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Moçambique
© Johnson/NASA (CC BY-NC 2.0)
PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES -
MOÇAMBIQUE
Catalisando a transformação sustentável
e inclusiva dos sistemas alimentares
Publicado por
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento
e a União Europeia
Roma, Montpellier, Bruxelas. 2022
Citação obrigatória
FAO, União Europeia e CIRAD. 2022. Perfil de Sistemas Alimentares - Moçambique. Catalisando a transformação sustentável e
inclusiva dos sistemas alimentares. Roma, Bruxelas e Montpellier, França. https://doi.org/10.4060/cc0498pt
As designações utilizadas e a apresentação do material neste produto informativo não implicam a expressão de qualquer
opinião por parte da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Centro de Cooperação
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refletem necessariamente as opiniões ou políticas do CIRAD, da FAO ou da UE.
ISBN 978-92-5-136506-9
© FAO, 2022
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Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike) 3.0 licença IGO (CC BY-NC-SA 3.0 IGO; https://creativecommons.org/
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Mensagens-chave
Nas últimas décadas, Moçambique fez progressos significativos em direção ao desenvolvimento
sustentável e inclusivo, mostrando que é possível reduzir sua insegurança alimentar crônica.
No entanto, provou-se difícil manter essas melhorias, uma vez que os principais desafios para alcançar
sistemas alimentares sustentáveis permanecem.
Moçambique declarou a agricultura uma prioridade nacional e está empenhado em alocar 10 por cento do
seu orçamento nacional ao setor. Isso vai ao encontro com a «Declaração de Maputo para a fome zero».
No entanto, ainda tem algum caminho a percorrer para atingir esse objetivo.
A baixa disponibilidade e o pouco acesso a alimentos nutritivos, saudáveis e diversificados contribui para
dietas de baixa qualidade, sendo que Moçambique carrega o triplo fardo da desnutrição crônica e aguda,
deficiências de micronutrientes e problemas crescentes de sobrepeso e obesidade.
As dificuldades socioeconômicas incluem a rápida urbanização à medida que as pessoas deixam as áreas
rurais em busca de meios de subsistência decentes. Alguns também buscaram refúgio, pois os conflitos
armados nas regiões Centro e Norte levaram ao deslocamento interno.
A taxa de desemprego é alta e a desigualdade de renda está aumentando. Existem também disparidades
substanciais de oportunidades entre áreas urbanas e rurais e entre diferentes regiões que, por sua vez,
contribuem para o ressurgimento de conflitos e tensões sociais.
Os sistemas alimentares também são afetados pela falta de coerência política e governança inclusiva. O
setor agroalimentar, em particular, carece de investimento público e privado e apoio institucional para
a transformação sustentável, com agricultores familiares e pequenas empresas encontrando pouca
assistência, apesar da intenção declarada de destinar mais recursos orçamentários à agricultura.
Moçambique depende de capital estrangeiro e os investimentos privados são insuficientes, sendo que os
esforços para superar estes desafios são dificultados por um modelo de desenvolvimento que visa princi-
palmente à agricultura em larga escala orientada para a exportação e a extração de combustíveis fósseis.
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ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
A integração do mercado é limitada e o setor privado e a agricultura familiar de pequena escala estão
fracamente conectados, com infraestrutura precária e cadeias de valor subdesenvolvidas, limitando os
retornos da agricultura e da pesca e comprometendo os meios de subsistência, particularmente nas áreas
rurais.
Moçambique é vulnerável às mudanças climáticas e aos eventos extremos relacionados com o clima, tais
como inundações, secas, tempestades tropicais e ciclones. Altos níveis de degradação da terra, rápido
desmatamento e perda de fertilidade do solo também contribuem para o aumento da vulnerabilidade das
pessoas carentes das áreas rurais.
A transformação sustentável dos sistemas alimentares pode se beneficiar do apoio aos pequenos
agricultores, incluindo jovens e mulheres, para diversificar a produção e promover uma agricultura
inteligente em termos de nutrição.
© Jeffrey Barbee/Thomson Reuters Foundation (CC BY-NC-ND 2.0)
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Fluxos de produtos
alimentares Segmentos da cadeia Ambiente
Motores IMPACTOS Interligações entre
Fluxos de coprodutos de abastecimento direto motores / entre impactos
e resíduos
Motores de
Motores biofísicos Motores Motores políticos Motores Motores
infraestrutura
e ambientais territoriais e de governança socioeconômicos demográficos
e tecnologia
Determinantes
Setores não
Ambiente de produção e entrega Ambiente de consumo pessoais das
alimentícios
escolhas
alimentares
Influenciam Influenciam
Gestão de resíduos
Importação /
Sistema central Geram exportação de
alimentos
Fonte: David-Benz, H., Sirdey, N., Deshons, A., Orbell C. & Herlant, P. 2022. Estrutura conceitual e método para avaliação nacional e territorial
dos sistemas alimentares: Catalisando a transformação sustentável e inclusiva dos sistemas alimentares. Rome, Brussels and Montpellier, France. FAO,
European Union and CIRAD.
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ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
A abordagem envolve uma compreensão deta- Esta abordagem foi concebida como uma
lhada dos principais desafios ao longo das quatro avaliação preliminar rápida para sistemas
dimensões de sistemas alimentares sustentáveis alimentares e pode ser colocada em prática
e inclusivos: (i) segurança alimentar, nutrição e durante um período de oito a 12 semanas.
saúde; (ii) crescimento econômico inclusivo, empre- A metodologia foi aplicada em mais de 50
gos e meios de subsistência; (iii) uso sustentável países como um primeiro passo para apoiar
dos recursos naturais e meio ambiente; e (iv) equilí- a transição para sistemas alimentares
brio e equidade territorial. sustentáveis.
