos dois primeiros episódios fomos convidados para mais oito episódio. Ao observar a
organização dos dez episódios do Programa Resistencia Agroecológica destaca-se o fato
que se ampararam nos princípios da agroecologia, enquanto movimento, ciência e prática. A
organização foi pensada em parceria com o Coletivo Juventude Agroecológica e o canal
Resistência Contemporânea na Plataforma YouTube. Os episódios ocorreram de junho a
agosto de 2021, exibidos semanalmente nas quartas-feiras às 14 horas no horário de
Brasília e em formato virtual ao vivo, mas que ainda estão disponíveis na plataforma.No
primeiro episódio destaca-se a participação da juventude rural no Movimento sem Terra do
Estado do Tocantins (MST), onde foram tratados das lutas e resistência destes jovens no
contexto do rural tocantinense. Nos episódios 2, 7 e 10, se observou a importância dos
espaços de educação e arte na construção do pensamento agroecológico entre crianças e
jovens. São lugares que apresentam a agroecologia na teoria e na prática.
No episódio 3 sobre as comunidades tradicionais destaca-se o papel da Comunidade
Matinha, e sua importância na resistência do sistema convencional para o agroecológico
que mesmo diante das dificuldades se mantem no enfrentamento do agronegócio. E ainda
hoje, buscam preservar a biodiversidade do Bioma Cerrado.De acordo com o quadro 1,
entre os temas abordados, houve um que gerou e repercutiu com uma quantidade maior de
visualizações e curtidas. Outro fato que cabe destacar foi a interação no momento da
transmissão, pois tratava-se de um assunto polêmico que trazia em seu contexto as ações
contraditórias do Ministério do Meio Ambiente episódio 5 - Governo Bolsonaro em chamas
Política Ambiental: Queimadas. Durante o programa foram abordados o retrocesso sobre a
legislação e às questões ambientais, comunidades tradicionais, desmatamento e queimadas
nos últimos anos. Sendo um assunto conflituoso, num momento delicado no cenário político
brasileiro, em determinado momento do debate houve manifestações de apoiadores do atual
governo com comentários agressivos.
Quadro 1. Dados sobre os episódios do Programa Resistência Agroecológica – Tema,
convidados e convidadas, visualizações e curtidas, até junho de 2022.
Discussão
O Programa alcançou os objetivos almejados, pois conseguiu alcançar mais de 3.235 mil
pessoas. Durante a execução dos programas houve comunicação e extensão, reportando a
Paulo Freire. A educação tem papel fundamental para a transformação e emancipação
social, para a formação de pessoas e para a construção da cidadania.
O debate sobre as práticas agroecológicas os cuidados com a terra e o enfrentamento ao
agronegócio deixou transparecer que apesar de ser um feito difícil, o processo de
convencimento para a transição agroecológica continua em pauta no estado Tocantins.
Outro fato não menos importante foi a pandemia covid-19, que sob a gestão do desgoverno
de Bolsonaro, expôs ainda mais as diversas facetas das desigualdades estruturais sociais
brasileiras e também as acentuaram. E esta pauta tem sido motivo de preocupações, a fome
ainda continua.
Conclusões
Com isso, constata-se que o uso de mídias digitais (redes sociais, sites, Instagram e o
WhatsApp) também foram a saída para a continuidade das ações de extensão no contexto
pandêmico em outras instituições.
Por fim, agradecemos aos nossos parceiros na realização do Programa Resistência
Agroecológica: o Coletivo Juventude Agroecológica e o canal Resistência Contemporânea, e
a todos participantes entrevistados.
Literatura citada
Aires, M. L. A. de F.; Melo, G. C.; Majolo, L.; Santos, S. A. dos. (2019). Agroecologia em prosa virtual:
uma extensão universitária possível sobre saúde e agroecologia em um contexto de pandemia.
16°Congresso Nacional do Meio Ambiente - Participação Social, Ética e Sustentabilidade, 1–5.
Beraldo, K. A.; Mendonça, R. M. G.; Rodrigues, W. (2018). Núcleos de Estudos em Agroecologia:
uma política pública para o fortalecimento da extensão universitária. Revista de extensão rural e
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Chaves, C. J. A.; Oliveira, E. P.; Romagnani, P.; Erbano, C. P. (2019). Extensão Universitária E Os
Preceitos Da Indissociabilidade: Um Compromisso Da Universidade Com a Inclusão Social.
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Prodanov, C. C., & Freitas, E. C. de. (2013). Metodologia do trabalho científico [recurso eletrônico] :
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Cesar de Freitas. – 2. ed. – Novo Hamburgo: Feevale, 2013. Sistema requerido:
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Souza, N. A., Ferreira, T., Cardoso, I. M., Oliveira, E. C. L. de, Amâncio, C., & Dornelas, R. S. (2017).
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Wezel, A., Bellon, S., Doré, T., Francis, C., Vallod, D., & David, C. (2009). Agroecology as a science,
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