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Objetivos específicos:
Identificar as principais etapas do processo de comercialização de cereais em Moçambique.
Identificar os atores envolvidos na comercialização de cereais e suas respetivas funções.
Analisar os desafios enfrentados pelos produtores na comercialização de cereais em
Moçambique.
Propor estratégias e políticas para fortalecer a comercialização de cereais e promover a segurança
alimentar no país.
Problematização
A comercialização de cereais em Moçambique enfrenta diversos desafios, tais como a falta de
infraestrutura adequada, dificuldades no acesso a mercados, precariedade dos sistemas de
armazenamento e transporte, falta de informações sobre preços e demanda, entre outros. Esses
obstáculos comprometem a eficiência e a rentabilidade do sector, além de dificultar a vida dos
produtores rurais e limitar o acesso da população a alimentos de qualidade.
Justificativa
Avaliar a comercialização de cereais em Moçambique é de suma importância para a promoção da
segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável do país. Compreender os desafios e
oportunidades desse sector possibilita a adopção de medidas efetivas para melhorar a renda dos
produtores, aumentar a disponibilidade de alimentos, fortalecer a economia local e reduzir a
dependência de importações.
REVISÃO LITERÁRIA
2.1. Comercialização De Cereais em Moçambique
A comercialização desempenha um papel importante na economia nacional, constituindo uma das principais
fontes de rendimento das populações das zonas rurais, um mecanismo de ligação da produção e do mercado
entre as zonas rurais e as zonas urbanas e é um instrumento indutor da produtividade agrícola (PICA, 2020)
A produção agrícola no país preconiza como ações estratégicas a promoção da comercialização agrícola
orientada para o mercado interno e externo com incidência nos cereais, o caso de milho, mexoeira, mapira e
arroz (PQG, 2019).
Área com cultivo de cereais
Segundo o atlas mundial de dados em 2021, a área de terra destinada à produção de cereais em Moçambique
foi de 2.468.000(hectares), referente à área colhida, embora alguns países relatem apenas a área semeada ou
cultivada. Os cereais incluem trigo, arroz, milho, cevada, aveia, centeio, milhete, sorgo, trigo mourisco e
grãos mistos.
Rendimento dos cereais
O rendimento de cereais foi de 1.009(Kg/hectare), medido em quilogramas por hectare de terra colhida,
incluindo trigo, arroz, milho, cevada, aveia, centeio, milheto, sorgo, trigo mourisco e grãos mistos. Os
dados de produção de cereais referem-se a cultivos colhidos apenas para obtenção de grãos secos.
Cultivos de cereais colhidos para feno, colhidos verdes para alimentação, ração ou silagem, e aqueles
utilizados para pastagem são excluídos.
Produção e comercialização do milho
O milho é a cultura agrícola de maior importância em Moçambique, ocupando cerca de 1/3 da área total
cultivada no país (Howard et al., 2000). Esta cultura pode ser considerada uma cultura tanto alimentar
básica assim como de rendimento. O potencial para produção do milho em Moçambique, está associado
a condições agro-ecológicas do país (Walker, et al., 2006).
No ano de o milho foi o cereal mais produzido em 2020, ultrapassando 1,6 milhão de toneladas,
seguido pelo sorgo (142.000 toneladas) e arroz (137.000 toneladas). Onde
A província de Tete, no centro do país, teve a maior produção de milho na campanha 2019/20,
contribuindo com 28,26% do volume nacional.
A província da Zambézia foi a maior produtora de arroz, respondendo por 31,23% da produção
nacional, e também lidera a produção de diversas variedades de feijão com 113.971 toneladas, um
terço da produção nacional.
A província de Nampula, ao norte, lidera na produção de amendoim, com cerca de 46.034 toneladas,
e na produção de mandioca, com um total de 2,5 milhões de toneladas. MADR,2022
Baixo acesso ao mercado: O acesso a mercados de insumos e produtos, ainda constitui
problema em Moçambique. Como consequência ainda reside o problema da assimetria de informação ligada
aos preços justos constituindo este, um factor inibidor aos agricultores no que respeita o aumento da produção
e o processo de comercialização dos seus produtos (Lima, 1997 citado por Loganemio, 2013). Na perspetiva
de melhorar o acesso ao mercado, o MINAG (2011) através do seu Plano Estratégico de Desenvolvimento do
Sector Agrário (PEDSA) definiu um dos seus pilares como acesso ao mercado. Este pilar visa desenvolver as
infra-estruturas de armazenamento e comercialização.
Tabela 2. Percentagem dos Agregados familiares que acederam ao mercada por tipo de cultura
Factores que afecta a produção e comercialização em Moçambique Baixo acesso ao crédito para
agricultura Em Moçambique,
A evidência mostra que o acesso ao crédito tem alcançado, em média 2.7% aos AFs por ano. Em 2012,
2.1% dos AFs das pequenas e médias explorações diziam ter tido acesso ao crédito. Isto representava
um decréscimo em 26.2% relativamente aos níveis de 2002.
Fracas infra-estruturas de comunicação:
As vias de acesso que ligam as zonas de produção com os centros de consumo (vilas ou cidades) ainda
são de difícil transitabilidade.
Por exemplo o estudo de Tostão e Brorsen (2005) sobre a eficiência espacial de preços de milho nos
mercados de Norte, Centro e Sul de Moçambique no período pós reforma, justificava a limitação do
comércio espacial entre estas zonas devido
Mercado de arroz
O mercado do arroz em casca é basicamente oligopsónio, isto é, caracteriza-se por ter de um lado muitos
vendedores dispersos, e por outro lado poucos compradores. A quantidade de produção de arroz nacional
que é realmente comercializado é muitas vezes insuficiente para sustentar os mercados nacionais.