Com o objetivo de identificar questões críticas que A avaliação baseia-se na pesquisa de sistemas
afetam a sustentabilidade e a inclusão dos sistemas alimentares realizada por uma equipe de
alimentares, seus desafios e principais dinâmicas consultores nacionais e internacionais.
são especificados na forma de Questões-chave Um workshop online de consulta às partes
de sustentabilidade (QCS), cujas respostas (ver interessadas foi realizado em Moçambique em
representações esquemáticas para todas as QCS) agosto de 2021 para compartilhar e refinar os
ajudam a identificar alavancas sistêmicas e áreas resultados e identificar as principais alavancas
de ações que são essenciais para trazer as transfor- sistêmicas que poderiam ser colocadas em ação
mações desejadas nos sistemas alimentares. para melhorar a sustentabilidade do sistema.
31,3
População total (2020)1 Acesso a eletricidade (2019)1 29.6%
milhões
Taxa de crescimento populacional (2020)1 2,9% Assinaturas de celular (por 100 pessoas, 2019)1 49
Crescimento da população urbana (2020)1 4,4 Índice de desigualdade de gênero (2020)2 0.523
PIB / PPC per capita (USD internacional atual, 2020)1 1 297 Emprego na agricultura (% do emprego total, 2019)1 70.2%
2
UNDP. 2022. Mozambique. Human Development Reports. Cited March 2022. https://hdr.undp.org/en/countries/profiles/MOZ;
3
Global Hunger Index. 2021. Mozambique. Global Hunger Index 2021. Cited March 2022. www.globalhungerindex.org/mozambique.html.
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Os alimentos são produzidos principalmente Figura n°2. Valor da produção agrícola (mil USD, 2018)
através da agricultura de subsistência, caracteri- 329 422
31 536
zada por baixa produtividade e pequenos volumes,
diversidade de culturas limitada e vulnerabilidade 665 844 1 162 251
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ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
Figura n°3. Evolução da produção dos principais produtos agrícolas (volume em toneladas)
8 000 000
7 000 000
6 000 000
Produção (toneladas)
5 000 000
4 000 000
3 000 000
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19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
Cereais, total Oleaginosas Leguminosas, total Raízes e tubérculos, total Culturas para produção de açúcar Frutas e vegetais
Os dados da FAO de 2021 também sugerem carne bovina (carne vermelha) diminuiu um pouco
fortes diferenças regionais. Enquanto se prevê a partir de 1990, antes de mostrar uma pequena
que a produção de cereais nas províncias da tendência de aumento desde 2014. Enquanto isso,
região do Centro e do Sul esteja em níveis médios a produção de carne ovina e caprina estagnou
ou acima da média, espera-se que a produção (figura n°4) (FAOSTAT; MADER, 2021).
nas províncias do Norte, particularmente Cabo
Delgado, caia, refletindo o impacto negativo A produção de peixe é dominada pelo setor
do clima adverso e dos conflitos na plantação familiar, que representa 90 por cento da
e nos rendimentos das colheitas (FAO - GIEWS, pesca artesanal. A produção anual global vem
sem data). Após estagnação por mais de aumentando de forma constante, tendo triplicado
duas décadas, a produção de leite aumentou entre 2006 e 2017 de aproximadamente 102 000
fortemente no início dos anos noventa (figura toneladas para 340 000 toneladas (MIMAIP, 2019).
n°4) como resultado do aumento do investimento A pesca artesanal consiste em várias práticas de
por fazendas leiteiras privadas, cooperativas e pesca de pequena escala, baixa tecnologia e baixo
instalações de processamento, especialmente capital, realizadas por famílias de pescadores
nas províncias de Manica e Sofala. Consideradas individuais, muitas das quais pertencem a grupos
as principais bacias leiteiras, essas províncias étnicos costeiros ou insulares. A aquicultura
fornecem 66,4 por cento do leite produzido no continua limitada, enfrentando desafios como
país para os mercados local, regional e nacional falta de acesso a insumos, serviços financeiros e
(O’Donovan, 2021). Embora a produção de ovos e investimentos essenciais em cadeias de frio (IFAD,
aves tenha aumentado desde 2000, a produção de 2020a; MIMAIP, 2019).
© credits
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
900 000
100 000
800 000
700 000
80 000
Toneladas de leite
600 000
Toneladas
400 000
40 000
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Carne bovina e de búfalo Produção primária de ovos Carne, aves Carne de ovelha e de cabra Leite, total
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40%
1 400 000
35%
1 200 000
30%
1 000 000
1 000 USD
25%
800 000
20%
600 000
15%
400 000
10%
200 000 5%
0 0%
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Preparações à base de cereais Outros alimentos (exceto cereais e peixes) Alimentos importados (% do total de importações)
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Figura n°6. Estrutura de disponibilidade de alimentos por Figura n°7. Fornecimento diário de hortaliças, frutas,
grupo de produtos (% de calorias/capita, 2018) leguminosas, carnes, peixes, ovos e leite (gramas/pessoa)
80
74
Cereais 37%
69
Outros 1% 70
Outros produtos animais 1%
Peixes, frutos do mar 1% 60
g/pessoa/dia
Carne 3% 50
Frutas e vegetais 2%
40
40
33
30
30
26
Açucar e adoçantes 6%
24
16
20
16
14
13
2
10
5.
8
4.
Oleaginosas e 0
0
óleos vegetais 14%
as
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Le
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Pe
Fr
O
Ca
ge
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Ve
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Raízes amiláceas,
gu
Le
leguminosas e nozes 35% 2000 2018
Fonte: Compilado a partir de dados da FAOSTAT de 2020. Fonte: FAOSTAT. Folha de balanços alimentares.
12
80 18 22
29 28
60
82
40 73 70
58 63
20
0
Produção ou venda Serviços de auto-emprego, Biscate ou ganho-ganho, Pesca, aquicultura Salários, pensões
de produtos agrícolas processamento tradicional, assistência alimentar, e remessas
e/ou pecuários comércio mendicância: pelo menos
80% da renda total Adequate Moderate Poor
Nota: O grupo n°3 inclui o «win-win» ou «ganho-ganho», que se refere ao trabalho ocasional feito para renda adicional. Fonte: Secretariado Técni-
co de Segurança Alimentar e Nutricional. 2014. Relatório do Estudo de Base de Segurança Alimentar e Nutricional 2013. Maputo, Moçambique.
1
A qualidade da dieta (ruim, moderada, adequada) é derivada dos Escores de consumo alimentar (FCS). Quando a pontuação está entre 0 e 21 é
considerada pobre ou ruim, entre 21,5 e 35 é limítrofe ou moderada e acima de 35 é aceitável ou adequada (SETSAN, comunicação pessoal).
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ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
Em termos de consumo alimentar e de variedade Nos quintis mais pobres, que constituem 60
nutricional, 67 por cento das famílias têm uma por cento da população, mais da metade de
alimentação adequada, 23 por cento têm uma seus gastos são com alimentos. Dos gastos
alimentação moderada e 10 por cento têm uma mensais das famílias na compra de alimentos,
alimentação pobre (SETSAN, 2014). As provín- 47 por cento são para a compra de cereais e
cias do Norte, Zambézia e Tete, na zona Central, produtos de panificação, 20,3 por cento para
concentram a maior proporção de famílias que legumes, batatas e outros tubérculos, 5,6 por
consomem dietas pobres e moderadas. Em geral, cento para frutas, 11 por cento para peixes e
as dietas consumidas nas áreas rurais são nutricio- apenas 1,1 por cento para a compra de ovos,
nalmente mais pobres do que as consumidas nas leite e seus derivados (INE, 2015). Finalmente,
áreas urbanas. (SETSAN, 2014). a oferta de proteína por pessoa foi em média
de 50 g/dia, com contagem de proteína animal
Em média, mais de um terço (35,6 por cento) das de apenas 8,3 g/dia (FAOSTAT Suite of Food
despesas das famílias moçambicanas são em security indicators, sem data), sugerindo uma
alimentos e bebidas não alcoólicas, sendo a pro- dieta desequilibrada e contribuindo para
porção substancialmente mais elevada nas zonas maus resultados nutricionais e deficiências
rurais representando 53 por cento, e menor nas de micronutrientes, especialmente para as
áreas urbanas representando 20,7 por cento. famílias mais pobres.
2
A pesquisa definiu os estabelecimentos como unidades econômicas existentes de forma independente e classificadas como (i) estabelecimentos
agrícolas, se focadas na produção de culturas, (ii) explorações pecuárias, se dedicadas à criação animal, ou (iii) como uma combinação das duas.
(MADER/DPP, 2021).
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
(FAO, 2021). As mulheres são particularmente portanto, menos habilidades do que os homens.
desfavorecidas nas comunidades rurais, tendo Os cuidados de saúde são inadequados e a morte
consideravelmente menos acesso à educação e, no parto é comum (IFAD, sem data).
Tabela n°1. Tamanho médio da propriedade e cultivo total dos agricultores familiares nos núcleos familiares (hectares)
Área total
Área média
Área total cultivada Área total cultivada cultivada por
Área média por cultivada por núcleo
Província – 1o plantio anual – 2o plantio anual pequenos e médios
núcleo familiar (ha) familiar –1o plantio
(ha) (ha) estabelecimentos
anual (ha)
agrícolas (ha)
Fonte: Ministry of Agriculture and Rural Development, Directorate of Planning and Policies. 2021. Integrated Agricultural Survey: Statistical
Framework, Maputo, Mozambique. https://www.agricultura.gov.mz/wp-content/uploads/2021/06/MADER_Inquerito_Agrario_2020.pdf.
Os proprietários de gado podem ser melhor gestão animal e saúde, por exemplo, atra-
classificados em familiares ou privados. Os vés da contratação de serviços veterinários. Na
agricultores familiares constituem a maioria produção de frangos e ovos, os avicultores tam-
–aproximadamente 85 por cento de todos bém são classificados em três grupos: (i) peque-
os pecuaristas– e, embora sejam os maiores nos (menos de 5 000 aves), (ii) médios (5 000 a
detentores de rebanho, não são orientados 10 000) e (iii) grandes (mais de 10 000 aves). Esses
para o mercado (MADER, 2021). Eles geralmente avicultores também são totalmente orientados
© Malcolm Manners/African Silk Farm (CC BY 2.0)
também não investem em insumos melhorados para o mercado e usam insumos melhorados,
(pastagens, vacinas e banhos) e são dependentes incluindo vacinas e rações (MADER, 2021).