Agentes (factores) da comercialização agrícola
O fluxo de comercialização de mercados agrícolas é comummente desdobrado em quatro categorias de
agentes (produtos agrícolas, agro-industriais, distribuidores e consumidores) responsáveis pela
comercialização dos produtos agrícolas e pelo confronto entre a oferta e a demanda.
Importação e Exportação de cerais no país
Os cereais mais importados em Moçambique em 2019 incluem: arroz, trigo e milho. Os seis principais
produtos agrícolas exportados em 2019 são: querosene, açúcar, feijão, banana e tabaco. O norte do país, na
província de Nampula, é uma região com forte influência da demanda do Malawi; quando este país não
consegue boas colheitas (safra), recorre ao milho moçambicano, nas províncias de Zambézia, Niassa e
Tete, principalmente.
Mercados agrícolas em Moçambique
Segundo Mosca (2008), Moçambique faz parte dos mercados rurais que possuem distorções que nem
sempre permitem a verificação. As dificuldades nas comunicações e os escassos meios de transporte, os
diferentes tipos de produtores e de consumidores, geram mercados específicos, bastante delimitados
espacial e socialmente.
Os produtos agrícolas de origem nacional consumidos principalmente nos centros urbanos são na maioria
provenientes da agricultura familiar através rede comercial existente, como agências públicas ou actores
privados de mercados que compram dos pequenos produtores os produtos e em seguida utilizam-nos na
alimentação tanto como matéria-prima na indústria de processamento (ex: produção de farinha e de
ração).
Os mercados informais são comuns nos países africanos. Neste sentido, é importante ressaltar às
diferenças entre os conceitos de mercado e economia informais.
Preços agrícolas em Moçambique
Os preços agrícolas são controlados de alguma forma pelo Governo. Para o efeito, são utilizados
diferentes instrumentos: subsídios diversos aos produtores e ao consumo, impostos, barreiras
alfandegárias, bancos alimentares, estabelecimento de preços oficiais, quotas de produção, gestão de
estoques alimentares para estabilização dos mercados, entre outros (MOSCA, 2008).
COMERCIALIZAÇÃO DE CEREAIS E OUTROS PRODUTOS NO PAÍS
A comercialização agrícola é um “processo contínuo e organizado de encaminhamento da produção
agrícola ao longo de um canal de comercialização, no qual o produto sofre transformação, diferenciação
e agregação de valor” (MENDES; PADILHA JUNIOR, 2007, p. 8).
As principais importações de milho são feitas pelo sector privado. Na região sul, mais concretamente na
cidade de Maputo, os principais importadores de produtos são as grandes moageiras industriais, como a
Companhia Industrial da Matola (CIM), MEREC, Higest, SMC, entre outras, e os grandes armazenistas,
como a Delta Trading, Sasseka, Africom etc. (JACINTO CHAMBO, 2013).
Conti…
Como já citado, a maior parte da produção do milho vem das províncias de Sofala, Manica, Zambézia e Tete, a figura abaixo mostra as quantidades de vendas efetuadas por
locais e a natureza do agricultor, ou seja, se este é caracterizado como familiar ou comercial e até associações.
Figura 1. Comercialização agrícola; Compras Locais no período de 2008-2012 (toneladas)
Canais de produção e comercialização
O milho produzido e comercializado em Moçambique segue canais ou segmentos de mercado de certa forma
semelhante aos de outros grãos, porém algumas diferenças podem surgir dentro dos diferentes canais de
comercialização de cada produto, originadas pelo tipo de Actor que intervém em cada canal de produção e
comercialização de ambos os produtos.
2.1.5.1.Canal 1 (Produção de cereais para o consumo familiar)
Neste canal, a produção de cerais (exemplo o milho) é orientada para subsistência dos próprios produtores, não
havendo intervenção de nenhum Actor de mercado. Os baixos níveis de produção de milho e a necessidade de
salvaguardar a segurança alimentar fazem com que os produtores não coloquem esses produtos no circuito comercial,
mesmo com preços atractivos.
Canal 2 (Comercialização de cereais com intervenção de intermediários)
Este é o principal canal de provisão de cereais para os mercados consumidores do país. Os cereais produzidos pelos
pequenos produtores é inicialmente adquirido por intermediários, que, quando se aproxima a época da colheita,
proliferam nas zonas rurais, aliciando os produtores, sobretudo das zonas mais remotas, para comprar os seus
produtos.
Canal 3 (Comercialização de milho sem intervenção de intermediários)
Este canal surge pelo fato de alguns produtores, com alguma informação sobre o preço praticado, preferirem
transportar os seus produtos em bicicletas/motos e, pessoalmente, procurarem para vender os comerciantes
grossistas, que normalmente oferecem melhores preços, comparativamente aos intermediários.
Canal 4 Produção e comercialização de milho para processamento em farinha
Este canal resulta da associação entre os canais 2 e 3, porém neles os grossistas são maioritariamente as
moageiras, que compram os cereais para processar em farinha e outros derivados. Este canal é muito
importante para as moageiras particularmente localizadas nas regiões centro e norte de Moçambique, que
dependem quase na totalidade do produto localmente produzido.
Depois de processada, a farinha é disponibilizada aos grossistas, que por sua vez vendem aos retalhistas
antes de chegar aos consumidores. Entretanto, em Maputo existe um certo grupo de consumidores que
adquire o produto (exemplo o milho) nos grossistas ou retalhistas para mandar processar em farinha em
algumas moageiras caseiras movidas a energia eléctrica, como alternativa à aquisição do processado e
empacotado, que é vendido a preços elevados.
Figura 2 - Os canais de produção e
comercialização de cereais em Moçambique.