de pastagens naturais. As fazendas familiares
tendem a manter os animais para consumo As cadeias de valor alimentar são geralmente
doméstico, prestígio pessoal e para venda em curtas e envolvem poucos atores. Nas áreas
caso de necessidade urgente de dinheiro. rurais, podem simplesmente seguir as ligações
produtor-atacadista a intermediário-varejista
Os criadores privados de gado, que representam e consumidor final, mas tornam-se mais com-
os outros 15 por cento, são orientados para o plexas nas áreas urbanas, combinando-se com
mercado e investem em melhoramento genético, alimentos processados de origem internacional
15
ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
(em particular da África do Sul) ou com arroz na fazenda. Outros atores importantes nos siste-
importado principalmente da Ásia. Nas áreas mas alimentares são instituições governamentais
rurais, os operadores informais (não regulamen- a nível nacional ou regional, setor privado, acade-
tados) de pequena escala se envolvem na agre- mia, ONGs e parceiros de desenvolvimento.
gação, transporte, armazenamento e distribuição
usando mercados locais, informais e tradicionais. A tabela n°2 apresenta alguns dados sobre atores
Esses mercados tendem a ser mal organizados, e atividades dos sistemas alimentares acessados
em termos de segurança alimentar. Os produtos no país tais como os produtores, as unidades de
agrícolas também são comercializados e vendidos negócios e outros.
Tabela n°2. Número de estabelecimentos agrícolas e atores nos sistemas alimentares em Moçambique
Número de empresas nas atividades de agricultura, produção animal, caça e serviços relacionados2 471
Número acumulado de barcos de pesca industrial licenciados de 2009 a 2017 – frota nacional3 730
Número acumulado de barcos de pesca industrial licenciados de 2009 a 2017 - frota estrangeira3 563
Número acumulado de artes de pesca artesanal (pescadores do setor familiar) licenciadas de 2009 a
177 511
2017 (incluindo artes licenciadas em 2012)3
Fontes: 1 MADER/DPP (Ministry of Agriculture and Rural Development & Directorate of Planning and Policies). 2021. Integrated Agricultural
Survey 2020: Statistical Framework. Maputo, Moçambique. https://www.agricultura.gov.mz/wp-content/uploads/2021/06/MADER_
Inquerito_Agrario_2020.pdf
2
Instituto Nacional de Estatística (INE). 2017. Empresas em Moçambique: Resultados do Segundo Censo Nacional (2014–2015).
http://mozdata.microdatahub.com/index.php/catalog/20
3
Calculations based on information from MIMAIP (Ministry of the Sea, Inland Waters and Fisheries). 2019. Fisheries and Aquaculture Statistical
Bulletin 2006–2017. Maputo, Moçambique. http://www.mimaip.gov.mz/wp-content/uploads/2019/06/AF_Boletim-Estatistico-Miolo-
2006-2017-Final-em-usoFev2019.pdf
4
Calculations based on data available at https://icm.gov.mz/.
© credits
5
O’Donovan, F. 2021. Shaping the Future of Mozambique’s Dairy Sector, Agrilinks, 17 de Março 2021. https://agrilinks.org/post/shaping-future-
mozambiques-dairy-sector
6
https://www.bmm.co.mz/index.html acessado em 19 de agosto, 2021.
16
PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Fonte: Autores.
17
ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
Por outro lado, o sobrepeso e a obesidade acordo com o Relatório de nutrição global,
estão se tornando uma preocupação e, embora o país tenha feito algum progresso,
embora ainda baixos em comparação com as enfrenta desafios substanciais para cumprir
médias regionais, significam que Moçambique os objetivos globais de nutrição (Relatório de
carrega o triplo fardo da desnutrição. De nutrição global, 2021).
Nota: As cores referem-se à posição em relação à gravidade do indicador. Verde representa uma situação mais favorável, amarelo/laranja
= preocupante e vermelho = grave.
Fontes: 1 Global Nutrition Report. 2021. Country Nutrition Profile – Mozambique: The burden of malnutrition at a glance – Mozambique. Cited
10 March 2022. https://globalnutritionreport.org/resources/nutrition-profiles/africa/eastern-africa/mozambique/
2
SETSAN (Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional). 2014. Relatório do Estudo de Base de Segurança Alimentar e Nutricional 2013
(Food Security and Nutrition Baseline Study 2013). Maputo, Moçambique..
3
INE (National Institute of Statistics). 2013. Mozambique – Demographic and Health Survey 2011, Maputo, Mozambique, March 2013.
https://dhsprogram.com/pubs/pdf/fr266/fr266.pdf
4
WHO (World Health Organization). Undated. Anaemia in children aged <5 years – estimates by country. In Global Health Observatory Data reposi-
tory. Geneva, WHO. www.who.int/data/gho
5
WHO (World Health Organization). Undated. Children aged <5 years underweight, country survey results – data by country. In Global Health
Observatory Data repository. Geneva, WHO. www.who.int/data/gho
6
FAOSTAT. Suite of Food Security Indicators. http://www.fao.org/faostat/en/#data/FS
7
FAO. 2021. Mozambique: General Introduction. In Gender and Land Rights Database. Rome Cited 10 March 2022. www.fao.org/gender-landrights-
-database/country-profiles/countries-list/general-introduction/en/?country_iso3=MOZ
8
WHO (World Health Organization). Undated. Prevalence of overweight among adults, BMI>25, crude – estimates by country. In Global Health
Observatory Data repository. Geneva, WHO. www.who.int/data/gho
© credits
9
UNICEF. Undated. Nutrition Situation in Mozambique. Cited 10 March 2022. https://www.unicef.org/mozambique/en/nutrition
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Uma rede rodoviária precária limita a distribuição O estudo do custo da fome em Moçambique
de alimentos das principais áreas de produção estimou que o país perdeu aproximadamente
aos mercados consumidores, bem como as USD 1,7 bilhão como resultado da desnutrição
conexões entre produtores menores e mercados infantil em 2015 (Nutrition modeling consortium,
locais ou centros urbanos. Além disso, a 2015). Essas perdas representam o impacto
distribuição de energia não confiável contribui cumulativo da desnutrição na saúde, educação e
19
© Peter Fredenburg/Tilapias (CC BY-NC-ND 2.0)
ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
20
PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Baixas densidades
Investimentos públicos Assistência técnica fraca
populacionais e áreas
limitados e baixa disponibilida- Recursos financeiros (pesquisa e extensão)
remotas
de de serviços (crédito) insuficientes
Ausência e inacessibilidade de
insumos de qualidade (sementes, Inadequate infrastructure Consciência e conhecimento limitados
fertilizantes, etc) e equipamentos (roads, transport, electricity) sobre a qualidade do produto
Scattered production,
Uso e adoção limitados traditional crops/animals
de tecnologias with low diversity Organizações de agricultores limitadas
Baixa produção e
produtividade (falta
de confiabilidade)
Problemas com Altas perdas Pequeno setor privado e atores,
agregação/ pós-colheita e baixa relações fracas entre os
armazenamento qualidade do produto agricultores familiares e o setor
privado, processadores, etc.
Baixo desempenho do sistema alimentar, integração de mercados e desenvolvimento de cadeias de valor limitados
Fonte: Autores.
A agricultura e a pesca estão entre as principais fon- Os mercados agrícolas moçambicanos são geral-
tes de renda das comunidades rurais. A produção mente precários, pouco competitivos, carentes
agrícola primária é dominada por pequenos pro- de serviços de apoio, investimentos de capital,
dutores familiares, com estabelecimentos agrícolas técnicas de comercialização e acesso a tecnologias
de 0,5 hectares a 1,5 hectares, embora também de informação. Eles são caracterizados por altos
existam algumas empresas maiores envolvidas na custos de transação que podem incluir riscos de
produção e no agro-processamento. Agricultores e preço, transporte, riscos climáticos, perdas e
pescadores geralmente ganham o suficiente para roubos (IFAD, 2020b).
atender às necessidades básicas de alimentos de
suas famílias e, em alguns casos (menos de 10 por As cadeias de valor domésticas permanecem
cento das famílias), geram um pequeno excedente altamente fragmentadas e relativamente curtas,
para venda no mercado. A maioria da população com intermediários aumentando os custos, mas
rural subsiste com muito pouca renda. contribuindo de forma limitada com o valor
21
ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
agregado. Isso cria uma base instável para o O armazenamento precário aliado à infraestru-
sucesso das empresas de processamento, depen- tura limitada (estradas, energia elétrica, armazéns
dentes de fluxos regulares e confiáveis de maté- e instalações de processamento) e altos custos
rias-primas de qualidade conhecida (IFAD, 2020b). de transação resultam em um ambiente pouco
propício ao desenvolvimento de cadeias de valor.
Motores principais Outras barreiras são o limitado poder de barganha
e as limitadas habilidades de negociação ao lidar
A produção de subsistência, com pouco valor com comerciantes ou intermediários do mercado,
agregado aos produtos primários, caracteriza-se baixo nível de organização, distância e falta de
por baixos níveis de habilidade técnica, com uso informação. Apenas cerca de 10 por cento das
limitado de insumos e equipamentos melhorados famílias rurais são membros de organizações de
(ver tabela n°4). Os produtores também enfren- agricultores (IFAD, 2019). A maioria desses grupos
tam dificuldades como falta de serviços de apoio, é caracterizada por má gestão e poucas habilida-
incluindo extensão rural (tabela n°5), ou acesso des de negócios, foco limitado na prestação de
a financiamento. As instituições financeiras têm serviços e falta de conhecimento dos aspectos
alcance limitado nas áreas rurais, cobram taxas pós-colheita e comercialização. A falta de coorde-
de juros inacessíveis e exigem garantias e outras nação na produção ou comercialização permite
condições que efetivamente excluem os peque- que os intermediários pressionem os pequenos
nos agricultores de obter crédito (IFAD, 2019). agricultores a vender parte de sua produção na
Apenas 0,6 por cento da população tem acesso ao própria fazenda e imediatamente após a colheita
crédito (ver tabela n°6). por preços muito baixos.
Tabela n°4. Estabelecimentos agrícolas que utilizaram Tabela n°5. Acesso a extensão rural
tecnologias aprimoradas (insumos), pequenas e médias
técnicas de campo (%)
propriedades
técnicas de campo
técnicas de campo
Coloca em prática
receberam visitas
receberam visitas
Número total de
de homens que
Recebeu visitas
mulheres que
Número total
recebidos (%)
os conselhos
herbicidas (%)
pesticidas (%)
químicos (%)
Irrigação (%)
fertilizantes
esterco (%)
Província
Usou
Usou
Usou
Usou
Província
Niassa 2,9 7,6 6,7 2 4,1 Niassa 6,1 91,1 9 874 6 989
Cabo Delgado 7,1 7,9 13,7 5,2 6,2 Cabo Delgado 6,2 85,8 18 584 12 793
Nampula 4,8 3,9 5,6 1,9 3,5 Nampula 4,4 85,7 30 532 17 384
Zambézia 2,1 1,7 1,5 0,2 10,9 Zambézia 3,6 79,8 23 351 18 804
Tete 14,8 29,4 9,6 1,6 14,2 Tete 6,2 88,5 36 045 19 671
Manica 10,5 3,7 1,8 0,9 5,4 Manica 7,8 80,9 18 597 16 593
Sofala 6,2 1,9 4,5 2,2 5,2 Sofala 23,9 89,1 88 877 90 768
Inhambane 6,3 3,8 2,7 1,6 10,1 Inhambane 3,3 79 5 257 4 692
Gaza 24,9 6,3 3,9 2,2 14,4 Gaza 4,8 89 8 316 18 159
Maputo Province 25,2 7,1 6,4 3,5 13,6 Maputo Province 2,4 83,4 4 573 6 144
National 9,1 7,8 5,5 1,8 8,8 National 6,9 86,6 244 006 211 997
Fonte: Ministry of Agriculture and Rural Development, Directorate Fonte: Ministry of Agriculture and Rural Development, Directorate
of Planning and Policies. 2021. Integrated Agricultural Survey: Statistical of Planning and Policies. 2021. Integrated Agricultural Survey: Statistical
Framework, Maputo, Moçambique. https://www.agricultura.gov.mz/ Framework, Maputo, Moçambique. https://www.agricultura.gov.mz/
© credits
wp-content/uploads/2021/06/MADER_Inquerito_Agrario_2020.pdf wp-content/uploads/2021/06/MADER_Inquerito_Agrario_2020.pdf
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Inhambane 0,1 42 69 0 0
Fonte: Ministry of Agriculture and Rural Development, Directorate of Planning and Policies. 2021. Integrated Agricultural Survey: Statistical
Framework, Maputo, Moçambique. https://www.agricultura.gov.mz/wp-content/uploads/2021/06/MADER_Inquerito_Agrario_2020.pdf
3
Algumas organizações (e.g., IFAD, FAO) implementaram com sucesso projetos de cadeia de valor com foco em capacitar grupos de produtores
(incluindo grupos de mulheres) e facilitar a ligação de pequenos agricultores com agricultores comerciais para acelerar a implementação e uso de
tecnologias melhoradas, aumentar a produção e as quantidades comercializadas e, consequentemente, a renda dos agricultores (FIDA , 2019).
23
ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Incentivos econômicos
Aumento da Mineração
Baixos níveis de exploração ilegal
desenvolvimento Aumento da pressão e sobre-exploração artesanal como
de recursos fonte alternativa
da produção e dos recursos naturais
naturais de renda
Uso continuado produtividade • Redução de 30% na capacidade de
de práticas agrícola captura de recursos pesqueiros
agrícolas • Taxa de desmatamento médio anual de
tradicionais 0,79% - 267 000 ha/ano
• 71,5% do território com variação na Uso intensivo de agroquímicos
produtividade do solo e práticas prejudiciais ao meio
ambiente
Fonte: Autores.
Embora Moçambique tenha recursos naturais A área florestal foi estimada em 34 milhões de
abundantes, suas áreas florestais e ecossistemas hectares em 2016 –47 por cento do território
marinhos estão sob pressão substancial de nacional (National Forest Inventory, 2017). Desse
práticas insustentáveis e de sobreexploração, total, a área de floresta produtiva foi estimada
bem como ameaçadas pelas mudanças em 17 milhões de hectares. A taxa anual de
climáticas. desmatamento foi estimada em 0,79 por cento
em média entre 2003 e 2016, correspondendo a
Práticas agrícolas insustentáveis, como métodos aproximadamente 267 000 hectares de floresta
de cultivo itinerante de corte e queima, são uma derrubados a cada ano.
das principais causas do desmatamento e degra-
dação das florestas, sendo que Moçambique O desmatamento pode ter impactos ambientais
registrou uma queda acentuada na área florestal de longo alcance e efeitos indiretos, incluindo
produtiva entre 2007 e 2018 (figura n°12). maior degradação da terra, inundações
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ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
6 000 000
5 000 000
4 000 000
3 000 000 Figura n°13. Rendimento médio por hora da pesca industrial
2 000 000 100
1 000 000
Rendimento médio / hora
0 75
ne
o
la
la
o
a
ica
zia
te
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az
ut
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bé
an
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ia
G
So
lg
am
m
N
M
De
M
ha
Za
bo
In
Ca
50
Província
2007 (Marzoli, 2007) 2018
0
Da mesma forma, o setor pesqueiro –que fornece 77 79 81 83 85 87 89 91 93 95 97 99 01 03 05 07 09 11 13
19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 20 20 20 20 20 20 20
meios de subsistência para cerca de 60 por cento Ano
da população costeira– registou uma diminuição de Fonte: Instituto Nacional de Investigação Pesqueira. 2016. Estado
de Exploração dos Recursos Pesqueiros de Moçambique 2014–2015.
cerca de 30 por cento na capacidade de captura nos www.iip.gov.mz/images/pdfs/eerp/eerp2016.pdf
últimos 25 anos (ver figura n°13) (Raro, sem data),
causado principalmente pela sobrepesca e técnicas Motores principais
de pesca destrutivas.
Além do esgotamento das florestas e dos ecossis-
O setor pesqueiro poderia se tornar uma fonte de temas marinhos, a aceleração da degradação do
renda e emprego ainda mais importante, além de solo é uma questão muito significativa que afeta a
contribuir para melhorar a alimentação das famí- sustentabilidade. Entre 2000 e 2016, mais de um
lias, fornecendo proteína relativamente barata na quarto (25,3 por cento) da terra em Moçambique
forma de peixe. No entanto, o setor pesqueiro –e a (equivalente a 2,49 milhões de hectares) mostrou
saúde dos ecossistemas oceânicos de Moçambique uma diminuição acentuada na produtividade
(economia azul)– não estão apenas ameaçados do solo, conforme medido pelas diminuições do
pela sobreexploração, mas também enfrentarão Índice de vegetação por diferença normalizada
novos desafios na próxima década. Espera-se que (IVDN) (figura n°14, figura n°15) (Monfort et al.,
as receitas das indústrias extrativas, especialmente 2020). Isso resulta em rendimentos mais baixos,
a exploração de gás offshore, cresçam substancial- resiliência reduzida das comunidades rurais e
mente. Embora tenham o potencial de transformar perdas econômicas, e pode ser remontado desde
a economia, a expansão industrial e os corredores as práticas agrícolas insustentáveis, como o mono-
de transporte marítimos serão um desafio para o cultivo de milho, que prejudica a saúde do solo e
frágil ambiente costeiro (World Bank, 2020). reduz a produtividade futura.
© credits
26
PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Figura n°14. Mudança anual na produtividade da terra Figura n°15. Distribuição espacial dos principais fatores de
queda da produtividade da terra
CABO CABO
DELGADO DELGADO
NIASSA NIASSA
TETE TETE
NAMPULA NAMPULA
ZAMBEZIA ZAMBEZIA
MANICA MANICA
SOFALA SOFALA
GAZA GAZA
INHAMBANE INHAMBANE
MAPUTO
MAPUTO Províncias
Áreas de conservação
Fatores potenciais de diminuição da produtividade da terra (2000–2016)
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ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
Os recursos naturais também estão ameaçados degradação dos recursos naturais e a perda de
pelo rápido crescimento populacional e pela biodiversidade são as mudanças climáticas (secas,
exploração em larga escala de madeira, incluindo ciclones, tempestades tropicais, etc.) (figura n°16),
madeira associada à sua extração ilegal (EIA, 2021). incêndios descontrolados, produção de carvão para
Além disso, outros fatores-chave que aceleram a combustível e agricultura itinerante (CIMMYT, 2019).
7
Número de eventos
0
75
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Anos
Fonte: República de Moçambique, Conselho de Ministros (2017). Plano Director para a Redução do Risco de Desastres 2017–2030.
www.preventionweb.net/files/64564_planodirectorparareducaodoriscodede.pdf
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
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©
© credits
Stevie Mann/ILRI (CC BY-NC-ND 2.0)
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ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Os sistemas alimentares são caracterizados por Uma representação esquemática (figura n°17)
disparidades socioeconômicas e geográficas mostra as ligações entre os motores
entre as regiões Norte, Centro e Sul. O Sul identificados e os impactos relacionados
apresenta uma concentração de capital com as diferenças regionais nos sistemas
econômico, institucional e intelectual, mas seus alimentares em Moçambique.
solos pobres e chuvas irregulares limitam a
produção agrícola. As regiões Norte e Centro têm Moçambique é um dos países mais pobres
uma enorme capacidade de produção agrícola, do mundo, com rendimento per capita de
mas a disfuncionalidade governamental limita cerca de USD 460 por ano (World Bank,
o crescimento do setor agroalimentar, que é 2021b). Essa baixa renda, aliada à crescente
maioritariamente composto por pequenos desigualdade entre as diversas classes
produtores. A política econômica de longo prazo sociais e regiões, caracteriza uma situação
tem favorecido investimentos em agroindústria socioeconômica que representa um grande
em grande escala e exportações de combustíveis desafio ao desenvolvimento inclusivo e
fósseis, em vez de apoiar a produtividade agrícola. integrado (figura n°18).
Fraco Ineficiências na
Pouca cobertura de Infraestrutura Dispersão populacional
desenvolvimento alocação de recursos
serviços públicos pouco (baixa densidade por km2)
do setor produtivo (viés político/regional)
essenciais desenvolvida
local
Acesso limitado ao
Assimetrias no Aumento da desigualdade econômica entre as capital para
acesso à informação regiões, dentro das regiões e nos centros urbanos investimento local
• 52% da população sem eletricidade;
12% da população urbana sem água potável
(51% da população rural)
• 60% da população excluída dos serviços financeiros
Falta de incentivos ao Prestação
• Baixa densidade rodoviária (37/1 000 km2
investimento privado inadequada de
da área do território nacional)
nas zonas rurais serviços básicos
• 40% de cobertura da rede telefônica (celular)
Fonte: Autores.
31
ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
províncias do Centro e Norte, representadas O produto interno bruto (PIB) gerado pela
na figura n°18 pela Zambézia e Nampula, região Sul do país é, além disso, metade do
respetivamente (ver também figura n°19). total nacional (OMR, 2021).
100
0
10
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.6
83
80
.3
82
70
60
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7
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–1
–2
–2
–2
96
02
08
14
19
20
20
20
Nampula Zampezia Maputo province Maputo City
Nota: O eixo Y é um índice para a taxa de pobreza (1996-1997 = 100). Fonte: Mozambican Ministry of Economy and Finance, cited in Baez, J. E.
and Olinto, P. 2016. Accelerating Poverty Reduction in Mozambique : Challenges and Opportunities. World Bank Group, Washington, DC. https://www.
worldbank.org/en/country/mozambique/publication/accelerating- poverty-reduction-in-mozambique-challenges-and-opportunities
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
Figura n°19. Incidência da pobreza em Moçambique Figura n°20. Penetração da rede de distribuição elétrica
G O
O
EL B
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D CA
G O
O
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C
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AM
G
AZ
H
H
G
IN
IN
TO
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AP
U
M
AP
M
Províncias
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ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
Tabela n°7. Estabelecimentos agrícolas cujos membros caju, algodão, açúcar, copra e chá e incluindo
tiveram acesso a serviços bancários e financeiros, algumas ligações estabelecidas com indústrias
pequenas e médias propriedades de processamento básico, mas negligenciando o
desenvolvimento de um forte setor agroalimentar
Possui uma conta Utiliza conta de
Província (Carrilho et al., 2021; Weimer e Carrilho, 2017).
bancária (%) celular (%)
34
PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
35
ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
Moçambique tem potencial para transformar os Outros elementos e atores nos subsistemas
seus sistemas alimentares, mesmo enfrentando alimentares, como cadeias de abastecimento,
novos desafios nos próximos anos para garantir ambientes alimentares e comportamento do
a segurança alimentar e uma melhor nutrição, consumidor, também podem ajudar a abordar
melhores meios de subsistência e oportunidades fatores como mudanças climáticas, urbanização,
para as pessoas em todas as suas regiões. A globalização, liberalização do comércio,
sustentabilidade ambiental também apresentará crescimento e distribuição de renda, contexto
maiores desafios à medida que o país busca sociocultural, liderança e políticas.
expandir sua economia por meio do aumento das
receitas das indústrias extrativas. Além disso, também são necessários investimen-
tos em infraestrutura básica, como abastecimento
Melhorar o acesso a terras férteis e aráveis, de água potável, eletricidade e irrigação, assim
investir em infraestrutura básica, coordenar como a melhoria do acesso aos serviços de saúde
políticas e abordagens coerentes e tomar medidas e, igualmente importante, a necessidade de paz e
para restaurar a paz contribuiriam para melhorar segurança. As partes interessadas no processo de
a sustentabilidade dos sistemas alimentares. A consulta dos sistemas alimentares também iden-
transformação inclusiva também exigiria um maior tificaram o potencial dos investimentos públicos e
empoderamento de mulheres e jovens, além de privados nas cadeias de abastecimento alimentar
ampliar o acesso a tecnologias e inovação. como uma alavanca importante.
Uma abordagem sistêmica traria a necessária O atual Programa quinquenal do Governo (PQG
alavancagem da agricultura, como base da 2020–2024), que se traduz em planos econômicos
disponibilidade alimentar, dado o alcance da e sociais anuais nacionais e territoriais, vê como
produção agrícola nas regiões Centro e Norte prioridades aumentar a produção agrícola,
e a produção pecuária na região Sul, com uma investir em infraestrutura econômica e social,
proporção relativamente pequena de terras férteis fortalecer a pesca e a aquicultura, e mitigar
e aráveis atualmente em cultivo. A silvicultura, a as mudanças climáticas (Ministério da terra,
pesca e a aquicultura também têm abrangência ambiente e desenvolvimento rural, República de
em todo o país. Moçambique, 2020).
© credits
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PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
© Jeffrey Barbee. Reuters Foundation/Rice plot (CC BY-NC-ND 2.0)
Embora esses pilares apoiem a transformação dos de agricultura, saúde, educação, meio ambiente e
sistemas alimentares para se tornarem mais sus- indústrias extrativas. O impacto desejado também
tentáveis, inclusivos e resilientes, seria necessária precisaria de envolvimento em vários níveis de
uma melhor coordenação e integração de políticas ministérios e departamentos administrativos,
e abordagens para o impacto desejado. órgãos regionais, atores do setor privado e ONGs,
bem como produtores e consumidores.
O vasto escopo dos sistemas alimentares oferece
vários pontos de entrada para a transformação As conclusões desta avaliação servem como os
sustentável, entre eles melhorar e diversificar primeiros passos para pensar a transição e as
a produção e a produtividade dos pequenos transformações necessárias para os sistemas
agricultores por meio de práticas sustentáveis, alimentares sustentáveis no país. Mais pesquisas
como agricultura inteligente em clima e ajudarão a detalhar melhor os desafios e seus
nutrição, fortalecimento de cadeias de valor impactos na sustentabilidade dos sistemas
e de pequenas e médias empresas, além de alimentares, bem como refinar as alavancas e
aprimorar a condução de políticas e cooperação ações necessárias para o impacto desejado. As
interministerial, governança e descentralização. inovações institucionais podem ajudar a garantir
que as vozes de todas as partes interessadas,
Em termos práticos, a transformação exigiria especialmente as camadas mais vulneráveis da
uma estreita colaboração entre as partes sociedade, sejam refletidas nos planos e nas
interessadas nas áreas rurais e urbanas, nas áreas atividades.
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© Jeffrey Barbee/Thomson Reuters Foundation (CC BY-NC-ND 2.0)
© credits
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ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
PERFIL DE SISTEMAS ALIMENTARES
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ÁFRICA - MOÇAMBIQUE
Para esta nota contribuíram as seguintes pessoas: Lígia Mutemba, António Inguane (consultores nacionais),
Alexandre Hobeika (CIRAD), Adriano Spinelli, Jacques de Graaf (FAO, consultores internacionais).
Apoio técnico: Juan Sepúlveda Alonso, Meeta Punjabi Mehta e Patrick Herlant (FAO) e Isabel Sitoe (FAO
Moçambique).
Edição e formatação: Rex Merrifield, Paul Nagle, Guilherme Coscarella, Antonio de la Fuente e Polly Butowsky.
© credits
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© J Barbee/Thomson Reuters Foundation (CC BY-NC-ND 2.0)
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CC0498PT/1/06.22